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SUMÁRIO
2 INTRODUÇÃO..................................................................................... 3
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1 INTRODUÇÃO
Prezado aluno!
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável -
um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma
pergunta , para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum
é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão
a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as
perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão
respondidas em tempo hábil.
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da
nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à
execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da
semana e a hora que lhe convier para isso.
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser
seguida e prazos definidos para as atividades.
Bons estudos!
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2 JOHN BOWLBY, O PAI DA TEORIA DO APEGO
Fonte: https://www.thescienceofpsychotherapy.com
Conforme nos informa Coates (2004), John foi o quarto de seis filhos e foi
criado por uma babá, dentro da tradição britânica. Tony, o irmão mais velho (apenas
13 meses de diferença), e John eram tratados como gêmeos, estudando na mesma
sala de aula e sendo muito competitivos, apesar da amizade entre os dois. A família
vivia em Londres e passava as férias de verão na Ilha de Skye na Escócia. Em
Londres, as crianças tinham contato com sua mãe somente durante uma hora
depois do chá da tarde, em que ela lia para os filhos. Nas férias, o acesso à mãe
era bem mais longo, quando saíam todos para caminhadas ao ar livre. Quando John
fez quatro anos, sua babá largou o emprego, deixando-o desolado. Anos mais tarde,
escreveria que a perda tão abrupta de um cuidador nesta idade é como perder a
própria mãe. Bowlby descreveu sua mãe, ao longo de suas biografias, como uma
mulher preocupada em não mimar seus filhos, respondendo de maneira seca aos
clamores de atenção e afeto que os filhos faziam.
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Aos sete anos de idade, como era comum na educação tradicional inglesa,
foi mandado a um colégio interno “para sua própria segurança”, segundo os motivos
dados pela família, passando depois para a escola naval Dartnorth antes de
prosseguir seus estudos na faculdade.
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crianças, e não somente as fantasias, tinham efeitos significativos em muitos
aspectos do desenvolvimento. Ele também desejava apoiar-se nos
comportamentos como indicadores de representações internas, tanto da criança,
quanto da mãe. A Escola Húngara teria, assim, grande influência para o trabalho de
Bowlby, principalmente os textos de Ferenczi, Benedek e Hermann, uma vez que
essa escola enfatizava a importância do laço entre o objeto primário e a mãe. Outras
influências importantes em sua obra foram os trabalhos de Spitz e de Fairbairn e
Suttie. Bowlby preocupava-se, sempre, que suas teorias psicanalíticas fossem
consistentes com os achados científicos de outras áreas vizinhas, sendo muito
interessado no estudo de etologia e evolução humana (WATERS, HAMILTON &
WEINFIELD, 2000).
Ao fim do curso de medicina, Bowlby trabalhou no Maudsley Hospital, na
área de psiquiatria de adultos. Depois deste trabalho, ele foi aceito no Child
Guidance Clinic in London, onde foi apresentado à idéia de transgeracionalidade na
transferência de neuroses, tema que marcaria sua obra.
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Em 1948, depois de conseguir fundos para realizar suas pesquisas,
Bowlby contratou James Robertson para realizar uma observação de
crianças hospitalizadas, institucionalizadas ou separadas de alguma
maneira dos pais, principalmente da mãe. Depois de dois anos de trabalho
nos hospitais, Robertson e Bowlby realizaram o filme A two-year-old goes
to hospital (1952). Este documentário mostra o impacto da perda e o
sofrimento vivido por crianças pequenas diante da separação de seus
cuidadores. O filme desempenhou um papel fundamental para o
desenvolvimento da Teoria do Apego e também para que houvesse
mudanças no tratamento dado às crianças hospitalizadas, permitindo a
estada dos pais nos hospitais durante o período de internação dos filhos.
(ASSIS, 2006, p.6).
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pois esta não consegue explicar o apego à figura materna e as respostas dramáticas
das crianças à separação; e o terceiro artigo seria Grief and Mourning in infancy and
early childhood (1959). Neste texto, Bowlby questiona a visão de que o narcisismo
infantil seria um obstáculo para o luto pela perda de um objeto de amor (Anna Freud
postulava que um ego parcamente desenvolvido não seria capaz de realizar um
luto).
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cuidado, pela sensibilidade e responsividade dos cuidadores. Por isso, um dos
pressupostos básicos da TA é de que as primeiras relações de apego, estabelecidas
na infância, afetam o estilo de apego do indivíduo ao longo de sua vida (BOWLBY,
1989).
Os estudos iniciais de J. Bowlby (1940; 1944), além dos trabalhos de outros
pesquisadores proeminentes que o influenciaram, deram origem às primeiras
formulações e aos pressupostos formais da Teoria do Apego (TA). Os conceitos de
Bowlby foram construídos com base nos campos da psicanálise, biologia
evolucionária, etologia, psicologia do desenvolvimento, ciências cognitivas e teoria
dos sistemas de controle (BOWLBY, 1989; BRETHERTON, 1992). Bowlby buscou
alternativas embasadas cientificamente para se defender dos reducionismos
teóricos, dando ênfase aos mecanismos de adaptação ao mundo real, assim como
às competências humanas e à ação do indivíduo em seu ambiente (WATERS,
HAMILTON & WEINFIELD, 2000).
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Apesar da influência das teorias de relação objetal na obra de Bowlby, este
autor afasta-se dos demais teóricos psicanalíticos porque se baseia em uma nova
teoria do instinto. Busca, em autores que estudam sistemas de controle, uma
explicação mais ampla para o comportamento instintivo. Assim, neste modelo, a
conduta pulsional é ativada tanto por condições internas como externas, quando a
função que cumpre torna-se necessária. Em seu livro primeiro da trilogia, o autor
discute o modelo de energia psíquica proposto por Freud, considerando-o
insatisfatório. Isso porque este modelo define o início de uma ação a partir de uma
acumulação de energia e o término, à sua exaustão. No entanto, Bowlby acreditava
que grande parte do comportamento não seria explicável desse modo. Outra falha
deste modelo, segundo o autor, seria seu grau de instabilidade e sua não-
testabilidade, indicando um desejo, presente na obra de Bowlby, de aproximação
do método psicanalítico ao método científico. Uma terceira deficiência do modelo,
para Bowlby, seria a própria distinção entre energia psíquica e energia física.
