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CRIMINOLOGIA

Edição 2023.1
Revisada
Atualizada
Ampliada
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CRIMINOLOGIA 2023.1
APRESENTAÇÃO................................................................................................................................ 4
NOÇÕES INTRODUTÓRIAS .............................................................................................................. 5
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS ....................................................................................................... 5
2. TERMINOLOGIA .......................................................................................................................... 6
3. MARCO CIENTÍFICO ................................................................................................................... 6
4. CONCEITO ................................................................................................................................... 6
5. MÉTODOS .................................................................................................................................... 7
EMPÍRICO ............................................................................................................................. 7
INDUTIVO ............................................................................................................................. 8
INTERDISCIPLINAR ............................................................................................................. 8
6. TÉCNICAS DE INVESTIGAÇÃO ................................................................................................. 8
QUANTITATIVAS .................................................................................................................. 8
QUALITATIVAS ..................................................................................................................... 8
TRANSVERSAIS ................................................................................................................... 9
LONGITUDINAIS .................................................................................................................. 9
7. OBJETOS DE ESTUDO ............................................................................................................... 9
DELITO .................................................................................................................................. 9
7.1.1. Incidência massiva na população .................................................................................. 9
7.1.2. Incidência aflitiva ............................................................................................................ 9
7.1.3. Persistência espaço-temporal ..................................................................................... 10
7.1.4. Inequívoco consenso ................................................................................................... 10
DELINQUENTE ................................................................................................................... 10
7.2.1. Escola Clássica ............................................................................................................ 10
7.2.2. Escola Positiva ............................................................................................................. 11
7.2.3. Escola Correcionalista ................................................................................................. 11
7.2.4. Marxismo ...................................................................................................................... 11
7.2.5. Conceito atual .............................................................................................................. 12
VÍTIMA ................................................................................................................................. 12
7.3.1. Fases............................................................................................................................ 12
7.3.2. Espécies de vitimização............................................................................................... 13
7.3.3. Classificação das vítimas............................................................................................. 14
CONTROLE SOCIAL .......................................................................................................... 15
7.4.1. Sistema de controle social informal ............................................................................. 16
7.4.2. Sistema de controle social formal ................................................................................ 16
8. FUNÇÕES DA CRIMINOLOGIA ................................................................................................ 17
EXPLICAR E PREVENIR O CRIME ................................................................................... 17
INTERVIR NA PESSOA DO INFRATOR ........................................................................... 17
AVALIAR AS DIFERENTES FORMAS DE RESPOSTA AO CRIME ................................ 17
8.3.1. Modelo clássico, dissuasório ou retributivo ................................................................. 17
8.3.2. Modelo ressocializador ................................................................................................ 18
8.3.3. Modelo restaurador, integrador ou de Justiça Restaurativa ....................................... 18
9. SISTEMAS DA CRIMINOLOGIA................................................................................................ 18
ESCOLA AUSTRÍACA ........................................................................................................ 18
CONCEPÇÃO ESTRITA ..................................................................................................... 19
EVOLUÇÃO HISTÓRICA .................................................................................................................. 20
1. ETAPA PRÉ-CIENTÍFICA DA CRIMINOLOGIA ........................................................................ 20
2. ETAPA CIENTÍFICA CRIMINOLOGIA ....................................................................................... 20
3. ESCOLA CLÁSSICA .................................................................................................................. 20
CONSIDERAÇÕES INICIAIS.............................................................................................. 20
CESARE BECCARIA .......................................................................................................... 20
FRANCESCO CARRARA ................................................................................................... 22

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PILARES DA ESCOLA CLÁSSICA .................................................................................... 22
A INFLUÊNCIA DO UTILITARISMO................................................................................... 23
PENAS DE ACORDO COM A ESCOLA CLÁSSICA ......................................................... 23
3.6.1. Certeza ......................................................................................................................... 23
3.6.2. Prontidão ...................................................................................................................... 24
3.6.3. Severidade ................................................................................................................... 24
DECLÍNIO EFETIVO DA ESCOLA CLÁSSICA .................................................................. 24
RECAPITULAÇÃO DA ESCOLA CLÁSSICA ..................................................................... 24
4. ESCOLA POSITIVISTA .............................................................................................................. 25
CONSIDERAÇÕES INICIAIS.............................................................................................. 25
MODELO POSITIVISTA DA CRIMINOLOGIA ................................................................... 25
CONTRIBUIÇÕES DE LOMBROSO .................................................................................. 26
4.3.1. Categorias de criminosos ............................................................................................ 26
CONTRIBUIÇÕES DE ENRICO FERRI (1856-1929) ........................................................ 27
4.4.1. Grupos de criminosos .................................................................................................. 27
CONTRIBUIÇÕES DE RAFFAELE GAROFALO ............................................................... 29
4.5.1. Categorias de criminosos ............................................................................................ 30
RESUMO DA ESCOLA POSITIVISTA ............................................................................... 30
5. ESCOLA CLÁSSICA X ESCOLA POSITIVISTA ....................................................................... 31
MODELOS TEÓRICOS EXPLICATIVOS DO DELITO ..................................................................... 33
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS ..................................................................................................... 33
2. BIOLOGIA CRIMINAL ................................................................................................................ 33
3. PSICOLOGIA CRIMINAL ........................................................................................................... 33
4. SOCIOLOGIA CRIMINAL ........................................................................................................... 34
5. CLASSIFICAÇÃO DE MOLINA .................................................................................................. 34
CRIMINOLOGIA CLÁSSICA E NEOCLÁSSICA ................................................................ 34
CRIMINOLOGIA POSITIVISTA .......................................................................................... 34
SOCIOLOGIA CRIMINAL ................................................................................................... 34
DIVERSAS CORRENTES DA MODERNA CRIMINOLOGIA ............................................ 34
6. TEORIAS SITUACIONAIS DA CRIMINALIDADE ..................................................................... 35
TEORIA DA OPÇÃO RACIONAL COMO OPÇÃO ECONÔMICA ..................................... 35
TEORIA DAS ATIVIDADES ROTINEIRAS......................................................................... 36
TEORIA DO MEIO OU ENTORNO FÍSICO ....................................................................... 36
SOCIOLOGIA CRIMINAL .................................................................................................................. 38
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................ 38
2. TEORIAS DO CONSENSO ........................................................................................................ 38
CONSIDERAÇÕES INICIAIS.............................................................................................. 38
ESCOLA DE CHICAGO ...................................................................................................... 38
2.2.1. Ambiente e contexto histórico...................................................................................... 39
2.2.2. Ideias centrais .............................................................................................................. 40
2.2.3. Inquéritos sociais ......................................................................................................... 40
2.2.4. Soluções....................................................................................................................... 40
2.2.5. Críticas ......................................................................................................................... 40
2.2.6. Principais pensadores.................................................................................................. 40
TEORIA DA ANOMIA .......................................................................................................... 41
2.3.1. Contribuições de Durkheim ......................................................................................... 41
2.3.2. Contribuições de Merton .............................................................................................. 41
TEORIA DA ASSOCIAÇÃO DIFERENCIAL ....................................................................... 42
TEORIA DA SUBCULTURA DELINQUENTE .................................................................... 45

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3. TEORIAS DO CONFLITO .......................................................................................................... 46
CONSIDERAÇÕES INICIAIS.............................................................................................. 46
LABELLING APPROACH ................................................................................................... 46
3.2.1. Cifras do Direito Penal ................................................................................................. 48
3.2.1.1. Cifras Negras ............................................................................................................... 49
3.2.1.2. Cifras Douradas ........................................................................................................... 49
3.2.1.3. Cifras Cinzas ................................................................................................................ 49
3.2.1.4. Cifras Amarelas............................................................................................................ 49
3.2.1.5. Cifras Verdes ............................................................................................................... 49
3.2.1.6. Cifras Rosas ................................................................................................................. 49
3.2.2. Influências no Ordenamento Jurídico Brasileiro ......................................................... 50
3.2.3. Críticas ......................................................................................................................... 50
CRIMINOLOGIA CRÍTICA .................................................................................................. 50
3.3.1. Neorrealismo de Esquerda .......................................................................................... 51
3.3.2. Direito Penal Mínimo .................................................................................................... 52
3.3.3. Abolicionismo Penal..................................................................................................... 52
MOVIMENTOS DA POLÍTICA CRIMINAL ........................................................................................ 54
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS ..................................................................................................... 54
2. ABOLICIONISMO ....................................................................................................................... 54
3. MOVIMENTO DE LEI E ORDEM ............................................................................................... 54
TEORIA DAS JANELAS QUEBRADAS ............................................................................. 55
CARACTERÍSTICAS DO MOVIMENTO DE LEI E ORDEM .............................................. 55
CRÍTICAS ............................................................................................................................ 56
4. GARANTISMO ............................................................................................................................ 56
5. DIREITO PENAL DO INIMIGO .................................................................................................. 57
CARACTERÍSTICAS........................................................................................................... 57
6. TEORIA DOS TESTÍCULOS DESPEDAÇADOS (BREAKING BALLS THEORY) ................... 58
7. TEORIA DO CENÁRIO DA BOMBA-RELÓGIO (TICKING BOMB SCENARIO) ...................... 58
8. PRINCIPAIS SÍNDROMES ........................................................................................................ 58
Síndrome da Mulher Potifar ................................................................................................ 58
Síndrome de Estocolmo ...................................................................................................... 59
Síndrome de Londres .......................................................................................................... 59
Síndrome de Oslo ............................................................................................................... 59
Síndrome de Alice ............................................................................................................... 59
PREVENÇÃO DELITIVA ................................................................................................................... 60
1. CONCEITO ................................................................................................................................. 60
2. FATORES DA CRIMINALIDADE ............................................................................................... 60
FATORES ENDÓGENOS ................................................................................................... 60
FATORES EXÓGENOS/SOCIAIS ...................................................................................... 60
3. FORMAS DE PREVENÇÃO ...................................................................................................... 60
PREVENÇÃO PRIMÁRIA ................................................................................................... 61
PREVENÇÃO SECUNDÁRIA ............................................................................................. 61
PREVENÇÃO TERCIÁRIA ................................................................................................. 61
4. PREVENÇÃO GERAL ................................................................................................................ 62
5. PREVENÇÃO ESPECIAL .......................................................................................................... 62
6. PREVENÇÃO AOS DELITOS NO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO ........................... 62
7. PENOLOGIA ............................................................................................................................... 63
SISTEMA PENAL E REPRODUÇÃO DA REALIDADE SOCIAL ..................................................... 65
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS ..................................................................................................... 65
2. SISTEMA ESCOLAR .................................................................................................................. 65

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3. SISTEMA PENAL ....................................................................................................................... 65
CÁRCERE E MARGINALIDADE SOCIAL ........................................................................................ 66
1. INSTITUTOS DA DETENÇÃO ................................................................................................... 66
2. RELAÇÃO ENTRE PRESO E SOCIEDADE ............................................................................. 66
3. TEORIA DOS FINS DA PENA ................................................................................................... 66
MODELO CONSENSUAL DE JUSTIÇA CRIMINAL......................................................................... 67
1. CONCEITO ................................................................................................................................. 67
2. PEQUENA E MÉDIA CRIMINALIDADE..................................................................................... 67
3. GRANDE CRIMINALIDADE ....................................................................................................... 67
4. JUSTIÇA CRIMINAL CONSENSUAL ........................................................................................ 67
JUSTIÇA REPARATÓRIA .................................................................................................. 67
JUSTIÇA RESTAURATIVA................................................................................................. 67
JUSTIÇA NEGOCIADA ....................................................................................................... 68
TEMAS ATUAIS ................................................................................................................................. 69
1. CRIMINOLOGIA CULTURAL ..................................................................................................... 69
2. CRIMINOLOGIA FEMINISTA ..................................................................................................... 69
3. CRIMINOLOGIA VERDE............................................................................................................ 70
4. CRIMINOLOGIA QUEER ........................................................................................................... 70
EXPRESSÃO QUEER ........................................................................................................ 70
TEORIA QUEER ................................................................................................................. 71
CRÍTICA À IMPOSIÇÃO BINÁRIA ..................................................................................... 71
HOMOFOBIA....................................................................................................................... 71
OBJETIVOS DA TEORIA QUEER...................................................................................... 72
RUPTURA COM A CRIMINOLOGIA ORTODOXA ............................................................ 72
DESAFIOS DA CRIMINOLOGIA QUEER .......................................................................... 72
5. RACISMO ESTRUTURAL E SELETIVIDADE NA ESFERA PENAL ........................................ 72

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APRESENTAÇÃO

Olá!

Inicialmente gostaríamos de agradecer a confiança em nosso material. Esperamos que seja


útil na sua preparação, em todas as fases. A grande maioria dos concurseiros possui o hábito de
trocar o material de estudo constantemente, principalmente, em razão da variedade que se tem
hoje, cada dia surge algo novo. O ideal é você utilizar sempre a mesma fonte, fazendo a
complementação necessária, eis que quanto mais contato temos com determinada fonte de estudo,
mais familiarizados ficamos, o que se torna primordial na hora da prova.

O Caderno Sistematizado de Criminologia possui como base as aulas do Prof. Alexandre


Sanches (CERS) e aulas do Prof. Murilo Ribeiro (Supremo), complementadas com algumas aulas
de segunda fase.

Como você pode perceber, reunimos em um único material diversas fontes (aulas + doutrina
+ informativos + + lei seca + questões) tudo para otimizar o seu tempo e garantir que você faça uma
boa prova.

Por fim, como forma de complementar o seu estudo, não esqueça de fazer questões. É muito
importante!! As bancas costumam repetir certos temas.

Vamos juntos!! Bons estudos!!

Equipe Cadernos Sistematizados.

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NOÇÕES INTRODUTÓRIAS

1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

A Criminologia integra a chamada tríade (pilares) das Ciências Criminais, juntamente com o
Direito Penal e a Política Criminal.

Direito Penal

Ciências
Criminais

Política
Criminologia
Criminal

O Direito Penal, ciência lógica e abstrata, ocupa-se dos tipos incriminadores, da teoria do
delito, da teoria da pena, da teoria da norma. Utiliza um método dedutivo, procurando adequar um
comportamento individual a um comportamento previsto de forma abstrata na lei.

A Criminologia visa estabelecer um diagnóstico do fenômeno criminoso, explicando e


prevenindo o crime, intervindo na pessoa do infrator, estudando modelos de resposta ao delito. É
mais abrangente que o Direito Penal.

Por fim, a Política Criminal consiste em diretrizes práticas para solucionar o problema da
criminalidade. Para a doutrina, a Polícia Criminal é a “ponte” eficaz entre a Criminologia e o Direito
Penal.

DIREITO PENAL CRIMINOLOGIA POLÍTICA CRIMINAL

Autonomia de ciência Autonomia de ciência Não possui autonomia da


ciência
Analisa os fatos humanos Ciência empírica que estuda o Trabalha as estratégias e
indesejados, define quais crime, o criminoso, a vítima e o meios de controle social da
devem ser rotulados como comportamento da sociedade. criminalidade.
crime ou contravenção,
anunciado as penas.
Ocupa-se do crime enquanto Ocupa-se do crime enquanto Ocupa-se do crime enquanto
norma. fato. valor.
Exemplo: define como crime Exemplo: quais fatores Exemplo: estuda como diminuir
lesão no ambiente doméstico e contribuem para a violência a violência doméstica e
familiar. doméstica e familiar. familiar.

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Obs.: O Direito Penal, em alguns pontos, acaba sendo utilizado como
Política Criminal. O ordenamento jurídico brasileiro vive um período de
inflação legislativa, em que, basicamente, a cada dia cria-se um tipo
penal. Trata-se de um direito penal simbólico, eleitoreiro, midiático
que, no fundo, não passa de uma política criminal para que o Estado
possa acalmar a sociedade. Por exemplo, uma celebridade é vítima
de um crime, cria-se uma lei nova, geralmente, com o seu nome.

Como o tema foi cobrado em concurso público?


PC/RR (2022): A Política Criminal é uma ciência autônoma e independente;
não é uma parte da Criminologia. Correta!

PC/SP (2022): Para García-Pablos de Molina, são os três pilares do sistema


das ciências criminais, em relação de interdependência a Criminologia, a
Política Criminal e o Direito Penal. Correta!

DPE/CE (2022) A política penitenciária no Brasil pós-Constituição de 1988


caracterizou-se pela expansão e interiorização da rede de presídios, além da
implementação de políticas de confinamento extremo como o regime
disciplinar diferenciado. Correta!

2. TERMINOLOGIA

A palavra criminologia deriva do latim crimen (delito) e do grego logos (tratado). Significa
Tratado do Crime, ou seja, o estudo do crime.

A criminologia, em sua origem, preocupava-se com dois objetos: o delito e o delinquente.


No Século XX, passou a se preocupar, também, com a vítima e com o controle social.

A expressão criminologia foi idealizada por Paul Topinard (1830-1911) e difundida no cenário
internacional por Raffaele Garofalo (1851-1934).

3. MARCO CIENTÍFICO

De acordo com a maioria da doutrina, a obra “O Homem Delinquente” (1876), de Cesare


Lombroso (primeiro estudioso da escola positivista), inaugura o saber científico criminológico.

Há, ainda, doutrina minoritária defendendo que a obra “Dos Delitos e das Penas” (1764),
escrita por Cesare Beccaria (primeiro estudioso da escola clássica), é considerada o marco inicial.
Não prevalece porque a escola clássica possuía a metodologia do Direito Penal (lógica, normativa,
ciência do dever-ser).

4. CONCEITO

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De acordo com Antônio García-Pablos de Molina, a criminologia é “ciência empírica e
interdisciplinar (método), que se ocupa do estudo do crime, da pessoa do infrator, da vítima
e do controle social (objeto) do comportamento delitivo, e que trata de subministrar uma
informação válida, contrastada, sobre a gênese, dinâmica e variáveis principais do crime –
contemplando este como problema individual e como problema social -, assim como sobre os
programas de prevenção eficaz do mesmo e técnicas de intervenção positiva no homem
delinquente e nos diversos modelos ou sistemas de resposta ao delito (funções)”.

Como o tema foi cobrado em concurso?


PC/ES (2022) A função básica da criminologia consiste em informar a
sociedade e o poder público sobre o delinquente, a vítima e o delito, reunindo-
se elementos para compreender o problema criminal, preveni-lo e intervir
positivamente no delinquente. Correta!

DPE/DF (2022) Prevenir o crime e intervir com eficácia e de modo positivo


em relação ao delinquente são algumas das funções da criminologia. Correta!

PC/MG (2021) Raimundo Nina Rodrigues foi influenciado pela escola


criminológica italiana, em especial os estudos de Cesare Lombroso. Correta!

PC/PR (2021) Cesare Beccaria, cujo pensamento é apontado como uma das
mais influentes bases da escola clássica, fez uma forte crítica ao sistema
penal do Antigo Regime e lançou bases filosóficas limitadoras do poder
punitivo estatal. Correta!

5. MÉTODOS

EMPÍRICO

Trata-se da observação/análise da realidade. O criminólogo aproxima-se do objeto de


estudo.

Por exemplo, estudo de crimes de colarinho branco os criminólogos irão analisar a realidade
em repartições públicas, em grandes empresas.

