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FACULDADE ÚNICA EDUCAÇÃO A

DISTÂNCIA

Prática Pedagógica
Interdisciplinar: Estudos
Antropológicos e
Sociológicos
CÍNTIA RODRIGUES DE OLIVEIRA MEDEIROS

1
Prática Pedagógica
Interdisciplinar: Estudos
Antropológicos e
Sociológicos
CÍNTIA RODRIGUES DE OLIVEIRA MEDEIROS

1
FACULDADE ÚNICA EDITORIAL

Diretor Geral: Valdir Henrique Valério


Diretor Executivo: William José Ferreira
Ger. do Núcleo de Educação a Distância: Cristiane Lelis dos Santos
Coord. Pedag. da Equipe Multidisciplinar: Gilvânia Barcelos Dias Teixeira
Revisão Gramatical e Ortográfica: Izabel Cristina da Costa
Revisão/Diagramação/Estruturação: Bruna Luiza Mendes Leite
Carla Jordânia G. de Souza
Guilherme Prado Salles
Design: Aline de Paiva Alves
Bárbara Carla Amorim O. Silva
Élen Cristina Teixeira Oliveira
Taisser Gustavo Soares Duarte

© 2021, Faculdade Única.

Este livro ou parte dele não podem ser reproduzidos por qualquer meio sem Autorização escrita
do Editor

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Tel (31) 2109 -2300 – 0800 724 2300
www.faculdadeunica.com.br

1
Prática Pedagógica
Interdisciplinar: Estudos
Antropológicos e
Sociológicos
1° edição

Ipatinga, MG
Faculdade Única
2021
2
3
LEGENDA DE

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VAMOS PENSAR?
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associando-os a suas ações.

FIXANDO O CONTEÚDO
Atividades de multipla escolha para ajudar na fixação dos
conteúdos abordados no livro.

GLOSSÁRIO
Apresentação dos significados de um determinado termo ou
palavras mostradas no decorrer do livro.

4
SUMÁRIO UNIDADE 1
ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA: PESPECTIVA HISTÓRICA
1.1 Introdução..........................................................................................................................................................................................8
1.2 Principais áreas da Antropologia e da Sociologia .................................................................................................8
1.3 Antropologia - Principais teóricos clássicos ............................................................................................................10
1.4 Sociologia - Principais teóricos clássicos ....................................................................................................................11
FIXANDO O CONTEÚDO .............................................................................................................................................................14

UNIDADE 2
CONHECIMENTO ANTROPOLÓGICO E SOCIOLÓGICO COMO BASE PARA
COMPREENSÃO DA SOCIEDADE
2.1 Introdução ......................................................................................................................................................................................17
2.2 A organização da sociedade .............................................................................................................................................17
2.3 Organnizações modernas ..................................................................................................................................................18
2.4 Trabalho e vida econômica .............................................................................................................................................20
FIXANDO O CONTEÚDO ............................................................................................................................................................24

UNIDADE 3
A CULTURA NA PESPECTIVA SOCI0OLÓGICA E ANTROPOLÓGICA
3.1 Introdução .....................................................................................................................................................................................27
3.2 A gênese das noções de cultura ....................................................................................................................................27
3.3 Socialização ..................................................................................................................................................................................28
3.4 Mídia e comunicação de massa ....................................................................................................................................29
FIXANDO O CONTEÚDO .............................................................................................................................................................32

UNIDADE 4
ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA: CONTRIBUIÇÕES PARA A COMPREENSÃO DAS
RELAÇÕES SOCIAIS NAS ORGANIZAÇÕES
4.1 Introdução .....................................................................................................................................................................................35
4.2 Cultura organizacional X Cultura administrativa .............................................................................................35
4.3 Paradigmas da cultura ........................................................................................................................................................36
4.4Método etnográfico ................................................................................................................................................................38
FIXANDO O CONTEÚDO ............................................................................................................................................................40

UNIDADE 5
O OLHAR SOCIOANTROPOLÓGICO SOBRE OS PROBLEMAS SOCIAIS
5.1 Introdução .....................................................................................................................................................................................43
5.2 Multiculturalismo e diversidade ...................................................................................................................................43
5.3 Pobreza e exclusão social ..................................................................................................................................................45
5.4 Raça e etnicidade ....................................................................................................................................................................46
FIXANDO O CONTEÚDO ............................................................................................................................................................50

UNIDADE 6
DEBATES CONTEPORÂNEOS
6.1 Introdução .....................................................................................................................................................................................53
6.2 Neoliberalismo e globalização ........................................................................................................................................53
6.3 Direitos, cidadania e movimentos sociais ...............................................................................................................57
FIXANDO O CONTEÚDO ..............................................................................................................................................................61

RESPOSTAS DO FIXANDO O CONTEÚDO ....................................................................................................................63


REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................................................................64

5
UNIDADE 1
Nesta unidade, serão apresentadas as perspectivas teóricas da Antropologia e da
Sociologia e sua constituição como campo de conhecimento, bem como seus
CONFIRA NO LIVRO

principais teóricos clássicos, e suas contribuições para a compreensão da sociedade


e dos problemas sociais.

UNIDADE 2
Depois de conhecer as perspectivas teóricas da Antropologia e da Sociologia, você
verá um pouco sobre a organização da sociedade, as organizações modernas e a
relação trabalho e vida econômica.

UNIDADE 3
Nesta unidade serão apresentadas as noções de cultura, o conceito de socialização e
a mídia e comunicação de massa como influenciadores de estilo de vida.

UNIDADE 4
Nesta unidade, serão apresentados as contribuições da Antropologia e da Sociologia
para a compreensão das relações sociais nas organizações. Serão foco de discussão a
cultura organizacional e a pesquisa da cultura na vertente sociológica, antropológica
e em Administração.

UNIDADE 5
Nesta unidade, serão apresentados conceitos que contribuem para a compreensão
dos problemas sociais contemporâneos: multiculturalismo, diversidade, pobreza,
exclusão social, raça e etnicidade.

UNIDADE 6
Nesta unidade serão apresentados três temas que são alvo de debates
contemporâneos: Neoliberalismo e Globalização, Direitos, cidadania e movimentos
sociais.

6
01
ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA: UNIDADE
PERSPECTIVA HISTÓRICA

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1.1 INTRODUÇÃO
As ciências sociais constituem uma área de conhecimento relevante para a compre-
ensão da sociedade e das relações humanas. Particularmente, a Antropologia e a Socio-
logia, a despeito de suas diferenças, têm em comum teorias que buscam explicar a vida
cotidiana, portanto, sua aplicabilidade se expande para além do senso comum, potenciali-
zando intervenções das pessoas para melhorar a vida em sociedade. O estudo das pessoas
na sociedade, ou como parte da estrutura da sociedade, pode levar à compreensão de pro-
blemas como a violência, o preconceito, os conflitos sociais, o futebol, entre outros. Além
disso, a Antropologia e a Sociologia oferecem conhecimento que auxilia outros campos de
conhecimento, como a informática, a arquitetura, a administração, entre outros.
O campo de conhecimento formado pela Antropologia e a Sociologia não é recente,
apresentando uma trajetória histórica com a presença de teóricos clássicos, como Augus-
to Comte, Émile Durkheim, Max Weber, Karl Marx, Franz Boaz, Margarete Mead, Bronislaw
Malinowski, para mencionar alguns. O estudo das teorias antropológicas e sociológicas
tem o potencial de estimular o questionamento sobre o contexto social e suas problemá-
ticas. No cotidiano da vida em sociedade, as pessoas se deparam com fenômenos natu-
ralizados, sem exercer o estranhamento sobre eles, ou seja, aceitam-se esses fenômenos
como eles se apresentam.
Consumo, produção, música, economia, organizações, entre outros, são fenômenos
sobre os quais exige-se o pensar, exige-se o refletir sobre o posicionamento que se tem a
respeito deles, e, assim, rever a visão de mundo adotada para lidar com os problemas do
cotidiano. As teorias sociológicas e antropológicas constituem-se em conhecimento que
permite às pessoas compreender, interpretar, analisar e resolver problemas sociais pre-
sentes no cotidiano de suas vidas. Dessa maneira, tais teorias permitem desenvolver uma
postura caraterística de um cidadão crítico e uma cidadã crítica, habilitando-os ao pleno
exercício da cidadania.
Nesta unidade, iniciamos apresentando o percurso da trajetória da Antropologia e
da Sociologia para, em seguida, considerando os diversos limites deste material, apresen-
tar os principais teóricos clássicos, de modo a estimular o estudo de outros teóricos que
contribuíram para a constituição do campo.
Aprender a pensar sociologicamente – olhando – em
outras palavras, de forma mais ampla – significa cul-
tivar a imaginação. Estudar sociologia não pode ser
apenas um processo rotineiro de adquirir conheci-
mento. Um sociólogo é alguém que é capaz de se
libertar da imediatidade das circunstâncias pessoais
e apresentar as coisas num contexto mais amplo (GI-
DDENS, 2005, p. 24).

1.2 PRINCIPAIS ÁREAS DA ANTROPOLOGIA E DA SOCIOLOGIA


A Antropologia e a Sociologia têm abordagens distintas, portanto, suas áreas serão
tratadas separadamente. Inicialmente, apresenta-se a Antropologia.
O debate central da Antropologia é o enigma do homem, o que está expresso na
etimologia da palavra: Anthropos (homem) e logos (conhecimento). A Antropologia é, en-

8
tão, a ciência que estuda o homem, sua evolução biológica, cultural e social. Foi no Século
XIX que a Antropologia alcançou o status de disciplina científica, no entanto, suas origens
datam de séculos anteriores, quando das descobertas de outros povos (DAMATTA, 1997)
Tomando a categorização de Laplantine (1991) a Antropologia desenvolveu-se em
quatro campos:

1. Antropologia Biológica ou Física: esta abordagem se ancora na noção do homem en-


quanto ser biológico, sendo centrais para esse entendimento os seguintes aspectos:
relações entre natureza e cultura na constituição do ser humano; a variação espaço-
-temporal dos caracteres biológicos do homem; e a influência dos fatores culturais no
desenvolvimento do indivíduo.
2. Antropologia Pré-histórica ou Arqueologia: esta abordagem estuda o homem pelos
seus vestígios materiais encontrados no solo ou em inscrições rupestres. As interpreta-
ções sobre sistemas socioculturais já desaparecidos permitem a dedução de aspectos
relacionados à cultura, como alimentação, práticas religiosas, entre outros.
3. Antropologia Linguística: esta abordagem concentra-se no estudo da linguagem,
como símbolo da cultura e ferramenta para transmissão das tradições. É pela lingua-
gem que os indivíduos significam e ressignificam o mundo, expressando seus valores,
suas preocupações e seus pensamentos.
4. Antropologia Social ou Cultural, ou Etnologia: esta abordagem diz respeito à socieda-
de, seus modos de produção, suas técnicas, sua organização política, sistemas familia-
res, religião, entre outros fenômenos. A Antropologia social considera o homem como
membro de uma cultura e sociedades específicas.

FIQUE ATENTO
Só pode ser considerada como antropológica uma abordagem integrativa que objetice levar
em consideração as múltiplas dimensões do ser humano em sociedade.

Enquanto a Antropologia se desenvolveu em direção à compreensão do homem, a


Sociologia se desenvolveu em torno das preocupações relacionadas com as consequên-
cias do processo de industrialização nas cidades.
A Sociologia busca compreender, com auxílio da antropologia e de outros campos
de conhecimento, como os agrupamentos sociais humanos se desenvolveram, ou seja, se
concentra nas estruturas sociais para fornecer ferramentas teóricas que permitam a inter-
venção nas problemáticas sociais. Assim como a Antropologia, a Sociologia é uma ciência
recente, tendo surgido do pensamento iluminista, pouco depois da Revolução Francesa.
Foi a primeira ciência social a se institucionalizar, antes mesmo da ciência política.
Giddens (2005) destaca três das mais importantes e recentes perspectivas sociológi-
cas, com suas concepções sobre a sociedade:

1. Funcionalismo – a sociedade é um sistema complexo composto por partes que funcio-


nam em conjunto para produzir a estabilidade, tendo o consenso moral sua relevância
para a manutenção da ordem.
2. Abordagem de conflito – a sociedade é composta por grupos distintos que buscam

9
garantir seus próprios interesses. Os interesses divergentes indicam potencial para o
surgimento de conflitos e tensões entre grupos dominantes e desfavorecidos dentro da
sociedade.
3. Interacionismo simbólico - A sociedade é produzida pelas interações face a face nos
contextos da vida cotidiana e suas instituições. As interações envolvem símbolos e seus
significados, os quais são compartilhados para dar sentido aos que as pessoas dizem e
fazem.

O Funcionalismo foi adaptado para diferentes campos de conhecimento, como a


filosofia, a psicologia e a antropologia. Seu principal objetivo é explicar a sociedade, as
ações coletivas e individuais, a partir de causalidades, ou seja, de funções. Nesse sentido, a
sociedade, ou o que se observa com as lentes do funcionalismo, é compreendida como um
sistema, composto por subsistemas relacionados e com funções específicas.

1.3 ANTROPOLOGIA - PRINCIPAIS TEÓRICOS CLÁSSICOS


A Antropologia se desenvolveu com base em diversos estudiosos, destacando-se en-
tre eles: Franz Boas, Margarete Mead e Bronislaw Malinowski.
Franz Boas (1818-1883) formulou a teoria do relativismo cultural, que sustentava que
todas as culturas eram essencialmente iguais, mas, simplesmente, deveriam ser entendi-
das em suas especificidades. Comparar duas culturas seria equivalente a comparar maçãs
e laranjas: são distintas e, portanto, devem ser abordadas como tal. Para Boas, nenhuma
cultura era mais ou menos desenvolvida ou avançada do que outra, elas eram, simples-
mente, diferentes. Boas também confrontou a crença de que diferentes grupos étnicos
eram mais avançados que outros, se opondo ao racismo científico, que sustentava que a
raça era um conceito biológico, e não cultural, e que as diferenças raciais poderiam, assim,
ser atribuídas à biologia subjacente (ELWERT, 2015)
Bronislaw Malinowski (1884-1942), sob a bandeira teórica do Funcionalismo, revo-
lucionou os métodos de trabalho de campo, cultivando um estilo inovador de escrita et-
nográfica. Juntamente com Radcliffe-Brown, estabeleceu os fundamentos metodológicos
do trabalho de campo etnográfico. Durante a Primeira Guerra Mundial, Malinowski reali-
zou um estudo etnográfico intensivo na Ilha Trobiand, que representou um dos momentos
da fundação da Antropologia Moderna.
Margarete Mead (1901-1978) era mais conhecida por seus estudos sobre os povos
não alfabetizados na Oceania, especialmente no que diz respeito a vários aspectos da psi-
cologia e da cultura: o condicionamento cultural do comportamento sexual, o caráter na-
tural e a mudança cultural. Mead também fez incursões em tópicos como direitos das
mulheres, educação dos filhos, moralidade sexual, proliferação nuclear, relações sociais,
abuso de drogas, controle populacional, poluição ambiental e fome no mundo.

FIQUE ATENTO
A Sociologia e a Antropologia nos permitem compreender o mundo social a partir de outros
pontos de vista que não o nosso. Essas duas ciências não têm um corpo de ideias que todos
aceitam como válidas e universais, pois elas dizem respeito às nossas vidas e ao nosso com-
portamento, tarefa que exige esforço e reflexão.

10
1.4 SOCIOLOGIA – PRINCIPAIS TEÓRICOS CLÁSSICOS
Os principais teóricos clássicos da Sociologia, conforme apontado por Giddens (2005),
são Augusto Comte, Emile Durkheim, Max Weber e Karl Marx. Abaixo estão descritos os
pontos centrais de suas teorias.
Augusto Comte (1758 – 1857) - Auguste Marie François Xavier Comte, francês, filó-
sofo e matemático, fundou o Positivismo e é considerado o pai da Sociologia. Comte en-
tendia que a sociologia deveria aplicar métodos científicos rigorosos da ciência positiva,
os mesmos usados no estudo do mundo físico, para entender a sociedade, visto que para
ele a sociedade se conforma com leis invariáveis. Uma abordagem positivista da sociologia
pretende produzir conhecimento sobre a sociedade com base em evidências empíricas
obtidas de forma metodológica (observação, comparação e experimentação).
Karl Marx (1818-1883) é uma das figuras mais influentes da história da humanidade.
A maior parte da sua obra concentra-se em temas econômicos, mas sempre conectados
com as instituições sociais. O ponto de vista de Marx estava fundado no que ele chama-
va de concepção materialista da história. O materialismo histórico está centrado na ideia
de que as formas da sociedade aumentam e diminuem à medida que avançam e impe-
dem o desenvolvimento do poder produtivo do homem. O processo histórico, para Marx,
é necessário para uma série de modos de produção caracterizados pela luta de classes. A
análise econômica de Marx sobre o capitalismo baseia-se em sua teoria do valor do traba-
lho e inclui a análise do lucro capitalista como a extração da mais-valia do proletariado. A
análise da história e da economia se reúne na previsão de Marx sobre o inevitável colapso
econômico do capitalismo, que seria, em um futuro, substituído por uma sociedade mais
humana.

