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setenta e quatro K B Luis Leiria Jornalista, No Brasil trabalhou no Jornal do Brasil, O Globo, Abril editora. Em Portugal, na Vida Mundial, entre outras publicagdes. Foi um dos fundadores do portal Esquerdanet em 2008 ® \ Ricardo Cabral Fernandes Jornalista e diretor do Setentae Quatro. PROPAGANDA, _ DESINFORMACAO E MENTIRAS: A GUERRA CONTRA GAZAEA OPINIAO PUBLICA MUNDIAL A desinformagao sempre foi uma arma de guerra, mas ganhou novos contornos no século XXI. Uma populagao informada e cética é vista como ameaga e as blitzes de propaganda tentam criar falsos consensos nas sociedades. Dissecamos trés casos de desinformagao que desumanizam os palestinianos e legitimam a ofensiva israelita. ENSAIO 23 NOVEMBRO 2023 desinformacao é uma arma de guerra, Nao é novidade para ninguém nem é caracteristica exclusiva do século XXI. Numa guerra, as forcas beligerantes procuram sempre atribuir ‘enormes baixas ao inimigo enquanto minimizam as suas. Esforcam-se por passar a ideia de a vitdria estar ao virar da esquina ao mesmo Nao, obrigado Nao deixa, no entanto, de surpreender 0 volume ea rapidez com que informagées distorcidas, manipuladas ou tiradas de contexto — ou mesmo puras mentiras — chegam ao ptiblico. Sao acompanhadas quase sempre por discursos de ddio e nao poucas vezes sao replicadas sem confirmagao pela comunicagao social. Um documento recente das Nagées Unidas define a desinformacéo como informacao imprecisa, com a intencao de enganar as pessoas e de causar sérios danos. A mentira mais eficaz é aquela que tem um pouco de verdade. ‘Amais recente guerra do Estado de Israel contra os palestinianos de Gaza e dos restantes territérios ocupados é um estudo de caso de como a propaganda de guerra esta a ser usada para disputar a opiniao pliblica mundial. € a desinformagao desempenha um papel essencial: a disputa tem sido feroz nas redes sociais e a comunicagao social também tem desempenhado (mal) o seu papel DEPENDEMOS DE QUEM NOS LE. CONTRIBUI AQUI. Repete-se exaustivamente que Israel esta a lutar pela sobrevivéncia — uma das narrativas mais falsamente usadas pelo Estado israelita desde sua fundacao, em 1948 — e que qualquer critica ao sionismo genocida nao € nada mais nada menos que antissemitismo, o que é totalmente falso, como explica o historiador israelita Haim Bresheeth Zabner em An Army Like No Other. Até os judeus que se opdem as politicas coloniais de Israel s4o encarados como inimigos do Estado Judaico. A propaganda serve para legitimar estas narrativas enquanto o numero de palestinianos mortos, a grande maioria civis, nao para de aumentar, Os principios usados na propaganda de guerra sao transversais 2 todos os conflitos, Padem, no entanto, ter mais ou menos forga nas Nunca quisemos esta guerra, 0 outro lado é que nos forgoua isso, a responsabilidade recai sobre os seus ombros; * Oinimigo (normalmente o seu der) personifica o diabo na terra, quando nao 0 é todo um povo; + Defendemos uma causa nobre e nao interesses especificos; * Oinimigo é responsavel por intimeras atrocidades e crimes, demonstrando a sua perfidia; + Oinimigo usa armas nao autorizadas; + Oinimigo sofre bastantes mais perdas que nés, esta a beira do colapso e da derrota; + Ha um consenso na sociedade em torno da justeza da guerra ea nossa causa 6 sagrada, 6 a defesa dos pilares da nossa civilizagao e regime politico; + E, por fim, os que pdem em causa a nossa narrativa sao traidores, so uma quinta coluna do inimigo que devem ser desmascarados, silenciados e reprimidos. Com 0 advento dos canais noticiosos 24 horas por dia e das redes sociais, somos constantemente bombardeados com informagao e desinformacao, criando uma (muito) limitada e imediatista representagao da realidade. Quando se trata de uma guerra, na qual atores e interesses poderosos se digiadiam, a conquista da opiniao pUiblica é essencial. “A experiéncia dos nossos tempos mostra que aquel principes que fizeram grandes coisas nao tiveram em conta a boa fé e conseguiram, com astlicia, confundir os cérebros dos homens”, escreveu Nicolau Maquiavel, pai do realismo politico, no século XVI. Qualquer intervencao militar exige, por natureza, o consentimento (ou passividade) da populagao e, portanto, é necessario convencé-la da sua justica e moralidade. E quando nao ha consenso nem passividade, mas protestos, entéo ai passa-se ao ataque: ou reprime-se com as forgas de seguranga ou vilipendia-se os manifestantes — como tem acontecido um pouco por todo o mundo com as manifestagdes em defesa dos palestinianos ao serem acusadas de antissemitismo. A maior ameaca é uma populacao informada e cética que se mobiliza em oposicao. JOE BIDEN POE EM DUVIDA OS NUMEROS DO MASSACRE O ritual repetia-se todos os dias de forma macabra. Ao inicio da tarde, 0 ministro da Satide de Gaza anunciava 0 