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Baudelaire, Charles (1821–1867) Poemas recomendados

Les Fleurs du Mal por Olavo de Carvalho


LXXIV – La Cloche fêlée na 108ª aula do COF

Il est amer et doux, pendant les nuits d’hiver


(4 de junho de 2011)
d’écouter, près du feu qui palpite et qui fume, (alguns apenas constavam ao lado deles, mas foram incluídos aqui)
les souvenirs lointains lentement s’élever
au bruit des carillons qui chantent dans la brume.

Bienheureuse la cloche au gosier vigoureux


Poetas
qui, malgré sa vieillesse, alerte et bien portante, Bocage, Manuel Maria Barbosa du ....................................2
jette fidèlement son cri religieux,
ainsi qu’un vieux soldat qui veille sous la tente! Camões, Luís Vaz de ..........................................................4

Moi, mon âme est fêlée, et lorsqu’en ses ennuis Manuel Bandeira ................................................................9
elle veut de ses chants peupler l’air froid des nuits, Antônio Ferreira ...............................................................10
il arrive souvent que sa voix affaiblie
Antero de Quental ............................................................14
semble le râle épais d’un blessé qu’on oublie
au bord d’un lac de sang, sous un grand tas de morts, Guimaraens Filho, Alphonsus de ......................................17
et qui meurt, sans bouger, dans d’immenses efforts.
Augusto Meyer Jr. ............................................................19

Antonio Machado .............................................................21

Baudelaire, Charles ..........................................................24


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Manuel Maria Barbosa du Bocage (1765–1805)

Nuevas Canciones – IV
Dois últimos sonetos
I Esta luz de Sevilla... Es el palacio
donde nací, con su rumor de fuente.
Mi padre, en su despacho. —La alta frente,
Meu ser evaporei na lida insana
la breve mosca, y el bigote lacio—.
do tropel de paixões, que me arrastava;
ah!, cego eu cria, ah!, mísero eu sonhava
Mi padre, aún joven. Lee, escribe, hojea
em mim quase imortal a essência humana.
sus libros y medita. Se levanta;
va hacia la puerta del jardín. Pasea.
De que inúmeros sóis a mente ufana
A veces habla solo, a veces canta.
existência falaz me não doirava!
Mas eis sucumbe a Natureza escrava Sus grandes ojos de mirar inquieto
ao mal que a vida em sua origem dana.
ahora vagar parecen, sin objeto
donde puedan posar, en el vacío.
Prazeres, sócios meus e meus tiranos!
Esta alma, que sedenta em si não coube,
Ya escapan de su ayer a su mañana;
no abismo vos sumiu dos desenganos.
ya miran en el tiempo, ¡padre mío!,
piadosamente mi cabeza cana.
Deus, ó Deus!... Quando a morte à luz me roube,
ganhe um momento o que perderam anos,
saiba morrer o que viver não soube.

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Desdeño las romanzas de los tenores huecos


y el coro de los grillos que cantan a la luna. II
A distinguir me paro las voces de los ecos,
y escucho solamente, entre las voces, una.

¿Soy clásico o romántico? No sé. Dejar quisiera Já Bocage não sou!... À cova escura
mi verso, como deja el capitán su espada: meu estro vai parar desfeito em vento...
famosa por la mano viril que la blandiera, Eu aos Céus ultrajei! O meu tormento
no por el docto oficio del forjador preciada. leve me torne sempre a terra dura.

Converso con el hombre que siempre va conmigo; Conheço agora já quão vã figura
— quien habla solo espera hablar a Dios un día — em prosa e verso fez meu louco intento.
mi soliloquio es plática con este buen amigo Musa!... Tivera algum merecimento,
que me enseñó el secreto de la filantropía. se um raio da razão seguisse, pura!

Y al cabo, nada os debo; debéisme cuanto he escrito. Eu me arrependo; a língua quase fria
A mi trabajo acudo, con mi dinero pago brade em alto pregão à mocidade,
el traje que me cubre y la mansión que habito, que atrás do som fantástico corria:
el pan que me alimenta y el lecho en donde yago.
“Outro Aretino fui... A santidade
Y cuando llegue el día del último viaje manchei... Oh!, se me creste, gente impia,
y esté al partir la nave que nunca ha de tornar, rasga meus versos, crê na Eternidade!”
me encontraréis a bordo ligero de equipaje,
casi desnudo, como los hijos de la mar.

