Está en la página 1de 15

Lo que enseña la diferencia cultural 43

sabía le e r y escribir. U n d ía m e di c u e n ta d e que, al pesar las


bolsas, falseaba las c a n tid a d e s y a n o ta b a q u e eran inferiores a
lo q u e m arc ab a la balan za. T ras verificar ese hecho, m e d irig í
al je f e d e la familia y le in fo rm é mi d e scu b rim ien to . El te n ía
m ie d o d e acusar de la d ró n al re p re s e n ta n te del terra te n ie n te ,
p e ro m e pidió que a n o ta r a las can tid ad es p a ra que p u d ie ra
m os h a c e r nuestras p ro p ia s cuentas. Le dije al capataz q u e
m e h a b ía n pedido q u e a n o ta ra el peso d e las bolsas p a ra q u e
n o so tro s tam bién p u d iése m o s calcular y sa b e r cuánto nos co­
rre s p o n d ía . El capataz n o tuvo más re m e d io que aceptar esa
“in o c e n te ” petición. A sí) tom am os c o n c ie n c ia de la im p o rta n ­
cia q u e tien e para el p u e b lo el uso de la c u ltu ra en la lu c h a
c o n tra la injusticia. •
Y c u a n d o me p e rm itiste volver a esa rea lid a d , fue com o si
volviera a m i infancia, a m is dos u n iversidades de la infan cia
y la adolescencia, p a ra lu c h a r ju n to al p u e b lo contra las in ­
ju sticia s q u e ya c o n o c ía e n aquella é p o c a y que persisten y
p ro s p e ra n hasta hoy.
P a u lo , quiero h a c e rte u n a p re g u n ta e n relación con el exi­
lio. Se tie n e la im p resió n d e que es u n a r u p tu r a em ocional en
el p la n o de las ideas, p e ro tam bién significa -y se g u ram en te
estarás d e acuerdo c o n m ig o —u n a c o tid ia n id a d . De m odo q u e
te p e d ir ía que nos co n tases u n poco, a los exiliados y a los n o
exiliados, cóm o vives e sa cotid ian id ad e n ese contexto p re sta ­
do, d istin to del de o rig e n .

Lo q u e enseña la d ife re n c ia cultural

p a u l o : C reo que esa es u n a p re g u n ta fu n d am e n ta l q u e los

ex iliad o s debem os h a c e rn o s a diario. O sea: la p re g u n ta d ia­


ria d e c ó m o c o m p re n d e m o s y cóm o p o d e m o s, p o r ejem plo,
f u n c io n a r m ejor y de fo rm a m e n o s'tra u m á tic a en esa co tid ia­
n id a d p resta d a que te n e m o s com o exiliados.
Mi p u n to de p a rtid a , el com ienzo d e m i ex periencia co n
esa c o tid ia n id a d d ife re n te , se dio en tu C hile, hoy m ío ta m ­
44 Por una pedagogía de la pregunta

b ié n . P o r su p u e sto q u e d e u n a m a n e ra m u c h o m enos d ra m á ­
tica q u e en E u ro p a . A fin de cuentas, C hile, a pesar de se r u n
país u n p o c o e u ro p e iz a d o , es en esen cia A m érica L atina.
U n a d e las p rim e ra s lecciones q u e m e enseñó el ex ilio ,
c u a n d o d a b a ruis p rim e ro s pasos en el co n te x to q u e m e h a ­
b ía a c o g id o , en el s e n tid o de vivir y n o sólo sobrevivir e n la
c o tid ia n id a d d ife re n te , fu e que las cu ltu ras, las)ex p resio n es
c u ltu ra le s n o so n m e jo re s ni peores, so n d ife ie n te s-e n tre .sí.
AÍ igual q u e n o so tro s, p o r un lado, la c u ltu ra no es sin o q u e
e stá s ie n d o y, a d e m á s, n o podem os o lvidar su carácter d e cla­
se. E sta p rim e ra le c c ió n , q u e de las c u ltu ras no p u e d e d e c irse
q u e sean m ejo res o p e o re s , la a p re n d í e n Chile, c u a n d o c o ­
m e n c é a c o n o c e r c o n c re ta m e n te las fo rm as d iferentes h a sta
d e lla m a r al o tro . N o sé si reparaste, p o r ejem plo, en lo d ifí­
cil q u e es llam ar al m o z o del re sta u ra n te e n u n a culLura q u e
n o s re s u lta e x tra ñ a . E n cad a cultura existe u n a form a esp ecial
q u e n o p u e d e ser tra n sg re d id a , existe u n cierto código, ¿no?
M e a c u e rd o de u n a vez, estan d o en C hile, e n el M inisterio d e
R e lacio n es E x te rio re s (n o sé si se llam a así o si es de A su n to s
E x te rio re s). T e n ía q u e resolver u n p ro b le m a vinculado c o n
u n d o c u m e n to n e c e s a rio p ara mi p e rm a n e n c ia en el país. Es­
tab a e n la v e n ta n illa d e la oficina y n a d ie m e atendía. N a d ie
m ira b a e n d ire c c ió n a m í. De p ro n to , u n a p ersona lev an tó
la c ab eza y m e vio. L e hice u n a d e m á n para in d icarle q u e
yo e sta b a allí, q u e fo rm a b a parte. El e m p le ad o se a c e rc ó y,
c o n voz d e o fe n d id o , m e dijo que a q u e lla no era u n a m a n e ­
ra e d u c a d a de lla m a r a n adie. S o rp re n d id o , yo era, e n a q u e l
m o m e n to , p u ra in d e c is ió n , de alg u n a m a n e ra m e las in g e n ié
p a ra decirle: “N o te n ía n in g u n a in te n c ió n de o fen d e rlo , soy
b r a s ile ñ o ...”. “P e ro u s te d es un b rasile ñ o que está en C hile,
y e n C hile no se h a c e e so ”, dijo él, categórico. “Bien, e n to n ­
ces le p id o d iscu lp as d e nuevo, le p id o disculpas p o r lo q u e
le p a re c ió ofensivo e n m i gesto p e ro n o p o r la in te n c ió n d e
o fe n d e rlo , q u e n o existió. Q uiero decir: subjetivam ente n o
q u ise o fen d e rlo , p e r o objetivam ente lo o fen d í.” ¡Q ué m is­
te rio la cultura! El e m p le a d o m e a te n d ió , a u n q u e n o sé si
Lo que enseña la diferencia cultural 45

