Está en la página 1de 26

1

2
Antología Bilíngüe
•••
Antología Bilingüe

BATER PAPO
MÉXICO
3
Primera edición 2011

Diseño de cubierta: Karen Alvarado Alcazar

Queda rigurosamente prohibida, sin la autorización de los titulares


del copyright, bajo las sanciones establecidas por las leyes, la
reproducción total o parcial de esta obra por cualquier medio o
procedimiento, comprendido la reprografía y tratamiento
informático.

©Ediciones Bater Papo, 2011.


Izazaga 92, Centro Histórico, C.P. 06080, México D.F.
Printed in Mexico
Impreso en Landuc, S.A

4
PRÓLOGO

•••

La obra que están por leer está compuesta de dos partes:


traducciones al español de cuentos escritos en portugués y
cuentos inéditos escritos en portugués por hispanohablantes.

La idea de traducir textos del portugués surgió a partir


de que un maestro anterior, dedicado a la traducción, pensó
que sería un gran ejercicio. A mí, particularmente, me parecía
una tarea complicada, pero decidí llevarla a cabo al ver el
entusiasmo de los chicos. Después de llevar la materia de
portugués durante tres semestres, ellos se sentían capaces de
tal tarea; no sería yo, la maestra, quién los iba a desalentar.

Entonces, pensé: bueno, si son capaces de traducir,


¡también lo serán de escribir trabajos inéditos! Y de ahí nació
el reto de que produjeran sus propios textos en el idioma de
Pessoa. Los ayudé, es cierto, ya que los primeros cuentos
fueron elaborados a partir de una pesquisa bibliográfica sobre
algún personaje de la cultura lusófona. Después de realizar el
ejercicio, no todos aceptaron publicar su trabajo en esta
antología; y por suerte, para nuestro deleite, la generosa

5
autora de “Ainda lembro” decidió hacerlo, tomando a Oscar
Niemayer como fuente de inspiración.

La elección de los textos a traducir pasó primero por


la limitante de los derechos de autor, por lo que decidimos
que lo más prudente seria elegir textos que fueran de dominio
público (cuidado necesario en un mundo en donde los
derechos de propiedad intelectual no logran aún ser regidos
por la solidaridad). Mientras esperamos que este día llegue,
nos quedamos con autores de los cuales nos separan muchos
años, pero que lograron seducirnos con sus palabras. Esta
etapa nos costó mayor dedicación, pues incluso yo tuve que
ayudarles a encontrar las palabras más adecuadas en español,
para que no se perdiera la riqueza de aquellos textos escritos
en un pasado lejano.

Sin embargo, uno de los textos no respetó esta regla


primordial: en “La Luna y Yo”, texto reciente publicado en la
antología Literatura Marginal Brasileña, decidimos
arriesgarnos para mostrar que no solo de clásicos se hace la
literatura en Brasil.

Más adelante encontrarán, con Cecilia Meireles,


Rubem Braga y Joao do Rio, que son autores consagrados; y
tendrán también la oportunidad de leer a Jocenir, un joven
autor prácticamente desconocido.

Aún más significativo será el encuentro con otros


valientes autores que aceptaron el reto de crear un texto en
un idioma distinto del suyo. Lo hicieron mezclando su

6
entusiasmo, sus herramientas literarias, un poquito de
irreverencia y mucha ganas de expresarse. Lo único que hice
yo fue organizarlos para que los cuentos tuvieran un tema
común (elegido por ellos): los sueños. Mas una que otra
sugerencia de léxico.

El resultado aquí está. Creo que a ellos les gustó, tanto


que decidieron publicarlo. A mí me dejan la agradable
sensación de haber podido compartir, acompañar y contagiar
el amor por un idioma. Lo que resta es esperar que no lo
olviden, aunque sea en sus sueños.

Ana Gilka

7
8
Cecília Meireles

9
10
MEDITAÇÃO NO PRESÉPIO

uando São Francisco de Assis inventou o

Q primeiro presépio, e falou das coisas do céu


numa gruta, dizem que, ao ajoelhar—se,
desceu—lhe aos braços estendidos um Menino
todo de luz. O Santo Poeta colocara ali apenas umas poucas
imagens: as da Sagrada Família, a do irmão jumento e a do
irmão boi. O áspero cenário de pedra tinha a nudez franca da
pobreza, a rispidez dos desertos do mundo, o recorte bravio
dos lugares de sofrimento. Aí, o Menino de luz pode descer,
porque ele vinha para ensinar caminhos difíceis, e restituir às
coisas naturais da terra o sentido da sua presença na ordem
universal.

