Está en la página 1de 974

ACTAS DEL XII CONGRESO INTERNACIONAL

HISTORIA DEL PAPEL EN LA PENÍNSULA IBÉRICA

TOMO I

Asociación Hispánica de Historiadores del Papel


Câmara Municipal de Santa Maria da Feira
28-30 Junio 2017
GRUPOS DE TRABAJO

1. Técnicas de fabricación de papel. Investigación


2. Papel para usos especiales
3. Papel Hispano-árabe
4. Presencia del papel procedente de la Península Ibérica en Latinoamérica
5. Comercio papelero. Legislación
6. Filigranas
7. Historia del papel. Sociología
8. Arqueología industrial
9. Terminología
10. Tintas, técnicas de Impresión
11. Conservación, Restauración

NOTA
Grupos 3, 4 e 9: sin comunicaciones en este congreso

Edita: Asociación Hispánica de Historiadores del Papel


Junio 2017
Título: Actas del XII Congreso Internacional Historia del Papel en la Península Ibérica – TOMO I
Imprime: Empresa Gráfica Feirense, SA – Santa Maria da Feira
Depósito Legal: 427695-17
ENTIDADES ORGANIZADORAS
Asociación Hispánica de Historiadores del Papel
Câmara Municipal de Santa Maria da Feira

Entidades Patrocinadoras
Navigator Company
ASPAPEL (Asociación Nacional de Fabricantes de Papel, Pasta y Cartón)
Fábrica de Papel e Cartão da Zarrinha, S. A.
Fábrica de Papel Ponte Redonda, S. A.
Imprenta Municipal Artes Del Libro (Ayuntamiento de Madrid)
DS Smith

Entidades ColaboradorasInstituto Del Patrimonio Cultural de España


Biblioteca Nacional de Portugal
IPH (International Paper Historians)
Bernstein (The Memory of Paper)
Fundación Barrié
Deputación de Lugo
CELPA (Associação da Indústria Papeleira)
ANIPC (Associação Nacional dos Industriais de Papel e Cartão)
TECNICELPA (Associação Portuguesa dos Técnicos das Indústrias de Celulosa e Papel)
CAHIP (Conservación, Análisis del Papel)
Iberpapel PAY- PAY
Museu Molí Paperer de Capellades
Museu Molí Paperer de Banyeres de Mariola

COMITÉ ORGANIZADOR Monasterio de San Pere de les Puel-les


Barcelona
Presidente Eduardo Mármol
Fernando Rodríguez Lafuente Imprenta Diputación. Córdoba
Fundación José Ortega y Gasset José Luís Nuevo Ábalos
Vicepresidente Investigador
Carlos Reinoso Torres Victoría Rabal Mérola
ASPAPEL Museu Molí-Paperer de Capellades
Secretaria General Antón Pereira Abonjo
Mª del Carmen Hidalgo Brinquis Conservador-restaurador de documento Gráfico
Instituto del Patrimonio Cultural de España Maria José Santos
Tesorero Museu do Papel Terras de Santa María
Rosa Alcázar Felipe
Imprenta Artesanal. Ayuntamiento de Madrid Comité Local
Vocales
José Carlos Balmaceda Pelouro de Cultura, Turismo, Bibliotecas e
CAHIP Museus da Câmara Municipal de Santa Maria da
Juan Castelló Mora Feira
Papelero. Banyeres de Mariola Museu do Papel Terras de Santa Maria
Mª Dolores Díaz Miranda
TOMO I
ÍNDICE

Palabras de bienvenida 11

Emídio Sousa, Presidente da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira

Presentación 13

Fernando Rodríguez Lafuente, Presidente de la Asociación Hispánica de Historiadores del Papel

In memoriam de José Luis Basanta Campos 15

Mª del Carmen Hidalgo Brinquis, Secretaria General de la AHHP

PALABRAS DE APERTURA DEL CONGRESO

O absoluto imaculado do branco ao serviço de um texto 17

Artur Anselmo, Presidente da Academia das Ciências de Lisboa

COMUNICACIONES

GRUPO 1. TÉCNICAS DE FABRICACIÓN DEL PAPEL. INVESTIGACIÓN

El papel con filigrana en volúmenes notariales de mediados del siglo XIV


en la Corona de Aragón: Bagá y Sant Cugat 23

Carme Sistach

Entre el gesto y la mecanización. La máquina de forma redonda en molinos


papeleros catalanes 41

Lourdes Munné Sellarés

La fabricación de formas y telas metálicas sin fin en España.


Anuncios y exposiciones como fuente de información 57

José Carlos Balmaceda

¿Con qué hacer más papel? La pasta de paja como alternativa 77

Luz Díaz Galán

GRUPO 2. PAPEL PARA USOS ESPECIALES

Los primeros calendarios de bolsillo españoles y su valor como fuente histórica 101

Fátima Martínez Gómez

Otras aplicaciones del papel decorado 135

Taurino Burón Castro


Las características de seguridad papeleras de los billetes de Banc 157

José María Pérez García

As marcas d’água do papel selado de Portugal (1661-1668 e 1797-1804) 173

Paulo Barata

Consumir y administrar: El uso del papel sellado en Santander (siglo XVIII) 191

Virginia Mª Cuñat Ciscar

Memória do papel de Góis (1821-1992), na parceria com a indústria papeleira espanhola


e na pintura de Salvador Dalí 207

João Barreto Nogueira Ramos

GRUPO 5. COMERCIO PAPELERO. LEGISLACIÓN

Evolución del precio del papel en la ciudad de Santander (1874-1890) 227

Carmen María Alonso Riva

GRUPO 6. FILIGRANAS

Proyecto Filigranas Hispánicas 245

Mª del Carmen Hidalgo Brinquis, Celia Díez Esteban

Simbología cristiana de animales fabulosos en filigranas de incunables de la Biblioteca


de la Universidad de Sevilla 259

José Luis Nuevo Ábalos

Marcas de água no arquivo da Igreja dos Italianos de Lisboa (Sécs XVI-XVII): Um


projecto financiado pela Fundação Calouste Gulbenkian 267

Nunziatella Alessandrini

Marcas de água em documentos do arquivo da igreja da Nossa Senhora do Loreto


(Igreja dos italianos), em Lisboa: sua classificação e descrição 283

Henrique Tavares e Castro, Maria Manuel Pinto Lares

Contributos para a História do Papel: análise preliminar das marcas de água do


Centro Interpretativo da Ordem de Avis 307

Marta Alexandre

Filigranas en los Impresos De Benito Monfort (1768-1833) para La Real Academia de


Bellas Artes de San Carlos de Valencia 329

Carmen Rodrigo Zarzosa


Marcas de água de papel oitocentistas na correspondência recebida do Visconde de
Vila Maior 357

Ana Margarida Silva

As Marcas de água encontradas nos livros da estante XIV “Poetas Gregos,


Latinos e Italianos”, da Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra 381

Nuno Alexandre Fonseca, Leonor Loureiro, Teresa Amaral

Marcas de água portuguesas em papel de fabrico contínuo 411

Maria José Ferreira dos Santos

Estudio de los métodos de reproducción de las marcas de agua en los documentos medievales 431
Mª Dolores Díaz de Miranda, Juan Sánchez, Loreto Rojo

El libro: La marca invisible. Filigranas papeleras europeas e hispanoamericanas 459

Mª del Carmen Hidalgo Brinquis

Filigranas, las huellas del agua 461

Ana María Osorno Nieto


Palavras de boas-vindas

É uma honra para o Município de Santa Maria da Feira organizar, em parceria com a Asociación
Hispánica de Historiadores del Papel, este Congresso Internacional sobre História do Papel na
Península Ibérica. Um encontro bienal, que se realiza desde 1995,em diferentes cidades de Espanha
e que, na sua XII edição,ao alargar o seu âmbito geográfico e temático à Península Ibérica, escolheu
Santa Maria da Feira.

A arte de fazer papel faz parte da identidade das Terras de Santa Maria desde o início do século
XVIII, com a fundação, na freguesia de São Paio de Oleiros, da Real Fábrica de Papel da Lapa,
pelo genovês José Maria Ottone. Desde então,e ao longo de sucessivas gerações, a Indústria do
Papel criou raízes no nosso território, proporcionando a sua industrialização com dezenas de fábricas
espalhadas pelas diferentes freguesias que integram este concelho. Uma indústria que, ao longo de
mais de 300 anos, nos tem proporcionado riqueza e notoriedade e que, na atualidade, continua a ter
um enorme significado económico, constituindo uma das nossas indústrias de referência.

É com muito orgulho que conservamos esta herança histórica num espaço privilegiado de preservação
de memória chamado Museu do Papel Terras de Santa Maria, o primeiro museu dedicado à História
da Indústria do Papel em Portugal. Galardoado em 2011, pela Associação Portuguesa de Museologia,
com o prémio “Melhor Museu do Ano”, o Museu do Papel tem dado um valioso contributo para o estudo
e a divulgação da História do Papel em Portugal, nomeadamente na área da investigação de Marcas
de Água.

Este contexto histórico e museológico motivou-nos a acolher, de imediato, o convite que, há dois
anos, nos foi endereçado pela Asociación Hispánica de Historiadores del Papel para realizarmos o
XII Congresso Internacional História do Papel na Península Ibérica. Estamos certos de que, ao longo
destes três dias, Santa Maria da Feira será um espaço de reflexão sobre a especificidade de temas
relacionados com a evolução da Indústria do Papel,que daqui sairá enriquecida com novas abordagens
e novas perspetivas de análise, essenciais para que não percamos o sentido da História, do Tempo e
das nossas raízes identitárias.

Agradecemos à Real Casa de la Moneda de Madrid a sua preciosa colaboração ao disponibilizar


a exposição itinerante Filigranas, Las Huellas del Agua, que será inaugurada no decorrer deste
Congresso, aquando da visita ao Museu do Papel Terras de Santa Maria.

Um agradecimento a todos os oradores que se disponibilizaram para desenvolver projetos de


investigação que acrescentam novos saberes à História do Papel em Portugal e em Espanha e que,
estou certo, irão, por sua vez, desencadear novos e múltiplos olhares sobre o Património da Indústria

11
do Papel na Península Ibérica.

Uma palavra de enorme gratidão às empresas e associações papeleiras e às diferentes entidades e


instituições, espanholas e portuguesas, que patrocinaram ou apoiaram a realização deste Congresso.

Expresso finalmente a nossa profunda gratidão a M.ª del Carmen Hidalgo Brinquis, Secretária Geral
da Asociación Hispánica de Historiadores del Papel, e a Maria José Ferreira dos Santos, Consultora
Científica do Museu do Papel, pelo seu enorme e inestimável esforço na organização deste encontro.

Sejam muito bem-vindos a Santa Maria da Feira.

Votos sinceros de um excelente Congresso!

Emídio Sousa
Presidente da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira

12
Presentación

Hoy los estudios de historia, como bien ha recordado Peter Burke, han ocupado territorios que
antes solo estaban destinados a la historia política, militar, religiosa, económica, literaria, artística,
cinematográfica, musical; se han abierto a otros espacios hasta configurar lo que el propio Burke
definió como la “Historia total”; es decir aquella que estudia el conjunto de saberes y se extiende a
disciplinas intelectuales de todo tipo.

Ahora que el papel se relativiza, cuando no se le condena, con cierta e ingenua precipitación, a su
desaparición es cuando se convertirá en un objeto de lujo, algo buscado, demandado y querido, y su
historia, en un capítulo determinante, cada vez con mayor interés, para la configuración y transmisión
del saber en Oriente y Occidente.

En la presentación de este XII congreso el mapa se amplia, de manera extraordinaria, con la presencia
de nuestros colegas portugueses, a los que no sólo le damos la más entusiaste enhorabuena sino que
les invitamos a que esa historia que hacemos entre todos del papel en la Península Ibérica sea ya una
realidad tangible y con un campo de actividad diverso y plural.

Las gamas diversas y el amplio catálogo de formas y modelos del papel determinan una cultura, no solo
esto, la definen. Como en los once Congresos anteriores los grupos de trabajo están organizados desde
una doble perspectiva: diacrónica (papel hispano-árabe, presencia del papel de la península ibérica en
Iberoamérica, historia del papel…) y temática (Conservación y restauración, técnicas de fabricación de
papel, filigranas, arqueología industrial, comercio papelero…). Y ahí están las Actas de los anteriores
y las de éste para mostrar cómo la labor de investigación ha sido y es encomiable, con trabajos ya
imprescindibles y memorables para la bibliografía de la disciplina. Pero mención especial merece la
presencia de la historia del papel en Portugal, que se remonta a los primeros años del siglo XV, y, de
manera general, ya en los comienzos del siglo ilustrado, el siglo XVIII, en la que el papel, a través del libro,
del pasquín, de los primeros periódicos y demás escritos de divulgación se hace compañero ineludible
del progreso de la Razón. Regiones como Santa maría da Feira, Lousã y Tomar son hoy presencias de
esa Historia. Y, desde aquí, rendimos querido homenaje en este duodécimo Congreso.

Fernando R. Lafuente
Madrid, mayo, 2017

13
In Memoriam de José Luis Basanta Campos

Conocí a José Luis Basanta Campos a través de sus artículos sobre el papel de Galicia que había
publicado en la revista Investigación y Técnica del Papel del Instituto Papelero Español.

Me puse en contacto con él porque estaba organizando el I congreso de Historia del Papel y sus
filigranas (Madrid-Capellades 1995) y deseaba coordinar una mesa redonda para ver la situación en
que se encontraban los estudios sobre esta materia en diferentes zonas de la geografía española
y le pedí su colaboración para que nos informara sobre las filigranas existentes en Galicia. Aceptó
encantado y, a partir de entonces, tuvimos una cordial amistad que hemos mantenido hasta el día de
su fallecimiento.

José Luis Basanta Campos (A Fonsagrada Lugo 1924 - Pontevedra 2016) tuvo de una riquísima
trayectoria profesional. Era doctor en química y fue director técnico de Ence-Elnosa (Primera fábrica
productora europea de pasta de celulosa de eucalipto), numerario de la Real Academia de Bellas Artes
de San Fernando y poseedor de la cruz del Mérito Civil.

En su vida tuvo tres grandes pasiones: su familia, el estudio del papel y el de los relojes, fundamentalmente
de piedra. Fue un gran bibliófilo contando con una espléndida biblioteca especializada en estos temas
con unos 9.000 ejemplares que donó, en el año 2013, a la Biblioteca de Galicia. Tuve la suerte de
poder admirarla cuando visité su casa en Pontevedra donde ocupaba toda la planta baja y que me
enseño con gran orgullo. Esta visita la hice en los años noventa con mi hija, que entonces era muy
pequeña, y a partir de entonces siempre le ha llamado, “el señor de los libros antiguos”.

Fruto de los estudios realizados a lo largo de su vida coordinó una ingente obra “Marcas de Agua en
Documentos de los Archivos de Galicia” ordenadas en ocho tomos que van desde los inicios de la
presencia del papel en Galicia hasta el siglo XIX, publicados por la Fundación Barrié entre los años
1996 a 2002.

15
Participó en casi todos los Congresos de Historia del Papel, obteniendo el premio José Luis Asenjo de
la Asociación Hispánica de Historiadores del papel, por la calidad de sus trabajos. Al último que asistió
fue al VIII, que celebramos en Burgos en 2009, donde vino acompañado de su mujer Julia y donde
pasamos unos días muy agradables disfrutando de su saber y su amable compañía.

En el año 2014, fui invitada por la Asociación Colón Gallego para presentar, en el Museo de Pontevedra,
los estudios realizados en el Instituto del Patrimonio Cultural de España sobre los documentos recogidos
por Celso García de la Riega sobre la presencia de la familia Colón en Pontevedra. José Luis tuvo la
generosidad de hacer mi presentación.

Siempre recordaremos a José Luis Basanta Campos como un gran amigo y un gran señor con un fino
humor gallego y con una enorme generosidad en trasmitir todos sus conocimientos. Descanse en paz.

Mª del Carmen Hidalgo Brinquis


Secretaria General de la Asociación Hispánica de Historiadores del Papel

16
O “ABSOLUTO IMACULADO DO BRANCO” AO SERVIÇO DE UM TEXTO

ARTUR ANSELMO
Presidente da Academia das Ciências de Lisboa

Palavras – chaves: Marcas-de-água, Textologia, Semiótica

Entre 1944 e 1946, em edição da Seara Nova, publicou Irene Lisboa dois volumes a que deu o título
de Inquérito ao livro em Portugal: o primeiro («Editores e livreiros») é constituído por entrevistas aos
responsáveis, nessa época, pela produção e distribuição de livros portugueses; o segundo («A arte do
livro») é dedicado a aspectos técnicos e estéticos da actividade gráfica. Obra hoje raríssima, impressa
em papel de péssima qualidade, faz parte da bibliografia indispensável ao conhecimento da história da
edição em Portugal no século XX.

No segundo volume do Inquérito ao livro reproduz Irene Lisboa, entre outros depoimentos, os que lhe
enviaram, expressamente para o efeito, Luís de Montalvor, fundador da Editorial Ática, e Luís Reis
Santos, fundador da Editorial Ulisseia.

Trata-se de dois testemunhos da maior importância, pese embora o facto de visarem fins diferentes: em
Montalvor, o objectivo é a exaltação do “poder e dignidade das leis da arte gráfica”, que asseguram, pela
sua arquitectura, a intemporalidade de uma página impressa; em Reis Santos relevase a necessidade
da escolha do tipo de papel mais adequado ao texto impresso, juntamente com outros elementos que
proporcionam a aliança das componentes matriciais da arquitectura gráfica.

Citando Mallarmé (“escrever é esvaziar essa treva e estrelar de mistério humano o absoluto imaculado
do branco”), Montalvor usa as palavras do seu tempo, identificando a treva com o tinteiro dos anos 40,
como alguém que dissesse: «ao molhar a pena no tinteiro, cubro de letras o papel em que escrevo.»
A este gesto, articulado com a mente, chama Montalvor «a conquista do espaço branco do papel pela
criação literária, pelo esforço do autor.»

Por seu lado, descendo à terra, o historiador de arte que foi Luís Reis Santos declara: «Para que uma
edição bibliográfica seja verdadeiramente bela, não basta cada uma das partes correspondentes ser
de boa natureza e os elementos que entram nelas estarem bem proporcionados: é necessário haver
concordância entre as ideias expressas e a forma empregada para as transmitir; é indispensável que
a tipografia, a ilustração, o papel e a impressão ̶ que constituem, por assim dizer, o corpo do livro ̶
sejam a expressão gráfica e plástica do texto, que corresponde à parte íntima, à sua alma.»

17
No momento em que engenheiros, industriais e historiadores do papel se juntam em Santa Maria da
Feira para abordarem temas da sua especialidade, talvez seja oportuno acentuar a ligação indissociável
entre o «absoluto imaculado do branco» e o seu consumidor quotidiano: o texto.

Entre o papel e os pictogramas do texto (entendidos no mais amplo sentido, isto é, de significantes
visuais de qualquer espécie) há ̶ para usarmos a terminologia heráldica ̶ uma íntima correlação de
um corpo com uma alma. Entenda-se por «corpo» a idealização simbólica da marca-de-água e por
«alma» a legenda que a acompanha, autenticando o nome do fabricante, seja por extenso ou por
siglas, seja por motes ou divisas.

À semelhança do que ocorre, por exemplo, nas marcas inscritas em peças de barro ou de cerâmica
(como nas ânforas romanas, recentemente estudadas em magníficas publicações da Union Académique
Internationale), são os corpos e as almas dos fabricantes de papel verdadeiros sinais distintivos da
sua actividade num determinado ramo. Marcas de artífices, podem estar relacionadas ̶ como sucede
na conhecida mão-e-estrela do período incunabular ̶ com determinadas regiões (signos motivados) e
virem a perder mais tarde esse carácter (signos imotivados ou arbitrários).

Em qualquer caso, o corpo e alma serviram, ao longo dos séculos, e servirão sempre como suportes
materiais de textos manuscritos e impressos. Nesse sentido, são objectos insubstituíveis, pelo facto de
terem evidente capacidade distintiva em relação a outros produtos da mesma espécie. Especialistas
da heráldica livreira, como Albino Forjaz de Sampaio ou Armando de Matos, consideravam que, pela
leitura da legenda (ou alma) de certos ex-libris, poderíamos traçar um retrato psicológico dos seus
possuidores. Com as marcas do papel ter-se-á passado algo de semelhante em tempos imemoriais,
mas a tendência para a despersonalização acentuou-se a partir do século XX e suplanta hoje,
largamente, os poucos traços identitários que ainda subsistem no mercado internacional.

EL “ABSOLUTO INMACULADO DEL BLANCO” AL SERVICIO DE UN TEXTO

ARTUR ANSELMO
Presidente da Academia das Ciências de Lisboa

Palabras clave: filigranas, estudio de textos, semiótica

Entre 1944 y 1946 publicó Irene Lisboa, en una edición de Seara Nova, dos volúmenes a los que dio el
titulo Cuestionario al libro en Portugal: el primero (“Editores y libreros”) está compuesto por entrevistas
a los responsables, en esa época, de la producción y distribución de libros portugueses, el segundo

18
(“el arte del Libro“) esta dedicado a aspectos técnicos y estéticos de la actividad gráfica. Obra hoy en
día rarísima, impresa en papel de pésima calidad, pero que forma parte de la bibliografía indispensable
para el conocimiento de la historia de la edición en Portugal en el siglo XX.

En el segundo volumen del cuestionario al libro, Irene Lisboa reproduce, entre otros temas que le
enviaron para este tema los de Luis de Montalvor, fundador de la Editorial Ática y Luis Reis Santos,
fundador de la editorial Ulisseia.

Se trata de dos testimonios de la mayor importancia, aunque intentaban alcanzar fines diferentes: en
Montalvor, el objetivo es la exaltación del “poder y dignidad de las leyes de las artes gráficas” que dan
fe, por su arquitectura, de la intemporalidad de una página impresa; en Reis Santos se revela como
una necesidad de elegir el tipo de papel mas adecuado a un texto impreso, junto con otros elementos
que proporcionan la unión de los componentes de las matrices de la arquitectura gráfica.

Citando a Mallarmé (“escribir es vaciar de esa obscuridad e iluminar del misterio humano el absoluto
inmaculado del blanco”), Montalvor utiliza las palabras de su tiempo, identificando la obscuridad como
el tintero de los años 40, como si alguien dijese: al mojar la pluma en el tintero, cubro de letras el papel
en el que escribo”. A este gesto, articulado con la mente, llama Montalvor “la conquista del espacio
blanco del papel por la creación literaria, por el esfuerzo del autor”.

Por otra parte, bajando a la tierra, el historiador de Arte Luis Reis declara: “Para que una edición
bibliográfica sea verdaderamente bella, no es suficiente con que cada una de las partes que la
componen sea de buena calidad y los elementos que la componen estén bien proporcionados: es
necesario que haya concordancia entre las ideas expresadas y la forma utilizada para trasmitirlas; es
indispensable que la tipografía, la ilustración, el papel y la impresión – que constituyen el cuerpo del
libro – sean la expresión gráfica y plástica del texto, que corresponde a la parte íntima, a su alma”.

En el momento en que los ingenieros, industriales e historiadores se unen en Santa María da Feira
para abordar temas de su especialidad, talvez sea oportuno acentuar la unión indisociable entre el
“absoluto inmaculado del blanco” y su consumidor cotidiano: el texto

Entre el papel y los pictogramas del texto (entendidos en el más amplio sentido, esto es, de significantes
visuales de cualquier especie) hay – para usar terminología heráldica – una íntima correlación de un
cuerpo con un alma. Entendiéndose por “cuerpo” la idealización simbólica de la filigrana y por “alma la
leyenda que le acompaña, autentificando el nombre del fabricante, ya sea completo o por siglas, o por
escudo o divisas.

A semejanza de lo que ocurre, por ejemplo, en las marcas inscritas en piezas de barro o de cerámica
(como en las ánforas romanas, recientemente estudiadas en magníficas publicaciones de la Union

19
Académique Internationale) son los cuerpos y las almas de los fabricantes del papel, las verdaderas
señales distintivas de su actividad en una determinada especialidad. Las marcas de artífices, pueden
estar relacionadas – como sucede en la conocida mano con estrella del periodo de los incunables –
con determinadas regiones (signos parlantes) que, mas tarde, pasaron a perder ese carácter (signos
casuales o arbitrarios).

En todo caso, el cuerpo y el alma han servido a lo largo de los siglos, y servirán siempre como
soportes materiales de textos manuscritos o impresos. En este sentido, son objetos insustituibles, por
el hecho de tener una evidente capacidad distintiva en relación a otros productos de la misma especie.
Especialistas en heráldica bibliófila consideraban que por la lectura de la leyenda (o alma) de algunos
ex libris, podríamos trazar un relato psicológico de sus poseedores. Con las filigranas ha pasado algo
similar en tiempos inmemoriales, pero la tendencia a la despersonalización se acentuó a partir del siglo
XX, y suplantan hoy, ampliamente, los pocos trazos identificativos que todavía subsisten en el mercado
internacional.

20
GRUPO 1
TÉCNICAS DE FABRICACIÓN DE PAPEL. INVESTIGACIÓN
EL PAPEL CON FILIGRANA EN VOLÚMENS NOTARIALES DE MEDIADOS DEL SIGLO XIV EN
LA CORONA DE ARAGÓN: BAGÀ Y SANT CUGAT

M. Carme Sistach Anguera


Archivo de la Corona de Aragón
carmen.sistach@mecd.es

RESUMEN

La Sección de Notariales del Archivo de la Corona de Aragón, conserva documentación que enlaza
todo el siglo XIV. Revisamos el periodo comprendido entre 1345 - 1358 que ocupa los volúmenes n.
29 al n. 36 de la serie de Bagà, y el periodo 1355 - 1361 que ocupa los volúmenes n. 51 al n. 56 de la
serie de Sant Cugat. En estos volúmenes y para estas fechas, y en ambas series, aparece la filigrana
por primera vez en esta documentación de protocolos notariales.

La adición de filigrana en la hoja de papel va asociada a la modificación del proceso hispano árabe
tradicional de fabricación utilizado hasta entonces. Estudiamos la tipología de ese primer papel
y su filigrana, tanto su descripción física como el análisis mediante reactivos, para relacionar sus
características con el nuevo proceso de fabricación.

PALABRAS CLAVE

Papel, análisis, descripción, filigranas, siglo XIV.

INTRODUCCIÓN

La filigrana aparece hacia finales del siglo XIII en el papel que se hace en Italia y es un elemento
característico que posteriormente se disemina y aplica en toda Europa. Las formas y posición en la
hoja de este elemento distintivo, así como otros detalles relacionados con su imagen han sido objeto de
estudio con ánimo de asociar la producción y procedencia del papel a un determinado molino papelero
(Briquet 1966 y Valls 1970). Hemos estudiado anteriormente la introducción de este elemento distintivo
en documentación de las secciones de Cancillería y de Maestro Racional del Archivo de la Corona de
Aragón, para determinar en qué fechas aparece, y en qué tipo de papel y también sus formas y tamaño
así como las características de ese papel (Sistach 2010 y 2013). En este trabajo localizamos el primer
papel con filigrana en la sección de Notariales de las series de Bagà y Sant Cugat. Se escogen estas
dos series porque son las que empiezan en fecha más antigua y abarcan plenamente el siglo XIV.

23
Sabemos que en otras secciones del Archivo, el cambio de papel hispano árabe a papel con filigrana
ocurre hacia mitad del siglo XIV, y comprobaremos que esto se repite en fechas similares para esta
sección de Notariales.

Aplicaremos reactivos específicos para el papel como Herzberg y Lofton-Merrit, y la fucsina y el reactivo
Erlich para la identificación de la cola (García Hortal 1988 y Barret 1992).

FINALIDAD DE ESTE ESTUDIO

La revisión de esta documentación de mediados del siglo XIV nos permitirá Identificar cuando se
introduce el papel con filigrana en esta sección de notariales y estudiar sus características relacionadas
con la nueva manera de hacer papel que denominaremos “manera italiana”. Estas características
abarcan tanto los detalles físicos evidentes como pueden ser la distribución, grosor y estructura de
corondeles y puntizones de la forma utilizada para hacer el papel, como detalles de las fibras y cola
que forman este papel. También el tamaño, forma, ubicación de la filigrana en la hoja y la finura del
perfil de su dibujo son detalles físicos que ayudan a conocer sobre el proceso de fabricación de las
hojas. Usamos los reactivos de Herzberg, Lofton – Merrit, fucsina y Erlich para destacar características
de sus fibras, a través de las que poder razonar cómo se aplicó la nueva manera de hacer papel hacia
mediados del siglo XIV para aquel que probablemente procede de Italia y el que posteriormente se hizo
en territorio de la Corona de Aragón a la manera italiana. Detalles físicos de la fibra revelan datos que
permiten confirmar y clarificar sobre el proceso que se utilizó para fabricarlo (Dabrowski 2004 y 2006).

La constatación de que hay dilatación en las zonas amorfas de la fibra cundo se analiza papel con
filigrana, indica que se ha aplicado un proceso de fabricación más evolucionado que el que se usaba
para el papel hispano árabe. Esta dilatación de las áreas menos cristalizadas en la fibra de celulosa
requiere que estas zonas amorfas estén previamente alteradas por oxidación e hidrólisis. Estos puntos
sensibles facilitan la penetración del compuesto alcalino que se usa luego. La fibra se rompe por
estas zonas sensibles, puesto que la hidrólisis de la celulosa previamente oxidada ocurre fácilmente a
temperatura ambiente. Durante la pudrición de los trapos que se aplica inicialmente en la fabricación
de papel con filigrana, se produce la proliferación de hongos y bacterias. Estos microorganismos
actúan sobre la celulosa y provocan su alteración inicial, preferentemente en las zonas amorfas de la
fibra, donde puede penetrar más fácilmente el agua. Esta actividad microbiológica sobre la celulosa
permite deshacer el trapo más fácilmente, con la consiguiente desaparición de las largas hebras de
hilo tan características que identifican el papel hispano árabe. Por esta razón desaparecen también
las largas hebras de hilo azul que relacionamos con ese papel. Respecto a las hebras de hilo azul
debemos comentar que su desaparición no es absoluta en el papel con filigrana de mediados del siglo
XIV, ya que constatamos algún pequeño resto de tamaño mucho más pequeño que la habitual larga
hebra azul del papel hispano árabe. Este punto azul indica que no se consigue la trituración total de los

24
trapos hasta individualizar completamente las fibras. Pueden quedar en el papel pequeños restos de
hebras de hilo sin deshacer completamente, aunque mucho más pequeñas que las del papel hispano
árabe, pero que al no tener color no se aprecian a simple vista. Estos pequeños puntos de color azul
desaparecen completamente a lo largo de la segunda mitad del siglo XIV, lo cual significa que se
mejora el rendimiento de degradación de los trapos, que asegura la completa disgregación de las
hebras, hasta la separación en fibras individuales.

El grosor del papel disminuye ligera y progresivamente desde mediados del siglo XIV hasta finales, y
mejora también la estructura de la hoja, consecuencia de que la forma tiene un perfil de verjurado más
fino y delimitado y también el perfil del trazo de la filigrana. Esta evolución en la estructura del papel es
consecuencia de que el tratamiento de los trapos ha mejorado, y demuestra que se consigue desfibrar
mejor las hebras de hilo y trabajar con pulpa de papel con fibras mucho más individualizadas, también
más cortas y con mayor fibrilación de sus márgenes. Esta pulpa más homogénea permite hacer papel
más fino y delicado en formas cuyos puntizones y corondeles son más finos.

El proceso hispano árabe aplicado a los trapos no contempla su pudrición inicial, puesto que la
cal viva se añade directamente a los trapos, y en este medio tan alcalino no pueden desarrollarse
microorganismos. Por eso, en el proceso hispano árabe, la trituración de los trapos se limita a una
degradación físico mecánica que conserva las largas hilazas que se aprecian fácilmente y caracterizan
este papel.

DESCRIPCIÓN Y DISCUSIÓN DE RESULTADOS

Documentación de Notariales de SANT CUGAT: Volúmenes del 51 al 56 (1355- 1361)

Sant Cugat n. 51 (1355-1356). Volumen notarial del notario Guillem de Torn, formado por 101 folios
que combinan papel hispano árabe y papel con filigrana. Es el primero de esta serie en el que aparece
papel con filigrana. Sin embargo, los folios numerados del 51 al 101 son 25 bifolios de papel hispano
árabe y entre ellos destaca una amplia marca zig-zag (///) en el folio 53, y con larga hebra de hilo azul
localizada en la superficie de los folios 52v, 63r, 76r y 98r. Los 50 primeros folios son de papel con
filigrana y comprobamos que siempre es la de “dos círculos” con eje que las atraviesa (Briquet n.
3190 (1349-1350) Siena y n. 3167 (1342) Boloña). Estos folios tienen el texto escrito paralelo a los
corondeles y perpendicular a los puntizones, y su filigrana está situada justo en el pliegue del bifolio.
Ambas cosas indican que en origen, este papel era de “tamaño mayor”, y que se cortó por la mitad
de la dimensión más larga. Una vez dobladas por su centro ambas mitades alternarían bifolios con
filigrana y bifolios sin filigrana. Esto coincide con la distribución de bifolios en este volumen.

En el folio de “tamaño mayor” la filigrana estaría situada en la parte central de una de las sus dos
mitades que debería ser de “tamaño mayor” y del que podemos suponer mediría aproximadamente

25
42cm x 64cm. Una vez cortada esta hoja grande, los bifolios de los cuadernillos del volumen miden
32cm x 42cm, y una vez doblados por su centro, los folios son de 32cm x21cm., que son las medidas
este volumen. Los márgenes están cortados y por ello no sabemos exactamente la medida original de
sus bifolios, ni en consecuencia tampoco la medida exacta del papel de “tamaño mayor”.

En documentación de 1379-1380, del volumen de Real Patrimonio, Maestro Racional n. 32, libro
ordinario del procurador Berenguer de Magarola, consta que se pague a Bernat Ramón Mercader, de
Perpinñan, por dos manos de papel de “forma mayor” que se compró para hacer un libro de deudas del
año venidero. La cita concreta dice que la mano de papel comprada era de “forma mayor”, y eso nos
indica que debía también ser posible comprar papel de dimensiones más pequeñas.

El folio 21 de este papel con la filigrana de los dos círculos es de lino y cáñamo. Abundancia de
fibras cortas con los extremos abiertos (60% cortas: 40% largas) Sus fibras tienen escasa fibrilación y
evidente dilatación de sus zonas amorfas. Esto demuestra que las áreas menos cristalizadas de la fibra
son más susceptibles de degradación y que por estas zonas menos ordenadas molecularmente es por
donde se inicia la degradación que facilita la penetración y posterior actuación del compuesto alcalino,
la cal viva. La pudrición de los trapos previa a la adición del compuesto alcalino se aplica con el nuevo
proceso italiano que incluye además la filigrana como elemento distintivo para este nuevo método de
producir papel.

La fucsina identifica cola de gelatina en el papel del folio 21 con filigrana de dos círculos. La tinción
con el reactivo de Lofton – Merrit muestra 1% de fibras con lignina, relativamente largas, que se tiñen
de azul intenso, y 5%-10% de fibras con tinción fucsia intenso. Esto nos indica que algunas fibras que
retienen lignina la mantienen inalterada, igual que ocurre con el papel hispano árabe. Este papel con
filigrana se hizo probablemente aplicando un tiempo de pudrición de los trapos relativamente corto.

Sant Cugat n. 52 (1356). Volumen del notario Guillem de Torn, substituido por Pere Serra, con 233
folios y todos menos cuatro son de papel hispano árabe. Se trata de dos bifolios con filigrana, con
numeración del 186 al 189. En el folio 187 está la filigrana de “dos círculos” y en el 189 la filigrana del
“gallo”. En el folio 182v, dentro del grupo hispano árabe, existe una marca zig-zag (///) ancha y bien
marcada, y además tiene una larga hebra de hilo azul, que también localizamos en el folio 156r.

Los dos bifolios con filigrana son de mayor dimensión que los demás, de papel hispano árabe. Se
trata del borrador de una escritura hecha el mismo año (1356) que el resto del volumen, pero están
escritos independientemente del volumen de manual del notario de este mismo año y fueron cosidos
al volumen cuando se encuadernó de nuevo en el siglo XVIII.

El papel con filigrana del gallo del folio 189 tiene fibras de lino y cáñamo, con mayor abundancia de
este último y con cola es de proteína. Estas fibras muestran poca fibrilación y evidente dilatación en

26
zonas amorfas (Figura 1), aunque los extremos por donde se ha fragmentado la fibra no están muy
abiertos. Las fibras de lino son más largas que las de cáñamo, que apareen cortas y muy hinchadas.
Hay alguna fibra corta que se tiñe de azul con Lofton-Merrit (1%-2%), lo cual indica que conservan
lignina inalterada en su interior y también más de 5% de fibras fucsia con la lignina ya modificada.
Estos datos nos indican que los trapos se han sometido a un tratamiento de pudrición relativamente
corto antes de aplicar el tratamiento alcalino. Esta pudrición inicial del trapo es la etapa importante y
esencial que incorpora el nuevo proceso de fabricación italiano, y probablemente se aplicaría aún con
mesura en esta época. Las hebras de hilo más están disgregadas que en el papel hispano árabe y
puede añadirse un elemento como la filigrana sobre la forma de papel con garantías de que el folio
será homogéneo.

Figura 1. Fibra con zona amorfas ligeramente dilatadas y parcialmente rota. Reactivo Herzberg.

Sant Cugat n. 53 (1357). Volumen del manual del notario Pere Serra, de 144 folios que combina papel
hispano árabe con papel que tiene filigrana. Los folios de papel hispano árabe están numerados del
1 al 49, del 52 al 89, el bifolio 93-94 y los folios finales del volumen con numeración del 95 al 144. El
papel de tipología italiana aparece en el bifolio de numeración 50-51 y el 90-91, ambos con filigrana
de “dos círculos” ubicada en el pliegue central con texto escrito perpendicular a los puntizones, igual
que en el volumen n.51. Los folios con numeración del 95 al 128 son también de tipología italiana y
a su vez provienen de un papel de “forma mayor” que mediría 42cm x 62cm, ya que los bifolios del
volumen miden 31cm x 42cm. En este caso, la filigrana es la del “fruto”, (Figura 2) (Briquet n. 7373
(1345-1350 Siena), y n. 7375 (1353-1354 Siena) y n.7378 (1380 Florencia). El papel es grueso (30µ)
y con 4-5 puntizones por centímetro. La distancia entre corondeles es de 5cm, excepto los contiguos
a la filigrana que distan 5,5cm.

27
Figura 2 Filigrana de “fruto” en el pliegue central del bifolio. Texto perpendicular a los puntizones.
Volumen 53 de Notariales de Bagà, folio 96 (1357).

Los folios con filigrana tienen cola de proteína, y sus fibras son de lino y cáñamo. Estas fibras tienen
los márgenes con muy poca fibrilación, e incluso algunas tienen cierta similitud con las de un papel
hispano árabe, pero sin embargo son notoriamente más cortas: En la superficie del papel destacan
abundantes restos de elementos lignificados que se corresponden con los elementos anillados propios
de la corteza de la planta vegetal del lino y del cáñamo. El reactivo de Lofton – Merrit destaca algunas
fibras cortas que conservan lignina sin alterar y que se tiñen de azul intenso. También destacan fibras
largas de cáñamo cuya lignina se ha modificado. Por definición, el lino y el cáñamo son fibras no
lignificadas. Sin embargo, el papel tiene algunas con restos de lignina, probablemente procedentes de
zonas más lignificadas de planta, que se aprovecharía al máximo en aquella época.

Sant Cugat n. 54 (1359). Volumen de 144 folios, del manual de notario Pere Serra, que combina papel
hispano árabe y papel con filigrana. Solo doce, del folio 132 al 143, son del tipo hispano árabe. Los
demás todos son de manufactura italiana y con filigranas diversas. El bifolio con numeración 131-144
es el exterior del cuadernillo que recoge los folios hispano árabes en su interior (132-143). Este bifolio
tiene el texto escrito perpendicular a los puntizones, lo que repite el razonamiento expuesto para los
volúmenes 51 y 53. Las filigranas identificadas son de origen italiano y aparecen más marcadas en
estos folios que en algunos de los volúmenes anteriores. Identificamos en el folio 59 la letra “M” (Figura
3a). Briquet n. 8341 (1350, Grenoble) y n. 8341 (1340 Florencia); el “fruto” en el folio 62 y que ya
hemos referenciado en el volumen 53, y en el folio 83 el “arco con flecha” (Briquet n. 783 (1358-1359)
Pisa; Valls n. 1146 (1364) Olot). Los puntizones son gruesos y caben 4 en 1cm. Los corondeles están
a 4cm de distancia, excepto los contiguos a la filigrana que distan 4,5 cm. Las dimensiones del bifolio
son 29.5cm x 45cm.

28
Figura 3 (a) Filigrana “M”, en Notariales St Cugat 54, folio 59 (1359).

El análisis del folio 83 con filigrana de arco y flecha muestra cola de proteína, y que sus fibras son de
lino y cáñamo, con poca fibrilación, con 60% de fibras largas y 40% de fibras cortas. Los extremos por
donde se han fragmentado están abiertos. Con reactivo Herzberg algunas de ellas muestran un tono
amarillento, que indica cierta lignificación, lo cual se corrobora posteriormente con el reactivo Lofton –
Merrit, puesto que algunas fibras cortas se colorean de azul y también hay fibras largas que muestran
parte con tinción fucsia y parte incolora. La permanencia de lignina inalterada indica un tiempo de
pudrición de trapos relativamente corto, pero suficiente para mejorar la disgregación de las hilazas tan
visibles en el papel hispano árabe.

Sant Cugat n. 55 (1360). Volumen de 72 folios, que intercala papel hispano árabe y papel con filigrana.
Aquellos con características hispano árabe tienen foliación 27 al 33, 62 al 69, y el folio 70, con hebra
de hilo azul en el folio 31v. El cuadernillo formado por los folios 27 al 34 pertenece a notariales de
corte, pero el resto de folios de este volumen con características de papel hispano árabe pertenecen
al manual del notario Pera Serra. Vemos la marca zig-zag (///) en el folio 63. Los bifolios con filigrana
van numerados del 1 al 26, del 35 al 61 y 71-72 y pertenecen también al manual del notario Guillem de
Turno y/o de Pere Serra. En los folios 20 y 72 vemos la filigrana de “columna” (Figura 3b).

29
Figura 3 (b) Filigrana de “columna” en Notariales St Cugat 55, folio 20 (1360).

En el folio 37 vemos la filigrana de la “llave” (Figura 3c) (Briquet, n. 3812 (1352) Udine y (1353)
Grenoble); en el folio 46 se localiza la filigrana del “fruto”.

Figura 3 (c) Filigrana de “dos llaves” (1360), en Notariales St Cugat 55, folio 37 (1360).

El papel con filigrana mide 0,35mm de grosor, con 4 puntizones por centímetro y los corondeles a 4cm
de distancia. La filigrana está situada en el centro de una de las dos mitades del bifolio y el texto está
escrito en paralelo a los puntizones.

El análisis con reactivos muestra almidón en los folios hispano árabes (folio 31 y 67) y que sus fibras
son largas y sin fibrilación, con abundancia de cáñamo y lino. Contiene un 1%-2% de fibras muy cortas
con lignina que se identifican con Herzberg y corroboran con Lofton – Merrit. A su vez, este reactivo
no muestra las fibras fucsia características del proceso italiano, lo cual confirma que se trata de papel
hispano árabe. Por otro lado, las fibras son largas y enteras, y no tienen áreas de dilatación en sus
zonas amorfas, porque no ha habido degradación por oxidación debido a la actividad bioquímica de los

30
microrganismos que se desarrollan durante la pudrición de los trapos.

El análisis del folio 20 con filigrana de columna identifica cola de proteína en el papel y el reactivo
Erlich identifica específicamente gelatina. Este papel tiene las fibras de lino y de cáñamo con escasa
fibrilación, de las que el reactivo Herzberg no destaca ninguna con el color amarillo, característica de
aquellas fibras que retienen lignina. Con el reactivo de Lofton – Merrit corroboramos que tampoco
ninguna fibra se tiñe de color azul intenso para aquellas fibras que tienen lignina en su estado original.
Sin embargo, este reactivo muestra fibras de coloración fucsia, hecho que se asocia con el proceso
italiano de fabricación italiano.

El resultado del análisis de las fibras para este folio indica que se hizo mediante el proceso italiano, con
fermentación previa de los trapos, pero con escasa degradación en las áreas amorfas, probablemente
porque el tiempo de putrefacción de los trapos fue escaso.

Sant Cugat n. 56 (1361) Volumen del manual del notario Pere Serra, con 123 folios, y todos ellos son
de papel con filigrana. Los bifolios son de tipología italiana y muestran diversas filigranas. En el primer,
segundo y quinto cuadernillo vemos la filigrana de la “M”; el tercer cuadernillo combina la filigrana “M”
y la del “fruto”; y en el cuarto cuadernillo vemos la filigrana del “fruto” (Figura 4).

Figura 4 Partículas de proteína situadas sobre los márgenes de las fibras, con coloración fucsia por
el reactivo de fucsina.

El análisis de las fibras del folio 23 con filigrana “M” muestra fibras de lino y abundante cáñamo, con
sus zonas amorfas con una dilatación muy apreciable y frecuente. Esta dilatación provoca rotura de la
fibra, por lo que hay abundancia de fibras cortas que muestran sus extremos muy abiertos formados al
romperse por sus zonas amorfas, cuando ya sensibles después de la putrefacción se tratan con cal y
se trituran. Los márgenes de la fibra tienen fibrilación irregular. Mayoría de fibras largas (70%) respecto
a las cortas (30%). El papel está encolado con proteína (Figura 5).

31
Figura 5 Filigrana del “fruto” en Notariales St. Cugat 56, folio 52 (1361).

Documentación de Notariales de BAGÀ: Volúmenes del 29 al 40 (1345- 1363)

Bagà n. 29 (1345). Es el primer volumen de esta serie en el que localizamos papel con filigrana. Se
trata de un libro de notariales de corte formado por dos cuadernillos, cuyos bifolios miden 29cm x
46cm, aunque es la medida que tiene con sus márgenes cortados. Los corondeles especialmente, y
en general todo el verjurado de la hoja, está poco marcado, con abundantes restos lignificados en la
superficie de la hoja. La filigrana se encuentra centrada en una de las mitades del bifolio y de los que
a su vez, también cuesta distinguir sus detalles. El primer cuadernillo repite la filigrana de la “corona”
(Valls n. 1438 (1323 y 1343) Barcelona) de 4cm x 5cm y en el segundo el “peso de romana” (Figura
6) de 8.5cm x 3.5cm (Briquet n. 12401, (1343), París y (1344) Grenoble).

Figura 6 Filigrana del “peso de romana” en Notariales de Bagà 29, folio 70 (1345).

El análisis de los folios 25 y 46 del primer cuadernillo, muestra que el papel tiene cola de proteína, con
abundancia de cáñamo además de lino, y que sus fibras tienen poca fibrilación. El % de fibras cortas
es mayor que en el papel hispano árabe, y la proporción de fibras largas es a su vez inferior a la que
tiene un papel hispano árabe. El análisis de los restos de paja que se distinguen sobre el papel identifica
claramente lignina y con la estructura de sus elementos anillados característicos. Además, algunas fibras
cortas de cáñamo aparecen algo amarillas con Herzberg y azules con Lofton – Merrit, lo que confirma

32
que están parcialmente lignificadas. Las fibras aparecen dilatadas en las áreas amorfas y el 5%-8% de
ellas se colorean de fucsia. El resultado indica que los trapos se han tratado según el proceso italiano, y
que la materia prima que se ha usado tenía abundantes elementos con lignina. La abundancia de lignina
modificada en las fibras y de restos lignificados sobre el papel se explicaría por el uso de materia vegetal
de la planta de cáñamo y de trapos como materia prima para hacer este papel. Aunque la proporción de
fibras cortas es mayor que en el papel hispano árabe, su fibrilación es pobre y más escasa que la del papel
italiano. Esto nos indica que a pesar de utilizar el proceso italiano con pudrición inicial, el tiempo de esta
etapa fue corto, y la trituración mecánica posterior que se aplica es a su vez poco enérgica. La filigrana y
el verjurado poco destacados indican también que la pulpa se ha trabajado poco mecánicamente y por ello
no facilita que se distinga con claridad la estructura de la forma que se ha utilizado para hacer este papel.

Bagà n. 30 (1346-1348) Volumen de 117 folios. Es un libro de notariales de Corte formado por 6
cuadernillos, con 4-5 puntizones por cada cm, y sus corondeles están muy poco marcado igual que
en el volumen anterior. Los bifolios cortados miden 29.5cm x 50cm y son de papel grueso: 0.25mm-
030mm. Existen 5 filigranas diferentes y la más abundante es la “cruz dentro del doble círculo”
(Figura 7) localizada en los folios del primer cuadernillo y en parte del segundo y el tercero, (Valls;
n. 1732 (1353); Briquet n. 12401, Paris (1359), Grenoble (1344); en el segundo cuadernillo está la
filigrana del “paquete-fardo”, de 3cm x 5.5cm, (Briquet n. 13503 (1359) Dijon; Valls n. 1714 (1355)
Manresa); en el segundo cuadernillo está también la filigrana de la “estandarte” 9cm x 5cm (Briquet
n. 5984, (1344) Tirol; (1348-1349) Provenza; (1345) Grenoble); y en el cuarto quinto y sexto cuadernillo
vemos la filigrana del “carnero” (Valls n. 1320, (1370) Olot, Santa Pau).

Figura 7 Filigrana de “dos círculos” y cruz en Notariales de Bagà 30, folio 15 (1346-1348).

El análisis del folio 105 con filigrana del carnero da positivo al reactivo de proteína. Tiene fibras de cáñamo
y lino, con un alto tanto por ciento de fibras cortas, pero con poca fibrilación. Las zonas amorfas tienen
dilatación y muestran fragmentación parcial o total. El reactivo de Lofton – Merrit aporta 3%-4% de fibras
con lignina modificada que se tiñen de fucsia y algunas de ellas están solo parcialmente lignificadas. Estos
datos sugieren que se ha tratado los trapos con poco tiempo de pudrición y con trituración mecánica poco

33
enérgica como en el folio 25 y 46 del volumen 29 anterior. Destaca especialmente el hecho de que los
corondeles casi no se distinguen, como en el volumen 29. Una explicación para esto puede aportarle que
las hebras de hilaza de los trapos están poco trabajadas, por lo que la acumulación de pulpa sobre la
forma no deja distinguir bien el perfil de sus corondeles y puntizones.

Bagá n. 31 (1348-1354). Volumen de manual del notario Guitart, formado por 42 folios de manual
del notario Guitart, agrupados en un único cuadernillo, del 1 al 36, y seis folios detrás hasta el 42. La
dimensión original del bifolio es 31cm x 46cm ya que algunos no se han cortado, y contamos 5 sus
puntizones gruesos por cada cm, pero los corondeles están poco marcados, igual que en el volumen
anterior. En el folio 17 identificamos la filigrana del “rey” poco marcada en la hoja de papel (Figura 8).

El análisis del folio 16 con la filigrana del rey indica que está encolado con proteína. Sus fibras son
de lino y cáñamo, con poca fibrilación y un elevado tanto por cien de fibras cortas, aunque las hay
largas similares a las de papel hispano árabe. Áreas de dilatación en las zonas amorfas de la fibra
y con abundancia de aquellas que están parcialmente rotas. A pesar de que sus márgenes están
relativamente enteros, la fibra aparece parcialmente rota en los puntos amorfos. Abundancia de fibras
teñidas de fucsia con el reactivo Lofton – Merrit (5% - 8%) y también algunas ligeramente rosa (4%)
nos indica que la pudrición ha actuado, pero que el proceso mecánico ha sido escaso.

Figura 8 Filigrana del “rey”, en notariales de Bagà 31, folio 17 (1342-1350).

Bagá n. 32 (1349-1352). Volumen de notariales de corte, formado por 131 folios agrupados en cuatro
cuadernillos. Es un libro de notariales de corte. Las dimensiones del doble folio son 31cm x 46cm, con
líneas de puntizones gruesas, 4 líneas por cada centímetro, y corondeles poco marcados a cuatro
centímetros. En el primer cuadernillo se distinguen dos filigranas, una es el carnero (Valls n. 1320
(1370)) y la segunda no conocida de 12.5cm x 9.5cm. El segundo cuadernillo con la filigrana del
hacha (Briquet n. 7488, Treviso 1337, Treviso, 1345, Grenoble; y n.7490, Grenoble (1349-1350);

34
Valls n. 1575 Vic (1339)). En el tercer cuadernillo localizamos la “espada” y el “carnero” El cuarto
cuadernillo también con la espada (12.5cm x 2cm) (Briquet n. 5102 (1322) Bolonia y n. 1513 (1352)
Chambery y (1353) Provenza). Los folios con la filigrana de la espada muestran los corondeles más
marcados que los folios con hacha, la no conocida y carnero.

El análisis del folio 67 con la filigrana del carnero, folio 76 y 100 con filigrana de espada dan positivo
al reactivo de proteína. Son fibras de lino y de cáñamo al 50%, con mayor abundancia de fibras cortas
ya rotas y fragmentadas (60% cortas - 40% largas), pero escasa fibrilación con amplia dilatación de
las zonas amorfas. Notoria tinción fucsia en fibras (4%-5%) con Lofton – Merrit). Continúa el escaso
tratamiento mecánico de los trapos, pero la etapa de pudrición es suficiente pues puede romper las
fibras ya que se ha incrementado la proporción de fibras cortas. También se incrementa la cantidad
de fibras con lignina modificada. En este caso puede que se utilizara materia prima con trapos de
poca calidad que retienen fibras con cierta lignificación, o bien que algunas partes de la planta se
aprovecharon también para hacer papel.

Bagà n. 33 (1350-1351). Volumen de 84 folios, del manual de notario Bartolomé.de Quer, formado por
tres cuadernillos con bifolios que miden 29.5cm x 50cm, con puntizones gruesos (4 por cada cm) y
corondeles muy poco marcados. En los tres cuadernillos aparecen 7 filigranas diferentes, entre ellas
la “ballesta” (Briquet n. 707 (1353) Malenes y 705 (1347-1356) Udine; Valls n. 1162 (1348), Vic) y la
filigrana de un “círculo” con línea que lo atraviesa (Briquet n. 2939 (1350, Verona) y n. 2940 (1382,
Troyes) y Valls n. 1363 (1385)), el “ cabeza de buey”(Valls n. 1211 (1372) Manresa) y el “hacha”
(Briquet n. 7490 (1349-1350) Grenoble; Valls n. 1576 (1355-1356) Olot), y otra tres más.

El análisis del folio 62 con la filigrana del círculo indica encolado de proteína. Las fibras de lino y de
cáñamo son 40% cortas y 60% largas, con muy poca fibrilación y de aspecto similar al de las fibras del
papel hispano árabe. Las áreas amorfas muestran dilatación y los extremos rotos también. Abundancia
de fibras con lignina modificada (8%-15%) que se tiñen de fucsia con Lofton – Merrit. Los trapos han
pasado por el pudridero, pero el proceso mecánico de trituración ha sido débil puesto que los márgenes
de sus fibras muestran poca fibrilación. La abundancia de lignina en fibras puede provenir de trapos
de poca calidad y/o de usar parte de la planta como materia prima. Los corondeles con poca definición
en el papel son consecuencia de que las hilazas de los trapos no están completamente deshilachadas
en este caso, y la alta proporción de fibras largas entorpece la distribución homogénea que se precisa
para obtener una estructura de corondeles bien definida en el papel.

Bagà n. 34 (1351-1352). Volumen de manual del notario Guitart, formado por 135 folios agrupados en
3 cuadernillos, cuya dimensión de bifolio es 30.5cm x 45cm, con cinco filigranas diferentes: “carnero”,
“dos círculos” (Briquet, n. 3167 Boloña (1342) Boloña) y n. 3168 (1361) Pisa; Valls (1368 (1308)
Barcelona y n. 1369 (1315) Olot) con línea que los atraviesa, “campana”, y otras dos más, todas ella

35
típicas del papel con filigrana de esta época. En el bifolio de numeración 90-134, y en cada uno de
estos folios, se distingue un pequeño resto de color azul, de tamaño algo mayor que un punto, que es
una parte de las hilazas de hilo azul, tan característico del papel hispano árabe, que ha quedado sin
desfibrar (Figura 9).

Figura 9 Resto de hebra de hilo azul en folio 90 del Volumen de Bagà 34 (1351-1352).

El análisis del folio 134 que retiene el pequeño resto de fibra azul muestra que el papel está formado
por fibras de lino y cáñamo con poca fibrilación, y mayor abundancia de fibras largas (70%) que
cortas (30%), con evidente dilatación en sus áreas amorfas. La abundancia de fibras largas, así como
la escasa fibrilación de los márgenes de estas, demuestra que se aplicó un proceso mecánico de
trituración poco enérgico y la permanencia de pequeños restos de fibras de color azul también. La
proteína del encolado confirma que para hacer este papel se ha usado el nuevo proceso desarrollado
en Italia. El reactivo Lofton – Merrit lo corrobora puesto que muestra tinción fucsia en un 2% - 4% de las
fibras, además de otra pocas con un ligero color rosado aunque. El análisis demuestra que se aplicó
un proceso de pudrición escaso y poca trituración. En consecuencia, las hebras de hilo no se han
separado totalmente en sus fibras individuales y por eso aparecen pequeños botones de color azul en
los folios 90 y 134. Los corondeles están poco definidos debido a que la pulpa estaba poco triturada,
por lo que la estructura de la forma no queda definida nítidamente en la hoja de papel.

Bagà n. 35 (1351-1381). Volumen del manual de notario Guitart, formado por 105 folios, recogidos
en cinco cuadernillos, en los que todos los bifolios tienen filigrana, excepto cuatro folios diferentes (6,
7, 8 y 9) que son de indiscutible tipología hispano árabe. Los folios con filigrana tienen los puntizones
y corondeles poco marcados, con un aspecto que recuerda al del papel hispano árabe. En el primer
cuadernillo solo aparece la filigrana del “paquete” (Figura 10) En el segundo cuadernillo, vemos tres
filigranas diferentes: los dos círculos (folios 36 y 37) la “M” folio 40, 41 y 45 y la campana en folios
44 y 45. En el tercer cuadernillo vemos la de la línea de dos caracoles “G” (8cm x 2.5cm). El cuarto
cuadernillo vemos una de forma diferente poco definida, y en el quinto cuadernillo la filigrana de dos
círculos, pero de menor tamaño (8.5cm x 2.5cm) que el habitual que acostumbra ser de 9.5cm x 3cm,
como la del segundo cuadernillo.

36
Figura 10 Filigrana “paquete” en Notariales de Bagà 35, folio 31 (1351)

Se analiza el folio 20 con la filigrana del fardo-paquete. La fucsina indica cola de proteína. El reactivo de
Herzberg distingue cáñamo abundante además de lino, con aproximadamente un 60% de fibras largas y
el 40% son notoriamente más cortas, aunque con escasa fibrilación. Alguna fibra muestra cierta tinción
amarilla (R. Herzberg) lo que indica que está ligeramente lignificada. Pocas fibras fucsia con Lofton
– Merrit (menos de 1%), pero algún trozo de fibra muy pequeño queda con tinción azul. Se distingue
algunas fibras largas en las que destaca una parte con ligera tinción azul, lo que nos dice que su lignina
está sin modificar. El resultado del análisis indica que se ha aplicado poco tiempo de pudrición a los
trapos, y por tanto poca actividad sobre la lignina, aunque suficiente para facilitar la disgregación de las
hilazas, pero con escasa trituración mecánica. Este resultado apunta hacia la incorporación del nuevo
proceso italiano a la rutina de fabricación de papel hispano árabe, y probablemente el nuevo proceso se
usó en el mismo territorio donde antes se hacía el hispano árabe. El resto de hebra de hilo en este papel
sugiere que este folio no proviene de Italia y que muy probablemente fue producido en territorio de la
Corona de Aragón donde había tradición de hacerlo a la manera hispano árabe hasta entonces.

Bagà n. 36 (1353-1358). Volumen de notariales de corte, de 143 folios, de los que 142 están distribuidos
en cuatro cuadernillos y con un folio independiente al final: Las dimensiones son 31cm x 22cm, pero con
sus márgenes cortados. Papel de aspecto amarillento, con restos lignificados visibles en su superficie.
El primer cuadernillo tiene la filigrana de los dos círculos bastante definida y marcada, de medidas 9cm
x 3cm. En el segundo cuadernillo vemos la filigrana del fardo-paquete (Valls n. 1373 (1308) Barcelona)
y n. 1714 (1355) Manresa) situada en mitad de dos corondeles separados a 4cm igual que todos los
demás, y con cuatro puntizones de línea gruesa por cada cm. En el tercer cuadernillo se repite la misma
filigrana pero en el cuarto vemos la cabeza de unicornio (Valls m. 1810 (1329) Olot y n.1813 (1355) Vic).
El folio 143 separado del cuadernillo muestra la filigrana del fruto, con el perfil bien definido.

El análisis del folio 38 con la filigrana del fardo muestra cola de proteína, y fibras de lino y cáñamo, con
dilatación en sus zonas amorfas, con fragmentación aproximada del 50%, pero con escasa fibrilación.
Al aplicar Lofton – Merrit se aprecian pequeños restos de fibras ligeramente rosa, y también azules

37
cortas, sin fibras teñidas de fucsia. Este resultado coincide con el del folio 20 del volumen 35 anterior
que mostraba la misma filigrana del fardo-paquete, y que apunta a una fabricación de tipo italiano
con influencia de tradición hispano árabe. Este folio fue probablemente también realizado en territorio
donde antes se había hecho papel a la manera árabe.

Para comparar se analiza el folio 6 con filigrana de dos círculos y el resultado aporta diferencias
significativas que afectan a los extremos de las fibras rotas, porque aparecen abiertos, y también
se ven abiertos sus márgenes, aunque su fibrilación es poca. El reactivo de Lofton – Merrit aporta
información relevante pues no hay fibras teñidas de azul, y la muestra tiene un 8%-10% de fibras que
se tiñen de fucsia, lo cual significa que en la materia prima había fibras con lignina, y que el tiempo de
pudrición aplicado sobre los trapos ha permitido modificarla y destacarla con el color fucsia. En este
caso, se repite el resultado de aquellas muestras analizadas en volúmenes de Sant Cugat donde hay
una cantidad relativamente importante de fibras que muestran su lignina modificada. Esto indica que
se ha aplicado la pudrición más extensamente y/o que la materia prima utilizada tenía más fibras
con este compuesto, tanto sea por haber aprovechar la planta más extensamente al hacer trapos
de peor calidad, o bien por utilizar para hacer papel una cantidad de fibra procedente directamente
de la planta. En este caso, el folio analizado con la filigrana de dos círculos de origen italiano tan
característico puede proceder de territorio italiano donde se aplicaba el nuevo proceso con filigrana
desde mucho antes, con tradición de pudrición inicial de los trapos. También es factible que este folio
provenga de una producción local aplicada por artesanos con mayor experiencia en el nuevo proceso
de fabricación de papel. Sin embargo, el tipo de documentación que contiene el volumen 35 y el 36
es diferente, puesto que el 35, con papel de producción supuestamente local en folio 38, pertenece al
manual del notario Guitart y el volumen 36 en el que el folio 6 con la filigrana de dos círculos contiene
documentación de notariales de corte. La documentación de notariales de corte, podría tener más
acceso al papel importado que el que compraría el notario por iniciativa particular que buscaría una
producción más local y cercana.

CONCLUSIONES

Los detalles físicos del papel aportan información relevante. Si se destacan por una observación detallada
y también mediante tinción con reactivos, confirman aspectos interesantes sobre el método aplicado
para obtener la hoja de papel. La existencia de pequeños restos de hebras de hilo azul sobre papel con
filigrana, se debe posiblemente al hecho que se ha aplicado el nuevo proceso italiano en territorio de la
Corona de Aragón, y que el tiempo de pudrición al cual se ha sometido los trapos ha sido escaso.

Poca definición en la filigrana y en la estructura de puntizones y corondeles para una hoja nos indica
que se ha aplicado un tratamiento poco agresivo sobre los trapos. La filigrana y la cola de gelatina
confirman que se ha usado el nuevo proceso italiano para hacer ese papel, pero también lo confirma

38
el hecho de que existan áreas de dilatación en las zonas amorfas de la fibra. La pudrición inicial de los
trapos antes de añadir la cal favorece esta degradación por oxidación, debido a los microorganismos.
Luego la trituración en medio alcalino actúa sobre las fibras y las rompe y también sobre la lignina si
ésta existe en su interior. Esta es la innovación que aporta la fabricación de papel por el método que
procede de Italia, y que se extiende e incorpora progresivamente por áreas donde antes se hacía a la
manera hispano árabe.

Es esencial elegir con criterio la muestra que se va a analizar para que el resultado aporte una información
significativa. El tipo de filigrana, así como la información que contiene el documento complementan en
nuestro caso la interpretación de los resultados.

AGRADECIMIENTOS

Agradezco al Archivo de la Corona de Aragón la generosidad que ha facilitado esta investigación sobre
el papel de mediados del siglo XIV. Papel que es muy interesante y que afortunadamente abunda en
los volúmenes de la sección de Notariales de este Archivo. Especialmente a Alberto Torra, facultativo
responsable de esta sección, por sus acertadas y valiosas indicaciones que han orientado nuestro
trabajo de investigación.

BIBLIOGRAFÍA

Barret, T., Mosier, C., A review of methods for the identification of sizing agents in paper, In Institute of
Paper Conservation Conference, Manchester, 1992, pp 207-213.
Briquet. Les filigranes (4 tomos) New York, segunda edición 1966.
Dabrowski, J.The genuinely European technique of making paper by hand developed in Fabriano: an
interpretation through the mirror of paper technology, in the use of techniques and work by papermakers
from Fabriano in Italy and Europe, Congress Book of European Paper Days, Fabriano, 16-17 July 2006,
Ed: Giancarlo Castagnari, p: 415-443.
Dabrowski, J. “Aspects of technology and maket forces in the store of permanent and durable papers” in IPH
Congress Book 15, 2004, pp: 117-134.
García Hortal J. A., Constituyentes fibrosos de pastas y papeles. Morfología. Análisis microscópico. Escuela
Técnica Superior de Ingenieros Industriales de Terrassa, 1988.
Sistach M. C. The link between production of paper with the Arabian process and the Italian process, in Book
of the XXXth International Paper Historians Congress, IPH, in Angoulème, 7-11 October 2010, pp: 187-197.
Sistach M. C. Filigranas en el papel Hispano- Árabe. Actas del X Congreso Nacional de Historia del
Papel, AHHP, en Madrid, 26-28 junio 2013, pp: 101-114.
Valls i Subirà O. El papel y sus filigranas en Catalunya (2 tomos) Amsterdam 1970.

39
ENTRE EL GESTO Y LA MECANIZACIÓN. LA MÁQUINA DE FORMA REDONDA EN MOLINOS
PAPELEROS CATALANES

Lourdes Munné Sellarés


lourdesmunne@gmail.com

Posteriormente a la introducción de la máquina continua, la fabricación con la denominada máquina


de forma redonda recogerá y mantendrá algunas de las principales propiedades del papel elaborado
a mano: formación hoja a hoja, presentación de irregularidades o barbas laterales y visión nítida de la
filigrana como auténtica marca al agua.

En esta comunicación se examinan los trámites y requisitos para su introducción, las condiciones de
implantación y las causas de su adopción por numerosos molinos papeleros catalanes.

Se describen las condiciones y características del modelo más común, que recibe el nombre de
máquina Piccardo, analizando su función y la importancia de su actividad, que supuso una importante
innovación y, al mismo tiempo, permitió la continuidad y la calidad de una producción especializada:
papel de barba y de escritura, papel de fumar y cartulinas, hasta bien entrado el siglo XX.

PALABRAS CLAVE

hoja de papel, técnica, tradición, innovación, patrimonio industrial


folha de papel, técnica, tradição, inovação, património industrial

Evolución de la manufactura papelera

El antiguo procedimiento de elaboración manual del papel con la forma en la tina, vigente durante
siglos, será paulatinamente sustituido por nuevos procedimientos con la introducción de la máquina de
papel. Con este nombre se conoce el conjunto de mecanismos entrelazados que forman una estructura
unificada donde el papel se forma y consolida.1

Este cambio tiene lugar a lo largo del siglo XIX y no es uniforme ni general, pudiendo convivir durante
décadas la fabricación manual y la mecanizada. Esta evolución de la industria papelera presenta
situaciones y grados diversos, desde la construcción de nuevas fábricas equipadas desde su origen
con máquinas continuas, a la renovación de antiguos molinos para adaptarse a las nuevas técnicas. En

1 Ya sea individualmente –hoja a hoja- o en forma de lámina seguida. El primer caso corresponde a la denominada
máquina redonda y el segundo a la propiamente continua o máquina plana.

41
caso contrario, la dificultad de competir con la progresiva mecanización llevará a otros establecimientos
al cierre progresivo de las tinas y, en definitiva, a la desaparición de la propia función papelera.

Primeras máquinas continúas en España

Las primeras máquinas continuas se ponen en funcionamiento en España a inicios de los años cuarenta
del siglo XIX. Poco antes, y como pionera, se menciona la fábrica de Manzanares el Real (1839),
seguida por las de Burgos, Tolosa, Candelario, Rascafría, Valladolid2… En Cataluña, se instalaron
máquinas en las fábricas La Gerundense (1843) y La Aurora (1845), ambas en Girona.3

La evolución de la producción manual a la mecanizada en los molinos ya existentes, puede quedar


limitada debido a circunstancias espaciales y de capacidad del edificio, a condicionantes económicos y
técnicos u a otras causas. En muchos casos, la producción de papel a mano perdura, e incluso puede
incrementarse, por la voluntad de mantener la calidad de determinadas clases de papel, según la
especialidad y la tradición productiva comarcal.4

En la industria papelera, la aparición de la máquina continua supuso un aumento considerable de


la producción y, en una primera etapa, ocasionó una disminución de la manufactura a la tina. Sin
embargo, posteriormente, a partir de los años cincuenta hasta inicios de los ochenta del siglo XIX, se
dio una recuperación y un incremento de la misma, debido a que se mantiene y aumenta la demanda
de papel de calidad por parte de la administración y entidades públicas y particulares. Una importante
parcela comercial que la fabricación mecanizada no cubría.

Esta dicotomía entre producción continua mecanizada y manufactura tradicional manual, se verá alterada
con la aparición de un nuevo procedimiento fabril, la máquina de forma redonda, que reúne atributos de
ambos. Por un lado, se da la elaboración mecanizada de la hoja de papel, individualmente y con secado
posterior al aire, y por otra parte, se logra preservar características específicas del papel manual.

En su adopción y puesta en funcionamiento, cabe considerar diversas circunstancias favorables. “La


máquina de forma redonda, mucho menos costosa que la plana y con menor capacidad de producción,
se adapta bien a pequeños molinos con escaso número de cilindros (…) por su mayor regularidad y

2 RENUNCIO GONZÁLEZ, Fernando: “Gosálvez: de Villalgordo del Júcar a Bilbao (1844-1909). Actas del X Congreso
Nacional de Historia del Papel en España. (2013), pp. 383, 384. En esta comunicación el autor hace una documentada
relación cronológica de las primeras fábricas.

3 GUTIÉRREZ i POCH, Miquel: Full a full, la indústria paperera de l’Anoia 1700-1998) Continuïtat i modernitat. Junto a las
anteriores, también menciona una fábrica en la población de El Catlar (Tarragona). p. 147. Véase, del mismo autor: “La
mecanización de la industria papelera española en un contexto europeo (1836-1880)”. Actas del V Congreso Nacional de
Historia del Papel en España. (2003). Conferencia inaugural.

4 Este es el caso de diversos núcleos papeleros catalanes que, con una continuidad centenaria, mantienen la producción
manual de papeles de hilo o barba, de calidad superior y conservación garantizada frente a los papeles mecánicos de la
época.

42
mayor marcado eran muy adecuadas para cualidades especiales”.5

La máquina redonda. Innovación y continuidad

En esta máquina, la hoja se produce en un tambor o bombo, cilindro de grandes dimensiones, recubierto
de tela metálica que, al girar dentro de un depósito lleno de pulpa, a manera de tina, hace la función de
la forma manual y origina la formación del papel, marcando en el mismo unas mínimas separaciones
que permiten, después de pasar entre rodillos prensadores, ser levado hoja a hoja.

Figura 1 Esquema básico del funcionamiento de una máquina Piccardo.6

En una detallada descripción técnica de la máquina redonda, se expone:

“Poco después de la introducción de la mesa plana por Robert se inventó la máquina redonda. El
procedimiento de la fabricación de papel con la máquina redonda se parece al proceso primitivo de
la fabricación a mano, pues hace posible fabricar el papel casi idénticamente al que se hacía en la
fabricación a mano. En lugar de la forma a mano, que se introduce en la pasta, un tamiz cilíndrico
llamado tambor gira lentamente en la pasta que se encuentra en una cuba. Sobre la superficie del
tambor hay una tela que hace la función de la forma a mano de los papeles verjurados o vitela. El efecto
del movimiento rotativo del tambor hace que las partículas de pasta se adhieran al tamiz, saliendo,
el agua sobrante por el interior del tambor, de donde es evacuada. Un rodillo elástico, alrededor del
cual hay un fieltro, separa la hoja de papel del tambor y el fieltro conduce dicha hoja hasta la prensa.
Sobre el tambor pueden dividirse los formatos de las hojas por medio de alambres, cordeles u otros
dispositivos. Las hojas ya se pueden separar en estado húmedo, de modo que la barba, la característica
de los antiguos papeles fabricados a mano, aparece semejante en este proceso de fabricación. Por
consiguiente, puede fabricarse en la máquina redonda una hoja de papel con todas las características

5 TORRENT, Francesc: “Aspectos de la mecanización del papel”. Actas de II Congreso Nacional de Historia del Papel en
España (1997), p. 18.

6 Dibujo de Jordi Ballonga. El Molí Paperer de Capellades. Quaderns de Didàctica i Difusió, 5.

43
de los papeles de tina, sobre todo con las filigranas claras y nítidas de los papeles hechos a mano.7

Máquina redonda sistema Piccardo8

En núcleos papeleros catalanes, la manufactura del papel a mano se mantendrá vigente hasta la
aparición de una máquina redonda que cumple las expectativas para la continuidad de su tradicional
producción especializada.9

El privilegio de la introducción en España de un nuevo sistema, según una patente italiana que se
conoce como máquina Piccardo, data de 1877 y su uso se irá implantando en la manufactura catalana.
Miquel Gutiérrez afirma que la mecanización de los antiguos molinos papeleros se plasmó con la
incorporación de la máquina Picardo, o de bombo, y en menor medida con alguna máquina continua. 10

En este sistema, el trabajo específico de los dos operarios de la tina, queda substituido por la máquina.
Así queda explícito en el mismo título del expediente de solicitud de 24 de agosto de 1877: “Privilegio
de Introducción sobre un procedimiento ú operación mecánica para la formación del papel en pliegos
y con barbas sustituyendo á los dos obreros sacador y ponedor empleados en la fabricación del papel
de tina.11

Subscriben la solicitud los fabricantes de las empresas catalanas “Juan Jover y Serra” y “Wenceslao
Guarro”, ambos de Gelida; Hijos de Romaní y Tarrés, de Capellades y “Antonio Serra y Sobrino” de Santa
María de Palautordera. Los cuatro se registran como “Vecinos de Barcelona” y firman los documentos
correspondientes, juntamente con el Ingeniero Francisco de P. Rojas.

El conjunto documental está formado por: “Memoria descriptiva”, “Nota explicativa” “Acta Notarial”
y “Titulo” o privilegio de concesión. El expediente completo incluye también datos administrativos y
planos. Para su estudio seleccionamos fragmentos del texto por su valor explicativo. A través de ellos,
conoceremos el origen de dicho procedimiento, sus características y condiciones, su funcionamiento

7 KEIM, Karl: Máquinas de papel, telas y fieltros, pp. 87-88.

8 Esta es la grafía original, aunque posteriormente será también habitual la forma Picardo.

9 Este estudio se basa en molinos catalanes y el ámbito geográfico concreto se localiza en la cuenca hidrográfica del río
Anoia, dentro de la comarca del mismo nombre que, en términos papeleros, era conocida con el nombre de comarca de
Capellades. En la zona central estricta se contabilizan cuarenta y seis molinos papeleros, a los que cabría añadir otros siete
del mismo río, más allá de los límites comarcales, y los veintinueve del rio Bitlles, afluente del Anoia, con lo que se alcanza la
extraordinaria cifra de ochenta y dos molinos papeleros.

10 GUTIÉRREZ i POCH, Miquel: Full a full, la indústria paperera de l’Anoia… pp. 160-161. En esta obra se analizan las
causas de la permanencia de la tina y las etapas de implantación comarcal de la máquina redonda, entre el último tercio
del siglo XIX y el primer cuarto del XX. El mismo autor hace un detallado análisis de las gestiones para su introducción en
Catalunya en el artículo titulado “Ramon Romaní i Puigdengolas (1846-1898): paperer, empresari i historiador”. Miscellanea
Aqualatensia / 14. pp. 156 a 161.

11 Oficina Española de Patentes y Marcas (OEPM). Privilegios (1826-1878): Privilegio n. 5714 (Patentes D21F). La
documentación oficial correspondiente, me ha sido facilitada por el Museu Molí Paperer de Capellades. (MMPC).

44
y ventajas, tanto en relación a la manufactura manual como respecto a la fabricación continua y, en
consecuencia, los beneficios que su adopción representa para la mecanización y renovación de la
industria papelera.

- Denominación y procedencia

Estas referencias se mencionan hacia el final de la Memoria descriptiva. En el texto consta el inventor,
cuyo apellido dará nombre y se mantendrá unido al de la máquina. El lugar de procedencia, sin
concretar, se halla cerca de Roma y el ingenio, en tres años de existencia, se ha implantado ya en
varias fábricas italianas. En la provincia de Barcelona hay una funcionando en Gelida, propiedad de
Juan Jover y Serra, uno de los solicitantes.

“El procedimiento que se acaba de detallar y para el cual se solicita privilegio es invencion de D.
N. Piccardo, modesto industrial de un villorio situado en las cercanías de Roma cuyo nombre no
es posible a los solicitantes fijar. Varias son las fábricas de Italia que en tres años que lleva de
existencia la nueva fabricación la han introducido en sus talleres, y en particular muchas de las
establecidas en los alrededores de Génova. En nuestro país, uno de los solicitantes, D. J. Jover y
Serra ha instalado el nuevo proceder en la fábrica de su propiedad, sita en el término de Gelida,
partido judicial de San Feliu de Llobregat de esta provincia, y los brillantes resultados que está
dando al ser puesto recientemente en marcha, son el mejor elogio que de él se puede hacer.”12

- Objetivo y finalidad

12 MEMORIA DESCRIPTIVA, p. 22.

45
Figuras 2 y 3 Cubierta de la Memoria y primera página de la Nota explicativa

46
El propósito es reemplazar el trabajo manual de la tina, anulando la labor del “sacador” (laurente,
alabrent) y del ponedor, así como substituir la operación posterior de la prensa, comprimiendo el papel
en la propia máquina; así, ésta puede funcionar prácticamente con un solo operario, el levador o
maquinista, como se denominará habitualmente, el cual mantiene aún el contacto manual directo con
el papel.

Las operaciones posteriores, como el secado al aire, el encolado con cola animal, etc. seguirán pautas
semejantes a las del papel hecho a mano. La persistencia de estas fases manuales da lugar a que se
considere un proceso semimecanizado.

- Características. Calidad, producción y funcionamiento

“En el procedimiento que se presenta á privilegio se obtienen pliegos del mismo género y calidad
superior (a igualdad de primeras materias) que en la tina, quintuplicándose la producción de ésta.
Los pliegos se forman en la revolución de un tambor de tela metálica por virtud del paso del agua que
contiene la pasta á través de la malla del tambor, que determina la fijación consiguiente de la pasta.
Unas fajas de cera convenientemente dispuestas en la parte interna del tambor dejan las soluciones
de continuidad que han de dividir en pliegos con barbas la hoja indefinida que de otro modo vendría a
constituirse. Los pliegos despues de formados son recojidos por un fieltro sin fin y prensados entre este
y otro igual al pasar ambos por los cilindros de un laminador.”13

En síntesis, la nueva máquina supone una producción cinco veces mayor que la de una tina, manteniendo
la misma clase de papel e incluso con una calidad superior.

Tanto la Memoria, como la Nota explicativa son manuscritas y llevan la rúbrica de los cuatro interesados
y la del ingeniero Francisco de P. Rojas, con fecha de 1 de Agosto de 1877. La Memoria, de considerable
extensión, constituye un verdadero tratado de papelería. Los diversos apartados, que se consignan
con inscripciones al margen, tratan del origen del papel de tina, de su cualidad e importancia y de las
dificultades en que se halla su producción y el coste del su elaboración manual.

La invención del papel continuo se considera “un paso gigantesco” para la industria papelera, añadiendo,
pero, que “tiene los inconvenientes principales de exigir la desecación al vapor y el encole vegetal (que
por su parte contribuye a la poca resistencia del papel continuo)”.14 Se precisa que el secado al vapor,
de gran rapidez, da un tejido más frágil que el secado lento y natural, al aire, del papel de tina.

Entre estas dos técnicas –papel continuo, papel de tina- con sus ventajas e inconvenientes, se presenta
“un procedimiento totalmente nuevo en sí, y más ventajoso que cualquiera de los conocidos en cuanto

13 NOTA EXPLICATIVA. En la Selección documental se reproduce esta Nota en su totalidad.

14 MEMORIA DESCRIPTIVA, p. 5

47
a las dos cualidades reunidas de coste y calidad del producto”15

Esta nueva técnica se describe de manera exhaustiva, detallando cada una de las partes de la máquina,
su composición y función, relacionado las mismas con las imágenes de los planos correspondientes.
Las ventajas de su implantación se estudian comparativamente mediante muestras de papel producido
en la tina y el fabricado en la máquina Piccardo. Éste tiene una resistencia igual y un grado de limpieza
y finura superior. Además, “El nuevo proceder no solo es susceptible de hacer la variedad vitela que se
acompaña sino que puede elaborar absolutamente todas las infinitas clases que el consumo exige en
calidad, peso y tamaño, desde el ligero cigarrillo de 1,600 kg. la resma hasta la cartulina de mayor peso.16

Junto con el valor y calidad del papel, se consideran también las ventajas económicas, ya que la nueva
máquina puede fabricar un promedio de 35 resmas, con un coste de 11 pesetas, frente a las 35 pesetas
que costarían los jornales necesarios “en los tres actos de hacer, poner y levar si se elaboraran en la tina. 17

Finalmente, el incremento de la fabricación se considera de gran importancia, teniendo en cuenta que:


“Innumerabilísimas veces la producción del papel a mano en Cataluña, tanto en las clases para escribir
como para fumar y cartulinas, no ha podido satisfacer las necesidades de la Península y Ultramar, por
no poder reunir los elementos indispensables; pero desde hoy con el nuevo procedimiento quedará
salvada toda [falta] y la industria del papel, atendiendo á los pedidos que al no ser satisfechos en
nuestro país, recaen en el estrangero, se elevará al nivel de tantas otras industrias que en nuestro siglo
forman el mejor título de gloria de una nación.18

A continuación, se consigna la fecha del documento: Barcelona 1º de Agosto de 1877 seguida de la signatura
de los cuatro solicitantes junto con las del ingeniero.

En el reverso consta la diligencia de la presentación del expediente que, en calidad de apoderado y en


nombre de los solicitantes, realiza en abogado Juan Barrié y Agüero,19 en Madrid el 2 de Noviembre
del mismo año 1877.

Como final de las distintas diligencias, S. M. el rey D. Alfonso XII, mediante Real Cédula, concede a los
solicitantes la propiedad exclusiva de introducción del nuevo procedimiento u operación mecánica, por un
tiempo de cinco años, a partir de la fecha de concesión, Título dado en palacio a siete de Diciembre de mil
ochocientos setenta y siete.

15 MEMORIA DESCRIPTIVA, p. 6

16 MEMORIA DESCRIPTIVA, p. 23

17 MEMORIA DESCRIPTIVA, p. 24

18 MEMORIA DESCRIPTIVA, p.25.

19 En Acta Notarial que consta en el expediente, subscrita en Barcelona a 30 de Octubre de 1877, los solicitantes dan
poderes a dicho abogado de Madrid, para que los represente “ante el Gobierno su S. M., ministerios, oficinas y demás
dependencias del Estado”

48
La máquina Piccardo: difusión y permanencia

A partir de su introducción, la máquina Piccardo se irá extendiendo progresivamente y son muchos los
molinos catalanes que incorporan la nueva técnica. Se trata, por lo general, de empresas familiares
situadas en poblaciones de núcleos papeleros tradicionales, como el ya citado de la cuenca del río
Anoia. En su estudio sobre esta zona, Miquel Gutiérrez indica que en el año 1898 funcionan siete
máquinas en Capellades, tres en la Torre de Claramunt y dos en la Pobla de Claramunt.20 En relación
al aparente retraso en la industrialización de esta comarca, que inicialmente queda al margen de la
máquina continua, considera que respondía principalmente a una opción consciente de los fabricantes,
con el fin de seguir manteniendo el segmento de producción propio, papel de hilo o de barba y papel
de fumar, en el comercio del cual destacaban.21

A nivel general, el mismo autor registra la existencia de 14 máquinas Piccardo (o similares) en el año
1890, de las cuales: 10 en Cataluña y 1 en cada una de las regiones de Valencia, Aragón, Castilla la
Vieja y Castilla la Nueva. En la estadística que presenta, hasta 1918, el año de mayor actividad es
1910, con 68 máquinas en total, distribuyéndose así: 48 en Cataluña, 10 en Valencia, 6 en Aragón y 2
en cada una de las Castillas.22

Con la difusión de la máquina Piccardo, se incrementan también las industrias mecánicas relacionadas
con su construcción. Si las primeras serían fabricadas en Barcelona,23 pronto se realizaron en talleres
comarcales, previamente especializados en mecanismos y componentes de la industria papelera. En
Capellades destacan los talleres de Torrescassana y el de Isidro Soteras. Éste construye en 1883 una
máquina Piccardo para la fábrica de Santiago Serra de Orpí.24

La progresión irá en aumento a inicios del siglo XX, pero es evidente también que muchos molinos
quedarán al margen de esta innovación. Se presenta, por tanto, un doble y contradictorio efecto de
la mecanización: por una parte, se da un aumento significativo de la producción en los molinos que
incorporan la máquina, pero, al mismo tiempo, empieza la decadencia irreversible de los que no se
renuevan.

De manera global, se puede afirmar que la incorporación de la máquina Piccardo marca la última
etapa de funcionamiento de los antiguos molinos. La capacidad espacial de los mismos permita su

20 GUTIÉRREZ i POCH, Miquel: Full a full, la indústria paperera de l’Anoia..., p. 187

21 GUTIÉRREZ i POCH, Miquel: Full a full, la indústria paperera de l’Anoia..., p. 167.

22 GUTIÉRREZ i POCH, Miquel: Full a full, la indústria paperera de l’Anoia..., p. 154. Tabla estadística del autor, según datos
de la Contribución Industrial.

23 Los talleres de Sucesores de Lerme y Gatell, se anuncian como “Especialidad en máquinas redondas” (MMPC. Folleto
publicitario)

24 GUTIÉRREZ i POCH, Miquel: Full a full, la indústria paperera de l’Anoia...,p. 218.

49
instalación, pero difícilmente podrán alojar posteriores mecanismos y ampliaciones.25 Cabe considerar
que, dentro de unas modestas dimensiones generales, estas máquinas ofrecen versiones diferentes,
con capacidad de adaptarse a locales reducidos.26

Figura 4 Estructura parcial de una pequeña máquina que se conserva en el Molí de Doménech, en la
localidad de la Riba.

La vigencia de la máquina redonda, sistema Piccardo o modelos posteriores más perfeccionados, y la


calidad y características del papel fabricado, se reconocen y valoran más allá de mediados del siglo
XX, como se expresa en un reconocido manual técnico papelero, según la clasificación que otorga a
las distintas variedades de papel:

1ª clase: papel de barba

Este papel que produce o substituye en la fabricación por medio de la máquina redonda la barba que
se produce en los bordes de la hoja con la forma a mano, se llama también, como el producido de esta
última manera, papel de tina, y su composición es análoga para los dos casos, es decir, que la primera
materia es el trapo.

Se destina casi exclusivamente a documentos, a papeles de valores o acciones, a papel de música,


a cuartillas y también a dibujo y algunas veces a máquina de escribir. Una de sus características
más destacadas la constituye la nitidez de sus filigranas o marcas de agua. Su fabricación está casi
vinculada a ciertas comarcas, como por ejemplo la de Capellades, y sus conocimientos especiales
en todos los órdenes de aquella se transmiten secularmente de generación en generación. Se seca
generalmente al aire en hojas y su colaje también por regla general es superficial, si bien en alguna

25 A excepción de las pilas holandesas, que ya funcionaban con anterioridad, supliendo el cometido de la pilas de mazos en
la preparación de la pulpa o pasta de papel.

26 Entre estas está la denominada “media máquina” más pequeña que la máquina completa o entera, atribución que se daba
a las que tenían, como mínimo, un metro de ancho útil.

50
fábrica se seca en continuo y se encola en la pila para ciertas clases.27

Figura 5 Máquina en funcionamiento en la fábrica Vilaseca de Capellades hacia 1927. (MMPC)

Visión actual

Hacia mitad del siglo XX, las antiguas y numerosas máquinas Piccardo comarcales van desapareciendo,
ya sea substituidas por nuevos modelos mecanizados de mayor capacidad productiva28 o, por el
contrario, por el cese de la actividad debido a los inconvenientes laborales y económicos que originaba
mantener un proceso semimecanizado, con la participación lenta y laboriosa de fases manuales. Esta
situación, puede originar el cierre definitivo de molinos centenarios.

En este panorama general, se da algún caso de pervivencia y conservación que permiten mantener el
conocimiento de sus características y función.

27 COSTA COLL, Tomás: Manual del fabricante de papel. pp.490-491. Es de valorar esta concisa y clara visión histórica,
por parte de su autor, ingeniero industrial y director de papelería, en una obra capital para los fabricantes y especialistas
papeleros del siglo XX, que trata el complejo proceso de la fabricación moderna del papel y las diversas cuestiones teóricas
y prácticas de todos y cada uno de sus apartados: químicos, mecánicos, físicos, etc.

28 En su evolución posterior, máquinas de forma redonda incorporaran nuevas prestaciones, como el acoplamiento de
baterías de vapor para el secado. Otro cambio técnico será el encolado en masa, que se realiza previamente a la formación
de la hoja, substituyendo al encolado superficial en el perol.
Estos cambios supondrán la supresión del secado al aire quedando, por tanto, sin función ni utilidad las plantas superiores
de los molinos, visualmente las más representativas de la manufactura, iniciándose la desaparición de la ancestral tipología
papelera.

51
Figura 6 Máquina sistema Piccardo en la fábrica Munné de Capellades. Mantuvo su actividad hasta
el año 1974.

Como ejemplo consideraremos la máquina Piccardo que se encuentra en la fábrica Munné, en su origen
Molino Papelero Farreras construido en 1755. Por su antigüedad y buen estado de funcionamiento,
esta instalación constituye, al mismo tiempo, un testimonio y una excepción en la papelería actual. Hay
que tener en cuenta que máquinas similares fueron numerosas y habituales en los establecimientos
de esta comarca papelera, así como en la zona vecina del Riudebitlles, la mayoría de las cuales, sin
embargo y como hemos indicado, no perduraron más allá de mediados del siglo XX. Actualmente,
esta pequeña máquina es de las pocas de sus características, que se mantiene con posibilidad de
funcionamiento.

No se conoce el año de instalación, que sería entre finales del siglo XIX y principios de XX. Tampoco
se sabe con seguridad el nombre del autor, pero, oralmente, se mencionaba el de Torrescassana,
constructor de maquinaria papelera de Capellades. En el año 1928 aún consta accionada con energía
hidráulica y poco después con motor eléctrico. Sea como sea, esta máquina se mantuvo en actividad
de manera ininterrumpida hasta el año 1974. Posteriormente, ha funcionado solo en determinadas
ocasiones, de forma esporádica y limitada, como testimonio de su antigua función.

52
Figura 7 Formación de la hoja en la parte central de la máquina: tambor formador, rodillo ponedor,
bayetas y rodillos (Diciembre 2002).

Selección documental

Se reproduce la Nota explicativa y el Título, en su totalidad.29 Debido a la extensión de la Memoria


descriptiva (26 páginas), de la misma solo se recogen fragmentos seleccionados, que se intercalan en
el texto de la comunicación.

NOTA EXPLICATIVA
1877, agost, 1
Privilegio de Introducción sobre un procedimiento ú operación mecánica para la formación del
papel en pliegos y con barbas sustituyendo á los dos obreros sacador y ponedor empleados
en la fabricación del papel de tina. Solicitado Por D. Juan Jover y Serra, D. Wenceslao Guarro,
Sres. Hijos de Romaní y Tarrés y Sres Antonio Serra y sobrino.

NOTA EXPLICATIVA
El procedimiento ú operación mecánica para el cual se solicita real cédula de privilegio tiene por objeto
suplir mecánicamente en la formación de los pliegos de papel á mano el trabajo de los dos operarios
conocidos en las tinas con los nombres de sacador y ponedor, y sustituir á las prensadas de las postas una
presión automática que experimenta cada pliego de por sí. En las tinas se elaboran los pliegos en moldes,
uno á uno por el sacador que los entrega al ponedor para que éste los deposite entre bayetas hasta que
reunidos en cierta cantidad (250 pliegos por lo general) se someten a la acción de una prensa común ó
hidráulica. En el procedimiento que se presenta á privilegio se obtienen pliegos del mismo género y calidad
superior (a igualdad de primeras materias) que en la tina, quintuplicándose la producción de ésta. Los
pliegos se forman en la revolución de un tambor de tela metálica por virtud del paso del agua que contiene

29 Transcripción literal, a excepción de la adición de tildes en algunas palabras.

53
la pasta á través de la malla del tambor, que determina la fijación consiguiente de la pasta. Unas fajas de
cera convenientemente dispuestas en la parte interna del tambor dejan las soluciones de continuidad que
han de dividir en pliegos con barbas la hoja indefinida que de otro modo vendría a constituirse. Los pliegos
después de formados son recojidos por un fieltro sin fin y prensados entre este y otro igual al pasar ambos
por los cilindros de un laminador.

Barcelona 1º de Agosto de 1877


Los solicitantes: J. Jover y Serra - Wenceslao Guarro -
Hijos de Romaní y Tarrés - Antonio Serra y Sobrino
El Ingeniero Francisco de Paula Rojas

TÍTULO
DON ALFONSO XII, POR LA GRACIA DE DIOS, REY CONSTITUCIONAL DE ESPAÑA.

Por cuanto D. Juan Jover y Serra, D. Wenceslao Guarro, Sres. Hijos de Romaní y Tarrés y Sres Antonio
Serra y Sobrino, vecinos de Barcelona

Me ha hecho presente en veinticuatro de Agosto último, que á fin de asegurar la propiedad de un


ú operación mecánica para la formación del papel en pliegos y con barbas, sustituyendo á los dos
obreros sacador y ponedor empleados en la fabricación del papel de tina.-de cuya introducción va
unido á este título la memoria descriptiva y seis planos en un todo conformes con los originales que
obran en el Conservatorio de Artes, Me dignase concederle la Real Cédula de certificado para ello; y
habiendo cumplido con lo prescrito en los Reales decretos de veintisiete de Marzo de mil ochocientos
veintiséis y treinta y uno de Julio de mil ochocientos sesenta y ocho: por tanto, por esta Real Cédula de
certificado, se concede a D. Juan Jover y Serra, D. Wenceslao Guarro, Sres. Hijos de Romaní y Tarrés
y Sres Antonio Serra y Sobrino-

la propiedad exclusiva para que pueda usar, fabricar ó vender la mencionada introducción por cinco años
contados desde hoy hasta igual día del año de mil ochocientos ochenta y dos en que concluirá; pudiendo
ceder, permutar, vender ó de otra cualquiera manera enajenar por contrato ó por última voluntad, en todo
ó en parte, el derecho exclusivo que se le asegura por esta Real Cédula, en los términos mandados en
dichos Reales decretos: y bajo las penas establecidas prohíbo á toda persona que no sea las referidas
D. Juan Jover y Serra, D. Wenceslao Guarro, Sres. Hijos de Romaní y Tarrés y Sres Antonio Serra y
Sobrino- ó los que de él tuvieren derecho, el uso y ejercicio del objeto enunciado en esta Real Cédula:
la que será de ningún valor, y por lo mismo caducará el privilegio, si los citados D. Juan Jover y Serra,
D. Wenceslao Guarro, Sres. Hijos de Romaní y Tarrés y Sres Antonio Serra y Sobrino- no acredita en
el término de un año y un día, contados desde esta fecha, y con las formalidades que previene la Real
orden de once de Enero de mil ochocientos cuarenta y nueve, que ha puesto en práctica el objeto de
su privilegio, exhibiendo para ello esta Real Cédula al Gobernador civil de la provincia donde la solicite:

54
para todo lo cual he mandado expedir la misma, firmada por Mí y refrendada por el infrascrito Ministro de
Fomento. Y esta Real Cédula se ha de registrar en la Administración Económica y en el Conservatorio
de Artes, poniéndose en este último la correspondiente toma de razón de haber pagado los derechos
establecidos, y sellándose en el mismo los documentos que se acompañan.

Dado en Palacio á siete de Diciembre de mil ochocientos setenta y siete.- Yo el Rey- El Ministro de
Fomento D. Francisco Queipo de Llano. Hay un sello del Ministerio de Fomento =

S.M. concede Real Cédula de privilegio de introducción por cinco años á favor de los Sres. D. Juan
Jover y Serra, D. Wenceslao Guarro, Sres. Hijos de Romaní y Tarrés y Sres Antonio Serra y Sobrino,
de un procedimiento ú operación mecánica para la formación del papel en pliegos y con barbas,
sustituyendo á los dos obreros sacador y ponedor empleados en la fabricación del papel de tina=

BIBLIOGRAFÍA

COSTA COLL, Tomás: Manual del fabricante de papel. Barcelona: Bosch, 1962.
GUTIÉRREZ i POCH, Miquel: Full a full. La indústria paperera de l’Anoia (1700-1998): Continuïtat i
modernitat. Barcelona: Publicacions de l’Abadia de Montserrat, 1999.
GUTIÉRREZ i POCH, Miquel: “La mecanización de la industria papelera española en un contexto
europeo (1836-1880). Actas del V Congreso Nacional de Historia del Papel en España. Girona:
Ajuntament de Sarrià de Ter, 2003.
GUTIÉRREZ i POCH, Miquel: “Ramon Romaní i Puigdengolas (1846-1898): paperer, empresari i
historiador”. Miscellanea Aqualatensia/14, pp. 156-161. Ajuntament i Centre d’Estudis Comarcals
d’Igualada. Igualada, 2011.
http://www.raco.cat/index.php/MiscellaneaAqualatensia/article/view/258080
KEIM, Karl: Máquinas de papel, telas y fieltros. Asociación de Investigación Técnica de la Industria
Papelera: Madrid, 1979.
RENUNCIO GONZÁLEZ, Fernando: “Gosálvez: de Villalgordo del Júcar a Bilbao (1844-1909”). Actas
del X Congreso Nacional de Historia del Papel en España. pp. 383-442. Madrid: Asociación Hispánica
de Historiadores del Papel, 2013.
TORRENT, Francesc: “Aspectos de la mecanización del papel”. Actas de II Congreso Nacional de
Historia del Papel en España. Ministerio de Educación y Cultura; Diputación de Cuenca, 1997.
RABAL, Victòria; SOTERAS, Àngel i alt.: El Molí Paperer de Capellades. Quaderns de Didàctic i Dif sió,
5. Museu de la Ciència i de la Tècnica de Catalunya, 1993.

Siglas: MMPC. Museu Molí Paperer de Capellades


OEPM. Oficina Española de Patentes y Marcas

55
LA FABRICACIÓN DE FORMAS Y TELAS METÁLICAS SIN FIN EN ESPAÑA: ANUNCIOS Y
EXPOSICIONES COMO FUENTE DE INFORMACIÓN.

José Carlos Balmaceda Abrate


ISTOCARTA Istituto si Storia della Carta Gianfranco Fedrigoni

jcbalmaced@hotmail.com
caipcentro@yahoo.es

RESUMEN

En el artículo, a modo de apunte para su estudio, se aportan informaciones a partir del siglo XVI sobre
los fabricantes de la forma papelera española, hasta la introducción de los anuncios publicitarios en
di- versas publicaciones y la participación en exposiciones industriales nacionales y europeas del siglo
XIX, donde los fabricantes exhibieron sus formas manuales y telas metálicas sin fin para la producción
del papel continuo.

PALARAS CLAVE

Forma. Molde. Continuo. Tela metálica. Placa de hilera. Trefilado.

ABSTRACT

For reference, in the article is included further information about spanish paper and mould makers from
XVI century to the introduction of advertising announcements in journals along with the participation in
national and european industrial exhibitions in the XIX century, where makers exposed their handmade
moulds and metalic fabrics for the macnufacturing of continuous paper.

KEYWORDS

Moulds. Continuous paper. Metal wire cloth. Announcements.

57
1. Introducción

El método más antiguo de fabricación del hilo metálico, desde la Antigüedad hasta el período de
entreguerras del siglo XX, fue el estirado en placas hilera de hierro o acero con varias filas de huecos
cuyo interior era cónico para reducir el diámetro del alambre. La fuerza utilizada para el estirado del hilo
1
era realizada por el hombre . La villa de Altena en Sauerland (Westfalia, Alemania), puede considerarse
2
cuna de la trefilería europea durante la Edad Media y parte de la Edad Moderna . Tras las placas hileras
de la Antigüedad y el aprovechamiento de la energía hidráulica en la Edad Media, se continuará con otra
invención producida en el siglo XVI cuando se empezó a trefilar con el banco y la energía hidráulica en
3
Francia e Inglaterra (Fig. 1,2,3 y 4).

A comienzos del siglo XIX se innovó con el trefilado continuo, y a lo largo de todo el siglo mejora- ron
los métodos para preparar el alambrón antes de ser trefilado en las fases del decapado (química) o
descalaminado (mecánica), y en el proceso de reducción del diámetro del alambrón para obtener hilos
más finos.

En España tenemos datos dispersos que indican que el banco de trefilar y el trefilado de hierro se
hacían desde fines del XV en centros artesanales y fabriles cercanos a cursos de agua, y que las
fábricas modernas de obtención del hilo de hierro no se consolidaron hasta finales del siglo XIX.

Igualmente es muy escasa la información sobre los artesanos que se dedicaban a la fabricación de las
4
formas o moldes para hacer papel antes del siglo XIX . Por otra parte, apenas han recibido atención
en la historiografía papelera. Asimismo son grandes las dificultades existentes para contar con fuentes
relevantes susceptibles de un tratamiento cuantitativo, ya que el sector de los transformados metálicos
ligeros, como el alambre, ha recibido menos atención historiográfica que la gran industria metalúrgica.
No obstante en el presente trabajo se reúnen y aportan fuentes y datos sobre esta faceta de la industria
papelera.

En general a los formeros se los menciona raramente en la documentación papelera; solo en contados
inventarios de traslación de dominio, testamentos o arrendamientos. Además debemos tener en cuenta
que la movilidad a partir del siglo XV, de papeleros para trabajar o iniciar nuevas fábricas, no solo
en España, en toda Europa no solo traían los conocimientos de la manufactura; también el personal
especializado en la maquinaria y utensilios que necesitaban para su trabajo, entre los que se encuentran
los moldes.

58
2. Los primeros formeros

Los escasos escritos nos remiten al papelero genovés Pascual Pollera radicado en Cataluña, que recibe
en agosto de 1595 el pago de 23 libras catalanas y 7 sueldos, por la venta de moldes para hacer papel,
5
del francés Gabriel Mombert . Esta transacción nos indica que Pollera no sólo producía moldes para su
fábrica, también los fabricaba por encargo de otros papeleros.

Fig. 1 Monje trabajando con la Hilera. Ilustración anónima alemana (1435-6).

Fig. 2 Vendedor de alambres. Georg Andreas Böckler, Thetrum/machinarum/ novum/.... Xilografía. 1662.

59
Fig. 3 Hombre trabajando con la Hilera con energía hidráulica en el siglo XVI. Pirotechnia, Biringuccio
Vannoccio. Venecia, 1550. Xilografía anónima.

Otro documento, en este caso un inventario fechado en 1597 sobre los bienes de los papeleros Guilem
Casanoves y Ambrogi Vilan en Montcada (Cataluña), obtenemos otra verificación de que las formas se
producían en el molino papelero. Se valuaron: “...Tres tanaletas para estirar los hilos de las formas”;
6
ocho “gansales” de hilos de cobre” y “unos moldes de forma en proceso” . Igualmente queda asentado
en el registro de los bienes de Francesc Guarro Milá y F. Guarro Fontanelles, que éstas se conservaban
en un armario destinado a las: “... formas de hacer papel, parte de ellas útiles e inútiles: cuatro formas
grandes, dos pares de forma de marquilla, un par de formas de marca mayor”. En otra sala había dos
7
pares de formas más . Con seguridad las inútiles se reservaban hasta que pudieran ser reparadas o el
se aprovechaba los restos utilizables.

En el año 1617 los papeleros de Montcada (Barcelona), P. Masferrer y Miquel Costas pagan al formero
Gabriel Cabanyes, de San Pere de Reixac, 14 libras barcelonesas por: “dos pares de formas y una
8
posta de sayales nuevos para hacer papel fino y de estraza” . Vemos que los formeros también vendían
sayales. En el siglo XIX el formero Pedro Valls los ofrecía en sus anuncios publicitarios.

En enero 1645, se verifica en un inventario que el papelero Jaume Llosas, posee elementos específicos
para construir formas: “...verjura para hacer un par de formas y latón, todo nuevo” y “ verjura para hacer
9
un par de formas para estampar grabados” .

Las formas eran el instrumento, imprescindible dentro de la fabricación de los pliegos, de costo elevado
que había que preservar ante cualquier descuido en el uso y la conservación, según se desprende de
la cláusula nº 8 de un contrato de arrendamiento en la ciudad de Alcoy (Alicante) a fines del XVIII: “... y
los moldes han de estar siempre bien limpios manejándolos solo los sacadors (sacadores o laurentes),
10
y ningún aprendiz los ha de tocar, ni manejar sin licencia del propietario Nicolás Sempere i Asensi “ .

Si bien es probable que las formas se arreglaran en el molino, es improbable que su fabricación estuviera

60
generalizada. Solo en las fábricas más importantes que contaba entre los obreros especializados con
un carpintero, un herrero y un albañil para el mantenimiento de las máquinas, ruedas, causes y resto de
deterioros del edificio, podía existir también un formero o estar especializado alguno de los mencionados.

El trabajo de la mujer en la fábrica de papel estuvo siempre relegado a las tareas secundarias y por qué
no decirlo peligrosas. Sin embargo, la Real Sociedad Vascongada de los Amigos del País, premió en
11
1772 a María Jesús de Arriaga , con una medalla de plata por la presentación de: “un molde para hacer
papel fabricado con gran perfección”.

En 1785 la descripción de los procesos de la fabricación del papel que se debían seguir en la fábrica
12
del hospital de Pamplona (Navarra) entre los planos del edificio, máquinas y útiles que se presentan
13
se encuentra la fabricación de la forma . Es ineludible la recomendación sobre la cantidad de hilos de
latón de la trama según la calidad del papel que se fabrique con ellas:

“El molde para el papel de estraza no necesita tener la trama tan espesa como para hacer el papel común
de escribir; ni éste tanto como el florete. El papel de estraza podrá tener 245 hilos puntizones, porque es
algo más corto que el de escribir, y a esta proporción si fuese tan largo, podría tener 270. El común de
14
escribir podrá tener 300, y el Florete 320 puntizones” .

La cantidad para el papel de escribir coincide con la descripción de la forma hecha por Jerome Joseph
15
La Lande años antes . En la fábrica del Hospital desde sus inicios empleó a papeleros extranjeros,
muchos de origen francés y seguramente conocedores de la descripción de La Lande. (Fig. 5).

61
Fig. 4 Antiguo banco manual para estirar hilo metálico, siglo XIX. Fig. 5 Filigrana del Hospital General
de Pamplona. Archivo Histórico de la provincia de Buenos Aires. La Plata (Argentina). Foto: JCB.

En una carta sobre la reglamentación de las fábricas de papel de Cataluña, Miguel Jerónimo Suárez
y Núñez, hizo una observación sobre la confusa descripción hecha de junio de 1777, por la Jun- ta
16
Particular de Comercio de Barcelona, a la que le adjuntaba su traducción del libro de La Lande . En la
descripción se dice que de los “deterioros que sufren las formas deben ocuparse los fabricantes”, aunque
en ámbito papelero se reconoce que no es común que haya formeros para arreglarlas y se agrega que
“este arte sigue en manos de extranjeros, que de cuando en cuando hacen sus incursiones en el reino,
y van proveyendo de formas a los que las necesitan; y así no son recursos prontos en una necesidad
17
urgente” . Queda claro que esta carencia puede hacerse extensiva a toda España, si bien era mucho
más necesaria en Cataluña y Valencia donde se había producido un gran incremento de fábricas de
papel.

Más adelante, el 9 de agosto de 1791 la Junta General de Comercio y Moneda de Madrid, pro- puso
una serie de iniciativas con la clara intención de mejorar la manufactura papelera, que fue publicada en
Barcelona en noviembre del mismo año. En el artículo nº 10 se propone: “…la necesidad de establecer
en España el arte de fabricar las formas para hacer pa- pel y cartón, resuelve que los Intendentes de las
ciudades de Valencia y Cataluña, junto con las Juntas de Comercio propongan a la Junta de Comercio
y Moneda que establezca una fábrica de moldes y que se enseñe a un número suficiente de españoles,
para que así puedan servir formas que necesiten las abundantes fábricas de papel de estas regiones”.

62
3. Consolidación de formeros y fabricantes de telas metálicas

Si bien no conozco información de dicha fábrica-escuela, en años posteriores y durante el siglo XIX es
notable la aparición de formeros catalanes especializados en la fabricación de formas o moldes en las
18
zonas mencionadas . Todos ostentan el título técnico con el que se los llama en catalán. Por ejemplo;
José Ferrer Oms “fabricant de formas para fer paper” (1791), Procopi Enrich, natural de la Pobla de
Claramunt, que habita en Capellades; ostentaba el doble título; “fabricant de paper y formaire” (1798),
García Caballer; “Formaire” (1826), y Jaume Enrich; “fadrí (joven) formaire” (1829), o Pere Cavaller;
“fabricant de motllos de paper” (1836), todos en Capellades y por último Joseph Caballer; “fabricante de
formas de papel” (1843). Éste de la dinastía de formeros que con el apellido Cavallé encontramos casi
durante todo el siglo produciendo moldes.

La invasión francesa afectará muy negativamente la relación con los artesanos franceses resi- dentes
en algunas regiones españolas. Años después de la retirada, el papelero francés Santiago Gri- maud
hace venir a un moldista de Francia, ya que reitera que no: “había en las Castillas, Andalucía y Aragón”.
Su estadía en la fábrica de Gárgoles de Arriba (Cifuentes- Guadalajara), fue imposible debido a los
19
insultos y agresiones que recibía de la población, hasta que se refugió en Madrid . Ante esta necesidad
los formeros catalanes son llamados a suplantar a los foráneos para solucionar carencias en los molinos
de papel apartados de las grandes ciudades.

José Sastach de Capellades (Barcelona), con el título de “Moldista de papel” como figura en un
salvoconducto otorgado en 1826 para que permaneciera tres meses en Villanueva del Gállego (Zarago-
za). Luego camino a Madrid visita otros molinos de papel, entre los que se encuentran los del pueblo
papelero de Gárgoles de Arriba (Guadalajara). A su regreso y antes de volver a Capellades, visitó
en Aragón, entre otros, los pueblos de Valderrobles y Beceite de Teruel y Vinarós en Castellón. Los
motivos y permanencia en los distintos molinos papeleros castellanos y aragoneses fue ocuparse de la
manufactura, arreglos de moldes para hacer papel, y seguramente enseñanza.

En Andalucía la producción papelera se centró en Málaga y Granada. Las formas se encargaban a esta
20
última, según documentación del molino de Nerja (Málaga) a principios de siglo XIX . Por otra parte
debemos tener en cuenta que tanto en Málaga y Granada la fabricación del papel fue dependiente de
los grandes centros papeleros; primero de Génova y luego de Valencia y Cataluña de donde arribaron
21
los maestros de tinas y carpintería para iniciar o continuar la fabricación del papel .

Asimismo encontramos en ciudades como Madrid o Barcelona empresas fabricantes de telas metálicas;
los llamados “cedaceros” que también fabrican moldes para hacer papel y a su vez proveían telas
continúas a los fabricantes de formas manuales. Y en general todas ofrecían el envío de sus productos
22
al resto de las provincias españolas . Razón suficiente para entender porque en éstas y otras regiones
de fabricación papelera como Galicia, por ahora, carecemos de datos sobre esta fabricación. En la

63
Comunidad Valenciana sólo encuentro una fábrica de moldes; ubicada en San Antonio 63, de Alcoy
23
(Alicante), de Tadeo Mataix recién en el año de 1881 .

En algunas fábricas que han sobrevivido hasta nuestros días, se han conservado moldes y telas
metálicas o fragmentos de las mismas. Afortunadamente otras se conservan en el Museo del papel
de Capellades (Barcelona), el Museo Molí Paperer de Banyeres de Mariola (Alicante), y en algunas
colecciones privadas españolas.

4. Los anuncios de publicidad como fuente de información de los fabricantes de formas y telas
metálicas

El origen de las telas metálicas es el de la elaboración casera de los cedazos con hilos de seda o
piel, pero a partir de la segunda mitad del s. XVIII, la reducción del cinc originó el latón que se aplicó
masivamente en la industria papelera para hacer formas y moldes de malla continua. Las industrias del
alambre y sus manufacturas proporcionaron, además, durante todo el siglo XIX una heterogénea gama
de productos para la industria papelera. Las telas sin fin hechas en distintos metales constituyeron un
soporte fundamental para la fabricación del papel continuo.

En 1856 estas fábricas se situaban en Madrid (6), en Barcelona (5), y en Toledo (3). Que se in- crementarán
en 1900 hasta los 113 telares que hacían tejido metálico, de los que 86 eran movidos a mano; 4 por
caballerías y 23 por agua o vapor. Alrededor de la mitad de los últimos que eran tecnológicamente más
“modernos” se localizaban en Barcelona (15), y también la mitad de los tecnológicamente más primitivos
(42 de los 86 movidos a mano). El resto de telares que producían tela metálica de todas clases, estaban
24
en Zaragoza, Santander, Madrid, Valencia, Alicante, Córdoba, Coruña, Lérida, y Málaga .

Durante todo el siglo XIX se incrementará la publicación de anuncios de publicidad de estos pro-
ductos en Catálogos y Memorias de exposiciones; Almanaques, Anuarios de comercio, etc. Además
se fomentará en toda Europa, las ferias industriales nacionales e internacionales, donde se expondrán
es- tos productos obteniendo diversos premios por su calidad e invención.

Así el mencionado José Sastachs y el madrileño de origen francés José Latour obtendrán la medalla
25
de bronce por sus telas metálicas y los útiles expuestos en Madrid en 1850 . Por otra parte se alaba
en la exposición la utilización del latón en las urdimbres y telas metálicas. Otro francés radicado en
Madrid en 1814, Pierre Mage recibirá décadas más tarde por unas telas metálicas “Diploma y Medalla
del Expositor”, en la Exposición de Agricultura en Madrid del año 1857. Año que será decisivo para el
también francés Francisco Rivière, como veremos más adelante.

Sastachs con grafía diferente en su apellido (ahora Sistach) y ya instalado en la calle Lladó, 13 de
Barcelona, se anuncia en la publicación El consultor de los años 1857 y 1863. En la misma ciudad

64
expone en la Exposición Industrial y Artística del Principado de Cataluña en 1860. Posteriormente en
26
la Reseña de la misma , se describen los productos presentados y se elogia la calidad de las telas
metálicas para “formas de mano y cilíndricas para el papel continúo; para papel de crédito y comercio
con filigranas sombreadas infalsificables”. También expuso herramientas para desgarrar el trapo,
cilindros para refinar pastas y una muestra de escurridores de agua. El cronista F. Orellana lamenta que
tanta perfección y empeño luego de haber sido premiado 15 años antes en las exposiciones de Madrid,
Barcelona y de Londres se encuentre a punto de cerrar su fábrica al no poder competir con el alambre
local, casi inexistente. La reducción del impuesto a las importadas imposibilitaba la competencia y fue
un problema hasta fines de este siglo para los productores nacionales.

El alambre nacional con que estaban fabricados estos productos procededían de las Reale Fá- brica
san Juan de Alcaráz, en Albacete, que explotaba la mina local de calamina para la obtención de cinc y
cobre para fundiciones de latón y bronce en la ferrería El Laminador. Esta industria fue creada en 1772
por el ingeniero austriaco Juan Jorge Graubner, con autorización del rey Carlos III, donde construye e
instala una factoría para la elaboración del latón.

A pesar de los problemas de Sistach, en 1864, la población papelera de Capellades contaba con una
fábrica de moldes especiales para papel de bancos, sociedades comerciales, etc. de José Ferrer y
Crey (Fig. 6). Lo encontramos años después instalado en la ciudad de Barcelona. Este junto a la familia
Caballé y Pedro Vallés fueron los principales trefiladores de alambre catalanes hasta su suplantación
por los Rivière a fines del siglo.

Igualmente en ese año se anuncia la nueva fábrica de Erlich y Baxeras en la misma ciudad (Fig. 7). El
primero lleva el apellido de los formeros Procopi y Jaume, activos décadas antes. Estos fabrican- tes
vuelven a insistir en la promoción de moldes especiales: “Por complicados que sean y con especialidad
para letras, billetes, talones y obligaciones de Bancos y sociedades de Crédito y cualquier otro objeto en
que sean necesarios o convenientes señas particulares”. Francisco de Asís Caballé oriundo de Igualada
(Barcelona), fabrica tejidos metálicos y moldes, a partir de 1826, que tenemos la primera información
de este formaire a través del catálogo de la Exposición Pública de la Industria Española, realizada en
Madrid en 1827. Expone: “Dos moldes para fabricar papel, perfeccionados y con invención en cuanto
al busto del rey, que lo representa sombreado con la imposibilidad de poder ser falsificado, según las
27
muestras o ejemplares del papel por los que obtuvo una medalla de plata . Instalado en la calle Cristina
15 de Barcelona, publica un anuncio en El Consultor en el año 1857, donde vuelve a ofrecer formas
para la fabricación del papel para “billetes, pólizas, letras de cambio y demás que hayan de tener dibujos
transparentes”. Ya en 1860 nuevamente traslada- do a la calle Castaño 12, expone nuevamente telas
28
metálicas y moldes para fabricar papel de valores . En 1881 encontramos a José A. Caballé que vende
moldes para papel en la calle Duque de la Victoria, 8 de la misma ciudad.

65
Años antes Alejo Caballé, residente en la ciudad de Olot (Girona), exponía en la Exposición Universal
29
de París en 1867 , un cilindro “Heguter” con verjura para la elaboración de papel continuo, con igual
perfección que los moldes de hacer papel a mano.

Otro de los formeros más importantes fue Pedro Vallés, que también recibió una mención honorifica, por
un molde con el busto del rey. Un cilindro escurridor, sin armadura y un muestrario de telas metálicas.
De éstas hemos obtenido el valor de venta: El molde con la imagen del Rey, era de 200 y el cilindro a
16 escudos. El rollo de tela de latón nº 75 medía 1,56 mt. de ancho a 11 escudos el metro. Otro rollo de
cobre nº 120 de 0, 37 cm de ancho a 15 escudos el metro, y el nº 150 también de cobre de 37,7 cm de
30
ancho a 28 escudos el metro .

Vallés publicita, como lo había hecho antes en París, en la Exposición permanente de Barcelona dos
años más tarde; “para papel moneda con seguridad y telas metálicas de distintos metales y clases,
31
desde el nº 1 al 150, en pulgadas tanto en trama como urdimbre” , anuncios que se repetirán en años
sucesivos y como el resto de formeros reiterarán las cualidades de sus productos para fabricar papel
32
para usos especiales. Fue premiado en la Exposición de Zaragoza con dos medallas de plata y una
de cobre. Proveía también bayetas para intercalar entre los folios de papel (Fig. 8 y 9). En 1881 seguía
activo en las calles Lladó 9-13 y Las Cortes 240 y la última mención que encuentro de este formero
es en la Exposición Universal de Barcelona de 1888, donde se resalta que los cilindros que salen de
su taller “son para producir sombras o la media vitela siendo bellos ejemplares que revelan un gran
33
conocimiento y especialidad” .

Francisco Castelltort instalado en Sant Martí de Provençals (Barcelona), fabricaba telas metálicas que
anuncia en el Indicador de España de 1864-5. En 1879 encontramos su fábrica en san Rafael 9 y 11 de
34 35
la ciudad de Barcelona (F. 10, 11 y 12). En la Exposición Universal de Barcelona recibió una medalla
de 1ª Clase por sus telas metálicas para papel continuo.

En esta exposición encuentro a otros fabricantes de telas metálicas de “todas clases”, tales las de
Camorera Pelegrin y la Fábrica La Española. También se exponían las máquinas para la fabricación de
telas metálicas de Ramón Marull de la calle Vilanova 21 y 23. En exposiciones anteriores encontramos
las fábricas de Alier y Cía. (F. 13), Joaquín Raveras, Manuel Tomás todos de Barcelona o la em- presa
Averly, Montud y García de Zaragoza, que recibe por sus telas metálicas, en la citada Exposición de
Zaragoza, medalla de 1ª clase y derecho a utilizar el escudo de la sociedad. Estas y otras empresas
del país, si bien pudieron vender ocasionalmente telas a la industria papelera, se dedicaron fundamen-
talmente a la fundición y laminación de metales y a la producción de distintos instrumentos en metal.

He dejado para el final la actividad del francés Francisco Rivière Bonneton que convirtió a su empresa
en la más importante productora de telas metálicas para la industria papelera española, eliminando
al resto de la competencia por la calidad de sus productos y mejores precios, aprovechando la nueva

66
política proteccionista dispensada al sector, en un proceso de sustitución de las importaciones a fines
del XIX.

Había nacido el 9 de junio de 1835 en Issoire-Auvergne, y su primer contacto con esta industria fue a los
17 años en París, cuando era aprendiz en un taller de tejidos con venta al por mayor durante dos años.
Tiempo después, en 1857 visitó por primera vez España trabajando para las empresas ferroviarias
francesas que estaban invirtiendo en la red ferroviaria española. Ese año se celebró la mencionada
Exposición de Agricultura en Madrid, donde conoció al también francés Pierre Mage, que como ya he
dicho fabricaba telas metálicas. Al año solicitaba ser inscrito en el registro matrícula de la embajada
francesa en Madrid. En 1860 formó la sociedad: Mage, Rivière y Cía. Y tres años después compró la
parte de Pierre Mage, iniciando un recorrido brillante como empresario en solitario.

El taller de Rivière en Madrid tenía 15 telares. La gama de productos fabricados era muy amplia, algo por
lo demás común en otras empresas de la época en España. Presenta sus productos en la Exposición
36
Aragonesa, obteniendo una medalla de plata por sus telas metálicas . Repitió en la Exposición de 1885
37
con medalla de 1ª clase por el mismo producto .

Con la buena marcha del taller trasladó el almacén y la construcción de telas a la calle Zurita en Madrid.
Ésta ciudad lejos de las vías principales de transporte internacional de mercancías, encarecía la compra
de materias primas; el alambre de latón, hierro y cobre y de los telares y productos de representación
que procedían del extranjero en su totalidad, principalmente de Francia y en especial de la ciudad
papelera de Angoulème. Esto lo llevó a establecer un taller de telas metálicas en la calle San Francisco
de la ciudad de Bilbao (País Vasco), en 1868. Años después estableció un almacén de distribución de
materiales para la agricultura en Valladolid entre los años 1880-1888, que junto a Madrid eran núcleos
de amplios mercados, y en dos con un tupido tejido industrial y comercial. En la década de 1880 vendía
también telas para las fábricas de papel en Cuba, Puerto Rico, Portugal y resto de España. En el
catálogo de la empresa del año 1878 figuran agrupados en una primera sección la variedad de telas
metálicas que producía.

Dos años después de abandonar Bilbao, realizó el primer viaje a Barcelona e instaló inicialmente una
tienda para la venta de sus productos. Cerró a los pocos meses, y no volvería a invertir en el proyecto
de Barcelona hasta 1883, cuando abrió un almacén y tienda para la venta de sus productos en el Paseo
de la Aduana 23, frente a la estación de Francia. Un año después entre noviembre y diciembre de 1884
construye su nueva fábrica en Sant Martí de Provençals, con naves de 6.000 m2, donde montaron
algunos telares de madera movidos a mano, traídos de Madrid, se montaron las calderas y se construyó
la chimenea, empleando a más de 100 obreros. En sus comienzos en Madrid producía 3.000 metros
de tejidos, aumentando la producción hasta llegar a estos años con una producción de 300.000 metros
(F. 14).

67
Entre las décadas de 1860 y 1880 la estrategia de crecimiento se encauzó hacia la especialización en la
producción de los cerramientos metálicos, tejidos helicoidales para somieres de madera, y telas de latón
sin fin para fábricas de papel continuo. En 1887 consigue una concesión de una patente para fabricar
38
rodillos utilizados para hacer telas papeleras .

Las telas sin fin de Rivière se destacaban por la igualdad en el tejido y la densidad y resistencia. Había
resuelto el problema de las costuras que fueron una verdadera dificultad de esta fabricación. Para
ello hubo de traer obreras extranjeras especializadas en este trabajo. En el tejido se exigía mucha
precisión, ya que la menor aspereza, el menor defecto las inutilizaba. En esto radicó la superioridad de
sus procedimientos.

En la Exposición Universal de 1888 exhibía telas de tramas de latón plateado de dos metros de ancho
y se cuentan 180 hilos por pulgada cuadrada, destinada a la fabricación de papel de fumar en la ciudad
de Alcoy (Alicante), especializadas en este producto para la cual se requerían telas que no tengan el
más leve defecto. Las telas realizadas para las fábricas de papel de Tolosa (Guipúzcoa), son de bronce y
39
latón plateado de tejido liso con 75 hilos por pulgada cuadrada y más de dos metros de ancho .

Los Rivière se relacionaron con empresarios papeleros entre los que estaban los Torras Doménech, con
fábrica en San Juan de les Fonts cerca de Olot, con quien también emparentarían y la navarra Perot
entre 1898-1902. La comercialización de la producción la llevaba personalmente el fundador y sus hijos
40
Francisco y Fernando. Éste recorría las fábricas de papel de Portugal, y Francisco las de Cataluña .

CONCLUSIÓN

Si bien esta mínima información sobre los formeros no brinda demasiados elementos concluyentes,
creo que sirve de inicio para el estudio de esta manufactura. Creo también que no es exclusivo de
España el desconocimiento parcial de los formeros constructores de moldes antes del siglo XIX. Es ge-
neral la falta de información sobre los artesanos, ya que en el proceso de la fabricación del papel sólo
conocemos documentalmente, el nombre del maestro y el propietario de la fábrica. Por lo tanto no es tan
raro desconocer el del formero, al menos antes del XIX, que como hemos visto se acentúa la necesidad
y especialización de estos profesionales, posibilitando su identificación.

Es durante el siglo XIX con el incremento de los avisos publicitarios en ediciones sobre el co- mercio y la
industria que recibimos, apoyada por la exhibición en casi todas las exposiciones industriales nacionales
e internacionales, abundante información sobre estos fabricantes. Por otra parte, debido a los avances
tecnológicos de la industria papelera, nos confirma la supervivencia de la forma manual limitada casi en
la totalidad a producir papeles especiales utilizados para el papel de valores, papel ofi- cial de distintos
países e instituciones, bancos, artistas, ediciones especiales, etc. En oposición al definitivo desarrollo
de la fabricación de telas sin fin para producir papel continuo, que también irá incluyendo todos los

68
elementos requeridos, no solo para los papeles de seguridad, también para la infinita variedad de
papeles requeridos a partir del siglo XX.

5. Ilustraciones

Fig. 6 El indicador de España, Ed. Viñas y Campi. Barcelona 1864.

Fig. 7 El indicador de España Ed. Viñas y Campi. Barcelona. 1864.

69
Fig. 8 Almanaque Bailly y Baillieri. Madrid 1879.

Fig. 9 Almanaque Bailly y Baillieri. Madrid 1880, 1881, 1882.

70
Fig. 10 Almanaque Bailly y Baillieri. Madrid 1779

Fig. 11 Almanaque Bailly y Baillieri. Madrid 1880

71
Fig. 12 Almanaque Bailly y Baillieri. Madrid 1881

Fig. 13 Almanaque Bailly y Baillieri. Madrid 1879.

72
Fig. 14 Volante publicitario de la empresa Rivière de Barcelona. Fines del XX.

6. NOTAS BIBLIOGRÁFICAS

1 En la Estadística Administrativa de la Contribución Industrial y de Comercio de 1856, se llamaban


“tiradores” a los artesanos que estiraban hilos de oro y plata. P. Fernández Pérez. Hilos de metal. La
industria del alambre de hierro y de acero en España (1856-1935), en «Revista de Historia Industrial» Nº
27. Año XIV. Barcelona 2005. pp. 165-191.
2 Zona donde proliferaron trefilerías artesanales desde el año 1275. Ibíd.
3 En Inglaterra en buena medida por la demanda de cardas para la industria lanera y la prohibición de
importarlas desde 1581. Ibíd.
4 La forma es un cuadro o bastidor, cuidadosamente unido en los ángulos y sostenido por dos travesaños
pequeños de madera ligera, llamados puentecillos, travesaños o corondeles, los cuales están dispuestos,
paralelamente entre sí y uno de los costados pequeños de la forma; sus aristas superiores forman un
mismo plano con los bordes inferiores del bastidor y sirven de punto de apoyo a los hilos metálicos
puntizones que cubren toda la extensión de la forma; estos últimos están dispuestos a lo largo de 8 a 15
hilos por centímetro y detenidos por un hilo más fino que forma la cadeneta llamada también corondel.
5 AHPB (Achivo Histórico Provincial Barcelona), leg. 3. Manuscrito 14. “d’uns molles per a fer paper”.
Pub. por: Madurell i Marimón, José Mª., El paper a les Terres Catalanes, Barcelona 1972, 2 vol.
6 “...Tres tanaletas para estirar los fils de las formas”; ocho “gansales” de fil d’eram” (cobre) y “uns mollos
de forma de procés”. Ibíd. p. 625
7 “...tenir formas de fer papel, part de ellas servibles y part inservibles”. APCEFFV (Archivo Patrimonial
de la casa Francesc Forn i Valls, de Capellades). Escr. 130. Año 1793, Ibíd. p. 687.
8 “...dos parells de formas y una posta de sayals nova per fer paper fi y d’estrassa” A.P.M. (Archivo
Parroquial de Santa Engràcia, de Montcada) Manuales años 1608-28. Ibíd. Doc. nº 60, p. 1066.

73
9 “...verjura per fer un parell de formas y llautons tot nou” y “verjura per fer un parell de formas de estampa”
AHPB. (Archivo Histórico de Protocolos de Barcelona). F. 108. Años 1745-48. Ibíd. p. 487.
10 Contrato de alquiler entre Nicolás Sempere y Asensi; propietario y los maestros papeleros; Nicasio
Monserrat, Vicente Martí y Bautista Balaguer. Protocolo de Cristóbal Mataix. Tomo 631 del 14 de marzo
de 1799. J. Moya Moya, Libro de oro de la Ciudad de Alcoy. Alcoy 1992. p. 119.
11 Hija del papelero Fausto Antonio de Arriaga de Durango. Extractos de Actas de la Real Sociedad
Vascongada de los Amigos del País, Vizcaya 1772.
12 Firmados por Esteban de Murquiz. A. M. P (Archivo Municipal de Pamplona).
13 “se haze una Rexa de hilo de Alaton muy delgado, de suerte que por el través del pliego hay unos 18
hilos (cadenetas); pero hazian lo largo unos 300 (Puntizones), de suerte que estan muy espesos, como
se conoce en el mismo papel mirado a vislumbre; sobre esta rexa se asienta tambien de hilo de Alaton o
Plata, la Maxca unida sutilmente con hilo muy delicado del mismo metal”.
14 García Serrano, R., El molino de papel del hospital general de Pamplona. Pamplona 1974.
15 La Lande, Jerome Joseph, Arte de hacer el papel según se practica en Francia y Holanda: en la China
y en el Japón, Descripción de su origen: De las diferentes materias que puede fabricarse: De los molinos
holandeses y de los de Cilindros, y del Arte de hacer los Cartones, y varios adornos de pasta. Ed. de la
Real Academia de Ciencias de Paris. 1761.
16 Traducido por orden de la Real Junta General de Comercio, Moneda y Minas, con aprobación de S.
M., por Don Miguel Gerónimo Suárez y Núñez. Imp. P. Marín. Madrid 1778.
17 Madurell i Marimón, José Mª, op. Cit. Doc. 129 p. 1142.
18 Ibíd. pp. 183-4.
19 Representaciones un cuestionario Municipal. AUS 2-369-1. Cuartel de San Jerónimo. Año 181.
Extractos.
20 También se compraban, los herrajes de mazos y los fieltros para las postas. AHPM (Archivo Histórico
Provincial de Málaga), leg. 3946. f, 106.
21 Balmaceda, J. C., Los Batanes Papeleros de Málaga y su Provincia, Servicio de Publicaciones e
Intercambio Científico de la Universidad de Málaga 1998. Los fabricantes de papel del molino de Maro,
en «Investigación y técnica del Papel» 2000, nº 145 Madrid, pp. 342-362. La industria papelera de Mijas.
Museo Histórico Etnológico de Mijas. Ayuntamiento de Mijas 2002.
22 Un ejemplo es la empresa de Francisco Rivière, en la calle Zurita 32 de Madrid. Anuario-almanaque
del Comercio de la Industria de la Magistratura y de la Administración (A partir de ahora): Almanaque
Bailly-Baillieri), Madrid 1881. pp. 248 y 304.
23 Almanaque Bailly-Baillieri, op. Cit, p. 531.
24 Fernández Pérez, P., op. Cit.
25 Memoria sobre los Productos Industriales Española de Madrid de 1850. Madrid 1851 p. 165.
26 Orellana, F. J., Reseña de la Exposición Industrial y Artística de Barcelona. Barcelona. 1860 p. 151.
27 Publicación del catálogo en 1828.

74
28 Exposición Industrial y Artística del Principado de Cataluña. Barcelona 1860.
29 Exposición Universal de 1867. Catálogo General de la Sección Española. Ed. La comisión Regia de
España. París. 1867 p. 250.
30 Ibíd.
31 Catalogo Detallado. Exposición Permanente de Barcelona. 1869. Barcelona. p. 73.
32 Catálogo de Expositores Premiados. Exposición Aragonesa de 1868. Zaragoza 1868.
33 Catálogo Oficial, especial de España. Exposición Universal de Barcelona. Barcelona 1888.
34 Almanaque Bailly-Baillieri, Madrid, 1879,1880 y 1881.
35 Catálogo Oficial, especial de España. Op. Cit. p. 100.
36 Catálogo de Expositores Premiados. Op. Cit.
37 Catálogo de los Expositores Premiados. Exposición de 1885-6. Real Sociedad Económica
Aragonesa de Ami- gos del País. Zaragoza 1888. p. 15
38 Véase: P. Fernández Pérez, “Redes familiares e innovación tecnológica en la España de fines del
siglo XIX: Los casos de José María Quijano y François Rivière”, Universidad de Barcelona «Historia
Contemporánea 31», Barcelona 2005, pp. 439-456.
39 Estudios completos sobre la Exposición Universal celebrada en Barcelona 1888, Publicadas por el
«Diario Mer- cantil», Barcelona. Fondo antiguo de la Universidad Politécnica de Cataluña.
40 Sancho Sora, A.; P. Fernández Pérez, “Innovación y estrategias de crecimiento empresarial en la
industria de transformados metálicos en España (1860-1935): los casos de Averly y Rivière”. En «Del Metal
al motor». Ed. Pere Domènech, P. y Fernández Pérez, Paloma. Fund. BBVA Bilbao 2007, pp. 345-382.

75
¿CON QUÉ HACER MÁS PAPEL? LA PASTA DE PAJA COMO ALTERNATIVA

LUZ DÍAZ GALÁN


RESTAURADORA DE DOCUMENTO GRÁFICO Y LICENCIADA EN CIENCIAS FÍSICAS
LABORATORIO DE RESTAURACIÓN DE LA BIBLIOTECA NACIONAL DE ESPAÑA
luz.diaz@bne.es

RESUMEN

Dentro de las investigaciones que a lo largo del s. XIX se realizaron en occidente en torno al uso directo
de diferentes vegetales para elaborar pasta de papel, la transformación de la paja -proveniente de
gramíneas como los cereales, el maíz o el arroz- se convirtió en una buena alternativa a estudiar. En
este sentido, las descripciones técnicas incluidas en las diferentes patentes relativas a la producción
de pasta de paja obtenidas a lo largo de este siglo son una interesante fuente de información para
seguir la evolución de estos procesos. En este trabajo se va a hacer un seguimiento de dicha evolución
a través de los privilegios de invención otorgados en España al respecto, relacionándolos con las
patentes extranjeras más significativas de la época.

PALABRAS CLAVE

Pasta de papel, paja, s. XIX, patentes, privilegios de invención


Pasta de papel, pahla, s. XIX, patentes, privilégios de invenção

Hasta que la madera se impuso como materia prima para la elaboración de pasta de papel a nivel
industrial, muchos fueron los ensayos que se realizaron con los más diversos materiales a lo largo
del s. XIX en los países occidentales. En el capítulo dedicado al papel del Journal of the Board of Arts
and Manufactures for Upper Canada, publicado en Toronto en 1863, se recoge una selección de más
de una treintena de patentes conseguidas entre 1800 y 1830, tanto en Europa como en América, para
elaborar pasta de papel con materiales tan diversos como algas marinas, pajas de cereales, musgo,
cardo, hojas de maíz, turba o ramas y cortezas de árboles como el sauce, el álamo o la palmera enana.
A partir de los años 30 del s. XIX, el número de patentes relacionadas con la producción de pasta de
papel utilizando materiales distintos del algodón, el lino o el cáñamo creció significativamente, reflejo
del proceso de cambio de la fabricación de papel en esta época11. Además, esto implicó una importante
diversificación de la producción papelera desde el punto de vista de la composición del papel.

1 Henry Youle Hind, Journal of the Board of Arts and Manufactures for Upper Canada, Vol III. Toronto: W. C. Chewett & Co,
1863, pp. 118-120.

77
Estas investigaciones tienen sus antecedentes en los trabajos llevados a cabo por diversos científicos
en el siglo anterior. Inspirados en la tradición oriental de fabricar papel directamente a partir de diferentes
variedades de plantas, naturalistas como Jean Etienne Guettard en Francia y Christian Schäffer
en Alemania, realizaron numerosos experimentos para transformar distintas especies vegetales en
una pasta capaz de formar hojas de papel. Ambos publicaron sus resultados en tratados que incluían
2
muestras del papel obtenido en sus experimentos .

Son de interés las conclusiones de estos trabajos, que La Lande recoge en su “Arte de hacer el
papel, según se practica en Francia y en Holanda, en la China y en el Japón”. En primer lugar, estos
trabajos y el estudio de los métodos orientales demuestran que es posible fabricar papel a partir de
pasta obtenida directamente de las plantas sin haber pasado por el “estado lienzo”; además estas
plantas se escogen por proximidad y abundancia. En segundo lugar, no todas las plantas son idóneas
para la fabricación de papel; hay que seleccionar aquellas cuyas fibras tengan unas características
adecuadas para posibilitar su procesado en pasta, garantizando así su entrelazado durante el proceso
3
de formación de la hoja .

Junto a estas premisas técnicas, la necesidad económica de sustituir los trapos por materias primas
más abundantes y baratas, tanto de obtener como de procesar, motivó el desarrollo científico-técnico
en torno a los procesos de producción de pasta de papel. Así, el s. XIX comenzó con la materialización,
en forma de patentes, de los trabajos de numerosos papeleros del mundo occidental en busca de la
optimización del uso directo de vegetales en la fabricación de pasta de papel.

La rentabilidad de los procesos fue el principal filtro a la hora de descartar muchas de las nuevas
materias primas ensayadas. Sólo el uso de algunas de ellas tuvo un desarrollo significativo, como por
ejemplo, las mezclas de lino, yute y cáñamo, la paja, el esparto o, por supuesto, la madera.

Desde los primeros ensayos, la paja proveniente de diversas clases de gramíneas como los cereales,
el maíz o el arroz, estuvo entre las materias primas susceptibles de convertirse en pasta de papel.
Desde el punto de vista económico, su uso se veía favorecido por su disponibilidad como desecho
agrícola. Era una materia prima abundante, barata y fácil de obtener en áreas geográficas dedicadas
tradicionalmente al cultivo de estas especies. El principal inconveniente a este respecto es que sólo
está disponible en las épocas de cosecha, por lo que es necesario almacenarla para producir pasta de
papel todo el año.

2 Jean Etienne Guettard, Obervations sur les plantes, par M. Guettard, Docteur en Médicine de la Faculté de París, de
l´Académie Royale des Sciences, et Médicin Botaniste de S.A.S. Mondeigneur le Duc d´Orléans, París: Durand, 1757; Jacob
Cristhian Schäffer, Proefnemingen en monster-bladen, om papier te maaken zonder l

3 Jerôme de La Lande, De las diferentes materias que podrían servir para hacer de ellas papel en Arte de hacer el papel,
según se practica en Francia y en Holanda, en la China y en el Japón. De la Real Academia de la Ciencias de París. Traducida
del francés por D. Miguel Gerónimo Suérez y Núñez, Madrid: Pedro Marín, 1778.

78
Desde un punto de vista técnico, la transformación de la paja en pasta era ventajosa ya que era posible
llevarla a cabo sin ningún tratamiento preliminar excesivamente costoso ni que consumiera gran
cantidad de energía. Esto hacía posible su producción a pequeña escala, sin necesidad de grandes
inversiones de capital, al menos en el caso de pasta para papeles de calidad baja o media.

Y lo más importante, las características de sus fibras la convertían en buena candidata para su
transformación en pasta de papel. La paja es un material vegetal no leñoso muy heterogéneo.

4
Siguiendo la descripción dada por García Hortal , los tallos de las gramíneas, generalmente llamados
cañas, son la parte de la planta rica en fibra, y por tanto, la parte interesante para la industria papelera.
Los tallos, cilíndricos y articulados, se configuran en una sucesión de partes ensanchadas o nudos y de
partes cilíndricas de menor diámetro, entrenudos. En sección transversal, el entrenudo presenta diversas
capas. La más externa, la epidermis, está formada por células no fibrosas y con un alto contenido en
sílice, especialmente en los cereales. Los elementos fibrosos se encuentran principalmente en la
corteza o cáscara, capa situada bajo la epidermis. Los haces de fibras se orientan paralelamente al
eje del tallo (en los nudos, las fibras son más cortas y se disponen transversalmente para dar rigidez
al tallo). La parte central puede estar hueca (paja de trigo, por ejemplo) o estar repleta de médula, que
consta principalmente de tejido parenquimatoso sin carácter fibroso.

Las fibras obtenidas tras el proceso de pasteado son fibras cortas, con una longitud media de 1,5 mm
(mucho menor en el caso de las pajas de arroz) y un diámetro medio de 15 cm, es decir, parámetros
similares a las fibras de la madera de frondosas. En cuanto a su composición química, contienen
alrededor de un 35% de alfacelulosa, un 20% de lignina, un 30% de carbohidratos no celulósicos
como pentosanos y almidón, una elevada proporción de sustancias solubles en agua caliente y un alto
contenido en cenizas, especialmente sílice.

Estos factores favorables hicieron que el uso de la paja para la obtención de pasta de papel fuera
bastante importante en países como Estados Unidos, Francia u Holanda, en los que tuvo aplicaciones
diversas como la elaboración de papeles de embalaje, papel prensa o cartones para la encuadernación.
En estos países, la fabricación de pasta de paja tuvo cierta continuidad hasta las primeras décadas
5
del en que en cayó en desuso . Pero hay que señalar que en la actualidad existe una significativa
industria de pasta papelera obtenida a partir de paja en países como China o India. Asimismo, se están

4 Jose Antonio García Hortal, Fibras papeleras, Barcelona: Edicions UPC, 2007, pp. 144-156.

5 Sobre este tema ver: A. J. Valente, Changes in print paper during the 19th Century en Proceedings of the Charleston Library
Conference, Charleston: Perdue University, 2010; A. J. Valente, Rag Paper Manufacture in the United States, 1801-1900,
North Carolina: MacFarlang & Company Inc., 2010; M. Fourquet, L’industrie de la papeterie dans la région de Limoges en
Norois, n°3, Juillet-Septembre 1954. pp. 267-286; Luther Ringwalt,
American Encyclopaedia of Printing, Philadelphia: Menamin & Ringwalt, 1871, pp. 450-451; Diana Twede et alt., Cartons,
crates and corrugated boards, Pensylvania: DEStech Publications Inc., 2015, pp. 21-24.

79
estudiando mejoras en los métodos del procesado de la paja y otras materias primas no madereras
6
que constituyan una alternativa al uso de la madera .

1. PATENTES Y PRIVILEGIOS SOBRE PASTA DE PAJA

A lo largo del s. XIX, los métodos de transformación de la paja en pasta de papel, al igual que otros
procesos industriales, fueron evolucionando y perfeccionándose. Proceso que queda reflejado
en las descripciones técnicas de las patentes obtenidas por distintos fabricantes de papel en
diversos países de Europa y América. Dos van a ser las líneas de investigación que se definen en
dichas patentes. Por un lado, la determinación de los reactivos químicos más adecuados para la
separación de las fibras. Por otro lado, el desarrollo de nueva maquinaria que permita optimizar los
procesos en rendimiento y calidad. Todo ello buscando dar respuesta comercial a las necesidades
crecientes de un mercado en expansión, impulsado por la floreciente actividad editorial de esta
7
centuria .

Hay que señalar que la mayoría de las patentes no se ciñen únicamente al uso de la paja como
materia prima de la pasta de papel. La mayoría incluye en ellas, de forma vaga y genérica,
otras materias vegetales susceptibles de ser procesadas mediante el mismo método. Estrategia
comercial que ampliaba la posibilidad de negocio.

A este respecto, los privilegios de invención y de introducción relativos a la producción de pasta


de papel con materiales distintos a los trapos, y en concreto con pajas de cereales y arroz,
otorgados en España a lo largo de esta centuria son una interesante fuente de información. Las
descripciones técnicas incluidas en los expedientes (aunque en ocasiones esta documentación
no se conserva) permiten hacer un seguimiento de la evolución técnica de estos procesos en
8
nuestro país . A la hora de valorar estas aportaciones hay que tener en cuenta las limitaciones

6 Sobre este tema ver: Jose Antonio García Hortal, Fibras papeleras, op. cit.; L. Jiménez Alcaide, Pastas celulósicas de
materias primas alternativas a las convencionales, Écija: Editorial Gráficas Sol, 2005.

7 Sobre la actividad editorial en el s. XIX ver: J. F. Botrel, Libros, prensa y lectura en la España del s. XIX, Madrid: Fundación
Germán Sánchez Ruipérez, 1993; H. Escolar Sobrino, Historia ilustrada del libro español. La edición moderna. Siglos XIX y
XX, Madrid: Fundación Germán Sánchez Ruipérez, 1996; J. A. Martínez Martín, Historia de la edición en España 1836-1936,
Madrid: Marcial Pons Ediciones de Historia, 2001.

8 En el Archivo Histórico de la Oficina Española de Patentes y Marcas se custodia la documentación referente a los inventos
protegidos por privilegio real en España entre marzo de 1826 y Julio de 1878. Durante este periodo estuvo vigente el Real
Decreto de 27 de Marzo de 1826, promulgado por Fernando VII, que regula la concesión de dichos privilegios. El Real decreto
funcionaba como una ley de patentes moderna cuyos títulos se concedían, como un derecho, a todo el que lo solicitara. En la
concesión de un privilegio de invención, el único requisito era que el objeto fuera invención propia del solicitante y que no se
hubiera puesto en práctica ni en España ni en el extranjero. Por su parte, el privilegio de introducción se concedía para poner
en práctica un invento extranjero en España, aunque no para importarlo de fuera.
Sobre este tema ver: J. Patricio Sáiz González, Propiedad Industrial y Revolución Liberal, Madrid: Oficina Española de
Patentes y Marcas, 1995; J. Patricio Sáiz González y Mª Carmen Hidalgo Brinquis, El Archivo de Privilegios de Invención de
la Oficina Española de Patentes y Marcas y la industria papelera en Investigación y Técnica del papel nº 127, Madrid: Graf.
Espejo, 1996, pp. 124-144.

80
del proceso de industrialización en España durante el siglo XIX y en concreto del sector papelero.
En general, hasta finales del siglo hubo una larga pervivencia del uso del trapo como materia
prima principal, así como de la fabricación manual del papel. No se contó con una dotación de
9
recursos adecuada, dependiendo en gran medida de las importaciones . Pero no pueden dejar de
tenerse en consideración las iniciativas llevadas a cabo para introducir innovaciones y mejoras en
la industria papelera nacional.

2. PRIMEROS AVANCES. CÓMO ADAPTAR LA TECNOLOGÍA DISPONIBLE.

Como ya se ha comentado, las primeras décadas del siglo XIX fueron muy prolíficas en cuanto a la
investigación en torno a la producción de nuevas pastas de papel. Las especificaciones técnicas de las
patentes registradas en estos años dejan clara la línea de investigación en torno al procesado directo
de materias vegetales para la producción de pasta de papel y, en concreto, a partir de la paja.
Los papeleros se centraron en la adaptación de los métodos utilizados para los trapos al procesado de
los nuevos materiales, continuando así con los trabajos iniciados en el siglo anterior.

Entre los primeros papeleros relacionados en España con la producción de pasta de papel a partir de
la transformación directa de diversos vegetales se encuentran Santiago Grimaud y Simón Joaquín
10
de Arriaga . Santiago Grimaud fue un importante papelero que desarrolló su trabajo en la provincia
de Guadalajara, primero en un molino arrendado de Gárgoles de Abajo y posteriormente también en
otro en propiedad en Gárgoles de Arriba, donde sus hijos continuaron el trabajo11. Con una excelente
reputación a causa de la buena calidad de los papeles elaborados en sus molinos, Santiago Grimaud
se caracterizó por introducir mejoras en la industria papelera, mostrando especial interés en la
investigación en torno al uso directo de diferentes vegetales para la fabricación de pasta de papel.
Ya en 1825 había realizado muestras de papeles elaborados con los más diversos materiales. En un
laudatorio artículo publicado por el Mercurio de España en Diciembre de ese año, se enumeran más de
25 especies vegetales utilizadas por Grimaud en sus ensayos: aparecen, entre otros, las cortezas de
diferentes árboles como el moral papelero, el olmo o el fresno, varias especies de juncos, el esparto,
el maíz y las pajas de cereales como el trigo, la cebada, el centeno o la avena12.

9 Sobre este tema ver: José Carlos Rueda Laffond, La fabricación del libro. Industrialización de las técnicas. Máquinas, papel
y encuadernación en Martínez Martín, Historia de la edición en España 1836-1936, op. cit, pp. 73-110.

10 Desde finales del siglo XVIII se comenzaron a presentar expedientes para la consecución de privilegios de invención en
torno a la fabricación directa de pasta de papel con diversas especies vegetales. En relación con el uso de la paja, en 1802,
Arístides Franklin de Anyubault Mornay presentó la solicitud para obtener el privilegio exclusivo de la fabricación de papel con
pita, esparto, palmito y paja. Pero dicha solicitud no prosperó. Sobre este tema ver: Juan Castelló Mora, Buñol y la búsqueda
de nuevas materia primas en Actas del VI congreso Nacional del Papel en España, Buñol (Valencia): 2005, pp. 45-52.

11 Gonzalo Gayoso Carreira, Historia del papel en España, Tomo I, Lugo: Servicio publicaciones Diputación Provincial de
Lugo, 1994, pp. 80-82.

12 Mercurio de España, Madrid: Imprenta Real, nº de diciembre de 1825, pp. 418-424.

81
Sus investigaciones se centraron en las pajas de cereales, llegando a obtener el 29 de Septiembre de 1825
una patente por un método de elaboración y fabricación de papel y cartón de pura paja con aplicaciones
diversas13. Santiago Grimaud, tal y como deja claro en la memoria técnica incluida en el expediente, basó
su método en la experimentación llevada a cabo por él mismo. Experimentación que le hizo concluir que
para transformar la paja en pasta de papel era necesario someterla a la acción de reactivos químicos. En
concreto, Grimaud estima que el método óptimo consiste en la cocción de la paja en una lejía cáustica
elaborada con una mezcla de cenizas, cal apagada y agua entre 8 y 10 horas. Y como su objetivo era
elaborar papeles de buena calidad, el proceso se completa con el blanqueo de la paja con agua saturada
de cloro. El resto de pasos para la obtención de una buena pasta papelera son similares a los realizados
para la pasta de trapos. Es relevante señalar que Santiago Grimaud hace especial hincapié en la idea
de obtener una pasta de papel a partir de la paja que sea capaz de sustituir completamente a la pasta de
trapos. Incluso llega a afirmar que lo ha conseguido con el proceso propuesto. Pero dos años después,
tras un pleito, perdió la patente en favor de Simón Joaquín de Arriaga, papelero que desde 1824 dirigía
un Molino en el barrio de La Peña de Bilbao. Así, Arriaga consiguió en 1827 el privilegio de introducción
de los “medios y método para la elavoración del papel y cartones de paja y su blanqueo”14. Es de especial
interés la descripción técnica incluida en el expediente, ya que en ella describe un amplio número de
métodos para el procesado de la paja. Al tratarse de un privilegio de introducción, se entiende que los
métodos propuestos no son invenciones propias de Arriaga, sino métodos ya desarrollados por otros y
que él quiere utilizar en exclusiva en España.

En primer lugar hace una descripción de “varios medios de fabricar papel de paja en su color natural
o color amarillo”15, aplicables a la paja de cebada, trigo, centeno y maíz. Los pasos fundamentales de
los procesos son los siguientes:

1. Inicialmente es necesario preparar la paja, es decir, machacarla y mullirla por medios


mecánicos para obtener trozos pequeños que se puedan tratar posteriormente. Aunque esta
operación se puede realizar mediante mazos o cilindros, Arriaga propone el uso de una máquina
trituradora de paja, denominada por él en francés hache-paille, para acelerar el proceso y que sea
más rentable económicamente.

2. A continuación hay que someter a la paja a la acción del agua de cal – agua saturada de óxido
cálcico [CaO(aq)] – para que se separen las fibras. Dos son los medios incluidos por Arriaga en su
descripción técnica. El primero consiste en la fermentación de la paja en agua de cal durante un

13 ARCHIVO GENERAL DE SIMANCAS (A.G.S.), CONSEJO SUPREMO DE HACIENDA (C.S.H.), Legajo 318, núm 19.

14 Simón Joaquín de Arriaga, Método y medios perfeccionados de elaboración de papel y cartón de pura paja, y su
blanqueo. Privilegio de Introducción, 7 de Agosto de 1827. Oficina Española de Patentes y Marcas (O.E.P.M.). Archivo. Fondo
Histórico. Exp. PR-14.

15 Simón Joaquín de Arriaga, Método y medios perfeccionados de elaboración de papel y cartón de pura paja, y su blanqueo,
op. cit.

82
tiempo prolongado, unas dos o tres semanas. En el segundo procedimiento, el agua de cal también
va a ser el reactivo químico utilizado, pero en este caso, la paja se somete a un proceso de cocción
en una caldera durante un tiempo mucho más corto, entre 2 y 3 horas. A lo largo de la explicación
queda patente la importancia de controlar bien este proceso, con el fin de optimizar los resultados
y obtener una buena separación de las fibras. Por un lado, son importantes las proporciones de
los distintos materiales y los tiempos de tratamiento. Por otra parte, hay que controlar que el agua
de cal reaccione de forma homogénea con la paja, lo que requiere el movimiento periódico de la
mezcla. Con estos dos procedimientos se obtiene una pasta de color amarillo, en la que no se
han eliminado ninguna de las materias colorantes de la paja. También incluye el papelero en su
privilegio de introducción el uso de sosa – carbonato de sodio [Na2CO3] – o potasa cáustica –
hidróxido de potasio [KOH] – en lugar del agua de cal, para conseguir una pasta menos amarilla
al “destruir algún tanto la materia colorante de la paja”16.

3. El siguiente paso consiste en el lavado de la paja, fundamental para eliminar el exceso de cal
que pudiera quedar adherida a ella.

4. Finalmente, la paja suficientemente lavada se macera y refina, usando los procedimientos


usuales en el caso de los trapos. Arriaga recomienda combinar el uso de las pilas de mazos con
el uso del cilindro, de modo que se obtenga una pasta de calidad óptima “dispuesta para fabricar
papel o cartones de todos los gruesos y tamaños”17.

5. Un punto adicional que aparece en esta descripción técnica es la reutilización del agua de cal.
Hay que señalar que los métodos hasta aquí propuestos por Simón Joaquín de Arriaga coinciden
18
en los puntos fundamentales con lo descrito por el empresario y papelero inglés Matthias Koops
en su patente de 1801 para la elaboración de papel a partir de pasta de paja, entre otras materias
vegetales. Pionero en este campo, Koops desarrolla en su patente un proceso de fermentación de
la paja en agua de cal y propone el uso de una solución de sosa o potasa cáustica para mejorar el
color del papel obtenido19. Es de suponer que Arriaga conocía el procedimiento seguido por Koops,

16 Simón Joaquín de Arriaga, Método y medios perfeccionados de elaboración de papel y cartón de pura paja, y su blanqueo,
op. cit.

17Simón Joaquín de Arriaga, Método y medios perfeccionados de elaboración de papel y cartón de pura paja, y su blanqueo,
op. cit.

18 Matthias Koops, en los primeros años del s. XIX, construyó el primer molino papelero dedicado exclusivamente a la
producción a gran escala de papel fabricado a partir de pasta que no procedía de trapos. Koops patentó diferentes métodos
para producir pasta de papel directamente a partir de diversas materias vegetales como la paja, heno o diferentes cortezas
de árboles. Incluso patentó un método de destintado del papel ya impreso para su posterior reutilización como pasta de papel.
Como muestra de los resultados de su trabajo, utilizó los nuevos tipos de papel por él fabricados para la edición de su libro
Historical Account of the Substances Which have been Used to Describe Events, and to Convey Ideas, from the Earliest Date,
to the Invention of Paper. Desafortunadamente, su fábrica de papel quebró tan sólo cuatro años después.

19 Sobre esta patente ver: Patents for inventions. Abridgments of specifications relating to the manufacture of paper,
pasteboard and papier maché, Londres: Great Seal Patent Office, 1858, pp. 11-12; Thomas P. Jones, Journal of the Franklin
Institute of the State of Pennsylvania, vol XV, Philadelphia: The Franklin Institute, 1835, p.292.

83
de modo que le serviría de base para adecuarlo y optimizarlo a las características concretas de las
pajas y de los reactivos químicos por él utilizados, algo que sólo era posible conseguir por medio
de la experimentación. Partiendo, claro está, de la experiencia previa en la fabricación de pasta
papelera a partir de trapos.

En la segunda parte de la memoria descriptiva, Simón Joaquín de Arriaga describe “varios medios de
blanquear la paja”20, con el fin de obtener un papel de características similares al conseguido a partir
de la pasta de trapos blanqueados. La paja, tras ser preparada y sometida a la acción de una solución
alcalina de las propuestas con anterioridad, se trata con compuestos clorados para su blanqueo. Los
reactivos químicos que se pueden utilizar son: el ácido muriático oxigenado – cloro, que se utiliza
en disolución acuosa –, una solución de cloruro de cal – compuesta por cloruro de calcio [CaCl2],
hipoclorito de calcio [Ca(ClO)2] e hidróxido de calcio [Ca(OH)2] – y el cloro en forma gaseosa [Cl2(g)].

Arriaga hace hincapié en dos cuestiones: i) la importancia de la neutralización de los compuestos


clorados con un baño de ácido sulfúrico para que no queden entre las fibras de la paja y ii) la posibilidad
de reutilizar los reactivos químicos, factor económico no desdeñable teniendo en cuenta su alto precio.
En la línea de incluir en su privilegio el mayor número de procesos posibles, describe otro método de
blanqueo de la pasta de paja que incluye un tratamiento previo con una solución de azufre y cal para
producir un compuesto hidrosulfurado en medio alcalino.

La paja se cuece en esta disolución y, a continuación, se blanquea mediante su exposición “a la acción


21
de la atmósfera, es decir al ayre, agua y sol” ; y si esto no es suficiente, se puede recurrir al blanqueo
con compuestos clorados.

Esta última propuesta es una adaptación de la que Louis Lambert, papelero francés que también
trabajó en Inglaterra, recoge en su patente de 1824 para la manufactura de papel hecho de paja22.
Resulta particularmente interesante la explicación que el francés – y que Arriaga no incluye en su
descripción técnica – hace del objetivo de este tratamiento intermedio: la eliminación de los compuestos
mucilaginosos y de sílice presentes en la paja y que son tan perjudiciales en la fabricación del papel.
Con la cocción en agua de cal se prepara el material para ser desfibrado y se elimina parte de la
materia colorante de la paja, pero es necesario un tratamiento previo al blanqueo que elimine esas
impurezas de modo que el resultado final sea mejor.

20 Simón Joaquín de Arriaga, Método y medios perfeccionados de elaboración de papel y cartón de pura paja, y su
blanqueo, op. cit

21 Simón Joaquín de Arriaga, Método y medios perfeccionados de elaboración de papel y cartón de pura paja, y su blanqueo,
op. cit.

22 Sobre esta patente ver: Bon De Férussac, Bulletin des Sciences Technologiques, Cinquième Section du Bulletin Universel
des Sciences et de L’Industrie, Tome quatrième, París: 1825, pp. 295-296; Thomas P. Jones, The Franklin Journal and
American Mechanics’ Magazine devoted to the Mechanic Arts, Internal improvements, and General Science, Philadelphia:
Judah Dobson, 1826, pp. 92-93.

84
Así pues, Simón Joaquín de Arriaga decide incluir en su privilegio de introducción todas las variantes
de blanqueo propuestas en esa época. Hay que señalar que el desarrollo de los procesos de blanqueo
de las pastas papeleras comenzó a finales del siglo anterior, por lo que todavía estaban, en los años
30 del s. XIX, en plena evolución. Teniendo en cuenta el grado de desarrollo de la industria papelera en
España, el introducir la posibilidad de utilizar compuestos clorados era bastante novedoso y avanzado.
Es posible que aunque Arriaga plantee todas las alternativas, las condiciones técnicas reales de su
molino, así como las variables económicas, le hicieran decantarse por alguno de los métodos descritos,
quizás por el uso del agua de cloro, tal y como proponía Santiago Grimaud.

En Estados Unidos, donde el procesado de la paja para pasta de papel tuvo un importante desarrollo,
William Magaw en 1828 y Louis Bomeisleir en 1829 obtuvieron patentes para métodos similares a los
descritos23.

Varias son las características comunes que se pueden encontrar en los sistemas de procesado
propuestos en las patentes de las primeras décadas del s. XIX.

Desde las primeras patentes queda clara la necesidad de tratar químicamente la paja, con o sin
blanqueo dependiendo de la calidad a conseguir. Además, todos coinciden en la necesidad de usar
sustancias alcalinas para el procesado directo de las fibras vegetales. La capacidad de los álcalis
para separar las fibras y eliminar compuestos no deseados en la composición de las pastas, era bien
conocida por los papeleros. Aunque no tenían muy buena fama, se utilizaba la cal para acelerar
el proceso de fermentación de los trapos en el pudridero y las lejías de cenizas, ricas en hidróxido
de potasio, para blanquearlos. Además, los métodos de fabricación de papel en países orientales
como China o Japón, cada vez más conocidos en Europa y América, incluían procesos de cocción
24
de las sustancias vegetales en agua de cal, en soluciones de sosa cáustica o con cenizas . El reto
consistía en determinar mediante la experimentación qué reactivos químicos eran más adecuados
para la materia prima concreta con la que cada uno trabajaba, así como la forma de aplicarlos más
eficientemente. El tipo de sustancia alcalina, la proporción de los distintos materiales y el tiempo de
cada proceso dependen en gran medida de las características iniciales de las pajas empleadas y de
la pureza de los reactivos químicos. De ahí que los datos concretos no coincidan en las diferentes
patentes, ya que cada papelero los adaptó a sus necesidades concretas de trabajo.

23 Sobre estas patentes ver: Thomas P. Jones, Journal of the Franklin Institute of the State of Pennsylvania:
devoted to the Mechanics Arts, Manufactures, General Science and the recording of American and other patented inventions,
Vol I, Philadelphia: The Franklin Institute, 1828, pp. 416-417; Thomas P. Jones, Journal of the Franklin Institute of the State
of Pennsylvania: devoted to the Mechanics Arts, Manufactures, General Science and the recording of American and other
patented inventions, Vol IV, Philadelphia: The Franklin Institute 1829, pp. 414-416.

24 Por ejemplo, a finales del s. XVIII, La Lande ya describe estos procesos en su libro De las diferentes materias que podrían
servir para hacer de ellas papel en Arte de hacer el papel, según se practica en Francia y en Holanda, en la China y en el
Japón.

85
La calidad de la pasta es otra preocupación que aparece en las descripciones técnicas de los procesos.
A este respecto, la preparación inicial de la paja es importante. Rápidamente, los papeleros se dieron
cuenta de que los nudos de las pajas influían negativamente en la calidad de la pasta obtenida. Para
no disminuir el rendimiento, en las pastas no blanqueadas los nudos se deben triturar y machacar
convenientemente. Pero en el caso de querer obtener papeles finos a partir de pastas blanqueadas,
los nudos se han de eliminar, aunque haya una pérdida de rendimiento en el proceso. Asimismo, hacen
especial hincapié en los procesos de lavado realizados tras el lejiado y el blanqueo. Lavar la pasta
convenientemente es fundamental para eliminar las sustancias que se eliminan de la paja durante
los tratamientos y para eliminar los reactivos químicos aplicados. En ambos casos, su incorrecta
eliminación implica una pasta de menor calidad que dará problemas tanto a la hora de formar la hoja
de papel, como en su conservación a largo plazo. Aunque hay que señalar que los métodos propuestos
implican una importante aplicación de reactivos químicos de alta alcalinidad, lo que conlleva una
inevitable degradación de las fibras.

La escasa mecanización del proceso es otra de las características comunes. La tecnología existente en
los molinos papeleros de la época se puede adaptar al procesado de las nuevas fibras, especialmente
en el caso de pastas no blanqueadas. Pocas son las innovaciones en maquinaria. Arriaga, por ejemplo,
introduce algunas novedades: la preparación mecánica de la paja con la máquina cortadora y el uso de
calderas adecuadas para la aplicación de las lejías y agentes de blanqueo. El hecho de poder utilizar la
tecnología existente era un punto a favor del desarrollo de la producción de éste tipo de pasta de papel
como alternativa a la pasta de trapos, especialmente en la producción de papeles de baja calidad. Si ya
se disponía de un molino papelero, con una inversión moderada se podía diversificar la producción.

Esta fue la línea de trabajo seguida a lo largo de la primera mitad del s. XIX, periodo en el que se dieron
nuevas patentes relacionadas con la transformación de la paja en pasta de papel. Investigaciones que
se realizaron en paralelo al estudio de un rango más amplio de materias vegetales. Este es el caso, por
ejemplo, del trabajo de Luis de Villalba, quien obtuvo varios privilegios de invención relacionados con el
uso directo de diversas especies vegetales para la obtención de pasta de papel. En 1850 se le concedió
25
un privilegio para la obtención de pasta de papel a partir de la hoja del palmito y en 1853 consiguió la
Real Cédula que le confería el privilegio de invención sobre varios procedimientos “para reducir a pasta
y hacer papel, cartón, cartulina y demás del arte de la papelería, con el filamento de las pajas de arroz,
trigo, cevada, centeno y toda clase de plantas cualesquiera que sea su especie y género que tenga
26
filamento” . En el encabezamiento del informe técnico, Villalba señala dos aspectos importantes: su
objetivo es fabricar todo tipo de productos papeleros y para ello va a utilizar todas aquellas especies

25 O.E.P.M. Archivo. Fondo Histórico. Exp. PR-519. Privilegio de Invención a favor de Luis de Villalba para Un método para
fabricar papel, cartón, y cordelería a partir de la hoja del palmito, 22 de Octubre de 1850.

26 Luis de Villalba, Método de hacer pasta, papel, cartón, cartulina, etc. con el producto de los filamentos de las pajas de
arroz, trigo etc., Privilegio de Invención, 4 de Diciembre de 1853. O.E.P.M. Archivo. Fondo Histórico. Exp PR-1106.

86
vegetales que se puedan reducir a fibras. Aunque en realidad se va a centrar en la transformación de
los diferentes tipos de paja, de la corteza de la morera blanca y de las virutas y serrín de carpintero.
Su propuesta se decanta por la elaboración de pasta de paja fermentada con cal y sin blanquear. El
expediente incluye varias muestras del papel realizadas siguiendo su método, en su molino de la localidad
27
valenciana de Anna .

En concreto, los papeles conseguidos a partir de las pastas de paja son de calidad intermedia, de
marcado color amarillento – se trata de pastas sin blanquear –, con una superficie homogénea, con un
gramaje medio y con pequeñas impurezas de la pasta. Salvo por la degradación causada por hongos
y microorganismos en su parte inferior, su estado de conservación es bueno. En el expediente del
privilegio de invención queda constancia de que Luis de Villalba llevo a cabo la ejecución del mismo,
llegando a comercializar sus nuevos productos. También se recoge en dicho expediente la valoración
que de ellos él mismo hizo: son papeles con mayor fortaleza que los obtenidos a partir de pasta de
trapos y con precios inmensamente más bajos; además no cree aventurado asegurar que su consumo
28
para diversos usos será ventajoso .

3. SEGUNDA MITAD DEL S. XIX. CONSOLIDACIÓN DE LOS PROCESOS.

Las experiencias realizadas a lo largo de la primera mitad del s. XIX por la industria papelera occidental
en torno a la elaboración de pasta de papel directamente con materia vegetales, había dejado clara
la viabilidad de estos procesos. De entre la gran cantidad de vegetales con que se experimentó
inicialmente, los resultados obtenidos hicieron que la industria se fuera decantando por aquellos que
resultaban más rentables. Aunque la madera empezaba a postularse como la mejor opción, la paja de
cereales y arroz siguió siendo objeto de investigaciones y mejoras, ya que en ciertas zonas resultaba
una opción con interesantes ventajas económicas.

El procesado al que se somete la materia vegetal para transformarla en pasta condiciona en gran
medida, junto con la naturaleza de las fibras, la calidad del papel. Los avances en el campo de la
biología y de la química aplicada a las artes permitieron entender mejor las características, por una
parte, de los vegetales leñosos y por otra, de los reactivos químicos tradicionalmente utilizados en la
fabricación de papel. Estos nuevos conocimientos permitieron a la industria papelera afinar en el uso
de los reactivos químicos más adecuados para separar las fibras y eliminar compuestos nocivos de las
pastas papeleras, al tiempo que se reducía la degradación de las fibras.

La mecanización de los procesos fue otro de los puntos fundamentales a tener en cuenta. El desarrollo de
dispositivos autónomos que permitieran realizar los procesos químicos lo más rápida y eficientemente

27 O.E.P.M. Archivo. Fondo Histórico. Exp. PR-1106, op. cit.

28 Luis de Villalba, Método de hacer pasta, papel, cartón, cartulina, etc. con el producto de los filamentos de las pajas de
arroz, trigo etc., op. cit.

87
posible, fueron uno de los principales puntos de trabajo a lo largo de estos años. Además, las nuevas
máquinas debían lograr un menor consumo de energía y de reactivos químicos, permitiendo también
la reutilización de estos últimos. Todo ello buscando un equilibrio entre la reducción de costes y una
calidad mínima de las pastas obtenidas.

Hay que señalar que la investigación en torno al procesado de la paja tuvo un desarrollo paralelo a
la búsqueda de nuevos procesos para transformar la madera en pasta. Aunque gracias a la máquina
patentada por Friedrich Gottlob Keller en 1840, la madera se podía desfibrar para fabricar pasta apta
para la formación de papel, la calidad obtenida no era completamente satisfactoria. La mayoría de las
investigaciones se centraron en la mejora del procesado de la madera, pero no se descartó el uso de
otras materias vegetales y hubo un cierto impulso en la mejora de los procesos ya utilizados.

En este sentido y en relación con la pasta de paja, son especialmente interesantes las patentes del francés
M. A. C. Mellier. En 1852, junto a T. Coupier, obtuvo una patente en Inglaterra sobre ciertas mejoras en la
29
manufactura del papel , relacionadas con el uso de los reactivos químicos y con la maquinaria a utilizar
en la transformación en pasta de papel, fundamentalmente de la paja, pero también de otras materias
vegetales y de la corteza de ciertos árboles. Las aportaciones de Mellier se centran en dos aspectos.

En primer lugar, considera fundamental la determinación clara de las características químicas más
adecuadas de los reactivos químicos a utilizar. Decantándose por el uso de hidratos puros de sosa
o potasa para el lejiado de las fibras y de los hipocloritos, particularmente del hipoclorito de aluminio,
para el blanqueo, hace especial hincapié en la importancia de controlar su pureza y la concentración
a la que se utilizan. Mellier determina que la concentración adecuada de las soluciones alcalinas es
de 8-10 grados Baumé (ºBé), es decir, entre 58 y 76 gr/l a 15 ºC. Es destacable la introducción de un
lenguaje más técnico y del uso de una escala de medida normalizada para la concentración de los
30
reactivos: la escala Baumé . Esto es un avance importante en la búsqueda de la universalidad de la
aplicación de los procesos, dejando de lado las unidades de medida locales utilizadas con anterioridad.
31
Por ejemplo, Arriaga habla de pipas de agua, fanegas de cal viva o arrobas de paja .

En segundo lugar, se centra en el diseño de un dispositivo de lejiado que optimice la acción de las
soluciones alcalinas. La propuesta de Mellier consiste en establecer un circuito de circulación de los
reactivos químicos a través de la paja, de modo que el procesado sea homogéneo en todo el volumen
de material. Esta era una de las mayores preocupaciones a la hora de conseguir una pasta de calidad.
Hasta ahora, la mezcla de los álcalis con la paja se hacía de un modo manual y la mecanización de

29 The repertory of Patent Inventions, and other discoveries and improvements in arts, manufactures and agriculture, Vol XXI,
London: Alexander Macintosh, 1853, pp. 109-114.

30 La escala Baumé fue creada por el químico y farmacéutico francés Antoine Baumé en 1768 y se utiliza para la medida de
la concentración de ciertas soluciones.

31 O.E.P.M. Archivo. Fondo Histórico. Exp PR-14, op. cit.

88
este proceso fue una de las prioridades de las nuevas investigaciones. En el dispositivo de Mellier,
la paja se dispone en un recipiente con un doble fondo, con pequeñas perforaciones en el fondo que
está en contacto con la paja. En otro recipiente de hierro se introduce la solución alcalina; gracias a
la acción de vapor a alta presión, la lejía entra en ebullición y es impulsada a través de una tubería
hasta el recipiente de la paja. Una vez allí, se distribuye entre la materia vegetal y el líquido sobrante
que no ha reaccionado aún con la paja pasa al doble fondo del recipiente a través de los orificios. En
este fondo hay otra tubería por donde sale este líquido y que llega al recipiente de hierro. Desde aquí,
la solución alcalina es impulsada de nuevo al recipiente de la paja. El circuito se mantiene durante el
tiempo necesario para que el lejiado sea efectivo. Finalmente, la solución alcalina sobrante sale por
otra tubería que lleva a otro recipiente donde es recuperada para un nuevo uso.

El mismo dispositivo se utiliza para el posterior lavado de la paja, de modo que se hace circular agua
hasta que los restos de álcali no son significativos. La eliminación de los residuos alcalinos entre las
fibras y de las impurezas de la paja es fundamental para minimizar los procesos de degradación del
papel obtenido con estas pulpas.

Mellier también contempla la posibilidad de utilizar los residuos resinosos que quedan en el agua
de lavado como combustible para obtener vapor. Otro punto fundamental en la búsqueda de hacer
rentables estos procesos.

Investigaciones posteriores llevaron a Mellier a mejorar su propuesta, consiguiendo una nueva patente
32
en 1857 . En este caso, el lejiado de la paja se lleva a cabo dentro de un recipiente que rota sobre uno
de sus ejes. Su interior cuenta con una serie de tubos por los que se distribuye el vapor a alta presión,
entre 70 y 80 lb/cm2 (alrededor de 5 atm). Con este diseño, Mellier evita que el vapor de agua entre en
contacto con la solución alcalina, modificando su concentración.

Los trabajos realizados durante estos tres años llevaron a Mellier a cambiar los reactivos químicos
utilizados. Según sus investigaciones, en condiciones de alta presión y temperatura, es más eficaz el uso
de una solución de sosa cáustica pura (NaOH) de baja concentración – entre 2 y 3 ºBé, aproximadamente
13-20 gr/l a 15 ºC – para el reblandecimiento de las fibras y la eliminación de impurezas de las pajas.
También cambia el agente de blanqueo, decantándose finalmente por una solución de cloruro de cal
a baja concentración, neutralizada con una solución de ácido sulfúrico. El movimiento de rotación del
dispositivo de lejiado potencia la eficiencia del proceso al facilitar la distribución homogénea de los
reactivos a través del volumen de paja. Hay, pues, una clara optimización del método.

32 UNITED STATES PATENT OFFICE. Charles Mellier, of Paris, France. Making paper-pulp. Letters Patent No. 17.387,
dated May 26, 1857.

89
Fig. 1 Modelos de lejiadores patentados por Mellier.

El proceso de lejiado con sosa a presión fue fundamental para la industria papelera, ya que permitió el
desarrollo a gran escala de la obtención de pasta de papel por medios químicos. Mientras que Mellier
aplicó este método para el procesado de la paja, Charles Watt y Hugh Burgess lo utilizaron para el
procesado de la madera en la patente que obtuvieron en Inglaterra en 1854.

En España, la innovación tecnológica en torno a los procesos de elaboración de pasta de papel se


encontraba muy distante de todos estos adelantos, pero no faltaron iniciativas que reflejan los avances
que se estaban realizando en Europa. Entre 1860 y 1872 se concedieron cinco privilegios de invención
y uno de introducción relacionados con la transformación de la paja en pasta de papel (aparte de
33
otros relacionados con otros aspectos de la industria papelera) . De algunos no se conservan las
especificaciones técnicas y otros no aportan ninguna novedad significativa, pero son destacables los
obtenidos por José de Garaizabal y Juan de la Puerta en 1863 y por Edmundo Hunt en 1872. José
de Garaizabal instaló en 1842 una fábrica de papel de nueva planta en el Prado de la Magdalena de
34
Valladolid, con la maquinaria necesaria para elaborar papel continuo . Fue un acreditado papelero
de la época y sus productos consiguieron cierta consideración internacional. Por ejemplo, obtuvo una

33 Los privilegios de invención a los que se hace referencia son: O.E.P.M. Archivo. Fondo Histórico. Exp. PR- 2153; O.E.P.M.
Archivo. Fondo Histórico. Exp. PR-4338; O.E.P.M. Archivo. Fondo Histórico. Exp. PR-4348;
O.E.P.M. Archivo. Fondo Histórico. Exp. PR-4793.
La relación de privilegios de invención e introducción otorgados en España con relación a la fabricación de papel entre 1826
y 1878 se puede encontrar en J. Patricio Sáiz González y Mª Carmen Hidalgo Brinquis, El Archivo de Privilegios de Invención
de la Oficina Española de Patentes y Marcas y la industria papelera, op. cit.

34 Revisión del plan general de ordenación urbana de Valladolid. VIII.B Informe arqueológico. Anexo XIX, Valladolid:
Ayuntamiento de Valladolid, 2012, nº de ficha 138.

90
medalla de segunda clase en la Exposición Universal de París de 1855 por la calidad de los papeles
35
para escribir que allí presentó . Muy interesado en los avances que se estaban produciendo en torno
a la fabricación de papel en Europa, colaboró con Juan de la Puerta en el desarrollo de un método para
36
reducir a pasta papelera la paja de cereales .

El privilegio obtenido el 30 de Octubre de 1863 por estos papeleros vallisoletanos recoge los
“procedimientos empleados para reducir a pasta la paja de cereales, y el heno, con aplicación a la
37
elaboración de papel blanco y de colores, cartones y cartulinas” . En cuanto a los reactivos químicos
a utilizar, no introducen novedades. Los ensayos en su molino papelero les llevan a determinar el
procedimiento más eficaz, cuyos pasos quedan ya claramente definidos. En su descripción son
especialmente interesantes los apuntes referidos a los objetivos de algunos de los pasos propuestos:

1. Preparación de la paja, que primeramente se parte y de la que se separan los nudos para
obtener papel de calidad. Además se introduce en agua durante un tiempo aproximado de 12 h
para que se reblandezca.

2. Pretratamiento con lechada de cal recién formada en ebullición durante unas 2 horas.

3. Lejiado con una mezcla de sal de sosa y cal con una concentración de 8 ºBé.

4. Lavado con agua limpia para, por un lado, eliminar los restos de álcali que hayan podido quedar
en la paja y, por otro, extraer la mayor parte de la materia saponificada que queda entre las fibras.

5. Trituración y nuevo lavado para eliminar todos los restos de las lejías. Tras este paso se
consigue una pasta de fibras de pequeña longitud de la que se ha eliminado la parte leñosa de la
paja. De este modo la pasta ya está preparada para recibir el blanqueo.

6. Blanqueo con cloruro de cal neutralizado con ácido sulfúrico, con su consiguiente aclarado. Así se
obtiene una pasta como si fuera de trapo, con la que obtener hojas de papel en la máquina continua.

7. La descripción técnica del privilegio incluye una adaptación del lejiador propuesto por Mellier
en su primera patente. Introducen el recipiente de doble fondo y el uso de vapor a presión para

35 Catalogue Officiel Exposition des produits de l’industrie de toutes les nationes, París: E. Panis par ordre de la Commission
Impériale, 1855, p. 311.

36 No hay mucha información sobre Juan de la Puerta, salvo la que aparece en la documentación del privilegio de invención.
Vecino y propietario de Valladolid, consigue el privilegio junto a Garaizabal, aunque ya no aparece su nombre en el documento
que demuestra que el privilegio se puso en marcha un año después. A la sombra de la figura de Garaizabal, de la Puerta tuvo
que reivindicar su participación, como queda reflejado en el artículo escrito sobre el papel de paja de Garaizabal por Dionisio
Hidalgo en su Boletín Bibliográfico Español. Dionisio Hidalgo, Boletín Bibliográfico Español, Tomo V, Madrid: Imprenta de las
Escuelas Pías, 1864, p. 166.

37 José de Garaizabal y Juan de la Puerta, Fabricación de papel blanco, de colores, cartones y cartulina con paja de cereales
y el heno, Privilegio de Invención, 30 de octubre de 1863. O.E.P.M. Archivo. Fondo Histórico. Exp. PR-2772.

91
llevar a ebullición las soluciones alcalinas, pero su dispositivo es bastante más sencillo. La paja,
colocada en el cubo de doble fondo, se impregna de los reactivos químicos; éstos se llevan a
ebullición gracias al vapor que pasa por los orificios del doble fondo. Cuando el proceso concluye,
el líquido sobrante sale gracias a una llave colocada en el fondo del cubo. No incluye, por tanto, el
sistema de circulación de los reactivos químicos a través de la paja, lo que implica que no hay una
mejora en cuanto a la homogeneidad del proceso. Este dispositivo se usa para diversos procesos:
el pretratamiento con agua de cal, el lejiado y el lavado.

Así mismo, la documentación de este privilegio de invención contiene la comprobación de su puesta


en ejecución y unas interesantes muestras de papel elaborado con la pasta de paja procesada según
su propuesta. Las muestras incluyen pliegos de papel fino “blanco” y de color verde. Los papeles son
de buena calidad, con un color ligeramente amarillento a pesar de haber sido blanqueados, poco
encolados, con buen carteo y con un tacto ligeramente áspero. A simple vista, la distribución de las
fibras es homogénea y se pueden ver pequeñas impurezas distribuidas en la superficie de la hoja. En
el papel teñido, el color es homogéneo e intenso. Las muestras presentadas, cuya conservación es
bastante buena, dejan clara la intención de hacer pasta de calidad para papeles de calidad.

Tras la adaptación tecnológica de Garaizabal y de la Puerta, no será hasta 1872 que se conceda en
España otro privilegio de invención con aportaciones interesantes en el campo del procesado de la paja
para pasta de papel. Edmundo Hunt, papelero inglés representado en España por Telesforo Algarra,
desarrolló “un sistema de mejoras introducidas en la manufactura de la pasta de paja y demás materias
38
filamentosas” .Con el objetivo de conseguir una pasta perfeccionada, Hunt propone un modelo de
planta de procesado con un elevado grado de mecanización, que dispone de una serie de máquinas
adaptadas por él para la mejora del proceso. Su propuesta aparece explicada de forma detallada en
la memoria técnica incluida en la documentación del privilegio; memoria que incluye los planos de la
planta de procesado y de la maquinaria.

La fábrica de pasta descrita por Hunt cuenta con una zona en el piso superior dedicada a la preparación
de la paja, para lo que se utilizan los métodos usuales (manualmente y con máquina cortapaja). Por
otra parte, la solución de álcali cáustico que se va a utilizar se prepara a una concentración de 5 ºBé en
una cuba dispuesta al respecto. El lejiado se va a llevar a cabo en dos pasos. En primer lugar, la paja
se mezcla en frío con la solución alcalina dentro de un vaso esférico diseñado especialmente para este
proceso. En segundo lugar, la paja bien impregnada de la lejía se introduce en una caldera rotatoria,
donde se somete a una presión de 4 atm. Se trata, por tanto, del procesado propuesto por Mellier, con
algunas variaciones como el primer paso del lejiado.

38 Edmundo Hunt, Mejoras en la manufactura de la pasta de paja y demas materias filamentosas similares, Privilegio de
Invención, 14 de Mayo de 1872, O.E.P.M. Archivo. Fondo Histórico. Exp.PR-4948.

92
Las aportaciones de Edmundo Hunt se refieren a los diseños concretos de la maquinaria, que en teoría
aportan novedades y mejoras con respecto a los modelos propuestos por otros. Así, el vaso utilizado
en el primer paso del lejiado de la paja está dotado con un movimiento de rotación en torno a su eje
horizontal y cuenta con unas paletas en el interior que facilitan que la paja se remueva y se mezcle
correctamente con la solución alcalina. El movimiento del vaso debe ser intermitente y la duración del
proceso de unas 4 horas. De este modo, todo el volumen de paja queda saturado de reactivo químico.
Transcurrido ese tiempo, se vacía el álcali que no ha sido absorbido por la paja gracias a una bomba
de succión conectada a una tubería de salida.

Otra de sus propuestas es el diseño de la caldera rotatoria donde se van a realizar la cocción, las fases
de lavado y el blanqueo. Hunt diseña su interior de modo que todos esos procesos sean efectivos
cuando se llevan a cabo en el mismo recipiente. Por un lado, los reactivos químicos y el agua se
introducen en la caldera por medio de tuberías. Por otra parte, el vapor a presión se distribuye por
el interior de la caldera gracias a “un sistema de tubos perforados cuya disposición tiene por objeto
39
asegurar una acción uniforme y penetrante sobre toda la masa de paja” . Distribución ramificada con
una tubería central que también sirve para distribuir el agua de lavado.

Una vez blanqueada, la pasta se introduce en una pila donde se agita para evitar que las fibras
precipiten. Finalmente, la pasta se trabaja en un par de muelas con el fin de “reducir por rozamiento
40
todos los nudos o partes duras que se encuentran en la paja” . Así, sólo queda terminar el proceso de
refino del mismo modo que para la pasta de trapos.

Señalar que la pasta va pasando de unos dispositivos a otros a través de tuberías, con lo cual, se
aumenta la mecanización del proceso.

Así pues, a finales del s. XIX el procesado químico de la paja con sosa aplicada a alta presión en un
lejiador rotatorio, en combinación con un blanqueo con cloruro de cal, está bien definido y es aplicable
con una tecnología que lo hace eficaz y rentable. Aunque no pudo competir con la madera, que se
convirtió en la mejor alternativa gracias a los nuevos procesos químicos que permitían obtener una
pasta rentable económicamente con la que fabricar papel de mejor calidad.

39 Edmundo Hunt, Mejoras en la manufactura de la pasta de paja y demas materias filamentosas similares, op. cit

40 Edmundo Hunt, Mejoras en la manufactura de la pasta de paja y demas materias filamentosas similares, op. cit.

93
Fig. 2 y 3 Planos de Edmundo Hunt.
Oficina Española de Patentes y Marcas. Archivo. Fondo Histórico. Exp. PR-4948

94
4. CONCLUSIONES

En la búsqueda de nuevas materias primas para la fabricación de papel, la paja fue considerada una
alternativa idónea tanto por las ventajas económicas que ofrecía como por las características de sus
fibras.

Las investigaciones en torno a su procesado en pasta papelera no se realizaron de forma aislada, sino
que se desarrollaron paralelamente al estudio con otras muchas sustancias vegetales, entre ellas la
madera.

Desde sus inicios, las patentes dejan claro un objetivo: desarrollar procesos que permitan el uso
exclusivo de la paja para conseguir pasta de papel con la que elaborar todo tipo de materiales papeleros
(papeles blancos para escribir e imprimir, papeles coloreados, papeles sin blanquear de menor calidad,
cartones, etc.).

Dos fueron las líneas de trabajo: i) la determinación de los reactivos más adecuados y ii) el desarrollo
de nueva maquinaria. Las propuestas que se van desarrollando a lo largo del siglo dejan clara la
necesidad de optimizar los procesos tanto desde el punto de vista económico como de la calidad
de las pastas obtenidas. Por una parte, hay una paulatina reducción en el número de procesados
químicos a los que se someten las pastas, así como una disminución de las concentraciones de los
reactivos aplicados. Asimismo, se perfeccionan los métodos de reciclado de las lejías. Por otra parte,
la mecanización de los procesos cada vez es mayor y el diseño de las máquinas más eficiente.

La calidad de las pastas de paja se va mejorando con los nuevos métodos de procesado, haciendo
especial hincapié en: i) la importancia de la eliminación inicial de las impurezas; ii) la necesidad de
controlar la acción de los reactivos químicos sobre las fibras para que el tratamiento sea lo menos
agresivo posible y iii) la importancia de lavar bien las pastas para eliminar restos de reactivos y de
productos de degradación que se forman durante el procesado. A pesar de estas precauciones, el
hidróxido sódico deteriora la celulosa durante el procesado, por lo que la calidad de la pasta se ve
afectada.

Por su parte, los privilegios de invención e introducción otorgados en España durante el s. XIX
muestran que hubo cierto interés en introducir innovaciones en la industria papelera en nuestro país,
y en concreto en relación con el uso de nuevas materias primas como la paja. De los más de 5000
expedientes recogidos entre 1826 y 1878, alrededor de 100 están dedicados a la fabricación de
papel; de éstos, 55 se refieren al uso de diversas materias vegetales para elaborar pasta de papel y
9 en concreto al uso de la paja. En general, de las memorias descriptivas se puede concluir que las
propuestas están basadas en las investigaciones que se estaban haciendo en otros países, adaptadas
a las necesidades y medios de quien recibe el privilegio.

95
Finalmente, señalar que del estudio de las patentes y privilegios de invención no es posible sacar
conclusiones en relación con el impacto real que tuvieron estas propuestas en la industria papelera.
Para ello sería necesario hacer un estudio en relación con el tipo de producción real que se realizó,
así como con su grado de uso y comercialización en forma de papeles. Pero se puede apuntar que
la pasta de paja sin blanquear se utilizó fundamentalmente para la elaboración de papeles de estraza,
mientras que las pastas de paja blanqueadas se mezclaron con pasta de trapos para papeles de
impresión y escritura.

5. BIBLIOGRAFÍA

Archivo General de Simancas, Consejo Supremo de Hacienda, Legajo 318, núm 19.
Oficina Española de Patentes y Marcas (O.E.P.M.). Archivo. Fondo Histórico. Exp. PR-14.
O.E.P.M. Archivo. Fondo Histórico. Exp. PR-519.
O.E.P.M. Archivo. Fondo Histórico. Exp. PR-1106.
O.E.P.M. Archivo. Fondo Histórico. Exp. PR-2153.
O.E.P.M. Archivo. Fondo Histórico. Exp. PR-2772.
O.E.P.M. Archivo. Fondo Histórico. Exp. PR-4338.
O.E.P.M. Archivo. Fondo Histórico. Exp. PR-4348.
O.E.P.M. Archivo. Fondo Histórico. Exp. PR-4793.
O.E.P.M. Archivo. Fondo Histórico. Exp. PR-4948.
(1853): The repertory of Patent Inventions, and other discoveries and improvements in arts, manufactures
and agriculture, Vol XXI, London: Alexander Macintosh.
(1855): Catalogue Officiel Exposition des produits de l’industrie de toutes les nationes, París: E. Panis
par order de la Commission Impériale,
(1858): Patents for inventions. Abridgments of specifications relating to the manufacture of paper,
pasteboard and papier maché, Londres: Great Seal Patent Office.
BON DE FÉRUSSAC (1825): Bulletin des Sciences Technologiques, Cinquième Section du Bulletin
Universel des Sciences et de L’Industrie, Tome quatrième, París.
BOTREL, J. F. (1993): Libros, prensa y lectura en la España del s. XIX, Madrid: Fundación Germán
Sánchez Ruipérez.
CASTELLÓ MORA, JUAN (2005): Buñol y la búsqueda de nuevas materia primas en Actas del VI
Congreso Nacional del Papel en España, Buñol (Valencia).
ESCOLAR SOBRINO, H. (1996): Historia ilustrada del libro español. La edición moderna. Siglos XIX y
XX, Madrid: Fundación Germán Sánchez Ruipérez.
GARCÍA HORTAL, JOSE ANTONIO (2007): Fibras papeleras, Barcelona: Edicions UPC.
GONZÁLEZ BURGOS, F. (2001): Papel a mano, papel continuo: su elaboración a lo largo de la historia,

96
en Investigación y Técnica del Papel nº 147, Madrid: Graf. Espejo.
HIDALGO, DIONISIO (1864): Boletín Bibliográfico Español, Tomo V, Madrid: Imprenta de las Escuelas
Pías.
HIND, HENRY YOULE (1863): Journal of the Board of Arts and Manufactures for Upper Canada, Vol
III. Toronto: W. C. Chewett & Co.
JONES, THOMAS P. (1826): The Franklin Journal and American Mechanics’ Magazine devoted to the
Mechanic Arts, Internal improvements, and General Science, Philadelphia: Judah Dobson.
JONES, THOMAS P. (1828): Journal of the Franklin Institute of the State of Pennsylvania: devoted to
the Mechanics Arts, Manufactures, General Science and the recording of American and other patented
inventions, Vol I, Philadelphia: The Franklin Institute.
JONES, THOMAS P. (1829): Journal of the Franklin Institute of the State of Pennsylvania: devoted to
the Mechanics Arts, Manufactures, General Science and the recording of American and other patented
inventions, Vol IV, Philadelphia: The Franklin Institute.
JONES, THOMAS P. (1835): Journal of the Franklin Institute of the State of Pennsylvania, vol XV,
Philadelphia: The Franklin Institute.
LA LANDE, JOSEPH-JERÔME DE (1778): De las diferentes materias que podrían servir para hacer
de ellas papel en Arte de hacer el papel, según se practica en Francia y en Holanda, en la China y en
el Japón. De la Real Academia de la Ciencias de París. Traducida del francés por D. Miguel Gerónimo
Suárez y Núñez, Madrid: Pedro Marín.
MARTÍNEZ MARTÍN, J. A. (2001): Historia de la edición en España 1836-1936, Madrid: Marcial Pons
Ediciones de Historia.
SÁIZ GONZÁLEZ, J. PATRICIO (1995): Propiedad Industrial y Revolución Liberal, Madrid: Oficina
Española de Patentes y Marcas.
SÁIZ GONZÁLEZ, J. PATRICIO e HIDALGO BRINQUIS, Mª CARMEN (1996): El Archivo de Privilegios
de Invención de la Oficina Española de Patentes y Marcas y la industria papelera en Investigación y
Técnica del papel nº 127, Madrid: Graf. Espejo.

97
GRUPO 2
PAPEL PARA USOS ESPECIALES
LOS PRIMEROS CALENDARIOS DE BOLSILLO ESPAÑOLES Y SU VALOR COMO FUENTE
HISTÓRICA

The first Spanish pocket calendars and their value as historical source

Fátima Martínez Gómez


Universidad de Santiago de Compostela
fatimamgomez@gmail.com

RESUMEN

El denominado calendario de bolsillo es un artículo de papel de una sola hoja, que funciona por un lado
como registro gráfico de un calendario anual, y por otro, como soporte publicitario de las empresas que
lo regalan a sus clientes. Su uso fue común entre la población española durante la segunda mitad del
siglo XX y todavía hoy en día continúa su edición.

Los calendarios se han englobado comúnmente bajo la categoría de ephemera por ser impresos con
una vida limitada, y a pesar de ser una valiosa fuente primaria que refleja circunstancias de cada año,
existe un gran vacío en su investigación.

Este estudio constituye una aproximación a la historia de los primeros calendarios de bolsillo en
España, durante las décadas de 1950 y 1960. Destaca el caso de las Cajas de Ahorros Populares, por
la variedad y el gran alcance territorial de sus modelos, editados por la empresa de naipes Fournier.

PALABRAS CLAVE

calendario de bolsillo; almanaque; coleccionismo; ephemera; Fournier.

ABSTRACT

The so-called pocket calendar is a one single sheet article made of paper, which works on the one hand
as a graphic record of an annual calendar and on the other, as advertising support for the companies
who give them to their customers. Its use was common within the Spanish population during the second
half of the 20th century and its publication continues nowadays.

Calendars have usually been included under the category of epehemera due to the fact that they
are printed with a limited lifetime. Nevertheless, despite being a valuable primary source that reflects
circumstances of every year there is a large gap around its research.

101
This study constitutes an approximation to the history of the first pocket calendars in Spain, during the
decades of 1950 and 1960. Outstanding among them is the case of the Popular Saving Banks, due to
the big variety and territorial scope of their models, edited by the card company Fournier.

KEYWORDS

pocket; calendar; almanac; collecting; ephemera; Fournier.

Introducción

El calendario de bolsillo nació como material publicitario hace más de cincuenta años. Fue a partir de
la segunda mitad del siglo XX cuando este soporte se produce de forma estandarizada y es distribuido
por todo el país gracias a la multitud de entidades que lo usan para promocionarse. Por lo tanto, este
artículo es un testimonio de papel de una sociedad cambiante con respecto al consumo, y por lo tanto
también a circunstancias que engloban los ámbitos político, social, económico, artístico, etc.

Estos calendarios constituyen una fuente histórica más para el estudio de la Edad Contemporánea, ya
que son obras gráficas originales producidas para cada año específico y cuya información, abundante
y variada, no ha sido distorsionada.

A pesar de todo ello, el tema no ha llamado la atención de investigadores y a día de hoy no existe
ninguna publicación científica que trate estos impresos específicamente. Encontramos tan solo algunas
referencias en obras que recogen material publicitario en papel, así como contenidos creados dentro del
mundo del coleccionismo. Tampoco se conservan a penas registros históricos de calendarios editados.

Este artículo supone un primer acercamiento a la cuestión, con los objetivos de:

• Definir qué es el calendario de bolsillo y especificar sus características comunes.

• Estudiar las causas que propiciaron su surgimiento y su éxito como soporte publicitario en
España, entre las décadas de 1940 y 1960.

• Poner de manifiesto la información histórica que puede ser extraída de los anversos y reversos.

• Recopilar ejemplares e investigar el caso de los primeros modelos editados para las Cajas de
Ahorros Populares.

102
El calendario de bolsillo: características y problemática

El calendario de bolsillo tiene un tamaño en torno a 6 x 10 cm., que varía ligeramente dependiendo
del modelo. En función de las imágenes impresas, éste puede orientarse horizontal o verticalmente e
incluso en un mismo calendario se pueden encontrar composiciones en el anverso y en el reverso con
opuestas orientaciones.

El soporte de papel es variado; de cartulinas más simples a otras más elaboradas, entre las que
destacan las fabricadas por las compañías de naipes. Estos calendarios, de esquinas redondeadas
y unas medidas de 6,2 x 9,5 cm. (y que podemos denominar calendario formato naipe), tienen más
calidad, y al igual que en el caso de las cartas de juego, su papel reúne las características necesarias
para el buen manejo: opacidad, resistencia, flexibilidad y desplazamiento (ARROYO Y RODRÍGUEZ,
2007), que se logra con diferentes técnicas1.

Esta pieza de papel recoge por cada una de sus caras una información diferente, tanto en fines como
en formas. La que le da nombre, en su reverso, con el calendario mensual del año, y en el anverso,
la composición publicitaria creada para anunciar la empresa, o en el caso de los denominados
“calendarios de serie”, una imagen estándar. El denominado aquí “anverso” o cara principal, no tiene
que ser necesariamente la más vista, ya que depende del uso del artículo por parte de cada propietario.

Del reverso se puede obtener información relativa principalmente al periodo temporal que recoge2 y a
los usos que tanto empresas como particulares hicieron de él.

En algunos casos, las entidades aprovechaban el calendario para señalar determinadas fechas para
algún fin propio, que aunque no es lo común, tiene un gran valor histórico (ver imagen 1). Tampoco
debemos olvidar la información adicional que supone el hecho de que en algunos calendarios es común
que aparezcan mensajes escritos a mano o días rodeados (a modo de pequeña agenda), coetáneos
del “año de vida” del calendario, así como otras marcas de uso del objeto (dobleces, cortes, etc.).

1 Aunque con ligeras variaciones derivadas de las innovaciones técnicas de los años, el calendario formato-naipe se fabrica
hoy en día impreso en papel laminado estucado de 310 gramos, bañado en barniz acuoso de alta durabilidad (FOURNIER,
2016).

2 Muchos ejemplares incluían una pequeña regla, bien por uno de los lados o bien por ambos (los más largos). En el caso
de Fournier, parece que el primero en usar este sistema, sus regletas a ambos lados incluyen una doble escala de 8 cm y 3
pulgadas.

103
Imagen 1 Anverso y reverso de calendarios de bolsillo en los cuales las empresas anunciantes
emplearon el propio calendario para marcar información sobre fechas concretas. Los sorteos de la
Lotería Nacional (1967) (izquierda) y los servicios de urgencia de la Farmacia Ldo.
Diez de Gainza (1969) (derecha). Fuente: colección privada.

En el caso de los calendarios de serie, en la parte inferior del reverso, la empresa anunciante coloca sus
datos (normalmente el nombre del negocio y la dirección, aunque puede incluir otra información) (ver
imagen 2). Pero en este tipo de calendario no suele haber relación entre lo anunciado y lo representado
en el anverso, que puede ser una escena erótica, un paisaje, un famoso, un santo, etc... (imágenes
elegidas de un catálogo) y los mismos motivos pueden ser usados por diferentes negocios.

Sin embargo, en los calendarios designados como “publicitarios”3 o “comerciales”, la empresa


anunciante hace uso de un diseño propio y original para promocionarse, ocupando toda una cara del
soporte. Éste tipo parece que fue el primero en aparecer.

3 Este término es usado dentro del coleccionismo de los calendarios, pero debe de tenerse en cuenta que ambos tipos
de calendarios (también los de serie), son un artículo publicitario en sí mismo. Se englobarían dentro de la denominada
“publicidad directa”, conjunto de técnicas y medios empleados para entrar individual y directamente, sin intermediarios, en
contacto con el consumidor potencial a fin de venderle un producto o servicio.

104
Imagen 2 Anverso y reverso de un calendario de bolsillo “publicitario” (izquierda) y uno “de serie”
(derecha), ambos del año 1963. Fuente: www.todocoleccion.net [consultado a 5/3/2017].

El calendario de bolsillo se reparte en la mayor parte de los casos antes de que comience el año para el
que es creado (normalmente en noviembre o diciembre del año anterior) y está pensado para tener una
vida limitada de doce meses. Normalmente acompaña a su propietario en el día a día y es descartado
una vez pasa el año en cuestión.

Sin embargo, y por suerte, no todos fueron tirados al final de su “tiempo útil”, ya que se han conservado
hasta hoy multitud de ejemplares desde finales de los años cuarenta. Ya fuera por casualidad o por
coleccionismo, sobrevivieron a su destino.

Esto nos plantea un primer problema a la hora de intentar encuadrar este tipo de documento. Puesto
que están pensados para tener una vida limitada, circular en un ámbito territorial circunscrito y no son
producidos para su venta, han sido muy poco (o nada) tenidos en cuenta en la investigación histórica,
al igual que otros documentos de similares características que forman parte de nuestro patrimonio
documental. Hoy en día, parece que hay unanimidad a la hora de agrupar bajo un mismo término a
aquel grupo de publicaciones impresas que aparecen con motivo de una circunstancia y que tienen
una breve duración: ephemera4.

Es a partir de los años sesenta del siglo XX cuando estudiosos del mundo anglosajón comienzan a
referirse con el término ephemera a una serie de obras impresas sobre papel. La función principal
de este término era recalcar el carácter efímero de un tipo de publicaciones, que tantas veces pasan
desapercibidas una vez superada su caducidad y que sin embargo comenzaron a suscitar un interés
que hizo surgir en 1975 la Ephemera Society of London por Maurice Rickards, que influyó en la
creación de otras sociedades de este tipo en otros países europeos.

4 La palabra Ephemera es de origen griego (ephémeros), y procede de un plural neutro en latín. Su primer uso fue aplicado
a lo que dura solo un día en biología.

105
Este tipo de publicaciones se englobarían dentro del material que conlleva “un mensaje verbal o gráfico
y es producido por procesos de impresión o gráficos, pero no con el formato estándar de un libro, un
folleto o una publicación periódica” (MACKPEACE, 1985), con las siguientes características:
• Se trata de un documento pasajero producido para un fin específico y no dirigido a sobrevivir a la
momentaneidad de su mensaje o del evento con el que aparece relacionado. Consecuentemente,
la mayoría de los ítems tienen una vida útil limitada (que variará de acuerdo con la finalidad para
la que hayan sido producidos).
• Su adquisición, almacenamiento, clasificación y catalogación pueden no estar entre los
métodos de tratamiento convencionalmente aceptados dentro de las bibliotecas y archivos y por
tanto pueden requerir una consideración especial.
• Su disponibilidad dependerá de dónde fueron producidos, por quién, con qué finalidad y dónde
están disponibles.
• Pueden ser una fuente material primaria o secundaria.
• Son considerados como algo “baladí” o “insustancial”.

Bajo este término y en los últimos años, varias instituciones han sido pioneras en nuestro país en
organizar sus colecciones de ephemera, considerándolas una fuente para el estudio de la historia, viendo
necesario localizarlas, conservarlas, catalogarlas y ponerlas a disposición de usuarios e investigadores.

Un ejemplo es el catálogo que la Biblioteca Nacional realizó con su colección de 1850 a 1950, porque
“es a partir de mediados del siglo XIX cuando se generaliza la aparición de la mayoría de estas
representaciones gráficas y cuando se desarrollan las técnicas que predominan en la realización de
las mismas: litografía, cromolitografía, fotografía y los diversos sistemas fotomecánicos derivados de
su aparición (…)”. Entre estos artículos, la BNE cuenta con colecciones de cromos, cajas de cerillas,
felicitaciones, orlas, etiquetas, tarjetas comerciales, felicitaciones, menús, listas de precios, itinerarios,
etiquetas de hotel y un largo etcétera, sin olvidar los calendarios de bolsillo. Sus muestras más
representativas se recogen en su libro Ephemera, vida sobre papel (RAMOS, 2003)5.

Hay varios ejemplos a nivel nacional6 así como casos de museos y bibliotecas locales que por todo
el país han llevado a cabo diferentes iniciativas en estos últimos años con el objetivo de poner de

5 El Museo Virtual del Arte Publicitario (MUVAP) del Centro Virtual Cervantes, nacido para fomentar el conocimiento del arte
en la publicidad, creó una exposición virtual titulada “La vida sobre papel. Colección de la Biblioteca Nacional”, en la que
se pueden consultar parte de esos material clasificados por tipo en http://cvc.cervantes.es/artes/muvap/sala4b/default.htm
[consultado a 1/3/2017].

6 Otro ejemplo a nivel nacional de recopilación de este tipo de materiales lo supone la Biblioteca Ferroviaria, con una colección
especializada en transportes y sobretodo en la documentación e información relativa al mundo del ferrocarril. Definen su
colección de ephemera ferroviarias como “publicaciones de una sola hoja, con predominio del elemento gráfico y visual, de
pequeño tamaño y creados para un evento o una ocasión muy concreta, como billetes de tren, pegatinas, marcapáginas,
calendarios o felicitaciones navideñas” (CABANES, 2009). Su catálogo está disponible online en la página web http://www.
docutren.com [consultado a 1/3/17]..

106
manifiesto el valor de este tipo de colecciones7. Varias han hecho sus propias clasificaciones, ya que
no parece existir un proceso técnico estándar de clasificación de este tipo de materiales.

Además del término ephemera, que parece el más extendido a la hora de hacer recopilaciones de
estas publicaciones, incluyendo los calendarios de bolsillo, varios autores se plantean una distinción
entre éstos y los denominados “documentos menores” (MAKEPEACE, 1985; SARDELI, 1993; RAMOS,
2003; FUENTES, 2003).

Alessandro Sardeli (SARDELI, 1993) diferencia entre las publicaciones impresas “que tienen una breve
duración y que aparecen con ocasión de un evento o de una circunstancia” (los llamados propiamente
ephemera) y las que tienen las mismas características pero que presentan un valor informativo de
mayor duración y que no son esencialmente producidas en función de un evento.

Según la definición que Makepeace presentó en ADCEMP (Advisory Committee on Ephemera and
Minor Publications), las publicaciones menores son materiales “tales como libros, folletos, periódicos,
hojas sueltas u otros formatos multipáginas producidos mediante impresión, duplicación o procesos
gráficos, siendo a veces una publicación aislada, una publicación ocasional, una publicación periódica,
producidos por vías no comerciales (ya sea mediante distribución gratuita o mediante un coste que
cubre solo gastos de entrega) y que se producen solo para la distribución a miembros de una sociedad
u organismo particular, con o sin algunos ejemplares sobrantes para uso accidental o dentro de área
local limitada, o como publicidad de un lugar específico, de un negocio, de una organización o de una
causa, o como acompañamiento de un evento u ocasión específica”.

Por lo tanto, podría englobarse el calendario de bolsillo tanto bajo un término como otro, pues su “valor
informativo” es largo (un año) y normalmente no están producidos en función de un evento concreto,
lo que los asemejaría más a documentos menores. Pero por otro lado, tampoco están pensados para
sobrevivir una vez pasado su mensaje (los doce meses) y además desde el momento en que portan
publicidad están acotados a un tiempo de vida limitado8. Quizás ha pesado más esta característica a la
hora de que mayoritariamente se hayan englobado bajo ephemera, lo que implicaría que se le ha dado
más valor al mensaje publicitario del calendario y no al de “agenda” anual.

7 Hay que tener en cuenta que no siempre son recopilados bajo el término ephemera. Por ejemplo, la obra que recoge el
resultado de una exposición realizada en la Biblioteca Municipal Torrente Ballester de Salamanca en 2002 y que fue titulada
“Cien años de nostalgia y de papel”, los denomina “antiguos materiales publicitarios”.

8 Tal y como el MUVAP define la publicidad: esta es “un tipo de manifestación estética que podemos definir como arte de usar
y tirar porque la Publicidad sirve para anunciar un producto, un servicio o una idea, durante un tiempo determinado”. Por lo
tanto, la publicidad que se escoge a la hora de incluir en un calendario tiene que adaptarse a la duración predeterminada de
la supuesta vida temporal del calendario. Lo más común era que cada año las empresas variaran sus motivos, adaptándose
a diferentes circunstancias, si bien algunas de ellas repitieron exactamente su motivo publicitario a lo largo de varios años
(depende mucho de si lo que anuncian es la propia entidad o algún producto concreto).

107
Es difícil saber qué modelos de calendarios o el número de tiradas que fueron editados cada año por la
falta de registros (tanto de las empresas editoriales como de las que los encargaban), ya que además
de las grandes instituciones (que si bien sería más probable, no conservan documentación relativa a
este tema), el pequeño comercio, mucho ya inexistente, también editó sus propios calendarios y estos
se habrían quedado en un círculo muy reducido. Tampoco es fácil llegar a saber si las empresas a nivel
nacional con sucursales o comercios de distribución habrían hecho llegar a todos ellos el calendario.

Cada año siguen “apareciendo” nuevos calendarios antiguos, quizás ejemplares de los que hubiera
habido mayor tirada en la época o por qué no, que estéticamente hubiera gustado a más personas,
evitando tirarlos. La mayor parte de los conservados hasta nuestros días se encuentran en manos
de coleccionistas privados9. Aunque también algunos ejemplares están guardados por Instituciones
Públicas (archivos, bibliotecas y museos).

En todo caso, el acceso a estos artículos es limitado, si bien muchos coleccionistas muestran sus
colecciones a través de internet10. Además, como ocurre con todos los artículos de este tipo, los
calendarios se pueden encontrar en mercadillos, ferias, tiendas de antigüedades o páginas web, tanto
para su compra-venta11 como, en menor medida, para su intercambio.

Cabe destacar el esfuerzo que han hecho varios coleccionistas españoles para autoeditar un catálogo
de calendarios de bolsillo, pensado “para que existiera un soporte visual para manejar las colecciones”
(PÉREZ, 2015). Este catálogo recoge la imagen de los calendarios localizados entre 1949 y 2014
hechos por la empresa Fournier (una de las principales editoras de calendarios en las décadas de
estudio) y está abierto a nuevas ampliaciones12. Esta obra es hasta el momento la única específica
para el estudio de este tema.

También pueden ser de utilidad estudios realizados sobre otros ephemeras, que comparten parte de la
problemática con la asociada al calendario de bolsillo.

9 Se denomina calendofilia al coleccionismo de calendarios de bolsillo.

10 Destacan los casos de los siguientes blogs, que además cuentan con pequeños artículos de sus autores: el de Juan
Antonio Vila coleccionocalendarios.blogspot.com.es y el de http://www.wichitta-fournier.blogspot.com.es/ de Javier Amor
[consultados a 15/3/2017].

11 No existen precios oficiales de calendarios, sin embargo, para la venta se estiman unos precios de mercado (en ocasiones
bastante aleatorios) en función de la editorial, antigüedad o marca anunciada. Entre coleccionistas en muy habitual el
intercambio.

12 El autor, Pablo Pérez Becares, es de Vitoria y él mismo vende los ejemplares del catálogo que ha autoeditado. No dispone
de ISBN.

108
Destaca el caso del cartel13, tema del que existe mucha bibliografía asociada (MELENDRERAS, 1985;
PENA y ARRIBAS, 2011; PÉREZ, 2001; VELASCO, 2000), así como recopilatorios con colecciones
de imágenes. Su amplia variedad ha dado lugar a muchas clasificaciones atendiendo sobre todo a
la temática de lo anunciado y se ha puesto de manifiesto su valor como fuente histórica. “En ellos
se encuentra no solo el reflejo del gusto y del sentido estético de su época, sino también el de las
costumbres, los hábitos, el lenguaje, los valores y las creencias, las modas, los deseos y las aspiraciones
de los hombres y mujeres que constituyeron su público” (EGUIZÁBAL, 2014).

Es interesante apuntar que varios anunciantes usarán en los años 50 y 60 tanto el cartel como el
calendario de bolsillo como soportes publicitarios, algunos incluso usando la misma imagen para
ambos artículos. Mientras que en la década de los sesenta la edición de calendarios estaba en auge,
se considera el comienzo del declive del cartel, que tanta importancia y protagonismo había tenido
hasta ese momento (CHECA, 2007).

Otro ejemplo de estudios de estos materiales en papel son los hechos para las tarjetas postales, de los
que existen desde simples recopilatorios hasta artículos específicos. Destaca el caso de la propuesta
de un sistema documental en el cual para el análisis formal o externo de la postal fue desarrollada un
ficha descriptiva14 (LÓPEZ, 2011).

La trayectoria en el estudio científico de carteles o postales es solo un ejemplo de cómo diferentes


documentos en papel creados para tener una vida limitada, han sido usados para la investigación de
nuestra historia reciente.

13 Surgió antes que el calendario de bolsillo y varios estudios lo diferencian del resto de los soportes de información
por su sentido de comunicación instantánea y activa. “Reflejan los avatares históricos de la sociedad, sus costumbres y
comportamientos, y lo hace con mayor rapidez y capacidad de impacto que otros medios como podrían ser los diarios,
propiciando así un recuerdo más prolongado” (PÉREZ, 2001).
La importancia objetiva del cartel como forma objeto de estudio es susceptible de ser resumida en los siguientes argumentos:
su interés como forma de expresión artística (mensaje publicitario con mucha persistencia, fruto de un trabajo individual),
su significación como medio de comunicación (de su esplendor en el siglo XIX hasta los años 60 y papel como medio de
comunicación propagandístico y educativo en regímenes) y su importancia como documento histórico y antropológico. Es su
propio afianzamiento en la cultura que los genera, lo que hace de los documentos publicitarios un inestimable instrumento de
estudio del contexto en el que sido producidos y consumidos.

14 Esta ficha está compuesta de 14 campos y que cito aquí por ser extrapolables a otros documentos en papel como el
calendario: título (dado por el editor o impresor a la tarjeta postal aunque a veces carecen de él y se le da uno ficticio), edición
(lugar y fecha de edición, y también datos del editor, impresor y fotógrafo), descripción física (tipo de papel, dimensiones,
color), descripción anverso (breve descripción de la fotografía del anverso), descripción reverso, serie (nombre que algunos
editores dan a un conjunto de tarjetas con una temática similar o de un ámbito geográfico determinado), características
(apariencia física de la postal), ubicación física, colección, repositorio web (una vez figuren en un servidor de almacenamiento),
resumen (temática de la tarjeta, no incluida en otros campos), descriptores (términos pertenecientes a un lenguaje controlado
previamente definido en un tesauro), sellos e información del matasellos y textos en el reverso.

109
Los orígenes del calendario de bolsillo en España

Soportes en papel que llevasen calendarios impresos gráficamente existen desde hace siglos en
diferentes formatos. No es objeto de este artículo abordar cómo surgen estas primeras manifestaciones
y su evolución, si no aproximarnos a los casos cercanos que pueden haber derivado en la creación del
calendario de bolsillo.

Un antecedente en papel son los almanaques populares del siglo XIX15, que sí cuentan con alguna
bibliografía (BOTREL, 2006; MÍNGUEZ, 2004). También eran editados con periodicidad anual y en su
número variable de páginas aportaban diversos datos prácticos, relativos a la meteorología, astrología,
santoral y otros temas que pudieran considerarse de interés.

Además nacerá el calendario general o civil16. Eran normalmente anónimos, dirigidos a un público muy
amplio entre el que destacaría el campesinado (pues son frecuentes las referencias a las labores de
campo). Se compraban en imprentas, librerías y venta ambulante (MÍNGUEZ, 2004).

Es también en el siglo XIX (segunda mitad) cuando aparecen, casi como excepción, los primeros
calendarios o almanaques “de bolsillo” conocidos. Estos primeros calendarios, de pequeño tamaño
aunque con formas (e incluso materiales) diferentes, tenían en su mayoría publicidad de productos
farmacéuticos y eran “un obsequio del fabricante o comerciante a sus clientes o “favorecedores” por
su fidelidad y al mismo tiempo, se convertían en un vehículo publicitario de sus productos y comercios”
(RAMOS, 2003)17 (ver imagen 3).

15 Solían identificarse por su título (al que podía aparecer asociado un autor que se presentaba ante su público como
“licenciado” o “científico”) ser extensos en su formulación, con toda clase de precisiones científicas de corte más o menos
publicitario. Algunos todavía se siguen publicando hoy en día (los más difundidos son los llamados zaragozanos) y por su
extraordinaria presencia, vigencia (desde los principio de la imprenta hasta hoy) y asequibilidad, Botrel los considera como
un “excelente indicador de la evolución del compartir social de lo escrito al ser tal vez el impreso más compartido, el único
impreso presente en casi todos los hogares”. Tenían pocas páginas (de 16 a 48) casi siempre sin numerar. El ámbito de
difusión lo define a menudo el subtítulo, el idioma, las informaciones sobre ferias y mercados, la presencia o no de indicadores
de mareas o de horarios de ferrocarriles, etc. La interpretación de los distintos símbolos y abreviaturas habría de ayudar para
el problema de la poca alfabetización de la época (BOTREL, 2006).

16 Existían privilegios exclusivos para elaborarlo y venderlo que el Estado, dependiendo del año, daba a uno u otro observatorio
hasta que en 1855 (bienio progresista) una ley declara libres la confección e impresión de calendarios aún teniendo que
basarse en las observaciones astronómicas del Observatorio nacional y sujeto a derecho de impresión.

17 En el catálogo online del MUVAP hay una sección (sala IV) dedicada a la colección de Ephemera de la BNE, “La vida sobre
papel.Colección de la Biblioteca Nacional” , disponible en http://cvc.cervantes.es/artes/muvap/sala4b/default.htm [Consultado
a 10/2/2017].

110
Imagen 3 Modelos de calendarios de pequeño formato del siglo XIX, de las marcas Mentholina
(1892) de 103x65 mm (izquierda), Chocolate Amatler (1899) de 80x57mm (centro) y fábrica de
relojes Carlos Copel (1890-1900) de 118x84mm (derecha). Fuente: colección de Ephemera de la
BNE, disponible en http://cvc.cervantes.es/artes/muvap/sala4b/default.htm [consultado a 10/3/2017].

Son todos ellos antecedentes del calendario de bolsillo estándar que se comienza a fabricar a mediados
del siglo XX. Pero todavía no respondían a un mismo formato, no estaban pensados para llevar en la
cartera ni se imprimían de forma “masiva” para todos los clientes. Tendrían posiblemente un mayor
valor aún siendo artículo de regalo y también una peor conservación18. Se encontraron algunos de
estos calendarios también de marcas extranjeras pero impresos para su distribución en España, lo que
lleva a plantearse que es posible que hubiera habido influencia de otros países a la hora de comenzar
la propia edición de este artículo en España.

Parece que es en la década de 1940 en la que se asiste al nacimiento del calendario de bolsillo tal y
como lo conocemos hoy en día, y es Fournier la primera editorial que los imprime con un formato tipo
naipe de forma estandarizada y para varias empresas19.

Es un contexto en el que eclosiona el uso por parte de grandes empresas de nuevos soportes para distribuir
su publicidad y al mismo tiempo actuar como pequeños regalos útiles a sus clientes, de modo que mediante
el uso de estos objetos en los hogares, las marcas se hacían un hueco, en una época en que no había
tanta variedad de oferta (lo que recalcaría precisamente el afianzamiento de las compañías “de confianza”).

18 En ocasiones, en la web www.todocoleccion.net pueden encontrarse a la venta, calendarios del finales del siglo XIX,
aunque no siempre españoles

19 Hay que ser prudente en estas afirmaciones, ya que sí existen otros calendarios de bolsillo en la misma década. Aunque
todavía sin un mismo formato, y que seguramente no habrían estado impresos por una compañía dedicada a ello, si no
que seguramente habría sido iniciativa de la propia empresa anunciante. A veces se encuentran algunos modelos en www.
todocoleccion.net .

111
En ocasiones, fueron las mismas empresas las que hicieron uso de varios tipos de soporte para su
publicidad, como el caso de los bancos, cajas de ahorro o farmacéuticas. Otros de los grandes sectores
anunciantes de los cincuenta y sesenta (al margen de los saludos y demás rituales del poder), fueron
los productos de higiene y belleza, el textil, las bebidas alcohólicas, la alimentación, los productos para
el hogar o los grandes almacenes.

Cabe destacar el caso del naipe, por su vínculo con los primeros calendarios, que constituía ya desde
los años cuarenta un obsequio20 frecuentado por empresas con gran volumen de negocio en sectores
como los seguros, aparatos para el hogar, vinos, licores, etc. Como soporte publicitario, se limitaba a
llevar impreso el nombre de la empresa o la marca del producto estrella, acompañada en ocasiones
de una sencilla ilustración preparada por los propios editores según las indicaciones del cliente. En
cualquier caso, las ediciones eran muy cuidadas, con impresión en cuatricromía sobre cartulinas
especiales de papel satinado, a las que se les podía añadir un quinto color configurando adornos
especiales. Era un soporte insistente y barato (PÉREZ, 2001).

Los primeros calendarios españoles reconocidos hasta el momento, de formato naipe, datan
precisamente de finales de los años cuarenta y fueron editados por la empresa Fournier. Debe de
tenerse en cuenta que puede que la fabricación hubiera comenzada ya antes y todavía no se hayan
localizado esos calendarios.

La compañía Naipes Heraclio Fournier S.A. nace en la segunda mitad del siglo XIX, cuando Heraclio
Fournier (hijo de una familia francesa de litógrafos que se había mudado a Burgos ya en 1780) se
estableció en Vitoria en 1866 y fundó un pequeño taller de naipes. Invirtió en nuevas técnicas de
impresión y material y su negoció prosperó (RENUNCIO, 2009). Fue su nieto, Féliz Alfaro, el que
continuó con el negocio tras la muerte de su abuelo en 191621, con un crecimiento que les hizo ocupar
unas nuevas grandes instalaciones en 1948. Este momento es clave, ya que parece que con las nuevas
instalaciones la empresa también decidió diversificar su producción con la impresión de los primeros
calendarios de bolsillo. La nueva fábrica22 se puede ver en la imagen de los primeros calendarios de
bolsillo que la propia empresa imprime para publicitarse a partir de 1952 (ver imagen 4). Junto con el

20 Otro ejemplo que también se hizo popular en los cincuenta fueron las agendas, tanto de bolsillo como de mesa. Recurrían
a ellas las entidades bancarias y laboratorios farmacéuticos, que las obsequiaban a los principales clientes. En atención a
ellos se incluían en las primeras páginas algunos datos de interés referentes a seguros, calendario laboral y del contribuyente,
direcciones útiles, etc. Como medio publicitario, además de la propia presencia en sí, llevaban en la cubierta una leve
estampación del nombre de la empresa que la obsequiaba y también algunas notas alusivas a los productos o servicios en
las páginas interiores.

21 Se puede leer una breve historia en la página web de la empresa: http://www.nhfournier.es/es/empresa/nuestra-historia


[consultado a 1/3/2017].

22 La fábrica de tres pisos estaba situada en el barrio de San Cristóbal (usada hasta 1993 hasta que se mudaron a unas
nuevas instalaciones) y fue demolida en 1994. Se pueden ver imágenes en: http://www.vitoria-gasteiz.eus/blog/2015/11/
demolicion-de-la-fabrica-de-naipes/ y más información sobre la fábrica en http://www.hiru.eus/arte/patrimonio-industrial/-/
journal_content/56/10137/4632818 [consultado a 1/3/2017].

112
edificio, el calendario incluye información que hace referencia a la calidad de su naipe y a la técnica
empleada. Desde este año y hasta la actualidad, la marca Fournier continua editando sus propios
modelos de calendarios23.

Imagen 4. Anverso de calendarios publicitarios de la marca Fournier. A la izquierda, de 1952, con


la fachada de la fábrica de Vitoria a la que la empresa se mudó en 1949 y a la derecha, ambos de
2016, los famosos modelos del As de Oros tradicional (centro) y As de Oros catalán (derecha). El
primer modelo de calendario localizado con el As de Oros tradicional es de 1960 y con el de As de
Oros catalán de 1962. Fuente: colección privada.

Cabe citar que Braulio Fournier, hermano mayor de Heraclio, continuó con la fabricación de naipes
en Burgos durante mucho tiempo (empresa parece que en funcionamiento hasta 197824), y se han
encontrado calendarios editados con el nombre de su hija (HIJA DE BRAULIO FOURNIER), a partir de
1955 y hasta 1974, con varios modelos anunciando su empresa y productos.

Otra compañía de naipes que también realizó calendarios de bolsillo, muy similares en formato a los
de Fournier, fue Naipes Comas. El comienzo de esta empresa se remonta a finales del siglo XVIII y
es a partir de la década de los sesenta cuando editó sus propios calendarios de bolsillo, tanto series
propias como para otras empresas.

Los calendarios de bolsillo hasta 1969: empresas anunciantes y publicidad

Las compañías de naipes usaron por lo tanto el calendario de bolsillo para publicitar sus propios
productos a la vez que fueron pioneras en ofrecer este soporte publicitario como opción útil para otras
empresas.

23 Con los años llegará a imprimir varios calendarios diferentes el mismo año (por ejemplo, de 1968 se localizaron hasta 12
modelos diferentes, muchos anunciando sus propios juegos de cartas). Destaca el caso de sus calendarios modelos As de
Oros y el As de Oros Catalán (imágenes como los de la baraja española), que son (muy posiblemente) los únicos modelos de
calendario de bolsillo que se siguen produciendo de forma idéntica hasta nuestros días (ver imagen 4).

24 http://www.antoniovalero.com/index.php/la-baraja/maestros-naiperos/63-heraclio-fournier [consultado a 1/3/2017].

113
Antes de 1950 y con formato naipe, solo se han localizado hasta el momento tres modelos, dos de
ellos hechos para la marca Bantu, uno del año de 194525 y otro 1949. En ambos aparece el nombre de
la marca y la frase “productos alimenticios”, si bien el diseño es completamente diferente. El de 1949
aporta más información; la imagen es de un cocinero mostrando el producto, en este caso, según se
puede leer, tapioca. Es un modelo que la empresa repite en años posteriores. No es raro que uno de
los primeros calendarios que edita Fournier sea de una empresa con sede en Vitoria también, que es
Productos Bantu S.L., ya inexistente. De hecho, en la década de los cincuenta nos encontramos con
varios calendarios de empresas ubicadas en esta ciudad (ver imagen 5).

Imagen 5 Anverso de los primeros calendarios españoles conocidos de formato naipe, editados
por la empresa Fournier para la marca Bantu, también de Vitoria. Años de 1945 (izquierda) y 1949
(derecha). Fuente: todocoleccion.net [se da por hecho su autenticidad. Consultado a 10/11/2016].

El otro calendario que se conoce de 1949 corresponde a la empresa SEDEFAL26, Sociedad Española
de Explotaciones Forestales y Agrícolas, ya inexistente, que tenía domicilio fiscal en Madrid y con
aserraderos, tal y como el propio calendario indica, en Andalucía y Galicia.

A partir del 1950 se conocen ya varios calendarios diferentes, ampliándose la variedad cada año. Solían
tener dibujos hechos para publicitar la marca, normalmente combinados con alguna frase (más raramente
un diseño que solo incluyese texto). Con excepciones, podemos dividir en los siguientes grupos (valgan
como ejemplos famosas marcas que año tras año usaron el calendario de bolsillo para publicitarse).

25 Este ejemplar todavía no llevaba la palabra FOURNIER en el reverso, lo que no nos permite asegurar que fuera esta su
editora, aunque sus características físicas parecen idénticas a los otros conocidos.

26 En el caso de SEDEFAL además, Fournier había realizado también para la empresa una baraja de naipes publicitaria, en
la cual en los reversos de las cartas se incluía la misma imagen que se usó para el calendario de bolsillo. Supone el primer
ejemplo de cómo una empresa usa los naipes para publicitarse y también el calendario de bolsillo, fabricado por la misma. Se
puede ver las fotografías en http://www.todocoleccion.net/baraja-fournier-publicidad-antigua-sedefal-forestal-agricola-timbre-
1-25-pts~x30013544 [consultado a 1/3/2017].

114
• Bancos, cajas y seguros (Banco Español de Crédito, Caja de Ahorros y Monte de Piedad de
Madrid, Vascongada Seguros).
• Productos alimenticios y bebidas (Coñac el Abuelo, Cinzano, Cacao Varela).
• Productos farmacéuticos y de higiene (Anticariol, Fosgluten, Jabón Lagarto).
• Productos de escritorio e industriales (Mayor Hermanos, Lámpara Titán, Nitrato de cal de
Noruega).
• Otros objetos de vida cotidiana, que irán aumentando a medida que avanzan los años sesenta
(Hispano Olivetti, Calzados el Tigre, Diario de Navarra).
• Religiosos (Apostolado de Fátima, Juan Bautista de la Salle, Seminario Diocesano de Vitoria).

En ellos se reflejan las estrategias publicitarias de una época, aunque con grandes diferencias en las
líneas promocionales según las empresas anunciantes. (Ver imagen 5 con más ejemplos).

En general en este periodo, la “creatividad” publicitaria es práctica, simplemente persigue la búsqueda


de un reconocimiento por parte del consumidor (la imagen de la empresa, la fachada de la sucursal, el
producto que fabrican…). La presencia del producto, ya sea solo o cualificado por algún otro elemento
que facilite al consumidor la asociación con algún valor determinado, eran el recurso más utilizado27.
Con el paso de los años, fueron apareciendo nuevos productos en detrimento de los más necesarios,
en una sociedad que empezaba a mejorar su situación económica. Todavía no había demasiados
competidores de cada sector y no era preciso entrar en valores inmateriales o en sensaciones íntimas,
por eso se necesitaba mostrar el producto (COSTA, 2004). Pero sí se puede ir notando una evolución
desde las primeras marcas/función hacia las marcas/razón, que incluyen una gratificación de tipo
intelectual o racional (MADRID, 2007), sobretodo con productos o servicios ya relacionados con la
seguridad, la información, el ocio o la belleza, a medida que avanza la sociedad de consumo. La
evolución desde una primera época en la que prima la necesidad de darse a conocer e informar al
consumidor, donde el protagonista es el producto, hasta que el consumidor y la mejora de su status
se convierten también en reclamo publicitario, se puede apreciar también en el calendario de bolsillo28.

Otras muchas empresas sin embargo emplean la misma estrategia publicitaria en ambas décadas
(algunas incluso apenas varían el motivo), del mismo modo que ya desde comienzos de los cincuenta
hay algunas marcas que no muestran el producto y aluden ya a sensaciones. En general, las
ilustraciones eran mayoritarias y la fotografía fue utilizada solo por aquellos anunciantes que mostraban
sus instalaciones y en ocasiones también productos, más conforme avanza la década de 1960.

27 La marca tenía un rol funcional (se designan como marcas/función), en una composición en la que el signo funcionaba
como designación (el nombre) y como reconocimiento (recordación) que se asocia al producto (satisfactor) (MADRID, 2007).
Era común para anunciar medicamentos, alimentos, bienes comunes y productos de uso, es decir, productos en general de
primera necesidad.

28 Con el tiempo, la marca dejará de ser un signo para convertirse en un símbolo, en el que se da una mayor identificación
emotiva por parte del consumidor y una implicación más fuerte.

115
Imagen 6 Anverso de calendarios de entre 1950 y 1969 de varias empresas en los que se reflejan
diferentes estrategias publicitarias. De izquierda a derecha: Riera Marsa 1954, Banco Herrero 1955,
Ebro 1958, Compañía Española de Electricidad y Gas Lebón 1960, Veterano 1966, Fagor 1967,
Coca-Cola1969. Fuente: colección privada.

En el caso de los calendarios de serie29, las empresas se anuncian en el reverso, bajo el calendario
anual, mediante la impresión o estampación de su nombre y dirección postal (en ocasiones puede
incluir algún dato más) (ver imagen 2); un sistema publicitario mucho menos efectivo.

También en el reverso, las editoras de los calendarios incluyen su propia marca, o las siglas de la
empresa, aunque en las primeras décadas no es tan común encontrarse con estos datos. Nunca
faltaban en el caso de Fournier30, que parece ser el único que además incluía la frase “MODELO
PATENTADO” (y que se refiere al propio soporte y no al dibujo).

Los calendarios de bolsillo de las Cajas de Ahorros

Un ejemplo significativo de la publicación de calendarios de bolsillo es el de las ya desaparecidas


Cajas de Ahorros. Editados desde el comienzo de los años cincuenta, se conocen una gran variedad
y cantidad de ellos, con una colección de imágenes promocionales propias, escogidas para cada año.

Para contextualizar el estudio de estos calendarios, debemos entender la razón de ser de estas
entidades, que empezaron a implantarse en España en el siglo XIX asociadas a los anteriores Montes
de Piedad, cuya función era entregar pequeños préstamos a los necesitados (artesanos, minoristas,
etc.). Es decir, nacieron como instrumento para financiar los Montes y así fue hasta su posterior
desvinculación (GALÁN, 1977).

Las Cajas captaban el pequeño ahorro y hacían algo de banca al por menor, destacando el papel
relevante de la célebre “cartilla de ahorro”, que contribuyó a ennoblecer a los titulares de la misma

29 Hoy en día se sigue haciendo y se conocen las series completas de editores que incluyen sus nombres en los reversos del
calendario: BO, CB, EGC, L, EDIJAR, etc. Estas empresas suelen incluir el número de serie, que es el modelo de calendario.
Es decir, cada compañía edita su propio catálogo con x número de imágenes diferentes y daba a cada una un número
identificativo.

30 Existían dos modelos generalizados: el vertical y el horizontal, incluso a veces una imagen vertical llevaba el modelo
de calendario del reverso horizontal. De 1949 a 1969 cambió el pie de imprenta varias veces: http://coleccionocalendarios.
blogspot.com.es/2010/06/fournier-pero-diferentes.html, [consultado a 1/3/17]

116
(LAGARES, 2001). Fue éste uno de sus productos más emblemáticos en la etapa fundacional de
las cajas, ya que supuso la “primera pieza del ahorro moderno”, una innovación financiera que, al
combinar liquidez, rentabilidad y seguridad, fue capaz de vencer la desconfianza de amplias capas
de la población, con rentas medias y bajas, hacia el sistema financiero, convirtiéndose en un producto
básico para recabar y movilizar el ahorro popular (SARRO, 2001). Las Cajas de Ahorro son, como
se ha afirmado con frecuencia, “la banca de las familias”, y eso se reflejará continuamente en su
publicidad, como demuestra por ejemplo su famosa frase familia que ahorra familia feliz.

En cuanto al destino de sus beneficios, las Cajas de Ahorros31, a diferencia de otras empresas, dedican
un porcentaje a reservas y otro a la dotación de la Obra Social, que suponía “revertir una parte de
los beneficios en la sociedad y tiene como finalidad fomentar el desarrollo económico y el progreso
social de la comunidad” (CECA, 2005). Esta es una idea fundacional que las define como entidades de
utilidad social, y el aumento de la inversión en Obra Social dependía del aumento de clientes.

