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l e ne foy r i e r i

sans
Gayeté
(Montaigne, Des Hvres)

Ex L i b r i s
José M i n d l i n
HISTORICAS, E POLITICASI

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11

1
I *

• *
MEMORIAS
HISTORICAS, E POLITICAS
DA

DEDICADAS

» si. 0) ummom m«rara®ss


IMPERADOR C0NST1TCCI0NAL E DEFENSOR PERPETRO DO BRASiC

cor.

CAVAI.LEIRO DA ORDEM IMPKRf VL DO CRUZKIRO, 0 4 DE CH'USTO, E DA ROSA . SOCIO


ClIRRE-UMINDENTE DO I N S T I T i r T o HlSIOR'CO K GEOGRAFICO IIRA.SII.KiRO , DA SUCIR.
D I D E R L A L DOS ANTIQUARIO* DO N O R I E E XI DINARI ARCA « E DA ACADEMI A HKAL UH
BOTANICA DE RATISRONA , M È M B R O T I T O L A R D\ SQCItOAOE POL Y TECNICA P R A T I -
CA DB PARIS,SOCIO EPPECTIVODASSOCIEDADES PHILOM^TlCO-ClllMTUA, 0% P i l l i , OSO-
FICA , f>\ ItlBLIOTOECA CLASSICA DA LI I O N A PORTI• tZ \ , E DA EH|)I,IOAO DITTE-
R À RI \ V A BAHIA! TENENTE CORONE!, « O N O R A R I » Dfi («. L1NHA HO EX EK01T0 , E CIl£*
l'È DO Ù°. B A T A L ^ Ò DA GUARDA NACIOMAL D P i t A CIOAOE.

TOMO V.

TYP. UO COUP.EIO MrRC VNTIL DE H. L. VELLOSO R C


BUA »*A1.FAHDPGA, 8 ° , Ct

1843.
Seni) or*

%Sé'yiiownc-ea aa /^a/fe'a, pae, ^£à c/e'<tfcnc/a


j&fc ma/Jod étYa/oJ ptte a ew<no.<<fteccm, dejf/eUct
de defi a^.Uineeia c/ed/e /m/ieàce, pttte àauaiMtMCdech
c/e daa ca/t^a/ac c^at c/e QCÓÓCX éilApo^erf-
ta2e> tJm-ptuvf; c/e dem^Ue^ia/a e c/oec èce&ic/àcà^
metee/apue eóctà/ùt* c/e em/nende 4$etdàacctCL <te cn-
caU^t^e (/a/a èc^t, pece cw^iienc/t , eooic/cnanc/c
deuà /(ec/ed À/d&Ucod, c/e m-wci^ JiatzJcctzc/cvicia a
ccmj^ccàa c/a^c/uia ^d/oUaj^eia/c/o c^iadc/?- maà
luèn^e^ c/e tneted fon^cc&new&dyutvcz-ine
a tneda
c/e daJ-et^èjfet*, yaa/i/a ca pce^eta, a a//a condcc/e-

^na€€ e/e -^cniai-me, ^eètn^/vnab pae ed/ad ^//ée-


•me&tad, epeeaeàpae^ &€e/iad o^tad <mcrt</fa<4 c/e èpetà/*
^tneia, ^p$e?n e/ee/àaaixda xS/ttaS</ttp€cd/a 0e/d$a)
dt/ta-me & c/c^'a afeaJ afyiuiadct de cenceMe^ eam
tnedtna med^a-eh^e^ $//etai4&, cz /aittct^'fia/et
/ed ad an/^tt/c/aded#na<cdfUeetrwnett&i d€d/aj/i/f
dtacta/ecct^tatcaa c/a nad/a ^iacì^, c^tfod ded/^
c^lav/c/éttc/a cand-e^nau aa iccon^ec/ct^ da^e?*
c/edm^d^ia/einaed c/e 'tycóótx rMsacjeólaàcj òi\iy
^We</tj^ eu, i^/ett/fat*, de^ICP u4ttca <te-/4

c/e tncad /ia/ae^od tneiece?, pece ^Pc^óa C


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cjcAixdej «JntpeMai 7
ea^t/eìnae aftèG</^ey '/en-^^na de
#ne//Can/cd edcu'/ad, ^iccd pece e demente ca^n /n-
cew/tha /aa ^ladéloda, pece c/piata a c/eda-n^ma
p-ecc, 4pecct/?ne4z/e wo/ae/a a /aed^ce/^caeaed,
coiacoa eco >tw'-de, coma ea t iect^/da aex ^tepae'ne
cticu/a de dead yiio^c/ad ed^&iìxìd*
2/jeod ac^iipece, ^lied/teie, e^èad^a afUccca
<?'fc/a de ~^PCÓÌUX cMs>aqeéU\de> tiiitpetiaf, cama /o
^auetnod wz-eWet*, e èdpiece'ae4?2e^t/e puem de
oia c/e de^j catn a vnae'o^ du^m/fóaa e iedfiec/a

/e/a a macd /ccmeef/e, /cee^ e éeueiett


Circuristancias ponderosas tem feito interromper desde
4837 até hoje a publieaeào dostas Memorias, e por ventura
ainda progrediria tal interrupcào, se do desacoracoamento
e m que me achava, nào viesse tirar-me a assemblèa legisla-
liva provincia!, consigliando eoi auxilio da respectiva i m -
pressào u m quantitativo pecuniario, que, a pesar de peque-
n o , reputei avultado , p o r ser o unico i i t u l o de proteccào
que as mesuias Memorias l e m atèaqui merecido dos agen-
tes dos podercs do estado, c o m quanto m i l i t o me uf'anasse
o apreco coni que honrou-as S. M. o I m p e r a d o r , e o que
ellas tem merecido de assoctaeòes scientificas, e de pessoas
prestanles p o r seu saber, quer dentro , quer fora do i m -
perio.
E m outros tempos reputava-se valioso servico, o faze res~
suscitar a$ noticlas da patria da indigna escuridào em que
jazessem ; mas parece que agora pensa-se p o r diverso mo-
do, e que se t e m comò visionario, o u dominado de idéas ro-
manescas, aquelle que felizmente nào c o m p a r l i n d o do egois-
m o quasi d o m i n a n t e , apenas p r o c u r a prestar-sc c o m o l i -
mitado de suas faculdades intellectuaes, a tornar conhecida
aimporlancia do paiz a que pertence, mediante taes p u b l i -
caedes.
lloconlicco quo està obra riàoc, nem pode ser essencial-
mente classica, à tento à sua especie; mas em quanto outros
dotados de supcrior illustracào, ou mesmo quaesquer desses
que altivos se arvorào em juises do alheio merito litterario,
nào apresentào cousa m e l h o r , sempre algum proveitoco-
Iher-se-a no B r a s i l deescritos s e m c l h a n t e s , c o o r d i n a d o s c o m
nào peqiienas fadigas, n a presenta das pccas oiìiciaes, q u e
Ihes sào r e l a l i v a s .
V e r s a o presente v o l u m e s o b r e os principaes r a m o s geo-
l o g i c o s , c o n t e n d o de envolla variadas noticias bistoricas s

a l g n m a s das qtiacs atè a g o r a existiào ineditas; e c o m q u a n -


to ficasse dcclarado no c o m c c o do 2°., q u e nào u l t r a p a s s a -
r i a de 3 S 2 3 a parte cronografica, c o m t u d o s o u precisado a
inverter essa otdem, p o r deferencia aos q u e d e s d e ja buscào
a v i d a m e n t e ver c o m p i l a d o s os intcrcssantcs a c o n t e c i m e n t o s ,
q u e se seguirao daqvielic a n n o e i a d i a n t e , c u j a n a r r a t i v a ,
b e m corno a parte q u e respeita às outras sccgòes d a e s t a t i s -
liéa, oinda c o m p o r a ò seis volumes, q u e serào p u b l i c a d o s Io-
go q u o me seja possivel o c c o r r e r à m n l l i p l i c e despesa q u e
d e m a n d à o , p o r e n c e r r a r e m , a l g n n s , dilTerenies c a r t a s c o -
rografìcas, e e l e n c o s estatisticos de difìicultoso t r a b a l l i o .
INesses v o l u m e s p ò r è m admittirei q u a l q u e r rcctiflcacào,
q u e a l g u e m liver a b o n d a d c d e c o m m u n i c a r - m e , o u seja a
respetto dos factos j a tratados, o u m e s m o a c e r c a de o u t r o s
quo , importando à futura historia , fossem por acaso oin-
m i l t i d o s , p o r nào acbal-os consignados n o s inuitos papeis
q u e cntào c o n s u l t a i , pois riue n e m desejo offuscar o more-
c i m e n t o i n d i v i d u a i , n e m offender a v e r d a d e nestes c o u v
menlarios, q u e lalvcz e x c i t e m
— E x e m p l o s a futuros escrilores ,
P a r a espertar e n g e n h o s curiosos ,
P a r a p ò r e m as c o u s a s e m m e m o r i a ,
Q u e m e r e c c r e m t e r eterna g l o r i a .
CAAI. Lu$. cani. 7 est. 82.
IIJSTORICAS, E P O L I T I C A S
DA

SECCÀO QUINTA.
BESCOBERTA, E ESTÀBELECIM OTO DAS MINA9,

*» ** ****** * >W *** *** *** *** * ** *** ****** *** *** ****** *

T u d o quanto de Opliir so tem fallado,


F. de riqupSas d'ouro exagerado,
Em grao se cntvnira tao sobejo^
Que pniJè terminar qtfalquer dezcju.
N u o t a làinanbas, tàn èxùberatìtes
Conia* de rnetaesfìnos.e diunianles
t i r i cofres eclìusaraò ohnpeados
])it iTi|ue«a t>$ h'ei'Oes: nem celebratlos
Scnhoies forno ja de Imito preco
Alalo em Perearwó» e na Lydia Oesso.
A /fssti'Hjtréìu cfmt. 6.
* ***** V
*** ************ *** *** *** >Mi,»,M|. ******** ****** ** * *
4
*4*****M**\tl*

D e c o r r e r l o s d e n t a urri annos apòs o d e s c o b r i m e n t o d o


B r a s i l , Sem q u e as incessati tes pesquisas dos p r i t n e i r o s D u -
ropeos a elle chegados podessum c o l l i e r a m e n o r n o i i c i a
sobre a existeticia de o u r o no p a i z , e a q u a n t i d a d e desse
ine tal j q u e pelo i n esulo leuipò liravào os Hcspanhoes das
ininas d o Mexico e Perù, agii lava necessaria l u c u t e a avidez
daquelles, q u e , a t t r a i dos da idèa seduelora de a d q u i r i r e m
C O I I Ì faci li d.i de iguucs r i q u e z a s , nào duvidavào a b a i i d o u a r
seus laies e f a m i l i a , passando para o novo i n u n d o .
Foi p o r e m p o r a l g u m a s peuras preciosas, achadas e m
1572 n o i n t e r i o r das , cutào, capitanias de Porto-seguro c
TOMO V. a
2 MEMOMAS HISTORICAS, E POIITICAS

Espirito-San lo, quo se com eco u a saber nào ser o Brasi! me-
nos favorecido da naturerà, quanto ao reino m i n e r a i , do
que o erào aqucllas partes da America auslral, e posloque
o volvcr dos seculos, c o esquecimento dos antigos nào per-
311 il là o hoje dàr» Se èxactà i\lacào historica dessa descober-
j

t a , é com l u d o certo que em o anno seguinte recebeo o go-


verna tfor goral, Linz de Brito e Almeida, ordem regia para a
invesligacào dos higares, que servino de roatrizes às mesmas
pedras, e que tao importante diiigencia foi com metti da a Se-
tasliào Fernandes T o i r i n h o , o qual, havendo percorrido por
tres mey.es consecutivos u n i extcnso terreno a oeste do lìio-
dòce, l o r n o u a capital da Bahia, d'onde ha via partido, c o m
Urna esmeralda, urna salirà, algumas pedras de cristal, t i -
radas de rochedos pcios quaes passara, e outras de diffeven*-
I c s cores crustradas de Ouro, que ex traila de rochas escar-
padas, que Ihe tinhao moslrado os indigenos.
Parccc c o m l u d o que Sebasliào Fernandes T o i r i n h o . con-
contentando-se com a gloria de ter sido o p r i l l i c i ro que ve-
r i fico u a éxisleneià de ouro no conlinenle ISrasiiico (1) , o u
fatigadò pclbs encommodos quo goffrerà nessa exploracào,
rèeusoli expór-se a nova jomada, pois que foi polo refendo
govemador escoi hi do para continuar em taes descobcrlas
Antonio Dius A d o r n o , que, internando-se da povoaoào de
Caravcllas, onde aportara,e depois de percórrer bastante es-
paco habitado por differentes autochlones, r egresso u, passa-
dos alguns mezes , conG-unando inteiramente a veracidade
das ìnformacòes do seu antecessòr, e trazendo, entro iguacs
amostras da primeira descoberta, diversas porcòcs mctaliicas

(() Pcrtcnce-lhe com effe-ilo essa gloria, porque fointuito posteriormente que
se auhou aquelle metal nas provincia* ile S. Paulo, e ftlinas-geraes. K m i6'»3 o
J>au lista Antonio Rodrigues Arzùo, da villa de TauUaté, reeolhendo-sc a v i l l a ,
ora cidade da Victoria, da liandeira em que andava con Ira os indios, vindo da
aldèa denominada Casa de casca, junlo a margoni a usti al do Rio-duce, apre-
séntou ao capitati mór regente dessa cidade tres dilava» de ouro, que havia des-
«:oberto em suas excureòes, do qual se fizerao dnus pequenos anneis, ou memo-
rias: u n i desses Hie foi dado, furando aquelle eapità\>mòr coin o nutro, que
ainda a pouoos annoi se conservava na camara de 5. Paulo; mas a verdadeira
descoberta de ouro na provincia de Minas-gcroes data de tCujS pelos Paulistas
Carlos Pedroso da Silveira, e Bartolomei! Boèiio Cerqueira, que offerecerào as
primeiras amostras delle'ao govemador do Rio de Janeiro Sebastiao de Castro
Caldas, p o r quei» forao remeltidas para Lisboa,
DA. PROVINCIA DA BAHIA. 3

e m q u o s u p p o n i l a haver o u r o . S e g n n d o sua relacào, -exis-


tiào as minas de esmeraldas a Fèste d o s rochedos de c r i s t a l ,
e as de safiras a osale ('2).
A noticia destes d o s c o b r i m e n t o s , t r a n = m i l t i d a pelo gover-
n a d o r Lui/, de B r i t o e A l m e i d a a D. S< bastia o, q u e entào re-
gia a m o n a r q u i a P o r l u g u e z a , c o m as amostras q u e ficào r e -
feridas, procln/io e m P o r l u g a l o m a i o r c o n t e n t a m e n t o , des-
p e r t a n d o nào p e q u e n a e m i g r a l o para està p r o v i n c i a ; mas
as vicissiludes p o r q u e passou a n i e s m a m o n a r q u i a , c o m a
ilio ossiderà dà expcdlcào d a q u e l l e rei a A f r i c a , fizerào ener-
var o e s p i r i l o de semelhatil.es descobe rtas> q u e t o d a v i a erào
proseguidas p o r alguns p a r t i c u l a r e s , e n t r o os quaes se d i s -
tiuguirào Dibgo M a r t i n s Cào, h o m e m i n t r e p i d o , mais c o -
n h e c i d o nesse t e m p o pela antonomasia de matador de negro,
e Marcos de Azeredo C o o l i n h o , q u e , e m pregando-se p o r
i n n i l o s aniios e m iguacs diligencias , t o r n a n d o a a c h a r os
l u g a f e s das esmeraldas, q u e ja erào d e s c o n h e c i d o s , g r a n -
geo u p o r laes servicos o ser agraejado p e l o r e i Felìppe 4°.
c o m a insignia de cavaileiro da o r d o n i de C h r i s t o , r e c o m -
p> usa ale a h i d e g r a n d e s merce» mentos. e urna lotica de àO^f)
réis no ahuoxarìfado do Brasi!. Descobriràn-se p e l o mesetto
t e m p o minas de c o b r e no d i s t r i c t o do Jacobina, e c o n i q u a n -
t o se assegurasse ao g o v e m a d o r a exlensào e r i q u e z a dedlas,
c o n v e r g i n d o s o m e n l e a o o u r o todas as attenedes dos h o -
u i c i i s dessa epoca, n e n h u n i aprono se d c o a tal descoberta,
c u j o l n g a r ainda agora é i n c e r t o .
T a l era o eslado dos d o s c o b r i m e n t o s mineralogicos pesta
p r o v i n c i a pelos a n n o s d e 1572•$.4578, q u a n d o R o b e r t o lìias,
descendonle da f a m i l i a de Dingo Alvares Cor rèa , apresen-
tou-se e m M a d r i d c o m grandes amostras de p r a t i , q u e d i -
zia haver e x t r a i d o de dinèrentes lugares de J a c o b i n a , e d e
cujas minas asseguiava lirar-so-ia mais q u a n t i d a d e do p r a t a ,
d o q u e de f e r r o se t i r a v a das de Biscàia, ex ig i n d o todavia o

fa) Veja-seo r. voi. destas Mem, png. 72.— A ligacao dos faci os bistoricos,
q u e respèitào a« objecto da seccào que l'urina o presenie volume, obriga-nie a
Iraospòr os limite» qi»e me havia proposto, da tratar unicamente do que fosse
relativo a Balda: assim pois torci algumas vezes de repeiir squillo que ja tem
sido p u b l i c a d o por escritoiTs de eminente merito, quaes Pisarro Memor Hìstpr,
do Rio de Janeiro, Doutor Baltazar da Silva Lisboa Ann. Hìst. e Claudio Mauoel
da Coata, cuja ex celiente Memòria se \è a pag 4o do n, 4 su! sciipcào do Pa*
(nota j o r n a l lilterario publicado ein i8i.3 ua capila! deste imperio, eie. etc.
ti MEMORI AS HTSTOMCAS, E POLTTICAS

titillo rie marquez '/as minas para mos!ral-as: està exigencia


poréui fornecoo ohjecto para a zombarla dos quo nào o su-
punhào digno de semelhanle graca, posto q u e igualmente
constasse pnssuir elle urna rica baixella desse mot il, extra"**
do das mesmas minas, e deo sé-lhe apenas o lugar de ad-
iri ini.strador delias , ao passo q u o leve aquelle t i l u l o o novo
govemador goral rioni cado, D Francisco de Souza, no caso
de verificar-se essa descoberta, para a qual vài ha m u n i d o
de todas as aulorisacòcs. Mas o rescn t i mento de Roberto
Dias preValcceo às considcraeoes da utilidado p u b l i c * , e jà
fico» menci ona do (3) que elle soube conslauiemeute i l l u -
d i l o mesmo govemador, som queaté hojc tennào sido c n -
contradas làes minas,-coni quanto alguns annos depois se
àchasse prata em differehles lugares desta provincia, con-
forme adiante se vera.
D. Francisco de Sóuza vendo assilli frustradas stias espé-
ranras ao titulo promelUdo, passou à capitanìà de S. Vieen-
té a regular os trabalhos das minas de o u r o , q u e Alfonso
Sardinha havia descoberto em Paranagna, beni conio a con-
t i n u a r nas exploracòcs minéralogicas, de que se achava en-
earregado Salvador Correa de Sa , govemador do I l i o de
Janeiro; coni l u d o o u fosse porque os negocios pòliticos de
P o r l u g a l c Hespanha tendessero a afrouxar o seu zelo, o u p o r
outros molivos desconhecidós aciualmente, é sabido porém
que n e n h u m resultalo interessante proveio de tal dilìgeu^
eia, progredihdo apcnas c o m melhor proveito os mesmos
déscobrimentos, depois q u e D. Joào, d u q u e de Biaganca>
foi elcvado ao trono Porluguoz, porquanto scientificado oste
monarca da abundancia do o u r o no Brasi), pelas amostras,
ncompanhadas de exactas informacoes, q u e lhe entregarào
os procuradores das camaras do sul, que o tinliào idò f e l i -
citar p o r sua acclamacào, encarregou a Salvador Correa de
Sa e Benevides,^neto d o procedente , da administracào das
minas do S. Paulo, d a n d o d h e iniportantos atlribiiicÒes no
regimento, q u o p o r tal occasiào lhe expcdto em 7 de j u n h p
de 16-44 (4), e autorisanclo-o igualmente, por dlvarà datadò

(3). Yeja se o i. volum. pag. y$.


(4) E u el-rei fa co saber a vòs Salvador Correa de Sa e lìeuevides, fìdalgo
d i minila casa, general do estHdo do Brasil, que por se me represenrar que nas
capitain-.s de 5. Paulo, e 5. Viceute ha p i t t i t i de ouro, prata, e outros metaes.

*
DA PROVINCIA I U B A H I A .

d o dia s o g n i n l e , a n o m e a r os émpregados q u o j (rigasse n e -


eessarios ao estabeleeinìento das m i n a s , a d i s t r i b u i r sei* h a -
b i t o s do q n a l q u e r das tres o r d e n s m i l i l a r e s , C h r i s t o , San-
t i a g o , e Aviz c o n i a tenga do róis, b e n i c o n i o a d a r a
eincoenta pessoas o f o r o do Kdalgo, c o m a tetìfja deSO^réis*
e a o u t r o s l a n l o s o de m e c o da c a i n a r a , gràcas essas q u e tao

q u e beneficiando-se pnderaò ser eie grande ut: lieta de a m i n i l a reni filze oda e
vassall-s, eucarregueì n lì. Francisco de Souza, que f o i d o meu congelilo, a
averiguacao e benefìci» dell.is, em que nào pòde lazer cousa de consideracào
p u r succeder fallecer em breve t e m p o , e depois o vosso avo Salvador C«rrc\i
de Sa. E p o r q u e pelos ditos respeitos, e o u t r o s d o meu servirò, convém m u l -
t o averiguar-se a cerle/.a dcllas, c o n i i a n d o de vòs p e l a m i n t a e x p e r i c n c i a q u o
tcndus das cousas daquellas purtes, e pelas que conenrrem na vossa pessoa,
verdade c zelo q u e tendes d o meu servino, que servireis nisso a m i n h a sa-
tisfacào; b e i p o r beni de vos e n e a r r e g a r da averiguaeào das ditas minas, d e i -
x a n d o e m vossa p r u d e n c i a o m o d o que Disto deveis ler, e dehgencìas que haveis
de fazèr, p a r a se conseguir o i n t e n t o com mais certeza e b r e v i d a d e . L e m h r a n -
do-vos que nào me b;ivcrei p o r meuos servido de vòs em se a v e r i g u a r , se ha as
ditas minas, e q u e sào de inij>ortancia, (jue em averìguar-sc que as nào ha, c o m
t a n t o q u e p o r descuido, n c g l i g e n c i a , e p o i i c a i n d u s t r i a se nào d e i x e de fazer
l u d o o que convèlli p a r a urna e o u t r a co usa} e para este el'fcito b e l p o r b e n i
que lenliàes a j u r i s d i c c a o s e g u i u t e —
i , Ksfareis em t o d o o locante as ditas minas e d i l i g c n e i a s , q u e sobre ella;»
i i o u v e r d e s de fazer , isento d o g o v e m a d o r geral d a q t i e l l c cstado d o Brasi!, o
q u a l nào podera m a n d a r sobre vòs ce usa alguroa: e p a r a este elTeìto l h e d e r r o g o
p o r està seus podere», para todas as consas e dtiigeneias que o r d e u a r d e s p a r a *
averiguacào e benefìcio das ditas minas. T e r c i s jurisdiccào e alcada sobre lodos
os capitàes da d i t a capitani» de S. P a u l o e b, V i c e u t e , e das fortalezas, camaraa,
j o s t i c a i , e m i i m t r o s dcllas e das minas; sobre todas as pessoas n a t u r a e s , m o r a -
dores e cstantes nella s, as quaes todas para o d i t o effetto seraò obrigadas a cum-
p r i r Vassos mandados corno seu s u p e r i o r : o q n e a vòs assini concedo, c o n i i a n d o
de vòs que usarcis deste poder de mane tra q u e , fazendo-se o que convém , e a
ben» daa ditas diligencias e meu s e r v i c o , nào haja causa? de desavencas. corno
esnero da vossa p r u d e n c i a , e p a r a o q u e Vos f o r necessario das mais capitauias
do d i t o cstado, m a n d o o n f e n a r ao g o v e m a d o r geral d e l l e , e aos mais capitàes «
m i n i s t r o s de justica e fazenda deilas, vos acudao c o m a q u i l l o que lbes periirdes,
e f o r mister para b e m d o e s t a b u l a mento das ditas minas, e boa administracào
dellas. E q u a n d o elles vos nào aeudào, enlào protestare:» c e n t r a elles e me da-
reis conta.
a. P o r q u a n t o as rendas das ditas capìtanias e das mais d o s u l , de mais de es-
t a r e m applìéadas d o pagamento das o r d i u a r i a s e sustento dos presidio*, tenbo de
n o v o m a n d a d o a p p l i c a r os sobejos, coni os mais elfeilos que h o u v e r , aos soccor-
ros de Angola, p o r cuja rasào nào é possivél valer-sc delles para se eomeuir nesta
fabrk-a e eulabolamento das minas; espero de vòs, e de vosso t i o D u u r t e C o r r e a
6 MEMORIAS rnSTOfilCAS, E POLITICA»"

sómente seriao r e p a r t i das pelos q u e dcscobrissem novas m i -


nas, devendo porém os agraciados ser liabilantes dos c a p i *
tanias de S. P a u l o e S. V i c e n t o , os quaes m a n d a r i n o e o n f i r i
m a r taes mercé», p r o v a n d o h a v e r e m servido polo m e n t i s
t r e s annos. E r a c o m c s l i m n l o s desta e s e m c l h a n t e natureza
q u e se incitava a grandes emprezas a t e n d e n d o do genio d o s
Paulistas desse t e m p o , a c u j a intrepide/, t a n t o deve o Brasi!,
c foi c o m aelficaz cooporacào de iacs h o m e n s e m p r e e n d e d o -

Vasquennes, que nislo vos Inule ajudar e succeder nas vossns ausencins, por con-
v i r assilli ao meu servico, supracs com a vossa fazenda, e elie com a sua e cre-
d i t o , as despesas que nislo se iizerein, pagando-se ludo o que assito despender-
des dos rendiineutos das mesraas minas. Além de que teuho entendido, que se
anetterdes logo qnantidade de indios nesta fabrioa, conio em todas lem as ditas
capkanias em que se aehu ouro. havendo nisto boa ordem, se pudenS t i r a r com
que se sustente està genie, e juuiamcntc ajuntar cabedal para se iretn buscando
os mineraes e betas, de que se possa tirar maior quautia para as ditas uiinas se
•entabularem, e se pórem as fdincas em sua peifeicao.
3. Seudo-vos necessario, para averiguacào c beuclicìo das ditas minas, valer-
TOS dos indios que ha ila* dit.is capitànias Q>ne esiào domestkos, dareis conta ao
govemador geral, e seguircis nisto a ordem quo elle vos dcr, a quem mando
«screver proceda nisso conio entender que mais conveni ao meu sei vico, e me-
Ihor, e mais boni elieito dò que su pretende, conio lambem l.»e inondo cucar-
aegar que vos de* 'oda ajuda e favor que e u m p i i r , para inelbor fazer a dìli-
gcucia a que ides.
4> Pcrquc ba uotieiasj pelas avisos que se tivcrao de vosso avò, que, de mais-
das minas de S. Paulo, ha outvas em que ale agora se nào boliò, nem buvia
o u t r o que tivesse notici as della» senào elle; bei por bem que, di-puis de terdea
v.vcriguado a certeza dedas, e achando-se, e sendo de importaneia, manda-
reis p o r esse respeito fazer aos que vCs acompanbarem na empreza as mercés
que merecerem.
5. Hei p o r bem que, para melhor effeìto desto» diligencias, va em vossa
eompanhia u n i letpado, que, em quanto ella» durarem , sirva de o n v i d o r ,
assim para escrever coni vosco por sua mào todas as cousas uecessarias, e
que lhe ordenardes para bem das ditas diligencias, corno para fazer as exe-
cucòes que lhe mandardes nas ditas oapilauias, e se tratarem entre as pes-
soas que andarem «ellas, para o que nomenreis urna pessoa de satisfaeào que
sirva com elle deescrivào, a quem por vìrlude deste regimento passareis car-
ta, e lhe dareis juramento para haver de servir o d i l o officio em quanto d u -
rarem as ditas diligencias,
6. Achando-se as ditas minas, nssim «mas conio outras, on qualquer del-
las, lambem notada a sua bondade e certeza, coni informacòes que para isso
lomareis de pessas.de mais pratica, e experieucia; averiguareis tambem com as
mesmas informacòes o que convém, e é necessario que se faca para a sua admi-
niitracào, avisando-me de ludo o maisparùcular c aimudadauiente, para mandar
DA PROVINCIA DA BAHIA*

r e s , que S a l v a d o r C o r r e a de S a satisfoz c o m p l e t a m e n t e S s
vistas d o m e s m o m o n a r c a , até q u e a o c c u p a c a o d e Angola
pelos H o l l a n d c z e s o obrigou a i r expeliil-os da quella parte.
Mas, e m q u a n t o pelo s u l desta p r o v i n c i a proseggia c o m
a r d o r b espirito dos d e s c o b r i m e n l o s dos lugares aurifera;,
naò ecssavào t a m b e m m u i l o s p a r t i c u l a r e s d e tcnlal-os p o r
o r d e n a r n q u e h o u v e r p o r mais meu servico. F u i q u a n t o nào f o r o r d e m m i -
n i l a em c o n t r a r i o c o r r e r e i * c o m a. administracào das ditas minas, p r o c u r a n d o
coni t o d o o c u i d a d o q n c se nào deseueaminne o q u e pertence a reni fazenda.
7, P a r a q u e se consiglio os elTeilos das ditas minas, l i e i p o r Lem q u e qual»
q u e r pessou q u e esleja condemuada c u i depredo para a l g u m a p a r t e , possa i r
s e r v i r nas d i t a s minas, com declaracào, q u e as laes pessoas degradadas nào seraò»
de galcs, nem dellas se poderaò t i r a r nenlimnas, ainda q u e scja oflìctal, e c o n i
certidào vossa, e de q u e m vos succeder n o vosso d i t o c a r g o , de corno as taes
pessoas serviraò nas d i t a s m i n a s o t e m p o q u e tinhào de degredo lhes ser.i leva-
d o em conta, e llies m a n d a r c i * passar alvar.1 em f o r m a .
8. H e i p o r beni q u e acontecendo m o r r e r d e s vòs, o u o d i t o vosso t i o Duarte*
C o r r e a , cstando s e r v i n d o o d i t o carge podcrà q u i l q u e r d e vos, q u e s e r v i r 110-
m e a r '.em q u a n t o c u nào p r o v e r ) a pcssoa q u e p a r e c e r , i i a n d o de cada u n i d e
vós q u e sera a de q u e l i v e r mais satisfaccio, e s e r v i r até e u m a n d a r p r o v e r ,
para nào p a r a r e m as minas, nem se p e r d e r o q u e j a tìver-se o b r a d o .
y. H e i o u l r o s i m p o r bem q u e vòs, o u vosso t i o D u a r t e C o r r e a , em q u a n t o
vòs o u elle s e r v i r o d i t o cargo, hajào de o r d c u a d o c m Cada u n i a n n o 5 o o $ o o o
rs„ e 3 o o y j o o o rs. de m e n ò o r d i n a r i a para se r c p a r t i r e m pelas pessoas, q u o
a n d a r e m nas fabrìcas das mìiuu, e t u d o sera pago d o r e n d i m e n t o dellas.
- 10. H a v e r a tambem uni p r o v e d o r das ditas m i n a i , q n c lera de ordenado e m
cada uni' anno quatrocentos erusndos, e ura tesoureìro coni tresentos ditos cada;
uni anno de ordenado, q u e ambos seraò pagos de 3 o o $ o o o rs., q u e p e l o c a p i t u -
Ìo antecedente vòs mando dar de mercè o r d i n a r i a cada anno para r e p a r l i r d e s , o u
o vosso tio D u a r t e Correa, pelas pessoas q u e nas ditas minas a i d a r c n i .
n . I l e i p o r bem m i t r o s i m q n c haja nas ditas minas os ofiìciaes segumles;
dous m i n e i r o s de o u r o , q u e haveraò cada anno seìsccntos crusudos de orJena-
do cjda u n i ; u m m i n e i r o de o u r o de betas, com o u t r o s seìsccntos crusados; ma
ensaiador coni seìsccntos ernsados; u m m i n e i r o de esmeraldas com seiscenloa
erusados; dous m i n e i r o s de f e t i ' ) , q u e haveraò ambo* quatrocentos crusados,
1

tudc- do r e n d i m e n t o das ditas minas, com a declaracao de q u e nào venceraó nada


dos ditos ordenados, senào de o u r o de belas e nào de lavagem.
l a . E p o r q u e no alvara, q u e marnici passar em i 5 de agosto de i 6 o 3 , h o n v e
p o r bem, p o r fazer grac,a e mercé aos incus vassallos, e p o r o u t r o s respeitos d o
meu servico, de largar as minas, q u e nas partes do Brasil cstào descobcrlns de
ouro c prata, aos descohridores dellas, para q u e facilmente as podc«eiD benefi-
c i a r e a p r o v e i t a r a sua custa e despe/a, pagando a minba fazenda o q u i n t o só-
m e n t e de t o d o o o u r o e prata, q u e das ditas minas se tirasse, salvo de todo o
«usto, depois dos ditos uielaes sereni fundidos e apurados; desta forma c mudo
3 M E M O R I A S HISTORICAS, 13 P O U T C A S

d i f f e r e n z a pontos de» i n t e r i o r , d ' s t t n g u i n d o sotiissòos j o -


s u i l a s , q u o j;t e m 163 ui buvrao o b l i d o permissào d o «over-
n a d o r . g e r a l Diotp» L u i z d o O l i v c i r a , p a r a irò n i as n i n i s das
esmeiaidas, e e m c u j a empreza forati f r u s t i ados sous t r a b a -
l h o s , r e n o v a n d o a todavia c o n i o mesitio r o s u h a d o doz a u -
nos d e p o i s , e o i v i r t u d e da resolucào regia l o m a d a sobre
c o n s u l l a d o couseiho u l l r a m a i i n o d e 11 d e n o v e i u b r o d e

mm ( 5 ) .
Concorrerào esles e x e m p l o s a fazer desconhecida a ser-

se bavera de guardar no descobrimento, repartioào e ludo o mais locante as


ditas minas, e liei p o r b e m q u e o disposto n o d i t o alvarn. e declarado n e l l e ,
se c u m p r a i n l e i r - i m e n t e e « m o nelle se contém, o q u a l se vos darà cero està r e -
formndo e assinado p o r mim,
x'S.E para q u e os d i t o * meus vasiallns, e p r i n c i p a l m e n t e os moradores das
ditas capitanias, descohridores das miu-.s, e mais pessoas. q n e nellas i r a b j l l i a -
rem, fìqueni a i n d a coni maìoies a v a i u o s , e ulìlicl.idifs: b e i p o r beni q u e n o I n g a r
que mais a c c o m m o d i i d o v o s p a r e c e r , faeaes casa de moeda, em q u e »s pessoas,
<jue r i v c r e i n o u r o e qiii/.eicni ( t i n d i r e m moed* o po»sao fazer; as quaes moedas
seraò d a mestila maneira q u e neste r e l n o se fazem <ìe .H^àoo o d e 3 $ 7 5 o , e na
fithrica das ditas moedas e arreondaoào dos avancos, q u e reSUÌtarCm a m i n b a r e a l
fazenda e boa administracào eie t n d o , se proceder;! na f o r m a d-is ordens q u e l e -
>iho dado na casa da inocchi de*'a c i d a d e , q u e com os c u n l i o s das diias moedas
.>evos hàode entregar; e o q u e p r o c e d e r desse c u n b o para a m ìo ha fasenda, corno
fieri r e f e n d o , se bade eairegcir e m ìivro separado e coni distinguo d e o u t r o r e n -
d i m e n t o das mìnas.
14. Està iiistrnccào d e r e d i m e n t o , pela maneira q u e nelle se c o n i e m , cumprì-
r e i s : e mando ao g o v e m a d o r ge*al do d i t o cstado d o B r u s i i , e a todos os d i t o s
capitàes, justicas, m i n i s t r o * , e ofliciaes das ditas cai i t a n i a s , a q u e m u e r i e n c e r ,
assim o cumprào e facào c u u t p n r sein "ciuvida n e m embargo a l u n n i , e sem em-
h a r g o dos seus regimentos, e de quaesquer 0111 ras provisòes e ìmtrui'<;òes, q n c e m
c o n t r a r i o h.-tjdo, p o r q u e a s c i l i o b r i p o r meu s e r v i c o , e este al vara corno cai (a,
ftao passara pela cliancellaria, sem embargo da O r d . d o l i v r o J , t i r u l o 3u e 4 0 ,
que dispoe o c o n t r a r i o , e se r c g str.ira no» l i v r o s das carnata» das ditas capitanias
e dos feitores e almoxarifes dellas, para a lodas ser n o t o r i o . Postura 1 de A z e v e d o
o fc/ em Lisboa a 7 de j u n l i o d e 1 f>44, e eu o s e c r e t a n o A f f o n s o de I t a r r o s Ca-
j n i n l i a ofize s c r e v e r — R e i — O m a i q u e z d e MomaTvào.
(à) S e n b o r . — F o i V . M. s c r v i d o mandar r e m et ter a este conselho u m memo-
r i a l , para q u e se visse e se consulta se logo e l o g o , no q u a l se d i z a V. M, q u e
«avia mais d e t r i n t a amios q u e um A n t o n i o de Azerédo deseobrio n o sertào d a
capitania d o Espirito-santo urna grande serra das esmeraldas, e l a m b e m alguns
diamante*, que forào trazidos a està c o r t e , e reconbecidos pelos làpidarios p o r
v c r d a d e i i o s , e só Ibes athavào o defeito d e sereni a l g u m t a n t o escuros e r e q t i e i -
n»ados p o r cslarem a f i o r da t e r r a , e assegurando q u e os mais i n t e r i o r e s d a
t e r r a , «ue e m à o se nào lirartàu p o r nào h a y e r e m i n s t r u m e n l o s . setìao p e i l e i -
DA PROVIPJCIÀ DA BAHIA 9

r a das esmeraldas ató 1 6 7 4 , t e m p o e m q u o f o i o u t r a veas


acbada p o r F c r n a m Dias Paes , q u a n d o d i s c o r d a pelos
sertòcs d o Rio-dóce, e e m v i r l n d e da n o t i c i a , q u e a rospo i -
t o déra e m Lisboa J a c o m e Bezerra, n a t u r a i d o R i o de J a -
n e i r o , ordenou-se ao g o v e m a d o r g e r a l A l f o n s o F u r t a d o do
Meri donna Castro d o I l i o e Menezes, visconti© de lìarhaeena,
e m c a r t a regia data da eie 4.3 de n o v e m b r o d o m e s m o anno,
fizesse e x a m i n a r p o r pessoas pratieas o i u g a r da ex iste ne ia
désuas m i n a s , dilìgencìa està q u e f o i enearregada a José
Gonralves de O l i v e i r a , a q u e m ditas provisòes, ambas data*
das de 5 de d e z e m b r o d o a n n o s e g u i t i l e , doler m i n a vào se

tissìmas. Que s;1o certas estas noticias da serra das esmeraldas, pois que no an-
n o de i 6 3 i p e d i r a o os padres da compatitila ao g o v e m a d o r D i o g o Lui?, de G i i -
r e i r a , q u e era n o m e de V. M. Ines desse m licenca paia a sua c u j u ìveca desco-
b r i r a d i t a s e r r a , cntentk-iido q u e c o m o q u e d a q u e i l a ve* tirasseny., fìcariào
tlesenvidados de mais de celilo e cìneoenta m i l crnsadus, em q u e na q u e l l e tem-
po estava empimliada a ppòlinciai Forao c o n i effeito os padres e nào aeharao
a s e n a , pi>r falla de guia q n c Ihcs adoeceo no c a m i n l i o , o u p u r q n e Deoa l i n l i a
gUM'dado osta mina para o t e m p o de V. M., conio outras m u i i a s n q u e t a s , q u e
nas seiras d a q u e l l e scrlào é c e r t o esiao escondidas, e p o r tiegligencìa dos l'or-
tuguezesfle nào logràp. Se V. M. f o r s e r v i d o resolver-està descobrimento. nin-
gut-m o potici ìa K.zer com mais f a c i l i d a d e e c o n v c n i c n c i a , q u e os ditos padres
da cooipanhia > assìni p o r q u e se bade fazer està jorn.ula c o m os i u d i o s das
m a s aldù.is, q u e llies sào m u i obedientes, conio p o r q u e as nacòes dos bar-
i l a i o * , q n e vìvem pelo seriào, tem grande concéitQ e confìanca dclles, d e i x a n -
do-os passar de pa* p o r q u a l q t i e r parli?, o quo uào coiisen'em a onlrem, c
indo-se de potrà maneira seria fazer noia c o n q u i s t a : o q u e nào se impede c o m
isto mandai- V. M. pessoa o u pessoas q u o f o r s e r v i d o . Fara brevid.ide da execu-
•cào, deve-se m a n d a r a~ ordens nestes nn#ics, q u e estào para p a i t i r , ao gover-
n a d o r <lo I l i o de J a n e i r o , e ao p r o v i n c i a l ou l e t t o r daqueìle collegio, para que se
possào p r e v e n i r as cousàs necessorias, pel.» d e p c i u l e n e i u q u e l e m a j o m a d a , as-
silli das mon^oes da costa, corno das euchenles d o R i o •duce', pelo q u a l se ( a i a
roaior p a i i e d o camintìo, e q u i nào se m a n d a n d o as o r d e m paia se execntareml
ale j t i u h o pi'oximo, se bade esperar para d a l l i a u m anno. E q u e os «nstns«
c o m q u e da o u t i a se Jez està j o r n a d a , nào ebegào a dous m i l cru/.ados. K quan-
d o V . i t i . os nào q u e i r a gaatar da sua fazenda, uào f a l l a r l o vassallos u n R i o de
J a n e i r o q n e o facao, c o n i promessa de q u e V. M. farà p a r l i e u l r conside-
racào a e6te servico em seus despacli«>s. Para este conselho com mais justiea po-
d e r f o r m a r juìzo sobre a materia de q u e I r a t a o papel r e f e n d o , o r d e n o u ao ge-
n e r a l da f r o t a Salvador C o r r e a de Sa informasse c o m o scu parerei-, pela m u i t a
experìencia q u e tem daqucllas partes, e satisfei dicendo — que o quo sal;c das
ditas minas é que ttido quauio n o d i t o m e m o r i a l se relata f o i assim, accres-
ci orando q u e o p a d r e Ignacìo de Sequeira , religioso da c o m p a n l i i a , q u e f o i a
està mi'' i c l b e deo relacào p e l o iniùdo della», e q u e e n t r e as mais cousas,
T O M O V. 3
IO "MEMORIAS I I I S T O R I C A S , E P O L I T I C A S

prestasse q u a n t o fosse necessario a realisar s e m c l b a n t e inves-


tigatilo, sendo t a m b e m a u l o r i s a d o a d i s t r i b u i r pelos q u e o
a c o m p a n h a s s c m , e acltassem m i n a s d e esmeraldas, que as-
s e g u r a s s e m v a n t a g e m , u m b abito d a o r d e m d e C h r i s t o ,
tlous d a d e Aviz, e tres d a d e S a n t i a g o , c o m 20£S)000 a
/r0^fi)000 rs. de tenca etl'ectiva no r e n d i m e n t o das m e s m a s
m i n a s , seis foros de cavalleiro fìdalgo, e outros tantos d e
mooo da c a m a r a , p o d e n d o i g u a l i n e n t e n o m e a r os cabos d e
que precisasse, s e m que p o r é m se apai tasse da descoberta,
a n l c s d e entrcgal-a a pessoa capaz, e d a approvaeào d o g o ^
q u e l h e disse, f o i o haver aehado os rastos rio n m i t o g o n f i o , e q u e os q u e
lào coni e l l e , com r e c e i o , Ibe requercrào se tornasse, corno fez, riavendo po-
rcili cavado c u i um c u t e i r o , o n d e achara algumas pedras ; i f i o r da t e r r a , e
n o c e n t r o nào se a c l i o u nada. E q u e lhe parece q u e q u e r e n d o os padres da
companhia, em p a r t i c u l a r o d i t o p a d r e , levando em sua c o m p a n h i u o p a d r e
Francisco de Moraes, grande serlanéjo, com u m iìllio de A n t o n i o de A z e r
d o dos q u e Calao no R i o de J a n e i r o , q u e tem n o t i c i a deste d e s c o b r i m e n t o ,
o u pessoa de sua ohrigacào q u e a q u u e r e m fazer a sua entità, se Ihes deve d a r o
gcniìo dasaldèas, q u e bouver mister, e jurisdiecào para leva r e m ciùcoenta homens
branco»; e que descobrindo-se a serra, se Ibes farà a mercé q n c V.M. for s e r v i d o ,
p o n d o p o r c o n s i d e r a l o , quo nào liraraò gentios sem ordem dos p a d r e s , p a r a
t-omsigo levarem, e q u e em l u d o , q u e se offerecer na j o r u a d a , tomaraòseu pare-
ccr, e em p a r t i c u l a r nào p o 'eraò d a r g u e r r a ao g e u t i o , salvo se f o r cui sua defe-
sa, o q u e c o n s t a r a p o r certidào dos padres; e q u e ìsto o q u e l h e parece, é q u e a
fazenda de V.M. naò està e m cstado de fazer despe>as, mas q n e sem ellas se po-
de fazer o descobrimento, e naò arrisca V. M. nada, e pode succeder q u e seja
de augmento p a r a este r e i n o , e depois de c o n h e c i d o se p o d e r a metter cabedal.
E q u e de mais disio a seu cargo, delle* Salvador Correa, està m a n d a r fazer d i l i -
gencia sobre loda a n o t i c i a q u e t i v e r das m i n a s em l o d a a rcparticào q u e t i v e r
a o sul, corno V. M. l h e t e m encarregado, e d e t e r m i n a v a fazel-o nas r e f e r i d a s ,
p e l o m o d o q u e se aponta. P a r e c e a este consellio queesle negocio se deve r e c o m -
mcndar a Salvador C o r r e a de Sa, p o r l h e estarem c o m m e t t i d o s p e l o r e g t m c n t o das
m i n a s todos os descoi r i m e n t o s das q u e h o u v e r e m naquellas partes para q u e os
disponila na forma q „ a p o n t a , l e v a n d o comsigo os padres d a c o m p a n h i a e mais
e

pessoas q u e aponta, escrevendo se [ u n t a m e n t e ao g o v e r n a r d o R i o de Janei-


ro, q u e dé toda ajuda e f a v o r q u e f o r necessario p a r a este e f f e i t o , p o r ser rifiuto
d o servico de V. M., e q u e lodos os mais q u e n e l l e i n t e r v i e n i Ihes l e r a V . IVI.
e m s e r v i c o , para Ihes fazer a mercé na occasiào d o seu m c l b o r a m e n t o . Lisboa
n d e n o v e m b r o de 1 G 4 4 — O m a r q u e z J o r g e de Oastilbo.-Joào Delgado F i -
g u e i r a . - Despacho da co»Wf«.-Esta b e m , e tenha o conselbo u l t r a m a r i n o o>
cuuìado de a p p l i c a r este descobrimento. Commetta-se està d i i i g e n c i a ao gover-
l i a d o r do R i o de J a n e i r o , para q u e o faca com t o d o o c u i d a d o c o m os padres da
c o m p a n h i a , na f o r m a q u e pareee. L i s b o a 10 de n o v e m b r o de lòV^.-Rei.
DA PROVINCIA DA BAHIA. li

Vcrnador. e devendo regular-se pelo regimcnlo, e mais leis


que oxistiào sobre outras minas.
Todavia, corno se urna especie de falalidade frustrasse con-
tinuamente as mei li or e s providencias rclalivas a tal averi-
guacào, quando l u d o se preparava para levar a elìcilo a ex-
pedicào ordenada, obstou a isso Francisco G i i de A r a u j o ,
donatario da capitania d o Espirito-santo, declarando e m uf-
ficio de 3 de j u l h o de 1676, dirigido ao govemador g e r a l ,
tencionar fazcl-a as suas expeusas, e m consequencìa d o q u e
oxigia lhe fosse trnnsferido o alvarà da mercè Goncedido a
José Goncalvcs, passando-se igualmente a patente de ca-
p i tao-m ór da mesma expedieào ao sargento-mòr Joào P i -
rcs, e m falla deste a Joào de Fina Tavares, e, na de anibos,
a seu c u n b a d o o capitào Braz Tcixeira, exigencia està q u e
foi altendida por despacho de 8 daquellc mez, e e m c u j o
precedimeìilo conlradictorio fora o dito g o v e m a d o r d i r i g i -
do pela carta regia de 5 de dezembro d o anno antcrior, as-
sim eoncebida —
» Visconde de Barbacena &c. Pelas provisocse ordens, q u o
man dei passar a José Goncalvcs de Oliveira, capitào-mór d a
capitania do Espirito-santo, q u e p o r vossa o r d e m vai a sua
custa ao descobrimento da serra das esmeraldas da dita ca-
pitania. cntondereis as mercès q u e fui servido fazer aos q u e
o hào de 3 c o m p a n l i a r nesta j o r i i ida , e désco bri rem minas
de esmeraldas, s?ndo o minerai fìxo, e de sorte q u e r e d i n i -
de em beneficio desia coiòa: e por se receber urna carta d e
Francisco Gii de A r a u j o , donatario da dita capitania, es-
tando ja passadas as ditas ordens ao refendo Jose Goncal-
vcs de Oliveira, e m q u e se ófferece a mandar fazer aquelle
n i esilio descobrimento a sua c o s t a , queixando-se d o d i t o
José Goncalves lhe naò fazer saber a jornada da quel le des-
c o b r i m e n t o ; me pareceo ordenar-vos q u e , c ha mando a
Francisco G i i de Araujo, ajusteis c o n i elle o negocio d o des-
c o b r i m e n t o das ditas minas, e quando elle o queira man-
dar fazer, na con fornii dado das ordens q u e eslào passadas
è José Goncalvcs de Oliveira, teraò effeito nas pessoas q n e
Francisco G i i de Araujo mandar a este descobrimento, f a -
zendo-se à sua cusla , e praticando-se c o n i elle as niesmas
mercés, que eslào concedidas pelas ordens referidas , c o m
obrigaoào q u e mandarà fazer a dita jornada no mezde a b r i l
do anno q u o vero,, corno Jose Goncalvcs aponta, por se nào
5*
42 MEMORIAS HlSTORlCVS, E POLVTICAS

p e r d e r occasjào o p p o r t u n a para isso, e os mais aprestos q u e


apresentou ter p r c v e n i d o para e n t r a r n o dito me/, de a b r i l j
e nào se a c e o m m o d a n d o o m e s m o F r a n c i s c o G i i n a s mercès
q u e lenito c o n c e d i d o , e na b r e v i d a d e d o t e m p o , terao e n -
tào effeito as q u e eslào passadas a José Goncalvcs, e l h e da-
reis as mais ordens q u e f o r c a i ncccssarìas, ordenando-lhe,
q u e va fazer a dita v i a g e m . e q u e o possào a c o m p a n h a r
a q u c l l a s pessoas q u e o q n i z e r e m fazer. K m L i s b o a a 5 d e
d e z e m b r o d e 3675.—Principe. — »
INào passou p o r c i l i de m e r o projecto està j o r n a d a , e pos-
to q u e os acontecimentos p a s s a d o s , e o a p p a r a c i m e n t o d e
n o v a s m i n a s de metaes preciosos,fizcs seni de urna vez abati-
d o n a r a descoberta das esmeraldas, c o m t u d o aiuda e m 1 6 8 3
o b l e v c G a r c i a K o d r i g u c s a patente d e capitào-mór dessa
exploraoào, e m beneficio d a q u a l foi a u t o r i s a d o o g o v e m a -
d o r a couferìr-lhc todos os auxiUos ( 6 j , seni q u e t a m b e m d e
t u d o isto resultasse proveilo a l g u m ,
Descobrirào-se pelo m e s m o t e m p o m i n a s de p r a t a na ser-
r a d a Itabaiuna, e corno entào existia e m L i s b o a u m H e s -
p a n i m i , D. R o d r i g o d e C a s t e l l o - b r a n c o , q u e alardeava d e
p o s s u i r grandes c o n h e c i m e n t o s m e t u l l u r g i c o s a d q u i r i d o s
n o Perù, soube elle d e lai sorte introduzir-se no a n i m o d o
regentc (7) d o reino, q u e obteve ser encarregado d o c n l a -
b o l a m e n l o dessas minas, r e v e s t i d o d o s consideraveis p o d e -
res(6)d»cAntonio
c l a r a d de
o s Senza
no seguili te rgtc.
de Menezcs e g ' Por
u n e parte
n l o — de Garcia Rodrigucs Pacs,
que acompanhou a seu pai Feniani Dias Paes, no descobrimento das minas de
esmeraldas, de que trouxe a este reino as amostras , e nellas sofìzei-doexa-
Biè»; se me requer para i r continuar com elle, profundando mais a terra, p o r
se entender que só assim se virào a aohar mais perfeitas, e com differente bon-
dade, em rasao das que trouxe sereni da superlicie: e para que de urna vez
tome-se o desengano deste descobrimento a tantos annos pretendido, fazendo-
se està ultima expeiicncia, e se consiga està diligcncia, f u i servido fazcr-lbe
merce' de capitào-mòr desta entrada, e administrador das minas de esmeraldas,
que descobrir, de que lhe mandei passar patente e provisào, e vos recom-
mendo que, se elle recorrer a vòs para alguma cousa, que f o r necessaria a
este descobrimento, Ina presteis de boa mente, Lisboafl3de dezembro de i683.
(;) D. Pedro, q u entrou a governar em 3 de novembro de M , p o r
c 2 7

incapacidade de U. Affonso 6 a quem succedeo corno r e i , e «guado da-


qnelle nome, em 13 de setembro de 16$% A provisào de *8 de juuho
de i 6 3 deternmiuu que a D. Rodrigo de Castello-branco se dé>se aunualmeu-
7
DA PROVINCIA DA B A n i A . 3S

» E u o p r i n c i p e , corno regehte e g o v e m a d o r dos reinos d e


P o r t u g a l e dos Algarves &c. Paco saber a vós D. R o d r i g o de
C a s t e l l o - b r a n c o , fidalgo d a m i n ha casa, q u e o r a e n v i o a o
e n t a b o l a m e n l o das minas de p r a t a d e llabaiàna, d o cstado d o
lìrasil, q u e e u b e i p o r b e n i q u e n o e n t a b o l a m e n t o dellas
guardeis o r e g i m e n t o seguinte, p o r c o n v i r assito ao m e u ser-
Vico, e a u g m e n t o destes reinos e dos m e u s vassallos. P a r -
t i r e i s desta c i d a d c d e L i s b o a e m d i r e i t u r a à Bahia de todos
os santos, o n d e entregareis as o r d e n s q u e Ievaes m i n h a s ao
g o v e m a d o r geral d o estado Alfonso F u r t a d o d e M e n d o n c a ,
e, e m sua ausencia, a q u e m seu cargo t i v e r ; e depois d e l h e
apresenlardes este r e g i m e n t o , e c o r n i m m i c a r d e s c o m elle o
negocio a q u o ides, vos despachara c o m l o d a a b r e v i d a d e ,
d a q u i l i o q u e necessitardes, d e q u o lhe fago aviso. P a r t i r e i s
c o m as pessoas q u e levaes e m vossa c o m p a n h i a , e q u e sào as
q u e trouxerào as amostras das ditas minas e o u t r a s , e i n d o
ao sertno dellas las vos m o s t r a r a o , e e m seu benefìcio segui-
reis a q n e l l c c s t i l o , p r a t i c a , e intelligencia q u e tendes deste
i p i n i s t e r i o , p o r ser elle d e q u a l i d a d e , q u e tereis e n t e n d i -
d o c o n v i r q u e sem dilacào se p o n h a e m effeito. l i e i p o r
b e m q u e n o e n t a b o l a m e n l o deslas m i n a s , e d i l i g e n c i a s ,
q u e sobre ellas haveis d e fazer e m sua administracào, vos
darà o g o v e m a d o r g e r a l A l f o n s o F u r l a d o o p o d e r e j u r i s -
dicQÌto, q u e p a r a este b e n e f i c i o p r e t e n d e r d e s e f o r m i s t e r ;
c n o t o c a n l e ascousas e diligencias q u e ordenardes, para o
ensaio e averiguacào destas minas, g u a r d a r l o vossas ordens

le a qtianiia de r:3oo$ reis, pelo rendimento das baléas, e por està occasiào rc-
cebeo o govemador està catta regia. Alfonso Furtado de Mendonca etc. Eni
rasào di> successo que pjdera ter a averiguacào das minas de prala de Itabaià-
rià, e convir ao meu servico prevenir ludo o de que se póde ter cuidado na
preveucao de alguma invasào do inimigo coni tal noticia ; me pareceo ordenar-
vos, que des^e logo mandeis pessoa intelligente na materia de f o r t i f i c a r l o , e-
faea tuda a diligcncìa possivel nos portos de mar dessa costa , das barras, e pon.-
tos de desembarque, suas sondas, e surgidouros, facendo de tudo màpas , que
seraò remeltidos, para se baver de tratar da sua ioriificacao ; e o mesmo aviso
erdenei se n'zcsse ao govemador de Pernambuco, pela parte que Ine locar uà.
quella capitania, pois que se aeba a l i com uni engenbeiro. E a D. Rodrigo p!e
Castello-branco ordeno faca o mesmo no terreno das minas com o capìtào .forge
Soares, que leva em sua companbia e emende deste negocio, e Rento S u r r c l ,
para que succedendo (corno confio em Dcos) o entabolaoiento das minas de
prata, se disponha o que neste particular sq deve obrar para seu rcsguardo.
Lisboa a8 de j u n b o de 1G73.—Principe.
14 MEMORIAS HISTORICAS, E FOLfTICAS

os capitàes-móres, e officiaes da minha fazenda, justLca, e


guerra do dislriclo das mesmas minas, sem contradiccào
alguma, assim de palavra corno por escrito; e lereis j u r i s -
diccào sobre todos os naturaes, nioradores e estantes nel-
las, os quaes todos para o dito effeito seraò obrigados a
guardar as ditas ordens e mandados, G o n f i a n d o de vós as
usarcis de maneira que, fazendo-sc o que coavèm a beni das
ditas minas e do meu servico, nào haja cousa de desavenca,
conio espero da vossa prudeneia. li para o que vos for ne-
cessario das mais capitanias do dito cstado, mando ordenar
ao govemador geral. e aos governadores, e capitàes-móres,
ininistros de fazenda , justica , c guerra vos acudào eou>
aquillo que Ihes pedirdes, e for mister para bem das ditas
minas, e sua administracào; e quando o nào facào ( o que
de uns e outro nào espero) entào prolcstareis co.itra elles,
e dareis conta ao govemador geral, para mandar proceder
c o n i l a os q u e o forem, corno houver por meu servico. Para
o ministerio destas minas, levaes em vossacompanhia aquel-
Ics matcriaes que pedisles, e juntamente para o p r i m e i r a
servino ZiOO^OOO rs. de emprego.
» E para que d a q u i va logo l u d o na arrecadacào que con-
vèlli: liei por bem, que das pessoas que ievaes, nomeeis lo-
go tcsoureiro e escrivào, a quem dareis jnrame.'lo para que
sirvào corno convèlli; e ao lesoureiro earregarà o escrivào e m
receìla eui u m l i v r o , que para isso se Ihecntregara, r u b r i c a -
do p o r u n i ministro do meu consolilo u l t r a m a r i n o , todas as
ditas cousas, que aqui se vos entregarào, e as mais que pelo
tempo adiante mandardes receber, e vos derem no BrasiI, e
das enlregas passaràò os ditos conhecimenlos em fórma, pa-
ra resalva dos oftìeiaes da minha fazenda a quo locar, os quaes
seraò vistos por vòs e rubricados, para constar a todo o tem-
po do que cntrou em vossa administracào Para o p r i m e i r o
ensnro, e gasto d e l l e vos maudei enlregar neslc reino 4 0 0 $ )
rs. de emprego, 500 arraleis de aaougue, e o mais que pe-
disles e constara do livro da receila do tcsoureiro, que no-
meastes, para dar conta de t u d o , e se despender l u d o p o r
o r d e m e instruccào vossa. T a m b c n i ordeno ao govemador
geral do estado vos mando dar da m i n h a fazenda, pelo r e n -
dimento das balèas da Fluida, até tres mil eruzados, para vos
ìrdes valendo deste dinheiro, despendidos os 400$000 rs.
que Ievaes de emprego, p o r se cnlender que c o m està*
DA PROVINCIA DA BAHTA.

quantias se poderà continuar esse dcspcndio, em quanto


tue daes conta coni as amostras de prata que tirardes destas
minas, e quautia que o govemador mandar cntregar. orde-
nareis se carreguem em receita ao tcsoureiro , e se lhe dò
conhecimento em forma para a despesa d o tcsoureiro geral
do cstado, na forma que se declara no capitolo segundo do
regimento.
» E porque para averiguacào e beneficio destas minas vos
baveis de valer dos indios, e mais gentios dos meus vassal-
los, e diis aìdèas da minha administracào; as obrigareìs a
que vos décm por distribuicào aquelìes que vos forem ne-
ces^arios, coni que igu al mente Irabalhem todos, aos quaes
mandareis pagar o seu t r a b a l l i o , na forma que naquelia
parte se pratica. E dado o caso que vos seja necessario va-
ler-vos dos indios que ainda nào eslào domesticos, manda-
reis pessoas qne vos pareeer , a ter pratica c o m elles, para
que com boni modo os persuadào a vir trabaihar nas minas,
e a esles mandareis fazer seus pagamentos na forma que no
capi t u lo 4.° se vos ordena e declara ; e a uns e outros gen-
tios traìareis com boni u.odo, nào consentindo se Ihes fa-
cavexacào alguma, anles que pontualmcnte se Ihes assista
c o m seus pagamentos.
» E no pagamento que mandardes fazer aos ditos indios,
usarcis da forma seguinte: o escrivào que nomeardes, e que
bade servir c o m o tcsoureiro, sera j unta mente apontador ,
© qual em u n i eaderno separado, que vós rubricareis, as-
sentara por dia todos os indios que trabalharem , e , q u a n -
do se Ihes houver de fazer pagamento , se lirarà u m rol do
dito cadérne do ponto f i x o , e assinado pelo dito escrivào,
ao qual mandareis contar pela pessoa que vos pareeer, as-
sim coni a cerlidào da dita pessoa mandareis fazer o dito
pagamento para vosso despacho; e porque os indios nào
sabem assumi* de conio receberào, assinareis vós no tal pa-
gamento, e c o m outra c o i tidào de corno assim se fez, e ver-
na posta n o eaderno do ponto, sera levado e i n conta ao
tcsoureiro que o fizer.
» E p o i quanto os soldos que vós e os officiaes da vossa ad-
ministracào hào de vencer, vào por provisào a parte, e se vos
hao de pagar pelos elfeitos da minha fazenda na Bahia de
todos os santos, nella se declarara o que cada u m hade ven-
der por mez, e se Ihes ha de pagar pelo tesouro geral do es-
d6 MEMORIAS HISTORlCAS, E POLITICAS

tado, na consignacào quo a provisào aponta , do quo man-


do fazer aviso ao govemador geral, e ao provedor da m i n h a
fazenda, de corno estes soklos hao de c o r r e r d o dia que che-
gardes a Bahia, onde se farà foiba particular pelos officiaes
da m i n h a fazenda, e c o m alvarà de correr do d i t o govema-
d o r g e r a l , nesta forma se va c o n t i n u a n d o o p a g a m e n t o ,
e aos ditos officiaes c o m certidào vossa da sua assistencia, e
traslado da dita follia, e nella recibos feitos pelo escrivào do
tesoureiro da vossa administracào, do qne cada u m recebeo
para satisfacào d o tcsoureiro goral do cstado, pelo qual se
tornata e m c o n t a , o que assilli despender c o r n o traslado
deste capitulo, que se Ihes trasladara na follia.
» F porque se lem noticia que, de mais das minas a q u o
ides, ha o u l r a s no sertào ; liei p o r bem que depois de ter-
des averìguado e entabolado as dos di strie tòs a que agora
vos mando, facaes loda a diligencia para a averiguacào d e l -
las, d o que dareis avfco ao govemador geral , e p o r sua via
mandareis conta da dita diligencia que nella fizerdes. e si-
i l o e m que esliverem. coni vosso i n f o r m e e pareeer, para dis-
p o r o q u e mais conveniente for ao m e u servico : e entrò
sim bei p o r b e m que sejaes ad mi n'istradar geral das ditas
minas e m q u a n t o ellas d u r a rem, e uollas tcrcis p o d e r e j u -
risdtccao para seguir o que mais conveniente for a meu sor-
vico , tendo (tintamente c o m a mestila duracào o cargo d o
p r o v e d o r goral dellas. para p o r eril arremalacào o que locar
à m i n h a fazenda, mandando carregar e m receila ao tcsou-
reiro t u d o o que perleneer as ditas minas, e seguindo a for-
ma q u e se pratica nos reinos de Castella q u a n t o à nomea-
cào de seus otfìciaes.
» E p o r q u a n t o estas minas se ab r e m de novo , e se nào
sabe o seu cerio r e n d i m e n t o , e mostrando a experiencia q u e
ellas o l e m por seu beneficio nào poder correr por conta de
minìia fazenda; c o m as amostras da prata que t i r a r d e s o be»
neficiardés m e darcìs conia do que tiverdes obrado, e esta-
do dellas, e seu r e n d i m e n t o , tunito pelo miùdo, c o m vosso
pareeer e informacào d o que se deve seguir, do q u e me fa-
reis aviso, e ao g o v e m a d o r geral, para que o envie na p r i -
meira embarcacào q u e vier para este reino , d o que tam«
b e n i mando advertir ao ao g o v e m a d o r geral d o eslado, para
que nào haja detenga e m m e vir o d i t o aviso e as amostras.
» As cartas que Ievaes minhas para as pessoas particula-*
D À P R O V I N C I A DA BAHIA 17

tes, que pareceo mandar-lhes escrever , Ih'as entregarcis e


vos valerois dellas no que f o r necessario, para a execucào
deste regimento e beneficio da3 ditas minas, E de todos
confìo, que pelo zelo que tem de meo servico, nào faltaràò
ao que Ihes tocar, e Ihes saberei gratificar: e scudo-vos ne-
cessario guarnicào de soldados para defensa do sitio das m i -
nas, p o r causa do gentio bravo intentar descer à ellas , vos
valereis do govemador geral, corno lhe escrevo, e da capita*
nia qne vos ficar mais visinha ao lugar que for necessario
defender, dando conta ao govemador geral, em quanto me
fazeis aviso, e ao govemador geral do que executaes no enta-
bolamenlo destas minas. 0 metal que tirardes, ireis pondo
naquella forma que è esilio, e, eslaudo em sua perfeicào, o
mandareis carivgar em receita ao tcsoureiro, quo comvosoo
servir, sem o divertir a o u l r o ett'eito, e em quanto nào f o r
o r d e m minha para o modo em que se bade dispòr e re par-
t i r , tercis entendido qne tudo, em que derem de l u c r o as
dilas minas, é para minha fazenda, e me ireis dando conta
nas embarcacòt's que depois do primeiro aviso, e amostras
que mandardes, vinto para o reino, com rolacào do que
tendes em ser , e o seo rendimento, para eu ordenar o que
for servido
» Està iuslruccào e regimento, pela maneira que nelle se
contèm, seguireis e e m ù pr ireis. E mando ao govemador ge-
ral do estado di> Brasi), e aos mais governadores e capitàes-
mores-delle, officiaes de guerra e justica, e oificiaes de m i -
nha fazenda. e mais minislros, officiaes e pessoas do dito es-
tado, a queni perlencer, que asSìm o cumprào e facào cum-
p r i r e guardar, sem d avida nem embargo dos scos regi men-
to», e de quaesquer outras provisòes,e instruccào que em
contrario haja, porque assim o liei por meu servilo. Està va-
lera corno carta, e nào passarà na ehancellaria, sem embar-
go da ordeuacào do livro 2, Ululo 39 e 40 e m contrario, e se
registrala no livro do consolilo u l t r a m a r i n o , e nos estados
d o Brasil, fazenda e camara onde for necessario, e mais par-
tes a quo tocar, para a todos ser notorio. Antonio Serrào de
Carvalho o fez em Lisboa a 2& de j u n h o de 1 6 7 3 — 0 secre-
tano Manoel Barrcto de Sampaioo fez e s c r e v e r . — P r i n c i p e . »
Nào era p o r cerio D. Rodrigo de Castello-branco revesli-
dodas habiiitacòcs necessarìas a prccnchersatisfactoriamen-
te semelhantc lugar, porque, à ignorancia dos mais triviaes
TOMO V 4
48 MEMORIAS HISTORICAS, E POLITICAS

principioa de metallurgia, reti ni a um caracter avarento e


grosseiro, e a continuacao de sua scrventia c o m p r o v o u sua
incapaci dado: p o r rezes representou conlra elle o govema-
dor geral, mostrando ao monarca que ha via sido ili udì do,
mas foi semente depois de muifas queixas do mesmo gover-
nador, da camara, e das pessoas mais gradas da provincia
de S. Paulo, para cujas minas se passara, tendo inutilmente
consti mido m u i t o d i n h c i r o à fazenda publica em Itahaiàna,
que, por cartas regias de "23 de dezembro de 16*8*2, e 4 li de
Janeiro do armo seguinte, foi demittido, echamado a córte,
a tempo porcili em que elle ja ha via sido morto,, por effeito
das violéncias pratica das coni o Paulista M anoel de Borba
Gato, o qua1,reeeoso das consequencias deste c r i m e , retirou-
se com sua fami Ira para às margens do Rio-dóce, seguili do
outros seus complices às do Rio de S. Francisco, onde està-
belecerào di ver sa s fazendas de gado vacuili. Suceedeo-lhe
no mesmo eargo o govemador do Rio de Janeiro, em Virtui-
de de o r d e m regia, sondo igualmente cucarregado nessa oc-
ciào de estender suas avcriguacòcs às minas descoberlas e m
Faranaguà (&), e Sabarà-bussù,
O espirito de tacs descobrimentos, que por esse tempo
dominava o animo dos impavidos Paulistas, esleniìia-sì
igualmente à m u i t o s habitanies do interior desta provincia,
que divagavào pelo dislricto da Jacobina, o n d e , pelos
derroteiros dos primeiros descóbrìdores^ assegnrava a geral
tradiccào abuildar toda a sorte de mctaes preciosos, e erào,
entro outros lugares, reputados corno de maior riqueza, os
noticiados nos itinerarios do famigerado Paulista Balchi or
Dias Moribcca, dos quaes ainda eh tao se conservavào algu-
mas copias; mas forào q u a l i ograndes palhétas de o u r o , ex-

(SJ Paranagua, villa da provincia de S. Paulo siluada aos a5° 3i* e 3" de la-
tìtude, e 5o° e 56' de longitude. •> O dilatadissimo sertao de Sabara-bussù f o i
penetrado muito antes de qualquer das minas, p o r quanto os primeiros conquis-
tadores d e m a n d a l o o Rio das vellias, cujas extensas campìnas erào mais povoa-
das de gentio, e ferteisde caca; e as primeiras diligencias do ouro e pedrarias
se Gzerao ao norte de S. Paulo. Cousta que o seu descobridor, ou denuncianfe
de suas faisqueiras, fora o tenente general Manoel de Bbrba Gato, naturai de
8, Paulo no anno de 1700. Por inaccào do govemador Antonio de Albuquerque,
assislio a rcparlieao o govemador A r t u r de Sa e ftlehezes. Passou a villa em 1 7
de j u n h o de tpi, a sua siluacao é em 14 a i * ' — C l a u d i o Manoel da Costa.—
0

Biem. ciu
DA PROVINCIA DA BAHIA. 39

traìdas de certo l u g a r d a q u e l l e disi rieto, e apresenta das c m


4701, p o r u m p a r t i c u l a r , ao g o v e m a d o r D. Joào de L c n c a s -
t r e , p e s a n d o urna o valor d e 1 :'200.J£000 réis, e as outras o
de 7 80 $£000 réis, q u e m fez t o m a s s e m mais sèrio i m p u l s o es-
ses deseobrimentos, q u e e m p o u c o t e m p o forào de e x t r a o r -
d i n a r i a vantagem. N à o m e foi possivel m e n c i o n a r agora o
n o m e d o q u e a p r e s e n l o u essas palltètas, p o r Isso q u e a tal
respeilo guardào silencio os papeis officiaes daquelle tempo,
a q u e m co usui tei ( 9 ) : e c c i t o p o r é m q u e o capitilo Antonio
Alvares d a Silva foi pelo m e s m o g o v e m a d o r encarregado d e
verificar lai descoberta, p a r a c u j a diligencia p a r t i o desta ca-
p i t a l , a c o m p a n h a d o de u n i religioso car melila, q u e , p o r ser
n a t u r a i de S. Fatilo, era lido c o n i o liabil m i nera logo , e e s -
coltado p o r dcz soldados, c o m g r a n d e n u m e r o de operano»,
e q u a n t i dado de instrtimenlos; m a s a ausencia d o d e s c o b r i -
d o r l o r n o u està j o r n a d a d o m e r ò a p p a r a t o , pois q u e n à o
se c n c o n t r o u o lugar q u e se buscava, c o m q u a n t o se aclias-
sem o u t r o s a or i fero s, c o m a m o s t r a s dos q u a e s tornou esse
Corone! para a m e s m a c a p i t a l , sem q u e por entào se progre-
disse e m tal d e s c o b r i m e n t o ( 1 0 ) , e m o b s c r v a n c i a d a deter-
m i nacjto regìa de 9 de j u n h o d e 1 7 0 3 expedida ao govema-
dor, e assilli c o n c e b i d a —
fQj Rocha Pilla Amer. Port. liv. io num. 7 lambo m nào o designa.
( i oj G o n l i n n o u porem a exploracào das minas do Serro-do f r i o , conformo se vó
d o seguirne o f f i c i o , quo o g o v e m a d o r dirigìo ao m i n i s t e r i o em 21 d e j u l h o de 1705.
» S e n h o r , — D e p o i s de eslabelecìdas as minas de o u r o d o S e r r o do f r i o e I t a -
c a m b i r a , o r d i n a n d o q u a n t o c o n f i n i l a p f l r a a b o a arreoadacao dos q u i n t o s d o
o u r o , f o i V. M. s e r v i d o , p o r caria de o, de j u l b o de i ~ o 3 , em resposta da q u e
c u ha v i a escrito em et de seiembro de 1702, o r d e n a r nào coulinuasse mais c o n i
os descobrimentos, p o r nào c o n v i r q u e os cstrangeiros, m o v i dos da ambicao , fi-
zcssem a l g u m a tenta l iva contra este cstado ; maudei l o g o aos e x p l o r a d o r e s das
minas da c a p i t a n i a d o E s p i rito-santo, aos de Jaeobiua e d o S e r r o d o f r i o , e I i a -
cambìra, nao coulinuassem mais com lacs trabalbos: nas primeiras assim se exe-
c u l o u , mas nas d o S e r r o d o f r i o os seus descobridores, e mais enearregados, o u
fosse pela ambicào d o o u r o , q u e iào descobi-iudo em a b u n d a n c i a , o u p o r q u e ,
c o n i o agora se dia , fosscm exlravìadas as minbas c a r l a s , apesar de as m a n d a r
p o r pessoa segura, coiiùnuou-se nas suas lavras coni milita gente, q u e l e m c o n -
c o r r i d o , e sempre com m u i i a a b u n d a n c i a de o u r o , e parece-me quo nào scia
possivel a talli ar se p o r a l g n m meio que està l a v r a contìnue, além da grande per-
da da fasenda rea!, e V. M. b e m poderi! attender as desordens, q u e disso sepo-
derao s e g u i r em scrióes tao distantee, aonde mesmo nào ha que recear, q u e
possao ebegar os iiùmigos movidos da ambicào, q u e os d o m i m i .
20 MEMORIAS IIISTOR1CAS, E POLITI CAS

D. Rodrigo da Costa , a m i g o , &c. riavendo visto o q u e


escrevestes sobre o descobrimento das minas do districto
dessa cidade, me pareceo dizer-vos, que, segundo as conje-
cturas do tempo,em que as nacòes eslrangeiras seachàj c o m
tanta inveja e ambieào das riquezas, q u e se vao descobrin-
do nas nossas conquislas, nào convcm que por ora se trale
destas minas, que ficào na jurisdiceào da cidade, principal-
mente scndo estas em parte em que poderaÒ ser invadidas,
e occuparem as terras em qne eslào situadas, e de mais q u e
sedevo pezar o damno, que se vai oxperimentanf!o,omsedes-
povoarem os lugares da gente que os possa defender, e e m
consequeneia defaltarcm os generos, por causa de nào haver
quem c u l t i ve os campos, deixaudo-sc de acudir à fabrica
do tabaco e assucar, p a r a i r e m buscar os seus interesses em
tao grandes Ipngitudes, e em meios falliveis, corno sào m u U
tas vezes os descobrimcntos das minas. Que portante , os
mesmos Paulistas deveraò converter oe\croieio, que atè ago-
r a tinhào de soldados, em lavradores, deslituindo-se desses
defensores nào sé os sertòes de todo esse estado, mas ainda
pondo os que existem nos dous tercos dos Palmares; e q u e
assim sé secuide em extinguir o s m o c a m b o S j e os indios gen-

» Eni 20 de fevereiro deste anno me ehegou das ditas minas do Serro do frio
e Itacambìra ani proprio, re metti do pelo guarda-mór Antonio Soares Ferrei-
ra, de quem recebi a carta, que envio p o r copia j u n l o a està , escrita cui 20
de novendiro do anno passado, em que me da conta dos descobrimentos que
tem feito, das terras que lem repaitido com o povo, quo ali (em concorrido
das pinias, que apparcecm, e da arreCaducào dos quintos, e <|iie se carece m i l i -
to de urna casa para os quintos, a qual se offerece a fa/.er a sua custa, e assmi
nislo, corno no mais que tem obrado, me parece digno, de que V. M. o bonre
coni aquelìe agradecimento, com que a sua real grandesa costuma: a ami stra
de ouro que me offereceo, e se mostra da sua mesma caria, nào a aceitei, e a
mandei por em deposito, para dispòr della corno sua, o que consta da cerlidào
j i i n t a , e o mais ouro da lomadia que elle fez, para que quando nào conste ter
pago os quintos, o Cquein perdendo para a fascnda de V. M, O ouro dos quin-
tos, e preco das dalas de V. M. tenbo ordenado ao referido guarda-mór An-
tonio Soares Ferreira, o remetta coni toda a brevidade e seguranc,!, e se che-
gar a lempo de i r nesta froia, o remeiterei a entiegar a V. M, pelo consellio
ultramarino, Ao mesmo guarda-mór dei patente de capitào-mór daquella des-
coberta, em rasào dos grandes servicos que tem f e i i o , e ser l i l h o de um p a i ,
que tanlos fez na guerra do geniio bravo, que assolou està capitania, tendo o
posto de sargenlo-mór, o que tudo levo ao conhecimcnto de V. M. para me-
recer a real a p p r o v a l o . Bahia a i de a b r i l de 1705.—D. Rodrigo da Costa.
DA PROVINCIA. DA BAHIA. 21
tios do Rio-grande, que tanto damno tem causado naquel-
las paragens com as suas correrias, deixando-se para m i t r o
tempo mais commodo scmclhantes descobertas de minas
de ouro. Lisboa 9 de j u l h o de 4 7 0 3 . — R e i . $
Mandou o govemador publicar està determinarlo p o r
meio de u m bando, no qual comminava graves penas aos
que a contraviessem ; mas ja enlào para cima de duas m i l
pessoas de todas asclasses, inclusive u n i fradc dominica-
no, se entregavào ao traballio da mineracào, que offerecia
as maiores vautagens, e conio quasi sempre a considerarlo
do lucro consegue tornar illu sor ias as melhores leis, todas
as providencias do mesmo govemador de nada mais servi-
rà© que de estender os descobrimentos aurifero? pelo d i l a -
tado districto de Jacobina, sondo por esse tempo aprcendi-
das nesta capital duas folhètas de ouro extraidas a l i , urna
das quaes pesava ih marcos, 5 oncas e h'2 gràos, e o u t r a
11 marcos, à oncas e 16 gràos. ìNào cessarào D. Joào de
Lencastre, e seus successores de demonstrar à cèrte a ncces-
sidadc do enta boia mento dessas minas, mas, a despeito de
suas representacòcs, determinou-sc em cartas regias de
9 de j u i i i o de 1713, e 19 de dezembro de 1714, subsis-
tissem asprimeiras ordens, por nào ser conveniente que se
patenteassem essas minas, em quanto nào fosseni f o r t i f i -
cados os seus caminhos, e portos que tivessem, para c u j o
firn vinha m u n i d o das necessarias autorisaoòcs o novo go-
vemador conde de V i m i e i r o , com q u e m conferirla o go-
vemador exislente, marquez de Angcja, ouvindo a cama-
ra da c a p i t a l , e pessoas pralicfts das localidades, e deco-
rando tambem se convìria crìar-se alguma villa em Jacobi-
na, sondo com tudo m u i t o recommendado, que no entanlo
ficasse sujeito ao confisco todo ouro quo dellas seextraiisse.
Està proibicào porém continuou a ser frustrada, e d i -
grossava diariamente o numero dos garimpeiros (11), c o n i

(tj) Cumpre norar-se que .no passo em que proibia a extraccao do ouro des-
sas minas descobertas no i n t e r i o r , permiltia-se a salda p a r a ellas de muitos es«
cravos, destiuados aoseu respectivo l a b o r a t o r i o , e p o r c u j o p r i n c i p i o p-gava cada
u m c e r t o t r i b u t o na aliandega da c a p i t a l . — D e j a n e i r o até o u t u b r o de 1716 lift-
p o r t o u essa imposicào em r3:i73j;»ooo rs., e a carta regia de 5 d o mesmo anno,
d e c l u r a u d o baver-se recebido a q u a n l i a , que 0 g o v c r n a d o r havia r e n i c t t i d o p u r
semelhante m o t i v o , d e t e r m i n a v a que t o d o s os aunos fizes*e i g u a l remessa.
22 MEMORIAS IIIST0RICAS, E POLITICAS

grave p r o j u i z o da fazenda p u b l i c a , ria p e r d a d o s q u i n t o s d o


o u r o , e oflensa da lei nos delictos q u e a cada passo se
commetliào , c o m a m a j o r i m p u n i d a d e , q u a n d o o mo-
narca remante D. Joào V. , p o r c a r i a regia e x p e d i d a ao
g o v e m a d o r e m 5 de agosto d e 1720, p e r m i t t i o o l a b o r a t o -
r i o dessas lavras c o n h c c i d a s , f i o a n d o a eargo d o n o v o go-
v e m a d o r Vasco Fernandes Cesar de Mcnezes, logo q u e
assumisse a administracào d o c s t a d o , o m a n d a r a ellas
u m m a g i s t r a d o d e c o n f i a n c a , q u e examinasse a m a n e i r a
c o m q u e a l i se t r a b a l h a v a , e indicasse o l u g a r a p r o p r i a -
do para a ercceào d e urna n o v a v i l l a , b e n i c o r n o a me-
H i o r f o r m a d a arrecad ioào dos q u i n t o s d o o u r o . D e t e r m i -
n a v a i g u a l m e n t e essa provisào. q u e se d c s m e m b r a s s e o dis-
t r i c t o de Jacobina d o t e r m o desta c i d a d e , ao q u a l alò e n -
tào pcrtencia , a fini d e c r i a r - s e logo a nova v i l l a , e q u e
p a r a a exaeeào d o s q u i n t o s nomcasse i n t e r i n a n i e n t e o g o -
v e m a d o r u m officiai d e c o n c e i t o , q u o servisse d e s u p e r i n -
t e n d o n l e d a s m c s m a s minas, m a s q u e nào se c o n t i n u a s s e na
invcsligacào das d o R i o das contas , p o r o c c o r r e r e m à isso
m o t i v o s de t r a n s c c n d e n c i a , p r o c e d e n d o t o d a v i a o m e s m o
g o v e m a d o r a u r n a rigorosa indagacào, s o b r e a q u a l i d a d e
das pessoas e m p r e g a d a s c m tal d e s c o b e r t a , r e n d i m e n t o p r o -
vavo! d e suas m i n a s , e dislancia dellas d o p o r t o d o mar.
Para està diligencia f o i c s c o i b i d o p d e s e m b a r g a d o r L u i z
do Scqucira da Gama, magistrado q u o rcunia a capacida-
d e necessaria, mas depois d e h a v e r feito t r i n l a leguas d e
c a m i n h o d a C a c h o c i r a para o c e n t r o , regressou p a r a està c a -
p i t a l gravemente e n f e r m o , e m c o n s e q n e n c i a d o q u e n o m e o u
o g o v e m a d o r para o s u b s l i l u i r ao m e s t e d e c a m p o d o c o r -
p o d e e n g e n h e i r o s , M i g u e l Pereira da Costa, e conio o r e -
l i t t o r i o d e sua j o r n a d a e commissào, nào sò i m p o r t a o m a i s
s o l e m n e t e s t e m u n h o d o a c e r l o d a nomeacào, q u e nelle r e -
c a i o , m a s t a m b e m interessa sobromancira* ao l i n i das p r e -
scntcs M e m o r i a s , a q u i o t r a n s c r c v o — *
» Excellentissimo Senhor.—Por carta d e 1 3 de abril d o
a n n o passado, l i v e o r d e m d o g o v e r n o g e r a l deste e s t a d o ,
q u e p o r ser i m p o r t a n t i s s i m o ao servico d e S. M., q n e Deos
g u a r d o , o passar e u desta c i d a d e aos"districtos d o R i o d a s
c o n t a s a e x c u t a r as o r d e n s , q u e m e desse p e r t e n c e n t e s a o
servico d o d i t o s e n h o r , m e o r d e n a v a q u e l o g o e logo m e
preparasse de l u d o o q u e me fosse p r e c i s o p a r a a d i t a j o r -
DA PROVINCIA DA BAHIA 23
fra da, a que liavia de dar principio c o m a maior brevidade
que fosse possi voi.
» K nào obstante a estacào do t e m p o ser contraria à dita
jornada, pela grande sécca, q u e ha via p o r aquelle seriào,'
e menos saude c o m que m e achava, depois da viagcm de
Angola, onde f u i p o r o r d e m , e e m servico de S, St., os
empenhos nella contraidos, e as ìmpossibilidades do caho-
daes para està de tanta despesa e traballio ; respondì que;
©slava p r o m p l o , c o n i o sempre o estiverà, assilli nas c a m -
pauhas, sitìos, e defensas, c o m ò neste c s t a d o , as ordens
dos i n c u s generaes, para t u d o o que era servico do dito se-
nhor , e assim reccbidas as ullinias ordens e instruccòes
em 7 de maio, a 32 do d i t o entrei a dal-as à execucào, em*
barcando-me do p o r t o desta cidade para o da villa da Ca-
chocira, e passando o rio Paraguassù à o u t r a parte, na fre-
guezia de 8. Pedro, distante delle pouco m a i s de meia l e -
gna, p o r ser paragoni donde os miueiros coslumào d a r
p r i n c i p i o as suas jornadas do seriào, o dei la m b e m à m i -
nha na forma s e g u i i i t e —
» De S. Pedro se faz a p r i m c i r a marcha na volta do Ge-
n i p a p o , mas, p o r ser jornada desmarcada e m u n i só dia
para os cavallos, que Iransportào os vìvcres, se pernotta na
di sta noia de q u a t r o até cinco leguas, o u no silio chamado
a Barra, q u e é u r n a pequena fascnda de vacas e egoas, o u
na Cèrea, que é u m pequeno sitio de tabaco.
• No se^uinte dia se vai ao Genipapo, que é urna grande
fasenda de tabaco, e gado do capitào Pedro da Fonseca e
Mollo, nella m o r a d o r , e desta a" o u l r o dia se vai ao C u r r a -
l i n h o , fascnda de gado e m que precisamente ha demora de
alguns dias, p o r ser a paragem e m que os miueiros, e mais
gente que passa o seriào, fazem proviiuentos de carnes,
c o m p r a n d o cada u n i o n u m e r o decabecas, à proporcào da
sua comitiva, o u c o m b o i , e mandando-as inalar, e seccar
ao sol, o u ao fogo, assim p o r ter mais duraoào até passar
a travessia, conio p o r sereni menos os cavallos, que, aleni
da mais equipagcm, se devem novamente c o m p r a r para o
trausporte da dita carne, e para os mais mantimentos, que
neste sitio se fazem, q u e posto nelle os nào haja , ficào as
rocas q u a t r o leguas distantes, onde cada u m manda buscar
os de q u e carece, scudo a carga ordinaria de cada cavallo
q u a t r o arrobas.
24 MEMORIAS niSTORICAS, E POUTICAS

