Está en la página 1de 3
[pm -temesonane occ umbigo 20 “infinito", reentronizando a velka nage roméntica do poeta-césmico, do poeta-centro-do mundo. ‘Noch morals, doves pertenc,eaclama) Eusou gio de um Devs, tr Deus me npr. Seu inrpetsou oh ter! Ouse Esses versos modernos de Goncalves de Magalhies estio na oF dem do dia. Penso que nao ha grande mal no poeta julgat-e predesti nado, mas creio também, no enlanto, que a terra 6 0 ouve depois que ele ouviu a Terra. Depois que aprendeu a identificar 0 sabia sobre a palmeira ¢ transpé-los para a poesia “enquanto” sabia e palmeira, con: fiando no magnetismo da sua sugest2o. Se, em. vez disso, monta 0 pés- saro de Goncalves Dias num telefone de Mantel Bandera e afta que © resultado € igual a transmigragao das almas (digamos), corte o isco dde nunca aprender a manejar e respeitar o que ha de maximo na arte poética, isto €, as imagens, nutridas de mensagens da terra, Do ponto de vista humano, ha perigos enormes nesse exclusivismo em cultivar apenas as “emogdes que se agrupam em tor no da palavrainfinito", como dizia Hulme. E 1 invasto do desmesura- do, que parecendo exaltar humano, nada mls faz que hipertofi-lo, isto €, desumanizd-lo. Com efeito, em muitos livros recentes, encon- tamos pouca fibra, pouca atitude realmente virl ante a criaglo. Néo censure propriamente os nossos Jovens poelas, que estio jogando uma grande cartada renovadora, ¢ que tomados isoladaimente tém, muitas ‘vezes, qualidades suficientes. Procurei apenas conceituar certas gene- ralidades que podem apresentar perigo, mas que, nem por se aplica- rem em conjunto, bastam para explicélos. font 303 | ANTONIO CANDIDO Notas de Critiea Leerérta Diéro de S. Paulo, T de marco de 1546, CConversando nao faz muito com um dos nossos mlores poctas, izia the eu entre outras coisas que a melhor critica literdtia, a mais iluminadora e duravel, nao ¢ feita pelos citicos profissionais, mas pe- los proprios artistas criadores. Concordamos, € verdade, que 0 critico ‘ocasional tem a seu favor a vantagem enorme de eserever quando qut- ser, sobre os livros que escolher, donde a preeminencta, mais aparente {que real segundo o meu delicado interlocutor. Dum jelto ou de outro, nndo vejo razbes para roudar de parecer, embors me punja a ideia desta precariedade da minha corporagio, tio contingente e fragil que no seu proprio terreiro ver baté-la a mestria dos criadores, Se, encarada no conjunto, a obra de Tristao de Ataide, de José Verissimo ¢ a ainda efervescente de Alvaro Lins apresentam mator forea e importancia na historia do género, nao ha negar que as paginas mais penetrantes, os conceitos mals brithantes, as idéias mais reveladoras sobre a nossa literatura sto encontrados sob» pena de Machado de Assis, Mitlo de Andrade, Carlos Drummond, Manuel Bandeira. Se Matio de Andrade € um eritico perfeitamente caracteti- zado, como outros de igual valor que fazer no género estagées peris- dicas (Pedro Dantas, Sergio Buarque de Hollanda, Barreto Filho), 0s ddemals apenas circunstancialmente analisam umm livro. E a0 fazé-lo aqui chego 2 meu alvo) demonstram geralmente aculdade maior que a dos criticos profissionais. Assim € que uma simples frase desse Indiseiplinado e por vezes cadtico Oswald de Andrade sobre “Literatu. | 204-torsurseSocedte roigo coneronsra fq ra de tragio animal” vale como relampago em nossa compreensio, sluminada, milagrosa ¢ mais efetivamente do que pela eautelosa lan: tema da critica militant, a que pertenco, E nio sera preciso lembrar que, no cemitério da literatura, cam- pas sem nome, com uma cruz esquecida e um pouco de erva solta, cobrem centenas de criticos, a seu tempo famosos e hoje tao deslembrados e perdidos quanto a fauna da subliteratara, do folbetim da cronica de jornal, Nesse género ingrato, a porta é mals estreita {que mos outos. Menos que porta, € uma angustiosa fresta, por onde Jogram passar Hazlitt, Sainte-Beuve, De Sanctis (no Brasil, um Silvio fe Verissimo, de craveita