Entre los rasgos distintivos de estos organismos se encuentra también su arraigo social y territorial,
pues se vinculan al territorio de su creación y es en este ámbito en el que tienen habitualmente una
mayor presencia y actividad. De hecho, el medio más utilizado por las cajas, y el que mejor pone de
manifiesto el grado de rivalidad alcanzado en zonas concurrentes, era el de apertura de sucursales,
buscando la ventaja de la proximidad física de los clientes potenciales a la oficina (MAIXÉ, 2002).
Como Caja Nacional, existe solo (desde 1909) la creada por Correos, denominada Caja Postal de
Ahorros y que no perteneció a la CECA32.

A lo largo de la primera mitad siglo XX hay varios momentos que marcan las distintas concepciones
que la Administración va tomando con respecto a las Cajas de Ahorros y que pasan a estar sujetas a
distintos protectorados, tema que no ocupa este artículo. En 1928 se crea la Confederación Española
de Cajas de Ahorro Benéficas (CECAB, posteriormente CECA), surgiendo como una asociación entre
cajas, con finalidades corporativas y representativas33. Contribuyó la CECA a que las Cajas de Ahorros
fueran concebidas como integrantes de una gran unidad, debido a sus intensas vinculaciones y a la
homogeneidad que ofrecen algunos de sus productos más característicos y de más frecuente utilización
por su cliente (SARRO, 2001).

31 Además de las “Cajas de Ahorros Populares” existían también en España las Cajas Rurales (BARRAL, 1975), que son
unas sociedades cooperativas cuyos fines son el fomento del ahorro entre sus asociados y el empleo de ese ahorro en la
concesión de créditos a los mismos, con destino a la financiación de las “operaciones agrícolas” (mediante la garantía común,
con bajo tipo de intereses y en condiciones de reembolso de acuerdo con las necesidades de la producción agraria). Sin
embargo, no hay apenas calendarios localizados editados por ellas en estas dos décadas de nuestro estudio. A partir de 1966
se conoce el editado por la Caja Rural Provincial de Asturias y ya desde los años setenta se unieron más.

32 Aunque sus líneas publicitarias fueron en la misma línea. Edita calendarios de bolsillo desde 1958.

33 Entre sus objetivos estaban los de “fomentar la creación de nuevas cajas de ahorro, actuar como un centro de estudios de
interés para las cajas y educar a las diferentes clases sociales en el ahorro y en el buen empleo de la riqueza” (LAGARES,
2001).

117
La CECA fue también la responsable de las políticas de publicidad34. Con respecto a los calendarios
de bolsillo, a partir de 1962 unificó las imágenes publicitarias en unos mismos modelos de calendario
para todas con un dibujo ocupando el anverso, que incluía, en su parte inferior, el nombre de la Caja
para el que eran destinados.

Antes de este año, algunas de las Cajas existentes ya editaban sus propios calendarios de bolsillo,
como un artículo más dentro de la estrategia de publicidad directa con el cliente. Parece que fue en el
año 1950 en el que apareció el primer calendario de bolsillo de una Caja (editado por Fournier)35: el de
la Caja de Ahorros de Asturias (ver imagen 6).

En él ya se puede ver la importancia del concepto del ahorro (incluyendo el ahorro infantil), con el
símbolo de la gran hucha. En este caso el protagonismo lo tiene la Obra Social36. La necesidad del
ahorro que se refleja casi siempre en los calendarios de bolsillo (así como ocurre con otros artículos
publicitarios) se justificará en unos casos con el sostenimiento de la Obra Social, y en la mayor parte
de los otros, con el propio bienestar de las familias que ahorran.

Imagen 7 Anverso del primer calendario de bolsillo conocido hasta el momento de una Caja de
Ahorros, Caja de Ahorros de Asturias, de 1950. Fuente: colección privada.

34 La imagen distintiva de la marca representada por todas las características mencionadas se ve reflejada en la publicidad
generada por estas Cajas. Parte de ella se puede consultar en la web del Fondo Histórico Documental de la CECA creado
en 2007: http://fondohistorico.ceca.es.

35 La misma imagen usada para este año aparece en los calendarios editados entre 1950 a 1956 (a partir de ahí será distinta
cada año).

36 En este caso en el calendario se muestra una imagen de la Casa Infantil Covadonga, que nació en 1944 financiada
por la Caja de Ahorros de Asturias y la Diputación de Asturias. Estaba situada en Pola de Gordón y era conocida como “El
Preventorio”. Uno de los principales impulsores fue el médico Gregorio Marañón, que en la época de la posguerra vio la
necesidad de crear un centro en donde los niños de la región (en relación con las cuencas mineras) pudiesen ir a reponer su
salud a la vez que divertirse. Funcionó durante cuarenta años y acogió a 20000 niños (con una capacidad de 80). Información
sobre esta instalación en: http://www.comarcadegordon.net/Foro/viewtopic.php?t=1273y https://lucernarios.net/6-en-prosa/el-
preventorio-de-la-pola-de-gordon/ [consultadas a 5/3/2017]

118
Además de este ejemplo, antes del año 1962 (primer año de unificación de las imágenes de los
calendarios), se conocen ejemplares de varias entidades (ver anexo I). Lo más común era que cada
una de estas Cajas editara un solo modelo de calendario por año, pero algunas editaron hasta cuatro
diferentes (y no se ha localizado ningún dibujo que compartan varias entidades),

A partir de 1962 la mayor parte de las Cajas Confederadas tuvieron las mismas imágenes en sus
calendarios. Se solían editar tres modelos diferentes cada año y aunque actualmente se han localizado
en el caso de varias Cajas (ver Anexo I), de otras se han encontrado solo uno, o dos de los modelos,
por lo que es posible que todavía no se hayan localizado (o incluso que no ya se conserve ninguno), o
entonces que algunas entidades hubieran participado solo con alguno de los modelos.

Las diferentes Cajas de Ahorros solicitaban a la CECA el material publicitario que desearan en función
de las opciones que ésta daba a elegir cada año con sus folletos de material publicitario que editaba
el Servicio de Propaganda y Publicaciones (CECA, nº 25), el cual incluía una sección de calendarios,
con los modelos disponibles y los precios de las unidades por millar.

En las memorias de la CECAB de los años sesenta nos encontramos con el apartado de “Comisión
de propaganda”37, en donde se recoge el dato del número de calendarios impresos. Por ejemplo,
en la de 1962, se puede leer “fueron facilitados a las Cajas, en excelentes condiciones de calidad y
precio, 345.000 calendarios de pared y 1.700.000 almanaques38 de bolsillo” (referido a los calendarios
impresos para usar en el año siguiente). En el Archivo Histórica de CECA- Cecabank, se conservan
memorias anuales y folletos publicitarios que permiten saber el número total de calendarios para cada
año de 1962 a 1969 (ver gráfico 1) y los precios por millar.

Gráfico 1 Número total de calendarios impresos cada año por la CECAB para las Cajas de Ahorros
que los hubieran solicitado.

37 Las actividades más destacadas solían intensificarse a cabo con motivo del Día Universal del Ahorro y con las fechas de
Navidad. Y los medios eran sobretodo la prensa, la radio, el cine, la televisión y la publicidad exterior.

38 Atención con el término, que parecía más usado frente a calendarios en estos tiempos.

119
El precio fue elevándose progresivamente desde 220 pts. el millar en 1962 a 270 pts. el millar en 1969.

Cada calendario llevaba impreso bajo el dibujo el nombre de la Caja que lo solicitase. Además, también
se editaban cada año los modelos para la propia Confederación Española de Cajas de Ahorros.

Con los datos aportados por los propios calendarios39 y atendiendo a una lista de las Cajas de Ahorros
existentes en 196140, nos encontramos con que, de aproximadamente la mitad de las Cajas de Ahorros
existentes, no se ha localizado ningún calendario para el año 1962.

Si nos basamos en el dato del número de imponentes, no se conoce ningún calendario en este año de
ninguna Caja que tenga menos de 8000 imponentes, y con pocas excepciones por debajo de 30000,
pero no quiere decir que no los haya. Si usamos el número de imponentes41 para hacernos una idea
del número de clientes de la Caja, podemos deducir que las Cajas más pequeñas o bien no encargaron
calendarios, o bien editaron menos cantidad de ellos (pues las tiradas habrían de estar justadas en
cierta medida al número de sucursales y de clientes) y por alguna de estas razonas no han llegado
hasta nosotros42.

Lo que está claro es que a partir de 1962 comienzan a usar calendarios bastantes Cajas que hasta
ese momento parece que no habían editado. Por ejemplo en 1961, el año anterior a la unificación de
la publicidad, solo se localizaron calendarios de nueve entidades diferentes (casi todas con varios
modelos), lo que contrasta con el gran número de Cajas que sí se publicitan mediante este artículo el
año siguiente (39 diferentes localizadas hasta ahora).

A lo largo de la década de los sesenta el número de Cajas, así como de sucursales, crece, buscando
a los clientes surgidos del desarrollo económico. La Ley de 1962 del Crédito y la Actividad bancaria43,
constituye una reforma que entre otras cosas, fomenta la apertura de nuevas oficinas. Éstas tendrían
que captar y fidelizar clientes y el calendario de bolsillo jugó también su pequeño papel a la hora de
divulgar los mensajes publicitarios pertinentes.

39 Las propias listas de calendarios editados cada año sirven para estudiar la evolución de los nombres de las Cajas de
Ahorro y dan pistas sobre su influencia territorial y procesos más complejos como su génesis y evolución. Valga como ejemplo
el video en youtube de la coleccionista Laura Valeriano, “Historia reciente de las Cajas de Ahorros y calendarios de bolsillo,
disponible https://www.youtube.com/watch?v=b7WDLSBgJz0&feature=youtu.be [consultado a 5/3/17].

40 La Memoria Caja de Vigo 1961 recoge las Cajas que están abiertas en diciembre 1960 con imponentes y saldos y que
serían por lo tanto las que en 1961 encargarían los calendarios que se usarían en 1962.

41 Definición: Persona que ingresa dinero en una cuenta bancaria.

42 Como ejemplo, seguro que en 1962 hubo menos número de calendarios circulando de la Caja de Ahorros y Socorros de
Crevillente (con 8555 imponentes), del que se ha localizado un modelo de calendario, que de la Caja de Ahorros y Monte
de Piedad de Madrid (con 520.495 imponentes). Y por ello, sería también lógico pensar que hoy se conservan más de los
segundos que de los primeros, como así lo demuestran las colecciones privadas.

43 Se puede consultar en https://www.boe.es/diario_boe/txt.php?id=BOE-A-1962-6692 [consultado a 5/3/2017]

120
Citemos como ejemplo los primeros mensajes de calendarios comunes de la CECA, que se usarían
también para otros soportes de la misma campaña44. En los años 1962 y 1963 para los tres modelos
se escogió la frase “Ahorro Individual, bienestar colectivo”. En el 1964 nos encontramos “Familia que
ahorra familia feliz” en dos de los modelos y “Ahorro: rumbo seguro” en otro, en 1965 de nuevo “familia
que ahorra familia feliz” en dos de los modelos y “el ahorro, ángel guardián” en otro, en 1966 se repite
“familia que ahorra familia feliz” en los tres modelos, en 1967 “Ahorra y vivirás mejor” y en 1968 “ahorra
y vivirás mejor” en dos de los modelos y nada en otro. En 1969, de nuevo en los tres modelos incluyen
el texto “familia que ahorra familia feliz” (ver Anexo II).

Además del dibujo y del texto asociado sobre las virtudes del ahorro, los calendarios solían traer escrito
el año y el logo de la Confederación. Éste solía formar parte del dibujo, fusionándose muchas veces
en las propias imágenes (por ejemplo, en caras o huchas). A partir de 1967 el logo se incluye siempre
externo al dibujo (no excluyendo que aparezca también como parte de la imagen). Este logo se creó a
principios de los sesenta pero no se sabe con certeza la fecha45 y duraría hasta 1989 (año en que se
cambió), y era el mismo que el emblema del Instituto Internacional de Cajas de Ahorros, “una hucha en
la tierra”. No olvidemos que es a partir de los años sesenta precisamente cuando se va consolidando
la imagen corporativa de las empresas (FERNÁNDEZ, 2005).

Debajo de la imagen, que solía tener fondo blanco (o entonces ocupaba un rectángulo bordeado de
blanco), se incluía el nombre de la Caja. En ocasiones aparecía alguna información más, como algún
logo propio, la dirección postal o la mención de algún evento (ver ejemplos en el Anexo II).

Con respecto a los dibujos utilizados, no está resuelta la pregunta de si estos fueron creados
específicamente para su publicación en el calendario de bolsillo. Sería posible que las imágenes
coincidiesen con algunas de las de los tres ganadores del concurso del Día Universal del Ahorro46 de
cada año. Pero solo existen dos evidencias del uso del cartel ganador (el primer premio) para dos casos
en los sesenta (pero hay más ejemplos en los setenta). El cartel ganador de 1961 fue imagen de uno
de los calendarios de 1962 (niña sujetando una flor) y el ganador de 1967 es también el dibujo de un
calendario de 1968 (hombre con periódico)47. En los otros años de esta década, la imagen del ganador
del concurso no se usó para el calendario al año siguiente (si bien no fue revisado, por falta de acceso,

44 Ya antes de esta década, en los ejemplares conservados de varias Cajas, encontramos frases y estrategias publicitarias
similares, refiriéndose a los beneficios del ahorro.

45 http://fondohistorico.ceca.es/fondohis/fondos.nsf/2D7446994E06E8EAC1257D460026D1D8/$FILE/2014-09.%20
Documento%20del%20mes%20n7.pdf?Open [consultado a 5/3/2017]

46 Este surgió como un día dedicado a la promoción del ahorro en el mundo, a raíz del Congreso Internacional de Ahorro
celebrado en Milán en 1924, cuando se decidió instaurar esta fecha al término de las sesiones (31 de octubre). En el caso
de la cartelería, la CECA convocó en 1960 el primer concurso, al que luego seguirían muchos otros, para la confección de
un cartel de carácter general para ser utilizado por las Cajas como propaganda para el Día Universal del Ahorro, del diseño
ganador llegaron a distribuirse más de 29.000 carteles (CECA nº 15).

47 Este dibujo fue usado para el cartel del 43º Día Universal del Ahorro, del 31 de octubre de 1967, además de para el
calendario y 50000 “banderines”, que se haya localizado (Memoria CECAB 1968).

121
el caso de las imágenes ganadoras del segundo y tercer premio, en donde se podría encontrar alguna
coincidencia más).Para el caso de 1962, es posible identificar la firma del autor en el dibujo. El dibujante
ganador del concurso ese año fue José Bort Gutiérrez48, que tiene en misma la época varios carteles
firmados; fue cartelista además de ilustrador de libros, diseñador de carátulas para discos, etc..

Imagen 8 Ejemplos del anverso de los tres modelos de calendario de las Cajas de Ahorros
Confederadas para el año de 1962. Fuente: colección privada.

La hucha, símbolo por excelencia del ahorro, era un elemento gráfico que no faltaba en las composiciones
del calendario, en un color destacado. Continuando con el ejemplo de 1962, el logo de la CECA aparece
en todas las imágenes formando parte del dibujo (quizás fuera requisito), unas veces más perceptible
que otras (la cara azul del ente ahorrador, dentro de la flor que sujeta la niña y como cara del hombre
que fuma un puro) (ver imagen 8).

En otros años de esta década de los sesenta (ver Anexo II), lo común es encontrar en los calendarios
algunas de estas composiciones, siempre con la frase procedente: la familia entera (padres con un solo
niño o entonces con un niño y una niña); un niño o una niña; un hombre (una mujer sola solo aparece
en un modelo de 1968) y/o un ente, animal u objeto reconocible (tenemos ejemplos en diferentes años
con las formas de pato, paloma, casa, ángel, gallina, casco y casa). Se insistía mucho en la idea del
ahorro familiar y desde la niñez, que todos los años protagonizaban al menos un modelo de calendario.

Todas estas imágenes habrían circulado pues por toda la geografía española (no había provincia sin
sucursal de una o varias de las Cajas confederadas en los años sesenta49), si bien las sucursales de

48 Muchas de sus imágenes se pueden consultar en google imágenes escribiendo el nombre completo del artista o en el blog
http://josebort.blogspot.com.es/ [consultado a 1/12/2016]

49 Un ejemplo de este volumen: en España en 1966 había abiertas 4186 oficinas de las Cajas de Ahorro, en 1968 había 4712
y en 1971 un total de 5198 (BARRAL, 1975).

122
una misma Caja se limitaban aún a la provincia (por lo tanto, los calendarios con cada nombre de
entidad se habrían quedado circulando en un ámbito limitado). Podemos afirmar que fueron estos los
calendarios de bolsillo con más expansión entre 1962 y 1969 y porqué no, uno de los dibujos impresos
más vistos (de ahí también el mimo que le pusieron), sobre todo si pensamos en cuántas personas
eran clientes de las Cajas de Ahorros en estos años.

Discusión y conclusiones

El comienzo del calendario de bolsillo en España está muy acotado en el tiempo y parece situarse en
los años cuarenta, en un momento en que las empresas buscaban diversificar su publicidad. Hasta
el momento, los datos apuntan a que fue Fournier la compañía que inició este proceso de forma
estandarizada, con sus calendarios formato naipe, pero todavía es necesario indagar más en las
causas que propiciaron el surgimiento de esta idea en concreto. El calendario fue, como bien afirman
los coleccionistas Javier Amor y Pablo Pérez, una forma cómoda y barata de propaganda que, por tener
una función de agenda básica en la que poder anotar eventos, se conservaba durante un periodo de
tiempo largo, al contrario de lo que pasaría con otra propaganda impresa, que se tiraría tras consultarla
(comunicaciones personales, febrero de 2017).

A partir de 1949 nos encontramos con una amplia variedad de marcas anunciándose en estos soportes,
con un crecimiento continuo que confirma que la idea de publicitarse mediante el calendario cuajó y
tuvo éxito entre conocidas empresas españolas.

En estos primeros años nos encontramos con bastantes empresas de la ciudad de Vitoria, lo que no
resulta extraño ya que la fábrica de naipes estaba ahí situada. De hecho, el coleccionista Juan Sáenz,
nacido en la década de los cincuenta en esta ciudad, asegura que en las décadas de 1960 y 1970
eran tan abundantes los calendarios de bolsillo en este lugar, que niños y adolescentes jugaban con
ellos en la calle, concretamente a tres juegos diferentes50 (comunicación personal, febrero de 2017).
Este dato es muy interesante ya que indica otro uso para este artículo, distinto a aquel para el que
estaría concebido. Además, implica un cierto grado de coleccionismo entre los jugadores, que debían
acumular varios ejemplares para jugar (y le darían seguramente diferente valor a cada calendario).

50 Los juegos serían los siguientes (comunicación oral: SÁENZ, 2017):


De dos jugadores. Se sujetaban dos calendarios contra la pared (a medio metro de altura aproximadamente) con dos dedos
y lo comenzaba soltando uno de los jugadores, hasta que se posaba en el suelo. Después dejaba caer el suyo el segundo
jugador de tal modo que si su calendario montaba (al menos un poco) al primero, se llevaba ambos. Si no, se volvía a empezar.
De varios jugadores (de 2 a 7 aproximadamente). Los jugadores agarraban cada uno su calendario entre los dedos y lo
lanzaban de frente. El que más lejos llegaba con el calendario se llevaba los de los demás.
De varios jugadores (de 4 a 7 personas aproximadamente). A una distancia de entre un metro y dos de la pared, se lanzaban
los calendarios hacia ella, y el jugador que más se acercara (una vez el calendario quedaba posado en el suelo) se llevaba
todos los de los otros. Le llamaban jugar “al punto”.

123
Sobre tiradas de calendarios es difícil obtener cifras, sobre todo en estos primeros años de vida. Por
un lado, la principal empresa editora, Fournier, no conserva esta información, y por otro, varias de
las compañías que se publicitaron en estos años, o ya no existen o fueron absorbidas por otras más
grandes (como el caso de grandes grupos farmacéuticos o bancos). O bien no guardan estos datos en
sus registros.

Podemos sospechar que algunos de los calendarios que han llegado hasta hoy de ciertas empresas,
suponen las únicas evidencias en papel que se conservan de ellas, gracias a que este artículo fue
concebido para salir fuera del establecimiento, conservándose en casas privadas hasta nuestros días.

El hecho de que el calendario estuviera destinado a clientes particulares en la mayor parte de los
casos (sin descartar que grandes empresas distribuidoras también los usaran para publicitarse entre
clientes que a su vez tuvieran negocios, como el caso de los vendedores de maquinaria), llevó a
que la conservación de estos impresos dependiera en gran parte de la intención de hacerlo (o de
su olvido) por parte de sus propietarios. Por lo tanto, cada año es habitual que sigan apareciendo
nuevos modelos antiguos, incluso desconocidos hasta el momento, que aportan nuevos datos, pero
posiblemente también habrán desaparecido para siempre los de muchas marcas. Al ser un artículo de
papel gratuito y sin una utilidad pasado el año, muchos poseedores no les dieron el valor suficiente
como para conservarlos, al igual que sigue ocurriendo hoy en día.

Actualmente, se siguen editando grandes tiradas de calendarios, pero cada vez menos empresas
recurren a él, debido entre otras cosas a los nuevos soportes digitales y al cambio de hábitos
publicitarios. Por lo tanto, su momento se acerca a su fin tras más de medio siglo de existencia, pero
gracias sobre todo a la labor de los coleccionistas de calendarios de bolsillo, se siguen rescatando y
conservando todos los ejemplares que se encuentran (y que de otra manera ya no existirían), llevando
a cabo auténticos inventarios al alcance de los interesados en el tema.

Un tema que puede ser abordado desde múltiples perspectivas en la investigación de nuestro pasado
reciente.

Agradecimientos

Al Archivo Histórico de la CECA-Cecabank, que me facilitó la información que tenía digitalizada sobre
los calendarios de bolsillo.

A Naipes Heraclio Fournier, que aunque no conserva documentación relativa al tema de los calendarios,
me proporcionó datos sobre especificaciones técnicas.

A todos los coleccionistas de calendarios, por mantener vivas estas evidencias de nuestro pasado con
tanto cariño. Muy especialmente a Juan Antonio Vila, Juan Sáenz, Pablo Pérez y Javier Amor, que

124
tan amablemente me respondieron a varias preguntas sobre los calendarios, me cedieron imágenes
de sus colecciones privadas (muchas de las cuales aparecen en este artículo) y llevan a cabo una
importantísima labor de recopilación y clasificación de estos materiales.

Por supuesto, a mis queridos compañeros Daniel Regueiro, Sara Martínez, Israel Romero y Sonia
Mandiá, que me animaron y ayudaron con sus sugerencias cuando este artículo no estaba acabado.

BIBLIOGRAFÍA

ARROYO SALOM, J. y RODRÍGUEZ LASO, L., “El papel naipero” en Actas del VII Congreso de Historia
del Papel, ed. Asociación Hispánica de Amigos del Papel, 2007, p. 41-50.
BARRAL ANDRADE, R., O aforro e a inversión na Galicia. Aproximación ao estudo da estrutura do
capitalismo galego, ed. Sept, Santiago de Compostela, 1975.
BOTREL, J.F., “Para una bibliografía de los almanaques y calendarios” en Elucidario, 2006, nº 1, p.
35-46.
CABANES MARTÍN, A., “Los documentos efímeros del ferrocarril: el retorno de una inversión” en
Interinformación: XI Jornadas Españolas de Documentación, 2009, p. 183-192.
CECA, Documento del mes nº 25, Folletos de propaganda y publicaciones (años 60-70), Archivo
Histórico de la CECA, 2016.
CONDE, J., Lo tengo no lo tengo. Los cromos: historia de una ilusión, ed. Espasa, 1998.
COSTA, J., La imagen de marca: un fenómeno social, ed. Paidós, Barcelona, 2004.
CHECA GODOY, A. Historia de la publicidad, ed. Netbiblio, A Coruña, 2007.
DOLCI, F., “Il materiale minore” en BERTOLUCCI, P. y PENSATO, R. (eds.), La memoria lunga. Le
raccolte di storia locale dall’erudizione alla documentazione: Atti del Convegno, 1985, p. 262-263.
EGUIZÁBAL, R., El cartel en España, ed. Cátedra, Madrid, 2014.
FERNÁNDEZ SOUTO, A.B., “La imagen corporativa a través de los anuncios impresos” en PENA
RODRÍGUEZ (coord.), La publicidad en la prensa de Pontevedra (1930-1975), ed. Diputación de
Pontevedra, 2005, p. 103-121.
FOURNIER, Catálogo promocional 2016, El soporte publicitario más rentable, Fournier, 2016.
FUENTES ROMERO, J.J., “Materiales efímeros y publicaciones menores en la sección de temas
locales” en Boletín de la Asociación Andaluza de Bibliotecarios, nº 72, 2003, pp. 16-37
GALÁN GALINDO, A., Introducción a las cajas de ahorro, ed. Confederación Española de Cajas de
Ahorros, Madrid, 1977.
LAGARES CALVO, M., “Algunas ideas sobre cajas de ahorro” en Economistas, Revista del Colegio de
Economistas de Madrid, nº 89, 2001, p. 34-45.
LÓPEZ HURTADO, M., “La tarjeta postal como documento. Propuesta de un sistema de análisis

125
documental” en Información y documentación: investigación y futuro en red, Actas del VIII Seminario
Hispano-Mexicano de Biblioteconomía y Documentación, ed. UCM, 2011, p. 145-154.
LÓPEZ TORRE, R., La Caja de Pontevedra: 1930-2000, Ed. Caixa De Pontevedra, Pontevedra, 2000.
MADRID CÁNOVAS, S., Los signos errantes: estrategias de la publicidad gráfica española, 1950-2000,
ed. Centro de Documentación y Estudios Avanzados Arte Contemporáneo de la Universidad de Murcia,
Murcia, 2007.
MAIXÉ ALTÉS, J.C., “El Sistema gallego de cajas de ahorro en perspectiva interregional, siglos XIX y
XX” en Novos escenarios para a economía galega : actas do II Congreso de Economía de Galicia, ed.
USC, Santiago de Compostela, 2002. p. 823-850.
MAKEPEACE, C.E., Ephemera: A book on its collection, conservation and use, ed. Gower Publishing
Co, Aldershot, 1985.
MELENDRERAS EMETERIO (coord.), 100 años del cartel español. Publicidad Comercial (1875-1975),
vol. II, ed. Ayuntamiento de Madrid, Cámara de Comercio e Industria, 1985.
MÍNGUEZ GOYANES, X.L., Os calendarios galegos do século XIX (Historia e catálogo do calendario
xeral de Galicia), ed. Xunta de Galicia, Santiago de Compostela, 2004.
PENA MOREDA, T. y ARRIBAS ARIAS, F., A publicidade das festas de San Froilán de Lugo: carteis e
programas 1877-2011, ed. Concello de Lugo, Lugo, 2011.
PÉREZ BECARES, P., Catálogo de calendarios. 1949-2014, Autoedición, Vitoria, 2015.
PÉREZ DÍEZ, T., Desarrollo regional español y cajas de ahorro, ed. Universidad Complutense de
Madrid, Madrid, 1979.
PÉREZ RUIZ, M.A., La publicidad en España. Anunciantes, agencias y medios. 1850-1950., ed.
Fragua, Madrid, 2001.
PÉREZ RUIZ, M.A., La transición de la publicidad española. Anunciantes, agencias, centrales y medios.
1950-1980., ed. Fragua, Madrid, 2002.
RAMOS PÉREZ, R., Ephemera: la vida sobre el papel. Colección de la Biblioteca Nacional, ed.
Biblioteca Nacional, Madrid, 2003.
RENUNCIO GONZÁLEZ, F., “Los Fournier: una familia burgalesa de litógrafos y papeleros (1869-
1913)” en Actas del VIII Congreso Nacional de Historia del Papel en España, ed. AHHP, Burgos, 2009,
p. 177-194.
RIVAS MORENO, F., Las cajas rurales: el crédito agrícola, la cooperación, el ahorro, ed. Imprenta de
Francisco Vives Mora, Valencia, 1904.
RODRÍGUEZ LÓPEZ, J., “Evolución histórica de las cajas de ahorros en España” en DE GUINDOS
JURADO, L. (dir.); MARTÍNEZ-PUJALTE LÓPEZ, V. (dir.); SEVILLA, J. (dir.) y TORME, A. (coord.),
Pasado, Presente y Futuro de las Cajas de Ahorro, ed. Aranzadi, 2009, p.43-68.
SAGREDO FERNÁNDEZ, F., La Caja de Ahorros-Monte de Piedad de la Coruña y Lugo (1876-1976):
Historia de una institución gallega, ed. Caja de Ahorros-Monte de Piedad de la Coruña y Lugo, Madrid,
1976.

126
SÁNCHEZ GUZMAN, J.R., “La comunicación comercial a través del cartel” en Melendreras, E. (coord.),
100 años del cartel español. Publicidad Comercial (1875-1975), ed. Ayuntamiento de Madrid, Cámara
de Comercio e Industria, 1985, vol. I, pp. 27-46.
SARDELLI, A., Le publicazioni menori e non convenzionali. Guida alla gestione, Milano, ed. Editrice
Bibliográfica, Milán, 1993.
SARRO, M., Marketing de las cajas de ahorros, ed. ESIC y Pirámide, Madrid, 2011.
VÁZQUEZ SOTELO, O., “La dimensión social de las Cajas de ahorro: el caso gallego” en Lucensia:
miscelánea de cultura e investigación, ed. Biblioteca del Seminario Diocesano, Lugo, 2010, nº 41, p.
287-310.
VELASCO MURVIEDRO, C., “El consumo visto a través del cartel publicitario” en VELASCO
MURVIEDRO, C.; EGUIZÁBAL MAZA, R.; SANCHIDIÁN FERNÁNDEZ, R. y ÁLVAREZ MARTÍN (dirs.),
Publicidad y consumo: más de un siglo de Historia, ed. Instituto Nacional del Consumo, Santander,
2000, p. 17-24.
Así es la Obra Social de “La Caja”, ed. Caja de Ahorros Municipal de Vigo, Vigo, 1980.
Cien años de nostalgia y de papel: exposición de antiguos materiales publicitarios : Biblioteca
Municipal Torrente Ballester- X Feria del Libro Antiguo y de Ocasión-, ed. Concejalía de Educación y
Cultura, Salamanca, 2002.
Las Cajas de Ahorros y su impulso a la sociedad civil: la obra social en colaboración, ed. CECA,
Madrid, 2005.
Memoria, balance general y datos comparativos. Caja de Ahorros y Monte de Piedad Municipal de
Vigo. Ed. Caja de Ahorros y Monte de Piedad Municipal de Vigo, años 1960 y 1961.
Memorias de la Confederación Española de Cajas de Ahorros Benéficas, correspondientes a los
años 1960-1968, CECAB, Madrid.
LEGISLACIÓN
Ley 2/1962, de 14 de abril, sobre bases de ordenación del crédito y de la Banca. Boletín Oficial
del Estado, nº91, de 16 de abril de 1962, disponible en https://www.boe.es/diario_boe/txt.
php?id=BOE-A-1962-6692.
COMUNICACIONES PERSONALES (coleccionistas):
AMOR, JAVIER, comunicación personal; febrero de 2017.
PÉREZ, PABLO, comunicación personal; enero de 2017
SAÉNZ, JUAN, comunicación personal; febrero de 2017.
VILA, JUAN ANTONIO, comunicación personal; diciembre de 2016.
WEBGRAFÍA
Catálogos online que recogen documentos en papel, entre los que se encuentran calendarios de
bolsillo:
Museo Virtual de Arte Publicitario: http://cvc.cervantes.es/artes/muvap/sala4b/default.htm
Fondo histórico de la Fundación de Ferrocarriles Españoles: http://www.docutren.com

127
Fondo Histórico Documental de la CECA-Cecabank: http://fondohistorico.ceca.es/fondohis/fondos.
nsf/WHomeF?ReadForm
Historia de la empresa Fournier: http://www.nhfournier.es/es/empresa/nuestra-historia
Webs con información sobre colecciones de calendarios de bolsillo:
http://coleccionocalendarios.blogspot.com.es/
http://www.wichitta-fournier.blogspot.com.es
http://calendariodebolsollo.blogspot.com.es
http://www.calendariodebolsillo.es/
https://www.youtube.com/watch?v=b7WDLSBgJz0
Webs en donde se pueden comprar y vender calendarios de bolsillo:
http://www.todocoleccion.net/buscador.cfm?P=1&D=t
www.milanuncios.com
Otras webs con información histórica usadas puntualmente para este artículo:
http://josebort.blogspot.com.es/
http://www.vitoria-gasteiz.eus/blog/2015/11/demolicion-de-la-fabrica-de-naipes/
http://www.hiru.eus/arte/patrimonio-industrial/-/journal_content/56/10137/4632818
http://www.comarcadegordon.net/Foro/viewtopic.php?t=1273y
https://lucernarios.net/6-en-prosa/el-preventorio-de-la-pola-de-gordon/
http://www.antoniovalero.com/index.php/la-baraja/maestros-naiperos/63-heraclio-fournier

ANEXO I

Listado de Cajas de Ahorros que tuvieron calendarios antes del año 1962:

Caja de Ahorros de Navarra (desde 1953), Caja de Ahorros y Monte de Piedad de Madrid (desde 1953),
Caja de Ahorros del Sureste de España (desde 1954), Caja de Ahorros y Monte de Piedad de la Ciudad
de Vitoria (desde 1955), Caja de Ahorros de Novelda (desde 1956), Caja de Ahorros de Santander
(desde 1956), Cada de Ahorros Provincial de Sevilla (desde 1956), Caja de Ahorros y Monte de Piedad
de Zaragoza-Aragón y Rioja (desde 1956), Caja General de Ahorros de Granada (desde 1956), Caja de
Ahorros y Monte de Piedad de Salamanca (desde 1957), Caja de Ahorros Municipal de Burgos (desde
1958), Caja de Ahorros Popular de Valladolid (desde 1958), Caja de Ahorros Provincial de Valladolid
(desde 1958), Caja de Ahorros y Monte de Piedad de Palencia (desde 1958), Caja de Ahorros y Monte de
Piedad de Segovia (desde 1958), Caja Provincial de Ahorros de Huelva (desde 1959), Caja de Ahorros
del Círculo Católico de Obreros de Burgos (desde 1960), Caja de Ahorros Provincial de Alicante (desde
1960), Caja de Ahorros y Monte de Piedad de Barcelona (desde 1960), Caja de Ahorros y Monte de
Piedad de Valencia (desde 1960) y la Caja Provincial de Ahorros de Huelva (desde 1960).

128
La palabra desde no implica que todos los años hubieran editado calendario, aunque lo más común era
que tras su primer año continuaran empleando este soporte.

Listado de Cajas de Ahorros que tuvieron calendarios en el año de 1962.

Encontramos alguno de los tres modelos comunes disponibles de calendario en los siguientes casos:

Caja Central de Ahorros y Préstamos de Ávila, Caja de Ahorros de Asturias, Caja de Ahorros de la
Inmaculada, Caja de Ahorros de Manresa, Caja de Ahorros de Navarra, Caja de Ahorros de Nuestra
Señora de Los Dolores de Crevillente, Caja de Ahorros de San Fernando de Sevilla, Caja de Ahorros
de Santander, Caja de Ahorros de Santiago, Caja de Ahorros del Suroeste de España, Caja de Ahorros
Municipal de Bilbao, Caja de Ahorros Popular de Valladolid, Caja de Ahorros Provincial de Albacete,
Caja de Ahorros Principal de la Diputación de Barcelona, Caja de Ahorros Provincial de la Diputación
de Tarragona, Caja de Ahorros Sagrada Familia, Caja de Ahorros Vizcaína, Caja de Ahorros y Monte de
Piedad de Cádiz, Caja de Ahorros y Monte de Piedad de Ceuta, Caja de Ahorros y Monte de Piedad de la
Coruña y Lugo, Caja de Ahorros y Monte de Piedad de las Baleares, Caja de Ahorros y Monte de Piedad
de León, Caja de Ahorros y Monte de Piedad de Madrid, Caja de Ahorros y Monte de Piedad de Mataró,
Caja de Ahorros y Monte de Piedad de Palencia, Caja de Ahorros y Monte de Piedad de Salamanca,
Caja de Ahorros y Monte de Piedad de Segovia, Caja de Ahorros y Monte de Piedad de Valencia, Caja
de Ahorros y Préstamos de Antequera, Caja General de Ahorros y Monte de Piedad de Castellón, Caja
General de Ahorros de Granada, Caja Insular de Ahorros de Gran Canaria, Caja Provincial de Ahorros de
Huelva, Caja Provincial de Ahorros de Logroño, Monte de Piedad del Señor Medina y Caja de Ahorros de
Córdoba, Monte de Piedad y Caja de Ahorros de Almería, Monte de Piedad y Caja de Ahorros de Ronda,
Monte de Piedad y Caja de Ahorros de Sevilla, Monte de Piedad y Caja General de Ahorros de Badajoz.

129
ANEXO II

Anversos de los modelos de calendario de bolsillo creados por la Confederación de Cajas de Ahorros
entre 1962 (primer año con modelos comunes) y 1969.

Se incluyen ejemplares de algunas de las diferentes Cajas de Ahorros existentes.

Calendarios de 1962
Imagen 1 Imagen 2 Imagen 3

Calendarios de 1963
Imagen 4 Imagen 5 Imagen 6

Calendarios de 1964

130
Imagen 7 Imagen 8 Imagen 9

Calendarios de 1965
Imagen 10 Imagen 11 Imagen 12

Calendarios de 1966
Imagen 13 Imagen 14 Imagen 15

Calendarios de 1967

131
Imagen 16 Imagen 17 Imagen 18

Calendarios de 1968
Imagen 19 Imagen 20 Imagen 21

Calendarios de 1969
Imagen 22 Imagen 23 Imagen 24

132
En el reverso, el calendario podía aparecer orientado vertical (más común) u horizontalmente,
independientemente de cómo apareciese colocado el dibujo del anverso.

Ejemplos de los reversos de un ejemplar de 1968 (vertical, para los tres modelos del año) y un ejemplar
de 1969 (horizontal, para los tres modelos del año).

Imagen 25 Imagen 26

Fuente: colecciones privadas

133
OTRAS APLICACIONES DEL PAPEL DECORADO

Taurino Burón Castro


tburon@ono.com

On emploie le papier marbré à un assez grande nombre d’usages…


(L’Encyclopédie 1er. éd. 1751, t.10, p. 72)

RESUMEN

En un anterior congreso presenté una comunicación sobre diversos tipos de papel decorado aplicado
para reforzar y embellecer guardas de encuadernaciones. Los cambios tecnológicos de su fabricación, de
la demanda y las modas, han hecho que este tipo de papel haya tenido las más diversas aplicaciones. En
este caso nos fijamos en varias, que van de lo religioso a lo lúdico, pasando por lo decorativo. Incidimos
de forma especial en la función que tuvo para decorar los populares baúles, sustituyendo a otras materias
mucho más costosas por su adquisición o elaboración, como fueron telas, metales preciosos o cueros. Se
pone especial atención en este mueble que tuvo una larga presencia y servicio en el ámbito rural antes
de imponerse distintos tipos de armario. Presentamos como precursor histórico un extracto documental,
entre el siglo X y el XIII, de diversos tipos de arcas medievales, antecedente del baúl.

PALABRAS CLAVE

Papel decorado, baúles, ajuar doméstico, relicarios, naipes.

ABSTRACT

In a previous conference, I presented an article about the various types of decorated paper that are used to
reinforce and embellish book covers. The technological advances in its manufacturing process, its demand
and fashion, all have contributed to the different uses that this type of paper has had over the years. In this
research, I am focusing on the various applications for this type of paper that goes from the religious to
the leisure and decorative uses. I am highlighting in particular, the use that this type of paper had to decorate
trunks, and how it substituted other more costly materials such as fabric, leather or precious metals, to
mention a few. There is a special emphasis on this type of furniture, trunks, which were widely used in
rural communities well before wardrobes were common. I am also presenting as an historic predecessor,
a document extract from the 10th and 12th centuries, of different types of medieval arcs, which were the
precursor of trunks.

135
KEYWORDS

decorated paper, trunks, domestic trousseau, reliquary, playing cards

En el anterior congreso presenté una breve comunicación sobre diversos tipos de papel decorado
aplicado para reforzar y embellecer las guardas de encuadernaciones (1). También se utilizó este
papel exento para improvisar tapas sustituyendo la piel, cartón y otros materiales. En este segundo
caso las muestras aludidas sirvieron esporádicamente para la protección de cuadernillos manuscritos,
preferentemente para impresos, una vez plegado el folio. He constatado esta modalidad para
documentos procedentes de las administraciones eclesiásticas y civiles de la corte romana y de la
nacional durante la segunda mitad del siglo XVIII y parte del XIX; dejamos constancia sobre el particular
en el citado artículo. Con la misma finalidad se utilizó para libretos de ópera, según concluyen estudios
que se han hecho sobre el fondo de reserva de la biblioteca de la Universidad de Barcelona (2).

Seguidamente me refiero al empleo de papel decorado para adornar interiores de baúles y otros
objetos que se describen. Ambos aspectos reproducen aspectos de la época artesanal e industrial,
a la vez que sintetizan varias de las muchas aplicaciones que tuvo este papel, aparte de las más
conocidas de embellecer estancias nobles y burguesas así como encuadernaciones. En este caso
concreto, penetramos imaginativamente en los “cuartos” humildes de castellanos rurales donde tuvo
gran expansión este mueble y el papel anejo durante la segunda mitad del siglo XIX y primera del XX.
Las migraciones interiores y exteriores de la segunda parte del último siglo dejaron abandonados miles
de baúles que guardaron tantos objetos como secretos de alcoba, pero que el abandono, la herrumbre
y humedad han consumido en gran parte a lo largo del tiempo.

De entrada, entiendo que la presente aportación es de carácter meramente local, por tanto de escasa
trascendencia en un tema tan complejo y difundido como ha llegado a ser hoy el papel decorado.
Basta con teclear temas afines en la red para verse desbordado por su actualidad y que son muchas
las posibilidades que brinda este material a profesionales o aficionados, así como la elección del
baúl como mero objeto de comercio decorativo en el ámbito del vintage o de reconocida antigüedad,
circunstancia que ha contribuido a reconocer parte del honor que les cupo. Ello no obstará para que
sirva para difundir el gran filón del papel decorado que hasta el presente, a nuestro modesto entender,
no ha merecido la atención debida, a pesar de que contamos entre nosotros con una valedora en la
materia, gran experta catalana y conocida en la asociación.

Un ensayo sobre sus antecedentes nos dará pie para describir este mueble como soporte adornado
sistemáticamente con papel en su interior, así como establecer una somera clasificación. Es cierto

136
que hasta el momento presente no existe siquiera unanimidad respecto a su etimología, no sucede lo
mismo con el reconocimiento de la antigüedad de su doble función como objeto estable y móvil. Como
tantas veces ha sucedido, el nombre mudó, manteniéndose históricamente el mismo significado, así
como sus fines, tal como sucede en este caso.

El tamaño o dimensiones han servido, entre otras características para diferenciar el arca del cofre,
teniendo un contenido sinónimo que aglutinó el baúl. Sin entrar en disquisiciones propias de filólogos
o transformaciones semánticas, el vocablo latino baiulus (portador) se impuso pronto y extendió con
motivo de la generalización de constituir un útil necesario para los viajes, particularmente desde el
siglo XIX. Si bien el mismo fin y tradición tuvo en culturas milenarias en el Norte de África, El Cairo,
Medio Oriente o la India; incluso sirvió como emblema de alianza sagrada. Nuestra literatura nos brinda
anécdotas para certificar que ha sido un compañero inseparable de desterrados y emigrantes; baste
con recordar el incidente del Cid con los dos judíos burgaleses, o los masivos movimientos migratorios,
de cuyos testimonios nos quedan señales en algunos baúles del siglo XX que aquí inventariamos.
Veremos a continuación cómo el concepto de baúl lo cumple plenamente el antecedente del arca, que
se hermana con la acepción de arcano, como algo específico dentro de la generalización de caja.

Sin duda que el arca en forma de caja, bien sea cerrada con tapa recta, curva (más o menos peraltada),
a dos vertientes o en la modalidad de tronco piramidal, amén de los materiales empleados para su
fabricación, nos retrotraen a tipos de los siglos medievales. Las variantes dentro de este esquema son
múltiples, por ejemplo el remate frontal de la tapa, unas veces en ángulo, otras en diversos remates. Los
distintos grados de inclinación longitudinal y trasversal de la tapa se proyecta con mayor o menor grado
de radio en los cierres laterales en forma de media luna. La decoración de la tapa viene determinada en
muchos casos por su forma, si bien lo normal es que en los baúles de fabricación artesanal recorran la
superficie longitudinalmente barrotes pronunciados, mientras que en épocas posteriores se distribuyen
refuerzos longitudinales y trasversales más ligeros y sujetos con chapas de hojalata y adornadas con
clavillos o tachuelas. En casos se recurre a cartón estampado por procedimientos mecánicos. Las
circunstancias de su fabricación que se podría calificar de extensiva, fuera artesanal o mecánica, ha
generado una serie de variantes que hace difícil una tipificación.

137
Figura 1 Baúl de gran capacidad, robusto y elegante. Cubierta de hojalata estampada y dorada.

Figura 2 Madera vista, tapa abombada con característicos barrotes longitudinales en los ángulos.
Cubierta de cartón estampado.

Figura 3 Característico barreteado, muy frecuente desde el siglo XIX, tapa decorada con cartón
estampado.

138
Este efecto de abombamiento o peralte del cuerpo superior es una característica de los baúles más
antiguos, sobreviviendo la misma hasta el siglo XX. Parece que el origen se debe buscar en el fin de
conseguir que la lluvia se deslizara por la superficie, y así evitar daños en el interior durante los viajes
(3). En uno de los inventariados, que situamos anterior al siglo XVIII, adquiere una curva semicircular
adoptando la parte delantera de la tapa una disposición rampante, siendo ésta mas estrecha que la
total anchura del cuerpo del baúl.

Figura 4 Característica decoración de hojalata claveteada sobre la tabla y pintada imitando el papel
al engrudo que se encuentra en otros. Cerradura y cierre de seguridad dispuesto como de viaje.

Hemos explorado la presencia del vocablo para constatar su uso y antigüedad a través de documentos
de la catedral de León. Dejamos de lado la acepción análoga como arca de término, que se documenta
tempranamente, es significativo porque figura en el documento más antiguo del archivo, en el año 775;
no obstante, en ella se reproduce la imagen de lo arcano, pues antes de que los campos fueran hollados
por las ruedas invasoras de los tractores, los límites de cada poblados se señalaban con un montículo
a modo de túmulo que contenía soterrados grandes cantos rodados: era el arca. La procedencia
de las citas referidas a arcas (muebles) las hemos extraído en su totalidad de testamentos en que
los autores legan sus bienes, entre los que forma parte esencial de los mismos el ajuar doméstico.
En aproximadamente cuarenta de estos documentos (datados entre el siglo X y XIII) encontramos
frecuentemente la cita en plural, lo cual nos confirma en su abundancia en domicilios particulares.
Casi siempre figura enumerada conjuntamente con otros enseres domésticos. Todos pertenecen a
eclesiásticos de distinto grado, canónigos del templo preferentemente.

Seguidamente figura un resumen de fechas de documentos de la citada catedral. Se enumeran dos


arcas en el año 956:
Arca para guardar ropa, en el año 1181: unam arcam in qua vestimenta ponantur et meam capam
serical…
Cinco arcas buenas, dos arcas buenas (1213 y 1245)
Dos arcas de las mejores (1219)

139
Conservación de granos, año 1261: unam arcam et duodecim stopos tritici…
Cofre posiblemente, año 1267: para guardar la crisma e el olio e las aras e el calice en la arca o otros
logar so clave…
Cofre, posiblemente, año 1270: los maravedís que yo he… que yacen en mia arca…
Arca grande: estas son las preseas … una gran arca que esta enna camara(1270)
Arquilla: una arqueta pequenina (1270)
Distintas funciones: II arcas, e la una esta enna camara e las duas enna coçina (1270)
Cofre: ciento e XVI, menos cuarta, que iacen enna mia arca.. (1270)
Cofre: mando todas las presea que iazen en el arca de la mías casas (1270)
Como mandas testamentarias: una arca que mando a mio criado… (1271)
Recipiente de alimentos : I arca y stopos de centeno 2311
Cantidades: seys arcas e cinco escanos (1274)
mando VII cientos maravedís que tiengo en mia casa, ennna mia arca…(1274)
Manda testamentaria: mando a mia criada arca xana e la menor… (1275)
mando mille cincuenta e cinco torneses de plata que yo tengo enna mia arca…(1283)
Joyero: un anillo pontifical con çaffil grande e con piedra aderredor e es muy bueno… que iaz en una
arca de marfil… (1290)
Relicarios: et una arca de marffil con reliquias… facistol… e dos pares de façaleyas lauradas con seda
e con oro… e duas arcas vieyas en que iaz todo esto… (1290)
Forma: una arca de espinaço… (1292)
Baulera: mandole la mia arca que esta en el sombrado… (1297)
Forma: duas arcas planas… (1300)
Caja fuerte: D e LX maravedís que iacen enna arca, lugar donde se custodian los dineros para pagar
las horas de la catedral, a semejanza se constituyó un arca de misericordia desde un siglo XVI.
Forma: cuatro arcas planas, tres mesas… (1319)
Tabernáculo o sagrario: arca de marfil para tener el cuerpo de Dios… (1422) (4.)

Esta base documental confirma sobradamente la tradición que existió desde la Edad Media en cuanto
a la utilización del arca como un mueble o ajuar imprescindible en las casas con los diversos fines
que expresan los documentos (5). Con más precisión se encuentran referencias en numerosas
publicaciones alusivas a la vida diaria. En muchas publicaciones se encuentran cuatro tipos que suelen
definir estudios sobre arcas: los domésticos y de transporte, un fin religioso, como simples cajas o
cofres con diversas aplicaciones, hasta llegar a piezas suntuarias de carácter áulico. No es necesario
insistir que son las primeras que les correspondió cumplir el papel de los baúles en el medio rural y
social a que los referimos.

En una clasificación improvisada localizamos en domicilios hasta mediados del siglo XX un arcón, un
baúl grande, otro pequeño, una arqueta o “baulín”, que sirven respectivamente para guardar la ropa de

140
cama y abrigo, la interior, documentos familiares y algunos objetos de especial valor. Para la custodia
de los granos, piensos, simientes se reservaron arcas más toscas y de mayores dimensiones.

La tradición durante el resto de la Edad Media, Renacimiento, etc., está sobradamente documentada.
Desde el siglo XVI se existieron los gremios de bauleros que permanecen hasta el siglo XIX, incluidas las
colonias sudamericanas donde se conservan hasta finales de este siglo. El vocablo baulera subsiste aún
aplicado para portaequipajes de los vehículos a motor en Sudamérica, de forma general, para motocicletas.

El componente y la extensión del empleo de la hojalata desde el siglo XIX significó la incorporación
de un elemento decorativo que sustituyó a los materiales utilizados anteriormente, más caros, como la
plata, cobre, cuero, guadamecí, etc. para cubrir las arcas en su exterior. Esto significó la aplicación de
elementos industriales para sustituir los artesanos de plateros, guarnicioneros, ebanistas, etc., aplicados
para este fin secularmente. La incorporación de una artesanía industrial (si así se la pudiera denominar) o
producción mecánica que se sobrepuso a la manual que había fabricado hasta ese momento los baúles,
marcó un hito en cuanto a la posibilidad de adquirir baúles por las clases sociales inferiores. Los baúles
se convirtieron en muebles del ajuar doméstico, imprescindibles en las casas. Consecuentemente
representan la incorporación de las clases rurales a un objeto práctico, decorativo y higiénico; no
olvidemos que con frecuencia se impregnaba el interior de los baúles con planta antibacterianas, antes
de imponerse otros derivados químicos. En el baúl no solamente se conservaban todos tipo de ropas de
calle, de la casa (también los sabaneros y de novia), sus moradores, así como objetos de especial valor,
incluidas las faltriqueras de piel de gato para guardar las onzas, que aún escuchamos añorar a alguna
abuela. Venía a ser como el lugar más íntimo de la casa reservado particularmente a la madre; en todo
caso ambos progenitores, dado que en la mayor parte de las veces estaban provistos de cerraduras; era
un objeto de respeto. Esta costumbre y condicionamiento femenino hubo de influir para que por tal motivo
merecieran el especial cuidado y tratamiento en su interior.

Esta caja pintada, forrada de piel u hojalata en su totalidad o solamente en las cantoneras o ángulos
superiores, y decorada con tachuelas fue un mueble insustituible hasta que se extendieron los armarios
de luna o espejo que se impusieron entre las clases burguesas desde mediados del siglo XX en el
ámbito rural y doméstico a que nos referimos. La posibilidad de un tratamiento mecánico de la madera
sustituyó muchas veces al papel que además del fin que hemos señalado anteriormente servía para
alisar superficies ásperas. Fueron precisamente estas clases sociales las que más lo utilizaron, por
tanto donde es más fácil localizar aún ejemplares de todo tipo.

Haciendo una averiguación algo más pormenorizada nos encontramos que donde se produjo una
concentración mayor fue en los colegios eclesiásticos de ambos sexos. La austeridad de estos
centros recomendaba tal recurso, además del servicio personal que ofrecía. Hemos encontrado
testimonio orales que nos confirman la existencia en colegios o seminarios donde se podían agolpar

141
simultáneamente cientos de baúles hasta el último tercio del siglo XX, puesto que formaban parte del
equipo que se exigía al alumno. Uno de los ejemplares examinado conserva en el frente interior de
la tapa una colección de calcomanías de su poseedor, superpuestas al papel decorado. En el citado
convento algún baúl sigue cumpliendo su fin natural, uno aún conserva la parrilla interior en la parte
superior. Sustituyó al armario con ventaja, por ser asequible a las economías modestas y resultar más
práctico por su movilidad. Ha sido en un monasterio cisterciense donde hemos localizado la mayor
parte de los que nos sirven para el presente artículo; es el monasterio de Santa María de Gradefes
(León) fundado en el año 1164.

Su fabricación y venta sistemática de baúles perduró en esta región hasta la década sexta del siglo
XX. Su exposición y venta en los comercios de ferretería confirma su relación con el ajuar doméstico
y la clase social con que los relacionamos. En la localidad de León existió una fábrica que cerró a
mediados de dicho siglo, sin que podamos allegar documentación alguna sobre la misma, a no ser la
cartela original de publicidad que figura al final y algunos testimonios orales.

La madera del país, roble y chopo principalmente, fue la más socorrida para su fabricación, si bien
comprobamos en varios casos que también se recurrió a madera reciclada (no bien pulida), sobre todo
de pino procedente de embalajes según constatamos en tres de los enumerados, en dos de los cuales
figura estampada visiblemente “BILBAO”.

La decoración es la faceta que más nos importa destacar. En primer lugar la imitación en las tres
formas que dejamos señalado, que son evidentes influencias de las arcas medievales.

La tendencia, como sucede en éstas a decorar el exterior, sea con cuero u hojalata, etc., pero en ambos
casos dando apariencia de buena presentación, a la vez que una resistencia añadida con que se
equipaban por si hubieran de servir para viajes. Algunos ejemplares resultan aparentar esplendorosos,
es el caso de los recubiertos de hojalata estampada y dorada como el que figura con el nº 1.

El interior, por el contrario, salvas raras excepciones, se recurre al papel decorado de no muy alta
calidad, según los modelos que hemos podido examinar. Lo cual no dista mucho en cuanto al objetivo
de las ricas telas orientales con que se recubrían las arquetas antiguas. Según M. Labargue el fin
esencial era preservar el contenido de los baúles del polvo y suciedad. (íbid. 2 Labargue)

Si las variantes del soporte son numerosas, en cuanto a los tipos o patrones del papel las diferencias
son tantas que sería difícil localizar otros semejantes entre decenas de modelos, no sucede lo mismo
con el mueble; en lugar diferente y distante hemos encontrado uno idéntico al citado en primer lugar.
En cuanto al papel moderno se constata una influencia persistente de patrones xilográficos antiguos
que reiteran los temas florales y geométricos, éstos con insistentes rombos y cuadrículas.

142
Figura 5 Decoración con elegantes ramilletes (posible imitación de roble) alternando con otros de
rosas esquemáticas.

Figura 6 Decoración con elegantes ramilletes (posible imitación de roble) alternando con otros de
rosas esquemáticas.

Figura 7 Color azul y plateado con dibujos informales, perece imitar un plegado de ondas de agua.

143
Figura 8 Rombos beige sobre fondo blanco, enmarcados en líneas diagonales.

Figura 9 Fondo beige oscuro con estrellitas y lunares en color verde. Etiqueta original del fabricante.

Figura 10 Empapelado íntegro con hojas de papel de periódico de la época. El siglo Futuro, viernes,
10 de julio de 1909.

144
En esta serie existen dos forrados de tela corriente, uno de ellos acolchada de la prestigiosa firma Louis
Vuitton (Londres). Lo citamos porque, como excepción, confirma las conclusiones respecto al resto.
Todos los tipos de papel se deben clasificar como de fabricación mecánica. A pesar de que algunos de
estos muebles pudieran haber sido fabricados en el siglo XIX, posiblemente en el anterior, pero que
fueran forrados posteriormente a juzgar por el tratamiento de la tablas y sobre todo los herrajes. Al no
aparecer más que el anverso del papel tampoco se puede apreciar debidamente su textura.

Si son perceptibles los motivos y colores. Entre los primeros abundan los motivos florales y patrones
geométricos. Tampoco en este particular hemos podido conseguir documentación que acreditara la
venta de papel decorado a nivel local. Además del establecimiento que citábamos en el artículo anterior
para el siglo XIX, localizamos para el siguiente dos librerías papelerías; la de Mariano Garzo, situada
en calle Fernando Merino, 1 y la de Román Luera Pinto, en Fernando Merino, 7 y 6 Varillas 3 y 5. (6)

El nº 22 conserva un empapelado exclusivamente de papel de periódico, contrastando con el acolchado


del nº 25 de la casa Vuitton. El papel del primero es de escasa calidad obviamente; pertenece a
periódico es El Siglo Futuro, del viernes, 10 de julio de 1909, publicado en Madrid.

Los baúles de viaje, creemos que lo eran en gran parte potencialmente, aunque los momentos
migratorios que se produjeron en el primer tercio del siglo XX hacia Hispanoamérica nos ha dejado un
gran muestrario de este tipo. Hasta tal punto que en algunos estudios sobre el baúl en la región asturiana
se llega a afirmar que fueron un medio que se dispuso expresamente para viajes. Es explicable si se
tiene en cuenta la gran población emigrante que existió en dicho territorio. Las señales de sus etiquetas
y refuerzos especiales, según hemos referido en otro artículo, son señales inequívocas de tal destino. (7)

Hemos examinado veinticinco baúles del citado monasterio y otros diez de colecciones particulares
que nos han permitido extraer varias de las conclusiones expuestas en este artículo. Atendiendo a
su morfología se pueden clasificar por su forma, dimensiones, disposición de la tapa, material de
fabricación, color de la cubierta, colores y efectos particulares del empleo de herrajes para cierres,
bisagras y goncios, además del papel. Estos últimos efectos son determinantes para la clasificación
o encuadramiento entre la artesanía manual e industrial puesto que ambas abarcan funciones
ornamentales. Las sustentación sobre dos patas o parrillas que muestran al exterior dos escudetes,
sirven de resalte al mueble y aislamiento del suelo, puesto que son pocos los que disponen de una
base en forma de media caña u otro recurso similar.

En cuando a dimensiones su longitud varía entre 70 á 105 cms., siendo la media de 50 y 60 cms, el
ancho varía entre 40 y 70 cms., siendo la media respectivamente 40/50, 32 y 66, y 40/50 cms.

A continuación enumeramos otros objetos que hemos localizado en dicho monasterio que conservan
papeles decorados fabricados manualmente y que fueron objeto de diversos usos. La paradoja entre

145
un baúl y una caja de reliquias, es evidente. No obstante, es aquí donde se produce la convergencia
de las múltiples aplicaciones o campos de utilización del papel decorado.

Caja de reliquias. Tiene la particularidad de haber servido de recipiente para el transporte de una
reliquia desde Roma. Está fabricada en madera de haya y forrada en su exterior con papel decorado
de tipo xilográfico sobre fondo gris, con impresión de fino punteado, un diseño de ramilletes de rosas,
en color verde y malva, probablemente impresas con plantilla. Quedan restos del sello de lacre en el
exterior de la tapa, puesto que las reliquias venían precintadas para el destinatario, que en este caso
era: “Francisco monje español”. Está en perfecto estado. Siglo XVIII. Mide 14x5x5 cms.

Figura 11 Papel xilográfico. Fondo punteado negro, ramilletes con rosas color malva. Restos del
sello de lacre en la tapa.

Vitrina. Una pequeña vitrina, que sirve actualmente como receptáculo de los restos de reliquias, dispone
de una puerta trasera de madera, que fue forrada en su interior con papel xilografiado, tiene fondo
blanco y con un estampado de ramos y flores con capullos y abiertas, de color azul celeste, verde y
beige, que también se adornan con toques de este último color, que adornan igualmente las figuras u
óvalos interespaciales. Siglo XIX? El cuerpo de la vitrina mide 44x22x50 y la puerta empapelada 36x22.

Figura 12 Papel xilografiado con fondo blanco. Rameado con capullos y flores en color azul, verde y
beige, formas ovaladas interespaciales.

146
Arquilla o joyero. Es de fina lámina de madera envuelta en tu totalidad (interior y exterior) con papel
calcográfico. Se perciben perfectamente las estrías, posiblemente estuviera dorado y gofrado, pero
fue coloreado posteriormente con tinte rojo. Está forrada en el interior y el exterior, a excepción de la
base, cuya tabla es más consistente y que se remató con barniz el color amarillo. Lleva la inscripción:
“Agustina”, en color bermellón. Se apoya en cuatro pivotes redondos Siglo XVIII. Mide 27x13,5x14 cms.

Figura 13 Papel gofrado por método calcográfico, que posteriormente se tintó en color rojo.
Detalle de la tapa donde se aprecian las estrías del gofrado.

Monumento. Tiras de papel adherido al dorso de la tela pintada que soportan por el reverso el papel
decorado que forma una cenefa central con motivos vegetales en color granate, que se enmarca en dos
cordoncillos o entorchados laterales y una segunda cenefa marginal secundaria. Los distintos grados de
coloración produce a la vista el efecto del relieve de un tejido adamascado. En el anverso conserva restos
de la característica iconografía de los monumentos que se exponían en los presbiterios de los templos
durante el triduo de Semana Santa en las iglesias católicas antes de la reforma de 1965. De los catorce
paneles que tiene la estructura o armazón del sustento de las pinturas y papel en forma de vitrales
góticos, solamente conservan papel cuatro; todos tienen idéntica estructura y diseño. Posiblemente se
adhirió el papel decorado con el doble fin de dar consistencia a las pinturas del lienzo del anverso, a la
vez que de dejaba una cara vista por el reverso, gracias al papel. Siglo XVIII. Mide el papel 170x30 cms.

Figura 14 Fondo beige sobre el que se diseñó un dibujo xilográfico adamascado. La superposición
de un segundo color granate más oscuro le da la impresión de relieve.

147
Carta de profesión. El archivo conserva una colección de este tipo de cartas. Se ha seleccionado una
de fecha 17 de febrero de 1890, número 46. La orla está dibujada a tinta y decorada a mano, estamos
ante un ejemplo de “papel pintado”. Se alternan los colores verdes, grises malvas, todos en tonos muy
pálidos, seguramente a base de acuarelas. En la serie se encuentran diversas calidades de papel,
que es muy difícil identificar, debido tanto a la pintura como a la escritura, que suele figurar en amabas
caras. Mide 40x30 cms.

Figura 15 Carta de profesión. Dibujo a tinta sobre papel gris, que se enmarca en una orla
convencional que se pintó con acuarelas blanco, verde, gris y malva.

Carta de profesión. La traemos a colación porque es papel impreso a un solo color: negro; las cenefas
y círculos exteriores concéntricos rodeando una roseta, imitan una labor delicada de filigrana o labor
de encaje de bolillos. Es la número 41, de fecha 3 de julio de 1892. Se debió utilizar una plantilla para
estampar el diseño. En los ángulos se representa el repetido símbolo religioso del jarrón o búcaro de
azucenas, que en este caso se han convertido en diminutas palmeras. Se trata de un emblema habitual
en iconografía cisterciense y en sigilografía catedralicia. Siglo XIX. Mide 40X41 cms.

Figura 16 Esta segunda carta muestra una orla estampada con especie de rodelas y búcaros en los
ángulos. Creemos se recurrió a un medio metálico, a modo de sello.

148
Cartones. Un juego de cartones de patrones para confeccionar alfombras de nudo. Están dibujados
a mano, retocados y coloreados con acuarela sobre cartulina. Representan uno de los trabajos a que
tuvo que recurrir la comunidad para allegar recursos para su sustento. Unos son cartones propiamente,
otros simple papel. Elegimos tres cuyos colores se describen y dibujos que se reproducen. Miden
respectivamente 22x15,50; 32,50x22,50 y 30x32 cms.; se alternan tonos granate, azul, marrón, gris,
malva, amarillo, beige. Mediado siglo XX.

Figura 17 Cartulina impresa, retocada manualmente y coloreada. Se caracteriza toda la serie por
una abundante policromía en tonos suaves.

Las seis siguientes piezas de papel decorado pertenecen a una colección particular, existentes
actualmente en domicilio privado de León.

Plafones: Son cuatro unidades que proceden todas del almacén de papeles de Genaro García (Oviedo).
Todos dispuestos en estructura con una corona circular y un centro decorado. Todos se instalaron en
el primer tercio del siglo XX (antes de 1920). Excepto el número 2, obedecen a un patrón similar,
aunque con decoración diferente. Es evidente la característica composición de elementos, formas y
detalles que en buena parte asumen del arte barroco (algunos comunes al Art Deco): motivos florales y
geométricos, rocallas, presencia de colores dorados y plateados, ambos están presentes en los cuatro,
así como azul, verde yl anaranjado, en tres.

Nº 1. En la orla exterior existe una franja de hojas dobles afrontadas dos a dos en azul y amarillo.
En la parte central una serie de gallones bordeados en rojo y verde en forma alterna. Colores plata,
oro, verde, azul, naranja. Este ejemplar guarda alguna semejanza en cuanto a la forma con el que
reproduce Canals y Aromí (8). Diámetro 50 cms.

149
Figura 18 Profusa decoración de florecillas trifoliadas. En todos profusión de colores metálicos
combinados con azul, amarillo, rojo y verde.

Nº 2. Motivos en relieve con rocalla alternando con cestillo en la parte exterior. Enmarcan plafones
ovales con decoración alterna con florerillas y trifoliadas en relieve. Colores plata, oro, verde, azul y
naranja. Diámetro 48 cms

Figura 19 Característica labor de rocalla, con colores oro, plata, verde, azul y naranja.

Nº 3. En el centro una flor de ocho pétalos rodeada de ocho sectores encuadrados en rojo que bordean
zonas con pequeñas hojas con extremos trifoliados en azul. Colores: oro, plata, verde, azul y naranja.
Diámetro 38 cms.

Figura 20 En el centro flor de ocho pétalos con ocho encuadres en rojo, colores oro, plaza, verde,
azul y naranja.

150
Nº 4. Friso de ovas en el exterior y al rededor cuatro flores de cardo rodeadas de hojas de la misma
clase en ambos lados. Colores, plata, dorado, verde, amarillo, azul. Diámetro: 40 cms.

Figura 21 Friso exterior de ovas y cuatro flores exteriores de cardo, con color oro, plata, verde,
amarillo azul.

Puerta vidriera. Se compone de seis vidrios que forman el cuerpo superior de una puerta de dos hojas,
uno con diseño de “panal de miel”, monocolor negro sobre un fondo amarillo muy tenue; el otro con
rosetas concéntricas de tres cuerpos que alternan el verde y amarillo. El papel decorado está adherido
al vidrio por una de sus caras, según se puede comprobar por el tacto y por ligeros deterioros. No se
puede descubrir a primera vista qué sistema de adherente se utilizó. Ambos modelos permiten luz
traslúcida. Miden 43x41 cms.

Figura 22 El primer cuarterón con diseño de panal de miel y en color negro, el segundo con tres
rosetas concéntricas alternando color verde y amarillo.

151
Figura 23 El primer cuarterón con diseño de panal de miel y en color negro, el segundo con tres
rosetas concéntricas alternando color verde y amarillo.

Ventana vidriera. Tiene las misma característica que la anterior, en este caso se diseñó para dar
luz indirecta a una alcoba. Tiene la misma composición que el segundo de los elementos descritos
anteriormente, excepto en el tamaño, que se divide en cuatro rectángulos iguales. Mide 83x60 cms.

Estas seis piezas se encuentran en un inmueble, cuyos familiares tenían múltiples vínculos con familias
asturianas. La existencia de etiqueta en los plafones nos ha permitido identificar la casa suministradora,
que fue la misma que decoró el Centro Mercantil de Oviedo en 1912. El suministrador fue “Genaro
García [Braga (tachado)] Almacén de papeles pintados. Cristales Colores”. En la citada construcción
de Oviedo se decoró en 1916 con papeles pintados, así como con “vidrieras de composición simétrica
sobre un fondo de cristal catedral con filetes y rombos de colores... con sencillas pinturas decorativas
al óleo, dispuestas en torno a las lámparas y plafones (9). En ambos inmuebles se producen otras
coincidencias decorativas comunes.

Etiqueta adherida al reverso de los plafones (18-19-20-21) de la casa Genaro García. Oviedo. Papel
impreso. 10,50x7 cms.

152
Figura 24 Etiqueta adherida al reverso de los plafones Nº 18-21.

Naipe. Naipe siglo XIX? Cartulina estampada por el anverso con encuadre marginal conteniendo en
el centro nueve copas, en color rojo, verde y amarillo. El reverso esta pintado con un diseño que imita
al engrudo del papel en tono rosa oscuro. Este sistema decorativo fue muy utilizado para el papel de
naipes para los siglos XVIII y XIX al menos. Así los hemos constatado en muchos ejemplares de naipes
y fragmentos. Colección particular. (10). 5X8,50 cms.

Figura 25 Naipe con figuras xilografiadas en color rojo, verde, amarillo. El reverso en color rosa
oscuro imitando decorado al engrudo.

153
Figura 26 Naipe con figuras xilografiadas en color rojo, verde, amarillo. El reverso en color rosa
oscuro imitando decorado al engrudo.

Agenda. Guarda de tapa de agenda particular procedente de Cuba, datable en el primer tercio del siglo
XX. El tipo de papel marmoleado en patrón peine es característico tanto por su forma de pequeños
segmentos de arcos apuntados, así como el predominio del color rojo del fondo, que en este caso se
combina con el blanco y azul Colección particular. (11). 7,50x 15 cms.

Figura 27 Tipo de marmoleado imitando un patrón antiguo Old Dutch, color rojo, azul y blanco.

Como queda señalado, hemos expuesto una serie de objetos distintos y dispares, pero que quedan
vinculados, en este caso, por servir de instrumento común de decoración. Son muestras que se
relacionan con lo sagrado o religioso, la vida doméstica, las relaciones incluidos aspectos lúdicos. No
son todos, ni mucho menos, entre los que encuentran armarios, recipientes, útiles domésticos, cajas,

154
etc., dentro del ámbito citado. En todo caso los citados nos han servido para presentar una selección
de la aplicación del papel decorado tanto por procedimientos manuales como mecánicos.

Figura 28 Etiqueta de fábrica de baúles “Nistal”, existente en León hasta mediados del siglo XX.

BIBLIOGRAFÍA

(1) XI congreso AHHP, pp. 89-100.


(2) https://blocbibreserva.ub.edu/2016/11/17/una-galeria-virtual-para-redescubrir-el-universo-del-
papel-decorado/
(3) Margaret W Labargue, Viajeros medievales. Los ricos y los insatisfechos. Trad. José Luis López
Muñoz, Hondarribia Guipúzcoa, 2000, p.72.
(4) Colección
(5) “Estampas de la vida cotidiana a través de la iconografía gótica,” en La vida cotidiana en la Edad
Media. VIII Semana de Estudios Medievales (Nájera) 1998. pp. 47-76
(6) Anuario Industrial y Artístico de España, 1933-1934 [León]. Madrid, Editorial Rivadeneyra.
(7) T. Burón Castro, La Panera, 30 (2010) pp. 8-10.
(8) M. Teresa Canals y Aromí, El papers pintats i les arts decoratives, Barcelona (2003) fig. C9.
(9) Leire Rodríguez Fernández, El centro Mercantil de Oviedo. Aproximación de la decoración de
interiores en Asturias (1912-1917). Res Mobilis. Revista Internac (2013) pp. 58-60.
(10) T. Burón Castro, Archivo Histórico Provincial de León. Fondos Especiales. Colecciones III, León,
2002, pp. 109-11 y 137) Antonio Carpallo Bautista y Antonio Vélez Celemín, Los papeles decorados en
las encuadernaciones del Archivo Biblioteca de la Catedral de Toledo, Toledo (2010) p. 23.
(11) Antonio Carpallo Bautista… Los papeles…, 86-8 8.

155
LAS CARACTERÍSTICAS DE SEGURIDAD PAPELERAS DE LOS BILLETES DE BANCO

José María Pérez García


Museo Casa de la Moneda, Madrid
jmaria.perez@hotmail.com

RESUMEN

El presente artículo realiza una breve introducción de las características de seguridad aplicadas al
papel de los billetes de banco desde el siglo XIX hasta nuestros días. Se exponen así los distintos
materiales y formas de producir el papel, el empleo y desarrollo de marcas de agua especialmente
concebidas para estos documentos, así como los distintos elementos de seguridad añadidos al papel
a lo largo de estos dos siglos: fibrillas, planchettes, tiras de papel, hilos de seguridad y tintes papeleros.

PALABRAS CLAVE

Características de Seguridad, marca de agua, hilo de seguridad, fibras, planchettes

ABSTRACT

This article briefly introduces the security features applied to banknotes from the 19th century to our
days. It is in this way that are presented the range of materials and papermaking methods, the utilisation
and development of watermarks specially conceived for this sort of document, as well as the various
security features that for the past two centuries have been added to the paper: fibres, planchettes,
paper strips, security threads and different paper dyes.

KEYWORDS

Security features, watermark, security thread, fibres, planchettes

Introducción

El papel de seguridad, el empleado en la elaboración de los documentos de garantía y valor es el


gran ignorado por los historiadores del papel. Esto se debe, en primer lugar, a su corta historia, que se
desarrolla enteramente dentro de los límites de la Edad Contemporánea. Sin embargo, el principal motivo
para no atraer a la investigación es la escasez de datos que existen sobre él, dado el específico carácter
de su campo de aplicación, donde el secreto dificulta la conservación de registros escritos y su difusión.

157
Es por ello que, con este artículo, hemos querido realizar una breve introducción a las características y
la historia del más conocido papel de seguridad, el de los billetes de banco. Una introducción que, de
forma muy visual, presente una serie de conceptos y términos de forma clara y útil a los investigadores
del mundo papelero.

El papel de seguridad tiene un requerimiento general muy bien definido: de alguna forma debe impedir
o dificultar grandemente su reproducción fraudulenta. Esto lo consigue empleando lo que llamamos
genéricamente “características de seguridad papeleras”. Estas características, o medidas de seguridad,
se complementan con otras aportadas por la impresión de los documentos, con el mismo objeto de
impedir la falsificación de éstos.

Además, estas medidas de seguridad, de las cuales las más conocidas son las marcas de agua,
no sólo deben ser difíciles de falsificar, sino fáciles de reconocer. En este punto conviene advertir
que las características, o medidas, de seguridad de los billetes de banco pueden estar destinadas a
ser identificadas por el público usuario de los documentos, o estar pensadas para su reconocimiento
mecánico mediante algún dispositivo electrónico. En este artículo nos referiremos a las primeras, si
bien mencionaremos en algún caso la posibilidad de emplear alguna característica para la lectura
mecánica.

1. Desarrollo histórico del papel de los billetes de banco

Los billetes de banco incluyeron medidas de seguridad anti-falsificación desde antes incluso de su
propia invención, pues las cédulas y vales, que fueron el origen de estos billetes, ya incluían “signos”
o “marcas secretas” en las filigranas que incluía el papel fabricado manualmente a partir de trapos
(TORTELLA, 2007: 355-356). Así, las marcas de agua y la fabricación del papel a partir de fibras
procedentes de plantas anuales han acompañado a los billetes desde su origen hasta nuestros días.

Si bien los primeros ejemplos de billetes emitidos por bancos se remontan a momentos incluso anteriores
al siglo XVIII, será a lo largo del siglo XIX cuando se irán convirtiendo en el documento de valor al
portador y de curso forzoso que hoy en día conocemos, es decir, en lo que propiamente podemos llamar
papel moneda. Desde entonces, las características técnicas de los billetes evolucionarán, procurando
siempre resultar infalsificables, empleando para ello los medios más sofisticados disponibles por la
tecnología del momento.

De este modo, durante el siglo XIX se desarrollarán una serie de técnicas específicas aplicadas a la
fabricación del billete de banco, singularmente la fabricación de papeles de seguridad y la impresión
calcográfica a partir de planchas grabadas en acero. Así, el desarrollo de los documentos de seguridad
dio una nueva vida a dos técnicas centenarias, que la Revolución Industrial estaba dejando obsoletas:
la fabricación de papel de trapos y el grabado calcográfico.

158
Por lo que respecta al papel, tanto sus características de durabilidad como las de seguridad, impusieron
que, en un primer momento y en el ámbito europeo, éste se continuara fabricando por el método
tradicional, es decir, a mano y a partir de fibras textiles. La práctica de incorporar al papel filigranas
complejas, localizadas en zonas determinadas del papel como medida de seguridad, y la necesidad
de dotar a los billetes de la resistencia necesaria para soportar su circulación impidieron la rápida
incorporación de las máquinas de mesa plana y de la fibra obtenida a partir de la madera.

El papel de los billetes de banco se continuará fabricando a mano en Europa durante la mayor parte
del siglo XIX, mientras se desarrollan para él, como medidas de seguridad, marcas de agua de
una complejidad nunca antes vista, así como otras características novedosas. La mecanización de
la fabricación de estos papeles llegará en el último tercio de la centuria, mediante el desarrollo de
máquinas de forma redonda especialmente diseñadas para ello (DE LEEUW y BERGSTRA, 2007:
226 y V.V.A.A., 2000: 126). Sólo cuando el aumento de la demanda de papeles para billetes de banco
supere la capacidad productiva de los procedimientos tradicionales, se procederá a la implantación de
métodos mecánicos.

Figura 1 Malla para la producción manual de papel para billetes de 48.000 reis del Banco de Lisboa
(1822-1846), incorporando filigranas para formación de marcas de agua de hilo. Museo do Dinheiro,
Lisboa.

Posteriormente y hasta hoy en día, se irán perfeccionando las características de seguridad de estos
papeles, a la vez que se crearán otras nuevas, en una constante lucha contra el desarrollo tecnológico
que, si bien las hace posibles, permite también dotar al falsificador de la forma de imitarlas. Fruto de
esa dinámica fue el desarrollo de las características de seguridad mecánicas, o procesables mediante
dispositivos automáticos, en muchas ocasiones invisibles para el público.

159
2. Características papeleras de seguridad más empleadas en los billetes de banco

En lo que sigue no se pretende realizar una exposición exhaustiva y detallada de todas las medidas
de seguridad empleadas en el papel de los billetes de banco, tarea que excede de los límites de
este breve artículo, sino únicamente introducir las medidas más comunes y que mejor caracterizan la
producción de este tipo de papeles.

Así pues, presentaremos el empleo de pastas papeleras especiales, los diferentes tipos de marcas
de agua incorporadas en los billetes de banco, las fibrillas, planchettes, hilos de seguridad y
elementos embebidos en el papel, así como el empleo de tintes y otras sustancias. Comencemos
primero hablando de la materia prima.

2.1 La pasta del papel de los billetes de banco

El descubrimiento a mediados del siglo XIX de que las fibras celulósicas, que forman la pasta del papel,
podían obtenerse a partir de la pasta de madera revolucionó la producción papelera, reduciendo el
coste del papel y extendiéndolo así a multitud de usos. Sin embargo, no fue la fabricación del papel
fiduciario uno de ellos.

Los billetes de banco, como medio de pago destinado a circular de mano en mano, debían contar
con una gran resistencia al desgaste que genera su uso. Los nuevos papeles no podían aportar
esa resistencia. Fue así como se impuso la continuidad del empleo del tradicional “papel de trapos”,
fabricado a partir de fibras textiles: algodón, lino, cáñamo y ramio, con diferentes composiciones según
los países (BENDER, 2006: 109; TORRES, 2003: 80 y V.V.A.A., 2000:110).

Los fabricantes se aplicaron al desarrollo de papeles cada vez más resistentes y adaptados a recibir
sobre sí un trabajo de impresión delicado y complejo, principalmente impresión calcográfica. Papeles
cuya resistencia se debe, en primer lugar, al empleo de fibras muy largas y resistentes.

El resultado fue un papel con un tacto muy particular y distinto del que tiene cualquier otro tipo y que
se convirtió en una característica de seguridad en sí misma: el tacto y el sonido que produce el papel
de un billete de banco al ser agitado, lo que técnicamente se conoce como “carteo”.

160
Figura 2 Trabajadoras seleccionando recortes textiles de algodón para la elaboración de papel
moneda en la FNMT-Burgos, ca. 1960. Archivo del MCM, Madrid.

Además, los papeles fabricados a partir de fibras textiles, no requieren los agresivos blanqueantes que
se emplean en la producción de las pastas papeleras madereras. Esto ha hecho que los billetes de
banco se cuenten entre los escasos documentos de los siglos XIX y XX cuya resistencia a la degradación
supera a la de los papeles de trapos tradicionales. Además, esta circunstancia se convertiría en otra
característica de seguridad, al impedir que el papel de los billetes de banco tenga respuesta a la luz
ultravioleta (UV), al contrario que la mayoría de los papeles del mercado.

2.2 Las marcas de agua de los billetes de banco

Las tradicionales filigranas, o “marcas de agua de hilo”, estuvieron presentes en los billetes de banco
desde antes de su propia creación (DE LEEUW y BERGSTRA, 2007: 224-225 y SYMES, 1993). Los
primitivos vales o cédulas ya se imprimían sobre papeles tradicionales cuyas filigranas habían sido
desarrolladas específicamente para este uso. En dichas filigranas se disponían determinados detalles
o imperfecciones, a modo de “contraseñas” o “marcas secretas”, difíciles de reproducir, y con el fin de
que su ausencia en las falsificaciones fuese fácilmente detectable (Fig. 3).

161
Figura 3 Billete de 5.000 reales de vellón del Banco Isabel II de la emisión de 1º de junio de 1844
observado por transparencia. Puede distinguirse la marca de agua clara o “filigrana” representando la
efigie de la reina. Se trata del ejemplo más antiguo del empleo del retrato en la marca de agua de un
billete de banco español. Archivo del Banco de España (ABE).

El desarrollo de los billetes de banco tuvo como consecuencia la aparición de las marcas de agua
sombreadas, que sustituyeron a las tradicionales marcas de agua de hilo o “filigranas”.

Observadas por transparencia, las marcas de agua de hilo presentan sólo dos niveles de transparencia,
la del papel, más oscura y la de la filigrana, más clara. Esto se conseguía añadiendo sobre la superficie
de la malla formadora de la hoja de papel, una figura en alambre, la “filigrana”, de modo que, al
depositarse la pasta papelera sobre dicha superficie, ésta alcanzaba un menor espesor donde se
interponía dicha filigrana.

Por el contrario, en la marca de agua sombreada se observan múltiples matices de opacidad. Sobre el
tono general del papel se contrapone una imagen formada por otros más claros y más oscuros, fruto de
la variación de espesor del papel. En este caso, esa variación no se consigue mediante el empleo de
una filigrana, sino deformando la propia malla, de modo que al depositarse la pasta papelera queden
zonas con diferentes espesores (Fig. 4).

162
Figura 4 A la derecha, papel con marcas de agua del billete de demostración “Lince” (FNMT-RCM).
A su izquierda, detalle de la malla de formación de éste. Obsérvese en la efigie del felino cómo
las zonas de mayor opacidad del papel se corresponden con las áreas embutidas de la malla,
mientras que las claras lo hacen con las crestas. Por su parte, la marca de agua más clara, que se
corresponde con la letra “L”, se realizó mediante la adición de una filigrana (electrotipo) a la malla
formadora. Servicio de I+D+i de la FNMT-RCM.

Las marcas de agua sombreadas tuvieron como antecedente a las “marcas oscuras”, que podían
observarse a contraluz como zonas de mayor opacidad que la del papel, frente a las filigranas o
“marcas claras”. Estas marcas oscuras se obtenían embutiendo la malla, de manera que se depositase
más pasta papelera en las zonas de mayor opacidad durante la formación de la hoja.

Utilizando esta misma técnica, en la década de 1840, se comenzaron a realizar “marcas de agua
duales” combinando marcas de agua claras y oscuras, aunque limitadas a textos y motivos sencillos
(V.V.A.A., 2000:112-113).

Sin embargo, será en la década de 1860 cuando estas marcas de agua se conviertan en marcas de
agua sombreadas propiamente dichas, cuando se adopte la representación de retratos de personajes
realizados con tonos claros y oscuros (DE LEEUW y BERGSTRA, 2007: 226 y V.V.A.A., 2000:111).
Debido a la dificultad añadida que suponen para el falsificador y su fácil reconocimiento por parte del
público, los retratos en marca de agua sombreada serán adoptados rápidamente por los fabricantes
europeos de billetes de banco.

Para facilitar el reconocimiento de estos retratos, se comenzó a reservar en la impresión del billete una
zona en blanco, o con la menor densidad de tinta posible, a modo de ventana (Fig. 5). Esto exigía que
los motivos de las marcas de agua se posicionasen en una zona concreta del papel, lo que se conoce
como “marca de agua localizada”. Dicha localización era relativamente sencilla de conseguir mientras
el papel fue fabricado a mano y en hojas de pequeño formato, pero suponía una dificultad importante

163
para su producción mecánica, especialmente en las máquinas Fourdrinier comúnmente empleadas en
la industria papelera convencional, lo que constituía una garantía de seguridad adicional (WARNER y
ADAMS, 2005: 40).

Figura 5 Marcas de agua filigrana (clara), oscura y sombreada. Esta última, mostrando una cabeza
griega que mira a izquierda, está dispuesta en una ventana o reserva de impresión del papel. Billete
de 500 pesetas de la emisión de 1º de julio de 1884. Félix Cuquerella.

Aunque la marca de agua sombreada se convirtió en la principal medida de seguridad papelera de los
billetes europeos casi desde su invención, no tuvo tanto éxito al otro lado del Atlántico. Los fabricantes
de documentos de seguridad norteamericanos habían desarrollado unos métodos de grabado e
impresión calcográfica mucho más avanzados que los europeos y que requerían de papeles con
características muy diferentes, donde la variación de espesor del papel con marca de agua tenía difícil
encaje (CAMPINÚN, PÉREZ GARCÍA y SANTOS, 2016: 159). Por el contrario, en los Estados Unidos
de América se asistió a una más sencilla mecanización en la producción del papel de seguridad, al ser
posible la aplicación de máquinas Fourdrinier (BENDER, 2006: 110).

Para los billetes de menor cuantía, en los que el empleo de papel con marcas de agua sombreadas
localizadas tiene un coste prohibitivo, se han venido empleando marcas de agua continuas, susceptibles
de ser producidas con máquinas papeleras de mesa plana o Fourdrinier desde 1826 (HILLS, 2015:
178) de forma mucho más rápida y con menor coste (Fig. 6).

164
Figura 6 Marca de agua oscura continua en un billete de baja denominación, consistente en la
repetición de un patrón formado por una estrella de cinco puntas acompañando a la hoz y el martillo,
a lo largo de toda la superficie del billete. A la derecha se muestra dicho patrón separadamente. La
posición exacta de estos motivos no reviste de gran importancia, por lo que estas marcas de agua
pueden incorporarse al papel mediante el empleo de rodillos Dandy en máquinas Fourdrinier, lo
que permite una fabricación muy rápida y económica. Por el contrario, la seguridad que aportan al
documento este tipo de marcas de agua es limitada. MCM-Madrid.

Los billetes de banco actuales combinan marcas de agua sombreadas con las tradicionales marcas de
hilo, conocidas hoy en día como marcas de agua de electrotipo. Suelen emplearse combinadas con
elementos de seguridad impresos, como los motivos de coincidencia que también se hacen visibles
por transparencia, e incluso se emplean para la realización de otras medidas de seguridad papeleras
diferentes, como el hilo ventana. Además, son susceptibles de ser utilizadas para la autentificación
automática del billete.

2.3 Las fibrillas de distinto material embebidas en el papel

Las fibrillas de seguridad son fibras de tamaño macroscópico – del orden de uno a diez milímetros de
longitud, de diferente color al del papel, y que se embeben en éste durante su formación. Generalmente
se fabrican de materiales textiles teñidos (hilo de seda) aunque modernamente se empleen también
materiales sintéticos e incluso metálicos. Estas fibras pueden observarse, parte en superficie y parte,
por transparencia, parcialmente embebidas en el papel.

Aunque su invención puede llevarse hasta principios del siglo XIX (DE LEEUW y BERGSTRA, 2007:
228), su empleo efectivo en el papel de seguridad se inicia en los billetes de los Estados Unidos de
América hacia 1869, con el uso de las denominadas fibrillas Wilcox, cuyo nombre proviene de su
inventor (SYMES, 1993). Su uso se extendió rápidamente a través de los billetes producidos
por los fabricantes

165
norteamericanos y, ya antes de finales del siglo XIX, sería empleado también por la mayoría de las
papeleras de seguridad europeas (Fig. 7).

Las fibrillas de seguridad pueden disponerse de diversas maneras en función del proceso de fabricación
empleado: en una de las caras del papel o en las dos, uniformemente distribuidas a lo largo de la
superficie o localizadas en alguna zona concreta del billete, generalmente en bandas. Sus colores
varían desde el negro o marrón crudo a los más llamativos rojos, verdes o azules, siendo habitual
incluir fibrillas de distintos colores en el mismo papel.

Figura 7 Billete divisionario de 15 centavos de los Estados Unidos de América, ca. 1870. Puede
observarse en el papel la inclusión de fibrillas de seguridad. Se trata del clásico papel Wilcox,
caracterizado por la disposición de una gran densidad de fibrillas en determinadas zonas del papel.
Fue utilizado ampliamente por los fabricantes norteamericanos de billetes de banco en esa época.
MCM- Madrid.

Desde los años sesenta del siglo XX se vienen empleando fibrillas de seguridad luminiscentes con
respuesta a la luz ultravioleta (DE LEEUW y BERGSTRA, 2007: 227 y SYMES, 1993). Hoy en día,
estas fibrillas luminiscentes son una de las características de seguridad papeleras más extendidas.

Además, las fibrillas de seguridad actuales son frecuentemente empleadas para la autentificación y
discriminación automática de los billetes.

2.4 Otros elementos embebidos en el papel: planchettes y tiras de papel

Otra característica de seguridad muy extendida en los billetes de algunos fabricantes es la inclusión
de pequeños discos embebidos en el papel. Suelen tener un tamaño en torno al milímetro de diámetro
y son conocidos como confetis o planchettes. Estos discos también pueden tener forma hexagonal
y ser de diferentes tipos.

Los más antiguos consisten en simples discos de papel coloreado o sobreimpreso. Aparecieron
por primera vez en el papel de billetes de la American Banknote Company en 1891 (DE LEEUW y

166
BERGSTRA, 2007: 228). Algo posteriores y también característicos de los billetes de esta empresa
neoyorkina son los que contienen pequeñas fibras de seguridad (Fig. 8). En otros casos, están
formados a partir de delgadas láminas de superficie metalizada. En este caso, su principal función
es impedir la reproducción sencilla del billete mediante fotografía o escaneado. Los planchettes
metalizados fueron introducidos por la compañía Giesecke und Devrient en sus billetes a partir de
1939 (SYMES, 1993).

Los planchettes se distribuyen por el papel del mismo modo que las fibrillas de seguridad, pero con
mucha menor densidad que aquellas. También es habitual que contengan pigmentos con respuesta
ultravioleta, térmica, química o de cualquier otra forma, y que sean legibles para el procesado y
autentificación mecánicos.

Figura 8 Billete de 100 riels del Banco Nacional de Camboya de 1972, que incluye pequeños discos
o planchettes. En el detalle de uno de éstos se puede observar cómo está formado por pequeños
confetis recortados de un papel con fibrillas de seguridad. MCM-Madrid.

Una variante del sistema anterior es el empleo de tiras de papel impresas de un tamaño bastante
mayor que el de los planchettes. Se trata de una medida de seguridad de bajo coste, patentada en
Alemania por Giesecke und Devrient en 1906 (SYMES, 1993) y que puede observarse sobre billetes
de este fabricante del período de entreguerras y los primeros años cuarenta (Fig. 9).

Aunque su empleo ha sido bastante limitado, su interés radica en adelantar la idea de introducir
microtextos embebidos en el propio papel, idea que después será aplicada a los hilos de seguridad.

167
Figura 9 Billete de 500 pesetas del Banco de España de la emisión de 21 de noviembre de 1936,
incorporando tiras de papel impresas embebidas en el papel. Obsérvese el texto continuo “…BANCO
DE ESPAÑA…” en la ampliación de una de estas tiras. También se aprecia la presencia de una
marca de agua continua en el billete. MCM-Madrid.

2.5 El hilo de seguridad embebido

Los hilos de seguridad propiamente dichos fueron desarrollados en el año 1939 por la papelera británica
Portals en cooperación con el Banco de Inglaterra (SYMES, 1993 y WARNER y ADAMS, 2005: 41).
Hoy en día, son una de las características de seguridad más extendidas en los billetes de banco y en
otros documentos de seguridad.

Este tipo de hilos actualmente están formados por varias películas de poliéster dispuestas en capas,
con un ancho que oscila entre 0,5 y 1,6 mm. El tipo más sencillo es el llamado “hilo metalizado”,
barnizado completamente y, por tanto, opaco a la luz, pero pueden incluir microtextos visibles por
transparencia, respuesta a la luz ultravioleta y capacidad de lectura mediante máquina (WARNER y
ADAMS, 2005: 41- 43).

Durante la fabricación de la hoja de papel, los hilos se incorporan entre dos capas de éste, quedando
así embebidos dentro de él y, por tanto, invisibles en superficie. Su reconocimiento como medida
de seguridad por parte del usuario es semejante al de las marcas de agua: invisibles por reflexión y
visibles por transparencia. (Fig. 10).

168
Figura 10 Billete de 1000 pesetas del Banco de España de la emisión de 19 de febrero de 1946
observado por transparencia. Se aprecia la presencia de un delgado hilo embebido que atraviesa el
billete verticalmente. Al igual que la marca que de agua que puede observarse en la esquina inferior
izquierda, el hilo resulta invisible por reflexión. Fabricado por la papelera Portals. Se trata de un hilo
metalizado de primera generación y el primero empleado en un billete de banco español. MCM-Madrid.

En la actualidad, los hilos pueden estar completamente embebidos en el papel o ser parcialmente
visibles en una de sus caras; es lo que se conoce como el “hilo ventana”, característica de seguridad
desarrollada también por Portals en 1980 (DE LEEUW y BERGSTRA, 2007: 227; BENDER, 2006:
2012 y WARNER y ADAMS, 2005: 43)

Este nuevo tipo de hilos, al ser en parte visibles por reflexión, pueden incluir medidas de seguridad
adicionales sobre su superficie, como acabados metalizados, impresiones complejas o características
holográficas (Fig. 11).

Figura 11 Reverso del billete de demostración “Lince” (FNMT-RCM) en el que, por reflexión de la luz,
puede observarse parcialmente el hilo ventana. A su derecha, una vista por transparencia del hilo,
donde se aprecia su continuidad, así como la menor opacidad de las zonas donde se han practicado
las llamadas “ventanas”. Servicio de I+D+i de la FNMT-RCM.

169
Sin embargo, la idea de embeber en el interior del papel algún tipo de tira de diferente material se remonta
al siglo XIX, cuando se realizaron multitud de ensayos fallidos con ese fin (V.V.A.A., 2000: 122-123). La
única experiencia exitosa en ese sentido, y antecedente directo del hilo de seguridad, fue la inclusión
en los billetes del Banco de España de bandas de tarlatana incrustadas en el papel entre 1874 y 1900
(Fig.12) (SUÁREZ DE FIGUEROA Y PRIETO, 1974: 123-203 y SYMES, 1993). Esta característica fue
patentada por Pedro Nolasco Oseñalde (SUÁREZ DE FIGUEROA Y PRIETO, 1974: 166).

El papel de estos billetes era fabricado a mano por la fábrica de Oseñalde. La mecanización de
su producción resultó imposible, por lo que se dejó de incluir en los billetes españoles cuando las
necesidades de suministro de papel superaron la capacidad productiva del proceso manual.

Figura 12 En la parte superior, anverso del billete de 25 pesetas del Banco de España de la emisión
de 1º de junio de 1889. En la vista inferior se muestra el mismo billete por transparencia, donde se
aprecia la tarlatana incrustada en el papel. Félix Cuquerella.

170
2.6 El empleo de tintes papeleros y otras sustancias añadidas a la masa del papel

Terminamos este breve repaso de las características de seguridad más empleadas en el papel de
billetes de banco refiriéndonos a la inclusión de tintes u otras sustancias en la masa papelera.

El propio color natural del papel producido a partir de fibras de plantas anuales, con frecuencia
procedentes de retales textiles, supone una medida de seguridad por la dificultad que supone
reproducirlo por otros medios. Los tintes papeleros surgen desarrollando esta idea.

Desde la propia invención de los billetes de banco, se vienen empleando tintes en masa, que afectan a
toda la superficie del papel, con el simple objeto de alterar el color del mismo. El teñido diferenciado en
función de la cuantía es medida empleada desde el siglo XIX, con el fin de evitar que los falsificadores
utilicen papeles de billetes de menor cuantía para la reproducción fraudulenta de otros de mayor valor.

Otra forma distinta de emplear los tintes es de forma parcial. Esta otra técnica se generalizará a principios
del siglo XX. Se empleará extensivamente en los billetes alemanes del período de entreguerras,
sobre los que se ensayan un gran número de características de seguridad económicas y alternativas
al empleo de costosos papeles con marca de agua sombreada y localizada (CAMPINÚN, PÉREZ
GARCÍA y SANTOS, 2016: 165).

Figura 13 Billete alemán de 50.000 marcos de la emisión de 19 de noviembre de 1922. Se observa


el empleo de un tinte papelero dispuesto en una banda vertical a la derecha. MCM, Madrid

En la actualidad, pese a que el comercio electrónico amenaza con poner fin al uso de billetes de banco
y, con ello, a la producción de este tipo de papeles, el desarrollo de medidas de seguridad cada vez
más sofisticadas continúa, y no parece que vaya a dejar de hacerlo hasta el mismo día en que se emita

171
el último billete. La seguridad del circulante depende de que el dinero se fabrique a partir de un papel
único e irrepetible, tanto hoy como hace doscientos años.

BIBLIOGRAFÍA

BENDER, K. (2006): Moneymakers. The secret world of banknote printing. Weinheim.


CAMPINÚN, M.; PÉREZ GARCÍA, J.M. y SANTOS, L (2016): Filigranas, las huellas del agua. Madrid.
DE LEEUW, K. y BERGSTRA, J. (2007): The History of Information Security - A Comprehensive
Handbook. Elsevier.
HILLS, R.L. (2015): Papermaking in Britain 1488-1988 - A Short History. Londres.
SUÁREZ DE FIGUEROA Y PRIETO, R. (1974): Los billetes del Banco de España. Madrid.
SYMES, P.J. (1993): Security Features in World Banknotes. (Recuperado de: http://www.pjsymes.com.
au/articles/security.htm)
TORRES LÁZARO, J. (2003): La Fábrica de Papel de Burgos – 50 años garantizando autenticidad.
Madrid: pp. 80 – 85
TORTELLA, T. (2007): “Una época de transición: Símbolos, imágenes y marcas en los billetes de los
primeros bancos (1830-1874)” en Numisma. Nº 251: pp. 349-369. (Recuperado de: http://www.siaen.
org/documents/10901/11639/2007+-+251/b5b93c82-8dd4-4a0f-af5c-2ba5c6cd6489)
V.V.A.A. (2000): L’Art du billet. Billets de la Banque de France 1800-2000. París.
WARNER, R. y ADAMS, R. (2005): Introduction to security printing. Pittsburg: pp. 33 – 48.

172
AS MARCAS D’ÁGUA DO PAPEL SELADO DE PORTUGAL (1661-1668 e 1797-1804)

Paulo Rui Barata


Coleccionador e Investigador
baratap@netcabo.pt

RESUMO

O papel selado teve em Portugal três períodos de utilização: 1661-68 para pagar a Guerra da
Restauração; 1797-1804 para pagar a Guerra das Laranjas, que nos levou à perda de Olivença; 1827-
1986, para subsidiar as Guerras Liberais e a Regeneração, e depois para subsidiar o Orçamento Geral
de Estado.

Em termos de marcas d’água os papéis de 1661 a 1668 na sua maioria não as ostentavam; a pequena
parcela que tinha marca d’água apresenta desenhos que são bem conhecidos. São quase todas de
dois tipos, tripla circunferência, encimada por uma cruz ou uma coroa, e dupla circunferência encimada
pelas armas de Génova.

No período de 1797 a 1804 a maioria das empresas fornecedoras de papel era italiana e holandesa.
Aparecem também, com menos frequência, papéis de Espanha, França, Reino Unido e Portugal.

Palavras-chave: marcas d’água, papel selado, valores selados, imposto do selo, papéis de valor

ABSTRACT

Revenue stamped paper had three periods of use in Portugal: 1661-68 to pay for the Restoration War;
1797-1804 to pay for the War of the Oranges, that caused us to loose Olivença; 1827-1986 to pay for
the Liberal Wars and, later, to subsidize the National General Budget.

In terms of watermarks most of the papers of 1661 to 1668 didn’t have them; the small number that
possessed one presents well known illustrations. Most of them are in two types, the triple circle covered
with a crown or a cross, and the double circle topped by the Genoa coat-of-arms.

In the period of 1797 to 1804 most of the paper mills that supplied the Portuguese market were Italian
and Dutch. Less frequently found are papers from Spain, France, United Kingdom and Portugal.

KEYWORDS

watermarks, revenue stamped paper, documentary paper, stamp duty, fiduciary papers

173
INTRODUÇÃO

O papel selado teve em Portugal três períodos de utilização: de 1661 a 1668, para pagar o período
final e mais activo da Guerra da Restauração, já com o Marechal Schomberg a comandar as nossas
tropas; de 1797 a 1804, para pagar a Guerra das Laranjas, que nos levou à perda de Olivença; de 1827
a 1986, de início (1827-37) para subsidiar as Guerras Liberais e a Regeneração, depois (1838-1986),
dado o copioso volume de dinheiro que entrava nos cofres do Estado devido a este imposto, para
subsidiar o Orçamento Geral de Estado.

Não estou aqui a incluir o período de 1637 a 1640, durante o domínio espanhol, pois esses papéis
eram impressos em Espanha, para fazer face à gerra contra os Países Baixos, e o seu uso não era
obrigatório em Portugal, senão para documentos que tivessem de fazer valor em Espanha. O seu
uso seria obrigatório a partir de Janeiro de 1641 (Real Decreto de 01-11-1640), mas tal não chegou a
acontecer, por razões óbvias.

Figura 1 e 2 – duas das fábricas italianas que forneciam Portugal, a Cartiera Cini (f. 1822) e a
Cartiera Magnani (f. 1404)

Nos dois primeiros períodos de utilização os papéis eram comprados no mercado nacional e
internacional, havendo uma exigência legal de qualidade que nem sempre era cumprida. As empresas
que mais papel forneciam a Portugal eram italianas e holandesas, sendo de longe o papel mais comum
o que tem a marca d’água “Giorº Magnani”.

174
Figura 3 e 4 – duas fábricas portuguesas bem conhecidas, a de Porto de Cavaleiros (f. 1882)
e uma das de Paços Brandão (f. 1822), aquela onde actualmente se encontra instalado o Museu
do Papel

Na primeira parte do terceiro período, 1827-1837, continuaram a usar-se os papéis italianos e já muitos
nacionais, principalmente da Lousã. Na segunda parte do mesmo período, 1838-1986, o papel selado
passou a ser impresso em papéis expressamente produzidos para o efeito, fornecidos à vez pelas
fábricas da Lousã, Prado, Abelheira, Paços de Brandão e Porto de Cavaleiros, sendo as duas primeiras
as que forneceram a maioria do papel utilizado pela Casa da Moeda.

Figura 5 – filigranas de arame de cobre usadas na produção de marcas d’água para papel selado na
fábrica de Porto de Cavaleiros; as filigranas fixavam-se aos pontusais da forma e a papa de fibras de
celulose assentava sobre elas ficando a marca d’água desenhada no papel (imagem por cortesia do
Museu do Papel)

As marcas d’água destes papéis expressamente produzidos para a Casa da Moeda começaram por
ser produzidas por filigranas de cobre que se fixavam aos pontusais da forma, ficando registadas no
papel no momento do seu fabrico.

175
Figura 6 e 7 – um método mais recente consistia na cravagem das marcas d’água enquanto o
papel ainda não tinha secado; vemos acima o cunho e contra-cunho da marca d’água para o papel
selado fabricado em Porto de Cavaleiros (imagens por cortesia do Museu do Papel)

Mais tarde, a partir de 1893, passaram a ser moldadas no papel já fabricado, mas ainda húmido,
através de cunhos e contra-cunhos que eram pressionados sobre a folha antes de secar.

Conforme figura no título da presente comunicação vamos de seguida apresentar as marcas d’água do
papel selado dos períodos de 1661-1668 e 1797-1804.

PERÍODO DE 1661 a 1668

Em termos de marcas d’água os papéis de 1661 a 1668 na sua maioria não as ostentavam;
a pequena parcela que tinha marca d’água apresenta desenhos que são, na sua maioria, já
bem conhecidos, figurando quase todos no livro da Sr.ª Dr.ª Maria José Ferreira dos Santos que
descreve a colecção de marcas d’água formada pela Tecnicelpa, agora à guarda do Museu do
Papel de Paços de Brandão.

A principal diferença entre essas marcas d’água e as descritas neste livro refere-se ao período de
utilização, que antecede em 60 a 100 anos as datas até agora conhecidas e referidas na literatura
publicada. São quase todas dos dois tipos bem conhecidos da tripla circunferência, encimada por
uma cruz ou uma coroa, e da dupla circunferência encimada pelas armas de Génova. Existem
muitas delas com pontusais simples e duplos.

176
Figura 8, 9 e 10

Figura 11, 12 e 13

Figura 14, 15 e 16

177
Figura 17, 18 e 19

Figura 20, 21 e 22

PERÍODO DE 1797-1804

No período de 1797 a 1804, como já foi referido acima, a maioria das empresas fornecedoras de papel
era italiana e holandesa. Aparecem também, com menos frequência, papéis com origem em Espanha,
França, Reino Unido e Portugal. Mostro primeiro as folhas inteiras e depois aquelas marcas de que só
conheço meias folhas.

178
PAPÉIS ITALIANOS

Figura 23 Balança Laureada // Flor de Liz Coroada

Figura 24 Flor de Liz Coroada // Balanças

Figura 25 A A (Laureado) // Flor de Liz Coroada

179
Figura 26 Cavalo // A G C

Figura 27 Brasão + A P // sem marca à direita

Figura 28. Anjo com AlmAsso // BAlAnçAs

180
Figura 29. Brasão // F P (Laureado)

Figura 30. Brasão + G I // Leviratto

Figura 31. Brasão // G L (Laureado)

181
Figura 32. Brasão + Giorº Magnani // Al Masso

Figura 33. Brasão + M F P // Al Gran Masso

Figura 34 Flor de Liz Coroada + Nicolo // Sol + Poleri

182
Figura 35 Flor de Liz Coroada + S B // sem marca à direita

Figuras 36 e 37

Figuras 38 e 39

183
Figuras 40 e 41

Figuras 42 e 43

184
Figuras 44 e 45

Figuras 46 e 47

185
PAPÉIS HOLANDESES

Figura 48 D & C Blauw // Brasão

Figura 49 H. C. Wend & Zoonen // Brasão

Figuras 50 e 51

186
PAPÉIS PORTUGUESES

Figuras 52 e 53

PAPÉIS ESPANHÓIS

Figura 54 Brasão + A B // San Carlo

Figura 55 Picador // U S D G

187
PAPÉIS FRANCESES

Figura 56

PAPÉIS DO REINO UNIDO

Figura 57 Flor // L G & C

BIBLIOGRAFIA

Bandeira A. M. L., “Pergaminho e Papel em Portugal -Tradição e Conservação”, Lisboa, 1995.


Barata P. R., “Selos Fiscais de Portugal e Colónias”, Lisboa, 1980.
Barata P. R., “Revenues of Portugal and Colonies”, Vila Nova de Gaia, 2006.
Barata P. R., “Sumários da Legislação Relativa a Valores Selados de Portugal e Ultramar – 1637-
2013”, Vila Nova de Gaia, 2013.

188
Barata P. R., “As Marcas d’água das Letras e Papel Selado de Portugal e Ultramar”, in Selos & Moedas
nº 143 e 144, Aveiro, 2013-2014.
Barata P. R., et al , “As Letras e Papel Selado de Portugal e Ultramar e Respectivas Marcas d’Água”,
Vila Nova de Gaia, 2017.
Carreira M. S. L. S., “Marcas d’água – Arquivo Histórico Parlamentar – 1821-1910”, Lisboa, 2012.
Casa da Moeda, “Legislação Sôbre Valores Selados do Continente, Açores e Madeira, na Vigência do
Regimen Republicano, 1910 a 1922”, Lisboa, 1924.
Casa da Moeda, “Legislação Relativa a Moedas, Cédulas, Valores Selados e Postais e Contrastarias
desde 1923 a 1928”, Lisboa, 1929.
Casa da Moeda, “Legislação Relativa a Moedas, Cédulas, Medalhas, Valores Selados e Postais,
Títulos da Dívida Pública e Contrastarias, 1929 a 1935”, Lisboa, 1936.
Casa da Moeda, “Legislação Relativa a Moedas, Notas e Cédulas, Valores Selados e Postais e Títulos
da Dívida Pública desde 1936 a 1949”, Lisboa, 1950
Dias J. J. A., “Para a História dos Impostos em Portugal - O Papel Selado no Século XVII”, in Nova
História, nº 3 e 4, Lisboa, 1985.
Pires R. F., “O Papel Selado em Portugal”, Porto. 1997.
Ruas J., “Notícias sobre a História do Papel em Portugal”, in Cultura, vol. 33, 2014.
Santos M. J. F., “A Indústria do Papel em Paços de Brandão e Terras de Santa Maria : Séculos XVIII-
XIX”, Santa Maria da Feira, 1997.
Santos M. J. F., “Marcas d’água e História do Papel, A Convergência de um Estudo”, in “Cultura, vol.
33, 2014.
Santos M. J. F., “Marcas d’água – Séculos XIV a XIX”, Santa Maria da Feira, 2015.

189
CONSUMIR Y ADMINISTRAR: EL USO DEL PAPEL SELLADO EN SANTANDER (siglo XVIII).

Virginia Mª Cuñat Ciscar


Universidad de Cantabria
cunatv@unican.es

RESUMEN

Queremos destacar el control que ejercen los ayuntamientos sobre el papel sellado al procurar que los
vecinos dispongan de todo el papel que les sea necesario para los asuntos, que deben formalizarse
por escrito, pero también por que son los responsables ante la Hacienda Real de su distribución, venta
y correcta administración sin que causen perjuicios a las rentas propias.

Al ser un producto estanco, la legislación regula todos los aspectos de su producción, distribución y
venta, pero ello no impide que su utilización (consumo) y administración muestre aspectos distintos
en cada lugar. De ahí que nuestra investigación se centre en los detalles de su uso en Santander,
pudiendo observar la transición de este producto (y el oficio que origina) antes y después de 1755,
cuando la villa recibe el titulo de ciudad, experimentando expansión económica y social en todos los
ordenes.

PALABRAS CLAVE

papel sellado, administrador del papel sellado, historia del papel, Hacienda publica, estanco del papel
papel selado, història do papel selado, Finançás

ABSTRACT

We want to emphasize the control exercised by municipalities ove sealed paper by ensuring that the
neighbours have all the paper they need for the issues, which must be formalized in writing, but also
because they are responsible to the Royal Treasury for their distribution, sale and correct administration
without causing damage to own tax revenue.

Being a price set by State product, legislation regulates all aspects of its production, distribution and
sale, but this does not prevent its use (“consumo”) and administration from showing different aspects
in each place. Hence, our research focuses on the details of its use in Santander, and can observe the
transition of this product (and the office that originates) before and after 1755, when the town receives
the title of city, experiencing economic and social expansion on all orders.

191
KEYWORDS

Stamp-impressed paper, seal paper, history of paper tax, finances, paper and stamp

CONSUMIR Y ADMINISTRAR: EL USO DEL PAPEL SELLADO EN SANTANDER (siglo XVIII).

En el momento en que el papel, soporte necesario para la elaboración de documentos, se convierte


en un producto estanco, con un precio tasado por la Hacienda Real, que controla su producción,
distribución y la recaudación en todo el país por las disposiciones de Felipe IV1, los miembros de los
ayuntamientos de las ciudades y villas deben incluirlo entre los asuntos a los que dirigir su atención.

Este control se realiza anualmente a través del nombramiento de un oficial delegado del ayuntamiento
para la provisión y el control de este producto estanco en los territorios municipales, al que deben
pagar de las rentas de los propios.

El nombramiento es anual y se acuerda en reuniones de constitución de los ayuntamientos a principio


(o a fin de año) a la vez que se eligen el resto de oficiales más importantes para la gestión de los
asuntos del ayuntamiento: los fieles, el escribano del ayuntamiento, los jueces de millones y de alzada,
los alcaldes ordinarios y cuando se realiza el sorteo de la distribución mensual los regidores para la
revisión de los abastecimientos (carnes, aceites, vinos.)

Como en el siglo XVII2, el oficio administrador del papel sellado se integra en el grupo de oficios
importantes de la villa y recibe de ella su salario, siendo responsable de guardar todos los pliegos
sellados – cuyo valor formal es mayor que el del papel sobre el que están impresos – una vez los han
recibido del depositario del papel sellado del corregimiento, residente en Laredo, previa entrega de la
carta de crédito del ayuntamiento y, a lo largo del año atender – de noche y de día como es costumbre
– las peticiones de los vecinos de Santander. Una vez finalizado su anualidad volverán a Laredo, esta
vez con los pliegos sobrantes (no consumidos) y la recaudación de su venta.

Gracias a los libros de registro de las actas de acuerdos del ayuntamiento podemos seguir todos los
pasos relevantes este oficio, desde el nombramiento anual del administrador en Santander3, a las
vicisitudes de dicha administración bien en la demora de los pagos o las peticiones de mejora en la
gestión de los tramites. Quizá el aspecto general más relevante de este siglo XVIII respecto al papel

1 BALTAR RODRÍGUEZ. Juan Francisco “Notas sobre la introducción del papel sellado en la monarquía española (siglos XVII
y XVIII) Anuario de historia del Derecho Español, LXVI (1996) pp. 520-552

2 BLASCO MARTÍNEZ. Rosa Mª - CUÑAT CISCAR. Virginia M. “La implantación del papel sellado en Santander” en Actas
del V congreso de Historia del Papel en España (Sarria de Ter (Girona: AHHP, Ayuntamiento de Sarria de Ter, 2003) pp. 473-
481

3 En el siglo XVIII esta es la denominación del oficio que se generaliza, siendo muy rara la aparición de estanquero.

192
sellado en Santander es su empeño, tras recibir el titulo de ciudad, de conseguir que la depositaria
principal del partido se instale en ella; y es aspecto singular, que en el año 1794 nombran a una
mujer, doña Rosa del Castillo, del comercio de esta ciudad, como encargada de su administración,
sin que aparentemente tenga relación familiar con ningún hombre que hubiera sido el encargado con
anterioridad (o posterioridad).

Respecto a la administración del papel selladlo el ayuntamiento tiene una doble posición, en primer
lugar como delegado de la Hacienda Real acatando y siendo responsable del cumplimiento de toda la
normativa relativa a la distribución del papel sellado; y en segundo lugar, de manera contrapuesta, como
autor jurídico de documentos necesita adquirir y disponer de papel sellado para elaborar sus propios
escritos los oficiales. Y en este caso comprobaremos como no es muy regular en el cumplimiento de
disposiciones vigentes, por ejemplo usando papeles de años distintos al del escrito registrado y sin las
diligencias perceptivas.

En nuestro trabajo resumiremos esta doble función del concejo, en primer lugar exponiendo las
características del uso del papel sellado por el ayuntamiento de Santander a lo largo del siglo XVIII en
sus documentos y en segundo lugar nos fijaremos en las personas que fueron elegida para el oficio
de administradores (y administradora) de papel sellado en Santander; para finalizar con la relación de
aspectos destacables de esta gestión de la administración del papel sellado, sobre todo al final de siglo.

1. EL USO DEL PAPEL SELLADO POR EL AYUNTAMIENTO DE SANTANDER

Evidentemente, como cualquier autor jurídico de documentos, el ayuntamiento necesitará adquirir


papel sellado para los asuntos perceptivos, tal y como disponía la legislación, necesitando pliegos de
papel de varios valores para ello. Para estudiar ese uso, y su proporción en el total de los existentes
en la villa/ciudad deberíamos contar son su registro – en el libro de cuenta y razón del escribano del
ayuntamiento, ya que dichos documentos los tendremos que encontraran en los fondos documentales
de las personas e instituciones con las que el ayuntamiento establece gestiones por escrito. De sea
forma podríamos estudiar el tipo de sello que adquiría y utilizaba en sus gestiones y la proporción de
en el total de la ciudad. No es el caso para Santander, ya que no se ha conservado registros de las
funciones del escribano del concejo, aunque si la noticia de su elaboración para justificar los gastos
que debe asumir en el desarrollo de su trabajo4.

Sin embargo para comprobar la posición del ayuntamiento en su función de consumidor de este papel
y pagador de la renta correspondiente, nos podemos servir de los acuerdos municipales elaborados
en el siglo XVIII, cuyas regestas han sido publicadas en tres volúmenes, divididos cronológicamente.

4 En 1795, acuerdan enviar un informe de la administración de las rentas en la ciudad al Consejo de Castilla elaborado con
papel del sello cuarto (Archivo Municipal de Santander (A.M.S.) Pleno 16, nº 3 libro 2182– fol. 71-77 – III: 423

193
El primeo corresponde al periodo 1701-17565, previo a la concesión del titulo de ciudad, y aunque
se añaden diez años de regestas y estudio, no hay excesivas respecto al siglo anterior; un segundo
volumen, de los años 1766 a 17856, que el gran cambio experimentado por la ciudad ya que en veinte
años se registran por escrito los acuerdos de 838 reuniones del ayuntamiento frente a los 687, que
incluye el primer volumen pero que son las reuniones de sesenta y seis; y por ultimo, el tercer volumen
que se ocupa de los acuerdos desde 1786 a 1800, siguiendo la misma tendencia ya que en catorce
años se reúnen 683 veces para tratar cuestiones del gobierno e intereses de la ciudad7.

Esta serie documental, conservada en casi su totalidad, nos proporciona datos tanto por su confección
material – los pliegos de los cuadernos y grupos que componen los diferentes libros de actas8 como
por esencia documental, que es registrar por escrito todos los acuerdos tomados por el regimiento de
la ciudad en los ayuntamientos periódicos que celebra para tratar todos los temas que afectan a la
ciudad. Serie documental que se conserva en los fondos del archivo municipal.

En el análisis pormenorizado de la confección de los libros de actas de dicho siglo, lo que mas llama
la atención es el incumplimiento de la legislación relativa al uso del timbre propio del año en curso, y
por tanto la coincidencia de la cronología entre los registros de acuerdos y el papel utilizado. Según
la legislación, a lo largo del siglo cambia el valor de sello utilizado en el papel en los libros de actas
pasando de diez maravedís, en la primera década, a veinte maravedís desde 1710 a 1794. A partir de
1795 se mantiene el sello cuarto pero aumenta el valor a cuarenta maravedís hasta 1800.

Ocasionalmente se registran los acuerdos en papeles de oficio de cuatro maravedís (1727, 1729,
1736, 1738 a 1743) sin ninguna razón legal aparente. Podríamos pensar que es por economía en el
trabajo del escribano tanto si se hizo para ahorrar dinero del importe del papel o por utilizar pliegos
sobrantes del sello de pobres. También de tanto en tanto, podemos encontrar papeles de valor mayor,
como el sello tercero de 78 maravedís en su primera hoja, pero se trata de documentos insertos en los
libros de actas y certificados por notarios distintos al del ayuntamiento.

5 Los libros de acuerdos municipales de Santander, 1701-1765, Rosa Mª Blasco Martínez, ed. Santander: Ayuntamiento de
Santander, 2005

6 Los libros de acuerdos municipales de Santander, 1765-1785, Rosa Mª Blasco Martínez, ed. Santander: Ayuntamiento de
Santander, 2006

7 Los libros de acuerdos municipales de Santander, 1786-1800, Rosa Mª Blasco Martínez, ed. Santander: Ayuntamiento de
Santander, 2010

8 En cada uno de los volúmenes de regestas de los libros de actas citados he elaborado el estudio de codicología diplomática
correspondiente a todos los registros de este periodo. Son los siguientes: para los años 1701-1765 véase CUÑAT CISCAR.
Virginia Mª “Los códices diplomáticos en la primera mitad del siglo XVIII” en Los libros de acuerdos municipales de Santander,
1701-1765, Rosa Mª Blasco Martínez, ed. Santander: Ayuntamiento de Santander, 2005) pp. 61-83; para el periodo 1766,
1785 véase: CUÑAT CISCAR. Virginia Mª “Los códices diplomáticos: 1766-1785” en Los libros de acuerdos municipales de
Santander, 1701-1765, Rosa Mª Blasco Martínez, ed. Santander: Ayuntamiento de Santander, 2005) pp. 63-87; y para el
periodo 1786-1800: CUÑAT CISCAR. Virginia Mª “Estudio: Los códice diplomáticos: 1786-1800” en Los libros de acuerdos
municipales de Santander, 1786-1800 Rosa Mª Blasco Martínez, ed. Santander: Ayuntamiento de Santander, 2010) pp. 13-40

194
Por razón económica también se utilizan papeles timbrados de años diferentes al correspondiente a las
actas, sin respetar la legislación, pero en ningún caso se utiliza la diligencia valga para el año…, lo que
muestra una laxitud en la práctica documental, para ahorrarse el dinero, ya que se utilizan “sobras” del
papel comprado apoyándose en la autoridad que supone ser responsables del oficial que administra
dicho producto estanco.

Haciendo el recuento de esas alteraciones de la aplicación de la normativa del uso del papel sellado
vemos que solo coinciden los sellos con el año de las actas de manera ininterrumpida en los registros
elaborados desde 1786 hasta 18009, y en el resto del siglo, se entrelazan los papeles de un año para
su uso en varios años posteriores (como el de 1700 que se utiliza hasta 170410 o el de 1733 hasta
173511), reutilizando papeles timbrados que estarían en las oficinas del ayuntamiento lo que nos ofrece
una imagen de falta de previsión en la compra y a la vez un despilfarro en el gasto de la oficina del
escribano del ayuntamiento.

Es en ese ultimo periodo cronológico cuando se aprecia un mayor cuidado en el cumplimiento de la


normativa, así como en el seguimiento de las instrucciones puntuales como vemos en los pliegos de
papel del año 1789, que se habían adquirido con el sello de Carlos III, pero tras su fallecimiento en
diciembre, con el reparto de papel realizado y la inexistencia pliegos con el sello de nuevo rey hasta
su proclamación se debe incorporar a los pliegos con el sello de Carlos III, la diligencia Valga para el
reinado de Su Magestad Carlos IV tal y como se ordena en la carta de notificación del fallecimiento
real e instrucciones adjuntas12.

Para la provisión del papel sellado necesario para Santander había que trasladar la petición al
administrador principal del papel sellado en Laredo, y adquirirlo mediante carta de crédito entregada
por el ayuntamiento al administrador anual de la renta. En las cartas de crédito en los años 1703, 1707,
1712, 1714, 1749, 1753 conservadas en el archivo municipal se especifican las cantidades necesarias
para la villa.

El escribano del ayuntamiento no siempre copia estas cartas de crédito en los libros de actas, pero si
que refleja en los acuerdos las cantidades enviadas por D. Vicente de Cosío y D. Don Manuel del Valle
y Barco, administradores de la renta del papel sellado en Laredo, entre los años 177213 y 179514 , en
los días de regimiento en que se reciben sus cartas incluyendo instrucciones de la administración de
la renta con las cantidades de pliegos y su valor, pero no en todos los años.

9 CUÑAT CISCAR. Virginia Mª op cit. “… 1786-1800” p. 17

10 CUÑAT CISCAR. Virginia Mª op cit “…, 1701-1765” p. 65

11 CUÑAT CISCAR. Virginia Mª op cit. “… 1766-1785” ” p. 67

12 III: 91

13 II: 343

14 III: 400

195
El trabajo del administrador del papel sellado en la ciudad de Santander era bastante autónomo aunque
estaba sujeto al control del ayuntamiento y al administrador principal de la renta de papel sellado
de las las cuatro villas al finalizar el tiempo de su oficio. Las noticias que tenemos de su ejercicio
nos muestran su gran dedicación ya que ello solicita ser eximido de las guardias ordenadas por el
comandante general en batería y castillos por el papel sellado que se necesita a todas horas según las
ocurrencias15, lo que enlaza a finales a finales de siglo, en 1794, con la afirmación de los inicios de la
administración del papel sellado, en en que se ordena al encargado de papel sellado deberá facilitar
el papel de noche y de día como es costumbre16.

También influí en el desarrollo de su propio trabajo, como vemos en la sugerencia aprobada por el
ayuntamiento en los acuerdos para el arancel de las escrituras del escribano del concejo en 1714
donde se incluye el importe del papel de sello en el precio del documento elaborado por el escribano
del ayuntamiento17 o que se cambien los plazos de entrega de los importes de la venta del papel
sellado, en tres plazos en vez de un una sola vez (año 1799) o que se les exima de tener que comprar
papel sellado para las copias autorizadas por su escribano en la elaboración de los documentos que
se remiten a los organismo reales. (177218).

Sin olvidar los años en que se acuerda que el escribano del ayuntamiento se haga cargo de la
administración y venta para el consumo del papel sellado necesario como ocurre en 1765 cuando
encargan al escribano del ayuntamiento Juan Antonio Nieto Vela por que el depositario nombrado ha
renunciado. Como debe llevar los libros de la cuenta y razón de este consumo recibirá una gratificación
al final del año; al igual que en 1770, cuando nombran para la administración del papel a Juan Antonio
de Cortiguera, escribano del numero de Santander desde 175819.

(Tabla de consumo del papel selado. V. el anexo 1)

2. ADMINISTRADORES DEL PAPEL SELLADO. Siglo XVIII.

La revisión de las actuaciones de los administradores del papel sellado y su registro en los libros
de actas de los acuerdos municipales pone en evidencia la gran conexión entre los gobernantes de
la ciudad y sus oficiales de la administración de los abastecimientos de la ciudad, entre los que se
encuentran los del papel sellado. Y eso será más evidente cuando repasemos los nombres de los
administradores del papel sellado y de los otros oficios que, en su caso, ejercieron en la ciudad.

15 III: 393

16 BLASCO MARTÍNEZ. Rosa Mª - CUÑAT CISCAR. Virginia Mª “ op cit., p. 475

17 I: 121

18 I: 306: Además del original de las listas hay que remitir a la Chancillería un duplicado de los listados junto con los documentos
de las exenciones por cuestión de hidalguía -también por duplicado y en papel sellado-.

19 I: 529

196
Para conocer los nombres de los administradores del papel sellado revisamos los libros de actas de
todo el siglo, comprobando que anualmente se nombró a estos oficiales expresamente en las sesiones
de enero o de diciembre, para ocuparse de todas las gestiones del estanco del papel sellado. A partir
de ello elaboramos una relación continua de estos oficiales que ocupan el cargo anualmente, excepto
en trece años (bien por que se ha perdido los libros de dichos años (1717-1719); bien por que no hay
acuerdos sobre el tema (1727, 1742, 1781-1783, 1787, 1790); o bien por que no se trato esa elección
en la sesión de constitución del ayuntamiento (1758, 1761, 1793) y no se registro.

Los nombres de los administradores nos interesan para establecer las posibilidades de conexión política
que proporciona a mercaderes o vecinos con recursos económicos previos (ya que los depositarios
deben pagar la fianza del cargo) y conocimientos de gestión de bienes para que la elección en este
cargo sea un punto de partida a otros oficios del regimiento, que pueden ser de administración de
abastecimientos de otros bienes de consumo básico (siempre dentro del ámbito económico) o pasar
a las funciones de gobierno como personero del común o regidor.

Algunos llegaron a administrador como culmen de su carrera como Manuel de Miera; y a otros les
supuso el inicio de un cursus honorum en los oficios de la ciudad hasta llegar a regidores (Pedro de la
Barcena, Pedro de la Cantolla. Felix Fernando de Oruña, Miguel de la Pedrueca); o a personero del
común como Don Manuel Senties.

Otros fueron elegidos después de haber sido administradores de las bulas de la Santa Cruzada (Matías
de Arocha, Manuel González y Fernando de Munar) poniendo de manifiesto la conexión de estas dos
contribuciones a la hacienda Real.

Sin olvidar, los que se mantuvieron en el comercio o la mercadería, ámbito del que provenían, como en
la administrador de las rentas del vino (Francisco Banuet y José Ignacio Urruchoa); en la administración
de las rentas (Lucas de Soto); en el deposito de caudales (José de Santelices) o en la administración
de los de propios de la villa (Benito Bolado).

Mención especial merecen las carreras del comerciante Don Ramón Gil de Arana y Fernando de Munar
a finales de siglo, cuando la villa esta en plena expansión. El primero por que siendo comerciante, es
elegido representante de su gremio para el repartimiento de los impuesto de la ciudad y después de
ser administrador del papel sellado, lo eligen consiliario para las cuestiones del consulado y finalmente
como diputado del común. En el caso de Munar debido a la confianza que muestra la ciudad en sus
capacidades de gestión de caudales ya que le nombra como administrador de la bula de cruzada y del
papel sellado en los mismos años prácticamente. Estando en ambos cargos desde 1735 a 1755 hasta
que, agotada su capacidad de gestión es relevado de ambos cargos.

En la relación anual de oficiales vemos como en mayor numero de personajes nombrados por el

197
ayuntamiento únicamente ejerce se oficio como administradores del papel sellado de la ciudad, es
el caso de Eusebio Alaguero, Don Fausto Barón de la Torre, Juan Calderón, Don Manuel del Callejo.
Francisco García, Don Juan Antonio Gómez, Manuel Gutiérrez [Ramos.]: Fernando de Herrera
[Castañeda], Gaspar Herreros, Ventura de la Lanza, Mateo de Larrea, José de Laza, Diego López,
Juan Antonio López, Don Manuel del Moral, Antonio Muñoz, Don Diego Nongano, Juan Pérez, Ángel
Prieto. Francisco del Puerto, Santiago de Reigadas, Antonio de Reyes, Francisco de Ruamayor, Juan
de Rubayo, Manuel Ruiz, Francisco de Salas, José de Santelices, José Sanz, Bernardo de Sara, Juan
Sasá, Don Pedro Senties, Manuel Senties, Antonio del Solar y Lazaro Villate.

También es el caso de la única mujer que el ayuntamiento elige como administradora del papel sellado.
Se trata de Doña Rosa del Castillo, en 1795, sin que tengamos noticia de que este relacionada con
otro administrador anterior o posterior y sin que en su nombramiento se haga salvedad alguna por el
caso de ser mujer. Y únicamente tenemos dos noticias suyas por que a mitad de año se reciben nuevas
instrucciones de la administración de rentas indicando que a partir de dicho año se deberán dar la
cuenta y razón de lo vendido con periodicidad mensual.20

2.1. RELACIÓN DE ADMINISTRADORES DE PAPEL SELLADO DE SANTANDER DEL SIGLO XVIII21.

ALAGUERO. Eusebio, administrador del papel sellado en 1775 (II: 431).


AROCHA. Matías de, administrador de papel sellado en 1707 (I: 61); previamente había sido repartidor
y cobrador de la bula de la Santa Cruzada en 1701 (I: 6).
BARCENA. Pedro de la, administrador de papel sellado en 1728 (I: 190); regidor en 1741 (I: 329) y
1742 (I: 339).
BARÓN DE LA TORRE. don Fausto, administrador del papel sellado en 1773 (II: 343).
BANUET. Francisco, es nombrado como administrador del papel sellado en 1774 (I: 396); Antes había
sido vendedor de vino de Castilla en 1771 (II: 255), pero además presenta remates para administrar
aceite y grasa en diciembre del 1771 (II: 282) para el año siguiente; por ultimo en 1773 presenta las
fianzas, junto con su esposa, que necesita el alcalde mayor (II: 364)
BOLADO. Benito, administrador de papel sellado en 1705 (I: 47) y encargado de comprar vino en 1729
(I: 206 y 209) y además administrador de los propios de la villa en 1731 (I: 234).
CALDERÓN. Juan, administrador del papel sellado en 1792 (III: 226).
CALLEJO. don Manuel del, administrador de papel sellado en 1762 (I: 597)
CANTOLLA. Pedro de la, administrador depositario de papel sellado en 1736 (I: 265) y regidor en 1748

20 III: 423

21 Para localizar los datos hemos incluido la referencia al volumen y numero de regestas correspondiente a los libros de
acuerdos municipales Santander del siglo XVIII publicados. En el paréntesis el numero romano se refiere a los volúmenes y
después de los dos puntos se indica en numero de regesta. Por ejemplo (II: 431), se refiere el volumen II, correspondiente a
las regestas de los años 1766-1785 y a la regesta 431. Este modelo de señalar la localización de los datos ya se ha aplicado
en notas anteriores

198
(I: 394)
CASTILLO. Doña Rosa del, del comercio de la ciudad, administradora del papel sellado en 1795 (III:
400) – le remiten las nuevas instrucciones de la administración en mayo (III: 423)
GARCÍA CANAL. José García, administrador de papel sellado en 1738 (I, 293); alcaide en 1774 (II: 414)
GARCÍA. Francisco, administrador de papel sellado en 1710 (I, 78)
GIL DE ARANA. Don Ramón, comerciante, es nombrado administrador del papel sellado a 1771
(II, 227); previamente había sido elegido uno de los tres representantes de la calle del Puente en 22
de marzo de 1770 (II: 182) para repartir los gastos de la ciudad para tener un diputado de Madrid;
comerciante que reclama los géneros entregados los comisionados del ejercito en 5 de octubre 1784
(II: 776) ; y, por ultimo, propuesto como consiliario de la clase de mercaderes el 13 de agosto de
1785 para los asuntos del consulado recientemente creado en la ciudad (II: 825); vecino comerciante
y diputado del común en 1797 (III: 551)
GÓMEZ DE BARREDA. D. Pedro, administrador del papel sellado en 1776 (II: 463); después es
comisionado para informar sobre los precios de productos en 1783 (II: 726); asesorar a la ciudad en
cuestiones de impuestos 1784 (II: 764, 767, 776) y en mejorar el urbanismo, en 1779 (II: 564), 1783 (II:
744) y 1784 (II: 766) ; además fue personero del común, 1773 (II: 352, 360, 386), en 1776 (II: 484), 1780
(II: 612), 1781 (II: 661) y 1783 (II: 722); alistador de los muelles y atarazanas en 1788 (III: 79)
GÓMEZ. Don Juan Antonio, mercader de la calle del Puente depositario del papel sellado para 1788 (III: 61).
GONZÁLEZ. Manuel, administrador de papel sellado en 1711 (I: 87); previamente en había sido
administrador de la bula de Cruzada en 1701 (I: 6)
GUERRA. Antonio, administrador de papel sellado en 1713 (I, 104); oficial escribiente de los gastos
habidos para enviar los padrones y alistamientos de la ciudad en 1772 (II: 342).
GUTIÉRREZ [RAMOS.] Manuel, mercader de la calle mayor, administrador del papel sellado en en
1734 (I, 254) y 1791 (III: 174).
HERRERA [Castañeda]. Fernando de, nombrado depositario del papel sellado en 1701 (I: 1), 1702 (I,
11) y 1703 (I, 22). La siguiente noticia que tenemos es que se ha trasladado a América, que es donde
se le va a notificar que ha sido nombrado alcalde ordinario de la villa (I: 144).
HERREROS. Gaspar, administrador de papel sellado en 1763 (I: 616).
LANZA. Ventura de la, vecino y del comercio de Santander, administrador del papel sellado en 1759
(I, 535) y en 1768 (II, 76 y 81).
LARREA. Mateo de, administrador de papel sellado en 1706 (I, 54).
LAZA. José de, administrador de papel sellado en 1720 (I, 132).
LIENZO. Fernando de, administrador de papel sellado en 1744 (I: 358); regidor en 1747 (II: 45); alcalde
ordinario en 1763 (I: 616 y 618) y de nuevo en 1767 le nombran regidor (II: 56), juez de alzada (II: 53)
y comisionado para supervisar el arreglo del archivo (II: 64).
LIENZO. Jacinto de, administrador de papel sellado en 1714 (I, 110), – quizá pariente de Don Fernando
del Lienzo, y encargado también de la administración del papel sellado en 1744 (I: 358).

199
LÓPEZ. Diego, administrador de papel sellado en 1732 (I, 235).
LÓPEZ. Juan Antonio, administrador de papel sellado en 1741 (I, 323), y en 1760 (I, 560).
MIERA. Manuel de, administrador de papel sellado en 1743 (I: 349); previamente había ejercido como
fiel -uno de oficios de confianza del ayuntamiento- desde 1723 a 1732 (I, 151, 156, 165, 171, 177,
190, 196, 210, 223) y el de fiel y portero en 1732 (I, 235) y el de alcaide en 1732 (I, 239).
MORAL. Don Manuel del. administrador del papel sellado en 1777 (II: 490), en 1778 (II: 524), 1779
(II: 548), 1780 (II: 549); previamente fue administrador de utensilios, en 1771, y como tal presenta
obligación y fianza (II: 274)
MUNAR. Fernando de, ejerce alternativamente como administrador del papel sellado en los años en
1735 (I: 259), 1745 (I: 366),1746 (I: 371), 1747 (I: 381), 1748 (I: 393), 1749 (I: 398), 1750 (I: 405),
1751(I: 412), 1752 (I: 428), 1753 (I: 439), 1754 (I: 452), 1755 (I: 461) y como administrador de las
bulas de la Santa Cruzada en 1744 (I: 362), 1745 (I: 369), 1746 (I: 374), 1751 (I: 416), 1753 (I: 443),
1754 (I: 454) 1755 (I: 471). Hasta que en los años 1756 (I, 480) y 1757 se advierte que no lleva bien
las administraciones y el ayuntamiento en mayo de este año nombran a D. Agustín Martein para la
administración de las bulas (I, 499) y en junio lo sustituyen por otro administrador del papel sellado (I,
503), reclamándole las cantidades que debe al depositario de Laredo.
MUÑOZ. Antonio, encargado del papel sellado en 1767, según noticia de 1768 (II: 81), se alude al
encargado del año pasado, que fue Antonio Muñoz.
NONGANO. Don Diego, del comercio de Santander administrador del papel sellado en 1786 (II: 838)
NOVOA. Baltasar de, administrador de papel sellado en 1740 (I: 308); en 1761, como oficial del cabildo
de mareantes se opone a la decisión de imponer un nuevo repartimiento en el vecindario (I: 591)
ORUÑA. Félix Fernando de, elegido administrador de papel sellado en 1716 (I: 131); y después de este
cargo fue ascendiendo en las tareas administrativas de la ciudad hasta llegar a regidor. Así en 1726
(I: 173) tuvo el cargo de administrador de alcabalas, cientos, sisas y millones de vinos blancos y tintos
y carnes, sebo, vinagres y aceite; en 1741, recaudador de las rentas (I: 324); en 1743 encargado de
llevar el libro del aforo de los vinos en el peso real (I: 351); y finalmente regidor en 1753 (I: 446 y 447).
PEDRUECA. Miguel de la, vecino de Santander, administrador de papel sellado en 1731 (I: 223).
Previamente había sido distribuidor en la bula de la santa Cruzada en 1727 (I: 187) y después del cargo
de administrador del papel, fue regidor en 1757 (I: 491) y por ello comisionado para revisar las cuentas
del procurador general en dicho año (I: 514). Después ya aparece en las actas como mercader (I: 599)
en 1562 y como administrador del vino de Castilla (I: 612 y 613) y reconocimiento del vino almacenado
por los obligados del año 1767 (II: 52). En el año 1768 es encargado de hacer el reglamento de las
alcabalas (II: 122); siendo candidato a personero de la villa en 1773 (II: 386).
PÉREZ. Juan, administrador de papel sellado en 1725 (I: 165) en 1733 le nombran fiel y portero (I:
245) y alcaide de la carcel (I: 240, 249)
PRIETO. Angel, vecino de la villa, administrador de papel sellado en 1721 (I: 139)
PUERTO. Francisco del, administrador de papel sellado en 1722 (I: 144); a partir de ese cargo sigue

200
con las tareas de recaudador de las rentas en 1734 (I, 256), en 1740 (I: 309), 1741 (I: 324) y en 1744
(I: 361) 1746 (I: 373); y regidor en 1742 (I, 339)
REIGADAS. Santiago de, administrador de papel sellado en 1733 (I, 245)
REYES. Antonio de, administrador de papel sellado en 1739 (I, 300)
RUAMAYOR. Francisco de, administrador de papel sellado en 1729 (I, 196)
RUBAYO. Juan de, administrador del papel sellado en 1796 (III, 459) y 1797 (III, 537) (quizá también
en 1798, ya que no tenemos noticias) y en 1799 (III, 631). Previamente había sido guarda almacén del
consulado en 1788 (III: 78); puede ser el regidor Don Juan Manuel de Rubayo de 1770 (II: 177, 212) y
1785 (II: 838)
RUIZ. Manuel, administrador de papel sellado en 1708 (I: 64)
SALAS. Francisco de, administrador de papel sellado en 1723 (I: 149) y 1724 (I: 156)
SANTELICES. José de, administrador de papel sellado en 1715 (I: 122); en 1729 (I: 200) es elegido
representante de los mercaderes para el ayuntamiento; posteriormente depositario de caudales de la
villa, en 1730 (I: 218), en 1734 (I: 256) y en 1745 (I: 368); en 1741 para es uno de los delegados para
estudiar la nueva contribución (I: 332).
SANZ. José, administrador del papel sellado en 1794 (III: 393).
SARA. Bernardo de, administrador de papel sellado en 1712 (I: 95)
SASÁ. Juan, tendero, administrador del papel sellado en 1789 (III: 88)
SENTIES. Don Pedro, comerciante, administrador del papel sellado en 1785 (II: 783).
SENTIES. Manuel, comerciante, administrador del papel sellado en 1772 (II: 288); propuesto como
uno de los tesoreros el 13 de agosto de 1785 para los asuntos del consulado recientemente creado
en la ciudad (II: 825) ya que en dicho año de 1785 era el administrador de rentas de la ciudad (II: 800,
803, 814, 831) , que sigue en años posteriores administrando rentas de la ciudad del vino en 1787 (III:
46, 58, 59), de los ramos no arrendados en 1796 (III: 510, 512) y 1797 (III: 534, 537, 538) ; personero
del común en 1792 (III: 237, 241, 252, 263).
SOLAR. Antonio del, administrador de papel sellado en 1709 (I: 71).
SOTO. Lucas de, mercader, administrador de papel sellado en 1730 (I: 210); depositario de los
caudales de la ciudad en 1736 (I: 267) y además está relacionado con la administración de las rentas
reales en 1734 (I: 256), en 1740 (I: 309), en 1741 (I: 324), en 1744 (I: 361), en 1746 (I: 373) y de su
abastecimiento en 1759 (I: 549 y 550). Representante de la Plaza en 1770 (II: 182) y encargado de
hacer el repartimiento de las alcabalas en 1768 (II: 122).
TOCA. Juan, administrador de papel sellado en 1765 (I: 655)
URRUCHOA. José Ignacio, administrador de papel sellado en 1764 (I: 631) después, en 1765,
administrador de vino blanco (I: 660).
VILLATE. Lázaro, administrador de papel sellado en 1737 (I: 284)

201
3. ASPECTOS DESTACABLES DE ESTA GESTIÓN DE LA ADMINISTRACIÓN DEL PAPEL SELLADO

A lo largo del siglo, las noticias sobre el administrador del papel sellado se limitan al día de su
nombramiento en que es elegido por el regimiento ante el que presenta las fianzas de admisión al oficio
y del que recibe la carta de crédito, a partir de 170822, que deberá llevar ante el depositario principal de
papel sellado del partido que reside en Laredo. La concesión del titulo de ciudad a la villa de Santander
en 1755 afecta también a este oficio y al papel sellado, que aumentara su uso en la ciudad (véase tabla
de la provisión de pliegos del papel sellado).

En cuando a la administración del oficio del papel sellado, vemos como en los acuerdos capitulares hasta
mitad de siglo se habían limitado a transcribir el acuerdo con el nombre del elegido y las disposiciones
mas generales (cuidar disponer de provisión adecuada de pliegos. llevar bien la cuenta y razón de su
venta y trasladar su importe a Laredo junto con los pliegos sobrantes). A partir de los años 60, una vez
empieza a afectar a la vida cotidiana las nuevas atribuciones de la villa, se ampliara la intervención del
ayuntamiento en control de este producto estanco.

Entre los asuntos que les ocuparan como ayuntamiento, el más importante en este ámbito es el inicio
de las gestiones para que desde Burgos se lleve directamente el papel sellado a Santander, solicitando
en el primer acuerdo registrado el 24 de julio de 177323 su traslado, junto con la administración de las
rentas del tabaco y las arcas reales. Las gestiones las hizo Don Jerónimo de Ceballos y de la Riva, su
diputado en Madrid, al que enviaron las razones de dicha petición, basadas en la posición estratégica
de Santander respecto a todo el partido (para la comunicación con todos los naturales, sin el extravío
y exposición que la villa de Laredo) y además reivindicando en nuevo titulo por que es la única ciudad
que hay en el y seria semejante a otras ciudades que lo tienen.

La petición la reiteran en marzo 1797 24, por que han sufrido desabastecimiento y carencias (lo que no
podemos constatar por la meticulosidad del administrador principal de Laredo, que remite anualmente
la relación detallada de pliegos de los distintos sellos para la ciudad, con su cantidad) tomando como
escusa los pliegos que necesita la administración de la justicia (demorándose por esa causa los
asuntos, ya que el papel tiene que venir desde Laredo); y en este caso, además de alegar la necesidad
de los tribunales, sugieren que se reparta la administración del papel sellado en el partido de manera
Santander tenga su deposito y Laredo surta a los lugares de la parte de allá de la ría de Santander.

Ante la insistencia del procurador de la ciudad, la Dirección General de la renta del papel sellado
contesta en carta recibida en el mes de mayo y leída en el ayuntamiento del 27 – a penas dos meses
de la petición – que no pueden acceder a la solicitud de erigir en Santander una administración

22 I: 64

23 II: 378

24 III: 531

202
independiente de Laredo por no deberse innovar la primitiva asignación de partidos y de cargas de
juros situados sobre ellos, a proporción de su extensión. Lo que nos devuelve a la razón primera de la
implantación de este impuesto: cargas de juros situados sobre los importes recaudados25.

El ayuntamiento en julio de ese mismo año 179926 sigue en el control de la gestión de este producto
y solicita al Ministerio de Hacienda – para mejorar las actuaciones de los administradores de la ciudad
– que remitan por tercios a Laredo el importe de los pliegos vendidos junto con lo recaudado por los
encabezamientos de las rentas provinciales. En vez de la entrega de dinero y pliegos mensual que estaba
ordenada. Consiguiendo esta modificación, tal y como lo atestigua el oficio que les remite el administrador
principal del papel sellado de Laredo ordenado el importe del papel sellado vendido en Santander debe
ser enviado por tercios, y al tiempo que se pagan los encabezamientos de rentas reales27.

Pero ya estamos a final de siglo, y las gestiones del ayuntamiento de Santander por conseguir el
control del máximo de oficinas delegadas del reino, invirtiendo en sus diputados en la Corte y enviando
peticiones continuas, se consigue casi indirectamente (o al menos es como se registra en el libro de
actas) cuando el Gobernador de la provincia, en cumplimento de una real orden tiene que trasladarse a
vivir a Santander para poder controlar las obras de los muelles del puerto. La prueba de la consciencia
del ayuntamiento por la magnitud que supone este traslado de residencia ordenado por el rey nos
la proporciona el crédito que le conceden para que se instale en villa costa de los propios de la villa,
mientras resida en ella28.

A partir del análisis del análisis de los libros de actas del ayuntamiento de Santander, en su elaboración
material – con pliegos de papel sellado – y en el desarrollo del oficio del administrador de la renta del
papel sellado hemos visto como en la practica documental se refleja los cambios y transformaciones
de villa a ciudad en expansión.

BIBLIOGRAFÍA

BALTAR RODRÍGUEZ. Juan Francisco “Notas sobre la introducción del papel sellado en la monarquía
española (siglos XVII y XVIII) Anuario de historia del Derecho Español, LXVI (1996) pp. 520-552
BLASCO MARTÍNEZ. Rosa M- CUÑAT CISCAR. Virginia M. “La implantación del papel sellado en
Santander” en Actas del V congreso de Historia del Papel en España (Sarria de Ter (Girona: AHHP,

25 MARTÍNEZ DE SALINAS ALONSO. María Luisa La implantación del papel sellado en Indias. Caracas: Academia Nacional
de la Historia, 1986

26 III: 623

27 III: 631

28 III: 676.

203
Ayuntamiento de Sarria de Ter, 2003) pp. 473-481
CUÑAT CISCAR. Virginia Mª “Los códices diplomáticos en la primera mitad del siglo XVIII” en Los
libros de acuerdos municipales de Santander, 1701-1765, Rosa Mª Blasco Martínez, ed. Santander :
Ayuntamiento de Santander, 2005) pp. 61-83
• “Los códices diplomáticos: 1766-1785” en Los libros de acuerdos municipales de Santander,
1701-1765, Rosa Mª Blasco Martínez, ed. Santander: Ayuntamiento de Santander, 2005) pp. 63-87
• “Estudio: Los códice diplomáticos: 1786-1800” en Los libros de acuerdos municipales de
Santander, 1786-1800 Rosa Mª Blasco Martínez, ed. Santander: Ayuntamiento de Santander, 2010)
pp. 13-40
LIBROS de acuerdos municipales de Santander, 1701-1765, Rosa Mª Blasco Martínez, ed. Santander:
Ayuntamiento de Santander, 2005
• 1765 -1785, Rosa Mª Blasco Martínez, ed. Santander: Ayuntamiento de Santander, 2006
• 1786-1800, Rosa Mª Blasco Martínez, ed. Santander: Ayuntamiento de Santander, 2010
MARTÍNEZ DE SALINAS ALONSO. María Luisa La implantación del papel sellado en Indias. Caracas:
Academia Nacional de la Historia, 1986

204
ANEXO 1

Provisión de pliegos de papel sellado- Santander – siglo XVIII

Año Sello Sello Sello Sello Sello Sello TOTAL1


primero segundo tercero cuarto de oficio de pobres
1720 (I: 132)2 12 175 150 1.500 1.200 --- 3.037
1724 (I: 156) 10 250 350 2.000 1.500 --- 4.110
1725 (I: 165) 12 250 300 2.000 3.000 --- 5.560
1729 (I: 190) 16 200 200 1.800 1.500 --- 3.716
1730 (I: 210) 18 250 260 1.850 2.000 50 4.370
1731 (I: 123) 18 250 260 2.000 --- 1.800 4.328
1732 (I: 235) 20 280 260 2.000 1.800 --- 4.360
1733 (I: 248) 20 280 260 2.000 1.800 --- 4.360
1734 (I: 254) 20 200 200 2.000 1.500 --- 3.570
1735 (I: 255) 20 200 200 2.000 1.500 ---- 3.570
1736 (I: 265) 20 200 200 2.000 1.500 --- 3.920
1737 (I: 284) 18 250 260 1.850 2.000 --- 4.370
1738 (I: 293) 18 250 260 1.850 2.000 ---- 4.370
1739 (I: 300) 16 240 250 1.800 1.700 --- 4.006
1740 (I: 308) 18 300 400 2.500 3.000 --- 6.218
1741 (I: 323) 18 280 260 2.000 2.000 --- 4.558
1742 (I: 333) 18 250 260 2.000 2.000 --- 4.528
1743 (I: 349) 30 250 260 2.000 2.000 --- 4.540
1744 (I: 358) 18 250 260 1.800 2.000 50 4.378
1769 II: p. 143- nota 28- 50 250 250 2.800 500 25 3.875
1772 II: p. 213- nota 63 – 3 6 / 75 150 / 300 200 / 400 999 / --- 200 / --- ---- / --- ---- / 5. 9254 (775)
1773 II, p. 234– nota 78- 75 350 450 5.000 650 75 6.600
1774 II, p. 255– nota 97 – 75 300 400 4.500 450 75 6.1005 ( 5.800)
1775 II, p. 268 - nota 110 – 70 275 350 5.000 750 100 6.545
1776 II, p. 281– nota 120 – 65 225 300 4.500 750 100 5.940
1777 II, p. 291– nota 127 60 225 300 4.500 750 50 5.885
1778 II, p. 303– nota 135- 70 250 300 4.500 700 50 5.870
1779 II, p. 310 - nota 143- 70 225 275 4.000 650 50 5.270
1780 II: 594 ---- ---- ----- ----- ----- ---- 5.250
1784 II: 746 5.135
1788 III: 61 6.290
1789 III: p. 91– nota 43 - 110 275 300 4.500 700 75 6.550
1790 .III, 120 5.600
1795, III: 400 125 500 500 7.000 1.500 100 9.725
1796 III; 459 150 600 600 7.000 1.500 100 9.950

NOTAS
1
Los números totales en cursiva no están en los registros. Los he elaborado para la tabla.
2
J unto a la fecha de cada cantidad de papel sellado hemos indicado el numero de regesta o nota en que aparecen siguiendo
el mismo sistema que en la relación cronológica de administradores del papel sellado (nota XXX)
3
1772 – los datos de este año se corresponden con los datos de la carta enviada por el depositario del papel sellado en
Laredo de 4 de enero (primera cantidad) que no coincide con el certificado remitido y los pliegos entregados el día 5
de enero en Santander (segunda cantidad). Lo que es puesto de manifiesto por el recién nombrado administrador y se
registra en el libro de actas para evitar reclamaciones. Pero lo cierto es que en la suma final no concuerdan los datos.
4
La suma de la segunda carta tendría que ser 775
3
No coincide la suma de los datos tendría que sumar 5.800

205
MEMÓRIA DO PAPEL DE GÓIS (1821-1992)
NA PARCERIA COM A INDÚSTRIA PAPELEIRA ESPANHOLA E NA PINTURA DE SALVADOR DALÍ

João Barreto Nogueira Ramos


jnogueiraramos@gmail.com

RESUMO

É traçado o perfil da indústria de papel de Góis (Ponte do Sotam), no interior de Portugal, sempre
gerida presencialmente pelos seus proprietários, de uma família da sociedade local.

No início dos anos 70 do século XX, o seu desenvolvimento processa-se em ligação com a indústria
espanhola, através do Grupo SARRIÓ, então um dos maiores grupos papeleiros de Espanha, dando
origem à criação de uma unidade transformadora, de capitais portugueses e espanhóis, produzindo
papéis de alta qualidade.

Salvador Dali terá pintado um quadro, preservando a memória da empresa. Esta obra de arte, um dos
ícones da pintura do século XX, é cogitada como símbolo ibérico da arte do fabrico de papel.

PALAVRAS CHAVE

Góis, papel, parceria ibérica, memória, arte

ABSTRACT

In this work we outline the profile of the paper industry of Góis (Ponte do Sotam), in inland Portugal,
always managed directly by its owners, from a local society family.

From around 1970, its development progresses in connection with the Spanish paper industry, via the
SARRIÓ group, which was at the time one of the most relevant paper industry groups in Spain, and originates
the creation of a processing plant with Portuguese and Spanish capital, producing high quality paper.

Salvador Dali will have created a painting, preserving the memory of the company. This work of art,
one of the icons of 20th century painting, is thought of as an Iberian symbol of de art of paper making.

KEYWORDS

Góis, paper, Iberian partnership, memory, art.

207
Primórdios1

Ano 1821. Estava em curso a revolução liberal. São aprovadas as bases da nova Constituição e
El-Rei D. João VI, com a sua Corte, desembarca em Lisboa. Decretam-se medidas anti-senhoriais,
nomeadamente abolição de direitos sobre utilização de moinhos, e é criada a primeira instituição
bancária para fins comerciais, o Banco de Lisboa, prestando apoio às iniciativas particulares. Por
todo o país, o liberalismo económico estava ganhando força, com fundadas esperanças de que
findara o tempo de retrocesso em que Portugal se encontrava, principalmente após as perturbações
trazidas pelas invasões francesas. Na população estimada em 3 100 000 habitantes, avaliava-se que
a totalidade do sector industrial integrava apenas 24 500 operários2.

Por outro lado, na vizinha vila da Lousã, a Real Fábrica de Papel da Lousã, um dos emblemas
representativos da indústria papeleira, então centenária, monopolizadora do fabrico de papel de escrita
no centro e sul do país3, era posta à venda em hasta pública4, pondo fim a um longo período de
decadência que vinha atravessando.

Figura 1

É neste contexto e neste ano que José Joaquim de Paula se abalança na instalação de um novo
empreendimento papeleiro, no concelho de Góis. Terra do interior, montanhosa, senhorial (doada em
1114, ainda antes da fundação de Portugal, e desde então, ao longo de sete séculos, mantendo-se
sempre na mesma família, de geração em geração), vivendo da agricultura doméstica, do pastoreio
e da floresta, a sua principal manufactura era a da alimentação, em engenhos artesanais, pequenos
moinhos à beira de cursos de água.

Instala o engenho nas margens da ribeira do Sotam, afluente do rio Ceira, junto à povoação Ponte do
Sotam. Segundo a tradição oral, foi preferido ao rio Ceira, de maior caudal, por as suas águas serem
vivas, límpidas e possuírem boas características para este tipo de indústria, nomeadamente de baixa
mineralização. A qualidade do papel fora uma preocupação, já que o mercado, abastecido até aí pelos
bons produtos da fábrica da Lousã, era exigente. Mas se se preponderavam as propriedades da água,

208
a desvalorização do seu caudal iria ter reflexos no futuro desenvolvimento da empresa. A quantidade,
tal como o da produtividade, condicionada que era pela quantidade de folhas que um artesão conseguia
produzir5, não era propriamente matéria que neste tempo estivesse na primeira linha das prioridades
dos empreendedores papeleiros.

Figura 2 Figura 3 Figura 4

Era um engenho de laboração manual, produzindo folha a folha, personalizadas por marcas de água
próprias, como era timbre na época6. Por um inventário realizado em 1864, após o falecimento do seu
fundador, toma-se conhecimento que possuía, entre outro equipamento, casas7 do pisão, casa para
prensas (oito de madeira e uma de ferro), tinas, caldeiras para fervura de trapo e para cozimento de
cola, maços de bater o papel, grades para cortar o trapo, formas de arame para diversos tamanhos,
enxugos com cordas de esparto e linho, tudo avaliado em 10 000 réis8.

Em 1836, os dois únicos locais do distrito de Coimbra onde se fabricava papel eram Ponte do Sotam
e Lousã9. Mas seria este distrito um dos três polos onde mais se concentraria a indústria de papel do
país, com oito fábricas10, nos concelhos Lousã (Penedo, Porto do Boque, Casal do Ermio e Vale das
Éguas), Góis (Ponte do Sotam), Miranda do Corvo (Espinho) e Penela (Moinhos da Retorta e Ponte do
Espinhal)11, dos quais apenas três tiveram dimensão para prosseguir com êxito a laboração: a referida
Real Fábrica de Papel da Lousã (Penedo), fundada em 1714, mas já com actividade papeleira desde
os fins do século anterior (actual Prado-Cartolinas da Lousã S. A.), a de Góis (Ponte do Sotam), em
1821, e a de Viúva Macieira e Filhos (Porto do Boque), em 1868, que entraria em decadência nos anos
80 do século seguinte, encerrando definitivamente em 1986.

Desde cedo está presente nas exposições de Lisboa, promovidas pela Associação Promotora da
Indústria Nacional, fundada em 1837 e berço da futura Associação Industrial Portuguesa.

Em 1859, almejando-se dar o salto para a mecanização, é decidido instalar uma máquina de formação

209
contínua, removendo-se de Lisboa12 uma das quatro que então havia no país13. Accionada por quatro
rodas hidráulicas, uma de diâmetro 4.40 m, as outras de 3.30 m. Na fábrica da Lousã a mecanização
seria introduzida apenas na década de 8014.

Não havia condições para laborar com eficiência no novo processo, nomeadamente tendo em conta
o caudal reduzido do rio e ausência de um reaproveitamento racional da água, o que, em época
de estiagem, permitia trabalhar apenas durante oito a nove meses no ano. A passagem para a
mecanização também não era tarefa fácil, sobretudo em zona rural, do interior, sem colaboração
de técnicos experientes. Como bem refere Maria José Santos15, «as duas fases de processos de
fabrico [folha-a-folha e máquina contínua] correspondem realidades humanas e técnicas diferentes
e, sobretudo, diversos tipos de mentalidade». Aparentemente, fora um passo extemporâneo, sem a
precaução de se precaver de bases sustentáveis.

Foi a primeira máquina de papel de fabrico contínuo introduzida no distrito de Coimbra, mas o seu
“momento de glória” seria efémero, pois por pouco tempo labora em Ponte do Sotam. Tentando superar
o desacerto, «sendo sua a máquina, o não era a força motor e o assento da fábrica, por o que dava
grossa renda, por isso estava deliberado a removê-la»16, segundo o seu argumento, requere em 1861
licença para poder construir uma fábrica no sítio do Porto do Boque17, em Serpins, na margem do rio
Ceira, depois de ter ponderado outros locais da região. Apesar de forte contestação de empresários
e de residentes das imediações, como relata a imprensa local, institui ali uma nova fábrica de papel.
Constrói edifícios, instala máquinas e, anos depois, já em 1868, inicia a laboração. Mas logo nesse
ano, perante as dificuldades, trespassa-a, nascendo então a firma Viúva Macieira e Filhos, já referida18.
Ajustadas as palavras acima citadas de Maria José Santos…

O que restou de Ponte do Sotam seria depois alienado e o seu jovem ex-proprietário, ousado, quiçá
imprevidente, José Joaquim de Paula Júnior, filho do fundador, ligava-se à vizinha fábrica da Lousã,
quer como como accionista, em 1875, quer como colaborador técnico (ou vendedor segundo outra
fonte, talvez mais assertiva), no ano seguinte19.

Salvador Dali, com o seu génio e a sua “loucura” («a minha única diferença em relação a um homem
louco é que eu não sou louco…»), iria retratar de modo sublime estes tempos primórdios da fábrica de
Ponte do Sotam num quadro famoso, de que mais adiante versaremos.

Industrialização, 1ª fase

Durante dezassete anos, tantos quanto durou a “Regeneração”, um ocasional período de acalmia política
que terminaria em 1868 com a “Janeirinha”, o país consegue alguma modernidade, principalmente em
infraestruturas de transportes e comunicações. Mas a industrialização continuava a fazer-se muito
lentamente, não acompanhando a de outros países da Europa ocidental.

210
Coimbra, já ligada por comboio a Lisboa desde 1864 e ao Porto desde 1877, não fugia à regra,
embora, após os tempos difíceis por que passara ao longo da primeira metade do século, começava a
destacar-se social e politicamente. A sua elite intelectual, buliçosa e irreverente, movendo-se em torno
da Universidade, queria ter uma palavra a dizer no desenvolvimento do país. O concelho de Góis vivia
igualmente uma época socialmente interessante, com a participação de uma nova burguesia, de casas
senhoriais e quintas agrícolas, relacionada com a sociedade da capital do distrito.

Podemos dizer que é nesta época que tem início a industrialização20 do papel em Ponte do Sotam, com
uma unidade papeleira estruturalmente organizada.

No hiato temporal de oito décadas, dos anos 70 aos anos 50 do século seguinte, a vida da empresa
atravessa três gerações de uma família com papel preponderante na sociedade local. Dedicando-se
com determinação a esta indústria, desligada de quaisquer outras actividades económicas, agrícolas
ou comerciais, a gestão será feita, sucessivamente, pelo avô, filho e neto (por curiosidade, todos tendo
ocupado as cadeiras da presidência da Câmara Municipal de Góis e da Administração do Concelho),
cada um deles deixando vincada a sua presença.

Apenas durante um curto período, nos finais dos loucos anos 20 (nostálgicos sob o ponto de vista
cultural, mas economicamente turbulentos, originando a Grande Depressão), esteve alugada a uma
firma externa, que, ao que se julga, deixou deliberadamente descambar a empresa, levando-a à
paralisação fabril, situação que teve que ser ultrapassada com recurso às vias judiciais.

No início, os terrenos e as antigas instalações são adquiridas por Manuel Inácio Dias, oriundo da região.
Aproveitando as infraestruturas existentes e a mão-de-obra já conhecedora da arte papeleira, instala
uma máquina contínua plana, vinda da Alemanha (Zeugbüte), de 1,65 m de largura, com oito cilindros
secadores a vapor. Complementada com lixiviador, três tinas de colagem, quatro prensas, uma caldeira
a vapor, duas calandras, uma cortadeira e uma guilhotina, entre outros equipamentos21.

Começa a laborar em 1878. Além de papel de impressão e escrita, branco e de cores, a sua matriz
desde o início, produz papel de embrulho, almaço, manteigueiro, para tabaco e até… ”de cores para
embrulhar palitos”. Como matéria-prima, emprega trapo e apara de papel. Em 1881 estão registados
80 trabalhadores, dos quais 40 homens, 30 mulheres e 10 menores, trabalhando de sol a sol. Para elas
e menores, salários de 80 a 120 réis, para eles, a partir de 160 réis.

Nos finais dos anos 80, o país atravessa um período de grande instabilidade, afectando a economia
e, em particular, a actividade das empresas, o que viria a precipitar a grave crise financeira de 1891
e o colapso do sistema bancário. Para fazer face a essa tendência depressiva, Manuel Inácio, numa
decisão inteligente e perspicaz, por escritura de 16 de Novembro de 1889, passa a empresa a seus
filhos, por os julgar mais capacitados para a gerir, criando uma sociedade por quotas, Dias Nogueira &

211
Cia. Deles sobressai Francisco Inácio Dias Nogueira22, que, pela sua forte personalidade, combatividade
e arrojo, se distinguiria, quer como político e jornalista, quer como industrial, «(…) está-lhe designado o
lugar de honra que por direito lhe pertence na vida histórica da indústria nacional», escrevia a Revista
Industrial23, que dedica dois números à unidade fabril de Ponte do Sotam.

Apesar da má conjuntura em que o país permanecia, a empresa é reestruturada, com novos edifícios
e equipamentos ajustados às necessidades, aumentando a capacidade de produção para quatro
toneladas diárias. Usa a pasta de madeira, pelo menos, depois de 191524. À semelhança de outras
unidades papeleiras, também aqui se faz sentir a presença de técnicos estrangeiros: em 1914, Ramon
Domenech é o director técnico, que, dois a três anos depois, se transfere para a fábrica da Lousã25, e,
em 1918, Juan Arnais26 ocupa esse lugar.

Com as campanhas de África e a guerra na Flandes, muitos homens têm que partir e as mulheres
ocupam os seus lugares, manejando elas próprias os equipamentos.

Figura 5 Figura 6

O seu capital fixo era um dos maiores do tecido industrial do distrito de Coimbra, no qual «as fábricas
de Papel, dos concelhos da Lousã e de Góis, contavam-se entre as principais unidades [industriais] da
área coimbrã»27. Tornava-se indispensável mais capital intensivo e daí a necessidade de alargamento
da sua base social. Assim, em 1906, por escritura de 13 de Janeiro, constitui-se em sociedade anónima
de responsabilidade limitada, tomando a denominação “Companhia de Papel de Góis, SARL”. Entram
novos sócios, quase todos pertencendo à elite da região, e emite obrigações, que eram admitidas à
cotação na Câmara dos Corretores da Bolsa de Fundos Públicos de Lisboa.

Entretanto, naquele ano 1906, o comboio chegava à Lousã, facilitando o escoamento dos produtos,
um dos obstáculos que dificultava a gestão da empresa, por deficiência de comunicações. E renascia
a esperança do prolongamento da ferrovia para mais terras do interior, de que Francisco Inácio era um
dos entusiásticos porta-vozes da região.

212
Não menos relevante, é a construção de uma central hidro-eléctrica, aproveitando-se uma pequena
queda de água de 12 m, no rio Ceira, a cerca de 4 km da fábrica, em zona de difícil acesso, inaugurada
em 1910, com uma turbina de 175 KVA. Uma decisão arrojada e precoce para a época, que a imprensa
destacaria (a produção hidro-eléctrica em Portugal tinha tido início poucos anos antes, em Março de
1894, precisamente com a central do Poço de Agueirinho, junto a Vila Real, no rio Corgo, com uma
potência instalada de 120 kW). A força motriz hidráulica, embora pouco onerosa, era desaconselhada
pela escassez de água no rio Sotam, nomeadamente tendo em conta a sua necessidade para a
agricultura. E a produzida pelo vapor não era a mais indicada, «…atendendo à irregular disposição
dos edifícios da fábrica, a instalação de transmissões seria dificílima, dispendiosa, e daria lugar a uma
constante perda de força considerável.»28.

Além de permitir a fábrica laborar com energia elétrica, passou a fornecê-la também ao concelho de
Góis, para iluminação pública, substituindo os antigos lampiões de petróleo, mediante contrato de
concessão com a Câmara Municipal. Uma unidade fabril a fornecer energia eléctrica ao Município
e não o inverso, não era uma situação normal, provavelmente inédita na época. Góis seria, aliás,
a primeira povoação do distrito de Coimbra a ter luz eléctrica, mesmo antes da sua capital. Era um
arzinho da segunda revolução industrial a entrar em Ponte do Sotam.

A obra é prosseguida pelo seu filho, Álvaro de Paula Dias Nogueira, que já vinha colaborando como
técnico desde 1925. O pai tinha-o orientado para estudar engenharia na Suíça, onde se diplomou
na Universidade de Lausanne, e estagiar no estrangeiro em fábricas de papel, o que lhe permitiu
acompanhar de perto o desenvolvimento industrial do pós-guerra. Não teria havido muitos empresários,
certamente, que nessa altura tiveram essa prudência.

A antiga máquina contínua é substituída por outra, mais moderna, de origem francesa (Angoulême),
igualmente de 1,65 m de largura, mas de capacidade de onze toneladas diárias. A central hidro-eléctrica
é aumentada com novo grupo gerador, este de 400 KVA, e passa a fornecer energia eléctrica para
iluminação pública também à vila da Lousã.

A década de 40, atravessada pela Guerra Mundial, com os problemas económicos e financeiros que
lhe estão associados, é igualmente percorrida com alguma perturbação. A que se vem juntar a doença
e a morte precoce do seu administrador-gerente, ocorrida em 1951, originando uma difícil sucessão
na gestão da empresa. A situação seria ultrapassada por um familiar que, abandonando a sua vida
profissional, dispôs-se ficar à frente da empresa, não deixando cair um empreendimento que era o
sustento de muitas dezenas de famílias.

213
Industrialização, 2ª fase

A maioria do capital da empresa é então adquirida por Henrique da Veiga Malta de Paula Nogueira,
que iria levar a fábrica a nova fase de desenvolvimento. Com o Estado Novo, tinha terminado o caos
financeiro do país, mas a economia continuava estrangulada. No modelo ostensivamente corporativista
como era e com um sistema de condicionamento industrial, o Estado exercia ampla autoridade sobre as
decisões de investimento privado. Até para o investimento em máquinas e equipamentos destinados a
aumentar a capacidade de uma empresa já existente, era necessária a aprovação superior. O primeiro
plano de desenvolvimento económico nacional, ainda que tímido, acabaria por ser feito apenas em 1953.

É em 1952-53 que o novo gerente-proprietário, assessorado de técnicos qualificados, se abalança a tomar


as rédeas da empresa, recapitalizando-a, melhorando-a tecnicamente e reorganizando-a com métodos
de trabalho modernos. A primazia dos seus produtos continua a ser papéis de escrita e impressão,
seguido de papéis de registo e de desenho, cartaz, kraft e cartolinas. Compete com os demais fabricantes
nacionais, por todo o país, apoiado pela sua distribuidora sediada em Lisboa, A Papeleira de Góis, L.da,
com armazéns próprios.

Depois de reestruturada a empresa, é traçado um novo plano de desenvolvimento, assente em dois


pilares: uma segunda linha de produção, com melhoria significativa de produtividade e de nível técnico; e
a transformação do papel, visando sobretudo os produtos que o país importava e os mercados externos.
Priorizando sempre a qualidade, cada vez mais exigida, principalmente pela indústria editora. Obras de
prestígio e de luxo são frequentemente impressas nos seus produtos.

O primeiro pilar é concretizado com uma máquina contínua de 2,20 m de largura útil, 220 m/min, permitindo
o revestimento do papel, instalada paralelamente à primeira, na margem oposta do rio, com a qual, num
primeiro período, se triplicava a produção. Em 1980 são registadas 12 488 toneladas, com 285 postos
de trabalho. A área coberta ocupa 15 000 m2 e os terrenos, adquiridos para futuras expansões fabris e
habitações sociais, 20 000 m2.

O segundo pilar dá origem a uma nova empresa, de transformados de papel, mais abaixo referida,
imediatamente a jusante, recebendo, como matéria-prima, o papel da Companhia de Papel de Góis,
onde a electrónica já começa a estar presente. O número de postos de trabalho directos, nas duas
empresas, ultrapassa os trezentos trabalhadores.

214
Figura 7

E chegamos aos anos 80, uma década desafiadora para os historiadores, no estudo da sua história social,
cultural, política e económica. Relembremos aqui apenas a queda abrupta da actividade económica com
multiplicação de falências de empresas, a dificuldade de obtenção de crédito bancário, o recurso ao FMI
em 1983, a entrada para a Comunidade Económica, em conjunto com a Espanha, em 1986.

Para poder dar continuidade ao empreendimento e salvar os postos de trabalho, as duas empresas
de Ponte do Sotam são integradas no Grupo PORTO DE CAVALEIROS, com sede em Tomar. Mas a
falência deste Grupo arrastaria consigo a Companhia de Papel de Góis, que vê terminar definitivamente
a sua laboração em 1991.

O fim desta indústria em Ponte do Sotam não deixou naturalmente de originar na região efeitos sociais
dramáticos, para além das consequências económicas. A fábrica era o maior empregador, um dos
seus principais motores de desenvolvimento. Em 1983, o seu número de trabalhadores representava
80% do total de empregados no sector da indústria transformadora do concelho de Góis29.

Ao longo de 170 anos, um pequeno povoado subsistindo da agricultura tinha-se transformado em aldeia
predominantemente operária, na qual a fábrica era o elemento fulcral da economia e de união de toda
a comunidade local. O camponês tinha virado operário. Novos vocábulos, produtividade, sindicalismo,
contrato colectivo, comissão de trabalhadores, capitalismo, justiça social, foram aparecendo à mesa da
taberna. Até uma greve, quando decorria o ano 1920, metendo polícia e guarda nacional republicana,
de que desconhecemos as razões, certamente por alguns querendo mostrar, nesta pequena aldeia
serrana, não serem menos sabidos do que os seus camaradas dos centros urbanos30.

A vida social, outrora regrada pelo nascer e ocaso do sol tinha passado a cadenciar-se pelo “relógio
da fábrica”. O som da sirene, ecoando pelos montes e vales ao redor, pautava para todos a hora do

215
trabalho e a hora do descanso, seis vezes ao dia, sete dias na semana, doze meses ao ano.

A localidade, aconchegada no silêncio da vivência campestre, passara a conviver quotidianamente


com o barulho das máquinas. O ruído constante dos refinadores e dos cilindros, vinte e quatro horas
por dia, entranhando-se por todos os recantos da aldeia, fazia parte do seu quotidiano. Sem ele, a
vida não era vivida. No amor, na refeição, no arraial, na procissão, no dormir. Contrariamente a outras
aldeias serranas, onde se apreciava o sossego e o bucolismo, os habitantes de Ponte do Sotam
detinham-se com o silêncio, expectantes, receosos. Ainda hoje, decorridos vinte e cinco anos, os que
ficaram e os que tiveram que partir para longe, à procura de um novo emprego, percebem esse ecoar
prolongado, ao calcorrear as ruas e vielas da sua aldeia.

Parceria com a indústria papeleira espanhola

Ainda não se vislumbrava a entrada dos dois países ibéricos para a Comunidade Europeia (ambos
pediriam a adesão em 1977), quando Ponte do Sotam estabelece uma parceria com a indústria
papeleira espanhola, através de “SARRIÓ, Compañía Papelera de Leiza S. A”. Cabeça de um grupo
de empresas, SARRIÓ era então um dos mais pujantes grupos de Espanha no sector papeleiro,
integrando pasta, papel e transformados, que em Leiza, pequeno povoado na região basca, estava
desenvolvendo de raiz um complexo industrial de apreciável dimensão.

Deu origem, em 1971, à formação da “INTAPE-Indústria Transformadora de Papéis de Góis S. A.”,


com sede em Ponte do Sotam, de capitais portugueses e espanhóis, incluindo a PORTO EDITORA,
que já ocupava um lugar de destaque na indústria gráfica, e, a nível pessoal, técnicos da Companhia
de Papel de Góis e da SARRIÓ. O seu objectivo era o fabrico de transformados de papel patenteados
pelo grupo espanhol, tendo-se principiado pelos denominados Papéis de Alto Brilho (cast coating
papers), produtos destinados a atender as exigências das indústrias de impressão, de rotulagem e de
embalagem cosmética e farmacêutica, na época totalmente importados.

Após a formação de pessoal operário e outros técnicos em Leiza, a INTAPE começa a laborar em
Janeiro de 1973, com uma máquina de 2,40 m de largura. Satisfez-se o mercado nacional e exportou-
se o excedente.

216
Figura 8

Outros transformados foram planeados, mas os seus projectos acabaram por não sair do estirador.
O declínio da INTAPE acompanhou o da Companhia de Papel de Góis, fornecedora da sua principal
matéria-prima, o papel-suporte, e com a qual repartia uma estrutura técnico-administrativo, tendo
encerrado em 1992.

Estava perspectivado um futuro interessante para a indústria de Ponte do Sotam, já que se ultrapassava
a dificuldade de obtenção de uma economia de escala no fabrico de papel, em parte por escassez de
água, e apostava-se na transformação em produtos de maior valor acrescentado e não fabricados em
Portugal. Assim não sucedeu, nem sempre o homem põe e dispõe.

Persistência da Memória

Dando crédito à narrativa explanada no livro Memória Distorcida31, terá sido solicitado a Salvador Dali
um quadro memoriando o historial da Companhia de Papel de Góis, pedido feito por Álvaro de Paula,
administrador da empresa. Estava-se nos finais dos anos 20, o pintor era então um jovem de 27 anos,
começando a afirmar-se nos meios artísticos catalão e parisiense.

Com as informações que de viva voz lhe foram transmitidas, no seu atelier em Portlligat (a sua primeira
vinda a Portugal seria só em 1940, de passagem para os Estados Unidos, fugindo à guerra), Dali espelha
os aspectos que nessa altura mais identificavam a história da empresa, com o tempo figurativamente
metaforizado em relógios deformados.

Foi pintado quando notou, entre as sobras do seu jantar, um queijo camembert a derreter-se. Inspirando-
se nessa plasticidade, explora a passagem do tempo com relógios, cada um formatado à sua época.
Vinha seguindo com muito interesse as novas teorias de Einstein sobre a relatividade e a relação entre
espaço e tempo, o que também terá contribuído para a ideia da deformação de relógios.

217
A pintura desenvolve-se em redor da figura central, Francisco Inácio, há anos acamado (até à sua
morte, que ocorreria poucos meses depois da execução da obra), a quem o filho, Álvaro de Paula,
pessoa de grande sensibilidade artística, desejava dedicar o quadro.

Figura 9

Em expressão serena, sobressaem os cílios, sugerindo um olho fechado em estado de contemplação,


de sonho ou de morte. Com bigode, que sempre fora um traço vistoso do seu visual, e a língua de fora,
marcante do sarcasmo e da ironia com que troçava da sua própria morte. Cingido ao corpo, um relógio
estendido e quebrado – a fábrica, qual menina dos seus olhos, a que dedicara a vida inteira (viuvara
cedo, vivendo desacompanhado desde os 31 anos) estava inactiva há alguns anos. No findar da vida,
a sua principal preocupação era reiniciar a laboração, por que vinha lutando com denodo.

À esquerda, no cimo de uma montra, os três períodos que identificavam a empresa até aquele momento.
O tempo do fabrico manual e a tentativa frustrada de mecanização, exprimido em relógio rígido, com
ausência de ponteiros e de numeração, correspondendo a um passado sem continuidade. A fábrica
fora desmantelada e alienada pelo seu proprietário. Coberto de formigas, que Dali, como confessa nas
suas memórias, tanto odiava e considerava símbolos da degradação.

O segundo período, o do seu pai, Manuel Inácio, com um relógio deformado, em parte pendente da
montra, aguardando a sua restauração. A crise por que passara deixara a fábrica em situação delicada,
necessitada de ser remodelada e adaptada a um novo tempo. Uma mosca ali colocada simboliza, na
visão facetada dos seus olhos, a sagacidade que o pai teve na passagem da empresa a seus filhos,
unindo-os em sociedade familiar (num dos seus livros, Dali não deixa de fazer o elogio das moscas,
que inspiravam os filósofos gregos).

Por fim, Francisco Inácio revê-se na árvore seca, com um só ramo, o filho único, Álvaro, seu sucessor.
À data, apenas com um neto, que o pequeno galho assinala. No relógio suspenso no corpo, dobrado,
a fábrica aguardando o arranque.

218
Fora do balcão, que expunha o passado e o presente, expressa-se o futuro. A esperança depositada
no filho, que tinha enviado para a Suíça, estudar engenharia industrial e estagiar em fábricas de papel,
e que estava reestruturando a fábrica. Dele esperava organização, estabilidade, precisão. Magistral, a
sua representatividade no rectângulo.

À esquerda da árvore, um pequeno objecto, parecendo uma pedra, que se poderia julgar um detalhe
irrelevante. Mas tem a sua explicação. Fora-lhe transmitido que, para a fábrica reabrir, apenas se
aguardava uma decisão do Tribunal Administrativo de Coimbra, em fase final de resolução, tal como
consta de documentos coevos. Uma pequena pedra no caminho para a reabertura da fábrica. Dali gostava
de deixar aos contempladores das suas obras pequenos detalhes, encorajando-os a interpretá-los.

À direita, os rochedos de Portlligat, local onde o pintor vivia, feliz alegoria da fábrica, estrutura sólida,
resistente ao tempo e às adversidades. Penedos de Hércules, chamam-lhe os habitantes locais.
Naturalmente, emoldurados por água, elemento chave na laboração da fábrica.

Um espaço aclarado, encimando o fundo escuro do quadro, exprime a luminosidade trazida pela nova
central hidro-eléctrica, de que ele, Francisco Inácio, fora o seu entusiástico mentor e executante.

Da esquerda para a direta, do relógio rígido, primórdios de um tempo finito, à mancha rochosa, que
conforma a robustez da fábrica, a pintura fazia assim reviver aos olhos do seu proprietário, a aproximar-
-se o seu encontro com a morte, a história da empresa.

O trabalho foi executado no verão de 1931, meses antes do seu falecimento, a 17 de Outubro desse
ano. A fábrica recomeçaria a laborar dezanove meses depois, em Maio de 1933, enquanto o quadro
seguia para Nova Iorque, adquirido em seguida pelo Museu de Arte Moderna (MOMA), onde se tem
mantido exposto até aos nossos dias.

Desde logo, e apesar das suas pequenas dimensões (24 X 33 cm), o quadro sobreleva-se aos olhos
dos apreciadores e especialistas de arte, não apenas pela estética, que não nos deixa indiferentes,
“mexendo” connosco, mas pelo jogo mental que provoca. Dali, então na vanguarda do movimento
modernista, que antecede a arte contemporânea, estava iniciando a sua fase surrealista, embora, para
nós, esta pintura, pelo que lhe está adjacente, se deva considerar não incluída nessa corrente artística.
Devotava-se ao simbolismo e desafiava os observadores a decifrar as suas alegorias. E diversas
leituras, algumas pouco consistentes, se fizeram sobre o quadro.

Salvador Dali denomina-o La Persistència de la Memòria – o cliente tê-lo-á requerido para que a
memória da empresa persistisse no tempo.

Pelo conjunto de todos elementos que o compõem (nenhum é supérfluo), pela designação que Dali
lhe deu, pela data da sua execução, pela lógica (que se deve impor na produção de um discurso

219
consistente e coerente), tudo conjugado com a análise atenta ao seu enquadramento histórico, que
julgamos bem avaliar, poucas dúvidas nos ficam, a nós pessoalmente, sobre o propósito do artista, o
de historiar a fábrica de papel.

Não se trata de criarmos um “efeito de verdade”, nem muito menos de fazermos pós-história, esse
jargão sem valor epistémico que o ano 2016 nos trouxe. Mas não nos custa adivinhar olhares ou
sorrisos condescendentes dos mais cépticos.

A narrativa pode ser considerada ilegítima por alguns, por não ser um relato totalmente testemunhado.
Mas, independentemente da “desconstrução” que se queira fazer e do aparecimento de novas leituras,
o que mais importante nos faz trazer aqui este quadro é ele nos poder potenciar a memória da indústria
papeleira. Tendo tendência ela desvanecer-se no tempo, progressivamente mais veloz, como é o
nosso, nada melhor do que uma imagem. Parafraseando Agustina, na imagem aparece a lógica do
conteúdo com mais intensidade do que na palavra.

Julgamos não ser demasiado ousado, questionar se ele não poderia ser considerado, numa dimensão
histórica e identitária, como ícone da indústria papeleira ibérica. Visto como paradigma de uma
empresa (como houve outras mais), com os seus feitos e as suas falhas, as suas venturas e as suas
desventuras, enfrentando com persistência e coragem as adversidades e as contingências de cada
época. Nesta quarta revolução industrial, em que a robotização e as transformações tecnológicas
gradualmente vão “desumanizando” as empresas.

Por outro lado, a arte pictórica, para além de um meio de consciencialização do mundo ou de evasão para
a noosfera em que que nos inserimos, é um instrumento de prestígio. Cada vez mais presenciamos ser
aproveitada como um «elemento-âncora para a criação de marcas ou imagens políticas, mas também
frequentemente empresariais». 32
Igualmente nos interrogamos, quando agora se historia o Papel na
Península Ibérica, em Santa Maria da Feira, local emblemático da indústria papeleira portuguesa,
aconchegado pelo seu espaço de memória, o Museu do Papel Terras de Santa Maria, se a arte ibérica
de fazer papel não ficaria bem ancorada a uma das melhores obras de um dos seus artistas mais ilustres.

Conclusão

A indústria de papel de Ponte do Sotam, discreta aldeia do interior Beirão, é o modelo de um


empreendimento gerido presencialmente por uma família da elite local, passando por várias gerações,
arriscando os seus cabedais, criando postos de trabalho e valorizando a sua terra.

Foi acompanhando as etapas da evolução empresarial e tecnológica. De individual constitui-se em


colectiva, primeiro por quotas, depois anónima de responsabilidade limitada, com novos accionistas,
mas sempre sob o domínio da mesma família. De laboração manual passa a mecânica e de energia

220
hídrica a eléctrica, tendo que recorrer à produção própria, numa época em que as centrais hidroeléctricas
ainda davam os primeiros passos no país. Do mercado interno vira-se para os externos. De poucas
dezenas de trabalhadores chega às três centenas.

Associa-se aos seus hermanos do outro lado da fronteira, criando localmente uma nova empresa,
que iniciaria em Portugal o fabrico dos papéis tipo cast coating. É de lá, de uma aldeia recôndita da
Catalunha, que um dos seus artistas mais famosos, Salvador Dali, ao que se presume, terá retratado
a sua história de vida num célebre quadro, enlaçando a arte da pintura com a arte do fabrico do papel.

Na sua média dimensão, nem demasiada pequena nem suficientemente grande que lhe permitisse
resistir às cíclicas conjunturas económico-financeiras, é absorvida por um grupo papeleiro de maior
dimensão, acabando por sucumbir com a vetusta idade de 171 anos.

In memoriam.

BIBLIOGRAFIA REFERENCIADA

A COMARCA DE ARGANIL, Arganil, nº 989, de 8.4.1920.


BANDEIRA, Ana Maria Leitão, in Pergaminho e Papel em Portugal. Tradição e conservação, CELPA,
Lisboa, 1995.
BANDEIRA, Ana Maria Leitão, “O fabrico do papel no distrito de Coimbra ao longo dos séculos XVI-
XIX: um percurso histórico” in PASTA E PAPEL, revista, pp. 29-36, CELPA, Julho 1999.
CAMPOS, Maria do Rosário Castiço de, “A fábrica de Papel da Lousã e o processo de industrialização
em Portugal”, in Revista da Faculdade de Letras. História, III Série, vol. 10, pp. 145-150, Porto, 2009.
CASTRO, Armando de, “A vida económica portuguesa do alvorecer do século de oitocentos à revolução
liberal de 1820”, in História de Portugal, volume 5, pp. 251-272,Publicações Alfa, Lisboa, 1983.
Documentação coeva da Companhia de Papel de Góis, SARL e da INTAPE - Indústria Transformadora
de Papéis, SARL (em poder do autor).
Edital, Administração do Concelho da Lousã, Lousã, 9 de Agosto de 1862.
Implementação do Nó da REI – Estudo da Região, ACIBEIRA, Arganil, 1988.
Inquérito Industrial de 1881, Imprensa Nacional, Lisboa, 1888.
LEAL, Augusto Soares de Azevedo Barbosa de Pinho, Portugal Antigo e Moderno. Diccionario de
todas as Cidades, Villas e Freguezias de Portugal, p. 565, Livraria Editora de Matos Moreira & Cª,
Lisboa, 1880.
MENDES, José Maria Amado, A área económica de Coimbra: estrutura e desenvolvimento industrial,
1867-1927, tese de doutoramento, Comissão de Coordenação da Região Centro, Coimbra,1984.
MENDES, José Maria Amado, “História e património industrial do papel: a indústria papeleira no distrito

221
de Coimbra”, in ARUNCE - Revista de Divulgação Cultural, nº 16, pp. 109-120, ed. da Câmara Municipal
da Lousã, Lousã, 2001.
O CONIMBRICENSE, Coimbra, nº 758, de 30.04.1861.
OLIVEIRA, Catarina, Fábrica de Papel do Boque, Nota Histórica-Artística, Direcção Geral do Património
Cultural, Património Cultural, 2016.
PEREIRA, José Carlos, O Valor da Arte, FUNDAÇÂO, Francisco Manuel dos Santos, Lisboa, 2016.
RAMOS, João Barreto Nogueira, Góis, em redor de 12 pessoas (1114-2014), Câmara Municipal de
Góis, Góis, 2014.
RAMOS, João Barreto Nogueira, Indústria de Papel em Ponte do Sotam. Contribuição para o seu
conhecimento, edição do autor, Lisboa, 2015.
RAMOS, João Barreto Nogueira, Memória Distorcida, Várzea da Rainha Impressores, S. A., Gaeiras,
2016.
REVISTA INDUSTRIAL, Quinzenário Ilustrado, ano I, nºs 8 e 9, Coimbra, 1918.
SANTOS, Maria José Ferreira dos, A Indústria do Papel em Paços de Brandão e Terras de Santa Maria
(Séculos XVIII-XIX), ed. Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, Santa Maria da Feira, 1997.
SANTOS, Maria José Ferreira dos, “José Maria Ottone e a indústria do papel em Portugal no século
XVIII”, in O Papel Ontem e Hoje, pp. 41-48, Arquivo da Universidade de Coimbra e Renova, Coimbra,
2008.
SANTOS, Maria José Ferreira dos, Marcas de Água e História do Papel: a convergência de um estudo,
Cultura, vol. 33, pp. 11-29, 2014.
SANTOS, Maria José Ferreira dos, Marcas de Água: séculos XIV-XIX, TECNICELPA - Associação
Portuguesa dos Industriais de Celulose e Papel, Tomar, Câmara Municipal de Santa Maria da Feira,
Santa Maria da Feira, 2015.

Notas

1 Este texto é suportado pela publicação do autor referenciada em RAMOS, 2015, complementando-a.
2 CASTRO, p. 266. Nas indústrias (artes), para além dos operários, estimavam-se 98 500 mestres e
8 000 aprendizes.
3 SANTOS, 2008, p. 46.
4 CAMPOS, p. 148.
5 Um artesão produzia normalmente seis a oito folhas por minuto (MENDES, 2008, p. 20).
6 «(…) esta personalização do papel, através de uma marca de água própria, sendo objectivamente
uma afirmação do fabricante, constitui também uma garantia de qualidade do produto apresentado»
(SANTOS, 2014).
7 Casa - antiga designação de Secção.
8 BANDEIRA, 1999, p. 34.
9 Ibidem, p. 33.

222
10 Ao longo do texto, utilizamos indiferentemente os termos Engenho e Fábrica. Segundo Maria José
Santos (SANTOS, 1997, p. 58), engenho parecia «ter uma utilização geograficamente circunscrita à
localidade onde estava instalado, sendo oficialmente designado por fábrica, independentemente da
sua dimensão económica.»
11 MENDES, 2001, p. 115.
12 O CONIMBRICENSE. Em diversa literatura indica-se que esta máquina era a primeira de fabrico
contínuo que tinha entrado em Portugal, mas sem se precisar a fonte da notícia.
13 Informação colhida numa publicação, de que perdemos a referência.
14 MENDES, 1984, pp. 187 e 190.
15 SANTOS, 1997, p. 209.
16 O CONINBRICENSE.
17 EDITAL.
18 Não é correcta a informação prestada na publicação de João Nogueira Ramos (RAMOS, 2015,
p.15), pelos novos conhecimentos que se têm pelo estudo de Catarina Oliveira (OLIVEIRA).
19 BANDEIRA, 1995, p. 63 e LEAL, p. 564.
20 Consideramos aqui o termo Industrialização no seu sentido restrito: instalação de indústrias fabris,
economicamente organizadas.
21 INQUÉRITO INDUSTRIAL.
22 Uma sua biografia encontra-se em RAMOS, 2014, pp. 188-208.
23 REVISTA INDUSTRIAL, 1918, nº 8.
24 MENDES, 1984, p. 189.
25 Ibidem, p. 190.
26 REVISTA INDUSTRIAL, nº 9, p. 3.
27 MENDES, 1984, pp. 326 e 327. Segundo Inquérito Industrial (embora de dados indicativos) o capital
fixo da fábrica de Ponte da Sotam era de 45 000$00, valor suplantado apenas pela totalidade do
sector de papel do concelho da Lousã (110 000$00), pela totalidade do sector de vidros do concelho
da Figueira da Foz (82 000$00) e pela totalidade do sector de tipografia no concelho de Coimbra
(58 600$00).
28 DOCUMENTAÇÂO.
29 IMPLEMENTAÇÃO DO NÓ DA REI.
30 A COMARCA DE ARGANIL.
31 RAMOS, 2016.
32 PEREIRA, p. 68.
Este texto não está redigido segundo as regras do Novo Acordo Ortográfico.

223
Ilustrações

Figura 1 – Pedra permanecendo num dos edifícios das instalações fabris, actualmente desactivadas.
Figura 2 – Uma das primeiras marcas de água da empresa (BANDEIRA, 1999, p. 34).
Figura 3 – Em documento datado de 1877 (BANDEIRA, 1999, p. 34), com as armas dos senhores de
Góis, onde o regime senhorial já tinha sido extinto em 1832, pelo decreto nº 7 de 4 de Abril.
Figura 4 – Em documento datado de 1835 (BANDEIRA, 1995, p. 56), plagiado da marca de Giorno
Magnani, conhecido fabricante italiano. Segundo Maria José Santos (SANTOS, 2015), «o prestígio que
o papel italiano continuava a ter em Portugal ainda no século XIX explica as indevidas apropriações de
uma das marcas de água emblemáticas de Giorgio Magnani, tão assiduamente encontrada nos nossos
ar-quivos e fielmente copiada por diferentes fabricantes portugueses.»
Figura 5 – Cortadora (REVISTA INDUSTRIAL de 01.09.1918).
Figura 6 – Calandra e Bobinadora (REVISTA INDUSTRIAL de 01.09.1918).
Figura 7 – Vista geral das instalações fabris da Companhia de Papel de Góis e da INTAPE, nos anos 70.
Figura 8 – Máquina da INTAPE.
Figura 9 – “A Preservação da Memória”, de Salvador Dali (o original a cores é aqui impresso a preto e
branco).

224
GRUPO 5
COMERCIO PAPELERO. LEGISLACIÓN
EVOLUCIÓN DEL PRECIO DEL PAPEL EN LA CIUDAD DE SANTANDER (1874 – 1890)

Carmen María Alonso Riva


Universidad de Cantabria
cm.alonso@hotmail.com

RESUMEN

Este estudio reconstruye retrospectivamente la compraventa al por menor de papel en la ciudad


portuaria de Santander (España) entre 1874 y 1890, utilizando como fuente los registros económicos
de la Junta de Obras del Puerto de Santander (JOP), y centra el análisis de la evolución de precios en
tres clases concretas de papel: papel de hilo blanco, papel de hilo cuadriculado y papel tela.

PALABRAS CLAVE / PALAVRAS-CHAVE

Comercio, precio del papel, Restauración borbónica, Cuentas Generales, Puerto de Santander /
Comércio, preço do papel, Restauraçao, Contas Gerais, Porto de Santander.

ABSTRACT

This study reconstructs retrospectively the retail sale of paper in the port city of Santander (Spain)
between 1874 and 1890, using as a source the financial records of Santander Port Authority and
focuses on the analysis of the evolution of prices in three specific kinds of paper: white paper, graph
paper and fabric paper.

KEYWORDS

Trade, price of paper, Bourbon Restoration, General Accounts, Port of Santander.

El interés de realizar un estudio sobre la evolución del precio del papel reside en la disparatada anarquía
y la competencia desleal que dominaba en la compraventa de papel a lo largo del último tercio del siglo
XIX, caracterizado por una competitividad feroz entre fabricantes, como demuestra el hecho de que
uno de los objetivos de la Unión de Fabricantes de Papel Continuo de España (1897) fuese la fijación
de precios y la aprobación de un código de usos y costumbres para la venta de papel que ni siquiera
las empresas firmantes respetaron1.

1 GUTIERREZ I POCH, M. “Control de mercado y concentración empresarial: La Papelera Española 1902 – 1935” en la
Revista de Historia Industrial, nº 10, 1996, p. 185.

227
Por ello, el objetivo de este artículo es reconstruir la evolución del precio del papel en la ciudad española
de Santander entre 1874 y 1890, periodo histórico denominado La Restauración, que comprende los
reinados de Alfonso XII (1874 – 1885) y los cinco primeros años de la Regencia de María Cristina de
Habsburgo (1885 – 1902)2.

No ha sido posible completar íntegramente la secuencia de datos durante el periodo de regencia de la


reina María Cristina, aunque hubiese sido lo deseable, ya que entre 1893 y 1902 no se ha localizado
documentación relativa a Cuentas Generales sino informes económicos parciales y discontinuos que
resultan insuficientes para esta investigación. Esto, quizás, es debido al grave desastre acontecido
en la ciudad en 1893 con la explosión del vapor Cabo Machichaco que provocó una gran cantidad de
muertos y desaparecidos, entre ellos el Ingeniero-Director de la JOP, Ricardo Sáenz de Santa María, e
innumerables destrozos materiales en la ciudad, lo que bien pudo trastocar el buen desempeño en la
elaboración de las Cuentas Generales entre 1893 y 19023.

Metodología

La fuente documental utilizada para extraer el devenir del valor del papel ha sido la serie Cuentas
Generales de Ingresos y Gastos de la Junta de Obras del Puerto de Santander (JOP) y la metodología
de trabajo ha consistido en localizar registros de compras de papel durante la cronología señalada.
Tan ardua tarea obtuvo dispares resultados según los años analizados, ya que hubo intervalos con
abundantes y pormenorizados datos mensuales de compras de papel, como sucede en 1874, mientras
que otros años no reflejan compra alguna en la documentación económica conservada actualmente
por la Autoridad Portuaria de Santander (APS), caso de los años 1882, 1884 y 1885.

Los registros económicos de la JOP resultaron muy ricos, dada la rigurosa confección de las Cuentas
Generales anuales tal y como establecía la normativa de las Juntas de Puertos dictada por el Ministerio
de Fomento desde el siglo XIX. De manera que no solo se localizaron las anotaciones de compras de
papel por parte de los secretarios en los distintos impresos oficiales que componen los expedientes
de Cuentas Generales, sino que, en algunos casos, también se encontraron adjuntas de forma
complementaria las facturas originales que los comerciantes santanderinos entregaban a la JOP tras
realizar la compraventa.

La fiabilidad de las Cuentas Generales de la JOP demostró ser excelente ya que al contrastar las
facturas originales de los vendedores de papel con las cifras que indicaba el registro económico
portuario, ambas eran plenamente coincidentes, lo que no solo favorecía la rigurosa reproducción del
sistema de compraventa de papel al por menor en Santander sino que también permitía trabajar con

2 Cronología extraída de la página web del Congreso de los Diputados de España


http://www.congreso.es/portal/page/portal/Congreso/Congreso/Hist_Normas/PapHist/Restaur

3 CASADO SOTO, J. L (ed.) La catástrofe del Machichaco. Santander, Autoridad Portuaria de Santander, 1993, p. 175.

228
seguridad los datos de los expedientes de Cuentas Generales que no aportaban facturas originales
de comerciantes, marcando así la diferencia respecto a otras series documentales económicas de
carácter nacional no siempre fidedignas4.

Sin embargo, este estudio no incluye todos los registros de compras de papel entre los años 1874
– 1890 que aparecen en las Cuentas Generales de la JOP por dos motivos. En primer lugar, porque
se localizaron distintas unidades de peso y medida del papel: la resma (resmilla, cuarto de resma,
media resma); el pliego; la hoja; la pieza; la mano; el rollo; el paquete; y la venta de papel por metros
o kilogramos.

Toda esta rica terminología propia no solo de la historia del papel, sino también de la historia de la
edición y de la imprenta, era problemática a la hora de examinar la evolución del precio del papel. Y
es que, según nuestro criterio, puesto que la resma es el sistema clásico de medición del papel, a
esta unidad de medida deberían de pasarse el resto de medidas de papel localizadas en las Cuentas
Generales. La cuestión es que había unidades de medida como la mano que eran la vigésima parte
de una resma5, lo que obligaba a realizar un cálculo matemático hasta completar la resma completa
y ello no garantizaba que fuese el precio real de la resma puesto que existía la posibilidad de que el
vendedor introdujese un recargo al precio por tratarse de una cantidad tan pequeña de pliegos sueltos
vendidos, al igual que sucede en la actualidad cuando compramos veinticinco folios sueltos en vez de
un paquete de folios, ya de sea de cien, doscientos cincuenta o quinientos folios.

Por ello, en este estudio se han discriminado todos aquellos registros que no tuviesen como sistema
de medida la resma y dentro de esta solo se han aceptado como valores inferiores la media resma y
el cuarto de resma dado que el volumen de estas no resulta tan reducido como para que el vendedor
introdujese un incremento del precio. De tal manera que todos aquellos registros que aparecen en las
Cuentas Generales como media resma o un cuarto de resma en este artículo aparecen reflejados con
el valor de la resma total resultante de sumar dos o cuatro veces, según el caso, la cifra reflejada en
las Cuentas Generales6.

4 FRAX ROSALES, E.: “Puertos y comercio de cabotaje en España, 1857-1934” en Estudios de Historia Económica, nº 2.
Madrid, Banco de España, 1981, pp. 29 y 30.

5 ZAVALA RUIZ, R.: El libro y sus orillas. Tipografía, originales, redacción, corrección de estilo y de pruebas. México, FCE,
2012, p. 19.

6 Los siguientes años comprenden media resma o un cuarto de resma, cuyo valor ha sido deducido hasta llegar al valor que
le correspondería a una resma completa.
Papel blanco:
Registros con media resma: enero 1874, julio 1874, agosto 1874, abril 1878 y noviembre 1886.
Registros con un cuarto de resma: abril 1874 y septiembre 1874.
Papel cuadriculado.
Registros con media resma: enero 1874, julio 1874, febrero 1875, junio 1877, marzo 1878, junio 1878, mayo 1879, mayo
1880, febrero 1888 y octubre 1889.
Registros con un cuarto de resma: septiembre 1874.

229
En segundo lugar, todos aquellos registros de compras de papel que implicasen algún proceso de
impresión o decoración como membretes, cantos dorados, recibos impresos, etc. y que, por tanto,
encareciesen el valor final del papel también han sido descartados y, por ello, tampoco se incluye
su estudio en este artículo. Asimismo, de entre todas las clases de papel reflejadas en las Cuentas
Generales se han seleccionado aquellas con las secuencias más voluminosas y extensas en el tiempo:
el papel de hilo blanco de primera categoría, el papel cuadriculado o rayado y el papel tela empleado
para el dibujo de planos.

Sin embargo, antes de comenzar el análisis pormenorizado de la evolución de precios de las clases
de papel seleccionadas es necesario advertir que la cronología de estudio de estas es distinta, no
solo por el carácter irregular de las compras en las Cuentas Generales sino también por los factores
previamente indicados: solo se usan los datos económicos que tienen como sistema de medida la
resma y tampoco se incluyen las compras de papel que implican algún proceso técnico que añada un
encarecimiento del importe final. Todo eso ha influido en el resultado de este estudio provocando que
la cronología de análisis de la evolución del precio del papel de hilo blanco sea 1874 – 1889; mientras
que el periodo de examen tanto en el papel cuadriculado como en el papel tela transcurre entre 1874
– 1890.

Antecedentes históricos

La importancia del análisis de precios del papel en Santander durante el último tercio del siglo XIX debe
entenderse como parte del perfeccionamiento del comercio finisecular, el cual significó el desarrollo
de la tecnología comercial, cada vez menos transparente y más compleja, que incorpora todo lo que
se refiere a las prácticas de regulación de precios por parte de las casas comerciales más grandes,
el manejo confidencial de informaciones, las técnicas de la propalación de rumores para subir o bajar
el precio de determinados productos o las modalidades de vinculación con diversas instancias de la
actividad comercial7.

El Decreto de Libre Comercio de 1765 convirtió al puerto de Santander en una plataforma de distribución
de mercancías llegadas de Castilla, América y Europa y en sede de la principal flota comercial del
Cantábrico. Ello estimuló económicamente la ciudad de Santander, lo que propició el aumento del nivel
de renta per cápita de sus habitantes y llevó a alterar las pautas de consumo tradicional de la población
santanderina, lo cual es perceptible en la notable expansión del comercio al por menor, su apuesta por
la especialización, la variedad y calidad de lo ofertado, así como su concentración en las concurridas
calles de San Francisco, La Ribera, la Blanca y la Plaza8.

7 PIPITONE, U. La salida del atraso: Un estudio histórico comparativo. México, FCE, 1994, p. 47.

8 HOYO APARICIO, A. “Puerto, negocio y estructura social en el Santander de 1829 a 1900” en La ciudad portuaria atlántica
en la historia: siglos XVI – XIX. Santander, Autoridad Portuaria de Santander - Universidad de Cantabria, 2006, p. 352.

230
Además, el comienzo a finales de abril de 1872 de las hostilidades carlistas en las vecinas provincias
del País Vasco y Navarra – que se extenderán por Aragón, Cataluña, Valencia y núcleos aislados
de Andalucía (…) significó un inesperado e intenso crecimiento del tráfico portuario de Santander y,
por tanto, de la actividad de los negocios a él vinculados9, como es el caso del comercio papelero.
Además, al conflicto carlista y la insurgencia cubana se unieron los episodios cantonalistas y la crisis
internacional de 1873, que al restringir la oferta de fondos prestables hizo aún más difícil para España
lograr financiación en el extranjero10.

La compra de papel es habitual en la administración pública española del siglo XIX y la JOP como
entidad pública dependiente de la Dirección General de Obras Públicas, organismo por el que el
Ministerio de Fomento gestiona los puertos españoles, no es una excepción, ya que en estos años
los empleados de la JOP están elaborando proyectos de gran interés para el desarrollo comercial
portuario de la ciudad de Santander.

Y es que tan solo un año antes del inicio de la secuencia cronológica de este estudio, la debutante
JOP11 realiza numerosas compras de objetos de escritorio y dibujo para dotar a sus empleados de
materiales con los que realizar los estudios de la prolongación de los muelles desde Puerto Chico hasta
San Martín y lo mismo sucede durante los años 1878, 1881 y 1886 en los que también se compran
materiales para los estudios de mejora de la Bahía de Santander, la reforma del proyecto del espigón
en sustitución del primero de Maliaño, el estudio de la reforma del primer embarcadero del Muelle de
Maliaño y el proyecto de limpia de la nueva Dársena de Molnedo entre otros.

Por tanto, sin más dilación, una vez que ha quedado constancia que el uso de papel es imprescindible
en el funcionamiento diario de la JOP, se muestra la evolución del precio del papel en la ciudad de
Santander entre 1874 – 1890 a través del Gráfico 1, en el que aparecen representadas las series
de compras de papel más voluminosas reflejadas en las Cuentas Generales: papel blanco, papel
cuadriculado y papel tela.

Evolución del precio del papel en Santander

El periodo cronológico analizado en el Gráfico 1, como se ha mencionado anteriormente, comprende


el periodo histórico de la Restauración Borbónica, concretamente el reinado de Alfonso XII y los cinco
primeros años de la regencia de María Cristina de Habsburgo, o lo que es lo mismo, un periodo de
librecambismo económico iniciado en 1869 que perdura hasta 1890 con el fuerte incremento de los
derechos de aduana.

9 HOYO APARICIO, A. De comerciantes y para comerciantes. El Banco de Santander 1857 -1874. Santander, Universidad
de Cantabria, 2015, p. 97

10 HOYO, De comerciantes, Op. cit., p. 104.

11 En 1872 se creó por Real Decreto de tres de mayo la Junta de Obras del Puerto de Santander.

231
Los aranceles de aduana son impuestos indirectos que gravan la adquisición de un bien importado.
Su principal razón de ser era que resultaba fácil controlar las mercancías en el tránsito de fronteras.
En origen no se trataba de impedir o favorecer el tráfico, sino de extraer dinero de él, pero con el
mercantilismo los aranceles se utilizaban para estorbar el comercio, poniendo unos gravámenes
tan fuertes a las mercancías de importación que estas resultasen carísimas y nadie las comprase12.
Estos son los aranceles protectores que, al encarecer el producto importado, aminora la competencia
extranjera y permite que el sector nacional venda más caro, protegiendo al sector económico papelero
a costa del consumidor, en este caso la JOP.

Existe un cierto acuerdo en catalogar de período librecambista los años que discurren entre el Arancel
Figuerola de 1869 y la vuelta a la protección del Arancel Cánovas de 1892. Este hecho esta en relación
con la percepción de que probablemente fue el período de protección más baja durante todo el siglo
XIX y la primera mitad del XX. En 1875 se anuló la liberalización que se había previsto para ese año por
la base quinta del arancel Figuerola, lo que parece dar lugar a una temporal reacción proteccionista13
que genera un aumento de precios.

El origen tanto de la inestabilidad inicial como de la estabilidad final que refleja el Gráfico 1 se debe a estas
políticas económicas librecambistas iniciadas en 1869 que motivaban incrementos y devaluaciones del
precio del papel. Además, el alejamiento del mercado exterior provocó una elevación de los precios
interiores que impidió la liberación de capacidad de compra que, en caso contrario, hubiera podido
contribuir a la diversificación y crecimiento de la demanda interna14.

12 TORTELLA CASARES, G. Introducción a la economía para historiadores. Madrid, Tecnos, 2002, p. 145.

13 TENA JUNGUITO, A. “¿Por qué fue España un país con alta protección industrial?: Evidencias desde la protección efectiva
1870-1930” en UC3M Documentos de Trabajo Serie Historia Económica e Instituciones Series 02-03,2002, p. 23

14 CUBEL MONTESINOS, A. “Gasto público y crecimiento económico en La Restauración (1874-1923)” en Revista de

232
Una primera lectura del Gráfico 1 muestra que el papel tela tiene una evolución de precios independiente
de los precios del papel blanco y cuadriculado, los cuales muestran un progreso de costes opuesto a lo
largo de todo el periodo analizado, es decir, cuando el precio del papel blanco es elevado el valor del
papel cuadriculado es bajo y a la inversa, lo que se traduce en una permanente inestabilidad de tarifas
con solo cinco años (1874, 1877, 1880, 1886 y 1888) en que los precios de estas dos clases de papel
se acercan.

Y, en este sentido, el hecho de que Santander sea una ciudad portuaria con lazos con las principales
plazas comerciales europeas genera que la llegada de grandes cantidades de papel extranjero al Puerto
de Santander devalúe el precio del papel siguiendo la ley de oferta y demanda. Y es que, a finales del
siglo XIX, la llegada de papel importado en buques de bandera nacional a Santander es apabullante
gracias a la discriminación positiva que ejercía el derecho diferencial de bandera sobre los navíos
españoles15. Esto hace que aumente la competitividad entre los productores españoles y extranjeros
de papel, reflejándose en el precio final de cara al consumo. Por tanto, evidencia un momento de feroz
lucha por el mercado santanderino entre los fabricantes de papel nacionales y extranjeros.

Para averiguar si el papel es un bien de consumo asequible o un producto de lujo, es necesario


contextualizar históricamente la venta de papel en Santander no solo comparando su precio con
bienes de consumo de primera necesidad sino también contrastando la evolución de precios con la
legislación económica y aduanera de España durante el último tercio del siglo XIX y la capacidad
de abastecimiento comercial de la ciudad de Santander dado que en la Comunidad Autónoma de
Cantabria no hay constancia de fabricación de papel. Por ello, a continuación, para contextualizar
los datos económicos se analiza de forma individualizada la evolución de precios de cada una de las
clases de papel representadas en el Gráfico 1.

Papel blanco

En esencia, el Gráfico 1 revela la relativa vitalidad económica española durante el siglo XIX, salpicado
por períodos de recesión, como la segunda mitad de la década de los ochenta, o de estancamiento,
como los quinquenios 1880 – 1885, constatando dos fases en la evolución del precio del papel de hilo
blanco. Una primera fase caracterizada por precios inestables entre 1874 y 1878, y una segunda fase
que comienza en 1879 con precios relativamente estables de la resma rondado las veinte pesetas para
finalizar con precios al alza en 1889.

La tendencia que representa el progreso del coste del papel blanco entre enero de 1874 y octubre de
1889 en el Gráfico 1 muestra dos puntos álgidos, julio de 1874 y septiembre de 1876, en los cuales

Historia Económica - Journal of Iberian and Latin American Economic History, año nº 11, nº 1, 1993, p. 51.

15 NADAL i FARRERAS, J. “Las relaciones comerciales hispano-británicas de 1772 a 1914” en Estudis. Revista de Historia
Moderna, nº 6, 1977, p. 195.

233
el precio de la resma de papel de hilo blanco de primera categoría es vendido por los papelistas de la
ciudad a sesenta y dos pesetas y media y a ochenta pesetas con veinte céntimos respectivamente en
un período histórico en que se está desarrollando la Tercera Guerra Carlista, lo que indudablemente
genera dificultades no solo en la producción sino también en el transporte de mercancías dado que
afecta directamente a provincias españolas fabricantes de papel como Cataluña, Aragón, Valencia
y País Vasco entre otras, repercutiendo en el consumidor. Ello explicaría el elevado coste del papel
durante estos años junto con la anulación de la base quinta del arancel Figuerola en 1875. En cambio,
el resto de la secuencia de precios del Gráfico 1 tiene una oscilación variable de dieciocho pesetas
entre el precio más caro y el más barato, con la excepción de los dos meses más caros previamente
señalados.

Así, desde el mes de julio 1874 hasta el mes de julio de 1880 el precio del papel cambia sustancialmente
incluso con una diferencia temporal de pocos meses. Hay que esperar a diciembre de 1880 para que
el valor del papel no sufra altibajos y la resma se mantenga a un precio constante de veinte pesetas
hasta noviembre de 1886. Esto solo sucede anteriormente entre enero y abril de 1874, meses en
los que la resma de papel vale dieciocho pesetas. Y es que el importe de la resma de papel fluctúa
continuamente y ni siquiera un mismo vendedor puede proporcionar a sus clientes un precio estable
de venta a lo largo de un mismo año.

Este es el caso del papelista santanderino Evaristo López Herrera, que aun realizando todas las ventas
de papel de hilo blanco a la JOP a lo largo de 1874, no es capaz de garantizar un precio constante
del papel. Así, durante las adquisiciones realizadas en los meses de enero y abril de ese año, la JOP
obtiene la resma de papel de hilo blanco de primera categoría a dieciocho pesetas pero en la siguiente
compra el precio de esa misma resma se eleva a más de sesenta y dos pesetas, para devaluarse en la
transacción de agosto a diecinueve pesetas la resma y alzarse nuevamente en la adquisición realizada
en septiembre a veinticuatro pesetas y devaluarse nuevamente a poco más de dieciséis pesetas la
resma el mes de diciembre de 1874, demostrando así que las oscilaciones de precio de la resma de
papel de hilo blanco son frecuentes en la ciudad de Santander.

Sin embargo, el precio de la resma de papel vuelve a ascender superando cualquier precio anterior
en septiembre de 1876 con un valor que supera las ochenta pesetas para devaluarse tan solo un año
después, en noviembre de 1877 a veinte pesetas. En ambos casos, las Cuentas Generales especifican
que se trata de una resma de papel de hilo de primera con la particularidad de que la nota de compra de
1877 indica la marca de la casa comercial que fabrica el papel: Romaní. No obstante, los vendedores de
estas resmas son distintos. La carísima resma de 1876 es vendida por el impresor Telesforo Martínez
y aunque pueda parecer que un motivo de ese elevado precio sea que la resma lleve incluido algún
tipo de proceso de impresión o litografiado, puesto que es vendida por un impresor en vez de un
papelista, esto no es así ya que la nota de compraventa no lo específica, tal y como sucede en otras

234
ocasiones. En cambio, el vendedor de la resma de 1877, con precio de veinte pesetas, es Eusebio
Revilla, vendedor de material de oficina santanderino no localizado hasta ahora en investigaciones
previas sobre cultura escrita en Cantabria.

Y tan solo un año después, abril de 1878, la Viuda de Soriano, propietaria de un depósito de papel
en Santander, vende la resma de papel de hilo blanco a treinta pesetas en un periodo en que la JOP
está realizando compras de material de oficina para el estudio de mejora de la Bahía de Santander de
ese año. Meses después, entre marzo y noviembre de 1879, la JOP compra nuevamente resmas de
papel de hilo puro de 1ª al papelista, y ahora también impresor, Evaristo López Herrera por diecinueve
y veintiuna pesetas correlativamente. También vuelve a repetir la JOP comerciante suministrador de
papel, Eusebio Revilla, en julio de 1880, el cual despacha la resma de papel de hilo blanco a doce
pesetas, ocho pesetas más barata que hace tres años, y solo unos meses después, en diciembre
de 1880, el precio de la resma de papel ha subido hasta las veinte pesetas, precio que se mantiene
estable hasta noviembre de 1886 a pesar de que se trata de tres vendedores de papel distintos los
que proporcionan el papel a la JOP durante ese plazo de tiempo. La resma de 1880 es vendida por el
impresor José María Martínez, hermano del previamente mencionado impresor Telesforo Martínez; la
resma de 1883 es expendida por la Viuda de Soriano, igualmente citada con anterioridad; y, por último,
la resma de 1886 es adquirida por la JOP al impresor Francisco Fons. Esta estabilidad del precio de la
resma de papel de hilo blanco no se había observado desde 1874.

Finalmente, los dos últimos registros de compras de papel por la JOP reflejados en el Grafico 1
corresponden a 1889, específicamente a los meses de febrero y octubre. Ambas compras se realizan
a la empresa Blanchard y Compañía y, a pesar de que entre ellas transcurren tan solo ocho meses, la
diferencia de precio es ligera pero perceptible ya que en febrero la resma vale poco más de veintidós
pesetas y en octubre alcanza las veinticuatro. Así, en general, se puede afirmar que, salvo en años
excepcionales, el precio de la resma de papel ronda las veinte pesetas entre 1874 y 1889.

A fines del siglo XIX, Santander posee un depósito comercial cuyo fin no solo es la reexpedición de las
mercancías recibidas a través del tráfico exterior sino también sirve como un plazo para el pago de los
derechos16. La Viuda de Soriano aparece en las Cuentas Generales como propietaria de un depósito
de papel y también en las listas oficiales de socios de la Cámara Oficial de Comercio, Industria y
Navegación17.

16 MEMORIA leída en la Junta General de la Cámara de Comercio de Santander el día 14 de diciembre de 1896.
Santander, Imprenta de J. M. Martínez, 1896, p. 6.

17 “LISTA de los socios de la Cámara Oficial de Comercio, Industria y Navegación a 31 de diciembre de 1907” en Memoria
leída en la Junta General de la Cámara de Comercio Navegación de Santander a 31 de diciembre de 1907. Santander,
Imprenta de J. M. Martínez, 1907, p. 18.

235
Según la Estadística de 1879, el comercio de papel aparece en el puesto veintiuno entre los principales
artículos importados a España. De manera que solo durante el quinquenio 1874 – 1878 se importaron
4.417.253 kilogramos de papel por valor de 5.074.908 pesetas que generó unos derechos de arancel
por valor de 748.998 pesetas. En este sentido, parece fácil explicar el descenso del precio del papel a
partir de 1879, ya que entre 1879 y 1884 se produce una entrada masiva de papel continuo procedente
del extranjero, alcanzando en el año 1879 la cifra de 1.163.458 kilogramos de papel transportados
exclusivamente al puerto de Santander en buques de bandera nacional desde otros países europeos18,
lo que confirma los datos de la Estadística de 1879 que asegura el descenso del valor del papel
importado a 64.719 pesetas respecto al año anterior mientras que en el quinquenio anterior a 1879
había aumentado 2.695 pesetas y convierte al papel en uno de los artículos importados que han tenido
mayor alteración de precio ese año.

Además, las Estadísticas de Comercio Exterior entre 1880 y 1884 informan de la llegada anual de
aproximadamente 40.000 kilogramos de papel importado por buques españoles procedente de Francia,
Alemania, Bélgica, Inglaterra o Italia. Toda esta afluencia de papel extranjero a la ciudad de Santander
a inicios de los años ochenta del siglo XIX coincide en el Gráfico 1 con tarifas bajas de la resma de
papel blanco.

Según Andrés Hoyo, en las ciudades portuarias decimonónicas toda la ocupación giraba en torno a la
actividad mercantil; medios e infraestructuras se disponían, aplicaban y trazaban con el fin principal de
facilitar y potenciar esta. La propia configuración del espacio urbano respondía a este mismo interés.
En este ambiente, la casa comercial era la institución privada más importante19.

La JOP tiene necesidad de adquirir papel y por ello realiza compras de dicho producto a seis
comerciantes: Evaristo López Herrero, Telesforo Martínez, Eusebio Revilla, la Viuda de Soriano, José
María Martínez y Francisco Fons. Sin embargo, de todos ellos, la única persona propietaria, siempre
según las Cuentas Generales, de un depósito de papel es la Viuda de Soriano. Además, por la enorme
vinculación entre papelería, encuadernación, librería e imprenta, se han buscado los nombres de estos
vendedores de papel en el Diccionario de Impresores de Cantabria20. Y de los seis nombres localizados
en las Cuentas Generales solo dos no aparecen en el citado diccionario: la Viuda de Soriano y Eusebio
Revilla. Pero, pese a ello, todas las firmas comerciales son santanderinas puesto que su factura no
incorpora porte y embalaje.

18 ESTADÍSTICA del comercio exterior de España. Madrid, Dirección General de Aduanas, 1879, p. 208.

19 HOYO, De comerciantes, Op. cit., p. 21

20 GONZÁLEZ NICOLÁS, E. y LAVÍN GARCÍA, M. J. “Diccionario de impresores” en La Imprenta en Cantabria. Dos siglos de
historia. Santander, DOC – Fundación Marcelino Botín, 1994, pp. 81 – 134.

236
Papel cuadriculado

El precio de partida de la resma con el que se inicia la serie papel cuadriculado es de veintiuna pesetas
en enero de 1874, valor que desciende una peseta en julio y cuatro pesetas en septiembre del mismo
año, marcando un mínimo de diecisiete pesetas la resma de papel cuadriculado. Precios un poco
superiores, pero no muy distantes del valor de la resma de papel blanco en el mismo periodo. Sin
embargo, el coste del papel cuadriculado asciende hasta las ochenta y seis pesetas durante los
siguientes años, 1875 y 1876, precio por encima del valor de la resma de papel blanco en 1876 que
como se mencionó anteriormente alcanzó las ochenta pesetas, cuando ese mismo año el precio del
trigo de Castilla, a diecisiete de diciembre, es de treinta y ocho reales la fanega según el corresponsal
del mercado de Medina del Campo, precio elevado debido a las intensas lluvias21, indicio de lo caro
que resulta comprar papel durante 1875 y 1876. Esto puede ser debido a las insuficientes entradas
de barcos con papel cuadriculado en esos años, unido a la escasez de ese género en el deposito
comercial de la ciudad por el desarrollo de la Tercera Guerra Carlista en las provincias papeleras
españolas y a la mencionada supresión de la base quinta del arancel Figuerola.

Además, el Boletín del Comercio de Santander indica que en esos años hubo intensas lluvias que
provocaron incrementos notables de precios22 en los mercados y también el papel blanco y el papel
tela registran los valores más altos de todos los localizados en las Cuentas Generales en ese periodo
concreto. Por ello, puesto que el papel es un producto que sufre deterioro con el agua, bien puede ser
este otro de los motivos por el que coincidentemente el precio del papel cuadriculado, el papel blanco
y el papel tela registran precios tan elevados en esos años ya que, al igual que sucede hoy, el papel
defectuoso o que ha sido humedecido no se comercializa o se vende a bajo coste. Este hecho unido
a la situación bélica y arancelaria previamente comentada bien pudo ocasionar la tan llamativa subida
de precios durante el periodo central de los años setenta del siglo XIX.

Sorprendentemente, un año después, en 1877, el precio de la resma de papel cuadriculado registra en


las Cuentas Generales de la JOP su valor más bajo, apenas llegando a costar una peseta. Este dato
resulta extraño por el extraordinario descenso del importe de la resma de papel de un año a otro, pero
es el que aparece en los registros económicos de la JOP. Quizás sea una errata, pero, por el momento,
lo damos por fidedigno. Hasta este año el proveedor de papel cuadriculado para la JOP ha sido el
mismo, el papelista Evaristo López Herrera.

A continuación, entre 1878 y 1881 se registra una fase de relativa estabilidad de precios, coincidiendo
con un periodo de proteccionismo moderado que hace que el precio de la resma de papel oscile entre
diecinueve y veintisiete con cincuenta pesetas hasta el final de la secuencia cronológica analizada con

21 Boletín de Comercio, año XXXIX, nº 291. Calculando que una peseta equivale a cuatro reales, resulta que la fanega de
trigo en diciembre de 1876 cuesta nueve pesetas y media.

22 Boletín de Comercio, año XXXIX, nº 289 (16 diciembre 1876).

237
compras a cinco comerciantes distintos (Eusebio Revilla, Viuda de Soriano, José Hereña, Francisco
Fons y Blanchard y Compañía) incapaces de mantener constante el precio del papel cuadriculado en
un periodo de recesión o estancamiento económico.

Por el detalle con el que está elaborada la factura de Francisco Fons correspondiente a junio de 1890
sabemos que la resma de papel cuadriculado que vende a la JOP es de marca holandesa, eso explica
el elevado precio, veintisiete pesetas y media.

Las casas comerciales proveedoras de papel cuadriculado son seis: Evaristo López Herrera, Eusebio
Revilla, Viuda de Soriano, José Hereña, Francisco Fons y Blanchard y Compañía. Es decir, los mismos
comerciantes que proveen papel blanco a la JOP, a excepción de José Hereña, que únicamente realiza
ventas de papel cuadriculado.

El papel tela

Según la RAE, el papel tela es un tejido de algodón, muy fino, engomado por las dos caras y transparente
que se emplea para calcar dibujos23. Por tanto, se trata de un papel especial para dibujo técnico que
utilizaban los delineantes de la JOP para realizar los planos de los proyectos de obras del Puerto
de Santander, lo que genera compras continuas de esta clase de papel que tiene la singularidad de
venderse por piezas, a diferencia del papel de hilo y cuadriculado que se vende por resmas.

El Gráfico 1 evidencia que la evolución del precio del papel tela es completamente diferente a lo
mostrado hasta ahora en las series de papel blanco y papel cuadriculado. En primer lugar, porque el
valor de partida del papel tela es más elevado que los del papel blanco y papel cuadriculado, siendo
el importe medio de la pieza de papel tela de poco más de treinta y seis pesetas entre mayo de 1874
y mayo de 1890. Concretamente los precios más altos se localizan entre 1874 y 1876, llegando a
alcanzar las cincuenta y cinco pesetas la pieza de papel tela en noviembre de 1875 y por contra, los
precios más bajos se encuentran en 1878, 1883 y 1890.

La JOP compra piezas de papel tela con frecuencia entre 1874 y 1890 por la necesidad que tienen sus
delineantes de este tipo de papel para poder realizar los planos que complementan la memoria y con
la que, en conjunto, forman los proyectos de obras que firman los distintos Ingenieros-Directores de la
JOP: estudio de prolongación de los muelles desde Puerto Chico a San Martín (1873 – 74); estudio de
mejora de la Bahía (1878) y proyecto del Dique de San Martín (1883) entre otros.

Durante los años iniciales, el comerciante madrileño Manuel Recarte vende la pieza de papel tela a un
precio elevado, que oscila entre las cincuenta y cincuenta y cinco pesetas. Después vienen años de

23 Diccionario de la Lengua española. Edición Tricentenario de la Real Academia Española


http://dle.rae.es/?id=RmThomy

238
estabilidad de precios gracias a los comerciantes santanderinos Viuda de Wünsch y Rodolfo Richter,
entre 1878 y 1883, en los que el valor de la pieza de papel tela tiene un coste de treinta y siete con
cincuenta pesetas con la excepción de la venta de abril de 1878 realizada por valor de veinticinco
pesetas puesto que se trata de una pieza en su tercera parte algo averiada, y la venta de marzo
de 1883 realizada, según la factura de Rodolfo Richter, por peseta y media. Y a partir de mayo de
1887 el precio del papel tela va paulatinamente elevándose, tanto por comerciantes madrileños como
santanderinos, hasta alcanzar las cuarenta y una pesetas y media en 1889 y 1890. Sin embargo, entre
estas dos últimas fechas, el impresor y litógrafo santanderino Francisco Fons realiza la venta de una
resma de papel tela a la JOP por doce pesetas y media.

Las ventas las realizan seis vendedores. De ellos, dos son destacados comerciantes madrileños,
Manuel Recarte y Manuel Pérez de Valluerca, mientras que el resto son santanderinos ya que en sus
facturas no incluyen el porte y embalaje, como sí sucede en las facturas de las casas comerciales
de la capital española. Estos comerciantes santanderinos son: la Viuda de Wünsch, Rodolfo Richter,
León Hecker y Francisco Fons. A pesar de que algunos de estos apellidos son de origen extranjero, se
trata de comerciantes asentados en Santander y a los que la JOP realizaba compras con asiduidad,
como es el caso de la Viuda de Wünsch, propietaria de un Almacén de Quincalla.

Tras este análisis se puede afirmar que para la JOP sale más barato comprar el papel tela a los
comerciantes de Santander que a los de Madrid, ya que estos últimos son incapaces de mantener una
política de precios estables o competitivos como sí hacen los comerciantes santanderinos.

Por último, en las Estadísticas de Comercio Exterior no aparecen datos concretos sobre papel tela
hasta 190224, lo que nos hace pensar que estaba incluido en la partida doscientos diez del arancel
octavo denominada Los demás papeles no tarifados expresamente y, por tanto, es difícil saber el
volumen de importación de esta clase de papel y el grado de influencia que las remesas de papel tela
llegadas a Santander desde el extranjero tuvieron en el precio final de venta al consumidor.

Conclusiones

El interés evidente de este artículo se asienta en el análisis de tarifas del papel en un periodo histórico
anterior a la creación de carteles papeleros que marquen las pautas de comercialización, distribución y
fijación de precios, y transversalmente también es un tema especialmente importante para profundizar
los estudios de alfabetización e historia de la lectura en Cantabria durante el último tercio del siglo XIX.

24 ESTADÍSTICA del comercio exterior de España. Madrid, Dirección General de Aduanas, 1902, p. 196.
Arancel octavo, quinto grupo “Cartones y Papeles Varios”, partida 231 “Papel forrado de tela, piezas o recortado”.

239
Finalmente, tras el estudio de la evolución del precio del papel en Santander entre 1874 y 1890 se
establecen las siguientes conclusiones:

1. La compraventa de papel en Santander entre 1874 y 1890 está presidida por la maximización
del beneficio, ya que los comerciantes santanderinos aumentan o devalúan el precio del papel
que venden según la coyuntura histórica, económica y legislativa del momento, lo que provoca la
permanente inestabilidad de precios de venta de todas las clases de papel analizadas.

2. Los comerciantes desarrollan modernas tecnologías comerciales en el comercio al por menor,


imitando técnicas de mercado europeas que permiten un rico surtido de productos tanto de procedencia
nacional como extranjera gracias a la agilidad del comercio local y nacional, de los transportes, a la
modernidad de los métodos de pago y las facilidades para realizar compras a distancia con total
seguridad. Todo ello evidencia la contemporaneidad de un modelo comercial no contemporáneo.

3. A falta de las facturas de comercio al por mayor, las Cuentas Generales de la JOP resultan una
fuente de inestimable ayuda para reproducir los circuitos comerciales papeleros al por menor en
Santander, utilizando ciencias y técnicas de la historia.

BIBLIOGRAFÍA Y FUENTES

BOLETÍN de Comercio. 1852 -1876.


CASADO SOTO, J. L (ed). La catástrofe del Machichaco. Santander, Autoridad Portuaria de Santander,
1993.
CONGRESO DE LOS DIPUTADOS DE ESPAÑA [sitio web] Madrid, 2017 [Consulta 11 de marzo 2017]
Disponible en:
http://www.congreso.es/portal/page/portal/Congreso/Congreso/Hist_Normas/PapHist/Restaur
CUBEL MONTESINOS, A. “Gasto público y crecimiento económico en La Restauración (1874-1923)”
en Revista de Historia Económica - Journal of Iberian and Latin American Economic History, año nº 11,
nº 1, 1993.
DICCIONARIO de la Lengua española. Edición Tricentenario de la Real Academia Española [sitio web]
Madrid, 2014 [Consulta 11 de marzo 2017] Disponible en: http://dle.rae.es/?id=RmThomy
ESTADÍSTICA del comercio exterior de España. Dirección General de Aduanas. Años 1873, 1879,
1880, 1882, 1883, 1884.
FRAX ROSALES, E.: “Puertos y comercio de cabotaje en España, 1857-1934” en Estudios de Historia
Económica, nº 2. Madrid, Banco de España, 1981.
GONZÁLEZ NICOLÁS, E. y LAVÍN GARCÍA, M. J. “Diccionario de impresores” en La Imprenta en
Cantabria. Dos siglos de historia. Santander, DOC – Fundación Marcelino Botín, 1994.

240
GUTIERREZ i POCH, M. “Control de mercado y concentración empresarial: La Papelera Española
1902 – 1935” en la Revista de Historia Industrial, nº 10, 1996.
HOYO APARICIO, A. “Puerto, negocio y estructura social en el Santander de 1829 a 1900” en La
ciudad portuaria atlántica en la historia: siglos XVI – XIX. Santander, Autoridad Portuaria de Santander
- Universidad de Cantabria, 2006.
- De comerciantes y para comerciantes. El Banco de Santander 1857 -1874. Santander, Universidad
de Cantabria, 2015.
MEMORIAS anuales de la Cámara de Comercio de Cantabria.
NADAL i FARRERAS, J. “Las relaciones comerciales hispano-británicas de 1772 a 1914” en Estudis.
Revista de Historia Moderna, nº 6, 1977.
PIPITONE, U. La salida del atraso: Un estudio histórico comparativo. México, FCE, 1994.
TENA JUNGUITO, A. “¿Por qué fue España un país con alta protección industrial?: evidencias desde
la protección efectiva 1870-1930” en UC3M Documentos de Trabajo Serie Historia Económica e
Instituciones Series 02 - 03, 2002.
TORTELLA CASARES, G. Introducción a la economía para historiadores. Madrid, Tecnos, 2002.
ZAVALA RUIZ, R.: El libro y sus orillas. Tipografía, originales, redacción, corrección de estilo y de
pruebas. México, FCE, 2012.

241
GRUPO 6
FILIGRANAS
PROYECTO FILIGRANAS HISPÁNICAS
Base de Datos Access. (Página WEB del IPCE)

Mª del Carmen Hidalgo Brinquis


Directora del Proyecto del Corpus de Filigranas Hispánicas y Emérita del Instituto del Patrimonio
Cultural de España (IPCE)
carmen.hidalgo.brinquis@gmail.com

Celia Díez Esteban


Conservadora-Restauradora del Servicio de Conservación y Restauración del Patrimonio
Documental, Bibliográfico y Obra Gráfica del IPCE
celia.diez@mecd.es

RESUMEN

Con este proyecto queremos paliar el retraso que ha sufrido el estudio de las filigranas en España,
a pesar de ser el primer país europeo del que hay constancia documental donde se fabricó el
papel (Xátiva, 1154) y ser el que suministró este material a toda Iberoamérica, gracias al monopolio
papelero establecido por la Corona Española.

El proyecto nace con la función principal de convertir la base de datos Access en una consulta pública
a través de Internet y ampliar por tanto así el ámbito geográfico a Portugal e Hispanoamérica. En la
actualidad contamos con unas 11.000 filigranas y al terminar este año aspiramos alcanzar la cifra de
20.000.

La nueva aplicación deberá:

• Permitir la carga, actualización y gestión de los datos a través de la web, según perfiles de
usuario.

• Facilitar la consulta de datos pública a través de la web

• Presentar elementos de consulta complementarios como vocabulario y bibliografía

• Ser Compatible con el proyecto Bernstein.

245
PALABRAS CLAVE

Filigrana, Base de Datos, Papel, Glosario,

ABSTRACT

This project intends to mitigate the delay suffered in the study of the watermarks in Spain, despite
being the first European country in which no documentary evidence where paper (Xativa, 1154) was
manufactured and be the one who supplied this material to all Latin America, thanks to the paper
monopoly established by the Spanish Crown.

The main goal is to convert the Access database in a public consultation over the Internet and thus
extend the geographical scope to Latin America. Currently we have 11,000 watermarks and at the end
of this year we hope to reach the figure of 20,000.