Obs.: Na maioria das vezes, o método empírico possui um caráter


experimental. Contudo, Molina salienta que a depender dos objetos
estudados a experimentação torna-se inviável ou, até mesmo, ilícita.
Por exemplo, o criminólogo não irá experimentar drogas para saber se
o seu uso faz com que se cometa mais crimes.

Como o tema foi cobrado em concurso público?


PC/RO (2022): Os levantamentos estatísticos e a análise de dados que
estabelecem a dinâmica e as variáveis do delito, entre outros elementos,
caracterizam o método empírico da criminologia. Correta!

PC/ES (2022) A Criminologia consiste em uma ciência de dados. Errada!

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PC/MS (2021) Diferentemente do Direito Penal, a Criminologia pretende
conhecer a realidade para explicá-la, enquanto aquela ciência valora, ordena
e orienta a realidade, com o apoio de uma série de critérios axiológicos.
Correta!

INDUTIVO

Parte do acontecimento particular em direção ao acontecimento geral. Inicialmente, a


criminologia vai na base, para depois traçar os aspectos gerais.

Lembrando que o Direito Penal parte da análise geral para depois ir ao particular, utilizando
o método dedutivo.

INTERDISCIPLINAR

Vários ramos do conhecimento (biologia, antropologia, sociologia) contribuem para a


formação de um novo conhecimento, sempre harmônicos entre si.

Nestor Sampaio Penteado Filho: "A criminologia se utiliza dos métodos biológico e
sociológico. Como ciência empírica e experimental que é, a criminologia utiliza-se da metodologia
experimental, naturalística e indutiva para estudar o delinquente, não sendo suficiente, no entanto,
para delimitar as causas da criminalidade. Por consequência disso, busca auxílio dos métodos
estatísticos, históricos e sociológicos, além do biológico."

A Criminologia preocupa-se com a realidade, a fim de compreender o fenômeno criminal e


transformar a realidade. Já o Direito Penal preocupa-se apenas com fato descrito na norma, ou seja,
se o comportamento do agente é enquadrado como crime.

6. TÉCNICAS DE INVESTIGAÇÃO

A seguir apresentamos a divisão feita por Antônio García-Pablos de Molina (autor


mencionado em diversos editais).

Obs.: São técnicas de investigação da Criminologia, meios que podem


ser utilizados para compreender o fenômeno criminoso, estudar o
crime em si. Não se confundem com as técnicas de investigação para
determinar a autoria e a materialidade dos delitos.

QUANTITATIVAS

Explicam a etiologia, a gênese e o desenvolvimento de determinado cenário criminoso.

Feita através de estatística (método por excelência), questionários, métodos de medição.

Por si só, são insuficientes porque não conseguem aprofundar na análise do fenômeno.

QUALITATIVAS

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Permitem compreender as chaves profundas de um problema. Como exemplos tem-se a
observação participante e a entrevista.

TRANSVERSAIS

Tomam uma única medição da variável ou do fenômeno examinado (sim ou não)

Estudos estatísticos.

LONGITUDINAIS

Tomam várias medições, em diferentes momentos temporais.

Estudo de seguimento (follow up), as biografias criminais, os case studies.

Modernos estudos sobre carreiras criminais.

7. OBJETOS DE ESTUDO

Até o Século XX, a criminologia possuía apenas dois objetos de estudo, quais sejam:
DELITO e DELINQUENTE.

Atualmente, a criminologia preocupa-se com quatro objetos de estudos, são eles: DELITO,
DELINQUENTE, VÍTIMA e CONTROLE SOCIAL.

DELITO

Inicialmente, destaca-se que o conceito de delito para a criminologia é diverso do conceito


de delito para o Direito Penal.

De acordo com a criminologia, o delito é a conduta de incidência massiva na sociedade,


capaz de causar dor, aflição e angústia, persistente no espaço e no tempo.

A seguir iremos analisar cada uma das suas características, as quais precisam estar
presentes para que se tenha o delito.

7.1.1. Incidência massiva na população

O delito não pode ser um fato isolado, deve acontecer com expressividade na população.

Em 1987, a Lei 7.643, criou o tipo penal de molestar cetáceos, em razão de um caso isolado
em que uma pessoa provocou a morte de um golfinho que encalhou na Praia de Copacabana. Tal
lei é extremamente criticada pela criminologia, uma vez que não se trata de um caso de incidência
massiva na população.

7.1.2. Incidência aflitiva

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O delito deve causar dor, angústia, sofrimento à vítima individualizada ou à sociedade como
um todo. Por exemplo, lavagem de capitais, homicídios, furtos.

No Brasil, há uma lei que criminaliza a utilização da expressão couro sintético, pois se é
sintético não pode ser couro. Tal criminalização não deveria ocorrer, pois, na visão da criminologia,
não causa dor, sofrimento ou angústia.

7.1.3. Persistência espaço-temporal

O crime deve ser algo distribuído pelo território nacional por determinado período.

7.1.4. Inequívoco consenso

Está implícito.

DELINQUENTE

Será analisado o conceito de delinquente em cinco períodos distintos.

7.2.1. Escola Clássica

Representa a fase pré-científica da criminologia, utilizando os métodos do Direito Penal. O


grande expoente é Beccaria, com a obra “Dos Delitos e das Penas”.

Entende que criminoso é o pecador que optou pelo mal. Defendia o livre-arbítrio, a vontade
racional do homem de seguir ou não a lei, quando decide seguir o caminho do crime que quebra o
contrato social.

A pena possuía caráter meramente retributivo, isto é, só existe para reparar o mal causado
pelo criminoso, por isso é por tempo determinado.

Como o tema foi cobrado em concurso público?


PC/SP (2022): O criminoso era um ser que pecou, que optou pelo mal,
embora pudesse e devesse escolher o bem. É correto afirmar que o
enunciado se refere à Escola Clássica. Correta!

DPE/PR (2022) Sobre a obra de Cesare Bonesana, o Marquês de Beccaria,


“Dos delitos e das penas”, é correto afirmar que o autor defende que, entre
as penas e na maneira de aplicá-las proporcionalmente aos delitos, é
necessário escolher os meios que devem causar no espírito público a
impressão mais eficaz e mais durável e, ao mesmo tempo, menos cruel no
corpo do culpado. Correta!

DPE/PR (2022) Sobre a obra de Cesare Bonesana, o Marquês de Beccaria,


“Dos delitos e das penas”, é correto afirmar que o autor critica a utilização da
tortura, não a admitindo em nenhuma hipótese, nem mesmo quando ela é
utilizada como forma de descobrir os cúmplices do crime. Correta!

PC/MS (2021) A consideração do crime como um comportamento definido


pelo direito e o repúdio à abordagem patológica do criminoso como um ser

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diferente são traços da Escola Liberal Clássica, que, contudo, não rompeu
definitivamente com o paradigma etiológico da Criminologia. Correta!

MPE/SC (2021) Para a escola positivista, que se ocupa da tipificação dos


delitos em termos legais e objetivos, o crime é um ente jurídico e a
responsabilidade penal se sustenta no livre arbítrio. Errada!

7.2.2. Escola Positiva

Representa a fase científica da criminologia, inaugurada com a obra “O Homem


Delinquente”, de Lombroso.

Segundo Lombroso, delinquente é um animal selvagem, um ser atávico, com predisposição


para o crime.

Para Ferri e Garofalo, delinquente é o indivíduo prisioneiro de sua própria patologia


(biológico) ou de processos causais alheios (social).

A pena, para os positivistas, deve ser a medida de segurança, possui caráter curativo,
podendo ser imposta por prazo indeterminado.

Como o tema foi cobrado em concurso?


PC/BA (2022): Os postulados da Escola de Política Criminal foram: a) o
método indutivo-experimental para a criminologia; b) a distinção entre
imputáveis e inimputáveis (pena para os normais e medida de segurança para
os perigosos); c) o crime como fenômeno humano-social e como fato jurídico;
d) a função finalística da pena – prevenção especial; e) a eliminação ou
substituição das penas privativas de liberdade de curta duração. Correta!

PC/BA (2022) Lombroso publicou em 1876 o livro “O homem delinquente”,


que instaurou um período científico de estudos criminológicos. Considerado
o pai da criminologia, utilizou o método empírico em suas investigações e
defendeu o determinismo biológico no campo criminal. Correta!

PC/BA (2022) Lombroso propôs a utilização de método empírico-indutivo ou


indutivo-experimental, que se ajustava ao causalismo explicativo defendido
pelo positivismo. Efetuou, ainda, estudos intensos sobre as tatuagens,
constatando uma tendência à tatuagem nos dementes. Correta!

7.2.3. Escola Correcionalista

Não teve grande influência no Brasil, mas pode ser observada no tratamento do adolescente
que pratica um ato infracional.

Afirma que o criminoso é um ser débil, inferior. Por isso, o Estado deve orientá-lo e protegê-
lo.

7.2.4. Marxismo

Segundo Marx, o criminoso ou culpável é a própria sociedade, em razão da existência de


certas estruturas econômicas.

CS – CRIMINOLOGIA 2023.1 11

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7.2.5. Conceito atual

O delinquente é o indivíduo que está sujeito às leis, podendo ou não as seguir por razões
multifatoriais, e nem sempre assimiladas por outras pessoas (inimputabilidade).

Como o tema é cobrado em concurso público?


PC/ES (2022): Na criminologia, a concepção do delinquente como um ser
inferior, que é incapaz de dirigir por si mesmo a própria vida e cuja vontade
requer uma eficaz e desinteressada intervenção tutelar do Estado, é típica da
visão correcionalista. Correta!

VÍTIMA

7.3.1. Fases

A vítima, historicamente, observou três fases distintas. Vejamos:

• Protagonismo (Idade de Ouro)

Período: até o fim da Alta Idade Média.

Aqui, prevalecia a vingança privada, a autotutela, a Lei do Talião. Assim, caso a vítima
tivesse um filho morto, poderia matar o filho do criminoso; se tivesse um braço arrancado poderia
arrancar o braço do criminoso.

• Neutralização (Esquecimento)

Período: até o Código Penal Francês.

O Estado é responsável pelo conflito social, a pena é uma garantia coletiva, pouco importa
quem é a vítima.

Institutos importantes, a exemplo da legítima defesa, foram esquecidos.

Como o tema foi cobrado em concurso?


DPE/PA (2022) Chama-se neutralização da vítima o abandono da vítima na
relação jurídico-processual penal.

• Redescobrimento (Revalorização)

Período: pós 2ª GM até hoje.

A vítima passa a ser considerada importante, surge a vitimologia.

A Vitimologia, em si, é uma ciência que estuda o papel da vítima no crime, trazendo uma
posição de equilíbrio, colocando a vítima no local central do crime e não o réu, obviamente
respeitando todos os seus direitos e garantias.

Há autores que tratam a Vitimologia como ciência autônoma. Porém, a maioria doutrinária
entende que é integrante da Criminologia.

CS – CRIMINOLOGIA 2023.1 12

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Como o tema foi cobrado em concurso?
PC/SP (2022): A Vitimologia é o estudo do ofendido, de sua personalidade e
de seu grau de vulnerabilidade no evento criminoso. Correta!

MPE/SC (2016): Enquanto a criminologia pode ser identificada como a


ciência que se dedica ao estudo do crime, do criminoso e dos fatores da
criminalidade, a vitimologia tem por objeto o estudo da vítima e de suas
peculiaridades, sendo considerada por alguns autores como ciência
autônoma. Correta!

7.3.2. Espécies de vitimização

• Primária

Efeitos da conduta criminosa em si, podem ser materiais ou psíquicos. Por exemplo, o
trauma que um estupro causa a pessoa que sofreu a violência.

Decorre do delito.

• Secundária

É o sofrimento causado à vítima durante o inquérito e o processo criminal.

Por exemplo, no caso de estupro é o interrogatório que a vítima é submetida, tanto no


inquérito quanto na fase judicial, fazendo com que reviva todo o momento traumático.

Decorre do processo.

Visando coibir a vitimização secundária foi editada a Lei 14.245/2021, conhecida como Lei
Mariana Ferrer, que para isso veda:

• Manifestação sobre circunstâncias ou elementos alheios aos fatos objeto de


apuração nos autos;

• Utilização de linguagem, de informação ou de material que ofendam a


dignidade da vítima ou de testemunhas.

• Terciária

É o sofrimento causado à vítima em razão da ausência de receptividade social e omissão


estatal.

Por exemplo, a sociedade afirma que o estupro ocorreu porque a vítima estava com uma
roupa curta.

Decorre da sociedade.

Como o tema foi cobrado em concurso?


PC/RR (2022) Para a Criminologia, o estudo da vítima passa por uma
classificação – primária, secundária e terciária –, na qual a vitimização
primária caracteriza-se pelo mau atendimento dos integrantes dos órgãos
estatais, seja pela burocracia, seja pela falta de sensibilidade dos operadores
do direito. Errada!

CS – CRIMINOLOGIA 2023.1 13

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PC/SP (2022) A própria sociedade não acolhe a vítima e muitas vezes a
incentiva a não denunciar o delito às autoridades, ocorrendo o que se chama
de cifra negra. É correto afirmar que o enunciado refere-se à vitimização
terciária. Correta!

7.3.3. Classificação das vítimas

Segundo Mendelsohn, seguindo uma escala gradativa de culpa, pode-se a vítima pode ser
classificada em:

• Vítima completamente inocente (vítima ideal)

É a vítima que não contribui para que a ação ocorra. Cita-se, como exemplo, a vítima que
tem sua bolsa arrancada enquanto caminha.

• Vítima de culpabilidade menor (vítima por ignorância)

É aquela que contribui, de alguma forma, para o resultado danoso.

Exemplo: frequentar locais perigosos, expondo objetos de valor, sem que possua a devida
cautela. Há um grau pequeno de culpa que ocasiona a vitimização.

• Vítima voluntária ou tão culpada

É aquela cuja participação ativa é imprescindível para a caracterização do crime.

Exemplo: estelionato – torpeza bilateral.

• Vítima mais culpada que o infrator.

A vítima incita/provoca o infrator

Exemplo: lesões corporais, homicídios privilegiados (após injusta provocação da vítima).

• Vítima unicamente culpada.

Subdivide-se em:

o Vítima infratora – comete um delito e no final se torna vítima. Por exemplo,


legítima defesa (começa como agressor e depois torna-se vítima).

o Vítima simuladora – através de uma premeditação a vítima induz a acusação de


outra pessoa, gerando um erro judiciário.

o Vítima imaginária – a pessoa acredita que é vítima de um crime, mas, na


realidade, nunca ocorreu.

Para o professor alemão Hans Von Henting, as vítimas podem ser classificadas como:

• Vítima resistente

Aquela que, agindo em legítima defesa, repele uma injusta agressão atual ou iminente.

CS – CRIMINOLOGIA 2023.1 14

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• Vítima coadjuvante e cooperadora

Aquela que concorre para a produção do resultado, seja devido à sua imprudência,
negligência ou imperícia, seja por ter agido com má-fé.

Por conseguinte, de acordo com o professor de Vitimologia Elias Neuman, as vítimas podem
ser classificadas em:

• Vítimas individuais

São as vítimas clássicas, ou seja, aquelas resultantes das primeiras investigações


vitimológicas baseadas na chamada Dupla Penal.

Representam todas as pessoas físicas que figuram no polo passivo do crime.

• Vítimas familiares

São aquelas decorrentes de maus-tratos e de agressões sexuais produzidas no âmbito


familiar ou doméstico, as quais recaem, geralmente, nos seus membros mais frágeis, como as
mulheres e as crianças.

• Vítimas coletivas

Determinados delitos lesionam ou colocam em perigo bens jurídicos cujo titular não é a
pessoa física. Há despersonalização, coletivização e anonimato entre delinquente e vítima.

Exemplo: crimes financeiros, crimes contra consumidores.

• Vítimas da sociedade e do sistema social

Essa modalidade vem se tornando cada vez mais corriqueira.

Exemplo: mortes diárias nos corredores de hospitais públicos, homicídios cometidos por
milícias.

Como o tema foi cobrado em concurso?


PC/RO (2022): A participação da vítima em determinados crimes é
indispensável para a configuração da figura típica. Correta!

PC/SP (2022) Hades, um jovem de 17 (dezessete) anos de idade, sacou um


simulacro de arma de fogo e anunciou roubo em face de Althaia, policial civil,
de folga e em trajes civis, a qual, imaginando se tratar de meliante munido de
arma de fogo verdadeira, prontamente sacou sua arma de fogo e desferiu
dois disparos contra Hades, cujos ferimentos causaram seu óbito. Segundo
classificação de Benjamin Mendelsohn, Hades é considerado vítima como
única culpada ou pseudovítima. Correta!

CONTROLE SOCIAL

Trabalharemos, a partir de agora, com as vertentes sociológicas da criminologia, isto é,


explicações criminológicas a partir das relações e interação do indivíduo com a sociedade.

CS – CRIMINOLOGIA 2023.1 15

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A “paternidade” científica da expressão Controle Social pertence ao sociólogo americano
Edward Ross, que a utilizou pela primeira vez como categoria enfocada nos problemas de ordem e
organização social.

O professor Sérgio Salomão Shecaira, por seu turno, defende o conceito de controle social
como “o conjunto de mecanismos e sanções sociais que pretendem submeter o indivíduo aos
modelos e normas comunitários”.

Para isso, as organizações sociais se utilizam de dois sistemas articulados entre si:

7.4.1. Sistema de controle social informal

São os mecanismos de controle casuais.

Têm como agentes a família, escola, profissão, religião, opinião pública e outros.

Como o tema foi cobrado em concurso?


PC/SP (2022): Assinale a alternativa que contempla apenas hipóteses de
controle social informal. Família, escola e religião.

7.4.2. Sistema de controle social formal

São mecanismos de controle oficiais. É a autuação do aparelho político do Estado: polícia,


a Justiça, a Administração Penitenciária, o Ministério Público, o Exército e outros.

O Controle Social Formal é deveras inferior ao controle exercido pela sociedade civil. Isso é
bem vislumbrado numa comparação da criminalidade entre os grandes e pequenos centros
urbanos. Verifica-se que onde o Controle Social Informal é mais efetivo e presente, o número da
criminalidade é consideravelmente menor do que nos grandes centros.

Dentre os Controles Sociais Formais, o Direito Penal somente atua quando todos os outros
meios não forem suficientes, pois, cabe ao último preocupar-se com os bens jurídicos de maior
importância.

Deve-se recorrer aos Controles Formais quando nenhum outro ramo se revelar eficaz.

Neste contexto emerge o conceito policização, que corresponde ao processo de seleção,


treinamento e condicionamento institucional ao qual se submetem os operadores das agências
policiais.1

Como o tema foi cobrado em concurso?


DPE/AP (2022): Considerando a policização, as agências policiais brasileiras
e latino-americanas em geral recrutam seus operadores nas mesmas
camadas sociais com maior incidência das seleções criminalizante e
vitimizante. Correta!

PC/RN (2021) Dentro da perspectiva criminológica, os órgãos de polícia e


justiça se referem a instâncias de controle social formal. Correta!

1 ZAFFARONI, E. Raúl et. al. Direito Penal Brasileiro: primeiro volume. 4.ed. Rio de Janeiro: Revan, 2003, p.
56.

CS – CRIMINOLOGIA 2023.1 16

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8. FUNÇÕES DA CRIMINOLOGIA

EXPLICAR E PREVENIR O CRIME

Prevenir é evitar que algo ocorra. A prevenção poderá ser:

PRIMÁRIA SECUNDÁRIA TERCIÁRIA

Medidas a médio e longo Atua onde o crime se


Destina-se ao preso.
prazo manifesta ou se exterioriza.

