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UMA BREVE HISTÓRIA DA FORMAÇÃO DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA

Auro de Jesus Rodrigues 1


Alysson Santos de Jesus 2
José Adailton Barroso da Silva 3

GT2 – Educação e Ciências Humanas e Socialmente Aplicáveis

RESUMO

A Geografia enquanto ciência no sentido Moderno surge somente no século XIX. Na Antiguidade a
Geografia desenvolve-se com os gregos. No Feudalismo grande parte de seus estudos estarão
influenciados pelo conhecimento Teológico. Na Idade Moderna a Geografia se constitui Ciência com
embates das “Escolas” alemã e francesa. Na contemporaneidade aparecem diversas “Correntes
Geográficas” e o espaço geográfico torna-se o objeto de estudo da Geografia. Assim sendo, o objetivo
geral deste estudo consiste numa breve história da formação da ciência geográfica; sendo os objetivos
específicos: a) explicar sobre o pensamento geográfico na Antiguidade, Idade Média, Idade Moderna e
na Contemporaneidade; b) explicar a importância do espaço como objeto da geografia. Os
procedimentos metodológicos utilizados para realização da pesquisa foram: pesquisa bibliográfica,
pesquisa na internet e método histórico.

Palavras-chave: Geografia. História. Ciência. Espaço Geográfico.

RESUMEN

Geografía como una ciencia en el sentido moderno surge sólo en el siglo XIX. En la antigua geografía
se desarrolla con los griegos. Feudalismo en gran parte de sus estudios se verá influida por el
conocimiento teológico. En la era moderna Geografía constituye la ciencia con los enfrentamientos de
las "Escuelas" en alemán y francés. En contemporánea aparecer varias geográficas "Cadenas" y el
espacio geográfico se convierte en el objeto de estudio Geografía. Por lo tanto, el objetivo de este
estudio consiste en una breve historia de la formación de la ciencia geográfica; con los objetivos
específicos: a) explicar sobre el pensamiento geográfico en la antigüedad, la Edad Media, Edad
Moderna y contemporaneidad; b) explicar la importancia del espacio y la geografía objeto. Los
procedimientos metodológicos utilizados para llevar a cabo la investigación fueron: investigación
bibliográfica, búsqueda en Internet y el método histórico.

Palabras clave: Geografía. Historia. Ciencia. El espacio geográfico.

1
Doutorando em Geografia pela Universidade Federal de Sergipe; Docente da Universidade Tiradentes; Grupo de
Pesquisa Sociedade, Educação, História e Memória (UNIT); rodriguesauro@gmail.com.
2
Mestre em Geografia pela Universidade Federal de Sergipe; Docente da Universidade Tiradentes;
alysson_unit@hotmail.com.
3
Doutorando em Geografia pela Universidade Federal de Sergipe; Docente da Universidade Tiradentes; Grupo de
Pesquisa Sociedade, Educação, História e Memória (UNIT); adailtonbarroso@gmail.com.
1 INTRODUÇÃO

A Geografia é um dos conhecimentos mais antigos que existem, desde os povos


primitivos já se fazia geografia, ela se desenvolveu inicialmente como um conhecimento
prático para resolver problemas imediatos, mas com o desenvolvimento dos povos, das
sociedades em estágios mais adiantados é que esse conhecimento será designado de científico,
no sentido das ciências modernas. Isso só ocorreu a partir do século XIX, inicialmente com
as contribuições de dois estudiosos germânicos Alexander von Humboldt (1769-1859) e Karl
Ritter (1779-1859), eles desenvolveram importantes estudos no campo da Geografia. Na
Antiguidade e na Idade Média o homem já aplicava a geografia, sendo um conhecimento
elaborado e aplicado pelo conhecimento vulgar (senso comum), filosófico e teológico. Já na
Idade Moderna, a Geografia será considerada uma ciência.
Assim sendo, o objetivo geral deste estudo consiste numa breve história da
formação da ciência geográfica; sendo os objetivos específicos: a) explicar sobre o
pensamento geográfico na Antiguidade, Idade Média, Idade Moderna e na
Contemporaneidade; b) explicar a importância do espaço como objeto da geografia. Os
procedimentos metodológicos utilizados para realização da pesquisa foram: pesquisa
bibliográfica, pesquisa na internet e método histórico.