FIQUE ATENTO
MAIS-VALIA – conceito empregado por Karl Marx para explicar a diferença entre o valor final
da mercadoria produzida e a soma do valor dos meios de produção e do valor do trabalho,
que é a base do lucro no sistema capitalista.

Émile Durkheim (1859 – 1917), assim como Comte, entendia que a vida social deve
ser estudada com a objetividade das ciências naturais. A obra de Durkheim abrange um
amplo espectro de tópicos (instituições sociais, solidariedade, anomia, mudança social, en-
tre outros). Para Durkheim, a Sociologia deveria se preocupar com os fatos sociais, que são
maneiras de agir, de pensar e de sentir que obriga os indivíduos a se adaptar às regras da
sociedade onde vivem. Porém, um fato social não é qualquer acontecimento. Um fato so-
cial apresenta três características: Coercitividade (característica relacionada com o poder,
ou a força com a qual os padrões culturais de uma sociedade se impõem aos indivíduos
que a integram, obrigando esses indivíduos a segui-los); Exterioridade (quando o indivíduo
nasce, a sociedade já está organizada com suas leis, seus padrões, etc.); Generalidade (os
fatos sociais são coletivos, ou seja, eles não existem para um único indivíduo, mas para todo
um grupo, ou sociedade).
Max Weber (1864-1920) tinha amplo conhecimento relacionado à economia, direito,
filosofia, história e sociologia. Os estudos empíricos de Weber apontaram características

11
básicas das sociedades industriais modernas. Weber achava que a sociologia deveria se
concentrar na ação social e não nas estruturas, pois as motivações e ideias humanas eram
as forças que levariam à mudança social, pois os indivíduos têm a habilidade de agir livre-
mente e moldar o futuro. Ao contrário de Durkheim e Marx, Weber não acreditava que as
estruturas sociais existiam independentemente dos indivíduos. As ideias de Weber, apesar
de controversas, representaram uma inovação sobre o modo de pensar a sociedade.
Anthony Giddens oferece uma comparação entre as ideias de Weber e Marx:

IDEIAS MARXISTAS IDEIAS WEBERIANAS


A principal dinâmica do desenvolvimento A principal dinâmica do desenvolvimento
moderno é a expansão dos mecanismos moderno é a racionalização da produção.
econômicos capitalistas.
As sociedades modernas são fendidas pe- A classe é um tipo de desigualdade entre
las desigualdades de classe, que são fun- tantos – como as desigualdades existentes
damentais para sua própria natureza. entre homens e mulheres – nas sociedades
modernas.
As grandes divisões de poder, como aque- No sistema econômico, o poder é separável
las que afetam a posição diferencial entre de outras fontes, por exemplo, as desigual-
homens e mulheres, são, no fim das con- dades entre homens e mulheres não podem
tas, resultado de desigualdades econômi- ser explicadas em termos econômicos.
cas.
As sociedades modernas, assim como Certamente, haverá um progresso ainda
hoje as conhecemos (sociedades capita- maior da racionalização, no futuro, em todas
listas), são um tipo transicional – podemos as esferas, da vida social. Todas as sociedades
esperar que venham a ser radialmente modernas dependem dos mesmos modos
reorganizadas no futuro. O socialismo, de fundamentais de organização social e eco-
um tipo ou de outro, acabará substituindo nômica.
o capitalismo.
O avanço da influência ocidental em todo O impacto global do Ocidente origina-se no
o mundo é resultado, sobretudo, das ten- seu controle sobre os recursos industriais,
dências expansionistas da iniciativa capi- aliado a um poder militar superior.
talista.
Quadro 1: Uma comparação entre Marx e Weber
Fonte: Giddens (2005, p. 536)

VAMOS PENSAR?
Procure compreender as diferenças entre Marx e Weber sobre: o desenvolvimento, o poder, a
mudança social, impacto global do Ocidente no mundo. Com quais dessas ideias você pode-
ria concordar analisando o contexto contemporâneo?

A Sociologia tem um amplo conjunto de ideias, teorias e perspectivas para expli-


car fenômenos sociais. A título de exemplo, apresentamos três autores contemporâneos e
suas temáticas:
Ulrich Beck e a sociedade de risco – o argumento é que a sociedade industrial está
sendo substituída por uma sociedade de risco, em uma época que as instituições são cada
vez mais globais. O avanço tecnológico e científico, de fato, cria situações de riscos de difícil
avaliação, mesmo que tenha trazido muitos benefícios para a vida humana. Observe que

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em muitas decisões que tomamos no nível da vida cotidiana incidem riscos. O autor não
defende que o mundo contemporâneo tenha maiores riscos que épocas anteriores, mas,
sim, mostra que há uma natureza dos riscos com os quais nos defrontamos (BECK, 1992).
Manuel Castells e a economia em rede - o argumento é que a sociedade da infor-
mação se caracteriza por uma economia em rede proporcionada pelo avanço tecnológico.
A tecnologia da informação, para Castells, é o meio de capacitação local e de renovação co-
munitária , representando uma mudança qualitativa na experiência humana (CASTELLS,
2003)
Cada vez mais, a nova ordem social, a sociedade em
rede, parece uma ordem social para a maior parte
das pessoas. Ou seja, uma sequência automática e
aleatória de eventos, derivada da lógica incontrolável
dos mercados, tecnologia, ordem geográfica ou de-
terminação biológica (CASTELLS, 1999, p. 505).
Anthony Giddens e a reflexividade social – o autor desenvolve o conceito de reflexivi-
dade social para se referir à necessidade de pensarmos e refletir a respeito da nossa vida e
das circunstâncias que lhe são comuns. Esse conceito é uma referência ao fato de que as
práticas sociais são constantemente examinadas e reformadas conforme as descobertas
sucessivas acerca dessas práticas (GIDDENS, 1991).

BUSQUE POR MAIS

Manifesto Comunista: A análise textual de Ruy Fausto (1998) é didática e abor-


da acertos e erros do manifesto, considerando a época, sendo um exemplo de
uma postura crítica sobre um manuscrito tão debatido.
Disponível em: https://bit.ly/2OBkBKE. Acesso em: 20 mar. 2020.

Strangers Abroad: A série televisiva sobre Bronislaw Malinowski, apresenta al-


guns dos primeiros antropólogos a viverem entre os povos que lhes interessa-
vam, suas trajetórias acadêmicas e suas contribuições para o pensamento con-
temporâneo. Disponível em: https://bit.ly/2DTatek. Acesso em: 20 mar. 2020.

Incidência de suicídio: Confira a reportagem do G1 sobre os índices de suicídio


em São Paulo, publicada em 2020.
Disponível em: https://glo.bo/3lQhFd3. Acesso em: 20 mar. 2020.

O Suicídio: Para Emile Durkheim, o suicídio, antes que o problema psicológico, é um fato
social. A obra publicada em 1877 traz o relato de sua pesquisa sobre os índices de suicídio
na Europa, mostrando como padrões sociais podem ser detectados em ações individuais.
Mesmo recebendo muitas críticas, o estudo de Durkheim sobre o suicídio é um clássico para
a compreensão da sociedade.

13
FIXANDO O CONTEÚDO
1. A Antropologia e a Sociologia são ciências sociais cujas abordagens são distintas.

Assinale a alternativa correta sobre essas duas ciências sociais.

a) A Sociologia e a Antropologia foram criadas no mesmo contexto sócio-histórico e com


os mesmos objetivos.
b) A Antropologia é a ciência que estuda o homem, sua evolução biológica, cultural e social.
c) A Antropologia e a Sociologia se desenvolveram a partir dos estudos de Karl Marx.
d) A Sociologia é uma ciência que busca entender a origem biológica do homem.
e) A Antropologia e a Sociologia são ciências exatas.

2. A abordagem da antropologia que se baseia na dimensão física do homem é denominada:

a) Antropologia Social
b) Arqueologia
c) Antropologia Biológica
d) Antropologia Pré-histórica
e) Antropologia Humana

3. A abordagem da Antropologia Linguística concentra-se nos seguintes aspectos:

a) Variação espaço-temporal das características morfológicas do homem


b) Inscrições rupestres e linguagem
c) Religião e família
d) Signos e linguagem
e) Música e Alimentação

4. Sobre as perspectivas sociológicas, aponte a alternativa correta:

a) Para o funcionalismo, os sistemas que compõem a sociedade devem produzir a


instabilidade.
b) Para a abordagem do conflito, a sociedade é composta por sistemas que devem produzir
a instabilidade.
c) Para a abordagem do interacionismo simbólico, a sociedade é produzida pelas interações
humanas.
d) A abordagem funcionalista e a abordagem do conflito têm em comum a busca pelo
consenso
e) Nenhuma das respostas acima está correta

5. A abordagem sociológica que entende que os interesses divergentes dos diversos


grupos da sociedade promovem tensões entre grupos dominantes e desfavorecidos é
denominada:

14
a) Funcionalismo
b) Interpretativismo
c) Marxismo
d) Simbolismo
e) Nenhuma das alternativas

6. Sobre os teóricos clássicos da Antropologia, é correto afirmar que:

a) Franz Boas argumenta que não existem diferenças culturais, pois todas as culturas são
essencialmente iguais;
b) Bronislaw Malinowski confrontou a crença de que diferentes grupos étnicos eram mais
avançados que outros;
c) Margarete Mead concentrou-se nos estudos sobre o comportamento e a mudança
cultural
d) Margarete Mead e Bronislaw Malinowski concentraram no estudo de povos não
alfabetizados
e) Todas as respostas acima estão corretas.

7. Sobre os teóricos clássicos da Sociologia, é correto afirmar que:

a) Augusto Comte argumenta que o conhecimento universal deve ser aplicado no estudo
da sociedade.
b) Karl Marx explica o capitalismo com base em sua teoria do valor do trabalho
c) Para Karl Marx, o capitalismo impede o poder produtivo do homem
d) Durkheim defende que a Sociologia não deveria se preocupar com os fatos sociais
e) Nenhuma das alternativas acima está correta

8. Os estudos empíricos de Max Weber apontaram caraterísticas básicas das sociedades


industriais modernas. Marque a alternativa correta quanto ao pensamento weberiano:

a) a sociologia deveria se interessar no estudo de suas estruturas


b) são as estruturas sociais e o estado que levam à mudança social
c) as estruturas sociais existem independentemente do homem
d) A principal dinâmica do desenvolvimento moderno é a racionalização da produção.
e) nenhuma das alternativas acima está correta

15
02
CONHECIMENTO ANTROPOLÓGICO UNIDADE
E SOCIOLÓGICO COMO BASE PARA
COMPREENSÃO DA SOCIEDADE

16
2.1 INTRODUÇÃO
Depois de conhecer as ideias centrais da Sociologia e Antropologia, pode-se enten-
der a sua importância como ciências e como elas contribuem para o entendimento da
sociedade, de suas relações e de seus fenômenos, como, por exemplo, as organizações e
instituições que a compõem.
A sociedade se organiza ou se estrutura em grupos e organizações que buscam al-
cançar seus objetivos. Esses grupos têm acesso a diferentes tipos e quantidade de recur-
sos, gerando, então, as desigualdades, pois alguns grupos têm maior acesso aos recursos
disponíveis que, por sua vez, podem ser escassos.
As organizações tornaram-se cada vez mais importante para as pessoas, pois elas
estão presentes em todos os momentos da vida do homem, desde o seu nascimento até
sua morte. O funcionamento das organizações baseia-se no papel que elas assumem no
sistema social.
Muitos aspectos do mundo social estão mudando ao longo do tempo. O trabalho e a
vida econômica também vêm sofrendo grandes transformações, como o fim de algumas
carreiras e o surgimento de novas, e, também, o modo como as corporações se movimen-
tam pelo mundo fazendo alianças para competir em um mercado cada vez mais comple-
xo.
Nesta Unidade 2, serão tratados temas relacionados com o modo como a socieda-
de se organiza e a relação entre trabalho e vida econômica. Você poderá compreender as
estruturas sociais e seu funcionamento, bem como os problemas que decorrem do modo
como a sociedade está organizada.

2.2 A ORGANIZAÇÃO DA SOCIEDADE


Sociedade é uma rede complexa de relações sociais composta por um conjunto de
indivíduos que, pelo fato de terem diferentes acessos aos recursos disponíveis, estão es-
tratificados em camadas sociais, conforme fatores econômicos, culturais, políticos e reli-
giosos. Uma sociedade é estruturada e organizada conforme o papel que cada uma das
partes (estrutura econômica, política jurídica, familiar, instituições sociais, etc) que a com-
põem desempenha. A estratificação social é a diferenciação de indivíduos e grupos em
posições de forma hierárquica em um sistema, considerando que esses são ligados por um
sistema de relações, direitos e deveres.
Dessa forma, a estrutura social representa a posição de indivíduos e grupos dentro
de um sistema de padrões que confere a cada um dos seus componentes um sentido
quanto às expectativas a serem atendidas e quanto ao modo como esses devem pensar
e agir. Portanto, a estrutura da sociedade tem a função de possibilitar a interação social e,
também, um sentido organizacional aos indivíduos ou grupos.
O status de um indivíduo é a sua posição social de acordo com a hierarquia, privilé-
gios, riqueza e poder. O papel que o indivíduo desempenha em uma sociedade está rela-
cionada às regras e normas que prescreve a ocupação do indivíduo na sociedade e que
pode ser biológico ou social.
Na sociedade, têm-se os seguintes tipos de estrutura social: Grupos sociais (com-
postos por algum tipo de status de acordo com as expectativas culturais), organizações ou
estruturas organizacionais (compostas por diversidades de status e finalidades), comuni-
dades (organizações das residências e atividades das pessoas), instituições (criadas para

17
manter a regulamentação e controle), e categorias sociais (compostas por grupos com
caraterísticas semelhantes, como sexo, idade, etc.).

VAMOS PENSAR?
O conceito de estrutura social como a representação das posições de indivíduos e grupos em
dada sociedade pode não retratar os desvios ocultos. Muitas variáveis não são identificáveis
nesse conceito, por exemplo, gênero. Os homens e as mulheres recebem tratamento diferen-
ciado no ambiente de trabalho por causa do seu sexo, o que é identificável na estrutura social,
porém, o tempo ou as horas trabalhadas podem ser mascarados. Portanto, uma análise da
estrutura social deve levar em conta uma multiplicidade de variáveis e sub-variáveis além de
combinar os vários aspectos da vida social, o que consiste em um desafio a ser superado.

Essa abordagem, de natureza funcionalista, pressupõe que as estruturas sociais de-


terminam a ação humana. Ao explicar a estrutura social como um fenômeno social pa-
dronizado, o funcionalismo coloca a ação humana à margem, ou seja, a estrutura social de
uma dada sociedade é capaz de coagir os indivíduos a se comportarem de forma a buscar
a estabilidade do sistema.
No entanto, as sociedades podem ser estruturadas da mesma forma, mas se orga-
nizarem de formas diferentes, pois a vida coletiva ganha vida e contornos pelas interações
de indivíduos e grupos. Giddens (2009) propõe a Teoria da Estruturação (TE) que explica
não ser possível conceber os sistemas sociais e a ação individual de modo separadamente,
visto a necessidade de recíproca existência entre ambos, o que ele chama de dualidade da
estrutura.
[...] uma das principais proposições da TE [Teoria da
Estruturação] é que as regras e os recursos esboça-
dos na produção e na reprodução da ação social são,
ao mesmo tempo, os meios de reprodução do siste-
ma (a dualidade da estrutura) (GIDDENS, 2009, p. 22).

Nessa perspectiva, Giddens (2009) argumenta que a ação social pode ocorrer dentro
de uma determinada estrutura social preexistente, que se transforma através das ações
dos atores que, por sua vez, agem de acordo com as regras e normas do sistema social vi-
gente, reproduzindo e transformando as estruturas sociais.

