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A JUSTIÇA RESTAURATIVA E AS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS NO ÂMBITO

DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE1

RESTORATIVE JUSTICE AND THE SOCIO-EDUCATIONAL MEASURES


WITHIN THE CHILD AND ADOLESCENT STATUTE

Erika Rubiane de Lima2


Liana Cristina Lima3
Kelly Kercy Nogueira da Silva 4

RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo analisar através do Estatuto da Criança e do Adolescente,
os fatores de risco e condições de vulnerabilidade a que os menores são submetidos. Sendo
assim, será realizado um estudo sobre a problemática da inimputabilidade do menor infrator,
desde o início da criminalidade, a aplicabilidade da legislação sob o viés da Justiça Restaurativa
como forma de prevenção de conflitos, diante da possibilidade de reduzir a criminalidade e
possibilitar a existência de soluções. A Justiça Restaurativa propõe a resolução de conflitos no
âmbito penal, mediante a aplicação de uma metodologia voltada ao diálogo entre as partes
envolvidas e a comunidade local onde ocorreu a infração a fim de que seja alcançada a reparação
do dano sofrido e quando possível, o restabelecimento das relações rompidas. Apresenta-se
como alternativa ao modelo retribuído, ao passo que não objetiva a punição e sim a restauração
do ofensor. Um cuidado deve-se ter quando o ofensor se tratar de criança ou adolescente, para
tanto, tem que se considerar o tratamento disponibilizado pelo ECA – Estatuto da Criança e do
Adolescente a esses infratores, para que o modelo restaurativo possa contribuir de forma
veemente na solução desses conflitos. Nesse contexto, as abordagens da justiça restaurativa são
direcionadas como uma alternativa para a resolução de conflitos que caracterizam crimes menos
gravosos, buscando chegar a um acordo entre vítimas e ofensores.

Palavras-Chave: Justiça Restaurativa, Estatuto da Criança e do Adolescente, Prática


Restaurativa.

1
Artigo apresentado à Universidade Potiguar, como parte dos requisitos para obtenção do Título de Bacharel em
Direito, em 2023.1.
2
Graduanda em Direito pela Universidade Potiguar. E-mail erikarubiane12@gmail.com
3
Graduanda em Direito pela Universidade Potiguar. E-mail lianacrislima@gmail.com
4
Orientadora. Docente da Universidade Potiguar Especialista em Direito Tributário. Especialista em Direito do
Trabalho. Mestre em Administração. Doutoranda em Biotecnologia da Saúde E-mail:
kelly.nogueira@animaeducacao.com.br
ABSTRACT

The present work aims to analyze, through the Statute of the Child and Adolescent, the risk factors
and conditions of vulnerability that minors are submitted to. Therefore, a study will be carried out
on the problem of the non-accountability of the minor offender, from the beginning of crime, the
applicability of legislation under the bias of Restorative Justice as a form of conflict prevention,
given the possibility of reducing crime and enabling the existence of solutions. Restorative Justice
proposes the resolution of conflicts in the criminal sphere, through the application of a
methodology aimed at dialogue between the parties involved and the local community where the
infraction occurred, in order to achieve the reparation of the damage suffered and, when possible,
the restoration of broken relationships. It presents itself as an alternative to the retributive model,
while it does not aim at punishment, but at restoring the offender. Care must be taken when the
offender is a child or adolescent, therefore, the treatment provided by the ECA - Statute of Children
and Adolescents to these offenders must be considered, so that the restorative model can contribute
vehemently in resolving these conflicts. In this context, restorative justice approaches are targeted
as an alternative for resolving conflicts that characterize less serious crimes, seeking to reach an
agreement between victims and offenders.

Keywords: restorative justice, child and adolescent status, restorative practice.

1 INTRODUÇÃO

O sistema brasileiro tem como a aplicação de pena a punição do agente, sendo elas a
privativa de liberdade, restritiva de direitos e pena pecuniária. A legislação brasileira mudou várias
vezes ao longo do tempo, visando monitorar as realidades, a convivência e as necessidades da
sociedade. Bem, por causa dessa coexistência gera o conflito, onde sempre fizeram parte da
sociedade, sendo um desafio resolvê-los.
Teoricamente, a justiça restaurativa se difundiu e se enraizou em todo o país com
experiências exitosas em diversos estados da Confederação, cada um observando e respeitando,
para esse processo de implementação, as possibilidades e desafios, bem como sua própria
institucionalidade e contextos comunitários. À partida, vale ressaltar que o Poder Judiciário
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desempenha uma de suas principais funções: solucionar problemas mediante procedimentos


legais.
O CNJ traz um conceito de Justiça Restaurativa que fala que é um conjunto organizado e
sistemático de princípios, métodos, técnicas e atividades destinadas a aumentar a conscientização
sobre os fatores relacionais, institucionais e sociais que incentivam o conflito e a violência para
resolver conflitos nocivos, concretos ou abstratos, de forma estruturada. Dito isso, esse mecanismo
busca atender as necessidades das pessoas atingidas no conflito, é uma prática que aprimora a
possibilidade do aperfeiçoamento do sistema penal, na visão de um meio alternativo de resolução
de conflito, com a finalidade restaurar a paz e harmonia entre as partes.
É na adolescência que ocorrem as maiores transformações tanto biológicas, psicológicas e
sociais do ser humano e geralmente essa fase acontece dos 12 aos 20 anos. E neste período de
adaptação esses jovens acabam tendo alguns comportamentos conflituosos, desvio de conduta e
muitas das vezes passam a ter comportamentos agressivos e devido as circunstâncias acabam
cometendo ato infracional ou até mesmo ingressando no mundo do crime.
O adolescente que pratica o ato infracional ele ingressa no sistema judicial, no qual irá
analisar sua conduta e responsabilizá-lo por seus atos. A penalidade será conforme o Estatuto da
Criança e do Adolescente (ECA - Lei Federal 8069/90), são medidas aplicáveis ao adolescente que
pratica um ato infracional (a conduta descrita como crime ou contravenção penal) e essas medidas
socioeducativa ou protetiva estão estabelecidas no artigo 112 da referida lei sendo elas: advertência,
obrigação de reparar o dano, prestação de serviços à comunidade, liberdade assistida, inserção em
regime de semiliberdade e internação em estabelecimento educacional, além das medidas
protetivas previstas no artigo 101, incisos I a VI.
Os meios alternativos de resolução de conflito ainda é um assunto novo, veio com o Novo
Código de Processo Civil de 2015, pois sua aplicabilidade é discutida por parte dos operadores do
direito. Dessa forma, indaga-se com as seguintes perguntas? De que forma a justiça restaurativa e
as medidas socioeducativas previstas no ECA são eficazes no âmbito da justiça restaurativa? A
partir dessa implementação houve um resultado positivo em relação à diminuição das demandas
processuais no Poder Judiciário
Sendo assim, o interesse do presente trabalho versa sobre a busca pela resolução dos
conflitos, na esfera criminal. É importante ressaltar que a justiça restaurativa pode ser aplicada em
outras esferas do ordenamento jurídico, como no âmbito civil, trabalhista, bem como em
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outras ciências. Sabemos que o sistema carcerário do Brasil vem passando por uma crise, se
discutindo muito sobre a função da pena e a ressocialização do infrator de normas.
Metodologicamente, composta por pesquisas teóricas, descritiva e bibliográfica, utilizando
técnicas qualitativas, e reunindo interpretações e pesquisas sobre o tema, bem como a busca de
dados em torno do objeto central. A pesquisa terá como consequência o estudo acerca da eficácia
da justiça restaurativa nos processos judiciais e medidas socioeducativas no âmbito do ECA.
Por fim, sendo o principal objetivo deste trabalho analisar, discutir sobre a eficácia da
justiça restaurativa acerca de uma alternativa da justiça tradicional para a contribuição de
tratamento de crianças e adolescentes amparados pela Lei 8.069,de 13 de julho de 1990 (Estatuto
da Criança e do Adolescente- ECA), e ressaltar a importância de se estudar os meios alternativos
de resolução de conflito em que se tenha uma participação de todos, sendo estes a vítima, dos
familiares, do adolescente infrator, da comunidade, de uma forma que todos direta ou indiretamente
possa fazer parte do processo de reintegração, na tentativa de reparar os danos causado.

