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Portada: Primer mapa del Amazonas, de Quito al Océano Atlántico y que ha sido durante largo tiempo atribuido al Jesuita
quiteño Alonso de Rojas. No tiene fecha segura pero coincide con la llegada de los portugueses capitaneados por Pedro de Texeira en
1638. Más recientemente, varios investigadores concuerdan en estimar que el mapa fue en realidad trazado por el Jesuita Cristóbal
de Acuña para el Rey en 1642, luego de la expedición por el Amazonas (Mis agradecimientos van para el historiador Octavio
Latorre por sus precisiones)
Contraportada: Foto de grupo de los partcipantes al 3 EIAA

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Antes
de
Orellana

Actas del
3er Encuentro Internacional
de Arqueología Amazónica

Stéphen Rostain
editor

3
© Instituto Francés de Estudios Andinos,
UMIFRE 17, MAE/CNRS-USR 3337 AMÉRICA LATINA
Av. Arequipa 4500, Lima 18, Perú
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Este volumen corresponde al tomo 37 de la Colección


“Actes & Mémoires de l’Institut Français d’Études Andines” (ISSN 1816-1278)

Antes de Orellana.
Actas del 3er Encuentro Internacional de Arqueología Amazónica

Stéphen Rostain editor

Edición: - Instituto Francés de Estudios Andinos


- Facultad Latinoamericana de Ciencias Sociales
- Embajada de EEUU

Diseño: Stéphen Rostain

Diagramación: Stéphen Rostain

ISBN: 978-9942-13-892-7

Impresión: Artes Gráficas Señal

Impreso en Quito, Ecuador, Mayo de 2014

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Simposio “Bajo Amazonas”

Modos de figurar o corpo na Amazônia précolonial


Cristiana Barreto

Laboratório de Arqueologia dos Trópicos, Museu de Arqueologia e Etnologia, Universidade de São Paulo, Brasil

O corpo na Amazônia ameríndia: presente ou pinturas. Segundo eles, são sociedades que
e passado execram as imagens tangíveis do corpo, vista
a qualidade perspectiva, instável e altamente
Nas últimas décadas, a etnologia amazônica transformacional das formas corporais. É por
tem insistido na importância da “fabricação isso que elas não representam os corpos; ao
do corpo” enquanto processo de construção invés elas fabricam corpos (Viveiros de Castro
de identidades. Inúmeros estudos salientam a e Taylor 2006:150-151).
corporeidade e os atributos visuais do corpo De fato, esta observação sobre a “não
como elementos definidores da sociabilidade representação” do corpo nas artes
em sociedades ameríndias, em particular as ameríndias amazônicas parece fazer sentido
perspectivistas (Conklin 1996, Rival 2005, se considerarmos a raridade de produções
Turner 1995, Vilaça 2009; Viveiros de Castro materiais e visuais tais quais efígies, ídolos,
e Taylor 2006,). estátuas, estatuetas ou desenhos em que são
Um denominador comum das sociedades claramente reconhecíveis pessoas, personagens,
indígenas amazônicas é a idéia de que ao mesmo ou meros corpos humanos ou animais. Casos
tempo que todos os humanos compartilham como os das “bonecas” cerâmicas Karajá ou
corpos semelhantes, decorar, pintar e dos postes rituais Kuarup no Alto Xingu,
transformar o corpo é o que realmente tece a em que, cada qual à sua maneira, constituem
complexa relação entre semelhança e diferença. corpos que representam pessoas, genéricas ou
Tais atividades relacionadas à construção do específicas, são raros na produção ameríndia
corpo social ou da “social skin” (Turner 1980) atual. À primeira vista, parece existir uma
aparecem tanto na organização da prática maior ênfase em uma arte não figurativa,
ritual, como no discurso das artes visuais, com a composição de objetos ou desenhos
muitas vezes como uma prática classificatória com formas ou motivos geométricos, que
cotidiana dos seres e das coisas (Lagrou 2007). não necessariamente remetem a pessoas
Além dos corpos animais e humanos, ou a seus corpos. Contudo, isto pode ser
objetos e utensílios, incluindo as cerâmicas, apenas o resultado de arenas de leitura ou de
são frequentemente pensados, descritos e reconhecibilidade da representação do corpo
decorados como corpos. Mais do que isso, mais restritas e culturalmente mais codificadas,
eles podem apresentar diferentes estados de arenas estas extremamente reduzidas após os
subjetividade. Alguns objetos dotados de alma processos de retração (em termos geográficos
ou vitalidade entram para o hall dos seres com e demográficos) por que passaram estas
capacidade de reflexividade, com consciência sociedades após a conquista européia.
de si mesmo e dos outros e passam assim a Diante dos repertórios artísticos conhecidos no
ser concebidos como pessoas (Santos Granero registro arqueológico das diferentes ocupações
2012:30). Podem também entrar para o hall pré-colonais da Amazônia, suspeitamos que,
dos seres cujas formas corporais são altamente no passado, as formas de representação do
instáveis e relacionais, devendo ser o tempo corpo devessem seguir linguagens bem mais
todo refeitas ou reatualizadas, sob o risco de amplas, pan-amazônicas, sendo facilmente
perderem sua agentividade. reconhecíveis como representações de
Pensando no conceito de corpo e pessoas ou personagens em uma ampla arena
corporalidade, alguns etnólogos observam de comunicação, tecida por extensas redes
que na Amazônia indígena contemporânea regionais de interação social e intercâmbios
raramente se tem representações do corpo estilísticos nas formas de representação dos
(humano ou animal), isto é formas materiais seres (Barreto 2010).
destacadas do corpo em gravuras, esculturas De fato, na arqueologia amazônica, existe uma

