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polifonías para la equidad racial

PERA
PLATAFORMA PARA LA EQUIDAD RACIAL EN LAS AMÉRICAS
Polifonías para
la equidad racial

DUDU RIBEIRO

B R U NO ALVE S

C AR O L I NE M E ND E S B IS P O

G L E ND A PAL AC I O S

K E ND RY SE R R ANO

AND R É S VAL E RO

R I C AR D O L E AL

LE AND R O SH I NY E J AM I O Y PA S UY

ANA M Í R I A D O S SAN TO S

C ARVAL H O C AR I NHA N HA

J U L I E T H B AL ANTA ZÚÑ IG A

PERA
PLATAFORMA PARA LA EQUIDAD RACIAL EN LAS AMÉRICAS
@ PERA 2022
@ Artimaña Editorial

PERA, Plataforma para la Equidad Racial en las Américas, es un espacio de la sociedad civil liderada por
abogados y activistas que realizan acciones de movilización social para la equidad racial. La plataforma
está integrada por participantes ubicados en Colombia, Brasil y Estados Unidos y busca forjar lazos de
solidaridad, ayuda mutua y acciones colectivas para combatir la discriminación y el racismo.

Dirección General:
Dayana Blanco Acendra
Daniel Gómez Mazo

Textos:
Bruno Alves, Allyne Andrade e Silva, Julieth Balanta, Caroline Mendes Bispo, Glenda Palacios, Dudu
Ribeiro, Ana Míria dos Santos Carvalho Carinhanha, Ricardo Leal, Kendry Serrano, Leandro Shinÿe,
Jamioy Pasuy y Andrés Valero

Ilustraciones:
Walter Castro

Fotografía de cubierta:
Jeffery Erhunse, ActionVance/ Unsplash.com

*
Servicios editoriales
Artimaña Editorial

Dirección editorial:
Ángel Unfried

Edición:
Jorge Mestre

Diseño y diagramación:
Gabriel Henao

Asistencia editorial:
Andrea Páez
Ignacio Mayorga Alzate

Corrección de estilo:
Ignacio Mayorga Alzate

Corrección de estilo en portugués:


Danilo Denad
ESPAÑOL

Agradecimientos

Este proyecto fue posible gracias al compromiso de Open


Society Foundations, la Soros Equality Fellowship Program y a
las personas que llevan a cabo acciones de liderazgo por la jus-
ticia y la equidad racial.
Contenido

Agradecimientos............................................................................................................................................................................. 7
Declaración de apertura de la Plataforma para la Equidad
Racial en las Américas —PERA—............................................................................................................. 15
Presentación....................................................................................................................................................................................... 19

PRIMERA PARTE .................................................................................................................................................................................................................... 25


Racismo, violencia policial y guerra contra las drogas

El poder de lo falso: la pirámide de certezas que subvenciona


la supremacía blanca frente a la guerra contra las drogas.................................27
Dudu Ribeiro

The Power Of The False: The Pyramid Of Certainties


That White Supremacy Subsidizes Facing The War On Drugs.............47
Dudu Ribeiro

A potência do falso: a pirâmide de certezas que subsidia


a supremacia branca frente à guerra às drogas................................................................... 65
Dudu Ribeiro

Letalidad policial en la pandemia................................................................................................................ 85


Bruno Alves
Police Lethality In Pandemic...........................................................................................................................107
Bruno Alves

Letalidade policial na pandemia................................................................................................................ 129


Bruno Alves

Encarcelamiento femenino en Brasil y Covid-19:


un análisis crítico del caso de Acre.........................................................................................................151
Caroline Mendes Bispo

Female imprisonment in Brazil and Covid 19:


a critical analysis of Acre......................................................................................................................................... 165
Caroline Mendes Bispo

Encarceramento Feminino no Brasil e a Covid 19:


Uma análise crítica sobre o Acre................................................................................................................177
Caroline Mendes Bispo

SEGUNDA PARTE ........................................................................................................................................................................................................... 191


Otras formas y espacios de discriminación

La pandemia antes de la pandemia:poblaciones negras


entre el hambre, el despojo y la muerte........................................................................................ 193
Glenda Palacios

A Pandemic Before The Pandemic: Black Populations


Between Hunger, Dispossession And Death....................................................................... 205
Glenda Palacios

Pandemia antes da pandemia: populações negras


entre a fome, o esbulho e a morte............................................................................................................217
Glenda Palacios
Medios de comunicación, entre el racismo estructural
y la invisibilidad de la población afrocolombiana...................................................... 229
Kendry Serrano

Mass Media, Between Structural Racism And The Invisibility


Of The Afro-Colombian Population..................................................................................................243
Kendry Serrano

Meios de comunicação: entre o racismo estrutural


e a invisibilidade da população afro-colombiana..........................................................259
Kendry Serrano

La igualdad material como comparación: mi experiencia


viviendo la igualdad formal estadounidense..........................................................................275
Andrés Valero

Mass Media, Between Structural Racism And The Invisibility


Of The Afro-Colombian Population................................................................................................. 299
Kendry Serrano

A igualdade material como comparação: minha experiência


vivendo a igualdade formal estadunidense...............................................................................315
Andrés Valero

TERCERA PARTE .............................................................................................................................................................................................................. 337


La deuda con la Jurisdicción Especial Afrocolombiana

¿Por qué es importante implementar la Jurisdicción Especial


para el pueblo negro afrocolombiano raizal y palenquero
en Colombia?............................................................................................................................................................................... 339
Ricardo Leal
Why Is It Important To Implement The Special Jurisdiction
For The Black Afrocolombian, Raizal And Palenquero People
In Colombia?.................................................................................................................................................................................351
Ricardo Leal

Por que é importante implementar uma Jurisdição Especial para


os negros afrocolombianos, raizal e palenquero na Colômbia?......... 363
Ricardo Leal

El posicionamiento de los sistemas jurídicos de los


Pueblos Étnicos en la Jurisdicción Especial para la Paz..................................373
Leandro Shinye Jamioy Pasuy

The Positioning Of The Legal Systems Of The Ethnic


Peoples In The Special Jurisdiction For Peace.................................................................387
Leandro Shinye Jamioy Pasuy

O Posicionamento dos Sistemas Jurídicos dos Povos


Étnicos na Jurisdição Especial para a Paz................................................................................ 401
Leandro Shinye Jamioy Pasuy

CUARTA PARTE .................................................................................................................................................................................................................... 415


La larga lucha negra

Desafíos y potencialidades para enfrentar el racismo en Brasil...........417


Ana Míria dos Santos Carvalho Carinhanha

Challenges and potentialities to face racism in Brazil.......................................... 447


Ana Míria dos Santos Carvalho Carinhanha

Desafios e potencialidades para o enfrentamento do racismo


no Brasil..................................................................................................................................................................................................477
Ana Míria dos Santos Carvalho Carinhanha
Población afrodescendiente en Colombia y sus procesos
de activismo político....................................................................................................................................................... 507
Julieth Balanta Zúñiga

Afro-descendant population in Colombia and their


processes of political activism.........................................................................................................................521
Julieth Balanta Zúñiga

População afrodescendente na Colômbia e seus processos


de ativismo político........................................................................................................................................................... 535
Julieth Balanta Zúñiga

Mientras haya racismo, no habrá democracia:


la Coalición Negra por los Derechos................................................................................................. 549
Allyne Andrade e Silva

As long as there is racism, there will be no democracy:


The Black Coalition for Rights..................................................................................................................... 567
Allyne Andrade e Silva

Enquanto houver racismo, não haverá democracia:


A Coalizão Negra por Direitos..................................................................................................................... 583
Allyne Andrade e Silva

Perfiles de los miembros de la Plataforma para la


Equidad Racial en las Américas (PERA).................................................................................... 601
ESPAÑOL

Declaración de apertura de la Plataforma


para la Equidad Racial en las Américas
—PERA—

La Plataforma para la Equidad Racial en las Américas — PERA—


es un espacio de la sociedad civil para el encuentro, la forma-
ción y la acción colectiva antirracista en las Américas. El pro-
pósito de la Plataforma es propiciar ejercicios de movilización
legal transnacional que garanticen la materialización de los
derechos civiles-humanos de las personas víctimas del racismo
y la discriminación racial en los distintos países de la región.
PERA busca focalizar su actuación a partir de las experien-
cias y necesidades de tres países que, si bien tienen historias de
exclusión racial distintas, se encuentran unidos por un pasado
común caracterizado por el colonialismo, la supremacía blanca
y la subordinación racial en contra de ciertos grupos, como las
personas negras, indígenas y los inmigrantes, entre otros. Estos
tres países son Colombia, Brasil y Estados Unidos. PERA pre-
tende articular los esfuerzos de activistas, académicos/as, líde-
res/as sociales de estos tres países encaminados a hacer uso
del derecho para la emancipación social de grupos racializados
como subordinados.

Los miembros de PERA:


Reconociendo que el racismo se manifiesta en una multiplici-
dad de formas, incluyendo la exclusión, invisibilización, estig-
matización, marginación, agresión territorial, odio y violencia,
16 Polifonías para la equidad racial ESP

de cualquier género o naturaleza, afectando de manera severa


a las personas y comunidades víctimas del colonialismo y la
supremacía blanca en su desarrollo personal, social, familiar y
en el acceso a servicios básicos de calidad.
Reconociendo que, si bien la situación de las personas afro-
descendientes, los pueblos indígenas y los migrantes se ha
hecho más visible en los últimos años en algunos países de la
región y que han crecido los esfuerzos de la sociedad civil por
denunciar la discriminación, la injusticia racial y combatirla,
existe aún un trabajo significativo por hacer en materia de com-
bate a la desigualdad racial como elemento que exacerba las
condiciones de vulnerabilidad de estas poblaciones y los obstá-
culos históricos que producen y reproducen graves consecuen-
cias para el bienestar de esta población.
Reconociendo que esta situación se ha visto agravada por las
condiciones de pobreza en que vive la mayoría de las poblacio-
nes racialmente subordinadas en las Américas, y que tiene su
origen en la trata esclavista y el proceso de colonización.
Reconociendo la imperiosa necesidad de promover alianzas
transnacionales que generen cambios reales para la materiali-
zación de los objetivos de reconocimiento, justicia, desarrollo y
paz de las personas que hacen parte de grupos históricamente
discriminados con base en factores raciales, en el marco del
derecho fundamental a la igualdad y el principio internacional
de la no discriminación.
Reconociendo la necesidad de promover un encuentro que
abrace las diversidades al interior de la población las poblacio-
nes racialmente subordinadas, para que estos objetivos sean una
realidad palpable y alcanzable para todas las personas, sin dis-
tinción de sexo, identidad de género, orientación sexual, clase
social, religión, color, identidad étnica u otra característica.
Declaración de apertura de la Plataforma
ESP para la Equidad Racial en las Américas –PERA– 17

PERA declara:
Que la plena participación de las personas que hacen parte de
grupos racialmente subordinados, en condiciones de igualdad
y en todas las esferas de la sociedad, incluidos los procesos de
toma de decisiones y el acceso a posiciones de poder, son funda-
mentales para el logro del reconocimiento de estas poblaciones
como parte integral de la sociedad, el desarrollo comunitario,
nacional y regional, y la consecución de la justicia y la paz;
Que la igualdad de derechos, de oportunidades y de acceso
a los recursos en favor de las poblaciones racialmente subordi-
nadas y la distribución equitativa de la riqueza son condiciones
necesarias para el bienestar y consolidación de la democracia
en las Américas.
Que el logro de la paz, a nivel interno, regional y global, es
alcanzable y está inexorablemente ligado al desarrollo y bien-
estar de las personas racialmente subordinadas, entendiendo
como desarrollo el avance de un grupo de conformidad con la
visión particular de cada comunidad y población respecto de su
propia relación con el su entorno, otros miembros de la socie-
dad y sus propios miembros.
Que es indispensable consolidar alianzas transnacionales
para velar por la aplicación y materialización de la participa-
ción de las personas afrodescendientes en el diseño de políti-
cas públicas, programas y leyes que coadyuven a su desarrollo
y bienestar efectivo.
Que es esencial consolidar alianzas transnacionales que ejer-
zan una labor de veeduría ciudadana, política y técnica res-
pecto del funcionamiento y protección de la democracia en las
Américas, el respeto a los derechos humanos y la defensa legal
de los derechos civiles de las personas que hacen parte de gru-
pos racialmente subordinados.
Que es necesaria la creación de una agenda conjunta entre
las organizaciones de la sociedad civil que velan por la defensa
18 Polifonías para la equidad racial ESP

de los derechos, igualdad y dignidad de las poblaciones racial-


mente subordinadas en las Américas que conduzca al diseño y
presentación de acciones conjuntas que generen impactos posi-
tivos para el cambio en los países donde habita esta población y
que lleven con ello al mejoramiento de su calidad de vida.
Que es urgente el intercambio de conocimientos a través de
las fronteras y el aprendizaje conjunto de experiencias que ayu-
den a construir esa agenda transnacional y la consolidación de
acciones legales futuras.

Nos comprometemos a:
Articular acciones transnacionales conjuntas para el intercam-
bio de conocimiento y la movilización legal que ayuden a la
defensa de la paz, la democracia y la materialización de justicia
racial en las Américas.
Ejercer veeduría activa de las acciones de los gobiernos
americanos para garantizar la materialización de los derechos
humanos de todas las personas que hacen parte de grupos
racialmente subordinados en las Américas.
Manifestarnos en torno a las acciones de los gobiernos ame-
ricanos que obstaculicen, nieguen o amenacen el goce y disfrute
de los derechos humanos de todas las personas subordinadas
racialmente de las Américas.
Comunicar y denunciar a tiempo la omisión de los deberes
de los Estados en salvaguardar la paz, la democracia, garanti-
zar el acceso a la justicia para las personas racialmente subordi-
nadas de la región.
Propiciar espacios de encuentro y reflexión sobre justicia
racial en las Américas.
ESPAÑOL

Presentación

Trabajar por la equidad y los derechos de las minorías a nivel


local, nacional e internacional es un esfuerzo que requiere
tanto del activismo y el uso de los instrumentos legales, como
de la cartografía de problemáticas diversas, su comparación
y estudio.
El libro que tiene en sus manos recoge una decena de ensa-
yos sobre exclusión y lucha por la integración, derechos y
deudas con los derechos, vulnerabilidad y resiliencia, abuso
policial y lucha legal, racismo estructural y esfuerzos por visi-
bilizarlo, detenerlo, erradicarlo en Colombia, Brasil y en los
Estados Unidos de América. Sin pretender analizar exhausti-
vamente la problemática del racismo estructural en estos tres
países, sus diferentes partes ofrecen una mirada a distintos esce-
narios que evidencian la enormidad, universalidad y dificultad
del problema. Las miradas que lo componen van de la violen-
cia policial al acceso a los servicios de salud, de la deuda con
la Jurisdicción Especial Afrocolombiana a la lucha afirmativa y
legal por los derechos en Brasil en los últimos años, de la invi-
sibilidad en los medios de comunicación a la sobrerrepresenta-
ción de los afro en las poblaciones penitenciarias. En resumen,
el libro que tiene en sus manos aborda desde diferentes pers-
pectivas una misma evidencia, tantas veces hecha invisible en
la cotidianidad de aquellos que no lo padecen: que el racismo
es más que una herencia del pasado colonial. Es una lógica pre-
sente, múltiple, viva, excluyente y asesina.
20 Polifonías para la equidad racial ESP

Este conjunto de ensayos parte de una premisa que no


sobra destacar, a pesar de la aceptación que ha ganado amplia-
mente en distintos ámbitos y especialmente en el académico:
el mundo contemporáneo no se explica (ni se puede transfor-
mar) sin poner los ojos en las prácticas que producen, repro-
ducen y alimentan las desigualdades profundas, como todas las
que nacen del racismo; y que para transformar esas prácticas e
imaginarios que nos impiden o no nos dejan salir de una espi-
ral macabra contra unas minorías históricamente oprimidas y
excluidas, hace falta analizar esas condiciones materiales e ideo-
lógicas que estructuran nuestras formas actuales y heredades de
vivir y comprender ese mismo mundo.
Para conseguir la profundidad y la complejidad que exige
este análisis, estos ensayos apuestan por una mirada intereseccio-
nal que reconozca la multiplicidad de capas y factores envueltos
en estos fenómenos sociales: cuando menos el género, la raza y
la clase, sin dejar de lado la historia, los contextos y actores espe-
cíficos que día tras día reproducen la exclusión y la desigualdad,
así como los que luchan contra estos. Y de ahí la importancia de
estos textos como aportes a la discusión pública sobre las con-
diciones con que aún hoy se perpetúan prácticas, prejuicios e
ideas que mantienen a una parte de la ciudadanía en un rango de
segunda clase injusta, injustificada e inconstitucionalmente tanto
en Colombia como en Brasil y en los Estados Unidos.
Las cuatro partes de este libro presentan distintos frentes
de reflexión, exclusión y lucha por la integración, la equidad y
el reconocimiento de los derechos de las comunidades afro en
cada uno de los países.
En la primera, se hace un examen cuidadoso del tejido com-
plejo que ha convertido a las poblaciones afro de Colombia,
Estados Unidos y Brasil en blanco de la violencia y el abuso
policial, en especial con el surgimiento de la política norteame-
ricana y regional de la Guerra contra las drogas.
ESP Presentación 21

El primero de estos textos, “El poder de lo falso: la pirá-


mide de certezas que subvenciona la supremacía blanca frente
a la guerra contra las drogas” revisa detalladamente las diferen-
cias entre las prácticas policivas y políticas que se disponen para
atacar el microtráfico y el consumo –trenzadas profundamente
a prejuicios y estigmas raciales–, comparándolas con la impu-
nidad y permisividad que existe de cara al consumo blanco y al
tráfico enorme donde tantas veces están envueltas corporacio-
nes y bancos. El segundo, “Letalidad policial en la Pandemia”
abre sobre la amplia experiencia y reflexiones de un abogado
criado en el contexto de las favelas; el ensayo explora los dis-
tintos mecanismos que le sirven de gatillo a formas extremas
de violencia en el marco del control territorial en las favelas
y de la guerra contra el tráfico de drogas en Brasil, problema
que ha llegado a producir varias masacres y una enemistad vis-
ceral alimentada por un ethos machista y por contextos ideo-
lógicos como el bolsonarismo. El último de los textos de esta
parte, “Encarcelamiento femenino en Brasil y Covid-19: un
análisis crítico del caso de Acre” expone un exhaustivo análisis
de la sobrerrepresentación de la población afro en la institucio-
nes penitenciarias brasileras, donde se registró un aumento del
número total de presos del 567,4% entre 2000 y 2014, y ofrece
un primerísimo plano de la situación del estado de Acre, en la
que el 100% de la población carcelaria femenina es negra.
La segunda parte de este libro presenta otros espacios de
exclusión que dan cuenta de estas mismas problemáticas sociales
atravesadas por el racismo estructural, pero ya no enfocado a la
problemática de la guerra contra las drogas, sino al marco gene-
ral de los ámbitos como el cubrimiento de necesidades básicas,
el lugar que ocupa lo afro dentro de la comunicación en coyun-
turas de corte nacional y en el acceso a los servicios de salud.
La “Pandemia antes de la pandemia: poblaciones negras entre
el hambre, el despojo y la muerte” es un ensayo que prolonga
22 Polifonías para la equidad racial ESP

la mirada sobre el caso específico del Brasil, buscando explicar


en qué medida el surgimiento de la pandemia del Covid-19, no
fue un fenómeno homogéneo a través de la sociedad sino que
recrudeció condiciones de vida vulnerables que ya afectaban
cotidianamente la vida de las poblaciones afrodescendientes.
El texto “Medios de comunicación, entre el racismo estructu-
ral y la invisibilidad de la población afrocolombiana” aborda
cómo los balances de prensa escrita, en medio de una coyun-
tura de importancia nacional como el Paro Nacional de 2021 en
Colombia, puede invisibilizar completamente la presencia afro
y sus reclamos particulares, al obviar las diferencias y condicio-
nes propias que explican esa coyuntura precisamente por con-
tener distintos sectores de la población aunados por un rechazo
al gobierno y sus políticas. Finalmente, “La igualdad material
como comparación: mi experiencia viviendo la igualdad formal
estadounidense” es un texto que invita a palpar cómo las dife-
rencias entre las concepciones de igualdad que tienen la socie-
dad estadounidense y la colombiana, afectan directamente la
formulación y promoción de formas de acceso a la salud o la
educación de un modo que termina o bien ayudando a reparar
la segregación histórica de los afrodescendientes del país o bien
reproduciendo la estructura racista que los mantiene en los már-
genes más vulnerables de la sociedad.
La tercera parte de este libro se enfoca en la deuda que
existe en Colombia con respecto a la Jurisdicción Especial
Afrocolombiana desde 1991, cuando fue instituida y publicada
la nueva Constitución colombiana.
El primero de los dos textos que componen esta parte,
“¿Por qué es importante implementar la Jurisdicción Especial
para el pueblo negro afrocolombiano, raizal y palenquero en
Colombia?”, aborda los antecedentes y pequeños avances que
surgieron con la nueva Constitución para promover un plura-
lismo jurídico que, en lo correspondiente a las comunidades
ESP Presentación 23

afrodescendientes, sigue siendo bastante tímido y que tiene una


deuda con ellas. El segundo de ellos, “El posicionamiento de
los sistemas jurídicos de los Pueblos Étnicos en la Jurisdicción
Especial para la Paz”, se enfoca en mostrar cómo solo hasta la
implementación de la Jurisdicción Especial para la Paz, sur-
gida del Acuerdo Final firmado entre el gobierno nacional de
Colombia y las Fuerzas Armadas Revolucionarias de Colombia
– Ejército del Pueblo (FARC-EP), se comenzó a asentar un
reconocimiento real a las formas de justicia que tradicional-
mente practican las comunidades afrodescendientes, pero que
sigue siendo apenas germinal si se compara con el proceso que
ha tenido la Jurisdicción Especial Indígena.
La última parte del libro que tiene en sus manos, aborda dos
recuentos distintos, breves y exhaustivos de las luchas por la
equidad que han sido llevadas por organizaciones afro en Brasil
y en Colombia. El primero de ellos, “Desafíos y potencialida-
des para enfrentar el racismo en Brasil”, expone detalladamente
el trabajo que en años recientes ha llevado a cabo la Coalición
Negra por los Derechos, integrada por diferentes organizacio-
nes del movimiento negro brasilero desde 2019, y es una mues-
tra de la cantidad de escenarios y acciones que se pueden llevar
a cabo en pocos años en un territorio inmenso de cara a una
coyuntura política adversa como ha sido el surgimiento del bol-
sonarismo en este país. Por último, el texto “Población afrodes-
cendiente en Colombia y sus procesos de activismo político”,
traza el largo recorrido que ha tenido el Movimiento Social
Afrocolombiano, comenzando por sus antecedentes históricos,
detallando su surgimiento, principales figuras y agendas, para
dar cuenta profusamente de uno de los esfuerzos regionales y
nacionales más relevantes que ha tenido la lucha negra por los
derechos, la igualdad y la equidad en nuestro país.
Este libro no es más que un mapa, un compendio de esfuer-
zos comunes y diferentes por comprender algunas de las
24 Polifonías para la equidad racial ESP

variadas y numerosas vetas que hace falta examinar, revisar y


transformar en las sociedades americanas de cara a terminar
con el racismo estructural y las formas de exclusión que histó-
ricamente hemos heredado y reproducido a partir de nuestras
herencias coloniales. Puede no tener todas las respuestas, pero
sí las preguntas suficientes para sacar de la invisibilidad las for-
mas perversas en que reproducimos la exclusión a partir de
la diferencia.
PR I MERA PA RTE

RACISMO, VIOLENCIA
POLICIAL Y GUERRA
CONTRA LAS DROGAS

DUDU RIBEIRO

El poder de lo falso: la pirámide de certezas que subvenciona la


supremacía blanca frente a la guerra contra las drogas

BRUNO ALVES

La letalidad policial en la pandemia

CAROLINE MENDES BISPO

Encarcelamiento femenino en Brasil y Covid-19:


un análisis crítico del caso de Acre
ESPAÑOL

El poder de lo falso: la pirámide de certezas


que subvenciona la supremacía blanca frente
a la guerra contra las drogas

Dudu Ribeiro

Una de las cuestiones que desencadenan este texto, y que cons-


tituye un desafío particularmente interesante para conectar las
experiencias raciales afrodiaspóricas entre Brasil, Colombia y
Estados Unidos, tiene que ver, en un primer momento, con
resaltar los elementos que caracterizan las diversas respuestas
desarrolladas en estos países a los mitos raciales hegemónicos,
producidos, en nuestro caso, en el campo de las políticas de
drogas. Proponemos pensar el paradigma de la guerra con-
tra el narcotráfico como un engranaje transnacional que finan-
cia y colabora con el genocidio negro en la diáspora, actuando
decisivamente en la distribución desigual de las posibilida-
des de vida, en la concentración de la riqueza, en el expo-
lio de los estados nacionales y en la elaboración de un capital
humano restringido, en el que la humanidad es todo aquello
que se acerque más al paradigma de lo blanco –o blanquitud–,
mientras que los demás pueblos son sometidos a la lógica de
esta supremacía.
Sin embargo, ¿es posible pensar en estas respuestas desde el
punto de vista no del objeto de explotación y violencia de otros
28 Polifonías para la equidad racial ESP

pueblos, sino desde cómo este pueblo negro en la diáspora esta-


ría actuando también a gran escala y moldeando así a otros pue-
blos según sus propias necesidades?1
En un contexto global en el que constantemente se produ-
cen episodios violentos inspirados en el racismo, el gran reto
es hacer relevante el sufrimiento local (Dara y Silva, 2015) y, al
mismo tiempo, crear un campo de comprensión, articulación
y confrontación que impulse el reconocimiento del genocidio
negro, en África y en la diáspora, como otra cara de la barba-
rie, de la violencia de masas en el mundo contemporáneo, y que
también debe ser objeto de acción de contención para las reivin-
dicaciones de esos instrumentos y de atención de la comunidad
internacional. Debemos reconocer las prácticas de genocidio
antinegro que caracterizan a los países en desarrollo y que, lejos
de constituir una excepción, forman parte de un continuo que
marca a las naciones de la diáspora negra. A los miembros de
las comunidades negras de la diáspora se les niega el derecho
a sobrevivir plenamente como ciudadanos o seres humanos: el
genocidio como hecho constituye la consolidación, la base a
partir de la cual se construyen las variadas manifestaciones de la
negritud que definen la diáspora (Vargas, J., 2010).
El 9 de diciembre de 1948 las Naciones Unidas definieron el
Genocidio como cualquiera de los siguientes actos cometidos
con la intención de destruir, total o parcialmente, a un grupo
nacional, étnico, racial o religioso: (1) el asesinato de miembros
del grupo; (2) las lesiones graves a la integridad física o mental
de los miembros del grupo; (3) el sometimiento intencionado
del grupo a condiciones de existencia acarreando a su destruc-
ción física, total o parcial; (4) las medidas destinadas a impe-
dir los nacimientos en el seno del grupo; (5) el traslado por la
fuerza de menores del grupo a otro grupo.

1 C. L. R. James e os misteriosos caminhos da revolução.


El poder de lo falso: la pirámide de certezas que
ESP subvenciona la supremacía blanca frente a la guerra contra las drogas 29

Aunque formalmente consolidado en el ámbito internacional


como un crimen, objeto de repudio por parte de la comunidad
reunida en las Naciones Unidas, una disputa sobre el concepto
de genocidio, no expresamente resuelto en la carta, restringe
la posibilidad de acción política tanto en el ámbito local –con
el establecimiento de políticas públicas destinadas a contener
el proceso genocida, o acciones de carácter reparatorio– como
construyendo un nebuloso camino para el reconocimiento de
las renovadas prácticas genocidas en curso en el mundo actual.
Abordar la cuestión del genocidio negro en la diáspora es,
en sí mismo, un reto interesante desde el punto de vista de su
alcance en el ámbito internacional, dado que el discurso del
derecho internacional tradicional está estructurado en térmi-
nos de igualdad formal, en el que la raza parece ser un factor
casi inexistente. El patrón de las teorías jurídicas internacio-
nales hegemónicas es el silencio cuando el tema es el impacto
del racismo en las decisiones judiciales. Un silencio que, en
sí mismo, como señala Edson Cardoso, está “lleno de signifi-
cados”. En el centro de esta encrucijada se encuentra la pro-
pia negación del “poder institucionalizado de la supremacía
blanca”, una de las fuerzas más destacadas que guían tanto
la perpetración de atrocidades masivas como la aquiescen-
cia de las instituciones internacionales ante escenarios de vio-
lencia. Para la autora Ana Flauzina, este horizonte jurídico
internacional que “proscribe formalmente la manifestación
del racismo, sin dejar de estar influenciado complementaria-
mente por las normas degradantes de la supremacía blanca, es
responsable de una administración distorsionada del genoci-
dio”. (Flauzina, A., 2014).
El momento que atraviesa el mundo apunta a una trayecto-
ria de vida cada vez más precaria, al empobrecimiento de las
poblaciones, al elevado desempleo, además de las profundas
marcas que dejan en las personas, familias y comunidades por
30 Polifonías para la equidad racial ESP

las pérdidas humanas. Al mismo tiempo, la fuerte presencia de


discursos ultraconservadores, el auge de los gobiernos fascistas,
los golpes contra la democracia, el control y la vigilancia a tra-
vés de la gestión de datos, el reconocimiento facial y otras tec-
nologías, requerirán que las organizaciones de la sociedad civil
se articulen y amplíen cada vez más su capacidad a nivel inter-
nacional, así como que optimicen su capacidad de incidencia a
nivel nacional.
Por otro lado, los temas relacionados con la violencia policial
surgieron de manera particular, a partir de casos individuales
que se convirtieron en globales y en referencias para el fortale-
cimiento de otros procesos en curso. En este caso, los debates
sobre la seguridad pública, el papel del Estado en el control, la
vigilancia y el uso de la justicia como instrumento de coerción
se hicieron más evidentes. También se ha articulado un proceso
en red a nivel internacional capaz de conectar los casos coyun-
turales con las cuestiones estructurales e históricas.
Desde la aparición y desarrollo de un mercado mundial que
permita la producción de una idea de mundo y de una historia
“universal”, no hemos estado en otro momento tan despropor-
cionado desde el punto de vista de las relaciones económicas y
sociales: el mundo nunca ha sido tan desigual. Las desigualda-
des a escala global se racionalizan, mientras que las diferencias,
se naturalizan, permitiendo la distribución desigual de la riqueza
y la calidad de vida, y también distribuyendo la muerte como un
ejercicio organizado por el poder de los estados nacionales, y
externalizado entre los diversos intereses que los ocupan.
La concentración de la riqueza y la calidad de vida nunca han
sido tan flagrantemente desfavorables para una gran parte de
la población del planeta, en beneficio de un pequeño número
de países. En el momento de realizar estas reflexiones, hemos
atravesado la mayor pandemia del siglo, en la que una intensa
carrera por las vacunas ha dado lugar a una distribución que
El poder de lo falso: la pirámide de certezas que
ESP subvenciona la supremacía blanca frente a la guerra contra las drogas 31

ahora concentra el 75% de las aplicaciones en solo 10 países.


En ningún otro momento de la historia lo que podríamos lla-
mar sociedad internacional ha sido tan jerárquica y excluyente
como lo es en la actualidad (Flauzina, A., 2014).
Para observar este escenario indicaremos un camino que ana-
liza la guerra contra las drogas como un sofisticado entramado
desarrollado durante décadas en el siglo XX y un “complejo de
certezas” subvencionado tanto por una lógica de negación de las
posibilidades de vida al Otro –financiando así la muerte como
política de Estado– como por la perspectiva de un mercado glo-
bal ilícito que privilegia el monopolio, la desestabilización de los
estados nacionales y las incursiones neocoloniales, inauguradas
con el pretexto de construir un mundo irreal “libre de drogas”.
La noción de complejo de certezas es una noción central de
las ideas que analizamos aquí, tal y como propuso Mbembe al
analizar la colonización:

La colonización, como tal, no era solo una tecnología, ni un


simple dispositivo. No se trata solo de ambigüedades. Tam-
bién era un complejo, una pirámide de certezas, algunas
más ilusorias que otras: el poder de lo falso. Un complejo
móvil, ciertamente, pero también, en muchos sentidos, un
cruce fijo e inmóvil. Acostumbrado a ganar sin tener razón,
exigió a los colonizados no solo que cambiaran sus razones
para vivir, sino también que cambiaran sus razones–seres
en perpetuo fracaso. Y es como tal que la Cosa y su repre-
sentación suscitaron la resistencia de los que vivían bajo
su yugo, provocando al mismo tiempo indocilidad, terror
y seducción, así como, aquí y allá, un gran número de insu-
rrecciones (Mbembe, A., 2019).

Exploraremos la guerra contra las drogas a partir de la con-


tribución del pensador camerunés para pensar el poder de lo
32 Polifonías para la equidad racial ESP

falso. Desde un punto de vista práctico, la guerra contra las dro-


gas también se considera un ejemplo de cómo personas inocen-
tes pueden acabar en la cárcel siendo victimizadas en nombre
del castigo o de cómo las personas culpables pueden ser casti-
gadas de forma desproporcionada, dando lugar a la victimiza-
ción dentro del castigo, como propone el pensador nigeriano
Biko Agonizo.
Un largo período de conflictos internos y fronterizos ha
afectado a los países que han adoptado los paradigmas, los ins-
trumentos y los discursos de la guerra contra las drogas en los
últimos setenta años y ha marcado profundamente a las distin-
tas democracias liberales del mundo. Desde mediados del siglo
pasado, los países miembros de las Naciones Unidas han adop-
tado medidas relativamente comunes para el control de deter-
minadas sustancias, hoy consideradas ilícitas, y que, con algunas
diferencias desde el punto de vista de la aplicación jurídica, tie-
nen al menos un fundamento común: la restricción del acceso
a determinadas sustancias mediante la criminalización, bajo el
yugo de una estrategia bélica.
A partir de ahí, comienza la escalada hacia una verdadera
masacre transnacional que aflige a la vida de millones de perso-
nas en el mundo, con un efecto corrosivo en el tejido social de
los países más afectados, corrompiendo incluso los pilares de
esas democracias liberales, perpetuando un profundo arraigo
de los elementos de esta cultura del conflicto en la formación de
las generaciones, a partir de una socialización distribuida por
una economía de la violencia.
Los prolongados y costosos conflictos internos repercuten
directamente en la capacidad del Estado para invertir en polí-
ticas públicas, secuestran enormes recursos para la industria
bélica y orientan las expectativas hacia una disputa por el poder
de fuego entre “el Estado y el crimen”, lo que fomenta ciclos
interminables de violencia e impide cualquier perspectiva de
El poder de lo falso: la pirámide de certezas que
ESP subvenciona la supremacía blanca frente a la guerra contra las drogas 33

fomentar la construcción de la paz. La guerra deteriora el tejido


social en los países en conflicto y favorece la altísima polariza-
ción de las comunidades.
Al principio de la expansión de los centros urbanos, la crimi-
nalización de ciertas sustancias estaba directamente relacionada
con el control de la circulación de personas “indeseables” en la
ciudad, especialmente personas recién salidas de la esclavitud
y sus descendientes, que tenían en la ciudad una posibilidad
de construir su vida. El continuo crecimiento de las ciudades
también trajo a los debates políticos de la época la necesidad
de controlar el modo de vida de las clases populares, organizar
las prácticas, restringir la circulación de los indeseables, por-
que sus costumbres, consideradas incivilizadas, contribuían a la
situación de insalubridad y caos en que se encontraba la mayo-
ría de las áreas urbanas brasileñas a principios del siglo XX.
Uno de los primeros mecanismos de criminalización de las
sustancias psicoactivas se produce también a raíz de la con-
solidación de la medicina a finales del siglo XX y marca pre-
cisamente la criminalización del conocimiento popular de la
curación. A partir de entonces, surgieron una serie de persecu-
ciones a personas vinculadas a religiones de origen africana y a
líderes indígenas, por ejemplo, responsables de la atención sani-
taria en sus comunidades durante siglos. Las empresas raciales
se forjaron a partir de la necesidad de extender a las sociedades
post-abolición las reglas sociales del mundo esclavo, a partir de
la aplicación de una noción redecorada del delito. Un conjunto
de instrumentos que permitieron secuestrar las posibilidades de
ciudadanía de la población negra, reposicionando el proceso de
deshumanización heredado de la esclavitud, produciendo otra
economía de la violencia, aunque no completamente nueva.
En el desarrollo de este proceso, la restricción legal de cier-
tas sustancias selecciona categorías criminales y conecta con
los dispositivos activados por las relaciones raciales. Para ello,
34 Polifonías para la equidad racial ESP

la acción de un régimen de vigilancia y control dirigido a la


población negra encuentra en la restricción del uso y venta de
algunas sustancias psicoactivas, especialmente la marihuana, la
prolongación de uno de los senderos de una trayectoria que
buscaba soluciones políticas al “problema negro” en el período
post-abolición, así llamado en Brasil, por ejemplo. El manejo de
las teorías producidas en las escuelas europeas en su encuen-
tro con el terreno movedizo de las relaciones esclavistas típi-
camente brasileñas en el cambio de siglo, es representativo de
la capacidad selectiva de los pensadores brasileños que busca-
ban “adaptar lo que combinaba” y descartar lo que de alguna
manera sonaba “raro”, pero que definitivamente servía para
justificar la jerarquía natural y la prueba de la “inferioridad” del
segmento negro (Scwarcz, L., 1993).
La política de justicia penal administra el castigo para algu-
nos y el bienestar para otros, pero no debemos olvidar que admi-
nistra también la victimización para otros tantos más. El uso
máximo del sistema de justicia penal y, más concretamente, del
híper encarcelamiento, entendido aquí como algo más que el
castigo de los delincuentes, sino cómo la experiencia de castigar
a los inocentes en la cárcel, se traduce en la victimización como
mero castigo. Comprender esto, sin embargo, exige también
ahondar en cómo esto repercute en la distribución más amplia
de las trayectorias vitales, también para aquellas personas que no
pasarán por el sistema penitenciario en sus países.
El modelo de la guerra contra las drogas tiene una capa-
cidad especial para sobrevalorar la estigmatización. Por ejem-
plo, la propia idea de la protección de la salud pública dirigida
a evitar que las personas accedan a las sustancias psicoactivas
convertidas en ilícitas se produce a partir de una sobrevalora-
ción de los casos problemáticos, en comparación con el esce-
nario más amplio del uso de cada sustancia. Entre las diversas
sustancias psicoactivas utilizadas en las distintas sociedades,
El poder de lo falso: la pirámide de certezas que
ESP subvenciona la supremacía blanca frente a la guerra contra las drogas 35

lícitas o ilícitas, el porcentaje de casos de consumo problemá-


tico es siempre mucho menor que el número de personas que
no tendrán problemas críticos con ese consumo. Sin embargo,
se explora políticamente la idea de la degradación, física, moral,
psicológica, para alertar sobre la necesidad de la prohibición,
aunque numerosos estudios demuestran que los casos de abuso
serán siempre minoritarios, independientemente de la droga
que se investigue. Es una pieza de la pirámide de las certezas,
que científicamente no tiene ningún valor real.
Los estigmas producidos por este modelo también están
relacionados con la anterior distribución desigual de la “huma-
nidad”, es decir, guardan proporciones particulares para cada
población afectada. Se aplica un nivel de degradación con lími-
tes bien establecidos entre hasta dónde “llegarían” los blancos,
y hasta dónde “llegan” todas las demás personas, los Otros.
La degradación de los blancos por el consumo de drogas no
afecta a su condición de “humanidad”, y suele entenderse como
un resultado pasivo de los efectos externos.
En las mismas elecciones que dieron la victoria a Donald
Trump, los votantes de Estados Unidos aprobaron por refe-
réndum el uso recreativo y medicinal de la marihuana en varios
estados. California, Massachusetts, Nevada, Maine, así como
Florida, Arkansas, Montana y Dakota del Norte se unieron a los
estados de Colorado, Oregón, Washington y Alaska. Parecería
paradójico, pero no lo es. De hecho, Alexander nos recuerda
que lo que conecta la victoria de los conservadores en las elec-
ciones de Estados Unidos. y el avance de la regulación de la
marihuana y el debate sobre las respuestas a los problemas de
uso y abuso de drogas en el país tiene un nombre: blanquitud.
Es interesante contrastar cómo la campaña sobre la crisis de
los opioides en Estados Unidos fomenta un sentimiento de com-
pasión por las víctimas, de súplicas de atención, para que se evi-
ten las muertes (Santos, E., 2017). Y son diversos los personajes
36 Polifonías para la equidad racial ESP

públicos, representantes conservadores del Congreso, por ejem-


plo, que se dedican a una disputa sobre quién ofrece más por
las personas y las familias. Este consumo problemático se ha
detectado principalmente entre la población blanca, fomentado
por una agresiva campaña de distribución de opioides por parte
de las grandes empresas farmacéuticas. La respuesta al “pro-
blema blanco” durante tanto tiempo se basó en su recuperación
y restauración. Una respuesta opuesta a la desarrollada en los
años ochenta en el mismo país, frente a una idea, también racial-
mente desarrollada, de “crisis del crack”, en el que la respuesta
unísona del Estado derivó en más represión, encarcelamiento,
con agresivas campañas mediáticas que incluso construyeron la
idea de “bebés del crack” criminalizando a las mujeres negras.
La política de justicia penal subvenciona los pánicos mora-
les o las “tensiones sociales” que describen al Otro como infe-
rior, peligroso, criminal y amoral (Said, 1993), incluso cuando
los que tienen el control emprenden políticas genocidas hacia el
Otro. El crimen también se mitifica y la observación de las esta-
dísticas de las prisiones, en las que la mayoría de los no blancos
están sobrerrepresentados, lleva a pensar que la pobreza causa
la delincuencia. Proponemos desde el espectro de la guerra
contra las drogas, sin embargo, fortalecer otra corriente en este
campo donde el poder es la causa determinante de las ideas del
crimen. Por lo tanto, podemos ampliar la visión de que aque-
llos que tienen menos probabilidades de terminar en la cárcel
son necesariamente más respetuosos de la ley. Si los poderosos
tienen más recursos para defenderse con éxito incluso cuando
cometen delitos, mientras que los pobres tienen más posibi-
lidades de ser encarcelados incluso cuando se les acusa falsa-
mente, el poder distribuye inequívocamente los alcances de la
justicia penal.
El poder de lo falso: la pirámide de certezas que
ESP subvenciona la supremacía blanca frente a la guerra contra las drogas 37

Visiblemente, tanto la perpetración del crimen como la pasi-


vidad del sistema de justicia penal internacional en respuesta
a los horrores del genocidio, tienen un impacto particular
en las comunidades negras a la luz de las peculiares repre-
sentaciones históricas que ven a este grupo social como el
antónimo de la humanidad. En el proceso, el alto grado de
vulnerabilidad que rodea a las vidas de los negros se cul-
tiva mediante actos de terror incuestionable, patrocinado
y sancionado por el Estado, destinados a controlar lo que
se categoriza como “cuerpos indomables” (Said, E., 1993).

Las comunidades negras brasileñas, colombianas y estadou-


nidenses, especialmente las que viven en las zonas periféricas,
son objeto de constantes ataques promovidos en nombre del
modelo de guerra contra las drogas, con el temor de ser asesi-
nadas por las autoridades públicas, como la policía, pero tam-
bién por otros agentes alentados por la propuesta de conflicto
permanente. La guerra es una opción política y ha motivado el
fortalecimiento de la punitividad racial y el control territorial a
través de la masacre, lo que empuja a una parte importante de la
sociedad, al intensificar el miedo, a apoyar o fortalecer las medi-
das violentas para superar los problemas, oscureciendo otros
caminos posibles.
Se calcula que un millón de personas han sido asesinadas en
las últimas tres décadas en Brasil. El sobre-encarcelamiento es
parte de una política de muerte, como lo demuestra la ausencia
de una sola experiencia en el mundo en siglos, que pueda rela-
cionar la reducción de la violencia con la expansión del número
de personas encarceladas. Está más que demostrado a lo largo
de la historia que la reducción de la violencia está relacionada
con la ampliación y mejora de las condiciones de vida de las
personas. Por lo tanto, es más una máquina para la expan-
sión de la violencia y la organización del crimen en algunos
38 Polifonías para la equidad racial ESP

contextos, que para el desmantelamiento de las agencias consi-


deradas criminales.
La política prohibicionista de drogas se sustenta en una lógica
transnacional basada en convenciones restrictivas correspondi-
das, en su elaboración, a la bipolaridad del mundo de posgue-
rra, fomentando la creación de tipos penales que involucran a las
drogas, lo que también permitió que se dieran disputas ideoló-
gicas y geopolíticas del mundo. Si por un lado, el camino de esta
construcción implica una idea de desaprobación moral de las
personas que consumen ciertas sustancias, elegidas menos por
su potencial daño a los cuerpos y más para controlar los mer-
cados, cada sustancia criminalizada se asocia con grupos racia-
les y sociales minoritarios específicos, permitiendo una nueva
herramienta para el control social de los indeseables y la gestión
de la miseria. Este modelo, a finales del siglo XX, radicaliza y
consolida los marcos de una guerra internacional que durante
mucho tiempo justificó la intervención de los Estados Unidos
en el mundo, particularmente en América Latina, legitimando y
financiando guerras internas que por otro lado agregan valor a
ciertas mercancías, y que concentran su rentabilidad no solo en
el comercio, sino en los bancos, por ejemplo, muy poco comen-
tados en el tema de la guerra contra las drogas, mientras en
el otro extremo el modelo distribuye muerte, encarcelamiento
y estigma.
La declaración del presidente Richard Nixon en Estados
Unidos en 1971 es un hito en este proceso de guerra a escala
mundial. En los años siguientes, y con la formulación de las
Convenciones de la ONU que tratan el tema de las drogas, la
mayoría de los estados comenzaron a adoptar estrategias con
la misma nomenclatura, haciendo hincapié en las incidencias
militarizadas del control del acceso a determinadas sustancias psi-
coactivas. El asesor de Nixon, John Ehrlichman, admitió que la
mentira de la “Guerra contra las Drogas” había sido creada con
El poder de lo falso: la pirámide de certezas que
ESP subvenciona la supremacía blanca frente a la guerra contra las drogas 39

el objetivo de perseguir los movimientos antiguerra y de dere-


chos civiles liderados por la población negra en Estados Unidos.
La propia idea de guerra contra las drogas es intenciona-
damente incompleta ya que una “guerra” implica un conflicto
armado entre al menos dos grupos de personas, y no un grupo
de personas contra un grupo de sustancias. Pero es un poderoso
recurso discursivo que permite desbordar el lenguaje bélico, en
procedimientos instrumentales, además de desplazar compren-
siones sobre la violencia, el enemigo, el efecto colateral, la tor-
tura, conformadas en un marco ideológico de producción de
subalternidad, muerte, encarcelamiento, estigmatización para
una gran mayoría, ocultando la amplia red de mercado que se
mueve a partir de otros procesos discursivos e instrumentales:
lenguaje de mercado, ganancia, capital y financiación. Oculta a
los enemigos internos no declarados de esta política y sitúa a las
fuerzas de seguridad de los Estados en permanente conflicto
con comunidades enteras (Elias, Oliveira, Ribeiro, 2020).
En los años noventa Colombia se convirtió en el país que
más fondos recibió de Estados Unidos para programas de
seguridad. La propuesta de Estados Unidos estaba relacio-
nada con una elaboración geopolítica para la cuestión de las
drogas a nivel mundial, que distribuía a los países entre con-
sumidores y productores. Auto declarándose parte del primer
grupo (lo que no es del todo cierto, por ejemplo, para la pro-
ducción de marihuana), y reivindicando la idea de la seguridad
interna, Estados Unidos comenzó a financiar planes de “segu-
ridad” y de aniquilación de la producción de drogas en otros
territorios. Se crea el término “narcoterrorismo” que simboli-
zaría el “enemigo externo” de la gran potencia y se elabora el
“Plan Colombia”, que representa la máxima estrategia de mili-
tarización del tema de las drogas, invirtiendo miles de millones
de dólares en equipos militares y en fumigaciones –destrucción
de supuestas plantaciones de materia prima a través del vertido
40 Polifonías para la equidad racial ESP

de glifosato sobre la tierra, las casas y las cabezas de los colom-


bianos desde los aviones–. Se calcula que en solo tres años este
producto altamente tóxico se ha vertido en una superficie equi-
valente al 8% de la tierra cultivable del país.
La invasión de los Estados Unidos en los territorios suda-
mericanos también contó con la inversión en el entrenamiento
militar de los estadounidenses en las selvas amazónicas, con
la inserción del su ejército en los ejércitos de los países a tra-
vés de tácticas, armas y control de fronteras, lo que amplió
la oportunidad de otros saqueos. Por ejemplo, las operacio-
nes militares comenzaron con la invasión del departamento
de Putamayo, casualmente una región muy rica en petróleo.
A principios de la década de 2000 alrededor del 92% del
presupuesto militar de Estados Unidos para América Latina y
el Caribe se invertía en programas antidroga, una matemática
muy lucrativa, ya que parte de esos millones retornaban a la
industria del país, unos 300 millones de dólares anuales solo en
armas para el continente (Rodrigues, T., 2012).
En 2012 el banco británico HSBC Holdings, perteneciente al
grupo de los diez mayores bancos del mundo, cerró un acuerdo
de mil millones de dólares para poner fin a una larga investi-
gación penal en Estados Unidos por blanqueo de dinero pro-
cedente del narcotráfico, quedando al descubierto que era la
principal vía para el dinero procedente de los carteles. Antes,
en 2007, uno de los mayores bancos estadounidenses, Wachovia
(ahora afiliado a Wells Fargo) lavó 378.400 millones de dólares
procedentes del narcotráfico –equivalentes en aquel momento
a un tercio del PIB de México– a través de transacciones finan-
cieras con casas de cambio.
En 2019 un barco carguero propiedad de otro banco de la
lista de los diez más importantes del mundo, JP Morgan Chase,
y gestionado por la Mediterranean Shipping Company, una
de las mayores empresas de transporte de contenedores, fue
El poder de lo falso: la pirámide de certezas que
ESP subvenciona la supremacía blanca frente a la guerra contra las drogas 41

incautado en Filadelfia con el equivalente a 1.300 millones de


dólares en cocaína. También en 2019, en una decisión histórica,
la multinacional estadounidense Johnson & Johnson fue con-
denada a pagar alrededor de 572 millones de dólares por daños
y perjuicios al estado de Oklahoma por su papel en la crisis de
adicción a los opioides. En los últimos años más de 120.000
personas han muerto en Estados Unidos como consecuencia
del consumo de sustancias derivadas de los opiáceos. Según los
fiscales, la empresa promocionó de forma engañosa el uso de
analgésicos con receta formuladas que son altamente adictivos,
lo que comprometió “la salud y la seguridad de miles de perso-
nas de Oklahoma”.
En 2017, durante una conversación telefónica con el sena-
dor brasileño Aécio Neves, intervenida con autorización del
Tribunal Supremo, Zezé Perrella, directivo de fútbol y presi-
dente del Consejo Deliberativo del equipo Cruzeiro, exdipu-
tado estatal por Minas Gerais y diputado federal, y exsenador,
se quejó de que aún se le recordara por el caso de un helicóp-
tero cargado de cocaína captado en la propiedad de su familia.
“No hago nada malo, solo trafico drogas”, ironizó. El caso que
se conoció como “helicoca” salió a la luz en 2013, cuando su
nombre se vinculó a la incautación de 445 kg de pasta base de
cocaína. Sin embargo, el senador no fue acusado en el caso y las
cuatro personas detenidas en flagrancia durante la operación de
la Policía Federal permanecieron en prisión durante seis meses
y fueron liberadas.
En una investigación publicada en 2015 el Instituto Igarapé,
considerando las 24.037 flagrancias de drogas portadas por per-
sonas que la policía de Río de Janeiro registró en el año ante-
rior, encontró que en el 75% de los casos el volumen máximo
de marihuana alcanzó los 42,6 gramos por ocurrencia. La canti-
dad incautada no superó los 200 gramos en el 90% de los casos.
En el caso de la cocaína, 11 gramos fue el máximo incautado
42 Polifonías para la equidad racial ESP

en el 50% de los casos, llegando a 155 gramos en el 90% de


los casos. En relación con el crack, hubo hasta 5,8 gramos en
el 50% de las incautaciones, sin superar los 62,6 gramos en el
90% de los casos.
De modo que la opinión de que el tráfico de drogas tiene
lugar dentro de las comunidades a través de la venta al por
menor de sustancias y que la acción prioritaria del Estado en la
llamada “lucha” contra las drogas debe estar allí, no se apoya en
la realidad. No hay narcotráfico sin la financiación, la participa-
ción, la organización y, sobre todo, el beneficio de grandes gru-
pos económicos transnacionales, así como de agentes del estado
en lugares estratégicos, distribuidos en los poderes ejecutivo,
judicial y legislativo.
Es en las grandes ciudades de Estados Unidos, destruidas
por la Guerra contra las Drogas, donde alrededor del 80% de
los jóvenes afroamericanos tienen antecedentes penales y, por
tanto, están sometidos a una discriminación legalizada para el
resto de sus vidas. Estos jóvenes forman parte de una subcasta,
encerrados permanentemente y apartados del resto de la socie-
dad (Alexander, M., 2017).
De ahí que el proceso de criminalización de las drogas está
desconectado en la vida práctica, del conocimiento científico
y del amplio conocimiento humano de las sustancias, y está
relacionado con la aplicación racializada de los entendimien-
tos penales y la producción de controles contra las poblaciones
marginadas operados por el derecho penal. Hay que subrayar
que no son, en última instancia, los dispositivos contenidos en la
ley de drogas los únicos que criminalizan a las personas, a partir
de su relación con el uso y/o el comercio de algo hecho ilícito.
Existe un conjunto de dispositivos criminalizantes articulados
que afectan a las personas, a sus territorios, a sus culturas, a sus
posibilidades de vida, que se conectan con instrumentos histó-
ricos de control, vigilancia y castigo de determinados cuerpos.
El poder de lo falso: la pirámide de certezas que
ESP subvenciona la supremacía blanca frente a la guerra contra las drogas 43

Hacer morir o dejar vivir desencadena el hecho de que la


vida y la muerte no son esos fenómenos naturales, inmediatos,
en ciertos modos originales o radicales, que se situarían fuera
del campo del poder político. Se pierde la libertad, incluida la
de ejercer el derecho sobre la propia vida y la muerte, convir-
tiéndose en una atribución de la voluntad soberana (Mbembe,
A., 2003).
Por eso, la actuación de los mecanismos de control es fun-
damental, la vigilancia permanente formateada bajo la cons-
trucción de lo criminal y del delito, que pone no solo a las
instituciones, sino a las personas en vigilancia del otro, y el cas-
tigo como refuerzo negativo y como ejercicio necropolítico del
soberano, son los engranajes que mueven la captura del estado
sobre la vida, la muerte y la libertad desde la post-abolición.
Nos corresponde retomar, en palabras de Flauzina, que el
ejercicio de formas extremas de asalto a la vida negra en un
contexto internacional que abraza la retórica del igualitarismo
y el multiculturalismo no podría lograrse si no es a través de
la inversión en la deshumanización simbólica de las personas
negras. Además de este proceso más evidente de construccio-
nes en torno a la “inhumanidad negra”, esta inversión también
se realiza de forma indirecta mediante la recuperación de la
noción de “humanidad blanca” y su yuxtaposición con la pro-
pia noción de humanidad (Flauzina, A., 2014).
Para concluir, ¿cómo responden los afrobrasileños, afroco-
lombianos y afroamericanos a este escenario basado en mitos
raciales hegemónicos? Tomaremos las palabras del intelectual
Michael Mitchell: las respuestas de cada grupo pueden estar
condicionadas por circunstancias históricas particulares, así
como por las características específicas de sus respectivos sis-
temas políticos. Sin embargo, esto no excluye la posibilidad
de explorar auténticas similitudes en las formas en que cada
grupo afronta sus situaciones políticas. (...) Al final, se espera
44 Polifonías para la equidad racial ESP

que las comparaciones sistemáticas permitan a ambos grupos


compartir las lecciones aprendidas de sus experiencias, que
cada comunidad sea capaz de dirigir sus propios destinos con
mayor confianza y perspicacia, utilizando los recursos políticos
de manera que conduzcan a sus sociedades hacia fines justos y
progresistas (Mitchell, M., 2001).

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ENGLISH

The Power Of The False: The Pyramid


Of Certainties That White Supremacy
Subsidizes Facing The War On Drugs

Dudu Ribeiro

One of the triggering facts of this text, which constitutes a parti-


cularly interesting challenge to connect African Diaspora racial
experiences between Brazil, Colombia and the United States,
and from this, produce syntheses and reflections that subsidize
coordinated joint actions, is at first to highlight the elements
that characterize the various responses developed in these
countries to the hegemonic racial myths, produced in our case,
specifically in the field of drugs. We propose thinking from the
paradigm of the war against drug trafficking, as a transnatio-
nal mechanism that finances and collaborates with the black
genocide in the diaspora, acting decisively in the unequal dis-
tribution of life possibilities, in the wealth concentration, in the
plundering of national states and in the elaboration of a restric-
ted human capital, where humanity is as close as possible to
whiteness, and where other peoples are subjected to the logic
of this supremacy.
However, iIs it possible, however, to think about these
answers from the point of view not of the object of exploitation
and violence of other peoples, but of how these black people
48 Polifonías para la equidad racial ENG

in the diaspora would also be acting on a large scale, and, thus,


shaping other peoples according to their own needs?1
In a global context in which violent episodes are constantly
occurring inspired by racism, the great challenge is to make
local suffering relevant (Dara e Silva, 2015)2, and, at the same
time, create a field of understanding, articulation and confron-
tation that promote the recognition of black genocide, in Africa
and the diaspora, as another face of barbarism, of mass violence
in the contemporary world, and which must also be an object of
containment action for the acceptance of those instruments and
the attention of the international community; also in official
speeches and at the mediatic exposition. We must recognize
the practices of anti-black genocide that characterize the deve-
loped countries and that, far from being an exception, is part of
the rule that marks the nations of the black diaspora. The mem-
bers of the black communities of the diaspora are denied the
right to fully survive as citizens or human beings:–genocide, as
a fact, constitutes the consolidation, the base from which are
built the various manifestations of the black people that define
the diaspora3.
On December 9th, 1948, the United Nations defined the
Genocide as any of the following acts, committed with the intent
to destroy, totally or partially, a national, ethnic, racial or reli-
gious group: (1) the murder of members of the group; (2) serious
injuries to the physical or mental integrity of the group mem-
bers; (3) the intentional submission of the group to conditions of
existence leading to its physical, total or partial destruction; (4)
1 C.L.R. James e os misteriosos caminos da revolução
2 DARA, Danilo e SILVA, Débora Maria da. Mães e familiares de vítimas do Estado: a luta
autônoma de quem sente na pele a violência policial. In: Bala Perdida: Boitempo, 2015.
3 VARGAS, Joao H. Costa . A Diáspora Negra Como Genocídio: Brasil, Estados Unidos
Ou Uma Geografia Supranacional Da Morte E Suas Alternativas. Revista da ABPN, v. 1, n. 2
– jul.-out. 2010.
The Power Of The False: The Pyramid Of Certainties That
ENG White Supremacy Subsidizes Facing The War On Drugs 49

measures designed to prevent births within the group; (5) forci-


bly transferring minors from the group to another group.
Although formally consolidated in the international arena as
a crime, worthy of repudiation by the community gathered at
the United Nations, a dispute over the concept of genocide, not
expressly resolved in the letter, restricts the possibility of poli-
tical action at the local level–with the establishment of public
policies destined to contain the genocidal process, or actions
of a reparatory nature–as well as building a nebulous path for
the recognition of the ongoing renewed genocidal practices in
today’s world.
Addressing the issue of black genocide in the diaspora is,
by itself, an interesting challenge from the point of view of its
scope in the international arena, given that the traditional inter-
national law discourse is structured in terms of formal equality,
where race seems to be almost a non-existent factor. The pattern
of legal international hegemonic theories is silentce when the
issue is the impact of racism on court decisions. A silence that,
in itself, as Edson Cardoso points out, is “full of meanings”.
At the center of this crossroads is the denial of the “institutio-
nalized power of white supremacy”, one of the most promi-
nent forces guiding both the perpetration of mass atrocities and
the acquiescence of the international institutions before scena-
rios of violence4. For the author Ana Flauzina, this internatio-
nal legal horizon that “formally proscribes the manifestation of
racism, being additionally influenced by the degrading rules of
white supremacy, is responsible for a distorted administration
of the genocide.”
The moment the world is going through points to a more
and more precarious life trajectory, impoverished populations,

4 FLAUZINA, Ana Luiza Pinheiro. As fronteiras raciais do genocídio. Direito, Brasília,v. 1,


n. 1, 2014
50 Polifonías para la equidad racial ENG

high unemployment, in addition to the deep marks left on indi-


viduals, families and communities due to human losses. At the
same time, the strong presence of ultra-conservative speeches,
the rise of fascist governments, coups against democracy, control
and surveillance through data management, facial recognition,
and other technologies will require civil society organizations
to articulate and increasingly expand their capacity in the inter-
national level, as well as optimize their influence capacity at the
national level.
On the other hand, the issues related to police violence arose
in a particular way, from individual cases that became global
and references for the strengthening of other ongoing proces-
ses. In this case, debates on public security, the role of the state
in control, surveillance, and the use of justice as an instrument
of repression became more evident. A networking process has
also been articulated at the international level capable of con-
necting relevant cases with structural and historical issues.
Since the emergence and development of a world market
that allows the production of an idea of the world and a “uni-
versal” history, we have not been in another moment so dis-
proportionate from the point of view of economic and social
relations: the world has never been so uneven. Inequalities on a
global scale are rationalized, while differences are naturalized,
allowing unequal distribution of wealth and quality of life, and
also distributing death as an exercise organized by the power
of the national states, and externalized among the various inte-
rests that occupy them.
The concentration of wealth and the quality of life have
never been so blatantly unfavorable for a large part of the pla-
net’s population, to the benefit of a small number of countries.
At the time of these reflections, we have been through the grea-
test pandemic of the century, in which an intense race for vac-
cines has led to a distribution that now concentrates 75% of
The Power Of The False: The Pyramid Of Certainties That
ENG White Supremacy Subsidizes Facing The War On Drugs 51

applications in just 10 countries. At no other time in history has,


what we could call international society has, been as hierarchi-
cal and exclusive as it is today5.
To observe this scenario we will indicate a path that analy-
zes the war on drugs as a sophisticated framework, developed
over decades in the 20th century, and a “complex of certain-
ties” subsidized both by a logic of denial of the possibilities of
life to the Other, thus financing death as a State policy, as well
as from the perspective of an illicit global market that favors
monopoly, the destabilization of national states and neocolonial
incursions, inaugurated under the pretext of building an unreal
“world free of drugs”.
The notion of complexity of certainties is a central notion of
the ideas that we analyze here, as proposed by Mbembe when
analyzing colonization:

Colonization, as such, was not just a technology, nor was


it a simple device. It is not just about ambiguities. It was
also a complex, a pyramid of certainties, some more illu-
sory than others: the power of the false. A mobile complex,
certainly, but also, in many ways, a fixed and motionless
crossover. Accustomed to winning without reason, he
demanded the colonized not only to change their rea-
sons for a living but also to change their reasons–beings
in perpetual failure. And it is as such that the thing and its
representation aroused the resistance of those who lived
under his yoke, provoking the at the same time indocility,
terror and seduction, as well as a great number of insu-
rrections, here and there6.

5 Op. cit.
6 MBEMBE, Achille. Sair da grande noite–Ensaio sobre a África descolonizada. Petrópolis,
RJ: Vozes, 2019.
52 Polifonías para la equidad racial ENG

We will explore the war against drugs based on the contribu-


tion of thise Cameroonian thinker Camaronês to think about
this center [the war against drugs] that we now intend to work
on: the power of the false. From a practical point of view, the
war on drugs is also seen as an example of how innocent people
can end up in prison by being victimized in the name of punish-
ment or how guilty people can be disproportionately punished,
leading to victimization within punishment, as proposed by the
Nigerian thinker Biko Agonizo.
A long period of internal and border conflicts has affected
the countries that have adopted the paradigms, instruments and
discourses of the war on drugs in the last 70 years and hasve pro-
foundly marked the different liberal democracies of the world.
Since the middle of the last century, the member countries of
the United Nations have adopted relatively common measures
for the control of certain substances, today considered illicit,
and which, with some differences from the point of view of the
legal application, have at least one common foundation: the res-
triction of access to certain substances through criminalization,
under the oppression of a war strategy.
From there, the escalation towards a true transnational mas-
sacre begins, afflicting the lives of millions of people in the
world, with a corrosive effect on the society of the most affected
countries, corrupting even the pillars of these liberal democra-
cies, perpetuating a deep rooting of the elements of this culture
of conflict in the formation of generations, based on socializa-
tion distributed by an economy of violence.
Prolonged and expensive internal conflicts have a direct
impact on the State’s capacity to invest in public policies, redi-
rect enormous resources to the war industry and orient expec-
tations towards a dispute over firepower between “the State
and crime”, which fosters endless cycles of violence and avoids
any prospect of fostering peace-building. War deteriorates the
The Power Of The False: The Pyramid Of Certainties That
ENG White Supremacy Subsidizes Facing The War On Drugs 53

society of countries in conflict and favors the extremely high


polarization of communities.
At the beginning of the expansion of urban centers, the cri-
minalization of certain substances was directly related to the
control of the circulation of “undesirable” people in the city,
especially people recently released from slavery and their des-
cendants, who had in the city a chance to build their lives in the
city. The continuous growth of the cities also brought to the
political debates of the time the need to control the way of life
of the popular classes, to organize costumes and to restrict the
circulation of undesirables, because their customs, considered
uncivilized, contributed to the situation of unhealthiness and
chaos in which most Brazilian urban areas found themselves at
the beginning of the 20th century.
One of the first mechanisms for the criminalization of psy-
choactive substances was also produced as a result of the con-
solidation of medicine at the end of the 20th century and marks
precisely the criminalization of popular knowledge of healing.
From then on, a series of persecutions arose against people
linked to religions of African origin and indigenous leaders,
for example, who had been responsible for health care in their
communities for centuries. Racial enterprises were forged from
the need to extend to post-abolition societies the social rules
of the slave world, based on the application of a redecorated
notion of crime. A set of instruments that made it possible to
sequester the possibilities of citizenship of the black popula-
tion, repositioning the process of dehumanization inherited
from slavery, producing another economy of violence, although
not completely new.
In the development of this process, the legal restriction of
certain substances selects criminal categories and connects with
the devices activated by racial relations. Ffor this purpose, the
action of a surveillance and control regime aimed at the black
54 Polifonías para la equidad racial ENG

population finds in the restriction of the use and sale of some


psychoactive substances, especially marijuana, the extension of
one of the paths of a trajectory that sought political solutions
to the “black problem” in the post-abolition period, as it was
called in Brazil, for example. The handling of theories produ-
ced in European schools, in their encounter with the shifting
terrain of typically Brazilian slave relations at the turn of the
century, is representative of the selective capacity of Brazilian
thinkers who sought to “adapt what combined” and discard
what somehow sounded “weird”, but which served to justify
the natural hierarchy and the proof of the “inferiority” of the
black segment.7.
Criminal justice policy administers punishment for some and
welfare for others; and we must not forget that it administers vic-
timization for some others. It aAdministers, also, the maximum
use of the criminal justice system at its maximum and, more spe-
cifically, of hyper-incarceration, understood here as more than
just the punishment of offenders, but how as the experience of
punishing the innocent in prison translates into victimization
as mere punishment and how this impacts on the wider distri-
bution of life trajectories, also for those people who will not go
through the prison system in their countries.
The war on drugs model has a special capacity to overvalue
stigmatization. For example, the very idea of public health pro-
tection aimed at preventing people from accessing psychoactive
substances that have become illicit is produced by an overesti-
mation of problematic cases, compared to the broader scenario
of the use of each substance. Among the various psychoactive
substances used in different societies, licit or illicit, the percen-
tage of cases of problematic use is always much lower than the

7 SCHWARCZ, Lilia Moritz. O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial
no Brasil – 1870-1930. São Paulo, Cia das Letras, 1993
The Power Of The False: The Pyramid Of Certainties That
ENG White Supremacy Subsidizes Facing The War On Drugs 55

number of people who will not have critical problems with such
use. However, the idea of degradation, physical, moral, psycho-
logical, is explored politically to warn about the need for prohi-
bition, although numerous studies show that cases of abuse will
always be in the minority, regardless of the drug being investi-
gated. It is a piece of the pyramid of certainties, which scienti-
fically has no real value.
The stigmas produced by this model are also related to the
previous unequal distribution of “humanity”, i.e., they have
particular proportions for each affected population. A level
of degradation is applied with well-established boundaries
between how far white people would “go” and how far all other
people, the Others, “go”. The degradation of whites by drug
use does not affect their status as “humanity”, and is usually
understood as a passive result of external effects.
In the same election that gave victory to Donald Trump, U.S.
voters approved by referendum the recreational and medical use
of marijuana in several states. California, Massachusetts, Nevada,
Maine, as well as Florida, Arkansas, Montana and North Dakota
joined the states of Colorado, Oregon, Washington and Alaska.
And it may seem paradoxical that the United States has moved
forward on drug policy reforms just in the last election that
gave victory to conservative Donald Trump. But it isn’t. In fact,
Alexander reminds us that what connects the victory of conser-
vatives in the U.S. election and the advancement of marijuana
regulation and the debate over responses to the country’s drug
use and abuse problems has a name: whiteness.
It is interesting to contrast how the campaign on the opioid
crisis in the United States fosters8 a feeling of compassion for
the victims, of pleas for attention for deaths to be avoided. Aand

8 SANTOS, Eduardo Ribeiro dos. Luther King, Coca-cola e a comoção sele-


tiva cotidiana: uma passagem negra sobre Atlanta. In: https://jornalistaslivres.org/
luther-king-coca-cola-e-a-comocao-seletiva-cotidiana-uma-passagem-negra-sobre-atlanta/
56 Polifonías para la equidad racial ENG

various public figures, conservative congressional representati-


ves, for example, engage in a dispute over who offers more for
individuals and families. This problematic consumption has
been detected mainly among the white population, encouraged
by an aggressive opioid distribution campaign by large pharma-
ceutical companies. The response to the “white problem” for
so long was based on its recovery and restoration. An opposite
response to thatwas developed in the 80’s in the same coun-
try, in the face of an idea, also racially developed, of “crack cri-
sis”, where the unison response of the State was towards more
repression, incarceration, with aggressive media campaigns that
even built the idea of “crack babies” in the sense of criminali-
zation of black women.
Criminal justice policy subsidizes moral panics or “social ten-
sions” that portray the Other as inferior, dangerous, criminal
and immoral (Said, 1993), even when those in control undertake
genocidal policies towards the Other. Crime is also mythologi-
zed, and observation of prison statistics, in which most nonwhi-
tes are overrepresented, leads one to believe that poverty causes
crime. We propose from the drug war spectrum, however, to
strengthen another current in this field where power is the
determinant cause of crime ideas, so we can broaden the view
that those who are less likely to end up in prison are necessa-
rily more law-abiding. If the powerful have more resources to
successfully defend themselves even when they commit crimes,
while the poor are more likely to be imprisoned even when fal-
sely accused, power unambiguously distributes the scopes of
criminal justice.

Visibly, both the perpetration of the crime and the passivity


of the international criminal justice system’s inaction in res-
ponse to the horrors of genocide, have a particular impact
on black communities in light of the peculiar historical
The A
Power
potência
Of The
do False:
falso: The
a pirâmide
PyramiddeOf
certezas
Certainties
que That
subsidia
ENG White Supremacy
a supremacia
Subsidizes
branca frente
FacingaThe
guerra
WaràsOndrogas.
Drugs 57

representations that view this social group as the antonym


of humanity. In the process, the high degree of vulnerabi-
lity surrounding black lives is cultivated through acts of
unquestionable terror, which are state-sponsored and sta-
te-sanctioned aimed at controlling what is categorized as
“untamed bodies”.

Brazilian, Colombian and U.S. black communities, especially


those living in peripheral areas, are subject to constant attacks
promoted in the name of the drug war model, with the fear of
being killed by public authorities, such as the police, but also by
other agents encouraged by the proposal of permanent conflict.
War is a political option and has motivated the strengthening
of racial punitiveness and territorial control through massacre,
which pushes an important part of society, by intensifying fear,
to support or strengthen violent measures to overcome pro-
blems, obscuring other possible paths.
An estimated of one million people hasve been killed in
the last three decades in Brazil. Over-incarceration is part of
a policy of death, as demonstrated by the absence of a single
experience in the world in centuries that can relate the reduc-
tion of violence to the expansion of the number of people
incarcerated. It has been more than demonstrated throughout
history that the reduction of violence is related to the expansion
and improvement of people’s living conditions. Therefore, the
war on drugs model it is more a machine for the expansion of
violence, and the organization of crime in some contexts, than
for the dismantling of agencies considered criminal.
The prohibitionist drug policy is based on a transnational
logic based on restrictive conventions corresponding, in its
elaboration, to the bipolarity of the post-war world, encoura-
ging the creation of criminal types involving drugs, which also
allowed in this field the ideological and geopolitical disputes of
58 Polifonías para la equidad racial ENG

the world. If on one hand, the path of this construction involves


an idea of moral disapproval of people who consume certain
substances, chosen less for their potential harm to bodies but
more to control markets, each criminalized substance is asso-
ciated with specific racial and social minority groups, allowing a
new tool for social control of undesirables and for the manage-
ment of misery. This model, at the end of the 20th century, radi-
calizes, consolidates the frameworks of an international war,
which for a long time justified the intervention of the United
States in the world, particularly in Latin America, legitimizing
and financing internal wars that on the other hand add value to
certain goods, and that concentrate their profitability not only
in trade, but for example in the banks, an actor which is very
little commented on the subject of the war on drugs, and at the
other end distribute death, incarceration and stigma.
President Richard Nixon’s declaration in the United States
in 1971 is a milestone in this process of war on a global scale.
In the following years, and with the formulation of the UN
Conventions dealing with drugs, most states began to adopt
strategies with the same nomenclature, emphasizing the mili-
tarized incidences of controlling access to certain psychoactive
substances. Nixon’s advisor, John Ehrlichman, admitted that
the lie of the “War on Drugs” had been created to persecute the
black-led anti-war and civil rights movements in the US.
The very idea of the war on drugs is intentionally incom-
plete, since for there to be a “war” it implies an armed conflict
between at least two groups of people, and not a group of peo-
ple against a group of substances. But it is a powerful discur-
sive resource, which allows overflowing the language of war in
instrumental procedures, in addition to displacing understan-
dings about violence, the enemy, the collateral effect and tor-
ture, shaped in an ideological framework of the production of
subalternity, death, imprisonment and stigmatization for a large
The Power Of The False: The Pyramid Of Certainties That
ENG White Supremacy Subsidizes Facing The War On Drugs 59

majority, hiding the wide market network that moves from other
discursive and instrumental processes: market language, profit,
capital and financing. It hides the undeclared internal enemies
of this policy and places the security forces of the States in per-
manent conflict with entire communities9.
In the 1990s, Colombia became the country that received the
most funding from the United States for security programs. The
U.S. proposal was related to a geopolitical elaboration of the
global drug issue, dividing countries between consumers and
producers. Declaring itself to be part of the first group (which
is not entirely true, for example, for marijuana production), and
claiming the idea of internal security, the United States begains
to finance plans for “security” and annihilation of drug pro-
duction in other territories. At the same time, tThe term “nar-
coterrorism” is created and would symbolize the “external
enemy” of the great power; the “Plan Colombia” is elaborated
and represents the maximum strategy of militarization of the
drug issue, investing billions of dollars in military equipment
and specifically in fumigations: -destruction of supposed plan-
tations of raw material through the dumping of glyphosate on
the land, the houses and the heads of Colombians in from air-
planes. It is estimated that in just three years this highly toxic
product has been dumped on an area equivalent to 8% of the
country’s arable land.
The U.S. invasion of South American territories also invol-
ved investment in U.S. military training in the Amazon jungles,
with the insertion of the U.S. military into the countries’ armies
through tactics, weapons and border control, which expan-
ded the opportunity for other plundering. For example, mili-
tary operations began with the invasion of the Department of

9 ELIAS, Gabriel, OLIVEIRA, Nathalia e RIBEIRO, Dudu. JUSTIÇA DE TRANSIÇÃO


como chave pacificadora e reparadora da guerra às drogas. In: Platô, Revista da Plataforma
Brasileira de Políticas de drogas.
60 Polifonías para la equidad racial ENG

Putuamayo, coincidentally a region very rich in oil.


In the early 2000s, about 92 percent of the U.S. military bud-
get for Latin America and the Caribbean was already invested
in anti-drug programs, a very lucrative number, since part of
those millions went back into the country’s industry, some $300
million a year in arms for the continent alone10.
In 2012, the British bank HSBC Holdings, which belongs
to the group of the world’s ten largest banks, made a $1 billion
settlement to end a long-running criminal investigation in the
United States for laundering drug money, exposing it as the main
conduit for money from Mexican cartels. Earlier, in 2007, one
of the largest US banks, Wachovia (now affiliated with Wells
Fargo) laundered $378.4 billion from drug trafficking–equiva-
lent at the time, the equivalent to a third of Mexico’s GDP–
through financial transactions with currency exchange houses.
In 2019, a cargo ship owned by another top ten bank, JP
Morgan Chase, and managed by the Mediterranean Shipping
Company, one of the world’s largest container shipping com-
panies, was seized in Philadelphia with the equivalent of $1.3
billion in cocaine. Also in 2019, in a landmark decision, US mul-
tinational Johnson & Johnson was ordered to pay around $572
million in damages to the state of Oklahoma for its role in the
opioid addiction crisis. In recent years, more than 120,000 peo-
ple have died in the United States as a result of the consumption
of substances derived from opioids. According to prosecu-
tors, the company deceptively promoted the use of prescription
painkillers that are highly addictive, compromising “the health
and safety of thousands of Oklahomans.”
In 2017, during a telephone conversation with Brazilian sena-
tor Aécio Neves, tapped with the authorization of the Supreme

10 RODRIGUES, Thiago. Narcotráfico e militarização nas Américas: vício de guerra. On:


https://doi.org/10.1590/S0102-85292012000100001
The Power Of The False: The Pyramid Of Certainties That
ENG White Supremacy Subsidizes Facing The War On Drugs 61

Court, Zezé Perrella, soccer manager and president of the


Deliberative Council of the Cruzeiro team, former state deputy
for Minas Gerais, federal deputy and former senator, complai-
ned that he was still remembered for the case of a cocaine-la-
den helicopter captured on his family’s property. “I don’t do
anything wrong, I just traffic drugs”, he ironized. The case that
became known as “helicoca” came to light in 2013, when his
name was linked to the seizure of 445 kg of cocaine base paste.
However, the senator was not charged in the case and the four
people arrested in flagrante delicto during the Federal Police
operation remained in prison for six months and were released.
In a research published in 2015, the Igarapé Institute, con-
sidering the 24,037 drug flagrancies carried by people that the
Rio de Janeiro police recorded in the previous year, found that
in 75% of the cases the maximum volume of marijuana reached
42.6 grams per occurrence. The amount seized did not exceed
200 grams in 90% of the cases. In the case of cocaine, 11 grams
was the maximum amount seized in 50% of the cases, reaching
155 grams in 90% of the cases. Concerning crack, there were
up to 5.8 grams in 50% of the seizures, without exceeding 62.6
grams in 90% of the cases.
Thus, the view that drug trafficking takes place within com-
munities through the retail sale of substances and that the
State’s priority action in the so-called “fight” against drugs must
be there, is not supported by reality. There is no drug traffi-
cking without the financing, participation, organization and,
above all, the benefit of large transnational economic groups,
as well as State agents in strategic locations, distributed in the
executive, judicial and legislative branches.
It is in the large cities of the United States, destroyed by the
War on Drugs, that about 80% of African-American youths
have criminal records and are therefore subject to legalized dis-
crimination for the rest of their lives. These young people are
62 Polifonías para la equidad racial ENG

part of a sub-caste, permanently locked up and cut off from the


rest of society11.
Hence, the process of criminalization of drugs is disconnec-
ted in practical life from scientific knowledge and broad human
knowledge of substances and is related to the racialized appli-
cation of criminal understandings and the production of con-
trols against marginalized populations operated by criminal
law. It should be emphasized that it is not, ultimately, the devi-
ces contained in the drug law that criminalize people based on
their relationship with the use and/or trade of something illi-
cit. There is a set of articulated criminalizing devices that affect
people, their territories, their cultures, their life possibilities,
and that are connected to historical instruments of control, sur-
veillance and punishment of certain bodies.
Killing or letting live triggers the fact that life and death are
not those immediate natural phenomena, in certain original
or radical ways, which would be outside the field of political
power. Freedom is lost, including that of exercising the right
over one’s own life and death, becoming an attribution of the
sovereign will12.
For this reason, the performance of control mechanisms is
fundamental. The permanent surveillance formatted under the
construction of criminality and crime, which places not only
institutions but people in surveillance of the other and punish-
ment as negative reinforcement and as a necro-political exercise
of the sovereign, are the gears that move the power of the State
over life, death and freedom since post-abolition.
It behooves us to take up, in Flauzina’s words, that the exer-
cise of extreme forms of assault on black life, in an internatio-
nal context that embraces the rhetoric of egalitarianism and

11 ALEXANDER, Michelle. A nova segregação: racismo e encarceramento em massa. São


Paulo: Boitempo, 2017.
12 MBEMBE, A. “Necropolitics”. Duke, Public Culture, 2003.
The Power Of The False: The Pyramid Of Certainties That
ENG White Supremacy Subsidizes Facing The War On Drugs 63

multiculturalism, could not be achieved except through the


investment in the symbolic dehumanization of black people.
In addition to this more overt process of constructions around
“black inhumanity,” this inversion is also accomplished indi-
rectly through the recuperation of the notion of “white huma-
nity” and its juxtaposition with the very notion of humanity13.
To conclude, how do Afro-Brazilians, Afro-Colombians and
African-Americans respond to this scenario based on hegemo-
nic racial myths? We will take the words of the intellectual
Michael Mitchell: the responses of each group may be con-
ditioned by particular historical circumstances, as well as by
the specific characteristics of their respective political systems.
However, this does not exclude the possibility of exploring
genuine similarities in how each group confronts its political
situations. (...) In the end, it is expected that systematic com-
parisons will enable both groups to share the lessons learned
from their experiences and that each community will be able
to direct its destinies with greater confidence and insight, using
political resources in ways that will lead their societies toward
fair and progressive ends14.

13 FLAUZINA, 2014. Op. cit.


14 MITCHELL, Michael. Atitudes raciais: explorando possibilidades de comparação entre
Brasil e Estados Unidos. On: Caderno CRH n.1–Salvador, Centro de Recursos Humanos/
UFBA, 2001.
PORTUGUÊS

A potência do falso: a pirâmide de certezas


que subsidia a supremacia branca frente
à guerra às drogas.

Dudu Ribeiro

Uma das questões disparadoras desse texto, que é um desafio


particularmente interessante de conectar experiências raciais
afro-diaspóricas entre Brasil, Colômbia e Estados Unidos, e a
partir disso produzir sínteses e reflexões que subsidiem ações
conjuntas em rede, é a princípio destacar elementos que carac-
terizam as respostas diversas desenvolvidas nesses países aos
mitos raciais hegemônicos produzidos, no nosso caso, especi-
ficamente no campo da política sobre drogas. Nos propomos
a pensar a partir do paradigma da guerra às drogas como uma
engrenagem transnacional que financia e colabora com o geno-
cídio negro na diáspora, atuando de forma decisiva na distri-
buição desigual de possibilidades de vida, na concentração da
riqueza, na espoliação dos Estados nacionais e na elaboração de
um capital humano restrito, onde só se considera como huma-
nidade a que melhor possa se aproxima da branquitude, e os
onde demais povos são subjugados à lógica dessa supremacia.
É possível, no entanto, pensar essas respostas sob a ótica não
mais do objeto da exploração e da violência de outros povos,
mas como estaria esse povo negro em diáspora agindo também
66 Polifonías para la equidad racial POR

em larga escala e assim moldando outras gentes de acordo com


as suas próprias necessidades?1.
Num contexto global em que episódios violentos inspirados
pelo racismo constantemente ocorrem, o grande desafio é tornar
o sofrimento local relevante (Dara e Silva, 2015)2. E ao mesmo
tempo criar um campo de entendimento, articulação e enfren-
tamento que impulsione o reconhecimento do genocídio negro,
na África e na diáspora, como uma outra face da barbárie e da
violência em massa no mundo contemporâneo, e que deveriam
também ser objetos de ação de contenção para as pretensões
daqueles instrumentos e de atenção da comunidade internacio-
nal; também nos discursos oficiais e nas exposições midiáticas.
É preciso reconhecer as práticas de genocídio antinegro que
caracterizam países em desenvolvimento e que, longe de se cons-
tituir como uma exceção, fazem parte de um continuum que
marca as nações da diáspora negra. Nega-se aos membros das
comunidades negras em diáspora o direito de sobreviver plena-
mente como cidadãos ou seres humanos – o genocídio como um
fato constitui o sustentáculo, a base de onde as variadas mani-
festações de negritude que definem a diáspora são construídas3.
Em 9 de dezembro de 1948, a Organização das Nações
Unidas definiu como Genocídio quaisquer dos seguintes atos,
cometidos com a intenção de destruir, no todo ou em parte, um
grupo nacional, étnico, racial ou religioso: (1) assassinato de
membros do grupo; (2) dano grave à integridade física ou men-
tal de membros do grupo; (3) submissão intencional do grupo
à condições de existência que lhe ocasionem a destruição física
total ou parcial; (4) medidas destinadas a impedir os nascimentos
1 C. L. R. James e os misteriosos caminhos da revolução
2 DARA, Danilo e SILVA, Débora Maria da. Mães e familiares de vítimas do Estado: a luta
autônoma de quem sente na pele a violência policial. In: Bala Perdida: Boitempo, 2015.
3 VARGAS, Joao H. Costa. A Diáspora Negra Como Genocídio: Brasil, Estados Unidos
Ou Uma Geografia Supranacional Da Morte E Suas Alternativas. Revista da ABPN, v. 1, n. 2
– jul.-out. de 2010.
A potência do falso: a pirâmide de certezas que subsidia
POR a supremacia branca frente a guerra às drogas 67

no seio do grupo; (5) transferência forçada de menores do grupo


para outro grupo.
Apesar de consolidado formalmente no campo internacio-
nal como crime, alvo do repúdio da comunidade reunida nas
Nações Unidas, uma disputa sobre o conceito de genocídio
não expressamente solucionado na carta, restringe a possibi-
lidade de atuação política tanto em nível local – com o esta-
belecimento de políticas públicas direcionadas no sentido de
conter o processo genocida, ou ações de caráter reparatório
– assim como constrói um percurso nebuloso para o reco-
nhecimento das renovadas práticas de genocídio em curso no
mundo hoje.
Tratar do tema do genocídio negro na diáspora já é por si um
desafio interessante do ponto de vista do seu alcance no campo
internacional, haja visto que o discurso do direito internacio-
nal tradicional se estrutura em termos da igualdade formal,
onde também nos parece que raça é um fator quase inexistente.
O padrão nas hegemônicas teorias jurídicas internacionais é o
silenciamento quando o assunto é o impacto do racismo nas
decisões judiciais. Um silêncio que, ele próprio, como Edson
Cardoso aponta, é “cheio de significados”. No centro dessa
encruzilhada está a própria negação do “poder institucionali-
zado da supremacia branca”, uma das forças mais proeminentes
a orientar tanto a perpetração de atrocidades em massa quanto
a aquiescência das instituições internacionais com os cenários
de violência4. Para a autora Ana Flauzina, esse horizonte jurí-
dico internacional que “formalmente proscreveu a manifestação
do racismo, enquanto é ainda complementarmente influenciado
pelas normas degradantes da supremacia branca, é responsável
por uma administração distorcida do genocídio”.

4 FLAUZINA, Ana Luiza Pinheiro. As fronteiras raciais do genocídio. Direito, Brasília, v.


1, n. 1, 2014
68 Polifonías para la equidad racial POR

O momento que o mundo atravessa aponta para um percurso


cada vez mais precarizador da vida, de empobrecimento das popu-
lações, desemprego em alto patamar, além das marcas profundas
deixadas nas pessoas, famílias e comunidades pelas perdas huma-
nas. Ao mesmo tempo, a presença forte de discursos ultraconser-
vadores, a ascensão de governos fascistas, os golpes promovidos
contra a democracia, o controle e vigilância através do gerencia-
mento de dados, reconhecimento facial e outras tecnologias, exi-
girá das organizações da sociedade civil cada vez mais articulação
e uma capacidade ampliada a nível internacional, bem como a oti-
mização de suas capacidades de incidência no âmbito doméstico.
Por outro lado, questões ligadas à violência policial emer-
giram de forma particular a partir de casos individuais que se
tornaram globais e referências para o fortalecimento de outros
processos em curso. Nesse caso, os debates sobre Segurança
Pública, o papel do Estado no controle e vigilância e a utiliza-
ção da justiça como instrumento de coerção se tornaram mais
evidentes. Um processo em rede a nível internacional também
passa a ser articulado com condições de conectar casos conjun-
turais a questões estruturais e históricas.
Desde o surgimento e desenvolvimento de um mercado
mundial que permite a produção de uma ideia de mundo e
uma história “universal”, não estivemos em um outro momento
tão desproporcional do ponto de vista das relações econômicas
e sociais: o mundo nunca foi tão desigual5. As desigualdades
em escala global racionalizadas, enquanto as diferenças, natu-
ralizadas, permitindo os desníveis de distribuição de riqueza
e qualidade de vida, distribuindo a morte enquanto exercício
organizado pelo poder dos Estados nacionais, e terceirizado
entre interesses diversos que os ocupam.

5 FERREIRA, Muniz Gonçalves. A engenharia da subordinação: os Estados Unidos e o


subdesenvolvimento africano das décadas de 80 e 90. In: Caderno CRH n.1–Salvador, Centro
de Recursos Humanos/UFBA, 2001.
A potência do falso: a pirâmide de certezas que subsidia
POR a supremacia branca frente a guerra às drogas 69

A concentração da riqueza e qualidade de vida nunca esteve


tão flagrantemente desfavorável para grande parte da população
do globo, em benefício de um pequeno número de países. No
momento de produção destas reflexões, passamos pela maior
pandemia do século, em que uma corrida intensa por vacinas
resultou em uma distribuição que agora concentra 75% das
aplicações em apenas 10 países. Em nenhum outro momento
da história, aquilo que poderíamos chamar de sociedade inter-
nacional apresentou-se tão hierarquizada e excludente quanto
atualmente6.
Para observar esse cenário indicaremos um percurso que ana-
lisa a guerra às drogas como um arcabouço sofisticado, desen-
volvido durante décadas no século XX, e um “complexo de
certezas” subsidiadas tanto por uma lógica da negação de possi-
bilidades de vida ao Outro, financiando assim a morte enquanto
política de Estado, quanto pela perspectiva de um mercado glo-
bal ilícito que privilegia o monopólio, a desestabilização de
Estados nacionais e incursões neocolonialistas, inaugurado sob
o pretexto de construção de um mundo irreal “livre das drogas”.
A noção de complexo de certezas é uma noção central das
ideias que ora analisamos, como proposta por Mbembe ao ana-
lisar a colonização:

A colonização, enquanto tal, não foi apenas uma tecnologia,


nem um simples dispositivo. Ela não foi apenas ambigui-
dades. Ela foi também um complexo, uma pirâmide de
certezas, umas mais ilusórias do que as outras: a potência do
falso. Um complexo móvel, certamente, mas também, em
muitos aspectos, um entroncamento fixo e imóvel. Habi-
tuada a vencer sem ter razão, ela exigia dos colonizados
não apenas que eles mudassem suas razões de viver, mas

6 Op. cit.
70 Polifonías para la equidad racial POR

também que mudassem de razão–seres em falha perpétua.


E é enquanto tal que a Coisa e sua representação suscitaram
a resistência daqueles que viviam sob seu jugo, provocando
ao mesmo tempo indocilidade, terror e sedução, assim
como, aqui e ali, grande número de insurreições7.

Exploraremos a guerra às drogas a partir da contribuição do


pensador camaronês para pensar esse centro [guerra às dro-
gas] que ora nos propomos a trabalhar: a potência do falso. Do
ponto de vista prático, a guerra contra as drogas vista também
como um exemplo de como pessoas inocentes podem acabar
na prisão sendo vitimados em nome da punição ou como culpa-
dos podem ser punidos de forma desproporcional, resultando
em vitimização dentro da punição, como proposto pelo pensa-
dor nigeriano Biko Agonizo.
Um longo período de conflitos internos e nas fronteiras afe-
tam os países que adotaram os paradigmas, instrumentos e
discursos da guerra às drogas nos últimos 70 anos e marca de
forma profunda as diversas democracias liberais ao redor do
mundo. Desde meados do século passado, os países integrantes
da Organização das Nações Unidas passaram a adotar medidas
relativamente comuns para o controle de determinadas substân-
cias, que passam a ser consideradas ilícitas, e que com algumas
diferenças do ponto de vista da aplicação jurídica, guardam ao
menos um fundamento comum: a restrição do acesso a deter-
minadas substâncias a partir da sua criminalização, sob o jugo
de uma estratégia de guerra.
A partir daí, se inicia a escalada para um verdadeiro massacre
transnacional, que afeta a vida de milhões de pessoas no mundo,
com efeito corrosivo no tecido social dos países mais afetados,

7 MBEMBE, Achille. Sair da grande noite–Ensaio sobre a África descolonizada. Petrópolis,


RJ: Vozes, 2019.
A potência do falso: a pirâmide de certezas que subsidia
POR a supremacia branca frente a guerra às drogas 71

corrompendo mesmo os pilares daquelas democracias liberais,


perpetuando um profundo enraizamento dos elementos dessa
cultura do conflito na formação de gerações, a partir de uma
socialização distribuída por uma economia das violências.
Os prolongados e custosos conflitos internos impactam
diretamente na capacidade de investimento do Estado em
políticas públicas, sequestram vultosos recursos para a indús-
tria bélica, direcionam as expectativas para uma disputa de
poder de fogo entre “o Estado e o crime”, que incentiva ciclos
de violência intermináveis e impedem qualquer perspectiva
de incentivo à construção da paz. A guerra corrói o tecido
social nos países em conflito, e incentiva a altíssima polariza-
ção das comunidades.
No início da expansão dos centros urbanos, a criminaliza-
ção de determinadas substâncias esteve diretamente ligada ao
controle da circulação de pessoas “indesejadas” pela cidade,
especialmente pessoas recém egressas da escravidão e seus des-
cendentes, que tinham na cidade uma possibilidade de construir
a vida. O crescimento contínuo das cidades trouxe também
para os debates políticos da época a necessidade de se contro-
lar o modo de vida das classes populares, organizar as práticas
e restringir a circulação dos indesejáveis, pois seus costumes,
ditos incivilizados, contribuíam para a situação de insalubridade
e caos em que se encontravam a maioria das áreas urbanas bra-
sileiras no início do século XX.
Um dos primeiros mecanismos de criminalização das subs-
tâncias psicoativas vem no bojo também da consolidação da
medicina na virada do século XX e marca justamente a crimi-
nalização dos saberes populares de cura. A partir daí, surgem
uma série de perseguições de pessoas vinculadas às religiões de
matriz africana e lideranças indígenas, por exemplo, responsá-
veis pelo cuidado em saúde nas suas comunidades durante sécu-
los. Empreendimentos raciais forjados a partir da necessidade
72 Polifonías para la equidad racial POR

de se estender para as sociedades no pós-abolição, regras sociais


do mundo escravista, a partir da aplicação de uma noção rede-
corada do crime. Um conjunto de instrumentos que permitisse
o sequestro das possibilidades de cidadania para a população
negra, reposicionando o processo de desumanização herdada
do escravismo, produzindo uma outra, mas não completamente
nova, economia das violências.
No desenvolvimento deste processo, a restrição legal de
determinadas substâncias, seleciona categorias criminais e se
conecta aos dispositivos acionados pelas relações raciais. Para
tanto, a atuação de um regime de vigilância e controle dirigida à
população negra, encontra na restrição ao uso e venda de algu-
mas substâncias psicoativas, especialmente a maconha, a exten-
são de uma das trilhas de um percurso que buscava soluções
políticas para o “problema negro” no pós-abolição, assim cha-
mado no Brasil, por exemplo. O manejo de teorias produzidas
nas escolas europeias, no seu encontro com o terreno move-
diço das relações escravistas tipicamente brasileiras na virada
daquele século, é representativo da capacidade seletiva dos pen-
sadores brasileiros que buscavam “adaptar o que combinava” e
descartar o que de alguma maneira soasse “estranho”, mas que
definitivamente servisse à justificação da hierarquia natural e a
comprovação da “inferioridade” do segmento negro8.
A política de justiça criminal administra punição para alguns
e o bem-estar de outros, não devemos esquecer que administra
vitimização para outros ainda9. A máxima utilização do sistema
de justiça criminal e mais especificamente do hiperencarcera-
mento, entendida aqui como mais do que a punição de infra-
tores, mas tanto como a experiência da punição de inocentes

8 SCHWARCZ, Lilia Moritz. O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial
no Brasil – 1870-1930. São Paulo, Cia das Letras, 1993
9 AGOZINO, Biko. Mulheres negras e sistema de justiça criminal: rumo à descolonização
da vitimização
A potência do falso: a pirâmide de certezas que subsidia
POR a supremacia branca frente a guerra às drogas 73

na prisão se traduz em vitimização como mera punição, e como


isso impacta na distribuição mais ampla de percursos de vida,
também para aquelas pessoas que não passarão pelo sistema
prisional de seus países.
O modelo de guerra às drogas tem uma capacidade particu-
lar de sobrevalorizar a estigmatização. Por exemplo, a própria
ideia de proteção da saúde pública visando impedir o acesso
das pessoas às substâncias psicoativas tornadas ilícitas é produ-
zida a partir de uma supervalorização dos quadros problemá-
ticos, frente ao cenário mais amplo do uso de cada substância.
Dentre as diversas substâncias psicoativas utilizadas em diver-
sas sociedades, lícitas ou ilícitas, a porcentagem de casos proble-
máticos de uso é sempre muito inferior ao número de pessoas
que não terão problemas críticos com aquele uso. No entanto,
se explora politicamente a ideia de degradação, física, moral,
psicológica, para alertar para a necessidade da proibição, ainda
que inúmeros estudos demonstrarem que os casos abusivos sem-
pre serão a minoria, independente da droga investigada. Essa é
uma peça da pirâmide de certezas, que cientificamente não pos-
sui nenhum valor real.
Os estigmas produzidos por esse modelo são também conec-
tados com a distribuição desigual e anterior de “humanidade”,
ou seja, eles guardam proporções particulares para cada popu-
lação afetada. Aplica-se um nível de degradação gradiente com
limites bem estabelecidos entre até onde “seriam levados” os
brancos, e até onde “chegariam” todos os demais povos, o
Outro. A degradação de pessoas brancas pelo uso de drogas
não afeta a sua condição de “humanidade”, e é muitas vezes
entendida como um resultado passivo de afetações externas.
Na mesma eleição que deu a vitória a Donald Trump, elei-
toras e eleitores dos Estados Unidos aprovaram através de ple-
biscito o uso recreativo e medicinal da maconha em diversos
estados. Califórnia, Massachusetts, Nevada, Maine, bem como
74 Polifonías para la equidad racial POR

a Flórida, Arkansas, Montana e Dakota do Norte se somaram


assim aos estados do Colorado, Oregon, Washington e Alasca.
E poderia parecer paradoxal os Estados Unidos terem avançado
nas reformas das políticas sobre drogas, justamente nas últimas
eleições que tiveram como resultado a vitória do conservador
Donald Trump. Mas não é. De fato, Alexander nos lembra que o
que conecta a vitória dos conservadores nas eleições nos Estados
Unidos e o avanço na regulamentação da maconha e do debate
sobre as respostas às questões do uso e abuso de drogas no país,
responde por um nome: branquitude.
É interessante contrastar como a campanha sobre a crise dos
opioides nos Estados Unidos incentiva um10 sentimento de com-
paixão às vítimas, de apelo pelo cuidado, para que as mortes
sejam evitadas, e diversas figuras públicas, representantes con-
servadoras do Congresso, por exemplo, se dedicam a uma dis-
puta por quem oferece mais pelas pessoas e pelas famílias. Esse
uso problemático foi identificado sobretudo entre a população
branca, incentivada por uma campanha agressiva de distribui-
ção de opioides por grandes empresas farmacêuticas. A resposta
ao “problema branco” por tanto se baseava na sua recuperação e
restauração. Uma resposta oposta à desenvolvida na década de 80
no mesmo país, frente a uma ideia, também racialmente desenvol-
vida, de “crise do crack”, onde a resposta uníssona do Estado foi
no sentido de mais repressão, encarceramento, com campanhas
agressivas de mídia que construíram inclusive a ideia de “bebês
do crack” no sentido da criminalização de mulheres negras.
Para a política de justiça criminal, a subsidiam pânicos morais
ou ‘tensões sociais’ que descreve o Outro como inferior, perigoso,
criminoso e amoral (Said, 1993), mesmo quando aquele que está
no controle é envolvido em políticas genocidas em relação ao

10 SANTOS, Eduardo Ribeiro dos. Luther King, Coca-Cola e a comoção sele-


tiva cotidiana: uma passagem negra sobre Atlanta. In: https://jornalistaslivres.org/
luther-king-coca-cola-e-a-comocao-seletiva-cotidiana-uma-passagem-negra-sobre-atlanta/
A potência do falso: a pirâmide de certezas que subsidia
POR a supremacia branca frente a guerra às drogas 75

Outro. O que não é branco é o Outro. O crime passa também a ser


mitificado, e observadas as estatísticas das prisões, onde majorita-
riamente os não-brancos estão super-representados, conduz a uma
visão de que a pobreza causa o crime. Nos propomos a partir do
espectro da guerra às drogas, no entanto, a fortalecer uma outra
corrente nesse campo onde o poder é causa determinante das
ideias de crime e, portanto, e assim poderemos ampliar a visão de
que aqueles que têm menos probabilidade de acabar na prisão são
necessariamente mais cumpridores da lei. Se poderosos têm mais
recursos para se defender com sucesso, mesmo quando cometem
crimes, enquanto os pobres têm maior probabilidade de serem
presos mesmo quando falsamente acusados, o poder distribui de
forma inequívoca os alcances da justiça criminal.

Visivelmente, tanto a perpetração do crime quanto a pas-


sividade do sistema de justiça penal internacional em
resposta aos horrores do genocídio têm um impacto espe-
cial sobre as comunidades negras, à luz das representações
históricas peculiares que enxergam este grupo social como
o antônimo de humanidade. Nesse processo, o alto grau
de vulnerabilidade em torno da vida negra é cultivado por
atos de incontestável terror patrocinados e sancionados
pelo Estado que visam a controlar o que são categoriza-
dos como “corpos indomesticáveis”.

As comunidades negras brasileiras, colombianas e estaduniden-


ses, sobretudo as que vivem em áreas periféricas, estão sob ata-
que constante promovido em nome do modelo de guerra às
drogas, com o medo de serem mortas por autoridades públi-
cas, como as polícias, mas também por outros agentes encora-
jados pela proposta do conflito permanente. A guerra é uma
opção política e tem motivado o reforço do punitivismo racial
e do controle territorial através do massacre, que empurra parte
76 Polifonías para la equidad racial POR

significativa da sociedade, pela intensificação do medo, a apoiar


ou reforçar medidas violentas para a superação dos problemas,
escamoteando outros caminhos possíveis.
Estima-se que um milhão de pessoas morreram assassinadas
nas últimas três décadas no Brasil. O superencarceramento é
parte de uma política de morte, comprovando-se pela ausência
de uma única experiência no mundo em séculos, que possa rela-
cionar a diminuição da violência com a ampliação do número
de pessoas encarceradas. Está mais do que demonstrado ao
longo da história que a redução da violência está conectada
com a ampliação e melhoria das condições de vidas das pessoas.
Trata-se, portanto, mais de uma máquina de ampliação de vio-
lência, e organização do crime em alguns contextos, do que de
desmonte das agências consideradas criminosas.
A política proibicionista de drogas se sustenta numa lógica
transnacional baseada em convenções restritivas que correspon-
diam também na sua elaboração à bipolaridade do mundo no
pós-guerra, incentivando a criação de tipos penais envolvendo
drogas, que permitisse também nesse campo as disputas ideo-
lógicas e geopolíticas de mundo. Se por um lado, o percurso
dessa construção envolve uma ideia de reprovação moral a pes-
soas que faziam uso de algumas substâncias, escolhidas menos
pelo seu potencial lesivo aos corpos, e mais ao controle de mer-
cados, se associa a específicos grupos raciais e sociais mino-
ritários cada substância criminalizada, permitindo uma nova
ferramenta de controle social dos indesejáveis e de gestão da
miséria. Esse modelo, ao final do século XX, radicaliza, conso-
lida os marcos de uma guerra internacional, que durante muito
tempo justifica a intervenção dos Estados Unidos no mundo,
particularmente na América Latina, legitimando e financiando
guerras internas que por outro lado agregaram valor a determi-
nadas mercadorias, e que concentra sua lucratividade não ape-
nas no comércio, mas por exemplo em bancos, muito pouco
A potência do falso: a pirâmide de certezas que subsidia
POR a supremacia branca frente a guerra às drogas 77

comentados no tema da guerra às drogas, e na outra ponta dis-


tribui a morte, o cárcere e o estigma.
A declaração do presidente Richard Nixon nos Estados
Unidos em 1971 é um marco nesse processo de guerra em escala
global. Nos anos seguintes, e com a formulação das Convenções
da ONU que tratam sobre o tema das drogas, a maioria dos
Estados passam a adotar estratégias com a mesma nomencla-
tura, dando ênfase a incidências militarizadas de controle do
acesso a determinadas substâncias psicoativas. Conselheiro de
Nixon, John Ehrlichman admitiu que a mentira da “Guerra às
drogas” havia sido criada com o objetivo de perseguir os movi-
mentos antiguerra e movimento pelos direitos civis protagoni-
zado pela população negra nos Estados Unidos.
A própria ideia de guerra às drogas é propositalmente incom-
pleta já que para haver uma “guerra” implica um conflito armado
entre pelo menos dois grupos de pessoas, e não de um grupo de
pessoas contra um grupo de substâncias. Mas é um recurso dis-
cursivo poderoso, que permite transbordar a linguagem bélica,
em procedimentos instrumentais, além de deslocar entendimentos
sobre violência, inimigo, efeito colateral, tortura, conformados em
um arcabouço ideológico de produção de subalternidade, morte,
aprisionamento, estigmatização para uma ampla maioria, escamo-
teando a ampla rede de mercado que se move a partir de outros
processos discursivos e instrumentais: linguagem de mercado,
lucro, capital, financiamento. Ela escamoteia os inimigos inter-
nos não declarados dessa política e coloca as forças de segurança
dos Estados em conflito permanente com comunidades inteiras11.
Nos anos 90, a Colômbia passou a ser o país que mais recebia
fundos dos Estados Unidos para programas de segurança. A pro-
posta dos estadunidenses tinha relação com uma elaboração

11 ELIAS, Gabriel, OLIVEIRA, Nathalia e RIBEIRO, Dudu. JUSTIÇA DE TRANSIÇÃO


como chave pacificadora e reparadora da guerra às drogas. In: Platô, Revista da Plataforma
Brasileira de Políticas de drogas.
78 Polifonías para la equidad racial POR

geopolítica para o tema das drogas a nível mundial, que distribuía


os países entre consumidores e produtores. Sendo autodeclarado
parte do primeiro grupo (o que não é inteiramente verdade, por
exemplo, para a produção de maconha), e reivindicando a ideia
de segurança interna, os Estados Unidos passam a financiar pla-
nos “de segurança” e aniquilamento das produções de drogas
em outros territórios. Cria-se o termo “narcoterrorismo”, que
simbolizaria o “inimigo externo” da grande potência e se ela-
bora o “Plano Colômbia” representando a estratégia máxima de
militarização da questão das drogas, investindo bilhões de dóla-
res em equipamentos militares, e especificamente nas fumigações
– destruição de supostas plantações de matérias-primas através
do despejo de glifosato sobre as terras, as casas e as cabeças dos
colombianos feito em aviões. Estima-se que em apenas três anos
foi despejado este produto altamente tóxico numa extensão de
terras equivalente a 8% das terras cultiváveis do país.
A invasão dos Estados Unidos em territórios sul-america-
nos também contava com investimento em treinamento mili-
tar de estadunidenses nas selvas amazônicas, com a inserção do
exército dos Estados Unidos nos exércitos dos países através de
táticas, armas e controle das fronteiras, o que ampliou a opor-
tunidade de outros saques. As operações militares por exemplo
iniciaram-se pela invasão do Departamento de Putamayo, coin-
cidentemente uma região muito rica em petróleo.
No começo dos anos 2000, cerca de 92% do orçamento
militar dos Estados Unidos para América Latina e Caribe já era
investido em programas antidrogas, uma matemática altamente
lucrativa já que alguns desses milhões retornavam à indústria do
país, cerca de 300 milhões de dólares somente em armas ao con-
tinente anualmente12.

12 RODRIGUES, Thiago. Narcotráfico e militarização nas Américas: vício de guerra. In:


https://doi.org/10.1590/S0102-85292012000100001
A potência do falso: a pirâmide de certezas que subsidia
POR a supremacia branca frente a guerra às drogas 79

Em 2012, o banco britânico HSBC Holdings, pertencente


ao grupo dos dez maiores bancos do mundo, fechou um acordo
bilionário para encerrar uma longa investigação criminal nos
Estados Unidos por lavagem de dinheiro do tráfico de drogas,
sendo exposto como a principal rota do dinheiro oriundo dos
cartéis mexicanos. Antes disso, em 2007, um dos maiores ban-
cos dos Estados Unidos, o Wachovia (filiado, atualmente, ao
Wells Fargo) lavou 378,4 bilhões de dólares do narcotráfico
– equivalente à época a cerca de um terço do PIB do México –
através de transações financeiras com casas de câmbio.
No ano de 2019, um navio cargueiro pertencente a outro
banco da lista dos dez maiores do mundo, o JP Morgan Chase,
e administrado pela Mediterranean Shipping Company, uma
das maiores empresas de transporte de contêineres, foi apreen-
dido na Filadélfia com o equivalente a 1,3 bilhão de dólares
em cocaína. Também em 2019, em uma decisão histórica, a
multinacional americana Johnson & Johnson foi condenada a
pagar cerca de 572 milhões de dólares por danos ao estado de
Oklahoma devido seu papel na crise do vício em opioides. Nos
últimos anos, mais de 120 mil pessoas morreram nos Estados
Unidos em decorrência do uso de substâncias derivadas de
ópio. Segundo os promotores, a empresa promoveu de forma
enganosa o uso de analgésicos de receita médica que são alta-
mente viciantes, o que comprometeu “a saúde e a segurança de
milhares de pessoas de Oklahoma”.
Em 2017, durante conversa telefônica com o senador brasi-
leiro Aécio Neves, grampeada com a autorização do Supremo
Tribunal Federal, Zezé Perrella, Gestor de futebol e presidente
do Conselho Deliberativo da equipe do Cruzeiro, ex-deputado
estadual por Minas Gerais e federal, e ex-senador, reclamou por
ainda ser lembrado pelo caso de um helicóptero carregado de
cocaína flagrado em propriedade de sua família. “Eu não faço
nada de errado, eu só tráfico drogas”, ironizou. O caso que
80 Polifonías para la equidad racial POR

ficou conhecido como “helicoca” veio à tona em 2013, quando


teve seu nome vinculado à apreensão de 445 kg de pasta base
de cocaína. No entanto, o senador não foi indiciado no caso e
as quatro pessoas presas em flagrante durante a operação da
Polícia Federal ficaram seis meses na prisão e foram libertadas.
Em pesquisa publicada em 2015, o Instituto Igarapé, con-
siderando os 24.037 flagrantes de drogas portadas por pessoas
que a polícia fluminense registrou no ano anterior, constatou
que 75% dos casos, o volume máximo de maconha chegou a
42,6 gramas por ocorrência. A quantidade apreendida não pas-
sou de 200 gramas em 90% dos casos. Para cocaína, 11 gramas
foi o máximo apreendido em 50% das ocorrências, chegando a
155 gramas em 90% dos casos. Em relação ao crack, foram até
5,8 gramas em 50% das apreensões, não passando de 62,6 gra-
mas em 90% das ocorrências.
A visão, portanto, que o tráfico de drogas se processa dentro
das comunidades através do varejo de substâncias, e que deve ser
ali portanto a ação prioritária do Estado no chamado “combate”
às drogas não encontra qualquer respaldo na realidade. Não existe
tráfico de drogas sem o financiamento, participação, organização,
e sobretudo lucro de grandes grupos econômicos transnacionais,
além de agentes do Estado em lugares estratégicos, distribuídos
em todos os poderes, executivo, judiciário e legislativo.
É nas grandes cidades dos Estados Unidos destruídas pela
Guerra às drogas, que em torno de 80% dos homens jovens
afro-americanos têm antecedentes criminais e por isso são sub-
metidos à discriminação legalizada pelo resto das suas vidas.
Estes homens jovens são parte de uma subcasta, permanente-
mente trancafiada e apartada do resto da sociedade13.

13 ALEXANDER, Michelle. A nova segregação: racismo e encarceramento em massa. São


Paulo: Boitempo, 2017.
A potência do falso: a pirâmide de certezas que subsidia
POR a supremacia branca frente a guerra às drogas 81

O processo de criminalização das drogas se desconecta, na


vida prática, do conhecimento científico, e do amplo conheci-
mento humano das substâncias, se relacionando com aplicação
racializada dos entendimentos penais, e a produção de con-
troles contra populações marginalizadas operada pelo direito
penal. É preciso ressaltar que não é os dispositivos contidos na
lei de drogas não são apenas, em último caso, que estão crimi-
nalizando as pessoas a partir da relação destas com o uso e/ou
comércio de algo tornado ilícito. Há um conjunto de dispositi-
vos criminalizatórios articulados que atingem pessoas, seus ter-
ritórios, suas culturas, suas possibilidades de vida, e que estão
conectados com instrumentos históricos de controle, vigilân-
cia e punição sobre determinados corpos.
O fazer morrer ou deixar viver aciona o fato de que a vida e
a morte não são desses fenômenos naturais, imediatos, de certo
modo originais ou radicais, que se localizariam fora do campo
do poder político. Perde-se a liberdade, inclusive de exercer-se
o direito sobre a própria vida e morte, que passa a ser atribui-
ção da vontade soberana14. A atuação dos mecanismos de con-
trole é fundamental, a vigilância permanente formatada sob a
construção do criminoso e do crime, que põe não apenas as
instituições, mas também as pessoas, em vigilância do outro, e
a punição como reforço negativo e como exercício necropolí-
tico do soberano, são as engrenagens que movem a captura do
Estado sobre a vida, a morte e a liberdade desde o pós-abolição.
Cabe-nos retomar, nas palavras de Flauzina, que o exercí-
cio de formas extremas de assalto à vida negra em um con-
texto internacional que abraça a retórica do igualitarismo e do
multiculturalismo, não poderia ser alcançado senão através do
investimento na desumanização simbólica de pessoas negras.