2 O ADOLESCENTE E O ATO INFRACIONAL

Com a constituição de 1988, o ECA foi criado para regulamentar o artigo 227 da CF, que
assegura os direitos fundamentais, com o objetivo de protegê-los com base legal e diferenciado,
protegendo de negligência e vários tipos de agressões, e todo esse contexto tinha como base a
Doutrina de Proteção Integral da Organização das Nações Unidas.
O sistema do Estatuto adotou alguns princípios, promovendo a crianças e adolescentes
diversas garantias, tais como o direito ao duplo grau de jurisdição, presunção de inocência, a defesa
através do advogado e de conhecer plenamente acusação que é ofertada pelo representante do
Ministério Público.
O ECA relata como sujeito de direitos, devendo ser protegido pela família, Estado e
sociedade. É o que dispõe, a Lei 8.069/90 no artigo 1° e 2° referindo-se a integridade, proteção e
diferenciando a criança do adolescente, segue:

Art. 1º. Esta Lei dispõe sobre a proteção integral à criança e ao adolescente. Art. 2º.
Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade
incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade.
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Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, aplica-se excepcionalmente este Estatuto às
pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade (BRASIL, 1990).

Os órgãos responsáveis por assegurar esses direitos são os conselhos Tutelares,


Municipais, Estadual e Nacional, com o objetivo de proteger e fiscalizar os menores que estejam
em situação de risco, e é de suma importância mostrarmos para a sociedade que o Estatuto da
Criança e do Adolescente, não é um instrumento de permissão e impunidade.
O Estatuto da Criança e do Adolescente estabelece que seja dever da família, da
comunidade, da sociedade e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos
direitos inerentes à criança e adolescente, como à vida, à saúde, à alimentação, à dignidade, à
educação, ao esporte, lazer, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. Essas
determinações são fundamentais para prevenir a criminalidade infantojuvenil, mas, estas
permanecem longe da realidade.
A etapa da infância e da juventude se caracteriza pela dependência do ser humano, seja
pelos seus genitores, familiares, devido à fragilidade física e psicológica, pela incapacidade e
desenvolvimento. Os pais são a base para o desenvolvimento da criança e do adolescente, incluindo
os hábitos, atitudes, cultura, religião, ensino, preparando para a vida em sociedade.
Na fase da adolescência ocorre o período de transição humana, que segundo Bizatto e
Bizzato (2014), entre a infância e a vida adulta, e junto vêm as mudanças biopsicológicas e
socioculturais, como a maturidade, transformações físicas, emocionais, cognitivas e sociais. É
considerada a fase em que o indivíduo se firma como pessoa.
O artigo 103 do ECA diz que o ato infracional é a conduta descrita como crime ou
contravenção penal.

Art. 103. Considera-se ato infracional a conduta descrita como crime ou contravenção
penal.
Art. 104. São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às medidas
previstas nesta Lei.
Parágrafo único. Para os efeitos desta Lei, deve ser considerada a idade do adolescente à
data do fato (BRASIL, 1990).

E essa definição decorre do princípio da legalidade e para caracterizar tal ato é preciso
que este fato seja típico, antijurídico e culpável, mesmo que a Lei considere inimputável, o menor
é responsável por todos os seus atos, portanto não vai ser na mesma proporção de um adulto, pois
estar em condição de desenvolvimento, aplicando as medidas socioeducativas, podendo ser na
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esfera cível e na penal. Na esfera cível o foco é a vítima com o intuito de reparar o dano e o
ressarcimento, já na esfera penal o foco é o autor com finalidade de que ocorra a ressocialização.
No Brasil o crime juvenil afeta jovens de toda idade em todos os Estados, eles começam
sua vida no crime ainda menor e seguem praticando atitudes ilícitas durante a vida adulta.
Vários fatores são responsáveis pelo desenvolvimento da personalidade na adolescência,
como a escola, a família, os amigos e a comunidade. Assim como os fatores biológicos,
psicológicos e emocionais são complexos e interagem para o amadurecimento do jovem na
formação de sua identidade, qualquer mudança durante a adolescência pode causar efeitos na
formação como adulto. E se o transtorno do sofrimento for negativo, um adolescente pode se tornar
um delinquente juvenil. A visão do ECA não é simplesmente justiça retributiva, mas justiça
restaurativa, portanto, seu objetivo é a socialização do adolescente infrator, solicitando-se a
participação juvenil no processo de educação social de sua família (SILVA, 2011).
Em última análise, a abordagem em relação ao adolescente infrator deve combinar a
punição adequada para os crimes cometidos, a responsabilização por suas ações, bem como
oportunidades de reabilitação e reintegração. Tem como objetivo transformar os jovens e
proporcionar-lhes meios para uma vida melhor, reduzir a reincidência e promover a segurança e o
bem-estar de toda a comunidade.

2.1 A CRIMINALIDADE JUVENIL E SUA PREVENÇÃO

A prevenção da criminalidade juvenil é um desafio complexo que requer uma abordagem


multifacetada, envolvendo vários setores da sociedade, incluindo famílias, escolas, comunidades e
instituições governamentais. De acordo com Silva (2009), a adolescência é uma fase crítica na vida
de todos, e geralmente é nessa fase que as drogas e a violência entram na vida do ser humano. Há
que se preocupar bastante com essa fase, inclusive a sociedade, e também o Estado, pois a
criminalidade de forma geral não vem só atingir a vítima, mas, toda a sociedade através do medo
e da insegurança.
Nossa educação brasileira ainda é muito carente de alguns benefícios que ajudam na hora
do trabalho pedagógico e com isso afetam a qualidade do ensino, é neste cenário ou em torno dele
que possibilita a ocorrência de situações de violência, mesmo algumas prevenções nesse meio já
estejam sendo tomadas, ainda existem muitos desafios a serem superados.
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A abordagem da justiça restaurativa busca responsabilizar os jovens infratores por suas


ações, mas também enfatiza a restauração das relações e a reintegração na comunidade. Essa
abordagem pode envolver a participação ativa das vítimas, da comunidade e do próprio infrator na
resolução dos danos causados pelo crime, através de processos como mediação, reparações e
programas de reintegração.
Assim, são desenvolvidos programas de prevenção da violência escolar para promover
atividades lúdicas, artísticas e esportivas, desenvolvimento pessoal e trabalho em equipe; os alunos
são ativamente envolvidos nas atividades escolares e na tomada de decisões; os professores são
preparados para trabalhar com situações em que se verifica a possibilidade do ingresso no mundo
da criminalidade, para que saibam lidar e incentivar os alunos a buscar formas de prevenção.