2 A FORMAÇÃO DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA

Mesmo sendo a ciência geográfica um saber tão antigo quanto a própria história
da humanidade, o atual discurso da Geografia é produto dos embates que denominaram as
relações entre os imperialismos alemão e francês ao longo do século XIX, havendo uma luta
entre concepções divergentes a respeito da forma como se dá a relação entre o homem e a
natureza.
A Geografia nasce com os gregos, mesmo dispersa e não se constituindo ainda
como uma ciência e um saber sistematizado. A Geografia que irá se desenvolver será através
de estudos dispersos, relatos de lugares e elaboração de mapas pouco precisos. Estará ligada a
Cartografia e a Astronomia.
São admitidos aos gregos os primeiros processos de registro e sistematização
(ainda frágeis) dos conhecimentos geográficos. Esses conhecimentos são objetos de estudo de
navegadores, militares, comerciantes e, em outro plano, de matemáticos, historiadores,
filósofos e outros.
A Geografia, na Antiguidade, estava condicionada à concepção que os antigos
tinham do mundo em que viviam, ao grau de desenvolvimento social atingido. Muito dos
conhecimentos geográficos estavam dispersos ou misturados ou, ainda, subordinados a outros
campos de conhecimentos. Não havia uma Ciência Geográfica. Havia filósofos, historiadores,
cientistas e outros que se denominavam de geógrafos ou eram considerados geógrafos por
outros; e tratavam de aspectos geográficos e não da construção de uma Ciência Geográfica.
A Geografia aparecia, antes de definir o seu campo, os seus métodos, as suas
técnicas, como conhecimento subordinado a outras áreas de conhecimentos. Estava, ainda,
carregada de mitos, lendas e deformações (SODRÉ, 1989, p. 19).
Já na Idade Média, sob o Modo de Produção Feudal, ocorrerá pouco
desenvolvimento da geografia, e grande parte de seus estudos estarão influenciados e sob o
domínio da Igreja e do conhecimento Teológico.
O modo de produção feudal substitui o modo de produção escravista da
Antiguidade. O modo de produção feudal que surge na Idade Média tinha por base a
economia agrária, de escassa circulação monetária, autosuficiente. A propriedade feudal
pertencia a uma camada privilegiada, composta pelos senhores feudais, altos dignitários da
Igreja (o clero).
A principal unidade econômica de produção era o feudo, que se dividia em três
partes distintas: a propriedade privada do senhor chamada, manso senhorial ou domínio, no
interior da qual se erguia um castelo fortificado; o manso servil, que correspondia à porção de
terras arrendadas aos camponeses e era dividido em lotes; e ainda o manso comunal,
constituído por terras coletivas – pastos e bosques, usados tanto pelo senhor quanto pelos
servos.
Devido ao caráter expropriador do sistema feudal o servo não se sentia estimulado
a aumentar a produção com inovações tecnológicas – porém não para si, mas para o senhor.
Por isso, o desenvolvimento técnico foi irrelevante, limitando a produtividade. A principal
técnica adotada foi a agricultura dos três campos que evitava o esgotamento do solo,
mantendo a fertilidade da terra.
Neste ambiente, a Igreja torna-se o maior poder, já que é o único poder central
europeu. Os estudos e as respostas às questões colocadas passam a ser dadas a partir de
interpretações bíblicas: referências cosmológicas e geográficas.
Segundo Ferreira e Simões (1994, p. 45), o fato de ser a Igreja a dar as respostas
que antes eram encontradas através da ciência deve-se não só ao poder que a religião detinha,
mas também ao fato de o imobilismo populacional ter provocado o desaparecimento das
viagens e, com isto, o desconhecimento do mundo real.
A adoção dos conhecimentos geográficos bíblicos tornou-se evidente na
cartografia. Utilizam-se mapas circulares romanos, nos quais se introduziram caracteres
teológicos, e não geográficos. Assim, Jerusalém, a Cidade Santa, ocupava o centro do mapa.
Também foi esquecido que a terra era esférica e reapareceu o conceito de Terra plana: um
disco circundado de água.
Enquanto a ciência decaía no mundo ocidental, no mundo árabe, com o
estabelecimento do Império Muçulmano, depois do ano 800 d.C., passou a verificar um
desenvolvimento científico, decorrentes de estudos e viagens que eram feitas pelos árabes