Bowlby baseia-se em duas hipóteses para afastar-se deste modelo, sem
afastar-se da psicanálise:
Como Freud, ele sentia-se livre para escolher hipóteses mais condizentes
com o desenvolvimento científico de seu tempo para construir um modelo teórico
psicanalítico.
Assim, Bowlby questiona a existência de um modelo alternativo mais
adequado. Para tentar solucionar estas falhas, o autor usará o modelo de sistemas
de controle, percebendo que, deste modo, iria dar atenção tanto às condições que
finalizam um ato, quanto às que o iniciam. Ou seja, na sua teoria do instinto, “no
lugar de energia psíquica e sua descarga, os conceitos centrais são os sistemas de
comportamento e seu controle, de informação, feedback negativo e forma
comportamental de homeostase” (BOWLBY, pág.18, 1990a). Desta maneira, a
energia postulada é apenas a energia física e os sistemas mediadores do
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comportamento de apego são ativados por certas condições e só são finalizados
por certas outras condições, de acordo com um sistema de feedback.
De acordo com Assis (2006), neste modelo, a criança está, desde o
princípio, em um contexto intersubjetivo, e não em um narcisismo primário, fechado
em relação aos estímulos do mundo. Esta teoria reconhece que a interação entre o
bebê e os cuidadores possibilita a formação de uma estrutura de representação
interna. Os modelos representacionais se constroem na experiência de “estar com”
os cuidadores em tenra idade e ao longo da infância e da adolescência. Para
Bowlby, haveria uma forte evidência de que a maneira como as crianças adquiririam
estes modelos representacionais baseava-se em suas experiências reais do
cotidiano, nas interações com seus pais. Neste sentido, não haveria uma divisão
cartesiana entre mundo interno e mundo externo. Aqui, o objeto de estudo seria o
vínculo interpessoal porque o fundamental é a realidade social: toda referência
(interna ou externa) deveria estar submetida a uma contextualização interpessoal.
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(cultura), a variabilidade dos comportamentos não seria infinita, sendo encontrados
certos padrões como acasalamento, cuidado e proteção aos filhos pequenos, apego
dos jovens aos cuidadores, entre outros. Para o autor, o comportamento instintivo
não é um movimento estereotipado, mas um desempenho idiossincrático de um
determinado indivíduo num determinado meio ambiente” (BOWLBY, 1990a), que
obedece a um padrão reconhecível e conduz a resultados também previsíveis e
benéficos para o indivíduo. Além disso, haveria uma estrutura básica prototípica
comum a outras espécies. No entanto, no ser humano, esta estrutura teria sido
aumentada e elaborada em outras direções, sendo também muito instável, ou seja,
muito aberta à influência do meio ambiente (ASSIS, 2006).
Também se deve considerar que o comportamento instintivo não é herdado.
O que se herda é um potencial para se desenvolver certos tipos de sistemas
comportamentais, com nuances de acordo com o meio ambiente em que o indivíduo
se desenvolve (ASSIS, 2006).
Outro fator importante a ser observado é a existência de períodos sensíveis
nos primeiros anos de vida, em que o comportamento instintivo do bebê está
fortemente relacionado ao comportamento instintivo de um adulto cuidador
(estímulos familiares) e ao seu ambiente. Poderíamos, aqui, enunciar a importância
do processo de estampagem: “processo que leva (algumas) formas de
comportamento a dirigirem-se preferencialmente para determinados objetos”
(BOWLBY, 1990a).
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formas são observadas em crianças, adolescentes e adultos ao buscarem a
aproximação com outras pessoas. É o padrão desses comportamentos, e não sua
freqUência, que revela algo acerca da força ou qualidade do apego (AINSWORTH,
1989).
J. Bowlby (1969/1990) distinguiu dois tipos de fatores que podem interferir
na ativação do sistema de comportamento do apego: aqueles relacionados às
condições físicas e temperamentais da criança, e os relacionados às condições do
ambiente. A interação desses dois fatores é complexa e depende, de certa forma,
da estimulação do sistema de apego. Além disso, esse sistema tem função direta
nas respostas afetivas e no desenvolvimento cognitivo, já que envolve uma
representação mental das figuras de apego, de si mesmo e do ambiente, sendo
estas baseadas na experiência (DALBEM; DELL’AGLIO, 2005).
Uma diferença importante entre “apego” e “comportamento de apego” é que
se o “comportamento de apego pode, em circunstâncias diferentes, ser mostrado a
uma variedade de indivíduos, um apego duradouro ou laço de apego é restrito a muito
poucos” (Bowlby, 1988/1989, p. 40). A teoria do apego ocupa-se de ambos. Um
conceito-chave dessa teoria, para o autor, é o de sistema comportamental
(DALBEM; DELL’AGLIO, 2005).
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é necessário que haja: (a) um meio de receber e armazenar instruções
referentes à meta; (b) um meio de comparação dos efeitos entre o
desempenho com a instrução dada e as alterações do desempenho para
ajustar-se à instrução (ASSIS, 2006, p. 12)
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sistemas comportamentais são organizados hierarquicamente por meio da
linguagem, apoiando-se em modelos representacionais refinados do organismo e
do ambiente (RAMIRES; SCHNEIDER, 2010).
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A imagem interna, instaurada com os cuidadores primários, é considerada a
base para todos os relacionamentos íntimos futuros. Sua influência aparece já nas
primeiras interações com outras pessoas, afora as figuras de apego, e expressa-se
nos padrões de apego e de vinculação que o indivíduo apresentará em suas
interações interpessoais significativas (BRETHERTON & MUNHOLLAND, 1999).
