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Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


ao Curso Superior de Licenciatura em Mate-
mática do Instituto Federal de Educação, Ci-
ência e Tecnologia da Paraíba (IFPB), como
requisito parcial para obtenção do título de
Licenciado em Matemática.

Orientador: Prof. Me. Geraldo Her-


betet de Lacerda
IFPB / Campus Cajazeiras
Coordenação de Biblioteca
Biblioteca Prof. Ribamar da Silva
Catalogação na fonte: Cícero Luciano Félix CRB-15/750
L732i Lima, Paulo Vitor Ferreira de.
A igreja católica e a matemática : sacerdotes e religiosos
matemáticos / Paulo Vitor Ferreira de Lima. – 2023.

56f. : il.

Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura em Matemática) -


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba,
Cajazeiras, 2023.

Orientador(a): Prof. Me. Geraldo Herbetet de Lacerda.

1. História da matemática. 2. Ciência e religião. 3. Igreja católica -


Matemática. 4. Sacerdotes - Matemática. I. Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba. II. Título.
IFPB/CZ CDU: 51:282
Dedico esta pesquisa primeiramente a Deus, Criador do Universo e Autor das Leis
Matemáticas, a Igreja Católica Apostólica Romana e a Comunidade CientíĄca e Mate-
mática do IFPB, Campus Cajazeiras. Como também aos meus pais, José Ferreira Neto e
Selda Alecrim de Lima Ferreira
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Agradeço em primeiro lugar a Trindade Santa, Pai, Filho e Espírito Santo, por me
conceder o dom da vida e permitir chegar ao Ąnal da graduação.
Imensa gratidão ao meu pai, José Ferreira Neto, e a minha mãe, Selda Alecrim de
Lima Ferreira, pelos cuidados, afetos e apoio.
A Brígida de Cássia Gomes Alves, que foi minha professora de matemática no 3º ano do
Ensino Médio, por me inspirar e encorajar a ingressar no Curso Superior de Licenciatura
em Matemática.
Ao Prof. Me. Geraldo Herbetet de Lacerda, por tão valiosa atenção e orientação deste
trabalho de conclusão de curso. A este o meu imerso carinho e admiração.
A minha turma da graduação. De modo singular e especial, Francisco Ronaldo Bo-
nifácio Filho, Ingrid Natalia da Silva Lima Andrade, Gildisnara Tatiane da Silva Sousa
e Isaías Miguel de Sousa Claudino, o grupo indispensável de estudo, de amizade e de
companheirismo. O caminho teria sido mais árduo e difícil sem vocês!
A Caleb Sousa e Sousa, Sandra Mendes Pedroza, que foi minha professora de inglês do
Fundamental Anos Finais ao Ensino Médio, e a Maria Izabel da Silva pela ajuda prestada
no desenvolvimento desta pesquisa.
Na pessoa da Profa. Me. Kissia Carvalho, que me incentivou a realizar o estudo dos
sacerdotes e religiosos matemáticos da Igreja Católica, o meu obrigado aos professores do
curso, pelos valiosos ensinamentos.
A todo o IFPB, Campus Cajazeiras, pelo acolhimento, zelo e serviços prestados ao
longo desses anos.
A estes o meu muito obrigado! Grato a todos.
ŞA fé e a razão (Ądes et ratio) constituem como que as duas asas pelas quais o espirito
humano se eleva para a contemplação da verdade.Ť
(Papa São João Paulo II, Fides Et Ratio )
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Este trabalho compreende o resultado de uma investigação que se iniciou com o questiona-
mento acerca da existência de clérigos da Igreja Católica na Matemática. Logo, o objetivo
desta pesquisa é mostrar contribuições deixadas por sacerdotes e religiosos católicos ma-
temáticos para a Matemática. Permitindo, assim, ampliarmos o nosso entendimento da
relação do Catolicismo com a Matemática. Através de uma pesquisa qualitativa, de natu-
reza básica e com objetivo descritivo, buscamos, por meio de um aprofundamento teórico
e uma revisão bibliográĄca, identiĄcar a presença sacerdotal e religiosa no estudo e no
avanço da Matemática. Realizou-se uma análise exploratória dos livros de História da
Matemática disponibilizados pela biblioteca do Instituto Federal de Educação Ciência e
Tecnologia da Paraíba (IFPB), Campus Cajazeiras. Compreendemos que o ser é formado
por várias dimensões, como corpo/mente e fé/razão. Uma vez que a Matemática dialoga
com o indivíduo e com o seu cotidiano, deve dialogar também com suas crenças, dentre
elas está o Catolicismo, para poder humanizá-lo. Através da análise feita foi possível mos-
trar as contribuições de vinte e seis padres e religiosos para a Matemática e apresentá-los
com base nos autores dos livros.

Palavras-chave: Igreja Católica. História da Matemática. Sacerdotes. Religiosos.


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This work comprises the result of an investigation that began with the questioning about
the existence of clerics of the Catholic Church in Mathematics. Therefore, the objective of
this research is to show contributions left by mathematician Catholic priests and religious
to Mathematics .Thus allowing us to broaden our understand of the relationship between
Catholicism and Mathematics.Through a qualitative research,of a basic nature and with
a descriptive objective , we seek,through a theoretical deepening and a bibliographic
review, to identify the priestly and religious presence in the study and advancement of
Mathematics. An exploratory analysis was carried out of the History of Mathematics
books made availableby the libraryof the Federal Institute of Education and Technology
of Paraiba (IFPB),Campus Cajazeiras,the being is formed by several dimensions,such as
body/mind and faith/reason.Since Mathematics dialogues with the individual and his
daily life it must also dialogue with his beliefs,among them is Catholicism to be humanize
him. Through the analysis made, it was possible to show the contributions of twenty-six
priests and religious to Mathematics and present them based on the authors of the books.

Keywords: Catholic Church. History of Mathematics. Priests. Religious.


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Figura 1 Ű São Beda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19


Figura 2 Ű Alcuíno de York . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
Figura 3 Ű Papa Silvestre II . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
Figura 4 Ű Campanus . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
Figura 5 Ű Roger Bacon . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
Figura 6 Ű Thomas Bradwardine . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
Figura 7 Ű Nicole Oresme . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
Figura 8 Ű Nicholas de Cusa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
Figura 9 Ű Luca Pacioli . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
Figura 10 Ű Cuthbert Tonstall . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
Figura 11 Ű Christopher Clavius . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
Figura 12 Ű Nicolau Copérnico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
Figura 13 Ű Francesco Maurolico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
Figura 14 Ű Johannes Werner . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
Figura 15 Ű Marin Mersenne . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
Figura 16 Ű Grégoire de Saint-Vincent . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
Figura 17 Ű Pietro Mengoli . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
Figura 18 Ű René François Walter de Sluze . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
Figura 19 Ű John Wallis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
Figura 20 Ű Pietro Varignos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
Figura 21 Ű Bonaventura Cavalieri . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
Figura 22 Ű Isaac Barrow . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
Figura 23 Ű Gabriel Mouton . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
Figura 24 Ű Bernhard Balzano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
Figura 25 Ű Lorezzo Mascheroni . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
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1.1 NOSSO TEMA E OBJETIVOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11


1.2 NOSSA METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . 12
1.3 ESTRUTURA DE NOSSO TRABALHO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
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3.1 São Beda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19


3.2 Alcuíno de York . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
3.3 Gerbet dŠAurillac . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
3.4 Magister Campanus Nouariensis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
3.5 Roger Bacon . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
3.6 Thomas Bradwardine . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
3.7 Nicole Oresme . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
3.8 Nicholas de Cusa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
3.9 Luca Pacioli . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
3.10 Cuthbert Tonstall . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
3.11 Christopher Clavius . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
3.12 Nicolau Copérnico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
3.13 Francesco Maurolico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
3.14 Johannes Werner . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
3.15 Marin Mersenne . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
3.16 Grégoire de Saint-Vincent . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
3.17 Pietro Mengoli . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
3.18 René François Walter de Sluze . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
3.19 John Wallis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
3.20 Pietro Varignos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
3.21 Bonaventura Cavalieri . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
3.22 Isaac Barrow . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
3.23 Gabriel Mouton . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
3.24 Bernhard Bolzano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
3.25 Girolamo Sccheri . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
3.26 Lorezzo Mascheroni . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
3.27 Outras menções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
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Inúmeros trabalhos acadêmicos vêm sendo desenvolvidos na área da Matemática Hu-


manista e da Etnomatemática, demonstrando a natureza da Matemática como sendo
cultural e histórica, a Ąm de Şreconhecer que a Matemática é uma ciência humana, fruto
das necessidades e preocupações de diferentes culturas, em diferentes momentos históricos,
e é uma ciência viva...Ť (BRASIL, 2018, p. 267).
Realiza-se muitas discussões com relação ao ensino da Matemática, defendendo que
o mesmo deve humanizar o indivíduo. Se aponta caminhos para quebrar a visão de que
a Matemática parou no tempo, que está morta. Estudos tem revelado que uma maneira
de vencer esta barreira é utilizar-se da História da Matemática, mostrando como ela
se desenvolveu ao longo do tempo, através de mentes como René Descartes, Euclides,
Arquimedes, Isaac Newton, Carl Gauss e Leonhard Euler.
Para Ubiratan DŠAmbrósio (2012, p. 27), Şa história da matemática é um elemento
fundamental para perceber como teorias e práticas matemáticas foram criadas, desenvol-
vidas e utilizadas num contexto especíĄco de sua épocaŤ. Logo, nos revela muito mais do
que o conhecimento matemático, mas como indivíduos e sociedades lidavam com ela, e os
esforços realizados para alcançarem bons resultados em seus trabalhos.
Conscientes de que o ser humano é formado de corpo/mente, matéria/espírito, fé/razão,
e que essas dimensões não são dicotomizadas, mas que o conhecimento é resultado do
comportamento, no qual tudo se complementa num todo (DŠAMBROSIO, 2012). Faz-se
necessário e importante compreender a relação Fé e Ciência. Neste contexto, buscamos
entender melhor a relação da Igreja Católica com a Matemática.
É comum encontrarmos na sociedade a tese do conĆito, onde o Catolicismo é contrário
a Ciência. Diante do período da Idade Média, denominada por alguns historiadores como
ŞIdade das TrevasŤ, encontramos relatos históricos que apresentam uma comunidade de
cristãos católicos absolutamente obcecada pelos Dogmas da fé, de forma que os cientistas
que contradiziam esses Dogmas eram levados aos tribunais da Santa Inquisição. Olha-se
para a Igreja Católica como opositora à comunidade cientíĄca da época.
O período medieval não foi infértil, teve o seu avanço no desenvolvimento cientíĄco.
Religiosos e padres católicos também se destacaram como cientistas, realizando estudos
cientíĄcos signiĄcativos. Clérigos que atuaram na Biologia, por exemplo, Gregor Mendel
no estudo da genética, na Física, na Astronomia, e em outras áreas da Ciência. Como
também na ĄlosoĄa, a exemplo de São Thomas de Aquino e Santo Agostinho.
Daí, é válido nos questionarmos: Existiram sacerdotes e religiosos católicos matemáti-
cos? Caso a resposta seja sim, então, pelo respeito à História da Matemática e a Ądelidade
Capítulo 1. APRESENTAÇÃO DO TEMA DE PESQUISA 12

aos fatos históricos, precisamos fazê-los conhecidos, como também os trabalhos desenvol-
vidos e as contribuições deixadas para a Matemática. Logo, o objetivo desta pesquisa é
mostrar contribuições deixadas por sacerdotes e religiosos católicos matemáticos para a
Matemática.
Nossa investigação tem como objetivos especíĄcos:

• Buscar na biblioteca do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia da


Paraíba (IFPB), Campus Cajazeiras, por livros de História da Matemática;

• Selecionar na literatura encontrada de 1 a 5 livros para análise;

• IdentiĄcar, por meio do estudo e da leitura dos livros selecionados, a presença de


sacerdotes e religiosos católicos na Matemática;

• Elaborar um breve histórico das contribuições deixadas por sacerdotes e religiosos


matemáticos com base nos autores dos livros.

Qualquer contribuição deixada para a Matemática, seja uma grande descoberta ou um


erro, seja por um crente (todo aquele que acredita e tem fé em algo) ou ateu, deve ser
respeitada e relatada nos anais da História da Matemática, para termos acesso a maior
quantidade de detalhes do desenvolvimento da Matemática e poder compreender como
sociedades e religiões se relacionavam com ela. E através dessa investigação, entender a
relação da Igreja Católica e da Matemática, por meio dos estudos realizados pelos clérigos.
Vale destacar, que padre (sacerdote) é todo aquele que recebeu da Igreja o ministério
ordenado, tornando-se presbítero pelo sacramento da Ordem, que se divide em três graus.
O primeiro grau da Ordem é o diaconado, no qual é ordenado diácono, o segundo é o
presbiterado, no qual é ordenado presbítero (sacerdote) e o terceiro é o episcopado, no
qual é ordenado bispo. Religioso é todo aquele que faz parte de uma ordem ou congregação
religiosa, a exemplo dos jesuítas, estes podem ser ordenados ou não, realizando os votos de
pobreza, castidade e obediência no ato de sua proĄssão (consagração à Deus e à Igreja).
O Ąel que não é religioso e nem recebeu o sacramento da Ordem é chamado de leigo pela
Igreja.

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A pesquisa desenvolvida é qualitativa, de natureza básica e com objetivo descritivo,


onde buscamos, através de um aprofundamento teórico e uma revisão bibliográĄca, iden-
tiĄcar a presença sacerdotal e religiosa no estudo e no avanço da Matemática.

