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ISBN 978-987-4923-97-4
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ISBN 978-987-4923-97-4
1. Historia de la Educación. I. Pineau, Pablo II. Arata, Nicolás, coord. III. Pineau,
Pablo, coord.
CDD 370.9
Índice
Presentación
Seis dimensiones para abordar la historia de la educación
en perspectiva latinoamericana 13
Nicolás Arata y Pablo Pineau
Capítulo 2
Percepção e sensibilidade: a escola e a educação pelas coisas e objetos 57
Maria do Carmo Martins
Capítulo 3
Historia urbana y escuela 77
María Eugenia Chaoul Pereyra
Capítulo 4
Historia de la educación y cultura material escolar 89
Marcus Levy Bencostta
Capítulo 6
História transnacional da educação: (des)conexões
entre Brasil e a New Education Fellowship (1920-1948) 119
Diana Gonçalves Vidal
Capítulo 7
Relaciones entre historia de la educación y educación comparada 135
Felicitas Acosta
Capítulo 8
A história da educação entre o local e o global:
experiências, dúvidas e perspectivas 157
Luciano Mendes de Faria Filho y Carlos Henrique de Carvalho
Capítulo 10
Aportes de la historia de las emociones a la historia de la educación 215
Sandra Herrera Restrepo
Capítulo 11
Por ese palpitar. La historia de la educación ante
los desafíos del giro emocional o afectivo 231
Ana Laura Abramowski
Capítulo 13
Archivos e historia de la educación: una relación en distintas perspectivas 273
José Bustamante Vismara
Capítulo 14
La historicidad de la fotografía en la investigación social 289
Maria Ciavatta
Capítulo 15
Historia de la educación y nuevas fuentes historiográficas 315
María Isabel Orellana Rivera
Capítulo 17
Historia de la pedagogía, historia de la educación,
historia de la práctica pedagógica 381
Oscar Saldarriaga Vélez
Parte VI. Historias recientes de la educación 399
Capítulo 18
Narrativas para historiar historias recientes en educación 401
Ana Diamant
Capítulo 19
La intervención de las escuelas durante
las dictaduras cívico-militares en el Cono Sur 423
Camila Pérez Navarro
451
Capítulo 6
História transnacional da educação:
(des)conexões entre Brasil e a
New Education Fellowship (1920-1948)*1
119
Em 1936, a NEF tinha cinquenta e duas seções nacionais
e grupos e a ela estavam associados vinte e dois periódicos
em quinze idiomas. Na América do Sul, Argentina (1928),
Equador (1930), Peru (1930), Bolívia (1936), Chile (1931), Para-
guai (1932) e Uruguai (1932) tinham se unido à NEF. O Brasil
iria esperar até a década seguinte para entrar na Fellowship.
Por um breve período, de 1942 a 1948, os relatórios do escri-
tório central da NEF incluíram o nome de Nina Celina, do
Ministério da Educação e Saúde, como secretária da seção
brasileira, liderada por Lourenço Filho. Nenhum periódico
brasileiro, entretanto, foi associado à Fellowship, contraria-
mente ao que acontecia com os demais países, inclusive no
continente americano. Na Argentina, por exemplo, a seção
da NEF tinha por veículo a revista La Obra.
Não apenas foi tardia a criação de uma seção no Brasil,
como no âmbito da historiografia da educação brasileira não
existe menção à NEF, o que no mínimo suscita a curiosidade.
Afinal, os anos 1930 no Brasil são considerados como os das
reformas educacionais estaduais baseadas em princípios da
Escola Nova. Ferrière e Decroly são autores frequentemente
citados pelos trabalhos do campo e a revista Pour L’Ere Nou-
velle é uma referência inescapável nos estudos sobre o esco-
lanovismo brasileiro.
O objetivo deste artigo é problematizar a (des)conexão en-
tre a NEF e o movimento da Escola Nova no Brasil. Toma
a história transnacional como suporte no reconhecimento
que Fellowship constituiu uma rede internacional e que os
educadores brasileiros não estavam alheios à circulação de
ideias e de pessoas no estrangeiro. Está organizado em três
partes. Na primeira, discorre brevemente sobre os aportes da
história transnacional da educação. A seguir, puxa os fios des-
sa trama, procurando evidenciar entrelaçamentos e lacunas
nas relações entre NEF e escolanovismo brasileiro. Por fim,
aponta novos rumos para a investigação em curso.
