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LATINOAMERICANA
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DE PSICOPATOLOGIA
FUNDAMENTAL
tu•·· lutÍllf" ""· P.<ic11('t1t. F1111d., 111. 1. 2 1-46
E/ presente artiwlo i11te11ta articular una proposta para e/ trabajo clínico y
pedagógico co11 sujetos autistas. Empieza por u11a disc11sió11 acerca de los Ires imposibles
asig11ados por Freud, a los c11ales se suma la di111ensió11 de la acció11 frente ai autismo.
Busca e11tonces caracterizar los co11ceptos psicoanalíticos i11.stru111e11tales para una tal
clínica, así como los refere11cia/es co11structivistas que e111basa11 la acció11 pedagógica.
Describe e/ trabajo desarrollado por e/ equipo 111ultidiscipli11ario de la Escola A arquitetur a e o inconscien te*
Municipal do Autista de São José do Rio Preto, SP, y co11cl11ye con co11sideraciones
acerca dei sentido de trabajos de esa natura/eza.
Palabras llaYe: Psicoanálisis, educación, autismo, inslitución "ô- es cu
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Ce travai/ vise artiwler 1111 pmposition pour /e travai! clinique et pédagogique •q, "-~'
avec les perso1111es autistes. Parte de cetle discussion des les trais impossibles poinlU ~
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par Freud, leq11el s 'accroí'te la dimension de la actio11 en face au l 'autisme. li caractérise
les co11cepts de la Psychanalyse qui sont i11strumentals pour cetle clinique et les rapports
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11C'D> Christopher Bollas
construtivistes q11i se base les actions pédagogiques. ll décrit /e travai/ développé pour o'""- - r l:tJJ
/'equipe 11111/tidiscipliner de la Escola Mu11icipal do Autista de São José do Rio Preto; SP, ~'7J':°
et co11cluit avec co11sidératio11s quant à !e sens enveloppé e11 travaux de celte nature.
o
Mots clés: Psychanalyse, éducation, auti sme, institution
This paper aims to a11icu/ate a proposition for the clinicai and pedagogical work De interessantes maneiras, o mundo da arquitetura -
LÜ de modo geral aqui definido como a preocupação deliberada
with autistic perso11s. li begins with the discussion about the three impossibilities
presented by Freud, to which is added the dime11sion of the action towards the A11stis111. com o ambiente humano construído - e o mundo da
It characterizes the psychoanalysis' co11cepts which are 11seful for this clinicai workd, psica11álise - de 111odo geral declarado como o lugar para o
and the construtivistic refere11ces that underlie the pedagogical actions. lt describes estudo da vida mental inconsciente - se entrecruzam. Uma
the work developed by the 11111/tiprofessio11al tea111 of the Escola Municipal do Autista construção deriva da imaginação humana, numa dialética
de São José do Rio Preto, SP, a11d ends with some co111ments abo11t the 111ea11i11g of such que é amplamente influenciada por mu itos fatores
works. contribuintes - sua função declarada, sua relação com o
Key words: Psychoanalysis, education. autism, institution entorno, suas possibilidades funcionais, seu aspecto artístico
ou seu design, os desejos de seu clie11te, a resposta antecipada
do público e muitos outros fatores que constituem sua
estrutura psíquica. Mesmo que a obra seja proveniente do
idioma conhecido de seu arquiteto - e isto fica claro num Le
Corbusier ou num Mies Van der Roe - ela passa também
através de muitas imagens mentais, derivadas de vários
fatores, que serc7o parte da direção inconscie11te do projeto
do arquiteto.
Palanas-chave: Arquitetura, inconsciente, psicanálise, formas
* Tradução de Carmem Cerqueira Ccsar.
ARTIGOS
que
Certame nte para os arquiteto s, assim como para as cidades ou os clientes
a maior
os emprega m, destruiç ão e criação estão intimam ente ligadas. Na cidade,
; um
parte das novas obras são desenvo lvidas após a demoliç ão da estrutur a anterior
buscand o
corpo fica onde ante riormen te um outro esteve. Para aqueles que vivem
esses moment os, sempre existirão duas construç ões: a demolid a e a atual.
cinco
Cresci na pequena cidade costeira de Laguna Beach, cerca de qt:iarenta e
nte, um
milhas ao sul de Los Angeles. Embora esta cidade tivesse, surpreen denteme
ão de novas
código de construç ão coerente e vigilant e - o que dificulta va a construç
. \
...• .
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obras - ao longo do tempo novas construç ões foram feitas, enquant o outras
se foram .
a de
....- No final dos anos cinqüen ta, toda uma fileira de constru ções com estrutur
a. Ass im,
\
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1 '":• ..
madeira, que davam para a praia principa l, no centro da cidade, foi demolid
mar. Toda
os motoristas que passava m pela Highwa y /OI, podiam ver a areia e o
abrigara m
vez que penso nisto, lembro- me das singular es barracas à beira-m ar que
.... café, urna
~
tantos ocupant es importa ntes, corno um estúdio de fotógraf os, um
e coisas
farmácia, uma típica loja de roupa de praia, um estande de suco de laranja
s amigos
Sabemo s que há uma vida inconsciente para cada s_elf.. Haveria do gênero. Visito a cidade várias vezes ao ano, e quando encontr o os meu
então um inconsc iente arquitet ônico, ou seji, Úm
tipo de e vamos dar indicaçõ es de locais, freqüen temente nos referimo s a lugares
que j á
pensame nto que direcion aria a projeção de uma obra, influenci ada não existem mais.
por várias demanda s, ainda que encontre sua própria visão em seus 23
J __-------l element os constitu intes? Cada cidade tem suas cidades fantasm as
r É interessa nte notar que Freud usou a imagem de uma cidade
como a metáfora do inconsciente. Em "O mal-estar na civilização", nosso
Os fantasma s são os habitant es dos quais nos lembram os - lembro- me do
sustento u que "na vida mental nada que tenha uma vez sido criado primeiro e muito culto distribu idor de livros, Jirn Dilley e sua esplênd ida
livraria. Há
pode perecer". Se desejás semos imagina r o in co nsc iente questão de
tanto tempo se foi! Mas a presenç a dos fantasm as é clarame nte urna
poderíam os fazê-lo visualizando Roma, de tal forma que se pudesse lá. Adorava
nossa própria vida inconsci ente. Conheç o estes lugares porque estive
imagina r todos os seus período s ao mesmo tempo - a Roma balcão onde
os hambúrg ueres do Dennys. lembro- me dos bancos altos em frente ao
Quadran ta, a Septimontium, o período do muro Sérvio, e as muitas de fazer
outras Romas dos imperad ores que se seguiram . "Onde agora fica nos sentávam os. e o belo equipam ento ao longo da parede, como a máquina
que sofreu
o Coliseu" escreve Freud, "podería mos simultan eamente admirar malte. A energia do fantasm a é nossa mesmo, o fantasm a é o ocupant e
é claro, é
a desapare cida Casa Dourada de Nero. um trauma, e que ainda não está preparad o para deixar este mundo. Ele,
iado, e,
Freud acaba abandon ando esta metáfor a porque. como ao cada um de nós . Fui eu que fiquei traumat izado ao perder este lugar privileg
longo do tempo construções podem ser demolid as e outras erigidas para sempre ele estará em algum lugar na minha me nte.
nós ,
em seu lugar, uma cidade não seria um exemplo adequad o para Em maior ou menor extensã o, is to é uma verdad e para todos
levamos
falar daquilo que fica preserva do atempor almente no inconsci ente. principa lmente quando voltamo s para casa. Deixar o lar, mesmo quando
para a
Caso Freud tivesse sustenta do esta metáfora um pouco mais, os conteúd os conosco , signific a perder nossos cantinho s internos . ninhos
talvez sua dialética teria funciona do. O esquecim ento é, de fato, menos
nossa imagin ação . Nossa crença em fanta smas se mpre será pelo
parte da vida inconsciente do homem. Tanto que, depende ndo de inconsci entemen te autoriza da, pois sempre estarem os circulan do por nossas
antigas
como se deseje olhar Roma, podemo s ver tanto o que foi casas. Devemo s também assumir. por outro lado, que quando mudamo
s para uma
preservado como o que foi destruído. nova casa seus antigos morador es também estarão vagando por lá.
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REVISTA 3Ç
LATINOAMERI CANA ~
DE PSICOPATOLOGIA
FUNDAMEN TAL
:i t ARTIGOS
Os arquitetos remexem nessa realidade psíquica. Geralmente a crueldade da cc n1cmen1e, o Bilbao de Frank Gehry - elas parecem mais do que simples
demolição permite sua nobreza curiosamente desoladora. Uma escavadeira (ou seu r:nsiruções, mas testemunhos materiais da nossa visão do futuro. Desta forma,
equivalente) chega, assistimos a estrutura ir ao chão rapidamente e a terra, por um c demos nos identilicar com elas. Sobrevivendo a nós, irão nos representar no futuro.
momento, recebe a luz do sol. Algumas vezes os arquitetos honrarão o que foi :ndo-nos um lugar no tempo histórico e na realidade existencial das futuras gerações
uc, ao contemplar estes objetos, poderão compreender melhor o nosso tempo, o
demolido. como Evans e Shalev fizeram na nova Tate Gallery em Sl. lves, Cornwall. i .