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larga gama de formas facilmente reconhecíveis corporalidade ainda não foi tratado de forma
de representação do corpo: nos desenhos mais abrangente e tampouco têm considerado
bidimensionais das gravuras e pinturas rupestres as novas contribuições sobre as teorias
(Pereira 2010), nas formas tridimensionais de ameríndias de materialidade e corporeidade.
estatuetas cerâmicas e líticas, sem falarmos Schaan abordou as estatuetas antropomorfas
de uma enorme diversidade urnas funerárias marajoaras do ponto de vista do gênero (Schaan
e vasos antropomorfos e zoomorfos, onde a 2001) e Roosevelt se valeu das características
representação é feita de forma mais ou menos figurativas das cerâmicas tapajônica e marajoara
estilizada, conforme o complexo ou estilo para tecer correlações entre a figuração humana
cerâmico (Barreto 2009). a formas mais complexas de organização social
A representação humana é sem dúvida uma (Roosevelt 1988, 1992), mas não chegou a
das características que distingue os complexos incorporar a recente produção sobre regimes
arqueológicos da Amazônia do restante das de materialidade ameríndias e formas de poder
ocupações antigas das terras baixas da América (Lagrou 2002, Barcelos Neto 2012).
do Sul. Estas estão ausentes nas tradições Se observarmos a distribuição e os contextos
artefatuais arqueológicas do Brasil Central, dos registros arqueológicos que podemos
do Nordeste, e do Sul e Sudeste do Brasil, reconhecer e classificar como representação do
incluindo a faixa costeira. (Com exceção dos corpo humano na Amazônia, deparamo-nos
famosos “zoólitos” dos sambaquis, esculturas com uma tradição pan-amazônica, abarcando
em pedra polida). Neste sentido, na Amazônia todos os complexos cerâmicos da alta, média e
pré-colonial, as práticas de representação baixa Amazônia, ocorrendo desde os contextos
humana aproximam-na das dos povos andinos cerâmicos mais antigos do período Formativo
e circum-caribenhos. (como nos sítios das fases Pocó e Açutuba)
Os contextos arqueológicos em que estes até na Tradição Polícroma da Amazônia ou na
registros aparecem sugerem que a prática de cerâmica tapajônica, que perduram até a época
fabricar objetos ou imagens antropomorfas, da conquista européia.
em geral associadas a determinados lugares, Desde muito cedo, já nos sítios que representam
seriam derivadas de dinâmicas de demarcação os primeiros sinais de ocupação humana após
de territórios e registros intencionais de os longos hiatos no Holoceno médio (Neves
memória associada a ocupação de lugares 2012), e cujas manchas de Terra Preta de Indio
específicos. Também alguns temas recorrentes parecem indicar uma ocupação mais permanente
na forma como o corpo é representado, como dos locais, aparecem estruturas que indicam
a transformação e a reprodução, nos fazem um tratamento diferenciado de cerâmicas
pensar na prática da representação como com representações de corpos. São bolsões
intervenção sobre as qualidades instáveis e localizados, com poucos metros de diâmetro
transformacionais do corpo, de acordo com e uma profundidade de em torno de 1 metro
as teorias nativas animistas e perspectivistas da ou mais, compostos por terra preta, carvões, e
Amazônia ameríndia. muitos fragmentos de cerâmica decorada que
parecem ter sido cuidadosamente escolhidos e
Modos de figurar o corpo na Amazônia propositalmente enterrados. Estes fragmentos,
précolonial: uma tipologia exploratória tais quais adornos e apêndices antropomorfos
e zoomorfos, além de fragmentos de paredes
Na arqueologia em geral, já há alguns anos que de vasilhas com desenhos figurando rostos
vemos uma retomada dos clássicos estudos de animais ou humanos, parecem compor um
de representação do corpo com inúmeros mostruário testemunho dos vários tipos de
aportes da arqueologia cognitiva e de estudos representação figurativa na cerâmica destas
de identidade, gênero, estética e poder. Estudos ocupações. (Figura 1).
de estatuetas, de representações rupestres, de Estes “bolsões de memória” com concentrações
tratamentos físicos do corpo e, sobretudo, de cerâmicas figurativas já foram documentados
dos significados simbólicos de representações em vários sítios multicomponenciais
de corpos que literalmente multiplicam, relacionados às fases Açutuba e Pocó, e
expandem, ou distribuem pessoas e entidades outros complexos antigos datados do primeiro
em escalas e espaços distintos, têm gerado milênio antes da era cristã. Este é o caso dos
novos patamares de interpretação arqueológica sítios Boa Vista e Cipoal do Araticum na região
(Joyce 2005). do Rio Trombetas (Guapindaia 2008), no sitio
Contudo, na arqueologia amazônica, o tema da Aldeia em Santarém (Gomes 2011), no sítio