O amor humano é um perigoso jogo. Por amor, os


homens foram construindo presépios ao longo do mundo, e já
não lhes bastava a pedra desguarnecida: queriam recobri—la
do ornamento da sua devoção. Trouxeram folhagens e flores,
dispuseram frutos e pássaros, desceram o céu, num pálio de
seda azul, colheram as estrelas, dos ramos que se alongam na

11
noite. Caçaram a lua, no meio da sua viagem, e pescaram o sol,
redondo peixe de nadadeiras flamejantes.

Não lhes bastaram, porém, ainda, esse convite e essa


conquista, no reino dos adornos da natureza. Convocaram os
habitantes do mundo para uma adoração geral. Trouxeram os
pastores, que deviam ser os vizinhos mais próximos da feliz
manjedoura; trouxeram os lavradores e os artífices, de acordo
com as imaginárias relações da família do recém—nascido.

Mas era preciso não esquecer os Profetas, anunciadores


do acontecimento, e das ruas da Bíblia os fizeram descer com
suas barbas, seus cajados, suas visões e ainda cheios de voz.

Os Reis vieram por si, de olhos postos na Estrela; e


como os Reis traziam os camelos; e os pastores, carneiros,
também os Profetas arrastaram leões, e cabras sem defeito —
e depois, em muita confusão, toda besta que remói, umas de
unha fendida, outras não; e até os animais que caminham
sobre o peito e os que têm muitos pés e ainda assim se
arrastam pelo chão.

E, puxados uns pelos outros, vieram o cavalo e a mula, o


cão e o elefante, o macaco, a hiena, o chacal e o leopardo, e o
imundo crocodilo, com a cordilheira dos seus dentes, e a
lagosta abominável, sem escama nem barbatana.

Foi talvez a lagosta que açulou os apetites, e os nobres


italianos, com aquela pompa que o Renascimento lhes incutiu,
trouxeram para os presépios a escamosa alcachofra e o

12
labiado repolho, e cachos de uvas e salsichas, e o queijo e a
rosca e o vinho — tudo que o amor ama e, por amor, quer
repartir.

E os Profetas trouxeram as Sibilas, e as Sibilas as


Cassandras e as Medéias e as Circes, e quem sabe até onde o
humano mar se iria aproximando de onda em onda, nessa
aglomeração sucessiva para adorar o Menino e ornamentar o
Presépio. Homero traria seus argonautas; o rei Artur, seus
paladinos; Marco Polo, seus mercadores, Gengis—Khan seus
guerreiros — e o negro, o chim, o índio emplumado e o
friorento esquimó se acomodariam todos sem dificuldade no
recinto mágico presidido por um pobre Menino celestial.

E tão bem se sentiriam que, sem desejo de regresso,


iriam buscar suas casas e suas montanhas, seus rios e seus
moinhos, seus arados e seus fornos, suas embarcações e suas
tendas, e ali se poriam a trabalhar, ao som de doces cânticos
ali mesmo inventados, e ali bailariam, com gaitas e sanfonas,
adufes e harpas, ocarinas e violas e tudo quanto, com metal,
corda ou sopro, é capaz de produzir um som de feitura
harmoniosa, comparável ao gorjeio das aves, ao suspiro das
águas, ao adejar do vento e à voz humana quando quer ser
mais que linguagem.

E o sol e a lua e as estrelas ainda pareceram apagados,


para tão ambiciosa festa, e as mulheres e as moças puseram—
se a dançar com círios acesos nas mãos, e tudo foi recamado
de ouro em pó, e cada qual começou a escolher trajos mais

13
cintilantes, de cetins mais lustrosos, com lavores mais ricos, e
do mar e da terra se desentranharam todas as coisas que
brilham e deslumbram, e não houve príncipe nem sacerdote
nem mercador nem escravo que não gastasse os olhos e as
pontas dos dedos, cosendo em seus estofos as gemas que os
tornassem mais resplandecentes.

E nesse esplendor de fitas e rendas, de colares e anéis,


com os animais de chifres dourados, de testa empenachada,
de manto lavrado e guarnições de fina cinzelura, até se
recordou que o Menino não podia estar ali despido como
simples deus humanado — e teceram—lhe camisinhas e
envolveram—no em brancas sedas, e para a tímida Virgem e o
submisso carpinteiro trouxeram finas roupagens esmaltadas
de cintos e fivelas, com barras de arabescos e densas pregas
faustosas.