3 MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS

Da Lei da Criança e do Adolescente pode-se deduzir um sistema que garante os direitos da


criança e do jovem e garante a proteção dos cidadãos, independentemente da sua raça ou classe
social.
O objetivo da medida socioeducativa, nas palavras de Veloso (2017, p 19) visa promover
um conjunto de ações que permitam aos jovens refletir sobre suas ações quando as violam e suas
motivações para essas ações, que prejudica a si mesmo, aos outros, à propriedade pública ou
privada, aplicadas pelo Juiz da Infância e da Juventude, órgão competente responsável pela
aplicação das penas socioeducativas. Estas são definidas após análise da capacidade do jovem para
aderir às medidas.
O Estatuto dispõe sobre as medidas socioeducativas, cuja essência é promover um caráter
educativo baseado nos princípios desenvolvimentistas dos menores infratores, respeitando sempre
a consciência moral e social.
As medidas socioeducativas são aplicadas pelos juízes, levando em conta a gravidade do
crime, as circunstâncias pessoais do jovem e sua capacidade de cumpri-lo, pune jovens infratores,
mas tem um caráter educativo como aduz o art. 112. verificada a prática de ato infracional, a
autoridade competente poderá aplicar ao adolescente as seguintes medidas:
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I - advertência;
II - obrigação de reparar o dano;
III - prestação de serviços à comunidade;
IV - liberdade assistida;
V - inserção em regime de semi-liberdade;
VI - internação em estabelecimento educacional;
VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI.
§ 1º A medida aplicada ao adolescente levará em conta a sua capacidade de cumpri-la, as
circunstâncias e a gravidade da infração.
§ 2º Em hipótese alguma e sob pretexto algum, será admitida a prestação de trabalho
forçado.
§ 3º Os adolescentes portadores de doença ou deficiência mental receberão tratamento
individual e especializado, em local adequado às suas condições (BRASIL, 1990).

Para os menores de 18 anos, a imputação criminal não é imputável, pois observa-se a


percepção e o desenvolvimento pessoal, essa responsabilidade vem adotar a legislação específica
para a proteção, educação social, restrição de direitos e medidas privativas de liberdade.
Quando se fala em medidas socioeducativas, entende-se que ela tem um caráter restaurador,
diante do ato causado, portanto é necessário que o menor reconheça e se responsabilize por erros e
danos para que ocorra sua recuperação e a ressocialização tanto pessoal como social.
As medidas socioeducativas são pautadas pela adoção de uma abordagem pedagógica dos
mecanismos de inclusão social, proporcionando aos jovens ainda em formação valores que os
tornem cidadãos valorizados e que possam desenvolver plenamente as suas potencialidades. Este
é, sem dúvida, um grande desafio para juízes, procuradores, equipes disciplinares e todos os
envolvidos na reconversão de um jovem em conflito com a lei: mudar esse jovem, torná-lo um
cidadão respeitável, impedindo-o de ingressar nas fileiras dos inimputáveis ((YAMAMOTO, et al.
2004, p 36).
Diante disso, o Conselho Nacional de Justiça, tenta resolver conflitos buscando uma nova
justiça e trazendo soluções de como melhor aplicar a norma diante ao adolescente infrator. Assim,
o âmbito penal conseguiu implantar a conciliação e a mediação ao aplicar a JR em diversos casos.
Constatou-se que a implementação da Justiça Restaurativa na esfera penal, principalmente
no caso de jovens infratores, o objetivo é salvar o adolescente do crime, mas não só isso, há
integração na sociedade com essa nova visão de justiça criminal, possibilitando a justiça
restaurativa.
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3.1 A APLICABILIDADE DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS

Quando se fala em medidas socioeducativas, entende-se que têm natureza regenerativa e


reparadora, diante do ato causado. Dessa forma, busca-se o reconhecimento do erro ou dano, a fim
de responsabilizar o adolescente e possibilitar sua ressocialização pessoal e social, ao objetivar a
prevenção e a reparação o dano causado, porém a sociedade espera que tenha um caráter mais
punitivo, que seja na realidade uma justiça mais enérgica e disciplinadora. Sobretudo, crianças e
adolescentes têm direitos e garantias fundamentais devendo assim serem respeitados.
Os adolescentes não têm plena capacidade de responder criminalmente por seus atos,
portanto, dependendo da gravidade do crime cometido, seguirão medidas socioeducativas que vão
desde advertências até internação. As medidas socioeducativas são a tentativa do Estado de corrigir
o menor infrator a fim de despertar a responsabilidade social para que ele volte à sociedade para
então evitar a reincidência.
Tais medidas não são apenas punições, mas sim em um processo educativo e de socialização
que, independentemente da gravidade do delito cometido pelo menor, sempre leva em consideração
a capacidade do jovem em cumpri-lo, ressaltando que o ECA possibilita o melhor para o
adolescente.
Ainda nesse sentido, Wilson Donizetti Liberati, leciona sobre a aplicação das medidas
socioeducativas e os objetivos a serem alcançados:

A medida socioeducativa é a manifestação do Estado, em resposta ao ato infracional,


praticado por menores de 18 anos, de natureza jurídica impositiva, sancionatória e
retributiva, cuja aplicação objetiva inibir a reincidência, desenvolvida com a finalidade
pedagógica-educativa. Tem caráter impositivo, porque a medida é aplicada
independentemente da vontade do infrator- com exceção daquelas aplicadas em sede de
remissão, que tem finalidade transacional. Além de impositiva, as medidas
socioeducativas têm cunho sancionatório, porque, com sua ação ou omissão, o infrator
quebrou a regra de convivência dirigida a todos. E, por fim, ela pode ser considerada uma
medida de natureza retributiva, na medida que é uma resposta do Estado à prática do ato
infracional praticado (LIBERATI, 2006, P. 102).

A Lei 8.069/90 regulamentou a existência das seguintes medidas socioeducativas:


advertência, reparação de danos, prestação de serviços públicos, liberdade condicional,
semiliberdade e internação em estabelecimento de ensino. Com exceção das duas últimas, que
privam o adolescente de liberdade, as demais se concentram no cumprimento aberto.
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Seguindo essa mesma linha de raciocínio, Ramidoff acresce que:

[...] As medidas sócio educativas é uma reação estatal adequada pedagogicamente às


necessidades educacionais e sociais dos adolescentes que através da prática de ato
infracional sinalizaram situação de ameaça ou violência aos seus direitos individuais e ou
às suas garantias fundamentais. Por isso, a construção técnico-epistemológica, político-
democrática e ideológico-humanitária determina que o conteúdo deva ser pedagógico de
toda e qualquer medida socioeducativa a ser judicialmente aplicada, e, assim,
consequentemente cumprida (RAMIDOFF 2011, p. 108).