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Camões, Luís Vaz de (1524–1580) Antonio Machado (1875–1939)
Campos de Castilla (1907–1917)
Soneto 1 (35-40)
I – Retrato
Alegres campos, verdes arvoredos, Mi infancia son recuerdos de un patio de Sevilla,
claras e frescas águas de cristal, y un huerto claro donde madura el limonero;
que em vós os debuxais ao natural, mi juventud, veinte años en tierra de Castilla;
discorrendo da altura dos rochedos; mi historia, algunos casos que recordar no quiero.
silvestres montes, ásperos penedos, Ni un seductor Mañara, ni un Bradomín he sido
compostos em concerto desigual: — ya conocéis mi torpe aliño indumentario —,
sabei que, sem licença de meu mal, mas recibí la flecha que me asignó Cupido,
já não podeis fazer meus olhos ledos. y amé cuanto ellas pueden tener de hospitalario.
E, pois me já não vedes como vistes, Hay en mis venas gotas de sangre jacobina,
não me alegrem verduras deleitosas pero mi verso brota de manantial sereno;
nem águas que correndo alegres vêm. y, más que un hombre al uso que sabe su doctrina,
soy, en el buen sentido de la palabra, bueno.
Semearei em vós lembranças tristes,
regando-vos com lágrimas saudosas, Adoro la hermosura, y en la moderna estética
e nascerão saudades de meu bem. corté las viejas rosas del huerto de Ronsard;
mas no amo los afeites de la actual cosmética,
ni soy un ave de esas del nuevo gay-trinar.
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Soneto II Soneto 2 (13-19)

A quem provou seu dia de vindima,


Alma minha gentil, que te partiste
votado ao outro lado, ao eco, ao nada,
tão cedo desta vida, descontente,
grata é a sombra mais longa e o fim da estrada,
repousa lá no Céu eternamente
começo de um descer, que é mais acima.
e viva eu cá na terra sempre triste.
Grave, de uma tristeza inconsolada
Se lá no assento etéreo, onde subiste,
mas fiel, minha sombra é minha rima.
memória desta vida se consente,
Princípio de um além que se aproxima
não te esqueças daquele amor ardente
é o fim, talvez limiar de outra morada.
que já nos olhos meus tão puro viste.
Gosto amargo e tão doce de ter sido
E se vires que pode merecer-te
poroso a tudo, alma aberta às auroras
algũa cousa a dor que me ficou
que hão de nascer, e ao lembrado e esquecido!
da mágoa, sem remédio, de perder-te,
Saudade! mas saudade em que não choras,
roga a Deus, que teus anos encurtou,
senão cantando, o próprio mal vivido...
que tão cedo de cá me leve a ver-te
Que as horas voltem sempre, as mesmas horas!
quão cedo de meus olhos te levou.

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Augusto Meyer Jr. (1902–1970)

Soneto 57 (43-48)
Soneto I

Oh! Como se me alonga de ano em ano Gota de luz no cálice de agosto,


a peregrinação cansada minha! sabe a lúcida calma o desengano.
Como se encurta e como ao fim caminha Em vão devora o tempo o mês e o ano:
este meu breve e vão discurso humano! vindima é a vida, vinho me é o sol-posto.

Vai-se gastando a idade e cresce o dano; Cobre-se o vale de um rubor humano.


perde-se-me um remédio que ’inda tinha; Um beijo solto voa no ar, um gosto
se por experiência se adivinha, de uva madura, um aroma de mosto
qualquer grande esperança é grande engano. desce da rubra luz do céu serrano.

Corro após este bem que não se alcança; Vem, noite grave. E assim chegasse o outono
no meio do caminho me falece; meu, tão sutil e manso como agora
mil vezes caio e perco a confiança. mesmo subiu a sombra serra acima...

Quando ele foge, eu tardo; e, na tardança, Tudo se apague e a hora esqueça a hora,
se os olhos ergo, a ver se ’inda parece, que só do sonho eu vivo, e grato é o sono
da vista se me perde e da esperança. a quem provou seu dia de vindima.

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Coágulo
Soneto 58 (...-97)
De repente direi tudo. De repente, num soluço,
Mas com tanta veemência direi tudo quanto existe:
Oh! quão caro me custa o entender-te,
e com tamanha aspereza não serei nem bom nem triste.
de expressão e sofrimento, Serei apenas um grito molesto Amor, que, só por alcançar-te,
que terás minha demência doloroso rebentado de dor em dor me tens trazido a parte
no coágulo sangrento na convulsão de um momento. onde em ti ódio e ira se converte!
desabado sobre a mesa. E o mundo penoso aflito
restará desesperado Cuidei que, para em tudo conhecer-te,
E sairei pelas ruas num coágulo sangrento. me não faltasse experiência e arte;
sem saber em que cidade
agora vejo na alma acrescentar-te
estive, estou, estarei.
Triste alegre puro impuro aquilo que era causa de perder-te.
vejo a morte em cada muro
a morte na campainha Estavas tão secreto no meu peito,
ressoando do outro lado. que eu mesmo, que te tinha, não sabia
E estertorando direi que me senhoreavas deste jeito.
que vejo sangue pisado
nessas ervas pés e mãos
nesses gestos nesses risos
Descobriste-te agora; e foi por via
que vejo sangue pisado que teu descobrimento e meu defeito,
até na face do Rei! um me envergonha e outro me injuria.

