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Apresentação
Você já parou para pensar que as aulas de Língua Portuguesa na escola não mudaram muito ao
longo dos anos? Queremos dizer que o ensino do português ainda é sinônimo de ensino de
gramática. Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai conhecer as características do ensino de
língua portuguesa na escola atual, observando o fato de que, em muitos contextos, esse ensino
ainda está vinculado ao ensino normativo da Gramática Tradicional. A partir dessa observação,
falaremos sobre o papel da variação linguística como objeto de estudo da aula de língua
portuguesa.
Temos, então, duas abordagens de ensino de Língua Portuguesa: uma que legitima apenas uma
variedade do Português Brasileiro, a variedade padrão; e outra que valoriza a diversidade intrínseca
à língua, trabalhando com diferentes variedades em aula, inclusive a padrão, e enfatizando que não
há uma variedade melhor do que a outra.
Bons estudos.
A variedade linguística, valorizada pela escola e de maior prestígio na sociedade em que vivemos, é
o dialeto padrão. Isso se dá pelo fato de essa ser a variedade falada por uma minoria da população
que tem maior poder socio-político-econômico. Conhecer essa variedade é importante para que se
possa participar de diversas esferas de letramento dentro de uma sociedade. É importante que a
escola ensine a variedade padrão aos alunos, porém, sem diminuir as variedades trazidas por eles.
Como professor de língua portuguesa em uma escola da zona rural, como você poderia inserir a
norma padrão nas suas aulas sem que os alunos sintam que sua maneira de falar está sendo
desvalorizada ou depreciada?
Infográfico
Neste infográfico, você vai conhecer 7 mitos sobre a língua portuguesa que levam ao preconceito
linguístico. Esses mitos, apresentados pelo linguista Marcos Bagno em seu famoso livro
"Preconceito Linguístico", servem como reflexão a todos os professores de português. É importante
que todos os professores trabalhem na reflexão e desconstrução desses mitos.
Boa leitura!
LINGUÍSTICA
APLICADA AO ENSINO
DO PORTUGUÊS
Juliana Battisti
Bibiana Cardoso
da Silva
B336l Battisti, Juliana.
Linguística aplicada ao ensino do português / Juliana
Battisti, Bibiana Cardoso da Silva. – Porto Alegre : SAGAH,
2017.
157 p. : il. ; 22,5 cm.
ISBN 978-85-9502-062-7
CDU 81’33
Introdução
Você já parou para pensar que as aulas de Língua Portuguesa na escola
não mudaram muito ao longo dos anos? Queremos dizer que o ensino
do português ainda é sinônimo de ensino de gramática. Neste texto,
você vai conhecer as características do ensino de língua portuguesa na
escola atual, observando o fato de que, em muitos contextos, esse ensino
ainda está vinculado ao ensino normativo da Gramática Tradicional. A
partir dessa observação, falaremos sobre o papel da variação linguística
como objeto de estudo da aula de língua portuguesa. Temos, então, duas
abordagens de ensino de Língua Portuguesa: uma que legitima apenas
uma variedade do Português Brasileiro, a variedade padrão; e outra que
valoriza a diversidade intrínseca à língua, trabalhando com diferentes
variedades em aula, inclusive a padrão, e enfatizando que não há uma
variedade melhor do que a outra.
60 Linguística aplicada ao ensino do português
Para saber mais sobre o processo de aprendizagem da leitura e escrita, leia a obra A
construção social da alfabetização (COOK-GUMPERZ, 2008).
Para entendermos como a discussão é antiga, esta é uma questão do ENEM de 1998,
que já trata as variedades como adequadas/inadequadas dependendo do contexto
de uso. Esse tipo de questão é fundamental para acabarmos com o discurso do certo/
errado e pensarmos em termos de adequação.
O ensino de português na escola atual: análise de alguns fenômenos ... 65
Gnerre (1991, p. 6) afirma que “[...] uma variedade linguística ‘vale’ o que
‘valem’ na sociedade os seus falantes, isto é, vale como reflexo do poder e
da autoridade que eles têm nas relações econômicas e sociais.”. Isso justifica
a língua padrão, um sistema ao alcance de uma parte muito reduzida dos
integrantes de uma comunidade, ser considerada a língua de maior prestígio,
pois é falada pela camada da população com maior poder. É também um papel
importante do professor de português mostrar aos alunos as relações de poder
que existem na língua.
Se adotarmos uma posição de que as línguas não mudam e de que qualquer
variação do padrão é erro, estamos dizendo que o português inteiro é um erro
e que deveríamos voltar a falar latim (FIORIN, 1996). Afinal, o português
provém de uma variedade do latim, o chamado latim vulgar, muito diferente
do latim culto. É só lembrarmos disso para nos darmos conta de que as línguas
mudam, sempre mudaram e sempre mudarão. É importante trazer isso para
a aula de Língua Portuguesa, mostrando aos alunos as mudanças que a nossa
língua já teve. A língua se renova incessantemente, portanto, o estudo da
língua deve ser constante e acompanhar suas mudanças e variações.
