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Empoderamento Da Mulher Kaiowa-Guarani
Empoderamento Da Mulher Kaiowa-Guarani
Resumen
El empoderamiento, visto como proceso de liberalización y autodeterminación (Sardenberg, 2010) en las
dimensiones económica, sociocultural y ambiental, es comprendido en un abordaje descolonial del
etnodesarollo local. En esa escala territorial local, según Little (2002), se inicia el proceso de
autoconstrucción de la autogestión étnica y de la resistencia a la opresión, esta última vista como un
derecho humano (Bobbio, 2004). El objetivo general de la investigación fue identificar los liderazgos
femeninos Kaiowá y Guarani, sus prácticas y los motivos relatados por ellas, en la lucha de resistencia
por los derechos y conquista de mayor autonomía de género y de sus comunidades, en la Reserva
Indígena de Dourados, en Mato Grosso del Sur / Brasil. La investigación fue exploratoria, basada en el
método hipotético deductivo y abordaje sistémica, mediante informaciones provenientes de fuentes
secundarias y primarias (entrevista semiestructurada, cuestionario) y análisis cualitativo cuantitativo. El
movimiento de mujeres Kaiowá y Guarani se manifiesta en cuatro niveles de empoderamiento: (1) del
individuo (2) de la familia (3) de la comunidad (4) de la sociedad, aunque todavía hay muchas
dificultades a superar.
Palabras clave: Empoderamiento femenino, indígenas Kaiowa-Guaraní, desarrollo territorial sostenible.
Abstract
The empowerment, seen as a process of liberalization and self-determination (Sardenberg, 2010) in the
economic, sociocultural and environmental dimensions, is understood in a decolonial approach to local
ethnodevelopment. At this local territorial level, according to Little (2002), the process of self-
construction of ethnic self-management and resistance to oppression begins, this latter view as a human
right (Bobbio, 2004). The general objective of the research was to identify the female Kaiowá and
Guarani leaderships, their practices and the reasons reported by them, in the struggle for the rights and
conquest of greater autonomy of gender and their communities, in the Dourados Indigenous Reserve in
Mato Grosso do Sul / Brazil. The research was exploratory, based on the hypothetical deductive method
and systemic approach, using information from secondary and primary sources (semi-structured
interview, questionnaire) and qualitative-quantitative analysis. The Kaiowá and Guarani feminist
movement manifests itself in four levels of empowerment: (1) of the individual; (2) of the family; (2) of
the community; (3) of society, although there are still many difficulties to overcome.
Key words: Women's Empowerment, Kaiowá and Guarani Indigenous Peoples, Sustainable Territorial
Development.
Resumo
O empoderamento, visto como processo de liberalização e autodeterminação (Sardenberg, 2010) nas
dimensões econômica, sociocultural e ambiental, é compreendido numa abordagem descolonial do
etnodesenvolvimento local. Nessa escala territorial local, segundo Little (2002), se inicia o processo de
autoconstrução da autogestão étnica e da resistência à opressão, esta última vista como um direito humano
(Bobbio, 2004). O objetivo geral da pesquisa foi identificar as lideranças femininas Kaiowá e Guarani,
suas práticas e os motivos relatados por elas, na luta de resistência pelos direitos e conquista de maior
autonomia de gênero e de suas comunidades, na Reserva Indígena de Dourados, no Mato Grosso do Sul /
Brasil. A pesquisa foi exploratória, baseada no método hipotético dedutivo e abordagem sistêmica,
mediante informações originadas de fontes secundarias e primárias (entrevista semiestruturada,
questionário) e análise quali-quantitativa. O movimento feminista Kaiowá e Guarani manifesta-se em
quatro níveis de empoderamento: (1) do indivíduo (2) da família (3) da comunidade (4) da sociedade,
embora ainda haja muitas dificuldades a serem superadas.
Palavras chave: Empoderamento feminino, indígenas Kaiowa e Guarani, desenvolvimento territorial
sustentável.
Introdução
Os adeptos do pensamento descolonial desenvolveram uma crítica severa àqueles que analisam as
realidades locais na América Latina com uma abordagem eurocêntrica ou colonizadora, vendo esta como
uma forma de “conhecimento subalternizado” (Escobar, 2003). O colono havia criado uma categoria
universal do ponto de vista eurocêntrico, para analisar qualquer realidade, que tornava-se padrão, a partir
do qual analisavam e detectavam as deficiências, atrasos, restrições e impactos perversos em todas as
outras sociedades (Lander, 2005). Zibechi (2015), fez o alerta para as práticas emancipatórias que
estavam emergindo na América Latina, como lutas de resistência. Tais dinâmicas em sociedades
minoritárias foram vistas por ele, como um novo desafio civilizatório, uma vez que ocorriam em acordo à
lógica de cada comunidade, de modo a se recriar o próprio modo de vida. Para esses pensadores, o
desenvolvimento deixa de ser um discurso homogêneo, para ser compreendido com vários significados e
caminhos, dependendo das especificidades de cada cultura (Little, 2002). Conforme alerta Fanon (1963),
não se pode deixar de verificar que descolonização também pode trazer a ideia de se tirar as partes úteis
do pensamento crítico europeu e adaptá-las à realidade ou experiências vividas particularmente na
América Latina.
