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A lei impõe ao herdeiro que faça uma escolha, ou aceita o legado e perde a legítima,
ou, ao invés, aceita a legitima e perde o direito ao legado.
O bem legado é retirado da herança, e, como tal, legatários não concorrem para o pagamento
das dívidas, apenas quando a herança for insolvável (que não consegue saldar suas dividas)
ou quando a obrigação de atender ao passivo lhe é imposta pelo testador de maneira implícita.
O legado por conta da legítima é uma das formas de efetivação do direito à legítima, ou seja,
àquela quota de que os herdeiros legitimários (cônjuge, descendentes e ascendentes) não
podem ser privados por vontade do autor da sucessão, sendo, por isso, designada de quota
indisponível.
O autor da sucessão faz testamento dizendo que pretende que certos bens sirvam para
preencher a legítima do herdeiro legitimário. Por exemplo, A faz testamento e diz que deixa
ao seu filho B um imóvel em Nampula para perfazer a sua legítima.
De acordo com a lei, B não é obrigado a aceitar este legado, podendo pretender outros bens
da herança. Todavia, se aceitar o legado, não deixando de ser herdeiro legitimário, tem direito
a ficar com aquele bem determinado que lhe é deixado em testamento.
Se um legado por conta da legítima for de valor inferior à legítima do herdeiro que é
contemplado com o legado, este poderá sempre reclamar a diferença uma vez que não perde a
qualidade de herdeiro legitimário.
Vamos supor que A tem dois filhos, B e C e que fez um legado por quota da legítima ao filho
C. Supondo que o legado excede a legítima em 10 e que ainda há 20 para distribuir pelos
herdeiros, daríamos 10 a B e 10 a C, o que significa que C recebe, no total, mais 10 que B.
Mas outra parte da doutrina sustenta que, quando alguém faz um legado por conta da
legítima, não pretende beneficiar o herdeiro mas apenas indicar os bens que devem servir
para preencher a sua quota.
Por outro lado, é muito difícil para o autor da sucessão conseguir um bem de valor
exatamente igual ao valor da legítima. Assim, do mesmo modo que quando o valor é inferior
o herdeiro tem direito à diferença, quando o valor é superior ele não deve ficar beneficiado.
Nesta medida, esta corrente doutrinária propõe que se tentem igualar os herdeiros, de modo
idêntico ao que se verifica com as doações em vida sujeitas a colação.
Tal significa que, na hipótese supra, os 20 livres seriam distribuídos da seguinte forma: 5 para
C e 15 para B, conseguindo-se assim uma igualação absoluta entre os dois herdeiros,
igualação que, contudo, nem sempre é possível.