E as belas canções subiam como, nas hastes gladioladas,


abrem os lírios verticalmente, de salto em salto.

E houve assim uma existência de amor, e alguém


pensaria estar o mundo apaziguado, e a família terrena
compreendida e satisfeita, trabalhando e cantando, bailando e
dormindo tendo em redor de si a parede rústica do Presépio.

Mas, na verdade, a parede do Presépio deixara de


existir. O que havia eram muitas paredes, de palácios e de
mosteiros, de chácaras e de cozinhas de quartéis e de fábricas,
de lojas e de manicômios.

14
Porque essa humanidade se arruinou e adoeceu;
esqueceu—se que a oferenda não lhe pertencia, e estendeu a
mão para a alcachofra e para a lagosta, para o cavalo do
guerreiro e a coroa do suserano, e o que tocava cítara quis
brandir espada, e o que varria o estábulo apoderou—se da
cítara.

De modo que se chegou a ver o legionário romano, de


agulha e dedal, bordando flores sobre cetim, e as dríades
empunhando lanças, e os javalis sentados em cadeiras de
ouro, abanados por leques de plumas.

Ninguém mais podia amar a sua oferta, mas a do seu


vizinho; e já não amava com amor de dar, mas com amor de
possuir. E não houve mais quem se despojasse, mas só quem
apreendesse.

Notou—se que o sol e a lua e as estrelas não tinham


mais sua substância própria: eram de ouro e de gemas, eram
pintados e incrustados; não se moviam nem aqueciam mais.

Notou—se que os cantores tinham ficado melancólicos


e a dança não se levantava em asas tênues: arrastava caudas
fúnebres, patas desconfiadas, pontas de espadas surdas.

E aquilo que foi um Presépio era um mundo de


contradições, sem equilíbrio nem sentido. Os Profetas eram
alucinados — e as Sibilas, dementes; os Reis, uns
conquistadores mesquinhos; os guerreiros, uns assassinos
convictos.

15
Nuvens de seda e pó de danças toldaram a íntima,
pequena cena de um nascimento sobrenatural. Tudo tinha
ficado mais importante que o Menino chegado para ensinar o
amor. Tudo tinha formado sucessivos planos, anteriores uns
aos outros, sobrepostos uns aos outros, escondendo—se uns
aos outros, num amontoado de riqueza, ambição, prepotência,
vaidade, cobiça, rapina, mentira, traição e ódio.

E tudo isso foi desabando por si mesmo, porque estava


armado sem fundamento; e viram—se os Profetas fugitivos,
arrastando os animais santificados e os imundos; e as Sibilas
recolhiam seus oráculos perdidos, e as Medéias e as Circes
enrolaram seus velhos feitiços; e os que tinham vindo por
engano choraram pelas palavras que tinham entendido; e os
que tinham vindo por verdadeiro amor deixaram pender a
cabeça, e foram empurrados na onda devastadora, porque o
amor é distraído e desatento de si, sem agressão nem defesa, e
fica sempre esmagado, no torvelinho dos atropelos.

Mas quando tudo ruir completamente, — porque


sempre chegam novos forasteiros ao Presépio, e cada um se
diz o único verídico, o mais sincero e o mais poderoso, o mais
rico e o mais fiel — quando tudo ruir completamente, o
Menino continuará na sua gruta, com a sua família humilde, o
irmão boi e o irmão jumento, para recomeçarem a vida, na
simplicidade humana das coisas naturais e universais.

E se outro São Francisco se ajoelhar na gruta rústica, o


Menino virá todo em luz aos seus braços, porque só o Santo

16
Poeta entendia dessa irmandade geral do céu e da terra, e da
graça de todos os despojamentos, e da alegria de não precisar
ter, pela contemplação de todos os enganos, e da leveza da
vida em expressão absoluta.

(Rio de Janeiro, revista Rio, 1946)

17
18
MEDITACIÓN EN EL PESEBRE

uando San Francisco de Asís inventó el

C
primer pesebre y habló de las cosas del cielo
en una gruta, dicen que, al humillarse,
descendióle a los brazos extendidos un Niño
todo de luz. El Santo Poeta colocó ahí apenas
unas pocas imágenes: las de la Sagrada
Familia, la del hermano burro y la del hermano buey. El
áspero escenario de piedra tenía la desnudez franca de la
pobreza, la rispidez de los desiertos del mundo, el recorte
bravo de los lugares del sufrimiento. Ahí el Niño de luz podía
bajar, porque venía para enseñar caminos difíciles, y restituir
las cosas naturales de la tierra es el sentido de su presencia en
el orden universal.

