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Introdução.

O desenvolvimento cívico, cultural, moral e cognitivo de um cidadão é um dos factores decisivo para a
evolução multidimensional de qualquer país. Nesta perspectiva, o ensino da disciplina de Filosofia, no
2º Ciclo do Ensino Secundário, torna-se uma necessidade inquestionável, pois a educação filosófica
contribui para a satisfação desse importante desiderato.

Outrossim, como se pode ver no programa de Filosofia feito pelo INIDE para a 12ª classe da formação
geral, na página cinco (5) que:

«A UNESCO tem vindo a solicitar a todos os Estados a


introdução ou o alargamento da formação filosófica a toda a educação primária,
considerando substantivo o vínculo entre Filosofia e Democracia, entre Filosofia
e Cidadania. Esta aproximação entre a Filosofia e a manutenção e consolidação da
vida democrática tem a ver com o reconhecimento do valor da aprendizagem desta
disciplina, não apenas no processo do saber de si, de cada um, como também
no aperfeiçoamento do seu discernimento cognitivo e ético, contribuindo, assim,
directamente para a formação de cada jovem para o juízo crítico e para a
participação na vida da comunidade».

Este apelo à inserção sistemática da filosofia, no ensino primário, releva uma concepção desta disciplina
de que decorrem três funções essenciais:

1- Permitir a cada um, aperfeiçoar a análise das convicções pessoais para renovar-se e ultrapassar-
se;
2- Aperceber-se da diversidade dos argumentos e das problemáticas dos outros;
3- Aperceber-se do carácter limitado dos nossos saberes, mesmo dos mais segurados.

Para a 12ª classe do Ensino Geral, são programados os seguintes temas:

Tema 1 - Noções Básicas de Lógica

Tema 2 - Filosofia Africana

Tema 3 – Convivência Política entre os Homens

Tema 4 – Filosofia da Educação.

TEMA I - NOÇÕES BÁSICAS DE LÓGICA.

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A Lógica é a ciência das regras do pensamento, ou seja, o estudo dos métodos que nos permitem
distinguir um raciocínio correto de um incorreto. Portanto, tem por objetivo organizar as ideias de
modo rigoroso para que não haja erro nas conclusões de nossos raciocínios, ela faz parte do nosso
cotidiano sempre que conversamos com alguém sobre qualquer assunto, usamos de argumentos lógicos
para explicar ou convencer alguém sobre algo, sendo assim é importante que compreendamos no que
baseia o raciocínio. O primeiro filósofo que trabalhou a lógica com rigor foi Aristóteles, antes dele,
Platão e os sofistas já faziam uso dessa ideia na prática da argumentação em meio a Ágora, mas
nenhum deles chegou a explanar e analisar esse sistema como fez o estagirita, nos textos compilados no
livro Órganon.

1.1- Definição da Lógica.

O termo Lógica deriva do vocábulo grego ʺLogosʺ (‫סאּ‬γɵʂ) que apresenta, na língua original, uma
multiplicidade de significados mas que expressam uma estreita conexão reciproca. Assim, o Logos vai
significar Palavra, Ideia, Razão e Regularidades que correspondem ao Conceito, Juízo, Raciocínio e
Princípios respectivamente (Guetmanova,1989, p.7). Portanto, a Lógica estuda o pensamento enquanto
pensado.

1.1.1- Obecto e método de estudo da Lógica.


a) O pensamento é o objecto de estudo da lógica. Entende-se por pensamento operação mental
como: meditar, julgar, discorrer, cogitar, reflectir, etc.

A Lógica estuda o pensamento que integra dois domínios para o surgimento do conhecimento: o
conteúdo e as leis que garantem o conteúdo do pensamento enquanto pensado. Assim, estamos perante
os objectos Material e Formal.

 Objecto material faz referência ao conteúdo ou matéria do pensamento;


 Objecto formal faz menção às leis ou regras que permitem o exercício correcto do pensamento.

b) O primeiro movimento da inteligência é direto, tende às próprias coisas. Apenas com um


segundo movimento, de ordem reflexiva, podemos observar os nossos actos de conhecimento e
descobrir como conhecemos. Este acto, através do qual estudamos o nosso modo de conhecer,
diz-se reflexão lógica. Entretanto, o método de estudo da Lógica é a reflexão lógica, usando a
dedução (processo que parte dos dados gerais ou abstratos para se concluir de modo particular
ou concreto) e a indução (processo que parte dos dados concretos ou particulares peara se
concluir de modo geral ou abstrato).

1.1.2- Os Princípios lógicos.

A coerência dos nossos pensamentos e, consequentemente, a possibilidade de comunicação com os


outros depende pelo respeito de determinadas regras, os princípios da razão. Eles são o fundamento e a
condição de possibilidade da coerência do pensamento. Dos quatro princípios aqui estudados, os três
foram postulados por Aristóteles, filosofo grego nascido em Estagira. O quarto, é da autoria do
filosófico alemão, Leibniz. São eles:

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a) Princípio de Identidade formula a regra da univalência (singularidade). Cada objecto é igual a


si e diferente outro. Ex: «um vegetal é um vegetal e um animal é um animal – enunciado
Ontológico». «Uma proposição é equivalente a si mesma – enunciado lógico»;
b) Princípio da não Contradição formula a incompatibilidade, ex: «uma coisa não pode ser e não
ser ao mesmo tempo, segundo uma mesma perspetiva – enunciado ontológico», «uma
proposição não pode, ao mesmo tempo e sobre a mesma perspectiva, ser verdadeira e falsa –
enunciado lógico»;
c) Princípio do terceiro excluído exige a impossibilidade de existir um meio-termo capaz de
conciliar os opostos, ou seja, entre duas contradições não deve haver intermédios. Ex: «uma
coisa deve ser ou não ser, não podendo haver uma outra possibilidade – enunciado ontológico»,
«uma proposição ou é verdadeira ou falsa e não há terceiro termo ou possibilidade – enunciado
lógico»;
d) Princípio da Razão Suficiente refere-se a causalidade das coisas. As coisas não existem por
acaso, pelo que, a fundamentação incidente aos objectos ou aos conceitos. Exemplo: «Nenhum
enunciado é verdadeiro, sem que haja uma razão suficiente para que seja assim e não outra
coisa. Nada acontece sem que tenha uma causa ou pelo menos uma razão determinante»;

1.1.3- Os novos domínios da aplicação da Lógica: Informática, Inteligência Artificial e


Cibernética.
Os atuais níveis de desenvolvimento das ciências foram precedidas por um conjunto de esforços do
pensamento humano, num longo percurso da filosofia, agora partilhado pelas ciência empíricas. No
nosso tempo os aparelhos tecnológicos invadiram a nossa vida quotidiana. Há interferência da logica
nos utensílios que constantemente usamos e nos problemas cinéticos que estudamos. A lógica está
presente nas mais elementares acções e operações de todos os dias, desde o levantar o dinheiro num
multicaixa até a utilização de um computador que é, com efeito, um produto da aplicação da lógica:

a) A Informática é entendida como a ciência de abordagem racional, particularmente, por


máquinas automáticas de informação, consideradas como suporte de conhecimentos humanos e
das comunicações nos domínios técnicos, económicos e sociais. Tem por objectivo fazer as
máquinas tratarem, automaticamente, as informações fornecidas a partir do meio exterior;

b) A inteligência artificial é uma pesquisa que busca reproduzir, artificialmente, as capacidades


intelectuais da mente humana, estabelecendo relações muito estreitas entre as operações lógicas
e matemáticas do computador e a consciência humana. Portanto, a inteligência artificial serve
para aplicar a inteligência humana em computadores e outras maquinações;

c) A Cibernética estuda os mecanismos de comunicação e controlo, nas máquinas (mas também,


por analogia, nos seres vivos) de modo a analisar como processam e comunicam informação, os
seus padrões de evolução. Portanto, investiga o que há de comum nos processos de
comunicação que ocorrem, tanto no sistema nervoso de um ser vivo, como numa linha
telefónica ou qualquer sistema de comunicação.

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A lógica coabita com a cibernética na análise da estrutura do pensamento, da razão humana, que
a máquina imita e que funciona com os modus operandi assente na escolha entre o «sim» ou o
«não».

1.1.4- O Pensamento e o Discurso.


A reflexão filosófica consiste, essencialmente, numa experiencia do pensar. O quesito pensar, pode-nos
remeter a dois sentidos diferentes. Por exemplo, se dissermos: «quando penso naquele acidente ainda
sinto arrepio», o pensar significará, neste caso, uma atividade mental que não implicará um exercício
actual dos sentidos.

No sentido restrito, «pensar é julgar» (Kant), isto é, operar mentalmente para que os objectos sejam
compreendidos e explicados.

A linguagem é um elemento essencial para a comunicação. Comunicar é exteriorizar pensamento. É


pela linguagem que o ser humano se apropria da Realidade. Não podemos pensar sem palavras, pois,
com efeito, pensar é fazê-lo com palavras.

Não há pensamento sem linguagem porque o pensamento tende a operar-se e exprimir-se na linguagem.
É na linguagem que o pensamento toma forma. Jean Piajet, nos seus estudos, demostrou que
aprendemos a pensar ao mesmo tempo que aprendemos a falar, uma vez que a génese do pensamento e
da linguagem está indissociavelmente ligada.

Portanto, o pensamento é o conjunto das ideias organizadas e é a principal característica que distingue
o homem de outros animais, por ser a base da produção do discurso. Assim, o discurso é o conjunto
das ideias expressas por códigos e que se referem por objecto.

1.1.5- As três dimensões do discurso: Sintaxe, Semântica e Pragmática.


Trata-se dos três grandes ramos da linguística através dos quais se constrói o discurso pois,
compreendem as três fases que se cumprem para a sua elaboração. Trata-se da concepção da ideia, sua
organização ou ordenação das palavras e sua realização prática.

a) A sintaxe é a parte da gramatica que estuda a função e relação das palavras no discurso (sujeito,
predicado e complemento). É a forma como essas palavras se combinam para formar frase;
A semântica é a parte da linguística que estuda o sentido e significado das palavras (dada sua
polissemia), de modo isolado ou inserida num discurso. Portanto, o sentido que uma palavra tem de
acordo com contexto;
b) A pragmática é a parte da linguística que se ocupa da realização rática do discurso nas relações
interpessoais e de acordo com o contexto. Portanto, depois do discurso ser concebido e
organizado é pragmatizado num ambiente de diálogo ou monólogo específico.