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Hatahara em Iranduba (Neves 2008) e no sítio à glande e o tronco ao corpo peniano. Nas
Boa Esperança, na região de Tefé (Costa 2012). estatuetas marajoaras, os membros inferiores
Embora ainda não esteja claro quem foram correspondem aos testículos e de forma geral a
os agentes destes enterramentos de cerâmicas reprodução é tratada na combinação simbiótica
(se os próprios fabricantes da cerâmica ou de órgão genital masculino formando um
se os ocupantes posteriores, com a intenção corpo feminino (Schaan 2001). Nas estatuetas
de simbolicamente limpar os vestígios de tanto marajoaras como tapajônicas também é
ocupações anteriores), a escolha por peças comum a representação de mulheres grávidas,
figurativas de corpos humanos e animais parece quase sempre em posição de parto, ou por
indicar desde cedo uma clara relação entre vezes, segurando bebês (Gomes 2001). Esta
estas peças e a memória de lugares ocupados conformação do corpo humano à forma
(Barreto 2013). fálica também está relacionada à capacidade
Esta relação parece perdurar ao longo de de transformação física deste órgão, evocando
toda a seqüência cronológica das ocupações talvez a mesma qualidade para os corpos em
pré-coloniais de povos ceramistas, como geral (Barreto 2013).
na Tradição Polícroma da Amazônia que se Outras referências à transformação são as
espalha ao longo de toda a bacia Amazônia figurações de personagens com atributos
na primeira metade do segundo milênio, de xamã, sentados em bancos e por vezes
com suas urnas funerárias em característico segurando um maracá, comuns tanto em urnas
estilo antropomorfo demarcando lugares funerárias (Guapindaia 2001), como em vasos
transformados em cemitérios, isto é, em antropomorfos (Gomes 2001, 2010). Existem
territórios sagrados que carregam a memória ainda as figuras “duais” da cerâmica tapajônica,
de seus ancestrais. Esta prática parece florescer onde se percebe ora um corpo humano, ora
de forma exacerbada em sítios da área estuarina um animal, dependendo da perspectiva do
da Amazônia, onde cerâmicas antropomorfas, observador (Guapindaia 2004, Gomes, 2001,
em geral urnas funerárias, fazem parte de um 2010). Ocorrem também corpos humanos
complexo sistema de demarcação ritual dos cujas partes anatômicas são compostas por
territórios, que para além das urnas, fazem animais, ou ainda cenas narrativas de interação
uso de referências paisagísticas naturais entre humanos e animais. As famosas peças
e construídas, tais quais grutas, aterros e líticas da região do Nhamundá-Trombetas,
megalitos. Referimo-nos aos cemitérios com com suas figuras ao modo dito “alter-ego” e às
urnas enterradas nos aterros monumentais vezes chamadas de ídolos, são bons exemplos
de Marajó (Schaan 2004); às urnas Maracá, deste tipo de representação (Figura 2).
ritualmente colocadas em exposição no A recorrência destes temas nos informa
interior de grutas do Amapá (Guapindaia não só sobre a antiguidade das formas
2001); ou ainda às urnas antropomorfas perspectivistas e animistas de perceber o
Aristé depositadas em verdadeiras tumbas mundo, mas também aponta para o fato
subterrâneas sob estruturas megalíticas com de que não parece haver incompatibilidade
funções astronômicas, na costa central do entre práticas de representação dos corpos
Amapá (Cabral e Saldanha 2008). em mídias destacadas e separadas do próprio
Para além desta relação com a territorialidade, corpo e estas teorias que pressupõem formas
outro elemento comum às representações corporais instáveis e transformacionais. Ao
antropomorfas da Amazônia é a recorrência contrário, suspeitamos que tais representações,
de temas relacionados à reprodução, à ao menos nas urnas funerárias, onde há uma
transformação corporal e à relação entre clara intenção de se fabricar um novo corpo
humanos e animais, o que é condizente com o para o morto, sejam feitas com a intenção de
que sabemos hoje sobre as ontologias animistas fixar qualidades humanas e prevenir a perda de
e perspectivistas documentadas no presente humanidade, através da confecção de corpos
etnográfico (Descola 1992, Viveiros de Castro cerâmicos antropomorfos sólidos, visíveis
2002). e duradouros. Mas também temos aqueles
O tema da reprodução aparece em recipientes, corpos que apresentam qualidades que não
incluindo urnas funerárias e em estatuetas são estritamente humanas; são figuras híbridas,
cerâmicas moldados explicitamente na forma meio humanas meio animais, ou mesmo
do órgão sexual reprodutor masculino. Há sobrenaturais, parecendo retratar a capacidade
uma analogia freqüente entre a forma fálica e de transformação corporal de alguns seres
a forma corporal, onde a cabeça corresponde (Barreto, 2009:131-132).

