Está en la página 1de 194

F er n a n d o

Pessoa
poesía i
LOS POEMAS DE
A l b e r t o C a e iro 1
OBRAS

Cualquier forma de reproducción, distribución, comunicación pública o transformación


de esta obra sóio puede ser realizada con la autorización de sus titulares, salvo excep­
ción prevista por la ley. Diríjase a CEDRO (Centro Españoi de Derechos Reprográficos,
www.cedro.org) si necesita fotocopiar o esc a n e a r algún fragm ento de esta obra.

títu lo o rig in a l: F e r n a n d o Pessoa [A lb e rto C a e iro ]:


• O Guardador de Rebanhos
• O Pastor Amoroso

© J u a n a I n a r e jo s y J uan b a r ja , 2011
de la traducción

© J u a n B a r ja , 2011, del prólogo y notas

© A b ad a E d ito re s , s.l ., 2011; 2 a e d ic ió n , 2013


de la presente edición
G alle d e l G o b e r n a d o r , l 8
2 8 0 1 4 M a d rid
T e l.: 91 4 2 9 6 8 8 2 / fax: 91 4 2 9 7507
w w w .a b a d a e d ito re s.c o m

c u b ie rta ESTUDIO JO A Q U ÍN GALLEGO

p ro d u c c ió n GUADALUPE G lSBERT

ISBN 9 7 8 -8 4 -1 5 2 8 9 -1 3 -5 [o b ra c o m p le ta]
ISBN 9 7 8 -8 4 -1 5 2 8 9 -1 4 -2 [vol. I]
d e p ó sito leg al M -1 3 0 4 9 - 2 0 1 3

p re im p re s ió n D alubert A llé

im p r e s ió n GRÁFICAS VARONA, S.A .


F ernando
Pessoa
poesia i
LOS POEMAS D E
A l b e r t o C a e ir o 1
E l guardador de rebaños
Elpastor enamorado

EDICION BILINGÜE DE
J u a n B arja y J u a n a I n a r e jo s
PROLOGO Y NOTAS DE
J u a n B arja

«OBRAS»
ABADAEDITORES
P O E M A/P ER SO N A
Esbozo(s) de un des-pliegue horizontal
Juan Barja

Sófica o que nunca foú / [...] a


recompensa de não existir é estar sempre presente.

Passo ejico, como o Universo.

A lberto G a e ir o

« A lb e rto C a eiro es A lb e rto G aeiro es A lb e rto G a e ir o ...» . La


'c ita ’ c o n - te n id a e n la 'o ra c ió n ’ (sea ésta e n te n d id a e n ta n to
se rie lógica e n su e n u n c ia c ió n g ra m a tic a l o e n ta n to le ta n ía
religiosa) e ra m ás o m e n o s co e tá n ea , co m o lo es ta m b ié n su
c o n te n id o : te n s ió n c o n s titu tiv a de ese tex to e n ta n to s ilo ­
gism o tau to ló g ic o : ra z o n a m ie n to más tau to lo g ía.
E l a se rto in n e g a b le , ra d ic a l, d e q u e a lg u ie n es a lg u ie n
—d e q u e A lb e rto G a e iro es A lb e r to G a e iro — tie n e a h í q u e
e n te n d e rse , o m e jo r, q u e aceptarse, co m o u n d ato ; p e ro n o
u n o a in te r p r e ta r ju n t o c o n o tro s d ato s se m ejan te s o, q u izá
m ás b ie n , re la c io n a d o s —p o r q u e , ¿ d ó n d e se d a la re la c ió n ,
co m o su (b )p u e sta o b ie n co m o an tep u e sta, p e tic ió n d e p r i n ­
cip io in so slay a b le?—; an tes b ie n , al c o n tra rio , co n stitu y e lo
q u e sería el d a t o - f u n d a d o r - d a to - a c to in f u n d a d o —, f u n d a ­
m e n to que so p o rta/co n stru y e el edificio que es —ya e n sí y p o r
sí— su c re a c ió n , y a q u e lla c re a c ió n q u e , e n c u a n to ta l (su
m o d e lo te ó ric o , tr a n s - p u e s to ) v ie n e a se r a n t e r io r alo q u e

POEMA / PERSONA 5
crea. T au to lo g ía p u es, m as sólo e n ta n to q u e se articu la com o
d e d u c c ió n —la q u e re s u lta de q u e algo es algo de lo q u e d e ­
viene co m o algo (el q u e A lb e rto C a eiro sea ta l hace d ed u cib le
q u e lo sea y lo hace d ed u cib le a cada vez... fu n d a m e n ta n d o , al
tie m p o , e n ese acto —y u n o q u e ta m b ié n es teatral, su c o n d i­
c ió n , su drammatispersonnae—, las c o n d ic io n e s de su a p a ric ió n
e n el in s ta n te m ism o e n q u e a p a rece ). A cuyo través el silo ­
g ism o —silo g ism o f in g id o : el e n tim e m a — d e s tru y e /r e c o n s -
tru y e e n su d espliegue el ed ificio de su ta u to lo g ía co m o ta u -
talogía fu n d a d o ra —fu n d a m e n to (d )e in ic io —irre n u n c ia b le .
P o d e m o s su s te n ta rlo de o tr o m o d o —p e r o u n o q u e es,
sin d u d a , el m ism o — al a firm a r q u e « A es A es A . . . » ; d ich a
r e - p r o d u c c ió n , su d i- f e r e n c ia , h ace a q u í in n e c e s a ria p o r
co m p leto la referen c ia ¿ h istó ric a ? a c u a lq u ie r su p u esto n a c i­
m ie n to (el de la persona o su poema: 16 de a b ril del añ o 1 889, o
b ie n 8 de m a rz o d el 1914, p re s u n to n a c im ie n to de C a e iro o
fe c h a d o in ic ia l —« i n ic ia l/tr iu n f a l» , si a c e p ta m o s el dictum
p esso an o —de aparición de su p o esía). M ie n tras se ab re, al c o n ­
tra rio , lo que, e n este texto, llam arem os u n a estrategia horizontal:
esa q u e, al p r o - d u c ir s e e n su d e s -p lie g u e —e n el d esp lieg u e
d e su(s) d if e r e n c ia (s ) —, excluye p o r c o m p le to n o ta n só lo
to d o re c u rso a la p sic o lo g ía ’ —y u n a , a ú n , ¿ d e q u ié n ? , ¿ d e
F e rn a n d o Pessoa o su P e rso n a ? [ ]: la p e rs o n a (p esso a)-
ca eiro , co m o d ecir, la m á sca ra -c ae iro ; ¿ tie n e n alm a las m ás­
caras?, ¿la tie n e el « d r a m a e n g e n te » e n su c o n ju n to ? , ¿ n o
es el « d r a m a e n g e n te » la fig u ra q u e m ir a to d a v ía h ac ia el
p a sa d o , esa q u e el m is m o 'a u t o r ’ va a te n e r q u e ta c h a r p a ra
d e c ir -s e , o m e jo r só lo ya p a ra decir?—, s in o to d a su p u e sta
'ev o lu c ió n —la 'creación’ n u n c a es, n o p o d ría ser, 'evolutiva’; se
d a e n u n sólo acto, c o - in c id ie n d o c o n el instante de su e n u n ­
c ia c ió n (d o n d e se e n u n c ia a q u e llo q u e se anuncia d e m a n e ra
to tal: e n el in sta n te )—.
T al el o bjetivo de esos textos, de u n o s textos-caeiro d o n d e
'p o r vez p r im e ra ’ —y ésa es a su vez su condición ya n o o rig in a l:
originaria— n o hay su je to y o b je to se p arad o s (n i ta m p o c o , p o r

6 JUAN BARJA
ta n to , separab les); el s u je to -p o e m a (sin 's u je to ’) se invierte en
el o b je to -c re a d o r (lo constituye sin su stitu irlo , sin sustituirse
e n su o b je tiv o ). D e c ir p u e s, n u e v a m e n te (a cada vez), q u e
« c a e ir o es c a e iro es c a e i r o ...» es d e c ir q u e el « p o e m a es
p o e m a es p o e m a .. . » (a cada vez).

N. B. La cuestión del(Ios) nombre(s) es enteramente secundaria, « d r a m a


em g e n te » estratégico, 'fingido’—nadieplantearía, por ejemplo, si la voz de
Ofelia, o la de Hamlet, o la de Yago, o la de Desdémona, que sin duda son voces
di-ferentes,j cada una con su entonacíónj su forma concreta: (en) su(s)
figura(s), son (re) encarnaciones del poeta que ¡as trae a la luz, sobre los tex­
tos—, No hay cuestión de los nombres, sino sólo eljugar de los nombres, que
componen el grupo 'original’ (como el 'origen’ de los textos que nombran, en su
juego). Estrategia taimada, vanguardista, que permite que un Nombre —el del
Autor,y uno que ahí es al tiempo el del Actor—se remita a sí mismo, como Otro,
siendo su Otro-sí-mismo, doblemente.

Más allá de los ta n to s p re c e d e n te s [así, e n tre los clásicos,


p a re c e a c o n se ja b le r e c o r d a r el d e s d o b la m ie n to c e rv a n tin o
co m o tr a d u ( a u ) c to r de G id e H a m e te ; o el de L o p e d e Vega,
q u e p u b lic a las supuestas Rimas de B urguillos1—e n tre las qu e se
in c lu y en dos so n e to s d o n d e el a u to r su -p u e s to se co n ju g a, al
ju g a r c o n el títu lo , c o n el a u to r (re a l) q u e (se) d e s m ie n te :
así, e n el titu la d o « L a pu lg a. (S o n e to falsam en te a trib u id o a
L o p e ) » , c o n lo q u e , al (d e s )m e n tir, d ice v erd a d , p o r ser la
tra d u c c ió n de o tr o so n e to q u e to m a de « L o s a m o re s » r o n -
sa rd ia n o s; y a q u e l o tr o e n el cual « D isc ú lp a se c o n L o p e de

I L o p e F élix d e Vega C a rp ió , Rimas humanasj divinas del licenciado Tomé de


Burguillos, M a d rid , 1634* (V id. e n Obras Selectas, to m o II, p p . 2 3 9
* 2 6 8 , M a d rid , 194.7).

POEMA / PERSONA 7
V ega de su e s tilo » , q u e c o m ie n z a d ic ie n d o de este m o d o :
« S e ñ o r L o p e , este m u n d o to d o es t e m a s .. .» —] 2, el procedi­
miento p essoano m an ifiesta u n a clara —p o r m ás q u e m o d u la d a
y variable—rela ció n epocal; e n tre sus diversas variaciones cita­
rem o s ta n sólo u n o s ejem plos.

— L a falsificación como modelo, d o n d e el n o m b r e se o c u lta


p a ra d a rse c o m o n o m b r e m o d é lic o , to ta l: el O s sia n
(de M a cp h e rso n ) constituye el ejem p lo p erfec to , c o n ­
su m ad o , de la(s) estrategia(s) v an guardista(s) —a u n q u e
a h í la p r o p u e s ta se c o n stru y a e n ta n to f o rm a arcaica,
regresiva— ; d e m a n e r a c o m p le ja , y e n su p ro y e c c ió n
hacia el f u tu ro , ése será el m o d e lo de Pessoa.
— L a serie encadenada de pseudónimos « L a u tré a m o n t/M a ld o -
r o r » , p rá c tic a p e rfe c ta de b o r ra d o d el 'a u té n tic o ’ (?)
n o m b re (D ucasse) del p o eta.
— La identificaciónficticia (distanciada) de 'd e sd o b la m ie n to s’
ap a re n te s —es el caso de N ie tz sc h e /Z a ra th u stra , co m o
ta m b ié n de V a lle /B ra d o m ín , Jo y c e /S te p h e n , R ilk e/
M alte, Valéry/Teste, B re c h t/K e u n e r y o tro s m uchos—.
— La diseminación p ira n d e llia n a co n sus d iferen tes 'estacio­
n es’ —desaparición, ficticia, del sujeto, perso n ificad a en
« e l 'd if u n to ’ M atías P ascal»; tra n sp o s ic ió n (lo c u ra ?)
del sujeto co m o isla /trin c h e ra : « E n riq u e IV » ; d e se n ­
c a rn a c ió n q u e va a la b ú sq u e d a de c o n s titu irs e /
( re )e n c a rn a rs e , e n sus « se is p e rso n a je s e n b u sca de
a u t o r » , d o n d e , ju s ta m e n te , es ese a u to r el q u e d eb e
en c arn arse, sobre el texto—.

2 L a h e te r o n im ia e s tric ta q u e se n o s p r e s e n ta e n esos textos h a sido


señalada ex presam ente: « L o p e c o n c e n tró e n la 'p ro d u c c ió n p o ética
d e B u rg u illo s —heterónimo con una personalidad propia, según la descripción del
propioLope, seg u id o e n ese ju e g o p o r Q u e v e d o ...» (el su b ray ad o es

Ô JU A N BARJA
— El nombre del autor(?) como pseudónimo que, e n ta n to q u e lo
e n c u b re , m a n ifiesta —identidad auténtica: tachada— ta n to el
a u to r d el n o m b r e co m o el n eg a d o n o m b r e d el a u to r:
anagrama teológico —d ia b ó lic o /an g é lic o — de K (a fk a ).
— Práctica heteronímica (ficticia) q u e, e n ta n to in sta n c ia c r í­
tica, se n o s (re )p re se n ta en los apócrifos de M a c h a d o : en
M a ire n a y e n M a r tín ...
—Destrucción del nombre por el nombre, c o n v e rtid o e n p r e ­
texto, sobre el texto; así se n o s revela e n U n a m u n o (in s ti­
tu id o co m o p e rso n a je —m e r a persona, m áscara vacía: es
el c e n tro de Niebla—, p o r el p e rs o n a je q u e h a cre ad o y
q u e le a n u n c ia su destitución). U n a destrucción q u e se d es­
vela de fo rm a rad ical y so b e ra n a e n el e n c u e n tro e n tre
el B orges viejo c o n el jo v e n B orges ( « E l o t r o » , e n El
libro de arena), q u e h a de ser, q u e de s ie m p re ya es: él,
B o rg e s/B o rg e s, lugar e n d o n d e el nombre se revela —el
'a u té n tic o ’ n o m b r e (p e r s o n a l) — co m o p s e u d o n im ia
in c o n fe sa b le ...

Para el que escucha el texto —para quien escucha lo que dice (que se dice
/ se expresa: desde el texto)— no podría haber otro sujeto que el que encarna en
el texto (entre los pliegues desplegados del texto: en su repliegue). No hay pues
otro sujeto que el objeto, (y uno que es siendo objeto de su objeto). Proposición
que no es más tautológica ni circular que aquella que predica el hablar del sujeto
hacia el sujeto (si es que pudiera darse ese sujeto desprendido de sí, diseminado:
di-seminadojia como sujetoy como aquello mismo que aparece en la su-cesión

m ío ). A n d ré s S ánchez R obayna, Tres estudios sobre Góngora, p . 2 5 , B a r­


celo n a, 1983.

POEMA / PERSONA 9
de su apertura, se-cesiónya iniciada desde siempreypara siempreya, nunca
escindida sino, a-sí, meramente, o mejor, puramente, no cerrada, compactada,
sujeta desde sí, ni siquiera en el 'círculo’: en el ciclo, la 'cerrada’ficción de su
fracaso). Y así sólo el de aquello —como aquello—que no es nunca un sí-mismo
(siendo sólo eso-m ism o).- textual.
«Ao lerem os meus versos pensem / que sou qualquer coisa natural» .
( « O g u a rd a d o r de re b a n h o s » , p o e m a I, w . 5 9 ~ 6 o ). E n u n ­
ciado d irec to , n o p ro b lem atiz ab le e n ap a rien c ia, el texto dice
[e n ta n to q u e C a e iro p e r o , al tie m p o , e n ta n to q u e p o e m a ,
p u es, e n efecto, algo m ás a rrib a , la estro fa h a co m en z ad o de
este m o d o : « Saúdo todos os que me lerem» (c it., v. 4 9 )- L a c o n ­
f u s ió n es in te n c io n a l: le e r s ie m p re h a d e se r le e r u n tex to
(texto/poeta—aqaí p o eta/tex to , a saber, C a eiro e n ta n to a u to r y,
p o r s u - p u e s to , e n ta n to a u to r /a c to r , a c tu a d o a su vez desde
P essoa—, co m o ta m b ié n , a h í, texto/poema)], d ic e el te x to , nos
dice, oigam os: «soy».
L a a f ir m a c ió n d e sí, de su e x iste n cia , m a n ifie s ta de
p r o n to su m a n e ra p alm aria , elem en tal. «Soy» ¿ q u é ? , se dice:
y se d e f in e : «cosa» (¿se d ir ía lo m is m o de se r ta n só lo el
h o m b r e , la P e r s o n a /C a e ir o , la q u e h a b la ? ); y, a ú n , cosaque
actúa, q u e se n o s da al le e r co m o « saludo» ; el salud o de algo, de
esa cosa q u e h a de se r alguien e n su s a lu d a r, su manifestarse
in te m p e stiv o . P ero , si seguim os la le ctu ra, esa m ism a a q u e el
tex to ( c o n el p o e ta /te x to y el te x to /p e rs o n a ) n o s in v ita, los
p ro b lem as se van a c u m u la n d o , dad o q u e aquella voz, la qu e se
h ab la, n o n o s dice ser cosa so la m e n te , sin o a ú n , ad em ás ser
« cualquier cosa» [de m a n e ra q u e el texto se n o s revela siendo, lo
h e m o s visto , m as s ie n d o ju s ta m e n te algo c u a lq u ie ra —es
d e c ir(n o s ): n o ú n ic o y d is tin to sin o , b ie n al c o n tra rio , u n -
s e r- c u a lq u ie ra y e n ta n to q u e tal, in te rc a m b ia b le ; es d e c ir,
a b ie r to a /e n la c a d e n a de u n a f o rm a a n a ló g ic a , c a m b ia n te :
« P o r e je m p lo » , n o s dice, ser u n « á r b o l» (v. 6 l) ; m e ta fo ri-
zación, m e ta m o rfo s is ...], y, m ás allá, ser « c o sa natural» . S in
d u d a, n ad a m en o s n a tu ra l, n ad a m ás c u ltu ral y m etafísico qu e

10 JU A N BARJA
esta firm e (? ) creencia caeiriana. E n u n m ín im o espacio —cu l­
tivado, el espacio (d el) cu lto d el p o e m a —, y e n el d e u n sólo
verso —e n /d e l p o em a— se da ese deslizarse, e n ap a rien c ia s e n ­
cillo y casi a u tó n o m o , q u e afirm a : I. La existen cia p lasm ad a
de u n su je to . 2. L a co rrela tiv a de su se r(se). 3. L a d e su ser
(co m o ) cósico, de cosa. 4- La de ser n a tu ra l —e n ta n to cosa y,
'n a tu r a l m e n t e ’, e n ta n to se r—. 5- L a d e ser, ad em ás, algo
cu a lq u ie ra —alg o /alg u ien : c u a lq u ie r co sa/c u alq u ier ser—. Y 6.
(si re m o n ta m o s p o r los versos al m o m e n to in ic ia l q u e se p r e ­
dica) ser e n acció n —la acció n de su salu d o —, m as 7- u n a qu e
de p r o n to p u e d e d a rse (si c o n tin u a m o s p o r el v erso ) n o ya
c o m o la p r o p ia de lo h u m a n o sin o d e u n se r o rg á n ic o (ese
á rb o l) que, sie n d o n a tu ra l, es cultivado, ese « v iejo á r b o l» de
los p u e b lo s a cuya so m b ra se se n tab a el n iñ o (w . 6 1 -6 5 ) q u e
ah o ra , ya m ayor p u e d e leer(se) —está leyendo, d e h ec h o (y a -sí
siendo leíd o —y e n ta n to q u e le íd o —) : e n /e l p o em a—.

También en el poema, en sus inicios (y unos en donde todo es más estricto,


sin deslizamiento de conceptos), comenzó por decirse —metafísicamente (? )—
de este modo: « D e los ú n ic o s ca m in o s pensables d e la b ú sq u e d a
/ u n o , q u e es, y q u e n o ser n o es, / es co nvicció n , y va c o n la
verd ad ; / el o tro , el q u e n o es y q u e h a de ser n o ser, / d e ese
c a m in o n a d a p u e d e ser a p re n d id o ; / p o rq u e lo q u e n o sea n o
p o d rá s c o n o c e rlo / n i p o d ría s h a c e rlo c o m p re n s ib le . / [ ...]
N o hay n i h a b rá / n a d a o tro sin o eso q u e e s » 3.

3 P a rm é n id e s, Periphyseos, fr. 2, vv. 2 - 8 y fr. 8 w . 3 6 - 3 7 - (C ito p o r la


ed. d e A lb e rto B e rn ab é y jo r g e P érez de T udela, M a d rid , 2 O O 7).

POEMA / PERSONA 11
« O único mistério é haver quem pense no misterio » . ( « O g u a rd a ­
d o r de re b a n h o s » , p o e m a V , v. 13). E l p o stu la d o a n tim e ta fí-
sico —c o n sus p re su p u e sto s epocales—p u e d e ser to d o m e n o s
in o c e n te [sin d u d a es naif b u c ó lic o co m o c o rre s p o n d e a los
p a sto re s, y m ás a los p a sto re s lite r a r io s ; p o r q u e este G ae iro
v irg ilian o n o es el « p a s to r del s e r» (o sí lo es, co m o r e - p a r ­
tid o e n tre los seres, fin g ié n d o se ser cosa e n tre las cosas —y u n a
'co sa c u a lq u ie ra ’, lo h e m o s visto—); « g u a r d a d o r d e r e b a ­
ñ o s » , p e r o u n o cuyo 'r e b a ñ o ’ es sus « pensamientos» (p o e m a
IX , vv. 1 -2 ). R e b a ñ o su b je tiv o , p o r lo tanto-, f re n te a eso
o b jetiv o q u e se 'fin g e ’, se c o n - f ig u r a e n ta n to q u e p o e m a ; y
eso pese a d ec irn o s, ju sta m e n te e n el verso q u e le sigue: «meus
pensamentos são todos sensações» (p o e m a IX, v. 3 ), lo q u e d e fin e
ta les p e n s a m ie n to s p e r o n o lo s n ie g a e n a b s o lu to : 'p e n s a ­
m ie n to in m e d ia to ’ —«manos, pies.. . » ( p o e m a IX , v. 5 )—; la
m etafísica, expulsada p o r la p u e rta —« hd metafísica bastante em não
pensar em nada» (p o e m a V , v. i) ; «pensar é estar doente» (es estar
e n fe rm o : y «de los ojos». p o e m a II, v. 17): y, sin em b arg o , so n
sus « p e n s a m ie n to s » el o b je to m is m o d e su guarda se g ú n se
n o s h a d ic h o , expresam en te—vuelve así a p e n e tr a r p o r la v e n ­
ta n a ...] . P o r cu a n to de este sólo p o stu la d o , u n o q u e es u n o y
ú n ic o , fu n d a m e n to y, al tie m p o , f u n d a d o r —«V i que não ha
Natureza, / que Natureza não existe, / que hd montes, vales, planicies, / que há
árvores, fores, ervas, / que ha rios e pedras, / mas que não há um todo a que
issopertença» (p o em a XEVTI, v. j - i z ) ; p e ro ate n c ió n de nuevo a
c u a n d o dice: «só sou essa coisa odiosa, um intérprete da Natureza»
(p o em a XXXI, v. I l) —n ac e(n ) el p o em a e n te ro : y el p o eta.

« Caeiro es caeiro es caeiro...» significa, de modo semejante: « Una cosa


es una cosa es una cosa...» , o «lo que hay es lo que hay es lo que hay...».

12 JUAN BARJA
Siendo concebido como idea, (repetido/expandido como idea) el poeta ha evi­
tado (lo dijimos), ha prescrito/fingido, al mismo tiempo, cualquier historia de
su desarrollo. No hay aquí evolución: el poeta nacej muere de manera simul­
tánea [las su (per)puestasfechas de su drama son un mero pre-texto o, quizas,
un post-texto, inconsecuente con la manera de su creaciónj la reiteración de
su(s) supuesto(s) —es ejercicio a-histórico, pre-concebido como c o n tra -h is ­
to r ia —]. Su 'horizonte’ es des-pliegue horizontalj, así, suprime el tiempo,
todo tiempo, pues el suyo, que ha sido en el in sta n te , se re-pliega en su ins­
tancia omnipresente [en la totalidad de su (im)presencia], sobre sí/contra sí: a-
te m p o ra l.