Investe-se apenas nas


chamadas zonas de
criminalidade, a exemplo da
Investe-se na raiz do conflito, a atuação policial, de medidas
Investe-se na ressocialização,
exemplo de saúde, lazer, de ordenação urbana, de
a fim de evitar a reincidência.
educação, bem-estar. melhoria do aspecto visual das
obras arquitetônicas, do
controle dos meios de
comunicação.

INTERVIR NA PESSOA DO INFRATOR

De acordo com a doutrina, a função de intervir na pessoa do infrator possui três metas.
Vejamos:

1) Impacto real da pena em quem a cumpre e os seus efeitos;

2) Desenhar e avaliar programas de reinserção. Não de forma individualizada, mas de


forma funcional;

3) Fazer a sociedade perceber que o crime é um problema de todos. Trata o crime como
um problema social.

AVALIAR AS DIFERENTES FORMAS DE RESPOSTA AO CRIME

Há três modelos de reação ao crime, segundo a doutrina.

8.3.1. Modelo clássico, dissuasório ou retributivo

Fundamenta-se na punição do criminoso. A pena possui caráter retributivo, existe para


reparar o mal causado pelo criminoso.

CS – CRIMINOLOGIA 2023.1 17

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ESTADO CRIMINOSO
PUNE É PUNIDO

A vítima e a sociedade não participam do conflito.

8.3.2. Modelo ressocializador

Fundamenta-se na reinserção social do delinquente.

SOCIEDADE

CRIMINOSO ESTADO

8.3.3. Modelo restaurador, integrador ou de Justiça Restaurativa

Fundamenta-se na reparação do dano à vítima, a qual exerce um papel central.

VÍTIMA

A Lei 9.099/95 é um exemplo de Justiça Restaurativa.

9. SISTEMAS DA CRIMINOLOGIA

Aqui, analisam-se as disciplinas que integram a criminologia e a relação entre elas.

ESCOLA AUSTRÍACA

Segundo a posição enciclopédia, três disciplinas integram o sistema da criminologia, são


elas:

CS – CRIMINOLOGIA 2023.1 18

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PREVENÇÃO E
REALIDADE CRIMINAL PROCESSO
REPRESSÃO

Fenomelogia (surgimento)

Etiologia (causas)
Criminalística (materialidade Penologia (Teoria da Pena)
Psicologia criminal delitiva). Subdivide-se em
tática e técnica. Profilaxia (luta contra o delito)
Biologia Criminal

Geografia Criminal

CONCEPÇÃO ESTRITA

Apenas as disciplinas da realidade criminal integram o sistema da criminologia, não


interessam o processo e nem a prevenção e a repressão.

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EVOLUÇÃO HISTÓRICA

1. ETAPA PRÉ-CIENTÍFICA DA CRIMINOLOGIA

Aqui, embora houvesse uma série de estudos esparsos, não havia um estudo científico com
metodologia própria.

Os estudos eram isolados e referiam-se ao crime e ao criminoso.

Representada pela Escola Clássica.

2. ETAPA CIENTÍFICA CRIMINOLOGIA

Com a obra “O Homem Delinquente”, de Lombroso, inicia-se a etapa científica da


criminologia, com estudos direcionados.

Representada pela Escola Positivista.

3. ESCOLA CLÁSSICA

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Inicia-se no Século XVIII e vai até o início do Século XIX.

De acordo com Barata, a Escola Liberal Clássica é chamada de “época dos pioneiros”, pois,
embora sem o rigor científico, seus autores foram os primeiros a estudar as teorias sobre o crime,
sobre o direito penal e sobre a pena.

Possui como autores Cesare Beccaria e Francesco Carrara.

CESARE BECCARIA

Importante destacar que a obra de Beccaria, “Dos Delitos e das Penas”, foi escrita em 1764,
período de transformação iluminista.

Passa-se da filosofia do Direito Penal para uma fundamentação filosófica da ciência do


Direito Penal. Fundamenta-se nos ideais do contrato social, da divisão dos poderes e de uma teoria
jurídica do delito e da pena.

A Escola Clássica parte da concepção do homem como um ser livre e racional que é capaz
de refletir, tomar decisões e agir em consequência disso. O homem faz um cálculo mental de
vantagens x desvantagens do comportamento criminoso. Usa de certo utilitarismo porque sopesa
ônus e bônus do ato lícito ou ilícito.

CS – CRIMINOLOGIA 2023.1 20

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Por isso, afirmam que o delinquente é o pecador que optou pelo mal.

Jorge de Figueiredo Dias e Manual da Costa Andrade asseveram que, para Beccaria, “o
homem atua movido pela procura do prazer, pelo que as penas devem ser previstas de modo a
anularem as gratificações ligadas a prática do crime. Em conexão com isto, sustentou Beccaria a
necessidade, como pressuposto da sua eficácia preventiva, de que as sanções criminais fossem
certas e de aplicação imediata”.

Salienta-se que a lei, segundo a Escola Clássica, deve ser simples, conhecida pelo povo e
obedecida por todos os cidadãos (RACIONALIDADE).

Para Beccaria, o dano social e a defesa social constituem os elementos fundamentais da


teoria do delito e da teoria da pena, respectivamente. Além disso, a base da justiça humana é a
utilidade comum.

Para Beccaria:

• O crime é uma quebra do pacto, do contrato social;

• Serão ilegítimas todas as penas que não revelem uma salvaguarda do contrato social

• O delito surge da livre vontade do indivíduo

• A pena possui como elemento fundamental a defesa social

• A pena fundamenta-se em necessidade ou utilidade, bem como no princípio da


legalidade.

• A pena é por prazo certo e determinado

• A pena constitui um contraestimulo ao impulso do criminoso

Obs.: Giandomenico Romagnosi – o princípio natural é a conservação


da espécie humana. Em razão disso: a) direito e dever de cada um
conservar a própria existência; b) dever recíproco dos homens de não
atentar contra sua própria existência; c) direito de cada um não ser
ofendido por outro.

Defende que: “se depois do primeiro delito existisse a certeza moral


de que não ocorreria nenhum outro, a sociedade não teria direito
algum de punir o delinquente”

Pontos principais da obra de Beccaria, a saber:

a) A atrocidade das penas opõe-se ao bem público;

b) Aos juízes não deve ser dado interpretar as leis penais;

c) As acusações não podem ser secretas;

d) As penas devem ser proporcionais aos delitos;

e) Não se pode admitir a tortura do acusado por ocasião do processo;

CS – CRIMINOLOGIA 2023.1 21

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f) Somente os magistrados é que podem julgar os acusados;

g) O objetivo da pena não é atormentar o acusado e sim impedir que ele reincida e servir de
exemplo para que outros não venham a delinquir;

h) As penas devem ser previstas em lei;

i) O réu jamais poderá ser considerado culpado antes da sentença condenatória;

j) O roubo é ocasionado geralmente pela miséria e pelo desespero;

k) As penas devem ser moderadas;

l) Mais útil que a repressão penal é a prevenção dos delitos;

m) Não tem a sociedade o direito de aplicar a pena de morte nem de banimento;

Indicação de Leitura: “Victor Hugo – Os miseráveis”.

“ENQUANTO, por efeito de leis e costumes, houver proscrição social, forçando a existência,
em plena civilização de verdadeiros infernos, e desvirtuando por humana fatalidade, um destino por
natureza divino; enquanto os três problemas do século – a degradação do homem pelo proletariado,
a prostituição da mulher pela fome, e a atrofia da criança pela ignorância – não forem resolvidos;
enquanto houver lugares onde seja possível a asfixia social; em outras palavras, e de um ponto de
vista mais amplo ainda, enquanto sobre a terra houver ignorância e miséria, livros como este não
serão inúteis.” (Victor Hugo, Os Miseráveis, 1862)

FRANCESCO CARRARA

Contribuiu para a moderna ciência do Direito Penal italiano.

Defendia que o delito não era um ente de fato, mas sim um ente jurídico (cai muito em
provas), tendo em vista que decorre da violação de um direito, qual seja: a lei absoluta, constituída
para a única ordem possível para humanidade, segundo as previsões e vontades do criador.

Com tal afirmação, segundo a doutrina, Carrara cria uma parte teórica (lei universal) e uma
parte prática (autoridade da lei positiva) do Direito Penal.

Salienta-se que o fim da pena, para Carrara, não é a retribuição, mas a eliminação do perigo
social que sobreviria da impunidade do delito. Além disso, afirma o autor que “a reeducação do
condenado pode ser um resultado acessório e desejável, mas não a função essencial da pena”.

O homem viola a lei porque possui vontade (livre arbítrio).

Obs.: a pena é a negação da negação do direito (Hegel).

Pena será certa e determinada, apta a eliminar o perigo social.

PILARES DA ESCOLA CLÁSSICA

CS – CRIMINOLOGIA 2023.1 22

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A Escola Clássica, em reação contra os excessos medievais, estabeleceu-se em três
principais ideias:

• A Razão e o limite do Poder de punir do Estado;

• Opõe a ferocidade das penas, abolindo penas capitais, corporais e infamantes;

• Reivindicou garantias individuais na persecução penal.

A Escola Clássica parte da concepção do homem como um ser livre e racional que é capaz
de refletir, tomar decisões e agir em consequência disso. De modo que o homem, nas suas decisões
realiza, basicamente, um cálculo racional das vantagens e inconvenientes que a sua ação vai
proporcionar, e age ou não dependendo da prevalência de umas ou outras.

A INFLUÊNCIA DO UTILITARISMO

Quando alguém se encontra perante a possibilidade de cometer um crime efetua um cálculo


racional dos benefícios esperados (prazer) e confronta-os com os prejuízos (dor) que acredita vir a
ter com a prática dele.

A lei trará as penas, de conhecimento público, que influenciarão nesse juízo de valor.

PENAS DE ACORDO COM A ESCOLA CLÁSSICA

Longe de propor penas exageradas, a Escola Clássica defende que para que as leis e
sanções penais previnam eficazmente o crime têm de ser racionais. Deste modo, a abordagem
preventiva enquadra-se perfeitamente no principal propósito de reformar as leis penais e
processuais da época.

O juridicamente racional também previne com mais eficácia o crime.

Segundo a Escola Clássica, as três características mais importantes que a sanção tem de
reunir para a prevenção do crime são as seguintes:

• Certeza;

• Prontidão;

• Severidade.

3.6.1. Certeza

Nem todos os crimes são castigados.

Por exemplo, quando o culpado não é detido por falta de provas.

A eficácia das penas será tanto mais eficaz quanto mais segura ou provável for a sua
imposição ao infrator.

Assim, os criminosos terão maior medo e a pena funcionará como fator inibidor.

CS – CRIMINOLOGIA 2023.1 23

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3.6.2. Prontidão

Se os castigos forem impostos pouco tempo depois da prática de um ato criminoso, ou seja,
com plenitude, terão um efeito preventivo maior que se forem impostos algum tempo depois.

3.6.3. Severidade

Penas severas devido à sua duração ou pela intensidade do sofrimento que provocam
tendem a ser mais efetivas que as leves, uma vez que originam uma dor ou prejuízo maior.

Para a Escola Clássica, as penas deveriam ser proporcionais ao crime.

DECLÍNIO EFETIVO DA ESCOLA CLÁSSICA

Quando se percebeu que a criminalidade apenas aumentava apesar de postas em prática


suas ideias básicas, houve o efetivo declínio da Escola Clássica (liberalismo).

Os Positivistas acreditavam que o método dedutivo e de lógica abstrata da Escola Clássica


acarretaram sua ruína.

RECAPITULAÇÃO DA ESCOLA CLÁSSICA

Os clássicos acreditavam que o livre arbítrio era inerente ao ser humano, razão pela qual o
criminoso seria aquele indivíduo que teve a opção de escolher pelo caminho correto (do bem), mas
fez uma opção diversa (pelo caminho do mal), motivo pelo qual poderia ser moralmente
responsabilizado por suas escolhas equivocadas.

EM SUMA, a Escola Clássica procurou construir os limites do poder punitivo do estado em


face da liberdade individual. Além de que:

• Baseia-se no livre arbítrio;

• Contrapõe-se às torturas e desrespeito aos direitos fundamentais;

• Preconiza que o Direito Penal tem um fim que é, através da pena, estabelecer a ordem;

• A pena deve ser justa e proporcional;

• O fundamento da responsabilidade penal encontra-se no livre arbítrio e na imputabilidade


moral. O homem deve ser livre para escolher entre o bem e o mal;

• A pena é uma resposta objetiva à prática do delito revelando seu cunho retribucionista.

• A Escola Clássica define a ação criminal em termos legais ao ressaltar que o livre arbítrio
traz a pena/sanção quando comete o delito (opção pelo “mal”).

Como o tema foi cobrado em concurso?


PC/RR Delegado (2022): Para Escola Clássica da Criminologia, o criminoso
é um ser que pecou, que optou pelo mal, embora pudesse e devesse escolher
o bem. Correta!

CS – CRIMINOLOGIA 2023.1 24

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PC/RR Delegado (2022): A escola penal em referência pode ser considerada
o nascedouro dos princípios da proporcionalidade da sanção penal e da
legalidade. Para os representantes dessa escola penal o crime é um conceito
meramente jurídico. A responsabilização penal é calcada na ideia do livre
arbítrio, assumindo a pena caráter meramente retributivo. A escola penal
retratada é a Escola Clássica! Correta!

4. ESCOLA POSITIVISTA

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Compreende o período entre o final do Século XIX e o início do Século XX.

Os estudos passam a tratar a criminologia como uma ciência autônoma.

Destaca-se que dentro da Escola Positivista há uma série de escolas que se enquadram (a
exemplo da Escola Sociológica Francesa – Gabriel Tarde, da Escola Social Alemã – Franz Von
Liszt), mas o foco de estudo na Criminologia é a Escola Positiva Italiana, defendida por Lombroso,
Enrico Ferri e Raffaele Garofalo.

Alessandro Baratta afirma que: “o foco era o homem delinquente, considerado como
indivíduo diferente e, como tal, clinicamente observável”.

Como o tema foi cobrado em concurso?


PC/PC (2022) O conceito de ciência total do direito penal e sua divisão em
pressupostos de punibilidade derivados de um Estado Liberal de Direito e em
sanções baseadas nas necessidades sociais, a fim de se lidar com as
divergências entre o direito penal e a política criminal, foi desenvolvido por
Franz Von Liszt. Correta!

MPE/SC (2021) A teoria do labeling approach se relaciona com o estudo de


psicopatias e sociopatias para a compreensão do fenômeno delitivo, sendo
um reflexo dessa teoria a imposição da medida de segurança aos
inimputáveis. Errada!

MODELO POSITIVISTA DA CRIMINOLOGIA

A Escola Positivista preocupou-se com o estudo das causas ou fatores da criminalidade,


chamado de paradigma etiológico, a fim de individualizar as medidas adequadas de intervenção no
criminoso.

A Escola Positiva pode ser dividida em três fases distintas:

I) Fase Antropológica (Lombroso) – “O Homem Delinquente”

II) Fase Sociológica (Ferri) – “Sociologia Criminal”

III) Fase Jurídica/Psicológica (Garofalo) – “Criminologia”

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CONTRIBUIÇÕES DE LOMBROSO

Sua obra “O Homem Delinquente”, de 1876, inaugura a fase científica da criminologia.

Lombroso sustentava que o criminoso era um ser atávico, um animal selvagem que nasce
predisposto ao crime. Portanto, o crime seria um fenômeno biológico.

Baseou seus estudos através da análise de diversos crânios de criminosos e de entrevistas.

Para Lombroso a Etiologia do crime é eminentemente individual e deve ser buscada no


estudo do delinquente. É dentro da própria natureza humana que se pode descobrir a causa dos
delitos.

Sustenta que o crime é um ente natural, sendo um fenômeno necessário (assim como a
morte, o nascimento), definido pela biologia (determinismo biológico).

Relacionou certas características físicas, tais como: tamanho da mandíbula, circunferência


do crânio, lábios finos, maçãs do rosto, cabelo abundante, tendência à tatuagem e à psicopatia
criminal. Além disso, afirma que os fatores externos servem apenas para desencadear algo que já
é hereditário.

Salienta-se que a principal contribuição de Lombroso foi o desenvolvimento do método


empírico, eis que realizou mais de 400 autópsias, entrevistou 6000 delinquentes e analisou mais de
25 mil presos.

No Brasil, o principal seguidor de Lombroso foi Raimundo Nina Rodrigues, conhecido como
Lombroso dos Trópicos.

Sua abordagem é descendente direta da Frenologia.

Lombroso buscava, entre outras coisas, estabelecer uma divisão entre o “bom” e o “mau”
cidadão. Nos maus, procurava patologias que justificassem a imposição da pena.

Antônio Garcia Pablos de Molina e Luiz Flávio Gomes sustentam que Lombroso: “baseou o
“atavismo” ou caráter regressivo do tipo criminoso no exame do comportamento de certos animais
e plantas, no de tribos primitivas e selvagens de civilizações indígenas e, inclusive, em certas
atitudes da psicologia infantil profunda. De acordo com o seu ponto de vista, o delinquente padece
uma série de estigmas degenerativos comportamentais, psicológicos e sociais (fronte esquiva e
baixa, grande desenvolvimento dos arcos supraciliares, assimetrias cranianas, fusão dos ossos
atlas e occipital, grande desenvolvimento das maçãs do rosto, orelhas em forma de asas, tubérculos
de Darwin, uso frequente de tatuagens, notável insensibilidade à dor, instabilidade afetiva, uso
frequente de um determinado jargão, altos índices de reincidência, etc.)”.

4.3.1. Categorias de criminosos

Do ponto de vista tipológico defendeu a classificação do criminoso em cinco categorias:

a) Criminoso Nato

Selvagem que possui deformidades como cabeça pequena, fronte fugidia, sobrancelha
saliente e outros.

CS – CRIMINOLOGIA 2023.1 26

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b) Louco

Alienado mental, aquele que necessita de tratamento em “hospício”.

c) Epilético

Delinquente é orientado por comportamento que desnorteia o indivíduo e o atrai para o


cometimento do crime.

d) Ocasional

É o pseudo-criminoso.

e) Por Paixão

Indivíduo nervoso, irrefletido e exaltado.

CONTRIBUIÇÕES DE ENRICO FERRI (1856-1929)

Foi sucessor de Lombroso.

Criminologista italiano e estudante de Lombroso, Ferri é considerado o maior vulto da Escola


Positiva, criador da Sociologia Criminal (publicou uma obra com esse nome em 1884).

Ferri se sobressaiu nos estudos sobre criminologia através dos fatores sociológicos, dando
ênfase às ciências sociais, com compreensão mais alargada da criminalidade, evitando-se o
reducionismo antropológico.

Ao contrário de Lombroso, não acreditava que o crime seria cometido por pessoas com
patologia individual. Acreditava que fenômenos econômicos e sociais influíam na condição.

Chegou à conclusão de que não bastava a pessoa ser um delinquente nato, era preciso que
houvesse certas condições sociais que determinam a potencialidade de ser um criminoso (Lei de
Saturação Criminal).

Criou o denominado Trinômio do Delito:

• Fatores antropológicos – constituição orgânica e psíquica do indivíduo (raça, idade, sexo,


estado civil)

• Fatores sociais – densidade da população, opinião pública, família, moral, religião,


educação.