1.2- O conceito e o termo.


O processo de pensamento do ser humano se faz através de conceitos que se expressam em
palavras ou termo. Como sabemos, o pensamento está estreitamente ligado a linguagem, sendo
uma das operações mentais elementares a de atribuir nomes aos objectos, sessações, etc.

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Quando nomeamos um animal, por exemplo, sabemos que tal nome somente poderá ser
atribuído a animais que apresentem determinadas características. Ou seja, apesar de existirem
inúmeras raças de cães, conseguimos distinguir, facilmente, um cão de um cavalo. O que
acontece é que o termo «cão» traduz, na linguagem, o conceito de «cão», que por sua vez
resulta do acto de pensar.

Um conceito é a representação logica de um conjunto de seres ou objectos, agrupando-os de


modo a que não sejam confundidos com outro qualquer conjunto. O conceito permite evocar as
características do referido conjunto que simboliza, representado a soma de conhecimentos que
temos sobre os seres ou objectos em causa.

Dito de outra forma, o conceito é a primeira forma do conhecimento ou pensamento racional,


através do qual distinguimos os indícios substanciais dos insubstanciais ou, simplesmente, é a
representação mental dos objectos e o termo é a expressão verbal ou física do conceito.

1.2.1- Formação e classificação dos conceitos.

Formação.
Os conceitos, na mente, não surgem já feitos. Resultam de um conjunto de operações mentais como:

a) Analise é separação mental das partes de um objecto, no sentido de melhor identificar


características;

b) Síntese é a composição mental das partes separadas de modo a filtrar as características


fundamentais do todo do objecto;

c) Comparação é a verificação mental da semelhança e diferença das partes do objecto segundo o


que é importante e o que não é;

d) Abstração é a separação mental das características do objecto, excluindo as acidentais;

e) Generalização é a reunião mental dos objectos no conceito, através das suas características
fundamentais.
Classificação dos conceitos.

Os conceitos são classificados em:


a) Extensão (volume/denotação), diz respeito a classe dos objectos, ou seja, ao conjunto de
elementos da mesma espécie. O volume, também tem a ver com os indícios insubstanciais,
exemplo do volume do conceito homem: nacionalidade – ser angolano, brasileiro, etc; raça –
ser branca, negro, etc; características físicas – ser alto, baixo, medio, esguio, corpulento, etc;

b) Compreensão (conteúdo/conotação), diz respeito ao conjunto de características que permitem


a definição de um conceito. É o conjunto de indícios substanciais de um objecto (sujeito),
exemplo do conteúdo do conceito homem: ser raciona, trabalhador, falante, pensante, etc.

1.2.2- Definição de conceitos.

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A definição é a operação intelectual que consiste em atribuir um conjunto de características que


limitam o objecto ou conceito do objecto. Ou seja, revela por um lado o conteúdo do conceito, podendo
também estabelecer o significado de um termo.

1.2.3- Tipos e regras de definição de um conceito.


Há vários tipos de definições. Mas, os mais estudados em lógica são:

a) Nominal é a definição que se preocupa com o significado do nome, ou seja, resulta da análise
etimológica da palavra. Ex: Filosofia = amor ao saber;

b) A definição real descreve o conceito, até as suas características essenciais e reais. Portanto,
apresenta as características essenciais e acidentais, exemplo: «o triângulo tem três ângulos
(essencial)» ou «um tareco é um animal quadrúpede (real e acidental)»;

c) A definição descritiva exprime a natureza do próprio objecto, enumerando as características


essenciais, de modo que se distinga de outro. Portanto, explica como é o conceito, determinando
sua natureza ou essência. Ex: «o homem é um ser pensante e falante».

Toda e qualquer definição, entende-se correta, se obedecer determinadas regras, tais como:

a) A primeira regra diz que «a definição deve convir somente ao definido», ou seja, qualquer
definição deve ser clara. Portanto, ao definir um conceito, não devemos incluir na definição,
aquelas características que, linguisticamente, impendem a perceção ou compreensão do definido
ou do que se pretende definir, caso aconteça, não se entenderá fácil e corretamente o objecto;

b) A segunda regra diz que «uma definição deve ser elaborada a partir de termos conhecidos e
não estranhos», ou seja, qualquer definição será estranha se o definidor contiver características
que não sejam as que o objecto tem de concreto;

c) A terceira regra diz que «o definido não pode entrar no campo do definidor», se tal acontecer,
incorre-se em redundância (de que é exemplo a frase «a medicina é a ciência médica»), (manual
da 12ª classe, pag. 33).

Um termo ou conceito, pode ter um ou mais significados que se distinguem em:

a) Unívoco é a característica do conceito que, aplicado a coisas distintas, se mantem com o mesmo
significado, por exemplo, o termo animal, predica-se ao homem, pela mesma razão que se
atribui ao caracol, porque a animalidade pertence tanto ao homem como ao macaco, cão ou
caracol, não importando as diferenças individuais. Ou seja, é um termo que se refere ao termo
com um único sentido;

b) Um termo ou conceito é equívoco quando tem duplo sentido, ou seja, o seu uso pressupõe a
existência do seu oposto que, pelas características, podem coabitar. Portanto, refere-se aos
objectos que suscitam dúvidas ou criam confusão à perceção do nosso interlocutor;

c) Chama-se conceito análogo ao que apresenta mais de um sentido em que cada um dele se aplica
de modo contextualizado. É o que acontece quando se aplica o termo «criança» a um adulto

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que, pode dar ideia de pureza ou inocência perante certas situações ou infantilismo ou
imaturidade ante a uma realidade.

1.2.4- Conceitos indefiníveis.

Ao longo do tempo, alguns pensadores e filósofos (entre eles Emmanuel Kant) que consideraram que
os únicos conceitos definíveis (isto é, passiveis de definição) seriam os conceitos matemáticos. No seu
oposto estariam os conceitos empíricos, logo indefiníveis, como Kant sustentava, considerando que
apenas a matemática permitia o uso de definições.

Analisando uma definição do ponto de vista destes filósofos, ela tem de partir de características com os
seguintes atributos: clareza (as características têm de ser claras), suficiência (as caraterísticas têm de ser
consideradas suficientes), precisão (têm de ser precisas) e por último, origem (as características têm ter
a sua precisão determinada originariamente). Assim, os conceitos determinados a priori seriam sempre
conceitos matemáticos, definíveis, sendo os conceitos empíricos indefiníveis pelo facto de serem
determinados a posteriori.
Podemos compreender, também, que são conceitos definíveis aqueles que apresentam características
próprias que as permite distinguir de outros. São indefiníveis, os conceitos que apresentam
características comuns aos outros, portanto, ilimitadas.

1.2.5- O juízo e a proposição.

O juízo foi designado, tradicionalmente, como a segunda operação da mente, para distingui-lo do
conceito, a primeira operação. Enquanto no conceito, o pensamento faz apreensão das essências
«quadrado», «mesa», no juízo está em causa uma tomada de posição face essas mesmas essências, por
exemplo, «a mesa é quadrada.» O juízo é, assim, a operação mental através da qual afirmamos ou
negamos relações entre conceito. Como tal, todo o juízo é suscetível de uma apreciação valorativa em
termos de verdade ou falsidade consoante o seu acordo ou desacordo com a realidade. No exemplo
dado, afirmamos da mesa que é quadrada, e, dependendo da realidade concreta a que nos referimos,
essa afirmação será verdadeira ou falsa.

O juízo, como acto do pensamento, tem a sua expressão verbal na proposição ou no enunciado, da
mesma forma que o conceito se materializa no termo. A proposição de um juízo é constituída por
elementos que são inerentes ao próprio juízo. São elementos do juízo:

a) Sujeito é aquilo acerca do qual se afirma algo;

b) Predicado é a qualidade ou característica que se afirma pertencer ao sujeito;

c) Cópula é o elemento de ligação entre o sujeito e o predicado. É representado pelo verbo ser.
Ex: todo homem (Sujeito) é (cópula) mortal (predicado).
Para além dos elementos, os quantificadores também fazem parte dos juízos. Exemplos:

Quantificador Sujeito Cópula ou elo Predicado


Todo/s Homem/s é/são Mortal/is

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Alguns Insectos São Nocivos


Nenhum Homem é Quadrúpede
Alguns Futebolistas Não são Bons

1.2.6- Classificação dos juízos.


Os juízos classificam-se em qualidade, quantidade, relação e modalidade.

Na qualidade, o juízo é analisado pela natureza da cópula:


a) Afirmativo, se a cópula afirma. Exemplo, o homem é mamífero;
b) Negativo, se a cópula nega. Exemplo, o António não é maluco;
c) Infinitivo, quando a cópula afirma e o predicado nega. Exemplo, as flores são não animais.

Na quantidade, os juízos são classificados quanto a sua extensão/quantidade:


a) Universal, quando o sujeito é tomado na totalidade de seus membros. Exemplo: todo o homem
é mortal;
b) Particular, quando o sujeito é tomado apenas numa parte. Exemplo: alguns homens são
humildes;
c) Singular, quando o sujeito é apenas um indivíduo. Exemplo: o Sangongo é professor.

Na relação temos:
a) Categórico, quando se afirma com toda a certeza, isto é, de modo absoluto. Exemplo: o homem
é mortal;
b) Hipotético, quando a relação entre sujeito e predicado se encontra condicionada. Exemplo: se
não chover, irei cinema;
c) Disjuntivo, quando expressa alternância. Exemplo: o João é cego ou não quer ver a realidade.

