Está en la página 1de 8

[B lo c a » « E S S IC I

■ M E D IT A C IO N SEGU NDA

D e in naturaleza del espíritu humano;


y qué es más fácil de conocer que el cuerpo

M i meditación de ayer ha llenado mi espíritu de tan­


tas dudas, que ya no está en mi mano olvidarías. Y , sin
embargo, n o veo en qué manera podré resolverlas; y, como
si de repente hubiera caído en aguas muy profundas, tan
turbado m e hallo que ni puedo apoyar mis pies en el fondo
ni nadar para sostenerme' en la superficie.'-'Ш гб un -es­
fuerzo, pese a todo, y tomaré de nuevo la misma vía que
ayer, alejándome de todo aquello en que pueda imaginar
la m ás minima duda, del mismo m odo que si supiera que
es completamente falso; y seguiré siempre por ese camino,
hasta haber encontrado algo cierto, o al menos, si otra
cosa no puedo, hasta saber de cierto que nada cierto hay en
el mundo * .
Arquímedes, para trasladar la tierra de lugar, sólo
pedía un ponto de apoyo firme e inmóvil; así yo también
tendré derecho a concebir grandes esperanzas, si por ven­
tura hallo tan sólo una cosa que sea cierta e indubitable.
A sí, pues, supongo que todo lo que veo es falso; es­
toy persuadido de que nada de cuanto mi mendaz memoria
me representa ha existido jamás; pienso que carezco de sen­
tidos; creo que cuérpo, figura, extensión, movimiento, lugar,
no son sino quimeras de m i espíritu. ¿Q u é podré, entonces,
tener por verdadero? Acaso esto solo: que nada cierto hay
en el mundo.

* Mantenemos el juego reiterativo de palabras del autor, pa­


tente sobre todo eo la edición latina: «pergamque porro doñee aliquid
certi, vel, si nihil aliud, saltern hoc ipsum pro certo, nihil esse certi,
cognoscam». (1Я. de! T.)
24 M E D IT A C IO N E S / D E S C A R T E S