(FERREIRA; SIMÕES, 1994, p. 47).
Segundo Ferreira e Simões (1994, p. 49) os mulçumanos promoveram as ciências
e as artes. Traduziram para o árabe a obra de Ptolomeu. Desenvolveram a geografia, a
astronomia, a astrologia e a matemática. Mas, apesar disso, o conhecimento e as descrições
geográficas produzidas foram muito imprecisas e as localizações pouco rigorosas. Os Árabes
não se serviam da latitude e da longitude para localizar os lugares à superfície da terra e
elaborar mapas. A latitude e a longitude são utilizadas pelos astrônomos nas suas observações,
mas quem faz os mapas são os geógrafos, que não se servem dos dados dos astrônomos.
Surge, assim, no mundo árabe uma separação entre geógrafos e astrônomos que não existia na
antiguidade.
A partir do século XI, há um renascimento do comércio e um aumento da
circulação monetária, o que valoriza a importância social das cidades. E, com as cruzadas
realizadas pelo Ocidente, esboça-se uma abertura para o mundo, quebrando-se o isolamento
do feudo. Com o restabelecimento do comércio com o Oriente Próximo e o desenvolvimento
das grandes cidades, começam a serem minadas as bases da organização feudal, na medida
em que aumentava a demanda de produtos agrícolas para o abastecimento da população
urbana. Isso elevava o preço dessas mercadorias, permitindo aos camponeses maiores fundos
para a compra de sua liberdade. Ao mesmo tempo, a expansão do comércio e da futura
indústria cria novas oportunidades de trabalho, atraindo os servos para as cidades.
Nos finais da Idade Média, as cruzadas, as peregrinações aos lugares santos e o
renascimento do comércio entre a Europa e o Oriente levaram a um ressurgimento da
curiosidade pelo mundo desconhecido e, portanto, a uma nova etapa no desenvolvimento da
geografia.
Segundo Ferreira e Simões (1994, p. 51), nos finais da Idade Média, reapareceram
os itinerários de viagens, as obras que descreviam as terras visitadas. É costume destacar o
papel de Marco Polo, de uma família de comerciantes veneziano, que efetuou uma longa
viagem pelo interior da Ásia até à China, tendo escrito um relato, O Livro das Maravilhas.
Não podendo considerar-se a sua obra como de caráter geográfico, pois nela são descritos
muitos pormenores colhidos sobre as regiões visitadas (lendas, por exemplo). No entanto, no
seu livro existem descrições de interesse geográfico.
Segundo Andrade (1987, p. 36), fazendo um balanço do conhecimento geográfico
na Idade Média, observa-se que ele sofreu descontinuidade em relação à Idade Antiga, devido
ao período de grandes conturbações que se observou nos séculos V e VI, com a destruição do
Império Romano do Ocidente; mas, surgidas novas estruturas e iniciado o intercâmbio com os
árabes, esses estudos voltaram a se desenvolver, quer pelo enriquecimento de informações e
de descobertas, quer pela retomada dos ensinamentos dos sábios gregos – Aristóteles,
Ptolomeu, Estrabão, Heródoto etc. – e por sua atualização. Assim, vários dos temas discutidos
no período medieval foram retomados do período grego e romano, e uma das maiores
contribuições a esta retomada foi dada pelos padres Alberto Magno e Tomás de Aquino,
quando renovaram e puseram na ordem do dia as ideias de aristotélicas. Daí a crença na
esfericidade da Terra, apesar de condenada pela Igreja Católica. No fim da Idade média, foi a
preparação dos grandes movimentos que geraram os Tempos Modernos.
As mudanças das condições sociais, políticas, econômicas e culturais na Europa
do século XV definiu uma nova idade histórica: a Idade Moderna.
Segundo Moraes (1987, p. 34), a Geografia como conhecimento autônomo,
particular, demandava certo número de condições históricas, que somente nesta época estarão
suficientemente maturadas. Estas condições, ou melhor, pressupostos históricos da
sistematização geográfica objetivam-se no processo do avanço e domínio das relações
capitalistas de produção. Portanto, na própria formação do modo de produção capitalista.
O autor apresenta, ainda, quatro conjuntos importantes de pressupostos que
contribuíram para o processo de sistematização da Geografia: o conhecimento efetivo da
extensão real do planeta; a existência de um repositório de informações; o aprimoramento das
técnicas cartográficas e as mudanças filosóficas e científicas (MORAES, 1987, p. 32-42):