Na modalidade, analisa-se o grau vinculativo entre o sujeito e o predicado:


a) Apodíctico, expressa uma relação necessária entre sujeito e predicado, exemplo: Angola é
independente desde 1975;
b) Assertórico, enuncia uma verdade de facto, embora não necessária logicamente. Exemplo: a
Lurdes é uma atleta exemplar;
c) Problemático, quando enuncia uma possibilidade. Exemplo: os namibenses são,
provavelmente, bons apreciadores de futebol.
1.2.7- Classificação das proposições quanto à qualidade e quantidade.
Tal como os juízos, as proposições também são classificadas no ponto de vista de qualidade e
quantidade, obedecendo três momentos.

O primeiro momento é classificado do ponto de vista qualitativo e temos as proposições predicativas,


existenciais e relacionais:

a) São proposições predicativas quando o pensamento toma ou apresenta características essenciais


para predicar o sujeito. Exemplo: Platão e cientista;

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b) São existenciais quando o pensamento nega ou afirma o predicamento do sujeito com


características essenciais retiradas da existência do próprio sujeito. Exemplo: o ferro é metal;

c) São relacionais quando estabelecem um vínculo entre dois conceitos. Exemplo: o Beto é irmão
do Moniz D'Almeida.

O segundo, trata da quantidade da proposição, esclarecendo o singular, particular e universal:

a) São proposições singulares quando o quantificador é singular, na forma «este», na relação que
o sujeito estabelece com o predicado. Exemplo: este homem é forte;

b) São particulares quando o quantificador exige que o sujeito tenha extensão reduzida dentro do
geral, de tal modo que não seja, nem igual nem inferior ao singular e nem igual ou superior ao
geral. Exemplo: algumas pessoas não são responsáveis;

c) São proposições universais as que consumam sua quantificação à toda extinção. Exemplo:
todo o filosófico é racional. Nenhuma planta é animal.
O terceiro momento faz uma classificação relativa a qualidade da proposição e da cópula que pode ser
afirmativa ou negativa:

a) São proposições negativas as que negam a relação entre o sujeito e predicado. Exemplo:
nenhum boi é carnívoro. Alguns animais não são répteis;

b) São proposições positivas (universal e particular), aquelas que não negam a relação entre o
sujeito e predicado. Exemplo: algumas mulheres são mães. Todo o tareco é mamífero.
A, E, I e O são conhecidos como símbolos lógicos e guardam entre si relações.

Tipo Qualidade Quantidade Exemplo


A Afirmativo Universal Todo S é P
Todos os cães são companheiros
E Negativo Universal Nenhum S é P
Nenhum cão é companheiro
I Afirmativo Particular Algum S são P
Alguns cães são companheiros
O Negativo Particular Algum P não são S.
Alguns cães não são companheiros

1.2.8- Definição de inferências.

Chamamos inferência ao processo pelo qual transitamos de uma proposição para outra. Exemplo:

Todo o peixe é aquático


Ora, o carapau é peixe
Logo, o carapau é aquático.

1.2.9- Classificação das inferências.

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As inferências classificam-se em imediata e mediata;


a) É inferência imediata quando obtemos, directamente, uma nova proposição a partir da
proposição existente, com os termos que a constitui. Exemplo: a partir da proposição «todos os
mamíferos são vertebrados», podemos inferir que «alguns vertebrados são mamíferos».

b) Chamamos de inferência mediata quando precisamos de uma proposição mediadora para


concluirmos. Exemplo:

Todo homem é mortal


Ora, Sócrates é homem
Logo, Sócrates é mortal.

1.2.10- Inferência simples ou imediata por oposição entre proposições.

A oposição explica uma serie de operações, através de relações entre proposições que mesmo diferindo
entre si pela qualidade, quantidade ou pela quantidade e qualidade ao mesmo tempo, mantem o mesmo
sujeito e predicado. Estas relações são contrárias, subcontrárias, subalternas e contraditórias:

a) Proposições contrárias (A e E) são duas proposições universais que, tendo o mesmo sujeito, diferem
apenas na qualidade. Exemplo: todos os homens são mortais (A); .Nenhum homem é mortal (E).

Lei das proposições contrárias


Duas proposições contrárias não podem ser verdadeiras, simultaneamente, mas podem ser ambas falsas.
Veja-se o seguinte exemplo: todos os africanos são negros e nenhum africano é negro". Estas duas
proposições são contrárias e ambas são falsas.

b) Proposições subcontrárias (I e O) - são duas proposições particulares que, tendo o mesmo Sujeito,
diferem na qualidade. Exemplo: Alguns animais aquáticos são mamíferos" Alguns animais aquáticos
não são (I); (O).

Lei das proposições subcontrárias.

Duas proposições subcontrárias podem ser, simultaneamente, verdadeiras; todavia, não podem ser,
simultaneamente, falsas: se uma proposição é falsa, a outra proposição é verdadeira.

c) Proposições subalternas (A e I, E e O) - são duas proposições que apenas diferem na quantidade:


"todos os homens são mortais, (A) e Alguns homens são mortais (I); ou nenhum homem é mortal (E) e
Alguns homens não são mortais" (O).

Lei das Proposições subalternas.

Os dois exemplos anteriores mostram-nos que sempre que a proposição universal for verdadeira a
particular também o será; se a universal for falsa, a particular pode ser verdadeira ou falsa. Por outro
lado, e como consequência, quando a particular for falsa a universal também será, necessariamente,
falsa; quando a particular for verdadeira, o valor da universal poderá ser verdadeiro ou falso.

d) Proposições contraditórias (A e O ou E e D) São aquelas que, tendo o mesmo sujeito e o mesmo


predicado, diferem, simultaneamente, em qualidade e em quantidade. Por exemplo: todos os homens

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são mortais" (A) e alguns homens não são mortais, (O); ou nenhum filósofo é louco, (E) e alguns
fi1ósofos são loucos" (I).

Lei das Proposições contraditórias.

Duas proposições contraditórias não podem ser, simultaneamente, verdadeiras ou falsas;


se uma é verdadeira, a outra é falsa, e vice-versa.

Esta relação, pode ser resumida e mais bem compreendida num quadro lógico, conforme se pode ver
abaixo:

Todos os homens são justos Nenhum homem é Justo


A Contrarias E
Subalternas

Subalternas
Contraditórias

Contraditórias

I Subcontrárias O
Alguns homens são justos Alguns homens não são justos

1.2.11- Inferência simples ou imediata por oposição conversão.

A conversão como operação lógica, troca o sujeito pelo predicado e o predicado pelo sujeito. Mas, Para
o efeito, é preciso ter sempre presente a regra segundo a qual os termos permutados não podem ter
maior extensão na conclusão do que tinham na proposição conversa. Por exemplo: tomando proposição
«alguns namibenses são professores-, seria inválida a inferência que chegasse em conclusão "todos os
professores são namibenses»

De acordo com as suas características, as proposições podem ser convertidas de maneiras diversas.
Vejamos então:

a) Conversão simples aplica-se à proposições do tipo E (universal negativa) e do tipo I (particular


afirmativa), visto que nelas, o sujeito e o predicado apresentam a mesma quantidade ou
extensão: no primeiro caso, são ambos universais e, no segundo, são particulares. Assim sendo,
a conversão faz-se se pela simples permuta do sujeito pelo predicado e do predicado pelo sujeito
da proposição inicial, sem alterar nem a quantidade, nem a qualidade.

Exemplo:
«Nenhum africano é europeu' (E) converte-se em 'nenhum europeu é africano» (E).
«Certos filósofos são pedagogos' (l) converte-se em 'certos pedagogos são filósofos» (I);
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b) Conversão por limitação ou por acidente é a transformação da universal afirmativa em


particular afirmativa. Em todas as proposições do tipo A (universal afirmativa), o sujeito é
universal, ou seja, é tomado em toda a sua extensão, e o predicado é particular, por se tratar de
uma proposição afirmativa. Sendo assim, ao convertermos qualquer proposição do tipo A,
teremos de manter, na proposição a converter (a inicial), a extensão do predicado (neste caso,
particular), de modo que a proposição dali resultante seja particular; caso contrário, resultará
daqui uma falácia, isto é, um erro 1ógico.

Exemplo:
«Todo o homem é mortal, (A) converte-se em algum mortal é homem, (I). Todos os moçamedenses são
namibenses, (A) converte-se em "alguns namibenses são moçamedenses, (I)»

c) Conversão por negação é a proposição do tipo (O) que apresenta o sujeito particular e um
predicado universal (por ser negativa). De forma a respeitarmos a validade da conversão, temos
de recorrer, para efetuar a sua conversão, a um artifício que consiste em transformar a
proposição a converter numa proposição afirmativa particular (I) equivalente, o que só é
possível transferindo a negação da cópu1a para o predicado da proposição resultante.

Exemplo:
«Alguns políticos não são honestos, (O) converte-se em "alguns não honestos são políticos» (I);
d) Conversão por contraposição, aplica-se nas proposições do tipo A (universais afirmativas) e as do
tipo O (particulares negativas. Obtém-se, juntando a partícula de negarão (não) ao sujeito e ao
predicado da proposição a converter e, em seguida, faz-se a conversão simples, isto é, a permuta dos
termos.
Exemplo:
Todos os filósofos são profundos, (A) converte-se em todos os não-profundos são não- filósofos.
O que fizemos no exemplo antecedente foi, na proposição conversa, negar o sujeito e o predicado.

1.2.12- Raciocínio e argumentação.

O Raciocínio é a terceira forma do pensamento/conhecimento racional que permite passar de certos


juízos (os antecedentes) a outros juízos novos (consequentes). É chegar a novos conhecimentos a partir
dos já disponíveis. Isto significa que raciocinar é inferir, isto é, tirar conclusões de conhecimentos
anteriores.

Chama-se Argumentação a expressão oral ou escrita do raciocínio. Ela apresenta-se como forma
concreta do raciocínio, por isso mesmo, em muitas vezes considerada como sinonimo de demostração.

1.2.13- Raciocínio Dedutivo, Indutivo e A analógico.

Três, são as formas fundamentais do raciocínio:


a) A dedução é a operação lógica que parte do geral ou abstrato para o particular ou concreto.

Exemplo:

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Todos os filósofos são profundos


Ora, Aristóteles é filósofo
Logo, Aristóteles é profundo;

b) A indução é o processo inverso, isto é, que parte do particular, do concreto ao geral ou abstrato.