Os intelectuais latino-americanos, adeptos dessa abordagem descolonial, reconhecem os
fenômenos da diversidade cultural e são defensores do etnodesenvolvimento local. Segundo Dahl & Rabo
(1992), o etnodesenvolvimento consiste em identificar como o desenvolvimento é concebido,
operacionalizado ou apropriado pelas diferentes etnias, seja no nível político, econômico ou simbólico.
No nível político, o desenvolvimento se manifesta como um movimento de autonomia cultural, com
participação direta nas decisões e controle dos recursos territoriais de cada grupo. Em termos econômicos,
as proposições são no sentido das práticas produtivas garantirem, acima de tudo, suas necessidades
básicas, ao mesmo tempo em que permitam a produção de excedentes geradores de renda. No nível
simbólico, o processo requer um esforço no controle do conhecimento local e tecnologias associadas, bem
como nos processos educacionais. Nesse sentido, a melhor escala para o etnodesenvolvimento, segundo
Little (2002) é a do território local. É nessa escala que os grupos étnicos tomam melhores decisões a
respeito da solução de seus problemas, sendo nela que que se inicia o processo de autoconstrução da
autonomia étnica e gestão. De acordo com o mesmo autor, vários grupos multiétnicos e multiculturais
foram reconhecidos na América Latina desde os anos 80, com o direito à diferença cultural, contemplados
por algumas Constituições dos países da América do Sul, entre elas Colômbia, Brasil, Equador e
Venezuela. O mundo dos aborígenes, também chamado de Mundo dos Povos Indígenas, Povos Tribais,
ou Quarto Mundo, passou a ganhar destaque e reconhecimento nos fóruns mundiais (Burger, 1990). Na
América Latina, os pós-colonialistas que estudam o etnodesenvolvimento local com ênfase nas
populações indígenas defendem o maior controle do conhecimento étnico local para lidar com o mundo
biofísico, incluindo as indústrias biotecnológicas e farmacêuticas (Little, 2002). No que diz respeito à
educação indígena, os adeptos dos movimentos de etnodesenvolvimento local também defendem maior
autonomia cultural. Isso envolve a incorporação, não só o conhecimento local, como o ponto de vista do
grupo étnico, nos currículos estabelecidos nas escolas pelos Estados nacionais, inserindo-se nelas
professores de mesma etnia e até mesmo o estudo bilíngue, quando apropriado.
O território é fruto do esforço coletivo de um grupo social para ocupar, usar, controlar e
identificar-se com uma parte específica de seu ambiente biofísico (Little, 2002, p. 4) e sua manifestação
depende de contingências históricas. Desse modo, existem muitos tipos de territórios, cada um com sua
particularidade territorial. Nesse processo, é necessário compreender a relação particular que cada grupo
social mantém com sua cosmografia, conhecimentos, ideologias e identidades, vínculos afetivos, regime
de propriedade coletivo criado, assim como o uso social que eles atribuir a este território e às formas de
defendê-lo (Little, 2002). Essas particularidades constituem a territorialidade de cada grupo, essa definida
por Raffestin (1993) como um conjunto de relações que emergem em um sistema, compatível com seus
próprios recursos e que permitem alcançar maior autonomia. Mais do que resultado do comportamento
humano sobre o território, para este autor, a territorialidade consiste no processo de construção desse
comportamento, pois envolve um conjunto de práticas e conhecimentos em relação à realidade vivida
para a prática das estratégias escolhidas. O desenvolvimento local, visto por esse ângulo, parte sempre de
uma ação coletiva, exercida na materialidade de seu lugar de vida, podendo contar com o apoio de atores
externos (Dematteis y Governa, 2005).
Bobbio (2004) vê na resistência à opressão, um direito humano. Segundo ele, ainda que esse
direito não apareça explicitamente na Declaração Universal dos Direitos Humanos em 1948, em seu
preâmbulo, está escrito que os direitos do homem devem ser protegidos, para evitar que ele seja forçado
como último recurso, a praticar rebelião contra a tirania e a opressão. O fenômeno da resistência à
opressão hoje é muito mais coletivo e significa um conjunto de comportamentos para mostrar ao
oponente, que não pretende derrotá-lo e sim escolher uma maneira melhor de viver, da qual o próprio
oponente possa se beneficiar.
