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004
assanàra
ios
J i o s
tda
Gaitra
lauina
de
Pecado
A Volúpia do
Um titulo forte para um li-
Vro que é o espêlho de algo
profundo, de algo que diz e
lescreve a vida pelo prisma sen
sato da verdade. O amor, èsse
sentimento comp.exo que vibra
na alma das criaturas, martiri-
zando uns,
A VOLÚPIA DO PECADO
irreais;
livro são
firmas dêste
personagens e mera e despro-
Os
qualquer coincidência será, pois,
posital casualidade.
CASSANDA RIOS
A VOLUPIA
DO PECADO
RLE
EVA FEGHALI
CAPITULO I
e então gritava.
"Não acenda a luz. . Não acenda a luz!"
iluminando todo o
Porém, um claráo se fêz derepente
quarto e Mário
CAS'S ANDRA RIOS
10
Andava des-
Lyeth Gimenez era impertinente e peralta.
vestia calças compridas
os cabelos em desalinho,
calça, com
bolsos cheios de bolinhas
arregaçadas à altura dos joelhos,
os
Também coimo não haveria
de gude e de pioes. Era orgulk:osa. chefe
de sê-lo? Era a campe de inúmeros jôgos infantís e
de bairro. Sem duvida
de tôda a garotada daquele finzinho
era feliz.
De manhâ acordava muito cedo para
ir à escola. A luta
levaria quase tôda a manh . Nao fôsse
para que se levantasse
uma hora antes.
sua mäe precavida, chamando-a quase que
A noite reunia-Se com as amiguinhas, e quando cança
vam de brincar de "amarelinha" "pegador ou "mâe-de-rua
do
afastava-se com elas, às escondidas, para lugares êrmos
bairro proletário, a, fim de espiarem os casais de namorados
da
que se refugiavam entre as árvores ou atrás dos paredões
grande "Casa de Saúde ali perto, na terceira ladeira depols
de sua casa.
Muitas vêzes presenciara cenas chocantes e vira tambem
policiais agarrarem com brutalidade rapazes e moças que ten-
tavam fugir. E mesmo depois de muitas súplicas iam dar a
rágica volta na "viúva-alegre", nome dado ao carro de de-
tençao dos romanticos transgressores da moralidade
puoinc
A caça à imoralidade era intensa. Näo só pela policia
como também pelos olhinhos vivos daquela garotada inex
periente que via nisso apenas motivos para risos e môfa.
Certo porém que as
freqüentes cenas teriam produzido
coraçoezZinhos ainda verdes, vazios de emoções, ansiedade de
A VOLÚPIA DO P ECADO 15
delicadas e
graciosas. Pensava em namorar e sonhava maais
assiduamente com os seus másculos
ideais.
Estava quinze
com
quando brincou em seus lábios
anos
o
primeiro beijo. Fôra a um casamento. Durante tôda a ceri1
mönia no conseguira desviar os olhos de um rapaz que a
fitava incessantemente, com um
quê de malícia ou
Quando o baile teve início, o rapaz, que naoadmiraçao.
mais vira
desde a lgreja, tornou
aparecer. Fitou-a com a mesma
a
insistënCia. Olhou-a por muito
tempo, porém no a convidou
para dansar.
Ela já nao mais lhe dava
atenção e conversava com
outros rapazes quando ele se acercou e
sorrindo, pediu-lhe
uma contradança. Ele
dançava divinamente e ela sabia acom-
panhá-lo. Formavam um belo par. Näo se separaram tôda a
noite. Quando quis despedir-se, êle ofereceu-se muito amàvel-
mente para acompanha-la e apesar de seus protestos não a
deixou ir só. Para Nadja bastaria a companhia do noivo.
Eu preciso acompanhá-la. Quero estar com você
mais um pouco... Alguém já Ihe disse que é muito bonita?
Veja. A sua mao cabe inteirinba dentro da minha é assim
que você está no meu coração.
As palavras um tanto atrevidas soaram aos seus ouvidos
com o encantamento das primeiras frases de amor que ouvi
ra embora talvez fôssem falsas. O rosto bonito do jovem
embrava-lhe o "sheik" da capa do romance que lera tan-
tas vezes.
Quando chegaram, pararam noportão. Disse-lhe boa
Toite e estendeu a mao para despedir-se. Ele ousadamente
prendeu-a entre as suas, aproxinmou-se e perguntou-lhe:
Quando nos encontraremos outra vez?
Antes porém que ela
respondesse, puxou-a ràpidamente
e apertando-a nos braços procurou beijá-la. Ela quis livrar-se,
fez. fôrça, porém foi subjugada e ele beijou-a em cheio na bôca.
Foi tão rápido, tão imprevisto que quase não sentiu os lábios
grossos apertados contra os seus.
Quando êle a soltou, voltou-se envergonhada. empurrou
o portão e caminhou a passOs largos em direção à porta. De
longe ainda ouviu-o dizer:
18 CASSANDR A RIOS
desajeitada companhia?
- Por que não? Respondeu embora intrigada com
sua atituce prec1pitada.
Reparou que éle era muito alto e que seus olhos eram
de um azul forte, quase violeta. Concordou que era também
bastante desajeitado. Nos láábios, tinha um sorriso de con-
fiança.
Esairam juntos muitas vêzes. Era o seu primeiro namo-
rado. Compreendera afinal que não havia motivos para temer
a viúva-alegre". Era moça de família e sabia que não pre:
CIsava namorar no escuro, por trás dos muros, pois era
uma menina às direitas.
As vêzes ficava com êle no jardim e quando fazia uma
noite muito bonita iam. passear de bicicleta pelas ruas do
bairro deserto.
Em sua casa todos o acolhiam muito bem, achavam-no
bastante inteligente, porém tanto
um
"maluco".
Armando, êsse seu nome, estava sempre se
xando, dizia que ela quei-
o fazia de bôbo, que não gostava déle,
que nunca o esperava. No
nutos de atraso. Ela
era capaz de perdoar, cinco m1-
para ele era um verdadeiro demôni0.
Armando odiava-a tanto
quanto a amava.
Mas as tristezas eram
tôdas de Lyeth. Não
modificá-lo. As colegas apelidavam-no conseguia
amigos de "Piadinha" e os
chamavam-no de "Pato", por saberem de
por Lyeth. Ah! Se ela
sua paixao
Ja o teria não
mandado passear. Ele tornava-segostasse dele
pouquinho um
do
repetia as
anedotas sem graça
intragável quan-
A VOLÚ PIA DO PECADO 21
24
de Armando e nem
as ilusoes
almentava
Já não mais formulava de si para s1, Convencida
mesmo
sorria quando
do persistente rapaz
ante as galanterias oferecem? Por que
o amor que Ihe
"Lyeth, por que nega desses súditos do Amor
abandona tôda às súplicas
náo se respondia dan se
Psique? E ela
mesma
de um Arlequim. ate
-Não. Não sou Colombina. Mas há Arlequim e
um ciumento Pierrot
desconsolado".
mesmo
Lembrava-se dos dois rapazes que tudo faziam para
chamar sua atenção. Mas desperta dessa fantasia carnavalesca,
tirando a máscara do sonho êles desapareciam, envoltos na es
coitada"
continuou
conversando como se fos
fós
Riram-se. Seguiram juntas,
caminho a loira perguntou
amigas. Em meio
ao
velhas
sem
Mostrou-se surprêsa quando Lyeth
The o nome e onde morava.
bairro.
no mesmo
moravam
nao saber que o
Fingiu fez
respondeu.
to ipróximas. Por sua vez, Lyeth
vizinhas
que eram
um
No me d1ga .
mesmo. E demonstrou alegria com
Que
ranheta comO a voz da sofisticada jovem.
e
exagerado nariz con
anos, näo tinha
o
mais de dezoito
não podia ter m a s sim
de uma
também no e r a feia,
prido como Julgara e
hav1a tivera
beleza fascinante. As primeiras impressões, que
última tão estranha e original?
eria
erradas, mas, e a
sido realmente a
fingindo näo reconhecê-la? Qu
ela con firmado o nome.