As primeiras representações que formam o modelo interno de funcionamento
são formadas e esquematizadas pela organização da memória em termos do que a
criança demanda e é correspondida em obter segurança e conforto, sendo que o
reflexo disso será posto na experiência social real, futuramente (COLLINS & READ,
1994). Além disso, por meio dos modelos internos de funcionamento, ocorre uma
tendência de recriação, nas relações atuais do indivíduo, do padrão de modelo
interno de apego primário. Assim, os padrões de apego estabelecidos na infância
são vistos como duradouros por intermédio das diversas fases do ciclo vital, embora
sejam menos evidentes em adolescentes e adultos (BOWLBY, 1973/1980). Estudos
longitudinais diversos (FONAGY, 1999) têm demonstrado a estabilidade do apego,
sendo que as relações parentais e rupturas de vínculos primários por perda ou
abandono têm um impacto transcendente ao desenvolvimento individual.
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grande importância na modelagem do comportamento ao longo do ciclo vital, em
uma ampla variedade de situações, incluindo a seleção de um parceiro, a formação
de relacionamentos de amizade, a escolha ocupacional, a parentalidade, a
formação de expectativas e a imagem do self (PIETROMONACO & BARRETT,
1997).
Bowlby observa que o ser humano possui capacidades inatas para realizar
o comportamento de apego: capacidade de preensão; capacidade de interação (os
bebês desfrutam da companhia humana e são capazes de invocar a atenção de um
adulto com balbucios e sorrisos). Não só os bebês possuem capacidade de se
apegar a uma figura de cuidado, como também a outros bebês e crianças,
protestando quando se afastam e recebendo-as efusivamente quando retornam.
Fica claro, neste último caso, que não há satisfação de uma necessidade fisiológica
no apego a bebês da mesma idade (ASSIS, 2006).
Assim, o comportamento de apego seria um produto da atividade de um
certo número de sistemas comportamentais que resultam na aproximação da mãe
(ou outro cuidador) e na manutenção desta aproximação. No ser humano, a criação
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desses sistemas é lenta e muito complexa, variando de criança para criança. Este
sistema de comportamentos (a sucção, o abraçar, o choro, o riso e o
acompanhamento) é ativado quando pela partida da mãe ou pela presença de algo
assustador para a criança e os estímulos que finalizam este comportamento são o
som, a visão e o contato com a mãe. Este sistema é intensamente ativado na criança
até ela atingir os três anos de idade, quando se torna menos urgente a proximidade
com a mãe (RAMIRES & SCHNEIDER, 2010).
Para Bowlby, este comportamento seria fruto de um processo evolutivo.
Bowlby imaginava que a função mais provável para o comportamento de apego
seria a de proteção contra os predadores. Atualmente, a função de apego está
associada à proteção de elementos perigosos para o bebê, à defesa contra-ataques
iniciados por membros da mesma espécie e à capacidade de seguir os movimentos
da tribo (MAIN, 2001).
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transferindo da mãe para o bebê, assim que o bebê possa agarrar-se à mãe ou
locomover-se para encontrá-la (ASSIS, 2006).
É importante salientar que a criança usa a mãe para realizar suas atividades
exploratórias. Um bebê, tão logo possa engatinhar, não permanece constantemente
ao lado de sua mãe. Ele realiza pequenas excursões exploratórias a partir dela,
estudando outros objetos e pessoas, podendo ficar fora da presença da mãe
(presença sonora, visual). Porém, de tempos em tempos, o bebê busca a mãe,
certificando-se de sua presença. Esta exploração, no entanto, termina se o bebê
assustar-se ou machucar-se ou se a mãe se afastar. Caso uma dessas condições
ocorra, o bebê buscará a aproximação com sua mãe. Bowlby (2001), salienta em
seu trabalho que, enquanto uma criança está na presença de uma figura inconteste
de apego, sente-se segura e tranquila. Contudo, uma ameaça de perda gera
ansiedade e uma perda real, tristeza profunda. Ambas as situações podem,
também, gerar cólera.
Dessa forma, no caso em que uma criança entre 1-2 anos seja separada
de seu cuidador e posta em lugar desconhecido sem cuidadores
substitutos estáveis, a criança atravessará três etapas de respostas ante a
separação: protesto, desespero e desapego. Na primeira etapa, de
protesto, a criança apresentará uma preocupação forte e aberta acerca da
localização de sua figura de apego, expressa em chamadas esperançosas
e choros. Depois de alguns dias, a fase de desespero se instala, a criança
aparenta ainda estar preocupada com o paradeiro de seu cuidador,
apresenta choros desesperançados e débeis, torna-se apática e
desinteressada do seu entorno (ASSIS, 2006, p.15 e 16).
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fase da Teoria do Apego desenvolvida por Ainsworth serão apresentados na
próxima seção (ASSIS, 2006).
Assim, nesta primeira fase do desenvolvimento da Teoria do Apego, Bowlby
fixou sua atenção sobre o conceito de comportamento de apego que funcionaria
para regular a relação entre o bebê e sua mãe, baseando-se em observações tanto
em primatas, quanto em humanos. Bowlby escolheu como ponto de partida as
respostas dadas por crianças a separações de figuras de cuidado. Crianças que
eram submetidas à separação passariam por três etapas de resposta frente à
separação: protesto, desespero e desapego. Bowlby acreditava ser fundamental ao
cuidador reconhecer e suportar o protesto de crianças frente a um processo de
separação para que não se estabelecesse um quadro patológico na criança. Ou
seja, não é a separação ou a perda em si que será responsável pela gênese da
patologia, mas a forma como os cuidadores lidam com uma situação de separação
e de perda (ASSIS, 2006).
É importante salientar, também, que, para Bowlby, as relações dos adultos
podem ser compreendidas a partir dos conceitos de apego.