¿E s de v e rd a d p o sib le, e n g e n e ra l —o al m e n o s p o sib le,


de m a n e r a real, e n el poema— se r, p o r e je m p lo , u n « á r b o l »
—esa (su p u e sta ) « c o s a n a t u r a l » —? O b v ia n d o el c o n te n id o
m e ta físic o de aq u e lla 'c o sa ’ q u e se n o s p r o p o n e , ¿ c ó m o
a rm o n iz a r ese e n u n c ia d o c o n el q u e in ic ia el p o e m a XVTIL
«Quem me deraque eufosse o pó da estrada» (v. i) , <squem me dera que eu
fosse os rios que correm» (v. 3 ). N o ya sólo esas 'cosas n a tu ra le s ’,
sin o q u e ta m b ié n los seres vivos de los re in o s vegetal (v. 5) J
a n im a l (v. 7) v ie n e n a se r o b je to d e l d eseo (o b je tiv o f r u s ­
tra d o , y ello p o r im p o sib le) del p o eta.

«N ão tenho filosofia: tenho sentidos» (p o e m a II, v. 19). C o n


ello la p r o p u e s ta (o , m e jo r , la re s -p u e s ta ) c a e iria n a n o
expone —co m o finge—u n a rg u m e n to , p ues del n o 'te n e r f ilo ­
so fía ’ [algo q u e se a firm a m e ra m e n te co m o d a to 'o b je tiv o ’
q u e n o s s u m in is tra su 's u je to ’ (a sa b er, co m o f ó rm u la a p o ­
d íc tic a cuya m o s tra c ió n re p e titiv a - r e - p r o d u c i d a h a sta la
ob sesió n — n ad a h a b rá p o d id o d e -m o s tra rn o s )] n o es d e d u c -
tib le e n abso lu to lo su g erid o c o n la o rto g ra fía, esos dos p u n ­
tos q u e se n o s p re s e n ta n p a ra p ro -v o c a r o, m e jo r, c o n -v o c a r

POEMA / PERSONA 13
la c o n c lu sió n , sin o so la m e n te dos aserto s in s u p e ra b le m e n te
in d e p e n d ie n te s : de ese 'n o te n e r filo so fía ’ n o re su lta ja m á s
'te n e r s e n tid o s ’ —algo de lo cu al, e n c u a lq u ie r caso, carece
'c u a lq u ie r co sa’ ( to d a co sa)—; u n h e c h o q u e , p o r c ie rto ,
constituye el fracaso fu n d a d o r de la id eología expresionista —y
su p rá c tic a artístic a (in ) c o n sc ie n te —q u e sería la p r o p ia d e la
ép o ca y la 'id e o lo g ía ’ p esso an a: la e x p re sió n de la cosa co m o
ta l —su c o n o c im ie n to in a lca n za b le q u e q u e d ó f o rm u la d o e n
el k a n tis m o 4’— . E l q u e s ie n te n o es cosa —n i s iq u ie ra 'co sa
n a tu ra l’—, n i el p o e ta p u e d e ser u n «árbol», algo qu e e n re a li­
d ad n u n c a n o s d ijo ; d ijo q u e debíam os p en sarlo (« piensen/ que
soy...»; p o e m a I, w . 5 9 ~ 6 o ). P ero ¿ n o n o s av isa—so la m e n te
u n o s verso s m ás allá, c o n el se g u n d o p o e m a d e la se rie ta l
co m o ya h em o s señ alado—q u e « pensar es estar enfermo de los ojos» ?
E l sistem a regresa de este m o d o desde sí c o n tra sí, e n su r e f u ­
tarse, in te rm in a b le m e n te : circ u lar.

Para hablar de la(s) cosa(s) sin decir de ella(s) nada innecesario traere­
mos aquí un viejo texto que sigue siendo, siempre, imprescindible,y que es, tam­
bién, una vez más el texto (intercambiable) de un poeta: « A sí n a c ie r o n
éstas, y a h o ra so n , / [ . . . ] / los h o m b re s d ie r o n n o m b re a cada
u n a » 5. —De manera que «el cosm os de los hombres, cosmos también por
tanto de los n o m b r e s » es ese «haber nacido», « estar p re s e n te » —6. Yes

4 P ro p o n d re m o s a q u í u n sólo ejem p lo de los m u ch o s q u e p u e d e n ser


citados: <rTodo lo que pueda ser dado a nuestros sentidos [...] lo intuimos sólo como
nos aparece, pero no tal como en sí mismo es». I n m a n u e l K a n t, Prolegómenos,
p arág rafo 12, ed. de M a rio C a im i, M a d rid , 1999.
5 P arm én id es, Periphyseos, fr. 19, v. 3.
6 J o r g e P érez d e T u d e la , c o m e n ta rio al Poema d e P a rm é n id e s, e n ed.
cit., p . 231.

14 JU A N BARJA
que, en efecto, era ese darle (s) nombre la misión esencial —para el poeta—, pero
comenzando justamente por la acción de nombrar a ese poeta: el «caeiro es
caeiro...» de lafabula [a-sí, en este caso (y sin duda no sólo en este caso), lo
q u e el p o e ta escrib e —que se inscribe en el texto— es el p o eta] en cuyo
fabular se dan las cosas, las mismas a las cuales se da nombre... El Texto, como
cosa entre las cosas—hablar constitutivo, «natural»—, como «cosa cualquiera»/
«cualquier cosa», mas también como cosa de las cosas, le(s) ha dado su nom­
bre, «que es su nombre, su nombre...»: a cada Una. [Con ello,y aún habrá
que repetirlo, el hecho de(l) nombrarse nos revela, de nuevo, en su d e sp lie ­
gue h o riz o n ta l: el nombrar (de) las cosas —cada cosa—exige en consecuen­
cia, al mismo tiempo, el nombrar (d)el poeta—los poetas, (en) su co n stela­
c ió n constitutiva—. Con lo cual cada cosay lo que (en) ella viene a ser —cada
poeta/cada texto—se dan como te n sió n , en la distancia que al articular su(s)
diferencia(s) articula el espacio: lo construye. Es construcción de m u n d o

y del espacio como texto del mundo: mundo-texto— (en la instantaneidad de
lo nombrado). Pero uno que se alza contra el tiempo - y que se alza, por tanto,
a contra-tiempo—, con(tra) su evolución'inevitable. (Toda evolución es una
línea compleja pero siempre imaginaria que va simplificando —convirtiendo en
'idea —los sucesos; pero ellos nofluyen —se dan: no se suceden—: detenidos, cada
uno para sí, son los mojones del espacio en que están,-y que de-finen). Desde
elloy con ello, el texto-cosa,y en él aún: el texto-poeta-cosa, (mortal) aere
p e re n n iu s, queda inscrito por encima del tiempo: desde siempre].

E xiste p u e s a q u í u n 'p e n s a m ie n to ’ ( p ro b a b le m e n te
«enferm o», se n o s d ijo , p e r o p e n s a m ie n to e n to d o caso) —y
u n a 'filo so fía ’, e n co n se c u e n c ia — q u e se rec lam a d e(sd e ) los
se n tid o s (c o n el c o n te n id o q u e ese tex to c o n c e p tu a liz a e n
ta n to q u e in m e d ia to s, co m o in m e d ia c ió n co n stitu tiv a); u n a
o p e ra c ió n q u e p re su p o n e el deslizamiento su b re p tic io (n u n c a el
ra z o n a r a rg u m e n ta d o ) d e la p a la b ra «cuerpo» (algo q u e sin
d u d a es u n c o n c e p to a u n q u e n o se p e rc ib a d e ese m o d o : lo

POEMA / PERSONA 15
m etafísico está sie m p re p re se n te a través de esa au sen cia p r e ­
d ic a d a q u e es c o n s titu tiv a de C a e iro , d o n d e lo naifes lo
n a tiv o ) a u n o s « sentidos» (d a d o s y, d ig a m o s, sentidos co m o
tales) constituyentes, c o n sus m ero s datos —los que p r o -c e d e n
de las sensaciones—, d el sujeto p o é tic o [ese «yo» q u e dice —y
q u e se dice—q u e (n o s) h ab la desde el te x to / e n el texto, c o n s­
tru y e n d o el p re -te x to m ism o del 'h a b la n te ’: el 'p o e ta ’ creado
p o r el acto que 'p ro fie re el p o e ta ’, e n el p o e m a ], p a ra te r m i­
n a r el m o v im ien to —a través de la « cosa» d o b le m e n te , o quizá
d esd o b lad a e n ta n to 'cosa’ m u ltip lic ad a e n lo <snatural¿> com o
'cosa c u a lq u ie ra ’ q u e p e rc ib e fre n te a 'c u a lq u ie r cosa’ p e r c i­
b id a—e n la « realidad» [que se p re -sie n te ; la d e -fin ic ió n es, e n
C a e iro , (desde) sie m p re a n te r io r a la experien cia, pese a qu e
ésta, e n su caso, esté p e n sa d a —o se n o s p re se n te , e n su fala­
cia— e n ta n to q u e e x p e rie n c ia a n te c e d e n te ] . T al es el n ú c le o
d u r o de lo q u e P essoa califica co m o e x tre m a e x p e rie n c ia
im p e rs o n a l [ 'im -p e s s o a l’, te n e m o s q u e d e c ir; o, u sa n d o las
p alab ras de su texto: « puse en Caeiro todo mi poder de despersonaliza-
rión» (carta q u e Pessoa le d irig e a su a d m ira d o r Casais M o n ­
te iro e n e n e ro de 1935» pocos m eses antes de su m u e rte acae­
cida e n n o v ie m b re de ese a ñ o )7; ah í se da el esfuerzo siem p re
c o n tra d ic to rio de Pessoa: im p e rso n a lid a d de la 'p e rs o n a ’ —es
d e c ir de la 'm á sc a ra ’ e n /c o n la cual se a d h ie re ju s ta m e n te lo
q u e es p e rso n a l: lo e n -m a sc a ra d o —]: su p r e - te n s ió n de cosa
—d e « co sa n a tu r a l» —: e n lo im p e n sa d o o, a ú n m ás allá, e n lo
im p e n sa b le. D o n d e cuerpo-sentidos-realidad(es) —y así se p re s e n ­
ta n d esd e el te x to : «sou místico, mas só com o c o r p o » (p o e m a
XXX, v. 2 ), <stenho s e n tid o s » (cit. s u p r a ) , « s in to todo o meu
c o rp o deitado na re a lid a d e » (p o e m a IX, v. 13)—, c o n sus esta­
c io n e s m e tafísicas {yo-cosa-natural es el c o n c e p to q u e c o n -

7 V id . e d ició n castellana de esta carta e n F e rn a n d o Pessoa, Obra poética,


vol. I, p p . 2 7 9 - 2 8 9 , ed. de M iguel A ngel V iq u eira, B arcelona, 1981.

16 JUAN BARJA
f o rm a la serie e n su conjunto) c o m - p o n e n el c o n tin u o n o
m e d ia d o [lo ( p r e ) s u - p o n e n , e n ta n to q u e c re e n c ia e x p re ­
sad a/exhibida: p ro cla m ad a ] de u n n u d o estar (se) ahí, radical­
mente. D e la raíz de d ic h o s in - s e n tid o —u n 's in s e n tid o ’
exp reso (so b re el te x to ) d esd e el n ih ilis m o q u e lo f u n d a , y
u n a vez m ás e n ta n to q u e 'p r in c ip io ’: « 0 único sentido íntimo das
coisas/ é elas nao terem sentido íntimo nenhum» (p o e m a V , w . 4 0 ~4L
v id . la v a ria c ió n de este p r in c ip io , r e c o n v e rtid o e n « sentido
oculto» q u e se n ieg a e n el texto, n u ev a m e n te, d o n d e las cosas
m ism as, c o m o tales, v ie n e n a se r « o único sentido», p o e m a
XXXIX, w . 8 - 9 y 17)—b ro ta , cual fru to a u tó n o m o ( in -c o n s -
c ie n te ), el h e c h o 'n a tu r a l’ (?) de su 'c o n sc ie n c ia ’.

La in te r p r e ta c ió n exige el texto y el texto p id e su i n t e r ­


p re ta c ió n ; q u e las cosas n o sean cognoscibles, o q u e n o hayan
de ser in te rp re ta d a s, n ad a dice del texto, de ese texto q u e dice
q u e n o h a n de in te rp re ta rse ; p o r eso el texto exige, (nos) im­
pone, al tie m p o q u e se p o n e co m o te x to , la interpretación que él
mismo es. A sí, la m etafísica del texto c o -rre s p o n d e , de siem p re,
a su(s) co n c ep to (s) desde aquella « v e rd a d » —cu e rp o q u e yace
d e /e n la « r e a lid a d » —q u e n o s revela. E l p o em a se dice de este
m o d o : « sinto todo o meu corpo deitado na realidade, / sei a verdade e sou
feliz» (p o em a IX, w . 13-14). P ero, la v erdad ¿ p u e d e saberse (y
d ec ir que se sabe sin d ec irla)? F re n te a lo q u e se afirm a e n ese
texto se re sp o n d e —e n el texto (e n lo in m e d ia to q u e se c o n tra ­
dice expresam en te, y sin d u d a q u e sie n d o b ie n co n scie n te de
ese c o n tr a - d e c ir c o n stitu tiv o : «não concordo comigo mas absolvo-
m e» , p o e m a XXXI, v. 9 )—: « 0 que lhe ouvistefoi mentira / ea mentira
estáem ti» (p o em a X, w . 14-15)-

POEMA / PERSONA 17
Más acá delpensar —de lo q u e piensa—el poema (el objeto) se concen­
tra refractario en su núcleo: negativo del espacio queforma —que desvela, que
des-trenza^y-que-trama: en su des-pliegue. Más allá del pensar —de quien lo
piensay se piensa al pensarlo, en su pensarse— el poeta (¿el sujeto? ) 8 se
repliega obstinado en su núcleo. Inútilmente, « p o r q u e lo que d o m in a es
p e n s a m ie n to » 9.

8 «Caeiro [...] ¡s a thinker and a verygreat thinker>. Im aginam os q u e, e n tan to


p e n sa d o r, G aeiro estará « enfermo de los ojos>; m ás le valiera n o «pensar
em nacía» (p o em a V , v. I , ya citado, p e ro ta m b ié n X L IX , v. I I , p o em a
ú ltim o de los n u m e ra d o s —c o n carácter de cierre, conclusivo—). P ero
la cita inglesa, d e Pessoa (recogida a p a r tir de R ic h a rd Z e n ith d e n tro
d e l ensayo q u e a c o m p a ñ a su e d ic ió n de los p o e m a s caeirian o s: vid.
A lb e rto C a e iro , Poesia, e d . de F e rn a n d o C a b ra l M a rtin s y R ic h a rd
Z e n ith , L isb o a, 2001, p . 244) » fo m a p a rte esen cial —y b ie n c o n s ­
cien te, lib re d e c u a lq u ie r 'p sico lo g ism o ’—de la (im )p ro p ia estrategia
p essoana.
9 P arm én id es, Periphyseos, fr. l6 , v. 4 *

18 JU A N BARJA
Nota sobre la presente edición

La tra d u c c ió n q u e sigue La utilizad o p re fe re n te m e n te las e d i­


ciones p o rtu g u esa s de la p oesía ca eiria n a de F e rn a n d o C ab ral
M artin s y R ich a rd Z e n ith (Lisboa, 2 0 0 l) y L uís de M o n talv o r
y G a sp a r S im o és (L isb o a, 7I 9 7 9 )- P o r o tr a p a r te , hay q u e
se ñ a la r el a g ra d e c im ie n to q u e d e b e m o s a la a te n ta le c tu ra y
sugerencias —aq u í aplicadas e n su m ayor p a rte — d e tres g r a n ­
des am igos y escritores: M iguel C asado, J o r d i D oce y A n to n io
G a m o n e d a . T res p rim e ro s lecto res de excepción.

J uan a I n a r e jo s y J uan B arja


F er n a n d o

Pessoa
poesía i
LOS POEMAS DE
A l b e r t o C a e iro 1
PREFÁCIO DE RICARDO REIS

A lb e rto G ae iro da Silva n asceu em L isboa a [ ...] d e a b ril em


1889, e nessa cidade faleceu, tu b e rc u lo so , em [...] d e 19 15. A
sua vida, p o ré m d e c o rre u quase to d a n u m a q u in ta do R ibatejo;
só os p rim e iro s dois anos dele, e os ú ltim o s meses, fo ra m pas­
sados n a sua cidade natal. Nessa q u in ta isolada cuya aldeia p r ó ­
x im a consid erav a p o r se n tim e n to co m o sua te rra , escreveu
C a eiro quase to d o s os seus p oem as —os p rim e iro s , a q u e ch a­
m o u « d e cria n ça » , os do livro in titu lad o 0 Guardador de Rebanhos,
os d o livro, o u o q u e r q u e fosse, in c o m p le to , cham ado 0 Pastor
Amoroso, e alguns, os p rim e iro s, dos que eu m esm o, h e rd a n d o -
os p ara publicar, co m to d o s os o u tro s, re u n i sob a designação,
q ue Alvaro de C am pos m e sugeriu bem , de Poemas inconjuntos. O s
ú ltim o s destes p o em as, a p a r tir d aq u e le n u m e ra d o [ ...] , são
p o r é m p r o d u to do ú ltim o p e río d o da vida d o a u to r, de novo
passada em L isboa. J u lg o de m e u dever estabelecer esta breve
d istinção, pois alguns desses ú ltim o s p oem as revelam , n a p e r ­
tu rb a ç ã o da d o e n ç a , u m a n o v id a d e u m p o u c o e s tra n h a ao
carácter geral da obra, assim em n atureza com o em direcção.
A v id a de C a eiro n ão p o d e n a r r a r -s e p o is q u e n ã o h á n ele
d e q u e n a r r a r . S eus p o e m a s são o q u e viveu. E m tu d o m ais
n ã o h ouve in c id e n te s, n e m h á h istó ria . O m esm o breve e p i­
só d io , im p ro fíc u o e a b s u rd o , q u e d e u o rig e m aos [...] p o e ­
m as de 0 Pastor Amoroso, n ã o fo i u m in c id e n te , se n ã o , p o r
assim dizer, u m e sq u ec im en to .
A o b ra de C a e iro r e p re s e n ta a re c o n s tru ç ã o in te g ra l d o
p ag an ism o , n a sua essência absoluta, tal co m o n e m os gregos

22 POESÍA I
PREFÁCIO DE RICARDO REIS

Alberto Caeiro da Silva nació en Lisboa el [...] de abril de 1889,


y en esa ciudad falleció, tuberculoso, en [...] de 1915. Casi toda su
vida, sin embargo, transcurrió en una quinta del Ribatejo; sólo
pasó sus dos primeros años, y los últimos meses finalmente, en
su ciudad natal. En esa quinta aislada, cuya aldea más próxima
consideraba por amor como su tierra, escribió casi todos sus
poemas: los primeros, que llamó «de infancia»; los del libro
titulado El guardador de rebaños; los del libro, o lo que fuese,
incompleto, llamado Elpastor enamorado-, y algunos, los prime­
ros, que yo mismo, heredándolos para publicar juntamente con
todos los demás, reuní bajo la designación, que me sugirió
Alvaro de Campos, de Poemas Inconjuntos. Los últimos de estos
poemas, a partir del número [...], son, sin embargo, producto
del último período de la vida del autor, nuevamente en Lisboa.
Considero mi deber establecer esta breve distinción, pues algu­
nos de estos últimos poemas revelan, en la perturbación de la
enfermedad, una novedad un tanto ajena al general carácter de
la obra, en su naturaleza como en su orientación.
La vida de Caeiro no es posible narrarla, pues nada hay que
narrar en él. Sus poemas son lo que vivió. En todo lo demás no
hubo incidentes, ni hay tampoco historia. El mismo breve epi­
sodio, infructuoso y absurdo, que dio origen a los [...] poemas
de Elpastor enamorado, no fue un incidente sino, por decirlo de
algún modo, un olvido.
La obra de Caeiro representa la reconstrucción integral del
paganismo en su esencia absoluta, tal como ni griegos ni roma-

23 PREFACIO DE RICARDO REIS


n e m os ro m an o s, que viveram n ele e p o r isso o n ão p en saram ,
o p u d e r a m fazer. A o b ra , p o r é m , e o seu p a g a n ism o , n ã o
fo ra m n e m p en sad o s n e m até sen tid o s: f o ra m vividos co m o
q u e q u e r q u e seja q u e é em n ó s m ais p r o f u n d o q u e o s e n ti­
m e n to o u a razão. D iz e r m ais fo ra ex p lica r, o q u e d e n a d a
serve; a firm a r m e n o s fo ra m e n tir. T o d a o b ra fala p o r si, co m
a voz q u e lh e é p r ó p r ia , e n a q u e la lin g u a g e m em q u e é p e n ­
sada; q u e m n ão e n te n d e , n ã o p o d e e n te n d e r , e n ã o h á p o is
q u e ex p lica r-lh e . E co m o fazer c o m p re e n d e r a alguém , espa­
çan d o as palavras n o dizer, u m id io m a q u e n u n c a a p re n d e u .
Ig n o ra n te da vida e quase ig n o ra n te das letras, quase sem
convívio n e m cu ltu ra, fez C a eiro a sua o b ra p o r u m progresso
im p e rc e p tív e l e p r o f u n d o , co m o a q u e le q u e d irig e , através
das co n sc iê n c ia s in c o n s c ie n te s dos h o m e n s , o d esen v o lv i­
m e n to lógico das civilizações. F oi u m p ro g re sso de sensações,
o u , a n te s, de m a n e ira s de as te r, e u m a ev olução ín tim a d e
p e n s a m e n to s d e riv a d o s de tais se nsações p ro g re ssiv a s. P o r
u m a in tu içã o s o b re -h u m a n a , com o aquelas q u e fu n d a m re li­
giões p a ra se m p re , p o r é m a q u e n ã o assenta o títu lo d e r e li­
giosa, p o r isso que, co m o o sol e a chuva, re p u g n a to d a a re li­
gião e to d a a m etafísica, este h o m e m d e sc o b riu o m u n d o sem
p e n s a r n e le , e c r io u u m co n c e ito d o u n iv e rso q u e n ã o c o n ­
té m m eras in te rp re ta ç õ e s.
P ensei, q u a n d o p r im e ir o m e fo i en tre g a d a a em p re sa de
p re fa c ia r estes liv ro s, em faz er u m la rg o e s tu d o , c rític o e
excursivo, so b re a o b ra de C a e iro e a sua n a tu re z a e d e s tin o
fata l. T e n te i c o m a b u n d â n c ia e sc re v ê -lo . P o ré m n ã o p u d e
fazer estu d o alg u m q u e m e satisfizesse. N ão se p o d e c o m e n ­
ta r, p o r q u e se n ão p o d e p en sar, o que é d irec to , co m o o céu
e a te rra ; p o d e tã o -s o m e n te v er-se e se n tir-se .
P e sa -m e q u e a razão m e c o m p ila a d iz e r estas n e n h u m a s
palavras a n te a o b ra d o m e u M estre, de n ã o p o d e r escrever,
d e ú til o u de n ecessário, co m a cabeça, m ais q u e disse, co m o
c o ra ç ã o , n a O d e [ ...] d o L ib ro I m e u , c o m a q u a l c h o ro o

24 POESÍA I
nos, que vivieron en él y por lo mismo nunca lo pensaron, lo
pudieron hacer. Pero la obra, y su paganismo, no fueron pensa­
dos ni siquiera sentidos: ambos fueron vividos con lo que haya
en nosotros más profundo que el sentimiento o que la razón.
Decir más sería ya explicar, lo que de nada sirve; y afirmar
menos sería mentir. Toda obra habla por sí misma, con la voz
que le es propia y en el lenguaje en el que es pensada; quien no lo
entiende, no puede entenderlo, no habiendo pues nada que
explicarle. Es como hacer comprender a alguien, espaciando las
palabras al hablar, un idioma que no aprendió jamás.
Ignorante de la vida e ignorante casi de las letras, casi sin
convivencia ni cultura, Caeiro hizo su obra en un progreso pro­
fundo e imperceptible, como aquel que dirige, por las concien­
cias inconscientes de los hombres, el desarrollo lógico de las
civilizaciones. Fue un progreso de las sensaciones o, más bien,
de las formas de tenerlas, y una íntima evolución de pensamien­
tos derivados de sus sensaciones progresivas. Por una sobrehu­
mana intuición, como las que fundan para siempre religiones, a
pesar de que no le corresponda el título como tal de religiosa,
por aquello de que, como al sol y como a la lluvia, toda religión
y toda metafísica le repugnan, este hombre descubrió el mundo
sin pensar en él y creó un concepto de universo que no contiene
meras interpretaciones.
Cuando se me encomendó el encargo de prologar estos
libros pensé en realizar un amplio estudio, crítico y excursivo,
sobre toda la obra de Caeiro, y su naturaleza y destino fatal. Con
exceso intenté el escribirlo. Sin embargo, no pude hacer estudio
alguno que me satisficiera. No puede comentarse, por cuanto
que no puede ser pensado, aquello que es directo, como el cielo y
la tierra: tan sólo puede verse; y sentirse.
Siento que la razón me impulse a pronunciar tan nulas
palabras respecto de la obra de mi Maestro, no pudiendo escri­
bir con la cabeza nada que sea más útil o necesario de lo que dije
con el corazón en la Oda [...] de mi Libro I, con la que lloro al

25 PREFACIO DE RICARDO REIS


h o m e m q u e fo i p a r a m im , c o m o v irá a se r p a r a m ais q u e
m u ito s, o revelador da R ealidade, ou, co m o ele m esm o disse,
« o A rg o n a u ta das sensações v e rd a d e ira s» — o g ra n d e L ib e r ­
ta d o r , q u e n o s r e s titu iu , c a n ta n d o , ao n a d a lu m in o s o q u e
so m o s; q u e n o s a r r a n c o u à m o r te e à vida, d e ix a n d o - n o s
e n tre as sim ples coisas, q u e n a d a co n h e ce m , em seu d ecu rso ,
d e viver n e m de m o r r e r ; q u e n o s liv ro u d a e s p e ra n ç a e d a
d esesp e ra n ça , p a ra q u e n o s n ã o c o n so le m o s sem razão n e m
n o s e n triste ç a m o s sem causa; convivas co m ele, sem p e n s a r,
d a rea lid ad e objectiva d o U n iv erso .
D o u a o b ra , cu ja ed içã o m e fo i c o m e tid a , ao acaso fatal
d o m u n d o . D o u - a e digo:
A leg rai-v o s, to d o s vós q u e ch o rais n a m a io r das d o en ç as
d a H isto ria!
O G ra n d e Pã renasceu!