O quinto objetivo do desenvolvimento sustentável (ODS) para a construção da Agenda 2030
pela ONU, é empoderar todas as mulheres e meninas, garantindo-lhes plena participação e igualdade de
oportunidades, para atuar na promoção do desenvolvimento sustentável em diversas áreas de tomada de
decisão na sociedade. Além de se garantir um direito humano fundamental, esse empoderamento é visto
como base necessária para se construir um mundo mais pacífico, próspero e sustentável (ONU, 2015). De
acordo com os membros do Action Aid (2012), a desigualdade deve ser verificada em diferentes níveis de
domínios de poder: (1) nível social, considerado o nível do domínio público do poder, cujas intervenções
se manifestam através de instituições, leis, políticas e práticas de apoio e promoção. os direitos e o
empoderamento das mulheres; (2) nível de poder comunitário, este considerado a partir da mudança de
nível de normas, valores e práticas sociais e culturais que promovam ou obstruam a desigualdade de
gênero; 3) nível familiar é considerado como o nível privado da família, relacionamentos relacionados ao
casamento ou parceiro; (4) nível individual, considerado o nível íntimo de poder, no qual a mulher
empoderada ganha mais autoconfiança, conhecimento e autoconsciência.
O início da luta pelo empoderamento feminino na América Latina, segundo Sardenberg (2010),
voltou-se principalmente para a redução da desigualdade de gênero e contra a opressão masculina nas
sociedades patriarcais. No Brasil, essa mesma autora reconheceu duas modalidades de empoderamento
feminino: o empoderamento liberal e a emancipação libertadora. Na primeira modalidade, o movimento
tem sido mais marcado por ações com ideais liberais, de caráter mais racional e de interesse mais
individualista. A "emancipação libertadora", tem sido de natureza mais coletiva, embora o
empoderamento pessoal não seja ignorado. Além do processo pelo qual as mulheres tentam alcançar
autonomia e determinação, como um instrumento contra o patriarcado, nessa segunda perspectiva
feminista também se aspira acabar com a pobreza, guerras e construir estados democráticos.
A população tradicional da América Latina vem enfrentando problemas específicos de
desenvolvimento sustentável em diferentes territorialidades. Os povos indígenas, em particular, vêm se
esforçando na conquista de novos cenários, que os levem a sair da invisibilidade (Pacheco, 2017). No
contexto desses movimentos estratégicos também se manifesta o movimento de emancipação das
mulheres indígenas. De acordo com o depoimento dos membros do Conselho Nacional de Mulheres
Indígenas (CONAMI, 2006), essa luta vem ocorrendo desde 1996, embora tenha ganhado visibilidade só
muito recentemente. Em 2017, dez anos após a assinatura da Declaração sobre os Direitos dos Povos
Indígenas pelas Nações Unidas, a Comissão sobre o Status da Mulher (CSW) levantou a questão do
empoderamento das mulheres indígenas sujeitas a múltiplas formas de violência e discriminação,
considerado em três dimensões: ambiental, econômica e social. O projeto "Voz das Mulheres Indígenas",
implementado em 2018 pela ONU em parceria com a Embaixada da Noruega, visa estimular a
mobilização social e fortalecer a participação política de mulheres indígenas em diferentes grupos étnicos
no Brasil, tanto em espaços de tomada de decisão, quanto fora da comunidade. Emergiu da iniciativa das
lideranças femininas, em coletar informações em comunidades indígenas em todo o país. O projeto
aborda a mulher indígena no contexto de seus territórios vividos particulares em cinco situações: (1)
violação de seus direitos, incluindo violência contra mulheres e meninas; (2) empoderamento político; (3)
direitos fundiários e terras em processos de restituição; (4) cuidados com saúde, educação e segurança; (5)
tradições e língua nativa.
No contexto de Mato Grosso do Sul, considerado o estado brasileiro com a segunda maior
população indígena do país, vem se manifestando práticas de emancipação feminina, com destaque
`aquelas desencadeadas entre Kaiowá e Guarani. Chama atenção especial, neste aspecto, a luta das
mulheres na Reserva Indígena de Dourados, tanto para fazer frente à grande opressão sofrida dentro e fora
de suas comunidades, como no apoio masculino à reconquista de seus territórios de origem.
A preocupação dessa pesquisa é com a identificação das condições e do modo particular como se
manifesta o empoderamento das mulheres Kaiowá e Guarani na Reserva Indígena de Dourados, assim
como os movimentos de luta de resistência por elas desencadeadas.
Materiais e métodos
Objetivos e objeto da pesquisa
O objetivo geral da pesquisa foi identificar as lideranças femininas Kaiowá e Guarani, suas
práticas e os motivos relatados por elas, na luta de resistência pelos direitos e conquista de maior
autonomia de gênero e de suas comunidades, na Reserva Indígena de Dourados, no Mato Grosso do Sul /
Brasil.
Mais especificamente buscou-se (1) contextualizar a origem desses movimentos de
empoderamento feminino na cultura Kaiowá e Guarani e o modo como essas comunidades foram
historicamente confinadas na Reserva Indígena de Dourados; (2) identificar o perfil das mulheres que se
empoderam nesse processo e como esse protagonismo feminino se manifesta particularmente nesse
território.
