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Pietá A Representação Imagética Do Cuidado
Pietá A Representação Imagética Do Cuidado
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Pietá: a representação imagética do cuidado1
Pietá: la representación de la imagen del cuidado
Pieta: the image representation of care
Fernando Porto1; Mercedes Neto2 e Sandra Goulart Magalhães2.
1
Doutor em Enfermagem com pós-doutoramento pela Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo. Professor Adjunto da
Escola de Enfermagem Alfredo Pinto, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro.
2
Doutorandas do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem e Biociências da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
do grupo de pesquisa LACENF.
Cómo citar este artículo en edición digital: Porto, F; Neto, M; Goulart Magalhães, S. (2013) Pietá: a representação imagética
do cuidado. Cultura de los Cuidados.17, 37. Disponible en: <http://dx.doi.org/10.7184/cuid.2013.37.02>
Correspondencia: Fernando Porto. Escola de Enfermagem Alfredo Pinto - Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. Av.
Pasteur, 296 - Urca - Cep 22290-240.
Correo electrónico: Fernando Porto ramosporto@openlink.com.br
Correo electrónico: marmagri@gmail.com. Teléfono: 5511989248960 - 551146202842
RESUMEN
La reflexión sobre la experiencia de los
cuidados a través del tiempo por las nocio-
nes de la atención y el tiempo del filósofo Paul
Ricoeur. Con este fin, se utilizó la representa-
ción de la imagen de la Pietá de Michelange-
ABSTRACT lo (1498), que se tradujo como una señal de
Reflection on the experience of care over estima respecto de Enfermería decodificado,
time by the notions of care and time of the la atención, el reconocimiento del valor huma-
philosopher Paul Ricoeur. To this end, we used no en sí mismos y en otros, a superar el odio,
the image representation of Michelangelo’s el conflicto, la ignorancia, al decir de amor y
Pietá (1498), which resulted as a sign of respect justicia, ya que las condiciones de realización
Nursing decoded esteem, care, recognition of de la humanidad como una contribución a la
human value in themselves and in others, to construcción de la imagen de la enfermera.
overcome hatred, conflict, ignorance, by say- Palabras clave: Enfermería, Historia de la
ing of love and justice, as conditions of realiza- Enfermería y la imagen.
1
Trabalho apresentado no III Simpósio Ibero-Americano de História da Enfermagem na mesa redonda intitulada “Historia y
Fenomenología: la vivencia de los cuidados a través del tiempo”. Alicante, 24 de novembro de 2011.
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cardeal francês San Diogini, representa a fi- Destarte, acredita-se que nada mais em-
gura isolada de Maria, que tem nos braços o blemático, que a imagem de Maria com Cristo
corpo de Cristo, logo após a retirada da cruz em seus braços, como aliviadora do sofrimen-
(Porto e Oguisso, 2011). to da humanidade. Uma imagem que ignora
Nesta perspectiva, a imagem artística da o sentido dos limites na ordem do pensável,
escultura de Pietá (figura n. 1 ), por ser veros- ao ponto de ser musa inspiradora para outras
símil, remonta a passagem bíblica de mãe com obras de arte por ser verossímil pela postura
seu filho nos braços. Esta escultura apresenta corporal.
fisionomia de Maria extremamente jovem e No período da I Guerra Mundial (1914-
calma, representando, possivelmente, a hu- 1918) a Cruz Vermelha criou uma representa-
manidade. A mão direita da madona sustenta ção plástica de uma mulher denominada “Mãe
com força o corpo inerte de seu filho, eviden- do Mundo” (figura n. 2) veiculada na impren-
ciado pelos dedos abertos, dando relevo às sa ilustrada brasileira acompanhada do texto,
costelas do Cristo. A fisionomia dele é de um como o excerto, a saber: “mãe que embala nos
homem abandonado, mas sereno (Barreto e braços e aconchega ao coração um soldado fe-
Oliveira, 2004). rido, deitado na maca... nunca a arte encontra-
A opção na escolha se deve ao motivo por ra uma tão comovedora interpretação plástica
acreditar que, essa imagem possa represen- da humanista associação [Cruz Vermelha]”
tar um dos símbolos da vivência do cuidado (Revista da Semana, 1918, 6).
através do tempo, que também por verossimi-
lhança inspirou outras obras de arte, em espe-
cial, pela postura corporal adotada Maria com
Cristo nos braços.