Exemplo:
Aristóteles é filósofo
Ora, Aristóteles deve ser lido
Logo, Todos os filósofos devem ser lidos;

c) A Analogia é a operação que permite, a partir do semelhante, concluir para o semelhante.


Exemplo: o Manuel tem sintomas semelhantes aos do Miguel. Logo, têm a mesma doença.

1.2.14- Validade Formal e validade Material.

A validade formal (verdade logica) liga-se com os princípios, normas e estruturas que permitam, ao
pensamento, coerência – ordem, conexão e harmonia. Já a validade material (verdade ontológica)
refere-se ao conteúdo ou matéria de um argumento e implica a referência à realidade, isto é, procura
saber se há ou não adequação entre o que pensamos e dizemos a cerca do mundo e a natureza do
próprio mundo.

A destrinça entre lógica forma e matéria é de tamanha importância para compreender o caracter
verdadeiro ou falso de um raciocínio. Um raciocínio pode ser, formalmente, correto pelo facto da
conclusão resultar de uma dedução correcta (com premissas e conclusão), mas o mesmo raciocínio
pode ser, materialmente, falso por ter uma premissa e a conclusão falsa. Exemplo:

Nenhum homem é mortal


Ora, o Augusto é homem
Logo, Augusto é mortal.

Neste exemplo, vemos uma dedução (formalmente) correta. Mas, por não haver uma adequação entre o
pensamento e a realidade, não pode ter uma validade material.

1.2.15- As falácias.
Designa-se por falácia ao raciocínio errado com aparência de verdadeiro. Este vocábulo, provem do
grego fallere (de falácia, enganar).

Enquanto sujeitos falantes, cometemos frequentemente erros que os ouvidos desatentos não descobrem
imediatamente. Tais erros ou falácias podem ser, por um lado, involuntários ou despropositados e, por
outro, propositados ou voluntários.

As falácias que são cometidas involuntariamente designam-se por paralogismos; as que são produzidas
de forma a confundir alguém, numa discussão, designam-se por sofismas. Assim, em qualquer falácia
ocorrem dois elementos essenciais:

Uma verdade aparente - em que o argumento é convincente e leva os incautos ao equívoco;

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. Um erro oculto - que faz com que se retirem conclusões falsas a partir de uma verdade. O erro oculto
pode derivar da ambiguidade dos conceitos, de um salto desregrado do particular para o geral, de uma
tomada do relativo como absoluto, do parcial como total, do acidental como essencial.

Existe uma variedade de falácias, mas não há consenso quanto a sua classificação. Mas classificação
abaixo é, normalmente, a mais frequente:

1. Falácia linguística.
Ali, o erro deriva da ambiguidade linguística ou da confusão de vocabulários. Nela, encontramos três,
abaixo descritas:
a) Anfibologia ou ambiguidade é um erro frequente que consiste em estabelecer construções
gramaticais incorretas que, por isso, dão origem a mal entendidos e a equívocos. Exemplo: A
raposa devorou a galinha em sua casa;
b) Equívoco ou homonímia Acontece sempre que usamos, num argumento, acidental ou
deliberadamente, a mesma palavra em dois sentidos diferentes. Exemplo:

Só o homem é que pensa


Ora, nenhuma mulher é homem.
Logo, nenhuma mulher pensa

Este argumento é falacioso, dado que, na primeira premissa, a palavra «homem» significa
"Espécie humana" e, na segunda, "ser humano do sexo masculino".

c) Composição ou divisão conhecido como falacia do todo por um, é o erro que se comete ao dar
ao todo o mesmo valor que se dá à parte, isto é, se as partes de um todo têm uma certa
propriedade, argumenta-se que o todo tem esta mesma propriedade. Exemplo:

O João é angolano
Ora, o João não é sério
Logo, todos angolanos não são sérios.

2. Falácias lógicas.

São aquelas em que o erro provém das ideias que formam o raciocínio e que podem ser:
a) Falácias de indução são aquelas que respeitam a regra forma das inferências, mas não
respeitam a matéria do raciocínio. Nelas encontramos a de falsa analogia: ocorre quando se
sobrevalorizam as semelhanças entre duas ou mais coisas ou quando se desprezam as diferenças
relevantes. Exemplo:

Os macacos não são herbívoros


Ora, os gatos não são herbívoros
Logo, os gatos são macacos, ou

As aves voam
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Ora, avião voa


Logo, o avião é uma ave;

A de acidente: acontece quando tomamos o que é acidental pelo que é essencial e vice-versa. É uma
generalização abusiva. Exemplo:

A camisa do Armando é vermelha


Ora, o vermelho é uma cor
Logo, a camisa do Armando é uma cor; e

A de ignorância de causa: ocorre quando tomamos por causa um simples antecedente ou qualquer
circunstância acidental. Exemplo: «após a ocorrência do exame de aptidão no ISCED-Lubango, um dos
candidatos adoeceu» logo, «o exame provocou-lhe doença».

b) Falacias de dedução são aquelas que, ou não respeitam as regras das inferências ou não
respeitam a matéria do raciocínio. Fazem parte as falácias de petição de princípios ou círculo
vicioso: acontece quando se pretende resolver uma questão com a própria questão, ou seja, são
erros ocasionados quando se procura esclarecer a causa pelo efeito e vice-versa. Exemplo: «O
que é a lógica? É a ciência do que é lógico» ou «sem água não há vida e sem vida não há água»;
de ignorância da questão: erro associado ao acto de excluir o que é fulcral no momento para
substitui-lo por algo, igualmente fulcral, mas não no momento. Exemplo: «o João é acusado,
mas ele é bom filho» logo, «o João deve ser inocente»; e falácia de dilema ou falsa dicotomia:
ocorre quando se apresentam duas alternativas como sendo as únicas existentes em dado
universo, ignorando ou omitindo alternativas possíveis. Confunde opostos e contraditórios,
sendo por isso, conhecida como a falácia do "ou tudo ou nada. Exemplo: «Ou estás do meu lado
ou estás contra mim» «Ou comes tudo que está no prato ou então não comes nada»;

c) Falácias de argumentação também não respeitam as regras gerais das inferências usando-se
argumentos falsos e faze-los se parecer a verdade. Nelas encontramos falácia de argumento ad
hominem (ataque pessoal): esta falácia é cometida quando alguém tenta refutar o argumento de
uma outra pessoa, atacando-a directamente, ao invés dos seus argumentos. Em vez de uma
contra-argumentação (oposição de um argumento a outro), temos um ataque pessoal, ou seja,
em vez de se apresentar razões adequadas ou pertinentes contra determinada opinião ou ideia,
pretende-se refutar tal opinião ou ideia, censurando, desacreditando ou desvalorizando a pessoa
que a defende. Exemplo: «O senhor afirma estar inocente das acusações que pesam sobre si.
Mas como poderemos acreditar num homem cujo passado é melindroso?»; «Não podemos
aceitar o parecer da professora porque ela é muito jovem e não tem experiencia o suficiente»; de
argumento de autoridade: são os erros do respeito a autoridade para argumentar que um facto é
verdadeiro. Exemplo: «a testemunha é uma pessoa de grande reputação e afirma que o reu está
inocente; portanto, está, certamente inocente» e falácia d'argumente ad terrorem: são erros
lógicos que consistem em semear terror, ou apresentar consequenciais negativas quando não se
aceita num argumento. Exemplo: «se o reu não for condenado, todos nós, com as nossas
famílias, estaremos em rico de vida».

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1.2.16- Silogismos.
a) Noção.

Segundo Aristóteles, o silogismo é uma forma de inferência mediata ou raciocínio dedutivo formado
por três proposições, sendo as duas primeiras designadas por premissas e a terceira por conclusão;

b) Estrutura e matéria.

Tal como o dissemos, o silogismo é um raciocínio composto por duas premissas e uma conclusão,
sendo ela resultante da relação estabelecida pelos termos das premissas. A primeira premissa é a
hipótese em prova, em relação a convivência entre o sujeito e o predicado. Para apurar a veracidade de
tal relação, torna-se necessário o surgimento da segunda premissa que gera conclusão.

Para além das premissas, os silogismos são feitos de três termos: termo Maior, representado pela letra
maiúscula (T), é o de maior extensão, surgindo na primeira premissa e surgindo como predicado na
conclusão; o termo Médio, representado pela letra maiúscula (M), figura nas duas premissas e nunca na
conclusão; o termo Menor representado pela letra minúscula (t), é o de menor extensão, fazendo-se
presente na segunda premissa e fazendo-se de sujeito na conclusão.

 Três termos: maior (T), médio (M) e menor (t);


 Duas proposições: premissa maior, a primeira e a menor, a segunda;
 Uma conclusão.

Exemplo:
Todo homem é mortal
Aristóteles é homem
____________________
Logo, Aristóteles é mortal.

Preste atenção na legenda:

Premissa maior (inicial) = Todo homem é mortal


Premissa menor (relacional) = Aristóteles é homem
Conclusão (conclusão) = Logo, Aristóteles é mortal

1ª Premissa
Todo – quantificador universal
Homem – termo médio
É – cópula
Mortal – termo maior

2ª Premissa
Aristóteles – termo menor
É – cópula

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Homem – termo médio

Conclusão
Logo, Aristóteles - termo menor
É – cópula
Mortal - termo maior

1.2.17- Tipos de silogismo.


Regulares

CATEGÓRICOS
Entimemas
SILOGISMO Irregulares Epiqueremas
Polissilogismo
Sorites
Condicionais
HIPOTÉTICOS
Disjuntivos
Dilemas

Tal como a estrutura acima, há dois tipos principais de silogismo: categóricos e hipotéticos. Os
categóricos compreendern dois tipos: regulares e irregulares.

1º Categóricos.

Regulares.
Chamamos de Silogismos regulares aos, cuja estrutura apresenta três proposições e três termos.