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pretendia gerar uma validação empírica das noções etiológicas presentes na teoria
de Bowlby. Em um primeiro momento, Mary Ainsworth tentou fazer sua pesquisa
tendo como tema o desmame, mas depois desistiu, realizando uma longa pesquisa
de observação do desenvolvimento do apego entre mãe e bebê (ASSIS, 2006).
Em 1955, Mary Ainsworth mudou-se com seu marido para Baltimore, onde
realizaria novas e importantes pesquisas para a Teoria do Apego.
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observação por família. Mary Ainsworth preocupou-se com comportamentos
significativos, e não com a contagem de frequência de um dado comportamento. O
material era organizado como se fosse um relatório em narrativa. O exame dessas
narrativas indicava padrões de interação entre a mãe e a criança durante os três
primeiros meses. As situações a serem observadas cobriam: situação de
alimentação; interação face a face entre mãe e bebê; choro; a saudação e o
acompanhamento feito pelo bebê; o equilíbrio entre a exploração do ambiente e o
apego; obediência; contato corporal de proximidade; comportamento de
aproximação; contato afetuoso (ASSIS, 2006)
Grande diversidade foi encontrada quanto à sensibilidade, adequação e
prontidão com que as mães respondiam aos sinais dos seus bebês. Algumas mães
podiam se adequar bem a uma situação de alimentação, mas não à de saudação
ou à de obediência. Também, a forma como as mães iniciavam o contato com seu
bebê (alegremente ou silenciosamente) iria caracterizar a interação.
De uma maneira geral, mães que eram mais sensíveis durante o primeiro
trimestre de vida do bebê, tendiam a ter uma relação mais harmoniosa com seus
filhos no quarto trimestre de vida de suas crianças. Bebês que tinham tido uma mãe
altamente responsiva durante seus primeiros meses de vida, possuíam uma
capacidade maior para se consolar, confiando na capacidade de comunicação
facial, corporal e verbal (ASSIS, 2006).
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Enquanto a estranha brinca com o bebê, a mãe deixa a sala por um breve
período de tempo e depois retorna. Uma segunda separação ocorre, em que o bebê
é deixado sozinho na sala (ASSIS, 2006).
Finalmente, a mãe e a estranha retornam à sala.
1. Apego seguro (B): Os bebês com apego seguro são ativos em suas
brincadeiras e estão prontos para buscarem contato quando aflitos por uma
separação breve. São capazes, também, de serem prontamente confortados,
voltando-se novamente para suas atividades lúdicas e exploratórias. Aqui há uma
modulação na emoção, no sentido de que se pode perceber um momento de crise,
gerado pela separação, seguido por um momento de tranquilidade, fruto da reunião
com a mãe. (Este tipo de apego foi associado com uma relação entre a mãe e o
bebê em que a mãe é sensível aos apelos do bebê e responde de maneira
adequada).
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uma crise seguida por um final feliz. Tudo se passa como se nada tivesse
acontecido. Estudos posteriores, realizados por Spangler e Grossmann, de 1993 e
1999, mostraram que estas crianças experimentavam uma angústia e um estresse
consideráveis, do ponto de vista fisiológico, corroborando a hipótese de repressão
proposta por Ainsworth. (Este tipo de apego foi associado a mães que costumam
rejeitar seus bebês) (ASSIS, 2006).
Uma criança que apresenta apego seguro possui uma mãe com alta
sensibilidade para perceber e responder de maneira coerente aos sinais e
comunicações do seu filho, com uma tendência a ser rápida e reconfortante para
responder ao mal-estar. A segurança também estava associada a uma forma terna
e cuidadosa de carregar o bebê nos braços e com uma sincronização nas interações
face a face com o bebê (ASSIS, 2006).
De acordo com as observações de Ainsworth (1978), a criança que possuía
um padrão evitativo, geralmente convivia em casa com uma mãe que rejeitava o
comportamento de apego do filho, tanto por comentários verbais (aborrecimento de
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haver tido o filho), como indiretamente, por sua aversão a um contato corporal
(algumas mães sentavam-se em posições que impediam uma aproximação da
criança ou esquivavam-se quando a criança aproximava-se). Crianças com este
padrão de apego mostravam-se ansiosas e com mal-estar, mesmo quando suas
mães estavam em casa, e muitas vezes tinham acessos de raiva com a mãe e
tendiam a perseguir e maltratar seus colegas de escola.
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apego inseguro evitativo ou inseguro ambivalente. Essas crianças não
apresentavam nenhum padrão coerente de resposta, elas poderiam paralisar-se,
jogar-se ao chão, andar em círculos, ou encostar-se junto à parede durante a
situação. A criança não pode usar seu cuidador como fonte de desvelo porque ele
é a fonte do medo e da desorientação.
De acordo com a autora, os padrões de comportamento de apego inseguro
seriam uma estratégia de defesa das crianças para se relacionarem com pais
inconsistentes ou pais que rejeitam a criança (ASSIS, 2006).
Por volta dos anos 80, a terceira fase da Teoria do Apego será marcada por
uma pesquisa voltada para a ampliação do estudo dos modelos operativos internos
teorizados por Bowlby. A metodologia empírica, pedra angular desta teoria, irá
buscar novos temas, como os aspectos psicológicos, internos e representacionais
do apego. Desta maneira, haverá uma maior preocupação em torno da narratividade
e da transgeracionalidade de padrões de apego entre pais e filhos, além de um
aprofundamento nos estudos sobre os modelos operacionais, que estão
intimamente relacionados à linguagem (ASSIS, 2006).
Um dos principais estudos desenvolvidos, nesta fase, é a Entrevista de
Apego do Adulto, elaborada por Mary Main e Ruth Goldwyn. Além deste
instrumento, foram desenvolvidos testes com figuras para adolescentes a fim de se
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avaliar a ansiedade frente à separação por Haansburg, o Teste de Angústia de
Separação (1972), adaptado, posteriormente, para crianças por Klagsbrun e Bowlby
(1976), e revalidado por Kaplan (1984). Foi elaborado, também, um teste para
avaliar o apego em pré-escolares. Este teste se estruturava com estórias de
bonecos a serem completadas. Os autores foram Inge Bretherton, Doreen
Ridgeway e Jude Cassidy (1990).