14 MBEMBE, A. “Necropolitics”. Duke, Public Culture, 2003.


82 Polifonías para la equidad racial POR

Além desse processo mais evidente de construções em torno


da “desumanidade negra”, este investimento também é feito
de forma indireta pela recuperação da noção de “humanidade
branca” e sua justaposição com a noção de humanidade em si15.
Como afro-brasileiros, afro-colombianos e afro-america-
nos respondem então a esse cenário baseado nos mitos raciais
hegemônicos? Tomaremos as palavras do intelectual Michael
Mitchell: as respostas de cada grupo podem estar condiciona-
das por circunstâncias históricas particulares, bem como pelas
características específicas de seus respectivos sistemas políti-
cos. Entretanto, isso não elimina a possibilidade de explorar as
genuínas semelhanças nas formas com que cada grupo lida com
suas situações políticas. (...) Ao final, espera-se que compara-
ções sistemáticas permitam que ambos os grupos compartilhem
lições tiradas de suas experiências, que cada comunidade seja
capaz de dirigir seus próprios destinos com maior confiança e
perspicácia, utilizando os recursos políticos de modo a condu-
zir suas sociedades para fins justos e progressistas16.

15 FLAUZINA, 2014. Op. cit.


16 MITCHELL, Michael. Atitudes raciais: explorando possibilidades de comparação entre Brasil
e Estados Unidos. In: Caderno CRH n.1–Salvador, Centro de Recursos Humanos/UFBA, 2001.
ESPAÑOL

Letalidad policial en la pandemia


Bruno Alves1

Fui criado en la favela de Salgueiro (donde el niño João Pedro,


que quería ser abogado, fue asesinado por la Policía), soy hijo
de un traficante de drogas quien, tras salir de la cárcel en liber-
tad condicional y permanecer huyendo, “prefirió morir” a pre-
sentarse en un hospital, donde podría ser detenido, y cuidarse
de una enfermedad que adquirió en prisión. También soy tío
de un sobrino de 18 años, traficante de drogas, asesinado por
la policía sin ofrecer resistencia y desarmado. Y es desde este
punto de partida personal, desarrollado a partir de experiencias
en casos de “error judicial”, violencia policial contra narcotra-
ficantes en ciertas comunidades de Río de Janeiro, y de inves-
tigaciones penales militares en defensa de militares agraviados
por la Policía, con todos los cuales he tenido la oportunidad de
ejercer la abogacía, que me gustaría reflexionar sobre la com-
pleja tarea de controlar o reducir la violencia policial.
El escenario sociológico de nuestra reflexión es la favela de
Jacarezinho, situada en Río de Janeiro: el quilombo urbano que
recientemente vivió la segunda mayor masacre de la historia de
la ciudad, a pesar de una decisión judicial prohibitiva del más

1 Abogado especializado en Derecho Penal y Antidiscriminación. Magíster en Sociología y


Derecho por la Universidad Federal Fluminense.
86 Polifonías para la equidad racial ESP

alto tribunal del país. Quiero señalar aquí la relación de la vio-


lencia política con la violencia policial durante la pandemia,
así como la influencia de la desigualdad en la línea del racismo
estructural, como constituyente de la subjetividad policial.
Al final quiero problematizar la relación de los Movimientos
Negros en Brasil con el tema policial-judicial de vida o muerte
en la favela. Me temo que no tengo respuesta para las pre-
guntas objetivas de PERA, pero aun así me gustaría presen-
tar este contenido como un punto de partida para comenzar
a construirla.
En Río de Janeiro, ciudad escenario experimental de viola-
ciones constitucionales como la Intervención Militar y la lim-
pieza higiénica de Mega Eventos como la Copa del Mundo y
los Juegos Olímpicos, una operación policial dejó 28 muer-
tos el 6 de mayo de 2021. La segunda más letal, solo detrás
de la Masacre de Queimados en 2005, con 29 muertos, en la
Baixada Fluminense. Este es el lugar donde vivo desde los 11
años, después de dejar el Complexo do Salgueiro. La Baixada es
conocida como un territorio sin derechos, subyugado por gru-
pos de exterminio compuestos por agentes del Estado. En el
estado ocurrieron 411 masacres en 10 años con tres o más víc-
timas entre 2009 y 2018, que dejaron 1.391 personas muer-
tas. A pesar de eso, nunca hubo una condena a Brasil, ni a un
estado o a una persona por el delito de genocidio. La única con-
dena por genocidio en el país fue la de un hombre negro, Pedro
Emiliano, por las violaciones contra la población de la Tierra
Indígena Ianomami.
Sobre el crimen de genocidio, la ley n. 2.889/56, en vigor
antes de la Constitución, fue aprobada por la Constitución de
1988, y lo contempla expresamente como delito, previendo
penas y conductas relacionadas con la “intención de destruir,
total o parcialmente, un grupo nacional, étnico, racial o reli-
gioso” (Art. 1 de la Ley n. 2889/56). Además, desde 1984, el
ESP Letalidad policial en la pandemia 87

Código Penal brasileño prevé el delito de genocidio cometido


por un ciudadano brasileño o domiciliado en Brasil, in verbis:

Artículo 7–Están sujetos a la ley brasileña, aunque sean


cometidos en el extranjero:
I – los crímenes
d) de genocidio, cuando el autor sea brasileño o esté domi-
ciliado en Brasil; (Incluido por la Ley nº 7.209, de 1984).

Sin embargo, a pesar de la disposición legal y de las más de


400 masacres, no ha habido ninguna condena hasta la fecha.
Los expertos de la Corte Penal Internacional dicen que incluso
con varias representaciones sería muy difícil responsabilizar a
Bolsonaro, porque para ellos los actos deben ser “cometidos
en el contexto de un ataque generalizado o sistemático contra
la población civil”. Las representaciones apuntan al contexto
de la conducta durante la pandemia. Aunque la actividad de la
Seguridad Pública es una competencia del Estado, y aquí habla-
ríamos de representaciones contra gobernadores, en el contexto
del debate sobre la violencia política, sería posible responsabili-
zar a Bolsonaro por:

1. ¿Promoción de la destrucción de grupos específicos a tra-


vés de la influencia discursiva, en la que el discurso es el
vínculo que aumenta o mantiene la violencia contra gru-
pos específicos?
2. ¿Omisión antes de la destrucción de grupos específicos?

La relación entre las dos mayores masacres del Estado,


Queimados y Jacarezinho, es que se dan en territorios sin
derechos. El mejor conocido como Estado de Excepción:
la suspensión permanente de los derechos fundamentales.
Como veremos, Jacarezinho solo poseía las vulnerabilidades
88 Polifonías para la equidad racial ESP

inherentes a las favelas brasileñas y a los sistemas de vigilancia


comunitaria de la violencia que, en cierta medida, permitieron
la restauración de los derechos fundamentales en oposición a
la violencia policial.
Sin embargo, con la pandemia, el debilitamiento de la favela,
de las instituciones de derechos humanos, de las poquísimas
personas que están dispuestas a asumir la condición de guar-
dia de seguridad y el aumento considerable de las operaciones
policiales en este período restablecieron la suspensión de los
derechos fundamentales, autorizando tragedias como la vivida
por esa favela.
No fue por casualidad que se dio la movilización y la pro-
hibición del Supremo Tribunal Federal en el Argumento de
Incumplimiento del Precepto Fundamental n°635 sobre las
operaciones policiales en las favelas durante el período pan-
démico del Covid-19. De alguna manera, la disponibilidad de
agentes de policía, tal vez debido al escaso número de perso-
nas en las calles, permitió un aumento de la violencia policial en
una violación clara y sin precedentes de la decisión del más alto
tribunal del país. Según los vecinos, la provocación e intimida-
ción previa comenzó con la imagen de un negro sentado en una
silla con la mano sobre la boca, dejada por los policías de forma
recreativa, provocación que se consolidó con la incautación ile-
gal de los teléfonos móviles de algunos de los vecinos. Es de
esa manera que empezamos a hablar de la capacidad y volun-
tad institucional de controlar la letalidad en la práctica policial.

¿Quién manda aquí, STF?


La exposición pública como forma de intimidación, nos enseña
la historia en sus ciclos repetitivos, es la táctica más antigua de
control a través del miedo en el proceso de disciplinar a los
grupos. Ejemplos de ello son las hogueras en las que se quema-
ban a las mujeres consideradas brujas a principios de la época
ESP Letalidad policial en la pandemia 89

moderna para desalentar la práctica de la brujería; la flagelación


de los seres humanos esclavizados en el período de la esclavi-
tud legal en Brasil para desalentar la fuga; o también, reciente-
mente, más concretamente en 2014, un joven negro agredido e
inmovilizado en un poste de la luz de la calle con una cadena de
candado de bicicleta. Podríamos pasar horas con ejemplos de
disciplinamiento y control por el miedo, pero lo que nos inte-
resa en este momento es saber que es cíclico. Y que en los infor-
mes de los casos que se hacen visibles, rara vez se encuentra el
elemento lúdico: la burla o la provocación.
La novedad de la recreación para provocar a los modera-
dores señala un fin más allá de lo disciplinario y también le
imprime al acto un carácter personal de los agentes implicados
en esa operación policial. Aunque pensemos en personalidades
y puntualidades podemos entender, en la misma dirección de
las enseñanzas del Racismo Estructural de Silvio Almeida, que
las manifestaciones supuestamente individuales pueden ser par-
tes de un elemento sistémico del funcionamiento del racismo.
Aquí también hay que destacar que, aunque el bolsonarismo
carece de una base ideológica definida, el populismo es el más
firme de sus fundamentos –según se destaca entre los expertos–,
lo que le permite al presidente grajearse la militancia por exal-
tación del patriotismo, las buenas costumbres, los valores fami-
liares, la ley y el orden y la caza de la izquierda. Por otra parte,
aunque parece que existe un consenso técnico de que no es un
gobierno fascista, dentro de la miscelánea que lo caracteriza, el
gobierno de Bolsonaro sí ejerce ciertas prácticas características
del fascismo como el culto al uso de la fuerza, la persecución de
la oposición y el control estatal de la sociedad.
Preferimos estar de acuerdo con la idea de un neofascismo,
una forma de reinvención del fascismo durante la democracia.
Leandro Pereira Gonçalves, profesor de Historia Americana
Contemporánea y del Brasil Republicano en el Departamento
90 Polifonías para la equidad racial ESP

de Historia de la Universidad Federal de Juiz de Fora (UFJF) en


un artículo publicado en UOL atestigua lo siguiente (Tsavkko,
R., 2020):

Después de la Segunda Guerra Mundial, el fascismo se


reinventó desde una perspectiva democrática. Los inte-
gralistas que estaban atrapados en las redes sociales, en
sus páginas web, en sus blogs, en sus discusiones por
correo electrónico, llevan dos años en la calle. Se sien-
ten seguros sabiendo que el entorno político brasileño no
creará un juicio tan radical en relación a estos actos y que,
por muy radicales que sean, (serán) relativizados, (serán)
vistos como algo normal, como algo rutinario debido a
este entorno.

El entorno al que se refiere Gonçalves aquí es la política bol-


sonarista que promueve la confianza para transgredir. Aunque
la violencia policial no es nueva en la favela, nunca se había
visto a una institución faltar al respeto frontalmente al Tribunal
Supremo. Tampoco hemos visto actos públicos y frecuentes de
violencia privada como los integralistas que cometieron actos
de terrorismo en la sede de Porta dos Fundos, una compañía
de teatro virtual que promueve debates políticos y críticos a tra-
vés de su arte.
Como se ha dicho anteriormente, la función recreativa
representada en un negro muerto sentado con la mano sobre
la boca es la prueba de la lógica de guerra en esa operación
y, por lo tanto, una operación ideológica. Aunque esta gue-
rra también tiene como elemento motivador la insensata polí-
tica de la supuesta guerra contra las drogas, ésta no es más que
la especialización del genocidio negro que tiene como origen
la propia esclavización negra. A consecuencia del fin de la dic-
tadura militar se creó un enemigo en el imaginario social, que
ESP Letalidad policial en la pandemia 91

fue la justificación para la entrada de material militar en el país.


El enemigo ideal era la población negra porque la demoniza-
ción y la criminalización facilitarían el proceso social de autori-
zación de estas muertes como muertes socialmente aceptables.
Aunque los movimientos negros denuncian la guerra civil
que victimiza a los jóvenes negros en masa desde 1948, su
motor y marco es la propia ideología de funcionamiento de
la institución militar, y esto fue evidente cuando en 2013 fil-
tró la orden de la policía de Campinas (SP) para dar prioridad
a acercarse a los hombres negros. Pero nunca hubo un men-
saje público intencionado para posicionarse como selectivos.
Esta es la segunda novedad de la operación policial que une la
pandemia y el bolsonarismo. La imagen del negro es un men-
saje. Como afirma el profesor Adilson José Moreira en su obra
Racismo recreativo: “el humor racista es un tipo de discurso de
odio, es un tipo de mensaje que comunica desprecio, que comu-
nica condescendencia por las minorías raciales”.
Conviene subrayar que no es el objetivo de este texto, pero
imagino que el lector pueda pensar que en ningún momento se
verbalizó el contenido racial de la operación policial. Podríamos
hablar aquí de discriminación indirecta, al ser esa favela un qui-
lombo con mayoría de población negra. Pero también es intere-
sante provocar el pensamiento de que, si fuera un cuerpo blanco,
¿se sentiría el policía autorizado a violarlo? O, si se tratara de
un organismo blanco, ¿el mensaje de provocación e intimida-
ción cumpliría su función, ya que la mayoría de la población es
negra? Supongo que no. Y al recorrer la historia de la afirmación
de los derechos de Jacarezinho, comprenderemos rápidamente
la cuestión racial como un factor de desafío para la autoridad
institucional policial.
Para retomar el pensamiento es necesario señalar tres ele-
mentos esenciales en este punto de la reflexión: la crisis institu-
cional instalada por el Presidente de la República en promoción
92 Polifonías para la equidad racial ESP

del desprestigio institucional del Supremo Tribunal Federal, la


influencia del discurso político en la letalidad policial, en el que
se puede aumentar, mantener o reducir la embestida violenta
con base en la autoridad ideológica y la venganza como princi-
pal motivación de las operaciones policiales actuales.
El primer punto denota el intento del actual presidente de
la república de amañar el Tribunal Supremo para privatizar
el interés público en función de los intereses personales de su
gobierno. Como ya lo hemos comentado, su formato de con-
ducta política concentra la influencia y la manipulación ideoló-
gica de las masas a través del carisma que nos trae el personaje
del héroe, que en su batalla por el “pueblo” necesita elegir un
enemigo a la altura del desafío y la transformación que se le pro-
mete. Así, Bolsonaro elige al STF como representante de la élite,
el principal obstáculo para el cambio e induce a sus seguidores a
creer que la caída del Tribunal Supremo es necesaria.
El segundo punto muestra cómo el discurso del odio incita
a la violencia. Es un fenómeno sociológico construido por el
carisma bolsonarista en el que sus seguidores también quieren
ser héroes dentro de los desafíos que los cambios pueden ofre-
cer. Ejemplo de eso es el aumento de la violencia privada con
fin patriótico, como fue el caso del profesor de capoeira Moa do
Katende en Bahía asesinado con 12 puñaladas después de criti-
car a Bolsonaro en un bar (Queroiga, L., 2018). Río de Janeiro
es el mayor estado con discurso de odio. Según el historiador
Sidney Chalhoub, fue por orden del primer gobernante de la
República que en Río se estableció la selectividad policial de
los negros a través del término “actitud sospechosa”. En este
mismo estado fue asesinada Marielle Franco, en el punto álgido
del discurso del odio (Matsura, S., 2016).
Hay que mencionar, además, que la actividad policial tam-
bién produjo un aumento de los periodos de incitación al odio.
En 2019, la policía mató a 6.357 personas en el país, una de las
ESP Letalidad policial en la pandemia 93

tasas de asesinatos policiales más altas del mundo y de las cua-


les casi el 80% de las víctimas eran negras. El dato más actuali-
zado muestra que los asesinatos por parte de agentes crecieron
aún más (6%) en el primer semestre de 2020. El investigador
de Human Rights Watch César Muñoz dijo a principios de
2021, al comentar el informe de la institución sobre violacio-
nes de derechos, que la violencia policial es un problema cró-
nico en Brasil, que no comenzó con Bolsonaro, sino que se ha
agravado bajo su gobierno (Redação RBA, 2021). Como vere-
mos en el siguiente gráfico, durante la pandemia de 2020, las
operaciones policiales motivadas por la venganza aumentaron
en relación a las operaciones de 2019.
El Grupo de Estudos Novos Ilegalismos de la Universidade
Federal Fluminense, al analizar el impacto de la decisión limi-
nar en la ADPF 635, que restringe las operaciones policiales en
las favelas a raras excepciones, comprobó en su investigación
que la mayor motivación de las operaciones policiales en este
período es el elemento de venganza.
Observando el gráfico, también podemos ver que hubo un
descenso en 2019 en relación a los años anteriores, mantenién-
dose las operaciones motivadas por fuga o persecución en la
media y las operaciones para reprimir el tráfico de armas y dro-
gas cerca de la media. Es decir, las operaciones se centraron en
la derecha popular “deteniendo a los bandidos”, con el fin de
asegurar el prestigio personal o institucional, que proporciona
la gestión del marketing institucional que permite la movilidad
social. El detonante del interés es cómo se produce el ascenso
militar y político en Río de Janeiro.
Jair Bolsonaro, con su carisma de héroe apenas 15 días des-
pués de su discurso de investidura sobre su política de arma-
mento, sugirió un acuerdo con la Policía Militar y la Policía Civil,
lo que podemos entender como una provocación de aproxima-
ción basada en la lógica clientelar (Gobierno de Brasil, 2019).
94 Polifonías para la equidad racial ESP

Fuente: GENI-UFF

Para complacer al héroe, el alumno debe seguir sus pasos, el


que transgrede esta norma es indigno. Fue la certeza que dio
Bolsonaro a partir de la exoneración de todos los ministros
que divergieron de él. El heredero-pupilo debe seguir todas las
prácticas del maestro y demostrar mediante el reconocimiento
público que es capaz de permanecer en el cargo.
El político extremista Daniel Silveira es un buen ejemplo de
estos tres puntos. Silveira está ahora en prisión por haber ame-
nazado dos veces a los ministros del Tribunal Supremo. Llegó
a ser diputado (movilidad social) tras ganar carisma al rom-
per la placa de Marielle Franco, ratificando el odio y la violen-
cia como capital político. Silveira aún posee el ethos masculino,
viril y descuidado del perfil de masculinidad necesario para el
mantenimiento de este violento lugar social.
De esta manera, la masacre de Jacarezinho fue una respuesta
institucional en represalia al STF de los policías que se adhi-
rieron al personaje del héroe, siguiendo los pasos del maestro,
buscando ventajas personales e institucionales. La respuesta
ESP Letalidad policial en la pandemia 95

es que “no nos sometemos al STF”, tenemos nuestros propios


protocolos, creyendo en el ambiente político de la impunidad.
La prueba es que la misma policía que mata es la que investiga.
En este caso, para asegurar el olvido y la “relativización de la
pena”, el procedimiento de investigación fue declarado secreto.

El jacaré negro. ¿Por qué Jacarezinho?


Antes conocido como Morro do Padre Paulo y Morro da Titica,
en 1940 un quilombo urbano fue formado por esclavos que
huían de las granjas cercanas. A causa del río Jacaré, se gana el
nombre de Jacarezinho. “Ya había negros allí antes de los años
20, fugitivos de Serra do Mateus, allí en Boca do Mato. Cuando
el sacerdote Alexandre Língua fue a construir el santuario de
Nossa Senhora da Conceição en Engenho Novo, años después,
se encontraron muchos huesos de esclavos”, dice el investiga-
dor y líder de la comunidad local Rumba Gabriel.
Rumba se convirtió en líder de la comunidad en la década de
1980 y relata el proceso de organización política de la favela a
partir de la articulación de la figura política de Tia Andreza, para
quien, según él: “su principal preocupación era alfabetizar. Cogió
cajas de madera, del mercado, y las puso en la parte superior
de la comunidad. Fundó la primera escuela al aire libre, antes
de la ley del Mobral (Movimiento Brasileño de Alfabetización).
También fundó la primera escuela de samba en Jacaré”.
Durante la dictadura militar la favela ganó organización polí-
tica al estar vinculada a grupos de izquierda y organizaciones
políticas clandestinas que operaban en la zona, como el MR-8.
La ventaja de la topografía se ofrecía al control comunitario
mediante la vigilancia desde los puntos más altos. Fue en este
contexto en el que los líderes de la comunidad ascendieron a la
política partidista, teniendo ya en el proceso de redemocratiza-
ción los directorios de los partidos PDT y PT que abandonaron
la favela tras ascender al gobierno.
96 Polifonías para la equidad racial ESP

Según Rumba, el abandono del partido, también llamado


exploración política, empeoró el escenario de los derechos esen-
ciales: “Como si dijeran: basta de peleas, estamos en el poder.
Fue un error clásico, un abandono, nos quedamos huérfanos
de él. La educación, que ya no era buena, fue desechada, al
igual que la sanidad. Jacarezinho se convirtió en un territorio
de analfabetos didácticos y políticos”. Después, las industrias
que permitían la circulación económica en la Favela cerraron y
el tráfico de drogas y los conflictos policiales tomaron el relevo
en los años 70 y 80. Al principio, el tráfico de drogas se conside-
raba heroico y proporcionaba ayuda a la favela. La geografía fue
decisiva para la protección del territorio porque los estrechos
callejones no permitían el acceso de los vehículos policiales.
Rumba es el autor del proyecto “Condominio Jacaré”, que
instaló cámaras de vigilancia en la favela para controlar las acti-
vidades de la policía y los narcotraficantes, un modelo de agen-
cia y autogestión como alternativa para controlar la violencia
generada por la supuesta guerra contra las drogas. El modelo
de insurgencia desafió durante años a la autoridad guberna-
mental y la tradición, que aquí debe entenderse como el conoci-
miento transmitido de persona a persona a través de la oralidad
a lo largo de los años. Este modelo formó el consenso de que el
territorio era insumiso. El ethos policial heroico que violaba la
protección territorial sería recompensado con ventajas perso-
nales e institucionales, como el bono del “Faroeste” que podía
aumentar hasta el 150% del salario del policía que cumplía la
función de matar (Da Escóssia, F., 1998). La primera tuvo su
fin en 1998 y la segunda, como demuestro en mi tesis de maes-
tría, se mantiene hasta hoy.
La mayoría de la población investida en puestos policiales es
negra, nordestinos o periféricos. En la perspectiva sociológica,
esto significa que estos individuos tienen una alta posibilidad
de nacer en desventaja social, atravesada por las desigualdades.
ESP Letalidad policial en la pandemia 97

La carrera policial observada en la perspectiva de la esclavitud


era la proximidad del poder concentrado en el Señor. Es decir,
para que el esclavizado accediera a la condición de ciudadano,
aunque relativizada, estaba condicionada al ejercicio de un poder
mitigado derivado de su Señor frente a los demás esclavizados.
Después de años, la lógica no ha cambiado: los negros esclavi-
zados de ayer siguen hoy nuevas formas de esclavitud. La carrera
policial, con unos requisitos educativos compatibles con el bajo
índice de población negra, con un salario fijo (que puede aumen-
tar por valentía, armonizado con el ethos distorsionado de la
masculinidad de los hombres negros), y el acceso a una poten-
cia de fuego que permite la movilidad social, se ha convertido en
el camino hacia la ciudadanía relativa para los hombres negros.
Por el lado positivo, Werber muestra en Economía y Sociedad
cómo la disciplina, que es la base de la meritocracia, fue derro-
cando el régimen nobiliario que concentraba la exclusividad
de ser oficial. En este sentido, la meritocracia para los policías
negros en la corporación militar funcionó. En Río de Janeiro,
por ejemplo, tenemos a personajes como Nazareth Cerqueira,
Jorge da Silva, Ubiratan Angelo e Ibis Pereira como funciona-
rios que debatieron el racismo en la corporación.
En una perspectiva negativa también significó la profesio-
nalización del proceso de genocidio de los hombres negros
reclutados para la muerte, o de otro hombre negro. Los datos
del Monitor de Violencia del Centro de Violencia de la USP
(Universidad de São Paulo) muestran que en 2020 en Brasil
el 78% de los muertos por la policía eran negros. La cifra se
refiere a las víctimas de la policía militar y civil y significa que
casi cuatro de cada cinco personas asesinadas por la policía en
2020 eran negras o morenas. Los datos del Anuario 2020 del
Foro Brasileño de Seguridad Pública (FBSP) muestran que el
65,1% de los policías muertos en Brasil en 2019, fuera de ser-
vicio o en servicio, son negros.
98 Polifonías para la equidad racial ESP

Otro elemento a destacar en este proceso de movilidad social


es el desplazamiento informal, poco ético e ilícito, basado en la
corrupción. Cuando Kant de Lima enseña las dificultades de
la sociedad policial para respetar la norma, lo relaciona con el
período de la Corona, en el que el soldado (hoy periférico) que
trabajaba en condiciones degradantes mejoraba su situación a
medida que se conquistaba la gracia de su superior. Es de esta
línea corruptora de la que hereda la corporación militar. De este
modo, la desviación es inherente a la práctica policial.
Para el policía negro la desviación es el mantenimiento de
su distancia de la desigualdad original. Con la herencia corrup-
tora y el estímulo a la muerte como “cosa de policías” (Ramos,
2018), cuanto más desviado y letal sea el policía, mayor será la
posibilidad de ascender en la corporación. En Río de Janeiro, la
familia Bolsonaro tiende a honrar a los policías con altos niveles
de resistencia. Para obtener este prestigio, son asignados por la
corporación al mando de nuevos batallones o a puestos vacan-
tes. Por regla general, la corporación cambia de mando o abre
una nueva unidad cuando pretende dar una respuesta social al
alto índice de criminalidad. Para esta función, es idóneo quien
puede controlar el prestigio institucional a través de la muerte
(Alves, 2020).
La línea cíclica es la siguiente: los medios de comunicación
para vender historias denuncian una zona de crimen. El go-
bernador, para mantener su prestigio político, plantea exigen-
cias a la Comandancia General. El comandante general, para
mantener los privilegios de su cargo, plantea exigencias a los
comandantes de zona. El comandante de zona exige a sus poli-
cías subordinados. De este modo, la gestión de la imagen es
el mantenimiento del ascenso a posiciones políticas estables.
La métrica de la gestión es la muerte, a veces negociada, pues
la única forma de “controlar” la delincuencia son los acuer-
dos de los sujetos implicados en la Seguridad Pública y la
ESP Letalidad policial en la pandemia 99

delincuencia. Un ejemplo es la reducción de los delitos en São


Paulo atribuida al PCC (Guimarães, T., 2016).
La tradición también enseña que no hay que desafiar a
quienes tienen el poder de definir tu vida o tu muerte. En las
regiones periféricas, un niño que nunca ha experimentado un
acercamiento policial conocerá exactamente las posibilida-
des de comportamiento para tratar de evitar ser perjudicado.
En las reuniones de las esquinas, los partidos de fútbol, las
reuniones familiares, etc., se transmiten las experiencias de
abuso policial. El exceso de cordialidad, el humor, la seriedad
e incluso el falso acuerdo con el planteamiento son formas de
hablar con la policía. Deben entenderse como “formas de salir
ileso de un momento difícil”. Este ejemplo también retrata el
comportamiento institucional. Lo que nos lleva a responder
por qué Jacarezinho fue un escenario de masacre. La histo-
ria de ese territorio desafió a la “autoridad” policial durante
años. El control de ese territorio podría generar movilidad sin
medidas. Pocas horas después de la masacre, el discurso del
gobernador y del Ministerio Público de Río de Janeiro en tono
autorizante y, por lo tanto, justificativo, demuestra la demo-
nización y criminalización de los habitantes de ese territorio.
El único policía muerto en la operación fue enterrado con
homenajes de héroe.

El lugar sociológico del policía


La realidad es que el policía que quiere matar no se somete a
nadie. El sistema garantiza varias modalidades de ocultación de
la violencia. La experiencia de Jacarézinho, la tradición y tam-
bién la historia de los intentos de intervención en la violencia de
los superiores negros racializados en la corporación enseñan y
demuestran que ¡el policía soldado manda en las calles! Como
ya hemos demostrado, viene del mismo lugar que su enemigo
imaginario, el espejo denuncia que su enemigo es él desnudo de
100 Polifonías para la equidad racial ESP

su uniforme. Cómo detener este tema es el verdadero reto de la


violencia policial.
Aunque es obvio, hay buenos policías en el cuerpo que están
en peligro por la lógica genocida. Cuando tengo que discutir
con un agente de policía intento no desafiar su jerarquía. Trato
de despertar los desencadenantes mentales de la alteridad y
durante mucho tiempo lo conseguí como joven abogado negro
periférico etiquetado por ellos como “defensor de matones”.
De esa manera, suelo preguntar cuántos amigos ha perdido en
la corporación; la memoria desnuda ese cuerpo endurecido por
la guerrilla diaria. Cuando escucho “tienes razón”, entonces
equiparo nuestros sentimientos hablando de los amigos y fami-
liares que también perdí en esta guerra sin sentido. Como lugar
de ascenso, hay muchos policías que perderán a sus padres y
hermanos que también eran policías. La venganza como moti-
vación principal de las operaciones está íntimamente ligada al
campo afectivo de estos hombres negros del ethos masculino
que nunca irán a terapia. Vivirán con y desde sus traumas.
Ayer llamé a un amigo que también es abogado negro y peri-
férico en São Paulo, nos conocimos después de abogar jun-
tos en un caso de prisión racista de alto perfil. Después de oír
hablar de mi padre y mi sobrino, mi amigo me contó la histo-
ria de su padre. Es un negro del barrio de Capão Redondo, una
favela local conocida por su alto índice de criminalidad, pero
también por la riqueza comunitaria y cultural que se canta en
las letras de los eternos Racionais Mcs. Su padre fue expulsado
de la PMSP y no quiso revelar el motivo. Ahora acumulaba tres
trabajos para mantener el lugar de proveedor que el machismo
le había reservado.
Como abogado, mi amigo investigó su expediente y descu-
brió que la expulsión se produjo después de que el amigo de su
padre se disparara en la cabeza con la pistola de éste. Mi angus-
tiado amigo fue a confirmar con su padre la versión, sin salida,
ESP Letalidad policial en la pandemia 101

el padre le dijo que nunca quiso ser policía, que no tenía opción.
Era la única salida para no dejarse arrastrar por la realidad de
los barrios bajos. Cuando se llevó a cabo la investigación social,
el investigador de la policía estuvo a punto de rechazarlo por el
lugar donde vivía, juzgando que no era apto para ser policía. Su
padre consiguió convencer al investigador diciéndole que nece-
sitaba una oportunidad para salir de ese lugar. Aunque consiguió
entrar en la corporación y cambiar su vida, no pudo abando-
nar a sus amigos que no lograron cambiar sus vidas. El día del
suicidio reveló que consumía drogas con sus amigos para esca-
par, aunque fuera temporalmente, de esa realidad. Esta historia
alerta sobre las exigencias de la ciudadanía y la humanización del
hombre negro que lleva un uniforme. Es habitual escuchar de
un agente de policía “Los derechos humanos son solo para los
delincuentes”, “¿Y qué pasa con los derechos humanos de los
policías que están en la calle?” No se sienten contemplados con
las políticas de derechos humanos articuladas por la izquierda.
Esta invisibilidad genera incluso odio y confusión política.
La izquierda construyó una narrativa del policía como ene-
migo número uno de las minorías políticas, mientras que des-
cuidó este tema como parte de las propias minorías. Tanto la
derecha como la izquierda se han beneficiado de la gestión polí-
tica del miedo. Recuerdo aquí el vaciado de los núcleos del par-
tido en Jacaré después de que el PDT y el PT ascendieran al
gobierno. La agenda racial, la de las favelas y la de la policía son
solo herramientas de congraciación de la movilidad política de
los partidos. Fue en PDT y PT donde la mayoría de los negros
entraron. Sin embargo, representatividad no significa necesa-
riamente impacto.
En la década de 1980 había pocas figuras negras con auto-
nomía partidaria para promover realmente políticas y debates
sobre la población negra brasileña como Abdias do Nascimento.
Algunos años después se pudo ver una mayor incidencia y
102 Polifonías para la equidad racial ESP

avances en el PT, como señala Thiago Amparo. Pero los avan-


ces significaron retrocesos en otros campos, especialmente en el
de la seguridad pública con la represión del gobierno de Dilma.
Es comprensible el distanciamiento de los Movimientos Negros
del policía negro, leído como traidor en la figura del capitán de
la selva, o en la perspectiva panafricanista de Marcus Garvei, en
el que el negro que no volverá a África por la afectación irreme-
diable de su conciencia. Los personajes que mencioné que eran
oficiales negros en el PMRJ interactuaban con los movimientos,
incluso formaban parte de ellos, pero vimos poca articulación
de agendas sobre derechos esenciales.
Cabe señalar que, en 2019, participé con otros juristas negros
en un encuentro en la Defensoría Pública de Río de Janeiro
para pensar en soluciones a las violaciones policiales, especial-
mente las relacionadas con la falsificación de delitos, los aborda-
jes injustificados y los actos de resistencia. Tras horas de debate,
el consenso fue que el policía es soberano en las calles y que las
políticas de derechos humanos no se aplican. La deliberación
de la mesa fue acoger la demanda de los policías a través de los
Movimientos Negros allí representados como método de reduc-
ción de daños, creyendo que el policía alcanzaría el sentido de
pertenencia como grupo racial y podría reducir las prácticas ile-
gales al alcanzar la conciencia y tener sus desigualdades arquea-
das como puntos de atención de la lucha racial. Lo que, por ser
un tabú, nadie ha hecho. Y seguimos, al menos aquí, sin este
debate. Mientras recogemos las muertes de hombres negros sin
uniforme y de hombres negros con uniforme.

Respondiendo a las preguntas

1. ¿Cómo podemos utilizar la movilización legal para oponernos


al avance de las políticas discriminatorias propuestas por los
gobiernos populistas y neofascistas en las Américas?
ESP Letalidad policial en la pandemia 103

La construcción político-jurídica de la Ley Antidiscriminatoria


ya nos permite hablar de responsabilidad por el racismo insti-
tucional. La política brasileña está personificada. Aunque pode-
mos hablar de la responsabilidad de Brasil y sus estados, creo
que la responsabilidad del representante de la ideología pro-
mueve los efectos políticos de la reducción de daños. El ego
que mueve a estos individuos no genera la convicción suficiente
para apoyar los daños políticos, financieros y de restricción de
la libertad de una idea. Aunque se trate de una idea rentable, la
motivación del riesgo no es el dinero, sino la sensación de impu-
nidad. Si preguntamos a un político en Brasil si estaría dispuesto
a ser encarcelado por un dinero que luego podría ser retirado de
su cuenta, la respuesta difícilmente sería positiva. En un sentido
amplio, la tradición que hace correr el conocimiento del grupo,
y por lo tanto lo discierne, podría contener los pensamientos
discriminatorios de la élite que suele llegar al poder.

2. ¿Cuáles son algunos de los nuevos retos que la pandemia


de Covid-19 ha creado para los movimientos de justicia racial
en las Américas?
La pandemia creó el reto de regular los territorios vulnerables.
El tiempo de inactividad de los agentes de policía con la reduc-
ción de la vigilancia ostensible y, paralelamente, la oportunidad
de asistir y levantarse de los actos de valentía, en un período
que las organizaciones comunitarias y de derechos humanos
todavía se están reorganizando y reabriendo durante la pan-
demia, ese es quizás el principal desafío contra la letalidad de
este período.

3. ¿Cómo puede el movimiento por la justicia racial responder


a estos desafíos?
A corto plazo, hay que ofrecer medidas que ayuden a la reor-
ganización de la comunidad en modelos de autogestión de la
104 Polifonías para la equidad racial ESP

seguridad, como ocurrió antes de la pandemia en la favela de


Jacaré. De esta manera se lograría estabilizar y reducir la sus-
pensión de los derechos fundamentales. A largo plazo, hay
que ofrecer una vía para que los Movimientos Negros aco-
jan ideológicamente a los policías en la promoción de sus
agendas, creando un sentido de pertenencia y autonomía de
sus realidades.

Bibliografía:
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ESP Letalidad policial en la pandemia 105

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agravar a violência policial e contra as mulheres” En: https://www.
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bui-para-agravar-a-violencia-policial-e-contra-as-mulheres/
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Especialistas debatem as bases do bolsonarismo”. En: https://
entendendobolsonaro.blogosfera.uol.com.br/2020/07/25/populis-
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WEBER, Max (2009). Economia e sociedade Vol 2. Brasília, Brasil:
Editora da UNB.
ENGLISH

Police Lethality In Pandemic


Bruno Alves

Bruno Alves, lawyer specialized in Criminal Law and Anti-


discrimination. Master’s degree in Sociology and Law from
Fluminense Federal University. Raised in the Salgueiro favela
(where the boy João Pedro, who wanted to be a lawyer, was
murdered by the police), son of a drug dealer who, after being
released from prison on parole and remaining on the run, “pre-
ferred to die” rather than show up at a hospital, where he could
be arrested, and take care of a disease he acquired in prison.
Uncle of an 18-year-old nephew, drug dealer, killed by the police
without offering resistance and unarmed. It is from this personal
starting point, accumulated with experiences in cases of “mis-
carriage of justice”, police violence against drug traffickers in
certain communities of Rio de Janeiro, and in military criminal
investigations in defense of military men aggrieved by the police,
in which I have had the opportunity to practice law, that I would
like to speak about the thorny saga of violence reduction.
Given the content presented for reflection at the Platform
for Racial Equity in the Americas (PERA), I would like to reflect
on the complex task of controlling or reducing police violence.
The sociological setting for our conversation is the favela of
Jacarezinho, located in Rio de Janeiro, the urban qQuilombo
that recently experienced the second largest massacre in the
108 Polifonías para la equidad racial ENG

city’s history, despite a prohibitive judicial decision by the coun-


try’s highest court. I want to point out here the relationship of
political violence with police violence during the pandemic, as
well as the influence of inequality along the lines of structu-
ral racism, as structuring police subjectivity. At the end, I want
to question the relationship of the Black Movements in Brazil
with the judicial police issue of life and death in the fFavela. I
am afraid I do not have an answer to PERA’s objective ques-
tions, but I would still like to present this content as a starting
point for an answer.
For starters, on May 6, 2021, Iin Rio de Janeiro, a city used
as an experimental scenario of constitutional violations, such
as the Military Intervention and the hygienic cleaning of Mega
Events such as the World Cup and the Olympic Games, a
police operation on May 6, 2021 left 28 dead, the second most
lethal, only behind the Queimados Massacre (2005), with 29
dead, in the Baixada Fluminense. This is the place where I
have lived since I was 11 years old, after leaving Complexo do
Salgueiro. The Baixada is known as a territory without rights,
subjugated by extermination groups composed of sState
agents. In the Sstate, 411 massacres occurred in 10 years with
three or more victims between 2009 and 2018, leaving 1,391
people dead. Despite that, there was never a condemnation
for Brazil, nor a State or a person for Genocide. The only con-
viction for genocide in the country was that of a black man,
Pedro Emiliano1 for violations against the population of the
Ianomami Indigenous Land.
On the crime of Genocide,. lLaw n. 2.889/56, in force before
the Constitution, was approved by the 1988 Constitution,
and expressly addresses the crime of genocide, providing for

1 https://jovempan.com.br/programas/jornal-da-manha/pf-prende-em-roraima-unico-bra-
sileiro-condenado-por- genocidio.html
ENG Police Lethality In Pandemic 109

penalties and conducts related to the “intent to destroy, in whole


or in part, a national, ethnic, racial or religious group” (Art. 1
of Law n. 2889/56). In addition, since 1984, the Brazilian Penal
Code includes the crime of genocide committed by a Brazilian
citizen or domiciled in Brazil, in verbis:

Article 7–They are subject to Brazilian law, even if com-


mitted abroad:
I–crimes
d) of genocide, when the perpetrator is Brazilian or domi-
ciled in Brazil; (Included by Law No. 7,209, of 1984).

Despite the legal provision and more than 400 massacres, there
have been no convictions to date. International Criminal Court
experts say that even with several representations it would be
very difficult to hold Bolsonaro accountable because for them
the acts must be “committed in the context of a widespread or
systematic attack against the civilian population.» The repre-
sentations point to the context of conduct during the pande-
mic. Although the activity of Public Security is a competence of
the State, and here we would speak of representations against
governors, in the context of the debate on political violence, it
would be possible to hold Bolsonaro responsible for:

1. Promotion of the destruction of specific groups through


discursive influence, where discourse is the link that increa-
ses or maintains violence against these specific groups?
2. Omission before the destruction of specific groups?

The relationship between the two biggest massacres in the


state, Queimados and Jacarezinho, is that both of them are of
territories without rights;. tThe well-known State of Exception:
the permanent suspension of fundamental rights. As we will
110 Polifonías para la equidad racial ENG

see, Jacarezinho only possessed the vulnerabilities inherent to


Brazilian favelas and the community surveillance systems of
violence, which to some extent allowed for the restoration of
fundamental rights as opposed to police violence.
However, with the pandemic, the weakening of the fFavela,
of the Human Rights Institutions, of the very few people willing
to assume the condition of the security guard and the considera-
ble increase of police operations in the period of the pandemic
reestablished the suspension of fundamental rights, authorizing
tragedies such as the one experienced by this particular fFavela.
It was not by chance the mobilization and prohibition of the
Supreme Federal Court in the Argument of Noncompliance
with Fundamental Precept n°635 on police operations in
Favelas during the pandemic period of COVID-19. Somehow,
the availability of police officers, perhaps due to the low num-
ber of people on the streets, allowed an increase in police vio-
lence, in a clear and unprecedented violation of the decision of
the highest court in the country. According to the neighbors,
before the massacre, the harassment and intimidation started
wWith the image of a black man sitting on a chair with his
hand over his mouth, according to the neighbors, left by the
police officers in a as a provocation and recreational manner
intimidation, act which was lately consolidated with the ille-
gal seizure of the cell phones of some of the neighbors, in this
way we begin to talk about the institutional capacity and will
to control lethality in police practice.

Who’s in charge here, STF2?


Public exposure as a form of intimidation, history teaches us
throughin its repetitives cycles, is the oldest tactic of control
through fear in the process of disciplining groups. Examples

2 STF, Supremo Tribunal Federal [Supreme Federal Court].


ENG Police Lethality In Pandemic 111

are the bonfires in which women considered witches were bur-


ned in early modern times to discourage the practice of witch-
craft;. tThe flogging of enslaved human beings in the period
of legal slavery in Brazil to discourage escape;. oOr also, more
recently, more specifically in 2014, a young black man was
assaulted and pinned to a street light pole by with a bicycle
lock chain. We could spend hours with examples of discipli-
ning and control by fear; but what interests us at this point is
to know that it is cyclical and that in the reports of cases that
become visible, we rarely find the playful element: mockery
or provocation.
The fact of the recreation to provoke the moderators
pinpoints to a purpose beyond the disciplinary and also depicts
the act with to a more personal character fromof the agents
involved in this police operation. Even if we think of personali-
ties and punctualities we can, in the direction of the teachings of
Silvio Almeida’s Structural Racism, understand that the suppo-
sedly individual manifestations can be parts of a systemic ele-
ment of the nature of the functioning of racism.
Here it should also be noted that, although there is no defi-
nite ideological basis of bolsonarism, populism is the strongest
among them, state the experts, which allows the president the
militancy for patriotism, good manners, family values, law and
order, and the hunt for left-wing politics. Fascism, on the other
hand, is closest to the technical consensus that it this is not a fas-
cist government, but within this miscellany, Bolsonaro’s gover-
nment it exercises certain practices of fascism such as the cult
of the use of force, persecution of the opposition and state con-
trol of society.
Despite the lack of technical consensus, we prefer to
agree with the idea of neo-fascism, a reinvention of fascism
during democracy. Leandro Pereira Gonçalves, professor of
Contemporary American History and Republican Brazil in the
112 Polifonías para la equidad racial ENG

Department of History at the Federal University of Juiz de


Fora (UFJF, for its acronym in Portuguese) in an article pub-
lished in UOL3 states the following:

“After World War II, fascism reinvented itself from a demo-


cratic perspective. The integralists who were trapped in the
social networks, in their websites, in their blogs, in their
email discussions, have been on the streets for two years
now. They feel safe knowing that the Brazilian political
environment will not create such a radical judgment con-
cerning these acts and that, as radical as they are, (they will
be) relativized, (they will be) seen as something normal, as
something routinary because of this environment.”

The environment to which he refers is the bolsonarist policy


that promotes confidence to transgress. Although police vio-
lence is not new in the fFavelas, we have never seen an institu-
tion disrespect the Supreme Court head-on. Nor have we seen
public and frequent acts of private violence such as the inte-
gralists who committed acts of terrorism at the headquarters
of Porta dos Fundos, a virtual theater company that promotes
political and critical debates through its art.
As previously stated, the recreational function represented
in a dead black man sitting with his hand over his mouth is the
proof of the logic of war in that operation, and therefore an
ideological operation. Although this war also has as another
motivating element: the senseless policy of the supposed war on
drugs. This is nothing more than the specialization of the black
genocide that has as its origin the black enslavement itself. As a
consequence of the end of the military dictatorship, an enemy

3 https://entendendobolsonaro.blogosfera.uol.com.br/2020/07/25/
populismo-ou-fascismo- especialistas-debatem-as-bases-do-bolsonarismo/
ENG Police Lethality In Pandemic 113

was created in the social imaginary, which was the justification


for the entry of military material into the country. The ideal
enemy was the black population because demonization and cri-
minalization would facilitate the social process of authorization
of these deaths as socially acceptable deaths.
Although black movements denounce that the civil war vic-
timizes young black men en masse since 1948, it is the very
ideology of operation of the military institution and this was
evident when in 2013 was leaked the order of the police of
Campinas (SP4) to prioritize approaching black men5. But
there was never an intentional public message to position
themselves as selective. This is the second novelty of the police
operation that links pandemic and bolsonarism. The image of
the black man is a message. As Professor Adilson José Moreira
states in his work, Recreational Racism, the joke states: “racist
humor is a type of hate speech, it is a type of message that
communicates contempt, that communicates condescension
for racial minorities.”.
It should be emphasized that this is not the purpose of this
text, but I imagine that the reader may think that at no time was
the racial content of the police operation verbalized. We could
speak here of indirect discrimination, as this favela is a qui-
lombo with a majority of black population. But it is also interes-
ting to provoke the thought that, if it were a white body, would
the policeman feel authorized to assault it? Or, if it were a white
body, would the message of provocation and intimidation ful-
fill its function, since the majority of the population is black? I
guess not. And by tracing the history of Jacarezinho’s assertion
of his rights, we will quickly understand the racial question as
a challenging factor for the institutional authority of the police.

4 SP, São Paulo [Sao Paulo State]


5 http://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/noticia/2013/01/pm-de-campinas-deixa-va-
zar-ordem-para-priorizar-abordagens-em-negros.html
114 Polifonías para la equidad racial ENG

To resume, it is necessary to point out three essential ele-


ments at this point of reflection: the institutional crisis installed
by the President of the Republic in promotion of the institu-
tional discredit of the Supreme Federal Court, the influence of
political discourse on police lethality, where the violent onslau-
ght can be increased, maintained or reduced, based on ideolo-
gical authority, and revenge as the main motivation of current
police operations.
The first point denotes the current president of the repu-
blic’s attempt to rig the Supreme Court to privatize the public
interest based on his government’s interests. As we have already
addressed, his format of political behavior concentrates the
influence and ideological manipulation of the masses through
the charisma element that brings us the character of the hero,
whom, in his battle for the “people”, needs to choose an enemy
up to the challenge and promised transformation promised.
Thus, Bolsonaro chooses the STF as the representative of the
elite, the main obstacle to change. He tThus, he induces his
followers to believe that the overthrow of the Supreme Court
is necessary.
The second point shows how the discourse of hate incites
violence, a sociological phenomenon built by the bolsonarist
charisma in which his followers also want to be heroes within
the challenges of the changes they can offer. An example of that
is the increase of private violence, with the a patriotic purpose,
like, as was the case of the capoeira teacher Moa do Katende in
Bahia, murdered with 12 stabbed to death twelve times wou-
nds after criticizing Bolsonaro in a bar.6. Rio de Janeiro is the
the largest state with the largest hate speech. According to his-
torian Sidney Chalhoub it was by order of the first ruler of

6 https://extra.globo.com/casos-de-policia/mestre-de-capoeira-morto-com-12-facadas-apos-
dizer-que- votou-no-pt-em-salvador-23139302.html
ENG Police Lethality In Pandemic 115

Source: GENI/UFF

the Republic that in Rio established in Rio police selectivity of


black people through the term “suspicious attitude”. It was in
this same state that Marielle Franco was murdered, at the hei-
ghest point of the hate speech7.
It should also be mentioned that police activity also produ-
ced an increase in hate speech periods. In 2019, police killed
6,357 people in the country, one of the highest police murder
rates in the world, and almost 80% of the victims were black.
The most up-to-date data shows that killings by officers grew
even more (6%) in the first half of 2020. Human Rights Watch
researcher César Muñoz said in early 2021, commenting on the
institution’s report on rights violations, that police violence is a
chronic problem in Brazil, which did not start with Bolsonaro,
but has worsened under his government8. As we will see in
the following graph, during the 2020 pandemic, police opera-
tions motivated by revenge increased in relation to operations
in 2019.

7 https://outline.com/XpNM8e
8 https://www.redebrasilatual.com.br/cidadania/2021/01/bolsonaro-contribui-
para-agravar-a-violencia- policial-e-contra-as-mulheres/
116 Polifonías para la equidad racial ENG

The Grupo de Estudos Novos Ilegalismos of the Fluminense


Federal University, in analyzing the impact of the limiting deci-
sion in ADPF9 635 that restricts police operations in Favelas to
rare exceptions, found in its research, verifying the first 15 days,
that the main motivation for police operations in this period is
the element of revenge.
Looking at the graph, we can also see that there was a
decrease in 2019 in relation to previous years, with operations
motivated by escape or persecution remaining at the average
and operations to suppress arms and drug trafficking close to
the average. That is, operations focused on the popular right-
-wing “stopping bandits”, in order to ensure personal or institu-
tional prestige, which provides the management of institutional
marketing that enables social mobility. The trigger of interest is
how the military and political rise in Rio de Janeiro occurs.
Jair Bolsonaro, in his hero’s charisma narrative, just 15 days
after his investiture speech on his armament policy10, sugges-
ted an agreement with the Military Police and the Civil Police,
which we can understand as a provocation of approximation
based on clientelistic logic. To please the hero, the student must
follow his steps, the one who transgresses this rule is unworthy.
It was the certainty given by Bolsonaro from the exoneration
of all ministers who diverged from him. The heir-pupil must
follow all the practices of the master and demonstrate through
public recognition that he is capable of remaining in office.
The extremist politician Daniel Silveira is a good example of
these three points. Silveira is now in prison for twice threatening
Supreme Court ministers. He became a deputy (social mobility)

9 ADPF, Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental [Argument of Noncom-


pliance with Fundamental Precept]
10 https://www.redebrasilatual.com.br/cidadania/2021/01/bolsonaro-contribui-para-
agravar-a-violencia- policial-e-contra-as-mulheres/
ENG Police Lethality In Pandemic 117

after gaining charisma by breaking Marielle Franco’s badge, rati-


fying hatred and violence as political capital. Silveira still posses-
ses the masculine, virile and careless ethos of masculinity profile
necessary for the maintenance of this violent social place.
Thus, the Jacarezinho massacre was an institutional response
in retaliation to the STF, from police officers who adhered to the
hero’s character, following in the footsteps of the master, seeking
personal and institutional advantages. The answer is that “we do
not submit to the STF”, we have our own protocols, believing
in the political environment of impunity. The proof is that the
same police that kill are the ones that investigate. In this case, to
ensure oblivion and “relativization of the penalty”, the investi-
gation procedure was declared secret.

The black Jjacaré–Why Jacarezinho?


Formerly known as Morro do Padre Paulo and Morro da Titica,
in 1940 an urban quilombo was formed by slaves fleeing from
nearby farms., Bbecause of the Jacaré River, it earns the name
Jacarezinho. “There were already black people there before the
1920s, fugitives from Serra do Mateus, there in Boca do Mato.
When the priest Alexandre Língua went to build the sanctuary of
Nossa Senhora da Conceição in Engenho Novo, years later, many
bones of slaves were found,” says researcher and local commu-
nity leader Rumba Gabriel.
Rumba became a leader of the community in the 1980s and
describes the process of political organization of the favela from
the articulation of the political figure Tia Andreza, who accor-
ding to him: “Her main concern was literacy. She took wooden
boxes from the market and put them on top of the community.
She founded the first open-air school, before the Mobral (Brazilian
Literacy Movement) law. He also founded the first samba school
in Jacaré».
118 Polifonías para la equidad racial ENG

During the military dictatorship, the favela gained political


organization by being linked to leftist groups and clandestine
political organizations operating in the area, such as the MR-8.
The advantage of the topography offered community control
through surveillance from the highest points. It was in this
context that community leaders ascended to partisan politics,
having already in the re-democratization process, the boards
of the PDT and PT parties that left the favela after ascending
to government.
According to Rumba, the abandonment of the party, also
called political exploration, worsened the scenario of essential
rights: “As if they said: enough of fights, we are in power”. It
was a classic mistake, an abandonment, we were orphaned by
it. Education, which was no longer good, was discarded, as was
health care. Jacarezinho became a territory of didactic and politi-
cal illiterates”. Afterwards, the industries that allowed economic
circulation in the fFavela closed and drug trafficking and police
conflicts took over in the 1970s and 1980s. At first, drug traf-
ficking was considered heroic and provided aid to the favela.
Geography made the protection of the territory sovereign
because the narrow alleys did not allow access to police vehicles.
Rumba is the author of the “Condominio Jacaré” project,
which installed surveillance cameras in the favela to moni-
tor the activities of the police and drug traffickers, a model of
agency and self-management as an alternative to control the
violence generated by the alleged war on drugs. The insurgency
model challenged government authority for years and tradi-
tion, which here should be understood as knowledge transmit-
ted from person to person through orality over the years, which
formed the consensus that the territory was unsubmissive. The
heroic police ethos that violated territorial protection would be
rewarded with personal and institutional advantages, such as
ENG Police Lethality In Pandemic 119

the “Faroeste”11” bonus that could increase up to 150% of the


salary of the policeman who performed the one specific func-
tion: kill. The former came to an end in 1998, and the latter, as
I demonstrate in my master’s thesis, continues to this day.
The majority of the population invested in police posts is
black, northeastern or peripheral. In the sociological perspec-
tive, this means that these individuals have a high possibility of
being born in social disadvantage, crossed by inequalities. The
police career observed in the perspective of slavery was the pro-
ximity of power concentrated in the Lord. That is to say, for the
enslaved to accede to the status of citizen, although relativized,
it was conditioned to the exercise of a mitigated power derived
from his Lord vis-à-vis the other enslaved.
After years, the logic has not changed: the enslaved blacks
of yesterday are today following new forms of slavery. A police
career, with educational requirements compatible with the low
black population rate, a fixed salary (which can be increased
for bravery, harmonized with the distorted ethos of black male
masculinity), and access to firepower that allows social mobility,
has become the path to a new relative citizenship for black men.
On the positive side, Werber shows, in Economy and Society,
how the discipline that is the basis of meritocracy was over-
throwing the nobiliary regime that concentrated the exclusivity
of being an officer. In this sense, meritocracy for black police-
men in the military corporation worked. In Rio de Janeiro, for
example, we can verify characters such as Nazareth Cerqueira,
Jorge da Silva, Ubiratan Angelo and Ibis Pereira as officers who
debated racism in the corporation.

11 https://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff26069830.htm#:~:text=A%20
%22gratifica%C3%A7%C3%
A3o%20faroeste%22%20varia%20de,o%20de%20seu%20superior%20hier%C3%A1rquico
120 Polifonías para la equidad racial ENG

In a negative perspective, it also meant the professionaliza-


tion of the process of genocide of black men recruited for death,
or of another black man. Data from the Violence Monitor of the
Violence Center of USP (University of São Paulo) show that
in 2020 in Brazil 78% of those killed by the police were black.
The figure refers to victims of military and civilian police and
means that almost four out of every five people killed by police
in 2020 were black or brown. Data from the 2020 Yearbook of
the Brazilian Forum for Public Safety (FBSP, for its acronym in
Portuguese) show that 65.1% of police officers killed in Brazil
in 2019, off-duty or on-duty, were black.
Another element to highlight in this process of social mobi-
lity is the informal, unethical and illicit displacement based on
corruption. When Kant de Lima teaches the difficulties of the
police society to respect the norm, he relates it to the period of
the Crown, where the soldier (today peripheral) who worked
in degrading conditions improved his situation as he conque-
red the grace of his superior. It is from this corrupting line that
the military corporation inherits. Thus, a deviation is inherent
to police practice.
For the black cop, deviance is the maintenance of his distance
from the original inequality. With the corrupting inheritance and
the encouragement of death as a “cop thing” (Ramos, 2018), the
more deviant and lethal the cop, the greater the possibility of
promotion in the corporation. In Rio de Janeiro, the Bolsonaro
family tends to honor policemen with high levels of resistance.
To obtain this prestige, they are assigned by the corporation to
command new battalions or vacant positions. As a general rule,
the corporation changes command or opens a new unit when
it intends to provide a social response to the high crime rate.
For this function, those who can control institutional prestige
through death are ideal (Alves, 2020).
ENG Police Lethality In Pandemic 121

The cyclical line is as follows: the media, to sell stories,


denounce a crime area. The governor, to maintain his political
prestige, makes demands to the General Command. The gene-
ral commander, to maintain the privileges of his office, makes
demands of the zone commanders. The zone commander makes
demands of his subordinate police officers. Thus, image mana-
gement is the maintenance of promotion to stable political
positions. The metric of management is death, sometimes nego-
tiated, since the only way to “control” crime are the agreements
of the subjects involved in Public Safety and Crime. An example
is the reduction of crime in São Paulo attributed to the PCC.12.
Tradition also teaches that one should not challenge those
who have the power to define your life or death. In the outlying
regions, a child who has never experienced a police approach
will know exactly the behavioral possibilities to try to avoid
being harmed. At street corner gatherings, soccer games, family
reunions, etc., experiences of police abuse are shared and pas-
sed on. Excess cordiality, humor, seriousness and even false
agreement with the approach are ways of talking to the police.
They should be understood as “ways of getting out of a diffi-
cult moment unscathed.” This example also portrays institutio-
nal behavior. Which leads us to answer why Jacarezinho was a
scene of the massacre. The history of that territory challenged
police “authority” for years. The control of this territory could
generate mobility without measures. A few hours after the mas-
sacre, the speech of the Governor and the Public Ministry of
Rio de Janeiro in an authorizing and, therefore, justifying tone,
demonstrates the demonization and criminalization of the inha-
bitants of that territory. The only policeman killed in the opera-
tion was buried with hero’s tributes.

12 https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2016/02/160210_homicidios_pcc_tg
122 Polifonías para la equidad racial ENG

The sociological place of the policeman


The reality is that the policeman who wants to kill does not sub-
mit to anyone. The system guarantees several modalities of con-
cealment of violence. The experience of Jacareézinho, teaches
the tradition, and the history of attempts to intervene in the vio-
lence of racialized black superiors in the corporation demons-
trates that: the policeman soldier rules the streets! As we have
already shown, he comes from the same place as his imaginary
enemy, the mirror denounces that his enemy is himself naked
in his uniform. How to stop this issue is the real challenge of
police violence.
Although it is obvious, there are good police officers on the
force who are endangered by genocidal logic. When I have to
argue with a police officer, I try not to challenge their hierar-
chy. I try to awaken the mental triggers of otherness and, for
a long timem I succeeded as a young peripheral black lawyer
labeled by them as a “thug advocate.” In that way, I often ask
how many friends he has lost in the corporation; the memory
bares that body hardened by daily guerrilla warfare. When I
hear “you’re right,” then I match our feelings by talking about
the friends and family I also lost in this senseless war. As a place
of promotion, there are many policemen who will lose their
parents and siblings who were also policemen. Revenge as a pri-
mary motivation for operations is intimately tied to the affective
field of these black men of the masculine ethos who will never
go to therapy. They will live with and act from their traumas.
Yesterday I called a friend who is also a black and periphe-
ral lawyer in São Paulo. We met after advocating together in a
high-profile racist prison case. After hearing about my father
and my nephew, my friend told me the story of his father.
A black man from the neighborhood of Capão Redondo, a local
favela known for its high crime rate, but also for the communal
and cultural richness sung in the lyrics of the timeless Racionais
ENG Police Lethality In Pandemic 123

Mcs. His father was expelled from the PMSP13 and would not
disclose the reason. He now accumulated three jobs to main-
tain the place of provider that chauvinism had reserved for him.
As a lawyer, my friend investigated his file and discovered
that the expulsion occurred after his father’s friend shot him-
self in the head with his father’s gun. My distraught friend went
to confirm with his father the version., Wwith no way out, the
father told him he never wanted to be a cop, that he had no
choice. It was the only way out so as not to be dragged down by
the reality of the slums. When the social investigation was car-
ried out, the police investigator was about to reject him because
of where he lived, judging that he was not fit to be a policeman.
His father managed to convince the investigator by telling him
that he needed a chance to get out of that place. Although he
managed to enter the corporation and change his life, he could
not abandon his friends who failed to change their lives. On
the day of the suicide, he revealed that he was using drugs with
his friends to escape, if only temporarily, from that reality. This
story alerts us to the demands of citizenship and the humaniza-
tion of the black man wearing a uniform. It is common to hear
from a police officer “Human rights are only for criminals”,
“What about the human rights of police officers on the street?”
They do not feel included in the human rights policies articula-
ted by the left. This invisibility even generates hatred and poli-
tical confusion.
The left-wing constructed a narrative of the policeman as
the number one enemy of political minorities while neglecting
this issue as part of the minorities themselves. Both the right-
-wing and the left-wing have benefited from the political mana-
gement of fear. I recall here the hollowing out of the party cores

13 PMSP, Polícia Militar do Estado de São Paulo [Military Police of Sao Paulo State]
124 Polifonías para la equidad racial ENG

in Jacaré after the PDT14 and PT15 ascended to government. The


racial agenda, the favela agenda and the police agenda are just
ingratiation tools of party political mobility. It was in PDT and
PT that most blacks entered. However, representativeness does
not necessarily mean impact.
In the 1980s there were few black figures with party auto-
nomy to promote policies and debates on the Brazilian black
population, such as Abdias do Nascimento. A few years later
we could see greater incidence and advances in the PT, as
Thiago Amparo points out. But the advances meant setbacks
in other fields, especially in public security with the repression
of Dilma’s government. It is understandable the distancing of
the Black Movements from the black policeman, read as a trai-
tor in the figure of the captain of the jungle, or in the Pan-
Africanist perspective of Marcus Garvei, where the black mean
who will not return to Africa because of the irremediable affec-
tation of his their conscience. The characters I mentioned who
were black officers in the PMRJ16 interacted with the move-
ments, even being part of them, but we saw little articulation of
agendas on essential rights.
It is worth noting that in 2019, I participated with other black
jurists in a meeting at the Public Defender’s Office in Rio de
Janeiro to think about solutions to police violations, especially
those related to falsification of crimes, unjustified boardings and
acts of resistance. After hours of debate, the consensus was that
the police are sovereign in the streets and that human rights poli-
cies are not applied. The deliberation of the table was to embrace
the demand of the police through the Black Movements repre-
sented there as a method of harm reduction, believing that the

14 PDT, Partido Democrático Trabalhista [Democratic Labor Party]


15 PT, Partido dos Trabalhadores [Worker´s Party]
16 PMRJ, Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro [Military Police of Rio de Janeiro State]
ENG Police Lethality In Pandemic 125

police would reach a sense of belonging as a racial group and


could reduce illegal practices by reaching awareness and having
their inequalities arched as focal points of racial struggle. Which,
because it is taboo, no one has done. And we continue, at least
here, without this debate as we collect the deaths of black men
out of uniform, and black men in uniform.

Answering the questions.

1. How can we use legal mobilization to oppose the advance


of discriminatory policies proposed by populist and neo-fascist
governments in the Americas?
The political-legal construction of the Antidiscrimination Law
already allows us to speak of responsibility for institutional
racism. Brazilian politics is are personified. Although we can
speak of the responsibility of Brazil and its states, I believe that
the responsibility of the representative of the ideology promotes
the political effects of harm reduction. The ego that drives these
individuals does not generate enough conviction to support the
political, financial and freedom-restricting damages of an idea.
Even if it is a profitable idea, the motivation for risk is not money,
but the feeling of impunity. If we ask a politician in Brazil if he
would be willing to be imprisoned for money that could later be
withdrawn from his bank account, the answer would hardly be
positive. In a broader sense, the tradition that makes the group’s
knowledge run, and therefore discerns it, could contain the dis-
criminatory thoughts of the elite that often come to power.

2. What are some of the new challenges that the


COVID-19 pandemic has created for racial justice
movements in the Americas?
The pandemic created the challenge of regulating vulnerable
territories. The downtime of police officers with the reduction
126 Polifonías para la equidad racial ENG

of ostensible policing and, in parallel, the opportunity to assist


and rise up from acts of bravery, in a period that community
and human rights organizations are still reorganizing and reope-
ning during the pandemic. That is perhaps the main challenge
against the lethality of this period.

3. How can the racial justice movement respond to these


challenges?
In the short term, we should offer measures that help commu-
nity reorganization in models of self-management of security,
as happened before the pandemic in the favela of Jacaré and,.
iIn this way, stabilize and reduce the suspension of fundamen-
tal rights. In the long term, we should to offer a way for Black
Movements to ideologically embrace police officers in the pro-
motion of their agendas, creating a sense of belonging and auto-
nomy of their realities.
ENG Police Lethality In Pandemic 127

References:
WEBER, Max. Economia e sociedade. Brasília: Editora da UNB,
2009. Vol 2, pg. 465-482. AGAMBEN, G. Estado de exceção:
Homo Sacer, II, I. 2. ed. São Paulo: Boitempo, 2004. ALMEIDA,
S. L. Racismo estrutural. 1. ed. São Paulo: Editora Jandaíra, 2020.
ALVES, J. C. S. Dos barões ao extermínio: uma história da violência
na Baixada Fluminense. Duque de Caxias: APPH-CLIO, 2003.
BATISTA, V. M. O medo na cidade do Rio de Janeiro: dois tempos
de uma história. 2. ed.Rio de Janeiro: Editora Revan, 2009.
BENTO, M. A. S. Pactos Narcísicos no Racismo: branquitude
e poder nas organizações empresariais e no poder público.
2002. Tese (Doutorado em Psicologia)–Instituto de Psicologia,
Universidade de São Paulo, 2002.
BOLLER, C. E. Transição. 2016. Disponível em: https://docero.com.
br/doc/8s8sc8. Acesso em: 30 nov. 2020.
D’ELIA FILHO, O. Z. Indignos de vida: a forma jurídica da política
de extermínio de inimigos na cidade do Rio de Janeiro. 1. ed. Rio
de Janeiro: Revan, 2015.
PORTUGUÊS

Letalidade policial na pandemia


Bruno Alves

Bruno Alves, advogado especialista em Direito Antidiscrimi-


natório e Criminal. Mestre em Sociologia e Direito pela
Universidade Federal Fluminense. Criado na Favela do Salgueiro
(onde foi assassinado pela polícia a criança João Pedro, que que-
ria ser advogado), filho de criação de um comerciante de drogas
que após deixar a prisão em condicional e ficar foragido “pre-
feriu morrer” a se apresentar em um hospital, onde poderia ser
preso, e cuidar de uma doença que adquiriu no cárcere. Tio de
um sobrinho de 18 anos, comerciante de drogas, assassinado
pela polícia sem oferecer resistência e desarmado. Desse ponto
de partida pessoal, acumulado com a experiencias em casos de
“erro judiciário”, violência policial, para o tráfico de drogas de
determinas comunidades do Rio de Janeiro e ainda em inqué-
rito penal militar em defesa de militares injustiçados na corpora-
ção, todos que tive a oportunidade de exercer a advocacia, é que
gostaria de falar, sobre a espinhosa saga de redução da violência.
Diante do conteúdo apresentado para reflexão no PERA,
gostaria de refletir na complexa tarefa de controle ou redução
da violência policial. O cenário sociológico de nossa conversa
é a Favela do Jacarezinho, localizada no Rio de Janeiro. O qui-
lombo urbano que recentemente vivenciou a segunda maior
chacina da história da cidade, apesar de uma decisão judicial
130 Polifonías para la equidad racial POR

proibitiva da mais alta corte judicial do país. Quero aqui apon-


tar a relação da violência política com a violência policial
durante a pandemia, bem como a influência que tem a desi-
gualdade na linha do racismo estrutural, como estruturante da
subjetividade policial. Ao final quero problematizar a relação
dos movimentos negros do Brasil com o sujeito policial-juiz da
vida ou da morte na favela. Receio que talvez não tenha res-
posta para os questionamentos objetivos do PERA, mas, ainda
assim gostaria de apresentar esse conteúdo como ponto de par-
tida para uma resposta.
Em 6 de maio de 2021 no Rio de Janeiro, cidade palco experi-
mental das violações constitucionais, como a intervenção militar
e limpeza higiênica dos mega eventos como Copa do Mundo e
Olimpíadas, uma operação policial deixou 28 mortos. A segunda
mais letal ficando atrás apenas da chacina de Queimados (2005)
com 29 mortes, na Baixada Fluminense. Local que resido
hoje desde os 11 anos, após sair do Complexo do Salgueiro.
A Baixada é conhecida como território sem direitos subjugada
por grupos de extermínios composto por agentes do estado. No
Estado 411 chacinas aconteceram em 10 anos com três ou mais
vítimas entre 2009 e 2018, que deixaram 1.391 pessoas mor-
tas. Apesar disso, nunca houve condenação do Brasil, estados
ou pessoa por genocídio. A única condenação por genocídio no
país foi a de um homem negro, Pedro Emiliano1, por violações
contra pessoas da Terra Indígena Ianomâmi.
Sobre o crime de genocídio. Com vigência anterior à consti-
tuição, a lei de n. 2.889/56, recepcionada pela constituição de
1988, aborda expressamente o crime de genocídio, tipificando
penas e condutas relacionadas à “intenção de destruir, no todo
ou em parte, grupo nacional, étnico, racial ou religioso” (art.

1 https://jovempan.com.br/programas/jornal-da-manha/pf-prende-em-roraima-unico-bra-
sileirocondenado-por-genocidio.html
POR Letalidade policial na pandemia 131

1º, da lei de n. 2889/56). Ademais, o Código Penal Brasileiro


prevê desde 1984 o crime de genocídio cometido por brasileiro
ou domiciliado no Brasil, in verbis:

Art. 7º–Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos


no estrangeiro:
I – Os crimes:
d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domici-
liado no Brasil; (Incluído pela Lei nº
7.209, de 1984).

Apesar da previsão legal, e das mais de 400 chacinas, não se


teve até hoje condenação. Especialistas sobre o Tribunal Penal
Internacional afirmam que, ainda com várias representações,
seria muito difícil a responsabilização de Bolsonaro, pois para
eles os atos devem ser “praticados dentro de um contexto de
ataque generalizado ou sistemático contra a população civil”.
As representações apontam o contexto da condução durante a
pandemia. Embora a atividade de segurança pública seja com-
petência estadual, e falaríamos aqui de representações contra
governadores, no contexto do debate de violência política, seria
possível responsabilizar Bolsonaro por:

1. Promoção da destruição de grupos específico a partir da


influência discursiva, onde o discurso é o elo que aumenta
ou mantém a violência contra grupos específicos?
2. Omissão diante da destruição de grupos específicos?

A relação das duas maiores chacinas do estado, Queimados e


Jacarezinho, são de territórios sem direitos. O conhecido estado
de exceção: a suspensão permanente de direitos fundamentais.
Como veremos, o Jacarezinho apenas das vulnerabilidades ineren-
tes às favelas brasileiras, elas possuem sistemas de monitoramento
132 Polifonías para la equidad racial POR

comunitário da violência, o que em certa medida permitia a res-


tauração de direitos fundamentais em oposição à violência poli-
cial. Contudo, com a pandemia a fragilização da favela, das
instituições de direitos humanos, das próprias raras pessoas que
se dispõem a assumir a condição de vigiar a segurança e ainda
o aumento considerável de operações policiais no período pan-
dêmico, restaurou a suspensão de direitos fundamentais, autori-
zando tragédias, como a que foi vivenciada por aquela favela.
Não foi por acaso a mobilização diante da proibição do
Supremo Tribunal Federal na arguição de descumprimento de
preceito fundamental n°635 sobre operações policiais em fave-
las durante o período pandêmico da COVID-19. De alguma
maneira, a disponibilidade dos agentes policiais, talvez por conta
do baixo índice de pessoas nas ruas, permitiu o aumento da vio-
lência policial, em inédita e nítida violação da decisão da mais
alta corte do país. Com o retrato de um homem negro sentado
em uma cadeira com a mão na boca, segundo os moradores, dei-
xado pelos policiais como provocação recreativa e intimidação,
que se consolidou com a apreensão ilegal dos celulares de alguns
dos moradores, passamos a falar da capacidade e vontade insti-
tucional no controle da letalidade na prática policial.

Quem manda aqui, STF?


A exposição pública como forma de intimidação, nos ensina a
história em seu ciclo repetitivo. É a mais antiga tática de controle
pelo medo em processo de disciplinação de grupos. Exemplos
são as fogueiras onde eram queimadas mulheres consideradas
bruxas no início do período moderno para desestimular a prá-
tica da feitiçaria. As chicoteadas nos humanos escravizados no
período da escravidão legal no Brasil para desestimular a fuga.
Ou ainda, recentemente, mais precisamente em 2014, um jovem
negro agredido e preso em poste de iluminação pública por uma
POR Letalidade policial na pandemia 133

corrente de prender bicicletas. Passaríamos horas nos exemplos


de disciplinação e controle pelo medo, o que nos interessa neste
momento é que ele é cíclico. E que nos relatos dos casos que são
visibilizados raramente se encontra o elemento recreativo: a cha-
cota ou provocação.
A novidade da recreação com intuito de provocar os mora-
dores sinaliza um fim para além do disciplinar, e um caráter pes-
soal dos agentes envolvidos naquela operação policial. Embora
pensemos em pessoalidades e pontualidades podemos, na dire-
ção dos ensinamentos do racismo estrutural de Silvio Almeida,
entender que as manifestações supostamente individuais podem
ser partes de um elemento sistêmico da natureza de funciona-
mento do racismo.
Aqui também é necessário evidenciar: embora ausente uma
fundação ideológica definida do bolsonarismo, o populismo é a
mais firme entre os especialistas, que permite ao presidente mili-
tância para o patriotismo, os bons costumes, os valores familia-
res, a lei e a ordem e a caçada à esquerda. Já o fascismo, o mais
próximo do consenso técnico é que não é um governo fascista,
mas dentro desta miscelânea exerce determinadas práticas do
fascismo, como o culto ao uso da força, perseguição da oposi-
ção e controle estatal da sociedade.
Apesar da ausência de consenso técnico, preferimos concor-
dar com a ideia de um neofascismo, uma forma de reinvenção
do fascismo durante a democracia. Leandro Pereira Gonçalves,
professor de História da América Contemporânea e do Brasil
Republicano do Departamento de História da Universidade
Federal de Juiz de Fora (UFJF), em matéria publicada na UOL2,
atesta o seguinte:

2 https://entendendobolsonaro.blogosfera.uol.com.br/2020/07/25/populismo-ou-fascismo-
especialistas-debatem-as-bases-do-bolsonarismo/
134 Polifonías para la equidad racial POR

Após a Segunda Guerra Mundial e o fascismo foi reinven-


tado numa ótica democrática. Os integralistas que estavam
presos nas redes sociais, nos seus sites, nos seus blogs, nas
suas discussões por e-mail, há dois anos estão nas ruas. Eles
se sentem seguros sabem que o ambiente político brasi-
leiro não vai criar um julgamento tão radical em relação a
esses atos e que, por mais radical que sejam, (vão) ser rela-
tivizado(s), (vão) ser visto(s) como algo normal, como algo
rotineiro por conta desse ambiente.

O ambiente referido é a política bolsonarista, que promove a


confiança para transgredir. Embora a violência policial não seja
novidade para a favela, nunca se viu uma instituição desrespei-
tar frontalmente o Supremo Tribunal Federal. Bem como, não
se via pública e frequentemente atos de violência privada como
o dos integralistas que cometeram atos de terrorismo na sede
da Porta dos Fundos, uma companhia de teatro virtual que pro-
move discussões políticas e críticas a partir de sua arte.
A função recreativa retratada de um homem negro morto sen-
tado com a mão na boca é a prova de lógica de guerra naquela
operação, portanto uma operação ideológica. Embora essa
guerra também tenha como elemento motivador a insensata polí-
tica de suposta guerra às drogas, esta é apenas a especialização
do genocídio negro que tem como origem a própria escraviza-
ção negra. Com o fim da ditadura militar criou-se um inimigo no
imaginário social, que foi a justificativa para o ingresso de mate-
rial bélico no país. O inimigo ideal era a população negra, pois
a demonização e criminalização facilitariam o processo social de
autorização dessas mortes, como mortes socialmente aceitáveis.
Os movimentos negros, denunciam organizadamente que a
guerra civil que vitima jovens negros em massa desde 1948 é
a própria ideologia de funcionamento da instituição militar, e
isso ficou evidente quando em 2013 vazou a ordem da polícia
POR Letalidade policial na pandemia 135

de Campinas (SP) de priorizar abordagem de homens negros.3


Mas nunca houve um posicionamento público ou mensagem
institucional a respeito. Essa é a segunda novidade da opera-
ção policial que relaciona pandemia e bolsonarismo. A imagem
do homem negro é uma mensagem. Como afirma o professor
Adilson José Moreira em sua obra racismo recreativo, sobre a
piada: “o humor racista é um tipo de discurso de ódio, é um tipo
de mensagem que comunica desprezo, que comunica condes-
cendência por minorias raciais”.
Não é o objetivo deste texto, mas imagino que o leitor possa
pensar que em nenhum momento foi verbalizado o teor racial
da operação policial. Poderíamos aqui falar de discriminação
indireta, sendo aquela favela um quilombo de maioria popu-
lacional negra. Mas é também interessante provocar o pensa-
mento de que, se fosse um corpo branco, o policial se sentiria
autorizado a violá-lo? Ou, se se fosse um corpo branco, a men-
sagem de provocação e intimidação cumpriria sua função, já
que a maioria populacional é negra? Suponho que, não. E ao
passarmos pela história de afirmação de direito do Jacarezinho
entenderemos rapidamente a questão racial como fator desafia-
dor da autoridade institucional policial.
Retomando o pensamento. Três elementos são essenciais
pontuar nesse ponto da reflexão: a crise institucional instau-
rada pelo Presidente da República em promoção do descrédito
institucional do Supremo Tribunal Federal, a influência do dis-
curso político na letalidade policial, sendo capaz de aumentar,
manter ou reduzir a investida violenta a partir da autoridade
ideológica e a vingança como motivação principal das opera-
ções policiais da atualidade.

3 http://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/noticia/2013/01/pm-de-campinas-deixa-va-
zar-ordem-parapriorizar-abordagens-em-negros.html
136 Polifonías para la equidad racial POR

O primeiro ponto denota a tentativa de aparelhamento do


Supremo Tribunal Federal pelo atual presidente da república
com o objetivo de privatização do interesse público a partir dos
interesses pessoais ele mesmo. Como já abordamos, seu for-
mato de condução política concentra influência e manipulação
ideológica de massas através do elemento carisma, que nos traz
o personagem do herói, que em sua batalha pelo ‘povo’ precisa
eleger um inimigo a altura do desafio e transformação que se
promete. Dessa forma, Bolsonaro elege o STF como o represen-
tante da elite, o principal obstáculo para mudança. Assim induz
seus seguidores a acreditar que a queda do Supremo Tribunal
Federal é necessária.
O segundo ponto mostra como o discurso de ódio incita a
violência. Um fenômeno sociológico construído pelo carisma
bolsonarista é que seus seguidores também querem ser heróis
dentro dos desafios das mudanças que podem oferecer, exem-
plo disso é o aumento da violência privada, com o fim patriota,
como foi o caso do professor de capoeira Moa do Katendê na
Bahia, morto com 12 facadas após criticar Bolsonaro em um
bar4. Rio de janeiro é o maior Estado com discurso de ódio5.
Segundo o Historiador Sidney Chalhoub, foi por ordem do pri-
meiro governante da República que no Rio se estabeleceu a
seletividade policial de pessoas negra através do termo “atitude
suspeita”. É nesse mesmo estado que Marielle Franco, no auge
dos discursos de ódio, foi assassinada.
Em relação à atividade policial, essa também sofreu também
sofreu aumento em períodos discursivos com teor de ódio. Em
2019, a polícia matou 6.357 pessoas no país, uma das maiores
taxas de mortes pela polícia no mundo – e quase 80% das vítimas
eram negras. O número mais atualizado mostra que as mortes

4 https://extra.globo.com/casos-de-policia/mestre-de-capoeira-morto-com-12-facadas-apos-
dizer-que-votou-no-pt-em-salvador-23139302.html
5 https://outline.com/XpNM8e
POR Letalidade policial na pandemia 137

Fonte: GENI/UFF

por agentes cresceram ainda mais (6%) no primeiro semestre


de 2020. O Pesquisador da Human Rights Watch, César Muñoz,
afirmou no início de 2021, comentando o relatório de violações
de direitos da instituição, que a violência policial é um problema
crônico no Brasil, que não começou com Bolsonaro, mas piorou
no seu governo6. Conforme gráfico que veremos abaixo, durante
a pandemia de 2020 aumentaram as operações policiais motiva-
das por vinganças em relação às operações do ano de 2019.
O Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos, da Universidade
Federal Fluminense, ao analisar o impacto da decisão limi-
nar na ADPF 635, que restringe operações nas Favelas a raras
exceções, verificou em sua pesquisa, verificando os 15 primei-
ros dias, que a maior motivação para operações policiais nesse
período é o elemento vingança.
Observando o gráfico percebemos ainda que há uma queda
em 2019 em relação aos anos anteriores, mantendo-se na média
as operações motivadas por fuga ou perseguição e próximo a

6 https://www.redebrasilatual.com.br/cidadania/2021/01/bolsonaro-contribui-para-
agravar-a-violenciapolicial-e-contra-as-mulheres/
138 Polifonías para la equidad racial POR

média as operações por repressão ao tráfico de armas e dro-


gas. Isto é, as operações focaram no popular da extrema direita
“prender bandido”, com a finalidade de garantir prestígio pes-
soal ou institucional, o que proporciona a gestão do marke-
ting institucional permitindo mobilidade social. O gatilho do
interesse é de como se dá a ascensão militar e política no Rio
de Janeiro.
Em seu carisma de herói, apenas 15 dias após sua posse e
discurso7 sobre sua política de armamento, sugerindo conve-
nio com a Polícia Militar e Polícia Civil, podemos entender
como provocação para aproximação a partir da lógica clien-
telista. Para agradar o herói o pupilo deve seguir seus passos,
aquele que transgredir essa norma, é indigno. Foi a certeza que
Bolsonaro deu a partir das exonerações de todos os ministros
que dele divergiram. O herdeiro pupilo precisa seguir todas as
práticas do mestre e comprovar, através do reconhecimento
público, que está apto a permanecer na função.
O Deputado Daniel Silveira, político de extrema direita, é um
bom exemplo dos três pontos apresentados. Silveira hoje está
preso por ter ameaçado por duas vezes os Ministros do Supremo
Tribunal Federal. Tornou-se deputado (mobilidade social) após
angariar carisma ao ter rasgado a placa de Marielle Franco, rati-
ficando o ódio a violência como capital político. Silveira ainda
possui o ethos másculo, viril e descuidado do perfil de masculi-
nidade necessária para a manutenção desse lugar social violento.
Dessa forma, a chacina do Jacarezinho foi uma resposta
institucional em retaliação ao STF. De policiais que aderi-
ram ao personagem do herói seguindo os passos do mestre
buscando com isso vantagem pessoais e institucionais. A res-
posta é: “não nos submetemos ao STF”, possuímos nossos

7 https://www.gov.br/planalto/pt-br/acompanhe-o-planalto/discursos/2019/discurso-
do-presidente-da-republica-jair-bolsonaro-durante-assinatura-do-decreto-que-autoriza-pos-
se-de-armas-de-fogo-brasiliadf
POR Letalidade policial na pandemia 139

próprios protocolos”, crendo na atmosfera política da impuni-


dade. Prova é que a própria polícia que mata é a mesma que se
investiga. No caso em tela, para assegurar o esquecimento e a
“relativização da punição” foi decretado segredo de justiça do
procedimento investigatório.

O Jacaré Negro. Por que o Jacarezinho?


Antes conhecida como Morro do Padre Paulo e Morro da Titica,
em 1940 um quilombo urbano formado por escravizados fugi-
dos de fazendas próximas, por conta do rio Jacaré, ganha o nome
de Jacarezinho. “Já havia negros ali antes dos anos 1920, fugi-
dios da Serra do Mateus, lá na Boca do Mato. Quando o padre
Alexandre Língua foi construir o santuário Nossa Senhora da
Conceição no Engenho Novo, anos depois, muitas ossadas de
escravos foram encontradas” diz o pesquisador e líder comuni-
tário local Rumba Gabriel.
Rumba se tornou líder comunitário nos anos 1980 e relata o
processo de organização política da Favela a partir da articula-
ção da figura política Tia Andreza, que segundo ele “A principal
preocupação dela era de alfabetizar. Pegava caixotes de madei-
ras, de feira e botava na subida da comunidade. Fez a primeira
escolinha a céu aberto, antes da lei do Mobral (Movimento
Brasileiro de Alfabetização). Ela também fundou a primeira
escola de samba do Jacaré”.
Durante a ditadura militar a favela ganha organização polí-
tica partidária sendo vinculada a grupos de esquerda e organiza-
ções políticas clandestinas que operavam na área, como o MR8.
A vantagem da topografia oferecia controle comunitário através
da vigilância feita dos pontos mais altos. Foi nesse contexto que
lideranças comunitárias ascenderam à política partidária, tendo
inclusive já no processo de redemocratização, os diretórios dos
partidos PDT e do PT, que abandonaram a favela após ascen-
derem ao governo.
140 Polifonías para la equidad racial POR

Rumba relata que o abandono do partido, também chamado


exploração política, piorou o cenário de direitos essenciais:
“Como se dissessem: chega de lutar, estamos dentro do poder.
Foi um erro clássico, um abandono, ficamos órfãos disso. A edu-
cação, que já não era boa, foi sucateada, assim como a saúde. O
Jacarezinho se tornou um território de analfabetos didáticos e
políticos”. Posterior a isso, as indústrias que permitiam a circula-
ção econômica na Favela fecharam e sobreveio o tráfico de dro-
gas e os conflitos policiais nos anos 70 e 80. No início o tráfico
era visto como herói, pois prestava assistência para a favela. Ao
longo dos anos mudou sua forma de atuação. A Geografia tor-
nava a proteção do território soberana por becos estreitos e não
permitia o acesso dos veículos policiais.
Rumba é autor do projeto “Condomínio Jacaré”, que insta-
lou câmeras de vigilância na favela para monitorar as ativida-
des da polícia e do tráfico, um modelo de agência e autogestão
como alternativa de controle à violência gerada pela suposta
guerra às Drogas. O modelo de insurgência por anos desafia a
autoridade governamental, a tradição que aqui deve ser enten-
dida como o conhecimento que passa de pessoa a pessoa pela
oralidade ao longo dos anos, formava o consenso que o territó-
rio era insubordinado. O ethos heroico policial que violasse a
proteção territorial seria premiado com vantagens pessoal e ins-
titucional, como a Gratificação Faroeste8, que poderia acrescer
até 150% do salário do policial que cumprisse a função: matar.
Ou ainda a promoção a cargo superior, o primeiro teve seu fim
em 1998, o segundo, conforme demonstro em minha disserta-
ção de mestrado, permanece até hoje.
A maioria populacional investido no cargo policial é negra,
nordestina ou periférica. Na perspectiva sociológica significa

8 https://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff26069830.htm#:~:text=A%20%22gratifi-
ca%C3%A7%C3% A3o%20faroeste%22%20varia%20de,o%20de%20seu%20superior%20
hier%C3%A1rquico.
POR Letalidade policial na pandemia 141

que esses indivíduos possuem grande possibilidade de nascer em


desvantagem social, atravessados por desigualdades. A carreira
policial observada na perspectiva escravocrata era a proximi-
dade do poder concentrado no Senhor. Isto é, para o escravi-
zado acessar a condição de cidadania, ainda que relativizada,
estava condicionado a se exercer um poder mitigado derivado
de seu Senhor contra os outros escravizados.
Passados os anos, a lógica não mudou, o negro escravizado
de ontem segue novas formas de escravização hoje. A carreira
policial com exigência educacional compatível com o índice
baixo da população negra, com salário fixo (podendo ser majo-
rado por bravura harmônico ao ethos másculo da masculini-
dade distorcida de homens negros), e acesso ao poder de fogo
que lhe permite mobilidade social, se tornou o caminho para
cidadania relativa de homens negros.
Em um prisma positivo, conforme Werber em Economia
e Sociedade, mostra como a disciplina que é a base da meri-
tocracia foi aos poucos derrubando o regime da nobreza que
concentrava a exclusividade de ser oficial. Nesse sentido, a
meritocracia para policiais negros na corporação militar fun-
cionou. No rio de Janeiro por exemplo, podemos verificar per-
sonagens como Nazareth Cerqueira, Jorge da Silva, Ubiratan
Ângelo e Ibis Pereira como oficiais que debateram sobre
racismo na corporação.
Em perspectiva negativa também significou a profissiona-
lização o processo de genocídio de homens negros recrutados
para a morte, ou de outro homem negro. Dados do Monitor
da Violência do Núcleo de Violência da USP mostram que em
2020 no Brasil 78% dos mortos pela polícia eram negros. O
número refere-se às vítimas das polícias militar e civil e signi-
fica que quase quatro a cada cinco pessoas mortas pelas polí-
cias em 2020 eram pretas ou pardas. Dados do Anuário 2020 do
Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) mostram que
142 Polifonías para la equidad racial POR

65,1% dos policiais assassinados no Brasil em 2019, de folga ou


em serviço, são negros.
Outro elemento a se destacar nesse processo de mobilidade
social é o deslocamento informal, antiético e ilícito a partir da
corrupção. Kant de Lima, ao ensinar as dificuldades da socie-
dade policial em respeitar a norma esta relacionado ao período
da Coroa, onde o soldado (o periférico de hoje) que laborava
em situação degradante melhorava sua situação à medida em
que conquistava a graça de seu superior. É dessa linha corrup-
tiva que herda a corporação militar. Dessa forma, o desvio é ine-
rente à prática policial.
Para o policial negro o desvio é a manutenção do seu dis-
tanciamento da desigualdade originária. Com a herança cor-
ruptiva e o estímulo à morte como “coisa da poliça” (Ramos,
2018), quanto mais desviante e letal for o policial maior é a
chance de ascender na corporação. No Rio de Janeiro, a famí-
lia Bolsonaro tende a homenagear policiais com alto índice de
altos de resistência. Que por obterem esse prestígio são desig-
nados pela corporação ao comando de novos batalhões ou os
cargos vagos. A corporação em regra, muda o comando ou abre
nova unidade quando pretender dar resposta social ao grande
índice de criminalidade. Para essa função é adequado aquele
que poderá fazer o controle do prestígio institucional através
da morte (Alves, 2020).
A linha cíclica é a seguinte: A mídia, para vender matérias,
denuncia uma zona de crimes. O governador, para manter o
prestígio político, exige do Comando Geral. O Comandante
geral, para manter os privilégios de seu cargo, exige do Comando
da área. O Comandante da área exige dos seus policiais subalter-
nos. Dessa forma, a gestão da imagem é a manutenção da ascen-
são em cargos políticos estáveis. A métrica da gestão é a morte,
às vezes negocial. Pois a única forma de “controlar” o crime
são os acordos dos sujeitos envolvidos na segurança pública
POR Letalidade policial na pandemia 143

e criminalidade, um exemplo é a redução de crimes em São


Paulos atribuídas ao PCC. 9
A tradição também ensina que não se desafia quem tem o
poder de definir sua vida ou morte. Nas regiões periféricas uma
criança que nunca passou por uma abordagem policial saberá
exatamente as possibilidades de comportamento para tentar
evitar que seja prejudicada. Nas recreações de esquina, jogos
de futebol, encontro de família etc, se repassa as experiências
de abusos policiais. O excesso de cordialidade, humor, serie-
dade e até falsa concordância com a abordagem são formas de
falar com a polícia, que deve ser entendida como “formas de
escapar de uma dura ileso”.
Esse exemplo retrata também o comportamento institucio-
nal. O que nos leva a responder por que o Jacarezinho existe
como palco de chacina. A história daquele território como mos-
tramos desafiou por anos a “autoridade” policial. Controlar
aquele território poderia gerar mobilidade sem medidas. Poucas
horas após a chacina o discurso do Governador e do Ministério
Público do Rio de janeiro, em tom autorizante e por isso justifi-
cante, demonstram a demonização e criminalização dos mora-
dores daquele território. O único policial morto na operação foi
enterrado com homenagens de herói.

O Lugar sociológico do Policial!


A realidade é que o policial que quer matar não se submete a
ninguém. O sistema garante várias modalidades de ocultação da
violência. A experiência do Jacarezinho, a tradição ensina, e o
histórico de tentativa de intervenção na violência dos superiores
negros racializados na corporação comprovam: quem manda na
rua é o policial soldado! Que conforme já mostramos, vem do
mesmo lugar que o seu inimigo imaginário, o espelho denuncia

9 https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2016/02/160210_homicidios_pcc_tg
144 Polifonías para la equidad racial POR

que seu inimigo é ele desnudo da farda. Como frear esse sujeito
é o verdadeiro desafio da violência policial.
Embora seja óbvio dizer, há bons policiais na corporação, em
perigo por conta da lógica genocida. Quando preciso discutir
com um policial tento não desafiar sua hierarquia. Tento desper-
tar gatilhos mentais de alteridade e durante muito tempo conse-
gui, como jovem advogado, negro, periférico e taxado por eles
como “defensor de bandido”. Geralmente eu pergunto quantos
amigos ele perdeu na corporação. A memória desnuda aquele
corpo endurecido pela guerrilha cotidiana. Quando escuto
“tem razão”, aí equiparo nossos sentimentos falando dos amigos
e parentes que também perdi nessa guerra sem sentido. Como
lugar de ascensão, há muitos policiais que perderam seu pais e
irmãos que também eram policiais. A vingança como principal
motivação das operações está intimamente ligada ao campo afe-
tivo desses homens negros do ethos másculo, que nunca farão
terapia. Viverão com e a partir de seus traumas.
Ontem liguei para um amigo que também é advogado de
negros e periféricos em São Paulo, nos conhecemos após advo-
garmos juntos em um caso de prisão racista de grande repercus-
são. Após ouvir sobre meu pai e sobrinho, meu amigo narrou
a história de seu pai. Um homem negro das proximidades do
Capão Redondo, favela local conhecida pelo alto índice de cri-
minalidade, mas também conhecida pela riqueza comunitária
e cultural cantadas nas letras dos eternos Racionais MCs. Seu
pai foi expulso da PMSP e não lhe revelava o motivo, agora
acumulava 3 empregos para manter o lugar de provedor que o
machismo lhe reservou.
Como advogado meu amigo pesquisou seu processo e des-
cobriu que a expulsão se deu após o amigo de seu pai, com a
arma de seu pai, dar um tiro na própria cabeça. Meu amigo
angustiado foi confirmar com seu pai a versão, sem saída o pai
contou que nunca quis ser policial, que não teve escolha. Era
POR Letalidade policial na pandemia 145

a única saída para não ser tragado pela realidade da quebrada.


Quando houve a pesquisa social, o policial pesquisador quase
o reprovou por conta do lugar onde morava, julgando que ele
não servia para ser policial. Seu pai conseguiu convencer o pes-
quisador dizendo que precisava de uma oportunidade para sair
daquele lugar.
Apesar de ter conseguido ingressar na corporação e mudar de
vida, não conseguiu abandonar os amigos que não mudaram de
vida. No dia do suicídio revelou que estava consumindo drogas
com os amigos para fugir, ainda que temporariamente, daquela
realidade. Essa história alerta para as demandas de cidadania e
humanização do homem negro que veste farda. É comum ouvir
de um policial “Direitos humanos é só para bandido”, “E os
direitos humanos da polícia que tá aí na rua?”. Eles não se sen-
tem comtemplados pelas políticas de direitos humanos articu-
ladas pela esquerda. Essa invisibilidade gera inclusive ódio e
confusão política.
A esquerda construiu uma narrativa do policial como ini-
migo número 1 das minorias políticas, negligenciando esse
sujeito como parte das próprias minorias. Tanto a direita,
quanto a esquerda, se beneficiaram pela gestão política do
medo. Relembro aqui o esvaziamento dos núcleos partidários
no Jacaré após o PDT e o PT ascenderem ao governo. A pauta
racial, favela e policial são apenas ferramentas da engrenagem de
mobilidade política partidária. Foram nesses dois partidos que
mais houve o ingresso de pessoas negras. Contudo, representa-
tividade não significa necessariamente incidência.
Na década de 80 poucos eram os personagens negros com
autonomia partidária para promover de fato políticas e deba-
tes sobre a população negra brasileira, exemplo Abdias do
Nascimento. Alguns anos depois foi possível ver maior inci-
dência e avanços no PT, como aponta Thiago Amparo. Mas o
avanço significou retrocesso em outros campos, em especial de
146 Polifonías para la equidad racial POR

segurança pública com a repressão no governo Dilma10. É com-


preensível o distanciamento dos movimentos negros, do homem
negro policial lido como traidor na figura do capitão do mato, ou
na perspectiva panafricanista de Marcus Garvei, o negro que não
retornará para África por conta da afetação irremediável de sua
consciência. Os personagens que foram oficiais negros da PMRJ
que citei, interagiam com os movimentos, faziam parte até, mas
pouco se via de articulação de pautas sobre direitos essenciais.
Em 2019 participei com outros juristas negros e negras de
uma reunião na Defensoria Pública do Rio de Janeiro para pen-
sar soluções para as violações policiais em especial sobre a forja
de crime, abordagem injustificada e autos de resistência. Após
horas de debate o consenso foi que na rua o policial é soberano,
o que não se lê em políticas de direitos humanos. A delibera-
ção da mesa foi de acolher a demanda dos policiais através dos
movimentos negros ali representados como método de redu-
ção de danos. Acreditando que o policial acolhido alcançaria
o senso de pertencimento de grupo racial e poderia reduzir as
práticas ilegais ao alcançar a consciência e ter suas desigualda-
des arguidas como pontos de atenção da luta racial. O que por
ser um tabu, ninguém o fez. E seguimos, pelos menos aqui, sem
esse debate. Enquanto colecionamos mortes sobre mortes de
homens negros sem farda, e homens negros de farda.

Respondendo às perguntas.

1. Como podemos usar a mobilização legal para nos opor ao


avanço das políticas discriminatórias propostas por governos
populistas e neofascistas nas Américas?
A construção político-jurídica do Direito Antidiscriminatório já
nos permite falar em responsabilização por racismo institucional.

10 https://www.cartacapital.com.br/politica/o-governo-dilma-e-extremamente-repressivo-4045/
POR Letalidade policial na pandemia 147

A política brasileira é personificada. Embora possa se falar em


responsabilização do Brasil e seus estados, acredito que a respon-
sabilização do representante da ideologia promove efeitos políti-
cos de redução de danos. O ego que move esses indivíduos não
gera convicção suficiente para suportar prejuízos políticos, finan-
ceiros e de restrição de liberdade por uma ideia. Ainda que seja
uma ideia rentável, a motivação do risco não é o dinheiro e sim o
senso de impunidade. Ao se perguntar a um político no Brasil se
estaria disposto a ficar preso por um dinheiro que depois poderia
ser retomado de sua conta, dificilmente a resposta seria positiva.
Em sentindo amplo, a tradição que faz correr o conhecimento de
grupo, e assim a disciplina, poderia conter os pensamentos discri-
minatórios da elite que habitualmente ascende ao poder.

2. Quais são alguns dos novos desafios que a pandemia COVID-19


criou para os movimentos por justiça racial nas Américas?
A pandemia criou o desafio de regulação dos territórios vul-
nerabilizados. O tempo ocioso dos policiais com a redução do
policiamento ostensivo, e paralelamente a oportunidade de
atender e ascender a partir de atos de bravura, em período que
as organizações comunitárias de direitos humanos ainda estão
se reorganizando e reabrindo durante a pandemia, sejam talvez
os principais desafios contra a letalidade desse período.

3. Como o movimento de justiça racial pode responder a esses desafios?


A curto prazo, oferecer medidas que auxiliem a reorganização
comunitária nos modelos de autogestão da segurança, como era
em período pré-pandêmico na favela do Jacaré. Desta forma,
conseguir estabilizar e reduzir a suspenção de direitos funda-
mentais. A longo prazo, oferecer caminho aos movimentos
negros para um acolhimento ideológico dos policiais na promo-
ção de suas pautas, criando o senso de pertencimento e autono-
mia de suas realidades.
148 Polifonías para la equidad racial POR

Referencias:
WEBER, Max. Economia e sociedade. Brasília: Editora da UNB,
2009. Vol 2, pg. 465-482.
AGAMBEN, G. Estado de exceção: Homo Sacer, II, I. 2. ed. São
Paulo: Boitempo, 2004.
ALMEIDA, S. L. Racismo estrutural. 1. ed. São Paulo: Editora
Jandaíra, 2020.
ALVES, J. C. S. Dos barões ao extermínio: uma história da violência
na Baixada Fluminense. Duque de Caxias: APPH-CLIO, 2003.
BATISTA, V. M. O medo na cidade do Rio de Janeiro: dois tempos de
uma história. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora Revan, 2009.
BENTO, M. A. S. Pactos Narcísicos no Racismo: branquitude e poder
nas organizações empresariais e no poder público. 2002. Tese
(Doutorado em Psicologia)–Instituto de Psicologia, Universidade
de São Paulo, 2002.
BOLLER, C. E. Transição. 2016. Disponível em: https://docero.com.
br/doc/8s8sc8. Acesso em: 30 nov. 2020.
D’ELIA FILHO, O. Z. Indignos de vida: a forma jurídica da política
de extermínio de inimigos na cidade do Rio de Janeiro. 1. ed. Rio
de Janeiro: Revan, 2015.
ESPAÑOL

Encarcelamiento femenino en Brasil


y Covid-19: un análisis crítico del caso
de Acre

Caroline Mendes Bispo1

Resumen: En noviembre de 2015 se publicó el primer informe específico


sobre las mujeres cis encarceladas en Brasil, el cual conmocionó a todos
con la información sobre el crecimiento de 567,4% de esta población pe-
nitenciaria entre los años 2000 y 2014. Otro dato igual o más impactante
de ese informe era el del estado de Acre, donde el 100% de las mujeres
encarceladas eran negras. El informe puso en primer plano de la discu-
sión la urgencia de hacer un corte por raza, además del corte por género,
para entender este aumento exponencial del encarcelamiento de mujeres
en Brasil. En este contexto, este artículo nace de una preocupación per-
sonal por el silencio sobre las mujeres negras encarceladas en Acre, con
el objetivo central de demostrar la situación crítica que atraviesan. Para
ello, utilizamos como metodología el análisis documental y bibliográfico.

Palabras clave: Sistema de Justicia Criminal. Sistema penitenciario feme-


nino. Encarcelamiento de mujeres. Covid-19. Acre.

1 Caroline Bispo es estudiante de maestría del Programa de Posgrado de la Universidad


Federal Fluminense en la línea de Seguridad Pública y Justicia. Es abogada de Seguridad Pública
en la ONG Redes da Maré. Directora Presidenta de la Asociación Ellas Existen Mujeres Encar-
celadas. Vicepresidente de la Comisión Socioeducativa de la OABRJ. Miembro de la Comisión
de Seguridad Pública de la OAB Federal y de la OABRJ.
152 Polifonías para la equidad racial ESP

Introducción

Las desigualdades sociales, económicas y culturales se


revelan de forma diferente en el proceso de enfermar y
morir de las poblaciones y de cada persona en particular.
Según los indicadores de salud, las poblaciones expuestas
a condiciones de vida precarias son más vulnerables y viven
menos. Teniendo en cuenta las históricas desigualdades de
poder entre hombres y mujeres, existe un fuerte impacto
en las condiciones de salud de estas últimas, especial-
mente en el sistema penitenciario, por lo que la cuestión
de género debe ser considerada como uno de los determi-
nantes de la salud en la formulación de políticas públicas
dentro de las cárceles (Delziovo, C., 2015, p.9).

El 5 de noviembre de 2015 se publicó el primer informe nacio-


nal sobre la población penitenciaria femenina en Brasil, el
INFOPEN Mujeres con datos sistematizados en el período de
junio de 2014. Según el Departamento Penitenciario Nacional
(DEPEN), encargado de elaborar la Encuesta Nacional de
Información Penitenciaria, entre los años 2000 y 2014 la pobla-
ción penitenciaria femenina pasó de 5.601 a 37.380, un creci-
miento del 567% en 14 años. Se trata de una publicación inédita
en Brasil, ya que, a pesar de la existencia de la Encuesta Nacional
de Información Penitenciaria desde 2004, es la primera vez que
se realiza un corte por género, en el que se pueden analizar las
especificidades de las mujeres (DEPEN, 2014).
Desafortunadamente, estas cifras, así como todos los datos
que presentaremos en este artículo, se refieren exclusivamente
a mujeres cis, es decir, mujeres a quienes, al nacer, se les asignó
el sexo femenino, planteando otra invisibilidad: la de las muje-
res trans y travestis que se encuentran dentro del sistema peni-
tenciario. Así, las mujeres transexuales siguen reclamando el
ESP Encarcelamiento femenino en Brasil y Covid-19: un análisis crítico del caso de Acre 153

reconocimiento social y jurídico como mujeres, aunque no se


les respete debido a la transfobia estructural.
Por esta razón, a lo largo de este artículo utilizaremos a las
mujeres cis y trans para cristalizar la comprensión sobre las dife-
rentes posibilidades de existencia, en tanto es fundamental que,
al hablar de cualquier identidad, se la señale como parte de la
cisgeneridad o la transgeneridad. Para ello, los términos “cis” y
“trans”, al ser aplicados al discurso, ayudan respectivamente al
reconocimiento de las identidades presentadas y a la inclusión
de las personas transgénero que muchas veces ven sus identi-
dades irrespetadas desde una visión biologizante sobre el con-
cepto de “género”.
Antes de la divulgación del informe de la DEPEN, a media-
dos de 2015, el Partido Político Socialismo y Libertad (PSOL)
presentó ante el Supremo Tribunal Federal (STF) la Acción de
Infracción de Precepto Fundamental (ADPF) nº 347, proceso
que pide el reconocimiento de la violación de los derechos fun-
damentales de las personas encarceladas en el país.
Entre otras solicitudes, la ADPF 347 solicitó al STF:
(i) declarar el estado de inconstitucionalidad del sistema peni-
tenciario brasileño; (ii) determinar que el Gobierno Federal
elabore un Plan Nacional que contenga metas específicas con
respecto a las violaciones de los derechos fundamentales de los
presos en todo el país, de acuerdo con los parámetros esboza-
dos en el cuerpo del ADPF; (iii) someter el Plan Nacional al
análisis del Consejo Nacional de Justicia, de la Procuraduría
General de la República, de la Defensoría General de la Unión,
del Consejo Federal del Colegio de Abogados de Brasil, del
Consejo Nacional del Ministerio Público y de otros órganos
e instituciones que quieran pronunciarse sobre el tema, ade-
más de escuchar a la sociedad civil, a través de la realización de
una o más audiencias públicas; (iv) determinar que el gobierno
de cada estado y del Distrito Federal formule y presente a
154 Polifonías para la equidad racial ESP

este Supremo Tribunal Federal, un plan estatal o distrital que


armonice con el Plan Nacional, etc.
La discusión sobre la situación de las personas privadas de
libertad se convirtió en un tema ante la Corte Suprema con
el objetivo de una intervención necesaria, pero también de la
construcción de un espacio de diálogo entre diversas institu-
ciones, con la finalidad de trazar metas y objetivos para superar
las violaciones de los derechos en el sistema penitenciario bra-
sileño, que en conjunto caracterizan lo que vino a llamarse el
“estado de cosas inconstitucional”. Este ADPF aún está en pro-
ceso en el STF, pero después del voto del juez Edson Fachin, se
declaró el entendimiento de que la ausencia de medidas legisla-
tivas, administrativas y presupuestarias son incapaces de resol-
ver el fracaso estructural del sistema penitenciario.
En mayo de 2018 se lanzó la segunda versión de INFOPEN
Mujeres elaborado con datos unificados entre 2015 y 2016,
obtenidos a través de un cuestionario online a los gestores de las
1.460 unidades registradas, entre estas 244 mixtas, 107 femeni-
nas y 1.109 masculinas. A diferencia del informe anterior, este
no tuvo ninguna divulgación (DEPEN, 2018).
A través del nuevo y último informe se puede ver que el per-
fil de las mujeres cis encarceladas en el país se corresponde con
una similaridad sorprendente a la que evidencian los marcadores
sociales de los mecanismos de opresión, que Juliana Borges afirma
que es un proceso de precarización de las vidas negras, cuyo
objetivo central es servir al proyecto genocida del capitalismo.
Según los datos de este INFOPEN, en lo que se refiere a la
franja de edad el 25,22% tiene entre 18 y 24 años, el 22,11%
entre 25 y 29 años, es decir el 47,33% de las mujeres cis encar-
celadas se encuentran por debajo de los 30 años.
En cuanto a la raza, la información fue que un total de
63,55% son mujeres negras y morenas. Y, a pesar de que este
ESP Encarcelamiento femenino en Brasil y Covid-19: un análisis crítico del caso de Acre 155

informe presenta que el número de mujeres negras cis bajó pro-


porcionalmente del 67% al 63%, así como en Acre que tenía
el 100% y ahora tiene el 97%, también se observa que en cier-
tos estados el encarcelamiento de mujeres negras cis aumentó
mucho. En dos años en Tocantins, en el que el número de muje-
res negras cis encarceladas en 2014 era del 66%, en 2016 este
número subió al 90%, así como en Piauí, del 79% al 90% y en
Maranhão, del 52% al 90%.

Sistema penitenciario de mujeres y Covid-19


Como podemos ver en los datos señalados, el aumento del
encarcelamiento femenino es evidente y alarmante, y con este
crecimiento también crecen las violaciones sistémicas que se
producen, a saber: la falta de acceso a los cuidados básicos de
higiene personal, el respeto a la dignidad humana y la dificul-
tad para garantizar el acceso y el seguimiento de la atención a
la salud física y mental.
Estas violaciones, recurrentes en el sistema penitenciario
masculino y femenino, se han intensificado con la aparición
del Covid-19, en tanto no se ha suplido la falta de material de
higiene personal entregado por los familiares, la falta de alco-
hol en gel y la falta de uso de mascarillas en las condiciones de
hacinamiento en las celdas ya superpobladas. Esto sin hablar
del problema de racionamiento de agua, conjunto de elemen-
tos que, según las recomendaciones sanitarias, sería lo mínimo
para evitar la proliferación del virus.
Con el objetivo de controlar la enfermedad, el 17 de marzo, el
Consejo Nacional de Justicia (CNJ), publicó la Recomendación
62/2020, firmada por el Ministro Dias Toffoli, para ser entre-
gada a los tribunales y magistrados de todo Brasil. Se trataba
de una estandarización de las pautas y medidas a tomar por el
Poder Judicial frente al Covid-19 para evitar la propagación de
156 Polifonías para la equidad racial ESP

la infección. Sin embargo, tras la homologación de la recomen-


dación (y posteriormente también con su renovación) surgieron
numerosos debates. Los debates se basaron en la discusión de
algunos puntos de la recomendación que fueron considerados en
total contradicción con la Constitución Federal de 1988, como la
abstención de las visitas familiares, la prohibición de recibir ces-
tas con artículos básicos y, en algunos lugares, como en Río de
Janeiro, en ausencia de vigilancia electrónica, el encarcelamiento
en régimen cerrado de los que estaban en régimen semiabierto.
Sin embargo, varios grupos de la sociedad civil también
comenzaron a debatir y apoyar esta recomendación, que con-
tenía 16 artículos. Entre ellos, uno en particular tuvo un
movimiento rápido y sorprendente para la mayoría de los inves-
tigadores del sistema penitenciario: la determinación de infor-
mación sobre la existencia de grupos de riesgo de infección por
el nuevo virus en las prisiones.
De este modo, el 20 de marzo, se emitió la carta nº 62/2020/
DIRPP/DEPE para analizar cuántas de las mujeres cis encarce-
ladas estaban embarazadas y habían dado a luz recientemente,
cuántas tenían hijos y cuántas tenían enfermedades crónicas.
La respuesta a esta carta llegó el 29 de abril de 2020, dando a
conocer las cifras referidas a las especificidades de las mujeres
cis en el sistema penitenciario. Dichos datos habían sido siste-
matizados y divulgados con la siguiente información: 208 muje-
res cis habían estado embarazadas; 44 habían dado a luz; 12.821
eran madres de niños de hasta 12 años; 434 tenían una edad
igual o superior a 60 años y 4.052 tenían enfermedades crónicas
o respiratorias. En ese mismo momento Brasil contaba con un
total de 37.200 mujeres cis encarceladas.
Una cuestión muy importante que merece ser destacada es
el exorbitante número de 252 mujeres embarazadas o que han
dado a luz recientemente y 12.821 madres de niños de hasta
12 años que estaban en unidades penitenciarias en Brasil.
ESP Encarcelamiento femenino en Brasil y Covid-19: un análisis crítico del caso de Acre 157

Nuestro ordenamiento jurídico, en el artículo 318 de la Ley


de Enjuiciamiento Criminal, garantiza que las mujeres sin con-
dena firme puedan cumplir el arresto domiciliario. Además de
esta garantía respaldada por la ley, surgió otra garantía a tra-
vés del Habeas Corpus Colectivo 143.641, presentado ante
la Corte Suprema en mayo de 2017 y que garantizó positi-
vamente la detención domiciliaria en un amparo preliminar,
“[...] a favor de todas las mujeres detenidas preventivamente
que tengan la condición de embarazadas o puérperas o madres
de niños bajo su responsabilidad, así como a favor de los pro-
pios niños”.