Exemplo:
Todo namibenses (M) é angolano (T)
O Diogo (t) é namibenses (M)
______________________
O Diogo (t) é angolano (T)

Irregulares.
Dizem-se silogismos irregulares ou derivados aos categóricos que, na sua estrutura e matéria,
apresentam mais ou menos do que três termos e mais ou menos do que três premissas. São estruturas
argumentativas que, embora válidas, não obedecem a uma forma canónica, isto é, a um padrão dos
silogismos categóricos. São os silogismos irregulares:

a) Entimema ou silogismo incompleto é um argumento em que uma ou mais proposições estão


subentendidas.

Exemplo:
A Sida é uma doença infeciosa porque é transmitida por um vírus.

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Neste caso, falta a premissa maior: as doenças infeciosas são transmitidas por vírus
Passando para a forma canónica (padrão) temos:

As doenças infeciosas são transmitidas por vírus


Ora, a sida é transmitida por vírus
Logo, sida é uma doença infeciosa.
Uso de entimema é frequente, numa situação discursiva quotidiana, pois os sujeitos falantes
pressupõem que as palavras omissas são, sobejamente conhecidas, preferindo entoa, subentendê-las
para não cansar seus interlocutores, facto que, em algumas situações, pode gerar confusão;

b) Epiquerema é um silogismo em que uma ou mais premissas apresentam as respectivas


demonstrações. Assim, as premissas demonstrativas são acompanhadas, em geral, pelo termo
porque ou por um outro com a função justificativa ou demonstrativa. Exemplo:

A malaria é a principal causa da mortalidade em africa porque, a Organização Mundial da


saúde (OMS) afirma que, cerca de metade das mortes, neste continente, deve-se a esta
epidemia.
Ora, a malaria é uma doença infeciosa porque pode ser transmitida de uma pessoa para outra
através da picada do mosquito.
Portanto, as doenças infeciosas são a principal causa de morte em Africa;

c) Polissilogismos são silogismos encadeados, ou seja, agrupados, de tal modo que a conclusão do
primeiro seja uma premissa, maior ou menor do silogismo seguinte. Por isso, os polissilogismos
podem ser progressivos (quando a conclusão de um silogismo é premissa maior do seguinte) ou
regressivos (quando a conclusão de um é a premissa menor do silogismo seguinte).

Exemplo:
Quem é inteligente sabe argumentar
O Paulo é inteligente
O Paulo sabe argumentar
O argumento é desejável
O desejo é uma vontade
A vontade é uma determinação
Portanto, a determinação é para os inteligentes;

d) Sorites são semelhantes ao polissilogismo, mas neste caso ocorre que o predicado da primeira
proposição se torna sujeito na proposição seguinte, seguindo assim até que na conclusão se
unem o sujeito da primeira proposição com o predicado da última.
Exemplo:

«Os coelhos são herbívoros»


«Os herbívoros são mamíferos»
«Os mamíferos são vertebrados»
«Os vertebrados são animais»

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«Os coelhos são animais»

2º Hipotéticos.

Contrariamente ao que acontece nos silogismos categóricos, a premissa maior de um silogismo


hipotético ou composto não afirma nem nega de modo absoluto ou categórico, mas sob uma condição
ou estabelecendo alternativas. Com efeito, a premissa maior de um silogismo hipotético é sempre
constituída por partículas de união, tais como «se…então», «..e ..», «…ou ..». os silogismos hipotéticos
classificam-se em:

a) Condicional é aquele em que a premissa maior incide numa proposição condicional. Ele
incorpora duas partes, a condição - antecedente e o condicionado – consequente, ligadas pelos
conectores «se» e «então». Exemplo:
Se o Joaquim tem dores de cabeça, então está doente.
Ora, Joaquim tem dores de cabeça.
Portanto, (ele) está doente.

A primeira premissa maior do silogismo anterior é constituída por uma proposição condicional, sendo,
por isso, equivalente ou composta por duas proposições: a primeira «Joaquim tem dores de cabeça» e a
segunda «Joaquim está doente». Estas duas proposições, que formam uma só, estão ligadas entre si
pelas partículas «se... então...». A proposição «se o Joaquim tem dores de cabeça» é a condição ou
antecedente e a proposição «então (Joaquim) está doente» é o condicionado ou consequente. A
premissa menor, a segunda, simples mente se limita a repetir e a afirmar uma das proposições (ou
partes da mesma), que compõe a premissa maior, neste caso o antecedente, e a conclusão decorre
logicamente dessa afirmação.

Este silogismo compreende dois modos válidos:


 Modus ponens (afirmação do antecedente).

Exemplo:
«Se tiver boa nota no teste, então irei para a praia»
«Ora, tive boa nota no teste»
«Logo, Irei para a praia»

 Modus tollens (negação do condicionado).

Exemplo:
«Se tenho malaria, enão estou doente»
«Ora, não estou doente»
«Logo, não tenho malaria»

b) Disjuntivo é aquele em que a premissa maior incide numa proposição que se apresenta como
alternativa entre dois termos.

Disjuntivo: a premissa maior, do silogismo hipotético, possui a partícula de ligação ou.


Exemplo:

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Ou a sociedade tem um chefe ou tem desordem.


Ora, a sociedade tem chefe.
Logo, a sociedade não tem desordem.

Também tem dois modos válidos:


 Modus ponendo tollens (ao afirmar, nega).

Exemplo:
Ou o Caleb é cobarde ou é humilde.
Ora, o Caleb é humilde.
Portanto, (ele) não é cobarde.

Aqui, a afirmação da humildade do Caleb, exclui, necessariamente, a sua cobardia.

 Tollendo ponens (negando, afirma).


Exemplo:
Ou o Caleb é cobarde ou é humilde.
Ora, o Caleb não é humilde.
Portanto, (ele) é humilde
.
c) Dilema é um raciocínio hipotético e disjuntivo que, em termos estruturais, é formado por uma
proposição disjuntiva e por duas proposições condicionais, e qualquer que seja a resposta
escolhida, a consequência é sempre a mesma.

Exemplos:
Ou como o que estão na mesa ou deixo de comer.
Se como o que está na mesa é porque não tenho alternativa melhor e, por isso, tenho de comer.
Se não como, ficarei desnutrido e poderei morrer à fome, por isso tenho de comer o que está sobre
mesa.
Logo, de qualquer das formas, tenho de comer.

O homem é justo ou pecador


Se é justo necessita da graça para perseverar
Se é pecador necessita de graça para se converter
Logo, o homem necessita sempre da graça.

1.2.18- Regras e figuras do silogismo.

a) Regras do silogismo.

Para que um silogismo seja válido, deve obedecer algumas regras. Tradicionalmente, consideram-se
oito regras, sendo que quatro delas se referem aos termos e as outras quatro as proposições.

1. O silogismo deve sempre conter três termos: o maior, o menor e o médio;

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2. O termo médio deve fazer parte das premissas e nunca da conclusão e deve ser tomado ao
menos uma vez em toda a sua extensão;
3. Nenhum termo pode ser mais extenso na conclusão do que nas premissas, porque assim,
concluir-se-á mais que o permitido, ou seja, uma das premissas deverá ser sempre universal e
necessária, positiva ou negativa;
4. A conclusão não pode conter o termo médio (vide item 2);
5. De duas premissas negativas, nada poderá ser concluído. O termo médio não terá ligado os
extremos;
6. De duas premissas afirmativas, a conclusão deve ser afirmativa, evidentemente;
7. De duas proposições particulares, nada poderá ser concluído (vide item 2);
8. A conclusão sempre acompanha a parte “fraca”, isto é, se houver uma premissa negativa, a
conclusão será negativa. Se houver uma premissa particular, a conclusão será particular. Se
houver ambas, a conclusão deverá ser negativa e particular.

b) Figuras do silogismo.

A posição que o termo médio assume no argumento (sujeito ou predicado), origina a figura do
silogismo e, quatro, são os tipos de figuras conhecidos.

Primeira figura 1 (SU-PRE).

Atenta no seguinte silogismo e tenta perceber o que aconteceu ao termo médio nas premissas
apresentadas:

A=Todo homem (M) é mortal (T)


I=António (t) é homem (M)
____________________
I=António (t) é mortal (T)

Nesta figura, o termo médio «homem» é sujeito (su) na premissa maior e predicado (pre) na Premissa
menor.
M P

t______ M
t P

Segunda figura 2 (PRE-PRE)

Na segunda figura, o termo médio é predicado em ambas as premissas.

E=Nenhum animal (T) é extraterrestre (M)


A=Todo o disco-voador (t) é extraterrestre (M)

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_______________________________________
E=Nenhum-disco voador (t) é animal (T).
P M

t __ M
t P
Terceira figura 3 (SU-SU)

Aqui, o termo médio ocupa a função de predicado para as duas premissas:

E=Os batráquios (M) não comem cenouras (T)


A=Os batráquios (M) são anfíbios (t)
__________________________________
O=Alguns anfíbios (t) não comem cenoura (T)

M P

M t
t P

Quarta figura 4 (PRE-SU)

Neste silogismo, o termo medio ocupa a função de predicado na primeira premissa e de sujeito na
segunda.

A=Os angolanos (T) são HOMENS (M)


A=Os Homens (M) são mortais (t)
_______________________________
I=Alguns mortais (t) são angolanos (T)

P M

M __ t
t P

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TEMA 2 - FILOSOFIA AFRICANA.


O povo africano foi vítima da colonização europeia. Com as viagens apelidadas de "Descobrimentoʺ Os
europeus conhecera outros povos, que foram julgados em comparação com os usos e costumes da
cultura ocidental. Por isso, houve uma serie de filosofas concebidas por ocidentais que se esforçavam
por denigrir a personalidade dos negros no mundo. Os estudos da época, quer antropológicos, quer
sociológicos, quer sociológicos, preocupavam-se em provar, em todos os sentidos, a superioridade dos
povos do Ocidente em relação aos outros povos, sem que estes últimos, no entanto, tivessem respostas
imediatas escritas para contrapor as teses dos ocidentais.

A teologia, a filosofia e o Direito desempenharam um papel fundamental neste processo.