m e e n te n d ió , y cu an d o salí d e allí m e q u ed é p e n sa n d o /¡E s


necesario c o m p re n d e r hasta los m ás m ínim os detalles de la
cotidianidad! //
Si no in te n ta m o s u n a c o m p re n s ió n crítica d e lo diferente
correm os el riesgo, en la n e c e s a ria co m p aració n q u e hace­
m os e n tre las expresiones c u ltu ra le s —las de n u e stro contexto
de origen y las p restad as- d e a p lic a r juicios de valor rígidos y
siem pre negativos a la c u ltu ra q u e nos es ex tra ñ a.
A mi e n te n d e r , esta es u n a p o sic ió n falsa y peligrosa. Res­
p e ta r la c u ltu r a d ife ren te , re s p e ta n d o ta m b ié n la nuestra,
n o significa n e g a r n u e stra p re fe re n c ia p o r tal o cual rasgo
de n u e s tro c o n te x to de o rig e n o p o r tal o cual rasgo del
co n te x to p re s ta d o . Esta a c titu d revela, inclusive, u n cierto
g rado de m a d u ra c ió n in d is p e n s a b le que a veces alcanzam os,
y a veces n o , al e x p o n e rn o s c rític a m e n te a las diferencias
culturales.
P ero d e u n a cosa te n e m o s q u e estar a d v ertid o s en el
a p re n d iza je d e estas leccio n es d e la diferencia: la cu ltu ra no
p u ed e ser ju zgada con lig e rez a d icie n d o “esto es peor, esto
es m ejo r”. N o obstante, n o p r e te n d o afirm ar q u e no existen
aspectos negativos en las c u ltu ra s , aspectos q u e deben ser
su perados.
U na p rá c tic a a la que m e h a b ía e n tre g ad o hacía años en
Brasil - la d e ex p o n e rm e c o m o e d u c ad o r a las diferencias
culturales d e sd e el p u n to d e vista de las clases sociales- m e
había p re p a ra d o en cierto s e n tid o y sin que yo m e diera cuen­
ta e n to n c e s p a ra a fro n tar la n e c esid ad de e n te n d e r las dife­
rencias c u ltu rale s en el exilio. D iferencias de clase y tam bién
de región.^C uestiones de g u sto , no so lam en te respecto del
color d e la ro p a , del estilo d e la casa, de la p resen cia, para m í
abusiva, d e fotos en las p a re d e s, sino tam bién del sabor de la
com ida, d e los aderezos! L a p r e ferencia, e n los bailes, p o r la
m úsica a to d o volum en. D iferencias-relevantes e n el lenguaje,
en el p la n o d e la sintaxis y d e la sem ántica. Mi am plia convi­
vencia c o n esas diferencias m e e n señ ó q u e te n e r prejuicios
de clase h a c ia ellas era c o n tra d e c ir de u n m o d o funesto mi
46 Por una pedagogía de la pregunta

o p c ió n p o lític a . M e e n s e ñ ó tam b ié n que la su p e ra c ió n de sus


n e g a d v id a d e s, q u e exige la tran sfo rm ació n de las bases m a te ­
riales d e la so cied ad , m arc a(é l)p a p e l de sujeto q u e las clases
tra b íy a d o ra s d e b e n a s u m ir si es que q u ie re n rein v e n ta r sus
e x p re s io n e s culturales.
P e ro e sto ya es tem a d e o tra co n v e rsa c ió n ...
E n el fo n d o , to d o eso m e e n señ ó m ucho. Me e n se ñ ó a vivir,
a e n c a r n a r u n a p o sición o u n a virtud q u e co n sid e ro fu n d a ­
m e n ta l n o sólo d esd e el p u n to de vista político, sino tam b ién
d e sd e u n a persp ectiv a existencial: la tolerancia.
La to le ra n c ia no significa de n in g u n a m a n e ra re n u n c ia r a
lo q u e n o s p a re c e ju s to , b u e n o y seguro. No, el to le ran te n o
re n u n c ia a su su eñ o , p o r el cual lu ch a de m o d o in tran sig en te;
e n ca m b io , re sp e ta a q u ie n tie n e u n sueño distinto.
•''En el p la n o político, la)to le ra n c ia es la sa b id u ría o la virtu d
d e convivir c o n el d ife re n te p a ra p o d e r lu c h a r c o n tra el a n ­
tag ó n ic o . E n este se n tid o , es u n a virtud rev o lu cio n aria y n o
lib e ra l-c o n se rv a d o ra /
M ira, A n to n io , el exilio, m i e x p erien cia en la c o tid ian id ad
d ife re n te , m e e n se ñ ó la to le ra n c ia de u n a m a n e ra e x tra o rd i­
n aria. Ese a p re n d iz a je d e vivir en lo co tid ia n o d ife ren te co ­
m e n z ó e n C hile, co m o ya dije, luego se e x te n d ió a los Estados
U nidos, d u r a n te el a ñ o q u e pasé en C am bridge, y p o r ú ltim o
m e a c o m p a ñ ó en los diez q u e viví en G inebra. Y es im presio­
n a n te c ó m o co n seguí, cosa q u e n o fue fácil, vivir in te g rá n d o ­
m e a lo d ife re n te , a la c o tid ia n id a d distinta, a ciertos valores
q u e m a rc a n , p o r e je m p lo , el d ía a día d e u n a ciu d ad com o
G in eb ra, q u e a su vez fo rm a p a rte de u n a c u ltu ra m u ltic u ltu ­
ral c o m o es la de suiza.
Es f o rm id a b le c ó m o fu i a p re n d ie n d o las reg las del ju e g o ,
en fo rm a c o n s c ie n te , sin r e n u n c ia r a a q u e llo q u e m e p a r e ­
cía f u n d a m e n ta l, sin r e c h a z a r lo m ás básico d e m í m ism o y,
p o r e n d e , sin a d a p ta rm e a lo c o tid ia n o p re s ta d o . Así a p re n ­
d í ta m b ié n a lid ia r c o n lo d ife re n te , q u e a veces m e disgus­
taba. U n o d e estos d ife r e n te s c o n los q u e conviví, p e ro q u e
ja m á s in c o r p o r é a m i f o rm a d e estar s ie n d o , fu e la asocia­
Lo que enseña la diferencia cultural 47