a) o conhecimento efetivo da extensão real do planeta

Era necessário que a terra toda fosse conhecida para que fosse pensada de forma
unitária em seu estudo. O conhecimento da dimensão e da forma real dos continentes era base
para a ideia de conjunto terrestre, concepção importante para a reflexão geográfica
(MORAES, 1987, p. 34-35).

b) existência de um repositório de informações

Outro pressuposto da sistematização da Geografia era a existência de um


repositório de informações, sobre variados lugares da Terra, isto é, que os dados referentes
aos pontos mais diversificados da superfície terrestre já estivessem levantados e agrupados em
alguns grandes arquivos (MORAES, 1987, p. 35-36).

c) aprimoramento das técnicas cartográficas

Para o surgimento de uma Geografia unitária, residia o aprimoramento das


técnicas cartográficas, o instrumento por excelência do geógrafo. Era necessário haver
possibilidade de representação dos fenômenos observados, e da localização dos territórios
(MORAES, 1987, p. 36-37);

d) mudanças filosóficas e científicas

Uma primeira valorização do temário geográfico vai ocorrer na discussão da


Filosofia. As correntes filosóficas do século XVIII vão propor explicações abrangentes do
mundo; formulam sistemas que buscam a compreensão de todos os fenômenos do real. A
finalidade geral de todas as escolas, neste período, será a afirmação das possibilidades da
razão humana explicar a realidade. Esta postura progressista insere-se no movimento de
refutação dos resquícios da ordem feudal, pois esta se apoiava numa explicação teológica do
mundo. Propor a explicação racional do mundo implicava deslegitimar a visão religiosa, logo
a ordem social por ela legitimada (MORAES, 1987, p. 37-38).

