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Curso completo

Professora Sílvia Gelpke


Literatura

BARROCO

Introdução
O Barroco foi o estilo artístico dominante na Europa durante o século XVII e a primeira metade do
século XVIII. Houve, no Brasil colonial, dois Barrocos: o baiano, com manifestações literárias e artísticas no
século XVII, e o mineiro, predominantemente na arquitetura e nas artes plásticas, no século XVIII.

Situação Histórica
Em 1580, ano da morte de Camões, ocorre a unificação ibérica, e Portugal passa a ser dominado pelos
espanhóis. Felipe II, da Espanha, era o herdeiro mais próximo do rei D. Sebastião, morto em 1578.
O domínio espanhol durou até 1640. Por 60 anos Portugal experimentou um descompasso com o que
ocorria no resto da Europa, pois não acompanhou as descobertas científicas ocorridas entre os séculos XVII e
XVIII. O país permaneceu mergulhado no obscurantismo medieval e, por extensão, também o Brasil, que, como
colônia portuguesa, se pautava pelo modelo da metrópole. O Barroco brasileiro foi “crioulizado”, isto é,
misturou a tendência europeia com a visão local, nativista.
No Brasil, o panorama que se desenrola no século XVII é o das transformações econômicas
provocadas pela atividade açucareira. As invasões holandesas na região Nordeste também apontam grande
mudanças culturais.

Características do movimento BARROCO


Oposição ao racionalismo clássico
A arte literária barroca opôs-se à clássica. Se esta pretendia construir textos rigorosos por meio da
clareza formal, o Barroco fazia uso de formas menos racionais e mais ambíguas. Empregava amplamente figuras
de linguagem que indicassem conflitos, como a antítese.

 Dualidade (o homem dividido)


O homem via-se dividido entre o céu (as coisas celestes) e a terra (as coisas terrenas), um conflito
entre valores tradicionalistas, ligados à consciência medieval, defendidos pelos jesuítas, e valores progressistas,
gerados pelo avanço do racionalismo burguês.

 Símbolos que traduzem a efemeridade, a instabilidade das coisas


A utilização desses símbolos –– fumaça, vento, neve, chama, água, espuma, fogo e outros a eles
relacionados direta ou indiretamente –– decorre da concepção barroca de mundo, visto como uma metamorfose
contínua.

 Emprego frequente da ordem inversa


Essa característica é comum também no Classicismo.
CULTISMO E CONCEPTISMO
Muitos historiadores veem duas tendências básicas no estilo barroco: o cultismo e o conceptismo.

a) Cultismo –– jogo de palavras visando à valorização da forma do texto. Observe o extremo cuidado formal
que leva o poeta a engendrar um esquema no qual o final de cada verso repete-se no início do seguinte:
Ofendi-vos, Meu deus, é bem verdade,
É verdade, Senhor, que hei delinquido, hei delinquido: pequei.
Delinquido vos tenho e ofendido,
Ofendido vos tem minha maldade. delinquir: cometer falta, delito.
(Gregório de Matos)

b) Conceptismo –– ocorre sobretudo na prosa; corresponde ao jogo de ideias, à organização da frase com
uma lógica que visa a convencer e a ensinar.
Para um homem se ver a si mesmo são necessárias três coisas: olhos, espelho e luz. Se tem espelho e
é cego, não se pode ver por falta de olhos; se tem espelhos e olhos, e é de noite, não se pode ver por falta de luz.
Logo, há mister luz, há mister espelho e há mister olhos.
(Pe. Antônio Vieira)
 Temas mais frequentes da literatura barroca
a) fugacidade da vida e das coisas;
b) morte, expressão máxima da efemeridade das coisas;
c) concepção do tempo como agente da morte e da dissolução das coisas;
d) castigo, como decorrência do pecado;
e) arrependimento;
f) narração de cenas trágicas;
g) erotismo;
h) sobrenatural;
i) misticismo;
j) apelo à religião.