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Guimaraens Filho, Alphonsus de (1870–1921)

Soneto 59 (...-84)
Do azul, num soneto
Ondados fios de ouro reluzente,
que, agora da mão bela recolhidos, Verificar o azul nem sempre é puro.
agora sobre as rosas estendidos, Melhor será revê-lo entre as ramadas
fazeis que sua beleza se acrescente; e os altos frutos de um pomar escuro
— azul de tênues bocas desoladas.
olhos, que vos moveis tão docemente,
em mil divinos raios incendidos, Melhor será sonhá-lo em madrugadas,
se de cá me levais alma e sentidos, fresco, inconstante azul sempre imaturo,
que fôra, se de vós não fôra ausente? azul de claridades sufocadas
latejando nas pedras — nascituro.
Honesto riso, que entre a mor fineza
de perlas e corais nasce e parece, Não este azul, mas outro e dolorido,
se na alma em doces ecos não o ouvisse; evanescente azul que na orvalhada
ficou, pétala ingênua, torturada.
se, imaginando só tanta beleza,
de si em nova glória a alma se esquece, Recupero-o, sem ter, e ei-lo perdido,
que será quando a vir? Ah! quem a visse! azul de voz, de sombra envenenada,
que em nós se esvai sem nunca ter vivido.

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Manuel Bandeira (1886–1968)

Ignoto Deo Soneto Plagiado de Augusto Frederico Schmidt

E de súbito n’alma incompreendida


Que beleza mortal se te assemelha, esta mágoa, esta pena, esta agonia;
ó sonhada visão desta alma ardente, nos olhos ressequidos a sombria
que reflectes em mim teu brilho ingente, fonte de pranto, quente e irreprimida.
lá como sobre o mar o Sol se espelha?
No espírito deserto, a impressentida
O Mundo é grande — e esta ânsia me aconselha misteriosa presença que não via;
a buscar-te na Terra: e eu, pobre crente, a consciência do mal que não sabia,
pelo Mundo procuro um Deus clemente, aparecida, desaparecida...
mas a ara só lhe encontro... nua e velha...
Até bem pouco, era uma imagem baça.
Não é mortal o que eu em ti adoro. Agora, neste instante de certeza,
Que és tu aqui? olhar de piedade, surgindo claro, como nunca o vi!
gota de mel em taça de venenos...
E nesse olhar tocado pela graça
Pura essência das lágrimas que choro do céu, não sei que angélica pureza,
e sonho dos meus sonhos! se és verdade, — pureza que não tenho, que perdi.
descobre-te, visão, no Céu ao menos!
(Na mesma página, havia um trecho de “Última Canção do Beco”, a que
o Prof. Olavo já aludiu por vezes no COF.)

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Antônio Ferreira (1528–1569)
Castro
Na mão de Deus
Ifante:
À Exma Sra D. Vitória de O. M.
Que direi? que farei? que clamarei?
Ó fortuna! ó crueza! ó mal tamanho!
Ó minha Dona Inês, ó alma minha, Na mão de Deus, na Sua mão direita,
morta m’és tu? Morte houve tam ousada descansou afinal meu coração.
que contra ti podesse? ouço-o, e vivo? Do palácio encantado da Ilusão
Eu vivo, e tu és morta? ó morte crua! desci a passo e passo a escada estreita.
Morte cega, mataste minha vida,
e não me vejo morto? Abra-se a terra. Como as flores mortais, com que se enfeita
Sorva-me num momento: rompa-s’alma, a ignorância infantil, despojo vão,
aparte-se de um corpo tam pesado, depus do Ideal e da Paixão
que ma detém por força.
a forma transitória e imperfeita.
Ah minha Dona Inês, ah, ah minh’alma!
Amor meu, meu desejo, meu cuidado,
minh’esperança só, minh’alegria, Como criança, em lôbrega jornada,
mataram-te? mataram-te? tua alma que a mãe leva no colo agasalhada
inocente, fermosa, humilde, e santa e atravessa, sorrindo vagamente,
deixou já seu lugar? ah de teu sangue
s’encheram as espadas? de teu sangue? selvas, mares, areias do deserto...
Que espadas tam cruéis, que cruéis mãos? dorme o teu sono, coração liberto,
ah como se moveram contra ti? dorme na mão de Deus eternamente!
Como tiveram forças, como fios
aqueles duros ferros contra ti?
Como tal consentiste, Rei cruel?