A aplicabilidade das medidas socioeducativas depende da análise individual de cada caso,


que tem em conta, entre outros aspectos, a idade, maturidade, antecedentes criminais e contexto
familiar do jovem. O objetivo é encontrar responsabilidade suficiente para os jovens, que lhes
ofereça oportunidades de adaptação à sociedade, previne a reincidência e garanta seus direitos
básicos.

3.1.1 Aplicação da advertência

A advertência é uma espécie de punição mais branda, que consiste em uma notificação
formal sobre a infração cometida e sobre as consequências que poderão ser aplicadas caso a
conduta se repita. A advertência pode ser aplicada pela autoridade judiciária, pelos pais ou
responsáveis da criança ou adolescente, ou pelos conselhos tutelares.
De acordo com Bandeira (2006, p.36) tal conduta ” é compreensível em “advertir”,
“admoestar” esteja associada a uma relação de poder, que visa, em última instância, orientar ou
conduzir um jovem em conflito com a lei”. Desse modo, direciona seu comportamento ao modelo
exigido pelo sistema social dominante sendo uma das atividades socioeducativas mais tradicionais
da história do nosso país, conforme previa o código de conduta de Mello Mattos Decreto 17.943-
A, de 12-10-1927.
Vale lembrar que a advertência não é uma punição em si, mas sim uma medida educativa,
com o objetivo de conscientizar a criança ou adolescente sobre a gravidade de suas ações e
incentivá-los a adotar comportamentos mais adequados.

3.1.2 A obrigação de reparar o dano


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O ECA prevê a obrigação de reparar o dano causado por crianças e adolescentes em casos
de infrações cometidas por eles. Essa reparação pode ser feita de diferentes formas, dependendo
da natureza e extensão do dano causado. Segundo Meneses (2008, p. 101):

A impossibilidade social do cumprimento desta medida descola, de


imediato, à abordagem das restantes em meio aberto: a prestação de
serviços à comunidade e a liberdade assistida, utilizadas em boa escala nas
respostas estatais aos atos em conflito com a lei.

Em casos de danos materiais, por exemplo, a reparação pode ser feita através do pagamento
de uma quantia em dinheiro ou da reposição do bem danificado. Já em casos de danos morais, a
reparação pode ser feita através de uma retratação pública ou de uma compensação financeira. É
importante ressaltar que a obrigação de reparar o dano é uma medida educativa, prevista pelo ECA
com o objetivo de conscientizar a criança ou adolescente sobre a gravidade de suas ações e
incentivá-los a adotar comportamentos mais adequados. Além disso, a finalidade da medida de
reparar o dano é de socializar, reeducar, resgatar e ensinar ao menor sobre valores, respeito ao
próximo, bem como as consequências, através da satisfação do dano causado pelo adolescente ao
terceiro.
A responsabilidade pela reparação do dano é do menor e não pode ser transferida, mas a
reparação do dano será exclusivamente dos pais, se o menor for menor de dezesseis anos à data da
infração.

3.1.3 Liberdade assistida

A liberdade assistida é uma medida que pode ser aplicada como forma de punição para
crianças e adolescentes que cometem infrações, consiste em um acompanhamento e orientação da
criança ou adolescente por um profissional capacitado, que atua como um orientador social. Dessa
forma, nos esclarece Saraiva (2011) sobre a permanência do adolescente junto à família e à
comunidade, estando sujeito a acompanhamento, ajuda e orientação. Para realizá-la, o jovem deve
estar preparado, pois o objetivo é que se conscientize e pare de cometer infrações.
Durante o período em que estiver cumprindo a medida de liberdade assistida, a criança ou
adolescente deve seguir uma série de regras e compromissos estabelecidos pelo orientador social,
que visam incentivar o desenvolvimento de comportamentos mais adequados e responsáveis.
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Essas regras podem incluir, por exemplo, a participação em atividades educativas, a frequência
escolar, a prestação de serviços comunitários, entre outras.
A liberdade assistida é uma medida que visa a ressocialização do adolescente, buscando
evitar que ele volte a cometer infrações. É uma punição mais branda do que a internação em uma
unidade de internação, por exemplo, e pode ser aplicada em casos de infrações menos graves.

3.1.4 Regime de semiliberdade

Trata-se de uma medida prevista no Art. 120 do ECA e estabelece que pode ser determinada
desde o início, ou constituir uma forma de transição para o regime aberto. Assim, uma medida
restritiva intermediária, pois se encontra entre o regime aberto e a internação. O regime de
semiliberdade consiste em um tipo de internação em que o adolescente fica em uma instituição
especializada, mas com permissão para sair durante o dia para realizar atividades externas, como
trabalho ou estudo.
Durante o período em que estiver cumprindo a medida de semiliberdade, o adolescente é
acompanhado por uma equipe técnica especializada, que atua na orientação e ressocialização do
jovem. O objetivo da medida é proporcionar ao adolescente a oportunidade de continuar estudando
ou trabalhando, ao mesmo tempo em que é supervisionado e orientado quanto ao seu
comportamento.
O regime de semiliberdade é uma medida que busca incentivar o desenvolvimento de
comportamentos mais adequados e responsáveis por parte do adolescente, evitando que ele volte a
cometer infrações e preparando-o para a reintegração à sociedade. É uma medida mais restritiva do
que a liberdade assistida, mas menos severa do que a internação em uma unidade de internação
fechada.

3.1.5 A internação

Ela pode ser aplicada em casos de infrações cometidas por adolescentes que tenham entre
12 e 18 anos de idade, e que tenham cometido atos infracionais graves ou reincidentes. A internação
consiste na privação da liberdade do adolescente, que fica em uma unidade de internação fechada.
Durante o período em que estiver cumprindo a medida de internação, o adolescente é acompanhado
por uma equipe técnica especializada, que atua na orientação e ressocialização do jovem.
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A internação tem como objetivo proteger a sociedade e o próprio adolescente, além de


incentivar o seu desenvolvimento pessoal e social. Alguns exemplos de atos infracionais que
podem levar à internação são: homicídio, latrocínio, tráfico de drogas, estupro, entre outros.
Vale ressaltar que a internação é uma medida socioeducativa extrema, que deve ser aplicada
apenas em casos realmente graves e em que as outras medidas previstas pelo ECA se mostraram
insuficientes para a ressocialização do adolescente. Além disso, a internação deve ter um caráter
educativo, visando à reinserção do adolescente na sociedade, e não punitivo.
A medida de internação, se encontra no artigo 122 do ECA:

Art. 122. A medida de internação só poderá ser aplicada quando:


I - tratar-se de ato infracional cometido mediante grave ameaça ou violência a
pessoa;
II - por reiteração no cometimento de outras infrações graves;
III - por descumprimento reiterado e injustificável da medida anteriormente imposta.
§ 1º O prazo de internação na hipótese do inciso III deste artigo não poderá ser superior
a três meses.
§ 1o O prazo de internação na hipótese do inciso III deste artigo não poderá ser superior
a 3 (três) meses, devendo ser decretada judicialmente após o devido processo legal.
§ 2º. Em nenhuma hipótese será aplicada a internação, havendo outra medida adequada.
Art. 123. A internação deverá ser cumprida em entidade exclusiva para adolescentes, em
local distinto daquele destinado ao abrigo, obedecida rigorosa separação por critérios de
idade, compleição física e gravidade da infração.
Parágrafo único. Durante o período de internação, inclusive provisória, serão
obrigatórias atividades pedagógicas (BRASIL, 1990).

