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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE GOIÁS


Gabinete do Desembargador Leobino Valente Chaves

REEXAME NECESSÁRIO N. 5506445.08.2018.8.09.0074


COMARCA DE IPAMERI
AUTOR: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
RÉUS: MUNICÍPIO DE IPAMERI E OUTRO
RELATOR: DES. LEOBINO VALENTE CHAVES

EMENTA: REEXAME NECESSÁRIO. MANDADO DE


SEGURANÇA. OMISSÃO DO MUNICÍPIO. SUPLEMENTO
NUTRICIONAL. COLÁGENO HIDROLISADO. CUSTEIO.
RESPONSABILIDADE. DIREITO LÍQUIDO E CERTO. SAÚDE.
1. O direito à saúde é de todos e foi alçado à categoria de
direitos fundamentais pelo Constituinte e reafirmado no art.
196 da CF.
2. Ofende direito líquido e certo o ato omissivo da
Administração Pública que deixa de fornecer os meios
necessários ao tratamento médico indispensável à saúde,
admitindo, assim, correção via mandamus, por ser dever das
autoridades públicas, como representantes do Estado,
assegurarem a todas as pessoas, indistintamente, o direito à
vida e à saúde, conforme preconizado no artigo 196 da
Constituição Federal.
REEXAME NECESSÁRIO CONHECIDO E DESPROVIDO.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos da Remessa Necessária nº

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5506445.08.2018.8.09.0074, acordam os componentes da Primeira Turma Julgadora
da Segunda Câmara Cível do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, à
unanimidade de votos, em conhecer do reexame necessário e desprovê-lo nos termos
do voto do Relator.

Votaram, além do Relator, o Desembargador Zacarias Neves Coelho e o


Desembargador Carlos Alberto França.

Presidiu a sessão o Desembargador Amaral Wilson de Oliveira.

Fez-se presente, como representante da Procuradoria-Geral de Justiça, o Dr.


Osvaldo Nascente Borges.

Goiânia, 23 de março de 2020.

DES. LEOBINO VALENTE CHAVES


Relator

VOTO

A Lei do Mandado de Segurança (n. 12.016/2009) conta com regra cujos efeitos são
imperativos, condicionando, em seu § 1º do art. 14, ao duplo grau de jurisdição
obrigatório, a fim de que seja reexaminada a matéria abarcada no writ.
Assim, quando os pressupostos de admissibilidade encontrarem-se preenchidos,
imprescindível faz-se o REEXAME NECESSÁRIO.
Inicialmente, convém consignar que o Constituinte brasileiro alçou a saúde a um direito
e garantia fundamental, destacado dentre os Direitos Sociais (caput do art. 6º da
CF/88).
Não bastasse, no Título VIII da Constituição da República, o qual cuida “Da Ordem
Social”, no Capítulo II, destinado à Seguridade Social, o direito à saúde garantido pelo
Poder Público também restou devidamente assegurado, consoante se vê,
especialmente, no art. 196, cuja Seção II destina-se exatamente a esse tema, in verbis
:

“Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante

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políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de
outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para
sua promoção, proteção e recuperação.”

Depreende-se, portanto, que a saúde é um direito de todos, devendo o


Estado garanti-la às pessoas mediante políticas sociais e econômicas, primando pelos
princípios da universalidade e igualdade, diretrizes extraídas da Constituição Federal.
Ressumbra da norma elaborada pelo Constituinte Federal ser indubitável o
dever do Estado (lato senso) que proíbe quaisquer óbices ao cumprimento desse
mister, sobretudo pelo fato de que o direito em testilha, qual seja, à saúde, é
consectário lógico e indissociável do direito à vida.
Há, ainda, nessa gama de documentos legislativos que priorizam a saúde, a
Lei 8.080/1990, que dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e
recuperação da saúde, a qual assim prescreve em seu § 1º do art. 2º:

“Art. 2º A saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado


prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício.

§ 1º O dever do Estado de garantir a saúde consiste na formulação e execução


de políticas econômicas e sociais que visem à redução de riscos de doenças e
de outros agravos e no estabelecimento de condições que assegurem acesso
universal e igualitário às ações e aos serviços para a sua promoção, proteção
e recuperação.”

O Pretório Excelso já pronunciou-se sobre o tema asseverando que o Estado


(lato senso) não pode se eximir do dever de propiciar os meios necessários ao gozo do
direito à saúde, sendo, inclusive, direito da parte interessada pleiteá-lo de qualquer um
dos entes públicos solidários:

“AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO À SAÚDE.