O BARROCO BRASILEIRO

O Barroco entre nós iniciou-se em 1601, com o poema épico Prosopopeia, de Bento Teixeira (1560-
1618). Atingiu o seu apogeu com o poeta Gregório de Matos e com o orador sacro Padre Antônio Vieira. No
século XVIII, entrou em decadência, terminando em 1768 com a publicação das Obras, de Cláudio Manuel da
Costa.

AUTORES  POESIA

 GREGÓRIO DE MATOS
(SALVADOR, 1636-1696)
Gregório de Matos Guerra passou para a história da literatura brasileira como poeta maldito.
Conhecido na Bahia como o “Boca do Inferno”, fez jus a esse apelido devido à ácida crítica que fazia à sociedade
de seu tempo por meio de sua poesia satírica, não poupando nem aristocratas, nem o clero, nem mulheres.
Coexistem em sua obra tendências bastante variadas:
 poemas satíricos de crítica ao meio social
 poemas líricos resultantes de paixões momentâneas
 lírica sacra, resultante da reflexão religiosa

Mesmo na diversidade em que navegou esse poeta – muitas vezes acusado de plagiador dos espanhóis
Quevedo e Gôngova – , é considerado o verdadeiro fundador da nossa literatura.

POESIA SATÍRICA
A poesia satírica de Gregório de Matos valeu-lhe o apelido “Boca do Inferno”. O poeta dirigiu-se,
principalmente, à sociedade baiana: seus governantes, corruptos, padres, aproveitadores etc.

Descreve o que era realmente naquele tempo a cidade da Bahia de mais enredada por menos confusa.

SONETO
A cada canto um grande conselheiro,
Que nos quer governar cabana, e vinha;
Não sabem governar sua cozinha,
E podem governar o mundo inteiro.

Em cada porta um frequentado olheiro,


Que a vida do vizinho, e da vizinha
Pesquisa, escuta, espreita, e esquadrinha,
Para o levar à Praça, e ao Terreiro.
Muitos Mulatos desavergonhados,
Trazidos pelos pés os homens nobres,
Posta nas palmas toda a picardia. vinha: plantação de videiras
espreita: vigia
esquadrinha: analisa
Estupendas usuras nos mercados, picardia: malícia
Todos, os que não furtam, muito pobres,
E eis aqui a cidade da Bahia.

POESIA LÍRICO-AMOROSA
A poesia lírico-amorosa de Gregório de Matos é fortemente marcada pelo contraste, a identificação
entre os opostos, característico do Barroco. A noção de pecado é muito forte; a mulher é, por um lado, um anjo
e, por outro, demoníaca. Ele insiste na imagem imposta pela ideologia católica, confundindo o amor e o encanto
com sedução pecaminosa.
Pondera agora com mais atenção a
formosura de D. Ângela
Não vira em minha vida a formosura,
Ouvia falar nela cada dia,
E ouvida, me incitava e me movia
A querer ver tão bela arquitetura:
Ontem a vi, por minha desventura
Na cara, no bom ar, na galhardia
De uma Mulher, que em Anjo se mentia;
De um Sol, que se trajava em criatura:

Matem-me, disse eu, vendo abrasar-me


Se esta a coisa não é, que encarecer-me
Sabia o mundo e tanto exagerar-me:
Olhos meus, disse então por defender-me
Se a beleza heis de ver para matar-me
Antes olhos cegueis, do que eu perder-me.

POESIA SACRA
O senso do pecado foi o que mais se ressaltou na obra sacra de Gregório de Matos. Um terror
permanente em face da morte e da fragilidade do homem se revela. A poesia sacra segue uma trajetória
autobiográfica. Inicialmente, zombou da Igreja. Estando próximo da morte, arrependeu-se e retornou à doutrina
cristã.
A Jesus Cristo Nosso Senhor

Pequei, Senhor; mas não porque hei pecado,


Da vossa alta clemência me despido*
Porque, quanto mais tenho delinquido**,
Vos tenho a perdoar mais empenhado.