As medidas de internação não podem ultrapassar três anos e só podem ser utilizadas em
casos excepcionais, conforme preconiza o ECA. Sobre a internação provisória, prevista no Estatuto
da Criança e do Adolescente, tem-se a súmula 492 do STJ – “O ato infracional análogo ao tráfico
de drogas, por si só, não conduz obrigatoriamente à imposição de medida socioeducativa de
internação do adolescente.”
Importa salientar que o cumprimento desta medida só pode ocorrer em instalações
destinadas a menores, de forma segura e tranquila e por todos os meios possíveis para a sua
reintegração familiar e social.

3.2 A EFETIVIDADE DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS

A efetividade das medidas socioeducativas previstas pelo ECA é um tema complexo e


envolve diversos fatores. Em geral, a efetividade das medidas socioeducativas depende da
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adequação da medida ao caso específico do adolescente, da qualidade da implementação da


medida, e da disponibilidade de recursos e profissionais capacitados para acompanhar e orientar o
adolescente.
Alguns estudos indicam que as medidas socioeducativas mais efetivas são aquelas que
envolvem o acompanhamento e orientação do adolescente por profissionais capacitados, que visam
incentivar o desenvolvimento de comportamentos mais adequados e responsáveis. Nesse sentido,
medidas como a liberdade assistida e o regime de semiliberdade têm se mostrado mais efetivas do
que a internação em unidades de internação fechadas.
No entanto, é importante ressaltar que a efetividade das medidas socioeducativas não
depende apenas da medida em si, mas também de fatores externos, como a estrutura do sistema
socioeducativo, a disponibilidade de recursos e profissionais capacitados, e a articulação com
outros setores, como o sistema de saúde e de assistência social.
Se os objetivos do ECA forem cumpridos e aplicados na prática, ele será eficaz e produzirá
os resultados positivos pretendidos, mas se sua aplicabilidade não for devidamente aplicada, será
contraproducente, ou seja, não ajudará os jovens a não cometer ato infracional, mas sim sua
reincidência.
Ao verificar as medidas socioeducativas dispostas pelo ECA, as mais efetivas são aquelas
que permitem a integração do adolescente ao meio social, portanto, existem medidas que prestam
serviços e assistência à comunidade de forma gratuita, pois proporcionam a ressocialização ao
mesmo tempo, em que adotam medidas para refletir sobre o comportamento implementado.

4 A JUSTIÇA RESTAURATIVA NO ÂMBITO DO ESTATUTO DA CRIANÇA E O


ADOSLECENTE COMO MÉTODO SINCRÔNICO À JUSTIÇA CRIMINAL
CONVENCIONAL

A justiça restaurativa é uma nova forma de solucionar conflitos e situações, priorizando o


diálogo, com respeito, responsabilidade e conectada a todos os princípios contidos na Resolução
n.º 225/2016.
A Resolução No. 225 estabelece uma política nacional de justiça restaurativa no tribunal e
fornece diretrizes para a implementação e disseminação da prática JR, o seu resultado de uma
minuta elaborada por um grupo de trabalho criado em 2016 pelo presidente do CNJ, ministro
Ricardo Lewandowski (MEZZALIRA, 2016)
15

No interior do Paraná, instaurou-se a Justiça Restaurativa na tentativa de um acordo com


objetivo do ofensor reparar o crime, vendo além do crime, ou seja, o sentimento do criminoso
diante da realidade, arrependimento e autorreparação. Participar desse processo de justiça
restaurativa inclui o respeito às diferenças individuais, conhecer a ocorrência do crime, valores,
ética e ações, ou seja, formas diferentes de pensar o adolescente e a vítima, conhecendo os dois
lados.
É muito importante mencionar a justiça restaurativa em relação aos menores, pois a justiça
criminal aplicando medidas socioeducativas, embora tente verificar o sucesso da ressocialização,
baseada na educação e não na punição, nem sempre acontece na prática, afetando o futuro desses
adolescentes.
O ECA em sintonia com a Constituição Federal, procuram uma maneira diferente para tratar
a criança e o adolescente, ou seja, que preservem o convívio familiar e comunitário com o apoio
da família, e sua inserção na sociedade, através da educação.
Como verificado o ECA possui métodos restaurativos, que visa proteger o adolescente do
desvio da conduta através do respeito, educação, com aplicabilidade de legislações diferentes e
cuidados especiais dos aplicados aos adultos, considerando sua condição enquanto menor, as
necessidades e sua aproximação com a educação.
Ressalta-se que a justiça restaurativa no âmbito do menor infrator busca restabelecer a
relação do adolescente com a sociedade, analisa junto à família e eventualmente membros da
sociedade, o comportamento a ser analisado na prática restaurativa, possibilitando o diálogo e o
processo circular de mediação.
Diante disso, o mediador já é preparado para a realização da prática restaurativa, onde dá a
oportunidade ao desabafo do adolescente, o acolhendo diante do seu arrependimento, resultando
em aprendizado.
Contudo, a aplicação da justiça restaurativa em relação à criança e aos adolescentes, não
deixa de efetivar o cumprimento das medidas socioeducativas, mas permite mais reflexão sobre o
que ele fez por meio de autocomposição, dirimindo a intervenção judicial.
Então é possível analisar que a justiça restaurativa é tangível no contexto brasileiro,
principalmente no que se refere à resolução de conflitos de adolescentes, sua implementação nos
tribunais brasileiros, o afastamento do sistema repressivo, ou seja, o jus puniendi, e a promoção da
pacificação, responsabilidade e ética com a aprendizagem restauradora.
16

4.1 JUSTIÇA RESTAURATIVA

A justiça restaurativa é um modelo alternativo de resolução de conflitos que tem como


objetivo principal restaurar os relacionamentos danificados entre as partes envolvidas em um crime
ou conflito. Em vez de se concentrar exclusivamente na punição do ofensor, a justiça restaurativa
busca promover a reconciliação e a cura, tanto para a vítima quanto para o ofensor. Com relação à
justiça restaurativa, consta na resolução 225 de 2016 a explicação do que
vem a ser:

art. 1º A justiça restaurativa constitui-se como um conjunto ordenado e sistemático de


princípios, métodos, técnicas e atividades próprias, que visa à conscientização sobre os
fatores relacionais, institucionais e sociais motivadores de conflitos e violência, e por meio
do qual os conflitos que geram dano, concreto ou abstrato, são solucionados de modo
estruturado na seguinte forma:
- é necessária a participação do ofensor, e, quando houver, da vítima, bem como, das suas
famílias e dos demais envolvidos no fato danoso, com a presença dos representantes da
comunidade direta ou indiretamente atingida pelo fato e de um ou mais facilitadores
restaurativos;
- as práticas restaurativas serão coordenadas por facilitadores restaurativos capacitados
em técnicas autocompositivas e consensuais de solução de conflitos próprias da Justiça
Restaurativa, podendo ser servidor do tribunal, agente público, voluntário ou indicado por
entidades parceiras;
- as práticas restaurativas terão como foco a satisfação das necessidades de todos os
envolvidos, a responsabilização ativa daqueles que contribuíram direta ou indiretamente
para a ocorrência do fato danoso e o empoderamento da comunidade, destacando a
necessidade da reparação do dano e da recomposição do tecido social rompido pelo
conflito e as suas implicações para o futuro. (BRASIL, 2016).