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Assim, a criação de corpos cerâmicos em mensagens sobre identidade em diferentes
contextos funerários parece ratar com bastante níveis de reconhecibilidade.
coerência as diferentes maneiras nativas de se
conceber o corpo, diferenças estas notadas Corpos espelhados
por Viveiros de Castro entre as sociedades
xamanísticas das terras baixas da Amazônia O primeiro modo de figuração do corpo que
e outras com um ethos mais andino, como identificamos é o que chamamos de “corpos
nas chefaturas e estados teocráticos. Segundo espelhados”. Tratam-se de corpos representados
este autor, na Amazônia, a morte demarca nas grandes urnas funerárias globulares, no
a descontinuidade de uma forma humana estilo chamado por Meggers e Evans (1957)
pristina e, portanto, as almas dos humanos de Joanes Pintado e cuja morfologia geral é
são concebidas como tendo um corpo animal adaptada à do corpo, e não e apenas uma figura
póstumo, ou como entrando em um corpo bidimensional pintada aplicada à superfície
animal. Já em sociedades com um xamanismo tridimensional do vasilhame. Nestas peças,
vertical, ou mais próximas das chefaturas o pescoço da urna geralmente representa
teocráticas, os mortos humanos passam a ser o rosto com um par de grandes olhos, e o
vistos mais como humanos, do que como bojo globular forma o tronco, dando uma
mortos, e há uma continuidade na forma forma abaulada ao ventre. Os detalhes que
humana entre a vida e a morte, ou mesmo, compõem o corpo, tanto modelados como
uma passagem para uma forma sobrehumana pintados, figuram um ser híbrido, um pássaro
(Viveiros de Castro 2008). humanizado, provavelmente uma hárpia ou
Assim, apesar dos temas recorrentes, está uma coruja, portando ornamentos tais quais
claro que a maneira como é construída a brincos e colares usados pelos humanos. Um
representação dos corpos pode se constituir em tubo pendurado feito pingente peitoral parece
um bom índice, não só de diferentes identidades representar um inalador em osso. E assim, o
culturais voltada para a territorialidade, mas de tema da transformação aparece aqui retratado
também de diferentes maneiras de se conceber na forma deste ser híbrido, cujas qualidades,
humanidade e corporalidades. A partir desta quiçá xamânicas, são evocadas pelo estado
idéia, propomos uma tipologia exploratória de transitivo entre ser humano e pássaro e o
formas de se representar corpos na arqueologia consumo de substâncias que possibilitem a
amazônica, voltada, sobretudo, para enriquecer transformação.
as discussões sobre a distribuição de complexos Rosto, tronco e membros são detalhados com
estilísticos, esferas de interação regional, e apliques modelados e desenhos pintados,
suas relações com o que se pode inferir sobre de forma a espelhar a parte frontal do ser
unidades etno-linguísticas no passado. representado em duas faces simetricamente
Este exercício tipológico exploratório parte da opostas, formando assim vasilhames com
observação de objetos cerâmicos completos, os duas “frentes”. Esta técnica espelhada lembra
quais, embora raros, permitem a visualização a descrita por Boas e Lévi-Strauss para o
do projeto de representação do corpo na sua que eles denominaram respectivamente
íntegra. Apesar desta vantagem, fundamental “split-representation” ou “représentation
para esta análise, são objetos de coleções dedoublée” (Barreto 2009:147). Na junção
de museus, muitos dos quais não têm muita lateral das duas faces, elementos de ligação ou
precisão sobre seu contexto arqueológico; de encadeamento, fazem com que se perceba
em geral sabe-se apenas a região ou o sítio ainda outro rosto, de forma que de qualquer
arqueológico de proveniência. lado que se observe a peça, há sempre um
Para a construção desta tipologia exploratória, rosto. Esta técnica provavelmente responde à
procedemos a uma análise iconográfica movimentação ao redor das urnas durante os
preliminar que identifica os repertórios e rituais funerários. (Figura 3).
os elementos e técnicas mais recorrentes na Assim como o restante do material marajoara
composição dos corpos, sempre orientando- deste estilo Joanes Pintado, as cerâmicas
nos por um conceito de estilo, próximo ao que são feitas e decoradas obedecendo-se a um
Wobst (1977) e Wiessner (1990) chamaram de eixo de simetria central que divide a peça
“estilo comunicativo”, e que pressupõe que em metades ou quadrantes, de acordo com
a variabilidade formal pode ser relacionada à os quais os corpos são cortados ao meio,
participação dos artefatos nos processo de espelhados e reunidos de forma encadeada.
intercâmbio de informação para comunicar Os quadrantes muitas vezes correspondem aos