c ió n n o siem p re e x p líc ita ni ta m p o c o g e n e ra liz a d a e n tre


c u e rp o y p e c ad o . E n E u ro p a, e n los E stados U n id o s, m u ­
c h a s veces esta h o m o lo g a c ió n se tra n s p a re n ta b a e n la c o n ­
d u c ta de las p e rs o n a s . Por s u p u e s to q u e las g e n e ra c io n e s
m ás jó v en es van s u p e ra n d o esta cu asi a n u la c ió n d e l c u e rp o .
A m í siem pre m e p a re c ió u n a v io le n c ia esa “d ista n c ia fría
d e l c u e rp o q u e, p o r el c o n tra rio , a m i h u m ild e e n te n d e r es
alg o e x tra o rd in a rio . ¡El cu e rp o h u m a n o , viejo o jo v e n , g o r­
d o o flaco, n o im p o r ta de qué c o lo r, el c u e rp o c o n sc ie n te ,
el q u e m ira las e stre llas, es el c u e rp o q u e escribe, q u e h ab la,
q u e lucha, es el c u e rp o que am a, q u e od ia, que su fre , es el
, c u e rp o que m u e r e y q u e vive! M ás d e u n a vez, al a p o y a r mi
¡ m a n o en el h o m b r o d e alguien, d e r e p e n te q u e d ó c u rv ad a
e n el aire: el c u e rp o tocado r e c h a z a b a to d o c o n ta c to con
¡el rn ío .^
A mí, que c u a n d o hablo a c o stu m b ro a enfatizar m is afir­
m aciones d á n d o le u n a suave p a lm a d a al otro, m e resu ltab a
difícil re fre n a rm e ...
O tro de estos “d ife ren te s” tie n e q u e ver con la c u e stió n de
los sentim ientos, cuya expresión, se dice, debe ser c o n tro la d a
p o r respeto al o tro . El sen tim ien to d e alegría, de tristeza, de
c ariñ o , de afecto, la suavidad, to d o eso tien e que estar rig u ro ­
sa m e n te disciplinado.
A ún hoy r e c u e rd o la cara, m ez c la de alegría y sorpresa,
d e u n a c o m p a ñ e ra d e trabajo e u ro p e a , secretaria d e u n o de
los sectores del C onsejo, c u an d o , al cruzarm e con ella una
m a ñ a n a de p rim a v era en la p u e rta d e casa, elogié vivam ente
los colores alegres d e su vestido, la frescu ra del c o rte , todo,
d e c ía yo, tan c o in c id e n te con su asp ec to joven e in q u ie to . Se
d esco n certó u n p o c o , y ya re p u e sta d el shock, m e dijo sim ple­
m en te : “T ú existes”.
P ara mí, el ta n p reg o n a d o re s p e to al otro tie n e q u e ver,
tam b ién , con u n cierto m iedo q q e se tiene de a su m ir un
com prom iso. O sea: en la m e d id a e n q u e m e c ie rro , m e en-
capsulo, en q u e n o expreso la a le g ría de verte, p o r ejem plo,
d e conversar, d e discu tir contigo, p u e d o m arcar u n lím ite en
48 Por una pedagogía de la pregunta

el espacio afectivo e n tre tú y yo, u n a fro n te ra q u e te indica


qu e no e n tre s a m i cam po p a ra p e d ir algo ni p a ra d e m a n d a r­
m e un c o m p ro m iso m ayor. Esa fu e o tra de las cosas co n las
qu e tuve q u e lid iar. Y tam bién fu e difícil p o rq u e , c o m o bra­
sileño del N o rd e s te , efusivo, a veces n o qu ep o d e n tr o de mí.
Sin a n u la rm e , n o ob stan te, tuve q u e c o n tro la rm e p a ra no
h e rir d e m a sia d o a los otros. Im p re g n a n d o to d o e so se halla
esa ten sió n d e la q u e tan to h a b la m o s, la r u p tu r a , el p ro ­
b lem a d e s a b e r hasta d ó n d e p o d em o s lle g a r, q u e sitúa
v /\ la c u e stió n d e los lím ites e n la ex presión d e nuestros
J | J ) se n tim ie n to s. No p o d e m o s estar ni d e m a sia d o allá ni
d e m a s ia d o acá de los lím ites. Si ced em o s e n exceso,
c o m p ro m e te m o s la rad ic alid ad de n u e s tra form a
d e ser. Si vam os m u c h o m ás allá d e lo razo n ab le,
p ro v o ca m o s la re a c c ió n n a tu ra l del c o n te x to , que
e n c ie rto m odo pasa a ser “in v ad id o ” p o r noso-
I— I tros. Y la co tid ia n id a d “in v ad id a ” nos castiga. Es un
‘O ^ a p re n d iz a je constante.
O tro p u n to n eu rálg ico e n la c o tid ia n id a d ginebri-
n a —q u e n o es exclusivo d e a q u í, p ero q u e m e proble-
m atizó m u c h o - es la cuestión d e l silencio e n re la c ió n con
lo q u e el c o n te x to c o n sid e ra a lg a rab ía , c e le b ra c ió n , barullo.
N unca o lv id aré la ocasión en cjue, a las diez d e la n o c h e , un
vecino tocó el tim b re in sis te n te m e n te /A b rí la p u e rta . Saludó
! con un e d u c a d o b u e n a s n o c h e s y, d a n d o m u estra s d e estar
m uy m o lesto , m e dijo que la g u ita rra de mi h ijo n o lo dejaba
i d o rm ir./'
Jo a q u im , hoy p ro fe so r de g u ita rra clásica e n el C onservato­
rio de F rib u rg o y 'p o r en to n ces ad o lescen te, e sta b a p re p a ra n ­
d o (con su m o rig o r, estu d iab a seis h o ras al día) u n a suite de
Bach. . ¡y el v ecin o n o p o d ía d o rm ir! Y a las diez y d iez de la
no ch e bajó p a ra p ro testar.
R ecu erd o q u e , co n cierto h u m o r, le dije: “ ¡Q ué diferen tes
q u e somos! Yo d u e rm o con B a c h ”. C on la m ism a e d u cació n
con que h a b ía lleg ad o , se fue. H a b lé con J o a q u im y clejó de
tocar la g u ita rra . El vecino h a b rá d o rm id o en paz.
Lo que enseña la diferencia cultuial 49