ntimero de palestinianos mortos, muitos deles civis, causados por bombardeamentos israelitas. As atualizagées eram sempr > na ordem das centenas. Depressa a informagao flufa pela imprensa internacional, demonstrando a brutalidade indiscriminada dos ataques israelitas. Como veremos, a contagem do Ministério da Satide de Gaza baseava- se nas certiddes de ébito dos hospitais e centros de satide de Gaza e tinha um alto padrao de rigor que nao foi possivel manter. A causa isto foi o encerramento de muitos hospitais do Norte de Gaza devido & falta de eletricidade, de combustivel para os geradores, de agua potavel, de medicamentos e material cirlirgico. Além disso, a falta de combustivel também provocou dificuldades na recolha dos corpos das vitimas dos bombardeamentos aéreos e do fogo de artilharia israelita. A divulgacao das estatisticas de mortes palestinianas passou a ser em parte estimada. No dia 22 de novembro, as autoridades de Gaza afirmavam que as vitimas mortais palestinianas eram mais de 14 100, das quais 5 800 criangas e 3 900 mulheres. Os feridos sao mais de 30 mile ha 6 mil desaparecidos, a maioria dos quais deve estar morta debaixo dos escombros das suas casas e prédios demolidos pelos bombardeamentos. Esta rotina de se anunciar a cifra acumulada de morte tem sido essencial para se fazer um acompanhamento preciso da guerra desencadeada por Israel. Fazendo as contas, as mortes palestinianas ja sao 11,75 vezes superiores as israelitas, que as autoridades de A“guerra Tal Aviv danni da annineiaramn 1400 hospitais’ 66 soldados israelitas mortos na invasao direita sic terrestre a Gaza ocupa og Tel Aviv: p Um outro namero impressionante € 0 dos uma nova deslocados: cerca de um milhao e meio de aterrorize pessoas da Faixa de Gaza (60% da sua populaga populagao) foram forgadas a abandoner as palestinia suas casas, quer por estas terem sido que abanc destruidas pelos brutais bombardeamentos suas terrc do exército de Israel, quer para procurar um limpeza é: lugar mais seguro ao abrigo das bombas. A CNN fez varios levantamentos que traduzem em niimeros e graficos a brutalidade da ofensiva israelita. Por exemplo, ‘ontimero de criangas mortas até agora em Gaza jd supera em quatro vezes a cifra de criangas mort 1s em conflitos armados, em todo o mundo, nos Gitimos quatro anos. utra comparagao significativa faz-se coma guerra da Ucrania: até 8 de novembro deste ano, a invasdo russa causou a morte de 477 criangas em 2022 e de 83 em 2023, ‘Além das imagens que vernos de uma Gaza destruida e de hospitais em colapso, estes nfimeros so 0 indicador mais fiével das consequéncias humanas da ofensiva israelita. E, portanto, na légica dos aliados do Estado de Israel, é necessario descredibilizé-los. Foi o que o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, fez ao mostrar desconfianga ptiblica sobre as estatisticas vindas de Gaza. “Nao tenho a nogao de que os palestinianos estejam a dizer a verdade em relagao a quantas pessoas morreram. Estou certo de que morreram inocentes, é o prego das guerras... Mas nao tenho confianca nos numeros que os palestinianos usam’, disse Biden a 25 de outubro. O presidente dos Estados Unidos nao disse em que ntimeros acredita, até porque o governo de Israel nao divulga as estatisticas das mortes que a sua ofensiva militar provoca, apenas as baixas dos seus militares (66 na presente ofensiva contra Gaza, segundo as noticias de 20 de havambral Mac a decranfianea lancaria enhra ac actatictinac dac Nao éincomum 0 Estado de Israel, que diz ter 0 “exército mais moral do mundo”, avisar 0 alvo poucos minutos antes de o bombardear. Quando ouviu os comentarios de Biden, o ministro da Salide de Gaza, Medhat Abbas, disse ter ficado tao incomodado que publicou uma lista de 212 paginas com o nome das vitimas palestinianas em Gaza, incluindo o nome, a idade, o sexo e o ntimero do registo de identidade. Alista continha, naquela altura, quase 7000 nomes. O fact check do Washington Post sobre a credibilidade dos nameros divulgados pelo Ministério de Satide de Gaza mostrou que sao de confianga. A noticia citou o Escrit6rio para Assuntos Humanitarios da ONU (OCHA, sigla em inglés) dizendo que os dados oficiais de Gaza “so de alta precisao”. Lembrando a Guerra de Gaza de 2014, o Washington Post cita as estatisticas de mortes daquele conflito, segundo diferentes fontes, As diferengas nao sao significativas: o Ministério da Satide de Gaza registou 2 310 mortes; a OCHA 2 251; e 0 Ministério dos Negécios Estrangeiros de Israel, 2 125. No final do fact check, o Washington Post conclui que, ao rejeitar como nao crediveis os nimeros das autoridades de Gaza, a opiniao de Biden demonstra uma notavel desinformacao da Historia e de acontecimentos anteriores. “PROPAGANDA BLITZ” Ha uma expresso que se enquadra que nem uma luva nas guerras pela opiniao piiblica dos