• Fatores Físicos – clima, estação do ano, temperatura.

Foi idealizador da Lei de Saturação Criminal que realizava a seguinte associação: da mesma
forma que um líquido em determinada temperatura diluía, assim também ocorre com o fenômeno
criminal, pois em determinadas condições sociais seriam produzidos determinados delitos.

4.4.1. Grupos de criminosos

Ferri classificou os criminosos em cinco grupos:

CS – CRIMINOLOGIA 2023.1 27

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a) Nato

Tipo instintivo de criminoso (descrito por Lombroso) com estigmas de degeneração, de modo
que fica evidenciada a atrofia do senso moral.

É o ser atávico.

b) Louco

Não só o alienado mental, como os semiloucos ou fronteiriços. Utiliza a expressão “atrofia


do senso moral”, ou seja, dificuldade de diferenciar certo e errado.

c) Habitual

Reincidente da ação delituosa, isto é, faz do crime a sua profissão.

É aquele nascido e crescido no contexto da criminalidade, começa com pequenos furtos,


depois evolui para crimes violentos.

De acordo com Ferri, o criminoso habitual é dotado de alta periculosidade e baixa


readaptabilidade.

d) Ocasional

Eventualmente, comete um delito, em razão de circunstâncias ambientais, de causas


emergenciais ou temporárias, a exemplo do desemprego.

É dotado de baixa periculosidade e de alta readaptabilidade.

e) Passional

Segundo alguns doutrinadores, Ferri foi o primeiro a classificá-lo.

Lombroso utilizou a expressão “criminoso Por Paixão – Patologia”.

Ferri classificou o criminoso como “Passional” em decorrência de uma questão social. Seria
aquele delinquente que é arrebatado e age pelo ímpeto, que tem uma sensibilidade exagerada, que
fará com que cometa um delito.

A pena, conforme Ferri, seria, por si só, ineficaz, se não vem precedida ou acompanhada
das oportunas reformas econômicas, sociais etc., orientadas por uma análise científica e etiológica
(as causas) do delito.

Os pilares da Reforma seriam a Psicologia Positiva, a Antropologia Criminal e a Estatística


Social.

Antônio Garcia Pablos de Molina e Luiz Flávio Gomes: “[...] o cientista poderia antecipar o
número exato de delitos, e a classe deles, em uma determinada sociedade e em um número
concreto, se contasse com todos os fatores individuais, físicos e sociais antes citados e fosse capaz
de quantificar a incidência de cada um deles. Porque, sob tais premissas, não se comete um delito
mais nem menos (lei da “saturação criminal”)”.

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Obs.: “Para eles (Os Clássicos), a ciência só necessita de papel,
caneta e lápis, e o resto sai de um cérebro repleto de leituras de livros,
mais ou menos abundantes, e feitos da mesma matéria. Para nós, a
ciência requer um gasto de muito tempo, examinando um a um os
feitos, avaliando-os, reduzindo-os a um denominador comum e
extraindo deles a ideia nuclear” (FERRI)

CONTRIBUIÇÕES DE RAFFAELE GAROFALO

Garofalo foi o primeiro autor da Escola Positiva a utilizar a denominação “Criminologia”, tal
nome foi dado ao livro “Criminologia”, publicado em 1885. Além deste, Garofolo escreveu outros de
importância semelhante, tais como: “Riparazione e vittime Del delitto” (1887) e “La superstition
socialiste” (1895).

Em suas obras, preocupava-se com a definição psicológica do crime, eis que defendia a
teoria do “crime natural”, para definir os comportamentos que afrontam os sentimentos básicos e
universais de piedade e probidade em uma sociedade.

A ausência dos sentimentos no delinquente conduziria ao crime.

De acordo com o estudioso, o crime sempre está no indivíduo, trata-se de uma revelação de
sua natureza degenerativa, sejam por causas antigas ou recentes.

Afirma, ainda, que o crime está fundamentado em uma anomalia (não patológica), mas
psíquica ou moral (déficit na esfera moral de personalidade do indivíduo, de base interna, de uma
mutação psíquica, transmissível hereditariamente).

Obs.: TEMIBILIDADE = perversidade constante e ativa do delinquente


e quantidade do mal previsto que se deve temer por parte do indivíduo.

Raffaele Garofalo, observando que tanto Lombroso quanto Ferri não haviam definido o
delito, propôs-se a fazê-lo, criando assim a Teoria do Delito Natural.

O Delito Natural, segundo Garofalo, é a violação daquela parte do sentido moral que consiste
nos sentimentos altruístas fundamentais de piedade e probidade, segundo o padrão médio em que
se encontram as raças humanas superiores, cuja medida é necessária para a adaptação do
indivíduo à sociedade.

Para Garofalo, os positivistas, até então, haviam se esforçado para descrever as


características do delinquente, do criminoso, ao invés de definir o próprio conceito de “crime” como
objeto específico da nova disciplina (Criminologia).

Pretendeu criar uma categoria exclusiva da Criminologia que pudesse, de maneira


autônoma, analisar o seu objeto.

Sua principal contribuição foi a filosofia do castigo, dos fins da pena e de sua fundamentação.
O Estado deve eliminar o delinquente que não se adapta à sociedade e às exigências da
convivência. Para isso, entende ser possível a pena de morte em certos casos (criminosos violentos,
ladroes profissionais e criminosos habituais), assim como penas severas em geral, a exemplo do
envio de um criminoso para uma colônia agrícola por tempo indeterminado. e

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4.5.1. Categorias de criminosos

Enquadrou os criminosos em quatro categorias:

a) Assassinos ou delinquentes típicos

Obedecem unicamente ao próprio egoísmo, aos desejos e apetites instantâneos.

Remontam aos selvagens e às crianças.

b) Violentos ou enérgicos

Desprovidos de sentido de compaixão.

c) Ladrões ou neurastênicos

Anomalias cranianas.

d) Cínicos

Praticam crimes contra os costumes, geralmente, crimes sexuais.

RESUMO DA ESCOLA POSITIVISTA

Para os positivistas:

• O crime passa a ser reconhecido como um fenômeno natural e social, sujeito às


influências do meio e de múltiplos fatores, exigindo o estudo da criminalidade e a adoção
do método experimental.

• A pena será uma medida de defesa social, para recuperação do criminoso, por tempo
indeterminado (até que se obtenha a recuperação). O criminoso será sempre
psicologicamente um anormal, temporária ou permanentemente.

• A pena, como meio de defesa social, não age de modo exclusivamente repressivo,
segregando o delinquente e dissuadindo com sua ameaça os possíveis autores do delito,
mas, também, sobretudo, de modo curativo e reeducativo;

• O critério de medição de pena não está ligado abstratamente ao fato delituoso singular,
ou seja, à violação do direito e ao dano social produzido, mas às condições do sujeito
tratado. A duração deve ser medida em relação aos seus efeitos (melhoria e
reeducação);

• Ofereceu uma reação contra as hipóteses racionalistas de entidades abstratas. O delito


é, também para a escola positivista, um ente jurídico (menos para Lombroso, que era
um ente de fato), mas o direito que quantifica este fato humano não deve isolar a ação
do indivíduo da totalidade natural e social;

• Procura encontrar todo o complexo das causas na totalidade biológica e psicológica do


indivíduo e na totalidade social que determina sua vida;

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• Buscava a explicação da criminalidade na diversidade ou anomalia dos autores de
comportamentos criminalizados.

5. ESCOLA CLÁSSICA X ESCOLA POSITIVISTA

ESCOLA CLÁSSICA ESCOLA POSITIVA

Fase pré-científica, método lógico, Fase Científica, método indutivo,


abstrato, dedutivo, normativo empírico e interdisciplinar

Crime é fato natural Crime decorre de fatores sociais, físicos


ou biológicos

Indivíduo livre, inteligente, consciente e Indivíduo é influenciado


capaz de distinguir bem e o mal (livre
arbítrio)

Mal deve ser pago com outro mal Criminoso é punido de acordo com o grau
de periculosidade

Combate-se o absolutismo estatal Identifica-se qual o motivo que leva o


indivíduo a praticar o crime

Pena: certa e por prazo determinado Pena com caráter curativo, por isso pode
ser aplicada por prazo indeterminado.

Como o tema foi cobrado em concurso público?


DPE/AP (2022) O positivismo criminológico primou pela aplicação do método
científico no qual a observação direta e a experiência assumem papel
decisivo. Correta!

PC/BA (2022) No século XIX surgiram inúmeras correntes de pensamento


estruturadas de forma sistemática, segundo determinados princípios
fundamentais. Essas correntes, que se convencionou chamar de Escolas
Penais, foram definidas como o corpo orgânico de concepções contrapostas
sobre a legitimidade do direito de punir, sobre a natureza do delito e sobre o
fim das sanções. Correta!

MPE/SC (2021) Para a escola clássica, o comportamento criminoso é


resultado da predisposição do agente, que apresenta características inatas e
biológicas identificáveis a partir de estigmas anatômicos. Errada!

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DPE/ (2017) Em relação aos estudos e contribuições de Lombroso para o
desenvolvimento histórico da criminologia, seus estudos inserem-se no
contexto de ideias que contrapõem o conceito de livre arbítrio.

DPU (2017) Para a escola clássica, o modelo ideal de prevenção do delito ou


do desvio é o que se preocupa com a pena e seu rigor, compreendendo-a
como um mecanismo intimidatório; já para a escola neoclássica, mais eficaz
que o rigor das penas é o foco no correto funcionamento do sistema legal e
em como esse sistema é percebido pelo desviante ou delinquente.

DPE-RO (2017) Raffaele Garofalo está ligado à Escola Criminal Positiva.

PC-GO (2017) A criminologia é a ciência que, entre outros aspectos, estuda


as causas e as concausas da criminalidade e da periculosidade preparatória
da criminalidade.

PC-GO (2017) Em busca do melhor sistema de enfrentamento à


criminalidade, a criminologia estuda os diversos modelos de reação ao delito.
Para a criminologia, as medidas despenalizadoras, com o viés reparador à
vítima, condizem com o modelo integrador de reação ao delito, de modo a
inserir os interessados como protagonistas na solução do conflito.

MPE-SC (2014) Contrariamente ao classicismo, que não visualizou no


criminoso nenhuma anormalidade - e dele não se ocupou - o positivismo
reconduziu-o para o centro de suas análises, apreendendo nele estigmas
decisivos da criminalidade.

PC/SP (2012) Constituem objeto de estudo da Criminologia: o delito, o


delinquente, a vítima e o controle social.

PC/SP (2013) A Criminologia é uma ciência empírica e interdisciplinar, fática


do “ser” e o Direito Penal é uma ciência jurídica, cultural e normativa, do
“dever ser”.

PC/SP (2011) O Positivismo Criminológico, com a Scuola Positiva italiana, foi


encabeçado por Lombroso, Garofolo e Ferri.

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MODELOS TEÓRICOS EXPLICATIVOS DO DELITO

1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

De acordo com Molina, após a luta de escolas (Escola Clássica e Escola Positivista)
surgiram três pilares na criminologia, quais sejam:

• Biologia criminal

• Psicologia criminal

• Sociologia criminal (giro sociológico da criminologia)

Aqui, analisaremos alguns aspectos da biologia criminal e da psicologia criminal, de forma


superficial, já que não costuma ser muito cobrado em provas. O enfoque maior é sempre na
sociologia criminal, que será abordado de forma aprofundada.

2. BIOLOGIA CRIMINAL

O foco da biologia criminal está no homem delinquente. Visa localizar e identificar alguma
parte do corpo ou dos sistemas que tenha um fator diferencial, o qual possa justificar a prática de
delitos.

Além disso, afirma que o crime é uma consequência de alguma patologia, disfunção ou
transtorno orgânico.

Apesar de ter uma influência de Lombroso, surgiu após a Escola Positivista.

São exemplos de seus estudos:

• Biotipologia;

• Anomalias;

• Genética

3. PSICOLOGIA CRIMINAL

A psicologia criminal visa explicar o crime no mundo anímico do homem, nos processos
químicos anormais ou na psicanálise.

Cita-se, como exemplo:

• Teoria psicanalítica

• Pensamento de Freud

CS – CRIMINOLOGIA 2023.1 33

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• Estudos de esquizofrenia

• Estudos da bipolaridade

4. SOCIOLOGIA CRIMINAL

A sociologia criminal entende que o crime é um fenômeno social.

Há uma série de marcos teóricos que explicam o crime como decorrência do fenômeno
social, são eles:

• Teoria Ecológica

• Teoria Estrutural-Funcionalista

• Teoria Subcultural

• Teoria Conflitual

• Teoria Interacionista

Analisaremos de forma aprofundada cada Teoria ao longo do Caderno.

5. CLASSIFICAÇÃO DE MOLINA

Muitas provas usam os modelos explicativos do delito trazidos por Molina, por isso é
pertinente conhecer tal classificação.

CRIMINOLOGIA CLÁSSICA E NEOCLÁSSICA

As ideias da Criminologia Clássica já foram analisadas, ao abordarmos a Escola Clássica.

A Escola Neoclássica, de acordo com Molina, não busca explicar o crime através de uma
anomalia psíquica, mas sim por meio da racionalidade. Analisaremos a Escola Neoclássica dentro
do tópico Teorias Situacionais, para fins didáticos.

CRIMINOLOGIA POSITIVISTA

Tudo o que foi dito sobre a Escola Positivista aplica-se aqui.

SOCIOLOGIA CRIMINAL

Será analisado em tópico separado, nas Teorias do Consenso e do Conflito.

DIVERSAS CORRENTES DA MODERNA CRIMINOLOGIA

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A Escola Clássica tentou explicar o delito e o delinquente de forma racional, entendia que o
homem era um ser livre e poderia escolher entre praticar ou não o delito. Por sua vez, a Escola
Positivista utilizou o modelo etiológico, a fim de explicar as causas da criminalidade.

O atual modelo, de acordo com Molina, preocupa-se em explicar o crime utilizando um


aspecto dinâmico, não etiológico e não generalizado. Ou seja, analisa-se o processo e a evolução
dos padrões de conduta na vida do autor.

Como exemplo, utilizam a curva de idade, em que dos 12 aos 25 anos o indivíduo é propenso
a cometer crimes violentos. Após os 25 anos, a tendência é que diminua a criminalidade.

Seus estudos são baseados em:

• Carreiras e trajetórias criminais;

• Teorias do curso da vida

• Criminologia do desenvolvimento.

Como o tema foi cobrado em concurso?


PC/RO (2022): Na visão moderna, o delinquente deve ser compreendido
como um ser influenciado por fatores biológicos, psicológicos e sociais.
Correta!

6. TEORIAS SITUACIONAIS DA CRIMINALIDADE

TEORIA DA OPÇÃO RACIONAL COMO OPÇÃO ECONÔMICA

Trata-se de um modelo economicista neoclássico.

Para Molina é a Escola Neoclássica. Como o próprio novo diz, trata-se de uma nova escola
clássica, baseada nos fundamentos anteriores, tendo em vista que houve:

• Fracasso do positivismo em oferecer uma teoria generalizadora;

• Baixo êxito dos programas ressocializadores

• Incremento da criminalidade

Defende que o crime é o resultado de uma opção livre, racional e interessada do indivíduo
de acordo com uma análise prévia de custos e benefícios.

Ressalta-se que a análise de custos e benefícios não é estritamente econômica, leva-se em


conta o real bônus e ônus do delito.

É uma teoria da Década de 70.

O delinquente, de acordo com os neoclássicos, é um homem normal.

Afirma que o crime poderá ser evitado através do caráter retributivo da pena, ou seja, com
punição, intimidação e castigo. Havendo certeza da punição o delinquente não cometeria o crime.

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A sociedade precisa de confiança na lei penal, bem como de um rígido controle social.
Defendia-se o direito penal máximo, com penas severas, a fim de que a criminalidade fosse
diminuída. Atualmente, pode-se afirmar que se trata do direito penal midiático, eleitoreiro, com mais
crimes, mais pessoas sendo presas, gerando a falsa ilusão de resolver o problema da criminalidade.

Obs.: O Criminólogo Jeffery afirma que: “mais leis, mais policiais, mais
penas é igual a mais cárcere. Porém, não haverá diminuição da
criminalidade real.”

TEORIA DAS ATIVIDADES ROTINEIRAS

Relaciona-se ao tema Criminologia Ambiental, ou seja, a forma como o ambiente contribui


para a criminalidade.

De acordo com Molina, é sinônimo de Teoria da Oportunidade, uma vez que liga a opção
racional com a oportunidade dada ao criminoso. Ou seja, o criminoso age com a sua manifestação
da vontade (opção racional) desde que encontre uma oportunidade propícia para delinquir.

Foi utilizada para explicar o aumento da criminalidade após a 2ªGM, em que, apesar da
melhoria da qualidade de vida, não houve diminuição do crime.

Explica a ocorrência do crime através de três fatores, todos devem ocorrer no mesmo espaço
e ao mesmo tempo, são eles: infrator motivado (com habilidades para cometer o crime); alvo
adequado (pessoa, coisa, lugar) e ausência de um guardião (policial, vigilante privado, testemunha,
cão de guarda, câmera de monitoramento, cerca elétrica).

A motivação do criminoso pode derivar de uma patologia individual, de uma maximização


do lucro ou, ainda, de um subproduto de um sistema social perverso ou deficiente.

Destaca-se que a prevenção crime, para a Teoria das Atividades Rotineiras, será feita
através de um controlador de infrator (pessoa que exerça influência sobre o infrator, convencendo-
o de que o crime não é uma boa ideia), de um ambiente responsável (meios que dificultem a ação
criminosa) e da presença de guardião.

Por fim, o atual modo de viver da sociedade moderna acaba dando oportunidade aos
criminosos. Por exemplo, as residências antes não costumavam ficar sem ninguém, não havia
exposição do modo de vida nas redes sociais.

Como o tema foi cobrado em concurso?


PC/RO (2022): A criminologia ambiental considera o crime na perspectiva de
ofensor e vítima distribuídos em um ponto específico de espaço e tempo.
Correta!

TEORIA DO MEIO OU ENTORNO FÍSICO

Também chamada de Teoria Espacial ou de Tradição Ecológica.

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Afirma que o espaço físico é relevante no comportamento delitivo. Desta forma, busca
explicar de que forma o espaço físico interfere na prática do crime. Aqui, a opção racional soma-se
ao meio físico.

Newman criou o “defensible space”, uma espécie de local seguro, que seria apto de impedir
a prática de delitos, em razão de ser uma área de maior eficácia do controle social informal.

Sherman, em seus estudos, percebeu que 50% das chamadas policiais estavam
concentradas em 3% dos locais da cidade, área de alta criminalidade.

A prevenção deve ser feita através de uma maior atenção aos locais de maior incidência do
delito.

Como o tema foi cobrado em concurso?


PC/PA (2021) A teoria ecológica entende a cidade como produtora de
delinquência, havendo zonas em que a criminalidade seria maior e outras
com índices menores de criminalidade. Correta!

CS – CRIMINOLOGIA 2023.1 37

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SOCIOLOGIA CRIMINAL

1. INTRODUÇÃO

Surgiu após a luta das escolas, também conhecido como giro sociológico da criminologia.

