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Segundo este autor, nos anos 1980, a fotografia ainda não havia alcançado o
status de peça de acervo e tampouco o status de documento, uma vez que sua
importância não havia sido extensiva e profundamente percebida. Já na atualidade,
percebe-se que a fotografia tem sido bastante utilizada nas pesquisas.e tem o status
de documento. Os estudos de Kossoy, desde então, se convergem para a
necessidade de que as instituições não só guardem este tipo de documentação, mas
também percebam que:
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1. SENAC: Paradigma Indiciário aliado à iconografia
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documentais presentes na escola sobre os referidos anos). Todavia, poucas delas
continham datas ou nomes. Foi preciso, então, proceder como Samuel (1997) aponta:
“(...) não basta buscar esse passado para que ele se inscreva
mecanicamente no presente. De todo modo, subsistem apenas
alguns sinais, materiais e psíquicos, daquilo que aconteceu: entre os
fatos em si mesmos e os sinais que eles deixam, desenrola-se um
processo de seleção que escapa à vontade dos indivíduos. Agora, a
isso se acrescenta um segundo processo de seleção, consciente e
voluntária dessa vez: de todos os sinais deixados pelo passado,
escolheremos só reter e só consignar alguns, julgando-os, por uma
razão ou por outra, dignos de ser perpetuados. Esse trabalho de
seleção é necessariamente secundado por outro, de disposição e
portanto de hierarquização dos fatos assim estabelecidos: alguns
serão destacados e outros, lançados à periferia” (p.143).
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Mesmo que mal conservadas ou apenas mal organizadas, existem, no SENAC,
diversas fotografias. Este fato foi essencial para haver melhor encaminhamento e
desenrolar da pesquisa.
Sabe-se que a fotografia pode ser utilizada como fonte histórica. Da análise
das imagens, pode-se chegar a diversos indícios. Sabe-se também que, na história de
determinado período, a fotografia serve como ilustração do contexto histórico.
No entanto, pretendeu-se, nessa pesquisa, fugir da cilada de encarar a
fotografia como mera ilustração do contexto histórico. A pretensão foi de buscar sinais
que pudessem ser complementados com as demais fontes levantadas, no sentido de
construir significados aos fatos históricos sobre o SENAC.
É preciso que o historiador tenha uma postura crítica diante de suas análises e
não se esquecer de que a imagem não fala por si só; é necessário que perguntas
sejam feitas.
Quem são os sujeitos apresentados na fotografia? Qual sua relação com o
SENAC? Como os alunos eram dispostos na sala de aula? Existem indícios para a
compreensão da imagem fotográfica? Estas e muitas outras perguntas foram feitas às
fotografias e conseguiu-se bastante êxito com a técnica iconográfica.
Espera-se que esta pesquisa contribua com a instituição pesquisada, para que
esta, com as idéias aqui discutidas, se preocupe mais com seu acervo, visto que são
documentos de grande importância para a reconstrução de sua própria história. Além
de discutir uma instituição de ensino ainda não pesquisada, a relevância deste
trabalho consiste na contribuição para o levantamento, organização e apresentação do
acervo documental da escola, além de tornar-se um instrumento de educação
patrimonial.
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Fonte: Arquivo do SENAC de Uberlândia. Data: 1967
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Fonte: Arquivo do SENAC de Uberlândia. Data: 1961
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2. LICEU DE UBERLÂNDIA
Este subtítulo tem como objetivo analisar a fotografia como fonte de pesquisa
histórica e proceder a análise iconográfica1 da disciplinarização dos corpos numa
perspectiva focaultiana da instituição escolar pesquisada: Liceu de Uberlândia.
A fotografia, denominada como um texto visual, é resultado de um jogo de
expressão e conteúdo envolvendo o autor, o texto e o leitor. A competência do autor e
leitor são semelhantes no que tange ao significado da fotografia, mas diferencia-se
quando do olhar do leitor que fornece significados à imagem. Esta compreensão pode-
se dar em dois níveis: interno e externo. No primeiro, de caráter não-verbal, já no
segundo, parte de aproximações e inferências com outros textos (MAUAD, 2004).