dias de hoje: a blitz de propaganda. “Uma ser visto como algo desprezivel e ser ativamente visado, 0 tema basico: isto muda tud escreveram David Edwards e David Cromwell no livro Propaganda Blitz — How the Corporate Media Distort Reality. E imperativo cativar constantemente o interesse dos leitores e espectadores para manter elevado o apoio militarista, e a constante novidade (novos supostos crimes e atrocidades, movimentos no campo de batalha, etc) 6 essencial. © choque moral, a indignacdo, a raivae a revolta sao as emogées pretendidas. Mesmo quando as informagoes so erradas, os “propagandistas estao bem cientes de que a atengao dos meios de comunicacao social passara rapidamente para as alegagées de novas provas dramaticas, pelo que a durabilidade das alegagdes nao é uma preocupagao fundamental’, escreveram Edwards Cromwell Aexibicao da brutalidade do Estado de Israel contra os palestinianos esta a fazé-lo perder a opiniao pablica mundial. ‘Anovidade, usando imagens televisivas de violéncia espectacular (viciando e insensibilizando 0 espectador), é o motor deste género de propaganda que tenta impor 0 emocional sobre o racional, simplificando os acontecimentos numa dicotomia bom/mau. $6 existe aquele momento, nao existe histéria nem contexto, as posigoes discussdes assumem uma vertente totalitéria: ou ests conosco ou contra nés, nao ha meios termos. E 0 direito internacional humanitario, 86 existe contra 0 outro lado, é esgrimido como se fosse uma arma que apenas se aplica a um dos lados beligerantes, Dai que as caracteristicas das propagandas blitz, explicam Edwards Cromwell, sejam as seguintes: * Sao baseadas em novas e dramaticas alegacdes que justificam aces militares nresentes a1 futuras. demonizando e Sao comunicadas com grande intensidade emocional e indignagao moral, fazendo com que os leitores/espectadores sobreponham a emogao a racionalidade. + Sao aparentemente apoiadas por um consenso informado de recorrentes académicos e especialistas nos meios de comunicagao social. Os constantes debates e comentarios televisivos, mais de combate politico do que de carater explicativo e informativo, com grandes soundbites, sdo a forma. * Sao reforcadas por condenagdes e acusagées contra qualquer pessoa que se atreva a por em causa esse suposto consenso. As acusagdes mais comuns sao de traigao, aliados do terrorismo, de nao condenarem certas aces, criando assim uma imagem de descredibilizagao, marginalizando. + Sao caracterizadas por dissonéncia moral tragicémica, usando falsas equivaléncias ou recusando equivaléncias individualizando situagdes em que os mesmos principios se deveriam aplicar. As propaganda blitzes tornam-se tao mais eficazes consoante a fragilidade do jornalismo a nivel internacional e nacional. Ou seja,a crise do jornalismo é um factor essencial para o sucesso das agéncias de relagdes pUblicas ou de drgaos estatais na promocao da propaganda de guerra O numero (muito) diminuto de correspondentes nos locais dos acontecimentos, obrigando as redacdes a dependerem das agéncias noticiosas internacionais (historicamente divididas por areas de influéncia geopoliticas), imitando a pluralidade informativa sobre determinado acontecimento. A crescente concentragao de propriedade dos érgaos de comunicagao social, a que se acrescenta o grau de intromissao dos conselhos de administracao nas politicas, editoriais. Os baixos salarios, os longos tumos e a precariedade nas redagGes diminuem significativamente a possibilidade de dissidéncia dos jornalistas, em tempos uma das caracteristicas inabalaveis do jornalismo. A constante pressao das chefias para o imediatismo noticioso, replicando acriticamente noticias de outros érgaos, muitas vezes sem confirmacao. Sao todos factores que ameacam o jornalismo A fragilidade das redacdes faz com que a pluralidade informativa seja seriamente afectada. A consequéncia é um mimetismo noticioso que prejudica no apenas a democracia como salvaguarda os grandes interesses, muitos deles do complexo militar-industrial. As decisées de politica externa deixam de ser questionadas para serem replicadas acriticamente, até mesmo justificadas. Por exemplo, ao invés de escrutinar as alegacdes, decisdes e agdes da administragao Bush filho sobre as supostas armas de destruicao maciga no Iraque, o The New York Times foi um verdadeiro porta-voz do belicismo ilegal do executivo neoconservador com os editoriais, opinides e noticias que publicou ao longo de mais de dois anos, entre 2002. 