Sistema penitenciario femenino en Acre


Cândido Mendes de Almeida, en 1928, presidente del Consejo
Penitenciario del Distrito Federal, publicó en su informe que,
en 1926, el sistema penitenciario tenía un total de 39 mujeres
cis condenadas y de este total, se dividían en 18 en São Paulo,
15 en Minas Gerais, 8 mujeres presas en el Distrito Federal y 2
en Niterói, capital de Río de Janeiro en la época.

En ese año, sumando todas las mujeres condenadas de estos


estados y del Distrito Federal, hubo un total aproximado
de 39 mujeres condenadas cumpliendo condena en diferen-
tes establecimientos. Entre los motivos de las condenas se
encuentran la práctica de homicidios, infanticidios, lesio-
nes, robos y uso de intoxicantes. Además de estas mujeres
condenadas, también estaban las consideradas como delitos
menores, que no eran clasificadas legalmente como crimi-
nales, pero que eran ingresadas en casas de corrección,
generalmente por “vagancia ” (Almeida, C., 1928, p. 62-93).

Es impresionante el salto que viene dando Brasil en cuanto


al número de mujeres cis en prisión: ha alcanzado un total de
158 Polifonías para la equidad racial ESP

44.721 en 2016 según DEPEN. Acre no ha sido un caso dife-


rente. De hecho, fue considerado el tercer estado con la mayor
tasa de mujeres cis encarceladas y tiene la mayor tasa de encar-
celamiento de Brasil, en comparación con el número de habi-
tantes que tiene el estado.
Con los datos del INFOPEN 2019 se observó que, si bien
el encarcelamiento femenino dio ese salto de 2000 a 2016, en
los años 2017 a 2018, la curva de encarcelamiento femenino
nacional comenzó a descender, alcanzando la cifra más baja en
diciembre de 2018, con 36.400 mujeres cis encarceladas y vol-
viendo a subir en diciembre de 2019, con 37.200.
Ese crecimiento es notorio también en el estado de Acre,
donde se observó un aumento considerable a través de una
amplia revisión bibliográfica y del análisis de los datos oficia-
les publicados. Sobre el número total de personas encarceladas
en Acre, el informe de visitas realizado por el Consejo Nacional
del Ministerio Público en 2019, encontró que había 709.746
personas privadas de libertad en el país en 1.428 establecimien-
tos penales. Y de este total de prisiones, 13 estaban en el estado
de Acre, las cuales albergaban un total de 6.410 personas pri-
vadas de libertad, entre las que se encuentran las 3 unidades
femeninas donde se encontraban el total de 326 mujeres cis
encarceladas en 2019, frente a las 152 que había diez años antes,
más del doble en unel período de 10 años.
Y a pesar de la recomendación 62 y de las garantías consti-
tucionales del momento pandémico, según datos del Instituto
de Administración Penitenciaria de Acre (IAPEN), en diciem-
bre de 2020, el estado tenía 339 mujeres encarceladas, en las
tres unidades penitenciarias mencionadas, una en la capital y
las otras dos en el interior.
La Unidad de Régimen Cerrado Femenina del Rio Branco
(URFF) tiene capacidad para 96 mujeres cis y en el período
mencionado albergaba 281 mujeres, de las cuales 235 eran
ESP Encarcelamiento femenino en Brasil y Covid-19: un análisis crítico del caso de Acre 159

mujeres negras cis, 16 mujeres blancas cis y 30 mujeres cis en la


unidad de las que no poseen información en cuanto a la etnia.
En la Unidad Penitenciaria Moacir Prado Tarauacá (UPMP),
la capacidad de la unidad es de 36 mujeres cis y entonces con-
taba con 32 mujeres cis encarceladas, 20 de ellas negras cis y
12 blancas. Por último, la Unidad Penitenciaria Manoel Néri
da Silva (UPMNS), cuya capacidad es de 89 mujeres cis, contó
con 26 mujeres cis, de las cuales 23 eran negras y 3 mujeres sin
información de raza.
En 2018 la Comisión Interamericana de Derechos Humanos
(CIDH) realizó una visita in situ a Brasil, para analizar y señalar
directamente cómo el sistema de Seguridad Pública y Justicia
Penal en Brasil se encuentra en un contexto extremadamente
desigual, en el que persiste de manera significativa el racismo y
la criminalización estructural de la población negra.
Dina Alves2 siempre trae en sus textos una reflexión y afir-
mación sobre lo que ella llama la relación senzala-favela-prisión.
Analiza no solo el número de negros en prisión sino también
el número de negros que son víctimas de ejecución policial por
parte del Estado todos los días para mostrar el racismo estruc-
tural e institucional en el que vive Brasil y demuestra cuantita-
tivamente que esta relación es aún más evidente en los espacios
de privación de libertad.
A pesar de ser algo evidente, la categorización del con-
cepto de racismo institucional se acuñó solo hasta la década
de los sesenta a través de la obra “Black Power: the politics
of Liberation in America (1967)” de los intelectuales y acti-
vistas por los derechos civiles de los negros en los Estados
Unidos, miembros del movimiento de las Panteras Negras,
Stokely Carmichael y Charles Hamilton. Según su elaboración,

2 Dina Alves es miembro efectivo del Adelinas – Colectivo Autónomo de mujeres negras.
Doctora en Ciencias Sociales por la PUC/SP. Magíster en Ciencias Sociales por la Pontifícia
Católica de São Paulo.
160 Polifonías para la equidad racial ESP

el racismo institucional “es el fracaso colectivo de una organiza-


ción para proporcionar un servicio adecuado y profesional a las
personas debido a su color, cultura u origen étnico” (Hamilton,
Charles y Kwane, Ture. 1967).
En Brasil, el concepto de racismo estructural cobró fuerza
con el lanzamiento del libro del jurista Silvio Almeida que aclara
las diferencias entre racismo individual, institucional y estruc-
tural, en el que hizo evidente que el racismo institucional se
caracteriza por la presencia masiva de ciertos grupos de forma
desigual entre las diferentes instituciones del poder (Almeida,
S., 2018)..

Consideraciones finales

Como ya se expuso, el recorte de género no da cuenta


de la discusión relacionada con las mujeres encarceladas,
ya que invisibiliza el hecho de que hay experiencias que
dependen o se originan de la raza a la que pertenecen estas
mujeres. En el caso de las mujeres privadas de libertad, el
simple recorte de género borra los colores de las mujeres
presas y enmascara las opresiones raciales que experimen-
tan –como las que se analizan en este documento–, a veces
señalándolas como opresiones de género, a veces arroján-
dolas bajo la alfombra. Sin embargo, se sabe que ésta no
es ni mucho menos la única discusión en la que se hace
necesario señalar las múltiples especificidades de los gru-
pos oprimidos. El género, la raza, la clase social, la edad, la
discapacidad física, todas ellas son categorías que, cuando
se articulan, proyectan identidades que sufren sus propias
opresiones originadas precisamente en esta intersección.
El concepto de interseccionalidad viene a dar cuenta de
este proceso (Flauzino, J., 2017. pág. 3).
ESP Encarcelamiento femenino en Brasil y Covid-19: un análisis crítico del caso de Acre 161

Como señala Júlia Flauzino en su artículo “La soledad de las


mujeres negras en prisión”, estas consideraciones no parten del
propósito de llegar a una conclusión, sino más bien del de apor-
tar una reflexión sobre la percepción que se tiene de la ausen-
cia y la omisión de la raza en la discusión del encarcelamiento
femenino. Así, las prácticas sociales y el sistema de justicia penal
de nuestro país solo sirven para borrar e invisibilizar cada vez
más a las mujeres negras cis, agravando aún más esta soledad,
como la historia nos lo ha demostrado en los últimos años.
Se utilizaron como referentes teóricos los autores Evans
Pritchard (1974), Michel Foucault (1997), Louis Wacquant
(2001), Achille Mbembe (2013), Michelle Alexander (2017) y
Dina Alves (2018) desde una perspectiva socioantropológica.
Sin embargo, este artículo también tiene la intención de “des-
brancalização”, un término que Juliana Borges utiliza para afir-
mar que “las mujeres negras desean librar no solo una lucha por
las identidades, sino también una lucha por la transformación
radical de la sociedad”. También se basa en la perspectiva de
la interseccionalidad para relacionar el encarcelamiento de las
mujeres negras cis con las epistemologías feministas negras de
Patricia Hill Collins (2000), Kimberle Crenshaw (2002), Sueli
Carneiro (2003), Carla Akotirene (2014), Angela Davis (2016),
Joice Berth (2018) y Juliana Borges (2018).
Por lo tanto, se observa a partir de la encuesta de datos y la
revisión de la literatura que Brasil todavía necesita numerosas
políticas públicas dirigidas a las mujeres encarceladas. La pro-
puesta de estas políticas públicas necesita urgentemente ser ana-
lizada y pensada no solo desde la perspectiva de género, sino
sobre todo, desde la perspectiva de raza. De este modo, ellas, las
mujeres negras cis y trans, estarán por encima de la doble estig-
matización que supone, para las mujeres blancas encarceladas,
ser clasificadas como mujeres y delincuentes, sin tener que lidiar
con el racismo y la transfobia.
162 Polifonías para la equidad racial ESP

Así concluimos, como también afirma constantemente Sheila


de Carvalho, que los cambios surgen cuando los negros están en
lugares de poder. Ante esto, es urgente que las organizaciones
de la sociedad civil, mayoritariamente blancas, fortalezcan ins-
titucionalmente a las organizaciones mayoritariamente negras,
buscando un cambio en los debates y en la mirada con la que
se inician estas discusiones, principalmente buscando que las
cuestiones raciales dejen de ser un recorte y se conviertan en
un marcador. No es de extrañar que en Brasil tengamos unida-
des penitenciarias, como se mencionó, en las que el número de
mujeres negras cis encarceladas ocupa una tasa del 100% y no
veamos movilizaciones para resaltar el racismo estructural e ins-
titucional de manera eficiente.

Bibliografía:
ALMEIDA, Cândido Mendes de. “As mulheres criminosas no cen-
tro mais populoso
do Brasil”. Diário Oficial dos Estados Unidos do Brasil. Ano LXVII,
n.53, mar.1928. p. 62-93.
Disponible en: http://depen.gov.br/DEPEN/depen/sisdepen/
infopen-mulheres/infopen-mulheres_arte_07-03-18.pdf. Acceso
en 25/05/2021.
ALMEIDA, Silvio. O que é racismo estrutural?. Belo Horizonte:
Letramento, 2018
DELZIOVO, Carmem Regina e otras (2015). Atenção à Saúde da
Mulher Privada de Liberdade. Florianópolis, Brasil: UFSC, 2015.
Disponible en: http://www.justica.gov.br/noticias/mj-divulgara-no-
vo-relatorio-do-in-fopen-nesta-terca-feira/relatorio-depen-ver-
sao-web.pdf. Acceso en 25/05/2021
DEPEN (2014). Levantamento Nacional de informações peniten-
ciárias Infopen – junho de 2014. En: https://www.justica.gov.br/
ESP Encarcelamiento femenino en Brasil y Covid-19: un análisis crítico del caso de Acre 163

news/mj-divulgara-novo-relatorio-do-infopen-nesta-terca-feira/
relatorio-depen-versao-web.pdf
FLAUZINO, Julia (2017). Articulo presentado em el 3º Seminário
Internacional de Pesquisa em Prisão: A solidão da mulher negra
encarcerada. Pág 3.
HAMILTON, Charles V.; KWANE, Ture (1967). Black power. The
politics of liberation in America. New York, USA: Random House
Vintage, 1967.
ENGLISH

Female imprisonment in Brazil and


Covid 19: a critical analysis of Acre

Caroline Mendes Bispo1

Summary: In November 2015, the first specific report on incarcerated


cisgender women in Brazil was published, shocking everyone with the
information on the 567.4% growth of the female prison population be-
tween 2000 and 2014. Another equally or more shocking data from that
report was from the state of Acre, where 100 % of incarcerated women
were black. The report brought to the forefront of the discussion the
urgency of making a cut by race, in addition to the cut by gender, to
understand this exponential increase in the incarceration of women in
Brazil. In this context, this article arises from a personal concern for the
silence about black women imprisoned in Acre, with the central objec-
tive of demonstrating their critical situation. For this, we use documen-
tary and bibliographic analysis as a methodology.

Keywords: Criminal Justice System. Female prison system. Incarcera-


tion of women. Covid 19. Acre.

1 Caroline Bispo is a master’s degree student at the Graduate Program of the Fluminense
Federal University, in the area of Public Security and Justice. She is a Public Security lawyer at
the NGO Redes da Maré. President Director of the Association Ellas Exist Women in Prison.
Vice-President of the Socio-Educational Commission of OABRJ. Member of the Public Safety
Commission of OAB Federal and OABRJ.
166 Polifonías para la equidad racial ENG

Introduction:

“Social, economic and cultural inequalities are revealed


differently in the process of falling ill and dying of popu-
lations and of each individual in particular. According to
health indicators, populations exposed to precarious living
conditions are more vulnerable and live shorter lives. Con-
sidering the historical inequalities of power between men
and women, there is a strong impact on the health condi-
tions of the latter, especially in the prison system, so the
gender issue should be considered as one of the determi-
nants of health in the formulation of public policies within
prisons.”2

OInitially, on November 5, 2015, the first national report on


the female prison population in the country, the INFOPEN
Women,3, was published, with data systematized in the period
of June 2014. According to the National Prison Department
(DEPEN, for its acronym in Portuguese), in charge of preparing
the National Penitentiary Information Survey, between 2000
and 2014 the female prison population increased from 5,601
to 37,380, a growth of 567 % in 14 years. This is an unprece-
dented publication in Brazil, since, despite the existence of the
National Survey of Prison Information since 2004, it wais the
first time that a cut by gender is made, where the specificities of
women can be analyzed.
Unfortunately, these figures, as well as all the data we will pre-
sent in this article, refer exclusively to cisgender women, that is,

2 Delziovo, Carmem Regina e outras. Atenção à Saúde da Mulher Privada de Liberdade.


UFSC – Florianópolis 2015, pg 9
3 INFOPEN, Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias [ The National Prison
Information Survey].
Available on: http://www.justica.gov.br/noticias/mj-divulgara-novo-relatorio-do-infopen-nes-
ta-terca-feira/relat orio-depen-versao-web.pdf. Access on: 25/05/2021
ENG Female imprisonment in Brazil and Covid 19: a critical analysis of Acre 167

women who, at birth, were assigned female sex, raising another


invisibility, that of trans and transvestite women who find them-
selves within the prison system. Thus, transgender women con-
tinue to demand social and legal recognition as women, even
though they are not respected due to structural transphobia.
For this reason, throughout this article we will use cis and
trans women to crystallize the understanding about these dif-
ferent possibilities of existence, being fundamental that, when
talking about any identity, it is pointed out as part of cisgen-
der or transgender. To this end, the terms “cis” and “trans”,
respectively, when applied respectively to the discourse, help
the recognition of the identities presented and, consequently,
the inclusion of transgender people who often see their iden-
tities disrespected from a biologizing vision of the concept
of “gender”.
Prior to the release of the DEPEN report, in mid-2015, the
Socialism and Liberty Political Party (PSOL, for its acronym
in Portuguese) filed before the Supreme Federal Court (STF,
for its acronym in Portuguese) the Action for Infringement of
Fundamental Precept (ADPF4) No. 347, a process that seeks
recognition of the violation of the fundamental rights of people
imprisoned in the country.
Among other requests, theTherefore, ADPF 347 requested,
among other requests, that the STF: (i) to declare the state of
unconstitutionality of the Brazilian prison system; (ii) to deter-
mine that the Federal Government draw up a National Plan,
containing specific goals with respect to violations of the fun-
damental rights of prisoners throughout the country, in accor-
dance with the parameters outlined in the body of the ADPF;
(iii) to submit the National Plan to the analysis of the National
Council of Justice, the Attorney General’s Office, the Federal

4 ADPF, Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental


168 Polifonías para la equidad racial ENG

Public Defender’s Office, the Federal Council of the Brazilian


Bar Association, the National Council of the Public Prosecutor’s
Office and other bodies and institutions that wish to pronou-
nce themselves on the subject, in addition to listening to civil
society, through the holding of one or more public hearings; (iv)
to determine that the government of each state and of the Federal
District formulate and submit to this Federal Supreme Court, a
state or district plan that harmonizes with the National Plan; etc.
The discussion on the situation of persons deprived of liberty
became an issue before the Supreme Court with the objective
of a necessary intervention, but also the construction of a space
for dialogue between various institutions, to outline goals and
objectives to overcome the violations of rights in the Brazilian
prison system, which altogether characterize what came to be
called the “unconstitutional state of affairs”. This ADPF is still
in process in the STF, but after the vote of Judge Edson Fachin,
it was declared the understanding that the absence of legisla-
tive, administrative and budgetary measures are unable to solve
the structural failure of the prison system.
In May 2018, unlike the previous report, the second version
of INFOPEN Women5- with unified data between 2015 and
2016, obtained through an online questionnaire to the mana-
gers of the 1,460 registered units, among these 244 mixed, 107
female and 1,109 male was launched–without any disclosure.
Through the new and latest report, it can be observed that
the profile of cis women imprisoned in the country is extremely
similar to the social markers of the mechanisms of oppression,
which Juliana Borges states is a process of precarization of black
lives, whose central objective is to serve the genocidal project
of capitalism.

5 Available on: http://depen.gov.br/DEPEN/depen/sisdepen/infopen-mulheres/infopen-


mulheres_arte_07-03-18.pdf. Access on: 25/05/2021.
ENG Female imprisonment in Brazil and Covid 19: a critical analysis of Acre 169

According to the data of this INFOPENnfopen, as far as the


age range is concerned, 25.22% are between 18 and 24 years
old, 22.11% are between 25 and 29 years old, that is, 47.33%
of the cis women incarcerated are below 30 years old.
As for the race, the information was that a total of 63.55% are
black and brown women. And although this report presents that
the number of black cis women dropped proportionally from
67% to 63%, as well as in Acre which had 100% and now has
97%, it is also observed that in certain states the incarceration of
black cis women has increased a lot. In two years in Tocantins,
where the number of black cis women incarcerated in 2014 was
66%, in 2016 this number rose to 90%, a. As well as in Piauí,
from 79% to 90% and in Maranhão from 52% to 90%.

Women’s Prison System and Covid 19


As we can see from the above data, the increase in female incar-
ceration is evident and alarming, and with this growth are also
striking the systemic violations that occur, namely the lack of
access to basic personal hygiene care, respect for human dignity
and the difficulty in ensuring access to and monitoring of phy-
sical and mental health care.
These violations, recurrent in the penitentiary system –-
male and female––are intensified with the appearance of the
new virus, known as COVID 19 (SARS-cov2). The lack of per-
sonal hygiene material delivered by family members, the great
overcrowding in the already overcrowded cells, the rationing
of water, the lack of alcohol gel and the lack of use of masks
which, according to sanitary recommendations, would be the
minimum to avoid the proliferation of the virus.
To control the disease, on March 17, the National Council
of Justice (- CNJ)6, published the rRecommendation 62/2020,

6 CNJ, Conselho Nacional de Justiça [National Council of Justice]


170 Polifonías para la equidad racial ENG

signed by Minister Dias Toffoli, to be delivered to courts and


magistrates throughout Brazil. It provided the sStandardization
of the guidelines and measures to be taken by the Judiciary in
the face of COVID-19, to prevent the spread of the infection.
However, after the homologation of the recommendation (and
later also with its renewal) numerous debates arose. The debates
were based on the discussion of some points of the recommen-
dation, which wereas considered in total contradiction with the
Federal Constitution of 1988, such as the abstention of family
visits, the prohibition of receiving baskets with basic items, and,
in some places, as in Rio de Janeiro, in the absence of electronic
surveillance, the incarceration in a closed regime of those who
were in a semi-open regime.
However, several civil society groups also began to debate
and support this rRecommendation, which contained 16 arti-
cles. Among the articles, one, in particular, had a rapid and
surprising movement for most prison system researchers: the
determination of information on the existence of groups at risk
of infection by the new virus in prisons.
Thus, on March 20, letter No. 62/2020/DIRPP7/DEPE was
issued to analyze how many of the incarcerated cis women were
pregnant and had recently given birth, how many had children,
and how many had chronic illnesses. The response to this let-
ter arrived on April 29, 2020, where the number referring to
the specificities of cis women in the prison system was relea-
sed. Such data had been systematized and disclosed with the
following information: 208 cis women had been pregnant, 44
had given birth, 12,821 were mothers of children up to 12 years
old, 434 were aged 60 years or older in the system and 4,052
had chronic or respiratory diseases. At the same time, Brazil
had a total of 37,200 incarcerated cis -women.

7 DIRPP, Directoria de Políticas Penitenciárias [Directorate of Penitentiary Policies]


ENG Female imprisonment in Brazil and Covid 19: a critical analysis of Acre 171

A very important issue that deserves to be highlighted,


before moving on to the next topic of this paper, is the exor-
bitant number of 252 pregnant women or women who have
recently given birth and the 12,821 mothers of children up to
12 years of age who were in prison units in Brazil. Our legal
system, in Article 318 of the Criminal Procedure Law, guaran-
tees that women without a final conviction can serve house
arrest. In addition to this guarantee supported by law, ano-
ther guarantee emerged through Collective Habeas Corpus
143.641, filed before the Supreme Court in May 2017 and
which positively guaranteed house arrest in a preliminary
injunction, “[...] in favor of all women in preventive deten-
tion who have the status of pregnant or puerperal women or
mothers of children under their responsibility, as well as in
favor of the children themselves.”

Female Penitentiary System in Acre


Cândido Mendes de Almeida, current President of the
Penitentiary Council of the Federal District, published in his
report that in 1926, the penitentiary system had a total of 39
convicted cis women and from which, they were divided into 18
(eighteen) in São Paulo, 15 (fifteen) in Minas Gerais, 8 (eight)
women prisoners in the Federal District and 2 (two) in Niterói,
capital of Rio de Janeiro at the time.

“In that year, adding up all the convicted women from


these states and the Federal District, there was an approxi-
mate total of 39 convicted women serving in different
establishments. Among the reasons for the convictions,
there are homicides, infanticides, injuries, robberies and
use of intoxicants. In addition to these convicted women,
there were also those considered misdemeanors, who
172 Polifonías para la equidad racial ENG

were not legally classified as criminals, but were sent to


houses of correction, generally for “vagrancy”.8

The leap Brazil has been making in terms of the number of


cis women in prison is impressive, reaching a total of 44,721
in 2016 according to DEPEN. Acre was no different. In fact,
it was considered the state with the third-highest rate of cis
women in prison and has the highest incarceration rate in
Brazil, compared to the number of inhabitants the state has.
With the INFOPEN Infopen 2019 data, it was observed that
while female incarceration took that leap from 2000 to 2016, in
the years 2017 to 2018, the national female incarceration curve
began to decline, reaching the lowest figure in December 2018,
with 36. 400 cis women incarcerated and rising again, as obser-
ved in December 2019, with 37,200. That growth is also noti-
ceable in the State of Acre, where it was observed through an
extensive literature review and analysis of official data published
in 2009 that Acre had a total of 152 cis women incarcerated in
2009. In 2019 that number increases to 326, more than double
in 10 years.
About the number of people incarcerated in Acre, the visi-
tation report conducted by the National Council of the Public
Prosecutor’s Office in 2019, found that there were 709,746 peo-
ple deprived of liberty in the country in 1,428 penal establish-
ments. And of this total number of prisons, 13 were in the States
of Acre, housing a total of 6,410 people deprived of liberty,
having 3 female units and a total of 326 cis women incarcerated.
And despite recommendation 62 and the constitutional gua-
rantees of the pandemic moment, according to data from the
Institute of Penitentiary Administration of Acre –( IAPEN, [for

8 ALMEIDA, Cândido Mendes de. As mulheres criminosas no centro mais populoso do


Brasil. Diário
Oficial dos Estados Unidos do Brasil. Ano LXVII, n.53, mar.1928. p. 6293
ENG Female imprisonment in Brazil and Covid 19: a critical analysis of Acre 173

its acronym in Portuguese)] in December 2020, the state had 339


women incarcerated, in the three penitentiary units mentioned,
with one unit in the Capital and the other two in the interior.
Through the quantitative and qualitative data available it
was possible to observe that in the Rio Branco Female Closed
Regime Unit (URFF, for its acronym in Portuguese) the capacity
was 96 cis women and in the mentioned period there were 281
women, being namely 235 black cis women, 16 white cis women
and 30 cis women with no ethnicity information as to ethnicity.;
In the Moacir Prado Tarauacá Penitentiary Unit–(UPMP, for its
acronym in Portuguese)), the unit’s capacity is 36 cis women, and
it had 32 cis women incarcerated, 20 of them black cis and 12
white.; and finallyLastly, the Manoel Néri da Silva Penitentiary
Unit (UPMNS, for its acronym in Portuguese)), whose capa-
city is 89 cis women, had 26 cis women:, being 23 black and 3
women with no information as to race.
In 2018, the Inter-American Commission on Human Rights
(IACHR) conducted a visit in-situ to Brazil, which analyze-
ding and directly pointeding out how the Public Security and
Criminal Justice system in Brazil is in an extremely unequal
context, in which racism and structural criminalization of the
black population persists significantly.
In 2014, the state of Acre had 100% black cis women in pri-
son and according to data from the Penitentiary Administration,
in December 2020, the state still had one unit whose entire
composition wais constituted by black women and another unit
whose total number of black cis women is 235 with only 16
white cis women in the referred penal institute.
Dina Alves9 always brings up in her texts a reflection consi-
deration and affirmation to what she calls the relationship

9 Dina Alves is an effective member of Adelinas–Autonomous Collective of Black Women.


Dr. in Social Sciences from PUC/SP. Master’s degree in Social Sciences from Pontifícia Católica
de São Paulo.
174 Polifonías para la equidad racial ENG

senzala-favela-prison, by analyzing not only the number of bla-


cks in prison but also the number of blacks who are victims
of police execution by the State every day, showing the struc-
tural and institutional racism in which Brazil lives and being
thisoffering a quantitative demonstration that this relation is
even more evident in the spaces of deprivation of liberty even
more evident.
Despite being somewhat obvious, the categorization of the
concept of iInstitutional rRacism was coined, in 1960, through
the work essay “Black Power: the politics of Liberation in
America (1967)” written by the intellectuals and activists for the
civil rights of blacks in the USAUnited States of America and,
members of the Black Panthers movement, Stokely Carmichael
and Charles Hamilton., that is,As they state in their work, the
institutional racism “it is the collective failure of an organiza-
tion to provide an adequate and professional service to people
because of their color, culture or ethnic origin.”10.
In Brazil, the concept of sStructural rRacism gained strength
with the launching of the book O que é o racismo estrutural?
written by jurist Silvio Almeida11, which clarifies the differences
between individual, institutional and structural racism, making
it clear that institutional racism is characterized by the massive
presence of certain groups in the institutions of power.
Thus, as mentioned above, it becomes urgent to analyze the
incarceration of cis women with a racial bias, since in Brazil
incarceration is mostly of a specific color.

10 HAMILTON, Charles V.; KWANE, Ture. Black power. The politics of liberation in Ame-
rica. New York: Random House Vintage, 1967.
11 ALMEIDA, Silvio. O que é racismo estrutural? Belo Horizonte: Letramento, 2018
ENG Female imprisonment in Brazil and Covid 19: a critical analysis of Acre 175

Concluding remarks

“As already exposed, the gender cutout does not account


for the discussion related to incarcerated women, since
it makes invisible the fact that there are experiences that
depend on or originate from the race to which these women
belong. In the case of women deprived of their liberty, the
simple gender cutout erases the colors of female prisoners
and masks the racial oppressions they experience –-such as
those discussed in this paper–-, sometimes pointing them
out as gender oppressions, sometimes throwing them under
the carpet. However, it is well known that this is far from
the only discussion in which it becomes necessary to point
out the multiple specificities of oppressed groups. Gender,
race, social class, age, physical disability, all of these are cate-
gories that, when articulated, project identities that suffer
their own oppressions originated precisely at this intersec-
tion. The concept of intersectionality comes to account for
this process.” 12

As Júlia Flauzino points out, in her article, “The Loneliness of


Black Women in Prison,” it the purpose of this analysis is not
the purpose to conclude, but rather to provide a reflection on
the perceived absence and omission of race in the discussion
of female incarceration. Thus, social practices and the criminal
justice system in our country only serve to erase and increasin-
gly invisibilize black cis women, further exacerbating this lone-
liness, as history has shown us in recent years.
The authors Evans Pritchard (1974), Michel Foucault (1997),
Louis Wacquant (2001), Achille Mbembe (2013), Michelle

12 FLAUZINO, Julia. Article published on the 3º Seminário Internacional de Pesquisa em


Prisão: A solidão da mulher negra encarcerada. Pág 3. 2017
176 Polifonías para la equidad racial ENG

Alexander (2017) and Dina Alves (2018) were used as theoretical


references from a socio-anthropological perspective. However,
this article has also the intention of “desbrancalização,” a term
Juliana Borges uses to assert that “black women wish to wage
not only a struggle for identities but also a struggle for the radical
transformation of society.” She This essay also draws on the pers-
pective of intersectionality to relate Black cis women’s incarcera-
tion to the Black feminist epistemologies of Patricia Hill Collins
(2000), Kimberle Crenshaw (2002), Sueli Carneiro (2003), Carla
Akotirene (2014), Angela Davis (2016), Joice Berth (2018), and
Juliana Borges (2018), Carla Akotirene (2014), Angela Davis
(2016), Joice Berth (2018), and Juliana Borges (2018).
Therefore, it is observed from the data survey and the lite-
rature review that Brazil still needs numerous public policies
aimed at incarcerated women. The proposal of these public poli-
cies urgently needs to be analyzed and thought not only from a
gender perspective but above all, from a race perspective. In this
way black cis and trans women will be above the double stig-
matization that involves, for white incarcerated women, being
classified as women and criminals, without having to deal with
racism and transphobia.
Thus, we conclude, as Sheila de Carvalho also constantly
affirms, that changes arise when blacks are in places of power.
In view of this, it is urgent that civil society organizations, mostly
white, strengthen institutionally the mostly black organizations,
seeking a change in the debates and in the look with which these
discussions are initiated, mainly seeking that racial issues cease
to be a cutout and become a marker. It is not surprising that
in Brazil we have penitentiary units, as already mentioned, in
which the number of cis black women incarcerated occupies the
ranking of 100% and we do not see mobilizations to highlight
structural and institutional racism efficiently.
PORTUGUÊS

Encarceramento Feminino no Brasil


e a Covid 19: Uma análise crítica sobre
o Acre

Caroline Mendes Bispo1

Resumo: Em novembro de 2015, foi lançado o primeiro relatório específi-


co sobre mulheres cis encarceradas no Brasil, chocando a todos com a in-
formação acerca do crescimento entre os anos de 2000 e 2014, em 567,4%.
Outra informação, tão ou mais chocante no referido relatório, era sobre o
Estado do Acre, em que 100% das mulheres encarceradas eram de mulhe-
res negras. O relatório trazia à baila das discussões a urgência de se fazer um
recorte de raça, para além do recorte de gênero, visando entender esse ex-
ponencial aumento no encarceramento de mulheres no Brasil. Dentro desse
contexto, o presente artigo parte de uma inquietação pessoal acerca do si-
lêncio sobre as mulheres negras encarceradas no Acre, tendo como objetivo
central demonstrar a situação crítica das mulheres encarceradas nesse estado.
Para tal, utilizamos como metodologia a análise documental e bibliográfica.

Palavras-chave: Sistema de Justiça Criminal. Sistema Prisional Feminino.


Encarceramento Feminino. Covid 19. Acre.

1 Caroline Bispo, é mestranda do Programa de Pós-graduação da Universidade Federal


Fluminense, na linha de Segurança Pública e Justiça. É advogada de Segurança Pública da
ONG Redes da Maré. Diretora Presidente da Associação Elas Existem Mulheres Encarceradas.
Vice-presidente da Comissão de Socioeducativo da OABRJ. Membra da Comissão de Segurança
Pública da OAB Federal e OABRJ.
178 Polifonías para la equidad racial POR

Introdução

“As desigualdades sociais, econômicas e culturais se revelam


de maneira diferenciada no processo de adoecer e morrer
das populações e de cada pessoa em particular. De acordo
com os indicadores de saúde, as populações expostas a
condições precárias de vida estão mais vulneráveis e vivem
menos. Levando em consideração as históricas desigual-
dades de poder entre homens e mulheres, existe um forte
impacto nas condições de saúde dessas últimas, em espe-
cial no sistema prisional, de modo que a questão de gênero
deve ser considerada como um dos determinantes da saúde
na formulação das políticas públicas dentro das prisões.” 2

Em 5 de novembro de 2015, foi publicado o primeiro relató-


rio nacional sobre a população penitenciária feminina do país,
o INFOPEN Mulheres3–com dados sistematizados no período
de junho de 2014. Segundo o Departamento Penitenciário
Nacional (DEPEN), responsável pela elaboração do Levan-
tamento Nacional de Informações Penitenciárias, entre os
anos de 2000 e 2014 a população penitenciária feminina subiu
de 5.601 para 37.380, um crescimento de 567% em 14 anos.
Tratava se de uma publicação inédita no Brasil, pois apesar de
existir o Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias
desde o ano de 2004, foi a primeira vez que houve o recorte de
gênero, onde pode-se analisar as especificidades das mulheres.
Infelizmente esses números, assim como todos os dados
que iremos apresentar neste artigo, trata se exclusivamente
de mulheres cis, ou seja, mulheres que nasceram com o sexo

2 Delziovo, Carmem Regina e outras. Atenção à Saúde da Mulher Privada de Liberdade.


UFSC – Florianópolis 2015, pg. 9
3 Disponível em: http://www.justica.gov.br/noticias/mj-divulgara-novo-relatorio-do-in-
fopen-nesta-terca-feira/relatorio-depen-versao-web.pdf. Acesso em 25/05/2021
POR Encarceramento Feminino no Brasil e a Covid 19: Uma análise crítica sobre o Acre 179

biológico feminino, levantando uma outra invisibilidade que são


as mulheres trans e travestis que se encontram dentro do sis-
tema prisional. Dessa forma, as mulheres transexuais ainda con-
tinuam reivindicando reconhecimento social e legal enquanto
mulheres, muito embora não sejam respeitadas devido a trans-
fobia estrutural.
Diante disso, durante todo o artigo utilizaremos mulheres
cis e mulheres trans para cristalizar o entendimento acerca
das diferentes possibilidades de existência, sendo fundamen-
tal que, ao se falar de alguma identidade, ela seja pontuada
enquanto parte da cisgeneridade ou da transgeneridade. Para
tanto, os termos “cis” e “trans”, respectivamente, quando apli-
cados ao discurso, ajudam no reconhecimento das identida-
des apresentadas e, consequentemente, na inclusão de pessoas
transgêneras que, tantas vezes, têm suas identidades desres-
peitadas a partir de uma visão biologizante acerca do conceito
de “gênero”.
Antes do lançamento do relatório do DEPEN, em meados de
2015, foi ajuizada pelo Partido Político Socialismo e Liberdade
(PSOL), a Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental
(ADPF) de nº 347, no Supremo Tribunal Federal (STF), pro-
cesso que postula o reconhecimento da violação dos direitos
fundamentais das pessoas encarceradas no país.
A ADPF 347 requereu, entre outros pedidos, ao STF: (i)
que declare o estado de coisas inconstitucional do sistema peni-
tenciário brasileiro; (ii) que determine que o Governo Federal
elabore um Plano Nacional, contendo metas específicas no
que diz respeito às violações de direitos fundamentais dos pre-
sos em todo o país de acordo com os parâmetros delineados
no corpo da ADPF; (iii) submeta o Plano Nacional à análise
do Conselho Nacional de Justiça, da Procuradoria Geral da
República, da Defensoria Geral da União, do Conselho Federal
da Ordem dos Advogados do Brasil, do Conselho Nacional do
180 Polifonías para la equidad racial POR

Ministério Público e de outros órgãos e instituições que quei-


ram se manifestar sobre o tema, além de ouvir a sociedade civil,
por meio da realização de uma ou mais audiências públicas;
(iv) determine ao governo de cada Estado e do Distrito Federal
que formule e apresente a este egrégio Supremo Tribunal
Federal, um plano estadual ou distrital que se harmonize com
o Plano Nacional e etc.
A discutição sobre a situação das pessoas privadas de liber-
dade passou a ser uma questão perante o Supremo Tribunal
Federal visando uma intervenção necessária, mas também a
construção de um espaço de diálogo entre diversas instituições,
com o objetivo de traçar metas e objetivos para a superação das
violações de direitos no sistema prisional brasileiro, que juntas
caracterizam o que passou a ser chamado o “estado de coisas
inconstitucionais”. Tal ADPF encontra-se ainda em andamento
no STF, porém após o voto do Ministro Edson Fachin, foi decla-
rado o entendimento de que a ausência de medidas legislativas,
administrativas e orçamentárias são incapazes de solucionar a
falha estrutural do sistema prisional.
Em maio de 2018, diferentemente do relatório anterior,
foi lançado sem qualquer divulgação a segunda versão do
INFOPEN Mulheres4- com dados unificados entre os anos de
2015 e 2016, obtidos através de um questionário on-line dos
gestores das 1.460 unidades registradas, dentre essas 244 mis-
tas, 107 femininas e 1.109 masculinas.
Através do novo e último relatório, percebe se que o perfil
das mulheres cis encarceradas no país são extremamente pare-
cidos com os marcadores sociais dos mecanismos de opressão,
o que Juliana Borges5 afirma ser um processo de precarização

4 Disponível em: http://depen.gov.br/DEPEN/depen/sisdepen/infopen-mulheres/infopen-


mulheres_arte_07-03-18.pdf. Acesso em 25/05/2021.
5 Borges, Juliana. Mulheres Negras na Mira–Guerra às drogas e cárcere como política de
extermínio. Revista SUR 28–v.15 n.28. pág.45–53 | 2018
POR Encarceramento Feminino no Brasil e a Covid 19: Uma análise crítica sobre o Acre 181

de vidas negras, cujo objetivo central é o de servir ao projeto


genocida do capitalismo.
Segundo os dados deste Infopen, no que tange à faixa etá-
ria, 25,22% possuem entre 18 e 24 anos, 22,11% entre 25 e 29
anos, ou seja, 47,33% das mulheres cis encarceradas encon-
trava se abaixo dos 30 anos de idade.
Com relação ao recorte de raça, a informação era de que um
total de 63,55% são de mulheres cis pretas e pardas. E apesar
desse relatório apresentar que proporcionalmente os números
de mulheres cis negras caiu de 67% para 63%, assim como no
Acre, que possuía 100% e passa a ter 97%, observa-se também
que em determinados estados o encarceramento de mulheres cis
negras subiu grandiosamente. Em dois anos no Tocantins, onde
o número de mulheres cis negras encarceradas em 2014, era de
66% em 2016, esse número passou para 90%. Assim como no
Piauí, de 79% para 90% e no Maranhão de 52% para 90%.

Sistema Prisional Feminino e o Covid 19


Como verificamos pelos dados apontados, o aumento do encar-
ceramento feminino é evidente e alarmante, e com esse cresci-
mento as violações sistêmicas que ocorrem também são gritantes,
quais sejam, a falta de acesso a cuidados básicos de higiene pes-
soal, ao respeito da dignidade da pessoa humana e à dificuldade
de garantia de acesso e acompanhamento de cuidados em saúde,
física e mental.
Tais violações, recorrentes no sistema prisional – feminino e
masculino – são intensificadas mediante o surgimento do novo
vírus, conhecido como covid 19. A falta de materiais de higiene
pessoal entregues pelos familiares, grande aglomeração nas celas
já superlotadas, racionamento de água, desabastecimento de
álcool em gel e a falta de utilização de máscara que segundo as
recomendações de saúde, seriam o mínimo para evitar a proli-
feração do vírus.
182 Polifonías para la equidad racial POR

Visando o controle da doença, no dia 17 de março, o


Conselho Nacional de Justiça – CNJ, publicou a Recomendação
62/20206, assinado pelo Ministro Dias Toffoli, para ser entregue
aos tribunais e magistrados de todo o Brasil. Uma padronização
de orientações e medidas a serem tomadas pelo Judiciário no
enfrentamento ao covid-19, com o intuito de evitar propagação
à infecção. Contudo, inúmeros debates surgiram após a homo-
logação da recomendação (e posteriormente também com sua
renovação). As discussões se baseavam em discutir alguns pon-
tos da recomendação que acreditava se contrariava totalmente à
Constituição Federal de 1988, como a abstinência de visita fami-
liar, proibição de recebimento de cestas com itens básicos e em
alguns locais, como no Rio de Janeiro, na ausência de monitora-
mento eletrônico o encarceramento em regime fechado daque-
les que se encontravam em regime semiaberto.
Contudo, diversos grupos da Sociedade Cível também pas-
saram a discutir e apoiar a referida Recomendação, que pos-
suía em seu corpo 16 artigos. Entre os artigos, um em específico
teve uma movimentação rápida e surpreendente para a maioria
dos pesquisadores sobre sistema prisional. A determinação de
informações acerca da existência de grupos de riscos para infec-
ção com o novo vírus nas unidades prisionais.
E no dia 20 de março, foi expedido o ofício de nº 62/2020/
DIRPP/DEPE, cujo objetivo era o de analisar entre as mulheres
cis encarceradas quantas se encontravam grávidas e puérperas,
quantas possuíam filhos e quantas possuíam doenças crônicas.
A resposta desse ofício veio no dia 29 de abril de 2020, onde
foram divulgados os números referentes às especificidades das
mulheres cis no sistema prisional. Tais dados foram sistematiza-
dos e divulgados com a seguinte informação: 208 mulheres cis

6 BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Recomendação 62. Disponível em https://elase-


xistem.files.wordpress.com/2020/04/recomendacao-62-cnj.pdf Acesso em 25/05/2021
POR Encarceramento Feminino no Brasil e a Covid 19: Uma análise crítica sobre o Acre 183

encontravam se grávidas; 44 puérperas; 12.821 eram mães de


crianças até 12 anos; 434 possuam idade igual ou superior a 60
anos no sistema e 4.052 possuíam doenças crônicas ou respira-
tórias. Nesse mesmo momento, o Brasil contava com um total
de 37.200 mulheres cis encarcerada.
Uma questão deveras importante e que merece destaque, antes
de passarmos para o próximo tópico desse trabalho, é o número
exorbitante de 252 mulheres grávidas ou puérperas e 12.821 mães
de crianças até 12 anos que encontravam-se em unidades prisio-
nais pelo Brasil. Nosso ordenamento jurídico no artigo 318 do
Código de Processo Penal garante, àquelas sem condenação com
trânsito em julgado, que mulheres nessas condições possam cum-
prir prisão domiciliar. Além dessa garantia respaldada na Lei,
uma outra garantia surgiu através do Habeas Corpus Coletivo
143.641, impetrado perante o Supremo Tribunal Federal, em
maio de 2017 e garantiu positivamente a prisão domiciliar em
sede de medida liminar, “[...] em favor de todas as mulheres pre-
sas preventivamente que ostentem a condição de gestantes, de
puérperas ou de mães de crianças sob sua responsabilidade, bem
como em nome das próprias crianças”.

Sistema Prisional Feminino no Acre


Cândido Mendes de Almeida, em 1928, então Presidente do
Conselho Penitenciário do Distrito Federal, publicou em seu
relatório que no ano de 1926, o sistema prisional contava com
o total de 39 mulheres cis condenadas e desse total, elas se divi-
diam em 18 (dezoito) em São Paulo, 15 (quinze) em Minas
Gerais, 8 (oito) mulheres presas no Distrito Federal e 2 (duas)
em Niterói, capital do Rio de Janeiro à época.

“Naquele ano, somando todas as condenadas desses esta-


dos e do Distrito Federal, havia um total aproximado de
39 condenadas por crimes cumprindo pena em diferentes
184 Polifonías para la equidad racial POR

estabelecimentos. Dentre as razões para as condenações


estavam as práticas de homicídio, infanticídio, ferimento,
roubo e uso de tóxicos. Além destas condenadas, havia
ainda aquelas mulheres consideradas contraventoras, que
não se enquadravam legalmente como criminosas, mas
eram recolhidas às casas de correção, em geral por “vadia-
gem” 7

É impressionante o salto que o Brasil vem dando com relação


ao número de mulheres cis encarceradas, chegando no ano de
2016 ao total de 44.721 segundo o DEPEN. E no Acre não foi
diferente. Na verdade, ele foi considerado o terceiro Estado
com o maior índice de mulheres cis encarceradas, tendo a maior
taxa de encarceramento do Brasil8, em comparação ao número
de habitantes que o Estado possui.
Com os dados do Infopen de 2019, se observou que ape-
sar do encarceramento feminino ter dado esse salto de 2000 a
2016, nos anos de 2017 a 2018 a curva do encarceramento femi-
nino nacional começou a baixar, chegando ao menor número
em dezembro de 2018, com 36.400 mulheres cis encarceradas
e voltando a crescer, como se observa em dezembro de 2019,
com 37.200.
Esse crescimento é notório também no Estado do Acre, onde
foi observado através de uma expansiva revisão bibliográfica e
a análise dos dados oficiais publicados, que no ano de 2009 o
Acre possuía o total de 152 mulheres cis encarcerada e em 2019
esse número passa para 326, chegando a mais do que dobrar no
período de 10 anos.

7 ALMEIDA, Cândido Mendes de. As mulheres criminosas no centro mais populoso do


Brasil. Diário Oficial dos Estados Unidos do Brasil. Ano LXVII, n.53, mar.1928. p. 6293
8 Superlotação carcerária no Acre é destaque mundial: Disponível em https://www.migalhas.
com.br/depeso/321452/superlotacao-carceraria-no-acre-e-destaque-mundial Acesso 25/05/2021
POR Encarceramento Feminino no Brasil e a Covid 19: Uma análise crítica sobre o Acre 185

Sobre o número de pessoas presas no Acre, o relatório de


visitas9 realizado pelo Conselho Nacional do Ministério Público
em 2019, constatou que existiam 709.746 pessoas privadas de
liberdade no País em 1.428 estabelecimentos penais. E desse
total de estabelecimentos prisionais, 13 se encontravam no
Estados do Acre, abrigando um total de 6.410 pessoas priva-
das de liberdade, tendo 3 unidades femininas e o total de 326
mulheres cis encarcerada.
E apesar da recomendação 62 e das garantias constitucio-
nais do momento pandêmico, segundo os dados do Instituto
de Administração Penitenciária do Acre – IAPEN em dezem-
bro de 202010, o Estado contava com 339 mulheres encarcera-
das, nas três unidades prisionais mencionadas, sendo uma na
capital e as outras duas no interior.
Através dos dados quantitativos e qualitativos disponibili-
zados, pôde-se observar que na Unidade de Regime Fechado
Feminina de Rio Branco (URFF) a capacidade era de 96 mulhe-
res cis e no período mencionado existiam 281 mulheres, sendo
235 mulheres cis negras, 16 mulheres cis brancas e 30 mulhe-
res cis na unidade que não possui informações quanto a etnia.
Na Unidade Penitenciária Moacir Prado Tarauacá – (UPMP), a
capacidade da unidade é de 36 mulheres cis, e contava com 32
mulheres cis encarcerada, sendo 20 delas mulheres cis negras e
12 brancas. E por fim, a Unidade Penitenciária Manoel Néri da
Silva (UPMNS), cuja capacidade é de 89 mulheres cis, contava
com 26 mulheres cis, sendo 23 mulheres cis negras e 3 mulhe-
res cis sem informação quanto a raça.

9 Relatório de visitas do Conselho Nacional do Ministério Público de 2019. Disponível em


https://cnmp.mp.br/portal/images/noticias/2019/setembro/Relat%C3%B3rio_de_Visitas_Pri-
sionais_-_ACRE.pdf Acesso em 25/05/2021
10 Dados qualitativos e quantitativos disponíveis em http://iapen.acre.gov.br/dados/ Acesso
em 25/05/2021
186 Polifonías para la equidad racial POR

Em 2018, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos


(CIDH) fez uma visita in loco ao Brasil, analisando e pontuando
de forma direta o quanto o sistema de Segurança Pública e
Justiça Criminal no Brasil encontrava-se num contexto extre-
mamente desigual11, em que o racismo e a criminalização estru-
tural da população negra persistem de forma expressiva.
Em 2014, o Estado do Acre possuía 100% de mulheres
negras cis encarcerada e conforme os dados da Administração
Penitenciaria, em dezembro de 2020, o Estado ainda possuía
uma unidade cuja composição inteira é de mulheres negras e
outra unidade, cujo número total de mulheres cis negras é de
235 para 16 mulheres cis branca no referido instituto penal.
Dina Alves12, traz em seus textos sempre uma reflexão e afir-
mação ao que ela chama de relação senzala-favela-prisão, ao ana-
lisarmos não somente o número de pessoas negras encarceradas,
mas também o número de pessoas negras que são vítimas de exe-
cução policial pelo Estado diariamente, evidenciando o racismo
estrutural e institucional o qual o Brasil vivencia e sendo essa
demonstração quantitativa nos espaços de privação de liberdade
ainda mais evidente.
Apesar de ser algo evidente, a categorização do conceito de
Racismo Institucional foi cunhada, em 1960, através da obra
“Black Power: The Politics of Liberation in America (1967)”
dos intelectuais e ativistas pelos direitos civis dos negros nos
EUA, integrantes do movimento dos Panteras Negras, Stokely
Carmichael e Charles Hamilton, qual seja, “trata-se da falha

11 Sobre isso, Nicky Fabiancic, coordenador-residente do Sistema das Nações Unidas no


Brasil, indica que os dados mostram a “dura realidade” enfrentada pela juventude negra bra-
sileira, “que sofre o impacto do racismo estrutural que precisamos combater”. Ver em: ONU
Brasil. O racismo mata e não podemos ser indiferentes. Disponível em: https://nacoesunidas.
org/o-racismo-mata-e-nao-podemos-ser-indiferentes-diz-onu-brasil-em-lancamento-da-cam-
panha-vidasnegras/ . Acesso em: 30 de maio de 2020
12 Dina Alves é membra efetiva do Adelinas – Coletivo Autônomo de mulheres Pretas. Dou-
tora em Ciências Sociais pela PUC/SP. Mestre em Ciências Sociais pela Pontifícia Católica de
São Paulo.
POR Encarceramento Feminino no Brasil e a Covid 19: Uma análise crítica sobre o Acre 187

coletiva de uma organização em prover um serviço apropriado


e profissional às pessoas por causa de sua cor, cultura ou ori-
gem étnica” 13.
No Brasil, o conceito de Racismo Estrutural ganha força
com o lançamento do livro do jurista Silvio Almeida14, que elu-
cida de forma escurecida as diferenças entre racismo individual,
institucional e estrutural, deixando evidente que o racismo ins-
titucional é a presença massiva de determinados grupo nas ins-
tituições de poder.
Dessa forma, como já dito anteriormente, se torna urgente
analisar o encarceramento de mulheres cis, com a realização
de um recorte de raça, pois no Brasil o encarceramento possui
majoritariamente uma cor específica.

Considerações Finais

“Como já exposto, o recorte de gênero não dá conta da dis-


cussão relacionada às mulheres encarceradas, uma vez que
invisibiliza o fato de que existem experiências que dependem
ou se originam da raça a qual essas mulheres pertencem. No
caso das mulheres privadas de liberdade, o simples recorte
de gênero apaga as cores das mulheres presas e mascara as
opressões raciais por elas vividas – como as discutidas neste
trabalho – ora apontando-as como opressões de gênero, ora
jogando-as para debaixo do tapete. Porém, é sabido que esta
está longe de ser a única discussão onde se torna necessário
o apontamento das múltiplas especificidades de grupos opri-
midos. Gênero, raça, classe social, idade, deficiência física,
todas estas são categorias que, quando articuladas, proje-
tam identidades que sofrem opressões próprias originadas

13 HAMILTON, Charles V.; KWANE, Ture. Black power. The politics of liberation in Ame-
rica. New York: Random House Vintage, 1967.
14 ALMEIDA, Silvio. O que é racismo estrutural? Belo Horizonte: Letramento, 2018
188 Polifonías para la equidad racial POR

exatamente dessa intersecção. É deste processo que o con-


ceito de interseccionalidade vem dar conta.” 15

O presente artigo não vem com a proposta de chegar a uma con-


clusão, e sim de trazer uma reflexão, como aponta Júlia Flauzino
em “A solidão da mulher negra encarcerada”, já no título de seu
artigo: a percepção de que há ausência e omissão do recorte de
raça na discussão do encarceramento feminino. Desta forma, as
práticas sociais e do sistema de justiça criminal em nosso país tão
somente serve para apagar e invisibilizar cada vez mais as mulhe-
res cis negras, aumentando ainda mais a referida solidão, como
nos mostra a história ao longo dos últimos anos.
Buscou se neste trabalho utilizar como referencial teórico
na perspectiva socioantropológica os autores Evans Pritchard
(1974), Michel Foucault (1997), Louis Wacquant (2001), Achille
Mbembe (2013), Michelle Alexander (2017) e Dina Alves
(2018), contudo, o presente artigo possui também o intuito de
desbrancalização, termo que Julian Borges utiliza para afirmar
que “as mulheres negras desejam travar não apenas uma luta por
identidades, mas também uma luta por transformação radical da
sociedade”, por isso, encontra-se embasado também na perspec-
tiva da interseccionalidade para relacionar o encarceramento de
mulheres cis negras às epistemologias feministas negras a partir
de Patricia Hill Collins (2000), Kimberle Crenshaw (2002), Sueli
Carneiro (2003), Carla Akotirene (2014), Angela Davis (2016),
Joice Berth (2018) e Juliana Borges (2018).
Dessa forma, observa-se a partir dos levantamentos de dados e
da revisão bibliográfica, que o Brasil ainda precisa muito de inú-
meras políticas públicas voltadas para as mulheres encarceradas.
A proposição dessas políticas públicas necessita urgentemente

15 FLAUZINO, Julia. Artigo apresentado no 3º Seminário Internacional de Pesquisa em


Prisão: A solidão da mulher negra encarcerada. Pag. 3. 2017
POR Encarceramento Feminino no Brasil e a Covid 19: Uma análise crítica sobre o Acre 189

ser analisada e pensada não apenas sob a ótica do recorte de


gênero, mas sobretudo, do recorte de raça. Desse modo estando
elas, as mulheres cis e trans negras, acima da dupla estigmati-
zação que mulheres brancas encarceradas, encontram-se sendo
classificadas como mulher e criminosa, sem lidar com o racismo
e a transfobia.
Assim concluímos, como também afirma Sheila de Carvalho
constantemente, que as mudanças surgem quando pessoas
negras estão em lugares de poder. Diante disso existe uma
necessidade urgente de organizações majoritariamente brancas
da sociedade civil fortalecerem institucionalmente organizações
majoritariamente negras, visando uma mudança nas discussões
e no olhar que essas discussões se iniciam, visando principal-
mente que as questões raciais deixem de ser um recorte e pas-
sem a ser um marcador. Não à toa no Brasil temos unidades
prisionais, como já citado, em que o número de mulheres cis
negras encarceradas ocupam o ranking de 100% e não vemos
mobilizações para evidenciar o racismo estrutural e institucio-
nal de maneira eficiente.
S EGU NDA PA RTE

OTRAS FORMAS Y ESPACIOS


DE DISCRIMINACIÓN

GLENDA PALACIOS

La pandemia antes de la pandemia: poblaciones negras


entre el hambre, el despojo y la muerte.

KENDRY SERRANO

Medios de comunicación, entre el racismo estructural


y la invisibilidad de la población afrocolombiana.

ANDRÉS VALERO

La igualdad material como comparación: mi experiencia


viviendo la igualdad formal estadounidense.
ESPAÑOL

La pandemia antes de la pandemia:


poblaciones negras entre el hambre,
el despojo y la muerte

Glenda Palacios

Las comunidades negras en Colombia han enfrentado de forma


sistemática múltiples eventos negativos producto de las diversas
matrices de opresión vinculadas con la raza, la clase y el género,
características entre las que, si bien están socialmente diferen-
ciadas, comparten una importante interconexión entre ellas
(Urrea, Viáfara y Viveros, 2019; Viáfara, 2005). El racismo, cuya
estructura económica, política, social y moral se sustenta en un
sistema de dominación, acumulación y desposesión basado en
desigualdades étnico-raciales (Bonilla-Silva, 1997), ha sido un
factor estructural para la deshumanización, negación y extermi-
nio de las poblaciones negras.
Todo ello explica los altos y crecientes niveles de empobre-
cimiento, inequidad y exclusión en torno a estas comunidades
(Urrea y Viáfara, 2007; García, Rodríguez, Sánchez y Bedoya,
2015). Estas situaciones no solo inciden en una baja capaci-
dad para superar umbrales mínimos de supervivencia (Viáfara,
Vivas; Urrea, Rodriguez, 2015), sino que están acompañados
de la reproducción continua de mortalidad (Urrea, et.al. 2015)
y violencia (ACNUR, 2012), que inciden en las condiciones de
194 Polifonías para la equidad racial ESP

bienestar y desarrollo e inducen un fallo en el goce efectivo de


derechos fundamentales (Rodríguez, Alfonso y Cavelier, 2009,
Informe Cimarrón 2010-2013).
Todos estos factores conducen a que las personas afrodes-
cendientes sean afectadas por varias acciones que afectan de
manera importante sus oportunidades de vida, lo cual podría
tener efectos permanentes y aún más lesivos como los que acon-
tecen en situaciones coyunturales como la reciente pandemia.
El objetivo de este ensayo es reflexionar sobre dos condi-
ciones de vulnerabilidad y desprotección previo a la pandemia
ocasionada por el Covid-19: la falta de seguridad alimentaria y
el desplazamiento forzado y despojo de tierras en el marco del
conflicto armado colombiano. Para el primer caso, se describe
la situación de seguridad alimentaria comparando el compor-
tamiento en poblaciones afrodescendientes o en territorios con
alta concentración de esta versus personas o municipios de alta
participación de población blanca-mestiza. Con relación al des-
plazamiento y el despojo de tierras, hechos victimizantes exa-
cerbados y más visibilizados en el marco del conflicto armado,
el análisis se realiza discriminando por grupos étnico-racia-
les para identificar niveles de afectación y en ese sentido, la
desproporcionalidad del conflicto. Finalmente, se exponen
las estadísticas de letalidad por el Covid-19 por grupos étni-
cos raciales y se arrojan unas potenciales conclusiones sobre
sus determinantes.

Seguridad alimentaria, desplazamiento y despojo de tierras


“El desarrollo humano y los resultados en salud dependen
de la interacción de diferentes factores a lo largo del curso
de la vida, de experiencias acumulativas y situaciones presen-
tes de cada individuo influenciadas por el contexto familiar,
social, económico, ambiental y cultural” (Ministerio de Salud
y Protección Social, s.f). Entre esos factores se encuentra la
La pandemia antes de la pandemia: poblaciones negras
ESP entre el hambre, el despojo y la muerte 195

ingesta alimentaria. Se ha encontrado que los déficits nutri-


cionales en los primeros 1000 días de vida provocan un dete-
rioro del crecimiento y el desarrollo cognitivo con efectos
duraderos en el logro de capital social y humano (Victora et
al., 2008). Así mismo, una adecuada nutrición en los prime-
ros días o meses de vida produce cambios irreversibles en el
cerebro con implicaciones de largo plazo en resultados no solo
socioemocionales sino también socioeconómicos (Ramírez-
Luzuriaga, et.al 2020).
Como se presenta en el Gráfico 1, la prevalencia de insegu-
ridad alimentaria severa, entendida como la situación en que
las personas a menudo se quedan sin alimento y están todo un
día sin comer durante varios días al año (FAO, <en línea>),
fue del 8,5% a nivel nacional (Ensin, 2015). El comporta-
miento geográfico muestra que los hogares ubicados en depar-
tamentos con mayor concentración de grupos étnicos-raciales
(comunidades afrodescendientes e indígenas) enfrentaron las
mayores vulnerabilidades. Específicamente, el Chocó, depar-
tamento de Colombia con la mayor participación relativa de
población afrodescendiente (73,82%), presentó la proporción
más alta de hogares en inseguridad alimentaria severa, 33,5%,
seguido por el departamento de La Guajira con un 25,5% de
hogares en dicha situación. En este último departamento la
participación de población indígena es del 47,8%. Todo ello
contrasta con la situación en departamentos como Boyacá y
Norte de Santander, cuya población étnica ni siquiera supera
el 1% y las tasas de hogares con inseguridad alimentaria severa
se ubican por debajo de la media nacional, con un 6,1% y
4,1% respectivamente.
A nivel de hogar, las estadísticas también evidencian que
existen brechas significativas en los hogares cuyo jefe de hogar
es afrodescendiente, presentando 1,3 veces la prevalencia de
inseguridad alimentaria en comparación de los hogares sin
Gráfico 1: Inseguridad alimentaria severa por departamentos y población afrodescendiente
196
Polifonías para la equidad racial
ESP

Fuente: Elaboración propia con información de ENSIN (2010) y DANE (2018).


La pandemia antes de la pandemia: poblaciones negras
ESP entre el hambre, el despojo y la muerte 197

pertenencia étnica. Esta situación es más marcada en la insegu-


ridad alimentaria severa: la prevalencia en la población afrodes-
cendiente se ubicó por encima del grupo sin pertenencia étnica,
con una participación de 20,0% versus 7,1% respectivamente,
reflejando la crítica situación en las poblaciones afrocolombia-
nas (Ensin, 2015).
Asimismo, al tener presente que el acceso a alimentos que
aseguren una dieta nutricionalmente adecuada está fuertemente
relacionado con los recursos para la adquisición de estos (Ensin,
2015). Ante un incremento de la pobreza monetaria, como suce-
dió en tiempos de la pandemia, se esperaría un aumento de la
inseguridad alimentaria. Específicamente y de acuerdo con la
CEPAL (2020), en el 2020 los efectos del Covid-19 ocasionaron
un aumento de la pobreza monetaria. En Colombia, la pobreza
fue proyectada a ser 32,5% en el 2020 versus 29,0% en el 2019.
Tomando esa tasa del 32,5%, se puede calcular que, en
total, 14’353.430 millones de personas en Colombia quedaron
en dicha condición. Esta situación automáticamente significa
el tránsito de la inseguridad alimentaria leve a una moderada
y alta. Para calcular este cambio en las condiciones de seguri-
dad alimentaria en la región Pacífico, se usan las proyecciones
realizadas por CEPAL (2020). Si antes del Covid-19, la insegu-
ridad alimentaria en la región fue del 57,4%, ahora se espera-
ría un incremento al 61%. Es decir, el aumento de la pobreza
monetaria en 4,4 puntos porcentuales se traduce directamente
en una limitación para acceder a alimentos. Esto representaría
1.392.3211 de hogares alejados de las condiciones mínimas de
alimentación para enfrentar el choque.
Esta inseguridad alimentaria se ve incrementada ante el con-
flicto armado, dado que fenómenos como el desplazamiento

1 Cálculos propios realizados con información del Censo Nacional de Población y Vivienda
2018 realizado por el Departamento Administrativo Nacional de Estadística (DANE).
198 Polifonías para la equidad racial ESP

forzado y el despojo, que fueron los hechos victimizantes rela-


cionados con un mayor número de víctimas, generaban pérdida
de sus activos, la carencia de espacio disponible para sembrar
y realizar actividades productivas. Por ejemplo, una mujer víc-
tima de dichos hechos relataba que

(…) uno llega a la ciudad, con las manos vacías y el alma


vaciada, y solo piensa en lo mucho que aró las tierras, en todo
lo que las trabajó, en lo que sudó tratando de levantar una casa
y un cultivo, en el agua clarita del caño, en los niños chapo-
teando al mediodía en esas aguas… Uno piensa y se pregunta
‘¿qué hago ahora?’ Y al principio no hay ideas, solo hay dolor,
porque uno siente que la vida entera son esas tierras de donde
lo sacaron -donde no hay riquezas, pero donde no hace falta
nada- y de repente resulta que no, que hay que irse para sal-
varse (Patricia Peña)2.

En términos agregados, la información de la Unidad de


Atención y Reparación Integral a las Víctimas (<en línea>)
muestra que, mientras el 15% de las personas que no repor-
taron etnicidad fueron desplazadas de su territorio, este por-
centaje fue del 19% para la población indígena, 33,6% para la
población raizal, seguido por un 37,5% para la población negra
o afrocolombiana y de un 98% para la población palenquera.
Así mismo, se presentaron 1387 eventos de despojo entre la
población afrocolombiana.
En estos contextos las poblaciones afrodescendientes care-
cen de mecanismos de protección para enfrentar de forma
adecuada las crisis o choques económicos, lo que limita las
garantías mínimas para la supervivencia. Por ejemplo, al tener

2 Peña, P. 2020. “Soy campesina y quiero saber quiénes y para qué me querían fuera de la tierra que
cultivaba”. Comisión de la Verdad. Recuperado de: https://comisiondelaverdad.co/actualidad/
noticias/soy-campesina-quiero-saber-quienes-para-que-querian-fuera-tierra-que-cultivaba
La pandemia antes de la pandemia: poblaciones negras
ESP entre el hambre, el despojo y la muerte 199

Gráfico 2: Tasa de letalidad acumulada por Covid en población


afrodescendiente y sin etnicidad

Fuente: Elaboración propia con información de Ministerio de Salud. Tasa


acumulada de abril-diciembre de 2020 a enero-marzo 2021.
*Otros son aquellos que no auto-identificaron ni afrodescendientes, ni indígenas,
ni Rrom.

presente que la inseguridad alimentaria severa afecta en una


alta magnitud a la población afrodescendiente, esto podría
tener incidencia en las defensas que tiene el sistema inmuno-
lógico de las personas para combatir la enfermedad, pero tam-
bién en las posibilidades de hacer frente al confinamiento. Ante
esto, es importante preguntarse, ¿quiénes tienen mayor proba-
bilidad de morir en medio de la pandemia del Covid-19? De
acuerdo con los datos obtenidos en la bodega de SISPRO del
Ministerio de Salud, la crisis generada por el virus del Covid-
19, entre marzo y diciembre del 2020 y enero y febrero del
2021 generó 2.185.274 personas contagiadas y 59.518 muer-
tos. Hasta este periodo, la tasa de letalidad para las personas
afrodescendientes fue de 3,17% versus 2,7% para las personas
blanco-mestizas (ver Gráfico 2). Incluso durante los meses de
mayor aislamiento, como fueron abril y mayo de 2020, las tasas
200 Polifonías para la equidad racial ESP

de letalidad fueron más altas en personas afrodescendientes, de


6,72% en abril y 5,03% en mayo, versus 6,54% y 3,83% para
las personas de blanco-mestizas.
¿Por qué están muriendo más las personas afrodescendien-
tes en esta crisis sanitaria? ¿Esta tendencia nos está mostrando
algo nuevo? Los resultados eran previsibles: la pandemia oca-
sionada por el virus Covid-19, contrario a lo que se mencionó en
un principio, no corresponde a un evento aleatorio que impacta
independientemente de las condiciones económicas, sociales,
demográficas y culturales de las personas, sino que tiene un
efecto heterogéneo. Para ilustrarlo: el impacto del virus, medido
a través de tasas de mortalidad e infección, se concentró en
poblaciones negras a nivel mundial (ONU, 2020) y Colombia,
como se acaba de señalar, no fue la excepción.
Este resultado ha expuesto la existencia de múltiples y per-
sistentes factores negativos que inciden para que, durante un
evento inesperado, se profundicen las brechas e inequidades
sociales que conducen a trampas de pobreza y mortalidad.
En los territorios de concentración negra se carece de acceso a
alimentos de calidad, hay problemas estructurales como el con-
flicto armado, que genera desplazamiento y despojo, además
de los altos niveles de empobrecimiento e inequidad. Pareciera
entonces que el impacto del Covid-19 no ha sido tan fuerte en
comparación de la persistencia y sistematicidad de otras “pan-
demias” sociales y económicas que ha experimentado el pueblo
negro, no solo en Colombia, sino a nivel mundial.
La pandemia antes de la pandemia: poblaciones negras
ESP entre el hambre, el despojo y la muerte 201

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La pandemia antes de la pandemia: poblaciones negras
ESP entre el hambre, el despojo y la muerte 203

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Viáfara, C; Vivas, H; Urrea, F; Rodríguez, D. (2015). Desigualdades
étnico-raciales en las oportunidades de vida en Cali. Investigación
y propuestas de política
ENGLISH

A Pandemic Before The Pandemic:


Black Populations Between Hunger,
Dispossession And Death

Glenda Palacios

Black communities in Colombia have systematically faced mul-


tiple negative events as a result of several oppression matrices
linked to race, class and gender, characteristics that, although
socially differentiated, there is a high interconnection between
them (Urrea, Viáfara and Viveros, 2019; Viáfara, 2005). In the
case of racism, whose economic, political, social and moral
structure is based on a domination system, accumulation and
dispossession based on ethnic-racial inequalities (Bonilla-Silva,
1997), it has been a structuring factor for dehumanization,
denial and the black population’s extermination.
All this explains the high and growing levels of impoverish-
ment, inequity and exclusion against these communities (Urrea
and Viáfara, 2007; García, Rodríguez, Sánchez and Bedoya,
2015). Situations that not only affect a low capacity to overcome
minimum survival thresholds (Viáfara, Vivas; Urrea, Rodriguez,
2015) but are also accompanied by the continuous reproduc-
tion of mortality (Urrea, et.al. 2015) and violence (UNHCR,
2012), which affect the well-being and development condi-
tions and induce a failure in the effective fundamental rights
206 Polifonías para la equidad racial ENG

enjoyment (Rodríguez, Alfonso and Cavelier, 2009, Informe


Cimarrón / [Cimarrón Report] 2010-2013).
All these factors lead to Afro-descendant people being
impacted by multiple vulnerabilities that significantly affect
their life opportunities, which could have permanent and even
more damaging effects, such as those that occur in pande-
mic situations.
This essay’s objective is to think about two conditions of vul-
nerability and lack of protection before the pandemic caused by
COVID-19:, such as the lack of food security and, the forced
displacement and land dispossession in the Colombian armed
conflict context. In the first case, the food security situation
is described by comparing the behavior in Afro-descendant
populations or territories with a high concentration of it, ver-
sus people or municipalities with high participation of the whi-
te-mestizo population. Concerning the displacement and land
dispossession, exacerbated victimizing events, more visible in
the armed conflict context, the analysis is performed discrimina-
ting by ethnic-racial groups to identify levels of affectation and,
in that sense, the conflict disproportionality. Finally, the fatality
statistics for COVID-19 by racial-ethnic groups are presented,
and potential conclusions are drawn about its determinants.

Food security, displacement and land dispossession


“Human development and health outcomes depend on the
interaction of different factors throughout the course of life,
cumulative experiences and present situations of each indivi-
dual influenced by the family, social, economic, environmental
and cultural context” (Ministerio de Salud y Protección Social
[Ministry of Health and Social Protection], n.d.). Among these
factors, there is food intake. The literature has found that nutri-
tional deficits in the first 1000 days of life cause deterioration
of growth and cognitive development with lasting effects on
A Pandemic Before The Pandemic:
ENG Black Populations Between Hunger, Dispossession And Death. 207

the achievement of social and human capital (Victora et al.,


2008). Likewise, adequate nutrition in the first days or months
of life produces irreversible changes in the brain with long-term
implications in not only socio-emotional but also socio-econo-
mic results (Ramírez-Luzuriaga, et.al 2020).
As shown in Graph 1, the severe food insecurity preva-
lence, understood as the situation in which people often run
out of food and stay without food for a whole day for several
days a year (FAO, <online>), was 8.5% nationwide (ENSIN1,
2015). The geographic behavior shows that households loca-
ted in the highest ethnic-racial groups concentration depart-
ments (Afro-descendant and indigenous communities) faced
the greatest vulnerabilities. Specifically, Chocó, the Colombian
department with the highest relative Afro-descendant popula-
tion participation (73.82%), presented the highest proportion
of households in severe food insecurity, 33.5%, followed by
La Guajira department with 25.5% of households in this situa-
tion; i. In thise last department, the indigenous population par-
ticipation is 47.8%. All of this contrasts with the situation in
departments such as Boyacá and Norte de Santander, whose
ethnic population does not even exceed 1% and the rates of
households with severe food insecurity are below the national
average, of 6.1% and 4.1 % respectively.

At the household levels, statistics also show that there are


significant gaps in homes whose head of household is Afro-
descendant, presenting 1.3 times the prevalence of food inse-
curity compared to households without ethnic membership.
This situation is more marked in severe food insecurity; the pre-
valence in the Afro-descendant population was above the group

1 Encuesta Nacional de Situación Nutricional (ENSIN, for its acronym in Spanish)


Graph 1: Severe food insecurity by departments and Afro-descendant population.
208
Polifonías para la equidad racial

% Food insecurity %Afro-descendant population %Afro-descendant population


1
ENG

Source: Own elaboration with ENSIN (2010) and DANE (2018) information.

1 DANE, Departamento Administrativo Nacional de Estadística [National Administrative Department of Statistics]


A Pandemic Before The Pandemic:
ENG Black Populations Between Hunger, Dispossession And Death. 209

without ethnic membership, with a participation of 20.0% ver-


sus 7.1% respectively, reflecting the critical situation in Afro-
Colombian populations (ENSIN, 2015).
Likewise, bearing in mind that access to food that ensures a
nutritionally adequate diet is strongly related to the resources for
the acquisition of these (ENSIN, 2015), in the face of an increase
in monetary poverty, as happened in during pandemic times,
an increase in food insecurity would be expected. Specifically,
according to ECLAC (2020), in 2020, the effects of COVID-19
caused an increase in monetary poverty. In Colombia, poverty
was projected to be 32.5% in 2020 versus 29.0% in 2019.
Taking into account that rate of 32.5%, in total, an estimate
of 14’353.430 people living in Colombia were left in this con-
dition. This situation automatically means the transition from
mild to moderate and high food insecurity. To calculate this
change in food security conditions in the Pacific region, the pro-
jections made by ECLAC (2020) are used. If before COVID-19,
food insecurity in the region was 57.4%, now an increase of to
61% would be expected. In other words, the increase in mone-
tary poverty by 4.4 percentage points translates directly into a
limitation to access food. This would represent 1,392,3212 hou-
seholds far from the minimum power supply conditions to face
the shock.
This food insecurity is increased in the face of the armed con-
flict, since phenomena such as forced displacement and dispos-
session, which were the victimizing events related to a greater
number of victims in Colombia, generated a loss of their assets
and the lack of space available to plant and carry out produc-
tive activities. For example, a woman who was a victim of these
events reported that: “… one arrives in to the city, empty-handed

2 Own calculations made with information from the National Population and Housing
Census 2018 conducted by the National Administrative Department of Statistics.
210 Polifonías para la equidad racial ENG

and with an emptied soul, and only thinks of how much he you’ve
plowed the land, in all you’ve that he worked on it, inof how
much you what he sweated trying to build a house and a crop-
farming, in you think of the creekthe bayou clear water, about
the children splashing at noon in those waters ... One thinks and
wonders ‘what do I do now?’ And at first, there are no ideas,
there is only pain, because you feel that your whole life are those
lands where you were taken from–where there is no wealth, but
where nothing is needed–and suddenly it turns out that no, you
have to leave to save yourself ”(Patricia Peña).3
In aggregate terms, the information from the Unit for
Attention and Integral Reparation of Victims (<online>)
shows that, while 15% of the people who did not report
ethnicity were displaced from their territory, this percen-
tage was 19% for the indigenous population, 33.6% for the
raizal population, followed by 37.5% for the black or Afro-
Colombian population and 98% for the Palenquera popula-
tion. Likewise, there were 1,387 events of dispossession in the
Afro-Colombian population.
Under these contexts, Afro-descendant populations lack
protection mechanisms to adequately face economic crises or
economic shocks, which limits the minimum guarantees for sur-
vival. For example, bearing in mind that severe food insecurity
affects the Afro-descendant population to a high degree, this
could have an impact on the defenses capacities of the immune
system of this people to fight the disease, but also on the possi-
bilities of coping with the lockdown. Given this, it is important
to ask who is most likely to die in the midst of the COVID-
19 pandemic? According to the data obtained from SISPRO
[Social Security Information Integrated System] of the Ministry

3 Peña, P. 2020. “I am a peasant farmer and I want to know who and why they wanted me off
the land I cultivated”. Truth Commission. Retrieved from: https://comisiondelaverdad.co/actua-
lidad/noticias/soy-campesina-quiero-saber-quienes-para-que-querian-fuera-tierra-que-cultiv aba
A Pandemic Before The Pandemic:
ENG Black Populations Between Hunger, Dispossession And Death. 211

Graph 2: Cumulative COVID case fatality rate in the afro-descendant


and non-ethnic population.

Source: Own elaboration with information from the Ministry of Health. Cumulative
rate from April-December 2020 to January-March 2021.
*Others are those who did not self-identify as Afro-descendant, indigenous or
Rrom.

of Health, the crisis generated by the COVID-19 virus, between


March and December 2020, and January and February 2021
generated 2,185,274 infected people and 59,518 deaths. Until
this period, the fatality rate for Afro-descendant people was
3.17% versus 2.7%0 for white-mestizo people (see Graph 2).
Even during the months of greatest isolation, such as April
and May 2020, fatality rates were higher in Aafro-descendants,
6.72% in April and 5.03% in May, versus 6.54% and 3, 83%
for white-mestizo people.
Why are afro-descendant people dying more in this health
crisis? Is this trend showing us something new? The results were
predictable; the pandemic caused by the COVID-19 virus, con-
trary to what was mentioned at the beginning, does not corres-
pond to a random event that impacts populations regardless of
their economic, social, demographic and cultural conditions of
212 Polifonías para la equidad racial ENG

people., but Iit rather has a heterogeneous effect. To illustrate


this, we’ve seen that, the impact of the virus, measured through
mortality and infection rates, was concentrated in black popula-
tions worldwide (UN, 2020), and in Colombia, as just noted, it
was no exception.
This result has exposed the existence of multiple and persis-
tent negative factors that influence the deepening of social gaps
and inequities during an unexpected event that leads to poverty
and mortality traps. In the territories of black concentration,
there is a lack of access to quality food, there are structural pro-
blems such as the armed conflict that generates displacement
and dispossession, alternating with high levels of impoverish-
ment and inequity. It seems then, that the impact of COVID 19
has not been so strong compared to the persistence and syste-
maticity of other social and economic “pandemics” that black
people have experienced, not only in Colombia but worldwide
A Pandemic Before The Pandemic:
ENG Black Populations Between Hunger, Dispossession And Death. 213

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PORTUGUÊS

Pandemia antes da pandemia:


populações negras entre a fome, o esbulho
e a morte

Glenda Palacios

Para começar, as comunidades negras na Colômbia têm enfren-


tado sistematicamente múltiplos eventos negativos como resul-
tado das diversas matrizes de opressão ligadas à raça, classe
e gênero, características que, embora socialmente diferencia-
das, são altamente interconectadas (Urrea, Viáfara e Viveros,
2019; Viáfara, 2005). No caso do racismo, cuja estrutura eco-
nômica, política, social e moral se baseia num sistema de domi-
nação, acumulação e despossessão baseado em desigualdades
étnico-raciais (Bonilla-Silva, 1997), ele tem sido um fator estru-
turante para a desumanização, negação e extermínio das popu-
lações negras.
Tudo isso explica os altos e crescentes níveis de empobre-
cimento, desigualdade e exclusão contra essas comunidades
(Urrea e Viáfara, 2007; García, Rodríguez, Sánchez e Bedoya,
2015). Situações que não só afetam uma baixa capacidade
de superar limites mínimos de sobrevivência (Viáfara, Vivas;
Urrea, Rodriguez, 2015), mas são acompanhadas pela repro-
dução contínua da mortalidade (Urrea, et.al. 2015) e da violên-
cia (ACNUR, 2012), que afetam as condições de bem-estar e
218 Polifonías para la equidad racial POR

desenvolvimento e induzem a um fracasso no exercício efetivo


dos direitos fundamentais (Rodríguez, Alfonso e Cavelier, 2009,
Relatório Cimarrón 2010-2013).
Por consequência, todos esses fatores conduzem a que as
pessoas afrodescendentes sejam impactadas por múltiplas vul-
nerabilidades que afetam significativamente suas oportunida-
des de vida, o que poderia ter efeitos permanentes e ainda mais
prejudiciais, como os que ocorrem em situações de pandemias.
Logo, o objetivo deste ensaio é refletir sobre duas condi-
ções de vulnerabilidade e falta de proteção antes da pandemia
causada pela COVID-19, a saber, a falta de segurança alimen-
tar e o deslocamento forçado e desapossamento de terras no
contexto do conflito armado colombiano. No primeiro caso, a
situação da segurança alimentar é descrita comparando o com-
portamento das populações afrodescendentes ou em territó-
rios com alta concentração deles, com pessoas ou municípios
com alta proporção de população branca mestiço. Em relação
ao deslocamento e esbulho de terras, vitimizando eventos que
foram exacerbados e tornados mais visíveis no contexto do con-
flito armado, a análise é feita através da discriminação por gru-
pos étnico-raciais a fim de identificar os níveis de afetação e,
neste sentido, a desproporcionalidade do conflito. Finalmente,
são apresentadas as estatísticas de letalidade da COVID-19 por
grupos étnico-raciais, e são tiradas algumas conclusões poten-
ciais sobre seus determinantes.

Segurança alimentar, deslocamento e esbulho de terras


“O desenvolvimento humano e os resultados em saúde depen-
dem da interação de diferentes fatores ao longo da vida,
experiências acumuladas e situações atuais de cada indiví-
duo influenciado pelo contexto familiar, social, econômico,
ambiental e cultural” (Ministério da Saúde e Proteção Social,
s.f.), entre esses fatores está a ingestão alimentar. A literatura
POR Pandemia antes da pandemia: populações negras entre a fome, o esbulho e a morte 219

descobriu que os déficits nutricionais nos primeiros 1000 dias


de vida levam a um crescimento e desenvolvimento cognitivo
prejudicados, com efeitos duradouros na realização do capi-
tal social e humano (Victora et al., 2008). Da mesma forma,
uma nutrição adequada nos primeiros dias ou meses de vida
produz mudanças irreversíveis no cérebro com implicações a
longo prazo para resultados socioemocionais e socioeconômi-
cos (Ramírez-Luzuriaga, et al. 2020).
Como apresentado no Gráfico 1, a prevalência de grave inse-
gurança alimentar, entendida como a situação em que as pes-
soas muitas vezes ficam sem alimentos e passam um dia inteiro
sem comer durante vários dias por ano (FAO, <online>), foi
de 8,5% em nível nacional (Ensin, 2015). O comportamento
geográfico mostra que as famílias localizadas nos departamen-
tos com maior concentração de grupos étnico-raciais (afrodes-
cendentes e comunidades indígenas) enfrentaram as maiores
vulnerabilidades. Especificamente, Chocó, o departamento da
Colômbia com a maior proporção relativa de população afro-
descendente (73,82%), apresentou a maior proporção de lares
em grave insegurança alimentar, 33,5%, seguido pelo depar-
tamento de La Guajira com 25,5% de lares em tal situação.
Neste último departamento, a participação da população indí-
gena é de 47,8%. Isto contrasta com a situação em departamen-
tos como Boyacá e Norte de Santander, cuja população étnica
não ultrapassa sequer 1% e cujas taxas de famílias gravemente
inseguras em termos alimentares estão abaixo da média nacio-
nal de 6,1% e 4,1% respectivamente.

A nível familiar, as estatísticas também mostram que existem


lacunas significativas nos lares cujo chefe de família é de ori-
gem afrodescendente, apresentando 1,3 vezes a prevalência de
insegurança alimentar em comparação com os lares não étnicos.
Esta situação é mais marcada na grave insegurança alimentar,
Gráfico 1: Insegurança alimentar severa por departamentos e população afrodescendente
220
Polifonías para la equidad racial
POR

Fonte: Elaboração própria com informação de ENSIN (2010) e DANE (2018).


POR Pandemia antes da pandemia: populações negras entre a fome, o esbulho e a morte 221

a prevalência na população afrodescendente foi maior do que


no grupo não étnico, com uma participação de 20,0% contra
7,1% respectivamente, refletindo a situação crítica nas popula-
ções afro-colombianas (Ensin, 2015).
Da mesma forma, tendo em mente que o acesso a alimen-
tos que garantam uma dieta nutricionalmente adequada está
fortemente relacionada aos recursos para adquiri-la (Ensin,
2015), dado um aumento da pobreza monetária, como aconte-
ceu durante a pandemia, seria esperado um aumento da inse-
gurança alimentar. Especificamente, de acordo com a CEPAL
(2020), em 2020 os efeitos da COVID-19 causaram um aumento
da pobreza monetária. Na Colômbia, a pobreza foi projetada
para ser de 32,5% em 2020 contra 29,0% em 2019.
Levando em conta esta taxa de 32,5%, um total de 14.353,43
milhões de pessoas que moram na Colômbia estão nesta con-
dição. Esta situação significa automaticamente a transição de
uma insegurança alimentar leve para uma insegurança alimentar
moderada e alta. Para calcular esta mudança nas condições de
segurança alimentar na região do Pacífico, são utilizadas as pro-
jeções feitas pela CEPAL (2020). Se antes da COVID-19, a inse-
gurança alimentar na região era de 57,4%, espera-se agora que
aumente para 61%. Em outras palavras, o aumento da pobreza
monetária em 4,4 pontos percentuais se traduz diretamente
em uma limitação do acesso aos alimentos, o que representaria
1.392.3211 de casas longe das condições nutricionais mínimas
para enfrentar o choque.
Esta insegurança alimentar é aumentada pelo conflito
armado, já que fenômenos como o deslocamento forçado e o
esbulho, que foram os eventos vitimizadores relacionados ao
maior número de vítimas, geraram a perda de seus bens, a falta

1 Cálculos próprios baseados em informações do Censo Nacional da População e Habitação


de 2018 conduzido pelo Departamento Administrativo Nacional de Estatística.
222 Polifonías para la equidad racial POR

de espaço disponível para plantar e realizar atividades produ-


tivas. Por exemplo, uma mulher vítima destes eventos contou
que: “... a gente chega à cidade, com as mãos vazias e a alma
vazia, e só se pensa no quanto arou a terra, no quanto trabalhou,
no quanto suou ao tentar construir uma casa e uma colheita, na
água clara do rio, nas crianças que salpicam na água ao meio-dia...
A gente pensa e se pergunta: “o que eu faço agora? E no início
não há ideias, só há dor, porque você sente que toda sua vida são
aquelas terras das quais você foi levado–onde não há riqueza, mas
onde nada faz falta–e de repente acontece que não, você tem que
partir para se salvar. (Patricia Peña)2
Em termos agregados, as informações da Unidade de
Atenção e Reparação Integral às Vítimas (<on-line>), mostram
que enquanto 15% das pessoas que não relataram etnia foram
deslocadas de seu território, esta porcentagem foi de 19% para
a população indígena, 33,6% para a população Raizal, seguida
por 37,5% para a população negra ou afro-colombiana e 98%
para a população Palenquera. Da mesma forma, houve 1387
eventos de esbulho na população afrocolombiana.
Nesses contextos, as populações afrodescendentes carecem
de mecanismos de proteção para enfrentar adequadamente cri-
ses econômicas ou choques, o que limita as garantias mínimas
de sobrevivência. Por exemplo, tendo em mente que a grave
insegurança alimentar afeta a população afrodescendente em
alto grau, isto poderia ter um impacto nas defesas do sistema
imunológico das pessoas contra doenças, mas também em
sua capacidade de lidar com o confinamento. Diante disso, é
importante perguntar quem tem maior probabilidade de mor-
rer no meio da pandemia da COVID-19? De acordo com dados
obtidos do armazém SISPRO do Ministério da Saúde, a crise

2 Peña, P. 2020. “Soy campesina y quiero saber quiénes y para qué me querían fuera de la tierra que
cultivaba”. Comisión de la Verdad. Recuperado de: https://comisiondelaverdad.co/actualidad/
noticias/soy-campesina-quiero-saber-quienes-para-que-querian-fuera-tierra-que-cultivaba
POR Pandemia antes da pandemia: populações negras entre a fome, o esbulho e a morte 223

Gráfico 2: Taxa cumulativa de fatalidade de casos COVID


em populações afrodescendentes e não étnicas

Fonte: Elaboração própria com informação do Ministério da Saúde. Taxa


acumulada de abril-dezembro de 2020 a janeiro-março 2021.
*Otros são aqueles que não se identificaram como afrodescendentes, indígenas
ou Rrom.

causada pelo vírus SARS-CoV-2, entre março e dezembro de


2020 e janeiro e fevereiro de 2021, gerou 2.185.274 pessoas
infectadas e 59.518 mortes. Até este período, a taxa de fatali-
dade de casos para afrodescendentes era de 3,17% contra 2,70
para brancos-mestiços (ver Figura 2). Mesmo durante os meses
de maior isolamento, como abril e maio de 2020, as taxas de
fatalidade de casos foram mais altas para os afrodescendentes,
com 6,72% em abril e 5,03% em maio, contra 6,54% e 3,83%
para os brancos e mestiços.
Por que as pessoas afrodescendentes estão morrendo mais
nesta crise de saúde? Essa tendência está nos mostrando algo
novo? Os resultados eram previsíveis, a pandemia causada
pelo vírus SARS-CoV-2, ao contrário do que foi mencionado
no início, não corresponde a um evento aleatório que impacta
independentemente das condições econômicas, sociais, demo-
gráficas e culturais das pessoas, mas tem um efeito heterogêneo.
224 Polifonías para la equidad racial POR

Para ilustrar, o impacto do vírus medido através das taxas de


mortalidade e infecção se concentrou nas populações negras em
todo o mundo (ONU, 2020), e a Colômbia, como acabou de ser
observado, não foi exceção.
É evidente que este resultado expôs a existência de múlti-
plos e persistentes fatores negativos que levam ao aprofunda-
mento de lacunas sociais e desigualdades durante um evento
inesperado, levando à armadilhas de pobreza e mortalidade.
Nos territórios de concentração negra, há falta de acesso a ali-
mentos de qualidade, problemas estruturais como o conflito
armado, que gera deslocamento e esbulho, como também altos
níveis de empobrecimento e desigualdade. Parece, portanto,
que o impacto da COVID 19 não foi tão forte em compara-
ção com a persistência e sistematização de outras “pandemias”
sociais e econômicas que os negros experimentaram, não ape-
nas na Colômbia, mas em todo o mundo.
POR Pandemia antes da pandemia: populações negras entre a fome, o esbulho e a morte 225

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propuestas de política.
ESPAÑOL

Medios de comunicación, entre el racismo


estructural y la invisibilidad de la población
afrocolombiana

Kendry Serrano

En los medios de comunicación las distintas formas de repre-


sentación basadas en el estereotipo son igual de dañinas que la
invisibilidad o la nulidad del otro en cualquier forma discur-
siva. Para este caso entendemos al otro como las personas afro-
colombianas y, por esta razón, hablaremos de cómo estas se han
visto representadas y, en algunos escenarios, invisibilizadas en
los medios de comunicación, como parte del racismo estructu-
ral contemporáneo en Colombia. Sin embargo, también vere-
mos cómo los medios pueden convertirse en una herramienta
que contribuye a la equidad racial.
Se hará entonces un repaso por la situación actual de la pobla-
ción afrodescendiente en Colombia, sus necesidades y particula-
ridades. A su vez, haremos un análisis sobre cómo las formas de
reproducción del discurso colonial permanecen en los medios
masivos de comunicación, partiendo del reconocimiento de una
historia nacional eurocéntrica en la que predomina una visión
limitada de la sociedad y de las distintas formas culturales, per-
petuando la exclusión, la discriminación y el racismo hacia este
grupo poblacional. De igual forma, haremos recomendaciones
230 Polifonías para la equidad racial ESP

encaminadas a transformar las narrativas de los medios de comu-


nicación con relación a las personas afrocolombianas.

Lo que aquí está en juego es el reconocimiento de la


extraordinaria diversidad de posiciones subjetivas, expe-
riencias sociales e identidades culturales que componen
la categoría «negro», es decir, el reconocimiento de que
«negro» es esencialmente una categoría: un conjunto de
categorías raciales transculturales o trascendentales fijas y
que por lo tanto no tiene garantías en la Naturaleza (Hall,
2020: 76).

El racismo responde a situaciones estructurales que definen


comportamientos de creación, reproducción e influencia de
concepciones, modos de representación, contextos, posibi-
lidades, inclusiones y exclusiones, moldeados racialmente,
según David Theo Goldberg (citado en Turpo y Gutiérrez,
2019). Y, para Teun A. van Dijk (2006), una parte de la estra-
tegia general de la autorrepresentación positiva es la negación
sistemática o mitigación del racismo, especialmente entre las
élites, debido a que las minorías étnicas prácticamente no tie-
nen acceso o control sobre los discursos, en general construi-
dos y escritos por élites “blancas” y no dirigidos a ellos, que
tienden a ser ignorados como receptores potenciales de textos
y disertaciones públicas.
En Colombia, como lo concluyó el estudio “Los medios de
comunicación y la población afrocolombiana, visibilidades,
voces y asuntos de los temas afrocolombianos en los medios
de comunicación” (Tamayo Gómez, Penagos Carreño y Boadas
Villaseca, 2010: 75), existe una exclusión mediática parcial en la
que los afrocolombianos se vuelven invisibles en las agendas de
los medios, ubicándolos en el centro del racismo moderno (Van
Dijk, 1998), que se basa no solo en los aspectos étnicos sino en
Medios de comunicación, entre el racismo estructural
ESP y la invisibilidad de la población afrocolombiana 231

los culturales, negando la invisibilidad de los afrodescendien-


tes y su relación con la sociedad.
Para ilustrar estas afirmaciones hemos optado por seleccio-
nar tres artículos particulares de los medios escritos más leídos
en el país, según el ranking de ComScore, evaluando cómo ha
sido el tratamiento noticioso de la información con relación a la
población afrodescendiente en medio de la fuerte coyuntura de
Paro Nacional que atraviesa Colombia para el momento en que
se escribe este artículo. Nos limitaremos entonces a revisar el
balance noticioso que hicieron el periódico El Tiempo, la revista
Semana y el periódico El Espectador, al cumplirse un mes de un
estallido social que puso al país en largas, sostenidas e inéditas
jornadas de protestas (28. 04. 2021–28. 05. 2021). Sin embargo,
no podemos hacer este análisis sin tener en cuenta el contexto
social del paro, la pandemia y, en especial, las condiciones de la
población afrodescendiente colombiana.
Es importante destacar que la oleada de protestas, que ha
estado empañada por violaciones a los derechos humanos por
parte de la Fuerza Pública entre otras violencias, se inició el 28
de abril de 2021 cuando miles de colombianos se volcaron a
las calles para pedir que el Gobierno retirara del Congreso la
reforma tributaria que había radicado con el fin de recuperarse
del hueco fiscal en que quedó sumido el país como parte de
las consecuencias de la pandemia por Covid-19. Este proceso,
empero, es una continuación de una serie de protestas socia-
les que iniciaron en 2019. Pese a que el presidente Iván Duque
decidió retirar el articulado, la ciudadanía siguió en las calles
pidiendo empleo, salud, educación, vida digna y necesidades
básicas insatisfechas.
Es necesario en este punto resaltar que la economía, así como
los índices de bienestar en Colombia, al igual que el resto de
países de la región, tuvieron fuertes contracciones en medio de
la pandemia, y que en medio de este proceso el deterioro de la
232 Polifonías para la equidad racial ESP

calidad de vida de la población afrodescendiente fue significa-


tivamente mayor. Según el informe sobre afectación del Covid-
19 en la población afrodescendiente del DANE, el 39.4% de
la población pasó de consumir 3 comidas diarias a consumir 2;
por su parte, la pobreza multidimensionalse ubicó en 30,6%,
11.0 puntos porcentuales por encima de la pobreza nacional,
siendo los departamentos de Nariño, Cauca y Valle del Cauca
los más afectados, de acuerdo al último censo del 2018, que
también fue fuertemente cuestionado en su aplicabilidad por la
abismal reducción de esta población sin explicación razonable.
Por esta razón, es importante que este análisis se haga desde
una comprensión interseccional, teniendo en cuenta que las
desigualdades múltiples vividas por esta población en América
Latina y en el Caribe hacen parte de un complejo sistema de
discriminación estructural legado por el pasado colonial escla-
vista (Cepal, 2018), y que se evidencia en la carencia de recur-
sos económicos, sus peores condiciones de vida en general, las
inequidades en los distintos aspectos sociales y la falta de repre-
sentación en espacios de poder.

Los sucesos y las circunstancias de la vida social y política


y la persona raramente se pueden entender como deter-
minadas por un solo factor. En general están configuradas
por muchos factores y de formas diversas que se influyen
mutuamente. En lo que se refiere a la desigualdad social,
la vida de las personas y la organización del poder en una
determinada sociedad se entienden mejor como algo deter-
minado, no por un único eje de la división social, sea este la
raza, el género o la clase, sino por muchos ejes que actúan
de manera conjunta y se influyen entre sí. La intersecciona-
lidad como herramienta analítica ofrece a las personas un
mejor acceso a la complejidad del mundo y de sí mismas.
(Collins y Bilge, 2019)
Medios de comunicación, entre el racismo estructural
ESP y la invisibilidad de la población afrocolombiana 233

El lugar en los medios


Como se planteó más arriba, tomaremos los balances del primer
mes del paro nacional registrados por los periódicos El Tiempo
y El Espectador y la revista Semana. En ellos analizaremos, desde
un enfoque cualitativo, las formas discursivas de la represen-
tación de población afro y, desde lo cuantitativo, analizaremos
cuántas veces se les menciona a lo largo de todo el mes. En la
tabla a continuación, encontramos que solo en uno de estos tres
medios de comunicación escritos se hizo referencia a la pobla-
ción afrodescendiente, pese a que el Valle del Cauca, el departa-
mento donde el mayor número de colombianos se auto-reconoce
como afrodescendiente en el país, ha sido el territorio donde
mayor afectaciones violentas y violaciones a los derechos huma-
nos en medio de las protestas se han denunciado.
Observamos entonces que lo que ocurre con la población
afrodescendiente, pese a ser una de las más afectadas por la
situación por factores como los ya mencionados en términos de
coyuntura e historia, no se configuran como parte fundamental
de lo que en medios de comunicación se conoce como agenda
setting que, en palabras de Bryman (citado en Tamayo Gómez,
Penagos Carreño y Boadas Villaseca, 2010), se refiere al poder
simbólico de los medios de comunicación en la canalización de
la atención pública de los ciudadanos, en la toma de decisiones
y en la conformación de una cultura de conversación común,
por el simple hecho de que estos prestan más atención a unos
temas y silencian otros.
El problema es que silenciar es igual de poderoso que masi-
ficar. “Lo que no pasa por los medios de comunicación no
existe”, suelen repetir en los claustros universitarios de perio-
dismo. En este sentido, la invisibilidad de la población afro-
descendiente en la radio, la televisión y la prensa escrita en
temas transversales a la sociedad colombiana es igual a negar
su existencia, por lo demás consignada en la Constitución
234 Polifonías para la equidad racial ESP

Registro de la población afrodescendiente en tres medios de comunicación


escritos durante el balance del primer mes de paro nacional (28. 04. 21 -28. 05. 21)

Medio Referencia a Número Categorías de mención


la población de veces
afro mencionado

Sí No

El Tiempo x 0
“Un mes de
protestas en el país,
¿qué ha dejado el
paro?”
29.05.21

Semana x 1 -Se refiere a las comunidades


“¡Hay que escu- afros como:
charlos!: radiografía - Víctimas del conflicto
de una crisis social - Afectadas por el racismo
sin precedentes en -Afectada por la violencia
Colombia” intrafamiliar y de género.
29.05.21

El Espectador x 0
“Paro nacional:
Entre actos vandá-
licos, muertes e
infiltraciones de
grupos armados”
27.05.21

de 1991 que declara a Colombia como un país pluriétnico


y multicultural.
En los tres artículos se pueden identificar cuatro categorías
prioritarias: la economía, las violencias, el escenario político y la
pandemia. Esto significa, teniendo en cuenta la estructura en la
que se construyen las noticias o artículos que consiste en clasifi-
car la información en orden de interés para el público, que hay
un consenso tácito generalizado en los medios de comunicación
Medios de comunicación, entre el racismo estructural
ESP y la invisibilidad de la población afrocolombiana 235

de que estos son los temas sobre los que se debe hablar en la
agenda en el contexto del paro nacional.

En sociedades como la nuestra, los medios de comunicación


sirven para realizar incesantemente el trabajo ideológico
crítico de “clasificar el mundo” dentro de los discursos de
las ideologías dominantes. No es un “trabajo” simple ni
consciente: es un trabajo contradictorio, en parte por las
contradicciones internas entre las diferentes ideologías que
constituyen el terreno dominante, pero aún más porque
esas ideologías luchan y contienden para tener dominancia
en el campo de las prácticas y la lucha de clases. No hay, por
tanto, un modo de realizar el “trabajo” que no reproduzca
también, en un grado considerable, las contradicciones que
estructuran su campo. En consecuencia, hemos de decir
que el trabajo de “reproducción ideológica” que realizan
es por definición un trabajo en el que se manifestarán cons-
tantemente las tendencias contraactuantes: el “equilibrio
inestable” de Gramsci. ( Hall, 2020: 251)

Como podemos observar en el cuadro, de las tres noticias selec-


cionadas solo se menciona la población afrodescendiente en la
de la revista Semana. Sin embargo, dicha mención se reduce
solo a una frase ubicada casi al final del texto: “Las comuni-
dades afros, por su parte, han sufrido el embate del conflicto
armado y, además, han enfrentado el racismo, la violencia intra-
familiar y de género”.
Adicionalmente, la forma en la que se hace referencia a esta
población se limita a afirmaciones generales (víctimas del con-
flicto, afectadas por el racismo, víctimas de violencia intrafa-
miliar y de género) que no dejan claro el contexto real ni las
necesidades particulares de ella en medio del paro nacio-
nal y dejando de lado el análisis interseccional con el que se
236 Polifonías para la equidad racial ESP

deben examinar estas situaciones y que mencionamos de


manera previa.
Pero, para entender cómo la clasificación de la información
noticiosa en los medios masivos de comunicación hace parte del
racismo estructural hacia la población afrocolombiana, es nece-
sario recordar que la historia de lo que hoy conocemos como
medios se remonta a la necesidad intrínseca del ser humano
de estar informado sobre lo que sucede a su alrededor, en su
comunidad. En territorios con historias colonizadoras esto lleva
a cuestionamientos alrededor de la representación limitada de
las realidades y la reproducción de estereotipos.
Los medios de comunicación, como el sistema que la socie-
dad ha creado para suministrar información, tienen sus pri-
meros registros en la Alemania de 1457 cuando aparece el
primer periódico impreso bajo el título Nurenberg Zeitung; en
Europa con la circulación de varias ediciones de una hoja titu-
lada “Descubrimiento del Nuevo Mundo por Colón”, en 1493;
y América Latina, un poco más tarde, con la publicación de la
Hoja de México en 1541, en el que se narraban los sucesos acon-
tecidos durante el terremoto de Guatemala (Troyando, 1999: 20).
Dicho sistema ha evolucionado para convertir a los medios
en “arenas centrales de la vida social contemporánea” y por
esa misma razón en “escenarios clave de discusión y reconoci-
miento social que dan cuenta de la realidad mediante múltiples
procesos de selección, organización y producción en los que
intervienen ideologías, regímenes de verdad y procedimientos
profesionales que determinan qué es y qué no es noticia, qué
asuntos son objeto de opinión y cuáles no” (Tamayo Gómez,
Penagos Carreño y Boadas Villaseca, 2010: 10).

El papel del periodista


De acuerdo a lo mencionado anteriormente por Tamayo,
Penagos y Boada (2010), partimos de la posición en la que el
Medios de comunicación, entre el racismo estructural
ESP y la invisibilidad de la población afrocolombiana 237

sistema de creación de contenidos informativos a través de los


medios pasa necesariamente por reconocer que los periodis-
tas hacen parte de la estructura social construida a lo largo de
la historia. Por tanto, la producción noticiosa no puede ser
vista como un objeto lejano a las ideologías, los conocimientos
adquiridos, las historias de vida.

(...) Pero las ideologías no son producto de la conscien-


cia o las intenciones individuales. En cambio, formulamos
nuestras intenciones dentro de la ideología. Preceden a
los individuos, y forman parte de las formaciones sociales
establecidas y de las condiciones en las que los individuos
nacen. ( Hall, 2010: 299)

En este sentido, tampoco puede negarse el papel fundamental


que tienen los medios de comunicación masiva en la reproduc-
ción del racismo estructural hacia la población afrodescendiente
en Colombia, teniendo en cuenta su historia como país coloni-
zado que tiene elementos vigentes producto de dicha construc-
ción hegemónica que estuvo marcada por la forma en la que se
establecieron las relaciones de poder y la representaciones de los
pueblos afros e indígenas.
Santiago Castro Gómez (citado en Arrunátegui, 2010) señala
que el dominio de la Colonia no solo se consiguió a través del
sometimiento y asesinato de los pueblos sino que también tuvo
intrínseca la construcción del discurso del otro, entendido como
el colonizado, para representarlo como el inferior. “Sin la incor-
poración de este discurso en el sentido común de dominadores
y dominados, el poder político y económico de Europa sobre
sus colonias hubiera sido imposible” (Ibíd).
Sin embargo, este discurso ha permanecido en las dife-
rentes esferas sociales, perpetuando manifestaciones racistas
hacia la población afrodescendiente desde lo cotidiano hasta
238 Polifonías para la equidad racial ESP

lo institucional. Por ello, los medios de comunicación han sido


una herramienta clave en esta reproducción.

(...) las herramientas de una ideología profundamente


señorial, heredada de la Colonia, y fortalecida por los dis-
cursos eurocéntricos y racistas que llegaban de Europa,
dominantes no solo en Colombia, sino en toda la Lati-
noamérica del siglo XIX, llevó a las clases altas criollas a
la construcción de un modelo de nación excluyente, que
dejaba por fuera a la inmensa mayoría de sus habitantes,
que les negaba por tanto a éstos el ejercicio de los más ele-
mentales derechos de la ciudadanía y que imaginaba su
geografía como constituida por fragmentos, gobernados
por una jerarquía que asignaba lugares de predominio de
unos territorios sobre otros y que, más grave aún, conver-
tía esas tres cuartas partes de su extensión total en espacios
marginales y no aptos para la construcción de la nación,
y no solo por las características de su suelo y de su clima,
sino también por la supuesta pésima calidad de sus habi-
tantes. (Múnera , 2005: 103)

Este sistema termina entonces siendo reproducido por los


medios de comunicación y por los periodistas, quienes a su
vez reproducen lo que han aprehendido de la estructura social
racista en la que nacieron, crecieron y se formaron para ejer-
cer la profesión a la que se dedican. Por lo tanto, la forma en la
que construyen el discurso no es deliberada sino que responde
a los cánones hegemónicos que se han reproducido por siglos.

El habitus se define como un sistema de disposiciones dura-


bles y transferibles -estructuras estructuradas predispuestas
a funcionar como estructuras estructurantes- que integran
todas las experiencias pasadas y funciona en cada momento
Medios de comunicación, entre el racismo estructural
ESP y la invisibilidad de la población afrocolombiana 239

como matriz estructurante de las percepciones, las aprecia-


ciones y las acciones de los agentes cara a una coyuntura
o acontecimiento y que él contribuye a producir (Bour-
dieu, 1995)

Conclusiones
En los medios de comunicación colombianos se siguen presen-
tando distintas formas de racismo estructural hacia la población
afrodescendiente a través del discurso, incluyendo la invisibi-
lidad de temáticas o aspectos importantes para esta población
debido a que la agenda en los medios se sigue imponiendo bajo
los cánones colonizadores en los cuales la importancia de las
temáticas se derivan de los intereses de las élites que se ha man-
tienen en el poder.
Sin embargo, una forma de mover esta estructura es tomando
los propios medios de comunicación como herramienta para
contribuir a la equidad racial. Esto significa utilizarlos como pla-
taformas, pero con estrategias encaminadas a marcar la agenda
setting a favor de esta lucha. No obstante, esto solo es posible si
se cumplen una serie de requisitos que se deben tener en cuenta,
en especial, por parte de las organizaciones de la sociedad civil
y de los actores que trabajan por este fin.
Lo primero que hay que entender es que los medios, como
parte de la estructura social racista, están conformados por
periodistas o personas que a su vez son reproductores y per-
petuadores de estos imaginarios a través del consenso social,
producto del mismo sistema. Por esta misma razón las accio-
nes que se realicen para tratar de contrarrestar este discurso
deben tener un componente de formación pedagógico, pero
también inclinado hacia la necesidad de ampliar las voces
desde las que se cuenta la realidad. Esto es reiterar la impor-
tancia de que cada vez más personas afrocolombianas se vin-
culen a este oficio.
240 Polifonías para la equidad racial ESP

Es importante que, en medio de la coyuntura social del


mundo por la pandemia del Covid-19 y la sobreproducción
de información a raíz de esta, se ahonde en el debate sobre el
papel de los periodistas en la reproducción del racismo hacia
la población afrodescendiente, pero que también que desde
la sociedad civil se generen propuestas para que estos puedan
enfocarse al desarrollo de agendas relacionadas con la pobla-
ción afrodescendiente.
Así mismo, es fundamental que desde los actores en pro de
la equidad racial se genere contenido noticioso, con el objetivo
de diversificar la agenda de los medios y contribuir al debate de
la misma, pero desde puntos de vista con enfoque étnico racial.
Aquí cobra importancia la comunicación como eje fundamental
de los distintos procesos y acciones que se adelantan a favor de
la justicia racial, pero teniendo en cuenta la importancia de la
producción de contenido de calidad y de utilidad para el calen-
dario noticioso.
Pese a que Colombia es un país pluriétnico y multicultu-
ral, y además de tener leyes, decretos y normativas que buscan
proteger los derechos y la dignidad de la población afrocolom-
biana, aún se necesitan acciones afirmativas que contribuyan a
ampliar su representación en los medios de comunicación y que
a la vez permitan cambiar los estereotipos alrededor de las for-
mas de representación. También que estén enfocadas a repen-
sar la estructura bajo la cual se determina la agenda informativa.
A continuación, se determinan 5 acciones que se podrían
implementar para utilizar los medios de comunicación como
herramienta para la equidad racial:

1. Creación de políticas de inclusión étnica racial en los medios


de comunicación
2. Creación de manuales para cubrir temas relacionados con
la población afrodescendiente
Medios de comunicación, entre el racismo estructural
ESP y la invisibilidad de la población afrocolombiana 241

3. Creación de agendas setting paralelas con enfoque étnico


racial
4. Creación de medios alternativos para la promoción de la
equidad racial
5. Investigaciones conjuntas que apunte a la inclusión de
perspectivas étnico racial a las temáticas

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ENGLISH

Mass Media, Between Structural Racism


And The Invisibility Of The Afro-
Colombian Population

Kendry Serrano

In the media, the different ways of representation based on


stereotypes are just as harmful as the invisibility or nullity of
the other in any discursive form. In this case, we refer as “the
other” to the Afro-Colombian people and for this reason, we
will talk about how they have been represented and, in some
situations, have been invisible in the media, as part of contem-
porary structural racism in Colombia, but also about how the
mass media can become a tool that helps racial equity.
A review will be made to the current situation of the Afro-
descendant population in Colombia, their special features and
their needs. At the same time, we will analyze how the repro-
duction of the colonial discourse remains in the mass media,
based on the recognition of a Eurocentric national history in
which a limited vision of society and different cultural forms
still prevail, thus perpetuating exclusion, discrimination and
racism towards this population group. In the same way, we will
make recommendations aimed to transform the mass media
speech towards the Afro-Colombian population.
244 Polifonías para la equidad racial ENG

“What is at issue here is the recognition of the extraordinary


diversity of subjective positions, social experiences, and cul-
tural identities which compose the category “black”; that
is, the recognition that “black” is essentially a category–a
set of fixed transcultural or transcendental racial categories
and which therefore has no guarantees in Nature ”(Hall,
2020: 76)

Racism responds to structural situations that define creation


behaviors, influence and reproduction of conceptions, ways of
representation, contexts, opportunities, inclusions and exclu-
sions, racially molded, according to David Theo Goldberg
(cited in Turpo and Gutiérrez, 2019). And fFor Teun A. van
Dijk (2006), a part of a general strategy for positive self-repre-
sentation is the systematic denial or the racism mitigation, espe-
cially among elites, because ethnic minorities have practically no
access or control over discourses, generally created and written
by “white” elites, but which are not directed at them, who tend
to be ignored as potential recipients of public texts and debates.
In this way, racism responds to structural situations that
define creation behaviors, influence and reproduction of con-
ceptions, ways of representation, contexts, opportunities, inclu-
sions and exclusions, racially molded, according to David Theo
Goldberg (cited in Turpo and Gutiérrez, 2019).
In Colombia, as concluded the study, ‘Los medios de comu-
nicación y la población afrocolombiana, visibilidades, voces y
asuntos de los temas afrocolombianos en los medios de comuni-
cación’ [The media and the Afro-Colombian population, visibili-
ties, voices and issues of the Afro-Colombian topics in the media
] (Tamayo Gómez, Penagos Carreño and Boadas Villaseca, 2010:
75), there is a partial media exclusion in which Afro-Colombians
become invisible in the media agendas, placing them at the cen-
ter of modern racism ( Van Dijk, 1998), which is based not only
Mass Media, Between Structural Racism And The Invisibility
ENG Of The Afro-Colombian Population 245

on ethnic aspects but also on cultural ones, denying the invisibi-


lity of Afro-descendants as well as their relationship with society.
This is how structural racism towards the Afro-descendant
population is perpetuated in the media, no longer denying or rejec-
ting their social membership, but making it invisible on the agenda
or reducing it to unimportant issues or matters that are strictly
related to the ‘mythification’ of what is black-afro, thus, contribu-
ting to the reproduction of the ideology of the ruling elites.
To illustrate these statements, we have chosen three of the
most widely read written media in the country, according to the
ComScore ranking, and evaluate how the journalistic treatment
of the information has been concerning the Afro-descendant
population, amid the strong situation of national strike that
Colombia is going through at the time this article is written.
We will then focus only on reviewing the news balance made by
the newspaper El Tiempo, the magazine Semana and the news-
paper El Espectador, in the first month of a social outbreak that
put the country in long, sustained and unprecedented days of
protests (28. 04. 2021–28.05.2021). However, we cannot make
this analysis without taking into account the social context of
unemployment, the pandemic and, especially, the conditions of
the Afro-descendant population.
It is important to note that the wave of protests, which have
been marred by human rights violations by the Public Force
and other acts of violence, began on April 28, 20211, when
thousands of Colombians took to the streets demanding the
government to withdraw from Congress the tax reform that
it had introduced to recover from the fiscal gap in which the
country was plunged as part of the consequences of the covid-
19 pandemic. Even though President Iván Duque decided to
withdraw the article, citizens continued in the streets asking for
employment, health, education, a decent life and the fulfillment
of their basic needs.
246 Polifonías para la equidad racial ENG

It is necessary at this point to highlight that the economy,


as well as the well-being indices in Colombia, like for the rest
of the countries in the region, had strong contractions amid
the pandemic, but also that the deterioration of the quality of
life of the Afro-descendant population was significantly higher.
According to the report on the impact of covid-19 in the Afro-
descendant population of DANE (National Administrative
Department of statistics), 39.4% of the population went from
consuming 3 meals a day to consuming 2, thus impacting mul-
tidimensional poverty, which stood at 30.6%, 11.0 percen-
tage points above national poverty, the departments of Nariño,
Cauca and Valle del Cauca being the most affected, according
to the last census of 2018, which is also strongly questioned in
its applicability due to the abysmal reduction of this population
without reasonable explanation.
For this reason,, and taking into account the historical con-
ditions in which the Afro-Colombian population has lived, this
análisis must be made from an intersectional understanding,
taking into account that the multiple inequalities experienced
by this population in Latin America and the Caribbean are part
of a complex system of structural discrimination bequeathed by
the slave-owning colonial past (Cepal, 2018), evidenced in the
lack of economic resources, worse living conditions, inequities
in different social aspects and the lack of representation in spa-
ces of power.
“The events and circumstances of social and political life,
as well as the individual, can rarely be understood as determi-
ned by a single factor. In general, they are shaped by many fac-
tors and in different ways that influence each other. Regarding
social inequality, people’s lives and the organization of power
in a given society are better understood as something determi-
ned, not by a single axis of social division, such as race, gender
or class, but by many axes that act together and influence each
Mass Media, Between Structural Racism And The Invisibility
ENG Of The Afro-Colombian Population 247

other. Intersectionality as an analytical tool offers people better


access to the complexity of the world and themselves. ” (Collins
and Bilge, 2019)

The place in the media


WFor this text, we will take the balance of the first month
of the national strike recorded by the newspapers El Tiempo
and El Espectador and the magazine Semana. In them, we will
analyze from a qualitative approach the discursive forms of the
representation of the Afro population, and from the quanti-
tative point of view, we will analyze how many times they are
mentioned throughout the month. In the table that we will
observe below, we find that only one of the three written media
that were chosen to carry out the exercise referred to the Afro-
descendant population, even though Valle del Cauca, the
department where the largest number of Colombians recogni-
zes itself as an Afro-descendant in the country, has been the ter-
ritory where the greatest violence and human rights violations
have been reported during the protests.
We can see then that what happens to the Afro-descendant
population, despite being one of the most affected by the situa-
tion due to factors such as those already mentioned in terms
of present situation and from their history, are not configured
as a fundamental part of what is known in the media as “agen-
da-setting”, which in the words of (Bryman, (cited in Tamayo
Gómez, Penagos Carreño and Boadas Villaseca, 2010), refers
to the symbolic power of the media in channeling the public
attention of citizens, in making decisions and in shaping a cul-
ture of common conversation, by the simple fact that they pay
more attention to some issues and silence others.
The problem is that silencing is just as powerful as massi-
fying. “What does not pass through the media does not exist”,
they often repeat in journalism university spacesclasses, and in
248 Polifonías para la equidad racial ENG

Registration of the Afro-descendant population in three written media during


the balance of the first month of national strike (28. 04. 21 -28. 05. 21)

Media Category of mention


Mentions to the Number
afro-descendent of
population mentions

Yes No

El Tiempo x 0
‘Un mes de
protestas en el país
¿ Qué ha dejado
el paro? [A month
of protests in the
country What has
left the strike?]
29.05.21

Semana x 1 -Refers to afro


¡Hay que escu- communities as:
charlos!: radiografía Victims of the conflict.
de una crisis social Affected by racism.
sin precedentes en -Affected by domestic
Colombia and gender-based
[We must listen to violence.
them !: Analysis of
an unprecedented
social crisis in
Colombia]
29.05.21

El Espectador x 0
Paro nacional: Entre
actos vandálicos,
muertes e infiltra-
ciones de grupos
armados. [National
strike: Between
vandalism acts,
deaths and infil-
trations by armed
groups]
27.05.21
Mass Media, Between Structural Racism And The Invisibility
ENG Of The Afro-Colombian Population 249

this sense, the invisibility of the Afro-descendant population on


radio, television, and the written press on issues that include all
Colombian society is the same as denying its existence, enshri-
ned in the 1991 Constitution that declares Colombia as a mul-
tiethnic and multicultural country. It is to exclude the other
from the place where he belongs.
In the three articles, four priority categories can be identi-
fied: the economy, violence, the political scene, and the pande-
mic. This means, taking into account the structure in which the
news or articles are built, which consists of classifying the infor-
mation in order of interest to the public, that there is a genera-
lized tacit consensus in the media that these are the topics that
should be discussed on the agenda in the context of the natio-
nal strike.