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membros superiores e inferiores dos corpos estilizados, mas sempre indicando pernas
representados, mimetizando de certa forma a dobradas, com os joelhos apontando para o
própria simetria natural dos corpos humanos alto, posição esta comumente adotada pelos
e animais. Não raro, apêndices modelados na xamãs sentados em seus bancos para realizar
borda das vasilhas indicam, em lados opostos, a seus rituais. Nas urnas Maracá e Caviana,
cabeça e a cauda dos seres figurados, ajudando- este atributo chega a ser bastante exacerbado,
nos na leitura do eixo de simetria que divide os incluindo-se representação também dos bancos
vasilhames em metades ou quadrantes. (McEwan 2001).
Este tipo de representação de seres animais Em segundo lugar, nos estilos Pacoval inciso
e humanos é comum nas cerâmicas inciso- (em Marajó) e Guarita (na Amazônia Central)
modeladas ditas de estilo barrancóide do há a maneira metafórica com que corpos
formativo Amazônico, e cuja dispersão são compostos com partes anatômicas que
está associada aos grupos de fala Arawak correspondem a representações de animais.
(Heckenberger 2002; Neves 2008, 2011). Em Temos então braços que são formados por
Marajó, apesar de os diferentes estilos cerâmicos cobras, ombros que são apliques modelados
serem concomitantes, e talvez representarem em cabeças de pássaro e olhos destacados
diferentes entidades regionais dentro da ilha por incisões em forma de escorpião (Moraes
(conforme argumentado por Schaan 2007) o 2013:223; Schaan 1997:180). Para muitos
estilo Joanes Pintado parece ser encontrado em autores, esta técnica de representação,
aterros cemitério da fase Marajoara nos vários denominada de “kenning” por John Rowe
agrupamentos de sítios da ilha, e ao longo de para a iconografia Chavin, e também bastante
toda a sua duração (ca. 400 -1400 anos ACE). comum entre outras culturas andinas (como
Moche, Tihuanaku e Inka), simboliza tanto
Corpos sentados processos de transformação física como de
transformação espiritual (Rowe 1962; Urton
Um segundo modo de representação do corpo 2008). No lado amazônico, Santos-Granero
que identificamos nas cerâmicas arqueológicas nos remete a várias etnografias de mitos de
da Amazônia, também em urnas funerárias origem em que as criações primordiais se dão
que compõem corpos inteiros modelados como atos de organização das espécies, onde
em cerâmicas, são peças que retratam figuras cada espécie é fabricada a partir dos corpos e
humanas sentadas. partes corporais de outras espécies naturais.
Estas são as peças antropomorfas que, Segundo este autor, “as ontologias amazônicas
conforme havia argumentado Evans e Meggers não são apenas animistas e perspectivistas, mas
(1968) são comuns em sítios da Tradição também construtivistas”. Concebem a todos os
Polícroma da Amazônia, desde os complexos seres vivos como entidades compostas, feitas de
da subtradição Guarita na Amazônia Central até corpos e partes corporais de uma diversidade
o Rio Napo, e também em complexos da área de formas de vida. (Santos-Granero, 2012:41).
estuarina, como no estilo Pacoval Inciso em As figuras sentadas com corpos compostos por
Marajó, e nas urnas Maracá e Caviana. Nestas animais parecem estar associadas à expansão
peças os corpos são compostos por bojos mais da Tradição Polícroma na Amazônia Central e
tubulares de onde saem pernas dobradas, mais Alta Amazônia, entre os séculos IX e XVI da
ou menos estilizadas, e às vezes ausentes, e era cristã. Seu aparecimento na área estuarina,
braços modelados ao longo do corpo. A cabeça também parece se dar em épocas mais recentes,
é demarcada por uma constrição ou separada próximas da conquista européia, como é o
da peça, em forma de tampa. (Figura 4). caso das urnas Maracá (Guapindaia 2001;
Evans e Meggers haviam chamado a atenção Barbosa 2011). Infelizmente não dispomos
para a homogeneidade destas peças elegendo de dados para as urnas ditas “Caviana”, pois
a antropomorfia como traço comum, mas os exemplares conhecidos são de coleções
dinstiguindo-as em tipos de acordo com a descontextualizadas.
localização da abertura, e também a presença Já para as urnas do estilo Pacoval Inciso,
de pernas mais ou menos estilizadas (1968:105). presentes nos sítios da fase Marajoara, é
Aqui queremos enfatizar os elementos que interessante notar que elas ocorrem em dois
acreditamos estão relacionados à maneira de modos: tanto na forma de representação
evocar o tema da transformação corporal. do corpo “normal” (isto é, com frente e
Em primeiro lugar, a posição sentada, apesar costas representadas), como na forma de
dos membros poderem ser mais ou menos representação espelhada (isto é, com duas