2004. Hoje, depois de mais de um milhao de iraquianos mortos, sabemos que era tudo mentira. O préximo caso é um caso classico de uma propaganda blitz. O CASO DOS “40 BEBES DECAPITADOS” O mundo ainda vivia a ressaca das agdes armadas do Hamas do dia 7 de outubro. O exército e a espionagem israelitas, humilnados ao verem estilhagar-se a sua imagem de invencibilidade militar e de suprema eficacia na area de intelligence, passaram da estupefacao ao contra- ataque. O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, declarou que Israel estava em guerra e deu ordem para 0 inicio dos bombardeamentos contra a Faixa de Gaza. Mas Gaza tem uma das maiores densidades populacionais do mundo, com organizacées de direitos humanos a classificarem-na como a maior prisdo a céu aberto, e portanto muitas das vitimas mortais seriam inevitavelmente civis. Os bombardeamentos nao iriam discriminar entre combatentes do Hamas e a populagao civil. Dai que tenha entrado na ‘equacao um dos principios da propaganda de guerra: desumanizar 0 sangue, Ou, como Ihes chamou o ministro da Defesa de Israel, “animais humanos”. Uma das primeiras operagées de relagdes piiblicas montada pelo governo israelita foi levar alguns jornalistas a visitar o kibbutz de Kfar Aza, um dos alvos do ataque do Hamas. de 7 de outubro, e verem in loco o massacre de civis. Na manha de 10 de outubro, uma “Nao tenh noticia horrenda espalhou-se 4 velocidade da de que os luz pela imprensa israelita e mundial no palestinio kibbutz de Kfar Aza tinham sido descabertos estejam a 0s corpos de 40 bebés mortos e verdade e decapitados a quantas morreran Quem deu a noticia foi a jornalista Nicole certo deq Zedeck, do canal de noticias israelita i24 morreran News. Ela fez varios lives a partir do kibbutz inocentes, que fica a menos de um quilometro da das guerr fronteira com Gaza. As imagens evidenciavam ndo tenho que ali tinham sido travados combates nos nume ferozes. 0 Exército israelita tera demorado 17 palestinic usam”, dis horas para chegar ao local. Ajornalista descrevia o que via, procurando, com a voz embargada, ganhar mais dramaticidade. Foi entao que soltou a bomba: “Pelo menos 40 bebés foram retirados daqui em macas"", disse. la prosseguir, mas, no estiidio, o apresentador do programa interpelou-a: “Tenho de te interromper: disseste 40 bebés mortos?” “Foi o que me disse um dos comandantes Amencao as decapitacées viria depois, quando Zedeck se referiu a corpos de mulheres e criancas decapitados. Estava lancada a “noticia” que iria fazer manchetes em todo o mundo. “Kfar Aza, 0 local onde o Hamas assassinou 40 bebés’, titulou a SIC Naticiae & CNN Partial naa the fieni atrée: “Rahae daranitadas & No Brasil, a Globo abragou a falsa noticia de imediato, tal como a CNN Brasil. Nos Estados Unidos, a Fox News nao esperou para pér no ar essa “prova definitiva” do barbarismo do Hamas. No Reino Unido, os tablides também nao esperaram, ou nao fossem imprensa que vive do sensacionalismo; foram, porém, acompanhados por jornais de prestigio como 0 The Times, The Daily Express, The Scotsman, ¢ 0 Financial Times. Com tanta pressa em dar a noticia-bomba, esqueceram-se de um pormenor: confirmé-la oficialmente com o Exército israelita. Nesse mesmo dia, a jornalista do i24 News pés no ar uma entrevista com a sua nica fonte, um vice-comandante da unidade 71 do Exército israelita, David Ben Zion, que 6 também um colono extremista conhecido por, meses antes, incentivar ataques de colonos contra os palestinianos da Cisjordnia “Fomos de porta em porta, matamos muitos terroristas. Eles sao muito maus. Cortam as cabecas das criangas, cortam as cabegas das, mulheres. Mas nds somos mais fortes que eles.” E acrescentou: “Sabemos que eles sao animais, mas agora descobrimos que nao tém coragao”, ABlitz de propaganda das autoridades israelitas corria a velocidade da luz pelas redes e pela comunicagao social quando alguns “desmancha- prazeres” vieram emperrar a engrenagem. A maior ameaca 6 uma populacao informada e cética que se mobiliza em oposicao. A Sky News estava no kibbutz ao mesmo tempo que a repérter da i24 News. O correspondente-chefe Stuart Ramsay falou com dois majores do IDF (Israel Defence Forces, 0 Exército israelita), um dos quais era narta-va7. Mas em nenhum momenta se referiram an Hamas ter Outro jornalista que participou na mesma visita foi o repérter fotografico Oren Ziv, que afirmou na rede social X (antigo Twitter): “Estou a receber muitas perguntas sobre os relatos de ‘bebés decapitados pelo Hamas’ que foram divulgados apés a visita a Kfar Aza, Durante a visita nao vimos nenhuma evidéncia disso, e 0 porta-voz ou ‘os comandantes do Exército também nao mencionaram nenhum desses incidentes”, Aesta altura, a Sky News levava aos ecras trés jornalistas da casa para explicar porque nao estavam a noticiar a histéria dos 40 bebés. Ea explicacao era simples: nao tinham qualquer prova de que acontecera, e tinham pedido trés vezes ao Exército israelita a confirmagao, sem que ‘0s seus porta-vozes a tenham dado. Sem isso nao podiam dar a noticia, como mandam os preceitos mais elementares do jornalismo. Quem primeiro anunciou que o Exército israelita nao confirmava a histdria dos 40 