(1) A pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como sua fonte direta
de dados e o pesquisador como seu principal instrumento.
(2) Os dados coletados são predominantemente descritivos.
(3) A preocupações com o processo é muito maior do que com o produto.
Capítulo 1. APRESENTAÇÃO DO TEMA DE PESQUISA 13

(4) O ŞsigniĄcadoŤ que as pessoas dão às coisas e à sua vida são focos
de atenção especial pelo pesquisador.
(5) A análise dos dados tende a seguir um processo indutivo. (BOGDAN
E BIKLEN, 1982, apud LÜDKE, M.; ANDRÉ, M. E. D., 1986, p. 11-
13).

Buscamos na literatura disponibilizada pela biblioteca do IFPB, Campus Cajazeiras,


livros de História da Matemática. Quatro livros foram encontrados, sendo eles: Episódios
da História Antiga da Matemática, autoria de Asger Aaboe, tradução de João Bosco
Pitombeira (2013); Introdução à História da Matemática, do autor Howard Eves, tradução
de Higyno H. Domingues (2008); História da Matemática, dos autores Carl B. Boyer e
Uta C. Merzbach, tradução de Helena Castro (2012); e A História da Matemática, de
Anne Rooney, tradução de Mario Fecchio (2012).
Realizamos a leitura e o estudo dos materiais coletados, que nos permitiu encontrar
menções e descrições de padres e religiosos católicos que atuaram na Matemática e re-
alizaram estudos signiĄcativos para o seu avanço. Através de uma análise exploratória,
observando a maneira como os autores descrevem os clérigos matemáticos, elaboramos
um breve histórico, no qual os apresentamos na ordem que são mencionados nos livros.

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O presente trabalho está dividido em três Capítulos, o Capítulo I - Apresentação do


tema de pesquisa Ű faz referência ao tema desta investigação, apresentando o objetivo geral
e os especíĄcos e a metodologia abordada para sua realização. Mostrando a relevância e
a importância desta investigação.
O Capítulo II Ű Fé e Razão: A relação entre Igreja, Ciência e a Matemática Ű é dedicado
ao referencial teórico que adotamos. Nele, apresentamos a presença da Matemática nas
construções das catedrais, a visão de que a Fé e a Razão são complementares e a relação
da Igreja Católica com a comunidade cientíĄca, principalmente, no que diz respeito a
Idade Média, tendo como base autores diversos, por exemplo, Ubiratan DŠAmbrosio,
Thomas E. Woods Jr, Paulo Vinício Martins Mangueira, o Papa São João Paulo II, entre
outros. Descrevendo um pouco da colaboração da Igreja para o avanço da sociedade e o
desenvolvimento cientíĄco.
Já o Capítulo III Ű Sacerdotes e religiosos católicos na matemática Ű é formado pelos
resultados da pesquisa, quando apresentamos os presbíteros e religiosos que atuaram como
matemáticos e destacamos as principais contribuições deixadas para a Matemática que
desempenharam um importante papel em seu desenvolvimento. Encerrando o trabalho
com nossas considerações Ąnais, onde destacamos que sujeitos de fé (padres e religiosos)
também deixaram signiĄcativas contribuições para a matemática e nos mostra que a fé
pode dialogar com essa ciência.
14

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É um erro conceber a Idade Média como um atraso ou compreendê-la como época


de trevas e cegueiras. Mangueira (2021, p. 9) aĄrma que Şesse preconceito é fruto da
herança cultural protestante e renascentista, visto que ambos os grupos disseminaram
suas ĄlosoĄas por todo o mundo e eram contrários à Igreja CatólicaŤ. De acordo com
Borges (2010, p. 195),

Há um grande risco em se generalizar a oposição da Igreja para com a ci-


ência, até porque a Igreja, durante um longo período, apoiou a pesquisa
cientíĄca e, algumas ordens religiosas, especialmente a dos jesuítas, de-
senvolveram trabalhos relevantes sobre astronomia e matemática. Não
é uma questão de defender a Igreja, apenas a de procurar analisar a
história sendo o menos imparcial possível.

Segundo Borges (2016), os jesuítas foram os responsáveis pelo desenvolvimento dos


pantógrafos, telescópios, microscópios, barômetros e relógios de pêndulos. Porém, para
grande parte da sociedade ao falarmos sobre fé e razão, principalmente no que diz respeito
a Igreja e a ciência no período medieval, uma sempre é contrária a outra. ŞNaturalmente
essas dimensões não são dicotomizadas nem hierarquizadas, mas são complementaresŤ
(DŠAMBROSIO, 2012, p. 19). O Papa São João Paulo II (1998, p. 26) em sua Carta
Encíclica Fides Et Ratio (A Fé e a Razão) nos aponta que Şa fé requer que o seu objeto
seja compreendido com a ajuda da razão; por sua vez a razão, no apogeu da sua indagação,
admite como necessário aquilo que a fé apresentaŤ.

Não há guerra entre a ciência e a igreja. A história da ciência e do


Cristianismo na Idade Média não é uma história de repressão nem um
de seus opostos, apoio e encorajamento. O que nós encontramos é uma
exibição de interação com toda a variedade e complexidade com que
estamos familiarizados em outros domínios do empreendimento humano:
conĆitos, compromisso, entendimento, mal entendimento, alienação do
diálogo, criação de causa comum e caminhos separados. (LINDBERG,
2000, p. 303, tradução nossa).

Entretanto, Şa tese do conĆito aparece até nos escritos populares de ciência e, hoje,
tem sido reconhecida pelo público, em geral, como deĄciente para se analisar as relações
entre ciência e religiãoŤ (BORGES, 2010, p. 95).

Durante o último terço do século XIX, Andrew Dickson White e outros


usaram metáforas militares para descrever a relação histórica entre a
ciência e o Cristianismo. Estudos recentes, no entanto, mostraram que
a tese da Ştarifa da guerraŤ é uma distorção grosseira [...] a interação
entre ciência e Cristianismo era muito rica para ser coberta por qual-
quer fórmula simples (LINDBERG; NUMBERS, 1987, p. 140, tradução
nossa).
Capítulo 2. FÉ E RAZÃO: A RELAÇÃO ENTRE IGREJA, CIÊNCIA E A MATEMÁTICA 15

Uma das maiores diĄculdades ao longo dos tempos foi conciliar as Sagradas Escrituras
com as descobertas cientíĄcas, mesmo a Bíblia sendo um dos principais livros responsáveis
por instigar, inspirar e basear diversos trabalhos da ciência, os ensinamentos da fé sempre
aparentam discordar do conhecimento acadêmico. ŞEm suma, sustentava Galileu, ela
não foi concebida como um livro para nos ensinar verdades cientíĄcas, que podemos
descobrir por conta própria. Foi concebida, isto sim, como um livro para revelar verdades
espirituaisŤ (EVES, 2008, p. 356). Como destaca Jake (1990), não devemos perder a
calma diante das conclusões cientíĄcas que se opõem aos ensinamentos da igreja, mas
especiĄcar a natureza de cada uma, pois objeções cientíĄcas são ĄlosóĄcas, éticas ou
pseudoĄlosoĄas, e devem ser tratadas como tais.

Enquanto o objetivo geral da ciência é conhecer a natureza do mundo, o


da teologia cristã tradicional é conhecer a natureza trina de Deus, espe-
cialmente a encarnação e a ressurreição de Jesus e a nossa relação com
Deus através de Cristo. Os objetivos da ciência geralmente são aĄrma-
ções epistêmicas sobre fenômenos naturais expressas em leis ou teorias
cientíĄcas. Já os objetivos teológicos, em geral, são aĄrmações epistê-
micas sobre o Deus trino expressas em dogmas ou doutrinas teológicas
(MARCUM, 2007, p. 39).

Em seus ensinamentos São João Paulo II (1998) reforça que a razão e a fé não podem
se contradizer, pois tanto a luz da fé como a da razão provêm de Deus. Por sua vez, o
Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização (2020, p. 43), orienta no
Diretório para a Catequese que Şa fé e a razão, na verdade são complementares umas às
outras: enquanto a razão não permite que a fé caia no Ądeísmo ou no fundamentalismoŤ.
O início do cristianismo se deu sem uma base ĄlosóĄca, como ressalta DŠAmbrósio
(2012, p. 37), Şa cristianização se fez sem uma fundamentação ĄlosóĄca adequada. Era
muito fraco o nível intelectual dos cristãos quando comparado ao dos Ąlósofos pagãosŤ.
Somente na Idade Média, com a criação dos mosteiros, estruturados pelos preceitos dados
por São Bento (480+67 - 547), se iniciou o exercício de construir uma ĄlosoĄa para o
cristianismo.
Santo Agostinho (354+76 - 430) foi o primeiro grande Ąlósofo cristão e escreveu a
grande obra ĄlosóĄca, A cidade de Deus. No campo da ĄlosoĄa também ganhou destaque
São Tomás de Aquino (1225+49 - 1274), considerado como ŞPríncipe da EscolásticaŤ e
Doutor da Igreja Católica.

É inegável para a evolução do pensamento cientíĄco, a contribuição dos


Ąlósofos e pensadores, como os pré-socráticos Parmênides e Pitágoras,
os Ąlósofos gregos Sócrates, Platão e Aristóteles, os pensadores da Idade
Média, Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino (BARUFFI, A.; BA-
RUFFI, H., 1995, p. 242-243).

Muitos dos opositores à Igreja usam da Inquisição e do Index para provar a suposta
guerra entre ela e a Ciência. Porém, o Santo Ofício não tinha por objetivo barrar o desen-
volvimento cientíĄco, mas combater as heresias. Não se pode negar que alguns cientistas
Capítulo 2. FÉ E RAZÃO: A RELAÇÃO ENTRE IGREJA, CIÊNCIA E A MATEMÁTICA 16

acabaram parando nos tribunais da Santa Inquisição, mas não podemos compreendê-la
como ação contra a Ciência. Segundo Borges (2010, p. 96),

O Index Librorum Prohibitorum (Lista dos Livros Proibidos), elaborado


pelo Santo Ofício, proibiu determinadas obras de circular (entre elas, as
de Copérnico, Galileu, Descartes e Pascal) sob a alegação de conterem
erros teológicos ou por exporem conteúdos que julgavam diĄcieis de se-
rem entendidos. Na realidade, o papado percebeu a importância dessas
obras para a difusão da ideologia protestante e viu, na proibição, uma
maneira de evitar que os Ąéis católicos fossem corrompidos pela leitura
de ideias estranhas ao que pregava a Igreja.

Em contrapartida a visão de que a história do Catolicismo pode ser resumida em igno-


rância, estagnação e repreensão, Woods Jr (2008) aponta que a Igreja Católica construiu
a civilização ocidental e que devemos a ela o sistema universitário, o direito internacio-
nal, as ciências, a previdência, os hospitais e muitos dos princípios básicos jurídicos. ŞO
papado teve um papel crucial na fundação e no incentivo das universidades, do Observa-
tório do Vaticano (specola vaticana) e na Academia Pontifícia de Ciência no século XIXŤ
(BORGES, 2016, p. 162). Segundo Ferngren (2000), os estudos mostram que o cristi-
anismo muitas vezes encorajou e alimentou os esforços cientíĄcos e se usamos Galileu e
o julgamento de Scopes como exemplos do conĆito, saibamos que eles foram às exceções
das regras.

Muitos historiadores se maravilham diante da ampla liberdade e auto-


nomia com que se debatiam as questões naquelas universidades. E foi
a exaltação da razão humana e das capacidades, o compromisso com
um debate rigoroso e racional, a promoção da pesquisa intelectual e do
intercâmbio entre os estudantes dessas universidades patrocinadas pela
Igreja Ű foi isso que forneceu bases para a Revolução CientíĄca (WOODS
JR, 2008, p. 07).

Nesse contexto, Mangueira (2021, p. 12) diz que Şcomo a Igreja Católica era pratica-
mente a única instituição de ensino que sobreviveu à queda do Império Romano, conse-
quentemente, ela passou a monopolizar as suas escolas monásticas e catedráticasŤ. Para
Franco (2001), surgiram dessa forma muitos e diversos reservatórios de cultura intelectual,
nos quais os futuros séculos beberam frequentemente.
Muitos biólogos, Ąlósofos, físicos e astrônomos, entre outros cientistas, também foram
sacerdotes. Na visão de Gleiser (1997), a religião desempenhou (e desempenha) impor-
tante papel no processo criativo de inúmeros cientistas, além do mais, Copérnico, o cônego
que pôs novamente o Sol no centro, não era nenhum herói das novas ideias heliocêntricas,
pelo contrário, mais um conservador. Segundo Borges (2010, p. 88), Şa ciência e a religião
são duas formas utilizadas pelo homem para interpretar a realidadeŤ.