P e ro ¿ q u é sé y o si n o habrá o tr a co sa , distin ta d e
l.!9 q u e a cab o d e rep u ta r in cierta s, y q u e sea a b solu ta m en te
in d u d a b le ? ¿ N o h abrá un D io s , o algú n o t r o p o d e r , q u e m e
p a n g a en e l esp íritu estos p e n s a m ie n to s ? E llo n o es n ece-
s ic io : tal v e z s o y ca p a z d e p r o d u c ir lo s p o r m í m is m o . Y y o
m ism o , al m e n o s , ¿ n o soy a lg o ? Y a h e n eg a d o q u e y o ten ­
ga se n tid o s n i c u e r p o . C o n t o d o , t itu b e o , pu es ¿ q u é se sigu e
de e s o ? ¿ S o y tan d e p e n d ie n te d e l c u e r p o y d e lo s sen tid os
que, sin e llo s , n o p u e d o ser? * Y a e s t o y p e rsu a d id o d e q u e
r.ida hay e n e l m u n d o ; ni c ie lo , ni tierra, n i esp íritu s, ni
c u e r p o s , ¿ y n o e s to y a sim ism o p e rsu a d id o d e q u e y o ta m ­
p o c o e x is t o ? P u e s n o : si y o e sto y p e rsu a d id o d e a lg o , o
rneram entefs[^ pien so a lg o , es p o r q u e y o s o y s. C ie r t o q u e hay
r.3 s é qu é e n g a ñ a d o r t o d o p o d e r o s o y a stu tísim o, q u e em p lea
toda su in d u stria en b u rla rm e. P e r o e n to n ce s n o ca b e d u d a
e s q u e , si m e en ga ñ a , es q u e y o s o y ; y , en gá ñ em e cu a n to
qu iera , n un ca p o d r á h a cer q u e y o n o sea nada, m ien tra s y o
esté p e n sa n d o q u e s o y algo. D e m anera q u e , tras p en sa rlo
bien y ex a m in a rlo t o d o c u id a d o s a m e n te , resulta q u e es p r e ­
ciso c o n c lu ir y da r c o m o co sa cierta q u e esta p r o p o s ic ió n :
yo s o y , y o e x i s t o , es n ecesa ria m en te v erd a d era , cuantas v e ­
ces la p r o n u n c io o la c o n c ib o en m i esp íritu .
A h o r a b ie n : ya sé c o n certeza q u e soy , p e r o aún n o
sé c o n cla rid a d q u é s o y ( 3 ) ; d e su erte q u e , en a d ela n te, p r e ­
ciso d e l m a y o r c u id a d o para n o c o n fu n d ir im p ru d e n te m e n te
cira c o s a c o n m ig o , y así n o e n tu rb ia r e se c o n o c im ie n t o , q u e
sosten g o ser m á s c ie r t o y e v id e n te q u e t o d o s los q u e h e te n i­
do a n tes.
P or e llo , ex a m in a ré d e n u e v o lo q u e y o c re ía ser, an­
tes d s in cid ir é n e sto s p en sa m ie n to s , y qu itaré d e mis a n ti­
guas o p in io n e s t o d o l o q u e p u e d e c o m b a tirse m e d ia n te las
r iz o n e s qu e a c a b o d e alegar, d e su erte q u e n o q u e d e nada
i r is c u e lo e n te r a m e n te in d u d a b le . A s í, p u es, ¿ q u é es lo q u e
arues y o creta se r? U n h o m b r e , sin d u d a . P e r o ¿ q u é es un
h o m b r e ? ¿ D ir é , a ca s o , q u e u n anim al r a cio n a l? N o p o r
c ie r t o : pues h a b ría lu e g o q u e a v erig u a r q u é es an im al y q u é
es ra cio n a !, y así una ú n ica c u e s tió n n o s llevaría in sen sib le­
m en te a in fin id a d d e otra s c u e s tio n e s m ás d ifíc ile s y e m b a ­
razosas, y n o q u is ie ra m a lgastar en tales su tilezas el p o c o
tie m p o y o c io q u e m e restan. E n to n c e s , m e d e te n d r é a q u í
a c o n s id e r a r m ás b ie n lo s p e n sa m ie n to s q u e an tes nacían
esp on tán eos e n m i e sp íritu , in sp ira d o s p o r m i so la naturale-

* Advertimos desde ahora q n s habrá siempre dificultades para


ird u c ír, ya «se r», ya «existir», pues el latín juega con esse de un
rz^Jo que el castellano no puede hacer. (N. del T.)
M E D IT A C IO N E S M E T A F ÍS IC A S 25

za, c u a n d o m e ap licaba a c o n s id e r a r m i ser. M e fija b a , p r i­