bebés foi a agéncia de noticias turca Anadolu, que falou com um porta-voz do Exército de Israel. Questionado sobre a historia dos bebés, o militar israelita disse e repetiu: “Vimos os noticidrios, mas nao temos outros detalhes ou confirmagao”. Poucos, porém, seguiram a mesma ética, E 0 resultado foi que a informagao de que nao se confirmaraa noticia dos 40 bebés decapitados nao chegava as pessoas. Quem deu um forte contributo para que essa desinformagao se espalhasse foi, mais uma vez, Joe Biden Usar imagens televisivas de violéncia espectacular é o motor deste género de propaganda que tenta impor 0 emocional sobre o racional, icando os acontecimentos numa dicotomia bom/mau. Num encontro com lideres judeus norte-americanos, o chefe de Estado comentou nunca ter pensado que veria “imagens de terroristas a decapitar criangas”. Mas, segundo 0 Washington Post, um porta-voz da prépria Casa Branca disse mais tarde que o presidente nao vira fotografias nem tivera confirmagao independente das decapitagées, ‘Apenas se baseara em declaragées do porta-voz de Netanyahu eem noticias dos média israelitas. Entretanto, ja jornalista e piv da CNN Sara Snider pedia desculpas pliblicas por ter dado a noticia. “Ontem, o gabinete do Primeiro-ministro de Israel afirmou ter confirmado que o Hamas tinha decapitado bebés e criangas (..) O governo israelita diz agora que ndo pode canfirmar a decapitagao de bebés. Eu devia ter tido mais cuidado com as minhas palavras, e por isso pego desculpa O mal, porém, jé estava feito: a agéncia Anadolu ouviu um especialista, Marc Owen Jones, que calculou em 44 milhdes o numero de impress6es da primeira noticia dos bebés decapitados, 300 mil “gostos” e mais de 100 mil partilhas em 24 horas no X. No meio de tanto mau jornalismo, resta destacar 0 excelente trabalho feito pelo brasileiro Didrio do Centro do Mundo, Em Portugal, o Pablic 0 contrario da SIC, negou-se a validar a noticia dos 40 bebés, explicando que “esta informagao nao foi avangada por nenhum outro meio de comunicagao internacional e um porta-voz das Forgas ‘Armadas israelitas disse 8 agéncia turca Anadolu que ‘néo tinhe quaisquer detalhes ou confirmagao sobre isso”. No dia seguinte, porém, nova reviravolta: 0 exército israelita deu o dito por nao dito, afirmando haver provas das mortes e decapitagdes de bebés. Entregou aos jornalistas fotos de trés bebés, dois carbonizados eo terceiro com marcas de bala. Nao disseram onde as fotos tinham sido tiradas, se no kibbutz de Kfar Aza ou nao. O secretério de Estado norte-americano, Antony Blinken, mostrou-se muito comovido com a visdo das fotos, mas a principal preocupacao era nao desmentir o que Biden dissera na véspera, O CASO DAS INCUBADORAS ROUBADAS As criangas criam naturalmente empatia e, por isso, S40 muitas vezes usadas como propaganda de guerra. Este caso dos “40 bebés decapitados” nao foi Unico. Em outubro de 1990, quando os Estados Unidos estavam a montar uma coligagao internacional para expulsar 0 Iraque de Saddam Hussein do Kuwait, surgiram noticias de que soldados iraquianos tinham entrado no Hospital da Cidade do Kuwait, retirado 312 bebés de incubadoras, levado os aparelhos e deixado os bebés no chao, onde acabaram por morrer. Era mentira. “Fui voluntaria no hospital al-Addan’, disse Nayirah no Comité de Direitos Humanos do Congresso dos Estados Unidos. “Enquanto la estava, vi os soldados iraquianos entrarem no hospital com armas € irem para sala onde (..) os bebés estavam em incubadoras. Tiraram os bebés das incubadoras, levaram as incubadoras e deixaram os bebés no chao frio a morrer.” Dois anos depois descobriu-se que 0 seu testemunho era falso, bem como a sua identidade. Nayirah nao era quem dizia ser, era sim filha de Saud Nasir al-Sabah, embaixador do Kuwait nos Estados Unidos, e tinha sido treinada pela empresa de relacdes pablicas Hill & Knowiton. “De todas as acusacées feitas contra o ditador [Saddam Hussein], nenhuma teve tanto impacto no piiblico norte-americano como a dos soldados iraquianos terem removido 312 bebés das suas incubadoras, deixando-os para morrer no chao frio do hospital da Cidade do Kuwait”, ‘escreveu o jornalista John MacArthur no livro The Second Front: Censorship and Propaganda in the 1991 Gulf War, de 1992. Mas esses eram tempos anteriores ao das redes sociais, as televises ainda dominavam, Ajornalista Victoria Elms, especializada em investigagao nos meios digitais da Sky News, canfirman nie daca a dia 7 de nitihra ac Israel com Gaza”. Imagens do conflito na Siria, por diaec de clipes de videojogos, de videos do TikTok sociais, so feitos meses antes estavam - ¢ estdo - a ser bombarde partilhados na Internet como se fossem dos informaci Ultimos acontecimentos em Gaza. Para a desinforn jornalista, isto “é particularmente perigoso em criando wu tempos de contflito” onde pode haver mais limitada