A galeria foi construída num local ocupado anteriormente por uma torre de gasolina, .,
l q , 1 .
final do secu o vmte. , _ _ A •
que, embora ficasse encoberta durante o dia, não deixava de ser a antiga ocupante. J) A identificação a uma obra e um testemunho de nossa mtehgencia lançada no
Agora é relembrada nas formas arredondadas do museu que a espelha. f ,uro. Vai além da nossa visão imediata, mas não tão longe que aliene o idioma
i~aginativo de nossa geração. Se uma construção se projeta muito longe no futuro
,1·:' _ como foi o caso da Torre Eiffel na época de sua construção - as pessoas sentem
Quem dirige as máquinas demolidoras?
como se o futurn tivesse.invadido o presente e desdenhado sua sensibilidade.
r. ".
Construir é uma forma de oração. Rezamos por meio de nossas construções.
Como as horríveis visitas do sinistro ceifeiro na imaginação literária, essas ·l
máquinas se parecem com a morte às nossas portas. Suas ações são irreversíveis. Se nossas mentes e corações foram bem direcionados, o tempo irá provar que nossas
Uma vez que tenham tirado uma construção, ela se foi para sempre. Então, quando construções são verdadeiras. A própria massa de uma obra, se pensarmos nos
uma comunidade fica sabendo que um setor será destruído, e algo novo será Ziggurats dos Sumérios, nas Pirâmides do Egito ou nos templos da Grécia, incorpora
construído, mesmo que o projeto seja promissor há sempre um certo terror em a tensão entre a vida e a morte. Tão nobres estruturas são, de uma forma ou de
testemunhar a demolição. É claro, isto não deixa de ser também excitante. Como outra, feitas com a intenção de honrar os deuses que vivem na eternidade. São também
assistir a um incêndio ou a uma enchente arrasadores, a visão da demolição traz à t oferendas de nosso próprio e limitado ser, para o ilimitado. Mas as construções estão
tona algo de nossa infância - a criança que construía castelos de areia e sentia prazer sempre beirando o profano. Como ousamos construir seja lá o que for para os
14 em destruí-los. Deste lado da equação psíquica significa liberação de amarras. Assim ' deuses? 25
como a criança sente prazer em destruir suas próprias criações - pois nesse momento A estrutura monumental - a montanha construída pelo homem - é um dos
também está havendo um crescente prazer em abandonar a segura arquitetura do grandes paradoxos da reali zação arquitetônica. O monumento é feito para sobreviver
mundo criado por mamãe e papai, para criar e seguir a sua própria - há a demolição a gerações. Nessas construções muitas vidas são perdidas. Alguns, como Gaudi,
do poder do olhar do adulto sobre ela. que dedicaram toda a sua vida ao monumento, muitas vezes nunca irão vê-lo pronto.
Demolição é sacrificial. Logo seremos erradicados desta nossa terra, removidos Todos os monumentos, tendo ou não inicialmente esta intenção, acabam sendo
graciosamente de nossos espaços, nosso lugar será tomado pelo outro. Mas até lá, tumbas. Lançam sombras sobre as mortes dos trabalhadores, sobrevivem a seus
as mudanças parecerão oferendas sacrificiais: pelo menos eu não vou com o criadores. Em sua massa, parecem formas da morte entre os vivos.
esquecido. Bem, não completamente. Uma parte de mim vai, uma parte que eu posso Estaria a arquitetura investida, então, da séria tarefa de trazer a morte para a
aparentemen te viver sem. A destruição de uma construção que eu goste é vida? Seriam esses monumentos moradas da morte? Seria a imensa implacabilidade
emocionalmente dolorosa, mas levo comigo algumas memórias da estrutura. da massa a expressão da destruição do orgânico pelo inorgânico?
O trabalho do arquiteto, então, envolve importantes questões simbólicas sobre Se assim for, estruturas monumentais são, então, objetos altamente ambíguos.
a vida e a morte. Demolir a estrutura existente para abrir caminho para uma nova, Dos materiais da terra criamos um símbolo da nossa própria morte, seja como uma
joga com nosso próprio senso de limite da existência e prediz nosso fim . Dada esta 1 tumba - como as pirâmides - ou, mais freqüentemente, como um objeto funcional
questão psíquica, as construções parecem optar por uma dentre duas opções construído para os vivos, tais como um grande templo, uma catedral ou um prédio
possíveis. Podem se misturar no ambiente em torno, como para negar que uma nova de escritórios. Se intencionalmente construído para os vivos, então o monumento
construção seja alguma coisa nova de fato. Se elas diferem das outras estruturas seria um tipo de espaço de representação no interior de uma zona de morte, uma
podem ainda aparentar que são a ex tensão lógica de uma progressão sem costuras vez que os vivos dão vida ao frio mármore ou à massa de cimento, todos os dias
no tempo arquitetônico. Ou podem optar por uma ruptura radical com o passado e de suas vidas, até morrerem, quando então novas gerações caminharão sobre o
o presente, para se declararem no futuro humano. Sendo a segunda solução - mesmo espaço. Os monumentos nos permitem movimentos para dentro e fora da
podemos pensar no Beaubourg de Roger e Piano, no Sydney Opera House, e, mais zona de morte, o ser humano viajando no mundo da grande massa de pedra.
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REVISTA
LATINOAMERI CANA
DE PSICOPATOLOGIA
FUNDAMEN TAL
ARTIGOS
Como no sepulcro, almejamos deixar inscrito algum sinal referente às nossas
. rno muitos objetos humanos e ambientais diferentes têm seu lugar nas construções
vidas no monumento. seja sob a forma de ornamento, como um símbolo de vida
inscrito no objeto de morte, ou, como faziam os gregos, dando nomes humanos a
partes da construção: a cabeça de uma coluna, a garganta de uma coluna. Como
< ~ºegas por meio de sua inclusão pelo nome. Lynch argumenta que paisagens vívidas
0
"o esqueleto sobre o qual muitas raças primitivas erigiram seus mitos socialmente
s:portantes", incorporando os objetos relevantes do meio ambiente em suas visões
uma personificação do real - entendida aqui como a expressão material da morte 1
ulturais. Bachclard reflete que, pela reverberação "sentimos um pod~r poético se
que escapa ao nosso entendimento - o monumento permitiria nossa assinatura? Ele
~evantando ingenuamente dentro de nós. Depois da reverberação original, estamos
expressaria a frivolidade humana? Será que a imaginação do arquiteto zombaria um
aptos a experimentar ressonâncias, repercussões sentimentais, lembranças de nosso
pouco da massa avassaladora, tal como o prédio da A T & Tem Nova York, projetado
por Philip Johnson? Será que o Project for the Palace of the Soviets proposto por passado".
Grandes montanhas, grandes rios, o mar, a pradaria, a selva e as notáveis
Stalin e a arquitetura de Mussolini não mostrariam também um sinal de ironia, uma
estruturas construídas estão gravados em nossa mente corno estruturas psíquicas;
dimensão humana revelada no seu aspecto maciço? cada um parece possuir seu próprio pequeno universo de emoção e significado. Em
Monumentos e vívidas estruturas construídas são objetos evocativos. "Um
cada escola veneziana, as crianças aprendem a desenhar um mapa de casa até a
ambiente característico e legível não somente oferece segurança como também eleva ~
escola, pois essa é uma cidade onde podemos nos perder com facilidade; esses mapas
a profundidade potencial e a intensidade da experiência humana", escreve Kevin :f
demonstram como as importantes construções representam marcos notáveis para
Lynch. Os objetos possuem diversos graus de "imaginabilidade". Algumas cida~es nosso sentido de orientação. St Marks Square, para alguns, seria um símbolo eterno
têm um grau mais alto de "imaginabilidade" do que outras. Se os monumentos são da função de orientação do mundo do objeto que é essencial para a sobrevivência
formas da morte em vida, jogam nos doi s lados desta luta. Mas são também humana, não muito diferente da visão do farol no mar, em meio à neblina, ou a
l-_
1
percebidos como lugares seguros. Durante várias dinastias egípcias o povo se permanente presença do parlamento nacional durante tempos de guerra, e se poderia ~ - -~
-
refugiou dentro dos muros das cidades-templos. Mercadores e pessoas de poder ir adiante.
1o tinham suas moradias ao lado do local sagrado. Como Panemerit, talvez eles Em seu notável trabalho The Poetics of Space, Gaston Bachelard defende uma 21 .,.,
j• - construíssem suas casas ali
"no primeiro pátio do templo erigido frente à torre, a "topoanálise", que seria "o estudo psicológico sistemático dos lugares relacionados
fim de que suas estátuas extraíssem virtudes dos ritos sagrados". (Montet) a nossas vidas íntimas". Há, por exemplo, uma "transubjetividade da imagem", ou
Talvez Panemerit acreditasse que era mais santo porque morava perto de um ,, seja, aqueles dentre nós si tuados próximos a lugares importantes, separamos a
local sagrado. Pode ter esperado por uma boa viagem após a morte. Seja lá o que imagem do lugar, mesmo que. é claro, cada um de nós o interprete de forma
for, ou o que isto tenha significado para ele, era, sem sombra de dúvida, uma / diferente. Lynch fez uma análise comparativa de Boston, Jersey City e Los Angeles
experiência emocional, com diferentes significados que se cruzavam. Morar perto e chegou à conclusão de corno é importante para os cidadãos terem objetos legíveis
do La Scala ou do Empire State Building ou da Colden Cate Bridge faz experimentar com alta "imaginabilidadc". As pessoas em Boston, por exemplo, compararam
o que Minkowski chamou de "reverberação " do objeto. Como objetos especiais são construções baseadas em sua diferença de idade; já os moradores de Los Angeles
construídos e moramos neles "perguntamo-nos como essas formas ganham vida, revelaram ter a impressão de que "a fluidez do ambiente e a ausência de elementos
se preenchem com ela", ele escreve "descobrimos uma nova categoria dinâmica e físicos que ancorem o passado são excitantes e perturbadores". Os habi tantes de
vital, uma nova propriedade do universo: a reverberação." (in Bachelard). O La Scala Jersey City, uma cidade industrial meio sem graça, perto de Nova York, demonstraram
poderia conter o espírito da grande música operística; o Empire State Building o sofrer de "uma evidente baixa 'irnaginabilidade' do ambiente" - tiveram dificuldade
espírito da virilidade corporaliva; a Colden Cate Bridge o espírito de conexão das em descrever as diferentes partes da cidade, revelando que se sentiam insatisfeitos
águas. em morar lá; além do mais, eles têm um pobre sentido de orientação. Portanto, morar
Alguns antropólogos acreditam que os Ziggurats eram memórias de montanhas, numa cidade significa ter uma mentalidade. Estar em Los Angeles é bem diferente
as quais tinham sido deixadas para trás pelos Sumérios que migraram de uma região de estar em Boston.
mais montanhosa ao norte, para o delta do Tigre-Eufrates; ou, quem sabe, Como uma lopoanálise analisaria a mentalidade de uma cidade? Seria difícil dizer
simplesmente devoções à montanha como um nobre objeto da natureza. Hersey que uma cidade reflete uma visão singular e unificada. Sabemos que existem muitos
acredita que os templos gregos podem bem derivar de árvores sagradas e ele aponta interesses conflitantes e diversas perspectivas que geram diferentes estruturas. O
quê então guiaria tal mentalidade? O quê a sustentaria?
