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CURSO DE CRISTOLOGIA

1. INTRODUÇÃO.

1.1. O QUE É A CRISTOLOGIA?

Tomemos a definição de Teologia de LF: «A teologia é um esforço do homem


situado historicamente para compreender, intelectualmente, a revelação
transmitida pela Igreja, para aplicar as verdades da fé à própria vida e, na Igreja
e com a Igreja, viver seu dinamismo na história» (Por que uma teologia da
Reconciliação? LFF. P. 6-7).
Quanto à Cristologia, é um esforço por compreender o MISTÉRIO DO SENHOR
Jesus. trata-se de um esforço do intelecto, da razão. Embora esta aproximação
não esgote a compreensão do mistério. Podemos falar de outros tipos de
conhecimento como o intuitivo, ou por exemplo o SENTIDO COMUM: SENSUS
FIDEI. O que chamamos “fé do carvoeiro”: de compreensão simples. Isto não
exclui que o homem possa aprofundar e chegar a um conhecimento maior de sua
fé pelo exercício da razão.
“Na Igreja e com a Igreja”: Contexto eclesial. Trata-se de compreender e
aprofundar em um mistério que primeiro se acolhe pela fé e que necessariamente
tem conseqüências para minha própria vida e minha compreensão da realidade.
A “Encarnação” muda a história e devemos aplicar as verdades dessa fé na
própria vida e viver seu dinamismo na história. Situo-me em um dinamismo de
que sou parte e que estou chamado a viver.
A definição pode ficar assim: «A Cristologia é um esforço do homem situado
historicamente para compreender intelectualmente o mistério do Senhor
Jesus, transmitido pela Igreja, para aplicar as verdades da fé à própria vida, e
na Igreja e com a Igreja viver seu dinamismo na história»

1.2. POR QUE ESTUDAR CRISTOLOGIA?

Alguns de nós estamos chamados a uma maior compreensão do mistério do


Senhor Jesus. A pergunta do Senhor aos apóstolos: “E vós quem dizeis que eu
sou?”, manifesta que o Senhor exige de seus discípulos uma resposta mais
profunda.
Naquele tempo houve diferentes respostas, hoje também há. Nós, como filhos da
Igreja, não podemos deixar de nos fazer a mesma pergunta. Ela nos põe cara a
cara com o Senhor e com o mundo: “No dizer do povo, quem é o Filho do
Homem?”, por isso é importante ser consciente das atuais visões de Cristo e das
reduções que mutilam sua pessoa.
Podemos ensaiar a seguinte resposta: estudamos Cristologia «em razão de nossa
missão apostólica, porque nossa missão nos exige isso frente ao tempo em que
vivemos e pelas responsabilidades que temos».
São vários os desafios que surgem: como apresentar a mesma verdade a um
mundo que parece ser indiferente a essa verdade e, mais ainda, age como se
estivesse cansado dela? Como “agiornar” essa mensagem (CVII) sem cair em
uma traição à verdade, em um afã de atualizar que termina em progressismo?
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Diante deste desafio é necessária uma compreensão profunda do mistério do
Senhor Jesus.

A resposta de Pedro à pergunta de Cristo, que é a fé da Igreja, se foi


cristalizando e a própria Igreja foi compreendendo e categorizando o mistério de
Cristo. Nós temos que dar razão dessas categorizações: quem (NT: no original era
“o que”, mas da feita que Deus é um ser animado, o certo é “quem”, pois Deus não é uma
coisa) é o que a Igreja diz de seu Senhor... diante de quais problemas, diante
quais heresias faz esta afirmação. É fundamental conhecer a fé da Igreja.

1.3. PARTINDO DE NOSSA ESPIRITUALIDADE.

Devemos nos aproximar da vida e obra do Senhor Jesus também com nossos
acentos próprios: somos uma sociedade aprovada pela Santa Sé e com um
carisma reconhecido. Por isso, devemos ser conscientes de nossos acentos
próprios embora ainda não tenhamos um manual da Cristologia. A novidade está
na perspectiva, na maneira como se agrupam e se apresentam os elementos que
são comuns à única espiritualidade cristã.
Partimos do homem situado:
1. Roto e ansioso de resposta, de infinito. (A aproximação ao mistério de Cristo é
em primeira pessoa, deve haver um ENCONTRO, já que Cristo é uma pessoa,
minha relação com o Senhor Jesus é “pessoal”).
Remontamos às origens:
2. Trindade
3. Pecado Original: promessa (Gn 3,15).
4. História da reconciliação: Anúncio a Maria, Encarnação, Cristo reconciliador.
5. Abre-se um dinamismo reconciliador que culmina na missão da Igreja.

2. COMPREENDENDO A CRISTOLOGIA DA HISTÓRIA DA RECONCILIAÇÃO.

2.1. O COMEÇO: CRIAÇÃO E QUEDA. PROMESSA DO RECONCILIADOR.

2.1.1. CRIAÇÃO: Deus trindade cria por amor, convida o homem à comunhão. O
homem é Imagem e Semelhança de Deus. Isto constitui uma chave antropológica
para compreender o ser humano e para compreender o mistério de Cristo feito
homem. “primogênito de toda a criação” (Cl 1, 15-20). Tudo foi criado por Ele e
para Ele, nele foram criadas todas as coisas. Já desde o começo há um
dinamismo que aponta para Cristo, há uma universalidade em Cristo que não se
pode apagar. A Criação era boa e mantém sua bondade: sofre os danos do
pecado mas não intrinsecamente. A marca de Deus permanece.

2.1.2. PECADO: O ser humano rompe com Deus. O pecado submerge o homem
em uma realidade de lonjura de Deus. Este dado é fundamental para entender o
mistério de Cristo, não podemos esquecer deste dado fundamental.

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2.1.3. PROMESSA: dá-se no mesmo momento da queda (Gn 3,15): Anúncio
reconciliador de Cristo.

2.2. PREPARAÇÃO EVANGÉLICA.

Deus sai progressivamente ao encontro do homem através de fatos e palavras


(DV#3) que apontam para Cristo.
Desde Adão e Eva esta revelação não se interrompe pelo pecado, continua:
- Noé
- Abraão: Pai de uma nação depositária das promessas.
- Êxodo: Libertação integral: aliança – lei. Sacerdotes/ Juízes/ Reis.
- Profetas: Formam na consciência da espera da salvação, uma aliança nova
e eterna.