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Imigo meu, não pai, imigo meu!
Antero de Quental (1842–1891) Por que assi me mataste? ó Liões bravos!
ó Tigres! ó serpentes! que tal sêde
Transcendentalismo tinheis deste meu sangue! por que causa
vos não vinheis em mim fartar vossa ira?
A J. P. Oliveira Martins Matáreis-me, e vivera. Homens cruéis,
por que não me matastes? meus imigos,
Já sossega, depois de tanta luta, se mal vos merecia, em mim vingáreis
já me descansa em paz o coração. esse mal todo. Aquela ovelha mansa,
Caí na conta, enfim, de quanto é vão inocente, fermosa, simples, casta,
o bem que ao Mundo e à Sorte se disputa. que mal vos merecia? mas quisestes
como imigos cruéis buscar-me a morte
Penetrando, com fronte não enxuta, não da vida, mas d’alma. Ó Céus, que vistes
no sacrário do templo da Ilusão, tamanha crueldade, como logo
só encontrei, com dor e confusão, não cahistes? Ó montes de Coimbra,
trevas e pó, uma matéria bruta... como não sovertestes tais Ministros?
como não treme a terra, e s’abre tôda?
Não é no vasto Mundo — por imenso como sustenta em si tam grã crueza?
que ele pareça à nossa mocidade —
Messageiro:
que a alma sacia o seu desejo intenso...
Senhor, para chorar fica assaz tempo:
mas lágrimas que fazem contr’a morte?
Na esfera do invisível, do intangível, Vai ver aquele corpo, vai fazer-lhe
sobre desertos, vácuo, soledade, as honras, que lhe deves.
voa e paira o espírito impassível!
Ifante:
Tristes honras!
Outras honras, senhora, te guardava:
outras se te deviam. Ó triste, triste!

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Enganado, nascido em cruel signo, Eu te matei, senhora, eu te matei.
quem m’enganou? ah cego que não cria Com morte te paguei o teu amor.
aquelas ameaças! Mas quem crera Mas eu me matarei mais cruelmente
que tal podia ser? do que te a ti matáram, se não vingo
Como poderei ver aqueles olhos com novas crueldades tua morte.
cerrados para sempre? como aqueles Par’isto me dá, Deus, sómente vida.
cabelos já não de ouro, mas de sangue? Abra eu com minhas mãos aqueles peitos,
Aquelas mãos tam frias, e tam negras, arranque deles ũs corações feros,
que antes via tam alvas, e fermosas? que tal crueza ousáram: então acabe.
Aqueles brancos peitos traspassados Eu te perseguirei, Rei meu imigo.
de golpes tam cruéis? Aquele corpo, Lavrará muito cedo bravo fogo
que tantas vezes tive nos meus braços nos teus, na tua terra, destruídos
vivo, e fermoso, como morto agora, verão os teus amigos, outros mortos,
e frio o posso ver? ai como aqueles de cujo sangue s’encherão os campos,
penhores seus tam sós? ó pai cruel! de cujo sangue correrão os rios,
Tu não me vias neles? meu amor, em vingança daquele: ou tu me mata,
já me não ouves? já não te hei de ver? ou foge da minh’ira, que já agora
já te não posso achar em tôda a terra? te não conhecerá por pai. Imigo
Chorem meu mal comigo quantos m’ouvem. me chamo teu, imigo teu me chama.
Chorem as pedras duras, pois nos homens Não m’és pai, não sou filho, imigo sou.
s’achou tanta crueza. E tu, Coimbra, Tu, senhora, estás lá nos Céus, eu fico
cubre-te de tristeza para sempre. em quanto te vingar: logo lá vôo.
Não se ria em ti nunca, nem s’ouça Tu serás cá Rainha, como fôras.
senão prantos, e lágrimas: em sangue Teus filhos, só por teus serão Ifantes.
se converta aquela ágoa do Mondego. Teu inocente corpo será posto
As árvores se sequem, e as flores. em estado Real: o teu amor
Ajudem-me pedir aos Céus justiça m’acompanhará sempre, té que deixe
deste meu mal tamanho. o meu corpo c’o teu; e lá vá est’alma
descansar com a tua para sempre.

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