A língua é heterogênea devido aos aspectos sociais, culturais, econômicos
e geográficos que a compõe. Rodrigues (2002) fala sobre dois tipos de varia-
ção: em função do falante e em função do ouvinte. A variação dialetal, em
função do falante, pode apresentar variantes espaciais (dialetos geográficos
ou diatópicos), variantes de grupos de idade (dialetos etários), variantes
de sexo e variantes de gerações (variantes diacrônicas). Já a variação em
função do ouvinte, Rodrigues (2002) chama de variação de registro e está
66 Linguística aplicada ao ensino do português
Para saber mais sobre variação linguística, leia o capítulo “Mas o que é mesmo variação
linguística?” de Bagno (2007).
n Quais são as variedades usadas por outras pessoas, e por outras camadas
sociais?
n Como é que falam em outras regiões do Brasil, ou em Portugal e Cabo
Verde?
n Qual estilo é usado na escrita? A escrita também varia? De que modo
o estilo usado na escrita difere da língua falada?
n Como é que a gente fala nas diferentes situações sociais?
n Como é que as pessoas indicam pela linguagem que se sentem felizes
ou chateadas ou hostis?
68 Linguística aplicada ao ensino do português
ANTUNES, I. Língua, texto e ensino: outra escola possível. São Paulo: Parábola, 2009.
BAGNO, M. A norma oculta: língua e poder na sociedade brasileira. 2. ed. São Paulo:
Parábola, 2003.
BAGNO, M. Mas o que é mesmo variação linguística? In: BAGNO, M. Nada na língua
é por acaso: por uma pedagogia da variação linguística. São Paulo: Parábola, 2007.
p. 35-57.
BAGNO, M. Preconceito linguístico: o que é, como se faz. São Paulo: Loyola, 1999.
BRASIL. Exame Nacional do Ensino Médio: prova de redação e de linguagens, códigos
e suas tecnologias; prova de matemática e suas tecnologias: 2º dia, caderno 7 azul.
Brasília, DF: INEP, 2016. Disponível em: <http://estaticog1.globo.com/2016/11/09/
CAD_ENEM_2016_DIA_2_07_AZUL.pdf>. Acesso em: 20 fev. 2017.
BRITTO, L. P. L. Contra o consenso: cultura escrita, educação e participação. Campinas:
Mercado de Letras, 2003.
COOK-GUMPERZ, J. A construção da alfabetização. 2. ed. Porto Alegre: Artes Médicas,
2008.
FARACO, C. A. Ensinar x não ensinar gramática: ainda cabe essa questão? Calidoscópio,
São Paulo, v. 4, n. 1, 2006.
FIORIN, J. L. Excertos. In: CONGRESSO INTERNACIONAL DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA
DE LINGÜÍSTICA, 1., 1996, Salvador. Atas... Salvador: ABRALIN, 1996.
GNERRE, M. Linguagem, escrita e poder. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1991.
GUY, G.; ZILLES, A. M. S. O ensino da língua materna: uma perspectiva sociolinguística.
Calidoscópio, São Leopoldo, v. 4, n. 1, p. 39-50, jan./abr. 2006.
RODRIGUES, A. D. Problemas relativos à descrição do português contemporâneo
como língua padrão no Brasil. In: BAGNO, M. (Org.). Linguística da norma. São Paulo:
Loyola, 2002. p. 11-23.
SIMÕES, L. J. Texto e interação na aula de língua materna. In: PEREIRA, N. M. et al. Ler
e escrever: compromisso no ensino médio. Porto Alegre: UFRGS, 2008.
TRAVAGLIA, L. C. Gramática e interação: uma proposta para o ensino da gramática no
1º e 2º grau. São Paulo: Cortez, 2002.
Leituras recomendadas
BRITTO, L. P. L. A sombra do caos: ensino de língua X tradição gramatical. Campinas:
Mercado de Letras/ALB, 1997.
O ensino de português na escola atual: análise de alguns fenômenos ... 70
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Exercícios
1) Qual das alternativas apresenta uma das importantes contribuições das pesquisas em
Linguística Aplicada para o ensino de Língua Portuguesa?
B) Descrever boas práticas de ensino para torná-lo mais próximo à realidade dos alunos.
E) Mostrar a importância de proibir que as crianças usem variedades não formais da língua em
sala de aula.
3) Por que a variação linguística deve ser um objeto de estudo na aula de Língua Portuguesa?
A) Para mostrar aos alunos que a língua é dinâmica e que todas as variedades da Língua
Portuguesa são válidas.
B) Para ensinar aos alunos qual a variedade correta do Português Brasileiro: a língua padrão.
C) Para mostrar aos alunos que eles podem usar qualquer variedade em qualquer situação.
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