2.3.A ENCARNAÇÃO DO VERBO: O SENHOR JESUS, RECONCILIADOR E


CENTRO DA HISTÓRIA.

O Senhor Jesus é o centro da história, sua Encarnação é o acontecimento central,


o cumprimento definitivo das promessas.
Nele se concreta e chega a sua plenitude o dinamismo do amor da Trindade.
A pessoa de Cristo é a revelação de Deus em pessoa, o Reconciliador. (GS 22.
EA 10)
Tudo aponta para o Senhor Jesus como seu centro. Neste sentido falamos do
CRISTOCENTRISMO.
Ao considerar a centralidade do acontecimento da Encarnação devemos
considerar a presença de Maria em tal acontecimento, isso sinaliza, sela,
caracteriza nossa aproximação do mistério do SJ. É o SJ mesmo quem nos
assinala este caminho a partir da Cruz.

2.4. NOVA CRIAÇÃO: MISSÃO RECONCILIADORA ATÉ QUE ELE VENHA.

Todo o dinamismo encarnatório dá origem a uma “Nova Criação”, elevando o


homem a uma categoria insuspeitada. Começa uma etapa: missão reconciliadora
da Igreja, continuando com a missão do SJ.
O dinamismo de reconciliação que brota do SJ se perpetua no tempo e na
medida em que a Igreja contínua a missão.
A Igreja não se entende desligada do SJ e ninguém pode conhecê-lO sem
conhecer a Igreja.

3. O MISTÉRIO REVELADO

O que é a revelação? Deus que sai ao encontro do homem; Deus que se dá a


conhecer e dá a conhecer o mistério da salvação. Esta revelação se dá de
maneira progressiva, por fatos e palavras, transmite-se verbalmente ou pela
escritura. Há duas vias: as Sagradas Escrituras e a Sagrada Tradição.

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3.1. O TESTEMUNHO DA SAGRADA ESCRITURA.

3.1.1. ANTIGO TESTAMENTO: O MESSIAS PROMETIDO.

A Sagrada Escritura é inspirada por Deus, seu autor é inspirado.


Critérios de leitura: Leitura na Igreja, Unidade da fé, Analogia da fé.
O A.T. é a etapa histórica na qual se vai preparando o caminho. Há uma maneira
cristã de ler o A.T. Orígenes dizia que se alguém o ler ao pé letra é judeu e que
como cristão não se pode lê-lo sem Cristo. A partir dEle se compreende seu
sentido pleno.
Podemos distinguir dois níveis:
1. Nível histórico: personagens e fatos.
2. Nível mais profundo: O que só se consegue lendo à luz de Cristo.
O A.T. está impregnado, acompanhado por um dinamismo encarnatório pelo qual
Deus se vai aproximando do homem para que o homem como que se vá
“acostumando”. Assim prepara o caminho para a Encarnação. Isto se vê
claramente pela própria palavra que Deus utiliza, que é palavra humana.
Primeiro se vai revelando em figuras e formas misteriosas: a sarça ardente, a
nuvem, até chegar ao Templo: lugar da presença. Tudo isto em vistas da
Encarnação.
PROFECIAS: Uma vez que já sucedeu o acontecimento, entende-se que são
profecias que falam de Cristo (ver Maria e a Vocação à Vida Cristã, LF explica Is
7,14). Cristo não se acomoda às promessas mas sim as escrituras se cumprem
em Cristo.
Dois tipos de luzes:
A- Idéia de redenção:
O A.T. é um contínuo testemunho de que “só Deus salva”, só Ele pode libertar o
povo do perigo que o espreita. Deus é o ator principal da obra salvadora, vai
tentando recuperar seu senhorio arrebatado pela tentativa do homem de ser
como Deus.
 Gn 3,15
 Gn 9,8: Aliança com o Noé depois do dilúvio.
 Gn 17,1ss: Aliança com Abraão.
1º Deus é quem tem a iniciativa
2º De quem provém a salvação.
 Ex 6,2: passagem do mar vermelho.
 Ex 19, 3-6; Ex 24: Aliança – Decálogo.
 Ex 29,43-46: sacerdócio.
 Infidelidade que leva a catástrofe.
 Josué 24, 16-17. Reconheceram a Deus como salvador.
 Davi: 1º Unifica
2º Conquista
3º Constrói Jerusalém.
 1 Re 18, 20.ss.
 Profetas.

B- Prefigurações:

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1. Adão: Cristo é o novo Adão. Possui a primogenitura universal da nova criação
(Rm 5,12; 1Cor 15,21).
2. Sacerdócio: Jesus, sacerdote supremo ou perfeito (ver Hebreus,
especialmente o capitulo 7). É uma das instituições fundamentais do povo
escolhido. Homens escolhidos que fazem preces e sacrifícios, com os quais se
mantém viva a esperança futura. É bom esclarecer que não há nenhum
sacerdote nem nenhum rito sacerdotal que estabeleça uma salvação definitiva.
3. O sacerdote é MEDIADOR: homem escolhido para mediar entre Deus e o
povo, Cristo o é em plenitude. O sacerdócio tem toda uma dimensão
SACRIFICIAL que é cumprida por Cristo. Assume, além disso, a figura do
CORDEIRO que era sacrificado em Páscoa.
4. Profetas: São precursores do “profeta”, enviados do Senhor que anunciavam
sua palavra. Seu significado literal é “o que profere a palavra”. Fala a palavra
da qual Deus lhe encarregou. Já no A.T. dizia-se que era o Verbo que falava
pelos profetas (Ver Hb 1). O sofrimento do profeta prefigura a paixão, isto se
vê de maneira clara nas figuras de Isaias:
Servo sofredor.
Chamado (Is 49,5).
Missão que tem como parte: o sofrimento (Is 52,13-53).
Cristo aceita o sacrifício e morre por sua própria vontade (Is 53,7)
Sacrifício vigário e expiatório: depositado em uma pessoa que, sem culpa
alguma, vai pagar pelos pecados de todo o povo.
É livre: ele se entrega à morte: Is 53, 12.
Textos da exaltação do Servo: figura da ressurreição (Is 52, 13-15; 53, 10-
12).
3. Realeza: O Rei é também prefigura do Messias.
Promessa a Judá: Gn 49, 8-12.
Regerá ao povo: Temporal―Saul e Davi― e Eterno: com Cristo-ungido (Sl 2).
 Descendência de Davi: Os 3, 5-5; Mq 4,7; Dn 7,14;
 Is 7,14: Virgindade da mãe desse Messias
 Emanuel: «Deus conosco»
7. O Messias e seu povo.
1º Reino messiânico: universal. O ponto de partida é o povo de Israel que se
abre a universalidade.
2º O estabelecimento do reino messiânico é etapa necessária para a
reconciliação entre Deus e o homem, é o Messias quem faz tal
reconciliação. O ano sabático, era o ano em que Deus anunciava a
salvação. (ver CIC 433).
3º Inaugura uma nova aliança, que é cumprimento do que se prefigurava,