“In societies like ours, the media serve incessantly to carry


out the critical ideological work of “ classifying the world
” within the discourses of the dominant ideologies. It is not
a simple or conscious “work”: it is a contradictory work,
partly due to the internal contradictions between the diffe-
rent ideologies that constitute the dominant terrain, but
even more because these ideologies fight and contend to
have dominance in the field of practices and the class strug-
gle. There is, therefore, no way of doing “the job” that does
not also reproduce, to a considerable degree, the contra-
dictions that structure its field. Consequently, we have to
say that the work of “ideological reproduction” that they
carry out is by definition a work in which counter-acting
tendencies will constantly manifest themselves: Gramsci’s
‘“unstable equilibrium’.” ”(Hall, 2020: 251)

As we can see in the table, of the three selected news items,


only the Afro-descendant population is mentioned in that of
250 Polifonías para la equidad racial ENG

the Semana mMagazine., Hhowever, this mention is only redu-


ced to a sentence located almost at the end of the text. “Afro
communities, for their part, have suffered the onslaught of the
armed conflict and, in addition, have faced racism, domestic
and gender violence,” the article states.
Additionally, how this population is referred to is limited to
general statements (victims of the conflict, affected by racism,
victims of domestic and gender violence) that do not make
clear the real context or the particular needs, in the midst of
the national strike and leaving aside the intersectional analy-
sis with which these situations should be examined and that we
mentioned previously.
But to understand how the classification of news informa-
tion in the mass media is part of the structural racism towards
the Afro-Colombian population, it is necessary to remember
that the history of what we know today as the media goes back
to the intrinsic need of the human being to be informed about
what happens around them and in their community, although
this, in territories with colonizing histories, leads to questions
about the limited representation of realities and the reproduc-
tion of stereotypes.
The means of communication like the system that the society
has created to supply information have their first records in
Germany in 1457 when the first printed newspaper appears
under the title Nuremberg Zeitung; in Europe with the circula-
tion of several editions of a sheet entitled Columbus’s Discovery
of the New World, in 1493; and Latin America, a little later,
with the publication of the Sheet of Mexico in 1541, where the
events that occurred during the earthquake in Guatemala were
narrated (Troyando, 1999: 20).
That system has evolved to turn the media into “central
arena of contemporary social life” and for that same reason
into “key scenarios for discussion and social recognition that
Mass Media, Between Structural Racism And The Invisibility
ENG Of The Afro-Colombian Population 251

account for reality through multiple processes of selection,


organization and production in which ideologies, truth regimes,
and professional procedures intervene that determine what is
and what is not news, which issues are the subject of opinion
and which are not. ” (Tamayo Gómez, Penagos Carreño and
Boadas Villaseca, 2010: 10).

The role of the journalist


According to what was mentioned previously by Tamayo,
Penagos and Boada (2010), we start from the position in which
the system of creation of informative content through the media
necessarily involves recognizing that journalists are part of the
social structure built throughout history and that, therefore,
news production cannot be seen as a distant object from ideo-
logies, acquired knowledge, and life stories.

“(...) But ideologies are not the product of individual


consciousness or intentions. Instead, we formulate our
intentions within ideology. They precede individuals, and
are part of established social formations and the conditions
in which individuals are born.” (Hall, 2010: 299).

In this sense, neither can the fundamental role of the mass


media in the reproduction of structural racism towards the
Afro-descendant population in Colombia be denied, taking
into account its history as a colonized country that has current
elements as a result of that hegemonic construction that was
marked by how power relations and representations of Afro
and indigenous peoples were established.
Santiago Castro Gómez (cited in Arrunátegui, 2010) points
out that the dominance of the Colony was not only achieved
through the subjugation and murder of the people but also
had an intrinsic construction of the discourse of the other,
252 Polifonías para la equidad racial ENG

understood as the colonized, to represent it as the lower infe-


rior one. “Without the incorporation of this discourse into the
common sense of dominators and dominated, the political and
economic power of Europe over its colonies would have been
impossible” (Ibid).
However, the permanence of tthis discourse is has prevai-
led in the different social spheres, perpetuating racist mani-
festations towards the Afro-descendant population from daily
life to the institutional, with the media being a key tool in
this reproduction.

“(...) the tools of a deeply noble aristocratic ideology, inhe-


rited from the colony, and strengthened by the Eurocentric
and racist discourses that came from Europe, dominant
not only in Colombia, but throughout Latin America in
the 19th century, led the creole upper classes to the cons-
truction of a model of an exclusive nation, which left out
the vast majority of its inhabitants, and therefore denied
them the exercise of the most elementary rights of citizens-
hip and that imagined their geography as constituted by
fragments, governed by a hierarchy that assigned places
of predominance of some territories over others and that,
even more serious, converted those three-quarters of their
total extension in marginal spaces and not suitable for the
construction of the nation, and not only because of the
characteristics of its soil and its climate, but also because
of the supposed poor quality of its inhabitants. ” (Múnera,
2005: 103).

This system then ends up being reproduced by the media and


by journalists, who in turn reproduce what they have learned
about the racist social structure in which they were born, rai-
sed and trained to practice the profession to which they are
Mass Media, Between Structural Racism And The Invisibility
ENG Of The Afro-Colombian Population 253

dedicated. Therefore, the way in which they construct the dis-


course is not deliberate but responds to the hegemonic canons
that have been reproduced for centuries.

“The habitus is defined as a system of durable and trans-


ferable dispositions -structured structures predisposed
to function as structuring structures- that integrate all
past experiences and functions at all times as a structu-
ring matrix of the perceptions, appraisals, and actions of
agents facing a situation or event, which contributes to
producing” (Bourdieu, 1995)

Conclusions
In the Colombian media, different forms of structural racism
towards the Afro-descendant population continue to be pre-
sented through discourse, including the invisibility of issues or
important aspects for this population, due to the fact that the
agenda in the media continues to be imposed under the coloni-
zing canons in which the importance of the issues derive from
the interests of the elites that have remained in power.
However, one way to move change this structure is by taking
the media itself as a tool to contribute to racial equity. This
means using them as platforms, but with strategies aimed at set-
ting the “agenda-setting” in favor of this fight. However, this is
only possible if a series of requirements are met which must be
taken into account, especially by civil society organizations and
actors working for this purpose.
The first thing to understand is that the media, as part of
the racist social structure, are made up of by journalists or peo-
ple who in turn reproduce and perpetuate these imaginaries
through social consensus, a product of the same system, and
therefore for this same reason, the actions that are carried out
to try to counteract this discourse must have a pedagogical
254 Polifonías para la equidad racial ENG

training component but also inclined towards the need to


expand the voices from which reality is told. This is to reiterate
the importance of more and more Afro-Colombians becoming
involved in this profession.
It is important that in the midst of the social situation in the
world due to the covid-19 pandemic and the overproduction
of information as a result of it, the debate on the role of journa-
lists in the reproduction of racism towards the Afro-descendant
population is deepened, but also that from civil society propo-
sals are generated so that they can focus on developing agendas
related to the Afro-descendant population.
Likewise, it is essential that actors in favor of racial equity
generate news content, to diversify the media agenda and con-
tribute to its debate, but from an ethnic-racial perspective.
Here communication becomes important as a fundamental
axis of the different processes and actions that are carried out
in favor of racial justice but taking into account the impor-
tance of the production of quality and useful content for the
news calendar.
Despite Colombia being a multi-ethnic and multicultural
country, despite having laws, decrees and regulations that seek
to protect the rights and dignity of the Afro-Colombian popu-
lation, affirmative actions are still needed to help expand their
representation in the media and that at the same time allow
changing the stereotypes around the forms of representation.
Also that they are focused on rethinking the structure under
which the information agenda is determined.
Here are 5 actions that could be implemented to use the
media as a tool for racial equity:

1. Creation of policies of racial-ethnic inclusion in the media.


2. Creation of manuals to cover topics related to the Afro-
descendant population.
Mass Media, Between Structural Racism And The Invisibility
ENG Of The Afro-Colombian Population 255

3. Creation of parallel setting agendas with an ethnic-ra-


cial approach.
4. Creation of alternative means for the promotion of
racial equity.
5. Joint research that points to the inclusion of ethnic-racial
perspectives to the themes.
256 Polifonías para la equidad racial ENG

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Meios de comunicação: entre o racismo


estrutural e a invisibilidade da população
afro-colombiana

Kendry Serrano

Antes de mais nada é importante destacar que a mídia, suas


diferentes formas de representação baseadas em estereóti-
pos, são tão prejudiciais quanto a invisibilidade ou nulidade
do outro em qualquer forma discursiva. Neste caso, entende-
mos o outro como aquele que parte dos cânones ocidentaliza-
dos, mais especificamente como a população afro-colombiana.
Por um lado, discutiremos, então, como essa população tem
sido representada e, em alguns cenários, tornada invisível na
mídia, como uma forma de racismo estrutural contemporâ-
neo na Colômbia.
Por outro lado, vamos rever a situação atual da população
afrodescendente na Colômbia, suas necessidades e particula-
ridades. Ao mesmo tempo, analisaremos como as formas de
reprodução do discurso colonial permanecem nos meios de
comunicação de massa, com base no reconhecimento de uma
história nacional eurocêntrica na qual predomina uma visão
limitada da sociedade e das diferentes formas culturais, perpe-
tuando assim a exclusão, a discriminação e o racismo em rela-
ção a esse grupo populacional.
260 Polifonías para la equidad racial POR

“O que está em jogo aqui é o reconhecimento da extraor-


dinária diversidade de posições subjetivas, experiências
sociais e identidades culturais que compõem a categoria
“negra”, ou seja, o reconhecimento de que “negra” é essen-
cialmente uma categoria, um conjunto de categorias raciais
transculturais ou transcendentais fixas, e portanto, não tem
garantias na Natureza” (Hall, 2020: 76).

Para Teun A. van Dijk (2006) uma parte da estratégia geral de


autorrepresentação positiva é a negação ou mitigação sistemá-
tica do racismo, especialmente entre as elites, porque as mino-
rias étnicas praticamente não têm acesso ou controle sobre os
discursos, geralmente construídos e escritos por elites “bran-
cas” e não endereçados a elas, que tendem a ser ignorados
como possíveis destinatários de textos e dissertações públicas.
Assim, o racismo responde a situações estruturais que defi-
nem comportamentos de criação, reprodução e influência de
concepções raciais, modos de representação, contextos, pos-
sibilidades, inclusões e exclusões, de acordo com David Theo
Goldberg (citado em Turpo e Gutiérrez, 2019).
Na Colômbia, segundo “A mídia e a população afro-co-
lombiana, visibilidades, vozes e questões afro-colombianas nos
meios de comunicação.” (Tamayo Gómez, Penagos Carreño e
Boadas Villaseca, 2010: 75), há uma exclusão parcial da mídia
na qual os afro-colombianos se tornam invisíveis em suas agen-
das, colocando-os no centro do racismo moderno (Van Dijk,
1998), que se baseia não apenas nos aspectos étnicos, mas tam-
bém nos culturais, negando a interculturalidade e a invisibili-
dade dos afrodescendentes e sua relação com a sociedade.
É assim que o racismo estrutural em relação à população
afrodescendente é perpetuado na mídia, não negando ou rejei-
tando sua pertença social, mas tornando-os invisíveis na agenda
ou reduzindo-os a questões sem importância ou questões
Meios de comunicação: entre o racismo estrutural e a
POR invisibilidade da população afro-colombiana 261

puramente relacionadas à “mitologia” dos negros afro, e assim


contribuindo para a reprodução da ideologia das elites no poder.
Para ilustrar estas afirmações, escolhemos três das mídias
impressas mais lidas no país, de acordo com o ranking ComScore,
e para avaliar o tratamento jornalístico das informações sobre a
população afrodescendente, em meio à forte greve nacional que
a Colômbia está passando no momento de escrever este artigo.
Limitar-nos-emos, portanto, a rever o balanço de notícias publi-
cado pelos jornais El Tiempo, Revista Semana e El Espectador,
um mês após a explosão social que levou o país a dias longos,
sustentados e sem precedentes de protestos (28. 04. 2021–28.
05. 2021). Entretanto, não podemos fazer esta análise sem levar
em consideração o contexto social da greve, a pandemia e, em
particular, as condições da população afrodescendente.
É importante destacar que a onda de protestos, que foram
marcados por violações dos direitos humanos pelas forças de
segurança e outras violências, começou em 28 de abril de 2021
quando milhares de colombianos saíram às ruas para exigir
que o governo retirasse do Congresso a reforma tributária que
havia apresentado a fim de se recuperar do buraco fiscal em
que o país estava mergulhado como parte das consequências
da pandemia da Covid-19. Embora o Presidente Iván Duque
tenha decidido retirar o projeto de lei, os cidadãos continuaram
a tomar as ruas exigindo emprego, saúde, educação, uma vida
decente e necessidades básicas a serem atendidas.
Também ressaltar o ponto no qual a economia, assim como
os índices de bem-estar na Colômbia, como no resto dos países
da região, sofreu fortes contrações em meio à pandemia, mas
a deterioração da qualidade de vida da população afrodescen-
dente foi significativamente maior. Segundo o relatório sobre o
impacto da Covid-19 na população afrodescendente da DANE,
39,4% da população passou de 3 refeições diárias para 2, impac-
tando assim a pobreza multidimensional, que ficou em 30,6%,
262 Polifonías para la equidad racial POR

11,0 pontos percentuais acima da pobreza nacional, sendo os


departamentos de Nariño, Cauca e Valle del Cauca os mais afe-
tados. De acordo com o último censo de 2018, o que também é
fortemente questionado em sua aplicabilidade devido à redução
abismal desta população sem explicação razoável.
Por conseguinte, considerando as condições históricas em
que viveu a população afro-colombiana, é importante que
esta análise seja feita a partir de um entendimento interseto-
rial, levando em conta que as múltiplas desigualdades experi-
mentadas por essa população na América Latina e no Caribe
fazem parte de um complexo sistema de discriminação estrutu-
ral legado pelo passado escravista colonial (CEPAL, 2018), evi-
denciado na falta de recursos econômicos, condições de vida,
desigualdades em diferentes aspectos sociais e a falta de repre-
sentação em espaços de poder.

“Os eventos e as circunstâncias da vida social e política e o


indivíduo raramente podem ser entendidos como determi-
nados por um único fator. Eles são geralmente moldados
por muitos fatores e de diversas maneiras que se influen-
ciam mutuamente. Em termos de desigualdade social, a
vida das pessoas e a organização do poder em uma dada
sociedade é melhor entendida como determinada não por
um único eixo de divisão social, seja ele de raça, gênero ou
classe, mas por muitos eixos agindo juntos e influenciando
uns aos outros. Interseccionalidade como ferramenta ana-
lítica oferece às pessoas um melhor acesso à complexidade
do mundo e a si mesmas” (Collins e Bilge, 2019).

O lugar na mídia
Para este texto, utilizaremos os balanços do primeiro mês
da greve nacional registrados pelos jornais El Tiempo e
El Espectador e pela revista Semana. A partir de uma abordagem
Meios de comunicação: entre o racismo estrutural e a
POR invisibilidade da população afro-colombiana 263

qualitativa, analisaremos as formas discursivas de representa-


ção da população afro, e a partir de uma perspectiva quantita-
tiva, analisaremos quantas vezes elas são mencionadas ao longo
do mês. Na tabela abaixo encontramos que apenas uma das
três mídias impressas escolhidas para o exercício fez referên-
cia à população afrodescendente, apesar do Valle del Cauca, o
departamento onde o maior número de colombianos se reco-
nhece como afrodescendentes no país, tem sido o território
onde as mais violentas afetações e violações dos direitos huma-
nos têm sido denunciadas em meio a protestos.

Registro da população afrodescendente em três mídias impressas durante o


primeiro mês da greve nacional (28. 04. 21 -28. 05. 21)

Mídia Referência Número Categorias de menção


à popu- de
lação afro vezes
mencio-
nado

Sim Não

El Tiempo x 0
Um mês de
protestos no país. O
que deixou a greve?
29.05.21

Semana x 1 -Refere-se às comunidades


Devemos ouvi-los: afros como:
um raio X de uma - Vítimas do conflito
crise social sem - Afetadas pelo racismo
precedentes na -Afetada pela violência
Colômbia. intrafamiliar e de gênero.
29.05.21

El Espectador x 0
Greve nacional:
Entre atos vandá-
licos, mortes e
infiltrações de
grupos armados
27.05.21
264 Polifonías para la equidad racial POR

Pode-se observar o que acontece com a população afrodes-


cendente, apesar de ser uma das mais afetadas pela situação
devido a fatores como os já mencionados em termos da situação
atual e da história, não constitui uma parte fundamental do que
é conhecido na mídia como estabelecimento de agenda, que
nas palavras de (Bryman, citado em Tamayo Gómez, Penagos
Carreño e Boadas Villaseca, 2010), refere-se ao poder simbó-
lico da mídia em canalizar a atenção pública dos cidadãos, na
tomada de decisões e na formação de uma cultura de conver-
sação comum, pelo simples fato de que eles prestam mais aten-
ção a alguns assuntos e silenciam outros.
O problema é que silenciar é tão poderoso quanto massifi-
car. “O que não passa pela mídia não existe”, como é frequen-
temente repetido nas faculdades universitárias de jornalismo, e
neste sentido, a invisibilidade da população afrodescendente no
rádio, na televisão e na imprensa escrita sobre assuntos que atra-
vessam a sociedade colombiana é o mesmo que negar sua exis-
tência, como consagrado na Constituição de 1991, que declara
a Colômbia como um país multiétnico e multicultural. É excluir
o outro do lugar a que pertence.
Desse modo, quatro categorias prioritárias podem ser iden-
tificadas nos três artigos: a economia, a violência, o cenário
político e a pandemia. Isto significa, levando em conta a estru-
tura na qual as notícias ou artigos são construídos, que con-
siste em classificar as informações em ordem de interesse para
o público, que existe um consenso tácito geral na mídia de que
estes são os assuntos que devem constar da agenda no contexto
da greve nacional.

“Em sociedades como a nossa, a mídia serve para realizar


incessantemente o trabalho ideológico crítico de “classificar
o mundo” dentro dos discursos das ideologias dominantes.
Não é um “trabalho” simples ou consciente: é um trabalho
Meios de comunicação: entre o racismo estrutural e a
POR invisibilidade da população afro-colombiana 265

contraditório, em parte devido às contradições internas entre


as diferentes ideologias que constituem o terreno dominante,
mas ainda mais porque essas ideologias lutam pelo domínio
no campo da prática e da luta de classes. Não há, portanto,
nenhuma maneira de fazer “trabalho” que não reproduza
também, em grau considerável, as contradições que estru-
turam seu campo. Consequentemente, devemos dizer que
o trabalho de ‘reprodução ideológica’ que eles realizam é,
por definição, um trabalho no qual as tendências contrárias
se manifestarão constantemente: o ‘equilíbrio instável’ de
Gramsci” (Hall, 2020: 251).

Como pode ser visto na tabela, das três notícias selecionadas, a


população afrodescendente é mencionada apenas na da revista
Semana, mas apenas em uma frase próxima ao final do texto.
“As comunidades afrodescendentes, por sua vez, sofreram os
ataques do conflito armado e enfrentaram o racismo, a violên-
cia doméstica e de gênero”, afirma o artigo.
Além disso, a forma como se faz referência a esta população
se limita a declarações gerais (vítimas do conflito, vítimas do
racismo, vítimas da violência doméstica e de gênero) que não
deixam claro o contexto real ou as necessidades particulares
desta população em meio à greve nacional, deixando de lado a
análise intersetorial com a qual estas situações devem ser exa-
minadas, as quais foram mencionadas anteriormente.
Porém, para entender como a classificação da informação
jornalística nos meios de comunicação de massa é parte do
racismo estrutural em relação à população afro-colombiana,
é necessário lembrar que a história do que conhecemos hoje
como mídia remonta à necessidade intrínseca dos seres huma-
nos de serem informados sobre o que está acontecendo ao seu
redor, em suas comunidades, apesar do fato de que em terri-
tórios com histórias colonizadoras isso leva a questionamentos
266 Polifonías para la equidad racial POR

sobre a representação limitada de realidades e a reprodução


de estereótipos.
Os meios de comunicação, como o sistema que a sociedade
criou para fornecer informações, tem seus primeiros registros
na Alemanha em 1457 quando o primeiro jornal impresso apa-
receu sob o título Nurenberg Zeitung; na Europa com a circu-
lação de várias edições de uma folha intitulada Descubrimiento
del Nuevo Mundo por Colón em 1493; e na América Latina,
um pouco mais tarde, com a publicação da Hoja de México em
1541, que narrava os eventos ocorridos durante o terremoto na
Guatemala. (Troyando, 1999: 20).
Este sistema evoluiu para transformar a mídia em “arenas
centrais da vida social contemporânea” e por isso mesmo em
“cenários chave de discussão e reconhecimento social que dão
conta da realidade através de múltiplos processos de seleção,
organização e produção envolvendo ideologias, regimes de ver-
dade e procedimentos profissionais que determinam o que é e
o que não é notícia, quais questões são o assunto da opinião e
quais não são” (Tamayo Gómez, Penagos Carreño e Boadas
Villaseca, 2010: 10).

O papel do jornalista
De acordo com Tamayo, Penagos e Boada (2010), partimos da
posição de que o sistema de criação de conteúdo jornalístico
através da mídia envolve necessariamente o reconhecimento de
que os jornalistas fazem parte da estrutura social construída
ao longo da história e que, portanto, a produção de notícias
não pode ser vista como um objeto distante das ideologias, dos
conhecimentos adquiridos e das histórias de vida.

“(...). Mas as ideologias não são o produto da consciência


ou das intenções individuais. Em vez disso, formulamos
nossas intenções dentro da ideologia. Elas precedem os
Meios de comunicação: entre o racismo estrutural e a
POR invisibilidade da população afro-colombiana 267

indivíduos, e fazem parte das formações sociais estabe-


lecidas e das condições nas quais os indivíduos nascem”
(Hall, 2010: 299).

Neste sentido, o papel fundamental da mídia de massa na repro-


dução do racismo estrutural em relação à população afrodescen-
dente na Colômbia não pode ser negado, levando em conta sua
história como país colonizado, que possui elementos que são
o produto desta construção hegemônica que foi marcada pela
forma como as relações de poder e representações dos afrodes-
cendentes e dos povos indígenas foram estabelecidas.
Ademais, Santiago Castro Gómez (citado em Arrunátegui,
2010) aponta que a dominação colonial não só foi alcançada
através da submissão e assassinato de povos, mas também teve
uma construção intrínseca do discurso do outro, entendido
como o colonizado, para representá-los como inferiores. “Sem
a incorporação deste discurso no senso comum tanto dos domi-
nadores como dos dominados, o poder político e econômico da
Europa sobre suas colônias teria sido impossível” (Ibid).
Entretanto, a permanência deste discurso está presente nas
diferentes esferas sociais, perpetuando manifestações racistas
para a população afrodescendente desde o cotidiano até a insti-
tucional, sendo a mídia uma ferramenta chave nesta reprodução.

“(... ) as ferramentas de uma ideologia profundamente sen-


horial, herdada dos tempos coloniais e fortalecida pelos
discursos eurocêntricos e racistas vindos da Europa, domi-
nante não apenas na Colômbia, mas em toda a América
Latina no século XIX, levaram as classes altas crioulas a
construir um modelo exclusivo de nação, que deixou de
fora a grande maioria de seus habitantes, que lhes negava o
exercício dos direitos mais elementares da cidadania e que
imaginava sua geografia como composta de fragmentos,
268 Polifonías para la equidad racial POR

governada por uma hierarquia que atribuía lugares de pre-


dominância a alguns territórios sobre outros e que, ainda
mais grave, transformava esses três quartos de sua área
total em espaços marginais impróprios para a construção
da nação, não só pelas características de seu solo e clima,
mas também pela suposta má qualidade de seus habitan-
tes”. (Múnera, 2005: 103).

Como resultado, este sistema acaba sendo reproduzido pela


mídia e pelos jornalistas, que por sua vez reproduzem o que
aprenderam com a estrutura social racista em que nasceram,
cresceram e foram treinados para exercer a profissão em que
trabalham. Portanto, a forma como eles constroem o discurso
não é deliberada, mas responde aos cânones hegemônicos que
têm sido reproduzidos durante séculos.

“O habitus é definido como um sistema de disposições durá-


veis e transferíveis–estruturas estruturadas predispostas a
funcionar como estruturas estruturantes–que integram todas
as experiências e funções passadas em qualquer momento
como uma matriz estruturante para as percepções, ava-
liações e ações dos agentes cara diante de uma conjuntura
ou acontecimento e que ele contribui para produzir” (Bour-
dieu, 1995)

Conclusões
A mídia colombiana continua a apresentar diferentes formas de
racismo estrutural para a população afrodescendente através
do discurso, incluindo a invisibilidade de questões ou aspec-
tos importantes para esta população, porque a agenda na mídia
continua a ser imposta sob os cânones colonizadores nos quais
a importância das questões deriva dos interesses das elites que
permaneceram no poder.
Meios de comunicação: entre o racismo estrutural e a
POR invisibilidade da população afro-colombiana 269

Porém, uma maneira de mover esta estrutura é tomar a pró-


pria mídia como uma ferramenta para contribuir para a igual-
dade racial. Isto significa utilizá-los como plataformas, mas com
estratégias destinadas a estabelecer a agenda em favor desta luta.
Contudo, isso só será possível se uma série de requisitos for
atendida, especialmente por organizações da sociedade civil e
atores que trabalham para esse fim.
A primeira coisa a entender é que a mídia, como parte da
estrutura social racista, é formada por jornalistas ou pessoas que
por sua vez reproduzem e perpetuam esses imaginários através
do consenso social, um produto do mesmo sistema, e que por
isso mesmo as ações que são realizadas para tentar contrariar
esse discurso devem ter um componente pedagógico de forma-
ção, mas também estar inclinadas para a necessidade de ampliar
as vozes a partir das quais a realidade é contada. Isto é, reiterar a
importância de cada vez mais pessoas afrocolombianas se envol-
verem com esta profissão.
É importante que, em meio à situação social no mundo
devido à pandemia da covid-19 e à superprodução de informa-
ção como resultado dela, o debate sobre o papel dos jornalistas
na reprodução do racismo em relação à população afrodes-
cendente deve ser aprofundado, mas também que a sociedade
civil possa gerar propostas para que eles possam se concen-
trar no desenvolvimento de agendas relacionadas à popula-
ção afrodescendente.
Da mesma forma, é essencial que os atores a favor da igual-
dade racial gerem conteúdo de notícias, com o objetivo de
diversificar a agenda da mídia e contribuir para o debate, mas
de um ponto de vista étnico-racial. Aqui, a comunicação torna-
-se importante como eixo fundamental dos diferentes processos
e ações a favor da justiça racial, mas levando em conta a impor-
tância de produzir qualidade e conteúdo útil para o calendário
de notícias.
270 Polifonías para la equidad racial POR

Apesar da Colômbia ser um país multiétnico e multicultu-


ral, além de ter leis, decretos e regulamentos que buscam pro-
teger os direitos e a dignidade da população afro-colombiana,
ainda há necessidade de ações afirmativas que contribuam para
ampliar sua representação na mídia e que, ao mesmo tempo,
permitam mudar os estereótipos que cercam as formas de repre-
sentação. Eles também precisam se concentrar em repensar a
estrutura sob a qual a agenda de notícias é determinada.
Para finalizar, aqui estão 5 ações que poderiam ser imple-
mentadas para utilizar a mídia como uma ferramenta para a
equidade racial:

1. Criação de políticas de inclusão étnica racial na mídia;


2. Criação de manuais para cobrir questões relacionadas com
a população afrodescendente;
3. Criação de agendas paralelas com um enfoque étnico-racial;
4. Criação de meios alternativos para a promoção da equi-
dade racial;
5. Pesquisa conjunta visando a inclusão de perspectivas etnor-
raciais em questões temáticas.
Meios de comunicação: entre o racismo estrutural e a
POR invisibilidade da população afro-colombiana 271

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ESPAÑOL

La igualdad material como comparación:


mi experiencia viviendo la igualdad
formal estadounidense

Andrés Valero

Introducción

Inicialmente, pensé realizar este escrito sobre aquellos aspec-


tos que la academia legal del sur global tuviera para “enseñarle”
a la academia estadounidense en temas de relaciones raciales.
Así, comencé a plantearme una serie de aspectos más o menos
sofisticados como las diferencias en la jurisdicción constitucio-
nal, derechos sociales y culturales, o las relaciones con comu-
nidades indígenas. Al final, desistí de este enfoque por dos
motivos. Primero, consideré que el corto espacio de este docu-
mento implicaba el enorme riesgo de dejar muchas ideas sin
acabar y presentarlas como caricaturas. Segundo, me pareció
pertinente tratar ciertos temas que, desde mi experiencia como
estudiante doctoral en Estados Unidos, me han dejado perplejo
y que se derivan de la angustia o miedo cuando pienso en las
facturas que podría terminar pagando por ir al médico. Esta
angustia financiera se me hizo llamativa porque nunca tuve ese
miedo mientras vivía en Colombia y porque en conversaciones
276 Polifonías para la equidad racial ESP

casuales y en documentos académicos me di cuenta de que esa


angustia era algo usual en Estados Unidos. Por ello, comencé
a preguntarme cómo y por qué una sociedad —la americana
en este caso— ha llegado al punto de pensar que es “normal”
tener esta angustia.
La ausencia de esta angustia financiera no significa que el
sistema de salud colombiano funcione perfectamente o que
no tenga serios problemas y desigualdades. Sin embargo, esta
nueva emoción que siento al vivir en Estados Unidos me ha ser-
vido de excusa para pensar y hablar de algo que he aprendido
a valorar en la lejanía: la igualdad material como una idea más
o menos ampliamente aceptada y que basa ciertas medidas ins-
titucionales para enfrentar la desigualdad. En otras palabras, la
pregunta de ¿cómo es que una sociedad ha llegado al punto de
pensar que es normal tener miedo financiero de ir al médico?,
la termino respondiendo, al menos parcialmente, a través de la
división entre igualdad formal e igualdad material.
Creo que una de las razones por las que algunas personas
han llegado a este punto se responde parcialmente al tener en
cuenta cuál es la visión sobre la igualdad que es más aceptada
en esa sociedad. Así, creo que una de las ventajas que la socie-
dad colombiana tiene sobre la estadounidense es que la primera
encuentra aceptable una concepción material de la igualdad
mientras que la segunda es más cercana a una visión formal.
De tal suerte, el tema de este ensayo es la incapacidad que
parece reinar en la mayoría de los estadounidenses para pen-
sar los problemas sociales por fuera de una noción que deno-
minaré igualdad formal. En concreto, mi argumento se divide
en dos partes. Primero: que la cotidianidad estadounidense, a
diferencia de la colombiana, le otorga mayor legitimidad a un
enfoque formal sobre la igualdad que a un enfoque material.
Segundo: que esta forma de abordar los problemas sociales deja
en una peor posición las minorías étnicas y raciales. Así, creo
La igualdad material como comparación: mi experiencia
ESP viviendo la igualdad formal estadounidense 277

que valorar este aspecto de la sociedad colombiana nos permite


enfocar nuestra atención y energías políticas en crear o mejorar
algunas medidas que ya existen y que están basadas en la igual-
dad material como, por ejemplo, repensar ciertos elementos de
las acciones afirmativas para poblaciones afro o indígenas en el
acceso a la educación superior al revisar, reevaluar, y eliminar
el papel de los exámenes estandarizados como elemento cen-
tral de este acceso.
Una aclaración final en esta introducción es necesaria: que
afirme que la igualdad material proporcione un mejor y más
efectivo enfoque para enfrentar la desigualdad social no signi-
fica que Colombia no tenga profundas y terribles desigualda-
des. César Rodríguez ha resaltado cómo la falta de regulación
en el sistema de salud ha permitido que los prestadores y ase-
guradores impongan barreras injustificadas a poblaciones mar-
ginadas y excluidas (Rodríguez, C., 2012). Por otro lado, la
esperanza de vida de las mujeres afrocolombianas es de once
años menos que el resto de las mujeres, mientras que los hom-
bres afrocolombianos viven seis años menos que el resto de la
población. Además, solo el 8% de los graduados afrocolom-
bianos tienen acceso a educación universitaria (Programa de
Naciones Unidas, 2011). Finalmente, mientras que el 18.63%
de las muertes en la población indígena se da entre los 0 y 4
años, dicha cifra es de 4.92% en la población no-indígena. Por
estas razones, está lejos del propósito de este texto insinuar
que la preponderancia del enfoque de igualdad material ha
solucionado los problemas de desigualdad en Colombia o que
las medidas implementadas hasta ahora hayan sido suficien-
tes. El propósito de este documento es otro: subrayar que la
igualdad material proporciona un mejor terreno para enfren-
tar las desigualdades sociales y que las instituciones y medidas
estadounidenses tienen mucho que aprender de este enfoque.
Claramente, Colombia no ha avanzado en este camino y no ha
278 Polifonías para la equidad racial ESP

“aprovechado” esta ventaja; que lo haga en un futuro es algo


que no puede ser determinado en este texto.
Las ideas de igualdad formal e igualdad material se derivan
de las descripciones que la Corte Constitucional colombiana ha
hecho a la hora de interpretar el artículo trece de la Constitución
Política1. A grandes rasgos, la idea de la igualdad formal con-
sidera que tratar igual a las personas prohíbe adoptar tratos
diferenciados aún cuando ellas se encuentren en condiciones
materiales totalmente disímiles. De tal forma, esta perspectiva
toma a los individuos como un conjunto de seres que son regu-
lados a partir de exactamente las mismas medidas: la igualdad
ante la ley. Es en este sentido que las ideas del mérito propio y
del individualismo cobran importancia en este enfoque, pues el
mérito y el esfuerzo propio se vuelven los criterios usados para
repartir cargas y beneficios: la responsabilidad de la propia salud
determina cómo y por qué el sujeto acude a los servicios de sani-
dad o los resultados individuales de las notas escolares o resulta-
dos de exámenes estandarizados determinan si el sujeto accede
o no a la educación universitaria.
Por otro lado, la igualdad material implica que, de forma
quizás contra-intuitiva, un trato diferenciado es requerido si el
propósito final es respetar la igualdad de los sujetos cuando las
condiciones materiales relevantes son diametralmente diferen-
tes. Por ello, la igualdad material permite -o exige- intervencio-
nes directas tendientes a modificar el contexto material de las

1 El art. 13 de la Constitución dice: “Todas las personas nacen libres e iguales ante la ley, reci-
birán la misma protección y trato de las autoridades y gozarán de los mismos derechos, libertades
y oportunidades sin ninguna discriminación por razones de sexo, raza, origen nacional o familiar,
lengua, religión, opinión política o filosófica. El Estado promoverá las condiciones para que la
igualdad sea real y efectiva y adoptará medidas en favor de grupos discriminados o marginados.
El Estado protegerá especialmente a aquellas personas que por su condición económica, física o
mental, se encuentren en circunstancia de debilidad manifiesta y sancionará los abusos o maltra-
tos que contra ellas se cometan”. Dentro de las sentencias de la Corte Constitucional que han
interpretado esta cláusula, tenemos, entre otras, las siguientes: Sentencia C-22 de 1996, C-336
de 2008, C-30 de 2008, T-872 De 2009, C-824 de 2011, T-314 de 2011.
La igualdad material como comparación: mi experiencia
ESP viviendo la igualdad formal estadounidense 279

personas, en especial de aquellas que se encuentran en condi-


ciones precarias o de debilidad. Consecuentemente, para que
una persona sea tratada materialmente igual se requiere que
algunas de sus condiciones materiales básicas estén satisfechas.
Son ejemplos de este tipo de igualdad las “acciones afirmati-
vas” que reservan ciertos cupos universitarios o un número de
curules en cuerpos políticos a minorías étnicas. Así mismo, los
subsidios a favor de las personas pobres en los servicios públi-
cos domiciliarios o servicios de salud son ejemplos de medi-
das basadas en la idea de la igualdad material; dejar el acceso
a estos servicios al mérito o al pago sería prácticamente dejar
a estos grupos sin un acceso real a estos servicios. Esta es la
razón por la que, de forma coloquial, se dice que estas inter-
venciones se relacionan con la idea de “nadie es libre con el
estómago vacío”.

La igualdad formal y los Estados Unidos


Mi experiencia en Estados Unidos me ayudó a ver cómo la idea
de la igualdad formal moldea las desigualdades sociales y racia-
les. Por ejemplo, las poblaciones afro en Estados Unidos y en
Colombia tienen mayores índices de pobreza y menor acceso
al derecho a la salud o la educación y, para ello, en ambos paí-
ses se han pensado medidas de “discriminación positiva” en
el acceso a educación como medidas para remediar la discri-
minación y exclusión históricas. Aunque en Colombia a veces
uno escucha críticas aisladas sobre estas medidas, nunca he
percibido que estas medidas sean ampliamente contestadas o
cuestionadas y su implementación nunca ha sido el tema de
intensas disputas en ninguna campaña política o debates jurí-
dicos. Por venir de este contexto, fue desconcertante darme
cuenta de que estas medidas son profundamente cuestionadas
en la sociedad estadounidense y que muchos de sus ciudadanos
consideran que la admisión a la universidad debe estar basada
280 Polifonías para la equidad racial ESP

únicamente en el mérito individual2 medido a través de prue-


bas estandarizadas.
Como se mencionó anteriormente, esta posición está basada
en la visión de que las personas deben ser evaluadas de forma
igual por sus propias acciones y proscribiendo cualquier trato
diferenciado, aun cuando dicho trato esté pensado para incre-
mentar la diversidad o remediar injusticias históricas. De hecho,
una encuesta Gallup del 2016 encontró que el 39% de los
encuestados dijo que la situación económica familiar no debe-
ría ser un factor considerado en el proceso de admisión, y el
63% dijo lo mismo respecto a la raza o etnicidad del aplicante.
Por el contrario, el 73% dijo que las notas altas deben tener una
“importancia mayor” en dicho proceso y el 55% respondió lo
mismo en relación con los resultados de exámenes estandariza-
dos. Estas encuestas reflejan que la mayoría de los estadouni-
denses piensa que el acceso a un bien tan importante como la
educación universitaria debe estar basado en una idea estricta
del mérito propio y regida por un trato igual e individualista.
El contraste entre el debate hecho en un país y en otro me sor-
prendió enormemente.
Dejar el acceso a la educación en manos de la igualdad for-
mal se vuelve más preocupante si se toma en cuenta que el
acceso a la universidad tiene impactos críticos en la movilidad
social intergeneracional (Chetty, R., 2017) pues diversos estu-
dios señalan que la desigualdad racial en la educación hace que
las desigualdades de clase sean aún más acuciantes (Reeves, R.,

2 Por ejemplo, en 2016 la Corte Suprema de Justicia de Estados Unidos sufrió un bajón en su
popularidad precisamente por permitir que la raza sea un factor para la admisión universitaria:
Jones, Jeffrey, “U.S Supreme Court Job Approval Rating Ties Record Low”, Gallup, julio 29 de
2016. Acceso el 3 de diciembre de 2021, En: https://news.gallup.com/poll/194057/supreme-
court-job-approval-rating-ties-record-low.aspx
Más aun, una encuesta realizada en 2016 encontró que el 70% de los encuestados afirmó
que dicha admisión debe estar basada únicamente en el mérito propio mientras que solo el 26%
indicó que la raza o etnia debe tener algún peso dentro del proceso de admisión:
https://news.gallup.com/poll/193508/oppose-colleges-considering-race-admissions.aspx
La igualdad material como comparación: mi experiencia
ESP viviendo la igualdad formal estadounidense 281

2013), que la movilidad social sea más lenta e implica que los
niños afroamericanos tengan menos oportunidades en su vida
como adultos (Randall, A., 2019). Además, a lo largo de la vida
laboral, las personas negras tienen acceso a peores escenarios
laborales y tienen que enfrentar discriminación en el sistema
carcelario y en en su trato frente a las políticas y prácticas de
la policía (Kirkpatrick D.; Elder, S., Barker, K., Tate, J., 2021).
Peor aún, dejar que el acceso a la educación dependa de exáme-
nes estandarizados refuerza y refleja brechas raciales intergene-
racionales (Richard, R., Halikias, D., 2021). Más aún, una vez
ya admitidos, los estudiantes afroamericanos tienen menores
probabilidades de graduarse (Casselman, B., 2014). Ante este
escenario uno se pregunta ¿cómo es que la igualdad formal y la
idea individualista del mérito son tan populares en el acceso a
la educación si se ha demostrado que los exámenes estandari-
zados refuerzan la injusticia?
Ver cómo a pesar de ello la igualdad formal es tan popu-
lar en Estados Unidos fue impactante. La impopularidad de
la igualdad material y algunas de las formas para implemen-
tarla se hicieron aun más explícitas en California cuando, en
el marco de un referendo estatal en 2020, los votantes de ese
estado rechazaron la posibilidad de que su constitución estatal
permitiera tomar la raza, género o etnicidad como factores rele-
vantes a la hora de asignar bienes escasos en empleo público,
educación, entre otros3.
Si bien los ejemplos de acción afirmativa son los más útiles,
la incapacidad de pensar de forma amplia la idea de la igual-
dad en la cotidianidad norteamericana es evidente en otros
casos. Por ejemplo, a raíz de la reciente propuesta legislativa del
3 Esto no significa que todas las universidades de este estado usen los resultados de exáme-
nes estandarizados como su principal criterio de admisión. Por ejemplo, UC Berkeley tiene en
consideración aspectos extra-académicos tales como las cualidades personales del aplicante y
es explícita en indicar que es test-free (no requiere exámenes estandarizados en su proceso de
admisión). Véase: https://admissions.berkeley.edu/freshmen-requirements
282 Polifonías para la equidad racial ESP

presidente Joe Biden, denominada Build Back Better (BBB)4,


las críticas conservadoras a una entitlement society volvieron
a ganar popularidad. Para mí, el mismo nombre con el que se
denomina esta crítica es llamativo porque en español la traduc-
ción sería algo como una “sociedad de derechos”. Es decir, se me
hizo tremendamente llamativo que tener una sociedad de dere-
chos fuera una crítica. Aunque luego me di cuenta de que esta
crítica no se dirige directamente a “tener derechos”: esta crí-
tica relaciona la idea de poder exigir prestaciones públicas con
la idea de que los subsidios, las acciones afirmativas o las trans-
ferencias de recursos a favor de los ciudadanos pobres crean
personas perezosas y dependientes de los programas estatales.
Fue sorprendente, por lo tanto, darme cuenta de que muchísi-
mas personas creen que tener licencias de enfermedad o tener
derecho a ir al odontólogo fuera algo nocivo porque fomenta-
ría la pereza o la dependencia. Como contrapropuesta, estos
sectores ofrecen alternativas basadas en el mercado y en el indi-
vidualismo como, por ejemplo, seguros médicos privados e
individualizados basados en la capacidad de pago, planes de
retiro individuales o la financiación de la educación universita-
ria a través de cuentas de ahorros individuales. Es decir, medi-
das basadas en la igualdad formal.

La igualdad formal y las minorías raciales


Aunque la igualdad formal puede tener sentido, el problema
es que tomarla como criterio para el acceso a servicios bási-
cos como la salud o la educación deja a las minorías raciales
en peor posición. Aunque la Affordable Care Act, denomi-
nada comúnmente como Obamacare, debilitó parcialmente
el enorme componente individualista y de igualdad formal

4 Algunos de los propósitos de esta medida legislativa son expandir los programas federales
de salud, implementar a nivel federal licencias de enfermedad, o reducir el precio de algunas
medicinas.
La igualdad material como comparación: mi experiencia
ESP viviendo la igualdad formal estadounidense 283

en el sistema de salud al incluir subsidios para hacer que el


seguro médico sea más barato, el sistema de salud norteame-
ricano aún contiene un importante componente de individua-
lismo en el que el asegurado tiene que asumir varios copagos o
Cost Sharing. Este costo compartido se basa usualmente en la
idea de que ello aumenta la responsabilidad individual sobre
la propia salud. Dado que estos pagos compartidos son usual-
mente un porcentaje del valor total del procedimiento, esto
implica que, cuando los tratamientos son costosos, las perso-
nas terminen pagando copagos que pueden ser bastante one-
rosos. Como es usual en las soluciones basadas en el mercado,
en el individualismo, o en la capacidad de pago, diversos estu-
dios han encontrado que dichas medidas de costos comparti-
dos terminan siendo barreras en el acceso a la salud en contra
de los sectores más pobres (Artiga, S., 2017). Así, se ha encon-
trado que los hogares de personas afroamericanas5 han acu-
mulado mayores deudas relacionadas con gastos de salud que
los hogares de personas blancas (National Research Council,
2021). Además, y a raíz de la reciente pandemia del Covid-19,
algunos reportes como el de (Perry, A., 2021) han encontrado
que las personas afro tienen menores probabilidades de tener
seguro médico como prueba (Grooms, J., 2021) y, además,
están sobre-representados en aquellos trabajos que son califica-
dos como “esenciales”, lo cual las enfrenta a un mayor contacto
con el virus (Dubay et al, 2021). El hecho de que las personas
negras sean más propensas a no estar aseguradas implica no
solo que están más expuestas a no recibir tratamientos médi-
cos apropiados, sino que también son más propensas a acumu-
lar enormes deudas relacionadas con su salud (Perry, A., 2021).
Tristemente, esto significa que los sectores más desfavorecidos

5 National Research Council, “Understanding Racial and Ethnic Differences in Health in Late
Life”, National Academics Press, 2014. Acceso el 3 de diciembre de 2021, En: https://www.
ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK24693/
284 Polifonías para la equidad racial ESP

terminan teniendo más miedo de los cobros por ir al médico


que de la misma enfermedad (National Opinion Research
Center, 2018).
Con todo, los escenarios anteriores confirman que tratar de
remediar las injusticias raciales por medio de ideas derivadas
de la igualdad formal y el esfuerzo individual es nocivo para los
sectores más desaventajados de la sociedad, no porque estos
sectores sean perezosos sino porque dejan por fuera ciertas
variables que impiden un desempeño igualitario.
Una pregunta legítima podría ser la siguiente: ¿estas políti-
cas estrechas y desiguales son el resultado de un pobre enten-
dimiento sobre la igualdad o el producto de un sistema político
que no atiende a sus ciudadanos? Algunos datos parecen indi-
car que estos resultados institucionales se derivan, al menos en
parte, de dicho entendimiento generalizado sobre la igualdad.
En el debate sobre la ley BBB que mencioné anteriormente, el
senador demócrata por Virginia del Oeste Joe Manchin ejerció
su enorme influencia política para disminuir el costo, el número
de programas a implementar y la duración inicial de dichos
programas. Así, no es seguro que muchas iniciativas popula-
res sean en efecto aprobadas6. Sorprendentemente, uno de los
argumentos que Manchin daba para sustentar su posición con-
servadora era que estas medidas generan una entitlement men-
tality (Bousie, J., 2021). En otras palabras, lo que al senador le
preocupaba es que tener un sistema de salud más robusto pro-
dujera ciudadanos perezosos sin la menor preocupación por
el mérito propio (Cogan, J., 2021). Más sorprendente aún es
que los votantes del senador parecen no tener problemas con
sus visiones y, de hecho, no hay ningún indicio de que la popu-
laridad o los prospectos políticos de Manchin se hayan puesto

6 Al momento de escribir este documento no era seguro que las incapacidades por enfer-
medad o la inclusión de salud dental, visual o auditiva dentro de los planes de salud fueran
incluidas.
La igualdad material como comparación: mi experiencia
ESP viviendo la igualdad formal estadounidense 285

en peligro por sus declaraciones. Sus votantes de Virginia del


Oeste parecen estar de acuerdo con estas críticas a pesar de
sondeos que indican que las medidas que él está enterrando son
populares (Menasce, J., 2021).

Mi experiencia y el contraste con Colombia


Mi experiencia como estudiante doctoral colombiano en Estados
Unidos me ha permitido reflexionar sobre el caso colombiano
y valorar que, en cierto sentido, la cotidianidad en Colombia
refleja un entendimiento distinto y más robusto sobre la igual-
dad. Hay que aclarar que Colombia es un país profundamente
desigual en donde la inequidad parece ser cada día más amplia.
Lo que afirmo acá es que, a diferencia de Estados Unidos, he per-
cibido que las ideas de igualdad material son más populares en
Colombia y que ello puede presentar algunas ventajas en relación
con la forma en la que se piensa este asunto en Estados Unidos.
Desde un punto de vista estadístico, por ejemplo, la encuesta
del Barómetro de las Américas muestra una mayor inclinación
en Colombia por temas de justicia social que Estados Unidos.
La pregunta “¿debe el Estado reducir la desigualdad?” muestra
que la respuesta promedio en Colombia era 72.85, mientras que
en Estados Unidos fue 52.23. En la pregunta “¿El gobierno debe
gastar más en ayudar a los pobres?” el promedio en Colombia
fue 85.05 mientras que en Estados Unidos fue 60.07.7 Estas dos
variables muestran que Colombia parece estar más dispuesta a
adoptar medidas de redistribución de la riqueza, mientras que
los Estados Unidos parecen estar más cercanos a adoptar medi-
das individualistas.
Son varias las medidas que en Colombia se alejan de
la perspectiva de la igualdad formal al ofrecer subsidios o

7 Se debe aclarar que el Barómetro de las Américas no reporta estos resultados en porcenta-
jes sino en una reconversión de variables que van del cero al siete. Así, estos puntajes no deben
ser leídos en una escala porcentual del cero al cien.
286 Polifonías para la equidad racial ESP

transferencia de riquezas sin que estas sean duramente criti-


cadas por la opinión pública. Por ejemplo, las universidades
públicas ofrecen un determinado número de plazas para per-
sonas de comunidades indígenas, sin que esto despierte mayo-
res debates políticos o jurídicos8. Así mismo, la Ley 581 del
2000 ordena que el 30% de los cargos en los niveles deciso-
rios en las tres ramas y órganos del Estado sean ocupados por
mujeres, y han sido varias las iniciativas que han tratado de
implementar la paridad estricta en órganos colegiados, como
el Congreso de la República9. Además, los estratos más pobres
reciben un subsidio en sus servicios públicos domiciliarios
implementado inicialmente en la Ley 142 de 1994. Aunque
todas estas medidas han sido cuestionadas en los juzgados y la
Corte Constitucional, la opinión pública nunca mostró estar
en contra de ellas y su permanencia nunca estuvo en peligro
realmente cuando llegaron a escenarios judiciales. Como se
mencionó anteriormente, estas medidas no son perfectas y tie-
nen sus problemas particulares (como sigue siendo el uso de
exámenes estandarizados). Sin embargo, y como se argumen-
tará más a fondo en las siguientes páginas, que estas medidas
basadas en la igualdad material no sean directamente rechaza-
das por la opinión pública puede ser una ventaja a la hora de
pensar en ajustes o nuevas medidas para enfrentar las desigual-
dades sociales.
Quizás uno de los debates más notorios ocurrió en el 2011,
cuando Martha Amor escribió una columna en El Universal

8 A diferencia de Estados Unidos, donde en varias ocasiones la Corte Suprema ha prohibido


la implementación de cuotas o puntajes automáticos a favor de minorías, la Corte Constitucional
sí ha permitido que la raza o etnicidad de los aplicantes sea uno de los factores para tener en
cuenta a la hora promover la diversidad racial en el contexto educativo (Grutter Vs. Bollinger
o Fisher Vs. University of Texas).
9 Para el momento de la publicación de este documento, la Corte Constitucional no había
declarado la constitucionalidad de un nuevo Código Electoral, el cual introduciría paridad en
las listas a de candidatos.
La igualdad material como comparación: mi experiencia
ESP viviendo la igualdad formal estadounidense 287

en la que indicaba que “Por no ser negra de verdad-verdad


no puedo participar en igualdad de condiciones en convoca-
torias dirigidas a afrodescendientes” (Redacción El Tiempo,
2010). Martha se refería a un programa de becas otorgado por
el Instituto de Patrimonio y Cultura de Cartagena para muje-
res afrocolombianas. Al debate se unió el escritor colombiano
Héctor Abad Faciolince, quien asimiló las cuotas y la discrimi-
nación positiva a una hipotética política de neonazis a favor de
Arios en “posición de desventaja” a través de un “certificado de
Ariodescendencia” (Abad, H., 2011). Aunque Faciolince dirige
sus críticas al “certificado de negro”, sus palabras vuelven siem-
pre a la idea del mérito propio e individual: “Tengo una amiga
del Pacífico a la que en Boyacá le dicen ‘Sumercé negra’. Ella
ha llegado por sus méritos humanos y profesionales a tener un
buen puesto, y vive, sin repulsa ni resentimiento, en un edificio
habitado prevalentemente por blancuzcos”, dice Abad Faciolince
(2011), retomando ideas individualistas que ya vimos en el caso
estadounidense. Un elemento común de las respuestas dadas a
Abad Faciolince en defensa de estas cuotas retomaba elementos
de la igualdad material al resaltar que el contexto material que
rodea a estas comunidades se relaciona con el racismo sistemático
que deben enfrentar a raíz del pasado esclavista y excluyente que
ha operado en su contra (Rodríguez, C., 2011). Al mismo tiempo,
estas respuestas muestran cómo basarse en el mérito propio para
superar injusticias históricas tomaría mucho más tiempo que si se
implementan medidas de discriminación inversa (Uprimny, R.,
2011). Así, las intervenciones que respondían a las palabras de
Faciolince eran una defensa explícita o implícita de la igualdad
material como medida para corregir injusticias y desigualdades.
Todas ellas se referían a cómo las situaciones materiales e his-
tóricas de la comunidad afrocolombiana hacen que sea imposi-
ble considerar que un trato formalmente igualitario sea el mejor
camino para acabar con injusticias y desigualdades.
288 Polifonías para la equidad racial ESP

Otro punto de comparación entre los dos países puede ser el


sistema de salud. Recuerdo muy bien que uno de los primeros
consejos que recibí cuando fui aceptado en mi programa doc-
toral fue: “no deje de cotizar a su EPS acá en Colombia”. Este
consejo me resultó llamativo, pero bastante acertado cuando
necesité ir al odontólogo o a procedimientos más complejos.
La idea de que el sistema de salud colombiano es “peor” que
el estadounidense puede ser bastante difundida, pero segura-
mente es una idea que necesita matices y aclaraciones.
Como mencioné al inicio de este texto, mi experiencia con el
sistema estadounidense en la que reinaba el miedo y la descon-
fianza se debía, al menos en parte, a que este sistema se basa en
ideas individualistas de la igualdad formal. Lamentablemente,
la popularidad de esta idea le ha dado legitimidad al sistema y
ha significado que las intervenciones judiciales refuercen estos
elementos individualistas.
Así, con sorpresa encontré que los sistemas de ambos países no
son tan diferentes. Según Neporent (2013), en Estados Unidos,
después del Obamacare10, las personas acceden al sistema de salud
a través de los seguros ofrecidos por sus empleadores, a través del
mercado de pólizas (subsidiados por el gobierno a través de pagos
que se hacen a las aseguradoras) o a través de programas subsi-
diados y que están dirigidos a la población de la tercera edad o
a la población más pobre por medio del Medicare o el Medicaid
(US Department of Health and Human Services, 2021). Según
mi entendimiento, es en este último caso en el que ideas robustas
de la igualdad están más presentes, aunque no tanto así en los dos
primeros casos. Obamacare estableció un sistema de pagos y sub-
sidios a las aseguradoras que decidieran participar del programa a
cambio de renunciar a usar selección inversa o denegar servicios a

10 Liz Neporent, “Obamacare Explained (like you’re an iditio)”. ABC News. 23 de diciem-
bre de 2013. Acceso el 3 de diciembre de 2021, En: https://abcnews.go.com/Health/
obamacare-explained-idiot/story?id=21292932
La igualdad material como comparación: mi experiencia
ESP viviendo la igualdad formal estadounidense 289

causas de preexistencias, entre otros. Una de las formas en las que


el sistema basó su sostenibilidad era en un mandato individual en
el que todo ciudadano debería estar asegurado.
En Colombia, después de la Ley 100 de 1993 y varias leyes y
sentencias de la Corte Constitucional, el sistema es más o menos
similar: las personas con un contrato laboral son afiliadas al régi-
men contributivo por su empleador y entre ambos pagan una
pequeña suma de dinero que va al sistema de salud. Sin embargo,
el grueso del dinero por el aseguramiento es pagado por el
Estado en tanto las aseguradoras11 reciben un monto mensual
por cada afiliado (Unidad de Pago por Capitación). Las perso-
nas que no tienen un contrato laboral pueden afiliarse al régimen
contributivo como “Independientes” asumiendo la totalidad de
la cotización. La tercera forma de afiliación al sistema es a través
del régimen subsidiado, el cual fue diseñado para las personas
sin vínculo laboral y en situación de pobreza. Hasta antes de la
sentencia T-760/08, cada uno de estos dos regímenes aseguraba
dos planes distintos. Así pues, en ambos sistemas existe un sub-
sidio estatal a favor de los ciudadanos para que estos accedan a
servicios y planes más baratos.
Lo curioso es que, a pesar de estas similitudes, la respuesta
de la opinión pública en cada caso es distinta. Si bien en Estados
Unidos el Obamacare es popular, ciertos temas han sido bas-
tante cuestionados, como la obligación de estar asegurado, que
incluso fue invalidada por la Corte Suprema (Thompson, D.,
2021). Más aún, la expansión o fortalecimiento de dicho sistema
ha sido casi imposible, ya que esta misma Corte le quitó algu-
nas facultades al gobierno federal en relación con la ampliación
de este programa para transferirla a los Estados. Así mismo, la
elección de Donald Trump como presidente, con su promesa

11 Las aseguradoras son denominadas Empresas Prestadoras de Salud (EPS). Ellas administran
los dineros y contratan la prestación del servicio con Instituciones Prestadoras de Servicios (IPS).
290 Polifonías para la equidad racial ESP

de eliminar y reemplazar al Obamacare, socavó de forma impor-


tante al sistema. Como ya se mencionó, la obstrucción y el debi-
litamiento causado por senadores conservadores en contra de
las propuestas de Joe Biden para hacer al sistema de salud ame-
ricano más inclusivo parece no oscurecer los prospectos políti-
cos de estos. Así, un importante fragmento de la opinión pública
norteamericana no parece estar interesada en que su sistema de
salud sea más inclusivo y parece insistir en la igualdad formal y
sus debilidades como base institucional.
No se debe olvidar que el sistema de salud colombiano es
duramente cuestionado y su funcionamiento es continuamente
debatido en las noticias y en la prensa (Arango, C., 2018) aun-
que, curiosamente, las EPS no son fatalmente evaluadas por los
colombianos (Pardo, D., 2020). A diferencia del caso norteame-
ricano, la opinión pública ha favorecido todas las intervenciones
judiciales que han fortalecido la inclusión del sistema y, además,
varias modificaciones por vía legislativa también lo han favore-
cido. Por ejemplo, la opinión pública estuvo a favor de cómo la
Corte Constitucional enfrentó el intento del presidente de ese
entonces, Álvaro Uribe Vélez, de modificar el sistema de salud.
Uribe Vélez, a través de una declaratoria de Emergencia Social y
Económica (Decreto Legislativo 4975 de 2009), trató de mover
al sistema hacia el individualismo, el mérito propio y la igualdad
formal. En efecto, el Decreto 128 de 2010 intentó crear al Fondo
de Prestaciones Excepcionales en Salud como un fondo de cofi-
nanciación de aquellos procedimientos o medicamentos prescri-
tos a un paciente por fuera del plan de beneficios.12 Esta medida
era regresiva no solo porque trasladaba el pago total o parcial
de los servicios al paciente, sino también porque dictaminaba
que esta cofinanciación se extinguía una vez agotados los dineros

12 En el sistema actual, los tratamientos prescritos y no incluidos en el plan de beneficios son


pagados no por la EPS sino por un Fondo público. Ley 100 de 1993.
La igualdad material como comparación: mi experiencia
ESP viviendo la igualdad formal estadounidense 291

de este Fondo. Otra medida regresiva era autorizar el pago de


la deuda médica usando el seguro de desempleo del paciente13.
Con esto se abría la posibilidad al cost sharing —ya mencionada
en el caso estadounidense— y a que los sectores más pobres y las
minorías raciales fueran aquellas que más acumularan este tipo
de deuda. A diferencia del caso estadounidense, las decisiones de
la Corte Constitucional, que declararon la inconstitucionalidad
de estas medidas, fueron ampliamente aceptadas por la opinión
pública (El Espectador, 2010).
Además, la Corte Constitucional no ha tenido ningún pro-
blema en modificar y hacer más inclusivo el sistema de salud
teniendo como argumentos la idea de igualdad material y la soli-
daridad social14. De igual manera, ningún candidato a cargos
públicos ha mencionado ni sugerido la idea de hacer que el sis-
tema de salud sea más individualista o intente hacer pagar más al
paciente. A pesar de que continuamente se habla sobre la nece-
sidad de reformar el sistema de salud, sugerir que el paciente
debe tener mayor responsabilidad en el pago de las deudas de
salud parece ser un suicidio político. Incluso, el gobierno de
Iván Duque (2018-2022) tuvo que retirar del Congreso una
reforma a la salud a causa del enorme descontento popular que
el gobierno despertó con una nueva ley de impuestos. Aunque
aquella ley de sanidad no modificaba de forma importante las
responsabilidades de los pacientes ni hacía que sus cargas finan-
cieras fueran más altas, la reforma se hundió de todos modos
(Portafolio, 2021).

13 El cual originalmente se puede retirar cuando se termina el contrato de trabajo o cuando,


no terminado este contrato, el empleado va a comprar o remodelar una vivienda o para pagar
sus estudios. Ley 100 de 1993.
14 Por ejemplo, en la sentencia T-760/08 la Corte no solo ordenó la unificación de los planes
de salud, sino que ordenó también su actualización periódica. También declaró que la salud era
un derecho fundamental y estableció algunas medidas para el otorgamiento de procedimientos
por fuera del plan de beneficios que sean prescritas por el médico tratante, entre otros.
292 Polifonías para la equidad racial ESP

Conclusiones
No es propósito de este texto sugerir que Colombia tiene
resueltas las desigualdades raciales o los dilemas más profun-
dos sobre la igualdad. Por el contrario, Colombia es de los paí-
ses más desiguales del planeta. Menos aún era mi objetivo decir
que en Colombia no hay racismo o que las medidas implemen-
tadas en educación o salud son perfectas o que no reprodu-
cen parcialmente desigualdades raciales. Por el contrario, el
propósito de este documento es más modesto y se dividió en
dos pasos. La primera idea era mostrar cómo la ciudadanía
y la cotidianidad estadounidense están más cercanas a lo que
podríamos denominar igualdad formal mientras que la ciudada-
nía y cotidianidad colombiana están más cercanas a una idea de
igualdad material. El segundo paso era mostrar cómo las ideas
de la igualdad formal dejan en peor posición a las minorías
raciales. Este propósito está intencionalmente ubicado en con-
tra de la idea socialmente extendida de que “el tercer mundo”
o el “subdesarrollo” es algo que se “supera” a través de la emu-
lación o adopción de prácticas o instituciones de países “desa-
rrollados” o de “primer mundo”.
Aunque Colombia es espantosamente desigual, ello no es a
causa de las políticas e instituciones basadas en una idea de igual-
dad material sino a pesar de estas medidas. No son pocos los
estudios que muestran cómo estas medidas, tales como subsi-
dios a la salud, servicios públicos domiciliarios, o discriminación
inversa, han sido decisivas para la protección de las minorías15.
Más aún, la “Ley de cuotas” y otros programas como el de las
“madres comunitarias” han empoderado a sectores de mujeres

15 Sobre este tema se puede ver: Rodríguez César y Baquero Carlos Andrés, Reconocimiento
con redistribución (Bogotá, Dejusticia, 2015); Guzmán, Diana & Silvia Prieto. Participación
política de las mujeres y partidos Posibilidades a partir de la reforma política de 2011. (Bogotá,
Dejusticia, 2013); Durango, Gerardo. “Las acciones afirmativas como mecanismos reivindi-
cadores de la paridad de género en la participación política inclusiva: Ecuador, Bolivia, Costa
Rica y Colombia”. Revista Derecho, n. 45, (enero, 2016): pp. 137-168,
La igualdad material como comparación: mi experiencia
ESP viviendo la igualdad formal estadounidense 293

que han sido anteriormente excluidos. Todas estas medidas basa-


das en la igualdad material han sido transformadoras para algu-
nas minorías raciales y de género y, por ello, considerarlas un
fracaso simplemente porque no han logrado finiquitar proble-
mas y desigualdades más profundas sería un error. Si bien estas
medidas tienen sus propios problemas y están lejos de cumplir
su propósito por sí solas, estoy convencido de que es un error
pensar a los individuos de forma aislada y creer que el reparto
de bienes y servicios fundamentales debe dejarse al mérito indi-
vidual, tal como lo hace la igualdad formal. Esto es así porque
implica ocultar que el género, el sexo, la raza o la clase social pro-
porcionan ventajas que podrían calificarse como injustas y que
estas ventajas injustas dejadas sin tocar reproducen nuevamente
lógicas desiguales. No es coincidencia que en Estados Unidos
sean las comunidades afro las que tienen menores índices de ase-
guramiento al sistema de salud y tampoco es coincidencia que
sean estas mismas personas las que terminen más endeudadas
por recibir estos servicios: una injusticia lleva a otra injusticia. No
es coincidencia que las comunidades afro tengan más dificultad
para entrar a la universidad ni que sean estas mismas comunida-
des las que menos oportunidades tienen en el mundo laboral.
La igualdad material, por otro lado, parece un terreno más
fructífero para romper estas dinámicas y Colombia está en un
mejor camino para enfrentar estas situaciones. Como lo seña-
lan las respuestas a Héctor Abad, es indispensable recono-
cer las situaciones fácticas e históricas que enfrentan algunas
comunidades y personas; de igual manera, es un franco error
esperar que ellas logren mejorar sus condiciones de vida a tra-
vés del individualismo. Nuevamente, no quiero decir que no
haya problemas raciales importantes en las medidas del sis-
tema colombiano o la forma en la que se ha implementado la
igualdad material en este país. Sin embargo, la sociedad colom-
biana tiene una ventaja en tener a la igualdad material como un
294 Polifonías para la equidad racial ESP

principio importante y popular. Es esta idea de la igualdad la


herramienta más apta para romper los ciclos de pobreza y des-
igualdad que una visión formal deja intocadas. Es esto lo que
debemos valorar, defender, y refinar porque, tristemente, aún
es largo el camino que debemos recorrer. Fue esto lo que sentí
cuando las angustias médicas y financieras en Estados Unidos
me hicieron pensar en cómo Colombia debería valorar y seguir
trabajando, refinando y aprendiendo de su propia experiencia
constitucional e institucional con la igualdad material. Tenemos
muchos problemas, pero sin duda tenemos una buena herra-
mienta para refinar.

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ENGLISH

Mass Media, Between Structural Racism


And The Invisibility Of The Afro-
Colombian Population

Kendry Serrano

In the media, the different ways of representation based on


stereotypes are just as harmful as the invisibility or nullity of
the other in any discursive form. In this case, we refer as “the
other” to the Afro-Colombian people and for this reason, we
will talk about how they have been represented and, in some
situations, have been invisible in the media, as part of contem-
porary structural racism in Colombia, but also about how the
mass media can become a tool that helps racial equity.
A review will be made to the current situation of the Afro-
descendant population in Colombia, their special features and
their needs. At the same time, we will analyze how the repro-
duction of the colonial discourse remains in the mass media,
based on the recognition of a Eurocentric national history in
which a limited vision of society and different cultural forms
still prevail, thus perpetuating exclusion, discrimination and
racism towards this population group. In the same way, we will
make recommendations aimed to transform the mass media
speech towards the Afro-Colombian population.
300 Polifonías para la equidad racial ENG

“What is at issue here is the recognition of the extraordinary


diversity of subjective positions, social experiences, and cul-
tural identities which compose the category “black”; that
is, the recognition that “black” is essentially a category–a
set of fixed transcultural or transcendental racial categories
and which therefore has no guarantees in Nature ”(Hall,
2020: 76)

Racism responds to structural situations that define creation


behaviors, influence and reproduction of conceptions, ways of
representation, contexts, opportunities, inclusions and exclu-
sions, racially molded, according to David Theo Goldberg
(cited in Turpo and Gutiérrez, 2019). And fFor Teun A. van
Dijk (2006), a part of a general strategy for positive self-repre-
sentation is the systematic denial or the racism mitigation, espe-
cially among elites, because ethnic minorities have practically no
access or control over discourses, generally created and written
by “white” elites, but which are not directed at them, who tend
to be ignored as potential recipients of public texts and debates.
In this way, racism responds to structural situations that
define creation behaviors, influence and reproduction of con-
ceptions, ways of representation, contexts, opportunities, inclu-
sions and exclusions, racially molded, according to David Theo
Goldberg (cited in Turpo and Gutiérrez, 2019).
In Colombia, as concluded the study, ‘Los medios de comu-
nicación y la población afrocolombiana, visibilidades, voces y
asuntos de los temas afrocolombianos en los medios de comuni-
cación’ [The media and the Afro-Colombian population, visibili-
ties, voices and issues of the Afro-Colombian topics in the media
] (Tamayo Gómez, Penagos Carreño and Boadas Villaseca, 2010:
75), there is a partial media exclusion in which Afro-Colombians
become invisible in the media agendas, placing them at the cen-
ter of modern racism ( Van Dijk, 1998), which is based not only
Mass Media, Between Structural Racism And The Invisibility
ENG Of The Afro-Colombian Population 301

on ethnic aspects but also on cultural ones, denying the invisibi-


lity of Afro-descendants as well as their relationship with society.
This is how structural racism towards the Afro-descendant
population is perpetuated in the media, no longer denying or rejec-
ting their social membership, but making it invisible on the agenda
or reducing it to unimportant issues or matters that are strictly
related to the ‘mythification’ of what is black-afro, thus, contribu-
ting to the reproduction of the ideology of the ruling elites.
To illustrate these statements, we have chosen three of the
most widely read written media in the country, according to the
ComScore ranking, and evaluate how the journalistic treatment
of the information has been concerning the Afro-descendant
population, amid the strong situation of national strike that
Colombia is going through at the time this article is written.
We will then focus only on reviewing the news balance made by
the newspaper El Tiempo, the magazine Semana and the news-
paper El Espectador, in the first month of a social outbreak that
put the country in long, sustained and unprecedented days of
protests (28. 04. 2021–28.05.2021). However, we cannot make
this analysis without taking into account the social context of
unemployment, the pandemic and, especially, the conditions of
the Afro-descendant population.
It is important to note that the wave of protests, which have
been marred by human rights violations by the Public Force
and other acts of violence, began on April 28, 20211, when
thousands of Colombians took to the streets demanding the
government to withdraw from Congress the tax reform that
it had introduced to recover from the fiscal gap in which the
country was plunged as part of the consequences of the covid-
19 pandemic. Even though President Iván Duque decided to
withdraw the article, citizens continued in the streets asking for
employment, health, education, a decent life and the fulfillment
of their basic needs.
302 Polifonías para la equidad racial ENG

It is necessary at this point to highlight that the economy,


as well as the well-being indices in Colombia, like for the rest
of the countries in the region, had strong contractions amid
the pandemic, but also that the deterioration of the quality of
life of the Afro-descendant population was significantly higher.
According to the report on the impact of covid-19 in the Afro-
descendant population of DANE (National Administrative
Department of statistics), 39.4% of the population went from
consuming 3 meals a day to consuming 2, thus impacting mul-
tidimensional poverty, which stood at 30.6%, 11.0 percen-
tage points above national poverty, the departments of Nariño,
Cauca and Valle del Cauca being the most affected, according
to the last census of 2018, which is also strongly questioned in
its applicability due to the abysmal reduction of this population
without reasonable explanation.
For this reason,, and taking into account the historical con-
ditions in which the Afro-Colombian population has lived, this
análisis must be made from an intersectional understanding,
taking into account that the multiple inequalities experienced
by this population in Latin America and the Caribbean are part
of a complex system of structural discrimination bequeathed by
the slave-owning colonial past (Cepal, 2018), evidenced in the
lack of economic resources, worse living conditions, inequities
in different social aspects and the lack of representation in spa-
ces of power.
“The events and circumstances of social and political life,
as well as the individual, can rarely be understood as determi-
ned by a single factor. In general, they are shaped by many fac-
tors and in different ways that influence each other. Regarding
social inequality, people’s lives and the organization of power
in a given society are better understood as something determi-
ned, not by a single axis of social division, such as race, gender
or class, but by many axes that act together and influence each
Mass Media, Between Structural Racism And The Invisibility
ENG Of The Afro-Colombian Population 303

other. Intersectionality as an analytical tool offers people better


access to the complexity of the world and themselves. ” (Collins
and Bilge, 2019)

The place in the media


WFor this text, we will take the balance of the first month
of the national strike recorded by the newspapers El Tiempo
and El Espectador and the magazine Semana. In them, we will
analyze from a qualitative approach the discursive forms of the
representation of the Afro population, and from the quanti-
tative point of view, we will analyze how many times they are
mentioned throughout the month. In the table that we will
observe below, we find that only one of the three written media
that were chosen to carry out the exercise referred to the Afro-
descendant population, even though Valle del Cauca, the
department where the largest number of Colombians recogni-
zes itself as an Afro-descendant in the country, has been the ter-
ritory where the greatest violence and human rights violations
have been reported during the protests.
We can see then that what happens to the Afro-descendant
population, despite being one of the most affected by the situa-
tion due to factors such as those already mentioned in terms
of present situation and from their history, are not configured
as a fundamental part of what is known in the media as “agen-
da-setting”, which in the words of (Bryman, (cited in Tamayo
Gómez, Penagos Carreño and Boadas Villaseca, 2010), refers
to the symbolic power of the media in channeling the public
attention of citizens, in making decisions and in shaping a cul-
ture of common conversation, by the simple fact that they pay
more attention to some issues and silence others.
The problem is that silencing is just as powerful as massi-
fying. “What does not pass through the media does not exist”,
they often repeat in journalism university spacesclasses, and in
304 Polifonías para la equidad racial ENG

Registration of the Afro-descendant population in three written media during


the balance of the first month of national strike (28. 04. 21 -28. 05. 21)

Media Category of mention


Mentions to the Number
afro-descendent of
population mentions

Yes No

El Tiempo x 0
‘Un mes de
protestas en el país
¿ Qué ha dejado
el paro? [A month
of protests in the
country What has
left the strike?]
29.05.21

Semana x 1 -Refers to afro


¡Hay que escu- communities as:
charlos!: radiografía Victims of the conflict.
de una crisis social Affected by racism.
sin precedentes en -Affected by domestic
Colombia and gender-based
[We must listen to violence.
them !: Analysis of
an unprecedented
social crisis in
Colombia]
29.05.21

El Espectador x 0
Paro nacional: Entre
actos vandálicos,
muertes e infiltra-
ciones de grupos
armados. [National
strike: Between
vandalism acts,
deaths and infil-
trations by armed
groups]
27.05.21
Mass Media, Between Structural Racism And The Invisibility
ENG Of The Afro-Colombian Population 305

this sense, the invisibility of the Afro-descendant population on


radio, television, and the written press on issues that include all
Colombian society is the same as denying its existence, enshri-
ned in the 1991 Constitution that declares Colombia as a mul-
tiethnic and multicultural country. It is to exclude the other
from the place where he belongs.
In the three articles, four priority categories can be identi-
fied: the economy, violence, the political scene, and the pande-
mic. This means, taking into account the structure in which the
news or articles are built, which consists of classifying the infor-
mation in order of interest to the public, that there is a genera-
lized tacit consensus in the media that these are the topics that
should be discussed on the agenda in the context of the natio-
nal strike.

“In societies like ours, the media serve incessantly to carry


out the critical ideological work of “ classifying the world
” within the discourses of the dominant ideologies. It is not
a simple or conscious “work”: it is a contradictory work,
partly due to the internal contradictions between the diffe-
rent ideologies that constitute the dominant terrain, but
even more because these ideologies fight and contend to
have dominance in the field of practices and the class strug-
gle. There is, therefore, no way of doing “the job” that does
not also reproduce, to a considerable degree, the contra-
dictions that structure its field. Consequently, we have to
say that the work of “ideological reproduction” that they
carry out is by definition a work in which counter-acting
tendencies will constantly manifest themselves: Gramsci’s
‘“unstable equilibrium’.” ”(Hall, 2020: 251)

As we can see in the table, of the three selected news items,


only the Afro-descendant population is mentioned in that of
306 Polifonías para la equidad racial ENG

the Semana mMagazine., Hhowever, this mention is only redu-


ced to a sentence located almost at the end of the text. “Afro
communities, for their part, have suffered the onslaught of the
armed conflict and, in addition, have faced racism, domestic
and gender violence,” the article states.
Additionally, how this population is referred to is limited to
general statements (victims of the conflict, affected by racism,
victims of domestic and gender violence) that do not make
clear the real context or the particular needs, in the midst of
the national strike and leaving aside the intersectional analy-
sis with which these situations should be examined and that we
mentioned previously.
But to understand how the classification of news informa-
tion in the mass media is part of the structural racism towards
the Afro-Colombian population, it is necessary to remember
that the history of what we know today as the media goes back
to the intrinsic need of the human being to be informed about
what happens around them and in their community, although
this, in territories with colonizing histories, leads to questions
about the limited representation of realities and the reproduc-
tion of stereotypes.
The means of communication like the system that the society
has created to supply information have their first records in
Germany in 1457 when the first printed newspaper appears
under the title Nuremberg Zeitung; in Europe with the circula-
tion of several editions of a sheet entitled Columbus’s Discovery
of the New World, in 1493; and Latin America, a little later,
with the publication of the Sheet of Mexico in 1541, where the
events that occurred during the earthquake in Guatemala were
narrated (Troyando, 1999: 20).
That system has evolved to turn the media into “central
arena of contemporary social life” and for that same reason
into “key scenarios for discussion and social recognition that
Mass Media, Between Structural Racism And The Invisibility
ENG Of The Afro-Colombian Population 307

account for reality through multiple processes of selection,


organization and production in which ideologies, truth regimes,
and professional procedures intervene that determine what is
and what is not news, which issues are the subject of opinion
and which are not. ” (Tamayo Gómez, Penagos Carreño and
Boadas Villaseca, 2010: 10).

The role of the journalist


According to what was mentioned previously by Tamayo,
Penagos and Boada (2010), we start from the position in which
the system of creation of informative content through the media
necessarily involves recognizing that journalists are part of the
social structure built throughout history and that, therefore,
news production cannot be seen as a distant object from ideo-
logies, acquired knowledge, and life stories.

“(...) But ideologies are not the product of individual


consciousness or intentions. Instead, we formulate our
intentions within ideology. They precede individuals, and
are part of established social formations and the conditions
in which individuals are born.” (Hall, 2010: 299).

In this sense, neither can the fundamental role of the mass


media in the reproduction of structural racism towards the
Afro-descendant population in Colombia be denied, taking
into account its history as a colonized country that has current
elements as a result of that hegemonic construction that was
marked by how power relations and representations of Afro
and indigenous peoples were established.
Santiago Castro Gómez (cited in Arrunátegui, 2010) points
out that the dominance of the Colony was not only achieved
through the subjugation and murder of the people but also
had an intrinsic construction of the discourse of the other,
308 Polifonías para la equidad racial ENG

understood as the colonized, to represent it as the lower infe-


rior one. “Without the incorporation of this discourse into the
common sense of dominators and dominated, the political and
economic power of Europe over its colonies would have been
impossible” (Ibid).
However, the permanence of tthis discourse is has prevai-
led in the different social spheres, perpetuating racist mani-
festations towards the Afro-descendant population from daily
life to the institutional, with the media being a key tool in
this reproduction.

“(...) the tools of a deeply noble aristocratic ideology, inhe-


rited from the colony, and strengthened by the Eurocentric
and racist discourses that came from Europe, dominant
not only in Colombia, but throughout Latin America in
the 19th century, led the creole upper classes to the cons-
truction of a model of an exclusive nation, which left out
the vast majority of its inhabitants, and therefore denied
them the exercise of the most elementary rights of citizens-
hip and that imagined their geography as constituted by
fragments, governed by a hierarchy that assigned places
of predominance of some territories over others and that,
even more serious, converted those three-quarters of their
total extension in marginal spaces and not suitable for the
construction of the nation, and not only because of the
characteristics of its soil and its climate, but also because
of the supposed poor quality of its inhabitants. ” (Múnera,
2005: 103).

This system then ends up being reproduced by the media and


by journalists, who in turn reproduce what they have learned
about the racist social structure in which they were born, rai-
sed and trained to practice the profession to which they are
Mass Media, Between Structural Racism And The Invisibility
ENG Of The Afro-Colombian Population 309

dedicated. Therefore, the way in which they construct the dis-


course is not deliberate but responds to the hegemonic canons
that have been reproduced for centuries.

“The habitus is defined as a system of durable and trans-


ferable dispositions -structured structures predisposed
to function as structuring structures- that integrate all
past experiences and functions at all times as a structu-
ring matrix of the perceptions, appraisals, and actions of
agents facing a situation or event, which contributes to
producing” (Bourdieu, 1995)

Conclusions
In the Colombian media, different forms of structural racism
towards the Afro-descendant population continue to be pre-
sented through discourse, including the invisibility of issues or
important aspects for this population, due to the fact that the
agenda in the media continues to be imposed under the coloni-
zing canons in which the importance of the issues derive from
the interests of the elites that have remained in power.
However, one way to move change this structure is by taking
the media itself as a tool to contribute to racial equity. This
means using them as platforms, but with strategies aimed at set-
ting the “agenda-setting” in favor of this fight. However, this is
only possible if a series of requirements are met which must be
taken into account, especially by civil society organizations and
actors working for this purpose.
The first thing to understand is that the media, as part of
the racist social structure, are made up of by journalists or peo-
ple who in turn reproduce and perpetuate these imaginaries
through social consensus, a product of the same system, and
therefore for this same reason, the actions that are carried out
to try to counteract this discourse must have a pedagogical
310 Polifonías para la equidad racial ENG

training component but also inclined towards the need to


expand the voices from which reality is told. This is to reiterate
the importance of more and more Afro-Colombians becoming
involved in this profession.
It is important that in the midst of the social situation in the
world due to the covid-19 pandemic and the overproduction
of information as a result of it, the debate on the role of journa-
lists in the reproduction of racism towards the Afro-descendant
population is deepened, but also that from civil society propo-
sals are generated so that they can focus on developing agendas
related to the Afro-descendant population.
Likewise, it is essential that actors in favor of racial equity
generate news content, to diversify the media agenda and con-
tribute to its debate, but from an ethnic-racial perspective.
Here communication becomes important as a fundamental
axis of the different processes and actions that are carried out
in favor of racial justice but taking into account the impor-
tance of the production of quality and useful content for the
news calendar.
Despite Colombia being a multi-ethnic and multicultural
country, despite having laws, decrees and regulations that seek
to protect the rights and dignity of the Afro-Colombian popu-
lation, affirmative actions are still needed to help expand their
representation in the media and that at the same time allow
changing the stereotypes around the forms of representation.
Also that they are focused on rethinking the structure under
which the information agenda is determined.
Here are 5 actions that could be implemented to use the
media as a tool for racial equity:

1. Creation of policies of racial-ethnic inclusion in the media.


2. Creation of manuals to cover topics related to the Afro-
descendant population.
Mass Media, Between Structural Racism And The Invisibility
ENG Of The Afro-Colombian Population 311

3. Creation of parallel setting agendas with an ethnic-ra-


cial approach.
4. Creation of alternative means for the promotion of
racial equity.
5. Joint research that points to the inclusion of ethnic-racial
perspectives to the themes.
312 Polifonías para la equidad racial ENG

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PORTUGUÊS

A igualdade material como comparação:


minha experiência vivendo a igualdade
formal estadunidense

Andrés Valero

Introdução

Inicialmente, pensei em escrever sobre o que a academia jurí-


dica do sul global tinha para “ensinar” à academia norte-a-
mericana sobre relações raciais. Assim, comecei a considerar
uma série de questões mais ou menos sofisticadas, tais como
diferenças de jurisdição constitucional, direitos sociais e cul-
turais, ou relações com comunidades indígenas. No final, eu
desisti dessa abordagem por duas razões. Primeiro, conside-
rei que o curto espaço desse trabalho implicava o enorme risco
de deixar muitas ideias inacabadas e apresentá-las como cari-
caturas. Em segundo lugar, achei pertinente abordar certas
questões que, pela minha experiência como estudante de dou-
torado nos Estados Unidos, me deixaram perplexo e que deri-
vam da angústia ou do medo quando penso nas contas que
eu poderia acabar pagando por ir ao médico. Essa angústia
financeira foi marcante para mim porque nunca tive esse medo
enquanto morava na Colômbia e porque em conversas casuais
316 Polifonías para la equidad racial POR

e em trabalhos acadêmicos percebi que tal angústia era comum


nos Estados Unidos. Portanto, comecei a me perguntar como
e porque uma sociedade–a americana nesse caso–chegou ao
ponto de pensar que é “normal” ter medo dessa ansiedade.
Dado o foco desse livro, pareceu pertinente abordar esse medo
que sinto agora morando nos Estados Unidos e não enquanto
morava na Colômbia.
Para começar é importante ressaltar que a ausência desse pro-
blema financeiro não significa que o sistema de saúde colom-
biano funcione perfeitamente ou que não tenha problemas e
desigualdades graves. Entretanto, essa nova excitação que sinto
morando nos Estados Unidos me deu uma desculpa para pensar
e falar sobre algo que aprendi a valorizar de longe: a igualdade
material como uma ideia mais ou menos amplamente aceita
que está na base de certas medidas institucionais para enfren-
tar a desigualdade. Em outras palavras, a questão de “como é
que uma sociedade chegou ao ponto em que é normal ter medo
financeiro de ir ao médico?” acabo respondendo, pelo menos
parcialmente, através da divisão formal entre igualdade/mate-
rial. Isto é, acho que uma das razões pelas quais algumas pessoas
chegaram a esse ponto é parcialmente respondida levando em
conta qual visão de igualdade é mais aceita naquela sociedade.
Que a ideia de igualdade formal é amplamente aceita na socie-
dade americana está relacionada ao fato de que seus cidadãos
consideram aceitáveis certos resultados institucionais. Assim,
acredito que uma das vantagens que a sociedade colombiana
tem sobre a sociedade norte-americana é que a primeira encon-
tra uma concepção material de igualdade aceitável, enquanto a
segunda está mais próxima de uma visão formal.
Assim, o tema desse documento é a incapacidade que parece
reinar na maioria dos americanos de pensar sobre problemas
sociais fora de uma noção que eu chamarei de igualdade formal.
Especificamente, meu argumento está dividido em duas partes.
A igualdade material como comparação: minha experiência
POR vivendo a igualdade formal estadunidense 317

Primeiro, que o cotidiano americano, ao contrário do colom-


biano, dá maior legitimidade a uma abordagem formal da igual-
dade do que a uma abordagem material. Em segundo lugar, que
essa abordagem dos problemas sociais deixa as minorias étnicas
e raciais em uma posição pior. Isto posto, acredito que a valori-
zação desse aspecto da sociedade colombiana nos permite con-
centrar nossa atenção e nossas energias políticas na criação ou
melhoria de algumas medidas já existentes e as quais são basea-
das na igualdade material–por exemplo. Desse modo, repen-
sam-se certos elementos de ação afirmativa para as populações
afro ou indígenas no acesso ao ensino superior, revendo, reava-
liando e eliminando o papel dos testes padronizados como ele-
mento central desse acesso.
Faz-se necessário um esclarecimento final nessa introdução:
minha afirmação de que a igualdade material proporciona uma
abordagem melhor e mais eficaz para combater a desigualdade
social não significa que a Colômbia não tenha desigualdades
profundas e terríveis. Como destacado por César Rodríguez, a
falta de regulamentação no sistema de saúde1 permitiu aos pres-
tadores e seguradoras impor barreiras injustificadas às popula-
ções marginalizadas e excluídas. Por outro lado, a expectativa
de vida das mulheres afro-colombianas é onze anos menor do
que a de outras mulheres, enquanto os homens afro-colombia-
nos vivem seis anos menos do que o resto da população. Além
disso, apenas 8% dos graduados afro-colombianos têm acesso à
educação universitária2. Finalmente, enquanto 18,63% das mor-
tes da população indígena ocorrem entre 0 e 4 anos de idade,
esse número é de 4,92% na população não-indígena. Por essas

1 Rodríguez, César. “Justicia y salud en Colombia: retos y oportunidades creadas mediante la


intervención de los jueces”, en Oscar Bernal y Catalina Gutiérrez (eds.). Libro blanco en salud:
logros, retos, y recomendaciones (Bogotá: Universidad de los Andes, 2012).
2 Programa de Naciones Unidas para el Desarrollo, Los afrocolombianos frente a los Objeti-
vos de Desarrollo del Milenio (Bogotá: PNUD, 2011).
318 Polifonías para la equidad racial POR

razões, está longe do objetivo desse documento implicar que a


igualdade material tenha resolvido os problemas de desigual-
dade na Colômbia ou que as medidas implementadas até agora
tenham sido suficientes. O objetivo desse documento é dife-
rente: sublinhar que a igualdade material oferece um terreno
melhor para combater as desigualdades sociais e que as institui-
ções e medidas americanas têm muito a aprender com essa abor-
dagem. Claramente, a Colômbia não avançou nesse caminho e
não “aproveitou” essa vantagem; se o fará no futuro é algo que
não pode ser determinado nesse texto.
As ideias de igualdade formal e igualdade material derivam
das descrições que a Corte Constitucional Colombiana fez ao
interpretar o artigo treze da Constituição Política3. Em ter-
mos gerais, a ideia de igualdade formal considera que tratar as
pessoas igualmente proíbe o tratamento diferenciado, mesmo
quando elas estão em condições materiais totalmente diferen-
tes. Dessa forma, essa perspectiva leva os indivíduos como um
grupo de seres que são regulados exatamente pelas mesmas
medidas: igualdade perante a lei. É nessa ordem de ideias que
próprio mérito e individualismo se tornam importantes nessa
abordagem, pois o mérito e o próprio esforço se tornam os cri-
térios usados para distribuir encargos e benefícios: a responsa-
bilidade pela própria saúde determina como e por que o sujeito
chega aos serviços de saúde ou obtém os resultados individuais
das notas escolares ou os resultados de testes padronizados,

3 O artigo 13 da Constituição estabelece: “Todas as pessoas nascem livres e iguais perante a


lei, devem receber proteção e tratamento iguais das autoridades e gozar dos mesmos direitos,
liberdades e oportunidades sem discriminação de sexo, raça, origem nacional ou familiar, língua,
religião, opinião política ou filosófica. O Estado promoverá as condições para que a igualdade
seja real e efetiva e adotará medidas em favor dos grupos discriminados ou marginalizados. O
Estado protegerá especialmente as pessoas que, devido à sua condição econômica, física ou
mental, se encontram em circunstâncias de manifesta fraqueza e punirá qualquer abuso ou
maus-tratos cometidos contra elas. Entre os acórdãos da Corte Constitucional que interpreta-
ram esta cláusula, temos, entre outros, os seguintes: Sentença C-22 de 1996, C-336 de 2008”,
C-30 de 2008, T-872 de 2009, C-824 de 2011, T-314 de 2011.
A igualdade material como comparação: minha experiência
POR vivendo a igualdade formal estadunidense 319

determinando assim, o acesso e não acesso do sujeito à educa-


ção universitária. Caso contrário, a igualdade material implica
que, talvez contra intuitivamente, é necessário um tratamento
diferenciado se o objetivo final for respeitar a igualdade dos
sujeitos quando as condições materiais relevantes são diame-
tralmente diferentes. Assim, a igualdade material permite–ou
exige–intervenções diretas destinadas a modificar o contexto
material das pessoas, especialmente aquelas em condições pre-
cárias. Consequentemente, para que uma pessoa seja tratada
materialmente igual, algumas de suas condições materiais bási-
cas devem ser satisfeitas. Exemplos desse tipo de igualdade são
as “ações afirmativas” que reservam certos lugares universitá-
rios ou uma série de cadeiras em órgãos políticos para minorias
étnicas. Da mesma forma, subsídios em favor de pessoas pobres
em serviços públicos ou de saúde são exemplos de medidas
baseadas na igualdade material; deixar o acesso a esses serviços
por mérito ou pagamento seria praticamente deixar esses gru-
pos sem acesso real a esses serviços. É por isso que, coloquial-
mente, diz-se que essas intervenções estão relacionadas com a
ideia de que “ninguém está livre com o estômago vazio”.

A igualdade formal e os Estados Unidos


Minha experiência nos Estados Unidos ajudou-me a ver como
a ideia de igualdade formal molda as desigualdades sociais
e raciais. Por exemplo, as populações afro nos EUA e na
Colômbia têm taxas mais altas de pobreza e menos acesso ao
direito à saúde ou à educação, e em ambos os países foram
concebidas medidas de “discriminação positiva” no acesso à
educação como medidas para remediar a discriminação e a
exclusão históricas. Embora na Colômbia às vezes se ouçam
críticas isoladas a essas medidas, nunca percebi que as mes-
mas tenham sido amplamente contestadas ou questionadas, e
sua implementação nunca foi objeto de intensas disputas em
320 Polifonías para la equidad racial POR

qualquer campanha política ou debate jurídico. Vindo desse


contexto, foi desconcertante para mim perceber que essas
medidas são profundamente contestadas na sociedade ameri-
cana e que os americanos acreditam que a admissão universitá-
ria deve ser baseada unicamente no mérito individual4, medido
por testes padronizados.
Com relação ao mencionado anteriormente, essa posição se
baseia na opinião de que as pessoas devem ser avaliadas igual-
mente por suas próprias ações e proibir qualquer tratamento
diferenciado, mesmo quando tal tratamento se destina a aumen-
tar a diversidade ou reparar as injustiças históricas. De fato, uma
pesquisa Gallup de 2016 constatou que 39% dos entrevista-
dos disseram que o status econômico familiar não deveria ser
um fator considerado no processo de admissão, enquanto 63%
disseram o mesmo sobre a raça ou etnia de um candidato. Por
outro lado, 73% disseram que as notas altas deveriam ter “maior
importância” no processo de admissão, e 55% responderam o
mesmo para notas de testes padronizadas. Essas pesquisas refle-
tem que a maioria dos americanos acredita que o acesso a uma
mercadoria tão importante como a educação universitária deve
ser baseada em uma ideia rigorosa de mérito e tratamento iguali-
tário e individualista. O contraste entre o debate em um país e em
outro surpreendeu-me muito. Deixar o acesso à educação para
a igualdade formal torna-se mais preocupante se levarmos em
conta que o acesso à universidade tem impactos críticos sobre a

4 Por exemplo, em 2016, a Suprema Corte dos EUA sofreu uma baixa em sua populari-
dade precisamente por permitir que a raça fosse um fator de admissão nas faculdades: Jones,
Jeffrey, “U.S. Supreme Court Job Approval Rating Ties Record Low”, Gallup, 29 de julho de
2016. Acesso em 3 de dezembro de 2021, At:https://news.gallup.com/poll/194057/supreme-
court-job-approval-rating-ties-record-low.aspx. Além disso, uma pesquisa de 2016 constatou
que 70% dos entrevistados afirmaram que tal admissão deveria se basear exclusivamente no
próprio mérito, enquanto apenas 26% indicaram que a raça ou etnia deveria ter algum peso
dentro do processo de admissão: https://news.gallup.com/poll/193508/oppose-colleges-con-
sidering-race-admissions.aspx
A igualdade material como comparação: minha experiência
POR vivendo a igualdade formal estadunidense 321

mobilidade social intergeracional5 como vários estudos apontam


que a desigualdade racial na educação torna as desigualdades de
classe ainda mais agudas6, torna a mobilidade social mais lenta,
e significa que as crianças afro-americanas tenham menos opor-
tunidades em sua vida adulta7. Além disso, ao longo de sua vida
profissional, os negros enfrentam piores cenários de emprego e
enfrentam discriminação no sistema penitenciário e na aplicação
das regras policiais8. Pior ainda, fazer o acesso à educação depen-
der de testes padronizados reforça e reflete as diferenças raciais
intergeracionais9. Ademais, uma vez admitidos, os estudantes
afro-americanos são menos propensos a se formar10. Contra esse
pano de fundo se pergunta: como é que a igualdade formal e
a ideia individualista do mérito são tão populares no acesso à
educação se testes padronizados demonstraram reforçar a injus-
tiça? Ver como a igualdade formal é tão popular nos Estados
Unidos foi, contudo, chocante. A impopularidade da igualdade
material e algumas das formas de implementá-la tornou-se ainda
mais explícita na Califórnia quando, em um referendo estadual
em 2020, os eleitores daquele estado rejeitaram a possibilidade
de que sua constituição estadual permitisse que raça, gênero ou

5 Chetty, Raj et al. Mobility Report Cards: The Role of Colleges in Intergenerational Mobility
(July 2017). Disponible en: https://ssrn.com/abstract=3007490
6 Reeves, Richard, “The other American dream”. Acessado en 3 de dezembro de 2021,
em: https://www.brookings.edu/blog/social-mobility-memos/2013/08/28/the-other-
american-dream-social-mobility-race-and-opportunity/
7 Randall Akee, et al. Race Matters: Income Shares, Income Inequality, and Income Mobility
for All U.S. Races. Demography 1 June 2019; 56 (3): 999–1021. doi: https://doi.org/10.1007/
s13524-019-00773-7
8 David D. Kirkpatrick, Steve Eder, Kim Barker and Julie Tate, “Why many police stops end
deadly”, The New York Times, 31 de outubro de 2021, acesso 3 de dezembro de 2021, Em:
https://www.nytimes.com/2021/10/31/us/police-traffic-stops-killings.html
9 Reves Richard and Dimitrios Halikias, “Race gap in SATS scores highlights inequality and
hinder upward mobility. Acceso el 3 de diciembre de 2021, En: https://www.brookings.edu/
research/race-gaps-in-sat-scores-highlight-inequality-and-hinder-upward-mobility/
10 Casselman Ben, “Race gap narrows in college enrollement, but not in graduation”, Five-
ThirtyEight/ABC News, 30 de janeiro de 2014, Acesso 3 de dezembro de 2021, Em: https://
fivethirtyeight.com/features/race-gap-narrows-in-college-enrollment-but-not-in-graduation/
322 Polifonías para la equidad racial POR

etnia fossem fatores relevantes na alocação de bens escassos no


emprego público, na educação, entre outros11.
Embora os exemplos de ação afirmativa sejam os mais úteis, o
fracasso em pensar amplamente sobre a ideia de igualdade na vida
cotidiana americana é evidente em outros casos. Por exemplo, na
sequência da recente proposta legislativa do Presidente Joe Biden,
chamada Build Back Beter (BBB)12, as críticas conservadoras a
uma sociedade com direitos recuperaram a popularidade.
De certo, para mim, o próprio nome pelo qual essa crítica é
chamada é impressionante porque em inglês a tradução seria algo
como uma “entitlement society” (sociedade de direitos). Ou seja,
achei extremamente marcante que o fato de ter uma sociedade
de direitos seja uma crítica. Embora eu tenha percebido mais
tarde que a mesma não se trata diretamente de “ter direitos”, foi
impressionante saber que a mesma se conecta com o conceito de
poder exigir benefícios públicos com a ideia de que subsídios,
ações afirmativas ou transferências de recursos em favor de cida-
dãos pobres criam pessoas preguiçosas e dependentes de progra-
mas estatais. Foi surpreendente, portanto, perceber que tantas
pessoas acreditam que ter uma licença médica ou o direito de ir
ao dentista seria prejudicial porque encorajaria a preguiça ou a
dependência. Como contraproposta, esses setores oferecem alter-
nativas baseadas nos mercados individualistas, tais como: seguros
de saúde privados e individualizados fundamentados na capaci-
dade de pagamento, planos de aposentadoria individuais ou o
financiamento da educação universitária através de contas de pou-
pança individuais. Isto é, medidas baseadas na igualdade formal.

11 Isto não significa que todas as universidades deste estado utilizem como critérios principais
de admissão pontuações de teste padronizadas. Por exemplo, a UC Berkeley leva em consi-
deração aspectos extra acadêmicos como as qualidades pessoais do candidato e é explícita ao
afirmar que é livre de testes (não requer testes padronizados em seu processo de admissão).
https://admissions.berkeley.edu/freshmen-requirements
12 Alguns dos objetivos desta medida legislativa são expandir os programas federais de saúde,
implementar licenças federais por doença, ou reduzir o preço de alguns medicamentos.
A igualdade material como comparação: minha experiência
POR vivendo a igualdade formal estadunidense 323

Igualdade formal e minorias raciais


Embora a igualdade formal possa fazer sentido, o problema é
que tomá-la como critério de acesso a serviços básicos, como
saúde ou educação, deixa as minorias raciais em pior situa-
ção. Ainda que o Affordable Care Act, comumente chamado
de Obamacare, tenha enfraquecido parcialmente o enorme
componente individualista e formal de igualdade no sistema
de saúde ao incluir subsídios para tornar o seguro de saúde
mais barato, o sistema de saúde americano ainda contém um
importante componente de individualismo no qual o assegu-
rado tem que assumir vários co-pagamentos ou compartilha-
mento de custos. Essa divisão de custos é geralmente baseada
na ideia de que ela aumenta mais a responsabilidade indivi-
dual pela própria saúde do que se o serviço de saúde for total-
mente subsidiado. Como esses co-pagamentos são geralmente
uma porcentagem do valor total do procedimento, isso signi-
fica que quando os tratamentos são caros, as pessoas acabam
pagando co-pagamentos que podem ser bastante onerosos.
Como é usual com soluções baseadas no mercado, individua-
listas ou de capacidade de pagamento. Desse modo, vários
estudos descobriram que tais medidas de compartilhamento
de custos acabam sendo barreiras ao acesso com os cuidados
da saúde para os setores mais pobres13. Assim, constatou-se
que os lares afro-americanos14 acumularam maior dívida rela-
cionada à saúde do que os lares brancos15. Além disso, e devido

13 Artiga, Samantha, “The effects of Premiums and cost-sharing on low-income populations”,


01 de junio de 2017. Acceso el 3 de diciembre de 2021, en: https://www.kff.org/medicaid/
issue-brief/the-effects-of-premiums-and-cost-sharing-on-low-income-populations-updated-
review-of-research-findings/
14 National Research Council, “Understanding Racial and Ethnic Differences in Health in Late
Life”, National Academics Press, 2014. Acceso el 3 de diciembre de 2021, En: https://www.
ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK24693/
15 Andre M. Perry, et al. The racial implications of medical debt”. Acceso el 3 de diciembre de
2021, En: https://www.brookings.edu/research/the-racial-implications-of-medical-debt-how-
moving-toward-universal-health-care-and-other-reforms-can-address-them/
324 Polifonías para la equidad racial POR

à recente pandemia do COVID-19, alguns relatos têm desco-


berto que os negros têm menos probabilidades de ter plano de
saúde16 e também estão super-representados em empregos clas-
sificados como “essenciais”, o que os coloca em maior contato
com o vírus17. O fato de que os negros têm maior possibilidade
de não terem seguro significa que eles não só têm maior pro-
babilidade de passar sem tratamento médico adequado, como
também de acumular enormes dívidas relacionadas à saúde18.
Infelizmente, isso significa que os mais desfavorecidos acabam
tendo mais medo dos altos custos de ir ao médico do que da
própria doença19. Em resumo, os cenários acima confirmam
que tentar remediar as injustiças raciais em ideias derivadas da
igualdade formal e do esforço individual é prejudicial aos seto-
res mais desfavorecidos da sociedade, não porque esses setores
sejam preguiçosos, mas porque deixa de fora certas variáveis
que impedem a igualdade de desempenho.
Desse modo, uma pergunta legítima poderia ser a seguinte:
essas políticas estreitas e desiguais são o resultado de uma má
compreensão da igualdade ou o produto de um sistema político
que não serve a seus cidadãos? Algumas evidências sugerem
16 Jevay Grooms, Alberto Ortega, y Joaquín Alfredo-Angel, “The COVID-19
public health and economic crises leave vulnerable populations exposed”. Acceso el 3
de diciembre de 2021, En: https://www.brookings.edu/blog/up-front/2020/08/13/
the-covid-19-public-health-and-economic-crises-leave-vulnerable-populations-exposed/
17 Lisa Dubay, et al. “How Risk of Exposure to the Coronavirus at Work Varies by
Race and Ethnicity and How to Protect the Health and Well-Being of Workers and Their
Families”. Urban Institute (Diciembre de 2021). Acceso el 3 de diciembre de 2021, En:
https://www.urban.org/research/publication/how-risk-exposure-coronavirus-work-va-
ries-race-and-ethnicity-and-how-protect-health-and-well-being-workers-and-their-families/
view/full_report
18 Andre M. Perry, et al. The racial implications of medical debt”. Acceso el 3 de diciembre de
2021, En: https://www.brookings.edu/research/the-racial-implications-of-medical-debt-how-
moving-toward-universal-health-care-and-other-reforms-can-address-them/
19 National Opinion Research Center-University of Chicago, Americans’ views of healthcare,
costs, coverage, and policy, (Chicago: NORC at University of Chicago, 2018.) Acceso el 3 de
diciembre de 2021, En: https://www.norc.org/PDFs/WHI%20Healthcare%20Costs%20Cove-
rage%20and%20Policy/WHI%20Healthcare%20Costs%20Coverage%20and%20Policy%20
Issue%20Brief.pdf
A igualdade material como comparação: minha experiência
POR vivendo a igualdade formal estadunidense 325

que esses resultados institucionais derivam, pelo menos em


parte, de um entendimento generalizado da igualdade. No
debate do BBB que mencionei anteriormente, o senador demo-
crata da Virgínia Ocidental Joe Manchin exerceu sua enorme
influência política para diminuir o custo, o número de progra-
mas a serem implementados e a duração inicial de tais progra-
mas. Sendo assim, não é certo que muitas iniciativas populares
possam ser aprovadas20. Surpreendentemente, um dos argu-
mentos que Manchin deu para sua posição conservadora foi
que essas medidas podiam gerar uma entiltlement mentality21.
Em outras palavras, o senador preocupava-se com o fato de
ter um sistema de saúde mais robusto que pudesse produzir
cidadãos preguiçosos sem nenhuma preocupação com a autoes-
tima22. Mais surpreendentemente ainda é que os eleitores do
senador parecem não ter problemas com suas opiniões e, na ver-
dade, não há indicação de que a popularidade de Manchin ou
suas perspectivas políticas tenham sido comprometidas por suas
declarações. Seus eleitores da Virgínia Ocidental parecem con-
cordar com essas críticas, apesar das pesquisas indicarem que as
medidas que ele está enterrando são populares23. Esses dados
parecem confirmar a popularidade das medidas baseadas na
igualdade formal e a preocupação generalizada que destacam
medidas mais amplas fundamentadas na igualdade material.

