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Resumo: Tomado como ponto de partida o poder en los ámbitos doméstico y público y
patriarcado como matriz profunda e tomado en serio el reto de deconstruir el
estruturante de relações desiguais de poder complejo y contradictorio sistema
nos âmbitos doméstico e público e levado a patriarcal, la hipótesis sostenida en el
sério o desafio de desconstruir o complexo artículo sugiere que la ampliación del
e contraditório sistema patriarcal, a hipótese derecho fundamental a la licencia de
defendida no artigo sugere que a ampliação paternidad puede ayudar en alguna medida
do direito fundamental à licença- en la promoción y en la sofisticación de los
paternidade pode contribuir em alguma espacios de resistencia y de las luchas
medida para o fomento e a sofisticação de antipatriarcales precisamente porque, a la
espaços de resistência e de lutas vez, (i) hacer visibles las relaciones sexistas
antipatriarcais precisamente por, a um só de dominación propias de los espacios
tempo, (i) tornar visíveis as relações de doméstico y público y (ii) reorganizar,
opressão sexista constituintes dos espaços aunque parcialmente, la división sexual del
doméstico e público e (ii) reembaralhar, trabajo.
ainda que fragmentariamente, a divisão
sexual do trabalho. Palabras clave: Licencia por paternidad;
Patriarcado; Deconstrucción.
Palavras-chave: Licença-paternidade;
Patriarcado; Desconstrução. 1- Notas introdutórias
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patriarcal está basada en las condiciones de Utilizando o conceito de
sexo-género y edad y de otras condiciones “organização social patriarcal” para a
de poder” (Ríos, 2012: 18). análise de sociedades concretas, Marcela
Impacta e estrutura relações sociais, Lagarde y de los Ríos (2012: 19) aponta as
políticas, econômicas e culturais: tensões e contradições próprias da
“las relaciones patriarcales de género son organização social patriarcal, característica
[...] un principio estructural de la (não exclusiva) das sociedades modernas.
organización de las clases, las castas y de De uma perspectiva democrática de gênero,
todos los estamentos sociales de los reconhece transformações fragmentadas,
sistemas étnicos, raciales y nacionales, así cujo processo desencadeador está ligado a
como de las relaciones entre países y movimentos feministas e a outras lutas
regiones en la globalización” progressistas.
(RÍOS, 2012: 18). Embora aponte a persistência de
Semelhantemente, para Julieta formas insidiosas de opressão, reconhece
Paredes (2012: 201) e feministas avanços nas “condiciones de vida en las
comunitárias, o patriarcado é entendido áreas rural y urbana e acceden al desarollo
como “El sistema de todas las opresiones, genérico, personal y colectivo, de acuerdo
todas las explotaciones, todas las violencias con sus condiciones desiguales de clase,
y discriminaciones que vive toda la etnia y raza y otras condiciones más, que
humanidad y la naturaleza, o sea, un sistema relativizan y diversifican los grados y las
de muerte”, cujas características envolvem modalidades de discriminación genérica”
“usos, costumbres, tradiciones, normas (Ríos, 2012: 19).
familiares y hábitos sociales, ideas, Levar a sério o compromisso com o
prejuicios, símbolos, leyes, educación” gradual, relutante e intrincado processo de
(2012: 201) e a definição de padrões de despatriarcalização do Estado e da
gênero falsamente naturalizados e sociedade envolveria, como sugere a autora,
universalizados mediante mecanismos três pilares fundamentais. São eles: “i) la
ideológicos. Submete mulheres e homens, democracia; ii) el desarrollo humano
sobretudo aquelas, ao longo do tempo, em sustentable o con rostro humano y iii) la
diversos lugares e cujas manifestações solución pacífica de los conflictos desde la
adquirem complexos e ambíguos contornos. perspectiva de género” (RÍOS, 2012: 28).
Desta estrutura derivaria uma possibilidade
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política democrática de gênero feminista menos à reorientação da divisão sexual do
efetiva e dirigida ao desmantelamento das trabalho3 do que à pluralização das
causas da opressão de gênero e ao configurações familiares e do mercado de
empoderamento das mulheres (2012: 28 trabalho, abrangente de aspectos como o
ss.). uso de anticoncepcionais, a opção cada vez
Sobre os três pilares fundamentais mais tardia das mulheres pelo casamento, a
apontados apoiamo-nos e orientamo-nos queda na média de filhos, o aumento do
nas proposições levantadas adiante. número de mulheres como chefes de
Contudo, antes de debruçarmo-nos sobre família, a maior participação das mulheres
elas, procuramos desvendar, ainda que na renda familiar, o crescimento da
fragmentariamente, o conflito entre proporção de divórcios, a expansão da
trabalho e família no Brasil, suas nuances, escolaridade e o maior ingresso feminino
as demandas já inscritas na dinâmica social nas universidades (IPEA, 2011).
e a constitucionalização do direito à licença- A despeito das transformações em
paternidade como resposta institucional curso, a responsabilidade atribuída às
àquelas demandas. mulheres pelo trabalho e organização da
vida doméstica é indicativo de uma divisão
3- A controvérsia sobre o direito à sexual do trabalho intocada. No interior do
licença-paternidade no Brasil
arranjo familiar tradicional4 o conflito entre
vida laboral e demandas familiares que, em
As profundas mutações em curso
regra, diz respeito à mulher e não ao
na sociedade brasileira dizem respeito
ciclo das mesmas e imutáveis categorias” (1995: desigualdades de gênero no mercado de trabalho”.