MENOR PORTADOR DE DOENÇA GRAVE. FORNECIMENTO PELO PODER
PÚBLICO DE FRALDAS DESCARTÁVEIS. INEXISTÊNCIA DE OFENSA AO
PRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO DOS PODERES. SOLIDARIEDADE DOS ENTES
FEDERATIVOS. PRECEDENTES. A jurisprudência do Supremo Tribunal
Federal é firme no sentido de que, apesar do caráter meramente programático
atribuído ao art. 196 da Constituição Federal, o Estado não pode se eximir do
dever de propiciar os meios necessários ao gozo do direito à saúde dos
cidadãos. O Poder Judiciário pode, sem que fique configurada violação ao
princípio da separação dos Poderes, determinar a implementação de políticas
públicas nas questões relativas ao direito constitucional à saúde. Trata-se de
obrigação solidária de todos os entes federativos, podendo ser pleiteado de
qualquer deles, União, Estados, Distrito Federal ou Municípios. Ausência de

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argumentos capazes de infirmar a decisão agravada. Agravo regimental a que se
nega provimento.”
(AI 810864 AgR, Relator: Min. Roberto Barroso, Primeira Turma, julgado em
18/11/2014, Acórdão Eletrônico DJe-021 DIVULG 30-01-2015 Public 02-02-2015) –
Grifei.

O Superior Tribunal de Justiça também possui posicionamento alinhado com


o Supremo Tribunal Federal:

“ADMINISTRATIVO. DIREITO À SAÚDE. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DOS


ENTES FEDERATIVOS PELO FUNCIONAMENTO DO SISTEMA ÚNICO DE
SAÚDE.INEXISTÊNCIA DE LITISCONSÓRCIO PASSIVO NECESSÁRIO.
LEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM DO ESTADO. LEGITIMIDADE ATIVA DO
MINISTÉRIO PÚBLICO. CERCEAMENTO DE DEFESA. REVISÃO. SÚMULA
7/STJ.1. A presente divergência (legitimidade passiva do Estado para integrar a lide
e legitimidade ativa do Ministério Público, que pretende o fornecimento de
medicamentos à menor cuja provedora não dispõe de recursos para custear o
tratamento médico) não guarda similitude com a matéria submetida ao procedimento
do art. 543-C do CPC no REsp 1.102.457/RJ.2. O funcionamento do Sistema
Único de Saúde é de responsabilidade solidária da União, dos Estados e dos
Municípios, de modo que qualquer um desses entes tem legitimidade ad
causam para figurar no polo passivo de demanda que objetiva a garantia do
acesso a medicamentos para tratamento de problema de saúde. Precedentes.
3. O Ministério Público possui legitimidade ativa para ajuizar ação civil pública que
visa ao fornecimento de medicamento a pessoa que não tem condições financeiras
de arcar com o tratamento médico, por se tratar de direito indisponível. Precedentes.
4. Reavaliar a necessidade, ou não, da prova pericial requerida, a fim de verificar a
existência de cerceamento de defesa, exige análise de provas e fatos, o que atrai
para o recurso especial o óbice da Súmula 07/STJ. 5. Agravo regimental não
provido” (AgRg no REsp 1297893/SE, Rel. Ministro Castro Meira, SEGUNDA
TURMA, julgado em 25/06/2013, DJe 05/08/2013). – Grifei.

“ CONSTITUCIONAL. RECURSO ORDINÁRIO. MANDADO DE SEGURANÇA


OBJETIVANDO O FORNECIMENTO DE MEDICAMENTO (RILUZOL/RILUTEK)
POR ENTE PÚBLICO À PESSOA PORTADORA DE DOENÇA GRAVE:
ESCLEROSE LATERAL AMIOTRÓFICA - ELA. PROTEÇÃO DE DIREITOS
FUNDAMENTAIS. DIREITO À VIDA (ART. 5º, CAPUT, CF/88) E DIREITO À SAÚDE
(ARTS. 6º E 196, CF/88). ILEGALIDADE DA AUTORIDADE COATORA NA
EXIGÊNCIA DE CUMPRIMENTO DE FORMALIDADE BUROCRÁTICA. 1 - A
existência, a validade, a eficácia e a efetividade da Democracia está na prática dos
atos administrativos do Estado voltados para o homem. A eventual ausência de
cumprimento de uma formalidade burocrática exigida não pode ser óbice suficiente
para impedir a concessão da medida porque não retira, de forma alguma, a
gravidade e a urgência da situação da recorrente: a busca para garantia do maior de
todos os bens, que é a própria vida. 2 - É dever do Estado assegurar a todos os
cidadãos, indistintamente, o direito à saúde, que é fundamental e está
consagrado na Constituição da República nos artigos 6º e 196. 3 - Diante da