The new application shall:

• Allow the load, update and management of data through the web, according to user profiles.

• Facilitate consultation data through the web

• Provide consultation as complementary elements to glossary and bibliography

• Be compatible with Bernstein project.

KEYWORDS

Watermarks, Data Base, Paper, Glossary,

El proyecto “Filigranas Hispánicas” es una iniciativa del Instituto del Patrimonio Cultural de España,
organismo dependiente de la Dirección General de Bellas Artes y Patrimonio Cultural del Ministerio de
Educación, Cultura y Deporte.

Su objetivo primordial es el estudio de las filigranas de los papeles utilizados en la comunidad hispana
por ser éste el elemento identificador y datador más importante que encontramos en la manufactura
del papel ya que si contásemos con el repertorio de todas las filigranas elaboradas desde su aparición,
desde finales del siglo XIII hasta el día de hoy, tendríamos datos fidedignos para identificar y datar,
con un pequeño margen de error, la mayoría del papel, especialmente los fabricados hasta principios

246
del siglo XX. A partir de esta fecha el uso de la filigrana suele adquirir un valor comercial y se atiene a
otras normas de datación.

Un mismo molino podía realizar varios tipos de filigranas que correspondían a formatos y calidades
específicas. A través de la historia sabemos que estas marcas fueron objeto de numerosas falsificaciones
ya que los diseños de mayor prestigio fueron muy imitados. Según Briquet1, desde el siglo XV, se
estableció el derecho al uso en exclusiva de una marca propia por la que el papelero pagaba y se
aseguraba la protección de la autoridad.

La filigrana además de ser un distintivo del papelero, es un signo de procedencia, informa sobre la
calidad del papel y, a veces también, sobre el formato. Desde el siglo XVI se extiende el uso de
introducir las iniciales o el nombre completo del papelero y, a partir del siglo XVIII, la fecha de su
fabricación. En España, en el año 1791 las Ordenanzas de la Junta General de Comercio obligan al
fabricante a marcar todos sus papeles, aunque esta normativa no siempre se cumplió; generalmente
los papeles de calidad inferior no tenían filigrana.

Esta normativa tenía como fin primordial establecer un mayor control a los fabricantes para la
recaudación de impuestos. En la actualidad, desde el punto de vista de la datación de la documentación
es, sumamente útil.

Aunque existen estudios sobre esta materia desde el siglo XVII, su análisis científico y metódico así
como su recopilación no se generalizó hasta principios del siglo XX siendo sus piedras angulares los
estudios de Briquet y Piccard2.

Este proyecto se inicia en el año 1986 aunque adquiere verdadera entidad al formar parte, en 1991
de un proyecto I+D de la Comisión Interministerial de la Ciencia y Tecnología con el título «Filigranas
papeleras. Creación de una base de datos al servicio de los Archivos, Bibliotecas, Museos y Centros
de Documentación» (INF91-0151) ampliado con una Acción Especial (SEC94-1330-E).

Fruto de esta iniciativa, se reunieron 8.000 calcos de filigranas procedentes de diversas colecciones
inéditas como son: el fondo de Menéndez Pidal del AHN, la colección de Rico y Sínobas de la RAE, los
fondos privados del investigador José Luis Basanta Campos, del historiador José Carlos Balmaceda,
así como colecciones de instituciones como el Archivo Histórico Nacional (Sección de Clero) y de la
tesis doctoral de Carmen Hidalgo Brinquis3.

1 Briquet, Charles M.- «Les Filigranes. Dictionnaire historique des Marques du Papier dès leur apparition vers 1282 jusqu´en
1600». Genève 1907 (4 vols con 16.112 calcos de filigranas).

2 Piccard, Gerhard.- «Findbücher». Stuttgard 1961-1997 (17 volúmenes).

3 Hidalgo Brinquis, Mª del Carmen “Fabricación del papel en España en los siglos XVIII-XIX: Filigranas Papeleras”. Universidad
Complutense, 1986

247
A estos primeros estudios, se fueron incorporando, todas aquellas filigranas obtenidas de las obras
depositadas en los talleres del IPCE para sus tratamientos de conservación y/o restauración. Para
facilitar su consulta se creó una base de datos Access de uso interno4, en la que se recogió la información
relativa a las filigranas y a los documentos donde se encontraban. Los datos se tomaron siguiendo las
directrices marcadas por el IPH (International Paper Historians), las aportaciones ofrecidas por otros
programas y por nuestra propia experiencia. Para elaborar dicha ficha se tuvo en cuenta las especiales
características de las filigranas de los papeles más utilizados en la comunidad hispana, como son la
gran abundancia de la filigrana de la mano y las de tema heráldico y religioso. Esta base de datos
contenía 1517 filigranas.

Tomando como punto de partida esta base de datos hemos creado este proyecto y la página Web
que ahora presentamos con la que deseamos hacer accesible esta valiosa información, a través de
internet, a todos los investigadores interesados en estos temas.

En ella se volcará la información ya citada a la que hemos incorporado filigranas grandes colecciones
inéditas y otras contenidas en publicaciones de difícil consulta. Además, al ser éste un proyecto abierto,
esperamos ir ampliándolo con todas las aportaciones de cuantos investigadores deseen participar en
el mismo, a fin de que pueda llegar a ser un referente fundamental para el estudio de nuestra común
documentación.

Esta página Web se complementa con:

• Glosario terminológico ilustrado

• Normas sobre los diferentes métodos de obtener el diseño de filigranas

• Recopilación de otros corpus existentes

• Bibliografía general del estudio del papel y las filigranas españolas.

Haremos una breve descripción de estos apartados:

Glosario

Consideramos imprescindible esta ventana ya que este proyecto ambiciona tener un carácter
internacional y para ello es fundamental saber a qué término nos estamos refiriendo. Sobre todo
teniendo en cuenta que, en la terminología sobre la fabricación del papel y de las filigranas, encontramos
términos con una misma raíz pero con significados totalmente diferentes, en los diversos idiomas

4 Este página Web se realizó gracias a la cooperación de Mª Dolores Díaz de Miranda. Monasterio de Sant Pere de les
Puelles. Barcelona

248
tradicionales en el estudio de estas materias como son: corondel, puntizón, verjura, largo, etc. y que
pueden dar lugar a una enorme confusión de conceptos.

Por ello hemos estructurado este glosario colocando en la columna izquierda la imagen y, a continuación,
la explicación del término en español para ir incorporando en sucesivas columnas a la derecha la
traducción a otros idiomas. Esta traducción la llevará a cabo, paulatinamente, el equipo Bernstein.

No hemos querido limitarnos, en la selección de los términos incluidos en este glosario, únicamente a
aquellos específicos de las filigranas ya que serian de difícil comprensión si no se conocen los sistemas
de fabricación del papel, por estar ambas terminologías intrínsecamente relacionadas. Por ello, hemos
centrado la selección de estos términos en los que tratan de la fabricación del papel y su tipología y
aquellos específicos de las filigranas y sus sistemas de obtención. También hemos añadido algunos
términos y actividades relativos a la fabricación del papel, que puedan estar en desuso, para hacerlas
más comprensible a personas poco familiarizadas con el tema. En algunos casos hemos señalado el
azul aquellos otros términos que estén relacionados con la palabra que analizamos y que nos puedan
ayudar a su mejor comprensión.

Esta información la hemos recogido de los diferentes tratados sobre fabricación del papel5 a los que
hemos añadido algunas pequeñas anotaciones fruto de nuestra experiencia y conocimientos.

Glosario: se introduce el término requerido y nos ofrece la información y la


imagen relativa al mismo.

5 “Cabeza de buey y Sirena” (2011); Díaz de Miranda y Herrero (2009);Diccionario de la Real Academia Española (DRAE);
Diccionario Enciclopédico de las Artes e Industrias Gráficas (1981); Diccionario Terminológico Iberoamericano de Celulosa,
Papel, Cartón y sus derivados. (1992); Gayoso, (1973 y 1994); Hidalgo Brinquis, M.C. (2008); Kroustallis (2008); La Lande
(Ed. Facsimil 1984); Martínez de Sousa (1995); Muzerelle (1985); Ruíz (2002); Smook (1999) y Valls I Subirà (1999).

249
BÚSQUEDA

La aplicación permite la búsqueda general en todos los campos de la base de datos o bien la búsqueda
en algunos campos específicos.

Búsqueda General

La búsqueda general permite utilizar una expresión formada por una o varias palabras, dando como
resultado todos los documentos que contienen los términos de dicha expresión en cualquiera de los
campos que describen una filigrana.

Si introducimos, por ejemplo, la cadena «mano Toledo», buscará todas las fichas que contengan esas
palabras en cualquiera de sus campos, y no necesariamente en el mismo.

Cuando se introducen varios términos, el buscador introduce el operador booleano «Y» entre los
términos, recuperando las filigranas que contienen ambos términos a la vez, aunque pueden estar en
campos distintos. En el ejemplo anterior, el buscador entiende que la consulta es «mano Y Toledo» y
recupera todos los registros de filigranas que contienen ambos términos.

Se recomienda no utilizar preposiciones entre los términos, ya que éstas se pueden localizar en todos
los registros y producirán «ruido» en los resultados de la búsqueda.

Las búsquedas ignoran las diferencias entre mayúsculas y minúsculas y entre caracteres acentuados o
no. El límite de documentos que se pueden recuperar en una consulta es de 100. Si el resultado es
superior, recibiremos un aviso para acotar la búsqueda.

Búsqueda
general

click Buscar

250
Búsqueda por Campos

La búsqueda también puede realizarse de manera más específica por un único campo o varios
campos combinados. Los campos que permiten esta búsqueda son: Motivo, Periodo y Procedencia.
Así, podemos realizar una búsqueda combinando el Motivo y la Localización, por ejemplo, «Mano»
y «Toledo» en cada caja correspondiente del buscador. Esta búsqueda localizará las filigranas que
contengan como motivo «Mano» y cuya Procedencia contenga «Toledo».

La combinación de varios campos siempre utiliza el operador booleano «Y» entre los distintos términos,
es decir, la búsqueda devolverá las filigranas que cumplen todos los criterios. Las búsquedas ignoran
las diferencias entre mayúsculas y minúsculas y entre caracteres acentuados o no.

En el caso del campo Motivo, el término puede seleccionarse:

• Escribiendo en la caja de texto «Motivo». En este caso, se ofrece como ayuda un autocompletado,
de manera que se muestra en pantalla los motivos que contienen la palabra a medida que se va
escribiendo. Es necesario seleccionar el motivo con el ratón o con el teclado, para que se cargue
correctamente en la caja de texto.

• Accediendo, a través del botón Seleccionar motivo a la ventana que muestra un listado de
posibles motivos ordenados alfabéticamente. Haciendo clic en las distintas iniciales que se
muestran, se puede acceder a los motivos correspondientes; pulsando «Seleccionar y volver» en
un motivo, éste se traslada a la caja de texto que contiene la expresión a buscar. También se puede
buscar el motivo por el que se desee buscar tecleando la expresión o sus iniciales en el campo
Filtrar.

Es posible exportar en un PDF la lista de motivos recuperada, o el resultado de los filtros. (Ver
observación sobre el límite de motivos a recuperar y descargar en 50 motivos).

En el caso del campo Fecha del documento, se admiten únicamente los siguientes patrones:

• AAAA: Se puede introducir un año completo, ejemplo «1490», «1500»...

• AAAA-AAAA: Se puede introducir un rango de años. Es importante respetar el patrón y no dejar


espacios en blanco. Ejemplos válidos serían: «1400-1500», «1550-1580»

• S.XX: Se puede introducir un siglo, por ejemplo, «s.XIV», «s.XV»

• S.XX-s.XX: Se puede introducir un rango de siglos. Es importante respetar el patrón y no dejar


espacios en blanco. Ejemplos válidos serían: «s.XIII-s.XIV», «s.XV-s.XVI»

251
Búsqueda por campos

Presentación del resultado de la Búsqueda

Relación de filigranas

Al realizar una búsqueda, se muestra una descripción abreviada de las filigranas recuperadas, que
incluye los campos siguientes: Nº Filigrana, Código de Motivo, Procedencia, Centro, Fondo, Signatura
y la imagen en miniatura de la filigrana.

Los resultados se muestran en páginas de 25 filigranas. En la parte superior de la pantalla se indica el


número total de resultados de la consulta y el número de páginas en que se agrupan, entre las que se
puede avanzar y retroceder o ir a una página concreta.

Los documentos se ordenan por defecto numéricamente por el campo Nº Filigrana. Es posible ordenar
de manera diferente pulsando sobre el campo sobre el que se quiere ordenar.

Pulsando sobre el enlace situado en el campo Nº Filigrana, se puede acceder a la descripción detallada
de una filigrana y la imagen de su motivo. También se puede acceder a la imagen o imágenes de mayor
calidad pulsando directamente sobre la miniatura de estas imágenes que aparece en la ficha

La lista de resultados es exportable en formato Excel mediante el enlace Exportación de resultados.

252
1.- Click número filigrana 2.- Click filigrana

Descripción completa

La ficha completa muestra la información completa de la filigrana, así como su/s imagen/es. A la
izquierda del texto se muestra la imagen principal del objeto. Pulsando sobre la imagen, accedemos
a un visor desde el cual podremos ampliarla, girarla o imprimirla. También se puede acceder a la
imagen o imágenes de mayor calidad pulsando directamente sobre la miniatura de estas imágenes
que aparece en la ficha.

La opción guardar PDF permite emitir un documento en este formato, que contendrá tanto la ficha
completa del objeto como todas sus imágenes.

1.- número filigrana

253
2.- Pulsar en Filigranas -Alargar
-Reducir
-Detalle
-Oscurecer
-Sombrear
-Girar…

ACCESO. PROCESO DE ALTA

La aplicación Filigranas Hispánicas permite la incorporación al proyecto de personas o instituciones


que así lo deseen. Para ello deberán ir a la opción «Acceso».

Para darse de alta en la aplicación, el primer paso es rellenar el formulario al que se accede por el
enlace «Solicitar alta» de la pestaña «Acceso». Se deberá completar la información que se solicita,
siendo obligatorios los campos marcados con asterisco rojo.

En el formulario se solicita una dirección de correo electrónico. Dicha dirección es la que se usará para
comunicarse con el solicitante y para hacer llegar a los usuarios las claves de acceso a la aplicación
en caso de que sea aprobada la solicitud.

Una vez enviado el formulario de solicitud de alta, el equipo de coordinación informará al solicitante
sobre la documentación complementaria que necesita para valorar adecuadamente su solicitud de
participación y colaboración en el proyecto. En caso de que se admita su solicitud, el usuario recibirá
un correo electrónico indicándole que el proceso de alta se realizó correctamente con la contraseña de
acceso y la documentación necesaria para trabajar en la aplicación.

Desde ese momento, podrá entrar en la parte privada de la aplicación a través de la misma pestaña
«Acceso», introduciendo usuario y contraseña. Allí podrá dar de alta o editar las filigranas que considere
oportuno, así como introducir las imágenes más representativas de las mismas.

254
Para darse de alta en la aplicación, el primer paso es rellenar el formulario al que se
accede por el enlace "Solicitar alta" de la pestaña “Acceso”. Se deberá completar la
información que se solicita, siendo obligatorios los campos marcados con asterisco
rojo.

En el formulario se solicita una dirección de correo electrónico. Dicha dirección


es la que se usará para hacer llegar a los usuarios las claves de acceso a la
aplicación una vez que sea aprobada la solicitud.

255
Desde ese momento, podrá entrar en la parte privada de la aplicación a través de la
misma pestaña “Acceso”, introduciendo su usuario y password.
Allí podrá dar de alta o editar las filigranas que considere, así como introducir las
imágenes más representativas a través de las pestañas de Gestión de motivos.
Además podrá acceder a la información que ofrecen las de Bandeja de entrada,
Proyecto, Glosario, Recursos, Créditos y ponerse en contacto con el IPCE en la pestaña
de Contacte.

RECURSOS

Bases de datos sobre las filigranas accesibles en línea

En este último decenio las bases de datos sobre el papel y sus filigranas están adquiriendo un gran
auge. De entre todas ellas destacaríamos el proyecto del Bernstein Consortium, “La memoria del
Papel”, que cuenta con una base de datos, en seis idiomas, con más de cien mil registros de filigranas
y que permite interrelacionarlos entre sí, además de ofrecer otras herramientas para el estudio del papel.

Sobre las filigranas españolas tenemos la WIES (Watermarks in Incunabula printed in Spain), centrada
en las filigranas de incunables impresos en España; el CAHIP, dedicado a filigranas en papeles
hispanos, sobre todo argentinos; el IVC+R. con filigranas del APCCV (Archivo de Protocolos del Real
Colegio Seminario de Corpus Christi de Valencia); las de la DPZ (Diputación de Zaragoza/ Escuela
de Conservación) y Filigranas Hispánicas del IPCE que aspira a llegar a ser el gran compendio de las
filigranas existentes en papeles utilizados en España o en los países de origen iberoamericano y que
esperamos que sitúe la filigranología española al mismo nivel que se ha alcanzado en otros países.

Estas bases de datos están perfeccionándose continuamente y van naciendo otras, por lo que no
descartamos que cuando se publique este manual, hayan surgidos otras nuevas.

256
En este capítulo reseñamos las que consideramos más importantes, cuyos sitios Web son los siguientes:

Archivo de la Archidiócesis de Salzburgo. Austria. www.kirchen.net/archiv/


BCD. El Catálogo Digital de filigranas de Briquet. www.ksbm.oeaw.ac.at
BERNSTEIN Consortium. www.memoryofpaper.eu:8080/BernsteinPortal.
BGE. Archivo Digital de Marcas de Agua de Briquet de la Biblioteca de Ginebra. www.gravell.org
CAHIP. Centro Americano de Historiadores de Papel. www.cahip.org
CCI. El Corpus Chartarum Italicarum. www.icpal.beniculturali.it
EEP. Early Estonian Prints, Tartu The Watermark Archive Initiative. www.paber.ut.ee/EN/vesimargid
EVTEK. University of Applied Sciences de Vantaa. www.kronos.narc.fi/paperi/index_en
FAT. Archivos Municipales de Toulouse. http://archives.toulouse.fr
Filigranas de la Diputación de Zaragoza/ Escuela de Conservación. http://fil.dpz.es/
FSGW. St. Galler Wasserzeichen. www.sg.ch/home/kultur
FWD. Filigrana Watermarks Database. Basilea. Suiza. www.papiermuseum.ch/index.php
GC-PC. Marcas al Agua de Gabriel García. www.watermarks.info
HERIDATE. www.papierstruktur.de/forschungsprojekte/heridate/
IVC+R. APCCV. Archivo de Protocolos del Real Colegio Seminario de Corpus Christi de Valencia. www.ivcr.es
MAZZOLDI. www.ateneo.brescia.it/
NIKI. Nederlands Interuniversitair Kunsthistorisch Instituut. www.wm-portal.net
PO. Hauptstaatsarchiv de Stuttgart. www.piccard-online.de/struktur.php
PO. Piccard Online, Stuttgart, Alemania. www.piccard-online.de/start.php
RISM. Munchen. Alemania. www.rism.info/
SFH. Colección Stefan Feyerabend Hamburgo, filigranas fabricadas industriales 1870-2010. www.
papierstruktur.de/feyerabend
State Historical Museum de Moscú, Rusia. www.shm.ru/en/
SZ. Stiftung Zanders, Bergisch Gladbach, Alemania. www.stiftung-zanders.de
TGWC. Colección de Filigranas de Thomas L. Gravell. www.gravell.org
The Watermark Archive Initiative. www.abacus.bates.edu
VWZG. Varianten des Wasserzeichenmotivs Glocke. www.univie.ac.at
WIES. Watermarks in Incunabula printed in Spain, La Haya, Países Bajos. www.bernstein.oeaw.ac.at, www.
ksbm.oeaw.ac.at
WIGB. Watermarks in Incunabula printed in Great Britain, Paul Needham, Princeton and KB, La Haya. www.
watermark.kb.nl
WILC. Watermarks in Incunabula printed in the Low Countries www.watermarks.kb.nl
WS-PC. Colección William Stansby. www2.iath.virginia.edu
WZIS. Wasserzeichen-Informationssystem, Alemania. www.wasserzeichen-online.de
WZLUI. Archives de la ville de Luxembourg. www.archives-vdl.findbuch.net
WZMA. Wasserzeichen des Mittelalters. www.ksbm.oeaw.ac.at

257
BIBLIOGRAFÍA

En la actualidad, las publicaciones y estudios sobre la fabricación del papel y específicamente sobre las
filigranas, como elemento de ayuda a la datación de documentos, se han ampliado considerablemente
y continúan en constante evolución.

La bibliografía que incorporamos no pretende ser, en absoluto, exhaustiva. Probablemente, para


muchos investigadores resultará pobre ya que muchos de los autores citados cuentan con un gran
número de publicaciones que no incluimos y, por falta de espacio, hemos omitido a otros estudiosos
de tema ya que el principal objetivo para la elaboración ha sido reseñar únicamente aquellas obras de
singular relevancia que hacen referencia concreta y específica al tema del proyecto que nos ocupa.

A pesar de estas limitaciones continuaba siendo extensa y por ello sólo aportamos las obras escritas
en castellano, catalán, francés e inglés y tampoco hemos incorporado las publicaciones sobre el tema
incluidas en las actas de los congresos de Historia del Papel en España ni en la revista de Investigación
y Técnica del papel del Instituto Papelero Español ya que son fácilmente consultables en la página
Web: www.ahhp.es

Manuales de ayuda
Manual del Colaborador Manual del Administrador

Manual del Publicador

Esperamos que este proyecto sea muy útil, no solo para datar la documentación recogida en centros
españoles, sino también para los pertenecientes a la comunidad iberoamericana, debido a que el papel
utilizado desde el siglo XVI hasta finales del XVIII es prácticamente el mismo a ambas orillas del Atlántico,
en virtud del monopolio establecido por la Corona Española para el comercio del papel con sus territorios de
ultramar. El impuesto del papel sellado y la prohibición de establecer molinos papeleros en Hispanoamérica.

258
SIMBOLOGÍA CRISTIANA DE ANIMALES FABULOSOS EN FILIGRANAS DE INCUNABLES DE LA
BIBLIOTECA DE LA UNIVERSIDAD DE SEVILLA

José Luis Nuevo Ábalos.


Estudioso e investigador
jlnuevoabalos@gmail.com

RESUMEN

El presente ensayo de investigación filigranológico pretende estudiar la simbología cristiana de dos


animales fabulosos, la del legendario dragón y la del quimérico unicornio. Para ello, en primer lugar
haremos constar la significación que hacen de estos animales nuestros diccionarios antiguos de la
lengua, luego desvelar qué ideas zoológicas o legendarias tenía el mundo greco-romano de estos
seres maravillosos, para después constatar los valores morales que el mundo cristiano dio a estos
animales, y finalmente, concluir con una síntesis significativa cristiana de los mismos.

PALABRAS CLAVE

Filigranología, Simbología cristiana, animales fabulosos.

Aquellos animales de los que el imaginario de los pueblos ha construido, ante la oscuridad del miedo
y la ignorancia, durante siglos, un nido de ensueño, esos son los animales fabulosos. De entre ellos,
hemos localizado en unos incunables de la Universidad de Sevilla la filigrana del dragón, animal
protagonista de sin número de fábulas, cuya memoria se pierde en la noche de los tiempos, y el animal
más tierno y angelical, el indefenso, puro, inocente e inmaculado unicornio.

El Dragón

“Vi salir un dragón que hincó su maligna cola en el carro”


Dante

El dragón es un monstruo imaginario y fabuloso de talla gigantesca, que los antiguos suponían con
cuerpo de serpiente cubierto de escamas invulnerables, alas de murciélago, mirada terrible, aliento
venenoso y que lanzaba fuego por la boca y tenía una enorme cola con anillos destructores. Se dijo
dragón, según Covarrubias (1539-1613), “en latín draco onis, del nombre griego δράκων, a verbo

259
δέρκειν, videre, porque, según escriben los naturales, es de perfectíssima vista”1. Para el Diccionario
de Autoridades (1726-1737) todavía el dragón es una “serpiente de muchos años, que con el tiempo
crece, y tiene un cuerno grande y gruesso”2.

Es habitual representarlo con alas y en ocasiones con varias cabezas, como la hidra de Lerna, y
aparece en las leyendas griegas, nórdicas, cristianas y asiáticas, principalmente como guardián de
manantiales curativos u oráculos, o bien de vírgenes o tesoros, que suele ser muerto por dioses
o héroes, como Apolo, Cadmo, Heracles, Jasón, Sigfrido, etc.3 En la Antigüedad grecorromana, el
dragón era sinónimo de serpiente, según san Isidoro (ca.560-636), “la mayor de todas las serpientes y
de todos los animales de la tierra”4 y se comprendía con aquel nombre el animal sagrado de Esculapio,
las serpientes de Atenea, los dragones del carro de Ceres, Heracles y el dragón del jardín de las
Hespérides y otras divinidades5. En Roma la serpiente o dragón fue también atributo de las divinidades
Bona Dea, Silvano, Fortuna, etc. En las encrucijadas de los caminos, en los templos o las casas, los
dioses Lares romanos aparecen acompañados de una o dos serpientes, de ahí que tuviera en Roma
una significación profética6.

En las leyendas de la Edad Media el dragón, como guardián secreto y portador de la riqueza, entraba
por las chimeneas en forma de fuego y depositaba sobre el hogar un regalo de tan mal gusto como
pésimo olor. Con el triunfo del Cristianismo ha desaparecido por completo el carácter de protector
o de genio familiar, que tuvieron la serpiente o el dragón. En el simbolismo bíblico y religioso es el
dragón imagen del demonio, de la herejía, de la idolatría y del Anticristo, del calumniador, del pecado
en general, del vicio, del orgullo, de las trampas tendidas al cristiano, y también atributo de muchos
santos, como san Jorge, santa Margarita o san Miguel. La figura de la serpiente o del dragón es para
los cristianos el enemigo del género humano, que según san Juan “es llamado el diablo o Satán”, el
espíritu del Mal, rey de los infiernos o engendro de las tinieblas (Ap XII, 3-5, 9)7.

Así el Bestiario Medieval le llama horrendo demonio, “el más enorme de todos los reptiles”, que “tiene

1 COVARRUBIAS, S. de, Tesoro de la lengua castellana o española (ed. facs. de 1611), Barcelona, Alta Fulla, 1987, 485-6.

2 REAL ACADEMIA ESPAÑOLA, Diccionario de Autoridades (ed. facs. de 1726, 1732, 1737, I-VIII), Madrid, Gredos, 1979,
III, 342.

3 GRIMAL, P., Diccionario de mitología griega y romana, Barcelona, Paidós, 1982, 35, 79, 243-4, 297.

4 ISIDORO DE SEVILLA, San, Etimologías, Madrid, Biblioteca de Autores Cristianos, 1993-1994, XII, 4, 4.

5 GRIMAL, P. Diccionario de mitología…, 60-1, 98, 241.

6 CHARBONNEAU-LASSAY, L., Bestiario de Cristo: el simbolismo animal en la Antigüedad y la Edad Media, Palma de
Mallorca, José J. de Olañeta, 1996, I, 396. ENCICLOPEDIA UNIVERSAL ILUSTRADA EUROPEO-AMERICANA, Barcelona,
José Espasa e Hijos, 1958-…, XVIII, 2156-64. IMPELLUSO, L., La naturaleza y sus símbolos. Plantas, flores y animales,
Barcelona, Electra, 2003, 375. RÉAU, L., Iconografía del arte cristiano. Introducción general, Barcelona, Del Serbal, 2008,
140-2.

7 CHARBONNEAU-LASSAY, L., Bestiario de Cristo…, 397-8. ENCICLOPEDIA UNIVERSAL ILUSTRADA, XVIII, 2156-64.
NICOLAÏ, A., Le symbolisme chrétien dans les filigranes du paper, Grenoble, Éditions de L´ Industrie Papetiere, 1936, 27-31.
RÉAU, L., Iconografía…,140-3. VORÁGINE, S. de la, La leyenda dorada, Madrid, Alianza Editorial, 1983, I, 248-53, 376-8.

260
una cresta o corona, porque es el rey de la soberbia, y su fuerza no está en los dientes, sino en la cola,
porque engaña a los que atrae hacia él con artimañas, destruyendo su fortaleza”8.

En la época medieval se le atribuyeron también al dragón otros significados antitéticos a los referidos
antes, unas veces representaba la vigilancia, la prudencia, la sabiduría, otras el ardor o la fortaleza moral9.

Presentamos tres filigranas del dragón que hemos localizado en los papeles de tres incunables de la
Biblioteca Universitaria de Sevilla:

• LACTANTIUS, Lucius Coelius Firmianus. Opera. Venecia: Simon Bevilaqua, 1497. 140 h. Fol.
(194 X 280). B.G., sign. 335/25. Inc. nº 115.

• LEONARDUS DE UTINO. Sermones aurei de sanctis. Lyon: Johannes Trechsel, 1495. 222 h.
4º (131 X 188). B.G., sign. 336/7 (2º). Inc. nº 143.

8 MALAXECHEVERRÍA, I., Bestiario Medieval, Madrid, Siruela, 1986, 181.

9 CHARBONNEAU-LASSAY, L., Bestiario de Cristo…, I, 393. NICOLAÏ, A., Le symbolisme chrétien…, 27-31. TERVARENT,
G. de, Atributos y símbolos en el arte profano, Barcelona, Del Serbal, 218-9.

261
• LEONARDUS DE UTINO. Sermones floridi de dominicis et quibusdam festis. Lyon: Johannes
Trechsel, 1496. 290 h. 4º (131 X 188). B.G., sign. 336/7 (1º). Inc. nº 144.

Como puede colegirse las tres filigranas representan el símbolo del dragón de perfil, con cuerpo y cola
de serpiente, cabeza y pies de águila, alas de murciélago. En las tres representaciones es un dragón
lenguado, además en dos de ellas (nº 2 y 3) sobre la cabeza aparece el símbolo cristiano del crismón,
del nombre Χριστός, Christós (el ungido, el lleno de gracia).

Por tanto, el significado cristiano del dragón es el del demonio y la herejía o las trampas tendidas al creyente,
o por el contrario, el buen dragón, representando la vigilancia, la sabiduría y la prudencia del buen cristiano.

El Unicornio

”El inquisidor Torquemada tenía siempre un cuerno de unicornio encima de su mesa


Ferrer Lerín

El unicornio es uno de los seres fabulosos más extendidos del mundo antiguo, se representa de
ordinario como un caballo o asno fabuloso, con un enorme cuerno puntiagudo saliendo de su frente. El
unicornio no ha existido nunca puesto que no se ha encontrado animal fósil de esta especie. El único
cuadrúpedo parecido con un solo cuerno es el rinoceronte.

Para el Diccionario de Autoridades (1726-1737), aunque es un animal “tenido regularmente por fabuloso,
no obstante que en varias historias y relaciones de Indias y del África se ponen varios unicornios en

262
forma de caballo pequeño de color pardo y hermoso, cuya asta assegura casi las mismas virtudes, que
los antiguos contaron del unicornio”10.

Los primeros testimonios de la existencia de este animal se remontan al historiador y médico griego
Ctesias, natural de Cnido (s. V a. C.), el cual en sus escritos sobre la India habla de la existencia en este
país de un animal salvaje parecido al caballo, con un cuerno en la frente de extraordinarias propiedades
terapéuticas. Probablemente se trataba del rinoceronte indio, pero esta extraña y misteriosa figura
penetra enseguida en el imaginario colectivo asumiendo las facciones del fabuloso unicornio11.

Este animal irreal entra en el arte cristiano por pura casualidad en la Antigüedad, pues una traducción
inexacta de la palabra hebrea reem, que significa “buey salvaje” (búfalo, bisonte), fue transcrita
erróneamente en la Vulgata por unicornis, aunque en las ediciones modernas de la Biblia se ha
restablecido el significado original de “búfalo o bisonte”12.

Parece ser que el unicornio se introdujo en el simbolismo cristiano con los Padres de la Iglesia,
que partieron en su redacción de los bellos relatos, ya del retórico romano Claudio Eliano (ca.175-
ca.235), que refiere que “la India cría unos caballos que tienen un cuerno, según dicen, y el mismo
país cría también asnos con un solo cuerno. Con estos cuernos se fabrican vasijas para beber”13, ya
del naturalista romano Plinio el Viejo (23-79), que dice del unicornio que “tiene el cuerpo de caballo,
cabeza de ciervo, los pies de elefante y la cola de jabalí. Su mugido es grave, un solo cuerno negro, de
dos codos de largo, se eleva en medio de su frente. Dicen que este animal no puede ser cogido vivo”14.

Sin embargo será con la aparición en la escena cultural de la traducción latina del Fisiólogo (ca. s. II-
IV), cuando se teja su historia legendaria y simbólica, que ha hecho del unicornio un animal salvaje e
indómito, que no podía ser alcanzado en las soledades campestres por cazador alguno, de manera
que éstos debían recurrir a la astucia para hacerlo presa. Astucia que consistía en que una virgen
pura se quedaba sola en el bosque para que se acercara el unicornio y se durmiera en su regazo,
momento en el que los cazadores, a escondidas, se apoderaban del unicornio. De este bello relato del
Fisiólogo en el que el unicornio se deja vencer por la castidad y la belleza de la virgen muchacha, los
teólogos, como san Isidoro (ca.560-636) u Honorio de Autun (1080-ca.1153), han hecho de este animal
el símbolo de la encarnación de Cristo en el seno de su madre María, cuyo “cuerno que lleva en mitad
de la frente simboliza la fuerza invencible del Hijo de Dios”, así como la virgen casta y pura significa
la representación de María y de santa Justina de Antioquía (s. IV), mártir por conservar su castidad,

10 REAL ACADEMIA ESPAÑOLA, Diccionario de Autoridades, VI, 389.

11 IMPELLUSO, L. La naturaleza…, 368.

12 LURKER, M., Diccionario de imágenes y símbolos de la Biblia, Córdoba, El Almendro, 1994, 235. RÉAU, L.,
Iconografía…, 119-21.

13 ELIANO, C., Historia de los animales, Madrid, Gredos, 1984, III, 41.

14 PLINIO, C., Historia Natural, Madrid, Visor Libros-UNAM, 1999, VIII, 76.

263
en tanto que los cazadores serían la imagen del pueblo judío, que traicioneramente dio muerte al
Salvador15.

Por otra parte, también el Fisiólogo cuenta que el unicornio es el único animal capaz de purificar con
su cuerno el agua envenenada por la perversa serpiente, para que puedan beber de ella purificada los
animales del bosque, así el unicornio como Cristo es símbolo de la redención, que con su sacrificio en
la cruz redime al mundo de los pecados16.

El unicornio es, además, otro símbolo polivalente y contradictorio, como el mismo dragón, puesto que
puede significar frente a Cristo, el diablo, “ya que es tan terrible y malvado que no puede ser atrapado,
si no es con el olor de la virginidad”. Frente a la castidad, la lujuria; frente a los cristianos, los paganos,
los incrédulos, los lascivos, los judíos, porque no creían más que en un Testamento17.

Por último, no podemos obviar a autores viajeros, como, por ejemplo, el afamado mercader y aventurero
Marco Polo (1254-1324), que ya desmitificara la leyenda cristiana del unicornio, al que califica como
un animal más o menos como el elefante, que tiene un grueso cuerno de color negro en medio de la
frente, y su cabeza recuerda la de un jabalí salvaje. ¡El hechizo encantador ha quedado roto, describe
al peludo rinoceronte de Sumatra! 18.

Hemos localizado tres filigranas papeleras portadoras del símbolo del unicornio en dos libros incunables
de la Biblioteca Universitaria de Sevilla:

15 CHARBONNEAU-LASSAY, L., El Bestiario de Cristo…, 337-43. HONORIO DE AUTUN, Speculum de mysteriis Ecclesiae,
cit. por MÂLE, E., El arte religioso del siglo XIII en Francia, Madrid, Encuentro, 2001, 65-6. IMPELLUSO, L. La naturaleza…, 368.
ISIDORO DE SEVILLA, San, Etimologías, XII, 2, 12-3. LURKER, M., Diccionario de imágenes…, 235. MALAXECHEVERRÍA,
I., Bestiario Medieval, 146-52. NICOLAÏ, A., Le symbolisme chrétien…, 15-20. RÉAU, L., Iconografía…, 119-21. TERVARENT,
G. de., Atributos…, 503-6. VORÁGINE, S. de la., La leyenda dorada, II, 611-5.

16 LURKER, M., Diccionario de imágenes…, 235. MALAXECHEVERRÍA, I., Bestiario Medieval, 146-52. RÉAU, L.,
Iconografía…, 119-21.

17 MALAXECHEVERRÍA, I., Bestiario Medieval, 146-52. MARIÑO FERRO, X.R., El simbolismo animal: creencias y
significados en la cultura occidental, Madrid, Encuentro, 1996, 393. RENÉ HOCKE, G., El mundo como laberinto, 364-5, cit.
por CÓMEZ, R., Imagen y símbolo en la Edad Media andaluza, Sevilla, Publicaciones de la Universidad, 1990, 57-70.

18 KAPPLER, C., Monstruos, demonios y maravillas a fines de la Edad Media, Madrid, Akal, 1986, 64-5. MARCO POLO, Libro
de las maravillas, Madrid, Anaya, 1983, CLXVII.

264
• DIONYSIUS CISTERCIENSIS. Liber in IV sententiarum. Paris: Poncetus-Le Preux, [1498]. 180
h. Fol. (196 X 277). B.G., sign.94/92 (1º). Inc. nº 91.

• GERSON, Johannes. Opera omnia. Colonia: Johannes Koelhoff de Lubeck, 1483. 4 tomos. T.I:
[falta]. T.II: 398 h. T. III y IV [faltan].Fol. (192 X 260). B.G., sign. 335/34. Inc. nº 103.

Como se puede inferir, hemos localizado dos versiones del unicornio, en las que este animal imaginario
aparece con cola y cuatro patas, de perfil con un largo y hermoso cuerno recto en la cabeza que apunta
hacia adelante, en un caso (nº 1) el lomo y vientre del animal se ciñe por una estrecha franja. Hemos
asignado en este caso particular al unicornio, como símbolo cristiano, la significación de la encarnación
y la redención de Cristo.

Bajo la luz de azahar de Sevilla, marzo de 2017.

265
BIBLIOGRAFÍA

CHARBONNEAU-LASSAY, Louis, El Bestiario de Cristo: el simbolismo animal en la Antigüedad y la


Edad Media, Palma de Mallorca, José J. de Olañeta, 1996, I-II.
CÓMEZ, Rafael, Imagen y símbolo en la Edad Media andaluza, Sevilla, Publicaciones de la Universidad,
1990.
COVARRUBIAS OROZCO, Sebastián de (1539-1613), Tesoro de la lengua castellana o española (ed.
facs. de 1611), Barcelona, Alta Fulla, 1987.
ELIANO, Claudio (ca.175-ca.235), Historia de los animales (int., trad. y not. de José María Díaz
Regañón López), Madrid, Gredos, 1984.
IMPELLUSO, Lucía, La naturaleza y sus símbolos. Plantas, flores y animales, Barcelona, Electra,
2003.
ISIDORO DE SEVILLA, San (560-636), Etimologías (ed. bilingüe de José Oroz Reta y Manuel A.
Marcos Casquero), Madrid, Biblioteca de Autores Cristianos, 1993-1994.
ENCICLOPEDIA UNIVERSAL ILUSTRADA EUROPEO-AMERICANA, Barcelona, José Espasa e Hijos,
1958- , I-LXX.
GRIMAL, Pierre, Diccionario de mitología griega y romana, Barcelona, Paidós, 1982.
KAPPLER, Claude, Monstruos, demonios y maravillas a fines de la Edad Media, Madrid, Akal, 1986.
FERRER LERÍN, Francisco, El Bestiario de Ferrer Lerín, Barcelona, Círculo de Lectores, 2007.
LURKER, Manfred, Diccionario de imágenes y símbolos de la Biblia, Córdoba, El Almendro, 1994.
MALAXECHEVERRÍA, Ignacio. Bestiario Medieval, Madrid, Siruela, 1986.
MÂLE, Emile, El arte religioso del siglo XIII en Francia, Madrid, Encuentro, 2001.
MARCO POLO (1254-1324), Libro de las maravillas (trad. de Mauro Armiño), Madrid, Anaya, 1983.
MARIÑO FERRO, Xosé Ramón, El simbolismo animal: creencias y significados en la cultura occidental,
Madrid, Encuentro, 1996.
NICOLAÏ, Alexandre, Le symbolisme chrétien dans les filigranes du paper, Grenoble, Éditions de
L´Industrie Papetiere, 1936.
PLINIO SEGUNDO, Cayo (23-79), Historia Natural (trad. y anot. por F. Hernández y J. de Huerta),
Madrid, Visor Libros-UNAM, 1999, I-XXXVII.
REAL ACADEMIA ESPAÑOLA, Diccionario de Autoridades (ed. facs. de Madrid, 1726, 1732, 1737,
I-VII), Madrid, Gredos, 1979, I-III.
RÉAU, Louis, Iconografía del arte cristiano. Introducción general, Barcelona, Del Serbal, 2008,
TERVARENT, Guy de, Atributos y símbolos en el arte profano. Barcelona, Del Serbal, 2002.
VORÁGINE, Santiago de la (1230-1298), La leyenda dorada (trad. de fray José Manuel Macías),
Madrid, Alianza Editorial, 1983, I-II.

266
MARCAS DE ÁGUA NO ARQUIVO DA IGREJA DOS ITALIANOS DE LISBOA (SÉCS. XVI-XVII): UM
PROJECTO FINANCIADO PELA FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN

Nunziatella Alessandrini
CHAM – FCSH / NOVA – UAc
Bolseira de Pós-Doutoramento da Fundação para a Ciência e Tecnologia/Ministério da Educação e Ciência)
lella.45@hotmail.com

RESUMO

O presente artigo visa apresentar o projecto, ainda em curso, financiado pela Fundação Calouste
Gulbenkian que contribuiu para o levantamento, descrição e classificação das marcas de água nos
documentos dos séculos XVI e XVII do acervo arquivístico da Igreja de Nossa Senhora do Loreto da
Nação Italiana de Lisboa. Ao longo do texto esboçar-se-á a história da Igreja do Loreto e da comunidade
italiana em Lisboa nos séculos XVI-XVII e referir-se-á a recente reabilitação do dito arquivo também
financiada pela mesma Fundação.

PALAVRAS CHAVE

Marcas de água – Arquivo Loreto – Mercadores Italianos – Lisboa – Gulbenkian

ABSTRACT

This contribution is intended to present the ongoing project funded by the Calouste Gulbenkian
Foundation (FCG) which concerns the inventory, description and classification of watermarks presents
in the documents of the 16th and 17th centuries of the documental collection of the Church of Nossa
Senhora do Loreto of the Italian Nation from Lisbon. The history both of the Church of Loreto and the
Italian community in Lisbon from the sixteenth to the seventeenth centuries will be sketched. As well it
will be mention the recent rehabilitation of the referred archive, also funded by the same Foundation.

KEYWORDS

Watermarks – Loreto Archive – Italian Merchants – Lisbon - Gulbenkian

267
1. A Igreja dos Italianos e o seu arquivo: breves apontamentos

O arquivo da Igreja de Nossa Senhora do Loreto de Lisboa, igreja dos Italianos, constitui um importante
e quase inédito repositório da memória do percurso lisboeta de mercadores, artistas, viajantes, literatos,
diplomatas que, a partir das primeiras décadas de Quinhentos, se deslocaram, pelos mais variados
motivos, para o reino de Portugal. Fundada em 1518, de facto, a Igreja do Loreto, tinha, nas intenções
dos seus instituidores, o objectivo de se tornar pólo aglutinador da comunidade italiana residente em
Lisboa constituída, nessa altura, por elementos vindos das diferentes cidades-estado que compunham
a Península Itálica. Até à união de Itália ocorrida em 1861, com verdade, o termo “italiano” não reflectia
plenamente a essência da Península Italiana, uma vez que esta era uma realidade complexa cujas
dinâmicas identitárias mantinham uma certa fluidez dos limites supostamente impostos pela dimensão
geográfica e, em termos mais abrangentes, pelas diferentes referências culturais. Apesar de a ideia
de “Itália”, enquanto construção unitária, não ser de todo alheia ao pensamento coevo – recordamos,
a título de exemplo, a obra de Guicciardini Storia d’Italia escrita entre 1537 e 1540 – foi, todavia, fora
de Itália que a identidade italiana foi sendo desenhada. Com efeito, a percepção de uma identidade
“italiana” unitária era construída pelas elites dos vários governos, onde estes grupos de estrangeiros,
frequentemente, organizados em “nações” (de genoveses, de florentinos, de venezianos, de
milaneses, etc.), iam sendo agrupados sob a denominação de Italianos. No caso de Lisboa, em finais
do século XV, encontrava-se bem radicado um grupo bastante consistente de “italianos” provenientes
de Florença, Génova, Piacenza, Cremona e Veneza, que, em consequência da expansão atlântica
e oriental, procuravam alargar os seus horizontes comerciais. Ao longo dos séculos XVI e XVII –
balizas temporais do presente texto – e por razões que não cabe agora aqui desenvolver, assiste-se
a uma alternância da proeminência de uma ou de outra “nação” quer ao nível económico, quer social.
Assim, se a primeira metade do século XVI podia contar com uma importante presença de famílias
e companhias comerciais florentinas – embora não fosse despicienda a presença de genoveses
ligados, principalmente, ao comércio com as ilhas atlânticas –, a partir do último quartel do século XVI,
podemos constatar, com uma certa dose de segurança, uma alteração, revelando-se a proeminência
de mercadores genoveses que se mantém ao longo de todo o século XVII.

Após a Restauração (1640), os ricos mercadores genoveses, cujo percurso está documentado nos
papéis antigos do arquivo do Loreto, tornaram-se administradores da Igreja dos Italianos durante cerca
de meio século, ocupando os cargos de Provedor, Mordomo e Escrivão.

Parte da documentação do arquivo respeitante ao século XVI desapareceu devido a acontecimentos


que prejudicaram de maneira directa ou indirecta a vivência da Igreja do Loreto e da sua comunidade:
o saque de 1580 que esvaziou as casas de ricos mercadores italianos que moravam em Alcântara e
que costumavam levar para casa os livros de contabilidade e documentos da igreja ou o incêndio de
1651 que queimou alguma documentação – entre a qual os compromissos originais da Confraria. É bom

268
recordar que o terramoto de 1755 não danificou a igreja “che per la sua magnifica costruzione, non patì
altro danno”1, mas foi o fogo que deflagrou a seguir que a destruiu poupando, no entanto, o arquivo.

A Igreja dos Italianos passou por várias vicissitudes desde a sua edificação, sendo que o valioso e
em bom estado de conservação acervo documental que se mantém no seu arquivo há 500 anos,
é demonstração do cuidado com que os oficiais da Irmandade tratavam dos assuntos espirituais e
comerciais da sua Igreja.

Embora não conheçamos os nomes dos mercadores italianos que no findar da segunda década de
Quinhentos resolveram comprar um terreno e doá-lo a S. João em Latrão pedindo em contrapartida
os privilégios devidos às igrejas anexas ao Capítulo Lateranense, podemos, com alguma segurança,
identificá-los com os homens de negócio que residiam em Lisboa nessa altura e cujos descendentes
surgem na documentação posterior da igreja. A agregação a S. João em Latrão ocorreu em 8 de
Abril de 1518 e a Bula de privilégios concedida pelo Papa Leão X data de 20 de Abril do mesmo ano.
Estas datas permitem-nos balizar os estudos sobre a comunidade italiana em Lisboa deste período,
individualizando as famílias que tiveram um importante papel nesta proposta inicial. Assim, o rico
mercador florentino Luca Giraldi foi, sem dúvida, um dos principais actores desta iniciativa, bem como
as famílias florentinas dos de Bardi e dos Morelli, a família cremonense dos Bocolli, e as famílias
genovesas dos Lomellini, Centurione, Calvo, Imperiale e Cattaneo que terão fornecido apoio relevante
a esta intenção.

O terreno adquirido pelos mercadores italianos encontrava-se fora da muralha fernandina que, na
altura, delimitava a cidade de Lisboa, e situava-se na proximidade das portas de Santa Catarina. Aqui,
segundo um documento existente no arquivo da igreja, de cerca de um século posterior à fundação da
mesma, a Nação Italiana possuía uma pequena capela que doou a S. João em Latrão pedindo licença
para construir uma igreja sob invocação de Nossa Senhora do Loreto.2 As razões para a escolha da
evocação de Nossa Senhora do Loreto para a Igreja da Nação Italiana, remete, por um lado, para
a importância que esse santuário, situado na região italiana das Marcas, tinha alcançado enquanto
símbolo da cristandade, “centro religioso della penisola in cui si siano riconosciuti, e si riconoscano
al tempo stesso i Savoia e i Borbone, i lombardi e i siciliani”.3 Por outro lado, a lenda que envolvia a
própria criação do santuário terá tido um papel determinante relacionado com a escolha do estatuto
jurídico que os mercadores italianos queriam para a sua igreja. Segundo a lenda, a Santa Casa que
viria a ser o santuário teria sido levada, entre Nazaré na Galileia e Loreto na Península Itálica, pelos
anjos no céu, espaço que só podia pertencer à Santa Sé. Assim a Igreja dos Italianos erigida em Lisboa

1 Arquivo de Nossa Senhora do Loreto (doravante ANSL), Livro das Actas das Sessões da Junta, 2º, fl. 1

2 ANSL, Caixa VIII – Corrispondenza, doc. 65.

3 Lucetta Scaraffia, Loreto, Bologna, Il Mulino, 1998, p. 9

269
estaria directamente dependente da Santa Sé e fora da jurisdição portuguesa.4 Outras motivações
ligadas a aspectos de cariz não propriamente espiritual não devem, porém, ser subestimados. De
facto, desde a sua origem a Chiesa della Nazione Italiana, a Igreja de Loreto, era lugar de encontro
dos ricos mercadores que, três séculos antes da união de Itália, tiveram consciência que superar
as diatribes internas na sua terra podia constituir uma mais-valia para o êxito das suas actividades
comerciais. Não era, de facto, casoraro, a constituição de companhias comerciais entre membros
de diferentes nações. Deve-se igualmente destacar que, ao longo dos séculos, a Igreja do Loreto
foi sustentada pelos próprios mercadores italianos que devolviam, em prol da Igreja, uma taxa sobre
as suas transacções comerciais. Lê-se, de facto, nos estatutos, que sobre qualquer movimentação
de compra ou venda, os mercadores eram obrigados a entregar à Igreja do Loreto ¼ de ducado de
cada 100 ducados. Esta quantia aumentou para meio ducado de cada 100 ducados após o incêndio
de 1651, quando as obras de reconstrução exigiam somas mais avultadas. Ainda assim, não foram
apenas os citados impostos que ajudaram a Igreja no seu caminho secular, já que muitos foram os
benfeitores que lhe deixaram o seu património como legado.

Antes da sua actual instalação, o arquivo encontrava-se, até 1897, na sala chamada “do despacho” que
se situava no 1º andar da igreja, exactamente por cima do espaço da sacristia. Razões ligadas a obras
na Igreja determinaram que a dita sala deveria ter outra utilização e o arquivo foi transportado para
a sala onde ainda hoje se encontra. Actualmente, a documentação do arquivo encontra-se recolhida
em 4 armários com estantes de madeira e portas de vidro. Os papéis estão fechados em 28 caixas de
madeira identificadas com números (de I até XXIII) e letras (de A até E) e 25 Maços (Massos na grafia
original) com milhares de documentos avulsos, principalmente fólio e bifólios, que abrangem os anos
de 1619 até 1834.

4 Cf. Nunziatella Alessandrini, “A alma italiana no coração de Lisboa: A Igreja de Nossa Senhora do Loreto”, in Estudos
Italianos em Portugal, 2007, n. 2, p. 167

270
Fig. 1 Armário do arquivo do Loreto Fig. 2 Tipologia documentos dos Massos

O manancial documental que constitui o arquivo do Loreto foi produzido pela Confraria do Santíssimo
Sacramento que incluía todos os Italianos residentes em Lisboa. A administração cabia a uma Junta
composta pelo Provedor, Mordomo, Escrivão e Tesoureiro. Estes oficiais eram eleitos por uma
assembleia de doze votantes escolhidos entre os mais ricos e importantes da comunidade e a vida da
Confraria era regulamentada através de estatutos. Embora os estatutos originais tenham desaparecido
no incêndio de 1651, temos conhecimento do seu teor pela reconstrução que deles foi feita em 1668
pelo então Provedor Francesco André Carrega.

A tipologia dos documentos que compõem o arquivo, abrangendo um período que vai do século XVI até ao
século XX, é muito variada: documentos sobre a história da igreja, inventários de bens pertencentes à Igreja,
bulas e breves pontifícias, compra e venda de bens imóveis, devedores, correspondência, contas, despesas,
etc. Para além da documentação avulsa, uma rica colecção de livros manuscritos enriquece o arquivo, acerca
de 300 volumes que recolhem dados de importância inestimável quer sobre a história da igreja do Loreto e da
passagem de italianos em Lisboa, quer sobre a história de Portugal. A título de exemplo, mencionamos os 6
volumes das Actas das Sessões da Junta que contêm as relações detalhadas das reuniões da Junta (de 1651
até 1944 mas com notícias resumidas do período anterior) e constituem um manancial informativo abundante
e preciso sobre as questões e os eventos mais significativos que assinalaram o percurso da Igreja nas suas
relações com a comunidade italiana em Lisboa e com as instituições portuguesas. Os volumes dos registos
paroquiais representam uma riqueza inestimável para os investigadores: registos de baptismos (7 volumes
de 1749 até 1952); registos de óbitos (3 volumes de 1679 até 1973); registos de matrimónios (1 volume, de
1809 até 1952). A estes, devem-se acrescentar os 7 volumes dos Rol dos Confessados (de 1724 até 1883)
que reportam os nomes de todos os italianos que se vinham desobrigar do preceito pascal.

271
As compras e vendas, as esmolas e as contas estão registadas nos livros de contabilidades a partida
dobrada, com entradas e saídas, e se encontram em óptimo estado de conservação. Os 3 volumes
de copiador de cartas (Março 1663 até Janeiro 1919) remetem-nos para a correspondência enviada e
recebida pela mesa do Loreto, documentando as relações que a igreja mantinha com os italianos na
mãe-pátria mas não só, fornecendo, também, entre outras notícias, informações importantes sobre a
vinda de materiais italianos para as obras da Igreja. Para além destes livros, que os oficiais da igreja
mantinham actualizados com uma precisão notável, existem outros volumes manuscritos produzidos,
sua sponte, pelos oficiais mais rigorosos. Menciono apenas o precioso volume que o então revisor de
contas Benedetto Gnecco redigiu, em 1795, e ofereceu à Igreja do Loreto. Composto por 8 relações,
este volume apresenta alguns dos momentos mais importantes da igreja desde o século XVII até 1795,
debruçando-se sobre os legados deixados pelos mais ricos comerciantes falecidos em finais do século
XVII, assim como sobre as casas de propriedade da igreja. Importa também destacar a relação sobre
o estado do arquivo, na qual Gnecco dá conhecimento dos livros que não se encontravam fisicamente
no espaço da igreja, após conferir o inventário mais recente.

É, este, o último inventário que temos até chegar ao ano de 1983, quando o Padre Sergio Filippi
produziu um inventário no qual descrevia, ao nível do documento, o conteúdo das 28 caixas de
madeira. O inventário era, manifestamente, uma preciosa ajuda para o investigador se poder
orientar no fundo documental do arquivo e, sobretudo, respeitava a organização original do
manancial documental produzido pela Confraria. Em 2000, todavia, esta ordem foi alterada por uma
investigadora italiana que resolveu mexer nos papéis das 28 caixas e organizar doutra maneira,
com critérios aleatórios, a documentação nelas existentes. Não tendo deixado o novo inventário,
tivemos de proceder a uma nova catalogação, tendo sempre em conta as referências antigas do
inventário de Padre Filippi.

2. Projecto de Recuperação, Tratamento e Organização do Arquivo da Igreja do Loreto

Em 2014, no âmbito do concurso aberto pela Fundação Calouste Gulbenkian, Recuperação,


Tratamento e Organização de Acervos Documentais, apresentámos um projecto para inventariar,
catalogar toda a documentação do arquivo e digitalizar os documentos mais antigos de modo a
preservá-los e, ao mesmo tempo, disponibilizá-los aos estudiosos. Numa fase prévia ao início do
projecto propriamente dito, foram necessárias tarefas de limpeza do mobiliário e acondicionamento
da documentação que foi retirada dos armários. Procedeu-se à higienização da documentação
utilizando equipamento apropriado para este trabalho. Removeram-se as peças metálicas que,
quando necessário, foram substituídas por clips plastificadas. Toda a documentação avulsa que
se encontrava em pastas de cartão com ferragens foi acondicionada em caixas de arquivo acid-
free. A documentação avulsa nas caixas de madeira, que se apresentava em bom estado de
conservação, foi acondicionada em capilhas acid-free e mantida nas mesmas caixas de madeira.

272
Durante os trabalhos de limpeza e reacondicionamento foram encontrados livros e documentos
que se encontravam arrumados num armário de madeira na mesma sala do prédio da Igreja onde
se situa o restante acervo arquivístico. O espólio era constituído por livros e pautas de música do
século XVII e por documentação de arquivo em maços referente a ofertas de missas dos séculos
XIX e XX.

Foi redigido um inventário com descrição pormenorizada ao nível do documento. O inventário foi
organizado em 2 Fundos, 11 Secções e 53 Séries e foi efectuada a catalogação dos livros de música
contando com uma especialista em paleografia musical.

No intuito de preservar o manuseio e disponibilizar à comunidade a documentação mais antiga,


procedeu-se à digitalização dos testemunhos mais antigos. Deste esforço resultaram 25.614
imagens correspondentes a todos os documentos dos séculos XVI-XVII, incluindo também os
do século XVIII que se apresentavam em muito mau estado de conservação. Optou-se também
para digitalizar o Te Deum de António Teixeira, peça manuscrita e original, datada de 1734. As
imagens digitalizadas foram descritas e introduzidas em sistema informático com a instalação
do software open source ICA AtoM. Foi preparada uma interface de acesso ao Ica Atom na qual
vem apresentado o projecto, a equipa, o arquivo, a Igreja, os contactos e um link de acesso à
documentação digitalizada.5

Este trabalho de inventariação, conservação e disponibilização dos documentos avulsos do arquivo


do Loreto, permitiu perceber que as folhas apresentavam um conjunto bem consistente de marcas
de água, algumas das quais muito bem visíveis. Tendo tido o prazer de conhecer Henrique Tavares
e Castro, em 2015, aquando da realização de um colóquio na Biblioteca Nacional de Lisboa no qual
apresentei uma comunicação sobre a actividade comercial dos mercadores italianos em Lisboa e
me referi ao manancial documental do arquivo do Loreto, fui interpelada por aquele investigador
que me perguntou se, no arquivo do Loreto, existiam documentos que atestassem o comércio de
papel e/ou de livros e se, alguma vez, tinha reparado em marcas de água nessa documentação. Foi
desse encontro que começámos a delinear a proposta de investigação apresentada à Fundação
Calouste Gulbenkian.

5 Deixamos aqui o link de consulta do inventário e do projecto em geral, inclusive a documentação digitalizada http://www.
fcsh.unl.pt/arquivoloreto/default.html

273
3. Marcas de água no acervo documental do Loreto

O estudo de marcas de água, como é de conhecimento geral, constitui um contributo importante para
a História do Papel, fornecendo dados importantes sobre os fabricantes, os moinhos e as fábricas de
papel, e abrindo perspectivas de análise complementares e até determinantes para a área da História
Económica.6 A vertente interdisciplinar deste projecto está na origem da sua concepção, ou seja, no
encontro entre a minha pesquisa de pós-doutoramento - que visa estudar a presença e a actividade de
mercadores italianos em Portugal- com a dos investigadores da História do Papel.

Ao contrário do que se verifica na historiografia europeia, em Portugal os estudos sobre marcas de


água são recentes e dispersos. Depois da edição de O papel como elemento de identificação, publicada
em 1926, por Ataíde e Melo, o tema, só ocasionalmente, tem sido abordado em contributos muito
dispersos no tempo, e, frequentemente, através de metodologias desajustadas a uma investigação
que se pretende integrada na História do Papel, já que só assim ganha contextualização e sentido.
Recentemente, o projeto de investigação e sequente publicação com o apoio da Fundação Calouste
Gulbenkian, do estudo de Maria José Santos, Marcas de Água: séculos XIV-XIX. Coleção TECNICELPA,
abriu perspectivas diferentes (e actuais) a nível da classificação de marcas de água, introduzindo
propostas de metodologias aplicáveis de forma sistemática, a outras iniciativas similares.

No entanto, nesta obra, pelas características do acervo em estudo, não foram abordadas questões
técnicas relacionadas com o registo de marcas de água, uma vez que aquele trabalho incidiu sobre os
resultados de um levantamento que havia sido realizado no passado, mais precisamente entre 1988
e 1992. Todavia, se no passado a recolha de marcas de água (em documentos avulsos ou em livros
impressos) era feita, quase exclusivamente, através do decalque directo, actualmente, o recurso à
fotografia digital com luz transmitida constitui um método de trabalho mais rigoroso e menos invasivo a
nível da conservação do próprio papel. Por outro lado, enquanto que na recolha de marcas de água, a
utilização de uma mesa com tampo de luz pode ser suficiente para o registo fotográfico de documentos
soltos, na recolha de marcas de água em códices ou em livros impressos o recurso a um equipamento
de fibra óptica mostra-se o mais adequado, uma vez que a flexibilidade da lâmina de luz fria permite
um registo de grande definição da imagem.

6 Nesse sentido, o projecto que aqui se apresenta foi alvo de atenção por parte de investigadores do grupo de investigação
por mim coordenado “Economias, agentes e culturas mercantis” que mantêm ligações estreitas com o arquivo da família
Salviati de Florença. Em 1462 uma das companhias do grupo abriu uma filial em Lisboa, que haveria de perdurar até 1475. A
filial de Lisboa estava directamente ligada a unidades de produção de papel na região toscana de Colle di Val d’Elsa e sabe-
se, através dos registos de contabilidade da empresa, que muito desse papel foi exportado para Lisboa na segunda metade
do século XV [BERTI, 1994]. O levantamento das marcas de água constantes dos livros de contabilidade da filial lisboeta e
daquelas que se poderão encontrar em fundos arquivísticos portugueses que contenham documentação em papel permitiria
fazer um estudo revolucionário, uma vez que se poderiam cruzar os dados da produção, do comércio e da circulação/
consumo.
O fundo arquivístico da família Salviati inclui mais de 1700 livros de contabilidade dos séculos XIV a XVIII e passou, há 30
anos, para a tutela da Scuola Normale Superiore de Pisa.

274
Nos casos em que por razões decorrentes do estado de conservação da folha de papel ou da tinta,
não for possível obter uma fotografia de qualidade, pode-se completar o registo fotográfico com um
segundo levantamento, feito por decalque a partir da fotografia, com recurso a uma mesa digitalizadora
e a um programa de desenho digital vectorial.

Foi precisamente nesse sentido, na utilização de novos recursos, que reside a inovação do projecto
que foi apresentado, em 2016, à Fundação Calouste Gulbenkian aproveitando a abertura do concurso
de apoio à investigação. Intitulado Marcas de água do acervo documental da Igreja de Nossa Senhora
do Loreto, em Lisboa: séculos XVI e XVII, o objectivo do projecto é o de efectuar uma recolha de
marcas de água dos documentos dos séculos XVI e XVII existentes no arquivo da igreja de Nossa
Senhora do Loreto de Lisboa feita de acordo com os normativos da International Association of
Paper Historians (IPH) e utilizando as tecnologias actuais para o seu levantamento e reprodução. A
documentação escolhida para o efeito é composta por acerca de 2000 folhas avulsas e alguns livros.
A recolha e classificação de marcas de água será feita tendo em conta as normas propostas pelo IPH
e na sua descrição é utilizada a terminologia proposta pelo Vocabulário Bernstein (Watermark-Terms.
Vocabulary for Watermark Description), que constitui um recurso complementar às propostas do IPH,
promovendo uma linguagem coerente, específica e colectiva no que diz respeito aos termos usados
pelos diferentes investigadores na descrição das marcas de água.

O projecto, iniciado em Setembro de 2016, desenvolveu, até hoje, as seguintes tarefas:


1. Numa fase prévia, foi escolhida, dentro do manancial documental do arquivo, a documentação
dos séculos XVI e XVII, conforme o projecto apresentado. Se o processo se revelou bastante
simples no que diz respeito à documentação contida nos Massos (sic) pelo facto de estes estarem
divididos por datas - dos 25 Massos presentes no arquivos, 3 enquadram-se nas datas balizadas
neste projecto – foi necessário despender algum tempo para a escolha da documentação contida
nas 28 caixas de madeira por esta estar catalogada por assunto e não por datas. Para além disso,
os documentos dos Massos, principalmente fólios e bifólios, contendo cartas, recibos, gastos, lista
de despesas várias, apresentam um manuseamento simples e, portanto, um fácil levantamento das
marcas de água. Diferente é a situação dos documentos das caixas de madeira. O facto de serem
documentos compostos por muitas folhas - em alguns casos mais de 100 folhas – e apresentando
um estado de conservação mais delicado por serem documentos mais antigos, obrigou-nos a tomar
algumas medidas, cuidados e, consequentemente, a definir processos diferentes de levantamento
das marcas de água.
2. Uma vez identificada a documentação, procedeu-se à verificação da presença de marcas de
água nos documentos seleccionados. Foi utilizado, para isso, um equipamento de fibra óptica -
modelo comercializado pela Neschen, denominado FOLS-Fibre Optic Light Sheet - que, sem produzir
estragos nos documentos mais antigos e mais volumosos, nos permitiu agrupar rapidamente os
fólios que iriam ser tratados no levantamento.

275
Fig. 3 Equipamento de fibra óptica FOLS Fig. 4 Marca de água

3. Para possibilitar a visibilidade da marca de água e proceder-se ao seu registo fotográfico, a


folha de papel foi colocada sobre uma mesa de luz com suporte para uma câmara digital que nos
foi oferecida pela empresa de animação Animanostra Portugal. A câmara digital foi colocada no
respectivo suporte, apontada para baixo, de forma a não existir inclinação.

Foi colocada uma régua, posicionada na vertical, a cerca de 1cm do pontusal mais próximo da
marca de água, à direita desta. O zero da régua foi alinhado com a parte inicial da marca de água
para permitir uma leitura rápida da sua dimensão. A colocação desta régua permite também que a
contagem do número de vergaturas (num espaço de 2cm) possa ser feito posteriormente, a partir
da fotografia, com vantagens de visualização e contagem.

276
Fig. 5 Mesa luminosa e suporte Fig. 6 Marca de água

4. Foi elaborada, pela consultora científica deste projecto, Dra Maria José Santos, uma ficha
de registo de marcas de água, tendo também feito a formação necessária para clarificar toda a
informação específica para o seu preenchimento.

De acordo com as Normas Internacionais estabelecidas pela International Association of Paper


Historians (IPH) foram definidos campos distintos de preenchimento, respeitantes à identificação
e tipologia do documento, às características do papel, à especificidade da marca de água e da
contramarca, no caso de se tratar de um bifólio, à recolha dos dados sobre a contramarca de
campo, caso existente, e à classificação e descrição das marcas de água.

277
Fig. 7 Ficha descrição (frente)

Fig. 8 Ficha descrição (verso)

278
No que respeita ao estado actual do trabalho, está concluído o levantamento fotográfico de toda a
documentação previamente preparada, e a recolha das marcas de água está a alcançar um número
significativo como se pode depreender por alguns dados ainda provisórios:

O Masso I (1623-1689) contém 603 documentos dos quais 372 têm marcas de água.
O Masso II (1681 a 1700) é composto por 636 documentos dos quais 453 têm marcas de água.
Do Masso III (1660-1707) foi considerado apenas o fascículo I por se balizar nas datas escolhidas
pelo projecto. Este fascículo é composto por 271 documentos dos quais 143 têm marcas de água.

No que diz respeito à documentação recolhida nas caixas de madeira o número de marcas de água
é de 854. É ainda de ter em conta que este último número diz respeito a marcas de água que foram
seleccionadas em documentos constituídos por centenas de fólios com a mesma marca de água.

Está em curso a descrição de cada uma das marcas de água fotografadas e, neste momento,
contamos com cerca de 700 fichas preenchidas. Estas fichas, como se explicará noutro momento
deste mesmo Congresso, estão a ser utilizadas por Henrique Tavares e Castro e Maria Manuel Lares
que se encarregam de efectuar a classificação das ditas marcas e irão escolher as fotografias para
o desenho vectorial, cuja realização é efectuada com o auxilio de uma mesa digitalizadora luminosa
ligada directamente ao computador através de um software de tratamento de imagem. O modelo da
mesa digitalizadora WACOM INTUOS ART M inclui função multi-toque, o que permite usar gestos
comuns para aplicar zoom, girar, deslocar a sua ilustração e clicar nos seus aplicativos. É constituída
por uma superfície plana sobre a qual o utilizador pode “desenhar” uma imagem usando um dispositivo
semelhante a uma caneta, denominado “stylus”, desenhando-se apenas o que é visível na marca de
água.

Fig. 9 Mesa Digitalizadora Fig. 10 Resultado desenho vectorial

279
4. Conclusões

O acervo documental do arquivo de Nossa Senhora do Loreto representa, sem dúvida, um importante
e ainda inexplorado património para o estudo e aprofundamento das relações luso-italianas nas suas
vertentes mais alargadas. Como já adiantámos, a variedade de abordagens que permite, torna-o
numa ferramenta de trabalho preciosa no âmbito de investigações de história económica, social, do
património e da genealogia. A dificuldade em consultar o dito acervo por parte dos investigadores
estava ligada a razões de segurança e a razões ligadas à falta de um inventário que pudesse orientar
a pesquisa. Nesse sentido, esta lacuna foi preenchida graças ao financiamento da Fundação Calouste
Gulbenkian que possibilitou a divulgação online do inventário e de parte da documentação.

No que diz respeito ao projecto em curso, este representa, de facto, uma inovação a nível técnico
no âmbito do estudo das marcas de água, em Portugal. A sua importância primeira reside no facto
de constituir um projecto original, no nosso país, enquanto promotor de técnicas e metodologias que
podem ser aplicadas, na sua totalidade, a outros projectos desta tipologia. Por ser um projecto inovador,
muitas dúvidas atravessaram o caminho e foi dedicado algum tempo na escolha dos procedimentos
mais adequados. Acreditamos que os resultados deste projecto de investigação serão de grande
significado para a historiografia do papel e das marcas de água, em Portugal, e que o alcance de uma
projecção internacional esteja assegurada uma vez que os resultados do projecto serão inseridos no
portal Bernstein cujo principal objectivo é a difusão de práticas similares nos processos de recolha
de marcas de água e de critérios de uniformização a nível da sua classificação e descrição. Já foi
contactado o coordenador do projecto The Memory of Paper, Emanuel Wenger que aceitou a proposta
de inserção desta nova colecção/base de dados no Portal Bernstein, de forma a proporcionar uma
maior divulgação deste acervo de marcas de água da Igreja de Nossa Senhora do Loreto.

Finalmente, não posso deixar de agradecer a equipa de jovens que, com entusiasmo, trabalham neste
projecto: a Sebastião Santana que fez o levantamento fotográfico das marcas de água e procedeu
ao tratamento das imagens reproduzidas no presente texto e a quem cabe, também, a tarefa do
desenho vectorial. Por fim, agradeço a Chiara de Oliveira e a Maddalena Cultrera que trabalham no
preenchimento das fichas de descrição das marcas de água.

280
BIBLIOGRAFIA

ABULAFIA, David, “Gli Italiani fuori d’Italia”, in Gabriella Airaldi (a cura di), Gli Orizzonti Aperti. Profili del
Mercante Medievale, Torino, Scriptorium, 1997, pp. 175-198
ALESSANDRINI, Nunziatella, “A alma italiana no coração de Lisboa: A Igreja de Nossa Senhora do
Loreto”, in Estudos Italianos em Portugal, 2007, n.2, pp. 163 – 184
ALESSANDRINI, Nunziatella, Os Italianos na Lisboa de 1500 a 1640: das hegemonias florentinas às
genovesas, Tese de Doutoramento, Universidade Aberta, Lisboa, 2009, 2 vols.
BERTI, Marcello, “Le aziende da Colle: una finestra sulle relazioni commerciali tra la Toscana ed il
Portogallo a metà Quattrocento”, in Toscana e Portogallo – Miscellanea storica nel 650º anniversario
dello Studio Generale di Pisa, Pisa, ETS, 1994, pp. 58-106
FILIPPI, Sergio, La Chiesa degli Italiani. Cinque secoli di presenza italiana a Lisbona negli archivi della
Chiesa di Nostra Signora di Loreto, Lisboa, Fábrica da Igreja de Nossa Senhora do Loreto, 2014
SANTOS, Maria José Ferreira dos, “Marcas de água e história do papel: a convergência de um
estudo”, in Cultura. Revista de História e Teoria das Ideias, Lisboa, Centro de História da Cultura da
Universidade Nova de Lisboa, 2014.
SANTOS, Maria José Ferreira dos, Marcas de Água: Séculos XIV-XIX. Coleção Tecnicelpa, Santa
Maria da Feira, TECNICELPA – Associação Portuguesa dos Técnicos das Indústrias de Celulose e
Papel e Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, 2015
SCARAFFIA, Lucetta, Loreto, Bologna, Il Mulino, 1998

281
MARCAS DE ÁGUA EM DOCUMENTOS DO ARQUIVO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DO
LORETO (IGREJA DOS ITALIANOS), EM LISBOA: SUA CLASSIFICAÇÃO E DESCRIÇÃO

Henrique Tavares e Castro

Maria Manuel Pinto Lares


CHAM – Centro de História d’Aquém e d’Além-Mar/Centre for Global History
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas / Universidade Nova, Lisboa

htcastro@gmail.com

manefpl@gmail.com

RESUMO

Onde se dá conta do estado da investigação respeitante ao Projecto de Levantamento e Análise das


marcas de água existentes nos documentos que constituem o Arquivo da Igreja Italiana de Nossa
Senhora do Loreto, em Lisboa.

Onde se apela à necessidade de os investigadores históricos em geral se debruçarem sobre ao


aspectos materiais dos documentos que estudam.

Onde se mostram e descrevem as primeiras vinte marcas de água do acervo documental ainda em
processo de análise.

PALAVRAS CHAVE

Marcas de água – Armas de Génova – Igreja do Loreto – Registo de marcas de água – Filigranologia

ABSTRACT

On the Project of Research and Analysis of watermarks to be found in the Italian Church of Our Lady of
Loreto Archives, in Lisbon, Portugal.

Where a call is made to every historian to study also the material issues of documents.

The first twenty watermarks of our Project are shown in first hand. They are classified and described
according to the IPH Standard.

283
KEYWORDS

Watermarks – Genoa coat of arms – Loreto Church – Watermarks standard – Filigranology

Nel mezzo del camin di nostra vita


DANTE, A Divina Comédia, Inferno, Canto I

Um projecto em desenvolvimento

O conjunto de vinte marcas de água que aqui se apresenta foi retirado do magnífico acervo documental
da Igreja dos Italianos, situada no Chiado, no centro da capital portuguesa. Nunziatella Alessandrini,
noutro espaço deste mesmo Congresso, oferece-nos notícia histórica dos trabalhos que actualmente
estão a ser efectuados nesse riquíssimo arquivo e do modo como se tornou possível a investigação e
análise dos documentos no que se refere à sua materialidade.

No que a nós respeita, como no passo de Dante, encontramo-nos a meio da jornada. Depois de
analisados cuidadosamente os documentos por Alessandrini e a sua equipa, após a reprodução
fotográfica das marcas de água detectadas e o preenchimento das respectivas fichas de registo, cabe-
nos a tarefa de proceder à sua classificação e descrição, de modo a concluir o Projecto a seu tempo
apresentado e posteriormente subsidiado pela Fundação Calouste Gulbenkian.

De entre as centenas de exemplares que nos foram entregues seleccionámos vinte, para efeitos da
sua exposição neste Congresso. Essas marcas de água, como se poderá apreciar abaixo, pela sua
óptima visibilidade, garantem-nos uma imagem, embora necessariamente pálida pela sua exiguidade,
da qualidade do acervo que está a ser tratado.

Como seria de esperar, levando em linha de conta os anos de utilização do papel onde foram escritos
os documentos com as marcas de água reveladas — último quartel do século XVII, mais precisamente
entre 1679 e 1690 – e o facto de a igreja de Nossa Senhora do Loreto ser “dos Italianos”, grande parte
das marcas de água do arquivo é de procedência transalpina, ou, o que não seria surpreendente, de
fabrico europeu, nomeadamente francês, mas com recurso a filigranas imitativas das utilizadas em
papéis de fabrico italiano. Daí que não nos possamos admirar de que a nossa amostra contenha uma
maioria de marcas de água com as armas de Génova e com as três circunferências tangentes: mais
rigorosamente, 7 mostram um escudo de armas identificado (Génova), 3 apresentam escudos de
armas não identificados, 9 são constituídas por três circunferências tangentes, e há ainda um exemplar
com uma insígnia de cargo.

284
Queremos ainda referir que as informações complementares relativas às datas inscritas nos documentos
manuscritos e às dimensões das marcas de água foram naturalmente recolhidas das Fichas de Registo
de Marcas de Água, preenchidas pelo grupo de investigação dirigido por Nunziatella Alessandrini e a
nós entregues para as respectivas classificações.

Fontes e normas internacionais

Para a classificação das marcas recorremos às Normas Internacionais para Registo de Papéis com ou
sem Marca de Água (International Standard for the Registration of Papers with or without Watermarks)
propostas pela IPH – International Association of Paper Historians, e temos sempre à vista, a servir de
estímulo e para uma correcta “navegação”, os “clássicos”, entre outros, Briquet, Heawood, Churchill,
as obras de José Carlos Balmaceda, pelo seu profundo conhecimento da actividade dos papeleiros
italianos, especialmente dos genoveses, e, acima de tudo, o trabalho exemplar que Maria José Ferreira
dos Santos executou com a Colecção Tecnicelpa de Marcas de Água e que deu origem à imprescindível
obra, “Marcas de Água: séculos XIV – XIX”. Este repositório, para além da sua extensão e apurada
estética, transformando-o, até à data, no mais valioso conjunto de marcas de água de manuscritos e
títulos impressos em Portugal no espaço de seis séculos, constitui um guia indispensável para quem
pretenda meter mãos à obra e estudar compenetradamente os papéis manuscritos ou usados pela
imprensa desde meados do século XV, ou seja, a partir da invenção da imprensa, atribuída a Gutenberg.

A classificação, como acima referimos, está a ser feita de acordo com a proposta de Normas da IPH, as
quais, neste momento, estão a ser traduzidas para português e brevemente serão divulgadas no “site”
daquela Associação. É presumível que na divisão de subclasses e de subgrupos venham a surgir novas
entradas, algumas já previstas no Índice, e outras a serem admitidas, como é o caso da frequente cruz
recruzetada, só para dar um exemplo. Devemos referir ainda que nas nossas descrições apoiamo-nos
igualmente no vocabulário (Watermark-Terms) proposto pelo Projecto Bernstein, The Memory of Paper.

Um retrato, um desejo

Embora, no momento em que redigimos esta breve comunicação, estejamos longe de concluir a nossa
participação no projecto, tendo em atenção o elevado número de marcas de água a ser classificado e
descrito, consideramo-nos privilegiados por termos sido chamados a participar nesta investigação na
área da História do Papel e das Marcas de Água. Não tem sido norma em Portugal os historiadores das
várias áreas da História, ao compulsarem e estudarem documentos antigos, deterem-se também no
exame dos aspectos materiais do suporte da escrita que lêem, traduzem, interpretam, sem recordarem
que, por vezes, essa particularidade material (o papel, a marca de água) pode revelar aspectos
insuspeitos da prisca realidade que procuram descobrir e reviver.

285
Por isso, se atrás recordámos a metáfora do florentino para afirmar que estamos a meio da jornada,
tínhamos presente igualmente que a mesma ideia se aplica ao estado da nossa investigação histórica,
pois, de um modo geral, os nossos estudiosos não incluem nos seus procedimentos heurísticos a
análise material completa dos documentos que estudam. Se tanto cuidado se venera com ciências
auxiliares da História, como a Diplomática, a Codicologia, a Paleografia, a Epigrafia, por exemplo, muito
desejaríamos que o mesmo empenho fosse exercido no campo da Filigranologia, termo que roubamos
a Gasparinetti, por ser desconhecido dos dicionários da nossa pátria língua: «La Filigranologia é la
disciplina che si prefigge lo studio delle filigrane medieval e post-medievali sotto tutti i loro aspetti.»

E seria de estimular e de louvar que nas nossas universidades, nos nossos institutos, nas nossas
escolas de Cultura Humanística, se incentivasse o estudo deste mundo sociológico e esteticamente
maravilhoso que é o Reino das Marcas de Água.

Fig. 1
Classificação
Classe: R Insígnia de cargo; ceptro; jóias
Subclasse: R3 Coroa
Subgrupo: R 3/3 Coroa com arcos, forma larga
Data do manuscrito: 1682
Dimensão: 58 x 31 mm (alt. x larg.)
Cota: PLANSL-Mc2-fasc1-doc 200
Descrição
Coroa real, fechada, apoiada numa tarja horizontal onde se inscreve um coração ladeado pelas letras
P e C e da qual pende um cacho de uvas.

286
Fig. 2
Classificação
Classe: T Heráldica; escudos de armas; marcas de canteiro; marcas de comércio
Subclasse: T1 Escudo de armas/brasão
Subgrupo: T 1/1 Escudo de armas/brasão (não identificado)
Data do manuscrito: 1682
Dimensão: 89 x 42 mm (alt. x larg.)
Cota: PLANSL-Mc2-fasc1-doc 208
Descrição
Escudo com banda, carregado no chefe e no contrachefe com uma torre, suportado por ornamentos
fitomórficos. Em disposição vertical, o escudo encontra-se entre duas circunferências, contendo a
superior uma lua cheia e a letra N, e a inferior as letras E e P. O conjunto apresenta-se encimado por
uma cruz recruzetada.

287
Fig. 3
Classificação
Classe: T Heráldica; escudos de armas; marcas de canteiro; marcas de comércio
Subclasse: T1 Escudo de armas/brasão
Subgrupo: T 1/1 Escudo de armas/brasão (não identificado)
Data do manuscrito: 1681
Dimensão: 84 x 40 mm (alt. x larg.)
Cota: PLANSL-Mc2-fasc1-doc 293
Descrição
Escudo francês, carregado com uma águia de uma cabeça apoiada numa pequena coroa, suportado
por arabescos fitomórficos. O escudo apresenta-se apoiado verticalmente em duas circunferências
tangentes, contendo a superior as letras M e B, e a inferior o algarismo 3. O conjunto apresenta-se
encimado por uma cruz recruzetada.

288
Fig. 4
Classificação
Classe: T Heráldica; escudos de armas; marcas de canteiro; marcas de comércio
Subclasse: T1 Escudo de armas/brasão
Subgrupo: T 1/2 Escudo de armas/brasão identificado: países, cidades e famílias —
T 1/2/2 Escudo de armas de Génova
Data do manuscrito: 1683
Dimensão: 94 x 42 mm (alt. x larg.)
Cota: PLANSL-Mc2-fasc1-doc 182
Descrição
Escudo de armas de Génova [cruz latina (de São Jorge), solta, inscrita numa oval suportada por dois
grifos, encimada por uma coroa] alinhado verticalmente com duas circunferências tangentes, contendo
a superior as letras R e L, e a inferior um coração. Desta última sai um pequeno arabesco.

289
Fig. 5
Classificação
Classe: T Heráldica; escudos de armas; marcas de canteiro; marcas de comércio
Subclasse: T1 Escudo de armas/brasão
Subgrupo: T 1/2 Escudo de armas/brasão identificado: países, cidades e famílias —
T 1/2/2 Escudo de armas de Génova
Data do manuscrito: 1682
Dimensão: 84 x 47 mm (alt. x larg.)
Cota: PLANSL-Mc2-fasc1-doc 206
Descrição
Escudo de armas de Génova [cruz latina (de São Jorge), solta, inscrita numa oval suportada por dois
grifos, encimada por uma coroa] alinhado verticalmente com duas circunferências tangentes, contendo
a superior as letras G, A e B, e a inferior uma cruz.

290
Fig. 6
Classificação
Classe: T Heráldica; escudos de armas; marcas de canteiro; marcas de comércio
Subclasse: T1 Escudo de armas/brasão
Subgrupo: T 1/2 Escudo de armas/brasão identificado: países, cidades e famílias —
T 1/2/2 Escudo de armas de Génova
Data do manuscrito: 1682
Dimensão: 87 x 50 mm (alt. x larg.)
Cota: PLANSL-Mc2-fasc1-doc 212
Descrição
Escudo de armas de Génova [cruz latina (de São Jorge), solta, inscrita numa oval suportada por dois
grifos, encimada por uma coroa] alinhado verticalmente com duas circunferências tangentes, contendo
a superior as letras G, B e R, e encontrando-se vazia a inferior.

291
Fig. 7
Classificação
Classe: T Heráldica; escudos de armas; marcas de canteiro; marcas de comércio
Subclasse: T1 Escudo de armas/brasão
Subgrupo: T 1/2 Escudo de armas/brasão identificado: países, cidades e famílias —
T 1/2/2 Escudo de armas de Génova
Data do manuscrito: 1681
Dimensão: 84 x 50 mm (alt. x larg.)
Cota: PLANSL-Mc2-fasc1-doc 244
Descrição
Escudo de armas de Génova [cruz latina (de São Jorge), solta, inscrita numa oval suportada por
dois grifos, encimada por uma coroa] alinhado verticalmente com duas circunferências tangentes,
contendo a superior três pequenas circunferências soltas dispostas em forma de pirâmide invertida, e
encontrando-se vazia a inferior.

292
Fig. 8
Classificação
Classe: T Heráldica; escudos de armas; marcas de canteiro; marcas de comércio
Subclasse: T1 Escudo de armas/brasão
Subgrupo: T 1/2 Escudo de armas/brasão identificado: países, cidades e famílias —
T 1/2/2 Escudo de armas de Génova
Data do manuscrito: 1690
Dimensão: 85 x 50 mm (alt. x larg.)
Cota: PLANSL-Mc2-fasc1-doc 276
Descrição
Escudo de armas de Génova [cruz latina (de São Jorge), solta, inscrita numa oval suportada por dois
grifos, encimada por uma coroa] alinhado verticalmente com duas circunferências tangentes, contendo
a superior as letras E e R, e a inferior o número “I” romano ou a letra “i” maiúscula.

293
Fig. 9
Classificação
Classe: T Heráldica; escudos de armas; marcas de canteiro; marcas de comércio
Subclasse: T1 Escudo de armas/brasão
Subgrupo: T 1/2 Escudo de armas/brasão identificado: países, cidades e famílias —
T 1/2/2 Escudo de armas de Génova
Data do manuscrito: 1690
Dimensão: 75 x 47 mm (alt. x larg.)
Cota: PLANSL-Mc2-fasc1-doc 286
Descrição
Escudo de armas de Génova [cruz latina (de São Jorge), solta, inscrita numa oval suportada por dois
grifos, encimada por uma coroa] alinhado verticalmente com duas circunferências tangentes, contendo
a superior o algarismo “3” e a letra N, e a inferior a letra T.

294
Fig. 10
Classificação
Classe: T Heráldica; escudos de armas; marcas de canteiro; marcas de comércio
Subclasse: T1 Escudo de armas/brasão
Subgrupo: T 1/2 Escudo de armas/brasão identificado: países, cidades e famílias —
T 1/2/2 Escudo de armas de Génova
Data do manuscrito: 1690
Dimensão: 75 x 53 mm (alt. x larg.)
Cota: PLANSL-Mc2-fasc1-doc 288
Descrição
Escudo de armas de Génova [cruz latina (de São Jorge), solta, inscrita numa oval suportada por dois
grifos, encimada por uma coroa] alinhado verticalmente com duas circunferências tangentes, contendo
a superior duas pequenas circunferências unidas por filamento, e a inferior a letra S.

295
Fig. 11
Classificação
Classe: U Figuras geométricas
Subclasse: U1 Circunferência
Subgrupo: U1/3 Três circunferências tangentes
Data do manuscrito: 1681
Dimensão: 85 x 25 mm (alt. x larg.)
Cota: PLANSL-Mc2-fasc1-doc 245
Descrição
Três circunferências tangentes dispostas verticalmente, com uma lua cheia na superior; na central,
trigrama constituído pelas letras I, H e S, encimadas por uma cruz recruzetada; na inferior, a letra N e
o número “I” romano ou a letra “i” maiúscula. O conjunto é encimado por uma cruz recruzetada.

296
Fig. 12
Classificação
Classe: U Figuras geométricas
Subclasse: U1 Circunferência
Subgrupo: U1/3 Três circunferências tangentes
Data do manuscrito: 1690
Dimensão: 73 x 23 mm (alt. x larg.)
Cota: PLANSL-Mc2-fasc1-doc 259
Descrição
Três circunferências tangentes dispostas verticalmente, com uma cruz trifoliada na superior; na central,
as letras G, S e A dispostas em forma de pirâmide invertida; na inferior, a letra D. O conjunto é encimado
por uma coroa.

297
Fig. 13
Classificação
Classe: U Figuras geométricas
Subclasse: U1 Circunferência
Subgrupo: U1/3 Três circunferências tangentes
Data do manuscrito: 1690
Dimensão: 74 x 22 mm (alt. x larg.)
Cota: PLANSL-Mc2-fasc1-doc 260
Descrição
Três circunferências tangentes dispostas verticalmente, com um motivo não identificado na superior;
na central, uma perna; e na inferior, o número “II” romano. O conjunto é encimado por uma cruz
recruzetada.

298
Fig. 14
Classificação
Classe: U Figuras geométricas
Subclasse: U1 Circunferência
Subgrupo: U1/3 Três circunferências tangentes
Data do manuscrito: 1690
Dimensão: 90 x 27 mm (alt. x larg.)
Cota: PLANSL-Mc2-fasc1-doc 261
Descrição
Três circunferências tangentes dispostas verticalmente, com uma lua cheia na superior; na central,
duas letras C; e na inferior, a letra R. O conjunto é encimado por uma cruz recruzetada.

299
Fig. 15
Classificação
Classe: U Figuras geométricas
Subclasse: U1 Circunferência
Subgrupo: U1/3 Três circunferências tangentes
Data do manuscrito: 1690
Dimensão: 90 x 27 mm (alt. x larg.)
Cota: PLANSL-Mc2-fasc1-doc 269
Descrição
Três circunferências tangentes dispostas verticalmente, com uma lua cheia na superior; na central,
duas letras C; e na inferior, a letra P. O conjunto é encimado por uma cruz recruzetada.

300
Fig. 16
Classificação
Classe: U Figuras geométricas
Subclasse: U1 Circunferência
Subgrupo: U1/3 Três circunferências tangentes
Data do manuscrito: 1690
Dimensão: 73 x 23 mm (alt. x larg.)
Cota: PLANSL-Mc2-fasc1-doc 278
Descrição
Três circunferências tangentes dispostas verticalmente, encontrando-se vazia a superior; a central
contém uma perna, e a inferior, um pequeno arabesco em forma de “v” deitado. O conjunto é encimado
por uma cruz recruzetada.

301
Fig. 17
Classificação
Classe: U Figuras geométricas
Subclasse: U1 Circunferência
Subgrupo: U1/3 Três circunferências tangentes
Data do manuscrito: 1679
Dimensão: 80 x 25 mm (alt. x larg.)
Cota: PLANSL-Mc2-fasc1-doc 279
Descrição
Três circunferências tangentes dispostas verticalmente, com uma lua cheia na superior; na central, as
letras G,B e B; e na inferior, o algarismo “2”. O conjunto é encimado por uma cruz recruzetada.

302
Fig. 18
Classificação
Classe: U Figuras geométricas
Subclasse: U1 Circunferência
Subgrupo: U1/3 Três circunferências tangentes
Data do manuscrito: 1690
Dimensão: 80 x 25 mm (alt. x larg.)
Cota: PLANSL-Mc2-fasc1-doc 294
Descrição
Três circunferências tangentes dispostas verticalmente, com uma lua cheia na superior; na central, as
letras B e M; e na inferior, o algarismo “2”. O conjunto é encimado por uma coroa.

303
Fig. 19
Classificação
Classe: U Figuras geométricas
Subclasse: U1 Circunferência
Subgrupo: U1/3 Três circunferências tangentes
Data do manuscrito: 1681
Dimensão: 75 x 24 mm (alt. x larg.)
Cota: PLANSL-Mc2-fasc1-doc 251(b)
Descrição
(Marca de água situada no lado direito do fólio)
Três circunferências tangentes dispostas verticalmente, com uma cruz trifoliada na superior; na central,
as letras T e G; e na inferior, a letra P. O conjunto é encimado por uma coroa.

304
Fig. 20
Classificação
Classe: T Heráldica; escudos de armas; marcas de canteiro; marcas de comércio
Subclasse: T1 Escudo de armas/brasão
Subgrupo: T 1/1 Escudo de armas/brasão (não identificado)
Data do manuscrito: 1681
Dimensão: 75 x 45 mm (alt. x larg.)
Cota: PLANSL-Mc2-fasc1-doc 251(a)
Descrição
(Contramarca situada no lado esquerdo do fólio)
Escudo carregado com uma flor de lis. O conjunto apresenta-se encimado por uma coroa real, fechada.

305
BIBLIOGRAFIA

ALIGHIERI, Dante. A Divina Comédia, trad. de Hernâni Donato, São Paulo, Abril Cultural, 1981.
BALMACEDA, José Carlos. La contribución genovesa al desarrollo de la manufactura papelera
española, s.l., CAHIP – Centro Americano de Historiadores de Papel, Colección Apapiris, [2005].
BOFARULL Y SANS, Francisco de. Animals in watermarks, Hilversum, The Paper Publications
Society, 1959.
BRIQUET, Charles Moïse, Les filigranes: dictionnaire historique des marques du papier, 2ème ed., New
York, Hacker Art Books, 1966.
CHURCHILL, William Algeron. Watermarks in paper in Holland, England, France, etc., in the XVII
and XVIII centuries and theirs interconnection, Amsterdam, Menno Hertzberger, 1967.
GASPARINETTI, Andrea Federico. «Aspetti particolari della filigranologia», in Industria della carta, 1964.
HEAWOOD, Edward. Watermarks mainly of the 17th and 18th centuries (reprint), Hilversum, The Paper
Publications Society, 1959.
HORODISCH, Abraham. On the æsthetics of ancient watermarks, Hilversum, Paper Publications
Society, 1952.
MELO, Arnaldo Faria de Ataíde e. O papel como elemento de identificação, Lisboa, Biblioteca Nacional,
1926.
RUAS, João (Org.). Manuscritos da biblioteca de D. Manuel II, Casa de Massarelos – Caxias, Fundação
da Casa de Bragança, 2006.
SANTOS, Maria José Ferreira dos Santos. Marcas de água: séculos XIV – XIX. Coleção Tecnicelpa,
Santa Maria da Feira, TECNICELPA – Associação Portuguesa dos Técnicos das Indústrias de Celulose
e Papel e Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, 2015.
ZÚQUETE, Afonso Eduardo Martins. Armorial lusitano: genealogia e heráldica, Lisboa, Editorial
Enciclopédia, 1961.

306
CONTRIBUTOS PARA A HISTÓRIA DO PAPEL: ANÁLISE PRELIMINAR DAS MARCAS DE ÁGUA
DO CENTRO INTERPRETATIVO DA ORDEM DE AVIS

Marta Alexandre
Centro Interpretativo da Ordem de Avis. Município de Avis
marta.alexandre2012@gmail.com

RESUMO

O Centro Interpretativo da Ordem de Avis está situado numa parcela da antiga sede conventual desta
Ordem Militar num espaço recentemente requalificado na zona histórica da vila de Avis. O arquivo histórico
do Centro Interpretativo da Ordem de Avis constitui-se como uma das atuais valências culturais deste
organismo na dependência direta do Município de Avis. À sua guarda tem diversos fundos documentais
sendo o fundo municipal e o da Santa Casa da Misericórdia as principais fontes que servem de base
à recolha prévia das marcas de água que aqui se apresentam. Não estando definitivamente concluído
o seu levantamento é, no entanto, já possível identificar presenças sistemáticas destes elementos
identificativos da arte do papel, um ponto de partida para um conhecimento mais aprofundado desta
importante realidade existente «na memória» e «da memória» dos nossos arquivos locais.

PALAVRAS CHAVE

Arquivo – Marcas de água – Arte do papel – Afetos – Memória patrimonial

Recuperação do Edifício Conventual

O Centro Interpretativo da Ordem de Avis instalado numa parte das dependências do antigo
Convento de S. Bento de Avis, fundado no século XIII, integra-se num projeto alargado de
requalificação e recuperação do Centro Histórico da vila de Avis.

307
Fig. 1 Avis nos finais do século XIV princípios do XV,
Reconstituição da zona de implantação do traçado urbano,
in Plano de Pormenor de Salvaguarda e valorização do Centro Histórico de Avis, 2004

As intervenções ocorridas na zona histórica tiveram lugar dentro de uma política integrada de
revitalização global do Centro Histórico de Avis. As várias parcelas do edifício conventual, recentemente
adquiridas pelo Município, visaram a restituição da memória física integral do mesmo cuja venda
parcelar, ocorrida no âmbito da extinção das Ordens Religiosas, em 1834, desafetaria da sua função
primitiva, este antigo espaço religioso.

Planta de localização de intervenções e aquisições do Convento de S. Bento de Avis

Duas aquisições a particulares e uma aquisição à Administração Central.

Projeto de Instalação efetivada do Centro de Arqueologia (aquisição a particular)

Projeto de Instalação em curso, na zona Oeste (Antigo Hospital e Asilo)

Projeto de Instalação em curso, na zona Este (aquisição concluída)

308
Fig. 2 Novos projetos culturais de reabilitação do espaço Conventual

CENTRO INTERPRETATIVO DA ORDEM DE AVIS;

MUSEU DO CAMPO ALENTEJANO

CENTRO DE ARQUEOLOGIA

PARCELA ADQUIRIDA PARA REABILITAÇÃO

PARCELA RECENTEMENTE ADQUIRIDA À ADMINISTRAÇÃO CENTRAL

309
Requalificar e valorizar: instalação do Projeto cultural CIOA

A proposta de intervenção procurou a requalificação e valorização de um edifício histórico consolidando-


se num projeto cultural que definiu estratégias integradas no sentido de dar nova vivência ao centro
histórico. A linha operativa promoveu o incremento de atividades económicas sustentáveis que
impulsionariam o estudo aprofundado da Ordem de Avis e, por outro lado, simultaneamente, a
restituição da dignidade física ao edifício mais emblemático do Centro Histórico de Avis.

Neste sentido, o Centro Interpretativo da Ordem de Avis acentua a importância e o carácter de


centralidade do Centro Histórico, onde se onde se realçou a requalificação dos espaços públicos,
integrados nos circuitos de promoção turística, como elementos valorizadores de toda a malha urbana,
dentro dos objetivos definidos pelo Plano de Pormenor de Salvaguarda e Valorização do Centro
Histórico de Avis1 apresentado em 2003.

É nesta lógica de estímulo de reanimação social e urbana dos espaços do Centro Histórico de Avis,
que se integra o Projeto do Centro Interpretativo da Ordem de Avis. Sede da antiga Ordem Militar de
Avis, o espaço conventual apresenta-se hoje ainda com uma forte imagem simbólica na paisagem do
Concelho de Avis. Os séculos imprimiram-lhe diversas formas cristalizadas ao longo dos séculos e que
constituem parte da memória e identidade local.

CIOA – Centro Interpretativo da Ordem de Avis

Planta das valências

PISO 0

3
1 4
2

Fig. 3
1 Entrada /Átrio
2 Receção / Loja
3 Acesso Secundário
4 Espaço expositivo

1 GABINETE TÉCNICO LOCAL DE AVIS, Plano de Pormenor de Salvaguarda e Valorização do Centro Histórico de Avis, B.
Elementos Complementares do Plano – Relatório, P. 14 (Versão entregue à DRAOT em Agosto de 2003)

310
PISO 1

5 6
2 1 4

Fig. 3 Arquivo do Cioa - Valências Funcionais


1 Atendimento
2 Área de trabalho / Investigação
3 Espaço Pedagógico/Sala de conferências
4 Reservas / Laboratório e Sala de expurgo
5 Circulação / Ligação ao Arquivo situado no piso 1
6 Área Museológica

Espaço Integrado

Entrada / Loja: o acesso à zona expositiva faz-se no Piso 0 a partir da bilheteira onde se adquirem os
ingressos para a entrada na zona expositiva do Centro Interpretativo da Ordem e do Museu do Campo
Alentejano.

Exposição Permanente: localizada ao nível do Piso 0, na ala Sul do antigo Claustro de Leitura
Medieval, a exposição Permanente do Centro interpretativo conduz o visitante por uma Time line sobre
a importância da Ordem Militar de Avis e da vila, através dos séculos a partir da sua implantação nas
terras de Avis.

Arquivo Histórico: preservação da memória

Situado no Piso 1 o Arquivo, para além do apoio prestado ao nível do arquivo corrente e intermédio
na Instituição municipal, o Centro Interpretativo detém a guarda de vários fundos documentais,
nomeadamente o fundo do arquivo Histórico Municipal, o da Santa Casa da Misericórdia e o Arquivo
Fotográfico. Na sua biblioteca é possível a consulta de coleções de revistas, cartazes, boletins de âmbito
local, bem como o aprofundamento sobre diversas temáticas de caracter municipal. É disponibilizada
ao público a consulta de documentação digitalizada sobre a Ordem, dispersa fisicamente por vários

311
organismos, Arquivo Distrital de Portalegre, Biblioteca Nacional e Arquivo Nacional da Torre do Tombo,
também eles parceiros do CIOA.

Sala de expurgo / laboratório, reservas, sala de leitura, sala multiusos e área expositiva

A entrada/ receção do arquivo faz-se pela antiga Rua das Lages, percorrendo o antigo dormitório dos
freires, hoje ocupado por diversas casas particulares. Neste mesmo piso situam-se as zonas restritas
ao público como o laboratório/ sala de expurgo e reservas, onde se faz o tratamento da documentação,
ao nível da higienização, desinfestação, classificação e transferência de suporte. A sala de leitura,
espaço público, serve para consulta documental e acesso a terminais com obras digitalizadas versando
temáticas relacionadas com a Ordem. A sala multiusos destina-se ao serviço educativo, realização de
conferências, Workshops e exposições temporárias.

Acessibilidade

O acesso ao piso superior, onde se situa o Arquivo do Centro Interpretativo da Ordem de Avis é feito por
uma escada com elevador. Prevê-se o acompanhamento da exposição em linguagem Braille e gestual.

Serviços do Arquivo

Página Web do Centro Interpretativo da Ordem destinada a dar informação sobre os fundos disponíveis
no arquivo e as atividades a desenvolver pelo Centro Interpretativo da Ordem.

Possibilidade de reproduções digitais de documentação existente no Centro Interpretativo da Ordem.

Integração de Espólios Documentais dispersos que são da máxima importância para a compreensão
da História da Ordem de S. Bento de Avis e da própria vila. O Centro Interpretativo prevê ainda a
disponibilidade para o tratamento e preservação de espólios que fiquem à sua guarda, garantindo o
Centro o seu tratamento arquivístico para posterior disponibilização à consulta pública.

O ESPÓLIO DOCUMENTAL DO CIOA

Os Arquivos das instituições, Ordem de Avis, Santa Casa da Misericórdia e Município de Avis, permitem o
estudo da orgânica interna dessas entidades e das dinâmicas geradas em torno delas e das populações
que com elas interagiram ao longo de séculos, constituído um inigualável testemunho social, político e
cultural, fortemente caraterizador da realidade local. Neste sentido, os fundos encontrados são: Fundo
da Santa Casa da Misericórdia de Avis, Fundo do Município de Avis;

A Biblioteca do CIOA é constituída por: literatura Branca (periódicos; livros) Literatura efémera
(cartazes); e coleções doadas por particulares;

312
Sobre a documentação da Ordem de Avis

Os livros pertencentes a Chancelaria da Ordem de Avis, conhecidos como livros de registo ou


chancelarias antigas, (reinado de D. João III até ao de D. João V, e parte do de D. José), num total
de 42 livros, foram remetidos entre 1791 e 1792, para a Torre do Tombo, pela Mesa da Consciência
e Ordens, no seguimento as Provisões do Conselho da Fazenda, como propunha o Decreto de 1 de
setembro de 1694. Em 1826, a 20 de novembro, o escrivão da Ordem António Maria de Melo Azevedo
Coutinho Gentil envia mais 8 livros da Chancelaria da Ordem de Avis. Quando se dá a extinção
das Ordens Militares, parte da documentação foi entregue à Direção Geral dos Próprios Nacionais
sendo guardada na Biblioteca Nacional, e mais tarde na Torre do Tombo, em 1912. Ainda em virtude
do artigo nº 75 do Regulamento do Decreto de 28 de janeiro de 1850, os documentos do Extinto
Convento e outros que se encontravam na secretaria do Governo Civil de Portalegre são enviados
para a Repartição da Fazenda do Distrito. Em 1861, a 21 de outubro, por ofício do Governador Civil de
Portalegre, em cumprimento da Portaria do Ministério do Reino, de 8 de maio de 1856, seguem para a
Torre do Tombo 2 caixotes, com 12 volumes de documentos do extinto Convento de S. Bento de Avis
anterior a 1600. Anos depois, uma Portaria do Ministério da Fazenda, de 26 de novembro de 1863,
ordenou a devolução à Torre do Tombo da documentação das comendas e casas religiosas extintas
pelo Tesouro, entre 1839 e 1850. Toda esta documentação relativa à Ordem de Avis, ao Convento
de S. Bento de Avis, às Igrejas da Ordem, cartas de doação, de composição, de privilégio, de hábito,
traslados autênticos de Bulas, sentenças, tombos de comendas, estatutos, obituários, entre outros,
encontra-se atualmente à guarda da Direção Geral dos Arquivos e Bibliotecas Nacionais.

O Catálogo da Livraria do Convento

A Catálogo da Livraria do Convento de Avis integra-se no fundo relativo ao mestrado da Ordem estando
também ele disponível na Torre do Tombo. Esta obra resultou de um inventário elaborado na sequência
da guerra civil de 1832-1834, logo após o decreto de extinção das ordens religiosas, sendo possível
através dele compreender qual era o universo de obras existentes na livraria do convento de Avis
aquando da extinção da Ordem. Este inventário integra um conjunto de vinte e sete fólios, organizados
em seis colunas com o nome da obra, autor, idioma em que está escrita, data, o número de volumes
e formato, conteúdo e observações, encontrando-se nesta listagem frequentemente muitas obras
anónimas ou sem data.

O Catálogo das obras da Livraria do Convento de Avis, apresenta um total de quinhentos e dez livros
refletindo múltiplas temáticas, entre elas a bíblica, a fé, religião a história, dando-se particular enfase à
presença da Regra de S. Bento. Pelos títulos conclui-se existir uma apetência pelos temas religiosos
e militares, demonstrando que os freires estariam familiarizados por um lado com as artes da guerra e
por outro com o dia-a-dia de corte. No entanto, a maior parte dos títulos é de teor religioso, teológico e

313
espiritual sendo a Bíblia várias vezes enumerada, quer em versões em Latim, quer em edição vulgata.
Vários outros livros aparecem com comentários e dissertações acerca do Antigo e Novo Testamento,
cânones, gramática religiosa, manuais de confessores, liturgia, saltérios e breviários.

Os autores clássicos

Nesta relação das existências no cartório da Livraria do Convento a presença de autores clássicos,
poetas filósofos e historiadores, como Tácito, Tito Lívio, Salústio, Valério Máximo, Virgílio, Aulo Gélio,
Platão, Tucídides e Plínio com a sua História Natural, refletindo o gosto de época do renascimento.
O catálogo da Igreja do Convento apresenta também um conjunto de obras que relatam os primeiros
anos do Cristianismo, os momentos de apogeu da igreja e do Papado, tal como a História contra os
Pagãos de Paulo Orósio, inspirada na doutrina de Santo Agostinho.

Teologia

São mencionadas obras como Comentários Bíblicos de Dionísio Cartosiano, ou as Epístulas atribuídas
a S. Jerónimo, ou ainda um S. Cipriano, Bispo de Cartago, no século III, e que no catálogo aparece
como autor dos Decretos e ainda Gregório Magno em cujo pontificado se anunciaria os Sete Pecados
Capitais bem como a divulgação do chamado canto gregoriano.

As obras relacionadas com a teologia, a moral e a espiritualidade são uma constante neste inventário
do cartório de Avis aparecendo S. Bernardo como uma das referências da ciência teológica.

História

Entrados nas obras do renascimento do barroco a Livraria do Cartório continha a Crónica de El Rey
Dom Manoel, de Damião de Gois, André de Resende, Frei António Brandão com a sua Monarquia
Lusitana, Duarte Nunes de Leão com a Crónica dos Reis de Portugal. A História assume algum destaque
juntamente com a crónica, veja-se a presença títulos sobre a História das Ordens Militares; Origens
da Ordem de Calatrava, Definições da Ordem de Alcântara em Espanhol, o Portugal Restaurado do
Conde da Ericeira, ou a História da Revolução Francesa; o Direito e a Filosofia assumem no catálogo
também relevo aparecendo obras como a Republica de Platão e as Obras de Bossuet, ou mesmo a
ideologia política de Golbert.

Legislação

A presença do Bulário Romanum, bem como as Cronologias e as Coleções de Leis surgem na


sequência da necessidade de fiscalizar os comportamentos menos próprios dos clérigos pelo que
as Constituições, Visitações e Legislação diocesana são referências obrigatórias para a época
associadas à legislação pontifícia e restantes decretos tridentinos. Estão bem presentes as influências

314
em Portugal das determinações Contra Reformistas emanadas por Roma, sendo que os Decretos
Tridentinos, em vigor a partir de Junho de 1564, tomam força de Lei por Alvará de D. Sebastião,
de 12 de Setembro desse ano. Assim, no catálogo são referenciadas várias obras ilustrativas desta
temática, nomeadamente as Declarações do Concílio de Trento, bem como alguns compêndios de
Direito Canónico, o que se coaduna com o que se considerava serem os modelos a seguir por clérigos
e leigos no que diz respeito ao cotidiano nas dioceses e paróquias. Maria Rodrigues Ferreira considera
que o Catálogo da Livraria do Extinto Convento de S. Bento de Avis2, o qual foi alvo de um estudo
aprofundado por esta autora, apresenta um número considerável de edições francesas recentes
relativamente à data em que o inventário é constituído. Por outro lado, esta autora considera ainda
polémicos alguns autores e contextos históricos, dando como exemplo o caso do Novo Código Civil
Francês já do período republicano ou mesmo obras que abordam o consulado e império napoleónico.

Curiosidades

Outros títulos curiosos surgem como um Comentário às Leis da Tora, datado de 1602, de Gomes, ou
ainda as Respostas Mágicas, de El Rio, cuja temática versa sobre Superstições artes boas e más, ou
ainda A Arte de Exorcistas, em latim, de 1600, contendo matérias sobre orações bênçãos e exorcismos.
Aparecem-nos ainda de Mr. Tissot, O Aviso ao Povo, em três volumes, de Medicina, datado de 1786,
ou mesmo um volume da obra Plenho, de 1786, um Tratado sobre enfermidades venéreas. Outro
tema abordado no catálogo e que de alguma forma reflete também uma das preocupações da Ordem
com produção local de azeite a que se dedicava, uma obra de 1784, sobre O modo de aperfeiçoar a
manufatura do azeite de oliveira em Portugal, e outra, de 1786, Sobre a Cultura das Oliveiras.

Deste catálogo a maior parte dos títulos não chegaram até nós, no entanto, existe um conjunto de
obras, incompletas, que se podem integrar neste grupo referenciado pelo catálogo e que pertencem ao
Centro Interpretativo da Ordem de Avis, onde atualmente se encontram. Deste núcleo mencionamos
duas, um Livro de Direito do autor Ascanio Tamborino, datado de 1691, sobre o direito de abades e
prelados e outro sobre os Comentários e epístulas de S. Paulo e Profetas Menores, de Souto Maior,
datado de 1610. Estas duas obras integram um conjunto de catorze livros / peça que compõem a
coleção de Livro Antigo do CIOA

O Fundo da Santa Casa da Misericórdia e do Município de Avis

Compondo-se de cerca de setecentos metros lineares estes dois fundos constituem a maior parte da
documentação existente no Arquivo do CIOA, no caso da Santa Casa da Misericórdia resultaram de uma
incorporação definida por acordo entre a mesa da Confraria da dita Misericórdia e o Município de Avis.
O então presidente da Câmara Municipal, o Dr. Fernando Nuno Belo Gonçalves Coelho solicitou, por

2 FERREIRA, Maria Isabel Rodrigues, Idem, Ibidem, Catálogo da Livraria do Extinto Convento de S. Bento de Avis, CEPESE-
Centro de Estudos da População, Economia e Sociedade, Lusitania Sacra, nº 25 (Janeiro-Junho 2012), p. 255.

315
volta de 1973, a intervenção dos serviços oficiais competentes, no sentido de proceder ao tratamento
da massa documental acumulada. Por despacho de 23 de Novembro de 1973 a arquivista da Torre
do Tombo, Maria Clara Pereira da Costa juntamente com Maria Teresa Monteverde Plantier Saraiva,
davam início a um árduo trabalho que garantiu a preservação e salvaguarda da documentação em
risco de perda, localizada numa dependência insalubre do lado sul do edifício dos Paços do Concelho.
A documentação encontrava-se parcialmente putrefacta, na dependência que correspondia ao antigo
refeitório conventual, posteriormente transformado em teatro.

Da documentação existente havia documentação do século XVI até ao século XX. Cerca de trinta
por cento da documentação estava perdida e houve que estabelecer prioridades na metodologia de
trabalho que começava, antes de qualquer tentativa de organização, pela higienização da mesma.
A documentação da Santa Casa da Misericórdia depositada na casa do enfermeiro, à época numa
dependência do antigo hospital encontrando-se sequencial desde 1521 até 1960, sem grandes hiatos.

O fundo do Município, ainda que para século XVI não apresente substancial documentação, no que
respeita ao século XVII, XVIII e XIX é consideravelmente rico. Parte da documentação relativa ao Juízo da
Correição, corresponde a documentação situada entre 1586 a 1881. Neste fundo, destaca-se uma cópia
autenticada pelo Dr. Valente Godinho, em 1624, relativo a um Tombo da Figueira, de 1364 a 1381. Deve-
se ao Doutor Soares de Faria em 1690, físico mor do exercito na Província do Alentejo e natural de Avis,
que acabaria por compilar o Registo Sumário das Cousas que se Conthem em os Livros do Cartório da
dita Casa da Misericórdia a quem devemos, nos dias de hoje, a organização e preservação deste valioso
fundo documental, atualmente disponível no arquivo do CIOA. O Doutor Soares de Faria, natural de Avis,
dedicara a sua vida ao conhecimento da vila e da medicina, nunca chegando a casar, ficaram célebres
as suas publicações sobre medicina como os Fasciculos Medicus, referidos por Barbosa Machado na
Biblioteca Lusitana, havendo referencias também a um manuscrito seu na posse de um sobrinho Belchior
Salema intitulado Conselhos e Casos que deu e lhe succederão pertencentes à medicina3. Soares de
faria nasce a 12 de Março de 1644 foi batizado na Igreja Matriz de Avis, filho do Lic.º André Rodrigues e
de sua mulher Isabel de Faria4, organiza o cartório da Santa Casa da Misericórdia, num período em que
também no convento da ordem se procediam a trabalhos de organização do cartório, como disso nos dá
referência uma providência de D. Pedro de 1695: «Mando a Vos Ldo Frei Bento Guarda rios Velloso freire
Conventual do Convento da dita Ordem recebedor e executor das meyas annatas della que o dinheiro de
vosso recebimento paguei os officiais dos contos sob ordinariados do meu Tribunal da Mesa da Consciência
e Ordens …. Ao mesmo guarda para papel, tinta e maiz despezas da dita caza Mil Reiz ….recebi do Sr.
Bento Guarda Rios Velloso os mil reis conteúdos na declaração Nossa, Lix, 21 de Julho de 695»5.

3 “Fasciculos medicus exquattor tractatibus collectus”, Primus de Fontanellis, (…) Biblioteca Lusitana, Tomo I, Pág. 394,
referido por COSTA, Maria Clara, Vila de Avis Cabeça de Comarca…Lisboa, 1984, p. 2.

4 ADP. Registos Paroquiais, Matriz de Aviz, L.1590 a 1734. Óbitos, Fl.163.

5 ADPTG-MON-CVBAVS-A-G-002- C 14, de 1695.

316
No assento elaborado por Soares de Faria são mencionados 5 tombos, 4 livros de acórdãos e defuntos
entre 1622 e 1717. Os livros de Receitas e Despesa vão de 1571 até 1690, data do registo, embora seja
possível identificar o percurso cronológico da instituição até 1950. Para além dos livros da Misericórdia,
Soares de faria coseu também 38 pergaminhos em livro, em letra Gótica, dos quais se perdeu o rasto…

A documentação existente no CIOA é fundamental para a compressão da história da vila, das suas
gentes e das instituições que com elas foram tecendo, ao longo de oito séculos de história, a complexa
teia de relações de que a Ordem Militar de Avis foi a principal interveniente.

No Centro interpretativo da Ordem de Avis entram-se no arquivo quatro núcleos principais de


documentação o Fundo Documental do Município de Avis, Fundo Documental Santa Casa da
Misericórdia, Fundo Arquivo Fotográfico e o Fundo Obras Públicas (Município), considerando-
se estas fundos como resultantes da atividade administrativa das instituições referidas. Para além
da documentação de arquivo encontramos ainda uma pequena Biblioteca que apresenta diversas
coleções: Coleção de Literatura Efémera (Cartazes, Postais, Boletins e Agendas), Coleção Literatura
Branca (publicações), Coleção de literatura Cinzenta: Dissertações e Teses Policopiadas e ainda uma
pequena coleção sobre Livro Antigo (considerando-se estes como livros com carácter de singularidade
até 1801).

O ambiente organizacional do arquivo

O ambiente organizacional do arquivo é partilhado com o da biblioteca do centro tratando-se do mesmo


espaço físico, onde se encontra um funcionário (técnico superior) que dá apoio à receção e sala de
referência. Os computadores disponibilizados para o público permitem a consulta dos fundos documentais
do arquivo e uma observação sistemática das diversas coleções bibliográficas quanto análise das
listas de controlo; e análise das listas.

No que diz respeito à constituição da Literatura Efémera a sua proveniência é primordialmente Município
de Avis e Juntas de Freguesia estando registados cerca de 3900 ocorrências para a Tipologia 1: cartazes,
folhetos, postais e 1259 ocorrências para a Tipologia 2: boletins municipais e agendas municipais.

Função, Constituição e proveniência da Biblioteca do Centro Interpretativo da Ordem de


Avis CIOA

Inicialmente a Biblioteca foi constituída com o propósito de servir de apoio à sala de Leitura com
temáticas genéricas ou direcionadas para enquadramento local, depois constatou-se a necessidade
de registo sistematizado e disponibilização do existente ao público. A proveniência das obras que
constituem o seu acervo vem da doação de editoras, serviço Administrativo do Município de Avis e
doação de particulares maioritariamente.

317
No que diz respeito à Literatura Branca e Cinzenta os universos temáticos apresentam atualmente 109
ocorrências para cerca de 2218 exemplares registados. No que concerne ao universo das doações
de particulares, sendo a coleção mais significativa a de Marcelina Varela, o número de ocorrências
temáticas é de 26 para um total de 280 exemplares.

Fig. 4

Fig. 5

No que diz respeito à coleção de Livro Antigo temos um total de 14 exemplares num universo temático
de teor Religioso e Filosófico. A sua proveniência é do cartório da livraria do antigo convento da ordem
militar de S. Bento de Avis, tratando-se de impressão maioritariamente em papel, os materiais são
couro, brochas e madeira ficando as datas extremas entre o século XVI e o XIX.

318
Estudo preliminar: as marcas de água do Fundo Documental da Santa Casa da Misericórdia de
Avis e do Município de Avis existentes no Centro Interpretativo da Ordem de Avis

A abordagem aqui apresentada procura ser um levantamento preliminar de marcas de água do


aquivo histórico de Avis não estando, de todo, concluído conta atualmente com cerca de 600
levantamentos. Estes abarcam dois fundos documentais da Santa Casa da Misericórdia e Município
de Avis cuja documentação se situa entre o século XVI e XX. Estes fundos documentais tratando-se
de documentação que resulta da atividade administrativa destas instituições apresenta-se sobretudo
sobre a forma manuscrita.

Dos cerca de 600 levantamentos efetuados aparecem-nos diversas marcas de água a saber:
LAVARENNA GHIGLIOTY; GIUSTº POLLERI; GIUSEPPE; ALMASSO; FABIANI; GIACº GIUSTI;
GAMNO; VIGO; NICOLO POLLER; GIOVANNI BATTISTA; LOUZA´A 1833; VORNO; THOMAR; GIORº
MACNANI; F. D´ABELHEIR; BRUZZO NICOLO; BARTº GHIOGLIOTY; VARENNA; SUL MASSO;
GIUSTO; TAVARES; LOUZA 1830; PICARDOS; NICOLO; POIEBI; GIUSTI; A CIRVINO; B PICARDO;
COUTO; VIACCAVA; LENERATTO; BENTº PICARDO; EFIOLI

No que diz respeito às dez marcas de água que se repetem com maior frequência nos levantamentos
efetuados e já alvo de digitalização aqui apresentados os mesmos pretendem ser uma base para o
estudo mais aprofundado das marcas de água existentes no arquivo de Avis, para os Fundos acima
já referidos. É de mencionar que estes levantamentos ainda serão alvo de retificações, no entanto, já
nos permitem ir estabelecendo algumas linhas de investigação quanto ao universo de marcas de água
existentes nestes fundos.

Assim, começamos por referir a primeira marca de água correspondendo esta a 84 repetições nos livros
com a cota A1 Nº109, Receita e despesa (Livro da) dos anos de 1645-Julho de 1646, e A1 Nº 115,
Receita e despesa ( Livro da) dos anos de 1645-Julho de 1646 da Santa Casa da Misericórdia de Avis.

Fig. 6

319
Seguidamente encontramos a marca de água que se repete cerca de 66 vezes nos levantamentos
sendo os livros com a cota A1 Nº 86, Receita e Despesa (Livro da) dos anos de 1619- julho a 1620-julho
da Santa Casa da Misericórdia e o livro A1 Nº 87, Receita e Despesa (Livro da) dos anos de 1620- julho
a 1621 de julho as suas fontes.

Fig. 7

Passamos depois a outra marca de água encontrada uma vez mais no Fundo da Santa Casa da
Misericórdia nos Livros de Receita e Despesa A1, Nº 79 e A1 Nº 85 com uma frequência de sessenta
marcas de água.

Fig. 8

A1 Nº 85, Receita e despesa (Livro da) dos anos de 1608-julho a 1609 julho da Santa Casa da
Misericórdia, fl.57. A1 nº 79, Receita e despesa (Livro da) dos anos de 1608-julho a 1609 julho da
Santa Casa da Misericórdia. (fl. 1, 2, 3, 6, 8, 11, 12, 15, 16, 18, 20, 21, 25, 26, 27, 28, 29, 36, 43, 49,
54, 55, 57, 60, 62, 63, 65, 67, 69, 70, 74, 77, 79, 80, 83, 84, 87, 89, 90, 92, 93, 94, 96, 98, 99, 100,

320
101, 102, 110, 112, 114, 118, 120, 122, 126, 127, 128, 130, 132, 135).

No Livro de Receita e Despesa A1 Nº 83, e 86 do mesmo fundo documental (para os anos de julho de
1615 a julho de 1616) surgem cinquenta repetições.

Fig. 9

A1 nº 83, Receita e despesa (Livro da) dos anos de 1615-julho a 1616 julho da Santa Casa da
Misericórdia (fl. 2, 3, 4, 5, 9, 10, 12, 14, 15, 21, 30, 31, 32, 33, 34, 35, 36, 46, 48, 52, 54, 56, 57, 58,
59, 60, 61, 62, 63, 64, 65, 67, 70, 72, 73, 74, 78, 80, 81, 89, 91, 93, 105, 107, 116, 129, 131, 133, 135,
136) e A1 nº 86, Receita e despesa (Livro da) dos anos de 1618-julho a 1619 julho da Santa Casa da
Misericórdia (fl.140).

Seguidas de 49 frequências o livro manuscrito A1 73 da Santa Casa da Misericórdia de outro exemplar.

Fig. 10

A 1 n. 73, Receita e despesa (Livro da) dos anos de 1601-julho a 1602 julho da Santa Casa da
Misericórdia (fl. 2, 7, 8, 10, 13, 14, 15, 16, 18, 20, 22, 26, 29, 30, 32, 33, 34, 36, 38, 42, 45, 49, 51, 53,

321
54, 56, 60, 61, 62, 67, 68, 98, 100, 101, 102, 107, 109, 111, 114, 115, 116, 117, 119, 121, 123, 128, 129).

A marca de água Almasso apresenta 45 frequências no Fundo do Município de Avis.

Fig. 11

B2 A nº 422, FL. 5, 13, 14, 18, 19, 20, 30; B2 A nº 408, fl. 14, 15, 17, 19; B2 A nº 423, fl. 9, B2 A nº 70, fl.
227, B2 A nº 404, fl. 1, 12, B2 nº 405, fl. 1, 31, B2 a nº 403, fl. 1, 7, 14, 18, 24; B1 nº 502, fl. 89; B1 nº
460, Fl. 3; B1 nº 500, Fl. 89; B1 nº 480, fl. 3; A1 nº 202 – Livro da receita e despesa dos anos de 1839
(junho) a 1842 (agosto), fl. 62 v; B1 nº 38, fl 9; B2 A nº 406 fl. 14, 15, 17, 19, 21, 23, 25, 30, 39; B1 nº
1290, fl. 185; B1 nº 926, fl. 40; B1 nº 613; fl. 29; B1 nº 110, fl. 4.

GIORº MACNANI aparece-nos logo de seguida com 45 frequências tanto em livros manuscritos no
fundo pertencente à Santa Casa da Misericórdia de Avis como no Fundo do Município.

Fig. 12

A1 nº 168, Livro da receita e Despesa (Livro da) dos anos de 1723- julho 1724 julho

322
Fl. 29; B1 nº 109, fl. 4 B1 nº 480; fl. 01; B1 502, fl. 94; B1 110, Fl. 3; B2 A 405 fl. 45; B2 A 403, fl. 3, 6,
18, 20, 25, 26, 33; B2 A nº 404, 37v; B2 A 405, fl. 45; B2 A 403 fl. 3, 6, 18, 20, 25, 26, 33; B2 A nº 404,
37v; B2 A 70, fl. 136; B2 A nº 406, fl. 1, 10, 13, 16, 18, 20, 22, 24, 26, 27; B2 A 422 fl. 2, 4, 15, 16, 17,
21, 22, 25, 28; B2 A 423; Fl. 10, 12 B2 A nº 408 fl. 1, 16, 18.

Seguidamente aparece-nos a marca GM com 22 referências em ambos os fundos documentais, para


o universo do século XVIII, no que diz respeito ao fundo da Santa casa da Misericórdia e para os
princípios do século XIX no que concerne ao fundo do Município.

Fig. 13

A1 nº 200, Receita e despesa (Livro da ) dos anos de 1829 julho a 1835 julho da Santa Casa da
Misericórdia de Avis, Fl. 15; B2 A nº 425, Fl. 1, 2; B2 A nº 70, Fl. 226, B2 A nº 403, Fl. 13, 27, 30, 31;
B1 nº 478, Décimas, Livro do Lançamento das relativas aos maneios da vila de Avis e seu termo do
ano de 1815 do Fundo Município de Avis , Fl. 1; B1 nº 479 Décimas, Livro do Lançamento das relativas
aos juros da vila de Avis de 1815 do Fundo Município de Avis, Fl. 1; B1 nº 477 Décimas, Livro do
Lançamento das relativas aos maneios da vila de Avis e seu termo do ano de 1815 do Fundo Município
de Avis, 2º vol., Fl. 1, 7; A1 nº 201, Receita e despesa (Livro da ) dos anos 1835 julho a 1839 julho, Fl.
25; B2 A nº 405, Fl. 14, B2 A nº 423 Fl. 2, 7, 8, 14, 26, 29, 32.

323
A marca GIOVANNI BATTISTA V repete-se cerca de 20 vezes.

Fig. 14

B2 A 403, fl. 9, 16, 32; B2 A 406, fl. 12; B2 A 405, fl. 13; B2 A 423, fl. 6; B2 A Nº 424, fl. 1, 3, 5, 7, 9, 11,
13, 14, 17, 18; B2 A nº 425, fl. 1, 5, 6, 1818-1825) Fundo do Município de Avis.

A marca LAVARENNA GHIGLIOTY com 19 menções foi recolhida no Fundo do Município de Avis não
havendo até à data indicação da existência da mesma marca no Fundo da Santa Casa da Misericórdia
de Avis.

Fig. 15

B1 nº 908 Quintos (Livro para se lançarem todos os bens pertencentes às capelas a Coroa situadas na
comarca de Avis) do ano de 1826, fl. 1, 3, 5, 7, Fundo do Município de Avis; B2 A 424, fl. 2, 4, 6, 8, 10,
12, 15, 16, 19; B2 A 425, fl. 4; B2 A 403; fl. 15, 2; B2 A 406, fl. 11.

324
As outras representações como THOMAR, VORNO, FABIANI, NICOLO POLLER aparecem-nos tanto
no Fundo da Santa Casa da Misericórdia como no Fundo do Município de Avis.

Fig. 16

A1 201 Receita e despesa (Livro da) Santa Casa da Misericórdia; 1835-39 Julho, Fl. 3, B1 nº 294,
Correspondência expedida (Livro do Registo da 9 dos anos de 1882, Setembro – 24 a 1883- Outubro
-21. fl. 38v; B1 nº 924 Receita e Despesa (Livro da) da vila de Avis, do ano de 1818, Fundo do Município
de Avis, Fl. 43v.

Fig. 17

B1 91 - Celeiro Comum da Vila de Avis, 1785/86, Fl. 10; B1 nº 544, Décimas (Livro do Lançamento das)
do subsídio militar da vila de Figueira, do ano de 1769, fl. 2, B1 nº 553 Décimas (Livro do Lançamento
das) do subsídio militar da vila de Figueira, do ano de 1768;

B1 Nº 4, Livro das Actas das sessões da Câmara da Vila de Avis, dos anos de 1843 a 1848, fl. 23; B1
nº 437- Décimas (Livro do Lançamento das) relativa a subsídios militares, da vila de Avis e seu termo,
do ano de 1770.

325
Fig. 18

B2 A 422 Fundo do Município de Avis, fl. 9v, 10, 27

Fig. 19

B 2 A 404, Fundo do Município de Avis, fl. 24, 13

Para além das referidas temos recolhidas um significativo número de marcas de água que futuramente
serão alvo de análise mais aprofunda. Ainda que o critério de recolha para as que aqui foram
mencionadas apresente consideráveis limitações, procurámos dar uma ilustração prévia dos exemplos
recolhidos que permitem começar a estabelecer linhas sobre as proveniências do papel existente no
arquivo de Avis e, consecutivamente sobre a arte da sua manufatura. A técnica da produção do papel
teve o seu reflexo não só na qualidade das pastas mas também no refinamento com que as filigranas
foram aparecendo ao longo dos diversos momentos de produção do papel. A história das fábricas e dos
engenhos papeleiros refletiam os gostos e tendências estéticas, o aprumo das mãos e das mentes que
à sua produção se dedicavam e que importa descortinar como elemento determinante na manutenção
da memória. Conhecer o legado de quem produziu o papel, em que circunstancias e o caminho que
fez até ao destino final junto de quem o adquiriu e com ele ajudou a «tecer» a teia da memória é um
desafio constante para quem se propõe tão estimulante e árdua empresa.

326
BIBLIOGRAFIA:

ADP. Registos Paroquiais, Matriz de Aviz, L.1590 a 1734. Óbitos, Fl.163.


ADPTG-MON-CVBAVS-A-G-002- C 14, de 1695.
ALEXANDRE, Marta, O Convento de S. Bento de Avis à Luz das Suas Funções Identidades e Estilos. As
Campanhas da Idade Moderna. Dissertação de Mestrado em Arte Património e Restauro, apresentada
em 2002 à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 2003.
COSTA, Maria da Clara Pereira da, “A Vila de Aviz – Cabeça de Comarca e da Ordem dos Séculos XVI
a XVIII. Tombos de Direitos, Bens e Propriedades”, in Separata da Revista do Instituto Geográfico e
Cadastral, nº 2 (Setembro) de 1982 e n º4, de 1984.
GABINETE TÉCNICO LOCAL DE AVIS, Plano de Pormenor de Salvaguarda e Valorização do Centro
Histórico de Avis, B. Elementos Complementares do Plano – Relatório, P. 14 (Versão entregue à
DRAOT em Agosto de 2003).

Fundo da Santa Casa da Misericórdia

AHCMA, Livro das Receitas e Despesas relativas ao ano de 1616.


AHCMA, A1 nº 200, Receita e despesa (Livro da) dos anos de 1829 julho a 1835 julho da Santa Casa
da Misericórdia de Avis.
AHCMA, A1 nº 201, Receita e despesa (Livro da) dos anos 1835 julho a 1839 julho.
AHCMA, Tombo dos bens móveis, semoventes, prédios Rústicos, Urbanos, domínios e todos os
demais bens pertencentes ao Concelho de Avis, do ano de 1851, B1, Nº 1265.
AHCMA, ARQ. A, L. Nº 231, Tombo novo em que se reformaram os tratos de posse que de presente
tem a Casa da Misericórdia desta Vila de Avis lançados nela na forma de Alvará da Magestade do ano
de 1654, Março.

Fundo do Município

B1 91, Celeiro Comum da Vila de Avis, 1785/86, Fl.10; B1 nº 479, Décimas, Livro do Lançamento
das relativas aos juros da vila de Avis de 1815 do Fundo Município de Avis, Fl. 1; B1 nº 477, Décimas,
Livro do Lançamento das relativas aos maneios da vila de Avis e seu termo do ano de 1815 do Fundo
Município de Avis, 2º vol., Fl. 1, 7; B1 nº 544, Décimas (Livro do Lançamento das) do subsídio militar
da vila de Figueira, do ano de 1769, fl. 2; B1 nº 553, Décimas (Livro do Lançamento das) do subsídio
militar da vila de Figueira, do ano de 1768; B1 nº 437, Décimas (Livro do Lançamento das) relativa a
subsídios militares, da vila de Avis e seu termo, do ano de 1770, Fl. 15; B1 nº 4, Livro das Actas das
sessões da Câmara da Vila de Avis, dos anos de 1843 a 1848, fl. 23; B2 A nº 425, Fl. 1, 2; B2 A nº 70,
Fl. 226, B2 A nº 403, Fl. 13, 27, 30, 31; B1 nº 478, Décimas, Livro do Lançamento das relativas aos
maneios da vila de Avis e seu termo do ano de 1815 do Fundo Município de Avis, Fl. 1.

327
FILIGRANAS EN LOS IMPRESOS DE BENITO MONFORT (1768-1833) PARA LA REAL
ACADEMIA DE BELLAS ARTES DE SAN CARLOS DE VALENCIA

CARMEN RODRIGO ZARZOSA


Presidenta Amigos del Museo Nacional de Cerámica de Valencia
crodrigozar@gmail.com

RESUMEN

En este estudio pretendemos mostrar las filigranas del papel utilizado por Benito Monfort (1716-1785),
uno de los más insignes impresores del s. XVIII en España, junto con Joaquin Ibarra y Antonio Sancha.
Fue impresor de las más destacadas instituciones valencianas del momento: Universidad, Casa de la
Ciudad, Compañía de Jesús, Colegio Andresiano, Arzobispado y Cabildo Catedralicio, Real Audiencia,
Real Sociedad Económica de Amigos del País, etc. Nos centraremos en sus publicaciones para la Real
Academia de Bellas Artes de S. Carlos, (1768-1833): Estatutos, Actas, Premios, Juntas, Diplomas,
etc. Hemos examinado unos 74 impresos y dentro de cada edición varios ejemplares, puesto que el
papel empleado es diferente. Se ha localizado papel de molinos valencianos, catalanes, alicantinos, de
calidades diversas pero en general buena. Las 61 filigranas se han ordenado por XV tipologías según
Briquet, señalando el documento y la fecha de impresión.

PALABRAS CLAVE

FILIGRANAS – PAPEL-S. XVIII-XIX- MOLINOS PAPELEROS – ESPAÑA

1. A Imprenta en el siglo XVIIII


El abigarrado estilo barroco que dominaba en las artes durante los primeros años del reinado de Luis
XV, entre ellas la del libro, no coincidía ni con las formas ni con el concepto de vida que caracterizaba
las clases altas de la sociedad del s. XVIII. La corriente de fuerza social que culminó con la Revolución
de 1792, era aún incipiente y el pueblo se limitaba a mirar deslumbrado la vida de la Corte. Esta
forma de vida encuentra su expresión artística en el estilo rococó. En el mundo del libro los pequeños
formatos van desplazando a los grandes in folio y el grabado en cobre adquiere un papel destacado
y se cubren las páginas con viñetas, cabeceras, florones, remates, iniciales y ornamentos rococó
con líneas en forma de C o S. Los adornos: querubines, conchas, palmas, hojas de vid, ramos y
guirnaldas de flores y frutas, se disponen asimétricos. Algunos de los libros ilustrados con viñetas
se grababan enteramente en cobre, incluso el texto, pero la mayoría eran de composición y los tipos
usados derivaban de la letra romana, de Garamond modernizada. (Dahl)

329
2. La Imprenta en España y Valencia

El tipógrafo español más destacado fue Joaquín Ibarra (1725-1785), impresor del Rey y de la
Academia Española, editó el Quijote más perfecto (en 4 vol.). Su obra maestra fue el Salustio de
1772, traducido por el infante D. Gabriel, en un tomo in fol. con texto latino, ilustrado con cabeceras,
remates y grabados calcográficos de plana entera. Destaca otro impresor Antonio Sancha (1720-
1790) en Madrid y Bordázar, Orga y Benito Monfort (1716-1785) en Valencia. Como reacción violenta
de la Revolución francesa al refinamiento del s. XVIII, se impone el estilo neoclásico y la copia de
tipos de la Roma republicana, desapareciendo la fastuosa ilustración anterior. En España el grabado
en metal dependía de Europa por falta de especialistas. Se optó por pensionar en Francia e Italia a
los más destacados alumnos de las Academias. A fin de siglo surge dentro de la Imprenta Real un
departamento calcográfico, la Calcografía Real que dio un fuerte estímulo a la profesión y la creación
de un organismo coleccionador de matrices que han llegado hasta nuestros días. (Gallego)

3. El papel en el S. XVIII

El s. XVIII fue una época de prosperidad y gran expansión de la actividad papelera española que se fue
librando de muchos impuestos. Los Borbones con su política de proteccionismo, fomento y desarrollo,
exenciones fiscales de impuestos, prohibición de exportar materias primas de trapos, derecho de tanteo,
incentivo a la venida de maestros extranjero, lograron el autoabastecimiento y cobertura del mercado
colonial. En la segunda mitad del s. XVIII, territorios de antigua tradición papelera como Valencia y
Cataluña por la gran calidad y producción del papel fabricado, permitieron conquistar la mayor parte
de la demanda del mercado americano y peninsular. El comercio colonial potenció y desarrolló esta
manufactura en Valencia y Cataluña, Andalucía y Galicia donde surgieron molinos de papel blanco y
estraza para surtir la ingente demanda de las imprentas del libro, papel sellado, de fumar, naipes, etc.
La Real Cédula de 1789, que recoge las disposiciones proteccionistas anteriores y crea nuevas gracias
y privilegios, explica la edad dorada de la manufactura.

4. Fundación de la Real Academia de San Carlos 1768

Carlos III instituyó la Real Academia de S. Carlos en 1768, siguiendo la moda de la creación de las
Reales Academias en Francia para sistematizar la enseñanza de las Nobles Artes. Ya existía la de San
Fernando de Madrid, patrocinada por Fernando VI, hijo primogénito de Felipe V. Hubo un primer intento
llevado a cabo por instituciones artísticas valencianas que cristalizó en la creación de la Academia
de Nobles Artes en 1754, bajo la advocación de Santa Bárbara, que se disolvió en 1759. Un grupo
importante de profesores entre los que figuraban los hermanos José e Ignacio Vergara, al mando del
grabador Manuel Monfort, envía a Madrid un Memorial solicitando para Valencia una nueva Academia.
Carlos III aprueba los Estatutos de la Academia de S. Carlos cuya misión era fomentar las Nobles Artes
(Pintura, Escultura, Arquitectura, Grabado) y velar por la protección del Patrimonio Artístico del Reino

330
de Valencia (que en aquella época abarcaba las provincias de Valencia, Castellón, Alicante, Murcia y
Albacete). Más tarde, por deseo de Carlos III, se añadió la Clase de Flores y Ornatos para fomentar
los dibujos para la industria sedera valenciana, controlada por el Colegio del Arte Mayor de la Seda, y
evitar la exportación de la materia prima barata a Lyon, a través de la Lonja de la Seda, e importar el
producto manufacturado a precios exorbitantes.

5. Papel empleado por la Real Academia de San Carlos

Para el desempeño de estas numerosas, importantes y complejas funciones, la Academia de S. Carlos


necesitó desde su inicio grandes cantidades de papel de calidad. Por Real Decreto de Felipe III en el
siglo anterior, España había dejado casi totalmente de importar a precios considerables papel extranjero
francés e italiano y de exportar a precio irrisorio los trapos de la materia prima.

Durante los primeros años de su existencia, parte importante del papel empleado en la Academia de
S. Carlos provenía de molinos catalanes, especialmente de Tortosa por proximidad, pero también se
utilizaron productos de molinos valencianos e italianos. Angela Aldea aporta interesantes datos del
Archivo de la institución sobre gastos y tipos de papel utilizados, y por la impresión de los mismos
por Benito Monfort, impresor oficial de la Academia y hermano del famoso grabador Manuel Monfort.
(Aldea 1797). Antonio Rodríguez, Conserje de la Academia nos ofrece los siguientes datos:
“…Por 33 resmas de papel de Tortosa, se pagaron a Sebastián Mas, fabricante de papel Nº 7, 143
libras con 63 chelines el 15 de Octubre de 1776…”
Figuran grandes cantidades y los tipos de papel empleados en el Legajo nº 1 de Cuentas del Archivo:
“Papel florete fino, empelado para Carteles, Premios y Edictos.
Papel Imperial para pruebas de “Repente” o Premios.
Papel marquilla, para Carteles en la Sala de Flores.
Papel de protocolo para las Juntas de Gobierno, Juntas de la Comisión de Arquitectura, pruebas de
Concursos, Estatutos, etc.
Papel Salustio o papel suplido, era blanco de escribanía, se conocía también por “capellades”, pues
procedía de los molinos catalanes de Capellades. Se usaba no solo para escribir sino también para
invitaciones o esquelas”.

El volumen de impresión de la Academia en 1778 es reflejado en el Importe de lo trabajado por Benito


Monfort para la Real Academia de esta Ciudad:
Prohibiciones....................................................................................................................................2, 10
Por el papel de 60 ejemplares...............................................................................................................14
Por componer y tirar segunda vez otro Cartel....................................................................................2, 10
Por el papel de 100 ejemplares ...........................................................................................................1,4
Por 600 esquelas para convocar. Impresión papel, plegarlos y cortarlos...............................................2

331
Por el Auto que se imprimió del Sr Intendente de un pliego 100 ejemplares. Por papel e impresi
ón....................................................................................................................................................2,13.2
Por la Impresión de los Estatutos. Ocho pliegos de marca mayor con espacios entre líneas, 750
ejemplares e incluidos 70 ejemplares de papel Imperialillo de Olanda y para estos últimos se abrieron
las formas añadiendo blancos a la Imposición.....................................................................................4,8
Por el papel de marca mayor de otra Impresión.............................................................................5,8.16
Por el papel de Olanda de otros ejemplares que se tomó de Casa Mallent................................18,16, 6
..................................................................................................................................................137, 2., 8”

Otra factura del librero Simón Faure: “Recibí de Antonio Rubio Rodriguez, Conserge de la Real
Academia de s. Carlos, sesenta y tres libras, diez sueldos y siete dineros por la encuadernación de
cien ejemplares de pasta y ciento y quarenta de pergamino, una cartera de tafilete para las Juntas,
encuadernación de los Estatutos originales y media resma de papel para uso de la Academia. Valencia
20 de Agosto de 1768. Simón Faure. Son 68 L,19 S”.

6. La saga de los Monfort (1757-1851)

Benito Monfort (1716-1785), aprendiz con Antonio Bordázar, fué impresor de las instituciones más
notables de Valencia: 1757 Seminario de la Compañía de Jesús; 1771 Universidad Literaria; 1773
Ciudad; 1774 Colegio Andresiano, Escuelas Pías; Real Junta Particular de Comercio y Consulado de
la Ciudad; Arzobispado y Cabildo; Capitanía General, etc.

Imprime: Crónica del Rey Juan II de Castilla y León, compilada por Fernán Pérez de Guzmán, 1779,
636p. Fol.; Crónica de los Reyes Católicos D. Fernando y Dña. Isabel de Castilla y Aragón por Hernando
del Pulgar, 1780, 384p, Fol.; De Nvmis Hebraeo Samaritanis, 1781, en 4º mayor, de Fco. Pérez Bayer,
insigne valenciano, Bibliotecario de la Real Biblioteca y profesor de los Infantes. Más tarde, en 1790,
- muerto el primer B. Monfort - se estampó la obra Nvmorvm Hebraeo –Samaritanum…, en 4º mayor,
de Pérez Bayer. En 1783 imprime el t. I de la Historia de España del P Mariana, su obra más extensa,
que ocupó los últimos años. En 1785 muere el primer B. Monfort a los 69 años y sale el tomo II de la
Historia de España. El hijo mayor Manuel Monfort Asensi, Tesorero de la Real Biblioteca, carga con
el peso de la suscripción de la obra y prosigue la edición la imprenta a cargo de su hermano Benito
Monfort Asensi, consiguiendo editar los 10 vols. entre 1787 y 1796. En 1792 editan la traducción de los
Fueros de Valencia por José Vilarroya.

En 1788 por R.O. de 27 de mayo, se permitió a sus herederos utilizar el nombre de la Imprenta
fundada por él, lo que le dio continuidad hasta 1851. Muerto Manuel Monfort Asensi, pasó a su sobrino
Manuel Monfort y Roda (1770-1822). Muerto este, accede al frente de la imprenta a su Vda. Catalina
Rius y la propiedad a sus hijas Magdalena y Catalina. Publican algunas obras interesantes como la
Descripción de las Solemnes Exequias… por el alma de Nª Soberana Mª Josepha Amalia de Sajonia

332
por la Real Maestranza de Valencia. Impr. D. Benito Monfort, 1829. En 1841 se casa Catalina Monfort
y Rius con su primo José Rius y Brunet, al frente de la Imprenta. Publican en 1823 Aventuras de
Telémaco… Valencia: Librería de Casimiro Meira, antes B. Monfort, 1843, 4º. En el Padrón de 1845,
aparece la Imprenta B. Monfort en la c. del Temple, nº 5. En 1847, se casó Magdalena Monfort y Rius
con su primo Gabriel Rius (hermano de José) con lo que se dividió el material tipográfico. José Rius y
familia se trasladó a la c. del Milagro, nº 11 y Gabriel Rius continuó usando el nombre de B. Monfort.
En 1851 muere Gabriel Rius y su Vda. vende todo a Vicente del Viso. 1859. Estatutos de la Sociedad
Valenciana de Agricultura. Impr. El Valenciano, antes B. Monfort. (Serrano Morales)

En 1768 Aprobó la Real Academia de San Carlos, en Junta Particular de 7 mayo, el cargo de impresor
a favor de Benito Monfort (ARASC Leg 68B/1/5).

Publicaciones para la Academia: Estatutos en 1768 (grabados a buril por Manuel Monfort); Noticia
Hstórica de los principales progresos y exercicios de la Real Academia de Nobles Artes de San Carlos…
en 1773; Concursos Generales y entrega de Premios …en 1779; Continuación Noticia Histórica de la
Real Academia… en 1781 (escudo grabado a buril.); Continuación… Y Actas… en 1784. También
imprimió octavillas, Edictos, papeletas de alumnos, etc. En 1785 Muere Benito Monfort a los 69 años.

Su imprenta sigue con el mismo nombre Oficina de Benito Monfort a manos de su hijo mayor Manuel
Monfort Asensi (1736-1806) - abridor de láminas - y de Benito Monfot Asensi (-1805), impresor de
calidad como su padre. Manuel Monfort Asensi, pasa a Madrid. En 1770 entrega a la Academia de
San Carlos de parte del Monarca Carlos III, los 6 Tomos de Herculano y el Salustio del Infante D.
Gabriel. En 1787 ya instalado en la corte, le encargó la Academia que encuadernara los libros de Actas
y Premios para el conde de Floridablanca, el Rey, Príncipes, Sres Ministros, Oficiales, Individuos de S.
Fernando. Pasó los gastos a la Academia el 8 de mayo de 1787. En la Corte dirigía la Imprenta de la
Real Biblioteca. Regresa a Valencia y muere en 1806 sin descendencia.

En Valencia seguía B. Monfort Asensi al cargo de la Imprenta con los siguientes impresos: Cont. Actas.
y Relación Premios… en 1786; Cont.. Actas y Relación Premios… en 1789; Constituciones para el
Gobierno de la Junta de Comisión de Arquitectura… en 1791; Cont. Actas… en 1976; Cont. Actas…
1799; Cont. Actas… en 1802; Cont. Actas… en 1805.

En 1805, muere Benito Monfort Asensi y hereda la Imprenta su sobrino Manuel Monfort y Roda (1770-
1822), que se casa con Josefa Mª Genovés y con Catalina Rius (1799), teniendo dos hijas.

7. Documentos Examinados de los Impresos por los Monfort para la Real Academia de San Carlos

Para realizar este trabajo y obtener un muestreo amplio, se han estudiado los impresos de los Monfort
para la RASC en tres Archivos: A/La Biblioteca del Museo Nacional de Cerámica de Valencia; B/ La

333
Biblioteca y Archivo de la Real Academia de San Carlos de Valencia; C/ y la Biblioteca Histórica de la
Universidad Literaria de Valencia, cuya relación a continuación incluimos:

A/ PUBLICACIONES DE LA REAL ACADEMIA DE BELLAS ARTES DE SAN CARLOS EN LA


BIBLIOTECA DEL MUSEO NACIONAL DE CERÁMICA.
1. Continuación de las Noticias Históricas de la Real Academia de Nobles Artes de San Carlos…
Valencia: B. Monfort, 1777. R. 24.
2. Continuación de las Noticias Históricas de la Real Academia de Nobles Artes de S. Carlos… Valencia:
B. Monfort, 1784. R. 25.
3. Continuación de las Actas de la Real Academia de Nobles Artes de San Carlos… Valencia: B.
Monfort, 1784. R. 25.
4. Continuación de las Noticias Históricas de la Real Academia de Nobles Artes de San Carlos…
Valencia: B. Monfort, 1789. R. 26.
5. Continuación de las Noticias Históricas de la Real Academia de Nobles Artes de San Carlos…
Valencia: B. Monfort, 1789. R. 26.
6. Continuación de las Actas de la Real Academia de Nobles Artes de San Carlos y Relación de
Premios… Valencia. Benito Monfort, 1792. R. 27.
7. Continuación de las Actas de la Real Academia de Nobles Artes de San Carlos y Relación de los
Premios… En Valencia: Monfort, 1792. R 27.
8. Continuación de las Actas de la Real Academia de Nobles Artes de San Carlos y Relación de los
Premios… Valencia: B. Monfort, 1796. R. 28.
9. Continuación de las Actas de la Real Academia de Nobles Artes de San Carlos y Relación de los
Premios… Valencia: B. Monfort, 1796. R. 28.
10. Continuación de las Actas de la Real Academia de Nobles Artes de San Carlos y Relación de los
Premios… Valencia: B. Monfort, 1799. R. 29.
11. Continuación de las Actas de la Real Academia de S. Carlos y Relación de Premios … Valencia: B.
Monfort, 1799. R. 29.
12. Continuación de las Actas de la Real Academia de Nobles Artes de San Carlos… Valencia: B.
Monfort, 1799. R. 29.
13. Continuación de las Actas de la Real Academia de Nobles Artes de San Carlos y Relación de los
Premios… Valencia: B. Monfort, 1802. R. 30.
14. Continuación de las Actas de la Real Academia de Nobles Artes de San Carlos y Relación de los
Premios… Valencia: B. Monfort, 1812. R. 30.
B/ IMPRESOS DE BENITO MONFORT EN EL ARCHIVO Y BIBLIOTECA DE LA REAL ACADEMIA DE
SAN CARLOS (1768-1818)
15. Estatutos de la Real Academia de San Carlos… Valencia: B. Monfort, 1768. R. 1323.
16. Noticia Histórica de los Principios, Progresos y Erección de la Real Academia de las Nobles Artes
Pintura, Escultura y Arquitectura… y Relación de Premios…. Valencia: B. Monfort, 1773.

334
17. Real Orden por la qual se ha servido SM. declarar algunas dudas y resolver varios puntos
concernientes al Gobierno… de la Real Academia de S. Carlos … Valencia 25 de Abril 1779
18. Continuación de la Noticia Histórica… y Relación de Premios … Valencia: B. Monfort, 1781.
19. Continuación de la Noticia Histórica… y Relación de Premios… Valencia: B. Monfort, 1784.
20. Continuación de las Actas… Valencia: B. Monfort, 1787.
21. Continuación de las Noticias Históricas de la Real Academia de Nobles Artes de San Carlos…
Valencia: B. Monfort, 1789. R. 26.
22. Continuación de las Actas de la Real Academia de Nobles Artes de San Carlos y Relación de
Premios… Valencia: Benito Monfort, 1792
23. Continuación de las Actas de la Real Academia de Nobles Artes de San Carlos… Valencia: B.
Monfort, 1796.
24. Continuación de las Actas de la Real Academia de Nobles Artes de San Carlos… Valencia: B.
Monfort, 1799.
25. Actas de la Academia… Valencia: B. Monfort, 1802.
26. Estatutos… Valencia: B. Monfort, 1809
27. Discurso que… en la Real Academia Nacional de Nobles Artes de Valencia dixo… D. Mateo
Valdemoros... Jefe Político de la Patria… Valencia: B. Monfort, 1813. R. 2990.
28. Colección de Reales Órdenes comunicadas a la RASC desde el año de 1770 hasta el de 1828.
Valencia: En la Imprenta de B Monfort, 1828. R. 1893.
29. Estatutos… Valencia: B. Monfort, 1828. R. 2989.
C/ IMPRESOS DE BENITO MONFORT PARA LA REAL ACADEMIA DE SAN CARLOS EXISTENTES
EN LA BIBLIOTECA HISTÓRICA DE LA UNIVERSIDAD DE VALENCIA.
30. Estatutos de la Real Academia de S. Carlos… Valencia: B. Monfort, 1768.
31. Noticia Histórica de los Principios, Progreso y erección de la Real Academia de las Nobles Artes de
S. Carlos… y Relación de Premios… Valencia: B. Monfort, 1773.
32. Canción Real que leyó en la Junta Pública de la Real Academia de S. Carlos… D. Pedro de Silva….
Valencia: B. Monfort, 1777.
33. Continuación de la Noticia Histórica de la Real Academia de Nobles Artes de S. Carlos … Valencia:
B. Monfort, 1781.
34. Continuación de la Noticia Histórica de la Real Academia de Nobles Artes de S. Carlos… Valencia
B. Monfort, 1784.
35. Continuación de las Actas de la Real Academia de S. Carlos… y Relación de los Premios…
Valencia: B. Monfort, 1786.
36. Continuación de las Actas de la Real Academia de S. Carlos... y Relación de los Premios… Valencia:
B. Monfort, 1789.
37. Constituciones para el Gobierno de la Junta de Comisión de Arquitectura de la Real Academia de
S. Carlos… Valencia: B. Monfort, 1791.

335
38. Continuación de las Actas de la Real Academia de Nobles Artes… Valencia: B. Monfort, 1792.
39. Continuación de las Actas de la Real Academia… y Relación de los Premios… Valencia: B. Monfort,
1796.
40. Continuación de las Actas de la Real Academia… y Relación del os Premios… Valencia: B. Monfort,
1799.
41. Colección de Reales Órdenes comunicadas a la Real Academia de San Carlos desde el año de
1770 hasta el de 1808… Valencia: B. Monfort, 1809.
42. Estatutos de la Real Academia de S. Carlos… Valencia: B. Monfort, 1809.
43. Discurso que el dia 26 Sept. 1813 dixo en la Academia Nacional de Nobles Artes… al tomar
posesión de la Presidencia de este Ilustre Cuerpo…D. Mateo Valdemoros… Valencia: B. Monfort, 1813

8. Filigranas y origen del papel estudiado

Debido a la calidad de los papeles utilizados en la Academia desde sus inicios, su conservación
es excelente y las filigranas reflejan la procedencia de diferentes molinos papeleros catalanes y
valencianos. Las fechas de impresión de los 14 documentos académicos conservados en la Biblioteca
del Palacio de Dos Aguas oscilan entre 1777 a 1812. En general, se trata de las Actas de las Juntas
y Relación de Premios anuales de la Corporación, que imprimía Benito Monfort, con excelente papel
verjurado y magníficos grabados calcográficos realizados por su hermano Manuel. Estos impresos
se remitían a las Reales Academias de San Fernando, de la Lengua, de la Historia de Madrid y más
adelante a las de Bellas Artes de San Jorge de Barcelona, San Luis de Zaragoza, etc. - a medida que
se iban creando - y a las Instituciones más prestigiosas locales, nacionales y del extranjero, con las
que se estableció desde el inicio una colaboración de intercambio bibliotecario, que en ocasiones aún
perdura, y enriqueció los fondos de la Biblioteca.

Las fechas de las 13 ediciones del Archivo de la Academia oscilan entre 1768 los Estatutos del año de
su fundación y 1828 la Colección de Reales Órdenes. El papel de las primeras impresiones es muy
grueso, tosco, con la pasta mal repartida, más adelante se utiliza un papel más fino y regular, de mayor
calidad. La conservación ha dependido de los avatares de la Biblioteca y de los almacenes de la Real
Academia: inundaciones, restos de barro o tarquín, manchas de humedad y exceso de temperatura,
foxing, lepisma sacharina en algún caso. Pero en general están bien conservados.

Por último, los ejemplares conservados en la Biblioteca Histórica de la Universidad se inician con los
primeros Estatutos de 1768, recién creada la Academia, y abarcan hasta 1813, con el Discurso del Sr.
Valdemoros, en su toma de posesión de la Presidencia de este Ilustre cuerpo como Jefe Político de
Valencia.

Se ha realizado una búsqueda exhaustiva en cada ejemplar de cada edición en los tres archivos,
puesto que el papel puede variar de un impreso a otro. En total se han examinado 74 impresos con

336
el resultado de 61 filigranas diferentes, que se han estructurado en XV grupos tipológicos siguiendo a
Briquet.

Examinados los documentos impresos por Benito Monfort para la Real Academia entre los años 1768
y 1833, incluidos en las tres bibliotecas y arriba relacionados, hemos encontrado numerosas filigranas
que a continuación se describen. Advertimos que de los 43 títulos analizados se multiplican por varias
cifras al existir varios ejemplares de cada uno, al ser usual la utilización de diferentes marcas de papel
en un documento impreso o en varias tiradas del mismo para cada impresión. Como la Academia era la
entidad editora, se ha quedado con numerosos restos de serie sin encuadernar, con guardas de papel
jaspeado valenciano. Se han localizado XV tipos y 61 filigranas. Por supuesto que se repiten en varios
documentos las mismas filigranas. El criterio ha sido incluir variaciones, aunque sean ligeras. Se han
dibujado a mano alzada a tamaño natural con un negatoscopio. Las marcas papeleras o contramarcas
a veces acompañan directamente la filigrana, y en otros casos están bastante separadas. Las hemos
incluido también para asociar mejor su imagen con fabricante, aunque en general se han reseñado
además en el apartado de Letras.

MÉTODO DE TRABAJO

Se han analizado meticulosamente todos los ejemplares con resultado satisfactorio. Hemos utilizado
una lámina de luz, un negatoscopio y papel vegetal, copiando a mano las filigranas con lápiz, respetando
el tamaño real de la misma en las copias que aportamos. También hemos encargado reprografía de
filigranas en los documentos de la Universidad.

ESTUDIO DE LAS FILIGRANAS. Incluimos 61 filigranas, aunque hemos desestimado varias por
su defectuosa forma e identificación. Se han clasificado según Briquet en los siguientes tipos,
ordenados alfabéticamente.

I CABALLO

El caballo es una filigrana frecuente en papeles italianos y españoles, sobre todo en el siglo XVIII. En
el papel de la Real Academia aparecen numerosas filigranas con caballo, y se trata de papeles de gran
calidad.

Fil. 1. Doc. 14. Fecha 1812. (R.31).

Esta filigrana procede de la fábrica de ANTONIO ABAD, ALCOY como señala la leyenda debajo del
caballo (guarda). Existen otras filigranas similares con el caballo, en la Academia, a nombre de Josef
Abad (1815) y de Juan Abad ((1810), todos de Alcoy, como podemos apreciar las fechas abarcan de
1802 a 1815.

337
II CABALLERO

Lo mismo que el caballo, es muy frecuente la filigrana del caballero con lanza, en papeles de calidad.

Fil. 2, 3. Doc. 13. Fecha 1802. (guarda) (R. 25)

Jinete a caballo con lanza y debajo la inscripción BARBAROSA (guarda). La filigrana del jinete con
lanza es muy frecuente en el Archivo de la Academia durante el s. XVIII. En general, se trata de
marcas de papel italiano: Santa de Acqua, CGB, Fabiani , etc. Sin embrago la fábrica Barbarosa de
Buñol (Valencia) es muy conocida en nuestra comarca y también presenta otras filigranas como el
escudo carmelita en 1817.

III CABALLERO Y T ORO

Fil. 4-5. Doc.1. Fecha 1777, 1781. Caballero con lanza y toro enfrente (guardas). Pudiera ser papel
italiano de Federico Fabiani o Nicolo Polieri.

IV CÍRCULOS

Los círculos, bien acompañados por cruz encima y letras o signos dentro, son filigranas muy utilizadas
en Europa desde el s. XIV.

Fil. 6,7. Doc. 4-5. Fecha 1789. R.26. Círculos rodeados con 4 racimos en los 4 lados y letras DRS
dentro. Fil. 8, Círculo con 3 racimos de uva alrededor y letras dentro, con otro círculo más pequeño
encima y coronado por un pájaro.

V CORAZON

Fil. 9. Corazón con cruz arriba y dos dragones enfrentados a cruz de S. Jorge. Letras debajo J
DARLAND. Doc. 13. Fecha 1813. R.31. No conocemos la procedencia de esta marca pero quizá
sea de origen holandés puesto que la Academia utilizaba papel de aquella nación por su excelente
calidad como la marca J. Honeg & Zoonen en 1808.

VI CORONA

Es una de las filigranas más variadas y frecuentes. Se usa desde el s. XIV y ha dejado su nombre a
un formato de papel.
Fil. 10,11 Doc. 1. Fecha, 1781. R.24. Corona con nombre TORTOSA. Coincide con la contramarca
MAS, hallada en el mismo documento y con el pago de la Real Academia de S. Carlos en 1776, a
Sebastián Mas por 33 resmas de papel de Tortosa. (Aldea 1997, p. 235)

338
VII ESCUDOS

Los escudos forman una familia de filigranas muy numerosa. Desde sus comienzos, las filigranas han
estado muy ligadas a la heráldica puesto que su finalidad es común, identificar al fabricante, a la marca
o a la ciudad con molino papelero.

Fil. 12, 15. Doc. 1. Fecha 1773, 1789 P CORT Y Cª ALCOY. Escudo coronado con doble flor de lis y
cruz, dentro de flor de lis doble. Debajo nombre del fabricante.
Fil 13,14. Doc. 27. Fecha 1809. Filigrana escudo cruz, racimo y letras J. R. ALCOY, Fabricante de
José Reigo, de Alcoy. La industria papelera alcoyana adquiere su mayor prestigio en el s. XIX en el que
cuenta con 33 molinos dedicados a elaborar papel blanco, entre ellos: Fco Abad; P. Cort y Cia, etc.
Fil. 16. Doc. 9. Fecha 1775, 1776, 1802. . R.28. Escudo coronado con 4 barras de Aragón y nombre
JAUME PERTEGAS. El molino de Jaume Pertegas suele estar representado por la filigrana con la
Custodia (1781-1783) y está acompañado por la inscripción La Senia o Cenia, que indica el lugar
perteneciente al partido judicial de Tortosa. Otras veces aparece Jaime Pertegas o Partegas con un
Sol encima, fil. 59. (1781). Está ampliamente documentada la compra de papel procedente de Tortosa
en la Academia.
Fil 17. Doc. 10. Fecha 1799 Escudo coronado doble flor lis debajo Dr. ML GUINOT FANZARA. La
Academia se ha surtido del molino del Dr. Manuel Guinot en Fanzara, municipio perteneciente a
Lucena del Cid, bañado por el río Mijares, como señalan los pagos de papel.
Fil 18. Doc.9. Fecha 1796. Escudo doble círculo con flor de lis Lzo BARBAROSA, BUÑOL. La capital de
la de la comarca de la Hoya de Buñol, situada junto al rio Buñol, ha tenido desde antiguo una importante
industria papelera, a lo que ha contribuido la abundancia de manantiales, fuentes y riachuelos en su
entorno.
Fil. 19-24. Doc. 8-9. Fecha 1773, 1795, 1796, 1798. R.28. Doc. 10-11. Fecha 1799. Fil. 25-26. Doc.
13. Escudos de FARRERAS con el nombre inserto en dos círculos adornados con bolas alrededor y
coronado por flor cuatrilobuladade doble trazo o cruz. Algunos con la contramarca FARS o FARRERAS
aparte. Papel de buena calidad muy utilizado por la Academia desde sus inicios, procede de un molino
de papel fino blanco de Capellades, propiedad de Francisco Ferreras.
Fil. 27-28. Doc.9 Fecha 1792. Escudo coronado con casco, cimera y peto. En el interior torre y animal
rampante. Debajo D. JOAQn OSCA ONTEN. El papelero de Onteniente Joaquin Osca se hizo muy
famoso en el último cuarto del s. XVIII, aunque su escudo no parece demasiado claro en las filigrana.
Este papelero continuó fabricando hasta 1841.
FIL. 29-34. Escudos de VALLDEXPISTO. Doc.19. Fecha 1784. Doc. 21 Fecha 1789 - Doc. 22.
Fecha 1792. - Doc. 24. Fecha 1799. Contramarcas. Doc. 21-22 Fechas 1789, 1792. Escudos de la
Cartuja de Valldecristo partido, con armas de Aragón y Sicilia – cuarteladas en sautor- palos de Aragón
y águilas de Sicilia – recuerdo de los Duques Señores de Segorbe. Debajo en algunos la inscripción
VALDEXPISTO incorporada y en otros separada como contramarca. En 1593 ya está documentado

339
un molino perteneciente a la Cartuja de Vall de Cristo. (Segorbe) Se ofrece la concesión del molino
de Jérica poco después de su fundación en 1385 y mantuvo pleitos por las aguas hasta 1765. Era un
molino papelero muy conocido con prestigio puesto que su papel se utilizaba habitualmente en los
archivos reales de la corona de Aragón. También la Academia emplea su papel impreso desde sus
comienzos debido a su calidad excelente y a su proximidad. Las filigranas de Valldecristo presentan
algunas variantes desde los escudos grandes y complejos con las armas de Aragón y Sicilia frecuentes
a mediados del siglo XVIII, hasta los más elementales con las 4 barras de Aragón y el nombre incluido
debajo, a finales de siglo. En el Archivo de la Academia ya lo utilizó Benito Monfort en 1768, año de
la fundación de la Academia y del nombramiento oficial de Monfort como impresor de la misma, en la
impresión de los primeros Estatutos.

VIII FLORERO

Fil. 35. Doc. 4-5 Fecha 1789. R.26. Florero con ramito de flores y marca CASABAN debajo.

IX LEÓN

Las filigranas que representan medio león son de origen italiano y se introdujeron en la Península en
el s. XIV.

Fil. 36-39. Cat. 4. Fecha 1789. R. 26. León con larga melena agazapado y con el nombre CARBO
debajo del brazo.

X LETRAS / XI MARCAS / NOMBRES

La familia de las filigranas formadas por letras, tanto aisladas como agrupadas es, según Valls “Tan
antigua como la historia de la filigranas”

Fil. 40. Doc. 14. Fecha 1812. Aº ABAD ALCOY. (guarda). El nombre aparece en la filigrana debajo del
caballo.
Fil. 41. BARBAROSA. Doc. 2. Fecha 1784. El nombre aparece debajo del Caballero armado.
Corresponde al fabricante Francisco Barbarosa de Buñol (Valencia).
Fil. 42. Doc. 6. Fecha 1784, 1792. BESEITE (La Senia o Cenia) (Tortosa)
Fil. 43. Doc. 4. Fecha 1789. CASABAN. El nombre aparece debajo de un florero
Fil. 44. Doc.1. Fecha 1773,1828, P CORT Y CIA ALCOY. Aparece debajo de un escudo con doble flor
de lis dentro y coronado con cruz.
Fil. 45. Doc.13. Fecha 1813 J DARLAND. Nombre situado debajo de escudo con corazón, dos leones
rampantes y cruz de S. Jorge
Fil. 46. Doc. 9 Fecha 1796. FARRERAS. Pertenece a Francisco Farreras de Segorbe.
Fil. 47. Doc. 12. Fecha 1799. FArs. Contramarca.

340
Fil. 48. Fco GUARRO. Doc. 2 Fecha 1784 (portada) Contramarca de la filigrana con la torre del fabricante
Francisco Guarro, fundador con Pedro Guarro del molino de “Pobla de Claramunt” en Capellades. Son
precedentes de la actual Casa Guarro, a la que Carlos III otorgó el privilegio de usar el escudo real en
su marca y a la fábrica el título de “Real” en el siglo XVIII.
Fil. 49. Doc. 14. Fecha 1812. MARTOll. En la guarda debajo de una palmera. Filigrana del fabricante
Martorell. Larruga (1789) da la noticia de una fábrica de papel blanco en la localidad de Rosell, partido
judicial de Morella, rio Cenia (Castellón).
Fil. 50. Doc. 1. Fecha 1777. JAIME MAS. Contramarca de Mas, Tortosa
Fil. 51. Doc. 4-5 Fecha 1789, 1796. Dn JOAqn OSCA ONTEN
Fil. 52. Doc. 13. Fecha 1802. JAIME PARTEGÁS. Filigrana con un Sol encima y Doc. 8. Fecha 1796.
Fabricante de Capellades.
Fil. 53. ROYO. Doc. 6 Fecha 1792. Contramarca (guarda) fabricante de Buñol. A veces aparece en
1773, a comienzos de su actividad.
Fil. 54. Doc. 7. Fecha 1792. VALDXPO. Contramarca. Fil. 52. Doc. 4. Fecha 1789. VALDXPO Debajo
del escudo. Molino de la Cartuja de Vall13.decristo, Segorbe
Fil. 55. Doc.13. Fecha 1828. ZANON debajo de palmera. Fabricante de Alborache localidad próxima
a Buñol.

XII MONTAÑA

La representación gráfica de los montes es muy variada en el campo de las filigranas. En este caso se
trata de Monserrat, representada con un monte y una sierra.

Fil. 56. Doc. 31 Fecha 1773 Montaña con sierra=Monserrat. (Cataluña) (guarda)

XIII PALMERA

Fil. 57. Doc. 14. Fecha 1812. R. 31. Filigrana Palmera con marca MARTOll debajo (guarda). Fabricante
MARTORELL en Rosell (Morella)
Fil. 58. Doc. 13. Fecha 1791,1828. Palmera con fabricante ZANON de Alborache, molino próximo a
Buñol.

XIV SOL

Fil. 59. Sol con JAIME PERTEGAS. Doc. 8-9. Fecha 1796. Doc. 13. Fecha 1802.

XV TORRE

Fil. 60. Doc. Fecha 1784, Torre. Fil. 61. Contramarca Fco. GUARRO. Filigranas de Francisco Guarro
de Pobla de Claramunt.

341
CONCLUSIONES

El resultado del meticuloso análisis de varios ejemplares impresos por Benito Monfort para la Real
Academia de San Carlos, entre 1768 y 1833 ha sido positivo en cuanto al hallazgo de 61 filigranas que
confirman la fecha y cuya procedencia se ha fijado en la mayoría de los casos.

Proceden de molinos españoles y de uso frecuente salvo alguna excepción como el escudo con
corazón y leones rampantes de J. Darland, probable papel holandés.

Abundan los de procedencia alcoyana como los fabricantes Aº Abad; P. Cort y Cia; José Reig y los de
Onteniente con José Osca. El papel de Buñol está bien representado con los fabricantes Barbarosa,
Lorenzo Barbarosa, Royo y Zanón, de Alborache. De Tortosa son numerosos los molinos Jaime Mas,
M Guinot, de Fanzara (Castellón). Jaime Partegas,o Pertegas de Cenia o La Senia. Lo molinos
catalanes están bien representados con Fco. Guarro de Pobla de Claramunt y papeles de Farreras de
Capellades. Hay una filigrana con papel de Monserrat. Destaca la permanencia y abundancia durante
el último tercio del s. XVIII de los papeles de la Cartuja de Valldecristo de Segorbe.

Las filigranas halladas en las guardas en impresos no encuadernados sí pueden determinan las fechas
por tratarse de restos de impresiones protegidos con guardas y papel valenciano jaspeado de la
época.

Esperamos que las filigranas fechadas del s. XVIII que aportamos ayuden a formar un corpus para
esclarecer el estudio de los papeles empleados por la Oficina de Benito Monfort, máxima figura en la
imprenta valenciana de 1768 a 1835, para la Real Academia de San Carlos.

342
ANEXOS

FIGURA 1

343
FIGURA 2

344
FIGURA 3

345
FIGURA 4

346
FIGURA 5

347
FIGURA 6

348
FIGURA 7

349
FIGURA 8

350
FIGURA 9

351
FIGURA 10

352
FIGURA 11

353
FIGURA 12

354
BIBLIOGRAFÍA

ALDEA, A. “Las filigranas en los documentos del Archivo de San Carlos”. En: Actas del II Congreso de
Hª del Papel en España. Cuenca, 1997, p. 233-268.
ALDEA, A. “Procedencia y trasiego del papel en la Real academia de San Carlos y nueva aportación
de filigranas su Archivo Histórico”. En: Actas del III Congreso Nacional de Historia del papel en España.
Bañeres 1999, p. 195-249.
BASANTA, J.L. Marcas de agua en documentos de los Archivos de Galicia siglo XVIII. 2vol. A Coruña.
2000.
BRIQUET, Ch.M. Les filigraines. Dictionnaire historique des marques du papier dès leur apparition vers
1282 jusq’en 1600. New York, 1966. 4 vols
DAHL, S. Historia del Libro. Madrid: Alianza, 1972.
GALLEGO, A. Historia del Grabado. Madrid: Cátedra, 1979.
GAYOSO I CARRERA, Historia del papel en España. Lugo, [1994]
RODRIGO ZARZOSA, C.” Las filigranas en las primeras impresiones de la Real Academia de San
Carlos de Valencia 1773-1833”. En: Actas del IV Congreso Nacional de Historia del Papel en España.
Córdoba 2001, p. 221-235.
RODRIGO ZARZOSA, C.”Adenda a las filigranas del s. XVIII en la Biblioteca de la Real Academia de
San Carlos. En: Actas del VI Congreso de Historia del Papel en España. Buñol, 2001, p. 265-301.
SERRANO MORALES. Reseña Histórica… de las Imprentas… Valencia: Impr. F. Domenech, 1898, p.
332-336.
VALLS I SUBIRÁ, O. Historia del papel en España. Madrid, 1970

355
MARCAS DE ÁGUA DE PAPEL OITOCENTISTAS NA CORRESPONDÊNCIA RECEBIDA DO
VISCONDE DE VILA MAIOR1

Ana Margarida Dias da Silva


Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra
Centro de História da Sociedade e da Cultura, Universidade de Coimbra
Centro de Ecologia Funcional, Universidade de Coimbra
anasilva@fl.uc.pt

RESUMO

Júlio Máximo de Oliveira Pimentel (1809-1884), 2º Visconde de Vila Maior, cientista, académico,
político, estabeleceu contactos diplomáticos, formais e informais, com mais de duas centenas de
correspondentes nacionais e estrangeiros. Entre a vasta documentação existente no seu arquivo utiliza-
se como fonte para o levantamento das marcas de água de papel a sua correspondência recebida,
situada grandemente na 2ª metade do séc. XIX, e que conta com 442 missivas. Complementa-se a
recolha das marcas de água com o contexto de produção, circulação e consumo do papel. Identificam-
se 237 marcas de água de papel, na sua maioria de fabricantes ingleses e franceses, pois é vastíssima
a correspondência europeia recebida pelo Visconde de Vila Maior, mas também de alguns fabricantes
portugueses. No final, apresenta-se um catálogo com a classificação das marcas de água (em classes,
subclasses e subgrupos) segundo o índice proposto pela International Association of Paper Historians.

PALAVRAS-CHAVE

Marca de Água, Papel, Classificação, Arquivo Pessoal, Júlio Máximo de Oliveira Pimentel

ABSTRACT

Júlio Máximo de Oliveira Pimentel (1809-1884), 2nd Viscount of Vila Maior, scientist, academic, politician,
established diplomatic, formal and informal contacts, with more than two hundred national and foreign
correspondents. Among the vast documentation in his archive, his correspondence received, located
largely in the second half of the 19th century, with 442 letters, is used as a source for the identification
of the paper watermarks. The work complements the collection of watermarks with the context of paper
production, circulation and its consumption. 237 paper watermarks are identified, mostly from English
and French manufacturers, because of the majority of European letters received by the Viscount of Vila

1 Este trabalho tem por base parte do trabalho apresentado no Seminário do Doutoramento em Ciência da Informação,
Seminários Interdisciplinares, no ano lectivo 2015-2016, orientado pela Professora Doutora Maria José Azevedo Santos e
pelo Professor Doutor Saul António Gomes.

357
Maior, but also from some Portuguese manufacturers. At the end, a catalog with the classification of
watermarks (in classes, subclasses and subgroups) is presented according to the index proposed by
the International Association of Paper Historians.

KEYWORDS

Water mark, Paper, Classification, Personal Archive, Júlio Máximo de Oliveira Pimentel

Introdução

“desculpe pelo papel mas não tinha outro”2

O post scriptum de José Joaquim Ferreira em carta enviada a Júlio Máximo de Oliveira Pimentel, com
data de dois de Novembro de 1880, expressa que “Escolhe-se o papel de que se gosta, aquele que
se acha mais adequado ao destinatário e à natureza da carta, enfim, aquele que há no mercado e se
pode comprar” (Santos 2002: 63).

Ao mesmo tempo, reflete para nós que associada à qualidade do papel, está a escolha da matéria
prima, o empenho do fabricante e a sensibilidade do comprador.

O papel, enquanto suporte material da escrita, prevalece, ainda nos dias de hoje, como suporte
fundamental de informação e integra o grosso de arquivos pessoais, privados e institucionais.

O contacto com esta matéria suporte no decurso das nossas funções enquanto arquivista levou-nos a
interesses diversos, em particular, o estudo das marcas de água de papel e daí a submissão de uma
proposta ao XII Congresso Internacional da História do Papel na Península Ibérica, a realizar em Santa
Maria da Feira entre 28 e 30 de Junho de 2017.

O trabalho que nos propomos realizar corresponde ao levantamento das marcas de água de papel
da correspondência recebida do Visconde de Vila Maior, cuja classificação (em classes, subclasses e
subgrupos) segue o índice proposto pela International Association of Paper Historians (IPH). Para isso,
num primeiro ponto, apresentamos uma pequena nota biográfica de Júlio Máximo de Oliveira Pimentel
(1809-1884), 2º Visconde de Vila Maior, para uma melhor compreensão do seu arquivo. Depois apresenta-
se a fonte selecionada para a recolha das marcas de água: a sua correspondência recebida. Por fim,
identificam-se as marcas de água de papel, confrontando sempre que possível com o seu contexto de
produção, de circulação e de consumo do papel, e apresenta-se o catálogo com a sua classificação.

2 Advertência feita por José Joaquim Ferreira, em post scriptum, na carta de pêsames pela morte do filho do Visconde, Emílio
(código de referência: PT-UC-FCT-BOT/VVM/A/01-10).

358
1. Júlio Máximo de Oliveira Pimentel (1809-1884), 2º Visconde de Vila Maior

Júlio Máximo de Oliveira Pimentel conta já com vasta bibliografia sobre a sua vida e obra3. “Homem de
ciência, cultura e ação”, como é tantas vezes apelidado, nasceu a 4 de Outubro de 1809 em Torre de
Moncorvo. Era filho de Luís Cláudio de Oliveira Pimentel, 1º Visconde de Vila Maior e sargento-mor da
referida vila, e de D. Angélica Teresa de Sousa Cardoso Pimentel. De destacar que era neto de João
Carlos de Oliveira Pimentel, cavaleiro da Ordem de Cristo, capitão-mor de Moncorvo, administrador-
geral dos tabacos e sabões nessa vila e donatário das barcas do Douro. Tal como os membros da
família, era um liberal que “representa de forma clara a nova era do Liberalismo, pois conjugou a sua
carreira de professor e de cientista com a atividade política e administrativa, com uma participação na
vida económica, com um forte envolvimento cívico e associativo” (Mota 2012: 248).

Casou com Sofia de Roure Auffdiener com quem teve dois filhos: Júlia e Emílio. Cursou Matemática
na Universidade de Coimbra tendo obtido o grau de bacharel a 16 de Junho de 1837. Notabilizou-se
na área da Química, quer como professor na Escola Politécnica de Lisboa, quer como cientista, tendo
alcançado do governo português uma bolsa, entre 1844 e 1846, para estudar química em Paris, onde
trabalhou no laboratório de Peligot.

Desempenhou diversos cargos públicos: foi vereador (1852-1853) e presidente (1858-1859) da


Câmara Municipal de Lisboa, deputado às Cortes por Lisboa em mais de uma legislatura e, depois de
lhe ter sido conferido o título de 2º Visconde Vila Maior em 1861, Par do Reino e presidente interino da
Câmara dos Pares.

Participou em várias exposições universais do século XIX. A primeira vez em 1855, onde integrou a
comissão central para a exposição de Paris, presidida pelo Marquês de Ficalho, tendo sido também
nomeado membro da comissão de estudo da mesma exposição. A segunda, sete anos depois, como
comissário português na Exposição Universal de Londres em 1862. Em 1867 e 1878, nesta com 69
anos, Júlio Máximo foi nomeado comissário régio nas Exposições Universais de Paris.

Teve ampla atividade associada à viticultura, à ampelografia e à enologia, entre outros aspectos da
problemática agrícola; de facto, destacou-se também pela sua produção científica e teórica sobre a
região do Douro, onde foi proprietário. É do seu punho, por exemplo, a obra “O Douro illustrado: album
do Rio Douro e paiz vinhateiro: introdução e memoria descriptiva”, de 1876.

Teve o mais longo reitorado na Universidade de Coimbra (1869-1884), no período da monarquia


constitucional, e foi o 1º reitor escolhido fora das Faculdades de Teologia, Cânones, Leis ou Direito. De

3 Vejam-se, entre outros, os 7 artigos publicados no número 3 da revista CEPIHS (Centro de Estudos e Promoção da Investigação
História e Social de Trás-os-Montes e Alto Douro), volume dedicado à personalidade de Júlio Máximo e que conta com um texto
introdutório intitulado “Visconde de Vila Maior: figura histórica de elevado capital simbólico-social na política e na ciência. Perfil
bio-biográfico” (p. 11-17) e uma galeria de imagens, com algumas fotografias de família (p. 123-124).

359
facto, depois de obter grau de bacharel em Matemática na Universidade de Coimbra, a sua carreira
académica desenvolve-se em Lisboa, como professor de Química na Escola Politécnica. Em 1878
escreveu “Exposição sucinta da organização actual da Universidade de Coimbra precedida de uma
breve noticia histórica d’este estabelecimento”, editada pela Imprensa da Universidade. Ao longo do
seu reitorado foi incumbido da reforma da instrução superior.

Faleceu no dia 20 de outubro de 1884 em Coimbra, no Colégio de S. Pedro, residência oficial dos
reitores e da família real em visita à Universidade.

O arquivo pessoal e familiar do 2º Visconde de Vila Maior foi tratado no âmbito do projeto n.º 138501
promovido pela Sociedade Broteriana da Universidade de Coimbra e financiado pela Fundação
Calouste Gulbenkian4.

Por razões que não conseguimos, ainda, apurar o seu arquivo e parte do arquivo da família Oliveira
Pimentel encontra-se no Arquivo de Botânica do Departamento das Ciências da Vida da Faculdade
de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra. Podemos adiantar uma hipótese, que nos
parece a mais plausível. Oliveira Pimentel morreu enquanto reitor da Universidade de Coimbra. Era
amigo de Júlio Henriques, Lente de Botânica e Director do Jardim Botânico da mesma Universidade.
Possivelmente, após a sua morte, Júlio Henriques terá ido buscar ao antigo colégio de S. Pedro,
a uma das alas do edifício, onde vivia o Visconde com a mulher, um escudeiro e duas criadas, a
documentação que a Viscondessa não levara consigo para Moncorvo, sua terra natal.

Foi nos seus arquivos pessoal e familiar, salvaguardados no Arquivo de Botânica do Departamento das
Ciências da Vida da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, que colhemos
as fontes para a realização do nosso trabalho. Entre a vasta documentação de tipologia diversa
existente no seu arquivo, foi selecionada a correspondência recebida por Júlio Máximo, num total de
442 missivas (cartas, postais, telegramas), de correspondentes nacionais e estrangeiros.

2. Apresentação da fonte: a correspondência recebida

Apropriamo-nos da expressão “Cartas não são papéis velhos” (Santos 2002: 61) para justificar a
escolha da correspondência recebida por Júlio Máximo de Oliveira Pimentel, como fonte material
privilegiada para a recolha das marcas de água de papel.

A correspondência pelas suas caraterísticas extrínsecas e intrínsecas, é fonte inesgotável de riqueza


informacional.

4 O trabalho de ordenação física e acondicionamento da documentação, de conservação e restauro, de organização intelectual


e descrição arquivística realizou-se entre 6 de Outubro de 2015 e 30 de Novembro de 2016. Sobre o arquivo do Visconde de
Vila Maior consultar a descrição arquivística on-line na plataforma Archeevo do Arquivo da Universidade de Coimbra: http://
pesquisa.auc.uc.pt/details?id=286505 e também Silva et al, 2016.

360
Desde logo, a matéria suporte sobre a qual se escreve (tabuinha, papiro, pergaminho, papel, etc.),
a matéria aparente com a qual se escreve (tinta) e a matéria instrumental com o que se escreve
(cálamos, penas, estiletes, giz, caneta, esferográfica, etc.) são reveladores, num primeiro contacto
com os documentos, das realidades social, económica e geográfica em que se encontram.

Depois, com maior pormenor, a leitura do conteúdo e a análise diplomática complementam a visão e
o enquadramento do estudo.

Essencialmente em formato in-4º (A4) e in-8º (A5), a correspondência foi, durante séculos, meio
primordial de transmissão e circulação de ideias e de conhecimento. Enquanto instrumento de
interlocução, a correspondência, pessoal ou institucional, formal ou informal, manuscrita ou impressa,
“torna presente pela escrita a voz ausente da palavra” (Araújo 2005: 120).

A escrita de correspondência tem regras, segue “um protocolo ajustado ao conteúdo da mensagem, ao
estatuto do remetente e posição destinatário” (Araújo 2005: 122); as cartas compõem-se de cláusulas
essenciais e cláusulas acessórias. As primeiras, fórmulas obrigatórias sem as quais não temos carta,
são o destinatário ou endereço, o autor e o texto. Esta tripartição do formulário das cartas mantem-se
hoje como ontem. As segundas, “dispensáveis” localizam no tempo e no espaço.

As cartas percorrem caminhos, encurtam distâncias e, como “Objecto de pequeno formato,


normalizado pela medida padrão de uma dobra de papel, a carta guarda e transporta o pensar e o
sentir de quem a escreve ou dita. Manifestação única de personalidade, vontade, sensibilidade e
inteligência, a carta particular, em especial, perpetua, através da ordem gráfica, a solene inscrição
de uma presença viva, perceptível tanto na plenitude da sua autografia alfabética, como, na
ausência dela, na marca ou sinal mercenário, feito a rogo, que cunha e autentica, de outro modo,
a sua autoria. Maleável, desdobrável e perecível, feita de papel – material suporte acessível e de
fácil manuseamento, cujo consumo se vulgariza nos tempos modernos –, a sua leveza suporta a
carregada inscrição da escrita, mancha escura, por vezes de uma tinta noz de galha, sobre pálida
folha de tons claros” (Araújo 2005: 120).

As missivas recebidas pelo Visconde espelham as relações estabelecidas com os seus contemporâneos,
nos diferentes cargos que desempenhou. Como já atrás ficou dito, a correspondência que tratámos
é, grosso modo, relacionada com as atividades profissionais e políticas de Oliveira Pimentel, estando
arredados os assuntos mais pessoais, familiares, íntimos ou amorosos. Também por causa das
funções desempenhadas, a correspondência engloba missivas de Portugal e da Europa, escritas em
português, castelhano, francês, inglês, italiano, alemão e latim. O maior número de cartas recebe-
as enquanto comissário régio à Exposição de Londres em 1862 (155) e, no mesmo cargo, mas na
Exposição de Paris de 1878 (183), numa troca de missivas quase diária.

361
Relativamente aos autores das missivas, contam-se 252 correspondentes, nacionais e estrangeiros,
grande parte de renome e gente letrada. Encontramos políticos, deputados e ministros do
Reino, viscondes e barões, cientistas, professores e lentes, artistas e jornalistas, comerciantes
e negociantes. Contam-se apenas 3 mulheres entre os autores dos textos: da Viscondessa um
telegrama não datado, mas que não é um autógrafo (PT-UC-FCT-BOT/VVM/A/01-19), de Maria
Amália uma carta por causa de questões relacionadas com a morte do tio (PT-UC-FCT-BOT/
VVM/C/033), e da condessa de Zurpind(?) uma carta com data de 20 de Setembro de 1878, em
que diz que mantem relações com Portugal por parte do seu tio, comendador da Gama Machado,
grande colecionador que legou obras de arte ao duque do Porto e a sua biblioteca ao Museu de
Coimbra (PT-UC-FCT-BOT/VVM/P/01-66).

António Augusto de Aguiar e Rodrigo de Morais Soares são os dois correspondentes que têm o maior
número de cartas: 26 e 17, respetivamente. O primeiro escreve ao Visconde por ocasião da Exposição
Universal de Paris de 1878. Aliás, todas as cartas são desse período em que António Augusto de
Aguiar foi comissário técnico da secção industrial portuguesa, por nomeação do governo.

Esta universalidade da pessoa de Júlio Máximo Oliveira Pimentel, de que a sua correspondência
recebida é vivo exemplo, reflete-se necessariamente na materialidade do suporte papel. Considerámos,
por isso, que era a fonte privilegiada que nos permitia associar marcas de água a fabricantes de papel,
nacionais e estrangeiros, e perceber consumos de papel, sobretudo durante as exposições universais
de Londres (1862) e Paris (1878).

3. Marcas de água de papel identificadas

O objectivo do nosso trabalho, como se disse, foi identificar as marcas de água de papel existentes na
correspondência recebida do Visconde de Vila Maior5 e, por isso, considerámos da maior relevância
o enquadramento feito no ponto anterior porque, “De facto, não podemos esquecer que o estudo das
marcas de água, embora com particularidades específicas a nível regional, terá de ser enquadrado
num âmbito europeu, face à intensa circulação do papel pelo mundo ocidental, desde que, no século
XIII, este novo suporte de escrita, vencendo progressivamente as naturais resistências, substituiu
o pergaminho.” (Santos 2014: 2). A multiplicidade de funções desempenhadas por Júlio Máximo de
Oliveira Pimentel, sobretudo as diplomáticas associadas às várias exposições universais em que
esteve empenhado, refletem-se na fonte escolhida.

A marca de água ou marca d’água é um desenho ou inscrição, uma “representação numa folha de papel,
visível em contraluz, resultante de uma menor acumulação de fibras nos espaços correspondentes à
filigrana, ocasionando assim áreas de uma maior transparência. Constitui, geralmente, uma marca do

5 É nosso objetivo fazer um estudo mais exaustivo de todas as marcas de água existentes no arquivo de Júlio Máximo de
Oliveira Pimentel. Aqui limitamo-nos a indicar aquelas identificadas na sua correspondência recebida.

362
fabricante. O seu estudo pode permitir identificar o fabricante do papel (ou o moinho ou a fábrica) e
datar aproximadamente (ou mesmo com rigor) o seu fabrico” (Santos 2015: 107).

O conjunto documental que nos propomos tratar está devidamente datado, ocupando grosso modo a
2ª metade do séc. XIX. O papel das missivas é de boa qualidade, principalmente de origem estrangeira,
e a identificação das marcas de água ajuda-nos a reconhecer os fabricantes da época, nacionais e
estrangeiros, pois é vastíssima a correspondência europeia recebida pelo Visconde de Vila Maior.

Foi possível identificar 237 marcas de água, essencialmente de fabricantes ingleses e franceses, mas
também de alguns portugueses. A explicitação de autoria remonta ao século XIV, quando as marcas
de água “tornam-se mais significativas e personalizadas, através da referência ao local do moinho
produtor, às iniciais, ou mesmo ao nome, do fabricante” (Santos 2014: 3).

Júlio Máximo de Oliveira Pimentel, como atrás ficou dito, foi comissário régio nas exposições
internacionais de Londres (1862) e Paris (1867 e 1878) e, portanto, é em grande número a
correspondência proveniente destas duas capitais. Logo, o papel que encontramos é de fabrico inglês
e francês, como se verifica na Tabela 1 abaixo.

São 29 as marcas de água portuguesas identificadas na correspondência. Uma minoria no conjunto


global, o que mais uma vez demonstra a universalidade da correspondência recebida pelo Visconde de
Vila Maior. Estão representadas as fábricas papeleiras de Peso Abelheira6, da Lousã e de Tomar, esta
última da Fábrica de Papel do Prado: “Almasso Prado Thomar” e “Almasso Prado”. A recolha realizada
permite verificar que o papel da Lousã era utilizado em Bragança e em Lisboa, o que demonstra
uma nova visão capitalista e comercial da fábrica, em contraponto ao pequeno e primitivo moinho de
fabrico local de papel. O papel da Lousã também aparece em carta de Sintra e o de Peso-Abelheira-
Tojal em várias cartas de Lisboa. A introdução da data tópica na classificação das marcas de água foi
determinante para uma melhor compreensão da circulação do papel desde a origem de produção ao
consumidor/utilizador final.

A elevada concorrência entre produtores de papel, que aumenta progressivamente ao longo dos
séculos desde a invenção da imprensa no séc. XV e a crescente procura pelo papel faz com que
“A marca de água passa a ser acompanhada por um conjunto de elementos informativos, desde a
qualidade do papel à identificação do lugar ou região onde se localizava a unidade papeleira e à
identificação do nome do fabricante produtor” (Santos 2014: 3). Foi a partir de meados do séc. XVII
que os fabricantes passaram também a inserir a referência ao ano de fabrico do papel na composição
da marca de água. Nas marcas de água da coleção em estudo, os fabricantes C Ansell, C Wilmot,
Joynson, E TOWGOOD, J & J H Turkey Mill, J Allen’s, J Whatman, T H SAUNDERS & Cº, W D Wells,

6 A Fábrica da Abelheira terá sido a primeira a introduzir a máquina de papel contínuo (1841) em Portugal (cf. Carreira 2012: 51).

363
associam o seu nome à data de fabrico de papel. É curioso verificar que as cartas recebidas durante
o comissariado na Exposição de Londres de 1862 têm predominantemente as datas de 1861-1862, o
que significa que o papel era fabricado e “consumido” quase no mesmo ano; o mesmo se verificando
com o papel utilizado nas missivas da Exposição Internacional de Paris 1878. Pelo contrário, o papel da
Lousã, com data de 1842, é utilizado em 1846 em ofício da Comissão Eleitoral de Bragança. A datação
do papel e a colocação dessa informação em marca de água ou contramarca permite “estabelecer
o período cronológico de produção desse mesmo papel e, a partir do século XVIII, seguindo uma
tendência que já se prefigura desde meados do século XVII, poder-se-á localizar, com rigor, o ano de
produção, uma vez que este aparece, frequentemente, assinalado na própria marca de água.” (Santos
2014: 3). Confirma-se esta afirmação no trabalho realizado.

O fabricante W D Wells tem a data mais antiga do lote - 1822 - e a mais recente é do fabricante J & J
H de 1864.

No conjunto de marcas de água identificadas predominam os “Nomes e Palavras (palavras completas


ou abreviadas e frases)” dos fabricantes de papel, logo, não há lugar a interpretações de símbolos que
os fabricantes utilizavam na personalização do seu papel.

Sempre que presente, foi recolhida também a contramarca que “constitui uma informação complementar,
figurando geralmente, e daí o seu nome, no outro lado da folha, em simetria com a marca de água”
(Santos 2014: 4). Na maior parte das vezes, a contramarca contém palavras, siglas, iniciais ou
monogramas dos nomes ou sobrenomes dos fabricantes de papel. Por exemplo, no conjunto em
estudo, aparecem as iniciais “A C S” de “A Cowan & Sons”, “A P S” de A Pine & Sons, “G M” de Giorgio
Magnani, entre outros.

A recolha das imagens foi feita através de registo fotográfico digital.

364
Tabela 1 - Marcas de água na correspondência recebida do Visconde de Vila Maior
A Cowan & Sons 1 J & T H 1863 1
A Pine & Sons 1 J & T H 1864 1
ALMASSO 1 J + Escudo coroado com corneta no interior 2
Almasso Louzãa + coroa de louros 1 J Allen’s Super Fine 1862 2
Almasso Prado 1 J Whatman 1861 1
Almasso Prado Thomar + coroa de lou-
ros 3 Joynson 1860 1
Almasso Tavares & Filhos Thomar 2 Joynson 1861 2
Almasso Thomar J. Tavares B. 2 Joynson 1863 4
Almasso Tojal 3 Joynsons Improved Extra 1
Baskerville Vellum Wove 1 Joyson Super 1
BFK (Blanchet Fres & Kléber) Rives 8 Lacroix Frères 39
C Ansel 1836 1 L-JDL & Cº 29
C Ansell 1850 1 London 1
C Ansell 1861 1 Louzã 1842 - coroa de louro 1

C Wilmot 1835 - brasão com instrumen-


to musical e monograma C M 1 Louzãa - J Gdo Lemos 1
Delta Mill Extra Super 2 Original Turkey Mill Kent 18
E TOWGOOD 1858 3 P e F(?) 1
E TOWGOOD 1862 1 Pezo Abelheira 1

Escudo coroado com mulher alegórica 2 Pezo Abelheira Tojal 11


& G(?) H 1862 1 Schleicher & Schüll Super Fine 1

Escudo coroado com corneta no centro


+H 1 Super Fine 1862 1
Fourd 1 T H SAUNDERS & Cº 1846 1

THESOURO PUBLICO escudo com armas reais portu-


ilegível 5 guesas P DE BRANDÃO 1860 - 1 no canto inferior direito 1
Imperial Treasury de la rue 2 Thomar 41 1

J & J H 1861 + medalhão coroado com


cavaleiro dentro 1 Towgood 1858 1
J & J H 1862 3 Towgood’s Extra Super 4
J & J H Turkey Mill 1862 1 Treasury 2
J&JH 6 Treasury com monograma 13
J & T H 1860 1 truncadas 3
J & J H 1861 2 W D Wells 1822 1

365
4. Apresentação do catálogo das marcas de água

O catálogo abaixo segue a classificação das marcas de água segundo o índice proposto pela
International Association of Paper Historians (IHP). Completou-se a informação em classes, subclasses
e subgrupos; a data corresponde à data do documento, a que associou a data tópica; o código de
referência remete para a descrição arquivística cujo objecto digital se encontra na plataforma Archeevo
do Arquivo da Universidade de Coimbra através do link:

http://pesquisa.auc.uc.pt/details?id=286505

O catálogo segue uma ordenação alfabética de A a Z uma vez que a quase totalidade das marcas
de água recolhidas se inserem na classe “Nomes, Palavras”; dentro da mesma letra, segue-se a
ordenação cronológica.

Catálogo das marcas de água oitocentistas da correspondência recebida do Visconde de Vila


Maior

Marca de água: A Cowan & Sons Patent 1862


Classe: Nomes; Palavras
Subclasse: Nomes (palavras completas ou abreviadas e frases)
por ordem alfabética
Subgrupo: Nomes iniciados pela letra “A”
Data: 1862, Londres
Código de referência: PT-UC-FCT-BOT/VVM/L/01-08

Marca de água: A P S (A Pine & Sons) Super Fine


Classe: Nomes; Palavras
Subclasse: Nomes (palavras completas ou abreviadas e frases)
por ordem alfabética
Subgrupo: Nomes iniciados pela letra “A”
Data: 1862-04-16, Londres
Código de referência: PT-UC-FCT-BOT/VVM/L/01-40

366
Marca de água: Almasso Louzãa + coroa de louros
Classe: Nomes; Palavras
Subclasse: Nomes (palavras completas ou abreviadas e frases) por
ordem alfabética
Subgrupo: Nomes iniciados pela letra “A”
Data: 1852-08-21, Lisboa
Código de referência: PT-UC-FCT-BOT/VVM/E/13-05

Marca de água: Almasso Prado Thomar + coroa de louros


Classe: Nomes; Palavras
Subclasse: Nomes (palavras completas ou abreviadas e frases)
por ordem alfabética
Subgrupo: Nomes iniciados pela letra “A”
Data:
Código de referência:

Marca de água: Almasso Thomar J. Tavares B.


Classe: Nomes; Palavras
Subclasse: Nomes (palavras completas ou abreviadas e frases)
por ordem alfabética
Subgrupo: Nomes iniciados pela letra “A”
Data: 1851-06-23, Lisboa; 1854-02-27, Lisboa; 1856-10-03, Lis-
boa; 1856-11-04, Lisboa
Código de referência: PT-UC-FCT-BOT/VVM/F/04-02; PT-UC-
FCT-BOT/VVM/E/04-05A; PT-UC-FCT-BOT/VVM/E/04-08; PT-
-UC-FCT-BOT/VVM/E/04-12

367
Marca de água: Almasso Tojal
Classe: Nomes; Palavras
Subclasse: Nomes (palavras completas ou abreviadas e frases)
por ordem alfabética
Subgrupo: Nomes iniciados pela letra “A”
Data: 1857-09-29, Lisboa; 1859-09-30, Lisboa
Código de referência: PT-UC-FCT-BOT/VVM/E/13-00; PT-UC-
FCT-BOT/VVM/E/04-15

Marca de água: Baskerville Vellum Wove


Classe: Nomes; Palavras
Subclasse: Nomes (palavras completas ou abreviadas e frases)
por ordem alfabética
Subgrupo: Nomes iniciados pela letra “B”
Data: 1878-12-26; São Petersburgo, Rússia
Código de referência: PT-UC-FCT-BOT/VVM/P/01-129

Marca de água: C Ansell 1850


Classe: Nomes; Palavras
Subclasse: Nomes (palavras completas ou abreviadas e frases)
por ordem alfabética
Subgrupo: Nomes iniciados pela letra “C”
Data: 1852-02-16, Lisboa
Código de referência: PT-UC-FCT-BOT/VVM/G/01-01

368
Marca de água: C Ansell 1862
Classe: Nomes; Palavras
Subclasse: Nomes (palavras completas ou abreviadas e frases)
por ordem alfabética
Subgrupo: Nomes iniciados pela letra “C”
Data: 1862, Londres; 1862, Londres; 1862-09-23, Londres
Código de referência: PT-UC-FCT-BOT/VVM/L/01-04; PT-UC-
FCT-BOT/VVM/L/01-09; PT-UC-FCT-BOT/VVM/L/01-149

Marca de água: Delta Mill Extra Super


Classe: Nomes; Palavras
Subclasse: Nomes (palavras completas ou abreviadas e frases)
por ordem alfabética
Subgrupo: Nomes iniciados pela letra “D”
Data:1879-02-18; Versailles, França
Código de referência: PT-UC-FCT-BOT/VVM/P/01-159

Marca de água: Escudo coroado com corneta no centro + A C S


Classe: Heráldica; Escudos; Marcas de Canteiro ou de Comércio
/ Monogramas; Abreviaturas com Letras
Subclasse: Escudo, brasão / Monogramas, abreviaturas com le-
tras
Subgrupo: Escudo (brasão) não identificado / Monogramas,
abreviaturas com letras (no geral)
Data: 1862-08-01, Londres; 1862-08-21, Manchester, Inglaterra
Código de referência: PT-UC-FCT-BOT/VVM/L/01-124; PT-UC-
FCT-BOT/VVM/L/01-136

369
Marca de água: Fourd
Classe: Nomes; Palavras
Subclasse: Nomes (palavras completas ou abreviadas e frases)
por ordem alfabética
Subgrupo: Nomes iniciados pela letra “F”
Data: 1878-10-28; Oxford, Londres
Código de referência: PT-UC-FCT-BOT/VVM/P/01-94

Marca de água: G M [Giorgio Magnani] + Escudo, brasão


Classe: Monogramas; Abreviaturas com Letras / Heráldica; Escu-
dos; Marcas de Canteiro ou de Comércio
Subclasse: Monogramas, abreviaturas com letras / Escudo, bra-
são
Subgrupo: Monogramas, abreviaturas com letras (no geral) / Es-
cudo (brasão) não identificado
Data: 1856-04-22, Lisboa
Código de referência: PT-UC-FCT-BOT/VVM/E/04-10

Marca de água: Imperial Treasury de la rue


Classe: Nomes; Palavras
Subclasse: Nomes (palavras completas ou abreviadas e fra-
ses) por ordem alfabética
Subgrupo: Nomes iniciados pela letra “I”
Data: 1878-06-16
Código de referência: PT-UC-FCT-BOT/VVM/P/01-26

370
Marca de água: J & J H 1858 + Escudo com mulher alegórica

Classe: Monogramas; Abreviaturas com Letras / Mulheres


Subclasse: Monogramas; Abreviaturas com Letras / Mulher
(cargo; política)
Subgrupo: Monogramas, abreviaturas com letras (no geral) /
Mulher alegórica; Britânia
Data: 1862-09-29, Edimburgo, Escócia
Código de referência: PT-UC-FCT-BOT/VVM/L/01-150

Marca de água: J & J H 1861 + Escudo com mulher alegórica


Classe: Monogramas; Abreviaturas com Letras / Mulheres
Subclasse: Monogramas; Abreviaturas com Letras / Mulher
(cargo; política)
Subgrupo: Monogramas, abreviaturas com letras (no geral) /
Mulher alegórica; Britânia
Data: 1862, Londres
Código de referência: PT-UC-FCT-BOT/VVM/L/01-12

371
Marca de água: J & J H 1862
Classe: Monogramas; Abreviaturas com Letras
Subclasse: Monogramas; Abreviaturas com Letras
Subgrupo: Monogramas, abreviaturas com letras (no geral)
Data: 1862-05-10, Londres; 1862-05-19, Londres
Código de referência: PT-UC-FCT-BOT/VVM/L/01-62; PT-
-UC-FCT-BOT/VVM/L/01-69

Marca de água: J & J H Turkey Mill 1862


Classe: Monogramas; Abreviaturas com Letras
Subclasse: Monogramas; Abreviaturas com Letras
Subgrupo: Monogramas, abreviaturas com letras (no geral)
Data: 1862-05-23, Londres
Código de referência: PT-UC-FCT-BOT/VVM/L/01-74

Marca de água: J & J H Super Fine


Classe: Monogramas; Abreviaturas com Letras
Subclasse: Monogramas; Abreviaturas com Letras
Subgrupo: Monogramas, abreviaturas com letras (no geral)
Data: 1862-09, Londres
Código de referência: PT-UC-FCT-BOT/VVM/L/01-144

372
Marca de água: Escudo coroado com corneta no interior + H
Classe: Heráldica; Escudos / Instrumentos musicais
Subclasse: Escudo, brasão / Corneta
Subgrupo: Escudo (brasão) não identificado / Corneta com cor-
da
Data: 1862-08-07, Londres
Código de referência: PT-UC-FCT-BOT/VVM/L/01-128

Marca de água: Escudo coroado com corneta no interior + J


Classe: Heráldica; Escudos / Instrumentos musicais
Subclasse: Escudo, brasão / Corneta
Subgrupo: Escudo (brasão) não identificado / Corneta com cor-
da
Data: 1862-06-04, Londres
Código de referência: PT-UC-FCT-BOT/VVM/L/01-86

Marca de água: J Allen’s Super Fine 1862


Classe: Nomes; Palavras
Subclasse: Nomes (palavras completas ou abreviadas e fra-
ses) por ordem alfabética
Subgrupo: Nomes iniciados pela letra “J”
Data: 1862-04-01, Londres
Código de referência: PT-UC-FCT-BOT/VVM/L/01-27

373
Marca de água: John Smith Sunny Dale
Classe: Nomes; Palavras
Subclasse: Nomes (palavras completas ou abreviadas e fra-
ses) por ordem alfabética
Subgrupo: Nomes iniciados pela letra “J”
Data: 1857-01-09, Lisboa
Código de referência: PT-UC-FCT-BOT/VVM/E/04-12A

Marca de água: Joynson 1862


Classe: Nomes; Palavras
Subclasse: Nomes (palavras completas ou abreviadas e fra-
ses) por ordem alfabética
Subgrupo: Nomes iniciados pela letra “J”
Data: 1862-08-09, Londres; 1862-10-07, Londres
Código de referência: PT-UC-FCT-BOT/VVM/L/01-132A;
PT-UC-FCT-BOT/VVM/L/01-154

Marca de água: Joynson 1872


Classe: Nomes; Palavras
Subclasse: Nomes (palavras completas ou abreviadas e fra-
ses) por ordem alfabética
Subgrupo: Nomes iniciados pela letra “J”
Data: 1973-03-29, Lisboa
Código de referência: PT-UC-FCT-BOT/VVM/K/02-09

374
Marca de água: L A + F [Lacroix Frères]
Classe: Monogramas; Abreviaturas com Letras
Subclasse: Monogramas; Abreviaturas com Letras
Subgrupo: Monogramas, abreviaturas com letras (no geral)
Data: 1878-10; Paris
Código de referência: PT-UC-FCT-BOT/VVM/P/01-75

Marca de água: Lacroix Frères


Classe: Nomes; Palavras
Subclasse: Nomes (palavras completas ou abreviadas e fra-
ses) por ordem alfabética
Subgrupo: Nomes iniciados pela letra “L”
Data: 1878-01-02, Paris
Código de referência: PT-UC-FCT-BOT/VVM/P/01-03

Marca de água: L-JDL & Cº


Classe: Monogramas; Abreviaturas com Letras
Subclasse: Monogramas; Abreviaturas com Letras
Subgrupo: Monogramas, abreviaturas com letras (no geral)
Data: 1878-04-11; Coimbra
Código de referência: PT-UC-FCT-BOT/VVM/O/01-12ª

375
Marca de água: Louzãa 1842
Classe: Nomes; Palavras
Subclasse: Nomes (palavras completas ou abreviadas e fra-
ses) por ordem alfabética
Subgrupo: Nomes iniciados pela letra “L”
Data: 1846-09-19, Bragança
Código de referência: PT-UC-FCT-BOT/VVM/C/01-01

Marca de água: Louzãa + flor


Classe: Nomes; Palavras
Subclasse: Nomes (palavras completas ou abreviadas e fra-
ses) por ordem alfabética
Subgrupo: Nomes iniciados pela letra “L”
Data: 1851-10-24; Lisboa
Código de referência: PT-UC-FCT-BOT/VVM/E/04-04

Marca de água: Louzãa J Gdo Lemos


Classe: Nomes; Palavras
Subclasse: Nomes (palavras completas ou abreviadas e
frases) por ordem alfabética
Subgrupo: Nomes iniciados pela letra “L”
Data: 1850-08-03, Sintra
Código de referência: PT-UC-FCT-BOT/VVM/E/13-04

376
Marca de água: Original Turkey Mill Kent
Classe: Nomes; Palavras
Subclasse: Nomes (palavras completas ou abreviadas e
frases) por ordem alfabética
Subgrupo: Nomes iniciados pela letra “O”
Data: 1878-08-24; Paris
Código de referência: PT-UC-FCT-BOT/VVM/P/01-53

Marca de água: Pezo Abelheira Tojal


Classe: Nomes; Palavras
Subclasse: Nomes (palavras completas ou abreviadas e
frases) por ordem alfabética
Subgrupo: Nomes iniciados pela letra “P”
Data: 1862-03-09, Lisboa; 1852-08-21, Lisboa; 1858-02-17,
Lisboa;
Código de referência: PT-UC-FCT-BOT/VVM/E/04-18;
PT-UC-FCT-BOT/VVM/E/13-05; PT-UC-FCT-BOT/
VVM/E/13-08;

Marca de água: Schleicher & Schüll Super Fine


Classe: Nomes; Palavras
Subclasse: Nomes (palavras completas ou abreviadas e
frases) por ordem alfabética
Subgrupo: Nomes iniciados pela letra “S”
Data: 1877-07-04, Lisboa
Código de referência: PT-UC-FCT-BOT/VVM/O/01-07

Marca de água: T H SAUNDERS & Cº 1846


Classe: Nomes; Palavras
Subclasse: Nomes (palavras completas ou abreviadas e
frases) por ordem alfabética
Subgrupo: Nomes iniciados pela letra “T”
Data: 1862-11, Londres
Código de referência: PT-UC-FCT-BOT/VVM/L/01-167

377
Marca de água: T H SAUNDERS 1861
Classe: Nomes; Palavras
Subclasse: Nomes (palavras completas ou abreviadas e
frases) por ordem alfabética
Subgrupo: Nomes iniciados pela letra “T”
Data: 1862-06-30, Kew, Londres
Código de referência: PT-UC-FCT-BOT/VVM/L/01-98

Marca de água: Torres Novas


Classe: Nomes; Palavras
Subclasse: Nomes (palavras completas ou abreviadas e
frases) por ordem alfabética
Subgrupo: Nomes iniciados pela letra “T”
Data: 1837-12-18, Lisboa;
Código de referência: PT-UC-FCT-BOT/VVM/E/13-01;
1848-05-25 Cópia de licença do Ministério da Guerra;

Marca de água: Towgood 1858


Classe: Nomes; Palavras
Subclasse: Nomes (palavras completas ou abreviadas e
frases) por ordem alfabética
Subgrupo: Nomes iniciados pela letra “T”
Data: 1863-12-03, Londres
Código de referência: PT-UC-FCT-BOT/VVM/K/02-04

Marca de água: Towgood’s Extra Super


Classe: Nomes; Palavras
Subclasse: Nomes (palavras completas ou abreviadas e
frases) por ordem alfabética
Subgrupo: Nomes iniciados pela letra “T”
Data: 1862-04-03, Londres; 1878-03-13, Londres
Código de referência: PT-UC-FCT-BOT/VVM/L/01-29;
PT-UC-FCT-BOT/VVM/P/01-07

378
Marca de água: Treasury com monograma
Classe: Nomes; Palavras
Subclasse: Nomes (palavras completas ou abreviadas e
frases) por ordem alfabética
Subgrupo: Nomes iniciados pela letra “T”
Data: 1878-12-18; Paris
Código de referência: PT-UC-FCT-BOT/VVM/P/01-119

Considerações finais

Entendemos que um arquivo pessoal e/ou familiar é um retrato da vida e das acções dos seus
intervenientes, e a correspondência que tratámos é reveladora das diferentes áreas de actividade em
que Júlio Máximo de Oliveira Pimentel se envolveu, quer enquanto cientista, académico ou político.

O trabalho que realizámos procurou associar à identificação e levantamento das marcas de água de
papel, o contexto de produção, circulação e consumo do papel. Partilhamos a opinião de que a recolha
de marcas de água deve ser enquadrada na História do Papel, pois só desta forma se pode ter uma
compreensão global do seu significado.

Esperamos que este trabalho seja um contributo mais para o processo de descoberta das marcas de
água europeias e do seu significado.

Fontes

Portugal, Universidade de Coimbra, Faculdade de Ciências e Tecnologia, Arquivo de Botânica.


Arquivo Júlio Máximo de Oliveira Pimentel, 2º Visconde de Vila Maior (F). http://pesquisa.auc.uc.pt/
details?id=286505

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARAÚJO, Ana Cristina (2005). “A correspondência: regras epistolares e práticas de escrita”. In NETO,
Margarida Sobral (coord.), As Comunicações na Idade Moderna. Lisboa: Fundação Portuguesa das
Comunicações, p. 119-145.
BANDEIRA, Ana Maria Leitão (1995). Pergaminho e papel. Tradição e conservação. Lisboa, CELPA
– Associação da Indústria Papeleira e BAD – Associação Portuguesa de Bibliotecários, Arquivistas e
Documentalistas.
CARREIRA, Maria de São Luiz da Silva (2012). Marcas de Água Arquivo Histórico Parlamentar
(Monarquia Constitucional 1821-1910). Dissertação de Mestrado em Ciência da Informação e da
Documentação Arquivística apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Disponível

379
em: http://hdl.handle.net/10451/10188
CALVO, Emílio Rivas; ABREU, Carlos de (2013). “O iberismo de Júlio Máximo de Oliveira Pimentel
e a defesa da união aduaneira”. Revista CEPIHS (Centro de Estudos e Promoção da Investigação
Histórica e Social), 3, p. 51-76.
FERNANDES, Adília (2013). “Júlio Máximo de Oliveira Pimentel: reitor da Universidade de Coimbra (1869-
1884)”. Revista CEPIHS (Centro de Estudos e Promoção da Investigação Histórica e Social), 3, p. 19-40.
GARCIA, José Luís de Lima (2013). “O Visconde de Vila Maior e algumas das mais relevantes exposições
universais do século XIX”. Revista CEPIHS (Centro de Estudos e Promoção da Investigação Histórica
e Social), 3, p. 85-102.
LAGE, Marita Otília Pereira, “O Douro Ilustrado do Visconde de Vila Maior: homem de ciência, cultura
e ação (século XIX)”. Revista CEPIHS (Centro de Estudos e Promoção da Investigação Histórica e
Social), 3 (2013), p. 103-121.
MOTA, Guilhermina (2013). “A ação do Visconde de Vila Maior enquanto químico: notas breves”.
Revista CEPIHS (Centro de Estudos e Promoção da Investigação Histórica e Social), p. 77-83.
MOTA, Guilhermina (2012). “O Visconde de Vila Maior: alguns apontamentos sobre a sua vida e ação”.
Separata da Biblos, Vol. X (2ª série). Faculdade de Letras – Coimbra, p. 245-292.
MOTA, Guilhermina (2011). “Um bolseiro em Paris em meados do século XIX: a preparação de um
químico notável, o visconde de Vila Maior”, In: Livro de Actas do Congresso Luso-Brasileiro de História
das Ciências. Coimbra, Universidade de Coimbra, p. 260-278 (26-29 Outubro). Disponível em: http://
sequoia.bot.uc.pt/botanica/files/Mota_2011_Artigo_CLBHC.pdf
PIMENTEL, Júlio Máximo de Oliveira (2014). Memórias – Visconde de Vila Maior. FERNANDES, Adília
- Prefácio e transcrição. BASTOS, Manuel Pimentel Quartin de – Introdução. Coimbra: Palimage.
RODRIGUES, Abel (2015). Conde de Margarida. Correspondência Política (1870-1918). Estudo
introdutório, leitura e notas. Lisboa: Aletheia Editores.
SAMBADE, Carlos (2013). “Os Oliveira de Pimentel de Moncorvo: notas para um memorial”. Revista
CEPIHS (Centro de Estudos e Promoção da Investigação Histórica e Social), p. 41-49.
SANTOS, Maria José Azevedo (2002). “Cartas não são papéis velhos. Correspondência da Família
Beltrão (1774-1833)”. Colecção Documental do Prof. Doutor António Beltrão Poiares Baptista (Séculos
XVI-XIX). Catálogo da Exposição. Coimbra: Reitoria da Universidade de Coimbra, p. 61-99.
SANTOS, Maria José Ferreira dos (2015). Marcas de Água: séculos XIV-XIX. Coleção TECNICELPA.
Santa Maria da Feira: TECNICELPA – Associação Portuguesa dos Técnicos das Indústrias de Celulose
e Papel e Câmara Municipal de Santa Maria da Feira.
SANTOS, Maria José Ferreira dos (2014). “Marcas de água e historia do papel a convergência de um
estudo”. Cultura [PDF], Vol. 33, p. 1-15. URL : http://cultura.revues.org/2334 ; DOI: 10.4000/cultura.2334
SILVA, Ana Margarida Dias da; GOUVEIA, António Carmo; GONÇALVES, M. Teresa (2016). Visconde de
Vila Maior: o arquivo (s)em reserva. Catálogo da exposição documental. Coimbra: Sociedade Broteriana,
32 p.

380
AS MARCAS DE ÁGUA ENCONTRADAS NOS LIVROS DA ESTANTE XIV “POETAS GREGOS,
LATINOS E ITALIANOS”, DA BIBLIOTECA DO PALÁCIO NACIONAL DE MAFRA

Nuno Alexandre Alves Fonseca


Instituto Politécnico de Tomar. Mestrando
pinhoense@hotmail.com

Leonor da Costa Pereira Loureiro


Instituto Politécnico de Tomar
Coordenadora do Laboratório de Conservação e Restauro de Documentos Gráficos
leonorloureiro@ipt.pt

Teresa Amaral
Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra
Directora
teresaamaral@pnmafra.dgpc.pt

RESUMO

Em outubro de 2016 foi iniciado um estágio de mestrado relativo ao estudo, conservação e restauro de
um conjunto de 215 livros da Estante XIV“ Poetas Gregos, Latinos e Italianos”, que se encontram na
Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra. Aquando da limpeza de todo o acervo mencionado, concluiu-
se sobre a relevância de um levantamento das marcas de água presentes nos livros. O levantamento
foi efetuado mediante utilização de folha de luz LED e papel vegetal, onde foi reunido um conjunto de
99marcas de água, completas e parcelares, e respetivos registos fotográficos. Tendo sido inicializado
o processo de identificação/origem das mesmas, foram encontradas várias tipologias, desde heráldica
variada, a motivos com animais, flores, cavaleiro, âncora, sol, lua, orbe, cruzes diversas, entre outros.
O objetivo fundamental desta primeira fase do trabalho prende-se com a divulgação da diversidade
destas marcas de água e o seu enquadramento tipológico.

PALAVRAS-CHAVE

marcas de água; filigrana; livro; papel; folha de luz LED.

ABSTRACT

A master’s degree internship started in October 2016, to study, conserve and restore 215 books from
the Shelf XIV “Greek, Latin and Italian poets”, from the Library of the National Palace of Mafra. During

381
the cleaning works, a watermarks survey present in these books was determined as very important
and a contribution to the knowledge on watermarks production. A total of 99tracing paper drawings
and respective photographic records were produced by using a LED Fibre Optic Light Sheet. To this
date, it was not yet possible to identify without doubts the origin of production of these papers, but
representations were found from varied heraldry, to motifs with animals, flowers, knight, anchor, sun,
moon, orb, and different crosses, among others. The main purpose of these paper is to show and talk
about the diversity of watermarks found and their typological context.

KEYWORDS

watermarks; filigree; book; paper; LED light sheet.

INTRODUÇÃO

No âmbito do estágio curricular de mestrado em conservação e restauro de documentos gráficos, ano


letivo de 2016/2017, foi proposto o estudo e intervenção de conservação e restauro de um conjunto
de livros, pertencentes à Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra. A organização da Biblioteca está
elaborada mediante blocos de estantes, numeradas superiormente a algarismos romanos. Para este
estágio foi atribuída a estante XIV, cujos livros apresentam como temática os “Poetas Gregos, Latinos
e Italianos”, e situam-se temporalmente do século XVI até ao século XVIII. Sendo um total de 215
livros, todos apresentam corpo em papel e encadernações em couro.

Como objetivos intermédios foi necessário efectuar o seu enquadramento histórico, a observação
e análise dos materiais constituintes e levantamento e estudo da construção de cada exemplar,
incluindo assim particularidades como a utilização e tipo de papel marmoreado aplicado nas guardas,
e consequentemente as marcas de água presentes num considerável número de livros.

METODOLOGIA

Os livros da biblioteca, organizados por Estantes em numeração romana, estão distribuídos por
Casas “prateleiras”, e a cada livro é atribuído um nº de inventário próprio. Como exemplo, o nº 14-
12-9 significa que é a Estante XIV, Casa 12 (prateleira na estante, contando do chão para o tecto),
Livro 9 (na Casa, da esquerda para a direita).

O trabalho nos 215 livros da Estante XIV foi iniciado com a limpeza por via seca. Esta foi morosa e
delicada, e ocupou a maioria do tempo de estágio até agora. Só depois de finalizada esta acção é que
se poderia efectuar o levantamento das marcas de água, em paralelo com outras tarefas.

382
O levantamento das marcas de água foi efetuado mediante utilização de folha de luz LEDFibre Optic
Light Sheet de 1,8mm de espessura (ver Figura 1) e decalque com papel vegetal de arquitecto e lápis
grafite, na proporção de 1:1. Assim foram reunidas as 99 diferentes marcas de água, completas e/ou
parciais, efectuando-se igualmente os respetivos registos fotográficos sob luz transmitida.

Figura 1 – Folha de luz LED Fibre Optic Light Sheet. © Preservation Equipment Ltd.

A localização destas marcas de água varia consoante as dimensões dos livros e o modo como o papel
foi cortado. Assim temos marcas que aparecem no meio do fólio, marcas parciais, que aparecem
“cortadas” por se encontrarem dobradas e na zona de costura do livro, e marcas que se apresentam
cortadas/fragmentos por se encontrarem nos cantos do bifólio ou outros.

Obviamente que o mais difícil de efectuar foi o levantamento às que se encontram na zona de costura,
pois maioritariamente não permitem que a folha de luz LED, apesar da sua espessura muito fina (1,8
mm), chegue a 100% a esse limite, até por a costura se encontrar em bom estado e bastante apertada.

AS MARCAS DE ÁGUA E CONTRAMARCAS NOS LIVROS DA ESTANTE XIV

Devido ao tempo necessário para cuidadosamente efectuar este levantamento, e à quantidade


de papéis a observar, organizou-se em folha Excel a informação recolhida, de modo a facilitar o
cruzamento de dados. Houve a tentativa de dispor a totalidade das marcas de água e contramarcas
encontradas pelo método de classes apresentado pelo IPH1. No entanto, devido à complexidade das
marcas encontradas – completas ou parciais, e suas variantes – julgou-se mais adequado aglutinar

1 IPH - International Association of Paper Historians. “International Standard for the Registration of Papers with or without
Watermarks”. Standard 2.1.1 (2013), p.10.

383
algumas destas tipologias do seguinte modo:

a) FLOR DE LIS (simples) – 8 exemplares;


b) LETRAS / FRASES – 19 exemplares;
c) FIGURAS –HUMANAS / ANIMAIS / VEGETAIS – 7 exemplares;
d) SÍMBOLOS / SOL / LUA / ESFERAS / ORBE / ÂNCORA – 9 exemplares;
e) HERÁLDICA E SUAS VARIANTES – 50 exemplares;
f) NÃO IDENTIFICADAS ou FRAGMENTOS – 6 exemplares.

As fotografias e decalques são assim exibidas na Tabela 1.

384
Tabela nº 1 – TIPOLOGIAS (fotografias e decalques) de filigranas encontradas e respectivos livros
onde se encontram
Livro
Ano Fotografia à luz transmitida Decalque
Dimensão (altura)
FLOR DE LIS (simples)

14-2-15
1680
31cm

Figura 2

Figura 3

14-3-13
1724
32cm

Figura 4
Figura 5

14-5-2
(15??) Flor de Lis
31cm

Figura 6

14-9-2
1615 Flor de Lis
31cm

Figura 7

385
14-9-8
1726
30cm

Figura 8 Figura 9

14-9-17
1685
26cm

Figura 10
Figura 11

14-12-15
1746
24cm

Figura 12
Figura 13

14-12-15
1746 Flor de Lis
24cm

Figura 14
LETRAS / FRASES

14-1-10
1566
39cm
Figura 15
“B” Flor de Lis “S” inclusos em cartou-
che
Figura 16

386
14-1-14
1710
34cm
Figura 17
“P” Flor de Lis “CVSSON BVLLE” so-
bre “AVVERGNE” inclusos em cartou-
ches Figura 18

14-3-4
1623
36cm
Figura 19
Flor de 7 pétalas (malmequer?) sobre
“G ◊ B” incluso em cartouche
Figura 20

14-3-13
1724 “L” + “C” sobre data “…”
32cm

Figura 21

14-4-2 “W” + “R”

Figura 22

387
14-4-11 Figura 24
1661
36cm Figura 23
“F OHAS…“

Figura 25
“…ELAIN”
(continuação da anterior)

Figura 26

14-5-13
1728
25cm

Figura 27
“AF”
Figura 28

14-6-9
1731
26cm

Figura 29
“P” + “FARGEAUD”
Figura 30

14-6-15
1623
24cm

Figura 31
“ID”
Figura 32

388
14-6-15
1623
24cm
Figura 33
“GB”
“F” Figura 34

14-6-15
1623
24cm

Figura 35
“NS” (?)
Figura 36

14-7-12
1641
40cm
Figura 37
“Montgolfier”
“St.Marcel-les-A…”
Figura 38

14-8-2
“F” “TARDIV…T”
1601
“LIMOSIN…”
36cm
“FIN”

Figura 39

14-10-10
1641 “K”
40cm

Figura 40

389
14-11-1
1749
23cm

Figura 41
“GA” sobre vírgula
Figura 42

14-11-9
1670 “MA…”
21cm
Figura 43

14-11-18
1584
22cm

Figura 44
“P ♥ D P” (?) incluso em cartouche Figura 45

14-12-11 Contramarca
1679 “A” + “D” e duplo círculo no canto infe-
28cm rior esquerdo

Figura 46

14-12-17 “SP…”
Figura 47

390
FIGURAS – HUMANAS / ANIMAIS / VEGETAIS

14-1-14
“P ♥ C” incluso em cartouche, sobre
1710
cacho de uvas, e data “1712” inclusa
34cm
em cartouche

Figura 48

14-5-8
Cacho de uvas sobre “PG” incluso em
1662
cartouche
24cm

Figura 49

14-8-2
1601
36cm

Figura 50
Cavaleiro e cavalo sobre “1742”

Figura 51

14-10-10
1641 Flor de 5 pétalas ponteagudas
40cm

Figura 52

391
14-11-7
1596
24cm
Figura 53

Figura 55 Figura 54
Cacho de uvas

14-11-20
1726
24cm

Figura 56
Figura 57
Animal

14-12-11
1679 Leão coroado +
28cm Pato no canto inferior direito

Figura 58
SÍMBOLOS / SOL / LUA / ESFERAS / ORBE / ÂNCORA

14-2-11
1687
34cm
Figura 59
Cruz latina sobre sol de 6 pontas in-
cluso em lua/esfera, sobre “F”

Figura 60

392
14-3-7
1610-1611
36cm
Figura 61
Trevo de 3 folhas sobre “M” incluso
em lua/esfera
Figura 62

14-4-22
1729
31cm
Figura 63
Orbe imperial, ou cruz latina com pon-
tas em trevo sobre 3 luas/esferas com
meia-lua, “R” e (?) inclusos
Figura 64

Figura 65
Sol de 13 pontas com
14-8-11 “SADP” no centro divididos por cruz
1727
26cm

Figura 67
Contramarca Figura 66
“A” “M” “A”

393
Figura 68
14-10-10 Trevo de 3 folhas sobre barco (?) so- Figura 69
1641 bre dupla esfera (?)
40cm

Figura 70
sobre “BERNA”
(cont. da anterior)

Figura 71

14-10-19
1740 “B A” inclusos em lua/esfera
23cm

Figura 72

Figura 73
14-11-10 Orbe imperial, ou cruz latina com pon-
1670 tas em trevo sobre lua/esfera(s)
21cm

Figura 74

Figura 75
Duas luas/esferas
(cont. da anterior)

394
14-11-19
1549
23cm
Figura 76
Orbe imperial, ou cruz latina com pon-
tas em trevo sobre meia-lua inclusa Figura 77
emlua cheia/esfera

14-12-11
Estrela de 6 pontas sobre âncora in-
1679
clusa em lua/esfera, sobre “F”
28cm

Figura 78

HERÁLDICA

14-5-11
1551
34cm
Figura 79
(?) sobre “4” (cruz de Hermes) sobre
“WR”
Figura 80

14-5-11
1668
25cm

Figura 81
Coroa sobre escudo Figura 82

395
……… Variante (?)

Figura 83
Coroa sobre escudo

………

Figura 84
(?) sobre “MG”

………

Figura 85

14-10-18
1739
23cm Figura 86
Coroa sobre sol (?)

Figura 88
Figura 87
Sol (?)
(cont. da anterior)

14-11-17
1745
21cm

Figura 89
(?) e “ProPatria”

Figura 90
Marca semelhante IPH B4/3/3/1, p.
31

396
14-11-17

Figura 91 Figura 92
Coroa dentro de esfera

……….. Escudo (?) dentro de esfera

Figura 93
Variante
HERÁLDICA variantes com ROSÁRIO

Coroa sobre escudo duplo(um com 3


14-9-5
Flores de Lis), sobre coroa + “L” e ra-
1551
mos, rodeado por rosário com Cruz de
34cm
Malta pendente

Figura 94

397
Figura 96

Figura 95

14-12-16

Figura 97

Figura 97
Coroa sobre escudo incluindo “L”, ro-
deado de rosário com
Cruz de Malta pendente

HERÁLDICA variantes com animais (centrais / laterais)

14-3-2

Figura 98
Coroa e escudo ladeados por leões
Figura 99

398
Figura 100 Figura 101
14-11-18 Coroa e escudo ladeados por leões ou Variante
1584 grifos
22cm

Figura 102
Garras de (?)
Figura 103

14-3-7
1610-1611
36cm

Figura 104
Coroa e escudo com cruz latina inclu-
sa ladeada por grifos Figura 105
Variante

…….. Variante

Figura 106
Coroa e escudo com cruz latina inclu-
sa ladeada por grifos

……… Variante

Figura 107
Coroa sobre escudo ladeado por leões
(?)

399
14-11-2
1749
23cm

Figura 108
Coroa sobre animal
Figura 109

14-11-17
1745
21cm
Figura 110
Garras de leão + (?), rodeados por
Figura 111
cerca “picket-fence”
Marca semelhante IPH B4/3/3/1, p.
31

14-12-7
1748
28cm
Figura 112
Coroa sobre cruz latina rodeada por
grifos ou basilisco, sobre “G” (?) “B”
“P”

Figura 113

Coroa sobre cruz latina inclusa em


……. oval ladeada por grifos, sobre 2 luas/
esferas “EOA” e (?) inclusos

Figura 114

400
……… Variante

Figura 115
Coroa sobre cruz latina inclusa em
oval ladeada por grifos, sobre 2 luas/
esferas “MAO” (?) e “C” inclusos

HERÁLDICA variantes com Escudos de fita cruzada ou letras

14-2-13
1609
33cm
Figura 116
Coroa sobre escudo com “N” incluso,
sobre “…VELLE” (?) incluso em car-
touche

Figura 117

14-8-16
1584
31cm

Figura 118
Coroa sobre escudo
“Libertas”, sobre “AP”

Figura 119

14-9-8
1726
30cm

Figura 120
Escudo pergaminho Figura 121

401
HERÁLDICA variantes com Flor de Lis central

14-1-8
1606
37cm
Figura 128
Coroa sobre escudo com Flor de Lis in-
clusa, sobre “MWRM”

Figura 129

…….. Variante

Figura 130
Coroa e escudo com Flor de Lis inclusa,
sobre “WR”

……. Variante

Figura 131
Coroa e escudo com Flor de Lis inclusa,
sobre “4” (cruz de Hermes) e “W”

14-2-20
1718
37cm
Figura 132
Coroa sobre Flor de Lis sobre (…?) so-
bre “PLB”
Figura 133

402
14-2-20
Cruz de Malta sobre coroa, sobre Flor de
1718
Lis, sobre “BOZA
37cm

Figura 134

14-5-1
1548
32cm
Figura 135
Coroa sobre Flor de Lis sobre Cruz de
Malta sobre “D” “V”

Figura 136

HERÁLDICA variantes Eclesiásticas

14-3-13
1724
32cm

Figura 137
Mitra ou coroa papal, sobre espadas cru-
zadas (?), sobre escudo

Figura 138

403
Figura 139
14-5-1
Cruz latina com arcos, estreita, sobre 3
1548
extremidades arredondadas sobre coroa
32cm
(?)

Figura 140
Marca semelhante IPH R3/2, p. 68

14-12-11
1679 Heráldica
28cm

Figura 141

HERÁLDICA variantes com Escudo de Portugal

Coroa e escudo de Portugal


14-2-20 (7 castelos e 5 besantes/quinas)

Figura 142

404
Heráldica
Coroa e escudo de Portugal
(7 castelos e 5 besantes/quinas)
14-12-11
1679
28cm Contramarca
Balança de pratos redondos

Figura 143
Variante

…….. Variante

Figura 144
Coroa e escudo de Portugal

…….. Variante

Figura 145
Coroa e escudo de Portugal

Coroa e escudo de Portugal (7 castelos


14-5-1
e 5 besantes/quinas)
1548
dentro de círculo “ondulado”, sobre “D”
32cm
e “V”

Figura 146

405
HERÁLDICA variantes fragmentos

14-11-2
1749 Heráldica
23cm

Figura 147

14-11-8
1670 Heráldica
21cm

Figura 148

14-11-8
1670 Heráldica
21cm

Figura 149

14-11-9
(?) sobre “4” (cruz de Hermes) sobre
1670
“WR”
21cm

Figura 150

14-11-11 (?) sobre “4” (cruz de Hermes) sobre


1670 “WR”
21cm

Figura 151

406
14-11-11
Coroa sobre escudo
1670
21cm

Figura 152

14-11-13
1670 Coroa sobre (?)
21cm

Figura 153

14-12-16
1660 Heráldica
24cm

Figura 154

14-12-16
1660 Heráldica
24cm

Figura 155
NÃO IDENTIFICADAS ou FRAGMENTOS

14-11-1
1749 ……….
24cm
Figura 156

14-10-10
1641 ……….
40cm

Figura 157

407
14-11-11
1670 ……….
21cm

Figura 158

14-11-14
1671 ……….
20cm

Figura 159

14-12-16
1660 ……….
24cm

Figura 160

14-12-18
1601 ……….
23cm

Figura 151

CONCLUSÃO

O levantamento das marcas de água presentes no conjunto de livros da Estante XIV da Biblioteca do
Palácio Nacional de Mafra insere-se no estágio de Mestrado em Conservação e Restauro, especialidade
de documentos gráficos. Sendo apenas um componente de tal trabalho, encontra-se em desenvolvimento
e, tanto na área do estudo e identificação das marcas como na realização de alguns decalques e registos
fotográficos, há ainda várias situações em progresso. Desta forma, ainda existem decalques sem o respetivo
registo fotográfico e vice-versa.