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R E V J_ _ S_L A
LATINOAMERI CA NA
DE PSICOPATOLOGIA
FUND A M E NTAL

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·1 ARTIGOS
O psicanalista inglês D.W. Winnicoll argumentou que cada
com um determinado ambiente. No começo é um "ambiente
mãe
acolhe
supre seu filho f
dor". uma vez
, cida<lc. tirou-se algo de sua popula ção. Parte
d,i e é a visão de que somente a consciência pode formar
do erro de tal pensamento. me pa- '
que se é literalmente contido e toda a ci rculação é feita via rcc ·essos
• uma cidade. Cidades são
. •
objetos substitutos (um andador, um carrinho de brinquedo.
o self da mãe e seus t hastante 111consc1ente s. Ex1stcm
• tantos ·mtcresscs con 11·1tantcs. cstcuc <·
os,
um berço etc). Estes .proC .
cresses • 1cos,
locais e cconom · cad a e1emento 111 . fl uencta . n do o outro. U ma ºd d ,
sustentam nossas primitivas necess idades de continência, 1111 c1 a e e
pois passam os nossos is • aparente caos da mente 111con
· •
sc1ente . D f
e ato, .
isto carreg . · 1an.dade
primeiros nove meses no útero materno. Em seu ensaio "Berli 111 O a uma s11m
n Walls" , Winnico11 ~ávcl com qualquer self comum, pois possui interes ses biológ
discute ampla mente o conce ito de provisão ambiental no icos: sexuais. histó-
e seu efeito sobre o . s espirituais. vocac1·ona1s, · famt·1· tares e econom• . 1cos, to d I dos. de a1-
desenvolvimento das pessoas. "Os processos maturacionais os entre aça
·~··- - - - são potenc herdad os no indivíduo ;:~~ f~rma. num movimento que faz nascer um
iais, e necess itam. para a sua realização, de um tipo de visão organi zacional, ou
ambie nte facilitador de ma mentalidade. Os psicanalistas, ao trabalh arem
um certo tipo e grau." Boston, Los Angeles e Jersey City são com uma pessoa por um deter-
ambien tes facilitadores, ~ninado tempo , acabam tendo acesso a uma cultura muito particu
pois direcionam seus habitantes por caminhos diferentes. Uma lar. Podemos com-
das tarefas maternas, arar quando nos mud.amos para uma nova cidade e começ
argumentou Winnicoll, seria apresentar objetos para seu filho. p amos a conhecer suas
Isto seria algo como excent ricidades: suas prc,crc
e • ·
nc1as esté t1cas,
. suas averso - b , 1
uma arte. Se a mãe impõe um novo objeto sobre a criança, es, seus o stacu os supe-
esta inevitavelmente se rados. suas terras inóspitas, seus interes ses compa rtilhado
afasta. No entant o, se ela tolera que a criança passe por "um s e seus antigo s conflit os.
período de hesi tação" , Quando as estrut uras evoca tivas são constr uídas
durante o qual se afasta presumivelmente desinteressada, a crianç fazem nasce r intensas
a logo retorm1. com associações entre a população. O Geuy M11seu m em Los
interesse e desejo maiore s em direção ao novo objeto. Da mesma Angele s, por exemplo, abriu
forma, as cidades para O público este ano. e já é objeto de urna extens a crítica
estão continu amente presenteando seus habitantes com novos . Dirigin do para o norte
objetos e novo espaço •11 na 405 Freeway, em direção ao oeste de Los Angel es,
de planificação. As propostas circulam na impren sa, constit pode-s e ver na encosta da
uindo, desta forma, um montanha um evocativo objeto cultural "que fala" conosco
importante elemento psíquico na relação da população com através de associações.
w para a celebração do Milênio na Grã-Bretanha, por exemplo,
o novo. Vários projetos Antes de sua inauguração era somente urna nova e impres sionan te constr ução, mas
circularam alguns anos agora é parte do que significa ser Los Angel
atrás. evocando quase que uma oposição universal. Em parte
porque qualquer suposto eventualmente ceder. e então, como o Metro
es. Estas
polira n
elabor
M11se11
ações, entreta nto, irão 1~
gasto público, com coisas que pareciam uma aventura frívola 111 de Nova York ou
, era objetável. Em qualquer outro museu imponente, seu
parte, porque o local era desagr adável - um impac to sobre os habita ntes de seu tempo
espaço portuá rio muito feio e desolado, será perdido nas futuras gerações, que
numa zona industrial. Seria como colocar em primeiro pfano irão subme tê-lo à sua própri a sensibilidade.
Jersey City cm vez de De fato, quando caminhamos ou dirigim
Londres, para os londrin os. Necess itava-s e de tempo os atravé s de nossas cidades. acabamos
para que a idéia pudess e se conhecendo relativamente pouco, se
tornar palat,ível (uma metáfora de palada r) . É podem os dizer que conhe cemos algo. sobre a
bastan te interes sante ver que o grande maioria das construções. Mesmo que tenham sido
gigantesco objeto que os inglese s selecio nariam , represe ntava evocativas, pelo menos
um corpo de mulher para os habitantes locais que sofrera
tendo seu filho ao lado. Para visitar esse objeto por m o efeito de sua chegad a, passam a ser obeliscos
dentro , tanto os próprio s ingleses, silenciosos. Necessitariam de um considerável trabalho históri
como os visitantes estrangeiros fizeram filas. Visitam o próprio co e de decodi ficação
país, ao escalar uma para ressuscitar suas vozes.
mulher. É diferen te, por exemplo, da S1a111e of Libert y - onde se sobe até o topo - Assim , estamos de volta para
objeto fálico por excelência - a Eng/is!, Woma1 1 tem as a morte, uma vez mais. Nossas cidades contêm
mãos estend idas para trás, e centenas e milhares de construções que, embora façam
a entrada é por cima do quadril. Do lado interno do corpo, parte da cultura local e
entre outras coisas, haverá exposições. nos órgãos internos, estejam vivas como objetos evocativos, são também cemite
riais. Refletindo sobre a
A British Millenial Struct11re, vida incons ciente de uma cidade, observamos que estão lá,
no entanto , é simple smente mais uma expressão como uma espécie de
da mentalidade inglesa , realizada por presença muda, uma voz silenciada, quem sabe evidência no
meio do trabalh o arquite tônico . De acordo com cotidiano da morte da
a visão de WinnicotL, de que um ambien voz cio construído. Sabemos que até mesmo as mais simples
te acolhe dor signifi ca um alo de inteligência construções têm histórias
psíquica, então, uma cidade pode ser considerada um a forma para con tar. Até mesmo as tumbas dos cidadãos desconhecido
viva e continente para s são parte de nossa
sua população. Mentalidade é o idioma para poder ser contin vicia e do nosso viver cotidiano. O silêncio das constr
ente, refletindo exata- uções é uma presença
mente a cultura específica do lugar. Nenhuma visão dela se premonitória de nossa própria finitude, inevitável parte de
toma a totalidade; toda nossa vida. Poderíamos,
vez, ao longo da história, em que os homens tentaram impor se assim o quiséssemos , colocar cartazes cm cada construção.
uma visão totalitária dando a data de sua
conclusão. o nome do arquiteto, uma lista dos trabalh adores
e talvez selecionarmos
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REVISTA
LATINOAMERICANA
DE PSICOPATOLOGIA
FUNDAMEN TAL
artigos dos jornais e re latos orais. Mas na m a io ria das vezes não o fazemos. Até

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ARTIGOS
unca modificada pelas mont an has. O céu e a pradaria parecem se encontrar numa
mesmo os arquitetos que constroe m grandes obras são, tantas vezes, esquecidos, a : asta e contínua tela. Aqui e a li. um a árvore. Elas podem estar a milhas de d istância.
menos que. como Eiffel, seu no me - para me lhor ou para pior - seja identificado ortanto, um a única árvore. às vezes, aparece sozinha no cenário, em toda a sua
~eleza formal, revelando a essênc ia da árvore. Uma casa de fazenda, separada
1
com o objeto.