3.1.2. NOVO TESTAMENTO: O ACONTECIMENTO.

Por que acontecimento? A Encarnação é o acontecimento central na obra da


reconciliação, acontece no tempo e no espaço.
Como nos diz o Catecismo no número 108: «A fé cristã não é a “religião do
livro”, é a religião da “Palavra” de Deus», é a religião do “acontecimento”. O N.T.
dá-nos testemunho desse acontecimento. Nesta perspectiva à luz do que já foi
visto, o Senhor é o cumprimento definitivo de tudo o que foi prometido aos
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patiarcas; há uma “continuidade histórica” (etapas): nasce e prega em um povo
determinado, mas também é uma “novidade radical”; embora se dê a
continuidade histórica, o fato da Encarnação não é o resultado da evolução
histórica e social de um povo. O SJ não se pode explicar como o resultado da
vivência histórica e social de um povo. A novidade inclui a um só tempo
continuidade e descontinuidade: intervenção direta de Deus que supera toda
expectativa. Constitui o fundamento ontológico de todo este processo, e de tudo
o que virá depois. O ponto é CONTINUIDADE E DESCONTINUIDADE.
A história humana em geral encontra seu fundamento na Encarnação, a própria
realidade encontra sua razão de ser neste momento: uma nova criação. Todos os
personagens: Moisés, Davi, etc... encontram neste acontecimento seu sentido
pleno. Isto também é percebido nas “Semina Verbi” que estão nas diferentes
culturas. CIC# 124: O novo testamento nos oferece a revelação definitiva... o
objeto é Cristo.
O que reflete no N.T. a nível humano?
A Fé: o testemunho dos apóstolos. Podemos entrever sua Cristologia: At 2,36:
Senhor e Cristo (Deus e Messias). Kyrios- Adonai- Deus. O Messias é Deus: neste
sentido há uma descontinuidade com a expectativa messiânica do A.T.
Espírito Santo: At 2,33: Que a Igreja o confesse é um sinal a mais da Divindade
desse Messias. Este é um dos eixos fundamentais dessa fé nascente. No At 5,1
se confirma que esse Messias é salvador.
O Martírio de S. Estevão (At 7,11) é um testemunho da divindade de Cristo: “viu
cristo à direita do Pai”, isto quer dizer que reina com Ele, só reina com Deus que
é igual a Ele. O perigo frente a esta verdade fundamental da fé constitui o
ADOCIONISMO: Cristo foi um homem adotado por Deus para cumprir a missão.

OS EVANGELHOS:
O mensageiro da paz, da boa nova que se lê em Is 52,7 adquire sentido
messiânico no N.T.: a Boa Nova é Cristo mesmo, Jesus, Evangelho do Pai.
São 4 as testemunhas que anunciam a Cristo. A DV nos fala do evangelho
quadriforme, no sentido que se complementam. Estes 4 Evangelistas tratam de
dar resposta à pergunta: quem é Jesus? E embora as respostas sejam
essencialmente iguais, cada uma o faz com uma singularidade própria.
Os três primeiros são muito parecidos, são os chamados sinóticos, cada um com
sua própria característica. Nos três, o Pai é quem apresenta ao Filho: No Batismo
e na transfiguração: Mt 3,13 ss; Mt 17,1 ss.

MATEUS:
Dirigido fundamentalmente aos judeus. Isso norteia a linha de suas
colocações, considerando óbvio que o leitor conhece todas as tradições.
Tem usos semíticos.
Jesus é apresentado como Rei – Messiânico.
Destaca-se a transcendência de sua origem pela concepção virginal.
Chama o Senhor Jesus de filho de Davi (Mt 22,45) para assim manifestar que
é da estirpe messiânica.
Mt 1, 21: O nome que lhe dá o anjo.
Este Messias instaura um reino: legislador e soberano de Israel.
Mt 16: Instituição da Igreja: funda um novo povo, dá as chaves a Pedro.
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Jesus é Deus, é Rei soberano.

MARCOS:
Foi intérprete de Pedro: reflete a pregação de Pedro.
Não necessariamente escreve para os palestinos.
Mc 1,1: Começo do Evangelho de Cristo Filho de Deus.
Tem uma quantidade de dados interligados.
Ressalta muitos traços humanos, transparecendo assim o mistério de sua
pessoa.
Mc 1, 38 “para isto saí”
Destaca os sentimentos do Senhor: Ira (3,5); amor (10,16); amor ao jovem
rico (10,21); eu sou (14,62).
A morte de Jesus: debilidade humana, Mc 15,39: o centurião confessa a
divindade de Jesus.

LUCAS:
- Discípulo de Paulo. Médico.
- Escreve a comunidades helênicas, por isso suaviza muitas expressões
semíticas.
- Cita a genealogia desde Adão, porque tem uma visão universal da salvação.
- É o único que chama Cristo de “Senhor Jesus”.
- Faz insistência na presença do E.S.