Homens como Thomas Bradwardine, Robert Grossetest, N. Oresme,


Abraham bar Chiyya, Abraham ibn Ezra, Johannes Kepler, o próprio
Galileu Galilei e Isaac Newton, e tantos outros no séc. XX, são exemplos
que souberam lidar com a fé e o conhecimento cientíĄcos sem conĆitos
(AMADO, 2022, p. 132).
Capítulo 2. FÉ E RAZÃO: A RELAÇÃO ENTRE IGREJA, CIÊNCIA E A MATEMÁTICA 17

É impossível falar de genética e não citar Gregor Johann Mendel (1822+62 - 1884),
frade agostiniano que se destacou como biólogo e geneticista, cedo considerado ŞPai da
genéticaŤ. Sacerdote e cientista, Şmesmo sem conhecimento genético algum na época,
Mendel estabeleceu padrões de hereditariedade que se utilizam nos dias atuais, além de
ter utilizado a estatística para explicar o comportamento hereditárioŤ (SOUSA; SANTOS;
SOARES, 2022, p. 19485). Ele publicou dois grandes clássicos trabalhos: ŞEnsaios com
plantas híbridasŤ e ŞHierácias obtidas pela fecundação artiĄcialŤ. Em 1865 apresentou
nos encontros da Sociedade de História Natural de Brno as chamadas ŞLeis de MendelŤ
sobre a hereditariedade.
A teoria do Bing Bang sobre a origem do Universo, hipótese do átomo primordial,
foi proposta por Georges-Henri Édouard Lemaître (1894+72 - 1966), sacerdote católico,
astrônomo e cosmólogo belga, que também ganhou destaque como pioneiro na aplicação
da teoria da relatividade geral de Albert Einstein, à cosmologia. Padre Georges Şintroduz
o revolucionário conceito de átomo primordial que ele imaginou como um quantum de
energia pura num passado distante, assim o Universo seria tão condensado nessa única
entidadeŤ (AMADO, 2022, p. 139). O Papa Francisco num encontro com os cientistas no
Vaticano em 2014 ressaltou que o Big Bang exige Deus, invés de contradizê-lo. Outros
presbíteros e religiosos da Igreja Católica Apostólica Romana também foram cientistas
inovadores e chegaram a grandes descorbetas, contribuindo assim para o avanço social
e da ciência. Como Nicolau Steno, o pai da geologia, Giambattista Riccioli, o primeiro
a realizar a medição da taxa de aceleração de um corpo em queda livre, e Athanasius
Kircher, o pai da egiptologia. Os jesuítas tiveram domínio dos terremotos ao ponto de a
sismologia Ącar conhecida como a ŞCiência JesuíticaŤ.

A história da ciência está repleta de nomes famosos, Copérnico, Kepler,


Galileu, Pascal, Leibniz e Newton, considerados os grandes revolucio-
nários da matemática e da ciência, que são vistos como promotores da
revolução que suplantou a visão de mundo dos gregos. Todos eles eram
religiosos fervorosos e entendiam que seu trabalho cientíĄco estava asso-
ciado a uma tarefa religiosa a ser cumprida (BORGES, 2010, p. 92).

Se analisarmos bem, a matemática sempre esteve presente na arquitetura da Igreja Ca-


tólica, por exemplo da proporção áurea, principalmente nas construções da Idade Média.
Os arquitetos da Catedral de Santa SoĄa na cidade de Constantinopla, em 537, usaram
as propriedades focais da elipse, a Ąm de que a luz do sol iluminasse o altar em qualquer
horário do dia. A Catedral de São Paulo, em Londres, foi construída de forma que ao
emitir um sussurro de um lado da galeria, o som emitido pudesse ser ouvido somente
no ponto oposto. Sem dúvidas, Şa maior contribuição católica para a arte, aquela que
modiĄcou indiscutível e permanentemente a paisagem europeia, é a catedralŤ (WOODS
JR, 2008, p. 113).

Não conseguiremos entender o homem e suas descobertas cientíĄcas,


separando-o em partes: o que busca a proteção divina, o do senso co-
Capítulo 2. FÉ E RAZÃO: A RELAÇÃO ENTRE IGREJA, CIÊNCIA E A MATEMÁTICA 18

mum e o cientista. Sendo a mesma pessoa, para entendê-lo, é preciso,


não deixar de olhar todos os aspectos envolvidos. E, nesse emaranhado
complexo de aspectos, estão a ciência e a religião (BORGES, 2010, p.
89).

Portanto, não podemos tomar como verdade a tese do conĆito, onde a Igreja é sempre
contrária a ciência. É preciso analisar cada momento da história, o contexto e valores
sociais da época. É mais que evidente o papel crucial que teve a Igreja Católica Apos-
tólica Romana no desenvolvimento da sociedade ocidental e da ciência. Através desses
pensadores, especialmente Borges e Amado, encontramos uma ponte entre a Catolicismo
e a Matemática. Eles nos garantem que a história está repleta de homens da Igreja que
souberam lidar com a fé e a razão, uma vez que elas não são dicotomizadas, mas se
complementam, e foram grandes revolucionários da Matemática e da Ciência.
Através desses pensadores, especialmente Borges e Amado, encontramos uma ponte
entre a Catolicismo e a Matemática. Eles nos garantem que a história está repleta de
homens da Igreja que souberam lidar com a fé e a razão, uma vez que elas não são dico-
tomizadas, mas se complementam, e foram grandes revolucionários da Matemática e da
Ciência. Como também que a Igreja Católica apoiava a pesquisa cientíĄca e a ordem re-
ligiosa, à exemplo dos jesuítas, desenvolveram trabalhos relevantes sobre a matemática, o
que nos leva a querer saber as contribuições que eles deixaram para o seu desenvolvimento.
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Nesta seção são apresentados, depois da leitura e estudo dos livros: Episódios da His-
tória Antiga da Matemática, autoria de Asger Aaboe, tradução de João Bosco Pitombeira
(2013); Introdução à História da Matemática, do autor Howard Eves, tradução de Higyno
H. Domingues (2008); História da Matemática, dos autores Carl B. Boyer e Uta C. Merz-
bach, tradução de Helena Castro (2012); e A História da Matemática, de Anne Rooney,
tradução de Mario Fecchio (2012), os sacerdotes e religiosos católicos matemáticos men-
cionados pelos autores, resultados da pesquisa. Sendo que não foi encontrada nenhuma
menção no livro Episódios da História Antiga da Matemática.
Como aponta Aaboe (2013), é de grande estímulo descobrir a forma como mentes
brilhantes pensavam, e um privilégio levar outros pelos caminhos que há tanto tempo
foram percorridos pela primeira vez, fazendo os pensadores antigos nos falarem de seus
túmulos.

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Figura 1 Ű São Beda

Fonte: Internet (2023)

São Beda (672 + 63 Ű 735), o Venerável, presbítero e Doutor da Igreja Católica, nome-
ado pelo historiador Burke como Şo pai da erudição inglesaŤ, foi um monge inglês. Nasceu
em 672 d.C., em Northumberland, na Inglaterra, e morreu no dia 26 de maio de 735, em
Jarrow, na Inglaterra, com 63 anos. Foi ordenado diácono aos 19 anos de idade e sacerdote
aos 30 anos. Recebeu o título de Venerável, pela Igreja Católica Apostólica Romana, em
vida. Descrito como ŞVenerabilis et modernis temporibus doctor admirabilis BedaŤ (Beda,
Venerável e magníĄco Doutor dos nossos tempos) pelo Conselho de Aquisgrana. No dia
13 de novembro de 1899 o Papa Leão XIII o proclamou Doutor da Igreja.
Considerado o primeiro erudito medieval e o maior historiador anglo-saxão da Idade
Média. Sem nunca deixar a região onde viveu, aprendeu o latim, o grego e o hebraico
Capítulo 3. SACERDOTES E RELIGIOSOS CATÓLICOS NA MATEMÁTICA 20

somente através da leitura das Sagradas Escrituras e de livros, principalmente, das biblio-
tecas de Jarrow e Wearmouth, dos quais vinha seu amplo conhecimento. ŞUm dos maiores
eruditos da Igreja nos tempos medievaisŤ (EVES, 2008, p.290). Escreveu inúmeras obras
cientíĄcas, históricas e teológicas.
Sua obra-prima é ŞHistória eclesiástica dos povos anglo-saxônicoŤ, uma coleção de
cinco livros narrando a história política e eclesiástica da Inglaterra do período de César
até os seus dias. Outra obra famosa é ŞLiber de loquela per gestum digitorumŤ, em que
ensinava a contar com os dedos, possibilitando a realização de transações aritméticas.

Um sistema altamente desenvolvido, mais complicado do que a contagem


comum pelos dedos, foi usado na Europa e no Oriente Médio. Era mais
parecido com uma linguagem de sinais, e permitia a contagem até 10.000
ou mais, fazendo diferentes formas com os dedos (ROONEY, 2012, p.
26).

Possibilitou que a arte de calcular estivesse sempre presente nos currículos da educa-
ção dos monges através dos trabalhos desenvolvidos Şna Inglaterra sobre a matemática
necessária para determinar a data da páscoa, ou sobre a representação dos números por
meio dos dedosŤ (BOYER; MERZBACH, 2012, p. 178). Foi o primeiro a dividir os anos
em Şantes de CristoŤ e Şdepois de CristoŤ, considerando o nascimento de Jesus como o
centro da história. Estabeleceu o cálculo do calendário anual na era cristã.
É inegável a importância das instituições monásticas de ensino. Havia praticamente
uma escola em cada mosteiro, lugar em que o ensino sobreviveu as invasões dos Bárbaros,
principalmente dentre os anos 500 a 1200. Os monges preservaram a Cultura através
das cópias manuscritas, de modo que se tornaram as maiores obras acerca da História da
Matemática da época. Os interesses do monge Beda eram aprender, ensinar e escrever
sempre, assim, tornou-se um dos precursores do ensino na Inglaterra.
Capítulo 3. SACERDOTES E RELIGIOSOS CATÓLICOS NA MATEMÁTICA 21

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Figura 2 Ű Alcuíno de York

Fonte: Internet (2023)

Alcuíno de York (735 + 69 Ű 804), monge inglês denominado como o "homem mais
letrado do mundo"em seu tempo, nasceu em Yorkshiren, na Inglaterra, e faleceu no dia 19
de maio de 804 em Tours, na França. Além de sacerdote, atuou como professor, historiador
e Ąlósofo com o pseudônimo de Albinus Flaccus. Assim como Alcuíno, aqueles que faziam
parte da escola Palatina usavam pseudônimos latinos, reĆexo da preocupação de reviver
a Antiguidade Clássica na corte de Carlos Magno.
Ele estudou na Itália, como também na escola Catedral de York, onde ensinou por
volta de 15 anos e assumiu o cargo de diretor em 778. Criou e preservou a biblioteca
de Your, uma das mais preciosas Bibliotecas da Europa de sua época, transformando a
Catedral de York num dos maiores centros de conhecimento. Escreveu diversas cartas que
serviram de informações sobre a vida social francesa e a educação durante o século VIII,
tendo grande inĆuência no pensamento ocidental da época.

Foi a ele que Carlos Magno convidou para desenvolver seu ambicioso pro-
jeto educacional. Alcuíno escreveu sobre tópicos matemáticos e consta,
inclusive, como ele (embora haja dúvidas a respeito) uma coleção de
problemas em forma de quebra-cabeça que exerceu muita inĆuência nos
autores de textos escolares por muitos séculos (Eves, 2008, p. 290).

O palácio-escola de Aix-la-Chapelle, onde se ensinavam as sete artes liberais seguindo


o sitema educacional de Cassiodorus, foi fundado por Alcuíno. Atribui-se a ele também
a criação de uma coletânea contendo 53 problemas matemáticos voltados para jovens,
chamados Propositiones ad Acuendos Juvenes (Problemas para estimular os jovens), os
Capítulo 3. SACERDOTES E RELIGIOSOS CATÓLICOS NA MATEMÁTICA 22

quais com suas soluções proporciona uma compreensão da educação matemática na época
de Carlos Magno.
Assim como o Venerável Beda, Alcuíno exerceu forte inĆuência no ensino da Mate-
mática durante a Idade Média tendo como base, principalmente, estudos de Euclides,
Nicômaco e Ptolomeu. Foi o responsável pelo desenvolvimento da Educação no Império
Franco. Seu trabalho realizado na França foi o que proporcionou o Renascimento Caro-
língeo, no ensino, nas artes e na Ciência. A obra Diálogo entre Pepino e Alcuíno, em que
se faz presentes várias adivinhações e enigmas de cunho pedagógico e natureza didática,
é sua principal obra.
Alcuíno defendia que Şdeve-se ensinar divertindoŤ, e sua coletânea envolvendo proble-
mas para desenvolver a inteligência dos jovens contém a matemática do período. Procurou
ensinar Matemática utilizando resolução de problemas, Metodologia que atualmente é ob-
jeto de estudos relacionados à didática da matemática.

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Figura 3 Ű Papa Silvestre II

Fonte: Internet (2023)

Gerbet dŠAurillac (entre 945 a 950 Ű 1003) nasceu em Auvergne, na França. Foi
deixado pelos pais no mosteiro de Saint-Géraud, em Aurillac, onde aprendeu gramática,
retórica e a dialética, quando tinha aproximadamente 12 anos de idade, para viver como
monge beneditino.
Estudou na Espanha Muçulmana, onde aprendeu a Astronomia e a Matemática dos
árabes, revelando desde sua infância grandes talentos para a matemática e outras ciências.
No ano de 970, Gerbert vai a Roma, acompanhando Hatton e Borrel II, ao encontro do
Papa João XIII, para pedir a emancipação da Igreja Catalã. Os conhecimentos de Gerbert
impressionaram João XIII, que o recomendou a Otto I, imperador do Sacro Império
Capítulo 3. SACERDOTES E RELIGIOSOS CATÓLICOS NA MATEMÁTICA 23

Romano. Ele permaneceu em Roma, sendo contratado como tutor do ainda jovem Otto
II.
No ano de 972, Gerbert retorna à França se estabelece em Reims. Em 973, tornou-se
diretor da escola episcopal, o que ajudou a sua fama de mestre crescer e se espalhar pela
Itália e pela Gália. Gerbert dŠAurillac apresentou aos seus alunos um novo estilo de ábaco,
inventado por ele, onde Ąchas inicialmente neutras são substituídas por outras marcadas
com um numeral arábico, de 1 a 9. Ao atingir seis Ąchas na linha da unidade, elas são
substituídas por uma única Ącha contendo a inscrição Ş6Ť, da mesma forma, ao ter-nos
três tokens na linha da dezena, estes são substituídos por um único token com a marcação
Ş3Ť. O ábaco de Gerbert é mais complexo de se manusear, no entanto, permite que se
faça divisões.
Foi nomeado arcebispo de Reims, na França, em 991. No ano de 997, tornou-se
professor de Otto III. Assumiu o arcebispado de Ravena, na Itália, em 998, e no ano de
999 foi eleito Papa da Igreja Católica. Ascendeu ao trono de São Pedro com o nome de
Silvestre II, o 139º Papa da Igreja Católica, cujo pontiĄcado se iniciou no dia 02 de abril
de 999 e Ąndou no dia 12 de maio de 1003, com a sua morte. Ele incentivou o ensino da
Matemática e a substituição dos algarismos romanos pelos indo-arábicos, sendo o primeiro
professor a ensiná-los na Europa cristã, iniciativa que chamou a atenção dos matemáticos
da época.
Segundo Boyer e Merzbach (2012, p.178), Şescreveu sobre aritmética e geometriaŤ.
Suas obras chegaram a corrigir muitos erros matemáticos anteriores, ao ponto de se con-
siderar, a partir delas, o século X como o recomeço do progresso da matemática. Gerbet
relevou desde a infância talentos incomuns. Destaca Eves (2008, p.290) que, Şatribui-se
a ele a construção de ábacos, globos terrestres e celestes, um relógio e talvez, um órgãoŤ.
A sua inĆuência foi um dos principais motivos do zelo com o qual os monges tratavam o
estudo da Matemática.