Existen, tam bién, m u c h a s anécdotas, a lg u n a s verdaderas y


otras se g u ra m en te p ro d u c to de la im ag in ació n d e los latinoa­
m ericanos, sobre el silen cio y el ruido.
Jam ás c o n o cí a un la tin o a m e ric a n o q u e n o tuviese algo q u e
decir, q u e reclam ar, c o n re sp e c to a esta m a rc a d e la cotidiani­
dad suiza, au n q u e r o exclusiva de esa so c ie d a d . C on relación
a ella, o tra vez volvemos al p ro b lem a d e los lím ites: ni m uy
acá ni m uy allá.
C reo, p o r otro lado, q u e la p eo r de las exigencias de esa
co tid ia n id a d que tanto h in c a p ié hace e n el silencio es el se n ­
tim ien to , a veces u n p o c o velado, que el c o n te x to alim enta in ­
to le ra n te m e n te , co n tra los q u e llevan e n su c u e rp o el ritm o,
el so n id o , la voz audible, c o n sid e rán d o lo s re p re sen ta n te s de
culturas inferiores, p o c o civilizadas. La in to le ra n c ia es siem ­
pre prejuiciosa.
C om o ves, A ntonio, convivir con la c o tid ia n id a d del otro es
u n a e x p e rie n c ia de a p re n d iz a je p e rm a n e n te . Siem pre decía
eso e n casa, a nuestras hijas y a nuestros hijos. P orque, m ira,
u n a de las características fu n d am e n ta les d e l c o m p o rtam ie n to
c o tid ia n o es ex actam en te la de no p re g u n ta rn o s po r él. U n a
de las características fu n d a m e n ta le s de la ex p erien cia en la
c o tid ia n id a d es que n o s m ovem os en ella d á n d o n o s c u e n ta
de los h e c h o s, pero sin a lcan zar n e c e sa ria m e n te un conoci­
m ie n to cabal. Ahora, al h a b la r de esto, r e c u e r d o ese libro ex­
tra o rd in a rio de Karel K osik, \A)dialétic,a do concreto,10 en el q u e
desvela d e m anera crítica el sentido de la co tid ian id ad .
Sin e m b a rg o , c u an d o dejam o s n u estro c o n te x to de origen
y pasam os a otro, n u e s tra ex p erien cia d e la cotidianidad se
vuelve m ás dram ática. T o d o nos provoca o n o s pu ed e provo­
car. Los desafíos se m u ltip lic a n . La tensión se instala.
C re o q u e u n o de los p ro b le m a s más g raves que e n fre n ta
el e x ilia d o o la ex iliad a es q ue, si en su c o n te x to original

10 Karel Kosik, A dialética do concreto, Río de Janeiro, Paz e Terra, 1985,


2a ed. [ed. cast.: Dialéctica de lo concreto, Venezuela, Grijalbo, 1988].
50 Por una pedagogía de la pregunta

vivía in m e rso e n u n a c o tid ian id ad q u e le era fam iliar, e n el


c o n te x to p re s ta d o n e c esita e m e rg e r u n a y o tra vez d e la co­
tid ia n id a d y d e b e p re g u n ta rse c o n s ta n te m e n te p o r ella. Es
c o m o si estuviese s ie m p re en vigilia. Y si no se p r e p a r a p a ra
r e s p o n d e r sus p ro p ia s preguntas, si ca e en la no stalg ia d e su
c o n te x to de o rig e n , te n d e rá a n e g a r to d o lo que la c o tid ia n i­
d a d p re sta d a le o fre c e y que le p e rm itiría su p e ra r la ten sió n
q u e g e n e ra la r u p tu r á del exilio.