20 No momento de escrever, não era certo que a incapacidade por doença ou a inclusão da
saúde dental, visual ou auditiva nos planos de saúde fosse uma coisa certa.
21 Jamele Bouie, “Joe Manchin Should Stop Talking about Entitlement”. New York Times, 8 de
outubro de 2021. Acesso em 3 de dezembro de 2021, En: https://www.nytimes.com/2021/10/08/
opinion/joe-manchin-biden.html
22 John Cogan, “Biden’s plan for an entitlement society”, The Wall Street Journal, 28 de
junio de 2021. Acesso em 3 de dezembro de 2021, En: https://www.wsj.com/articles/
bidens-plan-for-an-entitlement-society-11624918494
23 Juliana Menasce, Kim Parker, Graf, y Gretchen Livingston, “Americans Widely Support Paid
Family and Medical Leave, but Differ Over Specific Policies”. Pew Research Center, 23 de março de 2017.
Acesso em 3 de dezembro de 2021, En: https://www.pewresearch.org/social-trends/2017/03/23/
americans-widely-support-paid-family-and-medical-leave-but-differ-over-specific-policies/
326 Polifonías para la equidad racial POR

Minha experiência e o contraste com a Colômbia


Minha experiência como colombiano e estudante de doutorado
nos Estados Unidos me permitiu refletir sobre o caso colom-
biano e apreciar que, em certo sentido, a vida cotidiana na
Colômbia reflete uma compreensão diferente e mais robusta da
igualdade. Deve ficar claro que a Colômbia é um país profunda-
mente díspar onde a desigualdade parece estar crescendo a cada
dia, e que o dito aqui não é uma tentativa de falar que as minorias
raciais têm seus problemas resolvidos neste país. O que estou
afirmando é, ao contrário dos Estados Unidos, descobri que as
ideias de igualdade material são mais populares na Colômbia
e que isso pode ter algumas vantagens sobre a forma como
essa questão é pensada nos Estados Unidos. De um ponto de
vista estatístico, por exemplo, a pesquisa do “Barómetros de las
Americas” mostra uma maior inclinação na Colômbia para ques-
tões de justiça social do que nos Estados Unidos. A pergunta
“O Estado deve reduzir a desigualdade?” mostra que a resposta
média na Colômbia foi 72,85, enquanto nos Estados Unidos foi
52,23. Sobre a pergunta “Se o governo gastasse mais para aju-
dar os pobres”, a média na Colômbia era de 85,05 enquanto nos
Estados Unidos era de 60,0724. Essas duas variáveis mostram
que a Colômbia parece estar mais disposta a adotar medidas de
redistribuição de riqueza enquanto os EUA parecem estar mais
próximos de adotar medidas individualistas.
Sabe-se que há várias medidas na Colômbia que se afas-
tam da perspectiva da igualdade formal, oferecendo subsídios
ou transferências de riqueza sem serem duramente criticadas
pela opinião pública, como é o caso dos Estados Unidos. Por
exemplo, as universidades públicas oferecem um certo número
de vagas para pessoas de comunidades indígenas, sem que isso

24 Deve-se esclarecer que o “Barómetro das Américas” não informa estes resultados em por-
centagens, mas em uma reconversão de variáveis que vão de zero a sete. Assim, estas pontuações
não devem ser lidas em uma escala percentual de zero a cem.
A igualdade material como comparação: minha experiência
POR vivendo a igualdade formal estadunidense 327

gere muito debate político ou jurídico25. Da mesma forma, a


Lei 581 de 2000 determina que 30% dos cargos em nível de
decisão nos três poderes e órgãos do Estado sejam ocupados
por mulheres, e houveram várias iniciativas que tentaram imple-
mentar uma paridade rigorosa nos órgãos colegiados, como o
Congresso da República26. Além disso, os estratos mais pobres
recebem um subsídio para suas utilidades domésticas, inicial-
mente implementado na Lei 142 de 1994. Embora todas essas
medidas tenham sido contestadas nos tribunais e no Tribunal
Constitucional, nunca se demonstrou que a opinião pública
estava contra as mesmas e sua permanência nunca foi realmente
posta em perigo quando chegaram à fase judicial. Como mencio-
nado acima, essas medidas não são perfeitas e têm seus proble-
mas particulares (como o uso contínuo de testes padronizados).
Entretanto, e como será argumentado mais adiante nas páginas
seguintes, o fato de que essas medidas baseadas na igualdade
material não são diretamente rejeitadas pela opinião pública
pode ser uma vantagem quando se pensa em ajustes ou novas
medidas para enfrentar as desigualdades sociais. Talvez um dos
debates mais notórios tenha ocorrido em 2011, quando Martha
Amor escreveu uma coluna em El Universal na qual afirmava que
“Como não sou verdadeiramente negra, não posso participar em
igualdade de condições em convites à apresentação de propostas
destinados aos afrodescendentes”27. Martha estava se referindo
a um programa de bolsas de estudo concedido pelo Instituto

25 Ao contrário dos Estados Unidos, onde em várias ocasiões a Suprema Corte proibiu a
implementação de cotas ou pontuações automáticas em favor de minorias; ver os casos “Regen-
tes da Universidade da Califórnia Vs. Bakke ou Gratz Vs. Entretanto, o Tribunal permitiu que
a raça ou etnia dos candidatos fosse um dos fatores a serem levados em conta para promover
a diversidade racial no contexto educacional (Grutter v. Bollinger ou Fisher v. University of
Texas).
26 Na época da publicação, a Corte Constitucional não havia declarado a constitucionalidade
de um novo Código Eleitoral, que introduziria paridade nas listas de candidatos.
27 El Tiempo, “Esta negra no es tan negra” El Tiempo, 12 de febrero de 2010. Acceso el 3 de
diciembre de 2021, En: https://www.eltiempo.com/archivo/documento/CMS-8853123
328 Polifonías para la equidad racial POR

de Patrimônio e Cultura de Cartagena para mulheres afro-co-


lombianas. O debate foi acompanhado pelo escritor colombiano
Héctor Abad Faciolince, que comparou cotas e discriminação
positiva a uma hipotética política de neonazistas em favor dos
arianos em “posição de desvantagem” através de um «certificado
de Ariodescendência”28. Embora Faciolince dirija suas críticas
ao “certificado de negro”, suas palavras sempre voltam à ideia do
mérito individual: “Tenho uma amiga do Pacífico que em Boyacá é
chamada de “Sumercé negra”. Ela veio por seus méritos humanos e
profissionais para ter uma boa posição, e mora, sem repulsa ou res-
sentimento, em um prédio habitado principalmente por brancos29,
diz Faciolince retomando ideias individualistas que já vimos para
o caso estadunidense. Um elemento comum das respostas dadas
a Faciolince30 em defesa dessas cotas retomaram elementos de
igualdade material, destacando que o contexto material em torno
dessas comunidades está relacionado ao racismo sistemático que
essas comunidades enfrentam como resultado do passado escra-
vista e excludente operado contra elas. Ao mesmo tempo, essas
respostas mostram como confiar no mérito para superar as injus-
tiças históricas e que levaria muito mais tempo do que imple-
mentar medidas de discriminação inversa31. Dessa forma, as
intervenções em resposta às palavras de Faciolince foram uma
defesa explícita ou implícita da igualdade material como medida
para corrigir injustiças e desigualdades que enfatizaram a força

28 Hector Abad Facionlince, “Certificado negro”, El Espectador, 13 de marzo de 2011.


Acceso el 13 de marzo de 2021, En: https://www.elespectador.com/opinion/columnistas/
hector-abad-faciolince/certificado-de-negro-column-256419/
29 Hector Abad Faciolince, “Negroides, blancuzcos, y aindiados”, El Espectador, 27 de marzo
de 2011. Acceso el 3 de diciembre de 2021, En: https://www.elespectador.com/opinion/
columnistas/hector-abad-faciolince/negroides-blancuzcos-aindiados-column-259243/
30 César Rodríguez, “Historias de amor contra el racismo”, Dejusticia, 4 de abril de 2011. Acceso
el 3 de diciembre de 2021, En: https://www.dejusticia.org/historias-de-amor-contra-el-racismo/
31 Rodrigo Uprimny, “Las negativas de Hector Abad en contra de las acciones afirmativas”,
Dejusticia, 5 de abril de 2011. Acceso el 3 de diciembre de 2021, En: https://www.dejusticia.
org/las-negativas-de-hector-abad-contra-las-acciones-afirmativas/
A igualdade material como comparação: minha experiência
POR vivendo a igualdade formal estadunidense 329

de tomar esta perspectiva para enfrentar a desigualdade racial.


Todos eles se referiram em como as situações materiais e históri-
cas da comunidade afro-colombiana impossibilitam considerar
formalmente a igualdade de tratamento como a melhor maneira
de acabar com as injustiças e desigualdades.
Outro ponto de comparação entre os dois países pode ser
o sistema de saúde. Lembro muito bem que um dos primei-
ros conselhos que recebi quando fui aceito em meu programa
de doutorado foi: “não deixe de contribuir com sua EPS aqui
na Colômbia”. Achei este conselho impressionante, mas bas-
tante preciso quando precisava ir ao dentista ou para proce-
dimentos mais complexos. A ideia de que o sistema de saúde
colombiano é “pior” do que o dos Estados Unidos pode ser
generalizada, mas certamente precisa de nuances e esclareci-
mentos. Como mencionei em parte no início desse texto, minha
experiência com o sistema americano no qual reinavam o medo
e a desconfiança se deveu, pelo menos em parte, ao fato do
mesmo ser baseado em ideias individualistas de igualdade for-
mal. Infelizmente, a popularidade desta ideia deu legitimidade
ao sistema e fez com que as intervenções judiciais reforçassem
estes elementos individualistas.
Então, para minha surpresa, descobri que os sistemas nos
dois países não são tão diferentes. Nos Estados Unidos, após
o Obamacare32, pessoas têm acesso ao sistema de saúde atra-
vés de seguros oferecidos por seus empregadores, através do
mercado de seguros (subsidiado pelo governo através de paga-
mentos feitos às seguradoras), ou através de programas subsi-
diados que visam os idosos ou a população mais pobre através

32 Liz Neporent, “Obamacare Explained (like you’re an iditio)”. ABC News. 23 de diciem-
bre de 2013. Acceso el 3 de diciembre de 2021, En: https://abcnews.go.com/Health/
obamacare-explained-idiot/story?id=21292932
330 Polifonías para la equidad racial POR

do Medicare ou o Medicaid33. Segundo entendi, é no último caso


que as ideias robustas de igualdade estão mais presentes, embora
nem tanto nos dois primeiros casos. Ou seja, Obamacare esta-
beleceu um sistema de pagamentos e subsídios às seguradoras
que optaram por participar do programa em troca de renunciar
ao uso da seleção reversa ou negar serviços com base em condi-
ções pré-existentes, entre outras. Uma das formas em que o sis-
tema baseou sua sustentabilidade foi em um mandato individual
de que cada cidadão deveria estar segurado.
Na Colômbia, após a Lei 100 de 1993 e várias leis e deci-
sões do Tribunal Constitucional, o sistema é mais ou menos
semelhante: as pessoas com um contrato de trabalho são afilia-
das ao esquema contributivo por seu empregador e entre elas
pagam uma pequena quantia de dinheiro que vai para o sis-
tema de saúde. Entretanto, a maior parte do dinheiro para o
seguro é paga pelo Estado, enquanto as seguradoras34 recebem
uma quantia mensal para cada afiliado (Unidad de Pago por
Capitación). As pessoas que não têm um contrato de trabalho
podem aderir ao esquema contributivo como independentes e
pagar a totalidade da contribuição. A terceira forma de afilia-
ção ao sistema é através do regime subsidiado, que foi conce-
bido para pessoas sem contrato de trabalho e em situação de
pobreza. Até antes da sentença T-760/08, cada um desses dois
esquemas assegurava dois planos diferentes. Assim, em ambos
os sistemas há um subsídio estatal a favor dos cidadãos para que
eles possam ter acesso a serviços e planos mais baratos.
O curioso é que, apesar dessas semelhanças, a resposta pública
em cada caso é diferente. Enquanto que nos Estados Unidos

33 US Department of Health and Human Services, “What is the difference between Medicare
and Medicaid?”Acceso el 3 de diciembre de 2021, En: https://www.hhs.gov/answers/medica-
re-and-medicaid/what-is-the-difference-between-medicare-medicaid/index.html
34 As seguradoras são chamadas Empresas Prestadoras de Salud (EPS). Eles administram o
dinheiro e contratam a prestação do serviço com as Instituições Prestadoras de Serviços (IPS).
A igualdade material como comparação: minha experiência
POR vivendo a igualdade formal estadunidense 331

Obamacare é popular35, algumas questões foram altamente contes-


tadas, tais como a obrigação de estar segurado–que foi invalidada
pela Suprema Corte. Além disso, a expansão ou fortalecimento do
sistema foi quase impossível, pois a Suprema Corte retirou parte
do poder do governo federal de transferir a expansão do programa
para os estados, e a eleição de Donald Trump como presidente,
com sua promessa de eliminar e substituir Obamacare, minou sig-
nificativamente o sistema. Como mencionado acima, a obstru-
ção e o enfraquecimento causados pelos senadores conservadores
contra as propostas de Joe Biden para tornar o sistema de saúde
americano mais inclusivo parece não diminuir suas perspectivas
políticas. Assim, um fragmento importante da opinião pública
americana não parece estar intensamente interessado em tornar
seu sistema de saúde mais inclusivo e parece insistir na igualdade
formal e em suas fraquezas como base institucional.
Não se deve esquecer que o sistema de saúde colombiano é
fortemente questionado e seu funcionamento é continuamente
debatido nas notícias e na imprensa36 embora, curiosamente, as
EPSs não sejam fatalmente avaliadas pelos colombianos37. Em
contraste com o caso dos EUA, a opinião pública tem favore-
cido todas as intervenções judiciais que fortaleceram a inclusão
do sistema, e várias emendas legislativas também o têm favo-
recido. Por exemplo, a opinião pública era a favor de como a
Corte Constitucional lidou com uma tentativa do então pre-
sidente, Álvaro Uribe Vélez, de modificar o sistema de saúde.
Uribe Vélez, através de uma declaração de Emergência Social e

35 Denis Thompson, “Support for Obamacare grows as Biden takes control” US News, 17 de
diciembre de 2020. Acceso el 3 de diciembre de 2021, En: https://www.usnews.com/news/
health-news/articles/2020-12-17/support-for-obamacare-grows-as-biden-takes-control-poll
36 Carlos Arango, “Las EPS en el sistema de salud colombiano: un dolor de cabeza”. Razón
Pública, 15 de outubro de 2018. Acesso em 3 de dezembro de 2021, em: https://razonpublica.
com/las-eps-en-el-sistema-de-salud-un-dolor-de-cabeza/
37 Daniel Pardo, “Coronavirus en Colombia”, BBC Mundo, 12 de agosto de 2020. Acceso el
3 de diciembre de 2021, En: https://www.bbc.com/mundo/noticias-america-latina-53730952
332 Polifonías para la equidad racial POR

Econômica (Decreto Legislativo 4975 de 2009), tentou mover o


sistema em direção ao individualismo, auto mérito e igualdade
formal. Com efeito, o Decreto 128 de 2010 tentou criar o Fundo
Excepcional de Benefícios à Saúde como um fundo de co-finan-
ciamento para aqueles procedimentos ou medicamentos prescri-
tos a um paciente fora do plano de benefícios38.
Essa medida foi regressiva não só porque transferia o paga-
mento total ou parcial dos serviços para o paciente, mas também
porque determinava que este co-financiamento se extinguisse
uma vez esgotado o dinheiro desse Fundo. Outra medida regres-
siva era autorizar o pagamento da dívida médica utilizando o
seguro-desemprego do paciente39. Dessa forma, abriu-se a pos-
sibilidade de partilha de custos–já mencionada no caso america-
no–e a possibilidade de que os setores mais pobres e as minorias
raciais fossem os que mais acumulassem essa dívida. Em con-
traste com o caso dos EUA, as decisões da Corte Constitucional
dessas medidas inconstitucionais foram amplamente aceitas
pelo público40.
Além disso, a Corte Constitucional não teve problemas em
modificar e tornar o sistema de saúde mais inclusivo, com base
na igualdade material e na solidariedade social41. Além disso,
nenhum candidato a cargo público mencionou ou sugeriu a

38 No sistema atual, os tratamentos prescritos não incluídos no plano de benefícios não são
pagos pelo EPS, mas por um fundo público. Lei 100 de 1993.
39 Que originalmente pode ser retirado quando o contrato de trabalho é rescindido ou quando, ainda não
rescindido, o empregado vai comprar ou reformar uma casa ou pagar por seus estudos. Lei 100 de 1993.
40 El Espectador, “Se desmorona la Emergencia Social”, 16 de febrero de 2010. Acceso el 3 de
diciembre de 2021, En: https://www.elespectador.com/actualidad/se-desmorona-emergencia-so-
cial-article-188148/ o El Tiempo, “Corte tumbó la Emergencia Social”, 17 de abril de 2010. Acceso
el 3 de diciembre de 2021, En:https://www.eltiempo.com/archivo/documento/MAM-3926796 o El
Tiempo, “Pacientes celebran concepto del Procurador contra la Emergencia Social”, 3 de marzo de 2010.
Acceso el 3 de diciembre de 2021, En: https://www.eltiempo.com/archivo/documento/CMS-7338660
41 Por exemplo, no julgamento T-760/08 o Tribunal não apenas ordenou a unificação dos
planos de saúde, mas também ordenou sua atualização periódica. Também declarou que a saúde
era um direito fundamental e estabeleceu algumas medidas para a concessão de procedimentos
fora do plano de benefícios que são prescritos pelo médico tratante, entre outros.
A igualdade material como comparação: minha experiência
POR vivendo a igualdade formal estadunidense 333

ideia de tornar o sistema de saúde mais individualista ou ten-


tar fazer com que o paciente pague mais. Apesar da conversa
contínua sobre a necessidade de reformar o sistema de saúde,
sugerir que o paciente deveria ter mais responsabilidade pelo
pagamento das dívidas de saúde parece ser um suicídio político.
De fato, o governo de Ivan Duque (2018-2022) teve que reti-
rar uma reforma sanitária do Congresso por causa do enorme
descontentamento popular que o governo provocou com uma
nova lei tributária. Embora essa lei de saúde não tenha mudado
significativamente as responsabilidades dos pacientes ou tor-
nado seus encargos financeiros mais altos, de todos modos, a
reforma entrou em colapso42.

Conclusões
Cabe mencionar que o propósito desse texto não é sugerir que
a Colômbia tenha resolvido as desigualdades raciais ou os dile-
mas mais profundos da igualdade. Pelo contrário, a Colômbia
é um dos países mais desiguais do planeta. Muito menos era
meu objetivo dizer que não há racismo na Colômbia ou que as
medidas implementadas na educação ou saúde são perfeitas ou
que não reproduzem parcialmente as desigualdades raciais. O
objetivo desse é mais modesto e foi dividido em duas etapas.
Primeiramente foi mostrar como a cidadania americana e a vida
cotidiana estão mais próximas do que poderíamos chamar de
igualdade formal, enquanto a cidadania colombiana e a vida coti-
diana estão mais próximas de uma ideia de igualdade material.
O segundo passo foi mostrar como as ideias de igualdade formal
deixam as minorias raciais em uma posição pior. Esse propósito
é intencionalmente colocado contra a ideia socialmente difun-
dida de que “terceiro mundo” ou “subdesenvolvimento” é algo

42 Portafolio, “Lo que debe saber sobre el polémico proyecto de reforma a la salud”, 4 de
marzo de 2021. Acceso el 3 de diciembre de 2021, En: https://www.portafolio.co/economia/
reforma-a-la-salud-en-colombia-lo-que-debe-saber-del-polemico-proyecto-551626
334 Polifonías para la equidad racial POR

que é “superado” através da emulação ou adoção de práticas ou


instituições de países “desenvolvidos” ou “de primeiro mundo”.
Nesse ponto fica uma pergunta: se a igualdade material é
um terreno mais propício para combater as desigualdades, e a
Colômbia está mais próxima dessa abordagem, como é que a
Colômbia é mais desigual comparada aos Estados Unidos? Está
além do escopo e do alcance desse documento julgar por que
a Colômbia é um país tão desigual. Embora a Colômbia seja
terrivelmente desigual, não é devido à políticas e instituições
baseadas em uma ideia de igualdade material, mas apesar dessas
medidas. Mais de alguns estudos mostram como essas medidas,
tais como subsídios de saúde, serviços públicos ou discrimina-
ção reversa, têm sido fundamentais para a proteção das mino-
rias43.Além disso, a “lei de cotas” e outros programas como
“mães comunitárias” deram poder a setores anteriormente
excluídos das mulheres. Todas essas medidas baseadas na igual-
dade material foram transformadoras para algumas minorias
raciais e de gênero, e seria errado considerá-las um fracasso
simplesmente porque não conseguiram resolver problemas e
desigualdades mais profundas, onde as mesmas seriam um erro.
Embora essas medidas tenham seus próprios problemas e este-
jam longe de cumprir seu propósito por si só, estou convencido
de que é um erro pensar nos indivíduos isoladamente e acre-
ditar que a distribuição de bens e serviços fundamentais deve
ser deixada ao mérito individual, como faz a igualdade formal.
Isso porque implica em ocultar o fato de que gênero, sexo, raça
ou classe proporcionam vantagens que poderiam ser descritas

43 Sobre este tema pode-se ver: Rodríguez César e Baquero Carlos Andrés, Reconocimiento
con redistribución (Bogotá, Dejusticia, 2015); Guzmán, Diana & Silvia Prieto. Participación
política de las mujeres y partidos Posibilidades a partir de la reforma política de 2011. (Bogotá,
Dejusticia, 2013); Durango, Gerardo. “Las acciones afirmativas como mecanismos reivindica-
dores de la paridad de género en la participación política inclusiva: Equador, Bolívia, Costa
Rica e Colômbia”. Revista Derecho, n. 45, (janeiro, 2016): pp. 137-168,
A igualdade material como comparação: minha experiência
POR vivendo a igualdade formal estadunidense 335

como injustas e que essas vantagens injustas e intocadas repro-


duzem lógicas desiguais de novo. Não é coincidência que nos
Estados Unidos sejam as comunidades afro que têm os menores
índices de seguro de saúde, tampouco que sejam essas mesmas
pessoas as que mais se endividam para receber esses serviços:
uma injustiça leva a outra injustiça, como também não é coinci-
dência que as comunidades afro tenham mais dificuldades para
entrar na universidade, nem que essas mesmas comunidades
tenham menos oportunidades no mundo do trabalho.
A igualdade material, por outro lado, parece um terreno mais
frutífero para quebrar essas dinâmicas, e a Colômbia está em
um caminho melhor para enfrentar essas situações. Como as
respostas a Héctor Abad apontam, é essencial reconhecer as
situações factuais e históricas enfrentadas por algumas comu-
nidades e indivíduos; igualmente, é um erro esperar que eles
melhorem suas condições de vida através do individualismo.
Mais uma vez, isso não quer dizer que não existam problemas
raciais importantes nas medidas do sistema colombiano ou na
forma como a igualdade material tem sido implementada neste
país. No entanto, a sociedade colombiana tem a vantagem de
ter a igualdade material como um princípio importante e popu-
lar. É essa ideia de igualdade que é a ferramenta mais adequada
para quebrar os ciclos de pobreza e desigualdade que uma visão
formal deixa intocada. É isso que devemos valorizar, defender
e refinar pois, infelizmente, ainda há um longo caminho a per-
correr. Foi isso que senti quando a angústia médica e financeira
nos Estados Unidos me fez pensar em como a Colômbia deve-
ria valorizar e continuar a trabalhar, depurar e aprender com sua
própria experiência constitucional e institucional, com igual-
dade material. Temos muitos problemas, mas certamente temos
uma boa ferramenta para refinar.
TER C ERA PA RTE

LA DEUDA CON
LA JURISDICCIÓN ESPECIAL
AFROCOLOMBIANA

RICARDO LEAL

¿Por qué es importante implementar la Jurisdicción Especial para el


pueblo negro afrocolombiano, raizal y palenquero en Colombia?

LEANDRO SHINŸE JAMIOY

El posicionamiento de los sistemas jurídicos de los Pueblos Étnicos


en la Jurisdicción Especial para la Paz.

CAROLINE MENDES BISPO

Encarcelamiento femenino en Brasil y Covid-19:


un análisis crítico del caso de Acre.
ESPAÑOL

¿Por qué es importante implementar


la Jurisdicción Especial para el pueblo negro
afrocolombiano raizal y palenquero
en Colombia?

Ricardo Leal

“Los negros no queremos más, pero tampoco queremos menos,


queremos lo que nos corresponde, dignidad.”

Frank Collazos, líder afrocolombiano

La Constitución colombiana de 1991 trajo consigo grandes cam-


bios de orden político organizativo y de reconocimiento. De
hecho, cambió la forma misma del Estado, definiéndolo según
el artículo 1, como “…un Estado social de derecho, organizado
en forma de República unitaria, descentralizada, con autono-
mía de sus entidades territoriales, democrática, participativa y
pluralista, fundada en el respeto de la dignidad humana, en el
trabajo y la solidaridad de las personas que la integran y en la
prevalencia del interés general”. A su vez, el artículo 7 establece,
“el Estado reconoce y protege la diversidad étnica y cultural de
la Nación colombiana”. Como se observa, se instauraron nue-
vos paradigmas constitucionales para el reconocimiento de los
pueblos étnicos en Colombia (negros afrocolombianos, raizales,
palenqueros, indígenas y Rrom o gitanos).
340 Polifonías para la equidad racial ESP

Pese a lo anterior, la victoria y avances que significó y signi-


fica para las comunidades étnicas el nuevo orden constitucional,
no necesariamente ha implicado grandes cambios para estas. De
hecho, aún son muchas las deudas y reconocimientos que espe-
ran las comunidades negras y pueblos étnicos en Colombia.
Frente al pueblo negro afrocolombiano, raizal y palenquero,
existe una deuda histórica que hoy casi es vista desde una etérea
asistencia social. La Constitución colombiana de 1991, estable-
ció en el artículo 55 transitorio que:

Dentro de los dos años siguientes a la entrada en vigencia de la


presente Constitución, el Congreso expedirá, previo estudio por
parte de una comisión especial que el Gobierno creará para tal
efecto, una ley que les reconozca a las comunidades negras que
han venido ocupando tierras baldías en las zonas rurales ribe-
reñas de los ríos de la Cuenca del Pacífico, de acuerdo con sus
prácticas tradicionales de producción, el derecho a la propiedad
colectiva sobre las áreas que habrá de demarcar la misma ley.
En la comisión especial de que trata el inciso anterior tendrán
participación en cada caso representantes elegidos por las comu-
nidades involucradas. La propiedad así reconocida solo será ena-
jenable en los términos que señale la ley.
La misma ley establecerá mecanismos para la protección de
la identidad cultural y los derechos de estas comunidades, y para
el fomento de su desarrollo económico y social. Parágrafo 1. Lo
dispuesto en el presente artículo podrá aplicarse a otras zonas del
país que presenten similares condiciones, por el mismo proce-
dimiento y previos estudio y concepto favorable de la comisión
especial aquí prevista (Constitución Política Colombiana, 1991).

Este artículo planteó, principalmente, la necesidad de recono-


cer la presencia de comunidades negras en diversas zonas del
país, así como la titularidad de estas frente a sus territorios.
¿Por qué es importante implementar la Jurisdicción Especial para el pueblo
ESP negro afrocolombiano raizal y palenquero en Colombia? 341

Así pues, se expidió la Ley 70 de 1993 con el fin de reglamen-


tar el citado artículo constitucional. Esta Ley tiene por objeto
“(…) reconocer a las comunidades negras que han venido ocu-
pando tierras baldías en las zonas rurales ribereñas de los ríos
de la Cuenca del Pacífico, de acuerdo con sus prácticas tradi-
cionales de producción, el derecho a la propiedad colectiva, de
conformidad con lo dispuesto en los artículos siguientes. Así
mismo tiene como propósito establecer mecanismos para la pro-
tección de la identidad cultural y de los derechos de las comu-
nidades negras de Colombia como grupo étnico, y el fomento
de su desarrollo económico y social, con el fin de garantizar que
estas comunidades obtengan condiciones reales de igualdad de
oportunidades frente al resto de la sociedad colombiana”. Sin
embargo, en el marco de la obligación del Estado de proteger la
identidad cultural del pueblo negro en Colombia, a la fecha, los
postulados de esta norma no se cumplen, y la norma amerita un
desarrollo mucho más amplio y garantista de los derechos de las
comunidades negras en general.
En lectura de lo anterior, es deber del Estado garantizar el
reconocimiento de las prácticas que, dentro de su autonomía
y cosmovisión, las comunidades negras han instaurado como
formas de justicia, pero que hoy no son tomadas en cuenta
por el Sistema de Justicia Ordinario, por lo que, a lo anterior-
mente expuesto, debe sumarse la falta de implementación de
la Jurisdicción Especial Afrocolombiana, o sistema de justicia
propio para el pueblo negro, una necesidad invisibilizada y con-
siderada innecesaria para la institucionalidad, dada la negativa
y la falta de voluntad política que el tema suscita.
Como punto de partida y en aras de establecer un análisis
comparativo –que no tiene más objeto que mostrar la viabilidad
de la regulación de una Jurisdicción Especial Afrocolombiana
como sistema de justicia propio– tenemos que el artículo 246
de la Constitución Nacional reconoció de manera expresa
342 Polifonías para la equidad racial ESP

la Jurisdicción Especial Indígena, la cual ha tenido, además,


un desarrollo jurisprudencial y desde la doctrina. Pero, ¿por
qué hoy no existe una Jurisdicción Especial Afrocolombiana?
La respuesta podría estar en el histórico organizativo de los pue-
blos indígenas en Colombia. Sin embargo, frente a las luchas
que hoy libramos como pueblo negro, de cara a los protagonis-
mos históricos, frente a las formas de resistencia política, hoy
esa explicación no sustenta lo obvio: la falta de voluntad polí-
tica de los gobiernos como manifestación expresa del racismo
estructural contra la población negra afrocolombiana, palen-
quera y raizal.
La ley 70 de 1993, establece de manera puntual que los
Consejos comunitarios como forma organizativa de las comuni-
dades negras afrocolombianas, raizales y palenqueras, tendrán
como función la de fungir como amigables componedores en
aquellas materias o conflictos susceptibles de conciliación, y la
Ley 1745 de 1995, “Por el cual se reglamenta el Capítulo III de
la Ley 70 de 1993, se adopta el procedimiento para el recono-
cimiento del derecho a la propiedad colectiva de las Tierras de
las Comunidades Negras y se dictan otras disposiciones”, esta-
blece en su artículo 10, numeral 12 que una de las funciones de
la junta de los Consejos Comunitarios es “Hacer de amigables
componedores en los conflictos internos, ejercer funciones de
conciliación en equidad y aplicar los métodos de control social
propios de su tradición cultural.”
Como se observa, hay un reconocimiento escueto sobre las
prácticas de justicia propia en nuestras comunidades, en tanto
se habla de amigables componedores y de conciliación en equi-
dad. Sin embargo, se desconoce el hecho que la justicia para las
comunidades negras va más allá y que incluye, de suyo, aspec-
tos espirituales, sociales, de conservación del medio ambiente
y de interacción con el territorio como un ente susceptible de
derechos. Por lo tanto, los usos y costumbres del pueblo negro
¿Por qué es importante implementar la Jurisdicción Especial para el pueblo
ESP negro afrocolombiano raizal y palenquero en Colombia? 343

en Colombia no pueden estar sujetos a lo que el legislador con-


sidera “conciliable.1”
Además, lo que se obvia con la negativa estatal y de gobier-
nos para la implementación de un sistema de justicia propio, son
todos los beneficios que generarían, incluso al Sistema Judicial
Ordinario como la descongestión en ciertas zonas en donde la
institucionalidad es limitada, el reconocimiento de actuacio-
nes que pueden hacer tránsito a cosa juzgada y por lo tanto no
llegarían a la justicia ordinaria, e incluso que hasta el sistema
carcelario se vería beneficiado, y esto teniendo en cuenta que
Colombia hoy tiene un hacinamiento carcelario por encima del
20%, según cifras oficiales del Instituto Nacional Penitenciario
y Carcelario–INPEC.
Es necesario aclarar que, si bien no existe un reconocimiento
sobre los usos y costumbres propios de la justicia afrocolom-
biana, no quiere decir esto que no exista una justicia ancestral
para nuestros pueblos, que desde siempre ha regulado la vida
y relaciones en los territorios, incluso antes de la creación de la
Ley 70, tal cual sucedió con el reconocimiento de la Jurisdicción
Especial Indígena, por lo que la existencia de estas prácticas de
justicia propia no se supedita a la expedición de una norma.
Uno de los puntos críticos para el análisis sobre la necesi-
dad de implementar un sistema de justicia propio del pueblo
negro es, sin duda, lo que se entiende por pluralismo jurí-
dico. En la definición de Hooker, es la coexistencia de distin-
tos ordenamientos o sistemas de justicia dentro de un mismo
territorio como sistemas normativos soberanos que interactúan
relacionándose entre sí con un sistema central (Engle, 1988),
lo cual se contempla incluso en los artículos primero y 70 de
1 En Colombia, los temas que en materia jurídica son susceptibles de conciliación, varían
según el área del derecho que se estudie (civil, comercial, penal, administrativo, etc.) por lo cual,
desarrollar este punto en el cuerpo del presente documento, le daría un aspecto técnico que
nos aleja del objeto del mismo : evidenciar la necesidad de la creación de un sistema de justicia
propio para el Pueblo NARP en Colombia.
344 Polifonías para la equidad racial ESP

la Constitución nacional, al establecer a Colombia como una


nación pluriétnica y multicultural. Sin embargo, la definición
jurídica debe armonizarse con la definición social. Al respecto,
establece la Corte Constitucional colombiana en la Sentencia
T-444 de 2019 que “el pluralismo sugiere la existencia de una
gama de cosmovisiones distintas entre sí y exige la necesidad
de gestionar la diferencia para armonizarla. En ese contexto, el
multiculturalismo se erige como una de las formas de hacerlo y
es la única viable en el orden constitucional vigente, de confor-
midad con los artículos 7 y 70 del texto superior.” Así las cosas,
no se trata solo de analizar la existencia de diferentes formas de
administrar justicia: se trata de armonizar y regular estas exis-
tencias desde el entendimiento de lo multicultural, del respeto
hacia la autonomía territorial de las comunidades, de pensar en
la articulación, los límites y alcances de las distintas formas de
justicia desde lo cosmogónico y ancestral.
Ahora, los órdenes legales en Colombia han sido transver-
salizados por la existencia del conflicto armado interno, exis-
tiendo, incluso, territorios en donde los grupos armados ilegales
y las mismas fuerzas armadas oficiales, han suplantado la auto-
ridad legal e institucional en sí, por lo que, a la suma de la resis-
tencia institucional, la falta de voluntad política y el racismo
institucional, hay que adicionar que, las formas propias de justi-
cia en territorios afrocolombianos han sido además, permeadas
por el conflicto, generando un tipo de afectación particulari-
zada frente a lo organizativo.
El pueblo negro en Colombia ha generado espacios de
participación política en los que distintas entidades, como el
Ministerio del Interior y el Ministerio de Justicia, han establecido
las posibles rutas para la instauración o configuración de una
Jurisdicción Especial Afrocolombiana, aunque sin que exista un
pronunciamiento oficial a la fecha de parte de alguna de estas
dos entidades sobre la pertinencia de este apartado jurídico.
¿Por qué es importante implementar la Jurisdicción Especial para el pueblo
ESP negro afrocolombiano raizal y palenquero en Colombia? 345

En contexto, aunque algunas leyes están diseñadas para reco-


nocer a las comunidades negras, sus territorialidades y dere-
chos (ley 70 del 93, la Ley 1745 de 1995, el Decreto Ley 4635 de
2011, este último sobre reparación de derechos étnico territo-
riales en el marco del conflicto armado), hoy la principal deuda
sigue siendo la regulación o implementación de la Ley 70 del 93,
lo que incluye dar alcance y reconocimiento a las justicias pro-
pias de los pueblos negros para reafirmar su autonomía y prác-
ticas ancestrales.
A lo largo de los años, y entendiendo la forma en que los
procesos decoloniales (de visibilización organizativa, reivindi-
cativa, política y social) se han establecido frente a cada pobla-
ción étnicamente diferenciada en Colombia, el pueblo negro
afrocolombiano, raizal y palenquero ha librado unas formas de
resistencia particulares, sectorizadas y heterogéneas que obede-
cen a las formas de relacionamiento con el entorno y territorios,
los desarrollos normativos que han hecho énfasis en determina-
das regiones, así como el racismo estructural que arrastra el his-
tórico colonizador –mucho más marcado en algunas regiones–.
Por ejemplo, en el Caribe colombiano los procesos organizati-
vos han sido más recientes y diferenciados frente a los procesos
organizativos de las comunidades del Pacifico.
Lo anterior, a fin de contextualizar uno de los mayores estig-
mas que a nivel político y organizativo ha arrastrado el pueblo
negro en Colombia, y que ha sido usado como obstáculo para la
implementación de una Jurisdicción Especial Afrocolombiana,
esto es, el hecho de pensar que no existe una unidad en lo orga-
nizacional sin entender, como se ha dicho anteriormente, la
particularidad de cada proceso incluso frente a los usos y cos-
tumbres que ancestralmente han atravesado las formas de admi-
nistrar justicia en las territorialidades negras.
El derecho afrocolombiano en el Sistema Jurídico Nacional,
debe estar conformado por estructuras e instancias encargadas
346 Polifonías para la equidad racial ESP

para una aplicación de reglas reproducibles que ayuden a que el


Estado se articule con los territorios de manera eficiente, pues
es necesario, no solo una implementación, sino un verdadero
reconocimiento desde lo práctico. Los Ministerios del Interior
y de Justicia deben encargarse de evidenciar los procesos étni-
cos que se viven no solamente desde lo diferenciado, sino desde
cómo estos pueden articularse con la institucionalidad en evi-
dencia de un verdadero actuar intercultural.
La marginación de las poblaciones étnicas y el racismo han
ocasionados que las prácticas propias de los pueblos como la
medicina tradicional, la partería y las prácticas ancestrales de
justicia, sean percibidas como elementos folclóricos, por lo que
una articulación con los sistemas ordinarios se hace impensable
desde lo blanco-mestizo.
Sumado a lo anterior tenemos, frente al tema, un estado del
arte casi inexistente, ya que ni desde lo antropológico ni lo social
se han construido instrumentos teóricos para poder hacer un
análisis metodológico para entender los mecanismos de justicia
ancestral de los pueblos negros en Colombia. Sin embargo, es
claro que, por ejemplo, para garantizar el acceso a la justicia es
necesario reconocer que, como individuo, pueblo o comunidad
étnicamente diferenciado, hago parte de unas dinámicas que se
desarrollan en territorios autónomos.
El artículo 229 de la Constitución Política de Colombia de
1991 establece que “se garantiza el derecho de toda persona para
acceder a la Administración de la justicia”, (Albornoz, 2015)
pero esta administración de la justicia no se encuentra ampa-
rada dentro de un pluralismo real, y por lo tanto, al no haber una
aproximación a las realidades territoriales en cuanto a sus prác-
ticas propias de justicia, el derecho de acceder a la justicia de las
comunidades negras se encuentra condicionado a lo meramente
estatal. Al respecto es pertinente hacer referencia a lo indicado
por la ONU en 2012, “(…) la administración de justicia debe ser
¿Por qué es importante implementar la Jurisdicción Especial para el pueblo
ESP negro afrocolombiano raizal y palenquero en Colombia? 347

imparcial y no discriminatoria. En la Declaración de la Reunión


de Alto Nivel sobre el Estado de Derecho, los Estados Miembros
resaltaron que la independencia del sistema judicial, junto con su
imparcialidad e integridad, es un requisito previo esencial para
apoyar el estado de derecho y lograr que la justicia se administre
sin discriminación (párr. 13)” (ONU, 2012).
Las comunidades negras en Colombia hoy enfrentan el despla-
zamiento y la desterritorialización a causa del conflicto armado,
lo que implica que, para lograr la reconstrucción del tejido social,
debe existir una reivindicación en todos los sentidos: lo que
incluye el control y autonomía de los territorios, el cual se ejerce
mediante usos y costumbre ancestrales, y que trae consigo las for-
mas propias de justicia, la garantía de los procesos organizativos
y, sobre todo, la urgencia de acción estatal para poder enaltecer
los derechos de las comunidades negras que han sido víctimas de
estos fenómenos y de estos cambios (Restrepo & Rojas, 2016).
Así, frente al multiculturalismo con relación al acceso a la
justifica para las comunidades negras, y tomando como ejem-
plo la Jurisdicción Especial Indígena, es viable la instauración
de una Jurisdicción Especial Afrocolombiana o para el pueblo
negro afrocolombiano, raizal y palenquero.
De esta manera, sumado a los beneficios que en principio
se desagregaron para el país frente a la instauración de una
Jurisdicción Especial Afrocolombiana, se tiene para los pue-
blos negros los siguientes:

• ‌ na jurisdicción propia ayudaría a mitigar los procesos de


U
discriminación y racismo frente al tratamiento de personas
negras en las entidades.
• El reconocimiento de una justicia propia para el pueblo
negro, ayudaría a la reconstrucción del tejido social a causa
del conflicto armado.
• Acceder a un verdadero control territorial.
348 Polifonías para la equidad racial ESP

Estos son unos de los aspectos principales que se deben tener


en cuenta al momento de justificar la importancia de la jurisdic-
ción de las comunidades afro con relación a los derechos huma-
nos que les cobijan.
En conclusión y frente a lo que ha sucedido con otras
comunidades, traigo a colación lo esbozado por la Comisión
Colombiana de Juristas en el Boletín No. 3: Serie sobre el dere-
cho a la consulta previa de pueblos indígenas y comunidades
afrodescendientes titulado “Quince años después de la ley 70 de
1993”, en el que al tenor establecen: “La Corte Constitucional
(Colombiana) ha desempeñado un papel importante que ha
hecho posible la reivindicación y defensa de varios derechos
de las comunidades afrodescendientes. Sin embargo, mientras
la sociedad y los funcionarios públicos, en especial los encar-
gados del diseño y aplicación de políticas públicas que impac-
tan a estas comunidades, no asuman como parte central de sus
funciones el reconocimiento de la naturaleza multicultural de
la nación colombiana, de los pueblos afrodescendientes y de
sus especiales derechos, será imposible un verdadero proceso
de inclusión.”
El llamado es a mantenernos como pueblo negro en pie de
lucha por nuestros derechos, a desmontar estructuras racistas
que no permiten un rasero de igualdad frente a lo social, polí-
tico y humano, a levantar la voz en reclamo de lo que nos perte-
nece y a avanzar desde la incidencia como principal herramienta
reivindicativa del pueblo negro afrocolombiano, raizal y palen-
quero de Colombia.
¿Por qué es importante implementar la Jurisdicción Especial para el pueblo
ESP negro afrocolombiano raizal y palenquero en Colombia? 349

Bibliografìa
Albornoz, I. R. C. (2015). “El acceso a la justicia a la luz del Estado social
de derecho en Colombia”. Revista Científica General José María
Córdova, 13(16), 81-103.
ENGEL Sally, Merry (1988). “Legal Pluralism”. Law & Society
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Restrepo, E., & Rojas, A. (2016). Conflicto e (in) visibilidad: Retos
en los estudios de la gente negra en Colombia. Bogotá, Colombia:
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Ley N° 70 Diario Oficial No. 41.013, de Colombia, Bogotá, Colombia
31 de agosto de 1993 Artículo N° 229, Constitución política de
Colombia, Bogotá, 1991
ONU (2012). “Acceso a la justicia”. 2021, de ONU Sitio web:
https://www.un.org/ruleoflaw/es/thematic-areas/access-to-justice-
and- rule-of-law-institutions/access-to-justice/
ENGLISH

Why Is It Important To Implement


The Special Jurisdiction For The Black
Afrocolombian, Raizal And Palenquero
People In Colombia?

Ricardo Leal

“We blacks don’t want more, but we don’t want less either,
we want what is rightfully ours: dignity.”

Frank Collazos, Afro-Colombian leader.

The Colombian Constitution of 1991 brought about great chan-


ges in the political organization and recognition of multicultu-
ralism and ethnic diversity., Iin fact, it changed the very form
of the State, defining it, according to its First Article 1, as “....
a social State under the rule of law, organized in the form of a
unitary, decentralized Republic, with autonomy of its territorial
entities, democratic, participatory and pluralistic, founded on the
respect for human dignity, on the work and solidarity of the peo-
ple that comprise it and on the prevalence of the general interest”
(own underlines);, Aditionally, the Seventh In turn, Article 7 sta-
tes that, “(T)he State recognizes and protects the ethnic and cul-
tural diversity of the Colombian Nation”., Aas can be seen, new
constitutional paradigms were established for the recognition of
352 Polifonías para la equidad racial ENG

ethnic peoples in Colombia (Blacks, Afro-Colombians, Raizales,


Palenqueros, Indigenous and Rrom or Gypsies).
Despite the above, the victory and progress that the new
constitutional order meant and means for the ethnic communi-
ties does not necessarily has impliedy great changes for them.,
Iin fact, there are still many debts and recognitions that the black
communities and ethnic peoples in Colombia are still awaiting.
Regarding the black, Afro-Colombian, Raizal and Palenquero
people, there is a historical debt that today is almost only seen
from an ethereal social assistance. In turn,, the Colombian
Cconstitution of 1991, established in the 55th transitory arti-
cle 55 that:

“Within two years following the entry into force of this


Constitution, Congress shall issue, after study by a special
commission that the Government shall create for that pur-
pose, a law recognizing the black communities that have
been occupying vacant lands in the rural areas bordering the
rivers of the Pacific Basin, in accordance with their traditio-
nal production practices, the right to collective ownership of
the areas to be demarcated by the same law.
In the special commission referred to in the preceding para-
graph, representatives elected by the communities involved
shall participate in each case. The property thus recognized
shall only be alienable under the terms established by law.
The same law shall establish mechanisms for the protection
of the cultural identity and rights of these communities, and
for the promotion of their economic and social development.
Paragraph 1. The provisions of this article may be applied
to other areas of the country that present similar conditions,
by the same procedure and prior study and favorable concept
of the special commission foreseen herein.”.
Why Is It Important To Implement The Special Jurisdiction For The Black
ENG Afrocolombian, Raizal And Palenquero People In Colombia? 353

This article mainly raised the need to recognize the presence of


black communities in different areas of the country, as well as
their ownership of their territories.
With the above, Law 70 of 1993is issued, in order to regu-
late the aforementioned constitutional article., Tthis law aims
to “(...) recognize the black communities that have been occu-
pying vacant lands in the rural areas bordering the rivers of the
Pacific Basin, according to their traditional production prac-
tices, the right to collective property, in accordance with the
provisions of the following articles. It also aims to establish
mechanisms for the protection of the cultural identity and the
rights of the black communities of Colombia as an ethnic group,
and the promotion of their economic and social development,
in order to ensure that these communities obtain real condi-
tions of equal opportunities compared to the rest of Colombian
society” (oOwn underlines). Therefore, within the framework
of the State’s obligation to protect the cultural identity of the
black people in Colombia, however, to date, the postulates
of this norm are not complied with, and the norm deserves a
much broader development and guarantee of the rights of the
black communities in general.
In light of the above, it is the duty of the State to guarantee
the recognition of the practices that, within their autonomy
and cosmovision, the black communities have established as
forms of justice, but which today are not taken into account
by the ordinary justice system, so that to the above must
be added the lack of implementation of the special Afro-
Colombian jurisdiction, or system of justice for the black peo-
ple, a need that is invisible and considered unnecessary for the
institutionality, given the refusal and lack of political will that
the issue raises.
As a starting point, and in order to establish a compara-
tive analysis, –which has no other purpose than to show the
354 Polifonías para la equidad racial ENG

viability of the regulation of a special Afro-Colombian juris-


diction as its own justice system–, we have that Article 246 of
the National Constitution expressly recognized the Special
Indigenous Jurisdiction, which has also had a jurispruden-
tial development and from the doctrine, but why today there
is no special Afro-Colombian jurisdiction? The answer could
be in the historical organization of the indigenous peoples in
Colombia, howevereven though, in view of the struggles we are
fighting today as black people, the historical protagonism, and
the forms of political resistance, today, this explanation does
not support the obvious:, the lack of political will of the gover-
nments as an express manifestation of structural racism against
the black Afro-Colombian, Palenquera and Raizal population.
Law 70 of 1993, states specifically that the Community
Councils –as an organizational form of the Black, Afro-
Colombian, Raizal and Palenquero communities–, will have
the function of acting as amicable mediators in those matters
or conflicts susceptible to conciliation, and Law 1745 of 1995,
“Whereby Chapter III of Law 70 of 1993 is regulated, adopts the
procedure for the recognition of the right to collective ownership
of the Lands of the Black Communities and other provisions”.
It also states in its 10th article 10, numeral 12, that one of the
functions of the board of the Community Councils is “To act as
amiable compositeurs in internal conflicts, to exercise conciliation
functions in equity and to apply the methods of social control pro-
per to their cultural tradition. “
As can be seen, there is a brief acknowledgement of the
practices of justice in our communities, as there is talk of ami-
cable mediators and conciliation in equity. , Hhowever, the fact
that justice for the black communities goes beyond that and
includes, in itself, spiritual, social, environmental conservation
and interaction with the territory as an entity subject to rights,
is remains unknown. Therefore, the uses and customs of the
Why Is It Important To Implement The Special Jurisdiction For The Black
ENG Afrocolombian, Raizal And Palenquero People In Colombia? 355

black people in Colombia cannot be subject to what the legis-


lator considers “reconcilable”.1.
What is ignored, moreover, with the refusal of the Sstate and
governments for the implementation of a justice system of its
own, are all the benefits that would be generated through this,
, including the judicial system, such as decongestion in certain
areas where the institutional framework is limited, the recogni-
tion of actions that can become res judicata [a matter judge] and
therefore would not reach the ordinary justice system, and, in
another sense, even the prison system would benefit, taking into
account that Colombia today has a prison overcrowding of over
20%, according to official figures of the National Penitentiary
and Prison Institute–InpecINPEC, as of 2021.
It is necessary to clarify that, although there is no recogni-
tion of the uses and customs of Afro-Colombian justice, this
does not mean that there is no ancestral justice for our peoples,
whicho hasve always regulated life and relations in the terri-
tories, even before the creation of Law 70, as happened with
the recognition of the Special Indigenous Jurisdiction, so that
the existence of these practices of justice is not subject to the
issuance of a norm.
One of the critical points for the analysis of the necessity
of the implementation of a justice system specific to for the
black people is undoubtedly what is understood by legal plu-
ralism., Iin Hooker’s definition, is the coexistence of different
legal systems or justice systems within the same territory as
sovereign normative systems that interact and relate to each
other with a central system2, which is even contemplated in the

1 In Colombia, the topics that, in legal matters, are susceptible to conciliation, vary according
to the area of law being studied (civil, commercial, criminal, administrative, etc.); therefore, to
develop this point in the body of this document would give it a technical aspect that takes us
away from its purpose, which is to demonstrate the need for the creation of a justice system for
the Black, Afro-Colombian, Raizal and Palenquero People in Colombia.
2 Merry, Sally. “Legal pluralism”
356 Polifonías para la equidad racial ENG

first and the 70th articles of the national Constitution, by esta-


blishing Colombia as a multiethnic and multicultural nation.,
Hhowever, the legal definition must be harmonized with the
social definition., Iin this regard, the Colombian Constitutional
Court states in Ruling T-444 of 2019 that “pluralism suggests
the existence of a range of worldviews different from each other
and requires the need to manage the difference to harmonize it.
In this context, multiculturalism stands as one of the ways of
doing so and is the only viable one in the current constitutional
order, in accordance with articles 7 and 70 of the superior text”,
thus, it is not only about analyzing the existence of different
ways of administering justice, it is about harmonizing and regu-
lating these existences from the understanding of multicultura-
lism, respect for the territorial autonomy of the communities,
thinking about the articulation, limits and scope of the diffe-
rent forms of justice from the cosmogonic and ancestral.
Now, the legal orders in Colombia have been transversali-
zed by the existence of the internal armed conflict, and there
are even territories where illegal armed groups and the offi-
cial armed forces themselves have supplanted the legal and
institutional authority itself, so that, in addition to the sum
of institutional resistance, lack of political will and institu-
tional racism, it must be added that the forms of justice in
Afro-Colombian territories have also been permeated by the
conflict, generating a particular type of affectation in terms
of organization.
The black people in Colombia have generated spaces for
political participation, in which entities such as the Ministry of
the Interior and the Ministry of Justice have established possi-
ble routes for the establishment or configuration of a special
Afro-Colombian jurisdiction, without there being, to date, an
official pronouncement by either of these two entities on the
relevance of this legal section.
Why Is It Important To Implement The Special Jurisdiction For The Black
ENG Afrocolombian, Raizal And Palenquero People In Colombia? 357

In context, although some laws are designed to recognize


black communities, their territorialities, and rights (Law 70 of
1993, Law 1745 of 1995, Decree Law 4635 of 2011, the latter
on reparation of ethnic and territorial rights in the context of
the armed conflict), today the main debt continues to be the
regulation or implementation of Law 70 of 1993, which inclu-
des giving scope and recognition to the black peoples’ own jus-
tice to reaffirm their autonomy and ancestral practices.
Over the years, and understanding the way in which the
decolonial processes (of organizational, political and social visi-
bilization) have been established for each ethnically differen-
tiated population in Colombia, the black, Afro-Colombian,
Raizal and Palenquero people have fought particular forms of
resistance, sectorized and heterogeneous, which are due to the
ways of relating to the environment and territories, the norma-
tive developments that have emphasized certain regions as well
as the structural racism that drags the colonizing history much
more marked in some regions, thus, the organizational proces-
ses, for example in the Colombian Caribbean, have been more
recent and differentiated compared to the organizational pro-
cesses of the communities of the Pacific.
The above, in order to contextualize one of the major stig-
mas that the black people in Colombia have carried at the poli-
tical and organizational level, and which has been used as an
obstacle for the implementation of a special Afro-Colombian
jurisdiction, that is, the fact of thinking that there is no organi-
zational unity, without understanding, as mentioned above, the
particularity of each process even in relation to the uses and
customs that have ancestrally crossed the forms of administe-
ring justice in the black territorialities.
Afro-Colombian law in the national legal system must be
conformed by structures and instances in charge of the applica-
tion of reproducible rules that help the State to articulate with
358 Polifonías para la equidad racial ENG

the territories in an efficient manner, since it is necessary, not


only an implementation, but a true recognition from the prac-
tical., Tthe Ministries of the Interior and Justice, must be in
charge of evidencing the ethnic processes that are lived not only
from the differentiated, but how these can be articulated with
the institutionality in evidence of a true intercultural action.
The marginalization of ethnic populations and racism have
caused that the practices of the peoples themselves, such as tra-
ditional medicine, midwifery and ancestral practices of justice,
are perceived as folkloric elements, so that an articulation with
the ordinary systems becomes unthinkable from the white-mes-
tizo point of view.
In addition to the above, there is an almost non-existent state
of the art on the subject, since neither anthropological nor social
theoretical instruments have been constructed in order to make
a methodological analysis of how to understand the mechanisms
of ancestral justice of the black peoples in Colombia. However,
it is clear, for example, that in order to guarantee access to jus-
tice it is necessary to recognize that, as an ethnically differentia-
ted individual, people or community, they are part of dynamics
that develop in autonomous territories.
Article 229 of the Political Constitution of Colombia of 1991
states that “[t]he right of every person to access the administra-
tion of justice is guaranteed”, (Albornoz, 2015) but this admi-
nistration of justice is not protected within a real pluralism.,
Ttherefore, in the absence of an approach to territorial realities
in terms of their own practices of justice, the right to access jus-
tice of black communities is conditioned to the merely Sstate
and,, in this regard, it is relevant to refer to what was indica-
ted by the UN in 2012, (.... ) the administration of justice must
be impartial and non-discriminatory. In the Declaration of the
High-Level Meeting on the Rule of Law, Member States emphasi-
zed that the independence of the judicial system, together with its
Why Is It Important To Implement The Special Jurisdiction For The Black
ENG Afrocolombian, Raizal And Palenquero People In Colombia? 359

impartiality and integrity, is an essential prerequisite for suppor-


ting the rule of law and ensuring that justice is administered
without discrimination (parag. 13). (UN, 2012)
In harmony with the above, and as already mentioned, black
communities in Colombia today face displacement and deterri-
torialization as a result of the armed conflict, which implies that,
for the reconstruction of the social fabric, there must be a vindi-
cation in all senses, including the control and autonomy of the
territories, which is exercised through ancestral uses and cus-
toms, and which brings with it its own forms of justice, the gua-
rantee of organizational processes and, above all, the urgency of
Sstate action to be able to enhance the rights of the black com-
munities that have been victims of these phenomena and these
changes. (Restrepo & Rojas, 2016).
Thus, in view of multiculturalism regarding the access to jus-
tice for black communities, and taking as an example the Sspecial
Iindigenous Jjurisdiction, it is viable to establish a special Afro-
Colombian jurisdiction or for the black, Afro-Colombian, Raizal
and Palenquero people.
Thus, in addition to the benefits that in principle were disa-
ggregated for the country with respect to the establishment of a
special Afro-descendant jurisdiction, the following benefits are
obtained for the black peoples:

• A jurisdiction of their own would help mitigate the proces-


ses of discrimination and racism in the treatment of black
people in the entities of the country.
• The recognition of their own justice for black people
would help rebuild the social fabric as a result of the
armed conflict.
• Access to a true territorial control.
360 Polifonías para la equidad racial ENG

These are one just few of the main aspects that must be taken
into account when justifying the importance of the jurisdiction
of the Afro communities in relation to the human rights that
cover them.
In conclusion, and compared to what has happened with
other communities, I bring to mention what was outlined by the
Colombian Commission of Jurists in Bulletin No. 3: Series on
the right to prior consultation of indigenous peoples and Afro-
descendant communities entitled “Fifteen years after Law 70
of 1993”, in which they state: “The (Colombian) Constitutional
Court has played an important role that has made possible the
vindication and defense of several rights of the Afro-descendant
communities. However, as long as society and public officials,
especially those responsible for the design and implementation
of public policies that impact these communities, do not assume
as a central part of their functions the recognition of the multi-
cultural nature of the Colombian nation, of the Afro-descendant
peoples and their special rights, a true process of inclusion will
be impossible.”
The call is to keep us as black people standing up for our
rights, to dismantle racist structures that do not allow a path
of equality in the social, political and human spheres, to raise
our voices to claim what belongs to us, and to advance through
advocacy as the main tool for the vindication of the black, Afro-
Colombian, Raizal and Palenquero people of Colombia.
Why Is It Important To Implement The Special Jurisdiction For The Black
ENG Afrocolombian, Raizal And Palenquero People In Colombia? 361

References
ONU. (2012). Acceso a la justicia. 2021, Retreived from UN
website: https://www.un.org/ruleoflaw/es/thematic-areas/
access-to-justice-and-rule-of-law-institutions/access-to-justice/
Albornoz, I. R. C. (2015). El acceso a la justicia a la luz del Estado
social de derecho en Colombia. Revista Científica General José
María Córdova, 13(16), 81-103.
Restrepo, E., & Rojas, A. (2016). Conflicto e (in) visibilidad: Retos
en los estudios de la gente negra en Colombia. Organización
Internacional para las Migraciones (OIM-Misión Colombia).

Laws
Ley N° 70 Diario Oficial No. 41.013, de C o l o m b i a , Bogotá,
Colombia August 31, 1993.
Article N° 229, Political Constitution of Colombia, Bogotá, 1991.
Português

Por que é importante implementar


uma Jurisdição Especial para os negros
afrocolombianos, raizal e palenquero
na Colômbia?

Ricardo Leal

“Os negros não querem mais, mas nós tam-


bém não queremos menos, nós queremos o
que é nosso por direito, a dignidade.”
Frank Collazos Líder afrocolombiano.

A Constituição de 1991 trouxe grandes mudanças na organização


política e no reconhecimento do Estado, de fato, mudou a própria
forma do próprio Estado, definindo-o, de acordo com o artigo
1, como “.... um Estado social de direito, organizado sob a forma
de uma República unitária, descentralizada, com autonomia para
suas entidades territoriais, democrática, participativa e pluralista,
fundada no respeito à dignidade humana, no trabalho e na solida-
riedade das pessoas que a compõem e na prevalência do interesse
geral” (sublinhado próprio), Por sua vez, o Artigo 7 estabelece,
“(O) Estado reconhece e protege a diversidade étnica e cultural
da Nação Colombiana”, como pode ser visto, novos paradigmas
constitucionais foram estabelecidos para o reconhecimento dos
povos étnicos na Colômbia (Negros, Afrocolombianos, Raizais,
Palenqueros, Indígenas e Rom ou Ciganos).
364 Polifonías para la equidad racial POR

Apesar do acima exposto, a vitória e os avanços que a nova


ordem constitucional significou e significa para as comunidades
étnicas não implica necessariamente grandes mudanças para
elas, na verdade, ainda há muitas dívidas e reconhecimentos
que as comunidades negras e os povos étnicos da Colômbia
ainda aguardam.
A Constituição colombiana de 1991 estabeleceu no artigo
55 que o povo negro, afrocolombiano, Raizal e Palenquero tem
uma dívida histórica que hoje é quase vista como uma assistên-
cia social etérea:

“Dentro de dois anos após a entrada em vigor desta Constituição,


o Congresso emitirá, após estudo por uma comissão especial que
o Governo criará para este fim, uma lei reconhecendo as comu-
nidades negras que vêm ocupando terras não cultivadas nas áreas
rurais ao longo dos rios da Bacia do Pacífico, de acordo com suas
práticas tradicionais de produção, o direito à propriedade coletiva
das áreas a serem demarcadas pela mesma lei.
Na comissão especial referida no parágrafo anterior, os repre-
sentantes eleitos pelas comunidades envolvidas deverão participar
em cada caso. Os bens assim reconhecidos somente serão aliená-
veis nos termos estabelecidos por lei.
A mesma lei estabelecerá mecanismos para a proteção da iden-
tidade cultural e os direitos destas comunidades, como também
para a promoção de seu desenvolvimento econômico e social.
Parágrafo 1. As disposições deste artigo podem ser aplicadas a
outras áreas do país com condições semelhantes, pelo mesmo pro-
cedimento e após estudo, com parecer favorável da comissão espe-
cial aqui prevista”.

Este artigo expôs principalmente a necessidade de reconhecer


a presença de comunidades negras em diferentes áreas do país,
assim como sua propriedade de seus territórios.
Por que é importante implementar uma Jurisdição Especial para os negros
POR afrocolombianos, raizal e palenquero na Colômbia? 365

Com relação ao citado, a Lei 70 de 1993 foi aprovada com


a finalidade de regulamentar o referido artigo constitucional,
esta mesma tem como objetivo “(...) reconhecer as comunidades
negras que têm ocupado terras livres nas áreas rurais ao longo dos
rios da Bacia do Pacífico, de acordo com suas práticas tradicionais
de produção, o direito de propriedade coletiva, de acordo com as
disposições dos artigos seguintes. Visa também estabelecer meca-
nismos para a proteção da identidade cultural e dos direitos das
comunidades negras da Colômbia como grupo étnico, e a promo-
ção de seu desenvolvimento econômico e social, a fim de assegurar
que essas comunidades obtenham condições reais de igualdade de
oportunidades com o resto da sociedade colombiana” (sublinhado
próprio), portanto, no âmbito da obrigação do Estado de prote-
ger a identidade cultural do povo negro na Colômbia, contudo,
até o momento, os postulados desta norma não foram cumpri-
dos, e a norma merece um desenvolvimento muito mais amplo e
a garantia dos direitos das comunidades negras em geral.
À luz disso, é dever do Estado garantir o reconhecimento
das práticas que, dentro de sua autonomia e visão de mundo,
as comunidades negras estabeleceram como formas de justiça,
mas que hoje não são levadas em conta pelo sistema de justiça
comum, razão pela qual a falta de implementação da jurisdi-
ção especial afrocolombiana, ou sistema de justiça para o povo
negro, deve ser acrescentada ao acima exposto, uma necessidade
que é invisível e considerada desnecessária para as instituições,
dada a recusa e a falta de vontade política que a questão suscita.
Como ponto de partida, e a fim de estabelecer uma análise
comparativa, que não tem outro objetivo senão mostrar a via-
bilidade da regulamentação de uma jurisdição afrocolombiana
especial como seu próprio sistema de justiça, o artigo 246 da
Constituição Nacional reconheceu expressamente a Jurisdição
Indígena Especial, que também foi desenvolvida em jurispru-
dência e doutrina, mas, por que não existe hoje uma jurisdição
366 Polifonías para la equidad racial POR

afrocolombiana especial? A resposta poderia estar na organiza-


ção histórica dos povos indígenas na Colômbia, porém, diante
das lutas que estamos travando hoje como povo negro, diante
do protagonismo histórico, diante das formas de resistência polí-
tica, hoje esta explicação não suporta o óbvio, a falta de von-
tade política dos governos como manifestação expressa de
racismo estrutural contra a população negra Afrocolombiana,
Palenquera e Raizal.
A Lei 70 de 1993 estabelece especificamente que os Conselhos
Comunitários, como forma de organização das comunidades
negra, afrocolombiana, raizal e palenquero, terão a função de
atuar como mediadores amigáveis naqueles assuntos ou confli-
tos suscetíveis de conciliação, e a Lei 1745 de 1995, “pela qual o
Capítulo III da Lei 70 de 1993 é regulamentado, adota o procedi-
mento para o reconhecimento do direito de propriedade coletiva
das terras das Comunidades Negras e outras disposições”, estabe-
lece em seu artigo 10, numeral 12 que uma das funções do con-
selho dos Conselhos Comunitários é “agir como compositores
amigáveis em conflitos internos, exercer funções de conciliação
em equidade e aplicar os métodos de controle social próprios de
sua tradição cultural.”
Como pode ser visto, há um breve reconhecimento das prá-
ticas de justiça em nossas comunidades, fala-se de mediadores
amigáveis e conciliação em equidade, no entanto, o fato de que
a justiça para as comunidades negras vai além disso e inclui a
conservação espiritual, social, ambiental e interação com o ter-
ritório como uma entidade suscetíveis de direitos, portanto, os
usos e costumes do povo negro na Colômbia não podem estar
sujeitos ao que o legislador considera “conciliatório”1.
1 Na Colômbia, as questões jurídicas suscetíveis de conciliação variam de acordo com a área
do direito em estudo (civil, comercial, criminal, administrativa, etc.), razão pela qual o desenvol-
vimento deste ponto no corpo deste documento lhe daria um aspecto técnico que nos afasta da
finalidade do documento, que é demonstrar a necessidade da criação de um sistema de justiça
para o povo NARP na Colômbia.
Por que é importante implementar uma Jurisdição Especial para os negros
POR afrocolombianos, raizal e palenquero na Colômbia? 367

O que também está sendo ignorado, com a recusa do Estado


e dos governos de implementar seu próprio sistema de justiça,
são todos os benefícios que ele geraria, inclusive para o sistema
judicial, como o descongestionamento em certas áreas onde a
estrutura institucional é limitada, o reconhecimento de ações
que podem tornar-se julgadas e, portanto, não chegariam ao sis-
tema de justiça comum, em outro sentido, mesmo o sistema pri-
sional seria beneficiado, tendo em vista que a Colômbia tem hoje
uma superlotação carcerária de mais de 20%, segundo dados
oficiais do Instituto Nacional Penitenciario y Carcelario-Inpec,
a partir de 2021.
É necessário esclarecer que, embora não haja reconheci-
mento dos usos e costumes da justiça afrocolombiana, isto não
significa que não haja justiça ancestral para nossos povos, que
sempre regularam a vida e as relações nos territórios, mesmo
antes da criação da Lei 70, como aconteceu com o reconheci-
mento da Jurisdição Indígena Especial, de modo que a exis-
tência destas práticas de sua própria justiça não esteja sujeita à
emissão de uma norma.
Um dos pontos críticos para a análise da necessidade de
implementação de um sistema de justiça específico para o povo
negro é, sem dúvida, o que se entende por pluralismo jurídico,
na definição de Hooker, é a coexistência de diferentes siste-
mas jurídicos ou sistemas de justiça dentro do mesmo território
como sistemas normativos soberanos que interagem e se relacio-
nam entre si com um sistema central2, que é até contemplada
nos artigos 1 e 70 da Constituição nacional, ao estabelecer a
Colômbia como uma nação multiétnica e multicultural, porém,
a definição legal deve ser harmonizada com a definição social, a
este respeito, o Tribunal Constitucional colombiano declara no
Julgamento T-444 de 2019 que “o pluralismo sugere a existência

2 Merry, Sally. “Legal pluralism”


368 Polifonías para la equidad racial POR

de uma série de diferentes visões de mundo e requer a neces-


sidade de administrar a diferença a fim de harmonizá-la. Neste
contexto, o multiculturalismo é uma das formas de fazê-lo e é
a única viável na ordem constitucional atual, de acordo com os
artigos 7 e 70 do texto superior”. Assim, não se trata apenas de
analisar a existência de diferentes formas de administrar a jus-
tiça, trata-se de harmonizar e regular essas existências a partir
de uma compreensão do multiculturalismo, do respeito à auto-
nomia territorial das comunidades, de pensar a articulação, os
limites e o alcance das diferentes formas de justiça do ponto de
vista cosmogônico e ancestral.
De fato, as ordens jurídicas na Colômbia foram transver-
salizadas pela existência do conflito armado interno, e há até
territórios onde grupos armados ilegais e as próprias forças
armadas oficiais suplantaram a própria autoridade legal e ins-
titucional, de modo que, além da resistência institucional, da
falta de vontade política e do racismo institucional, as formas
de justiça nos territórios afrocolombianos também foram per-
meadas pelo conflito, gerando um tipo particular de afetação
em termos de organização.
O povo negro na Colômbia tem gerado espaços de participa-
ção política, nos quais entidades como o Ministério do Interior
e o Ministério da Justiça têm estabelecido possíveis rotas para o
estabelecimento ou configuração de uma jurisdição afrocolom-
biana especial, sem haver, até o momento, um pronunciamento
oficial de qualquer uma dessas duas entidades sobre a relevância
desta seção jurídica. Neste contexto, embora algumas leis sejam
destinadas a reconhecer as comunidades negras, suas territoria-
lidades e direitos (Lei 70 de 1993, Lei 1745 de 1995, Decreto Lei
4635 de 2011, este último sobre a reparação dos direitos étni-
cos e territoriais no contexto do conflito armado), ainda hoje a
principal dívida é a regulamentação ou implementação da Lei
70 de 1993, que inclui dar espaço e reconhecimento à própria
Por que é importante implementar uma Jurisdição Especial para os negros
POR afrocolombianos, raizal e palenquero na Colômbia? 369

justiça dos povos negros, a fim de reafirmar sua autonomia e prá-


ticas ancestrais.
Ao longo dos anos, e entendendo a forma como os processos
descoloniais (de visibilização organizacional, política e social)
têm sido estabelecidos para cada população etnicamente dife-
renciada na Colômbia, os povos negros, Afrocolombianos,
Raizais e Palenqueros têm lutado com formas particulares, seto-
rizadas e heterogêneas de resistência que obedecem à forma
como se relacionam com seu ambiente e territórios–os proces-
sos organizacionais–por exemplo, no Caribe colombiano, têm
sido mais recentes e diferenciados dos processos organizacio-
nais das comunidades do Pacífico.
Ou seja, o que foi mencionado, tem a finalidade de contex-
tualizar um dos maiores estigmas que o povo negro na Colômbia
tem levado a nível político e organizacional, e que tem sido uti-
lizado como um obstáculo à implementação de uma jurisdição
afrocolombiana especial, ou seja, o fato de pensar que não há
unidade organizacional, sem compreender, como mencionado
acima, a particularidade de cada processo, incluindo os usos e
costumes que ancestralmente cruzaram as formas de adminis-
trar a justiça nas territorialidades negras.
O direito afrocolombiano no sistema jurídico nacional deve
ser composto de estruturas e órgãos responsáveis pela aplica-
ção de regras reprodutíveis que ajudem o Estado a se articu-
lar com os territórios de forma eficiente, pois é necessário não
só para a implementação, mas também para o verdadeiro reco-
nhecimento na prática. Os Ministérios do Interior e da Justiça
devem ser responsáveis por destacar os processos étnicos que
são vivenciados não só a partir de uma perspectiva diferenciada,
mas também como estes podem ser articulados com a estrutura
institucional em evidência de uma verdadeira ação intercultural.
Dessa forma, a marginalização das populações étnicas e o
racismo fizeram com que as práticas dos próprios povos, tais
370 Polifonías para la equidad racial POR

como a medicina tradicional, a obstetrícia e as práticas de jus-


tiça ancestral, fossem percebidas como elementos folclóricos,
de modo que uma articulação com os sistemas ordinários se
torna impensável do ponto de vista do branco-mestiço.
Ademais , há um estado da arte quase inexistente sobre o
assunto, pois não foram desenvolvidos instrumentos teóricos
antropológicos ou sociais para poder fazer uma análise metodo-
lógica de como compreender os mecanismos de justiça ances-
tral dos povos negros na Colômbia, entretanto, é claro, por
exemplo, que para garantir o acesso à justiça, é necessário reco-
nhecer que, como indivíduo, povo ou comunidade etnicamente
diferenciado, faço parte de dinâmicas que se desenvolvem em
territórios autônomos.
O artigo 229 da Constituição colombiana de 1991 afirma que
“o direito de toda pessoa de ter acesso à administração da jus-
tiça é garantido”, (Albornoz, 2015), mas esta administração da
justiça não é protegida dentro de um verdadeiro pluralismo,
portanto, na ausência de uma aproximação às realidades territo-
riais em termos de suas próprias práticas de justiça, o direito de
acesso à justiça das comunidades negras é condicionado mera-
mente ao Estado, a este respeito é relevante referir-se ao que a
ONU declarou em 2012, (…) a administração da justiça deve
ser imparcial e não discriminatória. Na Declaração da Reunião de
Alto Nível sobre o Estado de Direito, os Estados-Membros enfa-
tizaram que a independência do sistema judicial, juntamente com
sua imparcialidade e integridade, é um pré-requisito essencial para
apoiar o Estado de Direito e garantir que a justiça seja adminis-
trada sem discriminação. (parágrafo. 13). (ONU, 2012)
Em harmonia com o anterior dito, e como já mencionado,
as comunidades negras na Colômbia hoje enfrentam o deslo-
camento e a desterritorialização como resultado do conflito
armado, o que implica que, para a reconstrução do tecido social,
deve haver uma reivindicação em todos os sentidos, incluindo o
Por que é importante implementar uma Jurisdição Especial para os negros
POR afrocolombianos, raizal e palenquero na Colômbia? 371

controle e a autonomia dos territórios, que é exercida através de


usos e costumes ancestrais, e que traz consigo suas próprias for-
mas de justiça, a garantia de processos organizacionais e, acima
de tudo, a urgência de ação do Estado para poder valorizar os
direitos das comunidades negras que foram vítimas destes fenô-
menos e destas mudanças. (Restrepo & Rojas, 2016)
Assim, diante do multiculturalismo em relação ao acesso à
justiça para as comunidades negras, e tomando como exemplo a
jurisdição indígena especial, é viável estabelecer uma jurisdição
afrocolombiana especial para o povo negro, Afrocolombiano,
Raizal e Palenquero.
Dessa maneira, além dos benefícios que, em princípio, foram
desagregados para o país com relação ao estabelecimento de
uma jurisdição afrodescendente especial, os seguintes benefí-
cios estão disponíveis para os povos negros:

• Uma jurisdição separada ajudaria a mitigar os processos de


discriminação e racismo no tratamento de pessoas negras
nas entidades.
• O reconhecimento de sua própria justiça para o povo negro
ajudaria a reconstruir o tecido social do conflito armado.
• Ter acesso a um verdadeiro controle territorial.

Estes são um dos principais aspectos que devem ser levados


em consideração ao justificar a importância da jurisdição das
comunidades afro em relação aos direitos humanos a que elas
têm direito.
Em conclusão, e em vista do que aconteceu com outras
comunidades, gostaria de me referir ao que foi delineado pela
Comissão Colombiana de Juristas no Boletim No. 3: Série sobre
o direito à consulta prévia dos povos indígenas e comunida-
des afrodescendentes intitulada “Quinze anos depois da Lei
70 de 1993”, na qual eles declaram: “A Corte Constitucional
372 Polifonías para la equidad racial POR

(Colombiana) desempenhou um papel importante para tornar


possível a reivindicação e defesa de vários direitos das comunida-
des afrodescendentes. Entretanto, enquanto a sociedade e os fun-
cionários públicos, especialmente os responsáveis pela concepção e
implementação de políticas públicas que impactam essas comuni-
dades, não assumirem como parte central de suas funções o reco-
nhecimento da natureza multicultural da nação colombiana, dos
povos afrodescendentes e de seus direitos especiais, um verdadeiro
processo de inclusão será impossível”.
Em suma, o convite é manter-nos como negros lutando por
nossos direitos, desmantelar estruturas racistas que não permi-
tem a igualdade nas esferas social, política e humana, levantar
nossas vozes para exigir o que nos pertence e avançar através
da defesa como principal ferramenta para as demandas dos
negros, afrocolombianos, Raizais e Palenqueros da Colômbia.

REFERÊNCIAS
ONU. (2012). Acceso a la justicia. 2021, de ONU Sitio web: https://
www.un.org/ruleoflaw/es/thematic-areas/access-to-justice-and-
rule-of-law-institutions/access-to-justice/
Albornoz, I. R. C. (2015). El acceso a la justicia a la luz del Estado
social de derecho en Colombia. Revista Científica General José
María Córdova, 13(16), 81-103.
Restrepo, E., & Rojas, A. (2016). Conflicto e (in) visibilidad: Retos
en los estudios de la gente negra en Colombia. Organización
Internacional para las Migraciones (OIM-Misión Colombia).

LEIS
Ley N° 70 Diario Oficial No. 41.013, de Colombia, Bogotá, Colombia
31 de agosto de 1993
Artículo N° 229, Constitución política de Colombia, Bogotá, 1991.
ESPAÑOL

El posicionamiento de los sistemas jurídicos


de los Pueblos Étnicos en la Jurisdicción
Especial para la Paz

Leandro Shinye Jamioy Pasuy

Breve reseña del autor


Leandro Shinÿe Jamioy Pasuy es cabëngbe kamëntsá (origina-
rio Kamëntsá), abogado con experiencia en el área de derechos
colectivos, derechos humanos y justicias étnicas. Se ha desem-
peñado en distintos cargos en instituciones públicas colombia-
nas del sector de justicia y del derecho.

Introducción
El Acuerdo Final para la Terminación del Conflicto y la
Construcción de una Paz Estable y Duradera (en adelante
Acuerdo Final de Paz o AFP), suscrito el 24 de noviembre de
20161 por el Gobierno colombiano y la extinta guerrilla de las
Fuerzas Armadas Revolucionarias de Colombia-Ejército del
Pueblo (en adelante FARC-EP) representó una oportuni-
dad de cambio y transición hacia un Estado que, entre otros

1 El Acuerdo Final para la Terminación del Conflicto y la Construcción de una Paz Estable
y Duradera fue suscrito por el Gobierno Nacional Colombiano el 24 de noviembre de 2016 y
refrendado por el Congreso de la República de Colombia el 29 de noviembre de 2016.
374 Polifonías para la equidad racial ESP

asuntos, tuviera mayor apertura a los territorios, a la diversi-


dad étnica y cultural y a las víctimas del conflicto armado.
En este sentido, los Pueblos Étnicos reclamaron que “el enfo-
que étnico estuviera presente en la arquitectura del Acuerdo y
en su implementación” (Bonilla Valencia, 2020), para lo cual
demandaron desde el principio y hasta el último momento un
espacio de participación en el escenario de negociación; lo que
finalmente les permitió exigir la incorporación del Capítulo
Étnico en el Punto 6 sobre la implementación, verificación y
refrendación2 de lo acordado a través de la Comisión Étnica para
la Paz y la Defensa de los Derechos Territoriales, de la cual hacían
parte la Organización Nacional Indígena de Colombia (ONIC),
Autoridades Tradicionales Indígenas de Colombia–Gobierno
Mayor y el Consejo Nacional de Paz Afrocolombiano (CONPA).
Desde ahí se planteó como objetivo asegurar la no regresividad
de los derechos, la participación y la incorporación del enfoque
étnico en la interpretación e implementación de cada uno de los
componentes del Acuerdo Final de Paz (ONIC, 2019).
En este apartado del acuerdo las autoridades, lideresas y
líderes lograron que el Gobierno Nacional y las FARC-EP reco-
nocieran que los Pueblos Étnicos han aportado al progreso y
a la construcción de la paz, han sido víctimas de distintas for-
mas discriminación y afectados gravemente por el conflicto y
que deben propiciarse las máximas garantías para el ejercicio
y goce pleno de sus derechos, según sus propias aspiraciones,
intereses y cosmovisiones (Gobierno Nacional de Colombia y
& FARC-EP, 2016).
De esta manera, retomando los principios dispuestos en el
ordenamiento nacional e internacional, se adoptaron salvaguardas

2 El Acuerdo Final de Paz está integrado por 6 puntos, a saber: 1. Hacia un Nuevo Campo
Colombiano: Reforma Rural Integral; 2. Participación Política: apertura democrática para
construir la paz; 3. Fin del conflicto; 4. Solución al Problema de las Drogas Ilícitas; 5. Acuerdo
Sobre las Víctimas del Conflicto; e, 6. Implementación, Verificación y Refrendación.
El posicionamiento de los sistemas jurídicos
ESP de los Pueblos Étnicos en la Jurisdicción Especial para la Paz 375

y garantías sustanciales para la implementación del enfoque


étnico, de género, mujer, familia y generación en los diversos
componentes del AFP, entre ellos, respecto al Sistema Integral
de Verdad, Justicia, Reparación y Garantías de No Repetición
(en adelante SIVJRNR), en general, y respecto del componente
de justicia de este Sistema, en particular.
Estos elementos permiten evidenciar el desarrollo del mul-
ticulturalismo contrahegemónico que, en los términos de
Rodríguez Garavito y Baquero Díaz (2015), tiene como ele-
mentos definitorios la diversidad y la igualdad material como
reclamo central, la autodeterminación con reparaciones como
principio rector y el estatus jurídico de los pueblos como suje-
tos de derecho colectivos. Así, por ejemplo, es dable recono-
cer varios de estos elementos en el parágrafo 2 del artículo 4
del Reglamento General de la JEP, según el cual “En el caso de
autoridades de los Pueblos Indígenas; las Comunidades Negras,
Afrocolombianas, Raizales y Palenqueras; y el Pueblo Rrom
(gitano), los trámites, procedimientos y decisiones de la JEP
desde su ámbito de competencia coadyuvarán con las autorida-
des respectivas, a los procesos de reparación, a la búsqueda de
satisfacción en los derechos de las víctimas y a promover garan-
tías de no repetición”.
Así, este documento se concentrará en evidenciar algunos
de los desarrollos normativos y jurisprudenciales que eviden-
cian un avance en el posicionamiento de los sistemas jurídicos
de los Pueblos Étnicos en la Jurisdicción Especial para la Paz,
y que son resultado de las reivindicaciones de reconocimiento
y redistribución de los movimientos de los Pueblos Indígenas,
de los Pueblos y Comunidades Negras y Afrocolombianas y del
Pueblo Rrom-Gitano.
376 Polifonías para la equidad racial ESP

Salvaguardas y garantías constitucionales, legales


y reglamentarias
La Jurisdicción Especial para la Paz, definida en el artículo
1 de su Reglamento General como “el componente de justi-
cia del Sistema Integral de Verdad Justicia, Reparación y No
Repetición (SIVJRNR), con dimensión multiétnica y pluricul-
tural […]”, tiene a su cargo una serie de obligaciones estableci-
das en el Capítulo Étnico del AFP3 relacionadas con: respetar
las facultades jurisdiccionales de las autoridades tradicionales,
crear mecanismos de coordinación y articulación interjurisdic-
cional e interjusticias, incorporar la perspectiva étnica y cultural
y garantizar el derecho a la participación y a la consulta.
Si bien no son nuevas en el contexto colombiano y derivan
principalmente de la Constitución Política de 1991, entre otros
instrumentos internacionales frente a los cuales se ha obligado
Colombia, estas obligaciones han permitido un desarrollo nor-
mativo progresivo que posiciona a los sistemas jurídicos de los
pueblos étnicos en las distintas labores judiciales que adelanta
la JEP, al haber sido reafirmadas de forma expresa en el AFP.

3 Acuerdo Final de Paz, 6.2. Capítulo étnico, 6.2.3. Salvaguardas y garantías,


“e. En materia de víctimas del conflicto: ‘Sistema Integral de Verdad, Justicia, Reparación y
No Repetición’
• El diseño y ejecución del Sistema Integral de Verdad, Justicia, Reparación y No Repetición res-
petará el ejercicio de las funciones jurisdiccionales de las autoridades tradicionales dentro de
su ámbito territorial de conformidad con los estándares nacionales e internacionales vigentes.
• En el diseño de los diferentes mecanismos judiciales y extrajudiciales acordados respecto a los
pueblos étnicos se incorporará la perspectiva étnica y cultural. Se respetará y garantizará el
derecho a la participación y consulta en la definición de estos mecanismos, cuando corresponda.
• En el marco de la implementación de la Jurisdicción Especial para la Paz se crearán mecanismos
para la articulación y coordinación con la Jurisdicción Especial Indígena según el mandato
del Artículo 246 de la Constitución y, cuando corresponda, con las autoridades ancestrales
afrocolombianas.
• Se concertará con las organizaciones representativas de los pueblos étnicos un programa especial
de armonización para la reincorporación de los desvinculados pertenecientes a dichos Pueblos,
que opten por regresar a sus comunidades, para garantizar el restablecimiento de la armonía
territorial. Se concertará una estrategia pedagógica y comunicativa de difusión de los principios
de no discriminación racial y étnica de las mujeres, jóvenes y niñas desvinculadas del conflicto”.
El posicionamiento de los sistemas jurídicos
ESP de los Pueblos Étnicos en la Jurisdicción Especial para la Paz 377

En materia de coordinación y articulación interjurisdiccio-


nal el artículo 35 de la Ley 1957 de 2019, norma estatutaria de
la administración de justicia transicional de la JEP, señaló, entre
otros asuntos, que “[e]l reglamento de la JEP se creará meca-
nismos para la articulación y coordinación con la Jurisdicción
Especial Indígena (JEI) según el mandato del artículo 246 de
la Constitución”. Lo que dio lugar a que, retomando la inicia-
tiva de los Pueblos Étnicos y siendo objeto de consulta previa,
se incorporaran mecanismos, herramientas, principios y garan-
tías en el Capítulo 15 del Reglamento General de la JEP para “la
coordinación y articulación entre la JEP, la Jurisdicción Especial
Indígena, la Kriss Romaní (sistema de normas y valores) del pue-
blo Rrom (Gitano) la justicia propia de las comunidades Negras,
Afrocolombianas, Raizales y Palenqueras, sean estas Guardia
Cimarrona, Consejo de Mayores u otras”.
Resalta este avance en el escenario jurídico colombiano,
tomando en cuenta que el Reglamento General de la JEP fue
consultado con los Pueblos Étnicos y que, desde la promulga-
ción de la Constitución Política de 1991, en el Estado colom-
biano no se habían expedido normas de coordinación según lo
dispuesto en el artículo constitucional 2464.
Ahora bien, a través de sus decisiones, la JEP ha dejado claro
que la coordinación interjurisdiccional es un componente esen-
cial del debido proceso y que adelantarla no es un ejercicio
discrecional o facultativo. De hecho, es una obligación y un
componente necesario para que la JEP logre cumplir su man-
dato de esclarecer verdad y administrar justicia sobre lo ocu-
rrido en el marco del conflicto armado interno.

4 ARTICULO 246. Las autoridades de los pueblos indígenas podrán ejercer funciones
jurisdiccionales dentro de su ámbito territorial, de conformidad con sus propias normas y
procedimientos, siempre que no sean contrarios a la Constitución y leyes de la República. La
ley establecerá las formas de coordinación de esta jurisdicción especial con el sistema judicial
nacional. (Subrayado fuera de texto)
378 Polifonías para la equidad racial ESP

En este sentido, la Sección de Apelación de la JEP a través


del Auto TP-SA 556 de 2021, al resolver un recurso de apela-
ción contra una decisión que resolvía inadmitir y rechazar dos
solicitudes de beneficios jurídicos presentadas por un compare-
ciente indígena, al observar que se omitió esta garantía procesal
adoptó una severa decisión al declarar la nulidad de lo actuado.
De manera precisa, señaló:

En esta ocasión, la coordinación y articulación no se llevó a término,


y esta deficiencia no puede ser subsanada. No existe otra medida
disponible que sustituya la realización del proceso de articulación
y coordinación (principio de convalidación); no es un vicio subsa-
nable por medio del consentimiento de los sujetos participantes
(principio de instrumentalidad), afecta las bases del proceso tran-
sicional (principio de trascendencia) y no existe otra medida dispo-
nible para que se dé el proceso de articulación y coordinación entre
la JEI y la JEP (principio de residualidad). Por todas estas razones
no cabe otra salida que declarar la nulidad de lo actuado, esto es,
de la providencia atacada, con el fin de que se desarrolle el proceso
de articulación y coordinación de manera adecuada, siguiendo los
lineamientos establecidos en esta providencia, en el Protocolo 1 de
2019 de la Comisión Étnica y en el nuevo reglamento de la JEP.

Por otra parte, en la instrucción de los procesos judiciales la JEP


está llamada a considerar los sistemas jurídicos de los Pueblos
Étnicos no solo para realizar proceso de coordinación y articu-
lación interjurisdiccional, sino para retomar elementos que pue-
dan ser incorporados en la instrucción judicial y contribuir a
los fines de la justicia transicional, restaurativa y prospectiva en
general, y garantizar el enfoque étnico racial.
Bajo esta línea, el parágrafo 3 del artículo 45 del Reglamento
General de la JEP señala que la Sala de Reconocimiento de
Verdad y Responsabilidad “[…] podrá tomar en cuenta
El posicionamiento de los sistemas jurídicos
ESP de los Pueblos Étnicos en la Jurisdicción Especial para la Paz 379

principios, lógicas y racionalidades de los sistemas de justicia


de los pueblos étnicos orientados a buscar la verdad desde la
conciencia, la reconciliación, la sanación y armonización entre
víctimas y procesados que permitan fortalecer el tejido comu-
nitario, así como la armonización del territorio”.
La aplicación de esta disposición se puede observar en el
Auto SRVR-079 de 20195, proferido en el marco del Caso
02, que investiga la situación territorial de los municipios de
Tumaco, Ricaurte y Barbacoas en el departamento de Nariño,
con ocasión de lo cual se acredita como víctima al Pueblo Awá
como sujeto colectivo de derechos a través de sus propias for-
mas organizativas y al Katsa Su, gran territorio Awá. Con esto se
reconoce desde las lógicas y solicitudes de los Pueblos Étnicos
que el Territorio es un sujeto de derechos.
Debe exaltarse de manera particular que esta fue la primera
decisión en este sentido al interior de la Jurisdicción Especial
para la Paz, y que fue adoptada por dos Magistradas Indígenas:
la Magistrada Belkis Izquierdo Torres y la Magistrada Ana
Manuela Ochoa Arias. Posteriormente se han adoptado deci-
siones similares reconociendo como víctima el Territorio del
Pueblo Negro Afrocolombiano en el Caso 026, y en otros Casos
de esta misma Sala como, por ejemplo, en el Caso 05, que inves-
tiga la situación territorial del Norte del Cauca y Sur del Valle
del Cauca donde se encuentra acreditado el Territorio ancestral
y colectivo de Çxhab Wala Kiwe7, o el Caso 04, que investiga la
situación territorial de la Región de Urabá, donde se encuen-
tran acreditados 69 territorios indígenas8.

5 Disponible en: https://www.coljuristas.org/observatorio_jep/documentos/sala_de_reco-


nocimiento/20191112-Auto_SRVR-079_12-noviembre-2019.pdf
6 Ver entre otros el Auto SRVBIT-158 de 2020. Disponible en: https://relatoria.jep.gov.co/
documentos/providencias/1/1/Auto_SRVR-158_16-septiembre-2020.docx
7 Disponible en: https://www.jep.gov.co/especiales1/macrocasos/05.html
8 Disponible en: https://www.jep.gov.co/especiales1/macrocasos/04.html
380 Polifonías para la equidad racial ESP

Por último, entre los distintos avances que han logrado los
Pueblos Étnicos, se encuentra la inclusión de disposiciones que
pretenden brindar garantías materiales para ejercer sus dere-
chos de participación y coordinación interjurisdiccional e inter-
justicias. En esta línea, el artículo 70 de la Ley 1922 de 2018
señala que “[l]a Secretaría Ejecutiva de la JEP definirá meca-
nismos y recursos necesarios y suficientes para garantizar que
los pueblos étnicos puedan adelantar los procedimientos inter-
nos para el diálogo propuesto en el presente artículo [meca-
nismos de articulación y coordinación interjurisdiccional de
acuerdo con lo definido en el Reglamento Interno de la JEP]”
y en correspondencia, el artículo 101 del Reglamento General
de la JEP señala que “[e]l proyecto de presupuesto de inver-
sión de la Secretaria Ejecutiva debe incluir un rubro diferencial
que garantice la disponibilidad presupuestal para garantizar el
acceso y accesibilidad efectiva a la JEP, de forma que se mate-
rialice lo establecido en el capítulo étnico de este reglamento”.
Estas disposiciones que fueron iniciativa de los Pueblos
Étnicos y que se incorporaron en instrumentos normativos que
fueron objeto de consulta previa reflejan ese reclamo de un
reconocimiento de derechos y una redistribución de recursos
que les permita ejercer sus derechos en el acceso a la administra-
ción de justicas, pues en el escenario de justicia ordinaria no se
disponen de normas en este sentido y los ejercicios de adminis-
tración de justicia que realizan los Pueblos y Comunidades en
sus territorios son financiados con recursos propios, aun cuando
en el caso de la JEI, esta hace parte funcional de la rama judi-
cial del poder público.

Instrumentos de coordinación y articulación


interjurisdiccional e interjusticias
La Jurisdicción Especial para la Paz, en el marco del SIVJRNR,
consultó con los Pueblos Indígenas, Negros, Afrocolombianos,
El posicionamiento de los sistemas jurídicos
ESP de los Pueblos Étnicos en la Jurisdicción Especial para la Paz 381

Raizales, Palenqueros y Rrom-Gitano la Ley 1922 de 2018, que


establece las normas de procedimiento de la JEP; el Acuerdo
001 de 2018 Reglamento General de la JEP, que posteriormente
sería derogado por el Acuerdo ASP 001 de 2020, en el cual se
incorporaron los acuerdos protocolizados en la consulta; y el
Protocolo de acceso, comunicación y participación de las vícti-
mas de la Unidad de Investigación y Acusación.
En su momento, la JEP señaló que “[l]a consulta previa, más
allá de un deber legal, constituye una oportunidad de entablar
diálogos interculturales respetuosos de la diversidad étnica y
cultural de la nación, en donde el Estado y los pueblos étnicos
pueden trabajar de manera conjunta y materializar los cimien-
tos constitucionales del estado social de derecho” (Jurisdicción
Especial para la Paz, 2018).
Con ocasión de la consulta previa, la JEP y los Pueblos
Indígenas, Negros, Afrocolombianos, Raizales, Palenqueros y
Rrom, acordaron formular colectivamente con las respectivas
instancias y procesos representativos, instrumentos particulares
que orientaran los ejercicios coordinación y articulación interju-
risdiccional o interjusticias, según corresponda. Como resultado
de esto, la Comisión Étnica de la JEP ha adoptado los siguien-
tes protocolos y lineamientos:

• Protocolo 01 de 2019 para la coordinación, articula-


ción interjurisdiccional y diálogo intercultural entre la
Jurisdicción Especial Indígena y la Jurisdicción Especial
para la Paz.9
• Lineamiento 02 de 2019 para implementar la coordina-
ción, articulación y diálogo intercultural entre el Pueblo
Rrom (Gitano) y la Jurisdicción Especial para la Paz.10

9 Disponible en: https://relatoria.jep.gov.co/documentos/providencias/9/Protocolo-001_


comision-etnico-racial_05-junio-2019.docx
10 Disponible en: https://www.jep.gov.co/Documentos/2020/lineamientos-pueblo-rrom.pdf
382 Polifonías para la equidad racial ESP

• Protocolo 01 de 2021 para el relacionamiento entre la


Jurisdicción Especial para la Paz y los pueblos Negros,
Afrocolombianos, Raizal y Palenquero.11

Estos instrumentos, que marcan un hito en la historia del rela-


cionamiento de los Pueblos Étnicos con el Estado Colombiano
en materia de justicia, contienen declaraciones y posicionamien-
tos políticos, principios, garantías y definiciones sociojurídicas
y orientaciones prácticas en las cuales se refleja el esfuerzo por
lograr articular sistemas jurídicos diversos con objetivos comu-
nes, entre ellos, contribuir a la paz territorial y satisfacer los
derechos de las víctimas individuales y colectivas del conflicto
armado; y la voluntad expresa de estos sujetos colectivos por
participar en los procesos de justicia transicional y colaborar
armónicamente en un plano horizontal de diálogo intercultu-
ral, donde se reconozcan sus sistemas jurídicos y su legitimidad
como autoridades étnicas.
Así, por ejemplo, el Protocolo 01 de 2019 integra en el nume-
ral 37 una definición de articulación y coordinación JEP-JEI,

37. Articulación y coordinación interjurisdiccional JEP–


JEI: La articulación y coordinación interjurisdiccional
comprende un ejercicio de diálogo horizontal entre auto-
ridades judiciales, para generar el mutuo entendimiento y
apoyo en lo que requiera la jurisdicción que corresponda,
respetando la independencia y autonomía judicial. Así
mismo, permite definir la ruta y los mecanismos de coordi-
nación en cada caso, en el marco del respeto a la autonomía
y al ejercicio de funciones jurisdiccionales conforme al

11 Disponible en: https://www.jep.gov.co/Infografas/participacion/Protocolo%20Relacio-


namiento%20JEP%20y%20pueblos%20NARP%209%20febrero%202021%20pag.pdf
El posicionamiento de los sistemas jurídicos
ESP de los Pueblos Étnicos en la Jurisdicción Especial para la Paz 383

artículo 246 de la Constitución Política, incluidos los tiem-


pos para atender requerimientos mutuos.

Esta definición es retomada y adecuada en el Protocolo 01 de


2021 para la articulación, concertación, diálogo intercultural
y coordinación interjusticias entre la JEP y la Justicia Propia
de las Comunidades Negras, Afrocolombianas, Raizales y
Palenqueras, que entre otras cosas, avanza en el posiciona-
miento sus propias instituciones y sistemas, como se observa
en el numeral 46 de este instrumento.

46. Reconocimiento de Sistemas de Seguridad Propios:


La JEP en su relacionamiento con las autoridades de los
Consejos Comunitarios y demás formas y expresiones
organizativas de Comunidades Negras, Afrocolombianas,
Raizales y Palenqueras, reconocerá y respetará sistemas de
seguridad propios como la Guardia Cimarrona y demás
mecanismos de protección que existan en los territorios
colectivos, tradicionales y/o ancestrales en el marco de lo
dispuesto en el Capítulo Étnico del Acuerdo Final para la
Terminación del Conflicto y la Construcción de una Paz
Estable y Duradera.

Conclusiones
Los procesos históricos de reivindicación de derechos de
los Pueblos Indígenas, Negros, Afrocolombianos, Raizales,
Palenqueros y Rrom, en sus apuestas comunes e intereses dife-
renciados, lograron de manera colectiva posicionar sus sistemas
jurídicos en el componente de justicia del Sistema Integral de
Verdad, Justicia, Reparación y Garantías de No Repetición.
Esto se ve reflejado en los mecanismos de diálogo intercul-
tural y articulación y coordinación interjurisdiccional e inter-
justicias que se han establecido para el relacionamiento con la
384 Polifonías para la equidad racial ESP

Jurisdicción Especial para la Paz, así como en las garantías mate-


riales que han logrado que les sean reconocidas normativamente.
En todo caso, estos avances no pueden leerse únicamente
como logros exclusivos de los Pueblos Étnicos, sino como logros
de un Estado Social de Derecho multiétnico y pluricultural que
definió en su carta política la valoración positiva de la diversidad
étnica y cultural, y que avanza en la generación de condiciones
para contribuir a la construcción de la paz territorial.
Además, los procesos de diálogo intercultural adelantados y
los resultados obtenidos en este escenario de justicia transicio-
nal marcan un camino para que las instituciones de las distin-
tas ramas del poder público y en particular de la rama judicial
y del sector administrativo de justicia y del derecho puedan
avanzar en ejercicios respetuosos y garantistas de los derechos
colectivos de los Pueblos Étnicos que tengan una vocación
de permanencia.
Sin duda, lo expuesto resulta insuficiente para compren-
der todos los avances en materia de derechos de acceso a la
justicia, participación y autonomía que los Pueblos Étnicos
han alcanzado en este escenario resultado del Acuerdo Final
de Paz, pero es una muestra que invita a continuar apoyando
este proceso de reivindicación y profundizando en los aportes
que desde la práctica brinda este laboratorio de coordinación
entre la JEP, la JEI, la Kriss Romaní del Pueblo Rrom-Gitano
y las Justicias Propias del Pueblo y las Comunidades Negras,
Afrocolombianas, Raizales y Palenqueras.
El posicionamiento de los sistemas jurídicos
ESP de los Pueblos Étnicos en la Jurisdicción Especial para la Paz 385

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ENGLISH

The Positioning Of The Legal Systems


Of The Ethnic Peoples In The Special
Jurisdiction For Peace

Leandro Shinye Jamioy Pasuy

Leandro Shinÿe Jamioy Pasuy is a cabëngbe kamëntsá (originario


Kamëntsá), lawyer with experience in the fields of collective rights, hu-
man rights and ethnic justice. He has served in several positions in Co-
lombian public institutions in the justice and law sector.

Introduction
The Final Agreement to End of the Conflict and Build a Stable
and Lasting Peace (hereinafter Final Peace Agreement or FPA),
signed on November 24, 2016 by the Colombian Government
and the extinct guerrilla of the [Fuerzas Armadas Revolucionarias
de Colombia – Ejército del Pueblo] Revolutionary Armed
Forces of Colombia–People’s Army (hereinafter FARC-EP)
represented an opportunity for change and transition towards
a State, which among other issues, had greater openness to the
territories, to ethnic and cultural diversity and to the victims of
the armed conflict
In this sense, the Ethnic Peoples demanded that “the ethnic
approach be present in the architecture of the Agreement and
in its implementation” (Bonilla Valencia, 2020), for which they
388 Polifonías para la equidad racial ENG

demanded, from the beginning and until the last moment, a


space for participation in the negotiation scenario. This finally
allowed them to demand the incorporation of the Ethnic
Chapter in Point 6 on the implementation, verification and
endorsement1 of what was agreed.
This was done through the Ethnic Commission for Peace
and the Defense of Territorial Rights, of which the National
Indigenous Organization of Colombia [Organización Nacional
Indígena de Colombia] (ONIC), Indigenous Traditional
Authorities of Colombia–Major Government [Autoridades
Tradicionales Indígenas de Colombia] and the Afro-
Colombian National Peace Council [Consejo Nacional de Paz
Afrocolombiano] (CONPA) were part, and whose objective
was to ensure the non-regression of rights, participation and
the incorporation of the ethnic approach in the interpretation
and implementation of each of the components of the Final
Peace Agreement (ONIC, 2019).
In this section, the authorities and leaders managed to get the
National Government and the FARC-EP to recognize that the
Ethnic Peoples: have contributed to progress and peace buil-
ding, have been victims of different forms of discrimination and
have been seriously affected by the conflict,; and that the maxi-
mum guarantees should be provided for the exercise and full
enjoyment of their rights, according to their own aspirations,
interests and worldviews (National Government of Colombia
and FARC-EP, 2016).
Thus, taking up the principles set forth in national and
international law, substantial safeguards and guarantees

1 The Final Peace Agreement is composed of 6 points, namely: 1. Towards a New Colombian
Countryside: Comprehensive Rural Reform; 2. Political Participation: A democratic opportu-
nity to build peace; 3. End of the Conflict; 5. Agreement regarding the Victims of the Conflict:
“Comprehensive System for Truth, Justice, Reparations and Non-Recurrence”, including the
Special Jurisdiction for Peace; and Commitment to Human Rights; 6.6. Implementation, veri-
fication and public endorsement.
The Positioning Of The Legal Systems Of The Ethnic
ENG Peoples In The Special Jurisdiction For Peace 389

were adopted for the implementation of the ethnic, gender,


women, family and generation approach in the various com-
ponents of the FPA, including the Comprehensive System of
Truth, Justice, Reparation and Guarantees of Non-Repetition
(ISTJRNR–acronym in English) [Sistema Integral de Verdad,
Justicia, Reparación y Garantías de No Repetición] (SIVJRNR
acronym in Spanish, hereinafter Comprehensive System), in
general, and the justice component of this System, in particular.
Actions consistent with the processes of recognition of the
rights of these collective subjects, which incorporate demands
for recognition and redistribution as part of this projection of
social justice (Fraser, 2008). In the first scenario resorting to
“[...] forms of mobilization of the right that seek to undermine
injustices based on status and social esteem [...]” and the second
related to actions “[that aim to erode the injustices of the econo-
mic structure [...]” (Rodríguez Garavito & Baquero Díaz, 2015).
Elements that allow, in turn, to evidence the development
of counter-hegemonic multiculturalism, which, in the terms of
Rodríguez Garavito and Baquero Díaz (2015), has as defining
elements: diversity and material equality as a central claim, sel-
f-determination with reparations as a guiding principle and the
legal status of peoples as collective subjects of law. Thus, for
example, it is possible to recognize several of these elements in
paragraph 2 of Article 4 of the General Regulations of the JEP2,
according to which “In the case of authorities of the Indigenous
Peoples; the Black, Afro-Colombian, Raizal and Palenquero
Communities; and the Rrom (Gypsy) People, the proceedings,
procedures and decisions of the JEP, within its sphere of compe-
tence, shall contribute with the respective authorities to the pro-
cesses of reparation, to the search for satisfaction of the rights of
the victims and to promote guarantees of non-repetition”.

2 Acronym for JEP (Special Jurisdiction for Peace in English).


390 Polifonías para la equidad racial ENG

So, this document will focus on highlighting some of the nor-


mative and jurisprudential developments that show progress in the
positioning of the legal systems of the Ethnic Peoples in the Special
Jurisdiction for Peace, as a result of the demands for recognition
and redistribution of the movements of the Indigenous Peoples,
the Black and Afro-Colombian Peoples and Communities, and
the Roma-Gypsy Peoples. It should be clarified that it is not the
intention of this paper to fully expose all the achievements in tran-
sitional justice or to delve into each one of them.

Constitutional, legal and regulatory safeguards and guarantees


The Special Jurisdiction for Peace, defined in Article 1 of
its General Regulations as “the justice component of the
Comprehensive System of Truth, Justice, Reparation and Non-
Repetition (ISTJRNR), with a multi-ethnic and pluricultural
dimension [...]” (underlined outside the text), is responsible
for a series of obligations established in the Ethnic Chapter of
the FPA3 related to: respecting the jurisdictional faculties of the

3 Final Peace Agreement, 6.2. Ethnic Chapter, 6.2.3. Safeguards and guarantees.
“e. In relation to victims of the conflict: “Comprehensive System for Truth, Justice, Reparations
and Non-Recurrence
• The design and execution of the Comprehensive System for Truth, Justice, Reparations and
Non-Recurrence will respect the exercise of the jurisdictional functions of the traditional
authorities within their territorial area in accordance with the current national and interna-
tional standards.
• The ethnic and cultural perspective will be incorporated in the design of the different judicial
and non-judicial mechanisms agreed in respect of the ethnic peoples. The right to participation
and consultation in the definition of these mechanisms will be respected and guaranteed,
when appropriate.
• In the framework of the implementation of the Special Jurisdiction for Peace, mechanisms
will be created for liaison and coordination with the Special Indigenous Jurisdiction according
to the mandate of Article 246 of the Constitution and, when appropriate, with the AfroCo-
lombian ancestral authorities.
A special harmonisation programme will be drawn up in collaboration with the representative
organisations of the ethnic peoples, for the reincorporation of demobilised individuals belonging
to such peoples, who opt to return to their communities, in order to guarantee the restoration of
territorial harmony. An educational and communication strategy will be agreed for the dissemi-
nation of the principles of non-racial and ethnic discrimination against women, youngsters and
girls demobilised from the conflict.”
The Positioning Of The Legal Systems Of The Ethnic
ENG Peoples In The Special Jurisdiction For Peace 391

traditional authorities, creating inter-jurisdictional and inter-


-justice coordination and articulation mechanisms, incorpora-
ting the ethnic and cultural perspective and guaranteeing the
right to participation and consultation.
Although these obligations are not new in the Colombian
context and derive mainly from the 1991 Political Constitution,
among other international instruments to which Colombia is
bound, having been expressly reaffirmed in the FPA, they have
allowed for a progressive normative development that posi-
tions the legal systems of ethnic peoples in the different judicial
tasks conducted by the JEP, having been expressly reaffirmed
in the FPA.
Thus, in a balance between the differentiated constitutional
and legal recognition of the legal systems, which for Indigenous
Peoples implies the right to the Special Indigenous Jurisdiction
[Jurisdicción Especial Indígena]4 (hereinafter JEI, acronym in
Spanish), it has been provided that “[i]n accordance with the
principle of equity and the right to material equality, the maxi-
mum standard of protection shall be applied to Indigenous
Peoples, Black, Afro-Colombian, Raizal and Palenquero
Communities, and the Rrom (gypsy) People, the Indigenous
Peoples, the Black, Afro-Colombian, Raizal and Palenquero
Communities, and the Rrom (gypsy) People shall be applied the

4 Colombian Constitutional Court. Decision T-921 of 2013.


«4.1.1. The Constitution authorizes the authorities of indigenous peoples to exercise jurisdic-
tional functions within their territorial scope, in accordance with their own rules and procedures, as
long as they are not contrary to the Political Charter and the Law. Therefore, the exercise of indige-
nous jurisdiction is not subject to a specific law, since taking into account its constitutional nature, it
cannot be left without effect by the accidental circumstance that there is no law that so provides.
4.1.2. Indigenous jurisdiction was established in Article 246 of the Constitution and is based
on the autonomy of indigenous peoples, ethnic and cultural diversity (Article 7 PC), respect for
pluralism and human dignity (Article 1 PC). Likewise, it is also recognized in various norms of
ILO Convention 169, which is part of the block of constitutionality, such as article 9, according
to which: ‘To the extent compatible with the national legal system and internationally recognized
human rights, the methods traditionally used by the peoples concerned for the repression of crimes
committed by their members shall be respected’”.
392 Polifonías para la equidad racial ENG

highest standard of protection in each case, in accordance with


their particularities and taking into account ethnic and cultural
diversity” (Article 3. ASP Agreement 001. General Regulations
of the JEP, 2020).
In terms of inter-jurisdictional coordination and articu-
lation, Article 35 of Law 1957 of 2019, the statutory norm
for the administration of transitional justice of the JEP, sta-
ted, among other matters, that “[t]he regulations of the JEP
will create mechanisms for the articulation and coordination
with the Special Indigenous Jurisdiction [hereinafter JEI, for
its acronym in Spanish] according to the mandate of Article
246 of the Constitution’’. This led to the incorporation of
mechanisms, tools, principles and guarantees in Chapter 15
of the General Regulations of the JEP, taking up the initiative
of the Ethnic Peoples and subject to prior consultation, for
“the coordination and articulation between the JEP and the
Special Indigenous Jurisdiction, and the Special Indigenous
Jurisdiction, the Special Indigenous Jurisdiction, the Kriss
Romani (system of norms and values) of the Rrom (Gypsy)
people, and the self-justice of the Black, Afro-Colombian,
Raizal and Palenquero communities, whether these are the
Cimarrona Guard [Guardia Cimarrona], Council of Elders
[Consejo de Mayores] or others.”
ThisIt highlights anthis advance in the Colombian legal sce-
nario, taking into account that the General Regulations of the
JEP were consulted with the Ethnic Peoples and that since the
promulgation of the 1991 Political Constitution, the Colombian
State had not issued coordination regulations as provided for in
constitutional article 246.5
5 ARTICLE 246. The authorities of the indigenous peoples may exercise jurisdictional
functions within their territorial scope, in accordance with their own norms and procedures,
provided that they are not contrary to the Constitution and laws of the Republic. The law shall
establish the forms of coordination of this special jurisdiction with the national judicial system.
(Underlined out of text)
The Positioning Of The Legal Systems Of The Ethnic
ENG Peoples In The Special Jurisdiction For Peace 393

Through its decisions, the JEP has made it clear that inter-
jurisdictional coordination is an essential component of due
process and that it is not a discretionary or optional exercise.
In fact, it is an obligation and a necessary component for the
JEP to fulfill its mandate of clarifying the truth and adminis-
tering justice for what happened in the context of the internal
armed conflict.
In this regard, the Appeals Section of the JEP, through Order
TP-SA 556 of 2021, when resolving an appeal against a deci-
sion that resolved to dismiss and reject two requests for legal
benefits filed by an indigenous appearing party, upon observing
that this procedural guarantee was omitted, and a severe deci-
sion was adopted by declaring the nullity of the proceedings.
Precisely, it stated:

On this occasion, the coordination and articulation was not


completed, and this deficiency cannot be remedied. There
is no other available measure that substitutes the realization
of the process of articulation and coordination (principle of
validation); it is not a defect that can be remedied through
the consent of the participating parties (principle of ins-
trumentality), it affects the basis of the transitional process
(principle of transcendence) and there is no other available
measure for the process of articulation and coordination
between the JEI and the JEP to take place (principle of
residuality). For all these reasons, there is no other way out
than to declare the nullity of what has been done, that is,
of the decision under attack, so that the process of articu-
lation and coordination can be developed in an adequate
manner, following the guidelines established in this deci-
sion, in Protocol 1 of 2019 of the Ethnic Commission and
in the new regulations of the JEP.
394 Polifonías para la equidad racial ENG

On the other hand, the JEP is called upon to consider the legal
systems of the Ethnic Peoples in the judicial proceedings, not
only to conduct inter-jurisdictional coordination and articula-
tion processes, but also to take up elements that can be incor-
porated into the judicial proceedings and contribute to the
purposes of transitional, restorative and prospective justice in
general, and to guarantee the ethnic-racial approach.
Along these lines, paragraph 3 of Article 45 of the General
Regulations of the JEP states that the Chamber for the
Recognition of Truth and Responsibility “[...] may take into
account principles, logics and rationalities of the justice systems
of ethnic peoples aimed at seeking the truth from the perspec-
tive of conscience, reconciliation, healing and harmonization
between victims and defendants that allow strengthening the
social fabric in the communities, as well as the harmonization
of the territory”.
The application of this provision can be seen in Order SRVR-
079 of 20196, issued in the framework of Case 02, which inves-
tigates the territorial situation of the municipalities of Tumaco,
Ricaurte and Barbacoas in the department of Nariño, on the
occasion of which the Awá People as a collective subject of
rights through their own organizational forms and the Katsa
Su, a large Awá territory, are credited as victims. With this, it is
recognized from the logics and requests of the Ethnic Peoples
that the Territory is a subject of rights.
It should be particularly noted that this was the first deci-
sion in this regard within the Special Jurisdiction for Peace, and
that it was adopted by two Indigenous Magistrates: Magistrate
Belkis Izquierdo Torres and Magistrate Ana Manuela Ochoa
Arias; Subsequently., Ssimilar decisions have been adopted

6 Available on: https://www.coljuristas.org/observatorio_jep/documentos/sala_de_recono-


cimiento/20191112-Auto_SRVR-079_12-noviembre-2019.pdf
The Positioning Of The Legal Systems Of The Ethnic
ENG Peoples In The Special Jurisdiction For Peace 395

recognizing the Territory of the Afro-Colombian Black People


as a victim in Case 027, and in other Cases of this same Chamber,
for example, in Case 05, which investigates the territorial situa-
tion of Northern Cauca and Southern Valle del Cauca where
the ancestral and collective Territory of Çxhab Wala Kiwe8 is
accredited, or Case 04, which investigates the territorial situa-
tion of the Urabá Region, where 69 indigenous territories are
accredited9.
Finally, among the various advances that the Ethnic Peoples
have achieved, is the inclusion of provisions that seek to pro-
vide material guarantees to exercise their rights of participa-
tion and interjurisdictional and inter-justice coordination.
Along these lines, Article 70 of Law 1922 of 2018 states that
“[t]he Executive Secretariat of the JEP shall define mechanisms
and resources necessary and sufficient to ensure that the ethnic
peoples can advance the internal procedures for the dialogue
proposed in this article [mechanisms for interjurisdictional arti-
culation and coordination as defined in the Internal Regulations
of the JEP]” and correspondingly, Article 101 of the General
Regulations of the JEP states that “[t]he draft investment bud-
get of the Executive Secretariat must include a differential item
that guarantees budgetary availability to guarantee effective
access and accessibility to the JEP, so that the provisions of the
ethnic chapter of these regulations are materialized”.
These provisions, which were the initiative of the Ethnic
Peoples and which were incorporated into normative instru-
ments that were the object of prior consultation, reflect this
demand for recognition of rights and redistribution of resour-
ces that would allow them to exercise their rights in access to

7 Review, among others, the Order SRVBIT-158 of 2020. Available on: https://relatoria.jep.
gov.co/documentos/providencias/1/1/Auto_SRVR-158_16-septiembre-2020.docx
8 Available on: https://www.jep.gov.co/especiales1/macrocasos/05.html
9 Available on: https://www.jep.gov.co/especiales1/macrocasos/04.html
396 Polifonías para la equidad racial ENG

the administration of justice. In the ordinary justice scenario,


there are no norms in this regard and the justice administra-
tion exercises carried out by the Peoples and Communities in
their territories are financed with their own resources, even
though in the case of the JEI, it is a functional part of the judi-
cial branch of the public power.