O objeto da pesquisa é constituído pelas Comunidades Kaiowá e Guarani das aldeias de
Jaguapiru e Bororo, na Reserva Indígena de Dourados, estado de Mato Grosso do Sul, Brasil. Já os
sujeitos da pesquisa são as mulheres dessa reserva que protagonizam tais movimentos de resistência, num
processo de empoderamento feminino.
Procedimentos metodológicos
As fontes secundárias foram fundamentais para se dar início à pesquisa. A literatura específica
serviu para se obter as informações preliminares sobre os indígenas na América latina, Brasil e Mato
Grosso do Sul (MS). Os dados estatísticos e cartográficos foram complementares para uma visão mais
integrada dos aspectos históricos, sociais, culturais, econômicos e ambientais dos povos Kaiowá e
Guarani, no contexto de Mato Grosso do Sul e da Reserva Indígena de Dourados. Também se selecionou
como fonte secundaria, a literatura que ajudou a construir o referencial teórico utilizado para poder
discutir os resultados encontrados.
Os dados primários da pesquisa foram coletados diretamente junto aos sujeitos da pesquisa, por
ocasião de quatro viagens realizadas, com permanência entre dois a cinco dias na aldeia. Inicialmente,
procedeu-se à identificação do perfil das lideranças femininas, por meio de um questionário. Também
dois tipos de entrevistas semiestruturadas foram preparadas. A primeira destinou-se a um grupo focal de
onze mulheres, aplicada por meio de uma roda de conversa, maneira comum dos indígenas se reunirem
para discutir questões e encontrar soluções comunitárias. Esse procedimento favoreceu maior
proximidade da vida indígena na Reserva. Mesmo tendo sido criado um ambiente favorável para a
participação, algumas integrantes não sentiram suas colocações devidamente contempladas durante esse
procedimento. Por essa razão, se tomou a decisão de realizar posteriormente entrevistas individuais
semiestruturadas com questões mais detalhadas às lideranças femininas Kaiowá e Guarani.
Os dados das fontes secundárias foram organizados, de modo a melhor compreender o contexto
territorial no qual emergiram os movimentos de resistência que contribuem para o empoderamento das
mulheres Kaiowá e Guarani. O referencial teórico selecionado, ofereceu suporte à análise e interpretação
de informações documentais, estatísticas e cartográficas, assim como na interpretação dos dados obtidos
por meio de escuta das entrevistadas. As lideranças femininas foram melhor identificadas, com apoio dos
questionários. As entrevistas semiestruturadas (grupo focal e individuais) foram transcritas na íntegra e
interpretadas a partir de categorias pré-estabelecidas e do referencial teórico previamente selecionado.
Estas permitiram compreender, na percepção dessas lideranças, como se manifesta o protagonismo
feminino na Reserva Indígena de Dourados.
Desde a colonização europeia, a comunidade indígena na América Latina tem vivido situações
muito difíceis. Seus direitos foram violados em função da exploração da terra, num desrespeito à sua
cultura, tradições e terras sagradas. A conquista desse continente pelos colonizadores também significou a
perda da territorialidade política desses povos, assim como da soberania sobre seus territórios (Cepal,
2014). Estima-se que após 130 anos do primeiro contato com os colonizadores europeus, a população
indígena no continente latino-americano tenha reduzido em 90%. A colonização no Novo Mundo,
conforme aponta Aguilera Urquiza (2016) proporcionou o desaparecimento de muitos desses grupos, seja
absorvendo-os na sociedade dos colonizadores, seja submetendo-os a situações de violência. Além de
formas de trabalho e punição desumanas, os colonizadores introduziram novas doenças (Cepal, 2014). No
Relatório da Cepal apresentado à ONU em 2014, os 826 grupos indígenas na América Latina existentes
em 2010 representavam apenas 8% da população desse continente e 17% das pessoas que viviam em
extrema pobreza. Os países com a maior proporção de população indígena na América Latina eram
Bolívia, Guatemala, Peru e México, enquanto que o maior número de indígenas estava no Brasil,
Colômbia, Peru e México. O Brasil, no entanto, estava entre os países latino-americanos com mais
indígenas em risco de desaparecimentos, tanto físicos como culturais. Era seguido da Colômbia e
Bolívia.