A folha de luz LED é comparativamente de intensidade inferior a uma mesa de luz. Esse facto, em conjunção
com haver alguma dificuldade no uso da folha de luz em alguns dos livros, não nos possibilita desenvolver,
pontualmente, o resultado pretendido com os decalques, obtendo a máxima cópia do que se observa.

408
Contudo, no que às tipologias diz respeito, podemos concluir que mais de metade das marcas de água
são de motivos referentes a Heráldica, sendo o restante distribuído por representações de Flor de Lis,
letras, figuras, símbolos, e outros (ainda) não identificados.

Espera-se que este trabalho seja útil para todos os interessados na temática e, havendo a existência
de variantes, será muito interessante continuar a desenvolver esta pesquisa para o futuro.

BIBLIOGRAFIA

ASUNCIÓN, Josep. “O Papel. Técnicas e métodos tradicionais de fabrico”. Colecção Artes e Ofícios.
Lisboa: Editorial Estampa. 2002. ISBN: 972-33-1765-6.
BANDEIRA, Ana Maria Leitão. “Pergaminho e Papel em Portugal. Tradição e Conservação”. Lisboa:
Celpa - Associação da Indústria Papeleira. 1995. ISBN: 9789729067228.
FARIA, Maria Isabel e Pericão, Maria da Graça. “Dicionário do Livro. Da escrita ao livro electrónico”.
Coimbra: Almedina. 2008. ISBN: 978-972-40-3499-7.
IPH - International Association of Paper Historians. “International Standard for the Registration of
Papers with or without Watermarks”. Standard 2.1.1 (2013). Consultado a 29 Janeiro 2017. URL: http://
www.paperhistory.org/Standards/IPHN2.1.1_es.pdf .
NICHOLSON, Kitty. “Making Watermarks Meaningful: Significant Details in Recording and Identifying
Watermarks”. The Book and Paper Group Annual, vol. 1. 1982. Consultado a 29 Janeiro 2017. URL:
http://cool.conservation-us.org/coolaic/sg/bpg/annual/v01/bp01-18.html .
SANTOS, Maria José Ferreira dos. “Marcas de água e história do papel”, Cultura [Online], Vol. 33 |
2014, colocado online no dia 23 Março 2016, consultado a 29 Janeiro 2017. URL: http://cultura.revues.
org/2334 ; DOI: 10.4000/cultura.2334.
SANTOS,Maria José Ferreira dos. “Marcas de Água: séculos XIV – XIX”. Coleção TECNICELPA.
Tomar: Tecnicelpa - Associação Portuguesa dos Técnicos das Indústrias de Celulose e Papel; Santa
Maria da Feira: Câmara Municipal de Santa Maria da Feira. 2015. ISBN 978-989-98602-2-3.
TURNER, Silvie. “Which Paper”. London: estamp. 1991. ISBN: 1-871831-04-0.

409
MARCAS DE ÁGUA PORTUGUESAS EM PAPEL DE FABRICO CONTÍNUO

Maria José Ferreira dos Santos


Consultora científica do Museu do Papel
mjsantos@museudopapel.org

RESUMO

Breve e primeira abordagem ao fabrico de papel de escrita e de impressão, a partir de 1841, ano da
instalação, em Portugal, da primeira máquina de fabrico de papel em sistema contínuo, divulgando-se
também peças de referência do património industrial do papel, que integraram o processo de produção
de papéis de escrita, personalizados com marca de água, desde finais do século XIX aos anos setenta
do século passado.

PALAVRAS-CHAVE

Máquina de papel; Máquina de papel Fourdrinier; Máquina de fôrma redonda; Rolo filigranador; Marca
de água.

ABSTRACT

One first and brief approach to writing and printing paper production, since 1841, date of the first
paper machine installation in Portugal, also disclosing reference pieces of the industrial paper heritage,
which integrated the process of writing paper production, personalized with watermarks, from the late
nineteenth century to the seventies of the last century.

KEYWORDS

Paper-machine; Fourdrinier paper machine; Cylinder-mould paper machine; Watermark roll; Watermark.

411
Introdução

A marca de água faz parte da História do Papel da Europa desde finais do século XIII1, e, ao longo dos
séculos, não se verificaram significativas alterações técnicas no modo como ela passava a incorporar
a folha de papel no momento em que esta era formada. Em Portugal, a primeira marca de água2 com
características genuinamente portuguesas data de 1536, em papel que deverá ter sido produzido no
Moinho de Papel de Leiria, em atividade desde 1411, ou nos Moinhos de Cernache, localidade próxima
de Coimbra que poderá ter constituído, no início do século XVI, um segundo centro produtor de papel
alternativo a Leiria3. Apesar das diferentes notícias sobre a atividade de moinhos de papel em várias
regiões do país, ao longo do século XVI, nomeadamente, Fervença, Braga, Alenquer, e, já no século
XVII, Vila Viçosa, Figueiró dos Vinhos e, possivelmente, Lousã, foi a partir do início do século XVIII,
que a arte de fazer papel se afirmou de um modo continuado em Portugal. E, embora algumas das
seculares fábricas de papel tivessem permanecido, até ao início do século passado, num modo de
produção protoindustrial, outras tantas, em diferentes locais do país, a partir de meados do século XIX,
romperam com os processos tradicionais de fabrico manual, iniciando a aventura do fabrico de papel
em contínuo, na linha do que vinha acontecendo na Europa.

Fabrico de papel em sistema contínuo

A invenção da máquina contínua, em 1798, ficara a dever-se ao engenheiro mecânico francês Louis-
Nicolas Robert (1761-1828), mas problemas legais e financeiros acabaram por dar à Inglaterra a
primazia desta verdadeira revolução no fabrico de papel, com os comerciantes de livros Fourdrinier
a disponibilizar o capital e os recursos necessários ao desenvolvimento desta máquina4. Em 1807,
estava já disponível no mercado a máquina de papel Fourdrinier, também chamada “mesa plana”, que,
progressivamente, se vai aperfeiçoando.

Todavia, persistia a grande dificuldade de filigranar o papel, urgindo encontrar soluções técnicas que
não desmerecessem a excelente qualidade que caracterizava as marcas de água do papel de produção
manual. Este problema é tecnicamente resolvido em 1825, com a introdução do “dandy roll”, uma
estrutura metálica, oca e cilíndrica, da mesma largura da mesa plana, coberto por uma teia metálica

1 Os fabricantes “italianos” foram os primeiros a incorporar a marca de água na folha de papel, datando de 1282, a primeira
marca de água conhecida. BIASI, Pierre-Marc de. Le papier. Une aventure au quotidien, Evreux, Découvertes Gallimard
Technique, 1999, p. 130.

2 Em Portugal, “marca de água” corresponde às zonas de transparência da folha, vistas em contraluz, enquanto que a palavra
“filigrana” designa a figura formada por finos fios metálicos bordada ou aplicada sobre a teia da forma.

3 SANTOS, Maria José Ferreira dos. Marcas de Água. Séculos XIV – XIX. Coleção TECNICELPA, Santa Maria da Feira,
TECNICELPA – Associação Portuguesa dos Técnicos das Indústrias de Celulose e Papel e Câmara Municipal de Santa Maria
da Feira, 2015, p. 87.

4 TORRENT, Francesc, “Aspectos de la Mecanización del Papel”, in Actas del II Congreso Nacional de Historia del Papel en
España, AHHP, Cuenca, 1997, pp. 16-17.

412
onde podiam ser cosidas ou soldadas as letras ou figuras que constituíam as filigranas5. Colocado na
zona das caixas aspirantes de uma máquina de mesa plana, ao rodar, marcava com a filigrana a folha
de papel em formação. Na Indústria portuguesa, o “dandy roll” é, usualmente, designado por “rolo
esgotador”. Quando revestido por uma teia filigranada, passa a chamar-se “rolo esgotador/marcador”
ou, simplesmente, “rolo filigranador”.

A partir de 1809, John Dickinson desenvolve um novo conceito de produção de papel em contínuo,
com a chamada máquina de “fôrma redonda”. O seu nome advém da fôrma redonda que a integra,
uma estrutura cilíndrica e oca denominada “bombo”, cujo perímetro é coberto por teias metálicas.
Este bombo (fôrma) ao rodar, submerge, parcialmente, na “tina da fôrma” que contém a suspensão
fibrosa, formando-se, na sua superfície, a folha de papel. Sobre a teia deste bombo eram bordadas,
ou soldadas, as filigranas, sendo a marca de água incorporada na folha de papel no momento da sua
formação, como acontecia na produção de papel à mão.

As primeiras máquinas de papel em Portugal

A primeira máquina de fabrico contínuo de que temos notícia, em Portugal, foi adquirida em Inglaterra
e instalada, em 1841, na Fábrica de Papel da Abelheira, freguesia de São Julião do Tojal, concelho de
Loures6.

A Quinta da Abelheira era já um local com tradição de fabrico de papel desde meados do século XVIII.
Os cónegos de São Vicente de Fora, que, após o terramoto de 1755, aí haviam fundado um convento,
adaptaram umas antigas azenhas, junto à margem esquerda do rio Trancão, a um moinho de papel.
A produção não seria significativa, mas teria permitido que o “Velho Moinho da Lapa” respondesse às
necessidades de consumo de papel de escrita desta comunidade religiosa. Em 1834, com a extinção
das ordens religiosas masculinas e a nacionalização dos seus bens, a Quinta da Abelheira foi vendida
em hasta pública e adquirida por João Gualberto de Oliveira, 1.º conde do Tojal, que aqui fundou uma
moderna fábrica de papel, apetrechada com uma máquina contínua encomendada a Inglaterra7.

Esta primeira máquina contínua possuía 45 CV de potência, sendo destinada ao fabrico de papel
almaço e outros papéis de escrita e de impressão. Em 1845, a fábrica dispunha já de energia a vapor,

5 John y Christopher Phipps patenteiam o dandy roll em 1825. BALMACEDA, José Carlos. Filigranas. Propuestas para su
reproducción, Málaga, Universidad de Málaga, 2001, pp. 18-19.

6 Atual FAPAJAL – Fábrica de Papel do Tojal, S. A.

7 SANTOS, Maria José Ferreira dos. “O papel dos aerogramas: fábricas produtoras e marcas de água”, in Catálogo da
exposição O Papel dos aerogramas, Santa Maria da Feira, Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, 2007, p.11.

413
empregando cerca de 100 operários8. Em 1852, ano da morte do fundador desta fábrica9, existia já
uma segunda linha de fabrico, com uma nova máquina também encomendada a Inglaterra, destinada
à produção de papéis de embalagem10.

Ao longo da segunda metade do século XIX, a Fábrica de Papel da Abelheira, também conhecida,
no passado, como Fábrica de Papel do Tojal, torna-se uma referência no tecido industrial português,
produzindo papel de escrita, de impressão e de cor, galardoado em diversas exposições industriais no
país e no estrangeiro.

Para além das duas máquinas de sistema contínuo da Fábrica de Papel da Abelheira, uma terceira
máquina destinada especialmente ao fabrico de papel de escrever havia sido instalada, apesar da difícil
concorrência originada pelos papéis importados de França, da Bélgica e da Alemanha, e, particularmente,
pelo papel de escrever de origem italiana, como refere Robert French Duff, administrador desta fábrica,
no contexto do Inquérito Industrial de 188111.

Em 1899, a Fábrica de Papel da Abelheira foi vendida, bem como a Quinta da Abelheira, à Casa
Graham, estabelecida em Lisboa desde 1809, passando a designar-se “Guilherme Graham Júnior & C.ª.
Fábrica de Papel da Abelheira”. Com a família Graham, deu-se início a um processo de modernização
de toda a fábrica no sentido de melhorar a qualidade do papel aí produzido.

Segundo o Inquérito Industrial de 1881, os centros de produção de papel de escrita e de impressão,


pelo processo contínuo, localizavam-se nas Fábricas de Papel da Abelheira, de Góis, de Alenquer, de
Serpins, de Ruães e de Albergaria-a-Velha12. De facto, desde que fora instalada a primeira máquina
contínua na Fábrica de Papel da Abelheira, outras fábricas tinham também instalado máquinas de papel
de mesa plana para fabrico de papel de escrita e papel de impressão, embora, ao longo da segunda
metade do século XIX, este processo de industrialização do papel tivesse sido muito lento, face ao
avultado investimento que a aquisição de uma máquina de papel e maquinaria acessória comportava.

Mas, progressivamente, a industrialização do fabrico do papel começou a ser uma realidade. A Fábrica
de Papel em Ponte do Sotam, em Góis13, fundada, em 1821, por José Joaquim de Paula e seu irmão,

8 COSTA, Luís Miguel Gouveia Gomes da. A fábrica de papel da Abelheira numa perspetiva histórica e arqueológica.
Dissertação final do Curso História, Variante de Arqueologia, apresentada à Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da
Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, 2005. (Policopiado), p. 114.

9 Nesse mesmo ano, a Fábrica de Papel da Abelheira passou para a posse de Alexandre d’Oliveira, irmão do Conde de Tojal,
depois para Eugenia de Menezes, sendo mais tarde herdada por William Smith, cunhado do Conde de Tojal que, por sua vez,
a deixaria a seu filho, Astley Campbell. Idem, p. 162

10 SANTOS, Maria José Ferreira dos. Marcas de Água. Séculos XIV – XIX. Coleção TECNICELPA, ob., cit., p. 123.

11 Inquérito Industrial de 1881, ob. cit., pp. 252-253.

12 Idem, p. 248.

13 A partir de 1906, toma a designação de Companhia de Papel de Góis. RAMOS João Nogueira, Indústria de Papel em
Ponte do Sotam (1821-1992). Contribuição para o seu conhecimento, ed. do autor, 2015, p. 17.

414
Manuel Joaquim de Paula, passou a produzir papel numa máquina contínua aí instalada, em 1859,
proveniente de Lisboa. Na década de 70, esta fábrica foi adquirida por Manuel Inácio Dias que, em
1878, compra à Alemanha uma nova máquina contínua, de 1,65 m de largura e 8 cilindros secadores,
funcionando a vapor14. Na proximidade de Góis, freguesia de Serpins, concelho da Lousã, o fundador
da Fábrica de papel de Ponte do Sotam, José Joaquim de Paula iniciaria, em 1861, a construção da
Fábrica de Papel do Boque, também referida como Fábrica de Papel de Serpins, que só em 1868
começaria a laborar. No entanto, a fabricação em contínuo só teria início na década de 70, com a firma
Viúva Macieira & Filhos15.

A ideia, mais ou menos generalizada, de que a Fábrica de Papel do Boque, em Serpins, teria tido
a primeira máquina de papel de fabrico contínuo a operar no nosso país, só poderá corresponder à
realidade, caso a Fábrica de Papel da Abelheira, a 20 kms de Lisboa, tivesse vendido a sua primeira
máquina, instalada em 1841, uma prática muito comum entre os fabricantes de papel. Esta hipótese
parece-nos perfeitamente plausível, uma vez que a máquina contínua da Fábrica de Papel de Ponte
do Sotam fora transferida de Lisboa, em 1859, como vimos anteriormente, e José Joaquim de Paula,
em 1861, chegou a equacionar a sua transferência para Serpins. A mudança não se concretizou nessa
altura, mas poderá ter acontecido em data posterior, nomeadamente, aquando da instalação, em 1878,
pelo fabricante Manuel Inácio Dias, da nova máquina de papel em Ponte do Sotam.

A Fábrica de Papel de Alenquer, fundada em 1802, mantivera-se em laboração até 1829. Após um
longo período de encerramento (de 1829 a 1851) reiniciara a sua atividade, em 1852, com a designação
“Companhia de Papel de Alenquer”, e, em finais da década de 70, terá adquirido a sua primeira máquina
de papel. Em 1888, além de outros papéis de escrita, produzia papel para diferentes jornais, entre eles,
o Diário do Governo e o Diário de Notícias16. Imprevisivelmente, encerraria em 1889, dando lugar a
uma grande fábrica de lanifícios.

A Fábrica de Papel da Lousã, também conhecida como Fábrica de Papel do Penedo, fundada pelo
genovês José Maria Ottone em 171617, conheceu a fabricação em contínuo somente em 1888, com a
instalação de uma máquina de mesa plana com 1,10 m de largura e com cilindros secadores. Em 1925,

14 Idem, p. 14 e 16.

15 MARTINS Luís Filipe Correia, Rota do Papel do Vale do Ceira e Serra da Lousã. A Fábrica de Papel do Boque, Dissertação
de mestrado integrado em Arquitetura, apresentada à Faculdade de Ciências e Tecnologia, Departamento de Arquitetura, da
Universidade de Coimbra, 2010. (Policopiada), p. 38.

16 LOURENÇO, José Henrique Tomé Leitão. A indústria na Vila de Alenquer (1565-1931), Dissertação de mestrado em
História Regional e Local, apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 2009. (Policopiada), p. 84.

17 José Maria Ottone, depois de ter fundado, em 1706, uma fábrica de papel na cidade de Braga, construiu, de sociedade
com Vicente Pedrossen, a Fábrica de Papel da Lapa, em S. Paio de Oleiros, concelho da Feira, tendo-se deslocado,
definitivamente, para a Lousã, em 1713. SANTOS, Maria José Ferreira dos; CASTELLÓ MORA, Juan. “The Ottone family
and paper manufacturing in Spain and Portugal – 17th and 18th century”, in IPH Congress Book, vol. 12, Suíça, IPH, 1998,
pp. 151-152.

415
seria instalada uma Linke Hofmann, com 2,10 m de largura18.

A Fábrica de Porto de Cavaleiros, em Tomar, iniciou a sua laboração em 1882, sendo propriedade da
firma fundadora, Marino & Araújo19. Admite-se, todavia, que neste mesmo lugar existissem desde 1850,
ou talvez até em anos anteriores, uns moinhos farinheiros e uns moinhos de fazer papel. A primeira
máquina de sistema contínuo instalada nesta fábrica terá sido construída em madeira, produzindo
papel de qualidade inferior. Junto a esta máquina de fôrma redonda, foi construído um moinho de
galgas, com uma só mó, destinado a moer os desperdícios do papel20.

Em 1889, com a dissolução da sociedade fundadora, a Fábrica de Porto de Cavaleiros foi vendida, tendo
sido criada a “Companhia Tomarense do Papel de Porto de Cavaleiros”21. Com esta nova administração
foi instalada, em 1892, uma máquina de fôrma redonda tipo Picard, comprada à firma Everling &
Kaindler. A montagem desta máquina foi acompanhada por um operário da referida firma, o qual não
terá sido muito bem recebido pelos operários da fábrica. Temendo que a nova máquina fizesse perigar
os seus postos de trabalho, terão chegado mesmo à tentativa, felizmente, sem consequências, da sua
destruição. Face ao aumento da procura de papel de escrita, em 1899, procedeu-se à instalação de
uma nova máquina, também de fôrma redonda. Os moldes das peças desta nova máquina foram feitos
a partir da máquina já em laboração22.

Fotografia 1. Marca de água da Companhia do Papel do Prado. Documento avulso datado de 1895.
Centro Documental do Museu do Papel.

18 COSTA, Avelino Poole da, A Indústria do Papel em Portugal, separata dos n.º s 22, 23, 24 e 25 do Boletim da Direcção
Geral da Indústria (2.ª série), Lisboa, 1946, p. 29.

19 Em 1880, Marino Pereira da Costa e António Joaquim de Araújo adquirem a propriedade de Porto de Cavaleiros.
Documentação da Fábrica de Papel de Porto de Cavaleiros. Centro Documental do Museu do Papel.

20 Idem.

21 Desta nova sociedade, faziam parte José de Melo, Thomé d’Almeida e Silva, e, João Carlos Henrique da Fonseca. Idem.

22 Idem.

416
A Fábrica de Papel do Prado, na margem do rio Nabão, em Tomar23, que, desde 1875, integrava a
Companhia do Papel do Prado24, só no final do século XIX conheceu uma verdadeira industrialização. Na
verdade, em 1881, funcionava ainda com 4 maços e 8 tinas para o fabrico de papel de fôrma, empregando
140 operários, sendo menores cerca de 7025. Em 1898, vê instalada a sua primeira máquina contínua, uma
máquina de fôrma redonda com uma largura útil de 1,10 m com 3 cilindros secadores, e, um ano depois,
uma mesa plana com cerca de 1, 50 m de largura. Já no início do século XX, aqui seria instalada uma nova
Fourdrinier, de 2 m de largura, e uma nova máquina de fôrma redonda com 1,10 m de largura útil.

Não cabe, no âmbito necessariamente limitado do presente estudo, a enumeração das fábricas de papel
portuguesas que, entrado o século XX, abandonaram processos seculares de fabrico de papel e investiram
em nova maquinaria, ou mesmo de fábricas que, estando já numa fase de maquinofatura, investiram em
novas máquinas de fabrico de papel26. Ficará também para outro momento a referência às fábricas criadas
de raiz nos últimos anos do século XIX, apetrechadas com moderna maquinaria, produtoras de papel
de escrita e de impressão27. Não poderíamos, no entanto, deixar de mencionar a fundação, em Janeiro
de 1900, por João de Oliveira Casquilho, da Fábrica de Papel de Matrena. Esta nova unidade papeleira,
localizada em Tomar, constituiu uma referência incontornável para a indústria do papel em Portugal, no
século passado, pela alta qualidade dos papéis ali produzidos28. Segundo Avelino Poole da Costa, em
1941, possuía 3 máquinas de mesa plana: duas com 2 m de largura, sendo uma dedicada ao fabrico
de papel de seda, e uma terceira com 1,50 m de largura útil29. Entre os papéis produzidos com a marca
Matrena, refira-se o papel de fumar, papel de seda, papel glassine e opalino, diferentes papéis para a
Imprensa Nacional-Casa da Moeda, o célebre papel de desenho “Cavalinho” e papéis de escrita com
excelentes marcas de água.

23 Atual PRADO KARTON―Companhia de Cartão S. A. Fora criada no reinado de D. José, por alvará de 2 de junho de 1772,
passado pelo Marquês de Pombal.

24 A Companhia do Papel do Prado, criada em 1875, integrava a Fábrica de papel da Marianaia e a Fábrica de Papel do
Sobreinho, em Tomar, vindo a integrar também a Fábrica de Papel da Lousã e a Fábrica de Vale-Maior, em Albergaria-a-
Velha.

25 Inquérito Industrial de 1881, ob., cit., p. 233.

26 Citemos como exemplo a Fábrica de Papel do Almonda (atual Renova), apetrechada com uma máquina de fôrma
redonda de 1,90 m de largura e que, em 1939, adquire uma máquina de mesa plana de 2,40 m de largura e 22 m de
comprimento, a ser instalada em dois anos, com os respetivos acessórios e bateria de secadores. COSTA, Avelino Poole,
ob. cit., pp. 20 e 41.

27 Ainda no respeitante à produção industrial de papel de escrita e de impressão, segundo o Inquérito Industrial de 1881,
temos notícia de uma máquina de mesa plana, instalada aquando da fundação, em 1872, da Fábrica de Papel de Vale Maior,
em Albergaria-a-Velha, anos mais tarde integrada na Companhia do Papel do Prado. Uma segunda máquina, também de
mesa plana, seria instalada nesta fábrica, em 1882. COSTA, Avelino Poole, ob. cit., p. 29. Também a Fábrica de Papel de
Ruães, Tibães, Braga (Companhia Fabril do Cávado), fundada em 1877, foi equipada, anos mais tarde, com uma máquina
contínua de fabrico inglês e cilindros secadores. Idem, p. 27.

28 Em outubro de 1999, foi declarada a falência da Fábrica de Papel de Matrena (Matrena ―Sociedade Industrial de Papéis
S. A., assim designada desde 1965.).

29 COSTA, Avelino Poole, ob. cit., p 33.

417
Teias filigranadas e rolos filigranadores

As teias filigranadas que a seguir apresentamos integram o acervo do Museu do Papel, tendo
pertencido às máquinas de fôrma redonda, instaladas, em finais do século XIX, na Fábrica de Papel
de Porto de Cavaleiros. Os motivos representados fazem parte da cultura de Tomar, fortemente
marcada pela presença dos Templários e pelo Convento de Cristo: escudo com a Cruz da Ordem
de Cristo, Cruz da Ordem de Cristo e o tão conhecido ramo de oliveira. Estes motivos, que tinham
caracterizado já toda a filigranologia do papel feito à mão, vão persistir ao longo do século XX
sem grandes alterações, não só na Fábrica de Porto de Cavaleiros como nas restantes fábricas
de papel Tomar. Foi, sem dúvida, uma forma de afirmação de uma grande região papeleira que,
através das marcas de água, soube valorizar a sua identidade cultural.

As teias metálicas para as máquinas de fôrma redonda eram compradas em peça, sendo bordadas
pelas operárias filigranadoras, ou “mulheres das teias”, como também eram conhecidas, quer na
Fábrica de Papel de Porto de Cavaleiros, quer na Companhia de Papel do Prado, em Tomar. A
teia, depois de bordada, era aplicada sobre o bombo (fôrma), e unida no sentido longitudinal com
pequenos pontos transversais, posteriormente visíveis na folha de papel.

Como se pode verificar, na fotografia 4, aparecem, na mesma teia, diferentes motivos de filigranas,
estando a teia subdividida em várias e distintas sessões que possibilitam, em separado, uma
diferenciada formação da(s) folha(s) de papel: neste caso, folhas destinadas à execução de
envelopes e folhas para papel de carta.

Exceto nas imagens correspondentes às fotografias 2 e 8, representando o cisne, apesar de as


marcas de água que agora apresentamos reproduzirem os mesmos motivos principais bordados
nas teias filigranadas, não há uma correspondência entre a filigrana e a marca de água. Como uma
análise atenta fará concluir, nas imagens 3 e 9, embora o motivo principal seja o mesmo, o escudo
da teia filigranada está colocado sobre um pontusal portador, enquanto que, na imagem 9, a marca
de água aparece entre dois pontusais. Por outro lado, e como também é comum acontecer, aos
motivos principais foram acrescentados elementos informativos secundários, possivelmente num
período posterior, como se verifica nas fotografias 6 e 10.

Quando comparadas as marcas de água do papel produzido numa máquina de fôrma redonda,
com as marcas de água em papel de uma Foudrinier, facilmente se constata a superior qualidade
das primeiras (v. imagens 1, 8, 9, e 10), visivelmente mais claras e, normalmente, mais brilhantes,
comparativamente às segundas (v. fotografias 15, 17 e 19).

Mas, independentemente do processo industrial de fabrico, é surpreendente a diversidade dos


motivos figurativos das marcas de água das fábricas portuguesas, entre meados do século XIX

418
e a década de setenta do século passado, de entre os quais se destacam as marcas de água
incorporadas em papel fabricado nas fábricas de Tomar, com destaque para as Fábricas de Papel
de Matrena e da Companhia do Papel do Prado e para a Graham. Indústria de Papel da Abelheira,
em Loures.

Segundo Gustavo Matos Sequeira, a antiga Fábrica de Papel da Abelheira foi totalmente
remodelada em 1932, tendo sido instaladas novas e modernas máquinas: “na casa das máquinas
de papel há três máquinas: uma grande – marca “Fourdrinier” – completamente modernizada e
equipada, produtora das melhores qualidades de papéis de escrita e de impressão; uma outra de
igual marca, mais pequena, que serve para o fabrico de papéis , de mais baixa qualidade; e uma
máquina “Yankee”, que produz vários tipos de papel, calandrados só de um lado, como são os
denominados “affiches” e “manillas “ e bem assim os que têm de ser gomados. Nesta máquina
também se fabrica o papel de embrulho, como, por exemplo, o Kraft da marca Y. K. que é um
excelente papel fino, resistente e de magnífica qualidade.”30 No entanto, ao contrário do que refere
Matos Sequeira, esta remodelação da Fábrica de Papel da Abelheira poderá ser anterior a 1932,
dado que na revista da Associação Industrial Portuguesa, de outubro de 1928, aparecem já várias
fotografias do interior da fábrica e das novas máquinas aí instaladas31.

Resta salientar, nesta primeira e breve abordagem a esta temática, a enorme importância deste
Património da Indústria do Papel para a identificação da proveniência das marcas de água e
sua contextualização no estudo das fábricas que produziram o papel que as incorpora. O
desenvolvimento deste estudo poderá permitir estabelecer balizas cronológicas respeitantes à
utilização das diferentes filigranas, nas várias fábricas produtoras, uma informação essencial para
a questão, tantas vezes problemática ou até inconclusiva, da datação das marcas de água.

Os rolos filigranadores aqui apresentados pertenceram às máquinas de papel de mesa plana,


da Graham. Indústria de Papel da Abelheira, em Loures, e da Fábrica de Papel de Matrena, em
Tomar, às quais fizemos anterior referência.

30 SEQUEIRA, Gustavo de Matos. A Abelheira e o fabrico do papel em Portugal (História de uma propriedade e de uma
fábrica), Lisboa, Tipografia Portugal, 1935, s/p.

31 COSTA, Luís Miguel Gouveia Gomes da, ob. cit., p. 173.

419
Fotografia 2. Teia filigranada para papel de carta e envelope, representando um cisne e um escudo.
L 60 cm X C 367 cm. Máquina de fôrma redonda da Fábrica de Papel de Porto de Cavaleiros.

Fotografia 3. Pormenor da teia apresentada na fotografia n.º 2. Filigrana: escudo coroado contendo
no campo uma Cruz da Ordem de Cristo.

420
Fotografia 4. Pormenor da teia apresentada na fotografia n.º 2. Filigrana: Cruz da Ordem de Avis.

Fotografia 5. Teia com filigrana dupla: escudo coroado contendo no campo uma Cruz da Ordem de
Cristo e as letras “P. C.” alusivas a Porto de Cavaleiros. L 60 cm X C 200 cm. Fábrica de Papel de
Porto de Cavaleiros.

421
Fotografia 6. Teia com filigrana: Cruz da Ordem de Cristo e as palavras “POPULAR” e “PÊBÊCÊ”.
L 62 cm X C 372 cm. Fábrica de Papel de Porto de Cavaleiros.

Fotografia 7. Teia com filigrana: ramo de oliveira e letras “P. C.”, alusivas a Porto de Cavaleiros. L
59 cm X C 273 cm. Fábrica de Papel de Porto de Cavaleiros.

422
Fotografia 8. Marca de água representando um cisne. Folha de papel para envelope. Fábrica de
Papel de Porto de Cavaleiros.

Fotografia 9. Marca de água representando um escudo contendo no campo uma Cruz da Ordem de
Cristo. Folha de papel para envelope. Fábrica de Papel de Porto de Cavaleiros.

423
Fotografia 10. Marca de água representando a Cruz de Cristo. Folha de papel para envelope.
Fábrica de Papel de Porto de Cavaleiros.

Fotografia 11. Rolo filigranador “República Paper Mill 1910”. Fábrica de Papel de Matrena. Acervo
do Museu do Papel.

424
Fotografia 12. Rolo filigranador “Serviço do Estado”. Antiga fábrica “Graham. Indústria de Papel da
Abelheira”. Acervo do Museu do Papel.

Fotografia 13. Rolo Filigranador “Belem Bond”. Antiga fábrica “Graham. Indústria de Papel da
Abelheira”. Acervo do Museu do Papel.

425
Fotografia 14. Rolo filigranador “Almaço São Jorge”. Fábrica de Papel de Matrena. Acervo do Museu
do Papel.

Fotografia 15. Marca de água correspondente ao rolo filigranador apresentado na fotografia n.º 14.
Arquivo Fotográfico do Santuário de Fátima.

426
Fotografia 16. Rolo filigranador “Almaço Extra Emegê”. Antiga fábrica “Graham. Indústria de Papel
da Abelheira”. Acervo da Fapajal – Fábrica de Papel do Tojal, S. A..

Fotografia 17. Marca de água correspondente ao rolo filigranador apresentado na fotografia n.º 16.
Documento datado de 1934. Centro Documental do Museu do Papel.

427
Fotografia 18. Rolo filigranador “Almaço Navio”. Antiga fábrica “Graham. Indústria de Papel da
Abelheira”. Acervo da Fapajal – Fábrica de Papel do Tojal, S. A..

Fotografia 19. Marca de água correspondente ao rolo filigranador apresentado na fotografia n.º 18.
Documento datado de 1940. Centro Documental do Museu do Papel.

428
FONTES E BIBLIOGRAFIA

BALMACEDA, José Carlos. Filigranas. Propuestas para su reproducción, Málaga, Universidad de


Málaga, 2001.
BANDEIRA, Ana Maria Leitão. Pergaminho e papel em Portugal. Tradição e conservação, Lisboa,
CELPA – Associação da Indústria Papeleira; BAD – Associação Portuguesa de Bibliotecários,
Arquivistas e Documentalistas, 1995.
BIASI, Pierre-Marc de. Le papier. Une aventure au quotidien, Evreux, Découvertes Gallimard Technique,
1999.
CAMPINÚM, Marino Ayala; GARCÍA, José María Pérez; GANGES, Luís Santos y. Catálogo da
exposição Filigranas. Las Huellas del Agua, Madrid, Real Casa de la Moneda, 2016.
CAMPOS, Maria do Rosário Castiço de. A Lousã no século XVIII. Redes de sociabilidade e de poder,
Coimbra, Palimage, 2010.
CARREIRA, Maria de São Luiz da Silva. Marcas de água. Arquivo Histórico Parlamentar (Monarquia
Constitucional 1820-1910), Dissertação de mestrado em Ciências da Documentação e da Informação
Arquivística, apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 2012. (Policopiado)
COSTA, Avelino Poole da, A Indústria do Papel em Portugal, separata dos n.º s 22, 23, 24 e 25 do
Boletim da Direcção Geral da Indústria (2.ª série), Lisboa, 1946.
COSTA, Luís Miguel Gouveia Gomes da. A fábrica de papel da Abelheira numa perspectiva histórica e
arqueológica. Dissertação final do Curso História, Variante de Arqueologia, apresentada à Faculdade
de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, 2005. (Policopiado).
FERREIRA, Delfim Bismarck, “A Fábrica de Papel de Valle Maior (1872-1999)”, in Revista Patrimónios,
n.º 4, (Ano XXV-II Série), ed. ADERAV- Associação para o Estudo e Defesa do Património Natural e
Cultural da Região de Aveiro, Aveiro, 2004.
Guide pour la conduite et le meilleur usage des toiles métalliques de papeterie, Paris, ed., Les Toiles
Métalliques de Rai-Tillières, s/d..
Inquérito Industrial de 1881, LISBOA, IMPRENSA NACIONAL, 1881.
MARTINS, Luís Filipe Correia, Rota do Papel do Vale do Ceira e Serra da Lousã. A Fábrica de Papel
do Boque, Dissertação de mestrado integrado em Arquitectura, apresentada à Faculdade de Ciências
e Tecnologia, Departamento de Arquitectura, da Universidade de Coimbra, 2010. (Policopiada)
MENDES, José M. Amado. “O Papel e a Renova: tradição e inovação”, in O Papel ontem e hoje,
Coimbra, Arquivo da Universidade de Coimbra e Renova, 2008.
OLIVEIRA, Aurélio de. “Fabrico de papel em Braga no século XVI”, in Revista da Faculdade de Letras.
História, III série, vol. 8, Porto, Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2007.
PORTELA, Miguel. O fabrico do papel em Figueiró dos Vinhos no século XVII, Figueiró dos Vinhos, ed.
do autor, 2012.
RAMOS, João Nogueira, Indústria de Papel em Ponte do Sotam (1821-1992). Contribuição para o seu
conhecimento, ed. do autor,2015

429
RIBEIRO, Isabel; SANTOS, Luísa. “A indústria do papel na perspectiva da arqueologia industrial”, in
Actas e Comunicações do I Encontro Nacional sobre o Património Industrial, vol. II, APAI, Coimbra,
Coimbra Editora, 1990.
RODRIGUES, Manuel Ferreira; MENDES, José M. Amado. História da indústria portuguesa. Da Idade
Média aos nossos dias, Lisboa, Europa-América e Associação Industrial Portuense, 1999.
RUAS, João, “O engenho de papel”, in Monumentos, n.º 27, Instituto da Habitação e da Reabilitação
Urbana, Lisboa, 2007.
SANTOS, Maria José Ferreira dos. A indústria do papel em Paços de Brandão e Terras de Santa Maria
(Séculos XVIII-XIX), Santa Maria da Feira, Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, 1997.
SANTOS, Maria José Ferreira dos; CASTELLÓ MORA, Juan. “The Ottone family and paper
manufacturing in Spain and Portugal – 17th and 18th century”, in IPH Congress Book, vol. 12, Suíça,
IPH, 1998.
SANTOS, Maria José Ferreira dos. “O papel dos aerogramas: fábricas produtoras e marcas de água”,
in Catálogo da exposição O Papel dos aerogramas, Santa Maria da Feira, Câmara Municipal de Santa
Maria da Feira, 2007.
SANTOS, Maria José Ferreira dos. “José Maria Ottone e a indústria do papel em Portugal no século
XVIII”, in O Papel ontem e hoje, Coimbra, Arquivo da Universidade de Coimbra e Renova, 2008.
SANTOS, Maria José Ferreira dos. “Marcas de água e história do papel: a convergência de um
estudo”, in Cultura. Revista de História e Teoria das Ideias, Lisboa, Centro de História da Cultura da
Universidade Nova de Lisboa, 2014.
SANTOS, Maria José Ferreira dos. Marcas de Água. Séculos XIV – XIX. Coleção TECNICELPA, Santa
Maria da Feira, TECNICELPA – Associação Portuguesa dos Técnicos das Indústrias de Celulose e
Papel e Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, 2015.
SEQUEIRA, Gustavo de Matos. A Abelheira e o fabrico do papel em Portugal (História de uma
propriedade e de uma fábrica), Lisboa, Tipografia Portugal, 1935.
TORRENT, Francesc. “Aspectos de la Mecanización del Papel”, in Actas del II Congreso Nacional de
Historia del Papel en España, AHHP, Cuenca, 1997.

430
ESTUDIO DE LOS MÉTODOS DE REPRODUCCIÓN DE LAS MARCAS DE AGUA EN LOS
DOCUMENTOS MEDIEVALES1

Mª Dolores Díaz de Miranda Macías


Monasterio de Sant Pere de les Puel·les
Barcelona

Juan Sánchez Sánchez


Instituto del Patrimonio Cultural Español
Madrid

Loreto Rojo García


Comisaría General de Policía Científica
Madrid

Introducción

Las filigranas o marcas de agua desde su introducción en la elaboración del papel hasta nuestros
días son el elemento identificador más importante de este soporte escriptorio2. Su imagen, fruto de
la huella que dejan unos hilos metálicos cosidos a la verjura de la forma, se visualiza al observar el
papel al trasluz. En el estudio del papel medieval la representación de la imagen de la filigrana es, sin
discusión alguna, el dato que más información nos puede aportar sobre el origen o la ruta comercial
que ha seguido el papel, de aquí la necesidad de contar con unos medios adecuados que permitan su
visualización y reproducción.

A través de este estudio hemos buscado y analizado los métodos que son económicamente más
asequibles y a la vez más sencillos y fidedignos para reproducir las filigranas papeleras3. Estudio de
carácter interdisciplinar que tiene como trasfondo los trabajos que hemos estado realizando para la
creación del Corpus de Filigranas Hispánicas4 y la tesis doctoral de Mº Dolores Díaz de Miranda.5

1 Esta ponencia se presento en el XI Congreso de Sevilla pero por no haber llegado en tiempo no se incluyó en las actas.

2 La más antigua data del año 1282. (BRIQUET, 1991: filigrana nº 5.410); (VALLS 1978: filigrana nº 21).

3 Recientemente se ha publicado un estudio magnífico que analiza diversas técnicas de reproducción de las filigranas,
pero los resultados dejan sin estudiar dos técnicas (la fotografía y el escaneado) que consideramos muy factibles para las
posibilidades y medios con que contamos en la actualidad la mayoría de los investigadores. (STAALDUINEN, 2010: 15-38).

4”La création d´un Corpus des Filigranes Hispaniques en ligne” [HIDALGO y DÍAZ DE MIRANDA, 2013: 169-174]. “La creación
del Corpus de Filigranas Hispánicas online” (DÍAZ DE MIRANDA, MªD., 2011: 185-206).

5 Análisis y desarrollo de una base de datos para el estudio del papel y de las filigranas: fuente para la elaboración de la
historia del papel en España. (DÍAZ DE MIRANDA, MªD., 2013, inédita)

431
Si hacemos un recorrido por los diversos métodos empleados para reproducir las filigranas los podríamos
clasificar en cuatro grandes grupos atendiendo a si predomina la técnica de obtención manual: copia
por calco o por frotado; el sistema fotográfico: fotografía por transparencia, por contacto directo, por
UV-papel Dylux o fosforescencia; el método radiográfico: radiografía con rayos X de baja intensidad,
betagrafía o electrón radiografía y, finalmente, un grupo heterogéneo en el que situaríamos el resto de
métodos como el escaneado, el método Back light, la filmación por vídeo cámara, la termografía etc.

Métodos de captación de filigranas

Esquemáticamente podemos agrupar los métodos mencionados del siguiente modo6:


• Manuales:
Calco.
Frotado.
• Fotográficos:
Fotografía: por transparencia, analógica o digital, y por contacto.
UV-papel Dylux7
Fosforescencia
• Radiográficos8:
Radiografía con Rayos X de baja intensidad.
Betagrafía9.
Electrón radiografía.
• Otros:
Escáner.
Back Light10
Vídeo Espectro Comparador VSC.
Termografía11, etc.

6 Una valiosa publicación, realizada hace quince años, es la que ofrece el Museo del Louvre sobre las técnicas de reproducción
de la imagen en ese momento en uso (CHAPELLE y LE PRAT, 1996). Actualmente, la aparición de nuevas técnicas cuestiona
la técnica tradicional del calco manual, aunque en calcos como los de Piccard se ha demostrado la alta fidelidad de las
reproducciones respecto al original. (DELFT y DIETZ, 2007: 27-30).

7 (GRAVELL, 1975: 95-104).

8 Una breve explicación de estos métodos se puede encontrar en (DIETZ y DELF, 2009: 67-69)

9 (CAMPOS ,1995: 354-359)

10 La imagen es transluminada por una fuente de luz consistente en una placa ultra delgada de acrílico y con un sistema de
puntos que reflejan hacia la cara delantera del acrílico la luz producida por dos tubos CCFL (lámpara catódica fluorescente
fría) colocados en dos cantos del acrílico

11 Esta técnica que consiste en radiaciones infrarrojas está siendo utilizada por la BSB, Biblioteca de Muenchen, para
reproducir su colección de libros xilográficos (Blockbuecher) del siglo XV. <http://www.bsb-muenchen.de/Blockbooks-
Xylographa>. [Consultado: 27.03.2011].

432
Entre los sistemas manuales, se encuentra el dibujo esquemático a mano alzada de la filigrana. En el
Museo Meermanno de la Haya se conservan numerosos ejemplos de esta técnica que están recogidos
en la colección y en los trabajos del erudito holandés Gerard Meerman (1722-1771)12 (véase ilustración
nº 1). Actualmente es una técnica en desuso, aunque excepcionalmente se pueden encontrar trabajos
que la utilizan13.

El calco manual realizado sobre la filigrana original es la técnica manual más difundida, técnica
consagrada por los grandes padres de la filigranología: Charles Moïse Briquet y Gerhard Piccard,
y que ha llegado hasta nuestros días como la elegida por la práctica totalidad de los investigadores.
Sin embargo, desde hace unas décadas los nuevos sistemas de reproducción de la filigrana, que
comentaremos más adelante, ofrecen nuevas posibilidades a la vez que cuestionan su primacía.

Una versión, llamémosla, moderna de esta técnica manual sería el calco digital sobre la filigrana original
o el dibujo digital sobre una reproducción de la misma, técnica que presentamos como inédita y cuya
paternidad debemos a Juan Sánchez14.

El frotado es otro método manual muy sencillo que consiste en obtener la impresión de la huella de la
filigrana en un papel mediante el “rayado” de su superficie con una mina de grafito15; es un sistema que
se utiliza también en arqueología o en encuadernación para obtener el relieve de la decoración de las
cubiertas, y que nos recuerda nuestros juegos de la infancia en los que conseguíamos reproducir la
impronta de la efigie de las monedas en un papel de seda.

Los métodos fotográficos, aunque son económicamente más costosos que los anteriores, en general
también son sencillos y asequibles, si bien alguno de ellos, como la fotografía analógica por contacto es
engorroso al ser necesario trabajar con la hoja en la que está la filigrana en un laboratorio fotográfico, o
en otros casos es difícil adquirir determinados materiales, como las hojas Dylux. El tradicional método
fotográfico, basado en la impresión de la imagen en una película fotosensible actualmente está
desbancado por la fotografía digital, que ofrece la posibilidad de obtener la imagen instantáneamente
y trabajar con ella directamente.

12 Agradecemos la gentil guía de Jos van Heel, conservador del museo, que nos ofreció la oportunidad de conocer y
consultar esta colección hace un año.

13 Como en el estudio de la documentación del Vallfogona hechos por nuestro colega y amigo Sergi Gascón (GASCÓN,
2007: 313-390)

14 Juan SÁNCHEZ, “Calcos digitales”. Conferencia impartida en las I Jornadas de Filigranas celebradas en el IPCE, Madrid
20 y 21 de mayo de 2010.
Mª Dolores Díaz de Miranda y J. Sánchez. «Elección y optimización de los sistemas de obtención de las imágenes de las
marcas de agua». En Actas del XVIII Congreso Internacional de Conservación y Restauración de bienes Culturales, Granada,
9-11 de noviembre: Universidad de Granada, 2011 pp. 425-429.

15 La colección más importante de reproducciones hechas con este sistema es la WIES de Gerard van Thienen, accesible en
internet (htpp://www.ksbm.oeaw.ac.at/wies/). Cfr. (THIENEN, ENDERMAN y DÍAZ-MIRANDA, 2008: 239-261).

433
Los resultados obtenidos con los métodos comentados son superados por los métodos radiográficos,
como es el caso de las excelentes electrón radiografías que hemos visto en la Real Biblioteca de La
Haya (la Koninklijke Bibliotheek) y que tienen en su Web al abasto de los usuarios, (Watermarks in
Incunabula in the Low Countries, WILC)16, o los resultados que se están obteniendo con la radiografía
de baja intensidad17, pero son métodos que por ahora hemos de descartar al no ser accesibles a la
gran mayoría de las instituciones e investigadores, debido a su elevado coste y a un mínimo de medias
de seguridad que se han de tener en su manejo.

Sobre los demás métodos de reproducción, comentaremos el escaneado y la reproducción con el


Vídeo Espectro Comparador (VSC), que la Policía Científica Nacional emplea para la autentificación de
los documentos y obras de arte, y que Loreto Rojo ha aplicado en el estudio de las filigranas En esta
publicación es la primera vez que se analiza su utilidad en el estudio de la filigrana.

Estudio de la obtención de la imagen de la filigrana

A raíz de la creación del Corpus de Filigranas Hispánicas sentimos la urgencia de hacer una revisión de
los métodos existentes de reproducción de las filigranas para buscar aquellos que se adecuan mejor
a este proyecto. Es decir:
a) que pudieran ser utilizados por un amplio público de investigadores y de instituciones,
b) que ofreciera unos costes económicos razonables y
c) que permitiera una alta fidelidad a la imagen original.

Tarea que hemos hecho desde la interdisciplinariedad, ya que hemos participado representantes de
tres instituciones: el Monasterio de Sant Pere de les Puel·les de Barcelona, el Instituto del Patrimonio
Cultural de España y la Sección de Documentoscopia de la Unidad Central de Criminalística de la
Comisaría General de Policía Científica de España18.

Partimos del resultado que en estos años Mª Dolores Díaz de Miranda había conseguido a través de
tres estudios:
a) 300 filigranas sacadas por los sistemas de calco manual, frotado y fotografía convencional en B/N,
(aproximadamente 1.500 reproducciones).
b) 100 filigranas obtenidas por calco manual, frotado y fotografía digital, (aproximadamente 500
reproducciones).
c) 1.600 filigranas hechas por calco manual.

16 http://watermark.kb.nl/. La existencia en esta Web de 4.300 imágenes obtenidas por la electrón radiografía y 11.700 por
el sistema de frotado permite el estudio comparativo de ambas técnicas. (THIENEN y VELDHUIZEN, 2007: 65-69).

17 Los resultados comparativos de estas técnicas en el estudio de las filigranas en obras de arte son muy ilustrativos, tal como
Manfred SCHREINER (2009) expuso en el Simposio celebrado por el Bernstein en Viena el mes de febrero del 2009.

18 Además, en la redacción final del texto contamos con el asesoramiento del Dr. Manuel Pedraza (Departamento de
Ciencias de la Investigación de la Universidad de Zaragoza).

434
Los dos primeros grupos le habían permitido comparar los tres sistemas utilizados en una misma
filigrana. Los resultados en el tratamiento de estas imágenes presentaban problemas en cuanto a
la exactitud de las reproducciones conseguidas por el sistema de calco manual con las imágenes
originales, a la claridad de las imágenes logradas por el frotado cuando la huella de la filigrana era
tenue y a la nitidez de la filigrana por la fotografía cuando hay mucha densidad de grafías o es débil
la impronta de la filigrana en el papel, y, finalmente, al tiempo que se ha de emplear para obtener la
imagen.

Tomando como base estos resultados, planificamos el estudio sistemático de un grupo de filigranas
utilizando diferentes sistemas de reproducción de sus imágenes, comparando los resultados y evaluando
los pros y contras de cada sistema. Para ello elegimos como nuestra 38 documentos de papel de los
siglos XIV-XV, perteneciente al archivo diocesano de Girona19. Los sistemas de reproducción de la
imagen los clasifícanos en dos grupos:

1) Obtención de la imagen original mediante frotación, fotografía o escaneado, sin ningún tipo de interpretación
de la misma. Para poder trabajar con los frotados los tuvimos que convertir en imágenes digitalizadas.

Completamos el estudio con el Vídeo Espectro Comparador VSC 5000, de la Policía Científica Nacional,
que nos permitió obtener la imagen de la filigrana con luz natural, con luz trasmitida, con luz ultravioleta
e infrarroja y con luz oblicua lateral derecha, izquierda y combinada.

2) Elaboración de calcos mediante:


• Calco manual sobre la imagen original.
• Dibujo digital sobre imagen digital de un frotado, fotografía o escaneado.

Con estos sistemas sacamos 1.250 imágenes de las 38 filigranas. (Véase Tabla Anexa nº1).

Sistemas y métodos de obtención de imágenes objeto de este estudio

1. Calco manual

Descripción de la técnica: Sobre una superficie plana iluminada colocamos la hoja que lleva la filigrana,
encima pusimos una lámina protectora transparente y sobre ésta un papel vegetal en el que dibujamos,
con un lapicero, la silueta de filigrana. Finalmente, emplazando el papel vegetal sobre una mesa
repasamos el dibujo con una pluma de tinta capilar20.

19 Testaments I, años 1348-1497, Parroquia de Cogolls, Gerona. Archivo Diocesano de Gerona. Agradecemos a Joan Villar,
archivero, que nos haya permitido el estudio de estos documentos, depositados en el Taller de Restauración del Monestir de
Sant Pere de les Puel·les y el permiso de su traslado al IPCE y a la Policía Científica de Madrid para completar el tratamiento
de las imágenes.

20 Se puede encontrar de forma detallada tanto la descripción de esta técnica como la del frotado y de la fotografía en
(DÍAZ DE MIRANDA y HERRERO MONTERO, 2009: 90-100).

435
Características de los materiales empleados:
• superficie iluminada: caja de luz fluorescente de cátodo frío de 5000ª ± 270ª K (Medalight).
• lámina protectora: de tereftalato de polietileno de 0,75 mm (Melinex).
• papel vegetal: papel vegetal plotter de 70-75 gr/m2 (Guarro).
• portaminas de mina de grafito 2B/0,5 mm (Faber Castell).
• pluma de tinta capilar de 0,6 mm (Rotring).

El objeto de este ensayo fue determinar la fidelidad de la reproducción al original. Este parámetro lo
graduamos en una escala del 1 a 5 en razón de:
• Muy baja 1
• Baja 2
• Media 3
• Buena 4
• Muy buena 5

Resultados obtenidos respecto a la fidelidad de la reproducción a la filigrana original: Véase la Tabla


Anexa Nº 4: “Resultados obtenidos en la reproducción: Manual, Ordenador, Tableta”.

La fidelidad de la reproducción al original depende en primer lugar de la nitidez de visualización de la


filigrana, que está condicionada por la profundidad de la huella que ha producido la “matriz” de la filigrana
en el pliego de papel formado y por la existencia de grafías en la hoja que lleva la filigrana; así, en las
hojas en las que la huella de la filigrana es muy tenue y la densidad de las grafías muy alta resulta
difícil hacer una lectura correcta de la imagen de la filigrana y se corre el riesgo de hacer calcos que
difieren sensiblemente de la imagen original. Uno segundo factor que interviene es el grado de dificultad
y complejidad de la imagen de la filigrana; así, por ejemplo, es más difícil dibujar círculos que trazos
lineales o calcar una imagen sencilla que una compuesta por múltiples elementos afiligranados, tal como
se puede comprobar en el racimo de uvas de la filigrana Nº 726, que se muestra en la ilustración nº 2.

2. Frotado

Descripción de la técnica: Situamos el documento con la filigrana sobre una superficie dura iluminada,
colocamos una hoja de papel fino y con un lapicero blando rayamos la superficie obteniendo el dibujo.

Características de los materiales empleados:


• Papel:
a) papel de seda copiador de 12,5 gr/m2
b) papel de seda 20 gr/m2
c) papel continuo fino, tipo biblia, de 40 gr/m2
d) papel vegetal 70-75 gr/m2 (Guarro)

436
• Lapicero: barra de Barra Graphite pure 2900 de Faber Castell de las siguientes durezas:
a) 2B
b) 3B
c) 6B

• Superficie iluminada: caja de luz fluorescente de cátodo frío de 5000ª ± 270ª K (Medalight).

El objeto de este ensayo tenía por finalidad determinar el tipo de papel más idóneo y la dureza del
lapicero, valoramos la mayor o menor idoneidad de estos materiales bajo los parámetros de visibilidad
de la reproducción de la filigrana e interferencia del texto del documento original en la lectura de esta
reproducción de la imagen.

Los parámetros los graduamos atendiendo a:

VISIBILIDAD INTERFIERE EL TEXTO


Muy baja 1 Muchísimo 5
Baja 2 Mucho 4
Media 3 Algo 3
Buena 4 Poco 2
Muy buena 5 Nada 1

Resultados obtenidos respecto a la visibilidad de la imagen: Véase la Tabla Anexa Nº 2 “Resultados


obtenidos en la captación manual: Frotado”.

De los papeles utilizados los menos idóneos son los papeles excesivamente finos o “duros” (papel
vegetal) y los lapiceros de grafito muy blandos -6B-. Los mejores resultados los hemos logrado con
un papel fino, tipo biblia, de 40 gr/m2 y rayando con un lapicero de Graphite pure 3B (2900 de Faber
Castell), también con un lapicero 2B obtuvimos buenos resultados. Normalmente la calidad del frotado
es inferior a la de la fotografía y el escaneado, sólo cuando la densidad de la grafía sobre la filigrana es
muy alta la calidad del frotado puede llegar a ser sensiblemente superior a estas dos técnicas, como
muestra la ilustración nº 3.

Para poder trabajar con los frotados tuvimos que convertirlos en imágenes digitalizadas, valoramos
la digitalización por medio de la fotografía digital y por el escaneado21, también tratamos alguna de
las imágenes obtenidas con el programa Adobe Photoshop CS para ver si era posible mejorar los
resultados logrados. Constatamos que la digitalización de la imagen del frotado por medio de fotografía
digital o escaneado no ofrece diferencia en el resultado. La imagen del frotado tratada con el programa
Photoshop puede mejorar la visibilidad de la filigrana.

21 La cámara empleada fue la Olympus E-330 y el escáner CanoScan 3000, a 300 dpi y en escala de grises.

437
3. Fotografía con cámara digital

Descripción de la técnica: Colocamos la hoja con la filigrana sobre una superficie luminosa, sobre esta
pusimos una regla milimetrada y fotografiamos la imagen con una cámara digital,

Instalada en un soporte fijo.

Características de los materiales empleados:


• Caja de luz de lámpara fluorescente de cátodo frío de 5000ª ± 270ª K (Medalight).
• Soporte fijo para la cámara fotográfica (Kaiser).
• Cámara fotográfica réflex digital (Olympus E-330).
• Formato de la imagen: JPG.

El objeto de este ensayo fue analizar la imagen obtenida bajo los parámetros de visibilidad de la
reproducción de la filigrana e interferencia del texto del documento original en la lectura de esta
reproducción de la imagen.

Resultados obtenidos respecto a la visibilidad de la imagen: Véase la Tabla Anexa Nº 3: “Resultados


obtenidos en la captación digital” y la imágenes de las filigranas Nº 704 y 712.

Influyen fundamentalmente dos factores: profundidad de la huella de la filigrana en la hoja de papel y


la existencia y densidad de grafías sobre la zona donde se ubica la filigrana.

4. Fotografía con el Vídeo Espectro Comparador

Características de los materiales empleados: el VSC 5000 es un aparato que permite la obtención de
imágenes mediante la combinación de intensidades de luz con filtros predeterminados, asociados a un
programa informático, fotografía y scanner.

Descripción de la técnica: Situamos la hoja con la filigrana sobre la superficie del área de trabajo del
VSC y realizamos la toma de las imágenes bajo las siguientes condiciones de iluminación:
• Fotografía natural: Luces: Proyector 100%; Paso Largo: 668; Pasabanda: DESCON-; Aumento:
2,042: Exposición automática (Integración: 1/30 Sec, Iris: 50%, Ganancia: 0dB); Brillo: Auto;
Contraste: Auto.
• Fotografía al trasluz: Luces: trasmitida 100%; Paso largo: VIS; Paso largo: VIS; Pasabanda:
DESCON-; Aumento: 2,042; Exposición automática (Integración: 0.75 Sec, Iris: 50%, Ganancia:
0dB); Brillo: Auto; Contraste: Auto.
• Fotografía con luz infrarroja: Luces: Proyector 445-640; Paso Largo: 668; Pasabanda: DESCON-;
Aumento: 2,042; Exposición automática (Integración: 2,4 Sec, Iris: 53%, Ganancia: 2dB); Brillo:
Auto; Contraste: Auto.

438
• Fotografía con luz ultravioleta: Luces: trasmitida UV; Paso largo: VIS; Paso largo: VIS;
Pasabanda: DESCON-; Aumento: 2,042, Exposición automática (Integración: 2,4 Sec, Iris: 55%,
Ganancia: 0dB); Brillo: Auto; Contraste: Auto.
• Fotografía con luz rasante: izquierda, derecha y combinada:
Combinada: Luces Lateral L y R; Paso largo: VIS; Pasabanda: DESCON-; Aumento: 2,042;
Exposición automática (Integración: 1/2 Sec, Iris: 50%, Ganancia: 0dB); Brillo: Auto; Contraste:
Auto.
Derecha: Luces Lateral R; Paso largo: VIS; Paso largo: VIS; Pasabanda: DESCON-; Aumento:
2,042; Exposición automática (Integración: 1 Sec, Iris: 50%, Ganancia: 0dB); Brillo: Auto; Contraste:
Auto.
Izquierda: Luces Lateral L; Pasabanda: DESCON-; Aumento: 2,042; Exposición automática
(Integración: 1 Sec, Iris: 50%, Ganancia: 3dB); Brillo: Auto; Contraste: Auto.

El objeto de este ensayo fue analizar la imagen obtenida bajo los parámetros de visibilidad de la
reproducción de la filigrana e interferencia del texto del documento original en la lectura de la
reproducción de la imagen.

Resultados obtenidos respecto a la visibilidad de la imagen: Véase la Tabla Anexa Nº 3: “Resultados


obtenidos en la captación digital”.

La fotografía con luz trasmitida ultravioleta o luz infrarroja ofrece datos interesantes sobre las tintas y
el estado de conservación del documento (véase la imagen con luz infrarroja de la filigrana Nº 704),
pero la calidad de la imagen reproducida es generalmente muy inferior a la lograda por medio de una
luz fría, sólo en un caso con la luz infrarroja y en otro con la ultravioleta la visibilidad fue superior, pero
en ningún caso llegó a ser superior a la alcanzada con el escáner, tal como se puede comprobar en las
imágenes correspondientes de la filigrana Nº 712.

La fotografía con luz rasante (oblicua) aporta datos válidos sobre la textura del papel y la impronta de
la filigrana. Es muy útil para determinar el lado de la hoja que ha estado en contacto con la forma, sin
embargo la imagen obtenida no suele servir para reproducir la filigrana. Véase las imágenes de las
filigranas Nº 704 y 712 del anexo.

5. Escaneado

Descripción de la técnica: Colocamos la hoja con la filigrana sobre la superficie de la pantalla del
escáner y obtuvimos su imagen.

439
Características de los materiales empleados: ensayamos con cuatro tipos de escáner.
• Escáner de la Copiadora – Impresora Infotec ISC 2525, en el modo “escala de grises”, resolución
300 dpi y formato de la imagen JPG.
• Escáner de mano Reflecta KWIK-Scan, en el modo “color contacto”, resolución 300 y 600 dpi,
formato JPG.
• Escáner de negativos EPSON Perfection V500.
• Escáner de negativos EPSON Perfection V700 PHOTO.

El objeto de este ensayo fue comprobar si se podía obtener la imagen de la filigrana con un escáner y
valorar la calidad de esta imagen bajo los parámetros de visibilidad de la reproducción de la filigrana e
interferencia del texto del documento original en la lectura de esta reproducción, según la graduación
arriba descrita.

Resultados obtenidos respecto a la visibilidad de la imagen: Véase la Tabla Anexa Nº 3: “Resultados


obtenidos en la captación digital”.

Solamente los escáneres para negativos nos han permitido la reproducción de la imagen de la filigrana22.
La diferencia principal entre los escáneres V500 y V700 está en el área de trabajo que en el primero es
de 11,5 x 25 cm y en el segundo de 20 x 25 cm.

Con estos dos escáneres la calidad de la imagen, en muchos casos, es sensiblemente superior a la
lograda por medio de la fotografía digital.

El escaneado de las filigranas no ofrece problemas cuando se trata de documentos sueltos, si el


documento forma parte de una encuadernación, legajo u otro sistema en el que las hojas están cosidas
entre sí es muy complicado utilizarlo. Igual que en el caso de la fotografía influye en la calidad de la
imagen obtenida la profundidad de la impronta que ha dejado la huella de la filigrana en la hoja de
papel y la existencia y densidad de grafías sobre la zona donde se ubica la filigrana.

Por lo tanto, para documentos sueltos el escáner V700, (con una superficie de escaneado de 20 x 25
cm) en modo “profesional” y resolución 300 dpi, cubre la mayoría de los formatos de filigranas. Siempre
se ha de poner una regla al lado de la filigrana, para tener la escala de dimensionalidad. La calidad
de estas imágenes es seguida por las logradas con la fotografía digital con luz transmitida (se utilizará
una hoja o caja de de luz), que sirve tanto para documentos sueltos como encuadernados, también se
ha de poner una regla para tener la escala de dimensionalidad. En ambos métodos la imagen se verá
interferida por el texto que hubiere sobre la filigrana.

22 Nicolangelo Scianna nos ha informado que está trabajando sobre la optimización y comercialización de un escáner manual
que ofrezca los mismos resultados que el escáner de negativos (SCIANNA 2009: 369).

440
6. Dibujo digital sobre una reproducción

Descripción de la técnica: contando con una reproducción de la filigrana (frotado, fotografía o


escaneado), que se visualiza en la pantalla del ordenador, con un programa de dibujo se realiza el
calco de la imagen sobre una tableta digitalizadora o sobre la pantalla del ordenador.

Características de los materiales empleados:


• Documento original o reproducción fotográfica digital o frotado de la filigrana.
• Ordenador
• Tableta digitalizadora: Wancon Intuos3, área activa de 48’7 x 30’4 cms y una resolución de
5.080 dpi.
• Programa de dibujo Inkscape

El objeto de este ensayo fue determinar la fidelidad de la reproducción al original: haciendo el dibujo
sobre:
a) una tableta digitalizadora y
b) sobre la pantalla del ordenador.

Otra consideración que tuvimos en cuenta fue la experiencia de la persona que realizaba el ensayo.
Con la tableta digitalizadora la persona que hacia la reproducción era la primera vez que utilizaba este
instrumento y en el segundo caso, la reproducción de la imagen en el ordenador, la persona disponía
de experiencia de trabajo con este instrumento.

Este parámetro lo graduamos en una escala del 1 a 5, de la misma forma que en el apartado nº 1
(Calco manual).

Resultados obtenidos respecto a la fidelidad con el original: Véase la Tabla Anexa Nº 4: “Resultados
obtenidos en la reproducción: Manual, Ordenador, Tableta”.

Se pueden conseguir dibujos vectoriales de las filigranas con calidades “Buenas” o “Muy buenas” en el
ordenador con el programa Inkscape. Una de las ventajas es que el dibujo digital vectorial se puede
ampliar sin pérdida de calidad de imagen y se puede rectificar fácilmente, también es posible realizar
el trabajo en cualquier momento ya que se trabaja con imágenes previamente digitalizadas. En la
reproducción se dibujará también la regla para tener la referencia de dimensionalidad de la filigrana.

Con la tableta digitalizadora se puede trabajar directamente sobre la filigrana del documento original,
sobre el calco manual de ésta o viendo en la pantalla del ordenador la imagen de una reproducción
de la filigrana. En los dos primeros casos los resultados pueden ser similares a los del calco manual,
siempre que la persona tenga cierta experiencia y destreza en el manejo de la tableta digitalizadora y el
programa Inkscape; pero, como se ha de dibujar la filigrana contorneando su silueta con el lapicero de

441
la tableta digital, el trazo dibujado aparece discontinuo, ya que no se está aplicando el dibujo vectorial.
En el tercer caso los resultados son los arriba comentados para el dibujo digital en el ordenador.

Tanto con el ordenador como con la tableta digitalizadora, cuando se saca la imagen de la filigrana su
visibilidad estará interferida por el texto, si lo hubiere, excepto cuando se trabaja sobre la imagen del
calco manual o la reproducción de un frotado.

Los resultados obtenidos por el dibujo digital son variables respecto al calco manual, no podemos decir
que siempre son superiores, pero tampoco podemos asegurar que el calco manual es más fiable que el
dibujo digital, como se puede ver en las imágenes de las filigranas Nº 704 y 712. Si la reproducción de la
imagen de una filigrana por cualquiera de estos dos sistemas se acompaña de las imágenes obtenidas
por un sistema directo como el frotado, la fotografía o el escaneado, podemos asegurar que el calco
manual no ofrece grandes ventajas sobre el dibujo digital, excepto cuando la silueta de la filigrana se
percibe con dificultad, ya que el ojo humano puede llegar a captar y reflejar en la reproducción lo que
los anteriores métodos no llegan a recoger de la filigrana, como se puede apreciar en la ilustración nº 5.

Resultado del estudio comparativo de estas técnicas

La metodología seguida y los resultados los ofrecemos en las tablas anexas. Para cada filigrana
elaboramos una ficha con las imágenes obtenidas: “Reproducción de la imagen de la filigrana”,
debido a los límites de esta publicación sólo ofrecemos las de la filigrana Nº 704 y 712. Seguidamente
valoramos los sistemas de reproducción según los parámetros ya descritos y colocamos en una tabla
general los resultados más significativos, a tenor de éstos sacamos las siguientes conclusiones:

1. En cuanto a la obtención de la imagen original:


• En documentos individuales o sueltos: el escaneado y la fotografía digital dan muy buenos
resultados. Entre ambos preferimos el escáner, puesto que su coste es similar a una buena cámara
fotográfica digital, permite los mismos resultados (a veces algo mejores), reproduce la imagen
con las mismas dimensiones del original y el proceso y tratamiento de las reproducciones es más
rápido que con la cámara fotográfica.
• Para documentos que formen parte de un libro encuadernado: la fotografía digital y el frotado
son los métodos preferibles.
• La fotografía con luz trasmitida ultravioleta o luz infrarroja ofrece datos interesantes sobre las
tintas y el estado de conservación del documento, pero la calidad de la imagen reproducida suele
ser inferior a la lograda por medio de una luz fría.
• La fotografía con luz rasante (oblicua) aporta datos válidos sobre la textura del papel y la
impronta de la filigrana. Es muy útil para determinar el lado de la hoja que ha estado en contacto
con la forma, sin embargo la imagen obtenida no suele servir para reproducir la filigrana.

442
2. En la obtención de la imagen por interpretación directa de su silueta o sacada de una reproducción
de la misma:
• El calco manual del documento original está sometidos a los errores propios de la lectura
humana del original y a la destreza en dibujarlo.
• El calco digital de la fotografía, el escaneado o el frotado de una filigrana se puede hacer por
medio de un programa de dibujo vectorial lográndose tan buenos resultados o incluso superiores
al calco manual. También está sometido a errores humanos de lectura de la imagen original o de
la destreza para reproducirla. Se necesita un tiempo de aprendizaje para manejar el programa.
Es un método cuyas posibilidades son muy innovadoras pues permite trabajar con la imagen sin
necesidad del documento original, hacer la corrección instantánea o posterior del dibujo y guardarla
en baja resolución sin perder calidad.
El calco digital también se puede obtener directamente del documento original, debidamente
protegido, mediante una hoja de luz y una tableta digital, pero el trazo saldrá discontinuo.

3. Respecto a los sistemas descritos es necesario señalar que:


• Con el frotado los mejores resultados los hemos conseguidos empleando una hoja de papel
continuo fino de 40-50 gr/m2 y un lapicero de grafito puro de 2B - 3B, la superficie se raya de
izquierda a derecha manteniendo un ángulo de inclinación de unos 450.
• La fotografía digital la hemos hecho instalando la cámara en un soporte fijo y manteniéndola
paralela al documento que estaba sobre una caja u hoja de luz fría. Al lado de la filigrana colocamos
una regleta milimetrada. Sobre la filigrana se puede colocar un cristal, en este caso al zoom de la
cámara se le ha poner una lente antirreflejo.
• El escaneado lo hicimos con un escáner de diapositivas, colocamos sobre el cristal una regleta
milimetrada y encima el documento.
• El calco con la tableta digital hemos comprobado que tiene la misma validez con las distintas
gamas de modelos que ofrece la casa Wacom, desde los más sencillos a los que ofrecen múltiples
aplicaciones.
• El programa de dibujo digital vectorial que elegimos es el Inkscape, que se puede descargar
gratuitamente de Internet, es fácil de utilizar y tiene múltiples recursos con el que consigue óptimos
dibujos.

443
Conclusión final

Los resultados obtenidos, teniendo en cuenta las características de los papeles, se pueden aplicar a
la documentación manuscrita en papel de los siglos XIV al XVIII. Para la documentación impresa, la
intensa impronta que en algunos casos dejan los tipos reduce tanto la visibilidad de la filigrana que los
resultados que hemos obtenido por medio del fotografiado o escaneado de la filigrana pueden variar.

Como conclusión a este estudio, proponemos la obtención de dos tipos de imágenes: la imagen original
(por frotado, fotografía o escaneado) y la imagen que sería el esquema de la filigrana (calco o dibujo).
Esta segunda imagen se sacaría en un segundo tiempo a la reproducción de la imagen de la filigrana
original, excepto en el caso del calco sobre el documento original. En cuanto al calco manual de la
filigrana original creemos que para las situaciones en que la imagen de la filigrana original es nítida
puede ser sustituido por la fotografía digital o el escaneado, y en un segundo momento se obtendría
de esta imagen el esquema de la filigrana con una tableta digital o un programa digital de dibujo. Sólo
cuando la imagen de la filigrana original no sea clara, por ser su impronta débil o defectuosa o estar en
un documento profusamente escrito o impreso, el calco manual permite reflejar elementos que capta
el ojo humano y que no se perciben en los demás sistemas comentados.

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRIQUET, C.M. (1991): Les filigranes. Dictionnaire historique des Marques du Papier dès leurs
apparition vers 1282 jusqu´en 1600. Georg Olms, Hildesheim-Zürich-New York. Reprod. facs. de la ed.
de Anton Hiersemann, Leipzig, 1923.
CAMPOS, J. (1995): «La radiación beta X en la obtención de filigranas». Rev. Investigación y Técnica,
124: 354-359.
CHAPELLE, A. de la y LE PRAT, A. (1996): Les relevés de filigranes. Musée du Louvre, París.
DELFT, M. van y DIETZ, G. (2007): «Le filigrane e lo Studio dei manoscritti, disegni e stampa». En
Catalogo Della mostra “Testa di bue e sirena. La memoria delle carta e delle filigrane dal medioevo al
seicento”. Landesarchiv Baden-Württemberg, Stuttgart: 27-30.
DIETZ, G. y DELF, M. van (2009): «Watermark Imaging Technologies. Watermark Collectors and their
Collections». En Catálogo: Bull’s Head and Mermaid: The History of Paper and Watermarks from the
Middle Ages to the Modern Period. Landesarchiv Baden-Württemberg. Stuttgart: 67-69.
DÍAZ DE MIRANDA, Mª D. y HERRERO MONTERO A.Mª (2009): El papel en los archivos. Trea, Gijón.
DÍAZ DE MIRANDA, Mª D. (2011): «La creación del Corpus de Filigranas Hispánicas online». Actas del
IX Congreso Nacional de Historia del Papel en España, Zaragoza: 185-206.
DÍAZ DE MIRANDA, Mª D, (2013). Análisis y desarrollo de una base de datos para el estudio del
papel y de las filigranas: fuente para la elaboración de la historia del papel en España. Universidad de

444
Barcelona Facultad de Bellas Artes, (inédita).
DÍAZ DE MIRANDA, Mª D y SÁNCHEZ (2011): J «Elección y optimización de los sistemas de obtención
de las imágenes de las marcas de agua». En Actas del XVIII Congreso Internacional de Conservación
y Restauración de bienes Culturales, Granada, Universidad de Granada, 425-429.
GASCÓN, S. (2007): «Las filigranas de papel de la encomienda hospitalaria de Vallfogona de Riuborb
(conca de Barberà, Tarragona): 3º y 4º partes». Actas VII Congreso Nacional de Historia del Papel en
España. Asociación Hispánica de Historiadores del Papel. El Paular (Rascafría), 313-390.
GRAVELL, T.L. (1975): «A New Method of Reproducing Watermarks for Study». Rev. Restaurator, 2:
95-104.
HIDALGO BRINQUIS, Mª C. y DÍAZ DE MIRANDA, Mª D. (2013): «La création d´un Corpus des
Filigranes Hispaniques en ligne». IPH Congress Book, Vol. 19, 169-174.
SCHREINER, M. (2009): «Technical Studies of Watermarks at the Academy of Fine Arts Vienna:
Soft X-ray Radiography of Rembrandt Objects and Drawings of the 19th cent». Bernstein-
Symposium, Vienna/Austria». <http://www.bernstein.oeaw.ac.at/twiki/bin/viewfile/Main/
Symposium20090218?rev=1;filename=Bernstein_Symposium_Schreiner1_25.pdf>, [consulta:
27.3.2011].
STAALDUINEN, M. van (2010): Content-based Paper Retrieval Towards Reconstruction of Art History.
ASCI. Enschede.
SCIANN, N. (2009): «Le filigrane bolognesi de Charles Moïse Briquet». In: Belle le contrade della
memoria. Studi su documenti e libri in onore di Maria Gioia Tavoli. A cura di Federica Rossi, Paolo Tinti
Bolonia, Pàtron, 365-378
THIENEN, G. VAN; ENDERMAN A. y DÍAZ-MIRANDA, MªD. (2008): «El papel y las filigranas de los
incunables impresos en España a través de los diversos ejemplares conservados en las bibliotecas del
mundo». Rev. Sigma. Revista de Historia del libro y de la Lectura, 2: 239-261.
THIENEN, G. VAN y VELDHUIZEN, M. (2007): Präsentationen von Wasserzeichen und ihre Nutzung.
«Watermarks in Incunabula printed in the Low Countries (WILC). An online illustrated database»
Kohlhammer, Sttugart: 65-69.
VALLS, O. (1978): Historia del Papel en España. Tomo I. Empresa Nacional de Celulosa, Madrid.

445
TABLAS ANEXAS

446
447
448
449
450
451
452
Filigrana Nº 704

453
Filigrana Nº 712

454
Ilustración Nº 1

Dibujos a mano alzada de filigranas realizados por Gerard Meerman (1761-1763). Museum
Meermanno-Westreenianum. Archief Meerman, Sig. MM274_084r. Fotografía: Mª Dolores Díaz de
Miranda

455
Ilustración Nº 2

La abundancia de elementos que forman la filigrana y la interferencia del texto dificultan la


reproducción dando lugar a diferentes interpretaciones de la imagen, tal como se ve entre el calco
manual y el dibujo digital. Fotografía: Mª Dolores Díaz de Miranda

Ilustración Nº 3

En este caso el frotado da mejores resultados que el escáner o la fotografía, debido


a las interferencias del texto sobre la filigrana. Fotografía: Mª Dolores Díaz de Miranda

456
Ilustración Nº 4

Documento con la filigrana sobre una hoja de luz fría colocada sobre una tableta digital, conectada a un
ordenador. En la pantalla del ordenador se visualiza el programa Inkscape. Fotografía: Juan Sánchez

Ilustración Nº 5

La dificultad de visibilidad de la filigrana hace que el calco manual refleje elementos, captados por
el ojo humano, que no se perciben por los sistemas digitales o por el frotado. Fotografía: Mª Dolores
Díaz de Miranda

457
EL LIBRO: LA MARCA INVISIBLE. FILIGRANAS PAPELERAS EUROPEAS E
HISPANOAMERICANAS

María del Carmen Hidalgo Brinquis


Secretaria General de la Asociación Hispánica de Historiadores del Papel
Emérita del Instituto del Patrimonio Cultural de España

Recientemente se ha publicado un libro largamente esperado por los estudiosos del papel:
“La marca invisible: filigranas papeleras europeas e hispanoamericanas” de José Carlos
Balmaceda. Es una obra extensísima con las de 700 páginas en la que se recogen más de 2.000
filigranas reproducidas con gran esmero en las que se puede ver no sólo la silueta de la filigrana
sino también la textura de la trama. La obra es fruto de intensos años de trabajo de José Carlos
Balmaceda sobre la fabricación del papel y sus filigranas en la Península Ibérica y sus relaciones
con Iberoamérica ya que, frente a otros estudiosos del papel, su investigación se centra en la
observación directa llevada a cabo a lo largo de infatigables horas de trabajo con documentación
original en diversos archivos y sobre todo, desde que está afincado en España, en el Archivo
Histórico Provincial de Málaga.

Conocí a José Carlos Balmaceda en un curso que bajo el nombre “El papel y la tinta” organizaba la
Diputación de Huelva, en la Universidad de La Rábida en 1992. En él se me encargó hablar sobre
“Filigranas y marcas de papel” y, tras mi charla, se me acercó José Carlos como persona interesada en
el estudio de estos temas, que ya los había iniciado en su país natal: Argentina.

A partir de entonces nos hemos mantenido continuamente en contacto intercambiando conocimientos


y opiniones y colaborando en numerosos congresos. Su participación ha sido intensa en los Congresos
Nacionales de Historia del Papel del que es miembro fundador. En el primero, celebrado en el ya lejano
de 1995, nos habló del papel en Iberoamérica donde ya se vislumbraba cual iba a ser el tema central
de sus futuros trabajos.

A todos estos estudios y también los realizados en los congresos internacionales del IPH (International
Paper Historians) así como los publicados en numerosas revistas especializadas en estos temas hay
que añadir su amplia bibliografía centrada en la fabricación del papel en la provincia de Málaga y
sobre todo su magnífico libro “La contribución genovesa al desarrollo de la manufactura papelera
española” que es un referente para todos los estudiosos de papel en España e Iberoamérica durante
los siglos XVII y XVIII. Esta labor internacional se ve potenciada como miembro del Instituto Europeo
de Historia del Papel de la Fundación Gianfranco Fedrigoni.

459
Estos trabajos sobre las filigranas papeleras son un aporte fundamental para datar lo documentos
que encontramos en nuestros archivos y bibliotecas ya que su estudio y clasificación constituye un
elemento básico para poder saber cuándo y dónde se ha fabricado el papel ya que la filigrana es
considerada como su acta de nacimiento.

En este libro que presentamos, además del estudio sobre el origen y las características de la fabricación
del papel y sus filigranas, que nos sirve de preámbulo a los temas desarrollados, el hilo conductor del
texto se centra en el estudio del papel en las diferentes comunidades autónomas de España y sus
filigranas, para continuar con el estudio de las filigranas de papeleros europeos que encontramos en
nuestra Península. Todos ellos acompañados de numerosísimas imágenes y esquemas que son una
ayuda fundamental para la mejor comprensión de todos los temas expuestos.

Finalmente, hay un importantísimo capítulo dedicado a las filigranas genovesas tan profusamente
presentes tanto en la documentación española como hispano-americana durante los siglos XVII y XVIII
completado con un estudio sobre su legislación y la presencia de papeleros genoveses en nuestra
Península para la comercialización de sus productos en Ultramar.

Deseamos que esta publicación sea un hito en el estudio del papel a ambos lados del Atlántico siendo
esta importante manufactura el vehículo indiscutible de nuestro idioma y base fundamental para nuestra
común historia.

460
FILIGRANAS, LAS HUELLAS DEL AGUA

Ana Isabel Osorno Nieto


Museo Casa de la Moneda. FNMT-RCM
anaisabel.osorno@gmail.com

RESUMEN

La exposición Filigranas, las huellas del agua, pretende acercar al público general el mundo papelero.
La historia del papel, su fabricación, las marcas de agua, el papel de seguridad y la faceta artística
de la creación de las marcas de agua en estos papeles, son los temas con los que el Museo Casa
de la Moneda ha creado un recorrido tan interesante como innovador. Una muestra itinerante, que,
inaugurada en Madrid en marzo de 2016, tiene la ocasión de trasladarse al Museu do Papel Terras
de Santa Maria en Portugal, con motivo del XII Congreso Internacional de Historia del Papel en la
Península Ibérica.

PALABRAS CLAVE

Exposición, fabricación del papel, marca de agua, papel de seguridad, Fábrica Nacional de Moneda y
Timbre – Real Casa de la Moneda.

ABSTRACT

The exhibition Filigranas, las huellas del agua, aims to bring the world of papermaking closer to the
general public. The history of paper, its production, watermarks and security paper, as well as the
artistic facet of watermark manufacturing are the subjects selected by the Museo Casa de la Moneda to
create a route as interesting as it is innovative. This touring exhibition, which opened in Madrid in March
2016, has now the chance to move to the Museu do Papel Terras de Santa Maria in Portugal, on the
occasion of the XII International Congress of Paper History in the Iberian Peninsula.

KEYWORDS

Exhibition, paper manufacture, watermark, security paper, Fábrica Nacional de Moneda y Timbre –
Real Casa de la Moneda.

461
Filigranas, las huellas del agua, es una exposición temporal creada en el año 2016 por el Museo Casa
de la Moneda de Madrid. Concebida como una itinerancia, ya han podido disfrutarla más de 12.000
personas. Tras su exitoso comienzo en Madrid, se trasladó a las ciudades de Burgos y Segovia a lo
largo de dicho año.

La muestra tiene como objetivo principal dar a conocer al público la historia y relevancia de un producto
tan cotidiano, a la vez que importante como es el papel y la presencia en él de las marcas de agua,
para descubrir a través de ellas la singularidad del papel de seguridad.

El Museo Casa de la Moneda asumió la responsabilidad de organizar esta exposición dentro de la


labor social que desarrolla como departamento de la Fábrica Nacional de Moneda y Timbre (FNMT-
RCM). Difundir la cultura es uno de nuestros principales cometidos y, siendo el papel de seguridad uno
de los principales productos y razón de ser de la FNMT-RCM, era obligado dedicar una exposición
monográfica a un tema tan escasamente tratado.

La FNMT-RCM produce el papel de los billetes euro españoles, y muchos otros papeles de seguridad
para el mundo entero, en su Fábrica de Papel de Seguridad de Burgos. Este papel tiene unas
características muy especiales, entre los que se incluyen los últimos avances tecnológicos en materia
de seguridad, para imprimir en él unos billetes y documentos de seguridad con los elementos de
protección más eficientes y una de las mejores calidades del mundo en la materia.

Figura 1 Billete de 50 Euros.

No es el mundo papelero uno de los temas favoritos de las exposiciones y montajes culturales. La
marca de agua es algo aún menos habitual y que ésta sea el elemento central de una exposición
monográfica sobre el papel, destinada al gran público, nos atrevemos a calificar como algo inédito; al
menos en España.

462
Figura 2 Marca de agua sombreada, “Flora” de Tiziano Vezellio.

Con Filigranas, el Museo Casa de la Moneda ha pretendido plantear una propuesta museográfica
básicamente didáctica, diseñada con varios niveles de lectura con el fin de llegar a un público lo más
amplio posible. No se trata de una exposición destinada a especialistas, a quienes, sin embargo, puede
sorprender por la inclusión de temáticas tan escasamente tratadas como son todos los relacionados
con el papel de seguridad. Tampoco conceptualmente es una exposición simple, pues abarca cinco
apartados diferentes, de lo más general a lo más concreto; sin embargo, su didáctica está dispuesta de
manera que pueda aportar algo a personas de cualquier edad y orientación cultural.

Además, Filigranas es una muestra viva, que, dentro de unos objetivos generales de difusión de la
cultura relacionada con el mundo del papel, se ha podido adaptar a objetivos más específicos en
función de las distintas ubicaciones. Una estructura temática compartimentada en bloques individuales,
un diseño concebido teniendo en cuenta la necesidad de realizar cambios en función de la ubicación y
una museografía que pretende destacar el valor del objeto, llamando la atención sobre éste en primer
lugar e independientemente de los textos de apoyo, permiten a Filigranas adaptarse a diferentes tipos
de público y ubicaciones, con el objetivo de transmitir el interés por el mundo papelero.

Todo ello desarrollado mediante la exposición de más de 180 piezas: documentos, papeles con marca
de agua, billetes de banco, útiles y materiales para la fabricación del papel, en una serie de expositores
diseñados especialmente para ello, para los que incluso fue necesario desarrollar soluciones lumínicas
técnicamente innovadoras.

463
Estructura de la muestra

Filigranas, las huellas del agua, se organiza en cinco secciones, cada una de ellas centrándose en un
tema más concreto. El primer apartado está dedicado a la historia del papel: su origen, los primeros
usos y la aparición de las primeras marcas de agua. También podemos ver los diferentes usos que
se han otorgado al papel con la llegada de la industrialización y cómo su uso se hace más cotidiano y
habitual, como en periódicos, libros, cartas o billetes de banco.

Figura 3 Vitrina con diferentes usos del papel.

La segunda sección está dedicada al proceso de creación del papel, a las materas primas y herramientas
necesarias para su elaboración, así como las diferentes formas de crear el papel y las marcas de
agua. Se dedican módulos específicos a cada tipo o clase de fabricación: el papel de tina, la máquina
Fourdrinier y la máquina de forma redonda.

Figura 4 Vitrina con la materia prima para la formación del papel.

Seguidamente, en el tercer capítulo nos centraremos en las marcas de agua y sus diferentes tipos: las
marcas de agua de hilo y las sombreadas, así como sus procesos de elaboración y usos. Podremos ver
muestras de algunos papeles oficiales y algunos papeles de demostración con cada uno de estos tipos.

464
Figura 5.1 y 5.2 Marca de agua de hilo y marca de agua sombreada.

Nos introducimos en el papel de seguridad, concretamente en el utilizado para los billetes de banco,
en especial al producido por la FNMT y al uso en él de las marcas de agua.

Figura 6 Billete de 100 pesetas del 17 de Noviembre de 1970.

Termina este cuarto apartado mostrando el llamativo billete de demostración “Lince”, una muestra de
las más avanzadas técnicas de seguridad en el papel de billetes.

465
Figura 7.1 y 7.2 Detalle del diseño del billete “Lince” y las características de seguridad de este billete.

Por último, la quinta sección se dedica a un tema inédito: el grabado de las marcas de agua sombreadas.
Además, con él se pretende realizar un merecido homenaje a los dos grabadores de marcas de agua
que ha tenido la Fábrica de Burgos, aportando una pequeña reseña biográfica sobre ellos y mostrando,
aparte de sus trabajos oficiales, sus amplias e interesantes trayectorias como artistas.

La muestra se complementó con la edición de una publicación de 180 páginas a todo color en la que
se desarrollan los temas tratados, por tres especialistas en la materia.

Trayectoria

La idea de esta exposición nace en el año 2015, de la mano del antiguo director y el interés, tanto del
Museo Casa de la Moneda, como de la propia Fábrica Nacional de Moneda y Timbre, de llevar la historia
y las características del papel de seguridad y las marcas de agua a la ciudadanía, y así, mostrar el gran
trabajo que se desempeña en la Fábrica de Papel de Seguridad de Burgos al público en general.

Esta exposición no hubiera sido posible sin la inestimable colaboración de dos estudiosos del mundo
papelero: Marino Ayala Campinún y Luis Santos y Ganges.

Figura 8 Marino Ayala Campinún, Luis Santos y Ganges y José María Pérez García.

466
Marino Ayala, Ingeniero Técnico Papelero, y coleccionista de papeles antiguos y marcas de agua,
posee una estupenda colección particular, a la que ha dedicado más de 30 años en recopilar, clasificar
y estudiar numerosas piezas, con las que ha podido colaborar en la producción de esta muestra.
También se contó con su colaboración en la publicación que acompañó a la exposición.

La colaboración de Luis Santos y Ganges, Profesor Asociado en la Universidad de Valladolid e


investigador especializado en el patrimonio industrial, resultó de gran interés para dotar de un contexto
más preciso a las piezas procedentes de la Fábrica de Papel de Burgos, ya que en su segunda tesis
doctoral defendida recientemente se ocupó de analizar la documentación de archivo de nuestra
Fábrica. En su participación en la monografía de la muestra, realiza una breve introducción al tema de
la historia de la FNMT-Burgos.

A finales del año 2015 se comienzan a revisar los fondos del Museo Casa de la Moneda para iniciar el
proceso de selección de piezas. Ya a principios del año 2016 se comienza a seleccionar las piezas de
la colección de Marino Ayala que luego se incluirán en la muestra, junto a las de la colección del Museo.
Después se añadirían algunas piezas del grabador Carlos García Cuadrado y de otros colaboradores
institucionales y particulares.

El 17 de marzo del 2016 se inaugura Filigranas, las huellas del agua en el Museo Casa de la Moneda.
La muestra permanece hasta el 15 de mayo del mismo año. Durante este tiempo tuvieron la ocasión
de verla casi 5.800 personas, un gran éxito de público que motivó la decisión por parte de la dirección
del Museo, de que la muestra comenzara su itinerancia por diferentes ciudades españolas. En los
meses que estuvo expuesta se realizaron una serie de talleres infantiles para que el público más joven
experimentara la fabricación de papel hecho a mano y la dificultad de la creación de las marcas de
agua. Estos talleres corrieron a cargo de la Fundación APAI, que también colaboró en el préstamo de
algunas de las piezas expuestas.

Figura 9.1 y 9.2 Imagen de la inauguración de la exposición y marco de formación del papel de la
Fundación APAI

467
La segunda sede donde se decide trasladar la exposición es la ciudad de Burgos. Ubicación obligada
dada la presencia en esta ciudad de la Fábrica de Papel de Seguridad de la FNMT. De este modo se
satisfacía en muchos casos la curiosidad del público burgalés por conocer de cerca los trabajos de
esta importante industria local, máxime por el secretismo que rodea a esta instalación de seguridad
nacional. Además, se adaptó la muestra para servir de merecido reconocimiento a la labor de sus
trabajadores ante los vecinos de la villa.

Figura 10 Catedral de Burgos con la lona de la exposición.

En colaboración con el Cabildo Catedralicio, se exhibe en la sala Valentín Palencia, ubicada en el


claustro bajo de la Catedral de Burgos. Se inaugura el 7 de septiembre y se clausura el 27 del mismo
mes, pero, pese a su corta estancia, repite el éxito de visitas cosechado en Madrid, recibiendo más de
4.000 personas en apenas veinte días.

Figura 11.1 y 11.2 Imagen de la fachada de la sala Valentín Palencia, ubicado en la Catedral de
Burgos y a continuación una imagen de la inauguración de la exposición en Burgos

468
Aunque se tuvo que realizar una pequeña adaptación de la exposición de Madrid, impidiendo que se
exhibieran la totalidad de sus piezas, en Burgos se quiere resaltar la segunda parte de la muestra,
que se centra en el papel de seguridad en general, además del fabricado en la misma ciudad en
particular. De esta manera, las piezas más representativas serían los billetes producidos por la FNMT,
los materiales empleados en la producción del papel y las marcas de agua junto al billete demostración
“Lince”.

Es en Burgos precisamente donde cobra más sentido la última parte de la exposición, dedicada a los
grabadores de la Fábrica de Papel de la FNMT-RCM. Su presencia en el acto de inauguración de la
muestra en la Catedral de Burgos sirvió para que la Dirección de la FNMT-RCM expresase un sentido
homenaje al magnífico trabajo realizado durante muchos años por Rafael Calvo Zumel y Carlos García
Cuadrado en la creación de marcas de agua para los billetes de banco españoles. Homenaje que
queremos repetir en estas líneas.

Figura 12 Imagen de Carlos García Cuadrado, Luis Santos y Ganges, José María Pérez García y
Rafael Calvo Zumel en la inauguración de la exposición de Madrid.

Rafael Calvo Zumel, nacido en 1925, grabador e hijo del célebre orfebre y forjador burgalés Maese
Calvo, fue pionero en el grabado de marcas de agua sombreadas para el papel de seguridad de los
billetes españoles. Hasta entonces el grabado de los originales y la fabricación de las telas para las
marcas de agua se venían encargando a otros países. A partir de 1973 comienza a trabajar con la
técnica del grabado de ceras para lograr las marcas de agua sombreadas, tras haber estudiado la
técnica en Alemania. Su trabajo continúa hasta el año 1990, fecha de su jubilación, grabando hasta
ese momento todas las marcas de agua de los billetes españoles, así como las de un gran número de
billetes extranjeros y las de otros papeles de seguridad.

469
Figura 13 y 14 Modelos de cera “Marte, Dios de la Guerra” según Velázquez y de la Catedral de Burgos.

Carlos García Cuadrado, nacido en 1948, sucedió a Rafael Calvo en la tarea de la creación de las
marcas de agua del papel de seguridad español. Comenzó sus trabajos en la FNMT en 1987, junto a
Rafael Calvo. Gracias a su formación y años de trabajo como diseñador gráfico, fue capaz de realizar
un innovador cambio en el grabado de marcas de agua, utilizando el ordenador para el diseño de
éstas. Durante los años noventa, conseguirá introducir el “grabado digital” en la Fábrica de Papel de
Seguridad de Burgos, convirtiendo así a la Real Casa de la Moneda en una empresa pionera en esta
tecnología a nivel mundial. Parte de su trabajo más importante y reconocido es la creación de las
marcas de agua de la primera serie de los billetes Euro (de las cuantías de 10, 50 y 200).

Figura 15, 16 y 17 Diseño de la marca de agua del billete de 50 euros. Imagen del “grabado digital”
junto a la primera marca de agua diseñada de esta forma.

Tras el éxito cosechado en Burgos, Filigranas se traslada a la Real Casa de Moneda de Segovia,
instalación unida a la FNMT-RCM por una historia común. La exposición, que se pudo visitar desde el
6 de octubre de 2016 al 10 de enero de 2017, mantuvo la buena acogida por parte del público. En este
emplazamiento pudieron ver la exposición 3185 personas, en este caso también se complementó con
actividades y talleres infantiles relacionados con el tema papelero.

470
Figura 18 y 19 El Acueducto de Segovia con la lona de la exposición y una imagen de la
inauguración de la muestra en Segovia.

Este centro de interpretación de primer orden del patrimonio industrial, mantiene una privilegiada
relación con la FNMT a través de un convenio permanente de colaboración, que subraya el carácter
de nuestra institución como heredera universal de todas las Casas de Moneda del Reino. Esto
convertía a la Real Casa de Moneda de Segovia en el lugar idóneo para albergar la exposición.
Como puede verse en las fotografías que ilustran el presente artículo, la arquitectura de la antigua
Casa de Moneda se adaptó perfectamente al discurso expositivo, creando un entorno único para
la muestra.

Figura 20 Real Casa de Moneda de Segovia.

Por último, Filigranas se traslada al Museu do Papel Terras de Santa María, con ocasión de la
celebración del XII Congreso Internacional de Historia del Papel en la Península Ibérica, gracias a la
decidida colaboración de la Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, donde permanecerá desde el
30 de junio al 10 de septiembre de 2017. Estamos seguros de que, en esta nueva localización, por su
idónea relación con el tema, la muestra cobrará un nuevo sentido, sirviendo para reforzar el discurso
interpretativo del patrimonio papelero de esta instalación museográfica.

471
473
ACTAS DEL XII CONGRESO INTERNACIONAL
HISTORIA DEL PAPEL EN LA PENÍNSULA IBÉRICA

TOMO II

Asociación Hispánica de Historiadores del Papel


Câmara Municipal de Santa Maria da Feira
28-30 Junio 2017
GRUPOS DE TRABAJO

1. Técnicas de fabricación de papel. Investigación


2. Papel para usos especiales
3. Papel Hispano-árabe
4. Presencia del papel procedente de la Península Ibérica en Latinoamérica
5. Comercio papelero. Legislación
6. Filigranas
7. Historia del papel. Sociología
8. Arqueología industrial
9. Terminología
10. Tintas, técnicas de Impresión
11. Conservación, Restauración

NOTA
Grupos 3, 4 e 9: sin comunicaciones en este congreso

Edita: Asociación Hispánica de Historiadores del Papel


Junio 2017
Título: Actas del XII Congreso Internacional Historia del Papel en la Península Ibérica – TOMO II
Imprime: Empresa Gráfica Feirense, SA – Santa Maria da Feira
Depósito Legal: 427695-17
ENTIDADES ORGANIZADORAS
Asociación Hispánica de Historiadores del Papel
Câmara Municipal de Santa Maria da Feira

Entidades Patrocinadoras
Navigator Company
ASPAPEL (Asociación Nacional de Fabricantes de Papel, Pasta y Cartón)
Fábrica de Papel e Cartão da Zarrinha, S. A.
Fábrica de Papel Ponte Redonda, S. A.
Imprenta Municipal Artes Del Libro (Ayuntamiento de Madrid)
DS Smith

Entidades ColaboradorasInstituto Del Patrimonio Cultural de España


Biblioteca Nacional de Portugal
IPH (International Paper Historians)
Bernstein (The Memory of Paper)
Fundación Barrié
Deputación de Lugo
CELPA (Associação da Indústria Papeleira)
ANIPC (Associação Nacional dos Industriais de Papel e Cartão)
TECNICELPA (Associação Portuguesa dos Técnicos das Indústrias de Celulosa e Papel)
CAHIP (Conservación, Análisis del Papel)
Iberpapel PAY- PAY
Museu Molí Paperer de Capellades
Museu Molí Paperer de Banyeres de Mariola

COMITÉ ORGANIZADOR Monasterio de San Pere de les Puel-les


Barcelona
Presidente Eduardo Mármol
Fernando Rodríguez Lafuente Imprenta Diputación. Córdoba
Fundación José Ortega y Gasset José Luís Nuevo Ábalos
Vicepresidente Investigador
Carlos Reinoso Torres Victoría Rabal Mérola
ASPAPEL Museu Molí-Paperer de Capellades
Secretaria General Antón Pereira Abonjo
Mª del Carmen Hidalgo Brinquis Conservador-restaurador de documento Gráfico
Instituto del Patrimonio Cultural de España Maria José Santos
Tesorero Museu do Papel Terras de Santa María
Rosa Alcázar Felipe
Imprenta Artesanal. Ayuntamiento de Madrid Comité Local
Vocales
José Carlos Balmaceda Pelouro de Cultura, Turismo, Bibliotecas e
CAHIP Museus da Câmara Municipal de Santa Maria da
Juan Castelló Mora Feira
Papelero. Banyeres de Mariola Museu do Papel Terras de Santa Maria
Mª Dolores Díaz Miranda
TOMO II
ÍNDICE

GRUPO 7. HISTORIA DEL PAPEL. SOCIOLOGÍA.

The historical significance of researching the technological development of


European paper with and without watermarks 13

Anna-Grethe Rischel

La Asociación Hispánica de Historiadores del Papel (AHHP) 25

Mª del Carmen Hidalgo Brinquis

Sobre la autenticidad de los documentos en papel de los Colón de Galicia 45

Mª Pilar Rodríguez Suarez, Mercedes Vázquez Bertomeu

O papel na terapia pela arte 69

Maria Júlia Valério

Julius von Wiesner, Joseph von Karabacek y el estudio del papel árabe 75

Soledad Cánovas del Castillo

Francisco José de Azevedo Aguiar Brandão – uma personalidade singular no


meio político e industrial da Feira no século XIX 89

Francisco Azevedo Brandão

Laços familiares de mestres papeleiros genoveses no Portugal oitocentista.


Estudo genealógico das famílias Gambino e Testa 97

Miguel Portela

El papel del boceto en la creación artística: Rafael Monleón y Torres (1843-1900) 125

Ana Ros Togores

A Imprensa da Universidade de Coimbra: contributos para a história


da produção tipográfica e aquisição de papel (1790 e 1809) 131

Ana Maria Leitão Bandeira

GRUPO 8. ARQUEOLOGÍA INDUSTRIAL

En el molino de Aguerri: La vida cotidiana en un molino papelero de la primera mitad


del siglo XVI 149

Manuel Pedraza

La elaboración de papel en Sant Quintí de Mediona y los molinos de Ca l’Oliver (siglos XVIII-XIX) 159
Jordi Armengol Martí
La Cartuja de Vall de Cristo y la manufactura papelera del Valle del Palancia 187

Federico Verdet Gómez

El papel antiguo: calidad, propiedades y características 209

Marino Ayala Campinún

A Fábrica de Papel da Amorosa. Memória de um património industrial desaparecido 237

Manuel Ferreira Rodrigues

La presencia de los maestros papeleros Guarro en Madrid durante la segunda mitad


del s. XVIII 267

Aurelio García López

As fábricas de papel na região de Tomar. Marcas de água e apontamentos históricos 287

Maria de São Luiz Carreira

Subsídios para a história da Fábrica de Papel do Marco de Canaveses (1923-1958) 301

José Manuel Lopes Cordeiro, Francisco Silva Costa

GRUPO 10. TINTAS. TÉCNICAS DE IMPRESIÓN

Los lirios de Josefina 327

Gloria Pérez de Rada Cavanilles

El papel y las marcas tipográficas en la producción del impresor


Blas Miedes (Zaragoza 1780-1787) 347

Alejandrina Aguas Compaired, Ana María Ballestero Pascual

A liberdade de imprensa em jornais de papel-livro 367

Luiz Humberto Marcos

GRUPO 11. CONSERVACIÓN Y RESTAURACIÓN

O livro raro e exposto: questões de difusão e preservação 383

Tamar de Carvalho R. Lopes

Restauro de papel – Conjunto Documental Arquivo Pessoal e Familiar do


Visconde de Vila Maior 401

Maria do Céu Branco Ferreira

Encadernação e arqueologia industrial: uma memória dos instrumentos e máquinas 413

Ronaldo André Rodrigues da Silva


Conservação e restauro de desenhos e caricaturas de Delfim Maya:
características e marcas de água encontradas nesses papéis do século XX 433

Leonor Loureiro

Biblioteca José Bayolo Pacheco de Amorim. Um breve olhar sobre as marcas-de-água


de documentos impressos em Portugal (séc. XVI-XVIII) 457

Paula Alexandra Pinto Pereira

Contributos para a História do Papel em Paços de Brandão.


O arquivo da Casa da Portela e o “papel” da família Pinto de Almeida 483

Maria da Graça Amaral Neto Saraiva, Cecília Manuela Lopes de Melo


GRUPO 7
HISTORIA DEL PAPEL. SOCIOLOGÍA.
THE HISTORICAL SIGNIFICANCE OF RESEARCHING THE TECHNOLOGICAL DEVELOPMENT
OF EUROPEAN PAPER WITH AND WITHOUT WATERMARKS

Anna-Grethe Rischel
National Museum of Denmark, Environmental Archaeology and Materials Science
Anna-Grethe.Rischel@natmus.dk

ABSTRACT

Papermaking spreads from the Iberian Peninsula to the surrounding countries, where new tools and
technology is developed in Italy to increase the production. In Fabriano Arabian starch sizing is replaced
by gelatine sizing, hand pounding of the rags by stamping mills and moulds with loose screen of reeds
by fixed metal wire screens with watermarks. Julius Wiesner registers through microscopic analysis
of Arabian and European paper these data. In my analysis of the development of European and early
Danish paper with and without watermarks I have followed in Wiesner’s footsteps by observation of the
condition of the rag fibres and the traces of tools and technology used. Without watermarks information
about the provenance of European paper is missing, but all other data about the fibre materials and the
technology used are to be found through macroscopic & microscopic analysis of the paper.

KEYWORDS

Paper analysis, traces of technology, sizing materials, fibre conditions, writing & printing paper

Introduction

With my background as paper conservator since 1980 at the Conservation Department of the National
Museum in Denmark I have worked with paper objects from the Ethnographic collection as well as from
the European collection. This is the reason for my deep interest in paper history and continued studies
of the technological development of the art of papermaking. Through studies of the very paper I have
experienced that much information is to be found from the condition of the fibres about the origin of
the papermaking fibre materials and about the technology used. European handmade paper has until
the 19th century consisted of recycled textile fibres, and the papermakers have during these centuries
adapted their technology to the demands for various paper qualities.

13
The development and spread of rag paper production

Papyrus and parchment served as writing materials in Europe, when Arabian papermakers in the 12th
century introduce their production of rag paper to the Western world on the Iberian Peninsula in Xàtiva.
The new writing material and the papermaking craft spread from Spain to Sicily, Southern France
and Italy in the 13th century, where the papermakers in Fabriano develop a more efficient European
technology [1]. It results in a stronger and better quality of rag paper than the Arabian one, but the Italian
papermakers not only change the whole preparation process in breaking down and dissolving the worn-
out textiles into individual fibres. They also change the mould and sheet formation techniques in order
to increase the production. This new technological development of the papermaking craft in Fabriano
spreads during the next centuries to the rest of the countries in Europe, Scandinavia and Britain [2].

First analysis of paper

Rag paper of fibres from recycled flax (Linum usitassimun, Linaceae family) and hemp (Cannabis sativa,
Moraceae family) has until the end of the 19th century been considered as a 12th century European
invention quite different from the Arabian paper of fibres from cotton (Gossypium species, Malvaceae
family). But Julius Wiesner, the Austrian professor in botany and plant anatomy proves in 1887 with
microscopic analysis of Arabian manuscripts from the Archduke Rainer’s Collection in Vienna that the
Arab papermakers have used recycled flax and hemp materials since the 10th century for their paper
production [3]. He demonstrates with this first scientific analysis of paper, based conclusively on microscopic
examination, spot tests and by using historical criteria that cotton paper has never existed. Both Arabian
and European papermaking start with the production of rag paper originally developed in China [4].

Some of the Arabian codices analysed in Vienna 1887 by Wiesner is now kept in the Oriental and Judaic
Collection at the Royal Danish Library in Copenhagen, where I have had access to make macroscopic
observation of the manuscripts and collect minor samples for microscopic analysis. Scanning Electron
Microscopic (S.E.M.) photo of the 12th century Codex Arab 135 informs about a random fibre distribution
of flax fibres of even width, mixed with more irregular hemp fibres with the characteristic longitudinal
striations and splits. The presence of lime particles originates from the Arabian preparation process of
the rags and not from a coating of the paper. By Polarisation microscope (P.O.L.) it is possible among
the fibres to observe the presence of starch grains that originates from the starch sizing after-treatment
of the paper of Codex Arab135 to make it fit for writing with ink and pen. As illustrated with the S.E.M.
observation of Codex Arab 266 from the Royal Library a heavily sizing of the paper surface is needed
for the Arabian pen and ink writing tools of similar quality as used for their parchment manuscripts and
codices.

14
Fig.1 Codex Arab 266, Royal Library, p. 14, heavily sized

A nearly 3-dimensional impression of the morphology and surface of the individual flax fibres of even
width and of hemp fibres is obtained by observation with Differential Interference Contrast microscope
(D.I.C.), and the combination of P.O.L. and D.I.C microscopes illustrates the papermaking fibres in
details, but various conditions and different origins of the fibres make identification complicated. The
chemical and mechanical preparation process destroys botanical characteristics of the fibres, especially
in recycled material having a repeated preparation process. A few elements are, however, unchanged
such as the lumen, the original shape of preserved fibre ends and the general character of the surface
and morphology of the fibres.

Distinctive features of the fibre material

Some plants are more sensible to the preparation process, and this helps to distinguish the more
fragile hemp fibres from flax fibres. Because of the good condition of the flax and hemp fibres with less
fibrillation and frayed fibre ends than normally found in Asiatic and European paper the microscopic
analysis of Arabian paper has resulted in valuable knowledge about the way these fibres react in paper
production. Flax and hemp fibres have many features in common, but a few leading elements help to
distinguish between the two fibre materials.

Distinctive features of hemp fibres in paper are (i) slightly irregular lumen, (ii) splits and swellings
indicate high sensibility to the preparation process, (iii) different looking fibre ends in one and the
same fibre, ramified fibre ends occur most frequent, (iv) presence of star shaped cluster crystals and
prismatic crystals.

Distinctive features of flax fibres in paper are (i) very narrow, even lumen, (ii) vertical striations less
prominent than in hemp, (iii) tapering pointed and tapering rounded fibre ends, (iv) lack of crystals.

15
New development of paper production

In Europe water-driven fulling mills are normally used as after-treatment of woollen textiles. The
innovative papermakers in Fabriano, introduce, however, during the end of the 13th and start of the
14th century the local fulling mills as new and more efficient tools for the mechanical treatment of the
retted rags compared to the Arabian pounding by hand [5]. At the same time the knowledge of the
local metal work inspires the papermakers in Fabriano to a new construction of the papermaker’s
most important tool – the mould with a fixed, rigid screen of metal wire of horizontal laid lines,
crossed by vertical chain lines and with a filigree of metal thread – a watermark – sewn on top of the
metal wire. This new Italian mould replaces the Arabian mould with a loose-lying, flexible screen of
reeds [6].

The European watermark serves as a logo for the paper mill and quality of the paper in a similar
way as the logo stamped on silver ware, led seals on textiles or wax seals on documents serve as a
guarantee of genuineness. During the sheet formation an impression of the woven structure of the
metal wire is left in the paper with the vertical chain lines and horizontal laid lines and watermarks,
visible only when the sheet of paper is held against light. To increase the production a pair of
identical moulds and a common deckle frame is used in the sheet formation.

Tycho Brahe’s paper and paper mill

Recycled flax and hemp fibres are similar to the Arabian and the original Chinese rag paper used
as fibre materials for the European rag paper production as illustrated by the D.I.C. observation of
a watermarked paper of German provenance from the Royal Library in Copenhagen. Registration
of a collection of 16th century watermarks observed in Danish manuscripts illustrates that import of
European paper is highly needed, because very few Danish paper mills are in function at this time.
Only one watermark in the centre of the top line is of Danish origin in this registration.

Fig.2 Watermarks from European writing paper and from Tycho Brahe’s writing paper

16
It is the watermark that the Danish astronomer and nobleman Tycho Brahe used for his personal writing
paper. Without a paper mill on the Island of Ven in the Sound between Denmark and Sweden Tycho
Brahe is completely dependent on access to the imported European paper, and he needs paper for his
astronomic observation and publication of his research. The island is flat without any forest and thus
ideal for astronomical observation. Tycho Brahe compensates, however, for the absence of a natural
watercourse by means of a string of artificial ponds leading the water to the mill, situated further down
at the beach. Gviljelmo Blaev’s map from 1590’s of the island illustrates the artificial lakes established
as the necessary supply of water for the paper mill. On this map Blaev has with a drawing preserved the
knowledge about the position and unusual construction of Brahe’s paper mill with the overshot wheel,
driven by the gravitation of the falling water from the mill pond and its position at the beach of the island.

Fig.3 Blaev’s drawing on the map of Brahe’s paper mill

The mill only functions, until Brahe in 1597 leaves Denmark for good and settles in Prague, where
he dies 1601.

Sheets of paper from Brahe’s paper mill on Ven have been located through studies and registration
of his watermarked manuscripts at the Royal Danish Library in Copenhagen. The macroscopic and
microscopic observation of samples of the paper illustrate and document that Brahe’s paper is of similar
high quality as the best imported 16th century European writing paper. S.E.M. observation of the writing
paper surface with lime particles on the fibres illustrate that lime has been added, similar to European
writing paper production during the final stamping process in Brahe’s paper mill. Addition of alum to the
gelatine sizing delays the putrefaction of the gelatine and makes the sizing material less water-soluble
than starch sizing and thus more resistant to humidity. As the only paper mill in the region there is
obviously no problems of access to fine qualities of clean rags for Brahe’s paper mill on Ven. Smooth
and well preserved flax fibres and more fibrillated and thicker hemp fibres are characteristic for Brahe’s
fine writing paper as well as for European writing paper of similar qualities.

17
Brahe’s printing paper

Registration of watermarks and paper qualities of Brahe’s manuscripts and letters at the Royal Danish
Library tell us, that not only writing paper, but also printing paper for publication of the results of his
research is produced in the paper mill on the island of Ven from 1592-1597 . Studies of his printing
paper and the impression of the more open wire structure with only 18-22 laid lines per 3 cm instead
of 30-32 laid lines per 3 cm as in his writing paper illustrates that he has adapted the metal wire of his
mould and his printing paper quality to Johann Gutenberg’s 15th century printing process with movable
laterally reversed led characters and a thick and viscous printing ink of a mixture of linseed oil varnish
and soot. Gutenberg’s invention of the printing press resulted in demand for a more hygroscopic paper
quality with a weak sizing or no sizing at all than the one used for writing with pen and ink. Hemp fibres
of various lengths dominate the fibre material of the samples collected from Brahe’s printing paper with
a prominent degree of fibrillation and irregular and wider lumen than the narrow and even lumen of
linen fibres. The watermarks of the printing paper are difficult to register because of their position at the
centre of the book, where the sheets of papers are stitched to the spine of the book.

Fig.4 Watermarks from Brahe’s printing paper

17th century paper and watermarks

After a period of nearly 30 years without Danish paper production paper mills are finally established
on the order of King Christian IV and the new Danish Bible from 1647 is printed on a mixture of Danish
paper from new papers mills and imported European paper. The watermarks are now bigger than in
the 16th century, and Christian IV’s crowned monogram documents that the papermaker has received

18
the Royal privilege for paper production from the king. The crowned watermark with the city arms and
initials of the papermaker registered in the sheets of paper in the Danish Bible indicates the provenance
of the paper mill, established in 1637 in Scania. D.I.C. observation of the fibre material illustrates that
the condition of the mixture of recycled thin and even flax fibres and thicker hemp fibres with the
characteristic frayed fibre ends with a limited fibrillation points at a moderate stamping process of the
Danish printing paper from the Scania paper mill. At the end of the 17th century a sample of French
drawing paper at the National Museum of Denmark with the Foolscape watermark tell about the import
of this high quality paper, consisting according to the D.I.C. observation of a mixture of linen fibres with
narrow lumen and even width and longitudinal striated hemp fibres with frayed fibre ends [7].

Illustration and description of the art of papermaking

In spirit of Enlightenment in the following century the renowned French Academy of Sciences in Paris
asks the astronomer Joseph-Jérôme-Lefrançais de Lalande to collect information from the paper mills
and papermakers for the first thorough description of European papermaking craft. His book ‘L’Art
de faire le papier’ is published 1761 with a number of detailed prints from the end of the 17th century
(1698), illustrating the various processes and tools [8].

The collected rags of worn-out textiles are first of all sorted into three different grades according to
whiteness and strength in fine, medium and coarse and afterwards cut into small pieces, where buttons
and thick seams are removed and finally rinsed in running water in the basement. The sorted rag
material is weakened here during a controlled retting process, until the right degree of mouldering is
obtained. This is very similar and most likely inspired by the method used in isolating the bast fibres
from flax and hemp plants through retting and mechanical treatment before spinning and weaving.

19
Fig.5 de Lalande: stamping mill, Plate IV, 1698.

The moulded rags are during the mechanical grinding by three hammers in the vat holes now completely
dissolved with addition of water and rinsed for water-soluble dirt. Water is added to the vat holes except
for the last one, where the total disintegration of the woven structure into individual recycled linen and
hemp fibres is obtained by addition of lime particles to the dry stamping process. S.E.M. observation
of the surface of 16th century Danish printing paper illustrates the open structure with presence of lime
particles on the surface of the randomly distributed fibres. These lime particles function as an internal
buffer of the fibre material of importance for the durability of the paper.

The illustration in de Lalande’s book ‘L’Art de faire le papier’ gives step by step from right to left information
about the European sheet formation technique, invented and developed in the 13th – 14th century in
Fabriano. To increase the paper production, two papermakers – the vat-man and the coucher work
together in the sheet formation process. With his mould the vat-man scoops pulp of fibres and water
of a gentle temperature from the vat. The watermark is created as an impression/embossment of the
wire structure in the new web of fibre during drainage of water, when the mould is lifted by the vat-man
that removes the loose deckle, before he slides the first mould with the sheet of paper to the drainage
plate. Here the coucher takes the mould with the new sheet of paper and couches it out onto a woollen
felt on top of the post or pile of sheets and covers the new sheet with another felt. Now he is ready to
receive the next sheet of paper that the vat-man has scooped with the second mould. After the sheet

20
formation follows the pressing of the post of papers and felts for removal of superfluous water. Two
other papermakers – the layers – separate the pressed post of papers and felts in two piles, before the
second pressing of the pile of papers without felts takes place in the vat-press. The still humid sheets of
paper are carried to the drying loft, where the sheets are hung on strings covered by horsehair for a free
drying process by air. The speed of drying is controlled by the opening degrees of the window shutters.

The Italian papermakers replace in the 14th century the Arabian starch-sizing with gelatine sizing of
the paper as illustrated on the 1698 prints in de Lalande’s book. The gelatine is prepared by cooking
remnants of skin and hides from the local leather production in a vat. From here the size is filtered into
another vat through a strainer for removal of impurities, before the sizer-man dips the sheets of paper
into the sizing vat, where the gelatine is kept at a gentle temperature. Now follows the removal of
superfluous gelatine size from the post of sized sheets in the press, before the gelatine-sized sheets of
paper are dried for the second time in the drying loft.

The Hollander beater

Increased demands for more paper after Johann Gutenberg’s invention in the 15th century of printing
results in the 17th century in the invention of the pure mechanical Hollander beater that revolutionizes
the whole preparation process of the rag material and replaces the time-consuming retting and stamping
process. A combination of the technology of the knife stamper and edge runner hitherto used in the wind
paper mills in the Netherlands results in the development of the new engine with the driving gear at its
top. The pieces of rags are now rinsed and dissolved in one day into individual fibres, and the Hollander
beater is soon applied to other European and British paper mills.

For disintegration of the textiles in the Hollander beater addition of lime particles in the final stamping
process is no longer needed, but the importance of this buffer of lime particles within the fibres for the
permanence and durability of the European paper is not considered, and after the introduction of the
Hollander beater lime is no longer added at the paper mills. Because of the lack of white rags of good
quality for writing and printing paper bluing of the paper by addition of blue pigments and fibres is
needed to obtain a less yellowish shade. Optical registration of fibre widths and lengths on transparent
paper from drawings from the start of the 19th century on Dutch paper reveals the presence of blue
particles of smalt added for obtaining a white paper.

Bank note paper and rosin/alum sizing

Danish paper for printing of bank notes at the end of the 18th and beginning of the 19th century has been
secured against forgery in several ways through a combination of the printed text, stamps embossed in
the paper, handwritten signatures and very complicated watermarks.The transparent photo illustrates the
construction of the metal wire with diagonal chain lines and numerous watermarks of characters indicating

21
the value of the banknote. The mould is destroyed by the paper maker after the number of sheets ordered
has been delivered to the bank. The S.E.M. EDX analysis of the surface of a Danish banknote paper from
1798 documents that the papermaker has added smalt as a bluing agent to his paper for obtaining a white
paper quality for the bank notes ordered. Well preserved recycled hemp and flax fibres are chosen by the
papermaker for obtaining the good quality needed for the bank notes.

The lack of good quality rag material is clearly indicated by the condition and dominance of the hemp
fibres from a Swedish drawing paper from the middle of the 19th century. Addition of rosin/alum sizing
to the pulp is a new and less time-consuming process than sizing with gelatine as an after treatment of
the sheets of paper, but the permanence and durability and strength of the paper are reduced because
of the increased acidity of the paper.

Wiesner’s comparative analysis of Arabian and European paper

Julius Wiesner’s first scientific analysis of Arabic paper, European paper and of Central Asian paper
results in real data about the origin of the fibre materials and technology used of importance for the history
of paper and the provenance of paper with or without watermarks. Drawing with detailed microscopic
observation of the ancient fibre materials is a new method of documenting and sharing the information
found. Not only the fibre identification of the Arabic codices has Wiesner’s interest, but also the starch
sizing of the paper that he registers with spot tests of iodine. His chronological analysis of the collections
of Oriental, Egyptian and European archival materials is concentrated on the origin of the fibre materials
and sizing from the 9th century until the 19th century. Here the data about the replacement of starch
sizing by gelatine sizing in the earliest production of Italian paper qualities and fibre materials used can be
considered as a kind of birth certificate of the European paper production [9].

Filigranology

A new scientific field within the history of European paper starts in Italy simultaneously with Wiesner’s
analysis of Arabic and European paper in Vienna at the end of the 19th century. Watermarks are studied
by the brothers Aurelio and Augusto Zonghi in the local archives of Fabriano, and collected, registered
and published 1881 and 1884 in albums [10]. Their watermarks registered by tracings on transparent
paper are gathered according to motives and time of origin as illustrated by my copy of the winged two-
legged dragon, used from 1372-1412 [11].

The publication of the Zonghi albums in Fabriano inspires the Swiss paper dealer Charles-Moïse Briquet
to a similar registration of watermarks and collection of information from the still existing Swiss paper
mills. He follows the Zonghi method of registration of the watermarks according to the motive as the
many mermaids in the copy of his tracings illustrate and publishes in 1907 “Les Filigranes. Dictionaire
historique des marques du papier dès leur apparition vers jusqu’en 1600” in four volumes.

22
Conclusion

As illustrated in the print from de Lalande’s publication ‘L’Art de faire le papier’, the examination of the
sheet of paper, held against light is important for the discovery of eventual errors, before the paper is
ready for distribution. Paper historians, paper conservators and filigranologists also examine paper in
this way in their study of the paper quality, the technology, the impression of the metal wire structure
with chain lines, laid lines, shadow lines and watermarks.

Watermarks are, however, not to be found in numerous sheets of paper in European manuscripts,
books, prints and drawings because of the cuttings in various formats of the paper. These samples of
paper naturally have to be studied as well, because of the valuable paper historical information about
the technology and fibre materials present here.

I have experienced in my studies of Oriental and of European paper without watermarks of filigree that
information about the technology and fibre materials and eventual provenance can be discovered through
the technological development of Oriental and European paper production. By studying the very paper with
and without watermarks I will follow in the footsteps of these women at the French paper mill and look at
paper.

Notes/ references

[1] Hill, R. L. ‘Early Italian Papermaking, a crucial technical revolution’


IPH Yearbook 1992, Volume 9, p. 37-46

Tschudin, P.F. ‘Paper comes to Italy’


IPH Yearbook 1998, Vol. 12, p.60-66.

[2] Dąbrowski, J. ‘The genuinely European technique of making paper by hand developed in Fabriano:
An interpretation through the mirror of paper technology’
The Use of Techniques and work by papermakers from Fabriano in Italy and Europe, Congress Book
of European Paper Days. 2007, p. 415-443.

[3] Wiesner, J. ‘Die Faijûmer und Uschmûneiner Papiere‘


Karabacek, J. Das Arabische Papier, Mittheilungen aus der Sammlung der Papyrus Erzherzog Rainer
II-III, Wien 1887, p. 179-240

[4] Rischel, A-G. ‘Bonds between Chinese and European paper technology – adaptation and innovation’
Tradition and Innovation proceedings of the 6th IDP conservation conference, Beijing 2005, p. 26-36.

[5] Hills, R. L. ‘Papermaking stampers: a study in technological diffusion’

23
IPH Yearbook 1984, Volume 5, p.67-88.

[6] Tschudin, P.F. ‘The Mould: Its Function, History and Importance in Historiography’
The Mould. Paper-and Mould-Makers in the History of Western Paper, 2016, p. 118-134

[7] Rischel, A-G. ‘Adaptation and innovation in technology and quality – A study of 250 years of
Danish and European rag paper’
IPH Yearbook, Vol. 15, 2004, p. 105-115.

[8] Lalande, J.J.J. Lefrançais de. ‘L’art de faire le papier’


Description des arts et metiers. IV Paris. Academie Royale des Sciences, 1761

[9] Wiesner, J. ‘Untersuchung orientalischer und europäischer Papiere aus dem IX bis XIX Jahrhundert‘
Karabacek, J.: Das Arabische Papier, Mittheilungen aus der Sammlung der Papyrus Erzherzog Rainer
II-III. Wien, 1887, Fünftes Capitel, p. 241-260.

[10] Castagnari, G. ‘News on the acquisition of the sample-collection „Raccolta Augusti Zonghi“.
IPH Paper History, Volume 20, Year 2016, Issue 2, p. 19

[11] Haidinger, A., Peck-Kubaczek, C. ‘Aurelio Zonghi’


Bull’s Head and Mermaid, The Bernstein Project, Booklet of the Exhibition, p. 78-79

24
LA ASOCIACIÓN HISPÁNICA DE HISTORIADORES DEL PAPEL

Mª del Carmen Hidalgo Brinquis


Secretaria general de la AHHP

Emérita del Instituto del Patrimonio Cultural de España


carmen.hidalgo.brinquis@gmail.com

RESUMEN

Con esta ponencia queremos dar a conocer las actividades desarrolladas por la Asociación Hispánica
del Papel en sus veintiún años de vida; haciendo un especial hincapié en la celebración de sus 12
congresos con la publicación de sus actas que suman un total de 308 artículos constituyendo un
importantísimo compendio de las últimas investigaciones realizadas en España sobre todos los temas
que encierra la historia del papel. También hacemos una breve descripción de nuestra exposición
itinerante “El papel 2.000 años de Historia” así como otras actividades.

PALABRAS CLAVE

Historia del papel, congresos, exposición itinerante

ABSTRACT

In this communication we show the activities developed by the Spanish Association of Paper during
the twenty years of life. We emphasize the celebration of XII Congress recording a total of 308 papers
constituting an important compendium of the last investigations carried out in Spain in the details
surrounding the history of paper. We also make a brief description of our itinerant exposition: “The
paper 2.000 years history, as well as other activities.

KEYWORDS

History of paper, congress, itinerant exposition

Con la celebración de este XII congreso en Santa María da Feira se abre una nueva etapa para la
Asociación Hispánica de Historiadores del Papel ya que se incorporan nuestros queridos compañeros
portugueses ampliándose nuestro ámbito geográfico a la historia del Papel en la Península Ibérica y
sus relaciones con el vasto espacio geográfico de Iberoamérica y África.

25
La Asociación Hispánica de Historiadores del Papel nace a iniciativa de un grupo de documentalistas,
historiadores y fabricantes de papel, tras la celebración, en la primavera de 1994, del primer congreso
de “Historia del papel en España y sus filigranas” con la concesión de un proyecto I+D para la creación
de una base de datos sobre filigranas papeleras que tuvo su continuidad en una acción especial I+D
para difundir sus logros.

El principal impulsor de su creación fue Dº José Luis Asenjo Martínez, Consejero Delegado del
Instituto Papelero Español y director de la revista Investigación y Técnica Papelera, propiciada por
esta institución, que falleció solo un año después de celebrarse el II Congreso.

Una de sus principales conclusiones establecidas en el primer congreso fue la necesidad de la


creación de una Asociación que agrupase todo este colectivo y que fuesen una plataforma de dialogo
entre tantos estudiosos en los diversos temas que encierra la historia del papel y potenciar cuantas
actividades relacionadas con esta manufactura en sus más diversos aspectos.

Ésta se constituyó, en abril de 1996, como una entidad sin ánimo de lucro, teniendo como finalidad
canalizar los esfuerzos de cuantas personas físicas o jurídicas deseen contribuir a la investigación
histórica, científica y técnica de la historia del papel, cooperando con organismos del Estado, Entes
Autonómicos, Ayuntamientos u otras entidades públicas o privadas así como ser una entidad capaz de
proporcionar el soporte legal para poder organizar congresos, exposiciones, conferencias, etc.

Tomando como modelo los estatutos de otras asociaciones de características similares, se establecieron
unas normas que se regulan a través de 38 artículos, aprobados por el Ministerio del Interior, nº
nacional 160.854 (Adjuntamos las mismas al finalizar este artículo). Su junta directiva está formada
por un presidente, un vicepresidente, un secretario general, un tesorero y ocho vocales Todos ellos son
personas pertenecientes diferentes instituciones especialmente relacionadas con el mundo del papel
en sus más variadas vertientes. Su estructura actual es:

Presidente
Fernando Rodríguez Lafuente
Fundación José Ortega y Gasset

Vicepresidente
Carlos Reinoso Torres
ASPAPEL

Secretaria General
Mª del Carmen Hidalgo Brinquis
Instituto del Patrimonio Cultural de España

26
Tesorero
Rosa Alcázar Felipe
Imprenta Artesanal. Ayuntamiento de Madrid

Vocales
José Carlos Balmaceda
CAHIP
Juan Castelló Mora
Papelero. Banyeres de Mariola
Mª Dolores Díaz Miranda
Monasterio de San Pere, Barcelona
Eduardo Mármol
Imprenta Diputación. Córdoba
José Luís Nuevo Ábalos
Investigador
Victoría Rabal Mérola
Museo Molí-Paperer de Capellades
Antón Pereira Abonjo
Conservador-restaurador de documento Gráfico
Maria José Santos
Museu do Papel Terras de Santa Maria

Según los estatutos de la Asociación, ésta debe celebrar una junta ordinaria anual. Pero, después de
haberla celebrado así los primeros años y ante el problema de que la mayoría de los asociados vivían el
ciudades geográficamente muy distantes, se decidió que fuese bianual coincidiendo con la celebración
de los congresos ya que es en esta ocasión cuando nos reunimos un mayor número de asociados y nos
mantenernos en contacto, para otros temas, a través del correo electrónico o nuestra página Web.

Su sede fue, en principio, el Instituto del Patrimonio Cultural de España (C/ Greco 4, 28040 Madrid),
pero posteriormente pasó a ASPAPEL (Asociación Nacional de Fabricantes de Pasta, Papel y Cartón)
donde hoy en día se mantiene ya que durante el V congreso de la AHHP, celebrado en de Córdoba
en 2001, se estableció un acuerdo marco de colaboración entre la AHHP y la Asociación Nacional de
Fabricantes de Pasta Papel y cartón1

Se eligió como “logo” una imagen simplificada inspirada en el grabado de Spiegel Van’t Menscheldyk
Bedryf (1704-1718) el cual aparece en todas nuestras publicaciones.

1 ASPAPEL es una organización profesional del sector papelero de España, formada por empresas fabricantes de pasta de
papeles y/o cartón cuyo objetivo fundamental es la defensa y representación de los intereses del sector papelero español ante
cualquier institución pública o privada.

27
Durante el II congreso, se nombró patrona de la Asociación, la Virgen del Trapo que se encuentra en
una pequeña capilla en la aldea Molinos de Papel, muy cerca de la ciudad de Cuenca.

Cuenta la tradición que unos papeleros habían recogido una gran cantidad de trapo para hacer papel.
Cuando lo estaban triturando, los mazos de paraban de forma reiterada y no podían trabajar hasta que
entre la pasta encontraron un fragmento de un cuadro al olio representando a la Virgen. Esto se tomo
como un milagro y en su honor se levantó una pequeña capilla.

Pequeña aldea próxima a Cuenca llamada “Molinos de papel”

Ofrenda de un ramo de flores y nombramiento de laVirgen del Trapo como patrona de la AHHP.

28
En la actualidad, la Asociación cuenta con más de 100 miembros, estudiosos de la manufactura del
papel en sus más diversas facetas -archiveros, bibliotecarios, profesores de universidad, fabricantes
de papel, conservadores de documentos, arqueólogos etc.- coordinados por la Junta Directiva y
estructurados en grupos de trabajo.

Estos grupos son:

1.-Técnicas de fabricación de papel. Investigación.

2.- Papel para usos especiales.

3.- Papel hispano-árabe.

4.- Presencia del papel de la península ibérica en Iberoamérica.

5.-Comercio papelero. Legislación.

6.- Filigranas.

7.-Historia del papel. Sociología.

8.-Arqueología industrial.

9.- Terminología.

10.-Tintas. Técnicas de impresión.

11.- Conservación y restauración.

Este último grupo se estableció a partir del IX congreso al haber desaparecido los congresos del ICOM
español que recogían esta especialidad.

Se acordó la celebración de congresos bianuales convocados los años impares para no coincidir con
los de del IPH (International Association of Paper Historians), que se celebran los años pares.

En estos congresos, además de las presentaciones de las comunicaciones, se han realizado visitas
a las zonas papeleras próximas y mesas redondas para conocer las características papeleras de la
zona. Además son una magnífica ocasión para el intercambio de opiniones y el conocimiento de los
últimos avances e investigaciones en todos los aspectos relacionados con el papel y mantener vivos
los lazos profesionales y de amistad que unen a los miembros de la Asociación.

29
Hasta el momento se han organizado once y en la actualidad estamos celebrando el XII congreso. La
media de asistentes ha sido de 100 congresistas. Hagamos un breve resumen de lo que han supuesto
estos congresos:

I Madrid-Capellades, Sede: Instituto del Patrimonio Histórico (actualmente Instituto del Patrimonio
Cultural de España) Museo Molí Paperer de Capellades. Fecha 15-18 de junio de 1995

Objetivos: definir los objetivos de la Asociación, profundizar en el estudio de las filigranas y conocer el
Museo Molí Paperer de Capellades y su comarca

Actas: Publicadas por el Instituto Papelero Español en el nº 124 de la Revista Investigación y Técnica
del Papel.

Imágenes del I Congreso celebrado en Madrid y Capellades

II Cuenca, Sede: Palacio de Congresos de Cuenca. Fecha 9 a 12 de Julio de 1997

Objetivos: Estudiar el pasado esplendor de Cuenca como centro papelero y analizar las posibilidades
estéticas que nos brinda el papel como soporte de la obra gráfica, tomando como ejemplo las obras de
arte depositadas en Museo de Arte Abstracto de Cuenca

Actas: Publicadas por la excelentísima Diputación de Cuenca.

III Banyeres de Mariola (Alicante), Sede: Museo Moí Paperer de Banyeres de Mariola. Fecha 1 a 4
de Septiembre de 1999.

Objetivos: Estudiar el papel medieval español tomando como centro la ciudad de Xàtiva y profundizar
en el conocimiento del papel de fumar en la comarca de Alcoy.

Actas: Publicadas por la Conselleria de Cultura Educación i Ciencia de la Generalitat Valenciana

IV Córdoba, Sede: Palacio de Congresos de Córdoba. Fecha 28-30 de junio de 2001, Estudiar las
características del papel hispano-árabe y la especial incidencia que tuvo el al-Ándalus en la cultura
europea. Actas: Publicadas por la AHHP

30
V Sarriá de Ter (Girona, Sede: Centre Cultural Parroquial Mn. Domingo Casanellas. Fecha 2-4 de
octubre de 2003, coincidiendo con la V Feria del Papel.

Objetivos: Estudiar los restos conservados de su importante industria como muestra de la arqueología
industrial de la fabricación del papel. Así como, la reconversión de esta industria ante los reto de la
preservación del medio ambiente. Actas publicadas por el Exmo. Ayuntamiento de Sarriá de Ter.

VI Buñol (Valencia), Sede: Castillo de Buñol “Sala del Oscurico” Fecha 23-25 junio 2005. Objetivos:
Estudiar el pasado esplendor de esta zona papelera con especial incidencia en la Hoya de Buñol
donde se conservan los restos de un importantísimo complejo papelero que tuvo sus inicios en la Edad
Media y un enorme desarrollo en el siglo XVIII. Actas publicadas por la Generalitat Valenciana.

VII El Paular (Madrid), Sede: Monasterio de Santa Mª del Paular. Fecha 28-30 de junio 2007.
Objetivos: Estudiar la importancia de la Orden Cartuja en la fabricación del papel en España y el
aprovechamiento de los recursos hidrográficos, haciendo especial hincapié en el estudio del molino
papelero del Monasterio del Paular cuyos inicios se remontan al siglo XIV y continuó funcionando hasta
avanzado el XIX. En él se elaboró el papel para la primera impresión de El Quijote y suministró gran
cantidad de su manufactura a los impresores de Madrid, sobre todo en los siglos XVII y XVIII. Actas
publicadas por la AHHP.

VIII Burgos, Sede: Centro Cultural Caja Burgos. Fecha 9-11 julio 2009. Objetivos: conocer la fabricación
del papel en Castilla y la relación de Burgos con la industria del naipe. Actas publicadas por la AHHP.

IX Zaragoza, Sede: Biblioteca María Moliner. Facultad de Filosofía y Letras de la Universidad de


Zaragoza. Fecha 7-9 julio 2011. Objetivos: Estudiar las fábricas papeleras a orillas del río Ebro y
sus afluentes y poner de manifiesto la importancia de la fabricación del papel en la cuenca del río
Matarraña, en la Provincia de Teruel, con el complejo fabril de Beceite. Actas publicadas por la AHHP.

X Madrid, Sede Auditorio del Ministerio de Cultura. Fecha 26-28 junio 2013.

Objetivos: Conocer el importante complejo industrial del siglo XVIII creado por Juan de Goyeneche en
Nuevo Baztán (Madrid) con el apoyo de Felipe V. En él hubo un importante molino papelero, ejemplo de
la industria fomentada por la Ilustración Española. También por tratarse del X congreso establecimos
una mesa redonda donde participaron todos los responsables locales de los diferentes congresos que
nos expusieron sus experiencias- Actas publicadas por AHHP.

XI Sevilla, Sede: Archivo General de Indias. Fecha 17-19 junio 2015. Objetivos: El estudio del papel
comercializado por la Corona Española para abastecer, tras la creación del monopolio papelero, la gran
cantidad de esta manifactura, necesaria para la imprenta, las nuevas universidades así como la gran
burocracia generada entre ambas orillas del Atlántico. Actas publicadas por la Diputación de Sevilla.

31
XII Santa Mª da Feira Sede: Museu Terras de Santa Maria y Biblioteca Municipal. Fecha 28-30 junio
2017. Objetivos: Conocer la industria papelera del norte de Portugal y, sobre todo, establecer fuertes
lazos de unión entre los dos países que ocupan la Península Ibérica con una historia que corre
de forma paralela y cuyos intercambios culturales supondrán un enorme enriquecimiento para los
estudiosos del papel en ambos países. Actas publicadas por AHHP.

La publicación de las actas en papel de los once primeros congresos, suponen un total de 308
comunicaciones, a las que tenemos que añadir las 53 presentadas en este XII Congreso que conforman
un valioso “corpus” de los últimos estudios realizados en España sobre esta materia y que desde
este XII Congreso hemos ampliado a toda la Península Ibérica. Éstas se entregan a los asistentes
al inicio de los congresos para que sirvan como cuaderno de trabajo ya que presentación de las
comunicaciones, dado el gran número de ponentes, se reduce a un tiempo limitado en el que se
expone los hallazgos más importantes para dejar espacio a los debates. Gracias a la generosidad de
ASPAPEL, hacemos una versión en CD, con las actas de todos los congresos, que nos permite difundir
ampliamente nuestros trabajos.

Desde el tercer congreso, tras el fallecimiento de nuestro primer presidente y fundador, se establecieron
los Premios José Luis Asenjo y Trayectoria Profesional, para homenajear aquellas instituciones
o personas que han destacado en el estudio del papel en sus más variadas vertientes así como los
investigadores que con sus trabajos han contribuido a la riqueza de datos recogidos en nuestras
actas. Así han sido premios de nuestra Asociación el Museo Molí Paperer de Capellades, el Museo
Molí Paperer de Banyeres de Mariola, Molino Sellarés,Torras Papel, José Luis Basanta Campos, Mª
Dolores Diaz Miranda, José Carlos Balmaceda, Jose Luis Nuevo Ábalos, José del Real, Loreto Rojo,
Taurino Burón, Carmen Sistach, etc.

Entrega de los premios José Luis Asenjo y Trayectoria profesional durante el V Congreso a
José Carlos Balmaceda y al director de la Fábrica Torras Papel

32
Para amenizar nuestros congresos, a partir del celebrado en Banyeres de Mariola, hemos establecido
un concurso de trajes de papel donde se premia” la elegancia”, la “originalidad” y “la simpatía”. La
Asociación participa llevando papeles de diferentes texturas y colores y los asistentes se hacen sus
trajes y tras un pequeño desfile de otorgan los premios, ofrecidos por ASPAPEL. El jurado suele estar
formado por algunos miembros de la asociación en los que descargamos la responsabilidad de tan
difícil elección.

Concurso de trajes de papel en Córdoba y Sarriá del Ter

Para difundir la importancia del papel en la historia de la Cultura hemos organizado una exposición
itinerante “El papel, 2.000 años de historia” que pone de manifiesto el protagonismo que tiene esta
materia como soporte de nuestra cultura y la importancia de España en su difusión. La exposición
que, en principio estaba constituida por 18 paneles generales con textos e ilustraciones, adherido a
un soporte rígido, en la actualidad, para facilitar su trasporte y exhibición, está formada por 18 paneles
estructurados en 9 roll-up dobles que facilitan su movilidad y valor didáctico.

La muestra es cedida gratuitamente a las entidades que lo solicitan y durante sus más de 19 años
de existencia ha recorrido numerosas ciudades españolas. Esta exposición, frecuentemente, te ha
completado con demostraciones de fabricación de papel a mano y algunas piezas de arqueología
industrial para hacer más fácil y amena su comprensión y poner de manifiesto la importancia que ha
tenido la fabricación del papel en aquellas comunidades donde se expone.

Esquema de la exposición:

La exposición se centra en seis fechas fundamentales en la fabricación del papel:

1.- Aunque tenemos conocimiento de la existencia de un “pseudo” papel desde el año 98 a JC, su
nacimiento, según la tradición, se remonta al año 105 d. JC cuando Ts’ai Lun, chambelán de la corte,
mostró al emperador la primera hoja de papel. A partir de entonces China ofreció a la humanidad un
material escriptorio de bajo coste y alta permanencia y que, en poco tiempo fue sustituyendo al papiro
y al pergamino con los que convivió en sus inicios.

2.- La segunda fecha clave es el año 751 en que, tras la batalla de Samarcanda, el secreto de la

33
fabricación del papel, celosamente guardado por los chinos durante seis siglos, cae en mano de los
árabes al tomar como prisioneros a unos papeleros que se ven obligados a enseñar la técnica de su
fabricación. Una vez en manos de los árabes, grandes conocedores del agua como fuerza motriz, se
perfeccionó su fabricación utilizándose esta energía en la trituración de trapos.

3.- El tercer hito es su llegada a España a través de la cultura árabe y desde aquí su difusión por
toda Europa ayudada por los movimientos migratorios de las cruzadas. No sabemos en qué año se
comenzó a fabricar papel en la Península Ibérica, pero debió ser a finales del siglo X o principios de XI.
El camino seguido por el papel desde Samarcanda a Europa fue el de las antiguas caravanas, por las
que llegaba a Occidente otro producto oriental: la seda.

4.- El cuarto momento decisivo podemos encontrarlo en la invención de la imprenta para la cual en
papel era un material imprescindible ya que sólo su abundancia y bajos costes permitieron el desarrollo
de esta máquina, cuyo enorme poder de difusión de ideal y saberes dependía de disponer de esta
materia prima.

El invento de la imprenta se ve potenciado por el descubrimiento de América con sus inmensas


posibilidades de fomento de la riqueza y la multiplicación de la burocracia que hizo del papel un
instrumento fundamental para mantener vivo el tejido de las complejísimas relaciones políticas y
humanas, siendo vehículo imprescindible para la propagación del idioma castellano en Hispanoamérica.

5.- La invención de la máquina de papel continuo por Loui Robert en 1799 es el resultado del gran
movimiento cultural de la Ilustración y la enorme necesidad de papel dando lugar a una serie de
investigaciones para buscar materias primas alternativas al trapo. El aumento de esta demanda, en
principio, fue provocada por la ingente cantidad de papel necesaria para la publicación, en Francia, de
la “Enciclopédie” (1751-1772) y más tarde la aparición de algunos periódicos diarios europeos, The
Times (1785), Diario de Barcelona (1792), etc. y que más tarde serán un elemento fundamental para
los movimientos independentistas de América.

6.- Actualmente el papel tiene que convivir con los nuevos soportes informáticos sumamente útiles
para el almacenamiento de datos pero que nunca podrán sustituir al calor comunicativo, permanencia
y durabilidad que ofrece una hoja de papel.

La primera exposición se realizó con motivo del Salón Internacional de las Artes Graficas (Grafispac)
durante la Feria de Muestras, celebrada en Barcelona en febrero de 1998. La inauguró el entonces
presidente de la Generalitat, Jordi Pujol. Ese mismo año la exposición viajó a Xàtiva se publicó un
extenso folleto bajo el título: 2.000 annis d´historia del Paper: Xàtiva i la Comunitat Valenciana”.

34
Barcelona: Graphispag (Salón Internacional de las Artes Gráficas). Feria de Muestras. 5-12 febrero,
1998.
Tolosa (Guipuzcoa): Zurmendi 98. Recinto Ferial 2024 mayo, 1998.
Madrid: Inauguración nueva fábrica Papelera Peninsular. 12 junio 1998.
Xátiva: (Valencia): Ayuntamiento y Consejera de Cultura de la Comunidad Valenciana. Museo de
L’Almodi. 21 octubre -22 noviembre 1998.
La Riba (Tarragona): Comissió Museu Municipal del papel de la Riba. Casa de Cultura. 1-24 enero 1999.
Granada: Universidad, Junta de Andalucía y Asociación de Editores de Aridalucla. Biblioteca
Universitaria del Hospital Real. 5-15 octubre 1999.
Córdoba: Asociación de Editores de Andalucía Círculo de la Amistad. 12-15 noviembre 1999.
A Coruña: Fundación Pedro Barrié de la Maza. Sede de la propia fundación. 28 marzo-4 abril 1999.
Banyeres de Manola (Alicante): A.HH.P. lES Manuel Broseta. 1-4 Septiembre 1999
Mijas (Málaga): Ayuntamiento. Casa de Cultura 14 enero-2 febrero 2000.
Adra (Almeria): Ayuntamiento. Casa de Cultura Marzo 2000
Sarria del Ter (Gerona): V Fira del Paper. Ayuntamiento 6-8 octubre 2000
El Paular (Madrid): Monasterio VII Congreso de Historia del Papel. 28-30 2007.Solsona (Lérida):
Centre Tecnològic Forestal de Catalunya. Junio-julio 2008 Instituto Patrimonio Cultural de España
(Madrid): 28 Congreso Internacional del IPH. 5-8 octubre 2008
Zaragoza: Biblioteca Maria Moliner. Facultad de Filosofía y Letras. Universidad de Zaragoza.
Exposición “Papel, cartón, tijera: no sólo son libros” 1 de junio a 7 julio 2011
Beceite y comarca del Matarraña (Teruel): Ayuntamiento. Septiembre 20011-Marzo 2012.
Cádiz, Jornadas conmemorativas del dia del libro 2013
Villagordo del Júcar (Ciudad Real) Universidad de Castilla-La Mancha. Curso de Verano “el papel
como vehiculo de Cultura”. Julio 2016

35
Además de estas actuaciones, hemos organizado visitas a lugares e instituciones que hemos
considerado de especial interés. Así hemos visitado Monasterio de Santo Domingo de Silos, donde
se conserva el misal Mozárabe escrito en el papel mas antiguo que se conserva en España (1036
), la fábrica de papel moneda de Burgos, el molino del Monasterio de El Paular con cuyo papel se
imprimió la primera edición de El Quijote, los molinos papeleros de Beceite, a orillas del río Matarrañas,
donde se conservan los restos arqueológicos de un majestuoso molino decorado con pintura mural,
la exposición conmemorativa del segundo centenario de la invención de la máquina de papel continuo
por Louis-Nicolás Robert, celebrada en 1999 en Paris y, finalmente, se han instituido los encuentros de
las rutas papeleras del Mediterráneo siendo el primero “Los molinos de la Riba (Tarragona)” organizado
por nuestros compañeros Mª Dolores Díaz Miranda y Marino Ayala.

Visita al Monasterio de Silos para admirar el Misal Mozárabe y a los restos arqueológicos del
molino “la Bonica”

Desde 1994 hemos asistido y contribuido con ponencias a los Congresos internacionales del IPH
(International Associatión of Paper Historians) de Annonay (1994), Leipzig (1996), Porto (1998),
Dormund (2000), Roma –Verona (2002), Duszniki (2004) Barcelona-Madrid (2006). Angulema (2010),
Basilea (2012), Fabriano-Amalfi (2014) y Valencia (2016) y hemos traducido al castellano las normas
de catalogación de Filigranas International Standard for the registración of paper wihh or without
watermarks verisoón 2.1.1 (2013)

36
También hemos participado en las reuniones internacionales organizadas por Proyecto Bernstein
“la memoria del papel” que hasta el momento se han celebrado: Viena, Valencia y Santa Mª da Feira
en mayo del 2016.

Igualmente hemos colaborado en la versión española del libro “Cabeza de Buey y Sirena”, traduciendo
los textos de ediciones anteriores y coordinando las nuevas aportaciones sobre el papel en España e
Iberoamérica.

Finalmente, hemos elaborado una página Web: www.ahhp.es , donde recogemos toda la información
sobre sus actividades y publicaciones de nuestro interés, así como favorecer la intercomunicación
entre nuestros asociados y a la que invitamos a todos a consultar.

37
38
39
40
41
42
43
44
SOBRE LA AUTENTICIDAD DE LOS DOCUMENTOS EN PAPEL DE LOS COLÓN DE GALICIA

Mª Pilar Rodríguez Suárez


Mercedes Vázquez Bertomeu

RESUMEN

Una serie de documentos en papel procedentes de la Pontevedra del siglo XV fueron usados hace un
siglo para testimoniar el origen gallego de Cristóbal Colón. Dado que en aquel momento su autenticidad
fue puesta en duda, se ha procedido a una revisión de estos escritos y a una nueva evaluación a la
luz del corpus de conocimientos y herramientas de análisis diplomático y paleográfico acumulados en
el último siglo. Los trabajos desarrollados avalan la autenticidad de estas escrituras sin que se hayan
identificado razones para cuestionarlos.

PALABRAS CLAVE

Cristóbal Colón; Diplomática; Paleografía; autenticidad; Pontevedra; Pontevedra; Cristovão Colon;


autencicidade.

La teoría del origen gallego de Cristóbal Colón se apoya en una serie de documentos en papel de
origen diverso que testimonian la presencia en la villa de Pontevedra y sus alrededores de una estirpe
apellidada Colón. Ellos fueron los protagonistas de la primera formulación de la propuesta allá por 1914
de la mano de Celso García de la Riega en su obra Colón español, su origen y patria. La hipótesis que
plantea este autor fue rápidamente contrarrestada con diversos argumentos, siendo los más relevantes
los que ponían en duda la autenticidad de los documentos que manejaba.

Ahora se ha vuelto sobre los escritos medievales en papel para verificar su autenticidad a partir del corpus
de conocimientos acumulado por las ciencias documentales en el último siglo. Son los documentos
medievales en papel manejados por Celso García de la Riega en los que aparece el apellido Colón; un
total de seis escrituras -cuyos datos básicos se ofrecen en el anexo-, de las cuales cinco pertenecen hoy
a la colección particular de la familia de Celso García de la Riega1, mientras que la otra está custodiada
en el Museo de Pontevedra2.

1 Nuestro agradecimiento público a la familia y especialmente a su bisnieto Guillermo García de la Riega, que facilitó la consulta
y estudio de los documentos, así como a la Asociación Cristóbal Colón Gallego por su disponibilidad y por concedernos la
oportunidad de estudiar y revisar esta documentación.

2 Con la signatura Col. Casto Sampedro C2- 1.

45
Los estudios anteriores

Celso García de la Riega situó estos documentos bajo la lupa del interés de los científicos de su época
al advertir en ellos la presencia de una nutrida parentela de personas apellidadas Colón que, por su
cronología y dedicación profesional, podrían relacionarse con el descubridor. Junto con otros indicios,
estas piezas documentales dieron cuerpo a su hipótesis del origen español (gallego) del navegante.

Las características diplomáticas de estos documentos, el escaso corpus de conocimientos para


interpretarlos disponible en ese momento y la manipulación de algunos pasajes que hizo García de
la Riega para mejorar su legibilidad -algo bastante común en ese tiempo, por otra parte-, acabaron
generando una desconfianza hacia la autenticidad diplomática de los escritos.

Celso García de la Riega y la teoría de Colón gallego

Celso García de La Riega (Pontevedra, 1844 -1914) fue un activo intelectual y político, colaborador con
varios periódicos y revistas y socio de varias entidades culturales, entre las que destacan la Sociedad
Arqueológica de Pontevedra. Su relevancia en el panorama cultural de su época fue reconocida en
1906 cuando fue elegido socio de la constituyente Real Academia Gallega3.

En su obra Colón Español. Su Origen y Patria4 (1914) expone con detalle una hipótesis que había
manejado en trabajos anteriores: el origen genovés de Colón es dudoso porque es español,
concretamente de Pontevedra. Se inicia así, la teoría del Colón gallego que ha sido objeto de diversas
controversias a lo largo de los últimos cien años. Su propuesta se fundamenta en varios documentos
pontevedreses que citan a diferentes personajes que tienen el apellido Colón, de los que ofrece una
reproducción y un detallado estudio.

Sin embargo, tras la muerte de Don Celso los documentos fueron tachados de falsos y la teoría del
origen pontevedrés de Colón resultó desprestigiada, si bien algunos autores tomaron el relevo del
pionero García de la Riega.

Los informes académicos

El primer informe fue elaborado por Manuel Serrano Sanz en un artículo publicado en 1914 y ponía
en duda la autenticidad de los documentos utilizados por García de la Riega. El segundo informe
-más relevante- es un estudio detallado de la documentación realizado por Eladio Oviedo y Arce, jefe
del Archivo Regional de Galicia que, tras un exhaustivo análisis, afirma que los documentos han sido

3 Una semblanza de este intelectual en García de la Riega Bellver, 2014.

4 García de la Riega, 2014.

46
manipulados y carecen de veracidad y, por lo tanto, de valor histórico5. Oviedo y Arce sólo consultó
directamente el original del Livro do Concello de Pontevedra por lo que para elaborar su informe -al
igual que Serrano Sanz- se sirvió de las precarias reproducciones fotográficas del libro de de la Riega.
Por último la Real Academia Española de la Historia emitió otro informe en 1928 apoyando el informe
de Oviedo y Arce. Como en el caso de los dos informes anteriores, no se consultaron los documentos
originales, que estaban en poder de la familia de García de la Riega, así que se estudiaron a través de
las fotografías de escasa calidad disponibles6.

Todos ellos pusieron en duda la autenticidad de los documentos de García de la Riega; sus argumentos,
basados en los estándares académicos de su época, han sido hoy sobrepasados en muchos casos por el
conocimiento acumulado por décadas de estudio sobre la documentación y la lengua de la Galicia medieval.

El primer estudio moderno

La Tesis de Licenciatura de Emilia Rodríguez-Solano Pastrana realiza en 1967 bajo la dirección


del catedrático de Paleografía de la Universidad de Santiago Manuel Lucas Álvarez es el intento
más reciente de volver sobre estos documentos. Con el título Autenticidad diplomática, sus fraudes
y métodos técnicos de investigación analizaba los documentos depositados en el Museo de
Pontevedra7; llegaba a la conclusión que dichos documentos son todos originales y verdaderos y
que la objeción a su autenticidad puesta por los anteriores autores -basada en la manipulación de
los nombres de los Colón allí presentes- no debe considerarse tal. Se trataría, según esta autora, de
un avivamiento o recalcado de aquellas grafías que no se podían leer con nitidez pero no se altera
el sentido original.

Todos estos estudios plantean no solo las dudas sobre la autenticidad de los documentos sino también
argumentos como la posible manipulación de algunos pasajes, la incongruencia de los escritos con lo
que se supone era un documento otorgado en pública forma, la presencia de algunas abreviaturas y
letras inconsistentes con la teoría paleográfica… Pero es necesario recordar que han pasado 50 años
desde el estudio de Emilia Rodríguez-Solano y un siglo desde el informe de Oviedo Arce; los actuales
conocimientos paleográficos, diplomáticos, lingüísticos e históricos no sólo aplicables, a Galicia sino
también al contexto pontevedrés, han avanzado mucho y existen nuevas herramientas y conocimientos
que permiten un mejor análisis de los documentos objeto de debate.

5 Comisión Académica, 1928; Oviedo y Arce, 1917.

6 Es posible que el informe de Oviedo Arce además de reflejar una opinión científica, proyecte también el enfrentamiento
latente entre García de la Riega y Murguía (Barreiro Fernández, 2012, p. 811).

7 Rodríguez-Solano y Lucas Álvarez, 1967.

47
La herramienta de evaluación: el análisis diplomático y paleográfico

Los estudiosos que plantean dudas sobre la autenticidad de los documentos que testimonian a los Colón
de Pontevedra emplearon los instrumentos de la crítica documental tradicional, esto es el análisis de los
caracteres extrínsecos e intrínsecos del documento. Este es el procedimiento que seguiremos en este
trabajo, si bien centrándonos únicamente -por las limitaciones de espacio- en los aspectos principales.

Estudios tecnológicos

El estudio del papel y la tinta que componen la materialidad de un documento puede arrojar interesantes
resultados, sobre todo en estos tiempos en los que podemos aplicar herramientas tecnológicas avanzadas.

En este caso, la Asociación Cristóbal Colón Gallego encargó en 2013 un examen exhaustivo de cuatro
papeles de la colección García de la Riega al Instituto del Patrimonio Cultural Español8 (IPCE). Su
dictamen demuestra científicamente que el papel utilizado es de trapo, como corresponde a ese
periodo histórico del final de la Edad Media y aprecia la presencia de dos tintas diferentes, una parda
y otra violácea. La tinta parda se identifica como una posible tinta ferrotánica, es decir, preparada
con una mezcla de una sustancia tánica (nuez de agalla) con sales de hierro que da como resultado
un líquido de color negro9. Este tipo de tintas negras, también llamadas metalo-gálicas, tienen gran
variedad de matices, unas tienen reflejos brillantes mientras que otras son de color marrón claro,
pardo o difuminadas. Esta tinta parda presente en los documentos estudiados se corresponde con
las empleadas en el siglo XV. Por su parte, la violeta es de origen orgánico, posiblemente derivada de
algún compuesto nitrogenado como la anilina o azul de Prusia10. Esto quiere decir que se elaboró en
el siglo XIX, ya que si se trata de anilina ésta no fue sintetizada hasta principios del siglo XIX y si es
azul de Prusia, su uso se extendió por Europa a partir de mediados del siglo XVIII. Es decir, la tinta
violácea es posterior a la elaboración del documento. En efecto, es la que se usó en la reavivación de
algunas letras.

Se llevó a cabo también un estudio multiespectral para clarificar la superposición de escrituras en los
documentos. Para ello, se examinaron los documentos con diferentes tipos de luces, incorporando
incluso la colaboración de los equipos de la Policía Científica.

Sus conclusiones: los papeles no fueron raspados ni manipulados11 pero si -como apuntaban los
informes académicos y el estudio de las tintas- fueron avivados algunos pasajes con una tinta distinta

8 Adscrita a la Dirección General de Bellas Artes y Bienes Culturales y de Archivos y Bibliotecas del Ministerio de Educación,
Cultura y Deporte, su cometido es la investigación, conservación y restauración de los bienes que conforman el Patrimonio Cultural.

9 González Arteaga, 2013, p. 2.

10 González Arteaga, 2013, p. 6.

11 Antelo y Domingo, 2013, p. 11.

48
a la original; caracterizan la intensidad de esta intervención posterior que no sustituye la escritura
anterior: el trazo de repaso ha intentado obviamente ceñirse al espacio del trazo primitivo, el cambio
de color y concentración del nuevo trazo permiten distinguirlos12.

Las conclusiones de dicho informe fueron presentadas en el año 2014 en Pontevedra por Carmen
Hidalgo Brinquis -Jefa del Servicio de Conservación y Restauración de Patrimonio Bibliográfico,
Documental y Obra Gráfica-. Confirmó que los documentos fueron “avivados” o retocados por Celso
García de la Riega para darles mayor legibilidad pero que debajo de ese retoque no hay un texto
diferente. Las fotografías que presenta son muy elocuentes a este respecto13.

Análisis diplomático

Los seis documentos medievales que testimonian la estirpe de los Colón gallegos han llegado a
nosotros por diversas vías y en diferentes estadios de tradición documental, aunque en formato
en apariencia original; por ello, la autenticidad de cada una de las piezas debe evaluarse teniendo
en cuenta su tipología y estableciendo la concordancia de ella con las pautas de su contexto
histórico y diplomático. Por ello, debe usarse -además de cualesquiera otras herramientas- la
crítica diplomática tradicional para refrendar o no la autenticidad jurídica, diplomática e histórica
de los documentos.

El análisis diplomático es una prueba que, podríamos denominar, de consistencia y concordancia:


autoría, apariencia, contenido, génesis, signos de validación....presentes en el documento
se confrontan con lo habitual en su época para su tipo documental, en su contexto histórico,
institucional y geográfico. Esto es, se oponen texto y contexto y de esa confrontación surge el
concepto de autenticidad que equivale a decir que esta escritura es la que originalmente se otorgó
en pública forma y tuvo validez jurídica; y a partir de ella, los expertos establecen distintos niveles
de autenticidad en función de su proximidad a ese documento pleno -desde un borrador hasta una
copia simple pasando por una amplia gama de situaciones intermedias-.

El estudio diplomático detallado de estas piezas excede el ámbito de este estudio así que se
atenderán a los aspectos que se consideran cruciales para evaluar su autenticidad: la datación, la
tradición y la autoría. A efectos de simplificar la comparación de este estudio y sus resultados con
los llevados a cabo con anterioridad los documentos se identificarán con el número que les dio
García de la Riega14.

12 Antelo y Domingo, 2013, p. 11.

13 El video de la conferencia y los resultados en ella expuestos están disponibles en drvanguardia, 2013 a.

14 Véase en el anexo la tabla de correspondencias documentos-numeración. Los documentos son estudiados a partir de la
página 151 de su estudio (García de la Riega, 2014).

49
La cronología

Sólo 2 de las seis piezas documentales pueden ser datadas con exactitud; son las identificadas por
García de la Riega con los números 2 y 7. Constan en ellas las respectivas datas de otorgamiento de los
tratos, sin que se hayan localizado a lo largo de la investigación indicios de que puedan estar falseadas.

Los otros cuatro documentos carecen de data completa. De aquellos que García de la Riega numera
como 3, 4, 5 y 6 sólo hay datas incompletas, por cuanto o bien el papel está dañado o bien la información
que nos ofrecen sigue el modelo clásico de los libros notariales. Los dos tipos de incidencias con
bastante comunes en este tipo e escritos. Una datación aproximada, basada en la escritura, la
estructura y formulario del tenor documental así como los personajes que se citan en ellos, los sitúa de
modo genérico en la primera mitad del siglo XV.

El estudio de su materialidad, en este caso el papel, permite avanzar una datación más precisa.
Los trabajos realizados por José Luis Basanta, sobre todo su monumental inventario de marcas de
agua, facilitan esta aproximación a la siempre complicada tarea de asignar dataciones15. Este mismo
investigador tuvo oportunidad de estudiar las marcas presentes en los manuscritos de la colección
García de la Riega y les asignó sus equivalentes en el inventario gallego16.

a) El papel del documento 3

Este contrato tenia antiguamente la datación completa pero el desgaste de la esquina superior del
folio acabó desmembrando el papel de manera que ahora falta la información relacionada con el año.
Puede leerse con claridad: ano do nasçemento do noso señor Ihesu Christo de mill e quatroçentos e
[...] e quatro anos, quatro dias do mes de janeiro.

Presenta la silueta de la mitad superior de un ciervo, vista de perfil. Basanta identificó esta señal con
la recogida en su repertorio con el número 351 de las procedentes del Museo de Pontevedra17 y que
procede también de un libro notarial, el de Pedro Rial. La marca de fábrica que el papel trasluce nos
permite situar el uso de estos pliegos en los años 30 el siglo XV. La data correspondiente a este
documento es, por tanto, 4 de enero de 1434.

b) El papel del cuaderno con los documentos 4 y 5

El documento 4 se presenta en dos versiones -una de ellas cancelada- y sólo figura en una de ellas la
referencia al día y al mes (dez e noue dias do dito mes de janeiro); la otra (la que se invalidó) resume

15 Basanta Campos, 1996.

16 La conferencia en la que explica estas identificaciones en drvanguardia, 2013b.

17 Basanta Campos, 1996, vol. 2, p. 349.

50
la datación con la expresión predito, remitiendo al documento anterior o anteriores. Es el mismo caso
que el documento 5 que, siguiendo la costumbre notarial, anota: XXIX dias do dito mes; por los escritos
anteriores se deduce que fue otorgado en septiembre.

Basanta, al estudiar este cuaderno, individualiza en él una forma circular que identifica con la pieza
número 9 presente en el archivo capitular de Mondoñedo, datada en 145618. Esta cronología no
concuerda con los datos ofrecidos por el documento 5 pues cita a Paio Gómez de Soutomaior como
otorgante y este caballero falleció en 1454. Así pues, la asignación de Basanta y ese dato histórico
nos dan una fecha ante quam; el otro extremo del arco cronológico sale de los datos aportados por
las personas citadas en las diversas escrituras: Afonso Eanes Xacobe -notario entre 1430 y 1460-,
Xoán Afonso19 -notario de Pontevedra en la década de 1430-40-, o Xoán González do Ribeiro20 -al
que podemos documentar en los años 30 y 40 del mismo siglo-, y de la datación del documento 3,
contenido en el mismo cuaderno.

Estos documentos, por tanto, se registraron en el libro notarial entre 1434 y 1454, posiblemente entre
1434 y 1440.

c) El papel de los documentos 2 y 6.

Los contratos que nos interesan se encuentran en un cuaderno con dos partes bien diferenciadas,
como se verá al estudiar la tradición documental. Los folios donde están estos escritos corresponden a
una recopilación de minutas notariales datadas entre 1400-1447; con vistas a evaluar su autenticidad
interesa tanto la data de otorgamiento del contrato original como la de copia e inserción en este
cuaderno.

La pieza 2 aporta la datación completa del otorgamiento: ano do nasçemento de noso señor Ihesu
Christo de mill e quatroçentos e triinta e oyto anos, dous dias do mes de nouembro; el documento 6,
por el contrario, presenta la forma abreviada típica de las minutas: este dito dia mes e ano. J.L. Basanta
identificó en el cuaderno la silueta de un unicornio rampante similar a la presente en el número 106 del
Arquivo Histórico Provincial de Ourense, como soporte del conocido como Libro da Ponte de Ourense,
datado entre 1433 y 143821.

Esta individualización nos aporta una cronología aproximada para el esfuerzo de compilación, que
habría tenido lugar en una fecha imprecisa pero próxima a la de otorgamiento de las últimas escrituras
del legajo y, por supuesto, de las que interesan a este estudio, entre 1430 y 1450.

18 Basanta Campos, 1996, vol. 2, p. 85.

19 Este notario es fedatario del único registro pontevedrés publicado Rodríguez González y Armas Castro, 1992.

20 Citado en muchos documentos de la década de 1430, por ejemplo, en Rodríguez González y Armas Castro, 1992, fol. 27v)

21 Basanta Campos, 1996, vol. 2, p. 183.

51
La tradición documental

El conocimiento de la sucesión de estados de un documento entre la forma original que sigue la intención
de su autor y la forma en que dicho documento ha sobrevivido -así define la Comisión Internacional
de Diplomática la tradición documental- nos permite identificar un valor clave a la hora de determinar
la autenticidad de un documento: su distancia respecto al contrato otorgado en pública forma y, por lo
tanto, jurídicamente valido. Esto es, cuanto más próximo al original validado por el notario mayor será
su autenticidad.

La tradición puede condicionar sustancialmente el ejemplar que llega hasta nosotros, hasta el punto de
cambiar su significado y por ello deben evaluarse de manera diferente un ejemplar original autorizado
por notario y una copia simple carente de todo tipo de marcas de validación. La diplomática ha
desarrollado a lo largo de su historia un importante cuerpo teórico y buenas herramientas de contexto
-generales y locales- para establecer los pasos del itinerario documental y aplicar a cada uno de ellos
criterios para verificar su autenticidad.

El cumplimiento de ese itinerario documental y de las formalidades de elaboración y autenticación


son indicio de autenticidad y originalidad y su verificación debe hacerse a partir tanto de lo general
como de las condiciones concretas del tipo de documento, lugar en el que se expide, cronología, etc.
Aplicar este corpus de herramientas al caso que nos ocupa resulta algo complejo -por falta de estudios
comparativos dedicados a Galicia- pero es viable y arroja interesantes conclusiones22.

Nuestros documentos proceden de lo que hoy denominamos “protocolos notariales “y lo que en su


momento eran las notas e registros de diversos notarios de la ciudad de Pontevedra.

a) Los documentos 2, 3, 4 y 5: libros de notas e registros

Los libros notariales no son una copia de la escritura tal y como se otorgó en pública forma sino la
matriz a partir de la cual se extendió y autorizó ese original primero23. Constituyen un estadio específico
dentro de la tradición documental y su autenticidad debe interpretarse a partir de criterios distintos pues
es diferente su naturaleza jurídica y procedimental.

A la luz de la teoría general de la crítica documental diplomática y del contexto diplomático de la Galicia
bajomedieval, los documentos que aquí estudiamos pertenecen a ese estadio previo en el itinerario
documental pues:

22 Es precisamente la falta de estudios sobre diplomática gallega en general y sobre el contexto documental gallego en
particular las que llevaron a diversos autores a cuestionar la autenticidad no sólo de los documentos que aquí tratamos sino
también de otras muchas escrituras. Por otro lado, se trataron como auténticos diplomáticos -e históricos- ejemplares cuya
autenticidad y veracidad son hoy -décadas de estudio después- dudosas.

23 Es el ejemplar que se queda en la notaría para poder redactar nuevos instrumentos auténticos. Sobre la escrituración de
los documentos en la Tierra de Santiago v. Vázquez Bertomeu, 2001, pp. 39–53.

52
• Llegan a nosotros en un cuaderno o cuadernos que recogen escritos en un estadio previo de
redacción, evidente por la falta de signos de validación pública.

• Presentan signos de validación característicos: rúbrica notarial, cancelación de los márgenes


para evitar inclusiones posteriores, cierre de párrafos con líneas...

• Se aprecia la intervención de varias personas (varias manos) que escrituran diferentes contratos
o que los enmiendan o completan.

• Las distintas piezas en ellos contenidas se insertan una tras otra en orden cronológico. Según
el derecho medieval, esa inserción en una secuencia -que no puede modificarse sin dejar huella- y
la validación de un fedatario público son los elementos principales que dan validez jurídica al acto
documentado.

• La página proyecta usabilidad e instrumentalidad, como corresponde a una herramienta de


uso interno de la notaría: escritura ágil y rápida, de legibilidad difícil en ocasiones, con cláusulas
abreviadas (datación y protocolo final, sobre todo) y recurso a abreviaturas propias del oficio (para
apellidos o fórmulas comunes).

• Los contratos contienen con frecuencia referencia a su elaboración en pública forma, a veces
incluso constando la identidad de la persona que llevó el ejemplar. Reconocemos este hecho en las
expresiones: feita; feito e dado; feita e dada, feito e dado a Lourenço Yanes, etc.

Es indudable el carácter registral de los cuadernos y libros que contienen los documentos 2, 3, 4, 5 y
7 que cita García de la Riega, siendo esta circunstancia la que explica algunas de sus peculiaridades:

• Dataciones incompletas en documentos 5 y 4 (des e noue dias do dito mes de janeiro; predito)

• Presencia de abreviaturas y giros típicos de libros notariales, como anotaciones marginales,


notas de saca, etceterados,...

• Presencia de documentos cancelados; siendo el más interesante el que García de la Riega


numera como 4, del que tenemos 2 versiones, una de las cuales fue cancelada por ser errónea.

• Constante presencia de enmiendas y adiciones interlineares realizadas por otro autor, que
se corresponde a las correcciones que hace el notario titular o su primer oficial para asegurar la
exactitud del tenor.

• El hecho de que figuren a continuación de las escrituras notas breves de contratos relacionados:
o dito don abade obligouse de quitar da dita fiaduria ao dito Gonzalo da Pena, ferreiro. Ts ut supra.

53
El conjunto de características descritas y halladas en los cuadernos y libros que contienen los
documentos en papel sobre los Colón de Galicia nos conducen necesariamente hacia este perfil
documental. Los escritos consultados encajan perfectamente en el prototipo de su época y en la praxis
notarial de la Galicia bajomedieval, concretamente con la de la Tierra de Santiago, jurisdicción a la que
pertenece la ciudad de Pontevedra24. Concuerdan con lo que se puede esperar de las notas e registros
de cualquier notaría de su tiempo.

Estamos, pues, ante escritos de uso interno de una oficina notarial, no ante tratos contenidos en un
ejemplar otorgado en pública forma. Por ello presentan características específicas que son diferentes
a las que se identifican en los pergaminos o papeles otorgados en pública forma que las partes
encargaron y llevaron para salvaguarda de su derecho.

b) Los documentos 6 y 7: registros especiales

Dos de los documentos objeto de estudio se acogen a formatos singulares de registro que son comunes
en la Tierra de Santiago. En efecto, las escrituras que García de la Riega numeró como 6 y 7 aún
compartiendo las características descritas presentan ciertas especificidades que deben tenerse en
cuenta a la hora de evaluar su autenticidad.

El documento 6 de la Colección García de la Riega procede de un cuaderno notarial con dos partes
bien diferenciadas25. Una de ellas acoge las notas que un notario desconocido otorgó a lo largo de
1436, sin que presente mayores particularidades. La otra parte se compuso invirtiendo el cuaderno
de manera que el volumen se comenzó y utilizó a partir de los dos extremos; contiene únicamente
escrituras otorgadas por la cofradía de San Juan de la villa de Pontevedra entre los años 1400-144726.
Estamos pues, ante una recopilación de carácter institucional.

Estos contratos de la cofradía no presentan orden cronológico y carecen de cualquier signo de


validación propio de los traslados autorizados. No obstante, contienen elementos que apuntan a un
libro notarial como son las correcciones y añadidos puntuales y la presencia de notas de saca (feito
eno liuro de San Iohan; feita outra vez en papel a Pedro de Romay). Estas indicaciones apuntan a un
libro de uso interno de la notaría -aun careciendo de las formalidades de autenticación y validación-,
próximo por lo tanto a un original extendido en pública forma.

Dado que los documentos de la primera parte -aunque van seguidos- no recogen contratos de un

24 Vázquez Bertomeu, 2001, esp. 39-53.

25 El volumen fue recosido en el siglo XIX pero presenta en algunas zonas las marcas e hilos de la costura antigua, así que la
intervención reciente se limitó a asegurar lo existente. Presenta también un pequeño fragmento de la encuadernación antigua
de pergamino.

26 Esta costumbre está documentada en otras notarías de la Tierra de Santiago, siendo el caso más conocido de libro con
características similares el Tumbo H del Archivo de la Catedral de Santiago (Cabana Outeiro, 2002)

54
año completo y que las escrituras del reverso se recogieron en esos mismos pliegos de papel, es
necesario concluir que la escrituración de este registro institucional comenzó hacia 1436. Como hay
escritos anteriores hemos de otorgar a esta parte del cuaderno un carácter compilativo, aunque las
notas de saca apuntan a una concepción instrumental. A la luz de la práctica notarial de la época se
trata, posiblemente, de una recopilación de minutas de documentos otorgados en la notaría a favor de
la cofradía27.

El documento 7 está insertado en el Liuro do Concello de Pontevedra, habitualmente caracterizado


como libro de actas y acuerdos pues da fe de la actividad del consistorio pontevedrés. Un estudio más
detallado ha demostrado que buena parte de el es, en realidad, un registro notarial específicamente
creado para contener los acuerdos susceptibles de ser escriturados en pública forma. Es un modelo
mixto entre protocolo notarial y registro de cancillería que diversas entidades de la Tierra de Santiago
adoptaron para seguimiento y control de su documentación28.

La autenticidad diplomática e histórica del Liuro do Concello de Pontevedra no ha sido cuestionada


hasta el momento por ninguno de los estudiosos que lo ha manejado. Una revisión del manuscrito
original -a la luz de sus características singulares- no permite apreciar razón alguna para dudar del
consenso existente a este respecto.

La autoría

Al pertenecer a libros notariales en su mayoría, la autoría estricta de los documentos es colectiva -el
notario y sus oficiales-; la autoría diplomática es más difícil de establecer.

Desconocemos el nombre del notario titular de la oficina en la que se elaboraron los documentos 3, 4 y
5, contenidos en un mismo cuaderno. García de la Riega -y a partir de él otros autores- asignaron este
volumen a Afonso Eanes Xacobe; no obstante, dado que este profesional es testigo en el otorgamiento
de varios contratos -entre ellos el numerado como 5- debemos descartar esta atribución. Podemos
asignarla de modo hipotético, en cambio, a Juan Afonso que figura en el folio 1 como notario presente
en el otorgamiento de la escritura y fedatario de ella29.

No hay en el cuaderno que los contiene, datos que permitan una identificación del despacho que
elaboró los documentos 2 y 6. García de la Riega sitúa estos papeles como integrados en unos legajos
procedentes de notarías de Pontevedra que le fueron facilitados por Joaquín Núñez -en el caso del
2- y en el “minutario” de Afonso Eanes Xacobe -en el caso del 6-. Lo cierto es que ambas escrituras

27 Sobre esta tipología de volúmenes v. Vázquez Bertomeu, 2001, pp. 52–53.

28 El Concello de Santiago sigue en el siglo XV esta misma práctica que podemos datar con anterioridad ya en el cabildo
catedralicio. Sobre las características de la documentación municipal v. Vázquez Bertomeu, 2001, pp. 95-101 y 115-117.

29 Esta atribución no puede confirmarse totalmente dado que falta toda la parte inicial del escrito.

55
comparten autoría y pertenecen sin duda al mismo cuaderno, ese en el que hoy se encuentran.

La escritura número 7 procede del Liuro do Concello de Pontevedra, por lo que debemos presuponer su
elaboración al equipo del notario que en esos años llevaba la escrituración de los asuntos consistoriales,
es decir, a Afonso Eanes Xacobe.

Así pues, los autores identificables de estos documentos son profesionales que trabajan en la ciudad
en la época de que se trata, según podemos comprobar por otras escrituras por ellos autorizadas
y presentes en otros fondos documentales. De aquellos que no pueden individualizarse sólo cabe
afirmar que los cuadernos que nos legaron encajan con los habitualmente empleados en los escritorios
notariales de la Tierra de Santiago.

Estudio paleográfico

La Paleografía de análisis consiste en, además de leer y descifrar un texto escrito, analizar el conjunto
de sus caracteres para situarlos en la época, lugar y área de extensión en que se dieron, saber qué
centros o personas los utilizaron, con qué finalidad se escribió el texto y el modo en que llegó hasta
nosotros. Así se determinan las características singulares de las distintas escrituras y se puede
establecer su identificación, autentificación y su clasificación, así como su adscripción cronológica
y geográfica. Con todo ello, pueden resolverse los problemas de identificación y autenticidad de un
determinado documento. Se trata pues de un instrumento de peritación y análisis para la crítica textual
e histórica, que responde con precisión al qué, cuándo, dónde y cómo de las escrituras30.

La escritura de los documentos

La escritura de los documentos aquí analizados es la típica letra notarial medieval perteneciente al
ciclo de las escrituras góticas gallegas. Esta tipología escritoria nace a mediados del siglo XII y se
desarrolla hasta 1350 y es una escritura una cursiva similar en toda Galicia; en la primera mitad del
siglo XIV presenta una variante caligráfica y otra cursiva semejante a la letra de albalaes castellana; a
finales de este siglo comenzará a verse influida cada vez con mayor frecuencia por los trazos típicos
de la escritura precortesana que aparecerán ya en las cortesanas del siglo XV.

Durante todo este proceso, las escrituras gallegas no presentan diferencias acusadas respecto a las
utilizadas en otras zonas del reino castellano ni en el alfabeto, ni en el número de letras, ni en las líneas
básicas de su trazado pero si que tiene un elemento identificador claro: el sistema abreviativo propio,

30 Este nivel constituye la vertiente técnica de la Paleografía y se fundamenta en el estudio de diversos elementos como la
forma (morfología de la letra), el ángulo de escritura (posición del útil escritorio respecto a la línea de escritura), el ductus
(orden de sucesión y dirección con que se ejecutan los trazos de una letra), el peso (que depende de la naturaleza delgada
o gruesa de los trazos de cada letra), el módulo (dimensión de las letras, tanto en lo que se refiere a su altura como a su
anchura) y el estilo (modo peculiar con que un escriba o escuela trazan los rasgos morfológicos esenciales).

56
que partiendo del sistema carolino acabará adquiriendo una clara especificidad para adecuarse al
gallego31.

Otro rasgo que hay que señalar característico de los textos medievales gallegos es el uso del signo
general de abreviación. Procede de la escritura latina medieval, donde se empleaba como signo
abreviativo de uso general o titulus un trazo horizontal que se coloca sobre una o varias letras para
indicar al ausencia de determinados caracteres y lo más frecuente es que este signo señalase una
abreviatura. En los textos gallegos, sin embargo, el titulus puede indicar la existencia de una abreviatura
pero también indicar la presencia de un sonido específico como puede ser una tilde de nasalidad.

Así en los textos medievales gallegos puede ser un signo general de abreviación, que indica la supresión
de una o varias letras, puede también tener valor de consonante nasal a final de sílaba (n o m) o como
tilde de nasalidad: en las palabras patrimoniales el n intervocálico se perdió, dejando la vocal anterior
nasalizada (MANU > mão, GERMANA > irmãa, BONA > bõa). Como consecuencia en gallego hay dos
tipos de vocales: las vocales nasalizadas y las que no lo están. El titulus fue empleado por los escribas
medievales para señalar las vocales nasales aunque no de manera sistemática. En estos casos no
representa el signo general de abreviación sino un signo diacrítico que facilitaba a lectura. Esta tilde no
suele ir sobre la vocal nasal sino sobre varias letras e incluso sobre la palabra entera y esto pasa con
frecuencia cuando se trata de combinación de varias vocales32.

Basándonos en los principales tratados que existen sobre este tipo de letra y los documentos
contemporáneos se analizarán las grafías principales de los documentos en cuestión33.

a) Los documentos 2 y 6.

Están en el mismo cuadernillo de ahí que se haga un estudio conjunto. En general todo el material de
este volumen presenta una letra menuda, con una clara separación de las palabras, con un módulo
desproporcionado, ya que las letras con astiles y caídos suelen sobrepasar bastante la caja del renglón,
contraste entre rasgos gruesos y finos, escasez de rasgos envolventes y ligaduras pero abundantes
nexos34. En ocasiones las letras con alzados y caídos tienden a incurvarse, bien envolviendo la letra o
bien sirviendo de enlace con la letra siguiente. En definitiva, es una escritura ágil y rápida con profusión
de abreviaturas.

31 Lucas Álvarez, 1950; Vaquero Díaz, B, 2014; Vaquero Díaz, 2006.

32 Consello da Cultura Galega, 2015, pp. 22–26.

33 Arribas Arranz, 1965; Galende Díaz y Salamanca López, 2012; Millares Carlo, 1929.

34 La aparición de los nexos y ligaduras es un fenómeno común en todas las escrituras cursivas que produce una deformación
en el trazado originario de algunas letras. Los nexos son uniones de letras que a veces pueden desvirtuar la fisonomía de
alguna de ellas. Las ligaduras son fruto de la velocidad al escribir, pues no se llega a levantar el útil escritorio del soporte y se
enlazan letras, sílabas e incluso palabras sin que las grafías se alteren.

57
El documento 2 presenta en el margen izquierdo el numeral en lápiz rojo que coincide con la numeración
que García de la Riega le dio en su libro Colón español y al final del documento una nota de saca en
tinta de color violeta. Presenta pasajes y palabras tachadas y enmiendas con palabras interlineadas,
como es habitual en los libros notariales. Se aprecia claramente que los nombres de Bartolomeu de
Colón y Afonso da Nova han sido avivados.

Imagen 1

No obstante, es indudable la presencia original de los nombres Bartolomeu de Colón y Afonso da Nova,
tal y como demuestra la fotografía incluida en el informe de la policía científica y el IPCE. Respecto a
la forma Bartolameu -puesta en duda por los primeros críticos- no existe duda alguna que esta forma
se utilizaba en los documentos del siglo XV junto con otras -hecho natural en una lengua que no fue
normalizada hasta el siglo XX-; un ejemplo claro lo tenemos en el Minutario notarial de Pontevedra en
el que se usan dos formas de ese nombre35.

La trascripción correcta sería: ...en presença de Bartolameu de Colon e Afonso da Nova...

La letra de este escrito se corresponde con la escritura notarial de este periodo con todas sus
características, como son:

b.- Es la típica b esbelta y recta que es de uso común en los documentos que se han analizado. Así la b
de Bartolomeu se corresponde tanto en su forma, módulo y estilo con las utilizadas en este documento.

c.- En esta época suele presentarse como un rasgo más o menos curvado con un travesaño horizontal
que sirve para enlazar la letra siguiente. Se traza en dos golpes de pluma, el primero de abajo a arriba y
de izquierda a derecha y en la mayoría de los casos el segundo trazo horizontal se liga con las vocales
por la parte superior de la c.

l.- Lo mas corriente es que tenga una lazada que puede llegar a estilizarse al máximo convirtiéndose
en un simple trazo vertical a veces ligeramente curvado en su parte inferior. Ejemplo de esta simple l
aparece ya en Bartolameu y en Colón pero también en la palabra villa, moller, y esmola; en este mismo
documento la palabra esmola presenta esta l de lazada.

35 Rodríguez González y Armas Castro, 1992, docs 53, 68, 91,... (Bartolameu) y docs 8, 23, 56, etc (Bertolameu).

58
n.- Puede llevar el arco de enlace en la parte superior o por la parte inferior, confundiéndose con una
u, como ocurre con frecuencia en este documento y se puede apreciar en el apellido Nova.

o.- Presenta la tradicional forma cerrada, más o menos circular y a veces puede presentar una abertura
en la parte superior. Se puede encontrar bien anexada a otras letras bien en su forma aislada como
sería el caso del apellido Colón, donde el escriba optó por letras aisladas o en las palabras nouenbro
(segunda línea) o voontade (quinta línea).

t.- Se ciñe perfectamente al modelo de t de está época: un trazo horizontal (más o menos curvo) con
un travesaño colocado en la caja del renglón y un astil que apenas sobresale de dicha caja de renglón.
En este caso presenta su forma aislada.

v.- Aunque los signos para la u y la v se emplean indistintamente, la v se suele escribir de dos golpes
de pluma siendo el rasgo de la izquierda más prolongado que el de la derecha y ambos se unen en un
ángulo más o menos pronunciado en la parte inferior.

En el documento aparecen las típicas abreviaturas del sistema abreviativo medieval. El nombre Afonso
no supone problemas de lectura ya que la abreviatura Ao es la común para el nombre Afonso. En este
documento se utiliza dos veces; una en la tercera línea para referirse a Afonso Eanes y en la sexta
donde se hace referencia a Afonso da Nova. Se utiliza el signo general de abreviación para abreviar el
apellido Colón (consonante nasal a final de sílaba).

Tras analizar las letras aisladas, sus características y los signos utilizados no se encuentra ninguna
incongruencia entre las palabras Bartolameu de Colón e Afonso de Nova y el resto del documento.

El documento 6 forma parte del mismo cuaderno que el documento 2 y su autor es el mismo, así
que las características gráficas son las mismas. En este documento aparecen los nombres de Juan
Domínguez y su mujer María de Colón. Únicamente ha sido avivado el nombre de María de Colon y
que además se ha subrayado.

El nombre de María está abreviado, como es habitual, con una letra sobrepuesta apenas legible, y el
apellido de Colón también abreviado, de la misma forma que en el documento anterior. A pesar del
avivado de las letras, su forma, módulo y estilo es coherente con el resto del documento.

59
Imagen 2

b) El documento 3

Fue analizado por el IPCE. Presenta una letra menuda, con una clara separación de las palabras y
renglones; los astiles y caídos de las letras suelen sobrepasar bastante la caja del renglón, apenas
tiene rasgos envolventes pero hay abundantes nexos. Es en general bastante parecida a la de los
documentos 2 y 6; aun compartiendo similitudes, esta es una escritura más clara y limpia.

Imagen 3

Hay palabras avivadas en la novena línea: ...que estan diante das casas que qeymou Domingos de
Colón o moço. En las imágenes del informe del IPCE se pueden ver gran parte de los rasgos de la
grafía original.

a.- Presenta varias formas y un ductus sencillo. Las a de este documento se corresponden con las típicas
de este periodo en el que se pueden distinguir varias formas de esta letra -que están representadas en
este documento-: una a semejante a la actual y trazada con uno o dos golpes de pluma y la a con línea
sobrepuesta (palabra esta). Esta es la más típica de la precortesana, distinguible por su trazo inferior
es similar a la u, ejecutado de un único trazo y la línea horizontal que lo cubre (de aquí su nombre de
a de “linneta”). Esta línea o capelo sirve para sirve para unir la a con la letra posterior, como se puede
ver en la palabra das o en casas; en esta última palabra la segunda es la otra a común de este período,
ejecutada en un único trazo de izquierda a derecha dejando totalmente abierta la base.

60
c.- En dos golpes de pluma, puede ir aislada aunque lo más frecuente es que se enlace a la vocal que
le sigue por la parte superior. Un ejemplo de este tipo de nexo es el que aparece en el apellido Colón
que liga con la vocal o; otro, más claro, es la sílaba ço en que una c idéntica a la de c de Colón se
enlaza claramente con la o.

d.- La letra típica de este periodo es la de llamada de tipo uncial, en la que el ojo puede quedar
abierto. Las d de Domingos y de se corresponden con este tipo; de ella hay abundantes ejemplos en
el documento.

e.- La e es semejante a la actual y que suele ejecutarse de un solo golpe de pluma. No ofrece dudas.

l.- Se utilizan varios tipos de l, bien de trazo vertical -como las que aparecen en el apellido Colon, en
la palabra mill de la primera línea, en la abreviatura de qal y la palabra obligo de la cuarta línea-, bien
con lazada -como aparece en la palabra villa de la tercera línea o en la abreviatura de moller en la
cuarta línea-.

m.- De aspecto más o menos anguloso, suele tener sus arcos en unión superior pues en ocasiones los
astiles aparecen aislados como por ejemplo en qeymou. No presenta diferencia alguna con las de m
que aparecen en este documento.

o.- Puede aparecer de forma aislada o anexada a otra letra; aislada la encontramos, además de en
la segunda sílaba de Colón, en el soo de la tercera línea, en obligo en la séptima línea, en morada,
outro...

q.- Puede presentar un caído vertical o arqueado hacia la izquierda que puede llegar a envolver la letra
-en particular cuando constituye el signo de abreviación que-. No ofrece dudas de interpretación ya que
a lo largo de todo el documento la abreviatura que se repite siempre de la misma forma envolviendo en
mayor o menor medida a la q.

s.- Característica de la escritura cortesana es la s en forma de espiral o sigma.

y.- Suele trazarse en dos golpes de pluma y además de la cabeza en forma de horquilla, el caído
puede girar a la izquierda y envolver la letra o girar a la derecha (lo que denota una influencia de la
letra renacentista36). Esta es la letra que aparece en qeymou y encontramos otros casos en varios
documentos de la colección García de la Riega.

Caben destacarse los nexos con la letra s, donde el trazo de arranque de la letra se prolonga hacia
la izquierda a modo de cierre, como sucede en la palabra casas y en otras ocasiones en el mismo
documento. Es la s llamada en forma de sigma.

36 Galende Díaz y Salamanca López, 2012, p. 38.

61
Respecto al uso de abreviaturas, encontramos las típicas formas medievales como el s t q (saiban
todos que), el signo de -eiro en la palabra janeiro, letras sobre puestas y abreviaturas por contracción
y suspensión. Es necesario destacar la formas que presentan los nombres de persona: uso del
signo de per (en la segunda línea) para acortar el nombre Pedro o la contracción Frs, forma breve
de Fernández en la que se conserva la primera y última letra y para mejor comprensión se mantiene
la r. También está abreviado el nombre Domingos, nombre gallego que en castellano es Domingo y
que aparece en numerosos documentos medievales tanto en su forma gallega como castellana. El
nombre se representa como Ds, que simboliza Domingos37. Esta abreviatura del nombre Domingos es
perfectamente coherente con la fecha del documento y su época y no presenta ningún problema de
interpretación.

Respecto a la palabra qeymou está perfectamente escrita y es coherente con el uso de la q en este
momento, ya que en los documentos gallegos medievales -recordemos que al igual que otras lenguas
el gallego medieval no esta normalizado- no es extraño el uso de la q con valor de c/k, o sencillamente
omitir la u al escribir. Otro ejemplo del uso de la q lo tenemos en el documento siguiente.

c) El documento 4

Analizado por el IPCE pues presenta pasajes avivados, las características generales de su escritura
se asemejan bastante a los casos anteriormente estudiados: escritura cursiva, letra menuda, alzados
y caídos que sobresalen de la caja del renglón y abundancia de abreviaturas. Fue confeccionada por
un amanuense distinto a los anteriores.

Imagen 4

...a vosa moller Branqa Soutelo asi como herdeira de Branqa Colon moller que foi de Afonso de Soutelo...

A pesar del avivamiento, en algunas partes de esta línea aún se pueden distinguir las grafías originales.
Las palabras puestas en cuestión encajan perfectamente en la forma, módulo y estilo del resto del

37 La forma castellana es Dº y se desarrolla como Domingo.

62
documento. A pesar del recalcado, las cinco primeras letras de los dos nombres de Branqa son
prácticamente iguales a la palabra branqa que aparece en la línea anterior, si bien en este último caso
al hacer referencia a una moneda el escriba prefirió abreviarla y utilizar una q con letra sobre puesta.

Al igual que en la palabra qeymou del documento anterior el escribano prescindió del uso de la u y
usa claramente la q con el valor de la c actual (sonido <k>) siguiendo una pauta común en los tiempos
medievales: branqa, çinqenta, qando, etc

d) Documento 4 bis (versión cancelada del anterior)

Se encuentra en el mismo cuaderno que el documento anterior y fue elaborado por la misma mano.
Encontramos también referencias a Afonso de Soutelo y a su mujer Branca de Colón; el nombre
Branqa presenta las mismas características que en el documento nº 4.

Imagen 5

En ambos documentos las palabras avivadas se corresponden perfectamente con la forma, módulo y
estilo del escribano original

e) Documento 5

También analizado por el IPCE, presenta la misma factura que los dos anteriores -hecho comprensible
si tenemos en cuenta que están en el mismo cuaderno.

Imagen 6

63
Entre líneas podemos leer e terratorio ata a casa de Domingos de Colon o Vello texto que se repite
cancelado nueve líneas más abajo. Se trata de un documento notarial, con tachaduras, enmiendas,
palabras interlineadas y una nota al margen izquierdo hechas por el propio amanuense o por el notario
al revisar el contenido del documento.

En él fueron puestas en cuestión las palabras del interlineado y las tachadas. En la línea nº 16 aparece
tachado ... e terratorio ata casa de Domingos de Colon o vello...; en este caso el escribano se equivocó
y posteriormente enmendó su error colocando estas palabras en el lugar que le correspondían, con
una letra ligeramente más cuidada que la del resto del documento buscando una mejor legibilidad.

Respecto a la frase en sí, tanto en la parte tachada como en el interlineado se utiliza el signo tironiano
de e; el nombre de Domingos aparece abreviado con la abreviatura Ds y mientras que en la parte
interlineada aparece abreviada la palabra vello en la parte tachada presenta su forma completa.
También en el interlineado está abreviada la palabra terratorio.

Al igual que el resto de los documentos analizados hasta ahora, pertenecientes a la Colección Celso
García de la Riega y pesar del avivamiento de algunas letras, no hay duda de la autenticidad de los
mismos.

e) Documento 7

Como ya se ha dicho se encuentra en el Liuro do Concello de Pontevedra, actualmente en el Museo de


Pontevedra. Es un libro escrito en papel y encuadernación en pergamino. Los folios está numerados a
lápiz -posiblemente por Casto Sampedro-; tras la portada, en los años 30 se intercaló un folio escrito
a máquina en las que se hace referencia a alteraciones en los folios38 y que explica, por ejemplo, que
en el folio 26 recto ha sido alterados Dº de Colón y Bn Fonterosa; en otros folios se indican raspados,
restos de tinta azul, rotos y raspaduras.

La escritura también pertenece al ciclo de las góticas cursivas documentales gallegas, con muchas de las
características de la escritura cortesana. Es una letra apretada y menuda, con bastantes rasgos envolventes,
con gran cantidad de nexos y algunas ligaduras. Se ha cuestionado la autenticidad de un pasaje.

En el documento de 29 de julio de 1437 se hace referencia a un pago a dos personas que Celso
García de la Riega transcribió como Domingos de Colón y Benjamin Fonterosa. Aunque los nombres
han sido avivados nada hace suponer que no se haya respetado la grafía original, como sucede con
los documentos de la Colección García de la Riega. No ofrece problemas de interpretación, pues el
nombre Domingos presenta la forma usual; otro tanto sucede con el apellido Colón. No ofrecen dudas

38 En su estudio introductorio, los editores del manuscrito hacen un detallado estudio de su materialidad así como un
repaso panorámico a su contenido (Rodríguez González y Millán González-Pardo, 1989).

64
con respecto a su lectura. Sin embargo no es tan sencillo con el siguiente nombre, también abreviado
con las letras Bn. Al tratarse de una abreviatura por contracción, en las que se han mantenido la
primera y ultima letra, se corresponde a un nombre concreto pero lo cierto es que hay pocos nombres
que cumplan esas condiciones. No puede descartarse su desarrollo completo como Benjamín pero
hay que tener en cuenta que es un nombre muy escaso en la documentación gallega y tampoco es
frecuente en la documentación castellana de esa época.

Respecto al apellido Fonterosa aparece prácticamente completo, sólo con signo general de abreviación
para señalar la ausencia de la n (consonante nasal a final de sílaba). También hay que señalar que la
s aparece con forma de un 5, que es una variante gráfica muy frecuente en los documentos gallegos
a partir de finales del siglo XIV y se puede transcribir como s o z según el contexto. En este caso se
transcribe sin duda alguna como Fonterosa y así aparece en la transcripción hecha por Ángel Rodríguez
González. Respecto a la letras utilizadas para escribir ambos nombres responden al mismo tipo de letra
que la usada en el documento y en el resto del libro; no hay, por tanto motivo para dudar de su veracidad.

Conclusiones

• Los estudios derivados de las nuevas herramientas que están a disposición de los especialistas
confirman que los papeles de la colección García de la Riega son medievales y que intervenciones
de este erudito no tergiversaron el tenor original del documento.
• Los datos procedentes del estudio del papel y las marcas de fábrica presentes en el permiten
situar la mayoría de las piezas entre 1430-40. El tenor sitúa los tratos otorgados en el arco
cronológico 1430-1450.
• A pesar de sus diversas autorías puede identificarse -con facilidad para un ojo experto- su
origen notarial, detectable tanto en sus características intrínsecas como extrínsecas: inserción
en una secuencia cronológica cerrada, presencia de varias escrituras que delatan diversas fases
de composición del texto, tipo de escritura...
• Es esta apariencia tan singular la que hizo dudar en el pasado de la autenticidad de
los documentos, pues no se presentan como aquello que en otro tiempo -con un corpus
considerablemente menor de conocimientos- se entendía como documento auténtico.
• De su estudio se deduce que todos los documentos estudiados son escrituras previas a la
composición del contrato extendido en pública forma. Unas pueden asimilarse a los notas e
registros personales de un notario, mientras que otras son libros de minutas -redacción más
amplia- que las instituciones poseían para controlar sus decisiones y actos documentales y
documentables.
• Comparadas con la práctica notarial de su época y a partir del corpus de conocimientos que
hoy tenemos sobre ella, no se identifican en estas piezas elementos discordantes. Tanto los libros
notariales generales como los de perfil más institucional pertenecen a los usos profesionales de

65
la Tierra de Santiago y reproducen pautas comunes a todos ellos que están presentes en los que
aquí se estudian.
• Estamos, pues, ante los borradores y minutas que sirvieron para componer en pública forma
unos contratos que hoy se han perdido. En la escala de la tradición documental no están al
mismo nivel que los originales que en su día llevaron las partes otorgantes, pero su capacidad
de servir de matriz para autorizar nuevos originales los sitúa muy cerca de ese escrito óptimo.
• Las autorías identificables -los notarios que están al frente de los despachos- no admiten
dudas, en cuanto que otros documentos de la ciudad y época, permiten verificar su presencia en
las coordenadas documentales, geográficas y cronológicas que se proponen.
• A partir de los datos recabados, no hay elementos que induzcan una duda razonable sobre la
autenticidad diplomática y jurídica de estos documentos del grueso de los documentos, aunque
algunos pasajes de ellos han sido retocados.
• A pesar del avivado de algunas letras en los documentos todas ellas coinciden tanto en la
forma, el módulo y el estilo con la escritura de sus respectivos documentos, todas ellas góticas
cursivas con algunas características de la escritura cortesana.
• Tras analizar paleográficamente los pasajes avivados y compararlos con la escritura utilizada en el
resto de los documentos se puede afirmar que los pasajes retocados fueron escritos al mismo tiempo.
• La autenticidad diplomática y paleográfica de los seis documentos es innegable. Los informes
contrarios realizados por diversos estudiosos hace un siglo son comprensibles y explicables a la luz de
los conocimientos disponibles en aquel momento pero hoy sus argumentos carecen de base científica.

BIBLIOGRAFÍA

Antelo, T., Domingo, A., 2013. Conjunto de cuatro documentos manuscritos. Procedencia: Casa Museo
Cristóbal Colón, Poio. Informe con examen de resultados No. 31137. Informe del Archivo General.
Instituto del Patrimonio Cultural de España. Ministerio de Educación, Cultura y Deporte, Madrid.
Arribas Arranz, F., 1965. Paleografía documental hispánica. Universidad, Valladolid.
Barreiro Fernández, X.R., 2012. Murguía. Galaxia, Vigo.
Basanta Campos, J.L., 1996. Marcas de agua en documentos de los archivos de Galicia. Fundación
Pedro Barrié de la Maza, Conde de Fenosa, A Coruña.
Cabana Outeiro, A., 2002. O Tombo H da catedral de Santiago, noticia dun libro-rexistro medieval, en:
Homenaje a José García Oro. Universidade de Santiago de Compostela, Servicio de Publicacións e
Intercambio Científico, Santiago de Compostela, pp. 49–63.
Comisión Academica, 1928. Informe sobre algunos de los documentos utilizados por don Celso García
de la Riega en sus libros. Boletín de la Real Academia de la Historia, 93, 39–47.
Consello da Cultura Galega, 2015. Orientacións para a edición e trascrición de documentos (Gallaeciae

66
Monumenta Historica). Disponible en http://gmh.consellodacultura.org/ fileadmin/arquivos/ publicos/
gmh_criterios_edicion.pdf (accedido en 10-4-2017).
drvanguardia, 2013a. DescubreGalicia.com presenta a Carmen Hidalgo en la Conferencia sobre
Estudios de Colón. Disponible en https://www.youtube.com/watch?v=llJtLub9bW8 (accedido en 10-4-
2017).
drvanguardia, 2013b. DescubreGalicia.com presenta Apertura Conferencia Jose Luis Basanta.
Disponible en https://www.youtube.com/watch?v=ulT2sF4lCDQ&t=116s (accedido en 10-4-2017).
Galende Díaz, J.C., Salamanca López, M.J., 2012. Una escritura para la modernidad: la letra cortesana.
ISEM - Istituto di Storia dell’Europa Mediterranea, Cagliari.
García de la Riega Bellver, G., 2014. Biografía de Celso García de la Riega. Guillermo García de la
Riega Bellver, Pontevedra.
García de la Riega, C., 2014. Colón, español: su origen y patria, Ed. facs de la de 1914. Pontevedra.
González Arteaga, E., 2013. Conjunto de cuatro documentos manuscritos. Caracterización de tintas
presentes en los documentos (No. 31237). Instituto del Patrimonio Cultural de España. Ministerio de
Educación, Cultura y Deporte, Madrid.
Lucas Álvarez, M., 1950. Características paleográficas de la escritura gótica gallega: escritorios
notariales compostelanos. Cuadernos de Estudios Gallegos 5, fasc. 15, 53–86.
Millares Carlo, A., 1929. Paleografía española: ensayo de una historia de la escritura en España desde
el siglo VIII al XVII. Labor, Barcelona.
Oviedo y Arce, E., 1917. Informe que presenta a la Real Academia Gallega de La Coruña el individuo
de número D. Eladio Oviedo y Arce sobre el valor de los documentos pontevedreses considerados
como fuente del tema Colón español. Boletín de la Real Academia Gallega 12, 25–58.
Rodríguez González, A., Armas, Castro, X., 1992. Minutario notarial de Pontevedra, (1433-1435).
Consello da Cultura Galega, Santiago de Compostela.
Rodríguez González, A., Millán González-Pardo, I. (Eds.), 1989. Livro do Concello de Pontevedra:
(1431-1463). Museo Provincial, Pontevedra.
Rodríguez-Solano Pastrana, E, 1967. Autenticidad diplomática, sus fraudes y métodos técnicos de
investigación. Memoria de Licenciatura. Fac. Geograría e Historia. Santiago de Compostela.
Vaquero Díaz, B, 2014. Historia da escritura na Galicia medieval (Gallaeciae Monumenta Historica).
Consello da Cultura Galega, Santiago de Compostela. Disponible en http://gmh.consellodacultura.org/
recursos/estudos/estudo/f/100/] (acc. 10-4-2107).
Vaquero Díaz, M.B., 2006. A escritura na Idade Media galega, en: Entre liñas: unha ollada á Historia
da Cultura Escrita en Galicia: da Idade Antiga o século XVIII. Universidade de Vigo, Vigo, pp. 45–77.
Vázquez Bertomeu, M., 2001. Notarios, notarías y clientes en Santiago y su Tierra en el siglo XV. Ed.
do Castro, Sada.

67
ANEXO: DOCUMENTOS DE LA PONTEVEDRA MEDIEVAL RELACIONADOS LOS COLÓN

N.º García de
la Riega
1438-11-2
María García, viuda de Afonso Eanes, carpintero, morador en Pontevedra, dona a la cofradía de
San Juan de esa villa, seis maravedís de renta situados en la casa de la rúa do Berro.
2
Colección García de la Riega, nº 2. Citado como García de la Riega, nº 2; Oviedo y Arce, B2
en presença de Bartolameu de Colon e Afonso da Nova, procuradores e confrades dela, seys marabedis
de moeda vella....
1434-01-04
Pedro Fernández, vecino de Pontevedra, en su nombre y en el de su esposa, Inés de Ribadeneira,
y Xoán Estévez -en el suyo y en el de su esposa, Tareixa da Rúa- llegan a un acuerdo para abrir
dos entradas en una vivienda.
3
Col. de la Riega, nº 3.
Citado como García de la Riega, nº 3; Oviedo y Arce, B12
que por quanto non teemos partida a casa da Correaria que esta diante das casas que qeymou Domingos
de Colon o moço, que he nosa de por medio…
1430/40-1-19
Afonso García, abade de San Xoán de Poio, reconoce que debe a Martiño González, marinero
vecino de Pontevedra, 274 maravedís.
Col. de la Riega, nº 4, fol. 1r y 2v-3r. Citado como García de la Riega, nº 4; Oviedo y Arce B5 y B6
4
os quaes ditos dosentos e setenta e quatro da dita moeda a vosa moller Branqa Soutelo, asi como
herdeira de Branqa Colon, moller que foy de Afonso Soutelo, alfayate, acaesçeron ena quarta parte de
mill e noventa e çinco marabedis da dita moeda que eu o dito don abade devia aos ditos Afonso Soutelo
4 bis
e sua moller...
como heree que sodes de Afonso Soutelo e de sua moller Branqa Colon, cuya alma Deus aja...

1430/40-9-29
Xoán González do Ribeiro, marinero, vecino de Pontevedra -en su nombre y en el de su esposa
Constanza González- vende a Paio Gómez de Soutomaior, ausente, y a su esposa dona Maior de
5 Mendoza, una casa en la rúa da Ponte.
Col. de la Riega, nº 5. Citado como García de la Riega, nº 5; Oviedo y Arce, B7
toda a parte e quiñon que a min e aa dita mia moller perteesçe da casa e sotõo e sobrado \e terratorio
ata a casa de Domingos de Colon o vello/ que esta ena rua da Ponte da vila…
1430-1450
Diego Vidal, carpintero, y García Madeira, tonelero, procuradores, junto con los demás miembros
de la cofradía de San Juan de la villa de Pontevedra, dan en censo a Xoán Domínguez y a su
esposa María de Colón, y a sus sucesores todo lo que pertenece a la cofradía en una casa de la
6 rúa de Don Gonzalo.
Col. García de la Riega, nº 6. Cit. García de la Riega, nº 6; Oviedo y Arce, B14.
A vos Xoan Dominguez, pedreiro, confrade da dita confraria, e a vosa moller Maria de Colon e a todas as
vosas vozes e suas, toda a parte e quinon que a confraria e confrades dela e nos en seu nome avemos
e nos perteesçe ena casa, sotoon e sobrado que esta ẽna rua de Don Gonçalo…
1437-7-29
Mandamiento otorgado por el regimiento de la villa de Pontevedra a Martiño de Gabín y Fernando
García, portajeros, para que paguen a Domingo Colón y a B. Fonterosa por el alquiler de bestias
para llevar pescado a Santiago.
Museo de Pontevedra, Col. Sampedro C.2-1. Editado por Rodríguez González, A. y Millán, I.: Livro do
7
Concello, fol. 26r. Cit. como García de la Riega nº 7; Oviedo y Arce B9.
mandaron a Martin de Cavin e a Fernando Garçiia, portajeiros, que dos mrs. que este dito āno colleran
e recabdaran das posturas da dita billa a cada ūa das portas donde estaban por portajeiras que desen
e pagasen a Do de Colon e Bn Fonterosa por lo alugueiro de duas bestas que levaran con pescado a
Santiago a noso señor o arçebispo biinte e quatro mrs…

68
O PAPEL NA TERAPIA PELA ARTE

Maria Júlia Valério, Ph.D.


Psicóloga
Coordenadora do Serviço de Psicologia do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia / Espinho
mjuliavalerio@gmail.com

RESUMO

Apresentamos nesta comunicação a experiência da utilização do papel num atelier de expressão


criativa de índole psicoterapêutica, no contexto de um hospital público português.

Neste atelier o papel é reciclado e assume três funções: suporte de expressão criativa, recurso para a
abordagem psicoterapêutica e obra de arte.

Caracterizamos os objetivos do atelier, os seus princípios orientadores e a relevância da utilização de


material reciclado.

Refere-se a importância terapêutica da criatividade, o papel enquanto catalisador do processo criativo


e os paralelismos entre dar nova vida ao papel e a transformação pessoal pretendida com a utilização
do mesmo em contexto psicoterapêutico.

Apresentam-se algumas das obras produzidas no atelier e que se encontram a adornar as paredes
do hospital. Estas obras são, para além de objetos esteticamente agradáveis, promotoras de um outro
olhar sobre o papel.

PALAVRAS–CHAVE

papel, psicoterapia , criatividade, arte, reciclagem

ABSTRACT

In this communication the experience of the use of paper in a workshop of creative expression with
psychotherapeutic aim, in the context of a Portuguese public hospital is presented.

In this workshop the paper is recycled and assumes three functions: as a creative expression support,
as a resource for the psychotherapeutic approach and as a work of art.

69
The objectives of the workshop, its guiding principles and the relevance of the use of recycled
material is presented.

There’s a reference to the therapeutic importance of creativity, to paper as a catalyst for the creative
process and the parallels between giving new life to paper and the intended personal transformation of
a psychotherapeutic context are recognized..

Some of the works produced in the workshop, always used as an ornament in the hospital walls, are
presented. We consider them to be not only aesthetically pleasing objects, but also the promoters of an
alternative look at the paper.

KEYWORDS

paper, psychotherapy, creativity, art, recycling

A experiência que relatamos nesta comunicação fala-nos do papel enquanto suporte de expressão
criativa, enquanto recurso para a abordagem psicoterapêutica e enquanto obra de arte.

APRESENTAÇÃO

O atelier de expressão criativa do Grupo de Intervenção para a Integração na Comunidade do Hospital


de Dia do Serviço de Psiquiatria do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho (hospital público
português), tem objetivos psicoterapêuticos. Cada sessão tem a duração de cerca de 2 horas e 30
minutos e funciona sob a forma de grupos abertos de 8 utentes selecionados em função de critérios de
benefício clínico, motivação e disponibilidade.

Os utentes têm mais de 18 anos, são de ambos os sexos, não apresentam restrições graves da motricidade
(nomeadamente fina), nem alterações comportamentais que comprometam o funcionamento grupal ou
que os incapacitem para a o exercício de uma atividade durante um período de 2 horas a 3 horas.

PRINCÍPIOS ORIENTADORES

Todos os indivíduos tem um potencial criativo. Nem sempre desenvolvido e poucas vezes reconhecido. Até
pelo próprio. Temos medo de tarefas novas, de pensar diferente, de ousar não ser como todos os outros.

Sabemos que os grupos são potencializadores da criatividade. Sobretudo se reunidos num contexto
propiciador e incentivador. Se o outro ousa, eu também sou capaz de ousar. Se a minha ousadia
criativa é legitimada, então o medo do julgamento alheio esbate-se.

70
A criatividade é libertadora. Fazer diferente é afirmar a nossa individualidade, é reconhecer aquilo que
nos distingue de todos os outros. É obter reconhecimento na e pela diferença.

Esses são os princípios e objetivos que norteiam o atelier de expressão criativa.

O GRUPO

DINAMIZAÇÃO/ORIENTAÇÃO DO GRUPO – levada a cabo por uma psicóloga, com ocasional


colaboração de co-orientador. Este co-orientador poderá ser um utente dos serviços do Centro
Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho ou um convidado cujas habilidades criativas o habilitem à
monitorização da atividade.

ATIVIDADES – As atividades são variadas, mas sempre de índole criativa, procurando-se que não
se repitam ao longo das sessões. Todos os elementos do grupo desenvolvem a mesma atividade,
havendo, no entanto, a preocupação em fomentar a expressão individual e a diferença.

MATERIAIS: Os materiais são parcialmente fornecidos pelo CHVNG/E. Procuramos também mobilizar
os utentes para a participação ativa, contribuindo com recursos a que tenham acesso e que não
comportem esforço económico substancial. Sempre que possível utilizam-se materiais recicláveis,
nomeadamente papel e tecido. A comunidade hospitalar é também envolvida no processo de recolha
dos materiais recicláveis.

OBJETIVOS

• Melhorar a qualidade de vida

• Possibilitar a expressão e elaboração emocional através da criação

• Melhorar o auto-conhecimento

• Aumentar a auto-estima

• Desenvolver o potencial criativo

• Desenvolver competências emocionais e cognitivas que poderão facilitar a integração social


(nomeadamente a nível familiar e profissional)

• Desenvolver competências de partilha e vivência grupal

• Sensibilizar para os problemas ambientais, e promover atitudes e comportamentos


ecologicamente responsáveis através da utilização de materiais reciclados.

71
RECICLAGEM

Temos privilegiado a reciclagem, no que à escolha dos materiais diz respeito, por duas ordens de
razões: porque pretendemos promover atitudes e comportamentos ecologicamente responsáveis e
porque se trata de recursos de mais fácil acesso, não comportando dispêndios financeiros de monta.

REPLICAÇÃO:

A ideia é replicar os nossos ateliers em casa dos intervenientes. Que cada um dos participantes não
se limite à criação no contexto do atelier hospitalar. Que em suas casas ou na coletividade, na família
e com os amigos, replique o que entre nós acontece.

PARTIPAÇÃO

Os produtos artísticos resultantes do atelier são frequentemente utilizados no adorno das instalações
hospitalares, contribuindo para tornar o ambiente acolhedor e amistoso e, ao mesmo tempo, dar
visibilidade à criatividade dos participantes no atelier. Procura-se desenvolver o sentimento de
pertença grupal e institucional, fazendo com que o contexto hospitalar seja vivenciado como pertença
dos utentes, logo algo a conservar e acarinhar.

O PAPEL

O papel tem sido o material mais utilizado nas atividades do atelier de expressão criativa. Todos
reconhecem que a partir do momento em que o passamos a utilizar na construção das nossas “obras”
o olhar que sobre ele recai nunca mais foi o mesmo. Deixou de ser “lixo”, quando esgotada a sua
função original, e passou a ser fonte contínua de inspiração.

Dar uma nova vida a cada um dos nossos utentes, dando novo destino ao papel (e a outros matérias
recicláveis) tem sido e continuará a ser um nosso desígnio. São aliás extremamente curiosas as metáforas
verbalizadas durante o processo criativo, em que o paralelismo entre a transformação do papel e a dos
utentes é estabelecida: “quem diria que se ia ser tão útil?”; “parecia frágil, mas em conjunto é muito
resistente”, “nunca se deita ao lixo… há sempre uma nova utilidade…”

Todas as obras produzidas são expostas. Sendo facilmente detetável que resultam da reciclagem de
materiais, é a consciência ecológica de quem os observa, que também estaremos a promover.

É igualmente nosso objetivo envolver a comunidade hospitalar no projeto, e implicitamente na


reciclagem. Todos os que trabalham no hospital são convidados a contribuir para os nossos projetos
trazendo os papéis, as caixas, as revistas que iremos transformar.

72
Com velhas caixas de bolachas, arrecadadas através de um processo de recolha publicitada numa
parede do hospital, construímos uma cidade.

Os caixotes que transportaram medicamentos hospitalares serviram-nos para construir um “jogo das
emoções” que desafia as crianças na sala de espera do Serviço de Pedopsiquiatria.

Na parede branca da copa, tampas de caixas de sapatos são molduras de um inspirador painel de
velhas fotografias que nos acompanha durante as refeições.

73
Na sala de espera dos adultos tubos de cartão à volta dos quais, no passado, houve tecidos enrolados,
são hoje, devidamente adornados a papel, uma instalação presente na sala de espera do edifício de
Saúde Mental.

O Papel, em séria comunhão de destino com o tecido, inspirará muitos outros trabalhos.

E continuará a permitir-nos criar novas ideias, descobrir novos caminhos, partilhar o nosso sentir.

Às mãos mágicas que transformam o velho papel em arte, ele devolve com a grandeza de as fazer
felizes.

74
JULIUS VON WIESNER, JOSEPH VON KARABACEK Y EL ESTUDIO DEL PAPEL ÁRABE

Soledad Cánovas del Castillo


Museo Thyssen-Bornemisza. Madrid
scanovas@museothyssen.org

RESUMEN

A finales del siglo XIX algunos investigadores centroeuropeos de lengua alemana comenzaron a
mostrar gran interés por el estudio del papel árabe. Sus trabajos son poco conocidos en España y
Portugal por ser difíciles de consultar y porque algunos no han sido traducidos. Entre ellos destacan los
profesores Julius Wiesner y Joseph von Karabacek, quienes publicaron sus descubrimientos a partir
de métodos analíticos. Sus trabajos constituyen el pilar fundamental de la investigación en ese campo.

La estratégica situación geográfica de la Península Ibérica y la presencia del islam en su suelo durante
la Edad Media la convirtieron en un centro clave receptor de las técnicas de fabricación de papel
y productor de este material, esencial para la transmisión del conocimiento de la cultura árabe a la
Europa medieval.

PALABRAS CLAVE

Papel árabe, manuscritos, Julius Wiesner, Joseph von Karabacek, Colección Rainer

ABSTRACT

At the end of the 19th century, a small number of German-speaking Central European researchers
began to show great interest in the study of Arab paper. Their investigations remain little known in
Spain and Portugal because they are difficult to consult and because many have not been translated.
The work of professors Julius Wiesner and Joseph von Karabacek, who published their discoveries
according to analytic methods, stands out from among these studies. The results of their research
constitute the fundamental pillar of scholarship in this field.

The strategic geographical position of the Iberian Peninsula and the presence of Islam on her soil during
the Middle Ages turned Iberia into a key reception point for papermaking techniques and ultimately into
a center of production for this material, which was essential to the transmission of knowledge of Arab
cultures to Medieval Europe. Hence our interest in expanding the knowledge of the scientific work of
these two researchers in our language.

75
KEYWORDS

Arab paper – Manuscripts – Julius Wiesner – Joseph von Karabacek – Collection of Archiduke Rainer

Introducción

Hasta finales del siglo XIX, el estudio del papel árabe había sido básicamente menospreciado1. Su
investigación tiene su punto de arranque en los trabajos que los científicos Julius Wiesner y Joseph
von Karabacek iniciaron en Viena en los años ochenta. El material analizado formaba parte de una
importante colección de tejidos antiguos descubiertos fortuitamente pocos años antes en El Fayum
(Egipto) y conocidos bajo el nombre de El hallazgo de El-Faijûm, que fueron trasladados a la capital
austriaca para su investigación. Entre los tejidos se encontraron un número muy cuantioso de papiros
y papeles escritos en lengua árabe que hoy se conservan en la Biblioteca Nacional de Viena, formando
la Colección del archiduque Rainer, conocida también como Colección Rainer.

El archiduque Rainer Ferdinand de Austria (1827-1913) fue un miembro de la Casa de Habsburgo-


Lorena y sobrino del emperador Francisco I que estuvo al servicio del Imperio, llegando a ser primer
ministro de Austria entre 1861 y 1865 (Fig. 1.).

Fue un gran promotor de las artes y las ciencias, y en 1884 adquirió ese importante fondo de papiros,
papeles, tejidos y otros objetos encontrados en Egipto cinco años antes. La colección fue depositada en
el K.K. Österreichischen Museums für Kunst und Industrie fundado en 1863 a iniciativa suya. En 1899
se la regaló al emperador Francisco José I por su cumpleaños, con la petición de crear una colección
especial con ese fondo en la Biblioteca Imperial, en la actualidad Biblioteca Nacional de Austria.

Fig.1. Archiduque Rainer Ferdinand de Austria (1827-1913)

1 Este tema ya había surgido en la Ilustración, cuando el jurista y célebre bibliófilo holandés Gerard Meerman (1722-1771)
convocó un premio en 1762 para quien realizara el mejor estudio sobre el origen del papel en Europa. El premio lo obtuvo
Gregorio Mayans (1699-1781), quien intentó probar que el primer papel elaborado en Europa se hizo en Xátiva, y demostró
que el papel hispano árabe no era de algodón, sino de trapo.

76
La colección contiene materiales de cuatro soportes de escritura diferentes: pieles de animales,
pergaminos, papiros y papeles. Karabacek informa que la mayoría de los papiros proceden de la
ciudad de Arsinoe, en la región actual de El Fayum, situada al sur del delta del Nilo. Sin embargo,
pocos papeles provienen de ese lugar, pues la mayor parte de ellos se encontraron en el distrito de
Ashmunain –en el Egipto Medio- y en Ashmun, su ciudad principal (Fig. 2.)

Fig. 2. El Fayum y Ashmunain, procedencia de los fondos de la Colección del Archiduque Rainer

A pesar de ello, por extensión, éstos últimos se vienen englobando de los papeles de El Fayum.
Este material constituye, probablemente, el soporte de escritura más importante para descifrar los
interrogantes de la historia del papel, pues en esa época fueron los más antiguos en ser examinados
de forma científica (según Karabacek, llegaban hasta finales del siglo VIII o el IX). Su estado de
conservación era además bueno, lo que facilitaba su estudio.

Wiesner y Karabacek desarrollaron exhaustivos procesos de investigación metodológicos. El primero,


como botánico y prolijo investigador, realizó exámenes microscópicos de las fibras, el encolado y las
tintas de los papeles. El segundo, como orientalista, paleógrafo y bibliotecario, estudió la historia del
papel y descifró e interpretó los textos del material. A decir de Karabacek, Wiesner se acercó a esta
materia sin una idea preconcebida y sin conocer nada de la investigación histórica del orientalista,
desarrollando ambos sus trabajos de forma completamente independiente2.

En 1887 estos dos investigadores publicaron el resultado de sus estudios: el de Wiesner con el título Die
mikroskopische Untersuchung des Papiers mit besonderer Berücksichtigung der ältesten orientalischen
und europäischen Papiere [La investigación microscópica del papel con especial atención a los papeles
orientales y europeos más antiguos] y el de Karabacek titulado Das Arabische Papier, eine historisch-

2 Karabacek, Joseph von, Arab Paper (2001: nota 36).

77
antiquarische Untersuchung [El papel árabe, una investigación histórica y anticuaria]3. Al año siguiente,
salía a la luz un nuevo estudio de este último: Neue Quellen zur Papiergeschichte [Nuevas fuentes
sobre la Historia del Papel]4.

Por otra parte, el historiador de filigranas suizo Charles-Moïse Briquet dedicó alguno de sus trabajos
a la paleografía de los primeros papeles utilizados en Occidente, y en 1888 publicó Le papier arabe
au Moyen Âge et sa fabrication, donde analiza las investigaciones llevadas a cabo por Wiesner y
Karabacek. Les atribuye fundamentalmente dos méritos: uno es el de terminar con la fábula de la
fabricación del papel de algodón; el otro es el de proporcionar información precisa sobre la historia
del papel a partir de finales del siglo VIII, así como dar a conocer su proceso de fabricación entre
los siglos XII y XIII, temas sobre los que hasta ese momento no se tenía ninguna información.

Una prueba del interés que debió suscitar la Colección Rainer entre los círculos científicos y
culturales de Viena es la conferencia que le invitaron a dar a Karabacek en enero de 1885 en el
museo depositario del fondo5. A juzgar por la bibliografía consultada y la temprana publicación
de los resultados de los estudios de los papeles, el archiduque debió apremiar a Karabacek, y
éste a su vez a Wiesner, para que ambos se emplearan a fondo en el análisis de los materiales
encontrados, que en lo tocante sólo a los papeles, alcanzaban un número aproximado de 12.500
piezas. Fuera de Austria, sus investigaciones también debieron despertar vivo interés entre los
interesados en la materia. Como botón de muestra, sabemos que en el mismo año de 1887 Henru
Moranvillé, bibliotecario del Departamento de Manuscritos de la Biblioteca Nacional de Francia,
publicaba un artículo sobre los recientes estudios de Briquet y Wiesner6. Su inclinación francófona
le llevó a sostener que el ginebrino había sido el primero en utilizar el microscopio para el análisis
de este material, y también en descubrir que el papel antiguo nunca se había hecho enteramente
de fibras de algodón. En España, en fecha tan temprana como 1888, aparecía una reseña en
La Ilustración Española y Americana sobre los documentos encontrados en Egipto central y los
estudios microscópicos e históricos de Wiesner y Karabacek7.

3 Ambos son tiradas especiales de sus trabajos publicados ese mismo año en Mittheilungen aus der Sammkung der Papyrus
Erzherzog Rainer, v. 2 y 3 (1887).

4 También tirada especial del trabajo publicado en Mittheilingen aus der Sammlung der Papyrus Erzherzog Rainer, v. 4 (1888)

5 Österreichische Monatsschrift für den Orient, nº 8, 15 de agosto de 1885, pp. 159-165.

6 Los trabajos de Briquet a los que se refiere son: La légende paléographique du papier de coton (1884), y Recherches sur
les premiers papiers employés en Occident et en Orient du Xe au XIVe siècle (1886).

7 Arizcun, Ramon, en La Ilustración Española y Americana, 30 de abril de 1888.

78
Julius Wiesner (1838 – 1916)

Julius Wiesner nació en 1838 en Moravia, en la actual República Checa (Fig. 3.).

Fig. 3. Julius Wiesner, 1870 (Litografía de Josef Kriehuber)

Se formó como botánico en las universidades de Viena y Jena (Turingia), donde se doctoró en 1860.
Fue profesor del Instituto Politécnico de Viena y de la Academia de silvicultura Mariabrunn. Entre 1873
y 1909 fue profesor de Anatomía y Fisiología Vegetal en la Universidad de Viena, ocupando el cargo
de rector al terminar el siglo. Sus investigaciones se centraron en los campos de la fitofisiología, la
fisiología de las plantas, la anatomía vegetal y las materias primas vegetales. Participó en expediciones
científicas en Egipto, India, Java, Sumatra, Norteamérica y en el Ártico. Su trayectoria cientifica se
vió reconocida con diversas distinciones (miembro correspondiente de las Academias de Ciencias
de Göttingen y de San Petersburgo en 1902 y 1912 respectivamente; miembro de la Cámara Alta de
Austria en 1905, y caballero en 1909).

Durante cerca de veinticinco años, Wiesner realizó análisis científicos de muestras de papel árabe y
del Turkestán occidental y Asia central a partir de la observación microscópica, pruebas químicas y
la identificación de fibras mediante análisis comparativos con materiales de referencia. Como señala
Anna-Grethe Rischel en el trabajo que le dedicó en el 2013, sus publicaciones son como la cueva
de Aladino, ricas en descripciones botánicas de plantas, métodos sistemáticos de identificación de
fibras de papeles antiguos, hipótesis y conclusiones8. La autora analiza e ilustra algunos documentos
examinados de la Biblioteca Real de Copenhague que constatan las observaciones de Wiesner.

La importancia de las investigaciones de este botánico en este terreno está a la altura de las de
Karabacek; ambas se complementan, y cada una de ellas forma una parte esencial del estudio

8 Rischel, Anna-Grethe, “Julius von Wiesner and his importance for scientific research and analysis of paper” (2014: 31-38).

79
científico-analítico de los materiales analizados. Sus trabajos constituyen una fuente seminal para
historiadores, paleógrafos y conservadores del papel, puesto que con excepción de Briquet, hasta
entonces la historia del papel en Europa se había basado esencialmente en estudios paleográficos de
fuentes escritas.

Por un artículo de Wiesner aparecido en 1886 en el Österreichische Monatsschrift für den Orient,
sabemos que inició sus exámenes microscópicos a principios de 1885, y aunque todavía no había
concluído su trabajo, quería compartir con la comunidad científica algunos de sus resultados seguros9.
En 1887 publicó Die mikroskopische Untersuchung des Papiers mit besonderer Berücksichtigung
der ältesten orientalischen und europäischen Papiere [La investigación microscópica del papel con
especial atención a los papeles orientales y europeos más antiguos], tirada especial de su trabajo
aparecido ese mismo año en Mittheilungen aus der Sammlung der Papyrus Erzherzog Rainer
con el título Die Faijumer und Uschmûneiner Papiere. Tres lustros después, vió la luz otro trabajo
suyo, en esta ocasión dedicado a los papeles del Turkestán Oriental10. En 1911 publicó su último
trabajo sobre este campo, donde ilustra, desde 1886, el desarrollo de sus métodos de observación
de cientos de ejemplos de papel árabe, europeo, del Turkestán oriental y de China. Además de la
descripción microscópica de las fibras, por primera vez se incluyen la observación macroscópica
del papel y la tecnología utilizada para sostener su hipótesis del origen chino del papel de trapos.
Los análisis que realizó de los papeles arqueológicos de esas dos zonas asiáticas revelaron que
el papel de trapos no podía ser una invención árabe del siglo VIII, por cuanto arqueólogos que
trabajaron en aquellas regiones de Oriente descubrieron en sus excavaciones papeles fechables
entre los siglos IV y VIII11.

La investigación de Wiesner sobre el papel árabe se centra principalmente en los papeles de la


Colección Rainer, trabajo que queda esencialmente recogido en su publicación de 1887, en la que
centraremos nuestro análisis. El autor comienza dando una visión histórica sobre las investigaciones
de papeles antiguos a partir de los exámenes que se habían realizado hasta entonces (capítulo 1).
A continuación, se centra en el desarrollo, el estado actual de tema y la fiabilidad de los exámenes
microscópicos. Trata primero de la diferenciación técnica de los papeles antes de la aparición
de los sucedáneos de trapos. Repasa después los exámenes microscópicos de papeles y de
antiguos tejidos realizados hasta la fecha, partiendo de los análisis de las hebras y fibras de papel
del biólogo Matthias Schleiden (con quien se formó en la Universidad de Jena) y los botánicos
Herman Schacht (asistente de Schleiden en esa universidad) y Siegfried Reissek. Continúa con

9 Österreichische Monatsschrift für den Orient, nº 9, 15 de agosto de 1886, pp. 160-161.

10 Wiesner, Julius, Mikroskopische Untersuchung alter ostturkestanischer und anderer asiatischer Papiere nebst histologischen
Beiträgen zur mikroskopischen Papieruntersuchung (1902).

11 Wiesner, Julius, Über die ältesten bis jetzt aufgefundenen Hadernpapiere; ein neuer Beitrag zur Geschichte des Papiers
(1911). Sobre los resultados de los análisis de Wiesner, vid. el artículo citado de Anna-Grethe Rischel.

80
los estudios de las fibras desde la introducción del papel de trapos, y termina con los exámenes
de papeles antiguos que hicieron Charles Briquet y Caruel (capítulo 2). El siguiente apartado lo
dedica al examen del encolado de los papeles (capítulo 3). Después, pasa a examinar los papeles
de El Fayum: sus características, encolado, composición y examen de las partículas adheridas; el
revestimiento, la extensión y el análisis de las clases de fibras, así como la aportación de pruebas
que confirman que los materiales examinados fueron elaborados con trapos. También investiga las
tintas (capítulo 4). Concluye su trabajo ofreciendo los resultados de la investigación de cerca de
500 papeles orientales y europeos desde el siglo IX hasta el XIX, constatando que todos ellos se
habían hecho con trapos, principalmente de lino, y luego de cáñamo. El algodón aparecía pero en
proporciones muy pequeñas (capítulo 5).

Recogemos a continuación las conclusiones a las que llega Wiesner en su investigación.


Tradicionalmente se venía situando los orígenes de la fabricación del papel de trapos en el
siglo XIV, aceptándose la idea de que los papeles de escritura anteriores a esa fecha eran de
algodón en bruto. En contra de lo esperado, los exámenes microscópicos de Wiesner demostraron
que ninguno de los papeles de El Fayum era de algodón, sino de trapos. En consecuencia, su
fabricación era bastante anterior a lo que se pensaba, y por lo tanto, su invención no era ni italiana
ni alemana, sino oriental12. El descubrimiento de que tanto los papeles árabes como los europeos
se habían hecho desde el inicio de su producción hasta bien avanzado el siglo XIX con trapos,
llevó a Wiesner a plantearse si realmente llegó a fabricarse papel de algodón, y el resultado de
sus exámenes le permitió afirmar con certeza que nunca se produjo. Ninguno de los cerca de 500
papeles orientales y europeos que analizó contenía fibra de algodón de forma exclusiva, sino que
todos tenían apariencia de haber sido realizados con trapos. Tanto en los árabes como en los
europeos predominaban las fibras de lino. Las de algodón aparecían en los inicios de la fabricación
del papel, pero de forma muy reducida; e incluso en los papeles del primer tercio del siglo XIX, el
algodón seguía apareciendo en pequeñas proporciones. Y es que este hecho estaba, en realidad,
más relacionado con el desarrollo de la industria del algodón, que con la creencia mantenida
hasta entonces de la existencia del papel producido a partir de esa planta. Sólo se dio valor al
algodón en la Europa del siglo XIX, donde se importaba en bruto como mercancía desde finales
del XVIII, primero compitiendo con el lino, y luego superándole. En los papeles examinados por
Wiesner aparecían con mayor frecuencia las fibras de lino que las de cáñamo (en una proporción
aproximada de 3 a 1).

12 Wiesner sitúa el aprendizaje de la producción del papel por los árabes tras la batalla del 751 en Talas, en Asia Central,
período en el que utilizarían el mismo método que los fabricantes locales del Turquestán oriental. En 1911 intentó atribuir
el origen del papel de trapos a los chinos, pero no pudo documentar esta hipótesis, pues el papel árabe más temprano de
la Colección Rainer databa hacia el 796, por lo que hay un espacio de tiempo en el que faltaría el análisis de los primeros
papeles árabes. Un siglo después de esta hipótesis, estudios japoneses sobre el papel chino del siglo VIII encontrado cerca
de Talas y Samarcanda, y de daneses en torno al papel arqueológico de la colección Turfan, llegaron a la misma conclusión.
Vid. el mencionado artículo de Anna Grethel Rischel, pp. 36-37.

81
Para el encolado de los papeles de El Fayum, en general, se había utilizado el almidón de cereales,
y muy probablemente el de trigo. Esto permitía mostrar también la conexión entre la preparación
del papel europeo y el árabe, pues se había observado que los papeles más antiguos europeos
estaban también fuertemente encolados con engrudo de almidón. Wiesner creyó poder demostrar
que ese engrudo fuerte podía contribuir a la datación de los papeles. Y verificó que todos los que
provenían de Oriente se habían encolado con almidón hasta finales del siglo XV, mientras que para
los de procedencia europea se había utilizado gelatina desde finales del siglo XIII o comienzos
del XIV. En ningún caso había encontrado la presencia de cola de tragacanto o resina que Briquet
había sostenido en sus primeros textos presentados en 1885 a la Sociedad de Anticuarios de
Francia. La constatación del empleo de engrudo de almidón para el encolado de todos los papeles
orientales analizados química y microscópicamente, probaba que ese material se había utilizado
antes que la cola de animal. Los papeles más modernos analizados databan de finales del siglo
XV. En Europa, el uso del encolado de almidón había desaparecido mucho antes; el límite entre el
encolado con engrudo de almidón y la cola animal se situaba hacia finales del siglo XIII o principios
del XIV, según diferentes papeles aparecidos en Siena, Florencia, Turín, Venecia y Verona habían
permitido apreciar y deducir. A partir de entonces, se usó la cola, y desde el siglo XIX, la de resina
combinada con la de almidón.

Las tintas empleadas en los papeles con escritura de El Fayum son de dos tipos: una con un componente
principal de ácido férrico, fundamentalmente de agalla; y otra compuesta básicamente por carbón con
apariencia similar a la tinta china.

