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Assunto: A logística do amor

De: Gustavo Gitti


Data: 07/07/2010 12:37

Os detalhes técnicos da relação são muito mais importantes do que pensamos…

Ele chegava cansado. Lavava louça enquanto preparava o jantar com ela. Comiam. Ele deitava no
sofá para descansar um pouco ou ficava respondendo emails. Ela tomava banho e voltava para
beijá-lo. Ele se sen a sujo e não queria nada antes de tomar banho. Ele sempre se demorava e ela
dormia antes. Depois de um tempo, isso os destruiu. Tivesse ele tomado banho antes…

Parece um detalhe insignificante? Não é.

A cegueira do amor român co


Nossa mania de basear a relação no amor român co, nos sen mentos, ofusca a importância de
outros aspectos mais técnicos, frios, funcionais, como a logís ca, o workflow, o controle de
estoque da coisa. Tendo amor e paixão, de que importam ro nas, hábitos, trabalhos,
deslocamentos e os mil processos de nossas vidas? Assim pensamos, iludidos.

Por que você acha que os casamentos arranjados davam certo? Ora, quando a logís ca é bem
estruturada, amor é o de menos. Com o tempo, aprendemos a cuidar, sen r tesão, transar, amar,
admirar, se apaixonar. Ao ouvir isso, sen mos uma certa aversão à ideia de “aprender a sen r
tesão”, não é mesmo? Somos fascinados pela paixão súbita, pela química inexplicável, pelo amor
que parece vir de uma vida passada. É o espírito fast food nos relacionamentos: queremos tudo
pronto, do nada, agora.

Admiro o arqué po da relação Romeu e Julieta pelo aspecto libertário, mas sempre achei esse
modelo adolescente demais, mimado demais. É uma das fundações do amor moderno e se
atualiza sempre que uma relação começa com um “Eu gosto dele, ele me faz bem, eu sinto um frio
no peito” e fica só nisso, sem olhar o mundo inteiro do outro. Se é para fazer amor, vamos dar,
penetrar, meter no mundo inteiro um do outro. E muito desse amor se faz com coisas das quais
não gostamos.

Nós, Romeus e Julietas, precisamos crescer e aprender a fazer o que precisa ser feito, para além de
nossas teimosias, birras e manhas. Aprender a reconhecer e lidar com a logís ca do amor com a
mesma frequência com que olhamos para nossos sen mentos.

Um homem alérgico a cor nas


Pensamos que sabemos a origem de nossos problemas, mas não sabemos. Com perturbações
fisiológicas, o diagnós co não é fácil, imagine com as emocionais e relacionais.

Somos como um homem alérgico e apaixonado por cor nas. Ele não desconfia de sua alergia, age
movido por “gosto / não gosto” e sempre compra mais uma cor na, até para onde não tem janela.
Como está sempre espirrando, troca todos os móveis, muda de casa, muda de cidade, rejeita
amigos e namoradas, briga com a família, mas nunca abandona as cor nas. Ele vai a psicólogos,
cria teorias sobre por que espirra na frente de tal e tal pessoa, lista os problemas dos outros
pelos quais teria aversão, compra livros do po “Como interpretar seus espirros”…

Focamos tanto em nossa subje vidade, nas emoções, no amor român co, na paixão, em nossos
desejos e mimos, que esquecemos do mundo, dos processos, das coisas, da logís ca. Bastaria a
esse homem jogar fora as cor nas para ser feliz em qualquer casa.

Se tal metáfora lhe parece muito distante e caricata, imagine uma pessoa que, por algum mo vo,
para de trabalhar, tem sua carência potencializada pelo tempo livre, e começa a encontrar
problemas na relação, se sen r insa sfeita com a ausência do parceiro, reclamar, brigar, até
terminar a relação com uma lista de coisas que o outro não faz, que o outro não é. Tivesse ela
voltado a trabalhar…

Nossa mente é relacional


O que alimenta esse processo é nosso
autocentramento e a ilusão de que existe uma mente
fechada dentro de nossa cabeça, em vez de
pensamentos e emoções que existem de modo
impessoal flutuando como possibilidades por aí, que
podem ser incorporadas ou apenas passear livres no
espaço que somos. Nossa mente é relacional, ela se
expande entre as pessoas, para dentro delas, entre
locais e objetos.