»Passa-se deste sitio ao Boqueirào, fasenda do capi tao*


m ó r A n t o n i o Velloso , q u e , sondo P a u l i s t a , passou a cstes
sertdes de poucos annos, c o m mais c o m p a n h e i r o s à g u e r r a
do g c n t i o b r a v o , e depois se o c c u p o u nos assaltos dos m o -
c a m b o s de negros f u g i d o s , para o q u e s e m p r e teve v a l o r e
disposicào, segundo o moslrào as occasiòes, q u e teve n o
d e c o r s o de m u i t o s annos.
* Este sitio d o Boqueirào é a u n i c a passagem q u e h a pa-
r a o sertào p o r està p a r t e , e é urna a b e r l a p o r e n t r e d u a s
serras a l i a s , e m c u j a continuacào pela t e r r a d e n t r o vai pas-
sar o Paraguassù, e c o r r e adiante esses sertòcs e p a r a o m a rF

vai pelas cabeceiras do Joquiricà, e mais além d o C a i r o ,


t u d o p a r a u m e o u t r o l a d o , tao i n t r i n c a d o de serras e ma-
l o s , q u e parecc i m p e n e t r a v e l . Na m e s m a serra p a r a o s u l
a seis dias de v i a g e m , t e r m o c o m q u e se explicào os P a u -
listas e sertanejos p r a t i c o s n o m a l o , sem certesa de leguas,
p o r screm as suas viagcns differentcs, segundo a c o m m o -
d i d a d e do c a m p o e m a t o Ihes oilerece o mei, caca, e agua,
d o silio Boqueirào està u r n a aidèa d o g e n t i o b a r b a r o , nào
so observada pelo d i t o capitào-mór, mas t a m b e m vista p o r
o u t r o s p r a t i c o s , c u j o g e n t i o , e s t i m u l a d o d o d i l o Velloso,
t e m y i n d o p o r vezes hostilisar as rooas d o Boqueirào, c o *
i n o na occasiào e m q u e passci, o ha via fai t e p o u c o s dias
a n l e s , v e n d o ainda vestigio d e s u a p i s t a , o u d e s m a r c a d o
l a s t o , e algumas f r e c h a s , q u e havia deixado. Està aidèa é
a q u e t a m b e m descc à infestar as fasendas d o C a i n i , e l a -
v o u r a s daquelles m o r a d o r e s . c u j a p e r d a c m o r t e de a l g u n s
p a d e c c m de annos a està p a r t e , c o n i o ja a c a m a r a d a q u e l -
l a villa o r e p r e s e n t o u a S. M. Neste Boqueirào p r i n c i p i a a
travessia, q u e acaba na v i l l a d e Joào A m a r o , e c h a m à o d h e
travessia pela falla de agua, e pasto p a r a os cavallos, e p o r
nào haver nella m o r a d o r a l g u m , pela e s t c r i l i d a d e d e s e u
t e r r e n o , e assim h a u m a s laes partes certas, e m q u e se per-
n o t t a , q u e c h a m à o r a n c h a r i a s , p o r sé nellas haver a l g u m
p e q u e n o paste, sende a clistancia d e urna a o u t r a r a n e l l a -
r i a a m e d i d a d e cada j o r n a d a .
* Do Boqueirào se v a i à Salgada, q u e é o p r i m e i r e r a n c h o
desta travessia: e m r a r a vez achào os cavallos e m q u e p o r
d e n t e , e n e n h u m a agua, pois p a r a beber e c o s i n h a r a l e v a
cada u m dos c o m b o i s d e Boqueirào: nesta travessia se e n -
contrào a cada passo caveiras de m o r t o s à sède, assim b r a n -
DÀ P R O V I N C I A DA BAHIA 25

cos q u e se m e l t e m ao c a m i n h o cegamente som a provisào


necessaria, c o r n o negros dos m u i t o s combois, q u e cada an-
n o passào.
» Da Salgada se passa à Boa-vista semolhante r a n c h a r i a ,
e da Boa-vista à Cabeca d o t o u r o , silio i d e n t i c o aos mais,
mas ja visiti h o ao r i o : da Cabeca d o l o u r o às V a r g i n h a s , e
destai à villa de Joào A m a r o , l i n i da travessia.
» Està v i l l a foi povoada no t e m p o dos pn'mciros possui-
dorcs, c o r n o o m o s t r a o conservar a i n d a vinte e tanlas ca-
sa s de telhas, c o m u r n a c r m i d a de S. A n t o n i o , mas pelo
p o u c o f r a t o , q u e colhiàó os seus m o r a d o r e s para passar
a v i d a , pela q u a n t i d a d e de morcegos, q u e matavào o gado,
e ainda h o j e matào cs cavallos, pelas sezòes c o n t i t i u a s q u e
a l i se p a d e c e m , p r o p r i e d a d e de todos os silios visitihos d o
Paraguassù, e pelos assallos d o g e n i t o , q u e ali c o s t u m a
d a r , uns morrerào, e o u t r o s desertarào, t e n d o hoje u m sò
m o r a d o r v e l h o , q u e desdc aqueiles p r i m e i r o s annos ali v i -
ve: este, c o m seLs escravos q u e t e m , m a n d a buscar f a r i -
nhas ao Boqueirào, e a g u a r d e n l e , e o u t r o s generos à Ga-
c h o e i r a , c o m o q u e l e m u m m o d o de estalagem, em q u e
vende p o r altos precos estas cousas aos q u e passào. Està
villa fui de Joao Amaro,, P a u l i s t a , seu p r i m e i r o ereetor e
p o s s u i d o r ; deste passou p o r venda ao c o r o n e l M a n o e l d e
A r a u j o e Aragào, p o r antonomasia Bangala, e h o j e é de
seu l i e t o d o m e s m o n o m e , e todas as terras da travessia
Maracas, e d a o u l r a p a r i e d o r i o , c o n i o t a m b e m das q u o
se segucm nesta d e r r o t a , ale os dìstr ictus d o Bio das eonlus.
» Da villa de Joào A m a r o se v*ù à Palma, q u e é a p r i m e i -
ra fasenda de gado depois da travessia, e nesta precisamen-
te se tornào a fazer carnes para p r o s e g u i r a v i a g e m , de iQ$
reis a cabeca , pre$o de t o d o este c a m i n h o : t a m b e m se
acha a q u i , às vezes, os mais man ti m e n t o s conduzidos de
M a r a c a s , e, nào os havendo, m a n d a cada u m là buscar a
q u a n t i d a d e q u e neeessila.
o Da P a l m a se vai às Flores, e na p r i m e i r a legua fica o
sitio c h a m a d o T a m b o r e s , q u e é d o n d e se a p a r t a o c a m i -
n h o , q u e vai para os Maracas d o e m q u e vamos para Flo-
res, q u e é urna fasenda de gado e eguas da o u t r a p a r t e
d o r i o , p o r estar mais l i v r e de g e n t i o , servi ndo-se o seu
m o r a d o r de urna canòa para a r a n c h a r i a , que Uca desta
p a r i e . E a u r n a legua de d i s t a n c i a f i c a o Pau-a piqué, f a -
XOMO v 3 5
26 MEMORIAS HISTORICAS, E P O L I T A A3

senda pequena que p o r vezes tem assaltado o gentio, e o


anno passado matou nella u m branco, e dous negros.
» Das Flores se faz marcha mais larga à Capivara, pas-
sando pelo morrò do V i a d o , que dista das Flores q u a t r o
leguas, onde ha rancharia para os quo nào podem avan-
zar à Capivara: é està urna fasenda de gado, e cguas seni
o u t r o algum mantimento.
» Da Capivara se pa*sa as Araras, grande rancharia sem
morador, mas com agua e pasto.
» Todas estas rancharias sào visiolias ao r i o , e pela com-
modidade do porto ainda nas fasendas que tem m o r a d o r ,
sempre os combois e passageiros se afaslào da casa a i r
pernottar à rancharia, c quando o rio Paraguassù enche
i n o n d a todas as varzeas visinhas, e alaga a maior parte dos
ranehos, fìcando outros ilhados, no qne é necessario m u l -
ta caulella, e muitas vezes impede o passo alguns dias ; e
os que vào em marcha. topào tambem muitas c o m o pas-
so c o r t a d o , c de necessidade fìcào na tal paragoni os dias
que d u r a a cheia, o u abrem nova picada pelo m a l o , c o n i
rodeio de leguas, p o r respeito das serras e c o m grondo
t r a b a l l i o : nào é pequeno o de todos os dias pela m a n h a
para se ajuntarom os cavallos, pois ainda peiados se espa-
lhào de noile, em forma quo amanhecem leguas uns dos
outros, ou a buscar pasto, ou perseguidos dos morcégos,
mettendo-se pelas calingas, e p o r nào apparecerem todos a
tempo se perderli às vezes dias de jornada , e alguns lìcào
perdidos de t o d o , repartindo-se entào ascargas pelos mais,
atè chegar onde se comprimi outros, ou deixando-as no
mate, etti parte que cada u m assillala, ale as mandar c o n -
d i i zi r.
» Das Araras se vai à b a r r a do r i o de Una, e desta à v a i *
zea do Quaresma, rancharias corno as mais, e da varzea do
Quaresma se marcha à passagem do r i o de Una, rancharia
em q u e achei u m morador de poucos mezes, que coni a
sua familia se sustentava de aboboras e batatas: coda està
varzearia ale a barra desto r i o , que entra no Paraguassù,
tem tambem o inconveniente d e se alagar repetidas vezes
c o m enchcnle do rio? csle nào e m u i t o largo, mas conio
a

bea na raiz da chapada, em que nasce, enche amiudadas


vezes, em termos que se nào passa até baixa-mar.
«Até a q u i é grande o traballio, que se passa nesle carni*
DA rnovixciA DA BAHIA. 27
n b o , c o o p e r a n d o a maìor p a r t e dos elcmentos c o n l r a a sau-
de, e c e n t r a a v i d a ; os perigos q u e e m m u i t a s oecasiòes
succederti, c o n i o o r e p e n t i n o assalto d o g e n t i o , de negres
f u g i d o s d e muìlos annos q u e se juntào nos m o c a m b o s , e
a q u a n t i d a d e d e c o b r a s venenosas, one.as, e f i n a l m e n t e a
sevandijaria de c a r r a p a t o s e m tal n u m e r o , q u e é u m m a r -
t i r i o c o n t i o u a d o , havcndo-se e x p e r i m c n t a d o atè este sitio
a l g u m a m o r t a n d a d e d e c a v a l l o s , e m u i t o s cancados p e l o
p o u c o pasto d o s c a m i n h o s .
*> Passado o r i o de Una, se e n t r a a s u b i r a q u e l l a e s l u p e n -
da p y r a m i d e d a c h a p a d a , q u e è u r n a c o r d i i h c i r a de serras,
q u e c o r r e para o n o r t c , e n t r a n d o p o r esles serlòcs, e p a r a
o s u l até p a r a r nas coslas d o m a r : està serrania precisa-
m e n t e se b a d e alravessar n a q u e l i a p a r t e , p o r nào t e r e m
ale hoje t a n t o s p r a t i c o s sorlanéjos e Paulistas d e s c o b e r t o
n u t r a , p o r o n d e se possa e n t r a r c o m m e l h e r c o m m o d i d a d e .
Conlèni a sua travessia sete leguas d e h o r r o r o s o c a m i n h o ,
p o r q u e parece q u e a n a t u r c s a se e m p e n h o u a fazer o seu
t r a m i l o diflìcil, sondo nào sé a serrania c o n t i n u a d a , m a s
m o n t e s de serra u n s sobre o u t r o s , f o r m a n d o u r n a altissi-
m a , e dosproporcìonada p y r a m i d e , p o r c u j o vertice se b a -
de avanear, s u b i n d o d e serra e m serra.
» E r a r o o dia em q u e està c h a p a d a esteja clava e seni
c h i n a , sondo mài do varios r i o s , q u e p a r a urna e OUtra
p a r t e c o r r e m . e t e n d o c u i si q u a n t i d a d e d e a g u a s , q u e se
passào c o n i m u i t o s atoleiros na pequena planicie q u e c a d a
serra f a z : de d i a e noi te està a l i q u a s i s e m p r e a c h e ver,
c o n i q u e se fazem os seus r i b e f t b s tao caudalosos, q n e a l -
g u n s u n p e d e m o passo, e q u a n d o m e n o s c h o v c c h a m à o
os sertanòjos nebrinar, sendo esla n e b r i n a urna c o n l i u u a
c h u v a miùda, q u e n a q u e l l a s serras m a l t r a t a b o m e n s e c a -
v a l l o s , pois nào t e n d o aquolles l e n h a a l g u m a , p a r a o fogo
Ihes m o d e r a r o a g u d o f r i o , n e m cstes genero a l g u m d o s
pastos, u n s e o u t r o s p a d e c e n i , e m u i t o s perecém.
» Nào p o d e atravossar a c h a p a d a em u m só d i a , senàò
q u e m f o r escolciro; mas levando e q u i p a g e m o u c o m b o i ,
p r i m e i i a m e n t c b a d e passar nella u r n a noi te, para o seguin-
te d i a a b o t a r f o r a , e todos os q u e m a r c h à o p a r a o seriào
pernoitào nella, pelo i m p r a t i c a v e l de se t o r n a r d e u m j a c t o ;
c assim sobem a p r i m e i r a l a d e i r a , q u e t e m mais d e i n e i a
legua, e tao a piqué q u e é necessario a j u d a r os c a v a l l o s ;
28 MEMO-MAS HISTOIUCAS, E POLTTICAS

porque com o forcejar rebentao os peiioraes , e largào as


cargas a cada passo, outras vezes volt So para traz sobre el-
las rodando pelo caminho; sobem-se mais algumas ladei-
ras asperissimas, c entra-se a deseer para o Giboia u m tal
depenhadciro, que se vào os cavallos laudando por aquel-
les montòes de pedras, arrebentando rabichos, e largando
as cargas, sendo preciso ir cada cavallo guiado p o r s e l i ne-
gro, para seguir aqnella pequena vereda m a l sinalada, p o r
entro lanlos penédos soltos.
* É o Giboia o primeiro rio que na chapada se passa, e
fica tres leguas de Una: aqui é a rancharia de todos os que
cursào estes caminhos, ficando uns d'aquem e outros d'alem
do r i o , conforme a occasiào em que a elle chegào. Corre
tao precipRadamente, que sé se passa quando leva pouca
agua> e na passagem é tao cheto de grandes pedras soltas,
que primeiro o vào alguns negros do maiores forcas a t e n -
tear o f u n d e , e fazer balisar da outra parte, para assim pas-
sarem em d i r e i t u r a , e para mais sogli ranca fazem de urna
e outra parte fixas fortes cordas para Ihes servirem do cor-
remào, e a r r i m o contra a violoncia do r i o : aqui se descar-
regào os cavallos, e passào os costaes a cabeca dos negros,
p o r q u e os cavallos ainda sem carga, dào seus lombos pelo
jnào f lindo, e desta sorte,passadas as cargas à outra parte,
tornào os negros a pogar nellas para as tirarem daquolla
f u r i l a , e subirem serra acima ale as pòrem em alguma par-
te senào plana, mcnos.montuosa, e tornào a buscar os c a -
vallos, j u n l a n d o l u d o na mesma paragoni, e ali se passa a
noite j u n t o a qualquer perfòdo, p o r screm esles a rancha-
ria de toda a chapada, c o m frio intoleravel e chuva con-
tinua.
»Do Giboia se faz marcha no scguinte dia a b o t a r fora
da chapada, e ao carregar se achào alguns cavallos m o r l o s ,
e outros incapazes p o r fracos, e clicios de fortes feridas ;
mas corno nào ha o u t r o remedio mais que forcejar c o m
elles, vào indo alguns aos enipuxòes o u l r a vez p o r novas
subidas, tào asperas corno a s p r i m e i r a s , cancando a q u i
u m , e acolà o u l r o sem darem màis u m passo,' ainda que
os alancéem, e é tal a ossaria de cavallos m o r l o s p o r està
chapada, q u e sobre aquellas serras de pedras se podiào
f o r m a r novas serras de ossos, havendo tambem q u a n t i -
dade de caveiras de corpos bumanos: a distancia de u r n a
DA PROVINCIA DA BAHIA* 20

legna do Giboia està outro rio semelhante, cbamado das


Pedras, e corre tào violento, que coni tres paini os d'agua
ja se nào pode passar ; este me fez levar na sua margoni
segunda noite de chapada, e ao mesmo tempo da o u t r a
parte uns Mineiros, que, vindo escoteiros para a Bahia, se
nào resolverào a passal-o: mais adiante ainda ha tcrceiro
rio, que posto nào seja tào rapido, e mais fundo queaquel-
les, e d'aqui sobe o caminho ao stlio chamado Tópe, o u
por ser o mais alto da chapada, e a piqué daquella b o r r o -
rosa pyramide, ou porque ali ha urna porcao de tal cami-
nho, qne quaiquer tope que dòom os cavallos, caem pr£-
cipiladamente p o r aquelle rochcdo, perdendo-se coni as
cargas sem remedio.
» Desta parte se entra a dcscer c o m o mesmo traballio e
circunstancia referidas ao s u b i r , e a u l t i m a ladeira quo se
desce no l i n i da chapada chamào o Tonibadouro, pelo dif-
fìcile empinado della, e posto quo foi larga a descripcào
desta serrania, nada l e m de encarccida, e os que mais a
facilitarem sào navegantes, que no deseanco do p o r t o se
nào lembrào do perigo, que na tempestade tivcrào, e scoi
byporbole podia assommar que os Pyrinòos nos seculos pas-
sados, quando se oppunhào às forcas daquelles grandes
principes da Europa, tinhào menos rcsistencia que vencer.
»Da passagom do rio Paraguassù, moia legua do Tomba-
douro, onde se arranchào os que saem daquella trabalho-
sa marcha, principiào os Geraes, e d a q u i se vai ao l i n i del-
les. Chamào-sc Geraes p o r ser tudo u m campo plano, q u e
tem de largo as sete leguas q u 3 se passào, e de c u m p r i d o
muitas mais, correndo pelo sertào dentro; mas neste cam-
po nào ha morador, pela inutilidade do terreno, que é are-
ento, e noni lenha, nem pasto dà: no (ini destes Geraes ha
outro despenhadeiro de meia legua que descer, tambem
chamado o Tou badouro dos Geraes, e nào sei distinguir
q u a l dos dous seja o peior.
» Do firn dos Geraes se vai à passagem do Rio das contas
grande, que è caudaloso, l a r g o , com muita agua, e d i f l i —
cultoso de passar, pois a cada passo està enchendo, e sain-
do do seu alveo se faz formidavcl: este, o Paraguassù, e os
mais deste sertào, nào sào navegaveis nem de canòas, pelas
muitas cachoeiras que tem, de que sedespenhào, e q u a n t i -
$ade de grandes penèdos sobreaguados e m todo o seu curso:
so MEMOHTAS niSTORlCASj B P0L1TICAS

a q u i encontrei alguns Paulistas, que c o m outros fiomens


b r a n c o s , e c o m seus escravos fa/iào o n u m e r o de desoito
pessoas , e levavào cavallos c o m m a n t i m e n t o s e f e r r a me n-
tas, e i n q u i r u i d o dellas d'onde vinhào, e q u e c a m i n h o l e -
vavào, achei v i r e m das m i n a s d o R i o das contas p e q u e n o ,
o n d e ihes (icavào mais c o m p a n h e i r o s , e havendo l a feito
suas entradas a novos d e s c o b r i m e n t o s , dcrào e m u m r i a -
c h o q u e p i o t a v a moia pataca, q u e sào 360 rcis pela m o e d a
d o p a i / , e corno^csta p i n t a mostrava u m g r a n d e r e n d i m e n -
t o , deixarào o r i a c l i o c o n f r o n l a d o , e voltaiào para a sua
r a n c h a r i a a refazcrem-se de m a n t i m e n t o s ; e q u e p o r a q u e l -
le c a m i n h o ser asperissimo e m u i c h e i o de m o r r o s , inca-
p a / de cavallos p a r a as condueóes, vinhào e n t r a r p o r està
p a r t e , a b r i n d o novas picadas p o r ser menos m o r r a r i a , e
anais facil condnccào. e iào p i a n t a r rocas de m i l h o e m u m
capaò de m a l o q u e à p e r l o tinhào v i s t o ; e e m q u a n t o este
ìnantimento se p u n h a capa/ de Ihes servir, p a r a e n l r a r e m
a m i n o r a r , se emprogariào e m o u t r o s d e s c o b r i m e n t o s , o u
sairiào para fora.
t Do R i o das contas grande se passa ao Ribcirào , q u e é
r i o m e n o r q u e aquelle, e nelle se vai m e t t e r à p o u c a d i s -
t a n c i a : a Ires leguas de m a r c h a fica u m m o n t e a l t o , q u e
c h a m a o o G a r r o t e . o n d e se m i n o r c u alguns dias, e tivcrào
os poucos c o m p a n h e i r o s , q u o ali ostavào onze libras do e u -
r o , mas p o r Ihes ficar a agua e m distancia, l a r g a m o a q n e U
le sitto , p o r Ihes nào t e r c o n t a o i r o m c e n i baiéas a b a i x o -
b u s c a r u m r e g a t e ; logo a d i a n l e deste sitio so a p a r t a o c a -
a n m h o das .Mmas-geraes, e passando pelos C r i o u l o s vai se-
g u m c l o p e l o R i o de S. Fraueisco.
» Do Ribcirào so vai ao Mato-grosso, u l t i m a m a r c h a des-
l a j o r n a d a p o r ser a l i a r a n c h a r i a m a i o r dos m i u e i r o s da-
quelles d i s t n c t o s , o n d e todos t e m sua casa de p a l l i a , e
a q u i aportào todos os vivandeiros c o n i os seus c o m b o i s ,
o u sejao da villa da Cachoeira, o u os q u e v e n i d o I l i o de
S l
> e do todas as mais partes. É oste sitio d o
Mato-grosso a p n m o i r a p a r i e , e m q u e se ai u n t o t i g e n t e
riaquelles d i s t n c l o s , n e p r i n c i p i o do seus d e s c o b r i m e n t o s ,
e assim ficou seiido a l i o m a i o r c o n c u r s o , e u urna c o r n o
povoacao d a q u e l l e s h o m e n s e m q u o se estabolecorào; e des-
t e s i t i o cleslacavào alguns a fazer seus d e s c o b r i m e n t o s e ex-
penencias, q u e , lendo-lhes c o n t a , decampavào delle p a r a *
DA PROVINCIA DA BAHIA. 31

tal paragem descoberta, e nella formavào sua nova rancha-


r i a , fìcando p o r é m na q u e l l e acan tona m e n t o d o Màio-gres- 1

so a m a i o r p a r t e d e l l e s , q u e ainda se c o n s e r v a , e é u r n a
feira contìnua dos vìveres, q u e cada c o m b o i leva.
*>Ha p o r estes d i s t r i c l o s alguns m o r a d o r e s a largas d i s -
tancias uns dos o u t r o s , j a de annos ali estabeiecidos c o m
suas f a m i l i a s , e fasendas de p o u c o gado e menos m a n t i -
m e n t o s , p o r nào ser o paiz a b u n d a n t e delles, mas n e n h u m
t e m n u m e r o deescravos c o m q u e e m p r c e n d e r g r a n d e ope-
racào, pois p o r estes se r e g o l a o poder p o r estes sertòes,
Sondo s i l o m a c n t r e e l l e s — fuào é poderoso , p o r q u e pòe
tantas a r m a s — , e neste n u m e r o entràoos negros, m u l a t o s ,
i n d i o s , m a m e l u c o s , Carijós, e mais varicdade d e g e n t e q u e
h a p o r a q u e l l c sertào.
» A tres leguas de Malo-grosso, p o r aspero c a m i n h o d e
m o r r o s e penedias, està o r i a c h o , e m q u e m i n e r o u o co-
r o n e ! Paulista Sebastiào Raposo, o q u a l v i n d o de S. P a u -
lo c o m t o d a a c o m i t i v a , q u e là t i n h a de escravos, i n d i o s , e
m u c à m a s , de q u o t i n h a vàrio* filKos, se m c t l e o p o r a q u e l -
las serras, o n d e j a alguns tinhào a n d a d o sem d e s c o b r i -
r e m e u r o de boa p i n t a ; mas este, c o n i o tivesse m u i t a ex-
perioncia e fi/.esse seus exanies, l h e a g r a d o u o s i l i o , e assim
p i a n t o l i suas rocas nos capòes de m a l o , q u e a c h o u visinhos,
e fez ali seu a r r a i a l . Capòes c h a m à o a a l g u m a s porgòes de
m a t o , q u e se achào p o r aquellas serras e campos, e / d e r r u -
b a n d o ao m a c h a d o , l h e pòc o f o g a p a r a depois p l a n t a r e m
m i l h o , m a n t i m e n t o o r d i n a r i o d a q n e l l a s p a r t e s : este P a u -
l i s t a , diziào, se retiràra de S. P a l i l o , e das Minas geraes, r e -
ceòso das ordens d o t r i b u n a l do santo o f f i c i o , e, ao q u e p a -
r e c i a a t o d o s , a v i d a era m a e o coragào c r u c i , p o r q u e
mutava p o r cousas m u i leves, e a sua gente o servia m i t i
violenta, p o i s a cada b o r a espcrava cada q u a l delles a d a
sua m o r t e , t a n t o assim q u e n o c a m i n h o , nào o p o d e n d a
ja a c o m p a n h a r d u a s das suas m u c à m a s de caneadas, n o
m e i o de uns serros m a t o u u r n a , e d e s p e n h o u o u t r a , d i -
zendo nào q u e r i a deixal-as vivas, sé p o r nào servirem a ou»
treni.
" Assentado o seu a r r a i a l na d i t a p a r a g e m , c n t r o u a m i -
n e r a r , p o n d o vigias nas partes mais alias, e sentinella;* n o
c a m i n h o , p a r a q u e nào deixassem là chegar a l g u e m , e
c o n i o era p o d e r o s o , c o m o t e m e r conservava scu respeito e
32 MEMORIAS HTSTORICAS, E POLITICAS

despotico i m p e r i o . Teve t a l f o r t u n a q u e a c t i o n o o u r o a
q u a t r o e c i u c o p a l m o s de cava da sua formacao, e t r a b a -
l l a v a ao p r i n c i p i o c o m o i t c n t a batèas: mas d a n d o c o m e u -
r o g r a t u l o , metteo l o d a a c o m i t i v a , c o l o m i n s ( 1 2 ) , e f e -
meas a t r a b a l h a r , c o n i q u e c h e g o u a trazer n o r i a c h o c e n t o
e I n u l a batèas; jaenlào despresava o o u r o m i ù d o , p o r l h e
gaslar t e m p o nas lavagens, e assilli m a n d a v a despejar as
batèas, e so buscava pedacos, f o l h c t a s , e gràós m a i o r e s ,
castigando f o r t e m e n t e alguns q u e l h e da vào de j o r n a l sé
u r n a l i b r a de o u r o : o q u e mais admiraeào faz, nào t e n d o
nada de p a r a d o x o , é t i r a r u n i pcdaco de a r r o b a e m o i a ,
d o feitio da aza de u m t a x o , e, a i n d a m a i s , q u e e m um
dia, d a n d o na m a i o r m a n e ha, t r a b a l h o u desde a m a d r u g a -
da atè as dez horas da noi t e , valendo-se p a r a isto d e f a -
eh os, e a p u r o u nella nove a r r o b a s .
• Havia trazido o d i t o Paulista c o m s i g o e m c o m p a n h i a
t i n i s o b r i n h o , c h a m a d o A n t o n i o de Almeida, ao q u a l o aos
p o u c o s da sua c o m i t i v a nào a d m i l t i a a m i n e r a r e n i j u n t o
c o m a sua f a b r i c a ; mas separados v i n t i ao a t r a z , r e v o l v e n -
d o a t e r r a , e cascalho ja m o v i d o , e m c u j o f r a g m e n t o l i r a -
rào q u a n t i d a d e de o u r o . P a r t o j a o d i l o Kaposo, o u t e n d o
o o u r o q u e bastava à sua ambicào, o u p o r q u e j a as g r a n -
desas nào.centinuavào c o m i g u a l r e n d i m e n t o , o u reeeòso
de q u e c o m aquella fama se aj untasse a l g u m p o d e r m a i o r
q u e o destruisse, se a u s e n t o u c o m o seus p e l o m a l o d e n *
t r o p a r a esses serlòes, t e n d o m i n e r a d o n o d i t o r i a c h o p o r
u r n a colonia, q u e o t e r r e n o faz a distanzia de u n i o i l a v o de
legua, e nesta t i r o u t o d o o v u i r o q u e l e v o u , e m q n e f a l l o u
s e m p r e c o m v a r i e d a d e ; e d u v i d a n d o eu d o n u m e r o d e a r *
r o b a s q u e nesta c i d a d e , e p o r este sertào t i n h a o u v i d o q u e
elle tiràra, e n l r e i a a v e r i g u a l - o c o n i m a i o r exame, e a s s i m
v e n d o e n t r e aquelles h o m e n s a l g u n s de mais capacidadc, e
u n i delles c o n f i d e n t e d o d i t o i l a p o s o , a q u e m c o m p r a v a
gados e m a n t i m e n t o s p a r a a f a b r i c a d o seu t r a b a l l i o , e p o r
esla causa l h e p e i m i n i a e n t r a r nas suas lavras, e t i r a r d e l -
las l i m i l a u t i l i d a d e ; e vendo t a m b e m c n l r e os Paulistas a l -
g u n s mais capazes, e u m m a m e l u c o d o d i t o I t a p o s o , o
q u a l pòde escapar-ihc u r n a n o i t e , depois de se m e t t e r ao
sertào, p o r r e c e a r o matasse; de cada u m destes c o l l i i , se-*

{12) Iudios impuberes*


DA PROVINCIA DA BAHIA.

pavidamente, o que deste coronel Sebasliào Raposo rclato,


qne me persuado ser o mais verdadeiro, p o r sereni es-
tes os que mei li or podiào sabel-o , e indagal-o dos da sua
companhia; e assim unanimemente c o n c o r d a r l o , em que
o dito Paulista levàra segurameute quarenta arrobas de ou-
r o , assim pela grandesa com que e tinha achado, corno
pelas horrachas e surrdes em quo elevava, orcavào aquel-
la quanlia , e tambem pelas cargas que lhe obscrvarào ,
quando se r e t i r o u , distinguindo-as das outras de m a n t i -
mentos, pois sabem estes homens as tracas e* subtilesas uns
dos outros, e diziào que o dito 11 aposo nunca Ihes confes-
sarà a quantia certa, e sé clizia p o r d i m i n u i t i v o , — e u lenito
ahi iimas arrobinltas.
» Depois de se p o r a caminho na retirada para o seriào,
deo busca aos seus, que lhe parecco levariào algum o u r o ,
e Ihes aehou variamente muitas libras, a uns tres e cinco,
a outros seis e nove, e entào é que lhe fugio aquelle ma-
m c l u c o , por ser u n i dos mais cuipados: logo se ausentou,
e nào sonbc o r u m o que tomàra, p o r se metter ao mato
p o r picada nova, que abria, mas pouco depois p o r alguns
indios, que o toparào, e sertanejos que p o r esse mato é n i

c o n t r o u , se sonbe qne reconcentrando-sc poresses serlòes,


ia na volta do Maranhào, e q u a n d o cheguei àquclles dis-
trictos do Rio das contas, havia mais de seis mezes, que
elle tinha partido, e co»ria là a noticia de elle ter chegado
ao Piauhy, aonde depois o matarào.
o 0 sobrinho Antonio de Almeida o nào acompanhou
nesta viagem, mas deste Rio das contas tomou logo o c a -
m i n h o de S. Paulo; deste me disserào as mesmas testemu-
nhas do o u t r o que levava à sua parte onze arrobas de ouro,
e tres que o tio lhe dera para uns pagamentos ou desem-
penhos em S. Paulo, fez quator/e arrobas que levou, aiu-
ola que a alguns, que o encontrarào, clizia menor numero.
»Logo que os sobreditos saìrào daquelle riacho, entroit
u m grande concurso de povo a mincrar nelle, pois entào
andavào dispersos p o r varias partes, bateando cada u n i on-
de lhe piotava, e no dito riacho se acommodarào divididos
c m seus ranchos, e tirarào b o m r e n d i m e n t o , porque erào
jornaes de q u a t r o e seis oìtavas, e tiravào suas l'olhc'tas as
vezes de quarenta e cincoenta oilavas, e alguns gràos de
ìfinté e mais: quando estive no dito riacho. ainda nelle se
TOMO V, 6
MEMORIAS HISTORICAS, E POLITICA9

m i n o r a v a , e m e assegurarào aquellos h o m e n s q u o se t i n h a
r e v o l v i t l o mais d e t r i n l a vezes, c o m t u d o aìnda d a v a v a -
r i a m e n t e citava e meia, d u a s e tres oitavas de j o r n a i , e nào
se da vào p o r co n ten tes pois queriào maiores porcòes d o
9

q u e aquellos g r a n ito 9 q u e eu via nas batèas, d e q u e nas


lava gens t i r a vào os d i l o s j o r n a c s , q u o ainda erào m a i o r e s
c o n i o q u o os negros fnrtavào, o n escondendo-o c o n i sub-
tilesa, o u engolinde-o som so pcreeber.
» Aohavào-se a oste t e m p o n o d i t o r i a c h o setocentos t r a -
b a l h a d o r e s e n t r o batèas e almocafres, aleni de o u t r o s q u e
andò vào e m varios riachos» e alguns e m novos d e s c o b r i -
m e n t o s , con» q n c seguramente passavao de duas m i l pes-
soas. G é m p u n i i a-se oste n u m e r o d o t o d a n variodado d e
gente, q u o p a r a a q u e l la p a r t e t i n h a c o n c o r r i d o , corno P u i i -
listas d o Serro d o f r i o e Miuas-geraes, h o m e n s b r a n c o s d e
p e q u e n a (sfera, q u o deste r e c o n c a v o , e d e m u i t a s partes
d o sertào tinhào i d o , m n l a t o s e negros, e e n t r o todos h a v i a
varios c r i m i n o s o s : mas n e m e n t r o todos eslcs, n o n i e n t r e
os m o r a d o r o s antigos d a q u e l l a s visìnhancas havia a l g u m
p o d e r o s o , o u d e grandes cabodaes, n e m o eapitào-mór da-
quollos d i s l r i c t o s t i n h a p o t l o r c o a r c l i v o c o n i q u e c x e c u l a r
as o r d e n s d o g o v e r n o goral deste e s l a d o , n e m as q u o m e
era preciso encarregar-Ihe, o m v i r t u d e das q u e d o m e s m o
g o v e r n o levava; e assim viviào a l i todos v o l u n t a t i o s , s o n i
roceio, obedicnoia, o u t e m e r , u n s r o u b a n d o , e o u t r o s i m i -
t a n d o , o logo q u e o m a l g u m r i b o i r o acertavào a l g u n s c o m
i n e l h o r p i n t a , caia aqueila mullidào na tal p a r l o , q u e o r -
d i n a r i a m e n t e desap pareo ià b o u r o , sondo para elles a x i o t n a
i n f a l l i v o l , q u e o o u r o nào q u e r ambicào n e i n soberba, pois
t i r a n d o se s o m estas c o m b o n i r e n d i m e n t o , logo q u e ellas
chegào se esconde, c o n i o a experioncia Ihes t i n h a m o s t r a *
d o p o r vezes.
D l i n i q u a l q u e r p a r t e d a q u e l l a visiuhanca q u e so fazia
exame, se tirava o u r o c o m mais o u menos rendiménto, p o r
p i n t a r m e l h o r e m urna q n e e m o u t r a ; mas n o n i aquelles
h o m e n s se cainavào m u i t o a b u s c a l - o , p r o f u n d a n d o m a i s
n o t e r r e n o , n e m tinhào forcas para isso, e a s s i m so faisea-
vào pelos r i a c h o s o m t e r m o s q u e o m i n o r a r os nào o b r i -
gasse a catas, c o n i o nas Minas-geraes, p o i s nào tinhào fa-
b r i c a para esse t r a b a l l i o , p o r q u e u n s ciào só c o m c o n i o
seu braco, e o u t r o s tinhào a d o u s m o l e q u e s , a d u a s negras,
DA rnoviNCIA DA BAHIA. 35

e a tres negros, e poucos a seis, nove e dei cscravos; só dos


Paulistas alguns tinhào m a i o r f a b r i c a , m a s nào q u e r e n i
mesolar-se c o m os m a i s , e s e m p r e andào n o m a l o n o seu
d e s c o b r i r e minorar.
• Alguns m i u e i r o s q u e das Minas-geraes v i n h a o das m i -
nas para esla cidade sem c o m b o i s , pelos trazerem ja r e d i i -
KÌdos a o u r o , tanto q u e chegavào ao sitio dos C r i o u l o s , o u
levados da c u r i o s i d a d e , o u da fama, faziào sua e n t r a d a a v e r
m i n o r a r ncstas p a i tes, p o r ser u m só d i a de viagem o q u e
«e doswavào d o seu d i r e i t o c a m i n h o , e se admiravào assira
de ver a f o r macào d o o u r o e m t a o pouca a l t u r a , c o n i o de
q u o a q u e l l a gente c o n i urna oitava d e c o r n a i senào «lésse
p o r satisfeila, edi/iào, q u e se nas Minas-geraes livessetn
meia oitava certa nào queriào m a i o r j o r n a l ; corno t a m b e m
se ali houvesso homens p r a t i c o s , c o m boa experiencia no
m i n o r a r e f a b r i c a deescravos para fazeiem boas eatasj q u e
l i r a r i r i o inuìto ouro.
* De q u o o ha naquellas p a r l e s , ó sem d u v i d a , nào só
pelo ver t i r a r nas lavras, e m a n d a r fazer a experiencia c o n i
as batèas neste e n a q u e l l e sitio, para ver a p i n t a , mas p e l o
q u o me disserào alguns dos q u e faiscavào, poróm e m g e r a l
t o d o s dizem q u o nào K m c o n t a ; mas porgunlava^Ihes a es-
te seu dizer p a r a q u e su bastino a l i , e conlinuavào o tra-*
c

b a l b o , se ihes nao t i n h a conta? E osta voz c o m m u n i e r a


nascida o m uns, p o r nao m o s l r a r e m suas oonvoniencias, e
e m o u t r o s p o r se l i v r a r o m de i n s u l l o s , e e m todos p a r a
q u o esla noticia fi/esse passar aos q u e para là t a o , e che*
gavào de n o v o , p a r a q u e nào irosces.se tanto o n u m e r o ;
m a s sei c o m i n d i v i d u a l i dado q u e se t e m t i r a d o c t i r a inni-'
t o o u r o , m a n d a n d o cada u m delles a duzentas, quinti*»-
tas, e novveontas oitavas c o n f o r m e e seu m i n o r a r , e f a b r i -
ca q u o l e m , fa/ondo estas romessas pelos homens q u e v e n i
para b a i x o a buscar o do q u e nocessitào, o u a e n l r e g a r às
suas eorrespondeneias: de urna m u t a t a q u e estava à sua t a -
verna de varia» bagatolas, souèe q u a n d o là e s t i v e , q u e só
d o urna voz mand< u para b a i x o meia a r r o b a de o u r o a-
c o m p r a r f o r n e c i m e n t o para a sua venda; e a osta p r o p o r -
l o o u t r a s e o u l r o s q u e la ha do semelhante vida.
• Nào duvidavào os praticos no m i n o r a r q u e ha m u i t o
o u r o p o r auuelles d i s t r i c t o s , e c o m os Paulistas assentào
t o d o s , e m q u e as disposicòes do t e r r e n o sào as mais prò-
6*
36 MEMORIAS HISTORICAS, E POLITICAS

prias para o haver, porque aquella serratila* e continuacao


de morros, a variedade de riachos, a terra escalvada seni
erva alguma nem lenha, e todas as mais confrontacòes, as-
silli o assegurào, e acresecntào os Paulistas, conio ouvi a a l -
guns, que as grande/as que o Raposo achou nào se encer-
ravào só no seu r i a c h o , nem elle só havia de ter aquella
fortuna, pois esperavào mais a q u i o u a l i , ter ìgual suc-
cesso.
» Que vinha m u i t o ouro destas partes o sabe o provedor
da casa da moeda, de que ja tera dado conta pelo que nel-
la entra, e nào vai a ella todo o que véli), porque ou o
t e m o r dos que o t r a z c m , ou a convenienza dos q u e o
comprào, fez espalhar a voz de que na dita casa se torna-
va todo o ouro que entrava daquellas partes, pois entro
o mais era conhecido.
» Dos quilates q u e loca nào podere! dizer c o m certesa,
mas de ser b o m ouro e sem duvida, e os ourives diligen-
ciào m u i t o a compral-o, ou porque Ihes tem m i l i t a con-
ta para o d o m a r das obras, c o m ò elles di/em, ou porque
Jhes perniine mais Iiga nas que delle fazem: os Miueiros
querom tenha só a differenza de qne nào corresponde o
peso à qualidade, dizendo quo, postas iguaes porcòes de
o u r o deste, e de todas as Minas-geraes, pesa este algumas
oitavas mais que aquello; mas o nào corresponder quan-
to à quantidade nào altera a qualidade, alóni de que, exa-
minada osta differenea que elles dizem, nào se d i rigoro-
samente tal dilferenca, porque elles a regulào pelas b o r -
rachas, o u canudos om que mettom o ouro para o c o n -
duzir, dizendo—està borracha ou canudo leva de o u r o das
Minas-geraes tantas q u a r t a s , ou tanlas l i b r a s — e deste R i o
das contas nào chega a inleirar o tal peso; logo nào é igual-
mente pesado, o que se nega, porque deve haver a dis-
tinccào que o das Minas-geraes o u vem em pò , o u e m
granitos miùdos, que na borracha o u canudo se a eco m-
moda melhor, une mais, e dcixa menos vàos; e deste Ilio das
contas é pouco em pó, e os granitos mais graùdos, e suas
folhètas, que na borracha e canudo nào vem tanto, fican-
do maiores vàos intermedio», por isso nào nào correspon-
de igual quantidade a igual peso: o prego p o r q u e regulào
o o u r o nestas minas para as compras, vendas e pagamene
tos é a q u a t r o patacas, que fazem 1$>280 reis.
DA PROVINCIA DA BAHIA. 37

» Que està gente haja de cxtorminar-se totalmente daquel-


les sertòes, è m a i ditfìcii pelo que v i , pois a larguesa do
paiz Ihesofferece a mesmacommodidade em outra qualquer
parte, e diziào elles—se nos lancarem fora d'aqui, iremos
para acolà,—apontando para a quantidade da morros e ser-
ranias, que ha por aquellas partes: qne necessiiào de q u e m
os governe, corrija e domine, nào só é sem duvida, mas pre-
cizissimo, pelas desordens roubos e morles, que a cada pas-
so eslào succedendo, para por quanto antes em arrecada-
cào os quinlos reaes, pois é certo que p o r està falla se per-
d e r l o as arrobas que devia pagar o Raposo, e se tem per-
dido, e estào perdendo, os que devem pagar todo o mais ou-
r o , que sàe daquelles districtos; e està é a verdade do caso,
pela ter visto e examinado com aquelle cuidado e zelo, que
pedo matèria tào importante, e conveniente ao real servico,
e as notieias diminutas e differenles, que nesta cidade cli-
vulgào algumas pessoas, sào u n i i aclulleradas, crendo de
leve uns o que ouvem a outros sem fundamento. T a m b e m
espaihjio esla voz, pela dependencia e convcnicncia que l e m
dircela ou indircela nas ditas minas, e porque Ihes resul-
tào maiores ganancias em quanto estas se conservào no es-
tado presente, porque mandào o seu negro, ou negros e
cargas sem pagar os direitos quo devem, e lirào de là ouro
sem ser quintado.
» Esposta a jornada, o u viagem corno lhe chamào os ser-
tanejos, da villa da Cachoeira até as minas do Rio das con-
tas, difliculdades que veneem c o m muito traballio os que
seguem este caminho, as fomes*e sedes, doencas e mortes
que padecem, o incrivcl da chapada, em que se poderiào
consumir numerosos exercitos, se intentassem passar c o m
poucos defen?ores, que houvesse naquclles desfìladciros e
despeuhadeiros, e todas as mais circunstancias ja expressa-
das, claramente se vè o impraticavel de poder fazer està
marcha qualquer nacào da Eui opa«
%

» Quanto à barra do Hio das contas na costa do mar, nào


só digo que è impraticavel a marcha, mas explico-me pelo
termo impossivel; porque se p o r aquelle caminho, ha tan-
tos annos Irilhado e coulinuament-j seguido, se experimen-
ta o que relalei e padeci i que sera por matos, sèrros,
campos, e travessias nunca d'antes navegados ? A barra do
Rio das contas tem pouco fuudo, e urna grande corèa de
as MEMORIAS HISTORICAS, E P 0 U T I C A S

area; nào é capa/ n e m de emborcacdes p e q u e n a s , e ja p o r


està causa a povoacào, c h a m a d a d o R i o das contas, està
d o b r a n d o a p u n t a ao s u l , e m urna p e q u e n a enseada q u o
a l i ha, o n d e càrregao os barena e sumacas q u e à quella p a r -
t e vào: este r i o é só navegavel de canoas legua e moia c o m
p o u c a d i l l c r e n e a , o n d e t e m a p r i m e i r a caehoeira de q u e se
despenha; e a i n d a q u e , pelo c a l c o l o t r i g o n o m e t r i c o , a me-
n o r distancia q u e ha da b a r r a deste rio as suas m i n a s sejào
q u a r e n t a e sete leguas, c o m t u d o , pelo c a m i n h o mais b r e -
ve q u e se podosse escolher, segurainonte passariào decorra
Jeguas, pela <liiFerenea da operacào ('cita d i r c e l a pelo p l a n o
d o m a p a , a p r a t i c a dos diversos r u m o s q u e o t a l c a m i -
n h o havia de s e g u i r , e voltas q n e o r i o dei; e p a r a m o s t r a r
os ( u n d a n i e n t o s q u e tentio para d a r està m a r c h a p o r i m -
possi ve], i n d i v i d u a l - o s - h e i p o r piirtes nesta f o r m a —
» P r i m e i r a m e n l e p o r l o d a a eosta d o m a r o n d e desagua
e f a / b a r r a o R i o das c o n t a s , assim para o n o r t e , c o r n o pa-
r a o s u l , nas partes e m q u e temos povoacòes, ha só d u a s
leguas de I r a t o , e l a v o n r a pela terra d e n t r o , p o r q u e os i n o -

!
r a d o r e s nào p o d e m p e n e t r a r mais ao seriào, p e l o m u i t o
g e n t i o b a r b a r o c o m q u e cnconlrào; c a s s i n i estuo v i v e n -
d o precisamente e n t r o aquellos l i m i t e s . Pela extensào da
costa, afastado d o m a r aquellas poucas leguas, c o r r e u r n a
m a n c h a d o m a t o virgem, e ó malo em quo nunca h o u -
ve córte, o n d e h a q u a n t i d a d e de g e n t i o , q u e para o s o r -
tao o m a i s q u e se estendem e pelo R i o - p a r d o : osto, per-
seguido dos P a u l i s t a s , q u a n d o e m o u t r o t e m p o cnidavào
m a i s n a sua extinccào, e andavào à caga delle espai h a *
dos p o r estes sertòes, se f o i r o t i r a n d o para a q u o l l a p a r -
t o , o n d o a c a n t o n a d o s se toni c o n s e r v a d o até o p r e s e n t e ,
sem experìmentarem a m e n o r invasào, t e n d o p r o d u / i d o
i n n u m o r a v e l m o n t e pelas suas aldèas; e corno se pódo v o n -
oor osta d i t n c e l d a d e p o r E n r o p e o s n o v a m e n t c t r a n s p o r t a *
dos a q u o l l a costa, t o n d o contea si, alóni das mais d i f f i c i l i *
dades, a de g u o r r e a r c o m os i n i m i g o s c o n t r a os quaes nào
basta o v a l o r , pois è differente a sua g u e r r a ('a de se bate-
vem exorcitos, assai la r e m pracas, e d e f o n d e r o m brochas?
» Dado, e nào concedido, q u o so podosse vencer osto g r a n -
d e o b s l a e u l o , atravessaudo a q u e l l e m a l o , soguia-se a m u l -
tidào de sèrros, ponodias, o m o r r o s q u e a l i haviàode pas-
s a r , e d e o u t r o s se haviào de a f a s l a r ; os largos rodeios a

•v.v fumivi'
DA PROVINCIA DA BAHIA. 33

que os precisarla o seu destino, seni praticos, ou guia, ne»


n i i u m genero de povoacào o u m o r a d o r p o r t o d o aquello
t e r r i t o r i o sem m a n t i m e n t o s ; falla de agua nas travessia s,
c ja nas u l t i m a s m a r c l i a s a visinhanca das p r i m e i ras fasen—
das de gado q u e h a p o r aqueiias p a r t e s , a i n c r i v e l fadiga
dos c a m p o s c h a m a d o s Len'fiks pelas suas arèas, e, u l t i m a -
m e n t e , h a v e r e m de e n t r a r à forca na asperesa daquellas
m i n a s , em q u e hastariào p o u c o s defensores para m u i t o s
ex p u g n a t i tes, p o r q u e é i m possi ve! de erer o sereni v e n c i -
veis tantas e taes difìiculdades, m a i o r m e n t e sendo pondo-
rada» p o r q u e l l i tenha a l g u m a n o t i c i a , o u saiba o que sào
seri dos d o Brasi!, c o n becera o in falli vei deìlas, e nào l h e
parecera a b s u r d o o d a r por i m p o s s i v e l o project© da mar-
c i l a , c o r r e n d o o m e s m o p a r a l l e l o para q u a l q u e r p a r t e dos
o u t r o s ponto» aloni d o Rio das contas, o u seja para o s u l ,
c o r n o o dos llhéos, o u para o n o r i e , c o n i o o de Carnami!,
M o r r ò , e J e q u i r i e a , c a s s i n i d i g o u l t i m a m e n t e q u e ostas
m i n a s eslào fortes p o r na t u resa, i n c o n q u i s l a v o i s , e seguras
d o que as possào g a n h a r ainda colliyadas as maiores forcas
da E u r o p a , corno e v i d e n t e so e o l h e d o deduzido.
» x^qui p o r l e n c o o successo seguitile. I l a d o u s annos se
ajuntarào na b a r r a do R i o das contas alguns scrtanejos, e
c o m os seus poucos negros, e alguns indios m a n s o s , q u e
podorào r e d u z i r a sua c o m i t i v a , tizerào o n u m e r o de t r u t -
ta e c i u c o pessoas, capitaneados p o r Panlaleào R o d r i g u e s ,
q u e ha m a i s do dez annos c o n h o c o na v i d a do sertanojo, e
s e m p r e o m d e s c o b r i m e n t o s , e t e m tentado a e n t r a r p o r està.
p a r t e da costa por l h e pareeer*mais p o r t o ; t e n d o peróni
v o l l a d o a l g u m a s vezes pelas diHìculdades c o m q u e topava,
desta c o n i cIToilo e n l r o u c o m a q u e l l e n u m e r o de gente a r -
m a d a ao r i g o r da l a i viagem.
«Parlirào pela m a r g e u i d o r i o a c i m a , l a r g a n d o - o q u a n -
d o as cachoeiras e sorranias l h e impediào a m a r c h a , mas
t o r n a n d o a buscal-o pela falla de agua, q u e às vezes expe-
rimentavào.
»J)epois de a l g u n s dias de viagem d a n d o c o m rasto de
g e n t i o , e n t r o u o recoio, e t e m o r e m a l g u n s dos c o m p a n h e i -
ros, e nào quizerào passar a d i a n l e , sendo os i n d i o s os p r i -
rneiros q u e voliarào seni q u e os podosscm deter. Contì-
nuarào os m a i s a sua d e r r o t a , e atravossarào grandes n i o r -
ros p a r a escaparem ao g e n t i o , pois de n o i t e pelos f o g o s l l i e
1IEM0RTAS H1ST0RICAS, E POLIT1CA9

observavào aldèas para dellas se afastarem , e ainda assim


toparào c o m alguns no r i o à pesca, do que se offenderlo,
e fugirào antes que fossem sentidos dos mais: sairào ao fini
de dous mezes naquella maior marcila de mato com perda
de alguns que haviào m o r r i d o fatigados do caminho, e ou-
tros ficado ao desamparo por debililados de forcas.
»Jà a este tempo os companheiros daquella aventura erào
só onze, sem mantimentos, com pouca polvora, som baia,
o u municào para cacarcm, e, o que mais è, c o m o r u m o e
tino perdido, sendo por està causa nào menos de a d m i r a r
a constancia destes novos descobrìdorcs, do que a dos an-<
tigos argonautas nas suas navegacóes. Continuarào a mar-
cha buscando sempre o r i o , assim para a certesado peixe,
corno para nào perderem agua, tendo jà por impossivcl o
podercm-sc retirar: aos ciuco mezes de viagem, ja estes f a -
mosos aventureiros erào só cinco, tendo os mais pago c o m a
\ida sua temeraria ousadia, e esperando estes o mesmo firn
p o r instantes, pois nào viào sinal, noni esperanca de povoa-
do, e precisados da necessidade, continuarào a buscar a
morte, encontrando»a cada u n i a seu tempo; só os u l t i m o s
dous avancarào a por com os seus corpos na terra as bases
do non plus ultra de suas herculeas forcas, c o m tal f o r t u n a
que, no mesmo dia em que prostrados se rendiào. Ihes che-
gou o soccorro nào esperado, porque de urna das ultimas
i'azendas, que ha por aquella parte, chamada Campo secco,
i n d o u m morador delia a cavallo vaquejar algum gado
amontado, deo c o m os dous corpos deitados, parecendo-
ì Jhe mais cadavercs que viventcs, assim pelo funebre d o es-
peclaculo, corno por nào fallarem; couduzio-os para casa na
melhor forma que pòde, e os foi alimentar alguns dias ale
lornarem em si com mais acordo e poderem ja fallar: en-
tào Ihes p e r g u u l o u donde erào, e de que parte vinhào, pois
os via tào cortados do mato, q u e parecia terem atravessa^
1 do m u i t o seriào; depozerào inleiramcnte esle successo, e
u n i delles era o Pantaleào Rodrigues, cabo da parlida, que
havendo m u i t o s mezes q u e tinha chegado, e estava conva-
lecendo, quando fui ao Rio das contas, inda nào tinha i n l e i -
ramentc tornado em si; mas ratihcando-meo successo acres-
centou, que gastàra mais de oito mezes de viagem, e q u e
pelo caminho q u e iizera, andàra mais de duzentas legoas.
» Està é, Exm.° senhor, a mais breve recopilacào que p u >
DA PROVINCIA DA BAHIA. Al
d e faser da m i n h a viagem, e se ainda assim pareeer larga,
precisou-me a sua dilì'usao o e n t e n d e r q u e devia cxpór v i s i -
vel m e n t e a q u e l l e seriào e m i n a s aos o l h o s de V. Ex., para
que de u m e o u t r o formasse o v e r d a d e i r o coriceito, e tiras*
se a conclusào infallivel de q u e nào p o d e m sor iuvadidas
p o r nacòes estraogeiras, e c o m esla certosa i n f o r m a r V. Ex.
a S. Al., q u o Doos guardo, o q u o f o r mais c o n v e n i e n t e ao
seu rea! servico, Beando o d i t o senhor, a vista desta rclacào
e mapa, i n t e i r a d o do t u d o o q u o aquellos d i s t r i c t o s sào e
nel log ha, e ainda passarla a mais a m i n h a espcculacào e ex-
p e r i e n c i a de examo, se a detenga u n e me sobreveio deste t r a -
b a l l i o nào fosso tào v i o l e n t a , caindo-mc t o t a l m e n t e os b r a -
co» e per nas, sem nelles t e r m o v i m e n t o a l g u m , sendo-me
preciso o v i r d e i l a d e e m urna róde, c o m povica esperanca do
chegar à B a h i a , padecendo d o b r a d o s t r a b a l l i os dos q u e
c o m saudo p o r t o d o a q u e l l e sertào havia passa do, d u r u n -
do-me nesta cidade p o r mais de seis mo/es de cani a. de q u o
a i n d a estou m a l cònvalecidò, m o v e n d o as m à o s t r e m u l a ?
m e n t o : nào parerà alhoìo desta relaeào o representar nella
a V. Ex. a g r a n d e despesa q u o lì/ nesta j o r n a d a , o m c o m -
p r a de negros e cavallos para t r a n s p o r t e , mòrren cto destes
p o r csses sertòes a cada passo, e c o m p r a n d o n o v a m c n t e o u -
t r o s , e e m t o d o o mais a presto preciso, levando à m i n h a
eusta u m intelligente pilotò para me a j u d a r , é d a n d o * l l i e
cavallos para a m a r c h a ; da m o s m a sorte gùias praticos n o
p a i / , sargento e soldados, i n d i o s e negros q u o susteular, f a -
zen do o n u m e r o de 37 pessoas, sem a l g u m genero de a j u -
da do c u s t o , e n t r a n d o e m uur*novo e m p o n h o q u o acresci
a o c o u t r a i d o na viagem de Angola, para q u e i n f b r m a d o V,
Ex. da vepdade, e d o c u i d a d o c o m q u o a onze annos assisti
s e m p r e às forlifìcacòcs desta praca, p r o c u r a n d o o a d i a i i *
tal-as, possa d a r conta ao d i t o senhor do traballìo e zelo,
c o m q u e m e e m p r e g o e m seu real servico, para q u o pela
sua real grandesa o promòo c o m o acresecotamento q u e f o r
servido. Bahia 15 de fevereiro de 1 7 2 1 , — M anaci Pereira da
Costa—(13).

Por ser igualmenle apreeiavel por sua exactidao o itinerario que acima
seràencioiia,aeliei conveniente nào o m i u i r sua publicacSo nesle lugar.
»Eihbarca-se neste porto da Bahia pura a V J ! I ; I da Caclioeira, e navegawta
para o reconcavo se vai entrar pela lian a Uo rio Paraguassù, e d'alù ale a villa
T O M O V. 7
5 T E M 0 R Ì A S UISTOIÌICÀS, E POLITiCAS

Inteirado o governo supremo p o r esse relatorio que l h e


foi presente, de quanto lhe c u m p r i a saber sobre as m i n a s
do I l i o das contas, determinou p o r provisào de 31 de o u t u -

«eguem os barcos as voìtas, qnc o rio da: fazem commumente os praticos desta
navcgacào q u a l n r z e leguas da r i d a d e a dita v i l l a .
Desembiirca-se defronte da villa d a o u t r a p a r i e d o r i o , e se v a i fazer alto n a
freguezia de S. Pedro, da qua! principiào toda a j o r n a d a d o costume,
W A 8 U B MARCH*. LEGUAS.
J . — De S. P e d r o a o Apoi-a pequeno,
1
4
a . — D o Apora" ao G e n i p o p o , , g
3.—Do G c n i p a p o ao C n r r a l i n h o , a

A q u i Ita a o menos de d e m o r a dous dias p a r a fazer basliraentos.


D o C u r r a H n h o ao Boqueirào » , 5
Neste Boqueirào p r i n c i p i a a travessia.
5.— D o Boqueirào a* Sulgada . • , \ y
6 \ — D a Salgada a Boa-vista • • . , * . » . . . . . , , 6
7.—.Da B u a vista a C a h e c i do touro ^
8 . — D a C a b e c a do touro à"s V a r g i n h a s . . . . » 3
9.- Dm V a r g i n h a s a villa de Joào A m a r o . 4
Nesta villa a c a b a a travessia.
**>•— D a villa de Joào A m a r o a P a l m a . . ' 5' 5
A q u i toriia h a v e r dilacao p a r a m u n i c l a r novamente.
p i . — D a Palma as Flores ^
A n t e s d e chogar as F l o r e s fica o sitio c h a m a d o T a m b o i i s , o n -
de se a parta uni caminho a e s q u e r d a q u e v a i p a r a M a r a c a s .
i a — D a s Flores a Capivara. . . , , , 0

»3.—Da C a p i v a r a às A r a r a s ^
14 — Das A r a r a s a b a r r a d o r i o l i n a , q u e e n t r a no Paraguassù . , . 5
i 5 . — D o r i o U n a a passagem do mesmo r i o . . , «
A q u i p r i n c i p i a a travessia da C h a p a d a .
' * — p a s s a g e m d o r i o L u , i a o n o Gib«»ia
f i
3
17.—Do G i b o i a ale o firn d a C h a p a d a * |
Meia legua d e distancia d o firn da C h a p a d a , fica a passagem d o
r i o Paraguassù, q n e é princìpio dos G e r a e s .
18.—Do firn da C h a p a d a a o firn dos G e r a e s ; y
19.—Do u n i dos Geraes aie e passagem d o R i o das contas g r a n d e . . 5
A q u i fica u m c u r r a l i n t e r m e d i o . Onde se f a z t c r c e i r a vez pro-
visào d e c a r n e * e fin inhas.
a o . — D o R i o iias c o n l a s g r a n d e ao Riheirào 4 ^
21.—Do Ribcirào ao Malo-grosso. . g
Total. . . xo5

Aqui finda a viagem das minas do Rio das contas, por ser este sitio de maior
concurso, e onde se p r i n c i p i o u a a j u u l a j gente n o q u e l l c s d i s u i c t o s , e a elle v i *
DA P R O V I N C I A DA BAHIA

loro de 1721 q u e a respeito cltllas se procedesse d a mestila


m a n e i r a cstabelecida p a r a as de J a c o b i n a , e q u e r e o d o d a r
ao e n g e n h e i r o M i g u e l Pereira da Costa urna prova d o apre*
oo e m q n e erào tidos os seus servìeos e m l a i d i l i g e n c i a . alóni
de agraeial-o c o m a insiguia de cavalleiro da o r d e m de C h r i s *
t o , e tenga de 3 0 ^ 0 0 0 reis annuacs, o r d e n o u mais q u e o
g o v e m a d o r , depois de agradccer-lhos no real nome, l h e des-
se a q u a n t i a de 40O,5£,0OO reis c o r n o e m compensacào das
despesas queenlào fizeru ( 1 4 ) .

os comboieiros v e n d e r os generos dos sens comhoìs, e d'iiqtiì m u d i l o aquellcs


homens us ranehos para as partes eiu q u e miucrào.
Antes de chegar ao Mato grosso, se aparta o c a m i n h o d a i Minas-geraes à es-
q u e r d a , passando p e l o s i t i o c h a m a d o os C r i o u l o s , que é urna fasenda de gado.
R i o das contas pequeno, rhamào-se v a r i a m e n t e a q u a l q u e r dos riachos des-
ia visìnhanca , sendo loda està purcào daquelle seriào noiueada por d i s t r k l o
d o R i o das contas.
D o Mato-grosso aos C r i o u l o s , no c a m i n h o das Minas-geraes, sào c i u c o leguas»
D o Mato-grosso ao r i a c h o e m q u e m i n e r o u o P a u l i s t a Uaposo, sào tres leguas.
D o Mato-grosso aos descobrimentos novus sào q u a t r o dias de j o r n a d a .
D o Mato-grosso aos descobrimentos Z Z — s à o tres dias de jornada.
D o Malo-grosso, q u e està e:u i3° 5j' de l a i u n d e a u s i m i , e e m B j a e i 6 * de 0

l o u g i t u d e a b a r r a do R i o das contas-na cosia d o mar, q u e h'ca na l a t i t u d e de 14*


e i 5 ' e na l o n g i t i i d e de 345", ha pelo p l a n o do mapa 5o leguas.
Mas p o r uperacào t r i g o n o m e t r i c a , feita peias d i i f c r e n c a s de lalitutle e Ion«
g i n u l e , q u e ha c n t r e estes dous lugarcs, sào semente 47 leguas.
P o r é m pelos rodeios q u e faz o r i o , o u a i n d a q u e se queirào afastar d e l l e
pelas vollas a q u e o h r i g a r a o m a t o , scrranias e os mais impossiveis, segura-
m e n t e fazem mais de 100 leguas d e m a r c h a .
Pela conia dos m i u e i r o s e s e r i a n e j o s , cfne cursào este c a m i n h o das minas, ha
v a r i e d a d e nas d i s t a n r i a s , o u suas leguas: mas ao t o d o assentào quasi todos q u e
sào 150 leguas da C a c h u c h a ao Malo-grosso, sendo peto q u e se ve' desta r e l a -
cào i o 5 . E verdade que a q u e l l a gente, p e l o q u e o b s c r v e i nos muitos que en-
contrava pelo camìuho, n a o especula, nào faz mais averiguacào, q n e a q n e l l i e
i m p o r t a a sua viagem, e assim a d i s c r e p a n z a q u e se aebar no mapn e suas r e *
lacoes, a q u a l q u e r o u t r o mapa o u n o t i c i a de 2lgnra c u r i o s o o u p r a t i c o , fìelmen*
te se podc a t t r i b u i r a cugano da sua i d e a , o u menos acerto da (amasia, p o r q u e o
vagar com q u e p o r este c a m i n h o a cada passo potava no p a p e l o q u e me pa-
recia memoravo!, e preciso para a exaccào desia d i l i g e n c i a , os dias q u e p e r d i a
da viagem para observar a a l t u r a d o p o l o , e o t e r feito p o r muitas vezes se-
melhanles operacòes, me nào fez persuadir de q u e sendo urna so a verdade, h o u *
•esse (coni estas circunstancìas tào conducenlcs a ella) de erral-a, e q u e a l g u e m
Se.m ellas acerlasse. Bahia là de f e v e r e i r o de 1 7 8 1 . — M i g u e l Pereira da Costa.
(<4) A p e n u i t l i d a laboracào das mìnas fez geralmentc conhecer a rìquesa
do t e r r i t o r i o do R i o das contas; e r a com effeito a d m i r a v e l a q u a n t i d a d e de o u "
7*
44 MEMORI AS HISTOMCAS, E POLITICAS

Entre os homens votados ao bem pnblico que nesse tem-


po conlava a Bahia, se enumerava o coronel Pedro Barbosa
Lea), nào menos recommendavel por sua honradez, que pe-
las descobertas de ouro que havia fello, e o govei nador que-
reli do nào sò obviar ao capantoso numero de crimes que
secommeliiào impunemente em Jsbobina (15), corno tauT-
bem proceder ao enlabolamenlo das minas desse districto,
encarregou-o da execucào da refenda carta regia de 5 de
agosto de 17-20, o que elle c u m p r i o comecando pela fluida-*
cào da villa, a primeira que se desmembrou do extenso ter-
m o que entào per te neia à da Cachoeira, pelo auto que se
Segue—
» Aos vinte quatro de mez d e j u n h o de 1722 annos neste
sitio do Sally, missào de N. S. das Keves, e freguezia de S.
A n t o n i o da Jacobina, nas casas da mesma missào onde de
presente està pousado o coronel Pedro Barbosa Leal, fidai-,
go du casa de S. M. cavallaro prolesso da ordem de G b r W

ro que tiravào os qne bisso se empregavìio, còm quanto perdessem nào pou-
co , por careceiem dos conherimeiitos necessario», e q u e r e i t m evitar o major
encommodo em emeJhante traballio. Consta dos regislros officiaes de se tempo,
B

que exanainei, haver o ja mcncionado coronel Sebastiào Pinìieiro Raposo, Pau-


lista de nascimento, lirado em poucos dias de servico oitenta arrobas de o u r o r

do alveo d e c e r l o riacho-cujas aguas desviara, nào progredindu poréui nessi


m i n o r a l o em consequencia de ser para isso intimado da parte do govemador
pelo celebra do Miguel Nnirtfc Viauna.
; ° resulton a morie, porque retirando-se com loda a sua comi-
D e f i , e f a c l l h e

tiva, eolie a qual se conta vào duscntos e eincoenta «aeravo» indios Catijós, para
o centro da provincia do Piauhy, o n t e tencionava estal.elecer-se com fasenda*
de gado, foi atra 1 eoa da in ente mono em urna cacada, e seu fillio o capitai An-
tonio Raposo, p o r M a n o e l de Almeida, scelerado que coni elle se introdnzira de
amisadc na povoacào de Alongas, di* «Io-se possuidor de diversa* fasendas, que
cu

dm-java veuder-Ihe, auxiliado nesse assassinio por alguns daquelles cscravos, a


quem Qlhcidra, e com os quaes dividio urna porrào do ouro de que se apoderou,
relirando-se apo* isso coni sessenta dos mesn.os escravos, c vinte e duas arrobas
de ouro em companhia de .urna concubina do referido capitào, tambem compii-
ce na sua mone. O govemador expedio as mais energica* ordens para a cani li-
ra deste assass.no, e corno entào, nao ha vendo a quaulidade prodigiosa que Loie
se nota de agente* da p.licia, havia mais policia, fui preso com sua complice
nas .mmed.acoes da povoacào da T o r r e de Garcia d'Avila, expiando o niésmo
Manuel de Ahne.da o seu delieto com a morte no patibolo, por sente.ica da re-
laeao. De tudo quanto pertemia a sua v i d i m a apenas conservava, quando f o i
capturado, qiun.e escravos, alguns cavallos, armas, e pcquenas joias d curo.
e

(x5) Veja-seo u° volume pag. 1G0,


TU PROVINCIA DA BAHIA.

t o , a c u j o cargo està a i n c u m b e n c i a das minas de Jacob!-*


na, e a m a c à o e ereccào da villa de S. A n t o n i o d a Jacobina
pela delegacào e c o r n i l i fs sào q u e l e m d o excellentissimo se-
n i j o r Vasco Fernandes Cesar de Menezes, vice-rei ecapitùo
general de m a r e terra d o estado d o Brasi!, a h i p o r c i l e d i t o
c o r o n e l P e d r o Barbosa L e a l forào m a n d a d o s convocar e v i r
i sua presenta os m o r a d o r e s deste d i t o sitio, c seus a r r e -
d o r e s , q u e nelle habitào e l e m suas fasendas, e alguns m i -
n e i r o s ; e estando j u n t o s os mais d e l l e s , pessoas das m a i s
nobres, ricas, e das mais autorisadas, q u o sào todos a q u e l -
les q u e e m o firn desto t e r m o se achào assinadoSj Ihes prò*
poz o d i t o c o r o n e l e fez presente, em presenta de m i m es-
crivào, e m c o m ò S. M., q u e Deos g u a r d e , fora s e r v i d o
o r d e n a r , corno c o n i cfFcito o r de n ara, p o r carta firmnda pe-
la sua real m a n de 5 de agosto de 17*20. ao excellentissimo
s e n h o r Vasco Fernandes Cesar de Menezes, v i c e - r e i e c a p i -
tào general de m a r e terra deste cstado, q u e pelo d i s t r i d o e
sertào da Jacobina mandasse estabelecer e c r i a r urna v i l l a
c o m o seu m a g i s t r a d o , p a r a q u e assim os m o r a d o r e s e m i -
neiros q u e n o d i t o d i s t r i c t o e sertào da Jacobina viviào ,
vivessero c o m maiores obrigacòes de vassallos, corno t a m -
b e m de c a t h o l i c o s , p o r ser i n f o r m a d o de q u e a urna e o u -
t r a c o m a falla vào, p o r viverem m u i t o s delles e m lugares
rcmolos., faltos da administracào dos sacra me n t o s , c o r n o
t a m b e m da administracào da justiea, razào de viverem abso-
l n l p s e desletnidos, c o m m e t t e n d o grandes o b i t i nacòes e
d e l i c t o s , para c u j o firn era elle d i t o c o r o n e l e n v i a d o p e l o
d i t o senhor v i c e - r e i , e capitào general de m a r e terra deste
estado a f o r m a r essa v i l l a , p a r a c o m esle m e i o se ficarem
e v i t a n d o todos os sobreditos inconvenientes, corno t a m b e m
os que os mo' adores delie e seus a r r e d o r e s e c i r c u m v i s i -
n h o s padeeiào e m seus pleitos e demandas, i n d o a c o n t e n d e r
p r i m e i r o à villa de N, S. d o Rosario d o p o r l o da C a c h o e i -
ra, c o m notavel m o l e s t i a e d e s c o m m o d o seu, risco de suas
Ti das e pessoas: e logo pelo d i l o c o r o n e l foi delles s a b i d o ,
e i n f o r m a d o q u a l era o l u g a r mais conveniente e p r o p o r -
c i o n a d o para se éleger e e r i g i r a d i t a v i l l a , na f o r m a da de-
legacào e commissào q u e t i n h a d o excellentissimo senhor
\ice-Vei e c a p i tào general deste e s t a d o , e expressa o r d e m
de.S M. ìì vistas e p o n d e r a d a s p o r elles todas as rasoes
nesle t e r m o allcgadas, concordarào e vierào, q u e e m este
MEMORIAS II1STOR1CAS, E POT.iTlCAS

m e s m o sitio se fizesse, erigisse, e assentasse a villa q u e se


v i n h a edificar, pois era e m ntilidade ao bem p u b l i c o , e as-
sim eiles corno fiéis vassallos de S. M., q n e Deos guardo,
aceilavào de m u i t o boa vontadc està sua determrnacào, e
o u t r o sito concordarào c o m o dito coronel Pedro Barbosa
Leal se erigisse a dita villa no l u g a r e terreno, q u e està e n -
tro a missào de N. S. das Neves e o boqueirào. das serras,
p o r onde vai o caminho para o sitio das Caraìbas, e para o
lugar onde hoje existe a igreja d e S. Antonio, m a t r i z da dita
Jacobina, principiando de urna baixa q u e està abaixo da
casaria da aidea da dita missào para a parte d o sueste, até o
alto que vai para o dito Boqueirào das serras, p o r ser o t e r -
rapieno mais e n x u l o e la vado dos arcs, e ficar e m meio das
principaes aguas que tem o d i t o sitio c lugar, corno c o m m o -
didade para os moradores da dita villa e mais pessoas, q u e
a ella vie rem a c o m m e r c i a r e tratar de o u t r o s negocios» e de
seus pleitos, poderem largar os seus cavallos a pastar, e p o -
dere m ter suas criacòes, ter a pedra necessaria e p e r t o pa-
ra se conduzirem para as obras, q u o d a q u i e m diante se
baviào de edificar, o q u e e m o u t r a q u a l q u e r parte seria mais
penoso, e c o m mais duplicados gastos e despesas, assim
desles corno dos mais materiacs necessarios para as ditas
obras, corno t a m b e m p o r ser este sitio o mais aberto, e livre
do serras c o m boas servidòes para carros, e o u t r a s quaes-
quer carruagens para a conducono dos mantimentos e vìve-
res para o povo da dita villa, c o m a visinhanca da estrada
real, p o r onde descem todas as boiadas, e c o m m e r c i o da ca-
pilania d o Piauhy e R i o de S. Francisco, e p o r outras m u i -
tas circunstancias ponderadas e consideradas pelo d i t o c o -
r o n e l , as quaes havia ja exposto ao excellentissimo senhor
vice-rei e capilào general deste estado: e de corno assim de-
t e r m i n o u , concordarào e cónvicrào os moradores ditos,
m a n d o u o d i t o coronel a q u i e m este l i v r o fazer este t e r m o ,
para a todo o t e m p o d o sobredito constar, e m o q u a l elle
c o m todos os q u e à dita consulla e determinacào assistirào,
assinou j u n t o comigo escrivào, q u e de todo o referido d o u
m i n h a fé.— E e u Joào Alves Lima, escrivào das diligencias
da Jacobina, q u e ofize escrevi — Joào Alves L i m a — Pe-
d r o Barbosa Leal — Miguel Felix Brandào — Domingos Pe-
reira M a c h a t l b — Pedro Martins Brandào—Francisco d a
Costa JNogueira — Andre JRodrigues Soares — Matias Fer-
DA PROVINCIA DA BAHIA 111

nandes de C a r v a l h o — Belchior Barbosa L o b o — F r a n c i s c o


Prudente Cardoso — Antonio Pinheiro da R o c h a — Fran-
cisco de B r i l o Vieirà—Antonio F e r n a n d e s — Sento da Silva
de O l i v e i r a — F e l i s a r d o R i b e i r o — M a n o c l Pioto de A r a u j o —
T o m a z Vieira—Joào Goncalvcs d e Sonza — Domingos R o -
drigues de M i r a n d a — P a u l o Nuncs de A g u i a r — I g n a c i o Fa-
leiro V e l l i o — E u z o b i o de Sousa D i n i z — I l i l a r i o V i e g a s — D o -
mingos de M e n d o n c a — J o a q u i m de Brito Carvalho — Miguel
Correa de Aragào—Antonio Marques JNogueira—Antonio
Duarte de Sequeira»
Queixou-se logo o coronel Garcia d'Àvila Pereira da oc-
Gupacào de suas terras, coni a fundacào dessa villa no l u -
gar(16)emPorque
està o haviarecebeo
occssìào sido,o(16) mas ou
govemador por consideracoes
a seguirne e
provisào, expedida
pelo consellm ultramarmò»
• 0 . Joào p o r gràca de Deus eie — Faco sabér a vos Vasco Fernandes Cesar
de Menezes, gov»rnador p-ral do estado do B r u s i i , que o coronel Garcia
d'Avita Pereira me representou, que sendo en servido mandar criar a villa de
Jacobina, tìnheis vòs maudado fazer es'a «iìligcncìa pelo dcscmhargador I.uiz
de Sìqueira d;> ftarna, que voltoli doenie, e dt oo;s a encommendasies ao coro-
Bel Pedro Barbica Lo.ilj e que devendo este lev anta!-a em o sitio da I.agòa, aon-
de assi si em os mais «Ics miueiros, e para onde so lem reti rado mnitos crimìno*
sos, o nào Arerà assim, ra'vez em contemplacao de D. Joào de Mascarenhas, de
quem sào ;. rrofi das ditas minas, e a veio levantar nas terras do supplicante,
c o n i qii"m t t i n demau -as graves, em lugar despovoado j u n t o a urna aldéa de
indios. que adtnuisstrào os religiOsda de S. Francisco, distante alguns dias de
Viagem das diia;. minas, tornando para a matriz da dita villa a igreja da d i t i
mi-^sao, que fora 'cita com e s i l i olas suas e^e outros; sendo que bavemlo-se de
erigir a dita villa em terras da sua prnpriedadè, era mais conveniente que fos-
se j u n t o a iVegut'Ma e igreja de S Antonio da Jacobina, que era a paroquia
della, sem embargo de r i p u g n a r a isso o vigorio, fazendo as diligencias (jue
pùde para impedir a dita fondacuo, quo forào mais poderosas que as sup-
plicas do missionario da di'a aldé.i, o qual fez ver evidentemente cs prejuisos
que resulta vào aos indios della de se le vantar tao p e n o a dita \ i l l a ; e que tam-
bem mannara o dito coronel fazer e IH parte a estrada, por onde vinìi U os ga-
dos para a Ila tua, e abril-a de novo pelas terras delle supplicante, para que
pass: n i pela dita nova vii}a, coni rodei > è slancia de mais dous ou tres dias
de viagem, e grande diurno d a s u p u l i mie e do bem publico, passando tam-
bem a mudar p o r forc i os ìudios da alue-a, que esleve sempre na barra do R i o
do salilre, Imito ao de S. Francisco, sendo missionàrio o capeliào da captila
de Joào Gonzalo, de que o supplicante c admìnistrador, serviudo ali em todo
o termo de grande ulilidade para a condii ccào dos gados, e fez a dita i.iudan-
ca para Jacobina j u n t o à estrada, onde j a nos lempos passadoa estiverà© alguns
68 sroroniAs UTSTOIÌICAS, E POLITICAS

respeitos p a r t i c u l a r e s , o u p o r q u e e m verdade nào fosse


a d a p t a d o o locai para a m e s m a villa, f o i d o u s a n n o s d e -
p o i s transferida p a i a diversa p a r a g e m , p e l o ouvido»' d a c o -
m a r c a P e d r o Goncalvcs C o r d e i r o P e r e i r a , p o r autorisacào
d o g o v e m a d o r , e x a r a n d o se p o r essa occasiào o a u t o se-
guii) t e —
» A n n o d o n a s c i m e n t o d e nosso S e n h o r Jesus C h r i s t o d e
1722, a n n o s aos 5 dias do mez de j u n h o d o d i t o a n n o , neste
a r r a i a l d a missào d o senhor Boni Jesus de J a c o b i n a , n a s c a *
sas o n d e està apogeo ta do o d o u t o r Pedro Goncalvcs C o r -
d e i r o Pereira, d o d e s e m b a r g o d e S. M., q u e Deos g u a r d o ,
seu o u v i d o r geral e p r e v e d e r da co m a rea, c o m aleada pe-
l o d i t o s e n h o r , a h i i n a n d o u v i r p e r a n t e si os officiaes d a
c a m a r a , nobrosa, e p o v o c h a m a d o p o r pregocs; e estando
prese.nlés t o d o s os abaixo assinados, Ihes p r o p o z e m c o r n o
S. M. q u e Deos g u a r d o , Ihes concederà se erigisse e o l i a s -
se u r n a villa nos d i s t t i c t o s e m i n a s desta J a c o b i n a , p o r car-
• ta sua de 5 d e agosto de 1 7 2 0 , e s e n t a ao e x c e l l e n t i s s i m o
s e n h o r Vasco Fernaudes Cesar de Menezes, vice-rei e capì-
tào general d e m a r e terra d o estado; e m observancia d a
q u a l c a r t a e resolucào real, m a n d a r e o d i t o s e n h o r a estas
m i n a s à d i t a d i l i g e n c i a o c o r o n e l Pedro Barbosa b e a i , c o n i
as o r d e n s , das quaes a c o p i a é a seguii ile — P o r q u a n t o S.
M. q u e Deos g u a r d o , e m c a r t a firmada pela s u a real m à o
d e 5 d e agosto de 1 7 2 0 , foi s e r v i d o o r d e n a r - m e mandasse
u m m i n i s t r o a J a c o b i n a a estabelecer u r n a villa c o n i s e u
m a g i s t r a d o , permillindo^àqueiles m o r a d o r e s , c a o s mais
indios fu già OS, d'onde forilo mandados la ne a r fora pelos muitos roubos que
1

iaviao, e estes mesmos c. niinuaraó a fazor-se cflcetivamcute se exeeular-se a


sua mudanca, por ser o lugar despovoado aoudc por ora poucos assistei», e os
mais terem fugido por nào poderem icsistir ao dito o r o n e l , nem se atre-
verem a largar a sua ha Intarlo tao antiga e commoda: e porque todos eslea
ditnlnos e outros que rcsultàu, só hào de ter reuiedio se vós com effeito owo-
dardes um ministro da rclacào da maior in tei resa e capa cidade, ou ao meno*
o ouvidor da comare», ou o de Sergipe d*e!-rei para os esaminar, e, achando
ser verdade o refendo, le vantar a dita villa no sitio da Lagòa, para onde fora
pédida, e so é necessaria, fascndo-se abrir a antiga estrada dos gados, ou j u n -
to a igreja do S. Antonio, restituindó os ditos indios d sua antiga al dèa da har-
r a do Rio do suture, eque seudo necessario elle supplicante depositaria o sal-
lario du dito ministro; me pareceo ordenar-vos iul'oruieis com o vosso pareeer^
Lisboa i o de maio de 1723.—Rei,
DA PROVINCIA T)A TI A l i ! A.

<jue se acharém minorando e m todo o d i t o districto, p o -


dessem livre e desembaracjadamente usar de batèas, e de
t u d o o mais quo conduzisse para a lavra do o u r o , e u t i l i *
dade c o m m u n i , pagando-se-lhe os quintos delle p o r batèas,
para c u j o effeito mandei o dosembargador L i i i z de Siquei-
ra da Gama àquelle districto, e porque adoeceo no cami-
n h o , de maneira que se impossibilitou de c o n t i n u a r a
j o r n a d a , o mandei recolher a està cidade, havendo ja nel-
la noticias i n n i confusas, e oppostas umas às o u t r a s , e m
o r d e m a haver ou nào haver o u r o na mesma Jacobina: e
p o r m e pareeer justo fazer todo o exame e m materia de
tanta consideracào, antes de exccular o cslabelecimento de
villa e seu magistrado, me resolvi a encarregar està diligen-
cia ao coronel Pedro Barbosa beai, e m q u e m nào só c o n -
c o r r e m zelo, actividade e desinteresse, mas todos os maÌ3
a t t r i b n t o s , que o fazem digno da con fianca , que f i c o da
sua pessoa, lhe ordeno parta promptamente para a dita
Jacobina, onde mandara publicar o bando que leva, e nel-
la faca exame do n u m e r o de batèas, e das pessoas de que
hoje se compete aquclle sitio, nomeando u m guarda-mór
para reparlir as datas, u m teso a rei ré para receber os q u i n -
tos , e u m escrivào para lancar as receitas delles , sondo a
cseolha destes sujeitos em pessoas idoneàs e capazes daquel-
las occupac.oes, entregando ao que nomear para tcsoureiro
o cofre que leva, ficando este c o m urna eh ave, o escrivào
c o m outra, e o guarda m ó r c o m o u t r a , e c o m dous livros,
dos tres que t a m b e m leva, para*ielles lancar o dito escrivào
a reccita e despesa do tcsoureiro, e fazer as mais claresas ne-
cessarias, e o u t r o mandara enlregar ao dito guarda-mór para
a reparticào das datas. li corno S. M- se faz credor dÒS q u i n -
tos de todo o o u r o , que se me negou desde o dia d a conces-
sào, perdoando generosamente aos que d e l i n q u i l o , obran-
do conica os seus decretos, e ordens deste governo, o coro-
nel Pedro Barbosa Leal farà p o r e m arreCadacào os ditos
quintos, cobrando-se potico mais o u menos prò rata de ca<
da urna das batèas, elegenclo para isso alguns arbitròs desili-
teressados, e, depois de feita està diligencia, e as mais que
f o r e m concernentcs a està materia, me darà conta p o r u m
correio, passando logo ao Rio das contas, onde farà todo o
exame, para se averiguar se pinta bem o ouro, e as batèas
que TOMO minerào, V.
e o estado daquella republiea, na qualSlutò-
50 MEMO MAS HISTOtllOAS. B POtlTIOAS

darà l a n c a r o b a n d o i n c l u s o , c enì v i r t u d e delle se cobra**


ràò os q u i n t o s , q u e v o l u n t a r i a m e n t e offerecérSo aquelles
xnineiros, e mais pessoas assistcntes nas ditas m i n a s , c o r n o
se deixa v e r dos d o c u m e n l o s j u n t o s , e depois de c o b r a d o s
os d i t o s q u i n t o s , se restituirà à Jacobina até l h e o r d e n a r o
q u e deve fazer; e p o i q u e m e parece ocioso i n d i v i d u a l i s a r
c i r c u n s t a n c i a s , d e i x o os mais, q u e nào e x p r i m o , à sua d i s -
posicào, nào d u v i d a n d o q u e e m t u d o obre d e maneira, q u e
se faca c r e d o r das reaes alleneòe9, c o m q u e S. M. c o s t u m a
r e m u n e r a r os servicos dos vassallos, q u e o servem c o n i o
zelo q u e se e x p e r i m e n t o u s e m p r e e m o c o r o n e l P e d r o Bar-
bosa Leni. Bahia 2 8 d e a b r i l d e 2 7 2 1 . — Vasco Fcrnandes
Cesar de Menezes,
» E m v i r t u d e das quaes o r d e n s o d i t o c o r o n e l P e d r o Bar-
bosa L e a l erigira villa p a r a os m i u e i r o s , e mais m o r a d o r e s
deste d i s t r i c t o da Jacobina, e m a missào d e N, S e n b o r a d a s
Wcvcs d o Sahy, e n a m e s m a m a n d a r a le v a n t a r p e l o u r i n h o ,
eoi sinal d e ser ali a d i t a v i l l a , c u j a d i l i g e n c i a fizeru e m 2 4
d e j u n h o d e 1 7 2 2 , e o r d e n a n d o o d i t o e x c e l l e n t i s s i m o se-
n h o r v i c e - r e i deste estado, p o r p o i t a r i a sua d e ìb de feve-
r e i r o d e 172/j, a elle d i t o d o n ter o u v i d o r g e r a l d a c o n i a r -
ca passasse à villa n o v a m e n l e erecta da Jacobina, e na mes-
m a fizesse o q u e se c o n t i n o » c m a d i t a p o r t a r i a n o l o c a n t e
a està m a t e r i a , da q u a l p o r t a r i a o t r a b a l l i o é o s e g u i t i l e —
» P o r q u a n t o a villa de S. A n t o n i o , n o v a m e n l e c r o c i a n a
J a c o b i n a , é d a jurisdiccào desta c o m a r e a , e se faca p r e c i s o
q u e o o u v i d o r g e r a l della f asse l o g o a fazer as diligencias,
q u e f o r e m mais convenientes, nao so para a boa a r r e c a d a -
cào dos q u i n t o s , administracào da fustiga*, e c s l a b e l e c i n i e n -
to d a q u e l l e m a g i s t r a d o , senào t a m b e m para o b v i a r às de-
sordens, q u e p o d e m a c o n l e c e r d a p o u e a uniào d e a l g u n s
d a q u e l l e s m o r a d o r e s ; o r d e n o a P e d r o G o n i alves C o r d e i r o
P e r e i r a , o u v i d o r g e r a l da c o m a r c a , p a r t a seni d e m ò r a a l -
g u m a à d i t a v i l l a , p r o c u r a n d o executar l u d o o q u e l h e p a -
reeer c o n v e n i e n t e , a Gin de q u e se l o g r e està u t i l i d a d e , e q u e
t i r e urna cxacta devassa dos seus p r o c e d i m e u l o s , e d e l o -
dos os m a i s , q u e h o u v e r e t n c o m m e t t i d o c u l p a , q u e p e l a
l e i seja caso d e devassa, p r o c e d e n d o c e n t r a elles na f o r m a
da m e s n i a l e i . E c o n s i d e r a n d o q u e nos seus officiaes nào h a
a q u c l l a coaceào, q u e baste p a r a s u j e i t a r os t l c l i n q u e n l c s *
m a n d o q u o os officiaes d e m i l i c i a s , nào só d a q u e l l e r e g i .
DA PROVIXCIA DA BAHIA. 51
Jnetito, m a s d e t o d o s os mais c i r c o m v i s i n h o s , l h e obede-
r^ao e sigào suas o r d e n s , n a o d u v i d a n d o q u e e m t u d o q n e
p e r t e n c e r ao servico d'el-rei, e ao interesse de sua rea! f a -
s e n d a , e b e m p u b l i c o d e seus vassallos, o b r e n a o sé c o n i
e acerto q u e c o s t u m a , mas d e m a n e i r a q u e se faca c r e d o r
das attenroes de S. M. q u e Deos g u a r d e . Bahia 45 de feve-
r e i r o de 1 7 2 4 . — V a s c o Femandes Cezar de Menezes.
•» E c h e g a n d o elle d i t o o u v i d o r geral ao silio d a missào
de N. S e n h o r a das Neves d o Sahy, vira o l u g a r o n d e se t i -
h h a e r i g i d o a villa d e S A n t o n i o d e J a c o b i n a pelo c o r o n e l
P e d r o Barbosa L e a l , o q u a l era m u i t o distante n o t o r i a m e n -
te d a s m i n a s e d i s t r i c t o onde os m i u e i r o s , q u e forào os q u o
i m p e t r a r l o %concessào da dita v i l l a , i r a bai ha o e assistem,
e q u e c o m diflìculdade podiào v i r l i t i g a r n e l l a , p o r ficar
e m d i s t a n c i a d e mais d e 2 1 l e g u a s , f a l l a n d o n o m e s m o
t e m p o a t i r a r e m o m o das suas lavras, c o m g r a n d e p r e j u i s o
da fasenda real, alén:.- d e o u t r o s i n c o m m o d o s m u i t o s q u e
padeciào, p o r nào h a v e r e m m o r a d o r e s , n e m povoacào a l -
g u m a na d i t a v i l l a , n e m t a m b e m officiaes d e j u s l i c a q u e
n e l l a quizessem assistir p e l o p o u c o l u c r o q u e tiravào, son-
do t a m b e m m u i t o difficultoso o poderem i r à mesma, a
t r a t a r de suas causas n o t e m p o d e i n v e r n o , p o r c u j a causa
e m o t i v o antes as queriào p e r d e r , q u e c o n i t a n t o d e t r i -
m e n t o e p r e j u i s o seu e d a fasenda real i r e m assistir e m a
d i t a v i l l a : o q n c t u d o elle d i t o d o u l o r o u v i d o r g e r a l v i o
p o r a l g u n s processos q u e re v i o , e tardanca nas mais das
causas q u o corriào, nào sem p r e j u i s o dos litigantes, e d a n -
d o d i s f o c o n t a ao excellenlissinjo s e n h o r vice-rei deste es-
t a d o , p o r carta d e S de a b r i l desto presente anno , fora o
m e s m o s e n h o r f e r v i d o o r d e n a r - l h e p o r carta sua d e 2 6 d o
m e s m o iliez, q u e mandasse p o r o p e l o u r i n h o , e fazer c a -
rnata e m p a r t e onde se c u r a s s e m os m o r a d o r e s d a o p p r e s -
silo e distancia q u e padeciào, d e c u j o c a p i t u l o d a c a r t a a
copia é a s e g u i t i l e — -
» Q u a n d o o c o r o n e l P e d r o Barbosa L e a l f o i a essas m i -
nas erig'ir villa p o r m i n h a o r d e m , l h e encarreguei eleges-
sc o s i l i o m a i s eapaz, e p r o p r i o d e se u l i l i s a r e m esses m o -
radores: d e p o i s d e c r e d a a d i t a v i l l a , algumas q u o i x a s m e
chegarào e m r e s p e i l o d a distancia , p o r c u j a causa se dillì-
cultavào os recursos, m a s c o n i o o m e u firn nào seja o u t r o
m a i s , q u e evitar a esses m o r a d o r e s o i n c o m m o d o , vossa
52 MEMORIAS HISTORlCAS, E POUTICAS

mercè os elica, e mando por o pelourinho, e fazer a carna-


t a em p a r t e o n d e os l i v r e da oppressào da distancia &c.
••fera obscrvancia. da q u a l o r d e m , elle d i t o d o u t o r o u v i -
d o r gera] da c o m a r c a passara a v e r o s i t i o , q u e c h a m à o d o
L o q u c i r o , q u e era u m dos q u e alguns m o r a d o r e s e m i u e i -
r o s Ihe apresentarào, para nelle erigir a v i l l a , e c h e g a n d o ao
d i t o siilo e e x a m i n a n d o - o , o a c h o u i n c a p a z , e q u e se se-
guiriào nào m e n o s i n e o m m o d o s , q U e no em q u e a d i t a v i i -
la està situada, p o r nào t e r m o r a d o r e s , n e m Bear no m e i o
das minas, onde os m i u e i r o s podessem i r t r a t a r de suas c a u -
sas, e r e c o l b c r no m e s m o dia para suas casas; ao q u e t e n -
do respeilo e c o n s i d e r a l o , resolveo e r i g i r e c r i a r v i l l a e m
este s i t i o , e a r r a i a l da missào d o S e n h o r B o n i £>sus, p o r f i -
car em o m e i o das minas, c o m m u i t a s conveneòes para os
utigantes, p o r poderem-se r e c o l h e r às suas casa's e m o mes-
m o dia em q u e viessem t r a t a r das suas d e m a n d a s , e p r o c u -
rassero seu r e c u r s o , a l e n i de h a v e r e m neste s i l i o mais de
t r m l a e tantos m o r a d o r e s , afóra a aldéa dos i n d i o s , e i g r e -
ja para p o d c r e m o u v i r missa, e assisiirem aos oilicios d i v i -
nos, e ser l u g a r m a i s f r e q u e n t a d o de genie, c o n i urna estra-
rla c o m m u n i para o I l i o de S. F r a n c i s c o , a r r a i a l e Minas-
geraes, e c o m effeito fez e c r i o u v i l l a no d i t o sitio c o m o no-
me de ò. Antonio da Jacobina, e o r d e n o u q u e nella se fi-
zessem o u c o m p r a s s c m , casas para a u d i e n c i a e c a m a r a , e
q u e se bzesse cadca p a r a nella se r c c o l h e r e m os d e l i n q u e n -
cs e c r i m i n o s o s , e q u e os officiaes de j u s t i c a residissem nel-
la c o n t i n u a m e n t e ; e q u e t o d o s s m o r a d o r e s a livessem e
0

reconhecessem p o r v i l l a de Ju>jc e m d i a n t e , e fosse l u g a r e


l o r o p u b i i c o , para se t r a l a r c m as causas élitigios, e q u e os
m o r a d o r e s assim o livessem e n t e n d i d o .
" 0 q u e l u d o fez e o b r o u depois de o u v i r os officiaes da
c a m a r a , nobresa e p o v o , q u e todos e a m a i o r p a r t e delles
c o n v i c r a o na determinacào delle d i t o d o u t o r o u v i d o r c e r a i ,
depois de p o n d e r a d a s as razòes a c i m a d i t a s , e e m sinal de
qne 0 d i t o sitio era v i l l a , m a n d o u p o r o p e l o u r i n h o levao-
l i o n e l l e , o q u o logo se e x e c u l o u c o n i a a c c l a m a r l o dos
m e s m o s m o r a d o r e s , t u d o na f o r m a q u e se p r a t i c a e usa
e m s c m e l h a n l e s criacòes de villas, c u j o p e l o u r i n h o se póz
em u n i t e r r e n o , q u e fica s e r v i n d o de praea e l u g a r p u b l i -
co d e l r o n t c das casas da sua a p o s e n t a d o r i a , e o r d e n o u
j u n t a a i e n l e q u e c u i u m m o n t e , q u e f i c a deJronle d a mes-
D\ PROVINCIA DA BAHIA. 53
ma praca, se levantasse urna forca, para c o m o h o r r o r del-
la se nào commettesscm delietos, e servisse para terror dos
mesmos delinquentcs, sabendo que nella poderiào ser eas-
tigados, e m a n d o u laccar pregòes pelo porteiro , de que o
dito sitio ostava erigido e m v i l l a , e de t u d o m a n d o u fazer
este auto de erecgào e nova criacào de villa, que assinou,
sendo presenles os officiaes da c a m a r a , nobresa, e povo
que tambem assinarào. E eu Bernardo Botelho Freire, es-
crivào da correieào da mesma villa q u e o escrevi e assinei.
Bernardo Botelho Freirc — Cordeiro — corno j u i z * Miguel
Felix Barreto — corno juiz Domingos Pereira M a c e d o — o
vereador André Rodrigues S o a r e s — o vereador Pedro Mar-
tins Brandào—o procurador do conselho Francisco da Cos-
ta I N o g u e i r a — o escrivào da camara Ignacio L e i l e — F r a n c i s -
co Prudente Cardoso—Joào de Souza Àrnaud—Christovào
Ribeiro de N o v a c s — M a n o e l Lopes Chagas—Gaspar Alvares
da Silva — Renio da Silva de O l i v e i r a — M a n o e l de Araujo
C o s t a — M a n o e l llodrigues Brandào—Dingo da Costa Feijò —
Domingos Pereira L o b o — F r a n c i s c o ftuucs F e r r e i r a — M a -
noel da Costa Souza—José Comes C o e l i i o — D o m i n g o s Fer-
reira Monlciro—Joào Rodrigues "Brandào — Francisco de
Souza do S a c r a m e n t o — M a n o e l Ferreira—José Ferreira Ve-
l i l o — Francisco P e r e i r a — M a n o e l José — M a n o e l de So u s a — .
J c r p n i m o Fialho Pereira.
»'K sendo no mesmo dia alraz dcclarado, ordenou elle
dito d o u t o r o u v i d o r geral da c o m a r c a , que à villa nova-
mente creola de S. A n t o n i o da Jacobina, ficassem perten-
cendo, alcm das duas freguezias*dc S. Antonio do P a m b ù ,
e S. Antonio de Jacobina, a freguezia d e S. Antonio d o
U r u b ù , que compreende lodo o Rio das contas, até fazer
divisào c o m o termo da villa da Cachoeira, e da villa de Ma-
ragogipe, e a capitania dosllhéos e costa do m a r , e a f r e -
guezia de IN. Senhora do Bom-successo do arraial, compre-
endeudo os sertòes que eslào p o r povoar, até fazer divisào
c o m o Rio das m o r t e s , p o r onde se reparte està capitania
c o m a das Minas-geraes, c o m p r e n d e n d o as ilhas (17) q u e
(15) Separadus da comarca de Jacobina as villas e povoaeòes da margem
s e l e n l r i o n a l do R i o de S. Francisco, q u e iiearào p e r l e n c e n d o a comarca d o sèi*-
tao de P e r n a m b u c o , crioda p o r alvara d e i o de marco de i 8 i o , Servio p o r m u i -
to tempo de 01 igeili a conleslacòes, entre ambus os respeclivos o u v i d o r e s , a
64 MEMOBIAS niSTOTUCAS, E rOIlTICAS

fi careni no meio do rio para està parte, na forma que ja se


tem resolvido muitas vezes serem estas adjacontes da par-
te desta capitania, correndo o mesmo termo pelo rio abai-

queslào de juriadiccao em sdenta e eineo ilbas, que ale ali crac- adjacontes i
mesma comarca de Jacobina, e hoje & propriamente dita—do Rio de S. Fran-
cisco, eriada por alvui'a" de 3 de j u n h o de i f i a r , segundo seus primari* s l i m i -
tes, alterados actualmenle pela moderni' legista c3o, do que na topografìa tratar.
se-a*. A camara da villa da (taira, repreteutou no govemador de Pernambuco, a
cuja provincia e ni fio pertencia essa v i l l a , con ira a MicorporacSo f i vii que o ou-
vidor de Jacobina José da Silva Maga Ih fi e a hnvin feito du lilla do Miradouro ao
julgado, ora villa, rie Chique-ebiqur-: esse Mugulhucs tambem fez chegnr uo mi-
nisteri» urna re preseli tiicSo sua «olirò identico m o t i v o , mas por «viso de 17 de
novembro de i8o5 mandou-se qne o govemador, condu da l'onte,nada innovas-
se a la] respeiio, esperando pela decisilo da consulta do consolilo ultra mar, quo
liavia sido r u v i d o .
Durante as referidas cuntestacoes, em que tornarlo parte a d i v a os governa*
di-res desia provincia e de Pernambuco, f u i assas importante a correspoudencia
officiai bavida entre ambo» por esse motiva, e j u l g u e i aeertado transcrevcr aqui
as ppeas que se segucm, n à o sò porque sua leitura inleressara aos que aorao 0
conbecimento das nntiguidades do para, corno porque talvez para diante ellas
c o p v i r a ò a regular melbor a divisào provincial, por essa parte do interior.

Officio do govemador de Pernambuco ao da Bahia*
« I l l m . e F.xrn . Sr.—I>a copia inclusa, assinada pelo secretarlo deste gover-
0 0

no, sera presente a V . Ex. a vìolencia pratica da pelo ouvidor ila comarca de
. Jacobina J o s é d.i Silva Magalbaes, na enrreicao que fez ua viltà de S. Francis-
Co das Cli^gas da barra do Rio-grande no anno de i8o3, e o que eu ao dito res-
peito determinei à camara daquella v i l l a , fundando-mc na ordem regia que
achei nesla secretarla, 0 qual decide esla questào em caso identico.
» Depois que escrevi a refenda carta, aebei mais a doacào feita em Evora, em
i o de marco de i 5 3 i , pelo senhor r ^ i D . J o à o 3. a Duarte Coelho, primeiro do-
natario desta capitania, e forap os limitcs, que se lite c o n c e d e r à o , deade o I l i o de
Santa Cruz alé o Rio de S. Francisco, entrando este l o d o , corno è expresso na*
(ormnes p.davras segui 11 les te assim entrarà na dita terra, e demarcamo della todo
» 0 Hia ce S. Francisco, e a inctade do Rio deSanta Cruz pela demarcacào sob/edita.n
» Sendo pois a posse desta capitania coèva com a sua exìsteucia, e sendo ella
fundada ein t i t i l l o legiiimo, e co « f i r m a da por urna ordem regia, espcro que V .
E x . se digjiara de fazer conbecer ao sobredito ouvidor a iucompetencia da sua
inuovacao, mandando V . Ex. que esla l ì q u e de ncnhum effeito. Oeos guarde a
V . Ex. muitos annos. Recite de Pernambuco 11 de marco de i S o 5 , — U l m ° . e Exru*.
Sr- Francisco da CuuUa fllenezes-—Gaetano Pinfo de Miranda Montenegro, a

Rcprcscntacao do ouvidor de Jacobina ao govemador da Bahia.