De acordo com Molina, a Sociologia Criminal é marcada por um duplo entroncamento, eis
que é influenciada por um modelo americano (Escola de Chicago) e um modelo europeu
(Durkheim).

A Sociologia Criminal divide-se, para fins didáticos, no estudo das Teorias do Consenso e
das Teorias do Conflito.

TEORIAS DO CONSENSO TEORIAS DO CONFLITO

A sociedade é baseada no consenso entre os


Toda sociedade é baseada na coerção
indivíduos, através da livre vontade.

Todo elemento da sociedade tem a sua


Há imposição de alguns membros sobre outros.
função/importância.

Escola de Chicago;
- Labelling Approach (Interacionismo
Anomia
Simbólico/Rotulação Social/Etiquetamento);
Associação Diferencial;
- Teoria Crítica.
Subcultura Delinquente

2. TEORIAS DO CONSENSO

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Para as Teorias do Consenso, a finalidade da sociedade é atingida quando suas instituições


obtêm perfeito funcionamento, verificando-se nas hipóteses em que os cidadãos aceitam as regras
vigentes e compartilham as regras sociais dominantes.

Quando houver a convergência de valores, condutas das regras sociais dominantes, a


sociedade desempenhará melhor e haverá menos criminalidade.

ESCOLA DE CHICAGO

Também chamada de Teoria Ecológica ou da Ecologia Criminal, pois relaciona o meio como
fenômeno de explicação da realidade.

CS – CRIMINOLOGIA 2023.1 38

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Surgiu no início do Século XX, através de membros do Departamento de Sociologia da
Universidade de Chicago, com investimento de Rockfeller.

Tem-se a explicação ecológica do crime a partir da observação da desorganização social.

Atribuía à sociedade (desorganizada), e não ao indivíduo, as causas do fenômeno criminal.

A Escola de Chicago, ao atentar para a mutação social das grandes cidades, na análise
empírica do delito, interessa-se em conhecer os mecanismos de aprendizagem e transmissão das
culturas consideradas desviadas, por reconhecê-las como fatores de criminalidade.

A razão para a denominação “Escola de Chicago” e não “Ecologia Criminal” tem dois
fundamentos:

1º) Por um lado, deriva da explosão urbana na cidade de Chicago (“palco dos
acontecimentos”);

2º) A criação do primeiro departamento de Sociologia do Mundo ocorreu na Universidade de


Chicago (1850).

Na perspectiva da Escola de Chicago, a compreensão do crime sistematiza-se a partir da


observação de que a gênese delitiva se relacionava diretamente com o conglomerado urbano, o
qual, muitas vezes, estruturava-se de modo desordenado e radial, o que favorecia a decomposição
da solidariedade das estruturas sociais. Tem-se, teoricamente, “a Sociologia da Grande Cidade”.

Como o tema foi cobrado em concurso?


PC/ES (2022) A primeira teoria sociológica que fixou o entendimento de que
o crime é produto da desorganização própria da grande cidade, onde se
debilita o controle social e se deterioram as relações humanas, foi a
ecológica. Correta!

MPE/SC (2021) A crise dos valores tradicionais e familiares, a alta


mobilidade, a explosão demográfica e o enfraquecimento do controle social
são considerados fatores criminógenos pela escola de Chicago. Correta!

2.2.1. Ambiente e contexto histórico

O poderoso processo de industrialização do Século XX promoveu o quadro de explosão


demográfica, transformando a cidade de Chicago, naquele momento, numa cidade cosmopolita, um
caldeirão de etnias, culturas e religiões aglomeradas em guetos e regiões, por seu turno, marcada
pela desordem e conflito.

Não bastasse esse contexto, também houve o êxodo rural; cidades com economias de
estrutura agrícola perderam população para os grandes centros industriais.

Com a formação da Escola de Chicago inaugura-se um novo campo de pesquisa


sociológica, centrado exclusivamente nos fenômenos urbanos, que levará à constituição da
Sociologia Urbana como ramo de estudos especializados.

Como o tema foi cobrado em concurso?


DPE/AP (2022) De acordo com a Escola de Chicago, as características da
cidade podem ter papel etiológico nos processos de delinquência. Correta!

CS – CRIMINOLOGIA 2023.1 39

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2.2.2. Ideias centrais

Desorganização social provocada pelo ritmo de crescimento acelerado das cidades.

A Escola de Chicago traz a análise da cidade em círculos, formado por região central e por
regiões periféricas. Na região central funciona a maior parte da atividade comercial da cidade, as
pessoas de baixa renda acabam se concentrando nas regiões periféricas, afastadas, sem estrutura,
acabam aglomeradas, sujeitas a barulhos, à poluição visual. Por outro lado, as pessoas com uma
melhor condição de vida, conseguem se deslocar para os bairros residenciais

Entende que a Cidade é um verdadeiro Estado de Espírito, com sua própria identidade. Nas
grandes cidades há um enfraquecimento do controle social informal, formando as áreas de
delinquência.

2.2.3. Inquéritos sociais

Instrumentos de investigação dos criminólogos, realizados através de entrevistas,


interrogatórios, casos biográficos de indivíduos selecionados de forma unitária, a fim de fazer a
análise da realidade nas áreas de delinquência.

Como o tema foi cobrado em concurso?


Policial Penal/Instituto AOCP (2022) Como forma de se tentar conhecer real
da criminalidade, a Escola de Chicago passou a utilizar os inquéritos sociais
(social surveys) na investigação da criminalidade.

2.2.4. Soluções

Defende a diminuição da criminalidade por meio de:

• Uma macrointervenção na comunidade, o planejamento e administração das cidades


deve ser feito por áreas delimitadas.

• Criação de programas comunitários;

• Melhoria dos aspectos visuais da cidade

2.2.5. Críticas

A Escola de Chicago ofereceu uma explicação limitada da criminalidade, pois não conseguiu
explicar os crimes que ocorriam fora das áreas desorganizadas.

Não conseguiu explicar, por exemplo, os crimes de colarinho branco.

2.2.6. Principais pensadores

Como principais pensadores da Escola de Chicago: Robert Park, Ernest Burgess e Roderick
Mckenzie.

Observe como tem sido cobrado em concursos:

CS – CRIMINOLOGIA 2023.1 40

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DPE/AM (2018) Sobre as escolas criminológicas, a Escola de Chicago
fomentou a utilização de métodos de pesquisa que propiciou o conhecimento
da realidade da cidade antes de se estabelecer a política criminal adequada
para intervenção estatal.

DPE-PE (2018) Com relação às escolas e às teorias jurídicas do direito penal,


na primeira metade do século passado, floresceu, na Universidade de
Chicago, a chamada teoria ecológica ou da desorganização social, que
considerava o crime um fenômeno ligado a áreas naturais.

TEORIA DA ANOMIA

Chamada também de Teoria Estrutural Funcionalista.

2.3.1. Contribuições de Durkheim

Segundo Durkheim, é a ausência/desintegração/desmoronamento das normas sociais de


referência, ocasionando a crise de valores. Na anomia há a potencialização de atos criminosos.

Salienta-se que o crime fere a consciência coletiva.

Para Durkheim, o crime é o fenômeno normal da sociedade, necessário e útil. Entretanto,


deve permanecer dentro dos limites de tolerância.

A sanção penal exerce papel de destaque neste controle, porquanto sua finalidade primordial
não é a prevenção especial ou geral, mas sim a satisfação da consciência coletiva.

Quando a função da pena não é cumprida, por exemplo, instaura-se uma disfunção no corpo
social que desacredita no sistema normativo de condutas, fazendo surgir a Anomia. Anomia não
significa ausência de normas, mas o seu enfraquecimento na influência das condutas sociais (caiu
PC/BA).

2.3.2. Contribuições de Merton

Já Merton entende que anomia é um desajuste nos fins culturais (meta de sucesso) e os
meios institucionais (meios disponíveis).

Além disso, defende que anomia é o sintoma do vazio produzido quando os meios
socioestruturais não satisfazem as expectativas culturais da sociedade, fazendo com que a falta de
oportunidade leve à prática de atos irregulares para atingir a meta cobiçada (Caiu na PC/BA).

Diante da anomia, de acordo com Merton, surgem cinco tipos de adaptação individual.
Vejamos:

• Conformidade – com os meios disponíveis é possível atingir a meta de sucesso;

• Ritualismo – há renúncia dos fins culturais (meta de sucesso), mas continua seguindo as
normas de referência;

• Retraimento (apatia) – há renúncia dos fins culturais e dos meios institucionais. Por
exemplos, mendigos, viciados em drogas;

CS – CRIMINOLOGIA 2023.1 41

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• Inovação – almeja a meta de sucesso, por isso age de forma inovadora, deixando os
meios institucionais, para alcançar seus objetivos. Aqui, ocorre o crime propriamente
dito.

• Rebelião – o indivíduo refuta os padrões vigentes. Por exemplo, considera modelo de


sucesso apreciar a natureza e não acumular patrimônio. Propõe novas metas de
sucessos e novos meios institucionais.

Como o tema é cobrado nos concursos?


DPE/MT (2022) De acordo com a teoria da anomia, o crime é entendido como
um fenômeno normal da sociedade, que pode em alguns casos ajudá-la a
consagrar sua identidade em torno de certos valores. Correta!

PC/RR (2022): A anomia, como uma espécie de confusão de normas ou um


encontro de normas conflitantes, é o primeiro passo para o estudo da
subcultura delinquente. Correta!

PC/MG (2022) Conforme a Teoria da Anomia, papéis conformistas ou


desviantes seriam livremente disponíveis, dependendo de fatores como:
idade, sexo e condições de vida. Correta!

PC/MG (2022) Os pressupostos mais centrais da Teoria da Anomia remetem


à ideia de que as normas culturais e o universo valorativo são referência para
a definição de comportamentos delinquentes. Correta!

PC/MG (2022) Segundo a Teoria da Anomia, o comportamento desviante é


sintoma da dissociação entre as aspirações culturalmente prescritas e os
meios socialmente estruturados para alcançar essas aspirações. Correta!

DPE/AM (2021) O pensamento de Émile Durkheim trouxe importantes


influxos para a criminologia. Sobre sua obra, é correto afirmar que a pena é
um ato de imposição de sofrimento ao ser humano que, todavia, é
considerado justo ante o abalo proporcionado à consciência coletiva pela
conduta criminosa.

PC/PR (2021) A teoria estrutural-funcionalista do desvio e da anomia foi


desenvolvida por Robert Merton.

TEORIA DA ASSOCIAÇÃO DIFERENCIAL

Possui como principal autor Sutherland, também chamada de Teoria da Aprendizagem


Social ou Teoria do Aprendizado.

Surgem, aqui, os estudos acerca dos crimes de colarinho branco, aqueles que são
cometidos no âmbito da profissão, por pessoas de elevado estatuto social e respeitabilidade.

Segundo Sutherland, “a função social do crime é de mostrar as fraquezas da desorganização


social. Ao mesmo tempo em que a dor revela que o corpo vai mal, o crime revela um vício da
estrutura social, sobretudo quando ele tende a predominar. O crime é um sintoma da
desorganização social e pode sem dúvida ser reduzido em proporções consideráveis, simplesmente

CS – CRIMINOLOGIA 2023.1 42

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por uma reforma da estrutura social”. Nada mais é do que a desorganização social refletindo no
comportamento criminal.

De acordo com o estudioso, a conduta desviada não pode ser imputada a disfunções ou
inadaptação dos indivíduos das classes mais baixas socioeconomicamente, senão à aprendizagem
efetiva dos valores criminais, o que pode suceder em qualquer cultura – o crime não é hereditário,
não se imita e não se inventa. Assim, não é algo fortuito ou irracional. O crime se aprende.

A Associação Diferencial é o processo de aprender alguns tipos de comportamento


desviante, que requer conhecimento especializado e habilidade, bem como a inclinação de tirar
proveito de oportunidades para usá-las de maneira desviante. Não basta viver no meio do crime,
nem manifestar determinados traços da personalidade para situações associadas ao delito.

A conduta criminal se aprende em interação com outras pessoas, mediante um processo de


comunicação. Requer, pois, uma aprendizagem ativa por parte do indivíduo. A parte decisiva do
processo de aprendizagem ocorre no seio das relações mais íntimas do indivíduo com seus
familiares ou pessoas de seu meio.

Os valores dominantes no grupo com os quais o indivíduo se relaciona é que vão “ensinar”
o delito. Assim, o comportamento criminoso é aprendido, não podendo ser definido como produto
de uma predisposição biológica ou atribuído somente às pessoas de classes menos favorecidas.

Álvaro Mayrink da Costa: "a aprendizagem é feita num processo de comunicação com outras
pessoas, principalmente, por grupos íntimos, técnicas de ação delitiva e a direção específica de
motivos e impulsos, racionalizações e atitudes. Uma pessoa torna-se criminosa porque recebe mais
definições favoráveis à violação da lei do que desfavoráveis a essa violação. Este é o princípio da
associação diferencial".

Sutherland constrói sua teoria com alicerce em alguns postulados. Vejamos:

• O comportamento é aprendido – aprende-se a delinquir como se aprende também o


comportamento virtuoso.

• O comportamento é aprendido em um processo comunicativo. Estabelecem-se as


diferenças entre estímulos reativos e operantes. Inicia-se através do seio familiar e
estendem-se às relações sociais, empresariais e assim por diante.

• A parte decisiva do processo de aprendizagem ocorre no seio das relações sociais mais
íntimas. A aprendizagem é diretamente proporcional à interação entre as pessoas.

• O aprendizado inclui a técnica do cometimento do delito.

• A direção dos motivos e dos impulsos se aprende com as definições favoráveis ou


desfavoráveis aos códigos legais. Todo ser humano se depara com tais fronteiras.

• A pessoa se converte em criminosa quando as definições favoráveis à violação da norma


superam as definições desfavoráveis. Princípio da ideia da Associação Diferencial,
processo interativo que permite desenvolver o comportamento criminoso.

• Tais associações mudam conforme frequência, duração, prioridade e intensidade com


que o criminoso se depara com o ato desviante.

CS – CRIMINOLOGIA 2023.1 43

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• O conflito cultural é a causa fundamental da Associação Diferencial. A cultura criminosa
é tão real como a cultura legal. As relações culturais nas sociedades diferenciadas são
determinadas para as posturas.

• Desorganização Social (perda das raízes pessoais) é a causa básica do comportamento


criminoso sistemático.

Edwin H. Sutherland: “o comportamento criminoso é devido ao isolamento em relação a


padrões de comportamento anticriminoso. Qualquer pessoa inevitavelmente assimila a cultura
circundante a menos que outros padrões estejam em conflito. Negativamente, esta proposição da
associação diferencial significa que as associações que são neutras no que diz respeito ao crime
têm pouco ou nenhum efeito sobre a gênese da conduta criminosa. Muito da experiência de uma
pessoa é neutro neste sentido, como algo natural que realizamos todos os dias sem perceber. Este
comportamento não tem qualquer efeito positivo ou negativo sobre a conduta criminosa exceto
quando possa estar relacionado a associações que tratam dos códigos legais. Tal comportamento
neutro é importante especialmente em ocupar o tempo de uma criança, de modo que ele ou ela não
esteja em contato com a conduta criminosa enquanto envolvido no comportamento neutro”.

A Teoria da Associação Diferencial reflete a situação em que o indivíduo se torna participante


de um grupo no qual estará disposto a aprender práticas delituosas e, em contrapartida, o grupo
estará disposto a ensiná-lo, seja com conhecimento especializado, informação privilegiada ou
certas habilidades que as pessoas comuns não têm, de modo que fique evidenciada a finalidade de
praticar delitos em proveito próprio ou alheio.

Como o tema foi cobrado em concurso?


PC/SP (2022) É considerada uma teoria de consenso, desenvolvida pelo
sociólogo americano Edwin Sutherland (1883-1950), inspirado em Gabriel
Tarde. Afirma que o comportamento do criminoso é aprendido, nunca
herdado, criado ou desenvolvido pelo sujeito ativo. Assinale a alternativa que
indica corretamente a qual teoria sociológica do crime corresponde o
enunciado. Teoria da Associação Diferencial.

DPE/PR (2022) Sutherland, em 1940, propôs a expressão “White-collar


crime” para os crimes praticados por pessoas respeitáveis e com status social
elevado. Esse conceito foi formulado tendo como pressuposto as ideias
expostas na teoria da associação diferencial. Correta!

PC/MG (2021) O comportamento delituoso se aprende do mesmo modo que


o indivíduo aprende também outras condutas e atividades lícitas, em sua
interação com pessoas e grupos e mediante um complexo processo de
comunicação. Correta!

PC/MG (2021) O delito não é algo anormal nem sinal de uma personalidade
imatura, senão um comportamento ou hábito adquirido, isto é, uma resposta
a situações reais que o sujeito aprende. Correta!

PC/MG (2021) O indivíduo aprende assim não só a conduta delitiva, senão


também os próprios valores criminais, as técnicas comissivas e os
mecanismos subjetivos de racionalização (justificação ou autojustificação) do
comportamento desviado. Correta!

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MPE/SC (2021) O fenômeno do crime organizado se ajusta aos fundamentos
da teoria da associação diferencial, para a qual a conduta delitiva não é
intrínseca às condições sociais ou a fatores outros como gênero, raça e idade
do agente. Correta!

PC/SE (2021) A teoria da associação diferencial, segundo a qual o indivíduo


desenvolve seu comportamento individual com base nos exemplos e nas
influências que possui, explica, de certa forma, o denominado crime de
colarinho-branco. Correta!

PC/MA (2018): De acordo com a teoria de Sutherland, os crimes são


cometidos por pessoas que convivem em grupos que realizam e legitimam
ações criminosas. Correta!

Em relação aos crimes de colarinho branco, Sutherland entende que há três fatores que
dificultam a sua punição. São eles:

I – As pessoas que cometem os crimes de colarinho branco são poderosas e respeitadas na


sociedade;

II – Dificuldade na punição pelas leis e obstáculos

III – Efeitos complexos e difusos, pois a sociedade não sente diretamente.

TEORIA DA SUBCULTURA DELINQUENTE

A ideia da subcultura delinquente foi consagrada na literatura criminológica pela obra de


Albert Cohen: Delinquent Boys, de 1955.

A Subcultura Delinquente surge quando os indivíduos menos favorecidos se associam para


a prática de condutas desviadas, seguindo um padrão de valores dentro dessa cultura.

Ao contrário da Escola de Chicago, a causa/etiologia do crime não está atrelada à


desorganização social, mas aos sistemas de normas e valores distintos para a sociedade
tradicional.

De acordo com Cohen, a sociedade tradicional dita valores predominantes. Todavia, é


heterogênea e possui uma gama de grupos que, muitas das vezes, elegem valores distintos dos
predominantes da sociedade como um todo.

Cita a existência de subculturas (“culturas” dentro de outras “culturas”) que não aceitam
valores disseminados. Os grupos possuem valores próprios, princípios.

Exemplo: gangues de periferias, os Skinheads.

Há, ainda, a contracultura, que é caracterizada pela contradição de valores e


comportamentos reputados como prioritários para a sociedade tradicional. É o seu antônimo.

Exemplo: Hippies.

Caracteriza-se por um comportamento de transgressão determinado por um subsistema de


conhecimento, crenças e valores que determinam formas particulares de comportamento.