Inter-jurisdictional and inter-justice coordination and


articulation instruments
The Special Jurisdiction for Peace, within the framework of
the (ISTJRNR–Comprehensive System), consulted with the
Indigenous, Black, Afro-Colombian, Raizal, Palenquero and
Rrom-Gypsy Peoples on Law 1922 of 2018, which establishes
the procedural rules of the JEP; on, Agreement 001 of 2018
General Regulations of the JEP, which would later be repea-
led by ASP Agreement 001 of 2020 in which the agreements
protocolized in the consultation were incorporated;, and on
the Protocol for Access, Communication and Participation of
Victims of the Investigation and Indictment Unit.
At the time, the JEP noted that “[p]rior consultation,
beyond a legal duty, constitutes an opportunity to engage in
intercultural dialogues respectful of the ethnic and cultural
diversity of the nation, where the State and ethnic peoples can
work together and materialize the constitutional foundations
of the social rule of law” (Special Jurisdiction for Peace, 2018).
On the occasion of the prior consultation, the JEP and the
Indigenous, Black, Afro-Colombian, Raizal, Palenquero and
Rrom Peoples agreed to formulate collectively with the respec-
tive representative bodies and processes, specific instruments to
guide the inter-jurisdictional or inter-justice coordination and
articulation exercises, as appropriate. As a result, the Ethnic
Commission of the JEP has adopted the following protocols
and guidelines:
The Positioning Of The Legal Systems Of The Ethnic
ENG Peoples In The Special Jurisdiction For Peace 397

• Protocol 01 of 2019 for coordination, interjurisdictional arti-


culation and intercultural dialogue between the Special
Indigenous Jurisdiction and the Special Jurisdiction for Peace.10
• Guideline 02 of 2019 to implement coordination, articula-
tion and intercultural dialogue between the Rrom (Gypsy)
People and the Special Jurisdiction for Peace.11
• Protocol 01 of 2021 for the relationship between the
Special Jurisdiction for Peace and the Black, Afro-
Colombian, Raizal and Palenquero peoples.12

These instruments, which mark a milestone in the history of


the relationship of Ethnic Peoples with the Colombian State in
matters of justice, contain declarations and political positions,
principles, guarantees and socio-legal definitions and practical
guidelines that reflect the effort to articulate diverse legal sys-
tems with common objectives, including contributing to terri-
torial peace and satisfying the rights of individual and collective
victims of the armed conflict; and the expressed willingness of
these collective subjects to participate in the transitional justice
processes and to collaborate harmoniously in a horizontal level
of intercultural dialogue, where their legal systems and their
legitimacy as ethnic authorities are recognized.
Thus, for example, Protocol 01 of 2019 integrates in para-
graph 37 a definition of articulation and coordination between
the JEP-JEI:,

37. Inter-jurisdictional articulation and coordination JEP–


JEI: Inter-jurisdictional articulation and coordination

10 Available on: https://relatoria.jep.gov.co/documentos/providencias/9/Protocolo-001_comi-


sion-etnico-racial_05-junio-2019.docx
11 Available on: https://www.jep.gov.co/Documentos/2020/lineamientos-pueblo-rrom.pdf
12 Available on: https://www.jep.gov.co/Infografas/participacion/Protocolo%20Relaciona-
miento%20JEP%20y%20pueblos%20NARP%209%20febrero%202021%20pag.pdf
398 Polifonías para la equidad racial ENG

includes an exercise of horizontal dialogue between judicial


authorities, to generate mutual understanding and support
in what is required by the corresponding jurisdiction, res-
pecting judicial independence and autonomy. Likewise, it
allows defining the route and coordination mechanisms in
each case, within the framework of respect for autonomy
and the exercise of jurisdictional functions in accordance
with Article 246 of the Political Constitution, including the
times to meet mutual requirements.

This definition is taken up and adapted in Protocol 01 of 2021


for the articulation, agreement, intercultural dialogue and inter-
-justice coordination between the JEP and the Black, Afro-
Colombian, Raizal and Palenquero Communities’ own justice
system, which, among other things, advances in the positioning
of their own institutions and systems, as can be seen in para-
graph 46 of this instrument.

46. Recognition of Own Security Systems. In its relations


with the authorities of the Community Councils and other
organizational forms and expressions of Black, Afro-Co-
lombian, Raizal and Palenquero Communities, the JEP will
recognize and respect their own security systems such as
the Maroon Guard and other protection mechanisms that
exist in the collective, traditional and/or ancestral terri-
tories in the framework of the provisions of the Ethnic
Chapter of the Final Agreement to End of the Conflict
and Build a Stable and Lasting Peace.

Conclusions
The historical processes of vindication of the rights of Indigenous,
Black, Afro-Colombian, Raizal, Palenquero and Rrom Peoples,
The Positioning Of The Legal Systems Of The Ethnic
ENG Peoples In The Special Jurisdiction For Peace 399

in their common stakes and differentiated interests, collectively


managed to position their legal systems in the justice component
of the Comprehensive System of Truth, Justice, Reparation and
Guarantees of Non-Repetition.
This is reflected in the mechanisms of intercultural dialogue
and inter-jurisdictional and inter-justice articulation and coor-
dination that have been established for the relationship with the
Special Jurisdiction for Peace, as well as in the material guaran-
tees that have been recognized by law.
In any case, these advances cannot be read only as exclusive
achievements of the Ethnic Peoples, but as achievements of a
multiethnic and pluricultural Social State of Law that defined
in its political charter the positive valuation of ethnic and cul-
tural diversity and that advances in the generation of conditions
to contribute to the construction of territorial peace.
In addition, the intercultural dialogue processes carried
out and the results obtained in this transitional justice scena-
rio mark a path for the institutions of the different branches of
public power, particularly the judicial branch and the adminis-
trative sector of justice and law, to advance in respectful and
guaranteeing exercises of the collective rights of the Ethnic
Peoples that have a vocation of permanence.
Undoubtedly, the above is insufficient to understand all the
advances in terms of rights of access to justice, participation
and autonomy that the Ethnic Peoples have achieved in this
scenario as a result of the Final Peace Agreement, but it is a
sample that invites to continue supporting this process of vin-
dication and deepening in the contributions that this labora-
tory of coordination between the JEP, the JEI, the Kriss Romani
of the Rrom-Gypsy People, and the Indigenous Justices of the
Black, Afro-Colombian, Raizal and Palenquero People and
Communities provides from the practice.
400 Polifonías para la equidad racial ENG

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O Posicionamento dos Sistemas Jurídicos


dos Povos Étnicos na Jurisdição Especial
para a Paz

Leandro Shinye Jamioy Pasuy

Leandro Shinÿe Jamioy Pasuy é um cabëngbe Kamëntsá (nativo Kamënt-


sá), um advogado com experiência na área de direitos coletivos, direitos
humanos e justiça étnica. Ele ocupou vários cargos em instituições pú-
blicas colombianas no setor de justiça e direito.

Introdução
Antes de tudo, é importante mencionar que o Acordo Final
para o Término do Conflito e a Construção de uma Paz Estável
e Duradoura (doravante, Acordo Final de Paz ou AFP), assi-
nado em 24 de novembro de 2016 pelo governo colombiano e
pela antiga guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da
Colômbia–Exército Popular (doravante, FARC-EP) represen-
tou uma oportunidade de mudança e transição para um Estado
que, entre outras questões, estaria mais aberto aos territórios,
à diversidade étnica e cultural e às vítimas do conflito armado.
Neste sentido, os Povos Étnicos exigiram que “a aborda-
gem étnica estivesse presente na arquitetura do Acordo e em
sua implementação” (Bonilla Valencia, 2020), para a qual exi-
giram desde o início e até o último momento um espaço de
402 Polifonías para la equidad racial POR

participação no cenário da negociação. Isto finalmente lhes per-


mitiu exigir a incorporação do Capítulo Étnico no ponto 6 sobre
a implementação, verificação e endosso do que foi acordado.
De tal forma, isto foi feito através da Comissão Étnica pela
Paz e Defesa dos Direitos Territoriais, que incluiu a Organização
Nacional Indígena da Colômbia (ONIC), Autoridades Indígenas
Tradicionais da Colômbia–Governo Maior e o Conselho Nacional
de Paz Afrocolombiano (CONPA), e cujo objetivo era garantir
a não regressão dos direitos, a participação e a incorporação de
uma abordagem étnica na interpretação e implementação de cada
um dos componentes do Acordo Final de Paz (ONIC, 2019).
Nesta seção, as autoridades e líderes conseguiram que o
Governo Nacional e as FARC-EP reconhecessem que os Povos
Étnicos: contribuíram para o progresso e a construção da paz,
foram vítimas de diferentes formas de discriminação e seria-
mente afetados pelo conflito; e que deveriam ser dadas as máxi-
mas garantias para o exercício e o pleno gozo de seus direitos,
de acordo com suas próprias aspirações, interesses e visões de
mundo (Governo Nacional da Colômbia e & FARC-EP, 2016).
Isto posto, retomou-se os princípios estabelecidos no direito
nacional e internacional e foram adotadas salvaguardas e garan-
tias substanciais para a implementação da abordagem étnica, de
gênero, mulher, família e geração nos vários componentes da
AFP, incluindo o Sistema Integral de Verdade, Justiça, Reparação
e Garantias de Não Repetição (doravante SIVJRNR), em geral,
e com relação ao componente de justiça desse Sistema, em par-
ticular. Cabe acrescentar as ações coerentes com os processos de
reivindicação dos direitos desses sujeitos coletivos, que incorpo-
ram demandas de reconhecimento e redistribuição como parte
dessa projeção de justiça social (Fraser, 2008). No primeiro cená-
rio, recorrendo a “[...] formas de mobilização do direito que pro-
curam minar as injustiças baseadas no status e na estima social
[...]” e no segundo, relacionadas a ações “[que visam corroer as
O Posicionamento dos Sistemas Jurídicos dos Povos
POR Étnicos na Jurisdição Especial para a Paz 403

injustiças da estrutura econômica [...]” (Rodríguez Garavito &


Baquero Díaz, 2015).
Dessa forma esses elementos nos permitem evidenciar o
desenvolvimento do multiculturalismo contra hegemônico,
que segundo Rodríguez Garavito e Baquero Díaz (2015), tem
como elementos definidores a diversidade e a igualdade mate-
rial como reivindicação central, a autodeterminação com as
reparações como princípio orientador, e o status jurídico dos
povos como sujeitos coletivos de direito. Por exemplo, é pos-
sível reconhecer vários desses elementos no parágrafo 2 do
Artigo 4 do Regulamento Geral da JEP, segundo o qual “No
caso das autoridades dos Povos Indígenas; as Comunidades
Negras, Afro-colombianas, Raizales e Palenqueras; e o povo
cigano, os processos, procedimentos e decisões da JEP, dentro
de sua esfera de competência, devem contribuir com as respec-
tivas autoridades para os processos de reparação, para a busca
da satisfação dos direitos das vítimas e para promover garan-
tias de não repetição”.
De modo que, este documento se concentrará em desta-
car alguns dos desenvolvimentos normativos e jurisprudenciais
que mostram progresso no posicionamento dos sistemas jurí-
dicos dos Povos Étnicos na Jurisdição Especial pela Paz, como
resultado das demandas de reconhecimento e redistribuição
dos movimentos dos Povos Indígenas, Povos e Comunidades
Negras e Afrocolombianas, e do Povo Rrom-Cigano. É preciso
esclarecer que o objetivo deste documento não é descrever com-
pletamente todas as realizações da justiça transicional ou apro-
fundar-se em cada uma delas.

Garantias e salvaguardas constitucionais, legais e


regulamentares
A Jurisdição Especial pela Paz, definida no Artigo 1 de seu
Regulamento Geral como “o componente de justiça do Sistema
404 Polifonías para la equidad racial POR

Integral de Verdade, Justiça, Reparação e Não-Repetição


(SIVJRNR), com uma dimensão multiétnica e pluricultural [...]”
(sublinhado fora do texto), é responsável por uma série de obri-
gações estabelecidas no Capítulo Étnico do AFP1 relacionadas
com: respeitar os poderes jurisdicionais das autoridades tradi-
cionais, criar mecanismos de coordenação e articulação inter-
jurisdicionais e interjustiças, incorporar a perspectiva étnica e
cultural, e garantir o direito à participação e consulta.
Embora estas obrigações não sejam novas no contexto
colombiano e derivem principalmente da Constituição Política
de 1991, entre outros instrumentos internacionais aos quais a
Colômbia está vinculada, o fato de terem sido expressamente
reafirmadas na AFP tem permitido um desenvolvimento norma-
tivo progressivo que posiciona os sistemas jurídicos dos povos
étnicos nas diferentes tarefas judiciais desempenhadas pela JEP.
Assim, em um equilíbrio entre o reconhecimento constitucio-
nal e jurídico de sistemas jurídicos diferenciados, o que para os
Povos Indígenas implica o direito à Jurisdição Indígena Especial
(doravante JEI), foi estabelecido que “[d] de acordo com o prin-
cípio de equidade e o direito à igualdade material, o padrão

1 Acordo Final de Paz, 6.2. Capítulo étnico, 6.2.3. Salvaguardas e garantias,


“e. Sobre as vítimas do conflito: “Sistema Integral de Verdade, Justiça, Reparação e Não
Repetição”.’
• A concepção e implementação do Sistema Integral de Verdade, Justiça, Reparação e Não-Re-
petição respeitará o exercício das funções jurisdicionais das autoridades tradicionais dentro
de seu escopo territorial, de acordo com os padrões nacionais e internacionais atuais.
• Na concepção dos diferentes mecanismos judiciais e extrajudiciais acordados com respeito
aos povos étnicos, a perspectiva étnica e cultural será incorporada. O direito à participação e
consulta na definição desses mecanismos será respeitado e garantido, quando apropriado.
• No âmbito da implementação da Jurisdição Especial pela Paz, serão criados mecanismos de arti-
culação e coordenação com a Jurisdição Especial Indígena, de acordo com o mandato do artigo
246 da Constituição e, quando apropriado, com as autoridades ancestrais afro-colombianas.
• Um programa especial de harmonização para a reincorporação de membros desengajados de
povos étnicos que decidam retornar às suas comunidades será acordado com as organizações
representativas dos povos étnicos, a fim de garantir o restabelecimento da harmonia terri-
torial. Será acordada uma estratégia educacional e comunicativa para a disseminação dos
princípios de não discriminação racial e étnica de mulheres, jovens e meninas desvinculadas
do conflito”.
O Posicionamento dos Sistemas Jurídicos dos Povos
POR Étnicos na Jurisdição Especial para a Paz 405

máximo de proteção será aplicado em cada caso aos Povos


Indígenas, Negros, Afro-colombianos, Raizales e Palenqueras,
e ao Povo Rrom (Cigano)”, o padrão máximo de proteção
será aplicado aos Povos Indígenas, Negros, Afrocolombianos,
Raizales e Palenqueras, e ao Povo Rrom (cigano) em cada
caso, de acordo com suas particularidades e levando em conta
a diversidade étnica e cultural” (Artigo 3. Acordo ASP 001.
Regulamento Geral da JEP, 2020).
Em termos de coordenação e articulação interjurisdicional,
o artigo 35 da Lei 1957 de 2019, a regulamentação estatutá-
ria para a administração da justiça transicional do JEP, decla-
rou, entre outros assuntos, que “[o] regulamento do JEP criará
mecanismos de articulação e coordenação com a Jurisdição
Indígena Especial de acordo com o mandato do artigo 246 da
Constituição”. Isto levou ao Regulamento Geral da JEP, assu-
mir a iniciativa dos Povos Étnicos e sujeito a consulta prévia,
incorporando mecanismos, ferramentas, princípios e garantias
no Capítulo 15 para “coordenação e articulação entre a JEP”, a
Jurisdição Indígena Especial, o Kriss Romani (sistema de nor-
mas e valores) do povo Rrom (cigano), e a autojustiça das comu-
nidades Negras, Afro-colombiana, Raizales e Palenqueras, sejam
elas a Guarda Cimarrona, o Conselho de Anciãos ou outras”.
Esse avanço destaca-se, no cenário jurídico colombiano,
levando em conta que o Regulamento Geral da JEP foi consultado
com os Povos Étnicos e que desde a promulgação da Constituição
Política de 1991, o Estado colombiano não havia emitido normas
de coordenação de acordo com o artigo 246 da Constituição.2
Pois bem, a JEP através de suas decisões, deixou claro que
a coordenação interjurisdicional é um componente essencial
2 ARTIGO 246. As autoridades dos povos indígenas podem exercer funções jurisdicio-
nais dentro de seu âmbito territorial, de acordo com suas próprias regras e procedimentos,
desde que estas não sejam contrárias à Constituição e às leis da República. A lei estabelecerá
as formas de coordenação desta jurisdição especial com o sistema judicial nacional. (Sublin-
hado fora do texto).
406 Polifonías para la equidad racial POR

do devido processo e que não é um exercício discricionário ou


opcional. De fato, é uma obrigação e um componente necessá-
rio para a JEP cumprir seu mandato de esclarecer a verdade e
administrar a justiça sobre o que aconteceu no contexto do con-
flito armado interno.
Por um lado, a Seção de Recursos da JEP, no Auto TP-SA 556
de 2021, ao decidir sobre um recurso de apelação contra uma
decisão que resolvia não admitir e rejeitar dois pedidos de bene-
fícios legais apresentados por um indígena, e observando que
esta garantia processual havia sido omitida, adotou uma deci-
são severa declarando a nulidade do processo. Precisamente,
ele afirmou:

Nesta ocasião, a coordenação e articulação não foi com-


pletada, e esta deficiência não pode ser remediada. Não
há outra medida disponível para substituir o processo de
articulação e coordenação (princípio da validação); não é
um defeito que possa ser remediado através do consenti-
mento dos participantes (princípio da instrumentalidade),
afeta os fundamentos do processo de transição (princípio
da transcendência) e não há outra medida disponível para
que o processo de articulação e coordenação entre a JEI e
a JEP ocorra (princípio da instrumentalidade). Por todas
estas razões, não há outra saída que declarar a anulação do
processo, ou seja, da decisão sob ataque, para que o pro-
cesso de articulação e coordenação possa se desenvolver
de forma apropriada, seguindo as diretrizes estabelecidas
nesta decisão, no Protocolo 1 de 2019 da Comissão Étnica
e no novo regulamento da JEP.

Por outro lado, a JEP é chamada a considerar os sistemas


jurídicos dos Povos Étnicos nos processos judiciais, não ape-
nas para realizar processos de coordenação e articulação
O Posicionamento dos Sistemas Jurídicos dos Povos
POR Étnicos na Jurisdição Especial para a Paz 407

interjurisdicionais, mas também para assumir elementos que


possam ser incorporados aos processos judiciais e contribuir
para os objetivos de justiça transitória, restaurativa e prospec-
tiva em geral, e para garantir a abordagem étnico-racial.
Neste sentido, o parágrafo 3 do artigo 45 do Regulamento
Geral da JEP estabelece que a Câmara de Reconhecimento da
Verdade e Responsabilidade “[...] pode levar em conta princí-
pios, lógicas e racionalidades dos sistemas de justiça dos povos
étnicos, visando a busca da verdade a partir da perspectiva da
consciência, da reconciliação, da cura e da harmonização entre
vítimas e réus que permitam o fortalecimento do tecido comu-
nitário, bem como a harmonização do território”.
A aplicação desta disposição pode ser vista no Auto SRVR-
079 de 20193, emitido no âmbito do Processo 02, que inves-
tiga a situação territorial dos municípios de Tumaco, Ricaurte
e Barbacoas no departamento de Nariño, na ocasião do qual
o Povo Awá foi credenciado como sujeito coletivo de direitos
através de suas próprias formas de organização e o Katsa Su,
um grande território Awá. Dessa forma, a lógica e os pedidos
dos Povos Étnicos reconhecem que o Território é um sujeito
de direitos.
É particularmente notável que essa foi a primeira decisão
a este respeito dentro da Jurisdição Especial para a Paz, e que
foi adotada por dois Magistrados Indígenas: O magistrado
Belkis Izquierdo Torres e a magistrada Ana Manuela Ochoa
Arias; Posteriormente, decisões similares foram adotadas reco-
nhecendo o Território do Povo Negro Afro-colombiano como
vítima no Caso 02, e em outros casos desta mesma Câmara,
por exemplo, no Caso 05, que investiga a situação territorial
do Norte de Cauca e Sul do Valle del Cauca, onde o Território

3 Disponível em: https://www.coljuristas.org/observatorio_jep/documentos/sala_de_reco-


nocimiento/20191112-Auto_SRVR-079_12-noviembre-2019.pdf
408 Polifonías para la equidad racial POR

ancestral e coletivo do Çxhab Wala Kiwe é acreditado, ou no


Caso 04, que investiga a situação territorial da Região de Urabá,
onde encontram-se acreditados 69 territórios indígenas4.
Finalmente, entre os vários avanços alcançados pelos Povos
Étnicos, encontra-se a inclusão de disposições que visam for-
necer garantias materiais para o exercício de seus direitos de
participação e coordenação interjurisdicional e interjurisdicio-
nal. Dessa forma, o artigo 70 da Lei 1922 de 2018 estabelece
que “a Secretaria Executiva da JEP deverá definir mecanismos
e recursos necessários e suficientes para garantir que os povos
étnicos possam avançar nos procedimentos internos para o diá-
logo proposto neste artigo [mecanismos de articulação e coor-
denação interjurisdicional como definidos no Regulamento
Interno da JEP]” e de forma correspondente, o artigo 101 do
Regulamento Geral da JEP estabelece que “[o] projeto de orça-
mento de investimento da Secretaria Executiva deve incluir
um item diferencial que garanta a disponibilidade orçamen-
tária para garantir o acesso efetivo e a acessibilidade à JEP, de
modo que as disposições do capítulo étnico deste regulamento
sejam implementadas”.
Essas disposições, que foram a iniciativa dos Povos Étnicos e
incorporadas em instrumentos normativos, objetos de consulta
prévia, refletem esta exigência de reconhecimento de direitos e
de uma redistribuição de recursos que lhes permitiria exercer
seus direitos no acesso à administração da justiça. No sistema
de justiça comum, não há regulamentação com relação a isso, e
os exercícios de administração da justiça realizados pelos Povos
e Comunidades em seus territórios são financiados com recur-
sos próprios, ainda que, no caso da JEI, ela seja uma parte fun-
cional do poder público.

4 Disponível em: https://www.jep.gov.co/especiales1/macrocasos/04.html


O Posicionamento dos Sistemas Jurídicos dos Povos
POR Étnicos na Jurisdição Especial para a Paz 409

Instrumentos de coordenação e articulação


interjurisdicional e interjustiças
A Jurisdição Especial pela Paz, no âmbito do SIVJRNR, con-
sultou os Povos Indígenas, Negros, Afrocolombianos, Raizales,
Palenqueras e Rrom-Ciganos sobre a Lei 1922 de 2018, que
estabelece as regras de procedimento da JEP, Acordo 001 de
2018 Regulamento Geral da JEP, que seria posteriormente revo-
gada pelo Acordo ASP 001 de 2020, incorporando os acor-
dos protocolados na consulta, e o Protocolo sobre Acesso,
Comunicação e Participação das Vítimas da Unidade de
Investigação e Acusação.
Na ocasião, a JEP observou que “[a] consulta prévia, além
de um dever legal, constitui uma oportunidade de se engajar
em diálogos interculturais que respeitem a diversidade étnica
e cultural da nação, onde o Estado e os povos étnicos possam
trabalhar juntos e materializar os fundamentos constitucionais
do Estado social de direito” (Jurisdicción Especial para la Paz,
2018).

• Por ocasião da consulta prévia, a JEP e os Povos Indígenas,


Negros, Afrocolombianos, Raizales, Palenqueras e Rrom
concordaram em formular coletivamente, com os respec-
tivos órgãos e processos representativos, instrumentos
específicos para orientar os exercícios de coordenação e
articulação interjurisdicionais ou interjurisdicionais, con-
forme o caso. Como resultado, a Comissão Étnica da JEP
adotou os seguintes protocolos e diretrizes:
• Protocolo 01 de 2019 para a coordenação, articulação
interjurisdicional e diálogo intercultural entre a Jurisdição
Indígena Especial e a Jurisdição Especial para a Paz5.

5 Disponível em: https://relatoria.jep.gov.co/documentos/providencias/9/Protocolo-001_


comision-etnico-racial_05-junio-2019.docx
410 Polifonías para la equidad racial POR

• Diretriz 02 de 2019 para implementar a coordenação, arti-


culação e diálogo intercultural entre o Povo Rrom (Cigano)
e a Jurisdição Especial para a Paz6.
• Protocolo 01 de 2021 para a relação entre a Jurisdição
Especial para a Paz e os povos negro, afro-colombiano,
Raizales e Palenqueras7.

Esses instrumentos, que apontam um marco na história da


relação entre Povos Étnicos e o Estado Colombiano em maté-
ria de justiça, contêm declarações e posições políticas, princí-
pios, garantias e definições sócio legais e diretrizes práticas que
refletem o esforço de articular diversos sistemas jurídicos com
objetivos comuns, incluindo a contribuição para a paz territo-
rial e a satisfação dos direitos das vítimas individuais e coleti-
vas do conflito armado; e a vontade expressa por esses sujeitos
coletivos de participar dos processos de justiça transitória e de
colaborar harmoniosamente em um nível horizontal de diálogo
intercultural, onde seus sistemas jurídicos e sua legitimidade
como autoridades étnicas são reconhecidos.
Assim, por exemplo, o Protocolo 01 de 2019 inclui no pará-
grafo 37 uma definição de articulação e coordenação JEP-JEI,

37. Articulação e coordenação interjurisdicional JEP–JEI:


A articulação e coordenação interjurisdicional compreende
um exercício de diálogo horizontal entre autoridades judi-
ciais, a fim de gerar entendimento mútuo e apoio no que é
exigido pela jurisdição correspondente, respeitando a inde-
pendência e autonomia judicial. Também permite definir
a rota e os mecanismos de coordenação em cada caso, no
âmbito do respeito à autonomia e ao exercício das funções

6 Disponível em: https://www.jep.gov.co/Documentos/2020/lineamientos-pueblo-rrom.pdf


7 Disponível em: https://www.jep.gov.co/Infografas/participacion/Protocolo%20Relacio-
namiento%20JEP%20y%20pueblos%20NARP%209%20febrero%202021%20pag.pdf
O Posicionamento dos Sistemas Jurídicos dos Povos
POR Étnicos na Jurisdição Especial para a Paz 411

jurisdicionais de acordo com o artigo 246 da Constituição


Política, incluindo os prazos para o cumprimento das exi-
gências mútuas.

Esta definição é retomada e adaptada no Protocolo 01 de


2021 para a articulação, acordo, diálogo intercultural e coor-
denação interjustiças entre a JEP e o próprio sistema de jus-
tiça das Comunidades Negras, Afro-colombianas, Raizales e
Palenqueras, que, entre outras coisas, avança no posiciona-
mento de suas próprias instituições e sistemas, como pode ser
visto no parágrafo 46 deste instrumento.

46. Reconhecimento de seus próprios sistemas de segu-


rança. Em suas relações com as autoridades dos Conselhos
Comunitários e outras formas e expressões organizacio-
nais das Comunidades Negra, Afro-colombiana, Raizales
e Palenqueras, a JEP deverá reconhecer e respeitar seus
próprios sistemas de segurança, tais como a Guarda Cima-
rrona e outros mecanismos de proteção que existem nos
territórios coletivos, tradicionais e/ou ancestrais no âmbito
das disposições do Capítulo Étnico do Acordo Final para
a Rescisão do Conflito e a Construção de uma Paz Está-
vel e Duradoura.

Conclusões
Os processos históricos de reivindicação dos direitos dos Povos
Indígenas, Negros, Afro-colombianos, Raizales, Palenqueras e
Rrom, em seus interesses comuns e diferenciados, consegui-
ram posicionar coletivamente seus sistemas jurídicos no com-
ponente de justiça do Sistema Integral de Verdade, Justiça,
Reparação e Garantias de Não Repetição.
De forma que, isto se reflete nos mecanismos de diálogo
intercultural e articulação e coordenação interjurisdicional e
412 Polifonías para la equidad racial POR

interjustiças que foram estabelecidos para o relacionamento


com a Jurisdição Especial pela Paz, assim como nas garantias
materiais que foram reconhecidas por lei.
Em qualquer caso, esses avanços não podem ser lidos ape-
nas como conquistas exclusivas dos Povos Étnicos, mas sim
como conquistas de um Estado Social multiétnico e pluricultu-
ral regido pelo Estado de Direito que definiu em sua carta polí-
tica a valorização positiva da diversidade étnica e cultural e que
está progredindo na geração de condições para contribuir para
a construção da paz territorial.
Além disso, os processos de diálogo intercultural e os resul-
tados obtidos neste cenário de justiça transicional marcam um
caminho para que as instituições dos diferentes ramos do poder
público e, em particular, o poder judiciário e o setor adminis-
trativo de justiça e direito, avancem em exercícios respeitosos
que garantam os direitos coletivos dos Povos Étnicos e tenham
vocação de permanência.
Sem dúvida, o acima exposto é insuficiente para enten-
der todos os avanços em termos de direitos de acesso à jus-
tiça, participação e autonomia que os Povos Étnicos alcançaram
neste cenário como resultado do Acordo de Paz Final, entre-
tanto, é um exemplo que nos convida a continuar apoiando
este processo de reivindicação, aprofundando as contribui-
ções práticas fornecidas por este laboratório de coordenação
entre a JEP, a JEI, a Kriss Romani do Povo Cigano e os Juízes
Indígenas das Comunidades Negras, Afro-colombiana, Raizales
e Palenqueras.
O Posicionamento dos Sistemas Jurídicos dos Povos
POR Étnicos na Jurisdição Especial para a Paz 413

Referências:
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Del Conflicto Y La Construcción De Una Paz Estable Y Duradera,
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via con los pueblos étnicos. https://www.jep.gov.co/Sala-de-Prensa/
Paginas/Así-avanza-la-consulta-previa-con-los-pueblos-étnicos.aspx
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Reconocimiento con redistribución. El derecho y la justicia étnico-
-racial en América Latina. Centro de Estudios de Derecho, Justicia
y Sociedad Dejusticia.
C UA RTA PA RTE

LA LARGA LUCHA
NEGRA

ANA MÍRIA DOS SANTOS CARVALHO CARINHANHA

Desafíos y potencialidades para enfrentar


el racismo en Brasil.

JULIETH BALANTA ZÚÑIGA

Población afrodescendiente en Colombia y sus procesos


de activismo político.

CAROLINE MENDES BISPO

Encarcelamiento femenino en Brasil y Covid-19:


un análisis crítico del caso de Acre.
ESPAÑOL

Desafíos y potencialidades para enfrentar


el racismo en Brasil

Ana Míria dos Santos Carvalho Carinhanha

Artista, mediadora, investigadora y jurista. Doctora en Sociología y De-


recho por la Universidad Federal Fluminense, Magíster en Criminolo-
gía por la Université Catholique de Louvain, Licenciada en Derecho
por la Universidad Estatal de Bahía y Licenciada en Letras con espe-
cialidad en Política y Gestión Cultural por la Universidad Federal de
Bahía. Investigadora del Grupo de Investigación en Criminología (GP-
CRIM–UNEB/UEFS) y Anastácia Bantu (UFF). Forma parte del grupo
de “activismo” Son de Preta. Coordinadora de investigación de la Ini-
ciativa Negra por una Nueva Política de Drogas y miembro de la Plata-
forma de Equidad Racial de las Américas (PERA).

Introducción

Después de casi 400 años de esclavitud de los negros y 133


años de una abolición inconclusa, la población brasileña sigue
teniendo múltiples caras de racismo que imprimen condiciones
desiguales de vida y muerte para los negros y los no negros en
el país. La desigualdad económica, el hambre, el negacionismo
del actual gobierno federal en cuanto a las políticas de preven-
ción y enfrentamiento del Covid-19, así como el retraso en la
418 Polifonías para la equidad racial ESP

vacunación, la falta y la precariedad del empleo, la insuficiencia


de las políticas sociales, el colapso del sistema de salud, la vio-
lencia estatal y el encarcelamiento son algunos de los elementos
que podemos citar como contribuciones al genocidio cotidiano
al que está sometida la población negra en Brasil, situación que
se repite en otros países del sur global con respecto a la violen-
cia perpetrada contra las poblaciones no blancas.
La combinación de racismo, colonialismo e imperialismo
fundó uno de los hitos sociales más crueles de nuestra historia,
la esclavización de hombres y mujeres negros traídos del conti-
nente africano y asimilados mediante la tortura, la violación, el
asesinato y una serie de otras formas de violencia. Desde enton-
ces estamos comprometidos en un proyecto de supervivencia
que va desde el enfrentamiento al racismo científico y sus polí-
ticas eugenistas de blanqueamiento y aniquilación manifiesta,
hasta la desmitificación del racismo cultural o de las narrativas
de la meritocracia y la democracia racial que instituyen diferen-
cias raciales materiales en la vida de los brasileños.
Estamos, por tanto, ante una realidad compleja en cuanto a
la confrontación del racismo (estructural, institucional e indi-
vidual) que se perpetúa y actualiza en el tiempo/espacio, y que
resulta bastante desafiante en cuanto a la actual coyuntura polí-
tica/económica/social/sanitaria marcada por la pandemia del
Covid-19 y por la elección del actual presidente Jair Bolsonaro,
que se posiciona como enemigo manifiesto de las agendas racia-
les al afirmar el “mito de la democracia racial” y manifestar
ideologías y prácticas racistas de forma lúdica y/o a través de
políticas institucionales.
En este ensayo nos propondremos entender racialmente el
estado de situación de algunos indicadores sociales en Brasil,
así como, detenernos en los desafíos que el movimiento por la
justicia racial ha encontrado en el país, especialmente después
de la pandemia del Covid-19 y con la elección del presidente
ESP Desafíos y potencialidades para enfrentar el racismo en Brasil 419

Jair Bolsonaro. Describiremos y analizaremos algunas de las


estrategias de acción y movilización de la “Coalición Negra por
los Derechos”, integrada por organizaciones del movimiento
negro brasileño, para enfrentar el racismo y promover la equi-
dad racial en Brasil desde 2019.

I) Lo que las pruebas nos dicen sobre la realidad racial de


la población brasileña
Las condiciones de vida y muerte de la población brasileña son
muy diferentes si son considerados marcadores sociales de dife-
rencia de género como la raza, la clase, etc. En cuanto a la raza
y el género, por ejemplo, es posible observar a simple vista que
las mujeres y los negros están infrarrepresentados en los espa-
cios de poder y, por el contrario, sobrerrepresentados en los
espacios de estigmatización y vulnerabilidad. Dedicaremos este
apartado a observar algunos indicadores sociales en Brasil des-
glosados por raza/color para tener un panorama actual de lo
que nos dicen sobre la población en términos de trabajo, ingre-
sos, educación, representación política, etc.
Según los datos de la Encuesta Nacional de Hogares (PNAD)
de 2019, el 42,7% de los brasileños se declaran blancos, el 56,2%
se declaran negros (el 46,8% morenos, el 9,4% negros) y el 1,1%
amarillos o indígenas1. Según el boletín “Desigualdades sociales
por color o raza en Brasil”2 (IBGE, 2019), durante 2018, den-
tro del mercado laboral el 68,6% de los puestos directivos fue-
ron ocupados por personas blancas, mientras que solo el 29,9%
de los puestos directivos fueron ocupados por personas negras
o morenas. En el trabajo informal, en cambio, se observa que el
46,9% de los hombres en ocupaciones informales son negros

1 Disponible en: https://educa.ibge.gov.br/jovens/conheca-o-brasil/populacao/18319-cor-


ou-raca.html
2 Disponible en: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101681_informativo.
pdf
420 Polifonías para la equidad racial ESP

y morenos y el 34,4% son blancos. Entre las mujeres que ejer-


cen ocupaciones informales, el 47,8% son negras y morenas y el
34,7% son blancas.
La observación de la “Renta media real habitual del trabajo
principal de los ocupados (R$/mes)” nos muestra que los blan-
cos ganan un promedio de 2.796 reales frente a los 1.608 que
ganan en promedio los morenos, y en particular que, en ocupa-
ciones formales, la renta media observada entre los blancos es
de 3.282 reales, y de 2.082 entre los negros y morenos. En las
ocupaciones informales, la media de ingresos observada es de
1.814 entre los blancos y de 1.050 entre los negros o morenos.
En el ámbito de la educación, la tasa de analfabetismo entre
las personas de 15 años o más es del 9,1% entre los negros y
mestizos y del 3,9% entre los blancos.
En cuanto a la distribución de los ingresos y las condiciones
de la vivienda, en 2018 se observó que el 41,7% de las perso-
nas que se encontraban por debajo de los umbrales de pobreza
eran negras frente a un 19% blancas.
Con relación al porcentaje de personas que viven en hoga-
res sin acceso a servicios de saneamiento, la misma investigación
nos muestra que el 12,5% de los negros y mestizos no tienen
acceso a la recogida directa o indirecta de basuras, frente al
6% de los blancos; el 17,9% de los negros y mestizos no tienen
acceso al suministro de agua de red, frente al 11,5% de los blan-
cos; el 44,5% de los negros y mestizos viven sin al menos un ser-
vicio de saneamiento, frente al 27,9% de los blancos.
En cuanto a la tasa de homicidios entre blancos y negros en
2017, considerando hombres y mujeres, la tasa entre los blancos
fue de 34 homicidios por cada 100.000 jóvenes, mientras que
entre los negros y mestizos la tasa fue de 98,5 homicidios por
cada 100.000 jóvenes, lo que significa que un joven negro tiene
casi tres veces más posibilidades de ser asesinado en Brasil que
un joven blanco.
ESP Desafíos y potencialidades para enfrentar el racismo en Brasil 421

Según el Atlas de la Violencia (2020, p. 47), los negros repre-


sentan el 75,7% de las víctimas de homicidio en el país y las
mujeres negras el 68% de todas las mujeres asesinadas en Brasil.
El Anuario de la Seguridad Pública (2020) también nos
informa de la sobrerrepresentación de los negros entre las víc-
timas de la letalidad policial, que corresponde al 74,4% del
total de víctimas entre los civiles y al 65,1% de los agentes de
seguridad asesinados el año pasado. El estudio demuestra que:
“La comparación de la tasa por cada 100.000 habitantes indica
que la mortalidad entre las personas de raza negra como conse-
cuencia de las intervenciones policiales es un 183,2% superior a
la tasa entre los blancos. Mientras que entre los blancos la tasa es
de 1,5 por cada 100.000 habitantes blancos, entre los negros
es de 4,2 por cada 100.000 negros” (Anuario de Seguridad
Pública, 2020, p. 90-91).
Con respecto a la violencia contra las mujeres, el Anuario de
Seguridad Pública (2020) nos informa que “En 2019, el 66,6%
de las víctimas de feminicidio en Brasil eran negras. Las muje-
res negras corresponden al 53,6% de las víctimas de mortalidad
materna” (SIM/Ministerio de Salud/2015) y al 65,9% de las
víctimas de violencia obstétrica (Cuadernos de Salud Publica
30, 2014, Fiocruz).
En cuanto al encarcelamiento, Brasil es actualmente el ter-
cer país con mayor población carcelaria del mundo, con más de
773.000 personas en prisión en 2020 (INFOPEN, 2017), solo
por detrás de Estados Unidos y China, respectivamente con 2,1
millones y 1,7 millones (ICPR–Institute for Crime & Justice
Research, 2020). En los últimos 16 años, el número de mujeres
encarceladas en Brasil ha crecido más del 600%.
Por un lado, el Informe de Información Penitenciaria de Brasil
(INFOPEN, 2019, p. 32) nos muestra que la población negra
corresponde a aproximadamente el 64% de la población carcela-
ria. En este sentido, también es importante señalar que, en 2019,
422 Polifonías para la equidad racial ESP

el INFOPEN informó que hay 268.438 presos provisionales en


los centros penitenciarios de Brasil, lo que significa decir que el
34,7% de la población penitenciaria nacional ni siquiera ha sido
condenada en primera instancia (INFOPEN, 2019). También se
observa que, mientras que el 25% de los delitos por los que res-
ponden los hombres están relacionados con el tráfico de drogas,
en el caso de las mujeres esta proporción alcanza el 62%. Según
Infopen Mujeres (2017), el 62,5% de la población penitenciaria
femenina en Brasil está compuesta por mujeres negras, la mayo-
ría de las cuales tiene educación primaria incompleta.
Por otro lado, en cuanto a la representación política, en 2018,
solo el 24,4% de los diputados federales electos eran negros
o morenos, mientras que el 75,6% de los diputados federales
eran blancos y otros. Entre los diputados estatales, el 28,9%
son negros o morenos y el 71,1% son blancos y otros. La mayor
representación de negros se da entre los concejales, que repre-
sentan el 42,1% de los elegidos, frente al 57,9% de blancos y
otros concejales.
Estos datos reflejan cómo el racismo ha forjado y organizado
la sociedad brasileña desde el período de la esclavitud, y cómo
los efectos del racismo se despliegan en la permanencia a largo
plazo. Además de los males del racismo, estos datos también
representan la posibilidad de evidenciar en números la decons-
trucción del mito de la democracia racial y, a pesar del conte-
nido, este hecho puede ser entendido como un avance respecto
a la cuestión racial en Brasil, en el sentido de que es posible
establecer evidencias para subsidiar las discusiones y la formu-
lación de políticas públicas y acciones afirmativas.

II) Avances en la lucha contra el racismo y la promoción


de la igualdad racial en Brasil
Desde el proceso de reapertura democrática en Brasil, los movi-
mientos sociales, incluido el movimiento negro, se organizan y
ESP Desafíos y potencialidades para enfrentar el racismo en Brasil 423

luchan por producir datos para influir en la toma de decisiones


en la política institucional, la producción legislativa y la produc-
ción de políticas públicas.
En este sentido, cabe destacar que nuestra actual capacidad
de producir datos sobre la cuestión racial en Brasil juega un
papel importante “para desnaturalizar la coincidencia que erró-
neamente se presenta entre las desigualdades sociales y las des-
igualdades raciales, concibiendo la cuestión racial como un mero
subproducto de la desigualdad socioeconómica” (IPEA, 2011,
P.13 ) y puede entenderse como un avance relacionado con la
creación y desarrollo de la Secretaría de Políticas de Promoción
de la Igualdad Racial de la Presidencia de la República (SEPPIR/
PR), creada por el gobierno federal en 2003, como “reconoci-
miento del alegato de los movimientos sociales negros respecto a
la necesidad de una institucionalidad para la formulación, coor-
dinación y articulación de políticas y directrices gubernamenta-
les para la promoción de la igualdad racial” (IPEA, 2011, P.13).
Cabe señalar que la SEPPIR se extinguió en 2015 y se incor-
poró al Ministerio de la Mujer, la Igualdad Racial y los Derechos
Humanos, lo que fue visto como un paso atrás por muchas per-
sonas dentro del movimiento negro, ya que una sola persona
pasó a representar todas las carteras.
Además de la producción de datos, nos gustaría destacar la
Constitución Federal de 1988 y las legislaciones sobre discrimi-
nación racial en Brasil como logros para la población brasileña.
Entre las legislaciones podemos citar las siguientes como ins-
trumentos importantes para la protección y realización de los
derechos de la población negra: I) en la Constitución Federal,
a) el Art. 3, IV, CF que prevé la promoción del bienestar de
todos, sin prejuicio de origen, raza, sexo, color, edad y cual-
quier otra forma de discriminación como objetivos fundamen-
tales de la República Federativa de Brasil; b) el Art. 4, II y VIII,
CF que prevé que la República Federativa de Brasil regirá sus
424 Polifonías para la equidad racial ESP

relaciones internacionales por los principios de II–prevalencia


de los derechos humanos; y VIII–repudio al terrorismo y al
racismo; c) el Art. 5, XLI, XLII, establece que “Todos son igua-
les ante la ley, sin distinción alguna, garantizando a los brasile-
ños y a los extranjeros residentes en el país la inviolabilidad del
derecho a la vida, a la libertad, a la igualdad, a la seguridad y a
la prosperidad”, y que determina que “la práctica del racismo
constituye un delito imprescriptible, no excarcelable, sujeto a
prisión en los términos de la ley” y dispone que “la ley castigará
cualquier discriminación contra los derechos y libertades fun-
damentales”; d) el art. 7, XXX, CF, describe la prohibición de
diferencias en los salarios, en el ejercicio de las funciones y en
los criterios de admisión basados en el sexo, la edad, el color o
el estado civil; e) el art. 215. § 1°, CF informa que el Estado pro-
tegerá las manifestaciones de las culturas populares, indígenas y
afrobrasileñas y las de otros grupos que participan en el proceso
civilizador nacional; y f) art. 216. El § 5°, CF, determina derri-
bar todos los documentos y sitios con reminiscencias históricas
de los antiguos quilombos. Además, el artículo 68 de la Ley de
Disposiciones Constitucionales Transitorias (ADCT) estipula
que el Estado debe emitir los títulos respectivos a las comuni-
dades quilombolas restantes que están ocupando sus tierras y
que se ha reconocido la propiedad definitiva.
También, podemos citar normas constitucionales como:
a) la Ley Caó: Ley Nº 7.716/1989, que reglamentó la disposi-
ción constitucional y definió los delitos resultantes de prejuicios
de raza o color, b) la Ley Nº 9.459/1997, que amplió el alcance
de la Ley Caó al incluir, en el artículo 1, el castigo de los delitos
resultantes de la discriminación y los prejuicios de etnia, origen
nacional; al incluir, en el artículo 20, un tipo penal más general
para el delito de prejuicio y discriminación: “Practicar, indu-
cir o incitar a la discriminación o a los prejuicios contra la raza,
el color, la etnia, la religión o el origen nacional”; y al crear un
ESP Desafíos y potencialidades para enfrentar el racismo en Brasil 425

tipo cualificado de injuria en el Código Penal (injuria racial),


mediante la inclusión del párrafo 3 al artículo 140 del Código;
c) la Ley 10639/03, que modifica la Ley nº 9. 394/96, y esta-
blece la obligatoriedad de la enseñanza de la historia y la cul-
tura afrobrasileña y africana en las escuelas públicas y privadas
de enseñanza básica; d) el Estatuto de Igualdad Racial, Ley 12.
288/2010, se considera la principal referencia para el enfrenta-
miento del racismo y la promoción de la igualdad racial en el
país; e) Ley 12.711/12 que establece las cuotas sociales y racia-
les en las Instituciones Educativas (IFES); f) Ley 12. 990/14,
que establece cuotas raciales en los concursos públicos federa-
les; g) la Ordenanza 13/2016, del Ministerio de Educación, que
induce la creación de cuotas en los estudios de posgrado, h) la
decisión del Tribunal Superior Electoral (2020), que determina
que los partidos políticos deben garantizar políticas de acción
afirmativa para que los candidatos negros tengan un acceso
adecuado al fondo partidario electoral y al tiempo de televisión.
Los avances legislativos realizados en Brasil en materia de
lucha contra el racismo y promoción de la igualdad racial con-
trastan, sin embargo, con la aplicación de estas normas, que nos
hace avanzar a pasos lentos hacia la consecución de la plena
dignidad y el acceso a los derechos de todos los ciudadanos.
Las dificultades de esta lucha han aumentado significativa-
mente en los últimos años, acentuando las desigualdades entre
negros y blancos, y, destacamos como posibles causas: a) la elec-
ción del entonces presidente Jair Bolsonaro, y b) la pandemia del
Covid-19. Abordaremos estas cuestiones en el siguiente apartado.

III) El gobierno de Bolsonaro y el Covid-19 como desafíos


para la lucha antirracista en Brasil
Desde el golpe jurídico-político-mediático que marcó la des-
titución de la ex presidenta Dilma Rousseff en 2016, Brasil ha
seguido una escalada de autoritarismo, desmantelamiento de las
426 Polifonías para la equidad racial ESP

políticas sociales y la implementación de políticas neofascistas


que se consolidaron con la elección del presidente Bolsonaro
y muchos aliados bolsonaristas en diversas arenas políticas del
país y que marcan el retroceso en la lucha contra el racismo y la
promoción de la igualdad racial en el país.
La extinción del Ministerio de la Mujer, Igualdad Racial y
Derechos Humanos y su incorporación al Ministerio de Justicia
y Ciudadanía, medida tomada por el gobierno de Temer en
2016, y su posterior transformación en el Ministerio de la
Mujer, la Familia y los Derechos Humanos bajo el gobierno de
Bolsonaro en 2019, con Damares Alves, una pastora evangélica,
como actual ministra, representaron medidas conservadoras y
fundamentalistas que pusieron en riesgo las políticas de diver-
sidad e inclusión y dificultaron la relación de los movimientos
sociales con el gobierno.
Con la elección del entonces presidente Jair Messias
Bolsonaro, los movimientos negros brasileños organizaron la
“Coalición Negra por los Derechos” en 2019, con el fin de
movilizar a la sociedad civil y realizar incidencia política ante
el congreso nacional, los organismos internacionales de dere-
chos humanos para instituir un espacio de discusión, organiza-
ción y fortalecimiento político para las demandas de dignidad
y justicia en nombre de la población negra.
Desde el golpe de Estado de 2016 y el anuncio de la candi-
datura de Bolsonaro, se ha producido un notable aumento de la
discriminación, el racismo, la desigualdad económica, los ries-
gos socioambientales y las catástrofes, así como el acceso des-
igual a los servicios básicos de educación y salud. Todos estos
problemas se han intensificado con la crisis económica, sanita-
ria y social instaurada con la pandemia del Covid-19, que se vio
potenciada por la incapacidad del gobierno federal para gestio-
narla al adoptar una postura negacionista, sin seguir las reco-
mendaciones de la Organización Mundial de la Salud y, por el
ESP Desafíos y potencialidades para enfrentar el racismo en Brasil 427

contrario, promover aglomeraciones, ignorando las medidas de


prevención, rechazando las vacunas y ofreciendo tratamientos
no probados científicamente para la enfermedad. De esa manera
se utilizó la pandemia para “impulsar” en el Congreso agendas
importantes para la población brasileña, sin la posibilidad de
discutir estos temas, lo que refuerza su postura antidemocrática.
También se observa que durante la pandemia, muchos
gobiernos, especialmente el de Bolsonaro, redujeron o cerra-
ron los servicios públicos, que son utilizados mayoritariamente
por la población negra, lo que dificultó el acceso (que ya era
precario) y provocó aglomeraciones, como se pudo observar en
los transportes públicos como autobuses, trenes y metros. De
hecho, esta combinación de “bolsonarismo” y pandemia ampli-
ficó las desigualdades raciales preexistentes en Brasil en todos
los aspectos posibles.
En cuanto a las desigualdades raciales acentuadas por el
Covid-19 podemos destacar:

la educación, el acceso a servicios de salud y de alta com-


plejidad, el saneamiento básico, la seguridad alimentaria,
la vivienda, el mercado laboral, el acceso a los ingresos y
muchos otros que, directa o indirectamente, favorecen su
exposición al virus y su muerte. Mientras las capas más
privilegiadas de la sociedad —en su mayoría blancas—
disponen de recursos que les aseguran la posibilidad de
cumplir con su aislamiento social trabajando en casa, los
profesionales informales y precarios, en su mayoría negros,
siguen estando cada vez más expuestos. Al fin y al cabo,
son ellos los que hacen posible el alejamiento de este grupo
más privilegiado a costo de su contaminación, tanto por el
desplazamiento como por el ejercicio de ocupaciones más
vulnerables. Y para acceder al sistema de salud esta pobla-
ción se enfrenta a un mayor tiempo de desplazamiento
428 Polifonías para la equidad racial ESP

y a una menor disponibilidad de servicios asociados a


las precarias condiciones de los servicios de salud en las
zonas periféricas donde se concentra la población negra.
(MARINHO et al, 2021)3

A pesar de la infradeclaración de la letalidad del Covid-19 en


Brasil (se estima que al menos el 20% de las muertes por Covid-19
están infradeclaradas), es posible observar la disparidad racial en
el exceso de mortalidad de la población negra en Brasil. Según el
Informativo Desigualdades Raciales y Covid-19 “En Brasil, obser-
vamos un exceso de mortalidad del 27,8% (153 mil muertes) para
las personas negras y morenas en 2020, mientras que para las per-
sonas blancas fue del 17,6% (117 mil muertes)” (MARINHO,
2021, p. 7), 36 mil personas negras más que blancas.
El mismo estudio resume en tres puntos las causas que con-
tribuyen a las disparidades raciales en los resultados durante la
pandemia del Covid-19 (entre los muchos factores que se pue-
den enumerar). Lo son: a) la mayor exposición de la población
negra a la infección por Covid-19, debido a la mayor dificultad
para lograr el distanciamiento social, teniendo en cuenta que
los individuos de raza negra tienen menores ingresos y peo-
res condiciones de hogar, trabajo y transporte público; además
del hecho de que tienen menos oportunidades de trabajar a
distancia, debido a la menor educación, lo cual los hace más
vulnerables; b) el menor nivel socioeconómico también se rela-
ciona con una mayor carga de comorbilidades que aumentan
la letalidad del Covid-19 (como la hipertensión y la diabetes);
c) la letalidad es mayor en las poblaciones con menor acceso
a la atención sanitaria, como es el caso de la población negra
(MARINHO, 2021, p. 12).

3 MARINHO, Fátima. 2021 Boletín de Desigualdades Raciales y COVID-19. Disponible en:


https://cebrap.org.br/wp-content/uploads/2021/03/Informativo-8-Disparidades-raciais-no-ex-
cesso-de-mortalidade-em-tempos-de-COVID-19-em-Sa%CC%83o-Paulo_final.pdf
ESP Desafíos y potencialidades para enfrentar el racismo en Brasil 429

El Boletín de Desigualdades Raciales y Covid-19 aborda las


desigualdades observadas como resultado de una sindemia,
reconociendo que:

los determinantes sociales, políticos y estructurales con-


tribuyen más a las desigualdades en salud que los factores
biológicos o las elecciones personales (Singer et al., 2017).
Las sindemias no son solo comorbilidades. Se caracterizan
por las interacciones biológicas y sociales, que aumentan
la susceptibilidad de la persona a las enfermedades y a
la pérdida de salud a lo largo de la vida (Horton, 2020).
(MARINHO, 2021, p. 17)

Además de estos factores, hay que destacar que los determinan-


tes sociales, políticos y estructurales también están provocando
que la población negra se vacune menos que la blanca.
El observatorio del tercer sector registró que “Brasil vacuna
al doble de blancos que de negros”. En noticias publicadas el
02/04/2021 el observatorio informó que “Según la encuesta de
Pública, en Brasil, hay 3,2 millones de personas que se decla-
ran blancas y que recibieron la primera dosis de la vacuna con-
tra el Covid-19. Ya entre los negros, esta cifra se reduce a algo
más de 1,7 millones” (OBSERVATÓRIO, 2021).
Por lo tanto, la intensificación de las desigualdades deriva-
das de la pandemia del Covid-19 presenta muchos desafíos para
la población brasileña, especialmente la negra, y sobre todo
para los movimientos de justicia racial. La sucesión de políti-
cas sociales de austeridad desde el golpe de Estado de 2016 ha
vuelto a poner a Brasil en el mapa del hambre.
Según André Santos, en un artículo de Carta Capital (2021),
“el IBGE confirmó que en 2018 volvimos a tener un 5% de
la población en estado de hambre”, es decir, en situación de
grave inseguridad alimentaria. Menciona un estudio realizado
430 Polifonías para la equidad racial ESP

por investigadores del núcleo Food for Justice–Power, Politics


and Food Inequality in a Bieconomy, de la Universidad Libre
de Berlín, en colaboración con investigadores de la UFMG y
de la UnB, que “señala que, en diciembre de 2020, la insegu-
ridad alimentaria alcanzó al 59,4% de los hogares brasileños.
El 31,7% se encuentra en situación de inseguridad alimenta-
ria leve, el 12,7% moderada y un terrorífico 15% en situación
de inseguridad alimentaria grave. El estudio también mues-
tra que,

Analizando la división por sexos, en los casos en los que solo


un residente del domicilio es responsable de la manutención
de la familia, vimos que si el cabeza de familia es un hombre,
el hambre alcanza al 13,3% de los hogares, mientras que los
hogares provistos por mujeres alcanzan la cifra del 25,5% en
situación de hambre, casi el doble del índice de los hogares
mantenidos por hombres. Si el corte toma en consideración
la raza o color del único responsable del domicilio, se evi-
dencia que el 48,9% de los hogares conducidos por blancos
poseen algún nivel de inseguridad alimentaria, índice que
aumenta para el 66,8% si el responsable de la familia es
negro y para el 67,8% si el responsable es moreno medio.
En el caso del hambre, el estudio revela que el 23,4% de los
hogares encabezados por negros y el 18,9% de los hogares
encabezados por personas de raza mixta se encuentran en
una situación grave en la que todos los miembros de la fami-
lia, incluidos los niños, carecen de alimentos en la cantidad
y calidad necesarias. (SANTOS, 2021, on line)

Además del aumento del hambre, la pandemia y la negligencia


del gobierno trajeron otros desafíos al movimiento negro bra-
sileño. En observación de las actividades desarrolladas por la
ESP Desafíos y potencialidades para enfrentar el racismo en Brasil 431

Coalición Negra por los Derechos4 buscamos identificar: a) los


principales desafíos que han enfrentado las organizaciones del
movimiento negro; b) sus principales demandas y c) sus estrate-
gias, o el modo de incidencia política utilizado para alcanzar sus
fines políticos (lo que Brasil tiene para enseñar sobre el enfren-
tamiento del racismo y la promoción de la igualdad racial).
En cuanto a los principales retos a los que se han enfren-
tado las organizaciones del movimiento negro, cabe desta-
car el genocidio de los negros, orquestado por una serie de
elementos: la precariedad de las políticas públicas, las des-
igualdades en el acceso a los servicios públicos, la violencia de
Estado, la elaboración de perfiles raciales, la política de dro-
gas, la criminalización de la cultura negra, el racismo religioso,
el asesinato de defensores de los derechos humanos, las viola-
ciones de los derechos de los pueblos tradicionales, el ataque
a la cuestión medioambiental la persecución de la población
LGBT, la violencia contra las mujeres y los feminicidios, el
bolsonarismo, el ataque a la democracia y a las poblaciones
más vulnerables por parte del nuevo gobierno que se opone
a los derechos humanos, la crisis sanitaria que se ha desatado
con la pandemia del Covid-19, la mala gestión de la pande-
mia del Covid-19 por parte del gobierno federal, las redes de
odio y las fake news, los ataques sistemáticos a la prensa y a
los periodistas, la influencia religiosa en nuestro modelo polí-
tico, el tokenismo racial para la desmovilización de la agenda
(ej.: nombramiento de Sérgio Camargo para la presidencia del
Instituto Palmares), el silenciamiento continuo de las luchas

4 Hemos utilizado el seguimiento y la catalogación de los posts de Instagram de la Coalición


Negra por los Derechos, desde su creación hasta la actualidad, como metodología para analizar
los principales retos a los que se han enfrentado las organizaciones del movimiento negro; las
principales reivindicaciones y el modo de incidencia política que la coalición ha utilizado para
conseguir sus fines políticos. De esta manera, buscamos entender cómo se ha movilizado este
movimiento de justicia racial en Brasil.
432 Polifonías para la equidad racial ESP

raciales, la negación del racismo, la falta de transparencia y la


no producción de datos, etc.
Entre las reivindicaciones del movimiento negro durante
este periodo de agravamiento del racismo y sus efectos, pode-
mos citar como principales las acciones y demandas por: la pro-
moción de políticas públicas, la implementación de protocolos
antirracistas a nivel institucional, la rendición de cuentas; la
denuncia del paquete anticrimen (se problematizó la propuesta
del excluyente de ilícitos respecto a los homicidios perpetrados
por agentes de seguridad pública), la denuncia del acuerdo de
Salvaguardias Tecnológicas Brasil-Estados Unidos en Alcântara
(acuerdo realizado entre EE.UU. y Brasil de forma inconstitu-
cional, sin consultar a las comunidades quilombolas afectadas
por la propuesta de ampliación del Centro de Lanzamiento de
Alcântara, en Maranhão, que afecta a más de 700 familias de las
31 comunidades quilombolas del municipio).
Así mismo, también se ha reivindicado la solicitud de inclu-
sión de cláusulas de defensa de los derechos humanos de
la población negra brasileña en el Acuerdo Unión Europea-
Mercosur; la realización de actos públicos contra el genocidio
de la población negra, especialmente en los casos de violencia
de Estado y de muerte perpetrada por los policías en servicio,
incluidos los niños (por ejemplo los asesinatos de Ágatha Félix,
8 años; João Pedro, 14 años; Emilly, 4 años y Rebecca, 7 años;
Masacre de Paraisópolis), la movilización de acciones pidiendo
“¡Justicia para Marielle y Anderson!” (incluyendo acciones en
contra de la federalización de la investigación del homicidio
de Marielle Franco ante las denuncias de que el presidente Jair
Bolsonaro tuvo el interés de interferir en la Policía Federal de
Río de Janeiro para proteger, supuestamente, a su familia de
las investigaciones).
También se han llevado a cabo acciones de denuncia y exi-
gencia de acciones públicas frente a las desigualdades en la
ESP Desafíos y potencialidades para enfrentar el racismo en Brasil 433

prevención y enfrentamiento del Covid-19 en Brasil; exigen-


cia de consideración y votación del PL 2477/20 para la consi-
deración de la actividad doméstica como no esencial durante
la pandemia; acciones contra el recorte de la renta básica de
emergencia, campaña contra un proyecto de ley en el Consejo
Municipal de São Paulo que pretendía acabar con las cuotas
raciales en el servicio público de la ciudad, una campaña con-
tra la Medida Provisional (MP) 1000/20, que reduce el valor de
la ayuda de emergencia a la mitad (300 reales); el lanzamiento
de la Campaña: Vidas Quilombolas Importan, se hizo una nota
de solidaridad con el pueblo afrocolombiano, por el genocidio
y etnocidio de los afrodescendientes, víctimas de la violencia
racista del Estado y de los paramilitares; una nota de repudio
a la propuesta creada por el defensor público federal Jovino
Bento Junior, que busca prohibir y penalizar las políticas afirma-
tivas para la población negra, campañas en reacción al regreso
de Brasil al Mapa del Hambre, acciones en defensa del Sistema
Único de Salud, la campaña #SOS AMAPÁ, apoyo para miti-
gar las consecuencias del apagón resultante de un incendio en
la subestación de energía, acciones de repudio y protesta por la
muerte a golpes de João Alberto Silveira por parte de los guar-
dias de seguridad en el supermercado Carrefour de la ciudad de
Porto Alegre el 20/11/20, acciones de boicot a Carrefour, notas
de repudio a la represión policial en protestas y manifestacio-
nes; actos en respuesta a la desaparición (el 27/12/2020) de
Lucas Matheus, 10 años, Alexandre da Silva, 10 años, Fernando
Henrique, 11 años, tres niños que vivían en Belfort Roxo, en
Río de Janeiro y la falta de información sobre el caso por parte
de la policía hasta el día de hoy.
Aún más, se ha denunciado y exigido que el Gobierno
Federal tome medidas urgentes para combatir los efectos de
la pandemia de Covid-19, en la ciudad de Manaus y en todo
el Estado de Amazonas. El sistema sanitario de la ciudad está
434 Polifonías para la equidad racial ESP

colapsado por la falta de UCI y de suministros vitales (oxígeno)


para mantener con vida a los pacientes del Covid-19, se mani-
fiesta sobre la negligencia del Gobierno Federal en la pandemia
(negación del acceso a la atención sanitaria de la población), se
han realizado movilizaciones por la demanda de Vacuna para
todos, por el SUS y por una Ayuda de Emergencia mínima-
mente digna, se han llevado a cabo movilizaciones de lucha
contra el hambre y exigencia de acciones de combate a la mise-
ria, se ha ofrecido acompañamiento de la demanda contra
Carrefour, debido al asesinato de João Alberto, como resultado
del abordaje de un guardia de seguridad de la cadena de mer-
cados. Y el cargo a las instancias competentes de la rendición
de cuentas de la empresa; aprobación del STF al Argumento de
Incumplimiento de Precepto Fundamental (ADPF 742), pre-
sentado el 14/12/2020 por CONAQ–Coordinadora Nacional
de Articulación de Comunidades Negras Rurales Quilombolas.
Con eso, se ha buscado garantizar la vida y la salud de los qui-
lombolas en la pandemia del Covid-19, exigiendo la inclusión
de los quilombolas en el grupo prioritario de inmunización;
se han hecho movilizaciones contra el PEC 186, que preten-
día aglutinar recursos para la planificación de políticas de edu-
cación y salud, actos y movilizaciones de solidaridad y apoyo
al pueblo de Acre como consecuencia de la crisis sanitaria y
migratoria, se lanzó la campaña “Si hay gente hambrienta, ali-
méntala”, la campaña de recogida de productos de higiene para
la prevención del Covid-19, la campaña de sensibilización para
no pasar adelante de la cola de la vacuna, se publicó el mani-
fiesto dirigido al gobierno de Biden exigiendo que escuche a la
sociedad civil en la negociación de los fondos recibidos por el
gobierno de Bolsonaro para la protección de la Amazonía.
Así mismo, se hizo la denuncia del aumento de los incendios
forestales, de la explotación del territorio por parte de empre-
sas mineras y madereras durante el gobierno de Bolsonaro, que
ESP Desafíos y potencialidades para enfrentar el racismo en Brasil 435

también viola los derechos humanos de los pueblos indígenas


y quilombolas y se expresó repudio a los asesinatos de Bruno
y Yan Barros, en la ciudad de Salvador, Bahía. Los jóvenes que
robaron en el supermercado Atakadão Atakarejo de Amaralina,
fueron torturados y entregados a un grupo de traficantes de la
región y finalmente asesinados. Se hizo nota contra la represión
policial militar promovida por el gobierno de extrema derecha
de Iván Duque, contra los movimientos sociales colombianos
(28 de abril); se han producido notas, acciones, manifestacio-
nes y movilizaciones contra la masacre de Jacarezinho, en la
que murieron 25 personas, y por el cumplimiento del ADPF
de las favelas. Del mismo modo se hizo una petición de respon-
sabilidad del gobernador de Río de Janeiro, una movilización
para la protección de la vida de los congresistas y defensores
de los derechos humanos, manifestaciones en solidaridad con
la activista Sasha Johnson, del movimiento Black Lives Matter
(Vidas Negras Importan), que recibió un disparo en la cabeza
en la madrugada de este lunes (24), en Peckham, Londres,
Inglaterra, entre muchas otras.
Las principales estrategias adoptadas por el movimiento
negro brasileño en su lucha contra el racismo y por la promo-
ción racial consideran la colectividad como un principio comu-
nitario que va en contra de la lógica neoliberal individualista, y
apuntan a un proyecto de país inclusivo donde no haya jerar-
quía entre razas, géneros, clases, etc.
Podemos citar como estrategias las que se han desarrollado
en los dos últimos años:
I) la incidencia jurídica, legislativa y administrativa a nivel
nacional mediante: reuniones y audiencias públicas con dipu-
tados y senadores; convocatoria de Audiencias Públicas; proto-
colo de oficios en los órganos nacionales de seguridad pública
exigiendo la investigación imparcial de la acción del Estado, y
el cambio inmediato de conducta de la policía militar; acciones
436 Polifonías para la equidad racial ESP

dirigidas a acercar a los congresistas a las demandas de la pobla-


ción; búsqueda de reconocimiento y alianzas de/con los con-
gresistas a los actos de la Coalición Negra por los derechos;
presentación de una notificación penal contra el Presidente de
la República Jair Bolsonaro por incitación al delito de infrac-
ción de medida sanitaria preventiva (en el contexto del Covid-
19); exigencia de respuestas institucionales para la prevención
y el tratamiento del Covid-19; exigencia de la identificación y
responsabilidad penal de los policías implicados en las muertes
de personas (incluidos niños) en operaciones policiales.
Además, el 06/03/2020, la Coalición denunció a Sérgio
Camargo, presidente de la Fundación Cultural Palmares al
ministerio público federal por el delito de racismo e impro-
bidad administrativa; el 24 de junio, se votó la demanda de la
Coalición que pedía la anulación de la decisión del ex ministro
de educación, Abraham Weintraub, que intentó suspender las
políticas de cuotas. Así, se mantuvo la ordenanza que estipula
las políticas de acción afirmativa en los estudios de posgrado;
Representación ante el Procurador General de Justicia de São
Paulo contra la Policía Militar de São Paulo y el Gobernador
João Doria, exigiendo que se tomen medidas en el caso de un
comerciante negro de 51 años en Parelheiros, que fue pisoteado
y torturado por un policía militar, el 30 de mayo de 2020.
Aún más, se hizo presentación de un pedido de impeach-
ment contra el actual presidente Jair Bolsonaro (12/08/2020),
ADPF 742 presentada por la Conaq ante el STF debido a la
indiferencia con que el gobierno viene tratando la crisis sanita-
ria de los quilombos, pidiendo una acción de emergencia para
salvar a las comunidades quilombolas del Covid-19; demanda
de responsabilidad legal por los crímenes cometidos por los
oficiales de la Policía Militar del Estado de Amapá, el 19 de
septiembre de 2020, contra la educadora Eliane do Espírito
Santo da Silva; defensa ante el Supremo Tribunal Federal
ESP Desafíos y potencialidades para enfrentar el racismo en Brasil 437

(STF) solicitando que se conceda el amparo concedido por


el Ministro Ricardo Lewandowski, aplicando la decisión del
Tribunal Superior Electoral para las elecciones municipales de
2020, determinando que los partidos políticos garanticen polí-
ticas de acción afirmativa para que los candidatos negros ten-
gan el debido acceso al fondo partidario electoral y al tiempo de
televisión; solicitud de reconsideración de la decisión del TRF-1
a favor de la comunidad quilombola Rio dos Macacos para que
se salvaguarden los derechos básicos, ya que se les impidió el
acceso a las aguas del Rio dos Macacos, Rio do Barroso y otras
fuentes de agua represadas por la represa, única fuente de agua
disponible en la zona.
Dado que la prohibición de acceso a las aguas del embalse
viola el derecho de existencia de la propia comunidad, se llevó a
cabo una acción para que la CNJ mantenga las audiencias de cus-
todia presencial; una acción para la aprobación de la Convención
Interamericana contra el Racismo, la Discriminación Racial y
Formas Conexas de Intolerancia de la Organización de Estados
Americanos mediante quórum calificado, para que tenga vali-
dez de norma constitucional; la Coalición se movilizó y tuvo
una incidencia indirecta para el derrocamiento de la ordenanza
emitida por el presidente de la Fundación Cultural Palmares,
Sérgio Camargo, que eliminó el nombre de referentes del movi-
miento negro brasileño de la lista de personalidades negras
notables de la institución; se hizo proposición del Proyecto de
Ley que prohíbe la conducta, por parte de agentes públicos o
profesionales de la seguridad privada, con carácter prejuicioso
de cualquier naturaleza. El texto fue aprobado en el Senado y
sigue a la Cámara; apoyo al proyecto de resolución para crear,
en la Cámara de los Diputados Federales, la Secretaría de
Igualdad Étnico-Racial; construcción de Comisiones Mixtas de
Parlamentarios y entidades de la Sociedad Civil para el mante-
nimiento de la ayuda de emergencia.
438 Polifonías para la equidad racial ESP

La Coalición Negra por los Derechos también ha actuado


desde una perspectiva transnacional, llevando a cabo una labor
de defensa internacional para ganar visibilidad y tratar de garan-
tizar los derechos de la población negra brasileña a través de la
consideración de los organismos internacionales de derechos
humanos. De esa manera, podemos citar como estrategias uti-
lizadas en los últimos dos años: denuncias ante la Comisión
Interamericana de Derechos Humanos (CIDH) de la OEA;
protocolos de cartas en organismos internacionales exigiendo
una investigación imparcial de la acción del Estado, y el cam-
bio inmediato de conducta de la policía militar en los casos de
exceso; denuncia de los ataques del gobierno de Bolsonaro a
las mujeres periodistas ante el Consejo de Derechos Humanos
de la ONU; y denuncia ante la ONU sobre la negligencia del
gobierno de Bolsonaro con la pandemia y sus impactos en la
población negra y las comunidades quilombolas.
Así mismo, tuvo participación, el 01/10/2020, en la 45ª
Sesión del Consejo de Derechos Humanos de la ONU para
denunciar el Racismo Ambiental y la Discriminación Racial
en el caso de la Ilha de Maré, Salvador–Bahía; y en reuniones
con el Alto Comisionado de Derechos Humanos de la ONU
(OHCHR). Ha hecho propuesta de redes internacionales anti-
rracistas; realización de una audiencia con el relator de dere-
chos humanos de la ONU para denunciar las violaciones de
derechos contra la población negra brasileña, especialmente la
que se encuentra en mayor situación de vulnerabilidad, a saber:
comunidades quilombolas, la juventud negra y periférica, los
niños y los trabajadores y trabajadoras de los servicios conside-
rados esenciales durante la pandemia del Covid-19. También
ha hecho denuncia ante el Alto Comisionado de las Naciones
Unidas para los Derechos Humanos de las violaciones sufridas
contra las mujeres negras y trans (como por ejemplo, las parla-
mentarias Ana Carolina Iara y Érika Hilton); además de buscar
ESP Desafíos y potencialidades para enfrentar el racismo en Brasil 439

el acercamiento a intelectuales, congresistas y grupos antirracis-


tas internacionales.
Se debe agregar que la Coalición Negra por los Derechos
también trae como uno de sus principales pilares (y razón que
justifica su existencia) la incidencia con la sociedad civil. Entre
sus actividades destacamos la convocatoria y participación en
Grupos de Trabajo con congresistas y expertos, la promoción
de debates con la sociedad, la réplica de estudios, la confec-
ción de notas de repudio y solidaridad en diferentes circunstan-
cias para demarcar el posicionamiento político, la realización de
campañas; la confección de documentos rectores, notas y mani-
fiestos, el uso de la radio, la televisión e Internet–gracias a trans-
misiones en vivo (lives) por redes sociales y página web, para
la comunicación y realización de campañas con la población a
través de diferentes medios; la promoción de cursos, capaci-
taciones y actividades informativas, la realización de marchas
callejeras y actos de apoyo o denuncia, la invitación a la pobla-
ción a participar (producción de caricaturas, dibujos anima-
dos, concursos de redacción), la elaboración de un calendario
de lucha (con fechas conmemorativas); la realización de activi-
dades de reconocimiento y valoración de la cultura y la religión
afrobrasileñas, la exposición virtual de obras de arte relaciona-
das con temas antirracistas y la promoción de la igualdad racial
y la valoración de la identidad negra. La valoración de los líde-
res locales y comunitarios, la difusión/instrumentalización de
acciones que dialoguen con la cultura popular (ej: al comienzo
de un partido entre dos grandes equipos, los jugadores guarda-
ron un minuto de silencio y mostraron camisetas estampadas
con nombres de víctimas de la violencia racial en Brasil y con el
número 23, llamando la atención sobre el hecho de que cada 23
minutos, un joven negro es asesinado en Brasil); acciones contra
la intolerancia religiosa, manifestación de pesar en memoria de
militantes y personalidades fallecidas (Ej: Lula Rocha; Maurício
440 Polifonías para la equidad racial ESP

Paixão; Nelson Sargento, etc.), como también la formación de


la Alianza Interreligiosa Antirracista.
Entre las principales acciones propositivas del movi-
miento en el último bienio destacamos: la propuesta de Ley 5.
885/2019 para enfrentar el racismo institucional en la admi-
nistración pública, la conmemoración del Día Internacional
de las Mujeres Negras Latinoamericanas y Caribeñas; el debate
sobre la Revisión Intermedia o el Decenio Internacional de
los Afrodescendientes, la redacción de la carta-programa que
consta de 14 principios y 25 agendas de demandas y exigen-
cias de la Coalición, la propuesta de implementación de una
política de renta básica de emergencia para los más desprotegi-
dos ante la crisis de la Covid-19; el lanzamiento de la campaña
“memoria tiene color” sobre el genocidio de la población negra
en Brasil; el lanzamiento de la campaña “blancos del genoci-
dio” el 21 de marzo, Día Internacional contra la Discriminación
Racial, la Coalición Negra; los actos “Vidas Negras Importan”,
la elaboración y difusión de informes para la formulación de
denuncias (como por ejemplo, a las dificultades en la aplica-
ción de la ayuda de emergencia), el lanzamiento de la cam-
paña/manifiesto “Mientras haya racismo no habrá democracia”
la promoción de la campaña del orgullo LGBT, el apoyo a la
Agenda Marielle Franco y a la PANE–Plataforma Antirracistas
en las Elecciones, lanzada por el Instituto Marielle Franco
como propuesta antirracista para las elecciones municipales
(13/07/2020), la campaña por unas elecciones antirracistas
para que el Tribunal Superior Electoral (TSE) vote la distri-
bución proporcional del Fondo Especial de Financiación de
Campañas y del tiempo de publicidad electoral para los can-
didatos negros. De hecho, la propuesta fue aprobada para las
elecciones de 2022 y debido a un requerimiento favorable juz-
gado por el STF la reserva de recursos fue implementada inme-
diatamente (2020).
ESP Desafíos y potencialidades para enfrentar el racismo en Brasil 441

También podemos contar entre sus acciones a destacar en


esta misma línea la conmemoración de los 5 años de la Marcha
de las Mujeres Negras–contra el racismo, la violencia y por el
buen vivir; la promoción de debates sobre la representación
política, la celebración del Día Internacional de la Mujer Negra
Latinoamericana y del Caribe y el Día Nacional de Tereza de
Benguela, la celebración del cumpleaños de Marielle Franco
(27/07), la campaña por una renta básica permanente; la cele-
bración del 29/08–Día de la Visibilidad Lésbica; el apoyo al
Movimiento Negro de Campina Grande para la aplicación
de cuotas para negros, indígenas, quilombolas y gitanos en la
Universidad Estatal de Paraíba, el apoyo al primer encuentro
nacional de candidatos negros, la celebración del día del maes-
tro, el apoyo a la divulgación del 1er Premio de Periodismo
Neusa Maria para la valorización del periodismo profesional
realizado por personas no blancas y por personas trans; la cam-
paña para la elección de candidatos negros, la campaña Quite
el Racismo del Campo, la marcha de Conciencia Negra 2020,
y el evento para el día Internacional de Combate a la Violencia
contra las mujeres 25/11.
También, el apoyo a la campaña lanzada por CONAQ y tie-
rra de derechos: “Quilombolas contra Racistas”–con una plata-
forma para monitorear y denunciar los discursos de odio racial
pronunciados por las autoridades públicas; el movimiento en
defensa del Valor Anual por Alumno Racial (VAAR) como
modalidad de complementación del Sindicato en los recursos
de FUNDEB, en la intención de garantizar las políticas educa-
tivas de reducción a la desigualdad racial, la movilización para
la defensa de la paridad de género y la reserva de cuotas raciales
del 30%, en relación con las posiciones directivas del Colegio
de Abogados de Brasil.
Además, cabe destacar la celebración del 21 de enero, Día
Nacional de Combate a la Intolerancia Religiosa, instituido por
442 Polifonías para la equidad racial ESP

la Ley nº 11. 365/2007 en memoria de Mãe Gilda de Ogun, que


murió como resultado de la agresión moral, la intolerancia reli-
giosa y la invasión en su Terrero cometida por fundamentalistas
religiosos; la denuncia de defecto irreparable de la Comisión de
Juristas destinada a evaluar y proponer estrategias normativas
de mejora de la legislación de combate al racismo estructural e
institucional en el país, por ausencia de consulta al movimiento
negro (sociedad civil), poniendo en jaque su legitimidad; la par-
ticipación en el Foro Social Mundial–Acción Internacional en
defensa de la vida–denuncias contra el gobierno de Bolsonaro
y el Genocidio de la población; la celebración del 29 de enero–
día de la visibilidad trans, la celebración del Día Internacional
de la Mujer (actos en defensa de la vida de las trabajadoras
domésticas), el apoyo al Instituto Marielle Franco en la acción
Plantando semillas, a través de la cual varios políticos electos
se comprometieron a presentar 12 proyectos de ley presenta-
dos por Marielle en Río, para ser multiplicados en otras ciu-
dades. Uno de los proyectos de ley crea el Día de Marielle
Franco para enfrentar la violencia política contra las mujeres
negras, LGBTQIA+ y periféricas. El 14 de marzo; el recuerdo
del legado de personalidades negras: el ejemplo de Abdias do
Nascimento, Carolina Maria de Jesus y Marielle Franco; la
movilización para la ocupación de espacios políticos por parte
de las mujeres negras, los diálogos sobre el Día Internacional de
la Eliminación de la Discriminación Racial, el apoyo a la cam-
paña “Ni se te ocurra matarme” del Levantamiento Feminista
contra el Feminicidio, la celebración en memoria de Luiza
Bairros (27/03), las movilizaciones por la democracia y la igual-
dad racial 31/03–“Dictadura nunca más”, la celebración del
27/04–Día Nacional de las Trabajadoras Domésticas, la cam-
paña por la ruptura de la patente y la producción de la vacuna,
la celebración del Día Internacional de la Libertad de Prensa
y la reanudación del debate sobre la importancia de que todos
ESP Desafíos y potencialidades para enfrentar el racismo en Brasil 443

los profesionales de los medios de comunicación investiguen y


publiquen la información libremente, los actos y manifestacio-
nes realizados el 13 de mayo en todo el país para el fin de los
genocidios de negros, especialmente los orquestados en opera-
ciones policiales en varios estados de Brasil y en varios países
del extranjero el 13 de mayo–Día Nacional de Lucha contra el
Racismo–Lanzamiento de la campaña “Ni de bala, ni de ham-
bre, ni de Covid-19. Los negros quieren vivir”; apoyo a las
manifestaciones del 29/5 en todo Brasil contra el gobierno de
Bolsonaro y su gestión de Covid-19, celebración del legado de
Abdias do Nascimento, celebración de la historia, la resistencia
y el conocimiento de África el 25/5–Día de África.

Consideraciones finales
A pesar de los avances legislativos para enfrentar el racismo y
promover la igualdad racial desde el período de redemocratiza-
ción del país, los datos sociales de Brasil informan de una des-
igualdad racial sistémica de larga data que se ha agravado desde
la llegada de Michel Temer al poder en 2016. Esto ha alcanzado
un nivel aún más preocupante en el gobierno de Jair Bolsonaro,
cuando se acentuó con la pandemia del Covid-19, de la mano
de una la mala gestión federal de las consiguientes crisis (sani-
taria, económica, social) que se sumaron por dicha coyuntura y
sus antecedentes nacionales y locales.
De modo que, son muchos los desafíos que se plantean
como agravantes del genocidio de los negros en Brasil, que se
manifiesta bajo múltiples caras: violencia estatal/policial, ausen-
cia de políticas públicas de acceso a la salud, vulnerabilidad
laboral, explotación, hambre, etc. Sin embargo, las organiza-
ciones del movimiento negro presentan nuevas oportunidades
de reflexión sobre el racismo y el antirracismo con la moviliza-
ción de la sociedad civil y la realización de la incidencia política
con el congreso nacional y las organizaciones internacionales de
444 Polifonías para la equidad racial ESP

derechos humanos, como ha hecho, por ejemplo, la Coalición


Negra por los Derechos.
En conclusión, es imprescindible estimular la discusión y la
organización social para el fortalecimiento político de las deman-
das de dignidad y justicia de la población negra, y mejorar la
articulación política nacional e internacional. Estimular la ocu-
pación de los espacios de poder ha sido una estrategia impor-
tante para enfrentar el racismo y promover la igualdad racial
en Brasil. En este sentido, además de fortalecer las coaliciones
nacionales en busca de reconocimiento y apoyo externo, la trans-
nacionalización de coaliciones entre países también presenta un
gran potencial para las luchas de los pueblos negros, en tanto
representa una posibilidad de fortalecimiento y reconocimiento
de estos movimientos por parte de las organizaciones naciona-
les e internacionales.

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446 Polifonías para la equidad racial ESP

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ENGLISH

Challenges and potentialities to face


racism in Brazil1

Ana Míria dos Santos Carvalho Carinhanha

Artist, mediator, researcher and jurist. Dr. in Sociology and Law from
the Fluminense Federal University, Master’s degree in Criminology from
the Université Catholique de Louvain, Bachelor in Law from Bahia State
University and Bachelor in Arts with specialization in Politics and Cul-
tural Management from the Federal University of Bahia. Researcher of
the Criminology Research Group (GPCRIM–UNEB/UEFS) and Anas-
tácia Bantu (UFF, Universidade Federal Fluminense). She is part of the
“activism” group Son de Preta. Research coordinator of Black Initiati-
ve for a New Drug Policy and member of the Platform for Racial Equi-
ty Platform ofin the Americas (PERA, for its acronym in Spanish).

Introduction
After almost four hundred years of black slavery, and 133 years
of inconclusive abolition, the Brazilian population continues
having multiple racism faces that impose unequal conditions
of life and death for blacks and non-blacks in the country.
Economic inequality; hunger; the current federal government
denialism concerning the prevention and confrontation of

1 Manuscript submitted to the Racial Equity Platform of the Americas


448 Polifonías para la equidad racial ENG

COVID-19 policies, as well as the vaccination delay; the lack


and precariousness of employment; the inadequacy of social
policies; the health system collapse; state violence and incar-
ceration are some of the elements that we can cite as contri-
butions to the daily genocide in which the black population in
Brazil is subjected, a situation that is repeated in other countries
of the global south regarding the violence perpetrated against
non-white populations.
The combination of racism, colonialism and imperialism
founded one of the cruelest social landmarks in our history:
the enslavement of black men and women brought from the
African continent and assimilated through torture, rape, mur-
der and other forms of violence. Since then, we are engaged in
a survival project that ranges from confronting scientific racism
and its eugenic policies of whitening and overt extermination
to demystifying cultural racism or the meritocracy narratives
and racial democracy that institute material racial differences
in Brazilian lives.
We are, therefore, facing a complex reality in terms of con-
fronting racism (structural, institutional and individual) that is
perpetuated and updated in time/space, and quite challenging
according to the current political/economic/social/health situa-
tion marked by the COVID-19 pandemic and the current pre-
sident Jair Bolsonaro election, who takes a stance himself as a
manifest enemy of racial agendas to affirm the “myth of racial
democracy” and reveal ideologies and racist practices playfully
and/or through institutional policies.
Thus, in this manuscript, we will aim to racially understand
the condition of some social indicators in Brazil, as well as focus
on the challenges that the racial justice movement has found in
the country, especially after the COVID-19 pandemic and the
election of the current president Jair Bolsonaro. We will des-
cribe and analyze some of the action and mobilization strategies
ENG Challenges and potentialities to face racism in Brazil 449

of the “Black Coalition for Rights”, integrated by Brazilian


black movement organizations, to confront racism and pro-
mote racial equity in Brazil since 2019.

What evidence tells us about the racial reality of


Brazilian population
The life and death conditions of Brazilian population are very
different if social markers of gender differences such as race,
class, etc. are considered. Concerning race and gender, for
example, it is possible to observe on the surface that women
and black people are underrepresented in spaces of power and,
on the contrary, overrepresented in stigmatization and vulnera-
bility spaces. We will dedicate this topic to look at some social
indicators in Brazil broken down by race/color to get a current
view of what they tell us concerning work, income, education,
political representation, etc.
According to data from the 2019 National Household
Sample Survey (PNAD, for its acronym in Portuguese), 42.7%
of Brazilians declare themselves white, 56,2% declare them-
selves black ( 46,8% brown, 9.4% black) and 1.1% yellow or
indigenous2. According to the journal “Social inequalities by
color or race in Brazil”3 ( IBGE4, 2019), during 2018, within the
labor market, 68,6% of executive positions were held by white
people, while just 29.9% of executive positions were held by
black or brown people. On the other hand, in informal work,
it is observed that 46.9% of men are black and brown skin
and 34.4% are white. Among women in informal occupations,
47.8% are black and brown skin, and 34.7% are white.

2 Available on: https: //educa.ibge.gov.br/jovens/conheca-o-brasil/populacao/18319-cor-


ou-raca.html
3 Available on: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101681_informativo.pdf
4 The Brazilian Institute of Geography and Statistics (IBGE, Instituto Brasileiro de Geo-
grafia e Estatística)
450 Polifonías para la equidad racial ENG

The observation of the “real average income for workers (


R$/month)5” shows us that the monthly income among white
people is 2,796 Brazilian reals and 1,608 among brown people,
being and more specifically that, in people with formal occu-
pations, the average income observed among white people is
3,282 reals and 2,082 among black and brown people. In infor-
mal occupations, the average income observed is 1,814 reals
among white people and 1,050 among black or brown people.
In the education area, the illiteracy rate among people aged
15 years and older is 9.1% among black skin and mestizos and
3.9% among white skin.
Regarding income distribution and housing conditions, in
2018, it was observed that 41,7% of people below the poverty
line were black, and 19% were white.
About the percentage of people living in households without
access to sanitation services, the same research shows us that
12,5% of black people and mestizos do not have access to
direct or indirect garbage collection, compared to 6% of white
people; 17,9% of the black people and mestizos do not have
access to main water supply, compared to 11,5% of white peo-
ple; 44,5% of black people and mestizos live without at least
one sanitation service, compared to 27.9% of white people.
As for the homicide rate among the white and black popu-
lation in 2017, considering men and women, the rate among
white people was 34 homicides per 100,000 young people, while
among blacks and mestizos the rate was 98,5 homicides per
100,000 young people, which means that a young black person
is almost three times more likely to be murdered in Brazil than
a young white person.
According to the Atlas of Violence (2020, p. 47), the black
population represents 75.7% of homicide victims in the

5 Brazilian real is the official currency of Brazil. Symbol: R$


ENG Challenges and potentialities to face racism in Brazil 451

country; black women represent 68% of all women murdered


in Brazil.
The Public Safety Yearbook (2020) also informs us about
the overrepresentation of black people among victims of police
lethality, as they representcorresponding theo 74.4% of all vic-
tims among civilians and 65.1% of security agents killed last year.
The study shows that: “The comparison rate per 100,000 popu-
lation indicates that mortality among black people as a result
of policy interventions is 183.2% higher than the rate among
whites. While among white people the rate is 1.5 per 100,000
white population, among black people it is 4.2 per 100,000 black
population.” (Public Safety Yearbook, 2020, p. 90-91).
Concerning violence against women, the Public Safety
Yearbook (2020) informs us that “In 2019, 66.6% of femicide
victims in Brazil were black. Black women correspond to 53.6%
of maternal mortality victims (SIM/Ministry of Health/2015)
and 65.9% of obstetric violence victims (Cuadernos de Saúde
Publica6 30, 2014, Fiocruz).
In terms of incarceration, Brazil is currently the country with
the third-largest prison population in the world, with more
than 773,000 people in prison in 2020 (INFOPEN7, 2017),
just behind the United States and China, respectively with 2.1
million and 1.7 million (ICPR–Institute for Crime & Justice
Policy Research, 2020). In the last 16 years, the number of incar-
cerated women in Brazil has grown by more than 600%.
On one hand, the Brazilian Prison Information Report
(INFOPEN, 2019, p. 32) shows that the black population
corresponds to approximately 64% of the prison popula-
tion. Regarding this, it is also important to note that in 2019,

6 Reports in Public Health Brazilian magazín that publishes original articles of high scientific
merit.
7 INFOPEN, Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias/The National Prison
Information Survey.
452 Polifonías para la equidad racial ENG

INFOPEN reported that there are 268,438 provisional priso-


ners in Brazilian penitentiaries, which means that 34.7% of the
national prison population has not even been convicted in the
first instance (INFOPEN, 2019). It is also observed that, while
25% of crimes for which men respond are related to trafficking,
in the women’s case this proportion reaches 62%. According to
Infopen INFOPEN Women (2017), 62.5% of the female pri-
son population in Brazil is composed of black women, most of
whom have incomplete primary education.
On the other hand, in terms of political representation, in
2018, only 24.4% of elected federal representatives were black
or brown, while 75.6% of federal representatives were white
and other. Among state representatives, 28.9% were black or
brown and 71.1% were white and other. The highest represen-
tation of black people was among town councilors, who accoun-
ted for 42.1% of those elected, compared to 57.9% of whites
and other councilors.
These data reflect how racism has shaped and organized
Brazilian society since the slavery period and how the racism
effects spread into long-term permanence. In addition to the
racism ills, these data also represent offer the opportunity of
representing to show in numbers the deconstruction of the
myth of racial democracy and, despite the content, this fact can
be understood as an advance regarding the racial issue in Brazil,
in the sense that it is possible to establish evidence to subsidize
discussions and the formulation of public policies and affirma-
tive actions.

II) Progress in the fight against racism and the promotion


of racial equality in Brazil
Since the democratic reopening process in Brazil, social move-
ments, including the black movement, have been organizing
and struggling to produce data to influence decision-making
ENG Challenges and potentialities to face racism in Brazil 453

in institutional politics, legislative production and public poli-


cies production.
In this sense, it is worth noting that our current capacity to
produce data on the racial issue in Brazil plays an important role
“to denaturalize the coincidence that is erroneously presented
between social inequalities and racial inequalities, conceiving
the racial issue as a byproduct of socioeconomic inequality”
(IPEA8, 2011, P.13 ) and can be understood as an advance rela-
ted to the creation and development of the Special Secretariat
for Policies to Promote Racial Equality for Presidency of the
Republic (SEPPIR/PR, for its acronym in Portuguese), created
by the federal government in 2003, symbolizing “the recogni-
tion of the black social movements plea regarding the need for
an institutionality for the formulation, coordination and articu-
lation of government policies and guidelines for the promotion
of racial equality” (IPEA, 2011, P.13). It should be noted that
SEPPIR was extinguished in 2015 and incorporated into the
Ministry of Women, Racial Equality and Human Rights, which
was seen as a step backward by many people within the black
movement, as one person came to represent all portfolios.
In addition to the data production, we would like to highli-
ght the 1988 Federal Constitution and the legislation on racial
discrimination in Brazil as achievements for the Brazilian popu-
lation. Among the legislations we can cite the following as
important instruments for the protection and realization of the
black population rights: I) in the Federal Constitution, a) Art.
3, IV, CF9 which see into the welfare promotion of all without
prejudice about origin, race, sex, color, age and any other dis-
crimination form as fundamental objectives of the Federative
Republic of Brazil; b) Art. 4, II and VIII, CF which provides

8 The Institute for Applied Economic Research [IPEA, Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada,]
9 Federal Constitution [CF, Constituição Federal]
454 Polifonías para la equidad racial ENG

that the Federative Republic of Brazil shall govern its inter-


national relations by the principles of II–human rights preva-
lence; and VIII–repudiation of terrorism and racism; c) Art.
5, XLI, XLII, establishes that “All are equal before the law,
without any distinction, guaranteeing to Brazilians and foreig-
ners residing in the country the inviolability of the right to life,
freedom, equality, security and prosperity”; it determines that
“the racism practice constitutes an imprescriptible crime, not
subject to release, subject to imprisonment under the terms of
the law” and provides that “the law shall punish any discrimi-
nation against fundamental rights and freedoms”;
d) art. 7, XXX, FC, describes the prohibition in salary diffe-
rences, in the functions, exercise and admission criteria based
on sex, age, color, or marital status; e) art. 215, § 1 °, FC, pro-
vides that the State shall protect the manifestations of popular,
indigenous and Afro-Brazilian cultures and other groups parti-
cipating in the national civilizing process; and f) Aart. 216. § 5
°, CF, determines to destroy all documents and sites with histo-
rical reminiscences of the old quilombos. In addition, Article 68
of the Temporary Constitutional Provisions (ADCT10) stipula-
tes that the State must issue the respective titles to the remaining
quilombola communities that are occupying their lands and
whose definitive ownership has been recognized.
Also, we can cite the constitutional regulations: a) Act
against racism or “Lei Cao”: Law No. 7.716/1989, which regu-
lated the constitutional provision and defined the crimes resul-
ting from prejudices of race or color, b) Law No. 9. 459/1997
expanded the Lei Cao scope by including in Article 1 the
punishment of crimes resulting from discrimination and pre-
judice of ethnicity or, national origin; by including, in Article
20 a more general criminal type for the crime of prejudice

10 ADCT, Ato das Disposições Constitucionais Transitórias.


ENG Challenges and potentialities to face racism in Brazil 455

and discrimination: “Practicing, inducing or inciting discri-


mination or prejudice against race, color, ethnicity, religion
or national origin”; and by creating a qualified type of insult
in the Criminal Law (racial insult), through the inclusion of
paragraph 3 to Article 140 of the law; c) Law 10639/03 which
amends Law no. 9. 394/96 and establishes the mandatory tea-
ching of Afro-Brazilian and African history and culture in
public and private basic education schools; d) the Regulation
of Racial Equality, Law 12. 288/2010, is considered the main
reference for the confrontation of racism and the promotion
of racial equality in the country; e) Law 12.711/12, which esta-
blishes social and racial quotas in Educational Institutions
(IFES11); f) Law 12. 990/14, which establishes racial quotas in
federal public tenders; g) Ordinance 13/2016, of the Ministry
of Education, which induces the creation of quotas in graduate
studies, h) the decision of the Superior Electoral Court (2020),
which determines that political parties must ensure affirmative
action policies so black candidates have adequate access to the
electoral party fund and television time.
The legislative advances made in Brazil in the fight against
racism and promotion of racial equality contrast, however,
with the implementation of these norms that makes us move
slowly towards achieving full dignity and access to rights for
all citizens.
The difficulties of this struggle have increased significantly
in recent years, accentuating the inequalities between black
and white people and we highlight as possible causes: a) the
election of the current President Jair Bolsonaro and b) the
COVID 19 pandemic.

11 IFES, Institutos Federais de Ensino Superior [Federal Institutes of Higher Education].


456 Polifonías para la equidad racial ENG

III) The Bolsonaro government and COVID 19 as


challenges for the anti-racist struggle in Brazil.
Since the legal-political-media coup that marked the removal
of former President Dilma Rousseff from power in 2016, Brazil
has followed an escalation of authoritarianism, dismantling
of social policies and the implementation of neo-fascist poli-
cies that were consolidated with the election of then-President
Bolsonaro and many bBolsonarist allies in various political are-
nas in the country and that mark the setback in the fight against
racism and the promotion of racial equality.
The extinction of the Ministry of Women, Racial Equality and
Human Rights, and its incorporation into the Ministry of Justice
and Citizenship, a measure taken by the Temer government in
2016, and its subsequent transformation into the Ministry of
Women, Family and Human Rights under Bolsonaro´s govern-
ment in 2019 with Damares Alves, an evangelical pastor as the
current minister, represented conservative and fundamentalist
measures that put diversity and inclusion policies at risk and hin-
dered the relationship of social movements with the government.
With the election of the then-president Jair Messias
Bolsonaro, the Brazilian black movements organized the “Black
Coalition for Rights” in 2019 to mobilize civil society and carry
out political advocacy before the national congress, international
human rights organisms to institute a space for discussion, orga-
nization and political strengthening for the demands of dignity
and justice on behalf of the black population.
Since the 2016 coup d’état and the announcement of
Bolsonaro’s candidacy, there has been a marked increase in discri-
mination, racism, economic inequality, socio-environmental risks
and catastrophes, as well as unequal access to basic education and
health services. All of these problems have been intensified by the
economic, health and social crisis brought on by the COVID 19
pandemic, which was exacerbated by the federal government’s
ENG Challenges and potentialities to face racism in Brazil 457

inability to manage it by adopting a denialist stance, not following


the recommendations of the World Health Organization and, on
the contrary, provoking crowds, ignoring prevention measures,
rejecting vaccines and offering treatments for the disease that had
not been scientifically proven. In this way, the pandemic was used
to “push” in Congress important agendas for the Brazilian popu-
lation without the possibility of discussing these issues, which
reinforces its anti-democratic stance.
It is also noted that during the pandemic many govern-
ments, especially Bolsonaro’s, reduced or closed public servi-
ces that are mostly used by the black population, which made
access (which was already precarious) more difficult and cau-
sed crowds such as what could be observed in public transpor-
tation such as buses, trains and subways. This combination of
“bolsonarism12” and pandemic amplified the pre-existing racial
inequalities in Brazil in every possible aspect.
In terms of racial inequalities accentuated by COVID-19 we
can highlight:

education, access to health and high complexity servi-


ces, basic sanitation, food security, housing, labor market,
access to income and many others that, directly or indi-
rectly, favor their exposure to the virus and their death.
While the most privileged sectors of society–mostly white–
have resources that ensure them the possibility of fulfilling
their social isolation by working at home, informal and
precarious professionals, mostly black, continue to be
increasingly exposed. After all, they are the ones who make
possible the isolation of this more privileged group at the
cost of their contamination, both by displacement and by
the exercise of more vulnerable occupations. To access the

12 The set of doctrines and political thought of Jair Messias Bolsonaro.


458 Polifonías para la equidad racial ENG

health system, this population faces longer travel times and


less availability of services due to the precarious condi-
tions of health services in peripheral areas where the black
population is concentrated. (MARINHO et al, 2021)13.

Despite the underreporting of COVID-19 lethality in Brazil (it


is estimated that at least 20% of COVID-19 deaths are under-
reported), it is possible to observe racial disparity in the excess
mortality of the black population in Brazil. According to the
Racial Inequalities and COVID-19 Bulletin “in Brazil, we
observed an excess mortality of 27.8% (153’000 thousand dea-
ths) for black and brown people in 2020, while for white people
it was 17.6% (117 thousand ‘000 deaths)” (MARINHO, 2021,
p. 7), 36’000 thousand more black people than white people.
The same study summarizes in three points the causes con-
tributing to racial disparities in results during the Covid19 pan-
demic (among the many factors that can be listed). These are:
(a) the greater exposure of the black population to COVID-19
infection, due to the greater difficulty in achieving social distan-
cing, considering that black individuals have lower income and
worse conditions of homehousing, work and public transporta-
tion; in addition to the fact that they have fewer opportunities
to telecommute, due to less education which leaves makes them
more vulnerable; b) lower socioeconomic status is also rela-
ted to a higher burden of comorbidities that increase COVID-
19 lethality (such as hypertension and diabetes); c) lethality is
higher in populations with less access to health care, which is the
case of the black population. (MARINHO, 2021, p. 12).
The Racial Inequalities and COVID-19 bBulletin addresses
observed inequalities as a result of a syndemic, recognizing that:

13 MARINHO, Fátima. 2021 Boletín de Desigualdades Raciales y COVID-19. Available on:


https://cebrap.org.br/wp-content/uploads/2021/03/Informativo-8-Disparidades-raciais-no-ex-
cesso-de- mortalidade-em-tempos-de-COVID-19-em-Sa%CC%83o-Paulo_final.pdf
ENG Challenges and potentialities to face racism in Brazil 459

social, political and structural determinants contribute


more to health inequalities than biological factors or per-
sonal choices (Singer et al., 2017). Syndemics are not just
comorbidities. They are characterized by biological and
social interactions, which increase a person’s susceptibi-
lity to disease and health loss across the lifespan ( Horton,
2020). (MARINHO, 2021, p. 17).