« I l l m . e F x m ° . S i . Chegando a està villa no dia a; do corrente, assa's molesto
0

e soffrendo a qualro dias impertincntes se&òcs, que nào origem de nào i esla de
meu p r o p r i o punho, me vcjo precisalo a mandar este p r o p r i o , expondo a V ,
DA PROVINCIA DA BAHIA, 55
So, a r i fajer divisao c o n i as terras d a c o m a r c a d e Sorgine
d e U r e i , C d'ahi alé fazer o u t r a divisao na fazenda da G a m e *
leira, e d'alu saindo, b u s c a n d o o rio Jacuìpe, e o r d e n o u .
Ex. o caso qne vou referir, e, depois du necessario narrneào, para o conhecU
m e n t o da just a dcliberacào.
» Pelu curtn regìa de $ de agosto d e f)to t expedida no i l l u s t r i s s i m o e excel-
lentissimo senlior Vasco F e m a n d e s Cesar de Mcnc/es, vice-rei e capìtao general
da cidade da Bahia, a q u a l se aclia na secreiaria de V , Ex., f o i m a n d a d o pelo so-
l i era no c r i a r està v i l l a de Jacobina, e sendo encarregada està o r i a m o .10 desem-
b a r g a d o r L u i z de S i q u e i r a da Gaina, adoeccndo esie na j o r n a d a , recolheo-se à
i n t i m a cidade, v i n d o p o r ihso, p o r cotnmissào d o mesmo ilìnsirissimo e cxccllen-
linai ino senbor V a s c o IVrnandes Cesar de Menezes, u l t i m a r 0 estabelecimento o
c o r o n e l P e d r o barbosa Lea!, e depois, p o r haver s i d o cstabelecìda a villa no l u -
gar da missào da Senhora das Neves, a veio m u d a r e trasladar daquelle t e r r e n o
p a r a este da Jacobina o dezembargador P e d r o Goncalvcs C o r d e h o , o u v i d o r q u e
entào era dessa cidade ila Bahia , o q u a l r e g u l o u o d i s t r i c t o demarcando c o m
S c r g i p e d'cl-reì, erra a v i l l a de M a r a g o g i p e , com os Ilhéus na pancada do m a r ,
c o n i o R i o das raortes, capitania de Minas-geraes, e com a de Pernambuco nas
ilbas q u e flcào no meio do R i o de S. Franeìsco, para a p a r t e da Bahia, conio l u -
d o consta da crrtidào j u n t a ex tra Ida d o l i v r o dacriacào cesta v i l l a .
» C o n i o 03 òuyidores da Rabia • p^la g r a n d e distancia q u e havia desta a M i -
nas novas, nào iàn a correicào, v i n l i a o o u v i d o r do Serro do f r i o exercer nesse
t e r m o a sua j u r i s d i c c . i o , porém o soberano em 10 de dezembro de 1734 man-
dou crìar esla comarca. nào com a denominaoào de o u v i d o r da Jacobina, c s i m
a de o u v i d o r da Bahia da pai te do sul, nomenndo para c r i a d o r a Manoel da F o n -
ceca Brandào, de q u e lhe passou carta em 3o de j u u b o de 1 7 4 ' , conio tambem
consta da ceriidao q u e remetto, e tornando posse m a n d o u observar a antiga de-
marcacào, na q u a l a i n d a q u e a nào ho u vesso p e l o q u e pertence as ilbas d o R i o
de S. F r a n c i s c o , devia observar se a disposicào do § M d o l i v r o 2. da I n s l i i u t a
t i l . t.'—De rerum divisione — que serve de rei no nosso reino, p o r nào haver nel-
le legislacao c o n t r a r i a ,
«Esla disposicao a i n d a e mais t e r m i n a n t e ao t e r r e n o , q n e presentemente f o r -
ma a liba d e n o m i n a d a Mìradnuro, a q u a l c a q u e serve de 0 I n e t t o da que*.tào,
p o r q u e està illia nào é daqutdlas, q u e o mar descohre, nem das q u e nascem nos
r i o s , e sim f o i o i i g i n a d a pelas annuaes ailuvioes, c enebenfes d o R i o de S. F r a n -
cisco, q u e r o m p e n d o p o r urna baixa a terra f i r m e do jnlgado do Cbique-cbiquc,
p e r l e n c e n l e a capitania da Jiabia, a b r i o c o n t o lap.so do tempo esubcavacào das
agua* urna vali», q u e l e m de l a r g u r a q u a r e n i a bracas, e no verào da passagem
a pé e u c a v a l l o ,
«Este facto e constante a todos os Itabitantes, e oinda se acbào homens q n e
se lembrào d i s t o : acresce mais urna rar.ào n a t u r a i , a q u a l é* vcr-sc ni i l l i a d o
M i r a d o u r o os mesmos arvoredos silvestre* e qualidade de terra q u e se vècnx
n a terra f i r m e ; em rarào d o q u e fica d e m c i i s t i a d o p e r t e n c c r esla ilha a o j u l g a *
d o d e Citiqtie-cbique e capitania da Bahia, conforme a a n t i g a demarcacào, c o *
DIO pertencìa anles q u e 0 r i o a separasse.
MKM01\IAS ITISTOttlCAS, E P O l I T i C A S

que os moradores, que ficao compreendidos nas ditas qua-»


t r e freguezias, fieassem lodos sujeitos as posturas, e deter-
minacòes do sehado da camara., tendo e reconhecendo os

» Os hahitame* da povoacào da villa da Barra req nere tao ao soberano o man-


dar-lhes c i i a r v i l l a o seu a r r a i a l , pedindo ao mesmo tempo o annexar-se-llie
terreno da parie da Bahia, que vi riha a ser as ilhas deste districto, e exped indo-
Se para este effeito provisào regia do illustrissimo e excellentissimo senhorcon-
de de Atouguia, vice-rei e capilùo genera! da Bahia, a 5 de dezembro de i?5i f

mandou este ao ouvidor desta comarca de Jacobina o deiciubargador Henrìque


Corréa Lobato, fazer esla criacao, que de facto a foi ultimar, se bem que nào
annexou terreno algum da parie da Bahia aquella nova ilha, tanlo pela razao
de mìo ser necessario, attendendo a exiensao do limite que lhe deo, corno p o r
ser muito prejudicial a v i l l a do Urubù, corno tudo consta da publica forma que
remetto.
«• Alguns d o s incus A n t e c e s s o r e ? nao cuidarao em manter restrictamente, corno
deviào a s s i m a demarcacao feita pelo dezembargador Pedro Gonc&lvés Gordel-
r o , quando veio criar a villa d a Barra, a qua! foi conforme «quella , e nada
mais (ì erào do que irem d e c o r r e v o , assim a mesma villa da Barra, corno
ao julgado de Chiqi.c-chique, districto da Bahia, originando-se da falla disto nas
occasiòes de dclictos, questóes de jurisdiceòes entre aquelles juizes, e para evi-
tar csle conflitto, determinei na correicào preterita, a que procedi em o anno
de iSo3, se houvesse He observar rigorosamente aqncllas deinarcacoes, que se
baviào feito, pelas q u a e s pcrtenciào as ilhas do meio do r i o , para a parte de
Pernambuco, aquella capitania, e consègùintemènté a villa da Barra, p o r se-
rem de sèu districto; e as do meio do r i o , para a parte da Bahia, a villa do
Urubù c julgado de Cinque-cinque, nào innovando neste cousa alguma, e cin-
gindo-me a antig;i demarcacào corno devia.
» 0 n o v o govemador d e Pernambuco, na passagem que fez por aquelles l u -
gares, exigio d e mini a rasào daqijglla minha d e t e r m i n a c i , e eu lhe f i / urna
«xpoa.cSo igual a està, e lhe mandei da cabeca da comarca outros identico*
documento*, o q u a l agora, recórrendo a nào lel-os recebido, esereveo a ca-
n.ara da villa da Barra a carta da copia j u n t a , pela qual t.anslomara aquella*
«hvisoes e limite*, cuja carta e livre d e l i b e r a l o cu nào devo mandar observar
sem positiva ordem de sua ullesa real, ou de V. Ex., qne faz as suas ve.es, p o r
quanto nao t a r i l o jimsdicgfio para alterar, e reslringir limite* cslabelccidos.
- O governo de Pernambuco nunca leve posse immemorial em todas a* ilhas
do Kio de S. Francisco, porque para assim o podcr dizer, era necessario, con-
forme a l e i , que esla posse excedesse o tempo de ceni annos, os quaes os nào ha,
tanto quanto mostra a p r e t e n d o que em i 5 afi/eràoos habilantes da Barra
7

na criacao da sua v i l l a , em se lhe annexar o mesmo terreno da parte da Bahia,


que erào as ilhas, que lhe competilo: e aiuda que os babìtanle* de algumas del
las vao procurar o pasto espiritual a freguesia da Barra, e a de Pilao-Arcado
por causa da indolench» dos vigarios do Urubù e thique-chiqoe, nem porisso
pode dizer-se haver posse, segundo a legislacào da nossa ordenacào l i v r o a. u t .
45 § 1 0 in principio, e § 56.
DA PROVINCIA DA BAHIA. 57
jutzes desta villa pelos d e s e u fòro, o q u a l t e r m o I h e s c o n -
s i g l i m i e m q u a n t o nas m i n a s d o R i o d a s c o n t a s se nào o r l a s -
se o u lev alitasse villa, p o r q u e n e s t e c a s o l h eficariàop c r -

* Aquelle documento, que se envia a* camara com a carta, nào serve de regu-
l a m e n t o p i r a a questào, pois a sua dccisào teve p o r o b j e c t o a c o b r a n c i d e d i -
Ziroos; e a i u d a q u e se q u e i ra t i r a r diversa Macào, com t u d o nos termos das de-
njarcac,òes nao vem a t e r l u g a r o arbìtrio do i l l u s t r i s s i m o e excellentissimo go-
v e m a d o r d e P e r n a m b u c o , sem c o n h e r i m e n t o d e c.iusa, corno bouve para a ex-
pedicao d a q u e l l a regia provisào, e s i m deve r e c o r r c r immediatamente a sua
altesa, urna vez q u e nào q u e r estar pela antiga deiiiarcacào.
» I g u a l m e n t e represeiUo a V. E x . conio p r e s i d e n t e da real j u n t a da fasenda
da cidade d a B a h i a , q u e a q u e l l e excelleulissimo g o v e m a d o r escreveo a outra.
carta da copia j u n t a ao c o r o n e l de cavalla r i a da Barra , a c u j o d i s t r i c t o p e r t e n -
cem os julgados d e C a m p o - b r g e , d o Rio-preto , d a C a r i i i h a n h a , e de Pilào-nr-
c a d o , para effeito d e pòr em exccucào p p e d i t o r i o r e a l , fendo eu ja o anno
passado, em v i r t u d e da o r d e m d e V. Ex., mandado fazer està diligencia: e por-
q u e este manclado é u m r i g o r o s o esbulbo, e allei.iado feitò ao r e g i o t r i b u n a l d a
fasenda da cidade d a B a h i a , p e l o q u a l , p o r m e i o da jurisdiccào desta ouvedo-
xia, se l e m s e m p r e c o h r a d o os d i u h e i r o s respectivos dè loda aquella v i l l a , e seu*
julgados, des.le a criacao d a mesma, c o m ò baile constar das arreeadacòcs entra-
das Daquelle real e r a r i o pela tesouraria d a nifandega, conio forào as c o n t r i h u t -
còcs v o l u n t a r i a s tanto dos p r i m e i r o s l i i n l a annos, corno dos dez q u e depois so-
brevierào, se faz p o r t a t i l o necessario repelìir està forca, para q u e se nào b a j a
de d i m i n u i r a jurisdiceào da petti j u n t a da fasenda p o r u m tal modo.
» Vossa exccllencia a vista destos dous objectos, a q u e d u o causa as cartai da-
q u e l l e i l l u s t r i s s i m o e exeellentissiino g o v e m a d o r de P e r n a m b u c o , me darà , n a
decisuo q u e VOU p r o c u r a r , as mstruccoes necessarias para beni poder teger-me
a firn de q u e nào fi que para o f u t u r o c m respousabilidade alguma, p o r nào ter
r e c o r r i d o a vossa exceilencia c o n i o devo. Peos guardè a Vossa exceilencia. Vi Uà
de Jacobina 3o de j u ' b o de i 8 o 5 , — O d i ^ m b a r g a d o r o u v i d o r d a comarca d e
J a c o b i n a , José da Silva iHagalliaes,

Officio do govemador de Pernambuco d cantarti da -villa da Barra.

» Q u a n d o e u passe! p o r essa v i l l a , foi-mé presente a innovacào, q u e na a n -


tecedente coiTcicào t i n h a f e i t o o o u v i d o r da comarca d e Jacobina. deixando de-
clarado q u e as ilhas d o meio d o R i o d e S. F r a n c i s c o , para a m a r g e m da Bahia,
perleuciào aquella capitania no ci voi, c r i m e , e ale n o m i l i l a r , esbulhandn a ca-
p i t a n i a de P e r n a m b u c o , sem p r e v i o conhecìroento d e causa da antiga posso, e m
q u e osta d e todas as ilhas do R i o d e S. Francisco. C h e g a m l o a i l h a d o M i r a -
d o u r o , repetirào-me os seus babitantes a mesma represenlacào, pedindo-nie os
prolegesse, e conservasse illesos seus d i r e i t o s , p o r q u e nào queriào fior SUjVjtos
ao j u l g a d o d e Ohique-cbique, e tendo e u escrito em viagem ao mesmo m i n i s t r o ,
para que me t'emettesse as ordens regias, em q u e pretendi» a p o i a r a s o b r e d i t a
innovacào, respondeo-n»e elle em data d e i o d e a b r i l do anno passini o, lìcando
de m e f a z e r da cabeca d a comarca a d i t a remessa, o q u e até o presente se nào
9
58 MEMOPIAS IHST0R.ICAS, E POLITICASI

t e n c c n d o as d u a s freguezias q u e só t i n h a d e antes, c t u d o
s q u i l l o m a i s q u e se nào separasse pelo t e r m o e limite d a v i i *
la d o R i o das contas, no caso q u e se substabelcca; e o u t r a
lem verificatiti, lembrando-se entretanto de um paragrafo da instituta, que seria
appticavel para rcgular os limite*, e dominios de dous parliculares, ou de duas
mcóes, mas alheio e estranilo para a divisao de duas cajutanias pertenccntes ao
mesmo soberano. Entrando eu pois na averiguacào do que podia haver a este
respeito, achei e vim no conhecimento, de que nào era ja novo nos ministros do
districto da Bahia a pretencào de usurparem & capitania de Pernambuco a posse
das ilhas do Rio de S. Francisco, porque no anno de 1732 na criacào da V i l l a -
nova, front eira A villa do Penédo, ja o ouvidor da comarca de Sergipe d'elrei
Cipriano Jose da Roclia, quiz desmembrar as ilbas circumvisinbas, de que esta-
va de posse a villa do Penédo, mas oppondo-se a camara, e queixando-se ao
vice-rei, deo esle a seguinte resolurào—So que respéiia ao termo destinndo para
a Villa-nova que mandei erigir, em que se acita gravado a do Penédo, tambem man-
tici se conserti/i na jurisdiccào desta as ilhas que até agora lhe estavao sujeita
se haver e.vcvdido a minha ordem.
* Em consequencia daquella decisào, continuou a villa do Pendilo na antiga
posse das mesma» ilbas até o anno de i 5 5 , em que tornou a snsci.ar-sc a mes-
7

ma questào, Qucixando-se porcili os officiaes da camara ao senhor rei D. José I .


foi o mesmo senhor servido dar a rcsolueào que a vossas mercé* seni conslan.
te da copia inclusa, assinada pelo secretano deste governo, a qual por ser em
caso identico, e fundada em identiens principios, deve servir de regra a res-
peito das ilhas do termo dessa villa, nào cousentindo vossas mercé* que ellas se
#óiù da sua jurisdiccào, facendo a competente parlicipacào coni a copia desta
carta, e real ordem ao sobredito ouvidor da Jacobina, que jutgo desisi ira da
sua pretencào; mas se nào desisiir vossas merce* me daraò immediatamente par-
te. Se vossas mercé* quizerem urna mais ampia i n f o r m a l o as contestacòes, q u e
lem Udo a camara do Penédo, podem pedil-a a dita camara , em cujo archivo
se achao reg.stradas todas contas qua&e lem dado, e as resolucòes que tem ha-
vido acerca desia ja voi ha questào. Deus guarde a vossas mercé*. Recife 5 d
marco de .8o5 -Cattano Finto de Miranda Montenegro- Senhores officiaes da
camara da villa de S. Francisco das Gbagas da barra do Rio-grande.
Copta da provisào. - D. José por graca de Deos, rei de Portugal, e dos A! ar- fi

ves, d aquem, e d'além-mar em Africa, senhor de Guinc ète - F a c o saber a vós


govemador e cap.tào general da capitania- de Pernambuco, que os officiaes da
camara da villa do Penédo me derào conia, em carta de 5 de abril de « i5 de 7

que estando aquella camara na posse im.nemorial, desde a sua criacào, de régér
e admunslrar um lugar chamado a ilha da Paraiina do brejo grande, a que d i -
Vde o R lo de S. I-rancisco, e das mais ilhas adjacentes, feilas e p o r fazer, até
onde chegào as suas innnndacòes, pelo forai dado a Ouarle Coelho de A l b a .
querque, donatario e govemador perpetuo, qne f o i dessa capitania muito ante*.
da mvasao dos Iiolla„,l na qual posse se c o n s e r v a l o sempre os seus ante-
m%

cessore*, e mais juslions daquella villa , e indo.no anno de i 3 > o ouvidor da


7

comarca de Sergipe d'el-rei p o r ordem minha a criar a Yilia-uoya, querendo


DA riìovrxciA DA BATHA* 59
fiim o r d e n o u , q u e c o r n o o s m i n e i r o s e m o r a d o r e s d e s t e dis-
t r i c t o tinhào s u p p l e n d o a S. M. q u e m a n d a s s e c r i a r està
v i l l a , e o d i t o s e n h o r I h e s fez a g r a c a e m e r c è q u e i m p l o -
r a r l o , ficarào p o r ella o b r i g a d o s a f a z e r e m a s u a c u sta c a s a
d a c a m a r a e cadéa, e l u d o o m a i s q u e fosse n e c e s s a r i o pa«
ra a criacào d e u r n a v i l l a nova, e a>sim m a n d o u q u e t o d a s
a q u c l l a s p e s s o a s , q u e nào t e m p a g o ale* h o j e p a r a as d i i a s
o b r a s , o q u e constarà d e u n s roos, q u e o d i t o d o u t o r o u v i -
d o r g e r a l t e m e m s e u p o d e r , d e s s e c a d a u m voi u n t a r ia m e n -
te o q u e q u i z e s s e , e q u e a c a m a r a leria i n e u m b e u c i a d e
c o b r a r o que se promettessej para c o m o produeto poder
fnser a s c a s a s d a c a m a r a , cadèa, e a s m a i s o b r a s q u e eslào
d e t e r m i n a das, e n o c a s o e m q n e o p e d i d o n à o fosse s u f f i -
c i e n t e , o r d e n o u e l l e d i t o d o u t o r o u v i d o r g e r a l , q u e so latì*
casse finta p o r l o d o s o s m o r a d o r e s d e s i a villa e s e u t e r m o ,
e d'onde se p o d e s s e a l c a n c a r , e o u t r o s i m d e t e n n i no u e l l e
d i t o d o u t o r g e r i i , q u e p a r a sóbsislencià d e s t e s c n a d o e c o n -
sujeitar aquelles moradores, e divìdir para o districto della as mais ilhas da
jurisdiccào das dilas ìlhas, e na tnesma posse, coutinuàra até u m dos dias d o
mei d e Janeiro do d i t o anno d e i } 5 5 , em q n criosamente aqnellas justicas os i n -
q u i e t a r l o m a n d a n d o n o t i f i c a r aos scolioiès de engenlms e mais m o r a d o r e s , a
inslancias d o c o n t r a t a d o r dos diznnos, f o m e u t a d o p o r pessoas da mesma V i l l a - n o -
v a , inleressadas em ser aquelle l u g a r d o seti d i s t r i c t o , o que era c o i i i r a a ver-
dade, pois so pertenee a v i l l a d o Penédo, corno se fazia evidente pelos d o c u -
mentos que offereciào; em consideracelo d o q u e , e d o mais q u e m e lepresen-
taiào, me pediào os mandasse couservar na posse, em q u e estavao da d i t a i l y a
Paraùua, e todas as mais ilhas adjaeentes, cujos dizimos nunca forào devidos a
jurisdiccào da Bahia, e só a de P c r n a m b u t t , p o r s e r e n i todos aquelles moradu-
res parocbianos d a m a t r i z da v i l l a d o Penédo,, e ordenando-se ao vice-rei d o
estado do B r a s i l , informasse com o seu p a r e e e r , o u v i n d o as partes interessadas
nesta m a t e r i a , e sendo l u d o visto, conio t a m b e m o q u e respondeo o p r o c u r a d o r
da m i n h a fasenda, m e parecco d i z e r vos, q u e ao vice-rei desse esiado se escreve,
que, vista a ìuformacào q u e d e o sobre a r e f e n d a reprcsentacào d a v i l l a do Pe-
nédo, e d o c u m c u l o s q u e reme-tteo , fica mais q u o manifesta a injnsta pretenc'o
d o c o n t r a t a d o r d o s d i z i m o s da Bahia, q u e somenìe devia p r o c u r a r a c o n s e r v a l o
do seu c o n t r a t o n o estado, em q u e eslava no t e m p o da sua arrematacào , e q u e
assim o d e c l a r e elle vice-rei ao c o n t r a t a d o r do mesmo c o n t r a l o , para nao i n - -

q u i e t a r ìndevidamente os lavradores q u e nào p e r t e n c e i u ao d i s t r i c t o do seu.


c o n t r a t o : o q u e se vos p a r l i c i p a , p a r a q u e o l i q u c i s assim eutendendo. El-rei
nosso s e n h o r o mandou pelos couselbeiros do seu consclho u l t r a n u i r i n o ahaixo
assinados, e se passou p o r duas vias. M a n o e l A n t o n i o da Kocha a fez em Lisboa
a 9 d e fevereiro d e 1758 — O secretarlo Miguel Lopes tayre a fez escrever. Aiu
ionio Lopes da Costa—Antonio de Azeiedo Coutinho,
GO HEMORTAS HISTORICAS, E POLlTlCAS

servarlo delle, p o r nào pocler haver o u t r a s rendas, l h e fT-J


cassoni per te n ce n do a de d a r affericóes dos pesos, q u a r l a s ,
covados, e os t a i h o s d e m a r c h a n t e r i n , q u e poderiào c o r r e r
p o r sua conta, ou a r r e n d a r c m , e m q u a n t o se nào buscào
novos mcios para as rendas deste conselho, os quaes o excel-
lentissimo senhor vice-rei deste estado, p o r carta sua de 24
d e a b r i l deste presente anno, os c a p i t u l o s d a q u a l m a n d o u
r e g i s t r a r no l i v r o do registro, deixa no a r b i t r i o delle d i t o d o u -
t o r o u v i d o r geral d a c o m a r c a , e o u t r o s i m o r d e n o u q u e a
regalia da camara ficava p e r t e n c e n d o a data d a vara de mei-
r i n h o d o c a m p o , e escrivào d a m e s i n a v a r a , e ( u n t a m e n t e a
d o m e i r i n h o para a igreja d e S A n t o n i o de Jacobina, e u m
escrivào, p a r a a freguezia d e S. A n t o n i o d o l'ambo, e q u e
p a r a a freguezia d e S. A n t o n i o d o U r u b ù , e da freguezia d o
B u m •successo d ò ari-aial se elegesse, para cada u r n a dellas,
seu escrivào, o qua! leria u n i l i v r o r u b i icado pelo j u i z des-
ta v i l l a , o n d e p o d e n l tornar t e s f a m e n t o s ; q u e os m o r a d o r e g
das duas fregnezias nomeadas fariao os ofìiciaes d a c a m a r a
todos os annos, q u a n d o tomassem posse d o u s juizcs u m pa-
ra cada u r n a , os quaes juizesservìriào pelò mesmo t e m p o ,
q u e os oilìeiaes d a camara q u e os livessem c l e i l o , servissero,
e levariào carlas e p r o v i m e n t o s passados pelos d i t o s ofiìeiacs
da cam-ira annuaes.
% • c o n s i d e r a n d o elle d i t o d o u t o r o u v i d o r g e r a l a d i s t a n -
c i a , q u e ha desta villa aqnellas duas fregnezias, o r d e n o u q u e
os ditos juizes, nào t o r n a n d o c o n h e c i m e n t o n e n h u m j u d i -
c i a l , podessem somente p r e n d e r e m d e i i c t o flagrante a t o d o s
q u e achassem commettend^crimès, p o r q u e nierecessem ser
prezos, e os remetteiiào à cadèa desta v i l l a , e q u e p o r c o n i -
missào dos juizes d a mesma villa podessem fazer àlgumas
diligencias, q u e se Ihes r e e o m m e n d a s s e m , concernentes p a -
r a a bòa administracào d a fustiga: q u o t a m b e m ficarìa p e r -
t e n c e n d o à c a m a r a a regalia d e p o d e r n o m e a r avaliadores, e
p a r t i d o r e s d o conselho e dos orfàos, os quaes se proveriào
.por p r o v i m e n t o s e m n o m e d o senado d a c a m a r a , e q n e a
nomeacào d e m e i r i n h o do c a m p o , e seu escrivào, a v a l i a d o -
res, e p a r t i d o r e s seria t r i e n n a l , e as dos m c i r i u h o s das f r e -
gnezias, e seus escrivàes seria a n n u a l , e a c a b a n d o d e s e r v i r
u m a n n o , tirariào novos p r o v i m e n t o s d o s officiaes d a cama-
ra p a r a pòderem servir, os quaes i h o s poderiào passar, q u e -
r e n d o , o u e i e g e u d o o u t r o s q u e Ihes parecessem, e p a r a cons-
DA PROVINCIA DA BAHIA. 61

car do refendo mandou elle dito doutor ouvidor geral fazer


este t e r m o , q u e assiuoli c o m os ofìiciaes d a e a m a r a , n o -
bresa, e mais p o v o q u e se a c h o u presente, E e u liei-nardo
b o t e l h o Freire, escrivào da correicào e ereccào desta villa o
e s c r e v i — C o r d e i r o — (scgtti&o-se as astino tiirw.)
V o l t o u o c o r o n e l P e d r o Barbosa Leal d e sua commissào
c o m kjfìù oilavas d e c u r o , dos q u i n t o s q u e havia a r r e c n d a -
d o , t e n d o i g u a l m e n t e f a c i l i t a d o as communicacòes d e Jaco-
b i n a c o m os m i u e i r o s d o Rio das contas, m e d i a n t e urna no-
va estrada q u e a b r i o , c o n f o r m e o p a r t i e i p o u ao g o v e m a d o r
eia 2 5 d e a b r i l d e 4725, a n n o este e m q u o existiào p o u c o
mais d e setecenlas batèas e m effeetivo c x e r c i c i o nas minas
de J a c o b i n a , e o i t o c e n t a s e t r i n t a nas d a q u e l l e Rio dos cpn-
tas ( 4 8 ) , e m c u j o d i s t r i c t o p o r c i l i nào era g e r a l m e n t e per-
(18) A conranca dos quintos por batèas foi o metodo de qne se uson a
p r i n c i p i o , e o g o v e r n o portou-se sistematicamente na imposi cào deste t r i b u -
t o , expedindó ab g o v e r n a d o r Vasco Feriiarides Cesar a seguirne provisào èui
9 de f e v e r e i r o de —•

V a s c o Feruandès Cesar de Meneses; e u e b r e i ete. Sendo-me presente a vossa


c r i a de i S de nóvembro de i i 3 , e a de Pedro Rarbosa L e a l n e l l a inclusa, q u e
7

falla na arrecadacào dus q o i n t o s , e r c p a r t i c a o das datns, me pareceo mandar-vos


s v i s a r , q n e sem mostrardes q u o altera.es as o r d e n s , q u e tendes a respeiio dos
mesmos q u i n t o s , os facaes c o b r a r na forma q u e vos l o r possivel, p r o c u r a n d o
s e m p r e augmentar o sen r e n d i m e n t o ; e q u a n d o a e x p e r i e n c i a vos m o s t r e , q u o
p o r este meio t e m menos d a m n o a minba fascnda, p o d e r c i s c o n t i n u a r , sem q u e
p o r isso se possa i n t e n d e r , q n e à p o r a p p r o v a r l o minba, anles niostrareis q u e
o toler-.es p o r condescemler aós rogos que^ os povos vos fazem, e q u e só pò-
deis c o n t i n u a r p r o v i s i o n r . l m c n t e , p o i s em quanto se vos nào rcvogào as o r -
dens q u e tendes sobre este parlìcular, nào podeis alterai'às tornando resola-
cào l i n a i , o b r a n d o nesta m a l a r i a c o n i tal destress c p r u d e n c i a . q u e sejào os mes-
nms povos os q u e vos pccào admitlaes o pagamento dos quintos pela sobre-
d i t a i'orina. Lisboa 3 de f e v e r e i r o de iyo.5—Rei. »
Anles porém desia dcltiminacào, desenvolvendo o mesmo g o v e m a d o r s t i m -
ma desi resa, ha via conseguido c o b r a r dCssas minas o valor de reis 6:498^800
em o u r o em pò, pelo p r e c o de i ^ a o o a oitava; p o r q u e entào c o m a , a t i t o l o
de cHreitos pura a fasenda, cuja q u n n l i a r e m e l t e o para Lisboa em 18 de no-
v e m b r o de 171:1, e consia pelos auligos l i v r o s da secretoria do g o v e r n o , quo
de IÌ) d e p i l i l o de i ; a a , d i a era q u e p a r i l o a f r o i a para L i s b o a , ale 3o d o
j u u l i o do a n n o s e g u i r n e , enlrarào na casa da moeda desta cidade 3,Sai mar-
cos, G o n c i s , ì oitavas e i 5 gràos de o u r o em pò, q u e derào de s e n h o r i a g c u i
a q u a u l i a de : 4 : 3 i a $ i j :S r e i s , t e n d o sido major o rcnctiinento do 1." de Ja-
n e i r o até aquelle dia 19 de j u l b o d e 17»5, p o r q u e iniportarào os q u i n t o s
em 23:\)4o£}-i$% reis currespoudentes a 3,499 marcos, a oncas e 15 gràos, su-
MEMORIAS HIST0R1CAS, E P O I 1 T I C A S

m i t t i d a a mitléra^ào , p o r haver o m e s m o g o v e m a d o r j u l -
gado conveniente r i s t r i n g i r a provisào de 31 de o u l u b r o de
4 7 2 1 , r e v o g a n d o todavia essa restricoào, s o b r e m a n e i r a op-
posta aos interesses d a fasenda p u b l i c a e dos m i neiros. p o r
e l i c i l o de justas ponderacocs d a q u e l l e c o r o n e l , q u e assellou
c o m este i m p o r t a n t e servico sua c a r r a r a p o l i t i c a , e m c o n -
sequencia d e e b t e r a demissào, q u e p e d i o , d e s u p e r i n t e n -
d e n t e das m i n a s , pelas moleslias q u e solTria, aggravadas
p o r sua avancada idade, sendo n o m e a d o p a r a succeder-lhe
o c o r o n e l P e d r o L e o l i n o M a r i z , e p o r c e r t o nào p o d i a ser
m e l h o r s u b s t i t u i d o lào prestante s e r v i d o r do estado, p o r
q u a n t o r e u n i a o snecessor a q u a l i d a d e d e i n t r e p i d o s e r t a *
nejo, u m zelo, e c o r d t a l deferencia ao b e n i publicò, a l e m de
c o n s u m m a d a probidade. Forào seus p r i m e i r o s c u i d a d o s o
p r o m o v o r novas descobertas de m i n a s , seguindo os r o t e i -
ros q u e conservava d o celt b r a d o B e l c h i o r Dias Moribèca,
r o t e i r o s esses q u o os antigos Paulistas legavào c o n i o r i c o
p a t r i m o n i o a seus f i l h o s , e a p p r o v a n d o o g o v e m a d o r seme-
n t a n t e resoli!cào, levou a c t i e i l o sua v i a g e m , c u j o interes-
sante r e l a t o r i o f o i c o n c e b i d o nesles t e r m o s —
» Senhor. D o n c o n t a a vossa excellencia dos exames, q u e
p o r o r d e m d e V. Ex. fìz n o s d e s c o b r i m e n t o s d e A n t o n i o
C a r l o s P i n t o : achei o ribcirào de N. Senhora dos R e m e d i o s ,
c o m o c o m p r i m e n t o d e quasi 3 0 leguas p o n c e menos ; nas-
ce d e tres m o r r o s j u n t o à serra d a T r o m b a , t e n d o suas ca-
beceiras à p a r i e d o s u l , busca o n o r i e e m 7 o u 8 leguas
c o n l i n u a d a s , e despenhando-se e m urna c a c b o c i r a digna d e
ser vista, passa p o r d e b a i l o d e u r n a lage, m e t t e n d o - s e e m
u m c a n a l m u i t o e s t r e i t o , e c o m paredes q u e ao m e u v e r
terào setenta a o i t e n t a p a l m o s de a l t u r a , c o r r e p o r elle p o u -
co menos d e u m q u a r t o d e legua, o q u a l c a n a l c o r t a u m

jeitns as despesas da casa da moeda, que forào reis ?:552$i47 quanto aos pri-
m e i r o s , e 8 : ^ 7 i f l j S o q u a n t o aos segundos.
Seria ainda m a i o r esse r e n d i m e n t o a nao t e r h a v i d o desraesurado deseami-
u h o , apoiado até p o r alguns preposto* a c o i b i l - o , p o i s vé-se d e u m o f f i c i o do
g o v e m a d o r d e 16 d e agosto d e 1726 q u e o p r o p r i o escrivào d a mesma casa
da moeda liavia sido processado, p o r t e r c o m p r a d o t r i n t a lìbras eie o u r o a u m
m i n e i r o no l u g a r de S. Pedro d o m o n t e ^Moritìba^ apreendendo-se a o u t r o
n o m e m o l u g a r o i t e n t a libras, q u e t a m b e m passa vào p o r a l t o : deduzia-se dos
q u i n t o s a v i n t e m i , q u e p e l o d e c i e t o d e 5 d e setembro d e 1720 p e r t e u c i a a
rainha, p o r cujo procurador e r a arrecadada nesta cidade.
DA PROVINCIA DA BAHIA. 63

Hiacisso rochedo e.n vojtas tào miùdas, que se pode com-


p a r a r a u r n a espada c o l u b r i n a , e saindo fora d o d i t o canal
quasi o u t r o q u a r t o de Ugna, c o m e c a a m o s t r a r p i n t a do ou'-
r o , e c o n t i n u a c o m osta até o n d e se some e m areaes, i m i -
t o ao n o P a r a m e r i m , d a n d o volta na d i t a cachoeira em bus-
ca d o poenle: em d i r e i t u r a , e pela estrada quo se t e m aber-
to se contào 2 0 leguas de distancia, e e m loda ella mostra
a d.la p i n t a m a i s o u m e n o s , c o n f o r m e osassentos q u e a c h o u
q ouro. * w

» Segundo a o r d e m de V. Ex. c h a m e i à m i n b a presene»


o g u a r d a - m o r d o d i t o descoberto A n t o n i o Carlos P i o l o , m i e
me deo p o r c o n i a bavel-o fcito e examiriado de baixo p a r a
c i m a , e aebando p i n t a de c o n t a j u n t o à sua b a r r a , vieta
a c h a n d o a m e s m a nos p o u c o s sucavòes q u e a f o m e l h e p e r .
u>.Ho d a r , o b n g a n d o - o a recolher-se p a r a nào m o r r e r à
l a l t a de m a n t i m e n t o s , até q u e n e s t a r e t i r a d a a c h o u u m mar-
co, posto uà margera do d i t o ribéiro, a o n d e , v i n d o p o r e l -
le anima, acaba de m o s t r a r a p i n t a , o q u a l m a r c o fica moia
legna abaixo da r e f e n d a cachoeira, e é de urna perirà ma-
gestosa, corno declara o t e r m o da «istoria q u e delle m a n -
d C 1 laser, com suas dimencò. s da s u p e r f i c i e da terra para c i -
ma, e desta p a r a d e n t i o. Da m e s m a maneira c h a m e i as pes-
soas mais experientes, e exercitadas em minas, e c o m ellas
os exammadores, p o r q u e m m a n d e i socavar o ribeirào, pe-
a i n d o - l h e s o pareeer d o q u e enlendiào destes d e s c o b r i -
m e n t o s , e cada q u a l m o deo p o r eserilo, c o r n o apresento
a >. U . , explicando-se d o m o d o q u e enlendiào, c a d i r a n -
d o mais o exame, a c h o , e é s e n A i u v i d a , q u o este o u r o nào
e c a d o no ribeirào , e a terra p o r o n d e elle passa nào é ,
non, pode ser p o r reg.a a l g u m a m i n e r a i , e as serras q u o o
a c o m p a n h a o , tao p o u c o sào de q u a l i d a d e q u e dellas se pos-
sa esperar o u r o , p o r serem de agrestissimas e v i i formaeào,
pelo q u e se deve t e r p o r ce.rto, q u e o o u r o m a n a de a l -
g u m m o n t e ,unto à d i t a c a c h o e i r a , o q u e p r o v a v e l m e n l e
mostra o i n a r c o .jue a l i se vè, e se deve c r e r q u e scià m i -
na r i q u i s s i m a , pois o o u r o q u e este r i b e i r o m o s t r a e m t a n -
a «(slancia, saio d« p a r t e a b u n d a n t i s s i m a delle. No d i l o r i -
t>e,rao nao so se aeharào, e achào, os iornaes q u e A n t o n i o
l i n t o p r o m e t t e o mas a i n d a o u l r o s de m a i o r conta, c o r n o
». t x . vera nas listas das a m o s t r a s q u e r e m e t o a V. Ex.,
p o r e m c o r n o é o u r o c o n i d o , e.até agora nào t e m e n t r a d o
MEMORI AS HISTORTCAS, E POUTICAS

polii terra, nona mostra que entrarci, por nao ter passacio
do barranco, rasao porque se vira a p e r m i t l i r por faisquei-*
ra c o m m u n i , nào obstante cu tel-o proibido ale a q u i , e m
quanto nào acabo os oxarnos, e se nào aposcntào aquelles,
que querem assistir em data p r o p r i a ; de uns e de outros
bavera no ribeiro, para onde ja cor rem, os (sue precipita-
l a mente o deserta rào sem as devi das iudagacòes.
» Estas indaga^òes e exanies dào m u i t o traballio, a terra
é aspera e dilatada, e mei ti da nos centros destas monlanhaS,
sem man ti mento algum, rasao porque andamos vaga rosa-
mente nos ditos cxames: agora seacabou d e a b r i r a picada
para eu podcr entrar ao chamado servi, fo, ou antiga eata,
que achou a bau dei ra de Antonio Carlos Pioto, ainda que
me diflìcuitào o podcr chegar la a cavallo. É distante deste
lugar 8 leguas grandes, e de. qualquer sorte para la vou no
firn desta semana, e nào quiz dilatar està conta a V* lìx.,
nem as amostras até ver esla cata, paia quo antes da p a r l i *
da frota V. Ex. Beasse certo do que l e m oceorrido. Persua-
do-ni e que se o chamado servico nào for effeito do tempo,
seria exame do anligo Belchior Dias Moribéca, antes de ter
descoberto os havercs que promette nos seus roteiros, os
quaes acho cerlissimos , e todos os sitios que vou vendo
c o m os meus ollios; e é para ad mirar corno o coronel Pe-
d r o Barbosa Leal é pratico em todos estes desertos, e e o i
que lhe nào escapòu co usa alguma, e tudo quanto delles
t e m dito se acha tào certo, conio se descrevéra as ruas da
cidade da Bahia,
» Pelo que yen ho a diserba V. Ex., que se as demarcaeoes,
e sinaes dos roteiros se achào certos, tambem serào certos
os haveres nas paragens aponladas, porque só por grande
interesse de riquesas, ou de servico real, se podem vencer
tantos incommodos da mais peni ve] jornada. A vista do mar-
co, e do conhecimento que se tem de que o o u r o deste r i -
beirào veniva daquella parte, se accenderlo os desejos de
buscar a mancha, e eu encarreguei com m u i t o empenho ao
descobridor Antonio Carlos P i n l o , e aos mais que declara
o termo da visiona (19) e vesperas do Espirilo Santo eros-

( iy) - Aimo do nascimento de N'osso Senhor Jesus Cbristo de 1726 aos


8 dias do mez «le junbo do dito anno, neste ribeirào de No ssa Senbora dos
Hemedìos, descobrimento de Antonio Carlos Pinto, guarda-mòr delle, aeban-
T H PROVINCIA DA BAHIA. 65
cerao os dosejos, e ns esperanras por a c h a r u m explorador
d u a s faiscas vivas d e e u r o eu» u m espigao da serra, defron-
te d o m a r c o . Deos que mostra os tesouros q u a n d o e ser-
do-se a coronel Fedro Leolino Mari» , snperinlendcnte destas nùnas do Rio
das contas lazendo varios cxamcs, e e u escrivào d a *uperintendencia ao dian-
te nouic.ido, scudo chamado p\*lo d i t o superinlendente , coni elle l u i p e l o d i -
to ribeirào acima, l e v a n d o em nossa compauliia o d i t o descobridor, o q u a l nos
m o s t r o u u n i m a r c o d e pcdra excellenle, e para o reconlierer e d i s c o r r e r sobre
o fondamento p u r q u e a l i f u i posto, f'urào t a m b e m sendo para isso dia ma dos o
mestre de campo A n t o n i o do P r a d o da C u n b a , o tenente c o r o n e l M a r c e l l i n o
Correa S6 e Moraes, Joào Goncalvcs Chavcs, o aiferes A n t o n i o Novaes de O l i -
v e i r a , e o Hcenciado Francisco M i n e i r o Soares, lodon pessoas d e m u l t a vcrdada
e d e m u i t a experiencia, e c o u b e c i m c n i o de minas d e ouro: e s n i d o [unto* com o
d i t o s u p e i i u t e i i d c n t e fomos a paragem do d i t o m a r c o , o qua! acliamos na mar-
gem do d i t o ribeirào, (cito de urna pedra d e m a e s t o s a grandesa,>lev anta da n o
a l i o a p l u m o d i r e i t o seis palmos esforcados, e mediudo-a em redondo Ine acha?
mo$ sete palmos, uo mais d e l g a d o einco, e l o d a ella m u i t o bem lirada, e em a l -
gumas partes se achào sihaes d e quo foi iipei feijoa da com marrào, com trcé p a l -
mos d e f o n d o dcbaixo da t e r r a , de maneira qnc l o d o elle tinha de c o m p l i m e n t o
nove palmos, e para se sostentar em pé, foi ualcado eom tres pedras de differente
formacao, p o r q u a n t o se conliece sereni as ditas pedras do calco do mesmo r i o , e
d o marco da' outra parte d a terra f i r m e , pelo exame q u e uessa occasiaó se fez; e
examinando-se o d i t o ribeirào dehaixo para c i m a , sem se achar p c d r a da q u a l i -
dade d o d i t o marco, mas sim das dos culcos, q u a n d o ao uaesmo t e m p o , exami-
nando-se na t e r r a l i r m e , da noticia Joào Gotìcalves» q u e a essa diligencia f o r a
jnandado, t e r visto outras pedras pequenas da qualidade da do d i t o i n a r c o , p o r
onde se vei ifìeou sor aquellc m a r c o posto a l i ite p r o p o s i t o ; e perg untando o
mesmo s u p e r i n t e n d e n t e , q u e n u m e r o d e pessoas o poderiào p a i a ali c o n d u z i r ,
a s s e n t a l o todos q u e dez o u doze pessoas poderiào v i r r o l a n d o a d i t a pcdra d e
t e r r a firme para o l u g a r onde presentemente se acini, e examinando novamenle
se o a caso a p ò de ria t e r a l i c o l l o c a d o , t a m b e m unanimemente assentarao q u e
nao, p o r se achar aquelic inarco culcado com pedras q u e tinhào sido de veio
d'ogtia, postus p u r brar.os lmmanos, e p o r estar em p a r t e em q u e n e u b u m a ce*-
dente o poderia p o r seni ser de p r o p o s i l o , e m u l t o menos pelos sinaes que u t i l e
se achào, de t e r sido a per f r i otta do coni f e r r o , e d e nào ser effeito da na tu resa,
e p o r todos I b i assentado q u e era um marco na forma di'CÌarada; e depois entran-
d o a d i s c o r r e r sobre o firn para qne fora posto, achando-se no l u g a r a nude o
r i o , p o r elle acima acaba de mostrar a p i n t a , achando uns poueo fundamento
eiu ser posto a l i para assimilar o l u g a r , visto que pouco adiaute d o d i t o inar-
c o achava se o u t r o sinal da na tu resa i m i n e i u o r a v e l , q u a l o d e urna maravilbosa
cachoeira, em q u e o r i o se sepulta e passa p o r u m canal, dìgno espectaculo para
a vista; outros q u e o poserà ali o p r i m e i r o d e s c o b r i d o r B e l c b i o r Oìas Moribéca»
para constar a sua pei man enei a neste l u g a r , p o r isso q u e nào havia duvida, q u e
o dito B c l c h i o r a l i exìstio, pelos sinaes, q u eficàoreferidos, de fojóa para apa-
n b a r caca, e pàos cortados para l i r a r - l b c s o mei; a f i n a l c o n c o r d a r l o q u e os d i -
a

TOMO v. 1 0
6G MEMORIAS HISTOMICAS, T i POLITICAS

\ i d o , nos mostro este para d a r m o s gosto a\\ Ex. c o r n o dese*


j o , e corno todos esperamos.
» A serra c h a m a d a Branca fica m u i t o distante d'onde es-
tà a antiga cata, e n e m aquella n e m o m a r c o t e m c o n s o -
na noia a l g u m a c o m a d i t a cala, p o r estarem fora do r u m o
e m u i t o dislantes: a d i t a serra fica d e f r o n t e d o m e s m o i n a r -
c o na distancia d e tres leguas, p o r c a m i n h o s d e m u i t a s ser-
ranias; e u e n t r e i a ella a pé, q u e a cavallo nào p o d i a ser,
p o r scr o c a m i n h o tào ingreme, q u e apenas p u d e vencel-o
eu» parte s u b i n d o , e pegando-me d e a r v o r e e m arvore, e nao
p u d e c h e t a r ao pé della sem se a b r i r urna picada, p o r é m
cheguéi a avistal-a c l a r a m e n t e d e c i m a de urna a r v o r e e u i
q u e s u b i , e v i urna serrania m i n i o negra e m u i t o a l t a , c o m *
posta de rochedos e p e d r a r i u , q n e tue dizem ser d e q u a -
l i d a d e corno de pederneiras de espingarda, e no m e i o da d i -
t a serrania se vèeiri d o u s ien<;óes (le alvissima area, e lào d a -
rà q u e céga a vista, e é p a r a a d m i r a r semelhante effeitó d a
Tiaturesa. ein tal m o n t e e e m tal t e r r a , q u e q u e m a vé f i c a
logo c o n v i d a d o d o desejo d e a e x p l o r a r . Depois destes dias

tes fujos nao erào senào socavòes, feitos anlìgainenle pelo dito ftetchior e sna
gente, pnra procurarci» o veeirn do ouro que saio para este ribeiro em lauta
abundancia, que porle abranger o espaco de ao e mais leguas, nào baveudo em
todo elle outra paragem que se possa premunir ser minerai, e que o dito marco
fora posto naquellé lugar para inostrar a serra mài da tanto ouro, que sem duvi-
da se deve presumir acharia o dito Belchìor Dias Moribéca, e tanto que nisto
concordarlo, encarregnu o dito superintendente ao dito descobridor Antonio
Carlos Finto, que continuasse coni loda a diligencia o seu descobrimento, para
a l i m e n t o da real faseuda, e utilidade dos seus vu-.s.dlos, que S. M. lhe darla a re-
ttilinei acào dossens servicos. K logo o mesmo descobridor mandou a Miguel de
Sòusa^ grande mineiro e gran.de descobridor, com escravos seus, que fossem
esaminar todos estes morros, o qual partio ioge coni grande alvoroco, dando
indicios de boas er-perancas: da mesma maneira cucarregou o dito superinten-
dente ao tenente coronel Marcellino Correa Só e Moraéso ajudasse naquella d i -
ligencia, da qual logo se etfcarregou e p a r d o ; e para que essa mesma diligencia
se hV.esse p o r loda a parte, tambem foi encarregado o ntestre de rampo Anto-
nio do Prado da Cimba ile i r examinar os .norros das cabereiras distantes deste
inarco 7 leguas, por ser esle de opiuiào que de la corra este ouro, asseverando
o mesmo supcrinlendenie a todos em nome do Hxm.* vice-rei os premios dignos
de seu traballio e merceiiueulo*. De que mandou fazer oste termo, em que to-
dos se assimrào, e cu Manoel (lardoso Moreno, escrivào.da superìntendencia,
por norueacào do dito superinlendente, 0 cscrevi e assidei. * ( .teguiào*se at assi'
naturas dos desìgnados neste termo J
DA PROVINCIA DA BAHIA. G7

santos entrào a ella por minha orclem o descobridor Anto-


n i o Carlos l ' i n f o , e M a r c e l l i n o Correa Só e Moraes; ouvem-
sc as mais das noi 19$ grandes eslrondos para aquella p a r -
te, umas vezes corno tir OS de r o q u e i r a , o u t r a s conio ha te-
rias de '10 o u 1*2 pecas, e as vezes t e m lancado de si alguns
vulcòes.ocerto é q u e o a u t i g o Belchipr Dias Moribcca. ostan-
d o a q u a r l e l a d o no P a r a i n e r i m , fez p o r a q u i s u a e n t r a d a , e
se deteve bastante t e m p o , cspccialmeute onde se acha o mar-
co, pelos vcsligios q u e se achào da sua gente em paos, o n -
de lirarào m e i coni machados, cu-jas cieatrizcs ja cobertas
de novo pao, moslrào a a n t i g u i d a d e do t e m p o e m q u e se
elle t i r o u de taes arvores: aehào-se ainda h o j e grandes f o -
jos, em q u e o seu gentio apanhava anlas para se susten-
t a r , e e u os v i estando m u i t o s delles j u n t o ao d i t o m a r c o ,
e o u t r o s feitos do gentio ja mnuso, e nào pedona ser de o u -
t r o se nào d o d i t o Belchior Dias Moribcca, pois, a ser m a i s
m o d e r n o , delles daria noticia M a r c e l l i n o Coclho de lìiten*
c o u r t e seu fìllio, q u e forào os primcìros povoadores des-
t e paiz, e d o P a r a m c r i m .
«Pelo q u e se vai vendo se conhece quào u t il é fomenta-
rem-se os descobi imentos; mas ^ conio se hào de fazer, se-
n h o r , sendo tào perseguidos e m a l t r a t a d o s os d e s c o b r i d o -
res, depois de gaslarem a sua fasenda, debilita r e m os seus
escravos, e a p o q u e n t a r e m sua vida com u n i exercicio tào
• t c r r i v c l e arriscado, corno e r o m p e r malos e serras, espon-
do-se a q u i i n l a s miserias ha, as inclemencias dos elemen-
t o s , ao perigo d o gentio e molcstias q u e se apanhào, sem
q u e ao menos se faca a estes de&Sbbrtdores as graeas, e mcr-
cès q n e pedem, « q n e t a n t o m e r e c c m pelo seu desrnesu-
r a d o t r a b a l l i o ? [Nào falla o u r o , senhor, nào faltào haveres;
se V. Ex: os q u e r m a n d o observar o q u e S. M , q u e Deos
g u a r d o , d e t e r m i n o u nas Minas-goraos, q u e seja cada q u a l
guarda-mór dos seus descobrimentos, e nào faftaràò tesou-
ros e descobridores, c o n c o r r e n d o nel Ics os requisitos neces-
sarios: d è e m estes obediencia a u n i superior, e seja este
desinteressado, i n t e l l i g e n t e , e de bòa intencào para d a r aie-
l h o r fórma a este p a i z , q u e è urna Bahylonia confusa 9

cujas desordenspara as c o m p ò r me detiverào quasi una mez


e m c a m i n h o , sem q u e podesse chegar a q u i p o r a m o r d e l -
las. Das mais eniradas t r a t a r e i q u a n d o sair desta diligencia,
c l e m b r a d o dos desejos q u e V. Ex. m e m a u i f e s t o u de ver
IO *
68 MEMORIAS H I S T O R 1 C A S , E P O U T I C A S

no seu tempo conquistado e povoado o famoso Rio de S,


Mateus, vou dispondo para isso uma bòa Iropa, que po-
derà entrar para marco do anno vindouro, e sào tacs as ex-
cellencias que me con tao daquelle paiz, qne, se Dcos per-
mittir que V. Ex, o ehegue a ver conquistado no tempo do
seu governo, torà S. M. muito que lhe agradecer.
» Francisco Dias me da conta ter feilo uni descobrimen-
to de ouro, e o guarda mór Bernardo de Malos me da de
ter mandado fazer os exames necessarios, acabados estes, se
darà conia a V. lìx. do que houver. 0 mestre de campo
Braz Estcvcs Lcme me pedio licenza para ir ao outro, e se
acha nesta diligencia, e o capitào 'I onie Gago entra um dia
destes para outra parte. Ribeirào de N. Senhora dos Reme-
dios 1* dejunho de 1726.—Volro Leolino Marìz*
Crescia diarimente o numero das descobertas de novas
minas de ouro, e còm quanto ja fossetti mais que snffi-
cicntes as con licci das entào. para occupar os que se dedica*
vào a senielhante laboratorio, todavia o espirilo do tempo
nào perni ittia a esses. miueiros o conservareni.-se estacioua-
rios por muitos dias nas mesmas lavras, a bah do nando -as à
proporrlo que qualquer pequena difììculdade Ihes embara-
cava a extraccào do ouro, e buscando outras, por cujo mo-
tivo arida v.ào em continua das correrias, semel liantes quasi
aos povos nómades: tei por este principio que deixarào de
progredir na investiga eSo aurifera da serra Branca, paraon-
de haviào concorrido muitos attraidos da idèa de sua r i -
quesa, pela consideracào de ter ali permauecido o eelchra-
do Belchior Dias Moribéeà? a quem sealtiibnia lerein per*
tencido um fornjiho, e dilferentes instrutnentos encontra-
das junto a ella, e que haviào servido a fuzào de metaes;
mas ao passo que os pai ticulares sotfriào essa especie de
mania por novos deseobrinientos, o govemador Vasco Fer-
nando» nào deixava tambem de compartil-a, oucarrogando
ao coronel Pedro Leolino Mari/, de empreender a descober-
ta das minas das cabccciras do Rio-pardo, Rio-verde, e do
de 5. Mateus, onde a tra dica o dos primeiros exploradores
assegurava haver abundancia de ouro, e pedras preciosas,
recomcndando-lhe lai diligencia corno objecto do maior
proveilo e interesse pubtico.
Rcunio logo o mesmo coronel varios Paulistas, bem co-
mò outras pessoas de valor expcrimenlado, na povoacào
DA P R O V I N C I A O A B A H I A . 69

onde a princìpio se erìgio a villa do Ilio das contas, e que


ora se conhece por Villa-velha, e dislrihuindo osta forca em
duas divisòes, ou bandeiras, deo o collimando de urna ao co-
ronel André da Rocha Pinto, fìcanclo elle com o da outra,
a firn de qne, tornando ambos diftercnlcs direccoes, podes-
sem mais facilmente realisar o projecto quo os guiava a es-
sa jornada: proseguirlo encorporados por algum tempo até
certa paragem onde separarào-se, aj listando antes o pon-
to e pra/.o para sua junccào, tendo igualmente feiloplanta-
eòes de man di oca e outros cercacs, para sua subsistencia du-
rante està excursào, no lugar d'onde baviào-se apartado, cos-
tume este quasi geral nos antigos sertanistas, que se davào a
iguaes investigacóes. 0 coronel Rocha Pinto inclinou-se ao
oeste, e chegou, passados dias, a urna extensa mala, para
cuja exploracào destaceli uni capitào coni nove praeas, os
quats abordando, depois de caminharem cerca do dez le-
guas, à margeni setentrional de um rio caudaloso, delibera*
rao dcscel-o, censir u irido para isso urna canòa, ou tibd; mas
virando-se està, pela sua ma qualidade e forca das correo"
tes, em o dia immedialo aoem qne nella faziào tal descida,
perdendo na mesma occasiào dous dos companheiros, po-
derào os outros ganhar urna ilha, na qual permanccerào ciu-
co dias. esperando declinassem a s aguas para busca rem a
terra firme, e seriào nessa pòsicào victimas da fonie e da m i -
seria, que ja os persegui a, se ali nào fossetti ter alguns pesca»
dores, d;is fasendas que os jesuilas possuiào abaixo da mes-
ma ilha, dos quaes soubcrào achareui-sc no Rio das contas.
De urna dessa* fasendas fora cMo dos en via dos, pelo reli-
gioso que as ad ministrava, para està capital, mas nào po-
dendo fazer exae.ta descripcào dos lugares «pie haviào per-
corrido, pél as alt er nati va s porque tinhào passado , orde-
nou-! Iies ò govemador que remontassein a quelle rio, e
se e n corporale in ao refendo coronel ttocha Pinto, que
ja lhe havia participado jnlgal-os perdidos, recommendan-
do-lhcs quo procedessem ao exame da mencio nada mala,
seus ribeiros e serras onde houvesse ouro, organisando uni
re la torio circuiistanciado de quanto vissem , o que salisfi-
zerào, resultando de tal diligencia, e das invesligacòes de
outros ex plora dores, nào a descoberta tencionada, mas
a de outras novas minas, e o sereni em pouco tempo po-
voadas, e estabelecidas muitas fasendas -de gado nas fa-
70 UEMORTAS H1ST0R1CAS, E POLVTICAS

m o s a s c a m p i n a s clessas p a r a g c n s , c o n c o r r e n d o à p r o s p e r i -
d a d e d e taes e s t a b e l e c i m e n t o s a d o e i l i d a d e d o s i n d i o s i n d i *
g e n a s , e n t r e o s q u a e s erào m a i s n u m c r o s o s o s d a tribù d e -
n o m i n a d a Ilenia, d e q u e m h o j e n e n h u m a n o l i c i a e x i s t e ,
por se liaver extinguido.
E m q u a n t o p o r é m estes h o m e n s a v e n l u r e i r o s a u g m e n t a -
vào assim o c o n h e c i m e n t o pbysiocralico d o paiz, e p r o m o -
\iào a p o v o a c à o d o i n t e r i o r , d i v e r s o s P a u l i s t a s , e m c u j o n u -
m e r o s e distinguiào o m e s t r e d e c a m p o D o m i u g o s D i a s do
P r a d o e Sebastiào L e m e , c o n t i n u a v à o v a n t a j o s a m e n t e n o s
d e s c o b r i m e n t o s d a s c e l e b r a d a s m i n a s d a s c a b e c e i r a s d o Rio
d e S. M a t e u s (20), e o u t r o s l u g a r e s a b u n d a n t e s d e o u r o : o
p r i m e i r o desses r e m e t t e o ao g o v e m a d o r u m roteiro dos r i -
beiròcs a u r i f e r o s q n c d e s c o b r i r a , a v i s t a d o q u a l e d e u m
m a p a t o p o g r a f i c o , c o o r d i n a d o p o r u m habiì s o r r a n e j o , fez o
m e s m o g o v e m a d o r levantar urna carta q u e enviou a o r e i
D J o à o V., p r o c e d e n d o l o g o a d e m a r e a c a o d o t e r r i t o r i o d e s -
t a p r o v i n c i a c o n i a d e M i n a s - g e r a e s p o r a q u e l l a p a r t e (21),

(20) F.m officio de 12 de agosto de 1737 disse o vice-rei Vasco Fernandes


Cesar, ao m i n i s t r o de estado D i o g o de Meudonca C o r t e l t e a l , q n e , segundo a
o p i n i a o dos Paulistas, era està parte dos sertòes a joia mais preclùsa do tirasti,
(ai) Saindo d o Rìo-mauso, n o anno de 1727, Sebastiào L e m e d o P r a d o , c o m
o u t r o s P a u l i s t a s , era demanda do r i o P i a u h v , q u e { s e g u n d o a fama dos seus
d e s c o b r i d o r e s j abundava de o u r o e pedras precìosas, p o r nao s e g u i r o r u m o
de les-nordeste, passou o r i o Arassuahy, e o l t a m a r a n d i b a , e declinòu ao n o r -
i e , a c n c o n t r a r 0 r i o Fanado (assim chamado, p o r ser falhada a p i n t a d o o u r o ) ,
Sc'guindò-o pelas suas inargens e m ^ n n h o d o mesmo a n n o , até u m ribeiro quo
n e l l e fa?, b a r r a , a h i p o r e x p e r i e u c i a s , e sem m u i t o t r a b a l l i o , achou a v u l t a d a
p o r c i o de o u r o m i s t u r a d o coni a r e a , e cascalbo s u p e r f i r i a l , p o r c u j o m o t i v o
pòz-Ibe o n o m e de Bom-successo. A esse mesmo desrerào pela m a r g e m do. Fana-
d o o u t r o s bandeiristas pesquisadores, e achandò i g u a l f o r t u n a n o l u g a r o n d e
inz a. b a r r a no Arassuahy , se ajuntarào todos, e forào partìcipar o seu desco-
b r i m e n t o a l i r a z Estcves, q u e os e n v i a r a do Rio-manso , p o r ficar molesto nesse
sitio.
«Governava entào as Minas-geraes D. L o u r e n c o de A l m e i d a , a q u e m Sebas-
tiào beine prometterà d a r os seus descobrimentos ao manifesto em p r o v e i t o da
sua c a p i t a n i a . Succedendo porém q n e na Itacambìra se achasso Francisco Dias
d o P r a d o , e Domingos D i a * d o P r a d o , c o m o u t r o s t a m b e m P a u l i s t a s , e cons-
tando-the* quo L e m e se a v i s i n h a v a , para r e p a r t i r as terras do seu d e s c o b e r t o ,
saìrào-lhè ao e n c o n t r o c o m o p o v o da sua c o m i t i v a em maio d e 1 7 2 8 , e conse-
g u i r l o e m f i m q u e se manifestasse o descoberto das novas minas ao g o v e m a d o r
d a Bahia, p o r u m t e r m o c u t r e elles feito. C o m o ncssa mesma occasiào visitava
e sertào de cima 0 d o u t o r M i g u e l I i o n o r a t o , p o r p a r t e d o arcebispo d a B a h i a ?
DA PROVIA'CIA DA BAHIA. 7i

p a r a obviar aos c o n f l i c t o s d e jurisdiccào, e estabeleccndo


t a m b e m a cobranca dos q u i n t o s p o r batèas, cada u r n a dos
quaes pagava etneo oìtavas, d o q u e fez p a r t i e i p a n t c ao go-
verno geral, e m officio d e 1 5 d e maio, e i 3 d e s e t e u i b r o
de 1720, q u e forào desta f o r a l a r e s p o n d i d o s —
9 D. Joào &e. Faco saber a vós Vasco F e r n a n d e Cesar d e

concorrer) està circunstancia para tambem fìcar na partitila ecclesiastica da mes-


tila dìocese t o d o o districio das novas minas.
» Repartìdas as terras d o r i b e i r o Bom-successo e Fanado, n o anno sobredito,
neo t a r d o u o estabelecimento de urna povoacào, notavel pela c o n c u r r e n c i a do*
m i u e i r o s para esses s i t i o s , onde levantarào urna capella ao p r i n c i p e dos apos-
t o l i ^ a q u e m dedicarào igualmente o a r r a i a l dciiouiiuaudo-o de S. Pedro dò
Fanado, por c u j o t i t u l o fìzeràò couhecer o l u g a r d o seu ajuntamento e v i v e n d a .
Com o r e f e r i d o p r i n c i p i o se forào f o r m a n d o os posteriores arraiacs d a Tiaipahn,
do Paini, e d e Agua suja, situados p e l o R i o de S. Mateus, d a c o m a r c a d o S e r r o
frio.
«Sciente o capitào-general da Bahia, e g o v e m a d o r do cstado do Brasi], Vas-
c o Fernandes Cesar de Mcne/cs, dos novos descoherlos, e da rèparticào das ter-
ras, sem d e m o r a d i l i g e u c i o u f i r m a r a sua jurisdiccào, e d a r t o m ao nascente
paiz, mandando o c o r o n e l Pedro L e o l i n o Mari-i para commaudal-o e r e g c l - o :
a* Diogo Dias, e Francisco Dias, conferìo as palentes d e mestre de c a m p o , e d e
c o r o n e l , e a Sehastiào Lente a provisào d e guarda-mòr das t e r r a s , e aguas m i -
neraes, em remuncracào d o q u e praticarào.
» Para evitar o d e t r i m e n t o grave dos povos em levar o o u r o dessas minas a
casa da Jucobìna, c R i o das contas, (onde por provisào d o conselho u l t r a marinò
d e 5 u e j a n e i r o d e t~fj se baviào levantado novas fundicoes) o r d e n o u aque'le
vice-rei a l'uudaeio de Urna casa d e ìntendencia em Arassuahy, em q u e se f u n -
dissc t o d o o p r o d u c t p d a mincracào, commettendo ao mesmo coiumaudantc o
seu rodimeli !o, e destinando para os o p e r a r i u s della os ofìiciaes compelenies.
l ) o s l i v r o s d a p r o v e d o r i a consta q n e pclo^V-mpo d e subsisteneìa dessa casa, e
actual e x e r c i c i o desde j a n e i r o de 1 7 I 0 até 2 d e agosto de I 7 ' i 5 , no q u a l se ubo*
l i o p o r p r i n c i p i a r o uovo metodo de c o b r a u c j do d i r e i t o scultoria! do o u r o p o r
capitacào, passarlo d'ali a fuhdir-se na Bahia •> i5 a r r o b a s , Mi marcos e 4 o i t a -
vas de o u r o , acómpaubadas de guias, e o u t r a porcào igiialmentc grande do
mesmo metal sob fianca.
» Kstabcleeida a capitacào p e l o general Comes F r e i r e de A n d r a d a , d e n o v o ,
para e x m i t a l - a oude lhe p e r t e n c i a , em confòrmidade do decreto de 2 8 d e ja-
n e i r o d e 1^36, e da carta regia d e 3 i d o mesmo me* e anno, q u e o aconipanhou,
se estabeleceo nestas novas minas urna i n i e n d e n c i a , q u e esiste. C o m o era ne-
cessario c r i a r HO mesmo t e m p o um c o r p o d e m i l i t a r e s , p o r cuja v i ^ i l a n r i a se
acauiellasse o extra vio rio o u r o nào q u i n t a d o , e dos diamantes, mandou atpiel-
le vìce-rei l e v a n t a r ahi urna companhia de dragóes, e Melchior dos Reis e M e l l o ,
sargento-mor, su olfereceo a sustcntal-a a sua eusta, corno r e a l i s o u , passando-
t h e a pri.meira mostra etn 8 d e dezembro d e I j a o , . " — P i s u t r . Mem. Uist, do filo
de Janeiro Com. 8.pare, 2, pag
72 MEMORIAS IITSTORICAS, E P O I I T I G A S

Menczes, capitào general do estado do lìrasil, qne haven-


do visto o que me oxposestos em carta de 13 de setombro
do anno pàssado, sobre o que lem resultado dos descobri-
mentos, que mandàstes fazer nos scrlòes do Rio das contas,
RiÓ-pardo, Ilio-verde, e cabèceiras do de S. Mateus, e do es-
tado em que se achava aquella conquista, conio tambem
da providencia e forma que nella déstes, e da inquietatilo
que houve a respeilo da jurisdiccào, a quo deviao pertencer
as minas conlinentes nos rios Arassuahy e Fanado, insinuan-
do-me os servieos que neste particular lem prestado o co-
ronel Pedro Leolino Mariz, que fi cava servindo de supe-
r in tendente dellas: me pareceo mandar vos dizer, que eu
liei por bem, por reso!ucào de 17 deste presente mez e an-
no, em consulta do meu conselho uhramaiino, que por
ora se consèrVem essas minas ria jurisdiccào desse governo
da Bahia, e qne o ouvidor do Serro do frio a tenha (amboni
jntcrinamente no mesmo districto, com subordinarlo a vós;
e por està me pareceo certificar vos da satisfa cào coni
que fico do vosso zelo, e do servico quo haveis fello nesta
materia, approvando-vos todas. as providencias que mani-
festaes nas vossas cartas, e sou servido que o sobrcdilo co-
ronel Pedro Leolino Mariz continue na superinlcudencia,
de que està encarregado, sem embargo de perleneerem io-
das aos ou vi dores, em quanto eu ou vós nào mandardes o
contrario, ordenando-vos juntauicntc interponhaes o vos-
so pareeer sobre o premio, com que pode ser remunera do
o servico do dito coronel.^E porque convém muito ao meu
servico, e ao bom governo desse estado a conhecer-se com
distiuccao osses sertòes, e saber se a distancia em que cada
lugar fica dos pprtos da marinila, mandareis engenheiros
a ossas partes, para que Cacào mapasmui distinclos dellas.
Lisboa 20 de maio de 1729—Rei.»
» D. Joào por graca de Dcos &c. Faco saber a vós Vasco
Fernandes Cesar de Menezes, que havendo visto a conta quo
me déstes, em carta do 15 de maio do anno passado, a
respeilo do qne tinha resultado da conquista, quo man-
das tes fazer no sertào dessa capitania pelos descobrimentos
de ouro, que tinhào feilo varios conquistadores, principal-
mente Domingos Dias do Prado, e Sehastiào Leme, envian-
do-me as amostras do dito ouro, corno tambem os mapas
dos ribeiros que deseobrirào,, dando-me outro sim conta
DA PROVINCIA DÀ RADIA. 73
da resoluoào, q u e t o m a s t e s ria ropartioào d o s d e s c o b r i m e n -
t o s , e d e i n a n d n r c o b r a r os? q u i n t o s d e c i u c o o i t a v a s p o r
b;.tèa, e das disposìcòes q u e s o b r e osto p a r t i c u l a r (ì/.ostcs
o b s e r v a r p o r u m e d i t a i p u b l i e o , a f i n i d e se i m p e d i r t e d a e
q u a l q u e r extraccào, i n s i n u a n d o - i n e o zebe a c l i v i d a d e , c o m
q u e se e m p r e g a v a n o meo s e r v i c o o c o r o n e l P e d r o L e o l i -
n o M a r i z , e os d i t o s d e s c o b r i d o r e s : s o u s e r v i d o , p o r reso-
lucào d e 11 d e m a i o deste p r e s e n t e a n n o , c u i c o n s u l t a d o
m e u conselho u l t r a m a r i n o , mandar-vos commetter p r o v i -
s i o n a l m e u l e a d i s p o s t e l o destas m i n a s , d c c l a r a n d o - v o s q u e
n à o é c o n v e n i e n t e tenhào e f f e i t o as d a t a s , d e que (ì/estes
m e r c è aos d o u s d e s c o b r i d o r e s D q m m g o s Dias d o P r a d o , e
Sehastiào b e r n e , aos q u a e s p o d e r e i s Ézer m e r c è d e suas ses-
m a r i a s , n a f o r m a das m i n h a s o r d e n s a r e s p e i l o dessa c a p i -
t a n i a d a B a h i a , q u e sào tres leguas d e c o m p r i d o , e u r n a
d e l a r g o cada s e s m a r i a , com declaracào p o r t a n q u e se n o
d i s t r i c t o d a s d i t a s sosntarias se h o u v e r d e e r i g i r a l g u m a
v i l l a , serào o b r i g a d o s a l a r g a r o s i t i o necessario p a r a ella
e seus l o g r a d o u r o s , o q u a l se I h e s c o m p e n s a l a e i n o u l r a
parte.
» lì e m q u a n t o a o b e m q u o m e t e m s e r v i d o P e d r o L e o l i -
n o M a r i z l o u v a r e i s o zelo e a c l i v i d a d e , c o m q u o se l e m e m -
p r e g a d o no m e u r e a l s e r v i c o , c o mosuio faco aos d i t o s d o u s
d e s c o b r i d o r e s . L i s b o a 2 0 d e m a i o d e 1729.»
C o n i t u d o a necessidade d e p r e v e n i r a s e o n t i n u a d a s f r a u -
des, p r a l i c a d a s e m prejuizo d e tal i m p o s t o , e a ini poi'lan-
cia d o s d e s c o b r i m e n t o s aùriferos n o d i s t r i c t o d o A r a s s u a h v .
q u e lìcào referìdos, o b r i g a r u o o g o v e r n o g e r a l a o r d e n a r sc-
g u n d a vez, o m provisào e x p e d i d a p e l o c o n s o l i l o u l l r a t n a r i -
n o d e 13 d e m a i o d e 1 7 2 0 , q u e o g o v e m a d o r eslabelecesse
l o g o d u a s casas d e fundicào. u r n a e m J a c o b i n a , e o u l r a n o
d i s i n o l o d o i l i o das c o n t a s , n o s l u g a r c s q u e elle r e p u t a s s e
m a i s a p r o p r i a d o s a o i n t e r e s s e p u b l i e o , c o n f u r m e j a l h e ha-
v i a s i d o d o l e r m i u a d o , e m o u t r a provisào d o m e s m o c o n s e -
l h o d e 5 d e j a n e i r o d o a n n o a n t e c e d e n t e , s e m alleneào à |
duvidas q n e elle suscita ra ( 2 2 ) . F o i pois encarregado o c o -
( 2 2 ) N à o se i n a ivo u nessas provisò.'s a comignacìio por onde devia fìizer-se a
desposa de laes casas, determinando-se apenas q u e os ordenados de todos os
seus empregados sairiào dos quintos, q u e nellas so arrecadassem, e.loi sobre i s -
t o que o goyeinadoi' havia p e d i d o explicacoes. O juiz, o r d i n a r i o de Jacobina
11
74 MEMORIAS HISTORICÀS, E POLtTICÀS

ronel Pedro Leolino Mariz do estabelecimento da casa d e


fuudicao ria villa de Jacobina, em u m predio que para isso
preslou o coronel Pedro Barbosa Leal, em quanto nào se
construisse edificio proprio, para cuja factura nào tinhào
appareeido arrernatantes, e na frota que partio em 5 de o u -
t u b r o d o a n n o d e que se trata(472.8), alem de 5 0 : 0 0 0 ^ 0 0 0
reis eni dinheiro, da senhoriagem arrccadada em poucos
mezes na casa da moeda desta capital, enviou o govema-
dor mais 30,300 oitavas de ouro, da contribuicào cobrada
nas Minas novas do Arassuahy, c u j o estado de prosperida-
de h isterica mente descreveo desta maneira.
» Senhor. Dei conia a V. M. dos descobrimentos de o u r o
feitos no sertào desta capitania, pondo na sua real presene
ca os termos em que se achavào, as esperancas que prouiet-
tìào, as copìas das carlas que me haviào escrito os desco-
bridores, e o corone! Pedro Leolino Mariz, e as das respos-
tas que lhe dei. Agora dou conta a V. M. de qne aquella co-
lonia se tem augmenlado em tal forma, que o Rio das con-
tas, Jacobina e seriào se achào quasi deserlos, e c o m a i n u l -
ta genie que l e m ido desta cidade, e viudo das Geraes, es-
tà tào formidavel que me segurào haver ali mais de qua-
renta m i l pessoas brancas, e inioiensidade de negros. 0 o u -
ro continua ali coni a.s mesmas esperancas, porém produz
pouco o traballio dos operarios, porque n e n h u n i mineiro se

I g u a c i o Nunes da Serra, encarregou-se de fazer a despesa necessaria a c o n s t a i -


càò da casa de fandicào dessa '" ^- v a e
i'uìtou-o, g u a n t o à das M i n a s novas d o
Arassuahy, o-corone! P e d r o L e o l i n o M a r i a , a q u e m para esse l i n i coadjuvarào
os respeciivos mineiros c o m i mooo-Jjooo reis; mas apesar desia u o o p e r a c i o lào>
effìcax, a i n d a em 1734 devia a fasenda p u h l i c a 6:414^340 r s . de ofajectus eoui-
prados p a r a o l a b o r a t o r i o dessas ea-as, cuja q u a n t i a m a n d o u a provisào d e 19
de a b r i l de i;36 fosse paga pelos q u i n t o s a l i a n e c a d a d o s , constando do o f l
l i c i o d i r i g i dò pelo vice-rei ao m i n i s i e r i o em 3o de j u l h o de 1729, que na c o n -
d'oc cào daquelles objeclos se occuparào nesta cidade tresentos i n d i o s , a m a i o r
p a r t e dos quaes f u g i q no c a m i n h o . F o i porém em o i.° de marcio d e 1730, q u e
e n l r o u a U a b a l b a r a casa.de f u u d i c a o das minas do Arassuahy: o p r i m e i r o es-
crivào da receita desta casa foi o m a j o r A n t o n i o A l v a r e s de O l i v e i r a , e e s c r i -
vào dà conferencia o capi tao Joào Soares Dantas S a n t i a g o , q u e havia ja ser-
v i d o na casa de moeda desta mesma cidade. E x e r c e o o l u g a r de p r i m e i r o es-
crivào da receita da de Jacobina Domingos F e r r e i r a . e F e l i x Thouia/. fioroni o
de escrivào da conferencia, tendo os prìmeiros o o r d e m i d o de 5 5 o $ o o o r e i s
annuaes, os segundos o de aoo&ooo reis, e os tesoureiros, q u e seriào nomea-
dos pelas c a m a r a s , e p o r seus m é m b r o s aifiancados, o de 4 o o $ o u o r e i s ,
DA PROVINCIA DA BAHIA. 75

tem resolvido a fazel-o com a forca da gente quo se faz ne-


cessaria, assim para escalar os morros, corno para Ihes i n -
troduzir agua, porque a carestia dos mantimentos, cujo
preco lem sido excessivo, os impossibilitava, contentando-se
com a faisqueira do veio dagua, onde a pouco cwsto fasem
conveniencia; porém agora que ja eslào mais moderados, e
o pai/, os vai produsindo grandemente, sera o rendimeli lo
i n n i conforme à expectacào de todos: deslas novas minas.
senhor, tem saido e sào m u i t o ouro, e pela maior parte vai
para as Geraes a Iròco de inantiuicnlos, porém, segundo as
ordens que tenho recentemente dado , n c n h u m sem pagar
os quintos.
iNellas mandei assentar a casa de fundicào , designada
para o Rio das contas, corno ja dei parte a "V. M., e scacci-
t o u sem repugnancia, conio V M. vera tambem das copias
junlas, Consta-me quo em Minas-geraes houve denuncia
de cxtYavio de ouro, e que sendo o confìsco de 27 arrobas,
nào sei se chegou a metadc o de que se fez receita a V. M.,
gastando-se mais de outras taolas arrobas, a firn de que nào
houvessem culpados em duas devassas, que tirou o o u v i -
d o r e provedor da casa da moeda das ditas minas, e t u -
do o mais sào quimeras fabricadas com o f u n de se des-
culparem oinissòcs e descuidos, e ultimamente porque se
possa entender, que o nào render aquella casa a porcàp da
expectacào, que certificavào as primcìras informacòes o u
promossas, procede deste supposto disturhio.
Da copia n.° 6 consta a remessa que se fez do que rende-
rào algumas datas que se arrcmalarào, e os quintos que se
poderào cobrar, em observancia da minha ordem, a (ini de
irein na frota, e por chegarem cinco dias depois de ter par-
tì do, vào nesta occasiào, e vera V. M. a formosi!ra e qua-
lidade do ouro daquellas minas, que para isso o mando da
mesma forma em que veio, sem embargo de que ja fiz
presente a V, M. de outras amostras da mesma qualidade.
A copia n°. 7 trata da arrematacjio, que se fez por u m
anno das passagens de alguns rios daquelle continente, e
causou admiraeào a todos o preco deste contrato, que,ain-
da que seja de pouca consideracào, excedeo o que tem t i -
do as mesmas passagens para as Minas-geraes: na de n.° 8
se vè que o dircito sobre as cargas, cavallos, e negros se
impoz sem objeccào alguma,, e se vai cobrando do modo
76 ME MORTA S HJSTOUlCVS, V. P0UT1CAS

possivel, e quo permitte a falla do coaccào , o p o r q u e por*


este motivo poderia haver dcsoaminho, mandei por om pra-
ca osto rendimento naquollas mesmas minas, c o m o r d e m de
se n ceberem os laneos, e de se nao conclnir a arrematacào
senào nesta cidade/; assiro p o r evitar conluio, conio por-
que faticando algum d,os poderosos quo ali h a , se impos-
sibilitasscm os mais c o m o seu respeito, e a todas ns horas
espcro o resulìado da minha ordem, para coni olieito se
laser a arrematacào, que sera c o m grande convonioncia da
fasonda real, p o r q u e a 5 para 0 mezes oOerecerfìo a q u i dose*
seis m i l oiiavas p o r anno, e so entào tinha conta p o r aquel-
le fuoco, maior convonioncia lhe achar:tò agora, ostando
aquel'as minas tào augEnentadàs. c o m m u i t o commercio, e
mais seguras de sua subsìstoncia.
Deste rendimento sao o estabolecimento da casa de f o n *
dieào, quo, supposto nào seja de pedra e cai pelo nào pep-
i m i tir presentemente o paiz. é de madeira e b a r r o tào b e m
fabricada e com tal fortidào, quo fica com' toda a seguran-
oa, e para d u r a r muitos annos, As eopias n.° 9 tratào das
esperancas que promottem as ditas miuas, e o estado van-
tajoso e m q u e ja se achào, e as do n.° 40 tratào de u m
bando, quo m a n d o u lancar o govemador D. Loitreneo de
Almeida, p r o i b i n d o a entra da dos mantimentos para ellas,
sem alleluici- (pieaquelles habitantrs sào vassallos de V. M.,
e tao obedi< ntes que ja tinhào requerido pessoa para os go-
vernar, o q u e m Ihes administrasso (Ustica, e que de seme-
ìhante proibioào resultava^grande damu'o à casa da f u n d i -
cao tanto desta, corno daquella provincia.
Este g o v e m a d o r me escreveo a carta n. t i , a que d e i
fl

a resposia n.° 4'2; eu, senhor, nào p r e d i r e i a d d i r estas no-


vas minas a este governo, eonserval-as sim, p o r se me d a r
p a r i e do sou descobrimento. e constar està rem no c o n t i -
nente desta capitania, ainda depois da u l t i m a divisao q n e
fez o conde de Assomar, que V. M. m a n d o u observar prò-
vision a In reo te, e por outras informacòes de pessoas p r a t i -
cas daqueìles sertòes, e qualquer o u t r a informacào se de-
ve iTconhecor afi'eclada, e deduzida c o m menos atlencào d o
servici) de V. M.
Conscrvou-se aquella colonia e m todo o socego, s e m
embargo de algumas diligencias fabricadas pelos interest
sados das minas, coni as quues se protendeo alterar os ani-
T U PROVINCIA DA BAHIA. 77

mos. c p e r v c r t e r a boa o r d e m o m q u e t i n h a posto o m e o


c u i d a d o e advorteneia; porém o q u o u n o pòdorào fazer p o r
este meio aquelles menos b e m i n t c n c i o n a d o s , se veio a co.rv
c l n i r p o r o u t r o , p o r q u e e n t r a n d o a l i u m celebre c l o r i t o ,
c h a m a d o Felippo P i n t o , c o m p r o v i m e n t o d o arcebispo
desta Bahia-, para vigario geral dos d e s c o b r i m e n t o s d o Rio
de S. Mateus, a q u o n o v a m e n l e ia u m Braz Eslevcs beine:,
g r a n d e amigo d o d i t o padre, assoc ia d os a m b o s de alguns
cìerigos, e o u t r o s c r i m i n o s o s , q u o todos se achavào nessas
parte*, so ajustarào e m q u e o d i t o clerigo excrcita-se a l i as
suas lunecòes, o q u o a h r a c o u e c o m effeito assim o fez: pas-
sados poucos dias, r e q u e r e o o c o r o n e l s u p e r i n t e n d e n t e ao
visilador autoasse a unì padre c h a m a d o Francisco da (.os-
t a , q u e andava pregando con i r a o cstabelcciit.ento da casa
da fundieào, p e r s u a d i n d o aqueiles povos a q u e nào a d m i t -
tissem, n o n i se sujcita^sem a pagar q u i n t o s , e achaudo o
v i s i l a d o r c u l p a d o neste a b s u r d o ao d i t o p a d r e , passou o r -
d e m para o p r e n d e r , e podio a j u d a ao s u p e r i n t e n d e n t e
p a r a a sua prisào , e, dando-a , c o m e l i c i l o se fez a prisào
c o m tal e s l r o n d o , p o r causa dos excessos d o tal c l e r i g o ,
q u e se nào q u e i i a d a r à prisào, q u e pubìicamente veio des-
c o m p o s t o , grilandò:, e c h o g a n d o à casa do s u p e r i u l o n d c u -
t e , a h i , c o m eseandalo geral de l o d o o p o v o , repello taos
cousas, q u o a modestia c o m q u e devo fallar a V. M., me
i n i pode a pói-as na sua real presenea.
Entào a c u d i o o vigario g e r a l , e t i r a u d o - o potenciosa-
m e n t e da prisào, u l t r a j o u coni naia v ras indecorosa* ao su-
p e r i n t e n d e n t e , o q n e olle d i s s i u m l o u c o m p r u d e o d a , e,
nào contente c o m osto desalino, o o x c o i i i n u i n g o i i , e neste
p o n t o oousislia a I r a t a d a e p r o j e c t o dos sodieiosos , corno
lego se vio manifesto, p o r q u e , e x e o m m u n g a d o o s u p e r i n -
t e n d e n t e , m a n d o u i m m e d i a t a m e n t e o d i l o Braz Fsteves
L e m e p n b l i c a r u m b a n d o , o m q u o si; i n t i t o l a v a s u p e r i n -
tendente dàqui lUs minas, dizendo, q u e , corno Pedro Leo-
l i n o M a r i / estava e x c o u i m u n g a d o , nào l h e deviào obecle-
cer. Fsto desalino I b i t a l q u e ia p o n d o em g r a n d e altera-
cào o socego p u b l i e o , l'azeri do c o m q u e os mais seguissom
aqnelle a c q u i l o , senào fosse a p r u d e n c i a , e zelo c o n i q u e
se empregava no servico de V. M. o r e f e n d o c o r o n e l , q u e ,
c o n h e c e n d o m u i t o beai q u e nào estava e x e o m m u n g a d o ,
p o r q u e nào t i n h a d a d o m o t i v o para isso, n e m t i n h a pode-
MEMORIAS HISTORICAS, E POUTICAS

res para o fazer aquelle que mandara publicar a excom-


inunhào, se sujeilou a absolver-sc p u b i c a m e n t e , só para
dessa maneira seg tirar e servico de V. M•.., mostrando-se
indifferente a quantas amcacas lhe faziào, deitando-ihe car-
tas, eoi que o p^ometliào matar.
Desia resolur.ào se seguirào outras diligencias, para con-
servar a boa ordem no servico de V. M., e em todas achou
proiìeuos os principaes habiladores daquella colonia, d i -
zendo estes e todo o povo, que nào reconheciào outro su-
perinlendente mais do quo o coronel sobredito, assim pe-
l o bem que tinha servido, e justica que tinha ad ministra*
do, corno por ser nomeado para o dito emprego por q u e m
o podia fazer, e que està vào todos promptos para o defen-
der, até dar a propria Vida, e assi in hcou esse negocio nos
termos em que eslava, e t u d o consta do documento n i *
45, com quo o superinlendente me deo conta; a vista del-
la fallei ao arcebispo, que logo expedio as ordens necessa-
rias para ser preso o chamado vigario geral, primeiro mo-
ve! desta grande maquina, e o padre Francisco da Costa,
mandando sair os mais clerigos, que ali procedessero mal,
e nào livessem emprego; porém enlendo que nem u n i ,
nem outro se achào, porque me avisào que elles ja se tinhào
ausentado, e quo o visilador tinha cedido prudentemente
da sua jurisdiccào, vendo que todos se inclinavào a seguir
os prudentes conselhos do superinlendente, ficando t u d o
socegado, eficaràainda mais quando chegarem aquellas
ordens.
jSesla colonia nào ha mfiìs coacoào do quo o respeilo a
V- M., que era o que bastava, porém é composta de t a l
diversidade de gente, sendo a maior parte criminosos, de-
vedo res, e hòmcns mal intcncionados, que sempre p r o c u -
rào viver em parlo onde exercào o seu m à o genio, de que
a providencia divina tem felìzmente livrado aquella colo-
nia, fazendo que o nome de V. M. seja obedecido, mas
agora, que se acha o supcrintendente na execucào de co-
b r a r os quintos, na forma da lei, e de fazer i r o ouro para
a casa da fundieào, é todo o perigo , porque elle nào tem
mais do quo alguns ofìiciaes de ordenancas que ali criei, e
o amor que tem ao servico de V. M. os vassallos de melhor
intencào, o que nào basla para proseguir em u m projeeto
de tanta ponderacào, por cuja causa me pede na carta n.° 46
D À PROVINCIA DA BAHIA. 79

a u s i l i o m i l i t a r * e c o m tanta instancia q u e me segura, q u e


seni elle t u d o se d i f i i c u l t a r a , o q u e eu c r o i o , p o r q u e a i n d a
c o m os sobrcdilos officines, e mais pessoas pacatas, nada
poderà o b r a r neste particuìar , p o r se intoressarem t o d o s
e m q u o a casa da fundicào nào tenha exercicìo, e q u e se
nào d i f f i c u h e n i os meios para cada u m p o d c r usar d o seu
o u r o , em q n e todos se utilisào r e c i p r o c a m e n t e , p o r sor o
u n i c o negocio de q u e todos ali v i vem. A* vista do que, e das
informacòes q u e me deo eie B e l c b i o r dos Reis de M e l l o , de
que t e m servido b e m a V. M. p r e n d e n d o a l g u n s sedicio-
}

sos, q u a n d o foi do levante das Geraes, e o u t r o s r e g u l o s ,


c o m grande p e r i g o de v i d a , e despesa da sua fasenda, além
de a l g u n s emprogos, q n e exerceo dignamenle, p o r isso o
p r o v i n o posto de capitào de urna t r o p a de dragòes , q u e
se ofl'erecco a levantar a sua custa , c o n i 6 0 cavallos m o n -
t a d o s , seni q u e a fascnda de A . M. concorresse mais d o
7

q u e c o m os s o l d o s , na f o r m a q u e se p r a t i c a e m Minas-ge-
raes: f u este p r o v i m c n t o p o r aquellas causas , e l a m h e u i
c o n s i d e r a n d o , q u e só c o m osta t r o p a se p o d e r i a segurar o
estabelccimento da d i t a colonia, e i m p e d i r os regulos, e se-
diciosos de p r a t i c a r o m insultos; porém dependente da a p -
p r o v a r l o de Y. M. {'23), q u e nào d u v i d o se persuada, q u e
o b r e i b e m neste expediente, ainda q u e f a l l o de jurisdiccào,
mas de a l g u m a sorte f u n d a d o no cap. 40 d o r e g i m e n t o n o -
vo deste governo, e na p r i n c i p a l obrìgaeào, e m q u e V. M.
m e poz de c u i dar na soguranca d o estado, e nos meios q u e
facili t e m a n i e l l i o r arreeadacào da sua real fasenda.
0 q u e t e n h o r c s o l v i d o sobre a dependencia destas m i -
nas desde q u e partio a f r o t a , consta da copia n.° ')7 das
carta s, q u e esc re vi ao s u p e r i n l e n d e n t e , no q u e me p e r s u a -
d o tenho dado Sodas as providencias, q u e cabìao na m i n h a
possìbilidade. Agora reeebo a c a r i a n.° 1 8 de alguus, e o
p o r t a d o r della, q u e se d e m o r o u depois de a receber tres o u
q u a t r o dias, me diz q u e os prcsos erào d o u s socios deiìraz
Lsleves, dos quaes u m t i n h a a r i n a d o u r n a t r o p a à d r a g o -
ncsa, c o n i 40 mauielucos e m u l a t o s , todos c o n i suas n i i -
t r a s , e nellas pinta d o u m braco c o m u n i c u t c l l o , para s a i -
r e m desta maneira no d i a e m q u e se havia ajustado d a r firn

(a 3) Foi confirmada a criacào dessa companhia por provisào dea3 de maio


de
80 M E M O u I À S HISTOtttCAS, E P O t r T i C A S

ao seu p r o j e c t o , e q n e sondo levados para o l u g a r da prisào,


e m q u a n t o se dava o r d e m a p r o p a r a r a sua conduccào, Ihes
sairào ao e n c o n t r o os o u t r o s socìos, p o r m a n d a d o do d i -
t o Diaz Esleves para os t i r a r , o q u e nào conseguirào, p o r
ser o c a l i o valoroso e resoluto, porém q n e h o u v e a l g u n s
m o r l o s , dos quaes u m foi o f i l l i o d o d i t o Esleves, e o u t r o s
feridos, e q u o c o m oste successo entrava o s u p e r i n l e n d e n -
te na diligencia de p r e n d e r esle Braz Esteves, o q u e conse-
guirà, p o r achar os a n i m o s daquelles h a b i t a d o r e s dispos-
tos para isso, e m consequencia de p i l e u d i d o s , e roeeosos
dos r o u b o s e i n s u l t o s d o d i t o Esteves; q u e fasendo se-lhe
a prisào, sem e m b a r g o de estar c o n i mais de *200 armas no
seu r a n c h o , aeharào-lhe u m r o l da sua p r o p r i a le t r a , q u e
t i n h a p o r t i t o l o — M e m o r i a das pessoas que Itào de morrer
710 dia do confliclo — sendo estas Pedro L e o l i n o Mariz e m p r i -
m e i r o l u g a r , e o u t r o s m u i t o s sujoitos daquelles b e n i i n t e r i *
cionados, e q u e o d i l o P e d r o L e o l i n o «Juriz fìcava a t i r a r
devassa, e fasendo t r o p a para o s r c m e U c r seguros ( 2 4 j . I s t o
è t u d o q u a n t o l e m havido naqucllas minas, e de q u e lenivo
n o t i c i a ale o presente, e se h o u v e r mais a l g u m a c o usa, de
l u d o d a r e i p a r i e a V. M. Bahia >2h de a b r i l de 1729. Fus-
co Fernandes Cesar de Menezes.»
Parcce e m verdade a v u l t a d o o r e n d i m e n t o q u e percebia
a fasenda p u b l i c a das m i n a s d o Arassuahy., mas elle nào c o r *
r e s p o n d i a a q u a n t i d a d e de o u r o q u o dellas se c x l r a i a , p o r -
isso q u e erào f r u s t r a d a s as m e l h o r e s p r o v i d e n c i a s , tendentes
a e v i t a r o extravió dos resaceli vos d i r e i l o s ("2ò\, e j u l g a n d o
o m o n a r c a q u o seria m a i s o n Veniente o arrematarem-se os
q u i n t o s d o o u r o , c o r n o se praticava c o n i os d i r e i l o s das pas-
sagens e d i z i m o s , assim o d e t e n n i no uvpot' c a r t a regia de 27

(34) Por outro officio de 17 de inaio do mesmo anno, communicou haverem


chegàdo p r e t t a à c a p i t a l o meli ci orni i l o l i r a z fcateves L e r n e , e q u a t r o dos seus
.companh eii'Ojs na cònspiracSo,

(o5) A c r i a c a o da companln'a de dragòes conteve em grande p a r t e os d i s t u r -


bo)*, frequente*, até entSn n a q u c l l e d i s t r i c t o , mas pone» interessou a e v i t a r o
descaminlio dos d i i e i t o s do o m o . Em v i r t u d e (hi provisào de 37 de m a r c o de
J ?3o p r e f i x p u o g o v e m a d o r o praso de dous n1e7.es, para ser reco Ih) d o a casa da
moeda .lesta cidade, e n e l l a pagar os d i r e i m s estahclecidos, l o d o o u r o , q u e exis-
lisse e m p o d e r dós p a r t i c o l a r e * , s u h t r a i d o aos mesmos d i r e i l o s , e em poucos
dias e n t r a i d o a l i t r i n t a e tres arrobas, q u e sòmente esperavào a saida da f r o t a
afiin do scremi c o n d u z i d o para a Europa.