Lembrar-se de um nome é um fato curiosamente conflituoso. As pessoas gostam visualmente de qu aisquer o utras casas de fazenda, pode ser vista a milhas de distância,
nos aproxi mando de la, parece incorporar a essência de uma
de passear no bosque ou de olhar as flores silvestres. Mas quantas dessas pessoas e, à medida que vamos
podem identificar mais do que dez árvores? C omemos uma boa quantidade de peixes, casa. O clarão de um relâmpago à di stânci a, uma nuvem passando pelo céu, um
mas quantos sabem reconhecer um b acalhau,_um turbar ou um monkfish? A teoria bando de pássaros, um campo de g irassóis, um trator, todos estes objetos estão na
1 sua mais comp leta sin g ularidade, sobre o fundo si lencioso. Cada objeto parece
. . - - - freudiana da repressão sugere que quando sabemos o nome de um objeto isto acaba
gerando uma rede maior de signilicados pessoais, poi s os nomes distinguem objetos ·;r
'' incorporar o espírito de seu s irmãos; uma á rvore que está lá , de pé, perm ite a
e se enredam, de forma bastante inte ligente, com outros nomes, nas emocionantes existência de todas as árvores; uma casa que está lá, revela a presença de todas as
'i1 casas. É como se se contemplasse a pureza de uma forma .
experiências p síquicas da vida cotidiana. A palavra oak (carvalho, em inglês) designa
uma árvore única, mas também contém o fonema Oh , que poderia sugerir yoke Talvez escolhamos ignorar a nomenclatura dos objetos porque somos mais
wcados pela sua forma. Até que saibamos o nome preciso de um objeto, sabemos
(canga, pala, em inglês) e seus significados. Se soubéssemos todos os nomes das
somente seu nome genérico; isto talvez seja um comprom isso entre o mundo natural
diferentes árvores da íloresta . ass im que víssemos uma bétul a, um lo ureiro. um
e O mundo construído pelo homem . Quem sabe nossa escolha seja somente de
d ogwood, um pl átano, ou outras tantas árvores, estaríamos imersos numa sinfonia
passear entre as árvores, as plantas, nossas ruas, a fi m de comungar com a forma
de fonem as, que estari am e m consonância com a orde m visual.
em si mesma. Mas ao q ueb rarmos essas form as damos-lhes seus nomes. E que
1--
1 - nomes usamos? No mes que deri vam da forma em si? É claro que não. Os nomes
1.
t ··
30 Então, por que não fazemos isto?
O problema não pode ser simplesmente intelectual ou cognitivo. Temos até muita
facilidade em lembrar como, por exemplo, se diz em francês: "Por favor, onde fica
o posto turístic o m ais próximo?", ou os personagens dos romances, como Emma
B ovary, do que os nomes das árvores, pl antas, peixes, a lém dos objetos que são
parte de nossa vida cotidiana.

derivam da ordem patriarcal que arbitrariamente nomeia os objetos. Então, será que
não desafiamos o conhecimento dos nomes, recusando a secularização dos objetos
que acreditamos conter um grande peso espiritual?
Prédios e construções anônimas, muitas vezes simplesmente desaparecem no
caldeirão de uma cidade. Podem preenc her nossa necessidade de formas anônimas,
bem como de objetos puros. ai nda não contaminados pelo conhecimento. Escolhemos
viver na ordem visual, e não na ordem verbal. Escolhe mos , assim , viver parte de

f
À primeira vista pode parecer que temos um certo desinteresse pelas árvores, nossa vid a regidos pela o rdem materna - aquele registro de percepção que é guiado
plantas, peixes ou nossas construções. Será que representam tão pouco para nós? pelo imagin ário materno - diferente da ordem paterna, q ue é aquela que nomeia os
Não parece ser este o caso . Então, por que licamos mudos quando se trata de nomear objetos e os insere na linguagem. Parte de nossas errâncias neste mundo visual -
estes objetos visuais? um mundo de co isas sem nome - é uma errância num mundo pré-verbal, organi zado
Talvez a resposta esteja no significado inconscie nte que damos a uma forma por visões, sons, c heiros e afinidades. Este é um mundo nosso, mas que, em muitos
valorizada. Imaginem, por um momento, que de fato gostamos de árvores, que as aspectos. não existe mais. Vive mos dentro de nossas m ães, e depois ao lado dela.
ílores e plantas são muito importantes . Que certas e struturas construídas, sobre as Aí, ao conhecermos nossas obrigações e a linguagem falada, este mundo vai
quais nada s abemos. são verdadeiramente importantes para nós. Elas são parte de desaparecendo, à medid a que envelhecemos. C omo as anôn im as constru ções
nossa vida visual. Talvez tenham sido feitas para permanecer naquela ordem de silenciosas. a ordem materna vai se perdendo com a maturidade nonnal do ser fal ante.
percepção e imaginação, fundame ntalmente como objetos visuais silenciosos. Precisamos saber os nomes das ruas e a localização dos di versos edi fíci os
Lembro-me de estar diri gindo pelas planícies dos Estados da América do Norte públ icos - do local onde se fazem os licenciamentos de veículos à Ópera ; do local
onde. até hoje, se pode viajar por horas a fio, sem se encontrar nenhum outro carro. onde se pagam os impostos ao correio; do local onde se compram ingressos. à mel hor
livrari a - mas muitas vezes precisamos c irc ul ar en tre muitas construções ain da
Inúmeros noveli stas e poetas americanos compararam o capim alto a um vasto
anônimas.
oceano. Ondula com a brisa, como as ondas do oceano numa planura horizontal,
~
' _ R_f_LI S T A
LATINOAMERICANA
DE PSICOPATOLOGIA
FUNDAMENTAL ARTIGOS
"Cada cidadão faz associações com alguma parle de sua cidade" escreve Lynch do que outros. Mais obviamente, isto ocorre quando se foi c riado numa certa área
"e cada imagem está repleta de memórias e significados". Quando caminhamos ou específica. Então, os objetos experienciados durante a infância conterão partes da
viajamos pela nossa cidade selecionamos caminhos, cada um dos quais provocando experiência do self, que serão projetadas nos objetos. como se fos sem recipientes
diferentes efeitos evocativos. "Que dinâmico e bonito objeto é um caminho" escreve n,nêmicos da experiência vivida. Mas qualquer indivíduo encontrará numa nova área
Bachelard, pois ao longo dos caminhos que escolhemos estão os objetos que aspectos mais interessantes, e outros menos, pois gravita em direção a determinados
representam algo para nós. Elegemos os nossos próprios caminhos ao longo de objetos que são pontos de seu devaneio pessoal.
nossas vidas, mesmo que alguns deles estejam ordenados pela mentalidade da cidade. Ao caminhar entre The Great lawn e Tttrtle Pond estou entre duas estruturas
Se pego a via expressa para o aeroporto, ou a única estrada para a balsa, sou guiado distintas (uma, um grande campo de grama verde de Kentucky com diamantes do
pela i111eligência da forma das pessoas que planejaram e executaram os caminhos. baseball aqui e ali; a outra, um grande lago com um penhasco de um lado, e um
Morei em Nova York por um ano. Para ir da minha casa na West 94,h Street para o pântano no setor de grama, do outro); servem às visões públicas (o campo para as
meu consultório na Easr 65'h Street, eu tinha uma vasta gama de possibilidades de representações humanas, o lago para a observação da vida natural), mas cada estrutura
caminhos. uma vez que atravessava o parque. Embora variasse meu itinerário quando evoca associações peculiares para minha vida.
me cansava do meu favorito percurso, tinha prazer em pegar um caminho especial.
Caminhava ao longo do Cemral Park West até a 81-" Street, o que me proporcionava
Tomando, como exemplo, Tlie Great Lawn
uma extensa vista do West Side e das famílias saindo dos elegantes blocos de •
apartamentos para as ruas. Entrava no parque e caminhava entre The Great la1v11 e
Como uma estrutura em si, com sua própria integridade, há uma beleza simples
Turtle Pond, respectivamente o espaço onde se localizavam os campos para jogos
sobre um campo de baseball. A forma de losango da parte interna do campo é de
de basebafl. e o lago cheio de patos e tartarugas. Depois passava por um túnel e ia
margeando o Metropolitan Museum of Art. Às vezes, pegava uma certa rua até terra e a parte externa ao campo é de grama. Num campo de baseball bem
conservado, o contraste entre a grama e a terra é lindo. Como um puro espaço vazio,
32 Cherry Hill, antes de sair voando para a 72nd e Fifth, quando finalmente chegava ao
minimalista, ao excluir os jogadores, representa uma familiar e variada rendição de
33
meu destino. Eu me lembro bem de cada pedaço da minha jornada. Cada um deles
tem sua própria "integridade estrutural", quer dizer, seu próprio caráter. Mas é claro um espaço potencial. Quando os jogadores ocupam o campo, usando uniformes
que o que eles evocavam em mim vai diferir do que estes mesmos caminhos podem brilhantes, no losango do baseball - considerando-se especialmente que vários times
evocar em outras pessoas. E embora eu gostasse muito de estar perdido em ocuparão esse espaço - parece que estamos admirando uma pintura de Paul Klee.
pensamentos durante esses passeios, eu certamente me inspirava pelas implicações Cada time tem nove participantes que, embora ocupem posições estabelecidas, sairão
seqüenciais de cada forma integral. Como sugere um poema de Blake, um "viajante de seus lugares - criando linhas de movimento que se opõem ao contorno de terra
mental" neste mundo. Os caminhos que escolhemos tomar em nossa vida - mesmo e grama - que se transforma numa forma figurativa do expressionismo abstrato: as
que sejam tão simples quanto o caminho que eu escolhia para ir trabalhar - são figuras que se movem criam a abstração que dá ao jogo sua poesia visual.