An t o n io :Este an álisis tuyo so b re la c o tid ian id ad es fu n d a ­


m e n ta l p a ra la c o m p re n s ió n del exilio, p o rq u e el ex ilio n o es
s im p le m e n te u n p ro b le m a de r u p tu r a ep istem ológica, e m o ­
cio n a l, se n tim e n ta l, intelectual o in clu so política;'es ta m b ié n
u n a ru p tu ra d e la v id a diaria, d e gestos, palabras, d e re la c io ­
n e s h u m an a s, a m o ro sa s, de am istad, d e vínculos c o n los ob­
je to s . Sin d u d a , el exilio no p u e d e explicarse sin e sa fo rm a,
d ig am o s p e rso n a l, d e relacionarse c o n o tra realid ad , c o n otro
c o n te x to n uevo. A llí em pieza, d iría yo, la alfab etizació n de
n u e s tro ser.
Y c o m ie n z a c o n e so a lo q u e te re fe ría s antes: d e s c u b rir
a los o tro s, d e s c u b r ir o tra re a lid a d , o tro s objetos, o tro s ges­
tos, o tra s m a n o s , o tro s c u erp o s. C o m o estam os m a rc a d o s
p o r o tro s le n g u a je s y a c o stu m b ra d o s a o tro s gesto s, a otras
re la c io n e s, e ste n u e v o d e sc u b rir, e ste nuevo re la c io n a rs e
c o n el m u n d o es u n largo a p re n d iz a je . Y, p o r lo ta n to , la
d ife re n c ia e stá p re c is a m e n te allí d o n d e se inicia e s te a p r e n ­
dizaje. Se d e s c u b r e al otro, y tú v in cu la b as con ese d e s c u b ri­
m ie n to del o tr o la n e c esa ria to le ra n c ia d el o tro . E so signi­
fica q u e , a trav és d e la d ife ren c ia, te n e m o s q u e a p r e n d e r a
to le r a r al o tro , a n o ju z g a rlo s e g ú n n u e s tro s p ro p io s valores
sin o s e g ú n los d e él, q u e so n d is tin to s a los n u e s tro s . Y lo
q u e m e p a re c e fu n d a m e n ta l es q u e , u n id o a los c o n c e p to s
d e d ife re n c ia y to le ra n c ia , está el d e c u ltu ra.
D ecías q u e d e s c u b rir otra c u ltu ra es aceptarla, es to lerarla.
E n to n ces, p ie n s o q u e el c o n c ep to d e cu ltu ra q u e em p le as, y
q u e yo c o m p a rto p le n a m e n te , n o es el co ncepto elitista.
Lo que enseña la diferencia cultural 51

La cultura n o es tan sólo u n a m anifestación artística o intelec­


tual que se e x p resa a través del pensam iento; la c u ltu ra se ma­
nifiesta p o r en c im a de todo e n los gestos más sim ples de la vida
cotidiana. C u ltu ra es com er de m a n e ra diferente, es relacionar­
se con otro ele m an e ra diferente. D e m odo que a m í m e parece
que el em p leo d e esos tres c o n cep to s -cultura, d iferen cia y to­
lerancia- es u n a utilización nu ev a d e viejos conceptos. Cultura
para nosotros, insisto, son todas las m anifestaciones hum anas,
inclusive la cotidianidad, y fu n d am en talm en te e n la cotidiani­
dad se descu b re lo diferente, q u e es esencial. Esta es una con­
cepción de lo esencial distinta d e la tradicional, q u e considera
lo esencial c o m o lo com ún, los rasgos com unes a todos. Sin em­
bargo, para nosotros, y creo q u e estarás de acuerdo conm igo, lo
esencial es lo diferente, lo q u e nos vuelve diferentes.
D e sc u b rie n d o y a cep tan d o cjue eso es lo e sen cial, y que el
elem en to to le ra n c ia es im p re sc in d ib le en esa n u e v a relación,
debem os lu e g o establecer u n diálogo e n riq u e c e d o r entre
nuestras diferencias.^A sí, tie n e s razón c u a n d o clices que no
podem os ju z g a r la cultura del o tro según nuestros valores y que, |
en cambio, deb em o s aceptar q u e existen otros valores, que exis­
ten las diferencias y que, en el fo n d o , esas diferencias nos ayu­
dan a e n te n d e m o s a nosotros m ism os y a c o m p re n d e r nuestra
propia cotidianidad.^

paulo : De h e c h o , es un a p re n d iz a je difícil, u n aprendizaje


diario. B asado en mi larga e x p e rie n c ia (viví casi dieciséis años
en el exilio, a p re n d ie n d o d ia ria m e n te ), creo q u e p u ed o de­
cir que n o es fácil. A veces u n o se desanim a e n este proceso
de a p re n d e r sin olvidar el p a sa d o . A p ren d er c ó m o tratar con
el d ife ren te e n cierto m o d o h ie re las m arcas cu ltu rales que
traem os c o n n osotros en el a lm a , e n el cu erpo. A m e n u d o me
cansaba ta m b ié n fP e ro lu ch é c o n sta n te m e n te , e n el sentido
de vivir la e x p e rien c ia del e q u ilib rio en tre lo q u e m e marcó
de m a n e ra p ro fu n d a en m i c u ltu ra y aquello q u e com enzó a
m arcarm e, positiva o n eg ativ am en te, en el c o n te x to nuevo,
en el c o n te x to diferente../-
52 Por una pedagogía de la pregunta