Ao início do século XIX, o conjunto de pressupostos histórico da sistematização


da Geografia já estava tecido. A Terra estava toda conhecida. A Europa articulava um espaço
de relações econômicas mundializado. O colonizador europeu possuía informações dos
lugares mais variados da superfície terrestre. As representações do Globo estavam
desenvolvidas e difundidas pelo uso cada vez maior de mapas. A fé na razão humana,
colocada pela Filosofia, abria a possibilidade de uma explicação racional para qualquer
fenômeno da realidade. As ciências naturais haviam constituído um conjunto de conceitos e
teorias, do qual a Geografia lançaria mão, para formular seu método. E, principalmente, os
temas geográficos estavam legitimados como questões relevantes, sobre as quais cabia dirigir
indagações científicas (MORAES, 1987, p. 40-41).
A partir desse contexto, pode-se dizer que a Geografia irá surgir como ciência no
século XIX, na Alemanha. Os autores considerados como os pais da ciência geográfica, são os
alemães Humboldt e Ritter. É da Alemanha que aparecem os primeiros institutos e as
primeiras cátedras dedicadas a esta disciplina; é de lá que vêm as primeiras propostas
metodológicas; enfim, é lá que se formam as primeiras correntes de pensamento na Geografia
(MORAES, 1987, p. 42).
A partir de Humboldt e Ritter ficou estabelecida a metodologia da geografia
descritiva, empírica, observação, indutiva e de síntese. A influência de ambos foi, portanto,
decisiva para conferir à Geografia o seu verdadeiro caráter científico. Segundo Moraes (1987,
p. 48-49) a obra destes dois autores compõe a base da Geografia Moderna Tradicional. Todos
os trabalhos posteriores vão se remeter às formulações de Humboldt e Ritter. A Geografia de
Ritter é regional e antropocêntrica, a de Humboldt busca abarcar todo o Globo sem privilegiar
o homem. Estes autores criam uma linha de continuidade no pensamento geográfico, até então
inexistente. Além disso, há de se ressaltar o papel institucional, desempenhado por eles, na
formação das cátedras dessa disciplina, dando assim à Geografia uma cidadania acadêmica.
Entretanto, apesar deste peso no pensamento geográfico, não deixam discípulos diretos. Isto é,
não formam uma “escola geográfica”. Deixam uma influência geral, que será resgatada por
todas as “escolas” da Geografia Tradicional.
Essa Geografia Tradicional deixou uma ciência elaborada, um corpo de
conhecimento sistematizado; possibilitou a formação de uma ciência autônoma; elaborou um
rico acervo empírico. Finalmente, a Geografia Tradicional elaborou alguns conceitos como:
território, região, habitat, paisagem, área etc., que ainda merecem ser rediscutidos (MORAES,
1987, p. 91-92).
Convém não esquecer que a Geografia Moderna (Tradicional) teve seus primeiros
grandes mestres na Alemanha e, logo após, na França. Há uma grande influência do
Positivismo na Geografia Tradicional. A Escola Alemã de Geografia notou-se por seu caráter
Determinista, cujo principal nome é Friedrich Ratzel. Em oposição ao determinismo alemão
surgiu, na França, o Possibilismo, corrente que teve em Vidal de La Blache seu maior
expoente, consolidando a Escola Francesa de Geografia. Foram essas duas escolas que
exerceram a maior influência no decorrer da Geografia Tradicional.
A partir da metade do séc. XX surgem movimentos de renovações da Geografia.
Esses “movimentos” ou “correntes” não possuem uma unidade, apresentam propostas de
renovação da geografia, muitas vezes, opostas, de uma corrente para outra. Tal fato decorre da
diversidade de métodos de interpretação, que são utilizados para a explicação da realidade e
de posicionamentos (políticos, ideológicos, filosóficos etc.) dos autores que compõe as
correntes.
Podem-se agrupar as correntes geográficas de renovação, da Geografia
Contemporânea, a nível esquemático, em: Geografia Teórico-Quantitativa, fundamentada no
neopositivismo; Geografia da Percepção e do Comportamento, com grande viés para a
fenomenologia; Geografia Ecológica, sem um viés filosófico explícito; e, Geografia Crítica ou
Radical, sob as bases da dialética materialista.
A Geografia Teórico-Quantitativa destacou-se por utilizar, em larga escala,
modelos matemático-estatísticos. Rompeu com a Geografia Tradicional e se apresentou como
“Nova Geografia”, sem ligações com o pensamento tradicional. Condenou o uso de excursão
e das aulas práticas de campo por achar desnecessária a observação e descrição da realidade
empírica, buscando substituir o campo pelo laboratório, onde seriam feitos as medições
matemáticas, os gráficos e tabelas sofisticadas, procurando visualizar os fenômenos
geográficos através de desenhos e diagramas. Uma vertente dessa corrente intitulou-se de
Teorética para romper qualquer vínculo com os trabalhos empíricos, comprometendo-se com
a reflexão teórica (ANDRADE, 1987, p. 107).
A Geografia do Comportamento e da Percepção, também surgiu nos fins da
década de 1960 e no início da de 1970. A Geografia do Comportamento e da Percepção vem
tendo grande desenvolvimento nos países anglo-saxões e menor nível no Brasil.
De modo geral pode-se admitir que nessa corrente o geógrafo desenvolve estudo
para caracterizar como o indivíduo tem a percepção do lugar; procura valorizar a experiência
do indivíduo ou do grupo, visando compreender o comportamento e as maneiras de sentir das
pessoas em relação aos seus lugares.
A Geografia Ecológica surgiu a partir da década de 1970, não há uma identidade
ideológica entre os vários geógrafos sobre as soluções a serem dadas aos impactos destrutivos
ao meio ambiente, mas em comum eles defendem a preservação da natureza e combatem a
política desenvolvimentista, de interesse principalmente capitalista, que vem financiando a
devastação da vegetação natural, feita de forma indiscriminada, e a implantação de indústrias
altamente poluidoras, sem a utilização dos mecanismos que neutralizem os efeitos poluentes,
e a degradação das condições de vida e de alimentação das populações (ANDRADE, 1987, p.
121).
Já a Geografia Crítica ou Radical, que se iniciou na década de 1970, advém de
uma postura crítica frente, principalmente, à Geografia Tradicional e a Geografia Teórico-
Quantitativa. São os geógrafos que se posicionam por uma transformação da realidade social,
pensando o saber como uma arma de luta e transformadora. São os geógrafos, pesquisadores e
professores, que assumem o conteúdo político de conhecimento científico, propondo uma
Geografia Crítica militante, que lute por uma sociedade mais justa. São os que utilizam a
análise geográfica como um instrumento de libertação do homem (MORAES, 1987, p. 112).