2.3 ORGANIZAÇÕES MODERNAS


Atualmente, as organizações desempenham papéis importantes para nossas vidas,
estando presentes no nosso cotidiano de forma nunca vista. Durante a maior parte da
história do homem, as pessoas não podiam contar com aspectos da vida, hoje comuns na
maioria das sociedades do mundo, como, por exemplo, fornecimento de água, energia elé-
trica, bens de consumo e outros. Cada vez que nós agimos, nas mínimas coisas do cotidia-
no, nós estamos em contato com organizações e, como diz Giddens (2005), dependemos
delas para realizar quase tudo nas nossas vidas. Sendo assim, é certo que as organizações
influenciam a vida em sociedade, modificando costumes, estilos de vida, e o modo como
vemos o mundo. Imagine que, ao decidir ir para o trabalho, de carro ou usando o trans-
porte público, a pessoa está interagindo com uma ou mais organizações que, por sua vez,

18
também está em contato ou depende de outras organizações. Imagine ainda a decisão de
comprar um bem ou serviço no comércio eletrônico ou na loja física: essa decisão ilustra
como as mudanças afetam os modos de vida em sociedade.
No entanto, as organizações não influenciam nossas vidas de forma totalmente be-
néfica, muitas vezes, as organizações têm a capacidade de submeter as pessoas a regras,
ordens e normas sobre as quais temos pouca influência. As organizações foram objeto de
estudo de vários teóricos, mas foi Max Weber quem desenvolveu a primeira interpretação
sistemática sobre as organizações modernas (GIDDENS, 2005).
Max Weber descreveu o funcionamento das organizações modernas na coordena-
ção das atividades dos seres humanos, ou dos bens que essas produzem, de uma maneira
estável, através do tempo e do espaço. Para Weber, as organizações de larga escala ten-
dem a ser burocráticas por natureza, pois o seu desenvolvimento depende do controle
das informações, do registro dos processos, das regras claras e ainda, o poder de decisões
concentra-se no topo, ou seja, elas tendem a ser hierárquicas. Na análise weberiana, os
conflitos e as conexões entre as organizações modernas e a democracia poderiam trazer
consequências para a vida social.
Para Weber, a ideia de burocracia está ligada ao conceito de autoridade, a qual se
manifesta em três formas, a depender das bases da sociedade ou de sua legitimidade:

O poder legítimo é conferido por costume ou prática aceita, ou seja, a


autoridade está no costume e não mas características pessoais, com-
Tradicional petência técnica ou mesmo na lei. As pessoas aceitam a autoridade do
governante ou líder porque as coisas sempre foram feitas daquela ma-
neira. A autoridade tradicional é absoluta quando o governante tem a
capacidade de determinar leis e políticas
O poder é legitimidado por lei, normas e regulamentações eritas dos
Racional- sitemas políticos e organizacionais. Os líderes têm áras específicas de
Legal competência e autoridade, mas eles não são considerados dotados de
inspiração divina, como em determinadas soieades com formas tradi-
cionais de autoridade.
O poder é legitimidado pelas características pessoais do líder, pela ex-
cepcional atração pessoal ou emocional exercida sobre seus seguido-
Caristmática res. Ao contrário da autoridade racional-legal, a carismática é derivda
mais das crenças dos seguidores do que das qualdiades reais dos líde-
res.
Quadro 2: Ideia de burocracia
Fonte: SCHAEFER, R. T.(2006)

Os sistemas burocráticos estão cada vez mais sendo desafiados por outras formas
de organização. As organizações, atualmente, buscam se reestruturar com o objetivo de
tornarem-se menos burocráticas e mais flexíveis, usufruindo das novas tecnologias da in-
formação, pois muitas tarefas podem ser executadas e concluídas eletronicamente.
Um dos debates contemporâneos acerca das organizações é justamente sobre a
transição de sistemas burocráticos para organizações flexíveis. Se para alguns a tendência
de desburocratizar é uma certeza nas organizações, para os críticos, algumas formas são

19
apenas parcialmente e aparentemente flexíveis, como, por exemplo, redes de empresas
formadas para agilizar e minimizar custos de produção. Nesse sentido, os críticos apontam
para uma McDonaldização da sociedade, ou seja, a sociedade será cada vez mais raciona-
lizada (GIDDENS, 2005).

2.4 TRABALHO E VIDA ECONÔMICA


O trabalho e a dimensão econômica da sociedade foram impactados por significa-
tivas mudanças, principalmente de natureza tecnológica, que deram novos contornos à
vida em sociedade. Para entender melhor tais mudanças, é útil analisar as mudanças ocor-
ridas relacionadas ao trabalho.
De modo geral, o trabalho ocupa a maior parte do tempo de nossas vidas. Ao
longo da história da humanidade, o trabalho foi relacionado à pena, punição, sofrimento,
liberdade, prazer, isso porque, dependendo do contexto sócio-histórico, a noção de traba-
lho adquiria um significado. A palavra trabalho tem sua origem no latim tripalium e, com
o tempo, passou a ser relacionado com a realização de uma atividade difícil. Portanto, em
sua gênese, o trabalho foi associado à dor e sofrimento. No entanto, mais do que um meio
de sobrevivência e sustento, o trabalho está associado à busca de um sentido pelo homem,
inclusive, o trabalho pode levar o indivíduo à felicidade, caso ele trabalhe com o que real-
mente gosta. Muitas vezes, trabalho, profissão, emprego e ocupação são utilizados como
sinônimos, mas existem diferenças entre os termos.

GLOSSÁRIO
• “Emprego” é o termo para se referir a uma relação contratual estabelecida entre duas
partes: o empregador e o empregado.
• “Profissão” é uma vocação que requer conhecimento de alguma área específica ou for-
mação em um curso técnico, superior, ou de pós graduação.
• “Ocupação” é o cargo exercido.

Nas sociedades modernas, o trabalho está relacionado com a autoestima e a identi-


dade do indivíduo, sendo importante desempenhar uma atividade de trabalho, que pode
ser remunerada ou não remunerada, como é o caso do trabalho doméstico. Muitas vezes,
o trabalho não equivale a um emprego remunerado, não figurando nas estatísticas oficiais
de emprego, mas compondo a economia informal (GIDDENS, 2005). De modo geral, até
mesmo em lugares nos quais as condições de trabalho são precárias, o trabalho é visto
como um elemento estruturador da identidade da pessoa e no seu cotidiano, pois a pessoa
se reconhece e é reconhecida pelo trabalho que desempenha na sociedade.
Giddens (2005) aponta características do trabalho que podem ser relevantes para o
trabalho como estruturador da identidade do indivíduo:

• Dinheiro – a remuneração recebida é um recurso necessário para satisfazer as neces-


sidades do indivíduo;
• Nível de atividade – base para aquisição e exercício de conhecimento e habilidades;

20
• Variedade – o ambiente de trabalho é diferente do ambiente doméstico;
• Estrutura temporal – o trabalho regular é o elemento estruturador do tempo do in-
divíduo;
• Contatos sociais – oportunidade para criação de laços com outras pessoas e para
participação em outras atividades;
• Identidade pessoal – o trabalho oferece uma identidade social ao indivíduo, que é
reconhecido pelo que faz.

A divisão do trabalho nas sociedades modernas é bastante complexa. O trabalho é


dividido em uma série de atividades menores nas quais as pessoas se especializam, dife-
rentemente nas sociedades tradicionais, quando o trabalho implicava em um domínio de
um ofício. Inclusive, o desenvolvimento da indústria moderna provocou a separação entre
a casa (privado) e o local de trabalho (público), trazendo implicações para as desigualda-
des entre homens e mulheres. Com as mudanças tecnológicas, muitos ofícios tradicionais
desapareceram e foram substituídos por habilidades que fazem parte da produção em
grande escala. A produção em massa de bens e mercadorias passou a ofuscar a habilidade
artesanal e pequena escala. O trabalho nas fábricas passou a ser executado por pessoas
especialistas em tarefas, as quais eram supervisionadas por gerentes que se preocupavam
com as técnicas que ampliavam a produtividade e mantinha a disciplina dos trabalhado-
res.
As mudanças relacionadas ao trabalho foram intensificadas a partir de 1970 e, desde
então, termos como produção flexível, trabalho em equipe, produção em grupo, habilida-
des múltiplas, trabalho parcial, home-office, empreendedor individual, entre outros, tor-
naram-se comuns nas discussões e debates sobre o trabalho contemporâneo. De fato, as
mudanças que vêm ocorrendo na natureza e na organização do trabalho estão intrinseca-
mente ligadas à economia e ao avanço tecnológico, portanto, tem profunda relação com o
estilo de vida da sociedade. Um exemplo disso é o modelo disseminado pela empresa Uber
de trabalho mediado por aplicativos, que gera discussões sobre a precarização e a intensi-
ficação do trabalho.
No cenário da precarização do trabalho destacam-se as denúncias de trabalhadores
em condições análoga à escravidão, o que é chamado de escravidão contemporânea. No
âmbito da competitividade empresarial e das formas de organização do trabalho, a escra-
vidão contemporânea surge como uma prática de gestão das empresas que operam em
uma cadeia global (CRANE, 2013)
Esse tipo de escravidão está associado às formas repressivas de exploração da mão
de obra, mediante a violência física e ou moral, e, principalmente, da restrição da liberda-
de de ir e vir dos trabalhadores, bem como da limitação de sua liberdade de oferecer seus
serviços a outros empregadores (OLIVEIRA, 2016).
Os elementos que caracterizam o trabalho escravo são:

1. a submissão de trabalhador a trabalhos forçados;


2. a submissão de trabalhador a jornada exaustiva;
3. a sujeição de trabalhador a condições degradantes de trabalho;
4. a restrição da locomoção do trabalhador, seja em razão de dívida contraída, seja por
meio do cerceamento do uso de qualquer meio de transporte por parte do trabalha-
dor, ou por qualquer outro meio com o fim de retê-lo no local de trabalho;
5. a vigilância ostensiva no local de trabalho por parte do empregador ou seu preposto,

21
com o fim de retê-lo no local de trabalho;
6. a posse de documentos ou objetos pessoais do trabalhador, por parte do emprega-
dor ou seu preposto, com o fim de retê-lo no local de trabalho (MINISTÉRIO DA ECO-
NOMIA, 2020, online)

O setor de vestuário é um dos que mais utilizam trabalho escravo em sua cadeia de
operações, um setor em que a imagem é vinculada ao glamour, à beleza e há uma forte
valorização do exótico e do novo. A despeito disso, trata-se de uma indústria cujos basti-
dores escondem mazelas, como assédio, discriminação e a exploração criminosa de tra-
balhadores, com a utilização de trabalho escravo. A mão de obra escrava é utilizada, nesse
setor, em sua cadeia de produção, por parte dos fornecedores terceirizados, diferentemen-
te das marcas e conceitos que são cuidadosamente criados e aperfeiçoados. A indústria
paga valores ínfimos por peça produzida, o que é possível em virtude dos fornecedores
obrigarem os trabalhadores a jornadas extenuantes a fim de produzirem muito recebendo
uma remuneração mínima para sobrevivência (OLIVEIRA, 2016).

A escravidão moderna ou contemporânea é defini-


da pela presença dos seguintes elementos que ca-
racterizam relações de exploração entre um ser hu-
mano e outro, quais sejam: (a) envolvem exploração
econômica: (b) ausência de direitos humanos; (c)
manutenção de controle de uma pessoa sobre outra
com a utilização da violência, não necessariamente a
violência física, a qual assume a forma de condições
degradantes de trabalho e de habitação, a retenção
de documentos de identidade, fraude e abuso de
poder e a utilização de capatazes para ameaçar os
trabalhadores com o objetivo de manter o controle
(CRAIG et al., 2007)

As empresas tentam se esquivar da responsabilidade alegando a terceirização da


produção e o desconhecimento dessas práticas nas empresas contratadas. No entanto,
muitas são consideradas corresponsáveis pela justiça por essa exploração de capital huma-
no em condições análogas à de escravos. Apesar das ações de investigação e fiscalização
nos últimos anos por órgãos como Ministério Público, Ministério do Trabalho e Emprego
(atual Ministério do Trabalho e Previdência Social) e Polícia Federal, essa prática de ges-
tão e exploração persiste, sugerindo que o crime compensa, pois as multas e penalidades
parecem ser irrelevantes quando comparadas aos lucros obtidos por meio dessa prática
(OLIVEIRA, 2016)
Em âmbito mundial, foi emblemático o desabamento de um prédio de três andares
onde funcionava uma fábrica de tecidos em Bangladesh, em 2013, revelou não só o amplo
descumprimento com normas básicas de segurança no país, mas também o lado obscuro
da indústria de roupas internacional (HASHIZUME, 2013).

22
BUSQUE POR MAIS

Tragédia em Bangladesh simboliza despotismo do lucro: O artigo escrito por


Maurício Hashizume (2013) está disponível em: https://bit.ly/30iLDMx. Acesso em:
20 mar. 2020.

Agência e estrutura: Neste link, você tem acesso a um vídeo de sociologia ani-
mada sobre Anthony Giddens e a Teoria da Estruturação. Essa teoria traz signifi-
cativa contribuição para a compreensão da sociedade contemporânea. Dispo-
nível em: https://bit.ly/3lRrxDj. Acesso em: 20 mar. 2020.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística: O IBGE é a principal fonte


de dados e informações do País. Visite o website e busque informações sobre
a população brasileira e sua composição, entre outras informações relevantes
que contribuem para o entendimento desta unidade. Disponível em: https://bit.
ly/3haK5uN. Acesso em: 20 mar. 2020.
GIG – A Uberização do Trabalho – Para saber mais sobre as mudanças contem-
porâneas da organização do trabalho e como elas estão relacionadas com à
economia e o avanço tecnológico, assistam este documentário. O documentário
ganhou o prêmio público na Mostra Ecofalante de Cinema, em São Paulo. Dispo-
nível em: https://bit.ly/393AQtA. Acesso em: 20 mar. 2020.

23
FIXANDO O CONTEÚDO

1. Sobre o conceito de sociedade, é correto afirmar:

a) É uma rede complexa de fatos sociais


b) É composta por grupos diferentes com acesso aos mesmos recursos disponíveis
c) É estratificada conforme o fator econômico, sem considerar outras dimensões.
d) É composta por um conjunto de indivíduos que, pelo fato de terem diferentes acessos
aos recursos disponíveis, estão estratificados em camadas sociais.
e) Nenhuma das respostas está correta

2. A estrutura da sociedade tem a função de possibilitar a interação social e dar um sentido


organizacional aos indivíduos ou grupos. Esse conceito é proveniente de uma abordagem:

a) Conflito
b) Marxista
c) Interacionista
d) Funcionalista
e) Nenhuma das anteriores

3. A posição social do indivíduo de acordo com a hierarquia privilégios, riqueza e poder


significa:

a) Papel
b) Estilo de Vida
c) Status
d) Estratificação
e) Nenhuma das anteriores

4. São exemplos de tipos de estrutura social:

a) Igrejas e o indivíduo
b) Famílias e igrejas
c) Empresas e o indivíduo
d) O indivíduo e a sociedade
e) Nenhuma das respostas está correta.

5. A Teoria da Estruturação pressupõe que:

a) As estruturas sociais determinam a ação humana, sendo capaz de obrigando os indivíduos


a se comportarem de maneira padronizada.
b) As sociedades são essencialmente iguais e, portanto, se organizam da mesma forma.
c) Os sistemas sociais e a ação individual devem ser estudados isoladamente.
d) Existe uma necessidade de recíproca existência entre sistemas sociais e ação individual.
e) Nenhuma das respostas está correta.

24
6. Sobre a influência das organizações modernas nas nossas vidas, é correto afirmar que:

a) Seus efeitos são totalmente benéficos para nossas vidas


b) São orientadas pela flexibilidade e instabilidade do sistema
c) Seus efeitos são totalmente prejudiciais para nossas vidas
d) Criam e modificam estilos de vida
e) Nenhuma das respostas acima

7. O trabalho e a dimensão econômica da sociedade foram impactados por significativas


mudanças. São considerados exemplos dessas mudanças:

a) diferenças de gênero, quando as mulheres passaram a ter maior remuneração que os


homens
b) valorização da atividade artesanal nas organizações moderna
c) surgimento do trabalho mediado por aplicativos
d) a produção artesanal
e) nenhuma das respostas acima

8. São características relevantes do trabalho como estruturador da identidade do indivíduo:

a) Salário e Mais valia


b) Conhecimento e exploração
c) Tempo e Salário
d) Mais valia e uberização
e) Nenhuma das respostas acima

25
03
A CULTURA NA PERSPECTIVA UNIDADE
SOCIOLÓGICA E ANTROPOLÓGICA

26
3.1 INTRODUÇÃO
Cultura é um dos principais conceitos estudados em Antropologia e Sociologia. Usu-
almente, o termo cultura é utilizado como referência à arte, à literatura, à música, à pintura,
no entanto, no âmbito da Sociologia e Antropologia, a cultura refere-se aos modos de vida
dos membros de uma sociedade ou de grupos que compõem uma sociedade. O estudo
de cultura é igualmente importante para outras disciplinas, como a Administração, que
tem como objeto de estudo a gestão das organizações.
Os diferentes tipos de sociedade carregam diferenças culturais. Cultura e socieda-
de não significam a mesma coisa, porém, não estão dissociadas uma da outra. Nenhuma
sociedade poderia existir sem uma cultura e nenhuma cultura poderia existir sem uma
sociedade.
Nesta unidade, serão apresentados conceitos e ideias relevantes para a compreen-
são da cultura, e, consequentemente, para o entendimento das organizações, grupos e
sociedades.