En cuanto al proceso de fabricación, el científico observó que hasta el siglo XIV los papeles europeos
presentaban fibras largas que gradualmente se irían acortando, lo que apuntaba a una modificación
profunda en su proceso de fabricación que les llevaba a adquirir una apariencia atractiva. Los que
presentaban fibras más largas, probablemente habían sido elaborados a partir de una trituración
manual, mediante un proceso muy primitivo en el que las fibras no habían sido muy castigadas. Por
el contrario, los que tenían las fibras más cortas habrían sufrido un proceso de trituración mayor. Con
la aparición de los sucedáneos de trapos y su procesamiento químico, reaparecerían los papeles de
fibras largas, entre ellos el de madera.

82
Joseph von Karabacek (1845-1918)

Karabacek nació en 1845 en la ciudad austriaca de Graz. Cursó Leyes y estudios orientales en la
Universidad de Viena, en la que sería profesor de Paleografía, Numismática e Historia de Oriente,
especializándose en papirología árabe. Entre 1899 y 1917 fue director de la Biblioteca Imperial de
Viena. En 1904 fue nombrado caballero (Fig. 4.)

Fig. 4. Joseph von Karabacek (1845-1918)

Al descubrirse los primeros papiros de El Fayun entre 1778 y 1779, el marchante de antigüedades
vienés Theodor Graf los trasladó a Viena para que los viera Karabacek. Éste supo reconocer de
inmediato el valor científico de esos materiales y alentó la adquisición de más fondos; de hecho,
fue él quien persuadió al archiduque Rainer para comprar la colección entera. Su importancia es
vital en este campo por sus investigaciones en epigrafía y paleografía árabe.

El trabajo de este orientalista sobre el papel árabe queda recogido en dos obras fundamentales.
La primera es Das Arabische Papier: eine historisch-antiquarische Untersuchung [El papel
árabe, una investigación histórica y anticuaria], publicada en 1887 de forma separada y también
junto al estudio de Wiesner que acabamos de ver en Mittheilungen aus der Sammlung der
Papyrus Erzherzog Rainer. La segunda salió un año después con el título Neue Quellen zur
Papiergeschichte [Nuevas fuentes para la Historia del Papel], e igualmente apareció con otro
trabajo del botánico en el siguiente volumen de Mittheilingen aus der Sammlung der Papyrus
Erzherzog Rainer.

En líneas generales, la obra de Karabacek es más conocida que la de Wiesner, tal vez porque
éste combinó sus investigaciones sobre papeles con otras múltiples relacionadas con la Botánica,
emprendiendo en los años ochentas viajes de exploración científica a lugares remotos, mientras
que Karabacek prosiguió centrado en los papeles. Por otra parte, los estudios de Wiesner sobre

83
papel no han sido traducidos a otro idioma, y sin embargo, Das Arabische Papier de Karabacek,
aunque tardíamente, ha sido publicado en inglés.

Este autor destaca la enorme importancia que tuvo el papel árabe en la difusión del uso del papel
en la Europa medieval. En regiones occidentales del Califato, sus centros de producción llegaban
hasta la Península Ibérica, desde donde se extendió a la Europa medieval. Su empleo supuso una
revolución industrial y cultural por la reducción de costes de su fabricación frente al papiro y el
pergamino, por ser técnicamente superior como material de escritura, y por permitir una difusión
mucho mayor del conocimiento.

El primero de los estudios referidos de Karabacek se centra en el examen de los documentos de la


Colección Rainer. Cuando escribió su trabajo de 1887, llevaba veinte años estudiando Paleografía. La
colección que analiza con criterios científicos e históricos posee unas 12.000 piezas que van desde
finales del siglo VIII hasta el XIV, lo que le permitió estudiar el desarrollo de este material durante más
de seiscientos años. Confesaba que en todo ese tiempo, nunca había visto textos tan difíciles como
los de Ashmun. Tras presentar la colección, trataba del declive del uso del papiro y del desarrollo del
papel de trapos a partir de fuentes árabes. Sostenía que hasta finales del siglo VIII se habían utilizado
el pergamino y el papiro como soportes de escritura tradicional. A partir de esa fecha, situaba el uso del
papel en el mundo árabe, aunque las fuentes árabes indicaban que en el siglo IX el papel todavía no
había reemplazado al papiro. Pero en el X éste ya no pudo competir con el papel, iniciando su declive
final, como este autor pudo apreciar al analizar esa colección de documentos.

A continuación, se trata del desarrollo histórico de la fabricación y expansión del papel árabe. En su
opinión, la invención del papel de trapos debía asociarse a los persas y árabes, criterio no compartido
por Briquet, quien considera que le perdía su falta de imparcialidad por su simpatía hacia esas
culturas. Karabacek abordaba también la cuestión del mito de la producción de papel de algodón
como antecedente del de trapos. Gracias a Wiesner se probó de forma concluyente, a partir de sus
exámenes microscópicos, que el papel de algodón nunca existió, y que tanto los papeles orientales
como los occidentales comenzaron siendo de trapos. Por tanto, había que rechazar la idea tradicional
sin fundamento de que los chinos produjeron antiguamente papel de algodón, y que esta práctica
fue conocida por los árabes en la conquista de Samarcanda en el 704 DC. El algodón era totalmente
desconocido en China en los primeros tiempos, y además, resulta un material inadecuado para este
propósito. Sobre los comienzos de la fabricación de papel en el Islam, creyó poder asumir como
certeza histórica que la primera producción se hizo en Samarcanda en el 751 DC. Tan pronto como
los árabes aprendieron los principios básicos de fabricación del papel, comenzaron a usar los trapos.
Los fabricantes de Samarcanda no tenían plantas de lino, por lo que acudieron a las fibras de lino de
trapos viejos desgastados. La segunda ciudad del Califato en producir papel fue Bagdad hacia el 795
DC; desde allí, la producción se extendió de forma rápida a otras partes. Los papeles más antiguos de

84
la Colección del archiduque Rainer pueden proceder de Khurasan (Samarcanda), Bagdad o Arabia.
Tomando como referencia las fuentes árabes, Karabacek hacía un recorrido por los principales centros
de producción del papel: además de Samarcanda y Bagdad, recogía ciudades de la península arábiga,
Egipto, Siria, África del Norte, Península Ibérica, Persia e India. Sobre la Península Ibérica, señalaba a
Xátiva como centro productor de papel fino importante que exportaba al Este y al Oeste. La producción
de papel de lino fue estimulada por la disponibilidad de cantidades considerables de trapos de industrias
locales de lino famosas desde los tiempos de Plinio.

Se trata después de la composición del papel árabe. Al igual que Wiesner, Karabacek llegó también
a la conclusión de que los árabes habían utilizado, además del lino, el cáñamo, que procedía de
productos manufacturados descartados. En los papeles árabes de esa colección predominaba el lino,
ya que procedían de Egipto. En algún caso se encontraron fibras de algodón de forma puntual, pero
nunca se había llegado a hacer papel de algodón en bruto. ¿De dónde provenía entonces el mito de
la fabricación del papel con algodón? Su invención se atribuía al español Casiri. Para Karabacek,
los términos carta bombycis, bombacis, bombycina y similares no evidenciaban que el algodón era
la materia prima de los papeles, sino que existían razones para pensar que esos términos aludían
a la apariencia del algodón. Las fibras bastas de lino podían adquirir una apariencia fina, blanca y
delicada, de aspecto algodonoso, lo que le hacía pensar al autor que esos términos se podrían asociar
a la ciudad de Bambyce, antigua capital de la provincia del Éufrates, que tal vez dio su nombre a los
papeles que se pudieron fabricar allí.

Por lo que se refiere a la tecnología del papel, para este autor los molinos de papel son una invención
árabe que ya utilizaban en el siglo XII, anteriores por tanto al de Fabriano en Italia y el de Xátiva en España.
Respecto a su producción, a través del estudio de textos, corroboraba el uso del almidón de trigo identificado
por Wiesner en sus análisis, afirmando que los árabes ya lo utilizaban en el siglo X. El material analizado
también le permitió probar que desde muy pronto utilizaron la malla de alambre para producir papel, cuando
se había venido considerando que fue empleada sólo en Occidente desde el siglo XII. Demostró que
emplearon tres tipos de moldes en función de la calidad que se quería dar al papel. Si se querían utilizar las
dos superficies de un papel para la escritura, se pegaban dos hojas; de hecho, la mayoría de los papeles del
la Colección Rainer se habían hecho de esta forma. En cuanto al tamaño, se vio que en un primer momento
las hojas eran pequeñas; las grandes sólo se producirían siglos más tarde. También se produjeron rollos
de papel. La variedad de tipos de papel de esta colección es enorme: finos, fuertes, ásperos, traslúcidos,
opacos, con apariencia de pergamino, etc. En lo tocante al color, Karabacek recordaba que éste dependía
más del método de preparación que de su composición. El color de los papeles estudiados variaba también
considerablemente, diversidad en la que el proceso de envejecimiento jugaba un papel importante. El color
blanco se asociaba al papel de buena calidad. Los árabes supieron cómo blanquear las hojas y fueron
capaces de hacer un papel blanco puro mediante el empleo de fibra y polvo de almidón. También se teñían
los papeles; los colores más preciados eran el azul, el rojo y el amarillo.

85
El último apartado está dedicado a la diplomacia árabe. Karabacek se lamentaba de que, en general,
no se sabía nada sobre documentos árabes, por lo que era necesaria una investigación exhaustiva de
miles de documentos históricos relacionados con la diplomacia, comenzando con la Colección Rainer.
Pero manifestaba no tener el propósito de iniciar tan ardua tarea. También proporcionaba información
sobre los tipos de papel utilizados en Egipto, sus medidas y el uso al que se destinaban cada uno
de ellos, pero reconocía que debía reservar el estudio de la importancia de los documentos de la
Colección Rainer para un trabajo posterior.

En cuanto a su trabajo Neue Quellen zur Papiergeschichte de 1888, hay que señalar que es de gran
importancia para el conocimiento de la fabricación del papel árabe en torno a los siglos XII o XII. Se
trata de la traducción y estudio que hizo el autor del tratado Umdet el-kuttäb wa›udde dfawi el-albab
[Apoyo para los escribas y armadura de los que están dotados de inteligencia]. Karabacek intentó datar
la redacción del escrito a partir de la comparación de cuatro manuscritos completos y dos incompletos
de esta obra que tuvo a su disposición, siendo todos ellos copias modernas (la más antigua de ellas
se cree que es del XVI). En su opinión, el texto primitivo de esta obra se remontaba a mediados del
siglo XI, habiendo sufrido modificaciones posteriores hasta finales del siglo XII o principios del XIII.
Si su redacción datase de estos siglos, se debe reconocer el valor arqueológico de su capítulo XI,
dedicado a la fabricación de papel. Karabacek prueba que, además de las fibras de cáñamo, los árabes
emplearon los trapos para la fabricación de papel, como se podía apreciar en una de las ilustraciones
que acompañaba al texto.

CONCLUSIONES

Los estudios de Wiesner y Karabacek desterraron opiniones ancestrales erróneas acerca del desarrollo
del papel y su composición, a partir de investigaciones detalladas microscópicas y paleográficas. Por
primera vez se analiza un conjunto muy importante de materiales con una base científica y metodológica
que permite extraer conclusiones fundamentadas.

A pesar de ello, la antigüedad del material analizado y las lagunas cronológicas existentes entre
esos soportes y ciertos papeles arqueológicos procedentes de Asia examinados con posterioridad,
no permiten mantener criterios coincidentes en algunas cuestiones importantes. Así, Wiesner por
ejemplo sostiene la hipótesis del origen chino del papel de trapos, mientras Karabacek atribuye su
invención a los persas y árabes, datando su inicio en Samarcanda hacia el 751 DC, teoría rechazada
por Briquet, quien se apoya en los análisis que hizo Wiesner de papeles hallados en Oriente fechables
en época anterior. Estas investigaciones acaban con la opinión generalizada de situar los orígenes de
la fabricación del papel de trapos en el siglo XIV atribuyendo su invención a italianos o alemanes.

Por otra parte, los análisis de los papeles estudiados por Wiesner demuestran que el papel de algodón
nunca existió, idea mantenida también hasta entonces, en opinión de Karabacek, posiblemente por

86
una confusión de nombres en relación con la apariencia del papel. Tanto el oriental como el europeo
comenzaron a hacerse con trapos. Los primeros papeles se fabricaron principalmente con trapos de
lino, aunque también se usó el cáñamo, y para el encolado, el almidón de trigo.

Por último, gracias a la traducción de Karabacek de un tratado árabe medieval, conocemos el proceso
de fabricación del papel árabe hacia los siglos XII y XIII.

Terminamos recordando el proyecto abierto por Anna Grethel Rischel y desarrollado desde 1991,
consistente en el análisis microscópico y macroscópico de papeles europeos, orientales y árabes
antiguos conservados en el Museo Nacional y la Biblioteca Real de Copenague, en la Stein Collection de
Londres y la Turfan Collection de Berlín. Ojalá este trabajo científico sirva de inspiración a especialistas
en este campo de la Península Ibérica para continuar los valiosos trabajos de Wiesner y Karabacek.

BIBLIOGRAFÍA

Arizcun, Ramon, reseña sobre los documentos encontrados en el Egipto central en La Ilustración
Española y Americana, 30 de abril de 1888.
Briquet, Charles Moise, La légende paléographique du papier de coton. Genève, 1884 (travail d’abord
publié dans le journal de Genève du 29 octobre 1884); Recherches sur les premiers papiers employés
en Occident et en Orient du Xe au XIVe siècle, Paris, 1886 (extrait des mémoires de la Société des
Antiquaires de France, t. XLVI); Le papier arabe au Moyen Âge et sa fabrication, Berne, 1888 (extrait
de l’Union de la Papeterie, n° du mois d’avril et de septembre 1888).
Karabacek, Joseph von, Das Arabische Papier, eine historisch-antiquarische Untersuchung. Wien:
Berlag der Kaisel- Königl. Hof- und Staatsdruckerei, 1887 (Arab Paper, translated by Dom Baker and
Suzy Dittmar. Islington Books, 1991; Archetype Publications, 2001, 2007; Papel árabe. Gijón: Trea,
2005); Neue Quellen zur Papiergeschichte. Wien: Aus der K. K. Hof- und Staatsdruckerei, 1888.
Mittheilingen aus der Sammlung der Papyrus Erzherzog Rainer. Zweiter und Dritter Band. Wien: Verlag
der K. K. Hof- und Staatsdruckerei, 1887; Vierter Band, 1888.
Moranvillé Henri, “Recherches sur les premiers papiers employés en Occident et en Orient du Xe
au XIVe siècle, par C. M. Briquet; Die mikroskopische Untersuchung des Papiers mit besonderer
Berücksichtigung der ältesten orientalischen und europäischen Papiere, par le docteur Julius Wiesner”,
en Bibliothèque de l’école des chartes. 1887, tomo 48. pp. 694-697; http://www.persee.fr/doc/bec_0373-
6237_1887_num_48_1_447504_t1_0694_0000_4
Österreichische Monatsschrift für den Orient, herausgegeben vom Orientalischen Museum in Wien,
redigirt von A. von Scala, nº 8 (15. August 1885), p. 159-165; nº 9 (15. August 1886), p. 160-161.
Rischel, Anna Grethel, “Julius von Wiesner and his importance for scientific research and analysis of
paper”, IPH Paper History, v. 18, 2014, issue 1, p. 31-38. Comunicación presentada el 21/09/2013 en

87
la DAP Deutsche Arbeitskreis für Papiergeschichte, Leipzig (version digital en las publicaciones del IPH
en su web www.paperhistory.org).
Wiesner, Julius, “Mikroskopische Untersuchung der Papiere von El Faijum”, en: Mitteilungen aus des
Sammlung der Papyrus Erzherzog Rainer. Wien I (1886), 45-48; Die mikroskopische Untersuchung
des Papiers mit besonderer Berücksichtigung der ältesten orientalischen und europäischen Papiere.
Wien: Verlag der Kaiserl. Königl. Hof- und Staatsdruckerei, 1887; Mikroskopische Untersuchung alter
ostturkestanischer und anderer asiatischer Papiere nebst histologischen Beiträgen zur mikroskopischen
Papieruntersuchung. Wien: K.K. Hof- und Staatsdruckerei, 1902; Über die ältesten bis jetzt aufgefundenen
Hadernpapiere; ein neuer Beitrag zur Geschichte des Papiers. Wien: In Kommission bei A. Hölder, 1911.
(Österreichische Akademie der Wissenschaften.; Philosophisch-Historische Klasse.; Sitzungsberichte).

88
FRANCISCO JOSÉ DE AZEVEDO AGUIAR BRANDÃO – UMA PERSONALIDADE SINGULAR NO
MEIO POLÍTICO E INDUSTRIAL DA FEIRA NO SÉCULO XIX

Francisco Azevedo Brandão


fazevedobrandao@iol.pt

RESUMO

Francisco José de Azevedo Aguiar Brandão foi um dos primeiros fabricantes de papel em Paços de
Brandão, tendo fundado a sua fábrica o lugar de Riomaior em 1825, com 29 anos de idade.

Espírito inconformado, voluntarioso e combativo, não só foi um industrial interessado na qualidade


do seu produto e, consequentemente, no progresso da sua fábrica, como também um político activo
a nívellocal e nacional, tendo sido vereador da Câmara Municipal da Vila da Feira e um interveniente
liberal, corajoso e arrojado na guerra civil, entre liberais e absolutistas.

Como industrial, foi premiado com a Medalha de Cobre na Exposição Nacional da Indústria de Lisboa,
em 1863, pela qualidade do papel de escrita produzido na sua fábrica de Riomaior; como político, foi
agraciado com o grau de Cavaleiro da Ordem de Cristo, pela rainha D. Maria II, em 1837.

Foi, de facto, nas palavras da Dr.ª Maria José Ferreira dos Santos «uma personalidade sedutora
pelos princípios que defende e pelo sentido de justiça e de solidariedade que demonstra. A
actualidade das suas palavras é bem demonstrativa da forma de estar na vida deste nosso primeiro
industrial».

PALAVRAS-CHAVE

industrial, político, medalha de cobre, cavaleiro.

SUMMARY

Francisco José de Azevedo Aguiar Brandão was one of the first paper manufacturers in Paços de
Brandão, having founded his factory at Riomaior in 1825, at the age of 29.

With a nonconformist, wilful and brave spirit he was not only an industrialist interested in the quality
of his product and consequently in the progress of his factory, but also an active politician at a local
and national level. He was a Deputy-mayor of the Municipality of Vila da Feira and a liberal, brave and
courageous intervenient in the civil war between liberals and absolutists.

89
As an industrialist, he was awarded with the Copper Medal at the National Exhibition of the Industry
of Lisbon in 1863 for the quality of writing paper produced at his Riomaior factory; As a politician, was
awarded the honour of Knight of the Order of Christ, by the Queen D. Maria II, in 1837.

It was, in fact, in the words of Dr. Maria José Ferreira dos Santos referred as “a seductive personality
by the principles he defends and by the sense of justice and solidarity he demonstrates. The timeliness
of his words is well demonstrative of the way of living of our first industrialist ».

KEYWORDS

industrial, politics, copper Medal, knight.

Francisco José de Azevedo Aguiar Brandão foi um dos primeiros fabricantes de papel em Paços de
Brandão, concelho da Feira, tendo fundado a sua primeira fábrica no lugar de Riomaior, no ano de
1925, com 29 anos de idade.

Figura 1 – Brasão da Família Azevedo Aguiar Brandão. Casa de Riomaior. Paços de Brandão.

Oriundo de uma antiga família da nobreza rural, que entronca nos primeiros cavaleiros portucalenses
de Entre Douro e Mondego, Francisco José de Azevedo Aguiar Brandão estava destinado, segundo
a tradição destas famílias, a tratar e a viver das suas quintas e propriedades, espalhadas por Paços
de Brandão, Mozelos e S. Paio de Oleiros. Mas tal perspectiva de vida não se coadunava com a
personalidade e o espírito de um homem voluntarioso, combativo, lutador, com os olhos virados para o
futuro, nunca tendo esquecido as suas fortes raízes, ligadas à família, à terra e ao país.

90
Nesta conformidade, lançou-se, com coragem e denodo, para a construção de uma fábrica de papel,
dando início em Paços de Brandão a uma série de fábricas do mesmo ramo, que prosperaram desde
os fins do século XIX até meados do século XX.

Mas para um espírito inconformado e por isso mesmo, sempre na primeira linha de combate, não se
fica como mero pequeno ou médio industrial. Preocupado com os problemas políticos da sua terra, do
seu concelho e do seu país, torna-se um interveniente activo na política local e nacional do seu tempo
– tempo conturbado por uma guerra civil, entre liberais e absolutistas.

Figura 2 – Francisco José de Azevedo Aguiar Brandão.

Quero aqui lembrar que foi a historiadora Dr.ª Maria José Ferreira dos Santos, quem, no seu livro
«A Indústria de Papel em Paços de Brandão e Terras de Santa Maria», publicado em 1997, pela
primeira vez, lhe traçou publicamente o seu perfil político e industrial, que apenas era conhecido
no meio familiar.

Escreve assim, a historiadora: «Francisco José de Azevedo Aguiar Brandão, da casa de Riomaior, foi
indiscutivelmente o fabricante que mais nos seduziu ao longo de todo este trabalho, não só pelo seu
temperamento controverso e polémico mas, acima de tudo de uma forma apaixonada e fascinante.
Os princípios liberais que norteavam Francisco José de Azevedo Aguiar Brandão levaram-no a uma
participação activa na guerra civil, colocando-se, sem medos, ao lado da facção progressista. Durante
o ceco do Porto afirmou-se como um liberal, concorrendo para o bom êxito da Causa da Rainha e da

91
liberdade da Pátria, e por íngremes e espinhosos caminhos e com perigo de sua vida e bens deu as
mais exaustas notícias e movimentos do exército sitiante, escritas pelo seu próprio punho – palavras
do Marquês de Saldanha…».

Na verdade, Francisco José de Azevedo Aguiar Brandão, para além de industrial de papel, que nunca
abandonou em plena guerra civil, foi correspondente (uma espécie de repórter de guerra), dos jornais
liberais «Periódico dos Pobres do Porto» e «Crónica Constitucional do Porto», onde relatava todos
os movimentos das tropas absolutistas nas cercanias do Porto, sobretudo, nas imediações da Feira,
território que ele conhecia como as suas próprias mãos.

Mas não é de estranhar o seu apego à causa liberal. Duas razões, pelo menos, justificavam esta sua
intervenção activa e perigosa: a primeira, alicerçava-se nas suas próprias convicções políticas, vividas
na prática em relação aos seus empregados, aos seus amigos e á população de Paços de Brandão em
geral; segundo, porque seu irmão mais velho, Manuel José de Azevedo Aguiar Brandão era Major de
Milícias da Feira, lutando no campo de batalha ao lado dos liberais. Em Asseiceira, em 1828, tinha ficado
prisioneiro, com outros oficiais, das tropas absolutistas, pelo que foram encarcerados no castelo de Vila
Viçosa, onde permaneceram durante cinco anos. Em 1833, foram transferidos deliberadamente numa
madrugada para o castelo de Estremoz, guardado por tropas absolutistas, onde foram assassinados
selvaticamente pelo povo daquele localidade, ante a passividade e conivência das tropas de cavalaria
afectas ao regime absolutista, como relata uma reportagem publicada no Periódico dos Pobres do
Porto, de 24 de Junho de 1834, com o título «Horrorosa Mortandade» e mais tarde nos livros «Portugal
Contemporâneo», de Oliveira Martins e «Os Salteadores do Norte», de Eduardo Noronha.

Mas, para se aquilatar da coragem e do carácter temperamental deste industrial de papel de Paços de
Brandão, não posso deixar de me referir a um curioso e insólito episódio, ocorrido por volta dos anos
de 1829 ou 1830, no auge da guerra civil.

Um certo dia, estava ele na sua casa de Riomaior, quando lhe vieram dizer que vinha a caminho
de sua casa, o presidente da Câmara da Feira a cavalo com um escolta de 5 lacaios armados de
carabinas, todos afectos aos absolutistas, para o prender pelas suas ideias e acções a favor dos
liberais. Imediatamente, Francisco José Azevedo Brandão, chamou os seus criados de lavoura e os
operários da fábrica, armou-os com tudo que tinha à mão: machados, picaretas, enxadas, ancinhos,
ferros da fábrica e entrincheirou-se com o seu pessoal na casa e nos pátios e esperou. Batem à grande
porta de entrada com um estrondo de arrepiar. Francisco José, armado de um possante machado e
protegido por 5 dos seus homens mais corpulentos, armados, cada um deles, com picaretas, enxadas
e machados, abre a porta e num salto inesperado agarra as rédeas do cavalo do presidente e desafia-o
para um duelo à machadada, à picareta, à enxada, já que naquela altura não tinha espada para
responder à do autarca. Surpreendidos, os lacaios, num primeiro assomo, iam pôr a mão às suas

92
carabinas, mas, ao verem a reação dos homens da casa, com as suas «armas» levantadas, dispostas
a fazer sangue, hesitaram e recuaram cobardemente, deixando o presidente sozinho, manietado pelas
mãos vigorosas de Francisco José que não largava as rédeas do cavalo. Perante a reação de Azevedo
Brandão e dos seus homens e a grande multidão de povo que ali se juntou, o presidente e seus lacaios
abandonaram o local pelo mesmo caminho que os tinha levado ali.

Pelos relevantes serviços prestados à Causa Liberal, com perigo para a sua própria vida, a Rainha
D. Maria II, agraciaria Francisco José Azevedo Aguiar Brandão com o grau de Cavaleiro da Ordem de
Cristo, a 23 de Abril de 1837.

Ainda como político, foi vereador da Câmara Municipal da Vila da Feira, onde não deixou de denunciar,
sempre que se justificava e com a frontalidade que lhe era peculiar, as arbitrariedades do presidente
da Câmara na distribuição do orçamento, lembrando as atribuições das Câmaras Municipais, através
de reclamações, de que era o primeiro subscritor, nos seguintes termos: «Os Abaixo assinados eleitos
Procuradores das freguesias do concelho da Feira vêm perante este retíssimo Concelho Distrital
reclamar o seu direito ofendido, e a Justiça do Povo que representam; direito que lhe foi tolhido pelo
Presidente da Câmara Municipal, na Reunião em que todos juntos haviam de tomar em consideração
à importância dos Rendimentos e despesas do Município e o meio de acorrer a ela». E mais adiante:
«…temos mostrado que as Câmaras Municipais exorbitam as suas atribuições; que elas não podem
tolher os Procuradores Eleitos do Direito de Votação, Direito, que se acha consignado no Art.º 82, n.º2;
que toda a deliberação tomada sem a maioria relativa é nula; que não devem haver Partidos onde não
há hospitais, ou asilos de Mendicidade e Botica paga. Não obstante o Contraprotesto do Procurador
Fiscal, ele para acobertar o seu Presidente, melhor ele pugnara pelo Império da Lei; parece que os
Direitos dos Povos, Seus Constituintes merecem algum sufrágio…A alta Sabedoria deste Responsável
Conselho se dignará tomar na Sua imediata consideração o exposto servindo-se ordenar à Câmara a
Supressão do Partido da importância de duzentos mil reis e a redução de cem mil reis para quarenta
mil reis, e que tanto basta para tratar dos Expostos, Presos, visto que o povo se nega a contribuir para
mais Partidos, de que não tem partilhado benefício algum; e no que este rectíssimo Conselho ganhará
novos Direitos aoamor e gratidão dos Povos, se de novos Direitos carece».

Perante o desassombro destas palavras, evidenciando uma rara coragem política nada habitual o seu
tempo, é ainda Maria José Ferreira dos Santos, que conclui com este pertinente e justo comentário: «E um
discurso marcado pela simplicidade e frontalidade, sendo também revelador da mentalidade capitalista
deste industrial. Num contexto autárquico provinciano, não é um qualquer vereador que tem a coragem
de desmontar os compadrios partidários ou de apontar a necessidade prioritária de uma política social; …
é um homem do papel que assim fala em meados do século XIX. É de facto uma personalidade sedutora
pelos princípios que defende e pelo sentido de justiça e de solidariedade que demonstra. A actualidade
das suas palavras é bem demonstrativa da forma de estar na vida deste nosso primeiro industrial».

93
Figura 3 – “Fábrica de Papel dos Azevedos”. Actual Museu do Papel.

Mas, se as questões políticas locais e nacionais nunca lhe passaram ao lado, antes foi um interveniente
activo, Francisco José continuava com o seu mister de industrial interessado no progresso de uma
indústria que dava os seus primeiros passos na região da Feira. Assim, logo em 1826, enviou um
requerimento ao rei D. Pedro IV, para que lhe concedesse a isenção do pagamento de Portagem dos
seus produtos, na cidade do Porto, à semelhança de outras fábricas de papel do país, requerimento
que lhe foi deferido a 5 de Junho de 1827, nos seguintes termos: «…Faço saber que Francisco José de
Azevedo Brandão de Paços de Brandão termo da Vila da Feira, Me apresentou n ter estabelecido em
Rio Maior uma fábrica com todas as Máquinas, e utensílios para fazer papel de Escrever, e portanto Me
suplicava a Graça de a autorizar com os competentes Privilégios: ao que tendo respeito, e constando-
me pela informação do Corregedor da respectiva Comarca, auto de vistoria e mais diligências a que o
mesmo procedeu, que o Suplicante por sua capacidade bom arranjo em que se acha a mesma Fábrica,
se faz digno da Graça a que implora; Hei por bem autorizar a dita Fábrica de Papel de Escrever de que
o Suplicante é Senhor; e lhe concedo todas as Graças, isenções, e privilégios que Legitimamente lhe
competirem e gozar tais estabelecimentos…».

Por volta de 1840, constrói uma segunda fábrica, contígua à primeira, conhecida por Fábrica de Baixo,
por oposição à antiga – a de Cima. A segunda fábrica seria totalmente destruída por uma cheia do rio
Maior, provocada por uma forte tromba de água, ocorrida a 24 de Outubro de 1954.

Em 1863, na Exposição Nacional da Indústria, realizada em Lisboa, recebe a Medalha de Cobre, pela
qualidade do papel de escrita produzido nas suas fábricas de Riomaior, da freguesia de Paços de Brandão.

94
Depois da sua morte, assumiria a direcção das fábricas, seu filho mais velho, Francisco Azevedo
Brandão que, ao morrer solteiro alguns anos depois, passaria para o irmão mais novo, José de Azevedo
Aguiar Brandão.

Mas, para além de político e industrial, quem era este homem singular?

Francisco José de Azevedo Aguiar Brandão nasceu na Casa da Torre ou da Capela (hoje, onde se
ergue o edifício da Junta e Freguesia de Paços de Brandão), a 10 de Abril de 1796. Era filho de
Manuel José de Sá Pereira Azevedo Aguiar Brandão e de Maria Pais dos Santos; irmão do Major
de Milícias da Feira, Manuel José e de João José de Azevedo Brandão, médico, deputado da nação
e também industrial de papel na sua fábrica do Engenho Novo, em Paços de Brandão. Casou na
paróquia de Paços de Brandão a 9 de Novembro de 1837 com Maria José de Portugal e Vasconcelos,
filha de António Bernardino Vasconcelos, Tenente-coronel comandante do regimento de Milícias da
Vila da Feira, vereador do senado da Câmara da Feira, e de Maria Isabel Calhordas Portugal. Deste
casamento, houve uma filha que morreu criança. Oito anos depois Francisco José divorciava-se de
sua mulher após um longo processo litigioso. Por volta de 1845, teve, de Teresa Pereira de Jesus,
solteira, com quem vivia maritalmente, três filhos: Maria José, Francisco José e José Azevedo Aguiar
Brandão, todos nascidos na casa de Riomaior.

Francisco José de Azevedo Aguiar Brandão ficou sempre como uma figura tutelar da família Azevedo
Aguiar Brandão, de Riomaior, como exemplo de um HOMEM íntegro, corajoso, amante da sua família,
da sua terra e do seu país, admirado e amado pelos seus filhos e netos já falecidos e recordado hoje
pelos seus bisnetos, trinetos e tetranetos.

95
LAÇOS FAMILIARES DE MESTRES PAPELEIROS GENOVESES NO PORTUGAL OITOCENTISTA.
ESTUDO GENEALÓGICO DAS FAMÍLIAS GAMBINO E TESTA

Miguel Portela
Investigador da História do Papel
magelo2001@gmail.com

RESUMO

Pretendemos com este estudo dar a conhecer duas famílias genovesas que se dedicaram ao fabrico
do papel no século XIX, na região estremenha de Portugal: os Gambino e os Testa.

Evidenciaremos elementos que nos permitem demonstrar a relevância de alguns mestres genoveses,
particularmente de José Gambino, enquanto responsáveis pelo fabrico do papel na Fábrica de Papel
em Braga, no início do século XVIII.

Procuraremos evidenciar através de esquemas genealógicos alguns laços familiares entre estas duas
famílias, bem como com outros mestres papeleiros portugueses, realçando a sua importância enquanto
fabricantes de papel na Zibreira (Torres Novas), no Prado e Sobreirinho (Tomar), em Rio Alcaide (Porto
de Mós) e em Alcobaça, e proprietários de algumas fábricas de papel nessas localidades.

PALAVRAS-CHAVE

Gambino. Testa. Papel. Genoveses. Portugal Oitocentista.

ABSTRACT

The purpose of this study is to introduce two Genoese families who were involved in the manufacture of
paper in the 19th century, in the Estremadura of Portugal: the Gambino and the Testa.

We will show elements that allow us to demonstrate the relevance of some Genoese masters, particularly
José Gambino, who were responsible for the paper making at the Paper Factory in Braga in the early
18th century.

We will try to evidence genealogical schemes some familiar ties between these two families, as well as
with other Portuguese paper masters, highlighting their importance as paper manufacturers in Zibreira
(Torres Novas), Prado and Sobreirinho (Tomar), Rio Alcaide (Porto Of Mós) and in Alcobaça, and
owners of some paper factory in those localities.

97
KEYWORDS

Gambino. Testa. Paper. Genoveses. Portugal Eighteenth Century.

1. INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, têm sido publicados diversos estudos sobre a História do fabrico do papel em
Portugal, contudo, contam-se em maior número as publicações respeitantes a engenhos, moinhos,
ou fábricas de papel, sendo ainda diminutos os estudos respeitantes à genealogia dos seus mestres
papeleiros, quer sejam eles portugueses, quer sejam eles de outras nacionalidades.1 Embora menos

1 Não cumpre arrolar aqui a totalidade das obras publicadas relativas à História do fabrico de papel em Portugal, todavia, seja-
os permitido citar alguns autores que se têm dedicado a este assunto nas mais diversas temáticas e assuntos, particularmente:
BANDEIRA, Ana Maria Leitão, Pergaminho e Papel em Portugal. Tradição e conservação, Lisboa, CELPA/Associação da
Indústria Papeleira, 1995; Idem, “Santo António de Lisboa e não de Pádua: marcas de água de papel em documentos do
Arquivo da Universidade de Coimbra”, O Papel ontem e hoje. Arquivo da Universidade de Coimbra – Renova. X Semana
Cultural da Universidade de Coimbra – Imaginação (1 a 8 de março de 2008), 2008. CAMPOS, Maria do Rosário Castiço de,
A Fábrica de Papel da Lousã e o processo de industrialização em Portugal, Revista da Faculdade de Letras História, Porto,
III.ª Série, vol. 10, Porto, 2009, pp. 145-150; Ibidem, A Lousã no século XVIII. Redes de Sociabilidade e de Poder, Palimage,
2010. CARREIRA, Maria de São Luiz da Silva, Marcas de Água. Arquivo Histórico Parlamentar (Monarquia Constitucional
1821-1910). Tese de Mestrado em Ciências da Documentação e Informação Arquivística. Universidade de Lisboa, Faculdade
de Letras, Lisboa, 2012. FERREIRA, Joaquim Antero M., “Breves apontamentos sobre a indústria papeleira em Vizela: as
fábricas de papel dos Álvares Ribeiro (séculos XVIII-XX) ”, O Papel ontem e hoje. Arquivo da Universidade de Coimbra –
Renova. X Semana Cultural da Universidade de Coimbra – Imaginação (1 a 8 de março de 2008), 2008. LOURENÇO, José
Henrique Tomé Leitão, A Indústria na Vila de Alenquer (1565-1931), Lisboa, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa,
2009, Dissertação de Mestrado em História Regional e Local. MARTINS, Luís Filipe Correia, Rota do Papel do Vale do Ceira
e Serra da Lousã. A fábrica de Papel do Bosque, Dissertação de Mestrado Integrado em Arquitectura, Faculdade de Ciências
e Tecnologia, Departamento de Arquitectura, Coimbra, 2010, vol. I e II. OLIVEIRA, Aurélio, “Indústrias em Braga. As fábricas
de papel do Rio Este”, Bracara Augusta, vol. XLIX, n.º 96 (109), Braga, 1993, pp. 417-443; Idem, “Fabrico de papel em Braga
no século XVI”, Revista da Faculdade de Letras História, Porto, III.ª Série, vol. 8, Porto, 2007, pp. 25-28. PORTELA, Miguel,
O Fabrico do Papel em Figueiró dos Vinhos no séc. XVII, Edição do autor, 2012; Idem, “A indústria papeleira na região de
Leiria no Portugal oitocentista”, Cadernos de Estudos Leirienese-3, Editor: Carlos Fernandes, Textiverso, 2014, pp. 181-200;
Idem, “Houve ou não fabrico de papel na Batalha no Século XVI? Notas sobre o fabrico de papel no Distrito de Leiria”, Boletim
Semestral da Comunidade Concelhia da Batalha, Edição n.º 2, Batalha, 2014. Idem, Os Curados e o fabrico de Papel em
Figueiró dos Vinhos no século XVII, Jornal da Golpilheira, Diretor: Luís Miguel Ferraz, Ano XIX, Edição 215, maio - 2015, p.
17; Idem, Mestres Papeleiros Genoveses em Alcobaça (Breves Apontamentos), Jornal da Golpilheira, Diretor: Luís Miguel
Ferraz, Ano XIX, Edição 217, julho - 2015, pp. 16-17; Idem, Novas achegas para a História do fabrico do papel em Alcobaça.
Manuel dos Santos Libório e Francisco Xavier Pedroso: dois notáveis industriais, Jornal da Golpilheira, Diretor: Luís Miguel
Ferraz, Ano XX, Edição 232, outubro - 2016, p. 23; Ibidem, O Fabrico de papel em Figueiró dos Vinhos no século XVII, Atas
do I Congresso de História e Património da Alta Estremadura, CEPAE - Centro do Património da Estremadura, 2016, pp. 303-
322. PORTELA, Miguel e MADURO, António Valério, Património industrial de Alcobaça e Nazaré nos séculos XVIII-XX – Parte
I, Cadernos de Estudos Leirienses- 9, Editor: Carlos Fernandes, Textiverso, 2016, pp. 365-382. RUAS, João, “O engenho do
papel”, Monumentos, Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana, Lisboa, 2007, n.º 27, pp. 152-157. SANTOS, Maria
José Ferreira dos; CASTELLÓ MORA, Juan, “The Ottone family anda paper manufacturing in Spain and Portugal – 17th and
18th century”, IPH Congress Book, vol. 12, Suiça, IPH, 1998, pp. 146-154. SANTOS, Maria José Ferreira dos, A Indústria
de Papel em Paços de Brandão e Terras de Santa Maria (séculos XVIII e XIX), Santa Maria da Feira, Câmara Municipal de
Santa Maria da Feira, 1997; Idem, “José Maria Ottone e a Indústria do Papel em Portugal no século XVIII”, O Papel ontem
e hoje. Arquivo da Universidade de Coimbra – Renova. X Semana Cultural da Universidade de Coimbra – Imaginação (1 a
8 de março de 2008), 2008, pp. 41-48. Idem, “Marcas de água e história do papel: a convergência de um estudo”, Cultura.
Revista de História e Teoria das Ideias, Lisboa, Centro de História da Cultura da Universidade Nova de Lisboa, 2014, vol
33, pp. 11-29; Idem, Marcas de água: séculos XIV-XIX, Colecção TECNICELPA, coedição de TECNICELPA - Associação

98
estudados, não deixaram de merecer a atenção de alguns historiadores, de que são exemplo, entre
outros, os contributos trazidos por Ana Maria Leitão Bandeira2, Maria do Rosário Castiço de Campos3,
Maria José Ferreira dos Santos4 e Juan Castelló Mora5 ou ultimamente por Miguel Portela.6

Recorrendo ao acervo documental dos Arquivos Distritais de Leiria e Santarém, sobretudo dos registos
paroquiais, procurámos reconstituir as árvores genealógicas de duas famílias de fabricantes de papel
de origem genovesa - os Gambino e os Testa -, que fixaram residência, no século XIX, na região
de Torres Novas. Sabemos também, que a família Gambino, após alguns anos de permanência na
localidade da Pedreira (Carregueiros, c. Tomar), mudou-se para a Fábrica do Papel em Rio Alcaide (c.
Porto de Mós), e para Alcobaça onde veio a fundar uma Fábrica do Papel.7

2. O FABRICO DO PAPEL EM BRAGA ENTRE 1707-1716: JOSÉ GAMBINO, MESTRE DO ENGENHO


E DA FÁBRICA DO PAPEL

Segundo Aurélio Oliveira, o fabrico do papel em Braga, é anterior a 1534. Este autor constatou em
2007 que eram, à data, escassos os elementos que permitiam esclarecer que tipo de atividade

Portuguesa dos Técnicos das Indústrias de Celulose e Papel e Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, julho de 2015,
e Do Engenho à Fábrica, Coordenação Científica de Maria José Ferreira dos Santos, Câmara Municipal de Santa Maria da
Feira, Março de 2015. Consulte-se ainda, numa perspectiva global nacional e internacional do sector da celulose, o estudo de
ALVES, Jorge Fernandes, A estruturação de um sector industrial – a pasta de papel, Revista da Faculdade de Letras História,
Porto, III.ª Série, vol. 1, Porto, 2000, pp. 153-182. Vejam-se também, entres outros, os seguintes estudos, MELO, Arnaldo
Faria de Ataíde e, “O Papel como elemento de identificação”, Separata dos Anais das Bibliotecas e Arquivos, Lisboa, Oficinas
Gráficas da Biblioteca Nacional, 1926. SEQUEIRA, Gustavo de Matos, A Abelheira e o fabrico de papel em Portugal: história
de uma propriedade e de uma fábrica, Lisboa, Tipografia Portugal, 1935. VITERBO, Sousa, Artes Industriaes e Industrias
Portuguezas: O Vidro e o Papel, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1903.

2 Veja-se sobre algumas famílias genovesas no distrito de Coimbra o estudo de BANDEIRA, Ana Maria Leitão, “O Fabrico de
papel no Distrito de Coimbra ao longo dos séculos XVI-XIX: um percurso histórico”. Pasta de Papel: revista portuguesa da
indústria papeleira (22), julho, 1999, pp. 29-36.

3 Sobre as famílias Ottone e Caneva da Silva na região da Lousã, consulte-se os estudos de CAMPOS, Maria do Rosário de,
Mobilidade social e ascendente no século XVIII em Portugal: estudo de um percurso familiar. Familias y Poderes. Actas do VII
Congresso Internacional de La Associación de Demografia Histórica, Granada, Editorial Universidade de Granada, 2006, pp.
191-197; Ibidem, A Lousã no século XVIII. Redes de Sociabilidade e de Poder, Palimage, 2010, pp. 93-99; 262-274.

4 Sobre a família Ottone, veja-se o estudo de SANTOS, Maria José Ferreira dos, “José Maria Ottone e a Indústria do Papel
em Portugal no século XVIII”,… Op. Cit., pp. 41-48.

5 Consulte-se sobre a família Ottone o estudo dos investigadores SANTOS, Maria José Ferreira dos; CASTELLÓ MORA,
Juan, “The Ottone family anda paper manufacturing.. Op, Cit., pp. 146-154.

6 Veja-se sobre as famílias Dufour, Silveiro e Curado em Figueiró dos Vinhos, os estudos de PORTELA, Miguel, O Fabrico do
Papel em Figueiró dos Vinhos no séc. XVII, Edição do autor, 2012; Idem, Nótula histórica sobre Bento Buxo Sarramim: mestre
papeleiro do engenho do papel em Figueiró dos Vinhos no século XVII…, Op. Cit., pp. 8-9; Veja-se sobre a família Gambino,
entre outras, o estudo de PORTELA, Miguel, “A indústria papeleira na região de Leiria… Op. Cit., pp. 181-200; Idem, “Mestres
Papeleiros Genoveses em Alcobaça…, Op. Cit., pp. 16-17; Idem, Novas achegas para a História do fabrico do papel em
Alcobaça… Op. Cit, p. 23.

7 PORTELA, Miguel, “A indústria papeleira na região de Leiria… Op. Cit., pp. 181-200; Ibidem, “Mestres Papeleiros Genoveses
em Alcobaça… Op. Cit., pp. 16-17; PORTELA, Miguel e MADURO, António Valério, Património industrial de Alcobaça e
Nazaré nos séculos XVIII-XX…, Op. Cit., pp. 365-382.

99
se exerceu nessa cidade e quem estava ligada a ela direta ou indiretamente no fabrico do papel.8
Sabemos também, que “uma «fábrica nova de papel» se havia fundado em 1706, tendo laborado pelos
tempos posteriores. Em 1740 se terá realizado o último contrato de arrendamento, que tinha a duração
prevista de nove anos. Deve, por conseguinte, ter laborado até 1749. O último arrendatário e industrial
de papel foi, pelos termos desse contrato, o bracarense José Ferreira Braga”. Esta fábrica nova de
papel foi estabelecida em 1706 numa pareceria e sociedade de fabrico e venda entre o genovês José
Ottoni, Marcos Malheiro Pereira, fidalgo da Casa de Sua Majestade, e Mestre de Campo do Terceiro
Regimento da Província do Minho, e os Reverendos António da Fraga Botelho e Frei Cristo Bacelar,
irmãos deste fidalgo.9

Através de uma investigação realizada por nós, tendo em vista a obtenção de documentos que
aclarassem quanto aos possíveis mestres papeleiros que laboraram na dita fábrica nova de papel, foi
possível obter elementos concretos que nos indicam tratar-se em 1707 de um Engenho do Papel, e em
1709, de uma Fábrica do Papel. Assim, sabemos que laboraram no Engenho e na Fábrica do Papel,
na Ribeira, freguesia de São Victor em Braga, no período de 1707 e 1712, vários mestres papeleiros
genoveses e portugueses, sobretudo, José Gambino, mestre do Engenho do Papel e esposo de Ângela
Maria, moradores na Soutinha desta freguesia, conforme registo de batismo de sua filha Mariana,
datado de 15 de maio de 170710, e do registo de batismo de sua filha Maria, datado de 18 de agosto de
170911; Hierónimo Bajeto, oficial do papel que desposou em 12 de março de 1711, Ana da Costa, viúva,
filha de Domingos da Costa, moleiro moradores na Ribeira12, tendo sua filha, Teresa, sido batizada em

8 OLIVEIRA, Aurélio, “Fabrico de papel em Braga no século XVI”…, Op. Cit., pp. 25-28.

9 Idem, “Indústrias em Braga. As fábricas de papel do Rio Este”…, Op. Cit., pp. 425-429.

10 Universidade do Minho - Arquivo Distrital de Braga [U.M.-A.D.B.], Livro de Batismos da Paróquia de São Victor [L.B.P.S.V.]
[1702-1710], B - 268, assento n.º 2, fl. 138, “Aos quinze dias do mes de mayo de setecentos e sete de licença do Reverendo
Vigario baptizei eu o Padre Jozeph Duarte morador em caza do dito Reverendo Vigario â Mariana filha de Jozeph Gambino
Mestre do Engenho do Papel, e de sua molher Angela Maria moradores na Soutinha desta freguezia. Forão padrinhos: Diogo
da Costa Coelho morador na sua Quinta dos Mattos, e Mariana do Espirito Sancto solteira assistente em caza do Licenciado
David Tinoco morador no Campo dos Remedios destrito da freguezia de S. João de Souto e dizem nasceo aos treze do
dito mes. Testemunhas: o dito Licenciado David Tinoco, e o Reverendo Padre Domingos Lourenço morador no dito lugar da
Soutinha, e por verdade fiz e assignamos era ut supra. (a) O Padre Jozeph Duarte. (a) O Padre Domingos Lourenço. (a) David
Tinoco de Araujo”.

11 Ibidem, assento n.º 2, fl. 228, “Aos dezoito dias do mes de agosto do anno de mil setecentos e nove, eu o Padre Gaspar
da Silva Pereira de mandado do Reverendo Viagrio desta freguezia Manoel de Mello baptizei Maria filha de Jozeph Gambino
Genoves de nação, e de sua molher Angella Maria, Mestres da Fabrica de Papel desta sidade de Bragua. Forão padrinhos: o
Reverendo Padre Domingos Lourenço, e Maria Ferrei mulher de Bento do Valle Façanha da Rua das Agoas e o Reverendo
Domingos Lourenço morador na Ribeira junto a dita fabrica, estando por testemunhas, Antonio Maria Roxo, mercador da Rua
do Souto, e Matheus Rodrigues Latin [sic] mercador da mesma Rua, e por verdade fis este asento que asignamos oje era ut
supra. (a) O Padre Gaspar da Silva Pereira. (a) Mateheus Latis [sic]. (a) Antonio Maria Rosso”.

12 Idem, Livro de Casamentos da Paróquia de São Victor [L.C.P.S.V.] [1703-1720], B - 290, assento n.º 3, fls. 78-78v, “˂
Hieronimo Bajeto com Anna da Costa ˃ Aos doze dias do mez de março de mil e setecentos e onze annos em prezença de
mim o Padre Jozeph Duarte Coadjutor desta Igreja de São Victor se receberam por palavras de prezente na forma do Sagrado
Concilio Tridentino e Constituiçois deste Arcebispado Hieronimo Bajeto filho legitimo de Francisco Bajeto fabricadores de
papel tanto o filho como o pay, e de sua mulher Benta Bajeto da freguezia de Santo Erasmo da Vutre Bisp // [fl. 78v] Bispado
de Genuva com Anna da Costa veuva que ficou de João Lopes e filha legitima de Domingos da Costa, moleyro e de sua

100
6 de abril de 1712, surgindo como padrinho nesse ato, Agostinho Chiozza13; e Santos da Cunha, oficial
do papel, que contraiu matrimónio em 9 de fevereiro de 1710, com Custódia Francisca14, tendo seu
filho Jerónimo, sido batizado em 14 de outubro de 1710, assistindo como padrinho o oficial de papel
Hierónimo Balheto.15 Cremos estar na presença de outro mestre ou oficial que trabalhou no fabrico do
papel em Braga, mormente, Hieronimo Pupo, genovês que contraiu matrimónio em 1 de novembro de
1709, com Maria Marques da Ribeira.16 Sabemos também, que Hieronimo Pupo, sendo viúvo, veio a

molher Maria Antonia moradores no lugar da Ribeyra desta freguezia, e elle conthahente tambem assistente no dito lugar na
Fabrica do Papel. Foram testemunhas, o Padre João Lopes morador na Ponte de Guimarais, e Manoel de Oliveira, solicitador
morador no Campo de Nossa Senhora a Branca ambos desta freguezia e Bento do Valle Façanha morador na Rua das Agoas
da freguezia de Sam Joam do Souto, e por verdade fis este termo que todos assinamos, dia mez era, ut supra. (a) O Coadjutor
desta Igreja o Padre Jozeph Duarte. (a) Padre João Lopes. (a) Bento do Valle Façanha. (a) Manoel de Oliveira”.

13 Idem, L.B.P.S.V. [1710-1715], B - 269, assento n.º 3, fls. 54v-55, “Thereza filha de Hieronimo Bajeto Mestre da Fabrica
do Papel e de sua mulher Anna da Costa moradores no lugar da Ribeyra destrito desta freguezia de Sam Victor nasceo aos
dous de abril de mil e setecentos e doze annos, e aos seis dias do dito mez e anno de licença do Reverendo Vigario foy
baptizada pello Padre João Lopes morador na Rua de Sam Lazaro desta freguezia. Foram padrinhos: Augustinho Cheossa
morador no Campos dos Remédios freguezia de Sam João do Soutto, e Maria de Freytas mulher de Antonio Fernandes // [fl.
55] Fernandes Padeyro moradores na Rua de Sam Lazaro desta freguezia. Foram testemunhas: Jozepha Dantes tratante, e
Joam Ferreyra Sombreyreiro ambos moradores na Rua da Ponte de Guimarais desta freguezia e por verdade fiz e assinamos
dia mez era ut supra. (a) O Coadjutor desta Igreja o Padre Jozeph Duarte. (a) Agostinho Chiozza. (a) Jozeph Dantes. (a) João
Ferreira”.

14 Idem, L.C.P.S.V. [1703-1720], B - 290, assento n.º 1, fl. 63v, “˂ Santos da Cunha com Costodia Francisca ˃ Aos nove dias
do mes de fevereiro do anno de mil e setecentos e des eu o Padre João Rodrigues Dias tendo dado as denunciacois na forma
do Sagrado Concilio Tridentino e Constituicois deste Arcebispado e sem me sahir inpedimento nenhum nem eu o saber por
via alguma em minha prezença e das testemunhas abaixo nomeadas se receberam por pallavras de prezente; Santos da
Cunha filho natural do Capitam João Ozorio da Cunha já defunto da freguezia de Santo Adrião de Padim do Couto de Tivais
[sic]; e de Vicencia Rodrigues solteira filha de Domingos Manoel e de sua mulher Maria Rodrigues do lugar de Pero Algozo
freguezia de Santa Christina da Pouza termo de Barcellos todos defuntos; com Costodia Francisca filha legitima de Andere
Alvres e sua mulher Cecilia Francisca do lugar da Ribeira desta freguezia e asistiram por testemunhas Thome Fernandes
Braga tintureiro morador na Rua das Agoas e Antonio Pereira espingardeiro, e Bento Francisco sombreireiro ambos do
Campo de Nossa a Branca e todos desta freguezia que que [sic] todos aqui asignaram; e alem destes outros muitos que de
prezente estiveram todos desta freguezia; e eu o Padre João Rodriguez Dias Cura desta mesma freguezia que por verdade
fis e asignei com as testemunhas acima declaradas, era ut supra. (a) O Cura desta Igreja o Padre João Rodrigues Dias. (a)
Thome Fernandes Braga. (a) Antonio Pereira. (a) Bento Francisco”.

15 Idem, L.B.P.S.V. [1710-1715], B - 269, assento n.º 2, fl. 2v, “Hieronimo filho de Santos da Cunha official de papel e de sua
mulher Costodia Francisca moradores no lugar da Ribeyra destrito desta freguezia nasçeo aos treze do mes de outubro de
mil e setecentos e dez annos, e aos quatorze dias do dito mez e anno foi baptizado de licença do Reverendo Vigario pello
Padre João Gonçalves Castro morador no Campo de Nossa Senhora a Branca. Foram padrinhos: Hieronimo Balheto official
de papel, solteyro morador no lugar da Ribeyra, e Jatrudes da Cunha, solteyra filha de Joam de Araujo do lugar do Fojo
freguezia de Sancta Crestina termo de Guimarais. Foram testemunhas: Pedro de Araujo, sacrystam desta Igreja e o Padre
Gonçalo de Novais morador no Campo de Nossa Senhora a Branca, todos desta freguezia e por verdade fiz este termo que
todos assignamos, dia mez era ut supra. (a) O Coadjutor desta Igreja o Padre Jozeph Duarte. (a) O Padre Gonçalo Novais.
(a) Pero de Araujo”.

16 U.M.- A.D.B., L.C.P.S.V. [1703-1720], B - 290, assento n.º 1, fl. 57v, “˂ Hironimo Pupo com Maria Marques ˃ Ao primeiro dia do
mes de novembro do anno de mil e setecentos e nove eu o Padre João Rodriguez Dias Cura desta Parochial Igreja de São Vitor
extra muros tendo dado as denunciaçois na forma do Ssagrado Concilio Tridentino e Constituições desta Arcebispado e sem me
sair impedimento nenhum nem eu o saber por via alguma e alem de tudo isto me foi emtregue huma licença do doutor Manoel
Pinheiro Ramos Juis dos Cazamentos pella qual asiste ao matrimonio em que a minha prezença e das testemunhas abaixo
nomeadas se receberam por pallavras de prezente Hieronimo Pupo filho legitimo de Nicoláo Pupo e de sua mulher Benta Pupa
do lugar de Vultri da freguezia da freguezia [sic] Santiasmo [sic] do Arcebispado de Genuva com Maria Marques filha legitima de
João Marques e de sua mulher Catherina Quinteira do lugar da Ribeira desta freguezia. Testemunhas que estiveram prezentes:
Pedro de Araujo, e Juzeph de Magalhais e Juzeph Cerqueira e o Padre Manoel Antunes que todos assinarão comigo era ut
supra. (a) O Cura João Rodrigues Dias. (a) O Padre Manoel Antunes. (a) Jozeph Cerqueira. (a) Pero de Araujo”.

101
contrair matrimónio em 8 de setembro de 1716, com Serafina da Silva, assistindo como testemunhas,
entre outros, o já aludido Santos da Cunha, oficial do papel.17 Sabemos também, que Santos da Cunha
veio a falecer em Braga em 25 de janeiro de 1743.18

Estes elementos inéditos que acabámos de revelar demonstram uma nova realidade no Fabrico do
Papel em Portugal, concretamente em Braga com a contratação de mestres genoveses e portugueses
para estrearem a produção de papel numa fábrica nova nas primeiras décadas do século XVIII. De
igual modo, representa para o caso em estudo, do primeiro indivíduo da família Gambino documentado
em Portugal, enquanto mestre de um Engenho do Papel.

Para se aprofundar o conhecimento relativo a José Gambino, mestre do papel e da sua ascendência
consultámos a Inquirição de Genere de seu filho João Gambino, cuja resposta foi remetida de Génova,
em 23 de março de 1735, tendo sido solicitado a dois negociantes genoveses, moradores em Braga,
- António Maria Mercante e Pedro Francisco Ravara -, para reconhecerem o instrumento dos autos
da inquirição.19 Assim, reconhecemos João Gambino como batizado na paróquia de S. Nicolau e
S. Erasmo, em Voltri, Génova, e que seu pai havia sido fabricatori di carta. Constatamos que João
Gambino era neto paterno de João Gambino e Sebastiana Gambina, também fabricatori di carta e
materno de Nicolau Cabillia e Antonia Manhana Cabillia, maestro di ascia.

Cumpre investigar futuramente a possibilidade de João Gambino, mestre do Engenho e Fábrica do


Papel em Braga poder ser familiar de José Gambino que, em 5 de maio de 1710, com Bartolomé
Piombino contratualizaram fabricar papel em Faramello na Galiza.20

17 Ibidem, assento n.º 1, fl. 133v, “˂ Hironimo Pupo com Serafina da Silva ˃ Aos oito dias do mês de novembro de mil
e setecentos e dezaseis annos em prezença de mim o Padre Manoel Antunes Coadjutor desta Igreja de Sam Victor se
reçeberam com palavras de prezente na forma do Sagrado Consilio Tridentino e Constituiçõis deste Arcebispado dadas
primeiro as demumsiaçois e com lisença do Muito Reverendo Senhor Doutor Juis dos Cazamentos desta Corte Primaz;
Hyronimo Pupo, veuvo que ficou de Maria Marques do lugar da Ribeira desta freguezia com Serafina da Silva filha legitima de
Hyronimo da Silva já defunto e de Maria da Silva do dito lugar da Ribeira desta freguezia, e o dito contrahente he natural da
freguezia de Santo Ambrozio, Reino de Genuba. Foram testemunhas: Pascoal de Araujo, sacristam desta, e Andre Gomes,
e Domingos Francisco, e Santos da Cunha todos moradores no dito lugar da Ribeira, e por verdade fis este termo que todos
asinamos dia, era ut supra. (a) O Coadjutor desta Igreja, o Padre Manoel Antunes. (a) Pascoal de Araujo. (a) Andre Gomes.
(a) Santos + da Cunha. (a) Domingos + Francisco”.

18 U.M.- A.D.B., Livro de Óbitos da Paróquia de São Victor [1737-1751], B - 303, assento n.º 3, fls. 117v-118, “Aos vinte
de sinco dias do mes de janeyro do anno de mil settecentos quarenta tres faleceo com todos os Sacramentos Santos da
Cunha morador no logar da Deveza desta freguezia foy amortalhado com habito de Sam Francisco de doos mil e // [fl. 118] e
quatrocentos reis, sepultado nesta Igreja de Sam Victor, acompanhado com a Irmandade de Sam Vicente, e Confrarias das
Almas desta Igreja, de Sam Joam, digo das Almas de Sam João da Ponte, e com a Santo Andre de Lamaçãis, teve quinze
padres de acompanhamento deram dozentos reis de oferta a huma velha, fez testamento, deyxou vinte missas por sua alma,
mais sinco no altar de Sam Pedro de Rates, de corpo prezente podendo ser ditas no dia seguinte, ficou por testamenteiro seu
genro Niculao Fernandes e para constar fis este assento que assiney, era ut supra. O Coadjutor de Sam Victor (a) O Padre
Joam Teyxeyra”.

19 U.M.-A.D.B, Mitra Arquiepiscopal de Braga, Inquirições de genere [1616-1911], João Gambino 1735.

20 LARRUGA, D. Eugenio, Memorias Políticas y Económicas sobre los Frutos, Comercio, Fábricas y Minas de España, En la
oficina de Don Antonio Espinosa, Madrid, 1790, t. XLIV, pp. 257-291. GAYOSO, Gonzalo, “La fabricación del papel em Galicia
del Siglo XVIII a nuestros días”, Investigación y Técnica del Papel, n.º 4, 1965, pp. 193-223; BALLESTEROS, José Manuel

102
3. O FABRICO DO PAPEL NA ZIBREIRA: O MESTRE PAPELEIRO LOURENÇO GAMBINO

Apesar de acharmos várias referências setecentistas a mestres papeleiros que produziram papel nas
Terras da Feira (S. Paulo de Oleiros), cuja Fábrica de Papel na Lapa terá sido fundada cerca de 1708,
por José Maria Ottone21 e onde trabalhou Hierónimo Balheto, oficial do papel, que aí faleceu em 4 de
setembro de 174322 e Manuel Alvares23, filho de Pedro Alvares e Isabel Gomes, moradores que haviam
sido na Rua do Posso da freguesia da Sé de Braga, assistente nessa Fábrica em 1713; na Lousã onde
a família Ottone se encontra documentada em 1715, e onde trabalharam vários indivíduos das famílias
Caneve, Buzano, Thomate, Erso e Lambert24, ou mesmo em Figueiró dos Vinhos, entre 1784 e 1794,
onde trabalhou Maurício Mossine25 e Manuel Moliner26; não foi possível alcançar provas documentais

Bértolo, “A presenza dos Gambino no concello de A Estrada”, A Estrada. Miscelánea Histórica e Cultural, Museo Manuel
Reimóndez Portela, 2013, vol. 16, pp. 149-173.

21 SANTOS, Maria José Ferreira dos, “José Maria Ottone e a Indústria do Papel em Portugal no século XVIII”,… Op. Cit., pp. 41-48.

22 Arquivo Distrital de Aveiro [A.D.A.], Livro Misto de S. Paio de Oleiros [1703-1750], Paróquia de Oleiros, Livro 2, assento n.º
1, fl. 157, “Aos quatro dias do mes de setembro de mil e setecentos e quarenta e tres anos faleçeo da vida prezente, e com
todos os Sacramentos Hyeronimo Bagetto do lugar da Lapa e desta e desta [sic] freiguezia de Sam Payo de Oleiros, e de
idade de setenta annos, pouco mais ou menos, seu corpo foi sepultado dentro na Igreja junto da porta principal, sua molher
lhe mandou fazer hum officio de oito padres e dous de sinco padres, e com suas offertas costumadas; e por verdade dis este
assento que asignei, era ut supra. (a) O Vigario Dom Manoel de Sam Luis”.

23 A.D.A., Livro Misto de S. Paio de Oleiros [1703-1750], Paróquia de Oleiros, Livro 2, assento n.º 1, fl. 24, “Manoel filho
de Thereza solteira filha de Manoel Alváres do lugar da Lapa e de sua molher nasçeo aos dous dias do mes de septembro
do anno de mil e setteçentos, e treze annos; e aos des dias do dito mes e anno foi baptizado nesta Igreja de Sam Payo de
Oleiros por mim o Padre Joam de Ramos Coelho Cura da dita Igreja. Foram padrinhos: Manoel Françisco Ramos morador
na çidade do Porto ao Postigo dos Banhos e Izabel Alvres molher de Bartolomeu da Costa desta freguezia. Testemunhas
Gonçalo Gomes, e Bertholomeu da Costa deste lugar da Igreja, e freguezia de Oleiros, deu por pái a Manoel Alvres assistente
na Fabrica do Papel desta freguezia, com quem está apalabrada, e comprometida para cazar, e por verdade fis este assento,
que com as testemunhas asiney, era ut supra. (a) O Padre João de Barros Coelho. (a) De Gonçalo + Gomes Testemunha. (a)
De Bartholomeu + da Costa Testemunha”. Veja-se também o casamento de Manuel Alvares com a referida Teresa Francisca,
celebrado em 3 de fevereiro de 1714, Ibidem, assento n.º 1, fls. 98-98v.

24 Vejam-se os estudos de BANDEIRA, Ana Maria Leitão, “O Fabrico de papel no Distrito de Coimbra ao longo dos séculos
XVI-XIX…, Op. Cit., pp. 29-36 e de CAMPOS, Maria do Rosário de, Mobilidade social e ascendente no século XVIII em
Portugal…, Op. Cit., pp. 191-197.

25 Arquivo Distrital de Leiria [A.D.L.], Livro de Batismos de Figueiró dos Vinhos [L.B.F.V.] [1775-1790], Dep. IV-33-E-43,
assento n.º 2, fl. 107v, Registo de batismo de Maria filha de Maurício Mossine e de Joana Maria Zanebune, ambos italianos,
“Em dezoito de julho de mil e setecentos e outenta e quatro baptizei e pus os Santos Olios a Maria que nasceo em treze do
dito mes filha de Mauricio Mossine e sua mulher Joana Maria Zanebune. Neta paterna de Thomas Mosine e sua mulher Maria
Guica e Neta materna de Francisco Zanebune e de Mariana Catrina Rafe todos do Reino de Ithalia. Forão padrinhos Nossa
Senhora do Carmo e o Prior desta villa Alexandre de Melo e tocou com prenda da Senhora Fr. Bazilio religioso do Carmo
desta villa e para constar fis este acento que asignei. (a) O Cura Joze Vicente Leitão de Lemos. (a) Joze Mimozo. (a) Jozé
Mendes de Almeida”.

26 A.D.L., L.B.F.V. [1790-1803], Dep. IV-33-E-44, assento n.º 1, fl. 75v, Registo de batismo de António filho de Manuel Moliner
e de Teresa Martins de Segorbe atual província de Castellón em Espanha, “Em outo de dezembro de mil setecentos, e
noventa e coatro annos batizei e pus os Santos Olios a Antonio que nasceo a tres do dito mes filho de Manoel Moliner e de
Treza Martins da sidade de Segorbe Reino de Valença, neto paterno de Joze Moliner, e de Jozefa Ganazias da dita sidade
de Segorbe, e neto materno de Estevão Martins, e de Francisca Montanhes da mesma sidade de Segorbe. Forão padrinhos
Marcos da Costa da sidade de Castello Branco, e Nossa Senhora do Rozario, e tocou com prenda sua Pedro Joze da Costa
da sidade de Coimbra, e para constar fis este asento que asignei, com as testemunhas: Joze Mendes Jordão e Joze Curado
desta villa. (a) Alexandre de Mello de Abreu Prior. (a) Jozé Mendes de Almeida Jordam. (a) Jozé Curado”. É de salientar a
importância dessa região de Espanha no contexto do fabrico de papel, conforme refere D. Antonio Ponz no século XVIII,

103
da presença de elementos da família Gambino ligados ao fabrico do papel em Portugal, até à primeira
década do século XIX.

Reconhecemos, através de uma escritura lavrada no dia 25 de junho de 1825, de contrato de ajuste e
obrigação que fez Francisco Lopes Marques, mestre de obras, de Torres Novas, com Bento Ardisson
de Lisboa, e onde esteve também presente Miguel dos Santos Fartura, mestre pedreiro e canteiro,
afirmando-se que “elle se achava ajustado e contratado com o dito Bento Ardissom a lhe mandar fazer
no Estabelecimento da dita Fabrica e mando que já consta de escrituras anteriores feitas” diversas
obras que se detalham nessa escritura. Salientamos o facto de nessa escritura surgir como testemunha,
Manuel António Pinheiro, Mestre de Engenhos da Fábrica.27 É precisamente numa outra escritura,
lavrada em 23 de agosto de 1825, de contrato de ajuste da obra que fez novamente Francisco Lopes
Marques, com Bento Ardisson de Lisboa, que figura como testemunha, Lourenço Gambino, Mestre
da Fábrica do Papel.28 Nessa escritura, apresenta-se “Jeronimo Herculano assistente nos Cazais de
Marta Annes, este em nome e como procurador de Bento Ardissom e Companhia, Dono da Fabrica
de Papel que se está edificando junto a nassente do Rio Almonda lemite dos mesmos Cazais deste
termo”, tendo sido mandado fazer a Francisco Lopes Marques, entre outras coisas “huma parede desde
a Fabrica athe a serra e aproveitandoce hum bocado que já esta feito cuja parede com o competente
maçame deve ter dezacette palmos de altura e livre de graço toda construída de cal e saibro, e deve
ter de comprido cento e setenta e cinco palmos”.

Em 1825, a Fábrica do Papel na Zibreira estava a ser edificada, todavia cremos que o fabrico do
papel já aqui se praticava em 1816, uma vez que Lourenço Gambino, filho de Nicolau Manhêta e
Maria Gambina, havia casado nesta freguesia em 1818, com Maria Gambina, e seu filho Vicente
Gambino havia sido batizado em 1817, conforme ficou arrolado no registo de legitimação datado de
22 de dezembro de 1841.29 Em 22 de setembro de 1845, celebrou-se o batismo de Lourenço, filho de

“Junto á la Villa de Altura, situada entre Valde-Christo, y Segorge, pertenciente á dicha Cartuxa, tiene la Comunidad molinos
de papel, y se fabrica de buena calidad”, PONZ, D. Antonio, Viagem de España…, p. 191.

27 Arquivo Distrital de Santarém [A.D.S.], Livro Notarial de Torres Novas, Livro 25 [tabelião Diogo Rafael Correia Pimenta], fl. 39-40.

28 A.D.S., Livro Notarial de Torres Novas, Livro 26 [tabelião Diogo Rafael Correia Pimenta], fl. 7v-8.

29 A.D.S., Livro de Batismos da Zibreira [1841-1859], Piso 0, assento n.º 1, fls. 3v-4, “˂ Fabrica de papel. Vicente filho de
Lourenço Gambino ˃ Aos vinte e dois dias do mes de dezembro de mil oitocentos e quarenta e hum annos. Abri o assento do
baptismo de Vicente filho de Lourenço Gambino e Maria Gambina assistentes nesta freguezia de S. Sebastião do lugar da
Zibreira, Arciprestado de Torres Novas, e isto o fis por ordem superior que recebi cuja ordem he da forma seguinte. O Doutor
Luis da Cunha Barreto prezidente da Relação Eccleziastica e Provizor Vigario Geral do Patriarchado pello Eminentissimo
Prelado. Ao Reverendo Parocho da freguezia da Zibreira faço saber que por parte de Lourenço Gambino e sua molher Maria
Gambina recebidos na freguezia de Serve na cidade de Genova, e moradores na freguezia da Zibreira, foi reprezentado que
antes de seu matrimonio havião tido hum filho que foi baptizado na mesma freguezia por filho de paes incógnitos nascido
no dia quatro de novembro de mil oitocentos e dezasete com o nome de Vicente; e porque o mesmo seu filho se achava
legitimado pello subsequente matrimonio dos justificantes seus pais, celebrado no anno mil oitocentos e dezoito: pedirão que
se lavrasse assento com declaração dos nomes, e cazamento dos justificantes seus pais – e attendendo a seu requerimento
documentos; justificação, e resposta final, se expedio a prezente pella qual mando ao Reverendo Parocho da freguezia da
Zibreira que abra assento de baptismo na forma requerida. Dada em // [fl. 4] Em Lisboa, sob meu signal aos quatro de agosto
de mil oitocentos, e quarenta e hum. Jozé Maria de Souza Couceiro Secretario da Camara Ecclesiastica o escrevi. Luis da

104
Vicente Gambino e de Ana Manhêta, ambos fabricantes de papel nessa fábrica e familiares do mestre
Lourenço Gambino.30 Achámos também, outros indivíduos que assistiam nessa época na Fábrica do
Papel, sobretudo, Francisco César Pereira cônjuge de Maria José, oriundos de Lisboa, e que aqui
batizaram em 11 de fevereiro de 1844, sua filha Júlia31; Boaventura Rodrigues Gaivoto, marido de
Maria Amália Gaivoto, oriundos de Lisboa, e que aqui batizaram, em 5 de setembro de 1847, seu filho
Luís32; João Fernandes Peixe33, fabricante de papel, natural da Ponte Quadiz na Lousã, cônjuge de
Maria Júlia do lugar de Almonda, conforme registo de óbito de seu filho João datado de 25 de outubro
de 1884; e Maria Jacinta34, fabricante de papel, que aqui faleceu em 1 de julho de 1885, entre tantos
outros nomes.

Cunha Barreto – Ordem ao Reverendo Parocho da freguezia da Zibreira para abrir assento de baptismo de Vicente Gambino.
E não se continha mais em a dita ordem. (a) O Cura João Alves dos Santos”.

30 Ibidem, assento n.º 3, fl. 7v, “˂ Lourenço filho de Vicente Gabino [sic] ˃ Aos vinte e dois dias do mes de setembro de mil
e oitosentos e corenta e sinco o actual Paroco Manoel Lopes de Santa Helena desta freguezia de S. Sebastião da Zebreira
digo, batizei e pus solemnemente os Santos Oleos a Lourenço filho legitimo de Vicente Ganbino e Anna Manhenta neto
paterno de de [sic] Lourenço Ganbino e Maria Gunbina digo Ganbina, neto materno de Niculao Manheta e Maria Ganbina.
Forão padrinhos Lourenço Ganbino e Maria Ganbina, nasceo o dito batizado no dia sinco do mes supra e para constar lavrei
este acento era dia mes e anno ut supra. (a) O Cura Manoel Lopes de Santa Teresa”. Chamou-se Lourenço Augusto Gambino
tendo pedido isenção do serviço de recrutamento para que foi apurado em 1866, pela freguesia da Zibreira alegando ser
súbdito italiano, pois havia-se naturalizado italiano (O Direito - Revista de Jurisprudência e Legislação…, Op. Cit. p. 445).

31 Ibidem, assento n.º 2, fls. 7v-8, “˂ Moinho da Fonte. Julia. ˃ Aos honze dias do mes de fevereiro de fevereiro de mil
oitocentos e quarenta e quatro annos baptizei solemnemente a Julia que nasceo a des de janeiro // [fl. 8] filho de Francisco
Cezar Pereira, e Maria Joze assistentes na Fabrica de Papel do Moinho da Fonte, desta freguezia e elle natural e baptizado
na freguezia de Maravilla [sic], e ella natural de Lisboa, baptizada na freguezia de S. Joze e na mesma recebida: avos
paternos, Francisco Pereira, e Ombelina Roza, e maternos Pedro Lourenço, e Maria Getrudes. Foi padrinho Francisco
Antonio Parreiras da Ribeira, e madrinha Nossa Senhora do Rozario: e por verdade fis este assento que asigno. (a) O Padre
João Alves dos Santos”.

32 Ibidem, assento n.º 1, fl. 17, “˂ Luiz filho de Boaventura Rodriguez Gaivoto. Fabrica do papel. Moinho da Fonte. ˃ Aos cinco
de setembro de mil oitocentos e quarenta e sete nesta Igreja de S. Sebastião da Zibreira, baptizei solemnemente a Luiz, que
nasceo em dezeseis + ˂ de maio ˃ do dito anno filho legitimo de Boaventura Rodrigues Gaivoto e de Maria Amália Gaivoto,
residentes na Fabrica de Papel desta freguezia, neto paterno de Antonio Rodrigues Gaivoto, e de Maria Thereza Pereira da
Rocha. Foi padrinho Luiz Antonio de Lisboa; pelo qual tocou com procuração Lourenço Gambino, e madrinha Nossa Senhora,
por quem tocou Augusto, irmão do dito menino Luiz, nascido em dezeseis de maio (ut supra). Por verdade fiz este termo, que
assignei. Dia, mez, e era, ut supra. Na falta de Parocho. (a) O Padre Domiciano Joze Alvarez. Nota: o dito menino Luiz he neto
materno de Domingos Antonio Sedreira”. Para o estudo da família Gaivoto vejam-se os elementos constantes no testamento
de António Rodrigues Gaivoto, lavrado em 8 de outubro de 1840 e aberto em 23 de outubro desse ano, Arquivo Distrital de
Viana do Castelo, Administração do Concelho de Viana do Castelo, Registo de Testamentos, Livro de Registo de Testamentos
1840-1841, testamento de António Rodrigues Gaivoto.

33 A.D.S., Livro de Óbitos da Zibreira [L.O.Z.] [1884], Piso 0, assento n.º 1, fl. 3.

34 A.D.S., L.O.Z. [1885], Piso 0, assento n.º 3, fl. 1v, “No primeiro dia do mez de julho do anno de mil oitocentos oitenta e
cinco, ás septe horas da tarde em sua caza, n’este lugar e freguezia da Zibreira, concelho de Torres Novas, diocese de
Lisboa, falleceu tendo recebido os Sacramentos da Sancta Madre Egreja, um individuo do sexo feminino, por nome = Maria
Jacyntha, fabricante de papel, de sessenta annos de edade, solteira, natural e moradora d’esta freguezia, filha legitima de
Antonio d’Oliveira, trabalhador, natural da freguezia da Ribeira Branca d’este concelho e diocese e de Maria do Rozario
Jacyntha, domestica, natural d’esta freguezia; a qual não fez testamento, não deixando filhos, e foi sepultada, no cemiterio
publico d’esta freguezia. E para constar lavrei em duplicado este assento que assigno. Era ut supra. O Parocho = (a) Padre
Jozé Rodrigues Netto”.

105
4. O FABRICO DO PAPEL NO PRADO: AS FAMÍLIAS TESTA E GAMBINO

A presença da família Gambino na região de Tomar35 é-nos dada a conhecer através do registo de
óbito de Ana Maria Manhêto36, ocorrido em 15 de agosto de 1825. Dias depois e em 21 de agosto
desse ano, falecera Nicolau Manhêta37, mestre da Fábrica do Papel no Prado (c. Tomar), viúvo da
referida Ana Maria Manhêto.

Através deste registo reconhecemos que estamos na presença dos pais de Lourenço Gambino, o qual,
como já aludimos, se encontrava nesse ano a trabalhar na Fábrica do Papel na Zibreira (Fig. 1).

Figura 1 - Marca de água da fábrica de papel de Tomar em 1856, Cartório Notarial de Figueiró dos
Vinhos, 4.º Ofício, Livro de Notas 1856-1859, Dep. V-54-E-45, PT/ADLRA/NOT/CNFVN4/1/18
(Imagem cedida pelo Arquivo Distrital de Leiria)

35 Seja-nos permitido referenciar o estudo, PORTELA, Miguel, “A indústria papeleira na região de…, Op. Cit., pp. 181-200.

36 A.D.S., Livro de Óbitos de Carregueiros [L.O.C.] [1821-1859], Piso 0, assento n.º 6, fl. 10, “˂ Prado – Anna Maria Manhêta
˃ Aos quinze dias do mês d’agosto de mil oitocentos, e vinte e cinco faleceu Anna Maria Manhêta, Genovês, e molher de
Nicoláo Manheto, Mestre da Fabrica do Papel, tinha de idade sessenta annos reçebeu tam somente o Sacramento da Extrema
Unçam porque não chamaram para os mais, e foi sepultada na Capela da Senhora das Neves do Sobreirinho desta mesma
freguezia de Carregueiros, Prelazia de Thomar de que fis este assento, dia, mes, era ut supra. (a) O Vigario Encomendado
Padre Francisco Pinto d’Oliveira Furtado”.

37 Ibidem, assento n.º 7, fls. 10-10v, “˂ Prado – Nicoláo Manhêto ˃ Aos vinte e hum dias do mês d’agosto de mil oitocentos e
vinte e cinco // [fl. 10v] E cinco faleceu Nicoláo Manhêto, Genovês, de idade cincoenta e nove annos, reçebeu os Sacramentos
da Penitencia, Eucharistia, e Extrema Unção, e foi sepultado na Capela da Senhora das Neves do lugar do Sobreirinho desta
freguezia de S. Miguel de Carregueiros, Prelazia de Thomar de que fis este assento que asignei. (a) O Vigario Encomendado
Padre Francisco Pinto d’Oliveira Furtado”.

106
Reconhecemos também, outros elementos desta família, sobretudo, Bartolomeu Testa e sua espoa
Antónia Gambina, que assistiam na Fábrica do Papel no Padro, conforme registo de óbito de alguns
dos seus filhos, nomeadamente de Silvério38, que faleceu em 5 de agosto de 1839; de Maria39, que
faleceu em 20 de agosto de 1839 e de Francisca40, que faleceu em 8 de junho de 1847. Sabemos
também que Nicolau Testa41, natural de Génova, e filho de Bartolomeu Testa e de Antónia Gambina,
casou em 30 de junho de 1844, em Carregueiros, com Inocência Maria de Alviobeira, tendo assistido
como padrinho Pedro de Roure Pietra. Deste enlace, nasceram entre outros filhos, Rosa, que foi
batizada em 3 de dezembro de 1846, afirmando nesse ato que seus pais eram residentes na Fábrica
do Prado.42 Em 3 de novembro de 1852, Nicolau Testa, viúvo, e assistente no Prado, casou na mesma
freguesia, com Emília da Costa, filha de José António da Costa e de Florência Maria da Costa.43

Achámos também, José Lázaro Gambino, filho de Pelegro Gambino e de Benedita Barbarussa, que
contraiu matrimónio em 6 de fevereiro de 1848, em Carregueiros, com Carolina Rosa, e que residiam
ambos na Pedreira.44 Desta união nasceu, entre outros filhos, uma menino45 que faleceu em 9 de junho

38 Ibidem, assento n.º 6, fls. 38-38v.

39 Ibidem, assento n.º 1, fl. 38v.

40 Ibidem, assento n.º 5, fl. 47v.


41 A.D.S., Livro de Casamentos de Carregueiros [L.C.C] [1813-1859], Piso 0, assento n.º 2, fl. 31, “˂ Prado – Nicolao Testa
e Innocencia Maria ˃ Aos trinta de junho de mil oitocentos quarenta, e quatro á porta principal da Parochial de S. Miguel de
Carregueiros, Prelazia de Thomar, depois de entregue dp alvará de justificação da Camara Eclesiastica, e satisfeito tudo
segundo a lei; na prezença das testemunhas, padrinhos, abaixo declaradas, se receberão por marido e mulher, em minha
prezença – Nicolao Testa, e Innocencia Maria, ambos rezidentes desde tenra idade nesta dita freguezia e filhos, elle de
Bartholomeu Testa, e Antonia Gambina Testa, natural, e seus pais de Genova, e baptizado na freguezia de S. Tiago em
Vultre: ella da freguezia de Alviobeira desta dita Prelazia, e filha de Joze Antonio das Neves, já defunto e de Maria Thereza.
Padrinhos – Pedro de Roure Pietra, e Thome da Silva, ambos de Thomar. E para constar fis este assento. (a) O Prior Miguel
Nunes Ferreira de Carvalho”.

42 Idem, Livro de Batismos da Zibreira [1841-1859], Piso 0, assento n.º 28, fl. 21v

43 Ibidem, L.C.C. [1813-1859], Piso 0, assento n.º 6, fl. 61, “˂ Pedreira – Nicolao Testa e Emilia ˃ A tres de novembro de mil
oitocentos sincoenta e dois á porta principal da Parochial de S. Miguel de Carregueiros, Prelazia de Thomar, depois de tudo
prompto legalmente; na minha presensa e das testemunhas Martinho Jozé Baptista Teixeira, e Antonio Jacinto Pereira de
Almogadel, freguezia dos Casaes aqui proxima, e o dito Teixeira de Thomar, se receberão por marido e mulher, Nicolao Testa,
viuvo de Innocencia Maria, asistente no Prado, e Emilia da Costa, solteira, da Pedreira, tudo desta freguezia, despençados em
terceiro e 4.º grão de afinidade, ella filha legitima de Jose Costa, e de Florencia Maria, já defunta, elle de Bartolomeu Testa, e
Antonia Maria. O Prior: (a) Miguel Nunes Ferreira de Carvalho. (a) Martinho Joze Baptista Teixeira. (a) Antonio Jacinto Pereira”.

44 Ibidem, assento n.º 1, fl. 55v, “˂ Pedreira. 1848. Jozé Lazaro e Carolina ˃ A seis de fevereiro de mil oitocentos quarenta
e oito a porta principal da Parochia de S. Miguel de Carregueiros junto a tarde depois de tudo satisfeito segundo a Lei se
reseberão por marido e mulher Jozé Lazaro Gambino e Carolina Roza, solteiros, elle natural de da [sic] freguezia de Santonio
de Melle da villa de Vultre, de Genova, Reino da Sardenha, filho legitimo de Pelegro Gambino, e Benedita Barbarussa, elle
da Pedreira desta freguezia, filha de Joze Ferreira Mendes, e Barbara da Costa. Testemunhas = Joze Antunes e Jacinto filho
de Carregueiros. (a) O Prior Miguel Nunes Ferreira de Carvalho. (a) Do dito Joze Antunes +. (a) Do dito filho Jacinto +”.

45 Idem, L.O.C. [1821-1859], Piso 0, assento n.º 11, fl. 2v, “˂ Pedreira – Uma criansa de Jozé Lazaro ˃ A nove de junho de mil
oitocentos quarenta e nove faleceo um minino resem [sic] nascido filho de Joze Lazaro, e Carolina sua molher, da Pedreira;
em cujo Adro foi sepultado da freguezia de S. Miguel junto a Thomar. (a) O Prior Miguel Nunes Ferreira de Carvalho”.

107
de 1849; Benedita46, batizada em 29 de dezembro de 1850; António47, batizado em 3 de outubro de
1852, e Ana Gambino48, batizada em 5 de junho de 1854. Ana Gambino49 veio a estabelecer-se em
Alcobaça onde casou em 30 de outubro de 1878, com José António de Sousa, natural da Golegã,
tendo deste enlace, nascido Áurea, cujo batismo foi realizado em 29 de março de 1880 (Quadro 1).50

Não é de excluir a possibilidade de José Lázaro Gambino ter também trabalhado na Fábrica do Papel
no Prado, atendendo ao facto de os padrinhos de batismo de sua filha Ana Gambina terem sido
“Nicolao Testa e sua irmã Ana, ambos do Prado, junto a esta dita Pedreira”. Estes eram primos de
José Lázaro Gambino, uma vez que sua mãe, Antónia Gambino, casada com Bartolomeu Testa, era
irmã de Pelegro Gambino, seu pai.

5. A FAMÍLIA TESTA E O FABRICO DO PAPEL NO SOBREIRINHO

Em 28 de outubro de 1841, a Revista Universal51, dava conta do método abreviado de preparar


a massa de papel, incentivando os lavradores a cultivar maior porção de linho, justificando o
seu emprego na produção de papel de modo asseverava, a “podermos deixar de comprar papel
estrangeiro, senão que ainda talvez a alguns o possamos vender”. É precisamente nesta época que
são estabelecidas em Portugal, um número considerável de Fábricas do Papel.

Em 1855, José Silvestre Ribeiro publicou, na Secção do Contencioso Administrativo, algumas notas
breves sobre as Fábricas de Papel que laboravam em Portugal. De acordo com este autor, no distrito
de Leiria a produção de papel localiza-se nos concelhos de Alcobaça e Porto de Mós. Tenhamos
presente que a grande produção papeleira de Portugal, nesta data, estava situada no Norte de

46 Ibidem, assento n.º 5, fl. 33v.

47 Idem, Livro de Batismos de Carregueiros [L.B.C.] [1842-1859], Piso 0, assento n.º 26, fls. 41-41v, “˂ Pedreira – Antonio
filho de Joze Lazaro. Morreo. 26. ˃ A tres de 8bro [outubro] de mil oitocentos sincoenta e dois, na Parochial de S. Miguel,
junto a Thomar, baptizei solemnemente e pus os Santos Oleos a Antonio, nascido a vinte do proximo 7bro [setembro], filho
legitimo de Joze Lasaro Gambino, e Carolina Rosa, moradores na Pedreira desta freguezia; ella daqui, elle da freguezia de
Santo Antonio de Melle, em Genova: Neto paterno de Pelegro Gambino, e Benedita Barbarussa da dita Genova, Reino da
Serdenha [sic]: neta materna de Joze Ferreira Mendes, e Barbara da Costa, ambos da mesma Pedreira. Padrinhos: Antonio
// [fl. 41v] Antonio João, solteiro, e Maria Thereza, viuva, ambos da referida Pedreira. Testemunhas: Sacristão e Joze Sotil do
dito Carregueiros. O Prior: (a) Miguel Nunes Ferreira de Carvalho. (a) Do dito Joze Sotil esta Crus + (a) Felisberto, Sacristão”.

48 Ibidem, assento n.º 16, fls. 40v-41, “˂ Pedreira – Ana de Joze Lazaro e Carolina ˃ Aos sinco de junho de mil oitocentos
sincoenta, e quatro, na Capella da Pedreira, com a devida auctorização, baptizei, e pus os Santos Oleos a Ana, nascida a
dezasete de maio, filha legitima de Joze Lazado, e Carolina Roza, asistentes na Pedreira desta freguezia, elle do Reino e
cidade de Genova, da freguezia de Santo Antonio de Melle: ella da dita Pedreira. Neto paterno de Pelegro Gambino, e de
Benedita Barbarusa // [fl. 41] Neta materna de Joze Ferreira Mendes e Barbara da Costa, ambos da dita Pedreira. Padrinhos
Nicolao Testa e sua irmã Ana, ambos do Prado, junto a esta dita Pedreira. Testemunhas: Joze Canha, e Francisco Canha da
mesma Pedreira. O Prior: (a) Miguel Nunes Ferreira de Carvalho. (a) Joze Nunes Canha. (a) De Francisco + Canha”.

49 A.D.L., Livro de Casamentos de Alcobaça [1877-1884], Dep. IV-24-A-47, assento n.º 9, fl. 10v.

50 Idem, Livro de Batismos de Alcobaça [L.B.A.] [1877-1880], Dep. IV-24-A-26, assento n.º 7, fls. 48v-49.

51 Revista Universal. Chronica Judicial Artistica, Scientificia, Litteraria, Agricola, Commercial e Economica de todo o mundo,
n.º 5, de 28 de outubro de 1841, pp. 51-52.

108
Portugal, distrito de Aveiro, localizando-se na Feira (c. Santa Maria da Feira), o maior número de
fábricas de papel, onze. No distrito de Braga, o único centro fabril referenciado localizava-se em
Guimarães. Para além do distrito de Coimbra, onde existiam duas fábricas de papel: uma em Góis e
outra na Lousã, existiam no distrito de Santarém, quatro grandes unidades fabris: duas localizadas
em Tomar, e outras duas em Torres Novas. Por fim, no distrito de Lisboa, duas grandes fábricas
produziam papel: uma em Alenquer, e outra nos Olivais (Abelheira).52 Ficamos assim a saber que
laboravam nesse ano, duas fábricas em Tomar, uma no Prado – a que já nos referimos antes –, e
outra no Sobreirinho. A presença da família Testa relativa à Fábrica do Papel no Sobreirinho, é-nos
revelada em 6 de novembro de 1859, quando Nicolau Testa e de Emília da Costa, ambos assistentes
na sua Fábrica de Papel, batizaram sua filha Custódia.53 De igual modo, em 10 de fevereiro de 1861,
foi batizada uma outra sua filha chamada Maria, surgindo Nicolau Testa, como proprietário da sua
Fábrica do Papel, no Sobreirinho.54 Pouco meses de vida teve Maria55, pois faleceu em 30 de maio
desse ano. Em 29 de junho de 1862, Nicolau Testa batizou sua filha Iria, arrolando-se nesse registo
que seus avós paternos residiam, “em sua fabrica de papel ali no rio” (Quadro 2).56

52 RIBEIRO, José Silvestre, Secção do Contencioso Administrativo, Colligidas e Explicadas, Lisboa, Imprensa Nacional,
1855, t. II, pp. 238-239.

53 A.D.S., L.B.C. [1842-1859], Piso 0, assento n.º 20, fl. 26, “˂ Pedreira – Costodia de Nicolao ˃ A seis de novembro de mil
oitocentos sincoenta e nove, na Capella da Pedreira freguezia de S. Miguel, com minha licença baptizou o Reverendo Padre
Manoel Ventura, das Areas, Capellão respectivo a Costodia, nascida a vinte e tres do proximo setembro, filha legitima de
Nicolao Testa, e Emilia da Costa, 2.ª mulher. Neta paterna de Bartolomeu Testa e Antonia Gambina asistentes na sua Fabrica,
aqui proxima, e naturaes, elle avó, e o referido pai, de S. Tiago em Vultri, ella de Santo Ambrozio de Genova, tudo do Reino
da Sardenha, a dita mai he natural da Pedreira, onde rezidem, e natural de Joze Antonio da Costa, e Florencia da Costa,
falecidos, e da dita Pedreira. Padrinhos: Francisco da Silva, solteiro, dos Calvinos, freguezia dos Cazaes, e Costodia filha de
Francisco Ribeiro da dita Pedreira. Testemunhas: Feliciano de Goes, e Jacinto Bernardo, da mesma Pedreira. O Prior: (a)
Miguel Nunes Ferreira de Carvalho. (a) De Feliciano de Goes +. (a) De Jacinto + Bernardo”.

54 Idem, L.B.C. [1860-1865], Piso 0, assento n.º 8, fl. 4, “˂ Pedreira – Maria de Nicolao, e Emilia Costa. N.º 8. Dia 10 do mez
de fevereiro anno de 1861 ˃ Aos dez dias do mez de fevereiro do anno de mil oitocentos sessenta e um, por trez horas da
tarde na Capella da Pedreira, freguezia de Sam Miguel de Carregueiros, Prelazia Nullius Diocesis, e concelho de Thomar,
com minha licença e devida auctorização, o Reverendo Capellão Joze Lopes, do Pinheiro, de Sam Pedro aqui perto, baptizou
solemnemente e pos os Santos Oleos a uma criança do sexo femenino, a que deu o nome de Maria, que nasceo no primeiro
de janeiro deste anno, por sete horas da tarde filha legitima e primeira deste nome de Nicolao Testa, proprietario, e de Emilia
Costa, de profissão domestica, recebidos na dita Capella e moradores na dita Pedreira, ella daqui, elle de Sam edro em
Vultre, Reino de Genova, neta paterna de Bartholmou Testa e Antonia Maria recebidos no dito Sam Pedro, e dahi naturaes, e
moradores em sua fabrica de papel, no Subreirinho aqui vezinha, e materna de Joze Antonio da Costa, e Florencia Maria, já
falecidos, naturaes e moradores, e tambem recebidos, na dita Pedreira. Padrinhos: Francisco da Silva, solteiro, proprietario,
natural e morador em Alviobeira, aqui perto, e Maria da Conceição, tia paterna, aos quaes todos conheço serem os proprios.
E para constar lavrei em duplicado o presente assento de baptismo, que depois de ser lido, e conferido perante os padrinhos
comigo assignarão. Era ut supra. Os padrinhos (a) Francisco da Silva e (a) Maria da Conceição. O Prior Collado, que
actoalmente rezido neste freguezia (a) Miguel Nunes Ferreira de Carvalho”.

55 Idem, L.O.C. [1860-1865], Piso 0, assento n.º 4, fl. 2v, “˂ Pedreira – Maria filha de Nicolao Testa e Emilia. N.º 4. Dia 30
do mez de maio anno de 1861 ˃ Aos trinta dias do mez de maio do anno de mil oitocentos sessenta e um por trez horas da
tarde no logar da Pedreira desta freguezia de Sam Miguel de Carregueiros, Prelazia Nullius Diocesis e concelho de Thomar,
falleceo Maria de idade sinco mezes, filha legitima de Nicolao Testa, e Emilia Costa moradores na dita Pedreira, neta paterna
de Bartholomeu Testa, e Antonia Testa moradores na sua fabrica de papel aqui vezinha, e materna de Joze da Costa, e
Florencia Besteira, já falecidos na mesma Pedreira. E para constar lavrei este assento em duplicado que assignei. Era ut
supra. O Prior Collado: (a) Miguel Nunes Ferreira de Carvalho”.

56 Idem, L.B.C. [1860-1865], Piso 0, assento n.º 20, fl. 8v-9, “˂ Pedreira – Iria de Nicolao, e Emilia Costa. N.º 20. Dia 29 do

109
6. A FAMÍLIA GAMBINO E O FABRICO DO PAPEL EM RIO ALCAIDE

Conforme vimos expondo, a família Gambino, esteve presente nas primeiras décadas do século XIX,
em várias Fábricas do Papel, nomeadamente na Zibreira, no Sobreirinho e no Prado. Todavia, esta
família, encontrava-se na segunda metade do século XIX a trabalhar na Fábrica do Papel em Alcobaça
e na Fábrica do Papel em Rio Alcaide (c. Porto de Mós).

Entre os anos de 1840 a 1850, fabricava-se papel em Rio Alcaide, conforme se atesta nos mapas
concelhios, sendo João Coelho o seu proprietário. Todavia, é possível que já se produzisse papel em
1838, pois a existência de marcas de águas com o perfil de um castelo e o nome de Porto de Mós,
é visível nos Livros de Registos Paroquiais da freguesia de S. João Batista dessa vila, desse ano.
Conhecem-se alguns mestres de papel que nela laboraram, entre os quais, o próprio João Coelho,
António Branco e seu irmão José Branco, João Jorge e António Bernardes.57

Anos mais tarde, e em 25 de maio de 1874, foi celebrado em Porto de Mós o casamento de Pelegro
Gambino58, natural de Santo Ambrósio de Voltri, com Isabel da Costa Mendes, da Carrasqueira, ambos
moradores em Rio Alcaide, surgindo como testemunhas, nesse ato, José Gambino e João Batista

mez de junho anno de 1862 ˃ Aos vinte e nove dias do mez, de junho do anno de mil oitocentos sessenta e dous, com a
devida auctorização na Igreja da Pedreira desta freguezia de Sam Miguel proximo de Thomar, baptizei solemnemente a um
individuo do sexo femenino a quem dei o nome de Iria, que nasceu por duas horas da noite do dia trez, do dito junho, filha
legitima, e primeira deste nome, e de Nicolao Testa, proprietario, e de sua segunda mulher Emilia da Costa, recebidos e
moradores na dita Pedreira, ella daqui natural, elle de Sam Pedro em Vultri, no Reino de Genova, neta paterna de Bartolomeu
Testa, e Maria Antonia, com sua fabrica de papel ali no rio, e naturaes, e recebidos em o dito Sam Pedro, e materna de Joze
Antonio da Costa, proprietario, e Florencia Maria, ambos da dita Pedreira. Foi padrinho: // [fl. 9] o dito Bartolomeu, e Maria
Roza irmã da baptizada. E para constar lavrei em duplicado este assento que depois de ser lido e conferido perante os
padrinhos comigo assignaram. Era ut supra. O Padrinhos: (a) Bartolomeu Testa; (a) Maria Roza. O Prior Collado: (a) Miguel
Nunes Ferreira de Carvalho”.

57 Para um estudo mais aprofundado seja-nos permitido referenciar o nosso estudo PORTELA, Miguel, “A indústria papeleira
na região de Leiria… Op. Cit., p. 183.

58 A.D.L., Livro de Casamentos de Porto de Mós - S. João Batista [1868-1883], Dep. IV-44-C-58, assento n.º 5, fls. 34v-35,
“Em os vinte e cinco dias do mez de maio de mil outocentos e setenta e quatro annos pelas nove horas da manhaa, nesta
Parochial Igreja de São João Baptista da villa, concelho, e destricto Ecleziastico de Porto de Moz, diocese de Leiria, por
Provizam e dispença de proclames mandada passar, e assignada pello Excelentissimo Doutor Antonio Ferreira Miranda
Oliveira Chantre da Sé de Leiria, e Vigario Cappitular do Bispado Sé de Vacante, na minha prezença comparecerão os
nubentes, Pelegro Gambino, e Izabel da Costa Mendes, os quaes sei serem os proprios com todos os documentos do estillo
correntes e sem impedimento algum canonico, ou civil para o seu cazamento, elle de idade de vinte e quatro annos, solteiro, e
natural de Génova, freguezia de Santo Ambrozio de Vultre na Italia, hoje rezidente em Rio Alcaide de Porto de Moz, freguezia
de Sam João Baptista, sendo baptizado na sua freguezia de Vultre filho legitimo de Estevam Gambino e de Thereza Monteira
Gambina da dita Provincia de Génova da Italia, ella de idade de trinta e outo annos solteira natural de Thomar freguezia de
Sam Miguel da Carrasqueira onde foi baptizada e actualmente moradora em Rio Alcaide freguezia de Sam João Baptista de
Porto de Moz filha legitima de Joze Mendes e de Bárbora da Costa natuares da freguezia de Sam Miguel da Carrasqueira,
Prelazia de Thomar, os quaes nubentes se receberão por marido e mulher e os uni em matrimonio procedendo em todo este
acto segundo o rito da Santa Madre Igreija Cattolica Apostólica Romana e forão testemunhas: José Gambino, cazado, thio
do nubente e João Baptista Gambino, cazado, irmão do nubente moradores em Alcobaça. E para // [fl. 35] constar lavrei em
duplicado este assento que depois de ser lido e conferido perante os conjugues e testemunhas com todos asignei, era ut
supra. (a) O Prior Encomendado Joaquim Pedro Pinto Gorjão. (a) Pelegro Gambino. (a) Joze Gambino. (a) João Baptista”.

110
Gambino, ambos moradores em Alcobaça. Deste casamento nasceram entre outros, Francisca59,
batizada em 27 de junho de 1875, tendo assistido em nome do Padrinho, João Batista Gambino, e
madrinha, Ana Gambina, e Joaquina60, batizada em 13 de janeiro de 1879.

Constatamos também, a presença de outros membro da família Gambino em Rio Alcaide, mormente
de João Batista Gambino, artista de papel, e de Maria do Nascimento Jordão, que aqui residiram
e batizaram, entre outros filhos: Benedita61, em 19 de novembro de 1877, tendo assistindo como
padrinhos, António Gambino e Ana Gambina, moradores em Alcobaça; José62, em 7 de maio de 1879;

59 A.D.L., Livro de Batismos da Paróquia de S. João Baptista de Porto de Mós [L.B.P.S.J.B.P.M.] [1870-1878], Dep. IV-
44-C-43, assento n.º 21, fls. 88-88v, “Em os vinte e sette dias do mes de junho de mil oitocentos e setenta e cinco annos, pelas
nove horas da manhãa, nesta Igreja Parochial de São João Baptista da villa, concelho e destricto Ecclesistico de Porto de
Mos, diocese de Leiria, baptizei solemnemente e pus os Santos Óleos a uma menina que tinha nascido no dia dezoito do dito
mes e anno, pelas duas horas da manhãa, e se chamou Francisca filha legitima de Palegro Gambrino e de Izabel da Costa,
moradores em Rio Alcaide d’esta freguezia. Neto paterno de Estevão Gambino e de Thereza Monteira, naturaes e moradores
na freguezia de Valtue [sic] da Italia, e materna de José Mendes e de Barbora da Costa // [fl. 88v] Costa naturaes da freguezia
da Carrasqueira digo da freguezia de São Miguel da Carrasqueira de Thomar. Foram padrinhos Firmo da Trindade Baptista,
tocando com procuração João Baptista Gambino e a madrinha Anna Gambina, solteira e moradores em Alcobaça, os quaes
não assignarão por não saberem. Era ut supra. O Prior Encomendado: (a) Joaquim Pedro Pinto Gorgão”.

60 A.D.L., Livro de Batismos da Paróquia de S. Pedro de Porto de Mós [L.B.P.S.P.P.M.] [1876-1879], Dep. IV-44-D-20, assento
n.º 2, fl. 59v, “˂ N.º 2 Joaquina filha de Pelegro Gambino e de Izabel da Costa Mendes. Em 13 de janeiro de 1879. Azenhas
˃ Aos treze dias do mez de janeiro do anno de mil oitocentos setenta e nove nesta Parochial Igreja de São Pedro da villa
e concelho de Porto de Móz, Diocese de Leiria, baptizei solemnemente um individuo do sexo feminino, a quem dei o nome
de Joaquina e que nasceu nesta freguezia ás tres horas da manhã do dia seis deste corrente mez filha legitima de Pelegro
Gambino, e de Izabel da Costa Mendes, de occupação fabricantes de papel, naturaes - elle da freguezia de Santo Ambrozio
de Vultri, Bispado de Geniva, Reino da Italia, e ella da freguezia de São Miguel da cidade de Thomar, recebidos na freguezia
de São João Baptista desta villa, e ora parochianos desta de São Pedro, moradores nas Azenhas; neta paterna de Estevam
Gambino e de Thereza Monteiro, naturaes da freguezia de S. Antonio de Melle do mesmo Reino de Italia, e materna de
Jozé Ferreira Mendes e de Barbara da Costa, da dita freguezia de São Miguel de Thomar. Foi padrinho Jozé Dias de Abreu,
solteiro, negociante, morador nesta villa e freguezia, e madrinha Joaquina da Piedade mulher de Francisco Catraia, morador
no Rocio desta mesma villa, os quaes todos sei serem os proprios. E para constar lavrei em duplicado este assento, que
depois de ser lido e conferido perante os padrinhos assigno com a madrinha não assignando o padrinho por não saber
escrever. Era ut supra. A madrinha: (a) Joaquina da Piedade. O Prior: (a) Manoel do Espirito Santo”.

61 A.D.L., L.B.P.S.J.B.P.M. [1870-1878], Dep. IV-44-C-43, assento n.º 49, fl. 135v, “Aos dezenove dias do mez de novembro
do anno de mil oitocentos setenta e sete, nesta Egreja Parochial de São João Baptista da villa e concelho de Porto de Mós,
diocese de Leiria, baptizei solemnemente um individuo do sexo feminino, a quem dei o nome de = Benedicta = e que nasceu
nesta freguezia pelas três horas da manhã do dia treze do corrente mez, filha legitima de João Baptista Gambino, artista de
papel, e de Maria do Nascimento Jordão, naturais elle da villa e freguezia de Vultri, diocese de Genuva, no reino da Italia, e
ella da villa e freguezia d’Alcobaça, Patriarchado de Lisboa, onde foram recebidos, e são moradores no logar de Rio Alcaide
desta freguezia, da qual são parochianos: neta paterna d’Estevam Gambino e de Thereza Monteira, e materna de Joaquim
do Nascimento Jordão e de Duluvina Roza. Foram padrinhos Antonio Gambino, e Anna Gambina, solteiros, moradores na
villa d’Alcobaça, os quaes dou fé serem os proprios. E para constar lavrei em duplicado este assento que depois de lido e
conferido perante os padrinhos assignei com os mesmos. Era ut supra. Os padrinhos: (a) António Gambino. Os padrinhos: (a)
Anna Gambino. O Prior Encomendado: (a) Jozé Pereira da Costa”.

62 A.D.L., L.B.P.S.P.P.M. [1879-1881], Dep. IV-44-D-21, assento n.º 21, fl. 7, “˂ N.º 21 Jozé filho de João Baptista Gambino
e de Maria do Nascimento Jordão. Em 7 de maio de 1879. Azenhas ˃Aos sete dias dias [sic] do mez de maio do anno de
mil oitocentos setenta e nove nesta Egreja Parochial de São Pedro da villa e concelho de Porto de Móz, diocese de Leiria,
baptizei solemnemente um individuo do sexo masculino, a quem dei o nome de Jozé, e que nasceu nesta freguezia ás tres
horas da manhã do dia do dia [sic] vinte e dois do proximo passado mez de abril, filho legitimo de João Baptista Gambino,
fabricante de papel, e de Maria do Nascimento Jordão, naturaes, elle da freguezia de Santo Ambrozio de Vultri, do Reino
de Italia, diocese de Genova, e ella da freguezia do Santissimo Sacramento da villa d’Alcobaça, onde foram recebidos,
parochianos desta de São Pedro, e moradores no logar das Azenhas; néto paterno de Estevam Gambino, e de Thereza
Monteiro, da dita freguezia de Santo Ambrozio de Vultri, e materno de Joaquim do Nascimento Jordão e de Ludivina Roza, da

111
e Augusta da Conceição63, em 17 de maio de 1881, tendo assistido em nome da madrinha, Francisco
Gambino, fabricante de papel, morador em Alcobaça. Relevantes estes factos, pois demonstram
a mobilidade da família Gambino, por toda a região estremenha, marcando presença em todas as
Fábrica do Papel da região (Fig. 2).

Figura 2 - Marca de água da fábrica de papel de Porto de Mós em 1841, Cartório Notarial de Porto
de Mós, 1.º Ofício, III,10/E/10, PT/ADLRA/NOT/CNPMS1/001/0010
(Imagem cedida pelo Arquivo Distrital de Leiria)

villa d’Alcobaça. Foi padrinho Jozé Antonio Dias de Abreu, solteiro, proprietario, morador nesta villa, e freguezia, e madrinha
Joaquina da Piedade Catraia, casada, logista, moradora no Rocio desta villa, os quaes todos sei serem os proprios. E para
constar lavrei em duplicado este assento, que depois de ser lido, e conferido perante os padrinhos, assigno com a madrinha,
não assignando o padrinho por não saber escrever. Era ut supra. A madrinha: (a) Joaquina da Piedade Catraia. O Prior: (a)
Manoel do Espirito Santo”.

63 Ibidem, assento n.º 29, fl. 53, “˂ N.º 29 Augusta da Conceição filha de João Baptista Gambino e de Maria do Nascimento
Jordão. Em 17 de maio de 1881. Azenhas ˃ Aos desesete dias do mes de maio do anno de mil oitocentos e oitenta e um nesta
Egreja Parochial de São Pedro da villa concelho de Porto de Móz, diocese de Leira, baptizei solemnemente um individuo do
sexo feminino, a quem dei o nome de Augusta da Conceição, e que nasceu nesta freguezia à uma para as duas horas da
tarde do dia seis de abril deste corrente anno, filha legitima de João Baptista Gambino, e de Maria do Nascimento Jordão,
de occupação fabricantes de papel, naturaes – elle da freguezia de Santo Ambrozia de Vultre, Bispado de Genova, Reino da
Italia, - elle da villa de Alcobaç, freguezia do Santissimo Sacramento, onde foram recebidos, parochianos desta de São Pedro,
moradores na fabrica das Azenhas; neto paterno de Estevam Gambino, e de Thereza Monteiro, e materna de Joaquim do
Nascimento Jordão e Ludovina Roza. Foi padrinho Antonio Estevão, casado, proprietario, morador em Alcobaça, e madrinha
Nossa Senhora da Conceição, com cuja coroa, tocou Francisco Gambino, solteiro, fabricante de papel, e morador em a villa
de Alcobaça, os quaes todos sei serem os proprios. E para constar lavrei em duplicado este assento, que, depois de ser lido
e conferido perante os padrinhos e com elles assigno. Era ut supra. O Prior: (a) Manoel do Espirito Santo. Os padrinhos: (a)
Antonio Estevão. Os padrinhos: (a) Francisco Gambino”.

112
A mobilidade de indivíduos ligados ao fabrico do papel, pode ser asseverada através de vários registos
arrolados nos Livros Paroquiais de Porto de Mós, nomeadamente, num registo datado de 20 de
julho de 1880 de batismo de Francisco, filho de António Branco, oficial do papel, e de Maria Vitória,
ambos naturais da freguesia de Pedrógão (c. Torres Novas) e moradores em Rio Alcaide, onde agora
trabalhavam64; ou mesmo do registo de batismo de José65, lavrado em 31 de maio de 1883, filho de
Joaquim Rodrigues, papeleiro e de sua esposa, Maria de Jesus, ambos do Espinho (c. Miranda do
Corvo) e moradores em Rio Alcaide, tendo assistido como padrinho, José Simões, papeleiro.

Comprovamos assim, que a família Gambino, posicionara-se nas principais fábricas da região centro
do país, enquanto fabricantes de papel, especificamente no Prado, no Sobreirinho, em Porto de Mós e
como também iremos comprovar, em Alcobaça.

7. A FAMÍLIA GAMBINO E O FABRICO DO PAPEL EM ALCOBAÇA

O fabrico do papel em Alcobaça, à luz do conhecimento atual, comprova-se desde 14 de junho de 1843,
quando surgiu como proprietário e mestre de uma Fábrica do Papel, Joaquim Pedroso. Todavia, entre
14 de fevereiro de 1845 e 26 de janeiro de 1850, é apontado Francisco Pedroso como proprietário e
mestre do papel.66

Anos mais tarde, em 11 de janeiro de 1853, foi lavrada na Pederneira (c. Alcobaça) uma escritura entre
Manuel dos Santos Libório e Francisco Xavier Pedroso, seu cunhado, ambos com estabelecimentos
de fabrico do papel em Alcobaça, tendo como finalidade encetarem uma sociedade, a partir da data da

64 A.D.L., L.B.P.S.J.B.P.M. [1878-1887], Dep. IV-44-C-44, assento n.º 22, fls. 22-22v, “Aos vinte e cinco do mez de julho do
anno de mil oitocentos e oitenta, nesta parochial Egreja de São João Baptista da villa e concelho de Porto de Moz, diocese
de Leiria, o Reverendo Jozé dos Santos Neto, Coadjutor desta dita Egreja, baptizou solemnemente um individuo do sexo
masculino a quem deu o nome de = Francisco = e que nasceu nesta freguezia pelas sete horas da manhã do dia treze do
corrente mez, filho legitimo d’Antonio Branco, official de papel, e de Maria Victoria, moradores no lugar de Rio Alcaide desta
freguezia, do qual são parochianos, e naturaes ambos da freguezia do Pedrógão, concelho de Torres Novas Patriarchado de
Lisbôa: neto paterno de José Branco e de Maria Jozé, e materno d’avós incógnitos. Foram padrinhos Francisco Gambino,
fabricante de papel, solteiro, e Izabel Mendes da Costa, cazada, moradores no referido lugar de Rio Alcaide, os quaes
me deu fé serem os proprios. E para constar lavrei em duplicado este assento, que depois de lido e conferido perante os
padrinhos assignei com o padrinho e Reverendo Coadjutor, não assignando a madrinha por não saber escrever. Vai colada e
devidamente inutilizada no livro // [fl. 22v] do duplicado a estampilha de sessenta reis. Era ut supra. O Padrinho: (a) Francisco
Gambino. O Coadjutor: (a) Joze dos Santos Neto. O Prior Encomendado: (a) Jozé Pereira da Costa”.

65 Ibidem, assento n.º 25, fls. 120-120v, “Aos trinta e um dias do mez de maio, do anno de mil oitocentos e oitenta e cinco, nesta
Parochial Igreja de São João Baptista, da villa e concelho de Porto de Moz, Patriarchado de Lisboa, baptizei solemnemente
um individuo do sexo masculino a quem dei o nome de Joze, e que nasceu nesta freguezia no lugar do Rio Alcaide, ás duas
horas da tarde do dia sete deste corrente mez e anno: filho legitimo e primeiro do nome de Joaquim Rodrigues, papeleiro, e
de Maria de Jesus, d’occupação domestica, ambos naturaes do lugar de Espinho, freguezia de Miranda do Corvo, do Bispado
de Coimbra, onde forão recebidos; e hoje parochianos desta freguezia de São João Baptista, e moradores no supra dito lugar
do Rio Alcaide: neto pater- // [fl. 120v] no de Antonio Rodrigues e Maria Joaquina, e materno de Joaquim Simões e de Maria
de Jesus. Foi padrinho Joze Simões, cazado, papeleiro, morador em Rio Alcaide, e madrinha Maria da Piedade, solteira,
d’occupação domestica, moradora nos Tourões, lugar desta freguezia, os quaes todos sei serem os proprios. E para constar,
lavrei em duplicado este assento que, depois de ser lido e conferido perante o padrinho e madrinha, eu sómente assigno, por
elles não saberem escrever. Era ut supra. O Parocho: (a) Manuel Joaquim Saraiva da Costa”.

66 PORTELA, Miguel, Novas achegas para a História do fabrico do papel em Alcobaça… Op. Cit, p. 23.

113
assinatura dessa escritura, para conjuntamente fabricarem papel, em Alcobaça. Alguns meses mais
tarde, e em 29 de junho de 1853, Manuel dos Santos Libório alcançou, por escritura lavrada em
Alcobaça, a parte da sociedade das fábricas de papel detidas por Francisco Xavier Pedroso, pela
quantia de 350 000 réis. Francisco Xavier Pedroso afirmara nesse ato notarial que, por haver “sufrido
em seus interesses na sociedade que tem com o dito Manoel dos Santos Liborio nas fabricas de
papel estabelecidas nesta villa” e porque continuava o seu “máo estado da sua saúde, não pode
desempenhar os deveres a que está ligado, por isso tinha resolvido vender como com effeito vendido
tinha ao dito Manoel dos Santos Liborio os engenhos e suas pertenças que tem estabelecido em caza
dos herdeiros de Francisco // [fl. 46v] de Francisco Pereira da Trindade nesta Villa, bem como o resto
dos materiais que ainda conserva hinerentes á mesma fabrica por trezentos e cincoenta mil reis”.67

O ano de 1863 foi marcado pelo começo de uma nova geração de fabricante de papel em Alcobaça.
José Lázaro Gambino, papeleiro, surge na época como fundador de uma Fábrica do Papel nessa
vila, encontrando-se há já alguns anos em Alcobaça, tendo aqui batizado seu filho António68 em 13
de abril de 1862. Revelamos ainda o facto de que no enlace, celebrado em 22 de janeiro de 1863,
em Alcobaça, entre José Bernardes, natural de Rio Maior, fabricante de fósforos, e Henriqueta Maria,
natural de Cela, terem sido testemunhas José Gambino e João Martins Poiares, fabricantes de papel
justamente de Alcobaça.69 Na verdade, foi apenas em 10 de agosto de 1865, que João da Silva Ferreira
Rino arrendou a José Gambino um “conjunto à levada nesta villa, aonde está a maquina de distilação,
e outra casa contigua aos moinhos que possue na rua de Santo Antonio, d’esta mesma vila pelo tempo
de dez annos que já comessarão no primeiro último pelo preço do primeiro prédio, de cem mil reis, e o
segundo, cincoenta mil reis annoaes (…) Que elle rendeiro não poderá dar às ditas propriedades outra
appelicação que não seja para o uzo de fabrica de papel” (Fig. 3).70

67 Estas escrituras encontram-se publicadas em PORTELA, Miguel, Novas achegas para a História do fabrico do papel em
Alcobaça… Op. Cit, p. 23.

68 A.D.L., L.B.A. [1860-1864], Dep. IV-24-A-19, assento n.º 8, fls. 23-23v, “Aos treze dias do mez d’abril do anno de mil
oitocentos sessenta e dois n’esta Egreja Parochial do Santissimo Sacramento d’Alcobaça, concelho da mesma villa, diocese
de Lisboa, o Reverendo Francisco Antonio Jardim, então Parocho Collado d’esta freguezia, baptizou solemnemente um
individuo do sexo masculino a quem deo o nome de Antonio e que nasceu n’esta freguezia a quatro do dito mez e anno;
filho legitimo de Jozé Gambino, fabricante de papel, natural da freguezia de Santo Antonio de Mel [sic], Bispado de Genova,
Reino da Italia, e de Carolina Mendes, natural da freguezia de Santa Maria de Thomar, concelho da mesma villa, diocese de
Lisboa, recebidos na freguezia de Carregueiros, do dito concelho de // [fl. 23v] Thomar e diocese de Lisboa, e parochianos e
moradores n’esta freguezia d’Alcobaça, neto paterno de Peregrino Gambino e de Benedicta Barbarussa, e materno de Jozé
Mendes, e de Barbora da Costa. Foi padrinho Antonio Fortunato Antunes sachristão da Misericordia d’esta villa, solteiro, e
madrinha Julia do Nascimento de Mattos, solteira. E para constar lavrei em duplicado este assento, que assigno. O Parocho:
(a) Joaquim Maria Ribeiro da Silva”.

69 No batismo de seu filho Abel, celebrado a 9 de setembro de 1867, José Bernardes surge já como papeleiro de profissão.
Todavia, volta a figurar como fabricante de fósforos, no batismo de um outro seu filho, de nome Francisco, realizado em 9 de
maio de 1870. Este José Bernardes, papeleiro, viria a falecer de desastre, em 9 de março de 1877, na casa da rua da Levada,
Fábrica do Papel, em Alcobaça, In PORTELA, Miguel, “A indústria papeleira na região de Leiria… Op. Cit., pp. 186.

70 A.D.L., Livro Notarial de Alcobaça, Dep. V-5-D-27, fls. 115v-116.

114
Figura 3 - Marca de água da fábrica de papel de Alcobaça em 1850 (Livro aberto a 20 de Setembro
de 1850 e encerrado a 5 de Abril de 1851).
Registo de óbitos da freguesia de Alcobaça 1856-1860. LRA/Dep. IV-24-B-10.
PT/ADLRA/PRQ/PACB01003/0010
(Imagem cedida pelo Arquivo Distrital de Leiria)

Importante referir a presença de outros indivíduos ligados ao fabrico do papel em Alcobaça, mormente,
Francisco Henriques do Rosário71, casado, oficial de papel havia sido padrinho de um recém-nascido
de nome José em 7 de março de 1864, e padrinho de batismo de uma menina chamada Júlia72 em 11
de junho de 1868, onde ficou averbado como fabricante de papel. De igual modo, em 13 de fevereiro
de 1869, no batismo de um menino chamado Francisco73, ficou arrolado como padrinho, Francisco
Baptista, solteiro, fabricante de papel.

Reconhecemos outros elementos da família Gambino, que se radicaram em Alcobaça, nomeadamente,


João Batista Gambino, antigo fabricante de Papel no Prado que aqui baptizou alguns dos seus filhos,
respetivamente Virgínia74, em 18 de maio de 1874 e Francisco75, em 28 de setembro de 1876. José
Lázaro Gambino76 veio a falecer em Alcobaça, em 19 de setembro de 1898, e sua esposa, Carolina
Mendes77 veio a falecer também em Alcobaça, em 8 de abril de 1900.

71 A.D.L., Livro de Batismo de Alcobaça [1864], Dep. IV-24-A-20, assento n.º 12, fls. 6v-7.

72 Idem, Livro de Batismo de Alcobaça [1867-1868], Dep. IV-24-A-22, assento n.º 7, fl. 11.

73 Idem, Livro de Batismo de Alcobaça [1869-1870], Dep. IV-24-A-23, assento n.º 7, fl. 4.

74 Idem, L.B.A. [1873-1877], Dep. IV-24-A-25, assento n.º 20, fl. 10.

75 Ibidem, assento n.º 28, fls. 43v-44.

76 A.D.L., Livro de Óbito de Alcobaça [1898], Dep. IV-24-B-28, assento n.º 46, fl. 13.

77 Idem, Livro de Óbito de Alcobaça [1900], Dep. IV-44-E-48, assento n.º 15, fls. 4v-5.

115
De igual modo, salientamos a importância da circulação de mestres papeleiros entre os diversos
centros da indústria de papel em Portugal, se fazia com alguma frequência, motivada pela dinâmica
empresarial da época e por falência, abertura ou reabertura de algumas fábricas na Região Centro
do nosso país. Veja-se o caso de João Martins, fabricante de papel, natural da Lousã, casado com
Ludovina da Costa, natural de Tomar e que em 15 de agosto de 1866 se encontrava a trabalhar em
Alcobaça, batizando nessa data seu filho José78 e em 8 de setembro de 1869 batizando sua filha Ana.79
Neste último registo a madrinha de batismo foi Ana Gambino, solteira que vivia em casa de seus pais,
José Lázaro Gambino de Carolina Mendes. Também em 24 de dezembro 1871 nascera Maria, filha do
fabricante de papel Francisco André Pereira, e que no seu batizado se apresentaram como padrinhos,
João Baptista Gambino, fabricante de papel, e sua esposa Maria do Nascimento Jordão80 (Quadro 3).

Em 6 de outubro de 1883 José Gambino procedeu ao trespasse da sua Fábrica do Papel, com o papel,
trapo e utensílios nela existentes nessa data, a seu filho António Gambino, por um valor superior a
dois contos de réis, sendo que uma das condições do trespasse acordado entre ambos foi de António
Gambino dar sociedade a seu irmão Francisco Gambino logo que este chegasse à maioridade.81

Anos mais tarde, no Almanach Commercial de Lisboa, de 1886, faz-se referência a duas Fábricas
do Papel no distrito de Leiria, sendo que uma se refere a José Gambino em Alcobaça, e a outra
corresponde a Ângelo da Silva Coelho em Porto de Mós.82 Ângelo da Silva Coelho foi proprietário
e fabricante de papel em Rio Alcaide, Porto de Mós, tendo sido casado com Guilhermina Rita da
Conceição, conforme se averbou no batismo de seu filho João, em 15 de julho de 1883, na freguesia
de S. João Batista dessa vila.83

Constatámos que em 30 de novembro de 1897, Francisco Gambino, solteiro e proprietário, morador


em Alcobaça, requerera ao Administrador do Concelho licença para instalar uma Fábrica do Papel
para embrulho nessa vila. Deste requerimento, passamos a reproduzir um excerto: “O papel é feito
de trapo de algodão, empregando no seu fabrico dois trituradores de madeira e ferro, uma machina
de fazer papel, tudo movido por uma roda hydraulica no rio Alcôa. O papel serve unicamente para
embrulho. O edifício fica situado na Cerca de Dentro, proximo a Alcobaça, e confronta do norte com
valla, sul com Augusto Rodolpho Jorge, nascente com o rio Alcôa, e do poente com o Dr. Francisco
Baptista d’Almeida Pereira Zagallo, e à distancia de 200 metros das habitações mais próximas. Terá a
area de 280m2 e o perímetro de 42m.” A 20 de Dezembro desse ano, Francisco Gambino requerera a

78 A.D.L.,Livro de Batismo de Alcobaça [1865-1867], Dep. IV-24-A-21, assento n.º 24, 23v-24.

79 Idem, Livro de Batismo de Alcobaça [1869-1870], Dep. IV-24-A-23, assento n.º 27, fl. 14.

80 Idem, Livro de Batismo de Alcobaça [1871-1873], Dep. IV-24-A-24, assento n.º 30, 14v-15.

81 A.D.L., Livro Notarial de Alcobaça, Dep. V-4-B-25, fls. 48-49.

82 Almanach Commercial de Lisboa, CAMPOS, Carlos Augusto da Silva, Typografia Universal, Lisboa, 1886, p. 145.

83 A.D.L., L.B.P.S.J.B.P.M. [1878-1887], Dep. IV-44-C-44, assento n.º 33, fls. 79v-80.

116
anexação ao processo para instalação da referida fábrica, da planta de localização da mesma.84 Em 24
de março desse ano, era passado o respetivo alvará de licença para a instalação da Fábrica do Papel
de embrulho (Fig. 4).85

Figura 4 - Planta para a fábrica de papel de Francisco Gambino.


Autos de Concessão, LRA-Piso-1/Dep.III/79/C/3-79/D/2.
PT/ADLRA/AC/GCLRA/E/097-014

Com os falecimentos de Pelegro Gambino e de José Lázaro Gambino, ocorridos em Alcobaça, a 7


de agosto e a 19 de setembro, de 1898, respetivamente, a indústria papeleira em Portugal perderia
dois grandes mestres papeleiros italianos que deixando a sua pátria, souberam contribuir para o
engrandecimento e riqueza da Região Centro do nosso país.86

No Almanach Palhares, de 1903, por seu turno, há referência ao fabrico industrial de papel, na vila de
Porto de Mós, sem que, no entanto, saibamos se se tratava de uma ou mais fábricas.87 Tratar-se-á,
talvez, das duas fábricas que se referenciam no Annuario Comercial de Portugal, de 1904, sendo que
uma era propriedade de Afonso Dias Moreira Padrão e a outra de Luiz António Rodrigues Gaivoto,
descendente dos Gaivoto que fabricaram papel na Zibreira.88 Também em Alcobaça se continuava

84 A.D.L., Administração Central Governo Civil de Leiria, Autos de Concessão, Fábrica de Papel de Alcobaça, 79-C-3, 1897, fl. 2-4.

85 Idem, fl. 1-7.

86 A.D.L., Livro de Óbito de Alcobaça [1898], Dep. IV-24-B-28, assento n.º , fl. 10v-11; assento n.º 46, fl. 13.

87 Almanach Palhares, Burocratico, Commercial e Industrial do Continente, Ilhas e Ultramar, Propriedade de PALHARES, A. e
MORGADO, A., Coordenado por SANTONILLO e MORGADO, A., Typographia da Papelaria Palhares, Lisboa, 1903, 5.º Ano, p. 603.

88 Annuario Commercial de Portugal, Ilhas e Ultramar da Industria, da Magistratura e da Administratura ou Annuario dos
600:000 Endereços em Lisboa, concelhos do reino, ilhas e colonias, Director: PIRES, Caleira, Editor Proprietário: SILVA,
Manoel José da, XXIV-Ano de publicação, 1904, pp. 1683-1584.

117
a fabricar papel, nesse ano de 1903, existindo duas fábricas, sendo uma propriedade de António
Marques Trindade, a outra de José António de Sousa esposo de Ana Gambino (Fig. 5).89

Figura 5 - Fábrica de papel em Alcobaça em 1905


Autos de Concessão, LRA-Piso-1/Dep.III/79/C/3-79/D/2, PT/ADLRA/AC/GCLRA/E/097-014
(Imagem cedida pelo Arquivo Distrital de Leiria)

CONCLUSÃO

Se o distrito de Leiria ficará na História da Indústria em Portugal, como aquele que iniciou e marcou o
arranque do fabrico do papel nacional, pelo exposto, não temos dúvidas em afirmar que a família Gambino
ficará na História do Fabrico do Papel, assim como as localidades de Braga, Zibreira, Prado, Sobreirinho,
Rio Alcaide e Alcobaça que durante o século XIX, marcaram de forma relevante o desenvolvimento industrial
com o seu saber e a sua arte empregues no fabrico do papel.

89 Almanach Palhares, Burocratico, Commercial e Industrial… Op. Cit., pp. 1038-1039.

118
119
FONTES E BIBLIOGRAFIA

FONTES MANUSCRITAS

Arquivo Distrital de Aveiro


Livro Misto de S. Paio de Oleiros [1703-1750], Paróquia de Oleiros, Livro 2,

Arquivo Distrital de Leiria


Livro de Batismos da Paróquia de S. João Baptista de Porto de Mós
[1870-1878], Dep. IV-44-C-43; [1878-1887], Dep. IV-44-C-44
Livro de Batismos da Paróquia de S. Pedro de Porto de Mós [1876-1879], Dep. IV-44-D-20
Livro de Batismos de Alcobaça
[1860-1864], Dep. IV-24-A-19; [1864], Dep. IV-24-A-20; [1865-1867], Dep. IV-24-A-21; [1867-1868],
Dep. IV-24-A-22; [1869-1870], Dep. IV-24-A-23; [1871-1873], Dep. IV-24-A-24; [1877-1880], Dep. IV-
24-A-26; [1873-1877], Dep. IV-24-A-25
Livro de Batismos de Figueiró dos Vinhos
[1775-1790], Dep. IV-33-E-43; [1790-1803], Dep. IV-33-E-44
Livro de Casamentos de Porto de Mós - S. João Batista [1868-1883], Dep. IV-44-C-58
Livro de Casamentos de Alcobaça [1877-1884], Dep. IV-24-A-47
Livro de Óbito de Alcobaça
[1898], Dep. IV-24-B-28; [1900], Dep. IV-44-E-48
Livro Notarial de Alcobaça,
Dep. V-4-B-25; Dep. V-5-D-27

Administração Central Governo Civil de Leiria,


Autos de Concessão, Fábrica de Papel de Alcobaça, 79-C-3, 1897

Arquivo Distrital de Santarém


Livro de Batismos de Carregueiros
[1842-1859]; [1860-1865]
Livro de Batismos da Zibreira [1841-1859]
Livro de Casamentos de Carregueiros [1813-1859]
Livro de Óbitos da Zibreira
[1884]; [1885]
Livro de Óbitos de Carregueiros
[1821-1859]; [1860-1865]
Livro Notarial de Torres Novas
Livro 25 [tabelião Diogo Rafael Correia Pimenta]
Livro 26 [tabelião Diogo Rafael Correia Pimenta]

120
Arquivo Distrital de Viana do Castelo
Administração do Concelho de Viana do Castelo, Registo de Testamentos, Livro de Registo de
Testamentos 1840-1841, testamento de António Rodrigues Gaivoto.

Universidade do Minho - Arquivo Distrital de Braga


Livro de Batismos da Paróquia de São Victor
[1702-1710], B – 268; [1710-1715], B - 269
Livro de Casamentos da Paróquia de São Victor [1703-1720], B - 290
Livro de Óbitos da Paróquia de São Victor [1737-1751], B - 303
Mitra Arquiepiscopal de Braga, Inquirições de genere [1616-1911], João Gambino 1735

FONTES IMPRESSAS
Almanach Commercial de Lisboa, CAMPOS, Carlos Augusto da Silva, Typografia Universal, Lisboa, 1886.
Almanach Palhares, Burocratico, Commercial e Industrial do Continente, Ilhas e Ultramar, Propriedade
de PALHARES, A. e MORGADO, A., Coordenado por SANTONILLO e MORGADO, A., Typographia da
Papelaria Palhares, Lisboa, 1903, 5.º Ano.
Annuario Commercial de Portugal, Ilhas e Ultramar da Industria, da Magistratura e da Administratura
ou Annuario dos 600:000 Endereços em Lisboa, concelhos do reino, ilhas e colonias, Director: PIRES,
Caleira, Editor Proprietário: SILVA, Manoel José da, XXIV-Ano de publicação, 1904.
LARRUGA, D. Eugenio, Memorias Políticas y Económicas sobre los Frutos, Comercio, Fábricas y Minas
de España, En la oficina de Don Antonio Espinosa, Madrid, 1790, t. XLIV.
O Direito - Revista de Jurisprudência e Legislação. Proprietários e Redatores: FONSECA, António Alves
da; CASTRO, José Luciano de, Tomo II, Lisboa, Typografia Lisbonense, 1870.
PONZ, D. Antonio, Viagem de España, en que se da noticia de las cosas mais apreciables, y dignas de
saberse, que hay en ella, Tomo Quarto, Tercera Edicion, Madrid, 1789, (1.ª Edição – 1774),
Revista Universal. Chronica Judicial Artistica, Scientificia, Litteraria, Agricola, Commercial e Economica
de todo o mundo, n.º 5, de 28 de outubro de 1841.
RIBEIRO, José Silvestre, Secção do Contencioso Administrativo, Colligidas e Explicadas, Lisboa,
Imprensa Nacional, 1855, t. II.

BIBLIOGRAFIA GERAL

ALVES, Jorge Fernandes, A estruturação de um sector industrial – a pasta de papel, Revista da Faculdade
de Letras História, Porto, III.ª Série, vol. 1, Porto, 2000, pp. 153-182.
BALLESTEROS, José Manuel Bértolo, “A presenza dos Gambino no concello de A Estrada”, A Estrada.
Miscelánea Histórica e Cultural, Museo Manuel Reimóndez Portela, 2013, vol. 16, pp. 149-173.
BANDEIRA, Ana Maria Leitão,
“O Fabrico de papel no Distrito de Coimbra ao longo dos séculos XVI-XIX: um percurso histórico”. Pasta de

121
Papel: revista portuguesa da indústria papeleira (22), Julho, 1999, pp. 29-36.
Pergaminho e Papel em Portugal. Tradição e conservação, Lisboa, CELPA/Associação da Indústria
Papeleira, 1995.
“Santo António de Lisboa e não de Pádua: marcas de água de papel em documentos do Arquivo da
Universidade de Coimbra”, O Papel ontem e hoje. Arquivo da Universidade de Coimbra – Renova. X
Semana Cultural da Universidade de Coimbra – Imaginação (1 a 8 de Março de 2008), 2008.
CAMPOS, Maria do Rosário Castiço de,
A Fábrica de Papel da Lousã e o processo de industrialização em Portugal, Revista da Faculdade de Letras
História, Porto, III.ª Série, vol. 10, Porto, 2009, pp. 145-150.
A Lousã no século XVIII. Redes de Sociabilidade e de Poder, Palimage, 2010.
Mobilidade social e ascendente no século XVIII em Portugal: estudo de um percurso familiar. Familias
y Poderes. Actas do VII Congresso Internacional de La Associación de Demografia Histórica, Granada,
Editorial Universidade de Granada, 2006, pp. 191-197.
CARREIRA, Maria de São Luiz da Silva, Marcas de Água. Arquivo Histórico Parlamentar (Monarquia
Constitucional 1821-1910). Tese de Mestrado em Ciências da Documentação e Informação Arquivística.
Universidade de Lisboa, Faculdade de Letras, Lisboa, 2012.
FERREIRA, Joaquim Antero M., “Breves apontamentos sobre a indústria papeleira em Vizela: as fábricas
de papel dos Álvares Ribeiro (séculos XVIII-XX) ”, O Papel ontem e hoje. Arquivo da Universidade de
Coimbra – Renova. X Semana Cultural da Universidade de Coimbra – Imaginação (1 a 8 de Março de
2008), 2008.
GAYOSO, Gonzalo, “La fabricación del papel em Galicia del Siglo XVIII a nuestros días”, Investigación y
Técnica del Papel, n.º 4, 1965.
LOURENÇO, José Henrique Tomé Leitão, A Indústria na Vila de Alenquer (1565-1931), Lisboa, Faculdade
de Letras da Universidade de Lisboa, 2009, Dissertação de Mestrado em História Regional e Local.
MARTINS, Luís Filipe Correia, Rota do Papel do Vale do Ceira e Serra da Lousã. A fábrica de Papel
do Bosque, Dissertação de Mestrado Integrado em Arquitectura, Faculdade de Ciências e Tecnologia,
Departamento de Arquitectura, Coimbra, 2010, vol. I e II.
MELO, Arnaldo Faria de Ataíde e, “O Papel como elemento de identificação”, Separata dos Anais das
Bibliotecas e Arquivos, Lisboa, Oficinas Gráficas da Biblioteca Nacional, 1926.
OLIVEIRA, Aurélio,
“Indústrias em Braga. As fábricas de papel do Rio Este”, Bracara Augusta, vol. XLIX, n.º 96 (109), Braga,
1993, pp. 417-443.
“Fabrico de papel em Braga no século XVI”, Revista da Faculdade de Letras História, Porto, III.ª Série, vol.
8, Porto, 2007, pp. 25-28.
PORTELA, Miguel,
O Fabrico do Papel em Figueiró dos Vinhos no séc. XVII, Edição do autor, 2012.
A indústria papeleira na região de Leiria no Portugal oitocentista, Cadernos de Estudos Leirienses- 3, Editor:

122
Carlos Fernandes, Textiverso, 2014, pp. 181-200.
“Houve ou não fabrico de papel na Batalha no Século XVI? Notas sobre o fabrico de papel no Distrito de
Leiria”, Boletim Semestral da Comunidade Concelhia da Batalha, Edição n.º 2, Batalha, 2014.
Os Curados e o fabrico de Papel em Figueiró dos Vinhos no século XVII, Jornal da Golpilheira, Diretor: Luís
Miguel Ferraz, Ano XIX, Edição 215, maio - 2015, p. 17.
Mestres Papeleiros Genoveses em Alcobaça (Breves Apontamentos), Jornal da Golpilheira, Diretor: Luís
Miguel Ferraz, Ano XIX, Edição 217, julho - 2015, pp. 16-17.
Nótula histórica sobre Bento Buxo Sarramim: mestre papeleiro do engenho do papel em Figueiró dos
Vinhos no século XVII, O Figueiroense, Edição compartilhada com O Ribeira de Pera, Diretor: Fernando C.
Bernardo, II Série, N.º 17, 16 de dezembro de 2015, pp. 8-9.
O Fabrico de papel em Figueiró dos Vinhos no século XVII, Atas do I Congresso de História e Património da
Alta Estremadura, CEPAE - Centro do Património da Estremadura, 2016, pp. 303-322.
Novas achegas para a História do fabrico do papel em Alcobaça. Manuel dos Santos Libório e Francisco
Xavier Pedroso: dois notáveis industriais, Jornal da Golpilheira, Diretor: Luís Miguel Ferraz, Ano XX, Edição
232, outubro - 2016, p. 23.
PORTELA, Miguel e MADURO, António Valério, Património industrial de Alcobaça e Nazaré nos séculos XVIII-
XX – Parte I, Cadernos de Estudos Leirienses- 9, Editor: Carlos Fernandes, Textiverso, 2016, pp. 365-382.
RUAS, João, “O engenho do papel”, Monumentos, Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana, Lisboa,
2007, n.º 27, pp. 152-157.
SANTOS, Maria José Ferreira dos,
A Indústria de Papel em Paços de Brandão e Terras de Santa Maria (séculos XVIII e XIX), Santa Maria da
Feira, Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, 1997.
“José Maria Ottone e a Indústria do Papel em Portugal no século XVIII”, O Papel ontem e hoje. Arquivo da
Universidade de Coimbra – Renova. X Semana Cultural da Universidade de Coimbra – Imaginação (1 a 8
de Março de 2008), 2008, pp. 41-48.
“Marcas de água e história do papel: a convergência de um estudo”, Cultura. Revista de História e Teoria
das Ideias, Lisboa, Centro de História da Cultura da Universidade Nova de Lisboa, 2014, vol 33, pp. 11-29.
Marcas de água: séculos XIV-XIX, Colecção TECNICELPA, coedição de TECNICELPA - Associação
Portuguesa dos Técnicos das Indústrias de Celulose e Papel e Câmara Municipal de Santa Maria da
Feira, Julho de 2015, e Do Engenho à Fábrica, Coordenação Científica de Maria José Ferreira dos Santos,
Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, Março de 2015.
SANTOS, Maria José Ferreira dos; CASTELLÓ MORA, Juan, “The Ottone family anda paper manufacturing
in Spain and Portugal – 17th and 18th century”, IPH Congress Book, vol. 12, Suiça, IPH, 1998, pp. 146-154.
SEQUEIRA, Gustavo de Matos, A Abelheira e o fabrico de papel em Portugal: história de uma propriedade
e de uma fábrica, Lisboa, Tipografia Portugal, 1935.
VITERBO, Sousa, Artes Industriaes e Industrias Portuguezas: O Vidro e o Papel, Coimbra, Imprensa da
Universidade, 1903.

123
EL PAPEL DEL BOCETO EN LA CREACIÓN ARTÍSTICA: RAFAEL MONLEÓN Y TORRES (1843-1900)

Ana Ros Togores


Instituto del Patrimonio Cultural de España
ana.ros@mecd.es

RESUMEN

Al estudiar y valorar la obra de un artista de cualquier índole (pintor, arquitecto, dibujante, escultor,
músico, etc.) solemos apreciar su trabajo final. Éste, es fruto de numerosas reflexiones, ideas,
conceptos, estudios, etc. reflejados en diferentes tipos de papel: el boceto. De hecho, una de
las acepciones que atribuye la Real Academia Española de la Lengua a la palabra boceto es
“proyecto o apunte general previo a la ejecución de una obra artística”. En esta investigación
nos hemos centrado en los numerosos bocetos que ejecutó el pintor valenciano Rafael Monleón
y Torres (1843-1900) para realizar su obra artística durante el periodo de tiempo en que estuvo
trabajando en el Museo Naval.

SUMMARY

On studying and evaluating an artist’s work, whatever their discipline is (be it painter, architect, sculptor,
musician and so on), we usually appreciate their final work. This final work is the fruit of many reflections,
ideas, concepts, studies…. which come to life on different kinds of paper: the sketch. In fact, one of the
definitions that the Spanish Royal Academy of Language gives for the word sketch is “a pre-planned
draft or a general outline produced before the execution of an artistic work”. The focus of this research
is the large number of sketches that the Valencian painter Rafael Monleón y Torres (1843-1900) did to
complete his work during the time he spent at the Naval Museum.

PALABRAS CLAVE

boceto, estudio, esbozo, dibujo, grabado, acuarela.

KEYWORDS

sketch, study, illustration/draft, drawing, engraving, watercolour painting

125
Cuando mi querida Carmen me invitó a asistir al Congreso, dudé varias veces sobre el tema a tratar.
Al final, decidí volver sobre mí pasado como conservadora en el Museo Naval y mostraros un aspecto
del trabajo del artista que siempre me ha llamado la atención: el boceto. En este caso y por cuestiones
que iré desgranando a lo largo de esta ponencia, se la dedicaré al pintor valenciano Rafael Monleón
y Torres (1843-1900). Durante mis múltiples años en el Museo catalogué su obra, leí repetidas veces
los documentos en los que aprendí infinidad de rasgos sobre él, tanto como artista como persona,
reflexioné sobre sus composiciones, conocí su caligrafía y creo que al final hasta podía adivinar lo que
pensaba en el momento en el que dibujaba.

Pero hay un aspecto de su obra al cual no tuve acceso tan directo, pero que gracias a las conversaciones
mantenidas durante un viaje a México con Marisa Cuenca que en aquel momento trabajaba en la
Biblioteca Nacional, conocí al volver a Madrid. Estuve durante muchas tardes estudiando la gran
cantidad de bocetos, apuntes, calcos, etc. que habían llegado a la Biblioteca Nacional a través de,
tal y como citan en el tampón estampado en la mayoría de los dibujos “Testamentaria de Rafael
Monleón año 1900”. Debo de confesar mi sorpresa y en cierta forma, malestar, ya que entendía que
los familiares de Rafael Monleón debían haber donado al Museo Naval sus innumerables bocetos,
apuntes y estampas (la mayoría de ellas al aguafuerte); ya que la vida y el trabajo del pintor estaban
ligados no sólo a las salas de exposición del Museo sino también a la vida cotidiana, a la Historia Naval
y por supuesto a la Construcción Naval.

Los bocetos que forman parte de las colecciones de la Biblioteca Nacional, están en su mayoría
dispuestos en tres álbumes formados por el propio artista. Se trata de croquis, estudios, notas,

126
definiciones, esquemas, bosquejos y dibujos de diferentes temas navales que luego utilizaría en sus
creaciones artísticas. Rafael, trabajador incansable, estudioso y gran investigador había ido tomando
diferentes apuntes a lápiz o a tinta (en alguna ocasión hemos encontrado pinceladas de acuarela de
color) y los había ido colocando en el álbum pegándolos con cola, numerándolos y situándolos de forma
tanto temática como cronológica; curiosamente además, la mayoría de los bocetos tienen diferentes
formas y tamaños absolutamente aleatorios además de estar numerados con su característica caligrafía.
En todos ellos utiliza diferentes tipos de papel: agarbanzado, verjurado, continuo, cuadriculado, papel-
cartón, vegetal, cianotipia, etc. Y numerosas veces “recicla” papel impreso, el más significativo es el
que se utilizaba para las patentes de navegación; lo que nos muestra, entre otros datos, que trabajaba
de forma incansable.

Los bocetos nos revelan los apuntes, estudios, planos, secciones que irá utilizando tanto para sus
dibujos como para sus pinturas. Se trata en definitiva, de un patrimonio artístico y documental de
gran valor.

El pintor recibe por un lado la influencia de su padre el arquitecto Sebastián Monleón (1815-1878), con
el que trabaja en diferentes ocasiones y su formación como piloto naval en la Escuela Náutica de su
ciudad natal, por otro, sus estudios en la Academia de Bellas Artes de San Carlos, dan como resultado
una obra creativa inmersa en el mar: barcos, puertos, batallas o combates navales; en definitiva, la
naturaleza y lo que rodea la mar.

En 1868 solicita la plaza de Pintor, Dibujante y Conservador1 que había creado la dirección del Museo
Naval con el fin de custodiar y ampliar la ya extensa colección de pintura que tenía ya en su colección.
Dos años más tarde se le nombra pintor del Museo Naval. A partir de este momento vemos que
comienza a ”producir” de forma incansable, viaja para conocer los escenarios de los hechos históricos
que representa para evitar así tomarse licencias, sobre todo cuando se trata de acontecimientos
remotos2.

1 El artista, conocedor de la institución, propone la diferenciación del cargo de pintor y dibujante del de Conservador. Así se
diferenciaría a la persona que cultivase y elaborase obra original, de la segunda en la que el restaurador realiza un trabajo
más mecánico que artístico. AMN 1539.18

2 AMN 1519/001. Resulta curiosa la denominación de remoto; se refiere así a la ejecución de un cuadro sobre un hecho
histórico sucedido el mismo año de la firma del mismo.

127
Continúa el artista en su estudio de la calle Hileras en Madrid y con numerosas visitas al museo al
que acude, no sólo para realizar sus trabajos sino también a las tertulias que allí se celebraban a las
que asistían el historiador Cesáreo Fernández Duro, el fotógrafo Jean Laurent, el arqueólogo Emilio
Croquer, entre otros. Posteriormente en el año 1882, asumió, además la plaza de restaurador de forma
oficial, cargo que ocupó hasta su fallecimiento en 1900.

Respecto a las obras principales, además de numerosas pinturas realizadas al óleo como La Defensa
del Arsenal de la Carraca, Combate de Trafalgar, El Combate del Callao, La batalla de Salamina,
Hernán Cortés ordena dar al través a sus navíos, Defensa del Morro de la Habana, etc. de las cuales
encontramos apuntes, referencias y estudios en los diferentes bocetos de la Biblioteca Nacional; hay
que destacar una de las obras que le llevó más tiempo no sólo por la profunda investigación que llevó
a cabo para poder culminarla, sino también por los diferentes viajes a museos, archivos y arsenales
que sirvieron de fuente documental para el trabajo: Historia Gráfica de la Construcción Naval. En esta
obra formada por 92 acuarelas podemos ver el pormenorizado estudio que realizó sobre la evolución
de la Arquitectura Naval, cuyos bocetos y anotaciones encontramos en los álbumes aludidos, incluso
con anotaciones en inglés fruto de sus viajes a Alemania, Francia y Gran Bretaña para conocer los
buques representados.

Paralelamente y como complemento a la colección de acuarelas anteriormente citada, realiza el


diccionario manuscrito Construcciones navales bajo su aspecto artístico. Se trata de cuatro tomos en los
que podemos encontrar la definición e iconografía de todo tipo de embarcaciones, navíos, buques de
diferentes épocas y de muy diferentes lugares. En cada una de las voces alude al origen etimológico, cita
las diferentes denominaciones por las que se conoce al mismo tipo de embarcación y además, subraya

128
dentro de la explicación otras palabras definidas en el mismo diccionario. Tenemos que aludir de nuevo
a su faceta no sólo como artista, sino también como piloto naval y enamorado de la mar.

Su trabajo en el Museo no sólo comprende los dibujos y la pintura al óleo, se completa también con
alguna estampa calcográfica, cerámica, y diferentes objetos decorados por el pintor.

Hemos dado un pequeño repaso por el primer trabajo del artista, la transformación de la idea en
esbozo, nota e incluso frase de lo que quiere transmitir, todos ellos guardados y preservados por él
mismo, de tal manera que hoy podemos conocer de forma exhaustiva su obra y su trabajo como artista
e historiador.

BIBLIOGRAFÍA

BARCIA, A.M. (1940) Catálogo de la colección de Dibujos de la Biblioteca Nacional, Madrid


GONZÁLEZ-ALLER HIERRO (2001-2007), José Ignacio, Catálogo Guía del Museo Naval de Madrid,
3 vols., Madrid
LASSO DE LA VEGA, J. (director), Crónica Naval de España, revista científica, militar, administrativa,
histórica y literaria y de comercio…, Tomo II y III, Madrid, 1855 – 1860.

FUENTES DOCUMENTALES

AMN 1527, AMN 1528, AMN 1529, AMN 1532, AMN 1533, AMN 1539

129
A IMPRENSA DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA: CONTRIBUTOS PARA A HISTÓRIA DA
PRODUÇÃO TIPOGRÁFICA E AQUISIÇÃO DE PAPEL (1790 e 1809)

Ana Maria Leitão Bandeira


Técnica Superior do Arquivo da Universidade de Coimbra
amlb@auc.uc.pt

RESUMO

A produção tipográfica da Imprensa da Universidade de Coimbra teve como suporte papel de


diversas proveniências, adquirido diretamente a fabricantes de papel ou a negociantes. Por outro
lado, os testemunhos da própria atividade da oficina tipográfica foram dados a conhecer pelo papel
em que ficaram registados. Que papel é este? Quem o comercializou? Aestas questões se procurou
responder, com a elaboração do trabalho agora apresentado. Dão-se a conhecer as fontes documentais
pesquisadas e homenageiam-se todos os que, de uma forma ou de outra, permitiram que as obras
fossem impressas e o seu conhecimento divulgado.

PALAVRAS-CHAVE

Imprensa da Universidade de Coimbra – Fabrico de papel – Comércio de papel – Marcas de água –


História do Livro

ABSTRACT

Typographic production of Coimbra University Press had support from various sources of paper acquired
directly to paper manufacturers or dealers. On the other hand, the testimony of his own activity of the
University Press, were given to us by the paper on which they were recorded. What paper is this? Who
made it? Who sold? These issues if sought to respond, with the preparation of the work presented. The
work allowed to know the documentary sources researched and his an honor to all those who, in one
way or another, allowed the works to be printed and their knowledge announced.

KEYWORDS

Coimbra University Press – Manufacture of paper - Paper trade – Watermarks – Book History

131
Desde que, em 1537, ficou definitivamente instalada em Coimbra, a Universidade recorria ao trabalho
de impressores da cidade, que eram considerados oficiais privilegiados, apesar de possuir, nos Paços
d’El Rei prelos de impressão que lhe foram concedidos pelo rei D. João III. Sabe-se que não eram
suficientes, razão pela qual era adjudicado trabalho a impressores de Coimbra, como aconteceu com
António de Mariz, António da Barreira, Diogo Gomes de Loureiro, etc. Com a expulsão da Companhia
de Jesus, em 1759, a Universidade viria a tomar posse da oficina tipográfica do Colégio de Jesus
de Coimbra, sendo o primeiro momento em que passa a ter uma oficina tipográfica própria, bem
apetrechada. Em 1777, D. Francisco de Lemos elaborou um relatório da sua atividade como reitor da
Universidade de Coimbra, desde que fora nomeado obreiro da reforma pombalina da Universidade,
cujos Estatutos foram aprovados por Carta régia de roboração, de 28 de agosto de 1772. Este relatório
foi apresentado à Rainha D. Maria I pelo seu Ministro e Secretário de Estado dos Negócios do Reino,
Visconde de Vila Nova de Cerveira, e o seu verdadeiro título é Relação Geral do Estado da Universidade
[…]1. Nele se inclui uma notícia breve sobre a localização da tipografia académica no claustro da antiga
Sé de Coimbra, onde ficou instalada desde 1773, tendo o claustro sido adaptado para a sua instalação,
acrescentando-se-lhe outros edifícios, do lado ocidental, para as suas oficinas. D. Francisco de Lemos
referia que “necessita de Regimento” e de facto o Regimento da Imprensa da Universidade só seria
promulgado em 9 de janeiro de 1790, já no reinado de D. Maria I.

Para lhe dar mais vigor económico, que pudesse ser adquirido com o valor de obras vendidas ao
público e aos estudantes, foi atribuída à Imprensa da Universidade a exclusividade da impressão
das obras de Euclides e de Arquimedes e também das Ordenações do Reino, por Alvará Régio de
16 de dezembro de 1773. Não se pretende elaborar aqui uma história da Imprensa da Universidade,
tema a que já se dedicaram diversos autores2, mas apenas dar a conhecer, em traços largos,
a instituição sobre a qual se procurou conhecer a forma de fornecimento de papel, para poder
cumprir os seus desígnios.

O Regimento da Imprensa, já referido, estipulava que o seu governo seria feito por um Diretor, um
Revisor e um Administrador, providos pelo Conselho de Decanos da Universidade. Quem ocupasse
estes cargos teria de ter conhecimentos de bibliografia e da arte tipográfica, devendo o Administrador
ser mesmo um mestre impressor ou um mercador de livros. Reunir-se-iam, semanalmente, fazendo
uma Conferência, onde tratariam de tudo o que fosse necessário para a produção da Imprensa.
Assim, tudo o que dissesse respeito à aquisição de prelos, tipos, tintas, papel, etc., seria decidido em
Conferência e ficaria registado por um escriturário (ou guarda-livros) que assistiria a estas reuniões.
A este escriturário competia também inventariar tudo o que existisse no edifício: móveis, carateres,

1 Dado a conhecer pela primeira vez por BRAGA (1894), na sua transcrição completa, revelando a forma como o manuscrito
fora identificado, depois de ter sido localizado no Brasil. O texto de D. Francisco de Lemos foi de novo publicado em 1980,
pela Universidade de Coimbra, por ocasião do II Centenário da Reforma Pombalina.

2 Refiram-se, entre outras, as obras sobre a Imprensa da Universidade da autoria de CARVALHO (1868), ANTUNES (1982)
e FONSECA (2001).

132
prelos, instrumentos, papel, livros, “trastes & aparelhos” da oficina, etc., devendo entregar tudo ao
novo Administrador, sempre que este fosse substituído.3

O primeiro diretor da Imprensa foi João António Bezerra de Lima (que era professor de Gramática no
Colégio das Artes), nomeado em 26 de maio de 1790. No mesmo ano, em 9 de junho, foi nomeado
António Barneoud, que era mercador de livros, como administrador da Imprensa. A este administrador
sucedeu em 1807, por nomeação de 2 de abril, Joaquim Maria Coelho. Por sua vez, por nomeação de
1 de abril de 1807, chegou a diretor, e inspetor da Imprensa, o Dr. José Joaquim da Faria. São estas as
personagens centrais das decisões tomadas entre 1790 e 1809 para aquisição de papel, que iremos
encontrar nas páginas seguintes, ao longo deste trabalho.

Os compêndios adotados em cada Faculdade eram compostos e impressos na Imprensa da


Universidade, e dos seus prelos saíam outras obras diversas: as cartas de curso (diplomas de bacharel,
formado, licenciado e doutor), as dissertações dos alunos, livros de registo de ingresso e de exames
de alunos (como os livros de matrículas e livros de atos e graus que tinham formulários impressos e
depois espaços em branco, para serem preenchidos com os nomes e dados dos alunos), as relações
de estudantes, etc. Para melhor rentabilidade das oficinas da Imprensa começaram também a ser
impressos trabalhos para particulares que os encomendavam, pagando a sua composição, o papel e
a impressão.

1. A aquisição de papel para laboração da Imprensa

O trabalho agora apresentado situa-se cronologicamente entre 1790 e 1809 e a escolha destes limites
tem uma razão de ser: a primeira data foi determinada por só a partir de 1790 existir um regimento
da Imprensa que regulamenta o seu funcionamento, de forma que só a partir desta data há uma
maior organização dos registos internos da atividade impressora. A segunda data foi escolhida pois, a
partir de 1809, há uma alteração substancial na vida interna da instituição universitária, fruto do grave
momento político que o país atravessava, com as Invasões Francesas. Refira-se que a Universidade
fechou em 27 de junho de 1808, reabrindo em 1 de novembro seguinte, mas logo voltou a encerrar
em janeiro de 1809, com o perigo iminente de nova invasão francesa; também esteve fechada no ano
letivo de 1810-1811.4

Os registos documentais, que a atividade da Imprensa produziu e que existem no Arquivo da


Universidade de Coimbra, são sobremaneira importantes para o conhecimento da atividade tipográfica:
quais os operários que ali trabalharam, os compositores, os abridores de estampas, os alçadores, os

3 As atribuições de todos os funcionários e a organização da Imprensa constam do referido Regimento que está publicado
em ABREU (1894): 61-68.

4 Veja-se BRANDÃO (1938): V. Ali se dá conta também dos prejuízos causados na Imprensa da Universidade, de cujo
armazém foi roubado todo o papel de Holanda, o papel inglês e “bastardo de marca maior e menor”.

133
aprendizes, o revisor, o fiel da oficina, os fornecedores de papel, etc. Todas as decisões eram tomadas
em Conferência, no entanto, nem todos os livros com as Atas das Conferências, que revelam o pulsar
quotidiano da instituição, sobreviveram até hoje. O volume mais antigo (com indicação de vol. 2 no
rótulo de título na lombada) inicia-se apenas em 1848, contendo um termo de abertura assinado pelo
Dr. Joaquim Urbano de Sampaio, revisor da Imprensa.5

Uma vez que se desconhece o paradeiro desses volumes, foi necessário recorrer a outros registos
sobreviventes, tendo sido compulsadas, sobretudo, quatro séries documentais: Documentos de Receitas
e Despesas, Livros Copiadores de Correspondência, Livros de Folhas de Férias, Livros de Despesa e
Balanços de Receita e Despesa. Nestas séries documentais se procurou localizar informações quanto ao
papel fornecido, obras em que era utilizado e outros dados complementares, como a comparação de preços
de papel, forma como chegava a Coimbra, por via terrestre e marítima, valores pagos aos trabalhadores, etc.

O papel adquirido pela Imprensa não se destinava apenas às impressões da casa, mas a um conjunto
diversificado de volumes necessários para o registo das matrículas dos alunos, dos seus exames, atos e
graus, etc. A Universidade necessitava de outros livros cuja impressão, em formulário, ou listagem de nomes,
provinha também da Imprensa da Universidade, como: bilhetes para o manifesto dos vinhos (era através
de um imposto sobre o manifesto dos vinhos que se obtinham as verbas para pagamento dos partidos
aos alunos de medicina), editais das rendas da Universidade, colocadas em pregão para arrendamento,
etc.6Era também necessário que existisse papel para a escrituração da atividade diária da Imprensa. Em
22 de agosto de 1805,foi redigido o «Inventario dos livros da Administração e arrecadação da Officina
Tipographica da Universidade, e dos papeis respectivos existentes no Archivo da mesma Officina»7, e pela
sua leitura verifica-se que existia uma diversidade de volumes: Contas de Caixa, Contas Correntes com os
Comissários, livros de registo de licenças para impressão das obras, livros de fianças dos aprendizes, livros
de Balanços da Fazenda, livros de despesas das obras impressas, Copiadores de correspondência, etc.

São precisamente estes últimos volumes que nos fornecem informações preciosas sobre o fornecimento de
papel à Imprensa. A Universidade tinha procuradores em diversas cidades do país para tratar de negócios
da instituição. João Manuel de Lima era o procurador da Universidade em Lisboa, entre 1790 e 1809 e
era quem tratava do fornecimento de papel, pela leitura que podemos fazer das diversas cartas que lhe
foram endereçadas; apesar de, por vezes, os contactos serem feitos diretamente com os fabricantes ou
negociantes.

5 V. PT/AUC/ELU/UC – Imprensa da Universidade –Inv., n.º 696.

6 O escriturário da imprensa, Januário Gonçalves Marçal, redigiu em 11 de março de 1801 uma lista destes trabalhos
impressos, intitulada «Conta das obras feitas para a Universidade na Officina da mesma no anno de 1800» que permite
conhecer a diversidade dos trabalhos impressos que não eram propriamente as grandes obras, de autor, impressas. Esta
carta está inserida em caixa de documentos diversos, não tratados arquivisticamente - v. PT/AUC/ELU/UC – Imprensa da
Universidade: documentos diversos - AUC-IV-1.ªE-1-4-6.

7 Inserido na mesma caixa de documentos acima referida.

134
Assim, refiram-se alguns exemplos colhidos nestes copiadores8 que nos permitem conhecer o papel
adquirido, forma de o comprar e de o trazer até Coimbra. Em 8 de novembro de 1790 foi enviada uma
carta aos “Snr.es Irmaons Polleri”, referindo que fora decido, em Conferência, sortir o armazém da
Imprensa com “varias qualidades de papel” e, por isso, solicita-se: “queirão remeter me as amostras
dos que há nas suas Fabricas p.ª entre ellas se fazer eleição dos que mais agradarem e melhor conta
fizerem e p.ª isso mandaraõ VV. M.ces nas mesmas amostras os seus respectivos preços p.ª com mais
brevidade se pode resolver.”

Certamente que a resposta foi célere, pois, logo em 25 de novembro, João Anastácio do Couto (escrivão
e contador-geral da Fazenda da Universidade) responde aos Irmãos Polleri, dizendo que tinham sido
recebidas as amostras de papel e que entre elas fora escolhido o N.º 3, que vinha indicado como
tendo o valor de 1.200 réis cada resma “captiva de direitos na Alfândega”, situação que acontecia por
a Imprensa ter o privilégio de isenção de direitos alfandegários para a aquisição de papel. No entanto,
ao responder, João Anastácio do Couto não se esquece de dizer que a oficina tipográfica esperava
dar grande consumo a este papel (“aos papeis das suas fábricas”) e pede uma redução do preço,
encomendando logo 500 resmas do citado papel e também 500 resmas de papel “de Luca”.

Antes de terminar o ano de 1790, foi endereçada carta ao procurador da Universidade em Lisboa, o
já referido João Manuel de Lima, pois o assunto ainda não estava totalmente resolvido. Assim, em
carta de 13 de dezembro, João Anastácio do Couto diz que ainda não fora recebido o papel, por eles
“Polleris” não terem as 500 resmas que se pediram, solicitando que ajuste com eles 250 resmas, com
outras tantas que há de mandar vir, por 1.100 réis cada resma e no caso de não aceitarem este preço,
então que procure por outra parte amostras de papéis, para ver se aparece algum mais em conta, mas
também com brevidade na remessa “que hé ponto essencial”.

8 Todas as informações que se apresentam foram colhidas no livro Copiador de correspondência (1790-1801),Inv. n.º 185,
dispensando-se a indicação da referência documental no texto, sempre que alguma carta for citada.

135
Foto 1 – Carta de João Manuel de Lima, enviada de Lisboa, em 12 de junho de 1790 a Luís José
Foucault (que era escrivão e secretário da Junta da Fazenda da Universidade de Coimbra).9

Logo no início de 1791, pela leitura de nova carta de 24 de janeiro, endereçada ao mesmo procurador,
se fica a saber que já tinha sido enviado o papel, mas em condições precárias. A leitura da carta
permite conhecer as contingências do envio deste material frágil, por viagem marítima, como
acontecia, ao ser expedido do porto de Lisboa para o da Figueira da Foz, a cidade portuária mais
próxima de Coimbra. É assim que pode ler-se que já tinham sido recebidas 9 balas de papel, com
216 resmas que foram remetidas pela Figueira, “as quaes se viraõ quase perdidas, pelo grande
temporal q as apanhou no mar”. Afirma que também já sabe que fora feito pagamento do papel pelo
procurador da Universidade, a quem pede que diga se tem em seu poder outro algum dinheiro da
Universidade e que poderá lançar as despesas que tem feito, por ordem da Conferência, na conta
da Junta da Fazenda da Universidade.

Esta última referência é esclarecedora para se perceber por que razão, por vezes, as despesas da
Imprensa surgem registadas em séries documentais próprias10 e, outras vezes, surgem lançadas na
série dos Livros de Receitas e Despesas da Junta da Fazenda. Por esta situação se depreende da
dificuldade de fazer um cômputo fidedigno das despesas de aquisição de papel, por parte da Imprensa.

9 Inserida em Correspondência de João Manuel de Lima enviada à Universidade (1789-1796) – AUC-IV-1.ªE-18-4-7 (é


mostrada apenas a primeira folha da carta, tendo sido cortada a margem superior onde figura a quem é endereçada). Estas
cartas revelam como os assuntos da Imprensa nem sempre eram tratados com o seu diretor ou com o seu administrador.

10 Balanços Receita e Despesa, Contas correntes com procuradores ou Livros de Receitas e Despesas da Imprensa da
Universidade.

136
Uma outra carta, de 21 de fevereiro de 1791, dirigida ao procurador João Manuel de Lima, vem
apresentar-nos um outro interveniente no fornecimento de papel à Imprensa, desta vez é alguém
associado ao negócio livreiro. Trata-se da carta em que se pede ao procurador para ir a casa dos
“comissários desta Officina nessa cidade Dubeux e Barneoud” para receber deles 4.800 réis que por
uma carta lhe mandou entregar o seu primo António Barneoud, Administrador da Imprensa11, por conta
particular que tem com eles e logo que tiver recebido esse dinheiro, o empregará em papel de Holanda,
da marca da mesma amostra que remete e que o envie logo que possa. Quanto ao outro papel que
há de vir pelos Irmãos Polleri “taõbem lhe pesso queira apressar aos taes sogeitos para ver se o
apromptaõ com alguma brevidade”.

A referência à isenção de direitos alfandegários, pressupunha que fosse sempre enviada uma
“atestação” da aquisição do papel, por parte da Imprensa, para ser apresentada na alfândega. Isso
mesmo se deduz pela leitura da carta de 18 de abril de 1791, enviada por João Anastácio do Couto
a João Manuel de Lima, dizendo que remete as atestações, que são também transcritas no livro
copiador consultado. Assim, esse documento, assinado pelo diretor da Imprensa João António Bezerra
de Lima, pelo revisor José Fernandes Álvares Fortuna e pelo administrador António Barneoud, atesta a
aquisição de 1.000 resmas de papel de marca maior, feita aos Irmãos Polleri, mandado vir de Génova,
e para que se ateste que o referido papel é para a Imprensa da Universidade e seja livre de todos os
direitos de entrada, na conformidade do Aviso Régio de 7 de janeiro de 1790 e da Carta Régia de 28
do mesmo mês e ano se passou essa “atestação”.

As aquisições de papel continuam a ser feitas regularmente, provando-se a origem italiana do papel
mandado vir pelos Polleri, disso são exemplo as cartas enviadas ao procurador João Manuel de Lima,
em 2 de maio de 1791 e em 10 e 24 de outubro de 1791. Nestas cartas se revela que se mandara vir
”huma grande partida” de papel de Liorne “pelos negociantes Polleris”, referindo a necessidade de o
remeter na primeira embarcação “acondicionado do melhor modo possível”. Mas solicita-se também,
na carta referida de 24 de outubro de 1791, papel de Luca.

A confirmação de que não se recorria apenas a este tipo de papel italiano acima referido, nem ao papel
da fábrica da Lousã, está numa outra carta, datada de 19 de outubro de 1791, enviada para o Porto,
para António da Silva Ribeiro Guimarães, enviando uma amostra do papel que se pretendia e pedindo
uma resma do papel “o mais branco que for possível, e que seja antes de maior, do que de menor
grandeza”.

Estes livros Copiadores, que temos vindo a consultar contêm dados sobre quem eram os negociantes
de livros que eram comissários da Imprensa em diversas localidades. Encontramos assim os nomes

11 Por esta indicação se deduz como a entrada dos negociantes Dubeux e Barneoud como comissários da Imprensa pode
ficar a dever-se a intervenção do administrador da mesma Imprensa, António Barneoud, que se fica a saber ser primo desse
último negociante.

137
dos seguintes mercadores de livros, para os quais a imprensa enviava o seu catálogo de impressões:
em Lisboa – Dubeux &Barneoud, Viúva Bertrand & filhos, Pedro José Rey e Comp.ª, Paul Martin, Borel
e Borel &Comp.ª, João Batista Reycend &Comp.ª; no Porto – António da Silva Ribeiro Guimarães
e também António Álvares Ribeiro; em Lamego – Manuel de Lemos; em Braga – Miguel Francisco
Correia.12 Grande parte das vezes, o pagamento feito por estes livreiros ao procurador da Universidade
em Lisboa era logo encaminhado para fazer pagamentos de papel. Quando havia atraso de pagamentos
por parte dos livreiros, essa situação refletia-se na demora no pagamento do papel. Acontecia também
que os próprios livreiros intervinham na aquisição do papel, podendo a Imprensa ressarci-los com
livros enviados, como adiante se verá. Esta situação permite diversificar a origem da aquisição do
papel, sem estar dependente de um só fornecedor.

Encontram-se vários pedidos de fornecimento a alguns destes livreiros, como é o caso do pedido
feito pelo diretor da Imprensa, João António Bezerra de Lima, em 19 de julho de 1797, para o Porto, a
António da Silva Ribeiro Guimarães, solicitando:

“com toda a brevidade quatro balas de papel da amostra junta, ou de algum outro que seja muito
semelhante, com tanto que tenha o mesmo tamanho, ou quase o mesmo em comprimento e largura”
[…] e que “queira fazer comprar pelo preço q possível for, e que lhas remeta pelos primeiros almocreves
que aparecerem”.

Um outro exemplo é o da carta do diretor da Imprensa enviada ao livreiro Pedro José Rey, em 25 de
maio de 1803, manifestando-lhe desagrado no estado em que chegara a Coimbra, o papel que este
enviara:

“o papel vinha em tal forma, que nunca se vio, e hera necessário reduzi-lo a resmas para se contarem”
[…] também se refere a qualidade desigual do papel , sendo de admirar essa desigualdade de “forma
e de tamanho” “vindo algum muito cheio de nodoas de azeite, ou olio, ou que ellas fossem contrahidas
no armazém em que estava ou as recebesse das serapilheiras, que o cobriaõ.”

A carta termina dizendo que o papel se “acha avariado” e que ficaria sem ser usado, pois não era este
que se ajustara comprar. Em nova carta enviada a Pedro José Rey, em 1 de junho de 1803, foi concluído
o negócio da compra de papel, que foi ajustado em 1.400 réis, cada resma de papel de marca pequena.
A dívida total do papel ficara em 544.410 réis, mas refere-se que “como V. M.ce já recebeo em livros que
se lhe mandaraõ”, atestando a forma de pagamento aos livreiros, através de fornecimento de livros da
Imprensa.13

12 A identificação e atividade de alguns destes livreiros foi estudada por DOMINGUES (2000).

13 Todas as cartas acima referidas se encontram inseridas em AUC- Imprensa da Universidade de Coimbra – Copiador de
correspondência (1802-1815) – Inv. n.º 186.

138
Por fim, cite-se ainda um outro interveniente que deve ser também um negociante de papel. Trata-
se de Francisco Ferrari, a quem foi enviada carta pelo administrador da Imprensa em 12 de outubro
de 1808. Pouco se conhece deste italiano14, no entanto deve ser o mesmo que se dedicaria depois à
restauração, em Lisboa. A carta ilustra, mais uma vez, as aquisições de papel: “pois que lho tomo todo de
três chapeos que diz serem doze ballas de vinte e quatro resmas, e igualmente o florete que diz serem
seis balloens de quarenta resmas cada hum”, solicitando também que seja feito um abatimento no preço.
Simultaneamente deram-se instruções sobre a remessa do papel: “Aceito o cargo que quer tomar de o
embarcar para a Figueira, mas há de ser sabendo que estão os portos dezembaraçados e o mar livre
desses piratas argelinos, que se diz andão…”, acrescentando ainda: “Escuzo de advertir a respeito de
avaria, pois bem sabe o que se pratica na Imprensa Régia de Lx.ª, e por isso será bom para nos livrarmos
disso, que o passe primeiro, que o remeta”. Estas instruções são dadas a quem era apenas negociante,
pois sempre que se tratara de aquisições com os Irmãos Polleri estas advertências não eram feitas.

Este mesmo italiano Ferrari fora já localizado numa outra carta. Neste caso, a carta endereçada em 21
de novembro de 1807, pelo administrador da Imprensa, a outro procurador da Universidade em Lisboa,
Manuel Pedro de Lacerda. Entre outros assuntos, como o pedido de aquisição de chapas de cobre
(certamente para elaboração de gravuras), solicita-se que compre o “papel de três chapéos do Ferrari”
e que envie meia dúzia de resmas por um almocreve e remeta duas balas dele por um iate, pedindo
ainda que veja “se o Ferrari o dá a 2.800 rs, como já a mim o vendêo”.

Ao analisar o papel utilizado para registo das séries documentais já citadas iremos encontrar toda esta
diversidade de papel. Assim pode referir-se o exemplo do volume de Folhas de Férias, de 1792, com
termo de abertura do diretor da imprensa João António Bezerra de Lima e que tem por suporte papel com
marca de água de D&C BLAUW (deve tratar-se do papel de marca grande, solicitado em algumas cartas),
encontrando-se marcado, como se refere também nos registos de algumas despesas).15 Da consulta destes
livros de Folhas de Férias se podem colher informações sobre: os ordenados que os aprendizes recebiam
semanalmente, (em cada semana 0$500 réis); os ordenados do ajudante do Revisor, Dr. Francisco Xavier
da Silva Neto, nomeado por despacho da Conferência de 19 de janeiro de 1791, que recebia mensalmente
5$000 réis; o Abridor de Estampas, Joaquim José da Silva Nogueira, que recebia por quarteis, ou seja
quadrimestralmente, 36$500 réis (janeiro, abril, julho, outubro); ou o fiel da oficina que recebia 2$800 réis,
à razão de 400 réis diários.

As aquisições à fábrica da Lousã são reveladas por alguns recibos de pagamentos de papel, como é o caso
do recibo de pagamento de 220$800 réis, feito a Lourenço Tomati, em 9 de dezembro de 1794, relativo à
compra de 192 resmas de papel.

14 Com loja de comércio na Rua dos Retroseiros, 95, em Lisboa e que depois se dedica à restauração, de acordo com
CASSINO (2015).

15 V. PT/AUC/ELU/UC – Imprensa da Universidade: Folhas de Férias, 1792 –Inv.,n.º 496.

139
Foto 2 – Recibo de pagamento a Lourenço Tomati, da fábrica de papel da Lousã, em 9 de
dezembro de 1794.

Ao mesmo Lourenço Tomati será feita uma série de pagamentos em 1795, em fevereiro, março, julho,
agosto e dezembro, revelando grandes fornecimentos. O preço praticado por esta fábrica da Lousã
era mais em conta e isso seria apelativo, uma vez que, de acordo com esses pagamentos, a resma de
papel era de 1.150 réis, enquanto a resma de papel de Luca era de 1.270 réis.16Em alguns dos recibos
de pagamento verifica-se a intervenção do livreiro francês Estêvão Semiond, residente em Coimbra,
como aquele feito em 26 de março de 1795, em que quem Tomati pede para lhe escrever o recibo,
revelando uma provável relação do fabricante de papel com este negociante “pedi a Estevão Semiond
que por mim escrevesse e eu assignei”.17

É também nesta referida série documental que se podem colher os dados sobre a forma como, por
vezes, era feita a “rápida” designação das qualidades de papel. Assim, cite-se o caso do registo de
pagamento de 8$800 réis feito em 15 de julho de 1797 de papel “da marca X do maior”, de papel de
Holanda, para ser utilizado na impressão do Código Manuelino:18

16 Dados colhidos em PT/AUC/ELU/UC/IUC-Documentos de Receitas e Despesas, 1795-1800 – Inv. n.º 7.

17 V. PT/AUC/ELU/UC – Imprensa da Universidade – Documentos de Receitas e Despesas, 1795-1800, Inv. n.º 7. Semiond
foi identificado também como tendo estado associado ao seu primo, o livreiro Francisco Rolland, como se revela na obra de
CAEIRO (1980): 149-150.

18 Trata-se da impressão das Ordenações do rei D. Manuel I, ou, de forma corrente, Ordenações Manuelinas, impressas em 1797.

140
Foto 3 – Registo do pagamento de papel da Holanda “de marca maior”, em 15 de julho de 1797

A forma como este papel chegava a Coimbra pode ser conhecida com exemplos como o que se
apresenta a seguir. Em 21 de março de 1796 foi feito o pagamento de 6.800 réis pelo frete do iate que
trouxe 408 resmas de papel de Lisboa até à Figueira da Foz e foram pagos 3.400 réis pelo frete do
barco que trouxe o papel da Figueira até Coimbra, pelo rio Mondego.

Um outro caso, colhido em documento de despesa, aprovado em Conferência de 29 de agosto de


1801, incluiu os dados lançados pelo fiel da oficina João da Costa e revelam: barqueiros que trouxeram
seis balas de papel da Figueira da Foz até ao cais de Coimbra (4$600 réis), frete do iate de Lisboa
para a Figueira (3$000 réis), três carros que acarretaram as ditas seis balas de papel (0$360 réis), ao
homem que acarretou o papel do armazém de baixo, para o de cima (0$140 réis).19

19 V. PT/AUC/ELU/UC– Imprensa da Universidade – Documentos de Receitas e Despesas, 1801-1805,Inv. n.º 8.


141
Foto 4 – Exemplo de uma certidão de embarque. Certidão ou “conhecimento” de embarque de 20
balas de papel, com 879 resmas de papel fino, por conta da Junta da Fazenda da Universidade,
feito por ordem João Manuel de Lima, em Lisboa, em 6 de julho de 1790. O embarque foi feito no
iate Nossa Senhora do Amparo, ancorado no porto de Lisboa, de que era mestre Francisco das
Neves, com destino ao porto da Figueira da Foz, em 6 de julho de 1790, tendo sido pagos 9.600
réis de despesa de transporte.20

De suma importância para conhecer a produção tipográfica da Imprensa, assim como o papel
necessário às impressões, são os Balanços mandados elaborar pela Conferência (e também
aprovados nas mesmas reuniões de Conferência). Estes documentos, cujo título completo é Balanços
de Receita e Despesa da Oficina Tipográfica da Universidade de Coimbra, permitem conhecer um
elevado número de autores estrangeiros, adotados no ensino das diversas Faculdades, nos diversos
domínios da teologia, direito, matemática, filosofia, física, etc. Publicados nas línguas originais, em
latim ou em tradução, iremos encontrar a Trigonometria e a Aritmética de Bezout (impressa em latim e
em português), a obra de Dalla Bella, impressa em latim, intitulada Physicas Elementa, as Instituições
Jurídicas de Rieger, etc.

No Balanço de Receita e Despesa, de 1790 a 1805, podem encontrar-se 95 títulos de obras publicadas
nesse período, além de algumas obras particulares que ali não ficaram registadas. Apesar de ser um
precioso documento para conhecer a orientação de ensino21, com o registo das obras adotadas, assim
como os ordenados dos funcionários da Imprensa (revisor, fiel do armazém, abridor de estampas, alçador,
compositores, etc.), torna-se de muito difícil leitura, se o pretendemos analisar quanto a aquisição de

20 Documento avulso que foi inserido em volume encadernado de Correspondência de João Manuel de Lima enviada à
Universidade (1789-1796) – AUC-IV-1.ªE-18-4-7.

21 Não pode deixar de ser dada a indicação de um valioso estudo já efetuado, de análise do conteúdo intelectual destes
Balanços de 1790 a 1805, apresentado no trabalho de ANTUNES (1982).

142
papel, por duas razões: primeiro é dada indicação da existência de papel do ano anterior, a este soma-
se o papel entrado no ano em balanço e depois ainda se indica o papel que se gasta, individualmente
em cada obra, o papel que ficou inutilizado e o papel que foi vendido na loja da Imprensa. Por esta
razão não foi feita uma análise profunda do papel ali registado, a não ser para conhecer a sua origem
e preços por que era comercializado. Refiram-se assim os exemplos colhidos em 1797, ano em que na
impressão das obras do Código manuelino, Chrónica do senhor Rei D. João II e Apêndices dos Assentos
da Casa da Suplicação foi utilizado papel “de Marca”, papel da Lousã e papel de Holanda, num total
de 1.027$890 réis, oscilando os valores das resmas de papel entre 1.000 e 1.050 réis (Lousã), 1.470 e
1.800 réis (de Marca) e 3.500 a 4.700 réis (papel da Holanda). Há ainda a acrescentar as despesas de
condução do papel de Lisboa até Coimbra, de 17$770 réis, por outros papéis adquiridos (sem os referir
em concreto) 188$930 réis. Estes últimos valores dizem, certamente, respeito a resmas de costaneiras,
usadas, geralmente, em provas tipográficas e a papel “avariado e vendido”.22

Ainda hoje podem ser vistas no Arquivo da Universidade (inseridas na série documental de Processos
de cartas de curso) as provas tipográficas dos diplomas ou cartas de curso que depois eram impressos
em pergaminho, utilizando como suporte as “costaneiras” e papel de menor qualidade.

Quanto a dados relativos ao consumo de papel, colhidos no Balanço de 1805, podem ser citados os
seguintes: papel de Marca Maior – entraram 120 resmas e destas restaram apenas 17 resmas; papel
Almaço (que é certamente o papel AL MASSO de Gior[gio] Magnani) – havia no balanço 164 resmas,
entraram, em 1805, 85 resmas e depois de gastas ficaram 209 resmas; papel da Lousã – havia em
balanço 124 resmas, entraram em 1805, 128 resmas, e depois de gastas ficaram 41 resmas.

Foto 5 – Registo de entrega de 451$545 réis mandada fazer pela Conferência da Imprensa a João
Manuel de Lima, para pagar aos Irmãos Polleri papel que lhes fora comprado.23

22 Os Balanços referidos, em que foram colhidos estes dados têm a seguinte localização – AUC-IV-1.ªE-1-4-6, já referida de
forma completa em nota anterior.

23 Inserido em Imprensa da Universidade - Documentos de Receita e Despesa (1790-1794), Inv. N.º 6

143
Foto 6 – Marca de água AL MASSO que depois irá surgir em outros exemplos como ALMASSO.
Proveniente da “cartiera “ de Gior[gio]Magnani, estando apresentado o seu nome na contramarca.
Exemplo colhido em papel datado de 1795, inserido em Documentos de Receitas e Despesas (Inv. N.º 7).

À guisa de conclusão:

Muito haveria a retirar de todo este vasto acervo documental produzido pela Imprensa da Universidade.
O que fica neste trabalho é apenas um pequeno contributo, tendo-se procurado desbravar cartas,
contas, recibos, balanços, documentos que, num primeiro relance, parecem tão áridos de informações,
mas que depois de lidos com dedicação se verificou que são riquíssimos. De qualquer forma, ao trazê-
los a este encontro abre-se uma porta para futuros trabalhos, numa área de estudos em que muito há
ainda por conhecer.

BIBLIOGRAFIA

ABREU, José Maria de (1894) – Legislação Académica. Vol. I (1772-1850). Coimbra: Imprensa da
Universidade.
ANTUNES, José (1982) – «Notas sobre o sentido ideológico da Reforma Pombalina. A propósito de
alguns documentos da Imprensa da Universidade». Revista de História das Ideias, Coimbra: FLUC;
IHTI, IV (t. 2), p. 143-197.
BANDEIRA, José Ramos (1947) – Universidade de Coimbra. Edifícios do núcleo central e Casa dos
Melos. Coimbra, t.2, p. 26-75.
BRAGA, Teófilo (1894) – Dom Francisco de Lemos e a Reforma da Universidade de Coimbra. Lisboa:
Typographia da Academia Real das Sciencias.

144
BRANDÃO, Mário (1938) – Um documento acerca dos prejuízos causados à Universidade pela Terceira
Invasão Francesa. Coimbra: Arquivo e Museu de Arte da Universidade de Coimbra.
CAEIRO, Francisco da Gama (1980) – «Livros e Livreiros franceses em Portugal». Boletim da Biblioteca
da Universidade de Coimbra, vol. 35.
CARVALHO, Joaquim Martins (1863) – Apontamentos para a Historia Contemporanea. Coimbra:
imprensa da Universidade, p. 345-374.
CASSINO, Carmine (2015) – «Lisboa dos Italianos: presença italiana e práticas de nacionalidade nos
primeiros trinta anos do século XIX». Cadernos do Arquivo Municipal. Lisboa. 2.ª série, n.º 3 (janeiro-
junho), p. 201-227
DOMINGOS, Manuela D. (2000) – Livreiros de Setecentos. Lisboa: BN.
FONSECA, Fernando Taveira da (et al.) (2001) – Imprensa da Universidade de Coimbra. Uma história
dentro da História. Coimbra: Imprensa da Universidade.

FONTES DOCUMENTAIS

(Arquivo da Universidade de Coimbra (AUC)


PT/AUC/ELU/UC - Correspondência de João Manuel de Lima enviada à Universidade (1789-1796)
– AUC-IV-1.ªE-18-4-7.
PT/AUC/ELU/UC - Imprensa da Universidade - Documentos de Receitas e Despesas (1790-1794),
Inv. n.º 6
PT/AUC/ELU/UC – Imprensa da Universidade – Documentos de Receitas e Despesas (17801-1805)
Inv. n.º 8
PT/AUC/ELU/UC – Imprensa da Universidade;docs. Div. – AUC-IV-1.ªE-1-4-6
PT/AUC/ELU/UC – Imprensa da Universidade: Folhas de Férias, 1792 – Inv., n.º 496.
PT/AUC/ELU/UC - Imprensa da Universidade de Coimbra – Copiador de correspondência (1790-
1801) – Inv. n.º 185.
PT/AUC/ELU/UC - Imprensa da Universidade de Coimbra – Copiador de correspondência (1802-
1815) – Inv. n.º 186.

145
GRUPO 8
ARQUEOLOGÍA INDUSTRIAL
EN EL MOLINO DE AGUERRI: LA VIDA COTIDIANA EN UN MOLINO PAPELERO DE LA PRIMERA
MITAD DEL SIGLO XVI

Manuel José Pedraza Gracia


Universidad de Zaragoza

RESUMEN

La documentación conservada ofrece una perspectiva bastante evidente de las actividades comerciales
y productivas de los molinos papeleros a lo largo de la historia. Este trabajo pretende aproximarse
desde los documentos notariales zaragozanos del primer tercio del siglo xvi a la vida cotidiana de los
papeleros y propietarios de molinos.

PALABRAS CLAVE

Molinos papeleros; Siglo xvi; Papeleros; Aprendices de papelero.

IN THE AGUERRI’S MILL:

THE DAILY LIFE IN A PAPER MILL OF THE FIRST HALF OF THE 16TH CENTURY

ABSTRACT

The preserved documentation offers an obvious perspective of the commercial and productive activities
of paper mills throughout history. This work proposes an approach from the notaries’ documents of
Zaragoza of the first third of the sixteenth century to the daily life of papermakers.

KEYWORDS

Paper mills; Century xvi; Papermaker; Papermaker apprentices.

La perspectiva del observador actual de lo que puede suponer vivir en un molino papelero en
momentos pretéritos suele estar, como es lógico, muy próximo a lo que hoy se entiende como trabajar
en una fábrica o un taller. Así puede observarse, por supuesto, y esta es una perspectiva que no se
puede olvidar porque el molino tiene como función la de producir papel. Esta sensación se produce
especialmente porque son muy escasos los testimonios que han llegado hasta la fecha sobre los otros
aspectos de la vida de los papeleros de los siglos xv y xvi.

149
La mayoría de los datos que hoy son conocidos sobre aspectos comerciales de la fabricación de papel
en los siglos pasados proceden de la documentación notarial, que es un tipo de fuente que, aunque
proporciona información de muy variado tipo; principalmente está constituida por actos documentales
testificados relacionados con el comercio de productos y transacciones económicas de todo tipo. No
obstante, los actos notariales pueden proporcionar también de forma discreta algunos datos sobre
aspectos alejados de su objetivo principal.

Este trabajo pretende, únicamente, ser una aproximación desde los documentos notariales a aquellos
aspectos menos considerados por la investigación de las actividades de los papeleros y propietarios
de molinos, bien sean comerciales o bien sean particulares y de vida cotidiana.

Las actividades comerciales y las actividades personales en la documentación.

Aparentemente las actividades comerciales que se realizan en el molino, tienen que ver con una serie
de aspectos que pueden ser comunes a otras muchas actividades, en esencia:

1. Arriendo del taller.

2. Compra de materias primas.

3. Contrato de trabajadores.

4. Venta de la producción.

5. Sentencias arbitrales…

También se testifican ante notario otros documentos como capitulaciones matrimoniales o testamentos,
que pueden ser muy personales en apariencia, pero que tampoco aportan información de especial
valor sobre la vida en el molino de papel porque se centran en aspectos económico.

Por ejemplo en el testamento del papelero Diego Díez que se testifica en el Molino de Cogullada se
manifiesta lo siguiente:

Como persona alguna en carne puesta de la muerte corporal escapar no pueda, etc. por aquesto
yo, Diego Díez, peperero, vezino de la ciudat de Caragoca, stando enfermo de mi persona, etc. en
mi buen seso, firme memoria et palabra manifiesta, etc. revocando, cassando et anullando todos et
qualesquiere testamentos, codicillos, etc. por mi antes de aqueste fechos, etc. fago, etc. el presente mi
ultimo testamento, etc. en la forma et manera siguiente…1

1 El 12 de agosto de 1530, en el Molino de papel de Cogullada (Zaragoza), Diego Díez, papelero, vecino de Zaragoza,
estando enfermo dicta su testamento por el que nombra heredero universal al Monasterio de Cogullada y usufructuaria y
ejecutora testamentaria a su mujer, Francisca de Olmedo. A.H.P.Z. Protocolo de Miguel de Segovia, 1530, ff. 497 v. – 499.

150
En las cláusulas, además de las relacionadas con los aspectos funerarios y para el bienestar de su
alma, a los que dedica 100 sueldos; solamente nombra a su mujer, Francisca de Olmedo, usufructuaria
de sus bienes y heredero universal al Monasterio de Cogullada en el que será enterrado.

En el de Miguel de Segovia, solamente se indica que dicta testamento por estar herido temiendo morir.2

Es decir, referidos a la forma de vida de los papeleros, tan solo, que Díez se encontraba enfermo y
Segovia herido a la hora de dictar su testamento.

En los capítulos matrimoniales el marido aporta al matrimonio todos los bienes y cantidades económicas,
por lo que no se suelen inventariar.

Como matrimonio sia tratado et concordado por et entre nos, Bernat Lambert, paperero, habitante en
la ciudat de Caragoça, de una parte, et Bartholomeu Gabarin, paperero, habitante en la dicha ciudat de
Caragoça, et Joana Gabarin, donzella, fija de aquel, de otra parte, el qual matrimonio mediante la gracia
divina se espera y deve fazer et consumar por et entre nos, dichos Bernat Lambert et Joana Gabarin,
con voluntat etcetera, por aquesto agora por causa etcetera, del dicho matrimonio etcetera, fazemos
etcetera, et firmamos en poder del sobredicho et infrascripto notario etcetera, aquesta presente carta
publica matrimonial en la forma siguiente.

Et primeramente, nos, dichos Bernat Lambert et Joana Gabarin, esdevenidores conjuges, trahemos
todos nuestros bienes et de cada uno de nos mobles etcetera, havidos et por haver en todo lugar. Item,
yo, dicho Bartholomeu Gabarin, do siquiere prometo et me obligo dar a la dicha Joana Gabarin, fija mia,
en ayuda del dicho su matrimonio con el dicho Bernat Lambert etcetera, et en et por paga, solucion et
satisfacion de toda su parte maternal, son a saber, una cama de ropa de valor de dozientos sueldos,
item, un manto negro et hun brial colorado que fueron de su madre, muger mia, difunta. Et todo aquesto
luego que ella con el dicho Bernat Lambert sera desposada por palabras de presente.

Item, yo, dicho Bernat Lambert, firmo etcetera, a la dicha Joana Gabarin, sposa et muger que sera
mia Dios mediante, en et por dote de aquella a manera de dote et de axuar et a propia herencia mia
etcetera, son a saber, dozientos sueldos dineros jaqueses, et aquesto sobre todos mis bienes etcetera.3

Quizás podrían hallarse más datos en estos tipos documentales, pero en la documentación de la que
se dispuesto no se han podido encontrar más información que la referenciada.

2 El 18 de julio de 1528 en Zaragoza, Juan de Segovia, pepelero, estando herido dicta su testamento. A.H.P.Z. Protocolo de
Miguel de Longares, 1528, f. 308.

3 El 23 de agosto de 1517 en Zaragoza, Bernat Lambert, papelero, habitante en Zaragoza, y Juana Chabalin, doncella, hija
de Bartolomé Chabalin, papelero, habitante en Zaragoza, capitulan su matrimonio. A.H.P.Z. Protocolo de Luis Navarro, 1517,
ff. 224 v. / 225 v.

151
El molino de papel

Otras tipologías documentales pueden ofrecer informaciones de interés para este trabajo ya que
reflejan bastante bien cómo es o, mejor, qué es un molino papelero. Demuestran que un molino de
papel es algo más que el taller de un artesano. La toma de posesión sigue unas pautas específicas que
se relacionan con el mismo tipo de actos en los que los notarios plasman por escrito la demostración
de que en efecto el molino es propiedad del propietario que solicita la testificación del acto notarial:

… por tanto dixo que tomaba, segunt que de fecho tomo, la posesion real, actual e corporal de las
dichas propiedades arriba confrontadas, singula singulis referendo e en senyal verdadera, real, actual
e corporal posesión: entro et sallio en las dichas casas e torre, ubrio e cerro las puertas de aquellas,
et entro e salio en las heredades de aquellos, e fizo otros actos denotantes verdadera posesion,
coxio decen uvas de la dicha vinya, e corto decen ramas de los arboles e fizo otros actos denotantes
verdadera posesion y pacificament y querra sin contradicion de persona nenguna, segunt que yo,
notario, e testigos infrascriptos a ojo vimos…4

Por más que resulte un documento curioso en cuanto a la demostración de la propiedad, revela que
el molino de papel es algo más que una fábrica tal y como se entiende en la actualidad. El molino
es un edificio, en el que hay una manufactura, pero junto al que se encuentran viñas y árboles que
pueden servir para apoyar la subsistencia de quienes lo habitan. Pero ¿quién se beneficia de esos
otros recursos: los propietarios o los arrendatarios papeleros? Los documentos que mejor pueden
ofrecer una respuesta a este interrogante son los contratos de arrendamiento.

El mismo molino veintitrés años más tarde era arrendado especificando con claridad el objeto de
arriendo:

…un molino suyo farinero y paperero, sitiado en la partida llamada Mezalar, término del lugar de
Villanueba de Vurgazut, varrio de la dicha ciudad de Caragoca, en el qual hay una muela de farina, y
seis pilas de paper y las instancias y cosas que estan dentro de la casa o torre contigua al dicho molino
infrascripto y siguientes: primo, una cozina y horno que esta al suelo del porche de la dicha torre; item,
dos instancias y otra instancia que sirbe de masaderia que estan al dicho suelo; item, los pajar, establo
y corral de la dicha torre; item, un brunydor que estan asi mesmo al suelo del dicho porche; item, un
trujal de ladrillo y la bodega con seis cubas dentro aquella estantes, quatro grandes y dos pequenyas;
item, dos graneros; item, un mirador para enxugar paper; item, un guerto grande, que es el primero
saliendo a las canales y otro guerto que esta entre las dos cequias; item, una vinna que es siete
cafizes de tierra poco mas o menos, sitiada en la dicha partida de Mezalar, y una casa y corral que esta

4 El 25 de agosto de 1513 en Villanueva de Gállego (Zaragoza), Juan de Aguerri, caballero, domiciliado en Zaragoza, como
procurador de Alonso de Aragón, arzobispo de Zaragoza, toma posesión de una casa, una torre, un molino harinero y de
papel, un corral, un granero y dos huertos, sitos en Mezalar, término de Villanueva de Gállego, barrio de Zaragoza, Archivo
histórico de Protocolos de ZArAgoZA (A.h.P.Z.) Protocolo de Jimeno gil, 1513, ff. 257 / 257.

152
contiguos a la dicha vinna; item, dos cerradas y todas la tierras blanquas de las dichas torre y molino y
a ellas, y a cada huna d’ellas pertenescientes, con todos los aynes que en el dicho molino ay y estan
para el exercicio de hazer paper, por tiempo de tres anyos contiguos y siguientes…5

Lo primero que destaca es que se trata de complejos productivos destinados a la molienda del grano,
a la fabricación de papel y labores agrícolas junto a un lugar de residencia. Esto es, una casa, que
contiene los molinos, y los terrenos agrícolas aledaños. La dependencia de un curso de agua no
siempre permite que los molinos se sitúen en los núcleos de población, por lo que es necesario que
haya una vivienda aneja y, además, junto a los cursos de agua puede haber otros usos comunes.
El aprovechamiento de los recursos hidráulicos permite mantener dos molinos con distinta utilidad
atendidos por los arrendadores ya que diversificando el negocio se evita la dependencia de una única
vía de obtención de beneficio. Una ubicación alejada del núcleo urbano facilita la existencia de terrenos
agrícolas utilizables por parte de los arrendatarios. El cómo se reparte este potencial entre arrendatario
y arrendador es otra cuestión, porque el arrendador puede reservarse algunos recursos para su uso o
determinados derechos sobre el uso o disfrute de su propiedad

1. En contratos del mismo molino el arrendador, entre otras condiciones estipuladas, se reserva
lo siguiente:6
a. «…se reserva para si las estançias del dicho molino siguientes, a saber es, el granero, el pajar,
los establos, la sala, las cambras de arriba y el miradorçico para el huerto».
b. «…la cozina, y el forno, y entradas de la casa y el corral sean comunes [a arrendador y
arrendatario]» o, dicho de otro modo, a «…hazerse el servicio que le cumplira de la cozina, establo,
pajar y coral de la dicha casa».
c. Poder «…cojer de la fruta que hubiere en los dichos huertos para su servicio».
d. Que «…le hayan de moler en el dicho molino todo el pan que para su casa hubiere de menester».
e. «…si quisiere azer colmenar …en el coral de la casa de la vinya, o donde mejor le paresciera
que lo pueda hazer».
f. «…si quisiere plantar arboles o vinnas que lo pueda hazer el dicho».
g. «… el campo que a plantado de arboles que esta delante de la dicha torre».

5 El 21 de febrero de 1536, en Zaragoza, Jerónimo Sora, notario público, ciudadano de Zaragoza, arrienda a Juan Mandura,
clérigo habitante en Zaragoza, el molino de papel de Mezalar, término de Villanueva de Burgazut, durante tres años por una
renta anual de 100 florines de oro. Jerónimo Santángel, mercader, ciudadano de Zaragoza, y Gracia Zalduendo, habitante en
el mencionado molino, avalan a Juan Mandura. A.H.P.Z. Protocolo de Pedro Bernuz II, 1536, ff. 20 - 23.

6 bidem. También en un acto testificado en Zaragoza el 23 de junio de 1512 por el que Juan de Aguerri, infanzón, domiciliado
en Zaragoza, arrienda un molino de papel sito en Mezalar, término de Villanueva de Gállego, barrio de Zaragoza, a Esteban
de Escarcella, papelero, habitante en Zaragoza, por diez años y 900 sueldos jaqueses de renta anual. A.H.P.Z. Protocolo de
Pedro Martínez de Insausti, 1512, ff. 198 v. / 202. Resumido por Manuel AbiZAndA y broto, Documentos para la hIstorIa artístIca
y lIterarIa De aragón proceDentes Del archIVo De protocolos De ZaragoZa, 3 vols., ZArAgoZA, lA editoriAl, 1915-1932, vol. 1, P.

298; y vol. iii, P. 232., Además en otro documento dAtAdo en ZArAgoZA el 4 de noviembre de 1513 Por el que JuAn de Aguerri menor,
infAnZón, domiciliAdo en ZArAgoZA, ArriendA un molino de PAPel sito en villAnuevA de gállego (ZArAgoZA) A bArtolomé chAbAlin,

PAPelero, hAbitAnte en villAnuevA de gállego, Por seis Años y 900 sueldos dineros JAqueses de rentA AnuAl. A.h.P.Z. Protocolo

de Pedro mArtíneZ de insAusti, 1513, ff. 465 / 468 v.

153
2. El arrendador se obliga a:
a. «…tener y mantener la casa del dicho molino de paper y farinero firme de paredes y bien
cubiertas de tejados sinse puntales de fusta, en tal manera que esten buenas y habitables».
b. entregar «…ante de obrar en el dicho molino paperero, cinquo pilas todas con sus aparejos, y
huna posta de sayal blanquo, y tres prensas para prensar el paper, y huna tina con la caldera que
sta en el dicho molino».
c. «…pagar las planchas y clabazon que sera menester para el dicho molino paperero».
d. «…si se hubiere de hazer pila nueba, o rueda nueba, o arbol, travieso, o llabes, tina o tinaco,
o prensa, o tesa».
e. «…tener y mantenerlo en pacifica posesion y de no quitarjelo por otro arrendamiento mayor ni
menor tubiendo y cumpliendo las cosas que de parte de arriba es tenido».

3. El arrendatario disfrutará de los bienes arrendados salvo lo especificado en el resto de las


condiciones y a:
a. «…tener en la cerrada del dicho molino fasta numero de quatro o cinquo bestias e no mas».
b. «…de hun guerto del dicho molino, el que… mas querra».
c. «…de tres cambras de la casa de las mas baxas, y del cillero con los vaxillos dentro aquel
stantes y del mirador donde se suele stender el paper».
d. «…se pueda servir y tener para su / serviçio la bodega del dicho molino con huna cuba grande
y dos pequenyas».
e. «…al tiempo de la cogida de las uvas, todas aquellas cargas de uvas para inchir los vaxillos del
dicho molino, las quales dichas huvas haya de pagar… al precio que valdrán…».

4. El arrendatario adquiere las siguientes obligaciones:


a. «…tener y mantener el dicho molino paperero de todas las cosas nescesarias al exercicio del
dicho oficio de paperero, a saber es, de maços, formas y todas las cosas pertenecientes al dicho
molino, exceptado que si alguna pila se crebase, o plancha, o el arbol o rueda, que aquello se haya
de fazer a costos y expensas de entramos… por partes yguales».
b. «…pagar el precio de la posta del dicho sayal.».
c. «…cabar dos vezes la dicha vinna, y de podarla, morguonarla, y ella y los guertos regarlos,
labrarlos y conrearlos en sus tiempos comunmentes».
d. hacerse cargo de «…teleras, macos, clavos y clavazon» o «…dar las planchas y clabazon que
sera menester para el dicho molino paperero».
e. Dejar «… el molino como lo toma y andante».
f. «…tener y mantener las ceradas de la suerte que las toma».
g. «…pagar todas las alfardas exconbras de cequias y bracales».
h. Hacerse cargo de «… las balsas del dicho molino».
i. No sacar «…cosa ninguna del dicho molino para servirse en otro molino».

154
j. «…no… cortar arbol ninguno de la dicha torre sin lizencia».
k. Pagar el arriendo, 100 florines de oro, y aceptar las condiciones pactadas.

Pero, además, un molino papelero es un recurso unido al agua y, en otro contrato de arrendamiento
se dice:

…si por caso se fiziese o fara pezquera en la almenara del dicho molino, que todo el pezquado que se
tomara en aquella se aia de partir a medias entre mi, Jorje Lopez del Frago, y maestre Anton Caça, con
juramento de traherlo todo a buena y verdadera partición…7

El arrendatario de un molino papelero es muchas cosas principalmente: papelero, está obligado


a gestionar el negocio mediante la compra de materia prima, la venta del papel manufacturado, la
contratación de personal (como en otros negocios de manufactura). También es molinero (de cereal),
debe ocuparse de los problemas que pueda dar la maquinaria de los molinos, tiene que trabajar y
mantener los terrenos agrícolas del entorno y, cuando es necesario, es además pescador.

Los que viven en el molino

Quizás, demasiada labor para un solo hombre, el papelero (maestro papelero) ayudado por la familia del
papelero, los oficiales que pudiese contratar y los aprendices. Esta cantidad de trabajo lleva a los papeleros
en ocasiones a crear sociedades en la que se puede atisbar las condiciones de vida en el molino.

La familia de los socios en el taller vivirá en dependencias diferentes, pero se estipulan diferentes
clausulas:

… mujeres, fijos e famylia ayan de comer y beber en una mesa comun y no sea el uno al otro ni menos
la companya en mas obligado ni menos dar ninguna cosa particular para la dicha despensa salvo en
comun. Y si por ventura no querran venir a comer en la dicha mesa comun que se lo ayan de mercar
de sus bolsas y no sea a cargo de la dicha companya.

… atendido y considerado que en el dicho molino aya muchas datas asi en mercar trapos, fieltros
soldadas de mozos, despensa ordinaria, pagar la arrendacion del dicho molino y otras cosas, e las
sobredichas cosas no se porran fazer por muchas manos sino a gran danyo de la dicha companya, que
por los dichos respectos el dicho Bertholomeu aya de tener cargo e tenga de la bolsa del dicho molino
e administracion general para despender y cobrar lo que a la dicha companya fuere necesario, que

7 El 30 de septiembre de 1516 en Zaragoza, Jorge López del Frago, vecino de Villanueva de Gállego (Zaragoza), por
una parte, y Jimeno Terrén, mercader, habitante en Zaragoza, y Antón Casa, papelero, residente en el molino de papel de
Villanueva de Gállego, por otra, entregan al notario un contrato realizado el 1 de abril del año en curso por el que capitulan
el arriendo a Antón Casa durante seis años del mencionado molino de papel propiedad del mencionado Jorge López del
Frago, por 900 sueldos anuales, siendo fiador del negocio durante los primeros dos años Jimeno Terrén. A.H.P.Z. Protocolo
de Juan de Aguas, 1516, ff. 165 v / 169.

155
aya de tener leal cuento al dicho su companero, para lo qual presente juramento en poder del notario
los dichos capitoles testificant.

… si los dichos Anthon y Bertholomeu siguiendose el tiempo alguno d’ellos quera tomar dineros de
la dicha companya, es, a saber, para vestir a ellos o cada huno d’ellos o a sus mujeres o fijos, que el
dicho Bertolomeu, administrador, sea obligado a dar lo que por lo otro le fuere demandado. Con esto,
empero, que no exceda lo que buenamente fuere necesario para en danyo de la dicha companya.
Y se obligan cada huno asi el dicho Anthon de no demandar salvo aquello que fuere necesario y
conderente…

Item, es concordado que, fechas todas las sobredichas cosas, el dicho administrador, pagados todos
los cargos de las sobredichas despensas del dicho molino asy en spensa ordinaria como en soldadas,
arendacion e vestir d’ellos, mujeres y fijos, todo lo que restara se haya de partir por yguales partes.8

No se establece salario alguno, sino un fondo administrado por uno de los socios que cubre los gastos
de manutención de la familia, de vestido, y, por supuesto, de gestión del negocio, del que debe dar
cuenta al otro de los socios que se compromete, a su vez, a no exigir más allá de lo necesario.

Los oficiales entraban al servicio de los maestros papeleros por tiempos estipulados a precios que se
pactaban en contratos de trabajo:

Eadem die, yo Francisquo Assin, habitant de present en la ciudat de Caragoça et natural qui soy del
regno de Francia… me firmo et me pongo por moço serbicial obrero al officio de paperero con vos el
honrado Guillen de Laus, paperero, habitant en la dicha ciudat de Caragoça… por tiempo, es a saber
de diez meses, los quales comiencan a correr el present et arriba calendado dia de hoy. Es condicion
que vos dicho Guillen de Laus deys a mi dicho moço durant el dicho tiempo comer et beber et darme de
soldada a razon de ocho ducados et medio de oro por hun anyo, aquello que verna por los dichos diez
meses. Item, es mas condicion, que las faltas que yo dicho moço fare, assi por enfermedat como en
otra qualquiere manera durant el dicho tiempo de los dichos diez meses, que yo las haya de hemendar
en fin del dicho tiempo en esta manera: los dias que vos dicho Guillen de Laus me fareys la mission por
hun dia de falta dos dias de hemienda et los dias que yo dicho moço me fare la mission por hundia de
falta otro dia de hemienda. Et… si mende sallire con el dicho tiempo no complido, quiero que yo pueda
ser tomado presso puesto en la carcel et detenido a donde quiera que yo trobado sere etc., et pagar
vos qualesquiere penas, etc. Yo, dicho Guillen de Laus, recibo et tomo a vos dicho moço por obrero por
el dicho tiempo al dicho officio et por la dicha soldada et prometo pagarvos aquella, etc.9

8 El 19 de mayo de 1502 en Zaragoza, Bartolomé Chabalin y Antón Casa, maestros papeleros, constituyen una sociedad
para fabricar papel durante seis años, arrendando el molino de papel de Luis de la Caballería sito en Cascajo, término de
Zaragoza. A.H.P.Z. Protocolo de Domingo Español, 1502, s. f.

9 El 24 de julio de 1526, en Zaragoza, Francisco Asín, habitante en Zaragoza, natural de Francia, firma como obrero papelero
con Guillén de Laus, papelero, habitante en Zaragoza, durante diez meses por la parte que corresponda de un sueldo de 8

156
Se trata en la mayoría de los casos de trabajadores itinerantes que van en busca de trabajo de molino
en molino atendiendo a las carencias que los papeleros tienen.

También se contratan aprendices. Los aprendices suponen una fuerza de trabajo barata, aunque
no especializada. Pero eran muchas las tareas que eran capaces de poder realizar en el molino.
La mayoría de los contratos de oficiales debían sellare con un apretón de manos y no han dejado
constancia documental, pero los contratos de aprendiz, eran más extensos en el tiempo.

Eadem die, nos Cathalina de Sogobia et Miguel Ezquierdo, cabonero, habitantes en la ciudat de
Çaragoça… afirmamos et ponemos por moço serbicial et aprendiz al officio de papelero a Periquo de
Sogobia, fijo de mi, dicha Catalina, con vos, el honrado maestre Julian Bolluhe, paperero, vezino de
la dicha ciudat… por tiempo es a saber de cinquo annos, los quales comiençan a correr el presente
et arriba calendado dia de hoy... Es condicion que vos, dicho maestre Julian Bolluhe, paperero, deys
al dicho moço durant el dicho tiempo: comer et beber, bestir et calçar, et tenerlo et mantenerlo sano et
enfermo et mostrarle el dicho officio de paperero bient et lealmente tanto quanto a vos sera posible.
Et el dicho moço de prender lo pora en fin del dicho tiempo, bestirlo et calçalo todo de nuevo según
a semeiantes moços aprendizes del dicho officio de paperero se acostumbra en la dicha ciudat de
Caragoça. Item es mas condicion que las faltas que el dicho moço fara assi por enfermedat como
en otra qualquiere manera que el dicho moço la haya de henmendar en fin del dicho tiempo en esta
manera: los dias que vos dicho maestre Julian no le fareys la mysion por un dia de faltas, dos dias de
hemienda; et los dias que el dicho moço se fara la mysion por hun dia de falta, otro de hemienda. Et
aquesto prometemos e nos obligamos nosotros, los dichos Cathalina de Segobia et Miguel Ezquierdo,
cabonero, et cada uno de nos promete et se obliga por si de fazer, estar et que nosotros faremos
estar al dicho moço continuament durant el dicho tiempo de los dichos cinquo anyos en el dicho officio
de paperero, et siquiere en el dicho vuestro serbicio de vos, dicho maestre, Juliano Lluhe, paperero,
et de no sacarlo de aquel; et que nosotros no lo sacaremos de aquel el dicho tiempo durant por
officio otro alguno ni por otro caso alguno; antes, si el dicho moço se sallira del dicho officio de vos
dicho maestre Juliano Lluhe, paperero et nosotros dichos Cathalina de Sogobia et Miguel Ezquierdo,
cabonero, prometemos et nos obligamos de fazerlo y de tornar y que nosotros lo y faremos tornar a
todas expensas nuestras propias de donde quiere que el dicho moço trobado sea et o pagar vos la
despensa de lo que habra vinido el dicho moço durant todo el tiempo que con vos habra estado darvos
otro tan bueno o meior moço etc. et pagar vos qualesquiere expensas, danyos et menoscabos etc. et
de fer vos apro etc. de de qualquiere danyo etc. que el dicho moço vos fara etc. et prometemos tener
etc. obligamos etc. Et yo dicho moço prometo et me obligo de estar et que yo estare durant el dicho
tiempo etc. en el dicho vuestro serbicio de vos, dicho maestre Juliano Lluhe, paperero, etc. et si me
hende salliere etc. quiero que yo pueda ser tomado preso etc. de donde quiera que yo sere allado etc.
et pagarvos las expensas etc. Et yo, dicho maestre Juliano Lluhe, paperero, que a todo lo sobredicho

ducados y medio anuales. A.H.Prot.Z. Protocolo de Miguel de Longares, 1526, ff. 506 – 506 v.

157
presente suy etc. recibo, tomo, amparo el dicho moço por el dicho tiempo et condiciones etc.10

Estos contratos de trabajo que realizan los papeleros no siempre son contratos para oficiales papeleros;
en ocasiones lo que se contrata son aprendices de agricultor que puedan trabajar en las tierras propias
y en las que les corresponden en el molino.11 Como en el caso de los aprendices de papelero, estos
aprendices de labrador viven en el molino y el patrono se obliga como en los otros contratos a atenderlos
enfermos y sanos a darles manutención y alojamiento.

A modo de conclusión

El molino papelero es un sistema de producción complejo en el que se entremezclan numerosas


actividades realizadas por grupos de personas diversas.

En el molino conviven los socios papeleros (cuando existe una sociedad) de forma comunitaria. Con
el papelero, convive su familia, a la que se le encomendarán una serie de trabajos relacionados tanto
con la actividad comercial como con la del mantenimiento de la casa y la atención a las personas
que conviven en el molino. Las mujeres se encargan del tendedero del esguinzado…, pero también,
en una sociedad tan patriarcal como la del siglo xvi, de actividades domésticas, curiosamente no se
han encontrado contratos de sirvientas que ayuden en este tipo de labores. Los niños aprenden la
profesión de sus padres y se encargarían de actividades que requerían poca especialización. De estas
labores se encargan los oficiales y los aprendices que también viven en el molino.

El molino es, naturalmente, una fábrica de hacer papel, pero se aprovecha el curso de agua para mantener
otros ingenios para moler cereal, se realizan reparaciones y mantenimiento de maquinaria, de los puentes
y de los canales de agua: hay que reparar los mazos, hay que limpiar balsas y acequias… Muchas de
estas labores son estacionales como la molienda de cereal o la limpieza de los cursos de agua.

Además el molino está rodeado de tierras de labor con vides y árboles frutales de cuyo cuidado también
se encargan los arrendatarios; y, además, en ocasiones, se obtienen peces.

10 El 17 de agosto de 1526, en Zaragoza, Catalina de Segovia y Miguel Izquierdo, çabonero, habitantes en Zaragoza, firman
como aprendiz de papelero a Perico de Segovia, hijo de la mencionada Catalina de Segovia, con Julian Bulluer, papelero,
vecino de Zaragoza, durante de cinco años. A.H.P.Z. Protocolo de Miguel de Longares, 1526, ff. 561 - 562 v.

11 El 8 de agosto de 1532, en Zaragoza, Cristobal de Villarreal, natural de Los Arcos, del reino de Navarra, firma como
aprendiz de labrador con Miguel Pérez, papelero habitante en Zaragoza, durante tres años por la manutención, el vestido y la
habitación y 9 florines que percibirá al final del período comprometido. A.H.Prot.Z. Protocolo de Luis Barberán II, 1532/1534,
ff. 61 – 61 v.

158
LA ELABORACIÓN DE PAPEL EN SANT QUINTÍ DE MEDIONA Y LOS MOLINOS DE CA L’OLIVER
(SIGLOS XVIII-XIX)

Jordi Armengol Martí


Biblioteca de Catalunya
jarmengol@bnc.cat

RESUMEN

Durante los siglos XVIII y XIX, la familia Oliver fue propietaria de cuatro molinos papeleros, dos de
papel blanco y dos de estraza, además de uno de harina en Sant Quintí de Mediona. Estos molinos
formaban uno de los núcleos papeleros más importante de la zona. Joseph Oliver, estuvo durante
largos años litigando con el Ayuntamiento de Sant Pere de Riudebitlles por la ubicación y altura del
azud que suministraba el agua para el abastecimiento de los molinos y los campos de cultivo. Francisco
Oliver, hijo de Joseph, continuó con el pleito iniciado por su padre. Mientras tanto los arrendatarios de
los molinos estuvieron fabricando papel, ajenos a los problemas del propietario.

El propósito de esta comunicación es dar una visión general de la fabricación de papel en Sant Quintí
de Mediona e identificar a los papeleros que elaboraron papel en las fábricas de Ca l’Oliver y las
filigranas que usaron.

PALABRAS CLAVE

Fabricación de papel. Molinos papeleros. Sant Quintí de Mediona. Familia Oliver

SUMMARY

During the 18th and 19th centuries, the Oliver family was the owner of four paper mills, two of white
paper and two of Brown, as well as one mill of flour in Sant Quintí de Mediona. For many years, Joseph
Oliver, was litigating with the Town Hall of Sant Pere de Riudebitlles due to the location and height of
the mill dam that provide water for the supply of the mills and fields. Francisco Oliver, son of Joseph,
continued with the lawsuit started by his father. Meanwhile, tenants of the mills were manufacturing
paper, oblivious to the problems of the owner.

The purpose of this communication is to give an overview of paper making in Sant Quintí de Mediona
and identify the papermakers that developed role in the factories of Ca l’Oliver and the watermarks that
they used.

159
KEYWORDS

Paper making. Paper mills. Sant Quintí de Mediona.

Sant Quintí de Mediona

La población de Sant Quintí de Mediona, con una extensión aproximada de 14 km2, se localiza al norte
de la comarca del Alt Penedés en la provincia de Barcelona. Este pequeño municipio se encuentra a
la falda del Turó del Castell, donde aún se pueden ver restos del antiguo castillo que pertenecía a la
Baronía de Mediona.

En 1714, en plena guerra de sucesión, una revuelta originada por el impago de los altos tributos
impuestos por el Intendente General, llevo a diferentes pueblos de Catalunya a enfrentarse con las
tropas borbónicas. Sant Quintí de Mediona fue una de estas poblaciones y, además, fue donde se
agruparon finalmente los insurgentes. El resultado fue la ocupación y saqueo del pueblo por parte de
las tropas borbónicas que prendieron fuego a las 140 casas y causaron un elevado número de víctimas.

Durante el siglo XVIII, en Sant Quintí de Mediona, a diferencia del vecino pueblo de Sant Pere de
Riudebitlles, no se apreció un aumento significativo de la población ante la demanda en la manufactura
papelera. En la mayoría de las poblaciones productoras de papel se experimentó un crecimiento
demográfico progresivo a lo largo del siglo XVIII para luego decrecer durante las primeras décadas del
siglo XIX, debido en gran parte a la pérdida del mercado americano. Contrariamente a lo esperado,
esta población creció demográficamente ya entrado el siglo XIX.

1718 1787 1857

Sant Pere de Riudebitlles 319 890 1915

Sant Quintí de Mediona 181 219 2302

Crecimiento de población (fuente : Idescat)

Sant Quintí de Mediona y los pueblos que se encuentran en la riera Mediona-Riudebitlles destacaron en
el sector papelero, en parte, gracias a la afluencia de agua proveniente del acuífero Carme-Capellades.

160
Figura 1. Los molinos de Sant Quintí de Mediona (fuente: Institut cartogràfic de Catalunya).

“Les Deus” son las fuentes que proporcionan a la riera un caudal aproximado de 70 lt/s, lo que
vendría a ser unos seis millones de litros diarios. Los molinos localizados en los primeros tramos
de la riera eran en su mayoría harineros aunque había alguno de aceite. El molino más antiguo
que se conoce en Sant Quintí de Mediona era el Molino harinero de “Les Deus”, documentado en
1399. En esta población penedesenca es donde se localizan los primeros molinos papeleros de
este curso fluvial.

Para el aprovechamiento del agua se construyó un sistema de canalizaciones que eran utilizadas tanto
para el regadío, como para su uso en los molinos. Uno de ellos es el denominado “rec de l’Oliver” que
proporciona agua a la balsa de Ca l’Oliver. El uso de estos depósitos era especialmente importante en
las épocas de escasez de lluvias, cuando las rieras no llevaban suficiente agua.

Se pueden contabilizar hasta 7 los molinos papeleros que estuvieron activos en Sant Quintí de Mediona
durante el siglo XVIII y principios del siglo XIX.

1. El Molí d’en Nadal o d’en Bas

El 27 de abril de 1748 el Intendente General concedía al ayuntamiento de Sant Quintí de Mediona la


facultad de construir molinos desde el terreno de Francesc Mallofre hasta el “pèlag del Salt”. Cuatro
años más tarde se vendían dichas facultades a Josep Pomés, que a su vez las vendió a Francesc de
Bas y de Moner1.

1 Madurell, 1972

161
En el año 1766 Francisco de Bas i de Monner, en su testamento, instituyó a Doña María de Bas y
Maranyosa, su esposa, usufructuaria del Molí de Sant Quintí de Mediona y a su hijo Francisco de Bas
y Maranyosa heredero universal de todos sus bienes2.

En el listado de propietarios y papeleros que suministran papel a América, datado en Barcelona el 13


de marzo de 1786, al molino de Sant Quintí de Mediona propiedad de Don Juan de Bas y arrendado a
Joseph Llorens, se le asigna una tina. Se da la circunstancia que al molino que Don Juan de Bas posee
en Capellades, y que también tiene alquilado a este papelero, se le asigna otra tina3.

En el año 1787, en el contrato de arrendamiento del molino propiedad de Gabriel Estrada y Manuel
Brugal con Ramón Alegre, papelero de Santa María de Lavit, se apunta que el molino pertenecía a
Juan Bas de Capellades: “Item que degau escurar lo rech des de la fita de Don Carlos Ferrer fins al
molí de Don Joan Bas de Capellades dos vegadas lo añy”4.

En la venta de un terreno en Sant Quintí de Mediona en 1797 se declara que: “afronta a tramontana
amb la paret del safreig del molí d’en Joan Bas de Capellades (…) a la partida dita lo clot de las
casadas”5.

2. El Molí del Pujol o d’en Romeu

El Intendente General de Catalunya otorgaba el 2 de abril de 1776 a Cristofor Romeu papelero de Sant
Quintí de Mediona la facultad de construir un molino en la partida denominada “Puig del Sastre” o “El
Pujol del Sastre”6.

El 17 de marzo de ese mismo año Cristofor Romeu, para poder concluir las obras de dicho molino,
firmó un censal perpetuo de 7 libras y 10 sueldos a Joseph Suriol y Martí labrador de la misma villa7.

El 22 de enero de 1787 y por cuatro años Geroni Romeu, hijo de Cristofor, arrendó el molino de estraza
de su propiedad a Mariano Sastachs, papelero habitante en Sant Quintí de Mediona y en el molino de
Juan Bas de Capellades. El precio del arriendo fue de 520 libras que el arrendatario debía pagar a Pere
y Pau Cerdà, suegro y cuñado de Romeu, para saldar las deudas contraídas con ellos, y los atrasos
del censo anual a Joseph Suriol8.

2 Arxiu Comarcal Anoia (ACAN). Protocolos notariales Agustí Vilades. Testamentos 1749-1794. Fol. 13

3 Lenz (1990), anexo 1c

4 Arxiu Comarcal de l’Alt Penedes (ACAP). Protocolos notariales Jaume Abreu Manual año 1787. Fol. 115

5 ACAP Protocolos notariales Jaume Abreu Manual año 1797 fol. 240g

6 Madurell, 1972

7 ACAP Protocolos notariales Jaume Abreu Manual año 1776. Fol. 74g

8 ACAP Protocolos notariales Jaume Abreu. Manual año 1787. Fol. 27g

162
Por las numerosas deudas acumuladas y las que heredó de su difunto padre, el día 12 de marzo de
1787, Geroni Romeu cedió el molino y las tierras adyacentes a Pere y Pau Cerdà y Joseph Pomés para
que lo alquilaran hasta que se hubieran sufragado todas las deudas9.

El primero de mayo de 1787 Mariano Sastachs subarrendó dicho molino a Pere Guasch y Francisca
Guasch y Miquel, cónyuges de Sant Quintí de Mediona por cuatro años y 520 libras10.

El 3 de julio de 1791 Geroni Romeu arrendó por dos años el molino a Pere y Joseph Guasch padre e
hijo papeleros de Sant Quintí de Mediona por un total de 200 libras11.

El 3 de febrero de 1793 arrendó por cuatro años el molino a Francisco Farreras por un total de 400
libras12. El 4 de septiembre de ese mismo año se amplió el arriendo a Farreras y se incluyó a Joan
Esteve, pelaire de Sant Quintí de Mediona, por dos años más a razón de 100 libras anuales13. El día
23 de diciembre de 1793 se amplió nuevamente un año pero esta vez a Joan Esteve y a Francisca
Farreras y Farré, viuda de Francisco Farreras por 100 libras14. Ese mismo día Francisca subarrendó
dicho molino a Joan Torras papelero de Sant Quintí de Mediona por cuatro años a razón de 125 libras
anuales15. Francisca Farreras y Joan Esteve lo volverían a subarrendar por los tres años siguientes a
Joan Torras, también por 125 libras anuales16.

En el Inventario de bienes de Francisco Farreras, datado el día 20 de enero de 1794, se reafirma


que este papelero tenia arrendado, además de tres molinos del Marqués de Llió, el molino de Geroni
Romeu situado en la partida del Pujol en el término de Sant Quintí de Mediona durante seis años y
600 libras que ya había pagado al propietario17. El 13 de agosto de 1796, Geroni Romeu, que en esos
momentos habitaba en Gélida, ampliaba el arriendo del molino del Pujol a Joan Esteve y Francisca
Farreras por cinco años por 100 libras anuales18. A causa de las innumerables deudas que tenía, en
noviembre de 1796, Geroni Romeu vendió el molino a Gabriel Estrada y Manuel Brugal, junto con unas
casetas y tierras anexas, además de la facultad de tener el molino y usar las aguas por el precio de
2631 libras, 2 sueldos y 4 dineros19.

9 ACAP Protocolos notariales Jaume Abreu. Manual año 1787. Fol. 78g

10 ACAP Protocolos notariales Jaume Abreu. Manual año 1787. Fol. 121g

11 ACAP Protocolos notariales Marià Abella. Manual año 1791. Fol. 148g

12 ACAP Protocolos notariales Marià Abella. Manual año 1793. Fol. 64g

13 ACAP Protocolos notariales Marià Abella. Manual año 1793. Fol. 271

14 ACAP Protocolos notariales Marià Abella. Manual año 1793. Fol. 377

15 ACAP Protocolos notariales Marià Abella. Manual año 1793. Fol. 379

16 ACAP Protocolos notariales Marià Abella. Manual año 1793. Fol. 381g

17 ACAP Protocolos notariales Marià Abella. Inventarios 1790-1826. Fol. 28

18 ACAP Protocolos notariales Marià Abella. Manual año 1796. Fol. 399

19 ACAP Protocolos notariales Marià Abella. Manual año 1796. Fol. 547

163
Posteriormente estos lo venderían a Josep Antoni Farreras, que el 10 de noviembre de 1800 lo
arrendaría a Nicolau Coca, menor, por dos años por 130 libras anuales. En los términos del contrato
se nombra a Nicolau Coca, mayor, papelero de Sant Quintí de Mediona, fiador de su hijo homónimo20.

3. El Molí dels fogars

Antoni Gili i Romagosa, labrador de Sant Quintí de Mediona obtenía, el 9 de junio de 1775 del Intendente
General de Catalunya, la concesión de un establecimiento para construir un molino papelero en la
partida de su propiedad del Mas Fogas utilizando para su funcionamiento las aguas de la riera21.

El 18 de agosto de 1775 el consistorio de Sant Pere de Riudebitlles denunció la edificación del molino
papelero que Antoni Gili y Antonia Gili y Ventosa, cónyuges de Sant Quintí de Mediona, estaban
erigiendo. A los pocos días se formó contención por parte de los cónyuges en la Real Intendencia de
Catalunya. Finalmente el 27 de junio de 1781 se firmó una concordia por la cual Antoni Gili y su esposa
podían tomar el agua que necesitasen de la acequia comunal y, a cambio, los cónyuges se encargarían
del mantenimiento y limpieza de la acequia desde el azud hasta dicha fábrica22.

Después de tres causas interpuestas entre ellos, el día 30 de junio de 1781, los cónyuges Gili firmaron
una concordia con Nicolau Valles y Francisco Massana. Por los pactos firmados, tanto unos como
otros, podían continuar las obras de sus molinos. Se permitía la construcción de un conducto que
llevaría el agua desde la acequia de Sant Pere de Riudebitlles hasta el molino de Valles y Massana,
siempre y cuando, no afectase al molino de Antón Gili. Se ampliaría la anchura de la acequia y Valles
y Massana asumirían los costes. Y finalmente cada uno se encargaría del mantenimiento y limpieza de
las acequias, y en caso de reparación se compartirían las costas23.

El molino, que construyeron Valles y Massana, estaba situado en el término de Sant Pere de Riudebitlles
en la partida de la Noguera Vella. Actualmente es conocido como Molí d’en Bielet. Aparte del conflicto
con Antoni Gili, también mantuvieron una disputa con Alexandro Soler por el uso del agua de la acequia,
pues Soler era el propietario del Molí de les Toeses que se encuentra muy cerca del citado molino24.

4. El Molí del Torí

Silvestre Busquets obtuvo, el 15 de septiembre de 1752, la facultad de construir un molino papelero en


una pieza de tierra que tenía en Sant Quintí de Mediona valiéndose de las aguas de la riera. También

20 ACAP Protocolos notariales Marià Abella. Manual año 1800. Fol. 508

21 ACAP Protocolos notariales. Jaume Mullol Ferrer. Manual año 1781. Fol. 191

22 ACAP Protocolos notariales. Jaume Mullol Ferrer. Manual año 1781. Fol. 185

23 ACAP Protocolos notariales. Jaume Mullol Ferrer. Manual año 1781. Fol. 191

24 ACAP Protocolos notariales. Jaume Abreu. Manual año 1775. Fol. 161g

164
podía utilizar las aguas de la fuente de la Tría. A la vez, se le beneficiaba con la facultad de construir
represas, acequias y demás conductos para el funcionamiento de la fábrica. En 1827 Paula Busquets,
hija de Silvestre, vendería dicho molino a Josep Mata25.

5. El Molí del Rabí o dels Regatons

Este molino de papel de estraza fue propiedad del ayuntamiento de Sant Quintí de Mediona hasta el
año1785 cuando lo vendió a Gabriel Estrada y Manuel Brugal.

El 21 de abril de 1787, Estrada y Brugal arrendaron el molino a Ramón Alegre, papelero de Lavit, por
cuatro años y un total de 500 libras moneda barcelonesa26. El 17 de septiembre de 1793, arrendaron
el molino a Nicolau Coca por 612 libras por cuatro años27.

El 8 de Noviembre de 1806 Josep Antoni Farreras, hijo de Francisco Farreras, mandó un requerimiento
a los propietarios, Estrada y Brugal, para liquidar las cuentas del alquiler del molino, dado que estos no
respondían a sus avisos28. A lo que ellos respondieron que, al contrario de lo dicho por el arrendatario,
no habían recibido ninguna comunicación para liquidar el arriendo, por lo que requerían que se diera
día y hora para que un experto hiciera el oportuno inventario29.

6. El Molí d’en Llucià

El día 8 de febrero de 1782 se inventariaron los bienes de Francisco Llucià, fabricante de papel en Sant Pere
de Riudebitlles. Rosa Llucià y Vila, viuda de Francisco Llucià y tutora de los herederos, declaró que tenía
un molino papelero en Sant Quintí de Mediona, que su esposo estaba construyendo en dicho término30.

Rosa Llucià y Vila y Pau Viñals, papelero de Sant Pere de Riudebitlles, como curadores y tutores de los
bienes de los hijos de Francisco Llucià, el día 30 de julio de 1789 arrendaron el molino de papel blanco
situado en Sant Quintí de Mediona a Joseph Romeu y a su hermano Geroni, durante cuatro años por
la cantidad de 1400 libras de moneda barcelonesa. El dinero cobrado había de servir para terminar las
obras de dicho molino31.

Con el fin de comprar materias primas, trapos y carnazas, para la reedificación del molino y el pago
de deudas, Rosa Llucià arrendó el molino a los cónyuges Miquel Elías y Paula por cuatro años, desde

25 Madurell, 1972

26 ACAP Protocolos notariales Jaume Abreu Manual año 1787. Fol. 115

27 ACAP Protocolos notariales Marià Abella. Manual año 1793. Fol. 285

28 ACAP Protocolos notariales Marià Abella. Manual año 1806. Fol. 387g

29 ACAP Protocolos notariales Marià Abella. Manual año 1806. Fol. 388g

30 ACAP Protocolos notariales Jaume Mullol Ferrer. Manual año 1782. Fol. 417
31 ACAP Protocolos notariales Jaume Abreu. Manual año 1789. Fol. 229
165
noviembre de 1798 hasta 1802 por la cantidad de 3500 libras. Seguidamente arrendó el molino a Paula
por los tres años siguientes y 1840 libras32.

El día 4 de noviembre de 1823, en el inventario de bienes de Rosa Llucià, hija de Francisco Llucià se
enumeran dos molinos papeleros. El primero es un molino de una tina en Sant Pere de Riudebitlles,
que en esas épocas estaba fabricando papel de estraza y el segundo, un molino papelero de una tina
situado en Sant Quintí de Mediona33.

Molinos de ca l’Oliver

Situados en la partida llamada de Verdaguer encontramos los molinos de Ca l’Oliver. Esta ubicación de
los molinos podría considerarse excepcional a causa de las comunicaciones con las demás poblaciones
cercanas. El camino que enlazaba las poblaciones más importantes de la comarca del Penedés con la
conca de Odena, Vilafranca del Penedés y Capellades, cruzaba entre los molinos. Era un sitio de paso
de comerciantes que iban de mercado en mercado.

Figura 2. Molinos de Ca l’Oliver

La distribución de los molinos es singular y difícilmente encontraremos una construcción parecida.


Esta particular edificación estaba formada por cuatro molinos papeleros y uno de harina. En lo que
respecta a los molinos de papel había dos en los que se fabricaba papel blanco y, en los dos restantes,
papel de estraza. Posteriormente dentro del complejo de Ca l’Oliver se construyó una fábrica textil de
gran envergadura que se halla adjunta a los molinos papeleros. Este edificio, datado en el año 1871,
probablemente se erigió encima de los restos del molino harinero.

Por los contratos de arriendo de los molinos se ha podido establecer la denominación que los propietarios
daban a cada molino. Básicamente se detallaba la ubicación donde se encontraban. De esta manera a
los molinos de papel blanco se les conoció como “el que es troba al costat del camí reial” y el que “es

32 Madurell, 1972

33 ACAP Protocolos notariales Marià Abella. Inventarios 1790-1826. Fol. 342

166
troba sobre de la casa” o “sobre de la fábrica”. En cuanto a los molinos de estraza estaba el que “es
troba dins del baluart” y el que “es troba fora del baluart”.

De los cuatro, el mayor era en el que se fabricaba papel blanco situado encima de la fábrica. Estaba
formado por una planta semisótano, planta baja, dos pisos y altillo. Los dos pisos superiores tenían la
función de mirador, con abundantes ventanas. Los demás molinos eran de un tamaño más reducido,
con una estructura parecida pero con un piso menos.

Cerca de los molinos se encuentra un gran estanque, cuyas aguas se utilizaban en épocas de carencia.
Se nutría a través de la acequia de l’Oliver, que recogía el agua de la riera mediante una represa
situada a la altura del Molí d’en Bas.