História transnacional da educação: (des)conexões entre Brasil e a New Education Fellowship (1920-1948) 121
Entretanto, como um guarda-chuva, a história transna-
cional não constitui um novo método, asseveram. Para eles,
consiste em uma perspectiva de estudo. Tomam o cuida-
do, entretanto, para distinguir história transnacional da já
consagrada história global. De acordo com os autores, a
principal diferença repousa no enquadramento espacial.
Argumentam que é possível realizar uma análise transna-
cional a partir de uma escala inferior ao globo, como por
exemplo, uma escala regional. É justamente o “jogo de esca-
las” e o impacto que isso tem na prática historiográfica o que
mais lhes atrai.
Para Struck, Ferris e Revel, a história transnacional per-
mite colocar novamente em cena atores e suas agências.
Possibilita a análise da multiplicidade espacial das vidas dos
sujeitos e suas experiências alternando de uma microesca-
la para um macronível, o que inclui dimensões nacionais e
globais, revelando uma variedade de escalas policêntricas
em interação. Por fim, destacam, favorece os deslocamen-
tos entre as questões de grande e larga escala e os estudos de
caso individuais ou de pequenos grupos em procedimentos
de vai-e-vem, realçando o exercício do historiador junto às
fontes primárias (2011: 577).
A definição de “fronteira” como uma zona de contato e
conflito intercultural da maneira que preconizam Erik Al-
tenbernd e Alex Young (2014) também emerge como uma
discussão necessária na abordagem da história transnacio-
nal. Por um lado, coloca em relevância a importância de
compreender os efeitos da construção das fronteiras nacio-
nais para as sociedades modernas. Por outro, apaga os limites
geográficos ao enfatizar a permeabilidade das trocas sociais,
econômicas, políticas e culturais, embaralhando-se pontos
de partida e de chegada. Nessa perspectiva, o caráter unidi-
recional do circuito entre centro e periferia proposto pelo
paradigma da transferência fica sob suspeita. Ou, no dizer de
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Escola Nova no Brasil e NEF: seguindo pistas
4 No original: “The editor’s indifference, ignorance and lack of empathy with the method were in
all likelihood a result of his inability to communicate with pedagogues from the United States. His
bitterness became apparent after his attempt in 1923 to organise a World Conference on Edu-
cation together with the American National Education Association, whose members apparently
could not be bothered to respond to his letters and appeals”.
História transnacional da educação: (des)conexões entre Brasil e a New Education Fellowship (1920-1948) 125
Seguindo esta linha de argumentação, poderíamos conce-
ber que os educadores brasileiros teriam mais familiaridade
com o idioma francês que o inglês para explicar a aderên-
cia ao termo LIEN em lugar de NEF. No entanto, a hipótese
não se sustenta quando percebemos a relevância do Teachers
College da University of Columbia (TC/UC) para os educadores
brasileiros na mesma época. Anísio Teixeira, Lucia Casassan-
ta, Alda Loti e Isaias Alves, dentre outros, dirigiram-se ao TC/
UC para aprimorar sua prática e formação. Anísio Teixeira
tornou-se um caso exemplar, mas não excepcional. Recebeu
o título de Master of Arts na instituição em 1929.
A menção aos Estados Unidos da América suscita outras
indagações. A despeito do papel de Beatrice Ensor na difusão
da NEF, é importante destacar que em 1932, no Congresso
de Nice, John Dewey assumiu uma das vice-presidências,
representando a Progressive Education Association, que pas-
sou a compor a seção americana da NEF. Enquanto Ensor é
praticamente desconhecida no Brasil, Dewey tem sido con-
siderado uma das personalidades chave para a Escola Nova
brasileira. Em 1930, Vida e educação foi publicado ampliando
a influência de Dewey na formação de professores no Insti-
tuto de Educação do Distrito Federal (Vidal, 2001) e Instituto
de Educação de São Paulo (Rabello, 2016). Entretanto, a asso-
ciação entre NEF e Dewey nunca atraiu interesse.