Irez.
nome muild
Nao predomina a letra /? Já ouvi êsse t e rminaçao
de outra maneira.
vézes pronunciado porém
S tende a ser breve
A VOLUPIA D0 PEC ADO 29
-Não
CASSANDRA RIOS
30
bem próprio.
-
Se posso ensinar-lhe
quiser eu o pouco que sei. Co- Co
mecei a estudar, mas nao
terminei.
hoje à tarde?
Sim. Aborrecia-a com o barulho?
Não. Nem um pouco. Pelo contrário, gostei de ouvir.
Toca muito bem.
Lyeth sorriu sarcastica quando as castanholas nas maos
dela retiniram.
Você também toca muito bem. - Z.. 2 Lem-
brava-se de um Z arrastado que não era de zêbra. Sabia que
o nome era fácil, mas não conseguia lembrar-se dêle e mur-
murou baixinho:- Ih! Meu Deus!. ah! sim. Ela cha-
mava-se Irez. A exclamaçáo "ih!" ajudara-a.
Conversaram o tempo suficiente para que Lyeth desejasse
que ela se despedisse. Alguém chamou-a para o jantar e então
Irez retirou-se. Pouco depois Antônio chegou. E como todas
as quintas-feiras, foram para o clube onde dançavam e jo-
gavam pingue-pongue.
CASS ANDRA RIOs
3
doer-me a vista.
Provando, ora. . .
Já!
me via pela primeira vez?
E por que fingiu que
lembrasse de tê-la
Não sei. Talvez porque não me
ironia declarou pausadamente
Visto antes. Com imperceptivel
Então jura.
Cruzou os dedos índicese levou-os aos lábios,
Juro. beijando-os
CAPÍTULO VIII
alta, fisio-
u m a mulher de
estatura
Matiide, tia de Irez, maneiras um
de gênio voluntarioso,
nomia simpática, porém foi
foi àa
com o semblante sempre catregado,
bruscas.
tanto
dormia calmo de tôdas as
o sono
casa de Lyeth que ainda Consuelo, m
dona Consuelo,
me
não consentiu que
manhas. Matilde ela fôsse à
acordasse. Deixou recado para que falar
de Lyeth, a
levantasse. Precisava
muitíssimo
se
sua casa assim que
Com ela. abrindo
espreguiçou-se,
manha estava calma. Lyeth u m robe que
um
A
A vestiu-se com
Levantou-se,
os braços docemente.
e abrindo a janela do quarto
pés da cama
olhar para aquele
aos
estava estendido
Tao distraída ficou a
olhou para a rua.
mundo, que nao
ouViu sud
era seu
bairro que insis
pedacinho de voz se repetiu com
o café. Quando a
mae chamá-la para
voltou-Se c o m passos vagarosos.
tência, Lyeth espregui-
o
corredor,
Percorreu
Abriu a porta e
saiu. cozinha, onde sua nd
cada passo. Entrou na
çando-se em
faces e sentou
cantarolando, cuidava do almôço. Bei jou-a n a s matinal. D
um canto da mesa, esperando pela refeição d- a
se a um sorriso,
olhou-a atentamente, e esboçando
Consuelo
moestou-a
levantar-se.
Minha filha, isto não é hora de
Fiquei
A VOLÚPIA DO PECADO 43
Você esta louca?! Você não pode tomar essas cotsas.
Como é que Irez pode
Ela nao esteve doente como vocë e por certo o
médico receitou.
D.a Consuelo continuou a falar, proibindo-a de aparecer
em
casa com o tal remédio. Coisas como essas só se tomavam
quando o médico receita. E lembrando-se, falou-lhe sôbre a
visita de Matilde.
Pouco depois Lyeth premia o botáo da campainha da
casa de Irez. Foi Matilde quem atendeu. Até parecia que esta-
va à sua
espera, pois nao se demorou para abrir a porta.
Deu uns passos pela sala e sentou-se a um convite de
Matilde.
Mame me disse que você queria falar comigo. De
que se trata?
Sim, realmente. Trata-se de Irez - E
-
continuar.
só. Com uma entona-
Matilde falou tudo de um fôlego
andava sempre nervosa por alguma
ção cheia de rancor. Aliás, habito, sua
talvez por fôrça de
COisa. E mesmo quando ria,
expressao cont1nuava carrancuda.
deixando-a falar. Em todas as
Lyeth ficou silenciosa, pôr fim
absurdo pretexto para
palavras sentia desconfiada
um
mulher. Se mentira,
vaidosa como töda
Era apenas a sua fulgurante
mentirosa. admirar mais
intenção de fazë-la disse com sin-
Levantou-se e
fora com
Matilde.
cabeleira. Olhou para a palavra:
com
propós1to de
cumprir Nao será
no pede.
que você
me
ceridade., farei o
Bem, Matilde, brincar de hipnotizar.
continuará a
irez tenha com-
comigo que que você
Não leve a mal, Lyeth. Espero que eu a estou
-
casa pensando
vá para manbas de
preendido que nao e
advertindo
contra as
a estou favor, nao Ihe
culpando. Apenas ela. E por
deixe dominar por
Irez. Nao se conversa.
nada sôbre a n o s s a
diga Nada direi.
tenha receio.
Não
-
profundamente magoada.
Sentia-se
Lyeth
retirou-se.
tal coisa? Quem diria
pensar
Quanta tolice! Quem poderia
difícil
solucionar o
acontecer? Não
lhe seria
iria necessidade ne-
que 1sso mais. Não via
Bastava nao procurá-la
caso.
o tolo colóquio.
tido, com Matilde,
nhuma em ter um
motivo
existir
deveria
Misteriosamente
sentiu que diretamente
lhe pedisse quase
Matilde seria
bem mais forte para que não
amizade com
Irez. O que
continuasse a
que nao inconveniente.
dificil muito menos
e
os livros de hipnotismo
devolver-lhe
Começaria por nao quer
sua mae
emprestara, alegando que
que ela Ihe
que ela os lesse. ficara abor
de fato Da Consuelo
Nao mentiria, pois casa co
andava pela
recida com as atitudes
de Lyeth, que ava
saberá.
-
Irez desviou
Você nunca
dou de conversa,
A
VOL. UPIA DO PE CADO 51
veemência,
CAS S ANDRA R I OS
54
Sem-vergonha nada. Eu faço o que quero. E nin
guem tem nada com isso.
E eu também, por isso vou embora.
Levantou-se e caminhou em direção da porta. Quando
a olhava desafiadora-
tocou maçaneta, Irez que até ent o
na
mente, ao ver que ela estava mesmo decidida, a ir embora,
correu para ela e puxou-a. Encostou-se à porta e pediu emn
tom desesperado, que mais intrigou Lyeth.