La familia Oliver fueron los propietarios de estos molinos hasta finales del siglo XIX. Con toda
probabilidad el primer molino, el harinero, se construyese en el año 1703, información que se recoge
de la inscripción, grabada en la piedra, en una de las entradas del molino. Entre los años 1715 y 1722
Ramón Oliver construyo, junto a su molino de harina, una fragua de arambre y un molino papelero.
Para su funcionamiento utilizo el agua de la riera de Mediona, creyendo que le servían las facultades
otorgadas en 1595 a Bartolomé Cremona. Después de la reclamación por parte del Procurador General
del Excmo. Sr. D. Nicolás de Córdoba, La Cerda, Aragón y Cardona, Marques de Priego, Duque de
Medinaceli y Cardona, y Señor de la Conca de Odena, presentó como alegación una escritura pública
de 27 de diciembre de 1715 en la que Juan Pons, labrador, como usufructuario y poder habiente de
María Pons y Cremona, su consorte propietaria, confesaba que tenía en dominio directo y alodial de
Excmo. Sr Duque de Cardona un molino harinero con todas sus presas, sequias, aguas, muelas y
demás aparatos necesarios para moler cito en el lugar llamado Verdaguer del término de la referida
villa de Sant Quintí de Mediona a prestación de un censo anual de seis cuartales de cebada pagaderos
el día de la festividad de nuestra señora del mes de agosto.

167
Figura 3. Molino de ca l’Oliver34

Finalmente en el año 1722 el Duque de Medinaceli y Cardona, concedía la facultad de utilizar el agua
de la riera a Ramón Oliver a cambio de un censo anual:

“concedo en emphiteusim a vos el referido Raymundo Oliver, aunque ausente, bajo empero acceptante
y a los vuestros perpetuamte como sean semejantes a vos (sin empero perjuhizio del dho de tercero)
las referidas facultades de tener en la vuestra casa de dho molino harinero las expresadas dos nuevas
fabricas por vos echas, y construhidas de la farga de arambre, y molino papelero, y para estas useys,
y podais usar de la misma agua del dho molino arinero, y no de otra” 35

Conflictos por el uso del agua

Como en casi todas las zonas papeleras, la utilización del agua era vital para la economía local.
Tanto su utilización para el funcionamiento de los molinos como el riego de zonas agrícolas provoco
múltiples disputas que desencadenaron en un sinfín de causas judiciales. Varios eran los motivos que
provocaban las disputas entre los papeleros y agricultores. La falta de mantenimiento en las represas
y acequias y el desvío inadecuado del cauce del rio eran las más frecuentes. En algunos casos, una
mala ubicación de la represa podía significar un mal funcionamiento de las ruedas del molino, lo que
con toda seguridad, derivaba en un enfrentamiento entre papeleros.

En 1745 Francisco y Agustí Vendrell, padre e hijo respectivamente, labradores de San Juan de Conilles
en el término de Mediona, desviaron el curso de la riera para que, ellos y varios labradores más,

34 Moli de ca l’Oliver (1986) por J.M. Muñoz i Lloret. Disponible en: http://bit.ly/2nT5Hki. Fecha de consulta: 19-01-2017

35 ACAP Procesos judiciales 1788-XVIII-88. Visorio Formal 1/08/1788 Fol. 2

168
usaran estas aguas para el regadío. Este hecho provocó un litigio con el Ilustre Duque de Medinaceli
y Don Ramón Sans y de Monrodon. La disputa finalizó con una sentencia del Intendente General en
el que se multaba a los labradores con doscientas libras de bienes propios por no haber presentado la
documentación que acreditaba que tenían otorgado el establecimiento para el uso del agua36.

En 1748 los regidores de Sant Quintí de Mediona entablaron una disputa con Ramón Oliver por la
represa que dicho Oliver había construido para el uso del agua en sus fábricas. Finalmente el día 27
de septiembre de 1748 se firmó una concordia por la cual Ramón Oliver podía construir la represa en el
lugar marcado por los expertos y se comprometía a no levantarla por encima de lo marcado. Asimismo
Oliver se comprometió a abonar 12 libras de moneda barcelonesa para pagar parte de los gastos que
el ayuntamiento tuvo cuando pidió el establecimiento a la Intendencia General37.

Figura 4. Azud de Ca l’Oliver

Esta concordia fue una de pruebas que se presentaron en uno de los litigios más largos que hubo en
la zona. El día 31 de mayo de 1788, Joseph Oliver, señor jurisdiccional del Castell de Bolet y Quadra
de Pareras entabló una disputa con el ayuntamiento de Sant Pere de Riudebitlles por la ubicación de la
represa que desviaba el agua hacia el “rec de dalt”. Esta acequia suministraba agua a diversos molinos
papeleros, entre los que estaban los cuatro molinos, propiedad de María Cayetana de Mora, Marquesa
de Llió, viuda de Doménec Félix de Mora i Areny.

Joseph Oliver se quejaba que, unos años atrás, el Ayuntamiento de Sant Pere de Riudebitlles había
modificado la ubicación de la represa, afectando al funcionamiento de sus molinos. Asimismo también

36 BC Saud. Fol. 76, 30, 3

37 ACAP Procesos judiciales 1788-XVIII-88. Visorio Formal 1/08/1788. Fol. 5

169
se lamentaba que dicho Ayuntamiento hubiera dado permiso a Antón Gili para tomar agua para su
molino, pues la afectación era mayor. Ante tal acusación el consistorio reclamo a Oliver los documentos
justificativos del establecimiento del uso del agua, pues tenía serias dudas que este los tuviera.

Pero los problemas se incrementaron cuando el día 28 de julio de ese mismo año una gran riada
se llevó por delante la represa. Ante tal adversidad, el ayuntamiento empezó a levantar de nuevo la
represa. Este hecho fue denunciado inmediatamente por Oliver al Corregidor, que obligo a cesar las
obras bajo pena de 25 libras de moneda barcelonesa a quien modificara el azud. Desde Sant Pere de
Riudebitlles se solicitó la reconstrucción de la represa puesto que había muchos molinos paralizados,
que afectaban a muchas familias, además del déficit de agua para la agricultura38.

El día 4 de agosto se permitiría la reconstrucción interina de la represa en el mismo lugar y el mismo


tamaño que la anterior. Finalmente el día 31 de Agosto se dictaba sentencia a la denuncia de Oliver
sobre los efectos de la riada, permitiendo la reconstrucción de la represa. En noviembre Oliver reclamó
a las autoridades advirtiendo que la represa era más alta que la anterior. Después de una visita por parte
del Corregidor con expertos en la materia, estos afirmaron que era cierta la afirmación de Oliver, pero
que este hecho no le afectaba. Ante la reiterada insistencia por parte de Joseph Oliver, el Corregidor
obligó a modificar la represa y también obligó al consistorio a asumir las costas del proceso. Al cabo de
unos meses Oliver denunció el impago de dichas costas detallando cada uno de los costes.

Desde 1790 hasta su muerte en 1799, Josep Oliver derribo el azud en más de una ocasión, ocasionando
graves perjuicios a fabricantes de papel, aceite y harina, propietarios de los molinos, fabricantes de
aguardientes, agricultores, etc...

Pero las penurias del pueblo de Sant Pere de Riudebitlles no finalizaron, pues María, viuda de Joseph
Oliver y su hijo Francisco siguieron derribando la represa. En enero de 1800 la Marquesa de Llió volvió
a denunciar a la familia Oliver puesto que habían vuelto a derribar la represa.

“(…)No puede menos de conseptuarse que María Oliver, viuda del expresado Joseph Oliver contra
quien se seguía esta causa y Franco Oliver, hijo de dichos consortes labrador de la villa de San
Quintín de Mediona estarían muy instruidos y enterados de la vertencia de esta causa, sus progresos
y providencias dadas por usted y en particular la que baxo pena de docientas libras no innovasen las
partes cosa alguna en perjuicio del pleito, que según el motivo de la indicada providencia era porque
el consavido Joseph Oliver había destruido o derribado el azud o represa de que se trata; y eso no
obstante dichos madre e hijo Oliver u otro de ellos no han dudado en demoler la represa de que es
question, sacando de ella diez o doze maderos o bigas y cortado algunos cabos o estacas en que
afianzaban aquellos, dexando sin curso los molinos papeleros y de harina no solo los de mi Ille parte

38 ACAP Procesos judiciales 1788-XVIII-88. Original Proceso. Fol. 8


170
sino también los de otros particulares produciendo este violento exceso los funestos efectos de haver
los fabricantes de papel despedir de sus molinos los mancebos que tenían en sus talleres quedando
una multitud de ellos en la calle con sus familias sin tener que comer(...)”

Figura 5. Croquis del emplazamiento de la represa

En Agosto de 1805 Francisco Oliver pedía a la Intendencia General el establecimiento a precario de las
aguas de la riera de Sant Quintí de Mediona para el curso de un molino harinero, dos de papel blanco
y dos de estraza y posteriormente extendía la petición al riego de las tierras anexas a los molinos.
Declaro que hacía poco tiempo que había tomado posesión de los bienes de su padre e intentaba
ponerlo todo al día. Justificaba la petición por la pérdida de los documentos, acreditativos de dicho
establecimiento, durante el saqueo e incendio que hubo en la población en el año 1713. Aunque la
Marquesa de Llió se opuso a dicho establecimiento, finalmente Oliver lo obtuvo39.

Aunque se desconoce el desenlace final del proceso, ya fuera la firma de una concordia entre las
partes o por sentencia judicial, la represa en cuestión se ha mantenido en el emplazamiento que
favorecía los intereses del pueblo de Sant Pere de Riudebitlles.

39 ACAP Fons Angels Torrents. Pleito con Joseph Oliver de Sant Quintí de Mediona

171
Arrendatarios de los molinos

Aun teniendo la certeza que el primer molino papelero fue construido a principios del siglo XVIII no es
hasta 1786 cuando encontramos los primeros contratos de arrendamiento de los molinos papeleros
de Ca l’Oliver. Probablemente durante algunos años fueran los mismos propietarios los que estuvieran
fabricando papel en sus molinos, aunque no se tiene constancia de ello. En el año 1765 la Junta
General de Comercio proporciono una relación con las calidades del papel que se fabricaba en los
distintos molinos. Según se detalla en dicho informe, el papel que fabrica Ramón Oliver:

“El refino de esta fábrica no es de tal calidad. El fino no es de tal calidad, fino ordinario”40

En el año 1775, en el listado de la misma Junta de Comerció sobre el estado de las fábricas de papel
en Cataluña41, aparece un molino propiedad de Joseph Oliver en Sant Quintí de Mediona. Aunque se
indica que el molino está en uso solamente aparecen las resmas que el molino podría llegar a producir,
2200 resmas anuales.

Oriol Valls afirmó que desde 1782 hasta 1785 Josep Valles, labrador de la Massana de Santa María de
Bellver estuvo fabricando papel en uno de los molinos42.

El 19 de agosto de 1785 la Intendencia General de Catalunya favorecía a Joseph Valles de la


Massana con la facultad de construir un molino de papel blanco y de estraza43. El ayuntamiento de
Sant Quintí de Mediona el día 31 de diciembre de 1785 vendió a Joseph Valles labrador llamado
de la Massana toda el agua desde la represa de las Deus hasta llegar al molino de Don Carlos
Ferrer, para fabricar un molino papelero. En el acto de venta se acordó que Joseph Vallés pagaría
400 de las 450 libras que el ayuntamiento pagaba a la Comunidad de clérigos de Piera y al
Convento de Padres Trinitarios de Vilafranca por dos censales. Finalmente el día 8 de junio de
1788 se acordó, entre Valles y el consistorio, que el primero pagaría íntegros los dos censales y el
ayuntamiento pondría una baliza en la parte donde nace el agua para que dicho ayuntamiento no
pudiera modificarla44. Posiblemente el molino no se llegó a construir, pues no hay documentación
que lo acredite.

Joseph Valles, hijo de Nicolau Valles de la Massana, fue propietario de la mitad del Molí del Bielet
en Sant Pere de Riudebitlles. Francisca Rovira, viuda de Joseph Valles, y su hijo Pau Valles,
el día 3 de abril de 1804 firmaron una concordia con Francisca Massana, viuda de Francisco

40 Biblioteca de Catalunya (BC). Junta de Comercio. Legajo LV, 40, 21

41 BC Junta de Comercio. Legajo LV, 22

42 Valls, 1970

43 Madurell, 1972

44 ACAP Protocolos notariales Jaume Abreu. Manual año 1788. Fol. 193g

172
Massana, y su hijo Joan Massana para hacer balance de los gastos de las obras y de los
arriendos de dicho molino 45.

La relación entre la familia Oliver y la familia Valles se materializó en el año 1803, cuando Francisco
Oliver y Josepa, hija de Joseph Valles de la Massana, se casaron46.

Molinos de papel blanco

Molí al costat del camí real

Este molino estuvo ocupado por Joseph Via Bru desde finales de 1787 hasta finales de 1803. El precio
del arriendo varió poco durante estos 15 años que estuvo ocupado por Joseph Via. Empezó pagando
295 libras de moneda barcelonesa y acabó pagando 350 libras de moneda barcelonesa. El primer
contrato fue por cuatro años. El hecho de que los contratos posteriores fueran anuales y con fiador
hace sospechar que hubiera problemas con el pago del alquiler. El fiador de los contratos hasta 1794
fue Juliá Via, papelero de Sant Pere de Riudebitlles y padre del arrendatario. A partir de ese año será
Doménec Via, también papelero y hermano de Joseph, quien ocupó el papel de su padre como fiador
de los contratos47.

Juliá Via Vallés, natural de Puigdalber, fue fabricante de papel en Sant Pere de Riudebitlles. La primera
noticia de este papelero se remonta a noviembre de 1750 cuando aparece en la defunción de su primer
hijo Pau48. Por entonces estaba trabajando de papelero en el “Moli paperer de dalt” en Sant Pere de
Riudebitlles. La siguiente noticia es de 1766 cuando, estando arrendando un molino en Sant Pere de
Riudebitlles, firmó un recibo a la Junta Real de Comercio de Catalunya conforme recibió una tabla
de nogal con las medidas para fabricar las hojas de papel49. Tuvo arrendado el molino de les Toeses,
propiedad de Alexandro Soler, desde 1768 hasta 1794, año de su muerte, con unos 80 años de edad.

Domenec Via Bru, nacido el año 1752, fue fabricante de papel blanco en Sant Pere de Riudebitlles. En
1797, junto a su hermano, participo en una reunión, en casa de Pablo Viñals alcalde de Terrasola, para
tratar asuntos de la compañía de fabricantes de papel blanco50. En el año 1797 mantuvo un pleito con
Francesc Fontanellas del comercio de Barcelona al que prometió pagarle las 2416 libras y 5 sueldos

45 ACAP Protocolos notariales Marià Abella. Manual año 1804. Fol. 142

46 ACAP Protocolos notariales Marià Abella. Capítulos matrimoniales 1798-1805. Fol. 127

47 ACAP Protocolos notariales Jaume Abreu. Manual año 1787. Fol. 290g; Protocolos notariales Marià Abella. Manual año
1791. Fol. 226; Manual año 1794. Fol. 60; Fol. 239g; Manual año 1795. Fol.230g; Manual año 1796. Fol. 566g. Manual año
1797. Fol. 230; manual año 1798. Fol. 490; Manual año 1799. Fol. 353g

48 FamilySearch San Pedro de Riudevitlles imagen 1363 of 1418. Disponible en: http://bit.ly/2naAG9Z

49 BC Junta de Comercio. Legajo LV, 15.

50 ACAP Protocolos notariales Marià Abella. Manual año 1797. Fol. 163

173
que le debía con papel florete de primera calidad51. Ese mismo año Domènec Vía interponía un pleito
contra Francisco Parladé por las deudas que este último tenía con su padre Juliá desde 1794 por
la compra de algunas partidas de papel de diferentes calidades por un valor total de 434 libras y 10
sueldos52.

Antes del arriendo de este molino Joseph Via, estuvo fabricando papel blanco en uno de los molinos de
Joseph de Mora en Sant Pere de Riudebitlles. Por la relación, redactada en Barcelona el 13 de marzo
de 1786, de papeleros catalanes que estaban incluidos en el reparto de las 480.000 resmas de papel
anuales para proveer de papel a América del Sur sabemos que Joseph Via, al que se le otorgo una tina,
estaba arrendando un molí de Joseph de Mora, Marques de Llió53.

El día 5 de Agosto de 1788 Joseph Via, que por entonces alega tener unos 30 años es citado por el
procurador de Josep Oliver como testigo en la causa de este contra el ayuntamiento de Sant Pere de
Riudebitlles54.

En diversas noticias datadas entre los años 1788 y 1801 Joseph Via aparece como fabricante de papel
blanco de Sant Quintí de Mediona. Entre estos documentos encontramos otorgaciones de poderes55 y
reuniones de los fabricantes de papel blanco de la zona de Riudebitlles56

El contrato, que hace referencia al último año que estuvo Joseph Via en dicho molino, no se ha localizado
aunque en Noviembre de 1803, Joseph Via y su hijo Joseph de veintiún años confiesan deber a María
Oliver, viuda de Joseph Oliver, y Francisco Oliver la cantidad de mil libras moneda barcelonesa por
las deudas del alquiler del molino o fábrica de papel blanco que tienen arrendado a Joseph Via mayor
desde el año 1799 al último de diciembre del presente año57.

51 Archivo de la Corona de Aragón (ACA) REAL AUDIENCIA, Consulado y Tribunal de Comercio, C, 3957

52 ACA REAL AUDIENCIA, Consulado y Tribunal de Comercio, C, 4716

53 Lenz (1990), anexo 1c

54 ACAP Procesos judiciales 1788-XVIII-88. Fol. 40 m

55 Arxiu Històric de Protocols de Barcelona (AHPB) Joaquim Thos Brossa man any 1788 f 137 2ª foliació / Jaume Fontrodona
Minguella man 1798 f 100 / Arxiu Comarcal de l’Alt Camp (ACAC) Josep Garcia Ferran, Not. Alcover Man. 1801 fol. 441

56 ACAP Marià Avella Manual año 1797 Fol. 163; manual año 1798 Fol. 185g; Jaume Mullol Ferrer manual año 1801 Fol. 117

57 ACAP Protocolos notariales Marià Abella. Manual año 1803. Fol. 431

174
Figura 6. Figura 7. Figura 8.

Las filigranas del águila bicéfala58 las utilizó Julià Via en sus fábricas de Sant Pere de Riudebitlles,
y no es descartable que las utilizara su hijo mayor Domenec. La filigrana con el sol coronado con el
nombre y apellido al pie es de las pocas localizadas que podríamos asignar a este papelero59. La gran
mayoría de filigranas que se adjudican a Joseph Via, por la fecha de utilización de los documentos,
no corresponden al fabricante de los molinos de Ca l’Oliver. La figura 8, que se utilizó en documentos
datados en 1760, podría corresponder al abuelo que también se llamaba Joseph60, al igual que las
filigranas del sol coronado y las del sol con Sant Quintí al pie, datadas entre 1759 y 1765.

A partir de 1804 será Josep Roca y Vives el siguiente en ocupar dicho molino. Este fabricante de papel
blanco trabajo, por lo menos, durante dos años en este molino, desde el 1 de enero de 1804 hasta
el día 31 de diciembre de 1805. El precio del arriendo de dicho molino fue de 300 libras de moneda
barcelonesa, una cantidad inferior a la que pagaba Joseph Via61.

El día 22 de mayo de 1805 Josep Roca, papelero de Sant Quintí de Mediona, de unos 69 años de
edad, es llamado a testificar en la Causa de Pablo Cardús y Romagosa, fabricante de papel de la villa
de Sant Pere de Riudebitlles, contra los consortes Josep Tort, del manso Martí, labrador del término de
Mediona, y Rosa Tort y Cardús.

En esta causa se señala que Josep Roca tuvo alquilado el molí d’en Moray o Molinet de Sant Pere de
Riudebitlles durante cuatro años por el precio de 200 libras anuales. Aunque en los escritos no constan
los años de arriendo se estima que lo tuvo arrendado entre los años 1796 y 1800. El molino estuvo

58 Valls 1970. Nº 1048

59 Valls 1970. Nº 1057

60 Valls 1970. Nº1056

61 ACAP Protocolos notariales Marià Abella. Manual año 1804. Fol. 51; Fol. 392

175
parado durante medio año a causa de la rotura de la acequia de Josep Oliver62.

La única filigrana que se puede asignar a Joseph Roca es del año 177063.

Figura 9.

Molí de damunt sa fábrica

Desde el mes de agosto de 1788 hasta finales de 1799 Miquel Carner estuvo fabricando papel blanco
en este molino. El precio de los arriendos rondaban la cantidad de 340 libras de moneda barcelonesa.
Los dos primeros contratos fueron los más largos, cuatro años cada uno, pero a partir de 1797 se
fueron prorrogando anualmente64. Estando aun ocupando dicho molino, a finales del año 1798, Miquel
Carner arrendó el molino que estaba unido a la casa de la Marquesa de Llió. El arriendo se firmó por
cuatro años, a razón de 425 libras de moneda barcelonesa cada uno65.

El día 27 de febrero de 1810 Miquel Carner arrendó el molino de papel blanco, propiedad de Pau
Comas en Terrasola, más conocido como Molí Blanc. El arriendo fue por cuatro años y un total de
2000 libras de moneda barcelonesa. Una de las cláusulas que interpuso el propietario fue que sin su
permiso no se podía fabricar papel de estraza ni papel azul66. Miquel Carner fue un miembro activo de
la compañía de fabricantes de papel blanco de la zona de Riudebitlles. Al igual que Joseph Via aparece
en diversas noticias relacionadas con esta compañía de fabricantes de papel blanco67

En agosto de 1807 Miquel Carner nombraba procurador para que le representase en la causa contra

62 ACA REAL AUDIENCIA, Pleitos civiles, 1785

63 Valls 1970, nº 762

64 ACAP Protocolos notariales Jaume Abreu. Manual año1788. Fol.275; Protocolos notariales Marià Abella. Manual año
1792. Fol. 258; Manual año 1796. Fol. 569g; Manual año 1797. Fol. 227g; Manual año 1798. Fol. 485

65 AHPB Protocolos notariales Francesc Just Verde. Manual año1798. Fol. 344g

66 ACAP Protocolos notariales Marià Abella. Manual año 1810. Fol. 36g

67 Véanse las notas al pie núm. 58 y 59

176
Antonio Fontanellas y otros. Se les reclamaba que se le entreguen las cantidades que había dispuesto
el tribunal de la tabla de cambios o comunes depósitos de la ciudad de Barcelona68.

Antonio Fontanellas y Calaf, fabricante de papel en Sant Pere de Riudebitlles, tenía, junto a sus
hermanos Francisco y Josef y su padre Francisco Fontanellas y Pasqual, una compañía en la ciudad
de Barcelona que se dedicaba a la fabricación y venta del papel elaborado en sus fábricas, y materias
primas para el curso de fábricas de papel. La sociedad, que se definió el 27 de marzo de 1794,
tenía tiendas en Barcelona y en la ciudad de Cádiz. La sociedad fue creciendo hasta el punto que
alquilaron nuevas fábricas de papel, consiguieron varios contratos de transporte de papel y finalmente
abrieron una tienda de papel en Málaga, que quedo bajo la dirección de Josef Fontanellas. En 1803 los
hermanos Antonio y Francisco iniciarían un proceso para el control de dicha empresa69.

En el mes de noviembre de 1812 Agnes Carner y Francolí, viuda de Miquel Carner, hace inventario
de los bienes de su marido en el molino papelero de Pau Comas en Terrasola. En este documento
se señalan los tipos de papel que Carner estuvo fabricando, florete, medio florete, floretillo, blanco
ordinario y papel para cigarros. A su muerte el molino estaba en pleno funcionamiento puesto que en la
tina había pasta para fabricar 179 resmas de papel medio florete, y en las pilas pasta para fabricar diez
balas de papel blanco ordinario. Asimismo, se hallan materias primas, trapos y carnazas en diferentes
estancias del molino. Tales como la despensa donde había 93 balas de papel florete, en una habitación
27 balas de papel medio florete y 23 de florete. En otra habitación había 5 balas de papel medio
florete y en la sala, 21 balas de papel medio florete y 5 balas de papel para cigarros. Y finalmente en
el mirador había:

“Quaranta quatre balas de paper mitg floret en postas per a encolar, dotze balas de paper floret
enraymadas, quatre quintars de carnassas, tres bancas usadas, un quintà de draps dolents per
estrassa, sis arrobas de retalls dos calderas de fer cola, dos de servey totas de aram usadas y una
cassoleta de aram”.

Aunque no estaba en la relación de la Junta de Comercio para el reparto de tinas para la fabricación
de papel con destino a América en 1786, Miquel Carner estuvo exportando papel a diferentes países
de América Central. En el inventario hay dos entradas en las que se citan los créditos que se le debían
a Miquel Carner por el comercio de papel floretillo primeramente en Veracruz u otras plazas y una
segunda para negociar en Puerto Rico, Cuba y demás partes de América y España. Finalmente se
hace mención de unos bienes a inventariar que se encuentran en la población de Vilanova y la Geltrú,
puerto de embarque para diferentes destinos de España y América70.

68 ACAP Protocolos notariales Marià Abella. Manual año 1807. Fol. 232g

69 ACAP Procesos judiciales 1803-XIX-2. Original Proceso.

70 ACAP Protocolos notariales Marià Abella. Inventarios 1790-1826. Fol. 249

177
A Miquel Carner solo se le conocen dos marcas de agua. En la figura 10, utilizada en documentos del
año 1801, encontramos N I, que hace referencia a la calidad del papel, con el apellido “Carne” al pie71.
La siguiente, las figuras 11 y 12, es una filigrana doble, localizada en documentos de 1803, en la que
se puede ver un campanario con campana y cruz lobulada partiendo el nombre “Miq/uel” y el apellido
“Carne”72.

Figura 10.

Figura 11. Figura 12.

El siguiente fabricante de papel en arrendar el que posiblemente era el molino de mayor dimensión de
todo el complejo, fue Félix Aloy. Tuvo en arriendo el molino desde principios de 1800 hasta finales de
1805. El primer contrato se firmó por tres años a razón de 375 libras de moneda barcelonesa. Por los
años siguientes se firmaron contratos anuales, siendo el precio 325 libras de moneda barcelonesa73.

Natural de Orpí, Félix Aloy empezó de aprendiz con Joseph Llorens y Tort en las fábricas de Romaní
y de Juan Bas. Como aprendiz de Joseph Llorens estuvo 15 años, para posteriormente trabajar como
mayordomo de un molino en Sant Quintí de Mediona que estaba a cargo del mismo Llorens. Casi con
seguridad el molino en cuestión era el Molí d’en Nadal o d’en Bas.

71 Valls 1970, Nº190

72 Pfes. Bernstein, The memory of paper. [Consulta: 2 enero 2017]. Disponible en : http://memoryofpaper.oeaw.ac.at/pfes/
pfes.php?ClaveFiligrana=001142A i http://memoryofpaper.oeaw.ac.at/pfes/pfes.php?ClaveFiligrana=001142B

73 ACAP Protocolos notariales Marià Abella. Manual año 1799. Fol. 350g; Manual año 1803. Fol. 440; Manual año 1804.
Fol. 395

178
El 23 de diciembre de 1791 Aloy, que en aquel tiempo contaba con 36 años, testifico a favor de Joseph
Llorens por los problemas derivados del uso de la marca utilizada en el papel. Según el propio Aloy y
demás testigos, Joseph Llorens estaba utilizando la marca del escudo del Carmen con su nombre y
apellido al pie en el papel que fabricaba, a excepción del destinado al Sello Real en el que utilizaba otra
marca. La uso en el molino propiedad del Marques de Llió en Sant Pere de Riudebitlles, justo antes de
usarla en el molino propiedad de Don Juan de Bas de Capellades. Asimismo la utilizó en las fábricas
de Romaní y del mismo Don Juan de Bas. Esta marca ya la utilizaba su padre, también llamado
Joseph Llorens, en los molinos de Josef Comas de Terrasola, de Francisco Pasqual de Capellades y
de Francisco Claramunt de Carme74.

Finalmente Félix Aloy tuvo arrendado el Molí de l’Esbert en el término de Santa María de Lavit, propiedad
de los herederos de Pere Planas. En el año 1818, a raíz del inventario de los bienes de Félix Aloy, su
viuda Rosa Aloy y Matheu y su Hijo Pau Aloy, eligen a Pere Costas y Antón Baques, los dos fabricantes
de papel blanco de Sant Pere de Riudebitlles, como expertos para tasar las pertenencias de papelero
que dicho Félix Aloy tenía en el molino y fuera del él en el momento de su defunción:

“Cabals o efectes y altra cosas pertañents al ofici de paperer que se troban existents en varios puesto de
(la) casa o fabrica y fora de ella qual se han estimat.Primo deu vales de paper floret enraymat que valorat
per Pere Costas y Anton Baques los dos fabricants de paper blanch de la vila y terme de Snt Pere de
Riudebitlles experts elegits per los dits mare y fill Aloy lo han estimat en la quantitat de quatre centas dotze
lliuras deu sous.
Item vint y sis vales de paper floret en postas que valorat també per los mateixos experts lo han estimat en
la quantitat de vuit centas seixanta sis lliuras deu sous.
Item vint y quatre vales de paper floret en pasta valorat per los mateixos experts en la quantitat de set centas
seixanta sinch lliuras.
Item catorse quintars de draps de tela que regoneguts per los dits experts los han estimat en la quantitat de
cent y deu lliuras.
Item sinquanta nou quintars de draps de estampa que regoneguts per los referits experts los han estimat en
la quantitat de quatre centas tretse lliuras.
Item sinch quintars de carnassas valoradas per los mateixos experts en la quantitat de sinquanta dos lliuras
deu sous.
Item divuit solatges valorats per los dits experts en sis lliuras quinse sous.
Item onze massas estimadas per los mateixos en quatre lliuras dos sous y sis
Item trenta sis clavillots estimats en dos lliuras.
Item cent llevas estimadas en dos lliuras deu sous.
Item cent sinquanta pots de fer valas estimadas també per los mateixos experts en la quantitat de quatre
lliuras deu sous.

74 ACAP Procesos judiciales 1778-XVIII-90

179
Item quaranta taleras que regonegudas per los dits experts las han estimat en vint y sis lliuras quinse sous.
Item dos prempsas de igualar paper estimada per los mateixos experts en la quantitat de divuit lliuras
quinze sous
Item una posta y mitja de sayals estimats per los mateixos en la quantitat de sinquanta sis lliuras sinch sous
Item un parell de formas de mitja vitela que regoneguda per los mencionats experts las han estimadas en
trenta set lliuras deu sous
Item quatre parells de formas de fer paper regular estimada per los mateixos en trenta lliuras
Item dos barras de prempsa estimada per los mateixos en tres lliuras
Item un torn de tornajar draps estimats per los mateixos en onse lliuras sinch sous
Item y finalment unas trescentas cargas de lleña entre de alsina y de pi que valorada també per los mateixos
experts la han estimada en la quantitat de dos centas vuytanta una lliura sinch sous”75

Como se puede apreciar en las filigranas utilizadas por Félix Aloy, este debió utilizar una marca
parecida76 a la propia de Joseph Llorens77 mientras estuvo de mayordomo de sus molinos. Se puede
apreciar el momento en que Aloy empezó a trabajar por su cuenta. En la figura 1678, si bien se siguió
un dibujo parecido, se eliminaron las estrellas del que sería el escudo del Carmen, propio de Joseph
Llorens, como se ha indicado anteriormente, para convertirlo en su propia marca.

Figura 13.

Figura 14. Figura 15. Figura 16.

75 ACAP Protocolos notariales Marià Abella. Inventarios 1790-1826. Fol. 290

76 Valls 1970, nº 14-15

77 Valls 1970, nº543

78 Valls 1970, nº16

180
Finalmente situaremos a Joseph Flo como fabricante de papel blanco en uno de los molinos. No se ha
localizado ningún contrato de arriendo entre este y la familia Oliver, sin embargo sabemos que tuvo
arrendado uno de los molinos de papel blanco, pues debido a las deudas contraídas por Joseph Flo,
labrador y antes papelero de Vallbona, con Joseph Oliver, por el arriendo de uno de los molinos de
papel blanco se le embargo una partida de papel.

Como el pleito ante la Real Audiencia de Barcelona se aventuraba largo y costoso para ambas partes,
el día 13 de mayo de 1802, firmaron una concordia por la cual María Oliver y su hijo Francisco,
usufructuaria y heredero de Joseph Oliver, respectivamente, se quedaban con la partida de papel a
cambio del arriendo del molino79. Posiblemente el arriendo del molino a Joseph Flo fuera anterior a los
ya mencionados Carner, Aloy y Via dado que, entre los primeros contratos formalizados en 1788 y la
muerte de Joseph Oliver en 1799, los molinos siempre estuvieron alquilados a los tres papeleros.

La única filigrana localizada que podría pertenecer a dicho fabricante de papel es una paloma dentro
del círculo con una cruz lobulada en la parte superior y el nombre y apellidos al pie80.

Figura 17.

Molins d’estrassa

A diferencia de los molinos de papel blanco, los molinos de papel de estraza eran arrendados
anualmente, y en contadas ocasiones se llegaron a arrendar por dos o tres años. Pocas son las
noticias que hacen referencia a los papeleros de estraza. En muchos de los casos, estas noticias,
están relacionadas con la compra-venta y alquileres de terrenos de huerta puesto que simultaneaban
el oficio de papelero con el de agricultor.

79 ACAP Protocolos notariales Marià Abella. Manual año 1802. Fol. 260g

80 Valls 1970, nº408

181
Molí fora lo baluart o prop de la riera

Aunque solo se ha localizado un contrato de arrendamiento de este molino a Geroni Valles, que va
desde el día 17 de agosto de 1788 hasta el 16 de agosto de 1790 por la cantidad de 240 libras, este
papelero ya llevaba un tiempo elaborando papel en este molino. El día 6 de agosto de 1788 Geroni
Valles, que afirma tener unos 58 años de edad, actuó como testigo en el conflicto de la represa,
manifestando que tenía arrendado uno de los molinos de Joseph Oliver81. Anteriormente, en 1774
arrendó un molino de estraza y otro harinero al Marqués de Llió. En enero de 1775 subarrendó las
tierras adyacentes a los susodichos molinos82.

Seguidamente fue Pere Castany quien alquilaría dicho molino. Castany tuvo arrendado el molino
en dos periodos alternos. El primer período va de septiembre de 1793 a septiembre de 1796.
Los contratos fueron anuales y el precio del arriendo fue de 90 libras por cada año. En estos
primeros años Gabriel Estrada, labrador de Sant Quintí de Mediona fue el fiador de los contratos83.
Finalmente arrendo el molino por un año desde septiembre de 1800 hasta septiembre de 1801
por 200 libras84. Durante los años en que no lo ocupo, Jaume Domingo y Antón Coca tuvieron
arrendado el molino.

El primero lo arrendo desde septiembre de 1796 hasta 1799 por 405 libras de moneda barcelonesa, a
razón de 135 libras anuales85.

El día 27 de junio de 1797 Jaume Domingo y su mujer, María Domingo y Riba reconocen que Francesch
Fontanellas, fabricante de papel de Sant Pere de Riudebitlles les pago 62 libras, 1 sueldo y 1 dinero
de moneda barcelonesa por la venta de una cuarta parte del molino de la Font Gran en Sant Pere de
Riudebitlles. Este molino perteneció a Antoni Riba, que a su muerte lo dejo a Gabriel Lleó, labrador
de Sant Pere de Riudebitlles y en usufructo a su mujer María. Como sobrina de Antón Riba, María
Domingo y Riba, cobra esta cantidad de dinero en pago por las obras realizadas por María Riba, viuda
de Antón Riba en el molino de la Font gran durante los años en que lo tuvo en usufructo86.

Antón Coca solamente tuvo arrendado el molino por un año desde septiembre de 1799 a septiembre
de 1800 por 150 libras87. Antón Coca y su padre Nicolau, ambos papeleros habitantes en la

81 ACAP Procesos judiciales 1778-XVIII-88

82 ACAP Protocolos notariales Jaume Abreu. Manual año 1775. Fol. 31g

83 ACAP Protocolos notariales Marià Abella. Manual año 1793. Fol. 368g; Manual año 1794. Fol. 244; Manual año 1795.
Fol. 148g

84 ACAP Protocolos notariales Marià Abella. Manual año1800. Fol. 505g

85 ACAP Protocolos notariales Jaume Abreu. Manual año1786. Fol. 178

86 ACAP Protocolos notariales Marià Abella. Manual año1797. Fol. 388

87 ACAP Protocolos notariales Marià Abella. Manual año 1799.Fol. 356

182
población de Sant Quintí de Mediona en febrero de 1796 subscribieron un acuerdo, en la firma de
los capítulos matrimoniales entre Antón Coca y Quiteria Aguilera, por el cual Nicolau donaba sus
bienes a su hijo88.

Durante los tres años siguientes no se localizan contratos de arriendo de dicho molino. No será hasta
el día 14 de noviembre de 1803 cuando María Oliver, viuda de Joseph Oliver arrienda el “molí fora lo
baluart” a Joan Lloret por tres años. El arriendo empezó el 1 de enero de 1804 y finalizó el día 31 de
diciembre de 1806 por la cantidad de 660 libras, 220 anuales89.

Molí dins lo baluart

Josep Rius arrendo el molino solamente un año, desde octubre de 1786 hasta octubre de 1787 por 129
libras de moneda barcelonesa90.

El 29 de diciembre de 1774 Benet Días, guantero de Vilafranca y propietario del Molí d’en Días en
Lavit, actualmente conocido como Molí Pelleter, arriendó dicho molino por dos años a Joseph Rius,
papelero de Sant Pere de Riudebitlles, que se hicieron efectivos a partir del mes de junio próximo. El
precio del arriendo fue de 150 libras91. El día 8 de febrero de 1777, Benet Días le volvió a arrendar
dicho molino a Joseph Rius, por dos años a razón de 100 libras anuales. El arriendo finalizó el 25 de
junio de 177992.

En el mes de diciembre del año 1794 se termina el arriendo del molino de estraza que esta junto al
molino harinero llamado Molí d’en Mora, propiedad de la Marquesa de Llió que le subarrendó Francisca
Farreras, viuda de Francesc Farreras, papelero de Sant Pere de Riudebitlles93.

El siguiente en arrendar el molino fue Joseph Parellada. Tuvo arrendado dicho molino de estraza
desde 1791 hasta su diciembre de 1796. Los contratos, excepto el primero que fue por dos años,
se firmaron anualmente. El precio del arriendo fue de 140 libras los dos primeros años y 150 los
restantes94.

Desgraciadamente Joseph Parellada moriría durante estos años dejando a Madrona Parellada y
Fontanals, su viuda, como usufructuaria de sus bienes. Estos fueron inventariados en marzo de

88 ACAP Protocolos notariales Marià Abella. Manual año 1796. Fol. 49g

89 ACAP Protocolos notariales Marià Abella. Manual año 1803. Fol. 437

90 ACAP Protocolos notariales Marià Abella. Manual año 1803. Fol. 437

91 ACAP Protocolos notariales Jaume Abreu. Manual año1775. Fol.18g

92 ACAP Protocolos notariales Jaume Abreu. Manual año 1777. Fol. 46g

93 ACAP Protocolos notariales Marià Abella. Manual año1794. Fol. 89

94 ACAP Protocolos notariales Marià Abella. Manual año 1791. Fol. 146; Manual año 1792. Fol. 260; ACAP. Manual año 1794.
Fol.63; Manual año 1795. Fol. 234

183
1796 en “lo molí de fer paper d’estrassa propi de Joseph Oliver pages del present terme situat
en lo mateix terme annexo a la casa de dit Joseph Oliver…” Pocas eran las posesiones dejadas
por Parellada, entre las cuales había seis balas de papel de estraza, en la tina unas seis balas de
papel de estraza entre pasta y materiales podridos y por pudrir, y un par de formas de hacer papel
de estraza95.

Joan Guilera arrendo el molino desde el día 1 de enero de 1797 hasta el día 31 de diciembre de 1804.
Es este caso los contratos fueron de dos y tres años. El preció varió desde 175 los primeros dos años
hasta los 230 el resto de años96.

Desde el día 1 de enero de 1805 hasta el día 31 de diciembre de 1806 Joan Lloret, que tenía arrendado
el molí de fora lo baluart también arrendo este molino por el mismo precio, 220 libras anuales97.

BIBLIOGRAFIA

Argemí Salat, X., Sadurní Hill, M.T. y Serra Arman, J. Sant Quintí de Mediona : [evolució socioeconòmica
i cultural d’una vila de l’Alt Penedès]. [Sant Quintí de Mediona : Ajuntament de Sant Quintí de Mediona
... [etc.], 1999].
Armengol Martí, J. La fabricación de papel en la Riera de Mediona-Ruidebitlles en el siglo XVIII: los
papeles Cardús. Actas del XI Congreso Nacional de Historia del Papel: Sevilla, 17-19 de junio, 2015.
Sevilla: Instituto de la Cultura y las Artes de Sevilla (ICAS), 2015. Pág. 465-478.
Arnabat I Mata, R., 1988. Conflictes senyorials al corregiment de Vilafranca 1759-1788. Pedralbes:
Revista d’historia moderna no. 8, pp. 621-632. ISSN 0211-9587
Carbonell I Virella, V., 2000. Notícia dels molins fluvials del Penedès (Barcelona). Miscel·lània
penedesenca, vol. 25, pp. 115-138.
Escar Ladaga, M., 1928. La Industria del Papel : Las resmas protectoras. La Gaceta de las Artes
Gráficas del Libro y de la Industria del Papel AÑO VI, Diciembre Núm. 12, pp. 27-34.
Idescat. Sèries històriques demogràfiques. Evolució de la població de fet. Sant Quintí
de Mediona. [en línea]. [Consulta: 2 enero 2017]. Disponible en: http://www.idescat.cat/
pub/?id=shd&n=1341&geo=mun:082362#Plegable=geo.
Jacobson, S., 1988. Francisco Fontanellas : el comerciante-banquero en la época del capitalismo
romántico. Historia social, no. 64, pág. 53-78.
Lenz, H., 1990. Historia del papel en México y cosas relacionadas : (1525-1950). México : Miguel Ángel

95 ACAP Protocolos notariales Marià Abella. Inventarios 1790-1826. Fol. 51

96 ACAP Protocolos notariales Marià Abella. Manual año 1796. Fol.555g; Manual año 1798. Fol.487g; Manual año 1802.
Fol.193g

97 ACAP Protocolos notariales Marià Abella. Manual año 1803. Fol. 437

184
Porrua. ISBN 9688422150.
Madurell I Marimon, J.M., 1972. El Paper a les terres catalanes : contribució a la seva història. Barcelona:
Fundació Salvador Vives Casajoana.
Maluquer De Motes, J., 1986. El agua en el crecimiento catalán de los siglos XVII y XVIII: Derechos de
propiedad y utilizaciones energéticas. Review (Fernand Braudel Center) vol. 10(2), pp. 315-347.
Mata Quintana, À., 2014. El gener de 1714 al Penedès: la crema i el saqueig de Sant Quintí de Mediona
i les seves conseqüències. Del penedès, vol. 30, pp. 40-51.
Palau I Rafecas, S., 1991. Els molins fariners de la conca de l’Anoia. Miscel·lània penedesenca, vol.
15, pp. 591-619.
Rosselló I Raventós, J. y Morera I Arrufat, L., 1988. L’arquitectura paperera al Penedès. Un patrimoni
oblidat. Miscel·lània penedesenca, vol. 12, pp. 243-254.
Sánchez Real, J. y Lucena, A.M.
2004. Conflictes per l’aigua als molins de La Riba propietat de la comunitat de preveres d’Alcover
(segle XVIII). Butlletí del Centre d’Estudis Alcoverencs, vol. 105, pp. 12-30.
2005. Disputes per l’aigua en els molins paperers de la Riba (segle XVIII). Aplec de Treballs (Montblanc),
vol. 23, pp. 81-95.
Valls I Subirà, O.
1970. Paper and watermarks in Catalonia = El Papel y sus filigranas en Catalunya. Amsterdam: The
Paper Publications Society.
1982. La Historia del papel en España / Oriol Valls i Subirà. Madrid: Empresa Nacional de Celulosas.

185
LA CARTUJA DE VALL DE CRISTO Y LA MANUFACTURA PAPELERA DEL VALLE DEL PALANCIA

Federico Verdet Gómez


federicoverdet@hotmail.com

RESUMEN

En tierras valencianas, la cuna de la manufactura papelera moderna fue la Cartuja de Vall de Cristo
(en Altura, Castellón de la Plana). A partir de los molinos de la Cartuja, se fue extendiendo por toda la
comarca del Alto Palancia, configurando el principal núcleo papelero valenciano hasta muy avanzado
el siglo XVIII. A lo largo del XIX, se produjo una decadencia ininterrumpida del sector. La imposibilidad
de mecanización implicó la desaparición, por completo, de la manufactura tradicional, de forma que las
fábricas del siglo XX fueron todas de nueva creación.

PALABRAS CLAVE

manufactura –Cartuja –valle del Palancia –libreros -mecanización

ABSTRACT

In Valencian country, the cradle of modern paper manufacturing was the Cartuja of Vall de Cristo
(in Altura, Castellón de la Plana). From Cartuja’s mills, paper manufacturing spread across all the
region of Alto Palancia, configuring the main Valencian paper core before the middle of the 18th
century. Over the 19th century, an uninterrupted decline occurred in the sector. The impossibility of
mechanisation meant the complete disappearance of the traditional manufacturing, but during the
20th century new factories were founded.

KEYWORDS

manufacturing- Cartuja- Palencia valley- booksellers- mechanisation

Introducción

El río Palancia nace en las estribaciones de la sierra de Javalambre, en la provincia de Castellón


de la Plana, en la que transcurre la mayor parte de su curso. Corre por un amplio valle entre las
sierras Espadán y Calderona, recibiendo el aporte de varios manantiales que incrementan su caudal.
Aprovechando las aguas de este río –y el de algunos de sus afluentes– se construyeron molinos

187
papeleros en numerosos puntos de su curso, que discurre de noroeste a sudeste. Ha habido molinos
papeleros en las localidades castellonenses de Bejís, Teresa de Viver, Jérica, Navajas, Altura (que
aprovecha diversos manantiales, entre ellos, el de la Esperanza), Segorbe, Castellnovo y Soneja.
Finalmente, el río se adentra en la provincia de Valencia, donde también hubo instalaciones papeleras,
en Alfara de Algimia y Sagunto, localidad donde desemboca en el mar Mediterráneo.

La construcción de la Cartuja de Vall de Cristo – la quinta de las fundadas en España – comenzó en


el año 1385, en término de Altura pero equidistante entre esta localidad y la ciudad de Segorbe. El
monasterio fue un centro dinamizador de la riqueza agropecuaria de la comarca pues, por su iniciativa,
se realizaron canalizaciones, azudes y balsas para el riego, al mismo tiempo que se construyeron
molinos harineros, aceiteros, lagares, etc. Para nuestro trabajo consideramos las manufacturas textiles
laneras (batán y telares) y, sobre todo, las papeleras, de las que nos ocupamos a continuación.

La comunidad cartujana de Vall de Cristo fue disuelta el 4 de septiembre de 1835, fecha a partir de la cual
empezó el expolio del monasterio. Finalmente fue vendido a particulares el 9 de noviembre de 1844. En
la actualidad, ha sido adquirido por la Generalitat Valenciana, que ha iniciado su restauración.1

1. Los orígenes: libros, libreros y monjes

En el siglo XVI, la demanda de papel para escribir e imprimir por parte de sus principales consumidores,
monjes y libreros2, estimuló el establecimiento de nuevas manufacturas valencianas, en la cuenca del
Palancia, concretamente, en Altura y Murviedro. En la primera localidad, fue la Cartuja de Vall de Cristo
quien estableció el primer molino, mientras que, en la segunda, fue un librero de la ciudad de Valencia.
El papel obtenido en estos molinos permitía disminuir la dependencia de las importaciones extranjeras,
fundamentalmente de papel italiano, francés y holandés.

A comienzos del siglo XVI, un maestro aconsejaba a sus alumnos: «Dejad para los que hacen libros
grandes esta calidad de papel ancho, grueso, duro y áspero, que por eso le llaman papel de libros, que
está hecho para que el libro dure mucho tiempo. Ni toméis para el uso de cada día el de marca mayor
o imperial que se llama hierático, porque se emplea en los oficios litúrgicos o sagrados. Para vosotros
buscad papel de escribir cartas, que lo traen de Italia muy bueno, muy delgado y firme, o bien del común
que traen de Francia, que se encuentra a cada paso y se vende a ocho dineros la mano, poco más o
menos, y dan con él una o dos hojas de papel de estraza, que llaman carta emporética y también bíbula»3.

1 Josep-Marí GÓMEZ i LOZANO La Cartuja de Vall de Crist y su Iglesia Mayor. Aproximación a su reconstrucción gráfica,
ICAP, Segorbe, 2003.

2 Archivo Municipal de Valencia (en adelante, A.M.V.), A-135, Manual de Consells, años 1608-9, f. 336. Los libreros abastecían
a las diversas instituciones del papel que necesitaban, pero también de libros, plumas, agujas, tinta, etc.

3 Juan Luis VIVES: Diálogos sobre la educación, 1538, traducción y notas de Pedro Rodríguez Santidrián, Madrid, 1987.

188
En la recomendación del gran humanista valenciano, y en relación a los países productores de papel
barato y de calidad, se cita a Italia y Francia, justo en unos momentos en que el papel español estaba
en franca decadencia y, en tierras valencianas, prácticamente, había desaparecido. Este marasmo y
decadencia se debe a la falta de una demanda interna, ya cubierta por las importaciones de papeles
italianos e impresiones holandesas (que, a su vez, repercutieron en la atonía de la imprenta española4).

1.1. El primer molino de la Cartuja de Vall de Cristo

En la primera mitad del siglo XV, la manufactura textil (abatanado de paños y telares) constituye
un gran estímulo para Segorbe y su comarca que se configuran como un polo de desarrollo
económico 5. En el siglo XVI, la manufactura papelera refuerza este carácter, puesto que el valle
del Palancia deviene el primer núcleo papelero valenciano. En efecto, en el estudio preliminar
a la Bibliología Valenciana de Sanchis Sivera se documenta, ya en el año 1593, un molino
propiedad de la Cartuja de Vall de Cristo, origen probable de este núcleo papelero. Con fecha 28
de agosto de 1593, el librero Gabriel Ribes 6 reconoce deber 99 libras al prior de la Cartuja, Fray
Gerónimo Amigó, por el pago de varias «raimes de paper vos ut priorem dicti conventus michi
tradit et per me a vobis hubiti et recepti ad opus imprimendi libros, de cujus bonitate et valore fui
et sum contentus et satisfectus» 7.

Gabriel Ribes (o Ribas), no se limitaba a abastecer de papel y libros a sus clientes, sino que,
eventualmente, imprimía libros. Ribas fue uno de los mayores proveedores de libros del Patriarca Ribera
(al que también rindió numerosos servicios como encuadernador)8. Entre su clientela, consideramos el
Estudio General (Universidad de Valencia).

1.2. El primer molino papelero de Murviedro

Precisamente, en los últimos años del siglo XVI, está documentado un molino papelero en Sagunto,
que se construyó por iniciativa de Adrián Martínez, un librero de Valencia. Su emplazamiento se
eligió con precisión, lindando con el camino de Teruel, junto a la acequia de Montiver y ribera del río

4 Juan CASTELLÓ MORA y María Ángeles CALABUIG ALCÁNTARA: «El museo molí paperer de Banyeres de Mariola», en
Tinta y Papel. Industria y Arte, Universidad de Alicante, Alicante, 2002, pp. 50-52

5 Joaquín APARICI MARTÍ: El Alto Palancia como polo de desarrollo económico, en el siglo XV. El sector de la manufactura
textil, Ayuntamiento de Segorbe, María de Luna, VIII, 1999, pp.49 y ss.

6 Ricard BLASCO: «El comerç valencià de llibres », en La imprenta valenciana. Valencia, 1990, p. 232. En 1584, había seis
establecimientos abiertos en Valencia, pertenecientes a Gabriel Ribes, Sebastián Darder, Francisco Romá, Bautista Castelló,
Gabriel Fernández y Francisco Castillo.

7 José SANCHIS SIVERA: Estudis d´història cultural. Ed. Institut interuniversitari de filologia valenciana y Publicacions
de l´abadia de Montserrat. València/Barcelona, 1999, pp. 151-5. En el estudio preliminar se hace una breve reseña de la
manufactura papelera valenciana entre los siglos XII y XVIII.

8 Pablo PÉREZ GARCÍA: «Impresores, libreros y calígrafos: la trastienda pastoral y bibliotecaria del Patriarca Ribera», en
Emilio CALLADO ESTELA (ed,) El Patriarca Ribera y su tiempo, Alfons el Magnànim, València, 2012, p. 377.

189
Palancia, exactamente, en el lugar donde tiempos atrás había habido un molino arrocero9.

El librero justificaba su iniciativa – reconvertir el molino arrocero en papelero – argumentando que


el molino arrocero no blanqueaba arroz desde hacía más de 40 años y, de hecho, los habitantes de
Morvedre recurrían a los servicios de los molinos de Paterna y Moncada. Abundando en sus razones,
Adrián Martínez alegaba que el molino papelero necesitaba menor cantidad de agua, de forma que,
aunque era imposible mantenerlo como arrocero, si era viable reconvertirlo en papelero.

El lugarteniente, en oficio de baile general, concedió la autorización solicitada por el librero de Valencia
para construir el molino, que se estableció en régimen de enfiteusis. La concesión está fechada el 21
de abril de 1598. Este establecimiento quedaba sujeto a los derechos de luismo y fadiga y, además,
debía satisfacer un censo anual de 30 sueldos, pagaderos en Navidad10. Quizás, el papel obtenido en
este molino abasteció, desde entonces, a algunas instituciones valencianas, que ya compraban dicho
producto a su propietario. Entre sus clientes, consideramos al Patriarca Ribera.

En los Manuals de Consells de Valencia, se detentan diversos pagos a Alexandre Martínez, por la
compra de numerosas resmas de papel de distintas calidades11; otro librero que también abasteció al
Patriarca Ribera.

2. La manufactura papelera en el siglo XVII

Durante el siglo XVII, el núcleo papelero del Alto Palancia se consolidó, pues un antiguo molino harinero
de Segorbe comenzó a fabricar papel (sin renunciar a su actividad tradicional). Mientras tanto, el molino
papelero de Sagunto entró en decadencia y llegó a abandonarse por completo12. La manufactura
papelera valenciana quedó reducida, por tanto, a los molinos de la comarca de Segorbe, a los que
habría que añadir algún que otro molino de papel de estraza, en Canals y Mislata13.

2.1. El molino de la Cartuja de Vall de Cristo

Desde el año 1470, estaba en activo un batán de paños, situado en la partida de Abrotón, en el
camino de Altura a Segorbe, parte de cuyas instalaciones, posiblemente, se destinaron, desde

9 Archivo del Reino de Valencia (en adelante, A.R.V.), Bailía, letra P, exp. 1203, año 1598.

10 A.R.V. Bailía, letra P, exp. 1203, año 1598.

11 A.M.V., A-135, Manual de Consells, años 1608-9, f. 302. “Ha de haver Alexandre Martínez, librer, per lo present comte, cent
trenta dos liures, setse sous, guit diners, per dos mil cinchsentes quatre mans de paper”.

12 María Luisa CABANES CATALÀ: «Molinos papeleros en Murviedro», Actas del V Congreso Nacional del papel en España,
Sarrià, 2003, p. 497 y ss. La autora aporta documentación, fechada en 1689, sobre un molino papelero, en estado ruinoso.

13 Joan ALONSO LLORCA: «La fabricación de papel en Xàtiva», Actas del IV Congreso Nacional del papel en España,
Córdoba, 2001, pp. 91y 95. El molino de Mislata, ya funcionaba en 1596. En Canals, se fabricaba, al menos, desde 1694.

190
el año 1683, para fabricar papel de estraza14. En efecto, realizadas las oportunas gestiones, se
llegó a la conclusión de que «sólo acarrearía beneficios» y, además, «se podría transformar sin
deshacer ni descomponer dicho batán»15.

En el Manual de Consells de la ciudad de Segorbe consta el acuerdo tomado por su ayuntamiento,


el día 22 de agosto de 1685, para exigir a la Cartuja de Vall de Cristo que satisficiese el derecho de
papel de estraza, procedente de las ventas de papel realizadas por los monjes16. Naturalmente, la
Cartuja recurrió ante las autoridades reales, pues reclamaba el derecho a vender libremente papel,
en Segorbe y en todo el reino de Valencia, aferrándose a las exenciones de que gozaba el estamento
eclesiástico. La petición de la Cartuja, presentada por los electos de aquel estamento, debía pasar a
la consideración de la junta patrimonial, órgano encargado de tomar una decisión. El documento, que
reproducimos, se ha conservado en el archivo de la Real Cancillería17.

2.2. La manufactura papelera de Murviedro.

En relación a la manufactura papelera de Sagunto, en el seiscientos, llaman la atención dos aspectos.


En primer lugar la pertenencia al Real Patrimonio del molino de papel, lo que pone en duda que sea
el molino ya estudiado o, en todo caso, desconocemos el proceso por el que pasó a propiedad real.
En segundo lugar, que, en el año 1689 y desde ya hacía tiempo, no estaba en activo. De hecho, la
documentación proviene de una petición dirigida al virrey, indicándole que averigüe los costos de su
restauración. Se plantea rehabilitar el molino papelero «por lo mucho que importa que las naciones
estrañas no se enriquezcan con las grandes cantidades que salen de España por este género, pues

14 J.A. OLIVER CARCÍA-ROBLEDO: Dinámica socio-económica en la comarca del Alto Palancia. Casa Centro editorial,
Valencia, 1991, p. 16.

15 Vicente GÓRRIZ MARQUÉS: «Aproximación a la economía de la Cartuja de Vall de Christ», en Boletín del Centro de
Estudios del Alto Palancia, 1985, pp. 79-120.

16 José SANCHIS SIVERA: Estudis d´història cultural. Ed. Institut interuniversitari de filologia valenciana y Publicacions de
l´abadia de Montserrat. València/Barcelona, 1999, pp. 151-5.

17 A.R.V., Real Cancilleria, Cartas Reales, nº 732, carpeta 10, folio 7: «Señor. El real Convent de ValdeCrist del orde de la
Cartuja a fabricat en lo terme de la vila de Altura un moli ab lo fa paper de estraza, y havent portat a esta ciutat carregues de dit
paper per a vendreles los Administradors eo Arrendadors dels drets Reals del Peatge el han obligat a pagarlos ab motiu de que
este genero de tracte seria mercaderia, y que per dita rahó no seria exempt per ecclesiastich dit cobent. Y havent considerat
que en este in exemplar perjudicial a la inmunitat ecclesiastica perque esta no es mercaderia sino artifici permés y decent al
estat ecclesiastich per mudar de especie y mes largament se funda en lo memorial adjunt que remetem a vra Magestat. Y també
attenent a que dit Real convent de Valldechrist es una de les vens que componen el estament ecclesiastich deste regne, y que
esta a concurregut en tots los servicis que se han fet a vra Magestat ab fidelitat corresponent a les obligacion y estat dels que han
servit dita veu, ens a paregut molt propi de nostra obligació esposar en la gran consideracio de V Mag.t el fet referit y suplicarli
com ho fem ab tot rendiment es servixca de donar el orde combenient pera que el dit combent de Valldechrist puixa librement
introduir en la present ciutat y en qualsevol part del Regne y vendre el paper fabricat en lo dit molí del dit Combent manat que
aixi per part dels Arrendadors o administradors com de la Junta Patrimonial no se li posse impediment algu ni se li obligue a
pagar cantitat alguna com a exempt y liure y aixi ho esperam de cel catholich de vra Mag.t sent com es protector de la inmunitat
ecclesiastica y de totes les comunitats y veus que formen lo present estament. Nostre Señor g.de La Catholica y real persona de
vra Mag.t com la christiandat a menester. Valencia y dehembre a 22 de 1685.
Los elets dels estaments ecclesiastichs del regne de Valencia. Pásese a la junta patrimonial el miércoles (en la parte de atrás)».

191
se espera mui en breve tener officiales en estos regnos que fabriquen papel fino para no necesitar el
de Génova y otras partes»18.

Encontrar expertos capaces de elaborar un presupuesto para su reconstrucción fue tarea ardua, pues
«ni aquí ni en Valencia se ha hallado quien tubiere experiencia para hazer la tassa»19. Esta apreciación
sugiere un escaso desarrollo la manufactura papelera en Valencia y sus alrededores. La rehabilitación
nunca debió efectuarse, a tenor de la documentación posterior de que disponemos.

En un documento fechado en el año 1723 (y en otros posteriores20), que recoge una relación de
molinos activos en Murviedro pertenecientes al Patrimonio real, se citan los molinos de la Villa, Palava,
Moret, Gausa y Mal Año, pero no figura ningún papelero21. No obstante, a finales de la centuria, «el
sitio nombrado del molino de papel», aún constituía una referencia toponímica22. Chabret refiere como,
en la intersección de la acequia de Montiver con el barranco de Monserrat, todavía se podía distinguir
vestigios del molino papelero, en el lugar denominado «arco del molino de papel»23.

2.3. Los primeros molinos papeleros de Segorbe

En un cabreve de Segorbe, fechado en el año 1661, se reseña un molino que molturaba cereal al
mismo tiempo que fabricaba papel24. Establecido en régimen de enfiteusis, pertenecía a la viuda de
Joseph Valero, que pagaba un canon anual de 60 sueldos25. Por lo tanto, a finales del seiscientos
habría, al menos, dos molinos papeleros activos en la comarca del Alto Palancia, que la convirtieron en
el principal centro papelero del reino de Valencia26.

18 Archivo de la Corona de Aragón (en adelante, A.C.A.), Consejo de Aragón, Secretaría de Valencia, leg. 819/1, citado por
María Luisa CABANES CATALÀ: ibidem, 2003, p. 502.

19 A.C.A., Consejo de Aragón, Secretaría de Valencia, leg. 819/2, en CABANES CATALÀ, M. Luisa: (2003), ibidem, p. 502.

20 A.R.V. Protocolos Notariales, Miguel Robles Cisneros. 7.632. Año 1758, f. 1. En relación a los molinos de la villa de
Murviedro que fueron propios del Real Patrimonio, «encontraron dichos hornos y molinos muy deteriorados y arruinados; y
aviéndose vissurado por peritos, mediante decreto de la Justicia de la misma se han aprobado dichas obras y reparos, como
necesarias y bien hechas. Y respecto â que dicho Sebastián Sol, como tal maestro de molinos ha emplead en ellas varios
materiales y jornales que han servido para los molinos de Gausa, Moret, de la Palava, de Malany, y del de la Villa».

21 A.R.V. Bailía, letra E, exp. 6, año 1723.

22 A.R.V. Bailía, letra E, exp. 1812, año 1793, f. 4.

23 Antonio CHABRET FRAGA: Sagunt. Su historia y sus monumentos, Barcelona, 1888, tomo II, pp.373-4, nota 1.

24 Pablo PÉREZ GARCÍA: Segorbe a través de su historia, Publicaciones de la Mutua Segorbina, Segorbe, 1998, p. 261.

25 Archivo Ducal de Medinaceli, Cabreve de Segorbe, 1661, en GRAU ESCORIHUELA, Antoni, Señorío y propiedad en el
País Valenciano. Los dominios de la Casa Ducal de Medinaceli. El Ducado de Segorbe entre los siglos XVI y XVIII. Segorbe,
Fundación Bancaja, 1997.

26 Armando Carbó Marín me proporcionó bibliografía y trabajos referentes a la industria papelera en el Alto Palancia.

192
3. El siglo XVIII

Con la fundación de un nuevo molino cartujano en Altura, en el año 1728 (probablemente, tras una
reforma completa del molino ya mencionado), dedicado a la fabricación de papel blanco, y otro más en
Segorbe, la comarca contaba con tres o cuatro molinos papeleros. No sólo se había incrementado su
número, sino que, al mismo tiempo, se había especializado en la producción de papel blanco.

A partir de estos momentos, el crecimiento de la manufactura papelera fue vertiginoso. A finales de


siglo, llegó a contar con ocho en las proximidades de la propia ciudad de Segorbe, a los que habría que
añadir los de Altura, Jérica, Castellnovo y Soneja y tres más en su entorno, uno en Caudiel y dos en
Bejís. Los 16 ó 17 molinos de papel activos, simultáneamente, permiten calificar a esta centuria como
la época dorada de la manufactura papelera del Alto Palancia.

Varios de los apellidos de los fabricantes que regentaban los molinos de Segorbe y su entorno denotan
una clara ascendencia catalana, entre ellos, Tort, Frígola y Romaní. Según Gutiérrez i Poch, dos
factores facilitaron esta emigración, por un lado, la presión de la zona de origen y, por otro, el prestigio
de los operarios. Frecuentemente, las relaciones con el lugar de procedencia de los fabricantes no se
interrumpían, facilitando así la difusión de las nuevas tecnologías. Así, consta en una carta, fechada
en 1818, conservada en el Archivo Municipal de la Pobla de Claramunt, en la que un papelero de
Segorbe, Miguel Tort Leal, le rogaba a Jeroni Tort que le enviase formas27. A su vez, especialistas
del Alto Palancia tuvieron un indudable protagonismo en la formación de los nuevos focos papeleros
valencianos, concretamente, en Buñol y Alcoi, que acabarían por relegarlo a un segundo lugar. A
finales del siglo, el Alto Palancia producía, como máximo, el 10% del papel valenciano28.

En parte, el papel fabricado en Segorbe, Altura y Jérica se destinaba para la exportación a Nueva
España. Poseemos una relación de los fabricantes –datada en el año 1772– que exportaban papel a
Nueva España por el puerto de Valencia, la mayoría del reino. Entre los valencianos, Juan Bautista
Loustau (Rossell), Gerónimo Silvestre y Francisco Albors (Alcoi, así como fray Lamberto Navarrete
(en nombre de la Cartuja de Vall de Cristo), Julián Fuertes (en nombre de la marquesa de Cruillas),
Francisco Ferreras y Jaime Tort29. Diez años más tarde, en 1782, cinco fabricantes de la comarca
de Segorbe, en concreto, Jayme Tort, Xavier Bolumar, Frigola (marquesa de Cruillas)30, Francisco
Ferreras y Cartuja de Vall de Cristo, enviaron papel de encigarrar a Nueva España 31.

27 Miquel GUTIÉRREZ I POCH: Full a Full. L´indústria paperera de l´Anoia (1700-1998): continuïtat i modernitat. Publicacions
de l´Abadia de Monserrat. Biblioteca Abat Oliba. Barcelona, 1999, pp. 75 y 76.

28 Ana BOTELLA GÓMEZ: La industria papelera en el País Valenciano, Tesis de licenciatura, Valencia, 1981, p. 304.

29 Vicent RIBES IBORRA: Los valencianos y América. El comercio valenciano con Indias en el siglo XVIII, València, 1985, p. 117.

30 Gonzalo GAYOSO CARREIRA: Historia del papel en España, Diputación Provincial de Lugo, 1994, tomo III, p. 79.
Reproduce una filigrana de Frigola.

31 Vicent RIBES IBORRA: ibidem, 1985, p. 182.

193
3.1. Los molinos de la Cartuja de Vall de Cristo en Altura

En el año 1728, la propia Cartuja inauguró un nuevo molino papelero en Altura, que se emplazó en
la partida de Abratón, junto al secular molino cartujano conocido como el batán de los frailes. A estos
molinos, se refiere el castellonense Ponz, en su libro fechado en año 1789, al señalar que «junto á villa
de Altura, situada entre Valdechristo, y Segorbe, perteneciente á dicha Cartuxa, tiene la Comunidad
molinos de papel, y se fabrica de buena calidad»32. Tomás López, en Las Relaciones Geográficas
del Reino de Valencia, describe con detalle su entorno: «Al Mediodía, a la izquierda, a un quarto de
legua de Altura, hai una fábrica de papel mui crecida, que es de dichos PP. Cartuxos, y para entrar
en ella hai dos puentes, para pasar dos arroyos»33. Larruga, igualmente, se refiere a la fabricación
de papel blanco por parte de la Cartuja. Ricord, en 1791, incluye a Altura entre las localidades que
fabricaban tanto papel blanco como papel de estraza. Llama la atención el silencio de Cavanilles
sobre la manufactura papelera de Altura, puesto que suele aportar una documentación muy detallada.
Laborde confirma estos extremos: «sus religiosos han establecido una fábrica de papel en Altura, lugar
de 1500 habitantes, que les pertenece y se halla a un quarto de legua del monasterio»34.

El papel obtenido de esta manufactura parece que era de una calidad comparable, e incluso superior, al
catalán. En una carta del intelectual, impresor y editor Antonio Bordassar d’Artazu a Gregorio Mayans
i Siscar, fechada el 4 de septiembre de 1731, aquél afirma: «respecto de papel, el de esta carta i su
cubierta es el nuevamente fabricado en el molino de los frailes de Segorbe. Vea Vd. si le gusta, i
tomaré unas 16 resmas que tienen, a 10 reales con costeras, si no, lo tomaré de Cataluña que le ai a
nueve reales i medio, limpio de costeras i blanco, aunque no tan firme»35. Bernardo Espinalt confirma
la alta estima en que se tenía al papel de la manufactura de la Cartuja: «Tiene esta Cartuja molinos de
papel y le fabrican de buena calidad que después de Capellades y otros molinos de Cataluña tiene la
preferencia de los demás de España»36.

La realidad, sin embargo, no permite aceptar estas opiniones. Cuando, en 1741, Bordassar d’Artazu
y Gregorio Mayans i Siscar decidieron imprimir La «Censura de historias fabulosas», entraron en
contacto con el cartujo que actuaba como director del molino papelero, Fray Manuel Escuder, que se
comprometió a financiar un tercio del gasto de la impresión, aportando su parte en papel. Los primeros
pliegos de papel mostraban tantas deficiencias que decepcionaron a los promotores del proyecto. En

32 Antonio PONZ: Viage de España. Madrid, Viuda de Ibarra, 1789, tomo IV, p. 191.

33 Tomás LÓPEZ: Las Relaciones Geográficas del Reino de Valencia. Citado por CASTAÑEDA Y ALCOVER Vicente:
Relaciones geográficas, topográficas e históricas del Reino de Valencia , 1921, Tomo I, p. 183

34 Alexandro LABORDE: Itinerario descriptivo de las provincias de España. Reino de Valencia, 1826, p. 115, ed. Facsímil
París/Valencia.

35 Juan CASTELLÓ MORA: «Historiadores del papel en la segunda mitad del siglo XVIII», Actas del VII Congreso Nacional
del papel en España, El Paular, 2007, p. 436.

36 Bernardo E. ESPINALT: Atlante español, Madrid, 1786, tomo VII, pp.70-3.

194
efecto, al analizar el papel, se observa «la presencia de restos de grumos de pulpa, manchas, burbujas
y distintos gramajes [que] son signos evidentes de su mala fabricación«»37.

Entre sus clientes contamos incluso con el impresor del capítulo de la Catedral de Valencia, Antoni
Bal·le, quien reconoció haber recibido107 resmas; por su parte, Vicente Fraga, procurador de la fábrica
del papel de la Real Cartuxa de Valdechristo, confesó haber recibido del canónigo Theodoro Thomás
«cinquenta y tres libras y dos sueldos por cinquenta y nueves resmas de papel ordinario que se ha
entregado a Anto. Bal·le de cuenta de dicho sr. canónigo, a razón de nueve reales la resma»38.

Posteriormente (quizá a principios de la década de los 80), los monjes dejaron de fabricar directamente
el papel, arrendando sus molinos a fabricantes, al igual que hacían otras cartujas. Mateo Madalena,
vecino de Segorbe y fabricante de papel, se hizo cargo del arrendamiento de los molinos de la Real
Cartuja de Vall de Cristo, en las últimas décadas del siglo XVIII39.

El papel elaborado en las manufacturas de la Cartuja tenía por filigrana el escudo del monasterio, con
las cuatro barras de Aragón, sobre ellas, la cruz y la leyenda Val de Christo, en letras mayúsculas.
Carbonell y Manclús distinguen dos tipos de filigranas, claramente diferenciadas, la primera de dos
cuerpos, y la más frecuente, de un solo cuerpo40.

La Cartuja hubo de enfrentarse a varios contenciosos con los vecinos de Altura por el derecho de
establecer tierras y aguas41. También se vio envuelta en otros litigios, así, por ejemplo, en 1806, el
baile de Sagunto denunció al monasterio por iniciar las obras de un molino harinero, sin permiso del
Intendente, aunque ganó la Cartuja42. Sin embargo, el pleito más significativo fue el que mantuvo con
la ciudad de Segorbe por la propiedad y aprovechamiento del manantial de la Esperanza, disputados
por regantes y molineros43, que ha sido estudiado por M.J., Carbonell Boria e I. Monclús Cuñat44.

37 Amparo GARCÍA CUADRADO: «Un proceso de impresión: La “Censura de historias fabulosas” de Nicolás Antonio», en
Boletín de la Sociedad Andaluza de Bibliotecarios, julio-septiembre, 2001, año/vol. 16, número 064, Málaga, pp. 96 yss.

38 Joaquim JUAN-MOMPÓ ROVIRA: L’obra editada del canoge Teodor Tomás (València, 1677-1748). Estudi Lingüístic i
edició. Tesis Doctoral, Universitat de València, 2008, p.44.

39 A.R.V. Escribanía de Cámara, 142, f. 234, año 1781. En este documento, hay filigranas de Aqua, Notaro Costa y Moset.

40 M.J. CARBONELL y I. BORIA MONCLÚS CUÑAT: «Agua y molinos de papel…», pp.380-381.

41 A.R.V. Escribanía de Cámara, año 1782, 125. En el folio 69 de este documento, aparecen filigranas de Xavier Bolumar.

42 A.R.V. Bailía, letra E, exp. 2151, f. 88vº. 1806.

43 A.H.N., Toledo, sig 1, A-I2, K3, caj. fol. 4-23189 (17). «Por el Real Monasterio de la Cartuja de Val-de Christo, fundado en
la huerta de su villa de Altura […] y dueño de los molinos fábrica de papel […], informe legal en hecho, y derecho para el
pleyto que sigue en la Real Junta de Comercio, con la ciudad de Segorve, sus capitulares […], sobre pretender el monasterio
su amparo». Texto fechado el 24 de julio de 1761.

44 M.J. CARBONELL y I. BORIA MONCLÚS CUÑAT: «Agua y molinos de papel. La Fábrica de papel de la Cartuja de
Valldecristo», Actas del II Congreso nacional de historia del papel en España, Cuenca, 1997, pp. 377-392.

195
La fundación del nuevo molino de papel, ubicado entre Segorbe y Navajas, desencadenó el conflicto.
Los representantes de la ciudad de Segorbe describieron el origen de las discrepancias, esto es,
«pretenden la Cartuja de Vall de Christo deberían dársele tres hiladas de agua de la que discurre
por la acequia de la fuente nombrada de la Esperanza para beneficiar la fábrica de papel blanco
que aquél posehe dentro del término de Altura»45. Según la ciudad de Segorbe, el conflicto se inició
a consecuencia de la «novedad de tomar el monasterio media hilada de agua continua de la dicha
azequia [que] es ocasionada de haver nuevamente fabricado un molino de papel entre los partidores
de Dientes y Gerèa»46. La Junta de Comercio se pronunció sobre el asunto en 20 de diciembre de
1748, dando la razón al monasterio, «a fin de que desde a[h]ora a lo succesivo no se perjudique por
ningún motivo a la fábrica de la referida Cartuja de Vall de Christo»47.

El pleito, sin embargo, continuó y, por ello, en el año 1758, el Intendente envió una comisión, integrada
por Joseph Pedrós (alguacil mayor de la Intendencia) y Gaspar Francisco Ramoy (escribano).

La ciudad de Segorbe, no obstante, puso en tela de juicio su imparcialidad, atribuyendo a los


comisionados las siguientes palabras: «Más quiere el Rey una fábrica que a sus vasallos»48, a las que
replicó Felipe Font, labrador segorbino, de la siguiente manera: «Que el Rei ningún quartel cobrava de
la fábrica de papel y sí de los vecinos, por lo que más querría el Rei que éstos regassen sus heredades
que no que anduviese la fábrica»49.

El pleito acabó en 1765, pero, en 1771, se reabrió porque el agua del molino se seguía vertiendo al río,
«sin embargo de haver reconvenido al monasterio para que indemnizase esta quiebra, no se ha logrado
más que la esperanza de que se les haría cierto conducto que aún no se ha llegado â effectuar, haviendo
también provocado […] que la falta de dicha media hilada de agua únicamente cede en perjuicio de
los vezinos de Segorve, respecto â que los de Altura en los días que se ha de partir procuran todos los
arbitrios para quitar â la ciudad de Segorve, poniendo piedras, brozas y otras cosas»50.

Los monjes vieron reconocidas sus pretensiones y dispusieron de suficiente agua para que el molino
careciese de contratiempos por este motivo e incluso, antes de finalizar la centuria, el molino de la
Cartuja se remodeló, adaptándose a la elaboración de papel de imprenta, florete, estraza, marca
mayor, marquilla y cartones. Así, lo reconocieron los monjes en el año 1777, en el Manifiesto de rentas
del Real Monasterio de Vall de Christ para el reparto de la Real Gracia de subsidio51.

45 A.R.V. Fondos en Depósito, 68, año 1758, f. 13.

46 A.R.V. Escribanía de Cámara, año 1764, 97, f. 246vº.

47 A.R.V., Procesos de Intendencia, 2595, año 1744.

48 A.R.V. Fondos en Depósito, 68, año 1758, f. 4.

49 A.R.V. Fondos en Depósito, 68, año 1758, f. 37.

50 A.R.V. Escribanía de Cámara, año1764, 97, ff. 246vº-247.

51 José Ángel PLANILLO PORTOLÉS: «La importancia de las masías en la economía de Vall de Christ», en Actas del I

196
3.2. Los molinos de la Cartuja de Vall de Cristo en Jérica

La Cartuja, además de los molinos de Altura, tenía otros molinos en Jérica, también destinados a la
fabricación de papel por los propios monjes52. Según Larruga, en 1789, contaba con dos manufacturas
de papel blanco. Ambos molinos quedaron inactivos a raíz de las convulsiones bélicas y la inestabilidad
política de las primeras décadas del siglo XIX. En el año 1819, al llevarse a cabo un inventario con la
finalidad de reabrir el molino principal, se reseñaron dos ruedas con nueve pilas, tina con su hornillo,
caldera de cola, dos perchadas, etc. Además de este molino, la Cartuja poseía en propiedad el “batanico
de abajo”, otro molino papelero que contaba con 3 pilas corrientes, con su perchada, etc.53 Jérica es
una de las localidades que Ricord incluye en su relación de aquellas que elaboraban papel blanco.

3.3. Los molinos papeleros dieciochescos de Segorbe

En el cabreve del año 1737, realizado en la ciudad de Segorbe se incluye dos molinos papeleros. Uno
de ellos, fabricaba papel a la vez que molturaba cereal. Pertenecía a los herederos de Joseph Ortells
y, acaso, sea aquel molino que, en el año 1661, figuraba como propiedad de la viuda de Joseph Valero.
Se había establecido en régimen de enfiteusis, pagando un censo anual de 60 sueldos. Este molino
primero, fue harinero, luego, se destinó a la fabricación de papel de estraza y, en las fechas en que
se realizó el cabreve, se había especializado en la fabricación de papel blanco de gran calidad. El
segundo molino de la localidad lo había establecido el albañil Juan Martínez, también en régimen de
enfiteusis, bajo el dominio mayor del duque de Segorbe y pagaba un canon de 33 sueldos anuales.
Este molino, que fabricaba papel de estraza, se había construido en una huerta de seis hanegadas de
superficie54.

Vicente López afirmaba que: «En su término hai tres molinos de papel fino y en nuestros días se ha
establecido en las inmediaciones de la ciudad una fábrica de loza a semejanza de la de Alcora»55. En
efecto, en el año 1744, estaba activo un tercer molino papelero, propiedad de Matías Lozano. Esta
manufactura fabricaba papel de estraza y estaba emplazada en la huerta de Segorbe, concretamente,
en la partida de El Alvalat56.

Congreso Internacional sobre las Cartujas Valencianas, Analecta Cartusiana, El Puig, 1999, p. 18.

52 J. APARICI MARTÍ: El Alto Palancia como polo de desarrollo económico en el siglo XV, Ayuntamiento Segorbe, 2001, p. 50.

53 A.R.V. Escribanía de Cámara, año 1828, 60, f. 187.

54 Pablo PÉREZ GARCÍA: Segorbe a través de su Historia, 1998, p. 288.

55 Vicente CASTAÑEDA: ibidem, Tomo I, p. 174.

56 A.R.V. Procesos Intendencia, 2595. Año 1744, f. 3-3v. «Matías Lozano, labrador y Juana Novella, consortes […] hazemos
gracia y donación pura y perfecta que el derecho llama inter vivos irrevocable al dicho doctor Mathías Lozano subdiácono
(su hijo pequeño)de un molino y fábrica de papel de estraza y batán de enfurtir paños y tierras â el anexas, y agregadas,
que tenemos sito todo en el término y huerta de la ciudad de Segorbe es â saber, el molino y tierras anexas, que son
quatro bancales, y todos contienen en sí ocho anegadas poco más o menos, aquello que fuere dentro de sus lindes en la
partida nombrada El Alvalat, que lindan con la acequia donde se conduce el agua al molino y fábrica de papel blanco dicho
comúnmente de Ortells, y al molino arinero del lugar de Xeldo».

197
La expansión comenzada por el sector papelero a principios de la década de 1740 continuó57, de
forma que en el Censo del año 1747, figuraban ya cuatro molinos papeleros. Los mismos que reseñó
Larruga, en concreto, uno de estraza (seguramente, el de Matías Lozano), dos de papel fino blanco
(pertenecientes a la marquesa de Cruilles y Francisco Ferreras Huarro, respectivamente) y un cuarto
que elaboraba tanto estraza como papel fino (propiedad de Jaime Tort Torres)58. En el año 1782,
igualmente, figuraban cuatro fabricantes en activo: Xavier Bolumar, Jayme Tort, Francisco Ferreras y
Frigola, este último arrendatario de la manufactura de la marquesa de Cruillas.

El molino de papel blanco de la marquesa de Cruilles, sin duda, era el de mayor envergadura. Disponía
de 4 ruedas y 21 pilas y empleaba a 21 operarios. Obtuvo, en el año 1771, privilegios de la Corona, en
recompensa por la calidad de su papel y lo avanzado de su tecnología59. Al obtener la real protección
adquirió todas las preeminencias correspondientes, incluido el «uso del escudo de sus reales armas
sobre las puertas de ella (manufactura) y demás almazenes que se quisiesen poner en estos reynos,
y con el fuero de su Real Junta de Comercio»60. Ubicado en la partida del Censal, se vio afectado por
sucesivas avenidas, especialmente en los años 1776 y 1782, que lo fueron debilitando. En el año 1786,
se constató que «ha decaído mucho aquella fábrica y se encuentran en el Reyno no pocas que fabrican
igual ê incomparablemente mejor papel»61.

Este molino se arrendó sistemáticamente a fabricantes, entre ellos, Juan Dustou Larrosa62, Jaime
Tort Torres y Joseph Frígola (con cuyo nombre se le conocía), quien lo explotó hasta el año 1785.
Posteriormente, otros fabricantes, como Juan Brugada se hicieron cargo del molino. A principios del
siglo XIX, estuvo arrendado a Jaime Frígola y Francisco Romaní.

Con fecha dos de octubre del año 1790, por decreto del rey y de su Real Cámara, se autorizó a Manuel
María Monserrat y Acuña, marqués de Cruillas, para que en el término de dos años –luego, el plazo
se amplió un año más– procediese a la venta de un molino de papel y dos pedazos de tierra huerta; el
molino emplazado en el término de la ciudad de Segorbe y las tierras, en el término de la Vega de la
ciudad de Valencia. La venta de estas propiedades del marqués de Cruillas tenía como finalidad dotar
a dos capellanías. No nos consta la venta del molino papelero, pero si la venta de las tierras, que se
hizo efectiva en 1793, siendo adquiridas por Josefa Caro, baronesa viuda de Cheste63.

57 Pablo PÉREZ GARCÍA: ibídem, 1998.

58 Eugenio LARRUGA: Historia de la Real y General Junta de Comercio, Moneda y Minas, Central de Fabricantes de Papel
(1932), Madrid, 1789, pp. 31-5.

59 A.R.V., Bailía, letra E, exp. 1499, f. 1.

60 A.R.V., Bailía, letra E, exp. 1499, f. 1.

61 A.R.V., Bailía, letra E, exp. 1499, f. 41.

62 RIBES, ibidem, p. 126.

63 A.R.V., Protocolos Notariales, 6377, f. 390. Año 1793.

198
En el año 1767, Manuel Martínez Pradal y Francisca Molina, vecinos de Navajas, construyeron el
segundo molino de papel blanco, después de obtener la autorización de establecimiento del duque
de Medinaceli. Exactamente, se hallaba situado en la partida de Rascaña, muy próximo a la Vall de
Almonacin, al otro lado de Navajas, junto al término de Jerica64. Posteriormente, en el año 1788, fue
adquirido por Ferreras y Huarro, junto con otras instalaciones manufactureras que incluían, además del
molino de papel blanco, un molino harinero y una almazara.

En el año 1744, Matías Lozano y Juana Novella figuraban como propietarios de un batán de enfurtir
paños y de un molino que fabricaba papel de estraza, además de diversas tierras (estimaban su
hacienda en 1300 libras). Ese mismo año, cedieron la propiedad nominal de dichas manufacturas a
su hijo pequeño que era sacerdote, sin duda, para beneficiarse de las exenciones de que disfrutaba el
clero. En efecto, hicieron «gracia y donación pura y perfecta que el derecho llama inter vivos irrevocable
al dicho doctor Mathías Lozano subdiácono». Gaspar Pastor, administrador de la real renta del 8%,
consideró que dicha donación era «notoriamente fraudulenta, y como á tal, nula», puesto que se había
hecho exclusivamente con la finalidad de eludir al fisco. En efecto, cuando Matías Lozano tomó esta
decisión cuando, al entrar su papel en Valencia, se le obligó pagar los derechos correspondientes65.

En el año 1786, Matías Lozano y Roque Pérez entraron en conflicto con la testamentaría de la
marquesa viuda de Cruillas, cuando ésta pretendió variar el cauce de la acequia que conducía el
agua a su molino papelero66. La marquesa fracasó en su intento de abrir una acequia nueva por
terrenos de propiedad particular.

Manuel Rodríguez, propietario de un molino de papel emplazado en la partida de Amara, obtuvo el


correspondiente establecimiento «de la muy Ilustre Ciudad para conducir y llevar el agua á dicho
molino y usar francamente de la que fuere necesario para el uso y aprovechamiento de la indicada su
fábrica, tomándola del río (acequia Fonesca)»67. No obstante, en el año 1772, los regantes iniciaron un
pleito contra los propietarios del molino, en cuyo transcurso, fue adquirido por Jaime Tort Torres, quien,
en el año 1800, continuaba el pleito68.

64 A.R.V., Bailía, E-apéndice, 1015, Año 1830. Ff. 3vº-17. La herencia de Francisco Ferreras pasó indivisa a sus hijas Rosa
(soltera), Francisca, María, Ramona y Teresa Ferreras, casadas, respectivamente con Joseph Sodevila, Manuel Rodríguez,
Pascual Ascido y Jayme Frígola. Tres herederos vendieron su parte del molino harinero de dos muelas a Luciano Andrés.

65Procesos Intendencia, 2595. Año 1744, f.14. «… haviendo mandado para â esta ciudad (Valencia) de mi cuenta tres cargas
de papel de estraza, fábrica del referido molino para la más fácil venta conduzidas por Miguel Gil que trabaja en mi misma
casa se le ha puesto reparo en la puerta de Serranos en cuanto â la franqueza, no obstante, que ha hecho presentación de
un certificado del cura de la parroquial de Altura, por el que consta ser el papel de la fábrica de mi molino que tengo por mi
cuenta, y se han quedado en la aduana con una carga para seguridad de los derechos.
Y que una vez que el molino es propio mío, con legítimo y justificado título, y de mi cuenta su fábrica, devo ser inmune de la
contribución en los derechos â la puerta, y no se me puede poner embarazo en la entrada».

66 A.R.V. Bailía, letra E, exp. 1499.

67 A.R.V. Fondos en depósito, exp. 72.

68 A.R.V. Procesos de Intendencia, exp. 3737, ff. 1-4, año 1806. «El arrendador de la Baylía de Murviedro contra Jayme Tort

199
El propio Jaime Tort y Torres, en el año 1775, solicitó permiso al ayuntamiento de Segorbe para
establecer un segundo molino, próximo al anterior, ubicado en la partida de Agustina, donde fabricaba
tanto papel de estraza, como blanco69. En el año 1818, su heredero, José Marqués, transformó este
molino papelero en harinero. Junto a este molino harinero de dos piedras, se encontraba el batán, pero
también inactivo, ya sin uso.

El crecimiento de la industria papelera prosiguió en años sucesivos, hasta recibir un nuevo impulso a
finales de siglo, duplicando las manufacturas, en efecto, Cavanilles cifraba el número de molinos en
ocho, que producían 14.000 resmas70. Tanto Ricord, como el Almanak Mercantil se hacen eco de la
importancia de Segorbe como localidad papelera, pero no aportan datos nuevos. En el Almanak, se
afirma: «hay fábricas de papel cerca de Segorbe». Ricord explicita que se fabricaba tanto papel blanco
como papel de estraza.

A finales del siglo XVIII, se habían establecido cuatro nuevos molinos. Juan Brugada, vecino de Madrid,
con intereses en Murviedro y Navajas, era propietario de dos molinos «que se construyeron en estos
últimos tiempos»71; ambos estaban emplazados junto a la acequia del Censal72. Estos dos molinos eran
conocidos como el de Lozano y el del Tesorero, mientras el primero sólo fabricaba papel de estraza, el
segundo también confeccionaba papel blanco73. Según Las Relaciones de Vicente López: «A un quarto
de legua de Segorbe, al Oriente, azia la mano izquierda, aun quarto de legua, se pasa el río, y antes
hai un molino de papel mui crecido, que se llama del Tesorero, y se encuentra un lugar llamado Carrica,
y a un quarto de Carrica, azia el Oriente, está la villa de Castellnovo»74. Este molino fue adquirido por
Juan Brugada, en nombre de la Compañía Brugada y Mercader. A principios del siglo XIX, el molino
de Lozano, emplazado en el Realet, dedicado a la elaboración de papel de estraza, era propiedad de
los hermanos Juan y Antonio Brugada Carbonell, vecinos de Madrid, quienes lo arrendaron a José
Saumell75. En estos mismos años, el molino del Tesorero estaba arrendado a Francisco Gustems76.

sobre el molino papelero que posehe en Segorbe. Jayme Tort vecino de la ciudad de Segorbe está poseyendo un molino
papelero en el término de la misma, cuya finca sin embargo de corresponder en dominio mayor y directo, con todos los
derechos del emphiteusis, al Real Patrimonio no le contribuye el canon anuo ni su dueño ha manifestado como enfeudada, no
obstante de repetidas circulares, que en 13 de agosto y 25 de noviembre del año próximo pasado se expidieron por la Junta
Patrimonial...».

69 Ibídem, p. 303.

70 A.J. CAVANILLES: Observaciones sobre la historia natural, geografía, agricultura población y frutos del reyno de Valencia,
1795-97, en LACARRA, SANCHEZ, JARQUE, Las observaciones de Cavanilles. Doscientos años después, edición facsímil
de Bancaixa, Valencia, 1996, tomo III, p. 85.

71 A.R.V. Procesos de Intendencia, 3903. Año 1806.

72 A.R.V. Procesos de Intendencia, 3853. Año 1806.

73 A.R.V. Procesos de Intendencia, 3901. Año 1806.

74 Vicente CASTAÑEDA: ibidem, Tomo I, p. 176.

75 A.R.V. Bailía, letra E, exp. 2636, f. 1.


76 A.R.V. Bailía, letra E, exp. 2636, f. 33.
200
Tanto el arrendatario del molino de Lozano como el del Tesorero se vieron perjudicados por los
remansos de agua efectuados por Severino Belarte (molinero y botiguero77) en un molino harinero,
llamado de Capuchinos, ubicado encima de las manufacturas papeleras, a las que dejaba sin agua,
causando, además otros prejuicios78. Los arrendatarios de aquellos molinos entraron en conflicto
con el propietario del molino harinero, conocido como de Capuchinos, que recientemente había
comprado a Antonio Arnau79. El conflicto culminó con un pleito por el uso de las aguas de la acequia
del Censal, entre Severino Belarte y Antonio Brugada80. Posteriormente, este edificio quedaría
sometido a diversos usos81.

Francisco Triguella, vecino de la ciudad de la ciudad de Segorbe, figuraba como propietario del séptimo
molino papelero82. Quizás, el octavo pertenecía a Francisco Romaní83, un fabricante papelero muy
conocido por estas fechas.

77 A.R.V. Bailía, letra E, exp. 2151, f. 88vº. 1806.

78 A.R.V. Bailía, letra E, exp. 2636, ff. 5-6. El propietario de las fábricas de papel encontró cuatro operaciones punibles: «1º.
Que quando Severino detiene el agua que forma el remanso para dar mayor impulso á la muela, queda parada y sin uso
la fábrica de mi principal, y sin movimiento la rueda mayor ó maestra, siendo necesario un hombre que la mueva para que
buelba andar una vez parada. 2º. Que en el estado de hallarse parada la rueda, se llenan de agua las pilas, y al tiempo de
mover aquella sale de éstas, la pasta que se derrama en mucha abundancia, y no menos perjuicio. 3º. Que soltando Severino
el agua que ha rebalsado para moler, como sea en más copia de la que regularmente hace el río, viene tan impetuosa por de
pronto, y en tanto dura el remanso que no pudiéndola sufrir las ruedas, ceden á su violencia, é impetuosidad, rompiéndose
algunas maderas de la máquina. 4º. Que con motivo de recogerse en el remanso, el cieno que trae consigo la acequia, y la
precipitación, y turbulencia que causa quando se suelta, hacen turbia el agua, y ocasionan con ello el gravísimo perjuicio de
ensuciar la pasta de papel blanco».

79 A.R.V. Bailía, letra E, exp. 2750.

80 A.R.V. Bailía, letra E, exp. 2636 y A.P.R.M., inventario Bailía, caja 7091, nº. 323 y caja 7093, nº. 359

81 Las Provincias, 17 de abril de 1905. «D. Ramón Vidal acaba de instalar una gran fábrica de sombreros, en el edificio que
fue convento de capuchinos, en la actualidad, propiedad de Benigno Gil”. El negocio había fracasado al poco tiempo. En
El Mercantil Valenciano, 16 de enero de 1910 se había insertado un anuncio con el siguiente texto: “Se vende al contado
ó á plazos un grande edificio propio para fábricas en la ciudad de Segorbe, carrera de Capuchinos, compuesto de varios
pisos y grandes cuadras con transmisiones ó embarrados, que fue fábrica de hilados y tejidos. Al frente del edificio hay dos
espaciosas habitaciones y un huerto de seis hanegadas. Tiene dos saltos de agua independientes con una rueda hidráulica y
una turbina de 12 y 8 caballos con agua continua. Un vapor de Alexander, de 30 caballos, con dos calderas generadores de
vapor de 20 caballos cada una. Se vende también una máquina eléctrica de corriente continua capaz de dar una corriente de
100 amperas 185 volts tensión con su cuadro de distribución».

82 A.R.V. Procesos de Intendencia, 3863. Año 1806.

83 José Luis BASANTA CAMPOS: Marcas de agua en documentos de los archivos de Galicia, 2002, tomo VIII, p. 256.
Reproduce una filigrana de este fabricante, fechada en 1826. Una idéntica, la publicó Gayoso, en el tomo III, p. 100.

201
Al iniciarse el nuevo siglo, todavía se establecieron nuevos molinos, como el de Vicente Tort (año
1816)84, aunque, seguramente, otros se reconvirtieron en harineros85. Como ya se ha dicho, a los
ocho molinos reseñados por Cavanilles en Segorbe habría que añadir los molinos de Altura, Jérica,
Castellnovo, Soneja, Caudiel y Bejis.

3.4. Los molinos papeleros de Castellnovo

Bernardo Espinalt asegura que en Castellnovo existía, en el año 1784, un molino de papel blanco. Es
posible que Xavier Bolumar estuviera a cargo de él, hasta el año 1785, cuando se instaló definitivamente
en Buñol86. Conocemos el nombre de algunos papeleros activos en Castellnovo, como Francisco Rodier
o Pascual Berinas. Miñano confirma la continuidad de un molino de papel blanco, en el año 1826. Por
estas fechas, las fuentes aluden a Pascual Bernat, Manuel Bellón y Antonio Ibáñez, los dos primeros
fabricantes de papel y, el último, oficial.

De todas formas, un segundo molino de Castellnovo, emplazado en la partida de Susierres y propiedad


de Cristóbal Tort, se dedicó pronto a la elaboración de papel de estraza, compartiendo instalaciones
con un molino harinero contiguo87.

3.5. Otros molinos papeleros del Alto Palancia

Según Vicente López, en Soneja, «Junto al río Segorbe hay algunos molinos de papel y trigo y algunas
casas o masías»88. Ricord incluye a Caudiel89 entre los que elaboraban papel blanco y a Bejís entre los
pueblos que poseían molinos de papel de estraza. Aunque, Ponz, natural de Bejís, en ningún momento
alude a esta industria, cuando se refiere a su pueblo natal, tenemos constancia de la actividad de dos
molinos papeleros, dedicados a la fabricación de papel de estraza. El primero de ellos90 se «construyó

84 A.R.V. Bailía, letra E-Apéndice, exp. 459, f. 3 y 3vº: «Vicente Tort, labrador y vecino de la ciudad de Segorbe (...) desea
construir un molino harinero en terreno del Real Patrimonio, sito en dicha ciudad, partida llamada del Pando, lindante por una
parte con el camino real y, por otra, con el de Nabajas, y como no puede conceptuarse sin con el agua que lleva dicha presa
podrá o no moler el molino, en este caso, solicita el suplicante se entienda la gracia para molino de papel con una tina. Que
este arte, tanto sea de molino harinero o de papel, no impide pazos, cataderos, abrebadores ni se sigue prejuicio á tercero,
sin que á la parte superior se encuentre otra fábrica ni edificio alguno, logrando el salto de veinte palmos».

85 A.R.V. Bailía, letra S, 2044. Año 1800. Mariano Listerri, arquitecto de Segorbe, entró en conflicto con el Concejo, justicia
y regimiento de Segorbe (propietarios de tres molinos harineros, el de Xeldo, Albusquet y Capuchinos) cuando trataba de
encontrar clientela «para cierto molino que há variado en arinero y puesto corriente». Este molino estaba emplazado en las
inmediaciones de la entrada a la ciudad, junto a la carretera real, aprovechando el agua de la acequia nueva o acequia mayor.

86 A.R.V. Protocolos Notariales. Año 1785. Nº 7455, fs. 149 y ss.

87 A.R.V. Protocolos Notariales, 9274. Año 1829, f. 9.

88 Ibidem, tomo I, p. 279.

89 Archivo de la Diputación Provincial de Valencia (A.D.P.V.), E-10.1, leg. 2., exp. 27, folio 68. Año 1828. También
desaparecieron otros núcleos papeleros valencianos, como Caudiel, del que se afirma que «solamente hay algunas fábricas
de ollas de colar aguardiente, y no otras, ni talleres, ni establecimientos, ni tampoco ningún sugeto yndustrial».

90 A.R.V., Procesos de Intendencia, 4152, año 1806.

202
en el lugar de Bexis, en las riberas del río que le baña y actualmente posee Juan Benedito, vecino
y morador del mismo»91; y el segundo, por estas fechas, pertenecía a Vicente Alcalde.92 Ambos – se
afirmaba en 1806 – de construcción reciente. Posteriormente, en Bejís, también llegó a fabricarse papel
blanco, así lo afirman Madoz y Viñas Campi. Junto a los molinos papeleros, encontramos batanes, uno
de ellos, propiedad de Josef Vicente93.

4. El siglo XIX

El siglo XIX fue un siglo de decadencia de la industria del Alto Palancia. Aun cuando se abrieran nuevos
batanes en Navajas, Teresa de Viver y Castellnovo, la decadencia se cierne sobre Bejís y Segorbe. Tampoco
los molinos papeleros de Altura y Jérica superaron jamás las consecuencias de la desamortización.

En plena decadencia, la industria papelera del Alto Palancia no estaba en unas circunstancias favorables
para sumarse a las innovaciones, necesarias para su supervivencia. A consecuencia de los procesos
de mecanización, desapareció, por completo, la manufactura tradicional, de forma que las fábricas del
siglo XX fueron todas de nueva creación.

4.1. Los molinos de la Cartuja de Vall de Cristo en Altura y Jérica

Entre las propiedades de la Cartuja, consideramos tanto las manufacturas de papel que poseía en
Altura (cuyo edificio se utilizaba también como batán para lana) como las de Jérica, inactivas en el año
1819. «En la descripción de la industria de papel de Altura se dice que tenían una fábrica de papel con
cilindro, pular, dos tinas y todas las ainas, aunque solo funcionaba una de dichas tinas. Esta fábrica se
arrendaba. En Jérica disponían de un sitio para fabricar papel con unas tierras adjuntas situado todo
en la partida de Navarro y cuatro hanegadas de huerta en distintos bancales, partida de la Morería. En
el arrendamiento se pagaba por todo junto»94.

En el año 1819, Francisco Romaní, que formó compañía con Jaime Perera (del comercio de Segorbe),
arrendó tanto la manufactura de Altura como las dos de Jérica, emplazadas en la partida de la Morería,
junto al río Palancia, a las que puso en funcionamiento. En ambos molinos, se proponían obtener papel
blanco de escribir, «siendo el papel que se fabrica de muy buena calidad y por el mucho consumo,
como por el ramo de policía se ha surtido en el año próximo pasado, para la impresión de pasaportes
y son muchas á más las resmas que se hacen para Madrid»95.

91 A.R.V., Procesos de Intendencia, 4149, año 1806.

92 A.R.V. Procesos de Intendencia, 4148. Año 1806.

93 A.R.V. Procesos de Intendencia, 4150. Año 1806.

94 Emma Dunia VIDAL PRADES: La Cartuja de Vall de Crist en el final del antiguo régimen, siglos XVIII y XIX, Universitat
Jaume I, Castellón, 2006, p. 72.

95 A.R.V. Escribanía de Cámara, año 1828, 60, f. 135.

203
Francisco Romaní había obtenido un contrato ventajoso (debía pagar 300 pesos, la mitad por el
molino de Altura), ante el temor, por parte del prior, de las medidas que estaba tomando el gobierno
constitucional (1820-3). De hecho, en el Diario de Valencia de 9 de febrero de 1823, se anunciaba la
venta judicial del cuarto diezmo y medio diezmo de dicha fábrica, ubicada en la partida de la Morería.
A la muerte de Romaní, el prior pretendió rescindir el contrato, iniciando un pleito contra Magdalena
Tort, viuda de Romaní. Ésta obtuvo un veredicto favorable, por sentencia del 16 de enero de 1833, a
menos de tres años de la desamortización de la Cartuja.

Con el desarrollo del movimiento liberal, la Cartuja empezó a tener problemas, hasta, finalmente ser
suprimida y su comunidad declarada disuelta el 4 de septiembre de 1835. La Cartuja y sus propiedades
pasaron a dominio de la Nación. El día 9 de noviembre de 1844, la Cartuja fue vendida en subasta
pública a Sebastián de Araujo y Pedro García Ruiz, por 1.300 reales de vellón. Entre ambas fechas, la
Cartuja fue expoliada.

El primer arrendatario del molino de Altura, después de la desamortización, fue un fabricante de


reconocido apellido papelero, Mariano Huarro, así, consta en este documento: «En la villa de Altura,
á los once días de Enero de 1836. Ante mí, el infraescrito Escribano de su Majestad y testigos que
se expresan, comparecieron Mariano Vicente, vecino y del comercio de la ciudad de Segorbe de una
parte, y de otra Mariano Huarro de oficio papelero con la consorte Vicenta Máñez y Don Joaquín
Lozano, presbítero, vecinos de esta villa […] Dijeron: Que habiéndose quedado en arriendo dicho
Huarro el batán de papel procedente del suprimido Monasterio de Valdecristo, y por consiguiente
ahora de la Nación, y necesitando para su manejo de algunos fondos, han tratado y convenidose los
comparecientes el que dicho Mariano Vicente les presta la cantidad de 20.000 reales de vellón que le
hayan de abonar anualmente el rédito correspondientes […] a devolver en dos años. Miguel Murciano
de Echevarría»96.

Madoz consideró que Altura disponía de la más importante concentración papelera de la provincia de
Castellón. Sin embargo, ni Giménez Guited ni el Indicador de Viñas Campi aluden a ella, lo que nos
hace presumir que el molino cerró en este lapso de tiempo.

Después de la desamortización, Jérica conservó una fábrica de papel, mientras que la otra se reconvirtió
en fábrica de borra, según asegura Madoz. La fábrica no aparece en la relación de Giménez Guited del
año 1862, pero sabemos que, dos años más tarde, según el Indicador, seguía activa. Por entonces,
siendo propiedad de José Monleón, se dedicaba a la elaboración de papel de estraza. En los Bailly-
Bailliere de 1888 y 1900, se reafirma su continuidad, al tiempo que se asegura que Rita Aliaga Espuch
figuraba como propietaria de los molinos de papel de estraza.

96 A.R.V. Protocolos Notariales, 9277. Año 1836, f. 5vº.

204
4.2. Los molinos papeleros de Segorbe

Sin duda, las últimas décadas del siglo XVIII y las primeras de la centuria siguiente – cuando todavía
se establecieron nuevos molinos – fueron las de mayor esplendor de la industria papelera segorbina.
La reconversión del molino de papel de los cartujos a otros usos – en él se había plantificado varias
máquinas de tejidos e hilados de algodón, con algunas sierras hidráulicas – sugiere cierta decadencia
de la industria papelera. Quizás, la necesidad de recurrir a anuncios en prensa para encontrar
compradores también sea un síntoma de estancamiento de la industria papelera97. Segorbe, según
Madoz, contaba con diversas fábricas de papel aunque no explicita su número.

Según Guiménez Guited, en 1862, estaban en activo cuatro fabricantes que disponían de 4 tinas,
empleaban a 32 operarios y contaban con un capital estimado de 160.000 reales de vellón. Una de
las fábricas activas, al menos entre 1850 y 1870, fue la fábrica de Jarque Frígola. En 1862, Miguel
Leal fundó una quinta fábrica, dedicada a la elaboración de papel blanco y de fumar, activa todavía
en 1886. Según el Indicador de Viñas Campi, en 1864, eran cinco las fábricas de papel de estraza,
pertenecientes a Juan García, Francisco Rodríguez, José Tort, Manuel Tort y Vicente Tort. En los Bailly-
Bailliere de 1882 a 1900, no encontramos referencia alguna a la industria papelera.

4.3. Los molinos papeleros de Castellnovo

Castellnovo contaba con tres batanes de papel, al dividirse un molino papelero entre tres hermanos.
A la muerte de Cristóbal Tort, sus hijos se repartieron sus propiedades. Luciano Tort obtuvo el molino
harinero de una muela, mientras el batán de papel se adjudicó a dos de sus otros hijos: Fernardo
Tort y Carlos Tort. El primero poseía una tienda, por lo que no estaba interesado en la fabricación
de papel y arrendó sucesivamente su parte del batán. En el año 1829, lo arrendó a Carlos Tort, por
término de un año y precio de 30 libras anuales pagaderas en tres plazos iguales98. Un nuevo contrato
de arrendamiento, semejante al anterior, se firmó a finales de octubre del año 1830, ahora por 32
libras y seis sueldos99. En el año 1831, Fernando Tort arrendó su parte a su hermano Manuel Tort,
por un tiempo de dos años y 63 libras por cada uno de las anualidades pagadoras en dos plazos100.
Finalmente, con fecha 29 de diciembre de 1831, se produjo la división definitiva del batán entre ambos

97 Francisco ALMELA VIVES: Historia del papel en Valencia, Valencia, Tipografía Moderna, 1961. Reproduce un anuncio
aparecido en el Diario Mercantil de Valencia el primero de agosto de 1843, que dice así: «A voluntad de su dueño se vende
un molino-fábrica de papel, útil para trabajar en el día, con todos los enseres correspondientes; tiene abundancia de aguas,
casa, corrales y demás dependencias necesarias; a mas, seis hanegadas de tierra huerta anejas al mismo edificio, el que
puede ser útil para cualquier establecimiento por su solidez y extensión. Se halla en la misma ribera de la ciudad de Segorbe,
a un cuarto de hora de la misma. Es de libre disposición y jamás ha pertenecido a vínculo ni mayorazgo».

98 A.R.V. Protocolos Notariales, 9274, año 1829. f. 42vº.

99 A.R.V. Protocolos Notariales, 9275, año 1831. f. 49.

100 A.R.V. Protocolos Notariales, 9275, año 1831. f. 59.

205
hermanos, Fernando y Carlos101. En el año 1833, Fernando Tort arrendó su batán a Miguel Almazán,
por un tiempo de dos años y un precio de 65 libras, a pagar por meses102.

Giménez Guited señala tres fabricantes, que disponían de tres tinas, empleaban a 18 operarios y
tenían un capital estimado en 60.000 reales de vellón. En 1864, se contaban cuatro fábricas de papel
de estraza, propiedad de Simón Guinot, Carlos Tort, Cristóbal Tort y José Tort.

4.4. Los molinos papeleros de Teresa de Viver

En Teresa de Viver, Madoz asegura que estaban en activo tres molinos. La actividad papelera continuó
en las décadas siguientes. Giménez Guited se refiere a dos fabricantes, que contaban con dos tinas,
empleaban a 12 operarios y disponían de un capital estimado de 70.000 reales de vellón. En el año
1873, seguían en activo dos fábricas de bastante importancia. En el Bailly-Bailliere de 1900, se cita
la fábrica de papel de estraza de Miguel Sánchez, que ya había cesado su actividad en el año 1918.

4.5. Otros molinos papeleros del Alto Palancia

La primera noticia que tenemos sobre fabricación de papel en Navajas se data en el año 1767. En
el año 1806, el arrendador de la Baylía de Murviedro denunció a Francisco Ferreras, propietario de
un molino batán de papel emplazado en dicha localidad, en la que se afirmaba: «Francisco Ferreres
vecino de Navajas posehe un molino batán de papel en el lugar de Navajas, cuya finca sin embargo de
corresponder al Real Patrimonio en dominio mayor y directo, con todos los derechos del emphiteusis,
no le contribuye el canon anuo ni su dueño ha manifestado como enfeudada, no obstante de repetidas
circulares, que en 13 de agosto y 25 de noviembre del año próximo pasado se expidieron por la
Junta Patrimonial...». Josef Casanova, escribano real y público de la villa de Viver dio fe de haberse
comunicado, dentro el propio molino, dicha denuncia al propietario103. Madoz, asegura que todavía, a
mediados del siglo XIX, estaba activo este batán de papel104.

Según Madoz, en Bejís continuaba activa una fábrica de papel con tres tinas, una de blanco y dos de
estraza. Giménez Guited se refiere a un fabricante, que disponía de una tina, empleaba a 6 operarios
y su capital se estimaba en 30.000 reales de vellón.

101 A.R.V. Protocolos Notariales, 9275, año 1831. f. 94.

102 A.R.V. Protocolos Notariales, 9276, año 1833. f. 84vº.

103 Procesos de Intendencia, n.º 3876. “En la casa batán de papel blanco, del poblado de Navajas, y día 17 de junio de 1806,
se notificó este real despacho a Francisco Ferreres, papelero de la misma. Doy fe.”

104 Pascual MADOZ: Diccionario geográfico-estadístico-histórico de España y sus posesiones de ultramar, Madrid, 1850,
tomo XII, p. 47.

206
5. Conclusiones

La importación masiva de papel italiano impidió el desarrollo de la manufactura papelera valenciana que,
en el siglo XVI, quedó reducida a su mínima expresión. A finales del siglo XVII, se inició la recuperación de
la manufactura papelera con el establecimiento de nuevos molinos papeleros, destacando los construidos
en el valle del Palancia, en torno a la Cartuja de Vall de Cristo. Finalmente, durante el siglo XVIII, se
configuró un potente núcleo papelero que se vio favorecido por la exportación de papel a Nueva España.
Precisamente, la demanda americana posibilitó un rápido crecimiento del núcleo papelero de Alcoi y
su comarca, que devino el hegemónico en tierras valencianas. A diferencia de otros núcleos papeleros
que fueron adoptando las nuevas máquinas – tanto la continua como la redonda –, la manufactura
papelera del valle del Palancia no se mecanizó, de forma que, en el siglo XIX, acabó por desaparecer.
Sin embargo, dadas las excelentes condiciones geográficas, en el siglo XX, se establecieron modernas
fábricas, ninguna de las cuales está ya en activo.

BIBLIOGRAFÍA

ALMELA VIVES, Francisco: Historia del papel en Valencia, Valencia, Tipografía Moderna, 1961.
ALONSO LLORCA, Joan: «La fabricación de papel en Xàtiva», Actas del IV Congreso Nacional del papel
en España, Córdoba, 2001.
APARICI MARTÍ, Joaquín: El Alto Palancia como polo de desarrollo económico en el siglo XV, Segorbe, 2001.
BASANTA CAMPOS, José Luis: Marcas de agua en documentos de los archivos de Galicia, 2002.
BLASCO, Ricard: «El comerç valencià de llibres», en La imprenta valenciana. Valencia, 1990.
BOTELLA GÓMEZ, Ana: La industria papelera en el País Valenciano, Valencia, 1981.
CABANES CATALÀ, María Luisa: «Molinos papeleros en Murviedro», Actas del V Congreso Nacional del
papel en España, Sarrià de Ter, 2003.
CARBONELL BORIA, María José y MONCLÚS CUÑAT, Irene: «Agua y molinos de papel. La Fábrica
de papel de la Cartuja de Valldecristo», Actas del II Congreso nacional de historia del papel en España,
Cuenca, 1997.
CAVANILLES, Antonio Josef: Observaciones sobre la historia natural, geografía, agricultura población y
frutos del reyno de Valencia, 1795/7, edición facsímil, Valencia, 1996.
CASTAÑEDA Y ALCOVER, Vicente: Relaciones geográficas, topográficas e históricas del Reino de
Valencia, Madrid, 1921.
CASTELLÓ MORA, Juan y CALABUIG ALCÁNTARA, María Ángeles: «El museo molí paperer de Banyeres
de Mariola», en Tinta y Papel. Industria y Arte, Universidad de Alicante, Alicante, 2002
CASTELLÓ MORA, Juan: «Historiadores del papel en la segunda mitad del siglo XVIII», Actas del VII
Congreso Nacional del papel en España, El Paular, 2007, p. 436.

207
CHABRET FRAGA, Antonio: Sagunt. Su historia y sus monumentos, Barcelona, 1888, tomo II.
ESPINALT GARCÍA, Bernardo: Atlante español, Tomo IX, Madrid, 1786.
GARCÍA CUADRADO, Amparo: «Un proceso de impresión: La “Censura de historias fabulosas” de Nicolás
Antonio», en Boletín de la Sociedad Andaluza de Bibliotecarios, 2001, año/vol. 16, nº 064, Málaga.
GAYOSO CARREIRA, Gonzalo: Historia del papel en España, Diputación Provincial de Lugo, 1994.
GÓMEZ i LOZANO, Joseph-Marí: La Cartuja de Vall de Crist y su Iglesia Mayor. Aproximación a su
reconstrucción gráfica, ICAP, Segorbe, 2003.
GÓRRIZ MARQUÉS, Vicente: «Aproximación a la economía de la Cartuja de Vall de Christ», en Boletín del
Centro de Estudios del Alto Palancia, 1985, nº. 7-8, Segorbe.
GRAU ESCORIHUELA, Antoni: Señorío y propiedad en el País Valenciano. Los dominios de la Casa Ducal
de Medinaceli. El Ducado de Segorbe entre los siglos XVI y XVIII. Segorbe, Fundación Bancaja, 1997.
GUTIÉRREZ I POCH, Miquel: Full a Full. L´indústria paperera de l´Anoia (1700-1998): continuïtat i
modernitat, Publicacions de l´Abadia de Monserrat, Biblioteca Abat Oliba, Barcelona,1999.
JUAN-MOMPÓ ROVIRA, Joaquim: L’obra editada del canoge Teodor Tomás (València, 1677-1748). Estudi
Lingüístic i edició. Tesis Doctoral, Universitat de València, 2008.
Eugenio LARRUGA: Historia de la Real y General Junta de Comercio, Moneda y Minas, 1789, edición de
Central de Fabricantes de Papel, Madrid,1932.
LABORDE, Alexandro: Itinerario descriptivo de las provincias de España. Reino de Valencia, 1826, edición
facsímil París/Valencia, 1980.
MADOZ, Pascual: Diccionario geográfico-estadístico-histórico de España y sus posesiones de ultramar,
Madrid, 1850.
OLIVER CARCÍA-ROBLEDO, Juan Antonio: Dinámica socio-económica en la comarca del Alto Palancia, 1991.
PÉREZ GARCÍA, Pablo: Segorbe a través de su historia. Segorbe, Mutua Segorbina, 1998.
PÉREZ GARCÍA, Pablo: «Impresores, libreros y calígrafos: la trastienda pastoral y bibliotecaria del Patriarca
Ribera», en CALLADO ESTELA, Emilio (ed,): El Patriarca Ribera y su tiempo, València, 2012.
PLANILLO PORTOLÉS, José Ángel: «La importancia de las masías en la economía de Vall de Christ», en
Actas del I Congreso Internacional sobre las Cartujas Valencianas, Analecta Cartusiana, El Puig, 1999.
PONZ, Antonio: Viage de España. Viuda de Ibarra, Madrid, 1789.
SANCHIS SIVERA, José: Estudis d´història cultural, València/Barcelona, 1999.
RIBES IBORRA, Vicent: Los valencianos y América. El comercio valenciano con Indias en el siglo XVIII,
Valencia, 1985.
VERDET GÓMEZ, Federico: Historia de la industria papelera valenciana, Universitat de València, 2014.
VIDAL PRADES, Emma Dunia: La Cartuja de Vall de Crist en el final del antiguo régimen, siglos XVIII y XIX,
Universitat Jaume I, Castellón, 2006.
VIVES, Juan Luis: Diálogos sobre la educación, 1538, traducción y notas de Pedro Rodríguez Santidrián,
Madrid, 1987.

208
EL PAPEL ANTIGUO: CALIDAD, PROPIEDADES Y CARACTERISTICAS

Marino Ayala Campinún


Ingen. Técn. Papel
Escuela Papel / Tolosa
marinoayala@gmail.com

RESUMEN

Breve repaso a la evolución e importancia que representa la calidad en los papeles fabricados para cubrir
las necesidades requeridas para el uso final al que van a ser destinados. Se definen los requerimientos
de fabricación y composición, así como las características que han de reunir para obtener el papel
deseado. Breve descripción de algunos defectos habituales que se pueden encontrar en los papeles.
Por último, se realiza un análisis de laboratorio para determinar las características físico-mecánicas
de tres papeles elaborados en diferentes épocas y procedimientos; también se realiza un examen
microscópico de las tres muestras analizadas.

PALABRAS CLAVE

calidad, requerimientos, análisis laboratorio, examen microscopico, defectos.

ABSTRACT

A brief review of the evolution and importance of quality in the papers manufactured to meet the needs
required for the use to which they are intended. It determines the requirements of manufacture and
composition, as well as the characteristics that they have to gather to obtain the desired paper. It gives a
brief description of some common defects that can be found in the papers. Finally, a laboratory analysis
is performed to determine the physical - mechanical characteristics of three papers made in different
ages and procedures; also a microscopic examination of the three analysed samples has been made.

KEYWORDS

quality, requirements, laboratory analysis, microscopic examination, defects.

209
INTRODUCCION: LA CALIDAD

De forma genérica, hablar de calidad es referirse a la capacidad que dispone un producto (en el
caso que nos ocupa, el papel) para satisfacer unas necesidades concretas, a través del control y
determinación de los parámetros que definen las cualidades necesarias que se requieren para que
cubran los requisitos adecuados para el uso final al que va a ser destinado.

Dentro de las normas ISO (International Organization for Standardization) se definen los términos
relacionados con la calidad, de forma que se eviten confusiones y precisan los conceptos que se
van a aplicar en su gestión. En esta norma, se define como calidad al conjunto de propiedades y
características de un producto (o servicio) que le confiere una aptitud para satisfacer unas necesidades
establecidas ó implícitas. O también se podría señalar que es la “conformidad con los requisitos” o el
“grado de excelencia”, entendiéndose la calidad como la satisfacción del cliente con el producto o el
servicio recibidos.

Ya adentrados en espacios de Gestión de Empresa, el concepto de calidad va evolucionando


y matizándose constantemente, por lo que ha dejado de ser una simple descripción del grado de
satisfacción aportado por un producto o servicio, para transformarse en una cultura y filosofía de la
Organización tenida en cuenta en todos los diferentes Departamentos.

La calidad es un elemento de peso y reconocimiento fundamentales para la competitividad derivada


de los mercados que incluso puede determinar el éxito ó la supervivencia de las empresas. Se trata
pues de un concepto en constante evolución y del cual derivan o surgen otros conceptos directamente
relacionados, tales como:

Control de calidad Actividades y técnicas de tipo operativo usadas para determinar los requisitos.
Conjunto de acciones planificadas y sistemáticas necesarias para aportar la
Aseguramiento de calidad
confianza adecuada de que un producto cubrirá los requisitos
Política de calidad Directrices y objetivos de calidad marcados por Dirección General
Actividades de la empresa que determinan la política, los objetivos y las
Gestión de la calidad
responsabilidades de calidad.
Estructura organizativa de responsabilidades, procedimientos, procesos y recursos
Sistema de calidad
establecidos para realizar la gestión de calidad.

Existen otros muchos conceptos relacionados con la calidad y proceso evolutivo, entre los que podemos
mencionar: Calidad total, Mejora continua, Excelencia, Garantía de calidad, Auditoria, No conformidad,
Acción preventiva-correctiva, Costo de la no calidad, Defectos, Mermas, Rechazos, Especificaciones,
Inspección, Manual de calidad, Trazabilidad, Validación, Verificación, Certificación, etc. Todos ellos
entrelazados y organizados dentro de un proceso con el que se permitirá satisfacer las necesidades y
requerimientos de un producto ó servicio.

210
Existen algunos dichos ya muy populares que tratan de comparar al papel y sus propiedades con
ciertos procederes de personas o situaciones, tales como “el papel lo aguanta todo” o bien “eso es
papel mojado” según se trate de expresar resistencia, debilidad, incumplimiento, validez, etc.

LOS PAPELES DE CALIDAD - LA CALIDAD DE LOS PAPELES:

Son numerosas las referencias que se hacen a la calidad del papel en artículos relacionados con su
historia, restauración, impresión, archivado, escritura y otros ámbitos de su utilización, si bien, en la
mayoría de ellos son citas muy generales, con vaga definición y escasamente especificas. De una
forma muy superficial se hacen menciones a la calidad indicando que el papel de una partida u origen
concreto es de buena / mala calidad, sin especificar sus propiedades, defectos ó carencias que si / no
lo hacen adecuado al uso para el que va a ser destinado.

Incluso en numerosos casos la demanda de papel de calidad hechas por los usuarios (impresores y
escribientes principalmente) es relativa, tomando como referencia papeles ya de reconocida calidad
como siglos atrás eran los procedentes de Italia o Francia. En España, hubo épocas que el Estado
demandaba grandes calidades de papel de alta calidad, pero el país no estaba preparado ya que los
molinos eran escasos y poco adecuados, se carecía de personal cualificado y la materia prima fibrosa
(trapos) escaseaba.

He tomado como referencia algunas de las numerosas citas relacionadas con la calidad que se
mencionan en el libro “La contribución genovesa al desarrollo de la manufactura papelera española” de
José Carlos Balmaceda, conservador y restaurador de papel. Interesante publicación en la cual a través

211
de sus seis capítulos y apéndice documental hace numerosas referencias (más de 100 menciones) a la
calidad del papel. De todas ellas, a título de ejemplo, muestro solo algunas que considero relevantes.

Pág. Texto
Este salto de calidad inicia la era del papel italiano, y europeo, con características propias. La filigrana clara,
15 denominada señal o marca, es una peculiaridad del papel europeo y la principal diferencia del papel occidental
respecto del oriental.
La compañía Barcelonesa Datini recibía por año de 40 a 70 balas, y la de Mallorca 50 y las suertes del papel
23
eran de excelente calidad y precio.
El papel llegado era predominantemente de calidad media y superior y una mínima cantidad de papel de es-
29
traza.
La monopolización de la venta de tabaco en rama en 1764 y sus manufacturas en 1767 creó la necesidad de
grandes cantidades de papel para los cigarrillos y puros, que además debía reunir unas características espe-
71
ciales: “buen y parejo arder, hacer granito y ceniza blanca, sabor agradable, no contener materias ofensivas a
la salud y ser propio para personas delicadas de la garganta”.
Es a partir de 1766 cuando comienza a ser enviado papel valenciano, estos ante las comparaciones de la cali-
73 dad a la que se veían obligados, dirigían su rechazo hacia los papeleros genoveses, sencillamente porque, por
ahora, les era imposible igualar su calidad impuesta por los revisores.
Ahora bien, no nos engañemos, el problema de la fabricación de papel española, la escasez y sobretodo la
79 calidad no se solucionó con la negativa mutua del estanco del papel, hasta mediados del siglo siguiente cuando
empieza a desarrollarse al industria papelera española.
La reiteración en el pedido de mano de obra extranjera francesa y genovesa, nos afirma que el problema de la
81
calidad radicaba en la falta de técnicos que pusieran en práctica sus conocimientos en los molinos hispanos.
Molino del Arco, en Segovia. Fabricaba en 1709 papel fino, ordinario, para imprenta, marca mayor, y en 1740
86
marquilla fino, común de impresión y el de estanco.
Por otra parte, los exámenes hechos por Gayoso Carreira del papel producido en 1602-3 y usado en algunas
publicaciones señalan que era un papel basto, moreno, mal refinado, con motas, poros grandes, grumos grue-
88 sos e irregular. Calidad que no mejoró en años posteriores ya que sobre el producido en 1673 agrega que tiene
pegotes, y que la impresión clara, vista a tras luz denuncia una forma muy deficiente, por lo tanto, tiene más
aspecto de papel estraza que de impresión.
Este molino (de Joseph Solernou) producirá por año 4000 resmas de las siguientes calidades: 1000 de florete,
90
1500 de segunda suerte y las restantes 1500 resmas de papel de imprenta.
Esta suposición... el papel fabricado por Fravega presentaba un aspecto muy oscuro, y que el maestro había
99
dicho que este defecto dependía de la mala calidad del trapo, y que mejorando este mejoraría el papel.
... Algunos papeleros españoles tratarán de lograr la calidad del papel genovés, otros lo harán copiando algu-
100 nas de sus filigranas, aunque muchas veces sin lograr su calidad y perfección que es lo que se pretendía. Al fin
algunos fabricantes lograrán alcanzarlo.
Debemos pensar que a pesar de la necesidad del papel fino y florete en el contrato se lee que será una fábrica
120
de papel común donde creemos que la mejor suerte sería el papel blanco común para la impresión.
127 Marcas (filigranas) que llegaron a ser sinónimos de calidad durante siglos.
El papel genovés fue el modelo de papel de alta calidad, como ya hemos expuesto, y pasó a ser el ejemplo y
128 modelo de cómo debía mejorar el papel español con destino al uso oficial en la Península y en Hispanoamérica
ante la exigencia de los revisores del papel.
El papel florete marcado con los tres círculos deberá llevar dos FF, que significa fioretto (florete) una en cada
129
circulo y en el tercero el nombre del fabricante y deberá ser envuelta la resma con papel de la calidad turchino.
“La experiencia ha acreditado que en los Molinos de papel, que ay en España, no se fabrica de la calidad que
365
se requiere para esta impresión, ya sea por falta de materiales, o de inteligencia en los laborantes”.

212
De igual manera, también podemos hacer referencia de menciones varias sobre la calidad del papel
que Miquel Gutiérrez i Poch hace en su libro “FULL A FULL. LA INDÚSTRIA PAPERERA DE L´ANOIA
(1700-1998): CONTINUÏTAT I MODERNITAT”.

Pag Texto
40 A continuació es procedia a comptar els fulls i a l´examen de la seva qualitat tant visual com mecànica (es
comprovava el pes, la resistència, etc). Els fulls que no complien les característiques d´idoneitat (els “costers”)
eren apartats.2
84 L´èxit del paper genovès es fonamentava en una bona relació qualitat-preu.
85 Torras i Ribé. L´Ajuntament de Capellades afirmava el 10 de març de 1790 que “Los Papeleros fabrican en
sus fábricas los demás de ellos Papel superfino, fino, florete, medio florete, marquilla, marca mayor, ordinario
y demás tamaño, y se vende en las mismas fábricas por cuenta de S.M. al servicio de oficinas R., por el Rl.
Sello, y por la fábrica de la Sigarros del Reyno de Nueva españa y a otros concernientes de estos Reynos”.
197 El Diccionario geografico-estadístico-histórico de Madoz definia el paper de Capellades per la seva alta qualitat
y “mas alto grado de perfección”.
200 Serveixi com a exemple extrem “Miquel i Costas & Miquel”, que a finals de la dècada de 1920 fabricava mes
de 50 tipus de paper.
283 El paper es un bé que està molt lluny de la homogeneïtat. Per tant, cal defugir la identificació de paper y arts
gràfiques. En general és difícil parlar de paper en singular, ja que és un producte amb diferents mercats i usos.

CARACTERISTICAS, ESPECIFICACIONES, FABRICACIÓN, CALIDAD:

Definidas previamente la calidad y la fabricación a producir, el proceso se inicia con la determinación de


las composiciones fibrosas y los aditivos más adecuados para que confieran al papel las características
y propiedades requeridas para el uso final al que vaya a ser destinado. En la fase de preparación de
pastas (pulpeado, depuración, refino) se adaptan las fibras para conferir al papel las propiedades
necesarias; por otro lado, la máquina de papel también ha de ajustarse en sus propiedades de diseño,
circuitos, vestiduras, parámetros de proceso, vapor, vacíos, etc específicos para cada calidad de papel
a fabricar.

Con todas las variables de materias primas/aditivos/proceso ya ajustadas y los requerimientos de


calidad bien definidos en la orden de fabricación, se está ya en disposición de fabricar el papel deseado
que cumpla las especificaciones requeridas para su uso final.

La realización de mediciones de las características físico - mecánicas en el laboratorio sobre muestras


representativas de papel recién fabricado, nos va a permitir conocer con detalle los valores obtenidos en
cada ensayo determinado. Estos han de verificarse si están dentro de las especificaciones previamente
preestablecidas para ser aceptado o rechazado por el control de calidad. El hecho que se cumplan las
especificaciones permitirá concretar que el papel cumple los estándares de calidad para el cual ha sido
fabricado y permita cubrir las necesidades para las cuales vaya a ser destinado. Si alguno de los parámetros
se encuentra fuera de especificaciones requeridas, Control de Calidad determinará que el papel no está
dentro de los requerimientos mínimos y por tanto lo califican como no apto para cubrir las necesidades y
habrá de ser rechazado, o bien, ser clasificado como “segundas” para cubrir otros requerimientos distintos.

213
Una vez conocidos los requerimientos, características y uso final del papel, se ha de definir las
especificaciones en la orden de fabricación. Con ello, los especialistas papeleros, por un lado, han de
determinar los ensayos específicos a realizar con sus rangos (máximo - mínimo) de valores a alcanzar,
y por otro lado, han de adaptar las composiciones, aditivos, parámetros de máquina, aprestos, baños,
etc que permitan producir un papel que cumpla los requerimientos.

Durante la fabricación, periódicamente o en cada cambio de bobina, se extrae una muestra del papel
fabricado y se envía a Laboratorio para proceder a su análisis mediante ensayos específicos que
realiza personal debidamente preparado.

La muestra de papel, antes de proceder a su analítica, ha de ser ambientada durante un periodo de tiempo
a unas condiciones ambientales normalizadas que nos asegure unas propiedades estandarizadas para
la realización del ensayo. Por tanto, el laboratorio ha de mantenerse permanentemente acondicionado
a 50 % de Humedad Relativa y a 23 ºC de Temperatura.

Es en este momento donde interviene Control de Calidad, el cual analiza los resultados obtenidos
en cada análisis, verifican si dichos valores están dentro del rango de especificaciones requeridas
y en función de todo ello califican como apto / no apto el papel analizado. Obviamente, también se

214
informa a producción de estos valores obtenidos con su correspondiente calificación de aptitud, a fin
de que puedan realizar los oportunos ajustes de proceso que permitan corregir o mantener los valores
detectados dentro de especificaciones.

El papel fabricado con unas características físico - mecánicas muy determinadas, tras realizarse los
correspondientes ensayos de laboratorio, puede ser calificado por Control de Calidad como apto para
el uso concreto para el que se ha diseñado. El papel no apto puede conducir a dos opciones: o bien
se retira, se tritura en pulper y se reincorpora de nuevo a la composición de pastas, o bien, se clasifica
como “segundas” y se le da salida con otro precio o aplicación.

Las características de un papel para sacos de cemento, son totalmente diferentes a las de un papel
de fumar, o un papel de impresión-escritura, o un papel para acuarela, o un papel prensa, o un
papel de filtro o un papel de servilleta, dado que los usos finales para los que van a ser destinados
son completamente diferentes y por tanto los requerimientos de cada uno de ellos harán que las
especificaciones para su fabricación sean muy concretas para cada calidad a fabricar.

215
Los actuales procesos de fabricación mecanizada permiten en muchos casos realizar las mediciones
en línea de forma continuada y automática de algunas variables de proceso (pH, consistencia, refino,
etc) y también de características del papel (gramaje, humedad, peso seco, cenizas, color, etc). Este
control permite obtener una calidad de papel muy uniforme, dentro de especificaciones, con respuestas
correctoras muy rápidas y reduciendo considerablemente las mermas del proceso productivo.
A diferencia de las antiguas formas y métodos utilizadas en la fabricación manual en la que todas
las variables de proceso de elaboración de papel hoja a hoja se regulaban manualmente de forma
puramente artesanal basadas en percepciones, pericia y experiencia del maestro artesano papelero.
Aunque los procedimientos de fabricación del papel artesanal a mano, hoja a hoja, con respecto a la
fabricación mecanizada son muy diferentes, hay que señalar que los principios básicos en los que
se fundamenta la elaboración en ambos casos es idéntica: composición, preparación de suspensión
fibrosa, formación hoja, desgote, prensado, secado, apresto y expediciones.

216
Así pues, afirmar que un papel es “bueno” o “malo” de una forma genérica, sin añadir ningún tipo
de concreción, utilidad o parámetro que lo evalúe, no es la forma más adecuada para definir su
calidad. Tendrá un mayor sentido y precisión si paralelamente se especifican sus características, los
requerimientos y usos finales que a dicho papel se le vaya a dar.

EL PAPEL ANTIGUO / PAPEL PERMANENTE:

Todos los papeles evolucionan y se degradan con el tiempo de una forma más o menos rápida y, por otro
lado, el tiempo de vida de los papeles es muy variable en función del uso al que se destine. Tenemos
desde papeles cuya vida útil es de un solo día o semana (periódicos, revistas, fotocopias), pasando
por papeles de vida media que van a durar algunos meses o escasos años (libros de actualidad o de
enseñanza, documentos administrativos, etc.), hasta los papeles permanentes con periodos de vida de
siglos (documentos, registros, notarias, grabados, láminas, libros, archivos, etc).

La permanencia del papel es un aspecto muy importante a tener en cuenta en hojas y libros de gran
valor documental y artístico a la hora de ser conservados y archivados. Por ello, al hablar de un papel
permanente, no nos referimos a un papel que durará permanentemente, sino de un papel que ha sido
elaborado con materias primas y aditivos que lo hacen menos sensible al paso del tiempo reduciendo
así su velocidad de degradación. Los requerimientos exigidos a un papel permanente básicamente

217
son cuatro: disponer de unas mínimas características de resistencia, contener una reserva alcalina, ser
resistente a la oxidación y mantener un pH próximo al neutro (pH = 7). Dos de los factores importantes
para obtener un papel más permanente son: utilizar fibras con alto contenido en celulosa (algodón) y
evitar productos/condiciones ácidas que degraden la celulosa.

Es ocasión de mencionar una interesante Jornada Técnica sobre “PAPEL PERMANENTE, PAPEL
RECICLADO Y PAPEL ECOLÓGICO” celebrada el 25 de Noviembre de 1993 en el Museu Molí Paperer
de Capellades. Hubo una nutrida asistencia de autoridades, papeleros e impresores, donde se expuso
y debatió ampliamente el concepto de papel PERMANENTE. Todo lo expuesto en dicha jornada quedo
reflejado en una publicación.

La falta de calidad en los papeles provocan graves problemas de conservación en buena parte del
patrimonio documental existente en depósitos, archivos y bibliotecas. Ello obliga a que en ocasiones
se tenga que recurrir con mucha urgencia a un proceso de restauración profesional que permita paliar
la degradación del documento y prolongar así su periodo de vida.

218
Como breve reseña también mencionar en este apartado de una forma muy general algunos otros
factores de degradación sufrida por el papel como puede ser: la influencia de las condiciones de
conservación en los archivos ó depósitos (humedad y temperatura ambiental), las incidencias (agua,
luz, polvo, humedades, aire, roedores, xilófagos, ataques microbiológicos, etc). También afectan las
tintas utilizadas, el trato recibido y las condiciones por las que han tenido que atravesar los papeles
permanentes durante su prolongada vida y situaciones recorridas.

REQUERIMIENTOS Y CALIDAD EN EL PAPEL ANTIGUO:

En la elaboración antigua del papel, los medios y elementos para verificar las características eran
muy escasos y rudimentarios. Eran los maestros papeleros quienes con su buena experiencia,
artesanía y pericia trataban de elaborar papeles tomando como referencia la calidad de otros papeles
que anteriormente ya había sido reconocida por los usuarios y mercados de la época. Eran técnicas
muy artesanales, que requerían de alta experiencia, lo que hacía posible conjuntar las variables que
permitían obtener la calidad deseada. Fibras, composición, aguas, aditivos, mallas, fieltros, colas,
mano de obra, costos, época del año, preparación de operarios, técnicas, secado, etc eran variables a
conjuntar para lograr el papel de calidad deseada.

Situados en las necesidades de la época antigua donde el papel era destinado a escritura a mano e
impresión principalmente, las características y requerimientos eran muy concretos. Estimamos que los
ensayos y características más relevantes para dichos papeles son: gramaje, mano, resistencias y rigidez
principalmente, pero ya de forma muy especial las que hacen referencia al comportamiento entre el papel
y los líquidos (dígase tintas) como son encolado, estabilidad dimensional y ascensión capilar.

En una primera observación del papel ya fabricado, cuando se expone al trasluz, obtenemos mucha
información dado que podemos percibir su contenido en impurezas (material no fibroso), dando así un
primer indicador de calidad; se visualiza la formación de la hoja, cráteres, pliegues, marcado de tela,
etc que serán detallados en apartado posterior. También se apreciaba sensorialmente el denominado
“carteo” que viene a ser el resultado de la combinación del sonido y tacto detectados cuando la hoja de
papel se agita manualmente y al oído.

EL ENCOLADO DEL PAPEL:

Considerando que los usos finales del papel van a ser la impresión y la escritura, una de las
características (no la única) de mayor relevancia e importancia es el encolado. Mediante el encolado
lo que se pretende es reducir la velocidad de absorción de líquidos en la estructura del papel. Los
productos encolantes aportados crean una superficie hidrofóbica en la interfase agua-fibra celulósica,
dando lugar a un aumento de la resistencia del papel a la penetración de los líquidos. Tradicionalmente
se han utilizado colas de gelatina procedente de pieles de animales y ya posteriormente la colofonia

219
de resinas naturales de los arboles de coníferas aplicadas en medio acido. Los métodos actuales de
encolado utilizan productos sintéticos tales como el ASA (anhídrido de alquenil succínico) o el AKD
(dimeros de alquil ceteno) en medio neutro, permitiendo así hacer uso del carbonato cálcico como
carga de relleno en el papel.

Existen varios métodos, basados en diferentes mecanismos, que permiten determinar el grado de encolado
de un papel, si bien, el más generalizado es el Método Cobb (Norma UNE 57027) consistente en un ensayo
de inmersión por una de las caras. Se trata de sellar una de las caras del papel (100 cm2) mediante un aro
metálico cilíndrico, sobre el que se vierte un volumen de agua conocido (100 ml); transcurrido un tiempo
determinado (60 segundos) se retira el agua y elimina el exceso mediante papel secante. Se calcula la
cantidad de agua absorbida mediante la diferencia entre el peso húmedo - peso seco.

Este ensayo de determinación del grado de encolado nos va a aportar una idea muy aproximada sobre
el comportamiento y aptitud que van a tener las tintas en el momento de ser aplicadas sobre el papel,
bien cuando se escriba a mano o bien cuando vayan a ser impresos.

Por un lado, la tinta es un componente líquido y por otro lado, el papel presenta una afinidad por
los líquidos. La cantidad o nivel de encolado (dígase barrera) en el papel, facilitará la resistencia
de penetración de la tinta sobre el soporte celulósico del papel. La tinta ha de penetrar en la hoja de
una forma controlada, ni en exceso ni en defecto, dado que se distorsionaría mucho la calidad de la

220
escritura, se corre riesgo de traspasar la tinta de una cara hasta la otra, o bien, habría problemas de
secado por citar algunos inconvenientes.

Cada tinta y cada procedimiento de impresión-escritura requiere de unas condiciones ó características de


papel determinadas que el fabricante papelero ha de cubrir fabricándolos dentro de las especificaciones
que el usuario y los procedimientos de impresión-escritura requieren. Los requerimientos del grado
de encolado en el papel son completamente diferentes si estos van a ser destinados para escritura a
mano con tinta ó bolígrafo que para impresión, o bien, un papel secante, por ejemplo.

A efectos del presente estudio realizado, entenderemos como papel antiguo, el papel fabricado a mano
hoja a hoja y con fibras procedentes de trapos, a diferencia de los papeles posteriores que ya están
fabricados de forma mecanizada en continuo utilizando fibras a partir de la madera.

ESTUDIO DE LABORATORIO:

a.- Muestras analizadas


Se han seleccionado tres calidades de papel muy diferentes y distantes en tiempo para realizar
ensayos de laboratorio que nos determinen sus características físico - mecánicas y de esta forma
poder conocer el comportamiento que va a tener en sus aplicaciones finales.

1 (ref. 3297) 2 (ref. 0119) 3 (ref. 3567)


Mecanizada Mecanizada
Fabricado: A mano
Forma redonda Mesa plana
Época: 1700 1930 2014
J VILASECA SA
Filigrana: Cruz circulo corona LA GELIDENSE
PAPER MILL SINCE 1714
Origen: Italia ?? Gelida (Barcelona) J Vilaseca (Capellades)
Fibras: Trapos Trapos Madera

221
b.- Objetivo del estudio
La analítica de laboratorio va orientada hacia la determinación de propiedades y aptitud de los papeles
para aplicaciones de escritura a mano e impresión, dado que es evidente que estos tres papeles fueron
en su momento elaborados para dichos usos.
Hay que tener en cuenta que son papeles de épocas muy distantes entre ellas en las que los
requerimientos son completamente diferentes, pues los medios (tintas, maquinaria, escribientes,
usuarios, etc) utilizados para la impresión y la escritura también son muy diferentes. Por tanto, no se
trata de comparar los valores entre sí, sino de contrastarlos con los requerimientos necesarios para su
aplicación final a la cual va a ser destinado.

c.- Laboratorio de ensayos


Los ensayos fueron realizados el día 12-01-2017 en los laboratorios de producción de la empresa
J Vilaseca sita en Capellades (Barcelona), con la estimada colaboración de personal analista
especializado y utilizando aparatos homologados de acuerdo a los protocolos específicos.

d.- Acondicionamiento de muestras


Previamente a la realización de los ensayos, se procede la ambientación de las muestras durante
tres días antes de proceder a su analítica completa. Según los requerimientos especificados en la
normativa, el laboratorio se encuentra acondicionado permanentemente en condiciones estándares de
Humedad Relativa al 50 % y Temperatura de 23 ºC.

e.- Ensayos a determinar


Gramaje, espesor, encolado Cobb, desgarro, carga rotura (longitud rotura y alargamiento), características
ópticas (blancura), ceras Dennison, lisura (Bekk y Bendsen), porosidad (Gurley), estallido, cenizas,
estabilidad dimensional, absorción capilar, dobles pliegues.

f - Sentidos y caras de las hojas


El papel elaborado a mano no presenta sentido de fabricación (sentido longitudinal SL y sentido
transversal ST) como se da en la fabricación mecanizada del papel bien de formas redondas o bien de
mesa plana. Por ello, se ha optado por distinguir sentidos puntizón (SP) y corondel (SC).
En cuanto a definición de las caras se mantiene el mismo criterio (cara tela CT y cara fieltro CF) en las tres
muestras analizadas.

g - Filigranas en papeles analizados


Se tratan de tres papeles muy variados con sus respectivas filigranas, muy características de cada
época en que fueron fabricadas.

222
ENSAYOS DE LABORATORIO: RESULTADOS OBTENIDOS:

En la tabla siguiente se indica de forma muy resumida los valores medios de las diferentes mediciones
de los ensayos realizados.

12/01/2017 Mano F redonda M plana


J Vilaseca 1700 1930 2014

Gramaje gr/m2 52,5 97,7 91,0


Espesor micras 117 117 107
Mano cm3/gr 2,22 1,19 1,17
Encolado CT gr/m2 45 20,3 24
Cobb CF gr/m2 35 20,3 25
Desgarro SL - SC gr fuerza 29 26 34
ST - SP gr fuerza 33 33 37
Ind. desgarro SL - SC mN.m2/g 5,4 2,6 3,7
ST - SP mN.m2/g 5,4 3,3 4,0
Carga rotura SL - SC N.m 31,8 72,1 93,6
ST - SP N.m 22,2 31,9 60,1
Alargamiento SL - SC % 2,2 3,9 2,8
ST - SP % 2,0 3,7 6,6
TEA SL - SC jul/m2 33,4 142,3 120,0
ST - SP jul/m2 20,9 64,6 188,1
Longitud Rotura SL m 5944 7230 10088
ST m 4142 3206 6472

223
Ind. tracción SL N.m/gr 0,6 0,7 1,0

ST N.m/gr 0,4 0,3 0,7

Blancura CIE º 34,5 12,2


Color Cie Lab coorden. 93,28 0,0 10,49 85,89 -0,24 11,6
Ceras CT nº 16 > 18 18
Dennison CF nº 16 > 18 18
Lisura Beck CT seg 2,3 4,0 44,3
CF seg 2 5,5 50
Lisura Bendsen CT ml/mn 1847 606 80
CF ml/mn 1895 593 98
Poros. Gurley seg 23 600 14
Estallido bar 1,4 2,8
Ind. estallido kN/gr 27,3 28,7
Cenizas % 2 0,5 3,8
Estabil. dimens. SL % 2 1,25 0
ST % 1,5 2,5 0,5
Ascens. capilar SL mm 6 0 0
ST 4 0 0
Dobles SL nº 52 60
pliegues ST nº 21,5 22,5

EXAMEN MICROSCOPICO DE FIBRAS:

Se ha completado el estudio de los tres papeles con examen microscópico al objeto de determinar el
tipo de fibras utilizadas, su estado y el grado de refinado en cada muestra. Para tinción se ha utilizado
reactivo Herzberg.

Las inspecciones microscópicas fueron realizadas el día 16-03-2017 utilizando el microscopio de los
laboratorios de I + D de la empresa Miquel y Costas & Miquel en su fábrica de Besós (Barcelona),
contando con la estimada colaboración del Sr. Agustí Tosas a quien agradecemos su gran amabilidad
y colaboración.

1.- Papel fabricado a mano (año 1700).


Se trata de un papel antiguo (300 años) que ha presentado una difícil desintegración. Al microscopio
se observa composición fibrosa de trapos procedentes de plantas anuales, principalmente de lino. Son
fibras que presentan muy buen estado, muchos efectos de corte en sus extremos y una moderada
fibrilación. No se aprecian fibras de algodón.

224
2.- Papel forma redonda La Gelidense (año 1930)
Se trata de un papel más reciente (80 años) que ha presentado una dificultosa desintegración. Al
microscopio se observa composición fibrosa mayoritariamente de fibras de trapos procedentes de
plantas anuales principalmente de lino. Son fibras que se presentan algo deformes, muchos efectos de
corte en sus extremos y una abundante fibrilación. No se aprecian fibras de algodón.

3.- Papel mesa plana J Vilaseca (año 2014)


Se trata de un papel reciente (3 años) que ha presentado difícil desintegración. Al microscopio se
observa composición fibrosa a base de madera, básicamente fibra corta (Eucalipto) y algo de fibra
larga (Pino-Abeto). Las fibras presentan muy buen estado, con inicios de corte y moderada fibrilación.
Presencia de cargas inorgánicas (carbonato cálcico) de relleno.

225
COMENTARIOS A LOS ESTUDIOS REALIZADOS:

Son numerosos los comentarios y conclusiones a extraer de los estudios de laboratorio realizados
(características físico-mecánicas y microscopías) sobre las tres muestras analizadas, si bien,
señalaremos los más relevantes y de forma especial los que hacen referencia al papel antiguo para
uso de impresión y escritura.

- los tres papeles analizados han sido fabricados en épocas muy diferentes y muy espaciadas en el
tiempo. La muestra nº 1 corresponde a un papel elaborado a mano hacia el año 1700 aproximadamente,
la muestra nº 2 corresponde a un papel mucho más reciente fabricado en forma redonda en La
Gelidense hacia los años 1930, y la muestra nº 3 corresponde a un papel actual fabricado en 2014 por
J Vilaseca (Capellades).

- obviamente el largo periodo de tiempo transcurrido entre la producción de las tres muestras
analizadas (hace unos 300 - 80 - 3 años aproximadamente) hace que el papel haya degradado,
envejecido y evolucionado notablemente, con lo que las propiedades y características obtenidas en la
fecha de realización del ensayo (Enero-2016) ya han sufrido notables variaciones con respecto a las
propiedades que dichos papeles poseían en el preciso momento de su elaboración. Hay un desfase
muy considerable en este factor tiempo, si bien, ello no se ha tenido en cuenta dado que sería motivo
de un nuevo y profundo estudio en el que previamente habría que simular en el laboratorio el deterioro
aportado por los años transcurridos, para posteriormente realizar los ensayos que nos determinaran
las variaciones de las características de los papeles en función de la degradación ocasionada por el
transcurrir del tiempo.

- los dos primeros papeles (el fabricado a mano y el de La Gelidense) están elaborados con fibras a
partir de trapos; el tercero (el actual de J Vilaseca) es reciente (2014) y está fabricado en continuo a
partir de fibras de madera y cargas minerales de relleno.

- el gramaje del papel antiguo hecho a mano (52,5 gr/m2) es notablemente inferior (casi la mitad) a los
dos fabricados de forma mecanizada en continuo (98 y 91 gr/m2).

- el espesor es prácticamente similar en los tres papeles (entre 107 y 117 micras), muy a pesar de que
el gramaje es tan diferente entre ellos.

- la mano del papel antiguo hecho a mano (2,22 cm3/gr) es prácticamente el doble (1,19 y 1,17 cm3/
gr) que los otros dos papeles fabricados en continuo.

- el grado de encolado Cobb de los papeles fabricados en continuo (20 y 25 gr/m2) es notablemente
mejor que el fabricado a mano (35/45 gr/m2). Alta resistencia a penetración de líquidos.

226
- en materia de encolado señalar que los dos papeles fabricados de forma continua apenas hay
diferencias de encolado entre las dos caras, mientras que el fabricado a mano presenta gran diferencia
de encolado entre sus caras.

- similar comportamiento al encolado en Ascensión capilar y Estabilidad dimensional.

- las características de resistencias (estallido, desgarro y carga rotura) son muy elevadas en los tres
papeles. Importantes diferencias en los papeles fabricados en continuo (La Gelidense y J Vilaseca)
donde el sentido de fabricación (SL y ST) queda muy marcado, mientras que en el papel hecho a
mano, al no presentar sentido de fabricación, son más igualadas.

- las características ópticas (blancura y color) son probablemente de las propiedades que más se ven
afectada por el paso de los años, por lo que se señala como un valor sin más alcance. Mucha variación
en las superficies extremas de la hoja con respecto a superficies interiores ocasionados por la mayor
exposición a la luz y al aire de los extremos.

- las ceras Dennison es una característica que nos indica el comportamiento de la resistencia superficial
del papel al esfuerzo de arrancado. El nivel general de resistencia superficial de los tres papeles
analizados es elevado (nº 16-18).

- en las características de lisura y porosidad es donde se aprecian grandes diferencias entre los tres
papeles analizados. La lisura del papel hecho a mano es enormemente inferior a los otros dos papeles
elaborados de forma mecanizada y en continuo. Esta gran diferencia puede ser debida al apresto
(alisado) aplicado a la superficie de los papeles una vez fabricados o bien al efecto de rugosidad
que aportan las marcas de puntizones y corondeles sobre la superficie del papel elaborado de forma
manual. Tener en cuenta también la alta mano de la muestra de papel antiguo elaborada manualmente.

- la estabilidad dimensional del papel elaborado de forma manual es muy baja, probablemente debido
al menor encolado y la alta mano que presenta. Esta propiedad es mucho más determinante en los
papeles que van a ser destinados a la impresión, que si van a ser usados para escritura a mano con
tinta.

- la ascensión capilar es muy pronunciada en el papel elaborado a mano (SC/SP: 4/6 mm) frente a los
dos papeles elaborados de forma mecanizada (SL/ST: 0/0 mm). Este es un parámetro muy importante
en los papeles que van a ser destinados a la escritura manual con tinta, dado que la calidad y nitidez
del trazado de la tinta aplicada con la pluma sobre la superficie del papel se verá más o menos difuso
(la tinta penetra en la estructura del papel y se difumina a través de sus capilaridades).

- las cenizas en los papeles obtenidas por incineración del papel a 600 ºC es un indicador de presencia
de materia inorgánica. Se aprecian valores muy dispares entre las tres muestras analizadas. El menor

227
contenido (0,5 %) se obtiene en el papel de La Gelidense; en el papel antiguo fabricado a mano se
detecta un 2 % y ya en el papel actual de J Vilaseca se aprecia un 4 % de cenizas. Este ultimo papel,
el actual de J Vilaseca, presenta unas buenas características físico-mecánicas de resistencias, muy a
pesar de que el contenido en cargas es el más alto de los tres.

- la composición fibrosa es a base de trapos en los papeles fabricados a mano (1700) y en el de La


Gelidense (1930), mayoritariamente de fibras de lino; ya en el papel actual de J Vilaseca (2014) se
usan fibras de madera y alto contenido de cargas minerales de relleno.

DEFECTOS Y EFECTOS EN EL PAPEL:

En observación del papel terminado a la luz y al trasluz, además del tipo de formación de la hoja,
se pueden apreciar otros numerosos detalles que los podríamos clasificar o definir como “defectos
de fabricación” y que normalmente no llegan a afectar notoriamente sobre la calidad final del papel.
También hay ocasiones donde se orientan situaciones de proceso para lograr efectos provocados
deseables en la hoja de papel.

Se tratan de curiosidades visuales que tienen su origen en descuidos o desajustes durante el proceso
de fabricación que en el presente apartado trataremos de mostrar y explicar algunas de ellas más
habituales.

228
1.- formación de la hoja

Al trasluz, se pueden apreciar formaciones muy homogéneas en toda la superficie o también formaciones
muy “nubladas” en función de la forma en que se realice la deposición de la suspensión fibrosa sobre
la malla de formación.

2.- partículas, impurezas y motas:

En ocasiones, en la visualización al trasluz de la hoja de papel, se detectan partículas o manchas que


están alojadas en la propia estructura de la hoja. Son impurezas de variado color, forma, tamaño y
textura, que sobresalen notablemente al resto de la estructura del papel, dándole a este un aspecto o
sensación de baja calidad. Son partículas indeseables que deberían haber sido extraídas en el proceso
de depuración de la pasta o bien desprendimientos procedentes del circuito con superficies sucias.
Dichas impurezas presentes en la hoja de papel vienen a ser restos de astillas, incocidos, grumos
de pasta mal desintegrada, o bien desprendimientos de depósitos acumulados en las superficies del
propio proceso.

229
3.- cráteres o lunares:

Al exponer al trasluz la hoja de papel, es muy habitual observar un defecto tan característico como son
los “cráteres” normalmente circulares y de variado tamaño y cantidad.

Dichos “cráteres” son zonas de menor espesor que contienen menos masa fibrosa, con lo que el papel
es más trasparente en dicha zona con respecto al resto de la superficie y se hacen diferenciables
(mismo concepto que la marca al agua o filigrana). Se producen justo tras la formación de la hoja
sobre la malla y cuando por cualquier circunstancia se desprenden gotas de agua al extraer el marco
que da contorno a la malla (caixo) o durante el proceso de fabricación en continuo cuando el papel se
encuentra todavía húmedo. Algunas de estas gotas caen sobre la aún húmeda y débil estructura de
papel recién formada, provocando un desplazamiento de masa fibrosa hacia el exterior dando lugar a
las calvas o lunares habituales.

En ocasiones pueden llegar a traspasar completamente todo el espesor de la hoja quedando la hoja
completamente perforada.

Se trata de un defecto muy habitual en la hoja de papel que en la mayoría de los casos no llega a ser de
relevancia y se puede dar un uso normal al papel. Son defectos que son muy habituales en los papeles
antiguos elaborados a mano, si bien, es posible también encontrarlos en los papeles fabricados de
forma mecanizada y en continuo.

230
4.- cosidos de costuras en vestiduras:

Otro defecto que también se puede apreciar en algunos papeles que son observados al trasluz, es
la reproducción, sobre la estructura de masa fibrosa que conforma la hoja de papel, de relieves o
deformaciones provocadas por los cosidos que unen los dos extremos de las vestiduras de máquina,
bien sean telas de formación ó bien fieltros de prensado. Son zonas de menor espesor que provoca
una mayor trasparencia en esa zona marcada con respecto al resto de la hoja. Son marcas sobre
la superficie del papel de escasa relevancia y que tampoco puede afectar al uso normal donde se
aplique el papel. Obviamente, este defecto ha sido característico solamente en procesos de fabricación
mecanizada en continuo, si bien, en las vestiduras actuales esta costura de unión ya no existen y por
tanto no queda marcado el papel.

5.- pliegues en hoja:

En ocasiones se perciben al trasluz formaciones alargadas sobre la misma superficie que le dan
tonalidades más oscuras. Se tratan de plegados de la propia hoja de papel que en ocasiones carece
de “planeidad” y se forman en el proceso de alisado replegando volúmenes sobresalientes de masa
fibrosa de forma que queda igualado todo el perfil del espesor.

231
6.- Marcado de tela

Hau veces que se visualiza un entramado de cuadriculas conformada por claros y oscuros repartidos
uniformemente por toda la superficie del papel. Se trata de marcas que quedan grabadas sobre la
superficie del papel aún húmedo y que provienen de las telas utilizadas en el proceso de fabricación
como medios de formación de la hoja y drenado del agua. Pueden ser varios los motivos: estructuras
de telas muy abiertas o excesivos vacios aplicados sobre la tela.

7.- marcado de fieltro:

Hasta no hace muchos años los fieltros para extracción de agua del papel mediante prensado, eran
paños de material de lana que estaban confeccionados en telares con diferentes tipos de tejido. Según
el tipo de tejido se le daba a la superficie del paño diferentes texturas más o menos rugosas que por
acción de la presión aportada por las prensas se transfieren y quedan reproducidas en la superficie
del lado del papel en contacto con el fieltro (lado fieltro) en forma de lo que se denomina granulado.
Esta superficie más o menos rugosa es uno de los factores que confieren al papel la característica de
la lisura.

En algunos tipos de papeles, como pueden ser los destinados a pintura acuarela, presentan
pronunciadas texturas que han sido provocadas durante el proceso de fabricación, cuando la hoja
aun esta húmeda, a través del paño o bayeta de prensas y que le aportan a la superficie del papel un
granulado característico que le da mayor relevancia y efecto a la pintura a reproducir sobre dicho papel.

232
CONCLUSIONES:

La calidad ha estado y sigue estando presente de forma muy directa y decisiva en cada uno de los
productos y servicios que se han suministrado al mercado como un elemento de control y seguimiento
de la satisfacción de los usuarios.

Antes, durante y después de cada proceso productivo hay un seguimiento y control del producto que
se está elaborando; todo ello con el claro objetivo de alcanzar o cubrir los requerimientos que se
han planteado inicialmente y estén dentro de especificaciones, cumpliendo así con los estándares de
calidad establecidos de forma que sea apto para el uso final al que se destine.

Las calidades de los tres diferentes papeles analizados presentan en general unas características
físico-mecánicas muy buenas, a pesar de que en algunos parámetros son muy dispares. Los tres
papeles cumplen los requisitos necesarios que permiten calificarlos de buena calidad, teniendo en
cuenta que los usos finales para los que van a ser destinados serán la impresión y escritura manual
con tinta. Para otros usos serian inapropiados.

233
En el presente estudio de características de los tres papeles, no se trata de comparar unos papeles con
otros, dado que las épocas de su fabricación, las materias primas utilizadas, el proceso de elaboración
y los requerimientos para el uso al que van a ser destinados son completamente diferentes entre
ellos. Se trata básicamente de conocer sus propiedades y aptitudes para completar los requisitos y
finalidades para los que fueron diseñados en su momento.

Ya ceñidos exclusivamente a la calidad del papel antiguo (fabricación manual a partir de trapos) señalar
que este presenta unas características muy buenas, muy a pesar de la alta degradación sufrida por
su estructura celulósica motivada por el paso del tiempo, su medio químico y las condiciones de su
almacenado durante los tres siglos de vida transcurridos. Ello es confirmado en base a los valores
alcanzados en los análisis de laboratorio realizados y contrastándolos con los usos y requerimientos
para los que van a ser destinados (escritura manual e impresión).

Además de las resistencias, una de las principales características que se le requeriría al papel antiguo
(300 años) analizado, muy probablemente sería el disponer de un adecuado control de absorción de
líquidos (agua, tinta) para el uso final al que probablemente fuera destinado (impresión y escritura
manual con tinta). Esta propiedad ya la dispone con creces, dado que presenta un buen grado de
encolado que permite, aun a pesar de los años transcurridos, crear un control o barrera a la absorción
de líquidos, evitando así que la tinta se difumine en exceso por el contorno de los trazos que conforman
la escritura. No obstante sus características superficiales (lisura) y mano no son favorables dada sus
altas rugosidades provocadas por el marcado de puntizones y corondeles de las mallas de formación.

Recordar también, que una de entre las variadas funciones que aporta la filigrana es definir o distinguir
la calidad del papel que la contiene.

Son numerosas las aplicaciones que se le pueden dar al papel, cada una de ellas con unas peculiaridades

234
bien diferentes. Ello obliga a que cada papel tenga que disponer de unas propiedades muy concretas
que lo hagan apto para su uso final y sea capaz de cubrir nuestras necesidades diarias.

Se confirma por tanto el dicho de que “el papel lo aguanta todo”.

Finalmente, hay que tener siempre presente que todo el proceso de fabricación del papel y el origen
de todas las materias primas utilizadas han de ser respetuosas con el medio ambiente, de forma que
haciendo un uso eficiente y responsable de los recursos naturales, contribuyamos de forma sostenible
(SOSTENIBILIDAD) a una calidad de vida aceptable para nosotros y las futuras generaciones que
habiten en el planeta.

MARINO AYALA CAMPINÚN

VILAFRANCA DEL PENEDÉS / ABRIL - 2017

BIBLIOGRAFIA Y AGRADECIMIENTOS

FULL A FULL. LA INDÚSTRIA PAPERERA DE L´ANOIA (1700-1998): CONTINUÏTAT I MODERNITAT.


de Miquel Gutiérrez i Poch.
LA CONTRIBUCION GENOVESA AL DESARROLLO DE LA MANUFACTURA PAPELERA ESPAÑOLA
de José Carlos Balmaceda.
Fábrica de Papel J Vilaseca (Capellades - Barcelona).
A Sr. Agustí Tosas (Miquel y Costas & Miquel).

235
A FÁBRICA DE PAPEL DA AMOROSA. MEMÓRIA DE UM PATRIMÓNIO INDUSTRIAL
DESAPARECIDO

Manuel Ferreira Rodrigues, Universidade de Aveiro


mfr@ua.pt

RESUMO

A Fábrica de Manuel Francisco da Costa, mais conhecida como Fábrica da Amorosa, sita em Paços de
Brandão, concelho de Santa Maria da Feira, terá sido fundada em 1898, e terminou em 1986, quando
Portugal aderiu à CEE. Ao longo de cerca de nove décadas de existência, essa pequena unidade
papeleira fabricou papel de embrulho, papelão e sacos de papel. Nos anos 1980, quando florescia
em Portugal um heterogéneo movimento para o estudo e salvaguarda do património industrial, foram
realizados vários estudos, que conduziram à criação do Museu do Papel Terras de Santa Maria. Esta
comunicação resume o essencial de um estudo académico que realizei, em 1987-1988, sobre essa
unidade papeleira, em que procurei fotografar, desenhar, ouvir, registar e reunir testemunhos escritos,
orais e materiais que nos permitissem preservar, de algum modo, a memória desse Património Industrial
que a breve trecho iria desaparecer.

PALAVRAS-CHAVE

Indústria do Papel, Património Industrial, Papel de embrulho, Paços de Brandão

ABSTRACT

The Manuel Francisco da Costa Factory, better known as Fábrica da Amorosa, located in Paços de
Brandão, in the municipality of Santa Maria da Feira, was founded in 1898 and ended in 1986, when
Portugal joined the EEC. Throughout around nine decades of existence, this small paper mill has
made wrapping paper, cardboard and paper bags. In the 1980s, when a heterogeneous movement
flourished in Portugal to study and safeguard the industrial heritage, several studies were carried out,
which led to the creation of the Terras de Santa Maria Paper Museum. This communication summarizes
the essence of an academic study that I conducted in 1987-1988 on this paper unit, in which I tried to
photograph, draw, listen, record and gather written, oral and material testimonies that allowed us to
preserve, in some way, the Memory of this Industrial Heritage that soon disappeared.

KEYWORDS

Paper Industry, Industrial Heritage, Wrapping Paper, Paços de Brandão

237
Introdução

Esta comunicação foi elaborada a partir de um trabalho académico realizado há cerca de 30 anos
(Rodrigues, 1988), no âmbito da disciplina de Arqueologia Industrial, criada pelo Professor José Amado
Mendes, na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, no ano letivo de 1987-1988. Tendo
regressado à Universidade para estudar História da Arte, encantou-me a Arqueologia Industrial, pela
sua novidade científica e académica, pois era a primeira vez que esta disciplina integrava o plano de
estudos de uma licenciatura no nosso país, e por um conjunto de razões do meu percurso de vida,
nessa década em que a esperada modernização da economia portuguesa, induzida pela integração
europeia, fazia Portugal despertar para o Património Industrial.

O facto de ter trabalhado, anos antes, numa fábrica de papel e pasta de papel pesou no momento da
matrícula. Todavia, se a minha curiosidade pela história da indústria papeleira data dos anos de trabalho
na fábrica de Cacia da Portucel, o meu fascínio por fábricas é anterior. No meu tempo de estudante de
liceu, trabalhei, nas férias escolares, em algumas fábricas de cerâmica, de Aradas. De 1970 a 1974,
pude assistir ao fim ou à transformação de algumas dessas velhas olarias de faiança, tecnicamente
obsoletas, cuja sobrevivência só foi possível graças ao Condicionamento Industrial, como a “Fábrica
das Leirinhas”, de Manuel Vitória, que, nesse tempo, ainda cozia num forno a lenha, fazia travessas
à mão e pintava louça enchacotada com estampilha. E pude ver de perto a modernização de outras
unidades, como a da Capôa, ou a da Pinheira, todas nessa freguesia do concelho de Aveiro, onde vivi.

A razão de não ter escolhido para o meu trabalho da disciplina de Arqueologia Industrial uma fábrica
de cerâmica, ali mesmo à porta, ficou a dever-se ao Engenheiro Manuel Alegre Ribeiro (1941-2002),
um Amigo, um verdadeiro Cidadão, grande impulsionador dos estudos de história e arqueologia do
Papel em Portugal, que aqui evoco num preito de gratidão e saudade. A ele devo o meu interesse pela
história do papel. A ele devo a possibilidade de realizar esse pequeno estudo académico sobre uma das
velhas “fábricas” de papel de embrulho, papelão e sacos de papel, de Paços de Brandão. Ao contrário
do que acontecera antes, desta vez, as despesas não foram suportadas pela TECNICELPA, mas por
ele mesmo. Já antes, foi por sugestão sua e com o seu apoio que realizei, em parceria com um amigo
comum, o António Paulo Mendes de Sousa, também engenheiro químico, um pequeno estudo sobre
a (certamente) primeira experiência mundial de fabrico de papel com madeira, na “Fábrica Real de
Papel de Vizela”, no início do séc. XIX, que apresentámos ao I Encontro Nacional sobre o Património
Industrial, realizado em Coimbra, Guimarães e Lisboa, cujas atas foram publicadas três anos mais
tarde (Sousa & Rodrigues, 1989).

Conheci o Engenheiro Alegre Ribeiro na Portucel, mas comecei a admirá-lo pela sua larga cultura
cívica e científica, pela capacidade de organizar, de reunir pessoas, de as pôr a cooperar, no âmbito
dos primeiros passos que conduziram à formação de um núcleo de estudos de História do Papel em

238
Portugal e à criação do Museu de Papel, que ainda chegou a ver. Recordo-o emocionado em algumas
das visitas às velhas fábricas de papel de Santa Maria da Feira, promovidas por ele mesmo e pela
Associação de Arqueologia Industrial da Região de Lisboa, fundada em 1980, que seria transformada
na atual Associação Portuguesa de Arqueologia Industrial seis anos depois (APAI, 2014). Como as
associações são formadas por pessoas, não posso deixar de referir as diligências de Jorge Custódio,
Luísa Santos e Isabel Ribeiro, que conheci nesse contexto, para o estudo, salvaguarda e valorização
do património papeleiro desta região.

Foi nessas visitas, entre 1985-1987, que me apercebi da urgente necessidade de inventariação,
estudo e musealização desse vasto mas frágil património papeleiro de Terras de Santa Maria. Via
então com preocupação o fim de uma geração de papeleiros envelhecidos, todos na casa dos 70-
80 anos, uma geração que iria desaparecer sem que conseguíssemos gravar as suas memórias, as
suas palavras. Via que algumas daquelas pequenas fábricas, como a que estudei, iriam desaparecer
sem que pudéssemos proceder pelo menos ao seu registo fotográfico sistemático e à salvaguarda de
máquinas, utensílios e outros equipamentos considerados significativos para um melhor conhecimento
da indústria papeleira desta região. Assistia impotente e incrédulo à destruição de arquivos locais,
como o da Repartição de Finanças de Santa Maria da Feira, onde existia informação sobre esta fábrica,
que cheguei a ver, mas que já não pude consultar, por entretanto ter sido vendida como papel velho a
uma fábrica de papel… Foi nessas visitas que nasceu o desejo de realizar um estudo de Arqueologia
Industrial a partir do qual redigi esta comunicação. Muito se perdeu, muito continua por fazer, mas é
um prazer poder verificar que muito se fez também, que muitas mais pessoas fizeram seu o sonho de
se estudar e preservar o património papeleiro das Terras de Santa Maria.

Olhando para trás, à distância de apenas 30 anos, o que temos? Santa Maria da Feira possui um
dos mais importantes museus do Papel do mundo, distinguido como Melhor Museu de Portugal, em
2011, pela Associação Portuguesa de Museologia. A sua diversificada atividade tem promovido a
internacionalização da história, arqueologia e musealização do papel em Portugal, não obstante a
importância dos muitos estudos publicados ao longo do séc. XX (cf. Curto, Gonçalves, Figueiredo,
Domingos, & Franco, 2003). E como os museus têm rosto, são sonhados e animados por muitas
pessoas, permita-se-me que destaque, entre os estudiosos e os autarcas que tornaram possível o
sonho do Museu do Papel, os nomes de Maria José Ferreira dos Santos, a investigadora que, durante
anos, foi o coração, a cabeça e o pulmão deste Museu e da história da indústria papeleira em Terras
de Santa Maria, e Alfredo Henriques, o autarca que acreditou nela e lhe deu os meios que tornaram
esse sonho realidade.

Tendo explicado sumariamente as circunstâncias que me levaram à realização desse pequeno trabalho
académico, em 1987-1988, importa salientar as dificuldades da sua reescrita ou, se quisermos, dessa
difícil revisitação tantos anos depois, antes de mais porque já não é possível confrontar o passado

239
com o presente, pois esta fábrica foi destruída pelo seu último proprietário, que, posteriormente, a
transformou num armazém. Dela quase só restam as fotografias desse estudo de há perto de 30 anos,
alguns documentos inéditos e, claro, os vestígios materiais no local onde esteve instalada, bem como
a memória de quem lá trabalhou e da de tantos que a fotografaram e a quiseram estudar também. Por
isso, este texto não mostra como é mas como era esta unidade.

Assim, tendo em conta a exiguidade de espaço deste texto, deter-me-ei apenas em alguns aspetos da
história e arqueologia dessa pequena unidade papeleira de Paços de Brandão, que conheci na fase
final da sua existência, deixando de parte os aspetos relacionados com os contextos políticos, sociais
e económicos, como procurei fazer em 1988, até porque, de então para cá foram sendo publicados
diversos estudos, especialmente após a publicação da tese de Maria José Ferreira dos Santos
(1997), que nos permitem ter uma visão mais nítida do número de unidades similares, sua distribuição
geotemporal, importância económica e social e caraterísticas técnicas e humanas.

Atentemos, pois, nos aspetos que nos permitem perceber que “fábrica” era esta, quando foi fundada,
quem eram os seus proprietários, onde se situava, que maquinaria e demais equipamentos possuía,
que papéis produzia, etc. Para a sua (re)escrita, usei toda a informação reunida, dando especial ênfase
aos vestígios materiais fotografados, à releitura da informação escrita oficial e a alguma informação
oral inédita. As “zonas escuras” da história da fábrica exigem mais investigação que só um trabalho de
outra natureza poderia concretizar.

A Fábrica de Manuel Francisco da Costa ou da Amorosa

A principal fonte escrita sobre esta “fábrica” é constituída por um conjunto de documentos produzidos,
entre 1932 e 1949, reunidos no seu Processo no Arquivo da Direção Geral dos Serviços Industriais,
à guarda da Direcção Regional da Indústria e Energia do Norte, em 1988. Com esses documentos é
possível saber a data da fundação e localização da fábrica, a sua descrição física e técnica, naquelas
décadas, a sua propriedade e pouco mais. Na fábrica não consegui qualquer informação escrita, devido
à dispersão de papéis, fotografias e outros bens decorrentes de conflitos familiares, como me disse
então o seu último proprietário (Costa, 1988). As restantes informações foram obtidas por observação
direta, pelo diálogo com esse proprietário, com operárias e com outros papeleiros. Atentemos na leitura
que pude fazer desses documentos escritos oficiais e, depois, nas informações orais e materiais, que
complementam e esclarecem algumas dúvidas e omissões das fontes escritas.

A Fábrica da Amorosa, segundo fontes oficiais

Segundo uma Declaração de 2 de janeiro de 1932, assinada pelo Administrador do Concelho da


Feira, Tiago Valente de Brito, o industrial Manuel Francisco da Costa, residente no lugar do Candal
da freguesia de Paços de Brandão, possuía “uma fábrica de papel de embrulho e papelão e sacos de

240
papel”, que estava em laboração desde janeiro de 1898 (Brito, 02-01-1932). Mais acrescentava que a
referida fábrica possuía os seguintes maquinismos:

3 rodas hidráulicas, sendo 1 de 8 HP, outra de 4 HP e uma mais pequena de 2 HP


1 máquina de papel
1 tanque de massa
1 galga

Três anos depois, procurando legalizar a sua fábrica, em obediência ao disposto no Decreto n.º 19.409,
de 4 de março de 1931, Manuel Francisco da Costa (24-04-1935), não fazendo qualquer referência às
três rodas hidráulicas, afirma que as “máquinas da fábrica” eram as seguintes:

1 cilindro ou triturador
1 galga
1 máquina de fazer papel

Pelos documentos do Processo n.º 5661, então existente da 2.ª Circunscrição Industrial da Direção
Geral das Indústrias (30-05-1935), ficamos a saber algo mais sobre esta pequena unidade papeleira,
que, por várias razões, dificilmente poderemos considerar uma fábrica. Maria José Ferreira dos Santos
(1997, pp. 23-26) refere estas unidades papeleiras de cariz doméstico como “caseiras” ou “sacarias”.
Era, na verdade, pouco mais do que uma oficina papeleira, uma “fabriqueta”, não obstante a generosa
dimensão da sua área útil.

O valor das instalações, de alvenaria e madeira, com cobertura de telha, cifrava-se então em 30.000$00.
A fábrica empregava 5 “escolhedeiras” – o processo não refere outras quaisquer profissões –, que
ganhavam um salário médio diário de 3$00, e um “empregado”, que auferia uma remuneração de 8$00.
As matérias primas e os produtos da fábrica chegavam e saíam, respetivamente, “por via ordinária”,
isto é, por carros de bois, e pelo caminho de ferro. Os maquinismos eram os acima referidos, com
capacidade para produzir 400 kg diários de papel. Nesses anos, o preço do quilo das matérias primas
(“papel velho e trapo”) variava entre os $30 e $50 centavos, enquanto o papel de embrulho produzido
era vendido por preços que oscilavam entre $95 e 1$20 escudos por quilograma. Mais sabemos pelo
referido documento que a “fábrica” trabalhava “em regime de laboração contínua”, entre novembro e
junho; encerrava durante os quatro meses de estio, de julho a outubro, dada a sua dependência do
caudal da ribeira de Riomaior.

Num outro documento, em papel timbrado da empresa, Manuel Francisco da Costa (1936) declara
ter recebido da 2.ª Circunscrição Industrial o Alvará n.º 24.168, de 5 de junho de 1936, referente ao
seu estabelecimento fabril. Embora essa licença tenha sido passada a Manuel Francisco da Costa,
o pagamento dos emolumentos é feito por Joaquim Francisco Coelho, natural do lugar de Vendas

241
Novas, Fiães, que viria a casar (ou já estaria casado) com a sua filha, Maria da Piedade Rodrigues da
Costa. É possível que Manuel Francisco da Costa estivesse doente, pois viria a falecer pouco tempo
depois. Por esse alvará (23-06-1936), M. Francisco da Costa ficou autorizado a explorar «uma fábrica
de papel de embrulho e papelão», não obstante a identidade do timbre da firma Manuel Francisco da
Costa & Filho – designação social nunca referida nos documentos compulsados – indicar algo mais:
“Fábrica de Papel de Embrulho, Cartão e Sacos de Papel. Sacos lisos e tipografados (cf. Fotografia 1).

Segundo um outro documento do Processo de 3 IPT n.º 8118 (22-10-1942), quando ainda corriam, na
Secretaria Judicial da Comarca da Feira, os autos do inventário de menores, realizado por óbito de
Manuel Francisco da Costa, de que foi cabeça de casal a viúva, Rita de Oliveira Belinha (Gonçalves,
26-11-1942), ficamos a saber que a fábrica já era propriedade de Joaquim Francisco Coelho. A
propriedade da fábrica a passara para a filha e o genro.

Dos autos desse inventário de menores e noutros documentos referentes às transformações decorrentes
da transferência de propriedade, há uma relação (pouco precisa) dos bens de Manuel Francisco da
Costa, com data de 26 de novembro de 1942, que descreve e localiza a fábrica (Gonçalves, 26-11-
1942):

Uma casa térrea com três rodas de moinhos e três bocados de terreno, entre o terreno do Doutor
Ângelo da Cunha Sampaio Maia, açude, caminho público, rio, fábrica de papel, casa para seca de
papel e dois tanques para água ou reservatórios de águas limpas para fornecimento da fábrica,
Lameiro do Moinho, pomar, quintais, alvará com o n.º 24.168, para a indústria a que a casa se
destina, sito no Candal da freguesia de Paços de Brandão, a confinar do nascente e norte com o
rio, do poente com o caminho, e do sul com o campo das Valas, descrito na Conservatória […], que
o louvado avaliou em 20.000$00.

Mesmo sem elementos para explicar a desvalorização dos bens do falecido Manuel Francisco da
Costa, faço notar que, em 1932, só a fábrica fora avaliada em 30.000$00. Parece ter havido uma
depreciação do seu valor, embora não tenha encontrado elementos que justifiquem essa alegada
desvalorização.

Na Direção Geral dos Serviços Industriais, o processo de transferência de propriedade ficaria concluído
no ano seguinte. Como se pode ver pelas fotografias 2 e 3, a “Fábrica de Papel de João [sic] Francisco
Coelho permanecia inalterada, mantendo as três rodas hidráulicas. É possível que já antes a fábrica
tivesse a “capela”, com uma “sineta” no local assinalada na Fotografia 4.

Em 29 de novembro de 1949, por alegadamente não se encontrarem cumpridas as condições impostas


no alvará, são impostas outras condições que nos dão conta de alguns aspetos relacionados com a
segurança e salubridade do edifício e as condições de trabalho. Exigia a Direção Geral dos Serviços

242
Industriais (29-11-1949, pp. 48-50) que “os pavimentos da fábrica, incluindo os armazéns”, fossem
feitos de material incombustível; que a armação da cobertura, quando de madeira, fosse revestida de
um induto ignífugo. Na verdade, exceptuando as estruturas de alvenaria, predominava a madeira. De
madeira eram as rodas hidráulicas e as levadas, a armação da cobertura, as portas e as janelas, os
soalhos e as persianas do espande, bem como a maioria dos utensílios e da maquinaria existente.
Embora as restantes exigências não tivessem sido observadas integralmente, não terão deixado de
significar uma grande pressão sobre esta unidade, como das congéneres. Essas exigências constituem
um garrote para esta pequena indústria, a “poeira industrial”, como lhe chamou Fernando Rosas (1994,
pp. 61-64), e mostram que o tempo destas fábricas estava a acabar, pois o trapo, por exemplo, fora
historicamente responsável pela propagação de doenças e epidemias. Atentemos nesse extenso rol
de exigências que estas unidades (e mesmo algumas das grandes fábricas de papel) não poderiam
pôr em prática nesses anos do pós-guerra:

• ventilação e iluminação dos espaços da fábrica;


• desinfeção prévia de trapos e papéis velhos;
• uso de máscaras de proteção de poeiras
• uso de luvas impermeáveis e fatos especiais
• resguardo de motores e correias
• meios anti-incêndio
• um refeitório para os operários
• vestiários e lavatórios de água canalizada e sabão
• uma retrete higiénica para homens e outra para mulheres
• proibição do trabalho de mulheres menores de 21 anos em locais com poeiras
• vacinação antivariólica dos operários.

No dia 1 de agosto de 1949, devido à intensidade da canícula, Joaquim Francisco Coelho pede
autorização para instalar um motor a gasóleo, com a potência de 18 HP, “necessário para a laboração
da sua fábrica nas épocas de estiagem” (Coelho, 01-08-1949). Não obstante a eletricidade já
existir na freguesia desde os anos 1920, só chegaria à fábrica bem mais tarde, a partir dos anos
1940 (Santos, 1997, p. 24), para responder ao aumento da procura especialmente nos decénios
seguintes.

Nesse período, a empresa conheceu alguma prosperidade, mas nunca terá tido condições para
observar as exigências da Direção Geral dos Serviços Industriais, que aumentaram as pressões, no
início dos anos 1970, contribuindo, primeiro, para o abandono do trapo, e, depois, para o encerramento
definitivo da fábrica.

243
A Fábrica da Amorosa segundo fontes orais e materiais

A fábrica parece ter sido inicialmente propriedade de Manuel Francisco da Costa, “o segundo homem
mais rico da Feira, e proprietário de cinco ou seis fábricas de papel” (Costa, 1988), do seu genro Joaquim
Francisco Coelho depois, e, mais tarde, de Amorosa Alves Castanheira, a segunda mulher deste.

Contra a sua vontade, Amorosa Alves Castanheira terá feito sociedade com os filhos, com a designação
social de Amorosa Alves Castanheira & Herdeiros. Foi neste período que passou a ser conhecida como
“Fábrica da Amorosa”. Segundo o testemunho do seu filho Arménio Alves da Costa, nos anos 1970, a
fábrica debatia-se com enormes dificuldades financeiras. A morte de Joaquim Francisco Coelho deixou
a viúva em dificuldades. As dívidas aos fornecedores terão sido pagas com o valor da venda de um
terreno que herdara. Pelos valores referentes à atividade de 1985-1986, a fábrica não remunerava
nem o trabalho nem o capital. Estava velha. Ameaçava ruína. A sua recuperação exigiria um custo
elevado. Fechou, após sete anos de partilhas conflituosas, como contou Arménio Alves da Costa, o
seu último proprietário.

O edifício da Fábrica

O edifício da Fábrica da Amorosa tinha paredes de alvenaria e argamassa, com uma espessura média
de 0,60 m. Os seus dois pisos ocupavam uma área de 376 m2. Exteriormente, tinha o aspeto que o
desenho 6 e as fotografias 9, 10 e 11 documentam.

O primeiro piso, que se encontrava, em 1986-1988, a um nível inferior à rua do Candal, compreendia
duas amplas divisões: a maior, funcionando como um depósito de matérias-primas, e a menor, onde se
encontrava instalada a maquinaria do fabrico. O depósito de papel era amplo e escassamente iluminado
por duas janelas de arco redondo e por duas portas quando abertas. A porta maior, para entrada das
matérias-primas, possuía uma largura de 6 m e era servida, exteriormente, por uma grande plataforma
de cimento. Em 1942, esta porta não existia. A sala das máquinas possuía igualmente pouca luz,
recorrendo-se à iluminação elétrica em dias escuros.

O segundo piso, com soalho de madeira, compreendia duas divisões: uma, o espande, que ocupava a
quase totalidade da área, onde secava o papel, e um muito pequeno compartimento, onde se encontrava
a prensa, destinado à contagem, prensagem e embalagem do papel e à produção dos sacos de papel.
Como todos os espandes, também este era um espaço arejado. A meio, foram construídos fortes
pegões de secção quadrada, com cerca de 60 cm de lado, que suportavam os telhados de duas águas
dos dois corpos do edifício. Entre eles, em vãos de 2,30 m, o ar e a luz eram filtrados por grandes
persianas ou gelosias de madeira de pinho, reguláveis. As tabuinhas das persianas tinham uma largura
de 18 cm. Nesse segundo piso, existia uma escada de acesso ao sótão, onde, podendo também secar
papel, eram guardados diversos instrumentos.

244
As rodas hidráulicas e as levadas

As rodas hidráulicas e as levadas constituíam o equipamento exterior da fábrica. Das três rodas
hidráulicas iniciais vi apenas duas, mas em avançado estado de degradação, especialmente a menor,
como as fotografias 12 e 13 testemunham. Terão sido substituídas, aí por volta de 1976-1977, por um
único motor elétrico (Costa, 1988).

As rodas hidráulicas de pinho verde eram construídas com enxós e serras próprias: “procuravam-se
pinheiros tortos, curvos; era meio caminho andado […]. As peças, depois de cortadas, eram montadas
por meio de malhetes e reforçadas com parafusos da largura das rodas” (Costa, 1988). Se estivesse
permanentemente molhada, “uma roda podia durar uns 12 a 15 anos” (Costa, 1988). Por essa razão,
nestas fábricas, as rodas eram protegidas pela sombra de altos e esguios amieiros, choupos e
sabugueiros.

Nos meses de verão não havia água. O trabalho parava. Os operários regressavam ao campo. Depois,
com a chegada das primeiras chuvas, era preciso fazer a “limpeza do rio”. Limpavam-se as levadas ou
caldeirões que estavam pejadas de lixo. Era necessário desobstruir a passagem da água e proceder
à substituição de algumas tábuas de pinho verde (o uso do cimento é tardio). As levadas, geralmente
com 0,60 m de fundo, eram alimentadas pela água negra das descargas das fábricas da cortiça a
montante. A água utilizada não era tratada. No inverno, as enxurradas arrastavam pedras e areias,
obrigando os papeleiros a parar a produção. Nos anos 1940-1950, construíram-se tanques cobertos
para alguma decantação da água.

A abundância da água das ribeiras determinavam as dimensões e demais características das rodas.
Assim, se a queda e a quantidade de água fossem consideráveis, então a roda possuía um grande
diâmetro e seria mais estreita, como acontecia a jusante, por exemplo, na Fábrica de José Aguiar
Brandão, conhecida por Fábrica Zabumba, então em ruínas. Essa roda tinha 3,50 m de diâmetro e 0,60
m de largo.

Na Fábrica da Amorosa, a roda maior tinha 2,15 m de diâmetro e 1,50 m de largura, mas terá chegado a
ter 2 m de largo. Os cubos ou copos podiam, assim, receber água suficiente para lhe imprimir a velocidade
desejada. Se a roda se destinasse a mover o cilindro refinador, um maior diâmetro assegurava maior a
velocidade de rotação; se a roda se destinasse a mover a máquina de papel, seria mais pequena. Por
essa razão, esta tinha um diâmetro de 1,10 m e uma largura de 0,60 m, bem como uma só fila de copos,
e possuía, tal como a maior, uma estrutura de quatro braços. A distância entre os seus eixos era de 6 m.

O eixo da roda maior, de ferro, tinha 0,9 m de diâmetro e apoiava-se sobre um moente de bronze,
que, por sua vez, estava assente numa base de cimento. Poucos anos antes, os moentes haviam sido
substituídos por grandes rolamentos.

245
Umas comportas de madeira que existiram constituíam, em conjunto, um sistema simples de depuração
e decantação da água das rodas. Por outro lado, permitiam regular o caudal da levada. Estas comportas
são aqui denominadas “registos”.

O fabrico do papel

No interior, a Fábrica da Amorosa, como qualquer unidade similar, apresentava diversas máquinas,
dispositivos mecânicos e utensílios muito diversos. Sumariamente, mostrarei os mais importantes: o
moinho, a ciranda, o refinado, o tanque da massa, a máquina do papel, a mesa de corte, o espande e
a prensa, terminando com breves referências aos produtos.

As matérias primas: trapo e papel velho

Na Fábrica da Amorosa, o fabrico de papel com trapo terminou cerca de 1976-1977 (Costa, 1988).
Até aí, o trapo e o papel velho eram trazidos por mulheres vindas das regiões circunvizinhas e
por carreteiros que os transportavam do Porto em carros de bois. Nos anos 1950, começaram a
usar-se camionetas (Pinto, 1988). Segundo outra testemunha (Reis, 1988), “havia uns armazéns
naquelas vielas do Porto, na rua dos Lavadouros, junto ao Laranjal, para onde os carreteiros
faziam duas a três viagens por semana. Para lá transportavam rolhas e aparas de cortiça que
descarregavam em Gaia, perto do Douro. Descarregados os carros, os carreteiros seguiam para
o Porto para carregá-los de trapo e papel velho”. “Traziam oito ou dez sacos de papel velho
nos sacos. Nessa altura o trapo e o papel vinham em sacos enormes de juta. As mulheres e as
raparigas, logo pela manhã corriam as ruas, viravam os caixões de lixo e metiam tudo nos sacos
e iam vendê-los aos armazéns. Mais tarde descobriu-se o jeito de transportar os trapos e o papel
velho em fardos prensados e aramados e, então, os carreteiros podiam trazer muito mais carga de
uma só vez. Chegavam a trazer doze fardos em cada carro que pesavam em média 120 ou 130
kg e podiam pesar mesmo uns 200 kg. Por outro lado havia maior arrumação nas fábricas” (Pinto,
1988).

Terá sido o Sr. Manuel Marques Pinto o primeiro a enfardar trapo e papel velho no Porto: “O caseiro
do Comendador Azevedo Aguiar Brandão foi um dia a Lisboa comprar papel e viu lá uma prensa de
enfardar trapo e papel velho. Logo se preocupou em fazer o desenho e tirar as medidas. Quando
chegou disse, vamos acabar com os sacos, e assim foi, fez-se a prensa que custou 25 mil réis. Os
arames íamos buscá-los às cocheiras, era o arame dos fardos de palha. Metíamos cinco arames
em cada fardo” (Pinto, 1988). Depois, o trapo era apartado: “havia umas farrapeiras que vinham e
escolhiam o trapo para retirar toda a lã. Se aparecesse, por exemplo um casaco de lã, que não servia
para fazer papel, levavam-no, desfiavam-no, branqueavam-no e iam vender a lã para os lados da
Covilhã” (Reis, 1988).

246
Nesta fábrica, parte do trapo era amontoado em pilhas ao ar livre a apodrecer, “em qualquer lado”,
junto à estrada do lado norte. A outra parte era posta no moinho da galga “a moer toda a noite” (Pinto,
1988). Aqui, o trapo era, como em todas as outras fábricas, depois de escolhido, cortado em tiras de
3 a 5 cm e era metido no moinho com papel velho. O trapo mais duro moía de noite para poder moer
mais tempo. Durante o dia “usava-se o trapo que estava no monte, que estava portanto mais podre”
(Costa, 1988).

Quando pararam as rodas hidráulicas, acabou o fabrico com mistura de trapo, passando a utilizar-se
apenas papel velho, como ainda se fazia no final dos anos 1980: “aquilo consumia muito mais energia”
(Costa, 1988). Ver fotografia 27.

A ciranda e a tesoura do trapo

A ciranda – os papeleiros da região dizem “çaranda”, certamente do Castelhano zaranda – era uma
peneira ou crivo metálico grosseiro, de dimensões variadas, usado na escolha de trapo e papel velho.
Os fardos de trapos e papéis traziam um não mais acabar de objetos de plástico, botões, fivelas, pregos,
sapatos velhos, tecidos lã ou nylon, e até dinheiro! Depois, os trapos e os papéis eram retalhados em
tiras de 3 a 5 cm de largura na tesoura existente na extremidade direita da ciranda. No tempo em que
o trapo era matéria-prima essencial no fabrico do papel produzido nestas unidades, estes instrumentos
ocupavam um lugar de relevo no conjunto do processo. Acabou o trapo e logo as cirandas e as tesouras
começaram naturalmente a desaparecer.

Na Fábrica da Amorosa já não foi possível ver a tesoura, porque fora emprestada para cortar plástico
numa oficina próxima. Nesses anos, encontrava-se uma, em razoável estado de conservação, na
Fábrica de Manuel Marques Pinto, e uma outra, já muito enferrujada, na Fábrica do Zabumba, ainda
com restos de trapos.

O moinho de galga

Tradicionalmente usadas na moenda de azeite, e até na moagem de argilas, as galgas cilíndricas, de


granito, também eram utilizadas na indústria do papel.

A Fábrica da Amorosa possuía apenas uma galga, como mostram as fotografias 14 e 15 e a planta
de 1935 (Fotografia 3). Em nenhum dos documentos compulsados é referida outra qualquer galga. A
superfície que mói era picada com regularidade para melhor e mais rápida execução da moagem. O
tanque, que em tempos fora obra de tanoeiros, era feito de cimento.

A galga tinha 0,40 m de largura, e 1,30 m de diâmetro. O tanque tinha 2,90 m de diâmetro, com uma
capacidade de 400 kg.

247
O movimento da galga era assegurado por um sistema de transmissão por correias e uma entrós
ou entrosa. Nesse seu movimento contínuo, a galga esmagava e desagregava trapo, papel velho e
aparas de papel, a que eram adicionadas, além de água, as “cargas” (argilas, anilinas, ocres, caulino
e, por vezes, gesso e talco). O uso destes produtos justificava-se pela inexistência de operações de
branqueamento e pela necessidade de se colorar o papel produzido de acordo com convenções e os
desejos dos clientes e para o embaratecer.

Era na operação de desagregação do trapo e do papel velho no moinho de galgas que se fazia a
coloração do papel. As diversas cargas minerais eram adicionadas visando um tom e mão determinados.
Os trapos e os papéis brancos eram moídos sem cargas, ou levavam apenas caulino e talco para se
fazer o papel de primeira. Com os trapos e papéis restantes faziam-se papéis de segunda. A água
não depurada ocasionava papel de cor acinzentada em consequência da presença de materiais em
suspensão e de sais de ferro dissolvidos. Por outro lado, as impurezas diminuíam o tempo de vida da
rolaria, da tela e da máquina de papel de um modo geral.

Do refinador ao tanque da massa

Os trapos e os papéis velhos passavam ao refinador (fotografia 16). Os refinadores desta região, de tipo
holandês, com cuba oblonga, possuem quase todos as mesmas medidas. São constituídos por um cilindro
ou rodelo de madeira, geralmente feito com a base ou o cerne do pinheiro (Pinto, 1988), no qual foram
embutidas lâminas («navalhas») de ferro ou de aço em todo o perímetro. As navalhas do cilindro da fábrica
de Manuel Francisco da Costa eram de ferro, não de aço ou bronze, como acontecia noutras unidades.

Depois de refinada, a pasta – a «massa» como aqui é chamada – é conduzida para um tanque
rectangular, próximo da máquina de papel, onde é misturada com água antes de ir para a forma.

A máquina de papel de madeira

De madeira, era quase exemplar único, a máquina de papel da Fábrica da Amorosa. Segundo algumas
operárias de Paços de Brandão, “das que existem só a Amorosa e a de Manuel da Júlia [Portela] é que
têm máquinas de madeira” (Marques, 1988).

O tanque dos tabuleiros era de cimento, como era o da “forma”. O resto era tudo de madeira, como
se pode ver nas fotografias 17-20. Os tabuleiros de madeira de pinho e o resto das peças de madeira
de sobreiro, porque o sobro rijo “não apodrece na água” (Pinto, 1988). O sobreiro foi muito utilizado,
durante séculos, na construção naval, nomeadamente na quilha e nas cavernas dos navios (Monteiro,
1999, p. 243). Quase todas as máquinas que existiram na região eram construídas com sobreiro e com
carvalho. Sobretudo com sobreiro (Costa, 1988). No entanto, a fábrica da Azenha “tinha uma máquina
de carvalho e as outras partes era igualmente dessa madeira (Pinto, 1988).

248
Paços de Brandão possui um lugar e uma avenida denominados da Sobreira. Parecem ser os únicos
vestígios de sobreiros nesta região. Segundo o Correio da Feira, de 15 de setembro de 1900, “a
freguesia de Canedo possui vastos pinhais e sobreirais”. O sobreiro é uma árvore com grande
importância económica em Portugal, com uma mancha considerável especialmente no Litoral Sul. A
maior parte da literatura disponível releva apenas a importância da cortiça.

Se abundava a matéria-prima para o fabrico das máquinas, também não faltava quem as reparasse e
adaptasse. Desde muito cedo. A Tradição, de 4 de março de 1939, publicou anúncio esclarecedor: “Aos
industriais papeleiros / António dos Santos / Rio Maior Paços de Brandão / aperfeiçoa máquinas da
indústria papeleira com rapidez e segurança”. Com espírito inventivo, havia inúmeros papeleiros que
iam fazendo sucessivas adaptações e melhoramentos nos mais variados maquinismos das fábricas”
(Pinto, 1988). É uma história que nunca terá sido feita.

A fábrica de outra empresa de Paços de Brandão, a Manuel Marques, Lda., fundada em 1961, possuía
uma máquina semelhante. Com uma única diferença: a madeira fora substituída pelo ferro. Essa
máquina fora fabricada, nesta freguesia, na Mecânica Exacta, Lda.

As telas eram adquiridas em Ovar, na Fanafel. A rolaria era também de madeira, à exceção da da
«prensa húmida», de tipo vertical, que possuía um cilindro de aço com 320 mm, e outro de madeira,
com 380 mm. No processo da fábrica, ainda se pode ler: “Tipo de máquina – redonda; fabricante – N;
Largura útil, em milímetros – 1100 (medida que possui ainda hoje); tipo de cuva – Paralela; tipo de
forma – noral – 800; tipo do rolo de cabela – Madeira; diâmetro em milímetros – 150; tipo de comando
– Paralelo; velocidade linear (m/min.) – (kg/24 h – 2000); limites de gramagem – 100/140”.

No princípio, “as formas eram de madeira; depois, os lados passaram a ferro fundido e, depois, os
mainéis em latão, pois antes, eram, também, de madeira” (Pinto, 1988).

O facto de, em 1935, não ser referido material de construção da máquina poderá indicar que, então, a
madeira seria a regra.

Esta máquina, contudo, manteve-se sempre sem alterações de monta. A fábrica de Custódio Pais tinha
“bombas aspiradoras, duas a trabalhar e uma para substituição. Aqui as bombas aspiradoras são as
tesas para secar o papel” (Costa, 1988).

A mesa de corte

À saída da máquina, o papel era enrolado num “sarilho” que, por sua vez, estava apoiado na
“cangalha do sarilho”, feito com madeira de pinho. A cangalha possuía dois sarilhos para assegurar
o trabalho contínuo. Retirando-se um sarilho com papel, um outro começava a ser enrolado e assim
sucessivamente.

249
A cortadora de papel era constituída por uma enorme mesa de madeira encostada à parede do lado
poente, mesmo junto da cangalha do sarilho. Tinha cerca de 40 cm de altura, 3 m de comprimento e
1,5 m de largura.

Com o papel verde, a sair da máquina, o sarilho era colocado ao meio da mesa sobre a qual era
deitado, previamente, um punhado de serrim, “para não se agarrar à madeira, podendo deslizar com
facilidade” (Silva, 1988). De seguida, um trabalhador, com uma “faca” – na verdade era um serrote sem
dentes, afiado como uma faca –, corta o papel que cai sobre a mesa. A seguir, o trabalhador ajustava a
papel na posição em que o queria cortar e fazia pousar sobre ele uma peça de madeira presa à mesa
por dobradiças e que possuía um contrapeso na outra extremidade. Esta peça possuía uma ranhura
a meio que permitia guiar o corte do papel em toda a sua largura com a faca para acima referida. Este
instrumento era afiado amiudadas vezes numa pedra fixa na extremidade da mesa.

Por fim, o papel era enrolado e transportado por operárias (cf. Fotografia 21) para o espande, onde era
posto a secar, contado, enresmado e prensado.

O espande

O “espande”, espandiouro e estendal. Três nomes para um espaço com as mesmas funções. O termo
mais comum nesta região é espande que, como outros, não está dicionarizado. Trata-se de uma ou
várias divisões de dimensões variáveis, mas sempre enormes, geralmente sobre a parte fabril – como
nesta fábrica –, ou, então, num edifício próprio construído num local bem alto e arejado, que tem por
finalidade a secagem do papel. É o espande que denuncia, na paisagem, a existência de uma fábrica
de papel desta natureza.

As operárias estendiam o papel sobre uma mesa ou banqueta e com a ajuda da cruzeta colocavam as
folhas de papel sobre os arames das tesas como quem põe roupa a secar, mas com as extremidades
do papel desencontradas para poder ser possível a circulação do ar (ver fotografias 22 e 23). Quando
a tesa estivesse cheia era levada com a ajuda de uma galha, e pendurada imediatamente abaixo de
outra, na longa fila de tarecos que desce do teto até ao chão, como mostra a fotografia 24. A secagem
do papel dependia das condições atmosféricas. A secagem podia durar oito dias em tempo seco, como
podia ir até mês e meio, no inverno.

Na Fábrica da Amorosa trabalhavam três senhoras: uma na prensa e duas nas tesas. Depois de
seco, o papel era retirado das tesas, escolhido e prensado. “Nos tempos de prolongada falta de água,
chegava-se a perder o pessoal. Ultimamente, a produção era tão baixa que o pessoal tinha de ir
embora por nada haver que lhe dar a fazer” (Costa, 1988). A saúde das operárias que aqui trabalhavam
ressentia-se devido à forte circulação de ar que se faz sentir. Várias trabalhadoras diziam “sofrer com
doenças dos ossos” (Marques, 1988).

250
Em 1988, o espande da Fábrica da Amorosa encontra-se em ruínas, com inúmeras tesas no chão, tudo
numa grande desordem e abandono, recoberto de grossa poeira. Algumas traves que suportavam o
soalho, não fossem as escoras colocadas no piso térreo, teria caído. O cume principal do telhado maior
estava abatido pelas mesmas razões.

A prensa de madeira

Dada a sua imprescindibilidade, existia em todas as fábricas pelo menos uma prensa. Era colocada
quase sempre próximo da área de recolha do papel seco do espande. O que podia variar era a sua
dimensão, o passo do fuso e os materiais de que era feita.

A prensa de madeira da Fábrica da Amorosa (fotografia 25), em tudo igual a uma outra que se
encontrava na Fábrica do Zabumba (fotografia 26), possuía o fuso de passo largo, feito de sobreiro,
que era oleado com sebo de boi (Costa, 1988). As outras peças podiam “ser de carvalho, de cerne de
eucalipto, ou mesmo de pinho. De eucalipto, não, que empena. Só se for velho, sangrado e bem seco”
(Pinto, 1988). As restantes peças desta prensa são de pinho. Que idade tem a prensa? – Ninguém
sabe, “que é muito antiga”, dizem, e é tudo. Porém, esta foi construída para esta fábrica. Teria cerca de
90 anos. O Museu de Lamas já por mais de uma vez tentara adquiri-la, e, depois, o Museu do Papel.

A fábrica tinha uma outra prensa, com o fuso de ferro, que era mais utilizada nos últimos anos de vida.

Os produtos da fábrica: o papel de embrulho

Desde o seu início, em 1898, a fábrica de Manuel Francisco da Costa produziu sempre papel de
embrulho, papelão e sacos de papel, ocupando o papel de embrulho o lugar de maior relevo. O papel
de embrulho decaiu com a chegada em força dos sacos de plástico, entre o final dos anos 1960 e os
anos 1980, embora o início da revolução do plástico, em Portugal, tenha começado nos anos 1930
(Callapez, 2010). O plástico imitava tudo: vidro, cerâmica e papel, etc.

A meu pedido, o Eng.º A. P. Mendes de Sousa analisou, no laboratório da Portucel, na Quinta de


Eixo, Aveiro, algumas amostras do papel que a fábrica produzia nesses anos (essas amostras estão
à guarda do Museu do Papel). Os dados denunciavam as dificuldades com que a fábrica se vinha
debatendo.

251
Análise laboratorial dos papéis produzidos na fábrica

Amostras A B C D E
Propriedades estruturais
Gramagem, g/m2 220 115 210 215 140
Espessura, μm (0,001 mm) 435 257 390 450 322
Massa volúmica, g/cm3 506 447 938 478 435
Índice de mão, cm3/g 1,98 2,23 1,85 2,09 2,30
Propriedades de resistência
Carga de rebentamento, Kla 198 117 216 250 126
Índice de rebent. Kla.m2/g 0,90 1,02 1,03 1,16 0,90
Propriedades ópticas
Brancura, % 461 404 420 238 210
Tom amarelo 22,1 21,0 21,0 44,4 43,3
Cinzas - em percentagem 30,0 15,9 25,3 21,0 18,2

Nos últimos anos, a produção da fábrica, com 10-11 horas de trabalho diário de quatro pessoas – um
homem, o proprietário, e três mulheres, as “botateiras” –, rondava os 900 kg (Costa, 1988). O papel
era transportado de camioneta para o Porto, nomeadamente para o mercado do Bom Sucesso, para
ser vendido nos talhos, mas “acabaram por perder os talhos por causa da concorrência” (Costa, 1988).
Também vinham à fábrica camionetas de revendedores do sul, nomeadamente de Águeda.

Os sacos de papel eram feitos com uns moldes de madeira, como se pode ver hoje no Museu do Papel.
Havia-os das diversas medidas, consoante a utilidade dos mesmos. Os sacos tinham nomes diversos
não generalizados. Assim, havia o saco de “meia arroba”, que na realidade levava um pouco menos; o
“saco da banana”, de cerca de 5 kg, e o “saco da maçã e da pêra”, de 4 kg. Os sacos destinavam-se
ao transporte de fruta e ao comércio das mercearias de vilas e aldeias. Eram colados no fundo com
uma pasta de caulino o que os tornava pesados antes de irem para a balança.

Os meses em que se vendiam mais eram os quatro cinco meses do tempo quente, precisamente
aqueles em que escasseia a água nas levadas e é mais rápida a secagem do papel. Também se fez
cartão ou papelão que era seco ao ar livre.

A mão-de-obra: suas características e profissões

O número de trabalhadores variou sempre com os bons e maus momentos da fábrica. No início da
laboração, no século passado, não se sabe quantos trabalhadores possuía. Em 1935, como vimos,
existiam na fábrica 6 trabalhadores − um homem e seis mulheres. Ultimamente, como disse, trabalhavam
nela 4 pessoas: um homem, o proprietário, Arménio Alves da Costa e três mulheres, as botadeiras,
no espande. Mas chegou a ter entre 24 e 30 trabalhadores nos anos 1960-1970. No tempo do trapo
“chegou-se a trabalhar por turnos − um de noite, toda a noite a fazer massa, e outro de dia, das 6 às 16

252
horas” (Costa, 1988). Não obstante as mulheres serem em maior número, os homens ganhavam mais
do que elas, o que ainda acontecia, nos anos 1980, noutras fábricas congéneres.

As designações das profissões mais frequentes eram as seguintes: “condutor-maquinista”, “pilateiro”,


“escolhedeiras”, “botadeiras” ou “manipularas”. Algumas designações de profissões de papeleiros,
outrora usadas e ainda frequentes noutros locais, como “lauriente”, “ponedor” e “levadino”, eram aqui,
ou desconhecidas, ou usadas com outras funções.

Conclusão

Ao longo deste texto foi possível entrever a natureza desta pequena unidade papeleira, de Paços
de Brandão, nascida no final do séc. XIX, mas não o suficiente para se poder explicar por que razão
ela não foi capaz de crescer de modo a impedir a instalação de mais cinco fábricas semelhantes nas
imediações. Ao que parece, nas décadas de crescimento excecional, que foram os anos 1950-1960,
chegou a ter um significativo número de operários, mas acabou por agonizar lentamente até ao seu
fecho no segundo lustro da década de 1980. Incapaz de se desligar dos conflitos familiares, a direção
da empresa também não soube encontrar formas de sobreviver, modernizando-se, diversificando o
produto, construindo parcerias para o fornecimento das matérias primas e para o escoamento dos
produtos. Os documentos deixam entender que a fábrica vivia sem direção comercial ativa, vivendo ao
ritmo do meio rural em que estava inserida sob vários pontos de vista.

Por esse feixe de razões mal conhecidas, mas que importava estudar, foi possível ver uma fábrica com
tecnologia do final do séc. XIX a funcionar quase no termo do séc. XX. Na sua maioria, o equipamento
e os instrumentos da Fábrica da Amorosa eram de madeira, nomeadamente as rodas hidráulicas, a
máquina de papel, a prensa e muitos outros dispositivos e utensílios. Desses diferentes artefactos
desaparecidos pouco restará; a paisagem em que as fábricas estavam inseridas foi perturbada por
outras construções, outros usos; as pessoas que ali trabalharam desapareceram, o que faz de algumas
das fotografias, feitas em 1986-1988, verdadeiros objetos de sutura, que conservamos, como salienta
Marc Guillaume (2003, p. 33), “para coser uma ferida simbólica, para guardar o vestígio dos momentos
de emoção intensa”. Este património industrial reclama de nós a capacidade para o olharmos como
memória simbólica, inscrita na vida individual e na coletividade de Paços de Brandão, em busca de
uma multiplicidade de leituras e de sentidos.

Mais do que uma conclusão, este estudo exige a formulação de um conjunto de desejos e propostas
para o futuro. Assim, penso que é urgente realizar um inventário destas unidades, obedecendo a um
programa único, de modo a podermos dispor de uma visão de conjunto, permitindo-nos comparar
equipamentos, saberes acumulados, terminologia, influências, relações entre fábricas e famílias de
papeleiros, etc. É igualmente necessário filmar depoimentos de papeleiros, homens e mulheres, abrindo
caminho à realização de um estudo prosopográfico sobre os papeleiros da região. Manuel Francisco da

253
Costa (ou o seu genro) terá fundado várias fábricas. Não sabemos quem foi este empresário papeleiro.
Nada sabemos sobre o genro e sobre outros papeleiros como estes. Urge construir uma base de dados
de fotografias de equipamentos ainda existentes, obedecendo a uma ficha elaborada segundo critérios
internacionais, como é necessário procurar papéis esquecidos e fotografias em arquivos particulares.
Já morreu muita gente, mas ainda há muitas pessoas capazes de testemunhar. Por fim, é necessário
reunir toda a informação notarial e paroquial existente no Arquivo Distrital de Aveiro e nos notários
de Santa Maria da Feira. Os documentos paroquiais à guarda do Arquivo Distrital de Aveiro estão
disponíveis na internet. O Museu do Papel está em ótimas condições para coordenar um trabalho
dessa natureza.

Referências

APAI. (2014). Movimento de Refundação da APAI. Disponível em http://apaiassociacao.wixsite.com/


apai/rgos-sociais.
Brito, B. T. V. D. (02-01-1932). Declaração. Processo n.º 8661, 1.ª Circunscrição Industrial. Ministério
da Economia. Secretaria de Estado da Indústria. Direção-Geral dos Serviços Industriais.
Callapez, M. E. (2010). Plásticos na sociedade portuguesa rural. Revista Brasileira de História da
Ciência, 3(2), 200-210. Disponível em http://www.sbhc.org.br/arquivo/download?ID_ARQUIVO=34.
Consultado em abril de 2017.
Coelho, J. F. (01-08-1949). Requerimento. Processo n.º 8661, 2.ª Circunscrição Industrial. Ministério
da Economia. Secretaria de Estado da Indústria. Direção-Geral dos Serviços Industriais.
Costa, A. A. D. (1988). Conversa com Arménio Alves da Costa, sua esposa e sogro. Paços de Brandão:
Testemunho oral gravado.
Costa, M. F. (14-09-1936). Declaração de receção do Alvará n.º 24.168. Processo n.º 8661, 2.ª
Circunscrição Industrial. Ministério da Economia. Secretaria de Estado da Indústria. Direção-Geral dos
Serviços Industriais.
Costa, M. F. (24-04-1935). Requerimento. Processo n.º 8661, 2.ª Circunscrição Industrial. Ministério da
Economia. Secretaria de Estado da Indústria. Direção-Geral dos Serviços Industriais.
Curto, D. R., Gonçalves, P., Figueiredo, D., Domingos, M. D., & Franco, L. F. (2003). Bibliografia da
História do Livro em Portugal: séculos XV a XIX. Lisboa: Biblioteca Nacional.
Direção-Geral dos Serviços Industriais. (23-06-1936). Alvará n.º 24.168. Processo n.º 8661, 2.ª
Circunscrição Industrial. Ministério da Economia. Secretaria de Estado da Indústria.
Direção-Geral dos Serviços Industriais. (29-11-1949). Condições de segurança que substituirão as
impostas no Alvará. 2.ª Circunscrição Industrial. Ministério da Economia. Secretaria de Estado da
Indústria.
Direção-Geral dos Serviços Industriais. (30-05-1935). Processo n.º 8661. 2.ª Circunscrição Industrial.
Ministério da Economia. Secretaria de Estado da Indústria.
Gonçalves, A. J. (26-11-1942). Certidão. Secretaria Judicial da Comarca da Feira. Processo n.º 8661.

254
2.ª Circunscrição Industrial. Ministério da Economia. Secretaria de Estado da Indústria.
Guillaume, M. (2003). A Política do Património. Lisboa: Campo das Letras.
Marques, R. (1988). Conversa com Rosa Marques e outras operárias. Paços de Brandão: Testemunho
oral gravado.
Monteiro, P. (1999). Os destroços dos navios Angra C e D descobertos durante a intervenção
arqueológica subaquática realizada no quadro do projecto de construção de uma marina
na baía de Angra do Heroísmo (Terceira, Açores): discussão preliminar. Disponível em
http://scholar.googleusercontent.com/scholar.enw?q=info:8TPuKqwX2DkJ:scholar.google.
com/&output=citation&scisig=AAGBfm0AAAAAWQ9eZFIhIp_Cl6oCz1htbDpPcvXq3KKx&scisf=3&ct=
citation&cd=0&hl=pt-PT
Pinto, J. M. (1988). Conversa com Joaquim Marques. Paços de Brandão: Testemunho oral gravado.
Reis, M. D. O. (1988). Conversa com Manuel de Oliveira Reis. Paços de Brandão: Testemunho oral
gravado.
Rodrigues, M. F. (1988). A Fábrica de Papel Manuel Francisco da Costa. Contribuição para o inventário,
estudo e musealização das fábricas de papel do concelho de Santa Maria da Feira. Trabalho da
Disciplina de Arqueologia Industrial. Universidade de Coimbra, Coimbra.
Rosas, F. (1994). A ‘indústria nacional’. In F. Rosas (Ed.), História de Portugal (Vol. VII: O Estado Novo).
Lisboa: Círculo de Leitores.
Santos, M. J. F. (1997). A indústria do papel em Paços de Brandão e Terras de Santa Maria (Séculos
XVIII-XIX). Santa Maria da Feira: Câmara Municipal de Santa Maria da Feira.
Silva, A. (1988). Conversa com Amândio Silva, operário da fábrica de Manuel Marques, Lda. Paços de
Brandão: Testemunho oral gravado.
Simões Júnior, J. (22-10-1942). Desenho da Fábrica. Processo de 3 IPT n.º 8118, 2.ª Circunscrição
Industrial. Ministério da Economia. Secretaria de Estado da Indústria. Direção-Geral dos Serviços
Industriais.
Sousa, A. M. D., & Rodrigues, M. F. (1989). A Fábrica Real de Papel de Vizela. Utilização pioneira
de madeira como matéria-prima para o fabrico de papel. In I Encontro Nacional sobre o Património
Industrial: Actas e comunicações. Coimbra-Guimarães-Lisboa (Vol. II, pp. 681-706). Coimbra: Coimbra
Editora.

255
Índice das Imagens

Fotografia 01. Papel de carta da Fábrica da Amorosa, 14-09-1936

Fotografia 02. Planta Topográfica, 24-04-1935. Corte transversal

Fotografia 03. Planta Topográfica, 24-04-1935. Planta do rés-do-chão

256
Fotografia 04. Planta Topográfica, 22-10-1942. Alçado norte

Fotografia 05. Planta Topográfica, 22-10-1942. Rés-do-chão

Fotografia 06. Desenho da entrada da fábrica. MFR, 1988

257
Fotografia 07. Joaquim Francisco Coelho. Cemitério de Paços de Brandão, s. d.

Fotografia 08. Amorosa Alves Castanheira. Cemitério de Paços de Brandão, s. d.

Fotografia 09. Fábrica da Amorosa e residência do proprietário, 1891. MFR, 1988

258
Fotografia 10. Aspeto da fábrica em ruínas. MFR, 1988

Fotografia 11. Levada e uma das rodas hidráulicas. MFR, 1988

Fotografia 12. Levada e uma das rodas hidráulicas. MFR, 1988

259
Fotografia 13. Estrutura da roda hidráulica. MFR, 1988

Fotografia 14. Moinho de galga. MFR, 1986

Fotografia 15. Moinho de galga. Motor elétrico indicado pela seta. MFR, 1986

260
Fotografia 16. Refinador. Fábrica de Manuel Marques Pinto. MFR, 1987

Fotografia 17. Fábrica da Amorosa, máquina de papel. MFR, 1986-06-12

Fotografia 18. Fábrica da Amorosa, máquina de papel. MFR, 1986-06-12

261
Fotografia 19. Fábrica da Amorosa, máquina de papel. MFR, 1986-06-12

Fotografia 20. Fábrica da Amorosa, vista do interior da fábrica. MFR, 1987

Fotografia 21. Fábrica Custódio Pais, transporte de papel. MFR, 1988

262
Fotografia 22. Fábrica Manuel Marques, Lda., secagem do papel papel. MFR, 1988

Fotografia 23. Fábrica Manuel Marques, Lda., secagem do papel papel. MFR, 1987

Fotografia 24. Fábrica Manuel Marques, Lda., secagem do papel papel, espande. MFR, 1988

263
Fotografia 25. Fábrica da Amorosa, prensa. MFR, 1986

Fotografia 26. Fábrica de Zabumba, prensa. MFR, 1988

264
Fotografia 27. Fábrica de Zabumba, monte de trapos abandonados. MFR, 1988

Fotografia 28. Fábrica de Zabumba, entrosa de madeira. MFR, 1988

265
Fotografia 29. Papeleiro Joaquim Marques Pinto, então com 84 anos. MFR, 1988

Fotografia 30. Papeleiro Manuel Oliveira Reis, então com 78 anos. MFR, 1988

266
LA PRESENCIA DE LOS MAESTROS PAPELEROS GUARRO EN MADRID DURANTE LA SEGUNDA
MITAD DEL SIGLO XVIII

Aurelio García López


Universidad Alcalá-Archivero
garcialopezaurelio@gmail.com

RESUMEN

Durante los siglos XVIII y XIX, la familia Oliver fue propietaria de cuatro molinos papeleros, dos de
papel blanco y dos de estraza, además de uno de harina en Sant Quintí de Mediona. Estos molinos
formaban uno de los núcleos papeleros más importante de la zona.

Joseph Oliver, estuvo durante largos años litigando con el Ayuntamiento de Sant Pere de Riudebitlles
por la ubicación y altura del azud que suministraba el agua para el abastecimiento de los molinos y los
campos de cultivo. En él estuvieron involucrados también diversos papeleros, labradores e incluso la
Marquesa de Llió. Francisco Oliver, hijo de Joseph, a la muerte de este, continuó con el pleito iniciado
por su padre. Mientras tanto los arrendatarios de los molinos estuvieron fabricando papel, ajenos a los
problemas del propietario.

El propósito de esta comunicación es dar una visión general de la fabricación de papel en Sant Quintí
de Mediona e identificar a los papeleros que elaboraron papel en las fábricas de Ca l’Oliver y las
filigranas que usaron.

PALABRAS CLAVE

Fabricación de papel. Molinos papeleros. Sant Quintí de Mediona. Familia Oliver

ABSTRACT

During the 18th and 19th centuries, the Oliver family was the owner of four paper mills, two of white
paper and two of Brown, as well as one mill of flour in Sant Quintí de Mediona. For many years, Joseph
Oliver, was litigating with the Town Hall of Sant Pere de Riudebitlles due to the location and height of
the mill dam that provide water for the supply of the mills and fields. In it were involved also different
papermakers, farmers and even the Marquise of Llió. Francisco Oliver, son of Joseph, continued with
the lawsuit started by his father. Meanwhile, tenants of the mills were manufacturing paper, oblivious to
the problems of the owner.

267
The purpose of this communication is to give an overview of paper making in Sant Quintí de Mediona
and identify the papermakers that developed role in the factories of Ca l’Oliver and the watermarks that
they used.

KEYWORDS

Paper making. Paper mills. Sant Quintí de Mediona.

La familia Guarro en los alrededores de Madrid.

La familia Guarro ha sido una de las más estudiadas dentro de la historia papelera española, está
documentada desde los últimos años del siglo XVII. Estableció sus molinos papeleros en Capellades,
concentrados en la cuenca del río Anoia, en La Pobla de Claramunt, Capellades y Gelida1. La actividad
papelera de los Guarro se inicia en 1698 con Ramón Guarro Costa (1670-1738)2. Se fija la fecha de su
inició en 1698, que corresponde a una petición hecha el 16 de marzo por Ramón Guarro Costa, payés de la
Torre de Claramunt (Anoia), para poder construir unos molinos en la ribera de Carme. Una vez que obtuvo
el establecimiento de las aguas, en 1699 compró la tierra y en 1702 ya había finalizado la construcción
de un molino papelero3. Desde allí, a lo largo del siglo XVIII, algunos de sus miembros se instalaron
por otras partes de la geografía española, como fueron: Constanti (Tarragona), donde en 1715 ejercía
un papelero llamado Jaime Guarro4; Orusco y Ambite (Madrid), Pastrana (Guadalajara)5, La Forquera,
Buñol6, Alcoy y Villanueva de Gállego7. Esta familia en su larga vida papelera es o ha sido propietaria o

1 Sobre los Guarro se ha publicado mucho, véanse Guarro-Casas, 300 años de historia. 1698-1998. Barcelona, 1998; Héctor
Oriol:La Casa Guarro 1911; UDINA I MARTORELL, Federico: 250 aniversario de la fundación de la empresa Luís Guarro
Casas. Barcelona, 1948. En 2016 se ha publicado un interesante libro que proporciona un conocimiento más exacto sobre
esta familia: RAFEL GUARRO, Assumpta: Guarro. Una nissaga de paperers. Estudi dus nostres avanta passats de Cognom
Guarro. 1633-1796. Barcelona, 2016. Agradezco a la señora Assumpta Rafel sus indicaciones sobre la familia Guarro para
elaborar este artículo.

2 GAYOSO CARREIRA, Gonzalo: Historia del papel en España. Lugo. Diputación Provincial, 1994, vol.I., pág. 146.

3 GUTIÉRREZ I POCH, M.: “Desarrollo de la manufactura papelera española durante el siglo XVIII” en Actas del IV Congreso
nacional de historia del papel en España. Córdoba, 2001, págs. 337 y 348.

4 SÁNCHEZ REAL, J.:» Jaime Guarro, papelero en Centcelles-Constanti (Tarragona) 1715” en Actas del III Congreso Nacional
de Historia del Papel, Alicante, 1999, págs. 351-355.

5 Sobre la presencia de los maestros papeleros Guarro en Pastrana, véase nuestro trabajo: Historia de la industria papelera
en Pastrana. La familia Mendoza y el fomento de la actividad económica en el Reino de Castilla (ss. XVII-XIX). Editorial
Fanes, Torrelavega (Santander), 2017.

6 COUTO DE GRANJA, Antonio y FABRI LAGÜENS, Celia: “ El papel y su distribución según los fondos del Archivo Parroquial
de Benidorm” en Actas del III Congreso de Historial Nacional del Papel, Cuenca, 1999, pág. 133. Con más detalle en VERDET
GÓMEZ, Federico: La industria papelera de la Hoya de Buñol. Desarrollo económico. Movimiento obrero. Instituto de Estudios
comarcales Hoya de Buñol-Chiva. Valencia, 2003, pp. 116-121.

7 MADURELL I MARIMON, J.M.: El paper a les terres catalanes. Contribució a les seva história. Tomo I, Barcelona, 1972, pág.
380.

268
arrendataria de 47 molinos de papel en Cataluña y 5 en otras provincias españolas. Su actividad papelera
y el reconocimiento de su papel en España, hizo que algunos de sus miembros emigrasen a otras partes
de la geografía española para implantar su actividad papelera.

El monarca Carlos III les dio, en junio de 1773, unas reales cédulas a favor de Francisco y Pedro Guarro,
donde se pone de manifiesto la reputación del papel que se fabricaba en sus molinos8.

Los hermanos Francisco y Pedro Guarro desde 1760 tomaron la estrategia de expandir su producción
fuera de Cataluña por medio del arrendamiento de molinos en otros lugares de la península Ibérica.

No sabemos con precisión cuál fue el primer miembro de la familia Guarro que llegó a Madrid. Muchos
autores nos dicen que fue Pedro Guarro Fontanellas o Fontanellas, quien se estableció en Madrid y desde
aquí pasó a tomar en arrendamiento un molino papelero en Pastrana perteneciente a la familia Mendoza.
Aunque ya antes, algunos fabricantes catalanes habían hecho su presencia en los molinos papeleros
cercanos a Madrid durante la primera mitad del siglo XVIII. Así, por ejemplo, en 1733 se estableció un
molino papelero por el catalán don José de Solernou en Orusco (Madrid)9.

Según Valls I Subira hacia 1766 hace presencia Pedro Guarro en Madrid, y en 1772 ya estaba trabajando
en Pastrana junto a Lorenzo Gozque, como oficial asalariado del administrador de la fábrica, don Valentín
Briones10. Por otra parte Madurell I Marimón documenta que estaba residiendo en Madrid en 24 de junio de
1770 y también en 1771. El 13 de enero de 1772 mantenía relación con su padre Francisco Guarro y con
su hermano Francisco por medio de la comisión para vender papel de Capellades en la Corte. También
en 1772 continuaba residiendo en la Corte11. Esto nos hace pensar que se estableció en Madrid como
comisionado o enlace de su padre y hermano para introducir el papel catalán en la Corte. Igualmente,
desde Madrid se encargó en ser uno de los principales paladines para que se abriera el libre comercio
con América. Los Guarro estuvieron entre los fabricantes de papel catalán que intervienen en el comercio
colonial. Francisco y Pedro Guarro se relacionan con los Mata, importantes comerciantes que tenían
compañía con América. Hasta América se enviaban resmas de papel común, blanco y ordinario12.

Es posible que antes de 1774 estuviera Pedro Guarro trabajando como oficial papelero en Pastrana
teniendo la fábrica arrendada Valentín Briones. En 1774 firma un contrato de arrendamiento en solitario
del molino de Pastrana, escritura en la que firma como uno de sus testigos Valentín Briones.

8 Ibídem.., pp. 88-92, y documento en las páginas 1137-1139; GAYOSO CARREIRA, G.: Historia del papel en España, op.,
cit., vol. I, págs. 138 y ss.

9 GAYOSO CARREIRA,G.: Historia del papel en España., op., cit., vol.I, págs. 94-96.

10 ORIOL VALLS Y SUBIRÁ: La historia del papel en España….pág. 306.

11 MADURELL I MARIMON, J.M.: El paper a les terres catalanes…,I, pág. 381.

12 OLIVA MELGAR, José Marí: Cataluña y el comercio privilegiado con América en el siglo XVIII: La Real Compañía de
comercio de Barcelona a Indias. Barcelona, 1987, pág. 277.

269
El maestro papelero Pedro Guarro y Fontanellas era hijo del también maestro papelero Francisco Guarro
y Milà. Había nacido en 1738 en La Pobla de Claramunt. Era nieto de Ramón Guarro Costa (1670-1736)
y de María Milá; y quinto hijo de Francisco Guarro Milá (1701-1774) y de Teresa Fontanellas13. Desde niño
se dedicó a la actividad papelera, su padre construyó un molino papelero en 1745 en Capellades, y ponto
fue reconocida su labor junto a la de su hermano Francisco Guarro y Fontanellas al recibir en 1773 una
cédula Real del Rey Carlos III en la que destacaba el prestigio que tenía el papel artesanal que fabricaban
en Capellades. En esta Cédula recibieron varios privilegios y exenciones fiscales para que el papel que
ellos fabricaban, que era considerado en ese momento como el mejor que se fabricaba en España.
Incluso la calidad de su papel era mejor que el que se exportaba de Holanda14.

Ya antes de recibir esta distinción, Pedro Guarro se había trasladado a Madrid para servir de enlace con
su padre y hermano para de esta forma introducir su papel en la Corte. En Madrid hizo la función de
apoderado de la fábrica de la familia. Ya desde 1763 se sabe que los fabricantes de papel de Capellanes
enviaban a Madrid representantes, como fue el caso de Ramón Talavera i Dalmases. En Madrid estuvo
Pedro Guarro bajo la protección del impresor Antonio Sancha. Permaneciendo su hermano Francisco
Guarro en Capellades, dónde recibió antes de 1793 el encargo de hacer el papel para la impresión del
Atlas Marítimo Español, en concreto, una partida de papel de la marca imperial para la impresión de los
planos del mencionado atlas. Sin embargo, esta contratación resultado un fracaso para Francisco, que
murió en diciembre de 1793, y un hermano, Juan Guarro, reclamó el pago de esta partida en 8 de marzo
de 1794. Dejando claro que el papel que había hecho la casa Guarro de Capellanes no era de la calidad
adecuada para la impresión de ese libro15.El papel Guarro era utilizado en las imprentas madrileñas. En
1761 Francisco Guarro enviaba a Madrid papel blanco a Gabriel Ramírez, impresor en Madrid, para la
impresión de una obra sobre el Orden de Alcántara que había encargado el Real consejo de las órdenes16.
También Francisco y Pedro Guarro Fontanellas se encargaron de elaborar el papel para la edición de
varios libros destinados al infante Gabriel, hijo de Carlos III, en la imprenta de Ibarra17. Por último sabemos
que se utilizó papel de los Guarro en una edición que se hizo del Quijote por el impresor Joaquín Ibarra.

Pedro Guarro arrendó el molino del papel de Pastrana en 1774. Desde entonces permaneció en Pastrana
hasta su fallecimiento en 1802. Según su partida de defunción redactada en diciembre de 1802, en ese
momento tenía 64 años, por lo que debió de nacer en 1738 en La Puebla de Claramunt. Era hijo de
Francisco Guarro y Teresa Fontanellas. Se casó tres veces: La primera con Antonia Soler con la que tuvo
a Pedro Guarro Soler que nació en Madrid en 1769. En segundas nupcias casó con Francisca Franch

13 RAFEL GUARRO, Assumpta: Guarro. Una nissaga de paperers…,pág.21.

14 MADUREL Y MARIMON, Joseph María: El paper..,pág. 89; ORIOL VALLS Y SUBIRÁ: La historia del papel en España..,pp. 165 y ss.

15 GONZÁLEZ CASTRILLO, Ricardo:”Una partida de papel Guarro rechazada por defectuosa para la impresión del Atlas
Marítimo Español” en II Congreso Nacional de Historia del Papel en España, 1997, pp. 337-342.

16 MADURELL I MARIMON, : El paper…, I, pp. 341-342.

17 Ibídem…, I, p. 342.

270
con la que tuvo a Vicente Guarro Franch (1773-1842). Francisca era natural de Igualada, falleció el día
8 de mayo de 177818. En su poder para testar y testamento que otorgó su marido en su nombre, declara
que tuvo en su matrimonio un hijo Vicente Guarro, al que nombra como heredero universal. El poder para
testar lo firmó el 17 de abril de 1778, en el que decía ser hija de Jerónimo Franc e Inés Aribao. Declara
en ese momento que residía en el molino de papel de Pastrana: “Digo que por quanto la gravedad de mi
enfermedad, no me permite ni da lugar para hacer y otorgar mi testamento”19. En el testamento de Paula
Franc, realizado por Pedro Guarro en su nombre, el 22 de agosto de 1778, se ordenaba que su cuerpo
fuese sepultado en la capilla de San José de la iglesia colegial; además dejaba como heredero universal
a su único hijo: “a Vicente Guarro su hijo y del otorgante su marido para que los haia, goce y reciba”20.
Sabemos que su hijo Vicente Guarro Franch había nacido en Madrid, murió en La Pobla de Claramunt el
6 de marzo de 1842, a los 69 años de edad21.

Contrajo tercer matrimonio con Paula Graell el 24 de agosto de 177822. Según la escritura de capitulación
matrimonial que firmó el 27 de agosto de 1778, su esposa Rosa Graell llevaba como bienes al matrimonio
5.312 reales, mientras que los bienes que él proporcionaba sumaban 16.755 reales. Entre ellos podemos
mencionar un escudo de armas reales en tres reales, y varios efectos de papel y materiales para fabricarlo,
que se valoraron en 6.500 reales. También en especie de dinero y deudas a su favor 4.435 reales. Por
último tres pares de formas para hacer papel23. Tuvieron tres hijos Rafael Francisco, Narcisa Tadea y José
Domingo24. Sabemos que Rafael Guarro Graell fue fabricante de papel y nació en Pastrana en 1779;
contrajo matrimonio en 1799 con Teresa Caluc i Carbonella, natural de Barberá25.

Falleció Pedro Guarro el 5 de diciembre de 1802. Llama la atención, que tras una vida entera dedicada
a la fabricación de papel murió en la pobreza absoluta, pues no otorgó testamento por ser pobre y no
disponer de ningún patrimonio26.

18 Archivo Colegial de Pastrana ( en adelante A.C.P.), Defunciones libro 8 (1775-1793), folio 42-v..

19Archivo Histórico Provincial Guadalajara ( en adelante A.H.P.GU.), Protocolos Notariales, protocolo 5.614.Poder para tesar
de Paula Franc, mujer de Pedro Guarro. 27 de abril de 1778.

20 Ibídem.., Testamento de Paula Franc.

21 MADURELL I MARIMON, J.M.: El paper a les terres catalanes.., pág. 383.

22 A.C.P., Matrimonios, libro de 1747 a 1785, folio 292 r. 24 de agosto de 1778.

23 A.H.P.GU., Protocolos Notariales, protocolo 5614, 27 de agosto de 1778. Escritura e capital de bienes que otorgaron Pedro
Guarro y Rosa Graell, su mujer.

24 A.C.P., Nacimientos, libro de 1776 a 1790. En el folio 110r. 30 de octubre de 1779 (Rafael Francisco Antonio y Pablo), en
el folio 160v. Narcisa Tadea el 29 de octubre de 1781 y en el folio 22v. a José Domingo, en 20 de marzo de 1784.

25 MADURELL I MARIMON,J.M. : El paper…, Tomo I, pág. 382.

26 A.C.P., Defunciones 9, años 1793 a 1819, folio 132r-v, 5 de diciembre de 1802.

271
En 1774 arrienda Pedro Guarro el molino papelero del duque de Pastrana por un período de cuatro
años, formando compañía con el mercader de libros madrileño Antonio de Sancha27. Esto indica que
Guarro estaba muy bien organizado y conocía con detalle cómo era el funcionamiento de la industria
papelera, asociándose con un mercader de libros para vender el papel que se va a producir en Pastrana
en la Corte28. Igualmente, Guarro, hace un contrato de arrendamiento meticuloso cuidando todos los
detalles, en el que se incluía una condición, en la que señala que si el molino por falta de agua no pudiera
mover los mecanismos para la fabricación de pasta de papel, los días que estuviera parado tendrían que
descontarse del precio del arrendamiento.

Desconocemos cuantos miembros de la familia Guarro vinieron con Pedro Guarro hasta Pastrana. En las
averiguaciones que hace Larruga, se dice sobre la fábrica de papel:

“la única fábrica que hay en la provincia de Madrid, existe en la villa de Pastrana. Está situada fuera de
los muros; pertenece al duque del Infantado; y la tiene arrendada a un catalán, que fábrica papel de todas
clases”29.

No sabemos si Pedro Guarro continuó en la fábrica hasta que en 1789 fue arrendada por Jaime Guarro,
quién volvió a renovar su contrato de arrendamiento en 1794 y 1798. Es posible que siguiera trabajando
en esta fábrica como asalariado o en compañía de Jaime Guarro.

Jaime Guarroera hijo de Lorenzo Guarro y Francisca Clavet, y nieto de Juan Guarro Fontanellas (1738-
1800) que se casó con Isabel Marí30. Juan Guarro estuvo trabajando en el molino de Constantí durante
varias temporadas hasta que fue llamado por su hermano Mayor Francisco para que regresase a La
Pobla de Claramunt31.

Sus padres se habían trasladado desde Tarragona a trabajar el molino de la familia Goyeneche (Orusco),
en la década de los años sesenta. Heredó de sus padres la cuarta parte de un molino de papel que
poseían en Ambite, pasándose desde Pastrana a trabajar a este molino, donde todavía lo hacía en 1805.