In addition to these factors, it should be noted that social, poli-


tical and structural determinants are also causing the black
population to be less vaccinated than the white population.
The Observatory of the Third Sector recorded that
“Brazil vaccinates twice as many White people as blacks”.
In news published on 02/04/2021 the observatory reported
that “According to Pública’s survey, in Brazil, there are 3.2
million people who declare themselves white and who recei-
ved the first dose of the vaccine against COVID-19. Already
among blacks, this figure is reduced to just over 1.7 million.”
(OBSERVATÓRIO, 2021).
Thus, the intensification of inequalities resulting from
the COVID-19 pandemic presents many challenges for the
Brazilian population, especially for the black population and
especially for racial justice movements. Additionally, The suc-
cession of austerity social policies since the 2016 coup d’état has
put Brazil back on the hunger map.
According to André Santos, in an article in Carta Capital14
(2021), “the IBGE confirmed that in 2018 we again had 5%
of the population in a state of hunger”, that is, in a situation
of serious food insecurity. It mentions a study conducted by
researchers from the Food for Justice–Power, Politics and Food
Inequality in a Bieconomy, from the Freie Universität Berlin

14 CartaCapital, is a weekly Braziliannewsmagazin.


460 Polifonías para la equidad racial ENG

[The Free University of Berlin], in collaboration with resear-


chers from UFMG15 and UnB16, which “points out that in
December 2020, food insecurity reached 59.4% of Brazilian
households. 31.7% are in a situation of mild food insecurity,
12.7% moderate, and a terrifying 15% in a situation of serious
food insecurity”. The study also shows that:

Analyzing the division by sex, in cases where only one resi-


dent of the household is responsible for the maintenance
of the family, we saw that if the head of the household is
a man, hunger reaches 13.3% of households, while hou-
seholds headed by women reach the figure of 25.5% in a
situation of hunger, almost double the rate of households
headed by men. If the analysis takes into consideration the
race or color of the sole head of household, it is evident
that 48.9% of households headed by white people have
some level of food insecurity, a rate that increases to 66.8%
if the head of household is black and to 67.8% if the head
of household is brown. In the case of hunger, the study
reveals that 23.4% of households headed by black people
and 18.9% of households headed by people of mixed race
are in a severe situation in which all members of the family,
including children, lack food in the necessary quantity and
quality. (SANTOS, 2021, online)

In addition to the increase in hunger, the pandemic and gover-


nment neglect brought other challenges to the Brazilian black
movement. While observing the activities developed by the

15 UFMG, Universidade Federal de Minas Gerais [Federal University of Minas Gerais].


16 UnB, Universidade de Brasília [University of Brasília]
ENG Challenges and potentialities to face racism in Brazil 461

Black Coalition for Rights17, we sought to identify: a) the main


challenges faced by the organizations of the black movement;
b) their main demands and c) their strategies, or the mode of
advocacy used to achieve their political goals (what Brazil has to
teach about confronting racism and promoting racial equality).
In terms of the main challenges that black movement organi-
zations have faced, the genocide of black people, orchestrated
by a series of elements, should be highlighted: the precarious-
ness of public policies; inequalities in access to public services;
State violence; racial profiling; drug policy; criminalization of
black culture; religious racism; murder of human rights defen-
ders; violations of the rights of traditional peoples; attack on
the environmental issue; persecution of the LGBT popula-
tion; violence against women and femicides; bolsonarism; the
attack on democracy and the most vulnerable populations by
the new government that opposes human rights; the health cri-
sis unleashed by the COVID-19 pandemic; the mismanage-
ment of the COVID-19 pandemic by the federal government;
hate networks and fake news; systematic attacks on the press
and journalists; religious influence on our political model; racial
tokenism for agenda demobilization (e.g. Sérgio Camargo’s
appointment to the presidency of the Palmares Institute18); the
continuous silencing of racial struggles, the denial of racism;
the lack of transparency and the non-production of data; etc.
Among the demands of the black movement during this
period of aggravation of racism and its effects, we can cite as
principal the actions and demands for: promotion of public

17 We have used the monitoring and cataloging of the Instagram posts of the Black Coalition
for Rights, from its creation to the present day, as a methodology to analyze the main challenges
faced by organizations in the black movement; the main demands and the mode of advocacy that
the coalition has used to achieve its political ends. In this way, we seek to understand how this
racial justice movement has been mobilized in Brazil.
18 Fundação Cultural Palmares, a Brazilian body for the promotion of Afro-Brazilian culture.
462 Polifonías para la equidad racial ENG

policies; implementation of anti-racist protocols at the insti-


tutional level; accountability; denunciation of the anti-crime
package (the proposal of the exclusion of crimes for homici-
des perpetrated by public security agents was problematized);
denunciation of the agreement between Brazil and the -United
States on the Technological Safeguards agreement in Alcântara
(an agreement made between the U.S. and Brazil unconstitutio-
nally, without consulting the quilombola communities affected
by the proposed expansion of the Alcântara Launching Center,
in Maranhão, which affects more than 700 families from the 31
quilombola communities of the municipality).
Also, the request for the inclusion of clauses defending the
human rights of the Brazilian black population in the European
Union-Mercosur Agreement; public actions against the geno-
cide of the black population, especially in cases of State vio-
lence and death perpetrated by police officers on duty, including
children (e.g. murder of Ágatha Félix, 8 years old; João Pedro,
14 years old; Emilly, 4 years old and Rebecca, 7 years old;
Paraisópolis Massacre); actions calling for “Justice for Marielle
and Anderson! “ (iIncluding actions against the federalization of
the investigation of the homicide of Marielle Franco in the face
of allegations that President Jair Bolsonaro had the interest to
interfere in the Federal Police of Rio de Janeiro to protect, alle-
gedly, her family from investigations).
In turn, actions to denounce and demand public actions
against inequalities in the prevention and confrontation of
COVID 19 in Brazil; a demand for consideration and vote on
PL 2477/20 for the consideration of domestic activity as non-
-essential during the pandemic; actions against the reduction of
the basic emergency income; a campaign against a bill in the São
Paulo City Council that sought to end racial quotas in the city’s
public service; campaign against Provisional Measure (MP)
1000/20, which reduces the value of emergency assistance by
ENG Challenges and potentialities to face racism in Brazil 463

half (300 reals); it launched of the Campaign: Quilombolas Lives


Matter; it made a note of solidarity with the Afro-Colombian
people, for the genocide and ethnocide of Afro-descendants,
victims of racist violence by the State and paramilitaries; a note
of repudiation of the proposal created by federal public defen-
der Jovino Bento Junior, which seeks to prohibit and criminalize
affirmative policies for the black population; launched cam-
paigns in reaction to Brazil’s return to the Hunger Map; actions
in defense of the Unified Health System; #SOS AMAPÁ cam-
paign; has given support to mitigate the consequences of the
blackout resulting from a fire at the power substation; actions
of repudiation and protest against the beating to death of João
Alberto Silveira by security guards at the Carrefour supermarket
in the city of Porto Alegre on 11/20/20; actions to boycott
Carrefour; published notes of repudiation of police repression
in protests and demonstrations; actions in response to the disa-
ppearance (on 12/27/2020) of Lucas Matheus, 10 years old,
Alexandre da Silva, 10 years old, Fernando Henrique, 11 years
old, three children who lived in Belfort Roxo, in Rio de Janeiro,
and the lack of information on the case by the police until today.
Furthermore, the Coalition denounce and demand the
Federal Government to take urgent measures to combat the
effects of the COVID-19 pandemic in the city of Manaus and
throughout the State of Amazonas. The city’s health system is
collapsed due to the lack of ICU and vital supplies (oxygen) to
keep COVID-19 patients alive; organized manifestations rallies
due to against the negligence of the Federal Government in
the pandemic (denial of access to health care for the popula-
tion) and; mobilizations for the demand of vaccines for all,;
for SUS19 and a minimally dignified Emergency Aid; mobili-
zations to fight against hunger and demand actions to combat

19 SUS, Sistema Único da Saúde [Unified Health System]


464 Polifonías para la equidad racial ENG

misery; accompaniment of the lawsuit against Carrefour, due


to the murder of João Alberto, as a result of the assault of a
security guard of the market chain and the charge to the com-
petent instances of accountability of the company; appro-
val of the STF20 to the Argument of Non-Compliance of
Fundamental Precept (ADPF21 742), presented on 12/14/2020
by CONAQ22–National Coordination of Articulation of Rural
Black Quilombolas Communities.
With this, the Coalition has sought guaranteeing the life and
health of the quilombolas in the COVID-19 pandemic, deman-
ding the inclusion of the quilombolas in the priority immuniza-
tion group; mobilizations against the PEC23 186, which sought
to pool resources for the planning of education and health
policies; acts and mobilizations of solidarity and support to the
people of Acre as a result of the health and migratory crisis; lau-
nching of the Campaign: If there are hungry people, feed them;
the campaign to collect hygiene products for the prevention
of COVID-19; awareness campaign not to move ahead of the
vaccine line; manifesto addressed to the Biden administration
demanding to that it listens to the civil society in the negotiation
of funds received by the Bolsonaro administration for the pro-
tection of the Amazon. Denouncement of the increase in forest
fires; of the exploitation of the territory by mining and logging
companies during the Bolsonaro government, which also vio-
lates the human rights of indigenous and quilombola peoples;
rejection of the murders of Bruno and Yan Barros, in the city of
Salvador, Bahia. The youngsters robbed the Atakadão Atakarejo
supermarket in Amaralina, were tortured and handed over to

20 STF, Supremo Tribunal Federal [Supreme Federal Court]


21 ADPF, Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental [Argument of Noncom-
pliance with Fundamental Precept]
22 CONAQ, Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos
23 PEC, Proposta de Emenda à Constituição [The Proposed Amendment to the Constitution]
ENG Challenges and potentialities to face racism in Brazil 465

a group of traffickers in the region and finally murdered; note


against the military police repression promoted by the extreme
right-wing government of Iván Duque, against Colombian
social movements. (in AApril 28); notes, actions, demonstra-
tions and mobilizations against the massacre of Jacarezinho, in
which 25 people died, and for the fulfillment of the ADPF of
the favelas. Petition for accountability of the governor of Rio
de Janeiro; mobilization for the protection of the lives of con-
gressmen and human rights defenders; demonstrations in soli-
darity with activist Sasha Johnson, of the Black Lives Matter
movement, who was shot in the head in the early hours of this
Monday (24), in Peckham, London, England, etc.
The main strategies adopted by the Brazilian black move-
ment in its struggle against racism and for racial promotion, con-
sider collectivity as a communitarian principle that goes against
the individualistic neoliberal logic and aim at an inclusive coun-
try project where there is no hierarchy between races, genders,
classes, etc.
We can cite as strategies those that have been developed in
the last two years:
I) legal, legislative and administrative advocacy at the natio-
nal level through meetings and public hearings with deputies
and senators; convening of Public Hearings; protocol of offi-
ces in national public security bodies demanding an impartial
investigation of the State’s action, and immediate change of
conduct of the military police; actions aimed at bringing con-
gressmen closer to the demands of the population; seeking
recognition and alliances of/with congressmen to the acts of
the Black Coalition for Rights; filing of a criminal notice against
the President of the Republic Jair Bolsonaro for incitement to
the crime of violation of preventive health measure (in the con-
text of COVID 19); demand for institutional responses for
the prevention and treatment of COVID 19; demand for the
466 Polifonías para la equidad racial ENG

identification and criminal liability of police officers involved in


the deaths of people (including children) in police operations.
In addition, on 06 /03/2020, the Coalition denounced Sérgio
Camargo, president of the Palmares Cultural Foundation to the
Federal Public Prosecutor’s Office for the crime of racism and
administrative impropriety; on June 24, the Coalition’s lawsuit
requesting the annulment of the decision of the former Minister
of Education, Abraham Weintraub, who tried to suspend the
quota policies, was voted on; thus, the ordinance stipulating affir-
mative action policies in graduate studies was upheld; rRepresen-
tation before the São Paulo Attorney General of Justice against
the São Paulo Military Police and Governor João Doria, deman-
ding that action be taken in the case of a 51-year-old black sho-
pkeeper in Parelheiros, who was trampled and tortured by a
military policeman, on May 30, 2020.
Still more, presentation of a request for impeachment against
the current president Jair Bolsonaro (12/08 /2020); ADPF 742
filed by CONAQ before the STF due to the indifference with
which the government has been treating the health crisis of the
quilombos, requesting an emergency action to save the qui-
lombola communities of COVID-19; demand for legal res-
ponsibility for the crimes committed by officers of the Military
Police of the State of Amapá, on September 19, 2020, against
the educator Eliane do Espírito Santo da Silva; defense before
the Supreme Federal Court (STF) requesting that the injunc-
tion granted by Minister Ricardo Lewandowski be granted,
applying the decision of the Superior Electoral Court for the
2020 municipal elections, determining that political parties gua-
rantee affirmative action policies so that black candidates have
proper access to the electoral party fund and television time;
request for reconsideration of the TRF-124 decision in favor of

24 TRF-1, Tribunal Regional Federal da1ª Região [Regional Federal Court of the 1st Region]
ENG Challenges and potentialities to face racism in Brazil 467

the quilombola community Rio dos Macacos so that basic rights


are safeguarded, since they were prevented from accessing the
waters of Rio dos Macacos, Rio do Barroso and other water
sources dammed by the dam, the only source of water available
in the region, given that the prohibition of access to the reser-
voir’s waters violates the community’s right to exist; action for
the CNJ25 to maintain the custody hearings in person; action for
the approval of the Inter-American Convention against Racism,
Racial Discrimination and Related Forms of Intolerance of the
Organization of American States by qualified quorum, so that it
becomes valid as a constitutional norm; iIndirect incidence for
the overthrow of the ordinance issued by the president of the
Palmares Cultural Foundation, Sérgio Camargo, which elimina-
ted the name of referents of the Brazilian black movement from
the list of notable black personalities of the institution; propo-
sal of the Bill that prohibits the conduct, by public agents or
private security professionals, with prejudicial character of any
nature —t. The text was approved in the Senate and continues
to the House; support for the draft resolution to create, in the
Federal Chamber of Deputies, the Secretariat for Ethnic-Racial
Equality; creation of Joint Commissions of Parliamentarians and
Civil Society entities for the maintenance of emergency aid.
The Black Coalition for Rights has also acted from a trans-
national perspective, carrying out international advocacy work
to gain visibility and try to guarantee the rights of the Brazilian
black population through the consideration of international
human rights bodies. In this way, we can cite as strategies used
in the last two years: complaints before the Inter-American
Commission on Human Rights ( IACHR) of the OAS; proto-
cols of letters to international bodies demanding an impartial
investigation of the Federal State’s action, and the immediate

25 CNJ, Conselho Nacional de Justiça [National Council of Justice]


468 Polifonías para la equidad racial ENG

change of conduct of the military police in cases of excess;


reporting the Bolsonaro government’s attacks on women jour-
nalists before the UN Human Rights Council; complaint to the
UN about the negligence of the Bolsonaro government with the
pandemic and its impacts on the black population and quilom-
bola communities.
In addition, participation, on 01/10/2020, in the 45th Session
of the UN Human Rights Council to denounce Environmental
Racism and Racial Discrimination in the case of Ilha de Maré,
Salvador–Bahia; meetings with the UN High Commissioner for
Human Rights (OHCHR); proposal of international anti-racist
networks; participation in International Meetings, Conferences,
Sessions and Congresses; holding a hearing with the UN
Hhuman Rrights rapporteur to denounce rights violations
against the Brazilian black population, especially those in grea-
ter situations of vulnerability: quilombola communities, black
and peripheral youth, children and workers of services consi-
dered essential during the COVID-19 pandemic; denouncing
to the UN High Commissioner for Human Rights the violations
suffered against black and trans women (e.g., parliamentarians
Ana Carolina Iara and Érika Hilton); outreach to intellectuals,
congresswomen and international anti-racist groups.
It should be added that, the Black Coalition for Rights also
brings as one of its main pillars (and reason that justifies its exis-
tence) the incidence with the civil society. Among its activities we
highlight the convening and participation in Working Groups
with congressmen and experts; the promotion of debates with
society; the replication of studies; the preparation of notes of
rejection and solidarity in different circumstances to demarcate
the political positioning; the realization of campaigns; the pre-
paration of guiding documents, notes and manifestos; the use
of radio, television and Internet–lives (social networks and web
page) for communication and campaigning with the population
ENG Challenges and potentialities to face racism in Brazil 469

through different media; the promotion of courses, trainings


and informative activities; the realization of rallies street mar-
ches and acts of support or denunciation; the invitation to the
population to participate through the (production of caricatu-
res, cartoons, and texts in writing contests); the elaboration of
a struggle calendar (with commemorative dates); the realiza-
tion of activities for the recognition and appreciation of Afro-
Brazilian culture and religion; the virtual exhibition of works
of art related to anti-racist themes and the promotion of racial
equality and the appreciation of black identity; t. The valuing of
local and community leaders; the dissemination/instrumentali-
zation of actions that dialogue with popular culture (e.g.: at the
beginning of a match between two big teams, the players obser-
ved a minute of silence and showed , wearing/using t-shirts
stamped with names of victims of racial violence in Brazil and
with the number 23, calling drawing the audience’s attention to
the fact that,: eEvery 23 minutes, a young black man is murde-
red in Brazil); actions against religious intolerance; manifesta-
tion of grief in memory of deceased militants and personalities
(eE.g.: Lula Rocha; Maurício Paixão; Nelson Sargento, etc. ), as
well as the formation of the Interreligious Anti-Racist Alliance.
Among the main propositional actions of the movement in
the last biennium we highlight: the proposal of Law 5. 885/2019
to confront institutional racism in public administration; the
commemoration of the International Day of Latin American and
Caribbean Black Women; the debate on the Midterm Review
or the International Decade for People of African Descent; the
drafting of the letter-program consisting of 14 principles and 25
agendas of demands and requests of the Coalition; the propo-
sal for the implementation of an emergency basic income policy
for the most vulnerable in the face of the COVID 19 crisis; the
launching of the “memory has color” campaign on the genocide
of the black population in Brazil; the launching of the “alvo del
470 Polifonías para la equidad racial ENG

genocidio” campaign on March 21, International Day against


Racial Discrimination, the Black Coalition; the “Black Lives
Matter” events; the elaboration and dissemination of reports
for the formulation of denunciations. (eE.g. : difficulties in the
implementation of emergency aid); the launching of the cam-
paign/manifesto: “As long as there is racism there will be no
democracy”; the promotion of the LGBT Pride campaign; the
support to the Marielle Franco Agenda and the PANE–Anti-
Racist Platform in Elections, launched by the Marielle Franco
Institute as an anti-racist proposal for the municipal elections
(13/07/2020); the campaign for anti-racist elections so that the
Superior Electoral Court (TSE26) votes the proportional distri-
bution of the Special Fund for Campaign Financing and electo-
ral advertisement time in television for black candidates.
The proposal was approved for the 2022 elections and due
to a favorable injunction judged by the STF the reservation of
resources was implemented immediately (2020); the comme-
moration of the 5 years of the Black Women’s March–against
racism, violence and for good living; the promotion of debates
on political representation; the celebration of the International
Day of Latin American and Caribbean Black Women and the
National Day of Tereza de Benguela; the celebration of Marielle
Franco’s birthday (27/07); the campaign for a permanent basic
income; the celebration of the 29/08–Day of Lesbian Visibility;
support to the Black Movement of Campina Grande for the
application of quotas for blacks, indigenous, quilombolas and
gypsies at the State University of Paraíba; support to the first
national meeting of black candidates; celebration of the tea-
cher’s day; support for the dissemination of the 1st Neusa Maria
Journalism Award for the valorization of professional journalism
by non-white and trans people; the campaign for the election

26 TSE, Tribunal Superior Eleitoral [The Superior Electoral Court]


ENG Challenges and potentialities to face racism in Brazil 471

of black candidates; the Remove Racism from the Countryside


campaign; the Black Awareness 2020 march; the event for the
International Day to Combat Violence against Women 25/11.
Also, support for the campaign launched by CONAQ and
Tierra de Derechos: “Quilombolas against Racist”–with a pla-
tform to monitor and denounce racial hate speeches pronou-
nced by public authorities; the movement in defense of the
Annual Value per Racial Student (VAAR)27 as a modality of
complementation of the Union in FUNDEB28 resources, in
the intention of guaranteeing educational policies of reduction
to racial inequality; the mobilization for the defense of gender
parity and the reservation of racial quotas of 30%, in relation to
the directive positions of the Brazilian Bar Association.
In addition, highlight the celebration of January 21, National
Day for Combating Religious Intolerance, instituted by Law no.
11. 365/2007 in memory of Mãe Gilda de Ogun, who died as a
result of moral aggression, religious intolerance and invasion in
her Terrero committed by religious fundamentalists; the denun-
ciation of irreparable defect of the Commission of Jurists aimed
at evaluating and proposing normative strategies to improve
the legislation to combat structural and institutional racism in
the country, for lack of consultation with the black movement
(civil society), jeopardizing its legitimacy; the participation in
the World Social Forum–International Action in defense of
life–denunciations against the Bolsonaro government and the
Genocide of the population; the celebration of January 29–day
of trans visibility; the celebration of International Women’s Day
( acts in defense of the lives of domestic workers); the support
to the Marielle Franco Institute in the action Planting seeds,

27 VAAR, Valor Anual por Aluno raça [Annual Value per Racial Student]
28 FUNDEB, Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização
dos Profissionais da Educação [Fund for the Development of Basic Education and Apprecia-
tion of the Teaching Profession]
472 Polifonías para la equidad racial ENG

through which several elected politicians pledged to present


12 bills presented by Marielle in Rio, to be multiplied in other
cities. In fact, oOne of the bills creates Marielle Franco Day
to address political violence against black, LGBTQIA+ and
peripheral women. (March 14); the remembrance of the legacy
of black personalities: the example of Abdias do Nascimento,
Carolina Maria de Jesus and Marielle Franco; mobilization
for the occupation of political spaces by black women; dia-
logues on the International Day for the Elimination of Racial
Discrimination; support for the campaign “ Don’t you dare to
kill me “ of the Feminist Uprising against Feminicide;. tThe
celebration in memory of Luiza Bairros (27/03); the mobiliza-
tions for democracy and racial equality 31/03 -”Dictatorship
never again”; the celebration of 4/27–National Day of Domestic
Workers; the campaign for the break of the patent and the pro-
duction of the vaccine; the celebration of the International
Press Freedom Day and the resumption of the debate on the
importance of all media professionals to investigate and pub-
lish information freely; the events and demonstrations held on
May 13 throughout the country; a. nNational act for the end
of genocides of blacks, especially those orchestrated in police
operations;. dDemonstrations in several Brazilian states and
several countries abroad on May 13–National Day of Struggle
against Racism–Launch of the campaign “Neither by a bullet,
nor by hunger, nor by COVID, Blacks want to live”; support
for the demonstrations on 29 /5 throughout Brazil against the
Bolsonaro government and its management of COVID-19; the
celebration of the legacy of Abdias do Nascimento; the cele-
bration of the history, resistance and knowledge of Africa on
25/5–Africa Day.
ENG Challenges and potentialities to face racism in Brazil 473

Final considerations
Despite legislative advances to confront racism and promote
racial equality since the country’s re-democratization period,
Brazil’s social data report long-standing systemic racial inequa-
lity that has worsened since Michel Temer’s arrival to power in
2016, reaching an even more worrisome level in Jair Bolsonaro’s
administration, when it was accentuated by the pandemic of
the COVID-19, as well as the federal mismanagement of the
ensuing crisis that followed (health, economic, social).
Thus, many challenges are posed as aggravatesing the geno-
cide of blacks in Brazil today, which manifests itself under mul-
tiple faces: state/police violence; absence of public policies
for access to health; labor vulnerability; exploitation; hunger;
etc. However, the organizations of the black movement pre-
sent new opportunities for reflection on racism and anti-ra-
cism with the mobilization of civil society and the realization of
political advocacy with the national congress and international
human rights organizations, as has been done, for example, by
the Black Coalition for Rights.
In conclusion, it is essential to stimulate the discussion
and social organization for the political strengthening of the
demands for dignity and justice of the black population, natio-
nal and international political articulation, and it is important
to recognize that; stimulating the occupation of spaces of power
has been an important strategy to confront racism and promote
racial equality in Brazil. In this sense, in addition to strengthe-
ning national coalitions in search of recognition and external
support, transnationalization in coalitions between countries
also presents itself as with a great potential for the struggles of
black peoples, representing a possibility of strengthening and
recognition of these movements by national and internatio-
nal organizations.
474 Polifonías para la equidad racial ENG

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PORTUGUÊS

Desafios e potencialidades para o


enfrentamento do racismo no Brasil1

Ana Míria dos Santos Carvalho Carinhanha

:Artista, mediadora, pesquisadora e jurista. Doutora em Sociologia e


Direito pela Universidade Federal Fluminense, mestre em criminolo-
gia pela Université Catholique de Louvain, Bacharela em Direito pela
Universidade do Estado da Bahia e Bacharela em Artes com foco em
política e gestão da cultura pela Universidade Federal da Bahia. Pes-
quisadora no Grupo de Pesquisa em Criminologia (GPCRIM–UNEB/
UEFS) e Anastácia Bantu (UFF). Compõe o grupo de “artivismo” Som
de Preta. Coordenadora de pesquisa da Iniciativa Negra por uma Nova
Política sobre Drogas e membro da Plataforma de Equidade Racial das
Américas (PERA).

INTRODUÇÃO

Após quase quatrocentos anos de escravidão negra, e 133


anos de uma abolição inconclusa, a população brasileira ainda
enfrenta múltiplas faces do racismo que imprime condições
desiguais de vida e de morte para pessoas negras e não negras
no país. A desigualdade econômica; a fome; o negacionismo do

1 Manuscrito apresentado à Plataforma de Equidade Racial das Américas.


478 Polifonías para la equidad racial POR

atual governo federal com relação às políticas de prevenção e


enfrentamento à COVID 19, bem como o atraso na vacinação;
a falta e a precarização de emprego; a insuficiência de políti-
cas sociais; o colapso do sistema de saúde; a violência estatal e
o encarceramento são alguns dos elementos que podemos citar
como contributos para o genocídio diário ao qual a popula-
ção negra está submetida no Brasil, situação que se repete em
outros países do sul global no que diz respeito à violência per-
petrada contra as populações não brancas.
A combinação entre racismo, colonialismo e imperialismo,
fundamentou um dos marcos sociais mais cruéis da nossa his-
tória, a escravização de negras e negros trazidos do continente
africano e assimilados mediante torturas, estupros, assassinatos
e uma série de outras violências. Desde então, nos empenhamos
em um projeto de sobrevivência que vai desde o enfrentamento
ao racismo científico e suas políticas eugenistas, de branquea-
mento e de aniquilação manifesta, à desmistificação do racismo
cultural ou das narrativas de meritocracia e de democracia
racial que instituem diferenças hierárquicas raciais materiais na
vida dos brasileiros e brasileiras.
Estamos diante, portanto, de uma realidade complexa no
que diz respeito ao enfrentamento do racismo (estrutural, insti-
tucional e individual) que se perpetua e se reatualiza no tempo/
espaço, e bastante desafiadora no que diz respeito à atual con-
juntura política/econômica/social/sanitária marcada pela pan-
demia da COVID-19 e pela eleição do então presidente Jair
Bolsonaro, que se coloca como um inimigo manifesto das pau-
tas raciais ao afirmar o “mito da democracia racial” e ao mani-
festar ideologias e práticas racistas de maneira recreativa e/ou
através de políticas institucionais.
Deste modo, neste manuscrito, nos lançaremos a com-
preender racialmente o estado de coisas sobre alguns indica-
dores sociais no Brasil, bem como, nos debruçaremos sobre
POR Desafios e potencialidades para o enfrentamento do racismo no Brasil 479

os desafios que o movimento por justiça racial tem encontrado


no país, sobretudo após a pandemia da COVID 19 e a eleição
do então presidente Jair Bolsonaro. Descreveremos e analisare-
mos algumas das estratégias de ação e mobilização da “Coalizão
negra por direitos”, composta por organizações do movimento
negro brasileiro, para o enfrentamento do racismo e promoção
da equidade racial no Brasil desde 2019.

I) O que as evidências nos dizem sobre a realidade racial


da população brasileira
As condições de vida e de morte da população brasileira são
muito diferentes se considerados os marcadores sociais da dife-
rença de gênero, raça, classe etc. No que diz respeito à raça
e ao gênero, por exemplo, é possível observar a olho nu que
as mulheres e os negros estão sub-representados nos espaços
de poder e, em contrapartida, sub-representados nos espaços
de estigmatização e vulnerabilidade. Nos dedicaremos, neste
tópico, a observar alguns indicadores sociais do Brasil desmem-
brados segundo a raça/cor para ter um panorama atual do que
eles nos dizem em termos de trabalho, renda, educação, repre-
sentação política etc.
De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra
de Domicílios (PNAD) 2019, 42,7% dos brasileiros se declara-
ram como brancos, 56,2% se declararam como negros (46,8%
como pardos, 9,4% como pretos) e 1,1% como amarelos ou
indígenas2. Segundo o boletim informativo do “Desigualdades
sociais por cor ou raça no Brasil”3(IBGE, 2019), durante o ano
de 2018, no âmbito do mercado de trabalho os 68,6% dos car-
gos gerenciais eram ocupados por pessoas brancas, enquanto

2 Disponível em: https://educa.ibge.gov.br/jovens/conheca-o-brasil/populacao/18319-cor-


ou-raca.html
3 Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101681_informativo.
pdf
480 Polifonías para la equidad racial POR

apenas 29,9% dos cargos gerenciais eram ocupados por pes-


soas pretas ou pardas. No trabalho informal, por outro lado, é
possível observar que 46,9% dos homens em ocupações infor-
mais são pretos e pardos e 34,4% são brancos. Entre as mulhe-
res em ocupações informais, 47,8% são pretas e pardas e 34,7%
são brancas.
A observação do “Rendimento médio real habitual do tra-
balho principal das pessoas ocupadas (R$/mês)” nos mostra
que 2796 reais entre as pessoas brancas, e 1608 entre as pessoas
pardas, sendo que, em ocupações formais, o rendimento médio
observado entre as pessoas brancas é de 3,282 reais, e de 2,082
entre as pessoas pretas e pardas. Em ocupações informais, o
rendimento médio observado é de 1,814 entre as pessoas bran-
cas e 1,050 entre as pessoas pretas ou pardas.
No âmbito da educação, a taxa de analfabetismo entre pes-
soas de 15 anos ou mais é de 9,1% entre pretos e pardos e 3,9%
entre brancos.
Em relação à distribuição de renda e condições de moradia,
em 2018, observou-se que 41,7% das pessoas abaixo das linhas
de pobreza eram pessoas negras, e 19% eram brancas.
No que diz respeito ao percentual de pessoas residindo em
domicílios sem acesso a serviços de saneamento, a mesma pes-
quisa nos mostra que 12,5% de pretos e pardos não tem acesso
a coleta direta ou indireta de lixo, contra 6% de pessoas bran-
cas; 17,9% de pretos e pardos não tem acesso a abastecimento
de água por rede geral, contra 11,5% de brancos; 44,5% de
pretos e pardos vivem sem ao menos um serviço de sanea-
mento, contra 27,9% de brancos.
No que diz respeito à taxa de homicídios entre os brancos e
negros, em 2017, considerados homens e mulheres, observou-
-se entre os brancos a taxa de 34 homicídios por cem mil jovens,
enquanto entre os pretos e pardos observou-se a taxa de 98,5
homicídios por cem mil jovens, o que representa que um jovem
POR Desafios e potencialidades para o enfrentamento do racismo no Brasil 481

negro tem quase três vezes mais de chance de ser assassinado


no Brasil do que um jovem branco.
De acordo com o Atlas da Violência (2020, p. 47) os negros
representam 75,7% das vítimas de homicídios no país; as
mulheres negras representam 68% do total das mulheres assas-
sinadas no Brasil.
O Anuário de Segurança Pública (2020) também nos informa
a sub-representação de negros entre as vítimas de letalidade
policial, correspondendo a 74,4% do total de vítimas entre os
civis e a 65,1% dos agentes de segurança assassinados no último
ano. O estudo demonstra que: “A comparação da taxa por 100
mil habitantes indica que a mortalidade entre pessoas negras
em decorrência de intervenções policiais é 183,2% superior à
taxa verificada entre brancos. Enquanto entre brancos a taxa
fica em 1,5 por 100 mil habitantes brancos, entre negros é de
4,2 por 100 mil negros”. (Anuário de Segurança Pública, 2020,
p. 90-91).
No que diz respeito à violência contra as mulheres, o
Anuário de Segurança Pública (2020) nos informa que “Em
2019, 66,6% das vítimas de feminicídio no Brasil eram negras”.
As mulheres negras correspondem a 53,6% das vítimas de mor-
talidade materna (SIM/Ministério da Saúde/2015) e a 65,9%
das vítimas de violência obstétrica (Cadernos de Saúde Pública
30, 2014, Fiocruz).
No que diz respeito ao encarceramento, o Brasil é, atualmente,
o país com a terceira maior população carcerária do mundo, pos-
suindo, em 2020, mais de 773 mil pessoas presas (INFOPEN,
2017), ficando atrás apenas dos Estados Unidos e China, res-
pectivamente com 2,1 milhões e 1,7 milhão (ICPR–Institute for
Crime & Justice Research, 2020). Ao longo dos últimos 16 anos
o número de mulheres presas no Brasil cresceu mais de 600%.
O relatório de informações penitenciárias do Brasil
(INFOPEN, 2019, p. 32) nos informa que a população negra
482 Polifonías para la equidad racial POR

corresponde a aproximadamente 64% da população carcerá-


ria. Nesse sentido, é importante também observar que, em 2019,
o INFOPEN informou que existem 268.438 presos provisórios
nas penitenciárias do Brasil, o que significa dizer que 34,7% da
população carcerária nacional sequer foi condenada em primeira
instância (INFOPEN, 2019). Observa-se ainda que, enquanto
25% dos crimes pelos quais os homens respondem estão relacio-
nados ao tráfico, para as mulheres essa proporção chega a 62%.
Segundo o Infopen Mulheres (2017), 62,5% da população car-
cerária feminina no Brasil é composta por mulheres negras, a
maior parte delas possui o ensino fundamental incompleto.
Por outro lado, no que diz respeito à representação política,
em 2018, apenas 24,4% dos deputados federais eleitos eram pre-
tos ou pardos, enquanto 75,6% dos deputados federais eram
brancos e outros. Entre os deputados estaduais, 28,9% são pre-
tos ou pardos e 71,1% são brancos e outros. A maior represen-
tação das pessoas negras está entre os vereadores, representando
42,1% dos eleitos, contra 57,9% de vereadores brancos e outros.
Esses dados são o reflexo de como o racismo forja e organiza
a sociedade brasileira desde o período da escravidão e de como
os efeitos do racismo se desdobram em permanências de longa
duração. Além das mazelas do racismo, esses dados também
representam a possibilidade de representar em números a des-
construção do mito da democracia racial, e, apesar do teor do
conteúdo, esse fato pode ser compreendido como um avanço
no tocante à questão racial no Brasil, no sentido de que é possí-
vel estabelecer evidências para subsidiar as discussões e formu-
lações de políticas públicas e ações afirmativas.

II) Avanços no enfrentamento ao racismo e promoção da


igualdade racial no Brasil
Desde o processo de reabertura democrática do Brasil, os
movimentos sociais, inclusive o movimento negro, vem se
POR Desafios e potencialidades para o enfrentamento do racismo no Brasil 483

organizando e lutando para conseguir produzir dados a fim de


influenciar as tomadas de decisões na política institucional, a
produção legislativa e a produção de políticas públicas.
Nesse sentido, cumpre destacar que a nossa atual capaci-
dade de produção de dados no tocante à questão racial no Brasil
desempenha a função importante “de desnaturalizar a coinci-
dência que equivocadamente se apresenta entre desigualdades
sociais e desigualdades raciais, concebendo-se a questão racial
como um mero subproduto da desigualdade socioeconômica”
(IPEA, 2011, P.13) e pode ser entendida como um avanço rela-
cionado à criação e desenvolvimento da Secretaria de Políticas
de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República
(SEPPIR/PR), criada pelo governo federal em 2003, simboli-
zando “o reconhecimento do pleito dos movimentos sociais
negros com relação à necessidade de uma institucionalidade
própria para a formulação, coordenação e articulação de políti-
cas e diretrizes governamentais para a promoção da igualdade
racial” (IPEA, 2011, P.13). Cumpre observar que a SEPPIR foi
extinta em 2015 e incorporada ao Ministério das Mulheres, da
Igualdade Racial e dos Direitos Humanos, o que foi visto como
um retrocesso para muitas pessoas dentro do movimento negro,
pois, uma única pessoa que passou a representar todas as pastas.
Além da produção de dados, gostaríamos de destacar a
Constituição Federal de 1988 e as legislações sobre discrimi-
nação racial no Brasil como conquistas para a população bra-
sileira. Dentre as legislações, podemos citar como importantes
instrumentos de proteção e efetivação dos direitos da população
negra: I) na Constituição Federal, a) o art. 3°, IV, CF que prevê
a promoção do bem-estar de todos, sem preconceitos de ori-
gem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discri-
minação como objetivos fundamentais da República Federativa
do Brasil; b) o Art. 4°, II e VIII, CF que prevê que a República
Federativa do Brasil irá reger as suas relações internacionais
484 Polifonías para la equidad racial POR

pelos princípios da II–prevalência dos direitos humanos; e do


VIII–repudio ao terrorismo e ao racismo; c) o art. 5°, XLI, XLII,
estabelece que “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de
qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangei-
ros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, a liber-
dade, a igualdade, a segurança e a prosperidade”, determina que
“a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescri-
tível, sujeito de reclusão nos termos da lei” e prevê que “a lei
punirá a qualquer discriminação atentatória dos direitos e liber-
dades fundamentais”; d) o art.7°, XXX, CF, descreve a proibi-
ção de diferença de salários, de exercício de funções e de critério
de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil; e)
o art. 215. § 1°, CF informa que o Estado protegerá as manifes-
tações das culturas populares, indígenas e afro-brasileiras, e das
de outros grupos participantes do processo civilizatório nacio-
nal, e f) o art. 216. § 5°, CF, determina o tombamento de todos
os documentos e os sítios detentores de reminiscências histó-
ricas dos antigos quilombos. Ademais, o artigo 68 do Ato Das
Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT) estipulou que
aos remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam
ocupando suas terras e reconhecida a propriedade definitiva,
deve o Estado emitir-lhes os títulos respectivos.
Além das normas constitucionais, podemos citar a) a Lei
Caó: Lei nº 7.716/1989, que regulamentou a disposição consti-
tucional e definiu os crimes resultantes de preconceito de raça
ou de cor, b) a Lei n° 9.459/1997 ampliou a abrangência da Lei
Caó, ao incluir, no artigo 1°, a punição pelos crimes resultantes
de discriminação e preconceito de etnia, religião e procedência
nacional; ao incluir, em seu artigo 20, tipo penal mais genérico
para o crime de preconceito e discriminação: “Praticar, indu-
zir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia,
religião ou procedência nacional”; e ao criar um tipo qualificado
POR Desafios e potencialidades para o enfrentamento do racismo no Brasil 485

de injúria no Código Penal (injuria racial), por meio da inclu-


são do parágrafo 3° ao artigo 140 do Código; c) a Lei 10639/03,
altera a Lei no 9.394/96, e dispõe sobre a obrigatoriedade do
ensino de história e cultura afro-brasileira e africana nas esco-
las públicas e privadas da educação básica; d) o Estatuto da
Igualdade Racial, Lei 12.288/2010, é tido como a principal refe-
rência para enfrentamento ao racismo e a promoção da igual-
dade racial no país; e) a Lei nº 12.711/12 que estabelece as
cotas sociorraciais nas Instituições de Ensino (IFES); f) a Lei
12.990/14 que estabelece as cotas raciais nos concursos públi-
cos federais; g) a Portaria 13/2016, do Ministério da Educação,
que induz a criação de cotas na Pós-Graduação, h) a decisão do
Tribunal Superior Eleitoral (2020) que determina aos partidos
políticos garantir políticas de ações afirmativas para que candi-
daturas negras tenham o devido acesso ao fundo eleitoral parti-
dário e tempo de televisão.
O avanço legislativo do Brasil, no que diz respeito ao enfren-
tamento ao racismo e à promoção da igualdade racial, con-
trasta, contudo, com a efetivação dessas normas, o que nos faz
avançar a passos lentos para a conquista de dignidade plena e
acesso a direitos para todos os cidadãos.
As dificuldades desta luta aumentaram de maneira significa-
tiva nos últimos anos, acentuando as desigualdades entre negros
e brancos, e destacamos como possíveis causas: a) a eleição do
então presidente Jair Bolsonaro, e b) a pandemia da COVID 19.
Abordaremos essas questões no tópico a seguir.

III) O governo Bolsonaro e a COVID 19 como desafios


para a luta antirracista no Brasil
Desde o golpe jurídico-político-midiático que marcou a retirada
da ex-presidente Dilma Rousseff do poder em 2016, o Brasil
segue uma escalada de autoritarismo, desmonte de políticas
486 Polifonías para la equidad racial POR

sociais, e a implementação de políticas neofascistas que se con-


solidaram com a eleição do então presidente Bolsonaro e de
muitos aliados bolsonaristas em várias instâncias políticas em
todo o país e que marcam o retrocesso no enfrentamento ao
racismo e na promoção de igualdade racial no país.
A extinção do Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial
e dos Direitos Humanos e a sua incorporação ao Ministério de
Justiça e da Cidadania, medida tomada pelo governo Temer em
2016, e a sua posterior transformação no Ministério da Mulher,
da Família e dos Direitos Humanos, no governo Bolsonaro, em
2019, tendo como atual ministra a Damares Alves, pastora evan-
gélica, representaram medidas conservadoras e fundamentalistas
que colocaram as políticas para diversidade e inclusão em risco
e dificultando a relação dos movimentos sociais com o governo.
Com a eleição do então presidente Jair Messias Bolsonaro, os
movimentos negros brasileiros organizaram a “Coalizão negra
por direitos”, em 2019, com o intuito de mobilizar a sociedade
civil e realizar incidência política junto ao congresso nacional, e
organismos internacionais de direitos humanos a fim de instituir
um espaço de discussão, organização e fortalecimento político
por demandas por dignidade e justiça em nome da popula-
ção negra.
Desde o golpe de 2016 e o anúncio da candidatura de
Bolsonaro, é perceptível o aumento da discriminação, do
racismo, das desigualdades econômicas, dos riscos e desastres
e socioambientais, bem como, a desigualdade de acesso aos
serviços básicos de educação e saúde. Todos esses problemas
se acirraram de sobremaneira com a crise econômica, sanitá-
ria e social instaurada com a pandemia da COVID 19, que foi
potencializada pela incapacidade do governo federal em geri-
-la ao adotar uma postura negacionista, sem seguir as recomen-
dações da Organização Mundial de Saúde, e, pelo contrário,
POR Desafios e potencialidades para o enfrentamento do racismo no Brasil 487

provocando aglomerações, ignorando medidas de prevenção,


rejeitando vacinas e oferecendo tratamentos não comprovados
cientificamente para a doença, e se utilizando da pandemia para
“fazer passar” no congresso pautas importantes para a popula-
ção brasileira, sem a possibilidade de discussão desses temas, o
que reforça a sua postura antidemocrática.
Observa-se, ainda, que durante a pandemia, muitos gover-
nos, sobretudo os bolsonaristas, reduziram ou fecharam serviços
públicos, que são usados majoritariamente por pessoas negras, o
que dificultou o acesso (que já era precário) e provocou aglome-
rações, como o que foi possível observar em transportes públi-
cos como ônibus, trens e metrôs. De fato, essa combinação de
“bolsonarismo” e pandemia amplificou as desigualdades raciais
preexistentes no Brasil em todos os aspectos possíveis.
No que diz respeito às desigualdades raciais acentuadas pela
COVID-19 podemos destacar:

educação, acesso à saúde e a serviços de alta complexidade,


saneamento básico, segurança alimentar, moradia, mercado
de trabalho, acesso a renda e tantos outros que, direta ou
indiretamente, favorecem sua exposição ao vírus e à morte.
Enquanto camadas mais privilegiadas da sociedade – de
maioria branca – possuem recursos que lhes asseguram a
possibilidade de cumprir o isolamento social trabalhando
em casa, profissionais informais e precarizados, majoritaria-
mente negros, seguem cada vez mais expostos. Afinal, são
eles que possibilitam o distanciamento desse grupo mais
privilegiado às custas de sua contaminação, tanto pelo
deslocamento quanto pelo exercício de ocupações mais vul-
neráveis. E para acessar o sistema de saúde essa população
enfrenta maior tempo de deslocamento e menor disponi-
bilidade de serviços associados às condições precárias dos
488 Polifonías para la equidad racial POR

serviços de saúde das áreas periféricas onde se concentra a


população negra. (MARINHO et al, 2021)4

Apesar da subnotificação da letalidade por Covid-19 no Brasil


(estima-se que pelo menos 20% das mortes por Covid-19 estão
subnotificadas), é possível observar a disparidade racial no
excesso de mortalidade das pessoas negras no Brasil. De acordo
com o Informativo Desigualdades raciais e Covid-19 “No
Brasil, observamos um excesso de mortalidade de 27,8% (153
mil óbitos) para os pretos e pardos em 2020, enquanto para os
brancos foi de 17,6% (117 mil óbitos)” (MARINHO, 2021, p.
7), 36 mil pessoas negras a mais do que pessoas brancas.
O mesmo estudo sumariza em três pontos que contribuem
para as disparidades raciais nos resultados durante a pande-
mia de Covid19 (dentre os muitos fatores que podem ser enu-
merados). São eles: a) a maior exposição da população negra à
infecção da Covid-19, devido à maior dificuldade de realização
do distanciamento social, considerado o fato de que os indiví-
duos negros possuem menor renda e as condições de domicí-
lio, trabalho e transporte público; além do fato de terem menos
oportunidades de trabalhar remotamente, devido à menor esco-
laridade, os deixam mais vulneráveis; b) o nível socioeconômico
mais baixo também se relaciona a uma carga maior de comor-
bidades que aumentam a letalidade da Covid-19 (como hiper-
tensão e diabetes); c) a letalidade é maior em populações com
menos acesso a cuidados de saúde, que é a população negra.
(MARINHO, 2021, p. 12)
O Informativo Desigualdades raciais e Covid-19 aborda as
desigualdades observadas como fruto de uma sindemia, reco-
nhecendo que:

4 MARINHO, Fátima. 2021 Informativo Desigualdades raciais e Covid-19. Disponível em:


https://cebrap.org.br/wp-content/uploads/2021/03/Informativo-8-Disparidades-raciais-no-ex-
cesso-de-mortalidade-em-tempos-de-Covid-19-em-Sa%CC%83o-Paulo_final.pdf
POR Desafios e potencialidades para o enfrentamento do racismo no Brasil 489

os determinantes sociais, políticos e estruturais contribuem


mais para as desigualdades em saúde do que fatores bioló-
gicos ou escolhas pessoais (Singer et al., 2017). Sindemias
não são apenas comorbidades. São caracterizadas por inte-
rações biológicas e sociais, que aumentam a suscetibilidade
de uma pessoa a doenças e a perda da saúde ao longo da
vida (Horton, 2020). (MARINHO, 2021, p. 17)

Além desses fatores, devemos ainda destacar que as determi-


nantes sociais, políticas e estruturais também estão fazendo
com que a população negra esteja sendo menos vacinada do
que a população branca.
O observatório do terceiro setor registrou que o “Brasil
vacina duas vezes mais pessoas brancas do que negras”. Em
notícia publicada em 02/04/2021 o observatório informou que
“De acordo com o levantamento da Pública, no Brasil, há 3,2
milhões de pessoas que se declaram brancas e que receberam a
primeira dose de uma vacina contra a Covid-19. Já entre as pes-
soas negras, esse número cai para pouco mais de 1,7 milhão”.
(OBSERVATÓRIO, 2021)
Deste modo, o acirramento das desigualdades provenien-
tes da pandemia da Covid-19 apresenta muitos desafios para a
população brasileira, sobretudo os negros, e de maneira espe-
cial para os movimentos por justiça racial. A sucessão de políti-
cas sociais austeras, desde o golpe de 2016, recolocou o Brasil
no mapa da fome.
Segundo André Santos, em artigo na Carta Capital (2021)
“O IBGE confirmou que, em 2018, voltamos a ter 5% da popu-
lação em estado de fome”, em outras palavras, em situação de
insegurança alimentar grave. Ele menciona um estudo realizado
por pesquisadores do núcleo Food for Justice – Power, Politics
and Food Inequality in a Bioeconomy, da Universidade Livre de
Berlim, em parceria com pesquisadores da UFMG e da UnB,
490 Polifonías para la equidad racial POR

que “aponta que, em dezembro de 2020, a insegurança alimen-


tar atingiu 59,4% dos domicílios brasileiros. 31,7% estão em
situação de insegurança alimentar leve, 12,7% moderada e ater-
radores 15% em situação de insegurança alimentar grave”. O
estudo demonstra ainda, que

Analisando a clivagem por sexo, nos casos em que apenas


um morador do domicílio é responsável por prover a famí-
lia, vimos que se o chefe da família é homem, a fome atinge
13,3% dos lares, enquanto os lares providos por mulhe-
res chegam à cifra de 25,5% em situação de fome, quase o
dobro do índice dos lares mantidos por homens. Se o recorte
leva em consideração a raça ou cor do único responsável
pelo domicílio, constata-se que 48,9% dos lares chefiados
por brancos possuem algum nível de insegurança alimentar,
índice que sobe para 66,8% se o provedor da família é preto
e para 67,8% se o responsável é pardo. No caso da fome, o
estudo apurou que 23,4% dos domicílios sob o encargo de
pretos e 18,9% dos domicílios chefiados por pardos estão na
grave situação em que todos os membros da família, incluídas
as crianças, estão desprovidos de alimentos na quantidade e
qualidade necessárias. (SANTOS, 2021, on-line)

Além do aumento da fome, a pandemia e o descaso do governo


trouxeram outros desafios para o movimento negro brasileiro.
Em observação às atividades desenvolvidas pela Coalizão Negra
por Direitos5 buscamos identificar: a) os principais desafios
que as organizações do movimento negro têm enfrentado; b)
as suas principais demandas e c) as suas estratégias, ou o modo
5 Usamos o monitoramento e catalogação das postagens do Instagram da Coalizão Negra
por direitos, desde o seu início, até hoje, como metodologia de análise dos principais desafios
que as organizações do movimento negro têm enfrentado; as principais demandas e o modo de
incidência política que a coalizão tem utilizado para atingir os seus fins políticos. Deste modo,
buscamos compreender como esse movimento de justiça racial tem se mobilizado no Brasil.
POR Desafios e potencialidades para o enfrentamento do racismo no Brasil 491

de incidência política utilizado para atingir os seus fins políti-


cos (o que o Brasil tem para ensinar sobre o enfrentamento ao
racismo e a promoção da igualdade racial).
No que diz respeito aos principais desafios que as organi-
zações do movimento negro têm enfrentado, é possível desta-
car o genocídio do povo negro, orquestrado por uma série de
elementos: a precariedade de políticas públicas; as desigualda-
des no acesso aos serviços públicos; a violência estatal; o perfi-
lamento racial; a política de drogas; a criminalização da cultura
negra; o racismo religioso; o assassinato de defensores de Direitos
Humanos; as violações aos direitos dos povos tradicionais; o ata-
que à questão ambiental; a perseguição à população LGBT; a
violência contra as mulheres e o feminicídio; o bolsonarismo; o
ataque à democracia e às populações mais vulneráveis por parte
do novo governo que se opõe aos direitos humanos; a crise sani-
tária que se instaurou com a pandemia da Covid-19; a má gestão
da pandemia da Covid-19 por parte do governo federal; as redes
de ódio e de fake news; os ataques sistemáticos à imprensa e a
jornalistas; a influência religiosa no nosso modelo de política; o
tokenismo racial para a desmobilização da pauta (p. ex.: nomea-
ção de Sérgio Camargo para a presidência do Instituto Palmares);
o silenciamento contínuo das lutas raciais, a negação do racismo;
a falta de transparência e a não produção de dados; etc.
Dentre as demandas do movimento negro durante esse
período de agudização do racismo e de seus efeitos, podemos
citar como principais as ações e demandas por: promoção de
políticas públicas; implementação de protocolos antirracistas a
nível institucional; responsabilização; denúncia ao pacote anti-
crime (problematizou a proposta da excludente de ilicitude com
relação aos homicídios perpetrados por agentes da segurança
pública); denúncia do acordo de Salvaguardas Tecnológicas
Brasil-Estados Unidos em Alcântara (acordo realizado entre os
EUA e o Brasil de modo inconstitucional, sem a consulta às
492 Polifonías para la equidad racial POR

comunidades quilombolas impactadas pela proposta de expan-


são do Centro de Lançamento de Alcântara, no Maranhão,
afetando mais de 700 famílias dentre as 31 comunidades quilom-
bolas locais do Município); solicitação de inclusão de cláusulas
de defesa dos direitos humanos da população negra brasileira
no Acordo União Europeia-Mercosul; realização de atos públi-
cos contra o genocídio da população negra, especialmente em
casos de violência estatal e morte perpetradas por policiais
em serviço, incluindo crianças (p. ex.: assassinato de Ágatha
Félix, 8 anos; João Pedro, 14 anos; Emilly, 4 anos e Rebecca,
7 anos; Chacina de Paraisópolis); ações pedindo por “Justiça
para Marielle e Anderson!” (Incluindo ações contra federaliza-
ção das investigações do homicídio de Marielle Franco face às
denúncias de que o presidente Jair Bolsonaro teve o interesse
em interferir na Polícia Federal do Rio de Janeiro para blindar,
supostamente, sua família de investigações); ações de denún-
cia e exigência de ações públicas face às desigualdades na pre-
venção e enfrentamento à COVID 19 no Brasil; demanda de
apreciação e votação do PL 2477/20 para a consideração da
atividade doméstica como não essencial durante a pandemia;
ações contra o corte da renda básica emergencial; campanha
contra um projeto de lei na Câmara Municipal de São Paulo que
visava acabar com as cotas raciais no serviço público da cidade;
campanha contrária à Medida Provisória (MP) 1000/20, que
reduz o valor do auxílio emergencial pela metade (300 reais);
lançamento da Campanha: Vidas Quilombolas Importam; nota
de solidariedade ao povo afro-colombiano, em decorrência do
genocídio e etnocídio dos afrodescendentes, vítimas da violên-
cia racista do Estado e de paramilitares; nota de repúdio à pro-
posta criada pelo defensor público-geral federal Jovino Bento
Junior, que busca proibir e penalizar políticas afirmativas para
pessoas negra; campanhas em reação ao fato de o Brasil retornar
ao Mapa da Fome; ações em defesa do Sistema Único de Saúde;
POR Desafios e potencialidades para o enfrentamento do racismo no Brasil 493

campanha #SOS AMAPÁ; apoio para a mitigação das conse-


quências do apagão decorrente de um incêndio na subestação de
energia; ações em repúdio e protesto ao espancamento de João
Alberto Silveira até a morte por seguranças do supermercado
Carrefour, na cidade de Porto Alegre em 20/11/2020; ações
de boicote ao Carrefour; notas de repúdio à repressão policial
em protestos e manifestações; atos em resposta ao desapareci-
mento (em 27/12/2020) de Lucas Matheus, 10 anos, Alexandre
da Silva, 10 anos, Fernando Henrique, 11 anos, três crianças
moradoras de Belfort Roxo, no Rio de Janeiro, e à falta de infor-
mações sobre o caso pela polícia até hoje; denunciar e exigência
de encaminhamento por parte do Governo Federal de medi-
das, em caráter de urgência, para combater os efeitos da pan-
demia da Covid-19, na cidade de Manaus e em todo o Estado
do Amazonas. O sistema de saúde da cidade está em colapso
por falta de UTIs e de insumos vitais (oxigênio) para manter
os pacientes de Covid-19 vivos; manifesto sobre a negligência
do governo federal na pandemia (negação do acesso à saúde
da população); mobilizações por exigência por Vacina para
todas e todos; pelo SUS e por um Auxílio Emergencial mini-
mamente digno; mobilizações de combate à fome e demanda
por ações de combate à miséria; acompanhamento do processo
judicial contra o Carrefour, em decorrência do assassinato de
João Alberto, em decorrência da abordagem de um segurança
da rede de mercados. E a cobrança às instâncias competentes da
responsabilização da empresa; aprovação do STF à Arguição de
Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF 742), pro-
tocolada em 14/12/2020 pela CONAQ–Coordenação Nacional
de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas.
Tem como objeto assegurar a vida e a saúde quilombola na pan-
demia da Covid-19, exigindo a inclusão de quilombolas no
grupo de imunização prioritária; mobilizações contra a PEC
186 que visava a vincular os recursos para o planejamento de
494 Polifonías para la equidad racial POR

políticas para educação e saúde; atos e mobilizações e solidarie-


dade e apoio ao povo do Acre em decorrência da crise sanitá-
ria e migratória; lançamento da Campanha: Se tem gente com
fome, dá de comer; campanha de arrecadação de produtos de
higiene para a prevenção à COVID-19; campanha de cons-
cientização contra a fura da fila de vacina; manifesto dirigido
ao governo Biden exigindo que ouça a sociedade civil para a
negociação da verba recebida pelo governo Bolsonaro para a
proteção da Amazônia. Denúncia do aumento dos incêndios
florestais; da exploração do território por empresas minerado-
ras e madeireiras durante o governo Bolsonaro, que também
viola os direitos humanos dos povos indígenas e quilombo-
las; repúdio aos assassinatos de Bruno e Yan Barros, na cidade
de Salvador, na Bahia. Os jovens furtaram o supermercado
Atakadão Atakarejo, de Amaralina, foram torturados e entre-
gues a um grupo de traficantes da região e, finalmente, assassi-
nados; nota contra a repressão policial militar promovida pelo
governo de extrema-direita de Iván Duque, contra os movimen-
tos sociais colombianos. (28 de abril); notas, ações, manifesta-
ções e mobilizações contra a Chacina do Jacarezinho, em que
foram assassinadas 25 pessoas, e pelo cumprimento da ADPF
das favelas. Pedido de responsabilização do governador do Rio
de Janeiro; mobilização pela proteção da vida de congressistas
e defensores de direitos humanos; manifestações em solidarie-
dade à ativista Sasha Johnson, do movimento Black Lives Matter
(Vidas Negras Importam), foi baleada na cabeça na madrugada
desta segunda-feira (24), em Peckham, Londres, Inglaterra etc.
As principais estratégias adotadas pelo movimento negro bra-
sileiro em sua luta contra o racismo e pela promoção racial con-
sideram a coletividade como princípio de comunidade que vai
de encontro à lógica neoliberal individualista, e visam a um pro-
jeto de país inclusivo onde não haja hierarquia entre as raças, os
gêneros, as classes etc. Podemos citar como estratégias que vem
POR Desafios e potencialidades para o enfrentamento do racismo no Brasil 495

sendo desenvolvidas ao longo dos últimos dois anos: I) a incidên-


cia jurídica, legislativa e administrativa em âmbito nacional por
meio de: reuniões e audiências públicas com deputados e sena-
dores; convocação de audiências públicas; protocolo de ofícios
em órgãos públicos de segurança nacionais exigindo a apuração
isenta da ação do Estado, e a imediata alteração de conduta da
polícia militar; ações dirigidas para que os congressistas se apro-
ximem das demandas da população; busca por reconhecimento
e alianças de/com congressistas aos atos da Coalizão Negra por
direitos; apresentação de notícia-crime contra o Presidente da
República Jair Bolsonaro por incitação ao crime de infração
de medida sanitária preventiva (no contexto da COVID 19);
cobrança de respostas institucionais para a prevenção e o trata-
mento da COVID 19; reivindicação da identificação e responsa-
bilização penal dos policiais envolvidos nas mortes das pessoas
(inclusive crianças) em operações policiais; em 03/06/2020, a
Coalizão Denunciou Sérgio Camargo, presidente da Fundação
Cultural Palmares ao ministério público federal por crime de
racismo e improbidade administrativa; em 24/06 foi votada a
ação judicial da Coalizão pedindo a derrubada da decisão do
ex-ministro da educação, Abraham Weintraub, que tentava
suspender as políticas de cotas, com isso, a portaria que esti-
pula políticas de ações afirmativas na pós-graduação foi man-
tida; representação à Procuradoria Geral de Justiça de São Paulo
contra a Polícia Militar de São Paulo e o governador João Doria,
exigindo providências ao caso da comerciante negra de 51 anos,
em Parelheiros, que foi pisoteada e tortura por um policial mili-
tar, em 30/05/2020; propositura de um pedido de impeachment
contra o atual Presidente Jair Bolsonaro (12/08/2020); ADPF
742 protocolada pela Conaq ao STF em razão do descaso com
que o governo vem tratando a crise sanitária nos quilombos,
pedindo por ações emergenciais para salvar as comunidades qui-
lombolas da Covid-19; exigência de responsabilização legal pelos
496 Polifonías para la equidad racial POR

crimes cometidos por Policiais Militares do Estado do Amapá,


no dia 19 de setembro de 2020, contra a pedagoga Eliane do
Espírito Santo da Silva; incidência junto ao Supremo Tribunal
Federal (STF) requerendo o julgamento procedente da liminar
conferida pelo Ministro Ricardo Lewandowski, que aplica, para
as eleições municipais de 2020, decisão do Tribunal Superior
Eleitoral que determina aos partidos políticos garantir políti-
cas de ações afirmativas para que candidaturas negras tenham
o devido acesso ao fundo eleitoral partidário e tempo de televi-
são; pedido de reconsideração da decisão do TRF-1, em favor da
comunidade quilombola Rio dos Macacos para que sejam res-
guardados os direitos básicos, uma vez que estava impedida de
acessar as águas do Rio dos Macacos, do Rio do Barroso e outras
fontes de água que são represadas pela Barragem, única fonte
de água disponível. A proibição de acesso às águas da Barragem
viola o direito de existência da própria comunidade; ação para
que o CNJ mantivesse as audiências de custódia presenciais;
atuação para a aprovação da Convenção Interamericana con-
tra o Racismo, a Discriminação Racial e Formas Correlatas de
Intolerância da Organização dos Estados Americanos mediante
quórum qualificado, para que tenha validade de norma consti-
tucional; incidência indireta para a derrubada da portaria edi-
tada pelo presidente da Fundação Cultural Palmares, Sérgio
Camargo, que retirou nome de referências do movimento negro
brasileiro da lista de personalidades negras notáveis da institui-
ção; propositura do Projeto de Lei que proíbe a conduta, por
parte de agentes públicos ou profissionais de segurança privada,
com caráter preconceituoso de qualquer natureza. O texto foi
aprovado no Senado e segue para a Câmara; apoio ao projeto
de resolução para criar, na Câmara dos Deputados Federais, a
Secretaria de Igualdade Étnico-Racial; construção de Comissões
Mistas de Parlamentares e entidades da Sociedade Civil pela
manutenção do auxílio emergencial.
POR Desafios e potencialidades para o enfrentamento do racismo no Brasil 497

A Coalizão Negra por Direitos também tem atuado a partir


de perspectiva transnacional, realizando uma incidência política
internacional a fim de ganhar visibilidade e buscar a garantia dos
direitos da população negra brasileira mediante a consideração
dos organismos internacionais de direitos humanos. Podemos
citar como estratégias utilizadas ao longo dos dois últimos anos:
denúncias à Comissão Interamericana de Direitos Humanos
(CIDH) da OEA; protocolos de ofícios em órgãos internacio-
nais exigindo a apuração isenta da ação do Estado, e a imediata
alteração de conduta da polícia militar nos casos de excesso;
denúncia dos ataques do governo Bolsonaro a mulheres jorna-
listas ao Conselho de Direitos Humanos da ONU; denúncia à
ONU sobre a negligência do governo Bolsonaro com a pande-
mia e seus impactos na população negra e comunidades quilom-
bolas; participação, em 01/10/2020, da 45ª Sessão do Conselho
de Direitos Humanos da ONU para denunciar o Racismo
Ambiental e a Discriminação Racial do caso da Ilha de Maré,
Salvador – Bahia; reuniões com o Alto Comissariado da ONU
para Direitos Humanos (ACNUDH); propositura de redes antir-
racistas internacionais; participação em encontros, conferências,
sessões e congressos internacionais; realização de audiência com
a relatora de direitos humanos da ONU para denunciar as vio-
lações de direitos contra a população negra brasileira, em espe-
cial aquelas em maior situação de vulnerabilidades: comunidades
quilombolas, a juventude negra e periférica, crianças, trabalhado-
ras e trabalhadores de serviços considerados essenciais durante
a pandemia de COVID-19; denúncia ao Alto Comissariado das
Nações Unidas para os Direitos Humanos das violações sofri-
das contra mulheres negras e trans (p. ex.: parlamentares Ana
Carolina Iara e Érika Hilton); aproximação a intelectuais, con-
gressistas e grupos antirracistas internacionais.
A Coalizão Negra por Direitos também traz como um dos
seus principais pilares (e razão que justifica a sua existência) a
498 Polifonías para la equidad racial POR

incidência junto à sociedade civil. Destacamos dentre as suas ati-


vidades: a convocação e participação em Grupos de Trabalho
junto aos congressistas e experts; a promoção de debates com
a sociedade; a replicação de estudos; a confecção de notas de
repúdio e de solidariedade em diferentes circunstâncias para
demarcação de posicionamento político; a realização de cam-
panhas; a confecção de documentos orientadores, notas e mani-
festos; o uso da rádio, televisão e Internet – lives (redes sociais
e site) para a comunicação e realização de campanhas com a
população por diferentes meios; a promoção de cursos, forma-
ções e atividades informativas; a realização de marchas e atos de
rua para manifestar apoio ou denúncia; o convite da população
para a participação (produção de caricaturas, charges, concurso
de ensaios); a elaboração de um calendário de lutas (com datas
comemorativas); a realização de atividades de reconhecimento
e valorização da cultura e da religião afro-brasileira; a exposição
virtual de obras de arte relacionadas aos temas antirracistas e
de promoção da igualdade racial e de valorização da identidade
negra; a valorização das lideranças locais e comunitárias; a divul-
gação/instrumentalização de ações que dialogam com a cultura
popular (p. ex.: no início de uma partida entre dois times gran-
des, os jogadores fizeram um minuto de silêncio e mostraram
camisas estampadas com nomes de vítimas da violência racial no
Brasil e com o número 23, chamando a atenção para o dado de
que: a cada 23 minutos, um jovem negro é assassinado no Brasil);
ações contra a intolerância religiosa; manifestação de pesar em
memória aos militantes e personalidades que morreram (p. ex.:
Lula Rocha; Maurício Paixão; Nelson Sargento etc.); a formação
da Aliança Inter-religiosa Antirracista.
Dentre as principais ações propositivas do movimento ao longo
do último biênio destacamos: a proposição do Projeto de Lei
5.885/2019 de enfrentamento ao racismo institucional na admi-
nistração na esfera pública; a comemoração do Dia Internacional
POR Desafios e potencialidades para o enfrentamento do racismo no Brasil 499

da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha; o debate da


Revisão de Meio-Termo ou da Década Internacional para as
Pessoas Afrodescendentes; a confecção da carta-programa com-
posta por 14 princípios e 25 agendas de reivindicações e exigên-
cias da Coalizão; a proposta de implementação de uma política de
renda básica de emergência para os mais desprotegidos diante da
crise da COVID 19; o lançamento da campanha “memória tem
cor” sobre o genocídio da população negra no Brasil; o lança-
mento da campanha “alvos do genocídio” no dia 21 de março, Dia
Internacional contra a Discriminação Racial, a Coalizão Negra;
os Atos “Vidas Negras Importam”; a confecção e divulgação de
relatórios para formulação de denúncias (p. ex.: dificuldades de
implementação do auxílio emergencial); o lançamento da/do cam-
panha/manifesto: “Enquanto houver racismo não haverá demo-
cracia”; a promoção da campanha do orgulho LGBT; o apoio à
Agenda Marielle Franco e à PANE–Plataforma Antirracistas nas
Eleições, lançada pelo Instituto Marielle Franco como proposta
antirracista para as eleições municipais (13/07/2020); a campanha
por eleições antirracistas para que o Tribunal Superior Eleitoral
(TSE) votasse a distribuição proporcional do Fundo Especial de
Financiamento de Campanha e do tempo de propaganda elei-
toral para candidatas e candidatos negros. A proposta foi apro-
vada para as eleições de 2022 e devido a uma liminar favorável
julgada pelo STF a reserva de recursos foi implementada ime-
diatamente (2020); a comemoração dos 5 anos da Marcha das
Mulheres Negras – contra o racismo, a violência e pelo bem viver;
a promoção de debates sobre representação política; a celebra-
ção do Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e
Caribenha e o Dia Nacional de Tereza de Benguela; a celebração
do aniversário de Marielle Franco (27/07); a campanha por uma
renda básica permanente; a celebração do dia 29/08 – Dia da
Visibilidade Lésbica; o apoio ao Movimento Negro de Campina
Grande para a aplicação de cotas para pessoas negras, indígenas,
500 Polifonías para la equidad racial POR

quilombolas e ciganas na Universidade Estadual da Paraíba; o


apoio ao primeiro encontro nacional de candidaturas negras;
a Celebração do dia do professor; o apoio à divulgação do 1º
Prêmio Neusa Maria de Jornalismo Pela valorização do jor-
nalismo profissional feito por pessoas não-brancas e por pes-
soas trans; a campanha para a eleição de candidaturas negras; a
campanha Tire o Racismo de Campo; a marcha da Consciência
Negra 2020; o evento pelo dia Internacional de Combate à
Violência contra a mulher 25/11; o apoio à campanha lançada
pela Conaq e terra de direitos: “Quilombolas contra Racistas”
– com uma plataforma de monitoramento e denúncia dos dis-
cursos de ódio racial proferidos por autoridades públicas;
a movimentação em defesa do Valor Anual por Aluno Raça
(VAAR) como modalidade de complementação da União
nos recursos do FUNDEB, no intuito de garantir políticas
educacionais de redução à desigualdade racial; a mobiliza-
ção pela defesa da paridade de gênero e da reserva de cotas
raciais de 30%, no tocante aos cargos diretivos da Ordem dos
Advogados do Brasil; a celebração do dia 21 de janeiro, Dia
Nacional de Combate à intolerância religiosa, instituído pela
Lei nº 11.365/2007 em memória de Mãe Gilda de Ogun, fale-
cida em decorrência de agressões morais, intolerância religiosa
e invasão em seu Terreiro cometidas por fundamentalistas reli-
giosos; a denúncia de vício irreparável da Comissão de Juristas
destinada a avaliar e propor estratégias normativas de aper-
feiçoamento da legislação de combate ao racismo estrutural e
institucional no país, por ausência de consulta ao movimento
negro (sociedade civil), colocando em xeque a sua legitimi-
dade; a participação no Fórum Social Mundial – Ação inter-
nacional em defesa da vida – denúncias contra o governo
Bolsonaro e o Genocídio da população; a celebração do dia 29
de janeiro – dia da visibilidade trans; a celebração do dia inter-
nacional da mulher (atos em defesa da vida das trabalhadoras
POR Desafios e potencialidades para o enfrentamento do racismo no Brasil 501

domésticas); o apoio ao Instituto Marielle Franco na ação


Plantando sementes, por meio da qual diversos representantes
políticos eleitos se comprometeram em protocolar 12 projetos
de lei apresentados por Marielle no Rio, para serem multipli-
cados em outras cidades. Um dos projetos cria o Dia Marielle
Franco de Enfrentamento à Violência Política contra Mulheres
Negras, LGBTQIA+ e periférica. Dia 14 de março; a reme-
moração do legado de personalidades negras: a exemplo de
Abdias do Nascimentos, Carolina Maria de Jesus e Marielle
Franco; a mobilização pela ocupação dos espaços políticos
pelas mulheres negras; os diálogos sobre o Dia Internacional
da Eliminação da Discriminação Racial; apoio à Campanha
“Nem pense em me matar” do Levante Feminista contra
o Feminicídio; a celebração em memória de Luiza Bairros
(27/03); mobilizações pela democracia e por igualdade racial
31/03 – “Ditadura nunca mais”; a celebração do Dia 27/04–
Dia Nacional das Trabalhadoras Domésticas; a campanha para
a quebra da patente e produção da vacina; a celebração do dia
Internacional da Liberdade de Imprensa e retomada da dis-
cussão sobre a importância de todos os profissionais da mídia
de investigar e publicar informações de forma livre; os atos e
manifestações realizadas no Dia 13 de Maio, em todo país. Ato
nacional pelo fim do genocídio negro, sobretudo as orquestra-
das em operações policiais. Manifestações em vários estados
do Brasil e em vários outros países no exterior no 13 de Maio
– Dia Nacional de Luta contra o Racismo – Lançamento da
campanha “Nem de bala, nem de fome e nem de COVID. O
povo negro quer viver”; o apoio às manifestações de 29/05 em
todo o Brasil contra o governo de Bolsonaro e a sua gestão da
COVID-19; a celebração do legado de Abdias do Nascimento;
a celebração da história, resistência e conhecimento da África
no dia 25/05 – Dia da África.
502 Polifonías para la equidad racial POR

Considerações finais
Apesar dos avanços legislativos para o enfrentamento ao
racismo e a promoção da igualdade racial desde o período de
redemocratização do país, os dados sociais do Brasil informam
uma desigualdade racial sistêmica de longa duração que vem
se agravando desde a ascensão de Michel Temer ao poder, em
2016, atingindo um nível ainda mais preocupante no governo
de Jair Bolsonaro, quando se acentuou com a pandemia da
Covid-19, bem como a má gestão federal das crises consequen-
tes que se somaram (sanitária, econômica, social).
Deste modo, muitos desafios se colocam como agravantes ao
genocídio do povo negro no Brasil, que se manifesta sob múlti-
plas faces: violência estatal/policial; ausência de políticas públi-
cas de acesso à saúde; vulnerabilidades trabalhistas; exploração;
fome; etc. As organizações do movimento negro apresentam,
contudo, novas oportunidades de reflexão sobre o racismo e o
antirracismo com a mobilização da sociedade civil e realização
de incidência política junto ao congresso nacional e organismos
internacionais de direitos humanos, como o que tem feito, por
exemplo, a Coalizão Negra por Direitos.
O estímulo à discussão e à organização social para o fortale-
cimento político de demandas por dignidade e justiça em nome
da população negra; a articulação política nacional e internacio-
nal, bem como o estímulo à ocupação dos espaços de poder tem
sido estratégias importantes para o enfrentamento ao racismo e
à promoção da igualdade racial no Brasil. Nesse sentido, além
do fortalecimento de coalizões nacionais em busca de reconhe-
cimento e apoio externo, a transnacionalização em coalizões
interpaíses também se apresenta como um grande potencial das
lutas do povo negro, representando uma possibilidade de for-
talecimento e de reconhecimento desses movimentos por orga-
nismos nacionais e internacionais.
POR Desafios e potencialidades para o enfrentamento do racismo no Brasil 503

Referências
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2019, proporção de pobres cai para 24,7% e extrema pobreza se
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01/06/2021
ESPAÑOL

Población afrodescendiente en Colombia


y sus procesos de activismo político

Julieth Balanta Zúñiga

La invisibilidad social y, agregaríamos, política del negro,


parece responder a la serie de mecanismos históricos que, a
nivel económico, ideológico-cultural, político y étnico han
contribuido a diluir la importancia de las reivindicaciones
negras y a encauzarlas a través de canales y organizaciones
políticas no diferenciadas desde el punto de vista étnico y
más bien articuladas a reivindicaciones socioeconómicas
y políticas específicas de los sectores subordinados. (Ser-
bin, 2010:12)

Retomando la idea de la invisibilidad social y política del negro


de la socióloga Friedemann (1986), en este ensayo nos pregun-
tamos cómo llegó a plantearse lo “negro” y su identidad como
un tema conflictivo dentro del sistema simbólico, social y polí-
tico en Colombia, considerando la propuesta de la sociología
política según la cual la diversidad de un sistema social se rela-
ciona con la diversidad del conflicto social, en nuestro caso la
identidad racial.
En este sentido, el surgimiento del Movimiento Social
Afrocolombiano (en adelante MSA) y su posicionamiento en
508 Polifonías para la equidad racial ESP

el sistema simbólico, social y político en Colombia a partir de


una identidad diferenciada, plantea un cambio en las relaciones
étnicas que reclaman un estatus propio en la política. ¿Cómo
entender el proceso de formación de la “identidad negra” como
un tema conflictivo dentro del sistema simbólico, social y polí-
tico en Colombia, sin reducirlo a un movimiento étnico gené-
rico liderado por las reivindicaciones indígenas o a otras causas
sociales como la lucha de clases?
En primer lugar, la politización de lo “negro” como pro-
blema autónomo en la política colombiana se puede rastrear en
las ideas y discursos del MSA durante el siglo XX. De acuerdo
con Pietro en su libro Liderazgos negros en Colombia. Según
este autor, lo “negro” 1 no fue una categoría de reivindicación
política explícita en la primera mitad del siglo XX por razo-
nes históricas que datan desde la colonia y las relaciones racia-
les construidas sobre la indiferenciación de la identidad étnica
con la identidad nacional.
Antes de la consolidación del MSA, existen antecedentes en
el cimarronismo y en las guerras de Independencia en las cuales
había un criterio de organización centrado en la libertad y en la
construcción de territorios independientes o palenques. A par-
tir de aquí se consolidaron las primeras experiencias organiza-
tivas alrededor de la abolición de la esclavitud, conseguida en
1851. Antes de ese momento la referencia a la población afro-
colombiana como grupo étnico no existía.
Lentamente, en la primera mitad del siglo XX, se vislum-
bran unas manifestaciones organizativas que sugieren una
conciencia política que evoca lo étnico como lugar margi-
nal y excluyente y a la vez distintivo de las poblaciones afro-
colombianas. Este pensamiento luego se posiciona con más
fuerza en los años 70 y 80 del siglo XX, con grupos y centros

1 Nos referimos a “lo negro” para indicar demandas de grupo de la población afrocolombiana.
ESP Población afrodescendiente en Colombia y sus procesos de activismo político 509

de investigación que aluden más abiertamente a la identidad


negra y afrocolombiana.
En este proceso surge en Bogotá el Club del Negro en 1943
y el Centro de Estudios Afrocolombianos en 1947, conocidos
como dos antecedentes organizativos del MSA, que intentaron
plantear las condiciones de las poblaciones afro en oposición
a las del resto de la población blanco-mestiza: condiciones de
marginalidad, exclusión e invisibilidad principalmente2.
De estas experiencias surgieron liderazgos regionales con
incidencia en el la política nacional, personajes como Diego
Luis Córdoba, Adán Arriaga Andrade, Ramón Lozano Garcés
en el Chocó; Sofonías Yacup, Alejandro Peña, Natanael Díaz y
Arquímedes Viveros en el Norte del Cauca, y Néstor Urbano
Tenorio en Buenaventura, quienes desde sus liderazgos regiona-
les como representantes a la Cámara por sus regiones empeza-
ron a hablar de la condición de marginalidad de las poblaciones
afro en el Congreso de la República.
Estos liderazgos actuaron al interior del Partido Liberal
entre 1920 y 1950, tratando de reivindicar una causa no explí-
citamente racial, pero que tenía sus nexos con las comunida-
des afrodescendientes por su ubicación territorial. Estos líderes
hicieron “visibles” la región caucana, pacífica, nariñense y cho-
coana en la política nacional, sin mencionar explícitamente el
reclamo racial, pero construyendo un capital simbólico necesa-
rio para que en los años 70 del siglo XX se hiciera visible una

2 “Tanto el Club Negro de Colombia como el Centro de Estudios Afrocolombianos


representan dos intentos de salir de la condición que Nina de Friedemann ha definido como
«invisibilidad». De manera diferente, estas dos experiencias trataron de lograr el reconocimiento
de un estatus de la gente negra en la sociedad colombiana. Como movimiento social, el Club
Negro fue un episodio aislado, que chocó con la dificultad de poner la condición de la gente
negra como argumento de carácter abiertamente político. De hecho, un movimiento de reivindi-
cación de la gente negra surgirá en Colombia solamente algunas décadas después. Como grupo de
estudio, por el contrario, el Centro de Estudios Afrocolombianos, aunque muy probablemente
también de breve duración, puso las bases por la exaltación de la contribución de la gente negra
en la cultura del país que será continuada, aunque de manera aislada e individual, en las décadas
siguientes […] ¨ (Pisano, 2010: 80 & 94, citado por Arocha, Carabalí, et al, 2012:75,76).
510 Polifonías para la equidad racial ESP

apuesta abiertamente étnica-racial en la política, visibilizando el


racismo y las condiciones de vida y de poco acceso a las oportu-
nidades entre las poblaciones afrocolombianas.
En esta transición hacia liderazgos políticos más explíci-
tamente reivindicativos de la identidad racial se destacan las
primeras reuniones regionales y nacionales que se dan en la
década de 1970 en Cali, Quibdó, Medellín y Cartagena, en las
cuales se define la autodeterminación étnica y cultural a par-
tir de la cual se organizará el MSA con propuestas de igualdad
de oportunidades en las ciudades, derechos colectivos, etnoe-
ducación y el referente de África como elemento de origen y
fuente de identidad3 .
Es así que en la década de 1970 se llevan a cabo los prime-
ros encuentros nacionales y regionales en los cuales la agenda
se centraba alrededor de demandas por la visibilidad y la parti-
cipación. Junto con algunos académicos de la época que acom-
pañaron estos encuentros, términos como “invisibilidad social
del negro”, acuñado por la antropóloga Nina de Friedemann
en 1969, hicieron parte de las discusiones que brindaban al pro-
ceso organizativo elementos conceptuales desde la historia y la
antropología para entender la condición de exclusión y la nece-
sidad de organización política que recogiera la identidad negra
y las huellas de africanía como fortalezas de trabajo común.
En estos encuentros se empieza a retar la idea de una nación
blanca e indígena en la cual la población negra no tenía ningún
espacio institucional (Wade, 2009).

3 “En 1975 se realiza el Primer Encuentro Nacional de la Población Negra en Cali. Surgen
los grupos «Poblaciones Negras», «Negritudes», «Cultura Negra» y Tabalá en Tunja; Panteras
Negras, La Olla y los Musulmanes Negros en Buenaventura; Cimarrón en Popayán; Círculo de
Estudios de la Población Negra –Soweto– en Pereira. En 1976 se realizó el Congreso «Aportes
del Negro a la Cultura Americana»; en 1977, en Cali, donde tuvo lugar el «Primer Congreso de
la Cultura Negra de las Américas»” (Ibídem, 2012:117).
ESP Población afrodescendiente en Colombia y sus procesos de activismo político 511

Tabla 1. Primeros encuentros regionales y nacionales del Movimiento


Social Afrocolombiano (1975-1977)

1975 1975 1976 1977 1977 1977


Febrero Agosto CARTA-
CALI TUMACO QUIBDÓ MEDELLÍN GENA CALI

I encuentro II Encuentro II Encuentro Congreso III I Congreso


Nacional Regional y Nacional de Encuentro de la
de la I del Litoral de la Negritudes Nacional cultura
población Pacifico población de la negra
negra negra Población de las
negra Américas

Objetivos

*Promover *Igualdad Creación *Desig- *Situación África


la de oportu- del Comité nación del política y como
educación nidades asesor. Dr. Zapata cultural origen y
de la *La iden- Candidato Olivella de la fuente de
cultura tidad y el negro a la como población identidad
negra. papel de presidencia candidato Negra en étnica y
*Creación negro en (77-9) presidencial. Colombia cultural.
del Colombia.
periódico
semestral:
Negritudes.

Fuente: Elaboración propia con base en el texto: Movimiento Social Afrocolom-


biano, Negro, Raizal y Palenquero: el largo camino hacia la construcción de espacios
comunes y alianzas estratégicas para la incidencia política en Colombia (2012).

Estos encuentros denotan un movimiento conscientemente


étnico-racial organizado en temas comunes en torno al pro-
blema del racismo y la exclusión de lo “negro” como política
de segregación e inacción del Estado, la igualdad de oportuni-
dades en los puestos de trabajo y universidades y la necesidad
de incidir políticamente con candidatos y propuestas de bene-
ficio directo a las comunidades afrocolombianas.
512 Polifonías para la equidad racial ESP

Así, vemos el proceso de consolidación de lo “étnico-racial”


como problema político que incluye el reconocimiento de las
condiciones de vida de las poblaciones afrocolombianas, se va
perfilando con estos encuentros, en los cuales participan aca-
démicos, intelectuales y liderazgos urbanos y rurales. Fueron
características de estos encuentros las reivindicaciones y las
demandas expuestas, que giraban menos en torno a los recla-
mos territoriales, los cuales fueron característicos de la primera
mitad del proceso del siglo XX, pues se enfocaron más en la
consolidación de temas y problemas comunes a la gente afro-
colombiana en el país; elementos que serían retomados con
mayor énfasis en la década siguiente durante el proceso cons-
tituyente y el establecimiento de la ley 70 de 1993.
De otro lado, en este recorrido histórico de la construcción
de un actor político étnico se evidencia que el posicionamiento
de la identidad negra no se dio en el marco de un proceso pací-
fico, sin dificultades con la ideología del mestizaje caracterís-
tica de las sociedades latinoamericanas fundadas alrededor de
las ideas de armonía y democracia racial4.
Este trasfondo ha sido una explicación recurrente entre his-
toriadores y antropólogos que señalan este contexto como un
impedimento de una organización política alrededor de iden-
tidades étnico-raciales. No porque no exista de hecho esta
organización sino por el efecto que ella genera en los nuevos
liderazgos al tener que preguntarse constantemente “¿cuál es
la implicación de esto para mi población o territorio o con-
dición social y racial?”. Esta autoconciencia y reivindicación
son precisamente algunas de las ganancias que se repor-
tan en los nuevos procesos del activismo político del MSA.
4 “La idea de que el mestizaje ha consistido en el medio privilegiado de consolidar la democra-
cia nacional. La Iglesia, los medios de comunicación de masas y el sistema educativo han logrado
adoctrinarnos acerca de que aquí la mezcla de las tres “razas” arrasó con las diferencias que habían
marcado las castas de la pirámide colonial. Le dan vida a la ilusión de que, como descendientes
simultáneos de blancos, indios y negros, todos somos iguales”. (por Arocha, Carabalí, et al, 2012:39)
ESP Población afrodescendiente en Colombia y sus procesos de activismo político 513

La indiferenciación de las luchas cede su paso a una concien-


cia y preocupación colectiva5.
Como se observa, la construcción política de lo “negro” no
fue fácil en el contexto colombiano guiado desde su formación
como Estado-Nación por el paradigma de la democracia racial.
De acuerdo con este marco discursivo, el patriotismo, la lucha
de clases, la libertad, la hermandad y la unidad republicana
eran incompatibles con las diferencias raciales, por lo que inci-
tar cualquier discusión en términos identitarios sería estar en
contra de esta idea unificadora.
Este mito de la democracia racial 6, conocido como el punto
de partida de las relaciones raciales en la formación del estado
colombiano, aseguró una igualdad formal que se extendió por
muchos siglos después de las guerras de Independencia, lo cual
contribuyó a la imposibilidad de situar lo étnico en el contexto de
la política colombiana. Y sin embargo, el mito de armonía racial
que perduró en la historia política del país, fue paulatinamente
desafiado por los movimientos indígenas y afrocolombianos en
las décadas de los 80 y 90, en debates que se integraron luego a
las discusiones de la Asamblea Nacional Constituyente (ANC).
Así, los principales actores de estas conversaciones fueron
las comunidades étnicas indígenas y afrocolombianas en los
procesos de ampliación de la ciudadanía. Para las comunidades
5 Lo anterior a propósito de las actuales manifestaciones iniciadas en Colombia desde el año
2019 y continuadas en abril del 2021 conocidas en redes como #28A donde hay una conciencia
de grupo en preguntarse por los impactos de estas reformas en el bienestar individual o colectivo
que coincide precisamente con una población urbana específica: jóvenes de barrios periféricos,
negros, afrocolombianos, indígenas, con ingresos escasos o nulos y sin acceso a educación o
empleo formal. Se conectan las desigualdades sociales con las desigualdades raciales, expresa-
das tanto en el hecho de que se hayan volcado a la calle mayoritariamente la población negra
de la ciudad de Cali, ya agobiada por el COVID 19 y ahora amenazada por esas reformas que
empeorarían esas condiciones, como en la respuesta policial y criminal que el Estado ha dado
a los manifestantes —muchos de los cuales son población joven afro de las comunas habitadas
por la población negra en la configuración socioespacial segregada que es Cali hoy.
6 El mito de la democracia racial se presenta dentro de un debate importante que plantea
los orígenes de las relaciones raciales en Latín América, en donde las identidades raciales des-
aparecen en pro de la construcción de Repúblicas independientes de la corona española.
514 Polifonías para la equidad racial ESP

afrocolombianas, no obstante, se trató de un proceso más lento


y con las dificultades propias de coincidir dentro de un grupo
étnico muy heterogéneo que, sin embargo, iba construyendo
su lugar en la política, en las regiones y en los discursos de lo
“negro” como asunto a tratar por parte de la institucionali-
dad colombiana.
No obstante, la “raza” y sus implicaciones políticas se fueron
posicionando con discursos regionales que recogían la situa-
ción de marginalidad y discriminación que ya no podían seguir
siendo situaciones anexas de otras reivindicaciones sociales,
como las de clase, por ejemplo.
Entre esta creación de capital simbólico se cuenta la crea-
ción en 1943 del Club Negro de Colombia, antecedente impor-
tante de los posteriores liderazgos políticos que se consolidaron
en el Congreso de la República con personajes como Natanael
Díaz, Marino Viveros, Diego Luis Córdoba, Alejandro Peña y
Manuel Zapata Olivella. Estos liderazgos iniciaron el debate de
la política como identidad, demandando el reconocimiento de
la situación del negro en Colombia.
Esta idea de la situación del negro en Colombia tomó fuerza
en la segunda mitad del siglo XX con unas demandas específi-
cas que, en la década de los 70 y 80, serían las banderas de lucha
del movimiento social afrocolombiano entre sectores universi-
tarios en las ciudades, así como también en los consejos comu-
nitarios en las zonas rurales.
La segunda mitad del siglo XX vería el despertar de las rei-
vindicaciones que claramente denunciaban el racismo, la dis-
criminación, la falta de oportunidades y abandono estatal de
las poblaciones afrocolombianas en el país. Así, a finales de
la década de 1990, cuando se presentan las discusiones de la
ANC, encontramos un actor en construcción, con algunos con-
sensos, pero sin la tradición organizativa suficiente para lograr
su propia representación.
ESP Población afrodescendiente en Colombia y sus procesos de activismo político 515

Tabla 2. La construcción de lo “negro” como categoría de movilización


política. Siglo XX y XXI

PERIODO MOVIMIENTOS REIVINDICACIONES


REPRESENTATIVOS

1943 Club Negro de Colombia Lo regional y la idea de la


igualdad.

1947 Centro de Estudios Estudios culturalistas;


Afrocolombianos conocimiento de sí

LO ÉTNICO COMO BANDERA DE IDENTIDAD EN EL M.S.A.

1970 Primeros Encuentros Denuncia de la discri-


Nacionales de la minación racial en
población Negra las ciudades como
Bogotá, Cali, Medellín y
Cartagena.

1980 Movimiento Social Afro-


colombiano CIMARRÓN

1990 Coordinadora de Comu- Elección de los represen-


nidades Negras pro ANC tantes a las Asamblea
Nacional Constituyente

RECONOCIMIENTO CONSTITUCIONAL DE LAS COM. AFRO

1991 Reconocimiento cons- Ley 70/1993


titucional como grupo
étnico.

1993 Movimientos regionales *Reconocimiento como


Pacífico Sur y Norte grupo étnico
*Derechos territoriales y
a la titulación colectiva

CONDICIONES DE VIDA DIGNA

2014 Movilización de las Las Mujeres Negras del


mujeres negras del Norte municipio de Suárez–
del Cauca Cauca, decidieron
movilizarse hasta la
ciudad de Bogotá para
ser escuchadas por el
Gobierno Nacional y
tome medidas sobre la
minería ilegal.
516 Polifonías para la equidad racial ESP

2017 Paro cívico de Buena- Patrimonio autónomo


ventura para vivir con para la priorización de
dignidad y paz en el recursos para la satis-
territorio facción de derechos
fundamentales como
la salud, el agua, la
vivienda, la educación,
empleo digno y de
calidad.

Manifestantes mayori-
2021 Movilización social tariamente jóvenes afro
contra de las reformas de las comunas donde
tributarias, a la salud, habita población afro e
pensional del gobierno indígena de la ciudad de
colombiano. Cali, epicentro de estas
movilizaciones.

Fuente: Elaboración propia.

Las movilizaciones que se presentaron desde el 2014 con la


marcha de las mujeres del Norte del Cauca hacia Bogotá, las
del 2017 con el paro cívico de Buenaventura y más reciente-
mente la movilización de 2021, reflejan todas que los intere-
ses de la población afrocolombiana se mantienen en el tiempo
y se intensifican; razón que explica el apoyo mayoritario de la
población manifestante afrocolombiana en las marchas contra
la reforma tributaria.
Frente a la movilización del 2021 hay que manifestar que la
acción de la población afrocolombiana se ha hecho notar en
los barrios y comunas de Cali con presencia de población afro-
colombiana; pues las reformas representan la profundización
de las condiciones de miseria que muchas familias, comunas y
barrios experimentaron durante la pandemia y que incremen-
taron con estas reformas.
Pasando a los factores institucionales, está la ACN y el
ambiente favorable al cambio y a la inclusión de las “cosmovi-
siones étnicas” existentes en el país. Así, se reconoce el carác-
ter multicultural de la Nación y el Estado se hizo responsable
ESP Población afrodescendiente en Colombia y sus procesos de activismo político 517

de su protección y promoción garantizando derechos lingüísti-


cos, educativos, territoriales y políticos.7
Este “marco de oportunidades” que se abrió con la posi-
bilidad de una nueva constitución estuvo mediado por una
alteridad étnica que se reconoció prioritariamente hacia las
comunidades indígenas, situación que hizo que lo étnico en
todas sus dimensiones tuviera como referencia las representa-
ciones de vida, políticas y culturas de estas poblaciones, resul-
tando en que los “otros grupos étnicos” estuvieran cobijados
por los mismos parámetros.
Sin simplificar el debate de lo que supuso la no representa-
ción directa de las poblaciones afrocolombianas en la ANC, se
podría decir que este momento institucional fue importante para
posicionar lo étnico en la agenda pública. Teniendo en cuenta
que se venía de tradiciones institucionales “ciegas a la diferen-
cia” y neutrales en términos étnicos como la Constitución de
1886, que declaraba una unidad nacional en términos de lengua,
religión y cultura, en la que los pueblos indígenas eran salvajes,
menores de edad en proceso de civilización y las poblaciones
negras no existían como grupo étnico. La ANC permitió hablar
de las otras ciudadanías y sus procesos de inclusión.
El debate de la poca representación de las comunidades
afrocolombianas y de lo que esto ha implicado sigue vigente.
Sin embargo, se ha logrado un artículo transitorio (T-55) con el
cual se deja abierta la oportunidad para los desarrollos legislati-
vos que dieron origen a la Ley 70 de 1993 o “ley de comunida-
des negras”, el principal instrumento jurídico que ha permitido

7 Artículo 7 de la Constitución Política. El Estado reconoce y protege la diversidad étnica


y cultural de la Nación colombiana.
Artículo 10. (…) Las lenguas y dialectos de los grupos étnicos son también oficiales en sus
territorios. La enseñanza que se imparta en las comunidades con tradiciones lingüísticas propias
será bilingüe.
Artículo 68. (…) Los integrantes de los grupos étnicos tendrán derecho a una formación
que respete y desarrolle su identidad cultural.
518 Polifonías para la equidad racial ESP

la ampliación de reconocimientos de derechos de grupo a las


comunidades afrocolombianas. Entre estos reconocimientos se
ha dado la circunscripción electoral especial de negritudes, sin ser
el único progreso8.
Se puede concluir que el proceso del movimiento social afro-
colombiano se da en un doble sentido: social e institucional.
En el primero está el Movimiento Social Afrocolombiano con
sus procesos de reconocimiento, en los que lucha contra los pro-
cesos de invisibilidad, asimilación cultural e institucional que
han influido en su comportamiento confuso como colectividad
política en los espacios creados por el Estado para “incluir”.
Es un actor que se politiza entre la imposibilidad de nom-
brar el racismo y la opresión racial producto de las relaciones
raciales presentes en la formación del estado colombiano desde
su independencia y posteriormente con la eliminación de la
esclavitud, pero que se posiciona lentamente a partir de unos
liderazgos regionales reivindicativos de las identidades étnicas
y de espacios institucionales creados en momentos de auge de
reconocimientos multiculturales.
Entre los aspectos sociológicos a destacar en la consolida-
ción de este actor político, está el reconocimiento del propio
MSA de su marginalización y exclusión, factores que fueron
trasladados como conflicto en los debates de la ANC pero que
primero fueron politizados en el interior del mismo MSA en los
primeros encuentros regionales y nacionales.
En cuanto al momento institucional, si bien en la ANC no
se logró consolidar con fuerza la idea de un actor étnico inde-
pendiente de la referencia indígena, tenemos la construcción de
otros espacios como el AT-55 y la ley 70/93 en la que se pudo
actuar con cierto consenso de las reivindicaciones buscadas

8 Otras medidas de representación. La participación de las comunidades negras en el Con-


sejo Nacional de Planeación y en el Plan Nacional de Desarrollo. La conforma de la Comisión
Pedagógica de Comunidades Negras de que trata el artículo 42 de la ley 70 de 1993.
ESP Población afrodescendiente en Colombia y sus procesos de activismo político 519

por el movimiento social afrocolombiano en aspectos diversos


como la política, la etnoeducación y los territorios colectivos.
Entonces, esta combinación entre factores sociales e insti-
tucionales, para el caso de las comunidades negras se ha pre-
sentado como la lucha por el reconocimiento de una identidad
étnica propia que integre las diversidades de las poblacio-
nes negras.
Así, en términos de clivaje con expresión propia en las ins-
tituciones, tenemos que el Movimiento Social Afrocolombiano
sigue definiendo sus procesos reivindicativos en el sistema
simbólico, social y político en Colombia. Particularmente en
el campo político-electoral, este proceso es aún más visible.
Las medidas institucionales de participación política como las
dos curules en el Congreso, muestran con mayor intensidad la
complejidad de la participación del MSA o su ausencia.
Concluimos que identidad y representación política en los tér-
minos de la experiencia de Movimiento Social Afrocolombiano
son dos procesos importantes para la consolidación de un capital
político con relevancia en la política de Colombia. Sin embargo,
son dos procesos que se superponen y que por lo general toman
tiempo. El MSA como actor político ha conseguido importan-
tes conquistas constitucionales, ha ampliado el concepto de ciu-
dadanía y ha logrado una visibilización relativa de sus procesos
regionales de participación.
La historia de su consolidación como actor político está aún
contándose, pero hasta ahora su presencia en las instituciones
políticas es un resultado de un proceso organizativo atravesado
por la lucha por el reconocimiento de la relevancia política de
la identidad afrocolombiana en la política.
ENGLISH

Afro-descendant population in Colombia


and their processes of political activism

Julieth Balanta Zúñiga

“The social and, we would add, political invisibility of black


people seems to respond to the series of historical mecha-
nisms that, at the economic, ideological-cultural, political
and ethnic levels, have contributed to dilute the importance
of black demands and to channel them through political
channels and organizations that are not ethnically diffe-
rentiated and rather articulated to specific socioeconomic
and political demands of the subordinate sectors” (Serbin,
2010:12).

Taking up the idea of the social and political invisibility of the


black person by sociologist Friedemann (1986), we ask our-
selves in this essay how the “black” and its identity came to
be considered as a conflictive issue within the symbolic, social
and political system in Colombia, considering the proposal of
political sociology according to which the diversity of a social
system is related to the diversity of social conflict, in our case
racial identity.
In this sense, the emergence of the Afro-Colombian Social
Movement (hereinafter MSA) and its positioning in the
522 Polifonías para la equidad racial ENG

symbolic, social and political system in Colombia on the basis


of a differentiated identity, poses a change in ethnic relations
that claim their own status in politics. Thus the question is how
to understand the process of formation of “black identity” as
a conflictive issue within the symbolic, social and political sys-
tem in Colombia, without reducing it to a generic ethnic move-
ment led by indigenous claims or to other social causes such as
class struggle?
In the first place, the politicization of the “black” as an auto-
nomous problem in Colombian politics can be traced in the
ideas and discourses of the Afro-Colombian Social Movement–
MSA of the first and second half of the 20th century according
to Pietro in his book Black Leadership in Colombia. According
to this author, “black1” was not a category of explicit political
vindication in the first half of the 20th century, for historical rea-
sons that date back to the colony and the racial relations built
on the indifferentiation of ethnic identity with national identity.
Thus, before the consolidation of the Afro-Colombian Social
Movement–MSA, we have antecedents in the Maroonism and
in the wars of independence in which there was an organizatio-
nal criterion centered on freedom and the construction of inde-
pendent territories or “palenques”. From this point on, the first
organizational experiences were consolidated around the abo-
lition of slavery, which was achieved in 1851. Before that time,
there was no reference to the Afro-Colombian population as
an ethnic group.
Slowly in the first half of the 20th century, some organizatio-
nal manifestations were glimpsed that suggest a political cons-
cience that evokes the ethnic as a marginal and excluding place
and at the same time distinctive of the Afro-Colombian popu-
lations that later is positioned with more force in the 70’s and

1 We refer to “the black” to indicate group demands of the Afro-Colombian population.


ENG Afro-descendant population in Colombia and their processes of political activism 523

80’s of the 20th century, with groups and research centers that
allude more openly to the black and Afro-Colombian identity.
In this process, the Club del Negro emerged in Bogotá in
1943, and the Center for Afro-Colombian Studies in 1947,
known as two organizational antecedents of the Afro-Colombian
Social Movement–MSA, which attempted to raise the condi-
tions of Afro populations in opposition to those of the rest of
the white-mestizo population, mainly conditions of marginality,
exclusion and invisibility2.
From these experiences emerged regional leaderships with
influence in national politics, characters such as Diego Luis
Córdoba, Adán Arriaga Andrade, Ramón Lozano Garcés in
Chocó; Sofonías Yacup, Alejandro Peña, Natanael Díaz and
Arquímedes Viveros in Northern Cauca, and Néstor Urbano
Tenorio in Buenaventura, who from their regional leaderships as
representatives to the House of Representatives for their regions
began to speak about the marginalized condition of Afro popu-
lations in the Congress of the Republic.
These leaders acted within the Liberal Party between 1920
and 1950, trying to vindicate a cause that was not explicitly
racial, but which had its links with the Afro-descendant com-
munities, due to its territorial location. These leaders made the
Caucasian, Pacific, Nariño and Chocó regions “visible” in natio-
nal politics, without explicitly mentioning the racial claim, but
which was building the symbolic capital necessary for a more

2 “Both the Black Club of Colombia and the Center for Afro-Colombian Studies represent
two attempts to get out of the condition that Nina de Friedemann has defined as “invisibility”.
In different ways, these two experiences tried to achieve the recognition of a status for black
people in Colombian society. As a social movement, the Black Club was an isolated episode,
which clashed with the difficulty of putting the status of black people as an overtly political
argument. In fact, a movement for the vindication of black people would emerge in Colombia
only a few decades later. As a study group, on the contrary, the Center for Afro-Colombian Stu-
dies, although most probably also of short duration, laid the foundations for the exaltation of
the contribution of black people in the culture of the country that will be continued, although
in an isolated and individual way, in the following decades [...] ¨ (Pisano, 2010: 80 & 94, quoted
by Arocha, Carabalí, et al, 2012:75,76).
524 Polifonías para la equidad racial ENG

openly ethnic-racial bet to become visible in politics in the 70s


of the 20th century, making racism and the living conditions and
lack of access to opportunities among Afro-Colombian popu-
lations visible.
In this transition towards political leaderships more expli-
citly vindicating racial identity, the first regional and national
meetings were held in the 1970s in the cities of Cali, Quibdó,
Medellín and Cartagena, where ethnic and cultural self-deter-
mination was defined, from which the Afro-Colombian Social
Movement was organized with proposals for equal opportuni-
ties in the cities, collective rights, ethno-education and the refe-
rence to Africa as an element of origin and source of identity.3
Thus, in the 1970s we found the first national and regional
meetings in which the agenda was centered around demands
for visibility and participation. Along with some academics
of the time who accompanied these meetings, terms such as
“social invisibility of the black” coined by anthropologist Nina
de Friedemann in 1969, were part of the discussions that pro-
vided the organizing process with conceptual elements from
history and anthropology to understand the condition of exclu-
sion and the need for political organization that would gather
the black identity and the traces of Africanness as strengths of
common work.
These meetings began to challenge the idea of a white and
indigenous nation in which the black population had no insti-
tutional space. (Wade, 2009)
These meetings denote a consciously ethno-racial movement
organized around common subjects: the problem of racism and

3 “In 1975 the First National Meeting of the Black Population was held in Cali. The groups
“Poblaciones Negras”, “Negritudes”, “Cultura Negra” and Tabalá emerged in Tunja; Panteras
Negras, La Olla and the Musulmanes Negros in Buenaventura; Cimarrón in Popayán; Círculo
de Estudios de la Población Negra -Soweto- in Pereira. In 1976, the Congress “Black Contri-
butions to American Culture” was held; in 1977, in Cali, where the “First Congress of the Black
Culture of the Americas” took place”” (Ibidem, 2012:117)
ENG Afro-descendant population in Colombia and their processes of political activism 525

Table 2. First regional and national meetings of the Afro-Colombian


Social Movement (1975-1977)

1975 1975 1976 1977 1977 1977


February August
CALI TUMACO QUIBDÓ MEDELLIN CARTAGENA CALI

I National II Regional II National Congress III National I Congress


meeting of Meeting Meeting of of Meeting of of the
the black and I the black Negritudes the Black black
population Pacific population Population culture
Coast of the
Meeting Americas

Objectives

*Promote *Equal * Creation *Appoint- *Political *Africa as


the opportu- of the ment of and cultural origin and
education nities Advisory Dr. Zapata situation of source of
of black *The Committee Olivella as the Black ethnic and
culture. identity Black presidential population in cultural
*Creation and role candidate candidate. Colombia. identity.
of the of black for the
biannual people in presidency
news- Colombia. (77-9).
paper:
Negritudes.

Source: Own elaboration based on the text: Afro-Colombian, Black, Raizal and
Palenquero Social Movement: the long road towards the construction of common
spaces and strategic alliances for political incidence in Colombia (2012).

the exclusion of the “black” as a policy of segregation and inac-


tion of the State, equal opportunities in jobs and universities,
and the need for political advocacy with candidates and propo-
sals of direct benefit to Afro-Colombian communities.
526 Polifonías para la equidad racial ENG

Thus we see that the process of consolidation of the “ethni-


c-racial” as a political problem that includes the recognition of
the living conditions of Afro-Colombian populations, is taking
shape with these meetings in which academics, intellectuals and
urban and rural leaders participate. The characteristics of these
meetings were the claims and the demands presented revol-
ved less around territorial claims, which were more characteris-
tic of the first half of the 20th century process and focused on
the consolidation of issues and problems common to the Afro-
Colombian people in the country; elements that would be taken
up with greater emphasis in the following decade the consti-
tuent process and Law 70 of 1993.
On the other hand, in this historical journey of the construc-
tion of an ethnic political actor we find that the positioning of
the black identity did not occur in a peaceful process, without
difficulties with the ideology of miscegenation characteristic of
Latin American societies founded on the ideas of racial har-
mony and democracy.4
This background has been a recurrent explanation among
historians and anthropologists who point to this context as an
impediment to political organization around ethno-racial iden-
tities. Not because this organization does not in fact exist, but
because of the effect it generates in the new leaderships by
having to constantly ask themselves what is the implication of
this for my population or territory or social and racial condi-
tion? This self-awareness and vindication is precisely one of the
gains reported in the new current processes of political activism

4 The idea that miscegenation has been the privileged means of consolidating national demo-
cracy. The Church, the mass media and the educational system have succeeded in indoctrinating
us that here the mixture of the three “races” swept away the differences that had marked the
castes of the colonial pyramid. They give life to the illusion that, as simultaneous descendants
of whites, Indians and blacks, we are all equal (by Arocha, Carabalí, et al, 2012:39).
ENG Afro-descendant population in Colombia and their processes of political activism 527

of the Afro-Colombian Social Movement–MSA; the indifferen-


tiation of the struggles gives way to a collective consciousness
and concern.5
As can be observed, the political construction of the “black”
was not easy in the Colombian context, guided since its forma-
tion as a nation-state by the paradigm of “Racial Democracy”.
According to this discursive framework, patriotism, class stru-
ggle, freedom, brotherhood and Republican unity were incom-
patible with racial differences, so inciting any discussion in
terms of identity would be against this unifying idea.
This myth of “racial democracy”6 known as the starting point
of racial relations in the formation of the Colombian State ensu-
red a formal equality that extended for many centuries after the
wars of independence, which contributed to the impossibility
of situating ethnicity in the context of Colombian politics.
The myth of racial harmony that persisted in the country’s
political history was gradually challenged by the indigenous and
Afro-Colombian movements in the 80’s and 90’s, which were
debates that were later integrated into the discussions of the
National Constituent Assembly–ANC.
Thus, the main actors were the indigenous and Afro-
Colombian ethnic communities in the processes of citizenship

5 The above regarding the current demonstrations initiated in Colombia since 2019 and conti-
nued in April 2021 known in networks as #28th where there is a group consciousness in wondering
about the impacts of these reforms on individual or collective welfare that coincides precisely with
a specific urban population: young people from peripheral neighborhoods, blacks, Afro-Colom-
bians, indigenous, with little or no income and without access to education or formal employment.
Social inequalities are connected to racial inequalities, expressed both in the fact that the majority
of the city’s black population, overwhelmed by COVID 19 and now the reforms that would worsen
these conditions, have taken to the streets, and in the police and criminal response that the State
has given to the demonstrators, many of whom are young Afro population from the communes
inhabited by the black population in the segregated socio-spatial configuration that is Cali today.
6 The myth of racial democracy is presented within an important debate that raises the origins
of racial relations in Latin America, where racial identities disappear in favor of the construction
of Independent Republics of the Spanish crown.
528 Polifonías para la equidad racial ENG

expansion. The Afro-Colombian communities with a slower


process and with the difficulties of coinciding within a very
heterogeneous ethnic group, which nevertheless was bui-
lding its place in politics, in the regions and in the dis-
courses of the “black” as a problem to be solved by the
Colombian institutionality.
Nevertheless, “race” and its political implications were posi-
tioned with regional discourses that reflected the situation of
marginality and discrimination that could no longer be anne-
xed to other social demands, such as those of class, for example.
Among this creation of symbolic capital was the creation in
1943 of the Negro Club of Colombia, an important antecedent
of the later political leaderships consolidated in the Congress
of the Republic with characters such as Natanael Díaz, Marino
Viveros, Diego Luis Córdoba, Alejandro Peña and Manuel
Zapata Olivella. These leaders initiated the debate on politics
as an identity, demanding the recognition of the black situation
in Colombia.
This idea of the black situation in Colombia gained strength
in the second half of the 20th century, with specific demands
that in the 1970s and 1980s would be the flags of struggle of the
Afro-Colombian social movement among university sectors in
the cities, as well as in community councils in rural areas.
The second half of the 20th century would be the awake-
ning of demands that clearly denounced racism, discrimination,
lack of opportunities, and state neglect among Afro-Colombian
populations in the country. Thus, at the end of the 1990s, when
the National Constituent Assembly–ANC discussions took
place, we found an actor under construction, with some consen-
sus, but without sufficient organizational tradition to achieve its
own representation.
The mobilizations that occurred since 2014 with the march
of the women of Northern Cauca to Bogota, those of 2017 with
ENG Afro-descendant population in Colombia and their processes of political activism 529

Table 3 The construction of “the black” as a category of political


mobilization. 20th century and 21st century.

PERIOD REPRESENTATIVES CLAIMS


MOVIMIENTS

1943 Club Negro de The regional and the


Colombia idea of equality.

1947 Centro de Estudios Afro- Culturalist studies;


colombianos [Center for self-knowledge.
Afro-Colombian Studies]

Ethnicity as a hallmark of identity IN THE m.s.a.

1970 First National Meetings Denouncing racial discri-


of the Black population mination in cities such
as Bogota, Cali, Medellin
and Cartagena.

1980 Movimiento Social Afro-


colombiano CIMARRON

1990 Coordinadora de Election of represen-


Comunidades Negras tatives to the National
pro- National Consti- Constituent Assembly.
tuent Assembly–ANC

CONSTITUTIONAL RECOGNITION OF THE AFRO COMMUNITIES

1991 Constitutional recog- Law 70/1993


nition as an ethnic group

1993 South Pacific and *Recognition as an


North Pacific regional ethnic group
movements: *Territorial rights and
rights to collective
titling
530 Polifonías para la equidad racial ENG

DIGNIFIED LIVING CONDITIONS


2014 Mobilization of black Black women from the
women of Northern municipality of Suarez–
Cauca: Cauca, decided to
mobilize to the city of
Bogota to be heard by
the National Gover-
nment and take action
on illegal mining.

2017 Civic strike of Buena- Autonomous patrimony


ventura to live with for the prioritization
dignity and peace in the of resources for the
territory satisfaction of funda-
mental rights such as
health, water, housing,
education, decent and
quality employment.

2021 Social mobilization Demonstrators mostly


against the Colombian Afro youth from the
government’s tax, health communities inhabited
and pension reforms by Afro and indigenous
populations in the city
of Cali, epicenter of
these mobilizations.

Source: Own elaboration.

the civic strike of Buenaventura and more recently this year’s


mobilization reflect that the interests for the mobilization of
the Afro-Colombian population are maintained over time and
intensified; reason that explains the majority support of the
Afro-Colombian protesting population in the marches against
the tax reform.
Regarding the mobilization of 2021, it must be stated that
the action of the Afro-Colombian population has been noti-
ceable in the neighborhoods and communes of the city of Cali
with presence of Afro-Colombian population; since the reforms
represent the deepening of the conditions of misery that many
families, communes and neighborhoods experienced during
the pandemic and that would be deepened with these reforms.
ENG Afro-descendant population in Colombia and their processes of political activism 531

Moving on to institutional factors, we have the National


Constituent Assembly–ACN and the favorable environment
for change and the inclusion of the “ethnic cosmovisions” exis-
ting in the country. The multicultural character of the Nation
was recognized and the State became responsible for its protec-
tion and promotion, guaranteeing linguistic, educational, terri-
torial and political rights.7
This “framework of opportunities” that opened up with
the possibility of a new constitution was mediated by an ethnic
otherness that was recognized as a priority for the indigenous
communities, a situation that meant that the ethnic in all its
dimensions had as a reference the representations of life, poli-
tics and cultures of the indigenous populations, and the “other
ethnic groups” were covered by the same parameters.
Without simplifying the debate on what the non-direct
representation of Afro-Colombian populations in the National
Constituent Assembly–ANC entailed, we could say that this
institutional moment was important in terms of positioning
ethnicity in the public agenda. Taking into account that we
came from institutional traditions that were “blind to diffe-
rence” and neutral in ethnic terms, such as the 1886 constitu-
tion that declared a national unity in terms of language, religion
and culture in which indigenous peoples were savages, minors
in the process of civilization and black populations did not exist
as an ethnic group; the National Constituent Assembly–ANC
was the moment to talk about other citizenships and their pro-
cesses of inclusion.

7 Article 7 of the Political Constitution. The State recognizes and protects the ethnic and
cultural diversity of the Colombian Nation.
Article 10. (...) The languages and dialects of the ethnic groups are also official in their
territories. The education provided in communities with their own linguistic traditions shall
be bilingual.
Article 68. (...) The members of ethnic groups shall have the right to an education that res-
pects and develops their cultural identity.
532 Polifonías para la equidad racial ENG

The debate on the under-representation of Afro-Colombian


communities and what this has implied is still ongoing.
However, a transitory article (T-55) was achieved, leaving open
the opportunity for legislative developments that gave rise to
Law 70 of 1993 or the Black Communities Law, the main legal
instrument that has allowed for the extension of recognition
of group rights to Afro-Colombian communities. Among these
recognitions we have the special electoral constituency of bla-
cks, without being the only one.8
In conclusion, the Afro-Colombian Social Movement pro-
cess is related in two ways: social and institutional. In the first
we have the Afro-Colombian Social Movement, in its processes
of recognition, in which it is located between a struggle against
processes of invisibility, cultural and institutional assimilation
that have influenced its confused behavior as a political collec-
tivity in the spaces created by the State to “include”.
It is an actor that becomes politicized between the impos-
sibility of naming racism and racial oppression as a product of
the racial relations present in the formation of the Colombian
State since its independence and later with the elimination of
slavery, but that is slowly positioning itself based on regional
leaderships claiming ethnic identities and institutional spaces
created in moments of a boom in multicultural recognition.
Among the sociological aspects to be highlighted in the
consolidation of this political actor was the Afro-Colombian
Social Movement–MSA’s own recognition of its marginaliza-
tion and exclusion, factors that were transferred as a conflict in
the debates of the ANC, but first politicized within the Afro-
Colombian Social Movement–MSA in the first regional and
national meetings.

8 Other measures of representation. The participation of the black communities in the


National Planning Council and in the National Development Plan. The formation of the Black
Communities Pedagogical Commission referred to in Article 42 of Law 70 of 1993.
ENG Afro-descendant population in Colombia and their processes of political activism 533

As for the institutional moment, although the ANC was not


able to consolidate with force the idea of an ethnic actor inde-
pendent of the indigenous reference, we have the construction
of other spaces such as the AT-55 and the law 70/93 in which it
was possible to act with a certain consensus of the demands sou-
ght by the Afro-Colombian Social Movement in diverse aspects
such as politics, ethno-education and collective territories.
Thus, this combination of social factors and institutions, in
the case of black communities, has been presented as the stru-
ggle for the recognition of an ethnic identity that integrates the
diversities of black populations.
Thus, in terms of cleavage with its own expression in the
institutions, the Afro-Colombian Social Movement continues
to define its claim processes in the symbolic, social and poli-
tical system in Colombia. Particularly in the political-electoral
field, this process is even more visible. Institutional measures of
political participation, such as the two seats in Congress, show
with greater intensity the complexity of Afro-Colombian Social
Movement–MSA participation or its absence.
We conclude that identity and political representation in
terms of the Afro-Colombian Social Movement experience are
two important processes for the consolidation of political capital
with relevance in Colombian politics, however, they are two pro-
cesses that overlap and usually take time. The Afro-Colombian
Social Movement–MSA as a political actor has achieved impor-
tant constitutional conquests, has broadened the concept of
citizenship and has achieved a relative visibility of its regional
processes of participation.
The history of its consolidation as a political actor is still being
told, but so far its presence in political institutions is the result
of an organizational process that has been marked by the strug-
gle for recognition of the political relevance of Afro-Colombian
identity in politics.
PORTUGUÊS

População afrodescendente na Colômbia e


seus processos de ativismo político

Julieth Balanta Zúñiga

A invisibilidade social e, acrescentamos, política dos negros


parece responder à série de mecanismos históricos que, nos
níveis econômico, ideológico-cultural, político e étnico, con-
tribuíram para diluir a importância das demandas negras e
guiá-las através de canais e organizações políticas não dife-
renciadas do ponto de vista étnico e bastante articuladas às
demandas socioeconômicas e políticas específicas dos seto-
res subordinados” (Serbin, 2010:12)

Retomando a ideia da invisibilidade social e política do negro


pelo sociólogo Friedman (1986), nos perguntamos neste ensaio
como o “negro” e sua identidade passaram a ser considera-
dos como uma questão conflituosa dentro do sistema simbó-
lico, social e político na Colômbia, considerando a proposta
da sociologia política segundo a qual a diversidade de um sis-
tema social está relacionada à diversidade do conflito social, em
nosso caso a identidade racial.
Neste sentido, o surgimento do Movimento Social Afroco-
lombiano (doravante MSA) e seu posicionamento no sistema
simbólico, social e político da Colômbia com base em uma
536 Polifonías para la equidad racial POR

identidade diferenciada, representa uma mudança nas relações


étnicas que reivindicam seu próprio status na política. Então a
questão é como entender o processo de formação da “identi-
dade negra” como uma questão conflituosa dentro do sistema
simbólico, social e político na Colômbia, sem reduzi-lo a um
movimento étnico genérico liderado por demandas indígenas
ou a outras causas sociais como a luta de classes?
Em primeiro lugar, a politização do “negro” como um pro-
blema autônomo na política colombiana pode ser traçada nas
ideias e discursos do MSA na primeira e segunda metade do
século XX, de acordo com Pietro em seu livro Liderança Negra
na Colômbia. Segundo este autor, “negro” não era uma cate-
goria explícita de reivindicação política na primeira metade do
século XX, por razões históricas desde os tempos coloniais e às
relações raciais construídas sobre a indiferenciação da identi-
dade étnica da identidade nacional.
Assim, antes da consolidação do MS, temos antecedentes no
“cimarronismo” e nas guerras de independência, nas quais havia
um critério organizacional centrado na liberdade e na constru-
ção de territórios independentes ou “palenques”. A partir deste
ponto, as primeiras experiências organizacionais foram conso-
lidadas em torno da abolição da escravidão, que foi alcançada
em 1851. Antes dessa época, não existia referência à população
afro-colombiana como grupo étnico.
Lentamente, na primeira metade do século XX, manifesta-
ções organizacionais começaram a surgir, sugerindo uma cons-
ciência política que evocava a etnia como um lugar marginal e
excludente e ao mesmo tempo distintivo das populações afro-
colombianas, que mais tarde se posicionaram mais fortemente
nos anos 70 e 80, com grupos e centros de pesquisa que alu-
diam mais abertamente à identidade negra e afro-colombiana.
Nesse processo, em 1943 surge em Bogotá o “Club del Negro”
e o Centro de Estudos Afro-colombianos em 1947, conhecidos
POR População afrodescendente na Colômbia e seus processos de ativismo político 537

como dois antecedentes organizacionais do MSA, os quais ten-


taram elevar as condições das populações afrocolombianas em
oposição às do resto da população branca mestiça, condições de
marginalidade, exclusão e invisibilidade principalmente1.
A partir dessas experiências, surgiram líderes regionais com
impacto na política nacional, como Diego Luis Córdoba, Adán
Arriaga Andrade, Ramón Lozano Garcés em Chocó; Sofonías
Yacup, Alejandro Peña, Natanael Díaz e Arquímedes Viveros em
Cauca do Norte, e Néstor Urbano Tenorio em Buenaventura, que
desde suas lideranças regionais como representantes na Câmara
dos Deputados começaram a falar sobre a condição marginali-
zada da população afro-colombiana no Congresso da República.
Esses líderes atuaram dentro do partido Liberal entre 1920 e
1950, tentando justificar uma causa que não era explicitamente
racial, mas que tinha ligações com comunidades afrodescenden-
tes, devido a sua localização territorial. Esses líderes tornaram
as regiões do Cáucaso, Pacífico, Nariño e Chocó «visíveis” na
política nacional, sem mencionar explicitamente a reivindicação
racial, mas que estava construindo o capital simbólico necessá-
rio para que uma abordagem mais abertamente étnico-racial da
política se tornasse visível nos anos 70 do século XX, tornando
visíveis o racismo, as condições de vida e a falta de acesso às
oportunidades entre as populações afro-colombianas.
Nesta transição para uma liderança política mais explicita-
mente reivindicativa da identidade racial, os primeiros encontros

1 “Tanto o Club Negro de Colômbia quanto o Centro de Estudos Afro-colombianos represen-


tam duas tentativas de sair da condição que Nina de Friedemann definiu como “invisibilidade”.
De maneiras diferentes, essas duas experiências tentaram alcançar o reconhecimento de um
status para o povo negro na sociedade colombiana. Como movimento social, o Clube Negro
foi um episódio isolado, que enfrentou a dificuldade de tornar o status dos negros um argu-
mento abertamente político. De fato, um movimento para a reivindicação dos negros surgiria na
Colômbia apenas algumas décadas depois. Como grupo de estudo, por outro lado, o Centro de
Estudos Afro-colombianos, embora provavelmente também de curta duração, lançou as bases
para a exaltação da contribuição do povo negro à cultura do país que seria continuada, embora
de forma isolada e individual, nas décadas seguintes. […] ¨ (Pisano, 2010: 80 & 94, citado por
Arocha, Carabalí, et al, 2012:75,76).
538 Polifonías para la equidad racial POR

regionais e nacionais foram realizados nos anos 70 nas cida-


des de Cali, Quibdó, Medellín e Cartagena, nos quais foi defi-
nida a autodeterminação étnica e cultural com base na qual o
Movimento Social Afrocolombiano foi organizado com propos-
tas de igualdade de oportunidades nas cidades, direitos coleti-
vos, etno-educação e a referência à África como elemento de
origem e fonte de identidade2.
Assim, nos anos 70, encontramos as primeiras reuniões nacio-
nais e regionais em que a agenda estava centrada em torno de
demandas de visibilidade e participação. Junto com alguns aca-
dêmicos da época que acompanharam esses encontros, termos
como “invisibilidade social negra”, cunhado pela antropóloga
Nina de Friedemann em 1969, fizeram parte das discussões que
proporcionaram ao processo organizacional elementos concei-
tuais da história e da antropologia para compreender a condição
de exclusão e a necessidade de organização política que inclui-
ria a identidade negra e as pegadas de africanidade como pon-
tos fortes para o trabalho comum.
De forma que, com estas reuniões, começaram a desafiar
a ideia de uma nação branca e indígena na qual a população
negra não tinha espaço institucional. (Wade, 2009)
Por um lado, estas reuniões denotam um movimento cons-
cientemente étnico-racial organizado em torno de temas
comuns: o problema do racismo e a exclusão do “negro” como
política de segregação e inação do Estado, igualdade de opor-
tunidades em empregos e universidades, e a necessidade de ter
influência política com os candidatos e propostas de benefício
direto para as comunidades afro-colombianas.