 A Teologia definiu o povo negro como descende te de Cham, um homem que viu a nudez do
Pai. Portanto, o homem negro aparece como símbolo da maldição. Neste caso, o negro
pertenceria a geração dos condenados de Deus;
 Na filosofia, Voltaire afirma, na sua obra, história do século XIV, que o povo mais elevado é o
francês e o mais baixo é o africano;
 Jean Jacques Rousseau diz que os africanos são bons selvagens;

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 Para Hegel, os africanos são povos sem história e, por consequência, desprovidos de
humanidade;
 Kant chega a conclusão de que os africanos são povos sem interesse;
 Lévy Brhul proclama que os africanos têm uma mentalidade pré-lógica;
 Por sua vez, Montesquieu afirma que os Africanos são povos sem leis;
 Os antropólogos Morgan e Tylor sustentam que a Africa é urna sociedade morta;
 O monarca francês Luís XIV escreveu O código negro, uma espécie de direitos dos senhores
sobre os negros.

Contudo, não nos podemos esquecer de que, o período em que a população africana viveu todas estas
discriminações foi tao longo e profundo que ainda hoje estas se encontram bem vivas na sua memória.
Tal, condiciona o seu comportamento: este fenómeno não só influenciou a mentalidade europeia, como
também deixou marcas na mentalidade do próprio povo negro, visto que a sua autoestima ficou deveras
afetada,

É aqui que é necessária a intervenção do filósofo africano, para projectar o futuro homem africano,
partindo da sua própria história. Para tal, houve necessidade de reabilitar a imagem do Homem Negro,
estimulando a sua autoestima e mostrando-lhe que ele é um homem igual ao branco.

Como se conseguiria convencer o homem negro, que sempre foi servo do branco, de que ele próprio é
igual ao seu patrão?

Esta tarefa difícil e árdua continua a ser realizada pelo filósofo africano, sobretudo junto das
comunidades das zonas rurais e de Arias muito remotas, que ainda têm esta mentalidade. Foi para
responder a esta questão que alguns pensadores africanos desenvolveram debates acesos sobre a
existência ou não da Filosofia africana.

Existe filosofia africana?

A questão apresentada no título acima encontra-se no centro de um dos temas mais discutidos pelos
pensadores africanos. Adicionalmente, outra questão se coloca: deve a oralidade, característica nuclear
da cultura africana, ter um estatuto que a defina como parte integrante de uma filosofia africana? Ou
seja, devem as tradições orais (contos tradicionais, provérbios, tradições da sabedoria populares) ser
consideradas para o cômputo de um corpus filosófico africano? Estas questões colocam-se porque, por
diversas razoes, não existe em Africa uma tradição de séculos de fixação e trabalho filosófico
«convencional», como aconteceu na Europa, por exemplo. Daí a referida discussão entre os pensadores
africanos contemporâneos, no sentido de definir os moldes em que se enforma «uma filosofia africana».

É importante que as novas gerações africanas tenham um conhecimento claro e coerente da realidade.
Cremos, aliás, que não seria possível sequer convencer estas novas gerações a aceitarem como
verdadeiro algo que não lhes seja possível constatar; não é possível impor determinadas interpretações
da realidade apenas porque em épocas mais recuadas eram diversos os modos de pensar. As últimas
décadas revelaram-se com um período, particularmente, produtivo no campo do trabalho filosófico em
africa envolvendo a criação de departamentos de filosofia em muitas universidades africanas, fazendo
crescer os recursos intelectuais e humanos. Este crescimento levou à criação de associações académicas,
de publicações e fóruns sobre esta temática, lançando questões à discussão cada vez mais alargada.

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Mas se todas as civilizações mundiais tiveram os seus períodos de apogeu, declínio e renascimento, é
necessário pensar num renascimento africano que deixe, definitivamente, no passado uma fase de menor
desenvolvimento e que lance uma época de revitalização da «semente intelectual africanas» na realidade
africana, numa base cultural africana que leve ao surgimento de novos modelos de pensamento
filosófico e até científico. Presentemente, é já possível contar com uma razoável quantidade de produção
de textos neste campo, desde os de algumas figuras como Leon Damas, Azikiwé, Sekou, Nkrumah,
Julius Nyerere, Kenneth Kaunda, entre outros.
Constata-se assim que, após os processos de independência de muitos países africanos, muitos trabalhos
surgiram, trazendo a lume reflexões de diversos autores sobre vários aspectos da identidade cultural
africana; mas isso não significa, novamente, que se tenha cultivado, a partir daí, um modelo de
pensamento com categoria de filosofia.

Por isso, deve-se compreender bem aquilo que caracteriza a filosofia. Ela está associada a um processo
racional de conhecimento. Foi esta racionalidade, por exemplo, que permitiu transferir a logica «da
razão humana para a lógica da informática e da cibernética, para o funcionamento de computadores e
robôs. A filosofia é universal e o que estuada é comum a todas as consciências. Achar-se-ia estranho, por
exemplo, da existência de uma biologia africana, europeia ou uma biologia americana, de igualmente,
seria estranho falarmos de matemática de cada individuo, comunidade, município ou país. Tal não é
possível porque os parâmetros que definem a ciência são universais.

Vários pensadores, inclusive ocidentais, comentaram, de facto, o erro de transferir para as consciências
das suas novas gerações a ideia de que «a África nada fez», tendo como base de comparação o progresso
tecnológico de outras civilizações, por exemplo. Mas, para que exista uma base equilibrada de
aprendizagem para o futuro, é necessário que, no continente africano, como em todo o mundo, se analise
o passado e o presente com realismo e coerência, bem como a verdade dos factos que se observem no
nosso próprio modus vivendi, sem receio de o questionar.

Aqueles que defendem a existência da filosofia africana, definem-na como conjunto de pensamentos
relativos à emancipação e ao reconhecimento do homem negro, quer dentro ou fora do contraente. Ela
contém o pensamento de vários autores e tem por objectivo, a libertação física e intelectual do jugo
colonial do continente africano.

No 5.º Congresso Pan-africano, que teve lugar em Manchester (Inglaterra), em 1945, Du Bois Passou o
testemunho político a Nkrumah. Daquele momento em diante, as principais figuras da Filosofia
africana seriam Nkrumah e Senghor. Estes dois, esforçaram-se por lançar as bases da política dos
estados africanos. Entretanto, a característica fundamentai da Filosofia africana é a de lutar pela
liberdade política das nações e, para tal, os estados africanos cooperaram um com os outros.

2.1- As principais correntes da filosofia africana.


Várias são as correntes da filosofia africana que os veremos já de seguida:
2.1.1- Pan-africanismo.
Surge como manifestação da solidariedade entre os africanos e os povos de descendência africana. O seu
objectivo principal era a unidade política dos Estados africanos.

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A sua perspectiva englobava a federação dos países regionais autónomos e o seu enquadramento num
conjunto de Estados Unidos de África. Dito de outro modo, o Pan-africanismo lançou as bases da
filosofia política africana.
A primeira conferência pan-africana teve lugar em Londres, em 1900, com objectivo de proteger-se
contra os agressores imperialistas brancos e contra a política colonial que, até então, submetia os negros.
Entendia-se que, por esta via, o africano conquistaria o direito à sua própria terra, à sua personalidade.
Trata-se, portanto, de uma luta pelo direito de todos os africanos serem tratados como homens, daí, o
conceito de pan-africanismo.
2.1.2- Negritude ou filosofia cultural.
Enquadra-se no espirito pan-africanista da união e solidariedade entre os africanos, com a simples
diferença de se revestir de um caracter cultural e literário. Tal como pan-africanismo, a Negritude
nasceu fora do continente africano, como resultado dos esforços emancipatório da comunidade negra
radicada em franca. Os mentores deste projecto eram membros de profissões liberais, estudantes,
eclesiásticos, intelectuais e políticos.
2.1.3- Etnofilosofia.
Trata-se do «clamor» de africanos e africanistas, pelo reconhecimento do negro como homem. Estes,
produziram obras em defesa do homem negro. Uma das formas de realizar esta defesa é através da
etnofilosofia. Os etnofilósofos são assim denominados por estudarem as várias etnias africanas.
Defendem que toda a Filosofia a é, de um modo cultural, isto é, ninguém faz filosofia sem que se
embase numa cultura. Para Anyanw, a missão do filósofo africano é compreender e explicar os
princípios pelos quais, se baseia cada uma das culturas africanas.
Todavia, as suas pesquisas, apelidadas de filosofia africana, foram alvo de duras críticas, principalmente,
pelas seguintes razoes:
 Suas abordagem descreviam, na sua maioria, práticas habituais dos africanos, afirmando-se como
filosofia africana;
 Tais estudos, quando feitos por africanistas, não africanos, denigriam o africano. O sacerdote
belga, Placide Tempels, por exemplo, dizia que o africano tinha uma lógica menor;
 Uma simples catalogação de mitos, crença e provérbios, considerava-se filosofia africana;
 Estes estudiosos, abordavam temas relativos a etnias africanas. Alexis Kagame, por exemplo,
inspirando-se na filosofia aristotélica, escreveu uma obra intitulada a Filosofia bantu-ruandês do
ser, onde discorria a sua reflexão, trazendo a tona as categorias aristotélicas do ser, através da
análise gramatical rigorosa das estruturas linguísticas. A partir desta obra, vários estudantes
africanos defenderam suas teses;
 Tempels dizia que existe uma filosofia do negro, só que esta é a diferença na forma e conteúdo
da filosofia europeia.
Por estas e outras razões, os críticos opuseram-se esta filosofia africana. Contudo, não podemos
desprezar Tempels, pois a sua abordagem objetivava reconhecer o negro como homem pelos
colonizadores. Por conseguinte, os seus estudos contribuíram bastante para a redefinição do
relacionamento entre o ocidente e o povo negro.
2.1.4- Filosofia da libertação.
Esta filosofia, assenta num dos princípios da «Filosofia das luzes», o princípio da liberdade, que busca
libertação do homem, de tudo aquilo que o reprime e o prime. Assim é óbvio que, a prioridade do negro
seja a sua emancipação.