JOÃO:
- É o mais teológico e o mais controvertido.
- Prólogo: Afirma a preexistência do Verbo e portanto a origem Divina de Jesus.
- Deixa entrever algumas relações do Verbo com o Pai.
- Esse Verbo se fez carne (1,13)
- Jo 1,18: Leitura de toda a obra de Jesus como uma manifestação de sua
glória.
- É firme na afirmação de Jesus como Filho de Deus.
- Dá detalhes da Encarnação: V.13-14.
- Acentos próprios nas diferentes passagens: cansaço e sede (4,6); confusão
(12,27).
- Harmonia entre a divindade e a humanidade na pessoa de Cristo.

SÃO PAULO:
Esta marcado por sua conversão, que é um encontro “pessoal” com Cristo
ressuscitado, o que firma e marca sua vida e apostolado e se reflete em suas
epístolas.
Isto é chave para compreender sua Cristologia.
Seu caráter é existencial; é o autor mais veemente, o mas apaixonado, reflexo
de seu caráter forte.
Em todas as suas cartas transparece, como fruto de sua conversão, o
convencimento de que Jesus é Filho de Deus. At 9,20 nos manifesta que
imediatamente passou a pregar esta verdade nas sinagogas: Cristo é Filho de
Deus.

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Cl 1,1ss: Se entrevê a afirmação da preexistência do Verbo. Nota de
divindade.
Vê-se claramente seu pensamento sobre a origem de Jesus. Em Cl 1,15ss, há
uma primazia de Cristo: o hino tem dois momentos claros, primeiro Cristo
como Criador, com um acento na preexistência e segundo um acento mais
colocado na obra reconciliadora.
Fl 2, 6-11 - primeira parte: preexistência de Deus; despoja-se de si mesmo.
Nome: manifesta a identidade e missão; ser mesmo da pessoa, ref. Is 45,23.
Este hino é uma síntese rica e expressiva da Cristologia paulina.

Notas próprias de São Paulo:


Não diz Cristo-Deus-Yahaveh para evitar a confusão com os próprios judeus
conversos. Se dissesse que Cristo é Deus, como explicaria que há um só
Deus? Para evitar este problema SP utiliza outros títulos: Senhor ou Filho de
Deus, que manifesta também sua divindade mas de maneira menos explícita.
O que mais usa é Senhor: 222 vezes. O titulo vem de uma confissão muito
antiga: MARANATHA. É uma expressão evidente da consciência de SP sobre a
divindade (1 Cor 8,6).
Adonai – Kyrios – Dominus.

Breve percurso pelo ciclo reconciliador de SP.


Sua visão é bem econômica: A história salvífica.
Expressa a realidade misteriosa: que deve manifestar a ação salvífica de Deus
que é invisível aos seres humanos e que se faz visível pela revelação.
Mistério por excelência: a própria pessoa do Senhor Jesus.
Etapas: Gl 4,4 ; Fl 2,5-11.
Cume ou ponto crucial: a morte na Cruz 1 Cor 1,17-18; 23-24.
Ressurreição (Cor 15)
Sua Cristologia se resume no fato de que Cristo existia com o Pai.
O termo reconciliação aparece 15 vezes em suas epístolas, 13 vezes é usado
no contexto de restabelecimento da amizade entre Deus e o povo.
A reconciliação expressa tanto a vontade como a ação salvífica de Deus. Isto
implica que essa reconciliação se projeta através da relação restaurada com
Deus.
Termo muito rico: concentra em si a idéia de Deus amor e o desdobramento
de comunhão que estabelece.
A iniciativa é de Deus: Deus é Aquele que sai ao encontro, o homem por si
mesmo é incapaz (2 Cor 5, 18).
Efeitos da Reconciliação: Dinamismo da Reconciliação que dá origem a uma
Nova Criação (2 Cor 5,17). Fomos santificados em Cristo (Cl 1,22)
Mistério da Reconciliação confiado à Igreja.
Acolhida do dom da Reconciliação: a ação divina reclama a cooperação do
homem.

HEBREUS:
É um texto do qual SP não é o autor mas o pensamento é de origem paulina.
Centralidade: sacrifício, por sua potestade sacerdotal.
Prólogo: expressa a fé na preexistência do Filho.
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Distinção fundamental entre a antiga aliança e a nova. Por que este acento?
Porque sua pregação vai precisamente para os Hebreus.
Distinção de grau e natureza: a AA é profética, a NA é filial
A idéia do sacerdócio como mediação é forte.

4. MISTÉRIOS RECONCILIADORES DA VIDA DO SENHOR JESUS: DINÂMICA


KENÓTICA- ASSENCIONAL.

Cristo Sacramento do Pai:


Sacramento - mistério: realidade transcendente e salvífica que se manifesta
de maneira visível. É o Plano Reconciliador de Deus edificado na pessoa do
Senhor Jesus.
(CIC 774)
Toda a vida de Cristo é Mistério. Toda a sua vida manifesta de maneira visível
a obra de Deus.
Sacramento: sinal e instrumento (CIC#515)
Toda a vida de Cristo é revelação do Pai.
Toda a vida de Cristo é redenção.
Toda a vida é recapitulação (pôr Cristo como cabeça de tudo).

4.1. ANUNCIAÇÃO-ENCARNAÇÃO.
(Ver Em Companhia de Maria)
O Senhor está contigo: Emanuel: Deus conosco. Expressa-se assim, desde o
início, na saudação do anjo, a Divindade de Jesus.
Tem muitos sinais messiânicos como a saudação “Jairé”.
Concepção virginal: entrada ao mundo de maneira milagrosa, sinal de sua
Divindade.
A concepção está expressa no Sim de Maria.

4.1.1. ENCARNAÇÃO: NOVA CRIAÇÃO.


Faça-se da criação e Faça-se de Maria: “Em Cristo somos uma nova Criação”.
Não há uma anulação da antiga, é impreciso falar de re-criação. A perspectiva
de SP responde que o velho passou e o novo começou, dá-se um salto
qualitativo porque o ser humano roto pelo pecado é curado. Deus mesmo se
faz homem para elevar o homem. Santo Irineu fala de RECIRCULAÇÃO.
A novidade é real: É Deus que se faz homem, eleva a criatura à uma
dimensão impensável: filiação divina no Filho, filiação adotiva.
Na Encarnação está “in nuce” todo o dinamismo que se realizará no mistério
de Cristo. É uma Unidade.
Rm 5,12; Cor 15: Cristo é o novo Adão, o primogênito dessa nova Criação, a
plenitude do humano.
A Igreja são aqueles homens que pelo batismo constituem o novo povo.
Podemos nos perguntar: Se Cristo já nos reconciliou… para que a Igreja? É
porque na Igreja o dom é acolhido, é necessária a cooperação, entra em jogo
o dom da liberdade humana. Entendendo isto, tem sentido a missão da Igreja.
Por último, Deus chama o homem a ser participe da Nova Criação.
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Santo Irineu (Ad Hereges V,21,1).