O Serviço de Proteção aos Índios (SPI) foi o primeiro órgão do governo federal, criado no Brasil
em 1910, com o objetivo de prestar assistência às populações indígenas, serviço até então realizado
somente por organizações religiosas. O trabalho mais importante do SPI, a partir de então, foi o de
confinar uma grande parte desses povos em reservas indígenas. No início da colonização portuguesa, a
foi estimada entre 2 a 4 milhões de habitantes indígenas (Funai, 2018). A partir de então, conheceu-se um
período de extermínio desses povos. Até a década de 1970, a população já havia sido reduzida em 70 mil
habitantes. Em 1967, o SPI foi transformado em Fundação Nacional do Índio (Funai), com o objetivo de
coordenar e gerir as políticas públicas federais de proteção dos direitos indígenas. Passaram a fazer parte
de suas atribuições, os estudos de identificação e delimitação, demarcação, regularização fundiária e
cadastramento de terras tradicionalmente ocupadas por povos indígenas, bem como o monitoramento
dessas terras. A partir das décadas seguintes, o país conheceu um processo de recuperação demográfica,
que se acelerou especialmente no final do século XX e início do século XXI. Em 2010, o Brasil já
abrigava 817.962 habitantes indígenas, o que significou um crescimento de 205% em relação a 1991,
embora esse contingente não representasse mais do que 0,4% da população total do país. O mesmo
Censo mostrou que em 2010, as terras indígenas ocupavam 13,8% da área brasileira, basicamente 98,25%
concentrada na Amazônia (ISA, 2018). A Constituição Federal Brasileira de 1988, nos artigos 231 e 232,
reconheceu os direitos dos povos indígenas e a necessidade de proteger sua cultura, língua, costumes,
tradições e territórios tradicionais, assim como de garantir o respeito de todas as suas propriedades pelo
governo brasileiro. No entanto, são muitas as comunidades que ainda aguardam pela restituição de suas
terras (Aguilera Urquiza, 2016).
Mato Grosso do Sul é o estado com a segunda maior população indígena do Brasil, o que
significa 73.295 mil pessoas (IBGE, 2010) e que representa menos de dez por cento do total desse estado.
Os principais povos indígenas presentes em Mato Grosso do Sul são: Kaiowá, Guarani (Ñandeva),
Terena, Kadiwéu, Guató, Ofaié, Kinikinau, Atikum e Camba (Aguilera Urquiza, 2016). A comunidade
mais numerosa é constituída pelos Guarani (Kaiowá e Ñandeva), estimada em 49.047 pessoas (IBGE,
2017). Tanto os Kaiowá quanto os Guarani pertencem à família linguística tupi-guarani, cujos grupos
estão presentes no Paraguai, Sul e litoral do Brasil, Norte da Argentina e na Bolívia. Os povos Kaiowá e
Guarani são considerados descendentes dos indígenas originários da região do Itatim (Aguilera Urquiza,
2016), cujos primeiros contatos com os colonizadores ocorreram em 1530 (Chamorro e Combés, 2015).
Eles compõem o maior grupo indígena de Mato Grosso do Sul. São considerados ainda um dos povos
indígenas com a maior presença territorial nos países do continente latino americano, segundo o Mapa
Continental elaborado em 2016 (Grunberg, Pereira y Colman, 2016). Seus territórios são anteriores à
criação e conformação dos atuais países e fronteiras. No Brasil estão divididos em três grupos - Ñandeva,
M’bya e Kaiowá - com uma população de aproximadamente 85 mil pessoas, a grande maioria localizada
em Mato Grosso do Sul. A Companhia Mate Larangeira, instalada após o conflito armado entre o Brasil e
Paraguai (1864-1870), para atuar na exploração econômica da erva-mate até o início do século XX,
submeteu grande parte desses povos a trabalhos forçados. Esse período, conforme lembra Chamorro
(2015), já teria contribuído para uma grande desordem social entre os Kaiowá e Guarani. O confinamento
de grande parte dos indígenas em oito reservas dentro do estado, pelo SPI deu-se entre 1915 e 1928, entre
elas a Reserva Indígena de Dourados. Ao mesmo tempo em que as reservas estavam sendo criadas,
segundo Chamorro (2015), as terras indígenas foram sendo liberadas para agricultores, mediante política
de colonização dirigida pelo governo federal. Nesse processo, foi criada a Colônia Agrícola de Dourados
em 1943. O confinamento em reservas, segundo Brand (1997) e Aguilera Urquiza (2016), em princípio,
havia proporcionado condições para que os Kaiowá e Guarani conseguissem se manter com suas práticas
tradicionais. Com o tempo, a aglutinação e o crescimento populacional ocorrido em espaços limitados,
passou a alterar as condições iniciais de reprodução da existência indígena. As reservas indígenas
conheceram a superlotação e novos problemas, tornando-se lugares muito difíceis de se viver (Chamorro,
2015). Nas novas condições, muitas das famílias Kaiowá e Guarani acabaram abandonando as reservas,
tentando se reaproximar de suas terras de origem (Pereira, 2007), ao mesmo tempo se sujeitando como
mão-de-obra barata para poder sobreviver (Brand, 1997). Nas décadas de 1960 e 1970, novamente sob
incentivos da União, foi promovido o avanço da fronteira de modernização agrícola, com abertura de
novas fazendas de pecuária e posteriormente de agricultura, com a presença de novos migrantes,
atingindo antigos territórios indígenas (Chamorro, 2015). Essas novas circunstâncias geraram situações de
confronto violento direto, bem como relações de negociações, trocas e alianças, entre integrantes do
grupo Kaiowá e Guarani e agricultores das fazendas (Nascimento e Brand, 2006, citado por Aguilera
Urquiza, 2016). Nesse aspecto, é preciso lembrar que os indígenas também foram submetidos como mão-
de-obra barata por esses agricultores. Enquanto as novas práticas agrícolas passaram a alterar o ambiente
nativo (Brand, 1997), as comunidades indígenas começaram a se desestruturar do ponto de vista social e
cultural (Aguilera Urquiza, 2016). Com esses processos históricos adversos surgiram problemas graves,
como alcoolismo, altas taxas de desnutrição, prostituição, tuberculose, suicídio, violência interna,
imposição de líderes na aldeia, reorganização da organização familiar, novas crenças religiosas
substituindo a tradicional, tornando ineficaz a prática do bem viver desses povos. Por seu turno, o
alcoolismo, consumo e tráfico de drogas passaram a contribuir para promover violência também entre as
unidades sociais dentro das reservas, levando muitas famílias a acampar em beira de estradas (CIMI,
2011).