Nesta terceira fase, estudos foram feitos mostrando que não só o
comportamento de uma criança na Situação Estranha predizia seu comportamento
em entrevistas futuras, como em entrevistas com estas crianças aos seis anos de
idade (MAIN e CASSIDY, 1988), mas também que os comportamentos dos pais nas
entrevistas de apego adulto tinham uma forte correlação com as reações de seus
filhos na Situação Estranha (MAIN, KAPLAN, CASSIDY,1985). Indicava-se, assim,
uma nova área de pesquisa já delineada por Bowlby, a importância da
transgeracionalidade nas relações pai-filho.
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infância. Este método de entrevista examina as experiências lembradas e inferidas
com os pais, e com cada pai e mãe individualmente. (É provável que nos casos em
que o entrevistado tenha diferentes padrões de apego com o pai ou a mãe, o padrão
adulto será aquele que se estabeleceu a relação dominante, com o pai ou com a
mãe). O mais importante, no entanto, é a forma como o entrevistado apresenta e
avalia sua história. A entrevista é classificada dentro de quatro grupos de apego
(autônomo-seguro, desentendido, preocupado e desorganizado), de acordo com os
padrões de comunicação entre o entrevistado e o entrevistador, além das
experiências passadas. Assim, deseja-se revelar “os estados da mente em relação
ao apego” (SIEGEL, 1999, pág 79).
É importante salientar que existe uma distinção importante entre o apego
da criança e o apego do adulto. O apego da criança está dirigido para algumas
pessoas, mais comumente, aos cuidadores, enquanto o apego do adulto não se
dirige para nenhuma relação em particular. O que se analisa no apego de um adulto
são as idiossincrasias nos estados da mente com respeito à história global de
apego, tal como se manifesta no contexto da entrevista (ASSIS, 2006).
A função reflexiva é considerada, nesta fase da teoria, como um marco que
geralmente surge em relações de apego seguras. Pais com mais capacidade
reflexiva podem prover apego seguro por três razões básicas:
“Ao compreender seus estados emocionais, estes pais são mais capazes
de regular suas próprias reações e as relações com seus filhos; podem
promover um diálogo reflexivo com os filhos e com todo o grupo familiar;
suas comunicações não têm distorções sérias.” (CHINCHILLA, 2002)
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das crianças e no discurso dos adultos. Isso seria decorrente da distância emocional
e da rejeição nas relações de primeira infância tanto na criança, quanto no adulto
(ASSIS, 2006).
A falta de memória de episódios da infância, neste caso, não se refere a um
bloqueio causado por trauma, mas aos padrões de relação mãe-bebê que eram
desprovidos de emoção e à rejeição parental. No caso de indivíduos com apego
adulto desentendido, há uma grande probabilidade de que seus filhos tenham apego
evitativo devido à maneira como os adultos modulam a comunicação (baixa carga
emocional, rejeição parental que pode ser reavivada durante a parentalidade)
(ASSIS, 2006).
Apego Adulto Preocupado (E4): Adultos com este tipo de apego parecem
intensamente preocupados com as relações do passado, com a autoestima e com
a aparência física ou com lutos não resolvidos. O passado volta com muita
intensidade para o momento presente.
Os indivíduos parecem incapazes de aplicar critérios objetivos para a
compreensão das relações interpessoais, misturando relações de primeira infância
com as relações atuais, e o discurso é emocionalmente lábil. A entrevista pode ser
longa e trabalhosa, com entendimento muito difícil por conter frases
gramaticalmente tortuosas. Há violação das máximas de Grice tanto em relação à
quantidade, como ao modo e à relevância. O entrevistado pode omitir informação
essencial e carregar em detalhes secundários. As lembranças impressionam como
sendo confusas ou fragmentadas e o discurso acaba sendo incoerente. As
respostas não são sucintas e não informam o que o entrevistador perguntou. O
acesso às lembranças de infância é fácil, porém estas vão se confundindo com a
realidade presente. Adultos com apego preocupado possuem modelos de apego
contraditórios e tornam-se preocupados porque não sabem qual modelo de apego
prevalecerá: o do cuidador que consegue ou o do cuidador que não consegue dar
conta de suas demandas. Existe também um grande desejo de proximidade e um
grande medo de perda desta proximidade (ASSIS, 2006).
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Essa preocupação excessiva com o passado pode levar o adulto a tratar
seu filho como se fosse um espelho de sua infância. Claro está que uma percepção
tão distorcida do próprio filho gerará muitas falhas na comunicação entre cuidador
e bebê.
De acordo com Siegel (1999), “Em adultos preocupados (E) e suas crianças
ambivalentes (C), os modelos mentais de si mesmos com outras pessoas é cheio
de fronteiras fendidas entre o passado e o presente”. Os relacionamentos são
experimentados como sendo cheios de incerteza e inconsistência. Os filhos de pais
preocupados acabam por reativar sentimentos de abandono, rejeição, medo,
desapontamento e raiva em seus pais, visto que estes pais podem entrar em um
estado mental antigo, de suas próprias infâncias.
O autor acima citado afirma que isto acontece pelo seguinte motivo: os pais
são convocados a se lembrar de suas memórias de infância por conta do contexto
de parentalidade. Dessa maneira, quando um pai percebe em seu filho
características similares a ele mesmo quando era criança, cria-se uma situação em
que o pai deve lidar com problemas de sua própria infância. No caso de pais
preocupados, “a intrusão de informação (memória) do passado em situações do
presente impossibilita aos pais ter uma comunicação contingente e colaborativa
com seus filhos” (SIEGEL, 1999).
Indivíduos com apego preocupado estão mais propensos a terem filhos com
apego ambivalente, que ficam demasiadamente preocupados com seus pais para
poderem explorar o ambiente na Situação Estranha e não conseguem se consolar
na reunião com seus cuidadores (ASSIS, 2006).