m e r o , en q u e y o ten ía un r o s t r o , m a n o s , b r a z o s, y tod a esa
m á qu in a d e h u esos y carn e, tal y c o m o ap arece en un ca­
d á v er, a la q u e design ab a c o n el n o m b r e d e c u e r p o . T ras
e s o , reparaba en q u e m e n u tría , y an d a b a , y sen tía, y p e n ­
saba, y refería tod a s esas a c c io n e s al alm a; p e r o n o m e p a ra ­
ba a p en sa r en q u é era e s e 'a lm a , o b ie n , si lo h acía, im a­
gin a ba q u e era a lgo e x tr e m a d a m e n te raro y su til, c o m o un
v ie n t o , u n a llam a o un d e lic a d o é te r , d ifu n d id o p o r m is
otras p a rtes m ás g rosera s. E n lo to c a n te al c u e r p o , n o d u ­
da ba en a b s o lu to d e su natu raleza, p u e s p en sa b a c o n o c e rla
m u y d is tin ta m e n te , y , de q u e r e r ex p lica rla seg ú n las n o c io ­
nes q u e e n to n ce s ten ía, la h u b ie ra d e s c r ito así: e n tie n d o
p o r c u e r p o t o d o a q u e llo q u e p u e d e estar d e lim ita d o p o r
una fig u r a , estar situ a d o en u n lu gar y llenar- u n esp a cio d e
su erte q u e t o d o o t r o c u e r p o q u e d e e x c lu id o ; t o d o a q u ello
q u e p u e d e ser s e n tid o p o r el ta c to , la v ista , el o íd o , el
g u s to , o el o lfa t o ; q u e p u e d e m o v e r s e d e d is tin to s m o d o s ,
n o p o r sí m is m o , sin o p o r alguna o tr a co sa q u e l o to c a y
cuya im p r e s ió n r e c ib e ; pu es n o creía y o q u e fu e ra a trib u ib le
a la n atu raleza c o r p ó r e a la p o t e n c ia d e m o v e r s e , sen tir y
pen sa r: al c o n t r a r io , m e a som b ra b a al v e r q u e tales fa c u l­
tades se h allaba n en algu n os c u e r p o s .
P u e s b ie n , ¿ q u é so y y o , a h ora q u e s u p o n g o h a b er
a lgu ien e x tre m a d a m e n te p o d e r o s o y , si es líc it o d e c ir lo así,
m a lig n o y a stu to, q u e em p lea todas sus fu erzas e in du stria
en e n g a ñ a rm e? ¿ A c a s o p u e d o estar se g u ro d e p o s e e r e l más
m ín im o d e esos a trib u tos q u e a ca b o de re fe rir a la n atu ­
raleza c o r p ó r e a ? M e p a ro a p en sa r en e llo c o n a te n ció n , p a so
revista una y otra v e z , en m i e sp íritu , a esas cosa s, y n o
h a llo n in g u n a d e Ja q u e pu eda d e c ir q u e está en m í. N o es
n ece sa rio q u e m e en treten g a en recon ta rla s. P a s e m o s , pues,"
a lo s a trib u to s d el alm a, y v ea m os si h ay a lg u n o cjue esté en
m í. L o s p r im e r o s so n n u trirm e y an d a r; p e r o , si es cie rto
q u e n o te n g o c u e r p o , es c ie r t o e n to n ce s ta m b ién q u e n o
p u e d o an dar ni n u trirm e. U n te r c e ro es sen tir: p e r o n o
p u e d e u n o sen tir sin c u e r p o , ap arte d e q u e y o h e c r e íd o
sen tir en su eñ os m u ch a s cosas y , al d esp erta r, m e he d a d o
cu en ta d e q u e n o las h abía se n tid o rea lm en te. Un c u a rto es
p en sa r: y a q u í sí b a ilo q u e el p e n sa m ie n to es un a trib u to q u e
m e p e r te n e ce , s ie n d o el ú n ic o q u e n o p u e d e separarse de
m í 9. Y o s o y , y o e x i s t o ; eso es c ie r t o , p e r o ¿ c u á n to t ie m p o ?
T o d o el tie m p o q u e e sto y p e n s a n d o : pu es qu izá o c u r rie s e
q u e , si y o cesara d e p en sa r, cesaría al m is m o tie m p o d e
ex istir. N o a d m ito ah ora nada q u e n o sea n ecesa ria m en te
v e r d a d e r o : así, p u e s, h a b la n d o c o n p r e c is ió n , n o s o y m ás
26 m e d it a c io n e s / d es c a r te s