dificuldades que o habitual para verificar de imediatist forma independente as informagées do represent realidade material postado. No episddio dos “bebés decapitados”, as autoridades israelitas e dos Estados Unidos em nada contribuiram para a verificagao independente das fotos exibidas a alguns meios de comunicagao, nem conseguiram demonstrar a veracidade dos barbaros crimes que denunciaram. Mas a mensagem teve 0 impacto desejado naquele espago de tempo: reforgoua desumanizagao dos palestinianos e contribuiu para justificar os bombardeamentos aos olhos de uma parte da opiniao ptiblica mundial As noticias continuaram a fluir, ora sobre Gaza ora sobre a brutalidade do ataque do Hamas, ¢ 0 piblico virou a sua atengao para outras dimensdes da ofensiva israelita. E as criangas voltaram a ser um foco de atengao, desta vez do lado palestiniano: o numero de criangas palestinianas mortas em Gaza j ultrapassava as 400, endo parou desde entao de aumentar. O secretario-geral das Nagdes Unidas, Anténio Guterres, deixou um sério aviso: Gaza ia transformar-se num “cemitério para as criangas”, Nem sempre a propaganda de guerra resulta como os seus promotores esperavam, por vezes a realidade troca-lhes as voltas. Mesmo coma blitz de propaganda, a exibi¢ao da brutalidade do Estado de Israel contra os palestinianos esta a fazé-lo perder a opiniao publica mundial, semelhanca do que aconteceu durante a Primeira Intifada (1987- 1993). No atual conflito, a invasao terrestre a Gaza ea perseguicao aos num ataque aos hospitais de Gaza. Um dos primeiros a ser atacado foi o ALAnli, num momento em que 0 exército israelita ainda afirmavs bombardeer hospitais”. A CARNIFICINA NO HOSPITAL BATISTA AL-AHLI No dia 17 de outubro, o Hospital Batista Al-Ahli Arabi foi atingido por uma bomba que matou 471 pessoas, de acordo como Ministério da Satide de Gaza. Além dos doentes, o hospital albergava muitas familias que tinham ficado sem casa e que consideravam o hospital o lugar mais seguro para se abrigarem. A bomba exolodiu na entrada do hospital, numa praca de estacionamento onde havia muita gente acantonada Pouco tempo antes, o hospital tinha recebido das autoridades israelitas uma ordem de evacuagao, dada a todos os hospitais situados no norte de Gaza. Os médicos, cientes de que os hospitais situados no sul de Gaza nao tinham a menor possibilidade de atender os doentes do norte, coptaram por ignorar a ordem. Assim, de certa forma, o pessoal hospitalar estava alerta para a possibilidade de haver algum tipo de atentado ou intimidacao. Nao é incomum 0 Estado de Israel, que diz ter 0 “exército mais moral do mundo”, avisar 0 alvo poucos minutos antes de o bombardear. Fé-lo, por ‘exemple, em maio de 2021 quando bombardeou 0 escritério da televisdo Al-Jazeera em Gaza: avisou os jornalistas dez minutos antes de pulverizar o prédio de 11 andares. “Pensémos que o bombardeamento da torre em que nos encontravamos era muito improvavel. $6 albergava gabinetes de imprensa, empresas eo eram apartamentos residenciais’, disse um ano depois Wael Al Dahdouh, chefe do escritério da Al-Jazeera. Os minutos que se seguiram a explosao no Hospital Batista Al-Ahli de ser o autor do bombardeamente, afirmando que nele tinham morrido mais de 500 pessoas (nimero que mais tarde seria de 471), As reagées ao atentado nao se fizeram esperar. O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, declarou trés dias de luto e cancelou uma reuniao marcada com 0 presidente dos Estados Unidos. Arabia Saudita e Jordania cancelaram a mesma cimeira em que iriam participar com a Autoridade Palestiniana e o presidente Joe Biden, As criangas criam naturalmente empatia e, por isso, sao muitas vezes usadas como propaganda de guerra. Justin Trudeau, primeiro-ministro do Canada e forte aliado de Israel, classificou o atentado como “horrivel’ e “inaceitavel’. Egito, Irao, Qatar e Turquia também 0 condenaram. Protestos contra o ataque a um hospital - um crime de guerra pela Convengao de Genebra aconteceram em Ramallah e noutras cidades da Cisjordania. Em Aman, manifestantes te ram invadir a embaixada de Israel na Jordania, No Libano, houve protestos diante das embaixadas da Franca e dos Estados Unidos em Beirute; ¢, no Irao, os manifestantes concentraram- se em frente as embaixadas da Franga e do Reino Unido. Também houve protestos nas capitais de Marrocos e do Iraque, No dia seguinte, as autoridades militares de Israel rejeitaram a autoria do atentado atribuindo a culpa a organizacao palestiniana Jihad Islamica. Na verso de Israel, um dos rockets disparados contra 0 territ6rio israelita sofreu uma avaria e acabou por atingir o Hospital Al Ahli, Mas, antes desta verso ser apresentada oficialmente pelo Exército, um assessor do primeiro-ministro israelita Hananya Naftali escreveu no X: “A Forca Aérea atingiu uma base terrorista do