partes vitais da expressão de nosso próprio e pessoal idioma. The Great lawn considerado não como um objeto integral, mas evocativo -
Cada cidade, então, tem sua própria integridade estrutural (a realização material inspira partes idiossincráticas em mim; foram projetadas naquele espaço, ao longo
das formas imaginadas) pelas quais viajamos. As cidades desenvolvem suas próprias da minha vida - contém uma parte minha que, na juventude, quase foi jogar basebali
relações inter-espaciais: estradas se cruzam, parques são construídos num profissionalmente. Dependendo do meu estado de ânimo, a visão desse campo
determinado lugar, ruas altas são segregadas de áreas residenciais, parques industriais provoca diferentes memórias: a real , uma vontade de jogar. Do outro lado está Turtle
são segregados dos centros de arte e outras coisas do gênero. Se, na evolução de Pond que também é um objeto integral - algo com sua própria integridade estrutural
qualquer cidade, a espacialização é o desenvolvimento inconsciente do espaço, então não alterada pela projeção humana - que é também um objeto evocativo. Não me
as relações inter-espaciais definiriam a psicologia dos espaços como estão relacionados relembra minha juventude, mas o início dos meus quarenta anos, quando morei dois
uns com os outros e na maneira como convidam o cidadão a atravessar fronteiras anos no campo, na parte oeste de Massachusetts. Embora ele evoque o espírito do
e a entrar em novos "nódulos" (Lynch) que definem áreas. Movimentando-se nesta lago - e algumas lembranças dos lagos daquela parte do mundo - também evoca
organização inconsciente de lugares e suas funções, é o indivíduo quem elegerá seus memórias do meu local de trabalho, de meus interesses familiares e questões bastante
caminhos favoritos, e que irá, idiossincraticamente, encontrar lugares mais evocativos pessoais daquela época de minha vida.
r
R E V I S T A_ _
LATINOAME RICANA -
PSICOPATOLO GIA
DE
FUNDAM ENTAL
'1. ARTIGOS
_Sem pen sa r muito sohrc i sso , quando atravessam os uma cidade - o u l_i_ onírica começou
.
a ser influenciad a pelas perspectiva s conseguida s na im aoinação
~
cammh a m os cm nosso bairro - estamos engajados num tipo de sonho. Cada o lhar fJ arquiLelÔ111CU.
que cai sobre um objeto d e inte resse po d e produz ir um mo mento de devane io - Da rci um exemplo melhor: vou contar um sonho recente que tive .
quando pensamos sobre algo m ais, in spirado pelo ponto de contato emocional - e "EsLOu descendo uma ladeira em Laguna Beach que vai dar em Victoria Beach.
durante nosso dia tere mos registros d esse s devaneios, os quais Fre ud c ha m o u d e Es!OU com minha mulher, meu pai e m in ha mãe, meu irmão mais novo que eu , e
inten sidades psíquicas , que ele acreditava serem os estímulos p a ra o sonho d aquela meu filho , e nó s Lodos estamos a fim de ficar re laxando na praia. Olho.para a direita
noite. Como um tipo de sonho , os devaneios produzidos por objetos evocativos e, para minha surpresa, vejo o re flexo de uma onda bate ndo num a lto penhasco
constituem uma importante característ ica d e nossa vida psíquica. Qualquer um que bordeado por a ltas árvores. A onda é de um verde brilhante e translúcido, de maneira
n ão goste de seu bairro sentir-se-á aborrecido , ou com um certo m al-estar, porque que não apaga a visão do penhasco e das árvores. Sobre a o nda há um céu azul e
brilhante e o efeito to tal é visualment e espantoso. Aponto isto para minha família.
a ele é negada a necessidad e vital do devaneio pessoal. Toda pessoa precisa alimentar
Estamos e ncanta dos. A seguir, nos dirigi mos à praia, entusiasma dos. Fato notável,
o bjetos evocativos - os então chamados alimentos p ara o pensamento - que estimulam
porém não incomu m. Na próxima cena, estamos nadando no mar. As o ndas são
os inte resses p s íquicos do self e e laboram o seu desejo, por meio do compromis so
enormes. De repente, vejo meu pai, braços c ruzados, flutuando sobre a branca água,
com o mundo dos objetos. D e fato, e mbo ra lal movimento seja muito de nso para sendo levado em direção à praia, e claramente se divertindo. Na cena final, deixo
ser interpretad o, toda pessoa sente algo prove niente de seu próprio e único idioma- minha família na porta de nosso restaurante favorito, perto de Main Beach (cerca
de-ser, ao se movime ntar livremente pe lo espaço. Ela não saberá o que aquele idioma de duas milhas de Victoria Beach), para dar um pulo até a Dilley 's Bookstore. O
quer dizer, mas sentirá que está se mo ve ndo de acordo com o compreend e a sentimento do so nho é de bem-estar."
inteligê ncia d a forma, mold ando sua vida pela s ua seleção de obje tos. M e u passeio Al guns fatos ajudarão a ilumin ar parte des te sonho , que não submeterei à
L- a través do C e 11tral Park n ão es tá di s ponível para uma s impl es interpretaç ão associação o u interpretaçã o analíticas, mas será usado, em vez disto, para ilustrar
1
j.-
i-:-t .
34 ps ican a lítica (ou qualquer o utra), m as o movimento das reflexões inspiradas é a legre,
e faz parte do sentime nto d e que a vida foi feita para ser vivida, e não somente para
ser dedicada ao pensament o o u à produtivid ade vocacional .
Esta perspectiv a não escapa aos a rquite tos, que certamente conhece m o
pote ncial e vocativo d e qu a lque r uma de s uas obras, m esmo se o preciso idioma do
devaneio vindo dos cidadãos não pudesse se tornar conhecido. E embora possa
ser dito de novas c id ades te re m planejado lugares óbvios para devane ios - parques

um ponto neste ensaio. O sonho aconteceu aproximada mente um ano depois da morte
de meu pai, e suas c inzas haviam sido espalhadas no mar e m Laguna Beach. Victoria
Beac/1 era o lugar onde nossa famíl ia sempre ia, alé os meus catorze anos. ALé os
meus dez anos, meu pai não me de ixava brincar na rebentação das ondas grandes;
eu linha que brincar na água branca. De fato , bem do j eito que meu pai aparece no
sonho.
Num restaurante do S111f and Sand H otel (aproximad amente no meio do caminho

f=
e coisas s imilares - a evocativid ade dos objetos não pode ser traçad a como um a entre Victoria Beach e M ain B each) há um espelho no teto. Sentado numa mesa
com vista para o mar, pode-se também olhar para cima e ver o movimento das ondas
viagem psíquica, mesmo se o planejame nto da Disneylând ia na Califórn~a (sem
no teto, um efeito visual incomum e agradável.
direções, somente O próximo reino da vida da fantasia) te ntar provar a exceçao. Mas
Acho que incorpo re i esta inovação do design no meu sonho, no qual eu via a
sabemos que as estruturas vivas encontram seu caminho em nossos sonhos à n01te,
o reflexo da o nda batendo na montanha. Mas o objeto e seu design original - um
e está aqui _ no mundo dos sonhos - onde as visões do arquiteto e os sonhos do
espelho - parece também uma parte do sonho, quando meu pai espelha minha maneira
cidadão e ncontram uma curiosa comunhão . de nadar, como quando c u era menino. Somente agora que ele se foi - disperso
A ssim como os atenienses devem certamente ter tido o Parthen o11 e_m seus pelo mar - e embora e u possa ser a cabeça da família (vitorioso no sentido cdípico.
sonhos, nós também sonhamos com estruturas vivas. O inconscient e então vai operar como no no me d a praia), meu filho está também na viagem para o mar e e ntão , de
no reino material do construído , 0 inconscie nte que orga111za cad a encontro do self. uma certa m a neira, o meu fim também está presente.
Arquite tos vi sio ná rios desejam que s uas construçõe s sugiram s~nhos para seus O restaurante não existe mais. Nem a Dilley s Bookstore. A não ser em meu
ocupantes, e eu sustentarei que, até o~~e saben:ios, as est~uturas :1vas e ntram nos sonho, ou no mundo da literatura. O fa lo de sair correndo para a livraria, pode mui lo
nosso s sonhos e afetam nossa vida onmca. D e fato, podenamo ~ _d izer qu~ so,'.11~nte bem ter sido a expressão de um desejo, a respeito da tarefa de escrever este ensaio,
quando a perspectiv · a nas artes f01· a Jcançad a, por m e. io dos eleitos· arqu1teL0111
. .cos não por acaso agora já escrito, embora não seja uma boa obra literári a.
da arquitetura d a Renascenç a (a extraordiná ria influência de Brunellesch t), nossa vida
r .~!'lo.:

:::--.....