Luta dos Kaiowá e Guarani na recuperação de seus territórios tradicionais em Mato Grosso do Sul
O espaço considerado legítimo para os Kaiowá e Guarani reproduzir sua existência e estilo de
vida, realizar seus rituais, músicas e danças, é chamado por eles de Tekoha (Brand, 1997). Para esses
povos indígenas, fora dos limites do Tekoha a vida não tem significado. (Aguilera Urquiza, 2016). Por
outro lado, a necessidade de buscar trabalho assalariado fora da aldeia, implicando em ausência por longo
período dos jovens (solteiros e casados), passou a comprometer o papel masculino na organização social
da comunidade (Vietta, 1998).
A luta de resistência dos Kaiowá e Guarani passou a se manifestar com mais ênfase, a partir de
1978, para requisição de parte de suas terras originais à Funai (Chamorro, 2015). A Constituição Federal
de 1988, a Convenção 169 sobre Povos Indígenas e Tribais da Organização Internacional do Trabalho
(OIT) de 1989, o Ministério Público Federal e as políticas públicas de inclusão social (Chamorro, 2015)
vieram trazer maior reforço a essa luta. Diante de todas essas adversidades vivenciadas, a retomada do
tekoha pelos Kaiowá e Guarani passou a ser vista como a solução mais adequada. O conflito armado entre
indígenas e fazendeiros, durante o processo de identificação e demarcação de terras indígenas, refletia o
contraste estabelecido entre duas razões, relacionadas ao direito indígena e de propriedade. A decisão de
retornar ao tekoha envolve todo o povo Kaiowá e Guarani, mas particularmente as mulheres e a pajelança.
Sem elas os homens não se deslocam e são os pajés ou xamã que indicam o melhor momento para iniciar
as ações coletivas (CIMI, 2011). Essas formas de resistência em Mato Grosso do Sul se fortaleceram e
ganharam um novo patamar de enfrentamento nas últimas três décadas. Envolveram denúncias aos
organismos nacionais e internacionais acerca desse processo histórico de espoliação de suas vidas. Por
outro lado, as lutas também têm ajudado a fortalecer sua organização social interna, na retomada das
terras (CIMI, 2011). Com base no direito garantido pela Constituição Federal, o grupo Kaiowá e Guarani,
a partir da década de 1980, passou a organizar periodicamente uma grande assembleia, nominada Aty
Guasu. Esta rede de solidariedade passou a ser considerada um espaço político de reforço entre os grupos
dessa etnia. Seu objetivo é possibilitar a identificação de problemas comuns e sugerir ações coletivas de
reivindicação perante o Estado brasileiro.
A Reserva Indígena de Dourados constitui uma das oito reservas indígenas demarcadas pelo
Serviço de Proteção aos Índios (SPI) entre 1915 e 1928 no estado, criada pelo Decreto Nacional 401, de
1917, para abrigar inicialmente 3.600 habitantes da etnia Kaiowá (Cavalcante, 2013). Aos poucos, foi
sendo transformada em área de inserção de novas famílias indígenas, incluindo entre elas, representantes
das etnias Guarani (Ñandeva), Terena e outras (Mota, 2011). Para evitar os conflitos étnicos, na década de
1970 a reserva acabou sendo dividida em duas aldeias: Jaguapirú e Bororó (Nascimento, 2017). Em
2018, segundo o Instituto Socioambiental ISA, a reserva já contava com 15.023 habitantes, portanto, mais
de quatro vezes o total inicial nela confinado, incluindo grupos de outras etnias e não-indígenas
(Cavalcante, 2013).
