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Grupo I (100
pontos)
A
Lê o texto.
Tão jovem, Gi. A rapariguinha frágil, um vime, que ela tem levado a vida inteira
a pintar, primeiro à maneira de Modigliani, depois à sua própria maneira, à de George,
pintora já com nome nos marchands das grandes cidades da Europa. Gi com um
pregador de oiro que um dia ficou, por tuta e meia, num penhorista qualquer de
Lisboa. Em tempos tão difíceis.
– Vim vender a casa.
– Ah, a casa.
É esquisito não lhe causar estranheza que Gi continue tão jovem que podia ser
sua filha. Quieta, de olhar esquecido, vazio, e que não se espante com a venda assim
anunciada, tão subitamente, sem preparação, da casa onde talvez ainda more.
– Que pensas fazer, Gi?
– Partir, não é? Em que se pode pensar aqui, neste cu de Judas, senão em
partir? Ainda não me fui embora por causa do Carlos, mas… O Carlos pertence a isto,
nunca se irá embora. Só a ideia o apavora, não é?
– Sim. Só a ideia.
– Ri-se de partir, como nós nos rimos de uma coisa impossível, de uma ideia
louca. Quer comprar uma terra, construir uma casa a seu modo. Recebeu uma
herança e só sonha com isso. Creio que é a altura de eu…
– Creio que sim.
– Pois não é verdade?
– Ainda desenhas?
– Se não desenhasse dava em maluca. E eles acham que eu tenho muito
jeitinho, que hei de um dia ser uma boa senhora da vila, uma esposa exemplar, uma
mãe perfeita tudo isso com muito jeito para o desenho. Até posso fazer retratos das
crianças quando tiver tempo, não é verdade?
– É o que eles acham, não é?
– A mãe está a acabar o meu enxoval.
– Eu sei.
CARVALHO, Maria Judite de (2015). “George”, in George e Seta Despedida. Porto: Porto
Editora, pp. 14-15.
Non é de mi partido4,
mais porque mh-á mentido,
sanhuda lh’and’eu.
1. sanhuda lh’and’eu: estou zangada com ele. 2. per seu grado: voluntariamente. 3. u ir avia: onde havia
de ir. 4. Non é de mi partido: Não perdeu o meu amor.
Lê o texto.
A complexidade
Acho que o tempo nos vai dando outro olhar sobre a vida e que isso poderá
modificar os modelos com que lidamos. É possível que estejamos perante uma
mudança de civilização caracterizada pela passagem das sociedades de poder para
as sociedades de diálogo e de afeto.
Eu tenho consciência de que o mundo em que nasci não era assim. Nasci
numa sociedade de poder. As pessoas aceitavam naturalmente que o poder era o
instrumento de gerir o mundo e era muito restrito o papel do diálogo nos nossos
costumes e na nossa maneira de olhar.
Mesmo na família. O que caracterizava a relação pais e filhos era a autoridade.
Vivi essa experiência: o meu pai, que era uma pessoa afetuosa, tinha com os filhos
uma atitude autoritária que marcou as nossas vidas. Felizmente que a sua relação
com a filha mais nova lhe abriu a vida para outro olhar. Ele estava a ser vítima da
atitude cultural que marcava aquela época e não havia outra maneira que não fosse
essa para regular as relações humanas.
Mas não era só a família: as próprias sociedades estavam marcadas pelo uso
do poder e isso era uma prioridade nas nossas vidas. Na Europa de então, a maioria
aceitava a prioridade do poder na organização da sociedade: Hitler, Mussolini, Estaline
e tantos outros exerciam o uso do poder como forma de gerir o mundo e uma boa
parte da sociedade aceitava isso sem consciência do absurdo que significava.
Não tenham dúvidas: foi no meu tempo e através de outro absurdo – a guerra mundial
– que ficou mais ou menos esclarecida essa questão. Hoje, pelo menos na Europa, é
difícil admitir que as sociedades possam sobreviver através de um ditador.
Mas temos de estar atentos: a própria democracia está revelando as suas
fraquezas e isso obriga-nos a ter a perceção de que o futuro não se resolve com a
indiferença mas com a consciência permanente de que a reflexão sobre as relações
humanas é uma realidade que nos acompanha e que não podemos dar como
resolvida.
Esta atitude perante a vida é a única que nos deixa aproximar da realidade que
é fundamentalmente uma complexidade. É também o tempo que nos vai revelando
que a natureza humana não é simples e que não podemos progredir se não nos
aproximarmos da realidade com a consciência de que o futuro será feito com o
respeito dessa complexidade que nos condiciona.
Eu sou um otimista, sobretudo quando falo com pessimistas. Tenho dias em
que olho para o futuro com esperança, que consiste exatamente neste abandono das
sociedades de poder. Mas não vai ser simples. […]
Olho para o futuro com a consciência da complexidade da natureza humana e,
por isso, da dificuldade de termos presente que nada, nem a política, nem a economia,
nem o poder, mas só o diálogo e o afeto poderão dar-nos outras perspetivas.
5. Em “Eu tenho consciência de que o mundo em que nasci não era assim.” (l. 5)
a expressão sublinhada desempenha a função sintática de (5
pontos)
(A) complemento do nome “consciência”.
(B) modificador do nome “consciência”.
(C) modificador do grupo verbal.
a. “Acho que o tempo nos vai dando outro olhar 1. Modalidade deôntica
sobre a vida” (l. 1).
b. “Felizmente que a sua relação com a filha mais 2. Modalidade apreciativa.
nova lhe abriu a vida para outro olhar.” (ll. 11-12)
c. “Mas temos de estar atentos” (l. 23). 3. Modalidade epistémica.
1. Redige um texto de opinião (de cem a duzentas palavras) que tenha como
ponto de partida o cartoon seguinte.
CONSTANTIN, Pavel (2014). “Grande invento”, in World Press Cartoon 2014. Lisboa: Babel, p. 330.
Cenários de resposta
Grupo I
A
B
4. O sujeito poético é uma jovem apaixonada pelo seu namorado (“amigo”) que
expressa sentimentos de zanga e tristeza (vv. 3, 6, 9, 12) por este lhe ter mentido (vv.
2, 5, 11).
Grupo II
1. (C)
2. (A)
3. (C)
4. (B)
5. (A)
6. (B)
7. (C)
8. a. 3.; b. 2.; c. 1.
Grupo III
Tópicos:
– Ser humano sobrepôs-se aos restantes animais graças ao seu intelecto e criatividade
(invenções contribuíram para revolucionar o quotidiano e para o progresso civilizacional: roda,
bússola, etc.);
– Invenções deixam muitas vezes de cumprir o fim a que se destinavam e tornam-se perigosas
para o próprio ser humano, como a pólvora, e energia nuclear, etc.