3.2 A GÊNESE DAS NOÇÕES DE CULTURA


O termo cultura tem sua origem no latim, com o significado de cultivar, sendo inicial-
mente utilizada nas ciências agrárias para se referir ao cultivo da terra. Mais tarde o termo
ganhou o caráter multidisciplinar, sendo estudado em diversas áreas das ciências sociais e
humanas, incluindo Sociologia, Antropologia, Administração. Considerando sua natureza
multidisciplinar e transversal, é natural que o termo não tenha alcançado consenso quanto
ao seu significado, pois o desenvolvimento do campo deu-se em diferentes perspectivas.
Na Antropologia, Edward Tylor formulou a primeira definição para cultura, argumen-
tando que cultura pode ser objeto de estudos sistemáticos, pois trata-se de um fenômeno
natural com causas e regularidades, o que permite o estudo objetivo para a formulação de
leis sobre o processo cultural. Tylor conceituou cultura como um “todo complexo que inclui
conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábi-
tos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade (TYLOR, 2009, p. 69)
Clifford Geertz formula o conceito de cultura em uma perspectiva interpretativista.
Para esse antropólogo, a cultura é a própria existência dos seres humanos, sendo produto
das ações e interações humanas, nas suas palavras, a cultura é uma teia de significados
tecida pelo homem. A cultura é um sistema de símbolos que interage com os sistemas de
símbolos de cada indivíduo. Símbolo é qualquer ato, objeto ou acontecimento que repre-
senta um significado.
O homem é um animal amarrado a teias de signifi-
cados que ele mesmo teceu, assumo a cultura como
sendo essas teias e sua análise; portanto não como
uma ciência experimental em busca de leis, mas
como uma ciência interpretativa à procura de signi-
ficados (GEERTZ, 1978, p. 15).

Na Sociologia, o termo cultura está associado aos aspectos da vida humana que são
aprendidos ao longo da vida, e não herdados. Tais aspectos são compartilhados por mem-
bros de uma sociedade, favorecendo a cooperação e a comunicação. A cultura de uma
sociedade compreende tantos aspetos intangíveis (valores, crenças e normas), como tan-

27
gíveis (objetos) (GIDDENS, 2005).
Valores de uma sociedade são as definições do que é considerado importante, váli-
do e desejável. Normas são regras de comportamento, o que é permitido ou proibido em
uma dada sociedade. Crenças são as convicções do que seja verdadeiro. Valores, normas e
crenças trabalham em conjunto para determinar a forma como os membros de uma so-
ciedade devem se comportar dentro de seus limites (GIDDENS, 2005). Por exemplo, uma
sociedade que valoriza o conhecimento encoraja os estudantes a se dedicarem aos estu-
dos e apoia os pais para que isso aconteça.
Os valores e normas não variam entre as culturas, mas dentro de uma sociedade ou
grupo, os valores podem ser contraditórios: enquanto alguns membros valorizam confor-
to material e sucesso, outros valorizam uma vida tranquila e a simplicidade. Na socieda-
de contemporânea, é comum nos depararmos com valores culturais em conflito em uma
mesma sociedade. É difícil imaginar, por exemplo, que exista uma única cultura em uma
mesma sociedade.

VAMOS PENSAR?
Cada sociedade tem uma única cultura? O Brasil tem uma cultura?

3.3 SOCIALIZAÇÃO
O processo pelo qual novos membros de uma sociedade ou organização aprendem
o modo de vida, os valores, as crenças e as normas é chamado de socialização. Nesse pro-
cesso, diferentes gerações estão conectadas, pois o conhecimento produzido sobre aquela
sociedade é transmitido a cada geração, pelas interações sociais e também pelos agentes
de socialização, que são as instituições, como a família, escola, etc.

FIQUE ATENTO
A socialização difere de um processo de doutrinação.

A socialização primária ocorre na primeira infância, cujo período de aprendizagem


cultural é o mais intenso, pois é quando a criança aprende a linguagem e os padrões bá-
sicos de comportamento, sendo a família o principal agente desta fase. A socialização se-
cundária acontece mais tarde na infância e na maturidade, e, nessa fase, outros agentes
de socialização participam, como a escola, os grupos sociais, a mídia e o local de trabalho
(GIDDENS, 2005).
Quando um trabalhador inicia um novo emprego, as interações sociais na empresa
o ajudam a aprender os valores, as normas e outros padrões culturais que são aceitos na-
quela empresa.
O processo de socialização é importante para que os indivíduos aprendam sobre os
papeis sociais que uma pessoa segue numa dada posição social. O papel social de geren-
te, por exemplo, agrupa comportamentos que deveriam ser representados por todos os

28
gerentes sem levar em consideração suas opiniões pessoais. Na perspectiva funcionalista,
os papeis sociais são fixos e relativamente imutáveis em uma sociedade. Os indivíduos
aprendem as expectativas quanto ao papel social que devem desempenhar e internalizam
os comportamentos que devem adotar.
No entanto, conforme Giddens (2005), os indivíduos não são sujeitos passivos espe-
rando para serem instruídos ou programados. Os indivíduos passam a entender e a assumir
os papeis sociais por meio de um processo progressivo de interação social. Por exemplo, as
empresas em geral estabelecem um treinamento de integração para novos funcionários
para que esses possam aprender sobre a dinâmica da empresa, porém, esse aprendizado
ocorre progressivamente com outras interações.
No decorrer da socialização, o indivíduo desenvolve um sentido de identidade. De
modo geral, a identidade é a compreensão que o indivíduo tem sobre quem ele é e sobre o
que é significativo para ele. As principais fontes de identidade incluem gênero, orientação
sexual, nacionalidade, etnicidade, classe social. A identidade social envolve uma dimensão
coletiva, pois refere-se às características atribuídas a um indivíduo pelos outros, ou seja, são
atributos que posicionam o indivíduo em relação a outros indivíduos que compartilham
os mesmos atributos (exemplos: mãe, professor, engenheiro, et). As identidades sociais po-
dem ser múltiplas, ou seja, um indivíduo pode ser pai, médico e católico, pois a identidade
social reflete as diferentes dimensões da vida do indivíduo. Já a identidade pessoal refere-
-se ao processo negociação constante do indivíduo com o mundo exterior que ajuda a criar
e a moldar seu sentido sobre si mesmo. A identidade pessoal compreende a resposta para
si mesmo sobre quem o indivíduo e qual sua relação com o mundo (GIDDENS, 2005).

GLOSSÁRIO
Valores são ideias abstratas que definem as escolhas do indivíduo ao tomar decisões no dia
a dia. Normas definem o que é permitido e o que é proibido.

3.4 MÍDIA E COMUNICAÇÃO DE MASSA


A mídia e a comunicação de massa disseminam informações dos fatos diariamente,
transmitem coberturas de eventos que são vistas no mundo inteiro, influenciando, alteran-
do e criando estilos de vida. A produção, distribuição e consumo de informações passaram
e estão passando por significativas transformações em virtude do avanço tecnológico. A
mídia de massa inclui a televisão, os jornais, o cinema, as revistas, o rádio, a publicidade, as
redes sociais online, e outras ferramentas propiciadas pela internet. Os diversos tipos de
mídia têm uma ampla influência sobre a opinião pública e sobre nossas decisões cotidia-
nas, por exemplo, sobre o que vestir, o que comprar, etc.
A televisão representa um dos maiores avanços da mídia do século XX e, ao lado de
outros meios, exerce influência crescente sobre a sociedade. O número de aparelhos de TV
vendidos no mundo é crescente, com modelos que permitem o acesso à internet e outros
meios, atraindo cada vez a permanência das pessoas diante da TV. O número de canais de
TV disponíveis aumentou em virtude dos avanços tecnológicos de satélite e cabos. Segun-
do as tendências, uma criança passa mais tempo vendo TV que qualquer outra atividade,
exceto dormir (GIDDENS, 2005).

29
GLOSSÁRIO
O termo “mídia de massa” refere-se ao tipo de mídia que atinge audiências de massa, ou
seja, grandes volumes de pessoas.

Os jornais ocuparam lugar de destaque na antiga mídia de massa, mas o surgimen-


to de outros veículos, como a Televisão e a internet, mudou esse cenário. A influência que
essas mídias exercem sobre a sociedade é maior em relação ao modo de sua comunicação
do que ao conteúdo do que é transmitido. Por exemplo, as telenovelas e os reality shows
influenciam o comportamento das pessoas pelas características da televisão, que são dife-
rentes das características dos jornais e livros.
O mundo assiste a surgimento de um sistema internacional de produção, distribui-
ção e consumo de informações. As diversas culturas existentes no mundo estão ao alcance
das regiões mais distantes, que têm acesso às tecnologias informacionais. Porém, esse am-
plo acesso não é garantia de que nossa compreensão das diferenças culturais irá melhorar.
Uma questão relevante é que a indústria global da mídia – música, televisão, cinema, notí-
cias, redes sociais – é dominada por um pequeno número de corporações multinacionais,
o que pode resultar em uma nova forma de imperialismo de mídia.
É indiscutível que a mídia e os meios de comunicação em massa exercem poder so-
bre a sociedade a ponto de serem consideradas uma espécie de quarto poder, visto sua in-
fluência equiparar-se à influência dos três poderes (Executivo, Legislativo, Judiciário). Essa
analogia da mídia como quarto poder ilustra o papel que a imprensa e os meios de comu-
nicação têm desempenhado quanto à influência nas decisões políticas e sociais. O poder
e influência da mídia levantam questões relevantes quanto à fragilização da democracia, à
redução do papel do Estado, ao enfraquecimento da sociedade civil e dos laços comunitá-
rios.
Não se pode deixar de considerar que, ao nos remetermos ao termo mídia, não se
deve esquecer da internet e seu potencial. Assim como existe uma concentração de em-
presas de mídia convencionais, os principais serviços da internet estão também concen-
trados em algumas empresas. Por exemplo, a rede social Facebook adquiriu a rede social
Instagram e o aplicativo para troca de mensagens instantâneas WhatsApp, o que confere
maior controle ao grupo empresarial.
Porém, a internet guarda muitas dife-
renças com as mídias convencionais. A regu-
lamentação da internet, além de depender
de entidades internacionais, se esbarra com
as dificuldades de controle devido às suas
características tecnológicas. Tráfego de ví-
rus, invasões de sistemas pelo hackers, pu-
blicação de pornografia, a dark internet e
a quebra da privacidade são algumas limi-
tações para a regulamentação da internet.
Figura 1: Redes sociais Já as mídias convencionais têm sua regula-
Fonte: Sistema Educacional Brasileiro (2019) mentação dependente do local e é dirigida
diretamente às empresas de mídia.

30
Uma diferença relevante entre a internet e as mídias convencionais é a comunica-
ção direta entre os usuários, o que possibilita a organização de movimentos sociais como
ativismo ecológico, movimentos antiglobalização e de valorização de minorias culturais e
sociais (CASTELLS, 2003).
As redes sociais online (RSO) tornaram-se parte integrante da vida social, levando a
questionamentos sobre o que é real ou não quando se trata do mundo virtual.
As mudanças nas interações sociais decorrentes das possibilidades de acesso à in-
ternet são expressivas, dentre elas, destaca-se o crescimento do número de usuários de
redes sociais online, o que potencializa aplicações diversas, como o marketing digital ou
o marketing online como ferramenta para fortalecer uma marca, divulgar produtos e ou
serviços, além de estreitar o relacionamento com consumidores.
Esse crescimento vertiginoso implica na produção de interações e relacionamentos
no chamado ciberespaço cada vez mais ricos e complexos. Sendo as redes sociais online
um espaço de interações sociais sem a necessidade da presença física das pessoas, essas
atraem diversos interessados, como o mundo corporativo que se dirige para as potenciali-
dades relacionadas ao consumo de bens e serviços. O fato é que a utilização generalizada
das redes sociais online amplia seu potencial para aplicações, tanto para trazer benefícios
bem como prejuízos ou danos.

BUSQUE POR MAIS


Você tem Cultura?: O texto de Roberto DaMatta que traz explicações sobre os
conceitos de cultura está disponível em: https://bit.ly/3jh8Hni. Acesso em: 20 mar.
2020.

Why humans run the world: No Ted Talk com Yuval Noah Harari, a palestrante
argumenta que o homem domina o mundo porque é o único animal capaz de
cooperar em sistemas de larga escala de forma flexível e por ser capaz de acre-
ditar em histórias criadas pela imaginação. Disponível em: https://bit.ly/3fF7LXS.
Acesso em: 20 mar. 2020.

Zygmunt Bauman – Fronteiras do Pensamento: Uma entrevista sobre a socie-


dade consumista com o sociólogo Zygmunt Bauman. Disponível em: https://bit.
ly/2ClKaNq. Acesso em: 20 mar. 2020.

31
FIXANDO O CONTEÚDO
1. Sobre o conceito de cultura, é correto afirmar:

a) Cultura é um termo de propriedade das ciências sociais.


b) Existe um consenso sobre o seu significado.
c) Não é um fenômeno natural
d) O termo cultura refere-se ao ato de cultivar
e) Nenhuma das respostas anteriores

2. Em relação à Antropologia, pode-se afirmar quanto ao conceito de cultura:

a) A primeira definição na antropologia foi formulada por Geertz


b) A perspectiva de Geertz sobre cultura é funcionalista, ou seja, a cultura tem a função de
controlar o indivíduo
c) Para Geertz a Cultura é produto das ações e interações humanas
d) Não é objeto de estudo da Antropologia
e) Todas as alternativas estão corretas

3. O conceito de cultura como “todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte,
moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem
como membro de uma sociedade” foi formulado por:

a) Malinowski
b) Geertz
c) Tylor
d) Franz Boas
e) Nenhuma das alternativas está correta

4. No âmbito da sociologia, o termo cultura está associado a:

a) Aspectos da vida humana herdados pelas tradições


b) Aspectos da vida humana aprendidos ao longo da vida
c) Aspectos biológicos do homem
d) Aspectos físicos do homem
e) Todas estão corretas

5. Marque a alternativa correta para o significado das definições do que é considerado


importante, válido e desejável:

a) Normas
b) Regras
c) Leis
d) Valores
e) Nenhuma das respostas está correta

32
6. O processo pelo qual novos membros de uma sociedade ou organização aprendem
como lidar com os problemas internos e externos é denominado:

a) Cultura
b) Transmissão
c) Socialização
d) Ideologia
e) Nenhuma das respostas

7. É exemplo de agentes de socialização:

a) Família
b) Escola
c) Empresa
d) Igreja
e) Todas as respostas estão corretas

8. Sobre a mídia e a comunicação de massa é correto afirmar que:

a) Influenciam, alteram e criam estilos de vida


b) Não influenciam a opinião pública
c) Aniquilaram as diferenças culturais no mundo
d) exercem influência sobre a sociedade em relação ao conteúdo do que é transmitido.
e) Todas as respostas estão corretas

33
04
ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA: UNIDADE
CONTRIBUIÇÕES PARA A
COMPREENSÃO DAS RELAÇÕES
SOCIAIS NAS ORGANIZAÇÕES

34
4.1 INTRODUÇÃO
Na unidade anterior apresentamos as noções de cultura e suas origens na Sociolo-
gia e na Antropologia. O estudo da cultura permite a compreensão das diversas facetas da
vida social, portanto, os pesquisadores da Administração, que tem como foco o estudo das
organizações e o indivíduo, também se interessou sobre esse conceito e fez uma transpo-
sição para seu campo de estudo, considerando que as organizações (empresas, ONGs, etc)
são minissociedades.
Essa transposição do conceito de cultura pela Administração não se desenvolveu
sem críticas. Nesta unidade, apresentamos o conceito de cultura organizacional e o con-
ceito de cultura administrativa. Em seguida, apresentamos os três paradigmas da cultura
organizacional e finalizamos com as diferenças metodológicas na pesquisa em cultura nos
campos da Administração e da Antropologia.

