Publicado em OS I OS /2014

no Diário de Justiça Eletrônico do

TRE/PI n.g Qfr> pág, 9 - 1Q

TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DO ESTADO DO PIAUÍ

ACÓRDÃO N° 39081

REPRESENTAÇÃO N<" 390-81.2012.6.18.0052 - CLASSE 42. ORIGEM: ÁGUA BRANCA-PI

(52* ZONA ELEITORAL). RESUMO: REPRESENTAÇÃO - RECURSO - ELEIÇÕES DE 2012 -
CONDUTA VEDADA - CARGO - VEREADOR - ELEIÇÃO PROPORCIONAL - PROCEDÊNCIA -
CASSAÇÃO DE REGISTRO DE CANDIDATURA - PEDIDO DE REFORMA DE DECISÃO
Recorrente: Raimundo de Almeida Santos, candidato eleito ao cargo de vereador no
município de Água Branca/PI
Advogados: Drs. José Iran Paiva Felinto Filho, Frederico Nunes Mendes de Carvalho
Filho e outros
Recorrida: Coligação "O Progresso Continua" (PSB, PSD, PMDB, PPS, PV, PRTB, PRB,
PP, PTB E PTC), por seu representante legal
Advogado: Dr. Welder de Sousa Melo
Relator. Dr. Dioclécio Sousa da Sitva

RECURSO EM REPRESENTAÇÃO. ELEIÇÕES

2012. CANDIDATO A VEREADOR. PARTICIPAÇÃO
ATiVA EM INAUGURAÇÃO DE OBRA PÚBLICA.
ENTREGA DE CASAS POPULARES FINANCIADAS PELA
CAIXA ECONÔMICA FEDERAL. PERÍODO ELEITORAL
CONDUTA VEDADA DO ART. 77 DA LEI N<» 9.504/97.
CASO DE CONFIRMAÇÃO DA SENTENÇA QUE CASSOU
O REGISTRO DE CANDIDATURA DO RECORRENTE.
RECURSO DESPROVIDO.

ACORDAM os Juizes do Tribunal Regional Eleitoral do Estado do Piauí,

à unanimidade, nos termos do voto do relator e em consonância com o parecer
ministeriai exarado às fls. 116/122 dos autos, conhecer e negar provimento ao
presente recurso para que seja mantida a sentenç^aeprimetro grau que cassou o
registro de candidatura de RAIMUNDO DE ALMEIdVsANTOS.
Sala das Sessões do Tribunal Regiorç Eleitoral do Estado do Piauí, em
Teresina, 28 de abril de 2014.

DES. EDVALDO DE MOURA

DR. IOCLÉQ10 SOUSA DA SILVA

Relator
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Processo n° 390-81.2012.6.18.0052 - Classe 42

DR. KELSTOP

Procurador Regional Eleitofál

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Processo n° 390-81.2012.6.18.0052 - Classe 42

RELATÓRIO

O JUIZ DIOCLÉCIO SOUSA DA SILVA (RELATOR): Senhor Presidente,

Senhores Membros desta Egrégia Corte, Senhor Procurador Regional Eleitoral,
Senhores advogados e demais pessoas presentes.
Trata-se de recurso interposto p>or Raimundo de Almeida Santos (vulgo
"Soroba"), vereador de Água Branca/PI, contra decisão da MM Juíza da 52^ Zona,
que julgou procedente representação por comparecimento em inauguração de
obra pública em período vedado, ajuizada peia Coligação "O Progresso Continua"
e, com fundamento no art. 77, parágrafo único, da Lei n^ 9.504/97, cassou o seu
registro de candidatura.
O recorrente admite que "compareceu à cerimônia realizada pela WS
Construtora de entrega de uma casa no Residencial Soares", mas que não se
trata de obra pública e que não teve participação ativa no evento, figurando
como mero expectador.
Aduz que "o fato de o imóvel ter sido financiado pelo plano Minha Casa
Minha Vida, da Caixa Econômica Federal, não o torna de interesse públicd' e que
"o imóvel é particular e não há interferência de nenhum governo para que o
financiamento seja aprovado".
Alega que as "casas foram construídas por iniciativa da WS Construtora,
empresa particular e sem contrato com a Administração Pública" e, ainda, que
"não há falar em uso da Administração Pública, já que o evento era particular e a
Sra. Francisca Aurídeia sequer é eleitora de Água Branca".
Por fim, pugna pelo provimento do recurso "para deferir o registro de
candidatura" (fls. 77/86).
O recurso foi recebido, inicialmente, apenas no efeito devolutivo. Contudo,
o representado ajuizou ação cautelar (n. 389-58.2012.6.18.0000) e teve deferido
pedido de liminar para atribuir efeito suspensivo ao apelo até o julgamento do
presente recurso por esta Egrégia Corte (fls. 92/96).
Contrarrazões foram apresentadas às fls. 101/106.
A recorrida sustenta que a sentença não merece reparos porque restou
demonstrado nos autos que, no dia 12/08/12, o recorrente participou ativamente
de inauguração de obra social no município (casas populares financiadas com
dinheiro da Caixa Econômica Federal, pelo Programa Minha Casa Minha Vida).
Afirma que o evento contou com a presença de mutuários, gerente
empresários, funcionários e familiares de mutuários contemplados,
que o edil até "ajudou a cortar a fita que simboliza a inauguração
Residencial Soares".