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dizendo ou podem introduzir uma perspectiva incoerente com a que
começaram a narrativa. Parece haver uma falta de integração entre os
elementos da narrativa: sentimento, memória, capacidade de manter uma
comunicação colaborativa e capacidade de manter um fluxo de
consciência que permita um discurso coerente. É comum, nestes casos, o
uso de verbos no tempo presente para descrever episódios do passado,
as frases são muitas vezes incompletas, há longas pausas (ASSIS, 2006,
p.26).
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6 O DESENVOLVIMENTO DO APEGO AO LONGO DA VIDA
Fonte: https://www.budavirtual.com.br
Como vimos até aqui, a Entrevista de Apego do Adulto (em inglês, Adult
Attachment Interview - AAI) tem como finalidade analisar as representações dos
modelos internos de apego nos adultos. Essa entrevista explora de maneira
minuciosa, por intermédio de questões estruturadas, a relação do indivíduo com os
pais durante a infância e os efeitos dessas experiências em seu funcionamento
atual.
De acordo com GEORGE, KAPLAN & MAIN (1985), a AAI tem sido muito
importante nos estudos da TA, sendo uma das técnicas de auto-relato mais usadas
nessa abordagem. Contudo, sua utilização é restrita pela necessidade de
treinamento adequado para o levantamento dos escores e da codificação de suas
escalas de avaliação dos relatos. Além disso, o protocolo da entrevista não está
publicado, assim como o sistema de escore e de codificação, sendo disponibilizado
parcialmente para utilização em pesquisas. Por intermédio da descrição dos
entrevistados de suas relações com seus cuidadores primários, perdas
significativas e relações atuais com os cuidadores primários, o escore é focado na
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fluidez da fala dos indivíduos sobre suas experiências primárias e na coerência e
plausibilidade de suas narrativas (CROWELL et al., 1996). Vários estudos
(BARTHOLOMEW & MORETTI, 2002; HUGHES, HARDY & KENDRICK, 2000;
JACOBVITZ, CURRAN & MOLLER, 2002;) utilizaram a AAI como instrumento,
demonstrando que esse é um método de acesso significativo para a organização
do apego, adaptando- se a diversas culturas, e que pode ser correlacionado com
níveis de inteligência, ajustamento social e adaptação individual (CROWELL et al.,
1996).
Em relação ao apego do adulto, M. Main (2001) distingue-o em
contraposição ao da criança. Durante a primeira infância, o apego caracteriza-se
como um interesse insistente em manter proximidade com uma ou algumas pessoas
selecionadas; uma tendência a usar esses indivíduos como base segura de
referência para a exploração do desconhecido; e refúgio, na figura de apego, para
busca de segurança em momentos de medo. Assim, na infância, o apego é
considerado seguro ou inseguro com relação à figura de apego. Já a segurança em
adolescentes e adultos não se identifica com nenhuma relação em particular, ou
seja, com nenhuma figura de apego específica, nem do passado, nem do presente.
A categoria segura/autônoma faz um paralelo com o grupo de crianças de apego
seguro. Nos adultos, esse grupo apresenta um relato espontâneo e vívido das
experiências de infância, com lembranças positivas e uma descrição equilibrada de
ocorrências infantis difíceis. Os adultos que se enquadram na categoria de apego
evitativo ou desapegado apresentam um relato idealizado da infância, falha na
reconstrução das memórias infantis e, se dificuldades nessas experiências são
relatadas, seus efeitos são negados ou minimizados. A categoria
preocupado/ansioso caracteriza-se por um relato que envolve experiências que
podem ter sido confusas, vagas ou tempestuosas e conflitantes, apresentando
inabilidade para se colocar nas situações infantis e apresentar um roteiro coerente
dessas experiências. Isso também acontece no relato de experiências difíceis da
infância, o que demonstra dificuldade de compreender as origens de suas emoções
preocupantes. A categoria de apego adulto desorganizado/desorientado está
relacionada a relatos com sinais graves de desorientação e desorganização,
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principalmente quando os entrevistados são questionados sobre eventos
traumáticos ou perdas importantes (CORTINA & MARRONE, 2003).
DALBEM & DELL’AGLIO (2005), em sua obra, nos traz importante
contribuição acerca do assunto. Segundo as autoras:
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e segurança, já que a tarefa principal da adolescência é o desenvolvimento da
autonomia. Como as atividades dos adolescentes, geralmente, são distantes das
figuras de apego, há uma necessidade menor de dependência e respaldo dos
cuidadores, no que se refere à formação de uma concepção própria do mundo.
Nesse sentido, o sistema de apego passa a ter um papel integrador para os desafios
dessa fase, havendo, ainda, uma chance de reformulações sobre a organização
primária do apego (DALBEM, DELL’AGLIO, 2005).
Embora os adolescentes não consigam distinguir e reconhecer, claramente,
as qualidades e defeitos implícitos nas suas relações primárias de apego, esses
aspectos parecem ser elucidados e moldados na adolescência (ALLEN & LAND,
1999). Considerando-se que as relações de apego são o resultado da interação
entre uma base genética, processos inatos e experiência, modificados ao longo do
tempo, essas relações também se modificam. Ou seja, pessoas mais velhas formam
relações mais complexas do que as da infância. Por essa razão, as relações na
adolescência marcam um período de transição para a idade adulta, quando as
relações com os melhores amigos e as primeiras relações românticas, por exemplo,
serão preditivas dos estilos de relacionamentos na idade adulta (CRITTENDEN,
2001).
Em DALBEM & DELL’AGLIO (2005), vamos encontrar o seguinte
esclarecimento:
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relações tem sido ligada às experiências precoces e relações correspondentes,
sugerindo que as competências sociais transcendem relacionamentos específicos
(SROUFE & FLEESON, 1986). Assim, tanto as relações familiares primárias como
as experiências entre pares são preditoras de diferenças individuais na
adolescência (COLLINS & SROUFE, 1999).