4.2 CULTURA ORGANIZACIONAL X CULTURA ADMINISTRATIVA


O interesse pelo termo cultura por parte de pesquisadores organizacionais iniciou-se
na década de 1970, na tentativa de compreender o sucesso da indústria automobilística
japonesa (MORGAN, 2006)
O conceito de cultura organizacional mais citado é de Schein (1984, p. 9) (1984, p. 9):
“A Cultura Organizacional é o modelo dos pressupostos básicos, que um dado grupo in-
ventou, descobriu ou desenvolveu no processo de aprendizagem, para lidar com os proble-
mas de adaptação externa e integração interna”. Esse conceito implica o padrão de com-
portamento desenvolvido ser criado pelo grupo. Ainda segundo o autor, “Uma vez que os
pressupostos tenham funcionado bem o suficiente para serem considerados válidos, eles
são ensinados aos demais membros da organização como a maneira certa de se perceber,
pensar e sentir em relação àqueles problemas”, o que confere aos sujeitos a criação de sig-
nificados quanto à realidade em que estão inseridos (CASAVECHIA; MEDEIROS; VALADÃO
JÚNIOR, 2012).

FIQUE ATENTO
A cultura organizacional pode ser entendida a partir de duas perspectivas: como uma variá-
vel e como contexto. Essas diferentes visões influenciam na gestão das organizações.

Barbosa (1996) questiona o uso do termo cultura organizacional e traz uma nova
perspectiva em que, no âmbito da administração e dos negócios, o termo adequado seria
cultura administrativa. Para a autora, o conceito de cultura organizacional é utilizado de
forma mecânica no campo da administração, não dando conta das várias temáticas que
a questão cultural traz para as organizações. Ao propor o termo cultura administrativa em
substituição ao termo cultura organizacional, a autora justifica que o conceito não se res-
tringe a um único tipo de instituição moderna, e, além disso, não traz as marcas evidentes
da antropologia, contemplando somente a sociologia na tarefa de gerir recursos humanos
e materiais.

35
Cultura administrativa como o conjunto de lógicas
e valores contextualizados de forma recorrente na
maneira de administrar de diferentes sociedades.
Esses valores não são necessariamente intrínsecos
à tarefa de gerir recursos humanos e materiais. São
as mesmas regras de interpretação da realidade que
instruem a vida social como um todo, apenas hierar-
quizadas e relacionadas, em alguns casos, de manei-
ra distinta ou não, no interior das instituições encar-
regadas de gerir (BARBOSA, 1996, p. 19).

Barbosa (2003) alerta sobre o fato de que, mesmo a visão da cultura sendo apresen-
tada como o resultado das ações e do pensamento da organização, dificilmente envolve
toda a organização. Na maioria das vezes, quando se fala em cultura organizacional, está
se falando dos valores que o segmento gerencial considera ideais para a organização e não
dos valores que existem subjacentes junto aos demais segmentos.

4.3 PARADIGMAS DE CULTURA


A importância do estudo da cultura organizacional cresce na medida em que se
constitui ferramenta preciosa para uma profunda compreensão da dinâmica de uma or-
ganização. Contudo, a conceituação de cultura difere entre os pesquisadores, de um lado,
se posicionando aqueles adeptos ao conceito de cultura como variável, algo que a organi-
zação tem, e, de outro lado, aqueles que entendem a cultura como a própria organização,
ou como contexto (CASAVECHIA; MEDEIROS; VALADÃO JÚNIOR, 2012).
A cultura é compreendida por muitos autores como uma dimensão simbólica da
realidade, não se resumindo a uma variável interna ou externa da organização, a exemplo
do conceito de Schein (1984)Na perspectiva da cultura como um fenômeno complexo e
multifacetado, não é possível defini-la claramente, pois o indivíduo não se resume em um
receptáculo de normas de comportamento.
Martin e Frost (1996) identificam uma estrutura de três diferentes perspectivas nos
estudos sobre cultura organizacional: integração, diferenciação e fragmentação, em que
haveria a existência simultânea de elementos de integração e de conflito, de poder e de
incerteza, considerando-se que em todo contexto organizacional existem consensos e
conflitos quanto às manifestações culturais, bem como existem aquelas manifestações
culturais que não são bem definidas para os membros organizacionais.
A perspectiva da integração foi a primeira a ser adotada quando o tema cultura or-
ganizacional passou a despertar a atenção dos pesquisadores a partir da década de 1970.
Havia, na época, a defesa da construção de uma cultura organizacional forte, no sentido
de unitária, como se fosse um bloco compacto de manifestações culturais, que geravam
consenso em toda a organização e, especialmente, em torno de um conjunto de valores
compartilhados (MARTIN, 1992)
Sob o enfoque de integração, a cultura organizacional é entendida como proprieda-
de de uma unidade social estável e coesa, formada por pessoas que compartilham uma
visão de mundo em função de terem vivenciado e encontrado soluções em conjunto para
os problemas de integração interna e adaptação externa, e que tenham admitido novos
membros para os quais transmitiram sua forma de pensar. A perspectiva da integração

36
considera que o desempenho organizacional viria de uma cultura consensual, pois haveria
então um maior comprometimento dos membros e, consequentemente, maior produtivi-
dade.
As perspectivas da diferenciação e a integração consideram que o consenso existe
apenas entre grupos (diferenciação) e em questões específicas (fragmentação). Como a
integração é metaforizada como um holograma, a diferenciação seria a metáfora das ilhas
de clareza e a fragmentação seria a metáfora da selva, do desconhecido.
A integração retrata a cultura sob três aspectos principais: (a) consistência entre as
manifestações culturais; (b) consenso entre os membros e (c) manutenção do foco sobre
o líder como o criador da cultura. A impressão de consistência emerge nessa perspectiva,
pois a cultura é compreendida apenas pelas manifestações que são comuns, como, por
exemplo, a consistência entre valores e objetivos e os rituais realizados para reforçá-la. O
segundo aspecto, o consenso, é evidenciado quando membros de diversos níveis organi-
zacionais compartilham o mesmo ponto de vista. Quanto às manifestações culturais, elas
refletem os valores pessoais do líder, que acabam sendo compartilhados pelos liderados
(CASAVECHIA; MEDEIROS; VALADÃO JÚNIOR, 2012).
A diferenciação considera haver interpretações inconsistentes nas manifestações
culturais, embora haja, também, consenso entre um grupo ou subculturas. Em uma mes-
ma organização, subculturas diferentes emergem em níveis de status, gênero, classe ou
ocupação, podendo coexistirem em harmonia, entrarem em conflito ou, simplesmente,
serem indiferentes umas às outras. A ênfase é que o consenso não é extensivo a toda orga-
nização, visto que ele ocorre dentro das fronteiras de uma subcultura. Nessa perspectiva,
as características da cultura organizacional fundamentam-se em três aspectos: (a) incon-
sistência (os valores, crenças, normas e práticas são inconsistentes entre si); (b) consenso
subcultural (não resulta em consenso organizacional) e (c) limitação da existência de am-
biguidade entre as fronteiras subculturais. O que é único em uma determinada cultura
organizacional, portanto, é o conjunto particular de diferentes subculturas dentro dos limi-
tes de uma organização / diferentes subculturas no interior de uma organização (CASAVE-
CHIA; MEDEIROS; VALADÃO JÚNIOR, 2012).
A fragmentação, ao contrário das outras perspectivas, não nega, limita ou exclui a
ambiguidade, mas aceita a sua existência, destacando a falta de clareza quanto ao que seja
consistente ou inconsistente. As manifestações culturais são inconsistentes, ambíguas; o
consenso, quando existe, é transitório e sobre uma questão específica.
A ambiguidade é vista como normal; o consenso e dissenso coexistem em um pa-
drão que flutua constantemente, dependendo dos eventos e das decisões tomadas em
áreas específicas. Ao contrário da unidade e da clareza dos conflitos, a fragmentação dirige
seu foco para o que não está claro, explorando ironias e paradoxos, tensões e conflitos (CA-
SAVECHIA; MEDEIROS; VALADÃO JÚNIOR, 2012).

VAMOS PENSAR?
É possível obter o consenso em todas as manifestações culturais em uma organização? Como
seria?

37
As três perspectivas combinadas oferecem à cultura organizacional uma variedade
de insights que cada abordagem única não oferece, pois os pontos obscuros de cada abor-
dagem são superados, ou seja, enquanto a perspectiva de integração ignora os conflitos
e as ambiguidades da cultura, as abordagens de diferenciação e fragmentação tendem a
ignorar o que a maioria dos indivíduos compartilha.

4.4 O MÉTODO ETNOGRÁFICO


As pesquisas sobre cultura na antropologia e administração carregam as diferen-
ças conforme suas perspectivas. Mascarenhas (2002) aborda as diferenças entre as pers-
pectivas da administração e da antropologia no estudo da cultura, argumentando que
a discussão sobre cultura organizacional tem uma natureza pragmática, ao contrário da
abordagem antropológica, que não é instrumental e nem intervencionista. É comum que
a análise da cultura organizacional nos estudos de administração tenha tomado o rumo
para a intervenção de modo a influenciar no desempenho organizacional, pois essa é a
natureza original do campo.
Muitos teóricos da administração privilegiam, em
seus trabalhos, a identificação e discussão de ele-
mentos constitutivos da cultura – elementos que es-
truturam a cultura de uma organização, como valo-
res, crenças, costumes, ou aqueles que influenciam
de maneira mais ampla o comportamento das pes-
soas – os traços culturais nacionais (MASCARENHAS,
2002, p. 91).

O método etnográfico é clássico na Antropologia e muito utilizado em sociologia


para conhecer o comportamento humano, porém, é pouco utilizado nas pesquisas so-
bre cultura organizacional, pois o método requer a presença e a vivência do pesquisador
naquela cultura, o que encontra resistência por parte das organizações, principalmente
aquelas de natureza empresarial. A produção do conhecimento antropológico se vale prin-
cipalmente da etnografia, um método que requer a familiarização do pesquisador com a
cultura a ser analisada por meio da observação e da interação social por um longo tempo
(MASCARENHAS, 2002)
Malinowski, ao descrever a etnografia no livro “Argonautas do Pacífico Ocidental”,
considerou que o método exige afastamento e inserção do pesquisador, pois esse deveria
conviver por longo período com o grupo estudado, acompanhando todas as suas ativida-
des diárias, aprender sua linguagem, observar como as atividades eram realizadas e tam-
bém absorver os valores e sentimentos do grupo (MASCARENHAS, 2002).
No âmbito das pesquisas em organizações, o estudo de Hawthorne empreendido
por Elton Mayo teve inspiração no método, a partir da escola funcionalista da antropologia.
Com este estudo, pode-se entender a função da organização informal entre os trabalha-
dores e as relações empreendidas entre os membros da organização. Como Mascarenhas
(2002) alerta, a pesquisa de Mayo não foi estruturada com base na observação participan-
te, pois Mayo não teve um papel social dentro do grupo estudado. A partir do século XXI,
começaram a se intensificar a presença de estudos etnográficos em pesquisas em admi-
nistração, na área de marketing e estudos organizacionais. A etnografia em pesquisas so-
bre cultura organizacional oferece a possiblidade de analisar as relações sociais com uma

38
abordagem microscópica, o que nos permite interpretar o universo simbólico de uma or-
ganização (MASCARENHAS, 2002).
Barbosa (2003, p. 105) tece críticas quanto à apropriação da etnografia em estudos
sobre o comportamento do consumidor, alegando que “pesquisar consumo e fazer marke-
ting é trabalhar com a cultura material de uma sociedade sob a forma de mercadorias e
serviços, e estudar como ela se insere no interior de um determinado estilo de vida e ideo-
logia”. Para a antropóloga, os esforços das pesquisas em administração devem centrar-se
na busca “pelas concepções que estruturam a vida das pessoas e como elas afetam o con-
sumo de diferentes produtos e serviços” (BARBOSA, 2003, p. 105). O que não é considerado
pelos pesquisadores do comportamento do consumidor.
A crítica é que “pesquisa-se o que se consome e não aquilo que nos leva a consumir
o que consumimos” (BARBOSA, 2003, p. 105)
A aplicação do método etnográfico deve ser feita com muitos cuidados, por exemplo,
o etnógrafo não pode simplesmente estar presente em uma comunidade sem explicar e
justificar sua presença, devendo obter a aceitação do grupo (GIDDENS, 2005), o que seria
muito difícil acontecer em determinadas áreas de uma organização, pelo sigilo requerido
quanto aos processos que desenvolve. A pesquisa etnográfica apresenta dilemas éticos
ao investigador, aos quais os pesquisadores devem ter sensibilidade para tratar de forma
adequada.

BUSQUE POR MAIS


Cultura Organizacional: grande temas em debate: O texto escrito por Maria Es-
ter de Freitas foi um dos primeiros da área de administração no Brasil e poderá
ser bastante útil para compreender o conceito em uma perspectiva da integra-
ção. Disponível em: https://bit.ly/2OFRohD. Acesso em: 20 mar. 2020.

Hostede e as consequências da cultura: A pesquisa de Hofstede sobre as di-


mensões culturais é um dos estudos mais citados quando se fala em cultura
organizacional. Explore os resultados do estudo relacionados ao Brasil e reflita
sobre a sua adequação ou não. Disponível em: https://bit.ly/3ezBsbj. Acesso em:
20 mar. 2020.

Cinema e cultura: Diversos filmes comerciais têm como pano de fundo o am-
biente organizacional e suas culturas. O filme “O Diabo veste Prada” enfatiza
uma parte da organização, ou seja, não generalize essa caracterização para
toda a organização. As diferenças de valores dos funcionários, a cultura da orga-
nização que é caracterizada por uma vertente capitalista. Disponível em: https://
bit.ly/2PqEOqu. Acesso em: 20 mar. 2020.

39
FIXANDO O CONTEÚDO
1. O conceito de cultura organizacional proposto por Schein (1984) considera:

a) O método etnográfico
b) O processo de aprendizagem do grupo
c) A estrutura da sociedade familiar
d) Os aspectos biológicos do homem
e) Nenhuma das respostas acima

2. A antropóloga Livia Barbosa critica o uso do termo cultura organizacional e propõe uma
nova nomenclatura:

a) Cultura de trabalho
b) Cultura administrativa
c) Cultura de negócios
d) Cultura do trabalho
e) Todas as respostas acima

3. Dentre as perspectivas de análise da cultura organizacional, no campo da administração


prevalece a perspectiva:

a) Cultura como contexto


b) Cultura como variável
c) Cultura como instrumento de dominação
d) Cultura como identidade
e) Nenhuma das anteriores

4. Quanto aos paradigmas da cultura organizacional propostos por Martin (1992), é correto
afirmar que:

a) A integração pressupõe a busca do consenso em parte da organização.


b) A diferenciação considera diferenças entre as interpretações culturais acerca de
determinadas manifestações
c) A fragmentação pressupõe o consenso em toda a organização
d) Tanto a integração quanto a fragmentação pressupõem o consenso em toda a
organização
e) Nenhuma das anteriores

5. Os três paradigmas para a análise da cultura devem ser estudados de forma complementar,
pois, assim, é possível:

a) Conhecer os consensos e conflitos acerca de determinadas manifestações culturais, por


exemplo, os valores que a organização declara como seus
b) Entender qual perspectiva é melhor para uma organização

40
c) Melhorar o desempenho organizacional
d) Fazer intervenções na organização
e) Nenhuma das anteriores

6. O método etnográfico pressupõe:

a) Que todas as culturas são iguais.


b) A familiarização do pesquisador com o grupo a ser estudado
c) Uma abordagem pragmática buscando a intervenção no grupo.
d) O pesquisador não deve revelar suas intenções para o grupo a ser estudado
e) Nenhuma das anteriores

7. Tradicionalmente, a análise da cultura organizacional nos estudos em Administração


privilegiou:

a) Instrumentos e técnicas objetivas


b) Os aspectos de construção simbólica de significados
c) O indivíduo
d) Os valores organizacionais
e) Nenhuma das anteriores

8. Sobre a etnografia, é correto afirmar que:

a) Malinowski considera que o método exige afastamento e inserção do pesquisador no


grupo a ser estudado por um período não muito longo;
b) A observação e a interação social são técnicas utilizadas no método etnográfico.
c) No âmbito das organizações, a etnografia oferece a possibilidade de estudar a organização
em sua dimensão macro.
d) É um método desenvolvido com o objetivo de estudar as empresas
e) Nenhuma das respostas anteriores.

