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INTRODUÇÃO:
O SANGUE AZUL, A DEONTOLOGIA E O DIREITO À INFORMAÇÃO
Eugênio Bucci fala que existem dois tipos de exigência dos bons modos do jornalista.
O primeiro é a reivindicação de um limite para o poder dos meios de comunicação, um meio de
determinar que o espírito que se encontra na origem do jornalismo não seja corrompido. “Exigir
que ajam com responsabilidade social e com consciência, que não abusem do poder de que estão
investidos, que não se valham dele para destruir reputações e para deformar as instituições
democráticas” (p. 11).
O segundo tipo de exigência diz respeito às boas maneiras dos profissionais, pois este
é um princípio que por si só reduz problemas da ética jornalística, e dos meios de comunicação.
É uma questão de respeito com o público. “Os meios de comunicação (...) devem ser regidos
por uma ética que preserve, acima de tudo, os direitos do cidadão” (p. 11).
Conflito e convivência
“A ética jornalística não se resume a uma normatização do comportamento de
repórteres e editores; encarna valores que só fazem sentido se forem seguidos tanto por
empregados da mídia como por empregadores – e se tiverem como seus vigilantes os cidadãos
do público. A liberdade de imprensa é um princípio inegociável, ele existe para beneficiar a
sociedade democrática em sua dimensão civil e pública, não como prerrogativa de negócios sem
limites na área da mídia e das telecomunicações, em dimensões nacionais e transnacionais” (p.
12)
Teleologia e Deontologia
E. B. Lambeth, Commited journalism – An ethic for the professioni, 2ª ed., Indiana
University Press, 1992.
“Lambeth expõe duas correntes básicas que comparecem aos estudos sobre imprensa:
a teleológica e a deontológica. A primeira leva em conta as consequências do ato. (...) o
jornalista deve julgar o que traz mais benefícios (éticos) para mais pessoas” (p. 21)
“A segunda corrente (...) é bem menos flexível (...). Inspira-se na idéia de (...) Kant,
para quem uma regra de conduta só pode ser eticamente aceita se for universal, isto é, se tiver
validade tanto para o agente como para todos os outros seres racionais. A consequência do ato já
não importa. O que importa é que o ato se revista das características de um imperativo
categórico universal, (...) que se apóie em princípios que tenham a mesma validade para todos”
(p. 22)
“A ética jornalística não é apenas um atributo intríseco do profissional ou da redação,
mas é, acima disso, um pacto de confiança entre a instituição do jornalismo e o público (...). A
ética interna das redações e a ética pessoa dos jornalistas devem ser cultivadas, aprimoradas e
exigidas, mas elas só são plenamente eficazes quando as premissas da liberdade de imprensa
estão asseguradas” (p. 25)
“É preciso ver que novas questões se apresentam dentro de uma comunicação social
marcada pela presença dos grandes conglomerados da mídia e pela crescente aproximação entre
jornalismo e entretenimento, perfazendo a lógica do espetáculo” (p. 26).
CAPÍTULO I:
FAZ SENTIDO FALAR DE ÉTICA NA IMPRENSA?
“(...) ao jornalismo cabe perseguir a verdade dos fatos para bem informar o público, (...)
o jornalismo cumpre uma função social antes de ser um negócio, (...) a objetividade e o
equilíbrio são valores que alicerçam uma boa reportagem” (p. 30)
“Discutir ética na imprensa só faz sentido se significar pôr em questão os padrões de
convivência entre as pessoas, individualmente, e de toda a sociedade no que se refere ao trato
com a informação de interesse público e com a notícia. (...) Essa discussão só tem um
interessado: o cidadão” (p. 32)
“Jornais, revistas, emissoras de rádio e televisão dedicados ao jornalismo (...) devem
existir porque os cidadãos têm direito à informação (...)” (p. 33)
Bucci salienta que a atividade jornalística, por consequência, se converteu em um
mercado. Entretanto, deve sempre recordar que do direito fundamental da imprensa resulta a
ética que deveria reger os jornalistas e as empresas de comunicação.