E n te n d í, A n to n io , o tra cosa obvia. M u c h a g e n te d e b e h a ­


b e r d ic h o lo q u e voy a d e c ir ahora. S upe c u á n fu ertes son
n u e stra s m arc as c u ltu rale s. P ero lo son m u c h ísim o m ás e n la
m e d id a e n q u e las id ealizam o s. En v e rd a d , c u a n d o c o m ie n ­
zas a d e c ir “lo ú n ico q u e es b u e n o es lo c h ile n o ”, las m arc as
d e tu c u ltu r a se d e b ilita n ''P e ro si, en vez de idealizarlas sim ­
p le m e n te las tratas b ie n , las cuidas sin co n v e rtirla s en a b so ­
lutas, e n tie n d e s q u e ‘sin ellas incluso te s e ría difícil re c ib ir
VER otras m a rc a s q ue, c o m p a ra d a s con tu h isto ria p erso n al, f u e ­
sen sig n ific a tiv a s./
En e ste sen tid o re c u e rd o u n a carta q u e le escribí a un g ran
am igo b rasileñ o . H a b la n d o de m i vag ab u n d eo p o r el m u n d o ,
le decía: “Si las m arcas d e n u e stra cultura no estuviesen p re s e n ­
tes, vivas e n m í, m arcas q u e cuido con cariñ o , mi vag ab u n d eo
- q u e p o r causa de esas m arcas tiene u n significado p ro fu n d o
para m í—se convertiría e n u n p u ro vagar p o r el m u n d o , casi sin
razón d e s e r”. Es in te re sa n te observar lo e x tra o rd in a rio de esta
c o n tra d ic c ió n . Si re n u n c ia s a tus m arcas culturales de o rig e n ,
la n u ev a c u ltu ra no llega a m arcarte y e n to n c e s vives un sim ula­
cro e n esa cu ltu ra p resta d a; en cam bio, si las respetas p e ro n o
las absoludzas, te dejas m a rc a r p o r la nueva cu ltu ra. Es decir: la
nueva c u ltu ra no te invade, p ero tam poco es reprim ida. E n el
fo n d o , ta m b ié n te d a algo. Este aprendizaje - q u e , repito, n o es
fácil—tie n e q u e ser vivido, p o rq u e el exilio así lo exige. P o r eso
Elza y yo siem p re in te n ta m o s que n u estra nostalgia p o r Brasil
n o se tra n sfo rm ara e n u n a especie de d o len cia sentim ental.
S en tíam o s c o n fuerza la falta del país, la falta del p u eblo, la
falta d e la cultura. Es lo q u e tu decías: la m a n e ra de d a r los
b u e n o s días, de c am in ar p o r la calle, de d o b la r u n a esquina, d e
m irar h a c ia atrás. T o d o eso es cultura. Y todos lo echábam os d e
m enos, p e ro jam ás p e rm itim o s que esa falta se tran sfo rm ara e n
u n a n o sta lg ia que nos debilitase, que n o s volviese tristes, q u e
nos q u ita ra la razón d e ser.
Si el e x ilia d o se in se rta e n un tipo c u a lq u ie ra de p rá c tic a
y e n c u e n tra u n a razó n d e se r en esa p rác tic a , estará c ad a vez
en m e jo re s c o n d ic io n es p a ra en carar la te n sió n fu n d a m e n ta l
Lo que enseña 'a diferencia cultural 53

e n tr e su contexto d e o rig e n y su nu ev o co n te x to p resta d o . De


m a n e r a tal que, e n c ie rto m om ento, el nuevo lugar, a u n q u e
c o n tin ú e siendo p re s ta d o , oficiará c o m o m ed iad o r de su p r o ­
p ia nostalgia^Es d e c ir q u e lo viabilizará. Eso fue lo q u e pasó
c u a n d o , po r h a b e r a c e p ta d o trabajar e n el Consejo M u n d ial
d e Iglesias, tuve la posibilidad de e x te n d e r mi espacio d e ac­
c ió n a E uropa, A frica, A m érica L a tin a y los Estados U n id o s y
d e h a c e r algo que m e parecía válido y q u e justificaba la dis­
ta n c ia obligada de m i contexto.//
L a c o n trib u c ió n m ín im a que p u d e h a c e r -re c o n o z c o q u e
fu e m ín im a, p e ro d e to d o s m odos im p o r ta n te - en d if e r e n ­
tes p aíses otorgó u n significado al ex ilio . Para mí, A n to n io ,
u n o d e los p u n to s clave en la e x p e rie n c ia del exilio es sa­
b e r, c o m o decías al p rin c ip io de n u e s tr a conversación, h a sta
d ó n d e es posible o n o tran sfo rm ar e n positiv id ad esa n eg ati-
v id a d q u e im plica la ru p tu ra en la c o tid ia n id a d del c o n te x to
n u e v o : H asta q u é p u n to lucham os p o r c re a r o e n c o n tr a r ca­
m in o s que, c o n trib u y e n d o en c ie rta f o rm a con algo,
n o s p e rm ita n e s c a p a r de la m o n o to n ía de los
d ía s sin futuro. E sta es u n a de las le c c io n e s que
p u e d e en señ a r el ex ilio , siem pre y c u a n d o el
e x ilia d o se c o n v ie rta e n sujeto d e l a p r e n d i­
zaje. E n verdad, el e x ilio no es u n a e n tid a d
s u p ra h istó ric a , to d o p o d e ro s a , q u e le d a
ó r d e n e s al exiliado a su antojo. El e x ilio
es el exiliado en el exilio, es el e x ilia d o
q u e asum e, de f o rm a crítica, su c o n d ic ió n
d e tal. Si así lo h a c e , se convierte e n su jeto del a p re n d iz a ­
j e q u e la c irc u n s ta n c ia nueva la im p o n e . Y, si es u n b u e n
a p re n d iz , estará m u y b ie n p re p a ra d o p a ra volver a su tie rra .
N o te n g o n in g u n a d u d a de que, c u a n to m ás capaz sea de
a p r e n d e r de m a n e r a eficiente las le c c io n e s del ex ilio , m ás
e fic ie n te m e n te v o lv erá a su tierra e n é l m o m e n to o p o r tu n o ;
y re g re s a rá a su c o n te x to de o rig e n co n v en cid o d e q u e no
p u e d e llegar d a n d o lecciones, no p u e d e re to rn a r c o n la p r e ­
te n s ió n de e n se ñ a rle s algo a los q u e se q u e d a ro n . T ie n e q u e
54 Por una pedagogia de la pregunta