E sta o b ra in te ira é dedicad a


p o r desejo d o p r ó p rio a u to r
à m e m o ria de
G esário V erde

26 POESÍA I
hombre que para mí fue, como ha de ser para más que muchos,
el revelador de la Realidad o, como él mismo dijo, «el Argo­
nauta de las sensaciones verdaderas» -e l gran Libertador que
nos restituyó, cantando, a aquella nada luminosa que somos;
que nos arrancó de la muerte y de la vida para dejarnos entre las
simples cosas que no conocen nada, en su transcurso, respecto
de vivir ni de morir; que nos libró de la esperanza y de la deses­
peranza, para que no nos consolemos sin razón ni nos entristez­
camos sin causa; comensales con él, y sin pensarlo, de la reali­
dad objetiva del Universo.
Doy pues la obra, cuya edición me fue encomendada, al
fatal azar del mundo. La doy y digo:
¡Alegraos, vosotros que lloráis en la mayor de las enferme­
dades de la Historia!
¡Renació el Gran Pan!

La obra entera se encuentra dedicada


por el propio deseo del autor
a la memoria de
Cesário Verde

27 PREFACIO DE RICARDO REIS


O GUARDADOR DE REBANHOS
EL GUARDADOR DE REBAÑOS
I

E u n u n c a g u a rd e i re b a n h o s,
m as é co m o se os guardasse.
M in h a alm a é co m o u m p a sto r,
c o n h e ce o v en to e o sol
5 e a n d a p ela m ão das E stações
a seg u ir e a o lh a r.
T o d a a paz da N a tu re z a sem g en te
vem s e n ta r-s e a m e u la d o .
M as eu fico tris te co m o u m p ô r de sol
io p a ra a nossa im ag in ação ,
q u a n d o esfria n o f u n d o da p la n íc ie
e se se n te a n o ite e n tra d a
co m o u m a b o r b o le ta p e la ja n e la .

Mas a m in h a triste za é sossego


15 p o r q u e é n a tu ra l e ju s ta
e é o q u e deve estar n a alm a
q u a n d o já p e n sa q u e existe
e as m ãos c o lh e m flo res sem ela d a r p o r isso.

G o m o u m r u íd o de chocalhos
ao p a ra além da curva da estrada,
os m eus p e n s a m e n to s são c o n te n te s.
Só te n h o p e n a de sa b er q u e eles são c o n te n te s,
p o r q u e , se o n ã o soubesse,
em vez de se re m c o n te n te s e tristes,
25 se ria m alegres e c o n te n te s.

30 POESÍA I

j
I

Yo nunca guardé rebaños,


pero es como si los guardase.
Mi alma es como un pastor,
conoce el viento y el sol
5 y va de la mano de las Estaciones,
andando y mirando.
Toda la paz de la Naturaleza sin gente
viene a sentarse a mi lado.
Mas yo me pongo triste como una puesta de sol
10 va entristeciendo nuestra imaginación,
cuando se enfría al fondo la llanura
y se siente la noche, que atraviesa
como una mariposa la ventana.

Mas mi tristeza es sosiego


15 dado que es justa y natural,
y esto es lo que debe haber en el alma
cuando piensa que existe
y las manos cogen flores sin que ella lo advierta.

Como un ruido de cencerros


20 más allá de la curva del camino,
mis pensamientos se ponen muy contentos.
Sólo me apena saber que así se ponen,
porque, de no saberlo,
en vez de ponerse contentos y tristes,
25 se pondrían alegres y contentos.

31 EL GUARDADOR DE REBAÑOS
P e n s ar in c o m o d a c o m o a n d a r à chuva
q u a n d o o v e n to cresce e p a re c e q u e chove m a is .

N ão te n h o am bições n e m desejos.
S er p o e ta n ã o é u m a am bição m in h a .
E a m in h a m a n e ira de estar so z in h o .

E se desejo às vezes,
p o r im a g in a r, ser c o r d e irin h o
(o u ser o re b a n h o to d o
p a ra a n d a r esp alh ad o p o r to d a a en co sta
a ser m u ita coisa feliz ao m esm o te m p o ),
é só p o r q u e sin to o q u e escrevo ao p ô r d o sol,
o u q u a n d o u m a n u v e m passa a m ão p o r cim a da luz
e c o rre u m silên cio p ela erva fo ra .

Q u a n d o m e se n to a escrever versos
o u , p assean d o p elos c a m in h o s o u p elo s atalh o s,
escrevo versos n u m p a p e l q u e está n o m e u p e n s a m e n to ,
sin to u m cajado nas m ãos
e vejo u m re c o rte de m im
n o cim o d u m o u te iro ,
o lh a n d o p a ra o m e u re b a n h o e v en d o as m in h a s ideias
o u o lh a n d o p ara as m in h a s ideias e v en d o o m e u re b a n h o ,
e s o rrin d o vagam ente com o q u e m n ão c o m p re e n d e o que
e q u e r fin g ir q u e c o m p re e n d e . [se diz

S aú d o to d o s os q u e m e le re m ,
tir a n d o - lh e s o c h a p éu largo
q u a n d o m e vêem à m in h a p o r ta
m al a d ilig ên c ia levanta n o cim o d o o u te iro .
S a ú d o -o s e d e s e jo -lh e s sol,
e chuva, q u a n d o a chuva é p recisa,
e q u e as suas casas te n h a m

POESIA I
Pensar m o le s ta , c om o i r bajo la llu v ia
c u a n d o el v ie n to crece y p arece llo v e r m ás.

No tengo ambiciones ni deseos.


Ser poeta no es ambición mía.
30 Sólo es mi manera de estar solo.

Y si deseo, a veces,
por fantasear, ser un cordero
(o el rebaño entero,
para ir disperso por toda la ladera
35 siendo muchas cosas felices al tiempo),
es sólo porque siento lo que escribo a la puesta del sol,
cuando una nube va pasando su mano por encima de la luz
y corre un gran silencio a través de la hierba.

Cuando me siento para escribir versos


+0 o, paseando por atajos y caminos,
escribo versos en un papel que está en mi pensamiento,
siento un cayado en las manos
y veo mi perfil
sobre un otero,
+5 mirando mi rebaño y viendo mis ideas
o mirando mis ideas y viendo mi rebaño,
y sonriendo vagamente, como quien no comprende lo
y desea fingir que lo comprende. [que dicen

Saludo a todos los que me leyeren,


50 quitándome el sombrero de anchas alas
cuando me ven al lado de mi puerta
apenas aparece la diligencia en lo alto del otero.
Les saludo y les deseo sol,
y lluvia, cuando la lluvia es necesaria,
55 y que sus casas tengan

33 EL GUARDADOR DE REBAÑOS
ao p é d u m a ja n e la a b e rta
u m a ca d eira p re d ile c ta
o n d e se se n te m , le n d o os m e u s versos.
E ao le re m os m e u s versos p e n s e m
q u e sou q u a lq u e r coisa n a tu ra l—
p o r exem p lo , a árvore antiga
à so m b ra da q u al q u a n d o crianças
se sentavam co m u m b a q u e , cansados de b r in c a r,
e lim p av am o s u o r da testa q u e n te
co m a m a n g a d o b ib e risca d o .

POESÍA I
al pie de una ventana abierta
una silla predilecta
en donde sentarse, leyendo mis versos.
Y que al leer mis versos piensen
60 que yo soy cualquier cosa natural:
por ejemplo, el viejo árbol
a cuya sombra, de niños,
se sentaban, cansados de jugar,
limpiándose el sudor de la cabeza ardiente
65 con una manga del mandilón de rayas.

35 EL GUARDADOR DE REBAÑOS
II

O m e u o lh a r é n ítid o co m o u m girassol.
T e n h o o co stu m e de a n d a r pelas estradas
o lh a n d o p a ra a d ire ita e p a ra a esq u erd a,
e de vez em q u a n d o o lh a n d o p a ra tr á s ...
5 E o q u e vejo a cada m o m e n to
é aq u ilo q u e n u n c a an tes eu tin h a visto,
e eu sei d a r p o r isso m u ito b e m ...
S ei te r o p asm o com igo
q u e te m u m a cria n ç a se, ao n ascer,
io rep arasse q u e n asce ra d ev e ras...
S in to - m e n ascid o a cada m o m e n to
p a ra a e te rn a n o v id a d e d o m u n d o ...

C re io n o m u n d o co m o n u m m a lm e q u e r,
p o r q u e o vejo. M as n ã o p e n so n ele
15 p o r q u e p e n s a r é n ã o c o m p re e n d e r...
O m u n d o n ã o se fez p a ra p e n s a rm o s n ele
(p e n sa r é estar d o e n te dos olh o s)
m as p a ra o lh a rm o s p a ra ele e estarm o s de ac o rd o

E u n ão te n h o filosofia: te n h o s e n tid o s ...


8° Se falo n a N a tu re z a n ã o é p o r q u e saiba o q u e ela
m as p o r q u e a a m o , e a m o -a p o r isso,
p o r q u e q u e m am a n u n c a sabe o q u e am a
n e m sabe p o r q u e am a, n e m o q u e é a m a r ...

A m a r é a e te rn a in o c ê n c ia ,
25 e a ú n ic a in o c ê n c ia é n ã o p e n s a r ...

36 POESIA I
II

Mi mirar es tan nítido como un girasol.


Tengo costumbre de andar por los caminos
mirando a la derecha y a la izquierda,
y, de vez en cuando, mirando hacia atrás...
5 Y así, lo que veo a cada instante
es lo que antes nunca había visto,
y que yo sé advertir muy bien...
Sé asombrarme respecto de mí mismo, ,
como lo haría un niño si, al nacer,
10 realmente supiese que ha nacido...
Siento que voy naciendo a cada instante
para la eterna novedad del mundo...

Creo en el mundo como en una margarita,


porque lo veo. Mas no pienso en él
15 porque pensar es no comprender... ¿
No se hizo el mundo para pensar en él
(pensar es estar enfermo de los ojos)
sino para mirarlo y aprobarlo.

No tengo filosofía: yo tengo sentidos...


20 Si hablo de la Naturaleza no es porque sepa lo que es,
sino porque la amo, y la amo por eso,
porque quien ama nunca sabe lo que ama
ni sabe por qué ama, ni lo que es amar...

El amar es inocencia eterna,


25 y la única inocencia es no pensar...

37 EL GUARDADOR DE REBAÑOS
A o e n ta rd e c e r, d e b ru ç a d o p ela ja n e la ,
e sa b en d o de soslaio q u e h á cam pos em fre n te ,
le io até m e a rd e re m os o lhos
o liv ro de C e sário V erde.

Q u e p e n a q u e te n h o dele! E le era u m cam p o n ê s


q u e andava p re so em lib e rd a d e p ela cidade.
M as o m o d o co m o olhava p a ra as casas,
e o m o d o co m o reparava nas ru as,
e a m a n e ira co m o dava pelas pessoas,
é o de q u e m o lh a p a ra árvores,
e de q u em desce os o lhos pela estrada p o r o n d e vai
[an d a n d o
e a n d a a r e p a ra r nas flo re s q u e h á p elo s c a m p o s ...

P o r isso ele tin h a aq u e la g ra n d e tristeza


q u e ele n u n c a disse b e m q u e tin h a ,
m as andava n a cid ad e co m o q u e m n ã o a n d a n o cam p o
e triste co m o esm agar flo res em livros
e p ô r p la n tas em ja r r o s ...

POESÍA i
III

Al atardecer, asomado a la ventana,


y sabiendo de soslayo que hay campos enfrente,
leo, hasta que los ojos me arden,
el libro de Cesário Verde.

5 ¡Qué lástima! El era un campesino


preso en libertad por la ciudad.
Pero su modo de mirar las casas,
y su manera de mirar las calles,
y de irse fijando en las personas
10 es la de quien mira hacia los árboles,
y depone los ojos al camino por el que va avanzando
mientras que va fijándose en las flores que crecen por los
[campos...
Por eso tenía esa gran tristeza
que nunca dijo tener exactamente,
15 pero andaba a través de la ciudad como quien no anda por
triste como aplastar flores en libros [el campo,
y poner las plantas en macetas...

39 EL GUARDADOR DE REBAÑOS
rv

E sta ta rd e a tro v o ad a caiu


pelas encostas d o céu abaixo
co m o u m p e d re g u lh o e n o r m e ...

G o m o alg u ém q u e d u m a ja n e la alta
5 sacode u m a to a lh a de m esa,
e as m igalhas, p o r ca írem to d a s ju n ta s ,
fazem alg u m b a r u lh o ao cair,
a chuva c h io u d o céu
e e n e g rece u os c a m in h o s ...

io Q u a n d o os relâm p ag o s sacu d iam o ar


e abanavam o espaço
co m o u m a g ra n d e cabeça q u e diz q u e n ão ,
n ã o sei p o r q u ê — eu n ão tin h a m e d o —
p u s - m e a rez ar a S an ta B á rb a ra
15 co m o se eu fosse a velha tia de a lg u é m ...

A h! é q u e re z a n d o a S an ta B á rb a ra
eu s e n tia -m e a in d a m ais sim ples
d o q u e ju lg o q u e so u ...
S e n tia -m e fa m ilia r e caseiro
20 e te n d o passado a vida
tr a n q u ila m e n te , co m o o m u ro d o q u in ta l;
te n d o ideias e se n tim e n to s p o r os te r
co m o u m a flo r te m p e rfu m e e c o r . ..

40 POESÍA I
IV

Esta tarde cayó la tormenta


laderas del cielo abajo,
como una enorme roca...

Como quien, desde una alta ventana,


5 sacude un mantel,
y las migas, al ir cayendo todas juntas,
hacen un poco de ruido al caer,
chirrió la lluvia cayendo desde el cielo
y fue ennegreciendo los caminos...

10 Cuando los relámpagos sacudían el aire


y abanicaban el espacio
como una gran cabeza que nos dice no,
no sé por qué -pues no tenía miedo-
me puse a rezar a Santa Bárbara
15 como si fuera una vieja tía...

¡Ah! es que rezando a Santa Bárbara


me sentía más simple todavía
de lo que creo ser...
Me sentía casero y familiar,
20 habiendo pasado la vida
tranquilamente, como el muro del quintal;
teniendo ideas y sentimientos por tenerlos,
como una flor tiene color y perfume...

41 EL GUARDADOR DE REBAÑOS
S en tia -m e alguém que possa acreditar em Santa B á rb a ra...
25 A t , p o d e r c re r em S an ta B árbara!
(Q u e m crê q u e h á S an ta B árb ara,
ju lg a rá q u e ela é g e n te e visível
o u q u e ju lg a rá d ela? )

(Q u e artifício ! Q u e sabem
30 as flo res, as árvores, os re b a n h o s,
de S an ta B á rb a r a ? ... U m ra m o de árvore,
se pensasse, n u n c a p o d ia
c o n s tru ir san to s n e m a n jo s ...
P o d e ria ju lg a r q u e o sol
35 è D eus, e q u e a tro v o ad a
é u m a q u a n tid a d e de g en te
zangada p o r cim a de n ó s ...
A h, co m o os m ais sim ples dos h o m e n s
são d o e n te s e co n fu so s e estú p id o s
40 ao p é da clara sim p lic id ad e
e saúde em existir
das árvores e das p la n tas!)

E eu , p e n s a n d o em tu d o isto,
fiq u e i o u tra vez m e n o s fe liz ...
45 F iq u ei so m b rio e a d o e cid o e s o tu r n o
co m o u m dia em q u e to d o o d ia a tro v o ad a am eaça
e n e m se q u e r de n o ite c h e g a ...

42 POESÍA I
Me sentía alguien que pudiera creer en Santa Bárbara...
25 ¡Ah, poder creer en Santa Bárbara!
(El que cree que existe Santa Bárbara,
¿pensará que es persona y que es visible,
o qué pensará de ella?)

(¡Qué artificio! ¿Qué saben


30 flores, árboles o rebaños
de Santa Bárbara?... Una rama de árbol,
si pensase, no podría nunca
llegar a concebir santos ni ángeles...
Podría creer que el sol
35 es Dios, y que la tormenta
es un grupo de gente
enfadada, encima de nosotros...
¡Ah, cómo los más simples de los hombres
son de enfermos, estúpidos, confusos,
4-0 comparados con la simplicidad
y con la salud del existir
de árboles y plantas!)

Y yo, pensando en eso,


me sentí otra vez menos feliz...
+5 quedé sombrío, lúgubre, enfermizo,
como lo es un día en el que todo el día amenaza tormenta
y no llega siquiera por la noche...

43 EL GUARDADOR DE REBAÑOS
V

H á m etafísica b a sta n te em n ã o p e n s a r em n ad a .

O q u e p e n s o eu d o m u n d o ?
Sei lá o q u e p e n so d o m u n d o !
Se eu adoecesse p e n s a ria nisso.

5 Q u e id e ia te n h o eu das coisas?
Q u e o p in iã o te n h o so b re as causas e os efe ito s?
Q u e te n h o eu m e d ita d o so b re D eus e a alm a
e so b re a criação do m u n d o ?
N ão sei. P ara m im p e n s a r nisso é fe c h a r os o lh o s
10 e n ã o p e n s a r. E c o r r e r as co rtin a s
da m in h a ja n e la (m as ela n ã o te m c o rtin a s).

O m is té rio das coisas? Sei lá o q u e é m istério !


O ú n ic o m is té rio é hav er q u e m p e n se n o m is té rio .
Q u e m está ao sol e fecha os o lhos,
com eça a n ã o sab er o q u e é o sol
e a p e n s a r m u ita s coisas cheias de calor.
Mas ab re os o lh o s e vê o sol,
e já n ã o p o d e p e n s a r em n ad a,
p o r q u e a lu z d o sol vale m ais q u e os p e n s a m e n to s
20 de to d o s os filó so fo s e de to d o s os poetas.
A lu z d o sol n ã o sabe o q u e faz
e p o r isso n ã o e r r a e é c o m u m e b o a.

M etafísica? Q u e m etafísica tê m aquelas árv o res?


A de se re m v erdes e copadas e de te re m ram o s

44 POESÍA I
V

Hay metafísica de sobra en no pensar en nada.

¿Qué pienso yo del mundo?


¡Vete a saber qué pienso del mundo!
Si enfermase, pensaría en eso.

5 ¿Qué idea tengo de las cosas?


¿Qué opinión tengo de las causas y de los efectos?
¿Qué he meditado sobre Dios y el alma
y sobre la creación del mundo?
No lo sé. Para mí pensar en eso es cerrar los ojos
10 y no pensar. Es correr las cortinas
de mi ventana (pero no las tiene).

¿El misterio de las cosas? ¡Vete a saber lo que es misterio!


El misterio único es que haya quien piense en el misterio.
Quien está al sol y cierra los ojos
15 empieza a no saber lo que es el sol
y a pensar muchas cosas llenas de calor.
Pero abre los ojos y ve el sol,
y no puede ya pensar en nada,
porque la luz del sol vale más que los pensamientos
20 de todos los filósofos y todos los poetas.
La luz del sol no sabe lo que hace
y por eso no yerra, y es común y buena.

¿Metafísica? ¿Qué metafísica tienen esos árboles?


La de ser verdes y copudos y tener ramas

45 EL GUARDADOR DE REBAÑOS
e a de d a r f ru to n a sua h o ra , o q u e n ão n o s faz p e n sa r,
a n ó s, q u e n ã o sabem os d a r p o r elas.
Mas q u e m e lh o r m etafísica q u e a delas,
q u e é a de n ã o saber p a ra q u e vivem
n e m saber q u e o n ã o sab em ?

« C o n s titu iç ã o ín tim a das c o is a s » ...


« S e n tid o ín tim o d o u n iv e r s o » ...
T u d o isto é falso, tu d o isto n ão q u e r d iz er n ad a .
E in c rív el q u e se possa p e n s a r em coisas dessas.
E co m o p e n s a r em razões e fins
q u an d o o com eço da m a n h ã está raia n d o , e pelos lados das
[árvores
u m vago o u r o lu stro so vai p e r d e n d o a escu rid ão .

P en sa r n o s e n tid o ín tim o das coisas


é ac resc en ta d o , é co m o p e n s a r n a saúde
o u levar u m co p o à água das fo n te s.

O ú n ic o s e n tid o ín tim o das coisas


é elas n ã o te re m se n tid o ín tim o n e n h u m .

N ão a c re d ito em D eu s p o r q u e n u n c a o vi.
Se ele quisesse q u e eu acreditasse n ele,
sem dúvida q u e v iria falar com igo
e e n tra ria p e la m in h a p o r ta d e n tro
d iz e n d o -m e , Aqui estou!

(Isto é talvez rid íc u lo aos ouvidos


de q u em , p o r n ã o saber o q u e é o lh a r p a ra as coisas,
n ão c o m p re e n d e q u e m fala delas
co m o m o d o de falar q u e r e p a ra r p a ra elas e n s in a .)

M as se D eus é as flo res e as árvores


e os m o n te s e sol e o lu a r,

POESÍA I
25 y la de dar fruto en su momento, cosa que no hace que
nosotros, que no sabemos percibirlos. [pensemos,
Mas, ¿qué mejor que su metafísica,
la de no saber para qué viven
ni tampoco saber que no lo saben?

30 «Constitución íntima de las cosas»...


«Sentido íntimo del universo»...
Todo eso es falso, no quiere decir nada.
Es increíble que se pueda pensar en cosas de éstas.
Como pensar en fines y razones
35 cuando el comienzo de la mañana está rayando, y sobre el
[costado de los árboles
un vago oro lustroso va perdiendo su oscuridad.

Pensar en el sentido íntimo de las cosas


es demasiado, es como pensar en la salud
o llevar un vaso al agua de las fuentes.

40 El único sentido íntimo de las cosas


es que ellas no tienen sentido íntimo alguno.

No creo en Dios, pues no lo vi jamás.


Si él quisiese que yo creyera en él,
sin duda que vendría a hablar conmigo
45 y entraría por mi puerta adentro
diciéndome, ¡Aquí estoy!

(Esto puede que suene ridículo al oído


de quien, por no saber lo que es mirar las cosas,
no comprende a quien habla de ellas
50 con el modo de hablar que enseña el advertirlas.)

Pero si Dios es las flores y los árboles


y los montes y el brillo de la luna y el sol,

47 EL GUARDADOR DE REBAÑOS
e n tã o a c re d ito n ele,
e n tã o a c re d ito n e le a to d a a h o ra ,
e a m in h a vida é to d a u m a oração e u m a m issa,
e u m a c o m u n h ã o co m os o lh o s e p elo s ouvid o s.

M as se D eus é as árvores e as flores


e os m o n te s e o lu a r e o sol,
p a ra q u e lh e ch a m o e u D e u s?
C h a m o - lh e flo res e árvores e m o n te s e sol e lu a r;
p o rq u e , se ele se fez, p a ra eu o ver,
sol e lu a r e flo re s e árvores e m o n te s,
se ele m e aparece co m o se n d o árvores e m o n te s
e lu a r e sol e flores,
é q u e ele q u e r q u e eu o co n h e ça
co m o árvores e m o n te s e flo res e lu a r e sol.

E p o r isso eu o b e d e ç o -lh e ,
(q u e m ais sei eu de D eu s q u e D eu s de si p r ó p r io ? ) ,
o b e d e ç o -lh e a viver, e s p o n ta n e a m e n te ,
co m o q u e m a b re os o lh o s e vê,
e c h a m o -lh e lu a r e sol e flores e árvores e m o n te s,
e a m o -o sem p e n s a r n ele,
e p e n s o -o v e n d o e o u v in d o ,
e a n d o co m ele a to d a a h o ra .