3 IMPORTÂNCIA DO ESPAÇO COMO OBJETO DA GEOGRAFIA

A produção acadêmica sobre a categoria espaço geográfico é bastante ampla.


Muito já se escreveu sobre essa categoria. Na verdade, pode-se dizer que a realidade
contemporânea aguarda, ainda, muita discussão sobre a questão do espaço geográfico,
principalmente, por este ser, além de categoria, também objeto de estudo da Geografia.
Para Sene (2004, p. 121), uma das formas para o estudo do espaço geográfico na
Geografia é a partir da análise da paisagem:

A primeira decomposição possível do espaço geográfico é a descrição da


paisagem, a análise de sua forma, seguida pela descrição sistemática,
cartografando a configuração territorial. Deve ser lembrado também que nas
paisagens se acumulam tempos diferentes, daí a importância da análise do
processo histórico para a compreensão do espaço geográfico [...]. Assim, a
paisagem pode ser o ponto de partida para a compreensão da relação
sociedade-espaço, mas nunca pode dar conta sozinha da complexidade dessa
relação.

Como a paisagem é um recorte visível e momentânea do espaço sua amplitude de


análise geográfica é menor em relação ao espaço, devendo ao geógrafo ultrapassar a aparência
da paisagem para poder chegar à análise do espaço geográfico.
É necessário esclarecer que a Geografia é uma ciência que, atualmente, tem por
objeto de estudo - o espaço geográfico. Mas nem sempre esse foi considerado o objeto
científico dessa ciência. Milton Santos (2002) explica que, por muito tempo, a Geografia foi
viúva do espaço, sendo caracterizada pelos estudos meramente naturalistas (Escolas
Tradicionais) e estatísticos (Corrente Teorético-Quantitativista). Durante esse tempo, essa
ciência era vista como não possuidora de um objeto de estudo, mas como responsável por
sínteses que englobariam conceitos e objetos de inúmeras outras ciências. Com isso, o
desenvolvimento epistemológico da Geografia encontrou múltiplos obstáculos, devido à
pretensão de se fazer sínteses de vários conceitos e objetos científicos, sem remeter-se aos
seus próprios conceitos e ao seu próprio objeto de estudo.
Mas, com os estudos da Geografia Crítica, que passaram a atentar com maior
intensidade para a relação sociedade-natureza, essa ciência passou a possuir um objeto de
estudo definido: o espaço geográfico.
Segundo Milton Santos (2002), a definição de um objeto de estudo para a
Geografia foi de suma importância para o seu desenvolvimento, em função de ser
inadmissível a existência de uma ciência sem um objeto de estudo definido para ser alvo de
estudos, debates e reflexões.
Nesse sentido a Geografia, atualmente, é considerada uma ciência que estuda o
espaço geográfico. Dentro do espaço geográfico são trabalhadas categorias, como: paisagem,
lugar, região, território, fundamentais para a análise geográfica. Todavia, o espaço é a
categoria mais abrangente da Geografia. Esse espaço geográfico é estudado no contexto da
relação sociedade-natureza.
Em sua obra: Por uma Geografia nova, Milton Santos (2002), expressa uma
proposta geral para o estudo do espaço geográfico, sendo um livro de conteúdo normativo.
Nesse trabalho tenta dar uma resposta para a questão primordial: o que é Geografia.
Argumenta que é necessário discutir o espaço social e ver a produção do espaço social como
categoria e o objeto da geografia. Este espaço geográfico social, objeto da geografia, é
histórico, obra do trabalho e morada do homem. Ele é um fato social, um produto da ação
humana, que pode ser explicado pela produção. Este espaço social é uma natureza socializada,
resultado de uma acumulação de trabalho, uma incorporação de capital na superfície terrestre.
Afirma que a organização do espaço geográfico é determinada pela tecnologia, pela cultura e
pela organização social da sociedade. No capitalismo, a organização espacial é imposta pelo
ritmo da acumulação capitalista criando espaços geográficos diferenciados, mas interligados.
O Estado e o capital escolhem áreas, estabelece uma divisão territorial do trabalho, impõe
uma hierarquização dos lugares, pela dotação diferenciada dos equipamentos. O Estado é o
agente de transformação, de difusão e de dotação e, no contexto atual, obedece à lógica dos
interesses do capitalismo (MORAES, 1987, p. 128-130).
Sposito (2004, p. 88), esclarece que Milton Santos:

[...] afirma que o espaço deve ser estudado por meio de quatro categorias:
forma é o ‘aspecto visível de uma coisa’, ‘o arranjo ordenado de objetos’, um
padrão; função ‘sugere uma tarefa ou atividade esperada de uma forma,
pessoa, instituição ou coisa’; estrutura ‘implica a inter-relação de todas as
partes de um todo, o modo de organização da construção’ e processo, que
‘pode ser definido como uma ação contínua, desenvolvendo-se em direção a
um resultado qualquer, implicando conceitos de tempo (continuidade) e
mudança’.

Nesse sentido, Milton Santos explica (1985, p. 52):

Forma, função, estrutura e processo são quatro termos disjuntivos, mas


associados, a empregar segundo um contexto do mundo de todo dia. Tomados
individualmente representam apenas realidades parciais, limitadas, do mundo.
Considerados em conjunto, porém, e relacionados entre si, eles constroem
uma base teórica e metodológica a partir da qual podemos discutir os
fenômenos espaciais em totalidade.
O espaço geográfico é uma categoria e objeto essencial e balizador para discussão
ou estudo geográfico. E, conforme Santos (1985) deve ser analisado por meio de quatro
categorias em conjunto: a forma, a função, a estrutura e o processo.
A forma é considerada o aspecto visível dos objetos, formando um padrão
espacial ou o arranjo ordenado de objetos. Uma cidade, uma área rural, uma área industrial,
um aeroporto, uma rodoviária, uma casa são exemplos de formas espaciais.
A função é uma tarefa ou atividade desempenhada por uma forma, ou seja, as
formas desenvolvem funções. A casa deve propiciar moradia, o aeroporto o transporte aéreo,
a escola a educação.
Já a estrutura refere-se aos aspectos sociais, políticos, culturais e econômicos de
uma sociedade, em um dado momento histórico-espacial. As formas e as funções são criadas
e justificadas de acordo com esses aspectos, em um determinado tempo-espaço.
O processo é a dinâmica, o movimento, o tempo, as transformações, as mudanças.
Essas quatro categorias devem ser analisadas em conjunto, no estudo do espaço
geográfico (ou organização do espaço mundial). Nesse sentido, o geógrafo ao analisar os
Modos de Produção: Primitivo, Escravista, Feudal, Capitalista, deve levar em consideração as
formas criadas pelas sociedades; as funções desempenhadas pelas formas criadas; a estrutura
econômica, social, políticas, cultural, dessas sociedades; e, os processos de mudanças
temporais, os acontecimentos que transformaram o espaço geográfico, nos modos de
produção.
As mudanças que ocorrem no espaço geográfico alteram padrões ambientais,
sociais, econômicos, culturais, políticos etc.. A sociedade em sua relação com a natureza
produz o espaço geográfico, mas nesse processo de produção, ela é sujeito e produto, pois
enquanto constrói o espaço ela própria se reconstrói.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Mesmo sendo a ciência geográfica um saber tão antigo quanto à própria história
da humanidade, a geografia enquanto ciência no sentido Moderno surge somente no século
XIX.
Na Antiguidade a Geografia desenvolve-se com os gregos, dispersa e não se
constituindo ainda como uma ciência. No Feudalismo ocorrerá pouco desenvolvimento e
grande parte de seus estudos estarão influenciados pelo conhecimento Teológico.