4.1.2. POR QUE O VERBO SE FEZ CARNE?

Por nós e por nossa salvação. Ver CIC 456ss:


1. Reconciliação.
2. Mostrar o amor de Deus.
3. Modelo de Santidade.
4. Elevar-se à natureza divina.

4.1.3. REVELAÇÃO

Revelação do mistério de Deus e do homem:


Cristo é verdadeiro Deus e verdadeiro homem: GS 22.

4.1.4. SENHOR Jesus.

Verdadeiro Deus e Homem: mistério inimaginável da Encarnação.


O Verbo de Deus toma a carne de Maria e se faz homem verdadeiro sem
deixar de ser Deus. (CIC 464).
Deus Cristo Homem: são os dois pólos das heresias Cristológicas.

4.1.5. DIMENSÕES DA ENCARNAÇÃO.

Kénosis: Fl 2,6-11. Prólogo de Jo: aniquilamento real sem deixar de ser


divino: elevação.
Encarnação: Já há elevação do humano, que alcançará sua plenitude na
ressurreição.
Jo 12,32: “levantado da terra”: a Cruz é paradoxalmente o momento mais
baixo de sua kénosis, o momento em que é levantado e atrai todos para si.
Mostra sim o valor redentor do sofrimento.

4.2. INFÂNCIA E VIDA OCULTA

4.2.1. NASCIMENTO E INFÂNCIA.

Todo a vida de Cristo deve ser vista como uma unidade: Nascimento e
infância, vida oculta, ministério reconciliador, paixão, morte, ressurreição,
ascensão.
A apresentação de Maria: aos pastores ―que significa a apresentação ao povo
de Israel― e aos Magos ―que significa a apresentação aos gentios―.
A visitação: O reconhecimento de Isabel.
Apresentação no templo: consciência da expectativa do povo no Messias.

4.2.2. VIDA OCULTA.

Manifesta a compenetração de Cristo com a vida humana: trabalhou como


homem, viveu como homem.
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Os evangelhos nos apresentam um só fato: Jesus perdido e achado no templo.
neste episódio se manifesta, na resposta que Maria dá, a consciência que
Jesus tinha de si mesmo e de sua missão.
«O menino crescia em estatura e sabedoria diante de Deus e dos homens».

4.2.3. BATISMO.

Encontra-se nos 3 sinóticos.


É importante ressaltar o motivo: por que se batiza Jesus?
Para alinhar-se com todo o anúncio messiânico de João, o maior de todos os
profetas segundo testemunho do próprio Cristo. Para explicitar o cumprimento
da lei e do anúncio messiânico.
Aceitação e inauguração de sua missão de Servo Sofredor.
Antecipação do Batismo de sua morte na Cruz.
As palavras que se escutam: Mc e Lc, por sua redação, induzem a pensar que
são dirigidas só a Cristo, em Mt parecem dirigidas às pessoas.
O Batismo de Jesus manifesta sua aceitação do Plano do Pai: servo sofredor. A
voz do Pai revela como Ele sente prazer pela obediência do Filho.
A unção do E.S.: com esta fica explícito o caráter trinitário do texto.
O E.S. acompanha o ministério de Cristo.
Tudo isto dá fundamento ao Batismo.

4.2.4 AS TENTAÇÕES.
São três: Converter as pedras em pão (costuma-se identificar com o prazer),
“Se és Filho de Deus, lança-te abaixo” (poder) e se me adorares, te darei…
(ter).
O inimigo sonda para ver quem é.
O próprio E.S. impulsiona Jesus para o deserto.
Onde o primeiro Adão pecou, o novo Adão triunfa.
Jesus cumpre perfeitamente a vocação do povo de Israel… os 40 dias no
deserto fazem alusão aos 40 anos que o povo vagou pelo deserto e onde se
rebelou várias vezes contra Deus.
São uma antecipação da vitória que se dará com a Cruz e a Ressurreição.
As tentações têm um elemento revelador acerca do SJ e da pessoa humana,
pelo sentido salvífico e porque nos ensinam a enfrentar a tentação. Recordam-
nos que a tentação não é pecado, é uma ocasião de luta para vencer e
crescer.
Manifestam a veracidade da humanidade de Jesus que se acha submetida à
tentação.
Se não pecou, como é livre? Se Jesus é o santo de Deus, havia um
crescimento em santidade em Jesus?, Jesus… podia pecar?
A santidade é comunhão com Deus: implica na consagração, na pertença a
Deus. É diferente da santidade como esmero moral, como mero moralismo.
A santidade bíblica é mais que isso: é a entrega total do ser e do fazer a Deus
que tem como conseqüência esse esmero moral.

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Jesus é Santo porque se consagra por obediência amorosa ao Pai totalmente.
Sob esta perspectiva, por ser plenamente humano, Jesus crescia em
Santidade, é modelo real porque é verdadeiro homem.
Ele experimenta realmente o conflito humano que a tentação produz, mas
livremente opta pelo Plano de Deus.
Não pecou e nem sequer era possível que pecasse.
Como pode ser livre? Porque a liberdade é o exercício (…) o fato é que Jesus é
livre no sentido pleno da palavra. O fato de não poder pecar não diminui a sua
liberdade, o pecado não é uma opção de liberdade mas sim de escravidão.
Pelo contrário sua liberdade Lhe permite ser obediente.