POESÍA I
entonces creo en él,
entonces creo en él a todas horas,
55 y mi vida entera es una oración y una misa,
comunión con los ojos y por los oídos.

Pero si Dios es los árboles y las flores


y los montes y el brillo de la luna y el sol,
¿por qué lo llamo Dios?
60 Lo llamo flores y árboles y montes, brillo de luna y sol;
porque si él se hizo, para que yo lo viera,
brillo de luna y sol, flores, árboles, montes,
si me aparece como siendo montes, árboles,
y brillo de la luna, y sol y flores,
65 es porque quiere que lo conozca yo
como árboles y montes, como flores, brillo de luna y sol.

Y por eso mismo le obedezco,


Qqué más sé yo de Dios que Dios de sí?},
le obedezco viviendo, espontáneamente,
70 como alguien que abre los ojos y ve,
y le llamo brillo de luna y sol, árboles, flores, montes,
y lo amo sin pensar en él,
y lo pienso en cuanto oigo y veo
y asi voy con él a todas horas.

49 EL GUARDADOR DE REBAÑOS
P en sa r em D eu s é d e so b e d e c e r a D eus,
p o r q u e D eu s quis q u e o n ão conh ecêssem o s,
p o r isso se n o s n ã o m o s tro u ...

S ejam os sim p les e calm os,


co m o os regatos e as árvores,
e D eu s a m a r - n o s - á faz en d o de n ó s
n ó s co m o as árvores são árvores
e co m o os regatos são regatos,
e d a r - n o s - á v e rd o r n a sua p rim a v era,
e u m r io a o n d e i r te r q u a n d o a c a b e m o s...
e n ã o n o s d ará m ais n ad a , p o r q u e d a r - n o s m ais seria
[ tir a r - n o s m ais.

POESÍA i
VI

Pensar en Dios es desobedecer a Dios,


porque Dios quiso que no lo conociésemos,
y por eso no se nos mostró...

Seamos simples y calmos,


5 como los arroyos y los árboles,
y Dios nos amará, haciendo de nosotros
nosotros, como los árboles son árboles
y como los arroyos son arroyos,
y ha de darnos verdor en su primavera,
10 y un río donde ir cuando acabemos...
Y no ha de darnos más, pues darnos más aún vendría a ser
[quitarnos más.

51 EL GUARDADOR DE REBAÑOS
V II

D a m in h a ald eia vejo q u a n to da te rr a se p o d e v er do


[u n iv e rso ...
P o r isso a m in h a ald eia é tão g ra n d e co m o o u tr a te rra
p o r q u e eu sou d o ta m a n h o do q u e vejo [q u alq u er,
e n ã o d o ta m a n h o da m in h a a ltu r a ...

5 N as cidades a vida é m ais p e q u e n a


q u e a q u i n a m in h a casa n o cim o deste o u te ir o .
N a cidade as g ran d e s casas fech am a vista à chave,
esc o n d e m o h o r iz o n te , e m p u rr a m o n o sso o lh a r p a ra
[longe de to d o o céu,
to r n a m - n o s p e q u e n o s p o rq u e n o s tira m o q u e os nossos
[olhos n o s p o d e m d ar,
io e to r n a m - n o s p o b res p o rq u e a nossa ú n ic a riq u ez a é ver.

52 POESIA I
YII

Desde mi aldea veo cuanto desde la tierra es posible ver del


[universo...
Por eso mi aldea es tan grande como otra tierra cualquiera,
porque soy del tamaño de lo que veo,
y no del de mi altura...

5 En las ciudades la vida es más pequeña


que aquí, en mi casa, en lo alto de este otero.
En la ciudad las grandes casas cierran la vista con llave,
esconden el horizonte, empujan nuestro mirar lejos del cielo,
y nos vuelven pequeños, pues nos quitan lo que nuestros ojos
[pueden darnos,
10 y nos vuelven pobres, porque ver es nuestra única riqueza.

53 EL GUARDADOR DE REBAÑOS
V III

Num meio-dia de fim de primavera


tive um sonho como uma fotografia.
Vi Jesus Cristo descer à terra.

Veio pela encosta de um monte


5 tornado outra vez menino,
a correr e a rolar-se pela erva
e a arrancar flores para as deitar fora
e a rir de modo a ouvir-se de longe.

Tinha fugido do céu.


io Era nosso de mais para fingir
de segunda pessoa da trindade.
No céu era tudo falso, tudo em desacordo
com flores e árvores e pedras.
No céu tinha que estar sempre sério
15 e de vez em quando de se tornar outra vez homem
e subir para a cruz, e estar sempre a morrer
com uma coroa toda à roda de espinhos
e os pés espetados por um prego com cabeça,
e até com um trapo à roda da cintura
20 como os pretos nas ilustrações.
Nem sequer o deixavam ter pai e mãe
como as outras crianças.
O seu pai era duas pessoas —
um velho chamado José, que era carpinteiro,
25 e que não era pai dele;
e o outro pai era uma pomba estúpida,

54 POESÍA I
YIII

Un mediodía de fin de primavera


tuve un sueño como una fotografía.
Yi a Jesucristo descender a la tierra.

Vino por la ladera de un monte


5 convertido otra vez en niño,
. corriendo y revolcándose por la hierba
y arrancando flores sólo por tirarlas
y riendo de modo que de lejos se oía.

Había huido del cielo.


10 Era demasiado nuestro para hacer
de segunda persona de la trinidad.
En el cielo todo era falso, todo discordante
con las flores, los árboles, las piedras.
En el cielo tenía que estar siempre serio
15 y de vez en cuando hacerse otra vez hombre
Y subir a la cruz, y estar siempre muriendo
con una corona trenzada de espinas
y los pies traspasados por un clavo de gruesa cabeza,
y hasta un trapo en torno a la cintura
20 como los negros de las ilustraciones.
Ni aun le dejaban tener padre y madre
como los demás niños.
Su padre era dos personas:
un viejo llamado José, que era carpintero,
25 y que no era su padre;
y el otro padre era una paloma estúpida,

55 EL GUARDADOR DE REBAÑOS
a ú n ic a p o m b a feia do m u n d o
p o r q u e n ão e ra d o m u n d o n e m era p o m b a .
E a sua m ãe n ão tin h a am ad o an tes de o te r.
3° N ão era m u lh e r: e ra u rn a m ala
em q u e ele tin h a v in d o d o céu.
E q u e ria m q u e ele, q u e só nascera da m ãe,
e n u n c a tivera p a i p a ra a m a r co m re sp e ito ,
pregasse a b o n d a d e e a justiça!

35 U m d ia q u e D eu s estava a d o r m ir
e o E sp irito S an to andava a v oar,
ele fo i à caixa dos m ilagres e r o u b o u três.
C o m o p r im e ir o fez q u e n in g u é m soubesse q u e ele tin h a
[fu g id o .
C o m o segundo crio u -se etern am e n te h u m a n o e m e n in o .
40 C o m o te rc e iro c rio u u m C risto e te rn a m e n te n a cru z
e d e ix o u -o p re g a d o n a cruz q u e h á n o céu
e serve de m o d e lo às o u tras.
D ep o is fu g iu p a ra o sol
e desceu p elo p r im e ir o ra io q u e a p a n h o u .

45 H o je vive n a m in h a ald eia co m ig o .


E u m a cria n ç a b o n ita de riso e n a tu ra l.
L im p a o n a riz ao b raç o d ire ito ,
c h a p in h a nas poças de água,
co lh e as flo res e gosta delas e esqu ece-as.
5° A tira p ed ra s aos b u rro s ,
ro u b a a fru ta dos p o m a re s
e foge a c h o ra r e a g rita r dos cães.
E, p o r q u e sabe q u e elas n ão gostam
e q u e to d a a g e n te acha graça,
55 c o rre atrás das rap arig as
q u e vão em ra n c h o s pelas estradas
co m as b ilh a s às cabeças
e le v a n ta -lh e s as saias.

56 poesía 1
la única paloma fea en todo el mundo,
porque no era del mundo ni era paloma.
Y su madre no había amado antes de tenerlo.
No era mujer: era una maleta
en la que él había venido del cielo.
¡Y querían que él, que sólo había nacido de la madre
y nunca tuvo un padre al que amar con respeto,
predicase la bondad y la justicia!

Un día que Dios estaba durmiendo


y el Espíritu Santo andaba volando,
fue a la caja de los milagros y robó tres.
Con el primero hizo que nadie supiese que había huido.
Con el segundo se creó eternamente humano y niño.
Con el tercero creó un Cristo eternamente en cruz
y lo dejó clavado sobre la cruz del cielo,
que sirve de modelo a las demás.
Después huyó hacia el sol,
bajando por el primer rayo que cogió.

Hoy está viviendo en mi aldea conmigo.


Es un niño de risa linda y natural.
Se limpia la nariz con el brazo derecho,
chapotea en los charcos,
coge flores, le gustan, las olvida.
Tira piedras a los burros,
roba fruta en los huertos
y huye de los perros llorando y gritando.
Y, como sabe que a ellas no les gusta
y que le hace gracia a todo el mundo,
corre tras las muchachas
que hacen, yendo juntas, el camino
con los cántaros sobre las cabezas,
y les sube las faldas.

EL GUARDADOR DE REBAÑOS
A mim ensinou-m e tudo.
6o Ensinou-me a olhar para as coisas.
Aponta-me todas as coisas que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas
quando a gente as tem na mão
e olha devagar para elas.

65 Diz-me muito mal de Deus.


Diz que ele é um velho estúpido e doente,
sempre a escarrar no chão
e a dizer indecências.
A Virgem Maria leva as tardes da eternidade a fazer meia.
7° E o Espírito Santo coça-se com o bico
e empoleira-se nas cadeiras e suja-as.
Tudo no céu é estúpido como a Igreja Católica.
Diz-me que Deus não percebe nada
das coisas que criou —
75 «se é que ele as criou, do que duvido» —.
«Ele diz, por exemplo, que os seres cantam a sua
[glória,
mas os seres não cantam nada.
Se cantassem seriam cantores.
Os seres existem e mais nada,
80 e por isso se chamam seres».

E depois, cansado de dizer mal de Deus,


o Menino Jesus adormece nos meus braços
e eu levo-o ao colo para casa.

Ele mora comigo na minha casa a meio do outeiro.


85 Ele é a Eterna Criança, o deus que faltava.
Ele é o humano que é natural,
ele é o divino que sorri e que brinca.

58 POESÍA I
A mí me enseñó todo.
Me enseñó a mirar hacia las cosas.
Me dice las cosas que hay en las flores.
Me muestra cómo son de bonitas las piedras
cuando las tenemos en la mano
y las miramos con detenimiento.

Me habla muy mal de Dios.


Dice que es un viejo enfermo y estúpido,
escupiendo siempre sobre el suelo
y diciendo indecencias.
La Virgen María se pasa las tardes de la eternidad haciendo
[calceta.
Y el Espíritu Santo se rasca con el pico,
se encarama en las sillas y se lo hace en ellas.
Todo en el cielo es estúpido como la Iglesia Católica.
Y me dice que Dios no entiende nada
respecto de las cosas que creó
—«si es que el las creó, cosa que dudo»—.
«Él, por ejemplo, dice que los seres están cantando su gloria.
Pero los seres nada cantan,
porque si cantasen serían cantores.
Los seres sólo existen, nada más;
y es por eso que se llaman seres».

Luego, cansado de hablar mal de Dios,


el Niño Jesús se duerme entre mis brazos
y yo lo llevo en mi regazo a casa.

Vive en casa conmigo a mitad del otero.


Él es el Niño Eterno, el dios que faltaba.
Él es lo humano que es natural,
él es lo divino que sonríe y juega.

EL GUARDADOR DE REBAÑOS
E p o r isso é q u e e u sei c o m to d a a c e rte za
q u e e le é o M e n i n o Jesus v e r d a d e ir o .

E a cria n ça tã o h u m a n a q u e é d ivina
é esta m in h a q u o tid ia n a vida de p o eta,'
e é p o rq u e ele an d a sem pre com igo que eu sou p o eta sem pre,
e q u e o m e u m ín im o o lh a r
m e e n c h e de sensação,
e o m ais p e q u e n o so m , seja do q u e fo r,
p are ce fala r co m ig o .

A C ria n ç a N ova q u e h a b ita o n d e vivo


d á - m e u m a m ão a m im
e a o u tra a tu d o q u e existe
e assim vam os os trê s p e lo c a m in h o q u e h o u v er,
sa lta n d o e c a n ta n d o e r in d o
e g o zan d o o n o sso segredo co m u m
q u e é o de sa b er p o r to d a a p a rte
q u e n ã o h á m is té rio n o m u n d o
e q u e tu d o vale a p e n a .

A C ria n ç a E te rn a a c o m p a n h a -m e se m p re .
A direcção d o m e u o lh a r é o seu d e d o a p o n ta n d o .
O m e u ou v id o a te n to a le g re m e n te a to d o s os sons
são as cócegas q u e ele m e faz, b rin c a n d o , nas o relh as.

D a m o - n o s tão b e m u m co m o o u tro
n a c o m p a n h ia de tu d o
q u e n u n c a p en sam o s u m n o o u tr o ,
m as vivem os ju n to s e dois
co m u m a c o rd o ín tim o
co m o a m ão d ire ita e a esq u erd a.

A o a n o ite c e r b rin c a m o s as cinco p e d rin h a s


n o d e g ra u da p o r ta de casa,

POESÍA I
Y p o r eso sé con c o m p le ta c e rte za
que él es el N i ñ o Jesús v e rd a d e ro .

90 Y el niño tan humano que es divino


es mi cotidiana vida de poeta,
y al ir siempre él conmigo soy yo poeta siempre,
y por eso mi más breve mirada
me consigue llenar de sensación,
95 y el mínimo sonido, sea el que fuere,
parece que me habla.

El Nuevo Niño que habita donde vivo


me da a mí una mano
y la otra a todo cuanto existe,
100 y así vamos los tres por el camino que haya,
saltando, y cantando, y riendo,
y gozando nuestro común secreto
que consiste en saber por todas partes
que no hay misterio en el mundo
105 y todo vale la pena.

El Niño Eterno me acompaña siempre,


y la dirección de mi mirada es su dedo que apunta.
Mi oído atento alegremente a todos los sonidos
son las cosquillas que me hace, jugando, en las orejas.

lio Nos llevamos tan bien uno con otro


en compañía de todo
que jamás pensamos uno en otro,
aunque vivimos reunidos y dos,
en un íntimo acuerdo
115 como la mano derecha con la izquierda.

Al anochecer jugamos a las tabas


en el dintel de la puerta de la casa,

61 EL GUARDADOR DE REBAÑOS
graves co m o co n v ém a u m d eus e a u m p o e ta ,
e co m o se cada p e d ra
120 fosse to d o u m u n iv e rso
e fosse p o r isso u m g ra n d e p e rig o p a ra ela
d eix á-la ca ir n o chão.

D ep o is eu c o n to -lh e h istó ria s das coisas só dos h o m e n s


e ele s o rri, p o r q u e tu d o é in crív el.
125 R i dos reis e dos q u e n ã o são reis,
e te m p e n a de o u v ir falar das g u erras,
e dos co m ércio s, e dos navios
q u e ficam fu m o n o a r dos a lto s-m a re s.
P o rq u e ele sabe q u e tu d o isso falta àq u ela v erd ad e
13° q u e u m a f lo r te m ao flo re sc er
e q u e a n d a co m a lu z d o sol
a v a ria r os m o n te s e os vales
e a fazer d o e r aos o lh o s os m u ro s caiados.

D ep o is ele a d o rm e c e e eu d e ito - o .
!35 L ev o -o ao colo p a ra d e n tro de casa
e d e ito - o , d e s p in d o - o le n ta m e n te
e co m o se g u in d o u m r itu a l m u ito lim p o
e to d o m a te rn o até ele estar n u .

E le d o rm e d e n tr o da m in h a alm a
M-o e às vezes a c o rd a de n o ite
e b rin c a co m os m eus so n h o s.
V ira u n s de p e rn a s p a ra o ar,
p õ e u n s em cim a dos o u tro s
e b a te as palm as so z in h o
!45 s o r rin d o p a ra o m e u so n o .

Q u a n d o eu m o r r e r , filh in h o ,

62 P O E S IA I
graves como conviene a un dios y aun poeta,
como si cada piedra
fuese un universo
y por eso fuese un peligro para ella
dejarla caer al suelo.

Después le cuento historias de las cosas propias de los


y él sonríe, porque todo es increíble. [hombres
Se ríe de los reyes y de los que no son reyes,
y le da mucha pena oír hablar de guerras,
y de los comercios, y los barcos
que se esfuman en el aire de alta mar.
Pues sabe que eso falta a la verdad
que posee una flor al florecer,
que es la que anda con la luz del sol
alterando los montes y los valles
y haciendo que los muros encalados nos lastimen los ojos.

Y después se duerme y yo lo acuesto.


Lo llevo en brazos dentro de la casa
y lo acuesto, desvistiéndolo despacio,
como quien sigue un ritual muy limpio
y del todo materno, hasta que está desnudo.

El se duerme dentro de mi alma


y a veces despierta por la noche
y juega con mis sueños.
A algunos los pone boca arriba,
coloca unos encima de los otros
y bate palmas solo
sonriendo a mi sueño.

Hijo, cuando yo muera,

EL GUARDADOR DE REBAÑOS
seja eu a criança, o mais pequeno.
Pega-me tu ao colo
e leva-me para dentro da tua casa.
Despe o meu ser cansado e humano
e deita-me na tua cama.
E conta-me histórias, caso eu acorde,
para eu tornar a adormecer.
E dá-me sonhos teus para eu brincar
até que nasça qualquer dia
que tu sabes qual é.

Esta é a história do meu Menino Jesus.


Por que razão que se perceba
não há-de ser ela mais verdadeira
que tudo quanto os filósofos pensam
e tudo quanto as religiões ensinam?

POESÍA I
haz que yo sea el niño, el más pequeño.
Cógeme tú en tus brazos
y llévame para dentro de tu casa.
150 Desnuda mi ser, cansado y humano,
y échame en tu cama.
Y cuéntame historias, si es que me despierto,
para que me vuelva a adormecer.
Y dame sueños tuyos para que así yo juegue
155 hasta que luego nazca, cualquier día,
que tú sabes cuál es.

Esta es la historia de mi Niño Jesús.


¿Por qué razón que se entienda
no ha de resultar más verdadera
160 que todo cuanto piensan los filósofos
y las religiones nos enseñan?

65 EL GUARDADOR DE REBAÑOS
IX

S o u u m g u a rd a d o r de re b a n h o s.
O re b a n h o é os m eus p e n s a m e n to s
e os m eus p e n s a m e n to s são to d o s sensações.
P enso co m os o lh o s e co m os ouvidos
5 e co m as m ãos e os pés
e co m o n a riz e a boca.

P en sa r u m a flo r é v ê -la e c h e irá -la


e c o m e r u m f ru to é s a b e r-lh e o se n tid o .

P o r isso q u a n d o n u m d ia de calo r
io m e sin to tris te de g o z á -lo ta n to ,
e m e d e ito ao c o m p rid o n a erva,
e fech o os o lh o s q u e n te s,
s in to to d o o m e u c o rp o d e ita d o n a rea lid ad e ,
sei a v erd ad e e so u feliz.

66 POESÍA I
IX

Soy un guardador de rebaños.


El rebaño es mis pensamientos,
mis pensamientos son todos sensaciones.
Pienso con los oídos y los ojos,
5 con las manos y los pies,
y con la nariz, y con la boca.

Pensar una flor es verla y olería


y comer una fruta es probar su sentido.

Por eso cuando, un día de calor,


10 me siento triste de gozarlo tanto,
y me echo cuan largo soy sobre la hierba,
y cierro los ojos calientes,
siento todo mi cuerpo echado en lo real,
conozco la verdad y soy feliz.

67 EL GUARDADOR DE REBAÑOS
X

«O lá, guardador de rebanhos,


aí à beira da estrada,
que te diz o vento que passa?»

«Q ue é vento, e que passa,


5 e q u e já p asso u antes,
e q u e passará d ep o is.
E a ti o que te diz?»

«Muita coisa mais do que isso.


Fala-me de muitas outras coisas
io De memórias e de saudades
e de coisas que nunca foram.»

«Nunca ouviste passar o vento.


O vento só fala do vento.
O que lhe ouviste foi mentira,
15 e a mentira está em ti.»

68 POESÍA I
X

«Hola, guardador de rebaños,


ahí al borde del camino,
¿qué te dice el viento mientras pasa?»

«Que es viento, y que pasa,


5 y que ya pasó antes
y pasará después.
Y a ti, ¿qué te dice?»

«Mucho más que eso,


pues me habla de muchas otras cosas.
10 Memorias, nostalgias,
cosas que nunca han sido».

«Nunca oíste el pasar del viento.


El viento solamente habla del viento.
Lo que le oíste fue mentira,
15 y la mentira está en ti».

69 EL GUARDADOR DE REBAÑOS
A q u ela s e n h o ra te m u m p ia n o
q u e é agradável m as n ã o é o c o r r e r dos rio s
n e m o m u r m ú r io q u e as árvores fa z e m ...

P a ra q u e é p rec iso te r u m p ia n o ?
O m e lh o r é te r ouvidos
e a m a r a N atu reza.

POESÍA I
XI

Aquella señora tiene un piano,


que resulta agradable; mas no es el correr propio de los ríos,
ni tampoco el murmullo de los árboles.

¿Para qué hay que tener un piano?


5 Lo mejor será tener oídos
y amar tan sólo a la Naturaleza.

71 EL GUARDADOR DE REBAÑOS
X II

Os pastores de Virgílio tocavam avenas e outras coisas


e cantavam de amor literariamente.
(Dizem — eu nunca li Virgilio.
Para que o havia eu de 1er?).

5 Mas os pastores de Virgílio, coitados, são Virgílio,


e a Natureza é bela e antiga.

72 POESÍA I
X II

Los pastores de Virgilio tocaban sus zamponas y otras cosas


y cantaban de amor de modo literario.
(Nos dicen: Yo nunca leí a Virgilio.
¿Para qué lo habría de leer?).

5 Pero los pastores de Virgilio, los pobres, son Virgilio,


y la Naturaleza es antigua y bella.

73 EL GUARDADOR DE REBAÑOS
X III

Leve, leve, m u ito leve,


u m v en to m u ito leve passa,
e vai-se, se m p re m u ito leve.
E eu n ã o sei o q u e p en so
5 n e m p r o c u r o sa b ê -lo .

74 POESÍA I
X III

Leve, leve, muy leve,


un viento leve pasa,
se va, siempre muy leve.
Y yo no sé qué pienso
5 ni pretendo saberlo.

75 ÉL GUARDADOR DE REBAÑOS
X IV

Não me importo com as rimas. Raras vezes


há duas árvores iguais, uma ao lado da outra.
Penso e escrevo como as flores têm cor
mas com menos perfeição no meu modo de exprimir-me
5 porque me falta a simplicidade divina
de ser todo só o meu exterior.

Olho e comovo-me,
comovo-me como a água corre quando o chão é inclinado,
e a minha poesia é natural como o levantar-se vento...

76 POESÍA I
X IV

No me importan las rimas. Raras veces


hay dos árboles iguales, uno al lado del otro.
Pienso y escribo como tienen su color las flores,
pero lo hago con menos perfección en mi propia manera de
5 porque me falta la simplicidad divina [expresarme
de ser todo, tan sólo, mi exterior.

Y miro y me conmuevo;
me conmuevo como corre el agua si el suelo está inclinado,
y mi poesía es natural, como es el viento cuando se levanta..

77 ÉL GUARDADOR DE REBAÑOS
XV

As q u a tro canções q u e seguem


se p a ra m -se de tu d o o q u e eu p e n so ,
m e n te m a tu d o o q u e eu sin to ,
são d o c o n trá rio d o q u e eu s o u ...

5 E screvi-as e sta n d o d o e n te
e p o r isso elas são n a tu ra is
e c o n c o rd a m co m aq u ilo q u e sin to ,
c o n c o rd a m co m aq u ilo co m q u e n ã o c o n c o rd a m ...
E sta n d o d o e n te devo p e n s a r o c o n trá rio
10 d o q u e p e n so q u a n d o esto u são
(sen ão n ão estaria d o e n te ),
devo s e n tir o c o n trá rio d o q u e sin to
q u a n d o so u eu n a saúde,
devo m e n tir à m in h a n a tu re z a
i5 de c ria tu ra q u e se n te de ce rta m a n e ir a ...
D evo ser to d o d o e n te — id eias e tu d o .
Q u a n d o estou d o en te, n ão estou d o e n te p ara o u tra coisa.