Nesse sentido, percebe-se que grande parte das fotos do Liceu de Uberlândia
dialoga com a disciplinarização dos corpos, referente à terceira parte do trabalho de
Foucault (2005) Vigiar e punir, intitulada como Disciplina.
Historicamente, estas fotos compõem, junto a outros tipos de texto de caráter
verbal, a textualidade da época, compreendida no final dos anos 20 e início dos anos
30. Mas as imagens não falam por elas mesmas. É necessário que as perguntas
sejam feitas. Foram das respostas dessas perguntas que se originou a idéia da
interlocução iconografia versus disciplina.
Para Mauad (2004) “(...) a fotografia pode, por um lado contribuir para a
veiculação de novos comportamentos e representações da classe que possui o
controle de tais meios, e, por outro, atuar como eficiente forma de controle social, por
intermédio da educação do olhar” (p.27).
Esta educação do olhar vai ao encontro com o que podemos chamar de
disciplina. Segundo Foucault (2005): disciplina é “(...) método que permite o controle
minucioso das operações do corpo, que realizam a sujeição constante de suas forças
e lhes impõem uma relação de docilidade-utilidade” (p.118).
Percebemos esse controle, essa disciplinarização que os alunos, professores e
demais funcionários estavam submetidos, através das imagens fotográficas, como
veremos a seguir a fotografia datada do ano de 1931.
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Segundo Kossoy (1989, p.50) a análise iconográfica é a análise do registro visual, a expressão, isto é, o
conjunto de informações visuais que compõem o conteúdo do documento.
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Fonte: Arquivo da 40a Superintendência Regional de Ensino de Minas Gerais.
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Foucault refere-se à disciplina como uma nova anatomia política que é
encontrada não só nos colégios, e mais tarde, nas escolas primárias, como também
nos hospitais e organizações militares.
Cambi (1999) confirma o papel da disciplina com a seguinte citação de Ariès:
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a
Fonte: 40 Superintendência Regional de Ensino de Minas Gerais.
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relações entre palavras, textos e imagens sejam vistas como interações dinâmicas.”
(Fischman, 2004: 116)
Considerando que a foto tem objetivo, não é neutra e expressa interesse de um
grupo, o conceito de representação está implícito no trabalho iconográfico. Chartier
(1990) tem por pressuposto que as estruturas do mundo social são produzidas por
práticas sociais, políticas, discursivas, que articulam o contexto e o imaginário. Dessa
maneira, as representações do mundo social são determinadas pelos interesses dos
grupos que as geram. Assim, é necessário articular os discursos proferidos com a
posição de quem os utiliza.
Nesse sentido, as fotos identificadas do Liceu de Uberlândia representam o
grupo social participante, a classe média. Esta hipótese foi confirmada através dos
depoimentos, pois utilizou-se a história oral como técnica. Na foto abaixo identificou-se
todos os rapazes vestidos de terno, o qual um aluno de grupo social desprivilegiado
não teria condições de adquirir. Notou-se também as mulheres vestidas com a moda
da época e com cabelos bem arrumados. As crianças também seguem o mesmo
padrão, porém infantil.
Quanto a posição do esquadro, as pessoas seguem a seguinte hierarquia:
homens na posição superior, vindo logo abaixo as mulheres e por último as crianças, o
que denota relativa submissão das mulheres e crianças em relação aos homens.
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O trabalho iconográfico, além das representações que gera, tem um aspecto
investigativo, semelhante ao artigo Paradigma Indiciário de Ginzburg (1999), no qual
percebe-se que também os pequenos indícios podem revelar grandes fatos, como já
foi mencionado no caso do SENAC.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
4. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
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FISCHMAN, G. E. Reflexões sobre imagens, cultura visual e pesquisa educacional. In:
CIAVATTA, M. ALVES, N (orgs.). A leitura de imagens na pesquisa social: História,
comunicação e educação. São Paulo: Cortez, 2004.
GINZBURG, C. Mitos, emblemas e sinais; tradução: Federico Carotti. São Paulo: Cia
das Letras, 1989.
RUIZ, J. A. Metodologia científica: guia para eficiência nos estudos. São Paulo:
Atlas, 1979.
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