Coquoz (40), referindo-se a um poema escrito por Ferriè-
re em sua visita a Montevideu em 1930, revela que o edu-
cador genebrino avaliava sua notoriedade como desigual e
superficial, sentindo-se relativamente isolado do centro do
movimento internacional da Escola Nova. De fato, mesmo
no Instituto J-J Rousseau, Edouard Claparède e Jean Piaget
demonstravam pouco interesse por seus achados científicos
(Coquoz: 41). No Brasil, no entanto, Ferrière tinha um públi-
co cativo. Sete de seus livros foram traduzidos ao português
entre 1920 e 1932 em edições brasileiras e portuguesas: A es-
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francês— o que se configura é uma disputa de significados
associados ao movimento internacional da Escola Nova no
que concerne às distintas denominações que assumiu, como
Educação Progressiva, Educação Nova e Escola Ativa; no
que tange às lideranças internacionais, como Teachers College
(UC), Instituto J.-J. Rousseau e Institute of Education de Lon-
dres; aos autores/atores de referência, como Dewey, Ferriè-
re, dentre outros.
De acordo com Eckhardt Fuchs (2007: 194), as redes so-
ciais configuram formas específicas de governança ou de
coordenação de ações. Nesse sentido, o itinerário de inves-
tigação suscita interrogar sobre os regimes de governança
constituídos pelos educadores escolanovistas, seja ao que se
apresentava formalmente como uma rede social —a NEF,
por exemplo—; seja ao que se tramava informalmente como
tal, em particular no caso brasileiro, por exemplo, o grupo
de educadores que ficaram conhecidos na historiografia da
educação brasileira como os pioneiros por sua adesão ao Ma-
nifesto dos Pioneiros da Educação Nova —A reconstrução educa-
cional do Brasil— Ao povo e ao governo, em 1932.
A circulação internacional de ideias e sujeitos, assim como
as sínteses locais, as hibridações e apropriações constituem-
se em tópicas fundamentais da pesquisa, na certeza de que
não havia perfeita harmonia no campo. Ao contrário, ele foi
sendo construído por meio de tensões e lutas por significa-
dos e estabelecimento de hierarquias (de ideias, educadores
e instituições). Talvez seja nesses entroncamentos que pos-
samos compreender porque, apesar da Inglaterra ter sido o
berço da NEF, e do Brasil estar associado à LIEN, os educa-
dores britânicos nunca tiveram grande influência no movi-
mento brasileiro da Escola Nova.
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As observações traçadas acima nos auxiliam na compre-
ensão de que nos anos 1920 e 1930, uma trama de relações
interligava sujeitos e lugares. A NEF tecia, no formato de
teia, uma intrincada rede unindo educadores de vários paí-
ses do mundo, ao mesmo tempo em que entrelaçava perió-
dicos e congressos. Produzia assim um repertório comum
e partilhado sobre Escola Nova. No entanto, não se consti-
tuía no único território social e epistemológico congregado
sobre problemática. Ao contrário, o TC/UC, assim como
o Instituto Jean-Jacques Rousseau e o Bureau Internatio-
nal de l'Éducation, ambos situados em Genebra, residência
de Ferrière, apresentavam-se como em tensão/coalização,
amalgamando sujeitos e significados em um campo em
constituição. A afirmação é também pertinente para o Brasil.
A criação dos Institutos de Educação do Distrito Federal e de
São Paulo em 1932 e 1933, respectivamente, e sua associação
com as Universidades do Distrito Federal e de São Paulo, em
1935 e 1934, seguiram padrões muito próximos ao TC/UC
(Vidal, 2001) e lançaram as bases de uma ciência da educação
brasileira, não apenas pela criação de especialidades como
pelo engajamento na pesquisa, tal qual ocorreu no IOE.
Assim, ao mesmo tempo em que participavam da NEF, em
seus periódicos e congressos, educadores se organizavam
em Departamentos de Educação e buscavam a chancela da
universidade para as teorias educacionais: operações que re-
tramavam as redes estabelecidas pela NEF a partir de outros
condicionantes, como a própria natureza do trabalho acadê-
mico, e que se entrelaçavam a outros tecidos como a política
institucional e, mesmo, as políticas de Estado. Ainda que não
se possa desenvolver este último aspecto aqui, dado os limi-
tes deste texto, é importante ressaltar que a criação da seção
brasileira da NEF se deu em 1942, durante o período dita-
torial de Getúlio Vargas (1937-1945), no mesmo ano em que
o Brasil aderia aos Aliados na Segunda Guerra Mundial. Foi
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