P o r isso essas canções q u e m e re n e g a m


n ã o são capazes de m e re n e g a r
8° e são a paisagem da m in h a alm a de n o ite ,
a m e sm a ao c o n t r á r i o ...

78 POESÍA I
XV

Las cuatro canciones que siguen


se separan de todo lo que pienso,
mienten a todo lo que siento,
son lo contrario de lo que yo soy...

5 Las escribí estando enfermo


y por eso son ellas naturales;
concuerdan con lo que siento,
concuerdan con lo que no concuerdan...
Estando enfermo debo pensar lo contrario
10 de aquello que pienso estando sano
(pues si no, no estaría enfermo);
debo sentir lo contrario de lo que siento
en cuanto soy yo en la salud;
debo mentir a mi naturaleza
15 de criatura que siente de cierta manera...
Debo ser enfermo por entero -ideas y todo.
Cuando estoy enfermo, no estoy enfermo para otra cosa.

Por eso, esas canciones que me desmienten


no tienen capacidad de desmentirme;
20 ellas son el paisaje de mi alma de noche,
la misma al revés...

79 EL GUARDADOR DE REBAÑOS
XVI

Quem me dera que a minha vida fosse um carro de bois


que vem a chiar, manhaninha cedo, pela estrada,
e que para de onde vem volta depois,
quase à noitinha pela mesma estrada.

5 Eu não tinha que ter esperanças —tinha só que ter rodas...


A minha velhice não tinha rugas nem cabelos brancos...
Quando eu já não servia, tiravam-me as rodas
e eu ficava virado e partido no fundo de um barranco.

Ou então faziam de mim qualquer coisa diferente


io e eu não sabia nada do que de mim faziam...
Mas eu não sou um carro, sou diferente,
mas em que sou realmente diferente nunca me diriam.

80 POESÍA I
XVI

Ojalá que mi vida fuese un carro de bueyes


chirriando, de mañana, a lo largo del camino,
que allá de donde viene finalmente se vuelve,
siendo casi de noche, por el mismo camino.

5 Yo no tendría que tener esperanzas —sólo debería tener


[ruedas...
Mi vejez no tendría arrugas ni cabello cano...
Cuando ya no sirviera, me quitarían las ruedas,
para permanecer volcado y roto, al final de un barranco.

O si no, harían de mí algo distinto,


10 y de lo que de mí hicieran yo nada sabría...
Pero no soy un carro, soy distinto,
pero en qué soy distinto realmente nunca me lo dirían.

81 EL GUARDADOR DE REBAÑOS
X V II

A SALADA

No meu prato que mistura de Natureza!


As minhas irmãs as plantas,
as companheiras das fontes, as santas
a quem ninguém reza...

5 E cortam-nas e vêm à nossa mesa


e nos hotéis os hospedes ruidosos,
que chegam com correias tendo mantas,
pedem «salada», descuidosos...,

sem pensar que exigem à Terra-Mãe


io a sua frescura e os seus filhos primeiros,
as primeiras verdes palavras que ela tem,
as primeiras coisas vivas e irisantes
que Noé viu
quando as águas desceram e o cimo dos montes
15 verde e alagado surgiu
e no ar por onde a pomba apareceu
o arco-íris se esbateu...

82 POESÍA I
X V II

L a en sa la d a

En mi plato, ¡qué mezcla de Naturaleza!


Mis hermanas las plantas,
compañeras de las fuentes, esas santas
a las que nadie reza...

5 Y las cortan y vienen a la mesa,


donde, ruidosos, los clientes
que llegan a los hoteles con sus mantas,
piden «ensalada», inconscientes...,

sin pensar que exigen a la Madre Tierra


10 su frescura y sus primeros hijos,
las primeras verdes palabras que posee,
las primeras cosas vivas e irisadas
que Noé vio
en cuanto las aguas descendieron y cuando la cumbre
15 verde y encharcada resurgió [de los montes
y en el aire en que la paloma apareció
el arco iris se difuminó...

83 EL GUARDADOR DE REBAÑOS
X V III

Quem me dera que eu fosse o pó da estrada


e que os pés dos pobres me estivessem pisando...

Quem me dera que eu fosse os rios que correm


e que as lavadeiras estivessem à minha beira...

5 Quem me dera que eu fosse os choupos à margem do rio


e tivesse só o céu por cima e a água por baixo...

Quem me dera que eu fosse o burro do moleiro


e que ele me batesse e me estimasse...

Antes isso que ser o que atravessa a vida


io olhando para trás de si e tendo pena...

84 POESÍA I
X V III

Ojalá que yo fuese el polvo del camino


y los pies de los pobres me estuvieran pisando...

Ojalá que yo fuese los ríos que corren


y hubiese lavanderas a mi orilla...

5 Ojalá fuese chopos en la margen del río


y que sólo tuviera el cielo encima, y por debajo el agua...

Ojalá que yo fuese el burro del molinero


y él me golpease y me estimara...

Antes eso que ser el que atraviesa la vida


10 mirando para atrás, sintiendo pena...

85 EL GUARDADOR DE REBAÑOS
X IX

O luar quando bate na relva


não sei que coisas me lembra...
Lembra-me a voz da criada velha
contando-me contos de fadas
5 e de como Nossa Senhora vestida de mendiga
andava à noite nas estradas
socorrendo as crianças maltratadas...

Se eu já não posso crer que isso é verdade,


para que bate o luar na relva?

86 POESÍA I
X IX

Cuando el rayo de luna golpea en la hierba


no sé yo qué cosas me recuerda...
Me recuerda la voz de la vieja criada
que me contaba cuentos de las hadas,
5 y de cómo la Virgen, vestida de mendiga,
los senderos de noche caminaba
socorriendo a los niños a los que maltrataban...

Si ya no puedo creer que eso es verdad,


¿por qué golpea el rayo de la luna en la hierba?

87 EL GUARDADOR DE REBAÑOS
XX

O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minba aldeia,
mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha
[aldeia
porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.

O Tejo tem grandes navios


5 e navega nele ainda,
para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
a memoria das naus.

O Tejo desee de Espanha


e o Tejo entra no mar em Portugal,
io Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
e para onde ele vai
e donde ele vem.
E por isso, porque pertence a menos gente,
15 é mais livre e maior o rio da minha aldeia.

Pelo Tejo vai-se para o mundo.


Para além do Tejo há a América
e a fortuna daqueles que a encontram.
Ninguém nunca pensou no que há para além
20 do rio da minha aldeia.

O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.


Quem está ao pé dele está só ao pé dele.

88 p o e s ía i
XX

El Tajo es más bello que el río que corre por mi aldea,


pero el Tajo no es más bello que el río que corre por mi
[aldea
porque el Tajo no es el río que corre por mi aldea.

El Tajo tiene grandes barcos,


5 y por él aún navega,
para esos que en todo ven lo que ahí no está,
la memoria de las naves.

El Tajo baja de España


y el Tajo entra en el mar en Portugal.
10 Todo el mundo lo sabe.
Mas pocos saben cuál es el río de mi aldea,
y hacia dónde va
y de dónde viene.
Y por eso, por ser de menos gente,
15 el río de mi aldea es mayor y más libre.

Por el Tajo se va al mundo.


Más allá del Tajo se halla América
y la fortuna de los que la encuentran.
Mas nunca pensó nadie en lo que hay más allá
20 del río de mi aldea.

El río de mi aldea no hace pensar en nada.


Quien está junto a él sólo está junto a él.

89 EL GUARDADOR DE REBAÑOS
XXI

Se eu pudesse trincar a terra toda


e sentir-lhe um paladar,
e se a terra fosse uma coisa para trincar
seria mais feliz um mom ento...
5 Mas eu nem sempre quero ser feliz.
E preciso ser de vez em quando infeliz
para se poder ser natural...
Nem tudo é dias de sol,
e a chuva, quando falta muito, pede-se.
io Por isso tomo a infelicidade com a felicidade
naturalmente, como quem não estranha
que haja montanhas e planícies
e que haja rochedos e erva...

O que é preciso é ser-se natural e calmo


15 na felicidade ou na infelicidade,
sentir como quem olha,
pensar como quem anda,
e quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre,
e que o poente é belo e é bela a noite que fica...
2° Assim é e assim seja...

90 POESÍA I
XXI

Si pudiera morder la tierra entera


y apreciarle un sabor,
y si la tierra fuera algo que morder
sería más feliz por un momento...
5 Pero no siempre quiero ser feliz.
Hay que ser infeliz de vez en cuando
para intentar ser natural...
No todo son días de sol,
y la lluvia, cuando falta, la pedimos.
io Por eso tomo la infelicidad con la felicidad,
naturalmente, como a quien no extraña
el que haya montañas y planicies,
que haya hierba y rocas...

Porque hay que ser natural y calmo


15 en la felicidad o en la infelicidad,
sentir como quien mira,
pensar como quien anda,
y cuando hay que morir, hay que acordarse de que el día muere,
y que es bello el poniente, como es bello que venga la noche...
20 Así es, y así sea...

91 EL GUARDADOR DE REBAÑOS
Gomo quem num dia de Verão abre a porta de casa
e espreita para o calor dos campos com a cara toda,
às vezes, de repente, bate-me a Natureza de chapa
na cara dos meus sentidos,
e eu fico confuso, perturbado, querendo perceber
não sei bem como nem o quê...

Mas quem me mandou a mim querer perceber?


Quem me disse que havia que perceber?

Quando o Verão me passa pela cara


a mão leve e quente da sua brisa,
só tenho que sentir agrado porque é brisa
ou que sentir desagrado porque é quente,
e de qualquer maneira que eu o sinta,
assim, porque assim o sinto, é que isso é senti-lo...

POESÍA I
X X II

Como quien un día de verano abre la puerta de casa


y siente el calor que viene de los campos con toda la cara,
a veces, de repente, la Naturaleza me golpea de lleno
ahí, en la cara de mis sentidos,
5 y me quedo confuso y perturbado, queriendo entender
aunque no sé bien cómo ni qué...

¿Pero quién me ha mandado querer entender?


¿Quién me dijo que había que entender?

Cuando el verano me pasa por la cara


10 la mano leve y caliente de su brisa,
sólo he de sentir agrado, porque es brisa,
o desagrado, porque es caliente,
y, de cualquier manera que lo sienta,
dado que así lo siento, eso es sentirlo...

93 EL GUARDADOR DE REBAÑOS
X X III

O meu olhar azul como o céu


é calmo como a água ao sol.
E assim, azul e calmo,
porque não interroga nem se espanta...

5 Se eu interrogasse e me espantasse
não nasciam flores novas nos prados
nem mudaria qualquer coisa no sol de modo a ele ficar
[mais helo.

(Mesmo se nascessem flores novas no prado


e se o sol mudasse para mais belo,
eu sentiría menos flores no prado
e achava mais feio o sol...
Porque tudo é como é e assim é que é,
e eu aceito, e nem agradeço,
para não parecer que penso nisso...)

94 p o e s ía i
X X III

Mi mirar, azul como el cielo,


es calmo como el agua al sol.
Es así, azul y calmo,
porque ni interroga ni se asombra...

5 Si yo interrogara y me asombrara
no nacerían nuevas flores en los prados
ni habría cambios en el sol que lo hicieran más bello.

(Y aunque nacieran nuevas flores en el prado


y el sol cambiara para ser más bello,
10 yo sentiría menos flores en el prado
y vería ya más feo al sol...
Porque todo es como es, y así es como es;
y lo acepto y ni siquiera lo agradezco,
para no aparentar que pienso en ello...)

95 EL GUARDADOR DE REBAÑOS
X X IV

O que nós vemos das coisas são as coisas.


Por que veríamos nós uma coisa se houvesse outra?
Por que é que ver e ouvir seria iludirmo-nos
se ver e ouvir são ver e ouvir?

5 O essencial é saber ver,


saber ver sem estar a pensar,
saber ver quando se vê,
e nem pensar quando se vê
nem ver quando se pensa.

io Mas isso (tristes de nós que trazemos a alma vestida!),


isso exige um estudo profundo,
uma aprendizagem de desaprender
e uma sequestração na liberdade daquele convento
de que os poetas dizem que as estrelas são as freirás eternas
i5 e as flores as penitentes convictas de um só dia,
mas onde afinal as estrelas não são senão estrelas
nem as flores senão flores,
sendo por isso que lhes chamamos estrelas e flores.

96 POESÍA I
X X IV

Lo que vemos de las cosas son las cosas.


¿Por qué habríamos de ver una cosa si hubiera otra?
¿Por qué oír y ver sería engañarnos
si oír y ver son oír y ver?

5 Lo esencial es el saber ver,


saber ver sin estar pensando,
saber ver cuando se ve,
y ni pensar mientras que se ve
ni tampoco ver mientras se piensa.

10 Pero eso (¡tristes de nosotros que llevamos el alma vestida!),


eso exige un profundo estudio,
un aprender a desaprender,
y un secuestro en la libertad de aquel convento
del que dicen los poetas que las estrellas son monjas eternas
15 y las flores convictas penitentes de un solo día,
pero donde al final esas estrellas no son sino estrellas,
y las flores no son sino flores,
y es por eso por lo que las llamamos estrellas y flores.

97 EL GUARDADOR DE REBAÑOS
As bolas de sabão que esta criança
se entretém a largar de uma palhinha
são translúcidamente uma filosofía toda.

Claras, inúteis e passageiras como a Natureza,


amigas dos olhos como as coisas,
são aquilo que são
com uma precisão redondinha e aérea,
e ninguém, nem mesmo a criança que as deixa,
pretende que elas são mais do que parecem ser.

Algumas mal se vêem no ar lúcido.


São como a brisa que passa e mal toca nas flores
e que só sabemos que passa
porque qualquer coisa se aligeira em nós
e aceita tudo mais nitidamente.

POESÍA I
XXV

Las pompas de jabón que este niño


se entretiene soplando por una pajita
son, translúcidamente, una filosofía.

Claras, inútiles y pasajeras como la Naturaleza,


5 amigas de los ojos como lo son las cosas,
son aquello que son
con una precisión bien redonda y aérea,
y nadie, ni siquiera el niño que las suelta,
pretende que son más de lo que parecen ser.

10 Algunas apenas se ven en el aire luciente.


Son como la brisa, que pasa y apenas si roza las flores,
y que solamente sabemos que pasa
porque algo en nosotros se aligera
y lo acepta todo con más nitidez.

99 EL GUARDADOR DE REBAÑOS
XXVI

As vezes, em dias de luz perfeita e exacta,


em que as coisas têm toda a realidade que podem ter,
pergunto a mim próprio devagar
por que sequer atribuo eu
5 beleza às coisas.

Uma flor acaso tem beleza?


Tem beleza acaso um fruto?
Não: têm cor e forma
e existência apenas.
10 A beleza é o nome de qualquer coisa que não existe
que eu dou às coisas em troca do agrado que me dão.
Não significa nada.
Então por que digo eu das coisas: são belas?

Sim, mesmo a mim, que vivo só de viver,


15 invisíveis, vêm ter comigo as mentiras dos homens
perante as coisas,
perante as coisas que simplesmente existem.

Que difícil ser próprio e não ver senão o visível!

100 POESÍA I
XXVI

A veces, en ciertos días de luz perfecta y exacta


en que las cosas tienen cuanta realidad pueden tener,
me pregunto a mí mismo, lentamente,
por qué les atribuyo
5 la belleza a las cosas.

¿Es que acaso una flor tiene belleza?


¿La tiene acaso un fruto?
No: tienen color y forma
y apenas existencia.
10 La belleza es el nombre de algo que no existe *
que yo doy a las cosas a cambio del agrado que me dan.
No significa nada.
Entonces, ¿por qué digo de las cosas: son bellas?

Incluso a mí, que vivo sólo de vivir,


15 vienen invisibles a encontrarme las mentiras de los hombres
ante las cosas,
ante las cosas que simplemente existen.

¡Qué difícil ser justo y no ver sino lo visible!

101 EL GUARDADOR DE REBAÑOS


X X V II

Só a Natureza é divina, e ela não é divina...

Se às vezes falo dela como de um ente


é que para falar dela preciso usar da linguagem dos homens
que dá personalidade às coisas,
5 e impõe nome às coisas.

Mas as coisas não têm nome nem personalidade:


existem, e o céu é grande a terra larga,
e o nosso coração do tamanho de um punho fechado...

Bendito seja eu por tudo quanto não sei.


i° E isso tudo que verdadeiramente sou.
Gozo tudo isso como quem sabe que há o sol.

102 POESÍA I
X X V II

Solamente es divina la Naturaleza, pero ella no es divina...

Si a veces hablo de ella como si fuera un ser


es porque al hablar de ella he de valerme del lenguaje de los
que atribuye a las cosas personalidad, [hombres
y que a las cosas les impone nombre.

Pero las cosas no tienen nombre ni personalidad:


existen, y el cielo es grande y la tierra es ancha,
y nuestro corazón es del tamaño de un puño cerrado...

Bendito sea yo por cuanto no sé.


Todo eso es lo que en verdad yo soy.
Y gozo de todo ello como quien sabe que el sol existe.

EL GUARDADOR DE REBAÑOS
X X V III

Li hoje quase duas páginas


do livro dum poeta místico,
e ri como quem tem chorado muito.

Os poetas místicos são filósofos doentes,


S e os filósofos são homens doidos.

Porque os poetas místicos dizem que as flores sentem


e dizem que as pedras têm alma
e que os rios têm êxtases ao luar.

Mas as flores, se sentissem, não eram flores,


io eram gente;
e se as pedras tivessem alma, eram coisas vivas, não eram
e se os rios tivessem êxtases ao luar, [pedras;
os rios seriam homens doentes.

É preciso não saber o que são flores e pedras e rios


15 para falar dos sentimentos deles.
Falar da alma das pedras, das flores, dos rios,
é falar de si próprio e dos seus falsos pensamentos.
Graças a Deus que as pedras são só pedras,
e que os rios não são senão rios,
2° e que as flores são apenas flores.

Por mim, escrevo a prosa dos meus versos


e fico contente,

104 POESÍA I
X X V III

Hoy leí casi dos páginas


del libro de un poeta místico,
y me reí como quien ha llorado mucho.

Los poetas místicos son filósofos enfermos,


y los filósofos son hombres que están locos.

Porque los poetas místicos nos dicen que las flores sienten
y dicen que las piedras tienen alma
y que los ríos tienen éxtasis a la luz de la luna.

Pero las flores, si sintieran, no serían flores,


serían personas;
y si las piedras tuvieran alma serían cosas vivas, no serían
y si los ríos tuvieran éxtasis a la luz de la luna, [piedras;
los ríos serían hombres que estuvieran enfermos.

Hay que no saber nada de lo que son las flores y piedras y ríos
para poder hablar de sus sentimientos.
Hablar del alma de las piedras y flores y ríos
es hablar de uno mismo, como de sus falsos pensamientos.
Gracias a Dios que las piedras no son sino piedras,
y que los ríos no son sino ríos,
y que las flores tan solo son flores.

En cuanto a mí, escribo la prosa de mis versos


y me quedo contento,

EL GUARDADOR DE REBAÑOS
porque sei que compreendo a Natureza por fora;
e não a compreendo por dentro
25 porque a Natureza não tem dentro;
senão não era a Natureza.

106 p o e s ía 1
porque sé que comprendo la Naturaleza por fuera;
no la entiendo por dentro,
25 porque la Naturaleza no tiene interior;
y si no no sería la Naturaleza.

107 EL GUARDADOR DE REBAÑOS


X X IX

Nem sempre sou igual no que digo e escrevo.


Mudo, mas não mudo muito.
A cor das flores não é a mesma ao sol
do que quando uma nuvem passa
5 ou quando entra a noite
e as flores são cor de sombra.

Mas quem olha bem vê que são as mesmas flores.


Por isso quando pareço não concordar comigo,
reparem bem para mim:
io se estava virado para a direita,
voltei-me agora para a esquerda,
mas sou sempre eu, assente sobre os mesmos pés
o mesmo sempre, graças ao céu e à terra
e aos meus olhos e ouvidos atentos
15 e à minha clara simplicidade de alma...

108 POESÍA I
X X IX

No siempre soy igual en lo que digo y escribo.


Cambio, pero no cambio mucho.
El color de las flores no es igual al sol
que si pasa una nube
5 o cuando entra la noche
y las flores son color de sombra.

Pero quien mira bien ha de ver que son las mismas flores.
Por eso, cuando parezco no concordar conmigo,
fíjense bien en mí:
10 si estaba vuelto hacia la derecha,
ahora me habré vuelto hacia la izquierda,
pero siempre soy yo, asentado sobre los mismos pies-
el mismo siempre, gracias al cielo y a la tierra
y a mis ojos y oídos bien atentos
15 y a la sencillez clara de mi alma...

109 EL GUARDADOR DE REBAÑOS


XXX

Se q uiserem q u e eu te n h a u m m isticism o, está b em , te n h o -o .


S o u m ístico , m as só co m o c o rp o .
A m in h a alm a é sim ples e n ão p en sa.

O m e u m istic ism o é n ã o q u e r e r saber.


5 E viver e n ã o p e n s a r nisso .

N ão sei o q u e é a N atu re za: c a n to -a .


Vivo n o cim o d u m o u te iro
n u m a casa caiada e so zin h a,
e essa é a m in h a d e fin iç ã o .

110 POESÍA I
XXX

Si se empeñan en que tenga un misticismo, está bien, lo tengo.


Soy místico, pero sólo con el cuerpo.
Mi alma es simple y no piensa.

Mi misticismo es no querer saber.


5 Es vivir y no pensar en ello.

No sé lo que es la Naturaleza: la canto.


Vivo en lo alto de un otero,
en una casa encalada y solitaria;
y ésa es mi definición.

111 EL GUARDADOR DE REBAÑOS


XXXI

Se às vezes digo que as flores sorriem


e se eu disser que os rios cantam,
não é porque eu julgue que há sorrisos nas flores
e cantos no correr dos rios...

5 E porque assim faço mais sentir aos homens falsos


a existência verdadeiramente real das flores e dos rios.

Porque escrevo para eles me lerem sacrifico-me às vezes


à sua estupidez de sentidos...
Não concordo comigo mas absolvo-me,
io porque não me aceito a sério,
porque só sou essa coisa odiosa, um intérprete da Natureza,
porque há homens que não percebem a sua linguagem,
por ela não ser linguagem nenhuma...

112 POESÍA I
XXXT

Si digo algunas veces que las flores sonríen


y si dijera que los ríos cantan,
no es porque crea que sonrían las flores
ni que haya cantos en el correr del río...

5 Es que así hago sentir a los hombres mendaces


la existencia real y verdadera de las flores y ríos.

En tanto que escribo para que ellos me lean, me sacrifico a veces


a la estupidez de sus sentidos...
No concuerdo conmigo pero aún así me absuelvo,
10 pues no me tomo en serio,
pues sólo soy esa cosa odiosa, un intérprete de la Naturaleza,
porque hay hombres que no entienden su lenguaje,
porque ella no es lenguaje alguno...

113 EL GUARDADOR DE REBAÑOS


X X X II

O n te m à ta rd e u m h o m e m das cidades
falava à p o r ta da estalagem .
Falava com igo ta m b é m .
Falava da ju stiç a e da lu ta p a ra hav er ju stiç a
e dos o p e rá rio s q u e so fre m ,
e d o tra b a lh o c o n s ta n te , e dos q u e tê m fo m e
e dos rico s, q u e só tê m costas p a ra isso.

E, o lh a n d o p a ra m im , v iu -m e lág rim as n o s o lh o s
e s o r r iu co m ag rad o , ju lg a n d o q u e eu se n tia
o ó d io q u e ele se n tia , e a com paixão
q u e ele dizia q u e se n tia .

(M as eu m al o estava o u v in d o .
Q u e m e im p o r ta m a m im os h o m e n s
e o q u e so fre m o u su p õ e m q u e so fre m ?
S ejam co m o eu —n ã o so fre rã o .
T odo o m al do m u n d o vem de n o s im p o rta rm o s, u n s co m
q u e r p a ra fazer b e m , q u e r p a ra fazer m al. [os o u tro s,
A n o ssa alm a e o céu e a te rr a b a s ta m -n o s.
Q u e r e r m ais é p e r d e r isto , e ser in fe liz .)

E u n o q u e estava p e n s a n d o
q u a n d o o am igo de g e n te falava
(e isso m e co m o v eu até às lá g rim a s),
e ra em co m o o m u r m ú r io lo n g ín q u o dos chocalh o s
a esse e n ta rd e c e r

POESÍA I
XXXTT

Ayer tarde uno de la ciudad


hablaba a la puerta de la posada.
Hablaba también conmigo.
Hablaba de la justicia y de la lucha para que haya justicia
y de los obreros que sufren,
y del trabajo constante, y de los que tienen hambre,
y de los ricos, que dan la espalda a todo eso.