Hamas dentro de um hospital de Gaza A nublicacdn duran nouco temno foi anagada A nressa. mas esteve Israel ndo bombardeia hospitais”. Passado um més de guerra, com dezenas de ataques a centros médicos e hospitais em Gaza praticados pelas tropasisraelitas, essa afirmagao ndo faz o menor sentido. Israel comegou, entretanto, a argumentar que combatentes do Hamas usam ambulancias para assim justificar 0s seus ataques contra socorristas, Para reforcar a sua tese sobre o ataque ao hospital, os militares israelitas apresentaram uma suposta gravagao de uma conversa telefonica interceptada em que dois militantes do Hamas comentam a explosio no Hospital Al-Ahli, Nela reconhecem ter sido a Jihad a responsavel pelo desastre. Mas a gravagao nao resistiu a primeira andlise profissional ‘A Earshot, organizacao nao-governamental que faz investigagao de som para comunidades afetadas por injustigas cometidas por empresas, por Estados ou crimes ambientais, concluiu que a gravacao ndo era de uma conversa. Tratava-se de duas gravacdes independentes, editadas e “vi os sold iraquiano entrarem hospital c eirem pa) onde (...)0 estavam ¢ incubadoi Tiraram c das incub: levaram c incubado1 deixaram no cho fr morrer”,¢ Nayirah. | mentira. intercaladas posteriormente para parecerem um didlogo. A Earshot, concluiu que “o nivel de manipulagao necessario para editar as duas vozes daquela pega a desqualifica como prova”. O Exército israelita ja tivera antes de retirar um video que supostamente mostraria o rocket desgovernado, gravado quase uma hora depois da explosao no Hospital Al-Ahii ‘Apesar da sucesso de provas canhestras apresentadas - e retiradas pelo comando militar israelita, dezenas de paises, a comegar pelos vez, Joe Biden comandou a onda, dizendo a Netanyahu que ja sabia que aautoria do morticinio no hospital era “da outra equipa, ndo vossa”.O presidente dos Estados Unidos diria a imprensa que chegara a essa conclusao com base “nos dados que me apresentou omeu Departamento de Defesa” A disputa em torno da autoria do bombardeamento do Hospital Al-Ahli nao foi tecnicamente resolvida, nao houve provas irrefutaveis 2 confirmar uma ou autra versao. O exército de Israel afirmou que nao precisava de apresentar provas, j4 que tudo estava documentado num video da Al-Jazeera. Assim, 0 canal de televisao com sede no Qatar fez uma reconstitui¢ao minuciosa do seu préprio video, tirado de uma camara apontada na diregao de Gaza e que naquele momento transmitia em streaming. Montou esse video com outros gravados nos mesmos momentos, mas a partir de outros pontos e perspetivas. Isso permitiu-lhe fazer uma minuciosa reconstituigao, quase frame por frame, da sequéncia dos acontecimentos. Desse trabalho pode concluir-se que 0 Exército israelita, ao contrario do que afirmara, fez disparos que acertaram nas redondezas do hospital poucos minutos antes da explosao da bomba fatidica. Nao se confirma assim a afirmagao israelita de que o seu Exército nao tivera atividade naquela area. O video da Al-Jazeera regista em seguida o langamento de trés rockets a partir de Gaza, intercetados e derrubados pelo sistema de defesa aérea de Israel, 0 Iron Dome. Um illtimo rocket 6 langado a partir de Gaza e é o que Israel afirma ter provocado a explosao no hospital. Oniimero de criangas mortas até agora em Gaza ja supera em quatro vezes a ‘a de criancas mortas em conflitos armados, em todo o mundo, nos ailtimos Mas a reconstituigao da Al-Jazeera mostra como, mais uma vez, 0 rocket foi atingido pelo Iron Dome, explodiu no ar e no ar se consumiu totalmente. Cinco segundos depois houve uma nova explosao em Gaza, seguida de outra, muito maior, que foi a do hospital. HA, porém, um facto que causou dificuldades aos que procuraram comprovar a autoria de Israel: nao haver, no local, uma cratera compativel coma violéncia da explosao. Especialistas afirmaram a BBC que 0 tipo de armas usadas por Israel nos seus bombardeamentos obrigaria a existéncia de uma cratera muito maior, um argumento a reforcar a tese do rocket desgovernado logo a seguir ao langamento, que teria ainda muito combustivel e seria este que teria provocado a ‘enorme e mortifera explosao. Contra esta tese ha o argumento de que existem sim projéteis capazes de causar grandes explosées sem fazer grandes crateras; por outro lado, mesmo com quase todo o combustivel, o poder de fogo de um rocket da resisténcia palestiniana nunca daria origem a uma explosao de tamanho porte. Entre as armas israelitas que podem nao causar grandes crateras esto as Joint Direct Attack Munition (JDAM), um kit que transforma bombas antigas em bombas guiadas 4 distancia com grande precisao. Um especialista em armas ouvido pela agéncia turca Anadolu considerou que pode ter sido usada uma bomba MARk 84 com o kit JDAM, que poderia ter detonado antes do impacto no solo, com o fim de causar