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Teste formativo

(alunos ao abrigo do Decreto-Lei n.º 3/2008, de 7 de janeiro)

Grupo I (100
pontos)

A
Lê o texto.

Tão jovem, Gi. A rapariguinha frágil, um vime, que ela tem levado a vida inteira
a pintar, primeiro à maneira de Modigliani, depois à sua própria maneira, à de George,
pintora já com nome nos marchands das grandes cidades da Europa. Gi com um
pregador de oiro que um dia ficou, por tuta e meia, num penhorista qualquer de
Lisboa. Em tempos tão difíceis.
– Vim vender a casa.
– Ah, a casa.
É esquisito não lhe causar estranheza que Gi continue tão jovem que podia ser
sua filha. Quieta, de olhar esquecido, vazio, e que não se espante com a venda assim
anunciada, tão subitamente, sem preparação, da casa onde talvez ainda more.
– Que pensas fazer, Gi?
– Partir, não é? Em que se pode pensar aqui, neste cu de Judas, senão em
partir? Ainda não me fui embora por causa do Carlos, mas… O Carlos pertence a isto,
nunca se irá embora. Só a ideia o apavora, não é?
– Sim. Só a ideia.
– Ri-se de partir, como nós nos rimos de uma coisa impossível, de uma ideia
louca. Quer comprar uma terra, construir uma casa a seu modo. Recebeu uma
herança e só sonha com isso. Creio que é a altura de eu…
– Creio que sim.
– Pois não é verdade?
– Ainda desenhas?
– Se não desenhasse dava em maluca. E eles acham que eu tenho muito
jeitinho, que hei de um dia ser uma boa senhora da vila, uma esposa exemplar, uma
mãe perfeita tudo isso com muito jeito para o desenho. Até posso fazer retratos das
crianças quando tiver tempo, não é verdade?
– É o que eles acham, não é?
– A mãe está a acabar o meu enxoval.
– Eu sei.

CARVALHO, Maria Judite de (2015). “George”, in George e Seta Despedida. Porto: Porto
Editora, pp. 14-15.

Apresenta, de forma bem estruturada, as tuas respostas aos itens seguintes.

1. Identifica os papéis atribuídos à mulher pela sociedade retratada no texto.


(20 pontos)

2. Considerando o passado e o presente de George, traça o perfil social da


protagonista. (20 pontos)
3. Explicita de que forma os adjetivos presentes em “Quieta, de olhar esquecido,
vazio” contribuem para a caracterização psicológica de George (l. 8).
(20 pontos)

Lê a cantiga de amigo a seguir transcrita, de Pedro Garcia Burgalês.

Ai madre, ben vos digo:


mentiu-mh o meu amigo:
sanhuda lh’and’eu1.

Do que mh-ouve jurado,


pois mentiu per seu grado2,
sanhuda lh’and’eu.

Non foi u ir avia3,


mais ben des aquel dia
sanhuda lh’and eu.

Non é de mi partido4,
mais porque mh-á mentido,
sanhuda lh’and’eu.

FERREIRA, M. Ema Tarracha (s/d). Antologia Literária Comentada –


Idade Média. Lisboa: Ulisseia, p. 79.

1. sanhuda lh’and’eu: estou zangada com ele. 2. per seu grado: voluntariamente. 3. u ir avia: onde havia
de ir. 4. Non é de mi partido: Não perdeu o meu amor.

Apresenta, de forma bem estruturada, as tuas respostas aos itens seguintes.

4. Caracteriza o sujeito poético, identificando os sentimentos que o dominam.


(20 pontos)

5. Identifica o destinatário do sujeito poético. (10 pontos)


5.1. Explicita a relação que se estabelece entre ambos. (10 pontos)

Grupo II (50 pontos)

Lê o texto.

A complexidade
Acho que o tempo nos vai dando outro olhar sobre a vida e que isso poderá
modificar os modelos com que lidamos. É possível que estejamos perante uma
mudança de civilização caracterizada pela passagem das sociedades de poder para
as sociedades de diálogo e de afeto.
Eu tenho consciência de que o mundo em que nasci não era assim. Nasci
numa sociedade de poder. As pessoas aceitavam naturalmente que o poder era o
instrumento de gerir o mundo e era muito restrito o papel do diálogo nos nossos
costumes e na nossa maneira de olhar.
Mesmo na família. O que caracterizava a relação pais e filhos era a autoridade.
Vivi essa experiência: o meu pai, que era uma pessoa afetuosa, tinha com os filhos
uma atitude autoritária que marcou as nossas vidas. Felizmente que a sua relação
com a filha mais nova lhe abriu a vida para outro olhar. Ele estava a ser vítima da
atitude cultural que marcava aquela época e não havia outra maneira que não fosse
essa para regular as relações humanas.
Mas não era só a família: as próprias sociedades estavam marcadas pelo uso
do poder e isso era uma prioridade nas nossas vidas. Na Europa de então, a maioria
aceitava a prioridade do poder na organização da sociedade: Hitler, Mussolini, Estaline
e tantos outros exerciam o uso do poder como forma de gerir o mundo e uma boa
parte da sociedade aceitava isso sem consciência do absurdo que significava.
Não tenham dúvidas: foi no meu tempo e através de outro absurdo – a guerra mundial
– que ficou mais ou menos esclarecida essa questão. Hoje, pelo menos na Europa, é
difícil admitir que as sociedades possam sobreviver através de um ditador.
Mas temos de estar atentos: a própria democracia está revelando as suas
fraquezas e isso obriga-nos a ter a perceção de que o futuro não se resolve com a
indiferença mas com a consciência permanente de que a reflexão sobre as relações
humanas é uma realidade que nos acompanha e que não podemos dar como
resolvida.
Esta atitude perante a vida é a única que nos deixa aproximar da realidade que
é fundamentalmente uma complexidade. É também o tempo que nos vai revelando
que a natureza humana não é simples e que não podemos progredir se não nos
aproximarmos da realidade com a consciência de que o futuro será feito com o
respeito dessa complexidade que nos condiciona.
Eu sou um otimista, sobretudo quando falo com pessimistas. Tenho dias em
que olho para o futuro com esperança, que consiste exatamente neste abandono das
sociedades de poder. Mas não vai ser simples. […]
Olho para o futuro com a consciência da complexidade da natureza humana e,
por isso, da dificuldade de termos presente que nada, nem a política, nem a economia,
nem o poder, mas só o diálogo e o afeto poderão dar-nos outras perspetivas.