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Magister Campanus Nouariensis (c. 1220 + 76 Ű 1296), conhecido como Campanus de


Novara, Johannes Campanus ou até mesmo Iohannes Campanus, nasceu provavelmente
em Novara , no Piemonte. Foi capelão dos Papas Urbano IV , Nicolau IV e Bonifácio VIII.
Durante os anos 1263 a 1264, foi capelão do Cardeal Ottobono Fieschi, Papa Adriano V,
eleito em 11 de julho de 1276, cuja inĆuência contribuiu para sua nomeação de pároco de
Felmersham em Bedfordshire, na Inglaterra. O Papa Bonifácio VIII escreveu uma carta,
cuja data é de 17 de setembro de 1296, informando o seu falecimento em Viterbo, onde
passou os últimos anos de sua vida em um convento dos Frades Agostinianos. O título
magister nos sugere que ele era membro de um corpo docente de alguma universidade.
Astrônomo e um matemático altamente competente para seu tempo, obteve grande
Capítulo 3. SACERDOTES E RELIGIOSOS CATÓLICOS NA MATEMÁTICA 24

Figura 4 Ű Campanus

Fonte: Internet (2023)

reputação cientíĄca. ŞEnsinou matemática em Paris e escreveu uma coleção de regras


aritméticas e uma compilação popular de extratos do Almagesto de Ptolomeu e de tra-
balhos de astrônomos árabesŤ (EVES, 2008, p.295). Roger Bacon o descreveu como um
dos quatro melhores matemáticos contemporâneos. Ele teve o apoio e o patrocínio de
importantes eclesiásticos no ŞcultivoŤ e estudo das Şciências matemáticasŤ.
A Johannes Campanus Şo Ąm do período medieval deve uma tradução Ądedigna de
Euclides, do árabe para o latim, aquela que foi a primeira a aparecer de forma impressa
em 1482Ť (BOYER; MERZBACH, 2012, p.184). Sua obra mais famosa, um livro de
geometria e aritmética elementar escrito em uma linguagem compreensível (diferenciando-
se de outras versões então em vigor), usado para estudar Euclides no Ąnal da Idade Média.
A maioria de seus escritos é sobre astronomia. A única obra que possui uma moderna
edição crítica é a Theorica Planetarum, dedicada ao Papa Urbano IV, a qual descreve a
estrutura e as dimensões do universo, como também a utilização e a construção de um
instrumento feito de discos, cuja rotação dava os movimentos planetários, chamado de
equatório, semelhante a uma calculadora mecânica, usando a descrição de Ptolomeu acerca
de deferente e epiciclo, sendo o primeiro europeru a descrever um equatório. Campanus
deu as dimensões de todo o sistema por meio de cálculos aritméticos longos, e determinou
a área esférica das estrelas Ąxas em milhas quadradas.
Outros trabalhos astronômicos são: O Computus Maior, trabalho sobre o cálculo do
tempo apoiado nos ciclos lunar e solar, no qual deĄniu o tempo e discutiu suas subdivisões
(hora, dia, semana, mês e ano); O Tractatus de Sphera, onde descreveu fenômenos celestes
observados durante a rotação de 24 horas dos céus, utilizando tabelas astronômicas con-
vencionais, não sendo somente capaz de usá-las, mas compreendia a estrutura subjacente,
algo incomum na época; De Quadrante, acerca do quadrante, instrumento para medir
ângulos à distâncias.
Escreveu também sobre o astrolábio e publicou o seu próprio conjunto de tabelas
astronômicas. Desenvolveu um ŞSistema de CasasŤ (dividiu o horóscopo em doze ca-
Capítulo 3. SACERDOTES E RELIGIOSOS CATÓLICOS NA MATEMÁTICA 25

sas), fornecendo métodos para determinar um plano por meio de esferas que poderia ser
utilizado para realizar doze divisões iguais denominadas casas.

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Figura 5 Ű Roger Bacon

Fonte: Internet (2023)

Roger Bacon (entre 1214 a 1220 - 1292 ) frade franciscano, estudioso independente
interessado em línguas que dominou textos gregos e árabes sobre óptica, nasceu em So-
merset, na Inglaterra, e morreu em Oxford. ŞUm gênio versátil e original que tinha
familiaridade com muitas obras gregas de geometria e astronomia e, como atestam seus
elogios, apreciava plenamente o valor desses assuntosŤ (EVES, 2008, p.295).
InĆuenciou a adição obrigatória da perspectiva ao Quadrivium (aritmética, geometria,
astronomia e música) nas Universidades. Estudou e ensinou em Oxford e na Universidade
de Paris, duas das mais antigas universidades europeias. Especialista nos pensamentos
de Aristóteles, foi um dos primeiros a ensinar sua ĄlosoĄa moral e metafísica. Também
acreditava que desejar o saber é próprio da natureza humana, buscar a verdade é algo
necessário para a humanidade.
Além da ĄlosoĄa moral, ensinou astronomia, alquimia, teologia, óptica, música e ma-
temática. Mesmo outros cientistas tendo vindo antes dele, seus amplos estudos levaram a
muitos chamá-lo de o Şprimeiro cientistaŤ. Suas primeiras obras lógicas foram a Summa
grammatica, Summa de sophismatibus et Differenceibus e Summa dialectices. Ganhou
fama de Doctor Mirabilis (ŞMaravilhoso MestreŤ), após compor o Opus Majus a pe-
dido do Papa Clemente IV, onde descreve com amplitude e profundidade seus estudos,
e apresenta a aplicação da matemática na física, na astronomia/astrologia, nos assuntos
humanos e nos ritos religiosos, as razões de redução da lógica a matemática, e mostra a
matemática como a ŞchaveŤ para compreender a natureza.
Bacon defendia que devemos pôr nossas ideias em teste, confrontá-las com o mundo real
das experiências e ver como elas se saem quando testadas, se as ideias não se sustentarem,
Capítulo 3. SACERDOTES E RELIGIOSOS CATÓLICOS NA MATEMÁTICA 26

devem ser rejeitadas. AĄrmando que só aquele que ver o fogo queimar, entenderá o que
ele pode fazer. Como também, que a ignorância é algo ruim, mas pior ainda é Ąngir saber.

✸✳✻ ❚❍❖▼❆❙ ❇❘❆❉❲❆❘❉■◆❊

Figura 6 Ű Thomas Bradwardine

Fonte: Internet (2023)

Thomas Bradwardine (c. 1290 + 59 Ű 1349), Ąlósofo, teólogo e matemático, nasceu


em Chichester. Membro do Merton College, em Oxford, ocupou vários cargos universitá-
rios, incluindo o de inspetor. Durante o período que passou na Universidade de Oxford,
escreveu quase todos os seus trabalhos sobre matemática, lógica e ĄlosoĄa. Foi nomeado
em 1335 como Cônego de Lincoln, no dia 19 de setembro de 1337 como chanceler da
Catedral de São Paulo, tornando-se em seguida Capelão do Rei Eduardo III, e no ano de
1349 eleito arcebispo de Canterbury. Ficou conhecido como ŞDoctor profundusŤ (médico
profundo) em seu tempo.
Estudou, através do tratado De proporcibus velocitatum in motibus, proporções de
velocidade e o movimento uniforme dos corpos. Aristóteles julgou, de forma errônea,
que a velocidade de um determinado objeto, sujeitado à uma força propulsora, atuante
num meio resistente, seria proporcional a força, e inversamente proporcional à resistência.
Como aponta Boyer e Merzbach (2012, p.186),

Quando a força F é maior ou igual a resistência, será imposta uma


velocidade V de acordo com a lei V=KF/R, onde K é uma constante
de proporcionalidade não nula; mas, quando a resistência equilibra ou
excede a força, seria de se esperar que não fosse adquirida nenhuma
velocidade. Para evitar esse absurdo, Bradwardine usou uma teoria
generalizada de proporções.
Capítulo 3. SACERDOTES E RELIGIOSOS CATÓLICOS NA MATEMÁTICA 27

Na Geometria speculativa, trata da uniĄcação das ciências e da teoria das proporções.


Ele também apresenta deĄnição de proporção em De proportionibus. Compreendendo
proporção como a relação entre algumas coisas, uma com a outra. Como por exemplo, de
um número com outro número, de uma magnitude com outra magnitude, de um tempo
com outro tempo. Desenvolveu a Teoria da proporção dupla ou tripla (o que viríamos
a chamar n-upla) de Bóecio, incluindo proporções subduplas, subtriplas ou sub-n-upla,
nas quais quantidades variam com a segunda, terceira ou n-ésima raiz. Dividiu também
as proporções em racionais (que possuem denominação comum) e irracionais (que não
possuem denominação comum).
Além de estudar ângulo de contato e polígonos estrelares, os quais foram investigados
de forma mais detalhada por Kepler, e especular Şos conceitos básicos de contínuos e
discreto e inĄnitamente grande e inĄnitamente pequeno, Bradwardine escreveu quatro
opúsculos sobre aritmética e geometriaŤ (EVES, 2008, p.296). Dentre suas obras estão o
Tracttus de continuo, onde fala de grandezas contínuas, a De arithmetica speculativa e a
De arithmetica practica, sobre a aritmética.

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Figura 7 Ű Nicole Oresme

Fonte: Internet (2023)

Nicole Oresme (c. 1323 + 59 Ű 1382), também chamado de Nicolas Oresme, nasceu em
Normandia. Foi físico, matemático, astrônomo, Ąlósofo, teólogo, psicólogo e musicólogo,
se destacando como um notável cientista brilhante e original. Sua carreira estendeu-se do
magistério ao bispado, sendo nomeado bispo de Lisieux, na França. Considerado o maior
economista do período medieval, se tornou diretor Ąnanceiro da Universidade de Paris, e
em 1370 passou a aconselhar o Rei Charles V nos assuntos Ąnanceiros.

Ele escreveu cinco trabalhos matemáticos e traduziu algo de Aristóteles.


Num de seus opúsculos encontra-se o primeiro uso conhecido de expo-
Capítulo 3. SACERDOTES E RELIGIOSOS CATÓLICOS NA MATEMÁTICA 28

entes fracionários (não, obviamente, em notação moderna); noutro, ele


faz a localização de pontos por coordenadas, antecipando assim a geo-
metria analítica. Um século mais tarde, esse último trabalho mereceria
várias edições e é possível que tenha inĆuenciado matemáticos do Re-
nascimento, e até mesmo Descartes. Num manuscrito não publicado ele
obteve a soma da série
1 2 3 4 5
+ + + + ...
2 4 8 16 32
o que faz dele um dos precursores da análise inĄnitesimal (EVES, 2008,
p. 295).