4.3 MINISTÉRIO RECONCILIADOR.

4.3.1. ANÚNCIO DO REINO: PALAVRAS E AÇÕES.

Com relação ao tema do reino, houve uma redução racionalista, principalmente


com Loisy, no liberalismo alemão e no racionalismo de finais do século XIX e
princípios do século XX.
Segundo esta teoria, Jesus tinha como missão pregar o reino no sentido hebreu
mas fracassou. Isso implica que Ele não tinha como fim a Igreja mas um reino
terrestre. Isto fica explicitado em uma conhecida frase que representa esta
teoria: “Cristo pregou o reino e o que apareceu foi a Igreja”. Isto dá margem a
uma redução do anúncio de Jesus a uma questão simplesmente temporal ou
inclusive meramente política. Entretanto podemos nos aproximar dos Evangelhos
para desentranhar o sentido autêntico do Reino:
É um tema central e recorrente: É mencionado nas parábolas, no sermão da
montanha, Mt 10, onde os discípulos são enviados justamente para pregar o
reino.
O reino entendido pelo SJ tem uma perspectiva, um acento “espiritual”, a luta
é contra “Satanás”. Como nos diz SP, não é contra as potestades e
dominações, mas contra os principados.
O reino se identifica com o SJ: Ele é a boa nova por excelência, Ele é o reino.
Com sua pessoa chegou o reino. Daí a importância do texto do envio dos
discípulos por João Batista (Lc 7,22…), ver também (Mc 12,28).
Jesus identifica seu ministério, sua presença entre nós com o reino. Nenhum
profeta se identificou com o reino. Para expressar esta realidade Orígenes
inventou a palavra “autobasileia”: o próprio Cristo é o rei. A consciência de
Jesus de que Ele mesmo é o reino fica mais clara quando Ele se coloca a si
mesmo no centro de sua pregação, de sua mensagem (ver: Romano Guardini,
A essência do Cristianismo).
Por outro lado este reino exige radicalidade: “quem não está comigo está
contra mim” (Mt 12,30).
O texto de Jo 14,16 resume o que foi dito: “eu sou o caminho, a verdade e a
vida”.

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Se com algum termo podemos englobar este dinamismo do anúncio do reino é a
Reconciliação, que parte do coração do homem, Mc 7,20: o que importa é o que
sai do coração do homem, Cristo aponta para esta dimensão do homem.

Traços comuns do reino:


Universal: Todos estão chamados.
Pertence aos HUMILDES E POBRES (entendidos integralmente): aos que o
acolhem com humildade (Mc 2,17).
Contém uma dinâmica de CONVERSÃO: O Pai misericordioso que espera o
pecador arrependido (Lc 15,7).
É um reino que já começou mas aponta a um cumprimento, a uma plenitude
NA IGREJA: reino instaurado por Jesus, do qual é cabeça e ao qual confia
continuar a obra reconciliadora. Portanto o reino e a igreja são inseparáveis.
CIC 5: A Igreja constitui esse já mas ainda não, é uma dinâmica de tensão
escatológica. Esse horizonte ao qual caminhamos não pode estar alheio à
concepção da Igreja. “A Igreja é germe e começo deste reino” (LG). CIC 551:
as chaves do reino significam o estabelecimento do reino e sua sucessão sobre
Pedro “a rocha” .

Sinais do reino: os milagres.


Expressão da misericórdia de Deus que se faz presente na pessoa do SJ e produz
sinais inequívocos de que o reino chegou. São uns dos temas que suscitaram
mais polêmica, porque são realidades que nos falam de nossa finitude humana e
se referem a fatos que não podemos explicar. Com o contexto de fundo do
liberalismo e do racionalismo ilustrado se entende porque causa tanta polêmica o
milagre como suspensão das leis naturais e porque se lhe considera inadmissível.
Além disso, o racionalismo se nega a reconhecer seu caráter histórico pelo
simples fato de que não o pode explicar. É uma realidade meta-racional que nos
põe frente ao salto da fé, não significando isto que não se achem argumentos
racionais para embasar a possibilidade dos milagres.
Os Evangelhos são simples narrações dos fatos, não há toda a parafernália (NT
não encontrei a tradução para a palavra original: parnaternaría) mágica, são
extremamente singelos, “naturalmente narrados”. O que por um lado nos fala da
conaturalidade com essa realidade e da conaturalidade que se tinha para narrá-
los, vivendo ainda pessoas que foram testemunhas dos fatos e que bem
poderiam refutar falsas narrações.
1. Encontram-se em todos o evangelhos.
2. Nem seus inimigos desconhecem o fato de seus milagres, desconcertam-se.
Por oposição termina-se reconhecendo que estes fatos foram reais.
3. No interior dos evangelhos, as narrações dos milagres são parte essencial da
estrutura, não são dados acessórios. Por exemplo: 31 % da narração de Mc se
refere a milagres.
4. Na própria pregação de Jesus os milagres são capitais.
5. São fatos públicos. Argumento em favor da historicidade.

Significado: Ser sinal de que o reino chegou, manifestação do poder divino de


Jesus. Cura enfermidades, o que tem todo um contexto, no povo judeu, de
libertação do pecado; faz exorcismos e manifesta seu poder sobre o mal. Os
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milagres naturais manifestam seu poder sobre toda a criação. Todos são sinais
da divindade, sinais de que o reino chegou na pessoa do SJ porque Ele atua
pessoalmente nos milagres. No A.T. há uma clara consciência de que o autor dos
milagres é só Deus, no N.T. Jesus em pessoa os realiza.
Parte do problema da negação dos milagres está relacionada com uma visão
deísta: com uma visão de Deus como “relojoeiro”, que cria mas não intervém em
nada na criação. Por último, deixar claro que o milagre nunca transgride a
liberdade humana.

4.4 PAIXÃO E MORTE DO SENHOR.

Há uma dinâmica nos evangelhos que conduz o leitor a este ponto da Cruz. Os
evangelhos não são narrações frias e jornalísticas dos fatos, são testemunhos de
fé de homem que tocaram com suas mãos o evangelho vivo. Nesse sentido os
evangelhos vão apontando para esse momento central que constitui a paixão,
morte e ressurreição do Senhor.