1
DA P R O V I N C I A D A B A H I A . 81

de marco de 1730, prò ibi ri do por provisào da mesma data,


expedida pelo conselho tìl tramarino, que se fìsessem novas
descobertas de minas sem licenca do govemador, para que
nào fìcasscui abaudonadas as lavras queexistiào; mas reeo-
nhccendo o mesmo govemador, que a adopeào da medida
cslabelecida na quella carta regia importarla maiores pre-
juizos, represenlou centra ella ncstes termos.
» Senhor—Tem mostrado a experiencia que a fasencla de
V. M, recebe grande prejuizo nos pagamentos dos quintos
do ouro, pela fraudo que se pratica, e industria e malicia
dos homens para o desencaminhar, e desviar das casas de
fundicào, e é seni divida quo coni aquella certosa parece-
rà cfiìcaz, e ulil o remedio de se contralarem aquelles dirci*
los; porém eu qne me acho neste estado, e com noticia e
experiencia do todo elle, e do genio dos seus moradores e
viandante*, sou de opiniào differente, e reputando oste ne-
gocio.pelo mais grave, e de consequoncias dignas da maior
p o n d e r a l o , direi a Y. M. coni aquelle amor, zelo e fidali-
dado, com quo sempre costumo, e devo emprogar no seu
real servico, o que me parece acertado, executaudo o que
V. M . me ordcua.
Puz em pratica quanto me foi determinado , ouvirido
os provedores, e algupias pessoas intelijgentes, e ainda que
os seus pareccros forào desencontrados, conio se ve das co*
pias juntas, mandei por e ni praca os quinios das minas des-
ta capitania, doclarando que se haviào de arrematar todos
juntos, ou sepa radameli le os decada comarca; e ainda que
nào tem tido laneo, conio Y. Moverà da certidào junta, e,'
caso que o leu luto, e seja conveniente o rendimento que se
suppòo podeui produzir, nào procederei a esla arremata-
cào , porque na forma da ordem de Y. M . , considi rando
nella inconvenienles, Ihos devo primeirametile fazer prc-
scntes, e o s \ ì a n m o s que se podem seguir daquella novj-
dade. A pessoa que lancar ncsses quintos, ha de ser prati-
ca nas minas , e hade considerar nas difficuldados da co-
branca, e nas grandes desposas quo se fazem precisas, para
impedir a extraccào do ouro, esaminando o numero dos
miueiros, e das batèas, calculando o rendimento quo teve
a real fasendaaios annos auteriores, para lancar a seu sal-
vo, ficando a fasenda real de Y. M. com prejuiso certo e
in falli ve], os seus vassallos vcxados e perseguidos, e só o
contratador utilisado. 12
8*2 jn-uonus IUSTOIUCÀS, K TOUTICAS

Coni este arrendamento certamente se deve reccar no*


vidadc g r a n d e e n t r o os m i n c i r o s , e m u i t o s d i s t u r b i o s e d e -
sordens, p o r q u e se elles duvidào pagar os q u i n t o s a V. M.,
sonegando o > m u i t o mais o duvidaràò fazer a u n i p a r -
0 u r o

t i c u l a r q u e os a r r c m a t a r , e serao t a n t a s as d e n u n c i a s e
os c o n f i s c o s , q u e l u d o se porà e m confusào e d c s o r d e u i ,
o u v i n d o V. M. m u i t o d e l o n g e o c l a m o r e queixas dos seus
vassallos, sem Ihes p o d e r d a r r e m e d i o , q u e os l i v r e dessa
oppressilo, e abandonar-se-hào as m i n a s , o u irào n o l a r g o
seriào deste c o n t i n e n t e d e s c o b r i r o u t r a s , o n d e se j u l g u e m
seguros desse flagello, e cis entào a p e r d a i n f a l l i v e l dos d i -
r e i l o s d e V. M, P o r t a n t e parecia-mc necessario r e p r o v a r
o a r b i t r i o desta arrematacào, e cseolher-sc o m e i o mais se-
g u r o , c e r t o , e p r o v o i t o s o , d e menos v c x a m e para os povos,
e d e m e n o s d i s p e n d i o à fasenda real. 0 m e i o mais u l i l , e
de m e n o s e m b a r a c o e d i s p e n d i o p a r a se a r r e c a d a r e m os
q u i u l p s , s e m vexa§àp dos povos das m i n a s , é o c o b r a r e m -
se p o r l a n c a m e n t o d e batèas, à rasào d e .40 oitavas cada
u r n a , pagas aos q u a r t e i s , e a i n d a q u e este a r b i t r i o é j a r e -
provado ( s e m embargo de q u e e m m e n a r n u m e r o ) c o n i
t u d o nào h a o u t r o , n e m e n t e n d o se d e s c o b r i r a , q u e possa
ser efìieaz.
N à o pareca e x o r b i la n t e n e m excessivo este m e i o de c o n -
tribuicào, p o r q u e a i n d a c o m elle se faz f a v o r aos m i n e i -
r o s , p o i s se r e g u l a r m e n t e l i r a cada oseràvo nas m i n a s c e m
oiiavas p o r a n n o , d e q n e d e v e m v i n t e , v e m só a pagar
m e i o s q u i n t o s , e sondo c e n t o e v i n t e , o u c e n t o e t r i t i l a
m i l batèas, e a i n d a mais cérno todos dizom, se faz u m r e n -
d i m e n t o f o r m i d a v e l , c o r t o , e seni despesas , p o r nào h a -
ver nccossidade d e mais d i l i g e n c i a . d o q u e do fazer t i r a r
as lislas v e r d a d o i r a s d e todas as batèas, e nào é facil q u e os
m i u e i r o s escondào u n i n e g r o , q u e é visto na sua lavi a, n a
sua roea, em s u a casa, nas listas dos p a r o c h o s , nas d o ca-
pilào d o d i s l r i c t o , n o r e g i s t r o dos l i v r o s d a s c a m a r a s , e p o r
t o d o s os seus visinhos, c o r n o p o d e m fazer ao o u r o , q u e o
n i et l e m nas suas algibeiras , nas suas arcas , e e m o u t r a s
p a r t e s , seni q u o n i n g u e m o veja.
E p a r a o o u r o , q u e sair das m i n a s , se nào e x t r a i r p a r a
f o r a deste estado e m pò e se r e d u z i r a m o e d a , deve V. M.
m a n d a r estabelecer u r n a l e i , proìbindo c o m penas graves
q u o n e n h u m a pessoa o possa l e v a r p a r a o r e i n o , n e m p a r a
DÀ PROVINCIA. DA BAHIA. 83

O u t r a q u a l q u e r p a r t e para fora d o B r a s i l , e q u e t o d o e l i -
tre nas casas da moeda, pagando-se nella a q u i n z e luslòes,
p o r q u e c o n i està resoiucào experimcntarà a fasenda real
u r n a g r a n d e u t i l i d a d e , nao só n o avanco d o t o q u e , c o n i o
n o r e n d i m e n t o da braca g e n i , q u e nào é para desprosar, e
para esse effeito se fazem precisas mais duas casas de moe-
da, u r n a e m P e r n a m b u c o , e o u l r a n o p o r l o de Sanlos, es-
c u s a n d o se a eccessiva despcsa q u o se faz c o n i as de firn»
dicào. Bahia 3 1 de j u l h o do 1730.!.
O esèmpio dos p r e j u i s o s causados p o r D. R o d r i g o de
Castello-branco dictava necessariamente ao g o v e r n o P o r -
tuguez'maior circunspeccào na escollia das pessoas, a q u e m
commettesse a direccào de novas descobertas; c o m l u d o
sempre a i m p o s t u r a , e o o l i a r l a t a o i s m o liverào seguici ores>
e q u a n d o se acabava de o r d o n a r a proibicào de novas inves-
tigagoes a u r t f e r a s , conferio-se e m Lisboa a Manoel F r a n -
cisco da Solcdadc, p o r provisào de S de janeiro de 1730, a
su p e r i n te n de ne i a da minas q u e elle descobrisse n o espaco
de dez annos, e a administracào de todos os aborigenes q u e
domesticasse, além de urna sesmaria de q u a r e n t a leguas
de t e r r a , r e u n i d a s o u separadas, e m r e m u n e r a r l o dos ser-
vioos q u e a l l e g a l a haver p r e s t a d o , inculcando-se o v e r d a -
d e i r o d e s c o b r i d o r das minas do Arassuahy, e de o u t r a s
m u i t a s , no p e r i o d o do t r i n i a annos, doz dos quaes aiììrma-
va t e r e m sido c o n s u m i d o s e m c o n t i n u a d a g u e r r a c e n t r a os
indios' selvagens, q u e habìtavào desde aseoslas de Jlhéos e
P o r l o - s e g u r o , ale o R i o - p a r d o ,
T r a t o u logo o vice-rei de écientiflcar ao m o n a r c a q n c
havia sido c o m p l e t a m e n t e i l l u elido, p o r é m nada conseguio
c o n i isso, e Manoel Prancisco da Solcdadc àcompanhadó
de d o u s e s t r a n g e i r o s , Este vào A K e r , e Alexandre Poe b o r i ,
nào menos ignorali tes q u e e l l e , mas q u e todavia i u c u l -
cavaò-se c o r n o habeis miuerulogos, ségùiò, poucos dias de-
pois de sua chegada de P o r t o gal a està cidade. para a Ca-
c h o e i r a , onde c o m e c o u a fazer exploraeòes mineralogicas
nos terrénos cuhivàdos, p r a t i c a n d o de i g u a l maneira e m
o u t r a s viìlas, e c o n i tantos actos de violeiicia, q u o o govcr-
n a d o r vio-se o b r i g a d o a fazcl o r e c o l h o r preso a for talora
de S. i ' e d r o , onde se eonservou bastantes mézés, sondo
entào p o r nova o r d e m regia p r i v a d o das gracas q u e o b r e -
plìciamcntc havia obtìdo.
84 SrEMOBlAS HISTORICAS, E P O U T I O A S

A e x t r a o r d i n a r i a reputacào das m i n a s d o Arassuahy h a v i a


f e i t o a t t r a r r a esse d i s t r i c t o m u i t o s mineìros de J a c o b i n a ,
que, seduzidos pela a b u n d a n c i a do o u r o e facilidade d e sua
c x t r a c c a o , abandonavào suas lavras nào menos ricas; mas j a
o e s p i r i t o das descobertas se achava corno a m o r t e c i d o , p o r
isso q u o os p r i n c i p a e s Paulistas haviào-se r e c o l h i d o à s u a
p r o v i n c i a , ricos semente d e servicos prestados à oaeào, e,
q u a n d o m u i t o , d e a l g u m a g r a d e c i m c n t o officioso ( 2 6 ) ,

(aO) Desses Paulistas unicamente permnnecia nesta provincia Sehastiào Le-


m e do P r a d o , o q u a l , r e d u z i d o a indigencìa, e s u p r i d o em suas i n v e s t i g a t o c i
m i n e r a l o g i c a s p e l o mesire de r a m p o M a n e e l d e Q u e i r u z , q u o d e Minas-geraes
t i n h a v i n d o trabalhar nas d o d i s t r i c t o do Arassuahy, q u e elle d e s c o h r i r a , a i n d a
entao divagava pelas cabeceiras, e adjaceucias d o s rios de S. M a t e u s , D ò c e ,
P i a g u i , e outros, fa zen do novas descobertas q u e até h o j e existeiu o c c u l t a s , p o r
sua constante recusacào a poteoteàl-às, resentido do menos-preeo em q n e o
chefe s u p r e m o da m o n a r q u i a teve seus servicos. K m ohservancia tia caria r e g i a
de i S de m a r c o de 169*, havia-lhc dado o g o v e m a d o r , b e m corno ao mestre
d e campo D o m i n g o s Dias d o l'rado, urna sesmaria m a i o r q u e as o r d i n a r i a s , q u e
erào d e tres leguas de f u u d o , e urna de l a r g u r a : mas j a se v i o q u o a p r o -
TÌsao d e 10 d e m a i o d e 1721) m a n d o u q u e es^as sesmarias ficassein d e ne-
n h n m effeito, e, nào obstante as justas ponderaròes d o mesmo g o v e m a d o r , d e
i c r m i n o u - s e em o u t r a provisào q n e a q n t l l a fésse i n t e i i ameme c u n r p r i d a . Os r e -
levantes servicos deste i n t r e p i d o scrtanejo demandavào q u e se procedesse p a r a
c o m elle diversamente; todavia r e q u e r c n d o c u 5 d e a b r i l d o mesmo anno u m h a *
b i t o d e ChristG, o l u g a r de guarda-mór das minas q u e t i n h a dcscobeito, e a prò-
p r i e d a d e dos offieios d e escrivào da o u v e d o r i a , e tnhelliào d e notas, p a r a d o t a r
sua f i l l i a , allegando o estado d e p e n u r i a a q u e estava r e d u z i d o , p e r haver c o n -
s u m i l o q u a n t o possuia no servico p u b l i e o , nào ohstante coadjuval-o o j u s t i c e i r o
g o v e m a d o r na informacào q u e deo a^'al respcito, p o r assim o r d e n a r a provisào
de 27 d e ftbr.il de i ? 3 i , leve 0 mais r e d o n d o i u d e f e r i m c n t o . Sempre aos n i e i h o .
i c s s e r v i d b r e s d o estado coube i g u a l recompensa: os p r e m i o s e as gracas o r d i -
n a r i a m e n t e se d i s t r i b u c m pelos q u e menos as merecem, e j a disse o grande epico>
Portuguez,—
A b a i x o estado vìi, b m n i l d e e escuro,
M o r r e i * nos hospitaes c m p o b r e s lejtgs
Os q u e ao r e i , e a lei s e r v e m d e m u r o ;
I s t o fazem os reis, cuja v o n l a d e
M a n d a mais q u e a j u s l i c a , e q u e a v e r d a d e .

P e i o r foi porém o firn d o m e n c i o n a d o mestre d e c a m p o D o m i n g o s Dias d o Pra-


do, e seu irmào o c o r o n e l F r a n c i s c o Dias d o P r a d o , q n e t a n l o s servicos i g u a l -
m e n t e fì/erào , p o r q u a n t o perseguìdus desde p o r arcusadores pede-
rosos, corno d e l i n q u e n t e s d e algumas m o r t e s , q u e haviào p e r p e l r a d o , t e n d o
c v i t a d o c o n t i n u a d a m c n l e as d i l i g e n c i a s da j u s t i ^ a , p e l o r e s p e i t o de q u e gosavào,
vapturados a iìual em c e r i o l u g a r em q u e mais seguros se reputavamo, e c o u d u a i -
DA PROVINCIA DA BAHIA. 85

c o n t i n u a n d o p ò r é m o infatigavcl c o r o n e l P e d r o L e o l i n o Ma-
riz era r e p e l i d a s invesligacòes sobre as m i n a s de p r a l a , e m
c u j o e n l a b o l a m c n t o o r d e n o u a provisào de 27 d e d e z e m b r o
de J729, c x p e d i d a pelo conselho u l t r a m a r i n o , se obsorvas-
se o qne se achava disposto para a laboracào das m i n a s d e
ouro (27): c o m tudo o a p p a r e c i m c n t o q u e sohreveio d e
dia man tes, produzio urna especie d e t o r p o r nessa laboracào,
q u e p a r a l i s o u p o r a l g u m tempo,
Forào descobertos os p r i m e i r o s d i a m a n t e s e m J727, nas
m a r g e n s de alguns ribeiròes d a c o m a r c a d o Serro d o frio,
p o r B e r n a r d o eia F o n c e c a L o b o , e r e c o n h e c i d o s verdndciros
pelo s e g u n d o o u v i d o r d a m e s m a c o m a r c a Antonio F e r r e i -
ra do Yalle, q u e h a v e n d o servido e m Góa, entreposto en-
tào das pedras preciosas de G o l c o n d a , tinha obtido esse co-
lili ( c i m e n t o ; m a s a c o n s i d e r a v e l r i q u e s a das lavras d e o u -
ro nessa epoca, fez a p r i n c i p i o e n c a r a r semelhante desco-
b e r t a c o n i a l g u m a indillerenea, pois q u o foi s o m e n l e d o u s
annos depois q u o ella foi c o n i m u n i c a d a ao governo s u p r e -
mo, j a pelo vice-rei c o n d e de S a b u g o s a , ja pelo g o v e m a d o r
de L\Ì inas-geraes (28) D. L o u r e n e o d e Almeida, este remet-
dos a cadéa da capital desta provincia, por sentenza da relacào respectiva forao
degoludos no p e l o n r i n h o , em conscqucncia da nobresa de que gosavào. Pela
m a n e i r a p o r q u e se e x p r i m i o o g o v e m a d o r em o f f i c i o de 16 d e scteinhro de
i 7 3 a , partecipando iste ao m o n a r c a , p^rece o u que alguma p a r t e activa l o m o u
e m tal condeinnacào, o u q u e naquelle t e m p o nìo se compcnsavào penas de de-
l i c l o s , com a consideracào de servicos.
(37) Nessa provisào agradecia tambem o^monarca o interesse que o vice-rei
Vasco Fernandes Cesar havia patenteado na descoberta das minas de p r a t a , e
lhe c o m m i t o icava quo a amostra d o melai, remettida p o r elle em o f f i c i o de 3 d o
c u m i n o do anno antecedente, era de finissima p r a t a , segundo o e.\aine a q u e
procederà, na casa da moeda de Lisboa, o ensaiador-mór K o q u c Francisco.
(aS) « O r i o J e q u i i i n b o n h a de q n e fallei a pag. t i f i , nascido na l a t i t . de iS° ao*,
e longìt. de 333° 36* ao n o r t e das serras de S. A n t o n i o ( c u j o r i o fa?, b a r r a na-
quelle), e de Itambé, levando comsigo o u t r a s yguas c o r r e n t c s , vai no r u m o de
n o r t e banhar grande parte da comarca do S e r r o , desde i6° a i ' de l a t i l u d e , e
33à° 34' de longiturìe, i n c l i n a n d o d'ali o seu m o v i m e n t o apressado para o
o r i e n t e , a despejar-se no m a r da villa de B e l m o n t e c o m o n o m e d o Rio-gran-
de, ao n o r i e d o r i o Caravellas. Desse manancial de riquesas (corno c l a m b e i n
o R i o de S. M a t c u s j dimanào os diamantes, que achados p o r B e r n a r d o da Fon-
ceca Lobo, (a quem el rei fez merce do posto de capnào-mòr da villa do P r i n -
1

cipe em sua v i d a , e da propriedade d o o f f i c i o de lahelliào da mesma v i l l a , e o i


resulucào de 12 de a b r i i d e 1734)» forào manifestados p o r c e r t o o u v i d o r da
66 MEMORIAS IIISTORICAS, E POLITICAS

tendo e m 22 de j u l h o de 1729 algumas pedras que, p o r fal-


ta de pessoas intolligenles, nào ousava atfirmar serem dia-
mantes, e aquelle p a r l i c i p a n d o e m 28 de setembro do mes-
m o anno, q u e o d o u t o r Antonio Xavier de Sousa, vigario
da freguesia da Conceicào de Malo dentro, o d a vara da r e -
fenda comarca, l b e manifestimi quarenta pequenos diaman-
tes, tirados e m diflcrentes corregos desse deparlamento,
dos quaes ia laser entrega pcssoal ao monarca, accrescen-
taudo que havia mais de dous annos qne sa fallava e m t a l
descobrimento, porém que a tal respoito n e n h u m a c o a i m u -
nicacào oHìcial recebera.
Bem longe todavia de ser acolhida favoravohnente n a
corte a remessa feìta p o r L). Lourenco de Almeida, soflVeo
este severa repreensào na resposla quo Ilio fot dirigida, e m
provisào de 8 de fevereiro do anno seguii)te, estranhando-
se-lhe a consideravel omissào c o m quo se houvera e m ma-
teria d e t a m a n h a i m p o r t a n c i a , fazendo essa comuiunicaeào
serodiamente, e q u a n d o ja dous annos antes tal noticia ti-
n h a chegado a Lisboa coni alguns desses diamantes, deter-
minando-se-lhe ao mesmo tempo q u e tornasse as medidas,
que achasse convenientes aos interesses da fasenda p u b l i c a ,
ou contenendo a extraccào diamautina a particulares q u o
pagasscm os respectivos direilos, ale q u e ulteriormente se
resolvesse o que nielli or conviesse, a vista de oulras partici*
paeòes quo se fosscm recebendo, o u sondo fella essa extrac-
cào p o r conta da mesma fasenda, assoverando-se-lhe t a m -
b e m que erào per feitos dianianles os que elle havia cnviado.
Entro diversas provideirtias adoptadas p o r occasiào des-
ta descoberta, reviveo e m provisào de 20 de fevereiro de
4730 a antiga proìbieào das ourivasarias, que se considera-
provincia, que tendo vivido em Gòa, onde adquirìra conhecimento dessas pe-
dras vindas de Golronda, as fez conhecer ali. Nào constando com certesa o an-
no desse descobrimenio, e com ludo sem qnestào, que remellendo o gover-.
nador D. Lourenco de Almeida algumas pedras braueas para a córte, e di-
zendo em carta de i a de jultto de 1329 que se opinava serem diamantes; por
carta regia de 8 de fevereiro do anno seguinte foi-lbe respondido, que laes
pedras se liaviHo dhulgado ne.ssas- minas alguns annos antes, e ja em duas f r o -
tas se haviao remcltido varia* u u t r j s seinelbaiites com a certosa de sereni dia-
mantes; p o r isso se extranhou muito a omissao indesculpavel do govemador
em nao averiguar logo a principio urna novidade tào importante» succedida
no districto du sua jurisdiccào.—Pisarro tom 8. parta a.
DA PROVINCIA DA BAHIA. 87
V:io prejucliciaes aos q u i n t o s d o o u r o ( 2 9 ) , c c o m q u a n t o
n c n l i u m a o u t r a noticia Iiistorica possa agora d a r a respeilo
d a m e s m a descoberta, e m c o n s e q u e n c i a d e nada mais cons-
tar dos arciiivos p u b i i c o s q u e c o n s u l t e ! ( 5 0 ) , n à o deve t o -
po) A carta regia de s8 de noverati™ de 1608 foi a prime ira que detcr-
m i n o u nào houvesse no R i o de J a n e i r o mais q u e tres ourìves, e a de 26 d e
setembro de i ; o 3 o r d e n o u se fecha^sem todas as mais officina» desse genero,
sendo i n l e i r a m e n t e p r o i b i d o o uso d e t a l o f f i c i o naqaella p r o v i n c i a , em Per-
nambuco, e em quaes o u t r a s em q u e bouvesse minas de o u r o , p o r isso q u e nào
sò falsifìcavào-no e ni o b r a s , corno t a m b e m subtraiào grande porcào d'elle aos
respectivos q u i n t o s : coni t u d o alguns vice-reis forào mais ìndulgentes a esse
respeilo, p e r m i t l i n d o nesta c a p i t a l , bem q u e e n c o b e i l a m e n l e , o uso d o mesmo
o f f i c i o , a p r e t e x t o da necessiclade q u e d e l l e havia p a r a 08 concertos de o b r a s
de o u r o e prata, q u e p o r q u a l q u e r desunncho ficavào ìnutilisadas, até q u e o
al vara de i r de agosto de 1815 a b o l i o essa pruihicào, f a c i l i t a n d o aos o u r i v e s
o t r a b a l h a r e m p o r sua arte onde, e corno ihes et n v i e s s e . — V'cja-se o 1 . v o l u -
me pag 249. ,
(3o) V a c i l l a a cada passo em falla de dados historicos, o q u e escrevendo so*
l i r e o Brasil c a r e c o r de c e r t o de!.cmbaraco, e sem c e r i m o n i a de alguns, es-
peciahnente e»trangcÌros, q u e em iguaes fahas, o u recórrem a p r o p r i a imagina-
^ao, o u a noticias muitas vezes fabulosas , e destiluidas da m c n o r sombra de
c r i t e r i o , c o n f o r m e a qualidade das pessoas que lhas foruecem: se o descuido dos
autigos neste p o n t o é d i g n o de r e p a r o , mais censuravel ainda se t o r n a o do tem-
p o presente, pois q n e até em algumas estacòcs p u b l i c a s os estjuccìmentos clicgào
a occasionar a perda de pecas officiaes q u e le vào c o n s u i n o , sem q n e tenliào
sido regislradas em l i v r o p r o p r i o . A d e i x a r d e acontecer i s t o , nào leria q u e
Uolar-se i g u a l falla, e em i d e n t i c o o b j e c l o , na Memoria sabre os diamantes, excel-
l e n t e produccào do c o n s c l h e i r o José de Retende Costa, p n b l i r a d a no R i o de J a -
n e i r o em i 8 i t > : o ftrasil, e os homens bronrados lamentaiaò sempre a perda des-
se interessante einpregado c u i o d i a 19 de panho de 1S4 > e conio aquella Me-
1

m o r i a nào tem chrg;ido ao c o n h c c i i n e n t o de t o d o s , trauscreverei dell:» as p r o -


videncias qnc, p o r occasiào desta descoberta, a d o p t a r a o mcncionado g o v e m a -
d o r de Minas-geraes.
» D. Lourèneo de Almeida, g o v e m a d o r da capitania de Minas-geraes, e m of-
ficio de 22 d e j u l h o de 1729 r e m e t l e o ao governo algumas pedras q u e j u l g a v a
serem d i a m a n t e s , e p o r carta regia de 8 de fevereiro d o anno seguirne, se l h e
respondeo serem diamantes, estranhaudo-se-lhc a sua 0 missào indesculpavel, p o r
nào haver a v e r i g u a d o logo a p r i n c i p i o urna n o v i d a d c de tanta i m p o r t a l i ci a, pois
que ja se haviào recebi do em duas frotas anteriores scmelhantes p e d r a s , c c o m
certosa da sua q u a l i d a d e ; e nella se l h e o r d e n o u promovesse aquelle estabele-
cimento, d a n d o a este respeilo as p r o v i d e n c i a s necessarias.
» Pela portaria de 2 de d e / c n i b r o de 1729 a n n u i t o t i este as conecssoes feitas
p o r t i l u l o s de datas pelos governadores nos ribeiròes, onde apparecessem dia-
mantes, e pelas de 24 de j u n h o , e 22 de dezembro de i j 3 o eftabelccco a f o r m a
da sua e x t r a e c l o : a r b i l r o u a capitacào de 5 $ o o o rs. p o r cada escravo q u e se
ss MEMORIAS niSTOIUCASj E r-OLlTICAS

Savia omittir-se q u e o m e n c i o n a d o d e s c o b r i d o r B e r n a r d o '


da Fonceca L o b o obtcve, e m remuneracào desse servico, o
posto decapitào m ó r , e a propricdade de officio do tabelliào
d o j u d i c i a l e notas d a villa d o P r i n c i p e , p o r c o n s u l t a d o
consellio u l t r a m a r i n p , resolvida e m 1 2 de abrii d e 173/4-
I\ào ohstante p o r é m sofiVerem as lavras d e o u r o a l g u n s
enlraves, d i c l a d o s pelo apparecimonto dos diamantes, c o n -
tinuarào os rcspcctivos m i n e i r o s a c o l l i e r vanlajosos r e s u i t a -
d o s d e s e u s trahalhos, c o m q u a n t o t a m b e m p o r varias vezes
s e v i s s e m obrigados a suspendel-os, p o r falla d'agnas: l e n t a -
rào os de A r a s s u a h y c o n d u z i r por u m longo aqj.ieducto as de
q u e precisavào, para os n i o r r o s onde miueravào; m a s desti-
t u i d o s de o o n h e e i m c n t o s h y d r a u l i c o s , e fanlasiaudo p o r isso
d i m c u l d a d e s q u e r e p u t a vào i u s u p c r a v e i s , dcsistirào d e l a i
p r o j e e t o , q u e haviào c o m c e a d o a p o r e m pratica, constando
todavia dos registrós q u o examinei, q u e d e 3 do agosto d e
4 7 2 8 , dia e m q u e as m i n a s novas se fizerào patentos, até 2 9
de j u l h o d o a n n o seguirne, cnlrarào n a c a s a d a m o e d a desta
c i d a d e l / i , H 9 m a r c o s , tres oncas, d u a s oilavas, e vinte q u a -
tro gràos de ouro dellas, q u e fazem d u s e n l a s e v into a r r o b a s ,
descuove l i b r a s , n o venta o i l a v a s e vinte q u a t r o gràos ( 3 1 ) ,
empregasse nesle cxereicio, em satisfacào do quinto que compelia ao fisco pe-
las p e d r a s preciosas»
» l'or b a n d o d e 9 d e j a u e i r o de tjìs dclermìnou q u e todos os negros, uegras,
e p a r d o s f o r r o s fossetti expulsos d j c o m a r c a , i m p o n d o Ihes -grave* peuas, p o r
j u l g a r ser oste o'unico meio d e se e v i t a r ò f u r t o dos diamantes,
» Fez u m r e g i m e n t o , c u j a cxecutf&o i n c u m b i o ao o u v i d o r d a comarca, e, p o r
L a u d o d e 22 de a b r i l d o mesmo anno, p u b l i c o u q u e nào se couseguindo a a r r e -
matacào dos diamantes, d e t e r m i n n d a pela c a r i a regia d e i t i d e m a r c o de 1 7 3 1 ,
podessem t o d o s os m i u e i r o s e x l r a i l - o s p o r t e m p o d e u m anno, pagando a c a p i -
tacào de a o $ o o o rs. p o r cada escravo. "
(3') Cousta està q u a n t i d a d e de 11 ma certidào passa da p e l o escrivào da casa
da moeda P e d r o Fernandes S o l i l o ein a3 d e f e v e r e i r o de 1 7 3 1 , e auteuticada
p e l o respectivo p r o v e d o r , o c o r o n e l José Gaiozo de P e r a l l a , c o m a q u a l h i f o r -
m o u o vice-rei a segninte q u e i x a , q u e eni'29 d e j u l h o d e 1729 l i z e r a o go-
v e m a d o r d e Minas-geraes D. L o u r e n c o de A l m e i d a , e q n e para t a l i n f o r m a c a o
lhé f o i r e m e t t i d a em piovisào d e a ; d e m a i o d e i y 3 o ,
» S e n h o r — Nos u l l i m o s dias, em q u e èst a va a d e s p e d i r t i a r a o R i o de J a n e i r o
as minhas carta», chegou a està v i l l a v i o d o das Minas-novas d o S e r r o d o f r i o ,
u n i homem de b o a v e i d a d e e i n t e l l i g e n t e * q u e f o i a ellas v e r se p o d i a c o b r a r
Algmnas divida» dos seus devedores, q u e para ellas l h e fngirào, e m e deo a 110-
*ì«Ìa q u e P e d r o LcoI^uo r e g c n i e das tpes m i n a s , l h e m o s t r a r a u m l i v r o c o m a
DA P R O V I N C I A D A BAHIA.

q u a n t i d a d e p o r certo extraordinarìa, attendendo-se à q u «


ìguafmenle seria s u b t r a i da aos respectivos direilos.
A a v u l t a d a populacào q u e ja entào se notava n o d i s t r i c t o

•onta a] usta da no primeiro do mez passado, pela qual conta constava, quo em
p o u e o mais de um a n n o t i n h a registra do, e passado carlas de guia a oitocenias
e seteuta e ties a r r o b a s ; e lantos a r r a t e i s de o u r o , que se lemciterào em pò p a r a
a Bah:a, e t a m b e m me d e o a n o t i c i a d e q u e nas taes minas nào se l i r a o u r o ,
que baste para se c o m p r a r com e l l e o i n a n t i m e n t o , p o r cuja causa eslào p e r d i -
dos todos os homens q u e a ellas o levào, p n r q n e Ilio nà > pagào
«Desta grande abundancia d e o u r o q u e se r e g i s t r o u , se couhece evidente-
m e n t e , q u o f o i a m a i o r p a r i e d e l l e leva d o destas m i n a s , e deseiicaminhado .-os
reacs q u i n t o s , p o r q u e consta q u e naquellas minas o u faisqueiras nunca se t i r o u
o u r o coni a b u n d a n c i a , o q u e se p r o v a p o r q u e nào h o m e urna so pessoa t u i e
enriqnecesse, o u se pozesse c o m mais cabcdal d a q u e l l e q u e pa>a ellas lovoU, e
se o o u r o q u e se regfetròu fossi t i r a d o nestas minas, l i m i t a gente havia d e fì-
car n c a , e nào perd;da corno eslào todos os que nellas se empregào; e t a m b e m
se p r o v a q u e nào foi este g r a n d e n u m e r o d e arrobas de o u r o l i r a d u nas ditas
minas o u raisqueiràs, senào e x t r a i d o destas, e desencainink,do aos reacs q u i n -
tos, p o r q u e a • mesmo t e m p o q u e nas laes minas, o u faisqneiras, a p p a r e c i a com.
graudesa este o u r o a levar-se para a Bahia c o m c a i t a s de guht , faltdà l o g o
nesta casi «le lumhcào a q u i n t i l i - s e , e està l e m sido a c«n veni ernia q n e tem da-
d o a fasenda l e a l ile V M. as t.ies minas novas, e desannexarcin-se destas geraes.
O mesmo h o m e m me den n o t i c i a , q u e o vròe4ej mandarti le vantar nas ditas
Ipinas uiua Companhia d e seteuta cavullus, e q u e ao t e m p o q u e elle saio daquel-
las minas, estavao j a os s o l d a d i s m.iirieuladus coni os mcsinos soldos q n e l e m
estes dragóes, q u e sào dez m i l reis cada ine/, sfòra a f a r i olia e Iarda , e os taes
B"ld"dos m a i r i c u l i d u s sào c r i m i i i t i s o s e lugidos p o r d i v i das para as taes minas:
o c a p i t a n é u m h o m e m fillio d o recuncavo d a B a h i a , c o n i g r a n d e p a r t e d e ca-
bòcolo, o q u a l assisiio i n u i t m annos ncstas m i n a s , e se foi dellas o anno passa-
d«; s e m p r e procedeo b e n i , p o r c i l i nunca S i l v i o a V. M. senào nas ordenaucas,
e chama-se l i e l c l n o r dos Iteìs d e M e l l o : o tenente chama-se M a n u e l M e n d c s f o i
cabo i;e e-quadra deste» dragócs, m u i t o m a l p r o c e d i d n , e c u Mie dei h;u.\a d e
cabo de esquadra, p o r q u e trazeudo u n i pouco de o u r o de V. M , que lhe e n t r e -
garào n o Ki<i das m o r l c s , p^na o e n i r e g a r na p r o v e d o r i a da fasenda', o j o g o u ,
e c o n i o deseonto dos soldos, e mais algimyt eousa q u e Mona* o pagou, e depois
de suldado l>z taes desordeUs q u e f u g h i ; o altère,? e f u r r i e l nào sci q u e m sào,
e assegurfl a V . M. q u e lenito grande reccio desta cùmpanbìa levautada d e
criminoso», e com taes ofìiciaes, porque a paga ha d e falla r - i he certamente,
p o r q u e aquellas mùias nào r e n d e i n , n e m p o d e m r e n d e r , e f a l l a n d o a paga a
està casta d e gente pudem d a r em b a n d o l e i r o s , q u e é o q u e se p u d e esperar
delles, e aìnd.i q u e a m i n i me nào perteuca d a r esla conta a V. M., p o r ser està
c o m p a u l i i a levaniada p e l o v i c e - r e i , c o n i o ;»s Ucs minas cstao d e n t r o dente go-
v e r n o , e qu;iiio dias de j o r n a d a souicute d.i V i l l a d o p r i n c i p e , aoiide assiste
o o u v i d o r g e r a l d o S e r r o d o f r i o , e loda a d c s o r d e i n q u o h o u v c r e u i de fazer
estes novos soldados, ha de ser n a m i n h a jurisdiccào, p o r esla causa c que d o u
TOMO V P iS
90 MEMORIAS HISTORICAS, E P0L1T1CA3

das m i n a s d o R i o das contas, e nas d o Arassuahy, e n g r i s -


sando d i a r i a m e n t e c o m a afllueneia de m u i t a s pessoas d e
classes heterogencas q u e a l i Se estabeleciào, a t t r a i d o s p e l a

a V. M. està conta, para que a V. M. seja presente, e resolva o que for servido
porque sempre é mejhor. Dcos guarde etc. Vilta-riea 29 de j u l h o de 1529, *

Iri/brmacao do vice-rei.
Senhor—Desta barbara inveneào da inalevoleneia usou ja o govemador das
Minas-geraes, quando em 19 de outubro de 1713 deo conia a V. M., que cu
impedia se observassc a divisao provisionai, que o conde de Assumar tinha f e i -
to p u r ordem sua; e se entào , captando profonda e reverentemente a benefì-
eencia de V, M,, dìzia que nào havia compasso, nem instrumentos que media*
sera a dislancia, que havia dos incus p r o c e d i m e n e aos de D. Lourenco de A l -
meida, eum maior rasào o poderei dizer agora, porque no giro o u cìrculo des-
te* annos tem mostrado a experiencia, a cusia do servico e fasenda de V. M.
«pcego, e cabedul dos seus vassallos, ss suas ambicoes, e os meus desinteresses,
eélaslima que nào basteiu lantos estimulos para este fidalgo se abster das suas
artificiosa* representacoes, meutindo nellas a V. M.. e desmentindo se a si p o r
antepùra sua paixào a tautas vevjades notorias, corno lestifìcarào os documen-
tos, que entào offereci, e agora p o n t o de novo n i sua real preseuca.
l o g o que recebi a provisào de V. M., e copia da carta do goveVnador D.
M u r e n c o de Almeida, mandei tirar desta casa da moeda urna certidào d o ou-
ro, q,.e tinbà entrado com carlas de guia das minas do Arassuahy e Fanado
e mais con.incnles das Minas novas, e nào satisfeito com està diligencia, remettl
ao superinlendente geral Pedro I n o l i n o Mariz a mesma carta e provisào, e que
respondesse a ella, porque continha circunstaucias, ne necessitavào d
()
. , „ , ac maior
JUdagacao; o quo lem resultado de loda està tragedia se servirà V M. do
«mandar ver dos transcrip.os inelusos, e se D. Lourenco de Almeida dicesse
a \. AI. que principiava a fallar ouro na casa real da fundieào, depois quo
permillio se eng.sse urna Lisa, queCaborou quasi qua.ro annos, fallaria eniào
verdade, porem quer capear os seus descuidos, os seus .interesse», e toda a,
quahdadc de desordeus, impondo omissòes a quem lhe leu. dado lantos exem-
plos de ajustado procedimento.
E m prova do seu dep.avado e escandaloso orgulho, eu bem podéra
co—
ov.ce.rei do Brasi!, fallar mais diffusamente a V, M. dos procedimi
«.o v.cc-re. do Brasi!, fallar mais diffusamente a V, M. dos procedimento*
delle govemador, porco- corno os termos- laconicos sào p o r via de . egra me-
l h o r aceitos corno expressivos, emendo que nào fallo a ,„i„ha ftbrigaeào
ein d e x a r d e ser agora mais extenso. Deos guarde etc. Bahia 21 de i u n h J
de I?3Ì.» J

Distinguia-seoouro das Minas novas do das outras no formato, p o r s e r t o .


do de folhélas e granilo* Hsos, semelhantes a pevides de melào; na eòr p o r
tender a um csenro mesclado, e na qualidade porque- quasi nada diminuia n a
iuhd.cao, na qual careria de poucos reagente: seu toque geral.nente era de
vinte e tres qu.laies, um grào e um quarto, e parecia p o r sua ieualdado
saido todo de urna sò lavra»
D A PROVINCIA DA BAHIA.

rìquesa de suas lavra»; dieta va a necessidade d a criacao d e


j u s l i c a s o r d i n a r i a s q u e refreassem osexecssos d e seorelhau-
te Etkulltdàó a u t o c c p h a h i : a experiencia c o n f i r m a v a a vanta-
gem d e l a i m e d i d a , e m u m t e m p o e m q n e o b e m p u b l i e o so-
m e n t e , e nào respeitos econsideracòes Ìndividuaes,suggeriào
iguaes criaijocs, e o vice-rei Vasco Fernandes Cesar, q u e des-
d e 2(1 d e o u t u b r o de 1722 pedia ser a u t o r i s a d o a e r i g i r urna
villa no p u d i t o d i s t r i c t o , apcsar d e t e r para isso a necessaria
attribuicào. pela c a r t a regia de 27 de n o v e m b r o d e 4693, q u e
p e r m i t t i a aos goveinadores o o r d e n a r e m taes fundaeòes o n -
d e as j u l g a s s c m necessarias, sem imperar o u l r a a l g u m a o r -
d e m . encarregou ao corone! Pedro Barbosa L e a l da ereccào
dessa v i l l a , q u e denominou-se d e i \ . S. d o L i v r a m e n l o das
m i n a s d o I l i o das conlas, d e t e r m i n a n d o ao m e s m o t e m p o
ao o u v i d o r d a c o m a r c a do Serro d o (rio h vantasse a q u e l e -
ve o t i t u l o d e v illa de ÌN. S. d o Boi» successo das Minas n o -
vas d o Arassuahy '32), e achavào-se ja e m exercicio as n o -
vas a u t o r i d a d e s j u d i c i a r i a s d a villa d o R i o das contas, q u a n -

(3?) » Sendo nolavel a povoacào dos sohredìtos ltigares pelo concurso de


miaeraes, mandou o v i t e - r e i .10 segundo o u v i d o r d o Serrò d o f r i o A u t o n i o fc'er-
x e i r a do V a l l e e M e l l o , q u e uà p r o v i n c i a nova erigisse urna v i l l a , c r i a n d o ca-
m a r a , juizes o r d i n a r i o s , e <»s ofìiciaes competentes d e l l a , o q u e se c i f e c t u o u a a
de o u t u b r o d e 1730, deuominando-a Pilla de A'. Setdiora do Itom snceeiso das
Minas novas d o Arassuahy: e p o r este modo ficoa l o d o este t e r r i t o r i o dos no-
vos descohertos p e r i e l i r e n d o a està ouvedoria, n o q u e era r e l a t i v o ao jù l i c i a l , e m
v i r t u d e d a o r d e m d e 21 d e maio d e 17 c o m subordiimcào ao g o v e r n o da B a h i a
0 0 p o l i t i c o e c i v i l i corno d> c l a r o u a provisào d o conscilio «lira i n a l i n o de 4 d e f e -
v e r e i r o de 17Ì0, c o n t i n u a n d o a o r d e m precedente. Conservou-se a villa n a
jurisdiccào d o o u v i d o r d a comarca d a V i d a d o p r i n c i p e até o a n n o de 174»,
eiu q u e , cria da urna o u v e d o r i a na Bahia na parte do s u l , foi-lhe aunexa a
V i l l a do l i o m suc<-sso e seu termo. Sentìdos porém os povos dessa uniào, pe-
l o i n c o m n i o d o gravissimo q u e soffriào* nos seus recursos, iìcando a v i l l a d a
Jacobina, cabeca de coniai ca, distante mais d e lào leguas, represenlarào ao so-
berano as suas ckeunstamias, e o b l i verào o decreto d e 10 de maio de 1757»
q u e d<-sjnnex.>u d a Bahia 0 t e r m o desta v i l l a , unindo-o a capitania das M i -
nas-gdaes ( o q u e se rea liso u no mez d e seiembro d o mesmo a n n o ) end) os
dragóes a l i ex'stentes, soli a obrigaeào d e u m pequeno destacamento para a
Jacobina, onde p u r provisào sobredila d o conselho u l t r a i a a r i i t o d e 5 de Ja-
n e i r o de 1727 se haviào levautado novas fundicòrs. E porque o decreto re-
f e r i n o nào d e c l a r o u , se o m e n c i o n a d o t e r r i l o 1 i o iìcava l a m b e m a d j o d i c a d o ao
g o v e r n o das Minas n> militar e c i v i i , f o i preciso q u e a resoJucàò regia de 26
d e agosto d e 17(10 décidisse a questào a seu f a v o r , corno fez constar a o r d e m d e
a8 d o mesmo iuei& e anno.-» (Pisarr, eie. (om. 8, a." pan,)
i3*
92 sraroTìus TITSTORICAS, E POLITICAS

d o elle recebeo a seguiate provisào, q u e , p e r m i U i n d o - l h e a


a u t o r i sa cào esigi da, d e l e r m i n a v a t a m b e m se o b s e i v a s s c a
n fci da c a r i a regia, p o r v i r t u d e d a q u a l existem cria das d i f -
fcrcntes villas nesta p r o v i n c i a .
» I ) . Jorio p o r graca de Deos, r e i de P o r t n g a l & c . Faco
saber a vós Vasco Fernandes Cesar d e Menezes, vice rei e ca-
pilào general de m a r e terra d o estado d o Brasi), q u o b a -
v e n d o visto o q u e respondesles a o r d e m q u e vos foi d i r i g i -
da sobre c o n t i m i a r d e s na arrecadacao dos q u i n t o s d o R i o
das contas, na t o r m a das m i n l i a s reiies o r d e n s q u e para i s -
so se l e m passado, e, e m q u a n t o a ereccào d a v i l l a , q u e
procurassero avcriguar a despesa q u e se p o d e r i a fazer, e o.
r e n d i m e n t o das minas, e a u g m e n t o q u e p u r rasào d a d i t a
o b r a p o d e r i a r e s u l t a r , para na c o n s i d e r a r l o d e l u d o se co-
nheeer se e o u nào c o n v e n i e n t e , r e p r e s e n i n n d o - i n e q u e p o r
o r d e m q u o co^cha na segretaria, de 27 de d e z e m b r o de 1693,
m a n d o se erijào e c i i e n j as villas q u e f o r e i n convenientes,
e, sem q u e vos valesseis desta concessào, vos parecia d i z e r -
ìne c o u v e m m u i t o se erija logo n o Bio das contas urna v i l -
la c o n i o seu m a g i s t r a d o , nào só peto q u e respeita a boa a r -
recadacao dos q u i n t o s , mas pelo q u e loca a se evita re i n os
dìslurbios, e desordéiis q u e c o r n i n e U e m a q u e l l e s m o r a d o -
res c o m ò r e f u g i a d o s e esla mesma resolucào si'rvio d-* r e -
m e d i o ;i Jacobina, o n d e ja nào ha i n s u l t o s , e se p r e n d e r l i os
q u e c o m i i i c l l e m delictos, e n o està helcci m e n t o d a d i l a v i l l a
n u n c a se farà m i l i t a desp< sa, p o r q u e o sitio para a casa da,
c a m a r a e cadèa o darà q u a l q u e r t e r c e i r o , e para as despesas
c o n correrà 6 os m e s m o s m i r a dores, c o r n o o fì/erào os d a
J a c o b i n a , e q u e o c o r o n e l Pedro Barbosa Leal vos fi sera a
peticào, c u j a copia e despacho me apresenlaveis, e l a n i b e n i
o t r a n s u m a t o d a c a r i a q u e Vos escrevèra n a m e s m o t e i n -
p o , e .supposti» q u e c o r r e n d o as causas d o d i t o P e d r o Bar-
bosa c o m a.sua a u scuci a a re velia, e disse se lhe siga c o n -
sidera v ci d a m i l o , c o n i l u d o vos parecéra nào d a r - l h e a l i -
cenca q u e vos pedia, valendo-vos d a rcsiguacào c o n i q u e
se aehava, e e seni d u v i d a q u e ausonlando-se elle d o I l i o
das c o n ras, seni d e i x a r l u d o e s l a b r l e c i d o , nào só seria p r e -
j u d i r i d i m i n h a fasenda, mas nào sc ria possivel achar pes-
soa r a p a / p a i a a q u e l l a d i l i g e n c i a : me pareceo o r d e n a r . v o s ,
p o r reso l u cào da data desia, e m c o n s u l t a d o m e u c o n s e l h o
u i l r a . n a r i u o , q u e nào só Irateis d a criacào desta v i l l a n o
DA rnovrXGlA DA BATT1A

R o das contas l o # o , mas da q u e aponta Pedro Barbosa L e a l ,


;

e de todas as mais q u e entenderdes p o d e m ser uteis e ne-


cessarias para m a i o r beneficio desse estado, e dos povos
c o n t i n e n t e s nos sertòes delle, d a n d o às ditas povoaeòcs f o r -
ma ci v i i è p o l i t i c a , p o r onde se hajào de réger, e conser-
var os m o r a d o r e s dellas e m l o d a a paz e quictacào. E
pelo q u e resp i t a a P e d r o Barbosa Leal lieo con si do*
r a l i d o , Kl-rei nosso s e n h o r o m a n d o u | o r Joao Telles da
S Iva, e A n t o n i o lìodrigues da Costa, c o n s t llieiros d o seit
eojisellio u l t r u m a r i n o , o se passou p o r duas vias. A n t o n i o de
(lóbeijos Pereira a fez e m Lisboa o c c i d e u l a l a 9 de feverei-
r o d e 17^5 ( 3 3 ) .

(33) Eni 19 de fevereiro de i -a5 purticipou o vice-rei no monarca, haver re-


gressivo o corone! Pedro Uurbosa L e a r d a d i l i g e n c i a da ere.cào da v i l l a do R i o
das contas de q n c b e m arregai n, e p .ra a q u a l p a n i c a de Jacobina, «brindo nessa
occasiào ama nova estrada para a communicicào de ambas as villas. Ao p r i m e L
r o o f f i c i o do mesmo vice-rei pei!indo essi criacào, r e s p o u d t o se em provisào d e
3 de a b r i l de i 7 i 3 , expedida p e l o conselho u l t r a m a i i n o , q u o elle informasse
g u a i a di-Spesa que seria necessario fr/.er-se coni tal criacào, e f o i , accusando r e -
cehida essa provisào, que elle refere a e x i s t e u o a ila .carta regia que mencio-
n e i : noia-se p o r c a i q u e aquehe h o n r a d o c i t r i n e ! f o i i n f e l i z na escolha dos
assento» para as duas villas que e r i g i . J a v i o ce q« e a de Jacobina f o i trans-
ferid.t do locai, em q u e a p r i n c i p i o havia sido erecta, para o em que a t t u a l m e n -
t e exisie , à c o n lece Udo «> mestriu a d u R i o das contas, q u e em o d i a ?8 de j u l h o
de i ; i ' i fui mudada da para geni, qne ainrla consci va o nome de V i l l a - velha, pa-
r a o d e l i s s i m o sitio em q u e se ueba, e d o q u a l t rat a rei uà t o p o g r a f i a , p o r v i r -
t u d e da provÌsà?> d e 1 de o u t u b r o de <7<(5 assilli cwiicebida.
• 1). Joao p u r graca de Deos eie. FaCo s a % e r a vos conde das Galvéas, vice-
r e i e i e , q u * seudu-mo presente o que i n f o r m o u o o u v i d o r gerul da c o m a r c a 1

dessa cidade da Bahia da p a r t e d o s u l , em carta de 30 de fevereiro d e 1 7•»4» ^


respeito de ser c o n v e n i e n t e mudai -se a v i l l a de N. Senhora do l . i v r a m e n t o d o
R i o <las confasi p e l a ma Miuacào e i n q u e se acha, o que t a m b e m Mie r e q u e r e r a
em a u d i e n . i a de correicào o p o v o da d i t a v i l l a , e vendo-seo que solire està ma-
t e r i a respmideo n p r o c u r a d o r «la minha corda; f u i servido o r d e n a r l h e , p o r r e -
sol ucào de. J'S de m a r c i deste presente anno, em consulta do uieu conselho n i -
t r a m a r m o , n i u d e a i t i l a v i l l a de N. S. d o L i v r a m e n t o para o sitio mais a prò*
p o s i l o , sendo a salisf.icao dos moi'.doies q u e para esla nova v i l l a hào de i r ,
p r o c u r a n d o q u e o mesmo s i l i o .seja o qne pareeer mais saudavel» e c o m p r o v i -
m e u t o de b;>a agua e l e n h a , e p e r i t i de algum a r r a i a l qne se fiche j a estabelei-i-
do, para que os moradores delle possào c o m mais c o i n m o d i tade m u d a r a sua
habitaciìo para a v i l l a , e l o g o determinar;! o lugar da p r a c i , n o meio da q u a l
se levante p e l o u r i u l i o , e se assinale àrea para edifìcio da igreja, capaz de receber
sufficiente n u m e r o de fregueics, e que faca delinear p o r liniias rectas àrea p a r a
94 MEMORIAS HTSTOIUCAS, K POLlTICAS

As contestacòes a g i t a d a s e n t r o o v i c e - r e i e o g o v e m a d o r
d e M i n a s - g e r a e s D. L o u r e n c o d e A l m e i d a , c o n f o r m e se t e m
v i s t o d o s ofììcios d e a m b o s q u e fìcào t r a n s c r i p t o s , p r o d u z i -
rào, à'iem d e o u t r o s m a l e s , a c o n s i d e r a vel diminuicào q u e
so e s p e r i m e n t o u n o r e n d i m e n t o d o s q u i n t o s , a r r e c a d a d o s
n a s casas d e fundtcào, prò p o r c i o n a l m e n t e à q u a n t i d a d e
d e o u r o , q u e se èXtraia das differenlés l a v r a s e m o p e r a i o ,
p o r isso q u e a m a i o r p a r t e deste s e g u i a p a i a aqucHa»provm-
c i a , o n d e e r a a p e n a s s n j e i t o ao m o d i c o i m p o s t o d e 8 | està-
belecjdo pelo m e s m o I ) . L o u r e n c o d e Almeida, scudo o u t r a
p a r l o r e d u z i d o a barras e moeda, e m diversas fabricas p a r -
t i c u l a r e s q u e a l i existiào, senào p r o t e g i d a s , a o m e n o s p e r -
m i t t i d a s pela i m p a s s i b i l i d a d e de tal g o v e m a d o r : o despejo
n e s t e g e n e r o d e c i i m e . d e l a t r i a h ha g r a v i d a d e n a q u e l l a e p o -
c a , transcendìa c o m e f f e i i o d e l o d a a c r e d i h i l i d a d e , e e n l r e
o u t r a s participa^Òes, d i r i g i d a s p o r s e m e l h a n t e m o t i v o a o
v i c e - r e i , e m a i s d i g n a d e n o t a a d o o u v i d o r d e Sabaià, D i o -
go C o l r i i n d e S e n z a , c o n s t a n t e d o s e g n i n t e o f f i c i o —
B S e n h o r . A d i s l a n c i a destes d e s e r t o s e m q u e a c o r r e s p o n -
dcncia corre tantos perigos, c o n i o e x p e r i m e n t o , q u a n d o me
c o n s i d e r o m a i s s e g u r o n a * n t r e g a d a s cartàs faz p a r e e e r
g r o s s e i r a a m i n h a obrigacào, q n e m u i t o r c p e t i d a s vezes b u s -
c a v a os pés d e Y. l'x. p a r a nel Ics e x p r e s s a r o g r a n d e alTe-
c t o e veneracào, q u a n d o t e n h o a s u a pessoa p o r p r i m e i r o
r e g e n t e d e s t e e s t a d o , e d o velo e h o m a d o s e r v i c o d e D e o s ,

as casas coni seu« qtiìntaes, e se desiane o lugar para edificar a casa da ca


audieneìas, cadéa, e mais offici nas puliti cas, que loiias devem firar na àrea de-
termiuada pura as easas <los moradores. as. quaes pelo exterior serào lodas no
mesmo perfil, ainda que no interior as farà cada um dos moradores a sua elei-
cao, de sorte qne em todo o tempo se conserve a mesma formosura do terreno
para logradouro publieo, e para nelle se podere m edificar novas casus, que
seraò feiias com a mesma ordem e concerto, com que .se mandào fazer as pri-
meira*, e deste terreno se nao podeia em neubum tempo dar etu sesmaria, «m
aforamento, parte alguma, sem ordem minba que derrugue està; e se lhe deter-
mina, que, quando na dcliberacào do sitio para està nova villa se mova duvi-
da, vos darà conta para que detennineis tudo da maneira, que melhor con-
vier. O que assim exeeutareis, ordenaudo-vos deis urna data de terra de ^es•
maria para logradouro publieo desta villa, ainda que as terras estejào reparti*
das, porque na confirinacao das sesmarias rosei vo eu as terras, quo forem ne-
cessaria» para se criareiu villas de novo • e ao dito ouvidor se adverte que deve
determinar o que da dita sesmaria bade ser logradouro publieo, e o que a ca-
mara deve beneficiar para renda do eonscUto. Lisboa a de outubro de fj^S.*
DA PROVINCIA DA BAHIA. 95

e de S. M., corno acclamilo estes povos- Nostas circunstan-


cias levo ao conhecimento de V Ex. o que aeaba de acon>
tecer, e é o caso: que, na frota passada, recolhendo-uie a
Villa rica das juntas, a q u e fui chamado pelo govemador
(34), e sabendo-se por avisos que fez, o do Rio de Janeiro,
que neslas minas havia casa, ou casas de fundicào, tratei
de indagar por devassas particulares, em cada urna das v i l -
las da minha comarca, os delinquentes de tào perverso de-
lieto, e nào descobrindo culpados, ajudou Deos tanto esse
negocio, q u e se me veio delatar o que parece tinha justos
motivos para duvidar o pensamento, porqne nào parecia
crivel, que houvesse vassallo que tivesse a resolucào, e ani-
mo, para eslabelecer urna casa de moeda tào bem surtida
de todos os preparos, corno a podia por o mesmo soberano,
. E m distancia de nove leguas e meia pouco mais o u me-
nos desia villa, entro uns matos, silio accommodado para
semelusiile resolucào, fortificado dos mesmos malos, ten-
do na estrada urna serra c o m passo estreilo, e era longitu-
de de meia legna da bòca da mesma serra, fu n doti este re-
galo a casa de v i ven da , seguido o camini.o por enlre mor-
ros despenfiados, e u n i capào de matos lhe dava u n i acu-
de, q u e sò se passava p o r urna ponte. Àchava-se fornecido
de armas de loda a lotacào, basta n tes dellas de dous tiros, e
ainda pistolas, polvora, balas, bastardo*, e baiouelas, cotn
l i m a sentala de négros j u n t o a si, acautelados eni vigias;
mas l u d o islo uno bastou, o u por castigo dos seus pecca-
dos, o u p o r fortuna do nesso glorioso monarca, pois em o
dia 9 do corrente ao romper do'dia foi preso, e tudo quan-
to se achava nesta casa, sem mais perigo, que a morte de
Um cào de fila desta mesma casa, disparando-se ciuco o u
seis tiros, e para està e in presa levei ciuco soldados de d r a -
gòes, que aqui lenho por destacameulo, setenta ofìiciaes de
jusiica, cincoenta Carijós, quarenta negros, e me acompa-

(34) Perscgnìdos os faccinorosos nesta'p rovi n eia, derramarao-se pela de Minas-


geraes perpetrando novos crimes, e ern consequeucia de representa eòes do res-
pectivo govemador (ci crìada urna junta de jostica c r i m i n a l , presidida pelo
mesmo govemador, e composta dos quatro ouvidores das coma rea s do Ouro-
preto, Sahara, Rio-das murtes, e Serro do frio, do jui/. de fora do Ribeirào
do Canno, hoje cidade de Marianna, e do provedor-mór da fasenda, a semelbau-
ca da que se havia criado para S. Paulo, junta aquella estabelecida p o r car-
ta regia de a.'* de fevereiro de
S6 MEMORI A3 IHSTORlCAS, E rOLVTlCAS

nhou o juìz ordinario coni dozc escrìvàes, e o do meu car-


go, e o u t r o mais q u e ia p a m o m e s m o m i n i s t e r i o , e u m #

m e u p r i m o de n o m e R a i m o n d o d a Silva F u r t a d o .
K m distancia d e q u a r t o de legua estava f u n d a d a a d i t a
casa da moeda, c o m todos os preparos ueeessarios, e só lire
fallava o c u n h o g r a n d e para o q u a l se tinhào feito duas f n n -
dieòes, p r i m e i r a e m u m frasco e pào d e vasar, c u n h o este
que, por se fazer e m b a r r o o u aréa nào l e v e e i f e i t o ; fundio-so
segundo e m m o l d e d e pao, q u e , p o r se q u e i m a r a fórma,
ficou i m p e r f e i t o , e só u m pedago que m o s t r a v i n t e a r r o b a s
de pezo; preparava-se u m terceiro, para o q u a l se fez u n i
m o l d e d e pào de c i u c o p a l m o s d e c o m p i ido, c e s i e m o l d e
se m e l i e o e m urna argamassa d e b a r r o , crnza, e c o m a l -
g u n s cabellos, m u i t o ben) ligado c o m cintas de f e r r o e m
u n i caixole d e laboaSj e n i c u j a fórma depois de sécca se
q u e r i a f u o d i r o t e r c e i r o . p a r a o q u e havia f o r n o p r e p a r a d o ,
c o tal c u n h o , pelo m o l d e e braco d e f e r r o q u e ja estava
f e i t o , julgarào os q u e o virào p o d e r i a v i r a ter d e pezo qua-
r e n t a e c i u c o arrobas.
A l e n i destas casas havia o u t r a e m q u e estava o p r i n c i p a l
a r t i f i c c , e nella se aehavào varios m o l d e s e m p a o e f e r r o ,
e t u d o p e r t e n c e n t e a casa da moeda, e t a m b e m o c u n h o d e
m a r c a r as bar ras, f c r r o s riè p o r os n u m e r o s , mareas e s c u l -
p i d a s e m pastas d e c h u n i b o , e o u l r o s m u i t o s u t e n c i l i o s , e m
f i r n n e m o t e m p o , n e m o m e u p o n c e c o n h e c i m e n t o deslas
fabricas me deo p o r ora l u g a r a i n d i v i d u a r l u d o a V. Ì£x«, mas
b r e v e m e n t e espero o f f i c i a i da casa real da moeda, para i n -
v e n t a r i a r t u d o c o m elaresa* e t a m b e m achei varios c u n h o s
p e q u e n o s coro as a r n i a s d e S. M , e rei r a t o para c u u h a r
d o b l a s , e o u t r o s p o r a b r i r . A diligencia é tào grave, q l e
nào sei se as m i n h a s forcas darào a q u e l l a interra c o n t a , e
c u m p r i m e n t o q u e q u i z e r a , pois ao m e s m o t e m p o v e j o - m e
e m b a r a c a d o de o i t o prezos, sem c o n i m o d i da de d a cadéa pa-
r a a seguranca e c a u t e l a , c o m q u e d e v e m e s t a r , e n a d i -
ligencia de p r e n d e r o u t r o s , q n e me fugirào d a d i t a casa d a
m o e d a , a q u e nào p o d e a c u d i r a m i n h a preveneào, p o r -
q u e erro» o p r a t i c o o c a m i n h o , e nào l i v e mais r e m e d i o
q u e a c u d i i à p a r t e p r i n c i p a l , q u e ainda esleve m u i t o e m
riseo, p o i s v i g i a n d o l o d a urna noite c o m e r r o s d o d i t o p r a -
t i c o , nào v e n c i d e m a r c h a m a i s q u e u r n a legua até o r o m -
per do dia.
DA PROVINCIA DA BAHIA. 97

0 c o n f i s c o contém i m m e n s i d a d e de c i r c u n s t a n c i a s , pelos
nogocios e o i q u e este h o m e m vivia e n g o i f a d o , e c o m t a l
m o d o de vida, q u e sera de m u i t o t r a b a l l i o e difììcnldade
descobrir-sc todas asclaresas, e p r i o c i pai m e n t e nào g i r a n -
d o esles negoeios na m i n h a c o m a r c a , mas na de V i l i a - r i c a
aonde t i n h a casa, e teve negocio de fasendas, e o u t r o s n o
S e r r o d o f r i o , o n d e c o m p r a v a e mandava t i r a r pedras, e
agora nào sei se o u r o , p o r q u e l h e fazia m a i o r conta. C o n i
t u d o da m i n h a p a r t e a p p l i c o a m a i o r diligencia q u e posso,
e alem da obrigacào de avisar, q u e devo faser l o g o a S. M. f

r e m e t t o a V. Ex. u r n a das tres vias q u e l h e escrevo, q u e


i m p o r t a o mais breve seja l o g o r e n i e t t i d a ; o s e V. Ex. v e r q ue
p o d e ainda s o r t i r effeito, m a n d o t a m b e m a o r d e m , se h o u -
ver occasiào p a r a a i l h a de Faiu!, para q n e se eonfisque
l i m a carregacao de pedras, q u e leva u m Joào da Costa e
Silva de i m p o r t e de duzentas e tres oilavas e tres quarto»,
pois q u e p o r cartas q u e a c h e i , saio este c o m m i s s a r i o d o
R i o de Janeiro e m fevereiro passado, T a m b e m m a n d o es-
sa lista dos q u e fuginào, para q u e se là apparecerem pos-
sào ser presos: o p r i n c i p a l a u t o r da dita casa é Jgnacio do
Sousa F e r r r e i r a , e de alguns q u e achei na casa o u v i q u e d i -
ziào forào a ella de v i z i l a , p o r é m sempre fìcào presos, e
àoustfrades, q u e t a m b e m là forào achados e m q u a n t o se
nào averigùe sua innoceneia.
Os presos c o m as c u l p a s os r e m e t t o para o r e i n o , d o q u e
t a m b e m d o n p a r t e a relacào, corno m e u t r i b u n a l s u p e r i o r .
A V. Ex. desejo felicidades, e q u e Deos o g u a r d e p o r m u i -
tos annos. V i l l a - r i c a 24 d e maio'de 1 7 3 1 , & c .
Tivcrào g r a n d e peso na c o n s i d e r a l o d o m o n a r c a as par-
t i c i pacòes recebidas sobre a existencia dessas fabricas d e
m o e d a falsa, e a n t e v e n d o q u e u m r i g o r o s o exame, feito
nas barras q u e se a presentassero nas casas da moeda, ne-
cessariamente diminuiriào o respeclivo r e n d i m e n t o , o r d e -
n o u e m provisào de 27 de fevereiro de 1732, q u o o vice r e i
dissimulasse q u a n t o fosse possi v c i a tal respeito, sem q u e
todavia dejxassc de e n i p r e g a r todas as providencias a o b -
v i a r a eoo t i n naca o de semelhante delieto, p u n i n d o os q u e
nelle fossem involvidos, o q u e logo ocontecco nesta c a p i t a l
e m dezembro desse anno, c o m dous, q u e p o r sentenza da re-
lacào, solirerào a pena u l t i m a , queimando-se Ihes os corpos.
Grassava eniào e m Minas-novas u n i a lerrìvel e p i d e m i a ,
TOMO V. ii
98 MEMORIAS inSTORlCAS, E POLÌTICAS

e osta causai, r e u n i d a ao g e n i o dos q u e p o r esse t e m p o se


enlrogavàoaos t r a h a l h o s m i n e r a l o g i c o s , b e n i corno a a b u n -
dancia de diamantes q u e se extrai'ào da p r o v i n c i a de Minas*
geraes, t o r n o u q u a s i desertas nquellas lavras, e as de Jaco-
b i n a a lai p o n t o , q u e e m officio d e 2 9 de agosto ( 1 7 3 2 )
p a r l i c i p o u o vice-rei t e r apenas p r o d u s i d o a casa de f u n d i -
cào d o Arassuahy o r e n d i m e n t o q u e bastava à sua despesa,
o q u e até nào aconlecéra e m Jacobina , sendo essa mes-
m a ra/ào a q u e tornava illusorias as ordens concernentes a
p r o i b i r a exploracào dos d i a m a n t e s , pois q u e nesta d i l i -
gencia andavào m u i t a s pessoas: c o m effeito jà e m 20 de ou>
t u b r o do a n n o anlerìor haviào-se aj>resentado ao m e s m o vice-
rei C r i s p i m Goncalvcs, e G r e g o r i o AflTonso de T o r r e s c o n i
alguns diamantes q u e haviào t i r a d o de suas terras n a q u e l l a
c o m a r c a , assegurando ser g r a n d e a a b u n d a n c i a destas p e -
d r a s preciosas, mas ainda q u e fosse exaclissima semcìhante
dcclara*jào, corno a c t u a l m e n t e se conhece pelas descobertas
q u e se t o n i seguido às d o o u r o da serra d o A s s u m a , d e
q u e a d i a n t e I r a t a r e i , d e t e r m i n o u a provisào de 9 de m a r c o
de 3733, q u e o v i c e - r e i , l o u v a n d o n o real n o m e a esses
d e s c o b r i d o r e s , fizessecom tu d o m a n t e r as ordens existeo*
tes, q n e vedavào iguacs descobertas fora da c o m a r c a d o
Serro d o f r i o , a c u j o s diamantes e m nada ciào i n f e i i o r e s
os q u e elle havia r c m e l l i d o d o d i s t r i c t o de J a c o b i n a .
C o n e o r r e o t a m b e m ao a u g m e n t o da desercào dos m i nei-
ros d o Arassuahy, passando para as lavi as de diamantes d e
Minas-geraes, o m o d e r a d o i m p o s t o de 'iQffiìiìi) réis, estabe-
lecido p o r D. L o u r e n c o dé A l m e i d a sobre caria urna balèa
e m p r o g a d a no servico dia n i a m i n o , mais faeil e l u c r a t i v o q u e
o d a q i u iias l a v r a s d e o u r o , e rtconh-eceudo o p r e v i d e n t e vice-
rei Vasco l e r n a n d e s Cesar os p r e j u i / o s q u e a s s i m experimc-n-
tava a fasenda p u b l i c a , depois de haver a cerca disso r o -
p r e s e n l a d o e m 15 de n o v e m b r o de il'òì, sendo i n c u m b i d o
p o r provisào de 24 de j u l h o d o a n n o seguinte. de i n d i c a r
o m e l h o r p l a n o p a r a a arrecadacào d o s q u i n t o s dos d i a -
m a n l e s , l e m b r o u o da a d u l i nislracap que, pas-ados b a s l a n -
tes annos, foi a d o p l a d o p o r d e c r e t o de !2 de j u l h o de 1 7 7 1 ,
r e s p o n d e n d o desta m a n e i r a —
«Senhor. Dilatei mais t e m p o a resposla a osta provisào,
p a r a q u e p o n d e r a d a a m a t e r i a de q u e I r a t a , e feitas as d i l i -
gencias precisas, podesse interpór o m e u pareeer c o m m a i s
DA P R O V I N C I A DA B A H I A . 99

clarosa e acerto, dizer a V. M., sera esemplilo o que sinto


e m m a t e r i a de tanto porte.
» Na c o m a r c a d o Serro d o f r i o se t e m descoberto até a«o-
ra I r i n t a e c i u c o r i o s , c o n f o r m e o aviso q u e me fez a q u e l -
le o u v i d o r , e m q u e se occupao os m i n e i r o s nas lavras dos
d i a m a n t e s , e se estes h o m e n s , sendo particularos ainda
q u e m u i t o s , p o d e m e t e m conveniencia grande no uso e
exercicio d a q u e l l a d i l i g e n c i a , m u i t o mais facil e possivcl
scria a V. M. ntilisar-se sua fasenda real, independeute dà-
quelles q u i n t o s snìdos, e ainda c o m u i u i t a i n c i v i l i d a d e , na
sua cobranca.
oJNào se faz preciso q u e V. M. traga p o r conta da sua
fasenda c i u c o o u seis m i l escravos, q u e tantos se oecupào
h o j e n a q u e l l e l a v o r , n e m é de essencia q u e se t r a b a l l i e ao
m e s m o t e m p o e m l o d a p a r t e , o n d e se l e m descoberto a-
quellas pedras: basta q u e V. M m a u d e o c c u p a r dusentos,
o u tresentos escravos e m u m só r i o , p r o i b i n d o o lavor dos
o u t r o s , até se e x l i n g u i r o p r i m e i r o , e ir«sc assim c o n t i n u -
a n d o c o m os mais, p o r q u e a i n d a q u e do t r a b a l l i o de tào
p o u c o s opera r i o s se nào possào sacar m u i t o s diamantes, es-
tes, sendo uicuos e só de V. M. serao mais b e n i r e p n l a d o s ,
e a i n d a q u e seja facil a oxlraccào delles nào deixo de c o n -
siderar o remedio de impedir-se aquelle descaminho, e é
i m p o n d o V. M. gravissiinas e severas penas à todas as pes-
soas. nào só na c o m a r c a d o S e r r o d o f r i o , mas e m l o d o o
B r a s i l , q u e t i v e r e m o u f o r e m a c h a d a s c o m diamantes b r u -
tos, t e n d o t a m b e m neste caso l u g a r as dcnunciaeòes, c o r n o
o o u r o . Beni sei q u e se faz p r e c i s o e necessario, q u e V. M»
estabeloca n o l u g a r mais p r o p r i o u m q u a s i magistrado, q u e .
conste de u n i s u p e r i n t e n d e n l e , u m guarda-mór, u m tcsou-
r e i r o , e alguns o u t r o s ofìiciaes, q u e se j u l g a r e m convenien-
tes, a u x i l i a d o s todos pela t r o p a de dragòes, q u e hoje exis-
te n a q u e l l a p a r t e , assim para a seguranea dos diamantes,
q u e se recoiherem ao c o f r e , corno p a r a respeilo e mai*
exaccào de q u a l q u e r diligencia q u e se olferccer; mas a des-
pesa q u e se fizer c o m aquella i n t e n d e n c i a b e n i a p o d e sof-
f r e r a fasenda de V. M., na considcracào, e, ao m e u enton«
dcr, na certosa dos vanlajosos l u c r o s daquelle estabeleci-
m e n t o , sendo t a m b e m m u i necessaria a boa escolha dos su»
je;tos, q u e se hào de o c c u p a r n e l l e ; isto é, s e n h o r , o q u e
m e o c c o r r e , e o q u e sinceramente p o n i l o na prescnca de
14*
100 M E M O R I A S HISTOrVlCÀS, E B O U T I C A S

V. M., que resolver* o q u e for servido. B a h i a 36 d e j a n e i r a


de 1732.,
Divulgou-se por esse t e m p o haver^se a c h a d o e m M i n a s *
novas ( l i t i g r a n d e d i a m a n t e de peso d e 19 oitavas, que des-
ta capital fora e m b a r c a d o para a E u r o p a , e c o m q u a n t o
dos regislros p u b l i c o s c o n s u l l a d o s por m i m , nào podesse
c o l l i e r a v e r a c i d a d c de tal n o t i c i a , m u i t o mais d u v i d o s a p o r
nào ser esse d i a m a n t e e n u m c r a d o e n t r o os g r a n d e s que ac--
t u a l m c n t e se c o n h e c e m (35), todavia é c e r t o q u e o g o v e r -
(35) »O» diamantes de maior grandesa sao e forào sempre milito raros: os
mais cclebrcs pela bellesa e t a in oidio sol:em cscassamcntc na Kuropa a meia
d a z i a , Na India os diamantes grandes m i t i c a sao vemlidos pelos Kajas, o u pes-
soas de c o n s i d e r a t i l o , sendo gunrdados pelas familiaa de geracào e m geraeao
c o n i religioso cuidado.
U in.uor diamante q u e se conhece é o q n e tem o rei de Pc rt u g n i , com o peso
de l-tiò'o q u i l a l e s , q u e a i n d a nao està l a p i d a d o . Segundo o m o d o de avallar de
J e f f r i c s , vale a o ^ a a ^ o ^ o o o rs.,, prec,o u m i l i s s i m o i n f e r i o r ao q u e lhe da Mr.
B u m c , segundo M i l b u r n , na sua olirà—Commercio o r i e n t a i . — Q u a n d o o gene-
ral J u n o t , em 39 de n o v e m b r o de 1807, soube no Cartacbo d o embarque da fa-
m i l i a real para o B r a s i l i f o i u m dos p r i m e i r o s quesitos q u e le., se o p r i n c i p e
regente t i n b a lèvado o grande diamante* Este diamante foi aebado n o r i o Abai-
té no a n n o de 1791, p o r M a n o e l d'Assumpcào Ferra/, Sarmento, M a n u e l Co-
mes, e Joao V i c e n t e Pereira Tavares, g.irimpeiros, o u faiscadorcs contrabaia»
distas de d i a m a n t e s , c susciiando-se e n t r e elles grandes contestacòcs sobre o
mesmo, p o r iusinuacào do p a d r e Anastacio Goncalves Pimenlcl, concordarao
e m offerecel-o ao p r i n c i p e regeme, e o apresenlarào ao g o v e m a d o r e c a p i t a o
g e n e r a l , aeompanb-mdo-n depois a Lisboa. Ksti-s b o m e n s , q u e haviào prcscn-
teado o soberano c o n i urna d a d i v a d o v a l o r de mais de ciucoenta inilhòes de
cru/ados, depois de m u i t o s annos <fe r e q u e r i m e n t o s , e s o f f r e r e i n a m a i o r m i -
seria e privjicóes, conseguirào a l i n a i , p e l u p a t r o c i n i o do l i r a s i l c i r o , o c o n -
s e l l i e i r o José E g y d i o A l v a r c s d o A l m e i d a , di-pois marque/, de S. A m a r o , o p r i *
meiro a s e i v c n t i a v i l a l i c i a d o o f f i c i o de escrivào d a ' o u v e d o r i a da comarca de
S. Joào dVI-i e i ; 0 segundo um l u g a r na i n t c n d e n c i a d o o u r o da comarca d o
Sabara; o t e r c e i r o o de a j u d a n t e da fundicào da casa da moeda d o R i o de Ja-
n e i r o ; c 0 p;<dre A i m t a c i o , a f u t u r a succesào da p a r o d i l a da v i l l i d o P i t a n -
gu», de q n e só exerceo a c o n d j n t o r i a , p o r preceder o seu fa Deci m e n t o ao do
q u e se aebava c o l f a d o : mesqoinha recompensa pela i u s i g n i d c a n c i a dos r e n d i -
m e n t o s a urna o f f e i t a de tanto v a l o r .
Depois deste seguc-se o d o i m p e r a d o r da Russia, q u o a d o r n a o s c e p i r o de-
b a i \ o d a a g u i a , e pesa 7 7 9 q u i b t l c s , nv.iliado em l i b r a s sterlinas t,:8$4,~2$,
Ser via de o l l i o a u m i d o l o denominado Scberingbam , e f o i furlado p o r u m
gran'ideiro Prancc/ ao servico i n d i o no M a l a b a r , disfamando-se tao bem, <pie
cbegoti a ser sacerdote d o d i t o i d o l o : u m capitan de n a v i o o c o m p r o u p o r
v i n t e m i l r n p i a s , e o v e n d e o a n n i J u d c o por- d e z o e t e , o u desoito n i i l libras
DA P R O V I N C I A DA B A H I A . 401

no provincial portou-se misteriosamente neste negocio, e


corno q u e p e m i a d i d o de q n e i n t e i r o fundà ritento se dava
a tal respeito. F o i o c o r o n e l P e d r o L e o l i n o Mariz o- p r i m e i -
r o q u e isso p a r t i c i p o u ao v i c e - r e i , e m officio de 2 0 d e o u -
t u b r o d e 1 7 3 1 , procedendo logo n a q u e l l c d i s t r i c t o a u n i
s o m m a r i o , q u e S e r v i o d e base à devassa, q u e p o r i g u a l mo-
t i v o t i r o t i nesta cidade o d e s e m b a r g a d o r i'edro Goncalves
Cardoso, e r e s u l t o u d e tal processo o conheeer-se t e r sido
M a n o e l Alves d e Matos o c o n d n e t o r d o m e s m o d i a m a n t e
para L i s b o a , havendo-o recebido e m Minas-novas d e Ma-
m>cl Mendes Yasconcelios, e q u e fòia v e n d i d o e m L o n d r e s
p o r Joào d a Costa Silva, corno m a n d a t a r i o -de lgnaeio de
Sousa F e r r e i r a , o q u a l , p a r a semeìliaute c o m p r a nesta p r o -
v i n c i a , havia r o m e i l i d o d e P o r l u g a l 3 0 : 0 0 0 ^ 0 0 0 de reis.
L u i consequencia pois da p r o n u n c i a dessa devassa, Ibi

sterlina* ; a final Gregorio Sufrraz, mercndor Crego, o vendeo em Amster-


dam em i ; 6 f i , ao p r i n c i p e OrlófF, para sua soberana a i m p e r a t r i s da Russia
p o r i"ìa.'i7 guineos.
(

O Raja* de lìorneo t e m um diamante de mais d e 3oo quilates, c o m u m lus-


tro mctulico t i r a n d o a a z u l .
O d o grani M o g o l pesa 2 7 9 quilates e 10716 avaliado, em 38o,ooo guinéns.
O t e i d e P o r i u g a l l e m o u t r o de a i 5 quilates, extremamente bello, a v a l i a d o
em J'>9,SOO gninéoa,
O d o i . i p e r a d o r da Alemanba pesa 1 3 ^ quilates e n / t a avaliado em 109,Sao
guiuéos,
O r e i d o Franca tem dous diamantes, u m d e n o m i n a d o o P i t t , o u r e p e n t e ,
c o m o q u a l Honap:irte. l o g o q u e p r i m e i r o c o n s u l , a d u n i m i a sua espada,
coni o peso de i3'» quilates e 3 / i , avaliarfo em aoS,33J guinéos, e o u t r o d e
55 q u i l i t e s , em *5,ooo guinéos,»—Reseadc Mem. oit.
Jcilrit's T/at. sobre os diamantes pag. 4''-» nao leve e s c r u p u l o em dicer q u e n o
Brasi 1 nao o s b a v i a , e q u e era d e G ò a q u e vinbào os q u e se d i zia 0 d e l l e ,
adquìridos com saqninhos d e o u r o c o m os quaes p a r a a l i se commerciava!!! O
abbade R n y i i a l q u i z ser mais generato, declorando q n e nào passa de u n i topa-
sio o asserto d i a m a n t e de ( 6 8 0 quilates q u e ora possue a coròa Portugueza, e
qnc os diamantes d o Brasi! suo d e q u a l i d a d e i n f e r i o r aos de outros paues; mas
Elìci, e s c i i t o r de mais c r i t e r i o em t a l espccte, asscgnra 0 c o n t r a r i o , dizendo-
que aquelles diamantes r e u n e m s u p e r i o r e especi fica g r a v i d a f e c o m p a r a t i -
vamente aos d o O r i e n t e na proporcào d e 5 5 i 3 para 3S17, sendo de m a i o r
rtjesa e b i i l h a n t i s m o , Mem. sobre a gravìdade dos diamantes e suas difjerencas
cui diversos paizes. A f i g u r a d o sobredito diamante d e ìfiSo q u i l a t e s , ou 12 i / a
oncas possili do pela coròa Porlugucza, aclia so descripta a pag. i4» d o J o r n a i
d o c o m m e r c i o de 1731, e em d'Argcnville ffistoir. drs gabinets de l'Eutape tom. 1,
Veja-àe Silva L i s b o a A n n , H i s t . e D i c l i w u a i r c d e commerce toni. 1. pag. 539.
102 M E M O W À S H1STORICAS, E POLITICAS

preso o refendo Manoel Alves de Malos, e enviado IogO p a -


ra Lisboa, d'onde aeabara de chegar, expedindo-se em
IÌ9 de dezembro de 173 L, pela secretarla de estado dos ne-
gocios nltraniarinos, cireulares aos governadores de todas
as provincias do Brasil, pura considerarem corno objecto da
maior importancia a prisào, q u e se Ihes ordenava, dos o u -
tros involvidos em tal negocio (36).
Achavào-se ja entào abandonadas as minas de prata, p o r
isso que as desavencas snscitadas entre osque sededicavào i l
sua descoberta, reuuio-so-ihes a penuria, cujo exeinplo fez
desacorocoarontrosempreendedoresdesses descobrimentos,
accrescendo igualmente que além de demandarem taes m i -
nas duplicadv) traballio, em rclaciio as do ouro, exigiào gra-
ve despesa para a separacào de outros ine taes que està vào
j u n l o s à piala, quaes o cobre e c h u m b o , e achavào-se no»
lugares mais agresles do i n t e r i o r ; mas a idea das vanta-
gens que dellas asseguràra Roberto Dias occupava a ima-
ginacào do gabinete Porluguez, que nào cessava de recom-
mendar se proseguisse em taes descobrimentos, e estes
tomar-se-iào seni duvida de resullado feliz se prevalccesse
o prujecto de urna companhia que p r e t e n d e r l o formar

(36) Nada mais encontrei no archivo da secretala do governo desia pro-


vincia sobre semclhante facto de transcendencia iuconlestavel, e a respcito de
cuja veracidade, corno acima disse, parece que aebava-se conven-ido o vice-
r e i pela maneira porque se exprimio no seguirne officio dirigido ao monarca.
-Senhor—Recebendo do snperintendente das Minas-novas em o m e z de ou-
t u b r o proximo passado a carta, cuja copia remello com a estampa do diaman-
te de que i r a t a , enlrei na diligencia de averiguar se o conductor, e delio-
quente no f u r t o delle, eslava ou nao no Brasìl, e aebando noticias de que
tinha vindo proximamente desse reino no navio do Porto, o mandei prender
a custa de grande traballio, e depois de preso, encarreguei ao desembargador
Pedro Goncalves Cordeiro Pereira o exame, e averiguacào deste negocio, re-
putando-o gravissimo a respeito das circunstancias, e cousequencias que,em si
mvolve, sendo quanto a mini a mais escandalosa a de se aebar nos dominios
de V. AI. urna pedra de tanto va*>r, e passar para a Europa coni engano, e
sen. i r primeiro a sua real presenta; o qne resultou da refe rida diligencia, e
exame consta da conta que me deo o dito ministro das perguntas feitas ao
reo preso, e remettido no comboi da frota, com recommendacào ao cabo delia,
para o mandar entiegar no Limoeiro com loda a seguranca a ordem de V. M., e
para maior i n d a g a l o desta noticia, ordenei ao dito superinlendente tirasse j u -
•.dicwl.uente um summano de testemunbas «aqnellas minas acerea d o reJerìdo,
o qual remetlerci a V. M. na primeira occasiào. llahia 5 de dezembro de i 3 x . 7
DA PROVINCIA DA BAHIA. 403
d o u s estrangeiros q u e de P o r t u g a l tinhào v i n d o mandyidos
para d i r i g i r e m esses t r a b a l l i 0 9 , e c o n t r a c u j o i n t e n t o se p r o -
n u n c i o u o vice-rei e m officio de 24 d e n o v e m b r o de 4 7 3 1 .
P e n c o t e m p o p o r é m d u r o u a desercào das minas de o u -
r o dos d i s t r i c t o s d e J a c o b i n a e Minas-novas, pois q u e a d i -
minuicào de preco q u e tiverào os diamantes, devida à c o n -
sideravel a b u n d a n c i a d o s e x t r a i d o s d o Serro d o f r i o (37) fez
c o m q u e t o d o s os m i n e i r o s tornassem p a r a ellas, r e v i v e n -
d o t a m b e m o e s p i r i t o q u a s i a m o r t e c i d o dos d e s c o b r i m e n -
tos, p r o m o u d o s e m grande p a r t e pelas persuasòes d o ze-
loso c o r o n e l t V d r o L e o l i n o Mariz, c n j o s prcstantes servicos
r e c o p i l l o u o v i c e - i c i , i n f o r m a n d o sobre a queixa q n e ao mo-
narca d i r i g i o o d e z e m b a r g a d o r Pedro d e F r e i t a s T a v a r e s P i n -
t o , prov-.dor-mòr da fasenda ( 3 8 ) , e salisfazendo assim ao

(3?) A demarcalo diamanlìna compreendia a5 leguas em quadro, e era


proibida a minerac-ào do ouro onde se aehassem diamantes, d i s p o s i l o està qae
se mandou ob.scivar p o r carta regia de de marco de 174*.
(38) Senhor. Semlo disposto por todos os regiinentos, e ordens antigas é
moderna*, qne os contratos e mais rendas reaes deste estado se arrematem pe-
los provedores das capitanias, com sciencia e noticia do provedor-mór, e facen-
do eu urna e outra figura nesta c:.piuni;t da Bahia, sem que até 0 presente V.
M. tenda desmembrado alguma p u l e della, separando-a da mesma jurisdiccào,
por ordem d* que eu tenba HOÌÌCÌA; acontece que Pedro Leolino M a r i z , supe-
rinlendeule das Minas novas de Arassualry, e fasendas, nào só juntou aos mais
titulos de qne se revesie a sua vaidade, o de provedor da fasenda, mas de facto,
sem alguma com missào minba, està exercitundo inteiramente, mas nào com i n -
teircs:i , a jurisdiccào de provedor, assim no conbecimeulo das causas riveis e
crimes, conio na arrecadacao e despesa da fasenda real, arrematando contratos
com condicóes que Mie parecc, quo deppis'Vcrescenla, ediminue, e confirman-
do elle mesiuo por al vara, nào sei em qne figura, as arremalacóes, que tem fei-
to conio provedor. Como as cousas destas minas pardo sempre tào lwnge da
minha sciencia, que jamais Uve noticia d o modo poiquc nellas se arrecadava, e
distribuia a real fasenda, passando ludo p o r levacào da secretarla do e>tado
para as mesmas minas, tanto assim que nào fui sciente dos regimentos, que sei
novameute se fizeiao, nem se registrarào em os livros da provedoria-mór, co-
nio sempre s^ praiieou; pKrecia-uie que os reudimeutos das passagens, e os mais
introduzidos a imitacào das Minas-geraes, qne erào cobrados pelo mesmo s«-
supei intendente, nem outra cousa poderia entender da forimilldade das porta-
rias, com que o producto daquellas casas tem passado por està, acompanhados,
e u m i t o de earrcira, porem sendo agora convencido desta ignora 11 eia pelo pa-
pel jurtfo, que mandei copiar, vindo a miuba mào por um despacho, que adroì.
r e i pela novidade, me parece cslava na obrigacào de fazer presente a V.M,
esla desordem, tanto pelo que respcita a admiuistracào da sua real fasenda, e
a l t e r a c i de regimentos e ordens, corno pelo que loca a u s u r p a l o da jurisdict
104 MEMORIAS UISTORICAS, E P0UT1CA9

quc^fora ordenado em provisào de 28 de j u n h o de Ì1M 9

informacào essa que i m p o r t a u m compendio historico da


descoberta de taes minas;
"Senhor—Descohrirào-se as Minas-novas n o anno de
4727, e com grande fama da sua riqucsa concorrendo par
ra ellas u m tào foru.idavcl numero de gente, que se nào
via un quelle territorio mais que urna coufusào de desor-
dens, augmentando-se estas pela desuniào dos descobrido-
res fomentada, e sugge rìda por muitos sediciosos, e por a l -
guns Paulistas polentados e criminosos, corno fiz presente
a Y. M. e tambem a resolucào que tornei de mandar, a re-
querimenlo dos mesmos descobridores, que Pedro Leoli-
no Mari/, passasse às ditas minas, a socegar os animos da-
quelles habttantes, por reconhecer a sua grande prudeneia
e capacidadc; e melhor informado desta, pelo que mostrou
a experiencia nas diligencias, averìguacòes, e exames que
fez, lhe cncarreguei o officio de superinlendente, em que
se tem occupado até agora com notoria salisfaeào, zelo, e
desiutercsse, devendo-sc à sua constancia e disvello o so-
cego, e augmenlo em que presentemente se achào as ditas
minas, p o r q u e à custa de grande traballio e risco, e c o m
despesa da sua fasenda, prendeo muitos criminosos, e
afugentou todos aquelles, e o i quem reconheceo genio pa-
r a as perlurbacòes daquella colonia. Ordenei ao dito Pe-
d r o Leolino Mariz posesse em arreead^^ào os quintos do
o u r o p o r lancamento de batèas, e tambem o direito das en-
tradas das cargas, negros, gados, e cavallos que enlrassem,
a

nas ditas minas, observanfio. nesla parte o mesmo qne se


praticava nas geraes, crespeitando a falla de meios, c o m

cào deste eargo, q u e t o n i l o obrìgacào de o defender. Se é c e r t o , q u e P e d r o