Os estudos realizados por Harvey (2000), acrescentam que a relação entre
os padrões de apego em adolescentes e o funcionamento familiar, apontando que
adolescentes que percebem a si mesmos como integrantes de relações familiares
coesas são considerados com um padrão de apego seguro, sendo que os valores
intelectuais e culturais familiares são adotados para si mesmos. Kobak (1993), por
sua vez, constatou que adolescentes caracterizados pelo padrão de apego seguro
são confiantes em seus relacionamentos, generosos e tolerantes em relação a si
mesmos e às suas figuras de apego, e considerados como mais estáveis em suas
relações românticas. As relações com as figuras de apego são marcadas por uma
interação de confiança e poucas dificuldades para o estabelecimento de autonomia
emocional.
Quanto aos adolescentes caracterizados como do estilo
desapegado/evitativo, estes demonstram não ter necessidade de confiar em outras
pessoas e parecem realmente desapegados ou não influenciados pelas
experiências de apego precoces. Segundo Kobak & Cole (1994), há uma forte
associação da predominância desse estilo de apego com índices elevados de
transtornos alimentares. Harvey (2000), apresenta dados que revelam que o padrão
evitativo de adolescentes referem-se àqueles que se consideram pouco
interessados nas relações familiares e apresentam sentimentos negativos em
relação à família e ao seu funcionamento.
Já o padrão preocupado/ansioso é caracterizado por adolescentes que têm,
geralmente, relacionamentos frustrantes ou insatisfatórios, além de demonstrarem-
se angustiados ou confusos quanto a essas relações. Segundo Kobak (1993), esse
padrão é fortemente associado à depressão, principalmente em mulheres. Sobre o
padrão ansioso/ambivalente ou preocupado/ansioso, Harvey (2000), aponta que em
adolescentes, está relacionado a relatos de conflitos familiares, alto grau de controle
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entre os membros da família e falta de compreensão da dinâmica do funcionamento
familiar. Além disso, esses adolescentes sentem que a independência é
desencorajada e evitam confrontos, mantendo estratégias de coping passivas
(DALBEM, DELL’AGLIO, 2005).
Apesar de existirem controvérsias sobre o aspecto da generalização dos
padrões de interação primários para relações futuras, durante o ciclo vital, estudos
longitudinais diversos (FONAGY, 1999) têm demonstrado a estabilidade do apego,
tanto na adolescência como na vida adulta. E. Waters et al. (1991) enfatizam que a
organização do apego ao longo da infância tem um papel direto no desenvolvimento
da consciência pessoal, na auto-observação, na consistência do self em relações
de apego, assim como nos resultados sociais. No entanto, todas as pessoas são
suscetíveis às influências variadas de experiências favoráveis ou desfavoráveis que
podem alterar o desenvolvimento evolutivo e, portanto, os estados mentais ligados
ao apego (DAVILA, BURGE & HAMMEN, 1997). Alguns dos fatores que influenciam
a qualidade de cuidados e o padrão de apego em desenvolvimento nas relações
primárias são: a relação marital, o contexto social, o acesso a recursos, a incidência
de patologias mentais, o divórcio, as separações temporárias em períodos críticos,
como na primeira infância. Todos estes têm relação direta com os padrões de apego
e fazem parte do que se entende por fatores de risco social (HALPERN, 1990).
Existe uma suposição geral de que crianças que experienciam separação
da figura principal de apego se tornam mais sensíveis a outras experiências de
separação, as quais são vivenciadas de modo traumático. Contudo, não existem
evidências seguras sobre este apontamento (AINSWORTH, 1967). O que se sabe
é que a forma como é vivenciada essa primeira experiência vai influenciar as
expectativas e a ação da criança em outros momentos de separação. Fatores como
idade, tempo de separação, temperamento, tipo de interação estabelecida antes da
separação, ambiente onde a separação é vivida e quem está presente depois que
esta acontece, assim como a natureza das circunstâncias durante a separação são
fatores influentes e modificadores na resposta da criança à separação e no
significado e consequências desta em sua vida (RUTTER, 1972).
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Conclui-se então que as relações de apego têm uma função-chave na
transmissão de características transgeneracionais em relacionamentos entre
cuidadores e suas crianças. Nesse sentido, as relações parentais e rupturas de
vínculos primários por perda ou abandono têm um impacto transcendente ao
desenvolvimento individual, pelo fato de que instauram um padrão internalizado de
funcionamento e de interação (FONAGY, 1999). Nesses processos, as rupturas de
vínculos são inevitáveis, mas, a possibilidade de crescimento e a formação de novos
laços afetivos dependerão de como essas experiências de ruptura foram
vivenciadas e elaboradas.
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realização de pesquisas que combinem a avaliação de diferenças no status do apego
com avaliações de fisiologia, imagens do cérebro e genética. Para a autora, esses
estudos serão tanto mais profícuos quanto puderem incluir avaliações do status
neurológico e/ou fisiológico, realizadas antes de uma intervenção clínica exitosa, não
se limitando a identificar o cérebro ou seus correlatos fisiológicos de apego seguro
frente ao inseguro.
Embora haja certa concordância a respeito de que as crianças e os adultos
tenham somente poucas figuras de apego, muitos teóricos e pesquisadores
acreditam que os bebês formam “hierarquias de apego”, nas quais algumas figuras
são primárias, outras são secundárias, e assim por diante (Main, 1999). Para
Cassidy (1999), uma figura tenderia a ocupar uma primazia sobre as outras figuras
de apego, o que essa autora chamou de “monotropia”. No entanto, para Main (1999),
questões em torno de quão rapidamente um bebê pode substituir figuras de apego
primário, da monotropia e das hierarquias de apego permanecem incertas e vagas.
Igualmente com relação à questão da formação de novos apegos na vida adulta, já
que o apego é um fenômeno que perpassa todo o ciclo vital.