CS – CRIMINOLOGIA 2023.1 45

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De acordo com Cohen, possui três fatores determinantes, quais sejam:

• Não utilitarismo da ação, os crimes são realizados sem um fim específico;

• Malícia da conduta, as quais são praticadas para causar desconforto alheio;

• Negativismo como forma de rechaço deliberado.

Os críticos afirmam que tal teoria possui uma visão limitada da criminalidade.

Como o tema foi cobrado em concurso?


DPE/MT (2022) A teoria da subcultura delinquente tem na construção de
Albert Cohen o negativismo da conduta como um de seus elementos
caracterizadores. Correta!

PC/BA (2022): A teoria do labelling approach ou do etiquetamento social é


contrária à noção de uma ordem social, ofertada pela criminologia tradicional.
Identificam-se como exemplos as gangues de jovens delinquentes, em que o
garoto passa a aceitar os valores daquele grupo, admitindo-os para si
mesmo, mais que os valores sociais dominantes. Esse contexto é
caracterizado por três fatores: não utilitarismo da ação; malícia da conduta; e
negativismo. Errada!

PC/PB (2022) A subcultura delinquente é um exemplo de teoria do consenso.


Correta!

PC/PR (2021) A teoria das subculturas criminais explica a criminalidade pela


transmissão de valores subculturais, que pressupõe um processo de
interação e aprendizagem, e pela interiorização de técnicas de neutralização,
por meio das quais os jovens justificam o seu comportamento desviante.
Correta!

3. TEORIAS DO CONFLITO

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Para as Teorias do Conflito, a ordem na sociedade é fundada na força e na coerção, ou seja,


na dominação por alguns e obediência de outros.

Dá embaso para teorias mais críticas e radicais.

Segundo essa teoria, inexistem acordos em torno de valores.

LABELLING APPROACH

Também chamada de Teoria da Rotulação Social, de Etiquetamento, de Reação Social e de


Interacionista.

Surgiu na Década de 60, nos EUA, com os movimentos de “fermentos de ruptura”, ou seja,
uma série de movimentos sociais, políticos, feministas e raciais.

CS – CRIMINOLOGIA 2023.1 46

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Seus principais autores foram Erving Goffmann e Howard Becker.

Para entender a Teoria do Etiquetamento importante saber os conceitos de desviação


primária (primeira vez que o indivíduo comete o crime - não interessa à Teoria), e desviação
secundária (reincidência), já que o que irá determinar a desviação secundária é a reação social
(formal ou informal) à desviação primária.

O Estado faz uso de cerimônias degradantes, por exemplo os presos passam a ser
chamados por números e não mais pelos seus nomes, o ambiente do cárcere é insalubre, retira a
dignidade da pessoa.

A prisão não serve para ressocializar o condenado, mas sim para socializar ao cárcere.

O indivíduo fica estigmatizado.

Consoante leciona Eugenio Raúl Zaffaroni: “estes estereótipos permitem a catalogação dos
criminosos que combinam com a imagem que corresponde à descrição fabricada, deixando de fora
outros tipos de delinquentes (delinquência de colarinho branco, cifra dourada, crimes de trânsito
etc.)”.

O Labelling Approach aponta que as instâncias de controle social definem o que será punido
e o que será tolerado – Seletividade do Sistema Penal. Dá enfoque aos processos de
criminalização.

Edwin M. Lemert, autor relevante para o tema, destaca que são dois os tipos de desvio
existentes.

• Primário: ocorre devido a fatores sociais, culturais ou psicológicos. O indivíduo delinque


em razão de circunstâncias sociais.

• Secundário: decorre da incriminação, da estigmatização e da reação social negativa do


outsider (oprimido, compelido a adentrar a carreira criminosa).

Trata a criminalidade não só como uma qualidade de uma determinada conduta, mas sim
como resultado de um processo de estigmatização da conduta – “carimbo”/rótulo fruto do Direito
Penal Seletivo.

Segundo as Teorias do Conflito, há um fio condutor sobre o Sistema que se funda em três
aspectos: seletivo; excludente e estigmatizante.

Winfried Hassemer: “[...] o labelling approach remete especialmente a dois resultados da


reflexão sobre a realização concreta do Direito: o papel do juiz como criador do Direito e o caráter
invisível do ‘lado interior do ato’”.

Elena Larrauri: “O desviante é aquele a quem é aplicada com sucesso a etiqueta; o


comportamento desviante é aquele que as pessoas definem como desviante”.

Como o tema foi cobrado em concurso?


DPE/CE (2022) De acordo com o paradigma da reação social na criminologia,
a atribuição do caráter de criminoso não decorre da prática do ato

CS – CRIMINOLOGIA 2023.1 47

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considerado delitivo em si, mas depende de uma criminalização secundária,
consubstanciada na alteração identitária da pessoa rotulada. Correta!

PC/SP (2022): A ideia de igualdade é refutada pela teoria da criminologia


denominada teoria do labelling approach ou etiquetamento social. Correta!

PC/SP (2022) É uma das mais importantes teorias de conflito. Surgida nos
anos 1960, nos Estados Unidos, seus principais expoentes foram Erving
Goffman e Howard Becker. Correta!
Assinale a alternativa que indica corretamente a qual teoria sociológica do
crime corresponde o enunciado. Labelling approach.

DPE/MT (2022): O direito das pessoas presas ao chamamento nominal se


trata de influência no direito brasileiro da teoria denominada labeling
approach. Correta!

DPE/MT (2022) Para o labeling approach o desviado é aquele que ao realizar


um comportamento não desejado recebe uma etiqueta que o marcará para
seus comportamentos futuros. Correta!

PC/AM (2022) A partir de suas observações sobre desvio e reação social,


Howard Becker constrói um modelo sequencial constituído por quatro tipos
teóricos: o comportamento apropriado, o desviante puro, o falsamente
acusado e o desviante secreto. Correta!

PC/PR (2021) É correto afirmar que o Labelling Approach assume que o crime
decorre de um processo de construção social, ou seja, da atribuição da
etiqueta de desviante a determinados indivíduos por meio da interação social.
Correta!

PC/ES (2021) São exemplos de teorias do consenso a Escola de Chicago, a


teoria de associação diferencial, a teoria da anomia e a teoria da subcultura
do delinquente. Correta!

DPE/PR (2014): Em relação às distintas teorias criminológicas, a ideia de que


o “desviante” é, na verdade, alguém a quem o rótulo social de criminoso foi
aplicado com sucesso foi desenvolvida pela Teoria da reação social
ou Labelling Approach. Correta!

3.2.1. Cifras do Direito Penal

As estatísticas criminais servem para fundamentar a política criminal e a doutrina de


segurança pública quanto à prevenção e à repressão criminais. No entanto, é preciso ter cuidado
ao analisar as estatísticas criminais oficiais, na medida em que há uma quantia significativa de
delitos não comunicados ao Poder Público, quer por inércia ou desinteresse das vítimas, quer por
outras causas, entre as quais os erros de coleta e a manipulação de dados pelo Estado.

A partir da análise destas estatísticas bem como sob a perspectiva de rótulos vista
anteriormente, parte da doutrina classificou os crimes em “cifras”, a depender da modalidade

CS – CRIMINOLOGIA 2023.1 48

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praticada. Destacamos aquelas apontadas pelo professor Fernando Abreu em seu livro de Direito
Penal Geral.

3.2.1.1. Cifras Negras

São tidas como as “mães” das cifras, relacionando-se àqueles crimes que não chegam ao
conhecimento do Estado ou que chegando à esfera de conhecimento das autoridades, não
conduzem a um processo, gerando impunidade.

3.2.1.2. Cifras Douradas

Trata-se dos delitos praticados por pessoas dotadas de poder ou que compõem a alta
camada da sociedade. São os crimes do “colarinho branco”, que usualmente envolvem crimes
contra o sistema financeiro, ordem econômica e tributária, meio ambiente, etc.

3.2.1.3. Cifras Cinzas

Nas situações em que as ocorrências são registradas, porém, não há o encerramento


conclusivo da persecução penal, normalmente por razões de ordem administrativa ou jurídica. Um
exemplo é quando o atraso nas investigações acarreta a prescrição ou mesmo a ausência da
representação da vítima.

3.2.1.4. Cifras Amarelas

Relacionadas aos crimes em que as vítimas sofreram alguma forma de violência praticada
por funcionário público, mas não notificaram o fato por temerem represálias.

3.2.1.5. Cifras Verdes

Correspondem aos crimes contra o meio ambiente que não chegam ao conhecimento do
Estado.

3.2.1.6. Cifras Rosas

Referem-se aos delitos praticados no contexto de homofobia que não entram nos registros
oficiais da persecução penal.

3.2.1.7. Cifras Azuis

São os crimes praticados pelas classes menos favorecidas da sociedade, como roubos e
furtos.

3.2.1.8. Cifras Vermelhas

Homicídios praticados pelos chamados serial killers (assassinos em série).

CS – CRIMINOLOGIA 2023.1 49

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Como o tema foi cobrado em concurso?
PC/BA (2022) A existência de uma cifra dourada representa a criminalidade
de colarinho branco, definida como um conjunto de práticas antissociais
impunes do poder político e econômico, a nível nacional e internacional, em
prejuízo da coletividade e dos cidadãos e em proveito das oligarquias
econômico-financeiras. Correta!

PC/BA (2022): O termo cifra negra, também conhecido por zona obscura,
"dark number" ou "ciffre noir", refere-se à porcentagem de crimes não
solucionados ou punidos, à existência de um significativo número de
infrações penais desconhecidas oficialmente. A consequência direta é a
eleição de ocorrências e de infratores, onde o sistema penal termina se
movimentando somente em determinados casos, de acordo com a classe
social a que pertence o autor do crime. Correta!

Médico-legista PC/SP (2022): As taxas de subnotificação criminal são


importantes indicadores do nível de vitimização de determinada sociedade.
Entende-se por cifra amarela – casos em que as vítimas sofrem algum tipo
de ilegalidade praticada por servidor público, mas que deixam de denunciar
o fato por temor de represália. Correta!

3.2.2. Influências no Ordenamento Jurídico Brasileiro

• Reforma processual de 1984;

• Institutos despenalizadores;

• Penas alternativas;

• Medidas cautelares diversas da prisão.

Deve-se evitar ao máximo a colocação do indivíduo no cárcere, a fim de que não seja
estigmatizado.

3.2.3. Críticas

Não procurou explicar o motivo da desviação primária.

CRIMINOLOGIA CRÍTICA

O paradigma histórico da criminologia crítica ocorreu na década de 70, com a Escola De


Berkeley (EUA) e a National Deviance Conferences (Inglaterra).

É também chamada de criminologia radical ou nova criminologia.

Possui base Marxista, ou seja, o delito é dependente de um modo de produção capitalista.


O Direito não é uma ciência, mas sim uma ideologia. Assim, determinados atos são considerados
criminosos devido aos interesses das classes dominantes.

Afirma que o Direito Penal serve para alimentar as desigualdades sociais, é uma técnica de
manipulação da sociedade.

CS – CRIMINOLOGIA 2023.1 50

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Para a Criminologia Crítica, as leis penais existem para gerar uma estabilidade temporária,
encobrindo o conforto entre as classes sociais.

Como o tema foi cobrado em concurso?


PC/BA (2022) A teoria crítica radical afasta-se dos estudos clínicos do delito
porque não o compreende como anomalia. Ela se insere no plano das
correntes funcionalistas, onde a sociedade é compreendida como um todo
orgânico articulado que, para funcionar perfeitamente, necessita que os
indivíduos interajam num ambiente de valores e regras comuns. Errada!

PC/SP (2022) A Criminologia Crítica tem, por um de seus postulados, o


abolicionismo: descrença no papel desempenhado pelas instâncias de
controle social formal. Correta!

MPE/GO (2019) Para a teoria crítica, o fundamento imediato do ato desviado


é a ocasião, a experiência ou o desenvolvimento estrutural que fazem
precipitar esse ato não em um sentido determinista, mas no sentido de eleger,
com plena consciência, o caminho da desviação como solução dos
problemas impostos pelo fato de viver em uma sociedade caracterizada por
contradições. Correta!

A seguir iremos analisar três tendências da criminologia crítica: neorrealismo de esquerda,


direito penal mínimo e abolicionismo penal.

3.3.1. Neorrealismo de Esquerda

Surgiu como resposta ao Direito Penal Máximo, em que há uma política de tolerância zero.

Entende que o cárcere deve ocorrer em casos específicos, para crimes mais graves.

Em regra, deve ser evitada a aplicação da pena privativa de liberdade, descriminalizando


certos comportamentos. Para isso, defendem a:

• Redução do controle penal e extensão a outras esferas.

• Reinserção dos delinquentes, no lugar de marginalizar e excluir os autores dos delitos


devem-se buscar alternativas à reclusão para que adquiram uma espécie de
compromisso ético perante a comunidade

• Adoção da ideia da prevenção geral positiva.

• Especial atenção às instituições da comunidade e polícia, traçando uma política criminal


setorial que trata de representar os interesses da localidade, do bairro,
independentemente da classe social.

Como o tema foi cobrado em concurso?


PC/SP (2022): “Direciona-se a atingir a consciência de todos, incutindo a
necessidade de respeito aos valores mais importantes da comunidade e, por
conseguinte, à ordem jurídica.” É correto afirmar que o enunciado refere-se à
prevenção geral positiva ou integradora. Correta!

CS – CRIMINOLOGIA 2023.1 51

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TJ/RO (2019) Dentre as escolas e doutrinas penais apresentadas a seguir, a
que adota como finalidade da pena exclusivamente a prevenção geral
positiva é o Funcionalismo de Gunther Jakobs. Correta!

3.3.2. Direito Penal Mínimo

A aplicação irracional da pena gera mais violência que o próprio crime.

Por isso, o Direito Penal deve ser aplicado aos crimes de racismo, de colarinho branco, ou
seja, crimes que são praticados contra oprimidos. Não há sentido em punir os crimes de massa, a
exemplo dos furtos.

A intervenção deve ser mínima.

3.3.3. Abolicionismo Penal

Como o Direito Penal não cumpre sua função social, apenas produz
marginalização/estigmatização, deve ser abolido do ordenamento penal.

O Abolicionismo surge como reação ao Movimento de Lei e Ordem, defendendo, por seu
turno, postulados contrários ao do último.

Tem como precursor Liou Hulsman que crê que o Direito Penal é seletivo, falido
(especialmente, no que tange à pena privativa de liberdade e deve ser substituído ou abolido). Além
de Hulsman (Holanda), Thomas Mathiesen e Nils Christie (Noruega), bem como Sebastian Scheerer
(Alemanha) são nomes relevantes para o Abolicionismo.

É um movimento relacionado à descriminalização, que é a retirada de determinadas


condutas de leis penais incriminadores e à despenalização, entendida como a extinção de pena
quando da prática de determinadas condutas.

A questão do Abolicionismo é interessante porque serve como alternativa para amenizar o


caos penitenciário em que se encontra o Brasil, por exemplo. Isso porque, segundo seus adeptos,
pode ser aplicado rapidamente e apresenta resultados em curto prazo, de modo que sejam
estabelecidas penas somente aos atos criminosos que atinjam verdadeiramente o indivíduo e a
coletividade.

De acordo com suas premissas, a prisão não é útil, porque despersonaliza e “dessocializa”
o preso; o Sistema Penal, de outro lado, é muito burocrático (não “escuta” com cautela as pessoas
envolvidas nos conflitos, procura reconstruir os fatos de maneira superficial e fictícia.

A consequência disso é a aplicação de medidas também fictícias, irreais; “assim como o


menu não a refeição, o processo não é o fato real”); só se interessa por um acontecimento isolado,
um flash, atribuindo pouca importância ao contexto biopsicológico do agente; ele, ademais,
conforme Nils Christie, “rouba o conflito” das pessoas envolvidas, quer dizer, marginaliza a vítima
de tal forma que se torna impossível qualquer contato entre ela e seu agressor; o Sistema Penal,
por fim, só conta com um tipo de reação: a punitiva. Logo, percebe-se o quanto ele foi concebido
apenas para o mal e violência, como uma espécie de vingança.

Hulsman: “se afasto do meu jardim os obstáculos que impedem o sol e a água de fertilizar a
terra, logo surgirão plantas cuja existência eu sequer suspeitava. Da mesma forma, o

CS – CRIMINOLOGIA 2023.1 52

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
desaparecimento do sistema punitivo estatal abrirá, num convívio mais sadio e mais dinâmico, os
caminhos de uma nova justiça”.

Consoante os abolicionistas, são razões para erradicar o Sistema Penal:

• O Sistema Penal é anômico: as normais penais não cumprem as funções a que se


destinam;

• Irracionalidade à prisão.

• Ele estigmatiza.

• É seletivo;

• Marginaliza a vítima;

• É uma máquina de produzir dor;

Questiona-se: o Direito Penal deve, de fato, ser abolido?

Mathiesen acredita na impossibilidade de abolir o Direito Penal por completo. Segundo o


autor: “temos que admitir talvez a possibilidade de se encarcerar alguns indivíduos”. A pena é,
portanto, uma inegável necessidade em algumas hipóteses.

A meta do Abolicionismo de Hulsman é o desaparecimento do Sistema Penal, porém isso


não significa abolir todas as formas coercitivas de controle social. A sociedade já conta com formas
não-penais de solução de conflitos, como a reparação civil, o perdão, arbitragens e outros.

Críticas: A proposta abolicionista pode conduzir à desestabilização da sociedade e, por


consequência, à instalação de justiça arbitrária e insegura, afinal inexistiriam limites à intervenção
punitiva.

Como o tema foi cobrado em concurso?


PC/AM (2022) O funcionamento da justiça penal é altamente seletivo também
a nível de criminalização primária: o Direito Penal não protege todos os bens
jurídicos de maneira igualitária, nem tutela os interesses de todos os
cidadãos. Correta!

PC/AM (2022) Parte do processo de prisionalização do apenado passa pela


construção de modelos de comportamentos violentos, consolidando o
afastamento dos valores e normas do mundo externo. Correta!

PC/MG (2022) As correntes do neorrealismo de esquerda, da teoria do direito


penal mínimo e do pensamento abolicionista são desdobramentos da
Criminologia crítica. Correta!

DPE/PB (2022) A criminalização primária é exercida por agências políticas


que nunca sabem a quem caberá de fato, individual e concretamente, a
seleção que habilitam. Correta!

CS – CRIMINOLOGIA 2023.1 53

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MOVIMENTOS DA POLÍTICA CRIMINAL

1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Os movimentos da política criminal procuram delinear a forma de reação ao delito. Podem


assumir caráter intervencionista ou não intervencionista.

Os movimentos intervencionistas pugnam pela ampliação do controle estatal formal através


do Direito Penal.

Por outro lado, os movimentos não intervencionistas defendem a diminuição ou eliminação


da intervenção estatal para resolução de conflitos.

2. ABOLICIONISMO

O Abolicionismo preconiza que o mal causado pelo Sistema Penal é muito mais grave do
que o fato criminoso. Atesta pela abolição do Direito Penal.

3. MOVIMENTO DE LEI E ORDEM

Tal movimento preza pela intervenção máxima do Direito Penal.

Funciona como uma “reação ao delito”. Pugna pelo incremento das respostas formais do
Estado.

Tem como base a proposta de drástica intervenção do Estado por meio do Direito Penal
(neorretribucionismo). Acredita que o Direito Penal é o único instrumento capaz de deter o avanço
da criminalidade.