Momentos da paixão e morte:

1. Conspiração e traição (Mt 26, Mc 14, Lc 22): Há uma interação entre os atores
humanos que causam a morte do Senhor e há uma “permissividade” da parte de
Deus. Estariam os autores predestinados a matar Jesus? Já que Cristo ia morrer…
tinha que morrer, alguém tinha que cumprir o encargo? (CIC) Salva a
responsabilidade pessoal por sua liberdade já que Deus em sua onipotência que
transcende o tempo vê estas decisões que não deixam de ser livres. (NT. Este
pedaço está confuso. Não entendi o que se pretendeu dizer.) Por outro lado deve-se
entender que os culpados somos todos nós, os homens, porque morreu por
nossos pecados. A atitude de Nosso Senhor perante esta realidade é de um
valente enfrentamento, não foge. Já conhecia, além disso, o que lhe aconteceria
pela prenúncio que fez, mais de uma vez, de sua paixão. Isto nos fala de sua
aceitação livre para passar por esse momento. É por isso modelo de entrega, de
sacrifício, de generosidade livre.

2. A última Ceia: Instituição eucarística como “memorial” de sua paixão e morte.


Acontecimento carregado de todo um simbolismo de cumprimento das promessas
de Cristo: o cordeiro, o contexto da páscoa. Tem um caráter simbólico em
relação ao sacrifício da Cruz. O que aconteceu realmente na Cruz ―sacrifício
cruento―, acontece de maneira incruenta na Eucaristia e se perpetua: “façam
isto em minha memória”. É sacrifício único que se perpetua.

3. A oração no horto: aqui se manifesta a íntima união com o Pai de maneira


particularmente intensa. Por outro lado os discípulos começam a afastar-se Dele.
Sofrimento, angústia, luta, agonia de Jesus diante da morte que manifesta a
profundidade de sua dor moral, física, espiritual, e tudo isto por “amor
obediencial” (Experiência do pecado: o S.J., sendo consciente de não ser culpado,
experimenta e assume o peso de todos os pecados do mundo). Livremente se
entrega, é um elemento fundamental para a obediência e para nossa libertação.
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4. Prisão: abandono dos discípulos, entrega voluntária: “Eu sou”.

5. Processo e condenação:
Julgado no sinédrio como blasfemo por ter-se proclamado Deus.
No tribunal romano o acusam de revolucionário, de opor-se a César.
Uma característica notória é que ninguém assume a responsabilidade neste
processo, até Judas se enforca fugindo do remorso.
Há, além disso, um elemento de que estão impregnados todos estes
momentos: MANSIDÃO E HUMILDADE.
Manifesta sua realeza perante o soldado que lhe bate: “Se falei mal, prova-o,
mas se falei bem, por que me bates?”
Há um realismo diante do sofrimento. O Senhor não foge, libertando sua
mente. Enfrenta o sofrimento com toda a carga de dor profunda que se
manifesta no Getsemani.

6. Crucificação e morte:
O cume do sacrifício pascal: o cordeiro derramou seu sangue.
Sacrifício da nova aliança em relação à antiga que foi selada com um cordeiro.
É único: de uma vez para sempre (ver Hebreus) supera todo sacrifico do A.T.
Deus mesmo entrega seu Filho: é vítima e receptor do sacrifício.
Se Ele é vítima… então Deus morre na Cruz?
É uma morte real, não se pode afirmar que morre a divindade porque quem se
sacrifica não é o Pai nem o E.S., é o Filho. Portanto, a pessoa do Filho é a que se
entrega no sacrifício, na natureza “humana” pois sua natureza divina transcende
a morte. (Há uma heresia que afirma que o Pai também foi crucificado:
Patripassionismo). É pois, a segunda pessoa da Trindade que morre.
A Cruz é sinal de esperança, todo ser humano pode associar-se à Cruz de
Cristo recebendo a graça de seu efeito salvador e salvífico.
Os efeitos são universais: Reconcilía-nos nas 4 dimensões, devolve-nos à
comunhão com Deus.

4.5 RESSURREIÇÃO E ASCENSÃO.

A RESSURREIÇÃO.
Acontecimento inseparável de todos os mistérios do Senhor, leva a sua plenitude
todos os mistérios. Já se apresentou a ressurreição como uma lenda (Lesy) ou
como um mito (Bultman). Seu sentido o encontramos novamente nos
evangelhos. Elementos que ressaltam:
1. Sepulcro vazio: Não é prova por si mesmo mas é testemunho; sinal essencial.
2. Aparições dos anjos: Tradição: a primeira a quem o Senhor ressuscitado
apareceu foi a Maria sua mãe.
3. Aparições de Cristo ressuscitado.
Característica comum das aparições: convida à cooperação, Emaús é
possivelmente a passagem mais paradigmática neste sentido: Jesus se deixa
descobrir e suscita a fé neles.

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A fé chega através da pregação. Há uma mediação de envio, chega pelo
testemunho de outros: como o testemunho das mulheres aos apóstolos. A
Igreja tem o dever de transmitir esta verdade.
Como se mostra Jesus nas aparições?
Com simplicidade: sem grandes manifestações.
“Deixa-se” ver: porque já não tem um corpo visível igual ao nosso, é um
corpo que já não está no espaço ou o tempo, entretanto se deixa ver no
espaço e no tempo, é real, é o mesmo corpo, há uma identidade mas é corpo
“glorioso”, está transformado em um sentido material.
É importante o papel das mulheres.
As aparições têm lugar em Jerusalém e em outras partes da Galiléia: a
prioridade por Jerusalém é que no lugar em que morreu torna-se vitorioso.
Por sua vez, sai de Jerusalém e aparece na Galiléia para tirar a centralidade
do Templo, Ele é o novo Templo.
Caráter escatológico do sucesso da ressurreição: Cumpre todas as promessas
do A. T. e as que o próprio Jesus fazia em sua vida.
É um fato histórico?
Sim, porque se deu no espaço e no tempo humanos, aconteceu em uma data,
em um lugar.
Não, porque é “meta-histórico”: o próprio fato escapa à história, ninguém o
viu nesse momento, não há nenhuma testemunha, mas é um fato
“verificável”.
A ressurreição é obra da Trindade: Como feito Salvífico é uma intervenção
direta de Deus: as três pessoas atuam juntas cada uma manifestando sua
própria originalidade.
Cristo em sua vida declara ter poder para ressuscitar.
A ressurreição é a confirmação definitiva da revelação. Confirma tudo o que
Cristo havia dito e falado (1 Cor 15-18).
Confirma-se a verdade de sua divindade: tinha-a mostrado (Jo 8,28).
É importante a relação da Ressurreição com a Encarnação e a Cruz: é o
cumprimento do que começou na Encarnação segundo o desígnio divino.
Completa a manifestação do conteúdo divino da Encarnação. Plenitude da
Igreja.
Valor sotereológico da salvação: “Se Cristo não ressuscitou, vã é nossa fé”. A
Ressurreição tem uma eficácia redentora, há uma união entre a Cruz e a
Ressurreição conformando um único mistério pascal. Só na Ressurreição a Cuz
alcança seu pleno significado de evento Salvífico, formando uma única
realidade.
Neste acontecimento podemos ver dois aspectos:
1. A justificação do Pai que nos retorna à comunhão com Deus.
2. Realiza-se a adoção filial, nascemos a uma vida nova, o Senhor nos eleva a
uma condição inimaginável. A ressurreição é princípio de vida nova para a
humanidade. A ressurreição de Cristo fundamenta nossa própria ressurreição.