Não vá. Eu juro que nunca mais me requebro. Nun-
ca mais. Eu fiz de propósito.. mas n o faço mais
ficando
Lyeth indignou-se contra si própria. Estaria Ten-
demônio certo!
louca Que seria aquilo? Obra do semelhanteporcoisa. Nunca
tação. Nunca imaginara possivel
ouvira comentários sôbre um caso idêntico. Súbito, como
um relâmpago, veio-Ihe à lembrança a noite em que discu-
tira com Irez acêrca do batom à prova de beijos. Sim. Irez
insistira porque queria ser beijada. Beijada por ela. Fremeu
e pavor ante tal suposiç o. Nada haveria demais nym beijo
desde que não houvesse aquela expressão no rosto dela. Des-
de que não fösse na bôca. Lembrava muito bem de suas
palavras. Nunca as esqueceria. Se bem que não tivesse levado
a mal. elas tinham-na impressionado bastante.
E essa outra contissão que ela fêz despertou em si umna
sensação confusa que The percorreu o corpo livremente, su-
bindo-lhe à cabeça. Atormentava-a. Trazia-lhe recordações.
Lembrava-se de Irez. De suas exçentricidades, de seus olhares.
O olhar de certa noite quando ela lhe dissera:
"Um dia faráá tudo que eu ordenar e a um leve aceno
deste dedinho". E Irez movimentou-o de uma maneira tôda
especial, tal qual um rapaz cheio de malicia convidando-a
para algo nada moral vocë virá
A vOLÚPIA DO PECADDO 59
Mas na mente de
veis. Náo. Não era Lyeth tais absurdos eram
nao era nada possivel. Estavam todos inadmissi
daquilo. Era sim uma loucos.
pobre ingênua. O díabo
se
apoderara dela
A VOLÚPIA DO PECA DO 63
Na noite
seguinte, quando a encontrou novamente, sen-
tiu-sefustigada pelo mais intenso desejo de comprovar os
pensamentos misteriosos que a atormentavam cada vez mais.
Comprimia no coração algo que nao queria converter em
sonho, que não queria deixar subir à
Irez
cabeça.
comprimentou-a com uma
expressäo triste no rosto.
Como nunca tivera antes.
Vai mesmo viajar?
Vou.
Por que? Será que vai mesmo? Creio
Está tão satisfeita. Nunca' a vi assim antes. que deseja i
tão alegre. Vai
.
.
livrar-se de mim.
Prosseguiu com insinuações, gaguejando como se quase
não pudesse falar.
Eu preciso ir com mamäe.
Irez insistia.
Vai ficar muito? Muito tempo?.
De súbito Lyeth tornou-se nervosa.
tantas
Exasperaram-na
perguntas. Quase nao podia conter-se
ante o olhar
sedutor e apaixonado que ela lhe lançava. Quis mudar de
conversa, porém ela parecia resolvida, como se duvidasse de
Suas palavras, a descobrir o verdadeiro motivo da
partida.
Você náo pode deixar de ir?
Não, não e näo. Por que faz tanta pergunta? Vou
eestá acabado. Que tanto você se
preocupa? explodiu ner-
-
"Lyeth querida:
Quantas vêzes
preciso dizer-lhe que a amo? Será
que nao sente
Não posso mat1s. loucura que
a
me invade,
que me tori ura?
Nao quero que se afaste
de m1m.
Parece-me às vézes que me ama, mas nunca d1z
nada.
Trata-me com
az uma amiga ou outra indiferença! Para vocé tanto
tanta
é a mesma coisa. Eu não.
só gosto de voce. Eu
to-me morrer.
Quando me fita
demoradamente. sin-
Lyeth, já sei. Você quer algo quente. algo
demonstre meu amor por vocé. que
Pois bem. ai está: Eu
a amo. Eu a amo.
Mesmo que se
vá, para muito
esquecere.
longe. jamais a
estaria ficandoo?
Sentou-se à beira da cama. O coração pulsava apressado.
faltava-lhe o ar. Que magia possuíam aquelas palavras
"Eu a amo Proferiu-as muitas vêzes.
Dobrou a carta e guardou-a junto. com a outra. Lá no
bôjo do vasinho de porcelana. O antigo vasinho, lustroso,
brilhando à luz da lua; böca largae recurvada, gargalo estrei-
to. E no bôjo esmaltado à rosa champanha, um par de ninfas
pintadas á ouro. Era a. única coisa bonita ali dentro. no seu
quarto.
Na manhá seguinte, para seu desespêro, misto de con-
tentamento, d." Consuelo comunicou-lhe que adiara a viagem
por mais dois dias. Teria então que enfrentar por mais êsse
tempo a jovem Irez.
Faria de conta que não lera a carta. Não acreditava nela.
Embora duvidasse mais profundamente dos próprios senti-
74 CASSANDRA RIOS
choramingou tris-
76 CASS ANDR A RIOS
bem a
compreendia,
pois era o mesmo
enlouquecia. Sentiu medo profundo pelo
um que a
tecer àquela jovem que poderia acon-
que ameaçava matar-se se a deixasse.
pranto gelou-se-lhe no rosto. Estava doida de O
Como era possivel uma
atração indignação.
mútua entre duas mulheres
que se conheciam há to
aquele que lhe trazia como destino tempo?!
pouco Que mundo era
um amor
Quanto pavor contra si própria. Que loucura tão misterioso?
ver-lhe aquela carta! Precisava cometera ao escre-
mais forte
reavê-la. O mêdo agora era
que tudo.
Procurou-a quase que
inconscientemente. Irez riu-se dela.
Lyeth quase chorou
gasse a carta,
suplicando vivamente que ela Ihe entre-
86 CASS A ND RA RIOS
"Lyeth querida.
Matilde leu a carta. Estou com mêdo. Ela proi-
biu-me de sair e de falar com vocé, se eu o fizer con-
tará tudo a papai. Que devo azer? Vão se esqueça:
-
Eu a amo.
Responda, por tavor
Irez".
e 'Irez não
temos segrêdos. Não
creio que haja algo entre nós para se
conversar
Teresa porëm obedeceu à ordem brusca
em
particular.
troazinha.
da jovem pa-
-Não ouve? E minha
cia. Parecia-lhe dificultoso falar,empregada,
porém
deve-me obedien-
to de passado
meditação, perguntou-lhe magoada.
um momen-
Doismeses se
passaram depois dessa noite. Os protestos
de Lyeth não eram convincentes. Nem ela
mesma sabia ex-
plicar a falta de domínio sôbre si. Eram desconcertantesas
palavras rancorosas que lhe continuava dirigindo. Reflexo
de uma revolta íntima em combate ao
estranho sentimento
que crescia dia a dia, sufocando o desejo de dizer-1he muitas
vêzes: Eu a amo. Eu a amo. A ansia de
sua voz era cada vez mais
vê-la, de ouvir
forte que a razão. A seu lado as
horas ficavam esquecidas. O
tempo não era tempo: A pró-
pria vida parava. Parecia uma môsca a debater-se nos fios
VISCOSOS de uma teia no centro da
Trez a
qual, como uma aranha,
esperava com os braços abertos para envolvê-la e
arrastá-la consigo para um inferno
um misticismo irreal.
que era o próprio paraiZo,
Não foi sem razão que sentiu
disse alegria quando Irez Ihe
I omou
para o
o
pente que ela segurava nas m os e
apontou
seu nome,
que Irez escrevera na borda.
Eu já sei. O segrêdo se resumne nesse nome que
Voce escreveu no
pente que lhe dei, no é?