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em decorrência de eventos como desemprego, doença crônica ou perda de suporte
social. Segundo as autoras, se esse cuidador ameaça abandonar a criança ou
cometer suicídio, a confiança da criança nessa figura se vê abalada, o que pode
conduzir a uma reconstrução do modelo representacional do cuidador e do self. Por
outro lado, quando as circunstâncias de vida melhoram, ou um suporte efetivo por
parte dos outros se torna disponível, um cuidador pode se tornar capacitado a
responder mais sensivelmente às necessidades de apego de sua criança, levando-
a a revisar seus modelos representacionais do self como digno e valoroso e do
cuidador como cuidadoso e receptivo. Todavia, os aspectos defensivos da
organização dos modelos representacionais nas relações de apego inseguro
implicam em mais dificuldades para tais reconstruções.
Main e cols. (1985) afirmam, da mesma forma que Bowlby acreditava, que
tais modelos “são construções ativas e podem ser reestruturados”. Na infância, é
possível que os modelos funcionais internos possam ser alterados somente em
resposta a mudanças nas experiências concretas. Mas, uma vez atingido o estágio
das operações formais do pensamento, é possível que tais modelos possam ser
altera- dos. Essas operações permitem que o indivíduo pense sobre o pensamento,
colocando-se de fora de um dado sistema de relacionamento e analisando seu
funcionamento. Os autores afirmam ainda que, mais do que modelos propriamente
ditos, os modelos funcionais internos são melhor concebidos como processos
estruturados que servem para obter ou limitar o acesso à informação. Em 2000,
Main utilizou o termo estado mentais para as representações ligadas ao apego,
referindo-se aos adultos avaliados por meio da AAI. Postulou que os estados
mentais inseguros são indicadores da presença de um processo e não de uma
estrutura imutável. Esse processo é muito ativo para essa autora, e isso é atestado
pelas distorções no uso da linguagem dos adultos aos quais se solicita que
descrevam e avaliem sua história de apego, na AAI.
Processos defensivos podem ser mobilizados, no intuito de proteger os
modelos representacionais internos (Bretherton & Munholland, 1999).
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Eventos da vida cotidiana podem ser interpretados de maneira distorcida
ou até mesmo excluídos defensivamente, na medida em que confrontarem
os modelos estabelecidos. Em alguns casos, o termo “defensivo” pode nem
ser o mais adequado, na medida em que o que poderá estar em jogo é uma
atribuição otimista baseada na esperança acerca de algum comportamento
do cuidador. Articulando os processos defensivos com a função reguladora de
emoções dos relacionamentos e das representações do apego, Bretherton
e Munholland sublinham que é importante buscar uma compreensão mais
profunda do seu lado positivo, ao invés de se enfatizar apenas o lado
negativo e defensivo. (RAMIRES, SCHNEIDER 2010, p. 30).
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indivíduos a desenvolver um estado mental seguro em relação às suas histórias de
apego poderia atuar como um fator protetor e favorecer mudanças positivas. Uma vez
que o apego seguro ou inseguro tem sido associado a determinadas características
da interação cuidador-criança, e a determinadas características contextuais (rede de
apoio e suporte para os cuidadores, por exemplo), a detecção precoce de tais
dificuldades poderia permitir que fossem mobilizados os recursos necessários para
sua modificação. O âmbito da educação infantil seria um espaço possível para
isso. A atuação das equipes do Programa de Saúde da Família (PSF), vinculado ao
Sistema Único de Saúde (SUS), no Brasil, também poderia contemplar esse olhar
sobre os vínculos familiares, identificando eventuais dificuldades e promovendo a
sua qualidade e fortalecimento (RAMIRES; SCHNEIDER, 2010)
As implicações dos achados da teoria do apego para a clínica psicológica
não são menos significativas. Bowlby (1979/1997) demonstrou que a tarefa do
psicoterapeuta consiste em ajudar o paciente a reexaminar os modelos
representacionais das figuras de apego e dele mesmo, analisar como tais modelos
dirigem suas percepções e ações, como se desenvolveram durante sua infância e
adolescência e, caso o paciente julgue conveniente, auxiliá-lo a modificar tais
modelos.
Constata-se que, além de Bowlby (1979/1997) considerar que modelos
representacionais inadequados, mas persistentes, poderiam coexistir com outros
mais apropriados, ele também reconhecia o caráter dinâmico de tais modelos e
potencialmente transformável.
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Dessa forma, cumpre destacar que o crescente reconhecimento da
importância da dimensão representacional do apego abre perspectivas da maior
importância para a Psicologia Clínica e para a clínica psicanalítica, atraindo o
interesse de importantes representantes desse campo, como já foi visto. SLADE
(1996) defende que a qualidade da regulação dos impulsos e do afeto de uma
criança, assim como sua capacidade de manejo da angústia e comportamento de
exploração estão relacionadas à capacidade da mãe de simbolizar e integrar
memórias e afetos emocionalmente carregados, ligados aos seus relacionamentos
mais significativos.
Em Fonagy (2000), encontramos o entendimento de que a psicoterapia,
qualquer que seja sua forma, trata da reativação da mentalização, uma vez que ela
busca estabelecer uma relação de apego seguro com o paciente, criando um contexto
interpessoal onde a compreensão dos estados mentais e o reconhecimento do self se
converta em um foco.
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então, trazendo conteúdos intoleráveis para o domínio simbólico (Slade, 1996, 1999,
2000).
As contribuições de Main relativas à linguagem e à narrativa, decorrentes da
AAI, também são importantes: a linguagem reflete como o outro foi internalizado, e
como respondeu às necessidades e busca de proximidade da criança (Slade, 2000).
Em síntese, a pesquisa mais recente sobre o apego, na vertente psicanalítica
do campo, sinaliza para uma reformulação crucial dessa teoria, no sentido de
considerar que a maior meta do apego seria produzir um sistema representacional
para os estados e a organização do self (Fonagy & cols., 2002).
Concluímos com uma contribuição de Ramires & Schneider (2010, p. 31):
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