que una cosa que piensa, es decir, un espíritu, un enten­


dimiento o una razón, términos cuyo ; significado me. era
antes desconocido. Soy, entonces, una cosa verdadera, y ver­
daderamente existente. Mas ¿qué cosa? Ya lo he dicho: una
cosa que piensa. ¿Y qué más? Excitaré aún mi imaginación,
a fin de averiguar si no soy algo más. No soy esta reunión
de miembros llamada cuerpo humano; no soy un aire sutil
y penetrante, difundido por todos esos miembros; no soy
un viento, un soplo, un vapor, ni nada de cuanto pueda
fingir e imaginar, puesto que ya he dicho que todo eso no
era nada. Y, sin modificar esc supuesto, hallo que no dejo
de estar cierto de que soy algo.
Pero acaso suceda que esas mismas cosas que supon­
go sers puesto que no las conozco, no sean'en efecto dife­
rentes de mí, a quien conozco. Nada sé del caso: de eso no
disputo ahora, y sólo puedo juzgar de las cosas que conoz­
co: ya sé que soy, y eso sabido, busco saber qué soy. Pues
bien: es certísimo que ese conocimiento de mí mismo, ha­
blando con precisión, no puede depender de cosas cuya
existencia aún me es desconocida, ni por consiguiente, y con
mayor razón, de ninguna de las que son fingidas e inven­
tadas por la imaginación. R incluso esos términos de: «fin­
gir» e «imaginar» me advierten de mi error: pues en efec­
to yo haría algo ficticio, si imaginase ser alguna cosa, pues
«imaginar» no es sino contemplar la figura o «imagen» de
una cosa corpórea. Ahora bien: ya sé de cierto que soy y
que, a la vez, puede ocurrir que todas esas imágenes y, en
general, todas las cosas referidas a la naturaleza del cuerpo,
no sean más que sueños y quimeras. Y , en consecuencia,
veo claramente que decir «excitaré mi imaginación para
saber más distintamente qué soy» es tan poco razonable
como decir «ahora estoy despierto, y percibo algo real y
verdadero, pero como no lo percibo aún con bastante clari­
dad, voy a dormirme adrede para que mis sueño? me lo
representen con mayor verdad y evidencia». Así, pues, sé
con certeza que nada de lo que puedo comprender por
medio de la imaginación pertenece al conocimiento que ten­
go de mí mismo, y que es preciso apartar el espíritu de esa
manera de concebir, para que pueda conocer con distinción
su propia naturaleza.
¿Qué soy, entonces? Uña cosa que piensa. Y ¿qué es
una cosa que piensa? Es una cosa que duda, que entiende,
que afirma, que niega, que quiere, que no quiere, que ima­
gina también, y que siente. Sin duda no es poco, si todo
eso pertenece a mi naturaleza. ¿Y por qué no habría de
pertenecerle? ¿Acaso no soy yo el mismo que duda casi ,
M E D IT A C IO N E S M E T A F ÍS IC A S 27

de todo, que entiende, sin embargo, ciertas cosas, que afir­


ma ser ésas solas las verdaderas, que niega todas las demás,,
que quiere conocer otras, que no quiere ser engañado *, que
imagina muchas cosas —-aun contra su voluntad— y que
siente también otras muchas, por mediación de los órganos
de su cuerpo? ¿Hay algo de esto que no sea tan verdadero
como es cierto que soy, que existo, aun en el caso de que
estuviera siempre dormido, y de que quien me ha dado el
ser30 empleara todas sus fuerzas en burlarme? ¿Hay alguno
de esos atributos que pueda distinguirse de mi-pensamiento,
o que pueda estimarse separado de mí mismo? Pues es de
suyo tan evidente que soy yo quien duda, entiende y desea,
que no hace falta añadir aquí nada para explicarlo. Y tam­
bién es cierto que tengo la potestad de imaginar: pues aun­
que pueda ocurrir (como he supuesto más arfiba) que las co­
sas que imagino no sean verdaderas, con todo, ese poder
de imaginar no deja de estar realmente en mí, y forma
parte de mi pensamiento. Por último, también soy yo el
mismo que siente, es decir, que recibe y conoce las cosas
como a través de los órganos de los sentidos, puesto que, en
efecto, veo la luz, oigo el ruido, siento el calor. Se me dirá,
empero, que esas apariencias son falsas, y qüe estoy dur­
miendo. Concedo que así sea: de todas formas, es al menos
muy cierto que me parece ver, oír, sentir calor, y eso es
propiamente lo que en mí se Дата sentir, y, así precisa­
mente considerado, no es otra cosa que «pensar». Por
donde empiezo a conocer qué soy, con algo más de claridad
y distinción que antes.
Sin embargo, no puedo dejar de creer que las cosas
corpóreas, cuyas imágenes forma mi pensamiento y que los
sentidos examinan, son mejor conocidas que esa otra parte,
no sé bien cuál, de mí mismo que no es objeto de la imagi­
nación: aunque desde luego es raro que yo conozca más
clara y fácilmente cosas que advierto dudosas y alejadas dé
mí, que otras verdaderas, ciertas y pertenecientes a mi
propia naturaleza. Mas ya veo qué ocurre: mi espíritu se
complace en extraviarse, y aun no puede mantenerse en los
justos límites de la verdad. Soltémosle, pues, la rienda una
vez más, a fin de poder luego, tirando dé ella suave y oportu­
namente, contenerlo y guiarlo con más facilidad.
Empecemos por considerar las cosas que, común­
mente, creemos comprender con mayor distinción, a saber:
los cuerpos que tocamos y vemos. No me refiero a los