E. Não .
nao é isso.
Afinal, é ou nao?
Não sei. Não me
pergunte mais.
Estå bem. Se prefere continuar com seus diiemas.
COntinue, não insisitirei. Agora será melhor vocé ir para
Casa, já é
tarde.
Não queria prolongar por mais temp0 a embaraçosa
conversa.
see ine. Tinha mêdo da resposta que ela daria a nergunta
insistisse em conhecer o segredo.
106 CASS A ND RA RIOS
um tom de desprezo,
gurou-se-lhe n u m riso indigno. Forçou assim à emoção
de ironia, de repulsa. Não devia entregar-se
febre Insultou-a. Ridicu-
assaltava como uma negra.
que a
larizou-a. Ela então quis defender-se, negar o que havia dito,
desdizer o amor que confessara.
diz? Convencida. Então voce pensa que a
Que me
mulheres? Louca é
homens amam as
amo assim como os
de perto.
todos dias. Não fuja à verdade
Não minta como os
lirante:
Tem razão. Mas já não posso ocultar. Ajude-mne.
Suplicou Irez. Seus olhos estavam cheios de lágrimas,
a voz apagada, sumida entre os lábios lividos, que tremiam
Que quer que eu faça?, perguntou irritada.
Nada que poderia fazer?
Isso mesmo. Que poderei fazer? Sinto muito. Va
esle
para casa. Eu me sufoco, não agüento. Veja. Sua irma
najanela, creio que vai chamá-la. Quer ver? Ouça: um
dois três.
Irez! A voz de Lenita soou forte.
Está ouvindo? Eu não disse? Vá. Vádepressa.
a faça esperar. Diga a ela que eu é que nâo quero vOce. ue
eu a desprezo. Que tôda a sua família me causa repugnan
A VOLÜPIA DO PECADo 109
28/4
São Paulo.
Querida Lyeth meu amor
Conhece música com estas palavras
uma
"Amar-te não devo, querer-te no
quero,
porem nao me atrevo a te esquecer.
Sao as mesmas
que eu lhe diria se pudesse falar-lhe
assim.
Sabe, meu amor, que tenho algo a dizer-lhe? Algo
ito divino que está ligado ao meu destino, que dele ja-
mais se
desprenderá? E você logo o saberá.
que a amo, meu bem, e queria tanto
que soubesse
amor. Mas não sei se você se alegrará. Tenho medo!
Amo-a tanto.
ue adorável seria se você me amasse! Ah! se soubesse
e u adoraria poder fitá-la nos olhos demoradamente
azem todos os namorados que se amam. As vêzes
Irib
olho-a urtivamente, sem que o perceba. Mas você não re-
Dui, não sente necessidade de fitar-me de olhar para mim.
114 CASSANDRA RIOs
6/7
A noite vai madrugada adentro. Sorrio. Só.
Ouço o mar lá fora. As ondas barulhentas arrastam-se
pela praia num chuá interessante. Chocam-se contra os ro-
chedos. Os ventos sopram com fúria. isso me apavora. A
noite esfria. Parece que vai chover. Ouço o barulho esqui
Sito que fazem os sapos e os grilos que mais parece o de
uma orquestra dos anõesinhos da caverna.
Torno a enveredar pelo labirinto dos pensamentos absur
dos. Sinto um nó na garganta,. Uma vontade louca de chorar.
Como
a saudade é dolorosa! E uma dor intensa que aperta
o coração. A solidão conforta, da espansão á minha dor
Oculta. Eu a amo tanto. Repito e repetirei milhoes de vêzes.
sempre: Amo-a. Por que voce n2o quer o meu amor dim
Tem razão. Você já disse mais de
sivel"!
o uma vez: "E impos
ESsa sua maneira de
ainda resta una
explicar
tal razão faz-me crêr que
esperança. Se não houvesse uma afinidaue
de sentimentos entre
nós eu não vibraria com tanta inte
S1dade. A
emoção que sinto quando fito seus olhos nao S
tao eletrizante,
pois, não haveria uma comunhão de sent
nentos e a minha
emoção se neutralizaria, seria uma decepça
Lembro-me de uma tarde em que não podiamos nc
1alar, quando tudo nos separava, quando vocë me ru .
seu!
Só nosso. O meu segredo é voce! - O meu segrêdo é o
Benditas palavras que dizem tanta coisa e que não me con
fessam nada, porque vocë não quer dizer com êsses lábios
vermelhos, coim essa voz que tanto anseio ouvir: "Eu amo -
8/7
Depois de caminhar por longo tempo pela praia, enve
redei por entre as rocas que com suas formas grotescas
além,
mam estranhas cavernas que se perdem. pela praia a
delineando o litoral. Gaivotas esvoaçam ao redor. 1or
Omeu pensamento enleva-me. O delírio deste a
provoca visagens fúnebres e eróticas. sombrio,
10/7
Se eu pudesse gravar esta
melancólica risada nesta fó-
lha de papel para que vocë soubesse
que até em meus
soluço. Nem mesmo assim deixo de pensar em vocé. sorrisos
Foi na
hora de jantar, abe? Minha
querida, hoje bebi de- uisque,
pois vermute e
cerveja. Ah! Ah! como fiquei zonza, nem
queira saber. Está decepcionada comigo? Não bebi por
zer. Foi Pedro pra-
que insistiu. Eu nunca faço isso.
Fiquei tão
embriagada! Mesmo assim, durante o jantar, fiquei com o
olharparado, pensando em vocé. Peguei o caderno e escrevi.
Senti que a desejava como
sempre. O desejo me quei
mava o corpo. Houve um
remoinho em minha cabeça e ela
esvaziou-se ficando
completamente oca.
imaginei seus braços em tôrno de meu pescoço. Seus
läbios a
beijar-me
então senti em minha bOca uma nudez
e
umida que foi colando por todo meu corpo como se föra
se
o contáto do seu, quente,
palpitante.
Ah! se eu pudesse escrever tudo que sinto agora, mas
mesmo assim, embriagada como estou sei perfeitamente o
que nao devo fazer. Isso seria uma loucura.
11/7
São Paulo! Finalmente!
Oh! . oque vocë me fêz!.
Por que fingiu nao me vêr? Eu vinha täo cheia de
esperança!
Se você soubesse o que senti quando a vi. Senti um
choque em meu coração. Meu corpo amoleceu e minhas per-
nas bambearam. Foi como se tivesse recebido uma pancada
na cabeça.
Eu estava na janela quando vocë apareceu no portão.
Tive ímpetos de atirar-me de lá, de gritar bem alto seu
nome e perguntar:
Você não me vê, meu amor? Sou eu! Aquela que a
ama. que a está chamando!
uma. .
Vamos dançar?
Levantou-se esquecida dos
vam a vencer a
luta
pensamentos desafia-
que a
contra os sentidos. Se continuasse ali
seria derradeira derrota.
sua
.
AVOL ÚPIA DO PECADO 137
Descrente via
aprox1mar-se a hora inarcada. No podia
crêr que lrez tivesse coragem para enfrentá-la novamente,
depois do que acontecera. Ela ao menos estava táo aturdida
que mal tinha geito para sair á janela e espiar se ela já vinha.