En 1798 todavía continuaba la familia Guarro en el molino papelero de Pastrana, en ese año es Jaime
Guarro el que lo arrienda por un período de cuatro años. En una de las condiciones del arrendamiento se
menciona, junto con sus hermanos tenían la cuarta parte del molino de papel situado en Ambite, dice así
esta condición:

27 A.H.P.GU., Protocolos Notariales, Protocolo 5.613, e.p. Dionisio García Márquez.

28 A.H.P.GU., Protocolos Notariales, e.p. Dionisio García Márquez, 4 de marzo de 1774, folios 55r-56v.

29 LARRUGA, Eugenio: Memorias políticas y económicas sobre los frutos, comercio, fábricas y minas de España. Tomo III: “
que trata de las fábricas de curtidos, sombreros, papel, abanicos, tintes, coloridos, jabón, loza, abalorios, imprentas, librerías
y fundiciones de la provincia de Madrid”. Madrid, 1778, pág. 113.

30 RAFEL GUARRO, Assumpta: Guarro. Una nissaga de paperers…,pág. 26.

31 Ibídem, pág. 26

272
“Que por fianza ha de aportar el otorgante medio año adelantado, que son mil trescientos reales y han
de ser estos como los demás pagos, siendo siempre uno adelantado los ha de hacer en la tesorería
General de su Excelencia en Madrid o en el mayordomo que está en Pastrana, que se o fuere donde más
le acomode a este arrendador quien así mismo hipoteca para la condición segunda de esta escritura, la
quarta para que tiene junto con sus hermanos en el molino de hacer papel suio en la margen del río Tajuña
en la villa de Ambite”32.

Jaime Guarro abandonó el molino de Pastrana, instalándose en el de Ambite, del que era propietario junto
a otros miembros de la familia Guarro de su cuarta parte33. Es posible que los Guarro abandonaran el
molino de Pastrana al encontrarse demasiado antiguo y con maquinaria rudimentaria. Según don Mariano
Pérez y Cuenca, en su Historia de Pastrana, el duque del Infantado don Pedro Alcántara de Toledo, en los
últimos años del siglo XVIII había modernizado la fábrica de papel; señalado además que él vio un sello de
esos años en el que se podía leer que se denominaba como Real Fábrica34. Don Mariano debe referirse
al XIII duque del Infantado don Pedro Alcántara de Toledo y Salm-Salm (1768-1841) que se preocupó por
el comercio y la industria de sus estados35. Sin embargo ésta modernizando la fábrica no se realizó hasta
1805, circunstancia que explica que la familia Guarro abandonase Pastrana antes de esa fecha.

Mientras que en Ambite, según el censo de manufacturas de 1784, había una fábrica propiedad de don
Francisco Llovet que contaba con ocho oficiales y producía 1.800 resmas al año36. Unos años después,
Eugenio Larruga (1790), escribe también los mismos datos sobre este molino, recordando que era
propiedad de Francisco Llovet, y se fabricaban anualmente unas 1.800 resmas de papel blanco común,
donde trabajaban un total de ocho oficiales. Éste molino desapareció a principios del siglo XIX37.

En la cercana fábrica de papel de Orusco también hubo miembros de la familia Guarro. En concreto,
algunos de ellos tuvieron en arrendamiento el molino de Papel de los Goyeneche desde 1775 con el de
esta fábrica por Lorenzo Guarro. Aunque hicieron su presencia en este molino como asalariados algunos
años antes. En 1767 tenemos documentada la presencia de Lorenzo Guarro Llovet como maestro de sala
en el molino de Orusco y nombrado por la condesa de Salceda – su propietaria – tasador del valor del

32 A.H.P.GU., Protocolos Notariales, e.p. Dionisio García Marque, 2 de abril de 1798.

33 Ibídem.., 2 de abril de 1798.

34 GAYOSO CARREIRA, Gonzalo: Historia del papel en España, op., cit., tomo I, pág. 85.

35 PÉREZ Y CUENCA, Mariano: Historia de Pastrana… , pág. 48. Sobre la figura del XIII Duque del Infantado, véanse:
ARTEAGA Y FALGUERA, Cristina de: La Casa del Infantado cabeza de los Mendoza. Madrid, 1994, tomo II, págs. 230-254;
MOXO, Salvador de: “El Duque de Infantado don Pedro Alcántara de Toledo y Salm-Salm” en Hispania, Vol. 37, nº137, 1977,
pp. 569-600; CARRASCO MARTÍNEZ, Adolfo: “El XIII Duque del Infantado, un aristócrata en la crisis del antiguo Régimen” en
Estudios de Genealogía, Heráldica y Nobiliaria, 2006,pp 305-335; VELASCO GARCÍA, Angélica y POZO LORITE, Raquel: El
final del XIII duque del Infantado. Visión Libros, Madrid, 2008.

36MIGUEL LÓPEZ, Isabel: Perspicaz mirada sobre la industria del Reino. El Censo de Manufacturas de 1784. Secretaria de
Publicaciones e intercambio editorial. Universidad de Valladolid, Salamanca, 1999, págs. 41-42 y 273.

37 GAYOSO CARREIRA, G.: Historia del papel en España, op., cit., Vol. I, pág.87.

273
molino de los Goyeneche38. Esto nos hace pensar que los Guarro llegaron al molino de los Goyeneche
llamados por esta familia o traídos a propósito para fabricar papel en Orusco. Recordemos que la familia
Goyeneche tenía el privilegio de editar la Gaceta de Madrid y para ello empleaba papel que fabricaba en
su propia fábrica. A mediados el siglo XVIII, el Estado deseaba hacerse con el control de esta publicación,
siendo criticado el conde de Saceda por la poca calidad que tenía el papel que se empleaba en la Gaceta.
La ordenanza de imprentas de 1752, decía que las impresiones de libros y gacetas se debían de hacer con
papel fino semejante al producido en Capellades39. Esto hizo que el conde de Saceda trajese maestros
papeleros catalanes a su fábrica de Orusco. En 1753 estaba haciendo negociaciones para traerlos hasta
Orusco, dio poder a favor del marqués de Palacio, residente en Tarragona: “para que por mi nombre y
en mi nombre ajuste concierto y contrato con qualquier maestro fabricante de papel “. Todavía debieron
de tardar unos años en llegar estos maestros catalanes a Orusco; pues de nuevo el conde de Saceda
recibió más críticas en 1756 por la mala calidad que tenía el papel con que se editaba la Gaceta de
Madrid, que no cumplía los requisitos de la ordenanza Real de 1752. Fue denunciado el conde de Saceda
por el Impresor Joaquín Ibarra por no cumplir la mencionada ordenanza de imprentas de 175240. Este
problema se solucionó con la llegada de maestros papeleros catalanas, pero las quejas sobre la edición
de la Gaceta se fueron incrementando, y el consejo de Castilla, a partir de 1755, intentó ir quitando estos
privilegios a la familia Goyeneche. En enero de 1760 se pidió información sobre el privilegio que tenía
la familia para la edición de la Gaceta, y en 1762 se decide pasar la edición de la Gaceta a la Imprenta
Real y dar por nulo el privilegio de edición que posee la familia Goyeneche, dando como compensación
por esta pérdida 700.000 reales sobre la renta de Correos41. De esta forma se perdió por el marqués
de Belzunce un privilegio que suponía un beneficio anual de ochenta mil reales42; circunstancia que
repercute negativamente sobre la fábrica de papel, de donde salía el papel para la edición de La Gaceta
de Madrid43. Sin duda, la pérdida del privilegio y la muerte del conde de Saceda en 1762, fueron algunas
de las razones que hicieron que la familia Goyeneche se desentendiese de la administración directa
de esa fábrica, y unos años después, en 1767, la pusieron en arrendamiento a un particular. El primer
arrendamiento que conocemos de la fábrica de los Goyeneche a particulares se efectuó el 30 de enero
de 1767. En esos momentos pertenecía a don Juan Javier de Goyeneche Indaburu, marqués de Velunze
y conde de Saceda. En la carta de arrendamiento, se puede leer:” que da en renta y arrendamiento el
expresado molino para fabricar papel, que está en la ribera del Tajuña, jurisdicción de la villa de Orusco,

38 Archivo Histórico Protocolos Madrid (en adelante A.H.P.M.), e.p. Cosme Damián de los Reyes, protocolo 16.074, folios
11r.14r.Escritura de 5 de enero de 1768.

39 GARCÍA DE CUADRADO, Amparo: ”Algunos papeles empleados por el impresor Ibarra y sus filigranas” en Actas del II
Congreso Nacional de Historia del Papel en España. Cuenca, 1997, págs. 307-315.

40 GAYOSO CARREIRA, Gonzalo: Historia.., I, pp. 92-94.

41 CARO BAROJA, J.: La hora Navarra del siglo XVIII. Un caso histórico singular. Pamplona, Diputación Foral de Navarra.
1968, pág. 188.

42 AQUERRETA, Santiago: Negocios y finanzas en el siglo XVIII: la familia Goyeneche. Eunsa Ediciones. Universidad de
Navarra. Pamplona, 2001, págs. 159-161.

43 CARO BAROJA, J.: La hora Navarra del siglo XVIII ....,, pág. 185.

274
con su máquina, huerta, árboles frutales de ella, la alameda y demás peltrechos pertenecientes dél” a
favor de don Joaquín de Aguirre, contador general de la Real Renta del Plomo, vecino de Madrid, por
tiempo de ocho años y en precio en cada uno de ellos de seis mil reales de vellón44. Aguirre era miembro
de una familia de asentistas que se había relacionado con los Goyeneche desde comienzo de siglo. Don
Joaquín Aguirre tomó en 1746 el asiento de la Renta del estanco del plomo hasta 1748 que es nombrado
contador “ para la administración, beneficio y cobranza del estanco del plomo, alcohol, desplome y deuda
de ocava y quintas “ pertenecientes a la Real Hacienda. Don Joaquín Aguirre no cumplió todo el tiempo
de su arrendamiento que duraba hasta el 31 de diciembre de 1774, sino que antes, el 4 de diciembre
de 1768, lo traspasó a don Pedro Pérez de Lema, siendo confirmado este traspaso por escritura de 5
de enero de 1769. Don Joaquín de Aguirre manifestó que las ocupaciones que tenía como asentista y
contador de la Real Hacienda impedían que pudiese atender la administración de la fábrica del papel: “
dijo está a su cargo por arrendamiento del molino para fabricar papel que se halla en la ribera de Tajuña,
jurisdicción de la villa de Orusco por tiempo de ocho años que empezaron a correr en primero de enero
del año pasado de mil setecientos sesenta y siete, y espiraran en treinta y uno de diciembre de el de
mil setecientos setenta y quatro .... Y respeto a que las ocupaciones y gravedad de encargos en que se
halla empleado dicho Don Joachin de Aguirre no le dan tiempo para cuidar de este negocio que requiere
una continua asistencia y que de hacerlo le puede ser perjudicial a sus intereses, tiene resuelto ceder el
predicho arriendo en favor de don Pedro Pérez de Lema, vecino de esta villa“45.

En el arrendamiento que se firmó en 30 de enero de 1767, se hizo un inventario de la fábrica de papel.


Este inventario se realizó por Lorenzo Guarro Clavet, en esos momentos oficial de Sala, en nombre de la
condesa de Saceda y por Santiago de Heras, administrador y apoderado de don Joaquín de Aguirre. En
el inventario encontramos con todo detalle la maquinaria y objetos con que contaba una fábrica de papel
en la segunda mitad del siglo XVIII. El inventario está dividido en once pequeños apartados, dedicando el
último a los instrumentos o maquinarias.
1. Cuartos para el servicio de los oficiales. Se trataba de dos cuartos o habitaciones en los que
había instalados diez camas, circunstancia que indicaba en las condiciones poco higiénicas en que
vivían los oficiales que trabajaban en el molino.
2. Cuarto del administrador.
3. Cuarto del zarzo. El zarzo era un utensilio grande de superficie plana de mimbre o juncos,
como una especie de red.
4. Cuarto de la caldera.
5. Cuarto del mirador donde se encola y seca el papel

44 A.H.P.M., Protocolo 16.072, e.p. Fernando Calvo de Velasco, 30 de enero de 1767, folios 33r-37r. Arrendamiento de don
Sebastián de Indaburu, en virtud de poder de la señora doña María Antonia de Indaburu a favor de don Joaquin de Aguirre
quien lo acepto.

45 A.H.P.M., Protocolo, 16.074, e.p. Cosme Damían de los Reyes, 5 de enero de 1769, folios 1 4 a 14v. Continuación del
arriendo de doña Maria Antonia de Indaburu a favor de don Pedro Pérez de Lema y su fiador don Antonio de Aller.

275
6. Mirador encima de las pilas
7. Cuarto donde esquinzan el trapo. Era una habitación donde estaba el esquinzador y donde se
pone el trapo para esquinzarlo.
8. Sala donde se cuenta y corta el papel.
9. Almacén de existencia de papel. En ese momento la fábrica tenía almacenado varios tipos
de papel: papel para muchachos (papel para ser utilizado en escuelas públicas para escritura de
niños), papel sin cortezas, papel de esquilla (papel en cuartillas), papel de imprenta, papel sin
encolar, papel quebrado, papel de pasta y papel fino.
10. Carpintería.
11. Máquina o maquinaria de que disponía la fábrica. En donde se indica que el molino tenía cinco
ruedas con sus árboles, treinta pilas de piedra con sus marzos, llaves, trenezos, teleras, espolones,
cabestrillos y capellos.

Por tanto en enero de 1767 ya estaba Lorenzo Guarro Clavet trabajando en el molino de Orusco
de los Goyeneche. Es posible que los Guarro llegasen unos años antes a este molino. Durante
el periodo de años de 1754, en que el conde de Salceda da poder al marqués de Palacio, vecino
de Tarragona y el 1767, llegaran a Orusco para trabajar como asalariados en la fábrica de los
Goyeneche. Recordemos que el molino de Centcelles (Constanti, en Tarragona) estaba regentado
por miembros de la familia Guarro, en concreto en 1715 falleció allí Jaime Guarro y entre los años
de 1763 y 1767 está documentada la presencia en Costanti del maestro Juan Guarro Fontanellas,
hermano de Pedro, maestro papelero que ejerció en Pastrana46. Es por tanto posible que Lorenzo
Guarro, de quién no sabemos el nombre de sus padres, y que arrienda el molino de los Goyeneche
en 1776, fuese hijo de algunos de estos dos maestros papeleros que ejercen en Tarragona, y se
trasladase desde allí a Orusco. Por tanto los primeros Guarro que llegaron a Madrid procedían de
Tarragona y no de los afincados en la Torre de Claramunt y entorno (Gélida, Capellades, Carme y
Pobla de Claramunt).

Recordemos que en Orusco hubo dos fábricas de papel, una la de Arriba de los Goyeneche, y la otra
la de Abajo que había sido fundada en 1733 por el catalán don José de Solernou47. Ambas situadas
en la ribera del Tajuña, muy cerca una de otra. La fábrica de Solernou estaba compuesta por cuatro
ruedas, dos tinas y cuatro pilas con tres mazos cada una. En ella se fabricaba cada año 4.000
resmas de papal. En 1764 pasa a propiedad de José Gozque y a la muerte de éste, en 1777, a su
viuda María del Olmo y posteriormente a su hijo Francisco Gozque48. En el censo de Manufacturas de

46 SANCHEZ REAL, J.: “Jaime Guarro, papelero en Centcelles-Constanti (Tarragona)…, pág. 352.

47 GAYOSO CARREIRA, G.: Historia de papel en España., op., cit., vol.I, págs. 94-96. También sobre este asunto, HIDALGO
BRINQUIS, María del Carmen.” La fabricación de papel en la provincia de Madrid” en Cuadernos de Estudios, 21,2007,
Revista de Investigación, Año XVIII, marzo de 2007, págs. 107-108.

48 HIDALDO BRINQUIS, María del Carmen:”La fabricación de papel.., págs. 107-108. También sobre este asunto: NIETO
SÁNCHEZ, José A. y LÓPEZ BARAHONA, Victoria: Ambite de Tajuña: …, pág. 113.

276
1784 se decía que esta fábrica pertenecía a Francisco Celestino Bozque y contaba con 11 oficiales
y también empleaba a ocho mujeres, su producción anual era de 4.000 resmas49.

La fábrica de los Goyeneche, perteneciente al conde de Saceda, estuvo arrendada por la familia Guarro,
aunque no sabemos el año exacto en que llegaron a esa fábrica. Se sabe que cuando se hicieron unos
reparos en la presa de la fábrica de papel en 1776, estaba arrendada por Lorenzo Guarro. No se sabe el
año exacto en que se traslada Lorenzo Guarro a Madrid, aunque ya debía de estar en Orusco antes de
1767. En 1776 pagaba un arrendamiento anual de 9.000 reales. Lorenzo Guarro era natural de Capellades
y estaba casado con doña Francisca LLovet50. Según el testamento de su hijo Segismundo, sus padres
se casaron en la Puebla de Claramunt, donde él había nacido. El matrimonio Guarro-Llovet dispuso de
cierto patrimonio al poder dar estudios en la universidad de Alcalá a su hijo Segismundo en los años 1775-
177651. En el testamento conjunto que firmaron Segismundo Guarro y Llovet y su esposa Doña Antonia
Fernández de Geremiña el 4 de mayo de 1787, se puede leer que Segismundo era abogado del ilustre
colegio de Madrid. En esos momentos su padre, Lorenzo Guarro, había fallecido y dejaba como heredera
de sus bienes a su madre doña Francisca Llovet, al no tener todavía descendencia52.

El arrendamiento de esta fábrica fue traspasado el 13 de enero de 1777 por Lorenzo Guarro a sus hijos
Lorenzo y Juan Guarro Llovet. Según se lee en la escritura notarial, en ese momento Lorenzo Guarro que
era de avanzada edad y no estaba ya capacitado para cumplir en su totalidad el contrato de arrendamiento
del molino que se concluía en diciembre de 1778. El nuevo titular del arrendamiento Lorenzo Guarro
El Menor, según el censo de Manufacturas de 1784 regentaba la fábrica del conde de Saceda y tenía
a su cargo 12 oficiales, fabricando anualmente 4.000 resmas de papel53. Estos mismos datos son
proporcionados por Eugenio Larruga en 179054. Antes de finalizar el siglo XVIII, los Guarro abandonaron
la fábrica de Papel y se pasaron a trabajar al molino del papel de Ambite que había pertenecido a su
abuelo, Francisco Llovet. Igualmente, ocurrió con algunos de los Guarro que regentaba el molino de
Pastrana, pasando unos a Ambite y otros al molino papelero de Gárgoles de Abajo.

Algunos miembros de la familia Guarro se pasaron desde las fábricas de Pastrana y Orusco a la de
Ambite. En Ambite poseía una fábrica de papel otro catalán don Francisco Llovet, natural de Pierola,
obispado de Barcelona, que fue heredada por Francisca Llovet, mujer de Lorenzo Guarro el Mayor.

49 MIGUEL LÓPEZ, Isabel: Perspicaz mirada sobre la industria del Reino. El Censo de Manufacturas de 1784….,págs. 41-42
y 273.

50 MADURELL I MARIMON, M.J.: El paper a les terres catalanes…, pág. 381.

51 A.H.N., Universidades, libro 566, folio 279.

52 AHPM, Protocolo 20603, folios 165r-169v. Madrid, 4 de mayo de 1787.

53MIGUEL LÓPEZ, Isabel: Perspicaz mirada sobre la industria del Reino. El Censo de Manufacturas de 1784…,pp. 41-42 y
273.

54 GAYOSO CARREIRA, G.: Historia del papel en España, op., cit., vol. I, pág. 94.

277
Lorenzo Guarro el Mayor, al heredar su madre la fábrica de Ambite, tras el fallecimiento de don Francisco
Llovet, se pasó con sus hermanos a la fábrica de Ambite. Lorenzo Guarro era natural de Capellanes y se
había casado antes de venir a Madrid en la Puebla de Claramunt con Francisca Llovet, natural de Pierola55.
En este matrimonio tuvieron cuatro hijos: Jaime, Lorenzo, Juan y Segismundo. En 1784, ya fallecido
Francisco Llovet, se decía por el párroco de Ambite, Andrés Santos González, en las Descripciones del
Cardenal Lorenzana, sobre el mencionado molino:

“Dentro del pueblo hay una fábrica de papel construido por Lorenzo Guarro de nación catalán, de la que
se sacan anualmente dos mil quinientas resmas”56.

Los hermanos Guarro-Llovet invirtieron en la fábrica de Ambite, ampliando sus instalaciones y aumentando
su producción, pasando de 1.800 resmas anuales a 2.500. En 1790, ya fallecido Lorenzo Guarro el
Menor, pasó la propiedad de esta fábrica a doña Francisca Llovet y estaba regentada por Juan Guarro.
En esos momentos se fabricaban 1.800 resmas de papel blanco y ocupaba a ocho oficiales57. En 1800
la fábrica era dirigida por Juan Guarro58. Se ha conservado un plano en el archivo de la Real Chancillería
de Valladolid de la presa del molino papelero de Juan Guarro, en Ambite59. Este plano fue realizado en
1800 como consecuencia de un pleito que tuvo Juan Guarro junto a la viuda de Segismundo Guarro,
hermano de Juan, contra Miguel Venceslao Díaz Domínguez, presbítero, vecino de Alcalá de Henares,
sobre ciertas condiciones que Juan Guarro no había cumplido al realizar la obra de la presa del molino60.
Sabemos que todavía en 1805 el molino estaba dirigido por Jaime Guarro, hijo también de Lorenzo
Guarro El Menor, que estuvo regentando la fábrica de Pastrana hasta 1801, pasando desde allí a dirigir
la de Ambite. Aunque pocos años después la familia Guarro debió de abandonar el molino Ambite por
problemas jurídicos derivados del aprovechamiento del agua del río Tajuña.

También tenemos a otros miembros de la familia Guarro trabajando en la fábrica de Gárgoles de Arriba de
don Santiago Grimaud. En 1814 estaba trabajó en ella Vicente Guarro que estaba casado con María Pons
con la que tuvo un hijo llamado Luís. Este Vicente Guarro era hijo del maestro papelero Pedro Guarro,
que como hemos mencionado, estuvo trabajando en el molino de Pastrana.

55 CARO BAROJA, J.: La hora Navarra del siglo XVIII …, págs. 115-121; NIETO SÁNCHEZ, José A. y LÓPEZ BARAHONA,
Victoria: Ambite de Tajuña…. pág. 113. En especial págs. 108 a 114.

56 Biblioteca Regional de Toledo, Colección Lorenzana. Manuscrito 84, folio 476r.

57 GAYOSO CARREIRA, G.: Historia del papel en España..,Vol. I, pág. 87.

58 A.R.CH.V., Planos y dibujos, 717. Planta y sección de la presa y molino de papel propiedad de Juan Guarro, sobre el río
Tajuña en Ambite (Madrid). Año 1800.

59Sobre esta presa puede consultarse FERNÁNDEZ ORDÓÑEZ, J.A. (dir.): Catálogo de noventa presas y azudes españoles
anteriores a 1900. Madrid, 1984, págs. 280-285.

60 A.R.Ch.V., Registro de ejecutorias, caja 3762, exp. 2. Ejecutoria del pleito litigado por Miguel Wenceslao Díaz Domínguez,
presbítero, vecino de Alcalá de Henares, con Antonia Fernández, viuda de Segismundo Guarro, vecina de Madrid, y Juan
Guarro, vecino de Ambite, sobre cumplimiento de una escritura para la reparación de una presa de un molino.

278
Vistos todos estos datos disponibles sobre los miembros de la familia Guarro en los alrededores de
Madrid, podemos concluir este trabajo diciendo que mantuvieron una fuerte endogamia entre ellos con
enlaces matrimoniales entre catalanes. Aunque estuvieron muy activos en la segunda mitad del siglo
XVIII, la precaria situación económica de las primeras décadas del siglo XIX, fue causa que abandonaran
los molinos papeleros y se trasladaran de nuevo a Cataluña.

A lo largo de la segunda mitad siglo XVIII, aprovechando las franquicias y exenciones fiscales concedidas
por la Corona, llegan desde Barcelona varias familias a trabajar en la industria papelera en las cercanías
de Madrid. Es el caso de José Solernou (Orusco), Lorenzo Guarro (Orusco), Pedro Guarro (Pastrana)
y Francisco Llovet (Ambite). A los que se unen otros apellidos como Franc y Clavet. En el caso de los
Guarro, estuvieron activos en los molinos papeleros de las cercanías de Madrid desde aproximadamente
1767 hasta los primeros años del siglo XIX.

Por último, creemos que la búsqueda de papel de calidad para la edición de la Gaceta de Madrid, movió
al conde de Saceda a traer a su molino papelero de Orusco a los primeros miembros de la familia Guarro
que tenemos documentados en las cercanías de Madrid.

Apéndice documental

Documento.

1767, enero 30. Madrid.

AHPM, 16.074, Fernando Calvo de Velasco, 30 de enero de 1767. Folios 7-14.

Inventario de la fábrica de papel de Orusco perteneciente a lafamiliaGoyeneche realizado en 1767.

“Ynventario de los bienes muebles, omenage de Casa, peltrechos, que están en la casa y molino de
fabricar papel, que está en la rivera de Tajuña, jurisdicción de la villa de Orusco, que pertenece al señor
don Juan Xavier de Goyeneche Yndaburu, marqués de Belzunce, conde de Sazeda, como poseedor
del primero y segundo mayorazgo, que fundo el señor don Juan de Goyeneche, que se ha executado
en fuerza de lo capitulado en la escritura a treinta de Henero de mil setezientos setenta y siete ante
Fernando Calvo de Velasco, escrivano de su Magestad, por don Sebastián de Yndaburu en virtud de
poder expecial como madre tutora y curadora de la persona y bienes de dicho señor donJuan Xavier
de Goyeneche a favor del señor don Joaquín de Aguirre, contador general de la Real Renta del Tabaco
por el tiempo, precio, calidades y condiciones, que contiene la citada escritura, que la aceptó: que se ha
executado y apreciado por personas de nuestra satisfazión con asistencia de nosotros Lorenzo Guarro y
Llovet, maestro de sala en dicho molino en nombre de la señora condesa de Sazeda, y de don Santiago
de Heras, administradores de dicho Molino en nombre del enunciado don Joaquín de Aguirre en la forma
siguiente.

279
Primeramente en dos quartos que tiene dicho molino para el servicio de los oficiales se hallan diez camas
con sus tablas, y banquillos correspondientes: siete mesas de pino, las dos de ellas con su cajón, y todos
se hallan con sus puertas, cerraduras y llaves usuales y corrientes.

Quarto del administrador.

Yten dos mesas grandes de pino; la una con tres divisiones con cerradura, y llave: tres bancos grandes de
respaldo; un tajo; dos camas de pino con sus banquillos; un calentador de cobre; una tejana para azeyte,
que cave diez arrovas poco más o menos; dos planchas viejas de picar trapo; y siete candiles.

Quarto del zarzo

Ytten un torno, que sirve para tornear el trapo, y dos zarzos con dos cajotes, donde se echa el trapo, todo
usual y corriente.

Quarto de la caldera.

Ytten una prensa para prensar el papel corriente con todo lo necesario, y que le corresponde: un pilón de
piedra labrada donde se pone la cola de escurrir; una caldera grande donde se cueze la cola de medio
debajo de cobre; y de medio arriba de madera bien tratada, y sin remendar, embutida en su sitio; un cazo
grande de cobre con mango de hierro que pesa quatro libras, y sirve para sacar la cola; una orquilla de
yerro , que sirve para meter la leña en la ornilla; una batidera de yerro para sacar la ceniza de dicha ornilla;
una escalera de madera para bajar a labar la caldera; una bañadora de madera, de bara en alto y ancho
para mojar el papel; un mortero grande de piedra, que sirve para moler la piedra lumbre y en la puerta de
la ornilla tres planchas de yerro viejas.

Quarto del mirador donde se encola y seca el papel.

Ytten cinquenta y seis tesillos encordados con sus cuerdas usuales, y corrientes; quatro bancas altas
donde se pone el papel, para amañir; quatro bancos altos largos para alcanzar a las cuerdas más altas; seis
banquillos más pequeños que los antecedentes; tres bancos más bajos y tres banquillos para sentarse.

Mirador encima de las pilas.

Ytten quarenta y dos besillos con buena madera y sus cuerdas correspondientes: quatro bancas, dos
grandes, y dos pequeñas, y dos bancos largos, y así este mirador como el anterior se hallan con sus
puertas, ventanas, correderas con lado y a otro corrientes.

Quarto donde esquinzan el trapo.

Ytten siete cajones de madera de pino bien compuestos para echar el trapo, que esquinzan.

280
Sala donde se quenta y corta el papel.

Ytten tres prensas que están sostenidas de quatro piernas; tres usillos; tres hembras con todos sus
peltrechos correspondientes las que se hallan usuales y corrientes; una mesa de pino, que da vuelta
a lasdos paredes de norte y poniente, de bara en ancho, con ocho pares de pies, otra mesa de pino de
nuebe pies de largo, y cinco plamos de ancho; que sirve para raspear el papel. Ytten tres rallos, los dos
de yerro y el uno de [h]oja de lata,y dos cuchillos grandes de cortar.

Existencia de papel.

Ytten setenta y cinco resmas de papel de muchachos sin cortezas.

Ytten quatro resmas de papel de muchachos de esquinilla.

Ytten diez resmas y media de papel quebrado.

Ytten sesenta y quatro resmas de papel de imprenta sin encolar.

Ytten ochenta y cinco resmas y media de papel de muchachos sin encolar.

Ytten doze manos de papel de imprenta sin encolar.

Ytten nuebe tarcas y seis resmas de papel de imprenta.

Ytten veinte y seis remas de pasta para papel de muchachos.

Ytten cinquenta y quatro resmas y media de papel fino.

Ytten un par de tixeras grandes de yerro de cortar papel.

Ytten quatrozientos y diez y siete arrobas de trapo a precio.

Ytten dos romanas grandes y otra pequeña.

Ytten una canal de madera de dos piezas para donde se conduze el agua desde la fuente a la caldera de
la cola.

Ytten cinco pares de formas. Las dos de marquilla y los tres comunes todas nuevas.

Ytten una para cartones imperiales.

Ytten diez y ocho pares de formas de diferentes marcas de poco servicio.

281
Carpintería.

Ytten tres sierras,una brazera, y las dos de mano, una más chica que la otra.

Ytten seis barreñas: las dos para guijos, y las cuatro cabriales para teleras.

Ytten quatro barreñas: dos de ochavo, y dos de quarto.

Ytten tres formones: el uno grande, y los dos más pequeños.

Ytten una cotana.

Ytten una escofina; una triangulo sin punta y una mazita de yerro.

Ytten un zepillo; un barrilete pequeño; un cortabon esquadra de madera, y una prensilla y dos bancos.

Ytten dos camones labrados, y un usillo de prensa.

Ytten una escalera de mano.

Ytten una cobrilla para serrar madera; un mazo de madera; una piedra de moler con su cigüeña; una
funtera de encina.

Ytten tres aros de yerro para la máquina, y que pesan 32 libras y media; dos guijos de yerro, que pesan
57 libras una barra y dos planchas para el machete.

Ytten dos yerros para garlopa; otro para guillome, una acha; una azuela de mano; un martillo pequeño de
orejas.

Máquina.

Ytten cinco ruedas con sus árboles; treinta pilas de piedra con sus mazos, llaves, trenezos, teleras,
espolones, cabestrillos, capelos, y los demás pertrechos correspondientes, todo usual y corriente.

Ytten diez palomillas nuevas de bronze.

Ytten otras tres viejas.

Ytten tres pilones de piedra para tener agua de prevención.

Ytten dos peroles de cobre con sus asas, cerco y clavos de yerro para vaciar las pilas.

Ytten dos mesadoras de yerro par rebolver la pasta en la pila.

282
Ytten cinco cubos de maderas, con dos arcos de yerro cada uno, para sacar la pasta de las pilas; un
macho y plande yerro para batir el papel con un cabestrillo, y tres cercos de yerro, que pesan treinta y dos
libras.

Dos azadones anchos; una almádena grande de yerro; un martillo grande yerro

Ytten dos tinas de piedras con sus calderillos de cobre, prensas, y todos los instrumentos necesarios para
trabajar en ellas.

Ytten dos postas de sayales nuevas.

Ytten otra tina de piedra sin pertrechos alguno

Ytten una caldera de cobre de tinte, que cabra a catorze arrobas de agua.

Todos los quales dichos bienes muebles, omenage de casa, pertrechos, papel, géneros y arboles
contenidos en este inventario han sido preciados por personas inteligentes, que aproamos cadauno
ennombre de nuestras partes, los quales pertenecen a dicho señor donJuan Xavier de Goyeneche, los
quales yo don Gerónimo López de Mesa apoderado de mi ama, la señora condesa de Sazeda, entrego
al don Pedro Pérez de Lema como apoderado del señor don Joaquín de Aguirre, y en su nombre al dicho
Santiago de las Heras, residentes en dicho molino, quien los recivió todos ellos en la forma que contiene
cada partida, de que da el recibo, y resguardo que se necesitare en este caso, y conforme a lo capitulado
en la citada escritura de arrendamiento, que en favor de dicha señora doña María Antonia de Yndaburu
como tal madre tutora y curadores de dicho señor don Juan Xavier de Goyeneche y firmamos dos; uno
para cada parte. La Condesa de Saceda. Joaquín de Aguirre”.

BIBLIOGRAFÍA GENERAL

BALMACEDA, José Carlos: Los batanes papeleros de Málaga y su provincia. Málaga, Servicio de
Publicaciones, 1998.
-: La contribución genovesa al desarrollo de manufactura papelera española. Cahip. Málaga, 2005.
BURNS, Robert I.: El papel de Xátiva. Xátiva, 1999.
GARCÍA LÓPEZ, Aurelio: “La fabricación de papel en Pastrana (Guadalajara), siglos XVI-XIX” en Actas
del II Congreso Nacional Historia del Papel en España, Cuenca, 9-12 julio de 1997. Madrid, 1997. Edición
de la Diputación de Cuenca, Área de Cultura, Cuenca, 1997, págs. 365-375;
-”La fabricación de papel en Guadalajara. El molino papelero de Pastrana (siglos XVII-XIX)” en Cuadernos
de Etnología de Guadalajara, nº29, Guadalajara, 1997, págs. 311-322.
- “Las fábricas de papel del río Cifuentes” en BERMEJO BATANERO, Fernando y GARCÍA LÓPEZ,

283
Aurelio: Los molinos y las fábricas de papel del río Cifuentes. Ediciones Bornova, Guadalajara, 2012,
págs. 139-254.
-“Juan de Goyeneche y su proyecto industrial en la Alcarria: el molino de papel de Orusco” en Actas del X
Congreso Nacional de Historia del Papel. Madrid, 26-28 de junio de 2013. Edita Asociación Hispánica de
Historiadores del Papel. Madrid, 2013, págs. 433-463.
-Don Juan de Goyeneche. Un hombre de negocios y financiero al servicio de la monarquía en los reinados
de Felipe IV y Carlos II. Edita Asociación Patrimonio Histórico Nuevo Baztán. Madrid, 2014.
- “Dos iniciativas privadas para el desarrollo de la industria papelera en Madrid durante la Edad Moderna:
las fábricas de papel de D.Francisco Garnica en Silillos (Valdetorres de Jarama) y de D. Juan Goyeneche
en Orusco” en Actas del XI Congreso Nacional de Historia del papel, Sevilla, 17-19 de junio de 2015, pp.
449-464.
-Historia de la industria papelera en Pastrana. La familia Mendoza y el fomento de la actividad económica
en el Reino de Castilla (ss. XVII-XIX). Editorial Fanes, Torrelavega (Santander), 2017.
GAYOSO CARREIRA, G.: Historia del papel en España. Lugo, Diputación Provincial, 1994, 3 vols.
GONZÁLEZ TASCON, Ignacio: Fábricas hidráulicas españolas. Cedex. Centro de Estudios y
experimentación de Obras públicas. Mopu, Madrid, 1992.
GUTIÉRREZ I POCH, Miguel: Full a full: la indústria papelera de l’Anoia (1700-1998): Continuitat i
modernitat. Igualada, 1999.
-”La manufactura papelera catalana a la segona meitat del segle XVIII: una introducció” en Pedralbes,
Barcelona, 8, I (1988), págs. 349-363.
-: “Tradición y cambio tecnológico: la industria papelera española, 1750-1936”, en NADAL, Jordi, y
CATALÁN, Jordi (eds.), La cara oculta de la industrialización española, Madrid, Alianza, pp. 341-368.
—(1999): Full a full. La indústria paperera de l’Anoia (1700-1998): continuïtat i modernitat, Barcelona,
Publicacions de l’Abadia de Montserrat.
HIDALGO BRINQUIS, C-“La fabricación de papel en la provincia de Madrid” en Cuadernos de Estudios,
21, 2007, págs. 107-108.
LARRUGA, Eugenio: Memoria política y económica sobre los frutos, comercio, fábricas y minas de
España... Madrid, 1787-1800.
LEÓN PORTILLO, R.: “La consulta a los Guarro y Capellades en 1779” en Investigación y Técnica del
Papel, nº93, Madrid, 1987.
LOZANO LOPEZ, Juan Carlos: “ Las fábricas de papel de Beceite (Teruel)” en Artigrama, núm. 14, 1999,
págs. 109-133.
MADURELL I MARIMON, Josep María: El paper a les terres catalanes. Contribució a les seva história.
Tomo I, Barcelona, 1972.
MARCOS BERMEJO, M. T.: “ Historia del papel en Cuenca: Notas para su estudio” en Actas Iº Congreso
de Historia de Castilla-La Mancha. Tomo VII. Conflictos sociales y evolución económica en la Edad
Moderna (2), Toledo, 1988, págs. 413-421.

284
-La industria artesanal del papel en Cuenca. Excma. Diputación Provincial de Cuenca. Cuenca, 1985.
-La fabricación artesanal de papel en Castilla-La Mancha. Tesis doctoral leída en el departamento de
Prehistoria, Tesis doctoral dirigida por D. Carlos Junquera Rubio. Universidad Complutense de Madrid,
1993.
MAYORAL MORAGA, Miguel (Coord.): Historia de la villa de Orusco. Guadalajara, 1998.
MIGUEL LÓPEZ, Isabel: Perspicaz mirada sobre la industria del Reino. El Censo de Manufacturas de
1784. Secretaria de Publicaciones e intercambio editorial. Universidad de Valladolid, Salamanca, 1999.
MOLL, J.: De la imprenta al lector. Estudios sobre el libro español de los siglos XVI al XVIII. Arco/Libros,
Madrid, 1994.
MOLTÓ ANDRES, Fausto: Estudio comparativo de las industrias alcoyanas, de tejidos y de papel, en el
último tercio de siglo: demostración de su estado actual y causas que hayan contribuido a su florecimiento
o decadencia. Alcoy, 1992.
NIETO SÁNCHEZ, José A. y LÓPEZ BARAHONA, Victoria: Ambite de Tajuña: Historia y lucha de la
Alcarria de Madrid. Editorial Visión Net. Madrid, 2004.
NIETO SÁNCHEZ, José: El secreto del papel de Ambite. Editorial Visión Net. Madrid, 2005.
OJEDA SAN MIGUEL, Ramón: ”La industria papelera Riojana en el siglo XIX: los molinos de Torrecilla” en
Berceo, nº128, año 1995, pp. 201-234.
ORTIZ GARCIA, Antonio: “El otro Henares (Evolución histórica del actual río Dulce)” en VII Encuentro de
Historiadores del Valle del Henares. Guadalajara, 5-8 de abril 2001, Guadalajara, 2001, págs. 17-34.
ORIOL, Héctor: La Casa Guarro. Barcelona, 1911.
PÉREZ DE GUZMÁN, A.: Bosquejo histórico-documental de la Gaceta de Madrid. Madrid, Minuesa de
los Ríos, 1902.
PÉREZ Y CUENCA, Mariano: Historia de Pastrana y sucinta noticia de los pueblos de su partido.
Madrid, 1871.
RAFEL GUARRO, Assumpta: Guarro. Una nissaga de paperers. Estudi dus nostres avanta passats de
Cognom Guarro. 1633-1796. [S.l.]: Eulàlia Martínez Guarro, DL 2016 ([Barcelona]: Vilaró S.I.I.)
SANCHEZ REAL, J.: “Jaime Guarro, papelero en Centcelles-Constanti (Tarragona) 1715” en Actas del III
Congreso Nacional de Historia del Papel, Cuenca, 1999, págs. 351-355.
UDINA MARTORELL, J.M.: Una manufactura de papel del siglo XVII y sus precedentes. Barcelona,
Instituto Gráfico Oliva de Vilanova, 1948.
VALLS I SUBIRA, Oriol: La historia del papel en España. 3 vols. Madrid, Empresa Nacional de Celulosa,
S.A., 1978-1982.
VERDET GÓMEZ, Federico: La Industria papelera de la Hoya de Buñol. Desarrollo económico. Movimiento
obrero. Instituto de Estudios comerciales Hoya de Buñol-Chiva. Valencia, 2003.

285
AS FÁBRICAS DE PAPEL NA REGIÃO DE TOMAR. MARCAS DE ÁGUA E APONTAMENTOS
HISTÓRICOS

Maria de São Luiz Carreira


mariasluiz@gmail.com

RESUMO

As marcas de água do papel são elementos essenciais para identificar a proveniência do papel. A
informação que elas veiculam permitem estabelecer e escrever história de vidas, de empresas, da
indústria papeleira, entre outros aspectos.

Os motivos principais das marcas de água do papel, os nomes dos fabricantes e localidades, e a
informação complementar possibilitam o delinear da história das fábricas de papel da região de Tomar,
durante o século XIX.

PALAVRAS-CHAVE

Papel, marcas de água, motivo principal, fábricas de papel, Tomar.

ABSTRACT

Paper watermarks are essential to identify the provenance of paper. The information they carry enable
us to write the history of lifes, of enterprises, of paper industry among other aspects.

The main motifs of paper watermarks, the names of the owners and locations and other complementary
information enabled to withdraw an outline of the history of paper factories, in the Tomar area, during
the 19th century.

KEYWORDS

Paper, watermarks, main motif, paper factories, Tomar.

287
O estudo que ora apresentamos, teve por base o inventário das marcas de água encontradas nas
actas manuscritas das Sessões Parlamentares do período relativo à Monarquia Constitucional (1821-
1910), realizado no Arquivo Histórico-Parlamentar, em Lisboa.

Dado que os livros de actas estão encadernados foi também feito o levantamento das folhas de guarda
e, sempre que necessário, o dos fragmentos de folhas de papel contendo notas avulsas coevas.

Os elementos identificadores das marcas de água foram essenciais para determinar a proveniência do
papel usado e tentar reconstituir a história das fábricas.

Num universo de 192 livros cerca de um quarto não apresentava marcas de água ou porque se tratava
de papel sem marca de água ou ainda porque, aquando da encadernação, elas haviam sido cortadas.
A grande maioria do papel usado, mais de metade, era de proveniência inglesa. Aproximadamente
15% tinha origem holandesa, e o pouco mais de 2% era de fabrico francês. A percentagem de papel
português ficava-se pelos 2,60%.

Proveniência do papel

Origem Nº de Livros %
Reino Unido 103 53,65 %
Holanda 30 15,63 %
França 4 2,08 %
Portugal 5 2,60 %
Sem Marcas de Água 50 26,04 %

Foi no papel usado entre 1867-1881 que encontrámos o papel de fabrico nacional. Este era proveniente,
sobretudo, de fábricas da região de Tomar.

As contramarcas indicavam as localidades onde as fábricas estavam implantadas: Marianaia e Prado,


além da informação relativa à qualidade do papel: “almasso”.

Dos fragmentos, com notas avulsas, foi possível reconstituir uma outra marca de água, identificar
fabricante e localidade – Marino & Araújo, de Porto de Cavaleiros.

A quase todas as marcas de água era comum o motivo principal - ramo de oliveira – tendo por baixo a
palavra “Thomar”. Em algumas marcas surgia um motivo adicional – uma lua.

288
Fig 1. Mapa com localização das Fábricas

Na região de Tomar, ao longo do rio Nabão, existiram cinco unidades de produção de papel: Porto de
Cavaleiros, Sobreirinho, Prado, Marianaia e Matrena. Como não tínhamos nenhuma marca de água do
Sobreirinho ou da Matrena, iniciamos o levantamento das marcas em documentação relacionada com
a aquisição de papel para o Diário das Sessões. Nessa documentação encontramos outras marcas de
água que possibilitaram uma tentativa de reconstituição do historial das referidas fábricas.

Indicador da qualidade do papel é a palavra “Almasso”, contramarca colocada no lado direito da folha,
tendo logo por baixo a palavra designando a localidade.

Uma particularidade que rapidamente capta a atenção é o facto de a palavra surgir grafada com “M”
maiúsculo no meio do vocábulo “AlMasso”. Ora o étimo almasso, com origem no português antigo, tem
a sua evolução do seguinte modo: a lo masso < al masso < almasso, actualmente grafado “almaço”,
que alude ao modo de fabrico, ou seja, feito com o maço.

Fig 2. AlMasso | Prado

289
Impor-se-á uma digressão, ainda que breve, relativa à contramarca “Al Masso” dadas as dúvidas
persistentes. Podemos encontrar outras designações como “Al Gran Masso”, “Sul Masso”, “Il vero
Masso”, termos que denotam a origem italiana. “Al Masso” pode também e, apenas, neste caso,
designar a fábrica construída em 1783, da família Magnani, que possuía várias manufacturas de papel,
em Pescia1. A marca “Al Masso com as letras GM indicando Giorgio Magnani”2 era falsificada por
outros papeleiros para facilitar a venda de papel de qualidade inferior. Decisão judicial dá conta que o
papeleiro “de imediato fez tirar as Armas anteriores ... da antiga Marca que foi falsificada, de todas as
formas das suas manufacturas, e a fez substituir pelas Armas da sua Família(...) com uma Fortaleza e
duas estrelas dos lados, uma Águia em cima, e por debaixo dela Giorgio Magnani”3

Portanto se nos depararmos com papel português, a designação “almasso” aponta para o modo de
fabrico. Já se o papel for de origem italiana, nomeadamente Al Masso | GM, até 1793, poderá ser
proveniente da manufactura com aquele nome. Ou ainda, e após aquela data, com as armas da família,
como foi descrito.

Porto de Cavaleiros

Nos antigos moinhos de farinha de Bartolomeu Testa, surgirá por volta de 1876 uma manufactura de
papel de embrulho, dirigida pelo filho daquele, Nicolau. Todavia, no Processo de Licenciamento Industrial,
o Inquérito Industrial, datado de 24.05.1955, refere que terá sido fundada “aproximadamente em 1845”4.

Marino Pereira da Costa e António Joaquim Araújo adquirem em 1879 a manufactura e após várias
transformações iniciam em 8 de Março de 1882 a produção da Marino & Araújo.

Dez anos após a aquisição – em 1889 – a fábrica muda de proprietários em razão da sua venda à
Companhia Tomarense de Papel de Porto de Cavaleiros5.

Tendo por base dois fragmentos reconstituímos parte da marca de água “Almasso 1ª | Marino & Araújo”, com
o motivo ramo de oliveira. O terceiro fragmento ainda que contendo apenas parte das palavras possibilitou
a leitura: Porto de Cavalleiros | Thomar, e um dos elementos de ligação do motivo principal - as folhas de
oliveira.

1 “Le cartiere Magnani nel comune di Pescia sono tre (al Masso, Edifizio Nuovo, e S. Lorenzo) (...) “. L’Italia nell’America
Latina: La Italia en la America Latina. Per l’incremento dei rapporti industriali e commerciali fra l’Italia e l’America del Sud.
Para el incremento de las relaciones industriales e comerciales entre Italia y la América del Sur. Società tipografrica editrice
popolares, 1906. p. 27.

2 Gazetta Universale, nº 63, 6 de Agosto de 1793, p. 504.

3 Idem.

4 Cf. MINISTÉRIO DA ECONOMIA. DIRECÇÃO REGIONAL DA ECONOMIA DE LISBOA E VALE DO TEJO – Processos de
Licenciamento Industrial. Papéis de Porto de Cavaleiros, S.A.

5 “Fábricas em Tomar”. PEREIRA, Esteves; RODRIGUES, Guilherme – Dicionário Histórico, Corográfico, Biográfico,
Bibliográfico, Heráldico, Numismático e Artístico. Lisboa: João Romano Torres & Cª Editores. 1915.

290
Fig 3. Marino & Araújo

Trata-se, como indica a marca de água, de papel almaço, 1ª qualidade. No decorrer do século XIX, os
governos mandataram que nos serviços públicos e para documentos correntes fosse incrementado o
uso de papel de 1ª, 2ª e 3ª “sorte”.

A particularidade desta marca é a de apresentar, num só conjunto, a fusão dos elementos constantes
da contramarca e da marca, acrescendo a qualidade específica.

Comparativamente às demais marcas apresentadas, esta é de dimensões bem maiores –


aproximadamente (A. 262 mm x L. 343 mm). Considerando os dois fragmentos de base, a largura da
marca de água e a zona de corte central poderíamos inferir que a marca ocuparia quase toda a folha
de papel.

Sobreirinho

O açude e moenga do Sobreirinho eram propriedade de Bartolomeu Testa, um genovês, mestre


papeleiro da fábrica Prado. Sabe-se que em 1837 já se fabricava papel com a contramarca “Testa”.

Em 1874 terá sofrido uma grande remodelação e nesta data era administrada pelo sócio Silvério
da Costa Gonçalves.

A Companhia do Papel do Prado, constituída pelas Fábricas de Papel do Prado, da Lousã, da


Marianaia, de Vale Maior, em Albergaria-a-Velha, adquire também a Fábrica do Sobreirinho em
1875 a António dos Santos Monteiro.

Dado que o Inquérito Industrial de 1881 refere que a fábrica estava parada poder-se-á concluir
que a aquisição pela CPP tenha sido por motivos estratégico-comerciais.

291
A folha inteira do Sobreirinho apresentava, do lado esquerdo e na parte superior a palavra
“Almasso” e na parte inferior a palavra “Testa”. Do lado esquerdo figurava, no centro superior,
o motivo de uma pequena lira e por baixo desta a palavra “Thomar”. Em alguns casos também
aparece um “quarto crescente” 6.

Fig. 4. Lira Thomar 44

A marca que apresentamos é de uma meia folha com o motivo da lira tendo por baixo a palavra
“Thomar” e por baixo desta o número “44”, que pensamos ser referência ao ano de fabrico – 1844,
dado que o documento é de 1845.

Prado

O alvará de 2 de Julho de 1772, determina a criação da Fábrica de Papel do Prado, no lugar “em que
esteve a fabrica de ferro no sitio do Prado junto à villa de Thomar”.

Francisco Roure, em requerimento de 1823 propunha-se “estabelecer uma Fábrica de Papel no sítio
do Prado, próximo da villa de Thomar, mandando vir de Génoua um Mestre e sua família (...) com
grande dezembolço seu afim de conseguir que na mesma Fábrica se manufacture bom papel7”. Como
já mencionámos, Bartolomeu Testa, era mestre na fábrica do Prado.

Só em finais de 1824 foi dada resposta à pretensão do requerente que após a aquisição das ruínas as
“aplicou a fábrica de papel, vendendo-a anos depois a seu cunhado Silvestre Schiappa Pietra”8.

6 Agradecemos a Maria José Santos que nos transmitiu a informação relativa à descrição desta marca de água.

7 RUAS, João – “Notícias sobre a história do Papel em Portugal”. Cultura. Revista de História e Teoria das Ideias. vol. 33,
2014, pp. 31-37.

8 “Fábricas em Tomar”. PEREIRA, Esteves; RODRIGUES, Guilherme – Dicionário Histórico, Corográfico, Biográfico,
Bibliográfico, Heráldico, Numismático e Artístico. Lisboa: João Romano Torres & Cª Editores. 1915.

292
Em 1836 está à frente dos destinos da fábrica Henrique de Roure Pietra9.

Em 1865 a Fábrica do Prado apresenta os seus produtos na Exposição Internacional, realizada no


Porto, agora sob a direcção de Marianna de Roure & Filhos. Dez anos depois, em 1875, pela mão de
investidores do Porto, é criada a Companhia do Papel do Prado, S. A. Esta Companhia, tal como ficou
dito acima, comprará a Fábrica de Papel do Sobreirinho e a Fábrica de Papel da Marianaia, em Tomar,
além das da Lousã e de Vale Maior. Actualmente tem a designação de PRADO KARTON – Companhia
de Cartão, S.A.10

Fig.5 Logo

Fig. 6 Logo

9 Geralmente é indicada a data de 1836 como data da fundação da fábrica. Porém e de acordo com os excertos de
documentação referida, a fundação será anterior. BANDEIRA, Ana Maria Leitão – Pergaminho e Papel em Portugal: tradição
e conservação. Lisboa: CELPA, BAD, 1995, p. 47.

10 SANTOS, Maria José - Marcas de Água: séculos XIV-XIX. Coleção TECNICELPA. TECNICELPA – Associação Portuguesa
dos Técnicos das Indústrias de Celulose e Papel; Câmara Municipal de Santa Maria da Feira. Santa Maria da Feira: Julho
2015, p. 135.

293
Fig. 7 Logo

Fig. 8 Logo

Da maior parte do papel da fábrica do Prado, com o motivo ramo de oliveira, consta um motivo adicional
– uma lua – que surge logo abaixo do motivo principal, antes da palavra “Thomar” e aposta sobre as
letras “O” ou “M” desta palavra. Dizemos “lua”, e não crescente porque, a bem dizer, estamos perante
uma meia lua, que assume a forma ora de quarto crescente, ora de quarto minguante, ora aparece
deitada. Outra marca de conteúdo similar apresenta este motivo adicional com “nariz”.

Fig. 9 Prado Thomar MA pormenor

294
Numa forma de marca dupla, no lado direito e ao centro da folha, além do mesmo motivo principal, com
as palavras “Thomar|Prado”, o motivo adicional está logo abaixo, como se de uma assinatura se tratasse.

Da colecção Tecnicelpa consta uma marca de água com este motivo do ramo de oliveira, com a
letra “T” maiúscula por baixo (Nº de inventário: MJ 1435 b)11. Esta marca muito semelhante ás que
apresentamos, encontra-se num manuscrito de 1832. Pelo que vimos até agora este motivo era do
agrado dos fabricantes de Tomar. Será esta uma das primeiras marcas da fábrica Prado?

Fig. 10. PRADO

Finalmente uma outra marca, da mesma fábrica, mas bem mais tardia. Dado que esta se encontrava
numa folha de guarda das encadernações das actas manuscritas não foi possível estabelecer uma
data precisa.

Marianaia

Situada 5 quilómetros a sul de Tomar, no local que foi um antigo moinho dos frades, surge em 1839 a
fábrica de papel, pertencente a José Barreto Tavares, negociante de Tomar12.

A Fábrica de Papel da Marianaia será vendida ao Visconde de Vila Nova da Rainha, que a dirigiu como
proprietário por vinte anos13, até que em 1877 será adquirida pela Prado.

Notícia dos Annales du commerce extérieur, publicada em 1862, relativa à Fábrica de Papel da
Marianaia, diz que as outras duas fábricas, referindo-se à Fábrica de Papel do Prado e à do Sobreirinho,
“são menos importantes”14. Um artigo da Gazeta das fábricas, em 1865, classifica a Marianaia como

11 Idem, p. 50

12 SOUSA, João Maria – Notícia descritiva e histórica da cidade de Tomar. Tomar: Tip. Silva Magalhães, 1903, p.38.

13 Os verbetes relativos ao 2º Visconde de Vila Nova da Rainha e outras notícias são unânimes ao referir que este dirigiu
como proprietário a fábrica de Marianaia durante vinte anos. Se tivermos em conta que a fábrica foi adquirida pela Fábrica do
Prado em 1877 concluiremos que terá sido vendida ao Visconde em 1857. A Ilustração portuguesa: revista literária e artística.
Semanário. Vol. 5, 1888, p.25.

14 “Les deux autres fabriques de Prado, près de Thomar, et de Sobreirinho, la première existant depuis 1825, sont moins
importantes.” Annales du commerce extérieur. Vol. 6, 1862. Paris: Imp. et Librairie Administrative de Paul Dupont, p. 57.

295
“uma das melhores, se não a melhor, do país, para o fabrico de papel almasso”15. E acrescenta que na
Grande Exposição de Londres de 1862 os produtos apresentados haviam sido “muito apreciados (...)
pelos homens competentes” como disso fazia eco a imprensa britânica16.

Em 1895 era a única fábrica, das existentes ao longo do rio Nabão, que continuava a produzir papel
exclusivamente de forma.

Um grande incêndio destruiu, em 1898, grande parte da fábrica. O fogo terá tido origem na Casa do
Espande, e em instantes ter-se-á propagado aos três pisos17.

De novo, as marcas de água, possibilitaram a identificação do primeiro dono da Fábrica de Papel


da Marianaia e a associação, posterior, com seus filhos. A folha inteira, de cor azul, tinha do lado
esquerdo, ao centro, “J. Tavares B.”, e do lado direito, a meio da folha, as palavras “AlMasso | Thomar”.
Numa outra folha inteira, a mesma marca de água, com o nome “J. Tavares B.”, mas que agora, desce
para a parte inferior da folha. Enquanto no primeiro caso a marca de água é de maior dimensão (A. 20
mm x L. 195 mm), no segundo a altura cai para quase metade da altura (A. 9 mm x L.197 mm).

Fig. 11. J Tavares B.

Fig. 12. Tavares &Filhos|Thomar

15 Gazeta das Fábricas. Associação Promotora da Indústria Fabril. Vol. 1-2, 1865, pp. 215-216.

16 Idem.

17 The World’s Paper Trade Review. Vol. 29 (Jan.-June 1898). London: Stonehill & Gillis, p. 3.

296
A figura seguinte, que reproduz a marca “Tavares & Filhos | Thomar”, e que pensamos ser da Marianaia,
foi extraída da publicação Anais das bibliotecas e arquivos de Portugal (1921), num artigo de António
Joaquim Anselmo.

A figura 13 apresenta uma disposição de elementos identificativos na folha de papel semelhante à


do Prado. Comparadas as dimensões das palavras constantes das contramarcas, a da Marianaia
apresenta tamanho menor. Já na marca principal a palavra “Thomar”, apresenta um espaço maior
entre as letras. O motivo adicional, se presente, é bem mais “delgado”. A marca “Almasso|Marianaia”
foi copiada documento manuscrito de 1877, data em que a fábrica foi comprada pela Companhia do
Papel do Prado.

Fig. 13 Almasso Marianaia Thomar

Matrena

Máximo de Pina obteve em 1595, licença de Filipe I para, na sua Quinta da Matrena, fazer uma fábrica
de vidros que terá funcionado até 1706.

Em 1876, os moinhos, estavam arrendados a António de Albuquerque do Amaral Cardoso. Será,


contudo, Manuel Valente Júnior a vendê-los a João de Oliveira Casquilho.

Estaria desactivada, em 1890, quando J. O. Casquilho os adquire e inicia trabalhos de transformação.


A Fábrica de Papel da Matrena será inaugurada a 15 de Janeiro de 1900.

297
Fig. 14. JO Casquilho

No timbre de papel da fábrica, no canto superior esquerdo encontra-se o monograma com as letras “J”,
“O”, “C”, nome do proprietário. A marca de água da Matrena reproduzia este monograma.

Nos anos 40 do século passado estava à frente dos destinos da fábrica Joaquim Pedro da Assunção
Rasteiro, neto de João de Oliveira Casquilho. No final de 1965 a passa a ser designada por Matrena –
Sociedade Industrial de Papéis. S.A.

A título de curiosidade refira-se que o papel denominado de “papel cavalinho” tão usado para desenho,
era fabricado na Fábrica de Papel da Matrena, sendo marcado a seco com o cunho de um cavalinho
empinado. A máquina que cunhava a folha de papel encontra-se no Museu do Papel de Santa Maria
da Feira onde decorre o presente Congresso.

Conclusões

A partir do segundo quartel do século XIX, emergiram, ao longo do Nabão, bem no centro do país,
quatro das cinco fábricas de papel. Somente a Fábrica de Papel da Matrena começará a laborar em
1900.

À semelhança do que acontece em muitos outros casos, estas fábricas tiveram na sua génese antigos
moinhos farinheiros, azenhas ou ferrarias – caso do Prado -, que após transformação passavam a
produzir papel. O polo de Tomar não fugiu a essa regra.

A indústria em Portugal, de um modo geral, teve um desenvolvimento lento e tardio quando comparada
com a de outros países europeus. O mesmo sucedeu com a indústria papeleira nacional.

Coexiste, nesta fase, a produção de papel tanto em pequeníssimas fábricas, como noutras de maior
dimensão as quais, naturalmente, terão uma maior longevidade empresarial. Nas últimas décadas
do século XIX verifica-se a emergência de um grande grupo – Companhia do Papel do Prado, S.A. –
que associará as Fábricas de Papel do Prado, Fábrica de Papel da Marianaia e Fábrica de Papel do

298
Sobreirinho, desta região de Tomar, e que, como foi dito, se associa a outras fábricas de papel noutras
regiões do país.

Da análise das marcas de água, constatou-se que o motivo principal usado pelos fabricantes desta
região era o ramo de oliveira. Mas não só por estes, também se encontra nas marcas de água da
Renova, de Penela. Em muitos casos a marca é acompanhada de um motivo adicional, que como
vimos, era uma lua pequenina – Prado, Marianaia.

Invariavelmente, sobretudo no início da actividade, o nome do proprietário ou proprietários são a marca


de água principal.

Os elementos constitutivos e identificadores das marcas de água são pois essenciais para a
reconstituição da história das empresas ligadas à indústria papeleira, além de fundamentais para a
datação de documentos.

BIBLIOGRAFIA

Fontes Manuscritas

Arquivo Histórico Parlamentar:


Actas da Câmara dos Deputados, Livº 138 – 141, 143.
Actas dos Dignos Pares do Reino, Livº 269.
Arquivo do Ministério da Economia:
MINISTÉRIO DA ECONOMIA. DIRECÇÃO REGIONAL DA ECONOMIA DE LISBOA E VALE DO TEJO
– Processos de Licenciamento Industrial. Papéis de Porto de Cavaleiros, S.A.

Fontes Impressas

Annales du commerce extérieur. Vol. 6, 1862. Paris: Imp. et Librairie Administrative de Paul Dupont, p. 57
ANSELMO, António Joaquim – “A bibliografia portuguesa IV”. Anais das bibliotecas e arquivos de
Portugal. Lisboa: Biblioteca Nacional, Vol. 2, nº 1 (1921), pp. 202.
Actas del VIII Congreso Nacional de Historia del Papel en España. Burgos, AHHP, 2009. pp. 53-57.
BANDEIRA, Ana Maria Leitão – Pergaminho e Papel em Portugal. Tradição e conservação. Lisboa:
CELPA – Associação da Indústria Papeleira; BAD – Associação Portuguesa de Bibliotecários,
Arquivistas e Documentalistas, 1995.
BINI, Massimiliano - “Cartiere e archeologia industriale”, La Svizzera Pesciatina. p. 76-79. Dossier
Candidatura Unesco. Progetto Terraviva. Associazione Onlus. (www.svizzera-pesciatina.it/it/sviz-
pesc-02.07.asp)

299
CARREIRA, Maria de São Luiz da Silva Carreira – Marcas de água. Arquivo Histórico Parlamentar
(Monarquia Constitucional 1821-1910). Dissertação de Mestrado em Ciências da Documentação e da
Informação Arquivística, apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Lisboa, 2012
(policopiado).
Gazeta das fábricas. Lisboa: Associação Promotora da Indústria Fabril. Vol. 1 - 2, 1865, pp. 215-216.
Inquérito Industrial de 1881. Lisboa: Imprensa Nacional, 1881, pp. 230-232.
L’Italia nell’America Latina: La Italia em la America Latina. Per l’incremento dei rappporti industriali e
commerciali fra l’Italia e l’America del Sul. Para el incremento de las relaciones industriales e comerciales
entre Italia y la América del Sur. Milano: Società tipográfica editrice popolare, 1906, pp. 27.
MELO, Arnaldo Faria de Ataíde e – “Materiais para a identificação dos documentos manuscritos e
impressos em papel, até final do século XX em Portugal”. Anais das bibliotecas e arquivos de Portugal.
Vol. 5, nº 19 e 20 (Jul.-Dez.) 1924. pp. 171-175.
MELO, Arnaldo Faria de Ataíde e – O papel como elemento de identificação. Lisboa: Oficinas Gráficas
da Biblioteca Nacional, 1926.
PEREIRA, Esteves; RODRIGUES, Guilherme - Dicionário Histórico, Corográfico, Biográfico,
Bibliográfico, Heráldico, Numismático e Artístico. Lisboa: João Romano Torres & Companhia Editores,
1915. Vol II. p. 140-141 “Tomar (Fábricas em)”.
ROSA, Alberto de Sousa Amorim (org.) – Anais do Município de Tomar, crónica dos acontecimentos:
extratos das actas, correspondências, contractos e outros documentos existentes nos arquivos
camarários. vol. II, Tomar: Câmara Municipal de Tomar, 1967.
RUAS, João – “Notícias sobre a história do Papel em Portugal”. Cultura. Revista de História e Teoria
das Ideias. vol. 33, 2014, pp. 31-37.
SANTOS, Maria José Ferreira dos - “Marcas de água e história do papel. A convergência de um estudo”.
Cultura. Revista de História e Teoria das Ideias. Lisboa: Centro de História da Cultura. Vol. 33, 2016.
———— Marcas de Água: séculos XIV-XIX. Coleção TECNICELPA. TECNICELPA – Associação
Portuguesa dos Técnicos das Indústrias de Celulose e Papel; Câmara Municipal de Santa Maria da
Feira. Santa Maria da Feira: Julho 2015.
SOUSA, João Maria – Notícia descritiva e histórica da cidade de Tomar. Tomar: Tip. Silva Magalhães,
1903, pp. 35, 38.
The World’s Paper Trade Review. Vol. 29 (Jan.-June 1898), London: Stonehill & Gillis, p. 3.
VELOSO, Carlos; PONTE, Salete da (Coord.) – Imagens de Tomar: Roteiro Histórico. Tomar: Câmara
Municipal de, 1992.

300
SUBSÍDIOS PARA A HISTÓRIA DA FÁBRICA DE PAPEL DO MARCO DE CANAVESES (1923-1958)

José Manuel Lopes Cordeiro


Universidade do Minho (Braga, Portugal) / CICS.UMinho / APPI/TICCIH Portugal
jmlopes.cordeiro@gmail.com

Francisco Silva Costa


Universidade do Minho (Guimarães, Portugal) / CEGOT
costafs@geografia.uminho.pt

RESUMO

A Fábrica de Papel do Marco de Canaveses, que chegou a ser a maior empresa papeleira do Norte
de Portugal, é hoje em dia uma ilustre desconhecida. Os autores apresentam nesta comunicação
os primeiros trinta e cinco anos da sua história, com base na documentação disponível em vários
arquivos, em particular no Arquivo da Agência Portuguesa do Ambiente, que actualmente incorpora
os processos da Fábrica existentes na antiga Direcção-Geral dos Serviços Hidráulicos. Deste modo,
será dado um especial destaque às questões relacionadas com o aproveitamento das águas do rio
de Galinhas, quer para a sua laboração quer como fonte energética, uma vez que tal se revelou
determinante na sua actividade industrial.

PALAVRAS-CHAVE

Aproveitamento de água, conflitos por recursos hídricos, energia hidráulica, história empresarial, Marco
de Canaveses.

ABSTRACT

The Marco de Canaveses Paper Mill, which came to be the largest paper company in the North of Portugal,
is today an illustrious unknown. The authors present in this paper the first thirty-five years of its history,
based on the documentation available in various archives, mainly in the Archive of the Agência Portuguesa
do Ambiente, which currently incorporates the files of the Paper Mill in the former Direcção-Geral dos
Serviços Hidráulicos. Thus, special attention will be given to issues related to the use of Galinhas river
waters, either for its operation or as an energy source, as this was decisive in its industrial activity.

KEYWORDS

Water use, conflicts over water resources, hydraulic energy, business history, Marco de Canaveses.

301
Uma primeira abordagem da Fábrica de Papel do Marco de Canaveses aponta para duas características
principais: primeiro, a sua localização, numa região sem grande tradição industrial papeleira, embora a
condição fundamental para a sua implantação – o aproveitamento da energia hidráulica – não só tenha
estado presente como constituiu um factor decisivo para que a mesma ali se localizasse. Em segundo
lugar, as dimensões apreciáveis que a unidade fabril veio a adquirir ao longo do tempo, o que também
lhe confere uma característica pouco usual nas unidades papeleiras deste tipo existentes naquela época.

A Fábrica de Papel do Marco de Canaveses, Lda foi fundada em 26 de Junho de 1923 por uma
sociedade composta por doze investidores, localizando-se as suas instalações fabris no Lugar de
Cristelo, freguesia de Fornos, concelho de Marco de Canaveses (Figuras 1, 2 e 3),sendo nesta
localidade onde se situava o seu escritório. O capital social era de 70 contos, repartido pelas seguintes
quotas:

Quadro I

Fábrica de Papel do Marco de Canaveses: distribuição do capital social (1923)

Nome Capital
Eng.º Avelino Joaquim Monteiro de Andrade 6.000$00
Joaquim Monteiro de Andrade 3.000$00
Eurico Luís Monteiro de Andrade 6.000$00
David Luís Pereira 6.000$00
Manuel Cardoso da Costa Oliveira 6.000$00
José Nunes Corracha& Filhos 6.000$00
António Barbedo de Vasconcelos 12.000$00
Caetano Mesquita Pereira do Lago e Vasconcelos 12.000$00
Francisco Olímpio de Andrade Pinheiro 4.000$00
Avelino Pinto Mesquita 5.000$00
Dr. Guilherme Machado Braga 3.000$00
António Pinto Moreira 1.000$00
Total 70.000$00
Fonte: Instituto dos Registos e do Notariado, Arquivo Central do Porto, Notário Eduardo dos Santos
Maia Mendes, escritura lavrada em 26 de Junho de 1923.

Entre os investidores – dos quais não são conhecidas relações anteriores com a indústria papeleira
–destacam-se os membros da família Monteiro de Andrade, em particular o Eng.º Avelino Joaquim
Monteiro de Andrade (1895-1964), natural do Porto, e que exerceu toda a sua actividade profissional
na Câmara Municipal daquela cidade. Conhece-se também a profissão – empregado bancário – de
Francisco Olímpio de Andrade Pinheiro, não sendo por agora possível identificar profissionalmente os
restantes elementos da sociedade.

302
Figura 1 – Planta com a localização da Fábrica de Papel do Marco de Canaveses. Escala 1: 1000.
Fonte: Arquivo APA.

À data da constituição da sociedade cada um dos sócios já tinha realizado a importância de 50%
do capital subscrito, obrigando-se a entrar com os restantes 50% à medida que os gerentes o
determinassem. A única excepção era a de Caetano Mesquita Pereira do Lago e Vasconcelos, que
tinha entrado somente com 1.200$00, comprometendo-se a ingressar com o remanescente passados
30 dias a contar da data de constituição da sociedade.

Figura 2 – Alçado do edifício original da Fábrica. Fonte: Arquivo APA.

303
Figura 3 – Plantas dos 1.º, 2.º e 3.º pavimento. Fonte: Arquivo APA.

No primeiro biénio da sua actividade a gerência social, técnica e comercial da Fábrica era exercida pelos
sócios Eng.º Avelino Joaquim Monteiro de Andrade, Avelino Pinto Mesquita, David Luís Pereira e Eurico
Luís Monteiro de Andrade, cuja remuneração pelo seu trabalho seria votada em assembleia geral. Nos
seguintes biénios, a gerência seria igualmente votada em assembleia geral de sócios. Ainda de acordo
com a escritura de constituição da sociedade, no caso da realização de lucros estes teriam a seguinte
aplicação: 5% para o fundo de reserva legal, 15% para deterioração de máquinas, canal, açude e edifício
(Figuras 4 e 5), e os restantes 80% seriam divididos em partes correspondentes à quota e cada sócio. Se
existissem perdas estas seriam repartidas por todos os sócios na proporção das suas quotas.

304
Figura 4 – Cortes transversal e lateral. Fonte: Arquivo APA.

Figura 5 – Turbina hidráulica, instalada em 1924. Escala 1:200. Fonte: Arquivo APA.

A primeira iniciativa de relevo posta em prática pela gerência logo após a constituição da sociedade
foi solicitar à Divisão de Hidráulica do Douro, a 17 de Março de 1924, autorização para instalar uma

305
turbina hidráulica de 21 CV, fabricada pela Sociedade Laurent &Collot, de Dijon, França, nos terrenos
marginais do rio de Galinhas (afluente do rio Ovelha e este do rio Tâmega), no Lugar de Cristelo,
de que era proprietária, a fim de aproveitar a energia das águas que aquele proporcionava. Nesse
requerimento, salientava que para realizar o aproveitamento aproveitava um açude já existente no
local, desviando as águas por meio de uma levada com 50 metros de extensão, também já existente,
indicando que detinha em seu poder a respectiva licença para reparações do açude e da levada. O
volume de água a aproveitar seria de 200 litros por segundo, e como a altura média da queda de
água assim criada era de 6 metros, a potência seria de 12 cavalos-vapor. O requerimento, que de
acordo com a legislação em vigor era acompanhado pelas respectivas plantas, era subscrito, em
nome da sociedade, pelo Eng.º Monteiro de Andrade1. A indicação de que tanto o açude como a
levada já existiam confirma que se tratou da reutilização de um aproveitamento pré-existente, no caso
de”uns antigos moinhos de moer cereais que existiram no mesmo local da referida fábrica de papel em
construção e que foram demolidos pela Sociedade requerente”2.

Após a publicação do indispensável Edital, a 24 de Abril de 1924, convidando todos os eventuais


prejudicados pela instalação da turbina a apresentarem as suas reclamações, a Divisão de Hidráulica
do Douro, através do Diploma de Licença n.º 128, de 22 de Julho de 1924, autorizou a Sociedade
proprietária da Fábrica de Papel do Marco de Canaveses a estabelecer, na sua propriedade sita na
margem esquerda do rio de Galinhas, uma turbina para o aproveitamento das águas daquele. Impunha,
no entanto, algumas condições, entre as quais “não embaraçar nem prejudicar as águas do mesmo
rio, a que Pedro de Vasconcelos Soares Vieira da Mota da casa de Quintã da freguesia de Soalhães
do dito concelho tem direito e que são conduzidas pela levada pertencente à mesma Sociedade, para
este regar, como é de uso e costume em seu terreno marginal ao mencionado rio, a jusante da referida
Fábrica”3.

As obras de construção da Fábrica deverão ter terminado nos finais de 1925 pois no início do ano
seguinte a imprensa local publicava um anúncio no qual se dizia que a mesma satisfazia quaisquer
encomendas de “papel de 1.ª e 2.ª qualidade, tipo de mercearia, em todos os tamanhos até ao limite de
1,15 X 0,80”4. Para além da turbina hidráulica, a Fábrica dispunha também de duas rodas hidráulicas, de
10 CV cada, para as quais não solicitou autorização de instalação, provavelmente por corresponderem
às rodas dos moinhos (azenhas) que tinham sido demolidos para permitir a sua construção.

1 Arquivo da Agência Portuguesa do Ambiente, Direcção-Geral dos Serviços Hidráulicos, Fábrica de Papel do Marco de
Canaveses, “Aproveitamento de águas do Rio de Galinhas”, Proc.º n.º 65/1924.

2 De acordo com a Comunicação de serviço n.º 2.248, de 7 de Abril de 1924. Arquivo da Agência Portuguesa do Ambiente,
Proc.º n.º 64/1924.

3 Arquivo da Agência Portuguesa do Ambiente, Direcção-Geral dos Serviços Hidráulicos, Fábrica de Papel do Marco de
Canaveses, “Aproveitamento de águas do Rio de Galinhas”, Proc.º n.º 65/1924.

4 A Defesa do Marco, Marco de Canaveses, n.º 293, de 20 de Março de 1926, p. 3.

306
Não são muitas as informações disponíveis sobre os primeiros anos de actividade da Fábrica, nem
se encontraram fontes susceptíveis de as proporcionar. Em 1936 a Fábrica de Papel do Marco de
Canaveses vai solicitar a construção de “um alpendre em madeira e zinco, à roda do seu edifício, assim
como recuperar parte do terreno que contorna a fábrica e que está dentro do Rio (Rio de Galinhas)
…”5, dando assim início a um processo de expansão das instalações fabris(Figura 6).

Figura 6 – Alpendre instalado em 1936. Escala 1:200. Fonte: Arquivo APA.

Talvez por essa razão, os seus equipamentos hidráulicos – duas rodas hidráulicas e uma turbina –
irão ser vistoriados, em 18 de Junho de 1937. Quanto ao requerimento para a instalação do alpendre,
foi autorizado a 29 de Junho de 1936, em virtude de não ter sido apresentada nenhuma reclamação
contra a pretensão da Fábrica.

Três anos mais tarde, em Junho de 1939, a Fábrica de Papel apresentou um novo requerimento
(Figura 7), desta vez para construir uma casa para instalação de um motor, na margem esquerda do
rio de Galinhas, destinando-se esse motor à extracção de água da corrente para accionamento das
máquinas da fábrica, o qual foi uma vez mais aprovado pela Direcção de Hidráulica do Douro, através
do Diploma de licença n.º 704/39, com a salvaguarda, entre outras determinações, de as obras não
alterarem as disposições do leito e margem da corrente, nem causar prejuízos a terceiros6(Figura 8).

5 Requerimento da Fábrica de Papel do Marco de Canaveses dirigido à Direcção de Hidráulica do Douro, em 28 de Fevereiro
de 1936. Arquivo da Agência Portuguesa do Ambiente, Direcção-Geral dos Serviços Hidráulicos, Proc.º 220/1936.

6 Arquivo da Agência Portuguesa do Ambiente, Direcção-Geral dos Serviços Hidráulicos, Fábrica de Papel do Marco de
Canaveses, “Construção de uma casa para instalação de um motor”, Proc.º n.º 1.243/1939.

307
Figura 7 – Cabeçalho do papel timbrado da Fábrica, em 1940. Fonte: Arquivo APA.

Figura 8 – Planta com a casa onde foi instalado o motor, em 1939. Escala 1:250. Fonte: Arquivo APA.

No final do ano de 1939 irá ocorrer uma importante transformação na sociedade que explorava a
Fábrica, com a reforma total do seu pacto social, o qual foi inteiramente substituído, embora continuasse
a adoptar a denominação de Fábrica de Papel do Marco de Canaveses, Limitada. Consequentemente,
o capital social – que se manteve nos 70.000$00 – passou a estar assim distribuído:

308
Quadro II

Fábrica de Papel do Marco de Canaveses: distribuição do capital social (1939)

Nome Capital
Alberto Poirier Jorge Rodrigues 31.500$00
António Alves Póvoas 31.500$00
Tito Alves Póvoas 3.500$00
D. Maria Suzette Santos Fernandes Poirier Rodrigues 3.500$00
Total 70.000$00
Fonte: ANTT/Arquivo Distrital de Lisboa, Notário Noronha Galvão, escritura lavrada em 6 de
Dezembro de 1939.

Os novos gerentes distribuiriam entre si as respectivas funções, ficando inicialmente estabelecido que
a parte técnica da Fábrica passava a ser da responsabilidade de Alberto Poirier Jorge Rodrigues, e a
parte administrativa a cargo de António Alves Póvoas. A nova empresa passaria a dispor da sua sede
e escritório em Lisboa, na avenida 24 de Julho, n.º 102.

Em Abril de 1942, a Fábrica de Papel do Marco de Canaveses solicitou autorização (Figura 9)para
construir um muro de suporte aos terrenos sobranceiros ao rio de Galinhas, e também de umas
sentinas para uso dos seus operários (em substituição das existentes)mas, apesar de o pedido ter
sido efectuado novamente em Novembro desse ano, os Serviços da Hidráulica do Douro acabaram
por não dar resposta, em virtude do mesmo ter sido desdobrado7.

Figura 9 – Cabeçalho do papel timbrado da Fábrica, em 1942. Fonte: Arquivo APA.

Em Setembro do ano seguinte a gerência da Fábrica voltou a insistir, argumentando que já tinha apresentado
a planta e a memória descritiva do projecto, de acordo com a legislação, e que a construção do muro era
bastante urgente, sob a pena de desperdiçarem a estiagem ainda em curso de modo a que as obras
fossem mais fáceis de realizar. O muro de suporte era indispensável para suster as terras que, com as
cheias do rio, se iam desagregando e consequentemente comprometendo a segurança do canal condutor
de água para a Fábrica. Por seu turno, “o canal como tinha de ser reparado devido ao leito do mesmo deixar
fugir muita água o que no tempo da estiagem nos causa grande deficiência, aproveitou-se a ocasião para

7 Na realidade, o pedido já tinha sido efectuado em Fevereiro de 1941.

309
se fazer um mais direito tirando àquele curvas e alargando a passagem para o pessoal …”8(Figura 10).

Figura 10 – Planta da Fábrica, em 1942, vendo-se a localização da roda hidráulica. Esc.: 1:250.
Fonte: Arquivo APA.

Apesar de ainda não dispor de autorização, em Outubro de 1943 a Fábrica de Papel do Marco de
Canaveses avançou com a construção do muro9. Deste modo, em 29 de Dezembro desse ano, através
do Diploma de Licença n.º 26, a Direcção de Hidráulica do Douro virá autorizar a legalização da
construção do muro de suporte, “com o comprimento de 42,00 m e a altura de 3,55 m a montante e
5,60 m a jusante, de harmonia com o projecto aprovado, (…) [sublinhando que] a concessionária não
poderá executar quaisquer obras ao abrigo do presente diploma, que apenas legaliza as obras feitas
sem licença”10.

O ano de 1942 irá ser bastante importante para a Fábrica de Papel do Marco de Canaveses, em
virtude de no decurso do mesmo ter surgido um problema que virá a ter significativas repercussões
no seu futuro. O problema, que pela sua importância envolveu autoridades como o Administrador do
Concelho, o Presidente da Câmara de Marco de Canaveses e o Governador Civil do Porto, dizia respeito
a divergências relacionadas com o aproveitamento do caudal do Rio de Galinhas, entre os lavradores
locais e a gerência da Fábrica. Para a plena apreensão da complexidade do problema é necessário
referir a extensa informação que os Mestres de Valas incumbidos de efectuar o relatório da situação
apresentaram ao Engenheiro-Chefe da respectiva Secção da Direcção de Hidráulica do Douro. Assim:

8 Memória descritiva apresentada pela Fábrica de Papel do Marco de Canaveses, em 24 de Abril de 1942. Arquivo da Agência
Portuguesa do Ambiente, Direcção-Geral dos Serviços Hidráulicos, Proc.º 601/1942.

9 Arquivo da Agência Portuguesa do Ambiente, Direcção-Geral dos Serviços Hidráulicos e Eléctricos, Fábrica de Papel do
Marco de Canaveses, “Construir um muro de suporte”, Proc.º n.º 3.158/1942

10 Arquivo da Agência Portuguesa do Ambiente, Direcção-Geral dos Serviços Hidráulicos e Eléctricos, Direcção Hidráulica –
Douro, Fábrica de Papel do Marco de Canaveses, “Construir um muro de suporte”, Proc.º n.º 3.156/1942.

310
“Existe no leito do Rio de Galinhas, além do primeiro açude, a jusante, que deriva águas para
accionamento da Fábrica do papel e de alguns campos de lavradio, mais dois açudes, sendo um para
embalse de águas, para os moinhos indicados no croquis [Figura 11], n.ºs 2 e 3, e um outro, denominado
do Salto de Cima (Figura 11), para represamento de águas para rega e que são conduzidas de uma
levada situada na margem direita, e também para accionamento de um moinho, da margem esquerda,
n.º 1 (…).

Figura 11 – Planta com a localização do açude do Salto de Cima. Fonte: Arquivo APA.

Pode-se pois concluir, porque assim é, que este açude do Salto de Cima, represa águas com dois
destinos absolutamente distintos, um para fertilização de prédios de lavradio e outro para embalse de
águas destinadas á laboração do moinho n.º 1.

O aproveitamento é feito, pois, indistintamente durante todo o ano, à excepção de um período,


compreendido entre 29 de Junho a 29 de Agosto, em que as águas são, em determinados dias,
repartidas para o moinho e para os proprietários da levada de consortes.

É pois este o ponto capital da questão, que deu origem à representação apresentada (…), pois que a
água do Rio de Galinhas durante o período que vai de 29 de Junho a 29 de Agosto e que é represada

311
no açude do Salto de Cima pertence por direito ao proprietário do 1.º moinho a partir do por do sol
das 2.ªs feiras até às 4.ªs feiras, às 7 horas da manhã, deste mesmo dia a partir das 20 horas até às
6.ªs feiras às 6 horas da manhã, deste mesmo dia a partir das 20 horas até às 4 horas do dia seguinte
(Sábado), horas solares, e do Sábado a partir do por do sol até às 2.ªs feiras ao nascer do sol, o qual,
se as não utiliza, por insuficiência de caudal no funcionamento daquele, isto é, quando não necessita
delas, as deve deixar seguir livremente o seu curso normal ou seja o curso do Rio de Galinhas, a fim
de as mesmas poderem ser aproveitadas nos açudes de jusante, por quem de direito, ou sejam, os
proprietários dos moinhos 2 e 3 e possivelmente pela Fábrica de Papel do Marco Lda. e outros.

Em virtude das condições em que se encontra presentemente o açude do Salto de Cima, bastante
assoreado, as águas uma vez abandonadas pelo proprietário do moinho, que as não utilizou,
seguem indevidamente nesses dias o curso da levada de consortes, o que dá origem a que também
indevidamente os mesmos delas se aproveitem, originando, por parte dos proprietários de jusante
virem fazer o desvio nesses dias, num boteirão actualmente existente na levada particular.

Em face do exposto temos a honra de submeter a mui digna apreciação de V. Ex.ª as conclusões a
que foi possível chegar:

1.º – Que o açude seja convenientemente desassoreado, a fim de não ser possível efectuar-se, por
parte dos lavradores, o desvio ou descaminho das águas para a levada, em dias em que estes a elas
não têm direito.

2.º – Que no açude do Salto de Cima seja aberto um descarregador de fundo, junto à margem
esquerda, munido de comporta de madeira a manobrar pelo proprietário ou arrendatário do moinho (n.º
1) existente nessa margem, a fim de as águas seguirem o seu curso natural uma vez as não utilize para
o fim a que por direito as destina, ou então a fazê-las seguir pelas condutas forçadas do seu moinho,
evitando assim que os proprietários de jusante se sintam num direito que lhes não assiste (…) dando
origem à repetição de conflitos como este que se acaba de observar.

Achamos conveniente comunicar a V. Ex.ª que se por ventura a Fábrica de Papel do Marco de
Canaveses Lda. paralisou a sua laboração, fê-lo por livre arbítrio dos seus dirigentes, visto que como
se comprova pelo auto de declarações (…), sempre tem laborado de noite e de dia, mesmo nos dias
em que as águas do açude do Salto de Cima lhes não pertencem”11.

Como seria de esperar, a posição da gerência Fábrica de Papel era diferente, considerando que
contrariamente ao que se encontrava estipulado nos “usos e costumes” locais, naquele ano “alguns

11 Informação dos Mestres de Valas, de 26 de Agosto de 1942. Arquivo da Agência Portuguesa do Ambiente, Direcção-Geral
dos Serviços Hidráulicos e Eléctricos, Direcção Hidráulica – Douro, Fábrica de Papel do Marco de Canaveses, “Reclama
contra o facto de vários proprietários utilizarem a água destinada à sua fábrica”, Proc.º n.º 789/1942.

312
lavradores que se servem da levada tomaram conta da água toda e proibiram que esta seja deitada ao
Rio, alegando que um moleiro que está instalado perto dessa levada”12 necessitava de a utilizar, o que
aquela gerência considerava um abuso e uma ilegalidade, acusando um Guarda-Rios de conivência
com os referidos lavradores. Em virtude da falta de água, a gerência decretara a suspensão da
laboração da Fábrica, com prejuízo para os cerca de 100 operários, e respectivas famílias, que da
mesma dependiam.

Por fim, o Chefe daquela Secção da Hidráulica do Douro propôs, como solução, que se devia “impor
ao industrial do primeiro moinho da margem esquerda a obrigação, quer o moinho trabalhe, quer não,
deixar passar as águas nos dias que lhe estão destinados, pois se ele não as aproveitar, aproveitarão os
industriais de jusante, se quiserem, entre os quais a Fábrica de Papel do Marco de canaveses”13.

Apesar dos problemas relacionados com a falta de água durante o estio, a situação económica da Fábrica
de Papel do Marco de Canaveses parecia ser bastante prometedora, como o comprova o conjunto de
obras de ampliação desencadeado a partir de agora. Assim, em Janeiro de 1943, solicitou a legalização
de uma construção destinada à instalação de uma caldeira a vapor para a secagem do papel fabricado
por meio de cilindros mecânicos, que se encontravam instalados noutro corpo da fábrica. De acordo
com a Memória Descritiva, “há muito se sentia a falta desta instalação, por quanto o papel fabricado
tinha de ser seco ao ar, estando sempre à mercê do tempo a sua secagem, o que de inverno nos
ocasionava a paralisação da fábrica, pela acumulação de papel fabricado que aguardava a seca, o que,
com a invernia era impossível secar”14. Em Maio do ano seguinte, a gerência da Fábrica solicitou uma
autorização múltipla, para realizar várias obras de ampliação das instalações fabris, entre as quais dois
armazéns (Figura 12),que eram “de grande necessidade para a recolha de matérias-primas”15, um andar
sobre os armazéns existentes, destinado a “refeitório de pessoal operário e serviço de acabamentos”16 e,

12 “Exposição do Gerente da Fábrica de Papel do Marco de Canaveses”, Lda, de 18 de Agosto de 1942. Arquivo da Agência
Portuguesa do Ambiente, Direcção-Geral dos Serviços Hidráulicos e Eléctricos, Direcção Hidráulica – Douro, Fábrica de
Papel do Marco de Canaveses, “Reclama contra o facto de vários proprietários utilizarem a água destinada à sua fábrica”,
Proc.º n.º 789/1942.

13 “Comunicação n.º 2.197 ao Engenheiro Director da Direcção de Hidráulica do Douro”, de 28 de Agosto de 1942, Arquivo da
Agência Portuguesa do Ambiente, Direcção-Geral dos Serviços Hidráulicos e Eléctricos, Direcção Hidráulica – Douro, Fábrica
de Papel do Marco de Canaveses, “Reclama contra o facto de vários proprietários utilizarem a água destinada à sua fábrica”,
Proc.º n.º 789/1942.

14 “Memória Descritiva”, de 28 de Janeiro de 1943, Arquivo da Agência Portuguesa do Ambiente, Direcção-Geral dos Serviços
Hidráulicos e Eléctricos, Direcção Hidráulica – Douro, Fábrica de Papel do Marco de Canaveses, “Legalizar a construção de
uma parede”, Proc.º n.º 2.591/1943.

15 “Memória Descritiva”, de 1 de Maio de 1944, Arquivo da Agência Portuguesa do Ambiente, Direcção-Geral dos Serviços
Hidráulicos e Eléctricos, Direcção Hidráulica – Douro, Fábrica de Papel do Marco de Canaveses, “Construir dois armazéns”,
Proc.º n.º 843/1944.

16 “Memória Descritiva”, de 1 de Maio de 1944, Arquivo da Agência Portuguesa do Ambiente, Direcção-Geral dos Serviços
Hidráulicos e Eléctricos, Direcção Hidráulica – Douro, Fábrica de Papel do Marco de Canaveses, “Construir um andar sobre
os armazéns existentes”, Proc.º n.º 844/1944.

313
finalmente, “um novo corpo de edifício na sua fábrica, em prolongamento do antigo edifício”17.

Figura 12 – Planta com os armazéns a construir. Fonte: Arquivo APA.

Para além destas obras de ampliação das instalações, a gerência da Fábrica de Papel solicitou
também autorização para a instalação de uma nova roda hidráulica, com a potência de 10 HP (Figura
13), considerada “de absoluta necessidade para fazer accionar o nosso dínamo de iluminação, para
evitar de ficarmos às escuras quando surge qualquer avaria na roda grande, que faz accionar as outras
máquinas da fábrica”18.

17 “Memória Descritiva”, de 1 de Maio de 1944, Arquivo da Agência Portuguesa do Ambiente, Direcção-Geral dos Serviços
Hidráulicos e Eléctricos, Direcção Hidráulica – Douro, Fábrica de Papel do Marco de Canaveses, “Construir em pedra um
novo corpo da fábrica”, Proc.º n.º 846/1944.

18 “Memória Descritiva”, de 1 de Maio de 1944, Arquivo da Agência Portuguesa do Ambiente, Direcção-Geral dos Serviços
Hidráulicos e Eléctricos, Direcção Hidráulica – Douro, Fábrica de Papel do Marco de Canaveses, “Colocar uma roda hidráulica
na margem esquerda do rio Galinhas”, Proc.º n.º 845/1944.

314
Figura 13 – Planta e cortes da nova roda hidráulica, com a potência de 10 HP. Esc.: 1:100.
Fonte: Arquivo APA.

Apesar da importância que atribuía á instalação desta roda hidráulica, a gerência da Fábrica veio a
desistir da mesma após a Direcção de Hidráulica do Douro lhe ter solicitado a apresentação de um novo
requerimento e projecto de obras, por os apresentados não se encontrarem nas devidas condições.

Mas a obra mais ambiciosa que a gerência Fábrica de Papel do Marco de Canaveses apresentou à
Direcção de Hidráulica do Douro naquele mês de Maio de 1944 foi a da

“instalação de uma bomba de 4’’ (cerca de 40.000 litros por hora) no Rio de Galinhas, e imediatamente
à saída da água utilizada pela nossa Fábrica de forma a reconduzir a água à levada que fica em
frente, da qual se servem os cultivadores. Para esse efeito necessitamos de fazer igualmente uma
pequena barragem desmontável de 50 cm de altura, para se poder mergulhar o tubo aspirador,
sendo esta barragem feita com quatro pilares e cinco portadas, as quais serão retiradas no inverno”19.

19 “Requerimento da Fábrica de Papel do Marco de Canaveses”, de 1 de Maio de 1944. Arquivo da Agência Portuguesa do

315
A fim de reforçar o pedido, o gerente da Fábrica, Alberto Poirier Jorge Rodrigues, salientava que aquele
empreendimento, “além de ser um grande auxílio à agricultura, e por isso de grande interesse à ‘Economia
Nacional’, vem acabar com as divergências constantes provocadas pela falta do precioso líquido, pois se
a nossa fábrica não pode passar sem a água para laborar, pois tem 150 pessoas empregadas, também
os cultivadores não podem perder as suas colheitas. Desta maneira a água que habitualmente seguiria
pela levada, vinha directamente à nossa fábrica e depois reposta na dita levada”20.

Não obstante o tom conciliatório e da oferta da solução para um problema grave que ainda persistia, no
inquérito público aberto para a auscultação de opiniões sobre a construção da obra foram apresentadas
inúmeras reclamações contra o pedido da respectiva licença. O documento que os seus autores
apresentaram, e que irá inviabilizar a pretensão da gerência Fábrica de Papel, era extremamente duro
nas acusações que lhe fazia:

“Se alguém (…) viesse dizer-nos que a firma requerente estava animada da intenção que manifesta
expressamente no seu requerimento – o pretender preparar as condições indispensáveis para que aos
prédios dos seus vizinhos cultivadores, e que não são os requerentes, não falte, na época da estiagem,
água indispensável para as regas – confessamos (…) que não acreditaríamos; mas como tudo isto o
vemos escrito em bom papel, se os factos passados e presentes não desmentissem essa intenção,
como efectivamente a desmentem, acreditá-lo-íamos.

Com efeito, de há uns tempos a esta parte que os referidos signatários vêm notando que a firma requerente
tem procurado, sobretudo na época da estiagem, e por meios nada legais, prejudicar os interesses deles
signatários, impedindo o natural curso das águas, que iriam irrigar os seus sequiosos prédios.

Na verdade, o desaforo da mencionada firma requerente assumiu tais proporções que no ano findo
[1945] a levou – sem prévia licença de V. Ex.ª segundo supomos – à construção de um grande depósito,
com capacidade para uns milhares de pipas de água, construção essa feita na margem esquerda do
dito rio de Galinhas, em terreno contíguo à sua fábrica. (…)

Efectivamente, a firma referida pretendia e pretende, sem dúvida, nada mais, nada menos do que levar
aos signatários um total, absoluto e irreparável prejuízo, pois que, o que ela procura ansiosamente é,
captando novamente as águas por ela já utilizadas, reconduzi-las, não para a levada que fica em frente da
sua fábrica, como, aliás, quer fazer acreditar a quem ler o seu requerimento (…), mas sim reconduzi-las de
novo para o depósito (…), para mais uma vez serem por ela aproveitadas, e assim sucessivamente. (…)

Porque os signatários são donos e legítimos possuidores de prédios rústicos, que ficam situados

Ambiente, Direcção-Geral dos Serviços Hidráulicos e Eléctricos, Direcção Hidráulica – Douro, Fábrica de Papel do Marco de
Canaveses, Proc.º n.º 842/1944.

20 “Memória Descritiva”, de 1 de Maio de 1944, Arquivo da Agência Portuguesa do Ambiente, Direcção-Geral dos Serviços
Hidráulicos e Eléctricos, Direcção Hidráulica – Douro, Fábrica de Papel do Marco de Canaveses, Proc.º n.º 842/1944.

316
na margem direita do dito rio, e a jusante da também já dita fábrica de papel da firma requerente,
prédios esses que desde tempos imemoriais são irrigados pelas águas do referido rio, por gozarem de
direitos que jamais alguém poderá contestar, esperam os mesmos signatários que V. Ex.ª não somente
indeferirá o requerido pela dita firma (Figura 14), mas ainda se dignará ordenar à mesma firma que
desfaça, total e completamente o referido depósito (Figura 15) visto ter sido construído à margem da
lei e ir prejudicar, seriamente, os prédios dos ditos signatários”21.

Figura 14 – Planta com a indicação do novo corpo da Fábrica. Esc.: 1:250. Fonte: Arquivo APA.

Figura 15 – Planta com os depósitos. Esc.: 1:250. Fonte: Arquivo APA.

21 “Reclamação apresentada ao Engenheiro Director da Direcção Hidráulica do Douro”, 14 de Fevereiro de 1946. Arquivo da
Agência Portuguesa do Ambiente, Direcção-Geral dos Serviços Hidráulicos e Eléctricos, Direcção Hidráulica – Douro, Fábrica
de Papel do Marco de Canaveses, Proc.º n.º 842/1944.

317
Perante esta reclamação, a Direcção de Hidráulica do Douro intimou a gerência da Fábrica de Papel
do Marco de Canaveses a “repor tudo no seu primitivo estado”22, o que aquela acatou, desistindo assim
da construção da barragem e, consequentemente, da sua tentativa de resolução do problema da falta
de água durante o período estival. Relativamente aos dois reservatórios, que tinham sido construídos
sem ter sido solicitada previamente a respectiva autorização, em 15 de Junho de 1947 a gerência da
Fábrica de Papel veio finalmente solicitar a sua legalização:

“Os reservatórios em referência, foram, como se indica nas plantas, construídos de pedra e argamassa
de cimento, ao longo do canal da fábrica, do qual recebem as águas. São em número de dois esses
depósitos, um com as dimensões 5,80 X 5,50 X 3,20 e outro com as dimensões de 16,00 X8,40 X
3,20, e a cubagem respectivamente de 102,800 e 430,800 metros cúbicos. As águas ali depositadas
destinam-se a consistir uma reserva permanente de águas limpas para assegurar a laboração da
fábrica, no que respeita à preparação da pasta de papel, depois do que são lançadas à corrente”23.

Concedida inicialmente “a título precário”24, a licença veio posteriormente a tornar-se definitiva.

Não dispomos infelizmente de elementos de natureza económica sobre a actividade da Fábrica de


Papel do Marco de Canaveses mas, muito provavelmente, a boa situação que registava no final da
II Guerra Mundial, tal como aconteceu então de um modo geral com a indústria portuguesa, leva-nos
a acreditar que tal esteve na base da ampliação das suas instalações fabris, decidida precisamente
em Maio 1944, como referimos anteriormente. Verificou-se, uma vez mais, que a gerência realizou
primeiro as obras – não só as da ampliação das instalações como a da construção dos dois armazéns
–, solicitando posteriormente, em 15 de Junho de 1947, a sua legalização.

De acordo com a Memória Descritiva tratava-se do “prolongamento das suas instalações, para o lado
sul (…). A ampliação foi feita em pedra e cimento, coberta de telha, constituída por 3 pavimentos,
ocupando a área coberta de 128 m2. Esta dependência destina-se ao acabamento e seca de papel”25.

Não ficaram por aqui as obras de ampliação da Fábrica. Na mesma data foi também solicitada,

22 “Comunicação n.º 6.826 ao Engenheiro Director da Direcção de Hidráulica do Douro”, de 30 de Setembro de 1946. Arquivo
da Agência Portuguesa do Ambiente, Direcção-Geral dos Serviços Hidráulicos e Eléctricos, Direcção Hidráulica – Douro,
Fábrica de Papel do Marco de Canaveses, Proc.º n.º 842/1944.

23 “Memória descritiva e justificativa”, de 15 de Junho de 1947. Arquivo da Agência Portuguesa do Ambiente, Direcção-Geral
dos Serviços Hidráulicos e Eléctricos, Direcção Hidráulica – Douro, Fábrica de Papel do Marco de Canaveses, “Legalizar a
construção de dois reservatórios de água que construiu”, Proc.º n.º 784/1947.

24 “Diploma de Licença n.º 1.209”, de 5 de Setembro de 1947. Arquivo da Agência Portuguesa do Ambiente, Direcção-Geral
dos Serviços Hidráulicos e Eléctricos, Direcção Hidráulica – Douro, Fábrica de Papel do Marco de Canaveses, “Legalizar a
construção de dois reservatórios de água que construiu”, Proc.º n.º 784/1947.

25 “Memória Descritiva”, 15 de Junho de 1947. Arquivo da Agência Portuguesa do Ambiente, Direcção-Geral dos Serviços
Hidráulicos e Eléctricos, Direcção Hidráulica – Douro, Fábrica de Papel do Marco de Canaveses, “Legalizar o prolongamento
das suas instalações com a construção de um aumento constituído por 3 pavimentos, com paredes de pedras, soalhos de
madeira e cobertura de telha francesa”, Proc.º n.º 758/1947.

318
autorização para proceder à “ampliação do seu edifício com uma dependência de dois pavimentos,
rés-do-chão e primeiro andar (Figura 16), ocupando a superfície de 65,360 m2, onde no primeiro
pavimento (…) a instalação de duas ‘galgas’, em pedra, com diâmetro de 1,35 m e a espessura de 0,45
m, as quais são accionadas pela força motriz eléctrica da fábrica, já instalada desde longa data, para
ali transmitida por uma linha de eixo”26.

Figura 16 – Planta com o alçado principal sobre o rio e a planta do 1.º andar. Esc.: 1:250. Fonte: Arquivo APA.

As obras que a gerência da Fábrica se propunha realizar seriam efectuadas com paredes de alvenaria
revestidas a argamassa de cimento, sendo a sua cobertura, assim como os pavimentos, em cimento.
As portadas e janelas seriam em madeira e vidraça. Quanto às galgas que seriam instaladas (Figura
17), destinavam-se a triturar e maçar desperdícios de papel a fim de ser preparada a pasta de papel.

Figura 17 – Plantas com o projecto para a construção de uma dependência para duas galgas para
trituração de papel. Esc.: 1:100. Fonte: Arquivo APA.

26 “Memória Descritiva e Justificativa”, 15 de Junho de 1947. Arquivo da Agência Portuguesa do Ambiente, Direcção-Geral
dos Serviços Hidráulicos e Eléctricos, Direcção Hidráulica – Douro, Fábrica de Papel do Marco de Canaveses, “Ampliação
das suas instalações, construindo uma pequena dependência de dois pavimentos”, Proc.º n.º 759/1947.

319
Apesar do desenvolvimento que a Fábrica de Papel do Marco de Canaveses tinha registado nos
últimos anos e, muito provavelmente, decorrendo dessa situação, no início da década de 1950 era
cada vez mais premente resolver o problema da falta de água durante o estio, em relação ao qual,
como vimos, já tinha ensaiado uma solução, que contudo não dera resultado.

Assim, em Novembro de 1954, a gerência da Fábrica de Papel trouxe de novo o problema à ordem
do dia, solicitando a respectiva autorização à Direcção de Hidráulica do Douro. Os argumentos
agora utilizados sublinhavam o facto da Fábrica de Papel ter tido início

“numas reduzidas instalações, e, para seu accionamento, aproveitava o potencial hidráulico que
lhe fornecia o Rio de Galinhas, em cuja margem esquerda fica situada. Presentemente possui
posto de transformação próprio.

As águas, para aquele efeito, eram derivadas por um antigo açude existente naquele rio, logo a
montante das instalações, de eduzida capacidade.

Sofreu a fábrica várias ampliações, e, hoje ocupa uma vasta área coberta e proporciona trabalho a
uma centena de operários, pelo que, a coloca, sem dúvida, em lugar evidente entre as congéneres,
e a mais importante no norte do País.

Com o desenvolvimento da indústria, passou-se a reconhecer a insuficiência de água, elemento


indispensável no fabrico. Para remediar essa falta, fez a fábrica construir em tempos, dois tanques-
reservatórios, onde armazena águas vindas do açude, dada a sua falta de capacidade.

Notou-se porém, que essa obra não veio satisfazer as necessidades, e que tais reservatórios,
embora com certa capacidade, de verão, eram insuficientes.

Além disso, impõe-se ali uma reserva de água para acudir a qualquer incêndio que numa indústria
destas é possível.

Com vista a remediar esses inconvenientes, propõe-se a Fábrica de Papel do Marco, Lda., na impossibilidade
de melhorar as condições do seu açude actual, a construir um outro, mais a jusante do existente 30 metros,
em local que reputa ideal para levar a efeito essa obra, porquanto a natureza do terreno e do Rio permite
uma larga albufeira, como também a margem, um perfeito travamento, visto ser flagrante a natureza do
terreno da margem direita, que apresenta um afloramento de rocha muito apreciável. Na margem esquerda,
o travamento será feito no muro de suporte, tal como indica o projecto.

O açude será construído em alvenaria e cimento, medindo no coroamento 8,70 m, e de altura


6,00 m. Ficará com dois descarregadores, um de superfície, e outro de fundo, medindo cada um,
respectivamente, 1,50 m de largura por 2,00 m de altura, e 1,50 m por 1,00 m.

320
Para assegurar a subida do peixe, será feito junto à margem direita um plano inclinado.

Junto apresenta-se projecto das obras (Figuras 18 e 19), e esclarece-se que a água apenas se destina
à manufactura de papel27”.

Figura 18 – Corte transversal e alçado do açude a construir. Escala 1:100. Fonte: Arquivo APA.

Figura 19 – Corte longitudinal do açude a construir. Escala 1:200. Fonte: Arquivo APA.

Aberto o inquérito público, em 15 de Dezembro de 1954, foram apresentadas três reclamações por
parte de proprietários vizinhos, solicitando o indeferimento do pedido da Fábrica, com a justificação de
que a construção do novo açude iria “tirar o direito a águas de rega dos seus terrenos”28. No entanto,
as Informações – tanto do Lanço como da Secção – foram positivas, em particular a do primeiro:

27 “Memória Descritiva”, de 6 de Novembro de 1954. Arquivo da Agência Portuguesa do Ambiente, Direcção-Geral dos
Serviços Hidráulicos e Eléctricos, Direcção Hidráulica – Douro, Fábrica de Papel do Marco de Canaveses, “Aproveitamento
de águas do Rio Galinhas”, Proc.º n.º 65/1924.

28 “Reclamação”, de 27 de Dezembro de 1954. Arquivo da Agência Portuguesa do Ambiente, Direcção-Geral dos Serviços
Hidráulicos e Eléctricos, Direcção Hidráulica – Douro, Fábrica de Papel do Marco de Canaveses, “Aproveitamento de águas
do Rio Galinhas”, Proc.º n.º 65/1924.

321
“Resume-se o pedido da Fábrica de Papel do Marco em substituir o seu velho açude por outro que
reúne melhores condições no represamento das águas da corrente indispensável à laboração da
sua indústria (Figuras 20 e 21), não só como elemento motriz, como manufacturador (sic). Existe, de
tempos imemoriais, o açude de que beneficia a fábrica, o qual se encontra localizado e em condições
tais que não merece sua reconstrução. (…)

Eu suponho que o pedido, nos termos apresentados, não é de prejudicar os proprietários de jusante,
de cujas sobras das águas, como até aqui continuarão a beneficiar, visto não ser alterado o seu ponto
de restituição”29.

Figura 20 – Planta da Fábrica em 1956, indicando o açude a construir. Escala 1:500. Fonte: Arquivo APA.

Figura 21 – Corte transversal e alçado do açude. Esc.: 1:100. Fonte: Arquivo APA.

29 “Informação do Chefe do 8.º Lanço”, de 12 de Janeiro de 1956.Arquivo da Agência Portuguesa do Ambiente, Direcção-
Geral dos Serviços Hidráulicos e Eléctricos, Direcção Hidráulica – Douro, Fábrica de Papel do Marco de Canaveses,
“Aproveitamento de águas do Rio Galinhas”, Proc.º n.º 65/1924.

322
Contudo, na Informação da Secção, o Engenheiro-Chefe, não obstante considerasse que o assunto
era delicado, “pois as sobras, com a constituição do açude, ficarão certamente diminuídas e virão a
afectar os proprietários de jusante”30, também admitia que o pedido era de deferir, propondo contudo
uma visita ao local.

A solicitação da gerência da Fábrica de Papel para a construção de um novo açude deverá ter
caído num impasse, agravado por uma “Notificação” da Direcção-Geral dos Serviços Hidráulicos,
exigindo a legalização do seu aproveitamento hidráulico, “porquanto a licença n.º 128/924 foi
concedida para a instalação uma turbina para uma potência de 12 H.P. e o que actualmente
lá existe é uma roda hidráulica da potência de uns 30 H.P.”31. Na realidade, tratava-se de um
equívoco daqueles Serviços, pois como o comprova um ofício posterior da Direcção-Geral dos
Serviços Industriais, a Fábrica de Papel dispunha de “duas rodas hidráulicas, de 10 C.V. cada,
ambas accionadas por cima, e uma turbina hidráulica, de 21 C.V., todas vistoriadas em 18 de
Junho de 1937”.

No início de 1958 eram já claras as dificuldades com que a Fábrica de Papel do Marco de Canaveses
se defrontava, nomeadamente pela não resolução atempada do pedido para a construção do novo
açude – em 29 de Abril de 1957, a autorização ainda se encontrava pendente –,as quais vieram
agravar a sua situação económica, que experimentava então algumas dificuldades, nomeadamente
junto da banca. No entanto, existiu um outro conjunto de dificuldades que desempenharam um
papel decisivo na falência da Fábrica, a qual virá a ser decretada a 28 de Maio de 1958, por
sentença do Tribunal Judicial de Marco de Canaveses. Empregava então cerca de 200 operários,
dos quais, aproximadamente metade eram do sexo feminino. Como causa próxima desse processo
de falência, encontrava-se “a falência do capitalista que vinha financiando aquela Sociedade,
por meio de letras descontadas nos Bancos que agora requerem a falência”32.O Banco Nacional
Ultramarino foi um dos que a requereu, fixando o Tribunal em sessenta dias o prazo para os credores
reclamarem os seus créditos e nomeando o Dr. Francisco Vaia de Castro como administrador da
massa falida33. Não pode contudo excluir-se como causa remota, “alguns erros de administração,
que vinham a ser cometidos de longa data. O facto de se encontrarem em dívida, há mais de dois
anos, as contribuições devidas à Caixa de Abono de Família e Sindical de Previdência, bem como

30 “Informação da Secção”, de 16 de Fevereiro de 1956. Arquivo da Agência Portuguesa do Ambiente, Direcção-Geral dos
Serviços Hidráulicos e Eléctricos, Direcção Hidráulica – Douro, Fábrica de Papel do Marco de Canaveses, “Aproveitamento
de águas do Rio Galinhas”, Proc.º n.º 65/1924.

31 “Notificação” da Direcção-Geral dos Serviços Hidráulicos, de 29 de Abril de 1957, no seguimento do ofício do mesmo
organismo, de igual teor, de 16 de Março de 1956.Arquivo da Agência Portuguesa do Ambiente, Direcção-Geral dos Serviços
Hidráulicos e Eléctricos, Direcção Hidráulica – Douro, Fábrica de Papel do Marco de Canaveses, “Aproveitamento de águas
do Rio Galinhas”, Proc.º n.º 65/1924.

32 “Esclarecimento (Fábrica do Papel do Marco de Canaveses, Lda.)”, O Marcoense, Marco de Canaveses, Ano 42, n.º 1.100,
de 13 de Setembro de 1958, p.3.

33 “Tribunal da Comarca de Marco de Canaveses “, Diário do Governo, Lisboa, 3.ª Série, n.º 146, de 24 de Junho de 1958, p. 1567.

323
ao Fundo de Desemprego (…) mostra, com efeito, que as dificuldades da administração já eram
anteriores à falência do capitalista”34.

A Fábrica de Papel do Marco de Canaveses encontrava-se equipada com maquinaria moderna e


eficiente, podendo produzir em boas condições de preço e qualidade, razões pelas quais a colocação
da sua produção no mercado se encontrava assegurada. Nestas circunstâncias, pouco tempo depois
a sua falência ter sido decretada surgiu de imediato uma proposta para a sua aquisição, que contudo
não foi aceite por não prestar as garantias que lhe tinham sido exigidas. No entanto, no início de 1959
a Fábrica já pertencia a uma outra empresa, a Companhia de Papel de Marco de Canaveses, SARL35,
com sede em Lisboa, a qual conduzirá os seus destinos até ao seu desaparecimento definitivo como
unidade industrial, em 2007. Esse quase meio século de actividade ininterrupta será objecto de análise
na segunda parte deste artigo.

FONTES E BIBLIOGRAFIA

Fontes

Arquivo da Agência Portuguesa do Ambiente, Direcção-Geral dos Serviços Hidráulicos e Eléctricos,


Direcção Hidráulica – Douro, Processos n.ºs 64/1924, 65/1924, 220/1936, 1343/1939, 601/1942,
789/1942, 3156/1942, 3157/1942, 3158/1942, 2591/1943, 842/1944, 843/1944, 844/1944, 845/1944,
846/1944, 1287/1944, 757/1947, 758/1947, 759/1947, 773/1947, 784/1947.
ANTT/Arquivo Distrital de Lisboa, Notário Noronha Galvão, escritura lavrada em 6 de Dezembro de
1939.
Instituto dos Registos e do Notariado, Arquivo Central do Porto, Notário Eduardo dos Santos Maia
Mendes, escritura lavrada em 26 de Junho de 1923.

Bibliografia

Grémio Nacional dos Industriais de Fabricação de Papel (1974), Indústria Papeleira. Esboço de Análise
Sectorial, 1960-1971. Lisboa: Grémio Nacional dos Industriais de Fabricação de Papel.
Publicações Periódicas
A Defesa do Marco, Marco de Canaveses.
Diário do Governo, Lisboa.
O Marcoense, Marco de Canaveses.

34“Esclarecimento (Fábrica do Papel do Marco de Canaveses, Lda.)”, O Marcoense, Marco de Canaveses, Ano 42, n.º 1.100,
de 13 de Setembro de 1958, p. 3.

35 Os seus administradores eram Mário de Oliveira, Nunes dos Santos e Eng.º Mário Gonçalves.

324
GRUPO 10
TINTAS. TÉCNICAS DE IMPRESIÓN
LOS LIRIOS DE JOSEFINA

Gloria Pérez de Rada Cavanilles


Real Jardín Botánico
gloria@rjb.csic.es

RESUMEN

Josefina compro la finca el “Château de Malmaison” en 1799 para ella y su marido, el futuro Napoleón
I de Francia, que por aquel entonces se encontraba luchando en el frente. Malmaison era una finca
destartalada, a ocho millas al oeste del centro de París, que abarcaba casi 150 acres de bosques y
prados. A su regreso, Napoleón expresó su furia porque Josefina hubiera comprado una casa tan
cara con el dinero que ella esperaba que él trajera de su campaña egipcia, pero Josefina consiguió
transformar esta finca destartalada en «el más bello y curioso jardín de Europa, un modelo de buen
cultivo», dónde se cultivaban flores raras y exóticas, como las Liliáceas de las que vamos a hablar.

PALABRAS CLAVE

Josefina, Napoleón Bonaparte, Redouté, La Malmaison, Las Liliáceas

La conferencia va a tratar de una obra que se conserva en la Biblioteca del Real Jardín Botánico.

Entre los fondos históricos de la Biblioteca se encuentra “Les Liliacées”, editada en “Grand papier” en
París entre 1807 y 1816 y compuesta de 8 volúmenes. En estos 8 volúmenes de gran formato Pierre-
Joseph Redouté reproduce los dibujos que él mismo dibuja y colorea de la colección de lirios, que la
Emperatriz Josefina tenía plantados y que crecían en sus Jardines de su Chateaux de la Malmaison,
a las afueras de París.

Chateaux cuyo nombre deriva de la denominación “mauve maison”, que ya ostentaba de antiguo y que
Josefina y su marido Napoleón Bonaparte compran en 1799 por 325.000 francos, será su domicilio
conyugal hasta 1809, año en el que se divorcian, quedándose Josefina con la propiedad y todas las
colecciones que en ella se contenían. A su muerte en 1814, la hereda su hijo Eugéne, y es su esposa
ya viuda quien se la vende al banquero suizo Jonas Hagerman.

327
Fig. 1. CHATEAUX DE LA MALMAISON

Durante su exilio en Francia, en 1842, después de haber sido obligada a renunciar a la regencia de su
hija Isabel II de España, María Cristina de Borbón-Dos Sicilias compró la finca al rey Luis Felipe I por
la cantidad de quinientos mil francos, y en ella residiría junto a su segundo esposo Agustín Muñoz y
Sánchez, y los hijos de ambos, hasta que en 1861 vuelve a la familia ya que es vendida a Napoleón
III, hijo de Hortensia y por tanto nieto de Josefina.

Después de varias recompras y reventas el estado francés se hace con ella en 1903 y desde 1905 es
Museo estatal.

Josephine, nombre con el que fue coronada emperatriz de Francia por su marido Napoleón Bonaparte,
nació en 1763 en Trois-Ilets en Martinique, y fue bautizada como Marie-Joseph-Rose de Tascher de la
Pagerie , de niña tuvo de una infancia feliz en la plantación que su padre tenía en esta isla, hasta que
con 16 años fue enviada a París, a buscar marido y lo encontró en la figura del vizconde Alexandre de
Beauharnais, un aristócrata liberal que desempeñó un papel político durante la Revolución francesa.
Alexandre era un noble ilustrado que estudió en la Universidad de Heidelberg e inició una carrera
militar bajo el reinado de Luis XVI. Fue elegido como diputado a los Estados Generales de 1789 y pasó
a formar parte de la Asamblea constituyente en la que apoyó la supresión de los privilegios feudales en
la noche del 4 de agosto de 1789.

328
Fig. 2. JOSEPHINE

Presidió la Asamblea constituyente en 1791, y la Sociedad de la Libertad de Estrasburgo, afiliada al


Club de los jacobinos. Retomó su carrera militar en el ejército revolucionario y fue nombrado general del
Ejército del Rin en 1793. Tras su derrota ante los ejércitos prusianos y austríacos, cuya consecuencia
fue la pérdida de la ciudad de Maguncia, dimitió y abandonó el ejército.

Josefina tuvo dos hijos con él, Eugène y Hortense, lo que no le impidió separarse de su esposo en 1783.

En la Revolución fueron los dos encarcelados bajo el Terror en el antiguo convento de los Carmelitas,
mientras que él fue juzgado por el Tribunal Revolucionario por traición, y guillotinado, Josefina se libró
de ser ejecutada, siendo puesta en libertad tres meses después de su detención.

Es esta viuda de 32 años la que Napoleón se encuentra en 1795 en el entorno de Paul Barrás, uno de
los jefes del Directorio y amigo íntimo de Josefina. El joven general Bonaparte queda seducido por la
gracia y encanto de la viuda y se casan en una boda civil el 9 de marzo de 1796, quedando ella unida
al ascenso político de su marido, sobre todo después del golpe de estado del 18 de Brumario cuándo
Napoleón derroca al Directorio.

A pesar de que Napoleón, la amenazó reiteradamente con el repudio debido a que en sus ausencias su
conducta era frívola y le acusa de coquetear con otros hombres en sus ausencias, no sólo no la repudia
sino que la corona como Emperatriz en 1804.

Comparte pues trono imperial con él durante cinco años, pero al no poder quedarse embarazada y
darle un heredero acaba resignándose a aceptar el divorcio con consentimiento mutuo en 1809 delante

329
de la Corte reunida en las Tullerias. Napoleón le conserva su rango, su título de emperatriz y le deja
a su disposición la posesión de la Malmaison con todas sus colecciones y obras de arte y una renta
anual de cinco millones de francos.

Después de su divorcio, Josefina continuó recibiendo a sus amistades con el mismo lujoso tren de vida.
Tiene la mesa puesta para sus amigos y organiza conciertos, fiestas y demás actividades lúdicas en
sus salones, recibiendo personajes tan ilustres como el zar Alejandro I.

Fig. 3. INVERNADERO DE LA MALMAISON

A Joséphine de Beauharnais, nacida en Martinica, le gustaba lo exótico y era muy aficionada a


coleccionar todo tipo de cosas y especies raras, tanto en obras de arte para adornar la casa como en
la botánica y zoología para enriquecer con variedades botánicas, animales exóticos y pájaros traídos
de todos los continentes su parque y jardines.

En el momento de más esplendor de la Malmaison, Josefina tuvo la compañía de canguros, cebras,


ovejas, gacelas, avestruces, gamuzas, una foca, antílopes y llamas, que correteaban libremente por
el parque y los terrenos de alrededor, y fue el primer lugar en Europa donde se reprodujeron los cisnes
negros de Australia, traídos en la expedición de Baudin por los mares australes.

Fig. 4. CISNES NEGROS

330
En 1814 muere de unas anginas infecciosas en Malmaison rodeada de sus dos hijos y sus nietos, entre
ellos el futuro Napoleón III, hijo de Hortense, que pasan el verano con ella.

Napoleón, no volverá más que dos veces a la Malmaison, una para encontrarse con Josefina, y otra
tras la derrota en la batalla de Waterloo y antes de su exilio en la isla de Santa Helena, temporada en
la que vivió algún tiempo en la Malmaison.

En 1799 cuando Bonaparte y Josefina compran la propiedad, contrataron a los arquitectos Percier
y Fontaine para acometer las obras de conservación y remodelación del edificio, y a una serie de
paisajistas para el parque y jardines ya que Josefina, quería convertirlo en su jardín botánico particular.

En 1800 construye una Orangerie, invernaderos y una serie de estufas frías en el que plantaría flores
cultivadas y también especies nuevas para la botánica europea.

Contrata al el botánico francés Étienne Pierre Ventenat, como director científico de sus colecciones
de plantas, quién en 1803 publica en dos volúmenes de 10 fascículos cada uno Le Jardín de la
Malmaison, obra ilustrada con los dibujos y descripciones de las plantas que crecían en este Jardín.

Fig. 5. PORTADA

Conoce a Aimé Jacques Alexander Goujaud, apodado y conocido como Bonpland, “Bon plant”. El
famoso botánico y explorador que junto con Alexander von Humboldt consiguen permiso del rey Carlos
IV para visitar los virreinatos españoles en América, entre 1799 y 1804, Humboldt y Bonpland viajaron
juntos por España, Venezuela, Colombia, Ecuador, Perú, Cuba, México y los Estados Unidos.

Durante esta exploración científica recogiera, entre otros especímenes, cerca de 4500 variedades de
plantas, 3600 de ellas desconocidas hasta entonces para los europeos.

La amistad de Bonpland y Josefina empieza cuando él vuelve de sus expediciones a América y le ofrece
algunas semillas de plantas raras y desconocidas para que las plante y aclimate en sus invernaderos.

331
Josefina, encantada, las manda plantar y Bonpland la visita todas las semanas para supervisar su
desarrollo, haciéndose amigos.

También Josefina tiene una rosaleda con cerca de 250 especies de rosas. Se mantuvo en contacto
con hibridadores europeos y le dio a la actividad un impulso inaudito. En el volumen “Les Roses”,
Redouté representó a una gran cantidad de ellas (se cree que cerca de 117 dibujos pertenecían a
especies de La Malmaison). Lamentablemente no nos ha llegado una lista exacta de las variedades
allí presentes.

Una variedad “Souvenier de la malmaison “ fue creada en 1843 por el rosalista Jean Béluze ,y aunque
fue obtenida después de la muerte de Josefina ,recibe su nombre en honor a la su residencia y jardín
creado y formado con gran interés y esmero por la misma emperatriz.

A la muerte de Ventenat, en 1808, nombra a Bonpland como sucesor en la dirección científica de sus
colecciones botánicas, quién continuará en el cargo hasta la muerte de Josefina en 1814.

Bonpland establece una costumbre muy normal entre establecimientos botánicos como es el
intercambio de semillas y plantas con otros jardines, algunos reales como los jardines de Schonbrunn
(Viena) y Sconfeld (Berlín).

En 1812 publica Description des Plantes Rares Cultivées à Malmaison et à Navarre, como una
continuación a la obra de Ventenat, con 64 ilustraciones grabadas a color mediante la técnica del
puntillado o stipple, 54 dibujadas y grabadas por Redouté y 9 por Pancrace Bessa, quién empieza
a trabajar en 1816 como profesor de pintura para la Duquesa de Berry, cuñada del rey Carlos X de
Francia.

Bessa también trabajó en los Velins du Roi, una colección de más de 7000 dibujos botánicos y
zoológicos , dibujos a la témpera y acuarela sobre pergamino, que se conservan en el Museo de
Historia natural de Paris y que inicio Gastón d’Orléans, hermano de Louis XIII.

Trabajó en esta colección como dibujante desde 1823 hasta su muerte en 1846, pero quién tiene
una relación más estrecha con Josefina como pintor de sus colecciones de flores es Pierre-Joseph
Redouté (1759-1844), coloquialmente conocido el “Rafael de las Flores”, es sin duda uno de los artistas
botánicos más célebres de todos los tiempos. Aunque belga de nacimiento, desarrolló la mayor parte
de su carrera y alcanzó la fama en Francia.

332
Fig. 6. P.J. REDOUTÉ

Sus primeros contactos con el mundo de la botánica tuvieron lugar gracias a Charles Louis L’Héritier
de Brutelle, (1746-1800) botánico francés que le contrató para que ilustrase su obra Stirpes Novae. A
partir de ese momento, Redouté no dejaría ya nunca de dibujar plantas y de trasladar esos dibujos a
los grabados con los que se ilustraron algunas de las obras de botánica más importantes de su tiempo,
como la Encyclopédie Botanique de Lamarck o la Histoire des plantes grasses del botánico suizo
Augustin Pyrame de Candolle.

Redouté adquirió una buena formación como aprendiz en el taller de su padre, también pintor, en
sus viajes por Bélgica, Luxemburgo y Holanda realiza pintura religiosa, y retratos, en los cuales los
personajes aparecen ya rodeados de flores. Muere su padre y se traslada a París donde se encuentra
con su hermano mayor, Antoine-Ferdinand Redouté y conoce a los eminentes botánicos Charles-Louis
L’Héritier de Brutelle (1756-1809) y Desfontaines quienes le orientaron hacia la ilustración botánica.
L’Héritier botánico se fija en él y lo contrata para ilustrar sus obras de botánica y se lo lleva con él a
Londres en 1787.

En el Real Jardín Botánico de Kew, cerca de Londres, continúa sus estudios y se encuentra allí con el
grabador italiano Bartolozzi con el que profundiza en el desarrollo del grabado punteado. Bartolozzi
(Florencia, 1727- Lisboa, 1815), grabador, pintor y dibujante italiano fue hijo del orfebre Gaetano
Bartolozzi, con el que se formó antes de ingresar en la Academia de Bellas Artes de Florencia. Allí
aprendería los rudimentos de su oficio, mostrando especial interés por la miniatura, el pastel y la
acuarela y especializándose poco después en la técnica del grabado. Entre 1745 y 1751 trabajó en
el taller de Joseph Wagner, célebre grabador y editor veneciano especializado en temas de historia.
Durante estos años grabó la obra de artistas venecianos contemporáneos, como Jacopo Amigoni o
Pietro Longhi, y de algunos clásicos de la escuela, como Veronés.

333
Fig. 7. P.J REDOUTE, acuarela sobre vitela

Se especializó en seguida en la técnica del grabado a modo de lápiz, que le permitía reproducir las
sutiles gradaciones de los dibujos al carboncillo del renacimiento y el barroco, aunque también fue un
maestro en el procedimiento del puntillado. Con esta técnica llevaría a cabo uno de sus proyectos más
ambiciosos: convertir en estampas los dibujos de Guercino que se encontraban en las colecciones
venecianas. Gracias al éxito que le reportó este encargo, por mediación de Richard Dalton, bibliotecario
del rey Jorge III, fue invitado a Inglaterra para grabar los dibujos de Guercino en la Royal Collection.

Nada más llegar al país, en 1764, fue nombrado grabador del rey y cuatro años después se convertía
en uno de los fundadores de la Royal Academy, siendo, además, responsable de grabar el diseño
que Giovanni Battista Cipriani realizó para el diploma de dicha institución. En 1802 se estableció en
Lisboa, donde fue nombrado director de la Academia de Bellas Artes y donde trabajó hasta su muerte.
Entre sus proyectos más importantes cabe destacar la serie que realizó sobre la obra Silencio, de
Annibale Carracci, las ilustraciones para Las ruinas del palacio del emperador Diocleciano en Espalato
(1764, Londres), de Robert Adam, y las que llevó a cabo para Orlando furioso. Asimismo, trasladaría
al grabado la obra de creadores contemporáneos, como Angelica Kauffmann, John Singleton Copley
o Thomas Gainsborough.

A su regreso a París en 1788, L´Heritier lo introduce en la Corte de Versalles. La reina María Antonieta
le nombra pintor de su gabinete .En 1792 es contratado por la Académie des Sciences. En 1798
encuentra protección en la emperatriz Josefina de Beauharnais y, posteriormente, es nombrado su
pintor oficial. Después del divorcio de Napoleón en 1809 pasó a enseñar pintura a su nueva esposa, la
emperatriz María Luisa de Austria. En 1824 impartía cursos de dibujo en el Musée National d’Histoire
Naturelle de París, a los que asistían numerosas damas de la realeza, y en cuyo fondo actual se
encuentran guardados parte de sus numerosos dibujos originales sobre pergamino. Colaboró con

334
los mejores botánicos de su época y participó en unas cincuenta obras, “retratando” con una calidad
extraordinaria las flores y plantas del Jardín du Roi y del Jardín de la Malmaison.

Entre sus trabajos más destacados en su época de “pintor de flores de la Emperatriz” con un sueldo
de 18.000 francos anuales se encuentran los dibujos que hace de las flores y plantas cultivadas en
sus jardines e invernaderos.

Fig. 8 Y 9 Josephinia imperatricis, dibujo original de Redouté sobre vitela y el grabado

Redouté para organizar el trabajo monta un taller con 17 grabadores. El procedimiento, dice, consiste en
la aplicación de estos colores sobre una sola lámina por medios “que nos son particulares consiguiendo
dar a nuestros grabados la suavidad y el brillo de la acuarela”. Cada lámina una vez grabada se retoca
con acuarela con pincel por él. Con este método Ilustra una docena de obras de grandes naturalistas
de su tiempo, entre ellas la Encyclopédie Botanique de Lamarck, donde realiza numerosas láminas
al trazo con tinta china que después son transferidas a la plancha metálica y grabadas sobre papel
especial de alto gramaje por Pierre Bénard. En 1793 expone en el Salón del Louvre donde entabla
amistad con numerosos artistas y en 1802 se convierte en su propio editor.

El Jardín del Rey, se convierte en el Muséum National d’Historie Naturelle, y en un concurso para
escoger tres artistas encargados de efectuar las pinturas en “vitela” son designados su hermano Henri-
Joseph, Nicolás Marechal y él mismo.

La revolución modificó la existencia del Jardín Real. En 1793 la Convención por decreto cambia
su nombre por el de Jardín Nacional de plantas del Museo de Historia Natural y el puesto de pintor
botánico es confiado a los dos hermanos Redouté, a Pierre-Joseph y a Henri-Joseph quién había
participado como pintor en la expedición de Egipto de Napoleón, sus acuarelas y dibujos se publicaron
en la famosa obra “Descripción de Egipto” como resultado de la expedición mencionada.

335
Siguen apareciendo numerosas publicaciones de gran éxito, como “Les Roses” y “Les Liliácees”,
compilaciones que fueron publicadas a partir de 1816 acompañadas de textos de Dalaunay.

Redouté se dedica a la formación de jóvenes pintores hasta su muerte. Su primer curso data de 1824
con 120 asistentes. Tiene estudiantes célebres entre los que se cuenta la primera reina de los Belgas,
a quien dedicará en 1836 “Choix de soixante Roses dediées à la Reine des Belges”. Su última obra
será “Choix de Roses”, destinada a la familia del Rey de Francia, Louis-Philippe, publicada a título
póstumo por su viuda. y su hija en 1843 con el título Bouquet Royal.

Fig. 10. Dibujo para “Les Roses” de P.J.Redouté

Redouté revolucionó el mundo del grabado más allá de la botánica al perfeccionar e impulsar el grabado
a puntos o técnica del puntillado, stipple, pointillé o cliblé, una técnica desarrollada a fines del siglo XVIII
que aprendió en Kew Gardens de la mano del grabador italiano F. Bartolozzi, y que le permitió imprimir
directamente en colores aportando una naturalidad, una delicadeza y una belleza excepcionales a sus
grabados. Para realizar las estampas, se utilizaban planchas metálicas grabadas con punteados de
distinta densidad hasta formar el dibujo, lo que confería a las obras esas diferencias de tono y sombra
tan características de su obra.

Posteriormente, la plancha era sometida al ácido y una vez limpia, se entintaba con los diferentes
colores para ser impresa. Los últimos detalles eran añadidos a mano sobre la impresión, utilizando para
ello acuarelas. Esta técnica llevó al grabado botánico a su máximo exponente de belleza y delicadeza
a principios del siglo XIX. El punteado, pointillé, graneado o grabado a puntos, es un procedimiento que
se desarrolló en Inglaterra de dónde pasó a Francia en el siglo XVIII, para reproducir por medio de puntos
solos o asociados al aguafuerte. Puede hacerse en una plancha o en varias dependiendo si la estampa va
a ser monocroma o a color.

336
Fig.11. Distintas ruedas para el puntillado

El procedimiento consiste en dibujar la imagen sobre el metal a base de puntos incisos en el metal ya
sea con la acción directa de punzón que punto a punto o con ruletas de distintos tamaños con los que
se va traspasando el dibujo a la plancha de metal.

Las ruletas son unas ruedecillas provistas de dientes de diferentes grosores y longitudes, que giran
sobre sí mismas y tienen un mango de madera por dónde se agarra y que al girar y desplazarse sobre
el metal, con cierta presión deja líneas de puntos muy regulares.

Líneas de puntos que según el tipo de ruleta que se use, son más profundos o más superficiales, más
finos o más gruesos, unos que otros, lo que hace que el artista a través de las diferentes ruletas y
distintas presiones sobre la plancha pueda ir creando tonos más o menos intensos y las sombras más
o menos oscuras de las distintas zonas que quiera dar a la estampa, ya que es en el hueco que dejan
los puntos dónde se va a depositar la tinta con el color de estampación.

Lógicamente es mucho, más rápido el punteado con ruletas que con punzón y además la regularidad de los
puntos de color le va a portar a la estampa una sensación más armónica, más homogénea y aterciopelada.

También en este procedimiento al moldearse la imagen a base de puntos, y no aparecer ningún trazo
de líneas, se obtienen efectos muy delicados y suaves como se pueden ver en las estampas producto
de esta técnica, pareciendo que el dibujo es una acuarela.

El punteado directo es el que habíamos hablado con ruleta o punzón, pero también hay el indirecto,
conseguir punteado con la aplicación de aguafuerte. En el primer caso la incisión es más bien superficial
y, por tanto los tirajes, a menos que se aceren las planchas no pueden ser muy largos por el desgaste
para la plancha que supone cada tirada. El punteado, que se hace a base de ruleta al aguafuerte, es el
método François, por el apellido del inventor, y también denominado a la manera de lápiz, por el efecto
que se consigue, que recuerda al trazo del lápiz en el papel.

337
Es un medio que estuvo muy de moda en el siglo XVIII, a su vez, es una variante del anterior, el grabado
a la manera de pastel, puesto apunto por Louis-Marín Bonnet en 1769, con finalidad de conseguir una
estampa con calidades parecidas al pastel.

Fig. 12. Centaurea Malmaison, Detalle grabado puntillista

Para ello se graban tantas plancha como colores tiene la composición, y se imprimen una encima
de la otra debidamente registradas. Tuvo gran desarrollo durante el rococó francés y, aparte de las
estampas del propio inventor, son de destacar como modelos las de Demertau.

Bajo el padrinazgo de Josefina, Redouté, dibuja, edita y publica la colección de “Liliaceés”, en ocho
tomos (Paris 1807-1816) en formato “grand papier”, con 486 grabados calcográficos a color realizados
con la técnica del punteado y las descripciones botánicas de Augustin-Pyramus de Candolle.

Antonio José Cavanilles, eminente botánico español era director del Jardín Botánico cuando en 1803 le
fue encomendado el envío de semillas de plantas americanas a la Emperatriz Josefina para su siembra
en el Jardín de la Malmaison, a cambio, la Emperatriz tuvo a bien obsequiarle con varios cuadernos del
primer volumen de Les Liliacées y del Jardín de la Malmaison.

De Redouté dice Cavanilles, en el artículo “Jardín de la Malmaison”, publicado en la revista “Anales


de Ciencias Naturales” de febrero de 1804: “El Jardín de la Malmaison reúne actualmente la más
preciosa colección de vegetales que existe en Europa, y se aumenta sin cesar, porque en ella tiene
sus delicias la esposa del primer Cónsul de la Francia. Pensó esta señora que la pasión que nos
inspiran las bellezas de las flores lejos de ser estéril, debía dirigirse a perfeccionar nuestras ideas y
a comunicarlas en beneficio público: persuadida de esta verdad quiso que se publicasen las riquezas
de su jardín, y nombró para esta empresa a los ciudadanos Ventenat y Redouté, confiando al
primero la descripción científica, y al último loa dibuxos y colorido. Conoce muy bien la Europa la
habilidad de este distinguido artista, que estudiando siempre las producciones vegetales, ha llegado
a copiarlas con tal exactitud, que se confunden con los originales vivos. Colorido, dibuxo, gracia,

338
verdad, todo se encuentra en las estampas de la obra que anunciamos. Parece que Redouté reservó
para ella los recursos de su talento…

Ventenat, trata la parte científica como profesor consumado. Sus descripciones son completas, y sus
observaciones oportunas e importantes para ilustrar los puntos controvertidos o dudosos. Anota en
cada planta la familia a la que pertenece en el método natural. Cita con juiciosa crítica los sinónimos,
y expone su opinión con candor”.

Fig. 13. Iris fimbriata /Iris Frangée (entero y detalle). Grabado puntillista. Les Liliacées

También se refiere a la obra “Les Liliacees”, de la cual Madame Bonaparte envía a Cavanilles 7
cuadernos, junto con tres del “Jardín de la Malmaison” y dice: ” Con los tres quadernos del Jardín de
la Malmaison me vinieron siete de la preciosa obra de las plantas Liliáceas, que empezó a publicar
el ciudadano Redouté en 1802. Escogió esta familia no sólo porque en ella parece que prodigó la
naturaleza todo género de bellezas, colores y matices, sino porque dichas plantas se conservan
difícilmente en los herbarios, dónde pierden la elegancia de sus formas, y la viveza y variedad de sus
colores. Cada uno de los ocho tomos está compuesto por 10 cuadernos, y 60 estampas, menos el
octavo que tiene 11 cuadernos y 66 estampas.

339
Fig. 14. Portada de Les Liliacées

Fue así como ingresaron las dos primeras obras de Redouté en el Botánico, gracias a la propia Josefina
Bonaparte.

Pero la historia no acaba aquí, pues unos años después, en 1816, siendo director del Jardín Mariano
Lagasca, ingresó en la biblioteca la edición en 8 volúmenes de gran papier de “Las Liliáceas”, esta vez
gracias a la mediación del botánico Agustín Pyrame de Candolle, uno de los autores de la obra y a la
sazón director del Jardín Botánico de Montpellier. Según la documentación conservada en el archivo
del RJB, de Candolle ofreció a Lagasca el intercambio de las Liliáceas (tasada en 3.200 francos, toda
una fortuna para una obra de la época) por plantas americanas de la Expedición de Ruiz y Pavón, por
varias obras de Cavanilles y la propia Flora Peruviana.

La colección de Les Liliacées que conserva la biblioteca del Real Jardín Botánico está en efecto
encuadernada en 8 volúmenes e impresa en tamaño gran folio de 56 cm y es, sin lugar a dudas,
una de las obras más valiosas de la biblioteca. La edición “grand papier se editó en 81 cuadernos
entre 1807 y 1816 con 486 estampas y descripciones de plantas, publicada posteriormente a la
edición ordinaria, de tamaño más reducido, que se publicó entre 1802 y 1804 dedicadas ambas a
la Emperatriz Josefina.

Según Stafleu, aunque estaba prevista una tirada de 40 copias, finalmente tan sólo se imprimieron 18,
de las que a día de hoy se conocen muy pocas en colecciones públicas (una de ellas, por ejemplo, en
el Natural History Museum de Londres). Además, según afirma el propio Redouté en el prólogo de la
obra, para esta edición se utilizó un papel de mayor tamaño y calidad que para la edición ordinaria y
los 486 grabados de plantas, aunque impresos directamente en color, fueron posteriormente pintados
y retocados por él mismo, lo que sin duda aporta un valor añadido a esta desconocida y rara edición

También la Emperatriz Josefina encargó a Pierre-Joseph Redouté dibujar sus rosas, para
mantener un registro gráfico de las especies y variedades de su jardín. Esto dio lugar a “Les
Roses”, que se ha convertido en la obra más conocida de Redouté publicada en tres tomos,

340
con los textos descriptivos de Claude-Antoine Thory. y con 169 reproducciones de distintas
variedades de rosas tanto de la colección particular de Thory, como de rosas de Josefina y de
otros jardines de alrededor de París, muchas de las variedades cultivadas que recoge la obra
hoy están desaparecidas.

Fig.15. C.S Thory botánico de “Les Roses”

El primer volumen de “Les Roses” apareció en 1817 tres años después de la muerte de Josefina.

Algunas de estas variedades se las dedica Thory a sus amistades y a otros botánicos como a Ventenat
o L’Heritier, el impresor de las rosas fue Jean-Charles Rémond con taller en la calle Saint Jacques de
París y que fue escogido por Napoleón Bonaparte para que formara parte del equipo de impresores de
la obra monumental “Descripción de Egipto” (1809-1826).

La primera edición de esta obra se ha subastado en 2008, por más de 150.000 libras en Christie’s de
Londres, en la Biblioteca del Jardín tenemos una tercera edición.

La técnica de grabar en esta obra es la misma puntillista que en Las Liliaceas, en la que en su
dedicatoria “A sa Majesté L’Impératrice et Reine”, Redouté que firma como “pintor de flores”, explica
que todos sus estudios y esfuerzos están dedicados a imitar con fidelidad, a través del grabado, las
más bonitas flores del reino vegetal, en particular del género de las Liliaceas y que cada imagen, una
vez impresa, será retocada por su pincel, de manera que el grabado se conservara muy cerca del
dibujo original.

Muchos de los dibujos de flores originales de Redouté, acuarelas o témperas sobre pergamino se
conservan dentro de la colección de “Vélins du Roi, son 7000 dibujos de plantas y animales que se
conservan en el Museo de Historia Natural de Francia.

341
Fig. 16 Paeonia suffruticosa. Acuarela sobre vitela. Redouté

Esta colección la inició en 1630 Gastón de Orleans, hermano de Luis XIII de Francia, que es conocido
históricamente por los numerosos complots que tramó contra su hermano y su ministro Richelieu, pero
también era un hombre ilustrado que en 1635 se instala en sus posesiones de Blois, dónde arregla ell
castillo y construye una casa de fieras, una gran pajarera y un gran jardín botánico, para los que busca
los ejemplares más raros y exóticos. También posee un gabinete de curiosidades, tan del gusto de la
época, consiguiendo atesorar una colección muy importante de medallas y de antigüedades raras y
curiosas así como una gran biblioteca.

El origen de la colección de vitelas pintadas hay que buscarlo en los intendentes de su jardín, los
botánicos Abel Brunyer y Robert Morison, que a fin de tenerlas documentadas, empezaron a dibujar
del natural las plantas en él cultivadas, encargo que el pintor Nicolás Robert empieza a ejecutar
sobre vitela, material más fino que el pergamino ya que es la piel de las crías de cordero nada más
nacer, es un material muy fino y muy blanco lo que le aporta mucha luminosidad al dibujo, y el formato
aprovechable de la piel no va más allá de un rectángulo de 46 x 33 cm.

La técnica que utilizan es acuarela o témpera, en el caso de Redouté a base de puntos y con la minuciosidad
de un miniaturista, encuadrado el dibujo en un filete dorado eventualmente resaltado por un trazo marrón o
azul. Este encuadre permite darle un aspecto similar a todos los dibujos, lo que facilita la idea de colección,
teniendo en cuenta que esta se ha ido aumentado hasta mediados del siglo XIX, con diferentes manos y
autores. Dentro de este recuadro el artista puede jugar con los márgenes, ya que hay unos que los respetan
y otros lo desbordan, pero manteniendo siempre el tamaño del soporte y la técnica de la pintura.

342
A la muerte de Gastón de Orleans en 1660 la colección estaba compuesta de cinco grandes tomos
repletos de dibujos sobre vitela, representando flores, plantas raras y pájaros. La colección pasó a su
sobrino Luis XIV, llamando la atención del ministro Colbert quién animó al rey a que siguiera con la
colección.

Nicolás Robert siguió pintando para el rey con un sueldo de 600 libras al año, y con la obligación de
pintar 24 vitelas al año, dos al mes. En la colección real se conservan un total de 700 vitelas suyas, 500
de tema botánico y 200 de pájaros.

En la colección de vitelas también han participado pintores no tan conocidos y también mujeres como
Adéle Riche, hija del Jardinero mayor del Jardín de las plantas.

También el museo Fitzwilliam en Cambridge, UK, tiene una Buena colección de arte botánico gracias
al generoso legado que Henry Rogers Broughton, 2nd Lord Fairhaven (1900-1973) les donó con obras
de Jacob Marrel, Georg Dionysius Ehret, Pierre-Joseph Redouté y Nicolas Robert.

Fig. 17. Grimperau piocher. Acuarela sobre vitela. Nicolás Robert. Fitzwilliam Museum

A la muerte de Josefina, en el inventario que se hace de sus bienes figuran 14 tomos encuadernados
en tafilete verde con los 486 dibujos originales, pintados en vitela por Redouté para “Les Liliacees”,
valorados en 6.000 francos.

343
Fig. 18. Hemerocallis malmaison, grabado Fig. 19. Hemerocallis malmaison dibujo en porcelana

Los heredó su hijo Eugéne manteniéndose en la familia hasta que se subastan el 1935 por 49.000
francos suizos, el comprador fue un americano que expone una serie de en la Pierpont Morgan Library
, en Nueva york, vuelven a salir a subasta en 1985 por 5 millones y medio de dólares, adquiridos por
varios compradores se han dispersado en varias colecciones.

A Josefina le gustaban tanto los dibujos de Redouté, que no sólo se utilizaron para grabar y editar
las ilustraciones de los libros de flores y plantas, sino que tenía acuarelas de ramilletes de flores
enmarcadas por toda la casa, sobre todo en su cuarto y también mandó hacer una vajilla de porcelana
muy bonita con reborde dorado y muy decorada con los dibujos de flores reproducidos en los fondos
de los platos.

El parque y jardines de la Malmaison, tras su muerte, fueron decayendo, sobre todo las colecciones
botánicas ya que se quedaron sin dirección facultativa, muriendo del todo.

Hoy en día se ha reducido la extensión de los jardines a 6 hectáreas dónde se ha recreado la famosa
rosaleda, entre otras plantas cultivadas.

344
Fig. 20. Amaryllis josephinae/ Amaryllis de Josephine. Acuarela sobre vitela. P.J.Redouté.
Philadelphia Museum of Art. Flor dedicada a Josefina por Redouté

Fig. 21. Amaryllis josephinae/ Amaryllis de Josephine. Les Liliacées de P.J.Redouté. Esta planta
nativa de Sudáfrica, llegó a Holanda en 1789 y floreció por primera vez en la Malmaison en 1805

BIBLIOGRAFÍA

Fleurs du Roi, Museum Natural d’Histoire Naturelle. París 2013


Les Liliacées / par P. J. Redouté, Édition grand papier. París 1807
El Grabado en la Ilustración del libro .Francisco Esteve Botey. 1996
Redouté et son temps. París. 1945
A Redouté treasury. Peter and Frances Mallory.1986
Anales de Ciencias Naturales. Nº 19. Madrid 1804

345
EL PAPEL Y LAS MARCAS TIPOGRÁFICAS EN LA PRODUCCIÓN DEL IMPRESOR BLAS
MIEDES (ZARAGOZA 1780 - 1787)

Alejandrina Aguas Compaired y Ana Ballestero Pascual


Universidad de Zaragoza
aleaguas@unizar.es
anaisabalballestero@gmail.com

RESUMEN

Este trabajo es una investigación rigurosa de los ejemplares que imprimió el taller de Blas Miedes
(1780 - 1789) y que actualmente se encuentran en los archivos y bibliotecas de la ciudad de
Zaragoza.

Se estudian las marcas tipográficas encontradas en sus obras así como el tipo de encuadernación,
su formato y el papel empleado, haciendo especial hincapié en las filigranas empleadas en su
elaboración.

Este texto da a conocer la figura casi desconocida de Blas Miedes y su gran labor en el mundo de la
imprenta zaragozana al trabajar para la Real Sociedad Económica Aragonesa de Amigos del País y el
Arzobispo Lezo y Palomeque.

PALABRAS CLAVES
1. Blas Miedes – Zaragoza – S. XVIII. 2. Marcas tipográficas – Zaragoza – S. XVIII. 3. Filigranas –
Zaragoza – S. XVIII.

ABSTRACT

This paper is a rigorous investigation of the books printed by Blas Miedes workshop (1780-1789) and
they are now in the archives and libraries of the city of Zaragoza.

The typographical marks found in his works are studied as well, as the type of binging, their format and
the paper used, with special emphasis on the filigree used in its elaboration.

This text reveals the almost unknown figure of Blas Miedes and his great work in the world of the
Zaragoza printing by working for the Royal Economic Society of Aragon Friends of the Country and
Archbishop Lezo and Palomeque.

347
KEYWORDS

1. Blas Miedes – Zaragoza – S. XVIII 2. Typographical marks – Zaragoza – S. XVIII. 3. Watermarks –


Zaragoza – S. XVIII

La elección del tema viene dada por nuestro interés sobre las marcas tipográficas y el estudio de
la Historia del papel. Al aunar estas dos disciplinas descubrimos la carencia de un estudio que
profundizara en la figura del impresor Blas Miedes y que además, englobara estos dos aspectos. Visto
que el tema era interesante y que no se había enfocado de manera rigurosa, decidimos investigarlo.

La reflexión sobre esta cuestión condujo hacia una repuesta muy clara: el tema propuesto era inmenso y
frente a esta situación acotamos la propuesta para enfocarlo en los fondos existentes en las bibliotecas
de la ciudad de Zaragoza.

Esta decisión se debe a que esta ciudad posee un número notable de ejemplares de este impresor
ya que su trayectoria profesional se centró en este lugar y es por esto, por lo que las sedes donde
trabajó conservan impresos suyos. Además, los ejemplares de dichos archivos y bibliotecas son muy
heterogéneos, característica que en un principio nos parecía muy interesante porque los resultados
podrían ser diversos.

Al seguir estas pautas, la línea de estudio quedó reducida cronológicamente y temáticamente y por
tanto, su estudio era más factible. Pero, por el contrario, era un campo inexplorado pues no había
sido investigado lo que suponía una dificultad añadida por lo que realizamos un riguroso esquema de
trabajo que abarcaba las catorce bibliotecas y archivos que visitamos1.

El primer paso fue consultar dos fuentes básicas, el libro de Jiménez Catalán que lleva por título Ensayo
de una tipografía zaragozana del siglo XVIII. Zaragoza2 y el de Vindel, Escudos y marcas de impresos
y libreros en España durante los siglos XV a XIX (1485-1850)3. Aunque se trata de dos referencias
importantes, el resultado es muy escueto por lo que sólo nos servía como un primer acercamiento a la
figura de Miedes.

1 Al final del documento se insertan los nombres de todos los archivos y bibliotecas que tienen ejemplares de Blas Miedes y
que visitamos para realizar este artículo.

2 JIMÉNEZ CATALÁN, Manuel, Ensayo de una tipografía zaragozana del siglo XVIII, Zaragoza, La Académica, 1929. p. 22-23

3 VINDEL, Francisco, Escudos y marcas de impresos y libreros en España durante los siglos XV a XIX (1485-1850). Barcelona,
Orbis, 1942. p. 499

348
A este estudio le siguen otras lecturas que nos hablan del panorama social, económico y comercial de
la Zaragoza del siglo XVIII4, así como otras fuentes que tratan sobre la historia de la Real Sociedad
Económica Aragonesa de Amigos del País5.

En cuanto a la consulta de los impresos ha sido necesario usar el Catálogo Colectivo de Patrimonio
Bibliográfico ya que a través de este buscador online se nos facilitaba todo un listado de las obras
de Blas Miedes, el lugar donde se ubicaban así como su signatura. Aunque esta herramienta nos ha
facilitado todos los títulos ya que estos se entraban muy diseminados, por el contrario las búsquedas in
situ han sido muy complicadas debido a que en muchas ocasiones, las numeraciones de las signaturas
aparecían nombradas incorrectamente.

A esto debemos de sumar el gran número de volúmenes que hemos consultado; un total de 120
ejemplares. Debemos matizar que solo son 41 títulos pues aunque muchos volúmenes se repiten,
también los hemos cotejado para analizar el papel con el que fueron elaborados.

Como ya hemos mencionado, la biografía de Blas Miedes se desconocía por completo pese a ser
un impresor de gran relevancia en Zaragoza. Es por esta razón por la que ha sido necesario recabar
información sobre su vida y para ello hemos cotejado los libros sacramentales de la iglesia de San
Nicolás pues gracias a una inscripción en la portada de un ejemplar de su imprenta sabemos que se
ubicaba en la Calle Sepulcro Nº 26, barrio perteneciente a dicha parroquia6.

Al no encontrar ningún tipo de información sobre el cabeza de familia de los Miedes, decidimos rastrear
los documentos expedidos por todos los notarios que había en Zaragoza en el año de su defunción y
de esta manera, poder encontrar alguna referencia a su persona. Gracias a esta técnica pudimos hallar
su testamento con fecha del diez de noviembre de 1786.

Por último, tras recopilar toda la información y estudiarla atentamente, la hemos analizado de manera
crítica para poderla plasmar en este artículo, el cual se puede considerar todo un éxito debido a que
con esta investigación se ha puesto en valor la figura de Blas Miedes, pero también se ha podido
estudiar en profundidad sus impresos y encuadernaciones, sus marcas tipográficas y el papel usado
en su elaboración, al mismo tiempo que se ha añadido datos importantes en la historia de la imprenta
zaragozana del siglo XVIII.

4 BLASCO MARTINEZ, Rosa María, Zaragoza en el siglo XVIII, Zaragoza, Librería General, 1977.

5 PASCUAL DE QUINTO Y DE LOS RÍOS, José, Catálogo de las publicaciones e impresos de la Real Sociedad Económica
Aragonesa de Amigos del País, 1776-1982, Zaragoza, Real Sociedad Económica Aragonesa de Amigos del País, 1983.

6 Anotación que aparece en la portada del libro: LÓPEZ, Pedro José, Villancicos, que se han de cantar en la Iglesia Parroquial
de el Señor San Pablo de la Imperial ciudad de Zaragoza, en la celebridad ... de el Nacimiento de Nuestro Señor Jesu-Christo
/ puestos en musica por Don Pedro Joseph Lopez, Zaragoza. Actualmente se ubica en la Biblioteca Municipal de Zaragoza.

349
La figura de Blas Miedes como impresor

Blas se dirigía presuroso hacia su taller situado en la calle Sepulcro nº 126, estaba ansioso por contarle
a su mujer Bruna Lloscos la gran noticia, por fin había conseguido ser nombrado impresor de la Real
Sociedad Económica Aragonesa de Amigos del País. Este contrato les supondría una seguridad
económica que les permitiría criar a sus cuatro hijos, María, Vicente, Mariano y Ángel con tranquilidad.
Podemos imaginar que esta escena u otra parecida sucedió cuando, finalmente, Blas Miedes consiguió
ser nombrado impresor de la Real Sociedad y con ello asegurar un futuro mejor para él y su familia.

Corría el dos de febrero de 1781 cuando obtuvo el dictamen favorable de la junta de la sociedad, pero
no era la primera vez que lo intentaba, ya que, el 21 de enero de 1781 Blas Miedes había presentado
un memorial ante la Sociedad para ser nombrado impresor en el cual alegaba que ya había realizado
trabajos para ellos y que “poseía los signos y quebrados que se habían usado para la impresión de las
matemáticas que el Señor Director Segundo hizo traher de Barcelona, y que en el dia existen en poder
de este interesado como tanbien el sello o armas de la Sociedad de Vox que el Señor Goycochea hizo
traher de Valencia”7

Y por fin el 9 de marzo de 1781 consiguió su nombramiento definitivo como impresor de la Real
Sociedad venciendo así en su empeño a otros dos colegas que también estaban en la lucha por tan
apreciado puesto, Antonio Heras y Esteban de Ara.

Miedes realizó numerosos trabajos para la sociedad y en ellos imprimió la marca propia de esta
corporación: un árbol apoyado en una base cuadrada y coronado por una cruz y todo ello rodeado por
el lema “florece fomentando”.

Imagen 1 Marca de la Real Sociedad

7Archivo de la Real Sociedad Económica de Zaragoza de Amigos del País, Acta del 21/01/1781, tomo 7.
350
Este lema haría alusión al espíritu con el que se fundó la sociedad en 1776 promovida por los ilustrados
de Aragón, apoyar el desarrollo económico, cultural, político y social de la región.

La Real Sociedad es una institución de gran renombre en la ciudad de Zaragoza y a pesar de contar
ya con más de dos siglos de existencia sigue activa y vinculada a los problemas de la ciudad, gracias
sobre todo, a su capacidad de adaptación a través de los tiempos.

El 14 de febrero de 17838 Blas Miedes consiguió otro gran paso en su camino hacia una exitosa carrera
como impresor ya que la Real Sociedad le concedió el permiso para colocar sobre la puerta de su casa
el cuadro con el nombre de dicha sociedad con el cual podría alcanzar mayor reconocimiento entre
sus clientes.

El 10 de noviembre de 1786 sintiéndose enfermo Blas otorgó testamento9 dejando herederos a su


mujer Bruna Lloscos y a sus cuatro hijos.

Imagen 2 Firma de Blas Miedes en su testamento

Blas murió a finales de ese año o principios del siguiente pero este fallecimiento no supuso la ruptura
del contrato con la Real Sociedad ya que Bruna, su viuda, consiguió, el 17 de noviembre de 1788 ser
reconocida como impresora alegando en el memorial “que dice tener 2 oficiales bien instruidos que
desempeñaran la imprenta”10.

Antonio Heras y su hijo Medardo pidieron la misma gracia en caso de no concedérsela a Bruna, pero
finalmente la Sociedad la nombra como impresora en los mismos términos y circunstancias que tenía
su marido.

La vinculación de la familia Miedes con la Real Sociedad siguió durante muchos años más ya que al
fallecimiento de Bruna Lloscos, su hijo Mariano presenta un memorial ante la Sociedad para que le sea
concedido el título de impresor. El 2 de octubre de 179211 se le concede la certificación correspondiente
con lo que consigue ser el tercer miembro de la familia Miedes en firmar un contrato como impresor de
la Real Sociedad.

8 Archivo de la Real Sociedad Económica de Zaragoza de Amigos del País, Acta del 14/02/1783, tomo 9.

9Archivo Notarial de Zaragoza, Testamento de Blas Miedes, notario Pedro García Navascués, 1786, signatura 5721, pp. 234 v-235 v.

10Archivo de la Real Sociedad Económica de Zaragoza de Amigos del País, Acta del 17/11/1788, tomo 12.

11Archivo de la Real Sociedad Económica de Zaragoza de Amigos del País, Acta del 2/10/1792, tomo 18.

351
Un cuarto miembro consigue años después ser también impresor de dicha sociedad, impresora en
realidad ya que la viuda de Mariano Miedes continua con el contrato de su marido al fallecer este. El
acta de la Sociedad del 4/03/183112 así lo atestigua.

La producción de Blas Miedes no se limitó a los trabajos que realizó para la Real Sociedad. Otros
muchos ejemplares completaron la producción de su taller. Son de destacar los encargos que realizó
para Agustín de Lezo y Palomeque, arzobispo de Zaragoza, así como sus impresos más populares
como los villancicos, instrucciones para educar a la población, etc.

Su marca de impresor varió a lo largo de los años y tanto su viuda Bruna, como su hijo Mariano,
usarían alguna de ellas.

Estas marcas son grabados que los impresores estampaban en sus libros para resaltar su autoría. Son
una de las características más típicas e inconfundibles que nos permiten identificar el origen del libro.

Con el trascurso del tiempo estas marcas evolucionan asumiendo la función de marca de calidad y
convirtiéndose en una marca publicitaria, destinada no solo a indicar el origen del libro, sino también,
para adornarlo y afirmar su calidad

Como muchos otros impresores antes que él, Blas Miedes se inspiró en su nombre para la realización
de su marca personal y como alguno de sus predecesores juega en su marca con su onomástica y la
imagen que la rodea.

El blasón de Miedes está construido por una composición con su nombre enmarcado con motivos
vegetales. Tanto la onomástica como el fondo ornamental variarían a lo largo de los años, usando unas
veces su nombre completo y otras un monograma con sus iníciales.

La localización de dicha marca también sufriría modificaciones ya que en algunas obras aparece en la
portada y en otras en el colofón.

No podemos olvidar que la primera marca que se usó en España fue precisamente en Zaragoza en
1490 en el taller de los hermanos Hurus13. Juan Hurus plasmó en su marca dos “h” haciendo alusión,
según algunos autores a los apellidos de los dos hermanos, Juan y Pablo, y según otros a su propio
nombre y apellido.

12 Archivo de la Real Sociedad Económica de Zaragoza de Amigos del País, Acta del 4/03/1831, tomo 38.

13 DÍAZ DE MENDOZA, Alfonso, Ordenanzas reales de Castilla o Libro de las Leyes, Zaragoza, Juan Hurus, 1490.

352
Imagen 3 Marca de Juan Hurus

La primera marca14 que nos encontramos la usó Miedes en 1784. Es un grabado con su nombre
completo subrayado por una línea con doble flecha y rodeado por una gran cantidad de ornamentación.
Su localización es en el colofón del impreso.

Imagen 4 Marca de Blas Miedes en 1784

Esta marca se encuentra reflejada tanto en el catálogo de Jiménez Catalán como en el de Francisco Vindel.

La segunda marca que usó Blas Miedes en sus impresos es una variedad de la anterior. En esta
aparece solamente el apellido y no en nombre completo como en la primera, y la ornamentación que
la rodea es completamente diferente. La usó en 1784 en dos ejemplares distintos y su ubicación se
encuentra en la portada de uno de ellos15 y en el colofón del otro16.

14 SEBASTIAN Y LATRE, Tomás, Demostraciones que en celebridad del nacimiento de los dos infantes gemelos y ajuste
definitivo de la paz con la nacion britanica hizo la ... ciudad de Zaragoza, Zaragoza, imprenta de Blas Miedes, 1784.

15 ESCUELAS PIAS (Barbastro), Exercicios de gramatica, latinidad, retorica i poesia : que los discipulos de las Escuelas Pias
de Barbastro ofrecen al publico i consagran al... Señor Don Juan Manuel Cornel, Obispo de la misma ciudad dirigidos de su
maestro el P. Domingo del Salvador, Zaragoza, oficina de Blas Miedes.

16 LAMPILLAS, Francisco Javier (S.I.), Respuesta del señor abate don Xavier Lampillas a los cargos recopilados por el señor
abate Tiraboschi en su carta al señor abate N. N. sobre el ensayo historico-apologetico de la literatura española, traducida
del italiano por ... Josefa Amar y Borbon ; va añadido un Indice alfabético de los principales autores, y materias, Zaragoza,
oficina de Blas Miedes, 1786.

353
Una de las cosas a resaltar en este grabado es el uso correcto de la ortografía por parte de Miedes, al
colocar un guion cuando separa su apellido en dos líneas diferentes y el punto al final del mismo.

Imagen 5 Marca de Blas Miedes en 1784

En ninguno de los catálogos consultados en esta investigación aparece documentada esta marca
tipográfica con lo cual se aporta un dato más que viene a llenar el vacío documental que hemos
encontrado al realizar este estudio.

A partir de 1785 cambiaría completamente de marca empezando a utilizar iníciales en vez del nombre
completo. En 1785 imprime una obra para la Real Sociedad que resulta muy curiosa en el campo del
estudio de las marcas tipográficas ya que en la portada de dicha obra graba el sello de la Sociedad,
como solía hacer en los volúmenes que imprimía para ellos, pero en cambio, al final del prólogo graba
su propia marca personal. El motivo de la impresión de estas dos marcas se nos escapa y además es
el único impreso que nos hemos encontrado con esta peculiaridad.

Imagen 6 Obra con la marca de la Real Sociedad en la portada y al final del


prólogo la marca personal de Miedes

354
La siguiente marca tiene la misma ornamentación que la anterior y el mismo halo que rodea el nombre
pero cambia el apellido Miedes por las iníciales “M, I, D, E, S” combinadas; se convierte en un grabado
que aparece tanto en la en la portada de alguna de sus obras17 como en el caso arriba indicado, en el
colofón del prólogo18.

Imagen 7 Marca con las iníciales M, I, D, E, S

Esta marca es, igual que la anterior, desconocida debido a que en ninguno de los catálogos
consultados aparece.

La última marca que hemos encontrado en los impresos que hemos estudiado es mucho más sencilla
que las anteriores, ya que simplemente aparecen las iníciales sin ninguna ornamentación que las rodee.

Imagen 8 Marca con las letras que forman el apellido Miedes

Esta marca la usaría en 1786 en la portada del impreso Ordinaciones de la muy ilustre y antiquísima
Cofradia de Nuestra Señora del Olivar y del Milagro, fundada en su hermita sita en la calle de
Predicadores de la ciudad de Zaragoza.

Su viuda y su hijo Mariano graban es algunos de sus impresos esta misma marca al fallecer Blas
Miedes y continuar ellos en la dirección del taller.

17 LAMPILLAS, Francisco Javier (S.I.), Respuesta del señor abate don Xavier Lampillas a los cargos recopilados por el señor
abate Tiraboschi en su carta al señor abate N. N. sobre el ensayo historico-apologetico de la literatura española / traducida del
italiano por ... Josefa Amar y Borbon; va añadido un Indice alfabético de los principales autores, y materias. Zaragoza, oficina
de Blas Miedes, 1786.

18 MARTINEZ, Vicente, Carta instructiva sobre el cultivo de los olivos que dirigió a la Real Sociedad Aragonesa don Vicente
Martínez ... va al fin otra carta sobre los empeltres segun la practica de Zaragoza que ha parecido muy oportuno el ponerlo
por apéndice, Zaragoza, Imprenta de la Real Sociedad, 1785.

355
Los ejemplares de la imprenta de Blas Miedes

Tras analizar todos los ejemplares salidos de la imprenta de Blas Miedes que actualmente se encuentran
en los archivos y bibliotecas de la ciudad de Zaragoza, se ha detectado que el estado de las obras es
realmente bueno y solo existen pequeños desgarros localizados en el propio cuerpo del libro. Aunque
bien es verdad que un buen número de las encuadernaciones han sido intervenidas a lo largo de la
Historia pues no debemos olvidar que Zaragoza se ha visto involucrada en numerosos asaltos bélicos
como por ejemplo la Guerra de la Independencia.

Al poder cotejar los ejemplares en profundidad se han descubierto una serie de características comunes
como el formato, la encuadernación o el papel empleado para su elaboración.

En cuanto a la primera de ellas, el tamaño de los impresos, generalmente tienen unas dimensiones
cercanas a los veinte centímetros de altura aunque existen excepciones como el libro Dotación,
adjudicación y subrogación de bines y rentas hecha en virtud de Reales Resoluciones al Real Seminario
Sacerdotal de San Carlos de esta ciudad por donación de Carlos III19, que supera la medida estándar
o por el contrario, el ejemplar Orationes latinae20 que apenas llega a los doce centímetros.

Además, es importante señalar que el formato de los ejemplares no está vinculado a la temática sobre
la que versan porque aunque Blas Miedes imprimió obras de diferentes materias como la religiosa,
económica, política o científica entre otras, en ningún caso hemos observado un patrón común.

Solamente se incumple esta característica en dos títulos: Rudimentos de dinámica para facilitar la
enseñanza en la Escuela Patriótica de la Real Sociedad Aragonesa y Tratado económico dividido en
tres discursos. En ellos nos hemos encontrado planos desplegables que duplican el tamaño del libro
debido a que funcionan como un apoyo visual que acompaña y aclara el texto científico.

Imagen 9 Ejemplar con un plano extendido

19 Ubicado en el Archivo Histórico Provincial de Zaragoza

20 Ubicado en la Biblioteca y Hemeroteca Municipal del Palacio de Montemuzo

356
Todos los impresos que salieron de este taller cumplen la estructura de los libros del siglo XVIII.

Es importante mencionar que en muchas ocasiones los impresos de Miedes están encuadernados
junto a otros libros que, generalmente, varían en tamaño, temática y en datación. Todos los indicios
apuntan a que la encuadernación de estos volúmenes fue realizada a posteriori.

Por otra parte, también hay impresos encuadernados en la misma época en la que se imprimieron,
como así lo demuestra el papel de las guardas pues comparte la misma filigrana que las hojas que
forman el cuerpo del libro.

En este apartado nos encontramos tres tipos de encuadernación diferente: de pergamino, de cartón
con papel pintado y por último, con tapas de papel. Gracias a un acta de la Real Sociedad con fecha del
15 de febrero de 178221, sabemos que era usual que un mismo ejemplar se encuadernara de diferente
forma para poder llegar a un mayor número de público porque como es lógico, el precio oscilaba
dependiendo del tipo de encuadernación usada.

Solo los ejemplares del fondo de la Real Sociedad muestran el corte dorado o rojizo.

Imagen 10 Libros del fondo de la Real Sociedad

Además, en los lomos se ubican pequeños recuadros dorados que lo recorren. Como dato curioso,
en dos volúmenes se reutilizó un pliego para crear las guardas iníciales, en el que se incluye un sello
parcial seguido de una anotación que dice: “En Zar[agoza] en casa de Luis de...”

El último de los apartados es el dedicado al soporte empleado, el papel. Este varía en grosor pues
oscila entre las 8 a las 10 micras debido a que la acumulación de pulpa es irregular, lo que provoca
defectos que en casos extremos, desembocan en pequeñas roturas.

21 Archivo de la Real Sociedad Económica Aragonesa de Amigos del País, “Acta del 15 de febrero de 1782”. Tomo 8, pp.
21v -22v.

357
A estos desperfectos se le suman otros como las abundantes arrugas y dobleces las cuales llegan a
ser un gran inconveniente para la lectura debido a que al imprimirse el documento, las letras quedan
incompletas y en consecuencia, el texto llega a ser casi ilegible.

Imagen 11 Arrugas y dobleces del papel

Por otra parte, el papel que se empleó en la imprenta de Blas Miedes tiene todos los lados guillotinados
por lo que no tienen barbas. Solo la obra Dotación, adjudicación y subrogación de bines... y rentas
hecha...22 fue creada con papel sellado de Carlos III, con un valor de veinte maravedís y con fecha de
mil setecientos ochenta y cinco.

Otro de los aspectos que hemos analizado son las filigranas que aparecen en los ejemplares. La
dificultad con la que nos hemos encontrado es que estas se encuentran en el centro del pliego, lugar
que a su vez coincide con el lomo del libro.

Aunque Blas Miedes trabajó durante un espacio de tiempo muy reducido, su producción fue muy
abundante por lo que en un principio era de esperar que el origen del papel fuera diverso. Tras analizar
todo el fondo documental hemos encontrado quince filigranas. Además, el 82% de los impresos están
compuestos por el mismo papel mientras que el resto provienen de diferentes ubicaciones.

Estas dos características nos han permitido detectar que a lo largo de su carrera, Blas Miedes se
abasteció de papel procedente de cuatro molinos catalanes ya que las filigranas que más aparecen
son la BR, la custodia con las iníciales YM, un círculo con una cruz griega flanqueado por dos alas con
el nombre DOMENACH, y por último, el círculo concéntrico con un yunque y dos martillos en su interior,
todo ello rodeado por el nombre MACIÁ FERRÉ.

Caso curioso es el de la filigrana BR pues en el ejemplar Respuesta del señor abate Don Xavier
Lampillas a los cargos recopilados por el señor abate Tiraboschi en su carta al señor abate N. N. sobre
el ensayo histórico - apologético de la literatura española aparece dicha marca junto a otra que repite
el mismo motivo pero esta vez23, cambia el orden de las letras. Una hipótesis que barajamos es que

22 Dotación, adjudicación y subrogación de bienes..., op. cit.

23 Ubicado en fondo de los Padres Escolapios

358
estas dos filigranas podrían ser gemelas y por tanto, haber sido empleadas al mismo tiempo en las
tinas del molino de Calvet (Cardona, Lérida) de Bonifaci Riba24/25.

Imagen 12 A la izquierda la filigrana RB y a la derecha la BR

En el caso de la filigrana de la custodia con las letras M Y, hemos encontrado dos variantes que aunque
mantienen el mismo diseño, se diferencian en dimensiones. La más pequeña mide 58 x 26 milímetros
mientras que la mayor le supera en 22 milímetros de altura.

Imagen26 13 Custodia YM

Además, en los documentos de Blas Miedes también aparece otra filigrana que repite el motivo a diferencia
de que en esta ocasión el papelero ha insertado un corazón entre las dos letras. Suponemos que se trata
del mismo papelero que la anterior pero por desgracia no hemos localizado ni su nombre ni su procedencia.

24 VALLS i SUBIRÁ, Oriol, La historia del papel en España. Siglos XVII-XIX, Madrid, Empresa Nacional de celulosa, tomo III,
1982, pp. 218, 242.

25 VALLS i SUBIRÁ, Oriol, El papel y sus filigranas en Cataluña, Amsterdam, The Paper Publications Society, tomo II. 1970,
p. 106.

26 Foto extraída de Fil-DPZ

359
Al igual que en el caso anterior, la filigrana alada de DOMENACH también cuenta con diferentes
variantes pues este papelero de La Riba simplemente se limitó a cambiar la parte inferior del diseño.
Unas veces aparecen sus iníciales DMHC y otras la palabra DOMENECH, pero en más de una
ocasión se transforma en DUMENACH. Es posible que en este último motivo, el cambio se deba a una
deformación por uso ya que la letra o ha podido perder su cerramiento superior.

Imagen27 14 Alas con las iníciales DMHC

La cuarta filigrana que aparece es la de la MACIA FERRE elaborada según en el municipio de


Manresa28/29. Al igual que las demás, también hemos observado que existen dos variantes que se
diferencian por las dimensiones.

En resumen podemos afirmar que Blas Miedes solamente en momentos puntuales recurrió a otras fábricas
papeleras como por ejemplo las de Beceite en Teruel. Esta situación nos hace preguntarnos por qué solicitó
papel procedente de Cataluña si existían núcleos cercanos que en ese momento fabricaban papel suficiente
para cubrir sus necesidades como por ejemplo Ateca, Zaragoza o Calmarza.

Todas estas urbes se encuentran a una distancia menor que Cardona y Manresa por lo que si Blas
Miedes hubiera adquirido en estos centros el papel se hubiera ahorrado dinero en el desplazamiento.

Además, el estudio de las filigranas nos ha servido para descubrir cómo imprimía los libros Blas Miedes.
En uno de los ejemplares con encuadernación facticia se hallan dos impresos consecutivos de este
autor. Ambos son de diferente temática y en apariencia nada tienen que ver, pero tras analizar el papel
hemos observado que comparten el pliego final, el cual funciona para la primera obra como colofón y
al mismo tiempo, como portada para el siguiente libro.

Esto nos indica que cuando un único destinario había solicitado varios títulos, Miedes usaba esta técnica para
así poder aprovechar al máximo este soporte y evitar gastos innecesarios debido a que el papel era muy caro.

27 Imagen extraída de la web: DIAZ DE MIRANDA MACIAS; María Dolores y HERRERO MONTERO, Ana María, Papel
y Filigranas de España. En línea: <http://memoryofpaper.oeaw.ac.at/pfes/pfes.php?ClaveFiligrana=001477> (Consultado:
marzo de 2017).

28 GAYOSO CARREIRA, Gonzalo, Historia del papel en España, Lugo, Diputación Provincial de Lugo, tomo III, 1994, p. 73.

29 VALLS i SUBIRÁ, O., La historia del papel ..., ibidem, pp. 205 y 230.

360
Como conclusión podemos decir que a pesar de las vicisitudes que ha atravesado Zaragoza a lo largo
de la Historia, los fondos impresos de Blas Miedes se encuentran bien conservados lo que ha permitido
realizar un estudio muy detallado.

Nos ha sorprendido que Blas Miedes había apenas contaba con un hueco en la historia de la imprenta
zaragozana del XVIII pese a tener un peso importante. Esto se ve reflejado en las fuentes existentes
pues en ningún caso, tratan su producción en profundidad.

Gracias a esta investigación se ha podido solventar las carencias sobre su figura al afinar su cronología
y además, se han descubierto nuevas marcas tipográficas que no estaban catalogadas en ningún
registro bibliográfico. Por otra parte, también se ha denominado correctamente la figura de su viuda.

En cuanto sus impresos, se ha detectado que usaba una gran cantidad de papel procedente de
Cataluña. En este apartado también existen lagunas que no se han resuelto como por qué usaba papel
de procedencia catalana y no aragonesa, ya que la Real Fábrica de Comercio de Zaragoza estaba en
activo en estas fechas.

Con este análisis crítico también se pone de manifiesto la necesidad de continuar con esta labor de
investigación pues todavía quedan temas pendientes de esclarecer como la procedencia y la residencia
de este impresor.

BIBLIOGRAFÍA ESPECÍFICA

ALMERGE, Joaquín, La legitimidad i subsistencia de los ultimos testamentos de D. Manuel Ceballos


Ida Agueda de Orga, convencida i demostrada: defensa legal que por Don Joaquin Almerge en el
pleyto de inventario de bienes hallados en su casa y otras partes, seguido en la Real Audiencia de
Aragon escribía... Judas Thadeo de Lasarte, Zaragoza, Blas Miedes.
ARTETA DE MONTESEGURO, Antonio, Disertacion sobre el aprecio y estimacion que se debe hacer
de la artes practicas y de los que las exercen con honradez inteligencia y aplicacion: premiada por la
Real Sociedad Aragonesa de Amigos del Pais, Zaragoza, Blas Miedes, 1781.
ASED Y LATORRE, Antonio, Historia de la epidemia acaecida en la ciudad de Barbastro el año de
1784 y exposicion del nuevo metodo curativo del Dr. D. Josef Masdevall y Terrades, util para toda
especie de calentura putrida, continua, intermitente, etc. Zaragoza, Imprenta de Blas Miedes, en
casa de Josef Monge y en Madrid en casa de la Viuda de Correa, 1786.
ASED Y LATORRE, Antonio, Memoria instructiva de los medios de precaver las malas resultas de
un temporal excesivamente humedo, como el que se ha observado desde principios de setiembre
de 1783 hasta últimos de abril de 1784: leída en Junta general de la Real Sociedad Aragonesa de

361
Amigos del País el dia 7 de mayo, Zaragoza, Imprenta de Blas Miedes, 1784.
BENAGES, Baltasar, Oracion que en la solemnisimaaccion de gracias con que la Ciudad de Zaragoza
celebró en el ... Templo de Ntra. Sra. del Pilar el dia 6 de Diciembre del año de 1783, los prosperos
sucesos ... en el ... nacimiento de los dos Infantes Gemelos Carlos, y Felipe, y el ajuste definitivo de
paz con la Nacion Britanica, Zaragoza, Imprenta de Blas Miedes, 1784.
CÉDULA, Real Cedula de su Magestad y señores del Consejo por la que se aprueba el Reglamento,
formado por la Junta General de la Caridad de la ciudad de Zaragoza, para establecer en ellos
Escuelas gratuitas para la Educacion de las niñas, Zaragoza, Blas Miedes.
CHUECA Y MEZQUITA, José, Version parafrastica castellana del oficio y misa de la festividad de el
Santisimo Sacramento, y su Octava: segun el breviario, y misal romano, Zaragoza, oficina de Blas
Miedes, 1785.
COFRADÍA de Nuestra Señora del Olivar y del Milagro (Zaragoza), Ordinaciones de la muy ilustre
y antiquísima Cofradia de Nuestra Señora del Olivar y del Milagro, fundada en su hermita sita en la
calle de Predicadores de la ciudad de Zaragoza, Zaragoza, oficina de Blas Miedes, 1786.
COFRADÍA de San Leonardo (Zaragoza), En el Pleyto de aprehension de la Santa Iglesia Metropolitana
del Salvador, Parroquia de la Seo sobre Precedencia en los entierros, y otros derechos por la Cofradia
Des. Leonardo, Zaragoza, Blas Miedes, 1783.
CONDE, Jaime, Rudimentos de algebra, para facilitar la enseñanza en la Escuela Patriotica de la
Real Sociedad Aragonesa de Amigos del Pais, Zaragoza, Blas Miedes, 1782.
CONDE, Jaime, Rudimentos de arismetica, para facilitar la enseñanza en la Escuela Patriotica de la
Real Sociedad Aragonesa de Amigos del Pais, Zaragoza, Blas Miedes, 1781.
CONDE, Jaime, Rudimentos de dinamica para facilitar la enseñanza en la Escuela Patriotica de la
Real Sociedad Aragonesa de Amigos del Pais, Zaragoza, Blas Miedes, c. 1782.
DAZA LOAYSA Y OSORIO, Rafael, Dotacion, adjudicacion y subrogacion de bines y rentas hecha
en virtud de Reales Resoluciones al Real Seminario Sacerdotal de San Carlos de esta ciudad por
donacion de ... Carlos III, Zaragoza, Blas Miedes, 1784.
DIESTE Y BUIL, Francisco, Tratado económico dividido en tres discursos: I Crianza de gallinas ... ; II
Compra de primales para venderlos al año siguiente por carneros; III Modo de procurar la extinción
de fieras perjudiciales al ganado ..., Zaragoza, Blas Miedes, c. 1781.
ESCOLÁN, Francisco, Sermon, que en los solemnes cultos, que tributa la Iltre. villa de Milagro,
Reyno de Navarra, en el domingo infraoctavo de la Natividad de Maria Santisima, à la prodigiosa
Reliquia de San Blas Obispo, y Martyr / predicó en este año de 1783 el R. P. Fr. Francisco Escolan
de la Regular Observancia de Nuestro Padre San Francisco..., Zaragoza, Blas Miedes, 1783?.
ESCUELAS PIAS (Barbastro), Exercicios de gramatica, latinidad, retorica i poesia : que los discipulos
de las Escuelas Pias de Barbastro ofrecen al publico i consagran al... Señor Don Juan Manuel
Cornel, Obispo de la misma ciudad dirigidos de su maestro el P. Domingo del Salvador, Zaragoza,
oficina de Blas Miedes.

362
ESCUELAS PIAS (Daroca), Academia de Bellas Letras, Humanidad, Rethorica, i Poesia, Lengua
Latina, i Española: que ofrecen al publico los discipulos del Pe. Pio de Sn. Sebastian... en el Colegio
de las Escuelas Pias de Daroca, bajo la proteccion del... Conde de Sástago... dia... julio... 1785,
Zaragoza, oficina de Blas Miedes.
ESCUELAS PIAS (Zaragoza), Academia cristiana: en que los discipulos de la clase de escribir de las
Escuelas Pias de Zaragoza, asistidos de su maestro el Pe. Isidoro de San Joaquin daràn un publico
testimonio de sus progresos en leer, escribir, doctrina christiana, principios de religion i buena crianza
baxo el patrocinio de la... Parroquia del Sr. San Pablo de esta ciudad...: serà la funcion en la Iglesia
Parroquial del Sr. S. Pablo en las tardes del 3 i 4 de mayo à las 3, Zaragoza, Blas Miedes.
Exercicios literarios de latinidad, rhetorica, poesia, historia i geografia: que ofrecen i consagran a la
mui ilustre ciudad de Alcañiz, los discípulos de las Escuelas Pías bajo la dirección de el P. Andres de
S. Juan Bautista... junio de 1786, Zaragoza, Imprenta de Blas Miedes, 1786.
Expresiones festivas y demostraciones obsequiosas de... Zaragoza... en accion de gracias por la
sucesion y paz que logró España... en... enero de 1784, Zaragoza, Blas Miedes.
GONZÁLEZ, Simón, Oracion de accion de gracias, que en la festividad, que por mandato del Rey
nuestro Señor (Dios le guarde) fue celebrada por el ... Ayuntamiento, y ... Capitulo Eclesiastico de
la Villa de Exea de los Caballeros en el dia 18 de Enero del Año de 1784, con el motivo del feliz
nacimiento de los dos Infantes Gemelos que dió á luz nuestra ... Princesa, y la publicacion de la paz
/ dixo Don Simon Gonzalez ... ; le dá á luz el mismo ... Ayuntamiento, Zaragoza, Blas Miedes ...,
1784?.
GRISELINI, Francesco, Discurso sobre el problema de si corresponde a los parrocos y curas de las
aldeas el instruir a los labradores en los buenos elementos de la economía campestre: al qual va
adjunto un plan que debe seguirse en la formación de una obra dirigida a la mencionada instrucción
/ del Señor Francisco Griselini...; traducido del italiano por encargo de la Real Sociedad Aragonesa
de Amigos del Pais por Dña. Josepha Amaz y Borton, Zaragoza, Blas Miedes, 1789.
LAMPILLAS, Francisco Javier, Ensayo historico-apologético de la literatura española contra las
opiniones preocupadas de algunos escritores modernos italianos; parte primera de la literatura
antigua, tomo primero, Zaragoza, oficina de Blas Miedes, 1782.
LAMPILLAS, Francisco Javier, Ensayo historico-apologético de la literatura española contra las
opiniones preocupadas de algunos escritores modernos italianos; parte primera de la literatura
antigua, tomo segundo, Zaragoza, oficina de Blas Miedes, 1783.
LAMPILLAS, Francisco Javier, Ensayo histórico-apologético de la literatura española contra las
opiniones preocupadas de algunos escritores modernos italianos; parte segunda de la literatura
moderna, tomo primero, Zaragoza, oficina de Blas Miedes, 1783.
LAMPILLAS, Francisco Javier, Ensayo historico-apologetico de la literatura española contra las
opiniones preocupadas de algunos escritores modernos italianos; parte segunda de la literatura
moderna, tomo segundo, Zaragoza, oficina de Blas Miedes, 1784.

363
LAMPILLAS, Francisco Javier, Ensayo historico-apologetico de la literatura española contra las
opiniones preocupadas de algunos escritores modernos italianos; parte segunda de la literatura
moderna, tomo tercero, Zaragoza, oficina de Blas Miedes, 1783.
LAMPILLAS, Francisco Javier, Ensayo historico-apologetico de la literatura española contra las
opiniones preocupadas de algunos escritores modernos; parte segunda de la literatura moderna,
tomo cuarto, Zaragoza, oficina de Blas Miedes, 1784.
LAMPILLAS, Francisco Javier, Respuesta del señor abate don Xavier Lampillas a los cargos
recopilados por el señor abate Tiraboschi en su carta al señor abate N. N. sobre el ensayo historico-
apologetico de la literatura española, Zaragoza, oficina de Blas Miedes, 1786.
LOPEZ, Pedro José, Villancicos, que se han de cantar en la Iglesia Parroquial de el Señor San Pablo
de la Imperial ciudad de Zaragoza, en la celebridad ... de el Nacimiento de Nuestro Señor Jesu-
Christo, Zaragoza, Imprenta de Blas Miedes.
MARTINEZ, Vicente, Carta instructiva sobre el cultivo de los olivos que dirigió a la Real Sociedad
Aragonesa don Vicente Martínez ... vá al fin otra carta sobre los empeltres segun la pràctica de
Zaragoza que ha parecido muy oportuno el ponerlo por apéndice, Zaragoza, Imprenta de la Real
Sociedad, 1785.
MAUPIN, Mr., Lecciones breves y sencillas sobre el modo de hacer el vino, extractadas de las obras
de Mr. Maupin; dirigidas y dedicadas a los cosecheros de vino del Reyno de Aragon, Zaragoza, Blas
Miedes, 1786.
NEBRIJA, Antonio de, Gramatica latina; con la explicacion i notas del P. Agustin de S. Juan Bautista
de la Religion de las Escuelas Pìas; reducidas ... por ... Pedro de Santa Maria Magdalena, Zaragoza,
imprenta de Blas Miedes, 1781.
NORMANTE Y CARCAVILLA, Lorenzo, Discurso sobre la utilidad de los conocimientos economico-
politicos, y la necesidad de su estudio metodico, Zaragoza, Blas Miedes ..., 1784?.
ORTIZ Y MÁRQUEZ, Alejandro, Instruccion popular acerca del conocimiento i curacion de los
Sarampiones que afligen en Zaragoza el presente año de 1781: Leida en junta generàl de la Real
Sociedad Aragonesa de Amigos del Paìs el dia 8 de Junio, Zaragoza, Blas Miedes, 1781.
Plausibles obsequios con que la leal siempre y siempre nobilisima ciudad de Barbastro, ha
manifestado su regocijo en las presentes prosperidades de la Nacion: Feliz parto de la Princesa Ntra.
Sra. Nacimiento de los Serenissimos Infantes i Ajuste definitivo de la Paz. En los días ocho i nueve i
diez de Diciembre de 1783, Zaragoza, oficina de Blas Miedes.
RAMON DE HUESCA, Oración panegírica del Beato Lorenzo de Brindis que dixo en la fiesta de
beatificacion celebrada en el Convento de PP. Capuchinos de ... Albalate del Arzobispo, a 5 de
septimebre de 1784, Zaragoza, oficina de Blas Miedes.
RAMÓN DE HUESCA, Sermon contra el vicio de la ociosidad: que dixo en el sabado despues de
ceniza, predicando la Quaresma en la Iglesia de Ntra. Sra. de Gracia del Hospital Real y General de
Zaragoza, año 1782, Zaragoza, Blas Miedes, 1782.

364
SEBASTIAN Y LATRE, Tomas, Demostraciones que en celebridad del nacimiento de los dos infantes
gemelos y ajuste definitivo de la paz con la nacion britanica hizo la ... ciudad de Zaragoza, Zaragoza,
imprenta de Blas Miedes, 1784.
TORNOS, Miguel de, Memoria sobre las ventajosas utilidades de la arcilla, especialmente para obras
de escultura y arquitectura, Zaragoza, Blas Miedes, 1785.
ZARAGOZA (Archidiócesis). Arzobispo (1783-1796: Agustín de Lezo y Palomeque), Pastoral que
el Ilmo. Sr. D. Agustin de Lezo y Palomeque..., Arzobispo de Zaragoza... dirige a sus muy amados
hermanos los Párrocos, Sacerdotes, y demás personas á quienes toque lo en ella contenido,
Zaragoza, oficina de Blas Miedes, 1784?.

BIBLIOGRAFÍA GENERAL

AGUILAR PIÑAL, Francisco, Bibliografía de autores españoles del siglo XVIII, Madrid, Consejo
Superior de Investigaciones Científicas, Instituto “Miguel de Cervantes”, 1981-1999.
AGUILAR PIÑAL, Francisco. Introducción al siglo XVIII, Madrid, Jucar, 1991.
BERNSTEIN, The memory of paper. En línea: <http://www.memoryofpaper.eu:8080/
BernsteinPortal/appl_start.disp> (Consulta: marzo y abril de 2017).
BLASCO MARTINEZ, Rosa María, Zaragoza en el siglo XVIII, Zaragoza, Librería General, 1977.
CATALOGO COLECTIVO DEL PATRIMONIO BIBLIOGRÁFICO ESPAÑOL. En línea:
<catalogos.mecd.es/CCPB/cgi-ccpb/abnetopac/012481/IDeb15b181?AC C=101> (Consulta: 20 de
marzo de 2017).
FIL-DPZ. En línea: <http://fil.dpz.es/> (Consulta: 30 de marzo de 2017).
FORNIÉS CASALS, José F. La Real Sociedad Económica Aragonesa de Amigos del País,
Zaragoza, Caja de Ahorros de la Inmaculada, D.L. 2000.
GAYOSO CARREIRA, Gonzalo, La historia del papel en España, Lugo, Diputación Provincial de
Lugo, [1994].
JIMÉNEZ CATALÁN, Manuel, Ensayo de una tipografía zaragozana del siglo XVIII, Madrid, 1925
(Zaragoza, Tip. “La Académica”, 1927).
LATASSA Y ORTÍN, Félix de, Biblioteca nueva de los escritores aragoneses: 1753-1802,
[Zaragoza], Real Sociedad Económica Aragonesa de Amigos del País: Ibercaja, 2005.
PASCUAL DE QUINTO Y DE LOS RÍOS, José, Catálogo de las publicaciones e impresos de la
Real Sociedad Económica Aragonesa de Amigos del País, 1776-1982, Zaragoza, Real Sociedad
Económica Aragonesa de Amigos del País, 1983.
VALLS I SUBIRA, Oriol, La historia del papel en España. Vol. 3, Siglos XVII-XIX, Madrid, Empresa
Nacional de Celulosas, 1982.
VINDEL, Francisco, Escudos y marcas de impresos y libreros en España durante los siglos XV a XIX
(1485-1850), Barcelona, Orbis, 1942.

365
GLOSARIO DE BIBLIOTECAS Y ARCHIVOS CONSULTADOS

Archivo Histórico Provincial de Zaragoza


Biblioteca de la Diputación Provincial de Zaragoza
Biblioteca de la Facultad de Derecho de la Universidad de Zaragoza
Biblioteca de la Real Sociedad Económica Aragonesa de Amigos del País
Biblioteca de las Cortes de Aragón
Biblioteca del Colegio de los Padres Escolapios
Biblioteca del Palacio Arzobispal de Zaragoza
Biblioteca del Seminario Metropolitano de San Valero y San Braulio de Zaragoza
Biblioteca General Universitaria de la Universidad de Zaragoza
Biblioteca Municipal de Zaragoza
Biblioteca Pedro Sinués
Biblioteca Pública de Zaragoza
Biblioteca Pública del Estado
Instituto Bibliográfico Aragonés

366
A LIBERDADE DE IMPRENSA EM JORNAIS DE PAPEL-LIVRO

Luiz Humberto Marcos


Diretor do Museu Nacional da Imprensa
direccao@museudaimprensa.pt

RESUMO

Esta comunicação aborda a importância do papel como veículo dos princípios da liberdade de opinião
e expressão. Com base no percurso de dois jornais emblemáticos no quadro da imprensa política –
um português, o outro espanhol – mostra-se como, nos primórdios da imprensa liberal, o formato do
papel foi importante para a criação da opinião pública. Tanto o Correio Braziliense (1808-1822), como
El Conciso (1810-1815) são historicamente periódicos marcantes e indispensáveis à caraterização da
‘imprensa ibérica’ no dealbar do liberalismo.

PALAVRAS-CHAVE

papel-livro, censura, tipografia, liberalismo, imprensa

SUMMARY

This communication addresses the importance of paper as means of diffusion of the principles of
freedom of opinion. Based on the trajectory of two emblematic newspapers in the political press -
one Portuguese, the other Spanish - it shows how, in the early days of the liberal press, the paper
format was important for the creation of public opinion. Both the Correio Braziliense (1808-1822) and
El Conciso (1810-1814) are newspapers indispensable to the characterization of the ‘Iberian press’ at
the dawn of liberalism.

KEY-WORDS

paper-book, censorship, typography, liberalism, press.

Dois jornais coetâneos e ‘ibéricos’ foram bastiões da liberdade de imprensa na Europa. Falamos de El
Conciso e do Correio Braziliense, ambos iniciados na 1ª e 2ª década do Séc. XIX, com uma caraterística
especial: eram impressos em papel-livro, ou seja, tinham ainda a medida habitual dos livros e dos
primeiros jornais do Séc. XVIII. Ambos tinham formato de livro: o Correio, com 13 cmX20,5 cm, e El
Conciso, com 14cmX21cm. Eram jornais de elite, estavam ainda longe da imprensa de massas, mas

367
foram fundamentais para mostrar a necessidade da informação e da generalização da notícia. Foram
igualmente essenciais para a difusão dos princípios da revolução francesa e, no caso dos jornais
abordados, para a denúncia e castigo das ‘tiranias’ provocadas pelas invasões francesas.

Do ponto de vista da produção tipográfica eram subordinados à estrutura produtiva dos livros.

Ambos os periódicos são paginados a uma só coluna, como era vulgar na época, por razões de
facilitação tipográfica. As duas e mais colunas irão generalizar-se mais tarde, embora houvesse já
no século XVII publicações impressas a duas colunas, caso de The London Gazette, em 1680. Nos
EUA, em Boston, o Publick Occurrences, editava-se em duas colunas, em 1690, tal como The Boston
News-Letter em 1704. O The Daily Courant, o primeiro diário inglês, também saía em 1702 a duas
colunas. Nos EUA, em 1722, o ‘New-England Courant’, colaborado por Benjamin Franklin, também já
se paginava a duas colunas…

Contexto técnico e político

Não sendo objetivo desta comunicação traçar uma história da imprensa e das artes gráficas, tratar-
se-á apenas de apresentar alguns dos factos mais significativos da sua evolução, em especial
da arte tipográfica, tendo presente que os museus de imprensa são hoje os depositários dessa
memória material.

Evolução das ‘artes gráficas’ e da imprensa (jornais) – como sectores de produção - é quase concomitante
e pode mesmo dizer-se que um acelera o outro, muitas vezes fundindo-se mesmo em termos de
significado atribuído aos respetivos campos: imprensa e tipografia/artes gráficas. A primeira confunde-se
com as publicações periódicas, jornais e revistas; a segunda com o sector oficinal que produz uma vasta
camada de impressos em todo o mundo, desde panfletos clandestinos a folhetos publicitários.

É esta dimensão transversal que faz da arte tipográfica um alvo das atenções políticas e religiosas.
O seu grande alcance transformador das consciências e por isso fermento embrionário de revoluções
motivou controlos excessivos e perseguições. Desde o ‘invento’ dos caracteres móveis de Gutenberg,
foram sempre fortes as resistências que afetaram a evolução da imprensa e que procuraram controlar
a sua produção, ou seja o saber que dela emanava.

Em termos globais, poderemos falar de mais de três séculos e meio de “pureza gutenberguiana”. Foi a
introdução da máquina a vapor1 que provocou a primeira grande revolução na “galáxia de Gutenberg”
(McLuhan, 1962). A segunda viria com a composição mecânica, baseada no invento do alemão

1 A primeira máquina mecânica de imprimir surge apenas em 1803, construida pelo alemão Koenig. Mas só em 1811, Friedrich
Koenig constroi o seu prelo cilìndrico com uma capacidade de impressão de 3.000 folhas por hora. A partir de então várias
descobertas aceleram a quantidade e a qualidade das impressões, transformações que não se refletem de imediato tanto na
Península Ibérica como na América Latina. Será necessário esperar pela segunda metade do séc. XIX.

368
Mergenthaler. No meio deste processo entra a produção do papel que até ao começo do Séc. XVIII
que era produzido folha a folha. A máquina de papel contínuo, inventada por Luis Robert, em 1800,
estava ainda longe de ser vir a indústria das notícias.

Primórdios

Se recuarmos até ao Séc. XVI, altura em que as primeiras caravelas espanholas e portuguesas levam,
no seu bojo, os prelos e os tipos gutenberguianos para as “impressões da fé”, verificamos que a
imprensa da caracteres móveis chegou ao México primeiro (c.1539) do que ao Extremo Oriente. Quase
270 anos antes da introdução legal da imprensa no Brasil (maio de 1808), pouco depois de a corte
de Lisboa se ter transferido para o Rio de Janeiro, na sequência das “invasões napoleónicas”. Esta é
uma história curiosíssima que, por ocasião da celebração do seu bicentenário (2007-2009), foi alvo de
diversas manifestações culturais.

Com efeito, a primeira impressão tipográfica além-Atlântico acontece no México, apesar de não ser
pacífica e clara quer a data, quer o seu introdutor. Discute-se se terá sido Esteban Martin, Juan Pablos,
ou Juan Cromberger2. De qualquer forma, a primazia no Novo Mundo cabe ao Mexico3.

Relativamente à força civilizadora de Portugal com o embarque da imprensa para o Índico, só acontece
cerca de 20 anos depois dos espanhóis terem chegado ao México com os utensílios gutenberguianos.
Primeiro em Goa (India, 1557), depois em Macau (China, 1588) e em Nagasaki (Japão, 1590). Mas
também Cochim, Vaypicota e Amabacalate foram locais de implantação da tipografia europeia, no
decorrer do séc. XVI. Como assinalam Febvre e Martin “os portugueses rapidamente compreenderam
a utilidade deste meio de propaganda (a imprensa) nos territórios de África e sobretudo da Ásia”. Para
uma melhor apreensão dos tempos e da geografia, vale a pena sublinhar, tal como o fazem aqueles
mesmos autores, que o primeiro livro impresso na Rússia data de 1563, que em Constantinopla é de
1727 e que na Grécia será preciso esperar por 1821 para os primeiros prelos funcionarem.

2 in Historia de la imprenta en los antiguos dominios españoles de América y Oceanía. Tomo I, de José Toribio Medina, pode
ler-se: “Respecto a que ya en 1539 no se conserve rastro tipográfico de Martín - que en 1538 los tenemos bien manifiestos en
la carta de Zumárraga de 9 de Mayo- se explica perfectamente, como se explica también de manera muy sencilla, a nuestro
entender, que no se pensase en imprimir en México en el año anterior la Santa Doctrina de Ramírez. Desde luego, su taller
debía ser limitadísimo, como que era de un «simple empremidor», que bien poco caudal podía aportar a México, y eso no sólo
por su posición modestísima, sino porque expresamente el chantre y procurador de México solicitaban del Emperador que
se le diesen los tributos de un poblezuelo, o con preferencia que se le pagase el flete de su imprenta; y, en seguida, porque,
como lo sabemos por la carta ya citada de Zumárraga de 6 de Mayo de 1538, por la carestía que entonces había de papel,
que era tal, que no permitía dar a la estampa ninguna de las numerosas obras que allí estaban aparejadas para la imprenta.
Existía, pues, taller tipográfico entonces, pero faltaban los elementos necesarios para imprimir. La última de las objeciones de
que venimos haciéndonos cargo es la relativa a la posibilidad de que Martín fuese simple empleado de la imprenta de Juan
Cromberger en Septiembre de 1539. Juan Pablos, el encargado de fundarla, abrió el taller en México a fines de ese año y
aún la primera obra que de él se conoce salió a luz en la fecha indicada.

3 Mais tarde, o México vai ter um papel também pioneiro ao editar o primeiro jornal literário da América Latina, El Diário
Literário, em 1768 (de 10 de março a 10 de maio, tendo sido proibido a 15 de maio)

369
Vários anos separam, no séc XVIII, as primeiras publicações do sector saidas em Espanha, Portugal e
a América Latina. Muito antes da Gazeta Literária, nascida em 1761, no Porto, surgiram as “Memorias
Eruditas para la critica de Arte y Ciencias estraidas de las Actas, Bibliotecas... (1736), o “Diário de los

Literatos de España” (1737), ambos da responsabilidade de Juan Martinez de Salafranca. No outro


lado do Atlântico, “El Diario Literário de México” terá sido a primeira publicação periódica cultural.
Surgiu em 1768 e durou apenas dois meses, porque foi proibido. Curiosamente, de todos estes
periódicos, a Gazeta Literária conseguiu ser o mais duradouro: durante um ano teve a tolerância do
Senhor Marquês! (Marquês de Pombal, homem todo poderoso do rei D. José.)

A evolução em Portugal

Neste contexto, depois da “exportação de Gutenberg” para o Oriente, nas caravelas portuguesas
que traziam as especiarias, os três períodos talvez mais importantes a destacar da história das artes
gráficas em Portugal são: o da criação da Impressão Régia (Lisboa) e da Real Officina da Universidade
(Coimbra), na 2ª metade do Séc. XVIII, por iniciativa do Marquês de Pombal; o tempo que vai da
segunda metade do Séc. XIX (sobretudo depois de 1860) até à primeira década de XX, com grandes
mudanças em máquinas e processos de impressão, incluindo a litografia, zincogravura e fotogravura;
e a informatização das redações no final da década de 80 do século XX.

A criação de Impressão Régia - depois Imprensa Régia e a seguir Imprensa Nacional – marca a
assunção pelo Estado da grande importância da tipografia. Começou a funcionar em março de 1769 e
transformou-se numa grande escola de artífices de diversos ramos, já em pleno século XIX.

Apesar deste relevo da “regia officina typografica”, não se pode dizer que Portugal acompanhasse,
no começo do Séc. XIX, as principais nações europeias. Apesar do surto de leitores trazido pelo
Liberalismo, os meios técnicos não estavam à altura das exigências da imprensa. O primeiro prelo
de ferro, por exemplo, só chega à Imprensa Nacional em 1838, quando o inglês Stanhope já o havia
inventado em 1795.

Este atraso viria a ser recuperado a partir dos anos 50 do século XIX, tornando a imprensa nacional
“um dos primeiros estabelecimentos da Europa, no seu género, do século”. A qualidade dos seus
trabalhos foi, de facto, reconhecida além-fronteiras e atestada na recolha de diversas medalhas de
ouro e honra nas exposições internacionais de Londres, Paris, Viena, Filadélfia, Rio de Janeiro e
também na do Porto, em 1865, no antigo e belo Palácio de Cristal. Na fundição, na gravura e na
composição foram alcançados elevados níveis técnicos e artísticos, sendo de destacar a produção
de caracteres góticos, árabes, gregos, siríacos, etíopes e hebraicos, alguns dos quais fazem parte,
atualmente, do espólio do Museu Nacional da Imprensa.

370
Por sua vez, a Imprensa da Universidade de Coimbra (criada por iniciativa do Marquês de Pombal,
tal como a “impressão régia”), funcionou também como escola, e durante muitos anos, até 1823, foi a
única tipografia da cidade, tendo por isso tido um papel essencial na difusão do saber4. Foi dos seus
prelos que saiu, em 1808, o “Minerva Lusitana”, jornal que enalteceu a nação perante as invasões
francesas. Dos muitos livros que imprimiu, destaca-se “O Retrato de Vénus” (1821), de Garrett, obra
cuja venda foi proibida, por ordem do “inquisidor geral cardeal da Cunha”.

Livros e jornais confundem-se, em termos de papel e formatos. Até na numeração das páginas: vários jornais
vão numerando de forma seguida as páginas de uma para outra edição, até atingirem um volume semestral.

Tanto em Portugal como em Espanha, a produção tipográfica funciona, nesta época, ainda em moldes
gutenberguianos: composição manual, impressão em pequenos prelos, longe ainda da impressão mecânica.

Só nos anos 30-40 do Séc. XIX vamos encontrar papel maior e novos formatos, de que são exemplo
A Crónica Constitucional do Porto (1832), A Vedeta da Liberdade (1836), A Revolução de Setembro
(1840), entre outros periódicos.

Além dos folhetos e das folhas clandestinas, os jornais de papel-livro muito contribuíram para a difusão
de ideias e para romper com a opressão e a tirania, característica das sociedades fechadas, sem as
liberdades de opinião e expressão.

Em termos políticos, a Europa continental estava dominada por Napoleão Bonaparte. Portugal
e Espanha tinham sido invadidos pelas tropas napoleónicas (1807-1814). Havia, pois, um inimigo
comum: Napoleão, José Bonaparte, Junot e outros generais franceses.

Perante o invasor francês, muitos portugueses das elites tinham fugido, ou para o Brasil, com o rei, ou
para Inglaterra, velha aliada.

A necessidade de juntar esforços contra o invasor vai acentuar a luta pela liberdade de imprensa,
fazendo desta um eixo comum que reúne portugueses e espanhóis dominados pelos ‘tiranos’. Com
ambas as lutas, pode dizer-se que vai germinar o fenómeno da opinião pública, fruto da influência dos
folhetos clandestinos e da imprensa política.

Pioneirismo de Hipólito José da Costa

É neste contexto tecnológico e político que surge o projeto Correio Braziliense, ou Armazém Literário.

Hipólito José da Costa (1774-1823) é, juntamente com António Rodrigues Sampaio (1806-1882), uma

4 Extinta, em 1934, pelo Presidente do Conselho António Oliveira Salazar, facto que causou grande celeuma pela gravidade
da punição política que envolvia, em particular ao seu então diretor Joaquim de Carvalho, a Imprensa da Universidade foi
reativada apenas em 1999.

371
das principais figuras do jornalismo português de sempre. Impuseram-se no Séc. XIX e, apesar dos
percursos diferentes, encontram-se nas atividades pioneiras desenvolvidas, em termos de valorização da
imprensa, no combate à censura, pela liberdade de imprensa e na defesa da opinião pública emergente.

Fixemo-nos no primeiro, fundador do Correio Braziliense.

Ao pioneirismo de John Milton, o famoso autor do “Paraíso Perdido”5 que fez o primeiro discurso
parlamentar contra a censura (Areopagítica, 1644), associa-se o trabalho vanguardista de Hipólito
José da Costa6, nascido no Brasil, ainda no séc. XVIII, quando o território brasileiro era colónia de
Portugal. Hipólito da Costa editou o primeiro jornal brasileiro, a partir de Londres, 1808, depois de ter
fugido (1805) dos cárceres da Inquisição portuguesa, em Lisboa.

A história da censura faz-se também pelo reverso, pela história da liberdade. Por isso, o discurso de
Milton – Areopagítica (1644), grito forte e rebelde contra o “imprimatur” – ganha maior relevo quando
se publica em português, no quadro da repressão existente em 1810.

Arauto da primeira versão em língua portuguesa do famoso libelo de John Milton -“Areoapagitica: a
speech for the liberty of unlicennsed printing to the parliament of England” – Hipólito da Costa foi preso
por causa das suas ideias (era maçon) e viu censurado o seu jornal, tanto no Brasil (então sede do
reino, por fuga de D. João VI às invasões francesas) como no continente português. Vários exemplares
do seu jornal, o “Correio Braziliense”, foram apreendidos e a sua leitura proibida.

5 No final da vida, Milton disse: “Escrevi somente com a convicção de que a rainha Verdade é preferível ao rei Carlos” (alusão
ao facto de ter apoiado Cromwell na execução do rei)

6 Hippólyto José da Costa Pereira Furtado de Mendonça lança o seu jornal a 1 de junho de 1808, pouco tempo depois da chegada
da família real ao Rio de Janeiro, na sequência da “fuga por um triz” ao general Junot que comandara as forças de Napoleão.

372
O editor e redator do Correio Braziliense manifestou-se várias vezes contra a censura. Por exemplo em
1808, considerou-a “um absurdo por si só, capaz de aniquilar inteiramente o génio de uma nação, em
tudo o que é produção literária”. Para reforçar a gravidade da situação, Hipólito formula uma hipótese
demolidora e com humor negro, a propósito de Newton. Diz que se “o grande Newton” ressuscitasse e
quisesse publicar os seus princípios matemáticos em Portugal, a obra seria “mandada rever por alguns
desses sábios do Areópago Portuguez que têm na sua mão o poder de dispensar as luzes da Nação”.
E adianta o que sucederia: “se o frade a quem a obra fosse distribuída para censura assentasse que as
proposições matemáticas, que ele não entendia, deviam, por isso mesmo, ser suprimidas, bem podia o
grande Newton tornar a morrer e enterrar-se junto com a sua obra porque Portugal e o Mundo estava
sentenciado a ser privado do benefício daquela obra” (Correio Braziliense, Out, 1808).

Milton em português

O texto do “discurso da liberdade” de Milton veio publicado em duas partes, nos nºs 24 e 25 do Correio
Braziliense, respetivamente de maio e junho de 1810. A repartição foi feita mais por medida (metade
para cada parte!) do que por intelecção do conteúdo e, certamente, subordinada, ao formato e à
densidade do texto e muito pouco a critérios jornalísticos.

373
Areopagítica nas páginas do Correio

A defesa da liberdade constituía a base do trabalho de Hipólito, desde o começo do seu projeto jornalístico.
Mas o seu percurso de 14 anos e meio de edição mostra outras singularidades para a época.

Logo no programa do jornal anunciado na abertura do nº 1, Hipólito usa uma noção que em Portugal
não só não é corrente, como não creio ter sido escrita e defendida até então. Trata-se da expressão
Opinião Pública que serve de referência para a especificação da sua missão. Hipólito fala na 1ª pessoa
e diz qual é o seu objetivo: “Longe de imitar só o primeiro despertador da opinião pública (sublinhado
nosso) nos factos que excitam a curiosidade dos povos, quero, além disso, traçar as melhorias das
ciências, das artes e, numa palavra, de tudo aquilo que pode ser útil à sociedade em geral.”

É com este espírito, reforçado pelos sentimentos de patriotismo, que Hipólito da Costa pretende
informar os seus compatriotas brasileiros “sobre os factos políticos, civis e literários da Europa”.

Sobre os propósitos do seu jornal e as características do jornalismo que quer praticar, Hipólito da
Costa di-lo-á noutros momentos. Por exemplo, em dezembro de 1808 assinala a sua pretendida
matriz de imparcialidade: “O Correio Braziliense tem por fim referir com imparcialidade as memórias
do tempo e dar todos os dados possíveis ao leitor para ajuizar das causas dos acontecimentos
e quando couber na alçada humana preconizar-lhe as consequências.” Este princípio explanado

374
a propósito da publicação da carta de um autointitulado “Amante da Verdade”, sem qualquer
comentário, surge reforçado com esta declaração: “O Correio Braziliense não é escrito com o fim de
tiranizar as opiniões..., quer sim descobrir a verdade dos factos para informar deles os presentes e
transmiti-los aos vindouros” junho, 1808). Hoje qualquer jornalista sério subscreve estes princípios
escritos há mais de 200 anos.

Ainda no mesmo número de dezembro, Hipólito releva a marca do seu jornal e o papel do jornalista:
“O carácter desta obra é registar aqui os factos importantes do tempo, unindo-lhe os raciocínios do
compilador que podem servir para os ilustrar: em geral o jornalista deve ser o censor e não o conselheiro
intrometido dos homens públicos que, sendo pagos com rendas e honras para bem servir o Estado,
devem procurar conselheiros sábios e desinteressados que os não enganem”.

Esta posição de autonomia crítica do jornalista é reforçada quando Hipólito da Costa responde a ataques
que lhe fazem de Lisboa. O autor, diz a propósito de José Agostinho Macedo, que este é “um eclesiástico
que pelo seu ofício se deveria empregar em cuidar da parte prática da moral, é protegido para escrever
sobre políticas, defender um partido e advogar a causa da ignorância”, abusos que reprova; ao contrário
dele, porque, afirma Hipólito da Costa, “se censuramos o governo por não os remediar”, fazemos “o que
está da nossa parte como jornalista”. Reforçando a sua posição em favor do conhecimento, o redator do
“Correio” escreve que “a depravação marcha ordinariamente passo a passo com a ignorância pública”
(março, 1810). A esta situação contrapõe Hipólito “a virtude pública de Inglaterra, onde há a liberdade de
imprensa” (idem).

Lemos ao longo das páginas do “Correio” esta ideia programática: damos a nossa opinião e a dos
outros e “o leitor julgue delas... e decida o que lhe parecer”; ou ainda “damos ao público o decidir quem
melhor provou o que disse”.

O Correio Braziliense fica na história não só como o primeiro ‘jornal brasileiro’, mas também como o
jornal mais duradouro da época – 14 anos e meio! – e como aquele que primeiro apresenta a versão
portuguesa do famoso discurso de John Milton7. Para um jornal que enfrentou todas as barreiras,
censuras, proibições, apreensões e maquinações do poder mais retrógrado, a tradução do discurso de
Milton com mais de 160 anos, surge como uma forte bofetada de luva branca em todos aqueles que se
opunham à liberdade de imprensa.

O Correio não cuidava só da realidade portuguesa e brasileira, olhava para o mundo e sobretudo para
a realidade espanhola, também subordinada ao exército napoleónico.

7 A Mesa de Desembargo do Paço, uma das instâncias da Inquisição, etiquetou o Correio Braziliense de “folha perigosa”.
Procuraram calá-lo, através de todos os meios, legais e ilegais.

375
Hipólito da Costa só deu por terminado o seu trabalho jornalístico como defensor da liberdade quando
o Brasil conquistou a independência, em Setembro de 18228. O Correio Braziliense termina a 1 de
dezembro de 1822, depois de 14 anos e sete meses de edição ininterrupta. Caso raríssimo na imprensa
até a primeira metade do Séc. XVIII, designadamente por não ser ‘gazeta do governo’. Em 1960, o
título foi retomado por Assis Chateaubriand, em Brazília, e ainda vigora.

El Conciso e as Cortes

O periódico El Conciso é lançado dois anos depois do Correio Brazilienze, precisamente antes das
famosas Cortes de Cádiz abrirem portas para o liberalismo europeu.

Em muitas páginas do correio leem-se noticias sobre as tiranias francesas e a resistência espanhola, tal
como em El conciso há referencias sobre a fase final dos efeitos da presença francesa em Portugal…

Como escreve Ángel L. Rubio, “la verdadera revolución periodística estaba por llegar con la
convocatoria de Cortes en la ciudad de Cádiz. Allí se gesta el verdadero despertar de la prensa política
española que asumirá un protagonismo nunca conocido hasta entonces, convirtiendo a la ciudad
en el centro periodístico español por excelencia”. É precisamente em Cádiz que germina em agosto
de 1810, El Conciso, cujo director - Gaspar María de Ogirando, começa a proclamar a liberdade de
expressão, tal como Hipólito da Costa o fizera a partir do nº 1 do Correio, sabendo que ele se destinava
essencialmente a Portugal e ao Brasil.

Ao contrário do que acontece com o diretor e fundador do Correio Braziliense (maçon com obra vasta
e encarcerado pela Inquisição), o fundador de El conciso, é uma figura desconhecida, cuja biografia é
ainda desconhecida para além de indicá-lo como tradutor, e que parece ter emergido repentinamente
para o jornalismo politico.

8 O “grito do ipiranga”, como ficou conhecida a declaração de independência do Brasil relativamente à coroa portuguesa, foi
dado a 7 de setembro de 1822 pelo filho do rei D. João VI, nas margens do rio Ipiranga, na atual cidade de S. Paulo.

376
Apesar disso, El Conciso transforma-se num jornal marcante da luta pela liberdade de imprensa.
Mesmo antes dela ser declarada legalmente, em novembro de 1810, El Conciso pratica-a tenazmente.
Quer relatando o que se passa nas Cortes que iriam aprovar mais tarde a primeira constituição Liberal
da Europa; quer dando conta da repulsa popular em relação aos invasores e à forma como o rei
deposto (Fernando VII) se ‘sujeitava’ aos ditames napoleónicos.

Logo no nº 1, o editor de El Conciso escreve que Bonaparte é “o objeto dos sarcasmos de las clases
más bajas de la nación que oprime” e apela: “que seamos constantes en la sagrada y heroica lucha en
que nos vemos, y es infalible el triunfo”.

Um número extraordinário do Conciso publica a 7 de novembro de 1810 o Decreto da Liberdade


de Imprensa, considerando-o o único caminho para se chegar ao conhecimento da opinião pública.
Logo no seu 1º artigo, o Decreto afirma: “Todos los cuerpos y personas particulares de qualquiera
condición y estado que sean, tienen libertad de escribir, imprimir y publicar sus ideas políticas sin
necesidad de licencia, revisión y aprobación alguna anteriores à la publicación, baxo las restricciones
y responsabilidades que se expresarán en el presente Decreto”.

377
O controlo censório posterior é definido no artigo XIII do Decreto: “Para asegurar la libertad de imprenta
y conter al mismo tiempo su abuso, las cortes nombrarán una Junta Suprema de Censura, que deberá
residir cerca del Gobierno, compuesta de nueve individuos y a la propuesta de ellos otra semejante en
cada capital de Provincia, compuesta de cinco”.

Não faltam referências a jornais situacionistas e até expressões caricaturais sobre aquele tempo, como
se lê na edição de 16 de outubro de 1810.

Num ‘Ojo-Alerta’ lançado a 14 de dezembro de 1810, o redator do jornal manifesta-se contra a história
circulante de um casamento entre o rei (Fernando VII) e uma irmã de Bonaparte. “Bonaparte cuñado
del rey de España? Qué absurdo! El Rey de España pariente por afinidad del opresor de España? Qué
escándalo! Unido el lobo carnicero con el inocente cordero? De imaginarlo me horrorizo. Ojo-alerta!”

Apesar da importância de El Conciso, outros jornais em Espanha darão o seu contributo na luta contra
as forças invasoras e pela formação da opinião pública. Como diz o historiador Angel Rubio, “la prensa
española cumplirá durante los años que median entre 1808 y 1814 la misma función que la francesa

378
desempeñó en los turbulentos años que siguieron a la revolución. Se convertirá en el principal vehículo
de instrucción para los lectores españoles y, en torno a ella, se condensará toda la actividad intelectual
con el fin de llegar al ánimo de la nación que ahora despierta y, sobre todo, con el fin de influirla y
orientarla”.

Registe-se que foi nas páginas de El Conciso que saiu a primeira lei da liberdade de imprensa da
península ibérica. Em Portugal ter-se-á de esperar uma dúzia de anos para que se registe facto idêntico.

Considerações finais

Ambos os jornais foram, na época os que melhor expressaram a luta pela liberdade de imprensa. Um
parou em 1815, por imposição real (D. Fernando VII) através da Inquisição, restabelecida após a saída

do ‘invasor francês’; o outro continuou até à consolidação de um dos seus objetivos - a independência
do Brasil, registada em setembro – em dezembro de 1822.

El Conciso foi um farol da liberdade em tempos de escuridão.

O Correio Braziliense fica para história como o jornal-livro mais duradouro de quantos foram a expressão
dos sentimentos de liberdade da Península Ibérica.

O Correio Braziliense e El Conciso são dois estandartes da imprensa liberal ibérica. Ambos constituem
exemplos da luta de jornalistas especiais pelas causas da liberdade, mesmo em terreno minado e
cheio de ameaças. Ambos dignificam o jornalismo feito lentamente, ao ritmo do papel-livro.

Porto, 15.04.2017

BIBLIOGRAFIA

Alcoba, António (1996). História de la tecnoliga de la Información Impresa (1. Del arte Parietal al Arte
Tipográfico). Fragua, Madrid.
Aparicio, Pedro Gómez (1967). Historia del Periodismo Español -desde la ‘Gaceta de Madrid’ (1661)
hasta el Destronamiento de Isabel II. Editora Ncional, Madrid
El Conciso:
http://prensahistorica.mcu.es/es/publicaciones/numeros_por_mes.cmd?anyo=1810&idPublicacion=3626
Gürther, André (2005). Historia del periódico y su evolución tipográfica. Campgràfic, Valencia.
Herculano, Alexandre (1975). História da Origem e estabelecimento da Inquisição em Portugal. Liv
Bertrand, Lisboa, 3 vols (edição original de 1864, 1867 e 1872).

379
http://hemerotecadigital.bne.es
Jornal “Correio Braziliense ou Armazem Literário” (Londres). Dir. Hipolito José da Costa. Vol. I e IV,
1808 e 1810
Mansfield, F. J. (1936). The Complete Journalist, Sir Isaac Pitman & Sons, Ltd, London
Marcos, Luís H (2009). Tecnologías, poder y cultura: El salto digital de los museos de imprenta en el
espacio ibero-americano, ed policopiada, Porto (tesis doctoral)
Marcos, Luís H. (1999). História da Censura em Portugal, contributos para uma cronologia (dos tempos
da Inquisição até 1974), in Marcos, Luís H. e Ferreira, Rui Assis - Imprensa, Censura e Liberdade, 5
Séculos de História, Porto, ICS e MNI.
Marques, A. H. de Oliveira (1973). História de Portugal. Palas Editores, Lisboa, vol. I e II.
Medina, José Toribio (1958). Historia de la imprenta en los antiguos dominios españoles de América y
Oceanía. Fondo Histórico y Bibliográfico José Toribio Medina, Santiago de Chile, tomo I y II
Nep, Victor (1977). Historia Gráfica del Libro y de la Imprenta. Ed. Victor Leru, Buenos Aires
Pizzetta, J. (s.d). Historia de un pliego de papel.Imprenta de Gaspar y Roig, Madrid
Ramos, Luís A. de Oliveira (1979). Da Ilustração ao Liberalismo. Lello & Irmão Editores, Porto.
Rubio, Ángel L (2012) – Las Cortes y el renacimiento del periodismo español (in http://www.elmundo.
es/especiales/2009/07/espana/constitucion/actualidad/reportajes/periodismo.html )
Ruiz, Nilás González (1996) (dir.). Enciclopedia del Periodismo. Editorial Moguer, Barcelona-Madrid.
Tengarrinha, José (1965). A História da Imprensa Periódica Portuguesa. Lisboa, Portugália Editora
Tengarrinha, José (1993). Da Liberdade Mitificada à Liberdade Subvertida. Colibri, Lisboa
GRUPO 11
CONSERVACIÓN Y RESTAURACIÓN
O LIVRO RARO E EXPOSTO: QUESTÕES DE DIFUSÃO E PRESERVAÇÃO

Tamar de Carvalho R. Lopes


Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
lopes.tamar.89@gmail.com

RESUMO

Esta pesquisa objetiva demonstrar como deve ser montada uma exposição temporária de livros
raros, relevando a missão da biblioteca de livros raros, quase contraditória, de difusão e preservação.
Através de revisão literária, trata da exposição temporária de livros raros como ação de competência
do bibliotecário ou do museólogo, em face da discussão sobre se o livro raro é um item bibliográfico ou
um objeto museal. Discute os modos de expor em museu e biblioteca e as questões ética relativas à
competência para a montagem de exposições. Apresenta um conjunto inventariado de recomendações
técnicas, emitidas por órgãos distintos, e de boas práticas, a partir de modelo da Divisão de Obras Raras
da Fundação Biblioteca Nacional brasileira. Conclui, ponderando sobre a autonomia do bibliotecário
montar exposições temporárias de livros raros.

PALAVRAS-CHAVE

Livros Raros - Exposições temporárias. Biblioteconomia de Livros Raros. Preservação de acervos


bibliográficos. Museologia. Conservação Preventiva.

ABSTRACT

This research aims to demonstrate how it should be mounted a temporary exhibition of rare books,
highlighting the mission of the rare books library, almost contradictory, of dissemination and preservation.
Through literature review, this temporary exhibition of rare books as racing action librarian or museologist,
given the discussion of the rare book is a bibliographic item or museum object. Discusses ways to
exhibit in the museum and library, and the ethical issues relating to jurisdiction for mounting exhibitions.
Presents a set of inventoried technical recommendations issued by different bodies, and best practices
from model Rare Books Division of the Brazilian National Library Foundation. Concludes, pondering
autonomy Librarian mount temporary exhibitions of rare books.

KEYWORDS

Temporary exhibitions of rare books. Rare Books Librarianship. Library Preservation. Museology.
Preventive Conservation.

383
1. INTRODUÇÃO

Esta pesquisa objetiva demonstrar como deve ser montada uma exposição temporária de livros raros,
relevando a missão da biblioteca de livros raros, quase contraditória, de difusão e preservação.

A abordagem do tema envolverá desde a exposição como recurso de difusão, aos necessários cuidados
de preservação, envolvendo questões relativas à segurança. Não seria possível pesquisar sobre o
assunto sem envolver procedimentos afins a exposições em geral; tais como: escolha do mobiliário,
materiais complementares, montagem, controle do ambiente, normas de trânsito e circulação de
pessoas, tempo de duração e desmontagem. Dessa forma, os pilares básicos desta pesquisa estão
centrados na interdisciplinaridade, na confluência entre Biblioteconomia de Livros Raros, Preservação
de acervos bibliográficos e Museologia.

Os conteúdos das disciplinas História do Livro e das Bibliotecas (HLB I e II) e Políticas de Preservação
de Acervos Bibliográficos (PPAB) da Escola de Biblioteconomia da Universidade Federal do Estado do
Rio de Janeiro (UNIRIO), que subsidiam na teoria e na prática a Biblioteconomia de Livros Raros, e
as exposições de livros observadas em Bibliotecas do Rio de Janeiro, motivaram a escolha do tema,
porque a acumulação desses conhecimentos levou ao discernimento da biblioteca, também, como um
espaço expositivo.

Nesse contexto, a adoção do veículo museológico1 exposição temporária evidencia questões relativas
ao arranjo e ao cuidado dos objetos e do ambiente – leia-se: os livros raros e a Biblioteca de livros
raros, respectivamente, à luz da associação de conceitos e práticas no âmbito da Biblioteconomia de
Livros Raros, da Preservação e da Museologia.

Para a consecução da pesquisa foi eleita a revisão de literatura, a partir da consulta a fontes físicas e
digitais, consagradas nas três áreas de conhecimento indicadas, e que viabilizassem a interlocução
científica. Além disso, foi observado o comportamento dos visitantes a duas exposições de livros raros,
realizadas pela Divisão de Obras Raras da Fundação Biblioteca Nacional, no período desta pesquisa,
de modo a registrar dados sobre os mecanismos de apreensão das exposições e seu impacto sobre
o visitante.

A primeira parte desta pesquisa dedicou-se aos conceitos utilizados. A segunda parte expõe as
diferenças e questões entre os modos de expor no museu e na biblioteca. A terceira parte abordou
a questão da competência para a montagem de exposições, nos contextos da Biblioteconomia e
da Museologia. A quarta parte trata, especificamente, da exposição de livros raros e de questões
que envolvem a Biblioteconomia e a Preservação, arrolando recomendações técnicas, baseadas na

1 Veículo museológico: a expressão se aplica a exposição permanente ou temporária, no museu, “no plano prático da
visualidade,” (LIMA, 2007, p. 9).

384
literatura e em boas práticas. Finalmente, a quinta parte apresenta considerações sobre a montagem
de exposições em bibliotecas, sobre o livro raro exposto e a autonomia do bibliotecário nesse processo.

A pesquisa, desse modo estruturada, procurou esclarecer uma questão, verificada ao longo do curso
de Biblioteconomia e de estágios profissionais: o bibliotecário tem autonomia para montagem de
exposições temporárias? Esta questão, na pesquisa, deverá relevar preceitos éticos e foi direcionada
para o universo de Biblioteconomia de Livros Raros.

2. CONCEITOS

Para abordagem de tema tão complexo houve por bem estabelecer os dois conceitos que alicerçam a
pesquisa: livro raro e exposição temporária – e que se consolidam num só: exposição temporária de
livros raros

Não se pretende discorrer, aqui, sobre critérios de raridade, mas, definir livro raro sob o ponto de vista
operacional desta pesquisa: livro raro é o livro impresso e desse modo entendido pelos gestores de
coleções, quaisquer que sejam os critérios por eles eleitos. A amplitude dessa definição não interfere
no objetivo da pesquisa que, desse modo, fica centrada num aspecto fundamental do livro raro ao ser
exposto – sua materialidade.

De acordo com Pinheiro (2010), a materialidade do livro raro diz respeito, fundamentalmente, ao suporte
(papéis, pergaminhos, couros) e aos materiais de impressão (tintas) e encadernação (madeiras, peles
de animais, metais, tecidos). A consideração desses materiais tão diversos, envolvendo tipos e estado
físico, deve ser objeto de preocupação na montagem de exposições porque, sob qualquer conceito
de raridade, cada um desses materiais reage de modo diferente às influências externas, como luz
e temperatura. Por isto, a opção de discorrer mais detalhadamente sobre o livro raro como objeto
suscetível de exposição se sobrepõe a outros aspectos cuja abordagem não condiciona a escolhida.

A definição operacional de exposição temporária de livros raros envolve o esclarecimento sobre a


exposição de objetos, configurados como objetos de museus.

De acordo com Peter Van Mensch (1992 apud LOUREIRO; FURTADO; SILVA, 2007), objetos de
museus “são objetos separados de seu contexto original (primário) e transferidos para uma nova
realidade (o museu), a fim de documentar a realidade da qual foram separados. Um objeto de museu
[...] é um objeto coletado (selecionado), classificado, conservado e documentado. Como tal, ele se
torna [...] elemento de uma exposição”. Nesta pesquisa, o contexto original é o acervo bibliográfico,
propriamente dito, e a nova realidade é o espaço expositivo – ambos, na biblioteca.

385
Nesta pesquisa, o “contexto original” é a coleção de livros, propriamente dita; e a “nova realidade” é o
livro de coleção na vitrine (informação verbal)2.

Ainda, de acordo com Van Mensch (1992 apud CARVALHO, R., 2007, grifos nossos), “as três funções
básicas do museu são: preservação [...], a investigação [...] e a comunicação [...]. A comunicação
compreende todos os métodos possíveis para transferir a informação a uma audiência: publicações,
exposições e atividades educativas adicionais”. Tais funções também se aplicam ao universo do livro
raro, como recursos de difusão, utilizados pela biblioteca (informação verbal)3.

Difusão, em Biblioteconomia, é o ato e efeito de “dar a conhecer e por uma publicação ao dispor de um
público”, e a exposição é um “meio de despertar o interesse em favor dos livros” (FARIA; PERICÃO,
2008, p. 242, 322).

Convém esclarecer que a palavra exposição remete a diferentes formas de comunicação que se
definem pelo alcance da ação, pela natureza e tamanho do objeto, pela intenção e objetivos, pelos
tipos de materiais e pelo nível de curadoria – desses aspectos evoluem a mostra, a exibição e a
exposição, propriamente ditas (informação verbal)4. No entanto, na literatura consultada, não foram
recuperadas diferenças entre essas manifestações específicas do ato de expor. Foi observado que as
palavras mostra e exibição são de baixa ocorrência e, quando ocorrem, aparecem como sinônimos de
exposição. Diante disso, nesta pesquisa, as palavras mostra e exibição foram desconsideradas, em
favor de exposição; e a palavra exposição foi adotada para representar toda a forma de mostrar livros.

Quanto ao conceito de temporário, associado à exposição, foi entendido que exposição temporária é
aquela de “curta e média duração”, em contraposição à exposição permanente, de “longa duração”
(PIMENTEL; COSTA, 2008, p. 133). Uma exposição temporária ocorre por “tempo determinado”
(REAL, 1962 apud BITTENCOURT, 2008, p. 4) e, segundo Pimentel e Costa (2008, p. 133), esse
tempo determinado pode estender-se entre 30 dias e 24 meses.

3. A EXPOSIÇÃO NO MUSEU E A EXPOSIÇÃO NA BIBLIOTECA

A exposição, no museu e na biblioteca, implica dois diferentes modos de expor, uma vez que a exposição
no museu é uma atividade explícita, faz parte das atividades quotidianas do museólogo, enquanto
que, na biblioteca, a exposição é circunstancial, ocorre eventualmente como parte das alternativas de
difusão de que dispõe o bibliotecário (informação verbal)5.

2 Informação verbal oferecida pela Bibliotecária Ana Virgínia Pinheiro, em 30/04/2014.

3 Informação verbal oferecida pela bibliotecária Ana Virgínia Pinheiro, em 30/04/2014.

4 Informação verbal oferecida pela bibliotecária Ana Virgínia Pinheiro, em 25/04/2014.

5 Informação verbal oferecida pela bibliotecária Ana Virgínia Pinheiro, em 15/05/2014.

386
Esses diferentes modos de expor dependem do público-alvo e da duração da exposição (de curta,
média ou longa duração, ou, ainda, “permanente”, “temporária” ou “itinerante”). De acordo com
Bittencourt (2008, p. 4) qualquer que seja o público e a duração, a exposição será sempre uma “mostra
de trabalhos de arte instalada em um recinto apropriado”.

O “recinto apropriado” a que se refere Bittencourt (2008) é o “espaço físico disponível para realizar a
exposição” (MUSEUMS AND GALLERIES COMISSION, 2001). Esse espaço, quer na biblioteca quer
no museu, é definido pelo objetivo da exposição.

Segundo Museums and Galleries Commission (2001, p. 21), é preciso saber “o que se pretende
alcançar ao montar uma exposição”, e, para isto, é necessário levar em conta a missão institucional
de quem expõe, a gestão e a natureza do acervo exposto, o treinamento dos usuários conforme as
condições da exposição e o acesso à exposição, propriamente dita.

Esses aspectos reiteram duas abordagens distintas para a ação de expor, envolvendo todos os pré e
pós requisitos metodológicos inerentes ao museu e à biblioteca.

Na Museologia, a exposição é um “veículo museológico”, um discurso científico do museólogo;


na Biblioteconomia, a exposição é um recurso de difusão, uma ação eventual do bibliotecário –
independentemente de métodos, conceitos e objetivos, a biblioteca expõe livros para atender à sua
missão de difusão (informação verbal)6.

A formação do bibliotecário não o habilita tecnicamente à montagem de exposições adequadas, que


impliquem o domínio de conhecimento metodológico disseminado na formação do museólogo. Mas, de
fato e, desde que se relevem aspectos éticos, a função de difusão do acervo qualifica o bibliotecário
para utilizar todos os recursos que favoreçam ao acervo, no limite de sua capacidade ou assistido por
profissionais devidamente habilitados (informação verbal)7.

Quando a exposição oferecida pelo museu ou pela biblioteca é de livros raros, as diferenças dos modos
de expor na Museologia e na Biblioteconomia ganham outro aspecto a ser considerado: “materialidade
do livro, sua anatomia e morfologia se confundem com o conteúdo impresso e gravado”, levando a
questões sobre se “o livro raro é objeto da biblioteca ou do museu” (PINHEIRO, 2014).

4. EXPOSIÇÃO DE LIVROS RAROS: QUESTÕES DE BIBLIOTECONOMIA E MUSEOLOGIA

A lei nº 7.287, de 18 de dezembro de 1984 (BRASIL, 1984, grifos nossos), que dispõe sobre
a profissão do museólogo, estabelece em seu artigo 3º, parágrafo 2º que “planejar, organizar,

6 Informação verbal oferecida pela bibliotecária Ana Virgínia Pinheiro, em 15/05/2014.

7 Informação verbal oferecida pela bibliotecária Ana Virgínia Pinheiro, em 15/05/2014.

387
administrar, dirigir e supervisionar os museus, as exposições de caráter educativo e cultural, os
serviços educativos e atividades culturais dos museus e de instituições afins” são atribuições do
museólogo. O parágrafo 14º do mesmo artigo reitera que são atribuições da profissão de museólogo
“orientar a realização de seminários, colóquios, concursos, exposições de âmbito nacional ou
internacional, e de outras atividades de caráter museológico, bem como nelas fazer-se representar”.
Tais disposições são alicerçadas pelo artigo 4º, que esclarece que “para o provimento do exercício
de cargos e funções técnicas de Museologia na Administração Pública Direta e Indireta e nas
empresas privadas, é obrigatória a condição de Museólogo, nos termos definidos na presente Lei”.
No âmbito desta pesquisa, fica evidente o que a lei dispõe como atribuição do museólogo: “orientar
a realização” de exposições.