* En G . Morente (p. 101), hay errata: «qu e quiere ser enga­


ñado», en lugar de «q u e no q u iere/.,» (N. del T.)
2 8 m e d it a c io n e s / d es c a r te s

cuerpos en general, pues tales nociones generales suelen ser


un tanto confusas, sino a un cuerpo particular. Tomemos,
por ejemplo, este pedazo de cera que acaba de ser sacado
de la colmena: aún no ha perdido la dulzura de la miel
que contenía; conserva todavía algo del olor de las flores
con que ha sido elaborado; su color, su figura, su magnitud
son bien perceptibles; es duro, frío, fácilmente manejable,
y, si lo golpeáis, producirá un sonido. En fin, se encuentran
en él todas las cosas que permiten conocer discintamente
un cuerpo. Mas he aquí que, mientras estoy hablando, es
acercado al fuego. Lo que restaba de sabor se exhala;
el olor se desvanece; el color cambia, la figura se pierde, la
magnitud aumenta, se hace líquido, se calienta, apenas se le
puede tocar y, si lo golpeamos, ya no producirá sonido al­
guno: Tras cambios tales, ¿permanece la misma cera? Hay
que confesar que sí: nadie lo negará. Pero entonces ¿qué es
1q que conocíamos con tanta distinción en aquel pedazo de
cera? Ciertamente, no puede ser nada de lo que alcanzába­
mos por medio de los sentidos, puesto que. han cambiado
todas las cosas que percibíamos por el gusto, el olfato, la
vista, el tacto o el oído; y, sin embargo, sigue ' siendo la
misma cera. Tal vez sea lo que ahora pienso, a saber: que
la cera no era ni esa dulzura de miel, ni ese agradable olór
de flores, ni esa blancura, ni esa figura, ni ese sonido, sino
tan sólo un cuerpo que un poco antes se me aparecía
bajo esas formas, y ahora bajo otras distintas. Ahora bien, al
concebirla precisamente así, ¿qué es lo que imagino? Fijé­
monos bien, y, apartando todas las cosas que no perte­
necen a la cera, veamos qué resta. Ciertamente, nada más
que algo extenso, flexible y cambiante. Ahora bien, ¿qué
quiere decir flexible y cambiante? ¿No será que imagino
que esa cera, de una figura redonda puede pasar a otra
cuadrada, y de ésa a otra triangular? No: no es eso. puesto
que la concibo capaz de sufrir una infinidad de cambios
semejantes, y esa infinitud no podría ser recorrida por mi
imaginación: por consiguiente, esa concepción que tengo
de la cera no es obra de la facultad de imaginar.
Y esa extensión, ¿qué es? ¿No será algo igualmen­
te desconocido, pues que aumenta al ir derritiéndose la cera,
resulta ser mayor cuando está enteramente fundida, y mucho
mayor cuando el calor se incrementa más aún? Y yo no
concebiría de un modo claro y conforme a la verdad lo que
es la cera, si no pensase que es capaz de experimentar más
variaciones según la extensión, de todas las que yo haya
podido imaginar. Debo, pues, convenir en que yo no 'puedo
concebir lo que es esa cera por medio de la imaginación.
M E D IT A C IO N E S M E T A F ÍS IC A S 29