L e o l i n o nào é p r o v e d o r , t a m b e m é c e r t o q u e as arrcmalacùcs feìtas p o r elle
nào l e m vulidade, pois corno s u p e r i n t e n d e n t e as nào p o d i a fazer, n e m nas M i -
nas-geraes as fazem os s u p e r m U n d e n t e s , mas s i m o ^ f t o v e d o r da fasenda d a ca-
p i t a n i a , seja q u a l f o r a qualidade de c o n t r a t o , o u distancia d o l u g a r , e nào sei
q u o possa c o n s i d e r a r razào alguma, para q u e na capitania d a lialiia se p r a t i q u e
està d i f f e r e n z a . T a m b e m sou p r e j u d i c a d o eiu as p r o p i n a i q u e o s u p e r i n l e n d e n -
t e t e m cobrado conio p r o v e d o r p o r estas arrcmatacòes, f i u e sem questào a l -
l u m a ine tocao, e q u e espero na grandesa de V. M. me mande r e s t i t u i r no caso,
e m q u e as arremalacóes f i q u e i n e m seu v i g o r , o q u e me parece sera preciso, a
respcito dos contratos q u e j a t i v e r e r a acabado. B a l d a a 5 de s e t e m b r u de 1733.
—Vedrò de Ffeitas Tavaret Pi/ito*.
DA PROVINCIA DA BAHIA. 305

q u e se achava para alguuiàs despesas q u e fossem precisas,


corno de levas de presos, o u expedicào de p r o p r i o s , lhe re-
co m i n end ci arrendasse as passagens dos rios, as arfericòes,
e t a m b e m a cadèa q n e fez a sua eusta u m Francisco da
Silva Guimaràes, o q u e e x c c u t o u e m observancia da m i -
n h a o r d e m . e estes sao os c h a m a d o s c o n t r a t o s , e m q u o c r -
u d a m e n t e f a l l o u a V. M., na conta q u e lhe deo o dezem-
bargador Pedro de Freitas Tavares P i n t o , servindo de pro-
vedor-mór da fasenda, nào c o m zelo d e l l a , mas s i m ara>
bicioso de jurisdiccào. e o b r i g a d o da paisà o e m t u d o
q u a n t o diz respeilo a Pedro Leolino Mariz, fallando da sua
pessoa, c o r n o nào devia, p r o f e r i n d o c o n t r a elle, despachos
p u b l i c o s , e informacòes c o m dcsatieneào escandalosa, e d i g -
rìa de g r a n d e r e p a r o , corno V. M. sera presente pela c o p i a
inclusa da carta q u e me escreveo, queixando-se deste desor-
denado p r o c e d i m e n t o , e t u d o isto p e l o nào attender e m
u m a s recommendacòes particularès, q u e lhe fez a favor da
c o b r a n c a de cerlas dividas.
M a n d o u V. M. estabeleeer casa de fundicào nas ditas m i -
nas, e t e m esla èxercicio desde o a n n o de 1730, onde se fazia
a cobranca dos q u i n t o s na l'orma da l e i , e pélo seu rendimen-
t o se pagào os ordenados dos officiaes, operarios, e mais des-
pesas^clellas, e t u d o isto se deve ao s u p e r i n t e n d e n t e Pedro
L e o l i n o Mariz, q u e e m observancia das m i n h a s ordens t e m
a l i v i v i d o , corno e m u m p e r p e t u o degredo: o d i r e i t o das en-
t r a d a s cobra-se p o r o r d e m de V. M. pelo c o n t r a t a d o r das Ge-
raes, e a esle s e l e v o u e m conta o q u e antecedentemente se
hfeivia cobrado, corno a V. M. seria presente pela conta q u e
lt\e havia de dar o p r o v e d o r A n t o n i o Berquó d ' L i - r e i , q u e a
t o m o u p o r o r d e m de V. M.; e os dì/imos reaes cobrào-se pe-
l o c o n t r a t a d o r desta capitania a q u e pertencem, p o r c o n d i -
cào c o m q u e a r r e m a t o u o c o n t r a t o , e nào se p r a t i c o l i c o m o
dos annos de '28, 29, e 30 p o r q u e V. M. os m a n d o u p o r e m
deposito p a r a se enlregarem a q u e m perlencessein, para se
e v i t a r e m duvidas, pois q u e o c o n t r a t a d o r das Geraes dizia
l h e tocavào, c u j a o r d e m se c o i n m e t t e o ao d i t o s u p e r i n t e n -
dente Pedro L e o l i n o M a r i z , e me consta exeeulàra, e nào
fez remesia p o r se haver v a l i d o dessa i m p o r t a n c i a para acu-
d i r ao p a g a m e n t o da t r o p a , q u e seacha sem applicacào a l -
g u m a , e eu lhe a p p r o v e i o seu a r b i t r i o e m taes c i r c u n s l a n -
cias, a t t e n d e n d o à neccssidade q u e havia de se conservar a
TOMO v. «*
406 MEMORIAS HISTORICÀS, E POUTICAS

dita t r o p a naquellas minas, a i n d a q u e r e d u z i d a só ao n u -


m e r o de v i n t e einco soldados, p o r V. M. nào t e r ainda r e -
s o l v i d o d o n d e se Ihes bade p a g a r , c o n i o ja p o r vezes t e -
nho parlicipado.
De l o d o o r e f e n d o se vè, q u e os q u i n t o s se cobrào n a casa
d e fundicào, e q u e p o r ella se r e m e t t e o seu p r o d u c t o , pagos
o s o r d e n a d o s , c mais despesas; q u e o d i r e i t o das cntradas
pertencc ao c o n t r a t a d o r das Geraes q u e o està c o b r a n d o , e
q u e os d i z i m o s tocào ao c o n t r a t a d o r desta capitania, na f o r -
m a das condicòes c o m q n e a r r c m a t o u o c o n t r a t o , e q u e Pe-
dro Leolino Mariz nào t e m p o r este m o d o i n c u m b e n c i a a l -
g u m a na arrceadacào da fasenda real, e so sim a t e m noscha-
m a d o s c o n t r a t i n h o s , q u e parece tocào à camara; e se antes
entendeo nestas arrecadacòes, f o i p o r o r d e m m i n h a , q u e
lhe devia d a r interi m u n e n t e , e m q u a n t o aquella c o l o n i a se
nào p u n i t a e m t e r m o s de se observar nella f o r m a certa e re-
g o l a r e de t u d o q u a n t o o b r o u e agora èxecuta , hade d a r
tf

cabai s a t i s f a r l o , e se sobre os pàrliculares, q u e respeitào à


fasenda, expedio o d i t o dezembargador a l g u m a o r d e m ao d i -
t o s u p e r i n t e n d e n t e , de q u e e u nào t e n h o noticia, p o r m a
nào p a r t i c i p a r , esteja V. M. c e r t o q u e se a nào e x e c u t o u ,
bade d a r razào admissivel, p o r q u e o c o s t u m a fazer c o m i n n i
p a r t i c u l a r altencao, e zelo d o servico de Y. M., assim c o -
m ò q u e à constancia deste h o m e m , e à sua grande capa-
c i d a d e , e p r u d e n z a , se deve a o b e d i e n c i a , sujeicào, e
a i i g m e n t o c o m q u e se achào as Minas-novas, pois esqnecen-
do-se, p o r me obedecer, da sua casa e fasenda q u e d e i x o u
ao desamparo, só c u i d a e m servir coro h o n r a , desinleres-
se, e verdade a V. M. N à o sei q u e hajào causas civeis e
crimes, de q u e P e d r o L e o l i n o M a r i z conhecesse, corno o p r o -
vedor da fasenda afUi-ma a V. M., salvo de a l g u m a l o u t a d i a
q u e fez de o u r o extraì'do, e pedras preciosas, o q u e t u d o
fòi presente a V. M.
Antes q u e nas ditas minas se estabclccesse v i l l a , p a r a
c u j o fini m u i t o t r a b a l h o u , p a r a q u e visse t u d o e m o r d e m ,
e ter nella jurisdiccào o o u v i d o r geral do Serro d o f r i o ,
conhecia P e d r o L e o l i n o Mariz de todas as causas, assitn
civeis corno c r i m e s , p o r nào haver ali j u i z , n e m o u t r o m i -
n i s t r o q u e administrasse j u s t i c a , e ser precisò c o m p ò r as
causas de m a n e i r a , q u e continuassem os d e s c o b r i m e n t o s ,
e o l a v a r d o o u r o sem interrupcào e d i s t u r b i o s ; e depois
DA PROVINCIA DA BAHIA* 107

daquella criacao, està esercendo somente a jurisdiccào de


s u p e r i n t e n d e n t e , r e g u l a n d o se pelo r e g i m e n t o q u e V. M.
deo para as Minas-geraes, q u e é o q u e lhe m a n d e i obser-
v a r , e p o r o r d e n s m i n h a s p a r t i c u l a r e s entende e m o u t r a s
m a t e r i a s , q u e pertencem à conservacào, socego, e augmen-
t o d a q u e l l a colonia; e corno elle agora mandasse todos os
l i v r o s e documentos, q u e tocào a fasenda r e a l , ao r e f e n d o
p r o v e d o r , q u e os fica c o n f e r i o d o e esaminando, p o r elles
s e v e r a q u e procedeo c o m v e r d a d e , aioda q u e faltasse à
f o r m a , n o q u e t e m l o d a a desculpa, e q u e nào h o u v e des-
c a m i n h o , n e m i n c i v i l i d a d e , e se darà a t u d o a p r o v i d e n -
cia e regimento de; q u e carecc. Isto é o q u e se me offerece
p o r na presenca de V. M., e m resposta desta provisào, e
parece-me q u e V. M. deve a p p r o v a r t u d o o q u e Pedro
L e o l i n o Mariz t e m o b r a d o , e agradeeer-ìhe o b e m c o m q u e
o t e m servido. Bahia 129 de n o v e m b r o de 473a.»
P o r occasiào de renovar-se o espirito de taes d e s c o b r i -
m e n t o s , entregarào-se alguns à investigalao das esmeral-
das, e n t r e os quaes distinguia-sc o padre A n t o n i o Monda-
n h a , e seufìllioo mestre de c a m p o Francisco de Mello ,
q u e as acharào e m difierentes lugares do d i s t r i c t o das Mi-
nas-novas; mas era sobre a descoberta das minas das cabe-
ceiras d o Rio de S. Mateus q u e tendiào todas as vistas d o
vice-rei, q n e havia para isso r e c o r r i d o à prestante efficacia
dos Paulistas, q u e ainda existìàona p r o v i n c i a , u u i dos quaes,
«José Pereira D u l t r a , c h e g o u a enviar-lhe dusentas e c i n -
coenta oilavas de famoso o u r o , q u e t i r a r a de certo l u g a r
das immediacòes d o m e s m o r i o , e q u e elle remetteo ao mo-
narca e m 20 de n o v e m b r o de 4735: c o n i t u d o q u a n d o mais
calor dava a esse d e s c o b r i m e n t o , q u o desde bastantcs a n -
nos occupava as attcneòes de m u i t a s pessoas, ehegou-lhe
p o r successor o c o n d e das Galvèas, q u e acabava d e gover- x

nar a p r o v i n c i a de Minas-geraes.
E m observancia da c a r t a regia de 22 de m a i o de 1736.
estabeleceo o c o n d e das Galvèas a commutacào d o d i r e i t o
senhorial dos q u i n t o s , mas a experiencia das agitacòes q u e
esse systerna havia padecido e m Minas-geraes ( 3 9 ) , d i c l o u -

(39) «Passando o conde de Assuinar D. Pedro de Almeida Portugal a gover-


nar a capitania de Minas-geraes no anno de 1717, foi incuothido por el-rei D,
Joào V. de i'undar ahi casas de fuudicào de ouro, e de moeda, que obviasséjn
ia*


108 M E M O C U S HISTORICAS, E POLITICAS

l h e o emprego de medidas de mais moderacào, comò elle


mesmo o participou no officio, que por tal motivo dirigio
ao rei, assim c o n e e b i d o —

os inconvenientes do uso do mesmo o u r o em pó. P a r a satìsfazer està commis-


sào, a j u n i o u o g o v e m a d o r os miueiros p r i n c i p a e s , e pessoas qualificadas d o
povo, a quem p r o p o z a resolucào real cuja p r o v i d e n c i a foi à p r i n c i p i o r e c e b i -
da com demunstrscóes de c o n t e n t a m e n t o , e sem hesilacào assinada p o r todos a
obrigacào proposta, C o m o de o r d i n a r i o é mais a d i v o o e s p i r i t o d a discordia
m-saes concursos, e nunca faltào seductores da submìssào a voz dos vice-deoses,
que levando o rude povo de t r o p e l , o arrasla ao p r e c i p i c i o da rebelHào; appa-
j e c e o a a3 d e j u l h o de 1-20 em V i l l a - r i c a u n i corpo, de mais d e dous m i l uò-
mens armados, d e q u e f o i chefe o capitilo Pascoal da S i l v a , com o p r o j e c t o de
revogar a accilacao a n t e r i o r m e n t e feita, e d e embaracar o eslabelecimento das
casas sobreditàs d e fundicào. Depòìs de u c o m m e t t e r e m a l i a casa de rcsìden-
eia d o o u v i d o r d a r o m a i c a . Marinili» V i e i r a , que d e s l r n i r a o , mandarào desse
l u g a r a sua proposta ao g o v e m a d o r , pedindo-Jbe c o m o despaebo d e l l a , o per-
dào de tanta l o u c u r a : vendo porém q n e a resposta d o r e q u e r i m e u t o t a r d a v a ,
scudo j a passados q u a t r o d i a s , Consultarào c n t i e s i , recéosos de s e n t i r , p o r
aquelln facto nada j u d i c i o s o , o boni e x i l o q u e esperavào. K n l r e l a n t o cuidava o
g o v e m a d o r em se c e r t i f i c a r d o animo das outras villas, para d e f e r i r com acerto
s o b r e assumpto tào m e l i n d r o s o ; mas sciente da resolucào u n i f o r m e de todas
que seguiào o mesmo a n i m o dos amotinados de V i l l a - r i c a , e perstiadido d a
necessaria dilacào, q u e bavìa d e t e r o estabelecimento das casas referidas, p o r
Ȉo p a r e e r r e m sufficientes ao p r o v e d o r da moeda da Bahia, E u g e n i o F r e i r e d e
A n d r a d c (mandado a fundal-as), nem os siiios, nem os edifìcios j a p r i n e i p i a d o s ;
d e c l a r o u p o r u m editai suspensas as mestnas casas p o r u m a n n o , até chegar a
resolucào regia sobre alguns embaraeos r e l a l i v o s a esse objecto. Pouco satis-
feitos os a m o l i u a d o r e s c o m a sìaiplkidade da resulta, e vendo i n d e t i s o o a r t i g o
espceial do perdào s u p p l i c a d o ; tomarào 0 c a m i n h o da villa de N. S. d o C a r m o
(hoje cidade de M a r i a n n a ) onde residia 0 general, q u e conhecendo a c i r c u n s -
lancia c r i t i c a da eslacào, e c o n i i a n d o em tempo mais favoravcl o melhoramen-
t o da c o n d u r l a p o p o l a r , nào besitou na concessào da p r o p o s t a , nem d e l o n g o u
p r o m e t t e r .0 perdào a t u r b a sediciosa, cingindo-se a o r d e m d e 11 de j a n e i r o
de 1717 (registrada n o l i v . 9. f. 4 6 d o reg. da p r o v e d o r i a ) p o r q u e f o i d e t e r m i n a -
do, q u e p o r subtevacòes nào possào os governadores d a r perdòes; e q u e em a l -
j;um caso urgente, q u e nao admitta demora, possào só p r o m e t l e l - o , havendo-o
S- M. p o r b e m : mas os capaiazes do motìm p a g a r a o c o m j u s t i c a os seus d e l i -
ctos. Succedendo no g o v e r n o D. L o u r e n c o de Almeìda a 28 d e agosto d e 1721,
p r m c i p i o u nesse anno mesmo a levautar novas casas e m sittos mais a p i o s , e
c o m os c o m m o d o s precisos a sua laboracào, cujo e x e r c i c i o c o n t i n u o u até o
a n n o d e 1 ?35, cui q u e se abolirào, para comecar o estabelecimento da capita-
cào. Nomeado Gomes b'reire de Andrade n o cargo de g o v e m a d o r d a q u e l l a ca-
p i t a n i a , f o i sem demoni s u b s t i t n i r ao conde das Galvèas, e d i l i g e n c i a r o metodo
d a imposicào do t r i b u t o , q u e fìrmou, obrìgando os senhores dos escravos a
p a g a r quatro e ineìa oilavas d e o u r o a n n u a l m e n t e em l o d a c a p i t a n i a p o r cada
DA PROVINCIA DA BAHIA. 509

* Senhor. E m observancia do q u e V. M. ordena e m c a r -


ia f i r m a d a pela sua real m à o , d a l a d a de 22 de m a i o d o an-
n o passado, e r e g u l a n d o - m e pelos avìsos q u e tive d o go-
v e m a d o r Comes Freire de Àndrade, m a n d e i estabelecer
nas minas desia capitania a nova commutacào dos q u i n t o s ,
sem a haver alterado era cousa a l g u m a , d o q u e se p r a t i c a
nas Minas-geraes, e x c e p t u a n d o somente a moderacào, c o m
q u e mandei p r o c e d e r no pagamento, c o m os q u e nào lives-
sem o u r o p r e t o no acto da m a t r i c i d a , e fossem moradores
c o m a existencia d u r a v e l , a t t e n d e n d o a miseria e m q u e t o -
dos se achào p o r causa da rigorosa sécca, p o r q u e a falta
de agua Ihes difììcultava o lavor d o o u r o , e sem este nào
p o d i a o ter p r o m p t o c o m q u e pagar. Os iimites q u e se as-
sinalào p a r a cada urna das tres inlendencias, q u e cstnbe-
l e c i j sào os q u e se declarào nas copias inclusas dos termos,
q u e sefizcrào,e m q u e se c o m preonde n i todos os roceiros,
e algumas fasendas de gado, q u e fìearào d e n t r o d o referido
l i m i t e , d a n d o a cada urna destas d o u s escravos l i v r e s , p a -
reeendo-me q u e nào seria isto d o desagrado de V, M por- M

q u e o gado q u e ellas produziào, se cortava nas ditas minas,


e pagava nelias para està capitacào, ficando todos os mais,
q u e se occupasscm n o servico dellas, sujeitos à m a l r i c u l a ,

um delles ^a excepcào dos do servirò domestico): os officiaes de officios, outra


q u a n i i a semelhante; as casas de negocio grande, dezeseis oitavas; as niedianas,
vendas, boticas, e cortes dozc oitavas; e as lojas pequenas, e de uiascataria o i t o
oitavas. Para se c o b r a r do povo mais cento e trinta arrobas de o u r o p o r anno,.
conio importava a foiba da arrecadacào, iiga preciso g r a n d e forca e t r a b a l l i o ,
p e r q u e en Iraq ucci dns as fabricas mìneraes, com o peso do pagamento de *ào nio-
t a v e l quanda, seus trabalhores desertavao, e a capitania sentta golpes de m o r t e ,
de q u e se suscitarào desordens c levante». Nada salisfeìtos os povos coni o meto-
d i * preseci pio, ueni p o d e n d o a p p r o v a l a pelas circuustancias u n i i ruinosas de sua»
fasendas, a r b i t r a r i o treze modos (o a l v a r a de 3 de dezembro de lySo falluu de
doze metodos antecedentemente propostos) de per fazer o d i r e t t o do senliorio a
e l - r e i , a quem o propnzerào em tempos differente*, para cessar o denominado
t r i b u t o da capitacào. finire os meios arbitrados f o i u m a o f f e r t a de ceni arrobas
d e o u r o annualmente, p o r q u i n t o de lodo o o u r o q u e entrasse nas casas de f u n -
dicào, corno haviào p r o p o s t o em 24 de m a r c o de 1734 ao general conde das
Galvèas; e q u a n d o fiiitasse alguma porca o para completar essa q u a n l i a , em caso
t a l se Uncasse urna f i l i l a p o r cabeca dos escravos das lavras mineràes, cujos se-
nbores a pagasse"!, à proporrà0 do m a i o r , o u m e n a r numero de escravatuia*
A d o p t a d o o a r b i t r i o pelo alvarà citado de 3 de dezembro de 1760, cessoti a ca-
pitacào, e principioù o d i r e i t u senborial do q u i n t o desde o i. de agosto de 1 7 3 1 ,
Pisarr. tom. 4* pag* x83 nota 17.
MEMORIAS HISTORlCAS, E POUTICAS

e à m u l l a de U oitavas e 3 quartos p o r cada um. Reduzi


as tres intendencias desta capitania, estabelecendo urna nas
novas chamadas do Arassuahy, e Fanado; outra na de Ja-
cobina, e que as casas da fundicao servisse ni para a inten-
dencia, e outra no Ilio das contas, e nestas corno nào havia
casa de fundicào, serve a do mesmo intendente, p o r ser se-
g u r a , e se escusar a despesa da sua fabrica, e tornei este
expediente por està rem as ditas minas distantes umas das
outras oitenta, ooventa e mais leguas, por cuja razào nào
era possivel q u e u n i só intendente podessc fazer a sua o b r i -
gacào, seni u n i grande incommodo seu, e prejuiso da f a -
senda de V. M., nem se acharia sujeìto, qne se encarregas-
se de semelhante traballio para dar boa conta delle. Para
intendènte, e os mais officiaes, nomeei os sujeitos aponta-
dos na memoria junta, arbitrando-Ihes os ordcnados, que
della constào, havendo-me naquella escolha, e neste a r b i -
t r i o com a mais prudente cousideracào, attendendo ao ser-
vico de,V. M., e ao augmento e arrecadacào da sua real fa-
senda, e até agora nào tenho motivo , o u causa para fazer
menos boni conceito do zelo, e capacidade dos referidos
officiaes, porque todos elles tem desempenhado as suas
obrigacòes, e principalmente os intendentes, distinguindo-
se entre todos Pedro Leolino, que é dotado de viitudes
dignas de estimacào. Bahia 28 de j u n h o de 4736.»
Avantajarào-se neste anno em o descobrimento de no-
vos lugares auriferos o coronel André da Rocha Pinto, que
importantes servicos fez, tornando conhecidas muitas minas
entre o Rio das contas, Fanado, e Minas-novas do Aras-
suahy; Damaso Coelho Pinto, cunhado e companheiro d o
mesmo coronel em suas excursòes, e de quem foi nomea-
do successor, recebendo para esse f i n i a patente, que os
governadores costumavào passar a taes descobridores, na
qual espeeialmente lhe era recommendada a investigacelo
das cabeceiras do R i o de S. Mateus, e, mais que aquelles,
Joao da Silva Guimaràes, cujas investigac.òes mineralogicas
constào rnelhor d o seguinte relatorio, que dirigio ao mo-
narca em 18 de j u l h o de 1734.
» Senhor. Promovido e zeloso do servico de V. M., apa-
relhei urna grossa bandeira para o sertào, composta de u m
grande numero de escravos, evalerosos soldados, que pro-
cure! para este f i r n , na considcracào de q u e rompendo
DA P R O V I N C I A DA B A H I A . HI

aquellc vasto seriào do faraigerado Rio de S. Mateus, e lìio-


dòcc, acharia a l g u m a mina q n e podesse t r i b u t a r p o r sinal
da m i n h a reverente h u m i l d a d e a V. M., c o m tào grande
dispendio d a m i n h a fasenda, corno o testificào os documen-
to» j u n t o s , e p o r esse m o t i v o me v i obrigado a deixar a m i -
nha casa e f a m i l i a , sujeita a tantos e tào grandes revézes da
f o r t u n a , q u e e x p e r i m e n t o u , para i r pessoalraente a u x i l i a r
a baudeira pelos avisos, q u o ti ve de estar a t r o p a e m b r a -
cos c o m o g e n t i o , q u e Uve obstava o ingresso, onde c h e t a n -
do, me deo o cabo noticias de ter achado o u r o , as quaes
p a r t i c i p e i ao intendente de Minas-novas Pedro Leolino Mariz,
p a r a q n e as t r a n s m i l t i s s e ao conde vice-rei d o estado, p o r
o r d e m d o q u a l c o n t i n u a v a aquella c a m p a n h a , m a n d a n d o
ao mesmo t e m p o b u s c a r soccorro, q u e mo levou u m irmào
m e u , t u d o n o v a m e n l e c o n l r i b u i d o à custa da m i n h a fasen-
da, o q u a l chegando, f u i c o n t i n u a n d o naquelle descobri-
m e n t o , e logo n o p r i m e i r o e n c o n l r o q u e tive c o m o gen-
t i o , p e r d i o d i t o m e u irmào, q u e j u n t o a m i n i caio m o r -
t o de tres sellas, alguns escravos, e soidados, p o r c u j o mo-
t i v o entrando na mais t r o p a u n i g r a n d e t e m o r de serem
todos m o r t o s , nào me foi possivel seguir pela vastidào da-
q u e l l e sertào corno desejava, ale cónciuir o m e u designio
chegando a descobrir as vertentes, e cabeceiras d o Rio de
S. Mateus, p o r onde m e dirigia pelos roteiros de antigos ser*
tanistas, e p r e c i s a d o da necessidade, deixci este decautado
d e s c o b r i m e n t o d o I l i o de S. Mateus, e b u s q u e i o sertào d o
Rio-doce, onde o mesmo cabo j j u e le voi na bandeira, me
assegurava t e r visto o u r o antigamente: atravessei este ser-
tào, escapando c o m a v i d a p o r milagre d i v i n o , entre a m u l -
lidào de gentio bravo, q u e nos saia ao e n c o n l r o , e pela as-
perèsa, e esterilidadc d o terreno, onde a p a n h a n d o alguns
gentios, nos servirào de guia para as partes q u e buscava-
mos, e sem està nos veriamos inteiramente s u c c u m b i d o s
pela asperèsa d o deserto, sem nos p o d e r i n o s l i v r a r da m u l -
tidào d o gentio q u e o senhoréa.
F u i para a p a r t e do Rio-dòce, p r o c u r a n d o a m i n a de
o u r o q u e me p r o m e t t i a o cabo, e deixei toda a mais t r o -
p a fazeado u m a s plantacòes; e chegando à p a r t e assina-
lada, l h e nào achei o u r o de conta, porém s i m i n n i l i m i t a *
do, e u m a s pedrinhas c o n i o l u z vermelha, q u e r e m e t t i ao
s u p e r i n l e n d e n t e desta comarca, j u n t o c o n i outras de d i l l e -
MEMORIAS MSTOR1CAS, E P0MT1CAS

reti tes córes, p e d i n d o - l h e me soccorresse c o m bastimentos


necessarios para o sertào, n a r r a n d o - l h e t a m b e m q u e t i n h a
sido no t i fica do pelo o u v i d o r d o Serro do f r i o , A n t o n i o
F r e i r e d o Valle e Mello, para nào c o n t i n u a r aquella c o n -
q u i s t a , p o r dizer pertencia ao mestre de c a m p o Francisco
de Mello, ao mesmo t e m p o q u e e u era o p r i m e i r o q u e re-
m e t t i a amostras della: esperei o soccorro pedìdo, e c o r n o
este me nào c h e g o u , e só s i m u n i m i l i t o l i m i t a d o i q u e me
m a n d o u u m p r i m o m e u , o sargento-mór José d a Silva
Guimaràes, t o r n e i a deixar està c o n q u i s t a d o Rio-dóce,
p o r q u e supposto conficco, q u e V. M nào é s e r v i d o t e r os
sertòes p o r d e s c o b r i r , ainda q u e estejào dados a q u a l q u e r
pessoa, q u e seni accào a l g u m a laboriosa os q u e r senho-
rear, sou c o m t u d o lào reverente às justicas de V. M., q u e
deixei as planlaeòes, e deixei t u d o o q u e t i n h a c o n q u i s t a -
do, p o r nào t e r resolucào a l g u m a d o d i t o s u p e r i n t e n d e n t e ,
mas asseverando q u e dava p a r t e da m i n h a justifìcada razào
ao vice-rei do estado.
Avisou-me o s u p e r i n t e n d e n t e q u e e n t r e as pedras, q u e
eu t i n h a m a n d a d o se t i n h a achado u m d i a m a n t e f i n i s s i -
m o ; o u t r a s mostravào ser rabins, o u t r a s q u e se pareciào
c o n i anietistas, e o u t r a s q u e indicavào ser esmeraldas; e
c o m està resposta m e resolvi a e m p r e e n d e r novamente a
descoberta d o sertào do R i o de S. Mateus, .assim p o r q u e
delle tinhào saldo algumas das ditas pedras, c o n i o p o r ser
p a r t e onde nào t i n h a i m p e d i m e n t o . C h e g u e i à paragem,
d'onde t i n h a saìdo a pedra. q u e m e dizia o s u p e r i n l e n d e n -
te ser d i a m a n t e ; m a n d e i logo p u b l i c a r u m b a n d o c o n i pe-
nas gravissima», p o r me haver ja entào t e m e t t i d o o vice-
r e i do eslado urna patente d e mestre d e c a m p o d a q u e l l a
c o n q u i s t a , q u e n e n h u m a pessoa podesse nos exames q u e
se laztào, t e r pedras das q u e se extrai'ssem e m seu p o d e r ,
e só s i m q u e as recolheriào e m u m c o f r e , q u e estabcleci
para o f i n i d e e v i t a r q u e se desencamìnhassem os reaes
q d i u t o s d e V. M., e ni q u a n t o o vice-rei nào désse a p i o v i -
dencia necessaria, p o n d o t a m b e m t o d o o c u i d a d o em e v i -
tar os desertores d a bandeira. F n t r e i a capacitar a q u c l l e
gentio, fazendo a mais exacta diligencia para c o n s e g u i r
abracassem a paz q u e Ihes otferec'ia, e c o m ella seguissem
a nossa santa fé, n o q u e e n c o n t r e i varios obstaculos, u n s
occasionados d a sua m e s m a i n c o n s t a n c i a , o u t r o s suggerì-
DA PROVINCIA DA BAHIA. 113

dos pelos mesmos que me acornpanhavào, que, desertan-


do da b a n d e i i a , buscavào o g e n t i l l s r o o i m p c l l i d o s do a m o r
scnsual; porém p e r m i t l i o Deos venecsse o m e u zelo, e cons-
tancia, assim a incoosequeneia do g e n t i o , corno a m a l i c i *
dos dcsertores, p o r q u e a todos r e d u z i : ao gentio fìz assistir
do necessario, corno podia a m i n b a s i t u a r l o , c a o s m e u s
d e i x a n d o d e Ihes d a r e x e m p l a r castigo, para nào atemo-
risar ao m e s m o gentio, os f u ètitrogàr para esse firn às jus-
tiras de V. M , e deixo de r e f e r i r a Y M l u d o q u a n t o pus-
sei para conseguir està reduccào, p o r nào pnrecer talvez
exagerada a m i n h a narraeào, o u menos crida a m i n h a cons-
l a n c i a , e zelo pelo servico de V. M.
T e n h o eonseguido q u e recebào a paz q u e Ihes oifereci,
e vejo todos os dias à roda de m i n i nos m e u s arraiaes os
gentios das aldcas s e g u i n t e s — Fanhames, Capoxós, Maeha-
l i s , Camanachòs, Abucaxós, Quauxìs, P u r a x n s , G u a q u i -
nis, e outras nacòes q u o t a m b e m me t e m m a n da do seus
enviados: a todos c o o t e n t e i d o m o d o q u e podia, e forào
satisfeitos para as suas terras, e de quasi todas as nacòes
m e quizerào a c o m p a n h a r , a v i r b u s c a r o soccorro q u e es-
perava, e s u p p o n i l a me fosse r e m e t l i d o ; mas depois q u o l i -
ve certesa q u e me nào ia, m e d e l i b e r e i a sair a povoado,
depois de andar n o sertào q u a t r o annos e alguns dias, com-
p l e t a n d o quasi c i n c o q u e t i n h a m a n d a d o a bandeira, c o m
o dissabor de nào t e r t i d o o soccorro, para p o d c r chegar
a desengauar-me das riquesas, q u e se publicào d a q u e l l a
c o n q u i s t a , nào obstanle t e r recubido nella carta d o c o n d e
vice-rei d o cstado, e m q u e me c o m m u n i c a t e r dado o r d e m
ao s u p e r i n t e n d e n t e desta c o m a r c a para q u e me soccorra,
e é sem d u v i d a , q u e a repete instantemente; porém a f a t -
t a de r e n d i m e n t o das Minas novas, pela o c c u r r e i i c i a dos
t e m p o s , t e m feito i n u t i i i s a r a dita o r d e m da p a r t e do mes-
m o s u p e r i n t e n d e n t e , q u e , se p o r si so a podesse executar,
estou b e m c e r t o q u e e u nào sentiria tào grande falla de
soccorros de comestiveis, q u a n d o mais delles necessitava.
Apresentei à camara desia v i l l a , e ao superintendente
t o d o o gentio q u e m e q u i z a c o m p a n h a r , fìado nas m i -
n h a s promessas, e as nacòes de q u e erào, rogando-lhes os
quizessem assitir c o m algurnas ferramenta», e r o u p a s p o r
m e achar r e d u z i d o a n o i a lamentavei pobresa, pois nesta
c o n q u i s t a t i n h a gasto q u a n t o possuia, só a f i m de q u e i c s *
TOMO V. io
114 MEMORIAS IITSTORICAS, E POE1TICAS

sem satisfeilos para a sua t e r r a , e nos continuassero a ser


favoraveis, fazendo c e r i o aos mais d o agrado c o m q u e f o -
rào recebi dos; porém corno a razào justificada d a falta d o
r e n d i m e n t o das minas era tanta, t a m b e m p a r t i c i p o u della
o m e s m o gentio, e apenas se derào a u n s u m a s baètas pa-
ra c o b r i r e m a sua nudez, e u n s jaiécos, e a l y u m a s facas,
s u p r i n d o o povo para s e c u b r i r c m todos, p r i n c i p a l m e n t e
os reverendos sacerdote», assim seculares corno regnlares*
e para os poder c o n t e n t a r de t o d o o necessario, me f o i p r e -
ciso andar m e n d i g a n d o p o r a l g u m a s pessoas d e mais pos-
s i b i l i da de j e foi Deos servido acbar a casa d o tenente coro-
nel Lucas de A n d r a d e Pereira, q u e me r e c d h e o a ella p a -
ra o stistento delles, e de toda a t r o p a , fazendo nislo unia
consideravel despesa, -e p a r t i c u l a r s e r v i l o a V. M,
Apresentei j u n t a m e n t e ao s u p e r i n t e n d e n t e as amostras
das pedras q u e trazia, e o real q u i n t o dellas, c u j a remessa
se fez ao c o n d e vice-rei d o estado, i g n o r a n d o a q u a l i d a d e
das ditas pedras, p o r nào serem d o feitio das d a c o m a r c a
d o Serro d o f r i o , e q u a n d o as ditas pedras sejào de valor,
podérà V. M. utilisar-se dellas, assim p o r q u e aquella c o n *
q u i s t a se nào aeha povoada, c o r n o pela a b u n d a n c i a q n e h a
das ditas pedras, p o d e n d o m a n d a r l a v r a r as pai tes mais
reaes da d i t a c o n q u i s t a ; e q u a n d o V. M. seja servido inan-
d a r coutihùal-aj se faz m u i t o precisa a accommodaeào des-
te gentio,* urna vez q u o se d e l i b c r o u a p r o e n r a r - n o s , pois
só estaudo elle d e paz se podérà c o n s e g u i r o per feito f i r n
della, assim para se poder r a n d a r s e r t a n e j a n d o c o m menos
perigo, c o n i o até p o r ser mais facil, t o r n a n d o delle l i n g u a ,
o c o n b e c i m e n t o dos lugarcs onde existem as minas: p o -
r é m corno o q u e possuia, l u d o l e n h o g a s l o nesta descober*
la*, V. M. perà sobre este genJilisino o s o l h o s d a s u a pieda-
d c , fazendo pelo m o d o q n e lhe pareeer mais acertado, p a -
ra q u e se consiga r e d u z i l - o a lé c a t h o l i c a , e q u a n d o seja
d i g u o d e a l g u m p r e m i o o meu servico, p o n h a V. M. t a m -
b e m nelle os o l h o s d e sua real graudesa , especialniente
)embrando-se destes pobres q u e me acompanhào, q u e c o m
tào e v i d e n t e perigo d e vida estao s e r v i n d o a V, M., p a r a
q n e sirva esse p r e m i o d e e s t i m u l o a todos os mais, q u e se
queirào a v e n t u r a r a semelhanles t r a b a l h o s , q u e só assim
se poderaò p a l e n l e a r os r e c o n d i t o s desertos destes sertòes
eexlrai'rein-se as riquesas imnaensus, q u e nclles se occultào.
DÀ PROVINCIA DA. BAHIA. 115

Algumas promocòes tenho feito de officiaes, e ror<o as


qneira c o n f i r m a r , p o r q u e sem elles sereni conrentes c o m
as suas patentes, t a m b e m nada se pode conseguir, pois sào
as pessoas mais capazes, e q u e mais me t e m a j u d a d o nes-
ta c o n q u i s t a ; e apesar de vie para ella c o m r e g i m e n t o , q u e
m e deo o vice-rei do estado, c o m t u d o pelos casos e o c -
casiòes e m q u e me v i , m e m o s t r o u a experiencia q u e m u i -
tas o u t r a s cousas nào forào nelle a c a u l e l a d a s , e porisso
t a m b e m rogo a V. M. se digne sobre este objeeto d a r - m e
as suas rcaes ordens, especialmente sobre os desertores, e
seus castigos. E u p r o t e s t o (indarest.i c o n q u i s t a , c o m o a u -
x i l i o q u e V. M. f o r servido m a n d a r dar-me, p a r a des<'nga-
nar-me das riquezas q u e della sepublicàò, e os mesmos
gentios dào p o r certa^ p o r q u e aleni de dì/erem ha p o r di -
versa» partes o u r o , dào t a m b e m noticia de un» m e t a l beali-
-co c r a v a d o e m p e d r a , e q u e riessa p a r t e o n d e o ha, se acha
feitoria antiga dos brancos, e m q u e estiverao varios artì-
ficios de ferro. Sào aquella» mata» peru-itissimas p a r a t o -
d o o uso d e plantneoes, e para grandissimo» engenhos, d e
assucar, corno t a m b e m para se fazerem fabricas de m a d e i -
ras para construceào de oavios, pela m i l i t a q u a n t i d a d e q u e
dellas h a d e lei p a r a esse f i r n , e pela facilidade q u e ha, co-
rno diz o mesmo gentio, para a conduceào dellas para a
costa do m a r , p o r é m c o n i a diflìculdade, q u e t e m unica-
m e n t e de u m grande salto do r i o j u n t o à pancada d o mar.
F i c o esperando o s o c c o r r o , q u e n o v a m e n l e t e n h o pedì-
d o ao vice-rei d o estado, e, logcj q u e o o b t c n h a , c o n t i n u a -
r e i na d i t a c o n q u i s t a c o m aquelie zelo e bons desejos,
q u e m e animào n o servico d e V. M., d e q u e m esperamos
todos os empregados o p r e m i o q u e p o r elle morecerem,
Minas d o Arassuahy a 38 de j u l h o . d e 1734.»
Estabelccida a capitacào nesta p r o v i n c i a , p r o d u z i o a das
m i n a s d e Jacobina nos p r i m e i r o s q u a t r o mezes, m i l novecen*
tas e secenta q u a t r o e meia oitavas, e q u a t r o gràos de o u r o ,
l i v r e d e t o d a a despesa, q u e r e g u l a r m e n t c andava p o r u n i
terco da receita, e a d o I l i o das contas tres m i l seiscentas e
uOventa urna oitavas; e c o m q u a n t o a t e r r i c c i sécca e e p i -
d e m i a , q u e eniào desolavào as Minas-novas fìzessem so-
br'estar e m t a l c o b r a n c a , c o m t u d o a seguintc resenha,
feita a vista dos assento» e livros até 4750, m o s t r a o exces-
si vo r e n d i m e n t o q u e se arrecadou e m o u r o e m pò, i u g u -
l a n d o cada oitava a i ,200 réis.
r
MKMOIUAS TUSTORlCAS, E F 0 L W I C A S

AH NOS. HES DIMENTO. AH NOS. B EM1>1ME*T0. A \ \(]•. BENOIitUNTO.

1742' S6;93SpQ0 1747 44.75fìS°l^


Ì74o SS: iOO^OOO 1748 40:989J600
1759 oH:fi80jjOOO 174i 29:980§000 1749 58J9SSJ45D
1740 4^:5(10^000 \1W 5«:050#000 1750 40;(i.»-2S80(> r

1741 4l;a00g()00 1746 57 540£JU90


:

Total , , . fi20:80tìJ[ó8S
fc

INào foi porém d i u t u r n a a duracào deste systema, instau-


rando-se por alvarà de 3 de dezembro de 4750 o metodo
apresentado pelos miueiros, em 24 de marco de 1734, ao
conde das Galvèas (40).
Abrio-sc pois novamenle a casa de fundicào de Jacobi-
na em 27 de juriho de 4751, e comecou no dia seguiate
e m seus traballips, debaixo da inspcceào do d o u t o r L i l i a
de l a v o r a Preto, mas foi logo sensi ve 1 a ditìereiica do ren-
dimento dos quintos, porquanto de 21 de agosto, em que
se p r i n c i p i m i a cobranca, havendo-se concedido aos miuei-
ros vinte dias iivres de tal imposto, até o firn desse anno,
apenas se fu udirà o vinte duas barras de ouro, q u e p r o d n z i -
raò trescntas e duas oitavas cincoenta seis gràos e tres quar-
to» de senhoriagem, dando a escovilha cento e vinte nove
oitavas (43). Com a nova a bei t u r a dessa casa, cessoli a que

(40) S.ìo old ito dignas de considerarlo as palavras dopren.nbulo dessa lei—
E u d r e i fìieo salici- aos quo este al vara c o m forca de lei v i r e m , q u e t e n d o
c o n s i d e r i t e l o às repeiidas s u p p l i c a s , c o m q n e os povos de Minas-geraes me t e m
representii do, q u e em se c o b r a r p u r c a p i i a c a o o d i i e i t o seu b o r i a i dos q u i n t o s
recebem midestià e véxaeaó, c o n t r a r i a s ;is pias intcncòes, c o n i que el-rei m e u
senhor e p . i i , q u e saula g l o r i a haj»i, ho u v e p o r bem p e r n i i l i i r aquelte me-
t o d o de cobranca, eui ra/.àu de lite haver sido p r o p o s t o CONIO O mais suave: e
desej.mdo nào so a l l i v i a r os r e f e r i dos povos na affliccào q u e me represeutarào,
r e n i o v e n d o delles t u d o o q u e pòde causur-lhes oppressilo, mas t a m b e m soc. o r -
rel-os ao mesmo tempo de s o r t e , que experìuieulem os effeitos da m i n h a real
beuìgnidade, do p a t e r n a ! a m o r , com q u e «Ilio p a r a o bem c o m m u m dos meus
lìeis Vassallos, e do dezejo q u e t e n b o de fazer mercé aos q u e c o n c o r r e m c o n i os
Seus fructuosos t r a b a l b o s , para a u t i l i d a d e publìca do meo r e i n o , sendo e n t r e
os b e n c m e r i t o s delle dignos de urna distincta attencào os q u e se euipregào c u t
c u l t i v a r , e f e r i i lisa r as reteridas minas: f u i s e r v i d o etc.
(f i) C o n s l i t u i d o territorio de minas o de Jacobina, c r i o u i o g o o g o v e m a d o r
t

conde de S a l u i f o s a a alfandega de p o r t o s tcccos, o u contagem , a ex c u i pio das


p r o v i n c i a s de Minas-geraes, Goiac, e Mato-gcusso. F o i 0 p r i m e i r o a r r e m a t a n t e
DA PROVINCIA DA 15 A H I A . 4i7

se aehava criada em Minas-novas, mas determinoH depois


a provisào de 15 de fevereiro de 1 7 5 2 q u e ella so estabeìc-
cesse e m Arassuahy, onde seria l u n d i d o o o u r o de J a c o b i -
n a e R i o das contas, para a h i pagar os q u i n t o s , e p o n d e -
r a n d o o intendente geral os inconvenientes q u e resultariào
dessa transferencia, b e m corno os i n c o m m o d o s q u e assim
sofFreriào os povos, ordenou-se e m o u l r a provisào de 15
de fevereiro de 1755, expcdida pelo c o n s e l h o u l t r a m a r i n o ,
q u e t o d o o o u r o exlrai'do daqueltes lugares viesse r e m e t *
l i d o para a casa da m o e d a desta c a p i t a l , a c o m p a n h a d o de
guias dos d i v e r s o * jui/es locaes, ante q u e m os eonductores
prestariào fianca à sua apresentacào para o pagamento dos
respeclivos q u i n t o s , r e s u l t a n d o desse r e n d i m e n t o , c a b r a r
d o no anno s c g u i n l c na mesma casa, 1 2 4 2 7 oitavas de o u - ;

r o , q u e forào enviadas para Lisboa na p r i m e i r a frota q u e


p a r a ali seguio.
Lssa m e d i da p o r c a i q u e p o r u m lado parecìa obviar a
certos ineon venien tes, abria p o r o u t r o a p o r t a aos descami-
nhos, c e n t r a os quaes forào i n u t e i s as providencias d o go-
v e m a d o r , mediante o estabelecimento de dìiferentes preste-
dios, o u destacamentos niilitares, compostos do u m i n t e -
r i o r , u m cabo, e dez soldados c o m a n d a d o s p o r u m officiai
s u b a l t e r n o , na Cachoeira, S. Pedro d o m o n t e , Coca!, e
Sa p u caia, c o n i seu fiscal* cada o m dos quaes pereebia o
s y b s i d i o a n i m a i de .180.^ rs., por isso q n e desta p r o v i d e u -
cia apenas r e s u l t a r l o despesas à fasenda p u b l i c a , e grava*
mes aos p a r t i c u l a r e s ( 4 2 j .

desses direitos ante o congelilo oltramarino, por termo lavrado aos 3 de outu-
bro de 1749, Joao Alves V i e i r a , mas antes dessa arrematacào havia 0 vice-rei
d e t e r m i uado a cobraoca de laes direitòs, cujo p r i m e i r o r e n d i i n e u l o , e u v i u d o
p a r a L i s b o a em de maio de 1729* f o i de t,àoo oilavas de o u r o . A seguuda
arrematacào d o t r i e n n i o , q u e p r i n c i p i a v a no i.° de j a n e i r o de 1754» f o i feita
p o r José B e r n a r d i n o e F e l i p p c R o d r i g u e s p o r i:oio;$>uoo rs. cada anno.
(43) K m a i de agosto de i j 5 6 p e d i o a camara de Cachoeira, q u e fossetti deso-
nerados os seus m u n i c i p e s d o gravame a q u e erào sujeitos, de dar q n a r t e l aos
destacamentos exìstenies n o sen t e r m o , o d°a v i l l a , o r a cidade, e o de S. Pedro
d o monte, o u M o r i l i b n : mas, sem q u e a provisào d e 3 de j u n h o de i 7 7 a
defi-
risse a t a l supplica, j a o g o v e m a d o r haVia-os a b o l i d o , convenendo de sua ìnuti-
l i d a d e , conservando porém os o u t r o s , e os fiscaes, que, sem vencer ©rdenado,
existiào em S. Amaro, Pojuca, e Boqueirào. Pelo c i t a d o alvara de 3 de dezèin-
faro de t 7 5 o devia haver urna casa de fundicào em cada urna das coma rea*; e
em 4 d e m a r c o de 1731 deo-se regimento às intcndencias c e a s a s d e fuudicao,
118 MEMORIAS H1ST0RICAS, E POMTICAS

. T i n h a sido o b j e c l o de p a r t i c u l a r soUicitude das autori**


dades de Minas-geraes a encorporacao a essa p r o v i n c i a d o
d i s t r i c t o das Minas-novas d o Arassuahy, c e n t r a o q u e
constantemente se declaravào os o u v i d o r e s da extensa c o -
marea d e Jacobina, d a q u a l ellas faziào p a r t e ; mas preva-
lecerào as consideracòes d e u t i l i d a d e às caprichosas contes-
tacòes desses magistrados, determinando-se a s e p a r a l o
p r e t e u d i d a , p o r decreto de 1 0 de m a i o de 1757, q u e leve
respeito a d i s l a r e m as mesinas Minas-novas q u a r e n t a l e -
guas d o Serro d o f r i o , q u a n d o ficavàoa mais de d u s e n t a s d a
c a p i t a l desta p r o v i n c i a , e ao a p p a r e c i m e n t o d e d i a m a n t e s
ero circuìaeào, sem sereni c i r j t t i d o s pelo respeclivo c o n -
t r a t o (43): c o m t u d o continuarào ainda aqnellas contesta-
còes, e foi necessario para t e r m i n a r e m q u e se expedissc ao
v i c e - r e i , e m 2 0 d e agosto de 1 7 0 0 a provisào s e g u i t i l e —
»D. José p o r g r a t a de Deos & c . Faco saber a vós m a r -
q u e z d o L a v r a d i o , vice-rei eie. , q u e o vice-rei vosso ante-

ntfandadas erigir novamenle no Brasil, até qne as ile Minas-geraes, e S, Paulo


lòrao abolidaa p o r al vara de i 3 d e maio d e i 8 o 3 art. 5, §§ 2 e 3 , b e m conio
u f l i m a m e n l c o forào todas as i n t r n d e u c i a s d o o u r o , e suas commissariati e m
Minas-geraes, C o i a z , e Mato-grosso p e l o a r t . »3 da l e i d e sa de o u t u b r o d e
i 8 3 a . q u e i g u a l m e n t e e x t i n g u i o a intendenoia dos diamantes. .
U'i). Francisco F e r r e i r a d a S i l v a , e o sargento-mór Joào Fernandes d e O l i -
v e i r a forào os p r i m e i r o s q u e arrematarào esse c o n t r a t o em 1735, p o r trezen-
tos m i l crusados cada anno até 1739, sem q u e podessem i r a b a l b a r com mais
d e seiscentos escravos, c o n t r a 0 que porém elevarào a mais d e q u a t r o m i l esse
n u m e r o , pagando i 3 8 : o o o ^ o o o d e r s . annuaes até 1748, cui v i r t u d e d e novos
contratos, Seguio-se-lhes em janeiro 'do a n n o i m m e d i a t o o segundo c o n t r a t a d o r
r

F e l i s b e r t o Caldeira B r a n i , c u j o contrato f o i d e q u a t r o annos, p e i mittinda-se-


)he empregar dusentos escravos, de seiscentos q u e devia t e r e m laboracào, n a
extracào diamantina d o R i o - c l a r o , e R i o dos pilòes, n a p r o v i n c i a d e Ooiaz, q u e
f o i abandonada p o r nào c o r r e s p o n d e r a sua espectativa. L i i c r o u consideraveis
riquesas este c e m r a l a d o r , mas p o r desinancbos que houverào t e n n i n o u des-
gracadamente , proseguindo aquelle Joào Fernandes d e O l i v e i r a nesse mesmo
c o n t r a t o , desde j a n e i r o d e i"5ì até de2embro de 1771 em q u e falicceo, pas-
sando n o * de j a n e i r o d o a n n o seguirne essa arrecadacào p o r conta da fasen-
0

<ia p u b l i c a , ein v i r t u d e d o decreto d e 12 d e j u l h o d e 1771, q u e estabeleceo a


d i r e c i o r i a rcspe'ctiva, composta d o t e s o u r c i r o - u i o r , e escrivào d a mesa d o era-
rio d e Lisboa, e d o contador geral da e o n t a d o r i a d o U i o d e J a n e i r o , sub a ins-
peccào d o presidente d o mesmo t r i b u n a l , e de tres caixas n o Serro d o f r i o , os
quaes com o i n t e n d e n t e geral formavào a j u n t a a d m i n i s t r a t i v a - Podiào os c o n -
t r a t a d o r e s vender a quem quizessem seus diamantes, scudo apenas reservados a
'asetida os d e ao quilates p a r a cima.
DA PROVINCIA DA RAIIIA. 4 39

cessor me deo conta, em carta de 47 de maio de 1758, de


q n e sendo e u s e r v i d o , p o r m e u real decreto de 10 de m a i o
d o a n n o antecedente, m a n d a r separar desse g o v e r n o as M i -
nas-novas d o Fanado, e q u e fosscm uni das c o m as t r o p a s ,
q u e nellas se achào, a c o m a r c a d o Serro d o f r i o , e g o v e r n o
de Minas-geraes, a q u o antecedentemente pertenciào, e am-
p l i a r a jurisdiccào d o i n t e n d e n t e geral dos diamantes, p a r a
q u e nellas i g u a l m e n t e a exercesse, nào obstante as o r -
dens, q u e livessem havido e m c o n t r a r i o ; o o u v i d o r da co-
m a r c a d o Serro d o f r i o , p o u c o depois de haver r e c e b i -
d o a o r d e m , q u e se lhe expedira pelo m e u conselho u l t r a -
m a r i n o , na c o n f o r m i d a d e d o d i t o decreto, passera as ditas
minas do Fanado, onde nào so c o r n o c o r r e g e d o r ahi ira
correicào, mas exercitàra toda a q u e l l a jurisdiccào,, q u e é
p e r m i t t i d a aos provedorcs dos d e f u n t o s e auzentes, o q n e
aquelles povos de n e n h u m a maneira l h e encontrarào: q u e
passado a l g u m t e m p o l h e escreverào a elle vice-rei os ofìi-
ciaes da camara das mesmas Minas , r e p r e s c n t a n d o - l h e
q u e acabada a correicào, q u e naquella villa t i n h a feito o
o u v i d o r d o Serro d o f r i o , e tendo-se r e c o l h i d o ù Villa d o
p r i n c i p e , poucos dias depois Ihes havia sido c n t r e g u e urna
c a r t a , u m e d i t a i , e urna o r d e m d o o u v i d o r de Jacobina,
e m q u e os persuadia l e r - l h e o o u v i d o r do Serro d o Trio
u s n r p a d o a sua jurisdiccào, m o t i v o p o r q u e Ihes ordenava
fìzessem p u b l i c a r aquelle e d i t a i , e m q u e i n t i m a v a a todos
aquelles moradores ser elle l e g i t i m o o u v i d o r d a q u e l l a co-
m a r c a , a q u e m deviào obedecej, e nào se enlender a m i -
n h a o r d e m , p e l o q u e pertencia à justica; q u e ( u n t a m e n t e
recebèra carta d o o u v i d o r d o Serro d o f r i o , e m q u e l h e
dava conta, q u e fasendo aviso ao o u v i d o r de Jacobina da
resolucào q u e havia tornado, depois da publicacào d o d i -
t o d e c r e t o , de d e f e r i r aos r e q u e r i m e n t o s q u e l h e forào da»
q u e l l a v i l l a , e i r a ella e m correicào, onde t a m b e m deixà*
ra as ordens, q u o l h e parecerào convenientes corno inten-
d e n t e d o o u r o , o d i t o o u v i d o r m a n d a r a passar urna o r -
d e m c o m u m e d i t a i , p a r a q u e os officiaes da dita camara
procedessem c o u l r a elle o u v i d o r d o Serro d o f r i o pelos
meios de d i r e i t o , ao q u e nào derào c u m p r i m e n t o . E sen-
do-me presente a r e f e n d a conta, e a q u e t a m b e m me deo
o o u v i d o r d o S e r r o d o f r i o , vendo j u n t a m e n t e o q u e so-
b r e està materia me representurào os officiaes da d i t a ca-
MEMORIAS HISTORICASJ E POLITICAS

mara, e o que responderào sobre tudo os procuradores d a


minha fascnda e corèa; sou servido, p o r minha real reso-
lucào de 26 do corrente mcz e anno, lomada em consulta
do meu conselho ultramarino, ordenar-vos repreendaes
nessa rclacào da Hahia o ouvidor de Jacobina, qne depois
da posse justamenle tomada na con formi da de das minhas
reaes ordens, pelo ouvidor do Serro do frio, cxpedio o at-
tentado, e scdicioso editai que deo motivo a este confliclo
de jurisdiccào, pretextaudo com as imcompelcntes interpre-
tacòes, que o mesmo ouvidor de Jacobina se animou a dar
ao meu real decreto, depois de haver sido exeeutado: e o u -
t r o sim vos ordeno, que na conformidade do mesmo de-
creto facaes restituir ao sobredito ouvidor de Jacobina t o -
dos os sallarios, que indevidamente recebeo das nullascor-
reieòes, que fez depois da posse, que havia tornado o do
Serro do frio, a quem tocào, e hoi por bem dcciarar que
loda a jurisdiccào das referidas minas do Fanado fica per-
tencendo à comarca do Serro do frio, e ao governo de M i -
nas-geraes, sem a distinceào de militar e civil, quenàofize-
rào as minhas ditas ordens. & c >
E m consequencia de tal desmemhrac.ào, limitào-se as
Minas-novas d o Arassuahy com està provincia, e com a co*
marca do Serro do f r i o ao norie, pelo Rio-verde, e Ca-
choeirinha, dividindo-as o caminho que vai do Rio-pardo
à povoacào de S. Felix, fronteira à cidade da Cachoeira,
nas verfentes desse r i o pela fasenda denorainada Curralinho:
a leste com os sertòes ainda habitados de tribus selvagens;
ao oeste com a comarca do Sahara, pelo I l i o de S. Fran-
cisco, e parte do Rio das velhas, e ao sul com a mesma co-
marca do Sabarà. Dislào da cidade de Marianna ao nordeste
secenta tres legoas; de Sabarà, qo mesmo rumo, secenta;
da Villa d o principe, ao nornoroeste, trinta seis, e do Rio
de Janeiro cento e trinta seis. Termina© tambem ao norte
com as comarcas d o Urubù e Rio das contas; com a Villa
do principe ao sul, com a mala geral a leste, e c o m o dis-
tricto da Barra a oeste, chegando sua populacào a 27,000
habitantes (Au).
Essa desmembraeào porém nào obstou a continuar-se
na exploracào dos terrenos auriferos em Jacobina, em c u j o

(44) Pisarr. Mem. Hist, cit, toni. 8, part. %.


DA PROVINCIA DA B A H I A . !2t

districto, no morrò denominndo Palmar, dcscobrio Romào


Gru m a c h o Falcào ricas béfas do o u r o , na extraccào d o
q u a l c o m c c o u c u i o d i a 2 6 de j u l h o de 1 7 5 5 , constrtiirìdo
p a r a isso u r n a m i n a de 4 8 0 p a l m o s de cxtensào, c o m G0 de
p r o f u n d i d a d e , c o n f o r m e o p a r t i c i p o u ao g o v e m a d o r e m 25
de j a n e i r o d o a n n o sego i o l e , m i n a essa, q u e sondo a p r i -
m c i r a até ali ferra naquollo c o n t i n e n t e , desvaneceo os rea-
p e c l i v o s m i n c i r o s d o p r e j u i s o e m q u e està viso de nao pas-
sar o o u r o d a superfìcie da terra.
T a m b e m se d e s e o b r i r a o e m J a c o b i n i , n o sobredito a n -
n o de t 7 5 5 . a l g u n s diamantes e m urna c h a p a d a , q u e faz
v e r t e n t e para o r i o Baiata grande, no meio d o c o m p r i m e n t o
da serra para a p a r t e de Teste, u m dos quaes, de peso de on-
zc gràos, foi enviado p e l o respectivo o u v i d o r Joaquìuì Perei-
r a de A n d r a d e ao m i n i s t r o e secretano de estado m a r q u e z
de P q m b a i ; mas o b s t o u p o r a l g u m a f o r m a ao progresso
dos descobrimentos desse e o u t r o s minoraes, a provisào de
10 de j i i n h o de 1756, pula q u a l foi d e t e r m i n a d o se sobresU-
vesse e m laes exploraeòes, p r i n c i p a i m e n t o naquelSas p a i tes,
e m q u e fosse facil aos i n i m i g o s d o estado o aproximarem-se,
quaes erào as da serra de l l a b a i a n a , o n d e acabava de
achar-se, o u r o . e até pelo p r i n c i p i o de q u e os geueros de
p r i m e i r a necessidade podiào f a l l a r , applicando-se os p o -
vos ao t r a b a l l i o da mineracào, e despresando a c u l t u r a de
ma n d loca, tabaco, e assucar, q u e forneeia maiores vanta»
gens, c o n c i n i t i d o q n e nessa c o n f o r m i d a d e mandasse o go-
v e m a d o r a t u p i r os socavòes daquellas minas ( 4 5 ) .

(45) O augmento de loda a quantidade de mercadorias necessaria* as pre-


cisòes, o u u t i l ao s e r v i l o d o homem, di/, o c e l e b r e iìulTon, é certamente u n i
bem; mas o a u g m e n t o d o metal representativo dos v a l o r e * dessas mercadorias
nao p r o d u z senào males, p o r isso que r e d u z a nada o v a l o r d o mesmo metal
e m todos os paizes, e povos q u e se l e m deixado sobearregar p o r i m p o r t acoes
estrangeiras. T a n t o c o n v i r i a e n c o r g a r a pesquisa e trabalhos d*s minas de oia-
lerias combustiveis, e o u t r o s mineraes tào ut vis as a r l e s , e ao bem da socie-
dade , q u a n t o .seria acertado fazer feehnr todas as de o u r o p r a l a , e deixar
(

c o n s u m i r gradii. Intente estas massas, m u i t o eaormes, sob as quaes eròio csma-


gados uossos cofres, sem q u e Scjamos mais r i c o s o u mais felisea. (Oeuvr. com-
piet, tom. 7.J
Esla passagem do sabio naturalista, q n e todavia nào póde ser applicada gè-
n e r i c a m e n t e ao Brasil, faz. r e c o r d a r o a p o t e g m a d o imperador da China T c l i i n g -
t s o u , r e f e r i d o pelo ahbade Cresci er , Description generale de la Chine tom,
1. pag. 386, q u a n d o o r d e n o u se Tediasse urna m i n a de pedras preciosas, aher-
TOMO V. 17
MEMOllTAS IIlSTOrVlCaS, E POUTICA9

K m u m t e m p o porém e m q u e a falla de c o n h c c i m e n t o 3
da verdadeira r c o n o m i a , apenas r e p u t a v a i m p o r l a n t e s os
t r a b a l h o s da mineracào, e q u a n d o os povos d o i n t e r i o r os-
ta vào h a b i t u a d o s à faci! a c q u i s i r l o de suas r i q u e s a s , é
obvìo o conhecer-se q u e a citada provisào careseria de t e r
a execueào necessaria, corno aconleceo, pois q u e n u n c a d e -
sisti» ào os exploratlores de c o n t i n u a r e m novas descobertas»
até q u e arre fecondo a q u e l l e zelo dos Paulistas, os quaes
segundo se ha m o s l r a d o , erào os q u e mais se entregavào
c o m a r d o r a essas diligencias. e f a l l a n d o aos m i u e i r o s as
forcas necessai ias para c o n t i n u a r e m na extraeeào d o o u r o ,
q u e ja era d i f f i d i de cnconlrar-se à s u p e r f i c i e da t e n a , f o -
rào g r a d u a l m e n t e abandonando-as, e cntregando-se à l a -
v o u r a , sendo m u i t o p o u c o s os q u e e m Jacobina e R i o das
c o n t a s continuarào nesse l a b o r a t o r i o .
l i r a apenas conhecida a existencia d o o u r o n o t e r r i t o r i o
da m a r g o n i o r i e n t a i d o R i o de S. F r a n c i s c o , mas e m 1 7 9 1
verificou-se havel-o t a m b e m no l a d o o p p o s t o , nas a d j a c e n -
cias d o R i o das eguas, q u e naquelle c o n f l u e q u a r e n t a l e -
guas abaixo da villa de C a r i o h a n h a ; e p o r sor a l g u m t a n t o
historica essa descoberta, descrevel-a-ei t r a n s c r e v e n d o a
parlieipacào, q u e p o r tal m o t i v o d i r i g i o à raiuha. o o u v i -
d o r da c o m a r c a de Jacobina Joào Manuel P e i x o t o d e
Araujo
" S e n h o r n — I N o a n n o de 9 1 eslaudo e u e m correicào na
v i l l a do R i o das contas, m e r e q u e i e o Francisco José T e i x e i -
ra, m o r a d o r n o t e r m o da d i t a villa, o r d e m para socavar, e
a v e r i g u a r se havia o u r o c<fm conta nos geraes d o R i o da3
eguas, e r e c o l h e n d o - n i e pela villa do U r u b ù molesto p a -
ra csìa, n o (ini d o m e s m o a n n o me apresentou elle a h i
m e n o s de meia oitava de b o i n o u r o , q u e disse era o u n i c o
i r n e lo de sua averiguacào, do q u e poreatào nào p o d i a d a r
inforrnacào, mas q u e i a à sua casa, e e m m e l h o r t e m p o
havia de t o r n a r à tental-a.
Reeoilìi-ine p a i a està siila g r a v i s s i m a m e n t e m o l e s t o , e
c o m licenca d o g e v e r n o passei à cidade da Bahia a t r a t a r -
me, e a h i nos u l t i t n o s mezes de 9'2 recebi delie as d u a s

ta p o r um par!Ìc»)ar no eomeco do secolo X V . » Os trabalhos ìmiteis dào nas*


cimento a este/Hidade, e urna mina de pedrasprect'osas nao produe gràos, » Hoje po
rém ha menos escrupulo, e os Chineies ftuein grande commercio em ouro.
DA PROVINCIA DA BAHIA 423

cartas, que fazem os numeros primeiro e segundo (46) a


que nào respondi por estar fora da comarca. U aquelìa c i -
dade vhu com alguma mclhora para esla villa no l i n i de

(4<>) Senhor d o u t o r o u v i d o r geral da comarca Joao M a n o e l P e i x o t o de A r a u j o ,


P a r t e c i p a a V. MI. que o tempo de m i n h a licenca para socavar o K i o das
eguas fìndou a qnulorfce d o c o r r e n t e : t e n h o socavndo as margens d o K i o das
eguas obra de ties leguas, e t o d o mostra p i n t a geral da superficie da t e r r a
até 0 cascaiho, que j o l g o darà meia oitava p o r seis q u a i t o s p o r scmana: nào
t e n h o exaiiiin.ado o m e i o d o r i o , pela rasao de que elle é caudaloso, e ainda
nào l e m haixado ao seu n a t u r a i , porém fico corcando utadeiras, e condir/.in-
do-as paia a beìra do d i t o r i o , a fazer c e r c o para o v i r a r , e n o meio delle fa-
zer o exame de q u e se necessita, de sorte que cai-eco para m e l h o r a v e i i g u a -
cào fazer o u t r o s cereos, p;tra a i n f i m a averiguacào, distantes uns dos outros,
e corno isto carece de l e v a i t e m p o , e pela \ontade q n e tenho da b r e v i d a d e ,
t e n h o feito alguns gas'os, e p o n t o t e n h o t i r a d o , e te ubo botado d « pessoas
em b;<udrira para me d* scotirircin alguma grandesa, pela grande fama que ha
dos P;,uli>tas de nm batata!, onde elles tìrarào m u i t o o u r o , p o r isso r e c o r r o a
V n i - para me conceder mais meio anno de licenca, p a r a poder d a r final exa-
me de t o d o o necessario, e fico esperando as ordens de V. m. para as execu-
tar conio devo. Deos guarde a V. ira. p o r m u i t o s annos. R i o das eguas e de
j u l h o ifì de 1793. — De V , m. o mais h u m i l d c e attento c r i a d o , Francisco
José Teìxeira.
Senhor d o u t o r Joào M a n o e l P e i x o t o de A r a u j o . — S a i h n V . n i . q u o vini a
este R i o das eguas socavar p o r ordem de V. n i . , e fa/cndu eu a d i l i g e n d o
l o d a , c o n i o devia, nào tenho fello quasi nada p o r me ach-r sò com u m ne-
gro q u e t r o u x e c o m i g o , e p o r isso està a i n d a a campanba quasi l o d a por des-
e o b r i r ; e u t e n h o feito alguns huraens no* matos, e beiradas do d i t o R i o das
eguas, e p'ouco o u r o leu ho a c h a d o , e so c o m agua p o r cima te in j o r o a e s d e
meia ottava e tres q n a r t o s , e t a m b e m em parte de oitava, e no veio d'agua j u l -
go nao t c r a ba leu das d e q u a t r o vintens, po"l- q u a n t o p e d o do meio duas braca?
p o u c o mais o u menos se t e m t i r a d o em geral bateadas de v i n l e m de o u r o , isto
é, de m e r g u l h o , e c o m ò eu vcjo que o r i o t e m o u r o , t r a l c i de d a r uni cérco
n o r i o para i i i c l l i o r , e coni mais certesa d a r p a r t e a V. in., e j a no me* ile j u -
lho d e i parte a V, ih. de q u e ficara c e n a n d o m a d e i r a para cercar o r i o , corno
cerquei; mas antes de t i r a r rascalho, veio o d i t o r i o c o m tal enchente, que le-
vo n l u d o p o r ser j a tarde, e me d e i x o u só na esperanca de mineiro: e u nào sua
o mesmo p o r t a d o r p o r estar molesto de urna paratesi» nas p c r n a s , e nào "poder
m o n t a r a cavallo. J a V . m. sabe que q u a n d o l h e l e v e i o o u r o d o niauifésto a v i l -
la do U r u b ù , l h e disse que o reverendo p a d r e V i c t o r i a n o me dissera, que elle
t i n h a tres oitavas de o u r o para o dar a V. m. de manifesto: agora se q u e r elle
apossar de q u e o descoberto l h e p e r i e n c e , sendo q u e elle q u a n d o v e i o a esie
l u g a r , j a V. m. me t i n h a mantlado passar a portaria dous mezes antes, c e l l e
a g o r a d i z qne j a mandou p a r a P e r n a m b u c o a* buscar urna p o r t a r i a do gover-
n a d u r para o tornar p o r carta de data, e u m seu amigo p o r guarda-inòr d o d i i o
lugar; e sendo q u e V. m. é que l e m t o d o o p o d e r no d i t o l u g a r , nào sei corno
MEMORIAS H1ST0RICAS, E P O L I T I C A S

j a n e i r o do 9 3 , e ostando a q u i e m i n a r c o d o m e s m o a n n o ,
me disse, u m religioso esmoler da o r d e m de S F r a n c i s c o ,
q u e passando j u n t o daquelle silio t i v e i a n o t i c i a , q u e nelle
andavao laiscando f u r t i v a m e n t e algumas pessoas, e neste
m e s m o t e m p o me r e q u e r e o Francisco L a m b e r t o da ( l o s l a
JUcamy Ferreira o r d e m p a r a o socavar, e averiguar , a
q u a l l h e concedi para p o r este m e i o p b l e r a verdade, q u e
de o u l r a f o r m a nào podia alcane.ir, p o r maiores diligencias
q u e h'zesse, de todas q u a n t a s pessoas passavào d a q u e l l a s
visinhàncas. CSesla inccrtesa, e p o r q u e o t e m p o e cheias d o
R i o <le 8. Francisco, c o m as carneiradas iufalliveis e m seme-
I h a n t e eslaoào e m todas as suas visinhàncas, me nào davào
l u g a r a passar, e as mesmas carneiradas erào e m m i n i t a n -
t o mais"perigosas, q u a n t o e u padeciii a i n d a de molestia,
o c c u l t a n d o està de a l g u m a f o r m a , ex p e d i a o r d e m n.° 3
(47) ao j u i z o r d i n a r i o da \ i l l a d a b a r r a , a c u j o d i s t r i c t o

p o d e r i o governati or m a n d a r no q n e nao é (la sua jurisdiccào: e u espero e m


'V. ni. nào deixarà de m a n d a r o q u e f o r de seu a gradò. A q u i fico s e m p r e
p r o m p t o para o seu s e r v i c o , porém peco a V. m. q u e mande para ca un» so-
cavador, e dous examiuadorcs, c un» pode ser o saigento-mòr Felix R i h e i r o de
K o v a e s , e s f i i m a n o o capilào Kstevào R i b e i r o de Novaes, q u e ambos sào m i -
n e i r o s de fabrica m a i o r ; e de juiso e e x p e r i e n c i a nolavel para o d i t o o u r o : es-
l e é o meo pareeer, e farà V. in. o q u e f o r «ervidu. E s t i m a r c i q n e V. m. l o g r e
l)oa saude para d i s p 6 r da m i n b a v o n t a d e , q u e (oda a sacriti co ao seu servico.
Deos a V. ni» guarde p o r ntuilus annos a6 de n o v e m b r o de t?y» e i e . — Fran-
cisco José Teìxeìra.
(47) O D o u t o r Joào M a n o e l P e i x o t o de A r a u j o , d o dezembargo de S. M. f i -
delissima, q u e Deos g u a r d e , seu o u v i d o r g e r a l e c o n e g e d o r desta comarca da
Bahia ere. Faco s^her a V. m. senhor Joào de Castro Guimaràes, j u i z o i d i n a r i o
dessa V i l l a da b a r r a do R i o grande d o s u l , à c u j o d i s t r i c t o p e i l e n c e t n OS rios
das Kguas, F o r m o s o , e A r r o j a t l o , q u e a minha noticia è cliegado, q u e algumas
pessoas se achào faiscando, e t i r a n d o o n r o nas margens, e d e n t r o d«s ditos r i o s ,
som q u e scjào d i s t r i c t o m i n e r a i , n e m ienhào o r d e m deste j u i / o da s n p e r i n t e u -
d e u c i a p a r a o fazerem, sendo t u d o o b r a d o c o n i o f u r t i v a m e n t e e m p r e j u i s o dos
d i r e i l o s de S. M. E p o r q u e t e n d o p r c l e n d i d o a v e r i g u a r esla materia coro a pre<*
cisa circunspeccào de algumas pessoas dessa v i l l a , e suas visinhàncas, q n e l e m
passado nesla v i l l a , me nào tem sido possivel de f o r m a alguma; nào so p o r i g n o -
r a r a verdade das dilas pessoas, mas por e n c o u l r a r nellas d i f l e r c u t e s informacòes,
d i z e n d o a roaior pai te dellas, q u e sito, q u e a h i se t i n h a a n d a d o a faiscar, mas
q u e nào acbavào conta no o u r o , e algumas, m u i t o poucos, q u e em t o d a a p a r t e
110 d i t o d i s t r i c t o , em distancia de tres leguas apparecia o u r o c o m m u l t a grandesa,
e assim mesmo debaixo desta incertesa cstando-mc c u a p r o m p t a n d o p a r a i r ao
d i t o s i t i o , t i v e n o t i c i a da m a i o r enebente q u e tracia o r i o de S. F r a n c i s c o , q u e
DA PROVINCIA DA BAHIA. 125

pertence o refendo, s i t i o , efizd a q n i saie u m soldado d o


destacamento ria real casa d a lundicào dos dragòes de S i i *
nas, para i r a u x i l i a r o j u i z e averiguar o c u l a r m e n t e o d i t o

i l i o sò fàzia peritosa a niinlia passagem em qmtcjuer parte delle, mas me o b r i -


garia a parar e operar, que elle desse lugar a passar com igual risco das car-
neiradas, que sào certas em semcllmntes conjuucturas, por isso demorando a mi-
nha marcila nào sò pela dita causa, uns até esperar melhor iniWinucùo, por ser-
vico de S. M. ordeno a V, n>«, que logo que receber està sem de mora a l l u -
ma, com os of/ieìaese gente que julgar preciso, va ao sobredìtp sitio e averigue
a gente, que ahi anda traballando em o u r o , e a faca logo susponder as ba-
tèas a todo o genero de servico qne estìverem fazendo.; iulimando-lhes assim
debaixo das penas cominadas aos que fazem senielhantes servicos, seni Ihes se-
rem repartidos, e depois disto feito passata V. in. cova algiunas pessoas, que
para isto stellar mais habcìs, a socavar pelos geraes e rios a ver se da ouro, e a
conia que faz, nào passando a dita averiguacào de oìlo dias, e logo que a t i -
ver feito me farà um proprio coni loda a pressa, dando ine parte com indi-
v i d u a l o do que aebar, iùfórmando-me da quantidade de pessoas, pouco mais
ou menos, que achar no dito sitio , e as que calao ao fazer da dita infurmacào.
Se no dito descoherto appareeèrem diamantes, ou houver suspeila ou informa-
cào de que os haja, oit se tenhào tirado, ou se apparecer outra qualidade de pe-
dras preciosas, hi forma r-me-a puntamente quando ebegar, noiiciando o que se
aebar do ouro que se lem tirado, fazendo em todo o que apparecer, ou girar pe-
lo seu districto, confisco na (òrma das ordens de S. M> ; e no dilanio quo està
informacao me vem, e o rio nào der lugar a eu passar, se conservarà V. m. com
os officiaes, e gente precisa nesse districto, vedaudo e proìbindo, que nelle se
tire ouro, ou pedras, ou se faca qualidade de servici» algum minerai, apasiguan-
do os poviis, e mantendo-os na precisa paz e armonia, assegurando-os de que so-
bre a parte que me dcr.s^ndo o servico e descoberto proprio para se trabalhar,
na conformidade das ordens du mesma scuhora, eu ou quem nunhas vezes fizer,
marebo coni loda a brevidade a fazel-o repartir com igualdade, e proporcào
ordenada pela mesma senhura, e a fazer os mais estabelecimentos necessario?
para a boa arrecadacào da reai fasenda, e que entào todos hào de ser accom-
modados e trahalharàò nas datas, que se Ihes concederei)); nào o deveudo fazer
antes, lembrando-lhes as graves culpas em que do contrario incorreiu, de quo
eu devo conhecer com toda a exaclidào logo que ahi ebegar, e nesse caso nao
só Geaiàò essses povos réus de pena, e inliabililados para mais trabalhar, conio i u -
capa«es de podcrem obier graca alguma da mesma senhora. Caso porém nào
aclie ouro ou pedras, se evacae do silio todo o povo que ahi se achar, mas se
nelle nao houver ouro nem pedras. aquelle em conta de min era r, e estas de forma
alguma; neste caso deixando V. m, proibido todo e qualquer servico, e reeom-
meudado da parte de S, M< aos officiaes de j Ostica., vintenarios, quadiilheìros,
visinhos, auxiliares, ordenancas, e capitàes de mato , e mesmo aos donos das
fasendas, que nao consintào , que de forma alguma em qualquer parte se mi-
nore, e do contrario prendào aos que o fUercm, e os conduzào a èadéa da Bar-
ra; e quando seja maior a forca da gente, lhe déem parte para V. m. acudir,"
17*
126 MEMORIAS HISTOIUCAS, E P O U T I C A S

descoberto, coro ordem para que nelle .Beasse, vedando-o


sendo preciso, e me desse parte exacta de tudo quanto achas-
se, em quanto, do modo que me fosse possivel, me ficava
apromptando para a elle marchar, sobre qualquer noticia
que o pedisse, corno c o m elfeito estava prouìpto, e ao juiz
ordenei evacuasse todos, quantos là aehasse, ainda mesmo
munidos c o m ordem para socavar, p o r haverem-na obtido
com obrepcào, esubrepcào. Do juiz recebi a carta n.° k (u8)

e provideuciar, podera retirar-se com a genie que levar, dando-me igualmen-


te p a r t e d o q u e a respeito d e t u d o t i v e r ohrade. Se n o d i t o s i t i o e n c o n t r a r al-
guma pessoa n u m i d a com p o r t a r i a m i n b a para fazer p r o v a s , nào obstante a
d i t a p o r t a r i a , q u e p o r està minila o r d e m b e i p o r dcrrogada e de n e u b u m e f -
f e i t o , a farà igualmente despejar e mais nào t r a b a l h a r , corno se t a l portarla
nào liveSse. P o r q u a n t o ebega igualmente à mìnba n o t i c i a , q u e là se achào a l -
guns ecclesiastico» regulares e s c c u l a i e s , a estes farà V. m. n o t i f i c a r da p a r t e
da inestua senhora, para q u e logo despejem, c mais nào t r a b a l h e m naquclles
sitios, fazendo-lbes i n t i m a r , q u e q u a n d o o c o n t r a r i o lacao, e sejào reheldes à i n -
timacelo, qne da p a r t e d e S. M. se Ihes faz, seraò autoados e presos, para a mes-
ma senhora delles fazer justiea conio lhe c n m p r i r ; e q u a n d o assim o nào exe-
e u l e m , V. m. os farà autoar e p r e n d e r e r e c o l h e r a cad&i da V i l l a da b a r r a ,
e me darà parte, remettendo-me os aulos que de t u d o fizer. O u t r o s i m quan-
do V. m*. ache m u i t o p o v o uos sobreditos s i t i o s , e csie seja rehelde à i n t i -
macào q u e se lhe fizer, o a d v i r t i r a d o m a l q u e para si mesmo p r o c u r a , e das
vanta gens, q u e l h e provém d a desobedicncia J'IS ordens d e sua r e a l inageslade:
e q u a n d o assim levado p o r t e r m o s b r a i i d o s , e suaves senào capacile, p i o c e -
dcra V. m. a anloal-o, e formar-Ihe c u l p a , p r e n d e n d o as pessoas q u e lhe fo-
rem possiveis, e as reclinerà a cadéa dessa v i l l a ; o q u e l u d o V. m cumpri-
r a , e farà c u m p r i r na f o r m a expressada na presente o r d e m , p o r s e r v i l o d e S,
IVI., nào so p o r obrigac.ào d o seu c a r g o , mas ainda p a r t i c o l a r m e n t e covo vas-
sallo da mesma senhora. Dada e passada nesta v i l l a de S. A n t o n i o de J a c o b i n a
aos 7 d e marc i de 1 7 9 5 . — S i l v e r i o Ferreira Salazar, escrivào a subserevi,—Joào
Manoel Peixoto de Araujo.
(.'8) S c u h o r d o u t o r o u v i d o r g e r a l da comarca Joào M a n o e l P e i x o t o d e A r a u j o .
t

F,m observancia da ordem de V. m. f u i ao l u g a r , e sitio chamado o K i o d a s


eguas, e chegando a d i t a p a r a g e m , nella achei tào somente 0 r e v e r e n d o Ana-
c l e t o Pereira dos Santos, d o q u a l n a occasiào presente se achava u m f e i t o r com
dez pessoas e n t r e f o r ras e pativas, t r a b a l h a n d o em u n i servico. q u e u d i t o padre
t i n h a feito n o d i t o I l i o das eguas, q u e era u m b r a c o d o d i t o r i o em urna i l h a ,
q u e fazia n o meio, a q u a l r o m p e o p e l o c e n t r o , e lhe a b r i o o rasgào, e t a p o u o
b r a c o adiante, q u e f a c i l m e n t e d e i t o u agua pela parte da i l h a , e lhe l i c o u sécco
o d i t o braco L o g o q u e ebeguei con» a genie q u e levava c o m i g o , c o m bastante
t r a b a l l i o f u i a o servico onde estava t r a b a l h a n d o o d i t o f e i t o r e a g e n t e , e ìo°o
as botei p a r a fora, e Ihes sospendi as batèas. D'ahi a poucos dias chegou o d i t o
p a d r e , e l o g o q u e tìve a n o t i c i a l a f u i , e mais 0 m e u escrivào e varios homens
D A PROVINCIA DA BAHIA 327

c o m o auto n.° 5, e o soldado voltou, passados quarenta


ou cincoenta dias, dizendo que chegara às margens do
I l i o de S. Francisco, onde, porque achàra muitas molcs-

que me acompnnhavào, ao q u a l p a d r e p e r g u u t e i com q u e llcenca tinha feito


aquelle servico? Respondeo-me q u e dehaixo de urna p o r t a r i a , q u e V. i n . t i n h a
muudado passar a u m Francisco Lamberto, o q u a l , disse o d i t o padre, era seu so-
c i o n a q u t l l e mesmo servico, e q u e a p o r t a r i a e r a mais nova, q u e a minha o r -
dem: q u e soube da era d a o r d e m , p o r e u a t e r mandado l e r ao feitor d e l l e ,
q u a n d o Ibe mandei suspender as hatéas. Disse-llie me apresentasse a dita p o r t a -
r i a , respondeo-me a nào t i n h a e m seu p o d e r , q u e se aebava n a Carinhanha em
m à o do d i t o Francisco Lamberto. Disse-llie e u q u e t i n h a grande d u v i d a . d e
que V . i n . l h e mandasse passar porniria nova antes da minha resposta, e q u e
ainda no caso de mostrar , e assim fosse Ibe disse eu que ainda nào estava
p o r isso, p o r quanto se a tivesse, o u V. m. Iha mandasse passar, havia d e ser pa-
ra socavar bnracos d e l e i , e nào far.er servicòs de t a l l i o a b e r l o , e convenien-
cia p r o p r i a : respondeo-me o d i t o padre , q n e V. m. e sua real magestade nào
tinhào criados aqui. >2ào lhe dei l o g o a resposta q u e mcrecia a palavra, p o r ser
u m sacerdote, e desejar e v i t a r maiores escessos; sò l h e disse q u e se sua real ma-
gestade, e V ra, nào tiutiào criados aqui, tambem l h e nào mandavào fazer seme-
lhantes servicos: neste caso t i r e i pela ordem de V n i . , e a entregnei ao escrivào
p a r a l b a l e r de v e r b o a d v e r b n m , c que logo o notificasse para suspensào das
batèas, e saie daquelle l u g a r , c o n f o r m e se continha na ordein, e lì/esse observar
as ieis de sua real magestade. Uespondeo-me q u e estava prompto a s a i r , e
havia as su.ts batèas p o r snspensas, até requerer a V, itti l h e desse aquelle r i o
p o r data. Respondi q u e tinha grande duvida elle tal alcancasse, pois nào erào
terras mineraes deciar^das, e (jue seria iropossivcl V. m. fa/er, em razào d e ser
necessario p a r a «iqueile l u y a r umfìe!para tornar conta daqnelìe o u r o , que ali se
tivesse, e o d i t o p a d i e me respondeo q u e nào earecia de l i e i , que l o d o quan-
t o se tirasse h a v i a de i r a essa casa de fundicào da Jacobina. Neste caso l h e
r e - p o n d i , q n e vis'o haver tamanha fìdelidade, me desse conta do o u r o q u e
se tinha t i r a d o e i n urna grande lavra, q u e no dito"sitio eu tinha aebado, aon-
de elle d i t o padre t i n h a t i d o u m f e i t o r com u n s lantos negros, servico d o
anno proxìmo passado. Respondeo-me que o q u o se t i n h a t i r a d o , ahi mesmo
se t i n h a gastado; respondi-lhe q u e o mais que se tirasse, havia levar o mes-
m o rnnu»: q u e com e f l e i t o achei no d i t o s i t i o u m grande pedaco d e terra b i -
r r a r i o a talbo-aberto coni agua p o r cima, e j u l g o sempre lerem t i r a d o , pela
grandesa da lavra, para cima de trescata* oitavas: destas j u l g o nào f o i urna a
fundicào. Depois de feita està obrigacào, e exame n a dita l a v i a com q u a t r o
escravos meus, que comigo levava, duas alava noas, *?quatro baléas, e u l r c i a d a r
em alguns buracos p o r aquella mar geni do r i o , e neìles achei urna m u i t o l i -
miiada pinta tanto na terra em c i m a , corno no cascalho q u e só coni agua p o r
b a i x o t e podera fazer con venie»» eia T a m b e n i mandei provar no servico d o d i -
t o padre: d e n t r o d o r i o inelhor p i n t a , porém n a o cousa de grandesa, e gran-
de conveniencia. K m u i t o c e r i o , q u e esla p i n t a geral é na distancia d e tres l e -
guas de urna a o u t r a p a r t e : nào pude fazer o exame a p r o p o s i t o , p o r q u e o
428 MEMORI A3 niSTORICAS, E POLITICAS

tìas, se l h e difììcult'ira atravessal-o, e p o r q u e tivera n o t i -


cia haver o d i t o j u i z suspendido as batèas, despejado a
a gente q u e l a se aehava, e q u e o o m o nào era de c o n t a ,

tempo de cito dias, que V. m. me concede na dita ordem para eu fazer o di-
Io exame, nào é t e m p o sufficiente, porque a l i sò em urna sécca toda se pòde
fazer X) d i t o esame: ainda mais, que cuidando e u , q u e era c a m p o , nào l e v e i
ferramenta, naehadus, e fouces para a b r i r picadas, pois t u d o sào catingas a
l>eira d n rù», e estas m u i t o leehadas, q u e p o r mais qne eu procurasse urna
ibuce, a nào p u d e descobrir nos moradores daquella t e r r a , nào p o r q u e a nào
livessem, mas s i m p e l o dcsejo q u e tinhào de me v e r e m de l a f o r a , que n u n -
ca f u i a terra de gente mais tirava, e i n i m i c a de justica conio é aquella: po-
r c u i sou à dizer a V . n i . , q u e nào t e n l i o d u v i d a q n e naquelles geraes l i a j a
m u i t o o m o , q u e l h e a elio milita capacìdadc de o t e r , pelas confrontacòes do
r i a c h o e cahecciras q u e fazem barra n a q u e l l e r i o de urna e o u t r a parte, q u e
certamente julgo, q n e se deseobrisse co usa de se r e p a r t i r ao p o v o , me parece
se descohriria m u i t o o u r o , nào sò no d i t o R i o das egnas, c o m ò em todos aquel-
les geraes, c q u e arredado do d i t o K i o das eguas o i t o leguas, me dinem t a m b e m
h a v e r fuisca. Isto me disse u m h o m e m de quem j u l g o v e r d a d e , ja na volta,
e m q u e me v i n h a e in bora: de diamantes nào ha n o t i c i a , nem de o u t r a s quaes-
q u e r pedras de valor. O m e l h o r seria V, m, m a n d a r para aquella l u g a r u n i h o -
mem m i n e i r o . Gel c desiateressado, q u e fosse socavar, aquelle s i t i o c o n i c u i -
dado, e p r o p o s i t o , d a n d o buracos de l e i em t o d o o s i t i o , q u e certamente c o r r i
d o n d e fa z barra o d i t o K i o das eguas c o r n o C o r r e n t e , u m sò b u r a c o de l e i
nào achei, e nem ainda buracos pequenos, pois sò cnidarào aquelles, a q u e m
V . m. mandou passar p o r t a r i a , em v e r se achavào c o n v e n i e n c i a , corno a fa n a o
ao meu v e r , segundo j u l g o pela terra q u e v i lavrada: eu, conio j a là f u i , nào
me offereco para socavador, q u e serei snspeito. N o t e r m o q u e mandei lavrar,
e incluso r e m e t t o , c o m m u t e i os jornaes m u i t o para baixo, q u e certamen-
te feito o servico c o m agua p o r cima, se farà mais a l g u m a ceuveniencia; p o r é m
c o n i o as necessidades sào muitas e se poderàò a j u n t a r mineìros e póvo, nào
«]uero q u e se q u e i x c m de m i m .
E u com boa vontade li' o q u e V. m. me r e c o m m e n d o u , e se contém na o r -
dem: nào f o i corno eu desejava, p o r q u e Deos DOSSO senhor nào f o i servido estar
descoberto, o u descohril-o para )he d a r urna boa n o t i c i a , q u e p o r este m o d o
f o i o mesmo q u e se l a nào fosse; porém ao menos tenba V . ni. a certesa d o
q u e h a , q u e na verdade i n f o r m o com a mesma verdade. "V. ni. releve a (alta
q u e em m i n i bouve de me d e m o r a r nlguns t e m p o s , e n a o seguir com b r e v i d a d e
c o m o q u e me m a n d o u ; pois Deos nosso senhor d e t e r m i n o u o c o n t r a r i o p e l a
grave molestia em quo estive, da q u a l ainda depois de estar nesta v i l l a p a d e c i ,
e ebegueì a seguir a dita viagem c o m resto della, da q u a l j a v i v o l i v r e e com
forcas, supposto q u e v e l b o , porém moco para ohedecer a V . m., q u e Deos
guarde p o r m u i t o s annos. V i l l a d a b a r r a d o Rio-grande do sul a i de agosto de
•1793. Nao mando p r o p r i o p o r e v i t a r m a i o r gasto, e nào ser e u tào d i t o s o
que podesse ser o mesmo c o n d u c t o r desta. De V . m. e t c — J o à o de Castro Gai*
uiaràes.
DA P R O V I N C I A DA BAHIA. 129

Se reti rara, sern preenchcr a sua commissao. Servio està


certosa so mente para me nào mover, e nao para que dei-
xasse de tornar todas as possiveis informacòes sobre tào