Y, mirándome, vio lágrimas en mis ojos,


y sonrió con agrado, creyendo que yo sentía
el odio que él sentía, y la compasión
que él decía sentir.

(Pero yo casi ni lo estaba oyendo.


¿Qué me importan los hombres
y lo que sufren o suponen que ellos sufren?
Que sean como yo -n o sufrirán.
Todo el mal viene de preocuparnos irnos de otros,
para hacer bien, o para hacer mal.
Nuestra alma y el cielo y la tierra nos bastan.
Querer más es perderlos, y es ser infeliz.)

Pues en lo que yo estaba pensando


mientras hablaba el amigo de los hombres
(y eso me conmovió hasta las lágrimas),
era en cómo el remoto rumor de cencerros
a esa hora del atardecer

EL GUARDADOR DE REBAÑOS
25 não parecia os sinos duma capela pequenina
a que fossem à missa as flores e os regatos
e as almas simples como a minha.

(Louvado seja Deus que não sou bom,


e tenho o egoísmo natural das flores
3° e dos rios que seguem o seu caminho
preocupados sem o saber
só com o florir e ir correndo.
E essa a única missão no mundo,
essa —existir claramente,
35 e saber fazê-lo sem pensar nisso.)

E o homem calara-se, olhando o poente.


Mas que tem com o poente quem odeia e ama?

116 POESÍA I
25 noparecía que fueran las campanas de una pequeña capilla
a la que acudieran a oír misa los arroyos, las flores
y las almas sencillas como lo es la mía.

(Alabado sea Dios, pues no soy bueno,


y tengo el egoísmo natural de las flores
?0 y de los ríos que siguen su camino
yendo preocupados, sin saberlo,
sólo de florecer y de ir corriendo.
Ésa es la única misión en el mundo, <
ésa —existir sencillamente,
35 y saber hacerlo sin pensarlo.)

Se calló el hombre, mirando hacia el poniente.


Pero quien odia y ama, ¿qué tendrá que ver con el poniente?

117 EL GUARDADOR DE REBAÑOS


X X X III

P o b re s das flo res n o s ca n te iro s dos ja rd in s reg u lares.


P arec em te r m e d o da p o líc ia ...
Mas tão boas que florescem do mesmo modo
e têm o mesmo sorriso antigo
5 que tiveram à solta para o primeiro olhar do primeiro
[homem
que as viu aparecidas e lhes tocou levemente
para ver se elas falavam...

118 POESÍA I
X X X III

Pobres flores, en los setos de los jardines geométricos;


parecen tener miedo de la policía...
Pero son tan buenas que florecen igual,
y presentan la misma antigua sonrisa
5 que tuvieron estando en libertad, frente al primer mirar del
[primer hombre
que las vio como una aparición, y las tocó levemente
para ver si hablaban...

119 EL GUARDADOR DE REBAÑOS


X X X IV

Acho tão natural que não se pense


que me ponho a rir às vezes, sozinho,
não sei bem de quê, mas é de qualquer coisa
que tem que ver com haver gente que pensa...

5 Que pensará o meu muro da minha sombra?


Pergunto-me às vezes isto até dar por mim
a perguntar-me coisas...
E então desagrado-me, e incomodo-me
como se desse por mim com um pé dormente...

io Que pensará isto de aquilo?


Nada pensa nada.
Terá a terra consciência das pedras e plantas que tem?
Se ela a tiver, que a tenha...
Que me importa isso a mim?
15 Se eu pensasse nessas coisas,
deixaria de ver as árvores e as plantas
e deixava de ver a Terra,
para ver só os meus pensamentos...
Entristecia e ficava às escuras.
20 E assim, sem pensar, tenho a Terra e o Céu.

120 POESÍA I
X X X IV

Hallo tan natural que no se piense


que me pongo a reír a veces, solo,
no sé bien de qué, pero es de algo
relacionado con que hay gente que piensa...

5 ¿Qué pensará mi muro de mi sombra?


Me lo pregunto a veces, hasta que al fin advierto
que me pregunto cosas...
Y entonces me disgusto; me molesta
como sentir, de pronto, un pie dormido...

10 ¿Qué podrá pensar esto de aquello?


Nada piensa nada.
¿Tendrá idea la tierra de las piedras y las plantas que tiene?
Si es así, que la tenga...
¿qué me importa eso a mí?
15 Pues si yo pensara en esas cosas,
dejaría de ver árboles y plantas
y dejaría de ver la misma Tierra
para sólo ver mis pensamientos...
Entristecido, me quedaría a oscuras.
20 Y así, sin pensar, tengo Tierra y Cielo.

121 EL GUARDADOR DE REBAÑOS


XXXV

O luar através dos altos ramos,


dizem os poetas todos que ele é mais
que o luar através dos altos ramos.

Mas para mim, que não sei o que penso,


5 o que o luar através dos altos ramos
é, além de ser
o luar através dos altos ramos,
é não ser mais
que o luar através dos altos ramos.

122 POESÍA I
XXXV

El claro de luna entre las altas ramas.


Todos los poetas dicen que eso es más
que el claro de luna entre las altas ramas.

Mas para mí, que no sé lo que pienso,


5 lo que el claro de luna entre las altas ramas
es, además de ser
claro de luna entre las altas ramas,
sólo es no ser más
que el claro de luna entre las altas ramas.

123 EL GUARDADOR DE REBAÑOS


XXXVI

E há poetas que são artistas


e trabalham nos seus versos
como um carpinteiro nas tábuas!...

Que triste não saber florir!


5 Ter que pôr verso sobre verso, como quem construi um
e ver se está bem, e tirar se não está!... [muro

Quando a única casa artística é a Terra toda


que varia e está sempre boa e é sempre a mesma.

Penso nisto, não como quem pensa, mas como quem


io e olho para as flores e sorrio... [respira,
Não sei se elas me compreendem
nem se eu as compreendo a elas,
mas sei que a verdade está nelas e em mim
e na nossa comum divindade
15 de nos deixarmos ir e viver pela Terra
e levar ao colo pelas Estações contentes
e deixar que o vento cante para adormecermos
e não termos sonhos no nosso sono.

124 POESÍA I
XXXVI

¡Y hay poetas que son artistas


y trabajan sus versos
como hace un carpintero con sus tablas!...

¡Qué triste que no sepan florecer!


5 ¡Tener que poner verso sobre verso, como quien alza un
[muro,
y observar si está bien, y derribarlo si es que no lo está!...

Cuando la única casa artística es la Tierra entera,


que varía y está bien siempre, y que siempre es la misma.

Pienso en esto no como quien piensa, sino como quien


10 y miro hacia las flores y sonrío... [respira,
No sé si es que ellas me comprenden
ni si yo las comprendo a ellas,
pero si que sé que la verdad está en ellas y en mí
y en nuestra común divinidad
15 de este dejarnos ir y vivir por la Tierra
en brazos de las felices Estaciones,
dejar que el viento cante para que nos durmamos,
y no tengamos sueños dentro de nuestro sueño.

125 EL GUARDADOR DE REBAÑOS


X X X V II

Gomo um grande borrão de fogo sujo


o sol-posto demora-se nas nuvens que ficam.
Vem um silvo vago de longe na tarde muito calma.
Deve ser dum comboio longínquo.

5 Neste momento vem-me uma vaga saudade


e um vago desejo plácido
que aparece e desaparece.

Também às vezes, à flor dos ribeiros,


formam-se bolhas na água
io que nascem e se desmancham
e não têm sentido nenhum
salvo serem bolhas de água
que nascem e se desmancham.

126 POESÍA I
X X X V II

Como un gran borrón de fuego sucio


se demora el ocaso en las nubes que quedan.
Viene un vago silbido desde lejos en la tarde muy calma.
Debe proceder de un tren remoto.

5 Pero entonces me viene una nostalgia vaga


y un deseo plácido y difuso
que aparece y desaparece.

También algunas veces, sobre la flor del río,


se forman unas burbujas en el agua
10 que nacen y se deshacen
y no tienen sentido
salvo el de ser burbujas de agua
que nacen y que luego se diluyen.

127 EL GUARDADOR DE REBAÑOS


X X X V III

Bendito seja o mesmo sol de outras terras


que faz meus irmãos todos os homens,
porque todos os homens, um momento no dia, o olham
e nesse puro momento [como eu,
5 todo limpo e sensível
regressam lacrimosamente
e com um suspiro que mal sentem
ao Homem verdadeiro e primitivo
que via o sol nascer e ainda o não adorava.
io Porque isso é natural —mais natural
que adorar o sol e depois Deus
e depois tudo o mais que não há.

128 POESÍA I
X X X V III

Bendito sea el mismo sol que en otras tierras


hace de todos los hombres mis hermanos,
pues todos, en algún momento del día, lo están mirando
y en tan puro momento, [como yo;
uno limpio y sensible por completo,
lacrimosos, regresan,
con un suspiro que ni apenas sienten,
al Hombre primitivo y verdadero
que veía al sol nacer y aún no lo adoraba.
Porque eso es natural -más natural
que adorar al sol y luego a Dios
y luego a todo lo otro que no existe.

EL GUARDADOR DE REBAÑOS
X X X IX

O mistério das coisas, onde está ele?


Onde está ele que não aparece
pelo menos a mostrar-nos que é misterio?
Que sabe o rio disso e que sabe a árvore?
5 E eu, que não sou mais do que eles, que sei disso?
Sempre que olbo para as coisas e penso no que os homens
[pensam delas,
rio como um regato que soa fresco numa pedra.

Porque o único sentido oculto das coisas


é elas não terem sentido oculto nenhum,
io é mais estranho do que todas as estranhezas
e do que os sonhos de todos os poetas
e os pensamentos de todos os filósofos,
que as coisas sejam realmente o que parecem ser
e não haja nada que compreender.

i5 Sim, eis o que os meus sentidos aprenderam sozinhos: —


as coisas não têm significação: têm existência.
As coisas são o único sentido oculto das coisas.

130 POESÍA I
X X X IX

El misterio de las cosas, ¿dónde está?


¿Donde podrá estar, que no aparece
para al menos mostrarnos que es misterio?
¿Qué sabe el río de eso, qué sabe de eso el árbol?
Y yo, yo que no soy más que ellos son, ¿qué es lo que sé de eso?
Siempre que miro las cosas y pienso en lo que los hombres
[piensan de ellas,
río como un arroyo que suena fresco en la piedra.

Porque el único sentido oculto de las cosas •


es que ellas no tienen sentido oculto alguno.
Es más extraño que todas las extrañezas,
y que los sueños de todos los poetas
y el pensamiento de todos los filósofos,
que las cosas sean realmente lo que parecen ser
y que no haya nada que comprender.

Esto es lo que mis sentidos han aprendido solos:


que las cosas no tienen significación, sino existencia.
El que las cosas son el único sentido oculto de las cosas.

EL GUARDADOR DE REBAÑOS
XL

Passa uma borboleta por diante de mim


e pela primeira vez no universo eu reparo
que as borboletas não têm cor nem movimento,
assim como as flores não têm perfume nem cor.
5 A cor é que tem cor nas asas da borboleta,
no movimento da borboleta o movimento é que se move,
o perfume é que tem perfume no perfume da flor.
A borboleta é apenas borboleta
e a flor é apenas flor.

132 POESÍA I
XL

Pasa una mariposa por delante de mí


y advierto por vez primera en todo el universo
que las mariposas no tienen color ni movimiento,
como no tienen aroma ni color las flores.
5 Es el color lo que tiene color en las alas de la mariposa,
y en el movimiento de la mariposa el movimiento es lo que se
[mueve;
es el aroma lo que tiene aroma en el aroma de la flor.
La mariposa no es casi mariposa,
como la flor no es apenas flor.

133 EL GUARDADOR DE REBAÑOS


X L I

No entardecer dos dias de Verão, às vezes,


ainda que não haja brisa nenhuma, parece
que passa, um momento, uma leve brisa...
Mas as árvores permanecem imóveis
5 em todas as maneiras das suas folhas
e os nossos sentidos tiveram uma ilusão,
tiveram a ilusão do que lhes agradaria...

Ah, os sentidos, os doentes que vêem e ouvem!


Fossemos nós como devíamos ser
io e não haveria em nós necessidade de ilusão...
Bastar-nos-ia sentir com clareza e vida
e nem reparar-mos para que há sentidos...

Mas graças a Deus que há imperfeição no mundo


porque a imperfeição é uma coisa,
15 e haver gente que erra é original,
e haver gente doente torna o mundo engraçado.
Se não houvesse imperfeição, havia uma coisa a menos,
e deve haver muita coisa
para termos muito que ver e ouvir
2° (enquanto os olhos e ouvidos se não fecham)...

134 POESÍA I
En el atardecer de los días de verano, a veces,
aunque no haya brisa, nos parece
pasar, de pronto, una leve brisa...
Sin embargo los árboles permanecen inmóviles
en las diversas formas de sus hojas,
mientras nuestros sentidos sienten una ilusión,
la ilusión de lo que les gustaría...

¡Ah, nuestros sentidos, enfermos que ven y oyen!


Si fuéramos nosotros como deberíamos ser
no habría en nosotros necesidad de ilusiones...
Nos bastaría sentir con claridad y vida
sin notar ni siquiera el que haya sentidos...

Pero, ¡gracias a Dios que hay imperfección en el mundo!,


porque la imperfección es una cosa,
y que haya gente que yerra es original,
y que haya gente enferma hace al mundo agraciado.
Si no hubiera imperfección habría una cosa menos,
y debe haber muchas cosas
para así tener mucho que ver y que oír
(mientras los ojos y oídos no se cierran)...

EL GUARDADOR DE REBAÑOS
X L II

Passou a diligência pela estrada, e foi-se;


e a estrada não ficou mais bela, nem sequer mais feia.
Assim é a acção humana pelo mundo fora.
Nada tiramos e nada pomos; passamos e esquecemos;
5 e o sol é sempre pontual todos os dias.

13é POESIA I
XLII •

La diligencia pasó por el camino y se fue;


pero el camino no se volvió más bello, ni siquiera más feo.
Así la acción humana por el mundo adelante.
Nada quitamos y nada le añadimos; pasamos y olvidamos;
5 y el sol siempre es puntual todos los días.

137 el g uardador de rebaños


XLIII

Antes o voo da ave, que passa e não deixa rasto,


que a passagem do animal, que fica lembrada no chão.
A ave passa e esquece, e assim deve ser.
O animal, onde já não está e por isso de nada serve,
5 mostra que já esteve, o que não serve para nada.

A recordação é uma traição à Natureza,


porque a Natureza de ontem não é Natureza.
O que foi não é nada, e lembrar é não ver.

Passa, ave, passa, e ensina-me a passar!

138 p o e s ía 1
XLIII

Antes el vuelo del ave, que pasa y no deja rastro,


que el paso del animal, que imprime su recuerdo sobre el suelo.
El ave pasa y olvida, y así debe ser.
El animal, donde ya no está y por eso ya de nada sirve,
nos muestra que ya estuvo, lo que no sirve de nada.

El recuerdo es traición a la Naturaleza, >


pues la de ayer no es Naturaleza.
Lo que fue no es nada, recordar es no ver.

¡Pasa, ave, pasa, y enséñame a pasar!

EL GUARDADOR DE REBAÑOS
X L IV

Acordo de noite subitamente,


e o meu relógio ocupa a noite toda.
Não sinto a Natureza lá fora.
O meu quarto é uma coisa escura com paredes vagamente
[brancas.
Lá fora há um sossego como se nada existisse.
Só o relógio prossegue o seu ruído.
E esta pequena coisa de engrenagens que está em cima
[da minha mesa
abafa toda a existência da terra e do céu...
Quase que me perco a pensar o que isto significa,
mas estaco, e sinto-me sorrir na noite com os cantos da
[boca
porque a única coisa que o meu relógio simboliza ou
[significa
enchendo com a sua pequenez a noite enorme
é a curiosa sensação de encher a noite enorme,
e esta sensação é curiosa porque ele não enche a noite
com a sua pequenez...

POESÍA I
X L IV

Me despierto de noche, de repente,


y ocupa mi reloj la noche entera.
No siento la Naturaleza ahí afuera.
Mi habitación es una cosa oscura con las paredes vagamente
[blancas.
5 Afuera hay un sosiego cual si nada existiera.
Sólo el reloj prosigue su ruido.
Y esta pequeña cosa de engranajes que está sobre mi mesa
ahoga enteramente la existencia de la tierra y el cielo...
Casi me pierdo pensando en lo que significa,
10 pero freno y me siento sonreír en la noche con las comisuras
[de la boca,
porque la única cosa que mi reloj simboliza o significa
llenando en su pequeñez la noche enorme
es esa curiosa sensación de llenar la noche enorme,
sensación que es curiosa porque el reloj jamás llena la noche
15 con su pequeñez.

141 EL GUARDADOR DE REBAÑOS


XLV

Um renque de árvores lá longe, lá para a encosta.


Mas o que é um renque de árvores? Há árvores apenas.
Renque e o plural árvores não são coisas, são nomes.

Tristes das almas humanas, que põem tudo em ordem,


5 que traçam linhas de coisa a coisa,
que põem letreiros com nomes nas árvores absolutamente
[reais,
e desenham paralelos de latitude e longitude
sobre a própria terra inocente e mais verde e florida do
[que isso!

142 POESÍA I
XLY

Una hilera de árboles a lo lejos, allá en la ladera.


Pero ¿qué hilera de árboles, si ni siquiera hay árboles?
La hilera, y los árboles, en plural, no son cosas, son nombres.

¡Tristes almas humanas, que todo lo ordenan, '


5 y que trazan sus líneas entre cosa y cosa,
que colocan letreros con sus nombres encima de unos
[árboles totalmente reales,
y que van dibujando paralelos con su latitud y longitud
sobre la propia tierra, inocente y más verde y florida que
[eso!

143 e l g u a rd a d o r de re b a ñ o s
XLVI

Deste modo ou daquele modo,


conforme calha ou não calha,
podendo às vezes dizer o que penso,
e outras vezes dizendo-o mal e com misturas,
5 vou escrevendo os meus versos sem querer,
como se escrever não fosse uma coisa feita de gestos,
como se escrever fosse uma coisa que me acontecesse
como dar-me o sol de fora.

Procuro dizer o que sinto


io sem pensar em que o sinto.
Procuro encostar as palavras à ideia
e não precisar dum corredor
do pensamento para as palavras.

Nem sempre consigo sentir o que sei que devo sentir.


15 O meu pensamento só muito devagar atravessa o rio a
fnado
porque lhe pesa o fato que os homens o fizeram usar.

Procuro despir-me do que aprendi,


procuro esquecer-me do modo de lembrar que me
[ensinaram,
e raspar a tinta com que me pintaram os sentidos,
ao desencaixotar as minhas emoções verdadeiras,
desembrulhar-me e ser eu, não Alberto Gaeiro,
mas um animal humano que a Natureza produziu.

144 POESÍA I
De este o de aquel modo,
siendo oportuno o no,
pudiendo decir a veces lo que pienso,
y diciéndolo mal otras veces y a base de mezclas,
voy escribiendo mis versos sin querer,
cual si escribir no fuera cosa hecha de gestos,
como si escribir fuera una cosa que a mí me pasara,
como darme el sol.

Trato de decir lo que yo siento <


sin pensar que lo siento.
Busco apoyar las palabras en la idea
y no necesitar un corredor
desde el pensamiento a las palabras.

No siempre logro sentir lo que sé deber sentir.


Mi pensamiento sólo muy despacio atraviesa el río a nado,
porque le pesa el traje que los hombres le hicieron que usara.

Procuro desvestirme de lo que aprendí,


y procuro olvidarme del modo de recordar que me enseñaron,
raspar la tinta con que me pintaron los sentidos,
desembalar mis emociones verdaderas,
desenredarme y ser yo, no Alberto Caeiro,
sino tan sólo un animal humano que ha producido la
[Naturaleza.

EL GUARDADOR DE REBAÑOS
E assim escrevo, querendo sentir a Natureza, nem sequer
[como um homem,
mas como quem sente a Natureza, e mais nada.
25 E assim escrevo, ora hem, ora mal,
ora acertando com o que quero dizer, ora errando,
caindo aqui, levantando-me acolá,
mas indo sempre no meu caminho como um cego teimoso.

Ainda assim, sou alguém.


30 Sou o Descobridor da Natureza.
Sou o Argonauta das sensações verdadeiras.
Trago ao Universo um novo Universo
porque trago ao Universo ele-próprio.

Isto sinto e isto escrevo


35 perfeitamente sabedor e sem que não veja
que são cinco horas do amanhecer
e que o sol, que ainda não mostrou a cabeça
por cima do muro do horizonte,
ainda assim já se lhe vêem as pontas dos dedos
40 agarrando o cimo do muro
do horizonte cheio de montes baixos.

ts

146 P O E S ÍA !
y así escribo, pretendiendo lograr sentir la Naturaleza, ni aún
[como un hombre,
sino como quien siente la Naturaleza y nada más.
25 Y así escribo, ahora bien, ahora mal,
ahora acertando con lo que quiero yo decir, ahora errando,
levantándome allá y aquí cayendo,
pero siguiendo siempre mi camino como un ciego obstinado.

Aun así, soy alguien.


30 Descubridor de la Naturaleza.
Argonauta de sensaciones verdaderas. >
Le traigo al Universo un Universo nuevo,
dado que al Universo traigo el mismo Universo.

Esto siento y escribo


35 con perfecta conciencia y sin dejar de ver
que ahora son las cinco de la madrugada,
y que al sol, que aún no ha mostrado la cabeza
por encima del muro del horizonte,
ya se le ven las puntas de los dedos
40 agarradas a lo alto de ese muro
del horizonte, lleno de montes bajos.

147 EL GUARDADOR DE REBAÑOS


XLVII

Num dia excessivamente nítido,


dia em que dava a vontade de ter trabalhado muito
para nele não trabalhar nada,
entrevi, como uma estrada por entre as árvores,
5 o que talvez seja o Grande Segredo,
aquele Grande Mistério de que os poetas falsos falam.

Vi que não há Natureza,


que Natureza não existe,
que há montes, vales, planícies,
io que há árvores, flores, ervas,
que há rios e pedras,
mas que não há um todo a que isso pertença,
que um conjunto real e verdadeiro
é uma doença das nossas ideias.

15 A Natureza é partes sem um todo.


Isto é talvez o tal mistério de que falam.

Foi isto o que sem pensar nem parar,


acertei que devia ser a verdade
que todos andam a achar e que não acham,
20 e que só eu, porque a não fui achar, achei.

148 POESÍA I
XLYII

En un día excesivamente nítido,


día en que daban ganas de haber trabajado intensamente
para con ello no trabajar en él,
entrevi, como un camino entre los árboles,
lo que quizá sería el Gran Secreto,
el Gran Misterio de que hablan los falsos poetas.

Entonces vi que no hay Naturaleza,


que la Naturaleza no tiene existencia,
que hay montes y valles y llanuras,
que hay arboles, que hay flores y que hay hierbas,
que hay piedras y ríos,
pero que no hay un todo al que todo eso pertenezca,
y que un conjunto real y verdadero
es la enfermedad de las ideas.

La Naturaleza es partes sin todo.


Ese es quizá el misterio de que hablan.

Esto fue lo que, sin pensar ni detenerme,


acerté que debía de ser la verdad
que andan todos buscando y que no encuentran,
ésa que sólo yo encontré al no buscarla.

EL GUARDADOR DE REBAÑOS
XLvm

D a m ais alta ja n e la da m in h a casa


co m u m le n ç o b ra n c o digo adeus
aos m eu s versos q u e p a r te m p a ra a h u m a n id a d e .

E n ã o esto u alegre n e m triste .


Esse é o d e stin o dos versos.
E screvi-os e devo m o s trá -lo s a to d o s
p o r q u e n ã o p o sso fazer o c o n trá rio
co m o a flo r n ã o p o d e e s c o n d e r a cor,
n e m o r io e s c o n d e r q u e c o rre ,
n e m a árv o re e s c o n d e r q u e dá f ru to .

E i-lo s q u e vão j á lo n g e co m o q u e n a d ilig ên c ia


e eu sem q u e r e r sin to p e n a
co m o u m a d o r n o c o rp o .

Q u e m sabe q u e m os le rá ?
Q u e m sabe a q u e m ãos ir ã o ?

F lo r, c o lh e u -m e o m e u d e stin o p a ra os o lh o s.
A rv o re, a r r a n c a r a m - m e os fru to s p a ra as bocas.
R io , o d e s tin o da m in h a água e ra n ã o ficar em m im
S u b m e to -m e e s in to -m e quase alegre,
quase alegre co m o q u e m se cansa de estar triste .

Id e, id e de m im !
Passa a árvore e fica d isp e rsa p ela N atu re za.

POESIA I
X L V III

En la más alta ventana de mi casa,


con un blanco pañuelo, digo adiós
a mis versos que parten hacia la humanidad.

No estoy triste ni alegre.