Na Idade Moderna, com o surgimento do capitalismo, a Geografia se constitui
Ciência, em embates das “Escolas” alemã e francesa. Na contemporaneidade aparecem
diversas “Correntes” na Geografia, destacando-se as correntes: Teórico-Quantitativa,
Comportamento e da Percepção, Ecológica e Critico Radical.
A Geografia abrange, hoje, grande complexidade de aspectos em decorrência do
desenvolvimento do meio-técnico-científico-informacional.
Hoje, pode-se dizer que o desenvolvimento da ciência geográfica passou por
diferentes momentos, gerando reflexões distintas acerca dos objetos e métodos do fazer
geográfico. De certa forma, essas reflexões influenciaram e ainda influenciam o pensamento
geográfico da atualidade.
Se for verificado, na história do pensamento geográfico, poderá ser constatado um
conjunto de categorias fundantes que contribuíram para a formação da ciência geográfica e
entendimento do espaço geográfico, como as categorias: lugar, território, região, paisagem e
espaço, sendo esta última a mais abrangente.
Na contemporaneidade, faz-se necessário, então, refletir sobre como os geógrafos
conceberam e, atualmente, concebem estas categorias fundantes e as utilizam para a
compreensão e transformação do mundo. Cada uma dessas categorias recebe uma maior ou
menor importância ou enfoque, conforme os vários “fazer geográfico” ou orientações
geográficas, como: Geografia Crítica (Dialética Materialista), Geografia da Percepção e
Comportamento (ou melhor, Geografia da Percepção, Geografia Humanística, Geografia
Cultural, Geografia Histórica) (fundamentando-se, principalmente, na Fenomenologia);
Geografia Teócico-Quantitativa (Neopositivismo), Geografia Ecológica. E, também, das
geografias que poderão surgir na nova dinâmica sociedade-natureza da contemporaneidade.
Enfim, tentou-se aqui, neste trabalho, fazer uma pequena história do pensamento
geográfico, enfocando a importância da ciência geográfica na compreensão da sociedade-
natureza, suas categorias, suas “Escolas”, suas “correntes”, os métodos e objetos.
A Geografia, como os outros campos de conhecimentos, é uma ciência dinâmica e
suas categorias fundantes são, também, dinâmicas: paisagem, lugar, região, território e
espaço.
Muitos trabalhos têm sido elaborados sob novos enfoques no campo da geografia
produzindo novos saberes, possibilitando o avanço da Ciência Geográfica.

5 REFERÊNCIAS

ANDRADE, M. C. Geografia, Ciência da Sociedade: uma introdução à análise do


pensamento geográfico. São Paulo: Atlas, 1987.

FERREIRA, C. C.; SIMÕES, N. N. A evolução do pensamento geográfico. São Paulo:


Gradiva, 1994.

MORAES, A. C. R. Geografia: pequena história crítica. 20. ed. São Paulo: Hucitec, 1987.

SANTOS, Milton. Espaço e método. São Paulo: Nobel, 1985.

______. Por uma Geografia nova: da crítica da geografia a uma geografia crítica. São Paulo:
Edusp, 2002. (Coleção Milton Santos; 2).

SENE, Eutáquio de. Globalização e espaço geográfico. São Paulo: Cntexto, 2004.

SODRÉ, Nelson Werneck. Introdução à Geografia: geografia e ideologia. Rio de Janeiro:


Vozes, 1989.

SPÓSITO, Eliseu Savério. Geografia e filosofia: contribuição para o ensino do pensamento


geográfico. São Paulo: Unesp, 2004.

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