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ODE TRIUNFAL_Álvaro de Campos

Título: O título deste poema pode explicar-se da seguinte forma: Ode porque é uma
composição poética lírica destinada a cantar algo de elevado. Triunfal porque é a
celebração da modernidade, do triunfo da civilização técnica e industrializada.

Assunto: A Ode Triunfal canta o triunfo da técnica, as máquinas, os motores, a


velocidade, a civilização mecânica e industrial, o comércio e os escândalos da
contemporaneidade...

Desenvolvimento do assunto
➔ A exaltação da civilização moderna
O poema começa com uma estranha iluminação de lâmpadas elétricas. Despertando
em sobressalto e em sonhos febris, o sujeito poético reconhece-se transportado para o
meio de uma fábrica em atividade. O homem adoentado, enfraquecido pela febre,
exposto a estes barulhos, é subitamente arrebatado pelas oscilações dos motores e a sua
cabeça abrasada começa a vibrar também. Diante dos seus olhos acumula-se uma
multiplicidade de impressões e todos os seus sentidos estão despertos: «Tenho os lábios
secos, ó grandes ruídos modernos, / De vos ouvir demasiadamente perto, / E arde-me a
cabeça de vos querer cantar com um excesso / De expressão de todas as minhas
sensações...».
A fábrica aparece então como motivo inspirador para a homenagem a esta civilização
moderna, que submerge o eu poético, neurótico e fragilizado («tenho febre»; «fúria fora
e dentro de mim», «meus nervos», «arde-me a cabeça»). É este universo de «lâmpadas
elétricas», «rodas», «engrenagens», «máquinas», «correias de transmissão»,
«êmbolos» e «volantes» que o faz sentir-se simultaneamente incomodado e atraído
pela ruidosa dinâmica dos «maquinismos em fúria».

➔ A vertigem das sensações


Estabelecendo com esta «flora estupenda, negra, artificial e insaciável» uma ligação
eufórica e exaltada, o sujeito poético deixa-se seduzir vertiginosamente por um excesso
de sensações que mal tem tempo de fixar na sua «mente turbulenta e encandescida».
Sente-se arrebatado por um universo, onde a velocidade, a força e o progresso têm
expressão e, por isso, confessa: «Nem sei se existo para dentro. Giro, rodeio,
engenho-me. / Eia! sou o calor mecânico e a electricidade!».
A violência de sensações fá-lo desejar «ser toda a gente e toda a parte» e limitar a si
próprio e ao gozo do instante qualquer noção de temporalidade («O Momento
estridentemente ruidoso e mecânico....»)

➔ A temporalidade unificada
Ao contrário de outros futuristas, Campos acredita que o presente só é possível
porque está alicerçado no passado, na base do qual se apoia a construção do futuro, ou
seja, passado e futuro ganham significação no presente. Isto é, o presente é uma sintese
do passado e do futuro.

➔ A atração erótica pelas máquinas


Esta visão excessiva e intensa do real provoca no sujeito poético um estado de quase
alucinação, marcadamente sensual.
Esta paixão quase erótica pelas máquinas e este entusiasmo pela civilização moderna
assume aspectos de um certo masoquismo sádico, que inspira no sujeito poético
sensações novas e violentas, experimentadas até ao histerismo:

Não é estranha, por isso, não só a tendência do sujeito poético para humanizar as
máquinas , como também a tentativa de ele próprio se materializar, ou tornar-se parte
delas.

➔ A denúncia social

Convém registar ainda que a força e a agressividade do sujeito poético são


permanentemente quebradas pela evocação irônica do reverso da medalha da
civilização industrial:

● a desumanização («Progressos dos armamentos gloriosamente mortíferos!»;


«...injustiças, violências...»),
● a hipocrisia e a futilidade («...ó grandes, banais, úteis, inúteis, / Ó coisas todas
modernas...»),
● a corrupção, os escândalos políticos e financeiros («Orçamentos
falsificados!»; «Deliciosos escândalos financeiros e diplomáticos...»),
● os falhanços da técnica («Eh-lá grandes desastres de comboios! / Eh-lá
desabamentos de galerias de minas!»),
● a miséria e a devassidão das multidões («Maravilhosa gente humana que vive
como cães, / Que está abaixo de todos os sistemas morais...»).

A aguda sensibilidade do sujeito poético revelada na denúncia do lado negativo e


desumano da civilização moderna é uma atitude literária, em que a perfeição e a força
das máquinas parecem ser, afinal, compensações para os seus próprios fracassos e para
a sua inadaptação, que irão marcar a última fase poética de Álvaro de Campos.

➔ Rutura com a lírica tradicional


Rutura a nível formal: irregularidade estrófica, métrica e rítmica; uso excessivo da
coordenação; catadupa de figuras de estilo (onomatopeias ousadas, apóstrofes e
enumerações exageradas), discurso caótico...
Rutura a nível do conteúdo: o uso de palavras completamente prosaicas (comuns
ou vulgares); o canto excessivo da civilização industrial; a ousadia de tocar em alguns
aspectos negativos da sociedade, etc.