41
05
O OLHAR SOCIOANTROPOLÓGICO UNIDADE
SOBRE OS PROBLEMAS SOCIAIS

42
5.1 INTRODUÇÃO
Nesta unidade, iremos abordar questões sociais contemporâneas que permitem
compreender fenômenos presentes em noticiários, mídia e que vemos no nosso cotidiano
e muitas vezes não nos alertamos para a importância de refletirmos sobre as condições
pelas quais eles emergem.
Fala-se muito atualmente em multiculturalismo e diversidade, nos desafios da con-
vivência com as diferenças e com as consequências da intolerância com o outro. Ao co-
nhecer os conceitos principais que envolvem a temática multiculturalismo e diversidade,
podemos ampliar nossa compreensão do outro, do eu e do nós.
A pobreza e a exclusão social são problemas sociais de alta complexidade. Quando as
pessoas estão em situação de pobreza, elas não têm suas necessidades humanas básicas
satisfeitas, o que interfere nas suas relações com diversos sistemas sociais, como o sistema
de consumo (mercado), sistema de saúde, educação, trabalho, e até mesmo interfere nos
laços sociais. Quanto maior for sua situação de privação, mais profunda será o estado de
exclusão social da pessoa.
Atualmente, os noticiários e redes sociais abordam amplamente situações de racis-
mo, preconceito e discriminação que geram violência, desigualdade e exclusão.
Não iremos esgotar as discussões sobre esses tópicos, dada a natureza e o objetivo
do curso, porém, são questões relevantes para estimular o interesse em estudos mais apro-
fundados sobre as temáticas e, assim, refletir e imaginar condições para que esses proble-
mas sejam minimizados ou aniquilados.

5.2 MULTICULTURALISMO E DIVERSIDADE


Multiculturalismo é um fenômeno social diretamente relacionado com a globaliza-
ção e significa a convivência pacífica de várias culturas, não sendo novo, porém, foi recen-
temente que se intensificou no mundo todo. Uma sociedade multicultural abriga povos
de diferentes culturas, podendo ser as relações dos grupos de aceitação e tolerância ou de
conflito e rejeição, a depender do contexto sociocultural.
Chamado também de multiculturalidade e pluralismo cultural, o multiculturalismo
pressupõe que os grupos culturais estão cada vez mais ligados, uma ideia controversa, vis-
to que para alguns estudiosos a visão multicultural não existe, o que há é uma imposição
da cultura dominante e uma hegemonização. Porém, outros estudiosos argumentam que
os traços multiétnicos habitam em harmonia. Alguns conceitos são relevantes para a com-
preensão do multiculturalismo: etnocentrismo, relativismo cultural e limpeza étnica.
O etnocentrismo é a prática de julgar outras culturas comparando-as aos padrões
culturais próprios. Os padrões de comportamento de uma cultura podem parecer estra-
nhos para as pessoas de outras formações culturais, relevando um processo de colocar a
cultura própria no centro, classificando-a como superior à cultura do outro. Relativismo
cultural significa a suspensão do julgamento sobre as crenças culturais de modo a com-
preender todos os costumes e comportamentos como igualmente legítimos (GIDDENS,
2005).
A diversidade étnica pode enriquecer as sociedades, no entanto, conflitos étnicos –
hostilidades entre grupos ou comunidades étnicas diferentes são comuns. Os conflitos en-
volvem tentativas de limpeza étnica, ou seja, a criação de áreas etnicamente homogêneas

43
com a expulsão em massa de outras populações étnicas. A limpeza étnica implica a reloca-
ção forçada de populações étnicas através da violência, ameaças e terrorismo (GIDDENS,
2005).
Diversidade significa variedade, diferença e multiplicidade. Por isso, onde há diver-
sidade existem diferenças, as quais, por sua vez, não são marcas dos indivíduos, mas, sim,
são constituídas socialmente, e se estabelecem como forma de exclusão. Em sentido lato,
a palavra diversidade origina-se do latim diversitate, que significa qualidade daquilo que é
diverso, diferença, dessemelhança, variação, variedade, ausência de acordo ou de entendi-
mento; desacordo, divergência.
Não se deve contrapor igualdade a diferença. De fato, a igualdade não está oposta
à diferença, e sim à desigualdade, e diferença não se opõem à igualdade, e sim à padroni-
zação, à produção em série, à uniformidade, a sempre o “mesmo”, à mesmice (CANDAU,
2005) .
Nkomo e Cox Jr. (1999) sugerem iniciar o estudo do termo reconstruindo o próprio
conceito, uma vez que o termo está incompleto e leva à questão sobre a qual diversidade
se está referindo: raça, gênero, etnia, valores, cultura, idade, religião, sexo e várias outras,
lembrando que as conceituações de diversidade variam desde as mais restritas, relaciona-
das a gênero, raça e etnia, até as mais amplas, ou seja, as que consideram todas as diferen-
ças entre as pessoas. Isso porque, segundo os autores, existe certa confusão sobre o que
constitui o termo diversidade, portanto, é necessário especificar sobre qual diversidade se
está tratando.
Em sentido restrito, o conceito de diversidade considera o indivíduo, destacando as
diferenças de identidades de cada um, e em uma visão mais ampla, o foco passa a ser os
diferentes grupos sociais, os quais apresentam diferenças em vários aspectos: cultura, ida-
de, origem, personalidade, formação educacional, entre outros atributos que vão além de
raça, gênero e etnia (NKOMO; COX JR., 1999)
Na visão de Thomas (1991, p. 334-335) “ [...] diversidade inclui todos, não é algo que seja
definido por raça ou gênero. Estende-se à idade, história pessoal e corporativa, formação
educacional, função e personalidade”. Inclui ainda estilos de vida, preferência sexual, tem-
po de serviço, origem geográfica, status de privilégio ou de não privilégio, administração
ou não administração.
Loden e Rosener (1991) também tratam a diversidade de forma bem abrangente,
porém com destaque para duas dimensões distintas: a primária e a secundária. As dimen-
sões primárias (diferenças humanas inatas, imutáveis) se referem a aspectos, tais como:
idade, etnia, gênero, habilidades e qualidades físicas, raça e orientação sexual. As dimen-
sões secundárias são as diferenças que adquirimos ao longo da vida e, portanto podem
ser modificadas e, até mesmo descartadas, como, por exemplo, a localização geográfica;
renda; experiência familiar; status dos pais; crenças religiosas; estado civil; experiência no
trabalho; e background educacional.
A concepção de Triandis (1996) considera a diversidade como algo construído pela
sociedade, afirmando ainda que, dependendo da cultura, algumas características podem
ter significados diferentes, ou seja, o que é visto como diverso em uma cultura pode não
ser em outras culturas cujas relações de poder são distintas.
Jackson e Ruderman (1996) classificam a diversidade em três domínios: a) diversi-
dade demográfica: gênero, etnia, idade; b) diversidade psicológica: valores, crenças e co-
nhecimento; e c) diversidade organizacional: tempo de casa, ocupação e nível hierárquico.
Considerando a visão desses autores, pode-se dizer que existe certa semelhança e proximi-

44
dade com as dimensões de diversidade propostas por Loden e Rosener (1991).
Loden e Rosener (1991) identificam cinco grupos de atributos: “1) Atributos demográ-
ficos (idade, raça, etnia, gênero, orientação sexual, algumas características físicas, religião e
educação); 2) Conhecimentos, habilidades e capacidades relativos à tarefa; 3) Valores, cren-
ças e atitudes; 4) Personalidade e estilos cognitivos e comportamentais; 5) Status no grupo
de trabalho da organização (nível hierárquico, especialidade ocupacional, departamento
funcional e tempo de casa)” (MCGRATH; BERDAHL; ARROW, 1995 , p. 23)
O conceito de diversidade está relacionado com identidades. Nkomo e Cox Jr. (1999,
p. 333) definem “diversidade como um misto de pessoas com identidades grupais diferen-
tes dentro do mesmo sistema social”, no qual coexistem grupos de maioria e de minoria,
sendo os grupos de maioria aqueles em que os membros historicamente obtiveram van-
tagens em termos de recursos econômicos e de poder em relação aos de minoria. Esse
conceito, segundo os autores, baseia-se na teoria da identidade social, a qual aponta que
as pessoas classificam a si mesmas e aos outros em grupos sociais, o que repercute nas
relações pessoais. Hall (1991) enfatiza a multidimensionalidade da diversidade, afirmando
que os indivíduos possuem várias identidades e, dificilmente, os membros de um grupo
são distintos em uma única dimensão. nesse sistema
Nkomo e Cox Jr. (1999, p. 335) citam que as definições mais restritas interpretam a
“diversidade apenas no sentido de gênero, etnia e raça, referindo-se às pessoas pertencen-
tes apenas a um gênero específico ou grupo minoritário de raça-etnia (mulheres brancas
e minorias raciais)”. Ainda do ponto de vista desses autores, a diversidade é descrita como
força de trabalho total, devendo ser diferenciada dos conceitos de ação afirmativa, pes-
quisa de gênero, raça-etnia, não devendo ser entendida como apenas um nome para os
membros de grupos de minoria.
A diversidade é um conceito multidimensional que inclui todos os indivíduos den-
tro de um sistema, levando em consideração suas diferenças e semelhanças, ou seja, um
aglomerado de pessoas com suas singularidades, relacionando-se com outros grupos de
pessoas também com suas particularidades, em que coexistem diferentes crenças, valo-
res, experiências, conhecimentos, habilidades, atitudes, personalidade, cultura, formação
educacional, nacionalidade, idade, preferência sexual, raça, etnia, gênero, deficiência, loca-
lização geográfica, nível hierárquico, ocupação, tempo de serviço, função, renda, religião,
origem demográfica, estado civil, modos de ser, pensar e agir diversos.

FIQUE ATENTO
Multiculturalismo não significa o mesmo que diversidade, embora sejam conceitos relacio-
nados. Procure entender as diferenças entre os termos.

5.3 POBREZA E EXCLUSÃO SOCIAL

Na sociologia, a pobreza é discutida em duas abordagens: a pobreza absoluta e a po-


breza relativa. A primeira refere-se às condições básicas que devem ser preenchidas para
que a pessoa mantenha uma existência fisicamente saudável, ou seja, está relacionada à
ideia de subsistência. Esse conceito é visto como universalmente aplicado, em virtude da
crença de que os padrões de subsistência humana não se diferem. Isso implica que qual-

45
quer pessoa que se enquadre no padrão universal de pobreza, independentemente do
lugar que vive, será considerado incluído na situação de pobreza (GIDDENS, 2005).
A segunda abordagem, o conceito de pobreza relativa, relaciona a pobreza ao pa-
drão de vida de uma sociedade específica, ou seja, a pobreza é definida culturalmente, não
seguindo um padrão universal. Assim, esse conceito considera que as necessidades huma-
nas são diferentes conforme as sociedades, ou seja, coisas essenciais em uma sociedade
podem ser indiferentes para outras (GIDDENS, 2005).
Medir a pobreza é uma tarefa complexa. A maioria dos governos coloca medições
oficiais da pobreza, normalmente, são utilizados critérios objetivos, como a renda. No en-
tanto, medir a pobreza exclusivamente pela renda pode subestimar a real dimensão das
privações de famílias de baixa renda. Pete Townsend empreendeu estudos no Reino Unido,
na década de 1980, sobre as medidas de pobreza incluindo informações sobre estilos de
vida, condições de vida, hábitos de alimentação, atividades sociais, etc. Essas informações
revelaram discrepâncias significativas entre os números oficiais de pobreza e a quantidade
de pessoas que viviam na pobreza severa (GIDDENS, 2005).
Uma das abordagens explicativas da pobreza é aquela que enfatiza os processos
sociais mais amplos como geradores das condições de pobreza. As forças estruturais da
sociedade (classe, gênero, etnicidade, posição ocupacional, educação formal, etc) influen-
ciam na distribuição de recursos. Nesse ponto de vista, a pobreza é uma consequência das
situações restritivas do indivíduo, e não sua causa. A situação de pobreza deixa a pessoa
em desvantagem, podendo levar ao processo de exclusão social.
A exclusão social pode assumir diferentes formas: em termos econômicos, políticos
e sociais. A exclusão econômica se refere à economia, no que diz respeito à produção e ao
consumo. Em comunidades que apresentam alta concentração de privação material, as
taxas de desemprego são mais altas e as oportunidades ocupacionais são limitadas. Além
disso, a exclusão econômica se dá também pela privação em termos de padrões de con-
sumo. A exclusão política se refere à falta de recursos e oportunidades para a participação
política dos indivíduos. E, por fim, a exclusão social pode ser sentida na vida social e comu-
nitária. Indivíduos privados de instalações comunitárias adequadas também encontram
limitações para a participação cívica e social (GIDDENS, 2005).

5.4 RAÇA E ETNICIDADE

Raça é um conceito complexo no âmbito da sociologia, a despeito do uso simplista


no cotidiano para separar e categorizar seres humanos em raças biologicamente diferen-
tes, como aconteceu no apartheid. No entanto, não existem raças diferentes em termos
biológicos, mas, sim, diferenças de típicos físicos entre os grupos humanos. Em virtude
disso, a comunidade científica abandonou o conceito de raça. Para a análise sociológica, a
raça continua sendo um conceito vital, embora seja contestado.
Stuart Hall traz uma importante contribuição para o estudo das identidades negras
ao problematizar os conceitos de raça argumentando que raça se assemelha mais a uma
linguagem do que às ciências biológicas, pois o conceito ganha sentido não por ser es-
sencial, mas, sim, por ser relacional. Para o autor, “raça é uma construção discursiva, um
conceito classificatório importante na produção da diferença, um significante flutuante,
deslizante, que significa diferentes coisas em diferentes épocas e lugares”. (HALL, 2015, p.
1), e deve ser desnaturalizado historicamente, de modo a ser entendido como uma catego-
ria produzida em contextos sócio-históricos específicos e também considerando as lutas

46
políticas dos diferentes movimentos sociais. É preciso lembrar que a categorização é um
processo que hierarquiza raças, atribuindo o status de superioridade ou inferioridade para
cada categoria.
Quanto à etnicidade, Hall (1999, p. 67) traz um conceito de etnia, definindo-a “pelas
características culturais – língua, religião, costumes, tradição, sentimento de ‘lugar’- que
são partilhadas por um povo”. Esse conceito implica que a identidade étnica se reconfigura
ao longo do processo histórico, não sendo a etnia algo dado e definitivo. O autor entende
ainda que o conceito é de natureza situacional, ou seja, o termo etnia e a etnicidade refe-
re-se aos grupos diferenciados do ponto de vista de raça, religião, nacionalidade, origem,
língua, folclore ou qualquer outra característica (KREUTZ, 1999)
Etnicidade refere-se às práticas e às visões culturais de determinada comunidade de
pessoas que as distinguem de outras. As diferenças étnicas são aprendidas, sendo um fe-
nômeno social, ou seja, é produzido e reproduzido ao longo do tempo e, com o processo de
socialização, estilos de vida, normas e crenças são assimilados pelos membros (GIDDENS,
2005).

FIQUE ATENTO
Grupos minoritários: A noção de grupos minoritários na sociologia é mais do que uma distin-
ção numérica, pois os membros de um grupo minoritário são aqueles que estão em desvan-
tagem se comparados com a população majoritária e possuem um sendo de solidariedade
de grupo.

Na discussão sobre raça, etnicidade e migração, alguns conceitos são relevantes: ra-
cismo, preconceito e discriminação.
O Racismo é uma organização da sociedade que produz desigualdade, não sendo
um fenômeno individual, mas, sim, estrutural. Para compreender o racismo, precisamos
lançar nosso olhar para a sociedade com a compreensão de que raça é um conceito social-
mente construído no imaginário social, e não uma diferença biológica (CAMPOS, 1999)
Preconceito diz respeito a ideias preconcebidas anteriormente ao conhecimento da
realidade que, frequentemente, estão embasadas em estereótipos, em características fi-
xas e inflexíveis de um grupo de pessoas. Os estereótipos são internalizados nas interpreta-
ções cultuais e, mesmo quando se trata de desvios grosseiros da realidade, são difíceis de
serem quebrados.
A discriminação compreende a ação em relação a outras pessoas com base nas ideias
preconcebidas, isto é, refere-se ao comportamento concreto em relação a um grupo ou in-
divíduo. O preconceito pode ser o gerador da discriminação e da desigualdade que exclui
a pessoa de determinadas posições de trabalho nas empresas, de determinados círculos
sociais, entre outras formas de exclusão. Porém, preconceito e discriminação podem existir
separadamente, ou seja, as pessoas podem ter atitudes preconceituosas involuntárias e a
discriminação não deriva necessariamente do preconceito (GIDDENS, 2005).
O racismo é o preconceito baseado em distinções físicas socialmente significativas.
A ideia de racismo institucional sugere que o racismo está incrustado nas estruturas da so-
ciedade de modo sistemática. Nessa perspectiva, as instituições políticas, sociais, de saúde
e educacional promovem políticas favoráveis a determinados grupos sociais, discriminan-
do outros.