O Decreto nº 56.725, de 16 de agosto de 1965 (BRASIL, 1965) que regulamenta a lei nº 4.084, de 30
de junho de 1962 e dispõe sobre o exercício da profissão de bibliotecário8, estabelece em seu artigo
5º, que a profissão do bibliotecário “se exerce tanto em órbita pública quanto em órbita privada”,
por diversos meios, “que objetivarem, tecnicamente, o desenvolvimento das bibliotecas e centros
de documentação”. Tais disposições são fortalecidas pelo artigo 9º, parágrafo 6º do mesmo decreto
(grifos nossos), que esclarece que “o Bibliotecário terá preferência quanto à parte relacionada com sua
especialidade, no desempenho das atividades concernentes a organização de congresso, seminários,
concursos e exposições nacionais ou estrangeiras”. No âmbito desta pesquisa, fica evidente o que o
decreto dispõe como atividade o bibliotecário: a “organização” de exposições, desde que estas estejam
relacionadas à sua especialidade.

A discussão sobre as diferenças e confluências entre “orientar a realização” e “organizar” uma


exposição, não é o objeto desta pesquisa, mas, sim, o fato de que quando a exposição é de livros
raros, os conhecimentos teóricos e as boas práticas da Biblioteconomia e da Museologia influenciam
os modos de expor (NATHANSON; VOGT-O’CONNOR, 1993), “impondo a necessidade de saberes
solidários, que reconheçam no livro raro a qualidade de obra da Arte” e que potencializem seu caráter
de informação registrada (PINHEIRO, 2014).

No entanto, de acordo com Museums And Galleries Commission (2001, p.12), da Inglaterra, a exposição
é encarada como um trabalho de elaboração interna do museu, independente de haver ou não curador9
ou especialista de fora particularmente convidado para o projeto; é, portanto, um fenômeno endógeno ao
museu e ao mesmo tempo exógeno por estar voltado para o público-alvo a que se destina.

8 Convém esclarecer que a Lei nº 9.674, de 26 de junho de 1998, que dispõe sobre o exercício da profissão de bibliotecário
e determina outras providências é a mais recente, porém contém o texto quase integralmente vetado, não fazendo
referência a esses dispositivos do decreto.

9 Curador: a ação do curador, no museu, “remete ao cuidado, zelo, [...], ao sentido de cuidar, tomar conta” de um objeto sob
proteção (BITTENCOURT, 2008, p. 13, grifos do autor).

388
O conceito reproduzido não impõe a necessidade da presença de um museólogo no trabalho da
exposição, qualquer que seja o seu curador, se a instituição que expõe é um museu, impondo a dúvida
quanto à autonomia do bibliotecário para montar exposições alicerçadas no acervo sob sua guarda e
curadoria, quando a instituição que expõe é uma biblioteca.

A consideração de algumas funcionalidades específicas do livro raro sugere a necessária interferência


do bibliotecário no modo de expô-lo. Tal interferência vai além da condição do livro como objeto e
coloca a exposição de livros, também, como “um fenômeno endógeno” à biblioteca. Talvez as duas
funções, a do museólogo e a do bibliotecário se completem, pelos distintos modos de olhar o livro.

Segundo a museóloga brasileira Tereza Cristina Scheiner (2006, p. 24), a interdisciplinaridade da


equipe responsável pela montagem de exposições é essencial, assim como a “[…] presença do
museólogo nos projetos de exposição. Todo projeto de exposição poderá ter arquiteto, designer,
iluminador, educador, cientista, mas o museólogo é que vai fazer esse alinhavo a que denominamos
Museologia. É o museólogo que irá definir a exposição como objeto simbólico de caráter museológico”.
Com esse ponto de vista, a museóloga considera necessária a presença de um museólogo ao longo
de todo projeto de exposição e exemplifica sua abordagem, a partir de sua experiência como gestora
do Museu Histórico Nacional, no Rio de Janeiro: “embora seja um museu grande para uma equipe
relativamente pequena, esta equipe consegue desenvolver todo o processo de uma exposição, desde
sua concepção, desenvolvimento da pesquisa, passando pelos projetos museológico10 e museográfico11,
até a montagem da exposição” (SCHEINER, 2006, p. 43).

A abordagem de Scheiner é endossada pela museóloga Helena Uzeda (informação verbal)12, que afirma
que a presença do museólogo na concepção de exposições se faz necessária devido ao conhecimento
técnico adquirido por esses profissionais sobre a escolha do local e do ambiente adequados e sobre
questões de preservação, entre outras. A museóloga também afirma que esse trabalho deve ser em equipe,
envolvendo profissionais de diversas áreas, com competência para interferir, contribuindo, em qualquer
estágio da exposição, bem como alternar funções de modo que toda a equipe assuma, em conjunto, a
responsabilidade pelo projeto e a tomada de decisões finais sobre todo e qualquer aspecto da exposição.

A bibliotecária Ana Virgínia Pinheiro, chefe da Divisão de Obras Raras da Biblioteca Nacional Brasileira,
por sua vez, entende que uma exposição de livros pode ser projetada, desenvolvida e montada pelo

10 Museológico: “Etimologicamente, a museologia é o ‘estudo do museu’. O termo ‘museológico’ é seu derivado. [...] visa a
aplicar, muito amplamente, o termo ‘museologia’ a tudo aquilo que toca ao museu e que remete, geralmente, no dicionário,
ao termo ‘museal’” (DESVALLÉES; MAIRESSE, 2013, p. 61).

11 Museográfico: “Atualmente, a museografia é definida como a figura prática ou aplicada da museologia, isto é, o conjunto
de técnicas desenvolvidas para preencher as funções museais, e particularmente aquilo que concerne à administração do
museu, à conservação, à restauração, à segurança e à exposição. [...] tende a ser usada com frequência para designar a
arte da exposição” (DESVALLÉES; MAIRESSE, 2013, p. 58-59).

12 Informação verbal oferecida pela museóloga Helena Uzeda, em 17/03/2014.

389
bibliotecário, no limite de suas funções e contando com a colaboração de outros profissionais que
lidam com a materialidade e a informação explícita do livro (informação verbal)13. No entendimento da
bibliotecária, o conhecimento do livro, material e intelectualmente, é uma das aptidões do bibliotecário,
que lhe reconhecem competência para apresentar o livro, em diferentes circunstâncias.

O Conselho Federal de Biblioteconomia, através da resolução nº 42, de 11 de janeiro de 2002 (CONSELHO


FEDERAL DE BIBLIOTECONOMIA, 2002) que dispõe sobre o Código de Ética Profissional, esclarece no
artigo 3º que cumpre ao profissional Bibliotecário “exercer a profissão aplicando todo zelo, capacidade
e honestidade no seu exercício”, bem como “cooperar intelectual e materialmente para o progresso da
profissão, mediante o intercâmbio de informações com associações de classe, escolas e órgãos de
divulgação técnica e científica”. Essa disposição leva à inferência de que, sob o ponto de vista ético, ao
bibliotecário cumpre a função de curadoria, no exercício das atividades concernentes à sua profissão. Tais
disposições são fortalecidas pelo artigo 8º do mesmo Código de Ética que define que o bibliotecário deve
“interessar-se pelo bem público e, com tal finalidade, contribuir com seus conhecimentos, capacidade e
experiência para melhor servir a coletividade”.

Sabe-se que o bibliotecário adquire, ao longo de seus anos de estudo, valores inerentes à segurança,
preservação, conservação de livros – disseminados em disciplinas como Organização e Administração de
Bibliotecas, Formação e Desenvolvimento de Coleções, Políticas de Preservação de Acervos Bibliográficos
e História do Livro e das Bibliotecas (onde se divulga a noção do livro como objeto apreciável e do livro
raro como obra de arte), bem como técnicas para preservar e disseminar a informação, de maneira que a
informação alcance, indiscriminadamente, todos os públicos e sobreviva por diversas gerações.

A informação, aqui indicada, tem o mesmo sentido proposto por Le Coadic (1996, p. 5), quando a descreveu
como “um significado transmitido a um ser consciente por meio de uma mensagem inscrita em um suporte”.
Esse conceito reitera o papel da biblioteca como “um sistema de informações”, constituído pelos registros
bibliográficos sobre alguma forma de suporte, por ela reunidos. Torna-se válido ponderar, então, que a
preservação dos suportes onde a informação está registrada, em todas as circunstâncias de uso, é uma
atribuição inquestionável do bibliotecário.

Essa ponderação, segundo a bibliotecária Ana Virginia Pinheiro (informação verbal)14, leva à outra inferência:
embora não seja qualificado para a montagem de exposições, nos contextos museológico e museográfico,
o bibliotecário é habilitado para o cuidado do livro exposto, para diferentes formas de acesso: em exposição,
fechado, na estante da biblioteca (Ilustração 1); ou, em exposição, ou aberto, na mesa de leitura (Ilustração
2) ou numa vitrine (Ilustração 3).

13 Informação verbal oferecida pela bibliotecária Ana Virgínia Pinheiro, em 21/02/2014.

14 Informação verbal oferecida pela bibliotecária Ana Virgínia Pinheiro, em 15/05/2014.

390
Ilustração 1

Ilustração 2

Ilustração 3

O cuidado do livro exposto, acessível, diz respeito aos modos de sua guarda e manuseio, no ambiente
controlado da biblioteca, à luz de preceitos fundamentais preservação de acervos bibliográficos (cf.
OGDEN, 2001; OGDEN; GARLICK, 2001).

Na Divisão de Obras Raras da Fundação Biblioteca Nacional, por exemplo, as exposições temporárias
são pesquisadas e montadas por bibliotecários, a partir de critérios quanto ao conteúdo e a

391
materialidade, formalizados pela Biblioteconomia de Livros Raros (informação verbal)15. Além disso,
técnicos de preservação podem contribuir no processo de montagem, higienizando livros, hidratando
encadernações, opinando sobre os modos de apoio (Figura 3) e o posicionamento dos volumes ou
das vitrines em relação à luz – a abertura dessas exposições para público, após a montagem, é
condicionada à liberação pelos técnicos de preservação, após a constatação de que as condições de
exposição, no período previsto, não causarão efeitos colaterais indesejados no suporte de registro.

No processo descrito, verifica-se ação interdisciplinar, envolvendo bibliotecários e técnicos de


preservação, isto é, restauradores, encadernadores e higienizadores.

Observa-se que a preservação das obras é um critério prioritário nas exposições, recomendado
na literatura como um cuidado redobrado para que as peças expostas “não sejam [...] danificadas”
(COSTA, 2006, p. 58).

Isto pode ser constatado, por exemplo, no processo de empréstimo de peças do acervo da Biblioteca
Nacional para exposições fora de seu espaço físico. Na Biblioteca Nacional, o serviço de Courrier16 de
obras que serão expostas em outras instituições, nacionais e estrangeiras, é sempre da competência
de um técnico de preservação, que terá autoridade para interferir, inclusive, nos modos de acomodação
dos itens da Biblioteca nos expositores apresentados (informação verbal)17.

Tais condições não inviabilizam a participação do museólogo no processo descrito, nem a do


bibliotecário como curador de exposições, assim como de outros profissionais que, eventualmente,
seriam necessários, como o arquiteto, o designer, o iluminador e outros demandados em função de
diferentes circunstâncias que podem envolver uma exposição.

Afinal, qual seria efetivamente o limite de competência de um ou outro profissional – bibliotecário e


museólogo?

Evidentemente, há que se distinguir o trabalho intelectual de produção de uma exposição do processo


de montagem propriamente dito.

5. EXPOSIÇÃO DE LIVROS RAROS: QUESTÕES DE BIBLIOTECONOMIA E PRESERVAÇÃO

Segundo Carvalho (2013, p. 2), a vitrine é o elemento mais importante de uma exposição, pois é
ela que intercepta a comunicação entre o usuário e o objeto e é imprescindível que ela esteja bem
organizada e seja capaz de passar a mensagem proposta. Para cumprir esse objetivo, por exemplo,

15 Informação verbal oferecida pela bibliotecária Ana Virgínia Pinheiro, em 21/03/2014.

16 Courrier: “Pessoa que acompanha a postagem∕transporte” (COSTA, 2006, p. 58).

17 Informação verbal oferecida pela Bibliotecária Ana Virgínia Pinheiro, em 30/04/2014.

392
no mundo da moda, existe o visual merchandising, que é o profissional responsável por organizar o
conteúdo da vitrine de modo a atrair o público para a compra.

Na exposição em bibliotecas, a organização do conteúdo da vitrine é um modo de atrair o público,


porém, não com o intuito de “vender” o livro, mas de aproximar o visitante do objetivo que aquela
exposição quer cumprir, ou seja, atrair o visitante para o uso da biblioteca. Quando se expõe um
objeto num museu ou em uma biblioteca, a principal intenção da exposição é aproximar o visitante
do universo que está sendo exposto; e o alcance dessa intenção dependerá do tipo de exposição, de
leitor, de liberdade ou interação verificada na exposição.

Um dos elementos principais para o sucesso de uma exposição, segundo Carvalho (2013, p. 2), é
a vitrine, que deve ser objeto de diversas preocupações, tais como “quantidade, tamanho, formato,
cores, temas” e sua adequação ao objeto exposto. Nesse contexto, evoluem outros aspectos a serem
considerados, a partir de conceitos museais, como a expografia e a expologia.

A Expografia “é a forma da exposição de acordo com os princípios expológicos e abrange os aspectos


de planejamento, metodológicos e técnicos para o desenvolvimento da concepção e materialização
da forma” (CURY, 2003 apud CURY, 2014, p. 27); como parte da museografia, “visa à pesquisa de
uma linguagem e de uma expressão fiel na tradução de programas científicos de uma exposição”
(DESVALLÉES; MAIRESSE, 1998 apud CURY, 2005, p. 27).

A Expologia: “envolve os princípios museológicos, comunicacionais e educacionais de uma exposição,


e a sua base fundante” (CURY, 2003 apud CURY, 2014, p. 27); “como parte da museologia, estuda a
teoria da exposição” (DESVALLÉES; MAIRESSE, 1998 apud CURY, 2005, p. 27).

No entanto, as exposições de livros raros em bibliotecas estão fundadas, quase sempre, na erudição do
curador (comumente, um bibliotecário) e nos fundamentos da Preservação de Acervos Bibliográficos
(Cf. OGDEN, 2001). De tal modo que,

Exposições temporárias de livros raros e documentos antigos são cada vez mais frequentes e
generalizadas. Elas representam uma oportunidade para colocar o público em contato com livros
e documentos que, de outra forma, estariam fora de vistas, do acesso regular ou muitas vezes,
desconhecidos. O livro, considerado como herança cultural, tornou-se objeto de exposições, com foco
no trabalho de um artífice ou num evento histórico. Por isto, a colocação de livros em exposições
deve respeitar critérios e precauções que considerem o valor cultural e parâmetros ambientais, e
de segurança, alicerçados em conceitos fundamentais da Biblioteconomia e da Preservação e em
recomendações consagradas. (CULTURE, IDENTITÁ E AUNOMIA DELLA LOMBARDIA, 2009,
tradução nossa).

393
Essas exposições, embora multiplicadas, não ocorrem de modo não controlado ou sob critérios
oportunistas; existem recomendações técnicas sobre o assunto, de validade internacional, emitidas
pela International Federation of Library Associations and Institutions (2004, tradução nossa). Segundo
estas recomendações, o livro raro é um objeto suscetível à exposição, desde que submetido a algumas
regras, que podem ser relacionadas à descrição e manutenção de seu estado físico, envolvendo
as instalações, medidas de segurança e características físicas da exposição. Algumas dessas
recomendações estabelecem:

• as exposições devem ser em vitrines fechadas (Ilustração 4) e com alarme, exceto em caso de
objetos emoldurados e marcados;
• o tempo de exposição máximo das obras em papel é de três meses e para períodos maiores, é
preferível expor o fac-símile, por questões de segurança e preservação do livro raro;
• o responsável pela exposição é um bibliotecário curador ou conservador, dependendo da instituição;
• a inclusão de uma obra numa exposição pressupõe a ação do bibliotecário conservador
como o responsável por avaliar sua raridade, valor e procedência; e a ação do restaurador como
avaliador das características e condições do material, e é ele quem propõe qualquer tratamento de
conservação necessário e que avalia as condições para a exposição.

Outro documento relevante, neste aspecto, são as práticas do National Park Service, consagradas em
texto dos arquivistas David Nathanson e Diane Vogt-O’Connor (1993, p. 2 tradução nossa), onde se
destacam as seguintes medidas:

• os níveis de luz, em casos de exposição, devem ser mantidos a um máximo de 50 lux18;


• lâmpadas fluorescentes devem ser cobertas com um material de filtração de raios ultravioleta;
• um horário fixo para virar a página do livro deve ser estabelecido, para garantir que nenhuma
página fique exposta à luz por um longo período de tempo;
• Um apoio adequado deve ser utilizado para a exposição em livro aberto (Ilustração 4) para
evitar que o mesmo sofra pressão sobre a lombada e seja danificado.

Ilustração 4

18 Lux: “lumens por metro quadrado. Medida dos níveis visíveis de luz” (OGDEN, 2001, p. 9)

394
Além disso, os cadernos publicados pelo Projeto de Conservação Preventiva em Bibliotecas e
Arquivos, promovido pelo Arquivo Nacional e patrocinado pela Mellon Foundation, também sintetizam
a exposição de itens bibliográficos, com ênfase para a Biblioteconomia e a Preservação.

Ogden (2001, p. 31) entende que exibir peças únicas e raras é uma função importante das instituições
que abrigam acervos, em especial de museus, que costumam trabalhar com exposições com maior
frequência em relação a bibliotecas. A autora também esclarece que, embora a exposição possa
prejudicar a longevidade do objeto, há procedimentos que podem ser tomados para minimizar estes
riscos e danos, destacando:

• expor o fac-símile, protegendo assim o original;


• proteger o livro da luz e do manuseio do público, ou seja, a vitrine deve ser fechada e deve
haver um controle constante dos níveis de luz e o uso de raios ultra violeta, evitando colocar
lâmpadas dentro das vitrines. É preferível que a exposição seja temporária;
• controlar a temperatura, da umidade relativa do ar e da poluição atmosférica, devendo-se
observar se o material utilizado na construção de vitrines ou quadros é adequado para a preservação
dos objetos.

O conjunto de medidas e recomendações sobre os modos de expor arrolados evidencia o quanto um


curador de exposição bibliográfica deve conhecer sobre preservação, para que consiga estabelecer o
diálogo com os técnicos da área. Esse saber destaca, prioritariamente, os cuidados que dizem respeito
à luminosidade e à segurança.

Essa situação leva à valorização, além das recomendações técnicas arroladas, de experiências
resultantes de boas práticas, como aquelas verificadas pela Biblioteca Nacional Brasileira.

Considerando a função da Biblioteca Nacional como órgão referencial para a Biblioteconomia brasileira,
e a condição de “uma das dez maiores bibliotecas nacionais do mundo, é também a maior biblioteca da
América Latina” (Fundação Biblioteca Nacional, c2006), é razoável o reconhecimento dessa biblioteca
como modelar. Desse modo, as exposições de livros raros, ali promovidas, configuram-se como “boas
práticas” em termos de modelos para outras instituições bibliotecárias.

Essas boas práticas emergiram mediante observação simples de duas exposições realizadas pela
Divisão de Obras Raras da Fundação Biblioteca Nacional entre dezembro de 2013 e maio de 2014, e
seu impacto sobre o público visitante:

a) “Ao Pio Leitor... a virtude: Paz! Mostra sobre a virtude da Mansidão” – de 16 de dezembro de
2013 a 31 de janeiro de 2014, prorrogada até 21 de fevereiro; e
b) “Livros extraordinários!” – de 28 de fevereiro a 9 de abril de 2014, prorrogada até 9 de maio.

395
A observação simples dessas exposições não envolveu estudos de público nem pretendeu a descrição
de comportamentos observáveis; mas, sim, o relatório de modos e técnicas visíveis nas exposições
montadas.

Os dados observados foram submetidos e confirmados pela bibliotecária Ana Virginia Pinheiro, chefe
daquela Divisão, responsável pela montagem e curadoria das exposições. Assim, foram observados e
confirmados os seguintes aspectos:

• As exposições na Divisão de Obras Raras são de baixos recursos, limitando-se ao conteúdo


das vitrines, sem o uso de recursos físicos de divulgação e sinalização, tais como banners, folders
para distribuição;
• As exposições são, sempre, de pequeno porte, limitando-se ao máximo de 25 livros, higienizados
e expostos em sete vitrines: duas pequenas e cinco grandes;
• Cada exposição tem duração média de 45 a 70 dias, incluindo eventuais prorrogações;
• As vitrines têm base de madeira, e a parte superior (tampo) em vidro, forrado com plástico fílmico,
que reduz a incidência de luz no seu interior; têm altura total de um metro, com profundidade de
cinqüenta centímetros e largura em dois tamanhos – cinqüenta centímetros e um metro e quarenta
centímetros. Essa estrutura possibilita a observação do livro exposto através do tampo e de faces
laterais;
• As vitrines são chaveadas e as chaves são individuais;
• O fundo das vitrines tem uma base de papelão, forrado em tecido;
• Os livros são expostos apoiados em pequenos sacos feitos do mesmo tecido e cor do forro,
recheados de pedras de aquário (que suportam o peso do livro, sem o risco da presença de outros
materiais orgânicos que pudessem migrar ou contaminar os livros);
• Junto aos livros expostos são colocados objetos complementares (materiais e instrumentos de
escrita antigos) que decoram as vitrines e que são ali colocados “para ambientar o livro, como se o
livro estivesse apoiado numa mesa de escritório, num momento de leitura”;
• Cada livro, na vitrine, é identificado por um verbete que inclui a referência bibliográfica e
algumas notas, em linguagem coloquial, que remetem à história do livro, favorecendo a apreensão
dos conteúdos selecionados – “embora esta dependa, evidentemente, da bagagem cultural do
visitante”.
• Os livros são expostos abertos – exceto se forem mostradas as encadernações – em páginas
comumente com informações imagéticas;
• Os defeitos verificados nos livros expostos, provenientes da ação do tempo, do desgaste
natural dos suportes ou da ação de bicho, são minimizados ou ocultados por fitas, marcadores de
páginas e outros recursos – a ocultação se deve ao fato de que “nem sempre o visitante percebe
que esses defeitos decorrem da ação do tempo ou de circunstâncias passadas, podendo atribuí-
los à negligência do bibliotecário de hoje”;

396
• A abertura de cada exposição é condicionada à liberação, por técnico da área de preservação,
após avaliação das condições de exposição e de que, cumprido o tempo de exposição, os livros
não apresentarão danos decorrentes desse procedimento;
• As exposições objetivam “a difusão do livro raro da Biblioteca Nacional não só junto aos usuários
que a frequentam, mas, principalmente, junto ao leigo (aquele que não é pesquisador do acervo)
e a usuários potenciais (aqueles que podem ser ou que virão a ser pesquisadores do acervo),
incentivando o sentido de pertencimento da biblioteca, como um bem da nação” (informação
verbal)19.

Diante do exposto, verifica-se que a Biblioteca Nacional brasileira adota as recomendações da IFLA.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A consideração de normas nacionais e internacionais e de práticas de exposições consolidadas pela


Biblioteca Nacional, aqui descritas, possibilitam a proposição de um conjunto de recomendações para
a montagem de exposições de livros raros.

Nesse contexto, pretendeu-se conjugar as determinações daquelas normas e as práticas da Biblioteca


Nacional, formalizando um conjunto de recomendações, em princípio, compatível, sujeito à adequação
por toda biblioteca.

Torna-se válido, então, dizer que, embora cada instituição possa criar seu próprio Código de
Comportamento relativo à montagem de exposições, a maioria tem identidade de procedimentos,
alicerçada na proteção do livro exposto.

A exposição do livro raro oferece riscos que devem ser relevados pelo bibliotecário, curador da
exposição – riscos decorrentes da incidência de luz e temperatura e de subtração.

Desse modo, por uma série de razões, seja em um museu ou numa biblioteca, as exposições precisam
ser mudadas de tempos em tempos: os objetos em exposição são submetidos a um desgaste maior do
que quando em reserva técnica ou na estante – o meio da exposição se degrada, vitrines envelhecem,
recursos auxiliares se desgastam. Assim, não é aceitável que exposições fiquem montadas durante
décadas, como se observava até poucos anos atrás.

Além disso, ainda permanece a questão sobre a natureza do livro raro – se é objeto museal ou item
bibliográfico; definição longe de alcançar solução, embora prevaleça a condição do livro raro como
item de biblioteca. Infelizmente, não foi recuperada, no curso desta pesquisa, literatura em língua
portuguesa que aprofunde esse tema.

19 Informação verbal oferecida pela bibliotecária Ana Virgínia Pinheiro, em 30/04/2014.

397
Mesmo assim, esta pesquisa procurou ressaltar como necessária a autonomia do bibliotecário na
montagem de exposições temporárias, baseando-se em preceitos éticos e no conhecimento do livro raro.

Talvez, a consideração de todos esses aspectos, ratifique a necessidade de incluir, nos conteúdos
dos cursos de Biblioteconomia, o conhecimento que potencialize ou atribua ao futuro bibliotecário a
autoridade para difundir o livro – raro ou não, através de exposições.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6023: informação e documentação:


referências: elaboração. Rio de Janeiro, 2002.

______. NBR 6024: informação e documentação: numeração progressiva das seções de um documento
escrito: apresentação. Rio de Janeiro, 2003.
______. NBR 6027: informação e documentação: sumário: apresentação. Rio de Janeiro, 2003.
______. NBR 6028: informação e documentação: resumo: apresentação. Rio de Janeiro, 2003.
______. NBR 10520: informação e documentação: citações em documentos: apresentação. Rio de
Janeiro, 2002.
______. NBR 14724: informação e documentação: trabalhos acadêmicos: apresentação. Rio de
Janeiro, 2005.
BITTENCOURT, José Neves. Mediação, curadoria, museu: uma introdução em torno de definições,
intenções e atores. In: JULIÃO, Letícia (Coord.) Cadernos de diretrizes museológicas 2: mediação
em museus: curadorias, exposições, ação educativa. Belo Horizonte : Secretaria de Estado de Cultura
de Minas Gerais, Superintendência de Museus, 2008. p. 3-12. Disponível em: <http://www.cultura.
mg.gov.br/files/museus/1caderno_diretrizes_museologicas_2.pdf>. Acesso em: 23 abr. 2014.
BRASIL. Decreto nº 56.725, de 16 de agosto de 1965. Regulamenta a Lei nº 4.084, de 30 de junho
de 1962, que dispõe sobre o exercício da profissão de bibliotecário. Diário Oficial da [República
Federativa do Brasil], Brasília, DF, n. 77, p. 6., 19 ago. 1965.
BRASIL. Lei nº 7.287, de 18 de dezembro de 1984. Dispõe sobre a regulamentação da profissão de
museólogo. Diário Oficial [da República Federativa do Brasil], Brasília, DF, n. 96, p. 1, 18 dez. 1984.
CARVALHO, Marcelle Abrão de. A vitrine como estratégia de comunicação visual e marketing de
produtos. Revista Especialize Online, Belo Horizonte, jan. 2013. Disponível em: <http://www.ipog.
edu.br/uploads/arquivos/1acdde9a9039cea333529ce1533db5a2.pdf> Acesso em: 23 abr. 2014
CARVALHO, Rosane Maria Rocha de. A relação museu e público: a contribuição das tecnologias da
informação. In: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO, 8., 2007,
Salvador. Programa. Salvador, 2007. Debates sobre Museologia e Patrimônio. Disponível em: <http://
www.enancib.ppgci.ufba.br/artigos/DMP--058.pdf>. Acesso em: 23 abr. 2014.

398
CONSELHO FEDERAL DE BIBLIOTECONOMIA (Brasil). Resolução CFB nº 42, de 11 de janeiro de
2002. Dispõe sobre Código de Ética do Conselho Federal de Biblioteconomia. Diário Oficial da União,
Brasília, DF, 14 jan. 2002, Seção 1, p. 64.
COSTA, Evanise Pascoa. Princípios básicos da Museologia. Curitiba: Coordenação do Sistema
Estadual de Museus/Secretaria de Estado da Cultura, 2006.
CULTURE, IDENTITÁ E AUTONOMIA DELLA LOMBARDIA. You save the books... the books save
you...! Milano: Nuova Chorós, 2009. Disponível em: <http://www.cultura.regione.lombardia.it/shared/
ccurl/433/644/al_You%20save%20the%20books.pdf>. Acesso em: 23 abr. 2014.
CURY, Marília Xavier. Exposição: concepção, montagem e avaliação. São Paulo: Annablume, 2005.
DESVALLÉES, André; MAIRESSE, François (Ed.). Conceitos-chave de Museologia. Tradução e
comentários de Bruno Brulon Soares e Marília Xavier Cury. São Paulo: Comitê Brasileiro do Conselho
Internacional de Museus: Pinacoteca do Estado de São Paulo, 2013.
FARIA, Maria Isabel; PERICÃO, Maria da Graça. Dicionário do livro: da escrita ao livro eletrônico.
São Paulo: Edusp, 2008.
FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL. Por dentro da BN: Histórico. Rio de Janeiro: Fundação
Biblioteca Nacional, c2006. Disponível em: <http://www.bn.br/portal/?nu_pagina=11>. Acesso em: 05
mai. 2014
INTERNATIONAL FEDERATION OF LIBRARY ASSOCIATIONS AND INSTITUTIONS. Guidelines for
exhibition loans. Edinburgh, c2013. Disponível em: <http://www.ifla.org/publications/ifla-guidelines-
for-exhibition-loans.> Acesso em: 02 fev. 2014.
LE COADIC, Ives-François. A ciência da informação. Brasília: Briquet de Lemos/Livros, 1996.
LIMA, Diana Farjalla Correia. Museologia e patrimônio interdisciplinar do campo: história de um
desenho (inter)ativo. In: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO, 8.,
2007, Salvador. Programa. Salvador, 2007. Debates sobre Museologia e Patrimônio. Disponível em:
<http://www.enancib.ppgci.ufba.br/artigos/DMP--060.pdf>. Acesso em: 23 abr. 2014.
LOUREIRO, Maria Lucia de Niemeyer Matheus; FURTADO, Janaína Lacerda; SILVA, Sabrina
Damasceno. Dos livros às coisas: museus, coleções e representação do conhecimento científico.
In: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO, 8., 2007, Salvador.
Programa. Salvador, 2007. Debates sobre Museologia e Patrimônio. Disponível em: <http://www.
enancib.ppgci.ufba.br/artigos/DMP--111.pdf>. Acesso em: 23 abr. 2014.
MEANEY, Kathleen. The library: a museum: course designed and implemented by instructor Kathleen
Meaney. In: MEANEY, Kathleen; PETERSON, Mathew. Terms & Conditions. Raleigh: North Carolina
State University, College of Design, 2007-2010. Disponível em: <http://www.termsconditions.com/
pedagogy/?p=951> Acesso em: 13 maio 2014.
MUSEUMS AND GALLERIES COMMISIOM. Planejamento de exposições. [tradução de] Maria Luiza
Pacheco Fernandes. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo: Vitae, 2001.
NATHANSON, David; VOGT-O’CONNOR, Diane. Use and handling of rare books. Washington, DC:

399
National Park Service, Museum Management Program, July 1993. 3 p. (Conserve O Gram, n. 19/3).
Disponível em:
<http://www.nps.gov/museum/publications/conserveogram/19-03.pdf>. Acesso em: 13 maio 2014.
OGDEN, Sherelyn; GARLICK, Karen. Políticas de desenvolvimento de coleção e preservação.
Revisão técnica Ana Virginia Pinheiro e Dely Bezerra de Miranda Santos. 2. ed. Rio de Janeiro: Projeto
Conservação Preventiva em bibliotecas e Arquivos: Arquivo Nacional, 2001. p. 17-19.
OGDEN, Sherelyn (Ed.). A proteção de livros e papéis durante exposições. In: ________ Meio
Ambiente. Tradução Elizabeth Larkin, Francisco de Castro Azevedo; revisão técnica Ana Virginia
Pinheiro e Dely Bezerra de Miranda Santos; revisão final Cássia Maria Mello da Silva, Lena Brasil].
2. ed. Rio de Janeiro: Projeto Conservação Preventiva em Bibliotecas e Arquivos: Arquivo Nacional,
2001. p. 14-17.
PIMENTEL, Thaïs Velloso Cougo; COSTA, Thiago Carlos. Monografias tridimensionais: a experiência
curatorial nas exposições e média e curta [duração] do Museu Histórico Abílio Barreto. In: JULIÃO, Letícia
(Coord.) Cadernos de diretrizes museológicas 2: mediação em museus: curadorias, exposições,
ação educativa. Belo Horizonte: Secretaria de Estado de Cultura de Minas Gerais, Superintendência
de Museus, 2008. p. 128-145. Disponível em: <http://www.cultura.mg.gov.br/files/museus/1caderno_
diretrizes_museologicas_2.pdf>. Acesso em: 23 abr. 2014.
PINHEIRO, Ana Virginia. Sobre olhar, ver e tocar o livro raro. Revista Museu: cultura levada a sério,
Rio de Janeiro, ano XIII, n. 0149, maio 2014. Disponível em: <http://www.revistamuseu.com.br/joomla/
index.php/component/content/article/9-area-de-servicos/artigos/90-sobre-olhar-ver-e-tocar-o-livro-
raro>. Acesso em: 18 maio 2014.
PINHEIRO, Ana Virginia. Suportes da informação: a encadernação. In: ____. Produção do Registro
do Conhecimento I: planos de aulas. 2010. f. 51-55. Material didático utilizado no Curso de
Biblioteconomia da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO).
PINHEIRO, Ana Virginia. Suportes da informação: o papel. In: ____. Produção do Registro do
Conhecimento I: planos de aulas. 2010. f. 45-50. Material didático utilizado no Curso de Biblioteconomia
da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO).
SCHEINER, Tereza Cristina. Criando realidades através de exposições. In: GRANATO, Marcus;
SANTOS, Claudia Penha dos (Org.). Discutindo exposições: conceito, construção e avaliação. Rio de
Janeiro: Museu de Astronomia e Ciências Afins, 2006.

400
RESTAURO DE PAPEL – CONJUNTO DOCUMENTAL ARQUIVO PESSOAL E FAMILIAR DO
VISCONDE DE VILA MAIOR

Maria do Céu Correia Nunes Branco Ferreira


chronospaper – Oficina de Restauro de Livros e Encadernação
chronospaper2014@gmail.com

RESUMO

O projeto “Arquivo Pessoal e Familiar do Visconde de Vila Maior – Preservar a Memória, Divulgar o
Passado” consistiu num projeto financiado pela Fundação Calouste Gulbenkian no âmbito do Concurso
de Recuperação, Tratamento e Organização de Acervos Documentais.

O conjunto de obras referenciadas foi selecionado por uma equipa multidisciplinar para que fosse
alvo de uma intervenção de conservação e restauro (devido à sua degradação física) e para que
posteriormente se pudesse facilitar o seu manuseio para o tratamento arquivístico assim como para a
sua consulta por investigadores e público em geral.

A intervenção realizada neste conjunto, assim como todos os procedimentos selecionados e efetuados
durante a mesma, teve como objetivo determinar com rigor o estado de conservação das obras e
salvaguardar as mesmas, respeitando as características intrínsecas de cada um dos documentos,
assim como o seu formato e a sua função original.

PALAVRAS-CHAVE

Conservação, Restauro, Acondicionamento, Papel, Visconde de Vila Maior

ABSTRACT

The project “Arquivo Pessoal e Familiar do Visconde de Vila Maior – Preservar a Memória, Divulgar o
Passado” consisted in a project financed by the Calouste Gulbenkian Foundation through its Concurso
de Recuperação, Tratamento e Organização de Acervos Documentais.

The collection of documents was selected by a multidisciplinary team so that it would be the target of the
conservation and restoration intervention (because of its physic degradation) and so that its handling
could be facilitated for archivist purposes but also for consultation by investigators and the public.

The intervention executed in this collection, as well as the procedures selected and performed during
the intervention, had as its main purpose determine with rigour the conservation state and the safeguard

401
of the documents, respecting the intrinsic characteristics of each document and its format and original
function.

KEYWORDS

Conservation, Restoration, Storage, Paper, Visconde de Vila Maior

Introdução

A recuperação do património documental tem como finalidade preservar e dar a conhecer o tipo de
produção feita num determinado período da nossa história. O processo interventivo aqui descrito pode
e deve ser reconhecido como fundamental para a salvaguarda do património arquivístico.

O conjunto de documentos intervencionado pode ser definido como um conjunto documental de


reconhecido valor informativo e documental. De facto, um dos seus produtores foi Júlio Máximo de
Oliveira Pimentel1, o Visconde de Vila Maior.

Os restantes documentos foram produzidos por quem privava com o Visconde, tais como os seus
familiares e correspondentes, por questões pessoais de gerência dos seus bens ou por questões
relacionadas com a sua vida profissional.

O conjunto documental que aqui tratamos é constituído por 412 documentos, de diferentes tipologias e
materiais de suporte, tais como papel e pergaminho, foi produzido cronologicamente entre os séculos
XVIII e XIX, mais precisamente entre 1830 e 1884, tendo sido intervencionado entre outubro de 2015
e setembro de 2016.

Dos 412 documentos intervencionados, apenas um dos documentos foi produzido pelo Visconde,

1 Júlio Máximo de Oliveira Pimentel, filho de Luís Cláudio de Oliveira Pimentel, Primeiro Visconde de Vila Maior, e de D.
Angélica Teresa de Sousa Cardoso Pimentel, nasceu a 5 de outubro de 1809 em Torre de Moncorvo. Casou com a poetisa
Sofia do Roure Auffdiener e teve dois filhos: Júlia Emília e Emílio de Oliveira Pimentel. Estudou Matemática na Universidade
de Coimbra, tendo obtido o grau de bacharel a 16 de junho de 1837. Notabilizou-se na área da Química, como professor
na Escola Politécnica de Lisboa e como cientista. Desempenhou importantes cargos: vereador (1852-1853) e presidente
(1858-1859) da Câmara Municipal de Lisboa, deputado às Cortes por Lisboa em mais de uma legislatura e, depois de lhe
ter sido conferido o título de Segundo Visconde de Vila Maior em 1861, Par do Reino e presidente interino da Câmara dos
Pares. Integrou a comissão central para a Exposição Internacional de Paris em 1855, presidida pelo Marquês de Ficalho,
e foi comissário régio às exposições universais de Londres (1862) e de Paris (1867 e 1878). Teve o mais longo reitorado
da Universidade de Coimbra ao tempo da monarquia constitucional (1869-1884). Aliou a sua formação de químico à de
proprietário no Douro e desenvolveu atividade associada à viticultura, à ampelografia e à enologia. Da sua produção científica
e teórica sobre a região do Douro destacam-se, entre outros trabalhos: “Memória sobre os processos de vinificação dos
principais centros vinhateiros a norte do Douro”, “Tratado de vinificação para vinhos genuínos, “Ampelografia e enologia do
país vinhateiro do Douro” e “O Douro Ilustrado”, obra magnífica, reeditada em 1990 e amplamente citada. Durante o mandato
enquanto reitor fundou a Escola Ampelográfica do Jardim Botânico da Universidade de Coimbra. Faleceu em Coimbra, no
edifício da Universidade, a 20 de outubro de 1884 (Universidade de Coimbra, 2016).

402
sendo que todos os restantes fazem parte do Arquivo Família Oliveira Pimentel.

Neste conjunto estão reunidas diversas obras manuscritas, obras impressas e obras com caracteres
manuscritos e impressos (como por exemplo recibos). Este acervo contém cartas, diplomas,
testamentos, escrituras, contratos de arrendamento, foros, recibos, décimas, faturas, diários e jornais.

O processo de conservação2 e restauro3 deste conjunto de documentos contou com a colaboração


de profissionais de outras áreas de estudo, entre os quais arquivistas, historiadores e elementos da
Sociedade Broteriana responsáveis pelo projeto.

O diagnóstico possibilitou determinar o estado de conservação, assim como os procedimentos a


realizar, tendo em consideração as características intrínsecas de cada documento, o seu formato e a
sua função original.

Os principais objetivos desta intervenção foram prolongar a vida destes documentos, disponibilizá-los
para consulta física e criar uma versão digital dos mesmos que não era possível devido ao seu estado
de degradação. De facto, muitos destes documentos perderam parte ou partes do seu material de
suporte e, consequentemente, do seu conteúdo textual, como se pode verificar na figura 1.

Estas perdas, que poderiam ter sido uma condicionante para a não salvaguarda destes documentos,
foram reduzi das ou eliminadas através da opção de conservação e restauro. Apenas após a conclusão
do tratamento arquivístico será possível determinar os resultados finais deste processo interventivo.

Fig. 1. Exemplo de documentos antes da intervenção de conservação e restauro.

2 Nome dado ao conjunto de processos que visam a estabilização mecânica e química dos materiais constituintes do
documento gráfico (Faria e Pericão, 2008).

3 Intervenção levada a cabo sobre um bem cultural degradado ou danificado, determinada pela necessidade de conservar
a informação histórica de que ele é veículo e de lhe restituir a funcionalidade no todo ou em parte. No caso dos materiais
gráficos, consiste em eliminar de um livro ou documento os estragos causados pelo tempo, manuseamento e incúria do
homem; é um trabalho complexo e delicado que vai do simples desmanchar, lavar, desacidificar, remendar, reforçar o papel
e fortalecer as folhas ao refazer da encadernação (Faria e Pericão, 2008).

403
Não podemos conservar e restaurar sem antes conhecermos os materiais de suporte, assim como os
materiais a ser utilizados na conservação e restauro.

O pergaminho4 surgiu por volta do século II a.C. como um material de suporte de grande resistência
física e durabilidade. Por ser um material nobre era muito utilizado na produção de documentos oficiais,
pois podia ser utilizado dos dois lados, ou como proteção na forma de capas.

O papel está na base da produção escrita e/ou impressa, sendo que com a sua difusão pelo mundo
apareceram vários mecanismos (tais como os engenhos e moinhos) que permitiram o aumento da sua
produção. O aparecimento destes mecanismos possibilitou a criação de inúmeras variedades e tipos
de papel, de diferentes fibras, diferentes formatos e de diferentes qualidades e funções.

Na conservação e restauro deparamo-nos todos os dias com o desconhecimento quase total sobre
a maioria dos tipos de papel produzidos no mundo. Este desconhecimento é por vezes resultante
da dificuldade de acesso a exames laboratoriais que ajudam a distinguir com rigor científico estas
características. A dificuldade de acesso às técnicas de exame e diagnóstico laboratoriais resulta, em
muitos casos, dos custos associados (em termos financeiros e temporais) à sua utilização.

Assim sendo, geralmente as análises e diagnósticos realizados são feitos pela observação direta
(a olho nu). Se, por um lado, é relativamente fácil distinguir papéis pelo seu período histórico ou
pelas marcas de água (filigranas), por outro, pode ser complicado saber que tipo de fibras, cargas ou
branqueadores foram utilizados na produção dos mesmos.

Atualmente, os procedimentos considerados adequados na conservação e restauro são bastante


limitados. Os materiais utilizados no restauro cingem-se ao papel japonês, à pasta de papel de algodão
ou à pasta de celulose. A utilização destas pastas normalmente é utilizada pela reintegradora mecânica.
Já o papel japonês é utilizado manualmente.

O papel japonês apresenta diferentes fibras, espessuras e formatos, podendo ser manufaturados
ou industriais. Algumas das dificuldades passam pelo processo de escolha da fibra mais indicada e
da sua espessura, assim como da escolha entre papel manufaturado ou industrial. O papel japonês
manufaturado apresenta uma espessura mais irregular do que o papel japonês industrial.

Tendo em consideração que não se produz papel japonês em Portugal, este tem sempre de ser
importado, o que acrescenta custos ao restauro de obras (livros) ou documentos.

Para a conservação do papel e pergaminho devem-se adotar um conjunto de medidas que devem ser
sempre implementadas e respeitadas:

4 Suporte de escrita preparado, desde pelo menos o ano 2000 a.C. no Egipto, a partir de peles de animais: cabra, ovelha,
carneiro, burro, etc. (Faria e Pericão, 2008).

404
• todos os documentos são produzidos para ser consultados, lidos e observados, logo devem ser
manuseados com cuidado;
• as mãos devem estar limpas, tanto para consultar documentos atuais como para consultar
documentos antigos. No caso de documentação antiga devem-se utilizar luvas de algodão;
• não se deve dobrar, vincar, escrever ou sublinhar, quer em documentos novos ou em documentos
antigos.
• os documentos devem ser colocados sempre numa base sólida para a sua leitura e manuseio,
de modo a evitar rasgões e deformações, principalmente em documentos antigos ou quando se
trata de documentação fragilizada.

Estes procedimentos também se aplicam aquando do restauro de papel.

Caso prático de Conservação e Restauro

O conjunto documental intervencionado é constituído por 412 documentos dos quais 192 documentos
encontravam-se em péssimo estado de conservação, 145 em mau estado de conservação e 75 em
razoável estado de conservação.

No decorrer da intervenção foram intervencionadas 3378 páginas, sendo que todo este processo
consistiu numa série de etapas bastante morosas, delicadas e exigentes.

A primeira etapa consistiu na verificação do estado de conservação de todos os documentos, um a um.


Este conjunto de documentos caracteriza-se pela existência de diferentes tipos de suporte, materiais
de escrita e tipologias. Esta coleção continha documentos manuscritos, documentos impressos,
documentos em papel de trapo, documentos em papel de carta5, documentos em papel de jornal6,
papel almaço7 (figura 2) e documentos em pergaminho.

5 Papel pautado ou não, cortado de formato conveniente e destinado a correspondência, fabricado com muita cola e alta
percentagem de pasta química ou trapo (Faria e Pericão, 2008).

6 Papel pouco encolado e com grande percentagem de pasta mecânica, é adequado à impressão de jornais por ser de custo
baixo e permitir rápida impressão (Faria e Pericão, 2008).

7 Papel grosso, branco ou levemente azulado, que serve para documentos, registos, livros de contabilidade, etc. Diz-se
do formato peculiar a esse papel (300 x 440 mm), cuja folha dobrada ao meio dá as dimensões exigidas para os papéis
destinados à correspondência oficial (Faria e Pericão, 2008).

405
Fig. 2. Exemplo de documento em papel almaço antes da intervenção de conservação e restauro.

As tintas utilizadas na sua produção foram tintas ferrogálicas8 (figura 3), tintas da China9 e tintas de
impressão offset10.

Fig. 3. Aspeto geral de documento manuscrito com tinta ferrogálica.

8 As tintas ferrogálicas são soluções aquosas formadas a partir de sais de ferro (Fe) e ácido gálico ou tânico, que se tornam
num complexo orgânico metálico de cor escura. A sua utilização data pelo menos do século VII e, por tratarem-se de tintas
permanentes e de fácil elaboração, substituiu as tintas de carvão e foram as mais utilizadas desde a Idade Média até aos
finais do século XX (Chávez, 2009).

9 Esta tinta foi criada na China antiga, aproximadamente no século IV a.C. Os chineses conheciam-na como tinta preta, pois
era composta por negro de fumo e goma arábica. Pouco a pouco, a tinta da China foi evoluindo e passou a ser utilizada nas
caligrafias chinesa e japonesa.

10 As tintas de offset são compostas por: resinas ésteres (de colofônia, maleicos ou alquídicos); óleos vegetais base de
hidrocarbonetos alifáticos e minerais refinados; pigmentos orgânicos (amarelo e laranja benzidina, azul ftalocianina, vermelho
rubi) e inorgânicos (negro de fumo, dióxido de titânio, sulfato de bário, cromato e molibdato de chumbo); secantes: naftenatos
e octoanatos de zircônio, manganês e cobalto; ceras: à base de polietileno (GUIA Técnico Ambiental da Indústria Gráfica in
Martins, 2016).

406
Os documentos incluem cartas, bulas, escrituras, faturas, recibos, sentenças, diplomas, testamentos,
contratos de arrendamento, foros, décimas, diários, certidões e também jornais, como já foi referido
anteriormente. Este conjunto documental foi alvo, assim como muitos outros, de mau acondicionamento
ao longo dos anos, estando sujeito a alterações extremas de temperatura e humidade, o que implicou
tensões nas fibras do suporte e provocou a sua deterioração.

A maioria dos documentos encontravam-se dobrados e atados com cordões de algodão em maços
(figura 4), sendo que alguns estavam atados com outros materiais abrasivos, tais como cordas e
elásticos. Estes materiais abrasivos exercem demasiada pressão nos documentos, o que provocou
enrugamentos e rasgões.

Fig. 4. Pormenor dos documentos atados antes da intervenção de restauro.

A quantidade de poeiras a que o arquivo esteve sujeito (em locais não adequados à sua conservação
e preservação ao longo dos anos, tais como sótãos e depósitos do Colégio de São Bento) provocou
degradações no suporte de escrita, o que levou à perda, não só de informação textual, como do próprio
suporte.

Após esta verificação, foi necessário tirar medidas dos documentos e avaliar a sua resistência física. De
seguida, procedeu-se à colocação dos documentos em capilhas de papel de seda11 neutro (com o intuito

11 Papel de embalagem, leve, maleável, fino, não colado e resistente. Destina-se essencialmente à embalagem, à proteção
ou apresentação de objetos frágeis e de ofertas e afins decorativos; os encadernadores utilizam-no em geral para isolar as

407
de impedir a perda de texto e do suporte de escrita durante o processo de intervenção), assim como à
inventariação dos mesmos através da atribuição de um número de obra.

Após este procedimento fez-se a medição do pH e de testes de solubilidade do suporte. Tendo em


consideração que a maioria dos documentos apresenta fibras de algodão, foi possível confirmar que
o pH se situava entre o 6 e o 8. Embora a resistência do suporte fosse favorável à lavagem, esta não
constituía um processo adequado, pois os documentos encontravam-se demasiado fragilizados, em
algumas partes, para suportar este procedimento. Outra das razões era o estado de algumas tintas
pois estas já se encontravam muito desvanecidas. A lavagem dos documentos poderia provocar mais
perda de suporte e de texto.

Depois destes procedimentos de análise procedeu-se à higienização de todos os documentos, folha a


folha, com recurso em primeiro lugar a trinchas de pêlo macio, e de seguida, a smoke sponges12, com
o intuito de retirar poeiras e fuligem do suporte (figura 5).

Fig. 5. Higienização de décimas com a smoke sponges.

De seguida procedeu-se à consolidação de rasgões, reforço do suporte e no preenchimento de lacunas,


com recurso a papel japonês (figura 6) de diferentes espessuras e diferentes tipologias (consoante as
especificidades de cada documento).

gravuras do texto (Faria e Pericão, 2008).

12 As smoke sponges foram inicialmente criadas para higienizar documentos deteriorados por incêndios. As smoke sponges
são feitas de borracha vulcanizada não tóxica e removem eficazmente a fuligem presente nos papéis de parede, metais,
madeiras e outras superfícies. Os conservadores utilizam as smoke sponges para higienizar livros e documentos (OTE, s.d.).

408
Para o restauro com papel japonês, foi necessário humidificar os documentos com uma solução à base
de etanol (álcool 100%) com 50% de água destilada.

A utilização de água destilada na conservação e restauro permite-nos uma maior segurança em termos
químicos pois esta é obtida através da destilação (condensação do vapor de água obtido pela ebulição
ou pela evaporação) de água não pura que contém outras substâncias dissolvidas. Enquanto que a água
que bebemos é, em termos gerais, uma solução, a água destilada é, em princípio, uma substância pura.
Esta é utilizada em laboratório ou industrialmente como reagente ou solvente, e também para evitar a
deposição de calcário. Contém unicamente moléculas de água (constituídas pelos elementos oxigénio
e hidrogénio). Pode ser produzida em laboratório, industrialmente e na Natureza sob a forma de chuva.

Fig. 6. Exemplo de restauro com papel japonês.

Após o preenchimento das lacunas e consolidação de alguns documentos (nalguns casos a consolidação
foi praticamente total), os documentos foram colocados entre Reemay13 e papel mata-borrão como se
pode verificar pela figura 7, para que secassem de forma natural, com peso moderado exercido por
uma prensa durante algumas horas.

13 O Reemay constitui um material 100% poliéster, isento de ácido e considerado um não-tecido. É um material inerte
muito resistente e útil para a conservação e o restauro. Mesmo molhado mantém as suas propriedades físicas. Utiliza-se
para a execução da reintegração de papel, como suporte auxiliar para a secagem do papel. O Reemay pode ser utilizado
repetidamente se for lavado (https://totenart.com/reemay-34-gr-160-x-100-cm).

409
Fig. 7. Planificação e secagem ao natural dos documentos.

Finalmente, após todo o processo, os documentos foram novamente colocados em capilhas de papel
de seda neutro sendo estas capilhas colocadas em caixas de arquivo acid-free14 papel isento de ácidos.

Também foram tratados documentos em pergaminho e inclusive diários com capas de pergaminho e
pele de carneira. No caso específico do pergaminho (capa de um livro manuscrito), a sujidade superficial
foi retirada com um pincel de cerdas macias de forma a causar o mínimo de abrasão possível pois ao
arrastar as partículas de poeiras estas alojam-se facilmente nas fibras do pergaminho.

Foi necessário proceder à desinfeção da capa, pois esta apresentava fungos e bactérias, como
podemos observar pela figura 8. Na desinfeção foi utilizada uma solução à base de etanol (álcool
100%) com 30% de água destilada (por contacto direto).

Com este tratamento estabilizaram-se os microrganismos da capa neutralizando os fungos vivos e


impedindo o desenvolvimento dos esporos que ficam em estado latente. No entanto, este tratamento
tem efeito limitado pois se esta peça voltar a estar exposta a um meio ambiente de humidade relativa
alta (e principalmente de temperaturas elevadas), os esporos voltam ao seu estado ativo. Por fim
procedeu-se à sua reencadernação e foi acondicionado em caixa de acid-free.

14 Papel que, devido às suas características intrínsecas, além de não induzir acidez, neutraliza e tamponiza a ação dos
contaminantes atmosféricos (dióxido e trióxido de enxofre e dióxido de carbono), por um período de tempo muito superior ao
de qualquer papel comum (Faria e Pericão, 2008).

410
Fig. 8. Higienização e desinfeção da capa de pergaminho.

Atualmente, todo o conjunto documental encontra-se à guarda do Arquivo de Botânica do Departamento


de Ciências da Vida da Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra.

Conclusão

Tendo em consideração a importância deste arquivo, não só para a família do Visconde de Vila Maior,
mas igualmente para a Universidade de Coimbra (da qual foi Reitor) e para a cidade de Coimbra, era
fundamental que este arquivo fosse alvo de uma intervenção profunda de preservação, conservação
e restauro.

Esta intervenção pode ser descrita como um processo extremamente delicado e moroso, devido à
fragilidade dos documentos e à complexidade do processo interventivo. Não obstante, esta mesma
intervenção foi uma experiência extremamente enriquecedora, visto que grande parte dos documentos
eram manuscritos e assim sendo documentos insubstituíveis.

Importa ressaltar que a intervenção, assim como todas as etapas da mesma, respeitou a integridade
física e estética dos documentos, obedeceu a todas as normas e diretrizes de Conservação e Restauro
de documentos gráficos.

Neste momento, já se encontram disponíveis online alguns documentos na seguinte plataforma: http://
pesquisa.auc.uc.pt/details?id=286532.

411
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Faria, Maria Isabel e Pericão, Maria da Graça (2008). Dicionário do Livro: da Escrita ao Livro Electrónico.
Coimbra: Editora Almedina.
Martins, João (2016) Composição de tintas gráficas. Disponível em http://library.grafyarte.com/
categories/direct%C3%B3rio-de-artigos/tintas-de-impress%C3%A3o/composi%C3%A7%C3%A3o-
de-tintas-gr%C3%A1ficas.html Consultado em 12 de março de 2017
OTE (s.d) On The Edge Ltda. Vulcanised Smoke Cleaning Sponge. Disponível em http://www.ote.ie/
vulcanised-smoke-cleaning-sponge Consultado em 12 de março de 2017
Silva, Ana Margarida Dias da; Gouveia, António Carmo; Gonçalves, Maria Teresa (2016). Visconde
de Vila Maior: o arquivo (s)em reserva. Catálogo da exposição documental. Coimbra: Sociedade
Broteriana.7
Universidade de Coimbra (2016). Espólio do Visconde de Vila Maior em exposição na Biblioteca
Joanina. In Notícias UC. Disponível em http://noticias.uc.pt/universo-uc/espolio-do-visconde-de-vila-
maior-em-exposicao-da-biblioteca-joanina/ Consultado em 10 de março de 2017

412
ENCADERNAÇÃO E ARQUEOLOGIA INDUSTRIAL: UMA MEMÓRIA DOS INSTRUMENTOS E
MÁQUINAS

Ronaldo André Rodrigues da Silva


APPI-Portugal, TICCIH-Brasil, PUC Minas-Brasil
ronaldoandre@gmail.com

RESUMO

O patrimônio das artes gráficas pode ser entendido a partir de várias perspectivas, da produção do
papel às técnicas de encadernação e produção do livro. Uma possível perspectiva histórica envolve
a evolução dos processos de encadernação, seus maquinários e ferramentas. Em relação aos
instrumentos (ou ferramentas) utilizados na encadernação e produção do livro tem-se um processo
de evolução que envolve desde pequenos ferramentais às complexas máquinas a partir da Revolução
Industrial devido a agregação de tecnologia. Com isso, constrói-se uma relação entre arqueologia
industrial e memória do patrimônio gráfico cuja história dos processos de encadernação se confunde
à história e memória pessoal de encadernadores, sejam artesãos ou livreiros, e se constitui por
diferentes componentes pessoais, o savoir-faire e técnicas, o próprio know-how. A memória histórica
da encadernação compreende, assim, elementos imateriais e materiais que envolvem um conjunto de
signos e significados por aqueles que elaboravam, produziam, distribuíam e possuíam os livros.

PALAVRAS-CHAVE

Arqueologia industrial História da encadernação; Memória da encadernação, Instrumentos de


encadernação, Artes e ofícios.

ABSTRACT

The patrimony of the graphic arts can be understood from various perspectives, from the production of
paper to the techniques of bookbinding and book production. A possible historical perspective involves
the evolution of binding processes, their machinery and tools. In relation to the instruments (or tools)
used in the book binding and production, there is a process of evolution that involves from small tools
to the complex machines from the Industrial Revolution due to the aggregation of technology. With
this, a relationship is built between industrial archeology and memory of the graphic heritage whose
history of binding processes is confused with the history and personal memory of bookbinders, whether
craftsmen or booksellers, and is constituted by different personal components, savoir-faire and Know-
how. The historical memory of binding thus comprises immaterial and material elements that involve a
set of signs and meanings by those who elaborate, produce, distribute, and possess the books.

413
KEYWORDS

Industrial archaeology, Bookbinding history; Bookbinding memory, Bookbinding instruments, Arts and crafts.

1. INTRODUÇÃO

O desenvolvimento das artes e ofícios gráficos permite um olhar para as técnicas sob a perspectiva da
memória do savoir faire do trabalho a partir da evolução e transformação das encadernações ao longo
dos séculos, particularmente nos manuais dos séculos XVIII e XIX. Um dos momentos determinantes
a essa evolução apresenta-se a partir do aprimoramento tipográfico que no princípio do século XIX
tinha o status de métier e se exigia uma formação de sete anos para a conclusão de seu aprendizado.
A evolução do ofício e das técnicas determinou uma interrelação entre as artes gráficas e as práticas
sociais, seja por meio da mecanização e da industrialização promovidas pela Revolução Industrial, seja
pela práticas pessoais e conhecimentos específicos do ofício de encadernar, desenvolvidos segundo
o know how próprio a cada profissional.

Assim, a história das encadernações se desenvolve a partir da memória e da história de artesãos


e proprietários livreiros e se constitui a partir de diferentes percepções e se encontra determinada
por várias mudanças no processo de elaboração dos livros que se compõe de uma filosofia material
compreendida por sua elaboração, funções e elementos visuais (a materialidade em si do livro)
relacionada à ostentação; e à filosofia imaterial que se compõe da estrutura funcional e legibilidade
(o conteúdo do livro) relacionado aos diversos temas e assuntos dos livros, segundo as áreas de
conhecimento a que se dedicam. No que se refere à evolução de maquinário e instrumentos, pode-se
analisar que desde sua origem, o processo de encadernação, como parte importante da estrutura do
livro e elemento essencial à evolução das máquinas e equipamentos, sofreu uma complexificação em
sua execução cuja instrumentalização levou à fusão de diferentes ofícios e à formação de profissionais
específicos na elaboração e produção do livro.

Por sua vez, o processo de industrialização desencadeado pela Revolução Industrial fez desmoronar
a estrutura das corporações de oficio e trouxe uma fragmentação dos mais diversos processos
de produção. A necessidade de diferentes profissionais e de especialistas nas diversas etapas de
produção do livro levou a novas relações entre os profissionais envolvidos e os diferentes processos
tecnológicos da encadernação. Sua evolução pode ser associada às transformações econômicas,
técnicas, sociais e culturais ocorridas no século XIX as quais desencadeiam, por outro lado, condições
para uma certa massificação da alfabetização e exigem a necessidade de uma maior produção de
livros e sua distribuição às diversas classes, além da criação das bibliotecas públicas europeias para
atender à diversidade de públicos.

414
Ocorre também uma ampliação de diferentes formas de apresentação dos livros que oferecem múltiplas
possibilidades e modalidades de encadernação com o objetivo de alcançar públicos diversos a partir
da oferta de produtos segundo as técnicas e materiais de confecção. Os elementos materiais que
constituem os livros, ou seja, sua encadernação, lhes definem uma identidade própria, seja em função
dos maquinários e ferramentais utilizados à sua elaboração, seja em seu conteúdo que se constitui
a partir de um campo maior de divulgação das ciências e das artes e compreende diferentes inter-
relações entre o homem e o livro.

2. ARQUEOLOGIA INDUSTRIAL – UMA INTRODUÇÃO

As ideias relacionadas aos elementos industriais a partir da óptica patrimonial e como evidências de
uma cultura não se apresentavam manifestadas até o final do século XVIII, seja para objetos mecânicos,
planos industriais, documentos etc. Como referência, pode-se tomar a criação, em 1790 do Conservatório
de Arts et Métiers, como o primeiro museu técnico do mundo. Até então, os edifícios industriais (e seu
entorno) não foram objeto de interesse patrimonial até meados do século XX.

As origens do conceito de patrimônio industrial remontam aos anos 1950 do século XX, quando o termo
arqueologia industrial foi popularizado por Michel Rix, apesar de suas origens se apresentarem ao final do
século XIX. Dentre os precursores se tem o português Francisco de Sousa Viterbo que publicou em 1896 o
artigo “Arqueologia Industrial Portuguesa: Os Moinhos” e dos primeiros a utilizar a expressão “arqueologia
industrial”, fazendo dela uma nova disciplina para pesquisadores e educadores em relação aos restos e
remanescentes do passado das atividades industriais, memórias das pessoas, das técnicas e da tecnologia.

Antes dos anos 50 do século XX, as referências à expressão vinculavam-se à necessidade de identificação,
preservação e conservação do patrimônio industrial britânico a partir das estruturas, artefatos e lugares
que poderiam identificar o passado econômico e as atividades sociais a ele relacionadas (Minchinton,
1983, Palmer e Neaverson, 1998).

O termo foi aceito somente na década de 60 do século XX como área específica de estudos em que a
preocupação central não se delimitava tão somente ao patrimônio material, mas às reminiscências das
sociedades, a considerar os parâmetros sociais e culturais que definiam a sociedade industrial.

“De fato, o interesse pelo estudo e salvaguarda do patrimônio industrial surgiu no Reino Unido durante a
década de 50, coincidindo com aquilo que foi classificado como uma vaga de nostalgia pelas tradições
industriais britânicas, agravada pelas destruições massivas provocadas pelos bombardeamentos durante
a II Guerra Mundial, cujos alvos estratégicos eram muitas vezes as unidades industriais. Às destruições
resultantes dos bombardeamentos seguiram-se as demolições de instalações industriais obsoletas,
resultantes da reconversão industrial e urbanística, num fenômeno que se prolongou até os primeiros
anos da década de 60”(LOPES CORDEIRO, p. 155, 2011).

415
Convém, então, ressaltar que ao final dos anos 1960 se diferenciam os conceitos de arqueologia
industrial e patrimônio industrial os quais estão apresentados, por exemplo, no primeiro livro e primeiro
periódico publicados por Kenneth Hudson em 1963, nos quais ainda se cita a Mr. Donald Dudley,
professor de latim da Universidade de Birmingham, que utilizava a expressão ‘arqueologia industrial’
em suas palestras (Hudson, 1965, 1979; Trinder, 1992).

Para Lopes Cordeiro (1986), essa diferenciação se acentua nos anos 1970 com o surgimento do
conceito especifico de patrimônio industrial o qual abarcava temas interdisciplinares, tais como, a
arquitetura fabril, a documentação empresarial, os produtos industriais, a história oral, dentre outros.
Essa pluralidade adquirida pelo conceito se faz paralela à própria compreensão do conceito de
patrimônio cultural, que tem por especificidade, para o patrimônio industrial, a correlação entre os
testemunhos patrimoniais às atividades industriais das sociedades desenvolvidas.

Somente em 2003, através da Carta de Nizhny, o TICCIH (The International Committee for the Conservation
of the Industrial Heritage) apresenta os conceitos de patrimônio industrial e arqueologia industrial:

“O patrimônio industrial compreende os vestígios da cultura industrial que possuem valor histórico,
tecnológico, social, arquitetônico ou científico. Estes vestígios englobam edifícios e maquinaria, oficinas,
fábricas, minas e locais de tratamento e de refino, entrepostos e armazéns, centros de produção,
transmissão e utilização de energia, meios de transporte e todas as suas estruturas e infraestruturas,
assim como os locais onde se desenvolveram atividades sociais relacionadas com a indústria, tais
como habitações, locais de culto ou de educação.

A arqueologia industrial é um método interdisciplinar que estuda todos os vestígios, materiais e


imateriais, os documentos, os artefatos, a estratigrafia e as estruturas, os assentamentos humanos e
as paisagens naturais e urbanas, criadas para ou pelos processos industriais. A arqueologia industrial
utiliza os métodos de investigação e pesquisa mais adequados para aumentar a compreensão do
passado e do presente industrial”. (Carta de Nizhny Tagil, TICCIH, 2003).

O que se estabelece no documento encontra-se compatível às ideias de Hudson (1965) nas quais o
conceito de patrimônio industrial ainda se encontra em construção, pois se baseia, principalmente, em
possibilidades interdisciplinares que, muitas vezes, conduziriam a polêmicas e debates em emados do
século XX. Dessa maneira, o desenvolvimento da disciplina pode ser considerado a partir da síntese de
estudos e pesquisas que tem como ponto de partida os vestígios materiais e imateriais das organizações
produtivas a partir de meados do século XVIII. Entretanto, para parte dos especialistas, principalmente
arqueológicos e historiadores, deve-se considerar uma corrente que considera empreendimentos
produtivos ou mesmo a fabricação de instrumentos, equipamentos e produtos desde o período anterior,
mesmo o denominado de protoindustrialização.

416
Os movimentos de construção dos conceitos e o campo da arqueologia industrial encontram-se
intimamente ligados aos processos de preservação e conservação, inventário, documentação,
investigação e valorização do patrimônio industrial. Além destas maneiras, se tem o fomento ao ensino
destes aspectos como um objetivo a despertar as pessoas as organizações para a importância e
revalorização do patrimônio industrial, suas implicações nos processos de vida do homem e de sua
importância para a construção do atual estado da sociedade (Dorel-Ferré, 1995; Bergeron e Dorel-
Ferré, 1996).

Definem-se, assim, dois eixos motores para os estudos relativos ao patrimônio e à arqueologia industrial
os quais buscam a reconstituição do contexto material da atividade produtiva e o desvelar dos laços
existentes entre os atores sociais implicados neste contexto, com uma busca das imbricações obtidas
entre a fusão dos problemas e questões empresariais e sociais (foco histórico- sociológico-cultural); e,
a avaliação e análise das influências dos processos industriais dentro e fora das empresas segundo a
organização do trabalho e suas implicações com o entorno empresarial e industrial (foco econômico-
financeiro-mercadológico), conforme apresentados na Fig. 1.

Fig. 1. Arqueologia Industrial – Áreas de Conhecimento e de Estudo


Fonte: Elaborado pelo Autor, 2016.

Estes conceitos e demais princípios apresentam-se relacionados àqueles definidos para o patrimônio
industrial que estão reafirmados na 17ª Assembleia Geral do ICOMOS em novembro de 2011.
Estabelecem-se, assim, os Princípios de Dublin que definem parâmetros para documentar e compreender
as estruturas de patrimônio industrial, bem como os sítios, áreas e paisagens industrias, incluindo-se
seus valores diversos que estão presentes em suas mais diferentes formas de manifestação.

417
“O estudo e documentação de edifícios e sítios do patrimônio industrial deve examinar a sua ordem
histórica, tecnológica e sócio-econômica para estabelecer a conservação e a gestão de um conhecimento
integrado fornecido por uma abordagem interdisciplinar através de programas de pesquisa e de ensino
que identifiquem o significado dos sítios de patrimônio industrial e ou suas estruturas.

Esta metodologia deve priorizar uma contribuição à diversidade de fontes de estudos de expertos e de
informação e pesquisas nos sítios, estudos históricos e arqueológicos, análise de material ou paisagem
e a consulta dos registros públicos de empresas ou privados. O exame e conservação dos arquivos
industriais, planos e amostras ou exemplos de produção devem ser incentivados e sua avaliação deve
ser conduzida de maneira apropriada por especialistas no ramo da indústria a que estão associados.
A participação dos cidadãos, comunidades e outras partes interessadas é uma parte integrante desta
atividade”. (Princípios de Dublin. Item I.4, p. 3-4, TICCIH/ICOMOS, 2011).

Inclui-se assim, sob tais princípios, a proposição em assegurar proteção eficaz e preservação dos
elementos de patrimônio industrial, sua conservação e manutenção, além de apresentar as dimensões
e valores patrimoniais das estruturas industriais e seu entorno com o propósito de incentivar e fomentar
a consciência pública e corporativa para apoio, formação profissional e pesquisa próprios à preservação
do patrimônio industrial e, em especial, para o caso estudado, o património gráfico e da encadernação.

3. OS PROCESSOS DE ENCADERNACAO – UMA EVOLUÇÃO HISTÓRICA

Uma ideia preliminar acerca dos processos de constituição de um livro a partir das componentes
relacionadas a encadernação permite construir uma proposta cuja análise e avaliação das técnicas
de elaboração de livros e documentos. A sistematização de técnicas a partir da identificação das
etapas e procedimentos ocorridos na construção de livros ou documentos implica em identificar os
métodos e técnicas empregados, bem como as tecnologias e instrumentos utilizados. A partir da
definição e identificação desses diferentes processos tem-se definidos os procedimentos e etapas a
serem desenvolvidos a cada caso especifico, pois a própria história e memoria da encadernação se
desenvolve segundo temporalidades e especificidades.

A construção de tal conhecimento, das técnicas da encadernação, reside em conhecer não somente os
elementos técnicos utilizados em cada uma das etapas do processo, mas também as funções exercidas
por cada um, além de se interpretar as condicionantes imateriais inseridas, sendo elas históricas e
sociais. Dessa maneira, deve-se entender não somente sobre os equipamentos e instrumentos, em
sua descrição, mas todo um conjunto de informações e conhecimentos que permitam a compreensão,
de maneira ampla, os modos de fazer, as funções e as etapas do processo de encadernação de livros
e documentos. Para tal, torna-se necessário em um primeiro momento definir as principais partes do
livro e suas relações com a encadernação. Para tal, foi utilizado o modelo desenvolvido por Utsch
(2016a; 2016b), conforme Fig. 2a. e Fig.2b.

418
Fig. 2a. Terminologia de Elementos Externos da Encadernação

Fig. 2b. Terminologia de Elementos Internos da Encadernação


Fonte: Utsch, 2016.

419
Com isso, pode-se desenvolver uma ideia inicial acerca da história da encadernação que compreende
diferentes etapas que segundo o ponto de vista da temporalidade se dividem em algumas “eras”:
encadernação bizantina, medieval, moderna etc. Entretanto, Ruiz (1998) e Coilly (1999), definem
o processo de encadernar compreendido em etapas imutáveis consideradas essenciais para a
estruturação de um livro se avaliada a sua materialidade: o corpo da obra, as pastas (capas) e o
revestimento/acabamento.

Ao se observar as diferenças entre a abordagem das temporalidades e a abordagem das técnicas


tem-se uma atenção especial acerca dos elementos de composição e das possibilidades técnicas e
tecnologias aplicadas no conjunto de etapas de elaboração do livro e que definem os aspectos externos
e internos de composição do livro às tecnologias espaço-temporais existentes em cada período as
quais estão implantadas na confecção do livro, ou seja, os diferentes elementos da encadernação que
foram concebidos e utilizados em sua constituição.

Os processos de encadernação tal como conhecidos na contemporaneidade podem ser relacionados


de maneira próxima àqueles existentes e desenvolvidos ao longo dos séculos, com a diferença de lhes
serem aplicadas maior tecnologia e modernização em suas etapas. Sua evolução está relacionada
à difusão e evolução da imprensa aliadas à Revolução Industrial, ao final do século XVIII, como
fatores que permitiram a massificação da produção de livros e consequentemente o aprimoramento
dos processos de encadernação. Um dos momentos que determinou a explosão gráfica e livresca
compreende o aprimoramento da tipografia que ao princípio do século XIX tinha o status de métier e
exigia uma formação de sete anos para a conclusão de seu aprendizado. (DERRY; WILLIAMS, 2002,
p. 938)

Para chegar a tal processo de complexificação entre a arte de produzir livros e a arte de encadernar,
tem-se o interessante exemplo para o ano de 1568, quase 300 anos antes de sua massificação e quase
130 anos após o desenvolvimento da imprensa gutenberguiana. O livro de AMMAN e SACHS (1568),
“Eygentliche Beschreibung aller Stände auff Erden…” apresenta uma série de xilogravuras, algumas
delas representadas a seguir, que vêm acompanhadas de versos irônicos acerca dos diferentes tipos
de artesãos presentes no processo de produção do livro, incluindo-se o encadernador. As gravuras são
atribuídas a Jobst Amman, um profissional alemão da área da imprensa e encadernação em Frankfurt,
cujas iniciais “JA” encontram-se nos desenhos realizados e os poemas a Hans Sachs, poeta popular
da região de Nuremberg.

Um dos principais editores da época, Sigmund Feyerabend, foi responsável por produzir tal publicação
cuja impressão foi realizada por Georg Raben. A partir do exemplo percebe-se a relação estabelecida
entre a própria produção dos livros e o processo de encadernação, com os primórdios da mecanização
e de obtenção de trabalhos seriados em função da difusão da imprensa no século XV. (Fig. 3.)

420
Fig. 3. Xilogravuras de Diferentes Ofícios e Profissões
(Etapas do Processo de Produção do Livro/Encadernação)
Fonte: Adaptação de Editor Sigmund Feyerabend, impresso por Georg Raben. “Eygentliche
Beschreibung aller Stande” (1568).

Em função da evolução dos processos de encadernação/prodção de livros pode-se dizer a partir de


Foot (1997) que os encadernadores de cada época nessa evolução das tipologias de encadernação
dos séculos XVII e XVIII, principalmente, em sua evolução cronológica, determinaram uma relação às
práticas sociais. A encadernação antes do processo de expansão acelerada do século XIX, por meio da
mecanização e industrialização promovidas pela Revolução Industrial, permitiria desenvolver estudos
que tratassem da evolução dos processos a partir do elemento material e das técnicas utilizadas.

Entretanto, também se observa a definição de variáveis que envolveriam os signos e significados


relacionados àqueles que produziam, distribuíam e possuíam os livros. A inserção de elementos indicadores

421
de um caráter individual e personalista surge em etapas que se apresentam desde a elaboração dos
processos de encadernação, com a escolha dos elementos que o compõem por aqueles que produzem
o livro, às marcas de livreiros e distribuidores segundo sua identificação nos corpos dos livros e nos
catálogos de distribuição das obras, e, também, às necessidades e características próprias definidas
pelos compradores e clientes finais que determinavam alguns elementos estéticos que caracterizassem a
origem de seu pertencimento – de brasões familiares à elementos decorativos, da escolha de elementos
estéticos à partes constituintes do livro a partir de elementos mais nobres ou populares.

Assim, a história pessoal, seja dos artesãos (encadernadores) seja dos proprietários, se constitui em
importante elemento de caracterização da obra, desde elementos materiais até mesmo seu conteúdo.
Percebem-se diferentes significados para as partes do livro – de sua composição à estética – que
estão determinadas por mudanças em relação à filosofia material referente às encadernações: de
preocupações à visibilidade (materialidade) do livro relacionada à ostentação; à legibilidade (conteúdo)
que se relaciona aos assuntos propriamente ditos dos livros. Tal preocupação ocorrida nos séculos
precedentes à massificação da produção pode ser percebida segundo a materialidade do processo.

Para Foot (1997, p. 109),

“A evidência documental [...] é, infelizmente, escassa e as provas fornecidas pelas próprias encadernações
dificilmente mais extensas. No entanto, as encadernações, tanto individual como coletivamente, nos
dizem em certa medida sobre quem as possuía. Sua condição pode sugerir se eles foram feitos para o
estudo ou para ostentação, como uma fonte de conhecimento ou de alegria estética, como móveis ou
como bens preciosos a serem exibidos com orgulho, como uma manifestação de vaidade pessoal ou
uma obsessão secreta. Proprietários tratavam seus livros com maior ou menor cuidado”.

A evolução dos processos de encadernação apresenta um grande número de pequenos instrumentos


técnicos (os quais também podem ser chamados por ferramentas ou instrumental) utilizados para a
produção do livro e mais especificamente para sua encadernação. Muitos deles apresentam relação
com outras profissões sendo utilizados de maneira específica a cada uma das etapas do ofício da
encadernação. Desde sua origem, segundo Derry e Williams (2002), tem-se que o processo de
encadernação sofreu uma complexificação em sua execução que permitiu a fusão de artes e ofícios no
processo de produção do livro, e porque não em seu próprio processo. Entretanto, com o surgimento
das máquinas provenientes da Revolução Industrial a agregação de maior tecnologia determinou
um processo de especialização das atividades relacionadas ao oficio da produção de livros e da
encadernação.

Tal dinâmica das profissões também se desenvolveu em função das questões políticas vigentes nos
séculos XVIII e XIX que determinaram a fragmentação das corporações de oficio e, consequentemente,
dos diversos processos de produção, dentre eles, o processo de produção de livro. Com a revolução

422
tecnológica e a explosão na oferta de produtos (e serviços), iniciada ao final do século XVIII até os dias
de hoje, especialmente durante o século XIX, tem-se massificação das áreas de produção, editoração,
impressão e encadernação, maiores níveis de produtividade. Observa-se assim, decorridos quase
seis séculos desde a invenção da imprensa, que a produção do livro como a maioria das áreas do
conhecimento humano sofreu a intensificação dos processos.

Deve-se observar, no entanto que os processos de democratização e sociabilização da leitura não


refletem uma generalização de acesso aos livros, à leitura. O fato de se estabelecer uma estrutura
produtiva em que surgem editores/encadernadores/distribuidores cuja evolução cronológica reflete as
práticas sociais encontra-se vinculada à evolução dos processos gráficos e de impressão que
sofrem uma expansão exacerbada nos séculos subsequentes à descoberta de Gutenberg. Por meio
da mecanização e industrialização do processo de produção dos livros, permitiu-se uma evolução
dos estudos que deixam os meios monástico- religiosos e se intensificam no meio laico-universitário,
além de se desenvolverem não somente como elemento material, mas como fator de multiplicação e
disseminação dos conhecimentos de maneira global, produzindo significados e signos àqueles que
produziam, distribuíam ou possuíam os livros.

Assim, a evolução dos processos gráficos e de encadernação evoluem exponencialmente, desde


sua mecanização, em um primeiro momento (séculos XIX e primeira metade do XX) à automação e
informatização (a partir da segunda metade do século XX). Cada qual determinou um desenvolvimento
dos mecanismos de produção que decorrem desde a implantação de sucessivos aprimoramentos
produtivos às intensivas e cumulativas apreensões de tecnologia.

4. O MAQUINÁRIO E INSTRUMENTOS DA ENCADERNAÇÃO

Uma aproximação do instrumental utilizado na profissão a partir do qual se pode inferir as habilidades
necessárias para o exercício do ofício de encadernador e sua institucionalização podem ser
consideradas em função de sua apresentação e inclusão na “L’Encyclopédie. [29], Imprimerie, reliure:
[recueil de planches sur les sciences, les arts libéraux et les arts méchaniques, avec leur explication”,
de Diderot e D’Alembert. Contemporaneamente, tem-se outro trabalho de referência para a história da
encadernação, “L’art du relieur doreur de livres”, René Martin Dudin, em 1772 que oferece descrições
das habilidades/conhecimentos do profissional de douramento em encadernação e, igualmente, as
etapas, instrumentos e equipamentos necessário ao seu exercício. Em ambas as publicações se têm
exemplos de utensílios (equipamentos) - Fig. 4a. e Fig.4b - que permanecem no cotidiano da profissão
do encadernador, principalmente para os casos da execução de trabalho manual/artesanal.

423
(a) (b)
Fig. 4. Utensílios/Ferramental do Encadernador (a) e Encadernador-Dourador (b)
Fonte: (a) L’Encyclopédie [29], Prancha XIX (1751-1780) e (b) Fonte: Dudin, Prancha X (1772).

Ao final do século XIX tem-se a segunda edição da produção literária de Joseph William Zaehnsdorf, de
1890, “The Art of Bookbinding: a practical treatise” que apresenta a arte da encadernação a partir das
técnicas e tecnologias aplicadas à época, com descrições de máquinas, equipamentos e processos,
além de apresentar pranchas e desenhos dos equipamentos. (Fig. 5a. a Fig.5d.)

Fig. 5a. Equipamentos de Encadernação (Prancha 1)

Fig. 5b. Equipamentos de Encadernação (Prancha 2)

424
Fig.5c. Equipamentos de Encadernação (Prancha 3)

Fig. 5d. Equipamentos de Encadernação (Prancha 4)


Fonte: Lenormand, 1900.

O autor apresenta uma edição já revisada em relação à primeira por considerar que a sua utilização, a
princípio destinada a encadernadores amadores, assim escrito por ele em seu Prefácio, foi ampliada
aos profissionais e necessitava de melhor descrição e apresentação dos equipamentos e máquinas
necessários ao desempenho qualificado da profissão. Uma interessante diferenciação em relação
às outras publicações refere-se aos mais diversos anúncios, ao final do livro, de revendedores de
máquinas e equipamentos do setor de encadernação.

Na transição dos séculos XIX e XX, tem-se a publicação de Lenormand (1900), “Nouveau Manuel
complet du relieur dans toutes ses parties”, em que são apresentados os equipamentos/instrumentos/
ferramental necessários ao encadernador para exercício da profissão. Nele, são apresentados
elementos compositivos dos grandes maquinários e também descritos o funcionamento de cada um,
sua função no processo e as habilidades/competências para seu manuseio.

Como um dos exemplares de referência, tem-se ao final do século XX a publicação de Roger Devauchelle,
“La Reliure: Recherches Historiques, Techniques et Bibliographiques sur la Reliure Française”, que
documenta por meio de centrenas de ilustrações os diferentes tipos de encadernação, equipamentos e
ferramental do profissional, além de relatos particulares acerca das situações profissionais especificas
vividas pelos encadernadores profissionais e as relações com outros profissionais. O trabalho
apresenta assim a evolução da arte da encadernação, seus elementos materiais e a história do métier.
A breve apresentação das publicações acerca da arte da encadernação, como técnica, tecnologia

425
e materialidade permite verificar a complexidade de habilidades e competências necessárias ao
profissional para se inserir e desempenha um papel de destaque na sociedade.

Deve-se destacar que o desenvolvimento das técnicas determinou o aparecimento de novos tipos de
edição, diferentes formatos e maior qualidade nos processos de impressão que permitiram o surgimento
de diferentes possibilidades para o exercício da leitura e determinação de uma abrangente disseminação
que levou a maior capacidade de sociabilização da leitura, principalmente nos dois últimos séculos.

Entretanto, a contraposição entre a valorização da materialidade (dos séculos XVII e XVIII) e a


valorização conteudística (própria ao século XIX) se encontra determinada por vários fatores que se
colocam tais como as mudanças ocorridas nas condições socioeconômicas de determinadas camadas
sociais, as transformações nas estruturas políticas e surgimento de estados nacionais, principalmente
na Europa e na aceleração do processos de produção determinada pelas modificações decorrentes
da Revolução Industrial.

Pode-se, enfim, analisar uma diversificação e multiplicidade de opções ocorridas nos processos de
produção de livros e encadernações que levam a uma grande variedade de possibilidades e escolhas
quanto ao produto livro e, consequentemente, a encadernação a que se encontra vinculado. Ao
final do século XX, tem-se a ocorrência de diferentes propostas de composição na indústria do livro,
que na atualidade se faz a partir da produção tradicional à oferta de e-books. Essa variedade de
opções determina uma atuação diversificada dos diferentes grupos sociais envolvidos em sua cadeia
produtiva, desde a definição dos elementos materiais por profissionais do ramo (encadernação/edição/
distribuição) à conteúdos e formatos por públicos e clientes.

Uma observação em relação aos conteúdos apresentados pelos “manuais de encadernação” do século
XIX leva a constatação que as técnicas têm evoluído de maneira lenta em relação a outras áreas do
conhecimento. Ao avaliar as revoluções técnicas ocorridas a partir do final do século XVIII, tem-se
algumas considerações em relação aos processos de produção de livros e de encadernação.

Uma das principais mudanças ocorridas refere-se à produção tipográfica. A primeira máquina de fundir
a tipografia de maneira eficiente foi inventada nos Estados Unidos em 1838 e funcionava de maneira
manual ou a partir da tração de uma máquina a vapor em que se levava o molde até o bocal de uma
caldeira que continha o metal a partir do qual se moldavam os tipos. (Derry; Williams, 2002)

Essa evolução aliada às revoluções tecnológicas da segunda metade do século XX, particularmente a
automação, determinou em um primeiro momento a aceleração, mecanização e “desumanização” dos
processos de encadernação. Segue-se temporalmente, ao final do século XX, a informatização e a
virtualização dos processos que determinam novas possibilidades de acesso aos livros (e-books) e a uma
certa “desmaterialização” desses.

426
Ao se observar as possibilidades existentes para a ocorrência de processos de encadernações
considerados tradicionais tem-se para o Instituto do Emprego e Formação Profissional – IEFP,
os equipamentos/ferramentas necessários ao encadernador apresentam uma manifestação de
conformação da tradição no que se refere ao instrumental utilizado. Percebe-se que muitas das
ferramentas percorrem um período de séculos de utilização, estando presentes desde os primórdios
do surgimento do ofício aos dias de hoje. Tal fato pode ser observado no Quadro 1 a seguir:

TIPO DESCRIÇÃO
ENCADERNAÇÃO
Equipamentos Bancadas; Cadeiras; Mesas de apoio.
Cisalha; Guilhotina; Prensa de encaixe; Prensa de mão; Prensa de
Maquinaria
percussão; Prensa universal.
Alicate de nervos; Chifras; Compassos; Dobradeiras; Esquadros
metálicos; Faca de sapateiro; Furadores; Maços de madeira; Mar-
Ferramentas
telos de cabeça redonda; Pincéis de vários tamanhos; Réguas me-
tálicas; Serrotes de costas; Tesouras de papel e tecido; Trincha.
Utensílios Pedras mármores; Tábuas de madeira.
Cartões; Tipo milboard, espessuras (16, 18 e 20); Peles; Cabra
Materiais de cobertura e formação de (chagrin) e ovelha; Tecidos; Veludo, Ganga, sedas e outros; Telas;
capas Base de papel (cobertura do livro) e Talagarça (para reforço do
lombo).
Materiais para a formação de livros, de
Papel (diferentes tipos, espessuras, veio de corte).
guardas e planos
Agulhas; Cordas; Fios; Nylon e algodão; Fitas, seda e algodão;
Materiais para costura dos livros
Requife; Telas.
Materiais para colagens Colas (Branca, de Coelho, de Farinha, Metilcelulósica).
DOURAÇÃO/GRAVAÇÃO
Ferramentas Abecedários; Brunidor; Ferros; Rodas; Viradores.
Compasso de pontas; Coxim; Dobradeira; Faca de dourador; Fo-
Utensílios gão gás/eléctrico; Folhas metálicas; Pesos; Prensa de dourador;
Régua; Sarapico.
Ferros (bronze/latão); Florões; Virador; Rodas; Tipos (abecedá-
Ferramentas de Gravação
rios); Componedor.
Livro de folhas e ouro; Mordente; Coxim; Pó de jaspe; Faca de
dourador; Azeite; Fogão eléctrico; Tina com água; Boneca de algo-
Materiais de gravação e utensílios
dão; Algodão; Prensa de dourador; Dobradeira pequena e afiada;
Régua; Folhas metálicas; Pesos.

Quadro 1. Equipamentos/Ferramentas
Fonte: IEFP, p. 72, 100-101, s/d.

Ao comparar os materiais, equipamentos e ferramental proposto pelo IEFP (s/d), com aquele
apresentado nos diversos manuais, como os produzidos no século XIX e início do século XX,
percebe-se similitudes entre diversos elementos que compõem as duas propostas de listagem
de material de apoio ao profissional de encadernação. As diversas fases do processo de
encadernação, incluindo-se a da produção do livro, apresentam elementos de maquinaria e
ferramentaria que remetem àqueles utilizados em seus primórdios. Entretanto, o que distingue a
produção em massa e mesmo em relação à qualidade (durabilidade) está relacionada à evolução

427
das técnicas e da tecnologia, à utilização da mecanização (século XIX), da automação (século
XX) e à informatização (final do XX e século XXI).

Segundo Cambras (1999), a transformação dos processos artesanais em processos industriais


determinou às encadernações uma renovação de significados, em relação àquelas tradições vigentes
até o século XIX, mesmo se consideradas as evoluções técnicas decorrentes da Revolução Industrial. A
aproximação da encadernação aos movimentos artísticos, assim como ocorrera com as encadernações
bizantinas, séculos XV a XVI, e renascentistas, séculos XVII e XVIII, as propostas surgidas com o limiar do
século XX apresentam uma aproximação aos movimentos artísticos contemporâneos. A multiplicidade
de possibilidades decorrente da mecanização e industrialização dos processos se desenvolve com
influências dos movimentos modernista, Art Déco, Novecentismo e, mais recentemente, nos últimos
50 anos às vanguardas e movimentos de experimentação.

Entretanto, deve-se ressaltar que a importância do encadernador, em todas as etapas, mesmo que não
haja em certas situações a sua interferência direta e sim sua elaboração. Afinal, a interferência manual
(manipulação de equipamentos e maquinaria) em casos de maior grau de automação-informatização
foi substituída pelo trabalho intelectual, por meio de programação. Assim, o papel anteriormente do
encadernador, passa a ser desenvolvido de maneira interdisciplinar, com a influência de artistas visuais
e artistas plásticos, designers e estilistas que determinam aos livros aspectos materiais e estéticos que
relacionam o objeto às questões artísticas.

5. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

Uma possível relação entre os processos tecnológicos da encadernação e sua evolução pode
ser associada ao século XIX, que segundo Hobsbawn (2009a, 2009b) denomina-se o século das
transformações em que se tem “as revoluções” em sua primeira metade e “o capital” em sua segunda
parte. De certa forma as revoluções da primeira metade do século XIX estão intimamente ligadas à
história do livro e da encadernação, e o capital a sua disseminação.

Primeiro, a Revolução Francesa, que ao final do século XVIII desencadeia um processo de


certa massificação da alfabetização que exige a necessidade de uma maior produção de livros
e a sua distribuição às mais diversas classes. Além disso tem-se a criação das bibliotecas
públicas europeias que permitem o acesso aos livros àqueles da “nova” classe burguesa que
não pertenciam às classes nobres ou religiosas. No século XIX os editores passam a atender
um público anônimo, formado pela multiplicação acelerada das formas de apresentação dos
livros que os levam a oferecer possibilidades e modalidades diferenciadas de encadernação
com objetivo de alcançar diversos públicos a partir da oferta de produtos apresentados a partir
de diferenciadas técnicas e materiais.

428
A segunda revolução, a Industrial, possibilitou uma massificação da produção em diversos campos e
atingiu a área de bibliófilos e bibliógrafos no sentido de permitir um maior acesso aos livros, uma vez
que a maior quantidade de livros, maior variedade e maior capacidade de penetração nas diversas
camadas sociais foram acompanhados por uma variedade igual de preços, a levar assim à “A Era do
Capital”, por Hobsbawn (2009b), à segunda metade do século XIX.

No que se refere à encadernação do século XIX que pode ser denominado como o século da
revolução das técnicas e da afirmação e desenvolvimento do processo de encadernação, determina
uma mudança filosófica material dos livros. Há uma diferenciação entre o livro legível (que tem como
elemento principal o conteúdo) em relação ao livro visível (cuja referência material e de ostentação
determinava-se como elemento principal).

Assim, como apresentado por Utsch (2011), a evolução do processo de encadernação e sua
complexificação tornaram necessária a consideração de se avaliar os conceitos (e por que não
técnicas) de encadernação. A prática e a teoria, o savoir-faire e o know-how tornaram- se elementos
determinantes para a aplicação de novos conceitos, para a evolução dos processos e para o
aperfeiçoamento de maquinário.

Considerar a história dos processos de encadernação, em certa medida confunde-se à história pessoal
dos encadernadores (exemplo para o livro de Devauchelle, com a narração de situações vividas e
relação com outros encadernadores). Sejam artesãos (encadernadores), sejam proprietários, são
constituídos diferentes significados determinados por mudanças em relação à filosofia material em
relação às encadernações, ou seja, a necessidade de evolução, aplicação e aperfeiçoamento de
máquinas, ferramentas e equipamentos. As preocupações com a materialidade e a visibilidade do livro,
das encadernações encontram-se relacionadas à ostentação, à legibilidade (conteúdo) e aos assuntos
propriamente ditos dos livros. (FOOT, 1997).

A partir das relações estabelecidas entre os diferentes grupos aos quais pertenciam os proprietários
(figuras reais, políticos, religiosos, dentre outros) e as diferentes motivações a partir das quais se
estabelece a relação com os livros (econômica, status social, cultural, dentre outras) constroem-se
experiências particulares que determinam, até certo ponto, os fatores que influenciam as estruturas e
concepção de encadernação.

O livro, as encadernações e as coleções estavam determinados segundo os fins aos quais serviam;
à ocasião sócio-histórica em que foram produzidos, público para o qual se destinavam e ao mesmo
tempo determinavam sua finalidade. Esses fatores influenciavam, ou mesmo determinavam, em
função do uso, a forma final dos livros ou coleções, a sua encadernação, e seus elementos estéticos
e formais. Em síntese, evidenciam-se, a partir dos diferentes fatores que determinaram influências no
processo gráfico/impressão que o estudo acerca da história da imprensa ou gráfica permite relacionar

429
o mundo da produção dos livros e das encadernações (como arte artesã, artes menores) às técnicas
de encadernação e decoração dos livros que refletem não somente a produção material dos livros,
mas a função social e os significados a eles atribuídos com relação à autoria, publicação, função e
coleções.

Os homens os definem e por eles [os livros] são definidos. A constituição material e intelectual das
encadernações passa pelos campos da ética e da estética, do conhecimento e da futilidade, da
informação e da ostentação. Os elementos materiais que constituem a sua identidade – maquinário e
demais ferramentais – tornam-se apenas atividade-meio para um maior campo de compreensão que
apresenta muitas signos e significados entre o homem e o livro, a encadernação.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AMMAN, Jost; SACHS, Hans. Eygentliche Beschreibung aller Stände auff Erden: hoher und nidriger,
geistlicher und weltlicher, aller Künsten, Handwercken und Händeln ... Frankfurt: Mayn: Feyerabend.
[Em linha]. 1568. [consultado em 14 Novembro 2014]. Disponível na World Wide Web: <http://www.
digitalis.uni- koeln.de/Amman/amman_index.html >.
BERGERON, Louis e DOREL-FERRÉ, Gracia. Le patrimoine industriel. Un nouveau territoire. 1ª. ed.
Paris: Liris, 1996.
CAMBRAS, Josep. Encadernação: as técnicas e os processos passo a passo para a proteção e o
ebelezamento dos livros. Barcelona: Editorial Estampa, 2004.
COILLY, Nathalie. Mémoire D’étude. Les écrins de l’écriture Reliures du Moyen Âge et de la
Renaissance à la Bibliothèque de l’Arsenal Bibliothèque Nationale de France, Bibliothèque de l’Arsenal,
6 septembre-26 novembre 1999, p. 15-36.
DERRY, T.K.; WILLIAMS, Trevor I. Historia de la tecnología: desde 1750 hasta 1900. Tomo II. Madrid:
Siglo XXI, 2002.
DEVAUCHELLE, Roger. La Reliure: Recherches Historiques, Techniques et Bibliographiques sur la
Reliure Française”, Paris : Filigranes. [Em linha]. 1995. [consultado em 19 Novembro 2014]. Disponível
na World Wide Web: <http://bbf.enssib.fr/consulter/bbf-1996-01-0117-006>.
DIDEROT; D’ALEMBERT. L’Encyclopédie. [29], Imprimerie, reliure: [recueil de planches sur les sciences,
les arts libéraux et les arts méchaniques, avec leur explication]. [Em linha]. 1751-1780. [consultado em
14 Novembro 2014]. Disponível na World Wide Web: <http://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k99717>.
DOREL-FERRÉ, Gracia. Arqueología industrial, pasado y presente. Entrevista a Louis Bergeron,
presidente del International Committee for Conservation of the Industrial Heritage (TICCIH). Revista de
Historia Industrial, nº 7, p.169-195, 1995.
DUDIN, René Martin. L’art du relieur doreur de livres. [Em linha]. s/d. [consultado em 14 Novembro

430
2014]. Disponível na World Wide Web: <http://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k10405927>.
FOOT, Mirjam. Crafstmen and clientes. IN: . The history of bookbinding as a mirror of society.
The Panizzi Lectures. British Library, 112p., 1997.
HOBSBAWN, Eric John Earnest. A era dos das revoluções: 1789-1848. São Paulo: Paz e Terra, 2009a.
HOBSBAWN, Eric John Earnest. A era do capital: 1848-1875. São Paulo: Paz e Terra, 2009b.
HUDSON, Kenneth. Industrial Archaeology. London: Methuen; University Paperbacks, 1965.
HUDSON, Kenneth. World Industrial Archaeology. Cambridge; New York: Cambridge University Press,
1979.
INSTITUTO DO EMPREGO E FORMAÇÃO PROFISSIONAL – IEFP. Manual de
Encadernação: Manual do Formador, Manual do Formando. Lisboa: POEFDS. [Em linha]. s/d.
[consultado em 16 Novembro 2014]. Disponível na World Wide Web: <http://elearning.iefp.pt/pluginfile.
php/49984/mod_resource/content/0/encadernacao_manual- formador.pdf>.
LENORMAND, Louis-Sébastien. Nouveau manuel complet du relieur: en tous genres. Paris:
Encyclopedie-Roret, L. Mulo, Libraire-Editeur. [Em linha]. 1900. [consultado em 15 Novembro 2014]
Disponível na World Wide Web: <http://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k2059979>.
LOPES CORDEIRO, José Manuel Morais. Algumas Questões para a Salvaguarda do Patrimônio
Industrial. In Seminário Nacional de História e Energia: Anais do 1º. Seminário Nacional de História e
Energia. São Paulo: Departamento de Patrimônio Histórico, 1986.
LOPES CORDEIRO, José Manuel Morais. Desindustrialização e Salvaguarda do Patrimônio Industrial:
Problema ou Oportunidade? Oculum Ensaios, nº 13, Jan/jun 2011.
MINCHINTON, Walter. World Industrial Archaeology: A Survey. IN: World Archaeology, vol. 15, nº 2, p.
125-136, 1983.
PALMER, Marilyn; NEAVERSON, Peter. Industrial archaeology: principles and practice. 1ª. ed. Londres:
Routledge. 1998.
RIX, Michael. Industrial Archaeology. The Amateur Historian, vol. 2(8), p. 225–229, 1955.
RUIZ, Elisa. La encuardenación del códice. IN: Manual de Codicologia. Fundación Germán Sanchez
Luiperez. Madrid, 1988, pp. 209-239.
THE INTERNATIONAL COMMITTE FOR THE CONSERVATION OF THE INDUSTRIAL HARITAGE.
Carta de Nizhny Tagil para o Património Industrial. [Em linha]. 2003. [consultado em 20 Outubro 2013].
Disponível na World Wide Web: <http://ticcih.org/wp-content/uploads/2013/04/NTagilPortuguese.pdf>.
THE INTERNATIONAL COMMITTE FOR THE CONSERVATION OF THE INDUSTRIAL HARITAGE.
Princípios de Dublin. TICCIH/ICOMOS. [Em linha]. 2011. [consultado em 20 Outubro 2013]. Disponível
na World Wide Web: <http://ticcih.org/about/about-ticcih/dublin-principles/>.
TRINDER, B. The Blackwell Encyclopaedia of industrial archaeology. Londres, Blackwell, 1992.
UTSCH, Ana. La restauration à la BnF: discours et pratiques (1). IN: Actualités de la Conservation.
Paris: n° 30, 2011.
UTSCH, Ana. Terminologia: Encadernação Tradicional. Cadernos de Bibliografia Material – 2.

431
(monográfico). Curso de Conservação-Restauração de Bens Culturais Móveis. Escola de Belas Artes.
Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte: EBA/UFMG, 2016.
VITERBO, Francisco de Souza. Arqueologia industrial portuguesa: os moinhos. O Arqueólogo
Português, vol. II, nº 8-9, p. 193-204, 1896.
ZAEHNSDORF, Joseph William. The Art of Bookbinding: a practical treatise Technological Handbooks.
London: George Bell and Sons. [Em linha]. 1890. [consultado em 14 Novembro 2014]. Disponível na
World Wide Web: ,https://archive.org/details/artofbookbinding00zaehrich>.

432
CONSERVAÇÃO E RESTAURO DE DESENHOS E CARICATURAS DE DELFIM MAYA:
CARACTERÍSTICAS E MARCAS DE ÁGUA ENCONTRADAS NESSES PAPÉIS DO SÉC. XX

Leonor Loureiro
Instituto Politécnico de Tomar
Coordenadora do Laboratório de Conservação e Restauro de Documentos Gráficos
leonorloureiro@ipt.pt
leonorloureiro@gmail.com

Vanessa Lopes, Beatriz Sousa, Luciana Barros, Laetitia Jorge da Silva, Mila Gorny, Tatiana da Costa
Brás, Catarina Macedo – Instituto Politécnico de Tomar. Alunas de Mestrado.

RESUMO

A obra do escultor Delfim Maya é bastante vasta e encontra-se dispersa pela família e por museus nacionais.
O Laboratório de Conservação e Restauro de Documentos Gráficos do Instituto Politécnico de Tomar teve
a oportunidade de intervencionar um conjunto desenhos e caricaturas pertencentes à sua neta Maria José
Maya, para as exposições no âmbito das comemorações dos 130 anos do nascimento do artista.

Acondicionadas de modo semelhante, apresentavam patologias idênticas – sujidades, manchas, colas,


rasgões, lacunas. A intervenção de conservação e restauro foi efectuada pelas alunas do Mestrado em
Conservação e Restauro, durante o primeiro semestre de 2016-17.

A diversidade de papéis encontrados – almaço, bond, vegetal, carta e outros – levou ao desenvolvimento
de um estudo mais alargado dos suportes em papel que este artista utilizou. Este artigo pretende
divulgar o trabalho até agora efectuado, algumas características dos papéis utilizados e as quatorze
marcas de água portuguesas e estrangeiras encontradas.

PALAVRAS CHAVE
documentos; conservação; restauro; marca de água; filigranas.

ABSTRACT

The sculptor Delfim Maya has a very vast work, dispersed within the family and national museums. The
IPT’s Paper Conservation and Restoration Laboratory intervened in a set of drawings and caricatures
belonging to one granddaughter, Maria José Maya, for three exhibitions within the framework of the 130
years’ artist’s birth celebrations.

The oeuvres showed identical pathologies – dirt, stains, glues, tears, lacunae. The conservation and

433
restoration intervention was carried out by students of the Masters in Conservation and Restoration
during the first half of 2016-17.

The diversity of paper types found – foolscap, bond, trancing, letter, and others – led to the development
of a wider study of the paper supports that this artist used. This article intends to make known the work
done so far, paper characteristics showed, and the fourteen Portuguese and foreign watermarks found.

KEYWORDS
documents; conservation; restoration; watermark; filigrees.

INTRODUÇÃO

Em Setembro de 2016 foi solicitado ao Laboratório de Conservação e Restauro de Documentos


Gráficos (LCRDG) do Instituto Politécnico de Tomar intervencionar uma colecção gráfica de 53
desenhos e caricaturas do escultor Delfim Maya (1886-1978), pertencentes a uma sua neta, Maria
José Maya.

A importância desta colecção vai para além do habitual, pois apresenta-nos uma janela histórica
sobre vários aspectos: a) a temática é hípica em ambiente tauromáquico – cavalos, campinos, touros,
arena, charretes – caricatural1 e retrato, sobretudo de personagens que com ele tinham contacto ou
privavam; b) apresenta um traço muito peculiar, fazendo por vezes lembrar Almada Negreiros pela
sua simplicidade e firmeza; c) apresenta uma enorme variedade de suportes em papel e materiais de
registo utilizados pelo artista ao longo de uma dada época (essencialmente anos 30, mas também
anterior e, possivelmente, posterior); d) esteve sempre guardada pela família, logo em conjunto nas
mesmas condições ambientais. Assim, em especial os dois últimos pontos, possibilitam um leque
de estudo mais aprofundado que normalmente não é dado a um conservador-restaurador efectuar.

Como exercício, treino, estudo, ou base de trabalho à sua escultura e pintura, o artista utilizou todo
o tipo de papéis que se lhe apresentavam disponíveis, denotando uma constante necessidade de
procura e teste dos materiais a que deita a mão, aproveitando todos os papéis e amostras disponíveis,
numa enorme variedade de tipologias e origem – portugueses, espanhóis, possivelmente ingleses,
e até um cartão italiano. E combina também materiais de registo diversos – grafite, lápis ceroso,
sanguínea, tinta da China, tinta ferrogálica, aguarelas e caneta de feltro – misturando-os a seu bel
prazer ou conforme o disponível, a que a necessidade financeira a isso eventualmente o obrigava.

A pequena colecção que nos foi entregue para intervenção de conservação e restauro (e que é apenas

1 Algumas das caricaturas foram divulgadas anteriormente. Ver Maya, M.J. (1998) e CMVFX (2017).

434
uma parte da obra gráfica do artista), apresentava-se na sua generalidade, “acondicionada” dentro
de uma capa rígida azul, onde cada peça tinha sido colada nos quatro cantos em cartolinas de baixa
qualidade de cor azul-esverdeada, castanha e/ou bordeaux, verde escuro ou cinzenta. Ou então
inserida dentro de capas plásticas simples. Um exemplar encontrava-se emoldurado, com vidro e
cartão prensado de má qualidade.

Como patologias, todas as obras apresentavam sujidade generalizada. Individualmente ostentavam


manchas de diferentes naturezas: de fotoxidação, de excrementos de insecto, de algo semelhante
a gordura e/ou café, e manchas provocadas pelas colas utilizadas para o “acondicionamento”.
Pontualmente demonstravam perfurações por pioneses, pequenas ondulações, rasgões e lacunas
por manuseamento indevido. Dado este panorama, foi solicitada a conservação, restauro e
reacondicionamento em passe-partout próprio de cartão de museu, livre de ácidos2.

A COLECÇÃO DE DESENHOS E CARICATURAS DE DELFIM MAYA

A colecção estava “organizada” de uma forma aleatória e a cada obra foi dado um número de entrada
no LCRDG por essa ordem. As Figuras nº 1 a 16 abaixo mostram alguns exemplos que ilustram a
variedade temática, estilística e material que caracteriza o conjunto, bem como o estado de preservação
em que se encontrava.

Figuras nº 1 a 8 – Exemplos de caricaturas de Delfim Maya aquando da sua entrada no LCRDG. Fotografias antes de
tratamento. © Vanessa Torres.

3 Conde das Galveias. 6 Maria Teresa Magalhães. 11 Sem título. (mulher de perfil). Grafite
Grafite Grafite e aguarela e aguarela

2 De modo a poder ser exposta nas exposições comemorativas dos 130 anos do nascimento do artista: “Delfim Maya:
escultor do movimento” (Museu Municipal, Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, 25-03-2017); “Delfim Maya: escultor de
vanguarda” (Museu José Malhoa, Caldas da Rainha, 01-04-2017); “Delfim Maya: escultor ibérico”, Museu Militar, Lisboa, 06-
05-2017).

435
12 Dr. José Duffner. 13 Sem título (Mulher). 14 Dr. Oliveira Monteiro.
Grafite, aguarela e lápis de cera Grafite, aguarela e lápis de cera “Os Leões”. Grafite e aguarela

19 D. Diogo Passanha. Grafite e


20 M.ª Adelaide de Lima Cruz. Grafite e aguarela
aguarela

Figuras nº 9 e 10 – 35 Auto-retrato. Grafite. Fotografias na moldura e durante a desmontagem. © Vanessa Torres /


Tatiana Brás.

Figuras nº 11 a 16 – Desenhos com outras temáticas na colecção. Fotografias antes de tratamento. © Vanessa Torres.

31 Sevilhana. 39 Sem título. (Sevilhana).


Grafite e caneta de aparo a tinta Ferrogálica Grafite

436
40 Sem título. (Cavaleiro). 41 Sem título. (Cavaleiro).
Grafite Caneta de aparo, tinta ferrogálica e aguada

43 Touro na arena. 44 Sem título. (Charretes e cavalos).


Aguarela e caneta de aparo a Tinta da China Caneta de aparo a tinta da China.

METODOLOGIA DE TRABALHO

O trabalho teve início com a observação visual a olho nu, a observação por meios fotográficos (fotografias
sob luz normal, rasante e transmitida) e observação no microscópio Dino-Lite AD7013MZT(R4), dos
papéis3 e materiais de registo componentes, para caracterização material da colecção e registo de
patologias.

Esta colecção de desenhos e caricaturas apresenta uma enorme variedade de informação, pelo que se
encontra resumida na Tabela nº 1. As tipologias de papéis são consensuais com a época – século XX,
tendo sido usados vários tipos que mais à frente se descrevem. Das 35 obras assinadas pelo artista4,
quatorze ostentam datas que englobam os anos de 1919, 1930, 1931 e 1934. As dimensões das folhas
variam desde fragmentos, a folha completa no exemplo da obra 33 Galgos, 44 x 31,8 cm. Quanto aos
materiais de registo encontrados neste conjunto de 53 peças da obra gráfica, constata-se a utilização
da grafite, lápis de cor ou ceroso, sanguínea, aguarela, caneta de aparo a tinta da China preta, a tinta
vermelha e a tinta ferrogálica. Estes materiais aparecem também nas assinaturas sendo que, para
além destes e curiosamente, 13 assinaturas evidenciam o uso de tinta a caneta de feltro5.

3 Micro amostras dos papéis foram retiradas para análise de componentes fibrosos, para futuro cruzamento de dados com
este artigo. Pela sua natureza analítica e quantidade de amostras, o trabalho ainda está a decorrer.

4 O artista assinou as suas obras “Delfim Maya” e “Mifled”, que é Delfim escrito do fim para o princípio.

5 Esta secção do trabalho está mais desenvolvida no catálogo da exposição “Delfim Maya: escultor do movimento”. In
LOUREIRO, p. 25-37.

437
Tabela Nº 1 – Lista das obras intervencionadas e características que apresentam: dimensões, papel, marca de água,
materiais de registo, assinaturas (como no original) e material utilizado na assinatura
N.º Designação / Características do Marca de Materiais de Assinatura Assinatura
IPT dimensões papel Água registo / data (material)
Caneta de aparo
Mª José Belmarço.
1 Espessura 0,25 mm a tinta da China e
20,2 x 26,8 cm
aguarela
Visconde de Cabrela. Mifled
2 Espessura 0,19 mm Grafite e aguarela Grafite
20 x 14,2 cm Maio 1931
Conde das Galveias. Delfim Caneta de
3 Espessura 0,09 mm Sim Grafite
32,2 x 21,7 cm Maya feltro
D. Luís Crespo.
4 Espessura 0,30 mm
27,5 x 20,7 mm
Fausto de
Caneta de aparo a
5 Albuquerque. Espessura 0,27 mm Mifled 1930 Tinta da China
tinta da China
25,8 x 16,2 cm

Delfim
Maria Teresa
Avergoado Maya
6 Magalhães. Sim Grafite e aguarela Aguarela
Espessura 0,15 mm 1934 Julho
31,9 x 22 cm
14
Delfim
Maruchen (?) ou M.ª
Avergoado Maya
7 José Espírito Santo. Sim Grafite e aguarela Aguarela
Espessura 0,16 mm 1934 Julho
29,1 x 19,2 cm
14
Dr. Álvaro Reis Torgal. Delfim Caneta de
8 Espessura 0,11 mm Grafite
26,8 x 18 cm Maya feltro
Virgínia Vitorino. Mifled
9 Espessura 0,31 mm Grafite e aguarela Aguarela
21,8 x 16,1 cm Maio 1931
Delfim
Mª Luísa Monteiro. Avergoado Grafite, esfuminho e
10 Sim Maya Grafite
29,9 x 19,1 cm Espessura 0,14 mm aguarela
934
Sem título. (mulher de
11 perfil) Espessura 0,38 mm
27 x 16,6 cm
Dr. José Duffner. Grafite, aguarela e Delfim Caneta de
12 Espessura 0,09 mm Sim
17 x 27,1 cm lápis de cera (?) Maya feltro
Sem título. (Mulher) Grafite, aguarela e Delfim Caneta de
13 Sim
-- x – cm lápis de cera Maya feltro
Dr. Oliveira Monteiro.
Mifled
14 “Os Leões”. Espessura 0,17 mm Grafite e aguarela Grafite
Maio 1931
21,3 x 12,9 cm
Aguarela e caneta
Conde de Pinhel. Delfim Caneta de
15 Espessura 0,19 mm de aparo a tinta da
27,8 x 17,5 cm Maya feltro
China
Conde de Pinhel. Avergoado Grafite, caneta de
16 Sim
27 x 21,1 cm Espessura 0,09 mm aparo e aguada
Aguarela e caneta
Conde de Pinhel. Delfim Caneta de
17 Espessura 0,18 mm de aparo a tinta da
30,7 x 23,8 cm Maya feltro
China
Conde de Pinhel. Mifled
18 Espessura 0,19 mm Grafite e aguarela Tinta da China
24,6 x 20,5 cm 1931 Dezº
D. Diogo Passanha.
19 Espessura 0,26 mm Grafite e aguarela Mifled 931 Tinta da China
34,9 x 21,5 cm

438
M.ª Adelaide de Lima
Mifled Grafite e
20 Cruz. Espessura 0,20 mm Grafite e aguarela
Maio 1931 Aguarela
23 x 16 cm
Sem título.
Caneta de aparo a Delfim
21 (Campinos) Espessura 0,38 mm Tinta vermelha
tinta vermelha Maya
Diâmetro 16,7 cm
Marechal Gomes da
Aguada, grafite e Delfim
22 Costa. Espessura 0,27 mm Aguarela
pincel a tinta preta Maya
21,2 x 18 cm
Conde de Calhariz. Avergoado
23 Vergaturas Sanguínea Mifled 919 Sanguínea
31,2 x 22,2 cm Espessura 0,17 mm
Samuel Santos Jorge. Mifled
24 Espessura 0,21 mm Grafite e esfuminho Grafite
18,8 x 15,2 cm Maio 1931
Militar. Avergoado Grafite, aguarela e Delfim Caneta de
25 Sim
32,2 x 21,8 cm Espessura 0,16 mm lápis de cera Maya feltro
Ten. Carvalho Nunes.
26 Espessura 0,28 mm Grafite Mifled 1931 Grafite
29,9 x 20,2 cm
António Ferro. Delfim Caneta de
27 Espessura 0,06 mm Grafite
27 x 21 cm Maya feltro
Sem título. (mulher)
28 Espessura 0,20 mm
30,9 x 22,1 cm
Aviador.
29 (Ribeiro da Fonseca?) Espessura 0,26 mm Grafite Mifled 931 Grafite
31 x 23,9 cm
Satúrio Pires. Avergoado Delfim Caneta de
30 Sim Grafite
30,2 x 19,7 cm Espessura 0,18 mm Maya feltro
Grafite e caneta
Sevilhana. Delfim Caneta de
31 Espessura 0,08 mm de aparo a tinta
27,1 x 21,7 cm Maya feltro
Ferrogálica
D. António Cañero. Tinta
32 Espessura 0,24 mm Grafite e aguada Mifled
18,4 x 14,5 cm Ferrogálica
Galgos. Avergoado
33 Sim Grafite e lápis de cor
44 x 31,8 cm Espessura 0,14 mm
Barcos.
34 Espessura 0,09
10,5 x 13,4 cm
Auto-retrato. Avergoado
35 Sim Grafite
29,4 x 17 cm Espessura 0,15 mm
Cavaleiros no campo. Papel revestido
36
40 x 29,9 cm Espessura 0,35 mm

Sem título. (Cavaleiro Aguada e caneta


Delfim
38 ferrando o touro) Espessura 0,08 mm Sim de aparo a Tinta da Tinta da China
Maya
14,6 x 10,2 cm China
Sem título. (Sevilhana)
39 Espessura 0,09 mm
13,3 x 21,5 cm
Sem título.
Papel vegetal
40 (Cavaleiro).
Espessura 0,08 mm
31,6 x 22 cm
Caneta de aparo,
Sem título. (Cavaleiro)
41 Espessura 0,08 mm Sim tinta ferrogálica e
21 x 27 cm
aguada
Sem título. (Campino
cavaleiro atrás do Caneta de aparo a Delfim
42 Espessura 0,16 mm Tinta da China
touro) Tinta da China Maya
18,4 x 11,1 cm

439
Aguarela e caneta
Touro na arena. Delfim Caneta de
43 Espessura 0,24 mm de aparo a Tinta da
24,9 x 200 cm Maya feltro
China
Sem título. (Charretes
Papel vegetal
44 e cavalos). (várias
Espessura 0,08 mm
dimensões)
Sem título.
45 (Cavaleiros) Espessura 0,08 mm
26 x 18,1 cm
“Abecedário
Tauromáquico” Cartão Grafite e aguarela Delfim
48 Grafite
Verso: Pega do touro. Espessura 1,75 mm (verso: grafite) Maya
27,6 x 18,8 cm
Cenas de Toureio
Caneta de aparo a Delfim Caneta de
82 (3 no mesmo papel). Espessura 0,08 mm Sim
Tinta da China Maya feltro
27,3 x 21,2 cm
Grafite e caneta
D. António Cañero. Delfim Caneta de
84 Espessura 0,09 mm de aparo a Tinta
24 x 19,5 cm Maya feltro
Ferrogálica
Sem título. Aguarela e caneta
Delfim Aguada e
85 A (Campinos e manada) Espessura 0,09 mm de aparo a Tinta da
Maya Tinta da China
20,9 x 20,1 cm China
Sem título. (Campino
cavaleiro atrás do Papel vegetal Caneta de aparo a Delfim
85 B Tinta da China
touro) Espessura 0,06 mm Tinta da China Maya
14 x 11 cm

A diversidade de papéis pode ser observada sob diversos pontos de vista. Um conservador-restaurador
está interessado em obter informação que o leve a identificar corretamente a produção manual6
ou industrial7 do papel utilizado na obra. Na observação, características como a cor, transparência,
opacidade, brilho, mate, revestimento, relevo, espessura8, colagem, acabamento de superfície, limites
originais de produção da folha, irregularidades à transparência, e existência ou não de marca de água
(filigrana) ou contramarca9, ajudam para essa identificação de produção, e a uma possível aproximação
da data de produção do material ou objecto. Por outro lado, auxiliam na tomada de decisões em
escolhas de processos interventivos de conservação e restauro.

6 A produção manual de papel na Europa teve início em Xàtiva, Espanha, em 1150. ASUNCIÓN, p. 16.

7 A primeira máquina capaz de produzir papel a partir da madeira foi apresentada em Paris em 1866. BANDEIRA, p. 35.

8 Em conservação e restauro a espessura de um papel é importante, em especial quando se tem de efectuar preenchimentos
de eventuais lacunas. Nestes papéis foi utilizado o Pocket Thickness Gauge Dial Indicator 0,00 a 10 mm, da Draper Tools.

9 No século XVI adicionou-se a muitos papéis uma marca de água secundária, chamada de contramarca. Letras pequenas,
números, ou formas simples (como flores ou escudos), situavam-se num canto da folha de papel, normalmente na metade
oposta à marca de água. Atualmente considera-se contramarca aquela mais pequena e menos elaborada aquando se
visualizam mais do que uma marca em dois lados opostos de um fólio completo.

440
Estes papéis podem apresentar a marca da rede do molde ou máquina que os formou. Essa rede,
criada por meio de uma teia e uma trama que se entrelaçam e formam as figuras características
das vergaturas10 e dos pontusais11, produz assim o papel avergoado12 13
.Dos papéis avergoados
observados, ora apresentam vergaturas e pontusais, ora apresentam pontusais e rede. O número de
vergaturas por cm linear e os intervalos entre pontusais são dados que foram recolhidos para ajudar a
caracterizá-los (ver Tabela nº 2).

Quanto aos processos industriais de produção de papel são de uma variedade imensa, podendo ora
apresentar-se “avergoado” para dar aparência de papel antigo, mas também mostrar uma rede criada
por um rolo próprio, o dandy roll14, ou cilindro friccionador. Um bom exemplo é o papel Bond para
carta15, encolado especificamente para impedir a penetração da tinta de escrita16.

A superfície dos papéis observados na colecção é normalmente lisa17, mas pode ser polida (em especial
nos papéis vegetais), texturada ou gofrada18 (Figuras nº 17 a 20).

Figuras nº 17 a 20. Microfotografias (aumento 52 x) das texturas apresentadas pelas superfícies do papel das obras
8, 23 e 29. À esquerda sob luz LED à direita sob luz rasante, respectivamente. Obtidas com o microscópio Dino-Lite
AD7013MZT(R4). © Leonor Loureiro.

Textura gofrada do papel da obra 8 Dr. Álvaro Reis Torgal.

10 Em inglês wire lines; ver “VERGATURAS” in FARIA et al., p. 1229.

11 Em inglês chain lines; ver “PONTUSAIS” in FARIA et al., p. 983.

12 FARIA et al., p. 918-9.

13 Também e ainda designado comummente por vergé. Idem, p. 925 e p. 932.

14 O dandy roll foi inventado em 1826 por John Marshall. BROWNING, p. 13-14.

15 FARIA et al., p. 919.

16 TURNER, p. 69.

17 “PAPEL VELINO – Papel com ausência de filigrana, liso e compacto, imitando o pergaminho fino de vitela, feito sobretudo
a partir de pasta de trapo; o seu fabrico foi iniciado em Birmingham, em meados do século XVIII, por John Baskerville; por
analogia denomina-se velino todo o papel bom, de forma, sem grão e não sendo vergé.” In FARIA et al., p. 932.

18 “PAPEL GOFRADO – Papel que recebeu um desenho em relevo, normalmente por pressão de um rolo ou de uma placa
gravadora.” In FARIA et al., p. 925.

441
Textura do papel da obra 23 Conde de Calhariz.

A micro observação dos vários papéis ao microscópio Dino-Lite permitiu a confirmação da existência
de vários tipos de papel: demonstravam na formação da folha misturas de componentes fibrosos,
por vezes coloridos, e maior ou menor maceração das fibras. Para além disso também permitiu a
observação de impurezas inclusas, como micro-incrustações metálicas, manchas de Foxing19 e
diversas tonalidades de cor (Figuras 21 a 47).

Figuras nº 21 a 47. Exemplos de microfotografias (aumento 52 x) das superfícies apresentadas por alguns dos papéis
das obras. Obtidas com o microscópio Dino-Lite AD7013MZT(R4). © Leonor Loureiro.

1 Mª José Belmarço. 3 Conde de Galveias. 5 Fausto de Albuquerque.

6 Mª Teresa Magalhães. 12 Dr José Duffner. 13 Mulher.

19 Foxing é a designação internacionalmente dada às manchas (normalmente de coloração castanha) que aparecem no
papel e que não têm uma origem bem definida. Pensa-se que podem ter origem interna (aquando do fabrico da folha, devido
a má qualidade de materiais utilizados ou impurezas na água), ou externa (existência de fungos e/ou bactérias, contacto com
materiais de acondicionamento muito acídicos, e/ou variações termohigrométricas).

442
14 Dr. Oliveira Monteiro,
19 D Diogo Passanha. 21 Campinos corrida.
Os Leões.

24 Samuel Santos Jorge. 25 Oficial. 26 Tenente Carvalho Nunes.

27 António Ferro. 28 Mulher. 30 Satúrio Pires.

31 Sevilhana. 33 Galgos. 35 Auto-retrato.

38 Cavaleiro ferrando o touro. 39 Sevilhana. 40 Cavaleiro (papel vegetal).

443
44a Charretes e cavalos
41 Cavaleiro. 43 Touro na arena.
(papel vegetal).

44b Charretes e cavalos 48 Abecedário Tauromáquico (superfície


82 Desenho tauromáquico.
(papel vegetal). e interior do cartão).

Das obras analisadas, o desenho a grafite e aguarela 48 Abecedário Tauromáquico foi executado
sobre um cartão que apresenta colado no verso uma etiqueta impressa “Pietro Miliani Fabbrica di Carte
a Mano FABRIANO N.º 565” (figura nº 48), confirmando-nos assim a sua origem italiana.

Figura nº 48. Etiqueta da Fabriano.


Microfotografia obtida pelo microscópio Dino-Lite. © Leonor Loureiro.

CONSERVAÇÃO E RESTAURO

A intervenção de conservação e restauro teve início com uma primeira fase de limpeza superficial com
Smoke Sponge, para remoção da sujidade mais solta e possibilitar o manuseio das obras durante a
fase de remoção das cartolinas onde se encontravam coladas.

A remoção das cartolinas foi executada pelo verso, desbastando com extremo cuidado camada a
camada. Esta acção foi assim realizada não só para evitar criar mais danos aos papéis originais, como
para evitar causar perda de materiais de registo mais sensíveis. Foi de seguida efectuada pontualmente

444
uma limpeza mais profunda e cuidada com borracha branca em barra20, de modo a evitar a deposição
e/ou entranhamento de resíduos não solúveis entre as fibras dos papéis.

Após remoção das cartolinas e limpeza com borracha, foi necessária a remoção das colas que os
cantos de cada obra apresentavam no verso. Nessa fase constatou-se as duas naturezas das colas:
um tipo era hidrossolúvel21, logo de mais fácil remoção; e outro tipo do género à base de solventes
orgânicos22, logo de muito mais difícil remoção. A cola do tipo hidrossolúvel foi removida camada a
camada, manualmente com a ajuda de cotonetes ligeiramente humedecidos em água destilada, e
planificando as zonas após cada fase, de modo a evitar eventual aparecimento de micro-ondulações
nos papéis. A cola à sase de solventes orgânicos teve de ser removida somente com o uso de bisturi.
Cada papel, devido à sua natureza diferente, reagia de modo diverso, pelo que esta operação foi
a mais morosa de todas. Em alguns casos não foi possível a total remoção dos resíduos de colas,
devido ao facto de estas se encontrarem demasiado entranhadas no complexo fibroso, em conjunto
com a fragilidade que os papéis demonstravam possuir, e pelo facto de haver impedimentos quanto à
utilização local de solventes orgânicos.

Após estas operações, procedeu-se à consolidação de rasgões. Foi utilizado o papel Japonês Tengujo
Kashmir, por ser o que cuja espessura e características mais fornecia resistência e cor semelhante
aos papéis originais. A cola utilizada foi uma cola metilcelulósica a 4%. Quanto ao preenchimento de
lacunas, vários tipos de papéis Japoneses foram utilizados, com predominância do Kinugawa Ivory
para os casos de papéis que apresentavam vergaturas e pontusais. Finalmente todas as obras foram
acondicionadas em passe-partout de cartão de museu livre de ácidos.

AS MARCAS DE ÁGUA NA COLECÇÃO

Aparecem nesta colecção diversas marcas de água, tanto em papel manual como industrial. A recolha
da informação foi executada por meios fotográficos e por decalque manual directo em papel vegetal
de arquitecto23 24
, ambos à luz transmitida, após a limpeza das obras. Dos papéis observados à
transparência, quatorze (ver Tabela nº 2) demonstram possuir marcas de água completas ou parcelares
(figuras nº 49 a 76).

20 A macieza e composição (sem ftalatos e sem látex) destas borrachas tem de ser sempre testada, assim como o modo como
são aplicadas. Este trabalho tem de ser efectuado por conservadores-restauradores, pela delicadeza, treino e experiência
que possuem.

21 Como as emulsões poliméricas PVA, também designadas por Acetato de Polivinilo ou cola branca para madeiras.

22 Como as colas poliméricas sintéticas acrílicas ou nitrocelulósicas, género cola UHU universal transparente, em bisnaga.
Outros géneros incluem o policarbonato, o poliestireno, ou o policloropreno.

23 Técnicas assaz utilizadas e indicadas pelo IPH – Standard 2.1.1 (2013), p. 8.

24 NICHOLSON (1982). Outros meios de recolha podem ser a fotografia por contacto directo, a fotografia UV, a reprodução
por radiografia, por raios-Beta, e por radiografia electrónica.

445
TABELA Nº 2 – Tabela resumo das características das marcas de água presentes nesta colecção.

N.º
Descrição Tipo de papel e intervalos (cm) Marca de água / contra-marca Origem
IPT
“GRAHAMS BOND” + “REGISTERED”
3 Conde das Galveias. Rede ?
(repetem-se 2x)
Maria Teresa Avergoado.
6 “ALMAÇO” + “TOJAL” PT
Magalhães. Pontusais (2,8 cm) e rede
Maruchen (?) ou M.ª Avergoado.
7 “ALMAÇO” + “TOJAL” PT
José Espírito Santo. Pontusais (2,8 cm) e rede
Avergoado.
10 Mª Luísa Monteiro. “ALMAÇO” + “TOJAL” PT
Pontusais (2,8 cm) e rede

12 Dr. José Duffner. Rede “GRAHAMS BOND” + “REGISTERED” ?

Avergoado.
13 Sem título. (Mulher) Brasão com cruz de Cristo + “THOMAR” PT
Pontusais (3 cm) e rede
Avergoado.
“GRAHAMS BANKPOST” (?) inserido
16 Conde de Pinhel. Pontusais (1,8 cm) e ?
num círculo tipo cinto e fivela
vergaturas (11 por cm)
Avergoado.
23 Conde de Calhariz Pontusais (2,5 cm) ---- ?
Vergaturas (9 por cm)
Avergoado.
25 Militar. “ALMAÇO” + “P. CAV.OS.” PT
Pontusais (2,7 cm) e rede
Avergoado.
30 Satúrio Pires. Pontusais (2,4 cm) (?) + “GVARRO” ES
Vergaturas (7 por cm)
“ALMAÇO” + “PC”+ “P. CAV.OS.” +
33 Galgos. Pontusais (2,9 cm) e rede 3 ramos de oliveira com laçada + PT
“THOMAR”.
Esfera Armilar com brasão central com
35 Auto-retrato. Pontusais (3 cm) e rede iniciais CPP entrelaçadas + PT
“ALMAÇO” + “PRADO”.
Sem título.
“…NAL” + “…TRONG” + “EXT…”
38 (Cavaleiro ferrando Rede ?
(original extra strong; repete-se 2x).
o touro)
Sem título. “ORIGINAL” + “G. + Estrela de 5 pontas +
41 ---- ?
(Cavaleiro) A” + “… (?) POST”.
Cenas de Toureio (3 “ORIGINAL” + “EXTRA STRONG”
82 Rede ?
no mesmo papel). (repete-se 2x)

No total obteve-se sete papéis com marcas de água de origem portuguesa confirmada, um com
marca de água espanhola, e sete com marcas de água em língua inglesa, ainda por identificar. Três
apresentam filigranas “gémeas” ou semelhantes – “ALMAÇO TOJAL” em duas linhas sobrepostas –
de papéis Almaço25 Tojal26 (papel Almaço da Fábrica de Papel Abelheira, de Loures, Lisboa), mas com

25 Almaço (ou Almasso, antes da reforma ortográfica de 1911). “PAPEL ALMAÇO – papel grosso, branco ou levemente azulado,
que serve para documentos, registos, livros de contabilidade, etc. Diz-se do formato peculiar a esse papel (330 x 440 mm), cuja
folha dobrada ao meio dá as dimensões exigidas para os papéis destinados à correspondência oficial.” In FARIA et al., p. 918.

26 “Fábrica de Papel da Abelheira, Tojal, Loures, fundada em 1841, no lugar do antigo moinho de papel de 1755 dos frades de
S. Vicente de Fora”. URL: http://www.museudopapel.org/pagina,10,12.aspx . Consultado a 27-01-2017. Actualmente fábrica
de papel Fapajal. URL: http://www.fapajal.pt/a-fapajal/ . Consultado a 27-01-2017.

446
ligeiras diferenças na sua posição relativa aos pontusais, como se podem observar nas letras “L” e “O”
de Almaço e “T” de Tojal (Figuras nº 49 a 54). Todos os pontusais distam 2,8 cm entre si.

A marca de água pode ser considerada “gémea” em duas circunstâncias: a) vários papéis podem
apresentar marcas de água em tudo semelhantes27, mas não 100 % iguais devido à sua elaboração
manual única em cada molde; ou b) numa mesma folha de papel pode aparecer a mesma marca de
água repetida, um par correspondente entre si, característica de um papel de fabrico industrial.

Figuras nº 49 a 54. Marcas de água gémeas (semelhantes, mas não 100 % iguais devido à sua elaboração manual única
em cada molde) em papéis avergoados, com pontusais distando 2,8 cm entre si e com rede, sem vergaturas. Fotografias à
luz transmitida: © Tatiana da Costa Brás. Levantamentos em papel vegetal: © Alunas de Mestrado.

6 Maria Teresa Magalhães 7 Maruchen ou M.ª José Espírito Santo 10 Maria Luísa Monteiro

27 No papel manual, o artesão que fabrica o papel trabalha com dois moldes com a mesma marca de água: um recentemente
mergulhado na polpa está a escorrer, enquanto que uma folha recentemente formada está a ser removido do outro. Daí as
filigranas gémeas, uma em cada molde. NICHOLSON, (1982).

447
Figuras nº 55 a 60. Diferentes marcas de água e contramarca portuguesas de papel Almaço da Fábrica de Papel Porto
de Cavaleiros em Tomar. Fotografias à luz transmitida: © Tatiana da Costa Brás. Levantamentos em papel vegetal: ©
Alunas de Mestrado.

13 Sem título (Mulher) – Papel avergoado com marca de água Brasão com Cruz de Cristo e “THOMAR”, pontusais
(distando 3 cm entre si) e rede.

25 Militar – Marca de água “ALMAÇO” e “P.CAV.os” em duas linhas, pontusais (distando 2,7 cm entre si) e rede.

33 Galgos – Marca de água três ramos de oliveira e laçada e “Thomar”, e contramarca “ALMAÇO”, “P.C.”, “P.CAV.os” em
três linhas, pontusais (distando 2,9 cm entre si) e rede.

448
Figuras nº 61 e 62. Marca de água característica do papel almaço da Companhia Papel do Prado, Tomar – Esfera Armilar
com brasão central e iniciais CPP entrelaçadas, “ALMAÇO” e “PRADO” em linhas diferentes, e pontusais (distando 3 cm
entre si) e rede – ostentada pelo desenho 35 Auto-retrato. © Tatiana da Costa Brás. Levantamentos em papel vegetal: ©
Alunas de Mestrado.

Destas marcas de água é possível que as folhas das obras 13 Sem título (Mulher) e 25 Militar sejam
metades do mesmo fólio: as características observáveis são idênticas a um fólio do Museu do Papel28
e a técnica de desenho e deterioração material apresentada é semelhante em ambas.

Por vezes a marca de água apresenta-se cortada, ou com leitura não permitida pela opacidade criada
pelos materiais de registo utilizados pelo artista. Exceptuando a obra 33 Galgos, que apresenta uma
folha completa de dimensões 44 x 31,8 cm, e marca de água e contramarca típicas da Fábrica Porto
Cavaleiros (figura nº 60), nenhuma folha de papel tem as dimensões completas de fabrico. Algumas
são consideradas “fragmentos”29 e não completas.

É de notar que, das marcas de água encontradas, seis apresentam texto em língua inglesa. Será
necessária mais investigação para confirmar sem sombra de dúvida as fábricas de origem destas
marcas de água (Figuras nº 66 a 74). Não deixa de ser curioso pelo facto de Delfim Maya30 nunca ter
pisado solo britânico, pelo que deve ter obtido estes papéis por outras vias.

28 O sítio do Museu do Papel apresenta uma marca de água em tudo idêntica. http://www.museudopapel.org/pagina,16,17.
aspx. Consultado em 29-01-2017.

29 IPH – Standard 2.1.1 (2013), p. 3.

30 Assim, caso se confirme a origem inglesa destes papéis, leva-nos a crer que estes lhe chegaram à mão por herança ou
oferta. Sabemos que a família materna de sua mulher, Augusta Gustava Peile da Costa, tem ascendência inglesa, daí poder
ter obtido por herança folhas de papel carta Bond e outros.

449
Figuras nº 63 a 66. Marca de água “GRAHAMS BOND REGISTERED”1 em duas linhas e repetida 2x no papel sem
pontusais e com rede. Fotografias à luz transmitida: © Tatiana da Costa Brás. Levantamentos em papel vegetal: © Alunas
de Mestrado.

3 Conde das Galveias.

12 Dr. José Duffner.

450
Figuras nº 67 e 68. Marca de água “GRAHAMS BANKPOST”2 com formato circular como de um cinto e fivela se tratasse.
Papel avergoado (11 vergaturas por cm, e pontusais distando 1,8 cm entre si). É ostentada pela caricatura 16 Conde de
Pinhel. Devido às tintas utilizadas não foi possível “recuperar” a informação central da marca de água. Fotografias à luz
transmitida: © Tatiana da Costa Brás. Levantamentos em papel vegetal: © Alunas de Mestrado.

Figuras nº 69 e 70. Marca de água “ORIGINAL G A BANK POST” numa linha, semelhante a caligrafia, apresentando
uma estrela de cinco pontas sobre as iniciais “G” e “A”, em papel liso. Ostentada no desenho 41 Sem título (Cavaleiro).
Fotografias à luz transmitida: © Tatiana da Costa Brás. Levantamentos em papel vegetal: © Alunas de Mestrado.

451
Figuras nº 71 a 74. Marca de água “ORIGINAL EXTRA STRONG” em duas linhas (repetindo-se 2x) e iniciais “C P G” (?),
em papel sem pontusais e com rede. Fotografias à luz transmitida: © Tatiana da Costa Brás. Levantamentos em papel
vegetal: © Alunas de Mestrado.

38 Sem título (Cavaleiro ferrando o touro).

82 Cenas de toureio.

Somente uma marca de água de origem espanhola foi encontrada (Figuras nº 75 e 76). No entanto
dois outros desenhos, 31 Sevilhana e 84 D. António Cañero, apresentam o mesmo papel e exibem a
mesma impressão tipográfica no “verso” (Figura nº 77), levando a pressupor que tenham origem no
mesmo caderno, cujo papel pode eventualmente ser atribuído a fabrico espanhol.31

Figuras nº 75 e 76. Marca de água espanhola “GVARRO”3 , em papel avergoado (7 vergaturas por cm, e pontusais
distando 2,4 cm entre si), ostentada pela caricatura 30 Satúrio Pires. Fotografia à luz transmitida: © Tatiana da Costa
Brás. Levantamentos em papel vegetal: © Alunas de Mestrado.

31 Monárquico convicto, Delfim Maya esteve exilado em Espanha durante vários anos.

452
Figura nº 77. Impressão gráfica (frente do papel originalmente): “Hotel de Inglaterra, Plaza San Fernando, Sevillha.
Dirección Telegráfica: Inglaterra.” Microfotografia obtida pelo microscópio Dino-Lite. © Leonor Loureiro.

CONCLUSÃO E PRÓXIMOS DESENVOLVIMENTOS

A obra gráfica de Delfim Maya é vasta e muitíssimo diversificada sob diversos pontos de vista – histórico,
artístico, material e outros. É um manancial de informação à espera de ser descoberto, não se limitando à
“amostra” aqui apresentada.

A intervenção de conservação e restauro efectuada a esta colecção foi muito interessante, mas
morosa devido à relação entre tipos de adesivos utilizados nas montagens antigas e a diversidade
de papéis encontrados, dificultando o trabalho das estudantes do Mestrado em Conservação
e Restauro. Assim este trabalho pretendeu dar a conhecer de forma útil a conservadores-
restauradores e outros as dificuldades e soluções encontradas, bem como a existência deste
manancial relativo a papéis do séc. XX. Tendo sido iniciado com o intuito de expor as obras no
âmbito das comemorações dos 130 do nascimento de Delfim Maya, ao recolher informações sobre
as marcas de água nos papéis desta colecção do séc. XX, espera-se ter conseguido contribuir
para o conhecimento de historiadores, arquivistas e bibliotecários, investigadores, conservadores-
restauradores e outros interessados nesta área.

Pretende ir mais além: a) com a divulgação das marcas de água encontradas e identificadas,
contribuir para a construção de uma base de dados Portuguesa sobre as marcas de água nacionais,
e eventualmente contribuir para uma base de dados a nível Europeu; b) relativamente às marcas
de água ainda não identificadas, espera-se poder cooperar em conjunto com a comunidade
investigadora para uma futura identificação das mesmas; c) no campo da identificação das fibras
constituintes dos papéis observados, analisar micro quimicamente, através da utilização de dois
reagentes corantes – Lofton-Merritt e Herzberg – de modo a que a informação sobre a constituição
fibrosa possa ser correlacionada com as informações já obtidas sobre os papéis utilizados pelo
artista; Espera-se que de futuro se possa dar uma continuidade mais abrangente a este estudo
junto da obra gráfica dispersa pela família, herdeiros, colecionadores e museus, de modo a que a
divulgação dos conhecimentos obtidos possibilite uma visão mais abrangente sobre este artista e
sobre os papéis produzidos e utilizados no séc. XX.

453
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ASUNCIÓN, Josep. “O Papel. Técnicas e métodos tradicionais de fabrico”. Colecção Artes e Ofícios.
Lisboa: Editorial Estampa. 2002. ISBN: 972-33-1765-6.

BANDEIRA, Ana Maria Leitão. “Pergaminho e Papel em Portugal. Tradição e Conservação”. Lisboa:
Celpa - Associação da Indústria Papeleira. 1995. ISBN: 9789729067228.

BROWNING, B.L. “Analysis of Paper”. New York: Marcel Dekker, Inc. 1969. ISBN-13: 978-0824764081.

CUNHA, Manuel Barão e Marques, F.M. (coord.). Delfim Maya. Câmara Municipal de Oeiras-Livraria-
Galeria Municipal Verney. Oeiras. 2004. ISBN: 989-608-004-6.

FARIA, Maria Isabel e Pericão, Maria da Graça. “Dicionário do Livro. Da escrita ao livro electrónico”.
Coimbra: Almedina. 2008. ISBN: 978-972-40-3499-7.

HUNTER, Dard. “Papermaking: The History and Technique of an Ancient Craft”. Reprint N.Y.: Dover
Publications. 2011. ISBN-13: 978-0486236193.

IPH - International Association of Paper Historians. “International Standard for the Registration of
Papers with or without Watermarks”. Standard 2.1.1 (2013). Consultado a 29 Janeiro 2017. URL: http://
www.paperhistory.org/Standards/IPHN2.1.1_es.pdf.

LOUREIRO, Leonor, “Primeiras abordagens para caracterização da obra gráfica de Delfim Maya”, in
Fátima Faria Roque (ed.), Delfim Maya. Escultor do Movimento. O Ribatejo na Obra de Delfim Maya,
Câmara Municipal, Vila Franca de Xira, 2017, pp. 25-37.

MAYA, Maria José (coord). “Delfim Maya”. Lisboa: Inapa. 1998. ISBN: 972-8387-26-1.

NICHOLSON, Kitty. “Making Watermarks Meaningful: Significant Details in Recording and Identifying
Watermarks”. The Book and Paper Group Annual, vol. 1. 1982. Consultado a 29 Janeiro 2017. URL:
http://cool.conservation-us.org/coolaic/sg/bpg/annual/v01/bp01-18.html.

PIZARRO, Jerónimo (2010). “Estudo”, Livro do Desasocego. Ed. Jerónimo Pizarro. Edição Crítica de
Fernando Pessoa. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, p. 517-605.

SANTOS, Maria José Ferreira dos. “Marcas de água e história do papel”, Cultura [Online], Vol.
33 | 2014, colocado online no dia 23 Março 2016, consultado a 29 Janeiro 2017. URL: http://cultura.
revues.org/2334 ; DOI: 10.4000/cultura.2334.

TURNER, Silvie. “Which Paper”. London: estamp. 1991. ISBN: 1-871831-04-0.

454
NOTAS DAS FIGURAS

1 Possível origem de produção: a) inglesa, Reino Unido; b) americana, da Graham Paper Company,
fundada por Henry Brown Graham em 1855 em St. Louis, no Missouri, e desde 1996 é Unisource
Worldwide; c) portuguesa, possivelmente por ser uma tipologia de papel, uma encomenda, ou para
exportação. Curiosamente, segundo PIZZARRO, p. 531, esta marca de água serve de suporte de
forma praticamente exclusiva a textos de Fernando Pessoa datados ou datáveis de 1931.

2 Idem.

3 O moinho de papel Guarro Casas foi fundado em 1698 por Ramon Guarro em La Torre de Claramunt
(Catalunha). Actualmente Guarro Casas Fabrica Papel. URL: http://www.guarrocasas.com/

Nota: a escrita é de acordo com a anterior grafia.

455
BIBLIOTECA JOSÉ BAYOLO PACHECO DE AMORIM. UM BREVE OLHAR SOBRE AS
MARCAS-DE-ÁGUA DE DOCUMENTOS IMPRESSOS EM PORTUGAL (SÉC. XVI-XVIII)

Paula Alexandra da Costa Leite Pinto Pereira


Docente do Instituto Politécnico de Tomar - Escola Superior de Tecnologia
ppinto@ipt.pt

RESUMO

Este estudo serve como testemunho revelador de um património que importa tanto salvaguardar como
sobretudo valorizar, e de uma experiência bibliográfica construída no contacto com algumas centenas
de livros, à guarda do Centro de Documentação e Arquivo da Biblioteca do Instituto Politécnico de
Tomar, sendo urgente a sua inventariação, catalogação, restauro e conservação!

Resultando do trabalho de diferentes intervenientes, o livro adquire uma imagem própria, pelo
uso do papel produzido manualmente, estilo da sua composição tipográfica, riqueza ornamental e
encadernação, que serve de clima ao texto, ultrapassando, por vezes o ambiente estético criado pelas
necessidades da obra.

Então, para entender o livro, importa partir do seu estudo atento como objeto de arte, em primeiro
lugar na sua materialidade e nos valores simbólicos que incorpora, na complexidade dos processos de
fabrico, bases onde deve assentar qualquer reflexão sobre a natureza cultural e artística deste objeto
privilegiado da nossa cultura.

PALAVRAS CHAVE
marcas-de-água, preservação de documentos, bibliotecas particulares, estudo do livro.

SUMMARY

This study shows as a revealing testimony of a patrimony that matters as much to preserve as to
valorize, a bibliographic experience builted in contact with some hundreds of books, in guard of Center
of Documentation and Archive from Instituto Politécnico de Tomar Library, being urgent its inventory,
cataloging, recovering and preservation!

As result of different intervinients work, the book acquirers its own image, because of the use of
the manually produced paper, a style of his own typographic composition, ornamental richness and
bookbinding, which serves as a clime to the text, overtaked, sometimes his aesthetic environment
created by the needs of the literary work.

457
So, to understand the book, it matters to start its systematic study as an object of art, in first place its
materiality and the symbolical values that symbolize, the complexity of the fabric process, bases where
it should settle any reflexion about cultural and artistic nature of this privileged object of our culture.

KEYWORDS
watermarks; preservation of documents; private libraries; study of the book.

Introdução

O livro antigo nesta biblioteca, como objeto de arte, tornou-se a base do meu estudo, não só como
património histórico doado ao CDA da Biblioteca Central do Instituto Politécnico de Tomar em 2010,
mas como testemunho revelador de um património que importa tanto salvaguardar como sobretudo
valorizar, porque independentemente de, no período posterior à realização deste meu estudo em
2004, o ainda proprietário da biblioteca, Doutor José Bayolo Pacheco de Amorim, ter decidido vender
alguns exemplares, a verdade é que não existindo qualquer catalogação anterior deste espólio, toda
a documentação analisada foi catalogada por mim para o efeito, não fazendo sentido excluir alguns
documentos, só pelo facto de terem sido retirados do espólio pelo seu legítimo proprietário, enquanto
este ainda se encontravam à guarda da biblioteca do IPT.

A defesa do património bibliográfico será tanto mais fundamentada quanto maior for o esclarecimento
em relação à sua materialidade e tipologia, portanto, existindo já, estudos realizados sobre o livro
impresso em Portugal entre os séculos XV a XVIII, julgo ser positiva esta minha investigação no sentido
de se poder disponibilizar conteúdos mais tecnicistas sobre a produção do livro em Portugal.

Também, a criação de uma base de dados digitalizada, com temáticas específicas, permite uma pesquisa
original: na área da impressão, porque identifica as casas impressoras; na área da encadernação,
porque disponibiliza encadernações técnica e materialmente diferenciadas; na área da gravura, porque
na observação estética e técnica das gravuras executadas por diferentes gravadores e processos de
impressão, se reconhece e valoriza a evolução desta arte, quer no estudo da arquitetura das capitulares
ornadas, quer no levantamento de ex-libris de diferentes possuidores; na área do douramento, onde
nas diferentes lombadas e pastas decoradas estão identificados os diferentes estilos decorativos com
ferros de dourar de várias épocas; na área dos papéis decorativos/marmoreados aplicados nas guardas
e pastas das encadernações, permitindo a identificação de diferentes técnicas de elaboração; na área
do estudo da produção de papel, onde o levantamento de marcas-de-água dos papéis impressos se
torna essencial, no estudo da produção papeleira em Portugal, onde Tomar teve um papel importante
na história, impulsionando, este facto, a instalação do Instituto Politécnico de Tomar na região.

458
Os pontos de interesse passíveis de serem extraídos diretamente deste breve estudo sobre o livro
antigo em Portugal, a disponibilizar brevemente na página do CDA-IPT, traçam a história da formação
da própria biblioteca, assim como levantam um conjunto de questões que dizem respeito:

- Ao modo como os livros foram escolhidos e lidos pelos proprietários, não esquecendo o seu notável
percurso académico;

- Ao modo como a coleção sofreu os efeitos das deslocações dos seus proprietários, ao longo da vida,
traçando uma breve história do ingresso do acervo na biblioteca do IPT;

- Às questões sobre a importância do estudo de coleções particulares, na contribuição para o estudo


da história do livro impresso em Portugal, assim como no estudo da sua edição.

A coleção de livros antigos, que integra a biblioteca José Bayolo Pacheco de Amorim, formou-se
recentemente, mas podemos prever toda uma tradição bibliófila anterior, com uma origem familiar
muito forte, expressando o carinho e dedicação de uma vida, ao serviço da cultura e da arte, de que o
seu proprietário não se cansava de elogiar.

Referência à produção papeleira em Portugal

O livro é mais do que o reflexo da transmissão de cultura, é também o reflexo de uma das maiores
revoluções técnicas da humanidade, ocorridas entre os séculos XV e XVIII. O registo escrito sobre
suporte físico, sempre foi considerado de extrema importância, desta forma, o objeto do meu estudo
“o livro”, teve necessidade de se adaptar aos diferentes leitores, cujo perfil foi sendo definido ao longo
do período em análise. A ligação entre o livro impresso e a liturgia é bastante evidente no início da
sua produção, pois num período em que a igreja domina a transmissão da cultura, o livro torna-se um
instrumento de poder, e também, um bem material, fazendo todo o sentido o seu estudo atento como
objeto, desvendando os seus materiais e processos de impressão.

Aquilo que pretendo demonstrar com este meu trabalho, é que na realidade, para além da mensagem
que cada documento transmite, “o livro” pode sempre ultrapassar o mero discurso e situar-se no campo
dos objetos artísticos. Ao longo da história, este objeto, vai mudando os materiais de suporte de escrita,
que foram durante muito tempo materiais rígidos e de difícil manuseio até à aplicação do pergaminho
e papel, permitindo logo de seguida a sua alteração enquanto forma, com estilos e composições
tipográficas diferenciadas, onde se evidenciam a presença de capitulares ornadas, gravuras e outros
materiais decorativos, que vão enriquecer a mensagem escrita.

Mas a sua imagem enquanto objeto também se alterou, porque a sua produção acompanhou o
desenvolvimento tanto da tipografia como da gravura, e rapidamente se tornou um objeto colecionável

459
assim como objeto de mercado1, prática restrita nos campos da escultura e da pintura, por via das
necessidades criadas pela evolução da própria sociedade, tornando-se mais acessível às diversas
camadas sociais, ao mesmo tempo que cresciam as bibliotecas universitárias2 e a produção de
papel, sem o qual não teriam sido conhecidas grandiosas conquistas, já que o pergaminho, suporte
por excelência da escrita manuscrita, não era adaptável à impressão. O livro impresso é assim, um
produto de mercado, resultado do trabalho de diferentes intervenientes, sujeito a regras específicas de
produção, em que se devem considerar vários fatores dos quais, o papel aparece em primeiro lugar
por ser a base de impressão .

Um breve olhar sobre as marcas-de-água nos livros impressos em Portugal (Séc. XVI-XVIII)

A crescente procura de papel como suporte da impressão tipográfica é um dado histórico conhecido
depois da invenção de Gutenberg em 1454. A invenção dos caracteres em metal fundido3, constitui-
se como uma indústria especializada paralela à tipografia. A produção do livro em relação ao códice
manuscrito, mesmo sendo considerada uma reprodução artificial4 impulsionou a necessidade de
procura de papel como suporte de impressão numa altura em que a produção do livro litúrgico e
mais tarde universitário, levou ao crescimento de bibliotecas humanistas, com um crescente interesse
pelo livro por parte de camadas sociais cada vez mais amplas5. O papel sem o qual não teria sido
viável o aparecimento da impressa e do livro, já que o pergaminho, suporte por excelência da escrita
manuscrita, não era adaptável à impressão, foi introduzido na Europa por mercadores genoveses e
venezianos no século XII, através das relações islâmicas, e a sua indústria espalhou-se na Europa a
partir da cidade italiana de Fabriano.

Sousa Viterbo6 nos seus estudos, referenciou a indústria de papel mais antiga de Portugal: uma carta

1 PANOFSKY Erwin relacionou a arte gótica e a filosofia escolástica (PANOFSKY Erwin, Architecture Gotique et Pensée
scolastique, trad. e posfácio de Pierre Bourdieu. Paris, Ed. de Minuit, 1974). Pela mesma ordem de razões é legítimo
estabelecer uma relação entre a escrita e o livro e a lógica duma determinada época que os construiu. (R. Marichal, L’écriture
et la civilisation occidental du 1.er siècle», in Centre International de Synthèse, «L’ècriture et la psychologie des peuples.» -
XXIIe semaine de Synthèse. Paris, Armind Colin, p. 232 - 233; Horácio Peixeiro, A construção da página do livro manuscrito,
Prova pedagógica para Prof. Coord., IPT. 1999).

2 No século XVIII Portugal entra neste circuito de desenvolvimento da leitura com a criação de importantes bibliotecas no
convento de Mafra e na Universidade de Coimbra: a primeira, monástica, chegou a ter perto de 38.000 volumes, que ainda
guarda actualmente e que são, na sua maior parte, edições dos séculos XVII e XVIII; a segunda, Universitária, fruto de
colecções várias e de importante doação régia, foi alojada em novo edifício, construído entre 1717-1728, notável também pela
beleza barroca da sua estanteria, construída em madeiras exóticas brasileiras. A Real Biblioteca Pública, depois Biblioteca
Nacional, foi criada no final do século, reinado de D. Maria I (1796).

3 Ver: AUDIN, Maurice, Histoire de l’Imprimerie - Radioscopie d’une ere: de Gutenberg à l’informatique. Paris,
J. Picard, 1972, pp. 83-94.

4 Os incunábulos oferecem grande interesse pelos textos que contêm representando as primeiras edições impressas de
manuscritos. Permitindo a comparação entre formas e tamanhos dos diferentes caracteres.

5 MARTIN, Henri-Jean, Histoire et pouvoire de lécrit, Paris, Perrin, 1988.

6 VITERBO, Sousa, Artes e indústrias em Portugal: O vidro e o papel, Coimbra, 1903.

460
de D. Afonso V, de 27 de Fevereiro de 1441, concedendo privilégios a Fernão Rodrigues para poder
fazer o transporte de carro, da traparia destinada a certos moinhos de papel7 situados em Leiria. É
ainda este autor que, referencia nos seus estudos a existência de moinhos de papel em Fervença,
Batalha e Alcobaça.

Com a chegada do século XVIII, intensifica-se a produção de papel em Portugal, este período está
bem representado no levantamento de marcas-de-água desta biblioteca.

“O primeiro local com características industriais foi, certamente, a Lousã… abasteceu em Coimbra a
Imprensa do Colégio de Jesus e depois a Imprensa da Universidade, após a sua criação pela reforma
Pombalina de 1772. O Regimento da Imprensa da Universidade de Coimbra de 9 de Janeiro de 1790
determina a existência de uma fábrica de papel por sua conta; mas, nesse ano, são ainda adquiridas
aos irmãos Polleri, negociantes estabelecidos em Lisboa, algumas balas de papel de marca maior
e de marca grande vindo de Génova8. A fábrica de papel de Queluz, fundada pela firma Henrique
Schumacher & C.ª em 1775, com Alvará de 27 de Julho desse ano, ficava localizada na estrada para
Sintra, passando em 1814 para as mãos de Pedro Luís de Oliveira, produzindo exclusivamente para o
consumo de Lisboa. Em Moreira de Cónegos, Guimarães, vamos encontrar uma fábrica com o nome
de Fábrica de Papel de São Payo, fundada em 1787, por António Álvares Ribeiro de Lima & C.ª, do
Porto. Próximo existiu, também, a Fábrica de Papel do Couto de Refóios, que em 1813 se encontrava
na mão de Manuel José de Sousa Lobo. Nos finais de 1790, é fundada a Fábrica de Papel de Alenquer9
por José António da Silveira, no mesmo local do antigo moinho quinhentista de Manuel Teixeira, já
referido, no início da atividade papeleira no nosso país”.10

Pude concluir que, havendo efetivamente alguma atividade papeleira em Portugal, não era de todo
suficiente para satisfazer as necessidades da produção tipográfica da época, importando-se grandes
quantidades de papel, nomeadamente de países da Europa, maioritariamente de Espanha, Itália,
Génova e França, cujo testemunho são as marcas encontradas nos documentos da biblioteca.

7 Muitos destes moinhos resultavam, como se compreende e como acontecia noutras regiões europeias, do aproveitamento
de engenhos já existentes para o fabrico tradicional de farinha.

8 ALMEIDA, Manuel Lopes de, Livros, livreiros, impressores em documentos da Universidade, Coimbra, Arquivo de Bibliografia
Portuguesa, 1964-1966.

9 Outras fábricas importantes surgiram no século XIX, que caem, portanto, fora do âmbito temporal do nosso trabalho, tais
como em 1818 a Fábrica Renova de Torres Novas, nas margens do rio Almonda, no lugar de Zibreira, fundada por Domingos
Ardisson; a Fábrica de Papel do Prado, em Tomar, junto ao rio Nabão, fundada por Henrique de Roure Pietra em 1836 e
vendida em 1875 a um grupo de capitalistas do Porto; em 1881 a Fábrica da Marianaia, fundada pelo Visconde de Vila Nova
da Rainha e a Fábrica do Sobreirinho, do concelho de Tomar, aproveitavam as águas do rio Nabão; a Fábrica de São Paio de
Merelim em Braga, mais conhecida por Fábrica de Papel de Ruães, junto ao rio Cávado, fundada em 1870, pelo portuense
Bento Luís Ferreira Carmo, Visconde de Ruães, para o funcionamento da qual chamou técnicos ingleses. Ver: BANDEIRA,
Ana Maria Leitão, Pergaminho e Papel em Portugal - Tradição e conservação. Lisboa, CELPA1995, p. 52 e segs.

10 Ver: PEREIRA, Paula Alexandra, Tese de Mestrado “O Livro Antigo – Aspectos Materiais e Artísticos. Contribuição para
o Estudo do Fundo Português da Biblioteca do Professor Doutor José Bayolo Pacheco de Amorim”, pág. 186, Luis Morais
Teixeira (orientador) e Horácio Augusto Peixeiro (coorientador), Mediateca Universidade Lusíada, Lisboa (2004).

461
Marcas-de-água: Filigranas como expressão artística.

O papel utilizado nesta coleção é fabricado manualmente segundo processo conhecido. A pasta de
trapo nem sempre apresenta a mesma pureza de matéria celulósica, razão pela qual são visíveis
manchas resultantes de materiais estranhos como sujidades, elementos ferrosos e de envelhecimento
devido à acidez de pastas pouco refinadas. O estudo e levantamento da marcas-de-água, do ponto
de vista formal e iconográfico, é um meio auxiliar para determinar a origem do papel, podendo
contribuir, também, para localizar no espaço e no tempo o livro ou documento que o utilize como
suporte.

Em Portugal não existe um estudo sistemático relativo às marcas-de-água utilizadas em papéis com
documentação manuscrita ou impressa em tipografias portuguesas. Contudo são relevantes as recolhas
efetuadas por Ataíde e Melo11 e João Amaral, publicadas em diversos números da revista Beira Alta,
a partir de 1949. As figuras mais frequentes aí registadas são: a mão enluvada e suas variantes (com
estrela, com flor), as coroas, o licórnio, a flor-de-lis, o escudo, o cacho de uvas, as circunferências
tangentes, o veado, o cavalo e outros animais, mas sem identificar na totalidade a proveniência do
fabrico de papel com estas marcas.

Ao estudar a indústria portuguesa do papel, Sousa Viterbo12 identificou aquela que julgava ser a mais
antiga referência à produção de papel em Portugal: uma carta de D. Afonso V, de 27 de Fevereiro
de 1441, concedendo privilégios a Fernão Rodrigues para poder fazer o transporte de carro, da
traparia destinada a certos moinhos de papel situados em Leiria. Quanto à inovação que constitui
este fabrico, o nosso país acompanhava, embora com algum atraso, o passo de outras regiões
europeias, considerando que a Itália, por exemplo, já produzia o papel desde 1276 e a Alemanha,
desde 1390.

No período de tempo que decorre até ao século XVIII, e que se pode considerar como o primeiro
período da produção papeleira portuguesa, as informações são escassas sendo a notícia mais próxima
datada de 1514, e também identificada por Sousa Viterbo no contexto do Tombo de Bens do Convento
da Batalha, fl. 58, onde se diz, referindo-se ao ano acima citado: “...no olival do moinho de papel que
traz Pero Álvares...” ou “...no chão dos moinhos de papel...”. O mesmo investigador localizou também
os moinhos de Fervença, em Alcobaça, que são emprazados, em 1 de Outubro de 1587, por Manuel
de Góis, irmão do cronista Damião de Góis, ao Mosteiro, que arrecadava como foro anual duas resmas
de bom papel. É este mesmo Manuel de Góis - que não terá deixado de aproveitar os conhecimentos
acerca dos modos de produção do papel que o seu irmão humanista adquiriu aquando da sua estadia
em Flandres - que se vê contemplado, em 10 de Outubro de 1537, com o privilégio real para produzir

11 Publicado nos Anais das Bibliotecas e Arquivos em 1924-1925 e em separata, como publicação da Biblioteca Nacional, em
1926.

12 VITERBO, Sousa, Artes e indústrias em Portugal: O vidro e o papel. Coimbra, 1903.

462
papel, consideradas as grandes despesas a seu cargo, quer na manutenção do engenho quer no
recrutamento, em terras estrangeiras, dos operários necessários ao seu empreendimento. Mas não
ficam por aqui as referências feitas por Sousa Viterbo a engenhos de produção de papel.

Também Dom Sebastião autorizou Manuel Teixeira, em 22 de maio de 1565, a estabelecer em Alenquer
uns moinhos de papel13. Relativamente a registos de fabrico de papel em Portugal no século XVII
algumas notícias são testemunho disso: “Em Carta Régia de 22 de Janeiro de 1623, fala-se de uma
consulta do Desembargo do Paço sobre um certo Hieronime Agostini de la Torre que pretendia criar
um centro de produção de papel em Lisboa e o rei, em tom protecionista, adverte “que procureis que
neste reino se lavre papel por se escusar o proveito que com isto tem o estrangeiro”;

Seguindo o historiador Manuel Severim de Faria, também D. João IV quisera em 1650 fomentar
a criação da fabricação de papel em Vila Viçosa e só não o terá feito devido aos problemas das
campanhas da Restauração. Em Tomar, ao industrial Pedro Dufour é dado o Alvará de privilégio em
8 de Julho de 1663, para poder montar uns engenhos para obrar folhas de esparto, arame cortante e
uma oficina de papel.

Um segundo testemunho, mais rico relativamente à produção de papel, abre-se com a chegada do
século XVIII, bem representado na nossa coleção de papéis e marcas-de-água dessa época. O primeiro
local com características industriais foi, certamente, a Lousã. Tem-se afirmado que o corregedor de
Coimbra, João Neto Arnaut, fundou ali uma fábrica em 1716. É em resultado da instalação deste centro
produtor e em reconhecimento da qualidade do material fabricado que D. João V fez mercê de uma
tença anual de trinta e oito mil reis a seu filho José Luis Arnaut, por Alvará de 27 de Dezembro de 1716.
A fábrica da Lousã abasteceu em Coimbra a Imprensa do Colégio de Jesus e depois a Imprensa da
Universidade, após a sua criação pela reforma Pombalina de 1772.

O Regimento da Imprensa da Universidade de Coimbra de 9 de Janeiro de 1790 determina a existência


de uma fábrica de papel por sua conta; mas, nesse ano, são ainda adquiridas aos irmãos Polleri,
negociantes estabelecidos em Lisboa, algumas balas de papel de marca maior e de marca grande
vindo de Génova14.

A fábrica de papel de Queluz, fundada pela firma Henrique Schumacher & C.ª em 1775, com Alvará
de 27 de Julho desse ano, ficava localizada na estrada para Sintra, passando em 1814 para as mãos
de Pedro Luís de Oliveira, produzindo exclusivamente para o consumo de Lisboa. Em Moreira de
Cónegos, Guimarães, vamos encontrar uma fábrica com o nome de Fábrica de Papel de São Payo,

13 Muitos destes moinhos resultavam, como se compreende e como acontecia noutras regiões europeias, do aproveitamento
de engenhos já existentes para o fabrico tradicional de farinha.

14 ALMEIDA, Manuel Lopes de, Livros, livreiros, impressores em documentos da Universidade, Coimbra, Arquivo de
Bibliografia Portuguesa, 1964-1966.

463
fundada em 1787, por António Álvares Ribeiro de Lima & C.ª, do Porto. Próximo existiu, também, a
Fábrica de Papel do Couto de Refóios, que em 1813 se encontrava na mão de Manuel José de Sousa
Lobo. Nos finais de 1790, é fundada a Fábrica de Papel de Alenquer15 por José António da Silveira,
no mesmo local do antigo moinho quinhentista de Manuel Teixeira, já referido, no início da atividade
papeleira no nosso país.

Apesar desta significativa produção da indústria papeleira, em Portugal, parece que não seria em
quantidades suficientes a ponto de satisfazer as necessidades da imprensa portuguesa nos séculos
XVI, XVII e XVIII, importando-se grandes quantidades de outros países da Europa, como Espanha,
Itália, em especial Génova, e França, cujo testemunho são as marcas encontradas nos documentos
da biblioteca.

O ensaio, que apenas iniciei, do estudo das marcas-de-água existentes nesta biblioteca, não pôde
ir mais além do que a recolha em catálogo juntamente com algumas identificações de motivos. As
conclusões relativamente às origens do papel, importado ou nacional, exigiam um estudo mais atento e
alargado. Foi possível, duma forma rápida, estabelecer algumas comparações16, chegando a concluir,
relativamente a algumas, sobre a época, a identidade de simbologias e, daí, a proveniência dos papéis
e, no que toca à encadernação, por via dos papéis utilizados, verificar se se tratava da original ou duma
reencadernação posterior e ainda, apontar para a hipótese do fabricante, a identificação do formato e
da qualidade do papel, etc.

Vejamos algum dos tipos de marcas-de-água encontradas na coleção estudada:

Balança - Esta filigrana era habitualmente utilizada em Fabriano (entre 1375 a 1560); no entanto, as
variantes que aparecem em Génova (34 anos após o aparecimento em Fabriano) apresentam grandes
semelhanças com a marca mais antiga de 1375. Entre 1349 e 1366 apareceu em Dauphiné e entre
1389 e 1392 em Lyon.

15 Outras fábricas importantes surgiram no século XIX, que caem, portanto, fora do âmbito temporal do nosso trabalho, tais
como em 1818 a Fábrica Renova de Torres Novas, nas margens do rio Almonda, no lugar de Zibreira, fundada por Domingos
Ardisson; a Fábrica de Papel do Prado, em Tomar, junto ao rio Nabão, fundada por Henrique de Roure Pietra em 1836 e
vendida em 1875 a um grupo de capitalistas do Porto; em 1881 a Fábrica da Marianaia, fundada pelo Visconde de Vila Nova
da Rainha e a Fábrica do Sobreirinho, do concelho de Tomar, aproveitavam as águas do rio Nabão; a Fábrica de São Paio de
Merelim em Braga, mais conhecida por Fábrica de Papel de Ruães, junto ao rio Cávado, fundada em 1870, pelo portuense
Bento Luís Ferreira Carmo, Visconde de Ruães, para o funcionamento da qual chamou técnicos ingleses. Ver: BANDEIRA,
Ana Maria Leitão, Pergaminho e Papel em Portugal - Tradição e conservação. Lisboa, CELPA1995, p. 52 e segs.

16 Ver: BRIQUET, Charles Moise, Monumenta Chartae Papyraceae Historiam illustrantia - Briquet’s Opuscula - I, II, III, IV, V,
VI, VII e VIII.;
GAUDRIAULT, Raymond, Filigranes et autres caractéristiques des papiers fabriqués en France aux XVII et XVIII siècles.Paris,
Éditions du CNRS, 1995; DOIZY, Marie-Ange e FULACHER, Pascal, Papiers et moulins – des origines à nos jours. Paris,
Éditions Art & Métiers du Livre, 1997.

464
Boi - A representação do boi foi utilizada como filigrana na primeira metade do século XIV. Aparece
na Suíça em 1333, em Fabriano em 1341, no Delfinado e Lyon em 1347 e na Provença em 1354. A
partir de 1430 até ao final do século XV, esta marca aparece com grande frequência e com algumas
variantes, no Piemonte, na Savoia, no Delfinado, em Lyon e na Suissa. Juntamente com o boi poderá
aparecer, também, uma figura humana representando as armas da respetiva cidade.

Fig. 1 Fig. 2
Doc.: Joaquim José Moreira de Mendonça, Doc.: Portugal, Regimento do Terreiro da cidade
História Universal dos Terramotos - Lisboa, de Lisboa - Lisboa, Régia Oficina Tipográfica,
Oficina de António Vicente da Silva, 1758. 1779.
PA 16001 PA 04406
Cota: R IPT 1001800 Cota: J77 IPT 1001744
Descrição: Boi Descrição: Cavalo

465
Cavalo - Filigrana utilizada em Fabriano em 1347, Delfinado em 1349, em Lyon em 1366, na Suíça
(Neuchâtel) em 1375.

Fig. 3
Fig. 4
Doc.: Joaquim José Moreira de Mendonça, História
Doc.: Portugal, Regimento do Terreiro da cidade de
Universal dos Terramotos - Lisboa, Oficina de
Lisboa - Lisboa, Régia Oficina Tipográfica, 1779.
António Vicente da Silva, 1758.
PA 04406
PA 16001
Cota: J77 IPT 1001744
Cota: R IPT 1001800
Descrição: Cavalo
Descrição: Cavalo

Crescente por cima de duas luas - Aparecem algumas variantes entre 1626 e 1643. É normalmente
designada sobre o nome “Tre Mondi” em Génova, “Trois lunes” em Veneza e “Trois O” em France e
Piemonte.

Fig. 5 Fig. 6
Doc.: Igreja Católica, Constituições synodaes do Doc.: Igreja Católica, Constituições synodaes do
arcebispado de Braga: ordenadas no ano de 1639 arcebispado de Braga: ordenadas no ano de 1639
- Lisboa, Oficina de Miguel Deslandes, 1697. - Lisboa, Oficina de Miguel Deslandes, 1697.
PA 00921 PA 00921
Cota:1001693 P 132 Cota:1001693 P 132
Descrição: Três circunferências tangentes, Descrição: Três circunferências tangentes,
perpendicularmente dispostas, sob uma cruz, perpendicularmente dispostas, sob uma cruz,
tendo a primeira circunferência um arco, a tendo a primeira circunferência um arco, a
segunda as iniciais EB, e a terceira com as iniciais segunda as iniciais CO, e a terceira a inicial I.
SB.

466
Fig. 8
Fig. 7
Doc.: Igreja Católica, Leis, decretos synodaes …
Doc.: Igreja Católica, Leis, decretos synodaes …
- Lisboa Ocidental, Oficina da Musica, 1722.
- Lisboa Ocidental, Oficina da Musica, 1722.
PA 07136
PA 07136
Cota: P 132 IPT 1001737
Cota: P 132 IPT 1001737
Descrição: Três circunferências tangentes,
Descrição: Três circunferências tangentes,
perpendicularmente dispostas, sob uma cruz,
perpendicularmente dispostas, sob uma cruz,
tendo a primeira circunferência um arco, a
tendo a primeira circunferência um arco, a
segunda as iniciais SR/DP, e a terceira a inicial
segunda as iniciais DA/P, e na terceira um
M.
coração sob o 2.

467
Fig. 9
Fig. 10
Doc.: Direito, João Pinto Ribeiro - Coimbra,
Doc.: Igreja Católica, Hagiologia - Lisboa
Oficina de Joseph Antunes da Sylva, 1729.
Ocidental, Oficina Craesbeekiana, 1652.
PA 00977
PA 05509
Cota: R IPT 1001755
Cota: P 132 IPT 1001714
Descrição: Três circunferências tangentes,
Descrição: Três circunferências tangentes
perpendicularmente dispostas, sob uma cruz,
dispostas verticalmente sob uma coroa, tendo
tendo a primeira circunferência um arco, a
a primeira uma cruz no campo, a segunda as
segunda as iniciais SBP, e na terceira um
iniciais MB e a terceira um 8.
coração.

Armas de Génova - Filigrana muito utilizada na Provença entre 1629 e 1675. Encontra--se,
frequentemente, com algumas variantes nas cartas da chancelaria espanhola em Madrid, Bruxelles e
Molines entre 1670 e 1680, assim como variantes com as iniciais dos fabricantes.

Fig. 12
Fig. 11
Doc.: História de Portugal, Chronica dos Reys de
Doc.: Igreja Católica, Ordem de Cristo - Lisboa,
Portugal - Lisboa, Oficina de Francisco Villela,
Oficina de Pedro Craesbeeck, 1628.
1677.
PA 00332
PA 01307
Cota: P 136 IPT 1001747
Cota: J 77 IPT 1001743
Descrição: Elipse, tendo no campo uma cruz
Descrição: Elipse, tendo no campo uma cruz
alta sob coroa. Dois leões suportam a elipse
alta sob coroa. Dois leões suportam a elipse
que tem na parte inferior duas circunferências
que tem na parte inferior duas circunferências
tangentes, dispostas verticalmente. Na primeira
tangentes, dispostas verticalmente. Na primeira
a representação das iniciais Id, e na segunda a
a representação das iniciais NA, e na segunda a
inicial I.
inicial M.

468
Fig. 13 Fig. 14
Doc.: História de Portugal, Chronica dos Reys de Doc.: História de Portugal, Chronica dos Reys de
Portugal - Lisboa, Oficina de Francisco Villela, Portugal - Lisboa, Oficina de Francisco Villela,
1677. 1677.
PA 01307 PA 01307
Cota: J 77 IPT 1001743 Cota: J 77 IPT 1001743
Descrição: Elipse, tendo no campo uma cruz Descrição: Elipse, tendo no campo uma cruz
alta sob coroa. Dois leões suportam a elipse alta sob coroa. Dois leões suportam a elipse
que tem na parte inferior duas circunferências que tem na parte inferior duas circunferências
tangentes, dispostas verticalmente. Na primeira tangentes, dispostas verticalmente. Na primeira
a representação das iniciais CB, e na segunda o a representação das iniciais CAM, e na segunda
4. a inicial S.

469
Fig. 15 Fig. 16
Doc.: História / Roma Antiga, Emanuel Ludovico Doc.: História / Roma Antiga, Emanuel Ludovico
- Eborae, Typographia Academiae, 1680. - Eborae, Typographia Academiae, 1680.
PA 01308 PA 01308
Cota: M 105 IPT 1001723 Cota: M 105 IPT 1001723
Descrição: Elipse, tendo no campo uma cruz Descrição: Elipse, tendo no campo uma cruz
alta sob coroa. Dois leões suportam a elipse alta sob coroa. Dois leões suportam a elipse
que tem na parte inferior duas circunferências que tem na parte inferior duas circunferências
tangentes, dispostas verticalmente. Na primeira tangentes, dispostas verticalmente. Na primeira
a representação de um símbolo, e na segunda a a representação das iniciais GGP, e a segunda
inicial S. com campo vazio.

Fig. 17 Fig. 18
Doc.: História / Roma Antiga, Emanuel Ludovico Doc.: Igreja Católica, Manuel Fernandes, Alma
- Eborae, Typographia Academiae, 1680. instruída na doutrina e vida cristã - Lisboa, 1688.
PA 01308 PA 07664
Cota: M 105 IPT 1001723 Cota:P 136 IPT 1001777
Descrição: Elipse, tendo no campo uma cruz Descrição: Elipse, tendo no campo uma cruz
alta sob coroa. Dois leões suportam a elipse alta sob coroa. Dois leões suportam a elipse
que tem na parte inferior duas circunferências que tem na parte inferior duas circunferências
tangentes, dispostas verticalmente. Na primeira tangentes, dispostas verticalmente. Na primeira
a representação das iniciais CD, e na segunda a a representação das iniciais PGC, e na segunda
inicial P. o 4.

470
Fig. 19
Doc.: Igreja Católica, Manuel Fernandes, Alma instruída na doutrina e vida cristã - Lisboa, 1688.
PA 07664
Cota:P 136 IPT 1001777
Descrição: Elipse, tendo no campo uma cruz alta sob coroa. Dois leões suportam a elipse que
tem na parte inferior duas circunferências tangentes, dispostas verticalmente. Na primeira a
representação das iniciais SM, e a segunda com campo vazio.

Flor de Lis - Aparece em Fabriano desde 1314 a 1363, no Delfinado entre 1344 a 1370, na Provença
entre 1348 a 1358, em França, em geral, em 1364. Nos finais do século XIV é bastante utilizada com
dimensões variáveis.

Fig. 20 Fig. 21
Doc.: Matemática, Manuel de Azevedo Fortes, Doc.: Matemática, Manuel de Azevedo Fortes,
Logica racional, geometria e analitica - Lisboa, Logica racional, geometria e analitica - Lisboa,
Oficina de António José Plates, 1744. Oficina de António José Plates, 1744.
PA 07140 PA 07140
Cota:K 110 IPT 1001807 Cota:K 110 IPT 1001807
Descrição: Flor de Lis, sob coroa de marquês. Descrição: Flor de Lis, tendo na parte inferior o
monograma FGP.

471
Fig. 22 Fig. 23
Doc.: Matemática, Manuel de Azevedo Fortes, Doc.: Matemática, Manuel de Azevedo Fortes,
Logica racional, geometria e analitica - Lisboa, Logica racional, geometria e analitica - Lisboa,
Oficina de António José Plates, 1744. Oficina de António José Plates, 1744.
PA 07140 PA 07140
Cota:K 110 IPT 1001807 Cota:K 110 IPT 1001807
Descrição: Flor de Lis, tendo na parte inferior o Descrição: Flor de Lis, sob coroa de marquês.
monograma GG/G.

Mão - Pode ser representada com dedos, falanges dos dedos, etc, normalmente abertos ou cerrados
uns contra os outros. A mão foi utilizada como filigrana desde os séculos XIV ao XVIII. Entre 1322 e
1456 é representada com algumas variantes em Fabriano, St. Gall em 1411, Sion entre 1448 e 1449,
Lyon em 1470, Turim entre 1481 e 1485, e Barcelona entre 1534 e 1540.

Fig. 24
Doc.: Ordens Militares / Cavalaria, Jorge Royzano, Ordem Militar de São Bento de Avis- Lisboa, 1631
PA 07633
Cota:1001691 J
Descrição: Mão enluvada sob coroa.

472
Sol - Esta filigrana foi utilizada entre 1589 e 1593.

Fig. 25
Doc.: Igreja Católica, Ordem de Cristo - Lisboa, Oficina de Pedro Craesbeeck, 1628.
PA 00332
Cota: P 136 IPT 1001747
Descrição: Sol.

Coroa - A coroa, na sua forma mais primitiva, aparece, com frequência, nas filigranas de “Trois Monts”
no primeiro quartel do século XIV, na Provença e no Delfinado, em Genebra de 1320 a 1350, em
Fabriano em 1358, em Francforte em 1392, em Zuriche em 1427 e em Sion em 1434.

Fig. 26
Doc.: Igreja Católica, Leis, decretos synodaes … - Lisboa Ocidental, Oficina da Musica, 1722.
PA 07136
Cota: P 132 IPT 1001737
Descrição: Iniciais WB sob coroa

473
Elipse encimada por trifólio - Encontra-se frequentemente com algumas variantes (iniciais de
fabricantes), em Bayone (1598-99), Paris (1600), Bordeaux (1604).

Fig. 27 Fig. 28
Doc.: Igreja Católica, Ordem de Cristo - Lisboa, Doc.: Igreja Católica, Ordem de Cristo - Lisboa,
Oficina de Pedro Craesbeeck, 1628. Oficina de Pedro Craesbeeck, 1628.
PA 00332 PA 00332
Cota: P 136 IPT 1001747 Cota: P 136 IPT 1001747
Descrição: Elipse, tendo no campo as iniciais Descrição: Elipse, com campo vazio, encimada
BC, encimada por um trifólio, e na parte inferior por um trifólio, e na parte inferior as iniciais PV.
um coração invertido.

Fig. 29
Doc.: Ordens Militares / Cavalaria, Jorge Royzano, Ordem Militar de São Bento de Avis- Lisboa,
1631.
PA 07633
Cota:1001691 J
Descrição: Elipse, tendo no campo iniciais, encimada por um trifólio, e na parte inferior um coração invertido.

474
Outras representações encontradas nos documentos estudados na biblioteca, embora incompletas,
revelam informações artísticas relevantes sobre o ponto de vista técnico e científico, associadas a
representações heráldicas tão comumente representadas no decorrer da nossa história. A divulgação
de emblemas destinados a diferenciar determinadas pessoas, é muito comum no estudo destes
registos como: escudos (Fig.30), (Fig.31), brasões (Fig.32), (Fig.33), (Fig.34), frutos, animais (Fig.35),
monogramas e nomes de fábricas (Fig.36), (Fig.37), (Fig.38), (Fig.39), (Fig.40), (Fig.41), (Fig.42),
(Fig.43), (Fig.45), que mesmo com desenhos simples e lineares, frequentemente deformados pelo uso
continuado na manufatura das folhas de papel, são expressões artísticas que refletem as tendências da
história da arte, que predominavam nas épocas em que foram elaboradas sendo elementos essenciais
no estudos da produção de papel.

Fig. 30
Fig. 31
Doc.: Direito, João Pinto Ribeiro - Coimbra, Oficina
Doc.: Matemática, Manuel de Azevedo Fortes,
de Joseph Antunes da Sylva, 1729.
Logica racional, geometria e analitica - Lisboa,
PA 00977
Oficina de António José Plates, 1744.
Cota: R IPT 1001755
PA 07140
Descrição: Escudo decorado com palmas e
Cota:K 110 IPT 1001807
com uma faixa onde se pode ler a palavra
Descrição: Escudo decorado com motivos
LIBERTAS,sob coroa e na parte inferior as iniciais
vegetalistas, sob coroa encimada por uma cruz.
DC.

475
Fig. 32 Fig. 33
Doc.: Matemática, Manuel de Azevedo Fortes, Doc.: História de Portugal, Manuel de Faria e
Logica racional, geometria e analitica - Lisboa, Sousa, Asia Portuguesa - Lisboa, Oficina de
Oficina de António José Plates, 1744. Bernardo da Costa Carvalho, 1703.
PA 07140 PA 00982
Cota:K 110 IPT 1001807 Cota: L IPT 1001788
Descrição: representação figurativa com torre ao
centro e monograma GF/B.

Fig. 35
Fig. 34 Doc.: Igreja Católica, Constituições synodaes do
Doc.: Portugal, Regimento do Terreiro da cidade de arcebispado de Braga: ordenadas no ano de 1639
Lisboa - Lisboa, Régia Oficina Tipográfica, 1779. - Lisboa, Oficina de Miguel Deslandes, 1697.
PA 04406 PA 00921
Cota: J77 IPT 1001744 Cota:1001693 P 132

Descrição: Galinha.

476
Fig. 37
Fig. 36
Doc.: Ordens Militares / Cavalaria, Jorge Royzano,
Doc.: Ordens Militares / Cavalaria, Jorge Royzano,
Ordem Militar de São Bento de Avis- Lisboa, 1631.
Ordem Militar de São Bento de Avis- Lisboa, 1631.
PA 07633
PA 07633
Cota:1001691 J
Cota:1001691 J
Descrição: Marca representativa de nome de
Descrição: Marca representativa de nome de
fábrica ou fabricante de papel. Esta filigrana
fábrica ou fabricante de papel. Encontra-se com
apresenta-se insuficiente para a determinação da
algumas variantes em Bolonha em 1954.
sua verdadeira origem.

Fig. 38 Fig. 39
Doc.: Matemática, Manuel de Azevedo Fortes, Doc.: Matemática, Manuel de Azevedo Fortes,
Logica racional, geometria e analítica - Lisboa, Logica racional, geometria e analítica - Lisboa,
Oficina de António José Plates, 1744. Oficina de António José Plates, 1744.
PA 07140 PA 07140
Cota:K 110 IPT 1001807 Cota:K 110 IPT 1001807

Descrição: Monograma das iniciais CGM. Descrição: Monograma das iniciais BC.

477
Fig. 41
Doc.: Igreja Católica / Opúsculo, Papa Benedito
Fig. 40
XIV- Coimbra, 1759.
Doc.: Joaquim José Moreira de Mendonça, História
PA 15609
Universal dos Terramotos - Lisboa, Oficina de
Cota: O 128 IPT 1001772
António Vicente da Silva, 1758.
Descrição: parte de filigrana constituída por um
PA 16001
escudo decorado com palmas e com uma faixa
Cota: R IPT 1001800
onde se pode ler a palavra LIBERTAS, sob coroa e
Descrição: Monograma das iniciais DCB
na parte inferior a legenda VORNO com as iniciais
GP.

Fig. 43
Doc.: Igreja católica/ Hagiologia, Dom Tomás
Fig. 42
Caetano, Vida de santo André Avellino - Lisboa,
Doc.: História eclesiástica Lusitânia, Thoma
Oficina de Miguel Manescal da Costa, 1767.
Abincarnatione - Coimbra, 1763.
PA 10932
Cota: P 135 IPT 1001699
Cota: O 127 IPT 1001751
Descrição: Monograma das iniciais SP.
Descrição: Esta filigrana poderá representar um
monograma das iniciais CC representadas de
forma oposta, ou um monograma da inicial X.

478
Fig. 44 Fig. 45
Doc.: Igreja católica/ Hagiologia, Dom Tomás Doc.: História de Portugal / Viagens, Guilherme
Caetano, Vida de santo André Avellino - Lisboa, Lempriere, Viagens de Gibraltar a Tangere, … -
Oficina de Miguel Manescal da Costa, 1767. Lisboa, Oficina de Simão Thadeo Ferreira, 1794.
PA 10932 PA 04008
Cota: O 127 IPT 1001751 Cota:J 76 IPT 1001813
Descrição: Monograma das iniciais ABC Descrição: Monograma das iniciais AP.

No entanto, as marcas-de-água encontradas no fundo em análise revelam-nos que, uma boa parte
das edições pertencentes à Biblioteca do Professor Doutor Pacheco de Amorim, foram impressas em
papéis importados. De notar, ainda, que as marcas-de-água nacionais, apresentam alguma figuração
(como o escudo das armas reais ladeados de porta estandarte, coroas, e ramagens), (Fig.46) (Fig.47)
(Fig.48) sem qualquer indicação de iniciais de fabricantes ou zona de fabrico, exceto no caso da
Fábrica da Lousã, (Fig.49).

Fig. 46 Fig. 47
Doc.: Igreja católica/ Canonização, Relação das Doc.: Matemática, Manuel de Azevedo Fortes,
magníficas festas de S. Camilo de Lellis - Lisboa, Logica racional, geometria e analítica - Lisboa,
Oficina de Francisco da Silva, 1747. Oficina de António José Plates, 1744.
PA 15405 PA 07140
Cota:1001670 O 127 Cota:K 110 IPT 1001807
Descrição: Escudo de armas portuguesas, Descrição: Escudo de armas portuguesas,
encimado com uma cruz decorado lateralmente encimado com uma cruz e decorado
com porta-estandarte e as iniciais CBR. lateralmente com porta-estandarte.

479
Fig. 48
Fig. 49
Doc.: Matemática, Manuel de Azevedo Fortes,
Doc.: Matemática, Manuel de Azevedo Fortes,
Logica racional, geometria e analítica - Lisboa,
Logica racional, geometria e analítica - Lisboa,
Oficina de António José Plates, 1744.
Oficina de António José Plates, 1744.
PA 07140
PA 07140
Cota: K 110 IPT 1001807
Cota:K 110 IPT 1001807
Descrição: Escudo de armas portuguesas,
Descrição: Filigrana representativa da fábrica de
encimado com uma cruz e decorado
papel da Lousã.
lateralmente com porta-estandarte.

Conclusão

Uma biblioteca é um manancial não só de informação mas de contínuas surpresas e descobertas. Na


verdade, se a proposta inicial deste trabalho não ia além de um levantamento que servisse de bom
ponto de partida para futuros estudos sobre o livro antigo em Portugal, o certo é que a Biblioteca do
Professor Doutor Pacheco de Amorim se revelou particularmente rica de tal forma que foi necessário
estabelecer limites para a minha abordagem.

O papel está sempre em primeiro lugar como base de impressão, mas percorre todo o processo produtivo
do livro impresso. Por isso, encontra-se frequentemente, quer nas guardas, quer recobrindo os planos
das encadernações. A originalidade desta presença final vem-lhe do facto de não ser, sobretudo, suporte
de texto mas elemento decorativo que introduz colorido nesta arte em que prevalece o branco e o negro.
Mas o papel, suporte do livro, transporta consigo, informação relevante, como se viu. Na malha mais
ou menos densa de vergaturas e pontusais dissimulam-se as marcas-de-água, dados importantes no
estudo das edições e elementos essenciais na identificação de fabricantes portugueses17 mas também
como um dado iconográfico, despido, embora, da qualidade artística do desenho ou da gravura.

17 MELO Ataíde e, “Materiais para a identificação de documentos manuscritos e impressos em papel até final do século XIX
em Portugal”, Anais das Bibliotecas e Arquivos. Lisboa, Oficinas Gráficas da Biblioteca Nacional, Vol. V, n.ºs 19 e 20, Julho-
Dezembro, 1924. O autor apresenta uma marca de água (p. 168) representando o escudo com as armas reais portuguesas
com uma legenda em italiano (1762), [CARTA PER LA REAL CORTE DI PORTOCAL] levantando a hipótese de papel fabricado
em Itália por encomenda directa da coroa portuguesa. A presença de elementos iconográficos específicos há-de ser vista
com alguma cautela e confrontada, por exemplo, com o nome da fábrica papeleira ou as iniciais do produtor, ou como é o
caso apresentado por Ataíde e Melo, com legenda em língua vernácula. Apenas em duas marcas de água presumivelmente
portuguesas se encontraram letras: numa a palavra Lousã, na outra, com o escudo real, as iniciais C B R.

480
É relevante, igualmente, verificar que, no fundo português estudado, existe uma grande percentagem
de edições em papel estrangeiro, cerca de 60% dos papéis identificados, dos quais 25% representam as
“armas de Génova”, 15% o “crescente por cima de duas luas” e “flor-de-lis”, o que mostra a importância
da importação do papel, especialmente no século XVII, por razões de quantidade e, provavelmente,
de qualidade em relação ao papel nacional. A crescente utilização de papel nacional durante o século
XVIII (20 %) relativamente ao século anterior (10%), poderá ser devido à implementação da indústria
papeleira que o regime protecionista favorecia.

Resultante dum processo produtivo, organizado precocemente de forma moderna18, na adequada


distribuição dos espaços, na beleza da sua tipografia, observável no desenho e diversidade dos corpos
utilizados, na presença simultaneamente funcional e estética do ornato em os frontispícios, as iniciais,
as vinhetas, as estampas reproduzindo paisagens, retratos, arquiteturas, iconografia religiosa, motivos
heráldicos, marcas de impressor e ex-libris, e até as marcas-de-água, formas quase invisíveis, ao
mesmo tempo textura e cenário, na encadernação mais ou menos faustosa por via da presença do
ouro e do colorido do papel, o livro mostra-se, nesta biblioteca, como objeto passível duma apreciação
estética. Enquanto no livro manuscrito se podia falar de pintura de manuscritos e, portanto, a sua
valorização tinha a ver com o parentesco que estabelecia com essa arte maior, no livro impresso,
dependendo embora de pintores, desenhadores, gravadores, calígrafos e desenhadores de letra,
podemos pressentir uma artisticidade que resulta mais da conceção e, portanto, da afirmação da sua
autonomia. Por isso contribui até para conceber a arte de forma nova, não apenas como produção mas
também como reprodução, que a modernidade recuperará, por via do design.

A grande vantagem do livro, relativamente a outros meios de comunicação mais fugazes, é o de


permitir-nos, facilmente, como amigo silencioso, regressar sempre ao início, percorrendo o caminho
desenhado pelo escritor e pelo editor.

Para o leitor e o estudioso fica sempre algo a descobrir nesta “arte negra” que teima em sobreviver,
ainda que alguns lhe tenham vindo a prognosticar a morte eminente.

18 A produção do livro institui, desde o seu início, uma organização do trabalho assente na conjugação de esforços duma
equipa, na divisão de tarefas especializadas e na produção em série, características que a restante indústria havia de
incorporar mais tarde. Também, deste ponto de vista, o livro é um produto avançado e moderno.

481
BIBLIOGRAFIA

ALMEIDA, Manuel Lopes de, Livros, livreiros, impressores em documentos da Universidade, Coimbra,
Arquivo de Bibliografia Portuguesa, 1964-1966.
AUDIN, Maurice, Histoire de l’Imprimerie - Radioscopie d’une ere: de Gutenberg à l’informatique. Paris,
J. Picard, 1972, pp. 83-94.
BANDEIRA, Ana Maria Leitão, Pergaminho e Papel em Portugal - Tradição e conservação. Lisboa,
CELPA1995, p. 52 e segs.
MARTIN, Henri-Jean, Histoire et pouvoire de lécrit, Paris, Perrin, 1988.
MELO Ataíde e, “Materiais para a identificação de documentos manuscritos e impressos em papel
até final do século XIX em Portugal”, Anais das Bibliotecas e Arquivos. Lisboa, Oficinas Gráficas da
Biblioteca Nacional, Vol. V, n.ºs 19 e 20, Julho-Dezembro, 1924.
PANOFSKY Erwin relacionou a arte gótica e a filosofia escolástica (PANOFSKY Erwin, Architecture
Gotique et Pensée scolastique, trad. e posfácio de Pierre Bourdieu. Paris, Ed. de Minuit, 1974). PEREIRA,
Paula Alexandra, Tese de Mestrado “O Livro Antigo – Aspectos Materiais e Artísticos. Contribuição para
o Estudo do Fundo Português da Biblioteca do Professor Doutor José Bayolo Pacheco de Amorim”,
pág. 186, Luis Morais Teixeira (orientador) e Horácio Augusto Peixeiro (coorientador), Mediateca
Universidade Lusíada, Lisboa (2004).
VITERBO, Sousa, Artes e indústrias em Portugal: O vidro e o papel, Coimbra, 1903.

482
CONTRIBUTOS PARA A HISTÓRIA DO PAPEL EM PAÇOS DE BRANDÃO. O ARQUIVO DA
CASA DA PORTELA E O “PAPEL” DA FAMÍLIA PINTO DE ALMEIDA.

Maria da Graça Amaral Neto Saraiva


Arquiteta Paisagista, Investigadora do CIAUD/FA/UL
gsaraiva@sapo.pt

Cecília Manuela Lopes de Melo


Arquivista, Arquivo Municipal de Santa Maria da Feira
cecilia.m.melo@gmail.com

RESUMO

Iniciando-se por uma síntese relativa à história da escrita, do seu suporte, o papel, e da constituição de
arquivos, como serviços direcionados para a recolha, organização e disponibilização de documentos,
esta comunicação pretende apresentar as relações com a história do papel de uma família fidalga de
Paços de Brandão, os Pinto de Almeida.

Enfatiza-se a relação dessa família com a indústria do papel na freguesia, enquanto empresários
ativos em diversas fábricas, mas também com a documentação e Arquivo de Família que ‘acumularam’
ao longo da vida de sete gerações, e que chegou ao momento presente em boas condições de
conservação. A sua vivência está associada a uma Casa senhorial, a Casa da Portela, um dos ex-libris
da freguesia de Paços de Brandão, onde viveram desde os finais do século XVIII até meados do século
XX, constituindo assim o repositório de memórias, escritas e orais, que cruzam várias gerações. Nela
se foi construindo um arquivo de família, contendo documentação de fórum privado da família Pinto
de Almeida, assim como os Tombos da Comenda da Ordem de Malta, pelo facto de Manuel Pinto de
Almeida (1768-1832) ter desempenhado as funções de administrador da dita Comenda, mantendo-se
desde então, essa documentação no acervo do Arquivo da Casa da Portela.

Recentemente foi assinado um Protocolo com a Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, a 2 de
dezembro de 2016, no sentido de proteger, valorizar e divulgar esse património documental.

PALAVRAS-CHAVE

Indústria do Papel (Paços de Brandão, Santa Maria da Feira), Fábrica da Azenha, Fábrica do
Engenho Novo, Família Pinto de Almeida, Arquivo da Casa da Portela.

483
ABSTRACT

Starting by a synthesis on the history of writing, of its support, the paper, and the creation of archives,
as targeted services for the collection, organisation and display of documents, this paper aims to
explore the relationships between a noble family, the Pinto de Almeida, of the parish of Paços de
Brandão, with the history of paper. Their relationship with the paper industry is emphasized within
the parish, while active entrepreneurs in several factories, but also as builders of a family archive
that has been accumulated along seven generations, keeped into the present moment in good
conservation conditions.

The Pinto de Almeida family lifetime has been associated with this estate, ‘Casa da Portela’, one
of the ex-libris of the parish of Paços de Brandão, where they lived since the late 18th century until
the mid-20th century, hosting the repository of memories, written and oral, that crossed several
generations. There, a family archive has been collected, containing documentation of the family
Pinto de Almeida, as well as the archives of the Order of Malta, due to the fact that Manuel Pinto
de Almeida (1768-1832) has played the role of local administrator of that Order. Since then, these
documents remained in the Casa da Portela archive.

Recently, a protocol was signed with the municipality of Santa Maria da Feira, 2 December 2016, in
order to protect, enhance and disseminate this documentary heritage.

KEYWORDS

Paper industry (Paços de Brandão, Santa Maria da Feira), Azenha factory, Engenho Novo factory,
Pinto de Almeida family, Archive of Casa da Portela

OS ARQUIVOS E O PAPEL COMO SUPORTE DE ESCRITA

Porque a memória dos homens é fraca inventou-se o remédio da escrita...1

No que é que os arquivos e a escrita contribuem para a história do papel?

O papel, como suporte da escrita, permitiu aos homens registar e comunicar, de forma simples,
pensamentos, descobertas, sonhos, ambições, desejos, feitos, ordens e difundir todo esse conhecimento;
os arquivos, porque de forma muito natural e intuitiva, foram-se formando e especializando na
organização, salvaguarda, difusão e conservação desse património documental.

1 «arenga de memória», usada em documentos produzidos durante a Idade Média, penso constituir o aforismo que melhor
legitima a existência de diferentes sistemas de informação assim como a nossa missão de proceder à sua organização, descrição,
difusão e preservação, sempre que se justifique, quer seja por razões históricas, legais, patrimoniais ou informacionais.

484
No desenvolvimento da escrita, dentro da história da humanidade, existe apenas quatro casos
assinaláveis como independentes: na Mesopotâmia, no Egito, na China, e na Mesoamérica.2

Um povo denominado por Sumérios, ca. 4000 a.C., invadiu o sul da Mesopotâmia e, foram durante
1500 anos, a cultura dominante do Médio Oriente, desenvolvendo uma literatura bastante evoluída
e deixando como memória arquivos e documentos que envolvem um complexo sistema jurídico,
administrativo e religioso. Por meados do terceiro milénio a.C., a escrita dos Sumérios foi adotada
pelos semitas que viviam no vale de Tigre-Eufrates (Babilónios e Assírios) e aí floresceu por mais de
dois mil anos. Na antiga Mesopotâmia, o sistema de escrita que foi desenvolvida e usado por mais
de três mil anos foi chamado de escrita cuneiforme (do latim cuneus (cunha) e forma) ficando assim
conhecida por ser produzida por estiletes em forma de cunha. Esta escrita foi decifrada ainda no século
XIX, no entanto, a sua origem ainda permanece um tanto ou quanto obscura.3

Na história da escrita alfabética Ocidental, foi sem dúvida a escrita dos gregos, adaptada da dos
Semitas, que esteve na origem de todas as escritas alfabéticas europeias. Por volta do século VIII
a.C. o alfabeto grego foi adaptado à língua etrusca e, cerca do século VII a.C., a escrita etrusca é
adaptada à língua latina, tendo esta passado por várias adaptações nos séculos seguintes. O ajuste
do alfabeto latino, depois do primeiro século a.C., resume-se à sua adaptação às várias língua e à sua
transformação nos estilos cursivos, tendo os missionários da Igreja Católica Romana levado a língua
latina e suas derivadas a diversas partes da Europa, espalhando assim a influência de um império já
em declínio.4

A escrita, tal como a conhecemos, se comparada com os milhares de anos que existem de
desenvolvimento intelectual da humanidade, tem uma origem relativamente recente.5 As suas origens
são objeto de conjetura mas penso que não se pode negar que todas estas formas gráficas inscritas
são no fundo manifestações de uma necessidade humana de comunicar ou exprimir.

A escrita é parte integrante de um processo cultural, é uma forma de se registar pensamentos, organizar
discursos, criar conhecimento e aparece como meio de registar ideias que pode ser reproduzidas,
retirando aos homens a obrigação de as guardar em memória. A escrita e os seus suportes permitiram
a enorme possibilidade de se armazenar e transmitir informação, criando assim um espaço de memória
perene externa à própria memória do homem, no entanto, o seu desenvolvimento pressupõe, por sua
vez, a existência de instituições que a produzam e façam uso da mesma.

2 SPROCHI, Amanda K. - Ancient Mesopotamian Libraries and Archives. Kent: University School of Library and Information
Science, 2004. p. 10.

3 DIRINGER, Davis – A escrita. [Lisboa]: Verbo, 1985. (Historia Mundi; 12). p. 37-38.

4 DIRINGER, Davis – A escrita (op.cit.). p. 145,153,157, 161, 170.

5 DIRINGER, Davis – Ibidem.

485
Os suportes da escrita são normalmente materiais, preferencialmente duráveis, onde se registam
desenhos ou sinais que se utilizam para escrever, sendo que os mesmos devem permitir conservar
o que lá se inscreveu; a sua função é a de fixar a informação ajudando à criação de conhecimento e
possibilitando a sua transmissão e transferência com um carácter duradouro mas, para que se possa
efetuar essa fixação são necessários outros materiais, como as tintas, e utensílios como tinteiros,
estiles, penas, pinceis, canetas, etc.

Quando se fala em documentos depressa nos lembramos de uma folha de papel escrita, embora
existam outros suportes, todos com a finalidade de registar e transmitir informação no tempo e no
espaço. Depois da madeira, da pedra, do barro, do papiro, do pergaminho, chega à Europa o papel,
um material leve, fino e aparentemente frágil.

O papel e o seu fabrico, inventado pelos chineses há cerca de 2000 anos, mantiveram-se durante
vários séculos como um segredo bem guardado desta civilização, chegando à Europa, quer por
intermédio dos árabes que, por volta do século XVIII, dominavam a Espanha, quer através da Itália e
da Germânia. Aos poucos a arte do fabrico do papel espalhou-se pela Europa e nascem fábricas de
papel, onde quer que existisse um bom fornecimento de água, elemento essencial para o fabrico da
pasta de papel. Por volta do ano de 1200 já existiam moinhos de papel em Espanha (Valência), 200
anos depois já se haviam instalado no norte da Europa, tendo chegado à América do Norte por volta
do ano de 1690.

Da China para o Oriente e Ásia Central e daí para o Ocidente, a expansão do papel não se efetuou
sem que existissem opositores a este suporte de escrita, chegando a existir, durante a Idade Média,
entidades que exigiam pergaminhos em documentos oficiais, pois alegavam que o papel era fraco. De
nada valeriam as críticas pois o mundo ia evoluindo e progredindo e o material para escrever tinha que
ser abundante e barato sendo o único obstáculo à aceitação do papel o facto de os documentos serem
manuscritos e a sua reprodução muito demorada.6

Apesar de ter sido o pergaminho que permitiu o fabrico dos primeiros livros manuscritos, pois as
folhas de papiros apenas formavam rolos, foi o papel, por ser um suporte mais barato, juntamente
com a invenção da imprensa no século XV, que permitiu o aumento exponencial do número de cópias
produzidas dos documentos, até então muito dispendiosas por serem manuscritas, e um maior acesso
à informação e ao conhecimento por todo o mundo civilizado, aumentando exponencialmente o
consumo do papel e, consequente mente, o desenvolvimento e a expansão da indústria papeleira.

Poder-se-iam aqui enumerar muitas das utilidades de uma folha de papel mas optamos por apresentar
aquela que consideramos ser a prova mais extraordinária da importância do papel para a história da

6 Lopes, A. M. Cunha – A história do papel. 2ª ed. Lisboa: Ministério da Educação Nacional, 1974. p. 36-42.

486
humanidade, a de ser o suporte de escrita privilegiado a que os homens recorreram para transmitir às
gerações vindouras todo o seu conhecimento.

Os arquivos sempre foram fundamentais para a humanidade quer como serviços que auxiliavam as
atividades administrativas das instituições quer como guardiões na escrita da sua história.

Os arquivos e a prática arquivística surgiram e foram evoluindo, de forma natural, desde o aparecimento
da escrita até ao final do antigo regime, de acordo com as necessidades dos organismos produtores e
dos utilizadores dessa informação.7

Um marco histórico na evolução dos arquivos deu-se com a Revolução Francesa de 1789 de onde os
arquivos surgem como serviços “artificiais” direcionados para a recolha, organização e disponibilização
de documentos de interesse patrimonial, essenciais aos estudos historiográficos, liberalizando-se de
forma genérica o acesso aos arquivos. Estes “serviços especializados”, se, por um lado, privilegiavam o
acesso através da produção de instrumentos de pesquisa (transcrições, índices, inventários, catálogos),
por outro lado, afastavam a documentação do contexto em que a mesma havia sido produzida. O
aparecimento de arquivos com uma finalidade, um pouco exógena, relativamente aos fins específicos
que determinam a sua formação, faz com que comecem a surgir alguns princípios orientadores da
prática arquivística tal como o princípio do “respeito pelos fundos “e “respeito pela ordem original” dos
documentos.8

Ao longo da primeira metade do século XX, com a industrialização, a complexificação burocrática e


o aumento exponencial da produção documental começam a surgir novos desafios, nomeadamente
a nível de gestão dos arquivos, tendo-se generalizado o conceito que ficou conhecido como ” teoria
das três idades do arquivo” que, apesar de enunciar um ciclo de vida contínuo para os documentos,
acabou por dar origem a algo avesso ao seu propósito, com a criação de serviços de depósito de
documentação que acabariam em muitos casos por provocar a desagregação natural das unidades
sistémicas produzidas9.

Durante os anos 80 e 90, o Concelho Internacional de Arquivos (I.C.A.), criado em 1948, e reunindo
arquivistas de todo o mundo, veio proporcionar um debate mais alargado sobre os arquivos e os
fundamentos da disciplina arquivística tendo um papel preponderante no que diz respeito à
uniformização da descrição arquivística com a publicação das normas internacionais ISAD(G)10, com

7 RIBEIRO, Fernanda - A arquivística como disciplina aplicada no campo da ciência da informação. Perspectivas em Gestão
& Conhecimento. Paraíba. Vol. 1, Nº. 1 (2011), p. 59-60.

8 RIBEIRO, Fernanda - A arquivística como disciplina aplicada no campo da ciência da informação (op.cit.). Vol. 1. p. 61.

9 Ibidem.

10 CONSELHO INTERNACIONAL DE ARQUIVOS – ISAD(G) : Norma geral internacional de descrição arquivística. 2ª ed.
Lisboa: Instituto dos Arquivos Nacionais / Torre do Tombo, 2002.

487
princípios orientadores para a descrição arquivística e a ISAAR(CPF)11, orientada para a criação de
registo de autoridades12. Mais recentemente, em 2008, surgem as normas internacionais ISDIAH13,
para a descrição de entidades detentoras de arquivo e a ISDF14, para a descrição de funções dos
produtores de informação.

Tomando como ponto de partida que um arquivo é um sistema (semi-)fechado de informação social
materializada em qualquer tipo de suporte, configurado por dois factores essenciais - a natureza
orgânica (estrutura) e a natureza funcional (serviço/uso) - a que se associa um terceiro - a memória
- imbricado nos anteriores15. Sendo que a noção de arquivo se configura num conceito que gera
alguma ambiguidade, este também pode ser entendido como um serviço criado organicamente numa
determinada entidade e/ou uma instituição cultural (arquivo de âmbito nacional, distrital ou municipal,
públicos ou privados) destinada a incorporar e tornar acessível informação produzida/recebida por
terceiros16.

Atualmente os arquivos já não são vistos apenas como meros espaços de conservação e custódia
de documentos mas sim como serviços responsáveis pela receção, organização, conservação,
gestão e difusão do sistema ou sistemas de informação das instituições, constituídos por conjuntos
de documentos produzidos organicamente pelas mesmas, no âmbito das suas competências ou
funções, na longa duração. Sendo assim, o trabalho a desenvolver pelo profissional da informação
num arquivo, deve refletir sempre a evolução orgânica de cada instituição, tendo em conta o princípio
da ação estruturante, o princípio da integração dinâmica, o princípio da grandeza relativa e o princípio
da pertinência.

Os arquivos são normalmente classificados como públicos, quando produzidos por organismos da
administração pública (central, local e outra) e arquivos privados onde se enquadram todos aqueles
que resultam da atividade e administração de coletividades (instituições, famílias e empresas) e
pessoas individuais, nos seus domínios próprios, independentemente de estes resultarem de doações
ou concessões régias ou do estado17.

11 CONSELHO INTERNACIONAL DE ARQUIVOS – ISAAR(CPF) : Norma internacional de registo de autoridade arquivística


para pessoas colectivas, pessoa singulares e famílias. 2ª ed. Lisboa: Instituto dos Arquivos Nacionais / Torre do Tombo, 2004.

12 RIBEIRO, Fernanda – O acesso à informação nos arquivos. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian: Fundação para a
Ciência e Tecnologia, 2003. Vol. 1. p. 36-43.

13 CONSELHO INTERNACIONAL DE ARQUIVOS – ISDIAH : Norma internacional para descrição de instituições com acervo
arquivístico. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2009.

14 CONSELHO INTERNACIONAL DE ARQUIVOS – ISDF : Norma internacional para descrição de funções. Rio de Janeiro :
Arquivo Nacional, 2008.

15 SILVA, Armando Malheiro de, [et al.] – Arquivística: teoria e prática de uma ciência da informação (op.cit.). p. 214.

16 SILVA, Armando Malheiro da - A informação: da compreensão do fenómeno e construção do objeto científico. Porto:
Afrontamento: CETAC, 2006. p. 154.

17 RIBEIRO, Fernanda – O acesso à informação nos arquivo (op.cit.). Vol. 1. p. 22

488
Os arquivos municipais, ao contrário da maior parte dos acervos históricos dos arquivos da
administração central que se encontram na dependência da Torre do Tombo, mantem-se regra geral
junto dos organismo produtores; já os arquivos de família nobres (tituladas ou não tituladas) assim como
os de ordens religiosas e militares nem sempre sobreviveram às contingências do tempo (acidentes
naturais, descuido na sua conservação, partilhas de família, extinção das ordens, etc.), no entanto,
alguns sobrevivem e permanecem até hoje sob custódias das respetivas entidades produtoras ou
foram incorporados em arquivos do Estado.

Neste contexto, apresenta-se o caso da família Pinto de Almeida da Casa da Portela, em Paços de
Brandão, concelho de Santa Maria da Feira, construtora e detentora de um arquivo de família, bem
como de fábricas de papel nessa freguesia, pelo interesse que poderá representar essa dupla relação
para a história do papel a nível local e regional.

A FAMÍLIA PINTO DE ALMEIDA DA CASA DA PORTELA

As origens da família Pinto d’Almeida estão referenciadas ao século XV a Gonçalo Pinto, alferes-mor
do Duque de Bragança. De seu filho Ayres Pinto sabe-se que foi escudeiro do Conde de Barcelos,
tendo sido nomeado testamenteiro do Duque D. Fernando em 147118.

Desde então sucederam-se várias gerações nas quais se estabeleceu uma relação intensa com as
Terras da Feira, nomeadamente com a freguesia de Paços de Brandão. De acordo com a genealogia
existente no Arquivo da Casa da Portela, existe referência, no final do século XVII, a Clara Pinto
d’Almeida, nascida na Casa de Linhares e Barroso, casada com seu primo António de Sá. Deste
casamento nasceram sete filhos, um dos quais António Pinto d’Almeida que adquire, em 1788, a Casa
da Portela, a José Caetano de Azevedo e a sua mulher Rosa Caetano da Silva.

António Pinto d’Almeida (1719-1792), foi cavaleiro da Ordem de Cristo, vereador do senado da Câmara
da Feira, vice-cônsul do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda, Senhor das Casas de Linhares e
Barroso, da Portela, da Sobreira, em Paços de Brandão e da Quintã de Sto. António em Rio Meão. Foi
Capitão de Ordenanças da Guarda de marinhos e fachos da terra da Feira e seu distrito.

Casou com D. Angélica Maria Rosa Pinheiro da Cruz (1728-1808), com quem teve dez filhos. Entre
estes, refere-se José Pinto d’Almeida (1761-1847), padre, que fundou a primeira fábrica de papel em
Paços de Brandão na Quinta do Engenho Novo, em 1795, e que constitui uma personagem chave no
desenvolvimento da indústria do papel na freguesia19, como adiante se refere.

18 Arquivo da Casa da Portela – Genealogia dos Pinto de Almeida.

19 SANTOS, Maria José Ferreira dos - A Indústria do papel em Paços de Brandão e Terras de Santa Maria (Séculos XVIII-XIX).
p. 80.

489
Sucede a António Pinto d’Almeida, na propriedade da Casa da Portela, o seu filho varão mais novo,
Manuel Pinto d’Almeida (1768-1832), em virtude de alguns dos seus irmãos terem falecido solteiros.
Foi Capitão das Ordenanças da companhia formada em Silvalde e suas anexas de Paços de Brandão,
Esmoriz, Paramos, Anta, Oleiros e Nogueira da Regedoura, tendo participado nas campanhas da
Guerra Peninsular. Foi Procurador do tombo da Comenda de Rio Meão, Arada e Maceda na Ordem
de Malta de S. João de Jerusalém e Capitão das Ordenanças Privilegiadas da Sagrada Ordem Militar.
Desempenhou igualmente as funções de vice-cônsul do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda;
por diversas vezes vereador e juiz pelas ordenações na Vila da Feira. Nas guerras entre liberais e
absolutistas tomou o partido pela causa miguelista, tendo sido condecorado em 1829 com a medalha
de oiro da Real Effígie, comemorativa da coroação, nesse ano, de D. Miguel I.

Casou em 1810 com D. Gertrudes Maria Rosa da Silva Canedo (1792-1859), tendo tido sete filhos.
Destes, sucedeu-lhe na posse da Casa da Portela o seu filho Manuel Pinto de Almeida (1823-1899),
fidalgo cavaleiro da Casa Real, por sucessão dos seus maiores, tendo tido também uma atuação
preponderante no desenvolvimento da indústria do papel em Paços de Brandão. Apesar das convicções
familiares miguelistas, e rompendo a habitual tradição dos casamentos inter-primos, em 1844, contra
a vontade dos seus, casa com Maria Augusta de Azevedo Aguiar Brandão, de uma família papeleira e
de opções liberais. Essa união dará origem a uma colaboração, neste domínio, de duas famílias com
importante representação social e empreendedora na indústria em causa.

Manuel Pinto de Almeida foi Capitão da 6ª Companhia do extinto Batalhão Nacional de Caçadores
da Vila da Feira, comendador da Ordem Militar de Nossa Senhora de Vila Viçosa, procurador à Junta
Geral do Distrito de Aveiro, vereador (1846) e presidente da Câmara da Feira em 1879. Na política, foi
chefe do partido progressista da Feira durante o período de 1865 a 1889.

Em 1846 Manuel Pinto de Almeida fundou uma fábrica de papel, chamada da Azenha de Cima, tendo-
lhe sido doada, posteriormente por seu sogro João José de Azevedo, a fábrica da Azenha de Baixo.
Tornou-se assim no proprietário de ambas as fábricas, no lugar do Serrado, constituindo um relevante
conjunto no panorama da indústria do papel na freguesia.20

Deste casamento nasceram dois filhos: o mais velho, Augusto de Azevedo Pinto de Almeida (1847-
1897), que trabalhou com seu tio materno, João de Azevedo Aguiar Brandão, na fábrica do Engenho
Novo e herdou de seu pai as fábricas da Azenha; o mais novo, Manuel Pinto d’Almeida (1848-1914),
proprietário da Casa da Portela. Foi este último Fidalgo da Casa Real, vereador da Câmara de Lisboa
(1892-1895), deputado pelo círculo da Feira (1897-1900) e sócio da Sociedade Promotora das Belas
Artes em Portugal. Casou com D. Eugénia Amélia Bastos de Pinho (1847-1904), tendo tido dois filhos.
Eduardo Pinho de Almeida, o filho mais velho, herda de seus pais a Casa da Portela.

20 SANTOS, Maria José Ferreira dos - Ibidem. p. 108

490
Eduardo Pinho de Almeida (1870-1927), fidalgo da Casa Real por sucessão dos seus maiores,
foi Bacharel formado em Direito pela Universidade de Coimbra, sócio fundador da Sociedade
Propaganda de Portugal, sócio da Associação Central de Agricultura Portuguesa e da Companhia
das Lezírias do Tejo e Sado. Casou em 1912 com D. Maria de Magalhães e Menezes Villas-Boas
(1874-1941) e deste casamento não houve geração, passando a posse da Casa da Portela para
a família da sua mulher.

A Casa da Portela foi o cenário de vida desta família e simultaneamente um local de prestígio e
de representação, no contexto sociocultural e económico da inserção da família na sociedade do
seu tempo. Com uma arquitetura que se integra na tipologia de Casa senhorial, em dois pisos,
integra um harmonioso pátio ‘de recebimento’ e jardins tradicionais com vegetação interessante e
decorativa.21

(a) b)

Figura 1 – Casa da Portela (a) fachada, e (b) pátio

É actualmente um Imóvel de Interesse Público, classificado em 198222. No seu interior persistem


objectos e documentos que pertenceram às várias gerações residentes, testemunhos da sua actividade
e interesses. Deles se destaca o seu Arquivo Privado, integrando, entre diversos manuscritos e
documentação, os tombos da Ordem de Malta, que felizmente chegou intacto ao século XXI, constituindo
um valioso espólio actualmente em análise, tratamento e inventariação no Arquivo Municipal de Santa
Maria da Feira, através de Protocolo recentemente estabelecido.

OS PINTO DE ALMEIDA E A INDÚSTRIA DO PAPEL EM PAÇOS DE BRANDÃO

Conforme anteriormente exposto, alguns elementos da família Pinto de Almeida estiveram ligados
à origem e funcionamento de várias fábricas de papel em Paços de Brandão. O florescimento
desta indústria depende de vários factores, nomeadamente a fonte de energia hidráulica, que

21 CARITA, H. E Cardoso, H. - A Casa Senhorial em Portugal. Modelos, tipologias, programas interiores e equipamento. Leya,
2015.

22 Decreto nº 28/82. Diário da República nº 47 de 26 de fevereiro.


491
era a razão da sua localização ao longo de uma ribeira, a existência de matéria prima e de mão
de obra com crescente especialização e de promotores e empreendedores que se lançavam na
abertura e gestão de fábricas, alargando a influência e representatividade do núcleo inicialmente
criado.

A primeira fábrica na freguesia é a do Engenho Novo, fundada em 1795 pelo Padre José Pinto de
Almeida, na junção da Ribeira da Fonte de Infesta com o Rio de Riomaior, dispondo de cinco rodas
hidráulicas. Relativamente a outras fábricas da freguesia, esta empregava o maior número de operários
e ocupava uma quota de mercado de 21%, apresentando um desenvolvimento tecnológico avançado
para a época23. Ao seu fundador foi reconhecida elevada capacidade de inovação e empenho na
direção da fábrica, que manteve até 1825, quando a cedeu a seu familiar João José de Azevedo Aguiar
Brandão. Este foi um grande industrial papeleiro que além desta fábrica possuía mais duas, uma das
quais a da Azenha de Baixo, por si fundada em 1844. Sucede-lhe na gestão do Engenho Novo o seu
filho João de Azevedo Aguiar Brandão, e este, por sua morte, deixa a fábrica a seu sobrinho Augusto
de Azevedo Pinto de Almeida, que nela instala uma máquina de papel contínuo e promove alguns
melhoramentos. No entanto, a partir do final do século XIX, esta fábrica entra em declínio, sendo
destruída por um incêndio em 1958. Atualmente, as ruínas da casa e fábrica do Engenho Novo, bem
como o extenso parque da sua cerca são propriedade da Junta de Freguesia de Paços de Brandão.

A Fábrica da Azenha de Baixo, fundada por João José de Azevedo Aguiar Brandão na Ribeira da
Fonte Infesta, foi por este doada, por volta de 1846,a seu genro Manuel Pinto de Almeida, que tinha já
construído, nessa data, uma outra denominada Fábrica da Azenha de Cima, ficando este proprietário
de ambas as fábricas. A primeira produzia exclusivamente papel para caixas de fósforos, enquanto na
segunda se produziam vários tipos de papel, como de escrita, florete e almaço. Pela qualidade dos
produtos fabricados, recebeu Manuel Pinto de Almeida uma menção honrosa na exposição Industrial
de 1865, realizada no Porto.

23 SANTOS, Maria José Ferreira dos - A indústria do papel... (op. Cit.). p. 77.

492
Figura 2 - Diploma da menção honrosa na Exposição Industrial de 1865

Também este proprietário obteve do Estado concessão para produzir papel selado, ou do Tesouro
Publico, como era então referido, entre 1859 e 1862.24

A produção de papel por um dado fabricante é assinalada pela ‘marca de água’, cuja origem remonta
ao século XIII, permitindo a identificação dos moinhos papeleiros ou da sua inserção numa região ou
comunidade. 25
Para além de um símbolo escolhido, também as iniciais do proprietário e do ano de
fabrico podem estar associadas à marca de água.

Na figura 3 apresenta-se a marca de água do papel almaço produzido por Manuel Pinto de Almeida na
fábrica da Azenha de Cima, em 1865.

Figura 3 – Marca de água da Fábrica da Azenha de Cima, 1865

24 SANTOS, Maria José Ferreira dos - Ibidem. p. 110.

25 SANTOS, Maria José Ferreira dos - Marcas de água: séculos XIV – XIX. Coleção TECNICELPA. p.43.

493
Em 1872 Manuel Pinto de Almeida faz sociedade com seu filho Augusto de Azevedo Pinto de Almeida para
a gestão da fábrica da Azenha de Cima, que passa a registar todo o movimento dessa fábrica num livro de
registos existente no Arquivo da Casa da Portela, recentemente doado ao Museu do Papel. Neste livro é
possível conhecer o quotidiano da fábrica, despesas de laboração e manutenção, constituindo um documento
de interesse para a história do processo de fabrico do papel em Paços de Brandão nos finais do século XIX.

Figura 4 – Livro de registo da Fábrica da Azenha de Cima

O ARQUIVO DA CASA DA PORTELA

Para que os arquivos de família possam fazer parte da História é preciso, antes de mais, começar por
fazer a história dos arquivos de família.26

A família Pinto de Almeida, da Casa da Portela, ao longo dos anos, no decurso da sua existência e
atividade profissional dos seus membros, produziu e acumulou documentação cujo valor histórico e
patrimonial vai muito além do simples interesse como memória familiar, constituindo um importante
testemunho para a história do Município de Santa Maria da Feira, assim como para a história de outras
instituições sediadas nesta circunscrição territorial, como é o caso da Comenda de Rio Meão, da Ordem
de Malta ou do Hospital, cujo arquivo permanece junto ao arquivo privado da Casa da Portela, desde o
tempo em que o capitão de milícias e ordenanças de Rio Meão, Manuel Pinto de Almeida, representou

26 ROSA, Maria de Lurdes (ed.) – Arquivos de Família, séculos XIII-XX: que presente, que futuro? Lisboa: IEM – Instituto de
Estudos Medievais, CHAM – Centro de História de Além-Mar e Editora Caminhos Romanos, 2012. (Coleção: Estudos 3). p. 30.

494
o último comendador, D. Frei Manuel Pedro de Moura e Mendonça, na administração desta comenda.27

A Comenda de Rio Meão foi instituída após uma doação de 1218, em que Fernão Vasques doou à Ordem
do Hospital os bens que aí possuía, pois nos registos da Comenda de Leça consta que a mesma foi dada
em prestimónio à Rainha Santa, Infanta D. Mafalda. Ainda antes do século XIII a Ordem do Hospital, ou
de Malta, recebeu as freguesias de Maceda e Arada, que passaram a anexas da dita Comenda e, em
1289, por doação de D. Leonor Afonso, filha bastarda de D. Afonso III e viúva do conde D. Gonçalo Garcia
de Sousa, a igreja de Rio Meão e outros bens que o dito conde possuía em Terra de Santa Maria. Era
comendador de Rio Meão, em 1238, Frei Afonso Pires Farinha e, durante cerca de 600 anos, foi esta
comenda administrada, geralmente, por cavaleiros de ordens militares, até à sua extinção, por decreto de
14 de julho de 1834, onde se declara que é extensivo às Ordens Militares todas as disposição do decreto
de 28 de Maio de 1834, que extinguiu as ordens religiosas e consequente nacionalização dos seus bens,
tendo os mesmos sido integrados na Fazenda Nacional.28

Foi o Comendador Fr. Bernardo Pereira, desde 1627, cavaleiro professo do Hábito de S. João do Hospital
de Jerusalém que tombou os bens pertencentes à Comenda de Rio Meão, em 1629, inicialmente unida à
Comenda de Frossos (Albergaria-a-Velha) e Rossas (Arouca).29

Figura 5 – Tombo da Comenda de Rio Meão, de 1629

27 RODRIGUES, David Simões – Rio Meão: a terra e o seu povo. Santa Maria da Feira: Câmara Municipal de Santa Maria da
Feira: Junta da Freguesia de Rio Meão, 2001. Vol. 1. p. 89.

28 RODRIGUES, David Simões – Rio Meão: a terra e o seu povo (op. cit.). p. 48-50, 83

29 Ibidem, p. 85-86.

495
O Arquivo da Casa da Portela é pois constituído por mais que um sistema de informação conseguindo-se
percecionar, sem dúvida, duas instituições produtoras: gerações da família Pinto de Almeida, da Casa da
Portela, e Comendadores da Ordem de Malta de São Tiago de Rio Meão.

Do recenseamento efetuado à documentação foram registados 180 títulos materializados em 44 livros, 569
maços, 88 folhas e 12 unidades de instalação, estas últimas com uma miscelânea de documentos avulsos,
pertencentes a alguns elementos da família Pinto de Almeida.

Quanto ao suporte da escrita é o papel o material utilizado para registo de informação, existindo apenas um
documento em pergaminho, provavelmente de 1584, com uma confirmação do Bispo do Porto da igreja de
São Martinho de Escapães, da Vila da Feira, e da apresentação da Comenda de Rio Meão.

Na encadernação de alguns documentos os materiais utilizados são o pergaminho, o couro e o cartão


forrado com papel marmoreado.

Relativamente à tipologia de registo os documentos são todos manuscritos, à exceção de um Tombo da


Comenda de Rio Meão, com data de 27/06/1629, que foi impresso, muito provavelmente, em finais do
século XVII.

Quanto às tipologias documentais produzidas, a maioria da documentação diz respeito a registo de


propriedades (autos de demarcação, medição e apegação, prazos, escrituras de compra e venda, etc.),
de contabilidade (cobrança de foros, relações de cobrança, receitas e despesas, dívidas, etc.) e de
recenseamento de fogos e moradores, sentenças cíveis e correspondência.

Pese embora a existência de alguns documentos em mau estado de conservação, que irão necessitar de
intervenções profundas de restauro, uma grande parte do acervo documental pode ser considerada como
estando num estado razoável de conservação, tendo em conta que a maior parte da documentação foi
produzida entre os séculos XVII e XIX.

Os arquivos privados da Casa da Portela e da Comenda de Rio Meão, por serem acervos documentais de
acentuada relevância para o estudo da nossa história local e se encontrarem em risco de perda, devido a
danos causados pelo tempo e pelas condições de armazenamento, tornaram-se objeto de especial proteção
e valorização, assumidos pela Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, através do seu Arquivo Municipal.
Tendo por base competências que lhe são atribuídas de promoção e valorização de arquivos privados,
com comprovada relevância para a história do concelho, o Arquivo Municipal propôs à Câmara Municipal
de Santa Maria da Feira a elaboração e aprovação de um protocolo de depósito, com as proprietárias do
arquivo da Casa da Portela, protocolo esse aprovado em reunião ordinária da câmara municipal de 16 de
maio de 2016 e validado, por assinatura de ambas as partes, no dia 2 de dezembro de 2016.

A responsabilidade pela salvaguarda e valorização do património arquivístico, de elevado interesse para a

496
história local, é atribuída às autarquias locais devendo estas promover o conhecimento, estudo, proteção,
valorização e divulgação desse património documental, incentivando a colaboração entre as pessoas
coletivas de direito públicas e os detentores desses bens culturais, com o propósito de proteger e valorizar
esse património cultural30.

Sendo o Arquivo Municipal um serviço público da administração local, com competências relevantes
na área da cultura, decorrentes das responsabilidades específicas que lhe estão cometidas na gestão,
recolha, conservação, tratamento e difusão de documentação arquivística, tanto de entidades públicas
como privadas, com os objetivos de cuidar da sua preservação a longo prazo e de facultar o acesso e uso
da mesma, de forma continuada e generalizada, a todos os cidadãos31, cabe a ele coordenar as operações
de salvaguarda e valorizarão do Arquivo da Casa da Portela.

No protocolo de depósito do Arquivo da Casa da Portela estabeleceram-se cláusulas essenciais ao


tratamento, conservação e acesso. Após a aprovações do protocolo, e com o consentimento da proprietárias,
deu-se inicio à operação de inventariação dos documentos mas, devido às condições de conservação dos
documento, verificou-se não ser possível efetuar tal tarefa com a devida segurança, tornando-se necessária
a contratualização de um serviço de desinfestação por anóxia, para expurgo dos documentos.

De forma a promover o estudo da documentação, o seu enquadramento orgânico e descrição arquivística,


no âmbito do protocolo de cooperação com a Faculdade de Letras da Universidade do Porto existente,
está prevista a eventual colaboração de um mestrando para desenvolver o seu trabalho de estágio naquela
instituição.

Na prática, as operações de organização e descrição do Arquivo da Casa da Portela terão como ponto
de partida a criação de um quadro orgânico-funcional deste Arquivo, tendo como base as sucessivas
gerações da família Pinto de Almeida, pois o estudo de um sistema de informação familiar, de acordo com a
organicidade própria da instituição, “... assenta tão só – e já é muito – em gerações e em membros/pessoas
unidas por laços de parentesco”32

Os arquivos de família são uma importante referência informativa para a história local, social, cultural
constituindo-se como provas vivas de vivências familiares e das relações que estas estabeleceram com
outras entidades ou em outros contextos.

Poderíamos hoje falar de História, de memória e de identidade se não existissem estas instituições?

Podíamos, mas não seria a mesma História.

30 Lei de Bases do Património Cultural - Lei nº 107/2001. Diário da República nº 209, de 8 de Setembro.

31 Regime Geral dos Arquivos e Património Arquivístico, Decreto-lei nº 16/93. Diário da República nº19, de 23 de Janeiro.

32 SILVA, Armando Malheiro – Arquivos familiares e pessoais: bases científicas para a aplicação do modelo sistémico e
interactivo. Porto: Revista da Faculdade de Letra-Ciências e Técnicas do Património. Nº 3 (2004). p 70.

497
BIBLIOGRAFIA

ACP – Arquivo da Casa da Portela.

CARITA, H. E Cardoso, H. - A Casa Senhorial em Portugal. Modelos, tipologias, programas interiores


e equipamento. Leya, 2015.

DIRINGER, Davis – A escrita. [Lisboa]: Verbo, 1985. (Historia Mundi; 12).

Decreto de 28 de maio de 1834. Extinção das Ordens Religiosas. PORTUGAL. Assembleia da


República – Legislação Régia: digitalização da colecção de legislação portuguesa desde 1603 a 1910:
Livro de 1832-1834 [em linha]. Disponível em: http://legislacaoregia.parlamento.pt/V/1/15/107/p460.

Decreto de 14 de julho de 1834. Inclui as Ordens Militares no decreto de 28 de maio de 1834.


PORTUGAL. Assembleia da República – Legislação Régia: digitalização da colecção de legislação
portuguesa desde 1603 a 1910 : Livro de 1833-1834 [em linha]. Disponível em: http://legislacaoregia.
parlamento.pt/V/1/15/107/p293.

PORTUGAL. Direção-Geral do Património Cultural. SIPA-Sistema de Informação para o Património


Arquitetónico – Casa da Portela. IPA.00000788, [em linha]. Disponível em: http://www.monumentos.pt/
Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=788

LOPES, A. M. Cunha – A história do papel. 2ª ed. Lisboa: Ministério da Educação Nacional, 1974.

PORTUGAL. Assembleia da República – Lei nº 107/2001 de 8 de setembro de 2001. Lei de Bases do


Património Cultural. Diário do Governo. I Série-A. nº 209.

PORTUGAL. Presidência do Conselho de Ministros – Decreto-Lei nº 16/93 de 23 de janeiro de 1993.


Regime Geral dos Arquivos e Património Arquivístico. Diário do Governo. I Série-A. nº 19.

PORTUGAL. Instituto Português do Património Cultural - Decreto nº 28/82 de 26 de fevereiro de 1982.


Diário do Governo. I série, nº 47.

REGALEIRA, Vasco de Moraes Palmeiro - Noticia acerca de alguns Palácios e Solares de Portugal,
Casa da Portela. Arquitectura, Revista Mensal, Ano 1, Nº 1, (Janeiro 1927).

RIBEIRO, Fernanda - A arquivística como disciplina aplicada no campo da ciência da informação.


Perspectivas em Gestão & Conhecimento. Paraíba. Vol. 1, Nº. 1 (2011).

RIBEIRO, Fernanda – O acesso à informação nos arquivos. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian:
Fundação para a Ciência e Tecnologia, 2003. Vol. 1.

498
RODRIGUES, David Simões – Rio Meão: a terra e o seu povo. Santa Maria da Feira: Câmara Municipal
de Santa Maria da Feira: Junta da Freguesia de Rio Meão, 2001. Vol. 1.

ROSA, Maria de Lurdes (ed.) – Arquivos de Família, séculos XIII-XX: que presente, que futuro? Lisboa:
IEM – Instituto de Estudos Medievais, CHAM – Centro de História de Além-Mar e Editora Caminhos
Romanos, 2012. (Coleção: Estudos 3)

SANTOS, Maria José Ferreira – A Indústria do papel em Paços de Brandão e Terras de Santa Maria
(Séculos XVIII-XIX). Santa Maria da Feira : Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, 1997.

SANTOS, Maria José Ferreira dos - Marcas de água: séculos XIV – XIX. Coleção TECNICELPA.
Associação Portuguesa dos Técnicos das Indústrias de Celulose e Papel e Câmara Municipal de Santa
Maria da Feira, 2015.

SILVA, Armando Malheiro de, [e tal.] – Arquivística: teoria e prática de uma ciência da informação. Vol.
1. Porto: Edições Afrontamento, 1998. (Biblioteca das Ciências do Homem. Série Plural; 2).

SILVA, Armando Malheiro – Arquivos familiares e pessoais: bases científicas para a aplicação do modelo
sistémico e interactivo. Porto: Revista da Faculdade de Letra-Ciências e Técnicas do Património. Nº 3
(2004).

SILVA, Armando Malheiro da - A informação: da compreensão do fenómeno e construção do objeto


científico. Porto: Afrontamento: CETAC, 2006.

SPROCHI, Amanda K. - Ancient Mesopotamian Libraries and Archives. Kent: University School of
Library and Information Science, 2004. Requirements for the degree Master of Library and Information
Science.

VARAGNAC, André, dir. – O homem antes da escrita. Lisboa; Rio de Janeiro: Edições Cosmos, 1963.
(Rumos do Mundo; 1).

499

También podría gustarte