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A intraduzibilidade da fronteira:

tradução e poesia contemporânea no México e no Brasil

UFF, maio de 2017.


Sérgio Cohen, na antologia Que será de ti?/ Como vai você?, org. e trad.
Luis Aguilar, ed. Vaso roto.

Nomadismo habitar
pertencer. tecer uma relação afetuosa com tudo. a atenção total.
conhecer é o que permite a leveza dos caminhos. habitar é o que
permite o movimento.

[trad. na antologia Que será de ti?/ Como vai você?]


pertencer. tejer una relación afectuosa con todo. atención total.
conocer es lo que permite la levedad de los caminos. habitar es lo
que permite el movimiento

[sug. de trad.]
pertencer. tramar una relación afectuosa con todo. atención total.
conocer es lo que hace ligero los caminos. habitar es lo que
da el movimiento

conocer es hacer que se vuelvan ligeros los caminos. habitar es lo que


hace el movimiento.
Eduardo Milán
Errar, 2012.
Me refiero a ti como a dos fieras porque
una herida son dos fieras. Hay que estar
muy herido para referirse, muy herido de lenguaje.
Me refiero al Cañon del Colorado. Me refiero a
un abismo desnudo que Christo viste, en la
aurora lo veo en su cresta. Me refiero a la nada,
al punto opuesto donde está Christo. Escribir es
desnudarse, escribir es vestirse. Pero el vértigo
no viste, viste el rojo, el pájaro de sangre, el
gorjeo del pájaro de sangre en Inglaterra: pío, pío.
La que te cubre no cobra por vestirse. Ella, la
doncella leve que sobre ti se deposita, esposa del
esposo, gemela del gemido. Por último,
sin miedo, me refiero a mí
Refiro-me a ti como a duas feras porque
uma ferida são duas feras. É preciso estar
muito ferido para referir-se, muito ferido de
linguagem.
Refiro-me ao Canon do Colorado. Refiro-me
a um abismo despido que veste Cristo, na
aurora vejo-o em seu cume. Refiro-me ao
nada,
ao ponto oposto onde está Cristo. Escrever é
despir-se, escrever é vestir-se. Mas a vertigem
não veste, veste o vermelho, o pássaro de
sangue, o
gorjeio do pássaro de sangue na Inglaterra:
pío, pío.
A que te cobre não cobra por vestir-se. Ela, a
donzela leve que sobre ti deposita, esposa do
esposo, gêmea do gemido. Por último,
sem medo, refiro-me a mim mesmo. p. 73
Minerva Reynosa
(Atardecer en los subúrbios, 2011)

otra dinámica de espacio


la frontera
con otro chico con otro
hábito
nos cancerberois
la nave a tientas por el prado
loma
mozos de la luz intergalácticos
sol
incandescente wet back my pasaporte
paso el largo el monte
larga la distancia con otro nome
otro espacio otro sujeto:
 
who stay in the grass
desfigurado
outra dinâmica do espaço
a fronteira
com outro cara com outro
hábito
nos cérberos
a nave tateia pelo prado
colina
carregadores da luz intergalácticos
sol
incandescente wet back my passaporte
passo o monte ao longe
longa a distância com outro nome
outro espaço outro sujeito:
 
who stay in the grass
desfigurado
Rodrigo Flores Sanchez, Tianguis, 2013.