BAPTISTA, António Alçada (2014). “A complexidade”, Máxima, p. 41 [com supressões].

Nas respostas aos itens de escolha múltipla, seleciona a opção correta.


1. O texto adota o género textual (5
pontos)
(A) apreciação crítica.
(B) exposição sobre um tema.
(C) artigo de opinião.

2. O autor apresenta a sua tese (5


pontos)
(A) no primeiro parágrafo.
(B) no sexto parágrafo.
(c) no último parágrafo.

3. De acordo com o autor, as sociedades de poder (5


pontos)
(A) estão em vias de extinção.
(B) foram gradualmente substituídas pelas sociedades de diálogo e de afeto.
(C) são um fenómeno visível na vida social e familiar.

4. No quarto parágrafo, o autor fundamenta a sua tese com recurso a (5 pontos)


(A) argumentos experienciais.
(B) argumentos históricos.
(C) argumentos proverbiais.

5. Em “Eu tenho consciência de que o mundo em que nasci não era assim.” (l. 5)
a expressão sublinhada desempenha a função sintática de (5
pontos)
(A) complemento do nome “consciência”.
(B) modificador do nome “consciência”.
(C) modificador do grupo verbal.

6. O pronome “isso” (l. 24) tem como antecedente (5


pontos)
(A) “Mas temos de estar atentos” (l. 23).
(B) “a própria democracia está revelando as suas fraquezas” (ll. 23-24).
(C) “as suas fraquezas” (ll. 23-24).

7. O último parágrafo do texto corresponde a uma sequência textual (5 pontos)


(A) narrativa.
(B) dialogal.
(C) argumentativa.

8. Faz corresponder cada enunciado ao seu valor modal. (15


pontos)

a. “Acho que o tempo nos vai dando outro olhar 1. Modalidade deôntica
sobre a vida” (l. 1).
b. “Felizmente que a sua relação com a filha mais 2. Modalidade apreciativa.
nova lhe abriu a vida para outro olhar.” (ll. 11-12)
c. “Mas temos de estar atentos” (l. 23). 3. Modalidade epistémica.

Grupo III (50 pontos)

1. Redige um texto de opinião (de cem a duzentas palavras) que tenha como
ponto de partida o cartoon seguinte.
CONSTANTIN, Pavel (2014). “Grande invento”, in World Press Cartoon 2014. Lisboa: Babel, p. 330.
Cenários de resposta
Grupo I
A

1. Na sociedade retratada no texto, a mulher surge como alguém dependente do


homem, destinada ao casamento e tarefas domésticas, à maternidade e ao exercício
da pintura como distração (ll. 21-24, 26).

2. George sofreu uma metamorfose / transformação: se, no passado, vivia confinada à


pobreza e à vila onde nascera, oprimida pela sociedade, mas com o desejo de partir,
no presente, é uma pintora de sucesso, reconhecida a nível europeu (ll. 1-4).

3. Os adjetivos contribuem para a caracterização psicológica de Gi (isto é, de George


na sua juventude), mostrando que já no passado George revelava algum
desprendimento face aos objetos familiares, suscetíveis de lhe trazerem recordações.
Assim, é com indiferença e alheamento que recebe a notícia da venda da casa (“olhar
esquecido, vazio”).

B
4. O sujeito poético é uma jovem apaixonada pelo seu namorado (“amigo”) que
expressa sentimentos de zanga e tristeza (vv. 3, 6, 9, 12) por este lhe ter mentido (vv.
2, 5, 11).

5. O destinatário do sujeito poético é a mãe.


5.1. Para o sujeito poético, a mãe assume o papel de confidente dos seus sentimentos
amorosos e do seu estado de espírito.

Grupo II

1. (C)
2. (A)
3. (C)
4. (B)
5. (A)
6. (B)
7. (C)
8. a. 3.; b. 2.; c. 1.

Grupo III

Tópicos:

– Espírito inventivo do ser humano: força motriz do progresso;

– Ser humano sobrepôs-se aos restantes animais graças ao seu intelecto e criatividade
(invenções contribuíram para revolucionar o quotidiano e para o progresso civilizacional: roda,
bússola, etc.);

– Invenções deixam muitas vezes de cumprir o fim a que se destinavam e tornam-se perigosas
para o próprio ser humano, como a pólvora, e energia nuclear, etc.

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