Viria ou nao? Estaria arrependida ou sentiria o mesmo
que
cstava sentindo? Vergonha, medo, desejo de seus beijos. Olhou
pela janela. Pressentira a sua vinda. A loira cabeleira surgiu,
ofuscando-lhe o olhar como um raio de sol. Admirou-a,
Aralizou pedacinho por pedacinho de seu corpo, antes
que
os dedos dela arrancassem um som da porta.A causa de tê-la
feito pensar que seu nariz era comprido, era devido á onda
que lhe cobria a testa larga. Ao vê-la de perto essa impressão
se desfazia. O queixo recurvado ligeiramente para cima osten-
tava uma profunda covinha que Lyeth admirava apaixonada-
mente.
Demorou-se propositaimente para abrir a porta. Não
queria que ela percebesse que estava a sua espera. Tentou ser
natural quando a cumprimentou. Que raiva sentiu quando
se traiu:
Pensei que nao viesse mais.
Mas eu não demorei! Ainda não são duas horas!...
la manda-la entrar quando d." Amália a chamou de lá
do jardim de sua casa. Esta pediu-lhe que fôsse ligar a sua
vitrola, pois não sabia. manej -la. Por mais que lhe expli-
cassem não conseguia guardar na cabeça, qual o botão que
deveria apertar. Era tão compiicado. Em seu tempo de jo-
vem não existiam tantos botoes. B, depois estava tudo escrito
em inglês! "Pause, reject, start, stop".
Riram-se de suas queixas. D." Amália tinha um geito
um tanto cômico de falar FIcaram la algum tempo ouvindo
núsica. Súbito a voz de d." Eney chegou até elas, num cha-
mado arrastado
"Irezinha". Como a irritava tal diminutivo. Lyeth
sentiu um sarcástico desprezo ante o apëlo dengoso. Se Irez fô-
Se uma criança, porém .Ja nao O era. Era mulher demais, ou
Se uma
criança, po t o pouco
quem sabe, pensou, muito mulher!. .
pouco mulher! Olhou-a en-
quanto caminhavam. Achou-a iragi. A tace acetinada parecia
Iransparente. Ela parecia ser toda leita de porcelana. Delicada
38 CASSANDRA RIOS
dão querida. . .
dedos em sua boca e murmurou:
ponta dos
Passou a
me perde.
que me escraviza. Seu anmor que
Estou
142 CASSANDRA RIOS
pondeu melancolicamente:
com uma
expressão delirante, res-
Seus passos
marcavam-se na areia.
e fina das praias
para ela a mais linda. ANaquela areia branca
O mar revolto num anoitecer praia do
muito brando como Guarujá.
rependido em soluços devolvia a terra o que ar
Olhou absôrta o céu estrelado. que dela tomara.
para o amor. Era uma noite feita
feita
Uma dúvida terrível
mente. "Estaria ficando
gemia em seu coração. Doia-lhe
louca"? Marcara encontro na
guém que nao era lrez. com al
há muito Alguem que se interessava
tempo. E agora sem saber por ela
espera-lo impaciente. Se ële a beijasse o porque, ali estava a
que sentiria? Não
desejava seus beijos. Queria .apenas anali1za-los,
ferença de seus sentimentos entre lrez e um sentir a di-
mente sentira entusiasmo homem. Antiga-
por ele. Quando o Via scu
chegava a pulsar descompassado. Nao coracão
que fizera a Irez, de nao sair com importava a
promessa
ausencia. Não importava realmente. ninguem durante sua
Continuou a vagar pela praia, como em busca
prio ser. Quem sabe, ia do pró-
pensando, talvez despertasse
pesadelo, daquêle amor degenerado sem razao de ser. daquêle
estava cada vez mais calma e tépida. A noite
Passos apressados ecoaram_atrâs dela. V
oltou-se
Reconheceu-o imediatamente. om um sorriso bom ansiosa
bios ele estendeu-lhe as duas maos. nos lá-
Erraram pelos
arredores
148 CASSANDRA RIOS
amor.
xar novamente serei capaz de cometer uma loucura. Mato-t
Eu sei que você não acredita em nada do que porém
agingiu
fiquei mesmo doente. Fiquei muito doente quando voce
não me ver. Ate
Quando me olhou com tanto desprezo
A VOLÜPIA DO P ECAD0 153
pensei que
pena.
a
Sem empregada,
tenho medo,
nao vale
nao que
Eu ainda Ticaremos
sozinhas, quer
Vamos Lyeth,
coníormas.
a abrace M e s m o se Irez se
a beije, que
eu deixaria de ir.
Estava completamente dominada
dominada
Lyeth náo depois.
EStava completamente
procura-la
seus braços.
se ela iria estreitada
em
ser
de vocë primeiro.
pelo desejo mais tarde. Va
Irei
CASSANDR A RIOS
154
melhor, Mam e pensará que ficarei
Está bem, será
sim?
só. Mas não demore
Não demorarei.
Deixou-a convencida, por pro-
Lyeth voltou para casa. o
derrota.Queria aproveitar
pouco mais
sua
um
longar resistência.
último instante de sua frágil
velozes, discorreram rápidos pelo
Os minutos passaram
viu quando d." Eney desceu
mostrador do relógio. Da janela
Demorou-se mais, para
a ladeira. Irez estava esperando-a.
Abriu a porta e saiu. irez
Vingar-se do muito que a esperara.
chamou-a da varanda.
Você não vem?
coman-
Estou a caminho. Os passos apressaram-na
misteriosa.
dados por uma fôrça superior,
- Entre. A porta está aberta. Gritou Irez surgindo
na janela.
Lyeth entrou na sala. Esperou-a longos minutos. irezZ
não descia. Esperava-a no quarto em silêncio. Lyeth subiu
as escadas a dois e dois degraus. Abriu a porta com estrépido
e seus olhos buscaram-na sequiósobs.
Por que você está vestida assim, de penhoar?
- Mamãe não pensará que eu sai e depois. VOce
não gosta?
Provocadoramente acercou-se de Lyeth. Fêz-se abraçar
e a sua böca ignescente procurou desesperada a bôca de Lyeth.
Fela prirneira vez sentia todo o corpo dela em Slas
maos, quase desnuda, colando-se-lhe á carne num ampiexo
desnorteante. Pela bôca sentiu correr um laivo salível. Aper
tou-a mais. Seu corpo tremia num nervosismo tácito. Irez na
mais era a menina que temia tocar. Tornara-se uma m uIh ner
faze-la sofrer
com palavras carinhosas. Condenou-se por
e
suplicou beijando-Ihe o rosto:
Não chore. Não chore pelo amor de Deus. Não
chore. Nao
Você só me faz sofrer. Não vê que não
sar, nao quero quero pen-
preocupar-me com êste sentimento? Eu já
sofri muito, talvez mais que voce. Fui desprezada, humilhada.
Você quase me bateu quando-lhe confessei meu amor.
-
nao queria. .
Está latejando?
Sim. O sangue nas minhas veias borbulha eferves-
cente de desejo de voce.
Fechou os olhos. Os braços cairam-lhe ao
longo do corpo
numa prostação deliciosa. Lyeth ficou a olhá-la, embevecida
procurando no rosto sereno a loucura daquele momento. Ela
parecia imersa no maiS profundo sono. Contemplou-a fasci-
nada. Irez descerrou os olhos, tornou a
abraça-la, fitou-a
com adoração e carinho e
salpicou beijos pelo seu rosto. Os
lábios entumecidos pela violëncia dos beijos. As faces
das. Parecia que todo o sangue do corpo lhe afluira aos
páli-
lá-
bios arroxeados. Lyeth ticou pensando como a poderia amar
ainda mais. Irez era violenta e meiga nos momentos de amor.