y sí s ó lo p o r m e d io del e n te n d im ie n t o : m e r e fie r o a ese


tro z o d e cera en pa rticu la r, p u e s , en c u a n to я la cera en
g en era l, e llo resu lta aún m ás e v id e n te . P u e s b ie n , ¿ q u é es
esa cera, s ó lo c o n c e b ib le p o r m e d io d e l e n te n d im ie n t o ? Sin
d u d a , es la m ism a q u e v e o , t o c o e im a g in o ; la m ism a q u e
d e s d e el p r in c ip io ju zgab a y o c o n o c e r . P e r o lo q u e se trata
a q u í d e n o ta r es q u e la im p re s ió n q u e d e ella r e c ib im o s , o la
a cció n p o r c u y o m e d io la p e r c ib im o s ( 4 ) , n o es una v is ió n ,
u n tacto o u na im a g in a ció n , y n o lo ha s id o n u n ca , a u n q u e
así l o p a reciera a n tes, sin o s ó lo u n a in s p e c c ió n d e l e sp íritu ,
la cual p u e d e ser im p e rfe c ta y c o n fu s a , c o m o lo era antes,
o b ie n clara y d is tin ta , c o m o lo es a h ora , segú n atien da m e ­
n os o m ás a las cosa s q u e están en e lla y d e las q u e co n s ta 11.
N o es m u y d e extrañ ar, sin e m b a r g o , q u e m e en ga ñ e,
su p u esto q u e m i esp íritu es h a r to d é b il y se in clin a in sen ­
s ib lem en te al e r ro r . P u es a u n q u e e s to y c o n s id e r a n d o ahora
e sto en m í fu e r o in te rn o y sin h a b la r, c o n t o d o , v e n g o a
trop eza r c o n las pa lab ra s, y están a p u n t o d e en ga ñ a rm e lo s
térm in os d e l le n g u a je c o m e n t e ; p u e s n o s o t r o s d e c im o s q u e
v e m o s la m ism a cera , si está p r e s e n te , y n o q u e p en sa ­
m o s q u e es la m ism a en v irtu d d e ten er lo s m ism os c o lo r y
f i g u r a r l o 'q u e casi m e fu erza a c o n c lu ir q u e c o n o z c o la cera
p o r la v is ió n d e los o jo s , y n o p o r la sola in sp e c c ió n d el
esp íritu . M a s h e a q u í q u e, d e s d e la v e n ta n a , v eo pasar u n os
h o m b r e s p o r la ca lle : y d ig o q u e v e o h o m b r e s , c o m o c u a n d o
d ig o q u e v e o cera ; sin e m b a r g o , lo q u e e n realid ad v e o son
s o m b r e ro s y cap a s, q u e m u y b ie n p o d r ía n o c u lta r m e to s
a u tóm atas, m o v id o s p o r resortes n . Sin e m b a r g o , p ie n s o q u e
son h o m b r e s , y d e este m o d o c o m p r e n d o m ed ia n te la fa ­
cu lta d d e ju zg a r, q u e resid e en m i e s p íritu , lo q u e creía
v e r c o n lo s o jo s .
P e r o un h o m b r e q u e in ten ta c o n o c e r m e jo r q u e el
v u lg o , d e b e a v ergon za rse d e h a lla r m o t iv o s d e d u d a en las
m anetas d e h ablar p rop ia s d el v u lg o . P o r e s o , p r e fie r o segu ir
adelan te y c o n s id e ra r si, c u a n d o y o p e r c ib ía al p r in c ip io la
cera y creía c o n o c e r la m ed ia n te los s e n tid o s e x te r n o s , o al
m en os m ed ia n te el sen tid o c o m ú n — seg ú n lo llam an — , es
d e cir, p o r m e d io d e la p o te n c ia im a g in a tiv a , la c o n c e b ía co n
m a yor e v id e n cia y p e r fe c c ió n q u e a h ora , tras h a b e r e x a m i­
n a d o c o n m a y or e x a ctitu d lo q u e ella e s, y en cjué m anera
p u e d e ser c o n o c id a . P e r o sería r id íc u lo d u d a r siq u iera d e
e llo , pu es ¿ q u é h abía d e d is tin to y e v id e n te en aq u ella p e r ­
c e p ció n p rim e ra , q u e cu a lq u ier an im al n o p u d iera p e r c ib ir ?
E n c a m b io , c u a n d o h ago d is tin c ió n e n tre la cera y sus f o r ­
mas ex tern a s, y, c o m o si la h u b ie se d e s p o ja d o cíe sus v e s­
tidu ras, la c o n s id e r o d esn u d a , e n to n c e s , au n qu e aún pu ed a
30 m e d it a c io n e s / d esc ar tes