El amor humano es un peligroso juego. Por amor los


hombres fueron construyendo pesebres a lo largo del mundo,
y ya no les bastaba la piedra desguarnecida: querían recobrar
la del ornamento de su devoción. Trajeron follajes y flores,
dispusieron frutos y pájaros, bajaron el cielo, en un palio de

19
seda azul, cogieron las estrellas de las ramas que se alargan en
la noche. Cazaron la luna, en medio de su viaje, y pescaron el
sol, redondo pez de aletas flotantes.

No les bastaron, aún, esa invitación y esa conquista, en


el reino de los adornos de la naturaleza. Convocaron a los
habitantes del mundo a una adoración general. Trajeron a los
pastores, que debían ser los vecinos más cercanos al feliz
pesebre; trajeron a los labradores y a los artífices, de acuerdo
con las imaginarias relaciones de la familia del recién nacido.

Pero era necesario no olvidar a los Profetas,


anunciadores del acontecimiento. De las calles de la Biblia los
hicieron bajar con sus barbas, sus bastones, sus visiones
todavía llenas de voz.

Los Reyes vinieron por sí, con los ojos puestos en la


Estrella; y como los Reyes traían los camellos; y los pastores,
carneros, también los Profetas arrastraban leones, y cabras
sin defecto – y después, en medio de mucha confusión, toda
bestia rumía, unas de uña tendida, otras no; y hasta los
animales que caminan sobre el pecho y los que tienen muchos
pies, todavía así se arrastran por el suelo.

Y tirados unos por los otros, vinieron el caballo y la


mula, el can y el elefante, el mono, la hiena, el chacal y el
leopardo, el inmundo cocodrilo, con la cordillera de sus
dientes, y la langosta abominable, sin escama ni aleta.

20
Fue tal vez la langosta que aguzó los apetitos, y los
nobles italianos, con aquella pompa que el Renacimiento les
infundió, trajeron para los pesebres la escamosa alcachofa y el
labiado repollo, y racimos de uvas y salchichas, y el queso y la
rosca y el vino –todo lo que el amor ama y, por amor, se
quiere repartir.

Y los Profetas trajeron a las Síbilas, y las Síbilas a las


Casandras y a las Medeas y a las Circes, y quién sabe hasta
dónde el humano mar se iría aproximando de onda en onda,
en esa aglomeración sucesiva para adorar al Niño y adornar el
Pesebre. Homero traía a sus argonautas; el rey Arturo, a sus
paladines; Marco Polo, a sus mercaderes, Gengis—Khan a sus
guerreros –y el negro, el chino, el indio emplumado y el
friolento esquimal se acomodaban todos sin dificultad en el
recinto mágico presidido por un pobre Niño celestial.

Y tan bien se sentían que, sin deseo de regreso, iban a


buscar sus casas y sus montañas, sus ríos y sus molinos, sus
arados y sus hornos, sus embarcaciones y sus tiendas, y ahí se
ponían a trabajar, al sonido de los dulces cánticos ahí mismo
inventados, y ahí bailaban, con gaitas y acordeones, adufes y
harpas, ocarinas y violas y todo cuanto, con metal, cuerda o
aliento, es capaz de producir un sonido de hechura
armoniosa, comparable al gorjeo de las aves, al suspiro de las
aguas, al soplar del viento y a la voz humana cuando quiere
ser más que lenguaje.

21
Y el sol y la luna y las estrellas todavía parecieron
apagadas, para tan ambiciosa fiesta, y las mujeres y las
jóvenes se pusieron a bailar con cirios encendidos en las
manos, y todo fue bordado de oro en polvo y cada cual
comenzó a escoger trajes más centellantes, de sedas más
lustrosas, con tejidos más ricos, y del mar y de la tierra se
desentrañaban todas las cosas que brillan y deslumbran, y no
hubo príncipe ni sacerdote ni mercader ni esclavo que no
gastara los ojos y las puntas de los dedos, cosiendo en sus
rellenos las gemas que los volvieran más resplandecientes.