re g re sa r c o n la m ism a h u m ild a d q u e tuvo e n el ex ilio p a ra


a p re n d e r d e n u e v o su c o tid ia n id a d . En el fo n d o , ese tie m p o
q u e estuvo a f u e r a le exige, al volver, u n a n u e v a in se rc ió n en
su c o tid ia n id a d ; u n a c o tid ia n id a d q u e, en m u c h o s aspectos,
cam bió d u r a n t e su ausencia. La histo ria y la c u ltu r a de su
c o n te x to o rig in a l n o se d e tu v ie ro n p a ra e s p e ra rlo . P o r eso,
el ex iliad o q u e vuelve, lo h e d ic h o varias veces, d e b e te n e r
a n te su c o n te x to casi*la m ism a h u m ild a d q u e tuvo q u e tener-
ai p rin c ip io d e su exilio, c u a n d o d e b ió a p r e n d e r a vivir y
convivir c o n la n u e v a cotid ian id aclT O b v iam en te, r e a p r e n d e r
el c o n te x to d e o rig e n es m u c h o m ás fácil q u e a p r e n d e r el
ip re sta d o , p e r o d e c u a lq u ier m a n e r a la e x ig e n c ia d e l a p re n ­
dizaje se im p o n e . A veces, p e n s a n d o en estas cu estio n es,
ten g o la im p r e s ió n de q u e e x iste u n a relació n b a s ta n te d in á ­
m ica e n tr e el p re e x ilio y el r e to r n o del exilio. Si d u r a n te la
e ta p a a n te r io r al exilio el e x ilia d o tuvo u n a p rá c tic a política
clara en re la c ió n c o n su s u e ñ o , y si e n el exilio, c o n claridad
tam b ié n , b u s c ó vivir la te n sió n ya tan h a b la d a p o r n osotros
a p re n d ie n d o la to leran cia, la h u m ild a d , el s e n tid o d e la es­
p e ra - n o la q u e se hace e n la p u ra esp era sin o la que se
h ace e n la a c c ió n - , e n to n c e s se p re p a ra p a ra u n a vu elta sin
a rro g a n c ia , s in c o b ra rle n a d a a su co n te x to p o r el h e c h o de
h a b e r sid o e x p u ls a d o . U n a v u e lta sin la p r e te n s ió n d e ser el
m ae stro d e lo s q u e se q u e d a ro n .
M e n cio n a ste h ace un rato , e n nu estro d iá lo g o , algo que
tiene q u e v e r c o n las reflex io n e s q u e estoy h a c ie n d o . Dijiste
que la p o s ib ilid a d de p a rtic ip a r d e u n a e x p e rie n c ia concreta,
d e c o n trib u c ió n a otros p u e b lo s, te hizo g a n a r u n a dim en ­
sión distinta, d e l exilio. En este m o m en to , estoy se g u ro , estás
in d is c u tib le m e n te p re p a rá n d o te p a ra una v u e lta m ás p len a a
tu país.

A n t o n i o : S in d u d a , Paulo. M e g u sta ría c o n tin u a r este diálogo


sobre la c o tid ia n id a d , que m e p a re c e fu n d a m e n ta l. Y volver
a lo q u e d e c ía s so b re la re fle x ió n acerca d e la co tid ian id ad ,
de có m o el e x ilio nos exige cavilar so b re ella. Yo d iría q u e mi
Lo que enseña la diferencia cultural 55

e x p erien cia p ersonal en c u a n to a la reflex ió n so b re la cotidia­


nidad c o m ie n za antes d el exilio, en u n a e sp ec ie de preexilio,
como d e c ía s antes. P o rq u e , e n el fondo, ese cam b io respecto
de la e n s e ñ a n z a de la filosofía que hacíam o s o intentábam os
hacer j u n to a las nuevas g en eracio n es, e n u n co n tex to políti­
co d e te rm in a d o , exigía q u e pensásem os la re a lid a d de alguna
form a, q u e consideráram os cóm o las ideas se concretan en
acciones diarias, políticas, p ersonales, etc. Y p o r eso la lectura
de G ram sci fue fu n d a m e n ta l para nosotros. Y yo añadiría a
Lukács, a u n q u e en u n p la n o diferente, y ta m b ié n a Kosik,
porque(son) intelectuales q u e buscan e n tr a r e n la historia so­
cial q u e viven y buscan c o m p re n d e rla c o m o u n a totalidad de
la que lo c o tid ian o fo rm a u n a parte vital. Esos pensadores de
alguna fo rm a nos v in cu la ro n co n la re a lid a d q u e vivíamos en
la é p o c a d e las tran sfo rm acio n es que a c o n te c ía n en Chile y
nos h ic ie ro n reflexionar s o b re la c o tid ia n id a d H is verdad q u e l
el exilio n o s obligó d a r u n salto cualitativo, p o rq u e en él la
co tid ia n id a d era sin ó n im o d e ru p tu ra y d e d escubrim iento
del otro.//
Yo d iría q u e ese análisis d e la cotidianidad p u e d e llevamos
muy lejos e n nuestros pensam ientos p o rq u e, en últim a instan­
cia, creo q u e ^ p r o b le m a d e la cotidianidad en m arca otra cues­
tión: ¿cóm o u nir nuestras ideas a nuestras acciones? Podo lo
que afirm am os y defendem os, tanto en el á m b ito político com o
en los ám bitos filosófico y religioso, debe e sta r expresado en ac­
ciones pertinentes. C u ando n o se reflexiona sobre la cotidiani­
dad, n o se tom a conciencia d e que existe u n a separación entre
esas ideas y esos valores y nuestros actos e n la vida cotidiana. Si
afirm am os ciertos valores e n el plano in telectual pero estamos
apartados d e lo cotidiano e n nuestra relación con nuestra mu-
jer, con nuestros hijos, c o n nuestros am igos, con las personas
que en co n tram o s en la calle, que no co n o cem o s pero con las
que n o s relacionam os,(esos)valores están vacíos. Sin duda, son
m ucho m ás bonitas todas esas ideas de valores personales, colec­
tivos, m orales que deben re g ir nuestra relació n con los objetos y
las personas; pero, en la m e d id a en que n o reflexionem os ni in-
56 Por una pedagogía de la pregunta