De modo geral, conforme alerta Nascimento (2017), os habitantes dessa reserva estão imersos
em um ambiente precário, marcado pela miséria, pelo medo e pela tensão cotidiana geradas pela
violência. As aldeias Bororo e Jaguapiru apresentam características particulares, mas interagem entre si,
especialmente os Kaiowá e Guarani, em função da similaridade de suas culturas. A aldeia Bororo
concentra um maior número de famílias Kaiowá e Guarani, sendo mais extensa, menos populosa, de mais
difícil acesso e que apresenta maior situação de pobreza (Mota, 2011). Nela, aparece apenas um pequeno
número de indígenas Terena, assim como Bororo e Kaingang (DSEI, 2017). A língua predominante é o
guarani e seus habitantes exibem um modo de vida mais ligado às suas tradições. Tem sido a aldeia mais
sujeita a problemas sociais, saúde, mortalidade infantil e educação (Nascimento, 2017). Já na aldeia
Jaguapiru predomina a população Guarani, Kaiowá e Terena, com maior número dessa última etnia, além
de Kadiweu e não-indígenas (DSEI, 2017). Ainda que de área menor, na aldeia Jaguapiru, os moradores
contam com mais vias de acesso e estão mais próximos da rodovia, além de suas casas serem servidas de
eletricidade e água (Passos, 2011). O número de jovens que estudam fora e se casam com não-indígenas
tem sido mais crescente, motivo que explica o fato de Jaguapiru estar mais impregnada da cultura não
indígena (Nascimento, 2017).
Pode-se verificar, por meio do relato das mulheres entrevistadas, como as condições às quais os
Kaiowá e Guarani foram submetidos na Reserva Indígena de Dourados chegaram a impactar a estrutura e
o modo de vida tradicional dessa comunidade e ainda sua percepção de futuro acerca da mesma. Segundo
elas, a população que vive na Reserva Indígena de Dourados teve que modificar sua maneira tradicional
de viver em família, em função do espaço extremamente reduzido para sobreviver. Os impactos das novas
condições favorecem a desestruturação da família extensa (parentela) de maneira chocante, assim como a
rápida mudança de elementos da cultura tradicional Kaiowá e Guarani. Desde o início da colonização e
também por influência da “evangelização cristã” a tradicional parentela vem sendo substituída pelo
modelo da família nuclear, o que significa somente a presença do marido, mulher e filhos. Nessa nova
configuração, o marido pode estar ausente, ficando apenas a mãe com os filhos, ou até a mulher sozinha.
Também se pode deparar nessa nova realidade, com o pai ou mãe separados, podendo estar até no
segundo ou terceiro casamento. Outra mudança na estrutura familiar, à qual se referiram as entrevistadas,
diz respeito à dispersão das famílias, diante da dissolução de casamentos ou quando ela precisa encontrar
uma maneira de sobreviver. Quando os homens precisam encontrar um emprego fora da reserva, ele pode
voltar apenas durante o fim de semana ou mesmo uma vez por mês, deixando as mulheres no comando da
casa e das crianças.
A situação vivida por elas com suas famílias, fora de suas terras tradicionais, revela-se nas falas
das mulheres, como muito problemática. Elas denunciam, por exemplo, o desrespeito dos não-indígenas
por seus conhecimentos e práticas culturais, inclusive por sua medicina tradicional. Por outro lado,
denunciam a contaminação de suas terras tradicionais com pesticidas por não indígenas, para dar espaço à
produção de soja, milho e cana-de-açúcar, envenenando seus alimentos. Afirmam que esse novo cenário
pode comprometer os futuros planos agrícolas, quando eles voltarem a retomar seu Tekoha. Além de se
responsabilizarem pela integridade da família, as mulheres revelam sobre a necessidade de que sentem de
serem protagonistas junto dos homens, na luta pela recuperação de suas terras tradicionais. Elas
vislumbram a possibilidade de reconstruir suas comunidades e recuperar o Tekoha, como forma de
resgatar sua anterior territorialidade. Representa para elas uma forma de nascer de novo, num lugar em
que todos poderão se sentir mais livres e felizes, seja com a família, a comunidade, a natureza e a terra de
origem. Seria, portanto, o lugar onde poderiam retomar o seu modo de ser nativo, por meio de práticas
tradicionais Kaiowá e Guarani de educar, alimentar e cuidar da saúde, com o suporte do conhecimento
dos idosos.