Y en ese esplendor de cintas y rentas, de collares y


anillos, con los animales de cuernos dorados, de frente
empenachada, de manto labrado y guarniciones de fina
cinceladura, se recordó que el Niño no podía estar ahí
desnudo como simple dios humanado – y le tejieron camisitas
y lo envolvieron en blancas sedas, y para la tímida Virgen y el
sumiso carpintero trajeron finos ropajes esmaltados de cintos
y hebillas con barras de arabescos y densas arrugas fastuosas.

Y las bellas canciones subían como, en las astas


gladioladas, abren los lirios verticalmente, de salto en salto.

Y hubo así una existencia de amor, y alguien pensaría


estar en el mundo apaciguado, y la familia terrenal
comprendida y satisfecha, trabajando y cantando, bailando y
durmiendo tendida alrededor de sí la pared rústica del
Pesebre.

22
Pero, en verdad, la pared del Pesebre dejaba de existir.
Lo que había eran muchas paredes, de palacios y monasterios,
de granjas y de cocinas de cuarteles y de fábricas, de tiendas y
de manicomios.

Porque esa humanidad se arruinó y adoleció; se olvidó


de que la ofrenda no le pertenecía, y extendió la mano para la
alcachofa y para la langosta, para el caballo del guerrero y la
corona del soberano, y el que tocaba la cítara quiso blandir la
espada, el que barría el establo se apoderó de la cítara.

De modo que se llegó a ver el legionario romano, de


aguja y dedal, bordando flores sobre satén, y las dríades
empuñando lanzas, y los jabalíes sentados en sillas de oro,
abanicados por abanicos de plumas.

Nadie más podía amar su oferta, sino la de su vecino; y


ya no se amaba con amor de dar, sino con amor de poseer. Y
no hubo más quien se despojase, sino sólo quien
aprehendiese.

Se notó que el sol y la luna y las estrellas no tenían más


su sustancia propia: eran de oro y de gemas, eran pintadas e
incrustadas; no se movían ni calentaban más.

Se notó que los cantantes se habían tornado


melancólicos y la danza no se levantaba en alas tenues:
arrastraba colas fúnebres, patas desconfiadas, puntas de
espadas sordas.

23
Y aquello que fue un Pesebre era un mundo de
contradicciones, sin equilibrio ni sentido. Los Profetas eran
alucinados – y las Sibilas, dementes; los Reyes, unos
conquistadores mezquinos; los guerreros, unos asesinos
convictos.

Nubes de seda y polvo de danzas cubrieron la íntima,


pequeña escena de un nacimiento sobrenatural. Todo se había
vuelto más importante que el Niño llegado para enseñar el
amor. Todo había formado sucesivos planos, anteriores unos
a otros, sobrepuestos unos a los otros, escondiéndose unos a
otros, en una acumulación de riqueza, ambición, prepotencia,
vanidad, codicia, rapiña, mentira, traición y odio.

Y todo eso fue desmoronándose por sí mismo, y veíanse


los Profetas fugitivos, arrastrando los animales santificados y
los inmundos, porque estaba armado sin animales
santificados y sí con los inmundos; y las Sibilas recogían sus
oráculos perdidos, y las Medeas y las Circes enrollaron sus
viejos hechizos; y los que habían venido por engaño lloraron
por las palabras que habían entendido; y los que habían
venido por verdadero amor dejaron inclinar la cabeza, y
fueron empujados en la onda devastadora, porque el amor es
distraído y desatento de sí, sin agresión ni defensa y queda
siempre aplastado, en el torbellino de los atropellos.

Pero cuando todo se desmorone completamente, —


porque siempre llegan nuevos forasteros al Pesebre, y cada
uno se dice el único verídico, el más sincero y el más

24
poderoso, el más rico y el más fiel— cuando todo se
desmorone completamente, el Niño continuará en su gruta,
con su familia humilde, el hermano buey y el hermano burro,
para recomenzar la vida, en la simpleza humana de las cosas
naturales y universales.

Y si otro San Francisco se arrodilla en la gruta rústica, el


Niño vendrá todo en luz a sus brazos, porque sólo el Santo
Poeta entendía de esa hermandad general del cielo y de la
tierra, de la gracia de todos los despojamientos, y de la alegría
de no precisar tener, por la contemplación de todos los
engaños, y de la levedad de la vida en expresión absoluta.

Traducción de Armando Navarro

25
26

También podría gustarte