te n te m o s h a c er q u e coincidan con nuestras acciones, c o n tin ú a


existien d o u n abism o e n tre lo que pensam os y valoram os y las
acciones que realizam os respecto de los objetos y las personas. Y
eso p u e d e aplicarse ta n to al ám bito religioso, d o n d e existe u n a
sep aració n e n tre lo)que se afirma y lo q u e se úvejcotidianam en-
te, c o m o al político, d o n d e existe u n a separación en tre lo q u e se
a firm a y la lucha cotidiana. Porque u n a d e las cosas q u e a p re n ­
d im o s e n Chile, e n esa prerreflexión sobre la cotidianidad, fue
. q u e tías)afirm aciones abstractas políticas, religiosas o jn o ra le s .
q u e e ra n excelentes en sí mismas, no se concretaban e n las ac-
* I c io n e s individuales. É ram os revolucionarios en abstracto, n o en
' la vida cotidiana. C re o que(Ja) revolución com ienza ju sta m e n te
s e n la revolución ele la vida cotidiana.
Vivir lo q u e se d e fie n d e cotidiana e in d iv id u alm en te m e p a­
re c e fu n d a m e n ta l. O tro concepto q u e c o n sid ero im p o rta n te
es el d e las ru p tu ra s . C reo que a través de ellas a p re n d e m o s
q u e la g ran le c c ió n d e la vida rad ica e n que es u n a c o rrie n te
d e ru p tu ra s: u n a r u p tu r a necesita s e r d e stru id a p a ra s e r su­
p e ra d a , y esa n u e v a ru p tu ra tiene q u e ser su p e ra d a a su vez
■ p o r otra? P ien so q u e las grandes y las p e q u e ñ as ru p tu ra s son
! n u e s tra s v e rd a d e ra s m aestras a lo larg o de la vida: n o s ense-
j ñ a n a re sp e ta r, a s e r diferentes y, so b re todo, a ser m o d esto s,
hum ildes.-;
El p ro c e so d e la c o n cien cia es le n to p e ro , en ú ltim a ins­
ta n c ia , se a firm a e n el proceso d e la rea lid a d . E n m is viajes a
Á frica y a A m é ric a L atin a, c u a n d o se e n te ra n d e q u e p a rtic i­
p o d e e x p e rie n c ia s e d u c ac io n ale s y p o p u la re s e n u n o u o tro
c o n tin e n te , ta n to los la tin o a m e ric a n o s co m o los a frica n o s
m e h a c e n s ie m p re la m ism a p re g u n ta : ¿Ellos e stá n m e jo r
o p e o r q u e n o s o tro s ? ”. Y yo r e s p o n d o q u e no se puecle d e ­
c ir q u e e sté n m e jo r o peor. Lo ú n ic o q u e p u e d o d e c ir es
q u e so n e x p e rie n c ia s c o m p le ta m e n te distin tas e n las q u e es
im p o sib le e v a lu a r q u é es m e jo r o p e o r p o rq u e so n invalua-
b les, p o r q u e n o p u e d e n ser v alo rad as ni c o m p a ra d a s . Son
e x p e rie n c ia s d istin ta s y, co m o tales, es p rec iso vivirlas dis­
tin ta m e n te .,. Y, c o m o son d ife re n te s, u n a s p u e d e n e n s e ñ a r
Lo que enseña la diferencia cultural 57

a otras. Y u n a s p u e d e n a p re n d e r d e otras. Y n o s o tro s sólo


a p ie n d e m o s si a c ep ta m o s q u e lo d ife re n te está e n el otro;
d e lo c o n tra rio , n o hay d iá lo g o /É j)d iá lo g o sólo existe c u a n ­
d o aceptam os q u e el o tro es d ife r e n te y p u e d e d e c irn o s algo
q u e 110 sabem os.

p a u l o : Claro. H ay otro aspecto q u e m e gustaría resaltar con

i elación a la co tid ian id ad , sobre el q u e posiblem ente podrás


d e c ir algo tam b ién . Me parece, A n to n io , que la com prensión
crítica de lo c o tid ia n o abre u n a instancia de análisis funda­
m ental para la co m p ren sió n de c ó m o chocan, cóm o luchan la
ideología d o m in a n te -in te n ta n d o en señ o rearse d e la totalidad
d o m in a d a - y la d o m in a d a -re sis tie n d o al dom inio to tal-.
C reo que u n a a p ro x im ació n al estu d io y a la c o m p re n ­
sión crítica d e c ó m o se dan las cosas en el m u n d o d e la co­
tid ian id ad p u e d e serle m uy útil a los analistas p o lítico s para
c o m p re n d e r d e q u é m odo la id e o lo g ía d o m in a n te n o logra
reducii toda la e x p re sió n c u ltu ra l, .n o llega a re d u c ir la crea-
tividad_p_opular a la ideología d o m in a n te . A veces p o d em o s
se r llevados a p e n s a r, en u n a c o m p re n s ió n acrítica d e esta lu­
cha, que to d o lo q u e existe e n la c o tid ia n id a d p o p u la r es una
p u ra re p ro d u c c ió n de la id e o lo g ía d o m in a n te . Y n o es así.
Siem pre h a b rá algo de la id eo lo g ía d o m in a n te e n las ex p re ­
siones c u ltu rale s populares, p e ro tam b ié n existen, contracli-
ciéndola, las m arc as de la resiste n c ia en el len g u a je, en la
m úsica, en el s a b o r de la co m id a, e n la religiosidad p o p u lar,
en la c o m p re n sió n del m u n d o . H a c e poco, adem ás, se p ubli­
có en Brasil u n estu d io muy in te re s a n te con el significativo
títu lo de Afestci do povo, pedagogía de resistencia.11 ¿Q ué piensas
d e eso? ' ~

11 J. C. N. Ribeiró Júnior, A testa do povo, pedagogía de resisténcia, Río


de Janeiro, Vozes, 1982.

También podría gustarte