..... .l, --, ,
R E V 1 __5 T A
LATINO,'.MERICANA
OE P51COPATOLOGIA
fUNDAMENT,'.l ARTIGOS
Por alguns dias depois do sonho, eu me coloquei uma pergunta que já havia , Os arquitetos intermitentemente jogam com a idéia de encontrar o desejo do
me ocorrido antes, a respeito de memoráveis sonhos anteriores. Qual seria a função seff para a outra função integral do objeto (aquela da evocação). Na encosta de uma
de tão viva beleza? Por que o inconsciente se importaria em construir tais cenários? ontanha, que se estende de Hampstead Village até Golders Green na parte norte
Quem sabe os sonhos verdadeiramente profundos sejam para nunca mais serem • ;e Londres fica uma conhecida escola progressiva. Os prédios da King Alfred's
esquecidos, para serem comemorados para sempre, por meio de um alto grau de School circundam um grande e irregular campo esportivo, o qual é ligeiramente
"imaginabilidade". Talvez seja nossa tarefa passá-los adiante, de uma geração para a circular. Já na entrada da escola, à esquerda, vêem-se pequenas construções onde
seguinte. Não seria esta parte nossa, a que constrói o sonho inesquecível - até mesmo ~ ficam as cr\anças pequenas. Em torno do campo, outros prédios abrigam as crianças
os mais prosaicos - a mesma parte que, em nós, busca construir estruturas i maiores. A Lower School,ao longo dos últimos anos, construiu muitos outros prédios
inesquecíveis? · ue captam o olhar dos curiosos pais que os visitam, como símbolos de modernidade
Seria um sonho a arquitetura visionária? Será que construímos estruturas i ~ bom aproveitamento dos recursos. Existem fortalezas de madeira para os que
monumentais para serem sonhadas nos nossos sonhos e estendidas nos sonhos das gostam de aventura, quadras de tênis e um ginásio; há também uma construção
gerações que virão? Ainda que elas signifiquem a morte na terra, a imóvel massa retangular, dos anos oitenta; uma espécie de espaço pagão, chamado Sq11irrel Hall
inerte de silêncio, por que deveriam ser vivas? Não desejaríamos que a morte fosse "' que tem uma castanheira no meio, onde os adolescentes e os mais velhos ficam; há
marginal e di screta, por tanto tempo quanto fosse possível? A estranha conciliação também o 8/ue Building. Este é um prédio novo construído sobre pilotis, que se
conseguida pelo monumental é que ele é tanto um sinal da vida, como um sinal da ~ ergue sobre um antigo prédio que era para ser provisório; um dia, quando a escola
morte. Quando dormimos penetramos na escuridão, talvez, quem sabe, para ·nunca puder demolir o velho prédio, os pilotis funcionarão como uma nova pele para a
mais retornar. Sonhar é ter uma amostra da experiência vivida, levando conosco t nova estrutura. Os pais questionadores e os membros da escola vêem o espírito da
toda nossa história para a escuridão. Se sobrevivemos para viver um outro dia, melhor. educação progressiva nessas estruturas, em parte porque ela significa inventividade
M~s nossos objetos dos sonhos, o mobiliário da noss~ vida, podem ser as últimas i" econômica e adaptabilidade integrativa. Entre a estrutura retangular, a "área pagã", ]l
jQ
coisas que vemos, antes que tudo se tome completa e 1rrevers1velmente escuro. Um :: e o Bllle B11ildi11g existe pouca integridade arquitetônica (como na maioria das vezes
monumento que sustenta a morte em sua massa, suposto irônico triunfo do em que vão se fazendo evoluções arquitetônicas, sem nenhum plano inicial), mas,
inorgânico sobre o orgânico, da criação sobre o criador, pode transcender sua no entanto, parece funcionar. Dois bodes amarrados ficam no centro do grande
terminabilidade com evocativa sugestionabilidade. Ele pretende, em outras palavras, campo; as crianças e a faculdade estão nos primeiros nomes nesta escola; em
estimular a imaginação enquanto caminhamos pelas sombras da morte. diferentes estágios de suas vidas, constroem pequenos vilarejos no campo para
Uma cidade em particular parece ter compreendido a estranha ambigüidade do aprenderem sobre materiais, planejamento, execução e coabitação. Assim, a evolução
monumental como um intercâmbio entre a vida e a morte. Quando o sol se põe e a do design na King Alfred's School parece ter capturado a capacidade sobredeterminada
escuridão desce em pleno deserto de Nevada, a cidade de Las Vegas ganha vida, das construções. São feitas para ter determinadas funções, mas também podem servir
como se lançasse luz, de forma extraordinária, sobre o desejo humano. Talvez a diferentes implicações evocativas. No interessante local de encontro das crianças,
capitalize, em todos os aspectos, sobre a natureza desejante do evento onírico. Durante pais, educadores e administradores, estruturas são construídas, o que dá segurança
o dia, as construções de Las Vegas são apagadas e desinteressantes, uma razão a a todos (eles podem dormir em paz) e constitui um tipo de sonho personificado.
mais para seus visitantes dormirem durante o dia (talvez mantendo a cidade da noite Uma escola progressiva como a King Alfred's, mesmo se dotada com os fundos
viva no sonho) esperando pelo momento de acordarem e reentrarem na visão necessários, nunca iria destruir a estrutura existente para construir uma escola
noturna. Vive-se no meio de um tipo de sonho controlado em Las Vegas que, nos inteiramente nova; nem desejaria construções provisórias (embora existam muitas
últimos quinze anos, alargou o alcance de seu mobiliário onírico, para incluir a cidade que já estão lá há uns trinta anos). Para que cada criança possa se expressar, isto é
de Nova York e as Pirâmides do Egito. Talvez o mundo esteja se sonhando por meio _, feito sob a forma de construção. Ela precisa ir em frente, no seu próprio ritmo,
dessa estrutura arquitetônica. Parece que os planejadores de Las Vegas, astutamente, ~ respeitando sua capacidade progressiva. King Alfred's School é um tipo de mundo
estenderam a função evocativa do design para influenciar a vida onírica dos cidadãos, de conto de fadas que procura atender às diversas exigências de seus participantes,
num lugar onde o design e o sonho podem se encontrar, no meio da noite, para , sonhando um caminho de uma realidade compartilhada, num ritmo que é próprio de
lucros e perdas de todos os participantes. cada um.
REVISTA
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LATINOAMERICANA
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FUNDAMENTAL ARTIGOS
. E,1~1 ~posição a_ estes s?nhllS do design - de uma Las Vegas ou uma King para apreender a visão, o self talvez seja lançado de vol ta à criança boquiaberta de
Ali red s ~chool - estao os objetos que parecem ter sido f'citos para incomodar. Tanto t.
sUrprcsa, quando um o utro surpreendente objeto é apresentado a ela. Certamente a
a Ton-e Eiffel , em Pans, quanto a Telecom Towe,; cm Londres, foram consideradas 1 escala de Nova York nos coloca a todos de volta nos re inos da criança entre os
com? •:m_erd,~" ~Jor muito~. O que poderíamos pensar como "excreções !!igantcs. Mas o espetáculo do objeto, seu valor espetacular, avalia a história de
arqu1teto111cas . sao construçoes que parecem ter sido construídas com a intenção q~alqucr self na sc ido num mundo de surpresas. Assim. também faz o
de 111comodar a população. Representam , apesar disto, traços interessantes do "Yuuuuuuuuuuck 1" e o olhar desviado expressa os desprazeres cm relação aos objetos
111conscien1c arquitc~ônico. O objeto " incomodativo", a coisa ofensiva ao olhar, pode que não são bem-vindos no início d a vida. Ou o comum, mas s urpreendente design
ser criada pelo arq~ncto. ou passa a existir pelas mãos dos urbanistas e plancjadores _ por exemplo, de uma pequena loja recém-construída, que se encaixa
como um desafio mconsc1ente à população. Deixando de lado o simples sadismo adequadamente num local previamente abandonado - poderia extrair um "Ahhhhh !
como a razão para tais atos ofensivos, por que precisariam os "excrementos Eu não sabia que isto estava lá!" Para construir o evocativo em qualquer e scala, há
arquitetônicos" ser tolerados? que se abrir para o psicossoma, expandindo a mente e o corpo num ato singular de
A arquitetura, para se desenvolver, comete erros. À medida que novos materiais recepção, ligando o novo objeto à agradáve l sensação de surpresa. Como foi
se desenvolvem podem ultrapassar a compreensão do a rquiteto nas suas limitações discutido anteriormente, as construções se aproveitam de nosso espanto inconsciente
p
e. por um tempo, estruturas ruins certamente serão produ zidas. Mas o objeto da estatura do mundo físico - o "perder o fôlego" que a visão de uma montanha
excremcntal de uma geração pode ser o ouro da outra, como é. de uma certa forma. pode provocar, o u o mar, a pradaria. e neste ponto e les têm um potencial
o caso da Torre Eiffel hoje em dia: pelo menos os turi stas a admiram bastant~. O ontológico: podemos retroceder às nossas origens. às nossas primeiras pcrcepções
objeto ofensivo. no entanto, pode ser inconscientemente bem-vindo - mesmo se do objeto.
for conscientemente criticado - porque levanta uma interessante questão psico- Quando isto ocorre, a obra sustenta uma espécie de espírito do lugar, seu design
espiritual. Será nosso se/f nada mais do que merda depositada sobre esta terra? À estabelecendo um valor ontológico, à. medida que somos reenviados ao lugar do 39
38 medida que nossos corpos decaem. à medida que vemos os sinais de nosso desgas te, nascimento, para o tempo c m que os novos objetos nos deixavam boquiabertos,
sabendo que um dia seremos comidos pelos vermes e teremos mau cheiro, sairá como agora, abrindo também nosso psiquismo para o con tínuo espírito do
alguma coisa desta excreção? Seremos um dia verdadeiramente ressuscitados? Como nascimento. Se o corpo matemo, do qual viemos, puder ser considerado como o
poderia algo ser feito com nossos restos mortais? Deus que nos faz nascer no nosso ser, então a apresentação subseqüente que a mãe
A mesma questão é levantada quando os arquitetos criam merda. Certamente, faz dos objetos pode ser vista corno consagrações do mundo objetal. Cada o bjeto
as pessoas pen sam: como pode este excremento algum dia vir a ser alguma coisa? que a c riança põe na boca para o leste do palad ar, representa uma comunhão do
Que forma de intervenção nas mentes das gerações vindouras poderi a possivelmente seio materno. Em nosso inconsciente, então, as construções sustentam (ou falham
transformar esta porcaria cm ouro? Disfarçado nesta moldura mental incomodada, cm sustentar) esta comunhão. Este seio bom, como o denomina Mclanic Klein , está
pode muito bem estar um desejo profundamente oculto: de que um dia seja possível disseminado no mundo objetal, e será encontrado por cada um nos objetos que
que esta obra seja amada por aqueles que com ela convivem. Talvez os "restos" deixam o ser humano boquiaberto, seja no sentido físico ou mental. Os novos objetos
sejam transformados cm matéria viva. Talvez o rejeitado seja o ressuscitado. E se encontrados podem passar o u fa lhar neste teste do pa ladar. As pessoas terão
assim for. isto irá acontecer na mente do homem. Aquilo que incomoda a visão, diferentes idéias sobre o que é bom ou ruim.