“O único interessado na discussão ética é o cidadão (...) que consome as notícias e que,
no fim, é o beneficiário final do jornalismo de qualidade – ou a vítima do jornalismo vil” (p.
36).
CAPÍTULO II:
A SÍNDROME DA AUTO-SUFICIÊNCIA ÉTICA
Neste capítulo, o autor fala do tabu que a ética ainda é para alguns jornalistas. Para
ele, ainda se trata de um tema pouco familiar principalmente nas redações, e tem ligação com o
sentimento de arrogância que alguns jornalistas ainda preservam. “É como se a imprensa
proclamasse: minha função é informar o público, mas meus valores não estão em discussão, os
meus métodos não são da conta de mais ninguém – eles são bons, corretos e justos por
definição” (p. 39).
CAPÍTULO III:
INDEPENDÊNCIA E CONFLITO DE INTERESSES
“Independência editorial (...) significa manter a autonomia para apurar, investigar, editar
e difundir toda informação que seja de interesse público, o interesse do cidadão, e não permitir
que nenhum outro interesse prejudique essa missão” (p. 56).
A informação livre de interesses de terceiros é um direito garantido pelo Código de
Ética da Associação Nacional de Jornais (ANJ). Entretanto, sabemos que as empresas
jornalísticas levam em conta interesses de anunciantes, governantes e outros agentes sociais na
hora de informar o público. A independência editorial existe para atender à cidadania.
“Duas ordens distintas de forças podem golpear a independência editorial. A primeira é
externa; origina-se diretamente do poder político e tem como alvo a liberdade de imprensa. Ela
vitima o direito à informação por meio da censura e da repressão a jornalistas e órgãos de
imprensa” (p. 59)
“A segunda força reside no interior mesmo da imprensa, e sua primeira manifestação é
o conflito de interesses” (p. 59). Sobre este, o Código de Ética da ANER (Associação Nacional
de Editores de Revistas) diz que o preceito de uma empresa jornalística é trabalhar
exclusivamente para o leitor. “O conflito de interesses, tanto aquele vivido pelas empresas como
o individual, ameaça a independência editorial e a qualidade da informação que os órgãos de
imprensa transmitem ao público” (p. 59-60).
“...os procedimentos práticos do jornalismo moderno foram (...) conformados nas
relações capitalistas de produção e consumo. (...) além de conhecer os métodos consagrados
pelo mercado para enfrentar toda sorte de conflitos de interesse, é essencial explorar os limites
dos mecanismos do mercado para dirimi-los” (p. 60).
O método “igreja-estado”
“Se uma companhia leva a sério sua função social de informar, deve pôr acima de tudo
os interesses do cidadão. (...) porque o cidadão, afinal, é o consumidor da informação, e é para
ele que trabalham os jornalistas” (p. 61)
Opinião e informação
“Do mesmo modo que é preciso zelar para que a independência de cada repórter
contribua para a independência final do veículo, é preciso ajudar o leitor a distinguir o que é
opinião do que é informação” (p. 107)
Para jogar limpo é necessário que artigos opinativos sejam separados visivelmente das
reportagens. Esse é um ponto praticado pela maioria dos jornais e publicações.
CAPÍTULO IV:
O VÍCIO E A VIRTUDE
Paul Johnson - historiador, ensaísta e jornalista – é autor de artigos na revista britânica
Spectator que têm sido listados como referência para o debate sobre ética na imprensa. Ele
listou sete pecados capitais e dez mandamentos como antídoto para eles, classificando os erros
em categorias claras.
Sete pecados capitais listados por Johnson:
1. Distorção, deliberada ou inadvertida.
2. Culto das falsas imagens.
3. Invasão da privacidade.
4. Assassinato de reputação.
5. Superexploração do sexo.
6. Envenenamento das mentes das crianças.
7. Abuso de poder.
Três comentários críticos com base nos “sete pecados capitais” e nos “dez mandamentos”
1- O mito da opinião pública (e da verdade por ela revelada)
De novo, a ética da profissão
“Se a opinião publica já não se apresenta como fonte absoluta para dar os parâmetros do
certo e do errado – pois (...) tende a confundir popularidade com legitimidade e tende a sobrepor
preferências de mercado a exigências de direitos –, é preciso que o jornalismo de qualidade
encontre balizas mais eficazes para informá-lo e orientá-lo. Aí é que incide a ética jornalística”
(p. 175).