Por fim, pugna pelo não provimento do recurso e pela confirmação da

sentença e, caso não seja esse o entendimento da Corba, requer,
sucessivamente, a aplicação de multa no patamar máximo legal.
O Procurador Regional Eleitoral, por sua vez, manifestou-se às fls. 116/Ü
consignando que a presença ativa do edil no evento foi confirmada "pefêsjbtdj
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da matéria jornalística juntada às fls. 04 dos autos, pelas testemunhas ouvidas

em audiência e pelo próprio recorrente".
O representante do MPE declarou que restou comprovada a violação do
art. 77 da Lei n. 9.504/97, que o comparecimento do então candidato à entrega
das casas foi noticiado em portal de notícias da internet e atingiu número
indeterminado de pessoas, e, ainda, que a potencialidade lesiva da conduta é
presumida.
Por fim, opinou pelo desprpyjmento do recurso.
é o relatório.

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VOTO
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O JUIZ DIOCLÉCIO SOUSA DA SILVA (RELATOR): Senhor Presidente,

Senhores Membros desta Egrégia Corte, Senhor Procurador Regional Eleitoral,
Senhores advogados e demais pessoas presentes,
De início, conheço do recurso, uma vez que atendidos os pressupostos de
admissibilidade exigidos.
Como visto, trata-se de participação de candidato a vereador a
inauguração de obra pública.
Segundo a exordial, o Sr. Raimundo de Almeida Santos participou
ativamente, no dia 12/08/2012, da entrega de casas populares, financiadas pelo
Programa Minha Casa Minha Vida, no Residencial Soares, em Água Branca/PI.
A notícia e as fotos do evento foram veiculadas no Portal MPiauí e constam
às fls. 04/07. No texto da publicação, consta que houve uma solenidade e que
foram entregues 48 casas na oportunidade, com a presença dos mutuários, de
algumas autoridades e do vereador Soroba (ora recorrente).
Das imagens acostadas aos autos, observa-se que o evento foi prestigiado
por um número considerável de pessoas e que o então candidato protagonizou a
entrega dos imóveis, uma vez que aparece em várias fotos segurando a faixa da
inauguração, entregando a chave a uma mutuária e dentro de uma das casas.
A Caixa Econômica Federal emitiu declaração à fl. 42, esclarecendo que a
execução do empreendimento foi dividida em duas etapas e que a segunda era
constituída de 48 unidades habitacionais, bem assim que a obra é de interesse
social pois dedicada a famílias que percebem de 0 a 10 salários mínimos por
mês.
Quanto às testemunhas, todas arroladas pelo representado, confirmaram
que havia uma quantidade considerável de pessoas na solenidade, que nem o
edil, nem seus parentes, foram contemplados com imóveis, que o mesmo fez uso
da palavra no evento e, ainda, que houve oferta de coquetel, como se verifica
dos trechos de depoimentos abaixo transcritos:

yAy/jfiíasfílngton"Luis Dias Soares

/ que houve "(...) um coquetel aos presentes, oferecido pela cotístrutora"
/ que as pessoas presentes eram os proprietários dos im6veis\ advindos não
' somente de Água Branca e também se São Gonçalo e outras e girada em torno de
45 pessoas \
que nenhum dos representados e nem parentes foram contemplados com imóveis
que os representados não foram convidados

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Processo n° 390-81.2012.6.18,0052 - Classe 42

Antônio Romano Pereira Filho

que no referido evento o Soroba fez uso da palavra parabenizando Whashington
dono da empresa que é amigo do mesmo

Francisca Aurideia Gonçalves Cunha

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que as palavras dita pelo representado Soroba no dia foi desejando boa sorte aos
proprietários e que todos conseguissem pagar o financiamento

Pois bem.