47
VAMOS PENSAR?
O que faz o racismo prosperar? O que é o racismo moderno?

Kreutz (1999, p. 14) sugere uma abordagem tridimensional (ideologias, práticas e es-
truturas) para estudar o racismo, pois essa permite entender: “1) o formato contemporâ-
neo que o racismo vem assumindo; 2) alguns dos problemas relacionados com sua defini-
ção conceitual; 3) o estatuto ontológico da noção de raça; 4) parte dos dilemas enfrentados
pela luta antirracista”. A dimensão ideológica considera as referências mandatórias ainda
existentes e a persistência do racismo não pode ser distanciada do modo como ele se re-
produz nas estruturas sociais e reforçam as práticas discriminatórias em virtude dos pre-
conceitos.
Outro termo envolvido na discussão desta unidade é estigma. Goffman define estig-
ma como uma característica ou atributo do indivíduo que “o torna diferente de outros que
se encontram numa categoria em que pudesse ser – incluído, sendo, até de uma espécie
menos desejável – num caso extremo, uma pessoa completamente má, perigosa ou fraca”
(GOFFMAN, 1975, p. 12).
Goffman ressalta que tal característica é um estigma quando, principalmente, tem
um efeito de descrédito “e constitui uma discrepância específica entre a identidade social
virtual e a identidade social real”.
De modo mais específico, Goffman (1975, p. 12) explica o conceito de estigma sob a
visão de um processo socialmente construído, pelo que “a sociedade estabelece os meios
de categorizar as pessoas e o total de atributos considerados como comuns e naturais para
os membros de cada uma dessas categorias”. Isso porque, como o autor observa, somente
são tidos como atributos indesejáveis aqueles que não estão de acordo com os estereóti-
pos criados para determinado tipo de pessoa.
Para Goffman (1975, p. 5), as preconcepções das pessoas normais, como se refere
àqueles que estigmatizam, “transformam-se em expectativas normativas, em exigências
apresentadas de modo rigoroso”; porém, no cotidiano, tais preconcepções são ignoradas
até que surja uma evidência de que o estranho tem um atributo que o torna uma pes-
soa “estragada e diminuída”. O conceito de estigma é aplicado a todos os casos em que
um atributo observável deprecia o sujeito em seu contexto social, uma vez que os demais
membros da sociedade o identificam como menos desejável, diferente, mau, perigoso, in-
ferior ou fraco.
Com base nessa definição, é possível conclui, a respeito do indivíduo:
Assim, deixamos de considerá-lo criatura comum e
total, reduzindo-o a uma pessoa estragada e diminu-
ída. Tal característica é um estigma, especialmente
quando o seu efeito de descrédito é muito grande –
algumas vezes ele também é considerado um defei-
to, uma fraqueza, uma desvantagem [...],(GOFFMAN,
1975, p. 6).

48
O estigma é, portanto, um traço profundamente depreciativo que, por não corres-
ponder aos padrões estabelecidos pela sociedade, desvaloriza, rejeita e diminui o indivíduo
automaticamente identificado por uma marca. A pessoa estigmatizada “pode-se impor
a atenção e afastar aqueles que ele encontra, destruindo a possibilidade de atenção para
outros atributos seus” (GOFFMAN, 1975, p. 7).
Melo (2000, p. 20) observa que o estigma é uma marca que a sociedade imputa ao
estigmatizado, limitando e delimitando a sua capacidade de ação, e “quanto mais visível
for a marca, menos possibilidade tem o sujeito de tentar romper ou ocultá-la nas suas
inter-relações, pois, já identificada, dificilmente poderá reverter a imagem formada ante-
riormente pelo padrão social”. O estigmatizado, por não conseguir relativizar essas dife-
renças, aceita a rejeição imposta pela sociedade e, ao negligenciar suas qualidades e seus
atributos pessoais, reforça a representação social de “incapaz” e “prejudicial” às relações de
convivência social. Nesse sentido, para os sujeitos denominados como portadores de um
estigma, como afirma, “a sociedade reduz suas oportunidades, esforços e movimentos,
não lhes atribui valor, impõe-lhes a perda da identidade social de seres individualizados e
determina uma imagem deteriorada dentro do modelo que convém à sociedade” (MELO,
2000, p. 19)

GLOSSÁRIO
Apartheid – sistema de segregação racial forçada na África do Sul que classificava os sul-a-
fricanos em 4 categorias: branco, de cor, asiáticos e negros. A segregação era imposta a todos
os níveis.

BUSQUE POR MAIS


Racismo estrutural: Assista a entrevista e pesquise mais sobre a institucionaliza-
ção branca em algumas profissões e práticas profissionais. Disponível em: https://
bit.ly/30u3Ozf. Acesso em: 10 mar. 2021.

How racista are you? Jane Elliot’s Blue Eyes/ Brown Eyes: Assista ao documen-
tário da socióloga americana Jane Elliot sobre racismo e discriminação social. De-
pois de assistir o documentário, reflita sobre as situações parecidas com as quais
você se deparou ao longo da sua vida. Disponível em: https://bit.ly/3rusTWJ. Acesso
em: 10 mar. 2021.

Crash – no limite: Neste filme, várias histórias ambientadas em Los Angeles con-
duzem o desenvolvimento de um enredo dramático. Assista ao filme e reflita sobre
os conceitos de diversidade, racismo, preconceitos, fundamentalismo, violência ur-
bana, entre outros. Disponível em: https://bit.ly/3ssmv2E. Acesso em: 10 mar. 2021.

Atlas da violência: Contém acesso a dados e informações sobre a violência no Bra-


sil, podendo consultar as incidências de fatores como sexo, raça/cor, idade, entre
outros. Procure relacionar esses dados com os conceitos trabalhados nesta unida-
de. Disponível em: https://bit.ly/39eoZKt. Acesso em: 10 mar. 2021.

49
FIXANDO O CONTEÚDO
1. Multiculturalismo é um termo bastante comum na contemporaneidade. Sobre o seu
significado, é correto afirmar que:

a) Multiculturalismo é um fenômeno social que significa a convivência tempestuosa de


algumas culturas.
b) Uma sociedade multicultural é aquela em que há tolerância quanto às diferenças, não
havendo conflitos.
c) É sinônimo de diversidade.
d) Alguns estudiosos questionam que o multiculturalismo na verdade é uma imposição da
cultura dominante e uma hegemonização.
e) Nenhuma das alternativas acima

2. A prática de julgar outras culturas comparando-as aos padrões culturais próprios é


denominada:

a) Multiculturalismo
b) Etnocentrismo
c) Relativismo cultural
d) Limpeza étnica
e) Nenhuma das alternativas acima

3. A relocação forçada de grupos étnicos é denominada de:

a) Diversidade étnica
b) Limpeza étnica
c) Assimilação cultural
d) Relativismo cultural
e) Nenhuma das respostas

4. Sobre o conceito de diversidade, é correto afirmar que:

a) o conceito de diversidade considera o indivíduo, destacando as diferenças de identidades


de cada um,
b) Não leva em consideração os grupos sociais
c) Não inclui todos, sendo restrito a raça e gênero.
d) É sinônimo de multiculturalismo
e) Todas estão corretas

5. Sobre a pobreza e exclusão social, é correto afirmar que:

a) A pobreza absoluta e a pobreza relativa referem-se a privações.


b) A pobreza relativa pressupõe que seja ´possível encontrar um padrão universal de
pobreza que se aplique em qualquer lugar do mundo.

50
c) Em comunidades que apresentam alta concentração de privação material não ocorre a
exclusão econômica
d) A pobreza é uma atribuição social
e) Nenhuma das respostas

6. O estudo da diversidade requer o conhecimento de diversos outros conceitos teorias.


Marque a alternativa correta:

a) os grupos de minoria são aqueles em que os membros historicamente obtiveram


vantagens em termos de recursos econômicos e de poder em relação aos de minoria.
b) A teoria da identidade social aponta que as pessoas classificam a si mesmas e aos outros
em grupos sociais, o que repercute nas relações pessoais.
c) Os indivíduos possuem uma única identidade ao longo de sua vida.
d) O estudo de diversidade é unidimensional
e) Nenhuma das anteriores

7. Marque a alternativa que descreve um conceito socialmente construído:

a) Raça
b) Etnia
c) socialização
d) Diversidade
e) todas as alternativas estão corretas

8. O preconceito baseado em distinções físicas socialmente significativas é conhecido


como:

a) estigma
b) estereótipo
c) racismo
d) etnia
e) Nenhuma das alternativas

51
06
DEBATES CONTEMPORÂNEOS UNIDADE

52
6.1 INTRODUÇÃO

Na última unidade, serão abordados temas relevantes que fazem parte do debate
contemporâneo de questões sociais, como a globalização e suas consequências, e os di-
reitos humanos, cidadania e movimentos sociais. O debate contemporâneo sobre tais te-
máticas é permeado de controvérsias, no entanto, todas essas questões têm em comum o
desafio das incertezas do futuro.
A primeira temática é sobre o Neoliberalismo e a Globalização, dois termos que mar-
cam a contemporaneidade. O Neoliberalismo é uma corrente fundada sobre o liberalismo
e baseia-se nas políticas econômicas capitalistas e no afastamento do Estado da economia
ou o Estado mínimo. A globalização é o sustentáculo do capitalismo e, como tal, é o pro-
cesso ideal para que políticas neoliberais floresçam e, “assim, o mercado irrompe livre de
quaisquer barreiras nacionais, submetendo a sociedade global à suas leis” (IANNI, 1998, p.
29).
A segunda temática é um tema que reúne direito, cidadania e movimentos sociais,
em uma tentativa de mostrar como esses conceitos estão interligados. Cidadania significa
ter garantia quanto a todos os direitos civis, políticos e sociais, de modo a viver plenamen-
te. A história da conquista dos direitos humanos é de luta, recuo e perdas, porém, temos
hoje a Declaração Universal dos Direitos Humanos, um documento de extrema relevância
social e humana e que deve ser de conhecimento de todo cidadão.

6.2 NEOLIBERALISMO E GLOBALIZAÇÃO

O neoliberalismo é uma corrente de pensamento originada do liberalismo, e com-


preende a liberação das atividades econômicas, em termos de produção, distribuição, tro-
ca e consumo, no sentido de que o Estado se mantenha afastado do mercado, ou seja, a
participação do Estado seja minimizada. Criando-se o Estado Mínimo, que apenas esta-
belece e fiscaliza as regras do fogo, sendo liberado de todo poder estatal. Conforme Ianni
(1998)o neoliberalismo fundamenta-se em princípios das liberdades relativas às atividades
econômicas.
O Neoliberalismo funda-se no reconhecimento da
primazia das liberdades relativas às atividades eco-
nômicas como pré-requisito e fundamento da orga-
nização e funcionamento das mais diversas formas
de sociabilidade, compreendendo não só as empre-
sas, corporações e conglomerados, mas também as
mais diferentes instituições sociais (IANNI, 1998, p.
28).
As ideias neoliberais têm profunda relação com o liberalismo no que toca à defe-
sa de que o Estado deve se manter afastado do mercado, argumentando a favor do livre
mercado e contra a influência dos sindicatos. No entanto, por mais que o neoliberalismo
se fundamente em ideias do liberalismo, sua influência na economia é diferente, visto que
se orienta a favor da aplicação de novas tecnologias e da abertura de mercado. Uma das
diferenças ou inovações do neoliberalismo em relação ao liberalismo está na sua defesa de
que o Estado desempenhe o papel de regulador da economia, de forma a combater des-

53
vios, como o caso da formação de cartéis.
Em termos históricos, o neoliberalismo ganhou maior expressão depois da Segun-
da Guerra Mundial, na Europa e na América do Norte, constituindo uma reação contra o
Estado intervencionista e de bem-estar social. No Brasil, as ideias neoliberais chegaram na
década de 1990, com o governo de Fernando Collor, que lançou o plano econômico com o
objetivo controlar a inflação, tendo início das privatizações, quando várias empresas esta-
tais foram negociadas.

O Governo Collor de Mello, foi o último país da Amé-


rica Latina a aderir e implementar o projeto políti-
co-econômico neoliberal, sistematizado doutrinaria-
mente em 1989, de forma inequívoca, pelo chamado
Consenso
No mandato de Fernando Henrique Cardoso comode presidente
Washingtonda(FILGUEIRAS,
República,2006,
dá-sep. 1).
continuidade aos processos das privatizações, reafirmando-se um governo neoliberal. Sob
a batuta do neoliberalismo:

Realizam-se a desregulamentação das atividades


econômicas pelo Estado, a privatização das em-
presas produtivas estatais, a privatização das orga-
nizações e instituições governamentais relativas à
habitação, aos transportes, à educação, à saúde e à
previdência (IANNI, 1998, p. 28).

GLOSSÁRIO
Consenso de Washington foi um encontro ocorrido em Nova Iorque, programado por econo-
mistas de instituições financeiras como Fundo Monetário Internacional, FMI e o Banco Mun-
dial, no qual buscava avaliar as reformas econômicas na América Latina

Nesse contexto, em que o mercado é privilegiado em relação ao espaço para sua


expansão, o fenômeno da globalização que tem em seu bojo a revolução tecnológica, tor-
nou-se o facilitar para a expansão das políticas neoliberais. Os sociólogos utilizam o termo
globalização para referirem-se aos processos que estão intensificando as relações e a inter-
dependência sociais globais. A globalização, muitas vezes, é retratada como um fenôme-
no puramente econômico, em virtude da
influências das corporações nos processos
de produção e distribuição do trabalho em
nível global (GIDDENS, 2005).

Figura 2: Neoliberalismo
Fonte: EMIR SADER (2016)

54
No entanto, a globalização é criada pela atuação de fatores que, em conjunto, con-
tribuem para que ela aconteça. Giddens (2005) cita alguns fatores que impeliram a glo-
balização. O primeiro é a explosão das comunicações globais, o que foi propiciado pelos
avanços das tecnologias de informação e comunicação. Os recursos que surgiram nesse
campo, incluindo a internet, possibilitaram a integração de indivíduos de diferentes partes
do mundo, e cada vez mais as pessoas estão se conectando por meio das tecnologias e
sistemas de comunicação cada vez mais sofisticados. Veja-se como exemplo os telefones
pessoais móveis, o celular, e a variedade de funções que ele tem na vida do indivíduo.
O segundo fator é a integração da economia global, hoje dominada pela atividade
virtual e intangível, cujos produtos têm sua base na informação, como o caso de softwares,
mídias, redes sociais e serviços baseados na internet. No contexto da economia do conhe-
cimento, há um grande contingente de consumidores tecnologicamente aptos e ávidos
por produtos que possam integrar seu cotidiano, seja no âmbito do trabalho, entreteni-
mento e da vida pessoal. A economia global opera através de redes que cruzam fronteiras
e exige dos negócios estruturas ágeis, flexíveis e com pouca hierarquia para se manterem
competitivas. As práticas de produção e os modelos organizacionais também se modifica-
ram, incluindo acordos, parcerias e alianças e a participação em redes globais de distribui-
ção (CASTELLS, 1999).
Desde que a globalização foi impulsionada, ainda no século XX, podem se observar
inúmeras forças influentes, que Giddens (2005) aponta como as mudanças políticas (que-
da do comunismo, crescimento dos mecanismos regionais e internacionais de governo,
como as Nações Unidas e a União Europeia), e o surgimento de organizações não governa-
mentais (ONGs), que são organizações independentes que trabalham ao lado dos organis-
mos de governo nas tomadas de decisões políticas.
A tecnologia da informação, além de expandir a possiblidade de contato entre as
pessoas de diferentes partes do mundo, facilitou também o fluxo de informações sobre
as pessoas, sobre acontecimentos marcantes no mundo, deixando os indivíduos cada vez
mais conscientes de sua interconectividade em um mundo em constantes transforma-
ções. Giddens (2005) aponta para duas dimensões importantes sobre a mudança para
uma perspectiva global: (1) o senso de comunidade global – os indivíduos se percebem
como parte de uma comunidade global, pensando nos problemas comuns, seja eles rela-
cionados a injustiças sociais ou desastres naturais; e (2) senso de identidade – as mudanças
políticas em nível regional e global enfraqueceram a ligação das pessoas com os estados
em que vivem.
As corporações transnacionais é um dos fatores econômicos que levaram ao fenô-
meno da globalização. Essas companhias, orientadas para os mercados globais e lucros
globais, produzem bens ou serviços comerciais em mais de um país, transpondo as fron-
teiras nacionais. Cada vez mais as corporações obtêm maiores recursos para atender seus
interesses, e, nesse sentido, elas utilizam-se de diversos mecanismos, como fusões, joint-
-ventures, alianças organizacionais, de modo a aumentar sua competitividade, reduzir cus-
tos e aumentar lucros.
Giddens (2005) classifica as tendências sobre o conceito de globalização em três
grupos de pensadores: céticos, hiperglobalizadores e transformacionistas. Para os céticos,
a economia mundial não está integrada a ponto de dizer que existe uma economia globa-
lizada; o que existe são blocos comerciais; os governos e mercados são as forças dirigentes
da globalização e o argumento final é de que a internacionalização depende da aprovação
e do suporte do governo.