Violenta de uma maneira quase selvagem. Seus
beijos eram
brutos. Suas mãos finas e delicadasS tornavam-se
enérgicas.
Meiga, de uma meiguice divina, deixando transparecer
em seus gestos uma ingenuidade pura. Ao senti-la assim o
coração surgia radiante de um sofrimento antigo sentindo o
vasio de sua impetuosidade violenta.
A calma voltou aos corpos. Ficaram entrelaçadas num
apêrto frágil que as prendia tanto. Era a calma que voltava
atravéz dos sentidos.
Mas, era sempre assim. Seria sempre assim. Provoca
tiva, com um trejeito de revolta nos lábios, Irez reclamou
seus direitos. Queria seduzi-la com beijos. As carícias demo
radas e precisas.
E u a quero. Você precisa ser minha. Quero-a agora.
Seja minha. Deixe-me possui-la. Eu quero vocë.
Recuperou a frieza do raciocínio. Ergueu-se com esto
O. Irez obrigou-a a deitar-se novamente e aconchegou-se a ela:
com fúria.
indiscrétos. ela. Prendeu-a nos braços
voráz. Aper-
.
me
Você Sufocava-[e, com o
amor!.
Ai
. .
ansiedade.
eles. ntoxicada de
entre
rosto
apertado
184 CASSANDRA RIOS
estou
como um homem oró-
Franziu a testa intrigada com as pro
1SSO.
sexo.
de dizer uma coisa dessas:
Como vocè teve coragem
Louca! Mil vezes louca! estou brin-
-E mentira, tolinha. Näo tenha medo. Eu
cando, foi só para ver o seu jeito.
êsse nome.
Que susto! E sabe? Proibo-a de falar
Qual nome?
Homem. Não gosto. Destôa tanto. Sinto vergonha.
Nenhuma de nós é homem. Nem eu. . . e . nem vocë.
Mas eu me sinto assim.
- Nao quero ouvir mais isso. Você é mulher. Bas-
tante feminina. Não há vestigio de. . .
Irez fechou-lhe a bôca com um beijo. O cobertor amon-
toado no chão, ficou esquecido: O calor do corpo de Irez
confundiu-se com o de Lyeth
190 CASSANDRA RIOS
rosto de uma "Madona". Tinha o efeito triste da
se entrepunha em seus lábios.
lágrima aue
que? Há
algum motivo especial para irmos?
Sábado haverá uma festa
Marcia nao quercomemorativa
do Tenis Clube e da
fundação
mos. Será o melhor baile do
ano.
deixar de ir, já
combina-
noites Imagine só, Lyeth, três
dormindo juntas e
num quarto sózinhas.
Seria muito divino. Muito mesmo
Ih! mas como vocë é pessimista. para dar certo.
-
Iremos também ao
Dailer
mada. Na de VOce está tão entusias-
Vidade.
voz Lyeth ecoava a notinha
egoista da exclusi-
Claro! Mas se voce
-
pensa
enganada. Nem sei o que fare.. que vai
dançar está muito
192 CASSANDRARIOs
Enfim
é uma espanholinha que caiu do planeta Marte.
Do planeta Marte!? Por
Para me "martirizar".
que?
Que idéia! Aposto que diz isso para tôdas.
Juro que é a
primeira vez.
Fingire1 que acredito. E você como se chama? Não
será Joseito?"
-
Não. Meu nome é Raul de Castro.
Mas quanta
morado de Irez! E
coincidencia!- pensou Lyeth, o ex-na-
196 CASS A NDRA RIOS
-Hipócrita!
Lyeth arrependeu-se. Olhou-a sufocando uma súplica
fervorosa.
Sem vergonha! Cinica! Você me paga! Ainda lhe
disse ela.
E durante todo o caminho de regresso Irez prosseguiu
vociferando histéricamente. Marcia indignada não compreen-
dia. não poderia compreender a, atitude ignobil da irm a
quem se acostumava a chamar "dengosa".
Não sei como pode existir gente tâo baixa, tão hi
pócrita, fingida e desclassificada.
Que é isso Irezinha? A quem você diz isso? A que
se refere?
A pessoa mais cinica do mundo. Å alguém que se
eu pudesse mataria, queimaria com o ódio que queima dentro
de mim nesta hora. Ah! se ódio matasse!. .. ah!. .
Lyeth apertou os braços contra o peito. Cravou as unnao
na palma da mão, reteve um gesto violento. Com sarcasnio
retrucou
Ela está assim não lhe deu
nervosa porque Raul
importância. os
Mentira! Se eu o quisesse tê-lo-ia em minhas ma
omo um escravo. Isso, se eu o quisesse. Náo se preocuP
cupe.
formiga
"Centopéia".
Por fim se levantou e foi deitar-se
Assim mesmo, adormeceu aos pés das duas.
entre resmungos.
As duas
possuiram-se sobressaltando-se com qualquer
movimento de Marcia. O
sono venceu-as e, numa ültima
carícia adormeceram abraçadas.
A tarde estava
calorenta. Convidava a passeios.
quis sair a fim de conhecer a cidade e
Lye
rez porm, no concordou. distrair-se um pou
Estava cansada. Queria ir dorI
VOLÚPIA DO PECADO 199
estava lhe
importava com o que
CASSANDRA RIOS
202
ram-se-Ihe de lágrimas. Emudecida, Irez fitou-a com seu olhar
enigmático e triste. Com um soluço, mal deu-lhe a perceber
um por que?" escondido entre seus lábios.
Porque eu quero. Respondeu Lyeth. Estava mes-
mes-
mo decidida. Mais uma vez sentia que deveria tomar a iniciativa
para afastar-se dela, pois do contrario pressentia que algo muito
ruim iria acontecer.
Você me paga! Ameaçou Irez:
Não lhe deu importância. Foi embora. Estava farta de
tudo. Estava crente que seria capaz de por fim á sua vida
cm comum com Irez. Porém tão logo sentiu a sua ausência,
como outrora, como pretexto para voltar, mil pensamentos
apossaram-se-Ihe da mente. "O revolver"! Teria Irez cora-
sem? Seria verdade? Não esperou mais. Saiu. Correu. Não
Iu uma só luz acësa na casa dela. Lenita abriu a porta.
Ué.. pensei que fôsse gente, disse-lhe, brincando
ao mesmo tempo que a censurava:- Você sabe muito bem
que o post1go está aberto. Por que não entrou? Só para dar
trabalho a gente
Entrou estugando os passos em direção da sala de jan-
tar. Suspirou com alivio ao vê-la
A VOLÚPIA DO PECADO 203
Lyeth!
Lyeth aconchegou-se a ela e ficaram as duas em silêncio.
Os olhos cerrados.
de beijos.
A penumbra. O ruido da chuva e o entorpecimento
causaram, lhe pesou nas pálpe-
que as carícias, de Irez lhe
demoradas. E
bras, que foram fechando-se entre piscadas
Lyeth adormeceu quase sem sentir.
Os lábios de Irez eram quentes, macios e carnudos.
rez a acariciava um
Aí não
novamente n u m gôzo lancinente.