então, espera por uma futura moldura mental, talvez uma mais sofisticada do que a
nossa própria, talvez uma que iní funcionar no mundo da medicina futuri sta, quem Será a visão divina'?
sabe mesmo num mundo onde, pela reprodução do DNA tirado de nossas amostras
de sangue, possamos ser ress uscitados depois de tudo. Talvez, então, estas pilhas Os designers e os arquitetos criam um mundo de paladar ou para o paladar, e
de res tos s ejam estranhas orações para o futuro, muito diferentes daquel es herdam a tarefa da mãe, que dá a luz ao self. num novo lugar. com nova~ visões e
monumentos admirados e discutidos anteriormente. novos objetos. As c idades sempre terão suas áreas con hecidas e propícias ao espanto,
Novas construções, especialmente as vis ionárias, evocam os sons do espanto. - mas os pequenos objetos da vida material - um copo, talheres, um lus tre e le. -
No campo visual do Empire Srare Building devem haver inscrições auditivas de muitos também representam um pequeno pedacinho passível de provocar prazer. O amor a
"Aaaaaaahhhhhh's" ou "Ooooooooooh's" ou "Wooooowwwww's". A boca se abre
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REV151A
lAliN OAMERIC-'NA
DE P5ICOPA10l0GIA ARTIGOS
fUNOAMEN lAl
A maioria das cidades têm mercados ao ar livre, com peixeiros e produtos da
nossos objetos, algumas vezes algo da ordem de um embaraço, é uma paixão que . , a praça do mercado sustenta algo destes espíritos. Pescadores ou
. . . .
fazen d,1. e . . . . -
- e
n:prcscnla uma comunhão. . )tores por exemplo, v1s1tando a praça do mercado sent1rao que suas vidas
_ , _ . . . .
agncu ,
O mundo feito pelo homem . conLraslado com o mundo natural levanta, no d do peixe ou da produçao agncola - cstao, de uma certa maneira,. a11
o rnun o . . .. d
entanto, uma dualidade diferente. pois os objetos construídos parecem ser tes- rcscntados. Algumas vezes. os urbanistas e arquitetos fazem mais o que isto.
temunhas da ordem patriarcal, enquanto o mundo natural se assemelha mais à or- rcp en por exemplo no porto central existem vários tanques de peixes bem
Em 8 erg ' . . . , . .. .
dem materna. Como discutimos existem, no entanto, incontáveis formas de inter- . Assim os cidadãos e os turistas podem olhar essas mcnvc1s criaturas do
gran dcs. , . .
câmbio entre as ordens materna e paterna. Se permitirmos que a decisão sobre in- mundo se moverem cm tanques de água do mar. Em Helsmk1 e Gothenburgo ,
outro ,d ( · ) à ·d
seminação seja uma ação patriarcal - peguem um templo grego por exemplo - e lugares de honra também são dados ao mar, a seus conteu os o peixe , e · s v1 as
sua consLrução seja nomeada pelo homem, então seu nascimento para o recém-che- dos homens e mulheres que trabalham nes,se mun_d ? (os pesc~dores). Mas um~
gado (isto é, o primeiro momento de vê-lo) sempre vai relembrar a apresentação arquitetônica equivalente ao mvel espmtual do peixe. desapareceu . ha
representação .
materna do objeto surpreendente. Se o monumento se parecer com uma insíg- ai um tempo da área próxima da O/d Town em Estocolmo. onde antigamente existia,
nia do triunfo monolítico do inorgânico sobre nossas vidas orgânicas, então o fato !ue representa uma perda de um elemento do espírito da cidade. .
0
de nomearmos suas estruturas com nomes de partes de nossos corpos busca ins- No tempo do s partidos Tory. a impiedosa destruição das comunidade s
crição. Estes mesmos templos, também recebem nomes de parles do mundo mineradoras da Grã-Bretanha, durante o reinado de Margaret Thalcher. o Covent
animal e botânico, assim como as pinturas das cavernas e as tumbas egípcias con- Garde11 (o mercado de frutas e vegetais do centro de Londres) foi tran sformado
têm representações ou artefatos do mundo natural. Reunimos objetos da ordem ma- em boutiqucs e lojas para turistas. O novo Cove11t Garden foi transferido para muitas
terna e paterna e das form as de vida e de morte desde o começo dos tempos, milhas adiante. Neste momento, Smithfield's (o mercado de carne de Londres) está
numa seqüência de justaposições que é parte da obrigação inconsciente da ar- também sendo reexaminado e será brevemente transformado cm mais boutiques e 41 )
quitetura. lojas de designers. Não há necessidade de se entrar em conflito com a necessidade
40 O parque da cidade, o jardim dos fundos da casa, a planta envasada no quarto, estrutural do que foi citado acim a. Talvez tenha sido necessário reestruturar a indústria
as flores no vaso, são emblemas do mundo natural no mundo construído, assim da mineração, recolocar e expandir o mercado produtor, assim como há necessidade
como uma pequena capela na floresta, ou uma escultura na campina são signos da
de se recolocar o mercado de carne. Mas se o meu argumento estiver correto. o
ordem construída no mundo natural. planejamento e a construção não são simplesmente funcionais, mas deve haver um
Estas formas de intercâmbio são momentos espirituais, se nós entendemos por
trabalho com o significado, o trabalho da comunhão espiritual, caso contrário, a
isto que cada personificação carrega consigo o espírito do significante. Uma flor
erradicação desses lugares do centro da cidade passa a equivaler a uma forma de
num vaso representa o espírito das flores; uma igreja no bosque representa o espírito
eliminação espiritual.
da fé cristã. O planejamento urbano não é simplesmente funcional e pleno de sentido
de uma forma localizada, ele também envolve um tipo de psico-espiritualidade, isto Basta visitar o Pike Place em Seattle Washi11gto11 para ver como o mar e a
é. está investido com a tarefa psicológica de trazer o espírito da vida de um terra podem estar íuncional e espiritualmente localizados. O planejamento pode
determinado lugar. facilmente alocar a vasta maioria de seu peixe, carne e produtos agrícolas para os
Nosso tempo não permite uma análise mais extensa da sociedade ocidental - perímetros da cidade. Ao mesmo tempo, compreendeu-se a necessidade tanto
vamos então nos limitar à representação espiritual de determinados fenômenos sociais daqueles que trabalham nos campos distantes, como do povo que vive na cidade,
vitais para a vida humana. Poderíamos analisar uma casa em termos de espírito de de lerem uma relação espiritual uns com os outros. (Lembrem-se: por espírito, quero
se u encanamento, ou o espírito de sua calefação, ou o espírito de seu espaço de dizer o idioma preciso do cícito evocativo derivado da integridade de cada um destes
vida. Cultivamos a terra e pescamos no mar. Nossa sobrevivência depende destas reinos di ferentes).
duas atividades muito antigas. Na cidade moderna, os frutos da agricultura e da pesca Não há razão, então, para que uma cidade como Londres, por exemplo, não
serão encaminhados para os grandes supermercados, mas talvez devêssemos nos pudesse ter cm seu centro um monumento para o submundo da mineração de carvão
perguntar se, arquitetonicamente, estamos conseguindo representar o espírito do e para o espírito da mineração. Os grandes vilarejos de mineradores de Yorkshire e
pescador, assim como o espírito do agricultor e da agricultura. Gales puderam encontrar representação espiritual em sua capital, onde metade de
---,- RE V I STA
LATINOAM ERICANA
OE PSICOPATO LOGIA
FUNDAM ENTAL
ARTIGOS
um quarteirã o foi desenhad o para revelar este espírito. O mesmo poderia ocorrer
O psicanalis ta inglês Wilfrcd Bion argument ou que a vida mental não pode ser
com a indústria naval, a indústria automobi lística e assim por diante. faiscada. A única razão pela qual desenvolv emos a mente. sustenta Bion, é porque
Tai s totens convidar iam os mundos espirituai s dos homem e das mulheres a ieinos pe nsamento s, e eventualm ente pensamen tos demanda m um pensador para
cncontr~ r seus lugares de represent ação. Não po demos negar a importân cia ensá-los. Temos muitas experiênc ias na vida. mas se essas experiênc ias não forem
do
monotc1 smo, mteressa nte e repleto de sentido. No entanto, foi o monoteís mo que ;ransform adas cm algum tipo de material para o pensamen to, de acordo com Bion,
acabou com o mundo espiritual personific ado, que se manifesta va sob a forma elas seriam "experiên cias indigestas " e ele dá o arbitrário si nal B, ou beta, para tais
de
diferente s deuses menores (por exemplo, o espírito do milho, o espírito da chuva elementos. Mas se o self estiver em formação , os fatores ônticos da vida podem
etc.). Ele provocou uma erradicaç ão sem sentido do espírito da vi da na terra. Todos t
encontrar significaç ão ontológic a, e podemos fornecer alimento para o pensamento,
;;_
nós nos originam os da mãe, no mesmo sentido monoteís ta. Mas como podemos
ao qual ele atribui o lermo A ou alfa.