Isso significa que a justiça restaurativa é um novo paradigma em que se baseia na resolução
de conflitos sociais entre os indivíduos, visando satisfazer as necessidades da vítima, sendo o
indivíduo que cometeu o ato chamado a participar do processo para reparar o dano por meio da
ação produtiva e da reinserção social.
A aplicação inovadora da justiça restaurativa é uma tentativa de aproximar as necessidades
da vítima e da comunidade às necessidades de reinserção social do próprio agressor através da
intervenção de mediadores.
A Justiça Restaurativa começou a ser implantada no Brasil na década de 1990, por meio de
iniciativas de organizações da sociedade civil e do poder público. O objetivo era encontrar
alternativas ao sistema punitivo tradicional, que se mostrava ineficiente para resolver conflitos e
promover a paz social. A primeira experiência de Justiça Restaurativa no país aconteceu em
17

1994, em um presídio no Rio Grande do Sul. O projeto foi iniciado pela professora Ana Maria
Drummond, que percebeu que o isolamento dos detentos não resolvia os problemas da
criminalidade e da violência.
Em 1995, o Conselho Nacional de Justiça criou o Programa Justiça Restaurativa, para
promover essa nova forma de justiça em todo o país. Desde então, foram realizadas diversas
experiências bem-sucedidas em diferentes estados, envolvendo escolas, comunidades, empresas e
órgãos públicos.
Mas foi no ano de 2005, que a JR teve um início oficialmente no Brasil com três projetos
pilotos implantados no Estado de São Paulo, Rio Grande do Sul e no Distrito Federal, onde surgiu
uma parceria entre os Poderes Judiciários desses locais a Secretaria do Judiciário do Ministério da
Justiça e o Programa das Nações Unidas, e durante esses anos a Justiça Restaurativa vem
espalhando por todo o Brasil, com várias experiências positivas, porém cada localidade respeitando
seus limites.
Alguns estudiosos entendem que a justiça restaurativa é uma nova forma de abordar a
justiça criminal, pois trabalha sob uma perspectiva restaurativa por meio da mediação, que visa
garantir o diálogo entre as partes e criar um acordo justo para todos. No entanto, o diálogo entre as
pessoas afetadas é uma questão muito sensível devido ao trauma causado pelo conflito, por isso a
mediação tem um papel importante para garantir que o diálogo seja usado para reparar os danos e
restabelecer as relações sociais.
Outro ponto importante é destacarmos a utilização das práticas restaurativas nas escolas,
onde deve ser realizada de maneira frequente e participativa, pois quanto maior a realização e
participação, maiores as possibilidades de criança e adolescentes ter mudanças de forma positivas
na vida, mediante práticas restaurativas, podendo assim aprender a solucionar os seus próprios
conflitos de forma pacífica.
O educador tem extrema importância, pois, adquiri conhecimentos na hora de dialogar, e o
diálogo tem uma grande relevância sendo uma ferramenta eficaz e econômica, então o educador
pode tomar iniciativas e se comprometer com a realidade existe no âmbito escolar, ajudando então
a crianças e adolescentes a crescerem inseridos na sociedade.
O Ministério Público de São Paulo, criou um Guia para educadores, onde intensifica a
importância do diálogo possuindo ferramentas para sua realização, onde traz a escuta ativa, a
18

técnica da reformulação, a observação da avaliação, a comunicação assertiva, o uso das


mensagens eu, e o incentivo de perguntar para solucionar conflitos.
De acordo com Nunes (2018, p.38):

São exemplos de práticas restaurativas, entre outras, as rodas de conversa, o diálogo e


o perguntar restaurativo, a mediação escolar, a mediação de pares, os encontros
restaurativos, os círculos de paz e de diálogo e os círculos restaurativos.
As Práticas Restaurativas originaram-se do modelo de Justiça Restaurativa e basearam-
se em práticas oriundas de comunidades indígenas, principalmente do Sudeste Asiático
e do Canadá. Hoje as Práticas Restaurativas são recomendadas pela ONU e estão
ganhando reconhecimento e aplicação na área da Educação e em outros campos da vida
social.

A aplicação da justiça restaurativa está em vários campos e nas escolas é um lugar muito
importante porque é onde as crianças se desenvolvem como cidadãos e por isso é muito valioso
aprender a resolver conflitos e promover a sua aplicabilidade.
Os jovens sempre buscaram espaço na sociedade, por vezes reivindicando algum direito, a
participação, e por isso é importante que a prática restaurativa esteja presente desde a infância, para
ser realizado um trabalho socioeducativo efetivo por meio de políticas públicas restaurativas
voltadas para a melhoria da convivência no meio social, ambiente escolar, onde o indivíduo passa
grande parte de sua vida e de sua educação, possibilitando autoconhecimento, limites, alternativas
para resolver pequenos conflitos até mesmo entre os próprios alunos, por meio do diálogo.
Atualmente, a Justiça Restaurativa é reconhecida pelo sistema jurídico brasileiro como uma
forma legítima de solução de conflitos, inclusive nas esferas penal e civil. A prática da Justiça
Restaurativa tem como base a cooperação, o diálogo e a participação ativa das partes envolvidas
na resolução dos conflitos, visando restaurar as relações sociais e promover a paz e a reconciliação.

4.2 JUSTIÇA CRIMINAL E A RESTAURATIVA

Sabemos que a lei garante a todo brasileiro o direito ao princípio da dignidade da pessoa
humana, mas no caso da agressão a realidade é completamente diferente e dificulta a indenização.
O sistema jurídico é bastante lento e mesmo com condenação, a privatização por si só não vai
reparar o dano, mesmo que haja condenação não irá impedir o criminoso de fazer isso de novo.
O sistema prisional brasileiro, tendo a reeducação dos presos como um de seus ramos, é
gerido de forma precária e ineficiente, e muitos reincidentes são vítimas desse descumprimento
19

do processo de reintegração do país. Vê-se, portanto, a necessidade de métodos mais eficazes e


ações sincronizadas para esses mecanismos já em uso no sistema prisional brasileiro. (ABBADIE;
ARÃO, MATTOS, 2021)
O resultado da decadência do sistema penitenciário que não remete somente à falta de
políticas públicas, e sim da falta de estrutura e organização do complexo penitenciário, bem como
a problemática da superlotação nas cadeias, tendo em vista a grande remessa de apenados, que só
aumenta, e a contratação de pessoas não qualificadas para tratar diretamente com o reeducando.
Que só reitera que a forma convencional de punir e reeducar os apenados não funciona de maneira
eficiente, e que o número exorbitante de reincidentes só exprime a necessidade de um novo método.
Há destacar as três correntes de pensamento que auxiliam o crescimento e a evolução da
justiça restaurativa:

Contestação das instituições repressivas. A justiça restaurativa surge quando já existia


um movimento de revisão da Justiça Tradicional, ou seja, quando surgiam profundas
transformações estruturais dentro e fora do campo penal, tais como a descentralização do
poder estado controlador, a desagregação do modelo estatal de bem-estar social, o
simbolismo jurídico, o aparecimento da sociedade civil e a elevação do neoliberalismo e
a fragmentação dos centros de decisões (…).
II. Descoberta e consideração da vítima. A Justiça Restaurativa emerge, então, como
uma alternativa ética com uma visão diferente sobre quem é a vítima e o que são suas
necessidades. Considerando que muitas vezes vítima e ofensor podem estar conectados
por circunstâncias existenciais, nem sempre as punições severas atendem as vítimas que
preferem ter a chance de falar com o ofensor sobre o crime e explicar com detalhes como
foram afetadas; e obter uma restituição que compense as perdas e danos sofridos (…).
III. Exaltação da comunidade. A recuperação do poder comunitário favoreceu o
desenvolvimento de modelos restaurativos ligados, em parte, aos movimentos dos povos
nativos em busca do respeito a suas crenças e em resposta ao encarceramento
desproporcional de membros de sua comunidade (GRECCO et al, 2014, p 08-10).

A justiça restaurativa no campo do crime centra-se no criminoso e na vítima no sentido de


que existe uma espécie de mediação, perdão e compensação em benefício de ambos, ou em
benefício do objeto ativo do crime de um sentimento de remorso em relação ao crime, seja pela
vítima, que muitas vezes não recebe a devida atenção, sem considerar as decepções ou mesmo os
traumas decorrentes do crime. (FÁVERO, 2017).
A falência do sistema penal brasileiro é resultado do colapso das diversas vertentes que o
compõem, pois, as condições de sobrevivência no cárcere são totalmente degradantes e violam o
princípio constitucional da dignidade da pessoa humana. Nesse sentido, o sistema prisional tem
20

se mostrado ao longo do tempo incapaz de seguir as medidas básicas de ressocialização dos presos,
ou seja, a criminalidade aumenta descontroladamente e a ressocialização dos presos é a menos
provável. (OLIVEIRA, 2014).
Ainda, há uma enorme diferença entre o texto da Constituição e a realidade cruel e
desumana da execução de penas nas prisões brasileiras, pois a pessoa é tratada de forma degradante.
Assim, o processo de falência dos presídios estaduais se dá pelo tamanho do número de presídios
e pela falta de investimento nos presídios, ora pela falta de recursos da unidade estadual, ora pela
total falta deles do interesse em investir na melhoria da qualidade de vida dos presos. (OLIVEIRA,
2014). Faz se necessário uma análise sobre a Resolução 22/2016.

4.3 A IMPORTÂNCIA DA RESOLUÇÃO 225/2016 NO BRASIL

E nesse contexto de resultados expansivos e positivos que o projeto foi sendo desenvolvido,
e todo o País foi percebendo sua importância para se ter uma reestruturação e uma convivência de
uma sociedade mais justa.
Foi então no dia 31 de maio de 2016 que o CNJ publicou, a Resolução n.225/2016, através
das recomendações da Organização das Nações Unidas, que fala acerca da política Nacional de
Justiça Restaurativa no âmbito do Poder Judiciário.
Instituída formalmente no Brasil pela Resolução 225, de 2016, do Conselho Nacional de
Justiça (CNJ), a justiça restaurativa ganhou naquele ano o nome de Política Nacional de Justiça
Restaurativa no Poder Judiciário.
Vale dizer que o CNJ é o responsável por editar o regulamento, desta vez vale ressaltar que
as decisões não têm força de lei porque não passam pelo trâmite necessário junto ao legislativo por
serem uma orientação, ou seja, um documento que contém diretrizes que pretendem ser
implementadas e praticadas, como, por exemplo, a JR, nos Tribunais de Justiça do Brasil.
Segundo Lewandowski (2016) apud Mezzalira (2018, p.1):

Trata-se de importante marco normativo para o Poder Judiciário que, ao difundir a


aplicação coordenada e qualificada dos procedimentos restaurativos em todo o território
nacional, assume relevo decisivo para a mudança do atual panorama de nosso sistema de
Justiça criminal e infanto-juvenil, além de consubstanciar-se como meio de concretização
de princípios e direitos constitucionais, como a dignidade da pessoa humana, o acesso à
Justiça e o exercício da cidadania, com vistas à pacificação social.
21

Embora não seja obrigatório para juízes e Tribunais, seu significado e prática no país são
essenciais, pois visa o aperfeiçoamento tanto em relação aos tribunais quanto entre as pessoas, na
própria sociedade, buscando caminhos rápidos e práticas eficazes.
Essa Resolução dispõe sobre a Política Nacional de Justiça Restaurativa no Poder
Judiciário, com instruções para introduzir essa nova prática, advinda de um resultado desenvolvido
através do CNJ em que o presidente era o Ministro Ricardo Lewandowski.
No § 1º do artigo 1º da Resolução n. 225/2016, dispõe sobre os efeitos da resolução, em
que menciona a prática restaurativa e o procedimento restaurativo, que compõe um conjunto de
atividades e etapas a serem promovidas objetivando a composição das situações em quaisquer
casos elencados no caput do artigo já descrito anteriormente, inclusive quanto à sessão restaurativa,
participam as pessoas diretamente envolvidas com uma abordagem diferenciada.
Cabe ressaltar que a justiça restaurativa prevista na Resolução n.º 225 de 2016 permite que
os métodos sejam aplicados caso a caso, mas sem especificar qual método é utilizado, mas sim a
importância da aplicabilidade da justiça, que visa restaurar uma situação justa na resolução de
conflitos através da ideia de diálogo e responsabilidade, em oposição à punição.
De acordo com entendimento de Salmaso:

Um dos pontos centrais da Justiça Restaurativa está em entender que todos nós vivemos
em sociedade, interligados de alguma forma, como se estivéssemos em um grande círculo,
cada qual com sua individualidade, mas apresentando igual importância para o
desenvolvimento do todo e influenciando diretamente os rumos da coletividade. Portanto,
não é possível simplesmente excluir qualquer pessoa quando vem à tona um conflito, mas,
ao contrário, faz-se necessário trabalhar as responsabilidades coletivas e individuais para
que ela retorne à convivência comunitária da melhor forma possível. A Justiça
Restaurativa traz uma verdadeira mudança de paradigma, daquele retributivo (punitivo)
para o restaurativo, pois, tomando como foco central os danos e consequentes
necessidades, tanto da vítima como também do ofensor e da comunidade, trata das
obrigações decorrentes desses prejuízos de ordem material e moral. Para tanto, vale-se de
procedimentos inclusivos e cooperativos, nos quais estarão envolvidos todos aqueles
direta ou indiretamente atingidos, tudo de forma a corrigir os caminhos que nasceram
errados (SALMASO, 2016, p. 37)

A Resolução 225/2016 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) foi um importante marco


para a Justiça Restaurativa no Brasil. Essa resolução dispõe sobre a Política Nacional de Justiça
Restaurativa no âmbito do Poder Judiciário e estabelece diretrizes para a implementação da Justiça
Restaurativa em todo o país. Entre as principais diretrizes da Resolução 225/2016 estão a promoção
da cultura de paz, a valorização da autocomposição, a prevenção de conflitos, a
22

humanização das relações entre as partes e a redução da utilização da punição como única forma
de solução de conflitos.
A resolução também prevê a criação de centros de Justiça Restaurativa em cada estado
brasileiro e a capacitação de profissionais para atuarem na área. Além disso, estabelece que a
Justiça Restaurativa deve ser aplicada em casos de crimes de menor potencial ofensivo e em
conflitos familiares, escolares e comunitários.