A ASCENSÃO.
Que papel tem? É a glorificação final de Cristo ressuscitado. Durante quarenta
dias continua vivendo em uma imersão temporal. Uma vez cumprido este

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período, sobe aos céus. Dá-se a partida definitiva (ver CIC 828). At 1,9: foi
levantado (estado de glorificação).
A ascensão tem dupla relação. Penetra no mistério da Encarnação: é a etapa
final do mistério da Encarnação, abre caminho para nós (Jo 14,6); além disso,
está intimamente ligada ao envio do E.S. que nos conecta diretamente com a
redenção.

5 A PESSOA DO SENHOR JESUS: DESENVOLVIMENTOS TEOLÓGICOS.

Em resumo, a fé dos apóstolos é: Jesus é Filho de Deus, é Senhor. Verdade


fundamental sobre Cristo. Depois da ressurreição se consolida esta fé que é
recolhida por escrito. A Igreja, através da história, deve custodiar e defender
esta fé com amor.
Nos primeiros séculos procura-se entender melhor a ontologia do Senhor Jesus.
Isto se explica por uma característica intrínseca da Igreja: porque a fé Cristã,
diferente das outras grandes religiões do mundo, se fundamenta em uma
PESSOA, não somos a religião do livro, cremos em um Deus feito homem, em
uma pessoa concreta. Isto não implica em um esquecimento da missão
sotereológica, pelo contrário, ambos os aspectos se encontram intimamente
ligados. Jesus é verdadeiro Deus e verdadeiro Homem: os extremos são erros,
todas as heresias se dão de um lado ou outro.

1.1. Séculos II e III. Diferentes heresias:

5.1.1. AS QUE DESCONHECEM SUA DIVINDADE:

1. Ebionitas: Judeus cristãos marcados por uma idéia muito rígida, herança do
monoteísmo veterotestamentário. Cristo é homem, embora nasça da virgem
Maria prodigiosamente. No batismo, Deus o adota.
2. Adocionismo: (Teodoro o velho) Cristo é um homem escolhido e adotado por
Deus (Paulo da Samosata).
3. Modalistas: mantêm a divindade de Cristo mas Ele não é diferente do Pai. É,
melhor dizendo, um “modo” do Pai. Representantes: Noeto e Praéxas. É
chamado também Patripassionismo.

5.1.2. OS QUE NEGAM A HUMANIDADE.

A. Docetistas: Docetismo = aparência. A carne de Cristo é só aparência (2 Jo 7).


Se desenvolve rápido e João já os menciona em suas epístolas. Idéia exagerada
da transcendência de Deus. Representam-na Marción e Valentín.
É combatido por Santo Inácio da Antioquia que escreve 7 cartas contra o
Docetismo, afirmando com força a humanidade e divindade do Verbo: filho de
Maria e da linhagem de Davi.
Também é combatido por Santo Irineu: Escreve “Adversus Hereges” primeira
obra de Teologia. Teve contato com a era apostólica: São Policarpo discípulo de
João. Afirma que Jesus Cristo é verdadeiro Deus e verdadeiro Homem.
B. Gnose: Espécie de sincretismo, é extremamente variada e difícil de enquadrar.
Seu problema fundamental é a concepção dualista da realidade, há dois
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princípios: o bem e o mal. Tem-se que fugir do mundo (mau). Propõe a
existência de seres intermediários entre Deus e o mundo: éons. Estes são
espíritos intermediários que na medida em que se afastam de Deus são mais
imperfeitos. O éon imprecador é aquele que se afastou mais. O homem possui
uma centelha do éon e é sua garantia de salvação. A salvação se obtém pelo
conhecimento de realidades únicas, por isso é uma doutrina elitista. Existem três
tipos de homens: Pneumáticos (perfeitos); psíquicos e hílicos.
Marción representa esta doutrina: ela nega a Encarnação de Cristo, rechaça a
existência do pecado original. Contrapõe o A.T.(não revelado) com o N.T. (Deus
verdadeiro).
Santo Irineu reage diante disto, propondo a síntese e insistindo na identidade do
único Deus verdadeiro que existe sempre. Deus cria o homem para dar glória a
Deus: “a glória de Deus é o homem e a glória do homem está em Deus”.
Rechaça o éon cósmico (demiurgo) e sustenta que o Verbo é Deus e se fez
verdadeiramente homem. Todas as coisas se recapitulam em Cristo, nele tudo se
renova.
Sustenta a unidade de Cristo: “é um só e o mesmo”: heis kai no autos (uno e o
mesmo).
Tertuliano (latino 160-220):
Começou bem, combatendo o docetismo e a gnose (luta contra Práxeas), mas
terminou sendo monatista.
Afirma a alma humana de Jesus como existente, sua argumentação era que
para libertar a alma humana, Jesus teve que ter alma humana. É uma
antecipação do que muito anos depois dirão os padres capadócios.
Não há porque pensar em Deus como um ser unipersonal, nele estão
pressentem várias pessoas. Jesus Cristo é uma pessoa com uma dupla
natureza (substância).
Hipóstase: pessoa... Trindade: em Deus há três pessoas.
Substância: natureza de Jesus: tem alma humana; unidade de substância
divina e substância humana.

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