Termo,

Aos v i n t e dons dias 0*0 roez de j u n h o de m i l seteeentos e n o v e n t a e tres annos,


neste R i o das eguas t e r m o da V i l l a da b a r r a do R i o grande do sul, comarca da
Jacobina, aonde f u i vindo 0 j u i z o r d i n a r i o a d i i al da dita cornai c i e seu termo, o
capti ao Joào d e Castro Guimaràes, comigo escrivào do seu cargo a d i a n t e no-
meado, e sendo ahi, em v i r t u d e e c u m p r i m e n t o de urna ordem, v i n d a do d o u t o r
o u v i d o r g e r a l c c o r r e g e d o r desta comarca, para e f f e i i o de se fazer exame no d i -
to R i o das eguas, e suas vertentes. A r r o j a d o , e F o r m o s o , para se saber c a v e -
rxguar se h a v i a , e tem o u r o n o s d i t o s ribeiroes e suas vertentes, p o r s e r m u i t o
n o t o r i o e p u b l i e o havel-o nas d i t a s paragens, sendo interessante a real fasenda,
e u l i l i d a d e do b e m c o m m u n i ; e chegando o d i t o j u i z contigo escrivào d o seu
eargo, no d i t o d i a acima declarado, ao d i t o Rio das eguas, nelle achamos u m ser-
v i c o n o mesmo r i o , o q u a l mandou fazer o padre Anacleto P e r e i r a dos Santo»,
qne poz urna parie d o d i t o r i o em sécco, com sua i l h a no meio: c p o r a c l u r m o s
nelle dez pessoas, e n t r a n d o neste c o m p u t o alguns forros, logo o d i t o j u i z com
quatro escravos seus inandon p r o v a r , e examinar no cascalho d o d i t o r i o o ser-
v i c o do d i t o r e v e r e n d o padre, e em varias bateadas q u o mandou lavar, nellas
semente achou urna p i n t a m u i t o l i m i t a d a de o u r o , q u e nellas se podem regolar
umas pelas o u t r a s a menos de dez reis, sendo o d i t o r i o composto e l a b r i cado
de pedras grandes, e lagédos pelas muìtas cachoeiras q u e l e m , e ser m u i t o rapi-
do, e nelle nào ha iudicios, nem mostra d e grandesa.
E p e l o mesmo j u i z f o i man dado pelos seus escravos fazer alguns buracos, c u i
u m laboleìro abaixo do servico daquelle padre: nelle* mostra urna pinta geral,
q u e sendo o servico à tallio aberto c o m agtia p o r cima, se podera fazer, r e g u -
lando, pelos ditos buracos q u e se dcrào, nm j o r n a i l i m i t a d o p o r semana de dozc
viniens até moia oitava, ponco mais 011 menos, j u l g a d o p o r dous homens miuei-
ros q u e o d i t o j u i z t r o u x e em sua companhia para o d i t o exame: e ao pó do d i -
r o tal» leiro, encostado ao r i o , em lima entaipàba se achou p a r t e della lavrada,
q u e mostrava j a ter sido feito o d i t o servico em o anno p r o x i m o passado d e
1 7 9 1 , e p e l o d i r o j u i z f o i mais examiuado quanta* pessoas tìnhào I r a b a l h a n -
do no d i l o servico q n e se tinha aebado lavrado, e pela informacào qne l h e de-
rào, a c h o u sereni as pessoas s e g u i n t e s — F r a n c i s c o José Tcixéira, com u n i escra-
v o , q u e se achava coni p o r t a r i a passada p e l o d i t o d o u t o r o u v i d o r g e r a l e cor-
r e g e d o r d a comarca, p o r t e m p o de u m anno para fazer 0 d i t o exame e ave-
riguacào n o i n d i c a d o descoberto; Felix de Sousa Barbosa, coni c i u c o escravos,
e u m fillio chamado F l o r i a n o ; F r . J o a q u i m d e S. José e Santa Anna, com qua-
t r o indios; José Mende* da Rocha, coni dous escravos e u m fillio; Paulo A i -
v a r e * d a M o t t a , coni tres escravos; V i c e u t e F e r r e i r a Gonies coni tres cscravosj
A n t o n i o de Abreo, c o m ciuco escravos do p a d r e A n a c l e t o P e r e i r a dus Santo»,
e outras mais algumas pessoas, homens e mulheres, c i r c u m v i s i n h o s deste sino»
e r i o ; q u e coni o seu b r a c o trabalhavào: e no d i t o r i o e suas vertentes, se n a o
achou mais pessoa alguma trabalhando, u e m e x t r a i u d o ouro a l g u m , e somcn-
T O M O V. 1 8
430 MEMORIAS HISTORVCAS, E POLITICAS

i m p o r t a n t e materia, sem q u e algumas poetesse achar v e r i -


dicas. Isto nào obslante, iiz logo e x p e d i r o r d e m ao m a i o r
e m e l h o r m i n e i r o desta comarca,, q u a l o sargento-mòr. Fe-
l i x Fubeiro de Novaes, para p o r b e m d o servico d e Y. M.,
aleni d e gozar das prerogativas d e d e s c o b r i d o r , i r c o m a
sua f a m i l i a socavar e a v e r i g u a r aquelle s i t i o , o u m a n d a r
a l g u e u i de sua f a m i l i a , nào c o n s e n t i n d o q u e a l g u m a pes-
soa mais nelle mettesse balèa, e dando-me p a r t e de t u d o ,
q u a n t o achasse, para e u proceder seguudo as ordens d e V.
M. corno se mostra da resposta delle n.° 6. ^ 9 ) . L o g o pas-

te o reverendo Anacleto Pereira dos Santos se achou com o diio servico da


parte do poente, fundando-se este em urna portarla que alcancou o coronel
Francisco Lamberto da Costa, e elle corno socio, que diz é, para poder fa/.er
e cxaminar as ditas terras, vertentes, e I l i o das eguas, que seni embargo des-
ta portaria o dito juiz mandou suspender as batèas, e lodo o servico minerai
em o dito dia 22 de julho.
E chegando o dito reverendo no dia s5 do mesmo raez, em cumprimenio
da mesma ordem do doutor ouvidor geral e corregedor da comarca, mandou
po*r iiiìm escrivào intimar-lha, a qual lhe li, e declarei loda na forma que nel-
la se declara, para nào lavrar mais, nem fazer exercicio algum minerai, co-
rno tambem mandou notificar a todos osvisinhos, e moradores adjaccntcs ao
dito r i o , para que no caso qne alguma pessoa, ou pessoas quizessem extrair
ouro nelle, e suas vertentes, sem perda de tempo lhe fìzessem sciente, para elle
dar as providencias necessaiias para evitar a dita extracc5o, tudo conforme de-
terniina a sobredita ordem, sendo estes regulos, e desobedieutes ao real servi-
co de S. M.
Continnando-se o dito exame pelo mesmo juiz, achou que no decurso de
tres leguas, pouco mais, ou meno» pelo r i o acima , de urna e oulra banda
do dito r i o c suas vertentes, mostfa a mesma pinta alias declarada, entrando
nas ditas tres leguas algumas terras inuteis, que estas nào tein mostra alguma
de ouro, do que eu escrivào de tudo dou fé. E para de ludo constar mandou
o dito juiz fazer este termo de exame e declaracào, no tempo e termo de or-
to dias, qne se compreende do dia a a do mez de j u l h o , até o dia 3o do mes-
mo mez, corno determina a mesma ordem, era o qual assinou, e cu Manoel Mar-
ques da Silva escrivào que o escrevi e assìnei.— Manoel Marqttes da Silva —
Joao de Castro Guhnaiàes.
(49) Eu com meo irmào recebemos a de V. m- com a portaria para a so-
cavacào, e exame nas caheceiras dos rios Corrente, das Eguas, Arrojado, e
Formoso, e toda aquella campanha, para cuja execueao ficanios ja apromptan-
do dous rapazes da nossa obrigacào, sendo um delles Agostinbo Ribciro no-
meado por V. m., e outro Romualdo Tìibeiro, que ambos lem ìntelligencia
de mineràr, e com elle mandamos nosso feitor da lavra por diligente, e boni
m i u e i r o , e sò mandamos nesta occasiào doze escravos mineìros, porque nos
dizeitt ser 0 lugar deserto, e muito fallo de viyeres. Reco lumen dauios-ihes toda
DA P R O V I N C I A DA B A H I A . 131

sado pouco tempo, me tornou a escrever em outubro do


mesmo anno dizendo, que as aguas se tinhào antecipado,
e que naquelie anno nada podia ciìecluar-se, em razào das
cnchentes dos rios, mas que sobre a seguinte pascoa, es-
tacào propria, mandava a gente, o que assim se ve da res-
posta o u carta n.° 7 (50). No primeiro do presente anno
lhe tornei a escrever, reforcando as antecedentes recom-
mendacòes, e estando-me apromptando para, com esco-
lha de tempo e cstacòes menos arriscadas, ir com o vagar
e commodidade, que a minha molestia pedia, corregindo
cada urna das villas, e julgados da comarca, e mesmo i r
pessoalmeiite averiguar o ja dito descoberto, segundo mos-
t r o pelo princìpio da carta por m ì m escrita ao governo,
n l i , por nào accumular docuiueutos, em 12 d o mez
0

passado recebi do dito sargento-mór Felix Ribeiro a res-


posta n.° 8 (51), e em 13 a carta de Joào de Castro G u i -

a ù!i)igencia nos trinta dias qne V. m, determina, ainda que nos parece nào
faraò completa averiguacào, p o r conta d e estarem entradus as aguas, e serem
os rios caudalosos, mas sempre Ihes delerminamos, q u e depois de l a estarem,
fazendo-se-lhcs preciso recorrào a V. m, para Ihes facuìtar mais teoipo. Deos
queira ImclìGque està d i l i g e n c i a , e q u e tenhamos o goslo de acompanhar a
V . m, para a p a r t i l h a dau,uelle lugar. De V . m. m u i t o attento venerador e Gel
c r i a d o — F e l i x Ribeiro de liovaes,
( i o ) Ha poucos dias escrevi u V. m. dizendo, ficavamos apromptando os so-
cavadores c o m c mais necessario, p a r a o exame dos tres r i o s nomeados na porta-
r i a q n e V. «n. i b i servido remetter-ncs, e estando t u d o p r o m p t o pegou urna
ìnverna<la, que a i n d a ao fazer desta continua com excesso de l a i f o r m a , q u e ,
nos parece iuipussivel o fa/.er-se neste t e n ^ o a averiguacào q u e V. u i , deter-
m i n a n quelle*> lugares, p o r serem faltos de uiantimentos, e ìnvadiaveis ao p r e -
sente pelos mnìtos r i o s : notes termos determinamos snhstar esla d i l i g e n c i a ,
até q n e haja tempo commodo, p o r q u e sò na sécca pode-se bem averiguar, e sem
embargo de l u d o segoiremos o q u e V. n i , ordenar. A g o r a tenho noticia, da-
da p o r u m sujeito, que a poucos dias chegou do t a l descoberto, q u e ha o u r o
para j o r n >es d e n t r o do r i o , e q u e p o r t e r r a seguiudo as cabeceiras, ainda se
nào fez as necessarias diligencias, e que o j u i z da B a r r a , q u e l a f o i socavar
p o r o r d e m de V. i n , coni e f f e i t o nào é m i n e i r o , pois em alguns buracos q u e
a b r i o nào chegou a p i c a r r a , e scudo assim fraca averiguacào podia fazer. D i a
mais o d i t o sujeito q u e pela ordem d e V. m-, conio pelas cheias dos r i o s , o
l u g a r se achava evacuado do povo. Andrequissé em aa de o u t u b r o de 1793.
D e V. m. e t c . — Felix Ribeiro de A'ovaes.
( 5 i ) A i n d a agora é q u e tenho occtisiào de responder 4 carta d e V. m., datada
e m 10 de fevereiro passado , p o r q u e uns porladores, q u e d e ca forào, passarào
p o r a q u i , mas eoi silencio, c sem q u e o soubesse, e o n t r o s em occasiào, q u e e u
M T M 0 R U 8 HISTORICAS, E POUTICAS

maràes (52) n. 9 com a certidào n.° 40, em cujo Joào de


0

Castro p o r haver sido juiz e exeeutor da ordem, q u e o an-

nào achava em casa, Eu me nào esqueco das reconwiendacòes da V. n»., e sup-


posto ainda nào mandei, com tudo pretendo cxpedir a gente nestes dias, se bem
que me dizeti) quo o Kio de S. Francisco tem tornado novos repiquetes, o que
nào obstantc, encommendo o negocio as alraas s-uitas, pelo summo desejo que
tenho desa'isfazer a ordem de V. ui., e dar cumprimenlo a minha palavra: e-
Deos va com elles. O mesmo Senhor permitia que elles aproveitem o tempo ,
para que ao depois todos gostr-sos nos vejamos naquellc lugar, na presenca de
V. m , de quem sou e t c . — Felix Ribeiro de Sovaes,—Arraial do Senhor Boiu
c m 3o de abril de 170,4.
(5») Por meio desta vou dizer a V. m., que a aa de fevereiro proximo passa-
do, estando eu em minha casa, e bastantemente doente, me chegou a noticia por
uns propiios que vierào do registo da Tabatinga, que do arraial das Arraias
sairào o guarda-mór do dito arraial coni uns lantos mineiros, por ordem do se-
nhor general da Villa boa de Goiaz a socavar, e tornar posse dos descobertos
do Rio das eguas: e corno me nào constava, e nem ainda hoje me consta, que
houvesse ca ordem die V. m. relativa aquelle encantado descoberto, e tendo
sempre para mim, que sò a V. in perteneia a execueào delle, tanto pela gran>
de diligencia que por elle lem feito, corno porse achar na sua comarca. dentro
«bis fasendas, e povoacócs da dita sua comarca; sem demora mais alguma ahalei
a ver estas cousas, e corno vinhào, e as ordens que traziào para entrar nesta co-
marca. Coiu effeito ebegnei ao dito sitio, e esperei de» dias pela tropa: ao cabo
destes chegou o guarda-mor das Arraias, um cabo commandante, dous soldados
dragòes, e onze miueiros, que vinhào a socavar, trazendn em sua companhia
ciucoenta negros de sei vico, e logo que chegaiào, no dia seguirne fui ao arran-
xamento delles, e Ihes requeri da parte de S. M , ein observancia da ordem de
V. m., me dissessem com que razào, ou coni que direito enlravào naquclle l u -
gar, por quanto as batèas que ali ti^ihào andado faiscaudo, forào - susp-.-nsas p o r
mim, em virtude da ordem de Vi m-, a qual mandei l e r , e publicar de verbo
ad verhum pelo escrivào do julgado do Campo largo, que comigo levava, ao
gue elles dito guarda-mor, e soldados por nada derào, e nem estiverà©.
E logo tirarào por urna ordem do doutor ouvidor da Villa boa de Goiaz,
em que a sua noticia chegara, que fora do registo de S. Domingos, nos geraes,
aistantes vinte leguas do dito registro, se aeba uni rio chamado Rio das eguas,
©qual lhe dizem, tem ouro; e assim determinava ao guarda mor das Arraias
viesse logo sem perda de tempo, com os mineiros necessarios socavar aquelle
lugar, e do que achasse lhe desse p a r t e , para no caso de ser capa/, de se r e -
partir, elle vir ou mandar fazer, e dar todos os provi meni os necessarios, e se
no dito lugar houvesse quem os quizesse offender, os prendessem, e remettes-
sem para aquella dita villa de Goiaz, e quando o poder fosse maior lhe dessciu
parte, para de l a mandar o provimento.
E é o que continha nas suas forcas a dita ordem, e ao depois me apresenta-
rào um decreto de S. R. M. o seuhor D Joào V., o qual nào se eutende coni'
està comarca, pois sò àiz que todos os descobertos que appareccrem om beira
DA PROVINCIA DA BAHIA. 433

no passado lhe enviei, e t e r a sua morada nos confìns da


comarca, onde està divide com a de Goiaz, é dfisculpavel
o erro, e de louvor o zèlo. Immediatamente que recebi es-

mar, para a parte do Para e Maranhào, por evitar duvida», corno ja as hou-
ve, fica rad pertencendo a comarca de Goiaz. Assim mais me a presentalo ou-
t r o do dito senhor, respectivo as mais comarcas, em que diz que todos os desco-
berto» que appareeerein no sertào beira-mar, ficarao pertencendo as minas mais
chegadas, a qual reserva se emenderà Sò com o descoberto de o u r o , e menos
no dizimo, quefìcaràòsempre pertencendo as incsmas comarcas, corno sem-
p r e se costa ina r i o pagar, e julgo que pelas justìcas sera o mesmo, mas neste ca-
so me nào leuabra corno dizia respectìvo ao governo das justicas O que vendo
eu nestes termos respondi, que tudo estava muito diretto e justo, porém que
tambem nessa villa de Jacobina pnder-sc-ia achar ordem ou decreto de 5. M.,
em que j a mandarla o contrario, do qne diz o decreto que me apresentarào,
e Ihes requeri da parte de S. R. M. deixassem estas cousas corno estavào, e
que enlretanto informasse"! ao senhor doutor ouvidor de Goiaz de toda a ver-
dade, e a paragem em que se achava o descoberto, e que no mesmo tempo da-
rla eu tambem parte a V. m. Por nada estiverào: re*ponderào-me que uào t i -
nhào de que dar parte, sò sim dar execueào as ordens que traziào, e se eu t i -
nha de que dar parte désse a V. ni.
E logo no outro dia sairào os ditos socavadores a socavar p o r terra, visto
que o r i o està agora muito notorio ter muito ouro, se^redo quo tem andado
com grande cautela, que nem a mim, quando là fui por maudado de V. m.,
houve pessoa qne tambem me informasse, corno agora me estùo dizendo. Tam-
bem requeri da parte de S. M-, porque è certo, que se puxarcm os ouros da-
quelle para S. Felix, bavera grande prejuiso na real fasenda, o que nào succe-
derà se fosse para a Jacobina, pois se acha a casa de fundicào em estrada direi-
ta par» a cidade da Bahia, e é por ora o que posso informar a V. m.
Reuictio inclusa a certidào que mandei gassar pelo tabelliào do julgado do
Campo largo, termo da V i l l a da barra, comarca de Jacobina, e a ordem que
em meu poder se achava, que V. m. me mandou, a qual por ora nào serve de
mais nada. Nào sei se ùz mal ou beni em i r ao dito descoberto; se fìz mal descul-
pe minha innocencia. Castello 28 de marco de 1794.—Joao de Castro Guimaràes»

Certidào.
Certifico eu abaixo assinado em corno aos 25 dias do mez de fevereiro de
179$ annos me achava eu tabelliào do arraial do Campo largo, tèrmo da V i l l a
da barra do Rio grande do sul, comarca de Jacobina, ein servilo do meu cargo,
e scudo ahi chegado a noticia de Joao de Castro Guimaràes, qne vìnha urna
tropa das minas de Goiaz para o chamado descoberto do Rio das eguas. For-
moso, e Arrojado , logo o dito Joào de Castro Guimaràes me aprescnton urna
ordem do mentissimo senhor doutor ouvidor desta comarca, para que eu fosse
coro elle dito ao dito descoberto por servico deS, M,; e logo saimos no 1, do
met de marcio do dito anno, e chegamos a 7 do dito me*/, aonde estivemos à
espera da dita tropa, a qual chegou a 17 do dito iaea, e nella chegou 0 guarda,
.18*
43>» MEMORIAS HISTOR1CAS, E POLÌTICAS

ta ultima carta e certidào, dei as providencias que me f o -


rào possivels, parte ao governo, a quem pedi instruceòes, e*
auxilios> corno faco ver da carta de n.° 11 (53), e lodo o ca-

3Yiòr do arraial das Arraias, com turi caho cowniandnnte, e dous soldados dra-
góeSj os quaes entraràó uiuìto soberbos no dito descoberto, mas nào Coi olis-
tante a sua soberba, para que o dito Joào de Castro Guimaràes logo Ihes nào
lìzesse apresentar a ordem do merlassimo senhor doutor ouvidor desta comar-
ca, a qual eu tabelliào Ihes li, e dcclarei toda a forma della, os quaes nào se
dcrào p o r ella, e lizerào apresentar outra do senhor ouvidor da Villa boa de
Goiaz, acobertada a dita coni um decreto de S. R. M. o senhor D Joao V., que
peos tenba em gloria, nò qual diz que todos os descobertos, que appareeerem
em beira mar e sertào, fìeariào pertencendo as minas mais perto, e na dila or.
dem, que trazcui do senhor ouvidor de Goiaz se declara, que a sua noticia
tinha chegado que nos geraes, fora da contagem deS. Domingos vìnte leguas,
havia o descoberto do Rio das eguas,. e neste caso requereo o dito Joào de Cas-
tro Guimaràes da parte de S. R.fcl.,que o dito descoberto era perteucente a
està comarca da Jacobina, pois estava em povoado, e nào em geraes; e da mes-
ma (orma tambem requeria que os ditos nào coutinuasscm em accào alguma,
sem que primeiro nào déssem parte ao seu ouvidor, e quo o dito tambem fazia
" mesmo por suppòr cstar o dito descoberto em d u v i d a , ao que elles respon-
derào, que se elle quizesse dar parte, que desse, e que elles nào tinhào parte
alguma que dar, sò sim c u m p r i i e m as ordens que traziào coinsigo, e um que j a
esfava, que socavassem, c que se houvesse quem a isso se opponesse, que os
prenderiào, e remetteriào ao senhor general de Goiaz, assim se < expressa va, e
quando o podcr fosse grande, que lhe desse parte para elle dar o soccorro ne-
cessario. E por assim passar na verdade, passei a presente certidào, de que don
fé, neste d<*scobcrtc do Rio das eguas aos i t i do mez de marco de 1794. E eu
Antonio Xavier Lrò.i, escrivào que o cscrevi e assinei.
(53) I l l m . e Exm, senhor. Em (jata de a5 do mez passado cscrevi a V. Ex.
0 u

dando-lhe parte, de que saia para' a correicào e da derrota que fazia tei) cào se-
guir, descendo daqui ao Joa/.eiro, ou Pamlm, subindo 0 Rio de S. Francisco
acima , corregìndo as villas e julgados ale chegar a da Barra, om cujo districto
tinha inandado averiguar om descoberto de ouro; e por csias e outras ira,'
portantes e nrriscadas diligencias, que tinha de fazer, rogava a V. Ex- me man-
dasse ordem para uni soldado do destacameuto da casa da fundicào desia villa
m é acompanhar, ou quando nìsto nào coirviesse, para quaesqner tropas auxi-
liares, eordenancas, me darem o auxilio de que precisasse. Agora porém so-
Lrevém luna uovjdadc que tudo tianstoma, e por causa da qual nào só preciso-
o auxilio das tropas pagas e das outras, mas tambem do de V. Ex. Desde a qua-
resm.t do anno passado se falla no descoberto do Rio das eguas, sem que desde
entào até agora me icnba sido pussivel averiguar a verdade delle, por mais*
cxactas que tenbào sido as niihhas diligencias. Nào molesto a V. Ex. em refe- 1

ril-as loda*, que a maior parte tenho por dorumenlos, e sy lhe apresento a co-
pia do n°. 1, em resp.sta da qual nào sendo aiuda nada averiguado, e suspenu
so todo o servico minerai, que se estava fazendo, mandei portaria ao maior mi-
DA P R O V I N C I A DA BAHIA

lòr possivel à m i n h a saìda e m d i r e i t u r a ao d i t o descober-


t o , que, agora mais b e m i n f o r m a d o , sei, dista d ' a q u i c e n t o
e c i u c o e n t a e tantas leguas, nào obstante a m i n h a cronica

neiro desta comarca para o ir averiguar, o qual nào pòde ir no anno passado
p o r se adiantarcin as truvuadas, e ficou d e i r agora sobre a pascoa passada.
N o d i a 12 deste me» leeebi a u l t i m a carta d e l l e , q u e d i z fìcava aprom-
ptando » sua gente para a mandar, e no d i a i 3 r o c c h i a de Joào de Castro
Guimaràes, cuja c o p i a faz o n.° 2, e o a u t o , que me remetteo, de n.° 3, e m
que me d a p a i te da v i o l e u c i a , q u e està fazendo o guarda-mòr das Arraias,
da comarca de Goiaz, p o r o r d c r n do o u v i d o r da d i l a comarca Este districto é
«em duvida alguma do t e r m o d a V i l l a da b a r r a desta comarca, na capitania de
Pernambnco, e aleni d e l l e , para a parte q n e d i v i d e com Goiaz, ha fasendas d e
gado, e muìtos moradores su jeitos a d i t a v i l l a desta comarca, q u e eslào em
posse d e admìnislrardhes j n s l i c a ; aleni da vìsivcl e clarissiina competencìa d a
jurisdiccào no d i t o d i s t r i c t o , tenho eu a prevencào della, p o r m u i t o s e repe-
t i d o s actos a respeito do mesuio d<scuberto. Os dous decretos q n e refere a
carta .do j u i z , que f o i da V i l l a da barra Joào d e Castro Guimaràes n o n.* a,
n e n h u m a applicacào podem t e r neste caso, p o r quanto nem é 0 d i s t r i c t o em
sertào b e i ra-mar, pois confina coni estas uiinas em q u o ha casa de fundicào,
nem tào p o u c o em sertào, q u e confine coni o l'ara: neslas circunstancias
nada vejo mais conducente ao servic < de S. M., que, m a r e b a r e u com a
pressa q u e pps.se-, o quo porém n u n c a p o d e ser antes d e 10 d o mez que
vem, corno estava d e i e r m i n a d o , p o r nào haver conduccóes, ao d i t o Sitio t i r a r
devassa de usurpacào de j u r i s d i c c t o , suspender, e a n n u l l a r t u d o quanto com
v i o l e u c i a t i v e r tfìdo f e i t o , mandar socavar e a v e r i g u a r nà minha presenta o
t e r r e n o , r e p a r t i l - o , sendo <te conta, corno se l e m p o r certo, e proceder ao
mais, q u e as ordens d e S, M. e p r u d e n c i a me i n inuarem, e a s i t u a l o e m
qui- ine achar o pedir
P o r é m corno nao sei as \ iolencìas, q u e terei de soffrer, e a repulsa, de q u e
p r e c i s a r c i , p o r q u e pode r e i ahi encontrar-me com o o u v i d o r de GoÌaz, e esto
m u u i d o com ordens, e forcas d o governo, nào obstante nao ser aquelle dis-
t r i c t o da capitania de V Ex. e sim de Pernambuco, mas p o r q u e pertence ao
seu governo, d e q u e m só devo r e c c h c r ordens e instruecóes, p u r isio preciso'
cui p r i m e i r o l u g a r ordem d e V. E x . com as maiores f o r c a s , e as q u e l h e pare-
c c r e m couvcnicntcs a quanto c o n v i e r ao servico d e S. M , repeliìndo a forca, c
violeucia praticada d e n t r o do seu governo, osservando o mais que deixo d i t o i
em segundo l u g a r o u t r a o r d e m para dous soldados deste destacameuto me
a c o m p a n h a r e m , pois j a os mandei a p r o m p t a r para isso; e em terceiro o u t r a
p a r a todas as ordenancas, e a u s i l i a r e * me prestarem os auxilìos q u e pedir.
N à o pense V. E x . , q u e eu ine p r o p o n i l a a i i brigar, pois sò pretendo f o r -
cas q u e me fj<jào respeiiar. effettuar as diligencias. e r c p c l l i r a violeucia, q u e
é certa razào de d i c i d i r em loda a capitania d e Goiaz, e mesmo e«a todas as
ininas em scmelhautes occasióes, em que o povo coiicorre a m i l h a r e s , e tào
i n q u i e t o e ambicioso, q u e a mesma forca nào respcita: aleni do q u e cpstu-,
m à o os ouvidores daquella comarca acompanbai-se d e t r o p a p a g a , e d e m u l -
336 MBMOBIAS HISTOBICAS, E POLITICAS

e grave molestia, ter successor nomeado à perto de dous


annos, a quem todos os dias esperava, a certesa de u m
aviso da secretarla de estado, para podor-me recolher a
essa córte, quando me convicsse, em razào da mesma mo-
lestia, e outros muitos inolivos que a V. M. forào presen-
teSj cujo aviso se tinha extraviado, mas esperava a seguuda
via delle. Nestas circunstancias proximamente recebo cer-
tesa da Bahia, de haver chegado a segunda via do aviso, e
apparecido a primeira, em virtude de que podia, e tinha a
maior precisào de me relirar; porém, senhora, preferindo,
e antepondo o servico de V. M. e interesses de sua real
9

fasenda a minha sande, commodo, e mais razòes, q u e t e -


nho e a V. M. forào presentes, continuo o m e u designio
na forma que me for possivcl, por a V. M. fazer novo, e
mais relevante servilo. Vou averiguar e assistir ao novo
descoberto, nelle executar as suas reaes ordens, e esperar
as que de novo me mandar, que poderàò ser melhor con-
cebidas, depois que eu delle pozer nova parte circunstan-
ciada na sua realpresenca.
Mais que nunca agora desejava ter bem vigorosa saude,
para a V. M. laser u l i l servico, porém, corno penso, o faco
igual em inanifestar-lhe a minha inhabilidade, para q u e
aquelìe nào experimente prejuiso, crescendo a minha mo-
lestia, o ponho assim na sua real presenta, para que seja
scrvida mandar-me successor, que tome conta da comar-
ca, ficando V. M. na certesa, que e u a nào desamparo sem
esgotar os ultimos esforcos da minha possibilidade Mais
largamente podia fallar das miuhas diligencias à respeito
deste descoberto, repetir o q u e consta dos documentos
juntos, outros mais p o r na sua presenca, se nào receàra
molestar a sua real attencào: nào devo com t u d o o m i t t i r a
situacào locai delle, e as mais circunstancias que occorrem.
E elle no termo da villa da Barra desta comarca da o u t r a
parte do I l i o de S. Francisco, capitania, e bispado de Per-

tìdào de gente. Sem embargo das preveneòes que tomo, é ade qne mais pro-
curo encher-me, e em que faco o maior apoio, a da prudencia.
No caminho vou esperar as ordeus de V. Ex., a quem ultimamente rogo,
que n o caso de alguma infelieidade minha, que nào espero, faca ver na pre-
senca de S. M. a justica que defendo 'da sua causa, e o meu zèlo, lìeos guar-
de a V. Ex. por muitos annos. Jacobina 4 de maio de «794.—Joào Manoe\
J'n''.<':•• de Araujo.»
DA PROVINCIA DA BAHIA 137
nambuco, e qunnto ao governo ci vii da Bahia, no rio cha-
m a d o das Eguas, que faz barra no Corrente, ceste no de
S. Francisco. Ha ahi uns a qne, segundo o estilo da ter-
ra, chamào geraes, de capins agrestes com alguns capòes de
malo, que lem as suas ca bocci ras para o poente, onde es-
tà comarca e governo divide com a de Goiaz, em distancia
de vinte para trinta leguas, pouco mais ou menos, e para o
sul com a capitania e comarcas de Minas-geraes, d i v i d i n -
do pelo r i o Carinhanha, que fica u m pouco menos dis-
tante , e pela parte do nascente e norte fica encravado
dentro desta comarca.
As razòes quo ha para a ella pcrtencer sem duvida algu-
ma, e ao governo da Bahia, vào ditas na carta p o r m i m
escrita ao mesmo dito n.° li, e alèrti destas me occorre, quo
para Minas-geraes nào deve accrescer, por ficarem m u i t o
mais looge as justioas ordina nas, su peti n tendone ias, casa
de fundicào, governo, e j untamente por nào alterar o ajus-
te das cem arrobas de ouro, que aquelles povos se obriga-
rap a perforar a V, M. (54); e para a comarca e governo de
Goiaz, por subsistirein as mesmas razòes, menos a da quo-
ta dos quintos, que alias devem ser pagos e f u n d i d o o o u -
ro na real casa da fundicào desta villa,, pois quo a de S.
Felix, que é a mais visinha, depois desta, de todas as m i -

(5*4) D u r a n t e o m a i o r auge de m i n e r a r i o na p r o v i n c i a Minas geraes, occupa-


vào-se oitenta m i l pessoas nesse t r a b a l l i o , e rendiàn annualmente os q u i n t o s
cento e q u i n t e a r r o b a s de o u r o : a decadere ia de tal r e n d i m e n t o , e p o r con-
seguirne das lavras de o u r o , comecou l o g o depois da criacào das casa» de f u n -
dicào, E m o anno de 17(14 j a estavao reduzidos os mesuios q u i n t o s a noventa ©
n o v e arrobas, em 1774 a setenia e c i n c o arrobas: em 1777 esse r e n d i m e n t o a i n -
da ebegou a sctenta a r r o b a s ; mas p r o g r e d i o consideravetmentc a diminuicào,
de m o d o q u e crii 1S11 apenas produzirào v i n t e q u a t r o arrobas: em 1813 v i n t e ,
e m 1816 desoiio; em 1818 descerào a doze arrobas, citi 1819 a sete, e f i n a l m e n -
te em i t i a o , anno do estabeleeimento do banco f t l i a l para a compra d o o u r o e m
pò, chegarào so meri te a duas a r r o b a s ! Segundo o barào d'Eschwege , seis m i l
pessoas erào os q u e em i 8 a 5 se empregavào ali nos traballios da m mera cào a u r i -
f e r a . — « O r n i n i s t e r i c , d i z o mesmo barào, supponila q u e cala diminuicào d o
r e n d i m e n t o provìnba d o e x t r a v i o do o u r o , e acautelou-o; mas e l l e , q u e Manca,
c u i d o u em r e m e d i a r os v e r d n d c i r o s males, e qne teve as mais das vezes l e m -
br,mcas tao inieiizes, q u e de o r d i n a r i o sò prodoziào resnltados c o n t r a r i o s , pa-
r e c i a desconbecer, q n e a causa p r i n c i p a l dessa diminuicào di ni a na va da f a l l *
d e braeos, q u e o m i n e i r o i g n o r a n t e e e m p o b r e c i d o r e t i r o u desses t r a b a l l i o * .
f a l i ^ a d o de uào c o l l i e r a f o r t u n a q u e resullara a seus antepassados. »
T O M O V. • , (
J
138 MEMORIAS IIISTORlCASj E POLlTlCAS

nas, tem mais a distancia de destilo ou vinte leguas, a pas-


sagem de u m pio m u i t o mais doenlio, que o de S. F r a n -
cisco, e urna travessia sem moradores, de ciuco dias d e
jornada.
Cooipreende o dito descoberto, segundo as rnformacòea
que tenho, tres leguas em q u a d r o de ouro geral com bòa
conta, onesta dimeusao se achào mais dous rios chamados^
Arrojado, e Formoso; q n e fa/cm igualmente barra no Cor-
rente, os quaes, ben» que nào tào provados, 9C presumeur
ricos na mesma distando c o n i o primeiro, fora o m u i t o da
campanha, e rios quo resta a descobrir. 0 das Eguas:, ai
serem ceilas as vagas noticias, que quasi todos os dias me
eslào chegando, depois do aviso de Joào de Castro Guima*
ràes, é a eousa mais rica que nunca se descobrio nos
tados de V. M., e se nào ignala ao do Paracalli, ou maior, ao
menos é o segundo depois deste. Mais di/em, que na mes-
ma paragem em pequena dislancin, se falla eoi outra p i n -
ta de ouro riquissima, e a ser verdade mctadc do que se
falla, e q u e o povo alvoracado corre a monlòes de lodas as
paiies, p o r em todas se aeharem fulhadas as minas, lerà
o.real erario consideravel augmt nlo. Fstà tudo porém em
que senào descubrào diamantes, objeclo que desde o
principio occupa a minha atleneào, e que eu tenha capa-

Desde :?53, cm que se eatabelecerào as casas de fundicào, até i ; 6 a o rendi-


mento dos quintos do ouro cm Minas-geraes fui o seguirne —

AXJiOS. ÀRKÙJUS, M \ Il CO-V, OSOAS. OITWAS. GRAÒS.

55 34 6 c 33 i / 5
107 00 6: a5 i/5
•# .
X754 IIS a
9 4 7 39 3/5
1755 117 57. 0 5 0
1730 • m 5 0
1757 I IO 53 5- 0 43 -;5
1755 89 4i 2. 7 49 i/5
1759 117 15 1 4 3o 4/5
1760 la 0 a. 4a 4/5
III 59 4 a(i a/5
ioa 50 7 6 3 a a/5

Total, . .. i , M 5 ao 5 %i n8 /,/5
jU hmdo-se este rendimento por anno communi, loca a cada um cento e
quatro arrobas e vinte uni marcos.
DA -PROVINCIA DA B A H I A . J&)

cidade e saude para a V. M. fazer igual servico ao que de-


zejo. Fico a p a r t i r c o m a m a i o r violeucia, tendo t u d o d i s -
p o s t o , segundo p e r m i t t e m as pequenas forcas, e fa ita de a u -
xilios nesta c o m a r c a , e logo q n e chegar e o b t i v e r a p r e -
cisa mformacào, a p o n h o n a sua real presenca. J a c o b i n a
t u n h o 6 d e 1794. O o u v i d o r d a c o m a r c a Joào M a n o e l
i e i x o t o de A r a u j o (55).a
O e n f r a q u e c i m e n t o progressivo do e s p i r i t o das descober-
tas mineraìogicas, e mais causas q u e haviào c o n c o r r i d o e m
Minas-geraes p a r a o a b a n d o n o d e tantas livrèa d e o u r o , as
quaes, corno p a r a m o n u m e n t o de sua prima»ia riqueza,
apresentào h o j e ao q u e viaja p o r essa bella p r o v i n c i a , enor-
mes m o n t d e s d e cascalho ouir'ora l a v a d o , obrarào c o m
m a i o r r a p i d e z n a d a Bahia, e as lavras das immediacòes
das villas d o Rio das eontas e d a Jacobina, c u j o ouro' d e
o r d i n a r i o tocava vinte tres q u i l a t e s , u m grào, e u m
q u a r t o , segundo até p o r u l t i m o se v e r i f i e o a e m 1830, n a
hindicào d e sete oitavas e doze gràos, apresenladas ao
presidente L u i z Paulo de A r a u j o Bastos p o r M a n o e l F u l -
gencio d e F i g u e i r e d o , fìcarào absointamente desprcsadas,
C o n t i n u a n d o apenas u m o u o u t r o i n d i v i d u o nesses I m b a -
Ihos, nos a r r e d o r e s d o a m i a J d e M. Senhora dos l l e m e d i o s ,
e diversos lugares d o t e r m o da mesma villa d o R i o das
contas, mas tào em p e q u e n a escala, e tào i n t e r p o l a t a m e n e
t e , q u e d i s s o nào resultava v e r d a d e i r a u t i l i d a d e . Assim p o i s
é semente o d e c o r s o d o t e m p o q u e m farà paleo tear esse, e
o u t r o s mincraes preciosos, e m novos l u g a r e s , o n d e a traW
dicào assegura sua existencia, e°parcce ser j ; i chegada essa
època, p o r q u a n t o a i m p o r t a n t e descoberta das minas d o
A s s u m a , vai fazendo r e a p p a r e c e r a tendencia dos a n t i g o s
povos d o n'osso c o n t i n e n t e , para iguacs investigaeòes.
. C h a m à o A s s u m a a u r n a extensa c o r d i l h e i r a , q u e o r a
mais a p r o x i m a d a , o r a m a i s afaslada d a m a r g e m o r i e n t a i
'. f k / l * 1I t *

(55) E m v i r t u d e desia participacào, ordenou o aviso de i j de o u t u b r o d o


mesmo anuo, q n e o g o v e m a d o r euviasse ao d i s t r i c t o do I l i o d a i eguas pessoas
i n t e l l i g e n t e s , p o r cujas exploracoes se colhessem mclbores notioias sobie taes
minas; mas O. F e r n a n d o José d e P o r l u g a l , q u e entìio governava a p r o v i n c i a , e
que desde o p r i n c i p i o h a v i a r e p r o v a d o s e m t l h a n t e d i l i g e n c i a , o f f i c i a n d o .1 té nes-
te sentido ao s u b r e d i t o o u v i d o r , respoudeo e i n 3 4 d e d c / e m b r o d e i j y S , q u e
esse descoberto nao yalia a.menor considera cào, o q u e I b i bastante paca l i -
car abaudoiibda d e urna vea até huje.
140 MEMO-MAS IIISTOTUCAS, E FOL1T1CAS

do Ilio-de S. Francisco, prosegue em differente* ramifica-


eòes, tornando entìio vnriadas denominacòes, e sendo assns
a p r o p r i a d o à c u l t u r a de m a n d i o c a o t e r r e n o de seus c o n -
t o r n o s , essa p r o p r i e d a d e especialmente se dà n o q u e fica
encravado n o t e r m o da villa de C i n q u e c h i q u e .
O c c u p a v a t e e m tal p l a n t i c u m p r o t o de n o m e José, os-
c r a v o de F. L e c i t i l o , no silio i n t i t u l a d o C c n l i o , q u a n d o
d i v i s o u na s u p e r f i c i e da t e r r a , e cascatilo d e s m o r o n a d o pe-
la c o r r e l i l e das aguas d o r i a c h o , e m c u j a m a r g e m rocava,
urna folhéta de cairn de h o m v o l u m e , e p o s s u i n d o a l g u -
ma p r a t i c a dessi mincracào, p o r haver tra bai b a d o nas l a -
vras d o sob r e d i r o arraial d o s Remedios, l a v o u o u l r a p o r -
cao da mesma t e r r a , c o n f o r m e l h e f o i possivel, c o n s e g n i n -
olo e m todas essas operacòes novas q u a n l i d a d e s d a q u e l l e
minerai.
Teve isto l u g a r e m o dia 16 de m a r c o de 183G, e gras-
sou logo se mei h a u t e n o t i c i a c o n i t a m a n h a velocidade, q u e
e m p o u c o s mezes affluirào ali para mais de tres m i l pessoas
de d i f l c r e n l e s p a r t e s , às quaes successivamente r e i i n i -
rào-se o u t r a s , q u e estendendo os d e s c o b r i u n nlos a u r i f e -
ros ( 5 6 ) , obliverào s e m p r e consideraveis vantagens, c o m
q u a n t o a m a i o r p a r t e delles desconhecesse o s p r i n c i p i o s r e -
g o l a res de i g u a l mincracào. C o m p r e porém n o t i o i a r s e q u e a
existencia de o u r o nesse d i s t r i c t o , j a havia sido c o n h e c i d a
t r i n t a e tres annos antes, ha vendo ale a m a i o r p r o b a b i l i d a -
de de ser da rtquesa de suas m i n a s q u e I r a t a vào c o m ex-
t r a o r d i n a r i o entusiasmo os anttgos r o t e i r o s d o c e l e b r a d o
Paulista B e l c h i o r Dias Mor*ibéca.
D u r a n t e a m i n h a estada na \ i l l a da b a r r a d o I l i o g r a n -
de, u m dos caudaes d o R i o d e S. Francisco, r e v e n d o e u o
are h ivo d a respecliva c a m a r a i n u n i c i pai, a c u j o p e d i d o
c o o r d i n a v a i l i n a iuformacào estatislica, exigida pelo g o v e r -
no da p r o v i n c i a de Minas-geraes, da q u a l eutao fazia p a r -
te essa v i l l a , e todas as mais da c o m a r c a de q u e ella é ca-
beca ( 5 7 ) , d e p a r e i c o m o r e g i s t r o de u m o f f i c i o , q u e e m

(5fi) Jiiito Nero ftlarlms, que se dìz proprietario do terreno, onde teve lu-
gar a p r i m e i r a descuberta, p e r c e n t i u t n a oitava de o u r o p u r cada braca q u a -
d r a d a , q u e demarcava aos m i u e i r o s , e s e r c e n d o p u r està fvnua as funcroes»
que a antiga iegislacào fazia p r i v a t i v a dos guarda-móres,
( 3 7 ) A c o m a r c a do R i o de S. Francisco, segundo sua p r i m e i r a organisacào,
DA PROVINCIA DA BAHIA

3 8 0 3 dirigio o d e z e m b a r g a d o r Jose da Silva Magalhàes, e m


q u a l i d a d e de o u v i d o r d a c o m a r c a de J a c o b i n a , q u e eniào
c o m p r e e n d i a a s o b r e d i t a villa, r e m e t t e n d o ao capilào geue-
r a l F r a n c i s c o d a C nutra Menezes oito oitavas de o u r o , ex-
t r a j d o p o r u m dos m o r a d o r e s d o termo de C i n q u e - c i n q u e ,
nas proxìmidades da referida s e r r a , a c c r e s c e u t a n d o q u e a
falla de a g u a s v e d a r a - l h c o p r o g r e d i r e m ulteriores inves-
tigardes n a q u e l l a paragem: fundio-sc esse oftro na c a s a d a
m o e d a desta capital, o n d e reconheceo se ser d e subidò
quilate, e c o m m u u i c a d a tal descoberta, p e l o m e s m o go-
v e m a d o r , a o m i n i s t e r i o o m L i s b o a , teve e m resposta o
aviso d e 1 0 de n o v e m b r e d o a n n o cita dò? pelo q u a l l h e
era d e t e r m i n a do procedesse e m m a i o r escala nessàs inves-
tigacòts, i m m e d i a l a m e u l e q u e o p e r m i t t i s s e a estacào p l u -
viosa; m a s o u fosse p o r effeito d o descuido. s e m p r e fatai
e m negocios de geral utilidadc, o u p o r q u e as c i r c u n s t a n -
cias politica* q u e sobrevierào, e obrigarào a m u d a n e a d a
comecava pelo sul da confluencia do rio Carìnhanha, limile seteutriomd da
v i l l a do Sàlgado , e t e r m i n a v a ao n o r t e na fasenda Sobra l o - v e l b o , abaixo d a
vìila d e Pilào-arcado, tendo a extensoo d e cento e cincoenta e q u a t r o leguas,
ao l u n g o da margoni occidental d o r i o q u e Ibe empresta o n o m e , e cincoenta
n a sua maior l a r g u r a : l i m i t a v a a leste com a antiga comarca d e J a c o b i n a ,
ao oéste c o m as provincìas ile Goiaz, e Piauhy, e p e r i cucia o seu t e r r i t o r i o a d i -
latada comarca d e J a c o b i n a , d a q u a l f o i separada , e r e u u i d a a d o sertào
de l'ernambneo, criada p o r a lvara de r.5 d e j a n e i r o d e 1810, ale que, p o r o u t r o
alvara d e 3 de j t i n b o de i 8 a o , f o i desmembrada dessa comarca, e elevada a iden-
t i c a categoria, scudo scu p r i m e i r o o u v i d o r o d e t c m b a r g a d o r Joào Carlos L e i -
tào, Os movirnenlos r e v o l u c i o n a r i o s , o c c u r r i d o s na capila! d e P e r u a m b u c o età
1824, fi/ciào cimi qne, p o r d e c r e t o de 7 d e j u l h o do mesmo anno, fosse tempo-
r a r i a m e u i e n n i d a a p r o v i n c i a de Minas-geraes, sendo entào nomeado para seu
o u v i d u r o dezembargador M i g u e l J o a q u i m d e C c r q u e i r a e S i l v a , mas t o r n o u ,
p n r decreto d e i 5 d e o u t u b r o de i S a ? , a fìcar provisoriarnenle encorpo-
r a d * .1 Bahia, em q u a n i o nào se procedesse a or^niisacào das p r o v i n c i a do i m -
p e r i o . P o r delermiuacào i m p e r i a i , cm p o r t a r l a da segretaria de estado dos ne-
gocios d o i m p e r i o , e x p e d i d a c m a8 de ngoslo d e i S a i , deo dons depu'ados A
reprc^entacào nacional , e suscitou-se a observancia desta detormiiKicào, e m
o u t r a p o r t a r i n d e 1$ d e agosto de i8%5, d i r i g i d a ao presidente de Minas-geraes
e m resposta ao scu o f f i c i o a tal respf i t o , d e 20 d e j u l h o d o mesmo anno, proce-
dendo a apuracào de igual n u m e r o de deputados, e à da lista t r i p l i c e para u n i
senador, na cabeca da comarca, depeudeudo p o r o in da assemblea jjcral o d e c i d i r
sobre a vota cào, coni que devia a mesma comarca c o n c o r r e r , para designar oa
memhros dos conselbtis do g o v e r n o c d e p r o v i n c i a , p o r t a r i a es?.a u l t i m a que fi-
cou d e n e n h u i u e f f e i t o , p o r assim o resolver o c o r p o legislativo.
MTOoniÀfi.mSTolUCAS, E ?OLiTTCAS

sede da m o n n r q u i a p a r a o Brasi!, dictassem se sobreestl-


vesse e m l a i d i l i g e n c i a , o q u e v e m a ser fora d e d u v i d a é 9

.que esse r i q u i s s i m o deposito d e preciosidades naturaes


jaseo o c c u l t o , até q u e o m e r o accaso t o r n o t i - o patente,
c o n f o r m o fica r e l a l n d o ,
E m b a r a c o u t a m b e m os p r i m e i r o s t r a b a l h o s d a mincracào
dessa segunda descoberta a sécca, q u e l o g o a ella succe-
deo, p o r isso q u e tornava-se e m verdade penosa a c o n d u c -
cào d o cascalho, a ser lavado n o l u g a r d e n o m i n a d o Lagòa,
q u e fica a m e i a legua d e distancia, i n o o m m o d o este q u o
era todavia c o m p e n s a d o d e sobejo, c o m a q u a n t i d a d e de
o u r o , q u e se c o l i n a nessa lavagem, q u a s i l o d o graùdo, t a l -
vez p o r q u e nào soubessem a p r o v e i t a r os p e q u e n o s g r a n i -
tos: n o silio d o p r i m e i r o d e s c o b r i m e n t o , h o j e c o n h e c i d o p o r
L a v r a velha, e q u e é f o r m a d o d a mais pittoresca p l a n i c i e ,
d e urna m i l h a d e p e r i f e r i a , b o r d a d a d e collinas e m o n -
tanhas, acharào-se bastantcs folhétas de g r a n d e valor, e
e n l r e a l g u m a s , q u e a p r u d e n c i a d i c t a v a se occultassem,
sabe-se d e urna c o m o i t o l i b r a s d e peso, e x t t a i d a p o r Joào
- P e r e i r a , e o u l r a d e c i n c o l i b r a s acharla p o r D e m e t r i o D o u -
r a d o , sendo i n n u m e r a s as de c e m a c i n c o e n t a oitavas. A.
posicào p l a n a desse t e r r e n o , f a c i l i t a r l a o desvio das aguas,
Uaquelie sitio da Lagòa p a r a as lavras e m operacào, se os
actuaes m i n e i r o s se sujeilasser.i a t r a b a l l i o m a i s Valigante;
m a s elles c o m p a r t o m i n t e i r a m e n t e os prejuizos, senào i n -
dolencia d e seus predecessores e m t a l e x o r c i c i o , e c o n i o
o solo aurìfero, é d e extensào de m u i t a s leguas, vagueào
de contìnuo faiscando, o u fevrando os lugares nos quaes
m a i s c o m m o d a se Ihes a n t o l h a a m e s m a mincracào, v i n d o
està p o r consequencia a nào passar atc h o j e de'pequenas
p r o f u n d i d a d e s n o s e s p a c o s p l a n o s , e a estarem ainda intactas
as m o n t a n h a s e c o l l i n a s , q u e se dilatào p o r t o d o a q u e l l e
t e r r e n o , ja c o n h e c i d o por e x p e r i m e n t o s m i n e r a l o g i c o s .
Distào as lavras d o A s s u m a c e n i leguas ao oeste desta.
capila!, descseis a lèste d a villa de C h i q u c - c h i q u e , d e cu-
ja jurisdiccào fazem p a r t e ; secenta d a v i l l a d o U r u b ù ao nor-
i e , e v i n t e ao s u l da V i l l a d a b a r r a , cabeca d a comarca d o
I l i o de S. F r a n c i s c o , r i o este q u e scrvinclo n a t u r a l m e n t e
do m e l h o r l i m i l e a antiga divisao, i b i todavia ullrapassa-
do, para fazer-se p e r t e n c e r à m e s m a c o m a r c a a s o b r e -
d i t a v i l l a , c o n f o r m e o estabelcceo a lei p r o v i n c i a l n.° 6, d e
I
DA P R O V I N C I A D A B A H I A . 443

2 de m a i o d e 1835, q u e a l t e r o u aquella divisao: seu c l i m a


é excellonle, o t e r r e n o e n x u t o e s u s c e t t i v e ! de l o d o o s e -
n e r o de c u l t u r a , ofFeroceudo m a i o r lacilidade à minefacaó
o ser g e r a l m e n l e l i v r e de grandes pedras, e n t r e as cama-
das de terra e o c a s c a l h o , sem i g u a l m e n t e cueontrar-se
agua ale a p r o f u n d i d a d e de t r i n t a palmos*.
C o m m u n i c o u a c a m a r a m u n i c i p a l de C h i q u c - c h i q u c ao
p r e s i d e n t e da p r o v i n c i a essa descoberta (58;, em officio de-
4 3 de a b r i l de l'òo7, q u e pelo mesmo presidente Ibi remet-
t i d o a tesouraria da fasenda, o r d c i u i n d o - l h c lucsse obser-
var o r e g u L m i e n l o de ÌU de fevereiro de 1832, e provider..
ciasse sobre a boa arrecadacào dos d i r e i l o s nacionaes ( 5 9 ) ;
mas aquella c a m a r a , a q u e m se d i r i g i o o i n s p c c l o r d a mes-
ma tesouraria J o a q u i m lìento Pires de Figuoiredo, e x i g i n -
d o q u e ella indicasse as pessoas, q u e deviào s e r v i r de tesou-
r e i r o e escrivào p a r a lalexaceào, t e n d o a p r i n c i p i o allega-
d o nào haver a l i , q u e m esse encargo qui/esse tornar, nada
mais r e s p o n d e o a o u t r o s oiìicios congeneres, seni q u e tam-
b e m n e n h u m a das a u l o r i d a d e s se iìzessc cargo de p r e v i -
n i r p o r o u t r a q u a l q u e r f o r m a somelhante f a l l a , o u tratas-
se d e fazel-a responsavel p o r sua ouimissào,

(58) Illm. e Exni.° Sr.—Lev'amos ao conhcciuienio de V, Ex. o auge a que


0

piospéra esle m u n i c i p i o , p a r se haver p r e s e n i c m c n t e desc.dicrto urna mina nas


serras d o Assurua deste mesmo m u u i c i p i u , em a q u a l nos cousta q u e j a -se t e m
t i r a d o algumas pureòes de l i b r a s de ouro; pela q u e re prese nUmios a V. Ex,, se-
g i i u d o os deveres de nossas obrigaróes, a firn de p r o v i d e u c i a r o q u e esliver ao
alcance de V. Ex. Accresi entumos mais q u e està camara é sommamente p u b r e ,
q u e nào t e m c o m q u e satisfafia os seus empregado*, e precisóes, e p o r isso mes-"
mo queira V. Ex. dar-uos alyuinas posturas sobre o o u r o , para remediarinos
as precisóes aciiua ditas. Deos g u a r d e a V. Kx. V i l l a de Chique-chique em ses-
sào o r d i u a r i a i'( de a b r i l de i 8 3 ? , — C l e m e n t e Mretualdo de Magalliàcs, 1'.—Joao
X a v i e r da Cosla — M a n u e l P e r e i r a de Carvalho—José de Souza N o g u e i r a — M a -
n o e l X e t t o Martin»,
(àc,) T e n d o a camara munìcipal da villa de C h i q u e - c h i q u e , em o f f i c i o de i 3
do mez p r o x i m o passado, c o n i m u n i c a d o a este g o v e r n o haver-se descoberto nas
serras do Asmiua, do mesmo m u n i c i p i o , urna m i n a de e u r o , da qnal se l e m j a
cxìraido algumas libras desse metal; incluso I r a n s n i i t l o a V. S. no p r o p r i o o r i -
ginai o r e f e n d o o f f i c i o , para q u e na f i r m a d o regulaiuento de 14 de f e v i r e i r o de'
lQìi providenciesol.no a boa arrecadac/io d..s direilos d o o u r o extraìdo da d i -
t

ta^ m i n a , sendo conveniente q u e V. S. faca r e metter a mesma camara Ufo exera-


p i a r , o u c o p i a d o citado règulamento. Deos guarde a V, S. Palaci.) d o g o v e r n o
da Bahia »o de maio de i8ij,—Francisco de Sousa Paraiso.—Sr. inspeetor i n -
terino da tesouraria*
MEMORIAS HISTOR1CAS, E POLITICAS

C r c s c i a o c a d a vez mais proveitosos os t r a b a l h o s a u r l f e r o s ,


e ja u m grande espaco de leguas era c o n h e c i d o p o r sua r i -
quesa m i n e r a i , q u a n d o o c o n s e c u t i v o a p p a r e c i m e n l o d e
diamantes veio desapontar aquelles t r a b a l h o s , desviando os
q u e nelles seempregavào para essa o u t r a laboracào, a q u a l ,
sobre ser mais facil, aprcsentou-se l o g o tào s u p e r i o r m e n -
te vantajosaj q u e é h o j e assas d i m i n u t o , e m proporcào, o
n u m e r o dos q u e se occupào na ex I r acca o do o u r o .
F i c o u j a n o t i c i a d o a pag. 121 d o presente v o l u m e haver-
se e n c o n t r a d o diamantes na c o m a r c a de Jacobina, u n i d o s
quaes, a c h a d o na c h a p a d a q u e faz vertente para o r i o Paiaià
g r a n d e , f o i r e m e t t i d o ao celebre m i n i s t r o d'estado m a r q u e z
de P o m b a l , e o i t e n t a d o u s annos de t o t a l i n d i f f e r e n c a a es-
sa descoberta erào v o h i d o s , logo q u e e m 2 9 de s e t e m b r o
d e 1837 a p o r t o u à v i l l a de C i n q u e c i n q u e , v i n d o de M i -
nas-geraes o alferes A n t o n i o R o d r i g u e s M a t a , c o m o d e -
signio de t r a b a l h a r nas lavras d o G e n t i o , h a v e n d o a b a n d o -
n a d o as q u e possuia n a q u e l l a p r o v i n c i a , o q u a ! d i v i s a n d o ,
pela estrada p o r o n d e seguia ao l u g a r d o seu destino, d i -
versos i n d i c a t i v o s naturaes d e e x i s t e n c i a de d i a m a n t e s , c o -
n h e c i d o s e n t r e os M i u e i r o s pela denominacào de cativos,
f e r r u g e m , safiras, feijào, e o u t r a q u a l i d a d e d e pedras ver-
des, a q u e c h a m à o e u x o f r e ; r e a l i s o u suas c o n j e c t u r a s l o g o
na p r i m e i r a e x p e r i e n c i a , q u e fez e m o d i a 2 2 de n o v e m -
b r o det.se anno, n o sitio a p p e l l i d a d o Cotovèlo, q u e hea afas-
t a d o sete leguas a leste da lavra d i a m a n l i n a , q u e o r a t e m
a invocacào de S. l g n a c i o , a c h a n d o u m d i a m a n t e d o peso
d e v i n t e l o e m e i o ( 6 0 ) , e successivamente o u t r o s de m a i o r e
»

(60) Commummente cm Minas-geraes n!io se falla em quilates; vinlens. qua rio?


e oilavas é o modo de contar o valor dos diamames, que se pes^o na mesma ba-
lanca de pesar « ouro; mas nas operacoes geraes os diamantes brutos avaliìo se,
levau !o a« quadiado o seu peso, e multiplic-ando o producto p o r duas libras
sterlina*, que correspondem a :02Ou rs.
Nosbriilt-antes, nos quaes se suppóe haver a mctade de quebra na Japidncao
da onra, d.>hra-se prhneiramente o seu peso, que tambem depois é levado ao
qùadrado, multiplicaudo-se, conio acima fica dito, o respeclivo produclo.
Jeflriés no Tratado dos diamantes, fazendo urna taboada dos seus valores,
traz poi exemplo um brilhante de peso de dous quilates em bruto, com o u t r o de
igual peso depois de Iapidado desta m a n e i r a —
Exemplo do diamante bruto — a X » = ' i X * ' da 8 " ou a8#*oo rs.
s h

Exemplo do diamante I a p i d a d o — a X ^ X ^ t ò X a dà ou iiàgiaoo rs.


DA P R O V I N C I A DA BAHIA

m o n o r v a l o r , c m todas as mais cxperiencias, a q u e proce-


de" em diffeieutes direccoes dessa p a r a g e m , scudo nota-
0

vel a c o i n c i d e n c i a c o m i g u a l descobrimento o u l r ora n o


Serro d ò f r i o , pois q u e t a m b e m a p r i n c i p i o custosaniente
se couvenrerào os mineiros d e o u r o , das vantagens relati-
vas d a extraecào d i a m a n l i n a .
Fica a lavra d e S. I g n a c i o e m u m valle de quatrocentos
a q u i n h e n t a s bracas de extonsào, c o m oitenta na maior l a r -
g u r a , e dista dc2 leguas ao occidente da Lavra velha, c o n -
t e n d o j a urna i r r o g o lai* povoacào, d e mais de q u i n h e n i a s
casas de pequena m o n t a , còberlas c o n i a p a l m a da carnaù-
ba, palmeira est i q u e , b e n i corno os cajueiros agrestes, e
o u t r a s seinellVàntes arvores p r o p r i a s dos terreo os ariclos,
c o n s t i I n e m quasi exclusiva a végetacào dos lugares adjaceti-
tes a m e s m a povoacào: è fertilisada p o r u n i bello m a n a l i -
c i a l , seu c l i m a passa p o r saudavel, c o m q u a n t o assas c o m -
balìda seja d e vèntos f o r t i s s i m o s , o constando d e p o u -
c o mais d e seis cenlas pessoas d e ambos os sexos, os q u e
d e n t r o della fasem sua residencia e decliva, c o m t u d o
apresenta e m todos os d o m i n g o s o v e r d a d e i r o aspeeto d e
u r n a feira a b u n d a n l e , p o r scr e m taes dias q u e a l i se r e u -

Segundo Mawe, faz se tal nvaliacao quadrando o peso da pcdra, e moltipli-


cando o p r o d u r l o p o r o i t o libras sterlina s, que vem a d a r o mesmo resultado
d o calculo d e Jeffriés: mas està regra varia m u i t o n o merendo, por quanto a
mais pequena falba n« diamante, o u o ser esté i m p e r l i l o , o u malfigur.ido,a i n -
da q u e puro; bem corno se l i r a a cor ama i e l l a , a / u l , verde, o u qualquer o u t r a
q u e nào seja 'de agua pura, d i m i n u e con^deravelmenle d e v a l o r , e de o r d i n a r i o
a teiva parie o u a meta d e : nestcs cssos pode l o mar-se o n u m e r o d o m u l t i p i i c a -
d o r m-iis allo.
Os l a p i d a r i os d i v i d e m os diamantes em brilbantes. rosas, eortados^ e pingentes,
e f o i inventada ; i 1 ipidacào em *4y5 pur L u i z d c B e r q u e u , n a t u r a i de Bruges, nos
Paizcs-baixos A n s l r i a c o s , » q u a l imaginando, d u r a n t e o curso de seus esludos
n a universidade de P a r i s , a maneira de d o m a r este m i n e r a i , até entào inallera-
vel, levo, d i z M. A. d e Caire, o pensamento feli/, de ebegar, p o r meio d o a t t r i -
t o d o d a m a n t e contra o u t r o diamante, a urna descoberta, q u e mere ce fazer epo-
ca na bisioria das b e l l a s a i i e s , e q n e e x c i l o u em Bruges aadmiracào, parceen»
do conio u m p r o d i g i o . O s t r c s priméiros diamantes b i p i d a d o * p o r Rerquen, os
quaes som<nie t.nìiao a superiicie p l .na, forào p o r elle apresenlados a Carlos
d u q u e d e B o r g o n h a , q u e llios havia fornècido c m b r u t o , e q u e acorocoou o
a u t o r d e tal descoberta, mediante u n i presente, eniào r e p u i a d o magrnbco. O
l e i t o r i n s t a n d o q u e mais intcressir v e r sobre e s u especie, aclial-o-à e r u d i t a -
m e n t e de.nonstrado na M e m o r i a ja citad.» d o conselheiro Kesende, beni corno
p o r A- C a i r e — S c i e t r c e da picrrcs précieuses, applìquées anx /tris.
T O M O V- ° %
4#G MEMORI AS FTISToniCAS, E POLITICAS

nem os gnrimpeiros, os quaes, em numero maior <le qua-


Irò m i l ; emprogào os o u t r o s dias da semana t r a b a l h a n d o
pelos arredores, e m differéntes lugares nào menos rieos d e
diamantes, e o m o especialmente os sitios ora eouhecidos c o n i
denominaedcs de Pinlùr; e P i u t e r / i u h o , L a v a g e m , Mài-
Léonor, R a n c h o d o Schaeffer, e S. Joào, onde ja t a m b e m
Se achào o u t r o s lantos pevoados, m e r e c e n d o porém r e p u -
t a r l o mais va n la j osa os diamantes desta u l t i m a l a v r a , q u e
passào geralmeute p o r iguaes e m qualidade aos m e l h o r c s
do Oriente.
Depois q u e u n v s e m n u m e r o de factos desvancceo na E u -
r o p a a idèa, da inexistencia de diamantes no Hrasil, p r o p a -
gada p o r alguns e s r r i l o r e s , pela m a i o r parteFrancezes e l n *
glezes, e os mcrcados p i i n c i p a e s d o velho m n n d o a b u n d a -
vào dessas prcciosidades, seguirào-se-lhes outros^ rebaixan-
do a t a l p o n t o os mesmos dinmantes, q u e p o r p o u c o n e u r
rìeviào * c c u p a r espaco e n t r e as pedras valiosas. i\ào era p o -
l é m somcnle naqueiles tempos, q u e o Hrasil so Uria de se-
me! ha nles publicaeòcs, t u a r a v i l h a n d o ainda mais q u e h o j e ^
q u a n d o sua a u t o n o m i a , e relaeoes politicas p o r e x t r e m o o
tornào c o n h e c i d o , c o n t i n u e m a apparecer obras eslrangei-
ras, recheadas de tautos doest< s. edetam;.nhos a b s u i d o s ,
c o n t r a este i m p e r i o , q u e exacerbào a bilis do estoico mais
d e p n r a d o : sirva de e x e m p l o o ja c i t a d o A de Cafre IM
science des piei res prècuutes, c u j a segunda edicaò. p u b l i c a d a
e m Paris e m 4835, l o i c o r r e g i d a e a d d i c i o n a d a p o r M.
L e r o u x Dufìé.
Està o b r a , alias s o m m a m e n t e apreciavel pelo q u e per*
tence a l i t h o l o g i a ; contém n o p e q u e n o a i t i l o relativo ao
B r a s i l e r r o s tào grossoiros, q u e , a sereni e n n u n c i a d o s p o r
o u t r o s , constiluil-os-ià'o na o r d e m dos apedeutas, o u da-
q u e l h s q u e suppòe a v i l t a r o p a i z , medianteossarcasmos e as
i n j u r i a | : exigia talvez a p l i i l o t i m i a nacional q u e nào passas*
sem i m p n n e s certos topicos mais notaveis da m e s m a o b r a ,
quaes o haver sido f u n d a d a a cidade de S. P a u l o p o r b a n -
didos,e salteadores de ditlerentes nacòes q u e ali se abrigarào,
t e n d o p o r u n i c o officio o c a t i v e i r o dos i n d i o s , christianisa-
dos pelas missòes d o Uraguay e Paraguay; c o n s t i ! u i r a q u e l l a
p r o v i n c i a n a i a r e p u b l i c a , q u e denomiuào de S. P a u l o dos
M a m c l o n e s , e dtelarào reger-Se i n i e i r a m e u t e s o b o r d i n a d a
ao g o v e r n o P o r t u g u e z ; nào ser m a i s q u e u m topasio b i a n c o
DA PROVINCIA » A BAHIA. 447

© grande diamante de 1680 quilates, enconlrado no Abaité,


e ora possuido pelo m e s m o governo; e, finalmente odar-se
n o Brasi! a denominacao de cidade a u m aggregado de t r i n l a
o u q u a r e n t a cabanas, mas desconcerlos taes rofulào-se p o r
si mesmos, m o t m e n t e q u a n d o e m conlraposieào se apre-
scntào as interessanlissimas obras dos naluralistas Mar-
t i us, Spix, Saint H i l a i r e , e o u t r o s q u e occupa© d i s l i n c t a
pqsicào no m o n d o scientifico, Assim pois l i n i i t a r - m e - e i ao
a n a c i i r o n i s m o , e e r r o historico e m q n e incorrerào os r c f e r i -
dos lithologos, Iratand© d a descoberta dos diamantes c m
o n o v o m o n d o , c o m q u a n t o para isso Vejo-mc l o r c a d o a
t r a n s p o r as balisas das presentes Memorias, i n t e r r o m p e n d o
a narrativa da descoberta das lavras d o A s s u m a , c o m urna
abreviada dcscripcào d o eslabelocimento, e fundacào da c i -
dade d e Cuiabà, e p r o v i n c i a d e Mato-grosso, para o q u e
c o m p e n d i a r c i o i l l u s l r a d o m e m o r i s t a m o n s e n h o r Pizarro,
e o u t r o s ©seniores conlerraneos, i g u a l m e n t e apreci;;veis.
C o m notavel d o g m a t i s m o a d i r ina o M. Cairo e Dufié haver
sido o P o r t u g u e z Pascoal Moreira Cabra!, q u e m e m 1724
d e s c o b i i r a o Cuiabà, t e n d o saldo d e S. P a u l o ao cativeii o
de indios selvagens, e q u e e i n v i r t u d e de suas relaeòes,
sobre a riqùesa a u r i f e r a q u e ali havia e n c o n l r a d o , man-
d a r a o governo f u n d a r aquella c i d a d e : coutinuào q u e as
pessoas para isso enviadas. levando o r d e m de exammarein.
c u i d a d o s a m e n l e o paiz, descobrirào diamantes nas arèas
das pequenas torrente», q u e desi e m das m o n l a n h a s do Pa-
raguay, e q u e P o i t u g a l nào t e n d o o u t r o a l g u m d u c i l o a es-
se t e r r i t o r i o , q u e o d e h a v e ! - o % c u p a d o f u r l i v mente, p o r
q u a n t o fazia parte dos d o m i n i o n Hespanhoes, occullàra sol-
l i c i t o as riquesas dessa p a r i e d o c o n t i n e n t e descoberto,
proibind» sob graves penas o alrayessar-se o lìrasil, e i s -
t o de c o m b i n a cào c o m a córte de Iicspanha, aro q u o p r o -
t e g i d o pelo gabinete d e L o n d r e s , q u e seni prò conside-
r o u taes eslados c o n i o u u i a sua p r o v i n c i a , conseguip eife-
c l u a r o t r a t a d o de l i n i ites d e 475U, para o q u a l igual inenle
c o n c o r r e o ser a esse t e m p o casada u r n a das psancesas Por-
tuguezas, c o n i o rei F e r n a n d o d a mesma Hespanha, c o n -
c l u i u d o d e l u d o isto t e r sido e m Cuiabà, q u e se desco-
brirào os p r i m e i r o s diamantes d a A m e r i c a , onde nào se
haviào autecedentemente e n c o n l r a d o o u t r o s p r o d u c l o s pre-
ciosoSj a excepeào d a esmeralda do Perù. Oeixando p o -
so*
ÌU% MEMORIAS TI1STORICAS, E POUT*C\«

rem do parte as eontradiccòes que à vista deste rxtraclo se»


lào obvias a i l i o strada petietraéào d o lei t u r , passarci ao es-
seneinl.
Poucos annos anteriore» ao de 1626, levados alguns Pau-
listas d o i n d u r a i c a r a t t e r i s t i c o de seus c o m patriota?* me-
d i a n t e o q u a i , p e n e t r a n d o i n b o s p i l o s sertòes, e a r r o s t a n d o
os maiores perigos, tornarào patente todo o c o n t i n e n t e Bra-
s i l i e , subirào o I l i o - p a r d o , e t o r n a n d o a b a r r a dos rios
A n h a n d o y e A n h a m b o b y , chegarào à Yacaria. d o n d e nào só
desaiojarào os Hespanlioes q u e ali encontrarào, mas tam-
b e m destro itfaó seus estabelecimentos, recolliendo so depois
a c i d a d e d e S. Paulo, da q u a l haviào p a r t i d o : seguirào-se-
Ihes pelo t e m p o adtànte o u t r o s , q u e n a v i g a n d o pelo Para-
guay, b e m corno pelo C o x i m , Imbotetiù, hoje M o t i dogo, e
pelo Cahy, c o m m a n d a d o s p o r A n t o n i o Pires de Campos,
p e r s e g u i n d o o g e n t i o Coxipóne, cliegarào à C n i a b n , o n d e
porém nào permanecerào, legando à Pascoal M o r e i r a (Ca-
b r a i , t a m b e m Paulista, a gloria de lancar os f u n d a m e n t o s
a essa cidade, pois q u e r e m o n t a n d o p o s t e r i o r m e n t e , a testa
de urna b a n d e i r a , o r i o Còxipò, a c i m a de c u j a b a r r a a c h o u
o u r o e m g r a n d e a b u n d a n c i a , firmo u sua habitacào n o silio
q u e d e n o m i n o u F o r q u i l h a ,atraido,assiti! c o r n o seus compa-
n h e i r o s , d a riquesa a u r i f e r a d a paragem, c u j o s indigenas
até constituiào p o r u n i de seus enfeiles, as grandes palhe-
tas de o u r o q u e traziào.
Ahi hzerào pianlaeoes, estendendo-as pelas margens d o
Coxipó e Cuiabà, e, baveri d o e s c o l h i d o os novos c o l o n o s
ao m e s m o C a b r a i p a r a seu chele, c o n i o l i t u l o de guar-
da-mór, obrigando-se, p o r u m t e r m o l a v r a d o aos 8 d e
a b r i l d e 1719* a obedecer-ihe, expedirào A n t o n i o A n t u n e s
Macie! ao capilào general de S. P a u l o , 1). P e d r o d e A l m e i -
da, c o n d e de A s s u m a r , a n o t i c i a r l h e essa descoberta: nào
era Pascoal Moreira C a b r a i reveslido de predicados scien-
tifìcos, nias possuia c m sunu.no g r a n aquella p r u b i d a d e ,
d i s t i n c t i v a dos h o u i e n s a n t i g a s , especiahnenle d o i n t e -
r i o r , c u j o s resqnlcios ainda hoje se notàó e m seus descen-
dentes, e regeo c o m l o d o acerto a nova colonia, ad m i n i s -
t r a n d o j U s t i c a verbai a seus c o m p a n h e i r o s até 17"23, t e m -
p o e m q u e o p r i m e i r o g o v e m a d o r p r i v a t i v o dessa p r o v i n -
cia, R o d r i g o Cesar d e Menc/.es (61 j , e x c l u i o - o seni causa

ffiii A provincia de S. Paulo, que comprcendiu cìncoenla leguas de costa, e


DA r n o r o r m DA B A H U ,

jiiM'ficadi. do cargo quo tao dignamcnfe exercia, para o


GOnferir a Joào A n i m u s Maeiel, p r i v a n d o t a m b e n i a Fer-
n a n d o Dias Falcao da cspectàctiva d o m e s m o lugvtr, q u e o
p o v o Cuiahàno Ilio oulorgàra, p o r l e i m o assinado e m o dia
6 do j a n e i r o d e 1 7 2 1 e d a n d o l h e apenas a s u p e r i u t e n -
1

denoia dos t e r r e n o * m i nera e*.


A nolicia d e tanlas r i q u e / a * naturaos, q u e abnndavào
nesse d i l a l a d o pai/., desaflou rapida afiluencia do m u i t o s ha-
bitantes d e S. P a u l O j Minas geraes, e R i o d e J a n e i r o , os
quaes reunidos e m c o m b o i s , subirào e m diiFerentes mezes
tio a n n o de il 7 2 0 o r i o A n h a n d o y , a travès d a Vacaria, e
passando ao Paraguay pelo imboieliù, descobrirào novos l u -
gares a u r i f e r o s : perecerào p o r c m alguns daquelles a v e n t u -
reiros, p o r falla do pratica d e l a i navegacào assas perigosa,
e os q u e escapaiào, estabelecerào sua habilacào na F o r q u i -
l l i a , o n d e se conservarào, alò i niìgrarem para as lavras d o
S u l i l , descobertas em o u t u b r o d e 1 7 2 3 p o r d o u s indios»
que enviados pelo Sorocobano M i g u e l S u t i l . e m busca de m e i
de abelhas, voilarào c o m 120 oitavas de o u r o , e m vinte

chegavaatp os limites ile Mato-grosso com os Hespanboes, ahrang<mdo tambem


o t e r r i t o r i o q u e ora forma a p r o v i n c i a de Minas-geraes, f o i a p r i n c i p i o rrgida
p o r capitàes mórcs loco-tenentes de seus reSpectivos donatario», sujeitos mela-
v i a , em cert.'S materia», ao g o v e m a d o r g e r a l <Io iìrasìl , ao» ouvidures geraes, e
aos p m v e d o r e s mórea da fazenda, e passou em 1709 a classe de capitania gerat*,
p o r determina cào d o r e i D, Joào V., sendo de novo encorporadas ao d m i n i o da
corda Portugueza aqnellas 5o legna» de costa, e mais terreno que constiIUÌa a an-
tica capitania di-S. V i cento, p o r compra effeciuada , pela q n a n l i a d e quarenta
n i i l cruzados, em e s c r i p t u r a p u h l i c a passàHa aos 1$ d e setembro de 1711, sr*rvin-
d o de vendedur o marquez d e Cascaes D. Luìz A b a r e s de Castro e Sousa , q u e
a possuia, p o r b c r a n e a de D. Pedro Lopcs d e So»sa, precedendo para tal c o m p r a
o alvaià ile 2 ? de o u t u b r o d o precitado anno.
A g u e r r a c i v i l elitra os Paulistas e os Portu^uezps, conbecidos daquelles pela
denoniinncàu de emboabas, e o u l r a s coiisideracoes di* politica, dictarào essa me-
dida,sendo p r i m e i r o g o v e m a d o r da mesma nova capitania A n t o n i o de A l b u q u e r -
qne C o d i l o d e t r a i valbo, que t o m o u posse a :S de j u a l i o d e 17 m, seguiudo-se-lbe
l). B r z Balthasar da Silveìra em 171 3, e I ) . Pedro de Almeida P o r t u g a l , conde
de Assumar, cm 1717, no p e r i o d o de cuja administracào erigiò-^e, p o r a Iva r a de
a de dezembro de 1.3 *0, a p r o v i n c i a de M>n >s-geraes, separada da d e S. P a u l o ,
passando a g o v e m a d o r p r i v a t i v o desta o s o b r e d t t o R o d r i g o Cerar de Menezes,
cuja posse f o i a 5 d e setembro de 1721. Estes e o u t r o s faclos bistoricos, do
bastante interesse a nossa bistoria g e r a l , scrào mais ampiamente Iratados no Ea-
saio //'Storico — Estatistieo e Geografico sobre o //rasi/, obra eui q u e ura me occupo,
e que sera publicada quaudo isso me for possivel.
150 M E M O R I A S I I I S T O I U C A S , E l'OLITICAS

tres folhefas. eneontradas no lugar onde ora existe levanta-


da a capeila de 31. S. do Rozario da cidade de Cuiabà , de
cujo s i t i " , no ribeirào de Prainha, se extrairào em u m só
me/, quatrocentas arrobas de ouro, mira parte do qual acha-
\a-se quasi à superficie da terra.
Eni virtude poisdessas nolicias,e para execueào de ordens
regias, resolveo o mcucionado govemador passar da capi-
tal de S. Paulo ao novo continente em julho de 4724, do
que ale seientihcàra'a Pascoal Moreira Cabrai, eincarta de
30 do me/, antecedente, mas teceoso da navegacao pelos
rios, esperou que se concluisse a nova estrada, de cuja a-
bertura encanegou a Manoel Godinho de Lara, e por ella
chegou a Cuiabà em o dia 4 5 de novembre de 4726, e m
companhia do ouvidor da comarca Antonio Alvares Lanhas
Peixoto, fazendo logo erigir em villa o pequeno arraial que
ali existia, sob a denomiuacào de Villa real do Senhor B o r a
Jesus do Cuiabà, t i t i l l a r de sua igreja matriz, edifìcada e m
3722 à expensas do capitào mór Jacinlo Barbo/a Lopes, e
c o m essa nova criacào li vera o os paeifìcos habilanles de sof-
Irer toda a casta de perseguicòcs, e violencias das respcctu
vas autoridades judiciarias.
Foi eievada à categoria de cidade por lei de 17 de setem-
b r o de 1818, e jaz na latitude de 15.° 36', e 321.°, e 23',
segundo as observacòes feitas em setembro de 4786, pelos
matematicos Antonio Pires da Silva Pootes, e Francisco
«(osò de Lacerda, engenheiros llicardo Franco de Almeida
Serra, e Joaquim José Ferreira, bem corno polo naturalis-
ta Alexandre Rodrigues Ferreira, e outros que ali chegarào
a 26 de fevereiro, e 12 de marco de 1782 para a demarca-
celo doslimites do Brasil, c o m os dominios oulr'ora de Hes-
panha , cotnpreendendo o seu territorio mais de ceni le-
guas de extcnsào norte-sul, em cujo espaco habitào cerca
de quarenta m i l almas, pelo pouco accrescirno que tem re-
cebido a populacào desde 4818, tempo em que seu» bahi*
aantes nào passavào de 57:396, conforme cousta do mapa
entào remettido ao dezembargo do paco pelo ouvidor d^s-
sa comarca.
lista assentada na margem o r i e n t a i , e 96 leguas acima
da fuz do rio que lhe euipresta o nome, cujas aguas mis-
tnradas com as cìo de S. Lourengo, por espa^o de trinta le-
guas, c o n d u c i l i no Paraguay, aos 1 7 % U \ 58", u d e m o r a a urna
DA PROVirs'CtA DA BAHIA. 451

m i l h a d a m a r g o n i esquerda d a q u e l l e r i o , e m u m valle p i t -
toresco e espacoso, q u e se a l e u t a na dhecoào d o n o r n o r -
deste ao s u l sudueste, fecbado ao oriente pelos inórros d o
B o m despacho e Ro/ario, e ao occidente pelo d a Boa-via-
gcm.
Dista d o R i o de Janeiro, a o noroeste meio oeste, 2 8 1 l e -
guas geografica*; da Bahia 3 5 0 , a oesle meio sudoesie; d e
F e r n a m b u c o 449, a oes-sudoeste; de Maranhào 357, ao s u -
doeste; d o Para 3 2 7 , ao sul-sudoeste; d e S, P a u l o 2 3 0 ,
ao noroeste; d o Porto-alegre 3 0 1 , ao n o r t e meio noroeste;
da cidade de Mato-grosso, o u t r ' o r a capital da p r o v i n c i a
do m e s m o nome, 7b' a lèste meio sudoeste, c o m p o u c a d i f -
ferenza; d a cidade d e O u r o - p r e t o 249, a oes-ooroeste; d e
Goiaz 1 2 9 , a oeste meio noroeste; de Monte-video 392 ao
n o r t e ; da cidade da Assumpcào d o Paraguay 199, ao n o r -
te m e i o nordeste, e 4 60, quasi n o m e s m o r u m o , da V i l l a
real d o Paraguay: d o forte de B o u r b o n 1 1 4 , a o n o r t e
q u a r t a e meia ao nordeste; d o d e C o i m b r a 9 6 , ao n o r n o r -
deste; d o presidio d e M i r a n d a 80, ao n o r i e a p r o x i m a d a -
mente; de S. Rafael d e C h i q u i t o s 9 5 , a Ics nordeste; d e
Santa C r u z de la Sierra 470, a lèste meio nordeste, o d a c i -
dade de L i m a 4 4 2 , a les-sueste meio s u l .
Poratleneào à s a l u b r i d a d e de seu e l i m a , passon a ser
a capital da p r o v i n c i a , c u j o p r i m e i r o g o v e m a d o r , D. A n -
tonio R o l i m de M o u r a , nomcado em 2 5 de setembro de
1 7 4 ^ , apenas t o m o u posse desse governo a 17 de janeiro
d e 4751 : l e m c i u c o l e m p l o s , ineluida a igreja p a r o q u i a l ;
u m bello c h a f a r i z , u n i vaslo qùartel par.i a forca ria g u a r -
n i r l o , q u e até 1825 coilstava de 8 4 9 pracas d e 1 . " e 2 / l i -
n h a ; u m h o s p i t a l d e lazaros, e o u t r o da misericordia; suas
casas sào g e r a l m c n l e terreas, abunda e m m a n t i n i e n l o s d e
t o d o o $.< nero, e ja m a n teve frequentes relaeòes c o m m e p r
ciaes c o m o Para pelo r i o Tapajós, e m favor d e c u j a nave-
gacao passou a classe d e v i l l a , órdenada pelo alvara d e 2 3
de n o v e m b r o de 4820, o arraial D i a m a n t i n o , q u e d e m o r a
t r i n t a leguas distante d o Cuiabà ao nor-nordéste, e na l a l i t ,
de 44°, 37', e 5 9 % d e l o n g .
A naturesa foi excessivamentc p r o d i g a c o m a provincia
de Mato grosso, quasi ern todos os seus r a m o s ; possue f a -
mosas salinas mincraes n o lugar d e n o m i n a d o Vargem , 4'i
leguas a o sudoeste d a c a p i t a l ; o terreno è fertilissimo para
452 ME MORÌ AS ilTSTOniCAS, t rotPrtCÀS

q u a l q u e r genero de c u l t u r a ; cortào-na differontes r i o s ,


c u j a navegacào c o m t u d o é assàs diflìcultosa, pelas m u i t a s
cachoeuas q u o Ihes o h s t r n e m o cnrso; a b u n d a e m gado de
todas a s especies, e suas opulenlas minas de o u r o , cujo t o -
q n e pela m a i o r p a r i e excccle de 23 quilates, ainda cxistem
d e r r a m a d a s p o r t o d o o seu vasto t e r r i t o r i o , espi r a n d o q u e
o a u g m e n t o da populacào, c o e m p r e g o dos meios da arte,
t o r n e m a fazer s u r g i r dell i s a q u e l l a e x l r a o r d i n a r i a q u a n -
t i d a d e desse m e t a l , q u e n o p r i n c i p i o do est 'beleeimento da
p r o v i n c i a se colina quasi seni a m e n o r fadiga \62).
Foi porém depois do v i n t e dous annos d o d e s c o b r i m e n -
t o dos diamantes n o Serro d o f r i o , q u e i g u a l preciosidade
se a c h o u em Cuiabà : havia a provisào de 2 6 de m a r c o de
4 7 4 2 d e l e r m i n a d o ao o u v i d o r da c o m a r c a de S. P a u l o ,
q u e procedesse ali à divisao das terras e n t r e os habitantes,
b e m c o r n o à criacào de justieas o r d i n a r i a * nas minas de sua
jurisdiccào, e aehava-se e m 4746 c u m p r i n d o essa o r d e m o
o u v i d o r Manoel A n t t m e s iNoguoira, q u a n d o apparecerào os
p r i m c i r o s diamantes, no descoberto q u o dcsoito annos a n -
tes, sendo g o v e m a d o r da p r o v i n c i a R o d r i g o Cesar de Me-
sìezes, t i n h a feito a bandeira d o capitào m ò r G a b r i e l Àntu*
n e s M a c i e l , para cujas lavras c o n c o r r e o nesse a n n o a m a i o r
forca dos m i u e i r o s , seduzidos pela riquesa q u e encerra-
vào, sobre t u d o os lugares adjacentes ao morrò v i s i n h o
do R i o d o o u r o , t r i n t a leguas afastado d o Cuiabà , o qua!,
cngrossado c o m as aguas d o D i a m a n t i n o , c o n f i n e no Para-
g u a y p o r sua m a r g e m occicjental o u d i r e i t a ; e nào o h s l a n -
te sereni de d i m i n u t o t a m a n h o esses diamantes, m a n d o u
o s o b r e d i t o o u v i d o r i m m e d i a t a m e n t e su spender o progres-
so dos t r a b a l h o s mineraiogicos, e os da c u l t u r a da p a r a -
g o n i , edespejar l o d o o p o v o q u e nella se achava, o q u a l
p e r d e n d o i n tetramente suas plantacòes, soffreo os h o t r o r e s
da t o t a l p e n u r i a d e c e r c a e s , q u e s o b r e v e i o , augi nenia da
c o n i a falla de chuvas alò s e t e m b r o de 4 7 4 9 , a 24 de c u j o
mez u n i h o r r i s o n o trovào Servio de p r e c u r s o r d o i r e m o r
da t e r r a , q u e a l i se e x p e r i m e n t o u , d a n d o està tres balancos
compassados, Revogou-se todavia depois de m u i t o s annos

(fia) Apesar do qne sena de&viado aos direilos, entrarao na casi de fundicào
de Cuiaba, e m o anno de 1772 , em q n e ella foi eslabelecida, cento e sete a r r o -
bas, tres marcos, duas oncas, d u a s oitavas e quarenta e dous gràos*
DA PROVINCIA DA BAHIA. 353
t a l p r o i b i e a o , p o r effeito de repetidas supplicas das.cama-
ras da p r o v i n c i a , c o m a c o n d i c i o de fica r e m pertencendo
a c o m a todos os diamantes q u e apparecessem, e em con-
fi! qu oncia disto eomeeou o o u v i d o r Sehastiào JPita de Cas-
t r o a nova divisao das terras, e m o dia 13 de maio de 1805,
criando«se depois a j u n t a de g r a t i f i c a r l o de diamantes e m
Cuiabà, c o n f o r m e fora estabeiecido p o r c a r t a regia de 13
de n o v e m b i o de 1809.
• Fica a p r o v i n c i a do Mato-nrosso c o n i p o u c a difierenca
no c e n t r o da America m e r i d i o n a l , c é a mais Occidental d o
i m p e r i o , entre os p a r a l l i los de 7% 36', e 2 2 % e os m e r i d i a -
no* de 5 2 % 3 0 % e 6 7 % 7% e 30'% q u o tocào seus pootos
ma:s s a l i e n t e ao n o r t e , s u l , lèste, e oeste, distando o p r i -
m e i r o d o segundo 2 8 8 leguas, e o terceiro d o q u a r t o 3 1 0 ,
f o r m a n d o urna superficie a p r o x i m a d a de 48,000 leguas
quadradas.
F m beneficio de seus interesses e s p i r i t u a e s , e a i n s t a n -
cias d o r e i l ) . Joào V., expedio o papa lìenediclo X I V . a
b u l l a Condor lucìa (vtcr?ue, de 6 de dezembro de 1746, pela
q u a l separou a m e s m a p r o v i n c i a d o bispado d o R i o de Ja-
n e i r o , e r i g i o d o nella a prelasia de Cuiabà, e conta até hoje
OS seguintes p r e l a d o s — o padre José ìNtcolau de Azereclo
C o u t j n h o G e n t i l , q u e sendo nomeado ètti 23 de Janeiro de
1782, c o n f e r i u d o - l h e as k l r a s apostolicas de i ! de o u t u -
b r o do a n n o seguinte, o U l u l o de bispo de Z o r a r a , jamais
Saio de P o r t u g a l : o conego r e g u l a r de 8. Joào Evangelista
L u i z de Castro Pereira, sagraci o e in. .14 de j u l h o de 1805,
c o m o l i t u l o de b i s p o de Ptoìomaida, q u e regeo d i g n a -
m e n t e a diocesc até o 1." de agosto de 1822, dia e m q u o
fuileeeo, e o a c t u a l bÌ3po de Chrisopolìs, e de Cuiaba ( 6 3 ) .
C o n t i g u a ao valle da lavra de S. l g n a c i o , cujas tei ras
p e r t e u c e m ao padre Joào R o d r i g u e s Cova, acha-se a serra
o r a d e n o n i i n a d a Diamantìna, ao aspecto da q u a l associa-
Se ao ebservador m i n e i r o a idèa da riquesa q u e ella encer-
ra: suas s u m m i d a d e s f o r m a d a s pela nature/a de rochas g i -
gantescas, suas chapadas e collinas c o m grandes pedras de
f o r m a p i r a m i d a l , assentadas sobre superiicies arenosas, e
exlensos iagedos c r u s t r a d o s de eriataes, e entrecortados de

(G3) Confer. Pisarr. Mem. cit. Alìmourt Viag. a Cuiaba, Cosca Pereira Dice.
•top. do Hraail, e a uiiuba Corografo Paradise.
TOMO V. a«
45u MEMORIAS H1ST0RICAS, E POLlTidAS"

canacs, oiTerecerem os mclhores r e s u l t a d o s ao q u e nelle»


busca diamantes, encontrando-os t a m b e m nos lugares c o -
nhecidos p u r canaes d a serra, q u e sào porcoes de t e r r e n o
cncosladas a grandes rochcdos,talhados p e r p e n d i c u l a r m e n -
te. C o m t u d o as eseavacoes maiores nessa mineracào nao
l e m passado de q u i n z e palmos, p o r isso q u e os diamantes
sao obvios. logo q u e à pequena p r o f u n d i d a d e d a terra ap-
pareeem os p r o d o m o s n a l u r a e s dessa preciosidade, s u p e -
r i o r e ^ as camadas d o cascalho, scudo tào facil a extraccao
d i a m a n t i n a , q u e até os menìnos seentregào c o m p r o v e i t o
a scmelhante mincracào, e se t e m e n c o n t r a d o alguns dia-
inantes n o cstomago das galinhas ( 6 6 ) .
Jà erào conhecidas q u a t o t z e leguas de terreno d i a m a n -
lìno, e c o m t u d o nào cessava a iusaciavel avidez dos g a r i m -
pciros de estender a t a l p o n t o suas investigacòes, q u e n o si-
t i o S. Pedro, t r i n t a leguas ao s u l d a sobredita lavra, a c h o u
A n t o n i o Alves das Y i r g e n s alguns diamantes, e m todas as
expericncias para i*so feitas, sendo p o r o u t r o s e x p l o r a d o r e s
c u c o n t r a d o s ainda a m u i t o maior dislancia, nos taboleiros
d o Morrò d o chapeo; mas o d e s c o b r i m e n t o de iguacs p r e -
eiosidades n o l u g a r até entào c h a m a d o Cocal, e ora C h a p a -
da-grande d i a m a n t i n a , t e m c o n c o r r i d o a q u e ainda aquellas
duas paragens estejào vazias d e mineìros. Fica o m e s m o si-
t i o d o Cocal n a continuacào da serra d o A s s u m a a o n o r -
i e , e cerca (le v i n t e leguas ao o r i e n t e da villa de Macaubas,
a c u j o d i t t r i c t o pei tence, e nào só pela rìquesa d e suas l a -
vras, e t a m a n h o de seus diamantes, alguns dos quaes l e m
se e x t r a i d o de peso excedenté^ de oitava, corno t a m b e m p o r
sua posieào p r o p r i a a f a c i l i t a r todas as relacòes c o m d i v c r -
sos p o n t o * d o i n t e r i o r , alóni de outras m u i t a s \antagens,
l e m a t r a k l o n u m e r o s a q u a n t i d a d e d e pessoas de todas as
classes, excedendo j a o n u m e r o d e c i u c o m i l os q u e ali se

(64) N a distartela d e urna legua ao oeste d a povoacào d e Santo I g u a c i o exls-


t e a lagòa I t a p a r i c a , famosa p o r sua cxtcnsào d e duas leguas norte-sul com urna
d e l a r g u r a , e mais r e c o m m e n d a v e l ainda p o r s e r v i r de p o r t o aos daquella po-
voacào, para a navegacào d o R i o de S. Francisco, c o m o q u a l se c o m i n u n i c a p o r
i n e i o d e seus canaes-: c r i a a b u n d a n t e d i v e r s i d a d e d e pesca d o , e de suas adja-
cencias se exiià.- a n n u a l m e n t e grande q u a n t i d a d e d e sai, q u e constane n o inte-
r i o r u m dos geueros de g r a n d e c u sto-, notando-se mais nas suas adjacen ias
urna nova especie de pastagens para o gado, e a b u u d a r em madeiras d e cons-
Iruccào, p r o p r i a a unicamente das muta* virgens.