Algumas de suas obras são o Tractatus de Ąguratione potentiarum et mensurarum, De


proporibus proporcionum, na qual fez uma generalização da teoria da proporção de Thomas
Bradwardine, Quaestiones super geometriam Euclidis e Algoritmus proporum. Oresme
deixou valiosas contribuições para a matemática, entre elas está Şsua demonstração de
que a série harmônica é divergenteŤ (BOYER; MERZBACH, 2012, p.189).
Antes de Descartes, ele já tinha inventado a geometria coordenada. Encontrou equi-
valências lógicas entre tabular valores e os representar em gráĄcos. Para representar
magnitudes variáveis que dependem de outras, propõe a utilização de gráĄcos. Desenvol-
vendo o uso de gráĄcos para plotar quantidades físicas, antecipou em três séculos algumas
ideias da geometria analítica cartesiana. Utilizando o método do gráĄco, provou o ŞTeo-
rema de MertonŤ, o qual dá a distância que um corpo em aceleração uniforme percorre.
Por volta de 1361, concluiu Şque a área sob um gráĄco da velocidade em relação ao tempo
é igual à distância percorrida. Em sua conversão de um problema de dinâmica para a
geometria, ele foi provavelmente o primeiro a usar um sistema de coordenadas fora da
cartograĄaŤ (ROONEY, 2012, p. 154).
Especulou que os corpos em queda aceleram uniformemente, tal que a velocidade de
um corpo em queda é proporcional ao tempo que ele leva para cair, o que é equivalente a
Şlei da queda dos corposŤ, descoberta quase trezentos anos depois por Galileu, experimen-
talmente. Também demonstrou que não eram válidas as razões físicas aristotélicas contra
o movimento da Terra, apresentando o argumento da simplicidade (navalha de occam)
sendo a favor da teoria de que os corpos celestes não se movem, mas sim o planeta Terra.
Deve se a ele a descoberta da curvatura da luz através da reĆexão atmosférica, apesar dos
créditos serem dados a Robert Hooke.
Capítulo 3. SACERDOTES E RELIGIOSOS CATÓLICOS NA MATEMÁTICA 29

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Figura 8 Ű Nicholas de Cusa

Fonte: Internet (2023)

Nicholas de Cusa (1401 + 63 Ű 1464), Ąlósofo, teólogo, jurista, matemático e astrô-


nomo, nasceu em Cuers, na Alemanha, e morreu em Todi, Umbria. Nomeado cardeal pelo
Papa Nicolau V em 1448, mesmo ano que passou a ser governador de Roma, e príncipe-
bispo de Brixen em 1450. Um dos primeiros alemães a propor o humanismo renascentista,
além de adotar ideias neoplatônicas. Apesar de ter tido êxito com as poucas obras que
escreveu, é lembrado hoje na matemática Şprincipalmente por seu trabalho na reforma
do calendário e por suas tentativas de quadrar o círculo e trisseccionar o ânguloŤ (EVES,
2008, p. 296).
Cusa Şestudou os trabalhos de Ramon Lull e tinha acesso a uma tradução de parte
da obra de ArquimedesŤ (BOYER; MERZBACH, 2012, p.190). Contudo, ele não é lem-
brando como um matemático que teve grande domínio da matemática. Boyer e Marzbach
(2012, p. 190), aponta que

Sua doutrina ĄlosóĄca da Şconcordância de contráriosŤ levou-o acreditar


que máximos e mínimos são relacionados, portanto, que o círculo (um
polígono com o maior número de lados) deve ser reconconcilável com
o triângulo (o polígono com o menor números de lados). Ele acredi-
tava que, tomando médias de polígonos inscritos e circunscritos, tinha
chegado à quadratura.

Enxergava a matemática como um símbolo que o aproximava daquilo que foge a razão e
é incompreensivelmente. Na obra De docta ignorantcia (Da erudita ignorância), discute a
relação entre igualdade, unidade e conexão, e apresenta a matemática como algo que ajuda
a investigar as coisas divinas. Suas ideias matemáticas também podem ser encontradas
em De Visione Dei (Sobre a visão de Deus) e nos seus tratados matemáticos onde descreve
a quadratura do círculo.
Capítulo 3. SACERDOTES E RELIGIOSOS CATÓLICOS NA MATEMÁTICA 30

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Figura 9 Ű Luca Pacioli

Fonte: Rooney (2012)

Luca Pacioli (c. 1445+69−1514), frade franciscano, Ąlósofo e um dos grandes matemá-
ticos da Renascença italiana, nasceu em Sansepolcro, na Itália. Aprendeu contabilidade
a partir do contato com mercadores em Veneza. Em 1470 mudou-se para Roma, onde
tornou-se frei, e em 1477 iniciou sua carreira de professor universitário na Universidade
de Perúgia. Ele "foi importante na popularização dos sistema hindu - arábico, particu-
larmente entre comerciantes e contadores"(ROONEY, 2012, p. 24). Pacioli é o Şprimeiro
matemático de quem temos um retrato autênticoŤ (BOYER; MERZBACH, 2012, p.198).
A sua principal obra é a Summa de arthmetica, geométrica, proportioni et proportiona-
lita, publicada em 1494, sobre aritmética, geometria, álgebra e contabilidade. O primeiro
a escrever sobre a contabilidade moderna, considerado o Şpai da contabilidadeŤ. Eves
(2008, p. 298), descreve que na Summa, como Ącou conhecida, a álgebra

chega até equações quadráticas e contém muitos problemas que levam a


essas equações. A álgebra é sincopada, com o uso de abreviações como
p (de piu, ŞmaisŤ) para indicar a adição, m (de meno, ŞmenosŤ) para
indicar a subtração, co (de cosa, ŞcoisasŤ ) para a incógnita, ce (de
censo) para x2 , cu (de cuba) para x3 e cece (de censo-censo) para x4 .
A igualdade às vezes é indicada por ae (de aequalis).

A Summa traz um resumo da matemática na época da Renascença e emprega uma


notação que chega a ser superior à do Liber abaci de Fibonacci, além de podermos consi-
derar o início do uso de abreviações na matemática. Depois de sua publicação a álgebra
progrediu tanto na Itália, como na França, Inglaterra e Alemanha, alcançando um cres-
cimento intenso. Fez tanto sucesso que chamou a atenção de Ludovico Sforza, duque de
Milão, que levou Pacioli para sua corte. Leonardo da Vinci estava em Milão nessa época.
Em 1509, o frade franciscano publicou Şuma obra com imponente título De divina
proportione. Essa última diz respeito a polígonos e sólidos regulares e a razão mais tarde
Capítulo 3. SACERDOTES E RELIGIOSOS CATÓLICOS NA MATEMÁTICA 31

chamada a secção áurea (BOYER; MERZBACH, 2012, p.198). A mesma traz Şilustrações
de sólidos regulares desenhadas por Leonardo da Vinci durante o tempo em que recebeu
lições de matemática de PacioliŤ (EVES, 2008, p. 298).

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Figura 10 Ű Cuthbert Tonstall

Fonte: Internet (2023)

Cuthbert Tonstall (1474 + 85 Ű 1559) nasceu em Hackforth, Yorkshire, na Inglaterra,


e faleceu em Lambeth, Londres, Inglaterra. Iniciou seus estudos em 1491 no Balliol
College, Universidade de Oxford, onde fez amizade com Thomas More. Estudou também
na Univerdidade de Cambridge, mas deixou ambas sem obter o diploma. Formou-se em
1501 na Universidade de Pádua. Destacou-se no latim, grego e matemática. Chegou a
estudar com Pietro Promponazzi e Leonico Tomeo, dois dos principais humanistas de seu
tempo.
Seus talentos chamaram atenção do arcebispo Illiam Warham, que o nomeou auditor
e chanceler de causas em 1508. Foi ordenado diácono em 1509 e sacerdote em 1511.
Tornou-se cônego de Lincoln no ano de 1514, arquidiácono de chester em 1515 e bispo
de Londres em 1522. Segundo Eves (2008) ele foi o primeiro matemático a publicar na
Inglaterra um trabalho inteiramente dedicado a matemática, um livro escrito em latim
intitulado De arte supputandi libri quattuor, impresso em 1522, baseado na summa de
Luca Pacioli.

Durante sua vida agitada, Tonstall ocupou grande número de postos


eclesiásticos e diplomáticos. A consideração que seus contemporâneos
tinham para com seu saber se evidencia no fato de que a primeira edição
dos Elementos de Euclides em grego (1533), foi dedicada a ele (EVES,
2008, p. 300).
Capítulo 3. SACERDOTES E RELIGIOSOS CATÓLICOS NA MATEMÁTICA 32

Escreveu também ŞConfutatio cavillationum quibus SS. Eucaristiae Sacramentum ab


impiis Caphernaitis impeti soletŤ, ŞDe veritate Corporis et Sanguinis Domini in Euca-
ristia Libri IIŤ, ŞCompendium in decem libros ethicorum AristotelisŤ, ŞCertas orações
piedosas e devotas feitas em latim por C. Tunstall e traduzidas para o inglês por Thomas
Paynelle, ClerkeŤ exclusivas de suas cartas e sermões.

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Figura 11 Ű Christopher Clavius

Fonte: Eves (2008)

Christopher Clavius (1537 + 75 Ű 1612), jesuíta, nasceu em Bamberg, na Alemanha, e


faleceu em Roma. Considerado o mais respeitado astrônomo europeu e uns dos primeiros a
divulgar o calendário gregoriano. Conheceu Petrus Nonius, famoso matemático português,
quando frequentou a Universidade de Coimbra, em Portugal. Estudou teologia e lecionou
matemática no Jesuit Roman College, em Roma, na Itália.

Nenhum outro intelectual do século fez mais do que ele para a promoção
dessa ciência. Era um professor inspirado e escreveu textos de aritmética
(1583) e álgebra (1608) dignos de respeito. Em 1574, publicou uma edi-
ção dos Elementos de Euclides, especialmente valiosa pelos seus escólios.
Também escreveu sobre trigonometria e astronomia e desempenhou um
papel importante na reforma gregoriana do calendário (EVES, 2008, p.
312).

Em 1579, o vaticano o nomeou, juntamente com Pedro Chacon, para estudar e reformar
o calendário juliano. Clavius coordenou a comissão papal de matemáticos na reforma.
Capítulo 3. SACERDOTES E RELIGIOSOS CATÓLICOS NA MATEMÁTICA 33

No dia 24 de fevereiro de 1582, o Papa Gregório XIII, através da Inter Gravissimas,


promulgou o novo calendário denominado gregoriano, o qual gerou muitas polêmicas.
Entre os atacadores do calendário gregoriano estavam Michael Maestlin e François Viète.
Vendo-se obrigado a refutar as censuras, publicou Novi calendarii Romani apologia,
adversus Michaelem Maestlinum, em resposta às críticas de Maestlin, e mais tarde, escre-
veu Romani calendarij à Gregorio XIII. P. M. restituti explicatio, refutando Viète. Sua
principal obra, a Opera Mathematica, realizou uma reimpressão do novo calendário.
Cientistas conceituados debateram diversos temas cientíĄcos com Clavius. Galileu,
ainda jovem, procurou o jesuíta quando visitou Roma para mostrá-lo os resultados obtidos
ao estudar o centro de gravidade dos sólidos. Eles trocaram correspondências por muitos
anos, acerca de assuntos cientíĄcos, e Clavius estimulou Galileu em seus trabalhos.

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Figura 12 Ű Nicolau Copérnico

Fonte: Rooney (2012)

Nicolau Copérnico (1473 + 70 Ű 1543), matemático e astrônomo, considerado um dos


pais da astronomia moderna, nasceu em Tourum, na Polônia. Ingressou na Universidade
de Cracóvia no ano de 1491. Estudou, posteriormente, nas universidades de Pádua e de
Ferrara, na primeira formou-se em medicina e na segunda recebeu o título de Doutor
em direito canônico. Lecionou por um tempo em Roma. Em 1510 tornou-se Cônego
de Frauenburg, na Polônia. Ele se destaca Şdentre os astrônomos que impulsionaram a
matemáticaŤ (EVES, 2008, p. 313).

Johannes Muller von Konigsberg (1436Ű76), também conhecido como


Regiomontanus, foi o autor do primeiro livro dedicado inteiramente à
trigonometria, sobre os Triângulos de Todos os Tipos (On Triangles of
Every Kind), impresso em 1533. Ele reuniu todas as fórmulas necessárias
para trabalhar com trigonometria plana e esférica, sendo muito admirado
e inĆuente. Seu trabalho foi usado e adaptado pelo grande astrônomo
Polonês Kopernik (Copérnico) em seu novo modelo de um sistema solar
centrado no sol (ROONEY, 2012, p. 94).
Capítulo 3. SACERDOTES E RELIGIOSOS CATÓLICOS NA MATEMÁTICA 34

Publicada em 1543, a ŞDe Revolutionibus orbuim coelestiumŤ, sua principal obra,


contém sua Teoria Heliocêntrica, aĄrmando que o sol está no centro do sistema solar e
não se move, mas os planetas, contradizendo a Teoria Geocêntrica. Segundo Boyer e
Merzbach (2012, p.205),

Percebemos o completo conhecimento de trigonometria de Copérnico


não só pelos teoremas incluídos em De revolutionibus, mas também por
uma proposição originalmente incluída pelo autor em uma versão manus-
crita anterior do livro, não na obra impressa. A proposição eliminada é
uma generalização do teorema de Nasir Eddin (que aparece no livro) so-
bre o movimento retilíneo resultante da composição de dois movimentos
circulares.

O teorema de Copérnico aĄrma que, dado um círculo menor e um círculo maior com
duas vezes o diâmetro de seu tamanho, se o círculo menor rola ao longo do interior do
círculo maior sem deslizar, logo, o lugar geométrico de um ponto que não se encontra
sobre a circunferência do círculo menor, mas é Ąxo em relação ao círculo menor, é uma
elipse.
Capítulo 3. SACERDOTES E RELIGIOSOS CATÓLICOS NA MATEMÁTICA 35

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Figura 13 Ű Francesco Maurolico

Fonte: Internet (2023)

Francesco Maurolico (1494 + 81 Ű 1575) nasceu e morreu em Messina, Reino da Sicília


(atual Itália). Ordenado sacerdote em 1521, entrou para Ordem Beneditina em 1550, e lhe
foi conferida a Abadia de Santa Maria del Parto (atual Santuario di San Guglielmo). Ele
escreveu livros importantes acerca da matemática grega. Segundo BOYER e MERZBACH
(2012), foi um dos representantes da geometria pura na Itália.
No ano de 1528, publicou a Grammatica Rudimenta, obra dedicada a Ettore Pignatelli,
e passou a dar palestras sobre os Elementos de Euclides e A Esfera de Sacrabosco, a pedido
do Governador de Messina, Giovanni Marullo. Em 1548, foi fundado o primeiro Colégio
Jesuíta por Santo Inácio, Francesco ajudou na elaboração do currículo da matemática e
assumiu o cargo de professor no ano de 1569.
Maurelico traduziu vários textos antigos, por exemplos, de Euclides, Apolônio e Arqui-
medes. A obra Theodosii Sphaericorum Elementarum Librii III (1558) contém algumas
dessas traduções. O Opuscula mathematica: nunc primum in lucem edita, cum rerum
omnium notatu dignarum indice locupletissimo (1575), reunindo alguns de seus tratados,
contém notáveis pesquisas sobre teoria dos números, polinômios e a primeira declaração
clara acerca do princípio da indução matemática. Realizou ainda uma reconstrução dos
Livros V e VI das Cônicas de Apolônio, publicada somente em 1654.
Capítulo 3. SACERDOTES E RELIGIOSOS CATÓLICOS NA MATEMÁTICA 36

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Figura 14 Ű Johannes Werner

Fonte: Internet (2023)

Johannes Werner (1468 + 60 Ű 1528), sacerdote, matemático e geômetra, nasceu em


Nuremberg, na Alemanha. Seus principais trabalhos envolvem geograĄa, astronomia e
matemática. No ano de 1484, ingressou na Universidade de Ingolstadt, mais tarde Uni-
versidade de Munique. Foi nomeado capelão de Herzogenaurch, em 1490. Tornou-se um
qualiĄcado observador, realizando estudos acerca da previsão do tempo e observações me-
teorológicas, e fabricante de instrumentos astrológicos, como astrolábios, relógios de sol,
entre outros.
Interessado em trigonometria esférica e seções cônicas, para converter o produto de
quaisquer dois números em uma soma ou diferença de outros dois números, método co-
nhecido como prostaférese, usou as fórmulas trigonométrica:

2cos(A)cos(B) = cos(A + B) + cos(A − B),

2sen(A)cos(B) = sen(A + B) + sen(A − B),

2cos(A)sen(B) = sen(A + B) − sen(A − B),

2sen(A)sen(B) = cos(A − B) − cos(A + B).