55
Diferentemente dos céticos, os hiperglobalizadores sustentam que a globalização é
um fenômeno real e suas consequências podem ser sentidas em quase todos os lugares.
Para essa tendência, as forças dirigentes da globalização são o capitalismo e a tecnologia,
e o argumento resumido é o fim do Estado-Nação.
E os transformacionistas se posicionam no meio, vendo a globalização como uma
força fundamental agindo por trás do amplo espectro de mudanças que estão hoje mol-
dando as sociedades modernas; as forças combinadas na modernidade dirigem a globali-
zação e o argumento resumido é que a globalização está transformando o governamental
e as políticas mundiais.
As consequências da globalização afetam todos os aspectos do mundo social. Nesse
contexto, é importante conhecer o conceito de risco produzido. Segundo Giddens (2005),
as sociedades humanas sempre foram ameaçadas por riscos externos, porém, hoje, as so-
ciedades confrontam-se com riscos produzidos, isto é, riscos criados pelo impacto do nos-
so próprio conhecimento e da tecnologia sobre o mundo natural. São exemplos os riscos
ambientais, riscos ecológicos, riscos à saúde.

VAMOS PENSAR?
A globalização está progredindo cada vez mais rapidamente, porém, tem sido marcada por
uma profunda disparidade entre os países mais ricos e mais pobres. Muitos dos países que
mais necessitam dos benefícios econômicos da globalização estão em perigo de serem mar-
ginalizados.

Giddens (2005) aponta para a necessidade de uma governança global, pois no con-
texto da globalização, as estruturas e governos estão despreparados para gerenciar um
mundo cheios de riscos, desigualdades e desafios que extrapolam as fronteiras nacionais.
Segundo o autor, governos individuais não conseguem solução para problemas que se
tornaram mundiais. A exemplo disso estão as epidemias, como o caso do coronavírus, em
2020. Acontecimentos como esses desfiam governos e exigem repostas de abrangência
internacional.
Santos (2000), geógrafo brasileiro, apresenta três abordagens conceituais sobre a
globalização, em seu livro “Por uma outra globalização”: globalização como uma fábula
(enfatiza as contradições existentes no processo de globalização, o que não permite afir-
mar que a globalização exista, de fato); globalização como perversidade (enfatiza a violên-
cia do dinheiro e da informação na busca da mais-valia universal, o aprofundamento da
desigualdade); globalização como outra possibilidade (como poderia ser uma globalização
a serviço da cidadania, o que é necessário e possível).

FIQUE ATENTO
Há necessidade de novas formas de governo global que possam enfrentar os problemas glo-
bais de uma forma global.

56
6.3 DIREITOS, CIDADANIA E MOVIMENTOS SOCIAIS

O conceito de Cidadania é hoje entendido não somente como o status atribuído


pela autoridade do estado. O conceito inclui as reinvindicações políticas e sociais quanto
aos direitos civis (liberdade de expressão e movimento e obediência à lei), políticos (votar,
candidatar-se) e sociais (bem-estar, segurança no emprego e saúde), que são dimensões
importantes do conceito. Nesse entendimento, cidadania consiste em um processo social
pelo qual os indivíduos e grupos sociais se ocupam reivindicando, ampliando ou perdendo
direitos.
A análise de Marshall (1967) sobre a relação entre cidadania e direitos no contexto da
história mostra que a discussão sobre cidadania iniciou-se nos séculos XVII e XVIII, de forma
tímida, por meio da formulação dos chamados direitos civis. Naquela época, procurava-se
garantir a liberdade religiosa e de pensamento, o direito de ir e vir, o direito à propriedade, a
liberdade contratual, a liberdade para escolher o trabalho, e a justiça, que devia salvaguar-
dar todos os direitos anteriores. Esses direitos passaram a figurar nas legislações de países
europeus, porém, não chegaram a todas as pessoas. A cidadania era restrita aos proprietá-
rios de bens e de terras.

Figura 3: Cidadania
Fonte: Elaborado pelo autor(2020)

A cidadania vincula-se ao aos direitos, principalmente, aqueles de natureza civil, que


representam a os direitos fundamentais à vida e à liberdade. Os direitos civis se manifes-
tam nas garantias de ir de vir, de expressão do pensamento, da inviolabilidade do lar, de
não ser condenado sem processo legal regular, sendo a liberdade individual a sua essência
(MARSHALL, 1967).
Os direitos políticos vieram como um desdobramento dos direitos civis, e envolvem
os direitos eleitorais, ou seja, refere-se à possibilidade de o cidadão eleger seus represen-
tantes e ser eleito para cargos políticos —, o direito de participar de associações políticas,
como os partidos e os sindicatos, e o direito de protestar, ou seja, referem-se à participação
do indivíduo no governo da sociedade. O princípio da igualdade assegura que os direitos
civis, políticos e sociais sejam para todos, porém não podem ser considerados universais,
pois são vistos de modo diferente em cada Estado e em cada época (MIRANDA, 2009).
Segundo Miranda (2009), é possível haver direitos civis sem que haja os direitos po-
líticos, porém, para que os direitos políticos tenham sentido é necessária a existência dos

57
direitos civis. De modo sintético, os direitos civis são garantidores da vida em sociedade,
ao passo que os direitos políticos garantem a participação do indivíduo no governo na
sociedade. No entanto, a garantia, de fato, dos direitos à educação, saúde, aposentadoria,
trabalho e remuneração justa depende da existência de uma eficiente máquina adminis-
trativa, pois, do contrário, apesar de ter os direitos sociais, pode não se alcançar os objetivos
de bem-estar. Na análise de Marshall (1967), destacam-se as instituições que garantiriam
o acesso à cidadania: as instituições civis (tribunais); as instituições políticas (partidos polí-
ticos, parlamento); e as instituições sociais.
Considerando que há um hiato quanto à existência e garantia dos direitos do cida-
dão, pode-se pensar que a cidadania pode ser formal, ou seja, aquela que está prevista nas
leis e nas cartas magnas, e pode ser real, ou seja, aquela que vivemos no dia a dia e que
mostra não haver igualdade fundamental. A cidadania formal é importante, pois as leis são
necessárias para determinar os direitos do cidadão. Porém, igualmente importante é seria
que a cidadania fosse vivida em sua totalidade no nosso dia a dia, igualmente por todos os
cidadãos.
Os direitos universais do cidadão foram conquistados com muita luta. Desde o sé-
culo XVIII, movimentos em defesa dos direitos humanos se ergueram para a aplicação
dos direitos dos cidadãos. O conceito de movimentos sociais, até o século XX, referia-se às
ações de trabalhadores em sindicatos, mas, ao longo do tempo, pesquisadores desenvol-
veram teorias buscando explicar os novos movimentos sociais, que surgiram para reivin-
dicar mudanças sociais que melhorassem a vida de grupos e indivíduos. Os movimentos
sociais são ações coletivas com o fim de transformação social, com objetivos e valores em
comum, e uma organização que possibilite alcançar os objetivos; são protagonistas de pro-
cessos coletivos de protesto contra situações estabelecidas que afetam os interesses de
determinado grupo (JESUS; PANDOLFI, 2016).
Os movimentos sociais caracterizam-se pela proposição de inovações e de traçar
novos rumos da mudança social., portanto, esses movimentos ampliam e consolidam a
esfera pública, portanto, a ausência desses movimentos é um obstáculo à democracia.
Foi a partir da década de 1960 que a temática dos movimentos sociais ganhou es-
paço na teorização e na prática, quando a sociedade passou considerar os movimentos
sociais como fenômenos históricos concretos. Em termos teóricos, Gohn afirma que os
movimentos sociais constituem em “uma área clássica de estudo da sociologia e da polí-
tica, tendo lugar de destaque nas ciências sociais” (GOHN, 1997, p. 329). No entanto, a difi-
culdade de teorizar sobre os movimentos sociais é justificada pela não existência de um
único conceito do que seja seu significado, mas, sim, são diversos conceitos que variam de
acordo com o tempo e com o espaço, histórico e cultural, existentes em cada sociedade,
pois os movimentos “transitam, fluem e acontecem em espaços não-consolidados das
estruturas e organizações sociais.” (GOHN, 1997, p. 12)
O fato é que, historicamente, a mobilização da sociedade civil foi a responsável pela
conquista de direitos civis e políticos. Para Miranda (2009, p. 230):

A existência dos movimentos sociais não conserva-


dores pode favorecer a emergência de uma ideia de
cidadania como um direito a ter direitos, que se con-
quista de baixo para cima e transforma as relações
sociais, estabelecendo um padrão de sociabilidade
que rompe com o autoritarismo.

58
Essa ruptura com o autoritarismo tem vários desafios, os quais destacam-se:
• a superação da perspectiva de que direitos sejam
apenas garantias inscritas na lei e nas instituições;
• a reestruturação do Estado brasileiro, com a
transformação de sua tradição de patrimonialis-
mo e clientelismo;
• a revisão do papel do cidadão, que cada vez mais
se torna um mero consumidor, afastado de preo-
cupações políticas e dos problemas coletivos;
• a inadequação dos órgãos encarregados da se-
gurança pública e da justiça para o cumprimento
de sua função;
• o fim da divisão em classes no que se refere a ga-
rantia dos direitos civis: os de primeira classe (dou-
tores); os de segunda classe (os cidadãos simples)
– que estão sujeitos aos rigores e aos benefícios
da lei; e os de terceira classe (os “elementos”), ou
ignoram seus direitos ou os têm sistematicamen-
te desrespeitados por outros cidadãos, pelos go-
vernos e pela polícia (MIRANDA, 2009, p. 230).

Miranda (2009) lista que a organização dos movimentos sociais no Brasil, no início
do século XXI, estão ligados aos seguintes eixos:

• Lutas e conquistas por condições de habitabilida-


de na cidade;
• Mobilização e organização popular em torno de
estruturas institucionais de participação na es-
trutura político-administrativa da cidade;
• Mobilização de movimentos de recuperação de
estruturas ambientais e físico-espaciais;
• Movimentos contra o desemprego;
• Movimentos de solidariedade e apoio a progra-
mas com meninos de rua, portadores de HIV e
deficiências físicas;
• MST e suas vias de articulações com as cidades;
• Movimentos étnico-raciais;
• Movimentos de mulheres e homossexuais;
• Movimentos rurais pela terra, reforma agrária;
• Contra políticas neoliberais e os efeitos da globa-
lização (MIRANDA, 2009, p. 12).

As representações da sociedade civil organizada, ou os movimentos sociais, desem-


penham papel de suma importância como agentes do pensamento e das vivências de
suas comunidades, por meio de espaços democráticos de consulta e deliberação, de modo
a influenciar na elaboração e implementação de políticas públicas que possam atender as
demandas dos cidadãos de forma que esses gozem da cidadania plena.

59
BUSQUE POR MAIS

The Corporation: Assista ao documentário canadense sobre o poder das corpora-


ções e sobre os mecanismos que elas utilizam para mantê-lo. Disponível em: ht-
tps://bit.ly/3caWuOg. Acesso em: 10 mar. 2021.

Globalização – MILTON SANTOS – O mundo global visto do lado de cá: Assista ao


documentário do cineasta brasileiro Silvio Tendler sobre a globalização, produzido
em 2001. Disponível em: https://bit.ly/30jQJId. Acesso em: 10 mar. 2021.

Nosedive – Black Mirror: Acesse ao trailer do primeiro episódio da 3ª temporada


da série Black Mirror, que gira em torno de uma sociedade na qual as pessoas têm
uma nota com base nas avaliações que recebem. Disponível em: https://bit.ly/3e-
qEwtW. Acesso em: 10 mar. 2021.

Declaração Universal dos Direitos Humanos: No link abaixo, você poderá acessar
o website das Nações Unidas Brasil e ler um dos documentos mais traduzidos do
mundo e que inspirou a elaboração e constituições de muitos estados e democra-
cias. Disponível em: https://uni.cf/3rzzi2U. Acesso em: 10 mar. 2021.

Batismo de Sangue: Este filme denuncia a violência do Estado brasileiro durante a


ditadura militar, quando a tortura foi institucionalizada por aparelhos repressivos,
trazendo a perspectiva dos religiosos e suas motivações para oposição ao regime.
Disponível em: https://bit.ly/39bVsB2. Acesso em: 10 mar. 2021.

60
FIXANDO O CONTEÚDO
1. Sobre o Neoliberalismo, marque a alternativa correta:

a) O neoliberalismo é uma corrente de pensamento que compreende a liberação das


atividades econômicas, em termos de produção, distribuição, troca e consumo, mas com a
participação do Estado na regulação, fiscalização e oferta de serviços.
b) Capitalismo e neoliberalismo não têm nenhuma relação, sendo dois conceitos estudados
isoladamente
c) O neoliberalismo se fundamente em ideias do liberalismo, mas sua influência na
economia é diferente, visto que se orienta a favor de medidas protecionistas de mercado.
d) O neoliberalismo começou a ser implementado no Brasil com as privatizações no
governo Collor.
e) Nenhuma das respostas

2. Marque a alternativa correta que descreve um dos fatores que NÃO impulsionaram a
globalização:

a) Explosão das comunicações globais


b) Avanço das tecnologias de informação e comunicação
c) Integração da economia global
d) Os problemas ambientais de países mais pobres
e) Nenhum das respostas

3. São dimensões importantes sobre a mudança para uma perspectiva global:

a) O senso de comunidade global e de identidade


b) A política e a ciência
c) As corporações e o estado
d) O capital e o Estado
e) Nenhuma das respostas

4. Milton Santos apresenta três metáforas para explicar a globalização. Marque a alternativa
que descreve corretamente as metáforas:

a) Fábula, perversidade, terceira via


b) Mito, riscos, outra possibilidade
c) Fábula, perversidade, possibilidade
d) Mito, perversidade, realidade
e) Nenhuma das respostas acima

5. Marque a alternativa correta sobre as tendências do pensadores sobre a globalização:

a) Os céticos consideram que a internacionalização depende da aprovação e do suporte do


governo

61
b) Os hiperglobalizadores sustentam que a globalização não existe
c) Os transformacionistas argumentam que a globalização não é capaz de atingir governos
poderosos da economia mundial
d) Todas as tendências de pensadores consideram que a sociedade é globalizada
e) Todas as alternativas estão corretas

6. Marque a alternativa correta sobre cidadania:

a) É tão somente o status atribuído pela autoridade do estado ao indivíduo.


b) Inclui as reinvindicações políticas e sociais quanto aos direitos civis, políticos e sociais
c) Consiste em um processo social pelo qual os indivíduos e grupos sociais aguardam a
autoridade determinar o status
d) É o mesmo que identidade social
e) Nenhuma das respostas acima

7. São garantidoras do acesso à cidadania:

a) As instituições civis, militares e educacionais


b) A família e as empresas
c) A igreja
d) Tribunais, partidos políticos e instituições sociais
e) Nenhuma das respostas acima

8. Os movimentos sociais não são recentes na sociedade contemporânea e cada vez mais
têm ganhado importância. Sobre os movimentos sociais, é correto afirmar que:

a) são protagonistas de processos coletivos de protesto contra situações estabelecidas que


afetam os interesses de determinado grupo.
b) são responsáveis por garantir os direitos dos cidadãos
c) referem-se somente aos sindicatos
d) a presença desses movimentos é um obstáculo à democracia.
e) nenhuma das respostas

62
RESPOSTAS DO FIXANDO O CONTEÚDO

UNIDADE 1 UNIDADE 2
QUESTÃO 1 B QUESTÃO 1 D
QUESTÃO 2 C QUESTÃO 2 D
QUESTÃO 3 D QUESTÃO 3 C
QUESTÃO 4 C QUESTÃO 4 B
QUESTÃO 5 E QUESTÃO 5 D
QUESTÃO 6 E QUESTÃO 6 D
QUESTÃO 7 A QUESTÃO 7 C
QUESTÃO 8 D QUESTÃO 8 C

UNIDADE 3 UNIDADE 4
QUESTÃO 1 D QUESTÃO 1 B
QUESTÃO 2 C QUESTÃO 2 B
QUESTÃO 3 C QUESTÃO 3 B
QUESTÃO 4 B QUESTÃO 4 B
QUESTÃO 5 D QUESTÃO 5 A
QUESTÃO 6 C QUESTÃO 6 B
QUESTÃO 7 E QUESTÃO 7 A
QUESTÃO 8 A QUESTÃO 8 B

UNIDADE 5 UNIDADE 6
QUESTÃO 1 D QUESTÃO 1 D
QUESTÃO 2 B QUESTÃO 2 D
QUESTÃO 3 B QUESTÃO 3 A
QUESTÃO 4 A QUESTÃO 4 C
QUESTÃO 5 A QUESTÃO 5 A
QUESTÃO 6 B QUESTÃO 6 B
QUESTÃO 7 A QUESTÃO 7 D
QUESTÃO 8 C QUESTÃO 8 A

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