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frentes simetricamente opostas), fazendo- e lambendo sua cabeça, são alguns exemplos
nos supor que este teria sido um modo de destas narrativas. (Figura 5)
representação corporal com origem externa Os chamados ‘vasos de cariátides” sintetizam
a Marajó, e que posteriormente teria sido a preocupação em não só figurar a relação
absorvido pelo sistema iconográfico desta dos humanos com os animais, mas também
fase, adaptando-o a uma linguagem local mais com o sobrenatural, com um universo acima
antiga, pré-existente na fase marajoara, com a daqueles onde se encontram os humanos, e
técnica do espelhamento (Barreto 2009:2002). onde pequenas figuras “duais” modeladas para
O que é notável, é que temos dois modos serem vistas ora como humanos, ora como
bastante distintos de representar corpos pássaros, ou ainda como pássaros em vôo,
ocorrendo ao mesmo tempo em Marajó, por dependendo da perspectiva do observador,
ao menos por algum tempo, provavelmente em são representadas em nível superior (Gomes
um período mais tardio. Os corpos espelhados 2001, 2010). Os Tapajós desenvolveram com
parecem constituir um estilo local, enquanto grande maestria um sistema de representação
que os corpos sentados parecem se distribuir tridimensional em que a movimentação dos
por quase toda bacia amazônica, a partir do objetos (ou do observador) confere efeitos
segundo milênio da era cristã. É possível de animação e ritmo às figuras representadas,
que esta concomitância reflita as mudanças perfeitamente condizente com o que Descola
identificadas por Neves na Amazônia Central (2010) denominou de modo animista de
com a expansão de populações de fala Tupi figuração.
e da própria cerâmica policroma, ao aumento A “tecnologia do encantamento” tapajônica
de deslocamentos territoriais e interações também inclui vasos e estatuetas de corpos
belicosas, e ao aparecimento, por volta de 1400 humanos. Apesar da ausência de enterramentos
d.C. de sociedades mutli-étnicas (Hornborg, em urnas antropomorfas, grandes vasos
2005, Whitehead, 1994), semelhantes às que se figurando personagens sentados, segurando
preservaram no noroeste amazônico e no alto maracás, vasos estes que possivelmente eram
Xingu (Neves 2008). usados em rituais para conter bebidas, nas
Isto implica em repensarmos não só a posição quais talvez fossem misturadas as cinzas de
da Fase Marajoara dentro da Tradição Polícroma corpos cremados dos mortos, como relatou
da Amazônia, mas também a possibilidade de o cronista Heriarte (1964). Estatuetas de
que a característica sociabilidade de extensas mulheres grávidas, segurando bebês e em
redes de relações documentada hoje entre as posição de parto, também são freqüentes. Em
sociedades indígenas das Guianas e Amapá suma, são neste complexos cerâmicos que
(Gallois 2005) que favorece intensos fluxos os temas da reprodução, da transformação e
estilísticos, podem ter tido sua origem no da relações entre humanos e animais parece
passado pré-histórico. ser tratada da forma mais diversificada, com
uma ampla gama de objetos que obedecem
Corpos duais a um repertório bastante rígido quanto aos
gêneros e qualidades formais de objetos
Finalmente, há todo outro modo de se figurar (vaso de cariátides, vasos de gargalo, vasos
corpos na Amazônia indígena pré-colonial antropomorfos, estatuetas e uma miríade
característico da área-bolsão que fica entre a de forma de apêndices modelados parecem
Amazônia Central e a área estuarina, com seu cumprir diferentes papeis comunicativos.
epicentro na grande aldeia que se formou na foz
do rio Tapajós no Amazonas, e que abarca os Consideraçoes finais
estilos cerâmicos da Tradição Inciso-Ponteada,
denominados Santarém, Konduri e outras O exercício tipológico com os modos de
variações ainda pouco estudadas Gomes, 2001; representar corpos nas cerâmicas amazônicas
Guapindaia, 2004). do passado pré-colonial, ainda que exploratório,
Já comentamos a ocorrência na cerâmica revela que para além de uma linguagem pan-
tapajônica de vasos com representações amazônica, centrada em temas recorrentes da
mais narrativas, retratando a interação entre relação entre humanos e animais, da reprodução
humanos e animais: um vaso em forma de e da transformação corporal, existem variações
jacaré com uma figura humana “montada” importantes, diretamente relacionadas a
sobre seu rabo, ou um vaso em forma de onça questões ontológicas e a concepções de vida,
segurando um ser humano entre suas patas morte, humanidade e sobrenatureza, assim