Essas quatro identidades são às vezes conhecidas como fórmulas de Wer-


ner pois ao que parece o alemão Johannes Werner (1468-1528) as usou
para simpliĄcar cálculos envolvendo comprimentos que aparecem em as-
tronomia. As fórmulas passaram a ser largamente usadas por matemáti-
cos e astrônomos perto do Ąm do século XVII como método de conversão
de produtos em somas e diferenças (EVES, 2008, p. 343).
Capítulo 3. SACERDOTES E RELIGIOSOS CATÓLICOS NA MATEMÁTICA 37

Werner ajudou Şa preservar a trigonometria de Regiomontanus, mas de maior impor-


tância para a geometria foi sua obra em latim, em vinte e dois volumes, sobre Elementos
de cônicasŤ (BOYER; MERZBACH, 2012, p.206). Escreveu também a obra In Hoc
Opere Haec Continentur Nova Translatio Primi Libri Geographicae Cl Ptolomaei, sobre
geograĄa e astronomia, contendo traduções da geograĄa de Ptolomeu.

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Figura 15 Ű Marin Mersenne

Fonte: Rooney (2012)

Marin Mersenne (1588 + 60 Ű 1648) nasceu em Oíze Ű Maine, na França, e faleceu em


Paris. Frequentou o Collège du Mans, ingressou no Escola Jesuíta em La Flèche em 1604,
estudou ĄlosoĄa no Collège Royale du France, em París, e estudou teologia em Sobonne,
onde obteve também o grau de Magister Atrium em FilosĄa, durante 1609 a 1611. Entrou
no dia 16 de julho de 1611 na Ordem Religiosa dos Mínimos, fundada no ano de 1436 por
São Francisco de Paula, e foi ordenado sacerdote em julho de 1612, em París. Lecionou
ĄlosoĄa e teologia no mosteiro de Nevers, credita-se a esse período a sua descoberta da
Ciclóide (uma curva geométrica).
Ele desenvolveu trabalhos sobre Teoria dos Números e Şse correspondia com cente-
nas de matemáticos, cientistas e outras pessoas cultas, agindo como um canalizador de
conhecimentoŤ (ROONEY, 2012, p. 141). Segundo Eves (2008, p. 400),

Especialmente conhecido hoje devido aos chamados primos de Mersenne,


os números da forma 2p − 1, que discutiu em alguns pontos de seu traba-
lho Cogitata physico - mathematica de 1644. [. . .] O primo de Mersenne
correspondente a p = 4253 foi o primeiro número primo conhecido com
mais de 1000 dígitos em sua expansão decimal e o primo de Mersenne
correspondente a p = 216091 era o maior número primo conhecido em
1986.

A partir de 1623, Marin começou a reunir em seu convento, em Paris, estudiosos de


toda a Europa. Nestas reuniões eram realizadas a leitura e revisão de artigos cientíĄcos,
internacionais e nacionais, como também a troca de contato possibilitava o planejamento
Capítulo 3. SACERDOTES E RELIGIOSOS CATÓLICOS NA MATEMÁTICA 38

e a discussão de experimentos de outros trabalhos. Participavam Pieresc, Gassendi, Des-


cartes, Beeckman, Fermat, Hobbes, entre outros.
Dentre seus escritos estão Quaestiones in Genesim (1623), Synopsis mathematica
(1626) e Questions inouyes (1634), onde descreve seus estudos sobre Ciclóides, as quais
deĄne e refere-se a elas como ŞroletasŤ. Em sua obra Harmonie Universelle sobre música,
encontramos o uso da análise combinatória no intuito de otimizar a composição musical.
Escreveu também a Cogitata Physico Mathematica sobre física matemática.

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Figura 16 Ű Grégoire de Saint-Vincent

Fonte: Internet (2023)

Grégoire de Saint-Vincent (1584 + 83 Ű 1667) nasceu em Bruges e faleceu em Gante,


na Bélgica. Começou seus estudos na Universidade Jesuíta de Bruges em 1595, mais
tarde, mudou-se para Douai, na França, com o intuito de estudar matemática e ĄlosoĄa.
No ano de 1607, ingressou na Ordem Religiosa dos Jesuítas e em 1613 foi ordenado
sacerdote. Estudou teologia em Louvain, na França, em 1612. Ensinou na Escola Jesuíta
de Antuérpia, lecionou em Louvain e deu aula de grego em Bruxelas, Hertogenbosch e
Coitrai. Em 1626, foi nomeado Capelão de Fernando II, imperador romano.
Saint-Vincent Şaplicou métodos do pré-cálculo a vários problemas de quadraturaŤ
(EVES, 2008, p. 402). Publicou em 1647 sua obra intitulada Opus geometricum quadra-
turae circuli et sectionum coni, a qual contém séries geométricas, métodos de quadratura
e quadratura do círculo (seu erro). BOYER e MERZBACH (2012, p.248), ressalta que
neste tratado:

Mostrara que se ao longo do eixo x marca-se, a partir de x = a, pontos


tais que os intervalos entre eles crescem em progressão geométrica, e
se nesses pontos levantam-se ordenadas da hipérbole xy = 1, então as
áreas sob a curva entre ordenadas sucessivas são iguais. Isto é, enquanto
Capítulo 3. SACERDOTES E RELIGIOSOS CATÓLICOS NA MATEMÁTICA 39

a abscissa cresce geometricamente, a área sob a curva cresce aritmetica-


mente.

A área sob a hipérbole encontrada não envolvia uma solução algébrica, mas logaritmos.
Suas descobertas foram de grande importância para o desenvolvimento do cálculo. São de
sua autoria as obras Cometis (1616), Theoremata mathematice scientiae staticae (1624) e
Opus geometricum ad mesolabum per rationum, proporcionalitatumque novas proprietates
(1668).

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Figura 17 Ű Pietro Mengoli

Fonte: Internet (2023)

Pietro Mengoli (1625 + 61 Ű 1686) nasceu e faleceu em Bolonha, Estados Papais


(atual Itália). Aprendeu matemática com Bonaventura Cavalieri na Universidade de
Bolonha, onde também obteve o doutorado em ĄlosoĄa no ano de 1650, e em direito civil
e canônico em 1653. Após a morte de Cavalieri, veio a sucedê-lo, ocupando várias cadeiras
na Universidade. Lecionou aritmética entre 1648 a 1649, e mecânica de 1649 a 1668. No
ano de 1668, passou a ensinar matemática, o fazendo até seu falecimento. Assumiu o
serviço de pároco da Paróquia Santa Maria Madalena, em Bolonha, no ano de 1660.
InĆuenciado também por Grégoire de Saint-Vincent e Torricelli, deu continuidade a
obras deles acerca de indivisíveis e da área sob as hipérboles. Segundo Boyer e Merzbach
(2012, p.257),

Aprendeu como tratar esses problemas por um processo cuja utilidade


começou a tornar-se evidente quase pela primeira vez Ű o uso de séries
inĄnitas. Mengoli viu, por exemplo, que a soma da série harmônica al-
n
ternada 11 − 12 + 31 − 41 + . . . + (− 1n ) + . . . , é ln 2 . Tinha redescoberto
a conclusão de Oresme, obtida por argumento de termos, de que a sé-
rie harmônica não converge, [...] também mostrou a convergência dos
recíprocos dos números triangulares...
Capítulo 3. SACERDOTES E RELIGIOSOS CATÓLICOS NA MATEMÁTICA 40

O aluno mais notável de Cavalieri e um dos estudiosos que desenvolveram procedimen-


tos algébricos sobre quadratura, um passo importante no século XVII. Em suas obras a
álgebra está intimamente ligada com a geometria, principalmente a Geometriae Speciosae
Elementa (1659), sobre limites de Ąguras geométrica, onde são usadas de maneira comple-
mentar na investigação de problemas de quadratura. Sua geometria era uma combinação
das de Bonaventura e Arquimedes, obtidas através da Şálgebra especiosaŤ de Viete.
Na Geometriae Speciosae Elementa, introduz o conceito de Şintegral deĄnidaŤ, carac-
terizado em função de área de uma Ągura plana, sendo possível obtê-la como limite das
áreas de polígonos circunscritos e inscritos. Analisou também as propriedades dos limites
de somas, quocientes e produtos de quantidades variáveis, anos antes de Leibniz e New-
ton, que foram inĆuenciados pelos estudos de Mengoli, formalizarem o cálculo. Pietro foi
um intermediário entre o cálculo de indivisíveis de Cavalieri e os métodos de Newton e
Leibniz.
Publicou em 1650 a Novae quadraturae arithmeticae seu de adde fraccionar, onde
aborda séries geométricas.

✸✳✶✽ ❘❊◆➱ ❋❘❆◆➬❖■❙ ❲❆▲❚❊❘ ❉❊ ❙▲❯❩❊

Figura 18 Ű René François Walter de Sluze

Fonte: Internet (2023)

René François Walter de Sluze (1622 + 63 Ű 1685) nasceu em Liège, Holanda Espanhola
(atual Bélgica). Estudou direito civil e canônico na Universidade de Louvain no período de
1638 a 1642. Mudou-se para Roma, onde obteve o doutorado em direito na Universidade
de Sapienza. Durante o tempo que passou em Roma, adquiriu habilidades com línguas
através do estudo do grego, hebraico, árabe e siríaco, passando a traduzir cartas enviadas
por bispos gregos, armênicos e do oriente ao Papa Inoncêncio X. Assumiu várias funções
eclesiásticas ao longo de sua vida, dentre elas, cônego na Colegiada de Visé em 1650 e
membro do Conselho Privado do Príncipe-Bispo Maximilian Henry em 1659.
Capítulo 3. SACERDOTES E RELIGIOSOS CATÓLICOS NA MATEMÁTICA 41

Aprendeu também astronomia e matemática, estando essa dentre os assuntos que


mais gostava. Realizou discussões acerca de Şespirais, pontos de inĆexão e determinação
de médias geométricas. As curvas da família y n = k(a − x)p xm , onde os expoentes são
positivos, chamam-se pérolas de SluzeŤ (EVES, 2008, p. 402).
O cálculo já vinha se desenvolvendo antes de Newton. Antes das Regras de Hudde,
Sluze já havia usado regra semelhante para tangentes. Em 1652, desenvolveu um método
para encontrar a tangente a curva f (x, y) = 0 , tal que f é um polinômio, que só foi
publicado em 1673 nos Philosophical Transactions da Royal Society. Segundo Boyer e
Merzbach (2012, p. 259), esse método pode ser enunciado da seguinte forma:

A subtangente será o quociente obtido colocando no numerador todos os


termos contendo y, cada um multiplicado pelo expoente da potência de y
que nele aparece, e colocando no denominador todos os termos contendo
x, cada um multiplicado pelo expoente da potência x que nele aparece,
depois dividindo por x. Isso é claro, equivale a formar o quociente que
yf
agora escreveríamos como fxy , resultado conhecido por volta de 1659
também por Hudde.