Se basta a vos irar tanto pecado,


A abrandar-vos sobeja um só gemido:
Que a mesma culpa, que vos há ofendido,
Vos tem para o perdão lisonjeado.

Se uma ovelha perdida, e já cobrada


Glória tal e prazer tão repentino
Vos deu, como afirmais na sacra história:

Eu sou, Senhor, ovelha desgarrada;


Cobrai-a; e não queirais, pastor divino,
Perder na vossa ovelha a vossa glória. Cristo e os pecadores penitentes
*despido: despeço
**delinquido: praticado delito (1618-20), de Rubens.
ORATÓRIA SACRA
 PADRE ANTÔNIO VIEIRA
(LISBOA, 1608 – BAHIA, 1697)
Antônio Vieira chegou ao Brasil com menos de sete anos de idade. Com os jesuítas, tirou o grau de
mestre em Artes e entrou como noviço na Companhia de Jesus, em 1623. Dez anos depois, fazia estreia no
púlpito, na Igreja da Conceição.
Foi um extraordinário orador, dotado de inteligência, raciocínio e linguagem ímpar. Notabilizou-se
como pregador e pelos sermões dominicais.
Sua palavra sempre foi muito contestada, porque defendia os mais fracos contra o poder dos mais
fortes. Em 1667, chegou a ser cassado pelo Santo Ofício, que o libertou no ano seguinte. Brilhou em Roma, na
Suécia e em Lisboa. Depois de ser confidente de reis e papas, morreu com a pobreza e a simplicidade de um
místico.

OBRAS PRINCIPAIS:
SERMÕES
 Sermão da Sexagésima.
 Sermão pelo Bom Sucesso das Armas de Portugal contra as de Holanda.
 Sermão de Santo Antônio aos peixes
 Sermão do Bom Ladrão.
 Sermão da Quarta-Feira de Cinzas

PROFECIAS
 Histórias do Futuro
 Esperanças de Portugal

Trecho do Sermão da Sexagésima

(...) Será porventura o estilo que hoje se usa nos púlpitos [a causa de não frutificar a palavra de Deus?]
um estilo tão empeçado, um estilo tão dificultoso, um estilo tão afetado, um estilo tão encontrado a toda a parte
e a toda a natureza? O estilo há de ser muito fácil e muito natural. Compara Cristo o pregar ao semear, porque
o semear é uma arte que tem mais de natureza que de arte. Nas outras artes tudo é arte; na música tudo se faz
por compasso, na arquitetura tudo se faz por regra, na aritmética tudo se faz por conta, na geometria tudo se faz
por medida. O semear não é assim. É uma arte sem arte; caia onde cair... Ia o trigo caindo e nascendo.
Assim há de ser o pregar. Hão de cair as coisas e hão de nascer, tão naturais que vão caindo, tão
próprias que venham nascendo(...)
Quem semeia ventos, colhe tempestades. Se os pregadores semeiam ventos, se o que se prega é
vaidade, se não se prega a palavra de Deus, como não há a Igreja de Deus de correr tormenta, em vez de colher
fruto?
Desenvolvendo Competências

1. (Enem)

Com contornos assimétricos, riqueza de detalhes nas vestes e nas feições, a escultura barroca no Brasil
tem forte influência do rococó europeu e está representada aqui por um dos profetas do pátio do Santuário do
Bom Jesus de Matosinho, em Congonhas, (MG), esculpido em pedra-sabão por Aleijadinho. Profundamente
religiosa, sua obra revela
a) liberdade, representando a vida de mineiros à procura da salvação.
b) credibilidade, atendendo a encomendas dos nobres de Minas Gerais.
c) simplicidade, demonstrando compromisso com a contemplação do divino.
d) personalidade, modelando uma imagem sacra com feições populares.
e) singularidade, esculpindo personalidade do reinado nas obras divinas.
2. Leia:
Que és terra, homem, e em terra hás de tornar-te,
Te lembra hoje Deus por sua Igreja;
De pó te fez espelho, em que se veja
A vil matéria, de que quis formar-te".
Conforme sugere o excerto acima, o poeta barroco não raro expressa:
a) medo de ser infeliz; uma imensa angústia em face da vida, a que não consegue dar sentido; a desilusão
diante da falência de valores terrenos e divinos.
b) consciência de que o mundo terreno é efêmero e vão; o sentimento de nulidade diante do poder divino.
c) a percepção de que não há saídas para o homem; a certeza de que o aguardam o inferno e a desgraça
espiritual.
d) a necessidade de ser piedoso e caritativo, paralela à vontade de fruir até as últimas consequências o lado
material da vida.
e) a revolta contra os aspectos fatais que os deuses imprimem a seu destino e à vida na terra.