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como refletem também diferentes maneiras Body. Medical Anthropology Quarterly 10
de se conceber as capacidades agentivas dos (73): 373-375.
objetos. Costa, B. L. S., 2012, Levantamento Arqueológico
Uma vez mapeadas estas diferenças entre na Reserva de Desenvolvimento Sustentável
os complexos cerâmicos, vemos que ora Amanã - Estado do Amazonas. Dissertação
encontramos elementos de aproximação com de Mestrado, Programa de Pós-
os complexos andinos, e talvez mais ainda Graduação em Arqueologia, Museu de
com os circum-caribenhos, e ora percebemos Arqueologia e Etnologia, Universidade
correspondências muito exatas aos regimes de de São Paulo, São Paulo.
materialidade hoje descritos nas etnografias Descola, P., 1992, Societies of Nature and
amazônicas, fazendo-nos perceber a a longa the Nature of Society. A. Kuper
duração e persistência destes regimes animistas, (org.), Conceptualizing Society. London/
perspectivistas e construtivistas. New York: Routledge: 107-126.
A relação entre territorialidade e representação Descola, P., 2010, Introduction. Manières de
de identidades é fundamental para perseguirmos voir, manières de figurer. La Fabrique
este exercício no âmbito das arqueologias des Images. Visions du monde et formes de
regionais e avançarmos nas discussões que la représentation. Paris: Somogy, Editions
avaliam as relações entre cultura material, d’Art, Musée du Quai Branly: 11-19.
identidades e distribuição geográfica. Gallois, D. (org.), 2005, Redes de relações nas
Guianas. São Paulo: Associação Editorial
Bibliografia Humanitas/Fapesp.
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Modos de figurar o corpo na Amazônia précolonial
Cristiana Barreto