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O Hospital Central da Cruz Vermelha, chamado San José e Santa Adela, foi construído entre 1924 e 1928 pelo arquiteto Manuel
Pastor Cardenas, em terrenos de propriedade da Companhia Urbanizadora Metropolitana, que foram doados à Cruz Vermelha.
Stands em um piso em forma de “U” estruturado em torno de um jardim aberto à Avenida da Rainha Vitória a ser paga com
fundos obtidos a partir de um saque especial da Loteria Nacional. A Direção-Geral da caridade deu a Suprema Assembléia da
Cruz Vermelha, a Administração do Hospital, mais tarde conhecida como Hospital San Jose e San Adela.
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em batalha. A duquesa de Victoria é a enfer- Esta escultura, como obra de arte, influen-
meira, trajando uma pelerine, embaixo dela o ciou outras, como as expostas anteriormente
uniforme com um avental (fac-símile de nú- pela verossimilhança da postura corporal em
mero seis) (Miralles-Sangro e Scribano, 2005). tempos diferentes, acredita-se pelo referencial
A postura corporal da enfermeira é de aco- de Ricoeur, transmitir o respeito, estima, soli-
lher em seus dois braços um homem ferido de citude, reconhecimento do valor humano no
guerra. O sentimento para quem o olha é de sentido de superar o ódio, o conflito, o desco-
expressão de dor, mas sem prejuízo do confor- nhecimento, pelo amor e justiça como a vivên-
to ao ferido. O soldado encontra-se caído em cia do cuidado, em que o tempo faz emergir a
terra próximo a sua espingarda, apoiado em memória de quem a vê, a bondade e caridade,
sua mochila, pedindo ajuda à enfermeira para para com a humanidade.
salvar sua vida (Miralles-Sangro e Scribano, Nesta compreensão, a bondade e a carida-
2005). de podem ser entendidas também pelo per-
No terceiro patamar do monumento, uma dão, mas antes de discorrer sobre este enten-
grande “front”eira de palma com folhas, sím- dimento, se faz necessário certa digressão pela
bolo do martírio, no qual sustenta uma grande noção do trabalho de lembrança e trabalho de
cruz na cor vermelha sobreposta, onde se lê: luto (Ricoeur, 2011).
Este monumento fue inaugurado el 29 de O trabalho da lembrança é o uso critico
junio de 1926 por S.M. la reina doña Victoria da memória levado à linguagem – narrativa.
Eugenia bajo cuyo alto patrocinio alentados Esta é a arte de narrar, contar história... Em
por su augusto ejemplo realizaron su piadosa contar a outrem histórias do passado, mas do
y patriótica obra los hospitales de la cruz roja ponto de vista do outro. O passado consistiu
de toda Espana. em contá-lo a outro e do ponto de vista do ou-
Destaca-se que, em 1920, por meio de um tro, assumindo a importância decisiva, quan-
decreto real, o rei Alfonso XIII criou uma do se trata dos acontecimentos fundadores da
unidade militar com denominação “Tercio de História e da memória comuns. O trabalho de
Extranjeros”. Anos depois, em 1925, passou a luto consiste em desligar-nos por graus do ob-
ser chamada de “The Legion”, quando se cons- jeto de amor - o qual é também objeto de ódio
truiu o monumento, em 1937(Miralles-San- -, até ao ponto em que poderá ser de novo in-
gro e Scribano, 2005). teriorizado, num movimento de reconciliação
semelhante ao que opera em nós o trabalho de
REPRESENTAÇÃO IMAGÉTICA DA VI- lembrança. É na convergência das noções do
VÊNCIA DO CUIDADO ATRAVÉS DO trabalho da lembrança e de luto, que ocorre o
TEMPO perdão, além do domínio religioso, em virtude
A imagem de Pietá quando encomendada da sua generosidade.
pelo cardeal francês San Diogini, ele provavel- Esta generosidade, que a narrativa da ima-
mente transmitiu ao autor da obra da escul- gem da Pietá, transmite ao leitor pelas expres-
tura, Michelangelo, detalhes de postura, vestes sões faciais e postura corporal da imagem da
e outros que o artista, por meio de sua sensi- escultura. Ricoeur relata que o trabalho inter-
bilidade e também influencia de sua própria pretativo do leitor assume o caráter propria-
experiência, materializa a Pietá. mente ético, na medida em que lhe permite
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