Sintaxe
Más que otra cosa el amor es distancia. Otra
variable. Las imágenes generan culpa. Otros
modelos. Las imágenes producen fantasmas,
los fantasmas producen espacios, las distancias
producen amores. Me quema lo que ves y
ennegrezco lo que miro. Produzco distancias,
culpas, amores. Más que otra cosa el ojo asienta
la ausencia. Y otros ejemplos. Las imágenes
incineran amores, bajo el ojo arden las culpas, mi
tartamudeo indulta a la imagen.
Sintaxe
Acima de qualquer coisa o amor é distância. Outra
variável. As imagens geram culpa. Outros
modelos. As imagens produzem fantasmas,
os fantasmas produzem espaços, as distâncias
produzem amores. Me queima o que você vê e
me obscurece o que vejo. Produzo distâncias,
culpas, amores. Mais que outra coisa o olho fixa
a ausência. E outro exemplos. As imagens
incineraram amores, sob o olhar ardem as culpas, minha
gagueira indulta a imagem.
Intervenir/ Intervene. Dolores Dorantes e Rodrigo Flores Sanchez

No soy una paloma. No soy una bandera. Todavía vivo. El odio nos da las ilusiones: el
marcador puede ser pasajero. Cuando abordo tu historia mi escritura revienta.
 
Esta mañana nadie puede ser una flor. Esta mañana cada uno es un escritorio. Esta
mañana cada persona es una grapadora. Cada mujer es un tornillo. Cada niño una
bala entrando por la espalda.
 
¿Te conozco, mi odio? ¿Estás entre nosotros, mi amor?: Tú no
puedes ser nadie. Traducciones
Não sou uma pomba. Não sou uma bandeira. Ainda vivo.
O ódio nos dá ilusões: o placar pode ser passageiro.
Quando conto tua história minha escrita arrebenta.
Esta manhã ninguém pode ser uma flor. Esta manhã cada
um é uma mesa. Esta manhã cada pessoa é um
grampeador. Cada mulher é um parafuso. Cada criança
uma bala entrando pelas costas.
Conheço você, meu ódio? Você está entre nós, meu amor?
Você não pode ser ninguém. Traduções.
Fiat Lux, Paula Abramo
Angelina

prende un cerillo
no me gusta esta falta esencial del pobre modo
préndelo
como si uno a sí mismo nunca se imperara
como si para imperarse fuera necesaria
rutinaria y filosa la escisión
préndelo
lo prendo y qué hago luego
 
- Prende la estufa.
- Sí, señora.
Angelina es breve y requemada.
Las marcas de sol. No son de sol.
Sí son.
Son preludios del cáncer. Son herencia.
Sobre la hornilla, el aceite bulle en iras.
 
Esta cocina casi pasillo, casi tránsito a otro mundo mucho
menos azul y más de orquídeas, de pereza, de flores más
lentas que la tarde, humedades profundas, corruptoras,
colibríes, cruás [...]
[acende um fósforo
não gosto desta falta essencial do pobre modo
acenda
como se não houvesse nunca imperativo para si mesmo
como se para imperar-se fosse preciso
rotineira e aguçada a fratura
acende
acendo e o que faço depois
- Acende o fogão.
- Sim, senhora.
Angelina é curta e seca.
As marcas do sol. Não são de sol.
Sim são.
São prelúdios do câncer. São herança.
Sobre o fogo, o azeite ferve em iras.
Esta cozinha quase corredor, quase trânsito a outro
mundo muito menos azul e mais de orquídeas, de
preguiça, de flores mais lentas que a tarde, umidades
profundas,
corrompidas, colibris, crás lá no alto, à contraluz.(...)]
“Âncora”
Ana Martins Marques

O sol percorre
toda a extensão de um muro
Riscos na paisagem escrita a lápis
A rua começa desde a escrita – esta em que te sigo
Este poema é uma âncora:
é para que você fique sempre aqui
Mas fogem as horas sem carícias
horas que são como um tanque de peixes
A minha mão cobre a sua com sua sombra
Este poema, pesado, afunda.
“Falésias” (Ana Martins Marques)
 