Nos anos 80, com o aumento da inflação e com o enfraquecimento dos ideais socialistas
(Welfare State) desenvolveu-se, primeiramente na Inglaterra e posteriormente com muita força nos
Estados Unidos da América, o Estado Neoliberal de mercado.

Tal modelo era regido pela intervenção mínima junto à sociedade, se desvinculando de seus
papéis costumeiros. Naquele momento, privatizou empresas públicas nos anos 90 e, assim,
repercutiu num intenso e coletivo sentimento de insegurança.

Ante ao contexto, houve aumento da criminalidade urbana, principalmente do tráfico de


drogas e dos crimes contra o patrimônio. Exigindo, portanto, intervenção estatal a fim de controlar
as circunstâncias. Essa intervenção ficou conhecida como “Movimento de Lei e Ordem”. Isto é, o
contexto econômico estimulou sanções máximas do Direito Penal.

Um dos princípios do Movimento de Lei e Ordem separa a sociedade em dois grupos: (i)
Pessoas de Bem (aquelas que merecem a proteção legal) e (ii) Homens Maus/Delinquentes
(aqueles que sofrem toda a rudeza e severidade da Lei Penal).

CS – CRIMINOLOGIA 2023.1 54

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TEORIA DAS JANELAS QUEBRADAS

Em 1981, James Q. Wilson e George Kelling divulgaram artigo intitulado “Janelas


Quebradas: a polícia e a sociedade nos bairros”, onde propagavam a necessidade de punir mesmo
as menores incivilidades de rua, uma vez que essas representavam o ponto de partida para
deterioração e desmoronamento dos bairros.

A metáfora usada era a das “janelas quebradas” porque se uma janela de um edifício for
quebrada e não consertada imediatamente, as demais janelas em pouco tempo também estarão
quebradas assumindo, assim, contornos de descuido, abandono, negligência e descaso, que acaba
por refletir também nas redondezas.

A Teoria das Janelas Quebradas inspirou o surgimento da técnica policial intensiva


conhecida como “Tolerância Zero”, nome que provém da estratégia implantada em Nova York, na
gestão do ex-promotor Rudolph Giuliani, e que depois passou a ser aplicada em diversos lugares
do mundo.

Representou uma intervenção máxima do Estado em que forças policiais ostensivas


objetivavam impedir todo e qualquer ato desviante, seja crime ou até mesmo contravenção (Código
Penal ultraconservador).

Como o tema foi cobrado em concurso?


PC/SP (2022): A teoria sociológica da criminalidade denominada “Tolerância
Zero” defende a ideia de que a repressão à desordem e a pequenos delitos
produzirá, a médio prazo, diminuição dos índices criminais de maior impacto
social, tais como crimes violentos contra a vida e dignidade sexual. Correta!

DPE/SP (2013) “(...) instrumento de legitimação da gestão policial e judiciária


da pobreza que incomoda - a que se vê, a que causa incidentes e desordens
no espaço público, alimentando, por conseguinte, uma difusa sensação de
insegurança, ou simplesmente de incômodo tenaz e de inconveniência -,
propagou-se através do globo a uma velocidade alucinante. E com ela a
retórica militar da “guerra” ao crime e da “reconquista” do espaço público, que
assimila os delinquentes (reais ou imaginários), sem-teto, mendigos e outros
marginais a invasores estrangeiros - o que facilita o amálgama com a
imigração, sempre rendoso eleitoralmente.” (WACQUANT, Loïc. As Prisões
da Miséria.)

CARACTERÍSTICAS DO MOVIMENTO DE LEI E ORDEM

• A pena se justifica como castigo e retribuição.

• Os crimes atrozes devem ser castigados com penas severas e duradouras. Exemplo:
pena de morte (EUA); longa privação de liberdade, prisões perpétuas (EUA).

• Prisão provisória com espectro ampliado.

• Penas privativas de liberdade por crimes violentos – cumpridas em estabelecimentos de


segurança máxima.

CS – CRIMINOLOGIA 2023.1 55

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• Há menor controle judicial na Fase de Execução que é transferido para as autoridades
penitenciárias.

CRÍTICAS

A grande crítica ao Movimento de Lei e Ordem é a expansão irracional do Direito Penal


(hipertrofia de punição), que gera:

• Crise do princípio da legalidade: previsão de tipos penais de conteúdo vago e ilimitado;

• Defeito de técnica legislativa: o legislador deixa de empregar a melhor técnica no


momento de elaborar as figuras típicas;

• Bagatelização do Direito Penal: o uso desmedido do Direito Penal;

• Violação ao princípio da proporcionalidade das penas;

• Descrédito do Direito Penal;

• Inexistência de limites punitivos;

• Abuso de leis penais promocionais e simbólicas;

• Flexibilização das regras de imputação;

• Aumento significativo dos delitos de omissão.

4. GARANTISMO

Na verdade, o moderno Direito Penal deve seguir um modelo garantista, repudiando


extremos, sejam abolicionistas ou autoritários.

O Garantismo estabelece critérios de racionalidade e civilidade à intervenção penal,


deslegitimando normas ou formas de controle social que se sobreponham aos direitos e garantias
individuais.

Desta forma, exerce a função de estabelecer o objeto e os limites do Direito Penal nas
sociedades democráticas, utilizando dos direitos fundamentais, que adquirem status de
intangibilidade.

Alerta-se, entretanto, que o Garantismo não pode compreender apenas a proibição do


excesso. Diante do plexo de direitos e garantias explicitados na Constituição, tem o legislador (e o
juiz) também a obrigação de proteger os bens jurídicos de forma suficiente.

É tão indesejado o excesso quanto a insuficiência da resposta estatal.

Dito de outro modo: a melhor construção do garantismo decorre em seu modelo integral,
que engloba tanto sua face negativa (ante a proibição do excesso) quanto positiva (proibição de
proteção insuficiente).

CS – CRIMINOLOGIA 2023.1 56

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
Como o tema foi cobrado em concurso?
DPE/AM (2021) A partir do pensamento do professor italiano Luigi Ferrajoli é
correto afirmar sobre a chamada teoria do garantismo integral ao preconizar
haver no processo penal uma discrepância na proteção dos direitos
fundamentais individuais em detrimento de direitos e deveres coletivos, não
encontra respaldo em suas próprias lições e seu garantismo penal. Correta!

MPE/SC (2016): Em sua obra “O Novo em Direito e Política”, José Alcebíades


de Oliveira Júnior cita interessante trecho da doutrina de Luigi Ferrajoli: “a
sujeição do juiz à lei já não é de fato, como no velho paradigma juspositivista,
sujeito à letra da lei, qualquer que seja o seu significado, mas sim sujeição a
lei somente enquanto válida, ou seja, coerente com a Constituição”. A
interpretação da frase em destaque nos remete ao conteúdo do modelo
garantista.

DPE/AP (2018) O desenvolvimento teórico do Garantismo é atribuído


especialmente a Luigi Ferrajoli. A partir de suas ideias, mais que evitar a
prática de crimes, a pena se legitima por coibir reações informais violentas.

5. DIREITO PENAL DO INIMIGO

Com o surgimento de novos delitos decorrentes dos riscos pós-modernos e a expansão do


Direito Penal, bem como aumento das tipificações, acarretou-se a situação em que o Direito tinha
que acompanhar a evolução dos criminosos e adequar-se juridicamente, a fim de proteger a
sociedade. Esse contexto serve de escopo ao Direito Penal do Inimigo.

A teoria do doutrinador alemão Gunter Jakobs, denominada “Direito Penal do Inimigo” vem,
há mais de 20 anos, tomando forma e dissemina-se pelo mundo conquistando adeptos e a atenção
de muitos.

Em síntese, Jakobs defende a prática de um Direito Penal que separa delinquentes e


criminosos em duas categorias: os primeiros continuam a assumir o status de cidadão, uma vez
que, após infringir a lei, têm ainda o direito ao julgamento dentro do ordenamento jurídico
estabelecido e voltem a ajustar-se à sociedade; e os segundos, no entanto, são chamados de
“inimigos do Estado” e assumem posição adversária por serem representantes do mal, cabendo-
lhes tratamento rígido e diferenciado.

CARACTERÍSTICAS

Rogério Sanches Cunha ensina que é possível identificar o Direito Penal do Inimigo em
determinado sistema mediante a adoção das seguintes características:

• Antecipação da punibilidade com a tipificação (inclusive, de atos preparatórios);

• Criação de tipos de mera conduta (bem como, os de perigo abstrato);

• Desproporcionalidade das penas diante da gravidade do fato;

• Restrição de garantias penais e processuais.

CS – CRIMINOLOGIA 2023.1 57

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Outra característica destacada pelo Professor Fernando Abreu 2 diz respeito à
despersonalização do indivíduo para tratá-lo como inimigo, distanciando-se, assim, cada vez mais
da condição de sujeito de direitos.

O Direito Penal do Inimigo, apesar de bem aparado filosoficamente, tem recebido inúmeras
críticas por parte da doutrina, principalmente diante de sua previsão em plena vigência de Estados
Democráticos de Direito e suas respectivas afrontas ao referido sistema.

Como o tema foi cobrado em concurso?


MPE/SC (2021) A desproporcionalidade das sanções e a relativização de
garantias processuais para a aplicação das penas privativas de liberdade,
mediante o discurso que defende penas mais duras e julgamentos mais
rápidos, são reflexos da teoria denominada direito penal do inimigo.

6. TEORIA DOS TESTÍCULOS DESPEDAÇADOS (BREAKING BALLS THEORY)

Abordada pelo Prof. Fernando Abreu3 em sua obra, a Teoria teve sua origem na experiência
policial norte-americana, partindo da premissa de que “os agentes que praticam delitos de menor
gravidade, quando submetidos rigorosamente ao poder punitivo estatal, passam a procurar outros
locais para a prática de crimes para evitar serem alvos do Estado”.

7. TEORIA DO CENÁRIO DA BOMBA-RELÓGIO (TICKING BOMB SCENARIO)

Refere-se à relativização da proibição da tortura, justificando-a em situações extremas.


Neste sentido, o uso da tortura poderia ser justificado para evitar um mal maior, como na situação
da instalação de bombas-relógio em locais desconhecidos, sendo necessário seu uso contra
terrorista para obtenção de informações sobre a localização dos artefatos.

8. PRINCIPAIS SÍNDROMES

Selecionamos neste tópico, de forma resumida, algumas síndromes trazidas pelo Professor
Fernando Abreu, em sua obra sobre direito penal, as quais estão estritamente relacionadas aos
pilares da criminologia, sobretudo em relação à vítima e ao criminoso.

Síndrome da Mulher Potifar

Remonta à história bíblica em que a mulher de Potifar, sentiu-se atraída por José, porém por
ele rejeitada, simulou uma situação de abuso.

Tal teoria pondera quanto à prudência necessária ao se avaliar os depoimentos das vítimas.

2 Abreu. Fernando. Direito Penal para Concursos. 2 em 1/Fernando Abreu – 2. Ed. rev., atual. e ampl. - São Paulo: Editora Juspodivm,
2022. 1264 p.
3

CS – CRIMINOLOGIA 2023.1 58

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Síndrome de Estocolmo

Fenômeno comum em delitos que envolvam privação de liberdade das vítimas de forma
prolongada, o que acaba por aproximar vítima e criminoso. A vítima passa, portanto, a desenvolver
certa afeição ou mesmo sentimento positivos em relação ao criminoso.

Síndrome de Londres

Já na síndrome de Londres, os reféns passam a nutrir sentimentos negativos em relação ao


criminoso, discutindo, discordando, o que pode resultar em consequências fatais.

Síndrome de Oslo

Nesta teoria, a vítima crê que os maus tratos, as ameaças e lesões que sofre são merecidas,
justas. Ela acredita que de alguma forma deu causa ao sofrimento que lhe é causado por outrem.

Infelizmente é muito comum nos casos que envolvem violência doméstica e familiar contra
a mulher.

Síndrome de Alice

Por fim, mencionamos a situação em que, muitas vezes, o indivíduo nega a realidade,
vivendo em verdadeiro “mundo de fantasia”, “de faz-de-conta”, ignorando por completo a existência
de violência, terroristas, organizações criminosas, comprometendo, assim, a preservação da ordem
social e efetiva tutela dos bens jurídicos.

CS – CRIMINOLOGIA 2023.1 59

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PREVENÇÃO DELITIVA

1. CONCEITO

Trata-se do conjunto de ações que visam evitar a ocorrência do crime, proporcionando a


reconstrução da paz e a harmonia social.

Na visão de alguns, prevenção do crime é o ato de convencer o delinquente a não cometer


o delito. Por outro lado, há quem entenda que a prevenção importa inclusive na modificação de
espaços físicos, novas arquiteturas, aumento de iluminação pública, obstáculos e meios
tecnológicos, todos com fim de dificultar e inibir a prática do crime e, até mesmo, sua reincidência.

2. FATORES DA CRIMINALIDADE

FATORES ENDÓGENOS

Fatos biológicos que levam o indivíduo a delinquir, entre eles: depressão, esquizofrenia,
paranóia, psicose, stress.

FATORES EXÓGENOS/SOCIAIS

• Fatores sociofamiliares: menores carentes, violência intrafamiliar, ausência de


planejamento familiar;

• Fatores socioeconômicos: pobreza, desemprego, fome, migração;

• Fatores sócio-ético-pedagógicos: ausência de aprendizagem/ensino, evasão escolar,


falta de formação moral;

• Fatores socioambientais: más companhias, impunidade, crescimento populacional, má


distribuição de renda.

3. FORMAS DE PREVENÇÃO

Para que o Estado de Direito atinja o objetivo (prevenção de atos nocivos) é fundamental a
adoção de medidas que influem indireta e diretamente o delito.

A medida indireta não atinge o crime, mas sua ação resulta positivamente, porque afeta
tanto as causas da criminalidade como o indivíduo através do meio em que vive.

Como medida direta há a prevenção criminal através da legislação e aplicação de medidas


de ordem jurídica que reprimem as infrações penais.

CS – CRIMINOLOGIA 2023.1 60

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É fundamental que nos aprofundamos nos três níveis de prevenção, a fim de que
entendamos o trabalho de profilaxia que cabe ao Estado:

• Prevenção Primária

• Prevenção Secundária

• Prevenção Terciária.

PREVENÇÃO PRIMÁRIA

Têm-se abordagens que buscam prevenir a violência, ou seja, agir antes que ela ocorra.

Exemplo: resolução de carências (casa, trabalho, distribuição de rendas).

PREVENÇÃO SECUNDÁRIA

Trata-se de abordagens centradas nas reações mais imediatas à violência.

Exemplo: cuidados médicos, tratamento de doenças, serviços de emergência.

PREVENÇÃO TERCIÁRIA

São abordagens que focam os cuidados prolongados após a violência.

Exemplo: reabilitação, reintegração, esforços para diminuir o trauma.

Como o tema foi cobrado?


PC-RR (2022) A prevenção terciária tem como foco o preso, visando sua
recuperação por meio de medidas socioeducativas. Correta!

PC/ES (2022) Constitui exemplo de programa de prevenção primária aquele


que busca a melhoria do bem-estar social. Correta!

PC/SP (2022) Destina-se a setores da sociedade que podem vir a padecer


do problema criminal e não ao indivíduo, manifestando-se a curto e médio
prazo de maneira seletiva, ligando-se à ação policial, programas de apoio,
controle da comunicação etc. É correto afirmar que o enunciado refere-se à
prevenção secundária. Correta!

DPE/TO (2022) A polícia militar de determinado estado institui um programa


educacional de prevenção e resistência às drogas, o que ensejou o
atendimento de aproximadamente dois mil estudantes do ensino médio.
Nessa situação hipotética, considerando-se os modelos de prevenção do
delito pelo Estado, trata-se de ação preventiva secundária. Correta!

PC/PB (2022) Políticas de prevenção primária destinam-se a enfrentar as


causas mais profundas da violência de gênero e devem ser direcionadas à
população em geral; tais causas estão relacionadas à desigualdade nas
relações de poder entre homens e mulheres e à manutenção de visões
estereotipadas sobre os papéis sociais. Correta!

CS – CRIMINOLOGIA 2023.1 61

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PC/PB (2022) A prevenção secundária, também conhecida como intervenção
precoce, destina-se a determinados grupos de risco mais propensos a
sofrerem ou praticarem a violência doméstica, usualmente associada aos
serviços de saúde e assistência social. Correta!

PC/PB (2022) A prevenção terciária, também conhecida como resposta, está


relacionada à reação dos sistemas policial e de justiça à comunicação de um
episódio de violência, e se destina a prevenir, a longo prazo, a reiteração da
violência. Correta!

DPE/DF (2022) Ações concretas da polícia judiciária dirigidas à proteção de


vítimas legalmente classificadas como vulneráveis ou pertencentes a grupos
de risco caracterizam a prevenção secundária. Correta!

4. PREVENÇÃO GERAL

A pena se dirige à sociedade como um todo, intimidando pessoas que estejam propensas a
delinquir.

Exemplo: sentença condenatória.

5. PREVENÇÃO ESPECIAL

O delito é instado por fatores endógenos e exógenos. Busca-se a recuperação do


condenado.

Como o tema foi cobrado em concurso?


DPE/SC (2021) Os efeitos deteriorantes do encarceramento relacionam-se à
deslegitimação da função da pena de prevenção especial positiva. Correta!

DPE/SP (2013) A prevenção criminal que está voltada à segurança e


qualidade de vida, atuando na área da educação, emprego, saúde e moradia,
conhecida universalmente como direitos sociais e que manifesta a médio e
longo prazos, é chamada pela Criminologia de prevenção primária.

DPE/AM (2018) A teoria da prevenção geral negativa é utilizada como


discurso legitimador de novas incriminações, a despeito de dificuldades
empíricas de sua comprovação na realidade brasileira.

DPE/SP (2015) A teoria da prevenção especial negativa tem um papel


determinante na doutrina do direito penal do inimigo de Günther Jakobs.

6. PREVENÇÃO AOS DELITOS NO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO

CS – CRIMINOLOGIA 2023.1 62

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De acordo com a Teoria da Reação Social, a ocorrência do crime gera uma reação criminal
em sentido contrário verificada, hodiernamente, em três modelos:

a) Dissuasório (modelo clássico)

Verificado na repressão por meio de punição ao agente criminoso.

b) Ressocializador

Possibilita a reinserção social do infrator.

c) Restaurador (modelo neoclássico)

Denominado “Justiça Restaurativa”, porque busca restabelecer o status quo (inicial)


almejando a reeducação do infrator e assistência às vítimas.

Como o tema foi cobrado em concurso?


DPE/RS (2022) A atuação policial na repressão de atos subculturais, como a
pichação, mostra-se adequada ao movimento de política criminal alternativa.
Errada!

PC/PE (2016) A criminologia reconhece que não basta reprimir o crime, deve-
se atuar de forma imperiosa na prevenção dos fatores criminais. Correta!

Trabalho, saúde, lazer, educação, saneamento básico e iluminação pública, quando


oferecidos à sociedade de maneira satisfatória, são considerados forma de prevenção primária do
delito, capaz de abrandar os fenômenos criminais.

7. PENOLOGIA

Outra maneira de prevenir os delitos no Estado Democrático de Direito é através da


Penologia, parte da Criminologia que faz o conhecimento geral da pena.