honrá-la, lendo realizado a destruiçã o dos espíritos corporific ados do mundo objetal
Vamos tomar empresta do algo do pensamen to de Bion na nossa reflexão sobre
que nos deram acesso ao gozo? O monoteís mo poderia ser então considera do uma
a vida de um vila rejo·ou de uma cidade. A mera existência de construçõ es e cidades
espiritual idade totalitária , presidida pelo que André Green denomino u como uma "mãe
não significa que elas lenham uma mentalida de. Elas podem já ter sido "um corpo
morta". uma figura cuja angústia psíquica, preocupa ção consigo mesma e demência
de formas inteligen tes" , m as que podem estar mortas. Os habitantes da cidade
impedira m-na de passar algumas coisas para seu filho, como a relação da criança
com a realidade . poderiam ser pressiona dos para extrair das cidades função beta - que é uma operação
puramente funcional - qualquer ali mento para o pensamen to: nada de lendas, mitos,
Parte da tarefa do inconscie nte arquitetôn ico, então. poderia ser sobrevive r ao
memórias, sonhos, contempl ações, novas visões, como Jersey City no estudo de
genocídio monoteís ta da diferença , por meio da diversida de das estruturas. Assim,
Lynch. Mas se a cidade se transform a. gerando novas formas de vida, então ela
1- -.- ~ pelo menos supriria a forma para muitos espíritos, embora ainda as verdadeiras casas
estaria criando Alfa - que é o alimento para o pensamen to - e a mentalidade da
p
para os espíritos da vida tenham que ser mais compreen didas e estudadas .
42 Cinqüent a anos antes da construçã o da Torre Eiffel, Roland Barthes nos relembra
cidade. sua formação inconscie nte de si mesma e de seus habitantes , e estaria viva
que o romance do século XIX materiali zava na imaginaç ão literária o ponto de e saudável.
perspecti va, criando uma visão panorâmi ca do que seria realizado na tecnologia da A topografi a do sul de Orange Co1111ry, na C alifórnia. mostra como os
Torre. Num capítulo do Hun chback of Notre Dame, que nos fornece uma visão planejadores tentaram passar direto de beta para Alfa, do indigesto para o digerido,
aérea da cidade e cm Tableau Chro11ologiq11e, de Michelet, ocorre o mesmo. Nessas por meio da criação de cidades já prontas, com temas como Spanish Vil/age ou
obras, avista-se Paris do alto, algo que se faria mais tarde, quando a Torre fosse Cape Cod. As escolas , parques, shopping centers, e bairros graduado s de moradia
construíd a. Barthes argument a que a literatura de viagens tinha descrito cenas da foram executad os de uma só vez. num rápido e único ato de desenvolv imento.
vida, mas o viajante era sempre jogado 110 meio da cena, ao descrever a sensação Certamente tinham a intenção de fazer transpare cer o espírito do lugar (por exemplo,
do novo. Nesses romances e da Torre uma "nova percepção " nasce, "a da abstração Spai11. na Califórni a, ou Cape Cod também na Califórni a), reproduz indo uma
concreta; isto, além do mais, é o significad o que podemos atribuir hoje à estrutura mentalida de. Mas isso não é o mesmo que percorrer todos os estágios dos confl itos
da palavra: um corpo de fonnas inteligent es". Olhando Paris do alto, vê-se a estrutura humanos que fazem um a. comunid ade crescer, juntame nte com seu próprio e
da cidade como um corpo de formas inteligent es. verdadeiro espírito.
A multiplic idade de dialéticas co-lermin ais que impulsion am as diferentes inte- As novas e anódinas cidades do sul de Orcmge Co1111ry, na Cal ifó rnia, são os
ligências de uma cidade - erradicação e criação de novas ruas. novos parques, escolas equivalen tes, em termos de cidades do falso se/f humano, uma identidad e inventada
etc. - constitui o corpo que dá forma a ela. Como a vida inconscie nte de qualquer que toma o lugar de uma autêntica vida cívica. Esses ambientes, por si só, sugerem
self. a inteligênc ia das formaçõe s e transform ações urban as deriva não de um único que seus habitantes compartil hem um tipo de superficialidade do se/f. tencionan do
estímulo, mas de uma matriz dinâmica de muitas influência s, que apesar disto pare- viver numa aparente e imediata normalida de, como se o tema da cidade-pa rque ti-
cem, cm tempo, criar sua mentalida de. Embora aquela mentalida de, ou, permita- vesse verdadeir a integridad e. Tais lugares seriam assim formas vazias, inteligências
nos dizer, visão coletiva - um sonho derivado dos muitos constituin tes - possa ser falsamente presumida s, objetivan do produzir uma mentalidade, fotocopiando e trans-
destruída . uma vez viva e num lugar, constitui um sistema inconscie nte muito parti- pondo outros lugares e mentalidades para o novo lugar. Se Lynch estudasse essas
cular, que irá gerar os significad os complexo s de uma cidade e seus habitantes. cidades diria que seus habitantes foram possuídos por um contentam ento curiosa-
R EVISTA
LATINOAMERICANA
OE PSICOPATOLOGIA
FUNDAMENTAL ARTIGOS
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WiNNICOlT, D.W. ( 1986). "Berlin walls", in Home is Where we S1ar1 From. London.
escreveu que

Um diagrama do indivíduo humano é algo que pode ser feito e a superposição ,·..
de mil milhões destes diagramas representa a soma total da contribuição dos indivíduos Resumos
que compõem o mundo e ao mesmo tempo é um diagrama sociológico do mundo.
De modos interesantes, el mundo de la arquitectura - generalmente aquí defini-
·:·- - - Resta-nos seguir o projeto psicanalítico, em direção a todas as suas implicações, do como la preoc11pació11 deliberada con e/ a111biente humano construido - y el mundo
não simplesmente como tem acontecido no estudo da literatura e da cultura, mas dei psicoa11álisis - ge11era/111e111e declarado como e/ lugar para e/ estudio de la vida
em todo lugar, como no estudo contínuo das dimensões inconscientes da arquitetura, e tal inco11scie11te - e11trecruza11se. Una co11strucción deriva de la i111aginació11 hu-
111 11
ou o que Guy Debord, um situacionista francês denominou "psico-geografia", o mana. e11 1111a dialéctica que es amp/ia111e11te i11f/11enciada por muchos factore s
estudo e manipulação de ambientes para criar novas atmosferas e novas possibilidades co11 tribuyentes - su f1111ció11 declarada, su relació11 co11 el entorno, s11s posibilidades
psíquicas. (Harris) funcio11 ales, su aspecto artístico o su design , los deseos de su cliente, la respuesta
O projeto psicanalítico é objeto de estranhas críticas, especialmente da mídia a11ticipada dei público y muclws oiros fac/ores que constituyen su estructura psíquica.
anglo-saxã. Num momento da história da nossa civilização, em que pensamos mais Mismo que la obra sea proveniente dei idio111a conocido de su arquitecto - e esto que-
sobre a natureza constituinte da vida inconsciente, em todas as suas formas, seria, da claro en w, Le Corbusier o en 1111 Mis Van der Roe - e/la pasa también por muchas
no mínimo, uma maneira estranha de entrar nos próximos mil anos, fechando os imágenes mentales, derivadas de diversos factores, qtte serán parte de la dirección i11-
44 olhos para uma nova visão, com propriedades únicas, levando em conta os fatores co11scie111e dei proyecto dei arquitecto. ~)
( .-.'-------i que estão além do campo da nossa visão imediata. Fora da visão não deveria significar Palabras llave: Arquitectura, inconsciente, psicoanálisis, formas
fora da mente. Minha esperança é que, acalentando o projeto psicanalítico por outros
¾'. .....
cem anos, possamos aniquilar as forças da cegueira. De façam· i111éressa11tes, le monde de l 'architecture - de façon générale défini ici
comme /e souci délibéré par rapport l 'ambiant humain construi/ - et /e monde de la
Referências bibliográficas psycha11a/yse - de faço11 gé11éra/e déclaré comme /e lieu pour /'étude de la vie menta/e
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LATINO AMERIC ANA
DE PSICOPATOLOGIA
FUND AMEN TAL
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tire s11rro1111di11gs, its f1111 ctio11a/ possibilities, ir.1· artistic aspects ar design. /ris c/ie111s
1ris/res. tire 1mblic 's foresee11 resp011se to it a11d 111a11y others items tirar embody its psyc/ric
stmct11re. Even if tire work is derived from tire arc/ritec t's we/1 knmvn idio111 - a,u/ tirat
gets clear 111/re11 we deal with arc/1itects as Le Corb11s ier a,rd Mies Va11 der Roe - it also
goes t/1ro11g/1 diverse 111e11tal images triggered by a 1111111ero1ts factors
that will wke part
i11 tire 1111cm1scio11s g11ida11ce of tire architect 's project. Cat ástr ofe e rep res ent açã o
Kc)' words: architccturc, unconsc ious, psychoanalysis, shapcs
no Gru po Bal int
Gilda Kelner
Marcos Barretto
Josélia Quintas
Manu el Caet ano de Andra de Filho
40
Descreve-se o seguimento de 11111 pa-
ciente internado na UTI de 11111 grande
hospital de emergência, durante quaren-
ta e dois dias, acompanhado 110 grupo
BALINT.
Trata-se de 11111 suicida pelo fogo ,
tendo tido 92% de sua superfície corpo-
ral comprometida.
Reflete-se sobre o gra11de sofrimen-
to do paciente e da equipe e o suporte que
o grupo pôde oferecer-1/res.
Palavr as-chav e: Psicaná lise, castástrofc,
representação, hospital
p;•j

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