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negativa/omissão do Estado em prestar atendimento à população carente, que
não possui meios para a compra de medicamentos necessários à sua
sobrevivência, a jurisprudência vem se fortalecendo no sentido de emitir
preceitos pelos quais os necessitados podem alcançar o benefício almejado
(STF, AG nº 238.328/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, DJ 11/05/99; STJ, REsp nº
249.026/PR, Rel. Min. José Delgado, DJ 26/06/2000). 4 - Despicienda de quaisquer
comentários a discussão a respeito de ser ou não a regra dos arts. 6º e 196, da
CF/88, normas programáticas ou de eficácia imediata. Nenhuma regra
hermenêutica pode sobrepor-se ao princípio maior estabelecido, em 1988, na
Constituição Brasileira, de que "a saúde é direito de todos e dever do Estado"
(art. 196). 5 - Tendo em vista as particularidades do caso concreto, faz-se
imprescindível interpretar a lei de forma mais humana, teleológica, em que princípios
de ordem ético-jurídica conduzam ao único desfecho justo: decidir pela preservação
da vida. 6 - Não se pode apegar, de forma rígida, à letra fria da lei, e sim, considerá-
la com temperamentos, tendo-se em vista a intenção do legislador, mormente
perante preceitos maiores insculpidos na Carta Magna garantidores do direito à
saúde, à vida e à dignidade humana, devendo-se ressaltar o atendimento das
necessidades básicas dos cidadãos. 7 - Recurso ordinário provido para o fim de
compelir o ente público (Estado do Paraná) a fornecer o medicamento Riluzol
(Rilutek) indicado para o tratamento da enfermidade da recorrente. (RMS
11.183/PR, Rel. Ministro José Delgado, PRIMEIRA TURMA, julgado em
22/08/2000, DJ 04/09/2000, p. 121) – Grifei.

Outro não é o entendimento desta Corte goiana de Justiça, senão aquele


consolidado pelos Tribunais Superiores:

"MANDADO DE SEGURANCA. REMESSA OBRIGATORIA. APELACAO


LEGITIMIDADE DO MINISTERIO PUBLICO. DIREITO LIQUIDO E CERTO. SAUDE.
ATO OMISSIVO DO SECRETARIO MUNICIPAL DE SAUDE. 1 - O Ministério
Público é órgão legítimo para requisitar o medicamento em sede de procedimento
administrativo e impetrar mandado de segurança como substituto processual. 2 -
Ofende direito líquido e certo o ato omissivo da Administração Pública em
propiciar os meios necessários ao tratamento médico indispensável à saúde
do paciente substituto, admitindo correção via mandamus, eis que é dever das
autoridades públicas assegurar a todos os cidadãos, indistintamente, o direito
a saúde, conforme preconizado no artigo 196 da Constituicao Federal. 3 -
Estando o mandamus em referência consubstanciado em prova robusta dos
fatos sobre que assentou a pretensão, tem-se que a ação atendeu ao requisito
da prova pré-constituída. 4 - Se o processo não contém nulidades que devam ser
declaradas de ofício e a sentença submetida a reexame esta alicerçada na lei e no
direito, impende a sua confirmação pelo Tribunal. Remessa e Apelação conhecidas
e improvidas. Sentença confirmada." (TJGO, DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO
14523-6/195, minha relatoria, 1ª CÂMARA CÍVEL, julgado em 19/06/2007, DJe
15041 de 13/07/2007)

Imperioso consignar, ainda, que não restam dúvidas quanto a


responsabilidade das autoridades públicas municipais na hipótese vertente, conforme

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previsão do artigo 198, inciso I, da Carta Magna de 1988, ipsis litteris:

Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e
hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as
seguintes diretrizes:

I - descentralização, com direção única em cada esfera de governo;

Evidente, portanto, com fulcro na jurisprudência colacionada, bem como por


força das regras constitucionais e infraconstitucionais, que a autoridade pública
municipal é, também, responsável pelo tratamento médico àqueles que necessitam,
estando, portanto, indene de correção a sentença exarada pela Magistrada a quo.
Assim, na hipótese vertente, o reexame necessário deve ser desprovido, de
acordo com os fundamentos constitucionais e legais acima alinhavados, bem como por
força da jurisprudência consolidada nesta Corte goiana e nos Tribunais Superiores.

ANTE O EXPOSTO, já conhecido o reexame necessário, desprovejo-o para


manter incólume a sentença concessiva da segurança.

Sem custas nem honorários, nos termos da lei.

É o voto.

Goiânia, 23 de março de 2020.

Des. LEOBINO VALENTE CHAVES


Relator
LNE

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