2 “Em 1975 se realiza o Primeiro Encontro Nacional da População Negra em Cali. Surgem
os grupos «Populações Negras», «Negritudes», «Cultura Negra» y Tabalá em Tunja; Panteras
Negras, La Olla y los Musulmanes Negros em Buenaventura; Cimarrón en Popayán; Círculo de
Estudos da População Negra –Soweto– em Pereira. Em 1976 se realizou o Congresso «Aportes
do Negro à Cultura Americana»; em 1977, em Cali, onde aconteceu o «Primeiro Congresso da
Cultura Negra das Américas»” (Ibidem, 2012:117)
POR População afrodescendente na Colômbia e seus processos de ativismo político 539

Tabela 2. Primeiros encontros regionais e nacionais do Movimento


Social Afro-colombiano (1975-1977)

1975 1975 1976 1977 1977 1977


Fevereiro Agosto CARTA-
CALI TUMACO QUIBDÓ MEDELLIN GENA CALI
I
I encontro II Encontro II Encontro Congresso III Encontro Congresso
Nacional Regional e Nacional de Nacional da cultura
da popu- I do Litoral da popu- Negritudes da Popu- negra das
lação Pacífico lação lação Américas
negra negra negra

Objetivos

*Promover *Igualdade Criação *Desig- *Situação África


a de oportu- do Comitê nação do política e como
educação nidades Assessor. Dr. Zapata cultural da origem e
da cultura *A iden- Candidato Olivella população fonte de
negra. tidade e o negro como Negra na identidade
*Criação papel do à presi- candidato Colômbia étnica e
do jornal negro na dência presi- cultural.
semestral: Colômbia. (77-9) dencial.
Negritudes.

Fonte: Elaboração própria baseada no texto: Movimento Social Afro-colombiano,


Negro, Raizal e Palenquero: o longo caminho para a construção de espaços
comuns e alianças estratégicas para a incidência política na Colômbia (2012).

Como resultado, vemos que o processo de consolidação


do “étnico-racial” como um problema político que inclui o
reconhecimento das condições de vida das populações Afro-
colombianas está tomando forma com essas reuniões nas quais
participam acadêmicos, intelectuais e líderes urbanos e rurais,
tendo como características as reivindicações e demandas apre-
sentadas que giravam menos em torno de reivindicações ter-
ritoriais, que eram mais características da primeira metade do
processo da primeira metade do século XX e se concentra-
vam na consolidação de questões e problemas comuns ao povo
540 Polifonías para la equidad racial POR

afro-colombiano no país; elementos que seriam retomados com


maior ênfase na década seguinte com o processo constituinte e
a Lei 70 de 1993.
Por outro lado, nesta viagem histórica de construção de
um ator político étnico, descobrimos que o posicionamento
da identidade negra não se deu num processo pacífico, sem
dificuldades com a ideologia de mestiçagem característica das
sociedades latino-americanas fundadas nas ideias de harmonia
e democracia racial3.
Este fundamento tem sido uma explicação recorrente entre
historiadores e antropólogos que apontam este contexto como
um impedimento à organização política em torno das identi-
dades étnico-raciais. Não porque tal organização não existe de
fato, mas devido ao efeito que ela tem sobre as novas lideran-
ças de ter que se perguntar constantemente: Qual é a implica-
ção disso para minha população ou território ou status social e
racial? Esta autoconsciência e reivindicação é precisamente um
dos ganhos a serem relatados nos novos processos atuais do ati-
vismo político da MSA; já a indiferenciação das lutas dá lugar a
uma consciência e preocupação coletiva4.
Como pode ser visto, a construção política do “negro”
não foi fácil no contexto colombiano, orientada desde

3 A ideia de que a miscigenação tem sido o meio privilegiado de consolidar a democracia


nacional. A Igreja, a mídia de massa e o sistema educacional conseguiram nos doutrinar sobre
a mistura de que as três “raças” acabaram com as diferenças que haviam marcado as castas da
pirâmide colonial. Eles dão vida à ilusão de que, como descendentes simultâneos de brancos,
índios e negros, somos todos iguais. (por Arocha, Carabalí, et al, 2012:39)
4 O anterior refere-se às atuais manifestações que vêm ocorrendo na Colômbia desde 2019 e
continuaram em abril de 2021, conhecidas em redes como #28ª , onde há uma consciência cole-
tiva dos impactos destas reformas no bem-estar individual ou coletivo que coincide precisamente
com uma população urbana específica: jovens de bairros periféricos, negros, afro-colombianos,
indígenas, com pouca ou nenhuma renda e sem acesso à educação ou emprego formal. As des-
igualdades sociais estão ligadas às desigualdades raciais, expressas tanto no fato de que a maioria
da população negra da cidade, esmagada pela COVID 19 e agora pelas reformas que agravariam
estas condições, tomou as ruas, quanto na resposta policial e criminosa que o Estado deu aos
manifestantes, muitos dos quais são jovens afro-colombianos das comunidades habitadas pela
população negra na configuração socioespacial segregada que é hoje Cali.
POR População afrodescendente na Colômbia e seus processos de ativismo político 541

sua formação como um Estado-nação pelo paradigma da


“Democracia Racial”. De acordo com esta estrutura discur-
siva, o patriotismo, a luta de classes, a liberdade, a fraternidade
e a unidade republicana eram incompatíveis com as diferenças
raciais, de modo que incitar qualquer discussão em termos de
identidade seria ir contra esta ideia unificadora.
Este mito da “democracia racial5” conhecido como o ponto
de partida das relações raciais na formação do Estado colom-
biano garantiu uma igualdade formal que se estendeu por mui-
tos séculos após as guerras de independência, o que contribuiu
para a impossibilidade de situar a etnicidade no contexto da
política colombiana.
O mito da harmonia racial que persistiu na história política
do país foi gradualmente desafiado pelos movimentos indígenas
e afro-colombianos nos anos 80 e 90, que foram debates que
mais tarde foram integrados nas discussões do ANC.
Assim, os principais atores foram as comunidades indíge-
nas e étnicas afro-colombianas nos processos de expansão da
cidadania. Por sua vez, as comunidades afro-colombianas, com
um processo mais lento e as dificuldades de coincidir dentro
de um grupo étnico muito heterogêneo, estavam, no entanto,
construindo seu lugar na política, nas regiões e no discurso
do “negro” como um problema a ser resolvido pelas institui-
ções colombianas.
No entanto, a “raça” e suas implicações políticas foram posi-
cionadas com discursos regionais que refletiam a situação de
marginalidade e discriminação, que já não podia mais ser ane-
xada a outras demandas sociais, como as de classe, por exemplo.
Entre esta criação de capital simbólico, está a criação em
1943 do “Club Negro de Colombia”, antecedente importante

5 O mito da democracia racial é apresentado dentro de um importante debate sobre as ori-


gens das relações raciais na América Latina, onde as identidades raciais desaparecem em favor
da construção de repúblicas independentes da coroa espanhola.
542 Polifonías para la equidad racial POR

das lideranças políticas posteriores que se consolidaram no


Congresso da República com personagens como Natanael
Díaz, Marino Viveros, Diego Luis Córdoba, Alejandro Peña e
Manuel Zapata Olivella. Esses líderes iniciaram o debate sobre
política como uma identidade, exigindo o reconhecimento da
situação dos negros na Colômbia.
Esta ideia da situação dos negros na Colômbia ganhou força
na segunda metade do século XX, com demandas específicas
que nos anos 70 e 80 se tornariam as bandeiras de luta do movi-
mento social afro-colombiano entre os setores universitários das
cidades, bem como nos conselhos comunitários nas áreas rurais.
A segunda metade do século XX seria o despertar de reivindi-
cações que denunciavam claramente o racismo, a discriminação,
a falta de oportunidades e a negligência do Estado entre as popu-
lações afro-colombianas do país. Assim, no final dos anos 90,
quando as discussões da ANC começaram, encontramos um ator
em construção, com algum consenso, mas sem tradição organiza-
cional suficiente para conseguir sua própria representação.
As mobilizações ocorridas desde 2014 com a marcha das
mulheres do norte do Cauca até Bogotá, as de 2017 com a
greve cívica em Buenaventura e mais recentemente a mobili-
zação deste ano refletem que o interesse em mobilizar a popu-
lação afro-colombiana tem sido mantido ao longo do tempo
e está se intensificando, o que explica o apoio majoritário da
população afro-colombiana que protesta nas passeatas contra
a reforma tributária.
Com relação à mobilização de 2021, deve-se manifestar que
a ação da população afrocolombiana foi sentida nos bairros e
comunas da cidade de Cali com uma população afro-colom-
biana, pois as reformas representam o aprofundamento das
condições de miséria que muitas famílias, comunas e bairros
vivenciaram durante a pandemia e que se aprofundariam com
essas reformas.
POR População afrodescendente na Colômbia e seus processos de ativismo político 543

Tabela 3 A construção do “preto” como uma categoria de mobilização


política. Século XX e XXI

PERÍODO MOVIMENTOS REIVINDICAÇÕES


REPRESENTATIVOS

1943 Club Negro da Colômbia A regional e a ideia de


igualdade.

1947 Centro de Estudos Estudos culturalistas;


Afro-colombianos conhecimento de si

ETNIA COMO UMA BANDEIRA DE IDENTIDADE NO M.S.A.

1970 Primeiros Encontros Denúncia da discrimi-


Nacionais da população nação racial nas cidades
Negra como Bogotá, Cali,
Medellín y Cartagena.

1980 Movimento Social Afro-


colombiano CIMARRON

1990 Coordenadora de Comu- Eleição dos represen-


nidades Negras pró-ANC tantes às Assembleias
Nacional Constituinte

RECONHECIMENTO CONSTITUCIONAL DAS COM. AFRO

1991 Reconhecimento cons- Lei 70/1993


titucional como grupo
étnico.

1993 Movimentos regionais *Reconhecimento como


Pacífico Sul e Norte grupo étnico
*Direitos territoriais e à
titulação coletiva

CONDIÇÕES DE VIDA DIGNA

2014 Mobilização de mulheres As Mulheres Negras do


negras do norte do município de Suárez–
Cauca Cauca, decidiram se
mobilizar para a cidade
de Bogotá a fim de
serem ouvidas pelo
Governo Nacional e
tomar providências em
relação à mineração
ilegal.
544 Polifonías para la equidad racial POR

2017 Greve cívica de Buena- Patrimônio autônomo


ventura para viver com para a priorização de
dignidade e paz no recursos para a satis-
território fação de direitos
fundamentais como
saúde, água, moradia,
educação, emprego
decente e de qualidade.

Mobilização social contra Manifestantes, em sua


2021 as reformas fiscais, sani- maioria jovens afro,
tárias e previdenciárias jovens das comunidades
do governo colombiano. onde vivem afro e indí-
genas na cidade de
Cali, o epicentro dessas
mobilizações.

Fonte: Elaboração própria.

Passando aos fatores institucionais, temos a AIS e o ambiente


favorável à mudança e a inclusão das “cosmovisões étnicas”
existentes no país. O caráter multicultural da nação foi reconhe-
cido e o Estado assumiu a responsabilidade por sua proteção
e promoção, garantindo os direitos linguísticos, educacionais,
territoriais e políticos.6
Esta “estrutura de oportunidades” que se abria com a pos-
sibilidade de uma nova constituição foi mediada por uma alte-
ridade étnica que foi reconhecida como prioridade para as
comunidades indígenas, uma situação que significou que a etni-
cidade em todas as suas dimensões tinha como referência as
representações da vida, política e culturas das populações indí-
genas, e que os “outros grupos étnicos” eram cobertos pelos
mesmos parâmetros.
Sem simplificar o debate sobre o que a falta de representa-
ção direta das populações afro-colombianas na ANC implicou,

6 Artigo 7 da Constituição Política. O Estado reconhece e protege a diversidade étnica e


cultural da Nação colombiana.
Artigo 10. (...) Os idiomas e dialetos dos grupos étnicos também são oficiais em seus terri-
tórios. A educação em comunidades com suas próprias tradições linguísticas deve ser bilíngue.
Artigo 68. (...) Os membros de grupos étnicos terão direito a uma educação que respeite e
desenvolva sua identidade cultural.
POR População afrodescendente na Colômbia e seus processos de ativismo político 545

poderíamos dizer que este momento institucional foi impor-


tante em termos de colocar a etnia na agenda pública. Tendo
em mente que viemos de tradições institucionais que eram
“cegas à diferença” e neutras em termos étnicos, como a cons-
tituição de 1886 que declarou uma unidade nacional em termos
de língua, religião e cultura na qual os povos indígenas eram sel-
vagens, os menores em processo de civilização e as populações
negras não existiam como grupo étnico, a ANC foi o momento
de falar sobre outras cidadanias e seus processos de inclusão.
O debate sobre a pouca representação das comunidades
afro-colombianas e o que isto implicou ainda está em curso.
Entretanto, foi conseguido um artigo transitório (T-55), que
deixou em aberto a oportunidade para desenvolvimentos
legislativos que deram origem à Lei 70 de 1993 ou à Lei das
Comunidades Negras, o principal instrumento jurídico que
permitiu às comunidades afro-colombianas estender o reco-
nhecimento dos direitos dos grupos. Entre esses reconheci-
mentos, temos o círculo eleitoral especial dos negros, sem ser
o único7.
Em suma, o processo do movimento social afro-colombiano
está relacionado de duas maneiras: social e institucional. No
primeiro, temos o Movimento Social Afro-colombiano, em seus
processos de reconhecimento, no qual se situa entre uma luta
contra processos de invisibilidade, assimilação cultural e insti-
tucional que influenciaram seu comportamento confuso como
coletividade política nos espaços criados pelo Estado para
“incluir”. Ou seja, é um ator que se politizou entre a impos-
sibilidade de nomear o racismo e a opressão racial como pro-
duto das relações raciais presentes na formação do Estado
colombiano desde sua independência e posteriormente com a

7 Outras medidas de representação. A participação das comunidades negras no Conselho


Nacional de Planejamento e no Plano Nacional de Desenvolvimento. A formação da Comissão
Pedagógica das Comunidades Negras, referida no artigo 42 da Lei 70 de 1993.
546 Polifonías para la equidad racial POR

eliminação da escravidão, mas que aos poucos se posiciona com


base em lideranças regionais que reivindicam identidades étni-
cas e espaços institucionais criados em momentos de um boom
de reconhecimento multicultural.
Também, entre os aspectos sociológicos a destacar na con-
solidação deste ator político estava o próprio reconhecimento
da MSA de sua marginalização e exclusão, fatores que foram
transferidos como um conflito nos debates do ANC, mas pri-
meiro politizados dentro da própria MSA nas primeiras reu-
niões regionais e nacionais.
A respeito ao momento institucional, embora na ANC não
tenha conseguido consolidar com força a ideia de um ator étnico
independente da referência indígena, temos a construção de
outros espaços como a AT-55 e a Lei 70/93 nos quais foi possí-
vel atuar com certo consenso sobre as demandas buscadas pelo
movimento social afro-colombiano em diversos aspectos como
política, etno educação e os territórios coletivos.
Esta combinação de fatores sociais e instituições, no caso das
comunidades negras, tem sido apresentada como a luta pelo
reconhecimento de sua própria identidade étnica que integra
as diversidades das populações negras.
Assim, em termos de clivagem com sua própria expressão
nas instituições, o Movimento Social Afro-colombiano conti-
nua a definir suas demandas no sistema simbólico, social e polí-
tico da Colômbia. Particularmente no campo político-eleitoral,
este processo é ainda mais visível. As medidas institucionais
de participação política, como as duas cadeiras no Congresso,
mostram com maior intensidade a complexidade da participa-
ção do MAS, ou a ausência dele.
Concluímos que identidade e representação política em ter-
mos da experiência do Movimento Social Afro-colombiano são
dois processos importantes para a consolidação do capital polí-
tico com relevância na política colombiana; no entanto, são
POR População afrodescendente na Colômbia e seus processos de ativismo político 547

dois processos que se sobrepõem e geralmente levam tempo.


A MSA como ator político alcançou importantes conquistas
constitucionais, ampliou o conceito de cidadania e alcançou
uma relativa visibilidade de seus processos regionais de partici-
pação. A história de sua consolidação como ator político ainda
está sendo contada, mas até agora sua presença nas instituições
políticas é o resultado de um processo organizacional marcado
pela luta pelo reconhecimento da relevância política da identi-
dade afro-colombiana na política.
ESPAÑOL

Mientras haya racismo, no habrá


democracia: la Coalición Negra por
los Derechos

Allyne Andrade e Silva1

“Estamos solos. Siempre luchamos. ¡Y ganaremos!”

La Coalición

“La historia exige de la población negra brasileña y de toda la diás-


pora africana acciones articuladas para enfrentar el racismo, el
genocidio y las desigualdades, injusticias y violencia que surgen
de esta realidad”.

(Carta propuesta de la Coalición Negra


por los Derechos, 2019)

1 Miembro de la Asociación de Mujeres Negras Aqualtune y la Coalición Negra por los


Derechos. Abogado, tiene un doctorado (2019) y una maestría (2015) en derecho de la Uni-
versidad de Sao Paulo. Obtuvo LL.M –Maestría en Leyes– en el área de Teoría Crítica Racial
de la Facultad de Derecho de UCLA (2019). Licenciado en Derecho por la Universidad Esta-
tal de Río de Janeiro (2009). Actualmente es superintendente adjunto del Fondo Brasileño de
Derechos Humanos y profesor del Insiper. Es autora del libro Quilombolas Public Rights and
Policy, publicado en 2020 por Editorial D’Placido. Es parte integral del movimiento de mujeres
negras en Brasil y tiene su trayectoria profesional y académica vinculada al derecho y las polí-
ticas públicas, los derechos humanos, las organizaciones de la sociedad civil y los movimientos
sociales, la teoría crítica racial, la interseccionalidad, la equidad racial y de género, la diversidad
y la inclusión. allyneas@insper.edu.br
550 Polifonías para la equidad racial ESP

La Coalición Negra por los Derechos fue fundada en 2019


por organizaciones, entidades, grupos y colectivos del movi-
miento negro brasileño2. En noviembre de 2019, se celebró
la primera reunión internacional de la Coalición Negra por
los Derechos, con representantes de cien organizaciones pro-
venientes de más de veinte estados brasileños3, congrega-
dos en una reunión internacional con delegaciones de Togo,
Sudáfrica, Colombia, Ecuador y Estados Unidos. Este último
estuvo presente con un grupo de 14 miembros del movi-
miento Black Lives Matter.
A partir de esta reunión, se creó una importante carta progra-
mática, consistente en 14 principios y 25 agendas de demandas y
demandas de estos movimientos con el Estado y los gobiernos,
que se presentarán a continuación. En 2021, la Coalición reúne
más de 200 organizaciones de base –colectivos, grupos, movi-
mientos– y ONGs en Brasil.
El movimiento nace del reconocimiento de la existencia de
varios grupos negros dispersos por todo el país con un legado
de resistencia y lucha política. A lo largo de los años, estos gru-
pos han venido enfrentando el racismo que estructura la socie-
dad brasileña y produce desigualdades –socioeconómicas,
oportunidades, participación, distribución de bienes y recur-
sos– que afectan a las poblaciones negras.
Creo que un refrán popular en Brasil puede ilustrar el deseo
de estas organizaciones, dispersas en esta inmensidad que es
Brasil, de unir fuerzas y aumentar el alcance y el potencial de
sus acciones locales, reuniéndose en coalición: “una golondrina
simplemente no hace verano”. Además, la Coalición nace del
reconocimiento de la producción de conocimiento, de la crea-
ción de tecnologías sociales de resistencia, supervivencia y vida

2 El video resumen de la primera reunión puede verse en https://youtu.be/eJJh2MRyFXY.


El video está en portugués y hay subtítulos en inglés.
3 Brasil tiene 27 estados federales.
Mientras haya racismo, no habrá democracia:
ESP la Coalición Negra por los Derechos 551

creadas por la población negra que sobrevivió a los siglos de


esclavitud y a 133 años de estado de excepción permanente.

Racismo en Brasil: Un estado permanente de terror


La carta de la Fundación de la Coalición comienza recono-
ciendo el estado de terror en el que viven los negros en Brasil:

“Durante los casi cuatrocientos años de esclavitud y desde el


comienzo de la República, estamos sujetos a violaciones de dere-
chos, antirracismo, discriminación racial, violencia y genocidio.
Aun así, con nuestras trayectorias individuales y colectivas, hemos
construido la riqueza de este país.
”El estado brasileño, en línea con una ola mundial, expone
sin maquillaje, su rostro de horror. Una parte importante de la
sociedad ya no apoya su máscara de hipocresía y asume su carác-
ter racista, prejuicioso e intolerante. Su política –necropolítica– de
muerte y la narrativa del odio actualmente se alinean constante-
mente. Nos ocupamos de una concepción de una nación materia-
lizada en la práctica diaria de asesinatos de un joven negro cada
23 minutos; masacres diarias; el aumento del estado penal y la
encarcelación, y el trato de extrema violencia contra los prisione-
ros y las poblaciones internas de los sistemas socioeducativos; el
asesinato de la población negra LGBTQI+ y el aumento del femi-
nicidio de mujeres negras; violación y asesinato de niños negros;
persecución de inmigrantes, refugiados y refugiados negros; crimi-
nalización y violencia contra las personas sin hogar; la intensifica-
ción de los conflictos en los territorios de los pueblos quilombolas
tradicionales y los actos sistemáticos de terror contra las religiones
matrices africanas”.

(Carta propuesta de la Coalición Negra


por los Derechos, 2019)
552 Polifonías para la equidad racial ESP

La población brasileña4 se estima en más de 213 millones


según el Instituto Brasileño de Geografía y Estadística, con apro-
ximadamente el 54% de la población negra5 (negros y morenos),
los blancos son aproximadamente el 43% de la población de
Brasil. Aunque es la mayoría de la población, un análisis rápido
de los indicadores sociales demuestra la situación de vulnerabi-
lidad que el racismo impone a los negros en Brasil.
Como nos enseña Wilma Reis (2005), en el cuerpo se ins-
criben profundas y emblemáticas marcas de representacio-
nes negativas sobre lo que significa ser negro. El castigo, la
vergüenza, la violencia y la coerción son mensajes explícitos,
que definen el lugar que deben ocupar los negros y las negras
para sí mismos y para los suyos, pero también para los demás.
La narrativa que tenemos, como prisioneros o muertos, es tes-
timonio del éxito de esta pedagogía.
Según el Instituto Brasileño de Geografía, al comparar los
indicadores sociales, es posible observar la desigualdad entre
negros y blancos brasileños en índices como la ocupación de
puestos directivos en el mercado laboral, la distribución del
ingreso, la educación, la violencia y la representación política,
como se muestra en la tabla siguiente:

4 El Instituto Brasileño de Geografía y Estadística (IBGE) clasifica a la población brasileña en


5 grupos de raza/color: negros, pardos, blancos, amarillos e indígenas. El término negro toma
como referencia la descendencia de los nativos de África, independientemente de su territorio
o construcción social, por el fenotipo manifestado en su piel oscura. Se entiende que pardo es
la persona que tiene ascendencia étnica de más de un grupo, esto es, mestiza. Amarillas son las
personas de ascendencia asiática e indígena es el término utilizado para los pueblos originarios.
Los individuos blancos son los de apariencia fenotípica blanca, quienes suelen ser descendien-
tes de europeos. El reconocimiento racial en Brasil se hace por autodeclaración, y el criterio
se basa generalmente en el fenotipo más que en criterios de sangre o pureza racial, es decir, un
individuo con apariencia blanca, incluso si tiene ascendientes indígenas o negros, se considera
blanco.
5 La población negra es el grupo de personas que se autodeclaran negras y morenas, según
los criterios de color o raza utilizados por la Fundación Instituto Brasileño de Geografía y Esta-
dística (IBGE), o que adoptan una autodefinición similar.
Mientras haya racismo, no habrá democracia:
ESP la Coalición Negra por los Derechos 553
554 Polifonías para la equidad racial ESP

Si añadimos el género a este análisis y consideramos índices


de violencia, como el feminicidio6, el asesinato, la violencia con-
tra las mujeres, la violencia obstétrica y el encarcelamiento, la
brecha es aún más profunda.
Considerando solo los datos disponibles en su totalidad, las
cifras indican que alrededor del 75% de las mujeres asesina-
das en el primer semestre de 2021 en Brasil son negras7. El país
tiene una ley y un conjunto de políticas públicas para prevenir
la violencia contra la mujer (Ley N.º 11.340/2006) y el feminici-
dio (Ley N.º 13,104/2015), pero produce resultados diferentes
según la raza de la víctima. El feminicidio está creciendo entre
las mujeres negras e indígenas, aunque está disminuyendo entre
las mujeres blancas. Entre los dos primeros grupos, la tasa de
delincuencia es el doble que la de las mujeres blancas, según
Jackeline Aparecida Romio.8
Si pensamos en la encarcelación femenina, el número de
mujeres en prisión ha aumentado aproximadamente un 675%
desde el año 2000. Se trata del encarcelamiento de mujeres,
negras, jóvenes, pobres y con baja escolarización. Según infor-
mación de Infopen Mujeres, en cuanto al grupo de edad, el
47,33% de la población femenina recluida es joven, entre 18
y 29 años. Aproximadamente el 64% se declara negra, mien-
tras que solo el 35,59% se declara blanca, según datos de 2017.

6 La legislación brasileña define el delito de feminicidio como una circunstancia calificativa


del delito de asesinato cuando el acto se produce contra la mujer debido a su condición femenina:
Cuando el delito involucra violencia doméstica, falta de respeto o discriminación a la condición
de la mujer. Aunque la legislación habla en el sexo, tanto feministas como negros movimientos
brasileños, hemos considerado que el feminicidio ocurre porque la persona es mujer y la miso-
ginia del perpetrador, incluyendo así a las víctimas de la CEI y las mujeres transexuales.
7 Los datos son incompletos y más de un tercio de los estados del país no revelan la raza de
las mujeres víctimas de la violencia. Y, incluso entre los que revelan, los datos son erróneos, ya
que, en gran medida, el criterio de raza/color aparece como “desinformado”.
8 Entrevista concedida por el investigador. Disponible en: https://www.camara.leg.br/
noticias/547491-feminicidio-cresce-entre-mulheres-negras-e-indigenas-e-diminui-entre-bran-
cas-aponta-pesquisadora/
Mientras haya racismo, no habrá democracia:
ESP la Coalición Negra por los Derechos 555

Brasil es el cuarto país con más población carcelaria en el


mundo y no es exagerado hablar de encarcelamiento masivo.
Pensando en los hombres negros, la realidad no cambia. Esto
es lo que revela el 14º Anuario Brasileño de Seguridad Pública,
realizado por el Foro Brasileño de Seguridad Pública9. De los
657,8 mil presos sobre los que se cuenta con información sobre
su color/raza, 438,7 mil son negros (o el 66,7%). Los datos son
2019. En 15 años, la proporción de negros en el sistema carce-
lario creció un 14%, mientras que la de blancos disminuyó un
19%. Hoy, de cada tres presos, dos son negros.
La mayoría de los presos en Brasil, el 39,42%, son respon-
sables de delitos relacionados con las drogas, como el tráfico.
Luego vienen los presos por delitos contra la propiedad, que
representan el 36,74% del total. Los delitos contra la persona
ascienden al 11,38% y los delitos contra la dignidad sexual
representan el 4,3%.
Es sobre este fondo que se construye la lucha de los pue-
blos negros brasileños. Es decir, bajo manifestaciones de un
“proyecto genocida de Estado que está elaborando las vulne-
rabilidades que debilitan, matan e impiden la formación de una
conciencia histórica capaz de cimentar las bases de una reacción
articulada del contingente negro” (FLAUZINA, 2006, p. 92).
El genocidio del pueblo negro brasileño es una triple
muerte. Genera muerte física, resultado de la violencia que se
ha narrado anteriormente. Causa una segunda muerte, simbó-
lica, provocada por la invisibilización o la estereotipación en
los medios masivos, por la imposibilidad de acceder a posicio-
nes de mando y decisión, y por la negación de la validez de los
conocimientos que nosotros producimos. Una tercera dimen-
sión de esta muerte es la de nuestras conciencias, de nuestra
memoria, del legado dejado por los nuestros. El genocidio es un

9 Disponible en: https://forumseguranca.org.br/anuario-brasileiro-seguranca-publica/


556 Polifonías para la equidad racial ESP

proyecto que va adaptándose a las circunstancias, a veces por


omisión, a veces de manera activa, pero no deja de transcurrir
promoviendo la muerte negra como resultado10.
De esta manera, actúa como refuerzo de otro rostro del geno-
cidio: el epsitemicidio –la destrucción del conocimiento y la cul-
tura negra– y la negación del sujeto (la mujer negra y el hombre
negro) como productor de conocimiento. Si no pienso en mi
propia realidad y no creo, no la expongo. Si el conocimiento
producido por nosotros sobre nuestra realidad no es conside-
rado válido, yo tampoco existo.11
La Coalición se esfuerza por darnos a las personas negras
el derecho de existir gracias a la resistencia y a la capacidad de
actuar políticamente, gracias a la capacidad de estar indignados
y de producir belleza para el mundo mientras nos reconocemos,
reunimos y apoyamos. A continuación, veremos los objetivos y
principios en los que se basa esta realidad.

Objetivos y principios
La Coalición se reunió con el objetivo de tener un impacto polí-
tico en defensa de la vida, el bienestar y los derechos, indispen-
sables y no negociables, que tanto costó ganar. Para esta acción
definió un conjunto de valores: de colaboración, ancestrali-
dad, circularidad, compartir el axé (fuerza de vida heredada y
transmitida), oralidad, transparencia, autocuidado, solidaridad,
colectivismo, memoria, reconocimiento y respeto a las diferen-
cias, horizontalidad y amor.
Colaboración significa permitir que las organizaciones esta-
blezcan objetivos y definan acciones conjuntas y actúen a nivel
nacional para lograr una mayor incidencia y alcance en las

10 Esta reflexión forma parte del artículo Andrade, Allyne. De la destrucción del conocimiento
negro a las epistemologías de la apariencia: Las mujeres negras en el sistema de justicia y en las
ciencias criminales. BOLETÍN del IBCCRIM, v. 328, pág. 15, 2020.
11 Idem, ibídem.
Mientras haya racismo, no habrá democracia:
ESP la Coalición Negra por los Derechos 557

estrategias de supervivencia de las personas negras. El movi-


miento también hace hincapié en la interdependencia de todos
los seres humanos.
La ancestralidad de la acción política debe ser conside-
rada como los conocimientos producidos por nuestros ances-
tros negros que resistieron el cruce forzado del Atlántico, la
esclavitud y la abolición inconclusa, sin reparación a las pobla-
ciones negras y los efectos del racismo en estos 133 años. Es
por eso por lo que la Coalición afirma ser movimientos here-
ditarios como los quilombos, las Negras Irmanades, el Frente
Negro Brasileño, y, en un movimiento más contemporáneo del
Movimiento Negro Unificado (MNU) que surgió en 1978.
“Quién no sabe de dónde vino, se pierde por el camino”,
y por esta razón una dimensión especial de nuestra resisten-
cia es la preservación de nuestra memoria. Como nos enseña,
Haile Garima:

Para mí, el genocidio no es solo cuando uno es asesinado física-


mente. El genocidio también ocurre cuando te roban la memoria.
Porque nunca se puede encontrar una respuesta a las circunstan-
cias actuales, que son procesadas por experiencias pasadas. (..)
tenemos un arma poderosa que es la memoria, una posibilidad de
salvación no solo para nosotros, sino para el mundo. Porque nues-
tra experiencia lo determina. 12

Esta memoria, que debe ser conservada por medios escritos, por
fotos e historias, no debe olvidar la importancia de la oralidad.
La historia oficialmente contada en Brasil borra las trayecto-
rias de la resistencia y destruye parte del legado de la población
negra. El movimiento negro luchó para mantener sus historias
y antepasados vivos en la memoria, y esta lucha determinó la

12 Habla de Haile Garima en la película Más allá del espejo, dirigida por Ana Flauzina.
558 Polifonías para la equidad racial ESP

elección de estrategias políticas y educativas fuertemente arrai-


gadas en una oralidad. En este sentido, es necesario mantener la
tradición oral y valorar los testimonios de los más jóvenes y de los
mayores como una forma de saber. La acción política también
implica el reconocimiento de los que han venido antes, de los
que ahora caminan y de los que vendrán después. Tenemos que
reconstruir este imaginario, trabajo que viene haciendo la pobla-
ción negra brasileña, para que podamos construir un futuro de
posibilidades mirando el pasado de la resistencia. Aquí vemos la
manifestación de Sankofa13 en la necesidad de volver al pasado
para resignificar el presente y construir el futuro.
Este reconocimiento se expresa en el cuidado y el autocui-
dado, la solidaridad, el respeto a las diferencias y el amor,
recordándonos el poder que supone reconocernos como huma-
nos y que lo mejor de ese viaje de ser humanos está en la belleza
que producimos a través del arte, la cultura, la lengua, la lite-
ratura, la música, la danza y la política, aunque a menudo nos
reunamos para resistir el racismo, la violencia, el genocidio y
el terror.
El movimiento tiene 14 principios, a saber:

1. Luchar por un país justo, con igualdad de derechos y opor-


tunidades: lograrlo requiere un largo y profundo proceso
de reparación histórica a la población negra brasileña;
2. Combatir la discriminación racial, el racismo, la domina-
ción patriarcal, la lesbofobia, la transfobia y el genocidio
de la población negra;

13 El concepto de Sankofa (sanko = volver; fa = buscar, traer) se origina a partir de un prover-


bio tradicional entre los pueblos de habla akan de África occidental, en Ghana, Togo y Costa de
Marfil. En akan “se wo were fi na wosan kofa a yenki”, que puede ser traducido como: “no es
tabú volver atrás y buscar lo que se olvidó”. Como un símbolo de Adinkra, Sankofa puede ser
representado como un pájaro mítico que vuela hacia adelante, teniendo la cabeza vuelta atrás y
llevando un huevo en su pico, el futuro. Disponible en: https://www.revistas.usp.br/sankofa/about
Mientras haya racismo, no habrá democracia:
ESP la Coalición Negra por los Derechos 559

3. Hacer frente a las asimetrías y desigualdades raciales, así


como procurar la aplicación efectiva de la justicia social
redistributiva y la justicia racial restaurativa;
4. Defender el papel de las mujeres negras y los hombres
negros, cis y trans, con especial atención al legado de la
lucha contra las mujeres negras en nuestra sociedad;
5. Abordar el feminicidio intransigente, la violencia domés-
tica, el machismo, el sexismo y la explotación infantil;
6. Luchar por el derecho a la cultura como patrimonio, por
la apreciación de todas las manifestaciones culturales afro
brasileñas y africanas, reconociéndolas e incorporándolas
como método de lucha y como canales de preservación de
nuestra identidad;
7. Promover el fortalecimiento de la sistematización y difu-
sión de nuestras memorias e historia, así como la defensa
del derecho a la imaginación negra, como fundamento
para la construcción del futuro;
8. Defender el respeto colectivo por la libre orienta-
ción sexual, la identidad de género, el derecho a la vida
LGBTQI+, así como la lucha contra la lesbofobia, la homo-
fobia y la transfobia;
9. Esforzarse por la preservación y protección de las comu-
nidades quilombolas y otras comunidades negras tradi-
cionales, ríos, bosques y terreros;
10. Combatir el racismo y el odio religioso, hacer frente a las
violaciones del derecho al culto y a las creencias en las
religiones de matrices africanas, promover la recepción de
las víctimas y garantizar la reproducción cultural de nues-
tras prácticas ancestrales en nuestra diversidad;
11. Actuar a favor del fortalecimiento de los colectivos,
movimientos y organizaciones integrados y activos por la
juventud negra y promover el diálogo intergeneracional;
560 Polifonías para la equidad racial ESP

12. Promover el fortalecimiento de la identidad racial de las


personas negras y negras en los barrios, suburbios, comu-
nidades, barrios marginales, escuelas, universidades
y prisiones;
13. Estimular y potenciar el trabajo básico permanente y la
acción comunitaria y local, dentro de los territorios afec-
tados por la barbarie, como elemento fundamental para
la legitimidad de las acciones de esta Coalición, así como
buscar que los dirigentes básicos que se enfrentan a la vida
cotidiana de las dificultades y la violencia sean ellos mis-
mos, la representación de sus directrices en las diversas
áreas de impacto político a nivel nacional e internacional;
14. Construir alianzas transnacionales con movimien-
tos, organizaciones, entidades, grupos y colectivos que
sean aliados negros y no negros, a fin de promover efi-
cazmente el impacto político en las organizaciones y
foros internacionales.

(Carta propuesta de la Coalición Negra


por los Derechos, 2019)

También se determinó un programa de 25 pilares14, que se


basan en la defensa incesante de los derechos humanos, del
Estado democrático de derecho y en la necesidad de una
reparación histórica a la población negra, ya sea mediante la
conservación de políticas públicas existentes o mediante la
creación de nuevas políticas públicas. Entre ellos se destacan
la agenda para erradicar la pobreza, adoptar medidas afirmati-
vas y de igualdad, equidad e inclusión, y defender los derechos
civiles y políticos, así como los derechos económicos, sociales
y culturales.

14 Los horarios están disponibles en: https://coalizaonegrapordireitos.org.br/sobre/


Mientras haya racismo, no habrá democracia:
ESP la Coalición Negra por los Derechos 561

Acciones clave

“Brasil se ve frente a un espejo que resalta sus males. Y el único


contrapunto de esperanza posible a esta cara blanca, vieja, rica,
heterosexual y cisgénero, que ocupa la cima de la pirámide social
y de la mayoría de los espacios de poder, está en el poder transfor-
mador de mujeres, hombres, jóvenes y LGBTQI+, barrios margi-
nales y periféricos, quilombeados y ribereños, encarcelados y en
situación de calle, negras y negros, que constituyen la mayoría del
pueblo brasileño”.

Durante 3 años, la Coalición se ha destacado como uno de los


principales actores políticos en Brasil. Su gestión se ha basado
tanto en acciones nacionales como internacionales, a partir
del hecho de que la opresión sufrida por el pueblo negro es el
resultado de “un sistema global capitalista-neoliberal, blanco y
patriarcal”. En este sentido, creemos que la articulación política
con los pueblos negros de África y la diáspora, así como con los
demás pueblos que enfrentan esta opresión capitalista neoli-
beral, desde una perspectiva internacionalista y más allá de las
fronteras nacionales, es crucial para la acción.
A lo largo de estos años, la Coalición ya ha presentado apro-
ximadamente 60 documentos públicos e intervención política15.
También hubo protestas nacionales contra el genocidio de la
población negra, contra el del 16presidente Bolsonaro, entre
otros. A continuación, me gustaría destacar las tres principales
campañas llevadas a cabo en el territorio nacional:

A ) Si hay racismo no hay democracia. La Coalición Negra


por los Derechos promueve la campaña “Mientras haya

15 Los documentos están disponibles en: https://coalizaonegrapordireitos.org.br/documentos/


16 Obtenga más información en: https://rioonwatch.org.br/?p=55244
562 Polifonías para la equidad racial ESP

racismo no habrá democracia”17, que reúne más de 100


entidades del movimiento negro de todo el país. La cam-
paña impulsa un “amplio frente” de acciones para com-
batir el racismo y exigir ante el poder público derechos
como la educación, el empleo y la seguridad. Y parte de
la comprensión de que la lucha antirracista necesita ocu-
par un lugar central en las discusiones sobre la defensa de
la democracia. El manifiesto también se desarrolla a través
de acciones políticas y manifestaciones públicas contra los
retrocesos que el Gobierno de Bolsonaro ha generado en
cuanto a la garantía de derechos fundamentales y políticas
públicas sociales y de equidad.18
B) Solicitud de destitución del Gobierno de Bolsonaro. El 12
de agosto de 2020, la Coalición Negra por los Derechos
presentó una solicitud de destitución19 por los crímenes
cometidos por el presidente Jair Bolsonaro; esta se sumó a
las 55 solicitudes de destitución presentadas ante la Cámara
Federal contra el presidente. La denuncia de la Coalición
se centra en las vidas perdidas –y los miles de vidas que
seguimos perdiendo– como resultado de la negligencia cri-
minal con la que actuó durante la pandemia del coronavi-
rus. En julio de 2021, la Coalición Negra formó parte de
la solicitud de destitución junto a otros 45 signatarios que
representaban a partidos políticos, parlamentarios y entida-
des de la sociedad civil. La petición unifica los argumentos
de las 123 solicitudes de destitución ya presentadas ante la
Cámara de Diputados del Brasil contra el presidente.
C) “Hay personas hambrientas”. En vista del avance de la
inseguridad alimentaria y el hambre en Brasil, en medio

17 El video del manifiesto está disponible en: https://youtu.be/lTdOuqHllMM.


18 Obtenga más información en: https://comracismonaohademocracia.org.br/
19 Más información en: https://coalizaonegrapordireitos.org.br/impeachmentbolsonaro/
Mientras haya racismo, no habrá democracia:
ESP la Coalición Negra por los Derechos 563

de la nueva pandemia del coronavirus, ya hay más de 19,1


millones de personas en situación de inseguridad alimen-
taria. Ante la peor crisis humanitaria del país, la Coalición
Negra por los Derechos se alió con Amnistía Internacional,
Oxfam Brasil, redes de Maré, Acción Brasileña para
Combatir las Desigualdades, 342 Artes, Nossas, Instituto
Ethos, Orgánico Solidario, Grupo Prerrogativas y Fondo
de Brasil, para juntos movilizar sus fuerzas y lanzar una
campaña de financiamiento colectivo con el fin de recau-
dar fondos para acciones de emergencia ante el ham-
bre, la miseria y la violencia vividas durante la pandemia
del Covid-19. Los movimientos que forman parte de la
Coalición identificaron a 222.895 familias en estado de inse-
guridad alimentaria, para brindarles apoyo en las periferias,
tugurios, pilotes, comunidades ribereñas y quilombos de
todo el territorio nacional. De marzo a julio de 2021, se
habían recaudado aproximadamente 18 millones de reales
y se reunieron casi 80 familias. Es una campaña humanita-
ria, pero también una campaña política que busca asegurar
que el pueblo negro no muera “ni de hambre, ni de bala, ni
de Covid”. Se lleva a cabo apoyando a las organizaciones
del movimiento negro y sus territorios, y movilizando a la
población brasileña en torno a los derechos a la salud y la
vida, con proclamas como “vacuna en el brazo y comida en
el plato”. La campaña distribuye cestas básicas, alimentos
orgánicos y equipos de protección personal.

Con respecto a la articulación internacional20, la Coalición tiene


un impacto tanto en el sistema de la ONU como en el de la OEA.
En la ONU, asistió a la 45ª Sesión del Consejo de Derechos

20 VER: https://www.uol.com.br/ecoa/colunas/opiniao/2020/03/04/coalizao-negra-por-di-
reitos-e-a-denuncia-internacional-ao-genocidio-negro.htm
564 Polifonías para la equidad racial ESP

Humanos, al debate sobre la Revisión de Mitad de Período del


Decenio Internacional para los Afrodescendientes y a varias reu-
niones con relatores independientes. Con la Organización de
Estados Americanos, participó de la 172ª a la 175ª Sesión de la
Comisión Interamericana de Derechos Humanos21.

Para terminar
La Coalición Negra es un “ejercicio de marcha conjunta”22 de
los movimientos negros brasileños, en consonancia con otros
movimientos negros de la diáspora, pero también con los movi-
mientos de emancipación de todo el mundo. La erradicación
del racismo y la resistencia al genocidio de la población negra es
una ardua labor que han llevado a cabo los negros y negras bra-
sileños, desde la resistencia de quilombolas y las hermandades
negras, pasando por el Frente Negro Brasileño, por los clubes
negros, por el Movimiento Negro Unificado, por el Zumbi de las
Palmares y por la Marcha de las Mujeres Negras hasta llegar a la
Coalición Negra por los Derechos. Es, de todos modos, un tra-
bajo en el que todavía tenemos mucho por hacer. La Coalición,
a lo largo de sus tres años de existencia, se ha consolidado como
un actor político nacional pertinente. La novedad somos noso-
tros: negros, periféricos, LGBTQIA+, activistas indígenas que,
aunque existimos y nos resistimos durante estos 500 años de
Brasil, no siempre hemos sido reconocidos por nuestras huma-
nidades y nuestras contribuciones a este país.
Además, la Coalición permite la creación de redes de soli-
daridad y afecto entre los diversos activistas negros que se
han resistido en sus territorios y luchan por la enseñanza de

21 Ver el video de la Coalición Negro por los Derechos en el 175° período de sesiones de la
Comisión Interamericana de Derechos Humanos de la OEA, que tiene lugar en la deflagrada
Port-au-Prince, capital de Tierra Santa de Haití, el 06 de marzo de 2020. La Coalición estuvo
representada por la abogada Sheila Carvalho https://www.youtube.com/watch?v=rLj1lJ-YbiI
22 Término utilizado por Douglas Belchior, uno de los líderes de la coalición en: https://
rioonwatch.org.br/?p=51737
Mientras haya racismo, no habrá democracia:
ESP la Coalición Negra por los Derechos 565

la democracia brasileña, por los derechos fundamentales y, en


última instancia, por el derecho a la vida, por una vida digna
y bien vivida. Nosotros, negras y negros, estamos por nuestra
propia cuenta, pero no estamos solos.

Referencias
Andrade, Allyne. De la destrucción del conocimiento negro a
las epistemologías de la apariencia: Las mujeres negras en el
sistema de justicia y en las ciencias criminales. Boletín del
IBCCRIM, v. 328, pág. 15, 2020.
Andrade, Allyne. Resistir el racismo es resistir la muerte triple.
Marielle, presente. 2018.
Foro Brasileño de Seguridad Pública, F. B. S. P. Directorio bra-
sileño de seguridad pública. 2021. Disponible en: https://
forumseguranca.org.br/anuario-brasileiro-seguranca-pu-
blica/ Acceso el 21 de julio de 2021.
https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/opi-
niao/2020/02/29/internas_opiniao,831178/artigo-nos-por-
nos-o-autocuidado-de-mulheres-negras-e-um-ato-politic.shtml
Carta Capital. Axé, la fuerza que realizas. Disponible en
https://www.cartacapital.com.br/blogs/dialogos-da-fe/
axe-a-forca-que-realiza/
Ministerio de Justicia. Departamento Penitenciario Nacional.
Encuesta nacional de información sobre la prisión. Infopen:
junio de 2014. 2020
Rio On Watch. El movimiento negro organizado hoy: voces de la
Coalición Negra por los Derechos #DesenraizandoRacismo.
Disponible en: https://rioonwatch.org.br/?p=52798
ENGLISH

As long as there is racism, there will be no


democracy: The Black Coalition for Rights

Allyne Andrade e Silva1

“We stand alone. We always fight–and we will win!”

The Coalition

“History demands from the Brazilian black population and


the entire African diaspora articulated actions to confront racism,
genocide and the inequalities, injustices and violence that arise
from this reality.”

(Proposed Charter of the Black Coalition


for Rights, 2019).

1 Member of the Black Women’s Association Aqualtune and the Black Coalition for Rights.
Lawyer, holds a doctorate (2019) and a master’s degree (2015) in law from the University of São
Paulo. He obtained LL.M –Master of Laws– in the area of Critical Race Theory from UCLA
School of Law (2019). Law Degree from the State University of Rio de Janeiro (2009). She is
currently Deputy Superintendent of the Brazilian Fund for Human Rights and Professor at
Insiper. She is the author of the book Quilombolas Public Rights and Policy, published in 2020
by D’Placido Publishing House. She is an integral part of the black women’s movement in Bra-
zil and has her professional and academic career linked to law and public policy, human rights,
civil society organizations and social movements, critical race theory, intersectionality, racial
and gender equity, diversity and inclusion. allyneas@insper.edu.br
568 Polifonías para la equidad racial ENG

The Black Coalition for Rights was founded in 2019 by orga-


nizations, entities, groups and collectives of the Brazilian black
movement2. In November 2019, the first international meeting
of the Black Coalition for Rights was held, with representatives
of 100 organizations from more than 20 Brazilian states3, gathe-
red in an international meeting with delegations from Togo,
South Africa, Colombia, Ecuador and the United States, The
latter was present with an entourage of 14 members of the Black
Lives Matter movement.
As a result of this meeting, an important programmatic
charter was created, consisting of 14 principles and 25 agendas
of demands and demands of these movements with the State
and governments, which will be presented below. In 2021, the
Coalition has more than 200 grassroots organizations –collecti-
ves, groups, movements– and NGOs in Brazil.
The movement was born from the recognition of the exis-
tence of several black groups scattered throughout the country
with a legacy of resistance and political struggle. These groups
have been facing racism which structures Brazilian society and
produces inequalities –socioeconomic, opportunities, partici-
pation, distribution of goods and resources– which have affec-
ted black populations.
I believe that a common popular saying in Brazil can illus-
trate the desire of these organizations, scattered in this immen-
sity that is Brazil to join forces and increase the scope and
potential of their local actions, coming together in coalition:
“One swallow does not make a summer”. Furthermore, the
Coalition is born out of the recognition of the production
of knowledge, of the creation of social technologies of resis-
tance, survival and life created by the black population that

2 The video summary of the first meeting can be watched at https://youtu.be/eJJh2MRyFXY.


The video is in Portuguese with English subtitles.
3 Brazil has 27 federal states.
ENG As long as there is racism, there will be no democracy: The Black Coalition for Rights 569

survived centuries of slavery and 133 years of permanent state


of exception.

Racism in Brazil: A permanent state of terror


The Coalition foundation’s letter begins by acknowledging the
state of terror in which black people live in Brazil:

“During the almost four hundred years of slavery and since the
beginning of the Republic, we have been subjected to rights vio-
lations, anti-racism, racial discrimination, violence and genocide.
Even so, with our individual and collective trajectories, we have
built the wealth of this country.
The Brazilian state, in line with a global wave, exposes,
without makeup, its face of horror. An important part of society no
longer supports its mask of hypocrisy and assumes its racist, pre-
judiced and intolerant character. Its necropolitical policy of death
and the narrative of hate are now constantly aligned. We deal with
a conception of a nation materialized in the daily practice of mur-
ders of a young black man every 23 minutes; daily slaughter; the
rise of the penal state and incarceration and with much violence
against prisons and internal populations of socio-educational sys-
tems; murder of the black LGBTQI+ population and increased
femicide of black women; rape and murder of black children; per-
secution of black immigrants, refugees and black refugees; crimi-
nalization and violence against the homeless; the intensification
of conflicts in the territories of traditional quilombola peoples and
systematic acts of terror against African matrix religions”.

(Proposed Charter of the Black Coalition


for Rights, 2019)
570 Polifonías para la equidad racial ENG

The Brazilian population4 is estimated at over 213 million


according to the Brazilian Institute of Geography and Statistics,
with approximately 54% of the population being black5 (black
and brown), whites are approximately 43% of Brazil’s popu-
lation. Although it is the majority of the population, a quick
analysis of social indicators demonstrates the vulnerability that
racism imposes on blacks in Brazil.
As Wilma Reis (2005) teaches us, deep and emblematic
marks of negative representations are inscribed in the body of
what it means to be black. Punishment, shame, violence and
coercion are explicit messages, which put blacks for themselves
and their own, but also for others. The count of us, as prisoners
or dead, is testimony to the success of this pedagogy.
According to the Brazilian Institute of Geography, when
comparing social indicators, it is possible to observe the ine-
quality between black and white Brazilians in indexes such as
occupation of managerial positions in the labor market, income
distribution, education, violence and political representation, as
shown in the table below.

4 The Brazilian Institute of Geography and Statistics (IBGE) classifies the Brazilian popula-
tion by 5 race/color groups: black, pardo, white, yellow and indigenous. The term black refers
to the descent of African natives, regardless of their territory or social construction, due to the
phenotype manifested by their dark skin. It is understood that pardo is the person who has ethnic
ancestry of more than one group, which means, mestizo. Yellow are people of Asian ancestry and
indigenous is the term used for native peoples. White individuals are phenotypically white and
are usually descendants of Europeans. Racial recognition in Brazil is done by self-declaration,
and the criterion is generally based on phenotype rather than on blood or racial purity criteria,
i.e., an individual with white appearance, even if he/she has indigenous or black ancestry, is
considered white.
5 The black population is the group of people who self-declare themselves as black and
brown, according to the color or race criteria used by the Brazilian Institute of Geography and
Statistics Foundation (IBGE), or who adopt a similar self-definition.
ENG As long as there is racism, there will be no democracy: The Black Coalition for Rights 571
572 Polifonías para la equidad racial ENG

If we add gender to this analysis and consider rates of vio-


lence, such as femicide6, murder, violence against women, obs-
tetric violence and incarceration, the gap is even deeper.
Considering only the data available in its entirety, the figu-
res indicate that about 75% of the women murdered in the first
half of 2021 in Brazil are black7. The country has a law and
a set of public policies against violence against women (Law
No. 11.340/2006) and femicide (Law No. 13.104/2015) , but
it produces different results depending on the race of the vic-
tim. Femicide is growing among black and indigenous women,
although it is decreasing among white women. Among the first
two groups, the crime rate is double compared to white women,
according to Jackeline Aparecida Romio8.
If we think about female incarceration, the number of women
in prison has increased by approximately 675% since the year
2000. Mostly black, young, poor and lower-educated women.
According to information from Infopen Women, in terms of
the age group of inmates, 47.33% of the female inmate popula-
tion is young and 18-29 years old. Approximately 64% declare
themselves black, while only 35.59% declare themselves white,
according to 2017 data.
Brazil is the fourth largest incarcerator in the world and it is
no exaggeration to speak of mass incarceration in the country.
Thinking about black men, the situation does not change. This

6 Brazilian legislation defines the crime of femicide as a qualifying circumstance of the crime
of murder when the act occurs against the woman because of her feminine condition: When
the crime involves domestic violence, disrespect or discrimination to the woman’s condition.
Although the legislation speaks in sex, both feminists and black Brazilian movements, we have
considered that femicide occurs because the person is a woman and the misogyny of the per-
petrator, thus including victims of CIS and transgender women.
7 The data are incomplete and more than a third of the states in the country do not disclose
the race of women victims of violence. And, even among those that do disclose, the data are
misleading, with the race/color criterion largely appearing as “underreported.”
8 Interview granted by the researcher. Available at: https://www.camara.leg.br/
noticias/547491-feminicidio-cresce-entre-mulheres-negras-e-indigenas-e-diminui-entre-bran-
cas-aponta-pesquisadora/
ENG As long as there is racism, there will be no democracy: The Black Coalition for Rights 573

is what is revealed by the 14th Brazilian Public Security Yearbook


conducted by the Brazilian Public Security Forum9. Out of the
657.8 thousand prisoners where information on color/race is
available, 438.7 thousand are black (or 66.7%). The data refer
to 2019. In 15 years, the proportion of blacks in the prison sys-
tem grew by 14%, compared to a 19% decrease in the propor-
tion of whites. Today, out of every three prisoners, two are black.
The majority of prisoners in Brazil, 39.42%, are responsi-
ble for drug-related crimes, such as trafficking. Next come pri-
soners for crimes against property, which represent 36.74%.
Personal crimes amount to 11.38% and crimes against sexual
dignity represent 4.3%.
On this background is built the struggle of the Brazilian black
peoples, that is, under manifestations of a “genocidal State pro-
ject that is elaborating the vulnerabilities that weaken, kill and
prevent the formation of a historical consciousness capable of
sedimenting the bases of an articulated reaction of the black
contingent”. (FLAUZINA, 2006, p. 92).
The genocide of the Brazilian black people is a triple death.
It generates physical death, the result of the violence narra-
ted above. It causes a second death, symbolic, caused by invi-
sibility or stereotyping in the media, by the impossibility of
access to places of command and decision, or by the denial
of the validity of the knowledge we produce. A third dimen-
sion of this death, which is that of our consciences, of our
memory, of the legacy we are left with. Genocide is a project
that will adapt the circumstances, hourly by omitting itself,
hourly by being active, but it moves continuously to promote
black death as a result10.

9 Available at: https://forumseguranca.org.br/anuario-brasileiro-seguranca-publica/


10 This reflection is part of the article Andrade, Allyne. From the Destruction of Black Knowle-
dge to Epistemologies of Appearance: Black Women in the Justice System and Criminal Sciences.
IBCCRIM BULLETIN, v. 328, p. 15, 2020.
574 Polifonías para la equidad racial ENG

In this way, it acts only as a reinforcement of another face of


this genocide: The destruction of black knowledge and culture,
and the denial of the subject (black woman and black man) as a
producer of knowledge. If I do not think about my own reality
and do not believe, I do not exhibit it. If the knowledge pro-
duced by us about our reality is not considered valid, I do not
exist either11.
The Coalition strives to give us as black people the right to
exist by resistance and the ability to act politically, by the abi-
lity to be outraged, and by the ability to produce beauty for the
world as we recognize, gather, and support. Below, we will look
at the goals and principles on which this reality is based.

Objectives and principles


The Coalition came together aiming to have a political impact on
its own behalf in defense of life, well-being and hard-won, indis-
pensable and non-negotiable rights. For this action a set of values
was defined: From the values of collaboration, Ancestrality,
Circularity, sharing the Asé (inherited and transmitted life force),
orality, transparency, self-care, solidarity, collectivism, memory,
recognition and respect for differences, horizontality and love.
Collaboration means enabling organizations to set goals and
define joint actions and act nationally to achieve greater impact
and reach in black people’s survival strategies. The movement
also emphasizes the interdependence of all human beings.
Ancestrality of political action must be considered as the
knowledge produced by our Black ancestors who resisted the
forced crossing of the Atlantic, slavery and the unfinished abo-
lition, without reparations to Black populations and the effects
of racism in these 133 years. That is why the Coalition claims
to be inherited movements such as the Quilombos, the Negras

11 Idem, ibídem.
ENG As long as there is racism, there will be no democracy: The Black Coalition for Rights 575

Irmanades, the Brazilian Black Front, and, in a more contem-


porary movement of the Unified Black Movement (MNU) that
emerged in 1978.
“Who does not know where he came from, gets lost along the
way” and for this reason a special dimension of our resistance is
the preservation of our memory. As Haile Garima states:

“For me, genocide is not only when you are physically killed.
Genocide also happens when you are robbed of your memory.
Because you can never find an answer to the present circums-
tances, which are processed by past experiences (...) we have a
powerful weapon which is memory, a possibility of salvation not
only for us, but for the world. Because our experience determi-
nes it”.12

This memory, which must be preserved by written means, by


photos, stories, must not forget the importance of orality. The
officially reported history in Brazil erases the trajectories of
resistance and destroyed part of the legacy of the black popu-
lation. The black movement fought to keep their stories and
ancestors alive in memory, and this struggle determined the
choice of political and educational strategies strongly rooted in
an orality, in this sense, it is necessary to maintain the oral tradi-
tion and to value the oral testimonies of the younger and older
people as a form of knowledge. Political action also implies
the recognition of those who have come before, of those who
are now walking and of those who will come after. We have to
reconstruct this imaginary, the work that the Brazilian black
population has done, so that we can build a future of possi-
bilities by looking at the past of resistance. Here we see the

12 It is about Haile Garima in the film “Beyond the Looking Glass” (“Más allá del espejo”),
directed by Ana Flauzina.
576 Polifonías para la equidad racial ENG

manifestation of Sankofa13 in the need to return to the past to


revive the present and build the future.
This recognition is expressed in care and self-care, solida-
rity, respect for differences and love, reminding us of the power
of recognizing ourselves as humans and the best of that jour-
ney of being human and the beauty we have produced through
art, culture, language, literature, music, dance and politics,
even as we often gather to resist racism, violence, genocide
and terror.
The movement has a set of 14 principles, namely:

1. To fight for a just country, with equal rights and oppor-


tunities that, in order to achieve this, requires a long and
deep process of historical reparation to the Brazilian
black population;
2. To combat racial discrimination, racism, patriarchal domi-
nation, lesbophobia, transphobia and genocide of the
black population;
3. To confront racial asymmetries and inequalities, as well as
to seek the effective application of redistributive social jus-
tice and restorative racial justice;
4. To champion the role of black women and black, cis and
trans men, with particular attention to the legacy of the
struggle against black women in our society;
5. To address intransigent femicide, domestic violence,
machismo, sexism and child exploitation;
6. To fight for the right to culture as heritage, for the appre-
ciation of all African and African cultural manifestations,

13 The concept of Sankofa (sanko = to return; fa = to seek, to bring) originates from a tra-
ditional proverb among the Akan-speaking peoples of West Africa, in Ghana, Togo and Ivory
Coast. In Akan “se wo were fi na wosan kofa a yenki”, which can be translated as “it is not
taboo to go back and search for what was forgotten”. As a symbol of Adinkra, Sankofa can be
depicted as a mythical bird flying forward, having its head turned back and carrying an egg in
its beak, the future. Available at: https://www.revistas.usp.br/sankofa/about
ENG As long as there is racism, there will be no democracy: The Black Coalition for Rights 577

recognizing and incorporating them as a method of stru-


ggle and as channels for the preservation of our identity;
7. To promote the strengthening of the systematization and
dissemination of our memories and history, as well as the
defense of the right to the black imagination, as a founda-
tion for the construction of the future;
8. To defend collective respect for free sexual orientation,
gender identity, the LGBTQI+ right to life, as well as the
fight against lesbophobia, homophobia and transphobia;
9. To strive for the preservation and protection of quilom-
bola and other traditional black communities, rivers,
forests and land;
10. To combat racism and religious hatred, to confront viola-
tions of the right to worship and belief in African matrix
religions, to promote the reception of victims and to gua-
rantee the cultural reproduction of our ancestral practices
in our diversity;
11. To act in favor of the strengthening of collectives, move-
ments and organizations integrated and active by black
youth and to promote intergenerational dialogue;
12. To promote the strengthening of the racial identity of
black and black people in neighborhoods, suburbs, com-
munities, slums, schools, universities and prisons;
13. To stimulate and enhance permanent basic work and com-
munity and local action, within the territories affected by
barbarism, as a fundamental element for the legitimacy of
the actions of this Coalition, as well as to seek that the
basic leaders who face the daily life of hardship and vio-
lence are themselves, the representation of their guidelines
in the various areas of political impact at the national and
international level;
14. To build transnational alliances with movements, organi-
zations, entities, groups and collectives that are Black and
578 Polifonías para la equidad racial ENG

non-Black allies, in order to effectively promote political


impact in international organizations and forums.

A 25-pillar agenda14 was also determined, based on the uncom-


promising defense of human rights, the democratic rule of law
and the need for historical reparations to the black popula-
tion either through the maintenance and adoption of existing
public policies or through the creation of new public policies.
It highlights the agenda to eradicate poverty, adopt affirma-
tive action and measures of equality, equity and inclusion, and
defend civil and political rights, as well as economic, social and
cultural rights.

Key actions

“Brazil sees itself in front of a mirror that highlights its ills. And
the only possible counterpoint of hope to this white, old, rich,
heterosexual and cisgender face, which occupies the top of the
social pyramid and most spaces of power, is in the transformative
power of women, men, youth and LGBTQI+, marginal and peri-
pheral, quilombeados and riparians neighborhoods, incarcerated
and homeless black people, who constitute the majority of the
Brazilian people.”

For 3 years, the Coalition has excelled as one of the main poli-
tical actors in Brazil. Its action has been based both on natio-
nal actions, when in international actions it is understood that
the oppression suffered by the black people is the result of “a
capitalist-neoliberal, white and patriarchal global system”. In
this sense, we believe that the political articulation with the
Black peoples of Africa and the diaspora, as well as with the

14 Agenda available at: https://coalizaonegrapordireitos.org.br/sobre/


ENG As long as there is racism, there will be no democracy: The Black Coalition for Rights 579

other peoples who deal with this neoliberal capitalist oppres-


sion, from an internationalist perspective and beyond national
borders, is crucial for action.
Throughout these years, the Coalition has already presen-
ted approximately 60 public documents and political interven-
tion15. There were also national protests against the genocide
of the black population, against President Bolsonaro16, among
others. Below, I would like to highlight the three main cam-
paigns carried out in the national territory:

A) “There is no democracy with racism”. The Black Coalition


for Rights promotes the campaign “If there is racism there
will be no democracy”17, which brings together more than
100 entities of the black movement from all over the coun-
try. The campaign promotes a “broad front” around actions
to combat racism and to gather rights such as education,
employment and security. And it starts from the unders-
tanding that the anti-racist struggle needs to gain centra-
lity in the conversations about democracy. The manifesto
is also developed in political actions and public demons-
trations against the setbacks imposed by the Bolsonaro
Government on fundamental rights guarantees and social
and equity public policies18.
B ) Request for Impeachment of Bolsonaro’s Government.
On August 12, 2020, the Black Coalition for Rights filed
a request for impeachment19 to address crimes of accoun-
tability committed by President Jair Bolsonaro, adding
to the 55 impeachment requests filed before the Federal

15 Documents available at: https://coalizaonegrapordireitos.org.br/documentos/


16 For further information at: https://rioonwatch.org.br/?p=55244
17 The video of the manifesto is available at: https://youtu.be/lTdOuqHllMM.
18 For further information at: https://comracismonaohademocracia.org.br/
19 For further information at: https://coalizaonegrapordireitos.org.br/impeachmentbolsonaro/
580 Polifonías para la equidad racial ENG

Chamber against the president. The Coalition’s complaint


focuses on the lives lost –and the thousands of lives we
continue to lose– as a result of the criminal negligence with
which he acted during the coronavirus pandemic. In July
2021, the Black Coalition was part of the recall applica-
tion with 45 other signatories representing political par-
ties, parliamentarians and civil society entities. The request
unifies the arguments of the 123 impeachment requests
already filed before Brazil’s Chamber of Deputies against
President Bolsonaro.
C ) “There’s hungry people”. In view of the advance of food
insecurity and hunger in Brazil, in the midst of the new
coronavirus pandemic, there are already more than 19.1
million people in a situation of food insecurity. To make
the worst humanitarian crisis in Brazil, the Black Coalition
for Rights, in partnership with Amnesty International,
Oxfam Brazil, Maré networks, Brazilian Action to Combat
Inequalities, 342 Arts, Nuestras–Rede de Activismo,
Ethos Institute, Organic Solidarity, Group Prerogatives
and Fund Brazil, mobilized its forces to launch the crow-
dfunding campaign to raise funds for emergency actions
to address hunger, misery and violence in the COVID-19
pandemic. The movements that are part of the Coalition
mapped in their territories 222,895 families, in a state of
food insecurity, to be supported and mobilized in peri-
pheries, slums, piles, riverside communities and quilom-
bos, throughout the national territory. From March to
July 2021, approximately R$ 18 million had been collec-
ted and almost 80 families were gathered. It is a humani-
tarian campaign, but also a political campaign to ensure
that the black people do not die “neither from hunger, nor
from bullets, nor from COVID”, supporting the organi-
zations of the black movement and their territories and
ENG As long as there is racism, there will be no democracy: The Black Coalition for Rights 581

mobilizing the Brazilian population around the right to


health and life, for “vaccine in the arm and food on the
plate”. The campaign distributes basic baskets, organic
food, personal protection equipment.

Regarding international articulation20, the Coalition has an


impact on both the UN and OAS systems. At the UN, it atten-
ded the 45th Session of the Human Rights Council, the debate
on the Mid-Term Review of the International Decade for People
of African Descent and several meetings with independent
rapporteurs. Together with the organizations of the American
States, it participated in the 172nd to 175th Sessions of the Inter-
American Commission on Human Rights21.

To conclude
The Black Coalition is a “joint marching exercise”22 of the
Brazilian black movements, in line with other black move-
ments of the diaspora, but also with emancipation movements
around the world. The eradication of racism and the resistance
to the genocide of the black population is an arduous work
that has been carried out by AfroBrazilians, from the quilom-
bolas resistance, from the black brotherhoods, passing through
the Brazilian Black Front, passing through the black clubs, pas-
sing through the Unified Black Movement, through the Zumbi
of the Palmares and Black Women’s March and arriving at the
Black Coalition. It is, however, a work that we still have to do.

20 Read: https://www.uol.com.br/ecoa/colunas/opiniao/2020/03/04/coalizao-negra-por-di-
reitos-e-a-denuncia-internacional-ao-genocidio-negro.htm
21 Watch the Black Coalition for Rights video at the 175th session of the OAS Inter-American
Commission on Human Rights, taking place in deflagrated Port-au-Prince, capital of Haiti’s Holy
Land, March 06, 2020. The Coalition was represented by the lawyer Sheila Carvalho https://
www.youtube.com/watch?v=rLj1lJ-YbiI
22 Term used by Douglas Belchior, one of the leaders of the coalition at: https://rioonwatch.
org.br/?p=51737
582 Polifonías para la equidad racial ENG

The Coalition, throughout its 3 years, has consolidated itself


as a relevant national political actor. The novelty is us: Blacks,
peripheral, LGBTQIA+, indigenous activists who, although
we existed and resisted during these 500 years of Brazil, have
not always been recognized for our humanities and contribu-
tions to that country.
In addition, the Coalition allows the creation of solidarity
and affection networks among the various black activists who
have resisted in their territories and fight for the teaching of
Brazilian democracy, for fundamental rights and, ultimately, for
the right to life, for a life of dignity and well-lived. We, black
men and black women, are by ourselves but we are not alone.

Referencias
Andrade, Allyne. From the Destruction of Black Knowledge to
Epistemologies of Appearance: Black Women in the Justice System
and Criminal Sciences. IBCCRIM Bulletin, v. 328, p. 15, 2020.
Andrade, Allyne. Resisting Racism is Resisting Triple Death: Marielle,
present. 2018.
Brazilian Public Security Forum, F. B. S. P. Brazilian Directory of
Public Security. 2021. Available at: https://forumseguranca.org.
br/anuario-brasileiro-seguranca-publica/ Accessed July 21, 2021.
https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/opiniao/2020/
02/29/internas_opiniao,831178/artigo-nos-por-nos-o-autocuida-
do-de-mulheres-negras-e-um-ato-politic.shtml
Carta Capital. Axé- the force you perform. Available at https://www.
cartacapital.com.br/blogs/dialogos-da-fe/axe-a-forca-que-realiza/
Ministry of Justice. National Penitentiary Department. Infopen
National Prison Information Survey: june 2014. 2020
Rio On Watch. The organized black movement today: voices from
the Black Coalition for Rights #UprootingRacism. Available at:
https://rioonwatch.org.br/?p=52798
Português

Enquanto houver racismo, não haverá


democracia: A Coalizão Negra por Direitos

Allyne Andrade e Silva1

“Estamos por nossa própria conta.


Sempre lutamos. E venceremos!”

A Coalizão

“A História exige da população negra brasileira e de toda a diás-


pora africana, ações articuladas para o enfrentamento ao racismo,
ao genocídio e às desigualdades, injustiças e violências derivadas
desta realidade.”

(Carta Proposta da Coalizão Negra


Por Direitos, 2019)

1 Membro da Associação de Mulheres Negras Aqualtune e da Coalizão Negra Por Direitos.


Advogada, possui doutorado (2019) e mestrado (2015) em direito pela Universidade de São
Paulo. Obteve o LL.M –Master of Laws– na área de Teoria Crítica Racial da UCLA School
of Law (2019). Formada em Direito pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (2009).
Atualmente, é Superintendente Adjunta do Fundo Brasil de Direitos Humanos e Professora
do Insper. É autora do livro Direitos e Políticas Públicas Quilombolas publicado em 2020 pela
editora D’Plácido. É integrante do movimento de mulheres negras no Brasil e tem sua trajetória
profissional e acadêmica ligada à direito e políticas públicas, direitos humanos, organizações da
sociedade civil e movimentos sociais, teoria crítica racial, interseccionalidade, equidade racial e
de gênero, diversidade e inclusão. allyneas@insper.edu.br
584 Polifonías para la equidad racial POR

A Coalizão Negra por Direitas foi fundada em 2019 por orga-


nizações, entidades, grupos e coletivos do movimento negro
brasileiro2. Em novembro de 2019, foi realizado o I Encontro
Internacional da Coalizão Negra por Direitos com represen-
tantes de 100 organizações de mais de 20 Estados brasilei-
ros3, reunidas em um encontro internacional que contou ainda
com delegações do Togo, África do Sul, Colômbia, Equador e
Estados Unidos, esse último esteve presente com uma comitiva
de 14 membros do movimento do Black Lives Matter.
Deste encontro surgiu uma importante carta-programa com-
posta por 14 princípios e 25 agendas de reivindicações e exi-
gências destes movimentos junto ao estado e à governos, que
será apresentada a seguir. Em 2021, a Coalizão conta com mais
de 200 organizações de base –coletivos, grupos, movimentos–
e ONGs no Brasil.
O movimento nasce do reconhecimento da existência de
diversos grupos negros espalhados ao redor do país com um
legado de resistência e luta política que vem ao longo dos anos
enfrentando o racismo, que estrutura a sociedade brasileira e
produz desigualdades –socioeconômicas, de oportunidades, de
participação, de distribuição de bens e recursos–, que atingem
as existências negras.
Creio que um ditado popular no Brasil pode ilustrar o desejo
dessas organizações, espalhadas nessa imensidão que é o Brasil,
de unir forças e aumentar o alcance e potencialidade de suas
ações locais, se reunindo em coalizão : “uma andorinha só não
faz verão”. Além disso, a Coalizão nasce do reconhecimento da
produção de saberes, da criação de tecnologias sociais de resis-
tência, sobrevivência e vivência criadas pela população negra
2 O vídeo resumo do primeiro encontro pode ser visto em https://youtu.be/eJJh2MRyFXY.
O vídeo está em português e há legendas em inglês.
3 O Brasil possui 27 Estados federativos.
Por que é importante implementar uma Jurisdição Especial para os negros
POR afrocolombianos, raizal e palenquero na Colômbia? 585

que sobreviveu aos séculos de escravização e a 133 anos de um


estado de exceção permanente.

Racismo no Brasil: Um estado permanente de terror


A carta de Fundação da Coalizão começa reconhecendo o
estado de terror em que vivem os negros no Brasil:

“Durante os quase quatrocentos anos de escravização e desde o iní-


cio da República, somos alvo de violações de direitos, do racismo
antinegro, da discriminação racial, da violência e do genocídio.
Mesmo assim, temos construído, com nossas trajetórias indivi-
duais e coletivas, a riqueza deste país.
O Estado brasileiro, alinhado a uma onda mundial, expõe sem
maquiagem, sua face de horror. Parte significativa da sociedade já
não sustenta sua máscara de hipocrisia e assume seu caráter racista,
preconceituoso e intolerante. Sua política de morte –necropolítica–
e a narrativa do ódio atualmente se alinham de forma coerente.
Lidamos com uma concepção de nação materializada na prática
cotidiana de assassinatos de um jovem negro a cada 23 minutos;
chacinas diárias; estado penal e encarceramento crescentes e com
muita violência contra população carcerária e internos dos siste-
mas sócio educativos; assassinato da população negra LGBTTQI+
e crescentes números de feminicídio de mulheres negras; estupros
e assassinatos de crianças negras; perseguição de imigrantes, refu-
giados e refugiadas negras; criminalização e violência contra a
população em situação de rua; acirramento dos conflitos nos ter-
ritórios dos povos tradicionais quilombolas e ações sistemáticas de
terror contra as religiões de matriz africana”.

(Carta Proposta da Coalizão Negra


Por Direitos, 2019)
586 Polifonías para la equidad racial POR

A população brasileira4 está estimada em mais de 213


milhões de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística , com aproximadamente 54% de população negra5
(pretos e pardos), os brancos são aproximadamente 43% da
população do Brasil. Embora seja maioria da população, uma
análise rápida dos indicadores sociais demonstra a situação
de vulnerabilidade que o racismo impõe as pessoas negras
no Brasil.
Como nos ensina Wilma Reis (2005), é no corpo que se ins-
crevem marcas profundas e emblemáticas de representações
negativas do que significa ser negro. A punição, o constrangi-
mento, a violência e a coerção são mensagens explícitas, que
situa o lugar do negro e da negra para si e para os seus, mas tam-
bém para os outros. A contagem de nós, enquanto presos ou
mortos, é testemunho do sucesso dessa pedagogia.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia, na com-
paração de indicadores sociais, é possível observar desigualdade
entre negros e brancos brasileiros em índices como ocupação de
cargos gerenciais mercado de trabalho, distribuição de renda,
educação, violência, e representação política, conforme repre-
sentado no quadro abaixo

4 O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) classifica a população brasileira por


meio de 5 grupos de raça/cor: pretos, pardos, brancos, amarelos e indígenas. O termo preto toma
como referência a ascendência oriunda de nativos da África, independentemente de seu território
ou construção social, pelo fenótipo manifestado por sua pele de cor escura. Pardo é entendido
a pessoa que possui ascendência étnica de mais de um grupo, ou seja, mestiça. Amarelos são as
pessoas de ascendência asiática e indígenas é o termo utilizado para os povos originários. Brancos
são os indivíduos de aparência fenotípica branca, que são normalmente descendentes de euro-
peus. O reconhecimento racial no Brasil é feito por autodeclaração e o critério, normalmente,
se baseia em fenótipo e não em critérios sanguíneos ou de pureza racial, ou seja, um indivíduo
de aparência branca, ainda que tenha ascendentes indígenas ou negros, é considerado branco.
5 A população negra é o conjunto de pessoas que se autodeclaram pretas e pardas, conforme
o quesito cor ou raça usado pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
ou que adotam autodefinição análoga.
POR 587
588 Polifonías para la equidad racial POR

Se adicionarmos gênero, a essa análise e considerarmos índi-


ces de violência, como feminicídio6, homicídio, violência contra
mulher , violência obstétrica e encarceramento o fosso é ainda
mais profundo.
Considerando apenas os dados disponibilizados de forma
completa, os números apontam que cerca de 75% das mulheres
assassinadas no primeiro semestre de 2021 no Brasil são negras7.
O país tem uma lei e um conjunto de políticas públicas contra
a violência contra a mulher (Lei Nº 11.340/2006) e o feminicí-
dio (Lei 13.104/2015), mas ela produz resultados diferentes a
depender da raça da vítima. O feminicídio está crescendo entre
as mulheres negras e indígenas, embora esteja diminuindo entre
as mulheres brancas. Entre os dois primeiros grupos, o índice
do crime chega a ser o dobro do que entre as mulheres brancas,
de acordo com Jackeline Aparecida Romio .8
Se pensarmos o encarceramento feminino: o número de
mulheres em situação de cárcere aumentou aproximadamente
675% desde os anos 2000. Trata-se de um encarceramento de
mulheres, negras, jovens, pobres e com baixa escolarização.
Segundo dados do Infopen Mulheres, no que tange à faixa etá-
ria das presidiárias, 47,33% da população carcerária feminina é
jovem e possui 18 a 29 anos. Aproximadamente, 64% se decla-
ram negras; enquanto apenas 35,59% se declaram brancas, de
acordo com dados de 2017.

6 A legislação brasileira define o crime de feminicídio como circunstância qualificadora do crime


de homicídio quando o ato ocorrer contra a mulher em razão de sua condição de sexo feminino:
quando o crime envolve violência doméstica, menosprezo ou discriminação à condição de mulher.
Embora, a legislação fale em sexo, tanto os movimentos feministas quanto os negros brasileiros,
temos considerado que o feminicídio ocorre em função da pessoa ser do gênero feminino e da
misoginia do perpetrador englobando, portanto, como vítimas mulheres cis e transsexuais.
7 Os dados são incompletos e mais de um terço dos estados do país não divulga a raça das
mulheres vítimas de violência. E, mesmo entre os que divulgam, os dados apresentam falhas, já
que, em boa parte, o quesito raça/cor aparece como “não informada”.
8 Entrevista concedida pela pesquisadora . Disponível em: https://www.camara.leg.br/
noticias/547491-feminicidio-cresce-entre-mulheres-negras-e-indigenas-e-diminui-entre-bran-
cas-aponta-pesquisadora/
Por que é importante implementar uma Jurisdição Especial para os negros
POR afrocolombianos, raizal e palenquero na Colômbia? 589

O Brasil é o quarto maior encarcerador do mundo e não é


exagero falar de encarceramento em massa no país. Pensando
os homens negros, a realidade não se altera. É o que revela o 14º
Anuário Brasileiro de Segurança Pública realizado pelo Fórum
Brasileiro de Segurança Pública9. Dos 657,8 mil presos em que
há a informação da cor/raça disponível, 438,7 mil são negros
(ou 66,7%). Os dados são referentes a 2019. Em 15 anos, a pro-
porção de negros no sistema carcerário cresceu 14%, enquanto
a de brancos diminuiu 19%. Hoje, de cada três presos, dois
são negros.
A maioria dos presos, no Brasil, 39,42%, responde por cri-
mes relacionados às drogas, como o tráfico. Em seguida vem
os presos por crimes contra o patrimônio, que respondem por
36,74% do total. Os crimes contra a pessoa somam 11,38% e
os crimes contra a dignidade sexual representam 4,3%.
É sobre esse cenário de fundo que se constrói a luta dos
povos negros brasileiros, isto é, sob manifestações de um
“projeto genocida de Estado que vai desenhando as vulne-
rabilidades que fragilizam, matam e impedem a formação de
uma consciência histórica capaz de sedimentar as bases de
uma reação articulada do contingente negro” (FLAUZINA,
2006, p.92).
O genocídio do povo negro brasileiro é uma tripla morte.
Ele gera a morte física, resultante da violência que foi narrada
acima. Causa uma segunda morte, a simbólica, causada pela
invisibilidade ou estereotipação na mídia, pela impossibili-
dade de acesso aos locais de mando e decisão, ou pela nega-
ção de validade dos saberes produzidos por nóEs. Uma terceira
dimensão dessa morte, a das nossas consciências, da nossa
memória, do legado deixado pelos nossos. O genocídio é um
projeto que vai se adaptando as circunstâncias, por hora sendo

9 Disponível em: https://forumseguranca.org.br/anuario-brasileiro-seguranca-publica/


590 Polifonías para la equidad racial POR

omisso, por hora sendo ativo, porém, continuamente, se movi-


mento para a promoção da morte negra enquanto resultado10.
Feito desse modo, ele atua apenas como reforço de outra
face desse genocídio: o epistemicídio e a negação do sujeito (a
mulher negra e o homem negro) enquanto produtor de saber.
Se eu não penso sobre minha própria realidade e não crio, eu
não existo. Se o conhecimento produzido por nós sobre a nossa
realidade não é tido como válido, eu também não existo11.
A Coalizão luta para nos dar, a nós negros e negras, o direito
a existência pela resistência e capacidade de atuar politicamente,
pela capacidade de se indignar e pela capacidade de produzir
beleza para o mundo enquanto a gente se reconhece, se reúne
e se apoia. Veremos a seguir os objetivos e princípios sobre os
quais essa realidade se assenta.

Objetivos e Princípios
A Coalizão se reuniu com o objetivo de fazer incidência política
em seu/nosso próprio nome em defesa da vida, do bem-viver e
de direitos arduamente conquistados, irrenunciáveis e inegociá-
veis. Para essa atuação definiu um conjunto de valores: dos valo-
res da colaboração, ancestralidade, circularidade, partilha do
axé (força de vida herdada e transmitida), oralidade, transparên-
cia, autocuidado, solidariedade, coletivismo, memória, reconhe-
cimento e respeito às diferenças, horizontalidade e amor.
A colaboração significa permitir às organizações estabelecer
objetivos e definir ações conjuntas e agira nacionalmente para
atingir maior incidência e alcance nas estratégias de sobrevi-
vência do povo negro. O movimento também enfatiza a inter-
dependência de todos os seres humanos

10 Essa reflexão é parte do artigo Andrade, Allyne. Do epistemicídio a epistemologias do


aparecimento: mulheres negras no Sistema de Justiça e nas Ciências Criminais. BOLETIM DO
IBCCRIM, v. 328, p. 15, 2020.
11 Idem, ibidem.
Por que é importante implementar uma Jurisdição Especial para os negros
POR afrocolombianos, raizal e palenquero na Colômbia? 591

A ancestralidade atuação política, devem ser considerados os


saberes produzidos pelos nossos antepassados negros que resis-
tiram a travessia Atlântica forçada, à escravidão e da Abolição
inconclusa, sem reparações as populações negras e os efeitos do
racismo nesses 133 anos. É por esse motivo que a Coalizão se rei-
vindica como hereditário de movimentos como os Quilombos,
as Irmandades Negras, Frente Negra Brasileira, e, em um movi-
mento mais contemporâneo do Movimento Negro Unificado
(MNU) surgido em 1978.
“Quem não sabe de onde veio, se perde pelo caminho” e, por
esse motivo, uma dimensão especial de nossa resistência é a pre-
servação de nossa memória. Como nos ensina, Haile Garima :

“Para mim genocídio não é apenas quando você é fisicamente assas-


sinado. O genocídio também acontece quando você é roubado de
sua memória. Porque você nunca pode encontrar uma resposta para
circunstâncias atuais, que são processadas pelas experiências do pas-
sado. (..) nós temos uma arma poderosa que é a memória, uma pos-
sibilidade de salvação não somente para nós, mas para o mundo.
Porque a nossa experiência assim o determina.” 12

Essa memória, que deve ser preservada por meios escritos, por
fotos, contos, histórias não deve esquecer da importância da
oralidade. A história oficialmente contada no Brasil apaga as
trajetórias de resistência e destruiu parte do legado da popu-
lação negra. O movimento negro lutou por manter suas his-
tórias e ancestrais vivos na memória, e esta luta determinou
a escolha de estratégias políticas e educacionais fortemente
arraigadas numa oralidade, nesse sentido, a tradição oral pre-
cisa ser mantida e os depoimentos orais dos mais novos e mais
velhos valorizados como forma de saber. O agir político passa

12 Fala do Haile Garima no filme Além do Espelho, dirigido por Ana Flauzina.
592 Polifonías para la equidad racial POR

também pelo reconhecimento daqueles que vieram antes,


dos que caminham agora e dos que virão depois. É preciso
reconstruir esse imaginário, trabalho que vem sendo feito pela
população negra brasileira, para permitir que ao olhar para o
passado de resistência, possamos construir um futuro de pos-
sibilidades. Aqui, vê se a manifestação, do Sankofa13, na neces-
sidade de retornar ao passado para ressignificar o presente e
construir o futuro.
Esse reconhecimento se desdobra em cuidado e autocuidado,
solidariedade, respeito às diferenças e amor nos lembrando da
potência que significa nos reconhecer humanos e do melhor do
que há nessa jornada de ser humano e na beleza que temos pro-
duzido, através da arte, da cultura, da linguagem, da literatura,
da música, da dança e da política, mesmo que muitas vezes este-
jamos reunidos para resistir ao racismo, a violência, ao genocí-
dio e ao terror.
O movimento possui um conjunto de 14 princípios, a saber:

1. Lutar por um país justo, com igualdade de direitos e


oportunidades que, para se concretizar, exige um longo
e profundo processo de reparação histórica à população
negra brasileira;
2. Combater a discriminação racial, o racismo, a domina-
ção patriarcal, a lesbofobia, a transfobia e o genocídio da
população negra;
3. Enfrentar as assimetrias e desigualdades raciais, bem como
buscar efetivação da justiça social redistributiva e da jus-
tiça racial restaurativa;

13 O conceito de Sankofa (Sanko = voltar; fa = buscar, trazer) origina-se de um provérbio tra-


dicional entre os povos de língua Akan da África Ocidental, em Gana, Togo e Costa do Marfim.
Em Akan “se wo were fi na wosan kofa a yenki” que pode ser traduzido por “não é tabu voltar
atrás e buscar o que esqueceu”. Como um símbolo Adinkra, Sankofa pode ser representado
como um pássaro mítico que voa para frente, tendo a cabeça voltada para trás e carregando no
seu bico um ovo, o futuro. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/sankofa/about
Por que é importante implementar uma Jurisdição Especial para os negros
POR afrocolombianos, raizal e palenquero na Colômbia? 593

4. Defender o exercício do protagonismo de mulheres negras


e homens negros, cis e trans, com especial atenção ao
legado de luta de mulheres negras em nossa sociedade;
5. Enfrentar de modo intransigente o feminicídio, a violência
doméstica, o machismo, o sexismo e a exploração infantil;
6. Lutar pelo direito à cultura como patrimônio, pela valori-
zação de todas as manifestações culturais afro-brasileiras e
africanas, reconhecendo-as e as incorporando como método
de luta e como canais de preservação de nossa identidade;
7. Promover o fortalecimento da sistematização e da dissemi-
nação de nossas memórias e história, bem como a defesa
do direito à imaginação negra, como fundamento para a
construção de futuro;
8. Defender o respeito coletivo à livre orientação sexual, à
identidade de gênero, ao direito à vida LGBTQI+, bem
como enfrentar a lesbofobia, homofobia e transfobia;
9. Lutar pela preservação e proteção de comunidades qui-
lombolas e outras comunidades tradicionais negras, dos
rios, das florestas e dos terreiros;
10. Combater o racismo e o ódio religioso, enfrentar as vio-
lações do direito de culto e crença nas religiões de matriz
africana, promover o acolhimento de vítimas e a garantia
da reprodução cultural de nossas práticas ancestrais, em
nossa diversidade;
11. Atuar em prol do fortalecimento dos coletivos, movimen-
tos e organizações compostas e protagonizadas pela juven-
tude negra e da promoção do diálogo intergeracional;
12. Promover o fortalecimento da identidade racial de negras
e negros nos bairros, periferias, comunidades, favelas,
escolas, universidades e presídios;
13. Estimular e valorizar o trabalho de base permanente e a
ação comunitária e local, no seio dos territórios atingi-
dos pela barbárie, como elemento fundamental para a
594 Polifonías para la equidad racial POR

legitimidade das ações desta Coalizão, bem como buscar


que as lideranças de base que enfrentam o cotidiano das
dificuldades e violências, sejam elas próprias, a representa-
ção de suas pautas nos diversos espaços de incidência polí-
tica em nível nacional e internacional;
14. Construir alianças transnacionais com movimentos, orga-
nizações, entidades, grupos e coletivos negros e não negros
aliados, para a promoção eficaz da incidência política em
organismos e fóruns internacionais.

(Carta Proposta da Coalizão Negra Por


Direitos, 2019)

Foi também determinada uma agenda de atuação com 25 pila-


res14, que se baseiam na defesa intransigente dos direitos huma-
nos, do Estado Democrático de Direito e necessidade da
reparação histórica à população negra seja pela manutenção e
adensamento das políticas públicas já existentes, seja pela cria-
ção de novas políticas públicas. Destaca-se a agenda de erra-
dicação da pobreza, adoção de ações afirmativas e medidas de
igualdade, equidade e inclusão e uma defesa dos direitos civis e
políticos, bem como dos direitos econômicos, sociais e culturais.

Principais ações

“O Brasil se vê diante de um espelho que evidencia suas mazelas.


E o único contraponto de esperança possível a este rosto branco,
velho, rico, heterossexual e cisgênero, que ocupa o topo da pirâ-
mide social e majoritariamente os espaços de poder, está na potên-
cia transformadora de mulheres, homens, jovens e LGBTTQI+,
favelados e periféricos, aquilombados e ribeirinhos, encarcerados

14 As agendas estão disponíveis em: https://coalizaonegrapordireitos.org.br/sobre/


Por que é importante implementar uma Jurisdição Especial para os negros
POR afrocolombianos, raizal e palenquero na Colômbia? 595

e em situação de rua, negras e negros, que formam a maioria do


povo brasileiro.”

Ao longo de 3 anos, a Coalizão se destacou como um dos prin-


cipais atores políticos no Brasil. Sua atuação tem se baseado
tanto em ações nacionais, quando em ações internacionais
entendendo que a opressão sofrida pelo povo negro é fruto de
“um sistema global capitalista-neoliberal, supremacista branco
e patriarcal”. Nesse sentido acreditamos que a articulação polí-
tica com os povos negros em África e em Diáspora, bem como
com os demais povos que lidam contra essa opressão capitalista-
-neoliberal, numa perspectiva internacionalista e para além das
fronteiras nacionais é crucial para atuação.
Ao longo desses anos, a Coalizão já apresentou aproxima-
damente 60 documentos públicos e de intervenção política15.
Foram realizados ainda protestos nacionais contra o genocídio
da população negra16, contra o do presidente Bolsonaro, den-
tre outros. A seguir, destaco as três principais campanhas reali-
zadas em território nacional:

A ) “Com racismo não há democracia”. A Coalizão negra por


direitos promove a campanha “Enquanto houver racismo
não haverá democracia”17 , que reúne mais de 100 entida-
des do movimento negro de todo o país. A campanha pro-
move uma “frente ampla” em torno de ações de combate
ao racismo e a cobrança junto ao poder público de direitos
como educação, emprego e segurança. E parte do enten-
dimento de que a luta antirracista precisa ganhar centrali-
dade nas discussões em defesa da democracia. O manifesto

15 Os documentos estão disponíveis em: https://coalizaonegrapordireitos.org.br/documentos/


16 Saiba mais em : https://rioonwatch.org.br/?p=55244
17 O vídeo do manifesto está disponível em: https://youtu.be/lTdOuqHllMM.
596 Polifonías para la equidad racial POR

também se desdobra em ações políticas e manifestações


públicas contra os retrocessos impostos pelo Governo
Bolsonaro as garantias dos direitos fundamentais e as polí-
ticas públicas sociais e de equidade.18
B ) Pedido de Impeachment do governo Bolsonaro. No dia
12 de agosto de 2020, a Coalizão Negra Por Direitos pro-
tocolou pedido de impeachment19 em enfrentamento aos
crimes de responsabilidade cometidos pelo Presidente Jair
Bolsonaro, somando-se aos 55 pedidos de impeachment
protocolados na Câmara Federal contra o Presidente.
A denúncia da Coalizão tem como escopo central as vidas
perdidas –e as milhares de vidas que ainda vamos perder–
em decorrência da negligência criminosa com o qual atua
durante a pandemia do coronavírus. Em julho de 2021, a
Coalizão Negra fez parte do “superpedido” de impeach-
ment com outros 45 signatários representantes e partidos
políticos, parlamentares e entidades da sociedade civil. O
pedido unifica os argumentos do até então 123 pedidos de
impeachment já apresentados à Câmara dos Deputados
Brasileiro contra o presidente Bolsonaro.
C ) “Tem gente com fome”. Diante do avanço da insegu-
rança alimentar e da fome no Brasil, em meio à pande-
mia do novo coronavírus, já são mais de 19,1 milhões de
pessoas em situação de insegurança alimentar. Para fazer
a contingência da pior crise humanitária dos últimos tem-
pos no Brasil, a Coalizão Negra Por Direitos, em par-
ceria com a Anistia Internacional, Oxfam Brasil, Redes
da Maré, Ação Brasileira de Combate às Desigualdades,
342 Artes, Nossas, Instituto Ethos, Orgânico Solidário,
Grupo Prerrogativas e Fundo Brasil, mobilizaram suas

18 Saiba mais em : https://comracismonaohademocracia.org.br/


19 Saiba mais em: https://coalizaonegrapordireitos.org.br/impeachmentbolsonaro/
Por que é importante implementar uma Jurisdição Especial para os negros
POR afrocolombianos, raizal e palenquero na Colômbia? 597

forças para lançar a campanha de financiamento coletivo


para arrecadar fundos para ações emergenciais de enfren-
tamento à fome, à miséria e à violência na pandemia de
Covid-19. Os movimentos parte da Coalizão mapearam
em seus territórios 222.895 famílias, em estado de inse-
gurança alimentar, a serem apoiadas e mobilizadas em
periferias, favelas, palafitas, comunidades ribeirinhas e
quilombos, em todo o território nacional. De março a
julho de 2021, haviam sido arrecadados aproximadamente
18 milhões de reais e quase 80 mil famílias foram atendi-
das. Trata-se de uma campanha humanitária, mas também
política para que o povo negro não morra “nem de fome,
nem de bala, nem de covid”, apoiando as organizações do
movimento negro e seus territórios e mobilizando a popu-
lação brasileira em torno do direito à saúde e à vida, por
“vacina no braço e comida no prato”. A campanha distri-
bui cestas básicas, alimentos orgânicos e equipamentos de
proteção individual.

No tocante a articulação internacional20, a Coalizão tem inci-


dência tanto no sistema ONU quanto na OEA. No ONU, par-
ticipou de 45° Sessão do Conselho de Direitos Humanos, do
Debate da Revisão de Meio-Termo da Década Internacional
para as pessoas afrodescendentes e de diversas reuniões com
Relatores Independentes. Juto as organizações dos Estados
Americanos, participou do 172º ao 175° 21 Período de Sessões
da Comissão Interamericana de Direitos Humanos.

20 VER: https://www.uol.com.br/ecoa/colunas/opiniao/2020/03/04/coalizao-negra-por-di-
reitos-e-a-denuncia-internacional-ao-genocidio-negro.htm
21 Veja o vídeo da Coalizão Negra Por Direitos no 175° Período de Sessões da Comissão Inte-
ramericana de Direitos Humanos da OEA, que acontece na deflagrada Porto Príncipe, capital
da terra sagrada do Haiti, em 06 de março de 2020. A Coalizão foi representada pela Advogada
Sheila Carvalho https://www.youtube.com/watch?v=rLj1lJ-YbiI
598 Polifonías para la equidad racial POR

Para terminar
A Coalizão Negra é “um exercício de caminhada conjunta”22
dos movimentos negros brasileiros, em consonâncias com
outros movimentos negros na Diáspora, mas também com os
movimentos de emancipação ao redor do mundo. A erradica-
ção do racismo e a resistência ao genocídio da população negra,
é um trabalho árduo que vem sendo realizado por negras e
negros brasileiros, desde a resistência quilombola, das irman-
dades negras, passando pela Frente Negra Brasileira, pelos clu-
bes negros , pelo Movimento Negro Unificado, pelas Marchas
Zumbi dos Palmares e Marcha das Mulheres Negras e che-
gando à Coalizão Negra. Ao que tudo indica, trata-se de um
trabalho que ainda precisará ser feito por nós. A Coalizão, ao
longo de seus 3 anos, se consolidou como relevante ator político
nacional. A novidade somos nós: ativistas negros, periféricos,
LGBTQIA+, indígenas que apesar de existirmos e resistirmos
ao longo desses 500 anos de Brasil, nem sempre fomos reconhe-
cidos pelas nossas humanidades e contribuições para esse país.
Ademais, a Coalizão permite a criação de redes de solida-
riedade e de afeto entre os diversos ativistas negros que tem
resistido em seus territórios e lutam pelo adensamento da demo-
cracia brasileira, pelos direitos fundamentais e , em última aná-
lise, pelo direito à vida, a uma vida digna e bem-vivida. Nós,
negras e negros, estamos por nossa própria conta, mas não esta-
mos sozinhos.

Referências
Andrade, Allyne. Do epistemicídio a epistemologias do aparecimento:
mulheres negras no Sistema de Justiça e nas Ciências Criminais.
Boletim do IBCCRIM, v. 328, p. 15, 2020.

22 Termo utilizado por Douglas Belchior, uma das lideranças da Coalizão em: https://
rioonwatch.org.br/?p=51737
Por que é importante implementar uma Jurisdição Especial para os negros
POR afrocolombianos, raizal e palenquero na Colômbia? 599

Andrade, Allyne. Resistir ao racismo é resistir à tripla morte. Marielle,


presente. 2018.
FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA, F. B. S. P.
Anuário brasileiro de segurança pública. 2021. Disponível em:
https://forumseguranca.org.br/anuario-brasileiro-seguranca-pu-
blica/ Acesso em 21 de julho de 2021.
https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/opi-
niao/2020/02/29/internas_opiniao,831178/artigo-nos-por-nos-o-
-autocuidado-de-mulheres-negras-e-um-ato-politic.shtml
Carta Capital. Axé, a força que realiza. Disponível em https://www.
cartacapital.com.br/blogs/dialogos-da-fe/axe-a-forca-que-realiza/
Ministério da Justiça. Departamento Penitenciário Nacional.
Levantamento nacional de informações penitenciárias Infopen:
junho de 2014. 2020
Rio On Watch. O Movimento Negro Organizado Hoje: Vozes da
Coalizão Negra Por Direitos #DesenraizandoRacismo. Disponível
em: https://rioonwatch.org.br/?p=52798
ESPAÑOL

Perfiles de los miembros de la Plataforma


para la Equidad Racial en las Américas
(PERA)

Dayana Blanco: Directora General de ILEX. Abogada de la Universi-


dad de Cartagena, Especialista en Derecho Procesal de la Universidad
Libre y Derecho Privado-Económico de la Universidad Nacional. Es
Magíster en Medio Ambiente y Desarrollo de la misma universidad y en
Derecho de la Universidad de California, Los Ángeles. Ha trabajado en
el sector privado, la Rama Judicial, en restitución de tierras y derechos
territoriales, y en el sector de arte y cultura en Colombia.
Contacto: d.blanco@pera-la.org

Dayana Blanco: Diretora Geral do ILEX. Advogada da Universidade


de Cartagena, Especialista em Direito Processual da Universidade Livre
e Direito Econômico Privado da Universidade Nacional. Ele tem mes-
trado em Meio Ambiente e Desenvolvimento pela mesma universidade
e em Direito pela Universidade da Califórnia, Los Angeles. Trabalhou
no setor privado, no Poder Judiciário, na restituição de terras e direitos
territoriais e no setor de arte e cultura na Colômbia.
Contato: d.blanco@pera-la.org

Dayana Blanco: General Director of ILEX. Attorney, Specialist in Pro-


cedural Law of the Universidad Libre and Private-Economic Law of
Universidad Nacional. She holds a Master’s degree in Environment and
Development from the same university and in Law from the Universi-
ty of California, Los Angeles. She has worked in the private sector, the
602 Polifonías para la equidad racial ESP

Judicial Branch, in land restitution and territorial rights, and in the art
and culture sector in Colombia.
Contact: d.blanco@pera-la.org

Daniel Gómez: Miembro fundador de ILEX Acción Jurídica. Abogado


de la Universidad EAFIT de Medellín, con maestría de la Universidad
de California, Los Ángeles, y Doctor de la Universidad FORDHAM de
New York. Cuenta con amplia experiencia en materia constitucional y ha
trabajado para la Corte Constitucional, Colombia Diversa y Dejusticia.
Contacto: dgomez@ilex.com.co

Daniel Gómez: Membro fundador da ILEX Acción Jurídica. Advoga-


do pela EAFIT University of Medellín, com mestrado pela University
of California, Los Angeles e doutorado pela FORDHAM University of
New York. Ele tem ampla experiência em questões constitucionais e tra-
balhou para o Tribunal Constitucional, Colombia Diversa e Dejusticia.
Contato: dgomez@ilex.com.co

Daniel Gómez: Founding member of ILEX Acción Jurídica. Attorney


from the EAFIT University of Medellín, with a master’s degree from the
University of California, Los Angeles and a doctorate from the FORD-
HAM University of New York. He has extensive experience in consti-
tutional matters and has worked for the Constitutional Court, Colombia
Diversa and Dejusticia.
Contact: dgomez@ilex.com.co
ESP Perfiles de los miembros de la Plataforma para la Equidad Racial en las Américas (PERA) 603

Glenda Palacios Quejada: Economista, negra y Magíster en Economía en


la Universidad de los Andes. Es miembra de la Asociación Colombiana
de Economistas Negras e Investigadora de la Escuela de Gobierno de la
Universidad de los Andes.
Contacto: g.palacios100@uniandes.edu.co

Glenda Palacios Quejada: Economista, negra e mestre em Economia


pela Universidad de los Andes. É membro da Associação Colombiana
de Economistas Negros e pesquisadora da Escola de Governo da Uni-
versidade de los Andes.
Contato: g.palacios100@uniandes.edu.co

Glenda Palacios Quejada: Economist, black and Master in Economics


at the Universidad de los Andes. She is a member of the Colombian As-
sociation of Black Economists and a researcher at the School of Gover-
nment of the Universidad de los Andes.
Contact: g.palacios100@uniandes.edu.co

Candido Sankofá Advocacia: Abogado corporativo y criminalista. In-


vestigador en Seguridad Pública de la Universidad Federal Fluminen-
se - UFF. Presidente de la Comisión de Igualdad Racial e Intolerancia
Religiosa de la Subsección 24 OAB / RJ. Delegado de la Comisión de
Seguridad Pública de la Subsección 24 de la O.
Contacto: escritorio@candidoadvocacia.com.br

Candido Sankofá Advocacia: Advogado empresarial e advogado crimi-


nal. Pesquisador em Segurança Pública da Universidade Federal Flumi-
nense - UFF. Presidente da Comissão de Igualdade Racial e Intolerância
Religiosa da Subseção 24 da OAB / RJ. Delegado da Comissão de Se-
gurança Pública da Subsecção 24 do O.
Contato: desk@candidoadvocacia.com.br
604 Polifonías para la equidad racial ESP

Candido Sankofá Advocacia: Corporate and criminal lawyer. Researcher


in Public Security at the Federal Fluminense University - UFF. Presi-
dent of the Commission for Racial Equality and Religious Intolerance
of Subsection 24 OAB / RJ. Delegate of the Public Safety Commission
of Subsection 24 of the O.
Contact: desk@candidoadvocacia.com.br

Caroline Bispo: Es cofundadora de la Asociación Elas Existem. Mujer


negra, residente en el suburbio de Río de Janeiro. Abogada del Eje Se-
guridad Pública de Redes da Maré, estudiante de posgrado en Derecho
Penal y Procesal Penal de la Universidad Cândido Mendes. También es
Defensora Dativa del 9º Juzgado de Ética de la OAB-RJ.
Contacto: elasexistem.rj@gmail.com

Caroline Bispo: Ela é cofundadora da Elas Existem Association. Mulher


negra, residente no subúrbio do Rio de Janeiro. Advogada do Eixo de
Segurança Pública de Redes da Maré, pós-graduanda em Direito Penal
e Processo Penal pela Universidade Cândido Mendes. É também De-
fensora de Dativos do 9º Tribunal de Ética da OAB-RJ.
Contato: elasexistem.rj@gmail.com

Caroline Bispo: She is a co-founder of the Elas Existem Association.


Black woman, resident in the suburb of Rio de Janeiro. Lawyer of the
Public Security Axis of Redes da Maré, postgraduate student in Crimi-
nal Law and Criminal Procedure at Cândido Mendes University. She is
also a Dative Defender of the 9th Ethics Court of the OAB-RJ.
Contact: elasexistem.rj@gmail.com
ESP Perfiles de los miembros de la Plataforma para la Equidad Racial en las Américas (PERA) 605

Allyne Andrade: Abogada con Doctorado y Maestría (2015) en Dere-


cho de la Universidad de São Paulo. Obtuvo el LL.M - Master of Laws-
en el área de Teoría Crítica Racial de la Universidad de California, Los
Ángeles (UCLA School of Law), en 2019. Licenciada en Derecho por
la Universidad Estatal de Río de Janeiro en 2009. Autora del libro De-
recho y políticas públicas quilombolas, publicado por Editora DPlácido.
Actualmente, es Superintendente Adjunta del Fondo de Derechos Hu-
manos de Brasil.
Contacto: @allyne_aes

Allyne Andrade: Advogada com Doutorado e Mestre (2015) em Dire-


ito pela Universidade de São Paulo. Obteve o LL.M - Master of Laws
na área de Teoria Crítica Racial pela University of California, Los An-
geles (UCLA School of Law), em 2019. Graduou-se em Direito pela
Universidade do Estado do Rio de Janeiro em 2009. Autor do livro Di-
reito e políticas públicas quilombolas, da Editora DPlácido. Atualmente,
é Superintendente Adjunta do Fundo Brasileiro de Direitos Humanos.
Contato: @allyne_aes

Allyne Andrade: Lawyer with a PhD and Master’s Degree (2015) in


Law from the University of São Paulo. She obtained the LL.M - Mas-
ter of Laws- in the area of Racial
​​ Critical Theory from the University
of California, Los Angeles (UCLA School of Law) in 2019. Gradua-
ted in Law from the State University of Rio de Janeiro in 2009. Author
of the book Law and Quilombolas Public Policies, published by Edito-
ra DPlácido. Currently, she is Deputy Superintendent of the Brazilian
Human Rights Fund.
Contact: @allyne_aes
606 Polifonías para la equidad racial ESP

Dudu Ribeiro: Cofundador y Coordinador Ejecutivo de la Iniciativa


Negra para una Política de Drogas. Es Licenciado en Historia por la
Universidad Federal de Bahía, Especialista en Gestión Estratégica de
Políticas Públicas de UNICAMP / FPA y estudiante de maestría en el
Programa de Posgrado en Historia de la UFBA. Fue miembro del Con-
sejo de Desarrollo Económico del Estado de Bahía, del Consejo Esta-
tal de Política de Drogas del Estado de Bahía, del Grupo de Trabajo
sobre Drogas del Consejo Nacional de la Juventud, de la Red Latinoa-
mericana y del Caribe de Personas que Consumen Drogas (LANPUD).
También fue vicepresidente del Consejo Estatal de la Juventud del Es-
tado de Bahía.
Contacto: comunicacao@iniciativanegra.org.br

Dudu Ribeiro: Co-fundador e Coordenador Executivo da Black Initia-


tive for a Drug Policy. É formado em História pela Universidade Fede-
ral da Bahia, Especialista em Gestão Estratégica de Políticas Públicas
pela UNICAMP / FPA e mestrando no Programa de Pós-Graduação
em História da UFBA. Foi membro do Conselho de Desenvolvimento
Econômico do Estado da Bahia, do Conselho Estadual de Política de
Drogas do Estado da Bahia, do Grupo de Trabalho sobre Drogas do
Conselho Nacional da Juventude, da Rede Latino-Americana e Cariben-
ha de Usuários de Drogas ( LANPUD). Além disso, foi vice-presidente
do Conselho Estadual da Juventude do Estado da Bahia.
Contato: comunicacao@iniciativanegra.org.br

Dudu Ribeiro: Co-founder and Executive Coordinator of the Black Ini-


tiative for a Drug Policy. He has a degree in History from the Federal
University of Bahia, a Specialist in Strategic Management of Public Po-
licies from UNICAMP / FPA and a Master’s student in the Graduate
Program in History at UFBA. He was a member of the Council for Eco-
nomic Development of the State of Bahia, of the State Council of Drug
Policy of the State of Bahia, of the Working Group on Drugs of the Na-
tional Youth Council, of the Latin American and Caribbean Network
ESP Perfiles de los miembros de la Plataforma para la Equidad Racial en las Américas (PERA) 607

of People who Use Drugs ( LANPUD). Also, he was vice president of


the State Youth Council of the State of Bahia.
Contact: comunicacao@iniciativanegra.org.br

Ricardo Leal: Abogado afrocolombiano de la Universidad de Cartage-


na 09´. Tiene amplia experiencia en derecho civil, agrario y defensa de
derechos territoriales de Comunidades Negras, así como en gestión de
proyectos, representación judicial y acompañamiento jurídico a muje-
res víctimas de violencia y del conflicto armado. Es especialista en De-
rechos Humanos de la Escuela Superior de Administración Pública
(ESAP). Labora en la Secretaría Distrital de la Mujer en Bogotá, en la
Oficina Asesora Jurídica.
Contacto: lealricardo@gmail.com

Ricardo Leal: Advogado afro-colombiano pela Universidade de Carta-


gena 09´. Possui vasta experiência em direito civil, agrário e defesa dos
direitos territoriais das Comunidades Negras, e em gestão de projetos,
representação judicial e apoio jurídico a mulheres vítimas de violência
e conflito armado. É especialista em Direitos Humanos pela Escola Su-
perior de Administração Pública (ESAP). Trabalha na Secretaria Dis-
trital da Mulher em Bogotá, Assessoria Jurídica.
Contato: allericardo@gmail.com

Ricardo Leal: Afro-Colombian lawyer from the University of Cartagena


09´. She has extensive experience in civil, agrarian law and defense of
the territorial rights of Black Communities, experience in project ma-
nagement, judicial representation and legal support for women victims
of violence and the armed conflict. School of Public Administration
ESAP, Specialist in Human Rights. She works in the City Hall’s Office
for Women in Bogotá, at the Legal Advisory Office.
Contact: allericardo@gmail.com
608 Polifonías para la equidad racial ESP

Leandro Jamioy: Abogado de la Universidad Nacional de Colombia.


Sustanciador en Jurisdicción Especial para la Paz, Profesional de Apoyo
- Despacho del Ministro Ministerio de Justicia y del Derecho. Abogado
Asesor y Litigante Autónomo, fue Asesor Jurídico de Consulta Previa
(Política Pública Pueblos Indígenas en Estado Natural - Aislados), Or-
ganización de los Pueblos Indígenas de la Amazonía Colombiana 2015,
Consultorista Corte Constitucional 2013/ 2014.
Contacto: leandro.jamioy@jep.gov.co

Leandro Jamioy: Advogado pela Universidade Nacional da Colômbia.


Advogado em Jurisdição Especial de Paz, Profissional de Apoio - Ga-
binete do Ministro de Estado da Justiça e Direito, Advogado Assessor
e Litigante Autônomo, foi Assessor Jurídico de Consulta Prévia (Polí-
tica Pública para Povos Indígenas em Estado Natural - Isolado) Orga-
nização de Povos Indígenas da Amazônia colombiana 2015, Consultor
do Tribunal Constitucional 2013/2014.
Contato: leandro.jamioy@jep.gov.co

Leandro Jamioy: Lawyer from the National University of Colombia. Ad-


vocate in Special Jurisdiction for Peace, Support Professional - Office
of the Minister of the Ministry of Justice and Law. Counseling Lawyer
and Autonomous Litigator, was Legal Advisor for Prior Consultation
(Public Policy for Indigenous Peoples in a Natural State - Isolated) Or-
ganization of Indigenous Peoples of the Colombian Amazon 2015, Con-
sultant for the Constitutional Court 2013/2014.
Contact: leandro.jamioy@jep.gov.co
ESP Perfiles de los miembros de la Plataforma para la Equidad Racial en las Américas (PERA) 609

Thiame Carabali: Abogada afrocolombiana, Máster en Estudios Críticos


Raciales y Derecho Internacional comparado Universidad de California,
Los Ángeles. Especialista en Derecho Aduanero y Comercio Exterior.
Ocho años de experiencia laboral en Derechos Humanos con enfoque
étnico diferencial y étnico territorial. Amplia experiencia en derechos
económicos sociales-culturales y derecho administrativo.
Contacto: thiadecah22@hotmail.com

Contact Info:
d.blanco@pera-la.org
d.gomez@pera-la.org
Polifonías para la equidad racial

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