Figura 1: “Bolsão de memória” com peças zoomorfas e antropomorfas enterradas, fase Pocó (ca. 300 ACE). Sitio Cipoal do
Araticum, Projeto Arqueológico Trombetas (coordenado por Vera Guapindaia, Museu Paraense Emílio Goeldi).
Fotos: C. Barreto

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Modos de figurar o corpo na Amazônia précolonial
Cristiana Barreto

Figura 2: Temas da reprodução, trasnformação e interação entre humanos e animais em figurações do corpo. (Estatueta cerâmica
Santarém retratando mulher grávida, altura 26.5 cm, acervo MAE/USP; estatueta chocalho Marajoara em forma fálica,
altura 15,5 cm, acervo MAE/USP; e estatueta lítica, altura 17,8 cm, região de Nhamundá/Trombetas, acervo Etnografiska
Museet, Goteborg.) Fotos: Fernando Chaves e Hakan Berg

Figura 3: Representação de figura pássaro/humano em urna funerária antropomorfa (altura 84 cm, com desenhos das faces
frontal e lateral) e tigela (diâmetro 27cm) com desenho mostrando as figuras espelhadas e encadeadas formando vários rostos.
Fase Marajoara, estilo Joanes Pintado. Fotos e desenhos: C. Barreto

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Modos de figurar o corpo na Amazônia précolonial
Cristiana Barreto

Figura 4: Urnas funerárias da Tradição Polícroma da Amazônia representando corpos sentados (alturas entre 65 e 42 cm).
Acima urnas da fase Marajoara, estilo Pavoval Inciso; abaixo urnas das fases Napo e Guarita. Ao lado desenhos mostram
os motivos de escorpião e de cobra usados para compor olhos e braços. Fotos: Fernando Chaves, Stéphen Rostain e C. Barreto;
desenhos apud Schaan (2007) e Moraes (2013)

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Modos de figurar o corpo na Amazônia précolonial
Cristiana Barreto

Figura 5: Vasos Santarém. À esquerda, caso de cariátides (altura18 cm) e à direita vaso de gargalo (altura 21cm). Acervo
MAE/USP. Fotos: Wagner Silva

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