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Nas colonias da América do Norte, iniciou-se um movimento de revolta, manifesto pelos escravos
através das chamadas work songs e posteriormente dos gospel spirituals, nas igrejas.
A característica fundamental do africano é ser um guerreiro pela liberdade. As principais formas de luta
do homem negro pela liberdade foram teorizadas por duas visões: a primeira acreditava que o homem
negro, emancipar-se-ia plenamente, voltando a sua terá natal (África); a segunda, defendia que o homem
negro poderia viver livre e em pé de igualde com o homem branco, sem precisar sair da América. A
primeira corrente foi defendida pelo Jamaicano Marcus Garvey e a segunda, por William Du Bois.
Em 1972, declarava Bondy: «temos de libertar, mas verdadeiramente, no sentido de libertar a
humanidade. Esta será, talvez, a mensagem do terceiro mundo».
Quando o Marxismo chegou a África, muitas forças de polos opostos geravam já os seus antagonismos
sobre questões fulcrais como a abolição de todas as formas de escravaturas, as guerras coloniais, os
conflitos sobre as riquezas, a assimilação cultural forçada das populações. Quanto mais o povo
colonizado se moldar aos valores culturais da Metrópolis colonizadora, tanto mais se afastará da sua
própria cultura. Foi, portanto, através de vários pressupostos ideológicos que o ideal do socialismo
Marxista chegou até aos movimentos de libertação Nacional de Angola.
O desenvolvimento do socialismo, em Angola, obedeceu a quatro etapas: a primeira, corresponde a fase
em que os movimentos de libertação nacional se constituíram (FNLA, MPLA e UNITA), tornando-se
fixas as suas estruturas; a segunda, processou-se com o início das lutas de Libertação Nacional; a
terceira, efetivou-se com a vitória na luta de libertação e organização do Estado, na qual se assumiu o
Marxismo. Angola passou após a declaração de independência de 1975, a designar-se por República
Popular de Angola, designando-se o partido de Agostinho neto, por MPLA-PT. (PT Partido do Trabalho
no modelo socialista), e a quarta etapa liga-se com o momento em que o país passou a ter o
multipartidarismo e a constituição, desde 1992, passando a ser democrático.

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TEMA 3 - CONVIVÊNCIA POLÍTICA ENTRE OS HOMENS.


3.1- Definição de política.
O conceito «política» tem origem na palavra grega «polis» que significa cidade. Etimologicamente,
significa, arte de administrar (governar) a cidade.

O termo «política» foi usado durante sáculos para designar, principalmente, as obras dedicadas ao
estudo das coisas que se referem ao Estado (res publica - República).

Aristóteles entendia por política, o tratado sobre a natureza, funções e divisão do Estado e sobre as
várias formas de governo. Para ele, a política é a arte de governar, ou seja, a ciência do governo.

O conceito de política, entendido como forma de actividade ou praxis humana, está, estreitamente
ligado ao de poder. O poder é, tradicionalmente, entendido como os «meios adequados na obtenção de
qualquer vantagem» (Hobbes) ou como «conjunto dos meios que permitem alcançar os efeitos
desejados» (Russell).

Dado o poder ser usado, além do domínio da Natureza, no domínio sobre os outros homens, o poder é
também definido como uma relação entre dois sujeitos, em que um impõe ao outro a sua própria
vontade e lhe determina o comportamento.

Porém, como o domínio sobre os homens não a um fim em si mesmo, mas um meio para obter
vantagens ou os efeitos desejados, o poder pode ser entendendo como a Posse dos meios
(principalmente, o domínio sobre os outros e sobre a Natureza) que permitem alcançar, justamente,
vantagem sobre qualquer elemento ou os efeitos desejados.

3.2- Ética e Política.


Tal como a palavra política, a Ética deriva de uma palavra grega ethiké com o significado de ciência da
mora. É uma ciência filosófica que trata do julgamento de valores, no sentido de se relacionar com
noções de bem e mal e com suas distinções.

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O problema que aqui vamos discutir prende-se com a possibilidade de aliar a ética a prítica Politica. Os
homens estabelecem relações sociais que compreendem a organização do poder, a articulação entre o
dever e o poder ajuda-nos a compreender a relação entre o acto moral e a Política. E assim, podemos
perguntar-nos: será que a política age de acordo com as normas morais? Em quase todas as sociedades
parece haver urna aceitação de que o político pode comportar-se a margem da moral; o que não a
permitido na sociedade em geral, é, pelo menos, tolerável quando se trata de um político.

As relações sociais (inevitável) devem ser, rigorosamente, guiada por uma conduta aceitável partindo
da ética dos mínimos para a dos máximos. Cada um deve compreender em fazer aquilo que, em
circunstâncias contrárias, o outro pode reproduzir também tal comportamento sem ferir alguém. De
igual modo, as acções de um político devem ser guiadas por um código de conduta capaz de o orientar
para o bem. Lembremos que um político é um gestor público a quem os cidadãos depositaram
confiança para o efeito. Quando suas acções não são conduzidas pela ética, extravasa-se, abusando da
confiança, danificando o erário e, consequentemente, a relação social, lembrando que os políticos têm a
obrigação de moralizarem a sociedade com suas acções. Daí a importância de fazer casar a Ética com a
Política.

3.3- O cidadão e a Política.

A necessidade da participação dos cidadãos nos assuntos políticos foi considerada imprescindível por
Péricles. A questão da Politica não é opcional, mas uma necessidade que se impõe ao Homem,
enquanto membro de uma comunidade organizada que se rege por leis comuns e assenta em princípios
éticos valorizados pelos seus membros.

O homem é social por natureza. A sua condição exige-lhe o relacionamento com os seus semelhantes,
de modo a poder alcançar os mais diversos fins sociais e pessoais, tal como considera Aristóteles, «o
homem é, por natureza, “animal político” por ter a necessidade de viver em comunhão com os outros,
por não ser nem um deus, muito menos uma besta». Para os teólogos medievais, os homens devem pôr
em prática a vontade de Deus – que se traduz numa vivência harmónica de irmandade (AMARAL,
citado por SANGONGO, 2018:2).

Na sua obra O Homem Quem é Ele? Mondin salienta, diga-se a bónus da verdade, o caracter social do
homem, considerando-o homo socialis, porque é antes de tudo, sapiens, volens, loquens. Ainda
acrescenta dizendo o homem sozinho não pode viver neste mundo, não pode crescer, não pode educar-
se; não pode nem ao menos satisfazer as suas necessidades mais elevadas ele pode obter tudo isso
apenas em companhia dos outros. Portanto, a sociabilidade é a propensão do homem para viver junto
com os outros e comunicar-se com eles as mesmas emoções e os mesmos bens.

3.4- Política e globalização.

Globalização é o conjunto de transformações políticas, económicas, sociais e culturais que pretende a


integração do mundo e do pensamento em um só mercado. A ideia da globalização é consequência da
velocidade com que, cada vez mais, as informações são processadas.

Uma política autêntica sempre está comprometida com a ética. Os políticos responsáveis pelos
progressos das cidades, o Estado deve estar atento aos verdadeiros fins das sociedades que devem
conduzir o ser humano a ser livre, feliz e lutar para a justiça e pelo amor. Todavia, precisa despertar a
consciência ética e aprender a analisar, filtrar, cultivar e criticar aquilo que lhes deseja passar. O
homem precisa de aprender a refletir e ver além das aparências, a fim de que possa separar o joio do

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trigo, o veneno do alimento, aquilo que o torna feliz, do que o torna escravo da ganancia, dos que visam
apenas ao culto do ter, do poder e não do ser.

Enganam-se os que ocultam o neoliberalismo defendendo a globalização, pensam estar edificando o


novo império do lucro em detrimento de multidões, de desempregados e marginalizados. Os benefícios
da evolução pelo progresso, da ciência e tecnologia, devem ser dirigidos para o bem comum e não
permanecer concentrados nas mãos de poucos poderosos que escravizam milhões de seres humanos,
não lhes proporcionando as mínimas condições para uma vida digna. A política da não observância da
ética pelos cultuadores do neoliberalismo e da globalização poderá levar a humanidade a consequências
catastróficas imprevisíveis que os responsáveis pelo novo império que surgem abertos sob perigo das
consequências sociais já detectadas.

3.4.1- Uma governação global?

O contexto acima descrito, trás novas questões, como existirem, ou não condições para que os estados
continuem a garantir os direitos civis, políticos e sociais aos seus cidadãos, já que sentem enormes
pressões económicas, o que tem como consequência, em muitas situações, o enfraquecimento de valores
como a solidariedade e o fortalecimento de valores como a competitividade.
Alguns autores falam mesmo da «erosão da cidadania», ou seja, com esta crescente deslocação de
grandes sectores de população, haverá uma crescente tendência a que todos sejamos «cidadãos do
mundo». Mas tal implicaria o repensar das instituições a nível mundial, de modo a gerir uma «sociedade
civil mundial», não soo quanto a sua sustentabilidade económica, mas quanto aos seus deveres e direitos.
Se por um lado, globalização deixa impressão de que tudo corre com maior rapidez e com menor
controlo por parte de cada país, por outro, existe um maior conhecimento de como funcionam os
mecanismos para fazer face às crises económicas e muito mais rapidamente se acionam estes
mecanismos. Acresce, ainda que a globalização veio trazer, como vimos, um maior acesso dos cidadãos
à informação tendo agora uma mais clara noção dos seus direitos e deveres, levando a desencadear, na
sua participação, em soluções,
3.6- O que Democracia?
A Democracia, designação que deriva da palavra grega «demokrátia», numa definição alargada, é um
«sistema político em que o poder é exercido pelo povo», podendo, portanto, ser entendido como um
sistema em que o povo se auto governa, o que somente é possível quando o povo participa activamente
no exercício democrático. Pode, também, ser entendido, em termos sociais, como uma sociedade em que
há garantia das liberdades de expressão e associação, sendo assim, o único sistema que estimula e
garante o exercício da participação no debate político sem manipulações e entraves. Numa sociedade
democrática ideal, os cidadãos vivem em liberdade, igualdade e fraternidade, estando o poder de
governar nas mãos dos cidadãos. Uma sociedade onde se respeitam os direitos humanos e dignidade das
pessoas, uma sociedade democrática que respeita todas as características que acabamos de mencionar,
pode ser considerada uma sociedade democrática pura.
São exigidas algumas condições para o funcionamento duma sociedade democrática e aberta, para ser
reconhecida como tal. Entre elas, destacam-se uma elevada educação moral e cívica dos cidadãos, pois
somente o conhecimento e sua aplicação permitirá aos cidadãos, primarem nos seus direitos e deveres,
tanto no plano social quanto pessoal.
Democracia liberal.
Uma sociedade com um modelo de democracia liberal é aquela que se organiza com base no privilégio
da liberdade individual e da dignidade da pessoa, considerados como os valores mais importantes da
vida. Insiste na defesa e prática dos direitos individuais e cívicos, que se estende desde a possibilidade