danos maiores e sem abrir grandes crateras. Em casos de andlise de bombardeamentos como este, a evidéncia ds ‘0.caso do Hospital Al-Ahli, No local, a corrida para socorrer os feridos éar ha de estilhagos, Nao foi esse iva para resolver as divida fez com que os vestigios desaparecessem. No dia seguinte, funcionarios do Hospital ainda recolhiam pedagos de corpos. Enviar peritos de fora de Gaza para procurar os estilhagos era totalmente inviavel. E assim nao houve conclusdo final e cada lado ficou com a sua narrativa, bombardeamento do Hospital Al-Ahli aconteceu ja a ofensiva se prolongava ha dez dias, Passou-se entretanto mais de um més. O que nos mostrou a realidade nestas semanas? O que fez Israel aos hospitais e centros médicos de Gaza? Tomou-os Afragilid: simplesmente como alvo. A guerra contra o redac6es{ Hamas passoua ser uma guerra 20s que a plur hospitais informati seriament O maior hospital de Gaza, 0 Al-Shifa, foi afectada. invadido pelas tropas israelitas que alegavam consequé: estar a procura da entrada para os tiineis do mimetism Hamas, onde estaria instalado 0 centro de noticioso: comando operacional de toda a organizacao. prejudica Precisamente sob o hospital. Nada do que apenasa supostamente foi encontrado passou por democrac verificagao independente. Mesmo o tine! salvaguai alegadamente encontrado nao mostra grandes it qualquer trago de nele ter sido instalado um centro de comando. Mas a propaganda vai sendo feita e reproduzida. Na hora em que terminamos este texto, todos ‘os hospitais do Norte de Gaza deixaram de funcionar por falta de medicamentos, agua, energia, eletricidade. O Al-Shifa, o maior hospital de Gaza, teve de retirar os doentes que podiam ser deslocados, Os bebés prematuros fizeram parte desta deslocagao. Nove jé tinham morrido por falta de condigdes minimas para as incubadoras, como a auséncia até de agua limpa. Amostrar que a invasao do Hospital Al-SI fa nao foi uma excesao, tropas israelitas cercaram outros hospitais em Gaza e estenderam essas operagées a Cisjordéinia. O objetivo, além de impedir o bom funcionamento de hospitais ja superlotados, é aterrorizar a populagao palestiniana, mostrando-Ine que nao ha lugar onde possa encontrar Os dados da Organizacao Mundial de Satide (OMS) confirmam estes ataques do exército israelita aos hospitais: a OMS registou nada menos. que 335 ataques a centros de satide e hospitais no territério palestiniano ocupado, sendo 164 em Gaza e 171 na Cisjordania, desde 0 dia 7 de outubro. A desconfianca lancada sobre as estatisticas das autoridades de Gaza permite desacreditar os nameros impressionantes de mortos, ou, pelo menos, deixar a diivida no ar. Quando terminar a trégua negociada de quatro dias, Israel vai atacar o Sul de Gaza, disse Netanyahu, para onde ordenou que se deslocasse a populagao do Norte. Diante desta situagao catastréfica, 6 estranho que o Hospital Al-Anli, no dia 17 de outubro, tenha sido alvo de Israel? A luz dos contornos barbaros que esta guerra tem vindo a tomar, a resposta s6 pode ser: no. Nao é estranho. Nada estranho que o A\-Ahli tenha sido bombardeado por Israel, como fez entretanto com tantos outros. Alls, luz dos mais de 14 100 mortos palestinianos, a solugao deste enigma J8 parece um exercicio initil ‘A“guerra aos hospitais” veio mostrar 0 objetivo final da extrema-direita sionista que ocupa o governo em Tel Aviv: provocar uma nova Nakba como a de 1948, aterrorizar a populagao palestiniana para que fuja para outro pais, abandone o que resta das suas terras. E a limpeza étnica de todo o territério. Nao, no é uma fake news. A inten¢do é real e tem sido abertamente declarada. O mundo deixaré que leve a sua avante? Nas ruas de Londres, Berlim, Paris, Lisboa, de Africa, na América, no Préximo e ‘enorme. A voz das ruas, quando é gigante, 6 sempre superior, mais forte e mais influente, que as propagandas blitzes. lllan Pape “A nacionalidade israclita baseia-se na desumanizagao do palestino, do arabe" A descolonizagao (mediatica) da Palestina JORNALISMO INDEPENDENTE EDE CONFIANGA. E ISSO QUEO SETENTAE QUATRO QUER LEVAR ATE AO. TEU E-MAIL. Nome INSCREVE-TE J email@meilpt 0 Setentae Quatro asseguractotal Cconfidenciaidade e ‘CREVE! ‘Seguranga dos teus dados. em estito Usamos cookies neste site para melhorar a experiéncia de navegagao dos utilizadores Dima Mohammed: "Como vamos. viver sabendo que assistimos aum genocidio e nao fizemos nada para otravar? Iransmitidos a tereeiros ‘eque s6 serao mantidos ‘enguanto o desejeres, Podes solicitar a alteragao dos teus dados ou sus remacio integral a qualquer momento através do email geral@sctontaccuatropt setenta e quatro Ensalos INVESTIGACAO 74 Internacional Nacional wiki Quem Somos Rss Usamos cookies neste site para melhorar a experiéncia de navegagao dos utilizadores

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