Ése es el destino de los versos.
Yo los he escrito y debo mostrarlos a todos,
dado que no puedo hacer lo contrario
como la flor no puede esconder el color,
ni puede el río esconder que corre,
10 ni esconder el árbol que da fruto.

Helos que van ya lejos, como en la diligencia,


y asi yo, sin querer, siento una pena
como un dolor del cuerpo.

Pues, ¿quién sabe quién los leerá?


15 ¿Quién sabrá a qué manos han de ir?

Flor, mi destino me destinó a los ojos.


Árbol, tomaron para la boca el fruto.
Río, el destino de mi agua hubo de ser no quedarse en mí.
Me someto y me siento casi alegre,
20 casi alegre, como quien se cansa de estar triste.

¡Idos, idos de mí!


El árbol pasa y la Naturaleza lo dispersa.

151 EL GUARDADOR DE REBAÑOS


Murcha a flor e o seu pó dura sempre.
Corre o rio e entra no mar e a sua água é sempre a que
[foi sua.

25 Passo e fleo, como o Universo.

152 POESÍA 1
La flor se mustia y su polen dura siempre.
El río corre y entra por el mar, su agua siempre es la que
[fue suya.

Paso y me quedo, como el Universo.

EL GUARDADOR DE REBAÑOS
X L IX

Meto-me para dentro, e fecho a janela.


Trazem o candeeiro e dão as boas noites,
e a minha voz contente dá as boas noites.
Oxalá a minha vida seja sempre isto:
5 o dia cheio de sol, ou suave de chuva,
ou tempestuoso como se acabasse o mundo,
a tarde suave e os ranchos que passam
fitados com interesse da janela,
o último olhar amigo dado ao sossego das árvores,
io e depois, fechada a janela, o candeeiro aceso,
sem ler nada, nem pensar em nada, nem dormir,
sentir a vida correr por mim como um rio por seu leito,
e lá fora um grande silêncio como um deus que dorme.

154 POESÍA I
X L IX

Me meto adentro y cierro la ventana.


Traen el candil y dan las buenas noches,
mi voz, contenta, da las buenas noches.
Ojalá sea mi vida siempre esto:
5 día lleno de sol, o suave de lluvia,
o tempestuoso como si el mundo se acabara,
y la tarde suave y los grupos que pasan
vistos con interés por la ventana,
la ultima mirada amiga dada hacia el sosiego de los árboles,
10 y después, cerrada la ventana, el candil encendido,
sin leer nada, ni pensar en nada, ni dormir,
sentir correr la vida a mi través como un río en su lecho,
y afuera un gran silencio, igual que un dios que duerme.

155 EL GUARDADOR DE REBAÑOS


O PASTOR AMOROSO
EL PASTOR ENAMORADO
I

Q u a n d o eu n ão te tin h a
am ava a N a tu re z a co m o u m m o n g e calm o a C r is t o ...
A g o ra am o a N atu re za
co m o u m m o n g e calm o à V irg em M aria,
5 re lig io sa m e n te , a m e u m o d o , co m o d an tes,
m as de o u tr a m a n e ira m ais com ovida e p ró x im a ...
V ejo m e lh o r os rio s q u a n d o v o u co n tig o
p elo s cam pos até à b e ira dos rio s;
se n tad o a te u la d o re p a ra n d o nas n u v en s
io re p a ro nelas m e lh o r ...
T u n ã o m e tira ste a N a tu re z a ...
T u n ã o m e m u d a ste a N a tu re z a ...
T ro u x e s te -m e a N a tu re z a p a ra ao p é de m im ,
p o r tu existires v e jo -a m e lh o r, m as a m esm a,
15 p o r tu m e am ares, a m o -a d o m esm o m o d o , m as m ais,
p o r tu m e escolheres p a ra te te r e te am ar,
os m eus o lh o s f ita ra m -n a m ais d e m o ra d a m e n te
so b re to d a s as coisas.

N ão m e a r r e p e n d o d o q u e fu i o u tr o ra
2° p o r q u e a in d a o sou.
Só m e a rr e p e n d o de o u tr o ra te n ã o te r a m ad o .

158 POESÍA I
I

Cuando no te tenía
amaba a la Naturaleza como un monje apacible ama a Cristo...
Ahora amo a la Naturaleza
como un monje calmoso a la Yirgen María,
5 religiosamente, a mi modo, como antes,
pero de otra manera conmovida y cercana.
Veo mejor los ríos cuando voy contigo
por los campos hasta la orilla de los ríos,
y sentado a tu lado mientras miro las nubes
10 las contemplo mejor...
No me quitaste la Naturaleza-
No me cambiaste la Naturaleza...
Trajiste la Naturaleza junto a mí.
Porque existes la veo mejor, pero la misma,
15 porque me amas la amo por igual, pero más.
Porque me elegiste para amarte y tenerte,
mis ojos la miraron más demoradamente
sobre todas las cosas.

Pero no me arrepiento de lo que antes fui


20 por cuanto aún lo soy.
De no amarte antes me arrepiento tan solo.

159 EL PASTOR ENAMORADO


II

Está alta n o céu a lú a e é prim avera.


Penso em ti e d e n tro de m im estou com pleto.

C o rre pelos vagos cam pos até m im u rn a brisa ligeira.


Penso em ti, m u rm u ro o teu n o m e ; n ão sou eu: sou feliz.

5 A m an b ã virás, andarás com igo a colh er flores pelos cam pos,


e eu an d a rei contigo pelos cam pos a v e r-te co lh er flores.

E u já te vejo am an h ã a co lh er flores com igo pelos cam pos,


m as q u a n d o vieres am an h ã e andares com igo realm en te a
[co lh er flores,
isso será u m a alegria e u m a novidade p ara m im .

160 POESÍA I
II

Está alta sobre el cielo la luna, es primavera.


Pienso en ti y dentro de mí estoy completo.

Corre por los vagos campos hasta mí una brisa ligera.


Pienso en ti, susurro tu nombre; no soy yo: soy feliz.

5 Mañana vendrás, andarás conmigo cogiendo flores por los


[campos,
y yo andaré contigo por los campos, viéndote coger flores.

Ya te veo mañana cogiendo flores conmigo por los campos,


mas cuando vengas mañana y andes conmigo cogiendo flores
[realmente,
eso será una alegría y también algo nuevo para mí.

161 EL PASTOR ENAMORADO


III

A gora que sinto a m o r


te n h o interesse n o s p erfu m es.
N u n ca antes m e in teresso u q u e u rna flo r tivesse ch eiro .
A gora sinto o p e rfu m e das flores com o se visse u m a coisa nova.
5 Sei b e m que elas cheiravam , com o sei que existia.
São coisas que se sabem p o r fora.
Mas agora sei com a respiração da p arte de trás da cabeça.
H o je as flores sab em -m e b e m n u m p aladar que se cheira.
H o je às vezes aco rd o e ch eiro antes de ver.

162 POESÍA I
III

Ahora que siento amor


me interesan los aromas.
Nunca antes me había interesado que una flor tenga olor.
Pero ahora siento el aroma de las flores como si viera una cosa
[nueva.
5 De sobra sé que olían, como sé que existía.
Son cosas que se saben desde afuera.
Ahora lo sé con la respiración de la parte de atrás de la cabeza.
Hoy las flores me tienen buen sabor mediante un paladar que
[puede olerse.
Hoy, de cuando en cuando, me despierto y huelo antes de ver.

163 EL PASTOR ENAMORADO


IV

T o d o s os dias ag o ra ac o rd o co m alegria e p e n a .
A n tig a m e n te acordava sem sensação n e n h u m a ; acordava.
T e n h o alegria e p e n a p o r q u e p e rc o o q u e so n h o
e p o sso estar n a re a lid a d e o n d e está o q u e s o n h o .
5 N ão sei o que hei-de fazer das minhas sensações.
N ão sei o q u e h e i- d e ser co m ig o .
Q u e r o q u e ela m e diga q u a lq u e r coisa p a ra eu a c o rd a r
[de novo.

Q u e m am a é d ife re n te de q u e m é.
E a m esm a pessoa sem n in g u é m .

164 POESIA I
IV

A hora todos los días m e despierto con alegría y pena.


A ntes m e despertaba sin sensación alguna; despertaba.
Siento alegría y p en a p o r p e rd e r lo que sueño,
y tam b ién p uedo estar en lo real, donde está lo que sueño.
5 N o sé qué h ac er con m is sensaciones.
N o sé lo que be de ser conm igo m ism o.
Q uiero que ella m e diga cualquier cosa p ara d espertarm e
[nuevam ente.

Q uien am a es d iferente de quien es.


A un estando sin nadie es la m ism a persona.

165 EL PASTOR ENAMORADO


O a m o r é u m a com panhia.
J á n ã o sei a n d a r só pelos cam inhos,
p o rq u e já n ão posso a n d a r só.
U m p en sam e n to visível faz-m e a n d a r m ais depressa
e ver m enos, e ao m esm o te m p o gostar b e m de ir v en d o tu d o .
M esm o a ausência dela é u m a coisa que está com igo.
E eu gosto ta n to déla que n ão sei com o a desejar.
Se a n ão vejo, im a g in o -a e sou fo rte com o as árvores altas,
Mas se a vejo trem o , n ão sei o que é feito do que sin to n a
[ausencia déla.
T o d o eu sou q u alq u er força q u e m e ab an d o n a.
T o d a a realidade o lha p ara m im com o u m girassol com a cara
[dela n o m eio.

p o e s ía i
Y

E l am o r es u n a com pañía.
Ya no sé an d a r solo los caminos,
porque y a no puedo an d ar yo solo.
U n pensam iento visible hace que cam ine m ás deprisa,
5 que vea m enos, y al tiem po que m e guste irlo viendo todo.
H asta la ausencia de ella es algo que está conm igo,
y ella m e gusta tanto que no sé cóm o la h e de desear.
Cuando no la veo, la im agino, y soy tan fuerte com o los altos
[árboles.
Mas si la veo tiem blo, y no sé qué es de aquello que he sentido
[en su ausencia.
10 Todo soy u n a fuerza que ahora m e abandona.
Todo lo real m ira hacia m í com o u n girasol en cuyo centro
[aparece su rostro.

167 EL PASTOR ENAMORADO


VI

Passei to d a a n o ite sem sa b er d o r m ir , v en d o sem espaço a fig u ra


[dela
e v e n d o -a sem pre de m aneiras diferentes do que a e n c o n tro a ela.
Faço p en sam en to s com a recordação do que ela é q u a n d o m e fala,
e em cada p e n s a m e n to ela varia de ac o rd o com a sua sem elhança.
5 A m a r é p e n s a r.
E eu quase q u e m e esqueço d e s e n tir só de p e n s a r n ela.
N ão sei b e m o q u e q u e ro , m esm o dela, e eu n ã o p e n s o senão
[nela.
T e n h o u m a g ra n d e distracção an im a d a .
Q u a n d o desejo e n c o n tr á - la ,
io q uase q u e p r e f ir o n ã o a e n c o n tr a r ,
p a ra n ã o te r q u e a d eix ar d ep o is.
E p re firo p en sar dela, p o rq u e dela com o é te n h o q u alq u er m ed o .
N ão sei b e m o q u e q u e ro , n e m q u e ro saber o q u e q u e ro .
Q u e r o só p e n s a r ela.
15 N ão p eç o n a d a a n in g u é m , n e m a ela, senão p e n s a r.

168 POESÍA I
VI

Pasé to d a la noche sin p o d er dorm ir, viendo sin espacio su


[figura
y viéndola siem pre de distin to m odo a com o la en cu en tro .
F o rm o p ensam ientos rec o rd an d o lo que ella es cuando m e
[habla,
y ella varía, según su sem ejanza, a cada pensam iento.
5 A m ar es pensar.
Y yo casi m e olvido de sentir, sólo pensando en ella.
N o sé bien lo que quiero, incluso de ella, no pienso sino en ella,
tengo así u n a g ra n distracción anim ada.
C uando quiero en c o n trarla ,
10 casi que prefiero n o en c o n trarla
p ara no te n e r que dejarla después.
Y prefiero pensarla porque de ella, com o es, tengo algo de m iedo.
N o sé bien lo que quiero ni deseo saberlo.
L o que quiero es p ensarla, solam ente.
15 N o pido n ad a a nadie, n i a ella tam poco, sino, sólo, pensar.

169 EL PASTOR ENAMORADO


V II

Talvez q u e m vê b e m n ão sirva p a ra se n tir


e n ã o agrad e p o r estar m u ito an tes das m a n e ira s.
È p rec iso te r m o d o s p a ra to d a s as coisas,
e cada coisa te m o seu m o d o , e o a m o r ta m b é m .
5 Q u e m te m o m o d o de v er os cam pos pelas ervas
n ã o deve te r a ce g u eira q u e faz fazer se n tir.
A m ei, e n ã o fu i a m ad o , o q u e só vi n o fim ,
p o r q u e n ã o se é am ad o co m o se nasce m as co m o ac o n te ce .
E la c o n tin u a tão b o n ita de cabelo e b o ca co m o d an tes,
io e e u c o n tin u o co m o era d an tes, so z in h o n o cam p o .
G o m o se tivesse estado de cabeça baixa,
p e n s o isto, e fico de cabeça alta
e o d o u ra d o sol seca as lág rim as p e q u e n a s q u e n ã o posso
[d eix ar d e te r.
G o m o o ca m p o é g ra n d e e o a m o r p e q u e n o !
i5 O lh o , e esqueço, co m o o m u n d o e n te r r a e as árvores se
[d esp em .

E u n ã o sei falar p o r q u e esto u a s e n tir.


E sto u a escu tar a m in h a voz co m o se fosse de o u tr a pessoa,
e a m in h a voz fala d ela co m o se ela é q u e falasse.
T e m o cabelo de u m lo u r o a m arelo de trig o ao sol claro ,
20 e a b o c a q u a n d o fala diz coisas q u e n ã o h á nas palavras.
S o rri, e os d e n te s são lim p o s co m o p e d ra s d o rio .

170 POESÍA I
V II

Puede que el que ve bien no sirva para sentir


y que no guste siendo como es, si, sin buenas maneras.
Porque hay que tener modos para todas las cosas,
cada una su modo, y también el amor.
5 Quien tiene el de ver los campos a partir de las hierbas
no tendrá la ceguera que produce el sentir.
Amé y no fui amado, sólo lo vi al final,
porque no se es amado tal como se nace, sino como acontece.
Su cabello y su boca siguen siendo tan bellos como antes,
10 y también yo sigo como antes, aquí solo, en el campo.
Como si hubiera estado con la cabeza gacha
pienso en esto, y mantengo alta mi cabeza
y el sol dorado seca esas pequeñas lágrimas que ahora no
[puedo dejar de tener.
¡Qué grande que es el campo, y el amor qué pequeño!
15 Miro, y después olvido, cómo el mundo se entierra y se
[desnudan los árboles.

Y no sé hablar porque estoy sintiendo,


escuchando mi voz como si fuera la de otra persona,
y mi voz habla de ella como si fuera ella quien hablara.
Ella tiene el cabello color rubio amarillo de trigo al sol claro,
20 y la boca, cuando habla, dice cosas que no hay en las palabras.
Y sonríe, y sus dientes son limpios como piedras del río.

171 EL PASTOR ENAMORADO


V III

O p a sto r a m o ro so p e rd e u o cajado,
e as ovelhas tre sm a lh a ra m -se p ela encosta,
e de ta n to p e n sa r, n e m to c o u a flauta q u e tro u x e p a ra to c ar.
N in g u é m lh e ap areceu o u d esap a re ceu ... N u n c a m ais
[e n c o n tro u o cajado.
5 O u tro s , p ra g u e ja n d o c o n tra ele, re c o lh e ra m -lh e as ovelhas.
N in g u é m o tin h a am ad o , afinal.
Q u a n d o se erg u e u da enco sta e da v erdade falsa, v iu tu d o :
os g ran d es vales cheios dos m esm os vários verdes d e sem p re,
as g ran d es m o n ta n h a s lo n g e , m ais reais q u e q u a lq u e r
[se n tim e n to ,
io a rea lid ad e to d a , co m o céu e o a r e os cam pos q u e existem ,
e se n tiu q u e de novo o a r lh e ab ria, m as co m d o r, u m a
[lib e rd a d e n o p e ito .

172 POESÍA I
Y in

E l pastor enam orado perdió su cayado,


las ovejas se descarriaron por la ladera
y, de tanto pensar, n i aú n tocó la flauta que p ara tocar llevaba.
N adie apareció o desapareció... Y nunca m ás encontró ya el
[cayado.
5 O tros, m aldiciendo contra él, tuvieron que recogerle las ovejas.
N adie lo había am ado finalm ente.
Al erguirse al fin en la ladera, sobre la verdad falsa, lo vio todo:
vio los grandes valles, llenos de los m ism os y variados verdes de
[costum bre,
y las grandes m ontañas a lo lejos, que e ra n más reales que
[cualquier sentim iento,
10 la realidad entera, con el cielo y el aire y los campos que existen,
y sintió que de nuevo, con dolor, abría el aire, en su pecho,
[libertad.

173 EL PASTOR ENAMORADO


NOTAS

P r e f a c io d e R ic a r d o R e is

pág. 23 [en L isboa e l ...] E l día 16, seg ú n co m p letan sus ed ito res
p o rtu g u eses. Cf. A lberto C aeiro, Poesia, ed. de F e rn a n d o
C ab ral M a rtin s y R ic h a rd Z e n ith , A ssirio & A lvim , L is­
boa, 2001.

23 [que m e sugirió Alvaro de Campos] E n la citada edición de


C a b ra l/Z e n ith , en adelante A.C., se da la v arian te «que m e
rec o rd ó A lvaro de C am pos». C om o es b ien sabido, ta n to
A lberto C aeiro com o A lvaro de C am pos y R icardo Reis
- q u e es el que aparece com o ‘a u to r ’ de este p r ó lo g o - son,
los tres, poetas heterónim os ( y además m u tu am en te sucesi­
vos, p o r las fechas inscritas en sus ‘vidas’) de F ernando Pes­
soa. Las personas del v erbo - e l « d ra m a en g en te» com o
Pessoa lo d e n o m in ó - c ru z a n de este m odo sus cam inos en
el espacio único, del libro, en donde se u n e n y separan.

23 [origen a los ...] Son ocho poem as en total.

25 [en el len g u aje en el que es pensada] « E n el le n g u aje en


que se fo rm a en n u e stra m e n te » (V ariante en A. C.).

25 [casi sin convivencia] L a palab ra convivio, que trad u cim o s


com o convivencia -s ie n d o ésta en efecto su p rim e ra acep­
ción en p o rtu g u és, tal com o aparece reco g id a en el g ra n

175 NOTAS
Diccionario Português-Espanhol de J. M a rtín e z A lm oyna,
P o rto , 1959-, es d ecir rela ció n de convivencia, ta n to
h u m a n a com o in te c tu a l, posee adem ás las acepciones de
familiaridad, de convite y de banquete. E sto nos obliga a
señalar la rem isión ahí contenida a otros dos textos (y a la
‘fam ilia’ que ios acom paña): el Convivio dantesco y, en sus
orígenes, el Sjmposio platónico, el Banquete -esp acio donde
la familiaridad del p o rtu g u és se h a b rá de e n te n d e r com o
filia -. L a p a la b ra em p lead a así nos m u e stra la tra d ic ió n
que se ig n o ra (c o n C aeiro ) p ero que se asum e (desde
R e is )-.

25 [y su n a tu ra le z a ] « S us te o ría s» (v a ria n te en A. C .). L a


oscilación aquí in tro d u c iría u n a tensión in telectu al fren te
a la idea de « n a tu ra le z a » , d in a m ita n d o con ello desde
d en tro la idea rec to ra de este prólogo.

25 [en la O da ....] Es la oda XIV de las de Reis.

27 [com ensales] Reis re to m a el te m a del « b a n q u e te » cuyo


daimon a h o ra sí es C aeiro com o L ib e rta d o r y com o G uía
(« e l A rgo n au ta» del que h ab la poco antes). L a referen cia
socrática se com bina en el denso transcurso de este p árrafo
- y tra s él en la g ra n in v o cació n al G ra n P an co n que se
c ierra el p rólogo—con las referencias nietzscheanas.

27 [de la rea lid ad ] « F a ta lid a d » y « n e c e sid a d » (am b a s


v arian tes en A. C.).

E l guardador d e rebaños

29 [ E l g u a r d a d o r d e r e b a ñ o s ] De los poem as incluid o s en


el m a n u scrito de 0 Guardador de Rebanhos, v ein titrés fu e­
r o n p u b licad o s en el n .° + de la rev ista Athena en el añ o
1925, y o tro m ás en Presença en el 1911.

176 POESÍA I
31 [ I ] F e c h a d o a 8 de m a r z o d e l 1914, e in c lu id o en A th e n a ,
loe. c it. 1925.

37 [II] F echado a 8 de m a rz o del 1914, com o el p o em a a n te ­


rior.

37 v. 1. E n otras redacciones Pessoa escribe sim plem ente: «M i


m ira r es com o u n g irasol». Y adem ás, en o tras v arian tes,
« E n m i m ira r, todo es com o u n g irasol», o incluso, fin al­
m e n te ( y al c o n tra rio ): « C u a n to veo está, com o u n g ira ­
sol». Son grad o s d istin to s de la a firm a c ió n del c a rá c te r
cósico, fac tu al, que d efine la m ira d a de C aeiro - q u e
c a ra c te riz a su m ira r, com o su m ira d a y lo qu e m ir a - . Es
en este sentido que las cosas -ta p rá g m a ta - son g uardadas,
consignadas, salvadas en el poem a, donde el m ira r incluye
lo que son la guarda y el cuidado. Sobre los aspectos fen o ­
m énicos - e s decir, antipsicológicos- de esta ta n específica
prop u esta poética, cf. n u e stra introducció n .

37 v. 8 . «Sé asom brarm e respecto de m í m ism o » sustituye, en


la re d a c c ió n d efin itiv a, la red a cció n a n te r io r en que nos
h a b la de u n « a so m b ro esencial» (e l del n iñ o qu e ve su
n a c im ien to ). Pese a la ta c h a d u ra en « esen cial» la edición
de Á tica - a l cu id ad o de L u ís de M o n ta lv o r y G aspar
Sim ões (c ito p o r la 7a ed ició n re a liz a d a de los Poemas de
C aeiro, Lisboa, 1979)—optó p o r m a n te n e r esa le ctu ra que
en to d o caso es sig n ificativ a en ate n c ió n al c a rá c te r que
d istin g u e el m ir a r p red ic ad o p o r C aeiro; lo qu e es decir,
ese m irar que es.

37 v. 11. «M e siento recién n acid o » , re z a o tro de los m a n u s­


critos.

37 v. 12. Son de señalar las abundantes dudas pessoanas p ara la


aplicació n de este adjetivo. L a alu d id a « n o v e d a d del

177 NOTAS
m u n d o » es « p erp e tu a» , «com pleta», «seren a» , « g ran d e »
y « sú b ita» en otras diferentes variantes.

37 v. 24. U na vez m ás Pessoa d u d a en este té rm in o . E n o tras


v a ria n te s esta « in o c e n c ia » es « p e rp e tu a » y « g ra n d e »
(co m o la « n o v ed ad » del verso 1 2 - v id . n o ta a n t e r io r - ) , y
en o tra m ás se da « p rim e ra » .

39 v. 9. « ... en las cosas», en la edición de Atica. L a oscilación


en tre cósico y h u m a n o - e n tr e su percepción en el p o e m a -
parece característica de Caeiro.

39 v. 17. E n A. C. se recogen dos versos sueltos sin situación con­


creta en el poem a. Los versos dicen: «A ssim ele foi, e o que
ele disse / foi parte disto (m as com tristeza)» . «Así fue él, y
lo que él nos dijo / fue parte de esto (pero con tristeza)» .

41 v. 14. Seguim os en este verso la le ctu ra de A tica - f r e n te al


« q u ere rse p o n e r a r e z a r » recogido en A. C .- , que e n te n ­
dem os m ás sim ple, y c o h e ren te con el p rim e r v erso de la
siguiente estrofa, donde se ve que Caeiro está rezan d o .

41 v. 23. Van al m a rg e n tres versos v arian tes a los 21-2? (se ñ a ­


lad o en A. C .): « T ra n q u ila m e n te , o u v in d o a c h a le ira / e
te n d o p are n tes m ais v elhos que eu / e fazendo isso com o
se florisse assim » -« T ra n q u ila m e n te oyendo la tetera, / y
teniendo parientes m ayores que yo, / y haciendo eso com o
floreciendo».

43 v. 27. « Ju lg a rá que ela é g en te v isív el» - « P e n s a r á qu e es


p erso n a v is ib le » - (le c tu ra m ás sencilla y m ás d irec ta que
se recoge en la edición de A tica).