Hoje tivemos
um dia limpo
caminhamos e comemos
em silêncio
 
buscamos o ponto mais alto
da cidade e falamos
sobre uma casa
que não será construída
 
falamos sobre essa casa
implantada nas falésias
aberta
aos gritos do mar
 
falamos
dessa casa
cada vez mais improvável
onde nenhum de nós vai morar
 
voltamos em silêncio
eu pensando em certos bichos
que só se acasalam
com dificuldade
Annita Costa Malufe

uma ponte cortada ao meio


estar na beira do andaime estar
na ponta de um guindaste
no alto desta ponte cortada ao meio
desta ponte que um dia quem sabe
ligaria duas montanhas uma ponte
sobre o vale desdobrado em tons de verde
penso que estar na beira do andaime é
permitir lembranças que nos suspendem nos lançam imagens que
insistem e um cheiro imperceptível no ar sempre uma ponte que se
constrói sobre
um vale temporal infinito
infinitamente desdobrável em tons de verdes e então o que se
passa é a construção de uma ponte
que muitas vezes não se conclui e fica como esta cortada ao meio
uma ponta para cada lado
como dois braços que se esticam ao máximo
um em direção ao outro
um apoiado em cada lado do grande vale
sem conseguir se tocar
Maricela Guerrero, De lo perdido lo hallado

otro verano: el mapa de tu ciudad (ustedes se mudaron)


sobre la mesa y entre las pausas: los siete mares constelaciones
un archipiélago de espejos

y los ojos te crecen al mar cuando hablas en futuro (imperfecto)


muestras estadísticas de la economía de ciertas famílias de
peces
(que sólo tú conoces)
la fidelidad de los holoturioideos (para mí seguirán siendo
caballos de mar)
arrecifes mantarrayas

de cualquier forma mañana habrá en la playa otra marina


cabizbaja
outro verão: o mapa da tua cidade (vocês se mudaram)
sobre a mesa e entre as pausas: os sete mares constelações
um arquipélago de espelhos

e teus olhos crescem ao mar quando você fala do futuro


(imperfeito)
mostras estatísticas da economia de certas famílias de
peixes
(que só você conhece)
a fidelidade dos holoturóides (para mim continuam sendo
cavalos de mar)
arrecifes mantarraias
Sara Uribe, Antígona González

No querían decirme nada.


 
Tadeo no aparece. No querían decirme nada.
 
Un vaso resbalando de una mano húmeda. Estrépito de cristales. El
nudo en el vientre. El nudo y la náusea. El nudo. Pequeñas gotas de
sangre fresca sobre los mosaicos.
 
Un vaso roto ya no es un vaso. Eso pensé. Eso les dije.
 
¿Qué es lo que murmuran? ¿Por qué todo lo deslizan en voz baja?
¿Qué es lo que están deshaciendo? Te estamos diciendo que Tadeo
no aparece. Te estamos diciendo que somos muchos los que hemos
perdido a alguien.
No querían decirme nada. Querían huir de la ciudad. Por eso muchas casas están
abandonadas, las puertas tienen candados pero adentro aún hay muebles, porque en
la huida sus habitantes… ¿Ves la ironía, Tadeo? Ellos sólo quieren desvanecerse y que
los últimos ojos que te vieron no los miren.
Não queriam me dizer nada.
 
Tadeo não aparece. Não queriam me dizer nada.

Um copo escorregando de uma mão úmida. Estrondo de vidros. O nó na


barriga. O nó e a náusea. O nó. Pequenas gotas de sangue fresco sobre o azulejo.
 
Um copo quebrado já não é um copo. Isto pensei. Isto lhes disse.

O que sussurram? Por que tudo deslizando em voz baixa? O que estão desfazendo?
Estamos te dizendo que Tadeo não aparece. Estamos te dizendo
que somos muitos os que perdemos alguém.
Não queriam me dizer nada. Queriam fugir da cidade. Por isso muitas casas
estão abandonadas, as portas têm cadeados mas dentro ainda há
móveis, porque na fuga seus habitantes... Vê que ironia, Tadeo? Eles só
querem desaparecer e que os últimos olhos que te viram não olhe para eles.
Sérgio Loo. Sus brazos en mi boca rodando