4.4 HOWARD ZEHR E A JUSTIÇA RESTAURATIVA

A resolução de conflitos por meio da justiça restaurativa, para reparar o dano causado ao
reconciliar as partes envolvidas, é mais do que punir, propõe o diálogo entre as partes para fins de
reconciliação, princípios básicos destacados por Howard Zehr.
Quanto à Justiça Restaurativa, Zehr define que o crime se trata de violação de pessoas e
relacionamentos, criando obrigação de corrigir os erros, envolvendo por meio da justiça, a vítima,
o ofensor e comunidade para buscar soluções por reparação, reconciliação e segurança, não se trata
apenas de justiça restaurativa, mas de restauração em diversas áreas e na vida cotidiana, entre outras
em empresas, escolas, instituições, para ser aplicável.
Segundo Howard Zehr, não se pode encarar a Justiça Restaurativa como uma maneira de
alcançar ‘pedido de perdão’, ou como uma forma de mediação e/ou redutora de reincidência; e nem
pode ser vista como panaceia. Deve ser entendida como uma maneira especial de lidar com os
conflitos surgidos nas relações interpessoais. E cada comunidade deve desenvolver sua maneira
peculiar de aplicar o diálogo restaurativo. Importa frisar que a Justiça Restaurativa tem
preocupação primeira pela vítima, no entanto, a busca pela reintegração e restauração é voltada
também para o ofensor (e se for o caso) para a comunidade. Assim, as práticas restaurativas devem
manter-se equilibradas. A palavra-chave que, segundo resume a Justiça Restaurativa é o respeito.
Desta forma, conforme Zehr:

Uma justiça que vise satisfazer e sobejar deve começar por identificar e tentar satisfazer
as necessidades humanas. No caso de um crime, o ponto de partida deve ser as
necessidades daqueles que foram violados. Quando um crime acontece (tenha o ofensor
sido identificado ou não), a primeira preocupação é: “Quem sofreu danos?”, “Que tipo de
dano?”, “O que estão precisando?”. Esse tipo de abordagem, é claro, difere muito da
justiça retributiva que pergunta em primeiro lugar: “Quem fez isso?”, „O que faremos com
o culpado?” – e que dificilmente vai além disso. (2012)
23

O autor apresenta três pilares fundamentais para assentar a Justiça Restaurativa, a saber:
danos causados pelo ato e por consequência as necessidades geradas – em primeiro lugar as da
vítima (mas sem desconsiderar as necessidades do autor do ato lesivo e da comunidade); obrigações
do autor do fato (por meio da responsabilização e entendimento das consequências do seu
comportamento) e da comunidade, e o engajamento ou participação dos envolvidos na procura do
consenso: vítimas, ofensores e comunidade.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo geral deste estudo destinou-se a analisar por meio de pesquisas bibliográficas a
eficácia da Justiça Restaurativa no âmbito do Eca. Para atingir este propósito, foram observadas
várias áreas, bem como o adolescente e o ato infracional, área de vulnerabilidade do menor,
medidas socioeducativas, sistema prisional brasileiro e a justiça restaurativa como método
simultâneo ao sistema penal, objetivando através do diálogo pacífico a responsabilização de todos
os envolvidos no ato danoso, tendo como premissa a não reincidência.
Como foi mencionado, a Justiça Restaurativa visa a reparação do dano, e o envolvimento
das partes, seja ela o agressor, a vítima ou a comunidade, onde muitas das vezes possuem
responsabilidade direta no conflito. Desta forma, através de um diálogo pacifico solucionar o
problema, trazendo a vítima como centro, não tão somente o agressor será ouvido, mas a vítima,
onde ela terá voz para falar o que sente, e o agressor de forma voluntária, terá como tentar reparar
dano causado a vítima, seja ela material ou emocional.
A justiça restaurativa, de forma paralela às sanções penais, pretende por meio de métodos
restaurativos a diminuição da reincidência menor infrator ao ato danoso, desta forma, objetivando
a redução da população prisional. Ao adentrar na JR, pode-se perceber que ao trazer para o autor
do ato danoso, a consciência dos danos causados à vítima e a sociedade, ele torna-se mais suscetível
a punição e reparação do prejuízo causado pela infração cometida. Foram encontradas deficiências
nos métodos utilizados para punir o menor infrator, que muitas das vezes, tem mais

um aspecto de castigo do que mesmo a reeducação. Desta feita, identifica-se a necessidade de


novos meios, não somente punitivos, mas também reflexivos.
Um menor que infringiu a lei, por exemplo, muitas vezes não tem a compreensão das
consequências que este ato causa tanto para ele, como para as vítimas, familiares e os demais
envolvidos.
24

Analisando sobre desenvolvimento da justiça restaurativa junto ao ECA, lei especial que
versa dos menores infratores, o Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei Federal n.º 8.069, de 13
de julho de 1990, compreende-se que o diálogo e a empatia são ferramentas poderosas para a
reintegração do adolescente à sociedade.
Diante a análise dos rendimentos da criança e do adolescente em relação ao desafio
enfrentado durante o desenvolvimento do Estatuto da Criança e do Adolescente, a aplicação das
medidas socioeducativas deve respeitar os direitos e garantias fundamentais, especialmente quando
se trata de punições diferentes das aplicadas aos adultos. Apesar do ECA possuir direitos e garantias
para crianças e adolescentes, faltam estruturas para sua aplicação efetiva.
A medida socioeducativa destinada a adolescentes que cometeram atos infracionais possui
um caráter curativo, podendo também incluir um caráter preventivo, para que o adolescente
restabeleça um padrão de conduta e um programa de vida sem a reincidência de atos delitivos. O
ECA, em conjunto com outros sistemas normativos, busca o resgate do adolescente como detentor
de direitos e garantias, num processo de socialização.
Não obstante, muitos locais não possuem recursos suficientes para o cumprimento de
medidas socioeducativas, o que abre espaço para a marginalização ética e moral, bem como a falta
de suporte familiar. Por isso, surge a possibilidade da Justiça Restaurativa, incentivada pelo
Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que permite a conciliação entre infrator e vítima, por meio de
metodologias diversas para se enquadrar no caso concreto.
Esta forma de solucionar os conflitos cotidianos busca retomar o diálogo e a ideia de
responsabilização, ao invés da punição. Além disso, é preciso incentivar a inserção da Justiça
Restaurativa nas escolas, para que as crianças aprendam desde cedo a importância do diálogo e
como dialogar para resolver conflitos.
Deste modo, é necessário positivar o olhar para o adolescente, dando-lhe uma oportunidade
de reeducar-se e reintegrar-se socialmente, pois prevenir não significa

necessariamente solucionar o problema, mas pode levar a uma reeducação, uma inserção na
sociedade de forma positiva e menos punitiva.
25

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