haber algún error en mi juicio, es cierto que una tal concep­


ción no puede darse sino en un espíritu humano.
Y, en fin, ¿qué diré de ese espíritu, es decir, de mí
mismo, puesto que hasta ahora nada, sino espíritu, reconoz­
co en mí? Y o, que parezco concebir con tanta claridad y
distinción este trozo de cera, ¿acaso no me conozco a mí
mismo, no sólo con más verdad y certeza, sino con mayores
distinción y claridad? Pues si juzgo que existe la cera porque
la veo, con mucha más evidencia se sigue, del hecho de
verla, que. existo yo mismo. En efecto: pudiera ser que lo
que yo veo no fuese cera, o que ni tan siquiera tenga yo
ojos para ver cosa alguna; pero lo que no puede ser es que,
cuando veo o pienso que veo (no hago distinción entre am­
bas cosas), ese yo, que tal piensa, no sea, nada. Igualmente,
si por tocar la cera juzgo que existe, se seguirá lo mismo, a
saber, que existo yo; y si lo juzgo porque me persuade de
eLío mi imaginación, o por cualquier otra causa, resultará
la misma conclusión. Y lo que he notado aquí de la cera
es lícito aplicarlo a todas las demás cosas que están fue­
ra de mí.
Pues bien, si el conocimiento de la cera parece ser
más claro y distinto después de llegar a él, no sólo pol­
la vista o el tacto, sino por muchas más causas, ¿con cuán­
ta mayor evidencia, distinción y claridad no me conoceré a
mí mismo, puesto que todas las razones que sirven para
conocer y concebir la naturaleza de la céra,'o de cualquier
otro cuerpo, prueban aún mejor la naturaleza de mi espí­
ritu? Pero es que, además, hay tantas otras cosas en el
espíritu mismo, útiles para conocer su naturaleza, que las
que, como éstas, dependen del cuerpo, apenas si merecen
ser nombradas.
Pero he aquí que, por mí mismo y muy natural­
mente, he llegado adonde pretendía. En efecto: sabiendo
yo ahora que los cuerpos no son propiamente concebidos
sino por el solo entendimiento, y no por la imaginación ni
por los sentidos, y que no los conocemos por verlos o to­
carlos, sino sólo porque los concebimos en el pensamiento,
sé entonces con plena claridad que nada me es más fácil
de conocer que mi espíritu. Mas, siendo casi imposible des­
hacerse con prontitud de una opinión antigua y arraigada,
bueno será que me detenga un tanto en este lugar, a fin de
que, alargando mi meditación, consiga imprimir más profun­
damente en mi memoria este nuevo conocimiento.

También podría gustarte