Perfil das lideranças femininas do movimento de resistência
Por meio da fala das lideranças entrevistadas, foi possível verificar a percepção que as mesmas
construíram coletivamente sobre o perfil das lideranças femininas e do trabalho da mulher dentro da
aldeia nesse movimento de resistência. Destacam, desde o início, o papel importante exercido pela mulher
dentro da família. Segundo elas, ao nascer na aldeia, a mulher já começa a ser preparada para ser mãe no
futuro, devendo responder pela integridade da família. Nesse sentido, passa a ser considerada mais
importante do que o homem em relação à responsabilidade da condução familiar. O exercício da liderança
feminina no movimento de luta, segundo elas, depende mais das competências para exercê-la com a
confiança do grupo, do que da idade. Em princípio, elas sabem que mulheres mais velhas detém o
conhecimento da cultura tradicional na aldeia e também maior experiência, mas reconhecem que as
jovens que estudam fora da aldeia detém maiores competências tecnológicas no apoio à organização do
movimento. Algumas lideranças femininas ganham maior destaque dentro da aldeia em termos de
competências, como são os casos das agentes de saúde, professoras e rezadeiras (Ñandesi). Segundo elas,
as agentes de saúde, quando falam, têm uma atitude de liderança por causa do conhecimento que possuem
na área. As professoras também possuem conhecimento para tomar para si a responsabilidade pela
educação das crianças, incluindo a transmissão da cultura indígena. Já o conhecimento das rezadeiras não
vem de um conhecimento acadêmico, mas daquele conhecimento tradicional, capaz de ajudar a preservar
a cultura da aldeia. Suas competências originam-se de suas experiências de vida e exemplos que tiveram
em suas famílias. Algumas delas fizeram parte da luta por seus direitos comunitários desde a infância.
Para serem líderes é importante serem corajosas, especialmente no momento em que percebem que
precisam lutar por sua comunidade. É quando a mulher aprende a estar por trás da família e da
comunidade, para acompanhar e correr atrás para resolver o que for necessário. Em realidade, na fala das
entrevistadas, mesmo sem exercer liderança, toda mulher pode ter um papel nessa luta, seja para apoiar,
ou até para escrever documentos.
Ainda que 80% das mulheres entrevistadas tenham respondido positivamente ao questionário
sobre o reconhecimento das mulheres na Reserva Indígena de Dourados, na aplicação das entrevistas
semiestruturadas (ao grupo focal e individuais), verificou-se que o movimento de resistência das
mulheres também é expresso por meio de uma luta pela igualdade de gênero e por uma melhor posição,
tanto em sua comunidade como fora dela. As mulheres Kaiowá e Guarani da Reserva Indígena de
Dourados demonstram, através de seus discursos, a força que precisam encontrar internamente para
enfrentar o preconceito, seja como mulher na aldeia e fora da aldeia, embora cada um se manifeste de
forma diferenciada.
No interior da aldeia, as mulheres afirmaram se sentir desvalorizadas pelos homens em diversas
situações. Um exemplo dado por elas é o de quando o casal se separa. Nessa situação, o marido fica com
a casa e a mulher com as crianças. Na maioria das vezes, segundo os relatos, elas deixam tudo em casa e
só saem com as crianças e as roupas. O homem afirma que foi a mulher quem deixou a casa, portanto
quem perdeu foi ela. Dentro da aldeia, a mulher também tem mais dificuldade de trabalhar ou estudar,
porque precisa zelar da família e, ainda tem dificuldade de encontrar apoio financeiro para manter seus
estudos. A mulheres mais idosas e as rezadeiras (Ñandesi) sempre foram muito respeitadas, em função do
papel que desempenham na transmissão e manutenção da cultura. Mas, o novo modo de vida dentro da
reserva tem contribuído para alterar essa valorização da cultura por parte dos mais jovens.
Ainda que essas lideranças femininas acreditem que a luta de resistência para a retomada de
suas terras dependa de um trabalho masculino com a ajuda delas, elas reconhecem que as decisões finais
ainda estão sendo tomadas pelos homens da aldeia. Durante o encaminhamento de ações coletivas para a
retomada pelos Kaiowá e Guarani, as mulheres constatam que embora participem de assembleias, muitos
homens ainda tentam falar por elas. Até mesmo nas assembleias das mulheres (Aty Kuña), os homens
tendem a dirigir as decisões, por se sentirem predominantes. Pelos seus relatos, elas reconhecem a
importância do papel feminino no enfrentamento das ameaças dos donos da terra, em processos de
retomada.
Também consideram que fora da aldeia, o trabalho da mulher indígena é muito pouco
valorizado. Geralmente, elas se sentem menos ouvidas do que os homens. Também revelam que
enfrentam desafios maiores em termos de discriminação e preconceitos, seja para trabalhar ou estudar.
Sentem que as situações a serem enfrentadas pelas mulheres fora da aldeia são muito mais dolorosas de
serem suportadas do que as dos homens. Até mesmo nas universidades, segundo elas, são criadas
circunstâncias em que elas se sentem rejeitadas e inferiores por serem mulheres indígenas, quando, na sua
visão, poderia ser um lugar de preparação para que elas pudessem renascer. Demonstraram ainda que tem
esperança de que os pesquisadores possam reproduzir sua voz e a realidade das condições em que se
manifesta essa luta de resistência feminina. Afinal, elas lutam, por acreditar que que algum dia serão bem
sucedidas.
Construindo a própria força
Considerações finais
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