Abarca as seguintes teorias:

a) Teoria Absoluta

Pune-se alguém sem fins utilitários. A pena tem objetivo meramente retributivo, retribuir ao
criminoso o mal causado.

b) Teoria Relativa

Pune-se alguém para fins de prevenção geral ou específica/especial.

c) Teoria Mista

Pune-se alguém por retribuição ao mal causado, porém também para a reeducação (Lei de
Execuções Penais).

CS – CRIMINOLOGIA 2023.1 63

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Como o tema foi cobrado em concurso?
PC/PB (2022) O recrudescimento penal como resposta a um clamor por
justiça resulta na edição de leis penais simbólicas que são editadas para
reduzir tensões sociais, mas que, à falta de respaldo da ciência criminal, não
garantem uma efetiva prevenção do crime.

CS – CRIMINOLOGIA 2023.1 64

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SISTEMA PENAL E REPRODUÇÃO DA REALIDADE SOCIAL

1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

É um tema tratado por Baratta em sua obra “Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal”,
aborda o sistema escolar e o sistema penal.

2. SISTEMA ESCOLAR

Inicialmente, destaca-se que a escola faz parte do controle social informal.

É o primeiro segmento de seleção e marginalização da sociedade.

Juntamente com o sistema penal, reproduz as relações sociais existentes, tendo em vista a
dicotomia entre ricos e pobres.

Desde a instrução elementar até a formação superior, há a seleção, a discriminação e


marginalização. Refletindo sobre a estrutura vertical da sociedade.

Por exemplo, uma criança pobre que começa sua vida escolar encontra, muitas vezes, uma
realidade estranha a sua, tendo necessidade de adaptar-se. A escola deveria acolher, mas acaba
excluindo.

Baratta critica, fortemente, a meritocracia escolar, bem como os testes de inteligência.

Além disso, afirma que a escola é uma ação estigmatizante.

3. SISTEMA PENAL

É, sem dúvidas, seletivo.

Baratta afirma que o próprio Poder Judiciário, a depender do público que está julgando,
utiliza formas de tratamento diversas, as quais, inclusive, refletem nas decisões proferidas.

Não raro, é fixado em salas de audiência a proibição de usar chinelos ou determinadas


vestimentas, os magistrados não percebem que para as pessoas de baixa renda, provavelmente, é
a única coisa que possuem.

Igualmente, a mídia hoje estigmatiza. Por exemplo, um negro e pobre com 30g de maconha
é traficante; já um branco e de classe média com 100g de cocaína é apenas um usuário.

Por fim, Baratta afirma que os indivíduos de classe social inferior recebem pena privativa de
liberdade, ao passo que os de classe superior recebem penas restritivas de direitos. Há,
nitidamente, uma construção social da classe delinquente.

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CÁRCERE E MARGINALIDADE SOCIAL

1. INSTITUTOS DA DETENÇÃO

A experiência carcerária, de acordo com inúmeros estudos, causa efeitos contrários à


reeducação, à reinserção do condenado.

Os institutos da detenção são efeitos positivos para inserção do criminoso na população


criminosa.

É o mesmo pensamento da teoria do etiquetamento, para quem a cerimônia degradante


acaba gerando a aculturação do preso, uma socialização ao cárcere. Além disso, a prisão funciona
como uma educação para se ser criminoso e, consequentemente, ser um bom preso.

2. RELAÇÃO ENTRE PRESO E SOCIEDADE

Trata-se de uma relação de quem exclui – sociedade – e de quem é excluído – o preso.

De acordo com Baratta, a sociedade erra ao não perceber que o crime é um problema de
todos. Não adianta segregar o criminoso, uma vez que os índices de criminalidade não diminuem.

Defende, ainda, que o problema da criminalidade é a desigualdade de classes, ocasionada


pelo sistema capitalista.

3. TEORIA DOS FINS DA PENA

De acordo com Baratta, a teoria dos fins da pena não revela o verdadeiro fim. A pena existe,
em verdade, para dar amparo aos fins de produção.

Por exemplo, a criminalização das drogas está relacionada ao controle de produção, não há,
na realidade, uma preocupação com os fins nocivos.

Como o tema foi cobrado em concurso?


DPE/CE (2022) De acordo com a economia política da pena, a compreensão
das variações históricas e contemporâneas do sistema penal deve estar
orientada por uma análise estrutural das relações entre tecnologias penais e
transformações econômicas. Correta!

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MODELO CONSENSUAL DE JUSTIÇA CRIMINAL

1. CONCEITO

Trata-se da necessidade de separar a pequena e média criminalidade da chamada grande


criminalidade.

2. PEQUENA E MÉDIA CRIMINALIDADE

É necessário um espaço de consenso/de diálogo.

3. GRANDE CRIMINALIDADE

Formada por um espaço de conflito.

4. JUSTIÇA CRIMINAL CONSENSUAL

É formada por três elementos:

JUSTIÇA REPARATÓRIA

É o que ocorre nos juizados especiais.

JUSTIÇA RESTAURATIVA

A Justiça Restaurativa, enquanto estratégica para dirimir conflitos, é importante na política


de prevenção criminal.

Embora alguns doutrinadores apontem que ainda não há um conceito de Justiça


Restaurativa, compreende-se como um processo colaborativo direcionado para a resolução de
conflitos caracterizados como crimes que envolvem a participação dos infratores e vítimas.

Contrária ao modelo retributivo, que não reabilita o infrator e sim transmita o conflito, a
Justiça Restaurativa tem como objetivo a restauração da relação rompida pela ocasião do conflito
através de procedimento informal, com a colaboração de uma equipe interdisciplinar formada pelos
facilitadores (pessoas capacitadas a promover o encontro da vítima, ofensor, comunidade, família,
escola etc.), entre eles: psicológicos, assistentes sociais, educadores.

Não é o juiz quem realiza a Justiça Restaurativa e sim o mediador que realiza o encontro
entre vítima e ofensor, bem como, eventualmente, as pessoas que os apoiam. Frise-se que o apoio

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ao ofensor não significa enaltecer o crime, porém representa incentivo no plano de reparação de
danos.

Para a aplicação do processo de Justiça Restaurativa, é imprescindível que o infrator admita


a sua culpa.

O sistema alternativo é envolvido pela voluntariedade, onde todos os envolvidos participam.

Confere prioridade ao diálogo, reconciliação e, até mesmo, ao perdão.

Para a criminologia, as medidas despenalizadoras, com o viés de reparar à vítima, condizem


com o modelo integrador de reação ao delito, de modo a inserir os interessados como protagonistas
na solução do conflito.

JUSTIÇA NEGOCIADA

Segundo Rogério Sanches, “na Justiça Negociada, proveniente sobretudo do direito


americano, o agente e o órgão acusador acordam acerca das consequências da prática criminosa,
o que, evidentemente, pressupõe a admissão de culpa. Trata-se do denominado plea bargaining,
que pode consistir na negociação sobre a imputação (charge bargaining), sobre a pena e todas as
consequências do delito, como o perdimento de bens e a reparação de danos (sentence bargaining),
ou sobre ambas. Não se identifica esta liberdade de acusação no sistema jurídico brasileiro, em que
o órgão do Ministério Público tem atuação vinculada ao conjunto probatório proveniente da
investigação, ou seja, a imputação deve ser estritamente relativa ao crime demonstrado. Além disso,
a pena é aplicada por decisão exclusiva do juiz, sem possibilidade de influência direta do órgão
acusador”.

Cita-se, como exemplo, a Lei 12.850/13 que previu institutos de justiça negociada, tais como
a colaboração premiada ou mesmo benefícios em sede de execução penal, como a redução de
pena. Nestes casos, o auxílio prestado pelo infrator para fins de esclarecer o fato delituoso ou,
sobretudo, identificar outros autores ou partícipes, implicará na concessão de benefícios, a serem
negociados com o órgão acusador.

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TEMAS ATUAIS

1. CRIMINOLOGIA CULTURAL

Trata-se, segundo a doutrina, de uma criminologia pós-moderna.

A real experiência no cometimento de um crime tem pouca relação com as teorias de escolha
racional, mas adota a adrenalina, o prazer e o pânico envolvidos em verdadeiras equações para a
conduta delitiva. Assim, introduz qualidades emocionais em sua análise.

A experiência ilícita torna-se gratificante, pois propicia a conquista do objeto de desejo e a


consequente inserção do indivíduo no campo social que almeja.

Destaca-se que a criminologia cultural aborda, principalmente, a relação entre crime e mídia.
Ou seja, a exposição midiática do crime, consagrando a cultura do punitivismo.

Segundo Strehlau, “atualmente, a violência é vendida, assistida, reproduzida e gravada,


sendo consumida como entretenimento.”

Para a criminologia cultural, é importante compreender o motivo de a população estar tão


interessada em violência, a nova cultura que está compondo a criminalidade. Em razão disso,
incorpora diversas orientações teóricas, a exemplo da intervencionista, da crítica, da feminista.

Entende que o comportamento humano é um reflexo das dinâmicas individuais do grupo,


das tramas e traumas e de suas representações culturais.

Seu objetivo é enfatizar qualidades emocionais e interpretativas da criminalidade do desvio.


Ou seja, a forma como a criminalidade é consumida pela sociedade.

Salienta-se que para a criminologia cultural não é necessário explicar o delito e justificar a
aplicação da pena.

Como o tema foi cobrado em concurso?


DPE/RS (2022) A criminologia cultural analisa a pichação como ato de
contracultura e de representação social de populações periféricas,
resgatando e atualizando os estudos sobre o paradigma do etiquetamento
social. Correta!

2. CRIMINOLOGIA FEMINISTA

Inicialmente, é importante compreender a Teoria Feminista, a qual visa descontruir o ideal


de masculinidade que inferiorize e violente as mulheres.

Há uma luta pela igualdade de gênero, a partir dos papéis que eram destinados à mulher:
ser mãe e ser esposa. Além disso, busca dar visibilidade aos episódios de violência que ocorrem
no âmbito da vida privada e familiar da mulher.

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O objetivo principal da criminologia feminista é mostrar o sexismo institucional, em que a
mulher não é apenas diminuída e descriminalizada, mas há inúmeras formas de vitimização da
mulher na elaboração, na aplicação e na execução da lei penal.

Como o tema foi cobrado em concurso?


DPE/PB (2022) As violações de direitos de mulheres encarceradas envolvem
o princípio da igualdade formal com os homens encarcerados, aliado ao
funcionamento das prisões masculinas como norma de punição. Correta!

DPE/RJ (2021) Em linha com o pensamento criminológico feminista brasileiro


contemporâneo, é correto afirmar que o lastro epistemológico para análise do
processo de criminalização de mulheres parte da impossibilidade de uma
etiologia criminal, pois cada caso traz consigo as peculiaridades das histórias
de vida e das experiências das mulheres e, com estas, as razões que
impulsionaram as práticas criminosas, que podem tanto ser relativas à
subsistência da mulher e de sua família ou a situações específicas de
violências das mais diversas ordens. (E. Pimentel). Correta!

DPE/RJ (2021) O reconhecimento de que a categoria “mulher” não é (e não


pode ser) tomada como um sujeito universal na medida em que abre espaço
para assimetrias entre as próprias mulheres que se desdobram em
silenciamento, colonização e assimilação de umas pelas outras, levou à
construção de diferentes perspectivas criminológicas, dentre as quais é
possível identificar a criminologia queer e a criminologia feminista negra.
Correta!

3. CRIMINOLOGIA VERDE

Tim Boekhout Van Solinge, criminologista da Universidade de Utrecht (Holanda): “na


administração de conflitos não é suficiente diferenciar o que é legal do que é ilegal. As leis mudam
com o passar do tempo. É necessário isolar as ações que causam danos, vítimas, ou seja, que
prejudicam tanto o meio ambiente quanto as pessoas. Esse é o campo de estudo da criminologia,
um tema cada vez mais recorrente no mundo”.

A Criminologia Verde estuda a prática de crimes contra o meio ambiente, que normalmente
são atentatórias aos direitos das minorias e dos grupos sociais menos favorecidos.

Como alternativa de combate ao aludido fenômeno criminal, a teoria propõe a criação dos
delitos verdes, que padecem dos mesmos problemas dos crimes de colarinho branco (praticados
pelas classes mais abastadas da sociedade).

4. CRIMINOLOGIA QUEER

EXPRESSÃO QUEER

De um modo geral, significa algo estranho, esquisito, excêntrico ou original.

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Há uma relação direta com o uso de expressões pejorativas, a exemplo de: “veadinho”,
“bicha”, “sapatona”, “traveco”.

TEORIA QUEER

Originou-se nos EUA, na década de 80.

Enfatiza que o gênero não é uma verdade biológica, mas sim um sistema de captura social
de subjetividades. Assim, a verdade biológica não se confunde com gênero.

Analisa como a heterossexualidade manteve-se como uma norma dominante, chamada de


heteronormatividade. Com isso, criou-se o heterossexismo em que há uma dominação da
heterossexualidade sobre a homossexualidade, produzindo violência, discriminação, segregação.

O movimento LGBT tem seus estudos fundados na Teoria Queer.

Como o tema foi cobrado em concurso?


PC/SP (2022): Surgida no final dos anos 80, é baseada em textos de uma
série de pesquisadores e ativistas de movimentos que promoviam discussões
quanto à “identidade de gênero” e “heteronormatividade”. Vem acrescentando
seu discurso a uma possível explicação do posicionamento da sociedade
diante das variações comportamentais, principalmente quanto à “identidade
de gênero” e suas consequências no âmbito criminal. É correto afirmar que o
enunciado se refere à Teoria Queer.

CRÍTICA À IMPOSIÇÃO BINÁRIA

A Teoria Queer critica da divisão entre heterossexualidade e homossexualidade, uma vez


que se cria uma imposição de saber e de poder, pois classifica o diferente (homo) como um ser
anormal, que possui um desvio.

Tal situação, faz com que o controle social, tanto o formal quanto o informal, atue de forma
preconceituosa e estigmatizante.

HOMOFOBIA

É a construção baseada no estigma e na discriminação que envolve a homossexualidade.


São situações de preconceito, violência, discriminação contra as pessoas que não se enquadram
no modelo de heteronormatividade.

De acordo com Saulo de Carvalho, há três níveis fundamentais que configuram a cultura
heteronormativa. Vejamos:

• Violência simbólica (cultura homofóbica) – discurso de discriminação;

• Violência das instituições (homofobia do Estado) – criminalização, patologização da


homossexualidade;

• Violência interpessoal (homofobia individual) – para anular a diversidade os indivíduos


agem com violência (sexual, física, psicológica).

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OBJETIVOS DA TEORIA QUEER

Ressalta-se que se assemelha à Criminologia Feminista, uma vez rechaça a dominação do


homem heterossexual sobre o homossexual.

Visa desconstruir a hierarquia entre heterossexualidade e homossexualidade,


independentemente do gênero, rompendo com os conceitos fixos (dicotomia), bem como
desconstruir o falocentrismo (ideia de superioridade).

RUPTURA COM A CRIMINOLOGIA ORTODOXA

Para Saulo de Carvalho, há três movimentos de ruptura com a criminologia ortodoxa que era
homofóbica. Vejamos:

• Escola de Chicago, Teoria da Associação Diferencial e o Labelling Approach;

• Criminologia feminista;

• Criminologia crítica

DESAFIOS DA CRIMINOLOGIA QUEER

A partir desses três movimentos, torna-se possível se pensar em um modelo de Criminologia


Queer, a qual passa a estudar a violência homofóbica que poderá ser: interpessoal, institucional e
simbólica (discurso homofóbico).

Desconstruir padrões sexistas e misóginos, bem como romper com o ideal de masculinidade
heterossexual, são os desafios da criminologia queer.

Por fim, salienta-se que o maior desafio da criminologia contemporânea é a compreensão


dos fatores que tornam as pessoas vulneráveis aos processos de vitimização e de criminalização,
relacionadas à identidade de gênero e à orientação sexual.

5. RACISMO ESTRUTURAL E SELETIVIDADE NA ESFERA PENAL

Outro ponto sensível atualmente diz respeito ao racismo estrutural e sua repercussão na
persecução penal.

A seletividade racial é uma constância na historiografia dos sistemas punitivos e, em alguns


casos, pode ser ofuscada pela incidência de variáveis autônomas. No entanto, no Brasil, a
população jovem negra, notadamente aquela que vive na periferia dos grandes centros urbanos,
tem sido a vítima preferencial dos assassinatos encobertos pelos “autos de resistência” e do
encarceramento massivo, o que parece indicar que o racismo se infiltra como uma espécie de
metarregra interpretativa da seletividade, situação que permite afirmar o racismo estrutural, não
meramente conjuntural, do sistema punitivo.

Essa seletividade acentuada das agências de criminalização secundárias, que atinge


principalmente os negros e pobres, é capaz de causar efeitos prejudiciais aos selecionados, mesmo

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que indiretamente, como dificultar a observância dos princípios da presunção de inocência e da
ampla defesa, por exemplo. Cumpre lembrar, porque oportuno, que, para a realização do Direito
Penal, é necessário que o Estado observe rigorosamente os direitos e garantias constitucionais.

A seletividade do sistema penal, que é mais acentuada no trabalho das agências de


criminalização secundária, e atinge, na maioria das vezes, os negros e pobres, é uma das tantas
violações de direitos operadas frequentemente pelo sistema. São necessários, portanto, o
aperfeiçoamento do trabalho dos agentes do sistema penal, bem como a observância irrestrita dos
direitos dos suspeitos, presos, acusados ou réus, independente de antecedentes, condição social,
cor da pele etc., a fim da correta realização do Direito Penal.4

Como o tema foi cobrado em concurso?


PC/AM (2022) Segundo a Criminologia Crítica, a realidade carcerária
brasileira traduz as marcas históricas da escravidão e a permanência do
positivismo racista. Correta!

PC/AM (2022) Policiais negros também estão expostos à violência


institucional exercida sobre os corpos policiais, o que denota outra faceta do
racismo estrutural. Correta!

PC/AM (2022) O racismo da seletividade penal se manifesta apenas a nível


de criminalização secundária, por meio das metarregras dos agentes de
segurança e operadores do Direito. Errada!

PC/AM (2022) A fragilidade dos procedimentos de reconhecimento


fotográfico explicita práticas racistas que contaminam a investigação, mas
não é indicativo de racismo estrutural. Errada!

DPE/PB (2022) Com relação ao positivismo criminológico, o pensamento


lombrosiano identifica uma predisposição inata para a prática de crimes, mas
sem negar os fatores exógenos. Correta! e

DPE/RS (2022) A fundada suspeita, prevista no Código de Processo Penal,


historicamente demonstra a existência do perfilamento racial nas abordagens
policiais. Correta!

DPE/SC (2021) O exercício da soberania diante do poder e da capacidade


de ditar quem pode viver e quem deve morrer, com a eliminação dos corpos
negros, tidos como descartáveis pelos agentes de repressão estatal. Correta!

PC/RN (2021) Vários estudos indicam que a população carcerária brasileira


é formada essencialmente por jovens pretos e pardos, com baixa
escolaridade e processados por delitos patrimoniais e relacionados ao tráfico
de drogas. Parte da criminologia analisa essa dinâmica através das noções
de criminalização primária, criminalização secundária e seletividade do
sistema penal, propostas pela criminologia crítica. Correta!

4 http://estadodedireito.com.br/algumas-linhas-sobre-seletividade-do-sistema-penal/

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