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Araújo, Samuel
A violência como conceito na pesquisa musical; reflexões sobre uma experiência dialógica na Maré,
Rio de Janeiro
Trans. Revista Transcultural de Música, núm. 10, diciembre, 2006, p. 0
Sociedad de Etnomusicología
Barcelona, España
Resumen
Este articulo explora el uso de la violencia como concepto más bien que como
categoría descriptiva en la investigación socio-musicológica. Está basado en
investigación dialógica sober música, memoria y sociabilidad en un sector
marginal residencial de Rio de Janeiro, en el cual los etnomusicólogos sirven de
mediadores entre el conocimiento académico y un grupo de jóvenes integrantes
de las comunidades quienes definen los problemas a ser investigados y
desarrollan las herramientas conceptuales para trabajarlos. Como resultado de
de un intercambio de tres años entre la academia y las demandas de
poblaciones locales, los jóvenes involucrados en este proyecto también
reflexionan sobre el impacto de esta experiencia en relación con las políticas
públicas actuales que están dirigidas a "ayudar" a jóvenes pobres.
Abstract
This paper explores the use of violence as a concept, rather than as a
descriptive category, in socio-musical research. It draws upon a dialogic
research on music, memory and sociability within a disenfrahchised residential
area of Rio de Janeiro, in which ethnomusicologists act as mediators between
academic knowledge and a group of young community members who define
research problems and develop conceptual tools to deal with them. As a result
of a three-year exchange between academia and local demands, the youngsters
involved in the project also reflect upon the impact of this experience vis-à-
vis current public policies directed toward "assisting the needs" of the poor
youth.
A violência como conceito na pesquisa musical
Outro, e, caso positivo, sobre que pressupostos? O que fazer então com o
conhecimento acumulado pelo colonialismo, através de relações de
dominação e exploração? Pode tudo isso ser realmente colocado em
perspectiva comparativa ou relacional com uma interpretação
efetivamente Outra, formulada por aqueles cujas vozes ainda não
obtiveram efetiva autonomia no mundo acadêmico? Estas permanecem
questões perturbadoras, embora amplamente negligenciadas, talvez por
possuírem potencial de debilitar as ciências sociais no sentido de uma
prática auto-reprodutiva, com regras de conduta estabelecidas, códigos de
ética, etc. Pierre Bourdieu, apenas para mencionar um nome ilustre
freqüentemente invocado na virada epistemológica da etnomusicologia da
década de 1980, tratou repetidas vezes deste tema em seu trabalho,
incluído o volume póstumo (Bourdieu 2005) em que reflete sobre a
improvável carreira de um filho de funcionário público provincial (a sua
própria) chegando ao topo da aristocrática hierarquia da academia
francesa.
Muitos analistas (e.g., Zaluar 2004; Misse 1995; Machado da Silva 1999)
concordam que o crescimento observado em indicadores da violência,
bem como da predominância de representações específicas da mesma no
debate público, se encontram invariavelmente associados à hegemonia do
tráfico de drogas nas áreas desassistidas pelo poder público.
Configurando um novo quadro das relações sociais no Rio de Janeiro das
últimas décadas, isto teria levado a referências alarmantes, registradas
nas mais diversas mídias, à existência de um estado-dentro-do-estado de
caráter criminoso ou para-legal; em senso comum, um Estado paralelo. As
ciências sociais têm desconstruído sistematicamente esta imagem
A violência como conceito na pesquisa musical
Contexto de pesquisa
A concepção da pesquisa sobre a música, memória e sociabilidade na
Maré, Rio de Janeiro, atualmente em andamento, surgiu como
desdobramento de uma série de discussões entre professores e alunos da
área de etnomusicologia no âmbito da Escola de Música da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), tentando assimilar alguns dos debates
cruciais em antropologia (as assim chamadas “crises” da representação e
da autoridade etnográfica, o valor e modo de inserção da voz nativa como
contribuição ao debate acadêmico, etc.) e, em conseqüência deles,
procurando vislumbrar objetivos e metodologias de pesquisa
experimentais. Estudos de pequena escala, conduzidos principalmente
por alunos de pós-graduação (CAMBRIA 2002, MARQUES 2003)[14],
resultaram em trabalhos de pesquisa e dissertações que buscavam
combinar estratégias mais tradicionais de observação participante com
formas “dialógicas” de etnografia, estas incluindo cuidadosa negociação
de focos e formas de difusão das respectivas pesquisas. À medida que
tais discussões se tornaram mais sólidas e os resultados parciais mais
palpáveis e difundidos através de dissertações, publicações e
participações em simpósios, algumas ONGs comunitárias da cidade do
Rio de Janeiro procuraram pelo Laboratório de Etnomusicologia da UFRJ
A violência como conceito na pesquisa musical
Por razões variadas, a primeira parceria do LE/ foi firmada com o CEASM
(Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré), uma ONG criada por
moradores de uma das áreas residenciais do Rio mais estigmatizadas
pela equação favela-exclusão-tráfico-violência, representação parcial mas
decerto recorrente como “verdade”, por viés conservador e discriminatório,
em certo espectro do imaginário carioca, de formuladores de políticas
púbicas a agentes do aparelho repressivo de Estado.
Comentario Final
Em síntese, este texto partiu de uma proposta de adoção da categoria
violência como instrumento conceitual para compreensão da vida social,
em contraponto a seu caráter descritivo de momentos excepcionais ou de
crise de uma ordem estabelecida, de um estado ideal ou natural de
sociabilidade pacífica, prevalente, por bom período, em parte considerável
da literatura em ciências sociais. Em seguida procurou contextualizá-la em
uma pesquisa colaborativa, envolvendo parceria estável entre uma
unidade acadêmica pública e uma organização não-governamental
fundada por moradores de uma área densamente povoada e desassistida
pelo poder público na cidade do Rio de Janeiro. Finalmente, colocou em
pauta a questão: devem as políticas públicas para a juventude nestas
áreas, que freqüentemente possuem a sua base noções
instrumentalizadoras da arte em geral e da música em particular, restringir-
se à ação emergencial ou integradora à ordem vigente? Ou devem ter seu
conteúdo expandido—ou, quiçá, transformado—em ações legitimadoras
do direito à plena inserção social, incluindo possibilidades de auto-
representação e formulação política?
Notas
● [1] Os autores agradecem o apoio financeiro e institucional à pesquisa que
serve de base a este texto do Conselho Nacional de Pesquisa e
Desenvolvimento (2003-2005), Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado
A violência como conceito na pesquisa musical
relativamente recente.
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