Quando surge um problema, temos certeza de que ele


é nosso ou do outro, que está dentro de alguma
mente, não no chão, na cor na, no espaço entre
pessoas e coisas. Como nos levamos a sério, vivemos
emoções de modo pessoal e usamos nossos dramas
para dar sen do à vida, é muito di cil admi r que a
maioria dos nossos problemas mais sérios e
gigantescos são frutos de detalhes (como uma cor na) e poderiam ser transformados com
mudanças simples de logís ca.
Nossa mente não tem nada dentro. Ela é um olho que se posiciona aqui ou ali – aqui, vê uma
perspec va; ali enxerga outro universo. É por isso que uma cor na pode mudar nossa vida.

Entre um mendigo jogado na rua e eu, a única diferença é de posição, não de conteúdo mental ou
“personalidade”. Em menos de uma semana passando frio, sem comer, eu teria os mesmíssimos
pensamentos, o mesmo mundo emocional, a mesma personalidade. Possivelmente roubaria ou
mataria alguém.

A logís ca de minha vida, minha ro na, meu trabalho, minhas roupas, meu apartamento, meus
deslocamentos, tudo aquilo que penso não ser eu é muito mais responsável por minhas
experiências do que consigo imaginar. Assim como meu namoro, que não é o laço entre duas
subje vidades, mas a interface entre céus, chãos, armários, paredes, computadores, trabalhos,
camas, agendas, futuros, passados, famílias, restaurantes, sonhos, banheiros, supermercados,
carros, trejeitos, vassouras, panelas, livros, manias, escovas de dente…

* Crédito da imagem acima: James Jean, “Wave II” (2009).

Como namorar com pausas de 2 dias por


semana
O casal que já superou a necessidade excessiva por paixão e roman smo pode focar mais
livremente nos recursos e nos fluxos que, de fato, possibilitam que a relação avance. Se ambos
ainda estão preocupados com “Você gosta de mim? Você me ama? Você me deseja?”, uma
conversa sobre morar em casas separadas é inviável. A ironia é que justamente essas mudanças
logís cas, que podem provocar insegurança, salvam muitas relações – e, a longo prazo, só
aumentam a confiança.

No filme Sex and the city 2 (que assis para comprovar uma ideia que publicarei no
PapodeHomem), consegui encontrar uma questão interessante: o marido da personagem principal
propõe uma pausa semanal no casamento, 2 dias em que eles ficam em apartamentos diferentes,
sem se ligar, fazendo o que quiserem – pelo que entendi, eles tem de se manter fieis, mas não vejo
problema em adaptar essa regra. ;-)

“E aí, querida, saiu com alguém ontem? Comprovou que eu sou melhor ou vai con nuar
procurando?”

Basta ques onar um pouco as convenções naturalizadas, basta quebrar processos automa zados,
reconhecer e mexer na logís ca, para se surpreender com novos fluxos do amor, novos olhares de
desejo, interfaces e toques que nunca foram explorados porque não havia suporte, horário,
transporte, cama pra isso.

Casar e morar em casas separadas: “Você vem jantar e dormir aqui hoje?”. Ou dormir em quartos
diferentes com duas camas de casal, sendo que às vezes uma delas fica vazia à noite toda. Não
criar uma conta conjunta. Não casar, apenas morar junto. Casar e ficar solteiro, sem bloquear
novas relações. Fazer regras por brincadeira e não fazer disso mais uma regra (nem dessa frase e
nem desse parênteses). Ou fazer e esquecer, como dois caretas convencionais, por que não?

Mais do que isso, em cada detalhe, podemos olhar para as questões logís cas da relação, detectar
obstruções e brincar de mover o sofá na nossa sala para ver em que parte do chão ainda não
transamos. Aliás, isso de mover juntos o sofá é tão importante quanto transar no chão.

Enfim, possibilidades e mais possibilidades para quem não confia no amor e sabe que o horário do
banho pode acabar com um relacionamento.

Qual sua experiência com essa logís ca do


amor?
Eu tenho muita curiosidade em saber se vocês já viveram isso. Qual foi o seu “horário do banho”?
Já viveu um relacionamento que deu muito certo ou muito errado por causa de um simples
detalhe logís co? Já fez alguma mudança simples que alterou todo o curso da relação? Quais
“sofás” mudou de lugar?

Deixe sua visão, conte sua história e seguimos a conversa nos comentários aqui.

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