“O complemento do significado prático de dizer que, para a imprensa, o compromisso
com a democracia está acima do compromisso com os humores do publico é que muitas vezes a
imprensa deve remar contra a opinião popular. Só assim ela pode servir de vigilante do poder”
(p. 175)
“...a violência urbana leva as pessoas a pedir linchamentos de malfeitores e a defender
ações policiais que sumariamente assassinem s suspeitos de delinqüência. O papel do jornalismo
não é fazer coro com essa mentalidade, mas o contrário: é combatê-la” (p. 175-176)
“Hoje, a fé na opinião pública não pode mais ser cultivada como um mito pelos
jornalistas. Ela deve ser atualizada pela fé no aperfeiçoamento de mecanismos democráticos que
garantam a pluralidade. Já não é aceitável o argumento dos que dizem oferecer aquilo que “o
povo pede” (p. 176)
2- O fantasma da manipulação
De onde vem a ideia da manipulação
“Para muitos críticos, o maior problema da imprensa é este, a manipulação: não apenas
aquela que é promovida diretamente pelos dirigentes dos meios de comunicação em prejuízo do
publico em geral, (...) mas também a manipulação exercida por uma classe (“dominante”) contra
outra classe (“dominada”). Esse entendimento, convertido num fantasma, ronda o debate sobre
ética no jornalismo” (p. 178)
Um outro patamar para a ética
“...a ética existe para proteger o jornalismo – e a condição de cidadão que, no homem
comum, vem sendo sobrepujada pela condição de consumidor. A ética deve cuidar de orientar o
jornalismo a atender o consumidor de forma crítica, sem se restringir às demandas do mercado.
Ela certamente condena qualquer tentativa de manipular informações , mas não pára aí. Procura
estabelecer um norte para que, no afã de servir ao consumidor, o jornalista não se desvie de sua
função social. A ética ajuda o jornalista a se afastar da idolatria do consumo, e o convida ao
atendimento das exigências de diversidade e pluralidade que a democracia impõe” (p. 185)
CAPÍTULO V:
O ESPETÁCULO NÃO PODE PARAR
Especialização e independência
“A formação ética estimula o crescimento de profissionais críticos – e ser crítico não
significa ter um olhar canhestro sobre o mundo, mas ter um olhar fundamentado, atualizado e
independente sobre a área de sua cobertura” (p. 199)
“A formação crítica permanente não é outra coisa senão a formação ética. Mas a
formação ética, atualmente, precisa contemplar não apenas os preceitos clássicos – como o da
busca da verdade, o do respeito à privacidade, o da independência em relação aos governos e
aos anunciantes -, mas também os temas incômodos, como o do entretenimento, o dos
conglomerados da mídia e do espetáculo” (p. 200)
O jornalismo como espetáculo não pode parar. “Cabe à imprensa encontrar os meios
para compreendê-lo, para informar o público sobre os mecanismos pelos quais ele reconfigura a
realidade e, principalmente, para não se conformar à função de linha auxiliar das relações
públicas generalizada” (p. 201)
CONCLUSÃO:
PROPOSTAS QUE NÃO SÃO BONS CONSELHOS
Para o autor, o que pode ser feito para melhorar a ética é a educação para a cidadania.
“É preciso formar jornalistas, é preciso envolver o público no debate, e é preciso investir na
construção de uma mentalidade social que prestigie e cobre excelência da imprensa” (p. 203)
Na universidade
As faculdades tem o dever de ensinar que o jornalismo, acima de tudo, é uma ética.
“...uma relação de credibilidade pela qual os profissionais são autorizados a informar o cidadão
de forma equilibrada, voltada para a verdade dos fatos” (p. 203)