Constelación diurna los pájaros predican un nuevo


sino acorde con el viento El celeste de diacepan
y nubes oculta la fosa común donde los horóscopos
reman reman sus lanchas de motor y se muerden
unos a otros los dedos Sí alitas negras mi
destino está emigrando
Sérgio Loo. Seus braços lábios em minha boca girando

Constelação diurna os pássaros pregam um novo


mas conforme com o vento O celeste de diazepan
e nuvens oculta a fossa comum onde os horóscopos
remam remam suas lanchas de motor e se mordem
uns aos outros os dedos Sim asas negras meu
destino está imigrando
Ana Martins Marques
(O livro das semelhanças, 2015)

[...] Abro o mapa na chuva


para ver
pouco a pouco
diluírem-se as fronteiras
as cidades borradas
diminuem de distância
as cores confundidas
nem parecem mais aleatórias
perderam aquele modo abrupto
com que as cores mudam nos mapas
agora há um grande lago
onde antes havia uma cordilheira
o mar não é mais molhado
do que o deserto logo ao lado [...]
[...] Quando enfim fechássemos o mapa
o mundo se dobraria sobre si mesmo
e o meio-dia
recostado sobre a meia-noite
iluminaria os lugares
mais secretos
(trad. Paula Abramo)
 
 
Estoy en el día de hoy como en un caballo
Estou no dia de hoje como num cavalo
tú estás en tu ropa como en un barco
você está nas suas roupas como um navio
estamos en la ciudad como en un teatro en un
estamos na cidade como num teatro numa floresta
na água bosque en el agua
a tarde de terça é uma feira de bairro la tarde del martes es una feria de barrio
nos encontramos quase por descuido nos encontramos casi por descuido
à mesa do café com sua toalha xadrez en la mesa del café con su mantel a cuadros
de frente para o cinema contínuo do mar frente al cine continuo del mar
no vagão deste mês setembro sereia sinuosa en el vagón de este mes septiembre sirena sinuosa
era quente o dia era o equívoco das estações era caliente el día era el equívoco de las estaciones
era a música pequena da memória era la música pequeña de la memoria
estou no dia de hoje como num casaco largo demais estoy en el día de hoy como en un abrigo
estou no país desta tarde estudei demasiado ancho
na escola do enfado estoy en el país de esta tarde estudié
você dobra a tarde como as mangas en la escuela del enfado
da sua camisa branca tú doblas la tarde como las mangas
você desdobra a tarde como um guardanapo de tu camisa blanca
lançado ao colo tú desdoblas la tarde como una servilleta
echada sobre el regazo
você conhece os modos no que se refere tú conoces los modales en materia de
às tardes tardes
você sabe usar tú sabes usar
os talheres da tarde los cubiertos de la tarde
estou desconfortável no meu nome estou estoy incómoda en mi nombre estoy
na antessala do amor estou na estação en la antesala del amor estoy en la
da espera queria distrair a morte estación
você conhece muita coisa você sabe falar de la espera quisiera distraer a la muerte
sobre as coisas como esses bichos que tú conoces muchas cosas tú sabes hablar
conhecem sobre las cosas como esos animales que
desde sempre as rotas ancestrais conocen
como os pássaros que trazem impressos desde siempre las rutas ancestrales
no corpo como los pájaros que traen impresos en el
os mapas migratórios você conhece a cuerpo
língua do amor los mapas migratorios tú conoces la lengua
que eu soletro tão mal del amor
  que yo deletreo tan mal
Ana Martins Marques
“Margem” (A vida submarina, 2011)

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como no final do mundo antigo como en el final del mundo
há um despenhadeiro. antiguo
hay un despeñadero.
 
 
Embora os que leem prosa em
geral Aunque los que leem prosa en
general
se arrisquem mais
se arriesguen más
porque chegam quase à beira porque casi llegan al linde del
do abismo abismo
cuidado ao chegar à borda do cuidado al llegar al limite del
poema. poema.

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