Metáforas: As metáforas e as imagens deste texto evidenciam a íntima relação do sujeito


poético com o mundo mecânico e industrial, permitindo até a sua plena integração na
civilização moderna. («E arde-me a cabeça...»; «...Natureza tropical...»; «Pervertidamente
enroscando a minha vista...»; «Grandes trópicos humanos de ferro e fogo e força...»; «E há
Platão e Virgílio dentro das máquinas e das luzes eléctricas...»);

Enumerações: traduzem o frenético desejo do sujeito poético de sentir tudo de todas as


maneiras, registando de forma aparentemente caótica as sensações que experimenta («Desta
flora estupenda, negra, artificial e insaciável!»; «Eh, cimento armado, betão de cimento, novos
processos!»).

Anáforas: expressam a sucessão caótica dos fenómenos da civilização industrial, permitindo


ao sujeito poético acompanhar o seu ritmo alucinante e vigoroso («Por todos os meus nervos
(...) Por todas as papilas...»; «Poder ir na vida triunfante (...) Poder ao menos penetrar-me...»;
«Ó coisas todas modernas, / Ó minhas contemporâneas...» );
Neologismos («parte-agente»; «quase-silêncio») e os estrangeirismos («music-halls»;
«Luna-Parks»; «rails») : traduzem a ligação do sujeito poético às inovações da modernidade e à
universalidade do progresso técnico, assim como o vocabulário de carácter técnico («motores»;
«fornalhas»; «guindastes»; «êmbolos»);

Adjetivação: traduz o excesso de sensações que dominam o sujeito perante a modernidade


(«flora estupenda, negra, artificial e insaciável»; «promíscua fúria»; «rodar férreo e
cosmopolita»; «giro lúbrico e lento»; «quase-silêncio ciciante e monótono»);

Interjeições: confirmam o louvor do sujeito poético à civilização mecânica e a sua contínua


agitação («Ó fábricas, ó laboratórios...»; «Eh-lá hô fachadas das grandes lojas!»; «Eia túneis...»;
«Ah, poder exprimir-me...);

Onomatopeias: sugerem a tentativa do sujeito poético de imitar os sons ruidosos das


máquinas, exprimindo assim o barulho e a velocidade estonteantes da vida moderna («r-r-rr»;
«Hup-lá, hup-lá, hup-lá-hô»; «z-z-z-z-z-z-z»);

Apóstrofes: confirmam o estilo laudatório do poema e a exaltação da civilização industrial («Ó


rodas, ó engrenagens...»; «Ó fazendas nas montras! Ó manequins!»), tal como as exclamações
(«Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!; «Ser completo como uma máquina!»).

Sensacionismo

Na “Ode Triunfal”, o Sensacionismo associa-se ao Futurismo na ideia de sentir em


excesso (e em delírio) o mundo moderno e de representar a forma como os sentidos
aprendem essa realidade.

● O desejo de excesso de sensações leva-o mesmo a assumir uma atitude


sadomasoquista (vv. 134-135) só para aceder a “tudo com que hoje se constrói, com
que hoje se é diferente de ontem!” (v. 101). De facto, o sensacionismo de Campos é de
cariz masoquista: “Eu podia morrer triturado por um motor” (v. 134); “Atirem-me
para dentro das fornalhas” (v. 136), etc. , o que se orienta mais para a criação de
sensações novas e violentas (sensacionismo) do que para a exaltação das máquinas.

Aspetos onde se pode verificar a influência de Pessoa-ortónimo:


➔ na visão irônica da outra face da sociedade industrial (visão negativa);
➔ na evocação nostálgica da infância (nos versos citados, a infância surge
representada por diversos elementos: a nora, o quintal, a casa, os pinheiros, o
burro - animal significativo que representa a ausência de pensamento /
racionalidade.);
➔ no fato de haver uma tendência para a ficção. Relativamente a este aspecto
convém não esquecer que F. Pessoa subordinava tudo à criação literária.

Localização:
➔ espacial: interior de uma fábrica, em plena e intensa atividade (o sujeito
poético está rodeado de máquinas, sob a luz forte das “grandes lâmpadas
elétricas”;
➔ temporal: presente em que o sujeito poético observa a fábrica; noite? (a luz
das lâmpadas).

Estado de espírito do sujeito poético:


➔ estado febril, doentio, delirante (“Tenho febre e escrevo”) – canta o progresso
e a modernidade de forma entusiástica;
➔ sente dor (“À dolorosa luz…”);
➔ em fúria (“rangendo os dentes””.

Valorização de um novo conceito de arte/estética


➔ valoriza-se a “beleza” da civilização moderna, diferente da beleza aristotélica
clássica, que assentava nas noções de Perfeição, Equilíbrio, Agradável,
Harmonia, Proporção e Elegância, porque a realidade moderna não as tem;
➔ o novo conceito de Belo relaciona-se com as ideias de Força, Velocidade,
Dinamismo, Excesso, Modernidade…

Último verso do poema


O «eu» exprime o seu desejo de ser múltiplo (“toda a gente”) e omnipresente (“toda a
parte” – sentir tudo de todas as maneiras e identificar-se com tudo. Esta seria a única
maneira de usufruir totalmente a maravilha do seu tempo.
O verso sintetiza a atitude de deslumbramento em relação às realidades cantadas e
com as quais se deseja fundir.
Por outro lado, constitui o reconhecimento da sua impossibilidade, o que leva o «eu»
poético a denunciar a sua frustração, acabando por concluir o poema na mesma
situação em que o iniciou: apenas como observador e cantor épico de uma realidade que
lhe é exterior.

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