43 v. 35- Seguim os aq u í la le c tu ra de A tica, m ás p o te n te , y


ta m b ié n m ás coherente con el contenido del poem a que lo

178 POESÍA I
recogido por A. C., w . 34- 35: «Poderia julgar que o sol /
alumia» -«Podría creer que el sol / alumbra»-. Conside­
rar el que el sol alumbre como mera creencia o deducción
nos parece algo incoherente con la idea ‘clara’ y ‘natural’
que presenta Caeiro de las percepciones y las ‘cosas’. Y al
contrario, la idea ‘metafísica’ -que consiste en pensar que
el sol es Dios- sí encaja en el concepto de ‘creencia’.

43 v. 37. Variante -en A. C.- a los w . 36 y 37: «E um barulho


repentino / que principia com luz...» -«Es un estruendo
repentino / que comienza con luz...»-. La variante en
este caso es bastante insípida frente a la imagen de la gente
discutiendo.

45 [V] Incluido en Athena, loe. cit., 1925.

51 v. 7. «Fazendo de nos / nos». El principio enunciado por


Friedrich Nietzsche, «llega a ser (conviértete en) lo que
eres», parece resonar en estos versos.

51 v. 10. «Nuestras vidas son los ríos / que van a dar a la mar
/ que es el morir». Aquí la referencia repetida -aunque de
manera más humilde, como ‘arroyo’ que va a dar en el
‘río’- parece ser memoria de Manrique.

55 [VIII] Publicado en el número 30 de Presença, enero-


febrero de 1931-

65 v. 161. Nota escrita a mano por Pessoa junto a los últimos


quince versos del poema: «Ese sueño asombroso del
Nuevo Jesús quizás es la cosa más original, considerado
todo en su conjunto, que en poesía moderna se haya
escrito. Parece haber en Caeiro una radical imposibilidad
de no sentirlo todo con frescura. Sus comentarios son de
quien aspira a contarle a los dioses cosas de lo que hace al

179 NOTAS
o rigen del m u n d o . Pues él parece ser siglos m ás jov en
n o todos n o so tro s, están d o n o s ligado so lam en te p o r las
deficiencias, las d u d as o flaquezas de su m a tu tin a id e a­
ción. Y es que los intersticios de su p ensam iento poético se
rellen an de escom bro con n u e stra vieja fo rm a de p en sar» .
L a ‘ficción’ pessoana del h eteró n im o le p erm ite a su a u to r
- e n paralelo así a los apócrifos y com plem entarios m ach a-
dianos, con sim ilar rig o r y siste m á tic a - n o sólo p o ten ciar
e x te rn a m e n te y p o n e r en v a lo r las intenciones del poem a
y el ‘p o eta’, sino tam b ién el ejercer la crítica, de apariencia
‘in d ire c ta ’ y ‘objetiva’, sobre la poesía de su tiem po. C laro
que este au to p eraltarse - u n a vez m ás al m odo n ie tzsch e-
a n o - en c u b re q u izá, al tiem p o , su te m o r a n o ser e n te n ­
dido - y v a lo ra d o - en el m odo y m edida que am biciona.

67 [IX] T exto publicado en Athena 4, en el 1925.

67 v. 14. T am b ién este p o em a se aco m p añ a, en u n a de las


copias h ec h a a m á q u in a, de u n a n o ta de m a n o de Pessoa:
«Si nos h u b ie ra n dicho que ju stam e n te de u n m aterialista
h ab ía de e m a n a r y p ro c e d e r la m ás lím p id a y o rig in a l de
las poesías, la que es m ás p u ra m e n te poesía de hoy, no
e x tra ñ a r ía n de que lo dudásem os. Si nos h ab lase n de u n
m ístico m aterialista, pero de u n m ístico dotado con todas
las cu alid ad es que posee la a ltu ra e sp iritu a l p ro p ia del
m ístic o , y, al m ism o tie m p o , del m ás co m pleto y ra d ic a l
m aterialista, no nos esforzaríam os siquiera n i en vo lv er la
espalda an te ta n g ro se ra p ara d o ja. Si alg u ien nos dijese
que h a b ría u n poeta de h o y que aparecería acom pañado de
u n a poesía enteramente nuev a, el com pleto c o n tra rio de la
n u estra , tal vez encogeríam os los h o m b ro s... pero A lberto
C aeiro re a liz a todas estas co ntradicciones. S aludem os en
él al m ás o rig in a l de los poetas m o d e rn o s, u n o de los
m ayores de todos los tiem pos».

180 POESÍA I
69 [ X ] P u b lic a d o en A th e n a 4 , en el 1925.

69 v. 15. N o ta m anuscrita p o r Pessoa en el reverso de u n a copia


del poem a: «S u poesía es ta n n atu ra l que a veces parece que
no tenga n ad a que sea grande n i sublim e... Es ta n espontá­
nea y ta n in g en u a que hasta nos olvidam os de que es com ­
pletam ente nueva, que es enteram ente original».

71 v. 6 . L a v a ria n te a este ú ltim o verso «e o u v ir bem os sons


que nascem » (recogida en A. C .) - « e o u v ir bem só os sons
que n ascem », es v aria n te recogida en Á tic a - ( « y o ír bien
el so n a r de lo que n a c e » - « y o ír bien sólo el so n a r de lo
que n a c e » —) p a re c e r ser q u iz á m ás c o h e ren te con lo que
se dice en el verso anterior.
P or lo dem ás, de este poem a XI existe u n a v ersió n a lte rn a ­
tiva, con el m ism o sentido p ero m u y d istin ta en su ex p re­
sión: «A quela se n h o ra te m u n p ia n o , / que é b o n ito de
ouvir, m as é o que ela faz dele. / F az u rn a m ú sica feita, /
n em é o soar fraco dos ribeiros estreitos / n em o som afas­
tado que m ais que m u itas altas árv o res ju n ta s facem . / O
m e lh o r é não te r piano / e o u v ir só o que nasce com som »
(« A q u e lla se ñ o ra tie n e u n p ia n o , / que es b o n ito de oír,
pero es lo que ella hace de él. / Hace m úsica h echa, / no es
el sonido débil de los pequeños ríos, / n i el sonido lejano
que h ac en ju n to s m uch o s arboles altos. / L o m e jo r es no
te n er piano / y o ír sólo lo que nace ya con su so n id o » ).

73 v. ?. «D epois» (« d e sp u é s» ), en Atica.

73 v. 5- «M as os pastores de V irgílio não são pastores: são V ir­


gílio» (« P e ro los pastores de Virgilio n o son pastores: son
V irgilio»). V ariante a este verso reegida en A. C.

73 v. 6 . « E a N a tu re z a está m esm o aq u í» . (« Y la N a tu ra le z a
está incluso a q u í» ). « E a N a tu re z a é im e d ia tam en te bela

181 NOTAS
[é bela antes disso]» («Y la Naturaleza es bella de manera
inmediata [es ya bella antes de eso]»). Son las variantes a
este verso donde cierra el poema, recogidas ambas en A. C.
A través de ellas la contraposición entre cultura y natura­
leza se resuelve en beneficio de esta última -pero también
de una poesía más ‘natural’, a saber, poesía enunciativa,
una que, renunciando a lo ‘literario’, dice aquello que
nombra: lo que hay. El recurso, retórico, hace el giro de
presentarse como ‘natural’.

75 [XIII] Incluido en Athena 4, en el 1925.

77 v. 1. «Nenhumas vezes», es decir, ‘nunca’. («Nunca / hay


dos árboles iguales»). La variante, marcada por igual en
A.C. y en Atica, implica una mayor radicalidad que, al no
admitir igualdad en la naturaleza, no debería admitir la
de la rima. La corrección autoriza, por ejemplo, el poema
anterior, que venía rimado en asonante.

77 v. 5- «Natural simplicidade» («simplicidad natural»);


variante a ‘divina’ recogida en A.C.

77 v. 9. En lugar de «a minha poesia» leemos «o que


escrevo» («lo que escribo») en variante menos preten­
ciosa señalada en A.C.

79 v. 20. «E são o campo da minha maneira de noite» («y


ellas son el campo de mi modo de noche»). Variante en
Atica. La sustitución de modo/alma hace de ésta un alma
natural, sentimiento nocturno del poeta.

79 v. 21. Junto a este poema, en una de las copias existentes,


nota manuscrita de Pessoa: «Lo que admiro en Caeiro es lo
fuerte de sus pensamientos —su raciocinio, sí- que une y va
ligando sus poemas. Nunca se contradice en la verdad, y

182 POESÍA I
cuando pueda parecer contradecirse, de repente aparece,
en una u otra esquina de sus versos, la alegación prevista y
contestada. ¿Profunda coherencia de la obra, donde se
superpone el pensamiento por encima de la inspiración? ¿U
hondo genio de un griego que lo siente todo y lo ve todo?
En cualquiera de las hipótesis planteadas, la figura literaria
siempre es estupenda y enorme, demasiado grande incluso
para la polícroma pequenez de nuestra época».

81 v. 12. En la edición de Atica no se incluye la última cuar­


teta del poema.

83 [ L a e n s a l a d a ] La edición princeps, en Atica, carece de


título. La nota manuscrita de Pessoa comenta este poema
de este modo: «Aquí, en la poesía XVII, es donde encon­
tramos en acción las influencias fundadoras de Caeiro:
Cesário Verde y los neopanteístas portugueses. El séptimo
de los versos es puro Cesário Verde. Y, en cuanto al tono
general, casi es el propio de Pascoaes».

89 [XX] Incluido en Athena 4 , en el 1925-

91 v. 20. «Assim é, por isso assim seja» («Así es, por eso así ha
de ser»). «Ê que se assim é, é porque é assim» («Y si es así
es porque es así»). Variantes al cierre del poema recogidas
en Atica. La causalidad se hace deseo -se hace incluso ple­
garia- en la redacción definitiva.

93 v. 9. La lectura ‘me’, en Atica, parece más coherente, y más


correcta en su concordar gramatical, con el ‘yo’ que le
sigue en los versos siguientes, frente al ‘nos’ que se lee en
la versión de A.C.

93 v. 14. «Assim, porque assim o sinto, é que é meu deber


senti-lo...» («así, porque así lo siento, es mi deber sen-

183 NOTAS
tir io ...» ). L a v a ria n te , rec o g id a en A tica com o p rim e ra
le c tu ra , es de c a rá c te r m en o s tau to ló g ic o , p ero q u iz á en
exceso razo n ad o . P referim os aquí, en concordancia con el
tex to del poem a XXI, el ser así fren te al m e ro deber ser.

95 v. 4. U na v a ria n te de esta p rim e ra estro fa, rec o g id a en


A.C., p ro lo n g a los c u a tro versos h asta cinco. E n el te rc e r
v erso se p ro d u ce u n re p e n tin o cam bio de sujeto, del sin ­
g u la r al p lu ra l - lo s ojos, n o la m ira d a del p oeta, lo que
ac a rre a u n a m a la c o n c o rd a n c ia -; el cu a rto verso cam b ia
escasam ente, m ie n tras el q u in to verso es añadido. R epro­
d u cim o s d ic h a v a ria n te , que en c u a lq u ie r caso es m ás
ex plicativa: « O m e u o lh a r a z u l com o o céu / é calm o
com o a ág u a ao sol. / São assim az u is e calm os / p o rq u e
n ão in te rro g o com eles / Çque posso eu p e r g u n ta r a que
alg u ém possa re sp o n d e r? )» . (j«M i m ira r, a z u l com o el
cielo, / es calm o com o el ag u a al sol. / Son así, azu les y
calm os, / p o rq u e co n ellos n o p re g u n to . / ¿Q ué p o d ría
p re g u n ta r a lo que alguien p u d ie ra re sp o n d e r» ),

95 v. 14. ‘S ab er’ y ‘p e rc ib ir’ son v a ria n te s del ‘a p a r e n ta r ’


recogidas en Atica.

97 [XXIV] F echado a 13 de m a rz o del 1914, el p o e m a fue


in cluido en Atbena 4, en el 1925-

99 [XXV] D atado y publicado com o el poem a an terio r. E n el


rev e rso de u n a copia a m á q u in a , y a ú n estan d o ta ch a d o ,
puede leerse de m an o de Pessoa: «O la suprem a perfección
de u n p oem a com o el n u m e ra d o XXV, poem a que parece
ser él m ism o, sin d u d a , y serlo aía d a m e n te , p o m p a de
ja b ó n del p en sam iento».

ío i [XXVI] D atado y publicado com o el poem a anterior.

184 POESÍA I
103 v. 11. E l p en ú ltim o verso no se recoge en Atica. Respecto al
ú ltim o , se d an dos v a ria n te s sim ilares. E n A tica: « E isso
tu d o que v e rd a d e ira m e n te sou, está ag o ra ao sol». («Y
todo eso que v erd a d e ra m e n te soy, a h o ra está al so l» ). E n
A.C.: « E isso tu d o que v e rd a d e ira m e n te sou está aq u i ao
sol». (« Y todo eso que v e rd a d e ra m e n te soy, aq u í está al
so l» ).

105 [XXVIII] Publicado en Athena 4 , en el 1925.

109 v. 6 . E n A tica h ay tre s v aria n tes a este verso: « E as flores


são co r que a gente sabe que elas tê m » ( « y las flores son
del co lo r que la g en te sabe que tie n e n » ) ; « [...] co r da
g en te lhes saber a c o r» ( « [...] del co lo r que la g en te les
c o n o c e » ); « [...] co r d a le m b ra n ç a » ( « [...] del co lo r del
re c u e rd o » ). Las tres v a ria n te s co in cid en p o r lo ta n to en
su color ‘p ro p io ’, cu ando h ay lu z , al c o n tra rio que la v e r­
sión d efin itiv a, que insiste en su m odo de ser vistas - d e
casi n o ser v istas— cu a n d o se h a h ech o de n o ch e y son
« co lo r de som bra».

109 v. 1?. «A m im e à te rra » ( « a m í y a la tie r ra » ). V ariante en


/ f '
A tica. L a p e rso n a lid a d del p o eta - q u e es tie r ra y de tie ­
r r a - q u ed a su stitu id a p o r su co n tra rio : p o r el cielo, ‘p a r
c o n tra rio ’ de la tie rra , en lo que es su versió n ‘d efin itiv a’.

109 v. 15. ‘C o n tig ü id a d ’ en lu g a r de ‘se n cillez’. V ariante en


Atica.

111 [XXX] Publicado en Athena 4■, en el 1925.

115 [XXXII] Id. n o ta anterior.

119 v. 3. «T an exactas». V anante en A tica,

185 NOTAS
ii9 v. 4 . «El mismo colorido antiguo». Yariante en Atica.

119 v. 7. «Para ver si cambiaban». «Para ver qué hacían».


«Para ver de quién eran». «Para poder ver con los dedos
también». Cuatro variantes en A.C.

121 w . 1?-14. «Se ela tivesse, seria gente; e se fosse gente, tinha
feitio de gente, não era a terra. / Mas que me importa isso
a mim?». («Si la tuviera sería gente; y si fuera gente ten­
dría forma de gente, no sería tierra. / Mas, ¿qué me
importa eso a mí?»). Variante recogida en Atica.

121 v. 20. «Tenho o sol e a lúa» («tengo el sol y la luna»).


Variante en Atica.

123 [XXXV] Reproducido en Athena 4 , en el 1925.

125 v. 7. «Casa certa» («casa verdadera»). Variante en Atica.

125 v. 9. Preferimos aquí la lectura de Atica a la variante reco­


gida en Atica e incluida en A.C. en calidad de lectura prin­
cipal. En efecto, ese «pensar como quien respira» parece
expresar mejor el movimiento orgánico -n o mental- sub­
yacente a la ‘poética’ defendida por Caeiro. La lectura de
A.C. es la siguiente: «Penso nisto, não como quem pensa,
mas como quem não pensa». («Pienso en esto no como
quien piensa, sino como quien no piensa»). Más allá de
una expresión contradictoria -ése no sería un gran pro­
blema- lo esencial parece el ‘florecer’, esa acción orgánica
y natural que concuerda bien con respirar. [Algo parecido
encontraríamos en la poética cosí coetánea contenida en el
primero de la segunda serie de los Sonetos a Orfeo del ale­
mán Rainer Maria Rilke, sólo un poco anteriores: «Atmen,
du unsichtbares Gedicht!» («¡Oh tú, respirar, poema invi­
sible!»)].

186 POESÍA I
127 [ X X X V I I ] R ecog ido en A th e n a 4 , en el 1925.

129 w . 11-12. L a significativa varian te que afecta a los dos ú lti­


m os versos y se recoge en la edición de Á tica le d a u n giro
político al poem a: «q u e a d o ra r o ouro e D eus / e a a rte e a
m o ra l...» (« q u e a d o ra r al oro , a D ios, / y al a rte , y la
m o ra l...» ). T éngase en c u e n ta que d ic h a v a ria n te surge
ló g ic am en te de aq u ella a n te rio r que afecta al n o v en o de
estos versos: « q u e v ia o sol n a sc e r e a d o ra b a -o » (« q u e
veía al sol n acer y lo a d o ra b a» ). Q uizás, en cu alq u ier caso,
la lectu ra de A.C., m anteniéndose el ‘sol’ del « h o m b re p r i­
m itiv o y v e rd a d e ro » en la redacción del p en ú ltim o verso
co n su tra n sfo rm a c ió n en lo d iv in o tie n e u n c a rá c te r
igu alm en te crítico p ero tam b ién m ás histórico y ‘n a tu ra l’,
que parece lo p ropio de la ideología poética caeiriana.

131 [XXXIX] Publicado en Athena 4 , en el 1925.

131 v. 7. Variante en A.C.: «R io alto com o u n reg ato abre o som


n u m a p e d ra » ( « r ío alto , com o u n arro y o a b re el sonido
en u n a p ie d ra » ).

133 [X L] E l poem a, fechado a 7 de m ayo del 1914, se pu b licó


en Athena 4, en el 1925.

135 [X LI] P oem a d atad o , com o el a n te rio r, el d ía 7 de m ayo


del 1914.

135 v. 5. Preferimos la variante recogida tanto en Atica como


en A.C. a la primera lectura que ambos hacen, que dice:
«Em todas as folhas das suas folhas» («en todas las hojas
de sus hojas»). Una expresión cuyo barroquismo resulta
ajeno al tono general que determina el ser de estos poemas.

135 v. 15. «Es diferente». Variante recogida en Atica.

187 NOTAS
135 v. 16. « E h a v e r g en te do en te to rn a o m u n d o m a io r» ( « y
que haya gente enferm a hace m ayor al m u n d o » } . Yariante
recogida en Ática.

135 v. 20. E ste ú ltim o verso, que se recoge en A.C. en tre p a ré n ­


tesis, no aparece en la edición de Ática.

137 [X L II] D atado a 7 de m ayo del 1914, fue p u b lic ad o en


Athena 4 en el 1925. T achado ju n to a u n a copia del p o em a
se lee: « C alm ada n o ta al m a rg e n de la H istoria; m ejo r que
cien largas odas de to d a u n a centena de poetas, expresa la
etern a v acuidad de la acción h u m a n a » .

139 [X L III] F echado a 7 de m ay o del 1914-, fue p u b lic ad o en


Athena 4 el año 1925.

141 [XLIV] Fechado a 7 de m ayo del 1914-.

141 v. 10. «P ero m e v uelvo». V ariante en Atica.

141 v. 14. E n Á tica la v ersió n d ad a es m ás sencilla - lo g ra d a al


p rese n tar u n verso m enos, a saber, el p e n ú ltim o —, p ero en
cam bio n o m u e s tra la c o n tra d ic to ria e x p re sió n de la
e x tra ñ e z a ( la e x tra ñ e z a de aq u ella sensación} d etallad a
en A.C.

143 [XLV] D atad o a 7 de m ayo del 1914, fue p u b lic ad o en


Athena 4, en el 1925.

145 [XLVI] D atad o a 10 de m ay o de 1914, fue p u b lic ad o en


Athena 4, en el 1925.

145 v. 21. N o ser C aeiro, p e rso n a que n o es sino persona, hace


del in te n to de no serlo la afirm ació n de serlo, en el poem a.
L a desrealización de su p oeta - ir o n í a convexa p e sso a n a -

188 POESÍA I
d esre aliza ah í, al m ism o tiem p o , el p red ic ad o in te n to
‘n a tu ra l’.

149 [XLVII] P ublicad o en A thena 4, en el 1925. E n u n a de las


copias del poem a, ray a d o y atrib u id o a A. M o ra, se lee lo
siguiente: « C aeiro es el San F ran cisco de Asís del n u ev o
p aganism o». L a definición se constituye - c o n este n u evo
« deus sive n a tu ra » hecho de u n cristianism o , el de F ra n ­
cisco, sup uestam ente in g en u o , m ezclado a u n paganism o
‘n a tu ra l’, el de u n m u n d o de p u ra superficie y de sensación
sin f u n d a m e n to - , en p o ética in te r n a - e n relig ió n
p a te n te - caeiriana.

151 [XLVTII] Publicado en Athena 4, en el 1925.

155 [XLIX] Publicado tam b ién en Athena 4, en el 1925.

El p a s to r e n a m o ra d o

159 [I] P ara el rescate de la serie de « O p asto r am o ro so » - q u e


se relaciona desde el títu lo con la d enom inad a « O g u a rd a ­
d o r de re b a n h o s» , donde la m etafísica de la ‘N a tu ra le z a ’
se co rresp o n d e con la p u lsió n eró tica ( y en u n eros que
ab arca los dos m u n d o s )—seguim os la p ro p u esta de o rd e ­
nación qüe nos p rese n ta A.C. (d o n d e sólo los poem as I y II
responden a u n a expresa seriación de Pessoa).

159 v. 7. « S in to m e lh o r os rios sem v ê -lo s...» . (« S ie n to m ejo r


los ríos a ú n sin v e r lo s ...» ) . V ariante al p rin c ip io de este
verso señalada en A.C.

159 v. 12. «TÚ m e cam biaste la N a tu ra le z a » , lee, al co n trario ,


la ed ició n de A tica. P o r el te n o r com p leto del po em a
-c o m o el de todos los restantes en la poesía de C a e iro - esa
le ctu ra nos parece errónea.

189 NOTAS
159 v. 21. Este último verso no aparece en la edición de Atica.
En A.C., y en apéndice, se añaden otros dos versos más que
aparecen tachados en el manuscrito de Pessoa: «Põe as
tuas mãos entre as minhas mãos / e deixa que nos calemos
acerca da vida». («Pon tus manos en medio de mis manos
/ y deja que callemos en lo que hace a la vida»).

161 v. 1. «Vai alta no céu a lúa da Primavera». («Alta va sobre


el cielo la luna de Primavera»). Variante preferida en
Atica.

161 w . 8- 9. «Pois quando vieres amanhã e andares comigo no


campo a colher flores, / isso será urna alegría e uma ver­
dade para mim». («Pues cuando vengas mañana y andes
conmigo cogiendo flores por el campo, / eso será una ale­
gría y será para mí una verdad»). Variante a los dos últi­
mos versos recogida en Atica.

163 [III] Fechado el día 23 de julio de 1930, el poema no viene


recogido en la edición de Atica.

163 v. +. «... como si hubiese una vida nueva». Variante para


el verso cuarto, señalada en A.C.

165 v. ó. «Não sei o que hei-de ser comigo sozinho». («No sé


lo que he de ser sólo conmigo»). Variante recogida en
Atica.

165 v. 9. Los últimos dos versos no aparecen en la edición de


Atica. En la edición de A.C., donde se incluyen, no queda
claramente decidido si son el fin del poema o el inicio de
otro diferente.

167 [V] Fechado a 10 de julio de 1930.

I9 0 POESÍA I
ió9 [ V I] F ech ado el 10 de ju lio de 1910.

171 [VII] Fechado a 18 de noviembre del año 1929.

171 v. 15. Entre las variantes a este verso recogidas en el apén­


dice de A.C. se encuentra una significativa: «A gente ente­
rra e as árvores se despem». («La gente se entierra y se
desnudan los árboles»).

173 [VIII] Fechado a 10 de julio de 1910.

173 v. 10. «... y los campos presentes». Variante recogida en


Atica. Del verso entero hay otra variante señalada en A.C.:
«o ampio céu, o sol limpo, o azul certo» («amplio cielo,
sol limpio, azul certero»),

173 v. 11. «E de novo o ar, que lhe faltara tanto tempo, lhe
entrou fresco nos pulmões» («y nuevamente el aire, que
le había faltado tanto tiempo, ahora le entró fresco en los
pulmones»). Variante en Atica.

191 NOTAS
1
I

J
ÍNDICE

P rólogo
Poema / Persona. Esbozo(s) de un des-pliegue horizontal» 5
por Juan Barja

N o ta s o b r e la p r e s e n t e e d ic ió n 19

LO S POEMAS DE ALBERTO CAEIRO - I


PREFACIO DE RICARDO REIS 23

El guardador de rebaños 29

El pastor enamorado 157

N otas 175

También podría gustarte