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de os cidadão terem a oportunidade de demostrar a competência individual até a possibilidade de livre


concorrência económica (admitindo-se o lucro como objectivo e o direito a propriedade privada). Este
tipo de democracia é a base das chamadas sociedades capitalistas.
Democracia popular.
Uma sociedade como modelo popular é, ideologicamente, próxima de um modelo «socialista» ou
«comunista», cujo Estado e governe insistem na igualdade dos cidadãos. O poder é exercido, no entanto,
hierarquicamente, através de órgãos de um poder central (o designado «centralismo democrático»).
Constata-se que, quando posto em prática, este modelo acaba por permitir a existência de privilégios
para a «classe dirigente» (os funcionários do governo ou os seus líderes), correndo o risco de se tornar
nas chamadas «ditaduras de esquerda» ou «ditaduras de partido único».
3.6.1- Democracia e cidadania.
Apesar dos desvios aos seus princípios fundadores, quando aplicado, o modelo de democracia é a única
garantia possível contra as revoluções violentas ou tomadas de poder da mesma ordem. A democracia só
pode ser defendida com a democracia. Sem cidadãos conscientes não há democracia, apenas um
fantasma. Os cidadãos devem criar uma cultura de participação no exercício político de um modo
responsável e activo, não apenas em acto eleitoral, mas no quotidiano, para que possam contribuir e
promover uma sociedade livre, justa e democrática ao serviço do ser humano e do bem comum.
Previamente a essa participação, os cidadãos devem questionar-se e criar espírito crítico, de modo a
saberem, esclarecidamente, o que querem fazer e o que não devem fazer; mas nunca os cidadãos devem
abdicar da sua participação na política, antes devem fazê-lo com consciência plena e assumindo seus
actos com responsabilidade. Os cidadãos sabem que vivem numa sociedade, e que ninguém se deve
considerar como dono da verdade ou do direito ao poder, embora as decisões para o bem comum desta
mesma sociedade devam ser tomadas em conjunto com todos e cada um.
Todos os cidadãos podem e devem participar na política?
Todos podem e devem participar, com exceção dos, legalmente, privados dos direitos e deveres
políticos. Há diversas formas de participação na política, mais sempre exigindo a igualdade social e
política de todos os cidadãos. Quer isto dizer que, toda agente tem direito e dever de participar na
política: apoiando ou opondo-se a medidas, nas diversas situações políticas, independentemente das
diferenças de classe, raça, tribo, sexo ou religião.
De que modo os cidadãos devem participar na política?
Participando nas eleições através do voto livre e secreto, por exemplo. Num processo eleitoral, os
cidadãos escolhem os candidatos, o partido e programa político para governar o país por um tempo
determinado. O cidadão tem, como direito, manifestar sua simpatia por um grupo, associação ou partido,
podendo, até, filiar-se se tal for a sua intenção.
Existem alguns princípios inalienáveis que os cidadãos devem conhecer, para melhor participarem no
exercício democrático com plena consciência. Eis alguns deles:
A educação cívica e moral dos cidadãos. É uma forma que consiste numa consciencialização dos
cidadãos sobre seus diretos e obrigações, tanto no plano social quanto no pessoal;
Participação política dos cidadãos. Como já vimos, todos os cidadãos devem participar na discussão de
questões relevantes a vida em sociedade; ou melhor, devem exercer o direito que a lei da isonomia
oferece. A «questão política» é dirigida a todos os cidadãos que, de consciência plena, dão tudo o que de
melhor possuem para um desempenho eficaz dos governantes;
Direito à liberdade. Alguém afirmou, certo dia, que ser, completamente livre, é ser sempre capaz de
fazer, de imediato, que realmente se quer. Mas, tal liberdade, consubstanciada no absolutismo não é
nossa, isto é, não é humana. A nossa liberdade é limitada, já que, a nossa finitude e a nossa interação
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com os outros e os seus direitos impõem-se em toda a nossa forma de pensar, ser e agir. Liberdade, em
termos humanos, significa direito de cada cidadão manifestar suas ideias, o seu pensamento em público;
quando estas ideias dizem respeito ao grupo em que está inserido, devem ser analisadas em conjunto,
prevalecendo o consenso da maioria.
3.6.2- Campos do exercício democrático.
Através da participação dos cidadãos na vida pública, abrem-se novas e varias perspectivas para uma
democracia duradoura. Assim, democracia permite uma forma de organização social contrária ao
monopólio do poder, seja por razões de castas, económicas, religiosas, de raça, etc. em democracia, o
poder é partilhado em vários campos, na medida em que todos os sujeitos podem ascender a ele, e é
exercido por delegação. Nesta perspectiva, há várias vantagens quando a participação nos vários
campos do exercício democrático é efetiva, já que se constata que:
 Envolve os cidadãos na vida política e nos assuntos da comunidade e do estado;
 Favorece a estabilidade do sistema política;
 Emprega numerosos recursos humanos, aproveitando os talentos e capacidades do
maior número possível de pessoas: «desperta os génios que ainda dormem no povo»;
 Torna mais completa a informação política e aumenta a consciência política e
responsabilidade dos cidadãos;
 Desenvolve o consenso nacional e o sentido de eficácia politica que favorece a
superação da desigualdade social.
Existem vários campos. Mais a dimensão eleitoral é, sem dúvidas, o primeiro e momento
mais amplo de participação. Em termos gerais, existem três tipos de eleições:
 Eleições presidenciais, as que objetivam eleger o presidente da República para
um mandato equivalente de 4 ou 5 anos, conforme a constituição de cada país;
 Legislativas são aquelas que permitem escolher os deputados provenientes de
vários partidos políticos, sendo estes, representantes na Assembleia que redige as
leis vigorantes num país;
 Eleições autárquicas através das quais são eleitos os corpos dirigentes nas
comunas, municípios, regiões, etc.
3.7- Democracia e cultura.
Se entendermos a cultura como um conjunto de valores, a democracia não deixa de ser um valor criado
pelo ser humano, cabendo, naturalmente, aos cidadãos «valorizar» a sua ligação à sociedade. Já
descrevemos a democracia como um sistema que garante a estabilidade do cidadão, desde que bem
aplicada, sendo os seus próprios princípios. Mas também, isso depende, grandemente, da mentalidade e
desenvolvimento cultural dos cidadãos: a forma como podem encarar a democracia na sua vida social,
económica, cultural e política como preservam os princípios democráticos de boa convivência.
3.7.1- Os riscos da democracia.
Em qualquer sociedade democrática o governo deve estar ao serviço da coletividade, a sua acção deve
ser a de promover o bem comum dos cidadãos. Se o poder não for exercido em benéfico dos cidadãos,
então a democracia torna-se vazia, torna-se um exercício de demagogia, palavra herdada do grego
demagogia e que se pode definir como uma «forma de actuação política que visa agradar» às
populações.
A demagogia é, portanto, um dos riscos que a democracia enfrenta; pode revelar-se na utilização dos
princípios da democracia para ocultar outras intenções. Trata-se de uma questão que muitos pensadores

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analisam, actualmente, já que a massificação de determinados comportamentos (o consumismo, o facto


de as populações terem suas acteões desviadas dos problemas reais para situações virtuais) pode levar a
sua alienação e apatia.
3.8- O que é violência?
A palavra violência deriva do latim, da violentia, cujo sentido estava associado ao «uso de força». Numa
definição alargada, qualquer acto de constrangimento exercido sobre uma pessoa, qualquer forma de
obrigar alguém a fazer algo contra a sua vontade pode constituir uma forma de violência.
38.1- Violência e política.
A violência como acreção ou manifestação activa de um conflito por ideia ou interesse contrario, é a
forma de violência analisada há mais tempo, sendo desde há séculos alvo de estudo por parte de
filósofos e pensadores. Já na antiguidade, herodoto, historiador grego, considerava alguns modelos
políticos mais propensa a violência do que outros, escrevendo que a monarquia, por exemplo,
predispunha a inveja conduzindo à queda dos soberanos através de meios violentos.
3.8.2- Tipos de violência.
Vários são os tipos de violências:
 Violência física -caracteriza-se por formas de acreção física, com maior ou menor grau
de danos materiais ou fisiológicos causados, podendo ir da agressão individual a um
conflito armado entre dois países, por exemplo;
 Violência psicologia- consiste na forma de comportamentos menos evidentes, com
dando que podem ser também menos evidentes, mais igualmente letais para os seres
humanos que dela são alvo. Muitas pessoas expostas a violência psicológica carregam
sequelas crónicas durante toada vida, sendo, muitas vezes incapazes de viverem suas
vidas;
 Violência individual é aquela associada cujas acções de um individuo contra outro (ou
outros);
 Violência coletiva se apresenta como actos de um grupo;
 Violência espontânea é a que surge num dado momento, sem sua premeditação;
 Violência organizada indica que planeada e adapta previamente a uma determinada
Situação ou intenção.
O que é concórdia?
É uma palavra que deriva do latim concórdia e significa «unidos de vontades de que resulta a harmonia e
paz», tem o seu sentido oposto na palavra discórdia, que, derivando do latim, significa, em termos gerais
«desavença, desordem, luta».
Por seu lado a palavra paz que deriva do latim pace que se define como sinónimo de concórdia, uma vez
que o seu significado se Ex tende desde «tranquilidade e serenidade» até «estado de um país que não
está em guerra».

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