O caráter público da obra é incontestável, haja vista que se trata de

programa habitacional do governo federal, financiado pela Caixa Econômica e
destinado à população de baixa renda.
Pelas provas colhidas no feito, depreende-se que houve um ato público
para a entrega das casas e que, apesar de o candidato e seus familiares não
serem contemplados com imóveis, ele compareceu ao evento e participou de
modo atuante na solenidade.
No mês de agosto, em plena campanha eleitoral, em cidade de pequeno
porte do interior, é evidente que a presença do candidato em ato desta natureza,
com fotos entre os responsáveis peta obra, discurso e entrega de chaves, incute
na mente do eleitor que o concorrente contribuiu para a concessão da benesse
ao povo ou, no mínimo, que goza de prestígio suficiente para estar ali,
imprimindo uma imagem de benfeitor e de melhor opção para a comunidade.
No contexto posto sob apreciação, é muito difícil dissociar dos fatos a
finalidade eleitoreira e de autopromoção da presença do representado em
inauguração de obra tão relevante para aquela comunidade em período
flagrantemente vedado - conferindo-lhe presumível vantagem na disputa
eleitoral e malbaratando a igualdade de condições que deve reger a concorrência
entre os candidatos.

O artigo 77, da Lei n. 9.504/97 é expresso ao dispor que:

Art, 77 É proibido a qualquer candidato comparecer, nos 3 (três) meses que

precedem o pleito, a inaugurações de obras públicas.
Parágrafo único. A inobservância do disposto neste artigo sujeita o infrator à
cassação do registro ou do diploma.

Com efeito, a conduta do representado se enquadra no aludido preceito

legal.
Inclusive, essa Egrégia Corte se manifestou recentemente sobre a matéria,
em processo inteiramente semelhante a este, em que figurou como representado
outro candidato a vereador que se fez presente à mesma inauguração em Água
Branca/PI. sob a relatoria do Des. Joaquim Dias de Santana Filho, na sessão
dia 03/02/2014, e, à unanimidade, decidiu que houve conduta vedada eiqui
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caso de confirmação da sentença que cassou o registro/diploma do representado,

em julgado ementado nos seguintes termos:

RECURSO EM REPRESENTAÇÃO. ELEIÇÕES 2012. ART. 77 DA LEI N^ 9.504/97.

PARTICIPAÇÃO DE CANDIDATO EM INAUGURAÇÃO DE OBRA PÚBLICA. VEDAÇÃO
LEGAL. RECURSO PROVIDO PARA CASSAR O REGISTRO DE CANDIDATURA.

, - O art. 77 da Lei nfi 9.504/97 proíbe a qualquer candidato comparecer, nos 3

(três) meses que precedem o pleito, a inaugurações de obras públicas.
- O comparecimento de candidato à inauguração de obra pública constitui conduta
vedada apta a desequilibrar a disputa eleitoral.
Recurso a que se nega provimento.

Ante o exposto, VOTO, em consonância com o parecer ministerial, pelo

conhecimento e desprovimento do presente recurso, para que seja mantida a
sentença de primeiro grau que cassou o registro de candidatura de Raimundo de
Almeida Santos.

É o voto.

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Processo n° 390-81.2012.6.18.0052 - Classe 42

EXTRATO DA ATA

REPRESENTAÇÃO N<* 390-81.2012.6.18.0052 - CLASSE 42. ORIGEM: ÁGUA BRANCA-

PI (52> ZONA ELEITORAL). RESUMO: REPRESENTAÇÃO - RECURSO - ELEIÇÕES DE
2012 - CONDUTA VEDADA - CARGO - VEREADOR - ELEIÇÃO PROPORCIONAL -
PROCEDÊNCIA - CASSAÇÃO DE REGISTRO DE CANDIDATURA - PEDIDO DE
REFORMA DE DECISÃO
Recorrente: Raimundo de Almeida Santos, candidato eleito ao cargo de vereador
no município de Água Branca/PI
Advogados: Drs. José Iran Paiva Felinto Filho, Frederico Nunes Mendes de
Carvalho Filho e outros
Recorrida: Coligação "O Progresso Continua" (PSB, PSD, PMDB, PPS, PV, PRTB,
PRB, PP, PTB E PTC), por seu representante legal
Advogado: Dr. Welder de Sousa Melo
Relator Dr. Dioclécio Sousa da Silva

Decisão: RESOLVEU o Tribunal, à unanimidade, nos termos do voto do relator e

em consonância com o parecer ministerial exarado às fls. 116/122 dos autos,
conhecer e negar provimento ao presente recurso para que seja mantida a
sentença de primeiro grau que cassou o registro de candidatura de RAIMUNDO
DE ALMEIDA SANTOS.

Presidência do Excelentíssimo Senhor Desembargador Edvaldo Pereira de Moura.

tomaram parte no julgamento os Excelentíssimos Senhores: Desembargador
Joaquim Dias de Santana Filho; Juizes Doutores - Francisco Hélio Camelo Ferreira,
João Gabriel Furtado Baptista e José Wilson Ferreira de Araújo Júnior. Presente
Procurador Regional Eleitoral, Doutor Kelston Pinheiro Lages.

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