infinitamente menor), enquanto atrés dela ‘Yio se amontoando os reprovados, menos duraveis que a meméria, dos coevos. E contrastando a falibilidade do genero, sobrevoando a sua apettada fresta, britham ¢ duram os pontos de vistas informais e esporidicos dos amadores: Balzac descobrindo Stendhal, Vietor Hugo compreendendo ¢ amando Verlaine, Verlaine revelando os Poetas Maldicos, Nao sei se devido 20 relative pessimismo com que julgamos as nossas proprias atividades ¢ eapacidades, sempre me parcceu aplicat: se A ertica dos profissionals e dos ocasionais uma distinglo feta no me lembro mais por quem nem a respeito de quem: a dos primeitos, geralmente, nos seus melhores espécimes, satisfaz em chelo 05 ho- zens de gosto e de culturs, mas nia consegue, como a dos segundos, dessatisfazé-los, lembrando-thes © quanto teriam deixado escapar sem © seu amparo. Hi com efeito, na profissio critics, uma certa limitagso por suficencla, desenvolvida insensivelmente com o habito de julgar «, no correr do tempo, provocanda um adormecimento da inguieta- fo espirtua, sem 2 qual nao ha descobertas. Ora, a critica mais alia € a que revela, nfo a que explica Nem que de propésito, emos agora oportunidade para testa este ponto de vista, Um poeta — dos dots ou trés maiores que possulmos entre os vivos © certamente o mais puro ~ acaba de fazer de nossa poesia um admiravel escorgo. Apresentacao da poesia brasileira, de Manuel Ban delral, & obra curta e singela, Destinada a estrangeiras, nio pode, forcosamente, er a liberdade faculteda pelos assuntos implicitamente conhecidos do leltor. Tem de repetir nogoes e fatos, citar certos luga- res-comuns acatar de algum modo pontos assentados, Movimen- tando-se na pequena margem deixada & sua iniciativa soube Manu- cl Bandeira escrever um ensaio de grande valor, ¢ se nao produzix trabalho forte, fez obra excelente pelo gosto, equilibrio de concei- tos © uma percepeio muito fina dos valores artisticos e de historia liters. t eon00 ose +305] Aos interessadas nesta tka, ¢ de referit-e a intligeneta com que determina os periodos, srticulando-os com a mestria de um dese- nhista cuja obra, apagadas as inhas de construgio, se apresenta coest € por assim dizer solidéria nas diferentes partes, Esta boa arquitetara 56 foi obtida, ¢ claro, pelo acabamenta impecavel dos detalhes, reve- lando o critico seguro, e 0 sentimento dos conjuntos, proprio do his- tortador. Além disso, chama logo atengio afinidade com que o autor penetra nos poetas mais diversos, numa catolicidsde erica, paa falar A maneira inglesa, verdadeiramente admlravel Plo menos em cada fase, Manuel Bandeira apresenta algo novo ina maneica de interpreta ou situar um poeta. Entre os romantices, 30 lado das belas andlises de Goncalves Dias © Alvates de Azevedo, colo- ca nos termos devidos a questao do romantismo de Magalhies e, so bretudo, esclarece Junqueira Freire, com certeza o menos lido € en- tendido dos nossos grandes romantices, Pestoalmente, mio 0 aprecio ‘nem considero a par dos demais; reconheco, todavia, que anda injus tamente largado. Li com prazer um bom estudo de Roberto Alvim Correia, na ediga0 Zélio Valverde das obras do poeta balano, ¢ sinto agora que Manuel Bandeira disse a seu respeito as coisas mais pene trantes ¢ esclarecedoras de que tenho noticia, Justiga plena ¢ felta a Vicente de Carvalho, considerado pelo autor talvez 0 maior dos nossos parnaslanos (se tal nome The cabe) € abordado com uma simpatia que refresca o nosso sentimento vicentino, No tabalho de reconceituar, porém, 0s casos mais dignos de nota se referem a Augusto dos Anjos e José Albano. primeiro é colecado em nivel de primeira grandeza e versado ‘com certa abundancia, relatvamente 4 extensao do ensaio sancionan- do a preferencia do publico (Eu anda por 12 ou 14 edigées). Manuel Bandera nele vé um dos mals originais e poderosos de quantos temo Uido e The consagra uma andlise rica em sugestées. Metendo novamen- te em cena o meu gosto pessoal, devo