Lyeth desfalecia Arrancava-lhe a vida
Irez possuia-a vertiginOsamente.
verdadeiro
Assaltava-a como se fösse um homem.
pelo ventre.
feitas só para carícias marca-
Firme no ato. E as suas maos
carnes, ferindo-a.
vam-se-Ihe nas
Seu
Os olhos de Lyeth desviaram-se arredios quando
Adriano lhe perguntou porque ficara doente. Fi
estou acostumada a
claro,4passar noites
em
Nao talvez por ter tomado um copo de água gela
quei gripada, Está
Esta
cuidado.
ter mais
Mau, mau, você precisa
fazer
mesmo abatida.
Porém Lyeth que jurara a si mesma nunca mai Irez
ter
ao
resistiu os
aquela, nao
Outra estravagância como
ve-la
com
se entregara nco
ao Se
que a dominava. Ficou estirada sôbre a cama sem i
A VOLÚPIA Do PECADO 225
belas que
murmuravam as m e s m a s palavras
Seus lábios no
de escrever. Náo mais precisava gravá-las
antes gostava muito
mais. Porque a palavra era pobre
escrevia
papel. Não tanto s e n t i m e n t o . Ali,
estavam empi-
pobre para expressar cadernos. Poesias, crö-
u m a porção de
lhados n a sua frente fala-
sem valor, frio, sem express o
porque n o
nicas, tudo
descrevia Só rostoOS
vam de Irez. Ali
só falava de suas ilusões,
Homens
masculinos, e braços fortes.
Só falava de homens.
desconhecidos frutos de uma imag1naçao
precoce. E eis que
Sua expectativa ultra-
o destino lhe trouxera, o imprevisto.
Uma mulher satanicamente bela que
jada. Uma mulher. furiosamente a seu destino e à sua vida,
cruzara e se prendera
Estava ligada a ela ent o, de corpo e alma, mais tarde, talvez,
na lembrança e na sua própria carne.
O coração confrangeu-se-Ihe
mais absurdo ápice da emoçao.
Lyeth sentiu-se elevar ao
Respondeu a pergunta
aue lhe faziam os
grandes olhos azuis. triste, muitoinquieta
Esperancada e acreditando na possibilidade de uma triste.
tização se desse uma resposta afirmativa. concre-
CASSANDRA RIOs
234
Quero. Quando?
Qualquer dia. Hoje possível fôsse.
Ah! Se pudessemos! Deve haver uma maneira
Levada por um impulso instintivo
A
A VOLÜPIA DO PECADO 235
-
Você é uma peste. Ai é que está. Quem é que deve
sempre pedir desculpas ou tomar qualquer iniciativa, quando
há uma briga entre um homem e uma mulher?
Quem não está com a razão.
Não senhora.
O homem é quem deve procurar a
mulher.
Ah! Mas que tolice. E
depois você não é homemn.
-
236
usa cuida". Eu bem
você dizia: "Quem
acabado. Bem que
que desconfiava.
gritou apavorada
- E mentira Lyeth. E mentira.
rosto dela.
se estampava no
expressao que
ante a
s i - L y e t h deu-lhe
puxou-a para
Agarrou-se a ela e cambaleou e caiu. Ca-
to violenta que lrez
uma bofetada
movimento de cólera. Irez estendida no
minhou pela sala num arrastando-se com
redor de suas pernas
chão cruzou os braços ao
passos. Lyeth
e
arrastou-a sem piedade
ela, impedindo-lhe os
Jura. Jura
fará outra coisa a não que você não irá ao baile? Que não
ser pensar em
mim. Jura-me.
Claro que não irei
amor.
sem timbre. -
perigoso.
Está pronta Lyeth?
sala com um lindo ves-
Era sua irm que entrava na
tido branco.
mam e.
Eu não vou Nadja. Ficarei com
Na soli
O
relógio bateu dez horas. Dez horas apenas. onze h o
As
dão querida de seu quarto Lyeth pensava em Irez. ee re
re-
no quarto
rasem ponto principiaria a escrever. Trancou-se no quat
petiu o nome dela uma porção de vêzes.
Oh! Deus! Náo quero mais pensar! Como e t r i ss
tãeo
!
que sa
Não quer
uero amar assim. Quero ser como as
outras
Você escreveu?
O que fêz? Não foi
Pensou em mim? dansar? Na me traiu?
OuviuUma
Sentiu?
minha pergunta
voz?
de cada
Sentiu meu vez, Irez. E
você? Escreveu
a
Senti.
senti. Senti Estou tão
beijo?
cOIsa senao sim. Aqui emocionada. Nao
meus pensar em
está a
voce. prova de que não
f1z
eu compreendo,
pensamentos. De
de voce. Fiz um
todos os
outra verdadeiro diário de
instantes que passe! long
A vOLÚPIA DO PECADO 245
Será que foi sonho amor?
Será que eu sonhei que
beijei voce ontem à mei1a noite? Que ouvi sua voz? Fiquei
até com medo.
-
sombra
enlouqueça.
Agarraram-se com
jos que trocarame embriaguez, sufocaram
um mêdo de
terrível.
Até parecia estremeceram juntas de
soluços nos
nos bei-
bei-
que já viviam só de pavor.
recordações.
meu pai?
Lyeth, você se lembra quando fômos na
fábrica
-
Sim. Fiquei de
com tanto medo
Voce ficou foi
guinas que estavam com medo de daquelas máquinas..
mim e nao das má-
tava tão escuroparadas. Eu estava tao
täo
lembra-se fogosa.
fogosa. Es-
CASSANDRA RIOS
250
o fundo da fábrica, atrás
Irez levara-a pela mão para
muito yelha e mal feita. Nos
de uma construção de tijolos, estavam empi-
semi-construidas,
cantos das quatro paredes
inutil1zadoS que seriam naturalmente fundi-
lhados, ferros
reparação de peças ou de qualquer maquinaria.
dos para a
mitórios do lado es-
Um cheiro ácido emanava dos
infestando tudo.
querdo fora da construção, levou a mao em concha ao
e
Lyeth franziu as narinas abafada:
carêta e reclamou com voz
rosto. Fêz uma
Que cheiro horrível!.
Vamos oficina de fundição.
a
Venha. para
A
esta hora já deve ter esfriado.
calor lá é estafante mas a
noite está fresca e o mau cheiro n o chega até lá. Já que
aqui você não pode beijar-me.
Posso sim. E unindo -
o gesto à palavra abra-
cortou o silëncio.
çou-a. O sussurro de um beijo
estreita. Pararam nova-
Seguiram por uma passagem
centro
mente atrás parede de tijolos. Em cada
de outra
fei-
tinha uma abertura redonda as quais pareciam janelas
um tambor de piche
tas de improviso. Em um dos cantos
derretido ainda fumegava.
Que calor faz aqui!
E aqui que se derrete piche e. .
A noite quando se
aprontava para deitar-se suas irmas
lhe perguntaram bastante
indignadas.
Credo Lyeth! Que foi
isso?Você está töda ar
ranhada! Seus ombros como estâo! Será que vocë br1gou
com algum gato?
Nao repondeu. Virou-se
ro. Nunca soube o que elas
rápidamente e saiu do banhei-
pensaram e o
baixinho. Nao mais se falaram nessa noiteque resmungaram
e na manh se-
guinte elas já haviam se esquecido do que tinham visto ou
talvez não tinham dado
importância, como Lyeth temera.
Monica porém náo se fartava de
redores da casa de lrez, resmungar pelos cor
254 CASSANDRA RIOS
persegu1am-na.
disse que vocë nao ira: Seus vestidos de
Eu não
vai querer que vejam
-
nada e vOce n a o
baile não escondem
256 CASSA NDRA RIOS
Csses arranhoes, suponho, Eu é quem marco você. Está
AVOLUPIA DO PECADO 257
há baile nenhum e mesmo que houvesse bem sabe que eu
no iria sem você? Eu nunca fui. Fui?