Dentre suas obras está o Mesolabum seu duse mediae proporcionales inter extremas
datas per circulum et ellipsim vel hyperbolum inĄnitis modis exibiae (1658), um trabalho
sobre construções geométricas. Sluze discutiu a cubagem de sólidos e as soluções de
equações do terceiro e quarto grau obtidas geometricamente por meio de intercessão de
um círculo com uma seção cônica qualquer.
Capítulo 3. SACERDOTES E RELIGIOSOS CATÓLICOS NA MATEMÁTICA 42

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Figura 19 Ű John Wallis

Fonte: Eves (2008)

John Wallis (1616 + 87 Ű 1703), ordenado sacerdote em 1640, nasceu em Ashford,


Kent, e morreu em Oxford, na Inglaterra. Estudou em Cambrigde, porém frequentou vá-
rias outras escolas antes, como a escola de Martin Holbeach onde aprendeu grego, hebraico
e latim. Em 1649, foi nomeado savilian professor de geometria de Oxford, ocupando a
cátedra até a sua morte. Durante o período da Guerra Civil entre parlamentaristas e
monarquistas, pedido dos parlamentaristas Wallis decifrou, em apenas duas horas, uma
mensagem codiĄcada, o que revelou os seus dons criptográĄcos.
O primeiro contato de Wallis com a matemática se deu por meio das regras da aritmé-
tica ensinadas pelo irmão. Em 1647, estudou a Clavis Mathematicae, obra de Oughtred,
desenvolvendo a partir da a sua paixão pela matemática, passando a produzir sua própria
matemática. Sendo o mais inĆuente matemático inglês antes de Newton, seus trabalhos
tiveram signiĄcativa importância para a origem do Cálculo. Publicou no ano de 1655,
dois importantes livros.
No Tractatus de Sectionibus Conícis (1655) sobre geometria analítica, ele substitui,
sempre que possível, conceitos geométricos por numéricos. Compreende-se o livro como
conclusões da aritmetização das secções cônicas iniciadas por Descartes. Logo, Boyer e
Merzbach (2012, p. 265- 266), aĄrmam que

As Cônicas de Wallis começam mencionando de leve a geração das curvas


como secções de cone, mas ele deduzia todas as propriedades familiares
com métodos de coordenadas do plano, a partir das três formas padrão
2 2
e2 = ld − ldt , p2 = id e h2 = ld + ldt , onde e, p e h são as ordenadas da
elipse, parábola e hipérbole, respectivamente, correspondentes a abscis-
sas d medidas a partir de um vértice na origem, e onde l e t são o lactus
rectum e o ŞdiâmetroŤ ou eixo.

Em seu Arithmetica inĄnitorum (1655), aritmetizou a Geometria indivisibilitus, obra


de Cavalieri, abandonando o modelo geométrico e passando a trabalhar na forma aritmé-
tica. Para Eves (2008, p. 431-432),
Capítulo 3. SACERDOTES E RELIGIOSOS CATÓLICOS NA MATEMÁTICA 43

Nesse livro são sistematizados e estendidos os métodos de Descartes e


Cavalieri e induzidos muitos resultados notáveis a partir de casos parti-
culares.
R 1 Assim, há a1 aĄrmação de que a fórmula que hoje escreveríamos
como 0 xm dx = 1+m , onde m é inteiro, também vale quando m é fraci-
onário ou negativo mas diferente de −1. Wallis foi o primeiro a explicar
de maneira razoavelmente satisfatória o signiĄcado dos expoentes zero,
negativos e fracionários, deve-se a ele também a introdução do atual
símbolo de inĄnito (∞).

Empenhado em determinar π, buscou encontrar a expressão para área π4 , quadrante


R 1
do círculo x2 + y 2 = 1. Equivalente a realizar o cálculo da integral deĄnida 01 (1 − x2 ) 2 dx.
R R R
Calculando 01 (1−x2 )0 dx, 01 (1−x2 )1 dx, 01 (1−x2 )2 dx ..., obteve a sequência 1, 32 , 15
8 16
, 35 ....
Passando a considerar o problema da determinação da lei que para n = 0, 1, 2, 3, 4, ...
forneceria a sequência. Procurando o valor interpolado para n = 21 , depois de um longo
processo, chegou à expressão π2 como produto inĄnito (EVES, 2008).
Escreveu também Mechanica, sive Tratatus de Mote (1670), onde refuta muitos er-
ros relacionados ao movimento que vinham desde o período de Arquimedes, e Treatise
on Algebra (1685), apresentando um estudo importante sobre equações e antecipando o
conceito de números complexos. É de John Wallis a primeira tentativa registrada de
representar graĄcamente as raízes complexas de uma equação quadrática.
Deixou valiosas contribuições para análise inĄnitesimal, foi o matemático que chegou
mais próximo de solucionar o desaĄo de Pascal sobre a ciclóide e o primeiro a planejar
um método de ensino para Şsurdos-mudosŤ (nomenclatura em desuso nos dias atuais por
ser entendida como errônea, porém utilizada anteriormente. Atualmente, surdos).

✸✳✷✵ P■❊❚❘❖ ❱❆❘■●◆❖❙

Pierre Varignon (1654 + 68 Ű 1722) nasceu em Caen, na França, e morreu em Paris.


Estudou ĄlosoĄa e teologia no Colégio Jesuíta em Caen, sendo ordenado sacerdote pos-
teriormente. Como religioso jesuíta, membro de uma Ordem que valoriza a erudição e o
ensino, dedicou grande parte de sua vida ao ensino.
Seu interesse pela matemática se deu a partir da leitura dos Elementos de Euclides,
estudando mais tarde a Geometria de Descartes. Em 1687 Varignon publicou Projet dŠune
nouvelle méchanique, trabalho dedicado a Académie des Sciences, o qual contém o estudo
da composição de forças utilizando o cálculo diferencial de Leibniz no estudo da mecânica.
Tornou-se membro da Académie des Sciences em 1687, professor de matemática do Collège
Mazarin em 1688, e passou a lecionar também no Collège Royal em 1704.
Pierre desempenhou importante papel na defesa do cálculo. Em 1700, Michel Rolle
atacou o cálculo aĄrmando ser uma coleção de falácias enganosas, porém, Varignon mos-
trou, mesmo que indiretamente, que os métodos inĄnitesimais poderiam ser reconciliados
com a geometria de Euclides na tentativa de esclarecer a situação, uma vez, que a maioria
dos opositores admiravam a geometria sintética da antiguidade. Um dos primeiros estudi-
Capítulo 3. SACERDOTES E RELIGIOSOS CATÓLICOS NA MATEMÁTICA 44

Figura 20 Ű Pietro Varignos

Fonte: Internet (2023)

osos a reconhecer a importância do cálculo de Leibniz, adaptou-o à mecânica inercial dos


Princípios de Newton, desenvolvendo a dinâmica analítica. Suas principais contribuições
foram para a mecânica e estática gráĄca.

Na Memoires da Académie des Sciences de 1704, ele continuou e esten-


deu o uso de coordenadas polares feito por Jacques Bernoulli, incluindo
uma elaborada classiĄcação das espirais obtidas de curvas algébricas,
tais como parábolas e hipérboles de Fermat, interpretando a ordenada
como raio vetor e abscissa como arco vetorial. (BOYER; MERZBACH,
2012, p. 299).

O Eclaircissemes sur lŠanalyse des inĄniments petis, publicado somente em 1725, con-
tém o comentário de Varignon sobre a Analyse de LŠHospital. Ele destacou que para usar
séries inĄnitas é necessário investigar os termos de resto. Escrevendo a Leibniz, em 1701,
demostrou compreender que uma diferencial não é uma constante, mas uma variável.

✸✳✷✶ ❇❖◆❆❱❊◆❚❯❘❆ ❈❆❱❆▲■❊❘■

Bonaventura Cavalieri (1598 + 49 Ű 1647) nasceu em Milão e faleceu em Bolonha,


Estados Papais (atual Itália), e aos quinze anos de idade ingressou na Ordem Religiosa
dos Jesuati, fundada por Giovanni Colombini de Siena e Francesco Miani no ano de 1360.
Aprendeu matemática com Benedetto Antonio Castelli, professor da Universidade de Pisa,
que lhe apresentou as ideias de Galileu. Cavaliere se considerava discípulo de Galileu. Seu
interesse pela matemática cresceu após o contato com os Elementos de Euclides. Em 1629
assumiu o posto de professor de matemática da Universidade de Bolonha, permanecendo
até 1647.
Capítulo 3. SACERDOTES E RELIGIOSOS CATÓLICOS NA MATEMÁTICA 45

Figura 21 Ű Bonaventura Cavalieri

Fonte: Eves (2008)

Seu tratado Geometria indivisibilibus, publicado em 1635, é sua maior contribuição


para a matemática. Nele apresenta seu método dos indivisíveis, cujas raízes elevam a
Arquimedes e a Demócrito, porém sua motivação direta talvez esteja nas tentativas de
Kepler encontrar áreas e volumes.

Fazendo-se deslizar cada um dos elementos do conjunto das cordas pa-


ralelas de uma porção plana dada ao longo de seu próprio eixo, de modo
que as extremidades das cordas ainda descrevam um contorno contínuo,
a área da nova porção plana é igual à da original, uma vez que ambas
são formadas das mesmas cordas. Um procedimento análogo com os
elementos do conjunto de secções planas paralelas de um sólido dado
fornecerá um outro sólido com o mesmo volume do original. [...] Esses
resultados, ligeiramente generalizados, fornecem os chamados princípios
de Cavalieri:
1. Se duas porções planas são tais que toda reta secante a elas e paralela
a uma reta dada determina nas porções segmentos de reta cuja razão
é constante, então a razão entre as áreas dessas porções é a mesma
constante.
2. Se dois sólidos são tais que todo plano secante a eles e paralelo a um
plano dado determina nos sólidos secções cuja razão é constante, então
a razão entre os volumes desses sólidos é a mesma constante (EVES,
2008, p. 425 - 426).

Sua teoria dos indivisíveis foi muito criticada na época, principalmente pelo mate-
mático suíço Paul Gauldin, pois não apresentava o rigor matemático desejado. Cavalieri
então publicou, em 1647, Exercitationes geometricae sex (1647), apresentando de forma
mais clara sua teoria. A obra tornou-se uma importante fonte para os matemáticos do
século XVII. Seu método simpliĄcou o cálculo de volumes e áreas de várias Ąguras geo-
métricas.
Cavalieri introduziu os logaritmos como ferramenta computacional na Itália através
de sua obra Directorium Universale Uranometricum (1632), na qual trabalha, além de
logaritmos, tabelas de senos, cossenos, tangentes e secantes. Escreveu também acerca da
Astronomia e Óptica, mantendo comunicação com muitos matemáticos da época, como
Galileu, Torricelli e Viviani.
Capítulo 3. SACERDOTES E RELIGIOSOS CATÓLICOS NA MATEMÁTICA 46

✸✳✷✷ ■❙❆❆❈ ❇❆❘❘❖❲

Figura 22 Ű Isaac Barrow

Fonte: Eves (2008)

Isaac Barrow (1630 + 47 Ű 1677) nasceu e morreu em Londres, na Inglaterra. Estudou


em várias escolas, como em Charterhouse e Felstead, mas foi em Cambridge, onde Ącou
conhecido como um dos melhores especialistas em grego de sua época, que concluiu seus
estudos. ŞFoi um homem de grande esforço acadêmico, alcançando projeção em matemá-
tica, física, astronomia e teologiaŤ (EVES, 2008, p. 433). Associou-se a Royal Society no
ano de 1663, compondo um número de 150 cientistas associados.
No ano 1659, assumiu o cargo de professor de grego em Cambridge. Em 1662, passou
a ensinar geometria no Greshan College de Londres. Já em 1664, tornou-se professor
lucasiano de matemática em Crabridge, sendo o primeiro a ocupar a cátedra lucasiana,
porém, em 1669 ele renunciou para ser Capelão de Carlos II. Após sua renúncia, Isaac
Newton, indicado por Barrow, assumiu a cátedra.
Publicou uma tradução completa dos Elementos de Euclides para o latim (1655) e,
posteriormente, uma tradução para o inglês (1660). Como também, edições comentadas
de outros matemáticos, por exemplo, de trabalhos de Teodósio e Arquimedes e dos quatros
primeiros livros da Secções Cônicas, obra de Apolônio.
Contudo, suas principais obras foram Lectiones opticae (1669), composta principal-
mente de teorias e óptica geométrica, e Lectiones geometricae (1670), a qual contém
método, semelhante ao processo atual de diferenciação, de construir tangentes fazendo
uso do triângulo diferencial. Ele foi o primeiro a notar que Şa diferenciação e a integra-
ção são operações inversas uma da outra. Essa importante descoberta é conhecida como
teorema fundamental do cálculo e aparece enunciada e provada nas Lectiones de BarrowŤ
(EVES, 2008, p. 435).
Capítulo 3. SACERDOTES E RELIGIOSOS CATÓLICOS NA MATEMÁTICA 47

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Figura 23 Ű Gabriel Mouton

Fonte: Internet (2023)

Gabriel Mouton (1618 + 76 Ű 1694), doutor em teologia e clérigo, nasceu e morreu


em Lyon, na França. Nomeado, em 1646, como pároco da Igreja de São Paulo, em Lyon.
Dedicou parte de seu tempo ao estudo da Astronomia e da Matemática. Foi membro da
Academia Francesa de Ciência, criada em 1666.
Segundo Eves (2008), antes do sistema métrico atual ser implantado, foram empre-
endidas várias tentativas visando alcançar um sistema cientíĄco de medidas. Em 1670,
Mouton sugeriu um minuto de circunferência da Terra como unidade de comprimento.
Como também, multiplicava e dividia decimalmente esta unidade, dando nomes latinos
convenientes aos seus múltiplos e submúltiplos.
Propondo um sistema métrico decimal baseado na circunferência da Terra, ele foi o
primeiro a deixar de lado o homem no mundo das medições. AĄrmava que há na natureza
uma regularidade capaz de fazer com que um sistema métrico baseado nela se ajuste a
atividade humana.
Mouton propôs uma medida padrão (miliare) deĄnida como um minuto de arco ao
longo de um arco de meridiano da Terra. Dividiu sucessivamente esta unidade por fatores
de dez em centuria, decuria, virga, virgula, decima, centesima, e millesima, tal que

milliare ∼
virga = = 2, 04m
1000
razoavelmente se aproximava do Toise parisiense (aproximadamente 1,95 m), unidade de
medida da época.
Capítulo 3. SACERDOTES E RELIGIOSOS CATÓLICOS NA MATEMÁTICA 48

Um décimo de milésimo de mille tinha cerca 18,5 cm. Para uma implementação
prática, Gabriel propôs que o padrão tivesse como base o movimento pendular.
Sua principal obra é Observationes diametrorum solis et lunae aparenteiun (1670),
onde se encontra um estudo sobre interpolação e seu projeto de um sistema de medidas
padrão e universal baseado no pêndulo. Desenvolveu também tabelas de posições de
senos e cossenos logarítmicos, produziu um pêndulo com uma precisão notável e observou
precisamente, como astrônomo, o diâmetro aparente do sol.