DA PROVINCIA DA BAHIA 355
encontrào, c sendo r e c o m m e n d a v c h seus d i a m a n t e s pela
bellissima forvnacào q u e os reveste ( 6 5 ) . D u a s leguas ao no-
roeste dessa p a r a g e m acha-se o u t r a lavra d e n o m i n a d a Bar-
r a d a solidào, c u j o s d i a m a n t e s s u p p o s t o sejào de menor
t a m a n h o , e m relaeào aos eonhecidos, gosào todavia de me-
l h o r a p r e c o , e x c e p t u a d o s os d a lavra d e S. Joào, sendo
desconhecidos o s q u e e m Minas-geraes se distinguem c o n i
a d e s i g n a r l o do olhos d e m o s q u i t o e area, talvez por per-
d e r e m m o n a lavagem.
N à o menos de q u a t r o annos de eifectiva laboracào d e
taes m i n a s se haviào volvido, e quantidade copiosa d e s c u
o u r o e diamantes ja era c o n h e c i d a na E u r o p a , q u a n d o o
juiz d e diretto d a c o m a r c a do R i o d e S. Francisco, F r a n -
cisco Pereira Dtitra, paiticìpou semelhante descoberta a o
governo ptovincial, e posto q u e nào importasse essa p a r t i -
(63) Os diamantes nào sò diiYerem de stia forma exlerior mas tambem aprc-
sentào variodades em su i l e x t u i M i n t e r i o r , tfaity Theoric sur la strutture t/es cris-
taux, ol-scrva q u e està I e x t u r a eompòe-se d e lamhins parallelas, que se separào
na lapidacào, pelo q u e suppóe q u e as moUcuIas integrantes deste m i n e r a i sào
t e t r a e d r o * reguiares, e q u e o d i a m a n t e Ionia extcrnameute a f o i ina de u m octae.
d r o exacm, cujas faces naturaes sao muitas ve/es convexas. Os diaiuautes b r u -
tos apparerei» revestidos das mais hcllas e reguiares f o r mas geometrico* ; sua
c o r e I b m i a assemelbào-se muitas vezes à gomma arabia , mostrando a appa-
r e n z a p o i i d a , p r i n c i p a l m e n t e as pedras iriguèiras, e outros sào bacns tendo den-
t a d a a , e asperas as suas la m i nas. Segundo Mawe, a f o r m a mai» c o m m u n i dos
di.unantes bruros é a octaedra , roodiiicada v a r i a d a m e n t e na o r l a com facè-
t a * e p i r a m i d e * baìxas, em cada face dos t r i a n g u l o s . Segue-se a d o decadre-
d o , q u e tambem se apicscnta differentemente nnidificado, o u ncs fios ou nas
facétas: o u t r o s sào chaios e tri;.ngulares, a q u e ebamào diamantes de veia, e
q u a n d o detgados, serrào-se e cortao-se para diamantes rosas. O cubo é a for-
ma mais r a r a , e n e n l i n m a substancia n o r e i n o minerai mostra em m i n i a t u r a
tao beila variédade de solido» reguiares corno o diamante.
Està d i f f e r e n c a d e qualiilàdes relativas em terrenos apioximados, nao é no-
va e n t r e os Ihbologos. M. Caire a pag. 3» de sua o b r a j a citada, rel'ere que»
sendo o r d i n a r i a m e n t e cctaedros os diaiuautes de Cani, e cubico* os de Malaca,
poder-se d p a r t i r desse p o n t o para cxaininar-lbes a nalurcsa , o tecìdo, e a
crnsta, tornando p o r base o q u e mostrar cada variedade p o r meio da arte.
N à o c r e i o , c o n t i n u a e l l e , q u e aie agora alguem se t e n i a occupado em esami-
n a r , se a diversidade das Ibrmas i n d i c a differcucas na rigesa dos diamantes;
urna sem duvida duve aebar-se, e, bum q u e ligeira, descobiir-se-a pela aceào
da m ò , reconbecendo-se igualmente q u e a tinta e a transparencia, sendo d e
alguma sorte i u v a r i a v e i s n a mesma mina, m u d à o todavia m u i t o .ordinariamen-
te de urna a o u t r a veia.
ai*
MEMORIAS HISTORICAS, E POLITI CAS

cipacào o n i e n o r objeclo eie novidade, todavia foi c o r n o t a l


aco lorda, e t r a n s m i t t i d a ao m i n i s t r o do i m p e r i o ( 6 6 } , c m
v i r t u d e d o q u e ex j ed io-se pela reparlicào d o t e s o u r o p u -
b l i e o o aviso s c g u t n t e —
I l l m . * e Exfnv S r . — T e n d o - m e sido t r a n s m i l t i d o pelo se-
0

n h o r m i n i s t r o d o impecio, o officio q u e V E x l h e d i r i g i o
e m 2 8 de j u l h o deste anno, n.° 22, a c o m p a n h a d o de o u -
t r o d o juiz, de diretto da c o m a r c a do R i o de S. Francisco,
e m q u e p a r t i c i p a o a p p a r e c i m e n to d o o u r o e diamantes na
serra do A s s u m a , e pede providencias para obstar à ex-
traccào. q u e a l i é feita p o r g r a n d e c o n c u r s o d o povo, cabe-
m e declara r a V. Ex.» e m resposta ao s o b r e d i t o o f f i c i o , q u e
a respeito da extraccào d o o u r o deverà fazer observar o de-
c r e t o de 47 de s e t e m b r o de 4824; c o m as devidas m o d i -
fìcacòes, isto é, s c u d o s u b s t i t u i d o s o o u v i d o r e juiz de
f o r a pelo juiz de d i r e i t o da comarca, p a r a servir de i n t e n -
dente, e a j u n t a da fasenda e c a m a r a s m u n i c i p a c s pela t e -
s o u r a r i a , e respeclivas colleetorias, para se effettuar a ma-
n i f e s t a l o d o o u r o , e a deduceào dos d i r e i l o s : e q u a n t o à
dos diamantes, c u m p r e q u e V. Ex faca observar a legisla-
cào a n t i g a , q u e os declara pertencentes ao fìsco, e o b r i g a
as pessoas q u e os achào, sob graves penas, a manifestal-os
às a u t o r i d a d o s , para os r e m e t t e r e i n ao tesouro. Deos g u a r -
de a V. Ex. palacio d o Rio de Janeiro e m 3 de s e t e m b r o
de 1 8 4 0 , — M a r t i n i Francisco litbeiro de Andrada— Sr. p r e -
sidente da p r o v i n c i a da Bahia.»
Està determinacào porém nào m e l h o r o u a indifFerenca
d o m i n a n t e e m negocio de t a m a n h a i m p o r t a n z a , pois q u e
consistirào as medidas adopladas, e m m a n d a r - s e d a Villa da

(CO) Nào ficou na secretoria ilo governo a copia do officio do refendo juiz,
q n e talvez desse alguma n o t i c i a mais delalhada, sendo o p r o p r i o o r i g i n a i en-
v ù d o para o R i o de J a n e i r o c o m este o f f i c i o — *
I l l m " e Exm.° Sr. T e n d o r e c e b i d o o o f f i c i o i n c l u s o do juiz de direìto da
comarca do K i o de S. Francisco* e m q u e d a n d o p a r t e de haver a p p a r e c i d o a
poucos annos q u a n t i d a d e de o u r o e diamantes na serra d o Assurti a, pede p r o -
videncias para obstar & extraccào, que ali é pratica da p o r grande cònctirso de
povo, v o u t r a n s m i t t i r a V. E x . està i m p o r t a n t e n o t i c i a , para d e l i b e r a r o q u e
mais conveniente lhe pareeer, e haj» de ser determinado pelo' regente em no-
me d o l i n p e r a d o r . Uens guarde a V. E x . p a l a c i o d o g o v e r n o da bahia 38 de
j u l h o de 1S40. I l l m . " e Exm.° 5 r . J o a q u i m José Rodrigues Torres.—Thomas
X a v i e r Garcia de Almeida.
DA PROVINCIA DA BAHIA

b a r r a para as lavras do Santo Ignacio o l i o guardas e u m


officiai, dos q u e consiituiào a forca p o l i c i a l d a uioncionada
comarca, deslacamento este que, ainda q u a n d o o quizesse,
nào podia p o r sua d i i n i n u t a forca obstar à extraccào dia-
n i a n t i o a , servi odo apenas de impòr u m s i m u l a c r o de bar-
i e i r a aosactos attentato rios da mullidào b eterogenea j>a q u a l
lw.je a u t o c e p h a l a , e l i v r e desse mesmo fantasma p o l i c i a l ,
e x t i u c t o p o r assim o d i c l a r e m as economias modernas ( 6 7 ) ,
d i r i m e pelo d i r e i t o do mais forte suas controversias, q u e
a l i , b e n i corno e m todas as mais lavras, frequentemente se
suscitào, e pelas quaes m u i t o s c r i m e s espautosos se l e m
p e r p e t r a d o nesses lugares.
Extge todavia a verdade bistorica se diga nào t e r sido a
indufereuca a corca de taes minas esclusiva partitila das au-
toridades proviuciaes, p o r q u a n t o ella t o m i g u a l m e n t e affé*
c t a d o o u t r o s poderes maiores da nacào: e m officio de 3 1
de j u l h o de 4 8 4 1 r e m e t t e o o referido inspector da tesou-
r a r i a d a fasenda, ao m i n i s t r o presidente d o tesouro p u b l i -
eo n a c o r t e , onze diamantes b r u l o s , c o n i o peso de 5 gràos,
q u e lite t r o u x e r a o j u i z de d i r e i t o j a nomeado Francisco
Pereira D u t r a , havendo-os tornado a u m g u a r d a p o l i c i a l ,

(fi?) Ao consideri*r-se q ordinariamente prodozem entre nós effeitos op-


ne

posto* as restriceòes economieas, estuhelccid.is quasi sempre sobre os objeetos


de interesse mais v i i a l ao pai/., deve-se concìli i r o u que a sciencia economi-
ca amda està l o o g e dos q u e dirigerli a marcila dos negocios puMieos, o u q u e
esses, levados apenas p o r abstrartas teorias, nào consultào as verdadeiras ne-
cessidades e circunstaneias do mesmo p.auz': nao e dado a q u i descer-se a de-
uionstracào desta t e n i v e l verdade, mostrando quantas vezes; p o r taes desacer-
tos, o u l e m desappareeido i m c i r a i n e u t e , o u so l'irido e x t r a o r d i n a n o elasterio
as cifras das cousignacòes, e as leis do o r n a m e n t o ; em lugar competente v o l -
t a r c i a este i m p o r t a n t e objeclo.
Mao ha l i m i l o tempo q u e vagueava pela povoacào do C o c a l u m scelera-
do mestico cognominàdo' P a o - f e r r o , sem q u e n i n g u e m ousasse c a p t n r . l - o ,
apesar de ser conhecido p o r p e r p e t r a d u r de desoito Kòmicìdios, e outros m u i -
tos d e l i i t o s menores praticados a l i , e em differentes lugares p r o x i m o s : deste
manomano porém aeba-se agora l i v r e a h u m a n i d a d e , p o r q u a n t o q u e r e u d o
augmenfar o n u m e r o de suas v i c t i m a s na pessoa de Joaqu i n Pascoal, q u e f e -
llamente sobrevìveo ao t i r o de baca marte q u e delie recebera, f o i preso p o r
l u n a especie de companbia m i l i t a r , que os negociantes daquella paragem e
m i u e i r o s de maior v u l t o fizeiào e n i r e si, para g a r a n t i r e m suas pessoas e bens,
sendo tambem morto pebis q u e ò conduziào a cadèa d a villa de l J i i q u e c i n -
que, a p r e t e x t o de resistir-lbes, p r e t e x t o este q u e iufclizuiente serve de t e u i -
pos para cà de apoio a iguaes assassinatos.
55S M E M O R I A S IITSTORTCAS, E P O L I T I C A S

e accrcscentava nesso officio encontrar-se lai preciosidade


à fior da terra na povoacào d e S. Ignacio, onde g r a n d e m i -
ni» r o de exploradorcs e negpciantes, especialmente d e Mi»
nas-gcracs, occupava-se nessa extraccào; mas foi t a l c o n s i -
d e r a r l o dada à se mei haute partieipacào q n e n e m ao me-
nos mereceo .resposta, praticando-se d e i g u a l maneira a
rcspeito de o u t r o officio d e 8 d e j u l h o <le 1842, pelo q u a l
r c p c t i n d o - s e a mesma partieipacào, pedia a q u e l l e i n s p e c t o r
explicacòesa cerca d a intelligcncia ( 6 8 d o r e g o l a m e n t o d e
34 d e fevereiro d e 1832.
N o consideravo! cstado regressivo q u e ora a presenta està
p r o v i n c i a , e m todos os r a m o s q u e f o m e n l a o a prosperidade
p u b l i c a , e q u a n d o ìnfelizmt nte crescem todos os dias as des-
pesas do estado, q u e apenas sào e q u t l i h r a d a s c o m o a o g -
m e n t o , sempre odioso, dos imposto», sem atteneào ao aba-
t i m e n l o quasi geral das ciasses c o n t r i h u u i t e s , e seni q u e a
estas se m i n o r e o gravame ( 6 9 ) de taes imposicòes, u i e d i a n -

(68) Moti vou este segumìo officio o que se transcreve —


••Tendo este g o v e r n o i l e fazer marchar, para a comarca do R i o d e S. F r a n -
cisco, urna forca de rio praca* do hatalbào p r o v i s o r i o , q n e se t o r n a a l i neces-
saria, p r i n c i p a l m e n t e p a r a e v i t a r o e x t r a v i " dos d i r e t t e * do o u r o e diamantes,
q u e se t i r a p na serra do Assurua, onde, segundo sou i n f o r m a d o , l i a u m c o u -
c u r s u p a r a mais de t.ooo pessoas, originando-se p e r essa causa algumas de-
sordt-ns; c u m p r e q u e V. S. ma n de entregar p o r adiautamento a caixa d a q u e l l e
hatalbào a quantia d e I:Ì.;O6OOO r * p o r c o n i a do minìsterio d a g u e r r a , a
f i n i d e qne se possa c o m essa q u a n t i a p r e p a r a r a r e f e n d a forca d e capotes e o
mais necessario a viagem, visto n a o haver na mencionada caixa quantia n e n h u -
Ria para taes despezas. Deos g u a r d e * a V, S palacio do governo d a iìaiiia 8
d e j u l h o d e 1843 — J o a q u i m José P i n h e i r o de V a s c o n c e l l o s . — S r . inspector i a -
t e r i n o . da tesouraria da fasenda.»
Marcitoti com effeito essa f o r c a , commandada pelo capitào A n t o n i o dos Santo?
C a s t r o , q u e devia operar deb.dxo das ordens do tenente corone! Jose A n t o -
n i o d a Silva Castro; mas beni longe d e seguir para as lavras d o A s s u r u a , t o -
m o l i a direccao da v i l l a de Pilào-arcado, onde ainda se conserva, bem q u e
cerosamente, p o r isso q u e eslào fìndas as eontestacóes entre duas fnmilias po-
rosas dessa v i l l a , q u e a p r i n c i p i o Gzerao i n c u t i r receio a t r a n q u i U i d a d e p u -
l i i tea.
(tip) O celebrado economista .1. lì. Say j a disse n o l i v . 3. cap. y d e seu t r a t .
d e ecouoni. p o i i t . — L e v e r un iinpo't, c'est/aire un tori à /a societè, tori qui n'est ba
lance par attenne avatttage, toules Ics fois qu'on ne lui rena" aucnn iCrvìce en eckange
Este p r i n c i p i o porém, c u i q u e silo accordes todos osecouoniistas q u e tenho l i d o ,
p a r t o e ser co usa, d e n e u h u m m o m e n t o p a r a o Rrasil, onde até facilmente se esque.
c e m l e r n v e i s factos c o n t e m p o r a n e o ^ q u e confirinào o a x i o m a do citado escritor-
D A P R O V I N C I A DA BAHIA 159

te sna applicacào em objectos de real ulilidade, as minas


do Assurua, que, regolarmente aprovehadas, basta riào a
restituir à mesma provincia seu antigo esplendor e vita-
lidade (70), nem ao menos tem dado aos cofres publioos o

(70) Ha t e r r e u o s q u e pelo arado nào dào f r u c l o , mas sendo cavados c o m 0


picào d o m i n e i r o custeuiào mais do q u e se fossem feneis: este p r i n c i p i o de Xe-
nop'iunte Sabre as rendas dos Athenienses cap, 1. serve de epigrafe a unta Me-
morìa r e l a i i v a as vantagens da m i nera cào, escrita pelo sabio José Bonifacio de
Andr.<da e Silva, e pubi'.cada n o Patriota de j u l b o de 18 13.
<-) i l l u s t r e Paulìstano, c u j o nome sera eternamente grato ao Brasi), deplora a
cegueira, e o d e l c i x o dos q u e estào dissuadìdos dos grandes p r ^ v e i t o s que i r a t a
coriiStgo a lavra r e g u l a r das minas, com urna boa administracào m e l a i l u i g i c a ,
accrcscentaudo, nos transportes do entusiasmo patriotico q u e t a n t o o d i i t i n g u i a ^
Q u e m bavera q u e tendo juiso, licào da iiistor.a, e alguns conlieciinentos de eco-
n o m i a ).ubbia, possa d u v i d a r da u i i i i d a d e da mincracào, para qualquer pais r i -
co em produccòes mineraes? A mincracào povoa montanbas esoalvadas, e ebar-
necas-inuteis, e as ap'mha, coni o a n d a r do t e m p o , d e aldéas, villas e cidades: e l -
la euriqnece immediata, o u mediatamente, o e r a r i o public.» com os l u c r o s p r o -
venienies das minas, e dos d i r e i l o s metallicos: fomenta m u i p a r t i c o l a r m e n t e o
c o m m e r c i o e a i n d u s t r i a n a o i o n a l , e se as fabricas tem obstaculos quasi i u v e n -
civeis, para se c o n s t i t u i r e m em concorreucìa eotn as estrangeiras, conio e n t r e nòs
succede; q u e o u t r o mudo paia urna nacào d e i x a r de e m p o b r e r c r , e nao despo*
voar-se, d o q u e a lavra em grande dos seus mineraes, coni q n e a Piovideucia
q u i z eurìquecel-a? Sem o seu ferro e cobi e, q u e scàa hoje em dia da Succia, e
dos vastos desertos da Siberia?
De&ies e o u t r o s prtucipìos< q u e boje se encontrào igualmente expendidos pe-
l o i l l u s t r e lluiiìho\àli~*£ssai poiitiqtic sur te royaume de la nouvelle E'pagne u>m.
a. pag. $r)3 e tuoi. 3 pag i o, beni conio pelo r i l a d o economista J. B. Say
ìiv. i . cap. i 5 , conciue aquelle respeitavel sabìo, q u e as minas fomentadas e
adminìstradas r e g n l a r m e n t e , pòe em cucnlacào riquesas immensas, debai-
xo de f o r mas diversissimas; abrem novas f o n tes, sempre perennes, de n u t r i -
calo e soccorro a l a v o u r a , ao commercio e a» arles; criào e sustentào u m gran-
d e nùmero de hracos, e d i m i n u i n d u a ociosidade e a mendicidadc das co-
inarcas, (irmào o socego e a se^uranca p u b l i c a ; espulhao luzes e conbecinien-
tos uteìs p o r urna grande p a r t e da nacào, e augtnentào, finalmente, a d i g n i -
dade d o b o m e m social, pelas victorias q u e obtém todos os dia* c o n t r a a na-
turesa, muitas vezes m a d r a s l a , executando maquinas e traballio» portentoso?.
I,to q u e ncs prova a bistorta moderna, confirma-se pela antiga, pois q u e os
povos mais fainosos da a n t i g u i d a d e , os Egypcios, os P h i n i c i o s , Cregos, Carta.
ginezes e Rumatili» tìrarao da l a v r a de suas minas sua p r i n c i p a l n q u e s a , e, o
q u e è mais, a sua civilisacào.
É nào menos digna de ler-se sobre està materia o e x t i a c t o de o u t r a Memo-
r i a , escrita pelo barào d'Kschwege, naturalista e p r o f o n d o letterato, que bas-
tantes servicos t e * prcstado ao Brasili a m i n e r a l o g i a , e a inontanistico, duran-
le sua l o n g * r e s i d e n c i * em Minas-geraes, na c a p i t a l de cuja p r o v i n c i a Uve o
5C0 HEMORTAS niSTGTtlC\S, E POMTICAS

r e n d i m e n t o dos q u i n t o s , d e tanta q u a n t i d a d e d e o u r o ,
q u e dellas ha sido exfcraido, no espaco d e mais de sete a n -
nos de sua eflectiva laboracào, e seus nunierosos d i a m a n -
tes segue n i f r a n c a m e n t e a direceào d a E u r o p a , sendo o
p r i n c i p a l ent reposto delles a cidade d o R i o de J a n e i r o ,
pois q u e o estaciouarìo, o u antes marasmodieo, c o m m e r c i o
a c t u a l da Bahia i m p e l l e aos q u e se empregào e m t a l m i -
neracào, a d i q i o r e m ali mesmo d o resultado d e seus t r a b a -
Jhos, ao enxame d e coutrabandistas q u e successivamente
c o n c o r r e aqnellas la* ras, s u p e r a n d o os i n c o m m o d o s e d i s -
tancia de semel halite j o r n a d a , p o r isso q u e as vantagens re-;
sultantes d e tal negocia^ào, compensào-ihes d e sobcjo t o -
dos os dispendi os e fadigas
Passa igualmente p o r c e r t o haver diamantes em d i v e r -
sos lugares d a c o m a r c a dos llhèos, e alò a cerca .disso re-
ferem-se alguns faetos, q u e t o d a v i a nào se p o d e m a i f i r m a r ,
p o r falla de ulteriores investigacòes a respeilo desse m i n e -
r a i , c e n i t u d o é sabido possnir a mesma c o m a r c a o u t r o s
e m g r a n d e copia, scudo ja coohecidos especialniente o o u -
r o , f e r r o , zinco, e seleni tes descoberto u l t i m a m e n t e na f a -
senda d e n o m i n a d a Q u e i m a d o , o i t o leguas acima da foz d o
r i o I t a i p e , e alétn de urna lagòa q u e desagua n o mesmo
r i o pela sua m a r g o n i austro!
Sabc-se t a m b e m desde 1 8 0 8 q u e è s o m m a m e n t e a u r i -
fera a serra d o A r u b n , d i s t r i c t o d a Conquista d o seriào d a
Ressaca, c o n h e c i m c n t o esse devido ao r e s p e c l i v o capitào-
m ó r Joào Goncalves d a Costa, q u a n d o na q u e l l e a n n o p e r -
c o r r a t a l c o n t i n e n t e , c o m m a n d a n d o urna b a n d e i r a c e n t r a
os indios selvagens, .que haviào hostilisado algumas fasen-
das, ignorando-se t o d a v i a o m o t i v o p o r q u e d e i x o u d e p r o -
g r e d i r em o u t r a s indagacòes locaes, c o n i o l h e fora o r -
d e n a d o em aviso d e 2 d e o u t u b r o d o mesmo -anno, e'xpe-
d i d o ao g o v e m a d o r desta p r o v i n c i a , pelo m i n i s t r o de es-
t a d o o conde, depois marque/,, d e A g u i a r , a q u e m o ines-
Xno capitào u n i r havia r e m e t t i d o urna a m o s l r a d o o u r o d e
sua descoberta, q u e se v e r i f i c o u n o R i o de Janeiro ser
de q u a l i d a d e s u p e r i o r .

prazer de conhecél-o: està segunda Memoria aeba-se a pag. 65 tom. 4 das Meni,
d a Acad, r e a l das scieneias d e Lisboa, a qneni leu' apresentada, sendo i g u a l u i e n -
l e apreeiuvel o u l i o i g u a l escrito d o UKSIUO u a l u r a l i s U i , q u e se le* d e pag. i a
ji d o t o n i . 9 dussas M e m o r i a s .
DA PROVINCIA DA BAHIA. 161

Conhecem-se diffcrentes lugares abundantcs de amethis-


tas, especialmente no termo da villa de Caitilè, onde tam-
bem se encontra o manganés, e posto q u e o ferro (71) seja
c o m m u n i em muitas partes, distingue-se poréni a mina de
ferro oligisto, que se acha no sitio da Copióba, tres leguas
ao esnoroeste da villa de Maragogipe, e cujas qualidades so-
bremaneira eleva o naturalista 3. Parigot, que a visitou
em fevereiro de 1841, declarando avantajar-se ella a to-
das as mais congeneres do lìrasil, ja pela superioridade
de sua posicào, j u n t o de u m ribeirào que pode dar à fa-.
brica, quo ali se estabelecer, urna forca ino torà excedente
à de dusentos cavallos, ja por sua facil communicacao
com o r i o Capanéma, caudal da bahia cm q u e se acha
està cidade, ja finalmente pordever prosperar a mesma fa-
brica, no meio de u m districto qual o reconcavo, queem-
prega em sua lavoura tanto ferro, que superabunda na-
quelle lugar (72).

(71) Com officio rie »5 de fevereiro de i?53 remetteo o govemador conde


de Atouguia, ao ministro de estado Diogo de Mendonca Corte-real urna aniostra
de f.dha de flandres, fa h ricado em Minas-novas do Arassuahy', pelo fcrreire
Antonio Kodrignes Comes, com o ferro que ali mesmo ex tra i r a , corno cons-
tava da partieipacào que a tal respeilo lhe fizera o coronel Pedro LeolÌno_ Ma-
ri?., Acompauhou o mesmo Gomes o seu iuvento para Lisboa, onde a esse tem'
po, bem conto ainda hoje em muitas partes, dominava a idea de ser soinetite
Conhecido em Inglaterra esse fa bri c o , e f o i prasenteiramenle acolhìdo p o r
aquelle ministro e pessoas gradas da córte, maudando-se-Ihe prestar quanto
el;e pedio para apresentar outras iguaes amostras.
Com tudo parece que algum motivo poderoso obrigou-o a esquivar-se u se-
methante exìgencia, pois que foi preciso usar de meics de violencia para o
pòr a trabalhar, segundo o communicou o mesmo ministro ao sobredìlo go-
vemador em aa de janeiro do anno seguinte, accresceutando que depois de
tal medida, elle se fechara no lugar que escolbeo para o seu laboratorio, a firn,
de que ninguém percebesse o seu segredo, promettendo promptiiicar a amos-
tra exigìda no praso de quinze dias.
Os livros da s<*cretaria nada mais patentéao acerca deste objecto, contra o
qual talvez influisse a Inglaterra; mas sabe-se hoje que a follia de flundtes
nada mais é que o ferro reduzido a launnas, introduzidas estas em estanbo
derretido, e preparado com o acido n i t r i c o , e o sai ammoniaco, sendo para
isso mais apropriado o ferro malleavcl» dotado de proporciònada ductilidade.
A Franca deve a Colbert a iutroduccào desta manufactura, e entre suas fabri-
cas distingue-se a de Bains, na qual annualmente se preparati tres a quatro rad
barrica» de tal foiba, em o valor dè £00:000 francos.
(7?) Mem.'sobre as minas de carvào de pedrado Brasi!. Rio de Jan.—1841.
T O M O V. **
MEMORIAS IIISTORJCAS, E POLITICA8

Encontra-se o g r a n i l o (73) n o t e r m o da villa do Àbran-


tes, c u j a m i n a f o i reconliecida c m 1836 pelo m a j o r d o cor-
po d e e n g e n h e i r o s G u i l h c r m e C h r i s l i a n o F e l d n e r , q u a n d o
veio d o K i o de J a n e i r o v e r i f i c a r e descobrimento docarvào
de pcdra. e apesar de q u e p a n ca ainda p o r a l g u m a f o r m a
controversa a existencia d e tal c o m b u s l i v e l Desia p r o v i n c i a ,
c o m t u d o os iiltislres M a r t i u s , e Spix, cujas obras, de la ma-
l i Ito interesse ao Brasi! e à sciencia, com. p r i a , até p o r g r a t i -
dào nacional, se achassem e m todos os eslabelccimentos l i t -
terarios d o i m p e r i o , assegurào havel-o, apresentando c o r n o
pertencentes à formacào c a r b o n i f e r a (Steinkolhen Forma'
tion) as duas grandes bacias lerciarias ( 7 A ) , separadas p o r
urna p o n t e sienilica, q u e se estende alò o m a r , a p r i m e i r a
das quaes comeca p e r t o dos llhéos, e t e r m i n a nas p r o x i m i -
dades d a i l h a Tinharè» o u Morrò de S. Paulo, c o m p r e n d e n -
do a segunda a balda e reconcavo desta cidade; asseroào està
q u e todavia é contcslada pelo d o u t o r J . P a r i g o t , f o n d a n -
do-se em nào terem aquellas bacias caracter a l g u m dos t e r -
renos c a r b o n i f e r o s , na formacào i n t e r m e d i a r i a , n e m m e s m o

O granito é de todas as materia* produzidas pelo fogo primitivo a me-


nos simpies, e a mais variada, sendo o r d i n a r i a m e n t e composto de q u a r t z o , de
feldspati: •, d e scohool, e de mica: d e l l e é f o r m a l a a famosa coluiun» d e Pom-
peo, asseuiada p e r t o de dn>entos passos de A l e x a n d r i a , e o pedestal da gran-
de estatua levantada p o r Catharina I I . a memoria d e Pedro I . o grande d a
Russia, e posto que, na opiniào d e lìuffon, deva ser o b v i o era q u a l q u e r p.ir-
te da t e r r a , com l u d o affìrma o major IJUÌZ d ' A l i n c o u r t , couipanheìro d o so-
b r e d h o F e l d n e r , na c i t . fiagem a Ciùabà, ser o r e f e n d o l u g a r <" setimo co-
nbecido da exisiencia desse m i n e r a i , de q u e se fazem lapis de differentes qua-
ìidades, e urna eouiposicào para preservar as obras d e f e r r o das i n j m i a s d o
tempo: os Inglezes t e m delle t i r a d o graudes vantagens para a conservacào de
sua a r t i l h a r i a , pela u n t u r a q u e d e mezes em mezes dào as pecas, praticando d e
j g u a l maneira com todas as maquìnas de f e r r o , o q u e até c o n c o r r e a d i m i n u i i ' -
llies consideravelmeule o a l r i t o .
(74) (Conforme o systema geologico, ba n a t e r r a seis formacòes o u tempos
d i v e r s o s , d u r a n t e os quaes furào foru?ados os t e r r e n o s e rochéjos t. p r i m i t i -
a

va: a.' i n t e r m e d i a r i a : 3." secondaria: 4,* terciaria.' 5,* q u a t e r n a r i a o u diluviana:


6. a
a actual. D u r a n t e os c i u c o p r i m e i r o s leinpos, os terrenos ìgneos o u p l u -
tonicos atravessarào as camadas dessas formacòes, e a sexta epoca tem seus
voleòes, q u e arrebentào as camadas formadas actualmeute. T o d o s os t e r r e n o s
que constìtuem a costa d o m a r desta p r o v i n c i a , b e m corno a de Alagòas, p e r t e n -
cera as formacòes dilnvianas o u quaternarias, e tambem as t e r c i a r i a s s u p e r i o -
res todas recentes, onde mesmo ba p o u e d ! exemplos d e exploraeào d e liguìtes.
Veja-se M . P a r i g o t cit. e ftlem. d e Lue, lettre* sur la Physique de U terre.
DA PROVINCIA DA BAHIA. 163

Dos terrenos secundarios inferiore», onde mais raro se tor-


na e n c o n t r a r o carvào, dednzindo deste p r i n c i p i o nào pas-
sarem de ligftites de boa q u a l i d a d e os descobertos p o r Fr.
C u s t e d i o Alves Serrào, d i r e c t o r d o m u s c o n o R i o de J a -
n e i r o , e pelo d o u t o r Manoel J o a q u i m Fernandes de Rar*
ros, cujos p r o d u c t o s o v u l g o c o n f u n d i o c o m o verdadeiro
carvào, accrescentando, e m apoio d e semelhante opiniào,
1.° serem os mesmos terrenos compostos d e camadas d e
aliuviào e diìuvios, caracterisados p o r cantarias vermelhas,
massas e pedras soltas, argilla^ pardas, e t a m b e m verme-
Ihas: 2.° u m svstema d e camadas d e argilla e de cantarm:
3.° u m svstema consideravo! d e c a n t a r i a , argillas schistosas,
c o n t e n d o lignites, ani bar e septatias: k.° terrenos p r i m i -
t l v o s , c o n s i s l i n d o e m g r a n i t o , gneiss, e protogynes: 5.* ter-
renos p l n t o n i c o s , diorites, serpenlinas e p o r p h y d o s : 6. -

alguns veios de mineraes, e e n t r e estes o consideravel


acervo de ferro oligisto e m Gopióba. INo e n c o n l r o p o r é m
destas opiniòes, d e c i d e m con ti a o mesmo Parigot factos
anteriores, e a consideracelo de nào haver elle descido, d u -
r a n t e sua breve estada nesta p r o v i n c i a , à exames mais
a p r o f u u d a d o s nos poucos lugares q u e v i s i t o u , regolando-
si; pelos p r i n e i p i o s geologicos concernentes a tal c o m b u s -
t i v i , cujas teorìas variào bastanles vezes.
E m urna das noiles de j u n h o de 1815 ouvio-se no en-
g e n h o Caboto u m g r a n d e estrondo subterraneo, consecta-
r i o de t e r r e m o t o s u b m a r i n o , e na m a n h à seguinte achou-
se d e s m o r o n a d a , e e m parte s u b v e r t i d a , urna c o l l i n a nas
p r o x i m i d a d e s do a n l i g o r e d u c t o levantado na foz d o r i o
C o l i g i p e , d u r a n t e a occupacào dos H o l l a n d e z c s , appa-
r c e e n d o entào e n t r e esse d e s m o r o n a m e n t o grandes pedacos
de carvào d e pedra, pirytes, e n i o l i b i d e n o , cujas amostras
sendo p o r diversos particulares enviadas para o R i o de J a -
n e i r o , onde forào s u b m e t t i d a s , p o r d e t e r m i n a l o regia, ao
exame do referido m a j o r G u i l l i e r m e C h r i s t i a n o Feldner,
derào e m r e s u l t a d o duas qualidades d e carvào de pedra,
u r n a s u p e r i o r ao i n e l h o r c o n h e c i d o de Inglaterra, e o u t r a
m a i s i n t e r i o r , i m p o r t a n d o certo p e t r i h e a d o classificado n o
systenia de Linneo c o m a denominaoào de letvaritax vege-
tali* o q u a l servia de a u x i l i a r a formacào d o p r i m e i r o , o u
q u a l q u e r o u t r o , segundo foi c o m m u u i c a d o ao g o v e m a d o r
conde dos Àrcos, em aviso de. 26' de n o v e m b r o do mesmo
ai *
164 MEMORIAS HISTORICAS, E POLIT1GAS

anno, expcdido pela serrttaria de estado dos negocios do


interior, determin;mdo-$e-lhe eui o u t r o aviso do 1.° de ja-
neiro do anno seguitile, prestasse àqnelle Foldner todos os
ouxilios de que elle precisasse, para a cummissào de que
veio encarregado de investigar esse interessante producto
naturai, a cujo respeito porèm nenhuma outra medida t o ~
mou-se, coni quanto as ulteriores indag. còes dessa com-
roissào correspondesseui eni t u d o ao predito exame, e seja
constante abundar o mesmo carvào em outros differentes
pontos da provincia, nào menos aproximados à c a p i t a i ,
quaes a ilha de Itaparica, e o districto de Pirajuia.
Acha-se o salitre na maior parte do interior desta provin-
cia, corno ja fìcou noticiado no 4.° volume das presentes Me-
morias; sào communs as argillas de differentes cores, e en-
t r e cssas as que foroecem a materia prima para as fabricas
de porcellana, em nada inferiores às conhecidas na China,
com as denoniinacòes de pctuntse e kaotim; cncontrào-se
pedrciras de marniore finissimo, que tambem nào deixào
invejar o de Masserata, e o das obras que ainda se admi-
rào da antiga Grecia, no districto da villa de Chique c h i -
que (75), e e m diversos outros lugares que serào oppor-
tunamente designados ; conhecem- se differentes pedrei-
ras silicosas, e d e c a n t a r i a , algumas. das quaes demorào
ate à pequena distancia da capital, e c o m quanto jazessem
em completo esqueciinonto as minas de cobre, que, segun-
do dcixou-se anteriormente r e f e n d o , forào descobertas no
continente da Jacobina, durante o governo de Luiz de B r i -
t o e Almeida; resurgio todavia semelhante noticia, p o r oc-
casiào de conhecer-se, nos principios de fevereiro de 1782^
eoustitutr esse minerai u n i corpo solido de cinco palmos
de extensào, com dous, e, em parte, palmo e meio de lar-
gura, que existia no ribeiro Mamocàbo, confluente do Pa-

(75) O cirurgiào-mór da comarca do Rio de S. Francisco, Manoel Honorato


Dantaa barbosa Uraut, mostrou-me na V i l l a d a b a r r a , onde residia, dous graes
deste m a r m o r c , e varios o u t r o s artefactos d e sua i n d u s t r i a , q u e havia a l i f a -
b r i c a d o , u m dos quaes ainda conservo. Coufeccionado o presente v o l u m e , li
urna pequena memoria sobre as pcdreiras desta provincia, m a n u s c r i p t o d o enge-
nbeiro Andre Przewodowski, a n t i g o a l u i n n o d a escola p o l y t e c n i c a d a Polo-
n i a , e o r a ao servico da mesma p r o v i n c i a , e persuadìdo de q u e semelbante
c s c r i p t o , eia bora do sobre investigacòes pessoaes d e u m homem i l l u s t r a d o e
difitincto, sera Uxlo e m apreco, t r a d u z i - o , p a r a s e r p u b l i c a d o p o r appendice.
DA PROVINCIA » A BAHIA. 465

raguassù, e cerca de oito m ilhas distante da Cachoeira, aq


s oeste.
Exercia entào o cargo de juiz de fora desse municipio
Marceliuo da Silva Pereira, magistrado de intelligencia
pò lieo vulgar, o qual immediatamente que lhe constati
tal descobrimento passou a indicada paragem, proceden-
do a apreensào daquella massa metallica, p o r u m termo
judiciai (76), que euviou cm o dia 20 do mez acima de-
elaratìo, ao govemador da provincia, o marquez de Valen-
ca, pedindo-lhe igualmente permissào para praticar ali
outras investigacòes; e conio o mesmo govcrnador, em res-
posta de 26, exigisse previamente a remessa para està ca-
pital de tào singular produecao da naturesa, a firn de que
a sua vista podesse deliberar o que melhor conviesse, as-
sim o c u m p r i o , acompanhando a mesma remessa o s e *
guinte o f f i c i o —
»IUm.° e Exm.° Sr.—Obedecendo às ordens, que de V.
Ex. recebo, tenho a honra de remetter a porcào de cobre
(77) acbada neste districto: a sua figuracào, a ferrugem

(76) Nào se encontrando mais esse termo, nem o off]no que o inclina, exis-
tem com tudo outros de nào menos transeoiidencia, a fazer conhecidas ceilas
particularidades, que interessa saber o estudioso, e amigo dos paradoxos scitu-
tìfteos da naturesa.
(97) Accusou o marquea de Valeuca o recebimento deste officio pelo que
se segue —
Recebi a carta de V. m. de n do corrente, ero que me partìcipa a re-
niessa que faz da grande percào de coì-Ye, que se achou no di&tricto da sua
jurisdiccào, e quo eu tinha raandado remetter para està cidade. A dita por-
cào de cobre logo qne se desembarcou, a f u i ver com algumas pessoas curìo-
sas, e intelligentes da historia naturai: mandei-a pesar, e se vio que o seu peso
era de oitenta e duas arrobas e dez libras. Eu, e as referidas pessoas que fo-
rào commigo, assentàmos que este cobre nào é fundido, e que é naturai, e. por
essa razào tenho estimado muito este descobrimento, pois achando-se mais al-
l u r i ) , de modo que se eutenda que ba pedreira, ou mina, sera muito u t i l à
»osfa nacào, e de muita gloria para mim, e para V. m.
N o caso porém de que se nào descubra outro pedaco do sobredito cobre,
sempre me parece que se deve remetter o qne V. ni< me mandou, a rainha
minba senhora, p o r ser raro achar-se urna porcào deste metal, que pese oi-
tenta e duas arrobas e dez libras, seni ser fandido. Para examinar com V. m.
o sitio, onde se achou o metal de que se Irata, e se descobrir mais alguns, fa-
1:0 passar a essa villa o capitao de miueiros do regimento de aiiilharia José
Raoios de Souza, para que V. ni. e o dito capitào facao està diligencia tào
366 MEMORIAS H1ST0RICAS, E FOtlTICAS

pania de que se acha cobcrta, a mistura de alguns mine*


raes mais, que cm parte se lhe achào, o deserto do lugar,
em que existia, a diflìculdade da conduccào para elle por
ìngreme e escabrosa, a nenhuma necessidade, que lembra
occorrer para tal fundicào, os sinaes desta que lhe faltào,
e em firn outras muitas razòes, sào bem capa/es de qualifi-
cai o virgena e nativo; e mais quando pela indagacào das
pedras achadas na superficie do lugar, e pela experiencia
da terra, que, d i v e r t i l o o r i o , deste se lhe extraio, e devem
buscar-sc p o r pessoa intelligente de semelhantes servicos,
se vira em maior conhecimento ainda de que nào e f u n -
dido.
A nào faltarem os indicios» grand.» abundancia promette
este lugar, que è chamado Mamocàbo, na freguezia de S,
Tiago, termo desta villa, e della distante du-.s leguas e meia
mais ou menos, em terras cheias de matos, que agora p r i n -
cipiào a cortar-se, nào tendo sido cuitivadas, entre u m
tambem novo rocado do padre Joào Goncalves, da parte
do s u l , e do norte nas cabeceiras de u u i sitio de Manoel
Lopes Falcào, em terras do capitào Antonio Goncalves de
Aguiar e Souza, na baixa das quaes, c m u m riacho que do
alto corre à metler-se no rio Paruguassù, que està villa ba-
nha, foi achada a porcào de cobre que remetto, sobre a
qual V. Ex. ordenarà o que for servido. Deos guarde a
X, Ex. Cachoeira de marco i l de 1 7 8 2 , — 0 juiz de fora
Marcelino da Silva Pereira. »
Mandou o marquez de Valenza recolher essa massa de
cobre ao ai sena [ da mar in ha, onde verificou-se pesar o i -
tenta e duas arrobas e dez libras, peso este porctn que dimt-
nuio desoito libras,em differentes exames chhnicos,a que e l *
le fez proceder sobre algumas protuberancias para isso se-
paradas; autorisou ao refendo juiz de fora a proceder na
paragem de tal descoberta a outras indagacòes, nào à sua
custa corno o prctendia, mas p o r conta da fasenda p u -
biica; por outro officio de 40 de maio m a n d o u sustar es-
ses exames, proìbindo logo sob graves penas que alguem
ali cortasse matos, ou fizesse qualquer escavacào, e na p r i -
meira embarcacào que se offereceo para Lisboa enviou ao

importante ao estodo. Deos guarde a V. ra, Bahia i 5 de maico de i7Sa —


(

Marquea de Valenua,—Sr. doutor juù de fora da villa da Cachoeira.


DA PROVINCIA DA BAHIA. 467

ministro e secretano d estado Martinho de Mello e Castro


o mesmo cobre, participando aquella descoberta desta ma-
N

neira. ?—
* I l l m . e Exm. S r . ~ M a r c e l i n o da Silva Pereira, juiz de
0 #

fora da villa da Cachoeira, me escreveo urna carta, em a


qual me dava conta de que no seu districto se tinha des-
coberto urna grande porcào de cobre, e que sobre elle e u
ordenasse o que se havia de fazer, corno tambem se deve-
ria proseguir a alguma diligencia no terreno em que f o i
achado. ao que respondi que a dita porcào de cobre fosse
man dada à està cidade à minha o r d e m , debaixo da maior
scgu ranca e cautela. Logo que me foi remcttida, a mandei
pesar na minha presenca; o seu peso c de oitenta e urna
arrobas e vinte q u a t r o arrateis, alóni de uns pequenos pe-
dacos, que mandei tirar para maior conhecinicnto de sua
qualidade, e é cousa m u i t o rara ter-se achado urna por-
cào do refendo cobre, nào sendo f u n d i d o , corno eu me
persuado, com seuiclhanle peso: me pareceo m u i t o neces-
sario, reme Uel-o nesta occasiào a V. Ex., porque podera
ser q u e S. M. o queira para o seu museu.
Igualmente vai remettida a V. Ex. a informacào que c o m
o sobredito cobre me mandou o juiz de fora, e tauibeui al-
gumas pedras e terra do lugar em que elle se achou , por
onde se podera saber, depois de se fazereni dellas as ex-
periencias necessarias, ee aquclle terreno mostra ser mine-
r a i , para S, M. resolver sobre tudo o que quizer que se
faca a este respeilo, e é certo que, a descobrii-se alguma
mina deste metal, seria de grande ulilidacle para o reino e
principalmente para o Brasi], onde lem a maior extraccào,
por ser indispensavel para as caldeiras e mais vasilhas dos
ctigenhos do assucar. Eu tenho proibido que se cave o
sitio onde elle se descobrio, até uova resolucào de S. M.: o
senhor do mesmo sitio tem pretendido, por requerimentos
que me fez, que se lhe entregasse o mencionado cobre, o u
o seu justo valor, e a este requcrimento deferi, que reque-
resse immediatamente a rainha minha senhora, que o a t -
tenderia conio fosse servida. Tambem me lem representa-
do o prejuiso q u e lhe causa nào poder cultivar logo as
suas terras, e isto ponho tambem na presenca de V. Ex.,
para S. M, me determinar o que devo fazer sobre este par-
t i c u l a r , porque me parece justa a sua representacào. 0
MEMOnTAs HISTORtCAS, V. POLITICAS

mesmo juiz de fora Marcelino da Silva Pereira, se t e m ria-


vido neste descobrimento com a maior efficacia, e zelo do
real servico, e do estado; elle se faz muito digoo de que
S. M. o attenda no seu adiantamento, nào 90 por esle mo-
t i v o , mas tambem pela honra com que tem servido o seu
lugar. Deos guarde a V. Ex. Bahia ?\ de j u n h o de 478"2.—
IIIm.° e Exm.° Sr. Martinho de Mello e Castro.—Marquez
de Valenca. »
Excitou pasmosa admiraeào das classes illustradas erri
Lisboa a vista desta importante raridade naturai, que p o r
muiios dias attrailo consideravel numero de pessoas a obser-
varem-na no museu, onde ainda exisle; e o ministro de es-
tado, nào menos maravilhado còro tal descoberta, respon-
deo assim ao marquez de Valenca —
«Illm.* e Exm.* S r . — L e v e i à real presenca de S. M. a
carta de V. Ex. de k de j u n h o do presente anno, c o m a
do juiz de fora da villa da Cachoeira, que Irata do peda-
co de cobre virgcm e nativo, descoberto naquelle districto,
e que V. Ex, remetteo a està córte; a dita massa de cobre
pela sua grandesa, e pelas outras eircurist uicias que a
acompanharào, se faz digna de toda a estimacào, e corno
tal se acha collocada no real museu, e nào é urna das me-
nores raridades que elle encerra. Para se poder ter mais
algumas nocòes desta descoberta, se faz necessario que V.
"Ex. ordene ao dito juiz de fora, loifvando-llie no real nome
de S. M. a efficacia e zelo, c o m que tem servido, que p r o -
cure esaminar, e fazer cavar, superficialmente o terreno em
quo o dito cobre foi achado, a firn de ver se ha maiores i n -
dicios de alguma mina ou do mesmo cobre, ou de ferro.
Igualmente deve o mesmo ministro informar se este pedaco
de cobre que veio, foi achado na superficie da terra, ou a
qtìe profundidade; se em planicie, o u cm montanha, ou
j u n t o a algum r i o , e seria conveniente que V Ex. lhe orde-
nasse de mandar fazer p o r pessoa intelligente u m exatne no
sobredito terreno, com u m pequeno mapa topografico da-
quelle districto.
Quanto à pretencào do dono do predio, que pede o va-
lor do dito pedaco de cobre, è preciso que V. Ex. mande
esaminar as condicòes, c o m que concederti as sesmarias, è
se os mineraes ficào reservados para S. M. e està mesma
averiguaòào servirà tambeùi para V. Ex. poder conceder-
»A PROVINCIA DA HAITI A. 4f>3

l h e , o u negar l h e a licenca q n e elle p e r l e , para p o d ? r c u l -


t i v a r a sua t e r r a , devendo a este respeito servir de regra, o
q u e se achar dcclarado na sua carta de sesmaria, e o q u e se
c o s t u m a p r a t i c a r nessa c a p i t a n i a nos t e r r e n o s , e m q u e 9e
d e s c o b r e m m i n a s : sera porém necessario q u o de urna e
o u t r a sorte, o r d e n e V, Ex. ao juiz de fora da Cachoeira,
q u e faca neste t e r r e n o o exame a c i m a m e n c i o Dado, para se
c o n h e c e r , se nelle li a maiores indicios de a l g u m a m i n a de
c o b r e o u f e r r o . Deos g u a r d e a V. Ex. Caldas da r a m i l a

c m ih d e s e t e m b r o de 1 7 8 2 . — M a r t i n h o de Mello e Castro
— S r . m a r q u e z de Valenca.»
C o m o t r a n s u m p t o deste aviso, e m officio q u e c o n t i n h a
as mais lisongeiras expressòcs, r e c o m m e n d o u o g o v e r n a d o r
ao juiz de fora M a r c o l i n o da Silva Pereira a execueào dos
exames, e m a i s diligencias q u e o r d e n a v a o m i n i s t r o de es-
t a d o , e essai expressòes, quo, cmanadas de taes a ( f l o r i d a *
des, ainda n a q u e l l e t e m p o sereputavào de g r a n d e apreco,
p o r isso q u e erào somenle applicadas aos bons servidore»
d o estado, forào de considerava! e s t i m u l o a a c l i v a r o n o -
tavel p a t r i o t i siti o d e u m h o m e m tào interessante, q u a !
e r a aquelle j u i z : c h a i u o u p o i s o capitào Domingos Jorge
da Silva, e M a n o e l Ferreira G o m e s , entendidos e m traf>a-
I h o s de mincracào, para d i r i g i r e m os operarios nesses exa-
m e s ( 7 8 ) , q u e durarào do 1 * a 7 de fevereiro de 1 7 8 3 ,
achando-se logo no p r e c i t a d o dia o u t r o palhelào de c o b r e
de mais de ai r o b a , e nos Ires u l t h n o s diversos gràos de
o u r o , de t o q u e de 2 3 3/8 q u i l a t e s , segundo se v e r i f i e o u n o
ensaio depois feito, p e r a n t e 0 s o b r e d i t o g o v e m a d o r , p o r
C l e m e n t e Alves de A g u i a r , ensaiador da casa d a m o e d a , o

(78) Os exames feitos nesta d i l i g e n c i a erào todos os dias descriptos em um


t e r m o , q u e para j a h o j e ser e n t e n d i d o , é m i s t e r ter alguma t i n t u r a de p a l e o -
g r a f i a ; e m o f f i c i o de 4 de j u n h o d o s o b r e d i t o auno d e c l a r o u o marquez de
V a l e n t i ao m i n i s t r o d'estado M a r t i n h o d e M e l l o e Castro, q u e scria o portaf-
d o r da segunda massa d e c o b r e , b e m corno d o mapa t o p o g r a f i c o d o s i t i o d o
Mamocabo, q u e haviào levanlado o capitào de a r l i l h e r i a José Ramos de Sou-
za, e o ajudante José de A n c b i e l a — E s t a s e outras miuuciosidades, q u e al;;uem
p o r v e n t u r a tachara de i m p e r t i n e u c i a s superlluas, mas q u e muitas vezes sào
buscadas avidamente pelos q u e presào saber as antiguidades da p a t r i a , paten-
tcao de sobejo o interesse em q u e o u t r ' o r a erào tidas semtduantes descobertas,
e omiprovào q u a n t o j a disse rclativam'eute ao e s t r a o r d i n a r i o i n d i f f e r e n t i s m o
para com a opuleneia das minas d o Assurua.
T O M O V. a 3
470 MEMORIAS HISTOR1CA9, E FOUT1CAS

qual, procedendo igualmente à fusào de alguns granitos


m a i o r e s de c o b r e , d e c l a r o u d i m i n u i r cada onca 5 oitavas
e 2 0 gràos, dcclaracào està porém q u e nào deve servir dò
regra geral sobre t a l especie, urna vez q u e a q u e l l e ensaia-
d o r desconhecia os verdadeiros p r i n c i p i o s da s e p a r a r l o de
metaes diversos d o o u r o , a c u j o respeilo t a m b e m nào pas-
sava de u m r o t i n e i r o .
l i l t i m a d a seme)hante diligencia, dirigio-se o m e n c i o n a d o
j u i z de f o r a ao g o v e m a d o r , descrevendo-a tao e r u d i t a m e n -
t e , q u e nào posso e s q u i v a r - m e a p u b l i c a r sua p a r t i e i p a -
cào assim e n u n c i a c l a —
I l l m . e E x m . ° S r . — E n i execueào da r e a l o r d e m de ià d e
0

s e t e m b r o de 1 7 8 2 , p r o c e d i ao d e t e r n i i n a d o exame na f o r -
m a d o a u t o i n c l u s o , e pelo p l a n o da m i n h a antecedente, q u e
se bem o m e n o s efficaz, c o n i t u d o o mais c o n f o r m e c o m a
estacào*, e mais chegado às c i r c u n s t a n c i a s da m e s m a o r -
d e m ; o r e s u l t a d o foi a invencào de q u i n z e gràos de o u r o fi-
n i s s i m o , c o m o l o q u e de m a i s de v i n t e e tres q u i l a t e s , e a
d e u m granéte de c o b r e , de i g u a l q u a l i d a d e ao j a r e m e t t i -
d o c o m o peso de mais de a r r o b a .
Està nova descoberta de u n i e o u t r o m e t a l , o v a p o r e
cruslas ferreas, de q u e se achào b a n h a d a s as pedras d a q u e l r
l e r i o , e m o n t a n h a , e o ser finalmente està p r i m i t i v a , i n c u l -
cào b e m a existencia de urna m i n a , c u j o l u g a r p o r é m nào
p o d e designar-se a i n d a , sem u m s e g u n d o e mais i n d i v i d u a i
exame, q u a l e u p r o p o n d o me fazer, f u i necessitado a d e i -
x a r de m à o , pelos i n c o m u i o d o s provenientes d o m à o t e m p o ,
sendo u n s dos maiores o c r o s c i m e n t o d o r i o pelas m u i t a s
chuvas, e a molestia q u e a t a c o u a q u a s i todos, pela g r a n d e
f r i a l d a d e da t e r r a : aquelles p r i m e i r o s m o t i v o s , q u e o c c o r -
ressi para p e r s u a d i r a existencia da m i n a , p o d e r i a b e m j u n -
tar-se alguns m a i s , dos o u t r o s pelos m i n e r a l o g i e o s i n d i c a -
d o s , a nào o b s t a r p a r a indagal-os o lòdo pela razào ja ex-
p e n d i d a , e a l g u n s , se b e n i q u e tenues, f o g o s , q u e p r e c e -
derào à m i n h a i d a , pelas margens d o d i t o r i o , a firn nào só
de descortinal-as, mas de expurgal-as a l g u m a cousa das
m u i t a s serpentes venenosas, d e q u e abundào a q u e i l a s m a t a s .
Chegada a estacào c o n v e n i e n t e , e u c o n t i n u a r c i o exame
p r o j e c t a d o , a Y. Ex. o p e r m i t t i r , e depois de i n d a g a r m a i s
c o m m o d a , e i n d i v i d u a l m e n t e o c u m e das m o n t a n h a s , e
estas mesmas o u t r a vez, p r o p o n h o - m e s e g u i r os veios d a
DA PROVINCIA DA RAII1A. 471

picarra, ou argilla, que correrti por coire os bancos de pe-


d r a d o s u l ao n o r t e , p r o c e d e n d o n a averiguacào nào p o r es*
cavacòes, corno e m p a r t e d a precedente, mas a t a l h o aber-
t o (assim c o n t o m a n d e i fazer, u n i c a m e n t e no l u g a r m e s m o
onde f o i o p r i m e i r o c o b r e d e s c o b e r t o ) e c o n i tao feliz sue»
cesso, q u e p o r elle forào a p p a r e c e n d o algumas pequenas fo-
Uietas, e este segundo g r a n è te de mais d e a r r o b a , c o m ò vo-
se d o m e s m o a u t o i n c l u s o .
A q u i neste l u g a r (-onde està q u a s i a vista o cascalho, q u e
sobre a argilla assenta, p o r c o r r e r p o r c i m a deste o alveo d o
r i a c h o . sem precisar se m a i o r escavacelo nesta p a r t e , corno
senào poderi) dispensar e m o u t r a s , e m q u e deve rasgar-sea
m o n t a n h a ) descobrìrao-se nào só a p r i m e i r a porcào, b a -
u h a d a pelos lados todos, e p a r t e da sua s u p e r f i c i e , pela c o r -
r e n t e d a q u e l l e , no m e i o d e cujas aguas estava, servindo d e
passagem a a l g u m caca do r, mas t a m b e m agora està segun-
da, coberta t o d a de a g u a , e n a confusào d o cascalho e n t r e
o u t r a s pedras, assenta da sobre a m e s m a picarra, o u a r g i l l a
e m q u e estava i g u a l m e n t e a p r i m e i r a , e m distancia p o r é m
d o l u g a r desta tres p a l m o s c o n i p o u c a dilferenca.
Fico m a n d a n d o fazer a c a i x i n h a , c m q u e deve c o n d u z i r -
se està nova d e s c o b e r t a , p a r a , se V. Ex. f o r servido conce-
der-nie a licenca, ser e u della o p o r t a d o r , nào só pelo gosto
de a i r pessoal apresentar a V. Ex corno de na sua presenca
fazer, tanto e m algumas das f o i b e t a s , q u a n t o n a c r u s t a d o
d i t o granéte, sem oflensa deste, as devidas experìencias. das
q u e a q u i liz dos vapores e crustas metallicas, q u e p e r f u -
m à o e traspassào as pedras d a q u e l l e r i o , f u n d i n d o urna vez
f

a porcào d e urna onea moìda, m i s t u r a d a c o m o sabào ne-


gro, t r i n c a i , e sai m a r i n h o , r e s u l t a n d o u m v i d r o negro, o
t o r n e i a m o e r , e a f u n d i r a grande fogo c o m as mesmas
m a t e r i a s , p r o d u z i o alguns g r a n i t i n h o s d e f e r r o , c o r n o a V.
Ex. sera presente c o m o mais descoberto.
0 m e s m o successo teve logo da p r i m e i r a fuzào, feita a
grandes fogos e d o u i o d o s o b r e d i t o , o exame d e outras pe-
d r a s n o v a m e n l e achadas no a r r e b a l d e mais p r o x i u i o da v i l -
l a , j u n t o a u n i r i a c h o , c u j o t e r r e n o é a b u n d a n t i s s i n i o des-
tas pedras d e diversos feitios e grandesa. Urna e o u t r a p o r -
cào è preciso declarar q u e forào pisadas e m a l m o f a r i z d e
f e r r o , e se b e n i q u e p e r s u a d i d o d e nào proceder deste o
achado n a fusào, nào m e a t r e v o c o m t u d o a sostentar o
172 M E M O R I AS H I S T O R I C A S , E POUTICAS

meu juiso c o m aquella firmesa c o m que, depois de exa-


mes mais seguros, tratarei esla materia.
Passando agora ao dono das terras ; eu o ouvi e vi os
seus 'itulos, mas nem estes, nem o q u e averiguei por es-
tes cartorios, nem a escritura de q u e fazem mencào, d o
anno de 1690, feita e m u m dos dessa cidade, poderào dar-
me o necessario conhecimenlo para a inforniacào q u e V.
Ex. me ordena; mas, a V. Ex. assim o determinar, podere!
na occasiào de i r apresentar o descoberto, proseguir nesta
diligencia , e nas respectivas sesmarìas , das quaes só digo
p o r ora, que nas concedidas pelo donatario D. Concaio da
Costa, e pelo nosso govemador e capilào general 1). Luiz
de Souza, desde o anno de 1616 até o de 1621 , de algu-
mas terras proximas às de que se trata, perniine se unica-
mente a agua, matos, brejos, e campos para o seu tnolho-
ramento, com as condìcòes, e obrigacòes d o forai dado às
ditas terras, e da ordcna^ào no t i t u l o das sesmarias.
Tenho rcspondido à que V. Ex. f o i servido d i r i g i r - m e
de 16 de novembro de 1782, resta rne unicamente, prose-
guìndo na execueào da de 2 de maio do mesmo anno, le-*
var à sua respeitavel presenca para o real museu este reptil
de duas eaudas, que convindo com o agile, e m o n i t o r nos
dedos e unhas, e com o u m b r a no nebuloso, estrias, ees^
canias, nào pode nas especies de qualquer delles, nem
ainda em alguma das conhecidas qualificar-se, pois faz
urna especie nova: elle vai pròparado ja, para que nào t e -
nha o mesmo successo da vitella de duas cabecas, que, a
pesar dos meus grandes csfbrcos p o r abreviar-lhe a via-
geni, chegou là ja coni corrupcào.
JNesla mesma occasiào remetlo concluido o r o l dos f a b r i -
cantcs do tabaco de foiba» de que V Ex. me havia encar-
regado, e fica a p r o m p t a n d o se a derrama para pessoalmen-
te leval-a: quanto porèm aos fardos sirva-sc V Ex. deter*?
minar-me a remessa para a casa da arrecadacào. nào só
porque recolhidos nos armazeus de S. Felix podem pre-
judtear-se, (a verificar-se a innundaeùo que se receia) senào
porque, ainda deixados nas casas dos respectivos lavrado-
res, se dilììcultarà pela distancia a conduccào dos niesmos
no preciso breve fermo, que V. Ex. em tal occasiào pres-
creve para o embarque.
Fico esperaudo as respeitaveis determinacòes de Y. Ex. ^
DA PROVINCIA DA BAHIA. 173

a quem Deos guardo por muitos annos. Cachoeira 19 de


m a r c o d e 1 7 8 3 . — 0 juiz de f o r a M a r c o l i n o d a Silva Pereira,
0 d e s c o b r i m e n t o q u e fica m e n c i o n a d o , des p e r t o u p o r al-
g u m a m a n e i r a o genio a m o r l e c i d o das investigacòes m i n e -
ralogicas: o capitào-mór d e Jacobina leve o r d e m d o m a r -
q u e z d e Valenca p a r a investigar a descoberta que, p o r par-
tìcipacòes d o j u i z o r d i n a r i o respectivó, conslava haver l i d o
l u g a r na serra d a B o r r a c h a , d'onde t a m b e m ocapitào-mór
Chrislovào d a l i n e r i a P i t i a l h e havia apresentado tres o i t a -
vas e dezeseis gràos, q u o forào r e m e t t i d o s ao s u p r a d i t o
m i n i s t r o , c m 31 de j a n e i r o d e 1783, sondo todavia f r u s t r a -
das todas as diligencias empregadas pelo m e s m o g o v e m a -
d o r , antes d e sua p a r t i d a para P o r t u g a l , para q u e o o u v i -
d o r d a q u e l l a c o m a r c a procedesse c u i iguaes exames nos
d e s c o b r i m e n t o s d e prata e c o b r e , q u e u m c l e r i g o cninpris-
ta havia feito n o s i t i o c o n h e c i d o p o r M u n d o novo.
Recónhecida pois a existencia d e c o b r e nesta p r o v i n c i a ,
foi encarregado o c o r o n e l José d e Sa B e t t c n c o u r t e Àccioli,
( 7 9 ) n a t u r a l i s t a de instruceào v a r i a d a , e d o t a d o d a q u e l l a
dedicacào ao b e m p u b l i e o , q u e é hoje contrastada pelo
egoismo mais d e p u r a d o , d e passar a p e r c o r r e r o i n t e r i o r
da mesma p r o v i n c i a , na investigaci! o dessas e o u t r a s quaes*
q u e r minas, para c u j a commissào estabeleceo o g o v e m a d o r
D F e r n a n d o José de P o r l u g a l providencias b e m acertadas,
q u o mcrecerào a. a p p r o v a r l o regia, c o m m u n i c a d a e m avi»
so d e 2 2 d e o u t u b r o de 1798, e resti Ito u desta excursào
a certesa d e a b u n d a r de c o b r e , e f e r r o (80) g r a n d e p a r t e
.' ;• -. *-- - * • •••,*•« 1

(79) Este n a t u r a l i s t a nào se l i t n i t o u a excursóes mincralogicas, pois q u e es-


tendeo sua a c l i v i d a d e a a b e r l u r a d e estradasi q u e facilitassero o c o m m e r c i o
das coniar» a s d o s u l c o m a p r o v i n c i a d e Minas-geraes, corno ver-se-a nos se-
g u i n t c s volumes.
(So) Pepojs q n e o intendente da capitacào d o R i o das contas cnvìou ao m i -
n i s t e r i o em P o r t u g a l d i f f e r e n t e s aumslras de f e r r o , q u e d i l l i t r o o x e r a , deter.
m i u o u a provisào i l e r o d e o u l n b r o d e 1752 expedida ao conde de A t o n g u i a ,
entào g o v e m a d o r da p r o v i n c i a , permittisse o seu l a b o r a t o r i o a q u e m o p r e -
tendesse, Sem q u e todavia livesse p o r isso q u a l q u e r p r i v i l e g i o : outras ordens
»>ais bouverào a semelliaitfc respeito, e e n t r e ellas o aviso q u e se transcreve
p o r sua i m p o r t a n c i a .
» S- M. t e m observado com desgosto, q n e umas colonias tào extensas e fer-
teis c o m ò as do lìrasil, nào tenbào pvosperado p r o p o r c i o i n d m e n t e em p o v o u -
c,ao, a g r i c u l t u t a e industri;»; e devendo persuadir-se q u e alguns defeitos p o l i
MEMORIAS IIISTORICAS, E POLITICAS

do extenso t e r m o da villa de Hapicurù, b e m corno a confir-


m a c à o das p r i m e i r a s noticias, c o n e e r u e n t e s a iguaes d e s c o -
bertas n a serra d a B o r r a c h a , noticia està q u e s e n d o logo

ticos, e restriccoes fiscaes, se tem opposto até agora aos seus progressos, taes
Como o monopolio do sai, os grandes direilos impostos sobre o ferro, e o u t r o s
nào menos gravosos sobre a introduucao dos escravos; desejando a mesma se-
nhora alliviar quanto esteja da sua parie, aos seus vassallofl, tem resolvido em
primeiro l u g a r —
Que o monopolio do sai, baja de cessar em todo o Brasil, logo que se ex-
l i n g u i r o contrato; e que este commercio fique livre para todos os colonos,
e franca* tod.is as sa l i nas, que se poderem estabelecer nesse continente; po-
rém comò este contrato rende para a corda annualmente a quantia de cento
c vinte uiil rrusado», e o real erario se nào pode des falcar deste rendimento;
ordena 5. M. que V. S. onviudo as camaras dessa capitania, Ibe baja de pro-
p o r um equivalente racionavel, coni que o mesmo erario se possa resarcir do
rendimento que percebia de um sciuelbante genero, segundo o consumino da
inesma capitania, ou seja por alguma leve cp.mposic.ao assentada sobre elle, ou
por algum outro meio, ou arbitrio, que pareeer mais conveniente.
Tem S. M. resolvido em segundo lugar, que em todo o continente do Bra-
sil se possào abrir minas de fèrro, e se possào manufacturar todos e quaesquec
inslrumentos deste gcuero; mas para se suprir o desfalque, que urna scnie-
lhante liberdade possa occasionar nos reaes direilos, é a mesma senhora outro
t i n i servida ordenar, qne ouvindo V, S. as camaras dessa capitania baja de
assentar com ellas em unta larifa moderada dos direilos, que um semelhaute
genero devera pag;ir nas fabricas do paiz, logo que ali se puzer em venda,
tanto pelo que respeita ao ferro em bruto, ou em barra, conio daquelle que
se vender ja manufacturado para instrumeutos de agricultura, e outros ulen-
cilios domestico».
E persuadida S. M. de que a tarifa actual, qne regni a a entrada deste ge-
nero para o interior do paiz é summimenie defeituosi, pagando um quintal
de ferro o mesmo que costumaci pagar fasendas fìnas e de grande valor, em
igual porporcào de peso; é a mesma senhora servida ordenar, que esaminan-
do V, S. a dita tarifa com pessoas intelligcntes do commercio lhe haja de pro-
por os meios mais propri os de se emendar semelhaute irregularidade, allìvian-
dò-se, quanto f o r possivcl, os direilos d o ferro, c re movendo-se està imposi cào
sobre os mais generos de menor necessidadc, que prudentemente possào re»
sarci r o desfalque que haja de occasionar aquelle benefìcio.
Finalmente para S. M, poder formar urna idèa clara do estado dos direi-
tos, que se costumào pagar d.'S fasendas importadas e exportadas a essa capi-
tania, se faz preciso que V, S, passe as ordens necessaria*, par» nas alfande-
gas e registros dellas, se tire urna copia exacta das pautas porqne ss raesmas
se regulào na percepcào dos direitos, assim de importacào conio de exporta-
$ao, e mais direilos de tranzito, que V. S. ; emetterà com a possivcl brevidade
a està secretarla de estado: e quer igualmente S. M. que V. S. ooande pro-
ceder a um' calculo medio da importaucia de todos os direitos, que se peroe-
DA PROVINCIA DA BAHIA. 175
t r a n s m i l t i d a ao m i n i s t e r i o , fez e x p e d i r o aviso d e 2 0 d e
m a i o d e 1 7 9 9 , pelo q u a l ordenou-se ao m e s m o govema-
d o r informasse mais a m p i a m e n t e sobre a possìbilidade d o
l a b o r a t o r i o d e lars m i n a s , p o r empresas p a r t i c u l a r e s , cujas
consideracòes elle apresenta ria.
Prosperava entào a casa c o m m e r c i a l de Francisco Agos-
tinho G o m r s , e este r e u n i n d o à f o r t u n a q u e possuia vastos
c o n h e c i m e n t o s l i t t e r a r i o s , e p a r t i c u l a r deferencia a t u d o
q u a n t o interessasse à e n g r a n d r c e r o p a i z , f o i o p r i m e i r o
q n e se offereceo para tal empresa, p o r certo gigantesca, as-
sociando-se c o m o i l l u s t r a d o Manoel Ferreira da Camara,
q u e servia d e i n t e n d e n t e dos diamantes no S e r r o do f r i o ,
a p r e s e n l a n d o ao g o v e r n o s u p r e m o sua reprcsenlacào c o u -
cebida nestes termos.
* N a occasiào e m q u e P o r t u g a l e seus d o m i n i o s estào n a
m a i o r preci sào de f e r r o e c o b r e , tanto p a r a estender a sua
c u l t u r a , corno a sua navegacao, e a i n d a conserval-a, pela
excessiva c a r e s t i a , a q u e l e m s u b i d o estes mctaes tao n c -
cessaiios ' 8 l ) a u n i estado, para l a n c a r a base de todas as
v

suas riquesas; e ao m e s m o m o m e n t o c m q u e a I n g l a t e r r a
acaba d e p r o i b i r a saida d e t o d o o seu c o b r e , è q u e o a u -
t o r deste p l a n o , a n i m a d o d e u n i a r d e n t e p a t r i o t i s m o , p r o -
pèse a S. M« meios q u e l e m para fazer c o n i q u e P o r t u g a l
v e n h a a ser a b u n d a u l e d e mctaes, tào uteis à a g r i c u l t u r a ,

beraó pi-la real fasenda no espaco de ciuco annos, dos dons ramos do ferro,
e da introduccao « saida dos escravos, cada uiu de per s i , e coni a devida
di itine Cào e d a resa; o que a mesma senhora ha por inui recoinmcndado a V;
S. para que assim o maude cxeeutar coni a hrevidade possiveh Deos guarde a
V. S. palacio de Quelu/. em %y de maio de 1705.—Luia Pinto de Souza.—Sr.
D. Fernando Jose de Purtugal.»
(81) Km officio de *a de a b i l i de 1780 parlicipou o govemador marques
de Valenza ao ministro e secretarlo de estado Martinho de Mello e Castro, re-
mctler-lhe, para sereni apresentadas a rainha, differentes esferas de certa coni-
binacào metallica, as quaes por scu formato cbauiava balas, que lhe havia cu*
viado o maj r Luì» Cadano Simòes, inspector do córte das raadeiras do Je-
quirica, em cujas roatas as achara , asseverando ser tanta a quantidade dellas
que fomeceiiào o carregamento de bnreos. Nào consta precisamente a mate-
ria que formava essa notavel r a r i d a d e , e apenas *e sabe p o r aquelle officio
que reuniào tamanha rijesa, que, impcllidas pelo tiro de espingarda de
qualquer adarmé, varavào urna taboa de duas pollegadas de grossura, e fica*
vào inteiras, por cujo. motivo indicava-as o mesmo govemador para servirei»
de metralha.
.76 MEMORIAS nisTonicAs, E POLITICAS

és arles e à navcgacào; o para que o mesmo Portugal pos-


sa ler urna marinila de guerra, que seja respeilaveì : estes
meios sào os s e g u i n t e s —
A casa de commercio do autor na Balda, que ò assns abo-
nada, formarà urna companhia, na qual se admiltirà p o r
socio, conio metallurgico, a Manoel Ferreira da Camara; e
isto lhe basta para lancar m à o de urna tào grande empre-
sn, e outros se lhe pareeer conveniente para entrarem c o m
os seus fundos.
Darà S. M. à esla companhia por sosmaria os terrenos
seguintes: o das minas de cobre da serra da Borracha; t o -
do o lugar aonde elle se descobrir na enseada de Vasa-
barrìs, o de minas ile cobre da Cachoeira; o de minas de
ferro de I l a pie u n i , e as que seacharem nas visinhancas da
mesma serra da Borracha: e conio sem carvào estas minas
se nào podem trabalhar, e seni terrenos q u o se c u l t i v e m ,
nào se poderàò sostentar os trabalhadores, q u e ali se de-
vem uxar; S, M. darà tambem p o r sesmaria à mesma com-
panhia as matas que se lhe p e d i r e m , adjacentes às mes-
mas minas; e para q u e o traballio das minas de cobre da
Cachoeira ago soffra falla de carvào (quando tenha lugar
a venda das matas, q u o a misericord a possile naquelie ter-
r i t o r i o ) ordenarà S. M. que a companhia tenha a preferen-
z a , tanto pelo tanto.
S. TO para animar e proteger està empresa, que vai sus-
M

citar li in novo mananchì de riquesas, q u e darà vida a l o -


do o commercio, e a todo o genero de industria, q u e tan-
to da abundancia destes tftctaes depende, devera isentar de
direilos todos os matcriaes que forem precisos, para se po-
der empreender este traballio, a saber: ferro, a c o , enxo-
l r e , e ainda os escravos, q u e a companhia mandar vir da
costa d'Africa, para se empregarem nesle mesmo traballio.
Como a polvora é u m dos matcriaes m u i t o precisos para
o traballio destas minas, S. M. a darà pelo preco q u e l h e
sair, o u ella se fabrique no r e i n o , o u nos seus dominios,
no caso que S. M. nào queira dar a liberdade de mandar
vir de fora.
llequer-se tambem a S. M., segundo o louvavel costu-
me de lodos os paizes miueiros, e ainda daquelles aonde
as minas llorecem, a iseneào ainda de lodo-e qualquer im-
posto, o u direito sobre o cobre e ferro, d u r a n d o os dez
DA PROVINCIA DA BAHIA. 177

primeiros annos. Passarlo oste tornio, a companhia se obri-


garà a vender a S. M. o cobre, que necessitar para a sua
marinila somente, com o rebate de 10 -f sobre o preco
corrente do cobre na l'europa; e passado este mesmo pe-
riodo de dez primeiros annos-, a pagar a S. M. u m direito
o u recon Iteci menta, conforme o estado em que se acha-
rem as minas, u m decimo ou vigesimo , sempre sobre o
proveito liquido, do que so tomarà conhecimcnto pela es-
c r i i uracào dos iivros da companhia, que farad fé.
Podendo acontecer que, trabalhando-se n a s minas de
cobre e ferro, se ache prata e é h u m b ò nas visinhancas da
serra da Borracha, precisa entào està mesma companhia
que se lhe dè a preferencia para as extrair, debaixo das u l i
timas condicòes, isto é, recoiihecer a S. M. o direito da re-
galia, segundo o estado das minas.
Achando a companhia nestas minas os resultados que el-
las prometterò, offerece-se, sem a menor despesa da real
fasenda, a mandar vir de fora à sua custa os homens ne-
cessario», para o bom exito de n o i a tào grande empresa; pa-
ra o que se exige toda a pròteceào do governo, por que sem
ella nào se podera conseguir cousa alguma a este respeito.
A mesma companhia principia por renunciar a todo o
privilegio, que limite a propagacào de trabalhos tao uteis
ao estado; corno porém para fomecer a s despezas, do esta-
belecimento da escala do traballio de minas e fundicào,
nào faz pequenos sacrificios, e é justo que de alguma sorte
ella seja, nào somente indeuinisada delles, mas que seja
ainda recompensada, por u m tào grande, e incalculavei ser-r
vico que faz ao estado; pede a S. M. somente que lhe con*
ceda o privilegio exclusivo, de fundir os mineraes de todos
aquelles, que se houverem de dar ao inesnio genero de
traballio e de industria, ou de Ihes comprar os mineraes,
segundo o seu valor intrinseco, deduzidas peróni as des-
pezas da fundicào.
A companhia reconhecida em nome daquelle paiz, que
vai receber de S. A. R. tào grandes beneiìcios, erigir à à
sua memoria, do primeiro cobre que fundir, urna estatua,
que farà elernisar o seu nome, e elevar até a ultima pos-
teridade a lembranca do seu feliz governo, que deo p r i n -
cipio à sua prosperìdade, fazendo abrir as suas riquissimas
minas alè aqui lechadas. Francisco Agostinito Gomes.»
TOMO V. A
*
478 UESiORTAS tTISTORlCAS, E POLvTIGAS

N à o deixavào de ser extraordjnarias tantas isénc5es e r i *


gidas, m a s desejoso o governo d e q u e se levasse à effeito
essa e m p r e s a , atteodeo a pretencào, fazendo e x p e d i r a c a r -
ta regia d o teor s e g u i a t e —
» l). F e r n a n d o José d e P o r t u g a l , d o m e u conselho, go-
vernardor, e capitàri generai d a capitania d a B a h i a : e u a
r a i n h a vos envio m u i t o saudar. Sendo-tue presente p o r p a r -
te de F r a n c i s c o Agoslinho G o m e s urna rcpresentacào, e m
q u e propondo-se a estabeleccr, pela casa de c o m m e r c i o q u e
tem nessa cidade, urna c o m p a n h i a p a r a a escavacào d a s
m i n a s d e c o b r e e ferro , m e s u p p l i c a v a q u e concedesse a
dita c o m p a n h i a p o r sesmaria , os terrenos das minas d e
c o b r e d a serra d a B o r r a c h a , todo o l u g a r e m q u e elle
se d e s c o b r i r n a e n s e a d a de Vasa-barrìs, o das m i n a s d e
c o b r e d a Cachoeira, o d a s minasele ferro e m Itapicurù ( 8 2 ) ,
($») Durante o governo d e D. Rodrigo José de Meney.es, aehou-se no dis-
tricto desta villa, e terras da fasenda do Anastacio, a pequena distancia do
Bendegó,-ribeirào confluente na margem sctentrional do Rio de S. Francisco,
cerca de urna legua acima da villa do Cabrobò, urna consideravi massa de fer-
ro mullcavcl, de quinve palmos de c o m p i m e n t o e dez de grossura, cuja figura
sa tè desenbada pelos naturalistas Martius e Spix, na sua Fiagem ao Srasi! t

calcolando-se ter o peso de quatrocentas arrobas,


Determinou o mesmo govemador ao activo capitào-mòr de Itapicuró, Ber-
nardo de Carvalbo da Cunha,, em pregasse todos os esforcos e diligencias, para
faiel-a condmir ao mais proximo porto de mar, donde podesse ser transportada
a està cidade; mas* arranc3da com bastante difficuldinie do seu assento, e ar-
rastada por espaco de quarenta passOS, em urna especie de carrata, puxada p o r
doze bois, nào pòde a tra vessar o supradito ribeirào, em cuja margem ainda
exi-ste, do que tudo f o i scientificado o ministro ù*e estado Martinho de Mello e
Castro, a quem se remetterào amostras desse ferro, pelas quaes coulieceo-se em
Lisboa ser da melhor, e mais exceliente qualidade, segundo o declarou. o mesmo
ministro. Està noticia, coordinada liei mente à vista dos livros ofibiaes da se*
cretaria do governo, difiere algum tanto da que, talvez pur informacòes ìnex-
actas, i m a o doutor Balthasar da Silva Lisboa nos seus Anaacs historicos, do
Rio de Janeiro toni. x. pag, 146 quando d i e —
• Muitos forào sem duvida os henefieìos moraese politico», que provierao da
descoberta do Brasil» pois que intuuncraveis- nacòes indigena» participarào das
luzes da fé e da salvacào, que jamats alcancariào no estado primeiro da sua set-
vajaria e ignorancia. A predica ao cvangelho a brio as portas do céo & immen-
sidade de povos que ha bit a vào no Brasi!, sepullados nas trevas da ignoraucia,
donde forào arrancados, e chamados ao seio da igreja, a glorificar 0 seu cria-
dor, que f u i adorado e santificado seu nome, por m u i dilatadas regióes Bra-
zilicas, surgindo do meio dellas tantas pessoas eminente? em snntidade de uur
e o u t r o sexo, fervorosos ebristàos, virgens- castasj e piedosas religiosa*, excel-
BA PRAlKCIA DA BAHIA.

e os que seacharcm nas visinhancas da sobredita serra da


B o r r a c h a , c o m as matas q u e se pedi r e m , adjacentes aos
Wiesmos terrenos, para dellas se poder e x t r a i r o carvào ne-
cessario, para os t r a b a l h o s das minas, concedendo-se-lhe
t a m b e m , q u a n d o tenha l u g a r a venda dos matos, q u e a m i -
sericordia possue no d i s t r i c t o da villa da Cachoeira , a pre-
ferencia para sua c o m p r a ; e f i n a l m e n t e alguns privilegios, e
isencòes de direilos q u e se fazem necessarios. para u m tao
u t i l estabelecimento; e t o r n a n d o e m c o n s i d e r a c i o t o d o o re-
f e n d o , e a grande u l i l i d a d e q u e necessariamente ha-de r e -
s u l t a r d o m e s m o estabelecimento ao meu real servico, e ao
b e m p u b l i e o , nào sò da capitania da B a h i a , mas de t o d o
o Brasil, e mais d o m i n i o s de m i n h a real coróa, p r i n c i p a l -
m e n t e na occasiào a c t u a l , e m q u e t e m s u b i d o a u n i alto
preco o valor destes metaes, q u e sào tào necessarios à a g r i -
c i n t u r a , às arles, e à navegacào; sou servida ordenar-vos
q u e noniecis u m magistrado, e u m officiai de a r t i l h a r i a , pa*

lentes e sabios religiosos, e bispos q u e ten» illustrado e san tifica do o seu paiz,
c o m muitas o u t r a s pessoas seculares, q u e amontuarao os tesouros espiriluaes
da igreja, pela observancia e illustracào do evangelhoj, desde o I l i o da p r a t a
até ao Amaxouas. M u i t o s hens t a m b e m vierào da commuuicacào com os Por-
tugue/cs, q u e penetracào o i n t e r i o r do p a i z , obteudo conhecimento das r i -
quesas n a t u r a e s , ss quaes fi/erào mudar todas as relacòes politicas da Euro-
pa, daudo forca e p o d e r as nacòes. As visgens pelos r i o s d o ìuterior, e as cor-
rerias das DiÓntanhas, em a pesquÌf,;:cao dos metaes e pedras preciosas; quan-
tas riquesas e conhecimenlos novos nos nào subuunistrarào em todos os r e i -
nos da naturesa? Que m à o l o i collocar nas cabeceiras de Vasa-barrìs, nas p i a -
nìcies do r i b e i r o bendegò, u m pedaco de f e r r o p u r o , f l e x i v e l , malleavel à
f o r j a , d u r o , e l i m p o da f e r r u g e m , de f o r m a quasi o v a i , c o m nove palmos de
c o m p r i d o , seis dilos na maior l a r g u r a , e de tres na m a i o r a l t u r a , q u e seis
juntas de bui», apen.'i suino a c a r r a t a , arrastarào quarenta passos, examina-
i l a de o r d e m d o g o v e m a d o r conde da Poute sobre u m t e r r e n o de arca sulla,
longe das montanbas, sem a l g u m i n d i c i o de volcào, nem de a l g u m o u t r o me-
t a l o u semimetal, em distancia vasta das serras da Tiùba, p ^ r dilatadas cam-
pinas, e d e n t r o dellas lagòas d'agua salgada, em unta das quaes e u achei um
monstro petriOcado, que parecia urna baleia!»
A i n d a prevalece a idèa de s*>r a sobredita massa de f e r r o u m meteorolite, e
assim t a m b e m p o r m u i t o tempo se peusou na E u r o p a a respeilo de outra gran-
de massa m e t a l l i c a , q u e existia na m a Burlu-l, em Aix-la-Ohapelie, cujo peso se
eslimava exceder de quiuze m d libras, mas que f o i depois recouheeida p o r M.
C l e r o , engenheiro das minas, nada mais i m p o r t a r q u e u m residuo de antiga
fundicào, sem conter parte alguma de n i c k e l , que é quasi inseparavel de todos
os m e i e o r o l i t e s , e cuja faita basta para evitar iguaes equivoco*.
si*
i-80 MHMOUIAS I I I S T O R f C A S , POtlTlCAS

ra q n c e x a m i n e m todos os terrenos de minas e matos q n c


o s u p p l i c a n t e pretende, e q u e os facaes logo m a r c a r e d e l i -
near, para q u e se conheca a extensào d e cada u m delles, e
os li in i tes q u e hào d e ter em cada d i s t r i c t o , averiguando
t a m b e m se ha a l g u m a d a t a a n t e r i o r , q u e se o p p o n h a a està
nova concessào, e se a c o m p a n h i a t e m os f u n d o s e cabed les
necessarios para a realisacào d e urna tao g r a n d e empresa; e
se h a i n c o n i p a t i h i l i d a d e e m p r o j e c l a r t r a b a i h o s tào i m p o r -
ta n les, e m sitics lào remotos uns dos o u t r o s , a fini de q u e
se evite o p r e j u i s o , q u e pode resultar d e ficarem estes sa-
crifìcados aquelles, cncarrogando-vos d e fazer s u b i r à m i -
n i l a real presenca pela secretarla d e estado dos negocios d a
m a r i n i l a , e d o n i i n i o s u l t r a m a r i n o s a informacàoque se con-
seguir de u m t a l exame, e averiguacào, para se j u i g a r se h a
inconveniente e m conceder a gruca q u e o s u p p l i c a n t e s o l l i -
c i t a , d e b a i x o d a s condicòes expostas nesta carta regia, eeaii
sua representacào, q u e t a m b e m vos m a n d o r e m e t t e r .
E no caso d e q u e se v e r i f i q u e a possibilidade t a n t o das
concessòes pedidas, corno dos necessarios cabedaes da com-
p a n h i a p a r a este estabelecimento, e nào havendo i n c o n v e -
n i e n t e do m e u real servico, o u d o b e n i p u b l i e o , vos a u t o r i *
so para q u e passeis l o g o n o m e u real n o m e , a fazer u m
c o n t r a t o c o n i a m e s m a c o m p a n h i a , debaixo das seguintes
condicòes. Q u e aléin dos sobreditos t e r r e n o s , q u e l h e f o r e i n
doados, e m q u a n t o t r a b a l h a r e m as mesmas minas, sera
p e r m e t t i d a à c o m p a n h i a a r r e m a t a r e m praca p u b l i c a , c o m
p r e f e r e n c i a t a n t o p o r t a n t o a q u a l q u e r l a n c a d o r , as m a t a s
q u e a m i s e r i c o r d i a possue n o d i s t r i c t o d a villa d e Ca-
choeira , no caso de q u e està seja o b r i g a d a a alienal-as, o u
as venda v o l u n t a r i a m e n t e : q u e se l h e venda a p o l v o r a d e
q u e necessitarci!! as minas, pelo preco q u e s c a j u s t a r , e
que sera aquelle a q u e a mesma sair'à real fasenda, posta
na cidade da Bahia : q u e a c o m p a n h i a sera isenta d e pagar
d i r e i l o s nào sò de t o d o o f e r r o , ago, e n x o f r e , d e q u e neces-
sitar para os trabaihos das m i n a s , mas d e t o d o s os escravos
até o n u m e r o de d o u s m i l , c o m t a n t o p o r é m q u e sejào em-
pregados nos d i t o s t r a b a i h o s , e q u e se o b r i g u e a pagar ò
I r e s d o b r o p o r cada escravo q u e t e n d e r , dos q u e i n t r o d u -
r r , sem pagar direitos, p a r a o t r a b a l l i o das minas, sem l i -
cenza p a r t i c u l a r vossa p a r a o m e s m o fini, n o q u a l caso sò
p a g a i a os d i r e i t o s quecstào estabelecidos, p a r a todos os d e
»A PROVINCIA DA BAHIA. 181

qne a companhia flzer venda, o que tambem vos encarrego


de vigiar com a maior aclividade, e cxaccào; que igualmen-
te sera isento de todo e qualquer direito o ferro e cobre, ex-
traìdo destas minas por espaco de dez annos , e (indo este
termo, ficara a companhia obrigada a pagar à minha real
corèa dez por cento do p r o d u c l o liquido, que tirar destas
minas de cobre e f e r r o , para cujo firn nou.ualà todos os
annos o govemador e capitào-general dessa capitania urna
pessoa habil, e de confianca, para examinar os livros da
mesma companhia, o que o m e g l i o govemador deverà p o r
si fazer, quando o julgar conveniente, e que podera a com-
panhia mandar vir de fora do reino todos os homens ha-
beis, que considerar necessarios para o traballio das minas,
para o qne lhe concederà loda a precisa proteccào: que o
govemador e capitào-general dessa cupi tanta fìxarà, de acor-
do coni a companhia, os limiles dentro dos districtos das
datas que lhe lorem concedìdas, nas quaes ninguein pode-
ra extrair mineraes, sem sua licenca, nem fuudil-os senào
(

nos for nos da companhia, à qual licara livre o poder pa-


ctuar os precos, porque bade c o m p i a r o minerai, segundo
o seu valor intrinseco, deduzidas as despesas da fundicào,
podendo só recorrer à autoridade do magistrado paia fìxar
este preco, quando, a avenca nào poder ser voluntaria, e a
contento da parte: que no caso que se achem, em algum
dos terrenos concedidos, galenas, ou minas de prata e
c h u m b o , se entenderàò as mesmas compreendidas nesta
concessào, sendo obrigada a companhia a trabalhal-as l o -
go que se deseobrireni > e a pagar à minha real corèa O
quinto do seu rendimento: que igualmente fixareis o ter-
mo em que, nào trabalhando a companhia as minas que
lhe sào concedìdas, perderà as datas das mesmas, que po-
dcràò entào ser dadas a quem melhor as faca valer: que,
finalmente, sera permittido à companhia, na forma da sua
supplica, o poder erigir ao principe do BrasiI, meu m u i *
to amado e presado fillio, urna estalua, que, perpetuando
à mais remota posteridade o reconhecimento da mesma
companhia, e de todos os meus vassallos, seja u m monu-
mento da incorrùpta fidelidade da nacào l'ortugueza.
Ultimamente vos ordeno que logo que conclmrdes este
contrato, com as condicòes aqui apontadas, me remettacs
urna copia delle, para sor sanccionado com a minha reai
482 MEMORIAS H1ST0RICAS, E BOLITICÀS

approvarlo, e conferir a companhia todas as doacòes da


forma e modo que se ajuslar, conforme for u t i l ao meu
real servico, o que assim cumprireis. Escrita no palacio
de Queluz em 1*2 de j u l h o de 1 7 9 9 . — P r i n c i p e — P a r a D.
Fernando José de Portugal.»
Nao passou com tudo a mais està empresa, p o r se have-
rem retraido do seu progresso a maior parte dos que de-
viào constituir a companhia, antolhando a marcha que en-
tào promeltiào os negocios politieos da Europa, e e m con-
sequencia das par lieipaeòes do govemador a tal respeilo, or-
denou a carta regia de 26 de novembro de 1800, que o ja
mencionado naturalista,Manoel Ferreira da Camara,fosse en-
carregado de investigar as referidas miuas de cobre e ferro,
durante o tempo que se demorasse nesta provincia, à q u a l
viera do Serro do f r i o , por negocios de seu interesse p a r t i -
c o l a r i mas* obstarào-lhe esses mesmos negocios a salisfazer
cabalmente semelhaute commissào, que exigia tempo, r e -
sultando apenas de suas pequenas excursoes, o ficar conhe-
cida a abundancia de ferro no districto de Maragogipe, e
destruida a idea de exislir urna mina de mercurio, que Jo-
sé Gomes de Sa Lobo e Maia, secretarlo do governo de Ma-
to-grosso, participara ter descoberto n'um arroio visiono
à villa de Nazareth, cujo exame m u i t o recoinmendou o
aviso de 23 de novembro de 1805, p o r haver verificado,
nos exames a que procedeo, nào ser nativo esse mercurio,
mas sim entornado,
Tanta variedade e abundancia de mineraes, de tamanho
interesse ao engrandecimento do paiz (83).constituiriào u m

(83) Gumpre desde ja declarar-se, qne nào se limitando unicamente o reino


m i n e r a i desta p r o v i n c i a , aos d i v e r s o s r a i u o s q u e ficào d e s c r i p t o s , r e a e r v o t r a t a r
d e outros n a seccao topografica, a p r o p o r c a o q u e cliegar ao lugar e m q u e ca-
d a u m existir.
A s m i n a s p r e c i o s a s d o B r a s i ! , q u e n o r e i u a d o d e D. J o à o V., coucorrerào p a r a
que, p e l o s c a l c u l o s m a i s a p r o x i m a d o s , r e c e b e s s e a c u r i a R o m a n a 9 4 milhóes d e
piastras, o u p o u c o m a i s o u m e n o s 188 milhóes d e c r u s a d o s , envi-idos d e . P o r t u g a l ,
o b t e u d o e m retriboicào a criacào d a p a t r i a r c b a l d e L i s b o a , a d e a l g u n s b i s p a d o s ,
e o u t r a s b u l l a s d e p o u c o i n t e r e s s e r e a l , n a d a a l i ! apreseutarìào h o j e e m a b o -
110 d a s u a r i q u e s a , senào fosse a s n b e r b a construccào d o s arros das aguas livres
n a q u e l l a c a p i t a l , feita d u r a n t e o m e s m o r e i u a d o . D o a i v a i a e o i f o r m a d e q u i -
tacào d e 5 ,de s e t e m b r o d e 1748, p a s s a d o a F r a n c i s c o da C o s t a S o l a n o , e pu-
b l i c a d o n o I n v e s t i g a d o r P o i l u g u e a n.° 54, fconsta q u e d e 3 de n o v e m b r e de
<7aa, até o £111 de d e z e m b r o de 1746» e n t r a i So, e registracào-se n o e r a r i o era
DA PROVINCIA DA B A H I A . 183

poderoso incentivo a formacào de companhias de minera-


rio, se por fatalidade nào prcvalecesse sobremaneira nos
que para isso estào habilitados, a inercia, talvez associada

dinheiro cento e quinze milhóes, quinhentos e nove mil, cento e trinta e dou
8

crusndos. Em direitos de diamantes e de ouro, seis mil qnotrocentas e desese-


te arrobas, vinte tres libras, e quinze gràos. Em direitos de prata trescotas e
vinte quatro arrobas, uma libra treze oncas, duas oitavas e doze gràos. De co-
bre cu» cbapas, para ligas de ouro e prata, quinze mil sei scema s e setenta no-
ve arrobas, vinte e quatro iihr&s dez oncas e sete oitavas. De cobre do A l -
garve, onze arrobas, e oito libra». Diamantes bruto» dous m i l tresentos e oilo
quilates, e dous gràos e meio, a!ém de muitas pecas de o m o e prata, que o
mesiuo Solanti receheo e entregou.
Toda està riquesa espantosa desappareceo, bem comò o numerario precìoso;
surgio no Brasil, coro o volver des annos, o terrivel mal da moeda papel, e
corno sempre um damuo é o precursor de outro maior, seguio-se nesta pro-
vincia a criminosa e quasi publica labriracào da moeda de cobre falsa, ira-
perfeitissima em seu formato, cuja especie desaGou a illustrada musa do esu*
tor de T r i p o l i , José Francisco Cardoso, publicando debaixo dò anonimo o se"
guinte epigramma—

AEris metamorphosis in charmi!*.