Não. Aliás, isso é
que eu nao sei. Mas, enfim por
que tudo 1sso? Por que mentiu?
Já ihe disse milhóes de
vêzes que de vez em
preciso certificar-me de que quando
me ama ainda.
E issO que prova!
Ciúme é a maior prova de amor, todo
mundo diz.
Tonta. Agora vá passar álcool nas costas.
eu estou venenosa.
Hoje
Não faz mal. Seria bom
voce? Se morrer envenenada por
me der um
beijo a dor
Ou voce ficará mais passará.
O meu veneno é um
envenenada
antidoto para o seu,
E como duas sadistas excitadas cobrinha.
ram-se como
pelo
loucas às mais deliciosas nervosismo, entrega-
voluptuosidades.
CAPITULO XXXII
desviavam.
Trez continuou em silêncio e como não se resolvesse
falar êle a interpelou novamente.
Nao quer dizer-me o
que há?, sorriu e pergun
para d." Eney:
A VOLÚPIÅ DO PECADO 259
uma p.
-Irez! Não fale assim! Cale-se por Deus!
Então responda-me.
LDiga-me porque voce me bei-
Jou naquela tarde.
Não sei. Perdi
-
quis
beijá-la!
Porém até aquêle momento você me evitára, resis-
tira. Eu a fôrcei. levei-a em casa premeditadamente. Passei
a mao pelo seu rosto, prOvoquei-2 0 mais do que
poderia
provocar. isso me consome dia e noite. Quanto deve despre-
zar-me. Oh! quisera ter sido forte como vocé. Isso me revolta.
quase supliquei de joelhos por seu amor. Oh! tenho mêdo!
Não compreende querida, que se eu nao amassee
vo:e de nada adiantariam suas cariciasEu sei que você tem
mêdo. Sei que é apenas o medo que a faz dizer coisas como
essas. Eu já disse mais do que uma vez e torno a repetir. "Não
deixarei que ninguém a faça sofrer. Serei capaz de morrer por
voce. Não tenha ma1s medo, amor.
O deVolver morrerei.
Isso quererà dizer que vo.e já nao
me ama.
No me faça jurar, poiS na0 Sera um juramento
a ce m e u silencio. Jama1s
cons. nliria, que me servis e
caua
ivrar-n1e da desventura da
Cie suas palavras de a m o r para
CASSA NDRA RIOS
266
acontecer. E mais: Nunca
o que
minha paixão. Aconteçao diario é o élo
mais forte que existo
e
de volta, porque não nos
peça do lutei para que
quanto
em nosso amor. E a prova Irez, ninguem precisará
saber
perdessemos asSim.
E depois
c o m o fiz até ho ie.
Guardarei segredo
que existe o seu diário. a obri
única culpada de tudo. Que
Pode dizer que eu sou a
guei a esta situação.
Não! Nunca!
1alvez que se eu consinta na
Deixe que assim seja. muito, e que
evite dessa maneira que nos interroguem
culpa, Apenas nos
comentários. E assim tudo se apaziguará.
haja sao Os preconceitos
de nosso tormento
separaräo. A causa como nós. Amor!
servem para martirizar criaturas
que so sociedade quando duas
almas se
a
Que importa o sexo
e
nos-
quando dois corações iguais ao
cruzam, se confundem,
Preconceitos! Sociedade!
pulsam no mesmo compasso?
so
Faça o que lhe digo. Protestara mas pareci1a aceitar
Irez continuou calada
se tivesse acalmado.
De sú-
Parecia que sua agitação
a 1déia. fixaram-na pen-
pupilas azuis ergueram-se para ela e
bito as momento observou-a, estudando
sativa. Durante um curto da cabeça, dec
c o m um movimento
Sua expressao. Por fim
dida afirmou com pueril orgulho.
Conhecemo-nos a uns
Isso nunca! Sei que faremos.
quatro anos, compreende?
conheci? Que quer com 15SO
Mas como? Onde a
Já verá Conhecemo-nos durante uma Viagem que
can tar e
i1Z uma vez com o colégio onde estudava, para pard
s
apenas por cartas foi que nasceu nosso amor. Por fim,
Uma incrivel coincidencia vim morar aqui em São Paulo
perto Ce sua casa. Fo1 entao que con essamos que nos a na
var o. conto de
Muito bonita essa história. Parece um
lada Vo:ê tem idéias que merecem aplausos. Nao tem ló
A VOLÚPIA DO PECADO 267
gica! Não tem sentido o você
Você é mesmo do outro mundo! pretende com 1sso. Qual!
que
disse sarcásticamente.
Tonta! A vida é cheia de
uma c01ncidencia o coincidências. Pois náo é
nosso mútuo amor?
Não fale tanta
bobagem, Irez. E se nos pedissem
que moOstrassemos as cartas de
que adiantaria? Nem que nos
algemassemos.
E Voce crê que não
pensei nisso? Dará certo sim.
Voce escreve as cartas e eu arranjo os
creva as minhas também. Passa-las-ei envelopes selados. Es
terá um ótimo resultado. a
limpo. Verá Como
comno
um olhar
300 CASSANDRA RIOS
na primeira idade
que a fêz sentir um mêdo perturbador
o
e
procurou sufocar para não lembrar-se mais.
Depois ficou
o passar do tempo se esqueceu, porém a cena emotiva
com
em seu cérebro
arraigou-se
dominando-a por sugesto. A imagem
erótica
associou-se com Lyeth, pareceu-lhe ver nela a jovem de seu
sonho, dai a causa de uma
ação sugestiva. Se lhe voltasse a
mente aquela cena emotiva,
pela psicanalise, talvez, com
obstinação, conseguissemos, ela poderia curar-se e possível
mesmo, espontaneamente.
Ela porquanto vai procurar livrar-se do amor que nutre
por Lyeth, forçando atenção por um homem qualquer que
lhe pareça frágil, mais jovem que ela, a quem possa gover-
nar á sua maneira. Buscará novas amizades e divertimentos.
Enfim, não matará o sentimento rebelde, apenas o sufocará.
O mais indicado e certo seria rebuscar a consciência, fôrçar
a memória. Falar do passado até fazer vir a mente o motívo
emocional. Ai então a cura seria certa e inevitável. Oh! como
eu gostaria de manter contácto com aquela pobre menina. . .
Dr. Fabiano juntou as mos apoiando nelas o queixo
e ficou por instantes calado, muito pensativo. Depois tornou
a falar, olhando para d.a Consuelo que o ouvia atenciosa.
Esses pais que se Julgam sabios, que procuram com
o domínio que têm sôbre os filhos afastá-los apenas do obje
to de sua aparente queda, fugindo aos médicos, fugindo a
não
306 CASS A NDR A R I O S
a separação. Não
certo provirá
de seu espôso, do que por
caso de Irez. Estou
posso afirmar que êste seja o
CAPITULO XXXVIII
voluptuosamente.
comigo.
Não negue. Venha dançar
toucador e saiu para
convite. Atravessou o
Ela aceitou o
FIM
Composto iapresse
nas oficinas Gráficas da
Editora Cupolo Ltda.
R. Seminário.
187 S. Paulo
CASSANDRA RIOS, a mais jovem escri1
tora brasileira, em pleno apogeu de su1a exu-