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Figura 24 Ű Bernhard Balzano

Fonte: Internet (2023)

Bernhard Bolzano (1781 + 67 Ű 1848), chamado de Şo pai da aritmetizaçãoŤ, nasceu


e faleceu em Praga, na Tchecoslováquia. Ingressou, em 1796, na Universidade Charles de
Praga, onde estudou ĄlosoĄa, física e matemática. Ordenado sacerdote em 1804. Suas
descobertas matemáticas tiveram pouco reconhecimento por parte de seus contemporâ-
neos, só foram reconhecidas décadas depois, após perceberem que ele antecipou resultados
importantes de outros matemáticos.
Ensinou ĄlosoĄa da religião na Universidade de Praga, mas foi desposto do cargo, em
1819, pelo governo imperial de Viena que o acusou de heterodoxia teológica, devido suas
opiniões sobre política social, obediência cívica e guerra. Sua ortodoxia foi defendida por
autoridades eclesiásticas, por exemplo, pelo Arcebispo de Praga, apesar de ter sido julgado
Capítulo 3. SACERDOTES E RELIGIOSOS CATÓLICOS NA MATEMÁTICA 49

pela Igreja e forçado a se retratar de suas supostas heresias, o que Bernhard recusou-se a
fazer e renunciou a cadeira.
Bolzano forneceu deĄnições modernas e rigorosas dos conceitos de continuidade e li-
mites. Realizou as primeiras demonstrações puramente analíticas do teorema do valor
intermediário (conhecido também como teorema de Bolzano) e do teorema fundamental
da álgebra. Formulou e provou o teorema de Bolzano-Weierstrass, o qual aĄrma que Ştodo
conjunto de pontos inĄnitos e limitados, tem um ponto de acumulaçãoŤ (EVES, 2008, p.
530). Construiu, em 1843, uma função contínua num intervalo, tal que não é derivável
em nenhum ponto do intervalo.
Escreveu Beytrage zu einer begrundeteren Darstellung der Methematik Erste Lieferung
(1810), a primeira obra de uma série sobre os fundamentos da matemática. Publicou
também Der binomische Lehrsatz (1816) e Rein analytischer Beweis (1817), Şdedicado
a uma demonstração puramente aritmética do teorema da locação em álgebra, e isto
exigia um tratamento não geométrico da continuidade de uma curva ou funçãoŤ (BOYER;
MERZBACH, 2012, p. 337), onde deĄne também o que hoje chamamos de sequência de
Cauchy. Exibiu ainda propriedades importantes dos conjuntos inĄnitos na obra póstuma
Paradoxien des Unendlichem (1850).
Segundo Boyer e Merzbach (2012, p. 337), ŞDo paradoxo de Galileu sobre a corres-
pondência biunívoca entre inteiros e quadrados perfeitos, Bolzano prosseguiu mostrando
que tais correspondências entre elementos de um conjunto inĄnito e um subconjunto pró-
prio são comunsŤ. Além disso, ainda em 1840, Bernhard aparentava ter percebido que
a inĄnidade de números reais é diferente da inĄnidade de números inteiros, não sendo
possível enumerar.

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Girolamo Saccheri (1667 + 66 Ű 1733) nasceu em São Remo, Gênova (atual Itália)
e morreu em Milão (atual Itália). Ingressou na Ordem Jesuíta em 1685 e foi ordenado
sacerdote em 1694. Estudou no edifício conhecido atualmente por Pallazo Baldi, o qual
forma o edifício principal da Universidade de Gênova. Foi enviado, em 1690, pelos supe-
riores da Companhia de Jesus, para o Colégio de Brera, onde estudou ĄlosoĄa e teologia,
ensinou gramática e foi encorajado a estudar matemática pelo professor Tommaso Ceva,
que o indicou a edição de Christopher Clavius dos Elementos de Euclides.
Ensinou ĄlosoĄa no Colégio Jesuita de Turim, de 1694 a 1697, período em que publicou
a obra intitulada Logica demonstrativa, onde aplicava no tratamento da lógica formal o
método reductio ad absurdum. De 1697 até sua morte, lecionou ĄlosoĄa e teologia no
Colégio Jesuíta de Paiva, e de 1699 até sua morte, ocupou a cadeira de matemática na
Universidade de Paiva.
Publicou um livro intitulado Euclides ab omni naevo vindicatus (1733), no qual encontra-
Capítulo 3. SACERDOTES E RELIGIOSOS CATÓLICOS NA MATEMÁTICA 50

se seu esforço para demonstrar o postulado das paralelas através do método de reductio
ad absurdum. ŞA primeira investigação realmente cientiĄca do postulado das paralelasŤ
(EVES, 2008, p. 540).

Começou com um quadrilátero birretangular isósceles, agora chamado


de Şquadrilátero de SaccheriŤ Ű tendo lados AB e BC iguais entre si e
ambos perpendiculares à base AB. Sem usar o postulado das paralelas
ele mostrou facilmente que os ângulos de ŞtopoŤ C e D são iguais e que
há, portanto, somente três possibilidades quanto a eles, descritas por
Saccheri como (1) a hipótese do ângulo agudo, (2) a hipótese do ângulo
reto e (3) a hipótese do ângulo obtuso. (BOYER; MERZBACH, 2012,
p. 301).

O intuito de Girolamo era mostrar que a hipótese 1 ou 3 levam a uma contradição.


Assumindo que uma reta é inĄnitamente longa, ele descartou a hipótese 3. Da hipótese 1,
Saccheri obteve teorema após teorema, hoje clássicos da geometria não-euclidiana, porém
acreditava tanto que a geometria euclidiana era a única que valia, que Şonde não havia
contradição, ele torceu o raciocínio até pensar que a hipótese 1 levava a absurdo. Por
isso, deixou de fazer o que teria sido sem dúvida a descoberta mais importante do século
dezoito Ű a geometria não euclidianaŤ (BOYER; MERZBACH, 2012, p. 301).
Capítulo 3. SACERDOTES E RELIGIOSOS CATÓLICOS NA MATEMÁTICA 51

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Figura 25 Ű Lorezzo Mascheroni

Fonte: Eves (2008)

Lorezzo Mascheroni (1750 + 50 Ű 1800), também conhecido como poeta, nasceu em


Castagneta, na Itália, e morreu em Paris, na França. Ele foi educado no seminário de
Bérgamo e recebeu o sacramento da Ordem ainda jovem. Assumiu o cargo de professor
de álgebra e geometria na Universidade de Paiva em 1786, um ano após publicar sua obra
sobre estática, intitulada Nueve recerche sullŠequilibrio delle volte (1785). Tornou-se reitor
da Universidade em 1789 e exerceu as funções por quatro anos. Foi chefe da Accademia
degli Affidatide de 1788 a 1791.
Segundo Eves (2008), Lorezzo se interessou antes por humanidades e veio estudar
matemática já tarde. Ensinou também grego e poesia na escola de sua cidade natal.
Escreveu acerca do cálculo e da física, publicou sobre o Cálculo Integral de Euler e propôs
o sistema métrico de medidas.
Publicou várias obras matemáticas. A Della più bela proprietà dela curva esocroma
a direzioni convergenti, ecc (1782), sua primeira obra matemática, dedicada a Aquiles
Alessandri, traz uma demonstração de que a curva isócrona se aproxima de uma espiral
inĄnita. Sua Nueve recerche sullŠequilibrio delle volte (1785), mostra que Mascheroni
dominava, além da geometria e da mecânica, o cálculo inĄnitesimal.
Em sua Adnotationes ad calculum integrale Euleri (1790), calculou a constante de
Euler com trinta e duas casas, mas somente as dezenove primeiras estavam corretas.
Johann von Soldner, posteriormente, em 1809, corrigiu os lugares restantes. O trabalho
demonstra que Mascheroni tinha uma profunda compreensão do Cálculo de Euler.
Dentre as demais publicações de Lorezzo, está um livro que foi dedicado a Napoleão
Bonaparte, intitulado Geometria del Compasso (1797), fazendo com que o general desen-
volvesse interesse por construções geométricas. Neste trabalho, demonstrou que é possível
apenas com o compasso fazer todas as construções euclidianas, sem ser necessário o auxílio
da régua.
Capítulo 3. SACERDOTES E RELIGIOSOS CATÓLICOS NA MATEMÁTICA 52

✸✳✷✼ ❖❯❚❘❆❙ ▼❊◆➬Õ❊❙

Tendo sido alcançado o objetivo desta investigação - mostrar contribuições deixadas


por sacerdotes e religiosos católicos matemáticos para a Matemática, percebemos como foi
ampla a participação do clero no desenvolvimento desta ciência; o quanto era apreciada,
principalmente por membros de ordens religiosas, e como estava presente na educação
destes.
Destacamos que não signiĄca que existiram somente os vinte e seis padres e religio-
sos matemáticos apresentados aqui, como também, que demos foco naqueles que foram
matemáticos. Encontramos ainda em Eves, menção à Kochanski, jesuíta polonês, que for-
neceu a retiĄcação aproximada do círculo em 1685, não descrito acima devido à falta de
informações. Além disso, Eves ainda menciona São Tomás de Aquino; Boyer e Merzbach
escreve também sobre Moerbeke, arcebispo de Corinto, que traduziu textos matemáticos,
e em Rooney podemos encontrar Santo Agostinho e o bispo George Berkeley, que atacou
o cálculo de Newton. Porém, ambos não foram matemáticos.
Portanto, ampliando o objetivo e analisando uma literatura mais ampla, é possível
contemplar um número maior de contribuições, bem como de sacerdotes e religiosos ma-
temáticos. Deixamos o incentivo à realização dessas investigações, visando um diálogo
mais rico entre o Catolicismo e a Matemática.
53

✹ ❈❖◆❙■❉❊❘❆➬Õ❊❙ ❋■◆❆■❙

Um dos papeis importantes da História da Matemática é revelar a Matemática como


ciência viva, que foi sendo desenvolvida ao passar dos anos diante das necessidades huma-
nas, como de aprender a calcular. Uma Matemática que é dinâmica e está diretamente
relacionada com o meio em que vivemos, com o nosso cotidiano. O homem que calcula e
que estuda a Matemática é um ser composto por várias dimensões, entre elas está a fé.
Sujeitos de fé também Ązeram avanço na Matemática. Padres e religiosos da Igreja
Católica, como Gerbet dŠAurillac, Papa Silvestre II, John Wallis e o bispo Nicole Oresme,
dentre tantos outros, nos mostram que a fé pode dialogar com a Matemática. Esperamos
que esta investigação motive pesquisas futuras acerca do tema, visando um aprofunda-
mento e um enriquecimento do diálogo entre a fé e a Matemática.
O intuito maior deste trabalho não é proporcionar um histórico completo e imutável,
pelo contrário, é inspirar e motivar trabalhos posteriores, a Ąm de que complementem
o que aqui foi descrito, que corrijam algum possível erro, mas que contribua para o
aprofundamento do diálogo entre a Igreja Católica e a Matemática e para alcançarmos
uma história,cada vez mais rica e detalhada, na qual se encontra matemáticos que foram
padres, religiosos, homens e mulheres que se desgastaram e realizaram esforços para que
pudéssemos ter a Matemática, tal como ela é nos dias atuais.
Todas as contribuições deixadas para a Matemática, ressaltamos novamente, devem
ser relatadas nos anais de sua história, do contrário, essa seria incompleta. Visto que a
Matemática dialoga com o homem e com o seu cotidiano, deve-se compreender que ela
também dialoga com as suas crenças, dentre as quais o Catolicismo, pois se assim não for,
não se humaniza.
54

❘❊❋❊❘✃◆❈■❆❙

AABOE, Asger. Episódios da história antiga da matemática. Tradução: João Bosco


Pitombeira. Rio de Janeiro: SBM, 2013.

AMADO, Antonio Tadeu F. A inovação do Pe. George Lemaître na cosmologia: o big


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BARUFFI, Ana Cristina; BARUFFI, Helder. A construção das ciências. Revista


Jurídica UNIGRAM, Dourados, v. 21, n. 42, p. 241-244, jul 2019. Disponível em:
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BORGES, Marcos Francisco. Ciência e religião: reĆexões sobre os livros de história da


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BORGES, Marcos Francisco. Um estudo a relação entre a matemática e a religião


presente nos livros de história da matemática utilizados em cursos de licenciatura.
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BOYER, Carl B.; MERZBACH, Uta C. História da matemática. Tradução: Helena


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DŠAMBROSIO, Ubiratan. Educação matemática: da teoria à prática: coleção


perspectivas em educação matemática. 23. ed. Campinas, São Paulo: Papirus, 2012.
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Documento Digitalizado Restrito


Trabalho de Conclusão de Curso
Assunto: Trabalho de Conclusão de Curso
Assinado por: Paulo Ferreira
Tipo do Documento: Tese
Situação: Finalizado
Nível de Acesso: Restrito
Hipótese Legal: Direito Autoral (Art. 24, III, da Lei no 9.610/1998)
Tipo do Conferência: Cópia Simples

Documento assinado eletronicamente por:


Paulo Vitor Ferreira de Lima,
Lima ALUNO (201822020027) DE LICENCIATURA EM MATEMÁTICA - CAJAZEIRAS,
CAJAZEIRAS em 13/04/2023 09:17:02.

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