3. Leia:
“Filhós, fatias, sonho, mal assadas,
Galinhas, porco, vara e mais carneiro,
Os perus em poder do Pasteleiro,
Esguichar, deitar pulhas1, laranjadas. 1 - zombarias

Esfarinhar, pôr rabos, dar risadas,


Gastar para comer muito dinheiro,
Não ter mãos a medir o Taverneiro,
Com réstias de cebolas dar pancadas.

Das janelas com tanhos2 dar nas gentes, 2. Esteiras


a buzina tanger, quebrar panelas,
Querer em um só dia comer tudo.

Não perdoar arroz, nem cuscuz quente,


Despejar pratos, e alimpar tigelas,
Estas as testas são do Santo Entrudo.”
Gregório de Matos
Qual das seguintes afirmativas sobre a poética de Gregório de Matos aplica-se a esse soneto?
a) Exemplifica o lirismo amoroso praticado pelo poeta.
b) Sua linguagem já evidencia traços de brasilidade que viriam a ser explorados no modernismo.
c) É construído com versos livres e sem rimas.
d) Comprova o erotismo da poesia do século XVII.
e) Apresenta acentuada religiosidade.

4. (Enem)
Quando Deus redimiu da tirania
Da mão do Faraó endurecido
O Povo Hebreu amado, e esclarecido,
Páscoa ficou da redenção o dia.

Páscoa de flores, dia de alegria


Àquele povo foi tão afligido
O dia, em que por Deus foi redimido;
Ergo sois vós, Senhor, Deus da Bahia.

Pois mandado pela Alta Majestade


Nos remiu de tão triste cativeiro,
Nos livrou de tão vil calamidade.

Quem pode ser senão um verdadeiro


Deus, que veio estirpar desta cidade
Faraó do povo brasileiro.

(DAMASCENO, D. Melhores poemas: Gregório de Matos. São Paulo: 2006)


Com uma elaboração de linguagem e uma visão de mundo que apresentam princípios barrocos, o
soneto de Gregório de Matos apresenta temática expressa por
a) visão cética sobre as relações sociais.
b) preocupação com a identidade brasileira.
c) crítica velada à forma de governo vigente.
d) reflexão sobre dogmas do Cristianismo.
e) questionamento das práticas pagãs na Bahia.

5. (FUVEST-SP)
"Nasce o Sol, e não dura mais que um dia.
Depois da luz, se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria."

Na estrofe acima, de um soneto de Gregório de Matos Guerra, a principal característica do Barroco é:


a) culto da Natureza
b) a utilização de rimas alternadas
c) a forte presença de antíteses
d) culto do amor cortês
e) uso de aliterações

6. (UFRS) Considere as seguintes afirmações sobre o Barroco brasileiro:


I. A arte barroca caracteriza-se por apresentar dualidades, conflitos, paradoxos e contrastes, que convivem
tensamente na unidade da obra.
II. O conceptismo e o cultismo, expressões da poesia barroca, apresentam um imaginário bucólico, sempre
povoado de pastoras e ninfas.
III. A oposição entre Reforma e Contra-Reforma expressa, no plano religioso, os mesmos dilemas de que o
Barroco se ocupa.
Quais estão corretas:
a) Apenas I.
b) Apenas II.
c) Apenas III.
d) Apenas I e III.
e) I, II e III.

Gabarito
1. D
2. B
3. B
4. C
5. C
6. D

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