Copia nummorum tum argentea, tura aurea miro qua m
Defecìt no bis; as erat i n miuimis.
Ecce autem ar^eutum latuit, disparuit a u r u m ,
Atque as» in pretio cuneta regebat ovans.
Aitameli i n regno tnrpis natura remansit,
Signatoque f u i t vilìus « r e nihil.
Lamina crassa olim, tenuissima bractea nunc est",
Quadrata exìliunt, curva, trigona typis.
Et leviutis eo processum est, a?ra minutas
U t verli i n chartas jnsserit i r a Dei,
rRADUCCAÒ,

Metamorpkose do cobre em cedulas*

Nem de argenteas, e nem de aureas especies


Jamais copia falhou aos tratos nossos;
Em baixa estimaci - jasta o cobre.
Eis que a prata se esquiva, foge o ouro,
Eis o cobre em apreco impera ovante.
Mas torpe condieào o segue ao trono.
Nada mais v i i que as novas eneas format^-
Em foiba» tenuissimas se estende
O que fot grossa lamina; dos cunbos
Triangulos, quadrados, curvas brolào.
E tanto so adelgaca o duci i l cobre,
Que iradu um Deos-em cedulas o torna.
i84 MEMORIAS HTSTORICAS, E POI1TICAS

com o receio da rcproduccào de commocòes intestinast


tontou Joào Diogo Sture, a quem a provincia deve a in--
troduccào da navegaeao em suas aguas por meio do va-
por, e assns conhecido por muitos projectos de incontesta-
vel utilidade ao Brasil, a serem levados a effeito., estnbelccev
urna fabrica, ou companhia metallurgica em grande escala»
requerendo em 18 de marco de 3838 a autorisacào da as-
semblea prov ine tal respectiva, para f u n d i r feltro* cobre,
chumbo, latào, e zinco, por meio de processos chimicosj
modos e fornos ainda nào usa dos na mesma provincia, e
de igual maneira rolar em chapas, laminar, puchar, pun-
car, estampar qualquer destes metaes, cortar e serrar
pedras p o r meeanismo movido por agua, o u vapor, e f a -
bricar o aco-, e c h u m b o de munieào das differentes minas
que existem despresadas, apreseutando por vantagens da
tal companhia, que devia sor composta de nacionaes e es-
trangeiros—
1 / 0 privilegio esclusivo por trinta e cinco annos, para
fabricar e preparar os objectos supra mencionados, na f o r -
ma indicada.
2. 0 direito de preferencia pelo mesmo tempo de quaes-
a

quer contratos sobre obras publicas, dada a iguaidade de


condicòes.
a
3. A concessào do privilegio do plano indicado, e de
a

subida e dcscida por meio de meeanismo, debaixo de


certas estipulacòes (84) apresentadas.
(3/ ) Segundo estas condicòes, era a companhia obrigada—
f

s. a
A cstabelecer p e l o menos em u m p o n t o conveniente d a cidade u n i ma*
q u i n i s m o , o u p l a n o indieado em c a r r o s oU vei'culos, m o v i d o p o r u m engenho
d e vapor, estacìonario p a r a fazer s u b i r , e descer t u d o q u a n t o se quizesse trans-
p o r t a r , eousas e pessoas, d a cidade b a i x a p a r a a cidade a l t a , e vice-versa.
a.* O meeanismo trabalharia c o m r e g u l a r i d a d e durànte o d i a , e mesmo d e
ìioite, subindo o u descendo p e l o espaco d e tempo, q u e conviesse para a facì-
l i d a d e do c o m m e r c i o , e c o m m o d i d a d e public». U r n a tabella i n d i c a r i a os pe-
riodo» da subida e descìda p a r a passageiros, e outra o dos fife tes e passagens,
que nào poderiào ser alterado» p a r a mais, d e n t r o d o espaco de u m anno, d o
t e m p o em q u e fossem estabelecidas.
3.* A n e n b u m i n d i v i d u o o u companhia seria p e r m i t i i d u usar deste, o u o u -
t r o maquinismo, a p p l i c a d o a una p l a n o i n e l i n a d o p a r a o uso do p u b l i e o , so-
b r e alguma das elevacòes desta cidade, p o r espaco de 2 5 annos, uontados do
d i a em que se cornee asse a t r a b a l h a r , fica odo este p r i v i l e g i o de u e n h u m e f f e i -
t o , »e d e n t r o de dous annos e raeto, depois d n cpnclusao do c o n t r a t o nào fos-
se co mecado o mesmo maquìnìsmo, e aeabado d e n t r o dos dous annos seguintes.
DA PROVINCIA DA BAHIA. 185

4.° A isencao de todo o servico militar, aìnda mesmo da


guarda nacional, para os aprendizes que possào ser admit-
tidos na officina, e para aquelles que, aproveitando o eu-
sino no tempo consecutivo de tres annos, se tornarem mcs-
tres, o u officiaes hnbeis, em quanto se empregarem no ser-
vico da mesma officina.
5.° A conccssào de carta de naturalisacào a todos os
mestres, officiaes, e aprendizes estrangeiros, que se empre-
garem tres annos eonsecutivos no servico da companhia, e
se quizerem naturalisar Brazileiros.
6.° Finalmente a cessàoàcompanhia, a t i l u l o d e proprie-
dade, das minas de carvào, cobre, ferro, cnxofrc, o u c h u m -
bo, q u e forerò por ella descobertas em terrenos devolutosi
A criacào de forcas mecanicas sempre necessarias, m u i -
to mais quando se tem a preencher o vacuo, q u e infalhvel-
mente resultaràda cxtinccào do trafico daescravatura Afri-
cana, e a utilidadeda inlrodurcào de novas maquinas, pare-
ce que tenderào assàsa fazer admittìr semelhantcexigcncia,
que foi sauccionada pela lei n. 110, de 10 de marco de 1839,
menos no que respeitava à 5." e C* condicòes, p o r isso
que sua disposieào dependia das attribuicòes da assemblea
geral: com t u d o de nada mais tambem servioesta tentativa,
que de confirmar nào achar-se ainda aparelhado o espirito
publieo para iguaes e m p r e 2 a s , experiinentando a que se
meneiona a mesma sorte, porque tem passado outras proje-
ctadas, quer em tempos mais remotos, quer recentemente.
Tornào-se nào menos dignas de importancia as famo-
sas salinas, que se encontrào em algumas lagòas nos ter-
mos das villas de Chique-chique , Pilào-arcado, e Campo
largo ,as quaes, algum tanto semelhantes às que possuem
os Tartaros Usienses, nos lagos Sorastchya, Korjackof, e
Jennu, abastecem o interior da provincia, e grande parte
de Minas-geraes, Goiaz, Pernambuco, e Piauhy, notando-se

4.* O governo forneceria a companhia aquella guarda de policia, ou de sol-


dados, para a manulencào d a o r d e m e proteccào do maqaihismo, q u e a mes-
ina companhia requeresse, obrigando-se esla a dar-Ihes urna graùficacào e q u i '
valente ao seu colilo.
5.*' A companhia se c o m p r o m e t t i a mais a fàter c o n d u z i r as consas e pes-
soas, q u e suhissem, o u descessem p e l o meeanismo d e n t r o da mesina c i d a d e
dos l i m i t e s d o l t r g o d a igreja d a V i c t o r i a até a i g r e j a d a L a p i u h a , p e l o me-
nos duas vezes p o r dia.
T O M O V. a S
3 86 MEMORIAS H1ST0RICAS, E POMTICAS

q u e tanto mais agua recebem aquellas lagòas, durante a es-


tacào p l u v i o s a , q u a n t o maior q u a n t i d a d e d a o de sai : ex-
tràe-se este ordinariamente por meio d a evaporisacào , e
sendo o de a l g u m a s alvissirno, e do m e l h o r uso para a co-
sinha, é todavia o de c u i ras assàs maseavado, amargoso, e
tào i m p r e g n a d o de m u r i a t o de soda, q u e apenas serve de
ulilidade a evitar certas enfermidades, a q u e é sujeito no
seriào o gado cavallar e m u a r , q u a n d o nào u s a desse effi-
caz r e m e d i o na a r t e veterinaria.
H a diversos siiòes, ou orgàos geologicos, entre os q u a e s
m e r e c e m pnrticular m e n c à o u n i , q u e exisle na missào do
Arieobé, e outro abaixo da villa de Pilào-arcado , d a parte
opposta do Ilio de 8. F r a u c i s c o , a m b o s de i n i m c n s u r a v e l
profundidade, mas, nào obstante serem suas aguas perfeita-
mente salgadas, de n e n h u m proveito até hoje t e m sido aos
habttautes.
ÌNào s e c o n h e c e m voleòesem toda a provincia, p o r é m algu-
m a s pequenas erupeòes subterraneas. confirmào asobserva-
eòes ièitas sobre o c a r a c l e r p r i m i t i v o de terrenos volcanicos,
q u e se divisa c m differentes lugares do interior, e s p e c i a l m e n -
!e junto às serranias, q u e p a r e c e m ser o antigo d o m i n i o d a -
quelles , e aleni da q u e (ìeou noticiada a pag. 1 6 3 , o u *
tra, ainda mais digna de nota, desinvolveo-se às k horas d a
m a n h à de i O de a b r i l de 1826, no t e r m o d a villa de C a m -
po-largo, e terras d a fazenda d e n o m i n a d a J a r d i m , de q u e
è proprietario o capitào F e l i p p e Benicio da C u n h a .
L~m interpollado cstrondo subterraueo a n n o n e io ti essa ex-
plosào,em v i r t u d e da q u a l abrio a terra u m extenso vallado,
desde a serra c h a m a d a B r a n c a , q u e ali existe, até o R i o -
grande p o r o n d e alguns dias correo eni borhotoes u m -ma-
3

n a n c i a l de agua b e m m i n p s a , de 35.° de calur da escala cen-


tigrada, e m q u a l q u e r das horas dos m e s m o s dias, baixando
p o r é m este c a l e r , b e m corno p e r d e n d o a c o r e s c u r a q u e a
p r i n c i p i o apresentava a m e s m a agua, à m e d i d a q u e està foi
t a m b e m g r a d u a l m e n t e d i m i n u i n d o : grande n u m e r o de a -
roeiras , q u e povoavào parte d a v i s i n h a n c a d a r e f e n d a ser»
ra, e q n e sào as m a i s corpolentas arvores do continente, fo-
rào subvertidas, a p p a r e c e n d o p a r t e de o u t r a s queimadas,
e à bastante distancia daquella p a r a g e m , p a r a o n d e a r r o -
jou-as a explosào, e c e r c a de trinta bracas de r o c h a foi t a -
l h a d a p o r ella p c r p e n d i c u l a r m e n t e , traballio este q u e a sei
DA PROVINCIA DA R A n i A . 187

feito por fortja fiumana empregaria longo tempo, e grande


numero de bracos (85).
Finalmente: encontrào-se tambem nesta provincia aprecia-
vcisaguas mineraes, de que em outro lugar se farà mencào,
mas sendo ja muito celebradasasfoutes thermaes da comar-
ca de Itapicurù, convèm desde agora publicar-se a informa<
cito que sobre ellas d**o ao respecttvo governo a com missào,
encarregada de examinar suas qualidades e propricdades,
corno fora determinado (86) pela lei provincial n.° 174 de

(85) Està noticia foi mais detalhadamente communicada em officio do dia,


19 ao prendente da provincia de Minas-geraes , o visconde de Cacté , pelo
ouvidor da comarca , o dezembargador Miguel Joaquim de Cerqueira e Silva,
que n3 refenda villa entào se achava com o autor das presente* Memorias.
(8ti) Ja igual diligencia se havia ordenado ao presidente, visconde de Canta;
uiù, por aviso da secrelaria d'estado dos negocios do imperio, de a5 de agosto
de t 8 2 Q , para a qual foi polo mesmo presidente nomeado o doutor Francisco
de Paula de Araujo e Almeida, medico de bastantes couhecimentos, e entào len-
te de chimica na escola de medicina, em consequencia de baver sido publicado
cm Urna foiba periodica desse tempo, o pequeno pareeer apresentado ao gover-
no da mesma provincia pelo doutor José L i n o Coutinbo, em 5 de abril do re-»
ferido anno, assim concebido —
•> A fonte do Fervente se acha na margem direila do rio Itapicurù, na fa-
senda Mài d'agua, trinta leguas pouco mais ou menos distante da co!>ta do
mar, sobranceira a este rio na altura de urna braca a cima do seu uivel, e
quatro ou ciuco abaixo do terreno geral é ordinariamente coberta per suas
aguas na occastao de suas ebeias.
O terreno da vishdianca desta fonte é de um aspecto ferruginoso, e nelle se
encontrào algumas pedras de avultado volume, que parecem ser inteira mente
compostas de ferrugeio: o fundo do tauque, ou poco, que bem pode aecomme-
dar tres ou quatro pessoas, e mais se o escavare™, é feito por lòdo, e area fò-
fa, de modo que por elle se enterra sem maior resistenza o braco até o hom-
bro, e de toda a sua superfìcie continuamente arrebentào grossas bolhas de * r ,
que fazem com qne aquella agua apparerà comò fervendo, d'onde lhe vem o
nome de Fervente, que lhe da a gente do paiz.
Està agua è de una perfetta transparencia, e de urna cór ligeirainente acati*
rada, seu c h t i r o , e sabór muito se assemelhào ao da tinta de escrevcr, e o
seu cai or de 3e>° i/a da escala centigrada: su buie Irida a analvse, ella deo gaz
acido carbonico, sul fato de ferro, e sulfato de cai, e nào sei se mais oousas
daria, se tivessc rcagcntes proprios para continuar no exame. Quando alguem
nella se banha, principalmente de manhà ou à unite, tempo em que u atmosfe-
ra està mais fresca, seme ao principio um calor destisado e urente, que ao de-
pois se modifica, e acaba por se tornar agradavel, e demorando-se algum tempo
experimenta urna sensato corno de aperto pela pelle, e nas articubeòes, e muu
principalmente nas paluias das màos, piantai dos pés, e polpas dos dedos que se
35


il 88 MEMORIAS HISTORICAS, E POLITICAS

21 de j u n h o de 4842, informacào essa qne i m p o r l a o me-


l i i o r testemunho da illustracào, e saber dos que a coordU
narào.

frangem, e encotben», eomn acontece coro os baubos frios ou comò quando se


t

trabalba com acidos diluidos; noentretauto que a pelle se mostra iivjectada e


vero>elha, mais do qne se mostrarla com um baulio de agua communi ein igual
temperatura,
Como està fonte ha outras muitas p o r todo o r i o Ilapicuró, quer do lado
ducilo, quer do esqnerdo; porém todas menos qnentea e ìnferiorcs em qua-
bdades scnsiveis, o qne indica maior penuria de principius.
Nestas cirennsiancias, que proveitoso uso podera ter em medicina urna seme-
ntante agua? A meu ver està sera bi a no turpòr das entianhas, para completar
a cma de suas ìrritacòes eronicas; no tralamento das hydropesias depoìs da
''vacuando dos sorcs, e, geralmente fallando, em todas as doencas de cachexias,
pois que se lhe nao pode negar urna qualidade adstringcnte assas sensivcl, e
p o r conseguirne tonica. Que beneficio podera o governo fazer a està origem
n'aguas ferreas, para sua conservacào e commodidade dos enfermos que a el-
las forom ? Creio que deve ser pequeno, se attendermos a sua critica situa-
tìo, sujeita as iuuundacòes do rio, porque de outra sorte seriào precisos Rran-
tics trabaihos bydraulicos, para as por em guarda e a salvo; assim deve elle
hnu;ar-se a mandar fazer de pedra e cai o que eufizcom estaeada, taipa, e
pallia, isto c, o tanque e nma pequena casa que o cubra, porqu-? neste caso
quando alguma maior enchente o derrnbar, o que nào acontecera senào de
annos a annos. pois que as enchentes se vào tornando afasladas «mas das ou-
tras, nào se perderà muito sendo facil a sua reedifieacào: e para agasalhodos
fnfermos b;istaróo quatro ou seis pequenas casas de romeiros, no terreno su-
perior a ribancrira. e no lugar onde colloquei a casa da minha mora dia. Taes
obras, a meu ver, quando o governo assira o queira. devem ser incnmbidas
i i o capitao-riiòr do districto , beni tomo a inspeccào e conservacào dellas, de-
po's de concluidaS:
l e n i t o (aìiado do Fervente, agora passare! a tratar de um outro grande tan-
que, que se encontra nas visìnhancas da missào da Sande, distante da n»3rgero
esquerda do Itapicurù urna pequena lejjoa, e a baixo «'a Mai d'agua onde se
acha o primeiro, nove legoas coni pouca differenza: elle e espacoso e bonito, cir-
condario de arv. res, da origem a um pequeno regalo, que em pouca distancia
«e iiue a outro, de agua frià eminentemente potavel, o seu fundo, pouco con-
sistente, é absolutamente arenoso, bem corno o terreno de todo aquelle dis-
incto; de sua superfìcie se escapào continuadameute pequenas bolbasde ar, que
dào urna contìnnada, porém branda agitacào aquelles aguas, qua sào crislali-
nas e iusnucas, mas de um dietro ligeirameute enxofrado; seu calor é de 3i° da
escala centigrada, e pela aualvse nenhuma outra cousa lhe deseobri, senào urna
pequena quantidade de eux. fre puro, e suspenso, o que é de admirar. visto que
taes aguas sào proprias das visiubancas de voleòes, e o terreno de Itapicurù nào
•presenta o menor simptoma de naturcza voicanica. Elias devem ser boas nas
doencas de pelle, e se dermos credito ao que contào dellas, os visinhos j a tem
DA PROVINCIA DA BAHIA.

» A existencia das aguas mineraes n a c o m a r c a de I t a p i c u *


rù, ha m u i t o q u e era conheeida, e c o m a l g u m a c e l e b r i d a d e
pelas v i r t u d e s q n e se Ihes a t t r i b u i t o para o c u r a t i v o d e c e r -
tas doencas; v i r t u d e s esageradas p o r u n s , e p o r o u t r o s
conte&tadas, s<'gundo os bons , o u m à o s successos e x p e r i -
mentados n o uSo das aguas, n e m sempre c o n v e n i e n t e m e n -
te a p p i i c a d a s ; c o m t u d o a opiniào mais gerabnente a d -
m i l t i d a , é q u e e i l a s l e m diversos prestimos. A assemblèa l e -
gislativa da p r o v i n c i a , sollìciia n o b e m estar de seus h a b i t a n -
tes, e desejosa de t e r u m per feito c o n h e c i m e n l o das q u a l i -
daeles d'essas aguas, «firn de franqucal-as ao p u b l i e o conni
mais u t i l i d a d e , resolveo q n e tralasse o governo d e m a n d a i -
as e s a m i n a r p o r pessoas intelligentes.
T i v e m o s a h o n r a de ser p o r V. Ex. i u c u m b i d o s desta
commissào, e leremos agora de e x p o r o resultado denossos
traballio», q u e sem d u v i d a seria o rìielhor possivcl, se n a o
obstante as diligencias q u e e m p r e g a u i o s , nossas luzes c o r -
respondossom i n t e r a m e n t e ao sentimento p h i l a n t r o p i c o d e
q u e somos aniniados.
A c o i n a r c a d o Itapicurù, q u e dista deòta c i d a d e le-
goas, tira seu n o m e d o rio Itapicurù, q u e nascendo na J a -
c o b i n a , e atravessando m u i t a s iegoas, vem despejar no a t -
l a n t i c o , liste r i o q u e e m seu estado o r d i n a r i o é vadcavel à
c a ^ a l l o , e m e s m o à pè,toma-se c o n i as enchentescaudaloso,
a r r a n c a n d o , e arrastando a r v o r e s e x t r a o r d i n a r i a s , d e r r i b a n -
d o casas, talando os c a n i p o s , e d e i x a n d o após suas g r a n -
des i n u n d a r óes a fome, e a miseria.
Pela m a r g e u i deste r i o , e m urna extensào de quasi l i I e -
goas, se achào collocadas i r r e g u l a r m e n t e as vertentes das
aguas mineraes, q u e mais o u menos se avisinhào de sua b o r -
da; apresenlào urna t e m p e r a t u r a s u p e r i o r à d o a r a m b i e n -
t e , p o r è m n e m todas l e m as mesmas abundancias d'agua;
pela m ó r p a r t e mesquinhas, e insignificantcs, apenas p o u -
cas descem e m rìbeiros a se c o n f u n d i r e n i c o m o r i o .
T e n d o estas u l t i n i a s de o c c u p a r nos c o m mais especiali-

feito miraculosas curas neste genero de enfermidades: o qne disse acerca do be-
n e f i c i o , e acondiciouamenlo do p r i m e i r o tanque, se p o d e r a igualmente a p p l i -
c a i a este, e supposto esteja este a salvo de toda e q u a l q u e r euebente d o r i o ,
c o m t u d o nào se devem fuzer maiores obras, sem q u e urna observac/io reitera-
da c o m p r o v e o j u i s o , q u e f o r m o de sua u t i l i d a d e nas doencas de p e l l e . José
L'ino Concinno.»
MEMO-MAS HISTOMCAS, E POtITIGAS

dado, cumpre anteriormente darmos alguma, ainda que


abreviada, noticia d o l u g a r , 0 t e r r e n o é m o n l a n h o s o , mas
os inqnles de p o u c a a l t u r a ; rcvestem-nos rasteiros arbusto»
(algumas vezes e m m o i t a ) p o u c o bastos d e n o m i n a d o s — c a -
l i n g a s — pelos nossos sertanéjos: as grandes arvores só se
encontrào nas p r o x i m i d a d e s d o r i o . As margens se formào
d e argilla salina, e a b u n d a t a n t o o s a l c o m m u m e m algumas
del!as,queos habilantes q u a s i quenào usàode n u t r o .
A criacào d o gado v a c u m è o p r i n c i p a l t r a f i c o d'aquel-
les moradores, e se plantào Jegumes, e mais para sua a l i -
mentacao q u e para negocio. O c l i m a è s a u d a v e l , isento d e
m o l e s t i a s e p i d e m i c a s , e endemicas, e è somente depois das
enchentes q u e sobrevèm as febres i n t e r m i t t e n t e s , mas, g r a -
cas a s a l u b n d a d e d'aquelles sitios, nào apresentào s y m p t o -
m a s aterradores. Os calores d o verào sào ^s vezes e m t a n t o
exeesso,quecrestào a vegetacào, e talvez b e m comparaveis
aos q u e se s o f f r e m na costa d ' A f r i c a : na Mài d'agua d o Sipó
observamos q u e subia o I h e r m o m e t i o ( R e a u m u r ) a 2 9 °
Q u a n d o as c h u v a s tardào, entào t u d o se p e r d e p o r causa
da sécca, corno aconteceo lia d o u s annos q u e os estrasos
i o r a o taes, q u e m i l i t a gente m o n c o a mingoa, porèm q u a n -
d o ellas chegao t u d o t o m a u m aspecto e n c a n t a d o r , ri-se a
natureza, e reapparcce a abundancia.
As povoacòes naquelles lugares sào e m g e r a l pequenas,
e n o s p i t a l e i r o s os habilantes, e pouco laboriosos. T o r n a n d o
agora o objecto p r i n c i p a l t r a t a r e m o s -4.° das p r o p r i e d a d c s
phisicas destas aguas, e de sua analyse c h i m i c a . 2.° de suas
p r o p r i e d a d e s therapeuticas, c o n c l u i n d o c o m algumas o b -
serva5oes tendenles ao m a i o r , e m e l h o r p r o v e i t o q u e se p o -
dera a c t u a l m e n t e t i r a r , m e d i a n t e a l g u m a s disposicòes.

VERTENTE DA MAI D'AGIÌA DO SIPÓ.

No silio deste nome, distante da villa Soure 3 a 4 legoas


e 1 0 a i l d a missào da Saude, n a m a r g e m d i r e i t a d o riò
Itapicurù, està situada està vertente, ao i a d o d e u m r o c h e .
do p o u c o elevado, q n c escora a base da r i b a n c e i r a , q u e o-
Jha para o s u l , c o r r e n d o as aguas d o r i o neste l u g a r d o ces-
te a feste. A distancia q u e a separa d o m e s m o r i o é d e 1 0 à
1 1 n i e t r o s . e a a l t u r a de suas aguas, c o m p a r a d a àsda d o r i o ,
è apenas d e l m e t r o , e l 3 p o l e g a d a s , d e s e r t e q u e m e s m o

DA P R O V I N C I A DA BAHIA.

n a s p e q u e n a s enchentes vào as aguas do r i o c o n f u n d i r - s e


c o m asda vertente, q u e assim fica inundada. liste locai é
f o r m a d o p o r u m t e r r e n o argilloso, c o n t a n d o m a r n e calca-
reo, grosseiro e silicoso, scudo p o u c o c o b e r t o d arvores. 0
b a n h e i r o consiste em urna escavarlo superfìcial, q u e m a l l a c -
c o m m o d a d o u s i n d i v i d u o s , c o b e r t o p o r urna p a l h o l a d e l i -
coriseiro. 0 l u g a r d'ondo b r o t a a agua, t e m a figura d'um
cóne, o u (òrma de assucar, c o m a base para c i m a , c h e i o
d'area fófa, e pedragoso n o f u n d o ; sua m a i o r p r o f u n d i d a -
d e e 9/i c e n t i m e l r o s , o u 32polegadas 9 lhihàs e meia. ten*
d o de d i a m e t r o su p e r i o r 8*2 c e n t i m e l r o s , o u 30 polegadas e
ù l i n l i a s : a agua se eleva c o m bastante forca, de m o d o q u e ,
nào è possivel a q u e m està assentado descer ao f u n d o d o
céne, sendo m i s t e r para o conseguir pòr-se de pé.
C o m a agua desp re riderti-se c o n t i n u a d a m e n te urna n m l t i -
dào de boliias de gaz de todos os tanianiios, e d a h i é q u e
veni o n o m e de fervente dado a estas vertentes, p o r q u e e m
v e r d a d e parece q u e a agua ferve. Esvasiada a escavacào, o b -
servamos q u e tres erào os o l h o s q u e vertiào, u m q u e nasce
d o lado do roéhedo, o u l r o d o da ribanceira, e o u l t i m o d o
chào, q u e è o mais a b u n d a n t e d'onde provètti u n i c a m e n t e
as bolhas de gaz: do e n c o n l r o dos tres resulta g r a n d e a b u n -
dancia d'agua, q u e e m poucos m i n u t o s t r a s b o r d a a esca-
vacào, o u r o s e n a t o r i o , e f o r m a u m pequeno regalo q u e
vai despejar no r i o , De m a o h à , o u q u a n d o a t e m p e r a t u r a
atmosferica està m a i s b a i x a , o u nos lugares e m q u e se
misturào as aguas d o r i o , e da vertente", observa-se q u o a
agua fornega, o q u e proverò dos vaporcs q u e se condensa©.
Antes de entrar-se no b a n h o , e de agilar-se a agua, e sobre
t u d o pela m a n b à , noia-se urna pellicula b r i l h a n t e , e m i n t o
f i n a na superfìcie, proveniente da decomposicào das mate-
rias organicas. Q u a n d o se entra no b a n h e i r o a impressào
q u e se recebe é d'uni calor nào esperado, mas q u e sem
t l i i f i c u i d a d e se s u p p o r t a : està sensacào passageira i m m e d i a -
t a m e n t e se converte èra grào mais d e m o r a d o , e p o r u m
m o d o tao e n c a n l a d o r impressiona a economia, q u o d i f f i c i l -
m e n t e se vence o irresistivel desejo de p e r m a n c c e r nella
p o r m u i t a s horas. C o n i q u a n t o alguns q u e t e m frequentà-
d o està agua a f l i r m e m q u e d u r a n t e o b a n h o , e m e s m o
q u a n d o delle se sàe apparece g r a n d e copia de suor , c o n i
t u d o este elicilo e m n e n h u i n de nos se v e r i f i c o u .
*
492 MEMORIAS IIISTORICAS, E P0L1TICAS

PROPRIEDA DES CHIMIGAS.

As propriedades physicas que apresenta està agua sao as se-


guintes; 4." Sem cor, e c r i s t a l i n a . — 2 ' ISào tem c h e i r o . —
3." G sabor é salino. Està agua provada de manhà, quando
se està em j e p i m , dà um gosto semelhante ao que produz
urna solucào fraca de saes metallicos, principalmente o de
ferro; porèm nas outras horas do dia este sabor dcsapparece
e è substituido pelo que deixa qualquer agua, onde tenhào
apodrecido materias organicas.—a.* Sua densidade é de
4,00134, comparada com a d'agua destillada, e debaixo da
temperatura de 25.% 5 centigrados (87),—5." A temperatu-
ra é de 39 " centigrados, tomada em differentes horas do
dia, sendo a da atmosfera variavel.

ANALI SE CHIMICA.

PRIMEIRA A N AUSE QUALITATIVA.

Submettida à accào dos reagentes deo em resultado o se-


g u i a t e . — 4 . Com dissolueào alcoolica de sabào, precipitado
branco, denotando haverem saes em solucào.—2. Com a
tintura azul de toumesol. cor ligeiramente avermelhada, i n -
dicando a existencia de acido livre, ou de hi-saes.—3. Com
tintura avermelhada tournesol—nada apresentou, mostran-
do nào haver alcali l i v r e . — 4 . Com chlororeto de baryum, e
acido c h l o r h y d r i c o — t u r b o u - s e (eveniente, e o precipitado,
que sedepositou, nào se dissolveo no acido n i t r i c o , o que
mostra alguma quantidade desulfato.-—5. Com nitrato de
p r a t a — p r e c i p i t a d o branco abundante, e coalhado, insolu-
vel no acido nitrico, porém soluvei na ammonia, o que
prova a existencia de chloruretos. — 6. Com agua de cai—>
precipitado branco , insoluvel em u m excesso do m é s m o
reagente; mas soluvei com ligeira e f f e r v i c e n d a no acido
chlorhydrico, o que mostra haver bi-saes, e nào acido car-
b o n i c o . — 7 . Com oxalato de a m m o n i a — p r e c i p i t a d o b r a n -
co, denotando saes calcareos.— 8. Com chlorureto de piati»
n a — n a d a , mesmo depois de se concentrar a agua minerai,

(87) Por se ter quebrado na viagem o barometro, nao se pòde tnedir a près-
s o atmosferica.
DA P R O V I N C I A DA BAHIA.

e reduzir-se a u m menor volume, demonstrando a fatta de


suas de potassa, 9. Com phosphato a m m o n i a c o — s o d i c o
precipitado b r a n c o , indicando a magnesia. 10. Coni car-
bonato de potassa—ligeiro precipitado branco, denotando
a existencia de saes terreos, e metailicos. 11. Com potassa
p u r a — p r e c i p i t a d o branco, que nào mudou de cor, confir-
niando a existencia dos saes acima ( e m n.° 1 0 ) . 42. Coni
t i n t u r a alcoolica de noz de g a l l i a s — n a d a , nem mesmo
muitas horas depois. 43. Coni tintura de gallias, e agua
de c a i — i m m e d i a t a m e n t e nada ; porém 24 horas depois
apresentou u n i ligeiro precipitado escuro, tornando o l i -
q u i d o a mesma cor, denotando a existencia de ferro. 44.
Com t a n n i n o — n a d a . 45. Com cyanureto de ferro e de
p o t a s s i u m — t a m b e m nada, nem mesmo muitas horas de-
pois. 46. Coni sulfhydrato de a m m o n i a — t u r b a l o do liquido
c m oscuro, dando, pelo repouso, u m precipitado da mes-
ma cor, q u e depois se descorou, indicando hydrato de pe-
roxido de ferro. 47. Com a tintura azul de toumesoL Ian-
cado n'agua m i n e r a i depois de fervida, apresentou a mes-i
ma cor, quo a d o n.° 2, confirmando a existencia de b i -
saes.
SEC UN DA A X A L Y S E Qtt A M'ITA TI VA.

4. Ciuco littros de agua minerai, recolhida na vertente


c o m todo o cuidado, forào evaporados lentamente até sec-
car, em urna capsula de platina, que esteve coherta c o m
u m papel, c e n i urna temperatura Ìnferior a 400° centigra-
dos. Està evaporacào p r o d u c o 5,964 de substancias soli-
das, depois de se terem calcinado. Durante està operacào se
sentio u n i cheiro ammoniacal, e expondo-se ao vapor u m
papel àetour/iewl, avermelhado por u m acido, retomou sua
cor azul, indicando desta sorte a presenca da ammonia.
2. Estas substancias solidas, depois decalcìnadas e pesa-
das, forào postas a macerar em alcool de 33°, que dissol-
veo uma grande parte: lavou-se u n i filtro c o m urna disso-
l u t o fraca de acido chlorhydrico, e agua destillada, e de-
pois de sécco e pesado, deitarào-se dentro: feita a fìltracào,
tornou-se a lavar o filtro, e o que nelle se continha , com
alcool quente. 0 licor alcoolico foi evaporado n'uma pe-
quena capsula de platina, antes tirada; e fiuda a evapora-
cào, calcinou-se a substancia solida restante, que se pesou
TOMO V. 26


MEMORIAS IIISTORICAS, E TOLTTICAS

un mesma capsula, p r o d u z i n d o 5,a70 de saes soluveis c m


alcool.
3. Forào estes saes dissolvidos e m agua destillada, e ob-
servou-se na s u p e r f i c i e d o l i q u i d o p e q u e m porcào de u r n a
m a t e r i a organica, de naturesa extrac ti va Fi Uro u-se, e d c -
po/is de lavado o filtro, se ajuolarào ao l i q u i d o u m a s gótas
de a c i d o n i t r i c o , e n i t r a t o de p r a t a , o q n e d c t o i m n o n u r h
a b u n d a n t e p r e c i p i t a d o de eh l o r u r e t o de p r a t a : a q u e n t o u -
se, para q u e se reoni>sem as m d> cu!as d o p r e c i p i t a d o , o
q u a l lavado é sécco, depois de l i l t t a d o , se calcinosi até
p r i n c i p i a r a amarolleccr, e foi prsado.
4. S o l i q u i d o , separa d o d o c h i n i u r e t o de p r a t a , se fez
atravessar urna c o r r e n t e de gaz acido sulf hydrìco. a f i m de
p r e c i p i t a r o excesso da prata e m p r o g a d a : fillrou-se, p a r a
sep.trar-se o s u l f u r e t o de p r a t a f o r m a r l o , a q u e n t o u se, p a -
ra e x p e l i i r o excesso de gaz, e a este l i c e r assim prepararlo
se ajuntarào u m a s gótas de a m m o n i a c o p u r o e o x a l a l o d e
a m m o n i a , o q u a l deo l u g a r à precipitacelo de pequena
q u a n t i d a d e de oxalalo de cai. Fdtrou-se, lavou-se, e depois
d e sécco e c a l c i n a d o se pesou.
5. Evaporou-se o l i q u i d o ( q u e foi separado d o o x a l a l o
de cai) até p e r f e i t a m e n l e seccar, entào s e a j u n t o u u n i a pe-
q u e n a q u a n t i d a d e de c a r b o n a t o de a m m o n i a , e ealeinou-se
a m a t e r i a até o vermeìlio escuro. 0 r e s i d u o desta c a l c i n a -
ccio f o i dissolvido e m agua p u r a , q u e d e i x o u p r e c i p i t a r a
magnesia, q u e sendo fillrada, lavada, sécca, e calcmada,
f o i pesada.
6. As substancias insoloveis, q u e ficarào sobre o filtro
depois da exlraccào dos saes soluveis no a l c o o l , forào pos*
tas p o r m u i t a s horas e m c o n t a c i o c o m agua destillada
q u e n t e : sendo filtrada^ deixarào a i n d a sobre o filtro u n i r e -
sìduo insoluvel. L a v a d o este, se ajuntarào ao l i q u i d o u m a s
gótas de acido n i t r i c o , e n i t r a t o de b a r y t a , o q u a l eccasio-
rsou u m d i m i n u t o p r e c i p i t a d o de solfato de b a r y t a : a q u e n -
tou-se o l i q u i d o para t e u n i r esle p r e c i p i t a d o , q u e sendo
depois filtrado, lavado, sécco, e c a l c i n a d o , foi pesado.
7. U r e s i d u o i n s o l u v e l q u e ficou sobre o filtro, se poz
e m contacio c o m acido c h l o r h y d r i c o p u r o , o q u a l detcr-
i n i n o r i urna ligeira elfervescencia, e posta toda a massa e m
l i m a capsula de p l a t i n a , q u e esteve c o b o r l a c o m u r n a l a m i -
na de v i d r o , se e v a p o r o u até seccar, sem d a r i n d i c h i a l -
DA PROVINCIA DA BAHIA. 105

g u a i de acido fluorhydrico. Està massa assim tratada , f o i


ainda humodecida com algumas gòtas de acido chlorhy-
d r i c o , e dissolvi da em agua destillada, deixou precipitar
urna porcào de acido silico. que sendo tilt rado, lavado, e
sécco, foi pesado depois de se ter calcinado.
8. O licor qne foi separado do acido silico, se evaporou
até reduzir-se a u m menor volume, c l a n cado dentro d'um
matraz se ajuntarào algumas gòtas de ammoniaco p u r o , o
q u a l determinou a separacio do oxido de f e r r o ; este, fil-
trado, lavado, sécco, e calcinado, foi pesado e guardado
para ullerior exame.
9. Sendo evaporado o licor que f i c o u da separacào d o
f e r r o , até Bear interamente sécco , afim de decompor-se o
chlorhydralo de ammonia formado, se ajuntou urna por-
cào de acido sulfurico puro em excesso, para transformar
tudo em snlfatos, tondo-se antes ajuntado ainda algumas
gòtas de acido chlorhydrico: forào entào estes sulfatos èva-
porados atè ficarem séccos, e depois de calcina dos se pe-
sarlo. Dissolvidos depois em m i l i t o pequena quantidade de
agua destillada, se fez evaporar ainda, afim de concentrar
o licor o mais possivel, para precipitar-se o sulfato de cai,
o qual depois de deposto, foi filtrado, lavado, e regeitou-se.
10. Ao licor separado do sulfato de cai se aj untoli urna
porcào da agua de col, que produzio a prccipilacào da ma-
gnesia; fìitrou-se, e lavou-se, e no filtro que conti uh a està
terra, se fez passar p o r muitas vezes agua acidulada pelo
acido sulfurico p u r o , quo dissolveo completamente a ma-
gnesia. Entào se evaporou o licor atè seccar, calci no u-se, e
pesou-se. Deduzio-sc do peso primitivo destes sulfatos o
de cai, e pelo calculo forào ambo.» transforniados em car-
bona.tos.
i l . O oxido de ferro obtido, foi posto em c o n t a d o c o m
acido chlorhydrico p u r o , e o chlorureto de f e r r o , sendo
evaporado se dissolveo c m agua destillada , que deixou
ainda precipitar urna porcào de acido silico, o qual separa-
do pelo filtro, foi lavado, sécco, calcinado, pesado, e reu-
ndo à oulra porcào ja oblida.
12. O liquido que se separou do acido silico, f o i nova-
mente concentrado, e estando fi io se ajuntarào umas gótas
de ammoniaco p u r o , o qual deo lugar a precipitacào d o
ferro, que sendo separado.pelafiltracào,foi lavado, sécco,
calcinado, e pesado.
MEMORIAS HISTOIUCAS, E POLVTICAS

13. Tomou-se o m l i t t r o do agua m i n e r a i recolhida na ver-


te ole,.e se d e s t i l l o u moderadatnente a b a n h o d'area, fazen-
do-se m e r g u l h a r o t u b o c o n d u c t o r e m u m frasco recipien-
te, n o q u a l se tinha posto u t n a m i s t u r a d'agua de c a i , e
a m m o n i a c o p u r o : n o firn da operacào, q u o d u r o n l o n g o
t e m p o , se obteve u m ligeiro p r e c i p i t a d o de c a r b o n a t o d e
cai, q u e separado d o l i q u i d o pela filtracào, f o i lavado, e
convenientemente secco, se pesou. 0 carbonato f o i d e -
c o m p o s t o p e l o calcolo, para se conhecer a q u a n t i d a d e de
a c i d o c a r b o n i c o nelle existenle,, e està, m u l t i p i i c a d a pelos
5 l i t t r o s de agua sujeita a analyse, deo, c o m b i n a n d o - s e a so-
da, a q u a n t i d a d e de bi-carbonatos, q u e aquelles conlinhào.
J4- Depois di<to passou-se a examinor o gaz q u e na ver-
tente se desprende. Recolhida urna porcào deste gaz, t o -
marào-se 10U partes, das quaes forào absorvidas 07,5 p o r
urna solucào de potassa, restando n o a p a r c l h o 32,5 de u m
gaz, q u e se reeonheceo s e r — a r atmosferico.
De toda osta analyse se c o n c l u e , q u e 5 l i t t r o s de agua mi»
aerai con Séni e m solucào os corpos s e g u i n t e s —

GR AMIVI AS.

Chlorureto de sodium . 4,237


D i t o de c a l e i u m . . . . . . . . 0,150
D i t o de m a g n e s i t i m 0,217
Suifnto de soda . 0,045
B i c a r b o n a t o de soda . . . . . . . 0,34 8>
C a r b o n a t o de c a i . . . . . ,. . , 0,095
D i t o de magnesia. 0,120
A c i d o silice. ^ 0,156
P e r o x i d o de f e r r o . . . OÌ085»
Perda 0,50&

5,961

VERTENTE DO MOSQCBTG.

Eni urna fasenda deste nome, 5 legoas distante da villa


da Missào da Saude, e ao lado esquerdo d o r i o Itapicurù,
• existe u i u a fonte si tua da e m urna baixa, i n t e i i amento f o r -
m a d a p o r terrenos argillosos-e s a l i n o ^ Està fonte consiste
e m u r n a escavacào, d'onde b r u t a a agua e t u grande q u a n -
DA PROVINCIA DA BAITI A. 397

f i d a r l e , q u e vai ter, p o r meio de « m a bica de madeira, a u m


t a n q u e feito de tijolos. e se acha e m m u i t o m à o estado, e
interramente m a l t r a t a d a . Da vertente se d e s p r e n d e m , nao
c o n t i n n a d a m e n t e , mas de u m m o d o i n t e r m i t t e n t e , peque-
nas holhas de u m gaz, q u e se reconheceo ser d e a r atmos-
ferico. Està è potava!; e della usào os habitantes do l u g a r
e m snas precisóes domesticas.
As propriedades phisìcas q u e apresenla està agua , sao
as seguintes:
1. L i m p i d a e transparente, 2 S e i n c h e l r o . 3. INenhum sa-
b o r . à. Peso specifico, c o m p a r a d o c o n i o da agua destilla-
da, è de 4,0015, na t e m p e r a t u r a de 25.°, 5 centigrados. 5,
A sua t e m p e r a t u r a é de 3 5 . % 5 centigrados, c m differentes
horas do dia, v a r i a n d o a d o ar ambiente.

PR0PIUEDADF.5 CHIMICAS.

PRIMEIRA ANALY E QUALITATIVA,

1, Com a tintura azul de tournesot—nada indicou, mos-


t r a n d o nào haver a c i d o l i v r e , n o n i bi-saes. 2. C o m a t i n -
t u r a veruietha de fot/mrsol—nada, 3. Com dissolueào a l -
cooliea de s a b a o — t u r boi]-se p o u c o , d e n o t a n d o a presen-
ca de pequena q u a n t i d a d e de saes e m solucào. U. Com in»
ftisào alcooliea de g a l h a s — t a m b e m nada. 5. C o m n i t r a -
t o de p r a t a — ligeiro precipitado b r a n c o , insoluvel n o acido
n i t r i c o , p o r e m soìuvel ria a m m o n i a . d e n o t a n d o a existencia
de, e h l o r u r e t o s . fi. Con» eh I o n i r e t o de b a r y u m — t u r b o u -
se li»etrarnenteen> b r a n c o , mostrando c o n t c r pequena q u a n -
tidade de solfato,. 7. C o m esalato de a m m o n i a — t u r b o u -
se lì ««'ira m e n t e e m branco, i n d i c a n d o a presenca da c a i .
8. C o n i agua de c a i — n a d a . 9. C o m c h l o r u r e t o de p l a t i n a —
t a m b e m nada. 10 C o m phnsphato a m m o n i a c o - s o d i c o —
t u r b o u - s e e m b i a n c o , i n d i c a n d o a presenca d a magne-
sia. 11 C o m t a n n i n o — n a d a . 12. C o m c v a n u r e t o de f e r -
r o e p o t a s s i u m — t a m b e m nada. 13. C o m c a r b o n a t o de p o -
t a s s a — n a d a . là. C o n i potassa p u r a — c o usa alguma. 45.
Com sulfhydrato d a m m o n i a — c o u s a alguma demonslrou.
SECONDA ANALYSE QUANTITATIVA,

Evaporarao-se 40 littros de agua minerai, e produzirào


4,722 de substancias fixas , e , sendo estas calcinadas p a r a
MEMORIAS IIISTORICAS, E POLITICAS

se d e s t r u i r urna porcào d e m a t e r i a organica , d e natiireza


o l e o s a , forào ao depois pesados os saes, q u e produzirào
4,540. Seguio-se o m e t o d o a n a l y l i e o acima m c n c i o n a d o ,
e o b te ve-se o seguintc r e s u l t a d o
GRAMMAS.

C h l o r u r e t o de s o d y u m 0,584
Àcido silico . o;iso
S u l f a t o de soda . . 0,045
C a r b o n a t o de cai. 0,264
C a r b o n a i o de magnesia 0,260
Perda . . . . . 0,237
4,540

VERTENTE DA Vitti DO ITAP1CORU, OUTR'ORA MISSAÓ DA SAUDE.

À' um quarto delegoa desta villa existe urna vertente, à


q u e os h a b i l a n t e s denominào Fervente. Neste l u g a r se
a c h a u r n a casa m e d i a n a ( urna das nielhores daquelles si-
tios ) c o n t e n d o banheiros para os e n f e r m o s , é man d a d a
c o n s t r u i r pelo governo: a vertente nasce e m u n i dos a n g u -
los i n t e r n o s d a caixa, n o b a n h e i r o c h a m a d o dos h o m e n s :
as aguas q u e este b a n h e i r o recebe, sàolevadas ao destinado
p a r a as m u l h e r e s , e deste passào para o dos m o r p h e t i c o s ;
e depois s e g u c m p o r baixo da casa, e vàosair f o r a , f o r m a n -
d o uni r i a c h o a b u n d a n l e . O d e s p r e n d i u i e n t o d e gazes nes-
t a vertente nào é lào consideravo!, corno nas duas p r e c e d e n -
tes; p o r é m é da m e s m a naturoza q u e o d a Mài d'agua d o
Sipò, Eslas aguas só se applicào aos banhos.
PROPfìlEDADES PHYMCAS.

4. Limpida e transparente; 2. sem cheiro; 3. com sabor


ligeirauiente salino; 4, sua densidade é* de 4,00140 n a tem-
p e r a t u r a d e 25°, 5 centigrados, c o m p a r a d a c o m a d a agua
destillada; o s c u calór é d e 32.* c e n t i g r a d o s e m diversas
h o r a s d o dia, e variavo! a t e m p e r a t u r a atmosferica*
DA PROVINCIA DA BAHIA. 199

PROPRIEDADES CHI MIC AS.

PHIMKIRA ANAL1SE QUALITATIVA,

1. Com tintura a2ul de townesol. nada 2 Com a mes-


ma tintura avermelhada—nada. 3, Com dissolucào de sa-
bào—turbou-se. 4. Com agua de c a i — n a d a . 5. Com n i -
trato de p r a t o — p r e c i p i t a d o branco abundanle, insoluvel
no acido nìtrico, e soluvei na ammonia. 0. Com oxalalo
de ammonia—-precipitado bianco abundaute. 7, Coni i n -
f u sao atcoolica de galhas—nuda, nem mesmo depois de
muitas horas do contacio. 8. Coni a mesma infusao, e agua
de cai—immediatamente deo u n i precipitado aiuarellado
com ponlos ar.ulados, que depois de 24 horas se tornou pro-
to. 9. Coni chlorureto de b a r y u n i — t u r b o u - s e pouco. 30.
Com chlorureto de p l a t i n a — n a d a . 11. Com phosphato am-
moniaco s o d i c o — l u r b o u - s e pouco. 12. Coni carbonaio de
potassa—nada. 13. Com cyanurelo de f e r r o , e de potas-
simo—nada.

SBGUNDA ANALYSE QUANTITATIVA»

Fez-se evaporar 5 littros de agua minerai com as cautcl-


las precisas, e se obteve 1,714 de substancias solidas, e p r o -
cedendo-se a scpnracào dos saes soluveis por meio de agua
destillada, seguindo-se na analyse o metodo ordinario, ob-
teve-se c u i resultado o que se vè abaixo.

CRAMMAS.
Chlorureto de sodium 0,935
Dito de magnesinm . . . . . . 0,152
Acido silico . . . . . . . . 0,036
Sulfato de soda . 0,021
Carbonato de cai. . . . . . . 0,2l4
Dito de magnesia. . . . . . . 0,150
Peroxido de ferro. . . . . . . 0,000 vestigio*,
Materia organica destruida. . . ì 0 206
Perda , . . . . . . . , ] '

4,714

Um medico disimelo desta cidade, tendo visitado as a-


200 MEMORIAS HISTORICAS, E POLITICAS

guas d a missào da Saude no anno de 1830, disse haver sen-


t i d o n d l a s u m cheii o ligeirainente e n x o f r a d o , e q n c , p r o -
cedendo à aualise, n e n h u m a o u l r a cousa pèdo ohU v senào
e n x o f r e p u r o e m suspensào: podemos p o r e m aflìrmar, q u e
semelhaute c o r p o nào existc nessa agua. C o m t u d o , nào obs-
t a n t e a certeza q u e t e m o s , e m v i r t u d e d a aualyse a c i m a r e -
f e n d a , q u e nellas nào se e n c o n t r a e n x o f r e , procedemos à
prova q u e abaixo se segue, a f i m de d e s t r u i r c o m p l e t a m e n -
te a asseveracào desse professor.
T o m à m o s u r n a porcào da agua m i n e r a i e m questào » e
Iheajnntàmos u r n a q u a n t i d a d e de acido ehloro-azotico , a-
firn de, pela e v a p o r a r l o , q u e i m a r o e n x o f r e , s e n i o r v e n t u -
ra a h i existisse, t r a n s f o r m a n d o - o c m a c i d o s u l f u r i c o , o
q u a l o b t i d o e m a l g u m a q u a n t i d a d e , seria m u i t o facil de
d e m o n s t r a r : mas t o d o este traballìo > corno previamos, f o i
i n f r u c t i f e r o , e so servio de c o n f i r m a r o nesso p r i m e i r o r e -
sultado, e o engano em q u o caso aquelle professor, q u c -
r e n d o q u e nas aguas houvesse e n x o f r e e m suspensào.
A l e n i das aguas m i n e r a e s , de q u e temos l a l l a d o , e q u e
merecerào mais p a r t i c u l a r m e u l e a nossa attencào, h a n a
c o m a r c a do Itapicurù o u t r a s m u i t o insignifìcantes, cujas
vertentes sào denominadas I l i o q u e l i t e , F e r v e n t i n h o d o
Sabià, T a l h a d o , O l h o d'agua, e Fonte d a l a g e , q u e
todas sào mais o u menos q u e n t e s , t e n d o todavia u r n a t e m -
p e r a t u r a m a i o r q u e a d o a r atmosferico. Fslas sendo exa-
m i n a d a s q u a l i t a t i v a m e n t e i n d i c a r l o a existencia de q u a -
si os mesmos c o r p o s , porém e m m i l i t o pequena q u a n t i d a -
d e , difiìcullando mesmo a accào dos reagenles. A l g u m a s
dellas t e m sua a p p l i c a l o n o uso domestico.

PROPRIEDADES THERAPEUTIC&S.

Com poucas observacòes sobre as qualidades curativas


destas aguas mineraes, só nos resta comparal-as c o m as das
c o n h e c i d a s , q u e mais se assemelhào p o r sua c o m p o s i c a o
c h i m i c a , e deste exame c o n c l u i r m o s a accào q u e poderào
t e r n a economia a n i m a i , até q u e a experiencia venha d a r -
nos a l g u m a luz, q u e acerladamente nos e n c a m i n h e .
As propriedades observadas nestas aguas, provào q u e e l -
las p e r l e n c e m à classe das aguas mineraes salinas e t h e r -
maes: vejamos p o i s quaes as qualidades therapeuticas, q u e
DA PROVINCIA DA E A TUA.

e m geral seeneontrào nesta classe, e p o r analogia c o n c l u i -


retnos a respeilo das d e t j u e nos occupamos. As aguas sali-
nas t h e r m a e s sào em geral ionie as e excitantes, m u i t a s d e l -
las a p p l i c a d a s interna inerite , e e m eertas dozes p r o d u z e m
7im effeito p u r g a t i v o , o q u e foi observado q u a n d o u s a m o s
das d a M a i d'agua d o Si pò. C o n v é m geral m e n t e estas aguas
nas doencas e l i r o n i e a s d o t u b o digestivo, paralysias longas,
r b e u m a t i s m o s rebeldes, doencas escrofulosas, e rachiticas,
e m m u i t a s doencas nervosas ; na mot* p a r t e dos casos, e m
q u e a e c o n o m i a a n i m a i padece de atonia ; na dyspepsia,
Seucorrliea, chloroses ete. t a m b e m t e m p r o d o z i d o grandes
effeito?) na c u r a das molestias de [ielle.
0 q u e mais b e m p r o v a a accào destas aguas nas doencas
herpeticas é a seguitile observacào , q u e fizenios q u a n d o
estavamos n a missào d a Saude. INo dia antecedente ao da
nossa chegada às caldas deste sitio, tinhào a p p a r e c i d o c i u -
co pessoas d o l u g a r c h a m a d o Simào Dias , q u o p o r pa-
decinientos de pelle d e m a n d a vSò estas aguas: a m a i o r p a r t e
dellas soffria de prurigo, e c o m alguns b a n h o s rcstabele-
ceo-se c o m p l e t a m e n t e : p o r é m urna m u l h e r q u e fazia p a r t e
da c o m p a n h i a , estava e m m i s e r o estado, a p r e s e n t a n d o p o r
t o d a a s u p e r f i c i e d o c o r p o urna erupcào de vesiculas d i m i -
n u t a s , aggloineradas, e a c o m p a n h a d a s d e g r a n d e comichào,
e x h a l a n d o c o n t i n u a m e n t e g r a n d e q u a n t i d a d e de l i q u i d o se-
r o p u r n l e n l o ; doenea q u e nos pareceo c o n s t i t u i r o eczema ,
o u d a r t r o scamoso l i u m i d o de Alibert. Co io o uso dos ba-
n h o s foi e x p e r i m e n t a n d o considoraveis melhoras, e apenas
c o m 16 b a n h o s achando-se m e l h o r , ja sem comichòes , e
e o m poucas ulceracjòes, r e t i r o u sc , apesar de nossas o l l e r -
tas, p o r q u e m u i t o desejavamos t e r urna observacào c o m -
pleta.
M u i t o s casos se t e m r e f e n d o dos bons effeitos destas aguas
n a c u r a d e certas doencas, e t u d o nos i n d u z a c r e r q u e sào ?

verdadeiros; pois q u e aguas analogas t e m offerecido na F*u-


r o p a grandes reeursos à m e d i c i n a ; e ^iem se pense q u e p o r
m u i t a s dellas nào apresentarem em sua composicào c h i m i -
ca m a i o r q u a n t i d a d e de saes , d o que as aguas ordinarias,
deixem p o r isso de ter g r a n d e valor t h e r a p e u t i c o , visto q u e
e x e m p l o s h a d e senielhanles, q u e só obrào e m v i r t u d e de
seu gì ào de calor n a t u r a i mais elevado.
Reconhecida , e verificada a Utilidade das aguas mine-
TOMO V. 37
202 M E M O R I A S H I S T O R l C A S , E POL1TICAS

raes da comarca do Itapicurù, resta-oos por ultimo indi-


car os meios mais proprio» j e adequados de facilitar c o m
utilidade o uso dellas, afim de que os enfermos que as pre-
cisarci!., possào tirar a maior vamtagem, a qual , se nem
sempre se tem conseguido , deve-se attribuir nào à suas
qualidades , pois que se nào podein contestar suas virludcs,
porém sim à indevida, o u excessiva applicacào , e mesmo
às faltas de commodidacles, que ha naquclles lugares.
Ja deixamos cntrever que no sitio , onde existe a verten-
te da Mài d agua do Sipò, a mais quente de todas , e que ja
tem prodnzido variascuras bem attestadas, nào ha urna ca-
sa para se tornar os necessarios banhos, do que resulta que
bem longe delles produzirem u n i efieito completo, pedem
p o r diversas causas accidentaes, e dependentcs daquella
falla, dcixar de soccorreremo suas virtudes , aosdesditosos
que os procurarem. È pois da primeira necessidade acons-
truccàode umacasa (88). com os banheiros ecommodidades
precisas. A da missào da Saùde é alguma cousa imperfetta, e
precisa de alguns reparos, dando-se-lhe igualmente os ne-
cessarios commodos, para satisfazer ofin)para que foi cons-
truida. As despesas indispensaveis para as obras expendidas
nào serào excessivas; e a pensarmos p o r ellas d o resultado,
a b a i a oca se incìiuara para o lado deste, porque teremos
entre nós lugares couimodos, onde os enfermos encontra-
ràòlenitivos às suasdòres, e remedio a seus padecimentos ;
onde os Brasileiros acharàó recursos ;'i suas enfermidades,
poupando-se a despesas iucalculaveis em procura de paizes
estranhos; onde os estrangeiros reconheceraò mais està fon-
te de riqueza, que de certo avultarà no numero das i o i i n i -
tas qne cobrem o imperio Brasileiro ; onde e m f i n i a huma-
nidade encontrarà u m padrào, que eternamente conserve a
memoria das pessoas que o mandarào erigir, e a q u e m el-
la coustantemente reconhecida encherà debencàos.
Kos que de Y. Ex. recebemos a bonra da especial escolha,
para irmos examinaras aguas mineraes do Itapicurù, e m
nome da hnmanidade, a V. Ex. rogamos, faca apparecer nos-
sas vozes no seio darepresentacào provincial.

(88) Em piiiicipios de setembro deste a nao, o engenbeiro Joào Baptista Fer-


r a r i l u i eiiviadò para o sobredìto l u g a r , a d i f i g i r a I a t t u r a de»sa casa, q u e iié-
ce.ssunamciite scià pwuco saùsfrtctoria. a l e u l v a d i u i i u u l a aunu Eia para isso a p -
^ajla. r
DA PROVINCIA DA BAHIA. 203

Cumpre tambem ponderar ser de grande utilidade a exis-


tencia naquclles lugares d e u m f a c u l t a t i v o , encarregado d e
d i r i g i r os e n f e r m o s n o uso destas a g u a s , o q u a l e m a t t e n -
eao à natureza, e grào da en f e r m i d a de aeertadameote Ihes
aconsolhe a escolha e uso dellas; p o r q u e n i n g u e m i g n o r a ,
q u e as aguas m i n e r a e s sendo m u i u t eis para o c u r a t i v o d e
c'ertas cnfermidades, sào nocivas applicando-se às o u t r a s ,
e nào con v e m a todos os gràos d a mesma molestia. Além
disso o f a c u l t a t i v o , p o r m e i o de suas observacòes c l i n i c a s ,
farà c o n h c c e r verdadeiramente o p o d e r m e d i c i n a l destas a-
guas, as doencas e m q u e aproveitào, e as e m q u e sào p r e *
judiciaes; além de q u e sua presenca nesses lugares ani mari.
m a i s os e n f e r m o s para a h i se t r a n s p o r t a r e m , certos de q u e
nào Ihes faltarà r e c u r s o a l g u m .
Este è pois, Exm.° Sr. , o r e s u l t a d o dos nossos t r a b a i h o s ;
felices d e nos se c o m elles c o r r e s p o n d e r m o s à s o l l i c i t u d e d a
assemblèa, e a confianca, q u e e m nòs depositou V. Ex. se
e o n c o r r e r m o s d e a l g u m m o d o para o b e m d a h u m a n i -
dade, e p a r a a u g m e n t o e p r o s p e r i d a d e da p r o v i n c i a .
B a h i a 1 9 d e a b r i l d e 1 8 4 3 . — Dr. Eduardo Ferreira Fran*
fa—Dr. Ignacio Moreira do PasòO—Manoel Rodrigues dai
Silva,
i J U m o r t a sobre a s PtuUagrns ito laboratorio Ire biffrrentrs
prìunrae, e m i e i t t e s n a provincia Da Oaljia.
0 exame das ali nas ou por meio de sondas profundis, ou
pela inspeeeào ocular, quando a propria natureza apresenta
\isiveis, e sobrepostas as camadas de terra, é o genero de ob-
servagòes geologieas, que fornace mais exactas nocoes dos
terrenos: nada aecreseen(arei às observaeÒesgeraes, concert
nentesaos arredoros da capital da lìahia, ultimamente pu-
blicadas pelo illustrado doutor Parigot, na sua Memoria so-
bre os minas de carvào de pedra do Bradi, mas servir- me-ei
do seu pensamento—qne julgar-mc-ei feliz se poder fixar a
attencào publica sobre as idéas, que passo a apresentar, pro-
movende assim u m exame mais metodico, do qua! se obtc-
nbàoconclusòes confirinadaspela praticae pela experiencia.
?

FERRO.

Tudo quanto eu aqui podia dizer a cerca da rica mina de


ferro olìgisto, que se acha na Copiòba termo da villa de Mara-
gogipe, nào passarla de urna cepeticàp do que antecedente-
mente està enunciadopelo doutor Parigot na Memoria citada,
na qual, fasendo justica a verdade, deixa entrever que antes
de sua chegadaaesta provincia, ja aquella minaera conhecida,
e até havia sido chimicamente examinado o seu ferro, pelo
meu amigo e collega M. Adam Kulczychi * verificando q>ie
este oxido de ferro, assim corno os outros desta classe, con-
tém sobre as suas 100 partes, 69 de ferro, e 31 de oxigenio.

«REDA E ARGILLA PROPRIA PARA O FABRICO DA CAL UVDRAULIGA.

Kos terrenos stratifìcados superiores ao grupo supercre-


taceo (terciorìo de que tambem trata o doutor Parigot) en-
tre a Villa da barra do Rio das contas, e a dos llhèos, bem
corno nas collinas das visinhancas do Maroiin e Capilào, a-
206 APPENDICE.

cha-so argilla igual à de Vaughard nos suburbios de Pa- 9

ris, e desceudo dessas collinas em direccào ao oceano, ao


passa r-se do gru pò supercretaceo ao cretaceo , encontra-
se greda identica em qualidade à de Mettdon, nos mesmos su-
burbios, de cujas substancias pode fabricar se cai hydrau-
lica em grande quantidade, e igual à quo é empregada em
Londres (*) e Paris, na maior parte das construceòes que
a demandào, e de que tambem se faz grande consumino nos
trabaihos do canal de S. Martin , do caminho de ferro de
Londres a Greenwich, e cxclusivamente nos dos caes de la
Grève, e de la Magisterie, S. Paulo, S. Bernardo, no p o r t o
de Halle dos vinhos, no da ponte de Luiz Felippe, no da do
Carroussel, e e m muitos outros de imporlancia.
Quanto nào é penivel e dispendioso buscar as pedras de
cai debaixo das aguas, onde os nùscraveis escravos sào o b r i -
gados a < xercer simultaneamente dous olìleios difficeis , e
contrarios entre si , quaes o de mergulhador e de cabou-
queiro? F lambem quantcs daqueiles'infelizes nào tem suc-
c u m b i d o e i n tal operacào? Com tudo é essa a maneira com
que se fabrica a mesma cai no littoral da bahia, que banba
a capital desta provincia, no de Camamu, na Lagòa, don-
de sae o r i o llaipe aos llhéos, e perto de algumas paragens
da costa do oceano.
Accresce que o transporte da cai hydraulica artificial se-
r i tambem superiormente mais facil da parte do oceano ,
perto d e M a m o a n , no porto deste mesmo n o m e , para o
earregamento das canóas do alto,, muito e m pratica nestas
paragens, e essa facilidade ainda é maior da parte opposta
do Mamoan com o porto dos llhèos , mediante a c o m m u -
mtacào feita pelo canal que une o rio Itai'pe com o Fundào.
A necessidade deste canal era reconhecida, e dado o impulso
para a sua abertura sob a vice-presidencia do Sr. Manoel
Antonio Galvào, foi interamente levado a eiTetio no t e m p o
da administracào presidencial do Sr. Thomas Xavier Gar-
cia de Almeida.
Poder-se-à tambem construir ps fornos de cai nas mar-
gens do rio ItaVpe, assicn corno os de mais edificios oecessa-
nos ao respectivo laboratorio , cujas olficinas porèm deve-

(*) Fabricada por M. Parler, em Londres , e por MM. Brian e S. Leger . em


P a r i s , c u j a p r i m e i r a fabrica d e «al a r t i f i c i a l h y d r a u l i e a foi c s t a b e l e c i d a e m M e u -
d o n , p e r t o d e P a r i - i , d e b a i x o d o » Auspicio» d e M. V'usati
APPENDICE 207

r a d estar, p r o x i m a s aos lugares d e q u e tirar-se a greda e a


a r g i l l a , materias necessarias ao f a b i i c o da cai hydt aulica ar-
t i l i c i a l , ompregando-se as aguas d o i t a i p e corno m o v i m e n e
to poderoso da mecanica, a ( l u i d e t o r n a r i u t e i r a m e n t e h o -
inogenea a m i s t u r a dessas materias ao molde.

Il A UMORE.

Acha-se além das barras dos llhèos, rio Una, e Comanda*


t u b a urna vasta planicie, b o r d n d a da parte de lèste pelo ocea-
n o , q u e se estende m u i t a s leguas para oeste. c o n t i n u a n d o
p;ira Ò s u l r n n i l o u d i a n l e d a villa de Behnonte: osta planicie
è e n t r e e o r t a d a e m differentes dircccdcs p o r m u i t o s biacos
do m a r , pelos ìeitos de d o u s grandes caudaes do oceano, o
R i o g r a n d e d e Beimonte, ou J e x i i u t i n h o n h a , e o Rio-pardo,
b e m c o n i o p o r seus differentes biacos, u m dos quaes, aug-
m e n t a d o c o m as aguas do R i o da salsa, rcune-os em u m só.
Por c o n s c q n e n c i a compòe-se a mesma localidade d e i n n u -
meraveis ilhas e iihotas, c u j o solo fertilissimo perteuce aos
terrenos stratificados d o g r u p o m o d e r n o , e aos montóes er-
r a tic os (alluviào e d i l u v i o de Werner).
Reino-itando o mesmo Rio-pardo desde Canavieiras, ob-
servào-so partes de differentes terrenos stratificados superi o«
res, mas è sobremaneira diffteii dizer-se alguma cousa p o s i -
tiva d e s u a c lassi licacao, p o r tornar-se impossivcl a u m viajor
o reeonhecer ex nota m e n t e as superposkòes das camadas, es-
t a n d o estas coberias d e vegetaeào activissima neste paiz , e
de matas virgens quasi inipcnetraveis ; e e m distancia d e
quinze legoas c o m pouca differenza d e Canavieiras , e per-
to do l u g a r d e u o m i n a d o Cachoeirinha, se acha urna escar-
pa d e poderosas camadas de m a r m o r e , ou calcareo p o u c o
inclinadas ao horisonte , elevando-se n a direccào d e léste-
oeste, q u e parece ser d o g r u p o de Grauvack, t e r r e n o d e t r a -
sìcào, p o r q u a n t o avanzando mais para oeste, se ve s u r g i r
debaixo d e suas camadas o schisto argilloso d o inesuio g r u -
po; l o g o a d i a n l e as camadas d e greeiss, e, finalmente, o d i -
m e g r a n i t i c o d a cadéa d e m o n t a n h a s , q u e constilue a ser-
r a dos Amorés.
Dà-se nas artes a denominacào d e m a r m o r e às r o c h a s ,
que os gr-oiogos designào c o m o n o m e de calcareo» e q u e sào
coiupostas c h i n i i c a i u c u t e de calcinacoes carbonaceas : esle
208 APPENDICE*

marmore è de urna bella cor ròcha, que toma mais vivaci-


dade sendo p o l i d o , e suas véias mais o u menos eia rasi c r u -
sando-se em differentes direceòes, tornào o seu aspecto as--
sàs agradavel à vista, realca odo ao m e s m o t e m p o a d i v e r s i -
dade e bellcsa da sua cor , susceptivel d o mais belli) p u l i -
m e n t o , corno se verifioou nas experiencias feilas p o r M.
A d a m K u l c z y o h i , no pedaco que ja u.oiicìejj e que para isso
lhe foi e n l r c g u e pelo Sr. T i i o m a z Xavier, q u a n d o presidente
desta p r o v i n c i a , liste m a r m o r e pertèocc à class dos calcareos
c o m p a c t o - c o l o r i d o s , q u e sào e m p i egados nas artès c o n i o
m a r m o r e s de o r n a t o , e dessas poderosas camadas p o d e r se à
m a n u f a c t o r a r nào so pequenas pccas . mas atè grandes e
bellas eolunuias, e todos os mais ornamento» de a r o h i t e c t u -
r a : è certo q n e nào deve ser i g u a l a d o e m bellesa ao m a r -
m o r e de Gara rè ; mas t a m b e m aquelle p rtence à u r n a o u -
t r a classe, a de calcareos sacaroides , empregada quasi ex-
clusiv.imente pelos estatuarios, e è associ a do aoLias d o g r u -
p o colitico ( t e r r e n o secuudàrio).
Para q u e urna pedreira seja vantaj osa niente aberta, è ne-
cessario q u e ella r e n n a facil communicacào c o n i a m a i o r
p a r t e dos lugares, onde oseu p r o d u c l o lem de e m pregar *se,
e urna vez ine òli testa vel ser a navegacào q u e m m e l h o r c o r -
r e s p o n d e a semelhaute condicào, a pedreira de que se Irata
satisfarà aos geraes interesses,sendo lavrada j u n t o ao I l i o -
p a r d o , c u j a navegacào ja è p r a t i c a vel atè a sua foz p e r t o d e
Canavieiras, podexido-o i g u a l m e n t e ser para o i n t e r i o r , c o m
u r n a parte da p r o v i n c i a d e Minas-geraes, o u pelo Jequìti-
n h o n h a , q u e o co min unica pelo passo Peruassù e Rio d a
salsa, chegando-se desta f o r m a atè a V i l l a d o p r i n c i p e , e T i -
j u c o , passando-se c o n t i g u o às notaveis serras D i a m a n l i n a ,
G r a m - M o g o l , e S e r r o d o frio;. q u a cidade de Bem-successo de
Minas-novas, e o u t r o s lugares importante» dessa p r o v i n c i a ,
pelos rios Arassuahy e F a n a d o , sendo a desejar q u e se t o r *
ne menos perigosa essa navegacào do m e s m o J e q u i t i n h o -
n h a , m e d i a n t e sua canalisacào, c o n i o J j a foi indicarlo pelo
presidente da Bahia e m sua falla da a b e r t u r a da sessào da as-
semblèa legislativa p r o v i n c i a l deste anno.

PEDRA DE CAL.

Prese i n d i n d o da neeessidade do m a r m o r e c o n i o ornamen-


to d e a r c h i t e c l u r a ; elle p o d e ser e m p r e g a d o c o n i o materia
AFPEXOTOE. 209

prima ao fabrico da cai forte ou viva, da mesma qualidade


que hoje se procura, c o m lauto trabaiho e despesas, debai-
xo das aguas: desta sorte pois na pedreira de que Irato nao
só tirar-se-à provetto das grandes pedras, mas tambem dos
estiihacos , por mais pequenos que scjào , convertidos na-
quelle mister.
Àcha-se ainda nesta provincia outra qualidade de pcdra
de cai carboni sa da, ou calcareo terreo, que tambem l'orne-
ce a cai viva: seguindo a estrada de Minas, que passa pela
Conquista, e sàe na villa de Nazareth das farinhas, tendo se
atravessado o Rio-pardo em Santa-cruz , se chega às pianì-
cies q u e fazem parte da bacia dos terrenos st ratifica dos, do
grupo supercretacco (terciarias de que fallào os Srs. Mar-
tius e Spix em sua Viagem ao Beasti) e quasi dez leguas ao
norte do Rio-pardo, na paragem denouiinada Vareda, mos-
trào-se à superficie do solo as camadas daquelle calcareo
terreo, de cor amaréllnda, e àditr ingente à lingua , p r o d u -
z i n d o c o m os acidos urna eflervesceneia devida ao desenvol-
vimento do acido carbonico, e dando pelo tubo de solda
cai forte , qne posta sobre a lingua faz logo experimentar
l i m a viva queimadura. Nào è pprètti tào pura a cai forte
ou viva feita desta pedra, corno a que se fabrica com o mar-
more, ou pedra dos recifes; pois que conlèm a mistura de u-
ma parte de argilla, e outras materias, beni que em peque-
na quantidade, que nào destroem sua qualidade, fazendo
apenas d i m i n u i r a quantidade de barro nas argamassas pa-
ra a construccào.

GAL HYDRACLICA ARTIFICIAL,

Seguindo a mesma estrada para o norie, se desce aos ler-


renos do grupo cretaceo, e uos arredores das Caraibas.et dos
Porcos, se achào gredas e argillas convenientes ao fabrico da
cai hydraulica, cuja descripcào se acha anteriormente feita,
quando se tratou das que possue a comarca dos Uhéos so-
bre o seu territorio. A cai hydraulica, e a cai viva sào a ba-
se para formar as argamassas, essenciaes aos alicerces das
obras dentro ou fora d'agua, e a necessidade desse genero è
inconteslavel em todos os objeclos de construccào, e sobre
todos os pontos do paiz; mas tambem a natureza tem dota-
do de suas riquesas o mesmo paiz em lodos os seus pontos.
TOMO V. 2 8
210 APPENDICE.

Assim a cai hydraulica facticia da comarca dos Ilhéos, e a


cai viva das m a r g c n s d o R i o - p a r d o p o d e m ser e m p r e g a d a s
u t i l m e n t e n o scu c o n t i n e n t e , o n d e è necessario p e r c o r r e r
m u i t a s legoas para c o n s e g u i l a , sendo de g r a n d e u t i l i d a d e
a navegacào praticavel e l i v r e d e p e r i g o s d o J i q u i t i n h o n h a ,
e d o R i o - p a r d o c m toda a sua extensào, t a n t o para este ar-
t i g o , c o n i o para todas as o u t r a s communicacòes c o m m e r -
ciaes das d u a s tào i m p o r t a n t e s p r o v i n c i a s d o i m p e r i o , a Ba-
hia e Minas-geraes.
SAL GEMMA.

Kos mesmos terrenos do grupo supercretacco de que se


t e m feito mencào, follando d a p e d r a d e c a i , contìnua n o val-
le d o r i o d a Varala ató o valle d o R i o - p a r d o , p e r t o d a j u n c -
cào destes d o u s rios , n o s a r r e d o r e s d o l u g a r d e n o m i n a d o
Barra da vareda. acha se urna m i n a d e sai g e m m a , c u j a loca-
l i d a d e faz i e m b r a r o mais c e l e b r e deposito de sai de IVieli-
czka e B o c h n i a na P o l o n i a , tres legoas d i s t a n t e da C r a c o -
via. A l i l h e fica j u n t a a cadèa d e Karpates; a q u i a serra d o s
Aimorés d o m i n a os seus c i r c u i t o s : a l i o g r a n d e r i o da P o -
l o n i a , o Y i s t u l a , è o vei'culo p r i n c i p a l para e s p o r t a r o s a i :
a q u i o g r a n d e e famoso R i o - p a r d o , sendo canalisado e m t o -
da a sua extensao, podera t o r n a r - s e u m d i s t r i b u i d o r sobre a
distancia eie mais d e u r n a c e n l e n a d e legoas, assim c o r n o o
Yistula.
A posicào geologica das d u a s m i n a s ò a m e s m a : alli se vó
o sai d i s t i n c t a m e n t e nas p r o f u n d a s escavaeòes e m q u e se
t r a b a l h a a dez seculos : a q u i elle é visivel n a s u p e r f i c i e d o
solo, e se a j u n t a d e e n v o l t a c o m a t e r r a , d i s t i n g u i n d o - s e n a
visinhanca d o e s c a r p a d o j q n e d o m i n a o leito d o R i o - p a r d o ,
a,s superposicòes das c a m a d a s q u e indìcào o g r u p o s u p e r -
cretaceo. C o n v i r i a pois assàs a b r i r r e g o l a r m e n t e està mina»
e m u m l u g a r o n d e o sai è dez vezes mais c a r o q u e n a c a *
p i t a l da Bahia,
ORIGENS DE AGUA SALGA DA,

Alèm do sai gemma da barra do rio Vareda , ha muitos


sifòes neslas paragens, e o v i a j o r q u e passa à p a r t e d a p r o -
v i n c i a d a Bahia, c o n h e c i d a p o r sertào, ò m u i t a s vezes i n c o m -
APPENDICE. 211

modado à fatta de agua dece no tempo da sécca, avivando-


se-lhc o desejo desta , à medida que vai encontrando ma-
nanciaes de agua salgada. Os dous conQucntes do Rio das
contas , denominados Salinas e Cachoeira , reunem neces-
sariamente muitas vertentes d'agua salgada> por que quan-
do estào quasi sèccos, è assàs p r o n u i c i a d o o gosto do sai,
que augmenta ou diminue à pròporcào que se a ug menta ou
d i i n i n u e a sécca: mas de todas estas vertentes salgadas, que
tenho lido occasiào de observar, nenhuma è mais considera-
vel que a denominada Jacarè, na adjacencia do Rio-pardo.
Este l u g a r , distante perto de sei* legoas de Santa-cruz,
ou Rio-pardo, è atravessado pelo caminho, quasi vinte le-
goas da mina de sai-gomma da barra do Varoda , e porto
de trinta ciuco legoas das pedreiras de marmore , fìcatido
por consequencia arredado cerca de ciucoenla de Canaviei*
ras, ou do oceano. Creio que esla origcm contèm sobre 100
acima de oO partes de sai p u r o , e è de grande vantageni pa-
ra o lahrico do sai o abundar a agua, ainda durante oestio
m a i o r , tempo em que live occasiào de visital-a, informa r i -
dorme entào as pessoas do lìlgar, que ella nem mais nem
menos salgada se torna coni o cresci mento ou diminuicào
das aguas, cirounstancia que faz suppòr u m grande reser-
vatorio snbterraneo de agua salgada.
*0 laboratorio tanto do sai g e m i n a , corno do obtido pela
evaporaeào das vertenles de agua salgada, pode ser f i v o r e -
cido poderosamente pela navegacào do Rio-pardo , e do J i -
q u i t i n h o n h a , assim corno pela do Ilio das contas, operan-
do-se a evaporaeào pelo unico caler do clima, seni precisào
de combustiveis , aos quaes muitas vezes se recorre em o u -
tros paizes.
FEDRA DE CANTA RIA.

Achào-sc muitas pedras de cantaria na mesma borda da


grande bahia da capital, nas do rio Paraguassù , perto da
Roca do rio (*), ao nordeste da ponta de Montscrrate, e erri
outros lugares: todas ellas sào de grosso grào, e de cor pou-
co agradavel à visla, mas scudo duraveis nas construccòcs,
podem ser applicadas naquellas, em que a resisteucia é de
nccessidade exclusiva, conio acontece nas construceòes dos
càes, sondo a desejar que se colloque a pedra com o maior
(*) A»si«u cQunecem volgarmente a foa do rio Cotegipe.
212 APPENDICE.

cuidado, nao lhe deixando mais quepcqucnas junta 9, para:


que se possa por em pratica a fixa, tào indisponsavel nestefi
trabaihos à uniào, ou j tintura das pedras, urna ve/ quo nào
està mais em uso a ligadura. Todavia u m bello aparelho
executado por opcrario assàs ex peri men rado, e umacamada
regular de pedras bem collocadas, que fiquein inteiramen-
te colligadas constilnem as principacs condicòes da bellesa,
da solide/,, e da duracào de cada construccào.
Demais da pedra de cantaria ordinaria, reconhcci urna
bella e rica pedreira de cantaria fina , que veni a ser urna
grès composta de pequenos gràos silicosòs, e de u m cimen-
to branco argilloso , que os Alemàes designào por Quader-
sa/tC Slein. em consequencìa de ser empregada conio pedra
de cantaria. lilla seaprescnta à vista de urna maneira mais
brilhante, que a imporlada ordinariamente de Portugal pa-
ra as construecòes da Bahia , por quanto sua còr è de u m
branco u n i f o r m e , e mais darò quo aquella , que algumas
ve/os lira ao amarello,com fendas ou veias irrcgulares, mais
cscuras que a totalidade da pcdra ; reunindo ainda o u t r a
qualidade, que a reveste de supcrioridade à primeira , e a
torna a boni mercado, por ser de nature/a mais facil a ser
traba!hada,com quanto aprescnle a mesma duracào que a-
q ne Ila.
Poder se-à objeclar que 6 somente o tempo q u e m deve
decidir da maior ou menor duracào de dous matcriaes pa-
ra a construccào, mas esse tem sido o objecto das minhas ob-
servacòes e experiencias, havendo vorificado nos assenlos
de rochedos, lugares dos quaes antigamente se exttairào pe-
dras, e que nào obstante estarem suas superheies expostas
à injuria do tempo, bem longc de se haverem decomposto,
estavào cobertos de urna crosta preta, semeihanto à que se
divisa nas antigas construecòes dos Ilomanos, feitas c o m pe-
dra de igual qualidade.
Alóni disto, segundo as minhas experiencias concernentes
à solide/ o u rijeza desta pedra, u n i c u b o della de ciuco cen-
timctros sustentou o peso de 299'i-kilogrammos (quasi seis
m i l l i b r a s ) , rosistencia que é beni superior à de muitas
pedras, enipregadas na construccào de grande numero de
pontes e casas cui Franca, Inglaterra, e outros pai/es da Eu-
ropa: lodavia se alguem ainda achal-a fraca,e quizer ompre*
gar na construccào outra de maior rijeza, encontral-a-à no
APPENDICE.

p r o p r i o paiz, seni necessitar d e r e c o r r e r ao estrangeiro, p o r


que a b u n d a a p c d r a d a mesma duracào da de P o r t u g a l ,
q u a l o m a r m o r e da G a e h o e i r i n h a n a m a r g e m d o R i o - p a r -
d o , q u e ainda leva a vantagem de ser mais bella q n c a da-
q u e l l e paiz.
D e m o n i o as sobreditas p e d r c i r a s d e c a n t a r i a na E s t r a d a
uas b o i a d a s , p e r t o de tresentas bragas d a m a r g e m d i r e i t a
do r i o de Joaiìtiòs, j u n t o a u m l u g a r e j o d e n o m i n a do M o r i -
l i b a ; e alóni de p o d c r fornecer o m e l h o r m a t e r i a l para a
construccào d a p o n t e daquelle r i o , c o r n o p r o p u z ao gover-
no, q u a n d o f u i e n c a r r e g a d o d e le vantar sua respt'ctiva p i a n -
ta, e l l a o f f e r e c c a vantagem de prestar acdifieacào d e p r e d i o s
p e d r a assàs preferi vel a e x t r a i d a de lugares, q u e r e c e b e m a-
g l i a salgada, j > p o r q u e nào se d e c o n i p o e m , n e m se p u l v o -
risa exposta ao t e m p o , evitando desta sorte e m c e r l a s obras a
necessidade d o e m b ò c o , ja p o r q u e as paredes levantadas
c o n i a segunda, attraìndo a h u t u i d a d e atmosferica, tornào i n -
salubres as habitaoòes. A fora estas vanla^ens convém nào
esquecer q u e della se p o d e m faser objectos d e o r n a l o , quaes
as guarnicòes de p o r l a s , janelias, escadas & c , tào p e r f e i t o s
c o n i o os recebidos d e P o r t u g a l , e q u e seu t r a n s p o r t e p a r a
esla c a p i t a l se t o r n a mais facile f r e q u e n t e , o u pelo menciona-
do R i o d e Joamies, e m barcos p r o p r i o s d u r a n t e a s c h e i a s ,
o u e m q u a l q u e r t e m p o de suas aguas , u r n a vez q u e pelos
t r a b a i h o s da arte se rernovào alguns obstaculos q u e a p r e -
senta essa navegacào, o u oonclùzindo a p e d r a a u m dos p o r -
tos d a b a h i a , c o n i o se p r a t i c a c o m as caixas d e assucar dos
cugenhos dessa paragem, passando pelo e n g e n h o Sapucaia,
o u f i n a l m e n t e t o r n a n d o praticavo! p o r carros a estrada pa-
ra a m e s m a c a p i t a l , n a d i s l a n c i a de tres a q u a t r o leguas.
Seja p o r e m corno for, eu sempre r e p u t a r c i mais vantajoso o
s e r v i r l e o paiz d e seus p r o p r i o s recursos, de q u e o p r o c u -
r a l - o s e m o u t r a s nacòes, e d a o u l r a p a r t e d o oceano.
Passado o R i o d e Joannes, seguindo a Estrada das boia-
das, chega-se à p e q u e n a povoacào Feirada mata* onde sàe
o c a m i n h o d a v i l l a de Abrantes, q u e atravessa planicies d e
longa extensào , nas q u a e s , na p a r t e e n t r e a q u e l l a estrada
e o c a m i n h o q u e veni d e Abrantes, acha se greda e a r g i l l a ,
que p o d e r a ser empregada n o f a b r i c o da cai h y d r a u l i c a a r -
t i f i c i a l , c u j a descripoào ja fiz, tNesta p a r t e d a p r o v i n c i a os
c a m i n h o s sào assàs praticaveis p a r a o a r r a s l o , p o r c u j o
2ia APPENDICE,

m e i o m u i t o f a c i l m e n t e p o d e a c a i ser levada ao i n t e r i o r , o n *
de existéui bastantes engetthos , além de q u e e n t r e os pe-
queno» p o r l o s d o oceano e a villa de A b r a n t e s , apenas ha a
distancia de tres a q u a t r o legoas , e al l i c o m a m a i o r f a c i l i -
dade se pode d a r saida aos p r o d u c t o s das fabricas q u e sé
estabelecerem.
M i o obstante porém sereni tantas as pedreiras nesta p r o v i n -
cia, q u a t r o u n i c a m e n t e secontàoqneseaproveitào, mas é tào
e n o r m e a despesa q u e se faz c o n i ellas, q u e o seu p r o d u c l o
sò a grandes precos se p o d e a d q u i r i r no m e r e n d o , e m c u j a s
c i r c u i i sia ncias està a cai'. Sua extraccào no f u n d o d'agua é de
eccessivo custo, e assim i n q u e s l i o n a v t I m e n t e preferi vel se-
r i a t i r a l - a à s u p e r f i c i e , o u n o i n t e r i o r da t e r r a , o u e i n f i r n fa-
b r i c a l - a , e l u d o isto segundo as c i r c u n s t a n c i a s , e localidade
p r o p r i a a u n i o u o u t r o processo: mas i n f e l i z m e n t e ainda os
p r o d u c t o s de algumas paragens apenas sào c o n h e c i d o s m u i -
t o de leve, e x i s t i n d o ainda p o r descobrir o u t r o s m u i t o s .
A Franca t e m senlidó està necessidade para os seus i m -
mensos traballio», e q u e r e n d o lorìial-òs p o u c o dispendiosos
p a r a o f u t u r o , a t t e n d e n d o i g u a l m e n t e ao seu p r o p r i o i n t e -
resse, e n c a r r e g o u a u m dos seus mais sabios e n g e n h e i r o s ,
il/. Ficai, da direccào das ponti;» e calcadus de l o d o o r e i -
n o , t e n d o porém p o r p r i m e i r a obrigacào o visitar todos os
t e r r e n o s p a r a reconhecer onde se podera d e s c o b r i r c a i , e f a -
zer as experiencias nccessarias para obtcl-a de m e l h o r qua-
l i d a d e , e d o m e n o r preco possivcl.
Eis pois u m e n g e n h e i r o percebendo p o r este u n i c o servi-
co mais de 5:000#000 r s . (15:000 f r a n c o s ) de o r d e n a d o ,
além das despesas das viagens, eas s o m m a s nccessarias para
as experiencias postas à sua disposicào : mas a q u i o n d e os
p o u c o s engenheiros sào m u i t o i n f e r i o r m e n t e p a g o s , exìgc-
se-lhes t o d a a q u a l i d a d e de servicos, fa/endo elles à sua cos-
t a m u i t a s vezes dispendiosa» experiencias d o q u e desejào
p o r e m p r a t i c a , e ao passo q u e nào se enconlrào as c o r n i n o -
d i d a d e s das viagens da E u r o p a , é o e n g e n h e i r o o b r i g a d o a
pagar c o m sua saude e forcas os i n c o m n i o d o s de suas e x c u r -
fcòes, c a s o l f r e r insanos t r a b a i h o s no e s l u d o de q u a l q u e r p e -
q u e n o p r o j e c t o , sem q u e ao m e n o s as m a i s das vezes p a r t i c i -
p e d o prazer de ver executados seus p r o j e e t o s : teria m u i t o
q u e dizer a cerca d i s t o , m a s c u m p r e t e r m i n a r .este esc r i t o .
Achao-sc m u i t a s e ricas m i n a s o u p e d r e i r a s u o t e r r i t o r i o
APPENDICE. . 215

da provincia da Bahia, pelas quaes seus habilantes pagào


immenso t r i b u t o a outras nacòes, e posto seja certo que todos
os comecos sào difficeisedispeudiosos, bem c o m o q u e os a r -
tigos da primeira extraccào cuslarìào mais q u e os q u e o r a
se enconlrào no mercado; todavia além de sor degrande van-
tagem ao paiz que seu numerario fique nelle, em lugar de
sair para fora , estes mesmos artigos pela continuacào d o
tempo obler-se-ào mais c o m in oda men te em prego d o q u e
agora, e sempre o dinheiro permanecc no mesmo paiz.
Eis aqui o interesse real da nacào, interesse q u e a u g m e n -
ta sua industria e suas riquesas: talvez se me opponila
que isto podera praticar-se corno urna especie de troea pe-
los productos nacionacs ; eu tambem orcio q u e a permu-
ta è utilissima, e mesmo indispensavel para cada estado, po-
rém nunca para procurar-se objeclosde primeira necessida-
de, corno sai, f o r r e , pedra , para a ed ìficacào de nossos
prodios, e ainda mesmo algodào para nossos vestidos e fa-
rinha para o sustento.
Bahia 3,de maio de 1 8 u 2 — A n d r é PrzevuodoxvskL

FIM DO TOMO V-
*?AC. KOT. UHBAS. BEH DB. EMENDA».
7 W 19 corge cargo
8 » a* Poscoal Paacoal
30 il meno» morraria, de menos morraria
(

co 8 no arbitrio ao arbitrio
61 n SO deslreM dexferidade
65 32 egrpstiwimua ag realissima
71 5 1720 172A
80. 2* por-itao por Isso
od SS possoas. peawwt
«01 n 11 Frauda Franga
103 50 felli feiin,
»» 21 companhia companhia,
103 j eslrangciroj eatrdiigeiros,
146 4 Com denoniinacflc* pdlaa dcnoroioacSea
tao 23 23u. 230- de longit.
»» 30 de Hcspanba da Hespanlia
ISO SI o illustre Ifnmboldt o profuodo Humboldt
162 » 21 oli. e Mem. de Lue, cit. e M. de Lue
164 2, 6, 18 2«. 5*.
18* »• «, K 4<*. 8°.
207 38 Amorfe. Airaorea.
INDICE
BAS MATEMAS MAIS IKTEBESSAKTES.

Abandono das lavras de ouro 102,122 Commutarlo dos quintos 107


i3 9 Confisco do ouro a i , 6a, 7S
Affonso Furtado de Mendonca 9, i 3(Jontrato dos diamantes i l 8 , nota,
Agu;.s ihermais • Sy Con tribù cào i56
Alfandegas de portos sOccos 11 fi Criacocs de villas 91
Amethislas 161 Cuiaba 147» i 5 i , 156
Aiuoslrasde mineraes remeitidas pa- Da ma so Coelbo Pinto ioi>
r a Portugal 3, 72, 75, 85, i ; 3 , 17», Demarcacelo diainantiua io3
178, noia. Descoberta de ouro a, 19, 68, l a r , 1*0
André da Rocha Pìnlo 69, i i u 160, 169, 170
Antonio Alvares da Silva i f i — de prata a, 12, 34. 85, 102. 17Ì
Antonio Carlos Pinto 63 — de diamantes 85 , 98, l a i , I 4 4 I 146,
Antonio Dias Adorno 2 1Ì4, 156
Antonio Rodrigues Arzao 2, nota, — de cubre 3, »64 a 167, 169, 170,173
Antonio Rodrigues Mata 14 '1 Desordensem Minas-geraes 107,
Apotegma do imper;idor da China — em Minas novas 7**
sobre as inìnas 121, nota, Destacamentos 1071 »57
Arassuahy 70, 7.4, 80. 84, &8, 98, 104,Diamante» maiores 100
118» i f i i Diamante (grande) de Minas novas 76
A rgilla para as fabricas de porcellana 1 fi/ Diogo Alvares Correa 3
Arrojado \rio) 129 Diogo Correa Vasqueaimes 7,
Assuma 98, i3g, iJjs Diogo Lui/, de Oliveira 8
AvaJiacao dos diamantes i i 5 , nota* Diogo Martin* (-ào 3
Auge da inineracào em Minas-ge- Direitos sobre 05 escravos ai
raes 137, nota, — do ouro 49, 61, yf 8ry

Balas de Jequiricà 175 — das passagens 7^


Bandai ras 69, 160 Divisào de Minas-novas 71» n o
B a r t o l o m e o Boeno Cerquoira — d a comarradoRio deS.V'rancisco 141
Betciiior Dias Moribcca 18» 64, 6 5 , 66", Domingos Dias do Prado 70, 72, 84.
ijo Donatario da capitania do Espirito
Bendogò 17S Santo tt
Bernardo da Vonceca Lobo 85 — de Pernambuco 54
Cachoeira 22, 164 — de S. Viceute 149
Cai hydraulica 909 Economia maleutendìda i$7
Capitala» festabelecìmenlo da) 7i> 115 Epidemia em Minas-novas 97
Carlos Pedroso da Silveira 2, nota. Epigramma
Cai vào de pedra 0 2 Escrilores sobre o lìrasil 14"
Catari ismo 163 Esmeraldas 3. S, io
Casas de fundicào 71, 73 , *io3 , 107 , listatua de Pedro-grundeda Russia 16*,
nota, 1 i(>, i/,5 nota, 73
Cobranca dos quintos por batèas 71 <— decobre ao principe D Joào
t

Est rad.»s do interior 93 nota 17$


Cotuiyna de Pompeo 162, nota, 73
— de S. Paulo a Cuiabà '5o
Comarca de Jacobina 53, 55
(•'ahricas de moeda falsa 94»
— do Rio de S- Francisco 53, 140
— de fundicào de metaes *7 5

Companhia de dragòes 79
*9
TOMO V.
218 INDICE.

Fasendas do Rio de S. Francisco iS Marco achado no interior 64


— d o s jesuitas no Rio das contas 69 Marcos de Azeredo Coutinho 3
Ferro i 5 o , i 6 t , i : 3 , 20: Marmore 164» 7
2 0

Follia de flandres m Marquez de Valenca i65


Formacòes geologicas da terra Martius e Spix 147, i 6 a , 178,209
Formasde diamantes l55 Massas raetallicas 164,169, 178, nota
Francisco Agosùnho Comes 176 Maio-grosso (provincia) I5I, i53
Francisco (D.) de Souza 4 Memoria solite as pedreiras ao5
Fùudagao da villa de Jacobina 44, 4< Meteorolithes 178, n u &
— de N. S do livrameuto do Rio Minas novas, sua descoberta 164
das contas 90, 923 Minas, suas vaniagens 159
— de N. S. do ftom Successo de Minas-geraes ^criaijào da provincia
Minas novar. 91 de ) 149, nota
— do Senhor Bom Jesus do Cuiabà i5o Monstro petrifteado 170 nota
Garcia d'Avila Pereira 4Tu o l i ,
Orgàos-geologìcos
Governadores de S. Paulo 149 Offerta dos Miueiros 109
Granilo i l i ' , nota, i 6 3Para- Uay J46, 14 &
GuUherme Cbristiano Feldner 162 Pascoal Moreira Cabrai 140.
Habitus de ordensmilitares 3, 5, i n , 43 Pao ferro (scelerado) là
7.
Ilbas do Rio de S. Francisco 53 noia 17 Paulistas a, 6,18, ai, a3,68, 70, 84
luipostos sempre prejudiciaes ao 107, 122, 148
povo: opiniào do economista Pedras preciosas 1, 3. 8, 40, 85
Say 58, nota, 6y Pedra de cantaria air
Indetterei tismo acerca das mina» do PedroBaibosa Leal 44, 47, 91
Assurua >43, i 5 . - j . i J 7 , 169, nota Pedro Leolino Maria 62,71, 10S
Jujustiea para comosservidores do és- Prelasia de Cuiabà i5-ì
do estado 84, noti: Premios aos descobridores de mi-
Intendencias do ouro 14 nas 3, 5, ro
Jacobina 3, x8, 19, a i 44, 49 Procuradores das camaras do sul
: 4
Jacome Reserra 9 Proibicao d e n L v a s descobertas de
Jesuitas 8, 69 omo 19, a i , aa, 8t
Joào da Silva Guimaràes rio Provincia dcS. Paulo, sua fonda qào
José Bonifacio de Andrada e Silva 109 149, nota
José de Sa Bittencourt Acciolì 17'f Recompensa . mesqainha aos desco-
Jìiuta de juslrca criminal 95 noto bridores do maior diamante que
Laboratorio das minas de ouro se conhece IOO, nota
(permissao para o ) de Jacobina Itegimeulo para as minas de S. Paulo 4
das minas de ferro *74- n o t j — p a r a as min^s de Itabatàna i3
Lagoassalgadas da Asia 185 ttelatorio do engenheiro Miguel
Lagoa Itapnrica 1^4, noi.. Pereira da i osta 2*
Lapidncào de diamantes 145 — d e Joào 4. Silva Guimaràes, so-
Lavras de ouro em Jacobina 44,6! bre seus descobrimentos f i o
— uo Rio das coutas aa,43, 61 Rendimento dos cpjinlos em Minas
-—en Minas novas 7'» 74 geraes 137, i3JJ
— 110 Assnrua 140, 142 — d e Jacobina 61, 117
— do Sulìl, em Cuiabà 149 — do Rio das contas 117
— eli amanti nas de Santo Ignacio 145 — d e Minas-novas 74.
-—de S Joao 146 i 5 6 Hepiil de duas caudas 17»
— do Cocal I 5 .1 Kibeiraò de N. S. dos Remedios 64
— da barra da Solida© 254 Rio das contas i a ra s a 43, 69, 72
Lourenco ( 0 ) de Almeida ai — C o r r e n t e iay,
L u i * de Brito e Almeida 3, 3 Rio doce a, 1 2 , 1 8 , i n
Mamocàbo »54 — d a s e g u a ^ • *aa
Manoel Francisco da Soledade 85 —Formoso 12B
Marcelino Coelbo de Bittcncouct 6; — d e S. Francisco j&8, 3 r ; 47, Sfa
Marcelino da Silva Pereira i65 iaa i t a
INDICE. 219
—grande «33, 1^ Salinas, perroissòes para seu estabe-
Jiquitinhonha 35, noi*, a i o lecimento 174
— n i . i uso r<* S^lims de Cuiabà i'5|
— d a s mortrs 53 — do interior da Bahia i 5 4 , i85\ 3 1 0
— Parapuussù a3 Salvador Corréa de Sa e Benevides 4
—pardo 68, , Sehastiào Fernandes Tourinho
r
a
— de S. Mareus 68, 70. 72,84, 107 Sebastiao Leme do Prado 70, 84
— verde 68 Sebastiào Pinheiro Raposo 33, 44
— d e Joannes ai3 nota 14
Riquesa considerava! das minas do erra <\o Arubà 160
Arassuahy 8S Serra branca 68, 186
— d a s minas do Brasìi, noreìnado Serra da Borracha 173» 176
de Joào V. 182, nota Serra de Itabaìana lai
Roberto Dias 3 Serra das esmeraldas
a» 9
Rodrigo(D0 de Castello branco i a , 17 Serra da Tromba 160
Romao Gramacho Folcito l a i Serra Diamantina i53
Roteiros do Paulista. 6a, 140 Serro do frio 19, 85, 99, i o 3 , 120, 102
.Siili r a s 3 Sesmarias 7 ^ 85
Sai gemma a i o Tremor de terra em Cuiaba j 59
\

GOI^^HTTTAgAO SA LIS^A DOS STOSCERXFTOBSS.

S. A. R. o SR. PRINCIPE DE SAPOIA E CAHIG»ufi.


Os Senhores. Dr. JoàoMauricio Wanderley.
Alfredo Carlos Pessoa da Silva. Joào Antonio Pimenta.
l_)f Alvaro Tiberio Moncorvo e lama- Joào ftaptisia Ferrali (Engenheiro)
A l i d i f Pr/.ewodowski (Engenheiro). Joào José Ferreira
Jìrieadeiro Antonio Correa Seara Joao José Moritemi
'lenente coronel Antonio Ladislao Mou- Joào Baireto de Sa Menezcs,
teiro Baena, Tenente Joào Alves da Silva.
Dr. Antonio Ladislau de F i g i . Rocha.
0 Joào da Cruz de Souza Muri».
Antouio Goncalves Gravala. J. E. Silva Li-boa ( Lente de Geografia
Antonio Moniz Alves branco. e Hiltoria.
Antonio Pereira Basto. Tenente coronel Joaquim Antonio da
Antonio Pereira de Ànurnde. *Ìlva Garv-dhal
Antonio Roberto Ferreira. Capitào de Mar c Guerra Joaquim Leal
Antonio Joaquim de Guèrra Basto. Ferreira.
Beuta Francisco da Costa Aguiar e An- Ten°. cor* . José Felix da Cimba Mcneaea
1

drada. Major Joaquim Rodrigues Coel ho Kelly.


Heverendo Fr. Bernardino deScna Rego. VeneiiteJoaqnim Herculano de Almeida.
Camillo Antonio da Silva. Tenente corcnel Joaquim Alvares Tou-
Camillo de Lellis Masson. rìnho.
Major Chrisiiano Manoel de Sa Kiuen Alferes Joaquim Ramos de Araujo.
court e Camara. Joaquim dos Sairtos Ncves.
Domingos Henriques dosReis. Capitao José Ignacio de Menezes Doris.
E. Ganiois. Commendadoi JoséDomiugues de Athai-*
Tenente Coronel Egidio Lu'rz de Sa lìit- de Moncorvo
tencourt e Camara Rriaadeiro José Joaquim Coelho.
E. K F. Wandcnbusuhe (Engenheiro •Coimneudador José Silvestre Rebello.
Constructor) Capila© Jose Jacinto Thoma*. «
Dr. Emilio Joaquim da Maia. Tenente Jose Joaquim d'Almeida Junior.
Tenente Ernesto José Ferreira. Dr. José Alvares da Cruz, Rios
Tenente cor onelEvaristo Ladislao e Silva José Felix de Almeida Bahia
Eduardo Savary. José Francisco do Nascimento.
Faustino Correa Lisboa, Rev". José Joaquim Sfjendes de Moura
Felismino Eva risto de Cerqueìra. Alves (director do Collegio Conceicào)
Brigadeiro Francisco Sergio de Oliveira. Capiiào lenente José Maria XÒgueira.
Coronel Francisco Xavier de Carvallio. José Joaquim Ribeiro.
Major Francisco Manoel de Furia. • Ajudante José Pinto da Rocha Bastos,
Francisco José Ribeiro. Dr. Luis Antonio Barbosa dp Almeida.
Francisco l.upcs Guimaràes. Commendador Manuel da Silva CaraUy
Cìrurgiàomor Francisco Pereira Sibrào Coimbra,
de Almeida. Tenente coronel Manoel Fredcrico de
CapitàoFrancisco Fansto da Silva Castro. Almeida,
M a j o r Francisco Eusebio Soares. Manoel Corréa Garcìa.
Capiiào Fred eri co Carlos de Sa Bitten- Manoel José de Araujo Borges.
eourt e Camara. Reverendo Vigano do Angical Mauoef
Hóràcio Forlunato Urpia. Roberto Sobreiro.
Jacinto José de Souza. * Alferes Manuel Antonio Gaspàr.
Conego Janna rio da Cunba Barboza . Mem de Amorini FUguciras.
Clirouista du imperio. • Reverendo Prefeito do Hospicìo da Pie-
Reverendo Jeronimo Dautas Barbosi dade F r , Pedro L u i * de Sarraveia.
Jerontmo Móreh'a de Souza Capitào Servulo Alvares de CauiposTou-
Ten*. General Joào i.hrisostomoCallado r i nbo
Conego Joa<> Pereira Ramo*. Augusto Silliman.
Padre Joào Cardoso de Mene/.es e Souza lìbureio Tavares de Oliveira.
—"S-

Typographia ilo Correio Mercaaùl, de Manuel Lopes Velloso e U


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