dizer que Augusto dos Anjos rio € dos poetas que amo, embora Ihe admire a magia verbal e sinta a grandeza do seu abismo interior. Manuel Bandeira, num traco iluminante, aproxima-o de Euctides da Cunha, a enja familia espisitual sem divida pertence. Pensa que ele reprecenton adminavelmente, come Euclides, a nossa inclinagZo verbalista,eriando uma retdtica por ve- ze bela e concebendo a realidade como cidadela misteriosa que € preciso abordar com tomeios algo alucinantes de expressio, Nto € & oa que Otto Maria Carpeaux, apaixonado pelo Barraco, veio se entu- slasmar no Brasil por este rebento do velho tronco gongerico, cons- tante er nossa literatura sob as suas formas mais discursivas e super- ficials. © mau gosto de Augusto dos Anjos funciona normalmente na sua poética de recursos tensos, quase desesperadas, e a grandeza de seu drama queinia como um fogacho nem sempre suportavel Quanto a José Albano, creio que a Apresentagao inova 20 pé-lo fem primeira linha. A sua obra, rara e parcialmente inédita, € pouco J 06-tieaae socio [SOIGHO COMEMORATIVA | conheclds, mesmo dos que cuidam de literatura. Recentemente, Luis “Antoal Faleao dedicou-the um magnifico poema, num livre de ensaios por todos os titulos excelente, apesar do titulo algo precioso e vulgar de Do meu alforje. Manuel Bandeira estuda com admiracao e finura a poesia do complicado cearense, e mesmo sem conhect-la posso crer na razao do aprego que lhe consagra. ‘A antologia que segue o estudo sofre, mals que ele, das pelas Iimpostas pelo puiblico estrangeiro. Manuel Bandeita conformou:se tal vez demasiado com a sancio do tempo, escolhendo as pecas mais ge ralmente aceitas pela maioria dos letores. Se o livro fesse feito para brasileiros, seria desejavel menor convencionalismo. Ja ¢ tempo, ctelo eu, de fazer uma antologia “irregular”. Nao de “irregulares”, mas selecionando, na obra dos poetas, pegas esquecida pelos leitores, até pelos eriticos, eas vezes tanto ou mais formosas do que as outras. Ao Invés de "Banzo", por exemplo, certo soneto de Ralmundo, com tum embriagante ‘Vento outonl de longescamposvindo, Cheon ea, de oloreo 00. ‘Ao invés do ji quase intoleravel “Temei, penhas", de Claudio Manuel, ¢ deixando de lado © preconceito de que na sua obra valem apenas os sonetos, buscar a écloga XX, "Lira", ou a admiravel “Polifemo”, das produgSes mais altas, embora ao que eu saiba nunca ‘mencionadas da nossa poesia neoclissica. De Gregorio de Matos, po- der-se-ia ressallar mals ou melhor 0 espirito barroco, tomando um dos sonetos, mais arrojado, e também de todo esquecido, creio eu, a de “Angela”, de Sousa Parentes: Anjono nome angéicrnacar, st ser flr ean jontament Serangsce ore anja floret, Ere quem senso em vs se uilormae quando nio 0 espantoso (Como canta, 206 lor de lexan (Como chee sé pssaro de arminho Deste modo, fariamos dormir em justo e bem ganho repouso os pobres “Ora, direis, ouvir estilas” ¢ "Eu deixo a vida", em beneficio de uma variagéo que em nada comprometeria os valores adquiridos contribulsia muito para educar o gosto publica Quanto 20s modernos, penso que o antologista deveria ter in cluido algum poerua do Livro azul, de Mario de Andrade. Tive grande alegria a0 ler a opinido expressa de Manuel Bandeira de que © coroamento dessa nobre carrera de poeta staré talver no poema "Rito do Irmo Pequeno”, pois desde 1941, quando escrevi em um dos t- fosips 207] Lea ‘meros de Clima sobre o aparecimento de “Poesia”, ¢ este a minha opl- inifo. Mas, e assim €, porque nio dar uma amostra na antologia, ainda ‘que sem transerever todas as partes do poema? © tinico defeito grave do livro ¢ a ausencia inevitavel de estudo sobre... Manuel Banceia, falta que desequilibra a ultima parte e vale, -20 menos, pata sentinmos toda a importancia deste grande artista. Os ‘editores, em vista disso, encarregaram Otto Maria Carpeaux de fazer ‘um preficio em que snalisa a obra do autor, ¢ que nao desmerece do. livro a que introduz.

También podría gustarte