189). E não só o impasse trabalho/vida doméstica é
10 escamoteado do debate público. A esfera familiar
Mary del Priore (2013), embora reconhecendo a
dificuldade de contar a história dos pais no Brasil, privatizada, segundo perspectiva largamente
em face da “abundância de informações que difundida, segue dinâmica própria, cuja
devem ser confrontadas às interferências temporais sobrevivência e funcionamento depende de uma
que atravessam, organizam e mudam, em ritmos fronteira bem definida entre o público e o privado.
diferentes, as realidades” (2013: 153), oferece Nesse sentido, controvérsias entendidas (a priori)
valiosa reconstrução das transformações pelas como de caráter privado devem ser dirimidas pelos
quais passou a paternidade no século XIX. Século próprios sujeitos envolvidos. No mesmo sentido,
marcado pelo fim do patriarca e pelo surgimento escreve Flávia Biroli (2014a: 42) que “[m]antida
daquele que ama: (i) entre o pai tirano, cujos traços como unidade privada responsável,
constitutivos apontáveis são a brutalidade, a primordialmente, pelo cuidado com os idosos e
ignorância, a linhagem, a imagem do homem como com as crianças, mas sem condições concretas de
genitor e (ii) o pai amoroso, que se liga sê-lo na maior parte dos casos, a família se
afetuosamente ao filho, resultado de um desejo. A transforma em um dos principais dispositivos para
autora ainda aponta as mudanças culturais, legitimar a reprodução das desigualdades sociais.
econômicas e sociais que se fizerem presentes no A privatização é particularmente desastrosa para os
processo de construção de novos papéis associados mais pobres, que não podem comprar os serviços
à experiência da paternagem. A respeito do que reduzem a carga de trabalho, envolvida no
processo contemporâneo de ressignificação das cuidado com os familiares. E ignora o fato de que
paternidades, afirma a autora que “[t]rês nem todos os indivíduos são parte de uma rede
fenômenos [...] dão conta dos novos conceitos que familiar que possa, ainda que em condições frágeis,
caracterizam a paternidade: as modificações nas apoiá-lo” (2014a: 29 ss.).
12
formas de casamento e nos tipos de família; A luta pela licença-paternidade integrou as
mudanças no direito de família e dos filhos; e os estratégias de articulação do Conselho Nacional
rápidos progressos das ciências biomédicas. De dos Direitos da Mulher (CNDM), dos conselhos
‘patriarcal’, a família tornou-se conjugal, limitada estaduais e municipais, de organizações da
ao pai, mãe e filhos. Se no início o pai detinha sociedade civil e de movimento de mulheres ao
todos os poderes paternais e conjugais, pico de uma longo do processo constituinte. Jacqueline
pirâmide na quais filhos e mães constituíam a base, Pitanguy, então à frente do CNDM, relata que
as posições se modificaram. Hoje, no alto do “[q]uando [...] [apresentaram] a proposta de
triângulo encontram-se os filhos. Numa lateral licença-paternidade, [...] [foram] duramente
encontram-se os pais e, na outra, o mediador entre criticadas e até mesmo ridicularizadas por amplos
pais e filhos: o Estado. Os ‘direitos’ paternos foram setores do Congresso Nacional. Argumentavam
substituídos por ‘deveres’. Não estamos numa também que [...] [estariam] incentivando a
sociedade sem pais. Mas, sim, numa que ausência dos homens do trabalho. [...] [Estavam],
reorganiza as funções paternas” (2013: 182). no entanto, convencidas da relevância desta
11 licença como um instrumento de mudança
Aos olhos de Bila Sorj, Adriana Fontes e Danielle
Carusi Machado (2007: 592) “as recentes ideológica no papel dos homens frente à
mudanças nas famílias e no mercado de trabalho paternidade” (Pitanguy, 2011: 25).
agravaram a capacidade das famílias de lidarem 13
“Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e
com as exigências conflitantes do trabalho e da rurais, além de outros que visem à melhoria de sua
família. As soluções para esse dilema tendem a ser condição social: [...] XIX - licença-paternidade,
privadas e assumidas quase que exclusivamente nos termos fixados em lei" (Brasil, 2013: 11 ss.).
pelas mulheres. O resultado é o reforço das
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A ausência de regulamentação do Deputado Urzeni Rocha (PSDB-RR).
direito social faz ainda prevalecer o exíguo Propõem a ampliação da licença-
prazo de cinco dias para o exercício da paternidade, em casos de nascimento e
paternagem, estabelecido pelo parágrafo 1º adoção, para dez, quinze e trinta dias,
do artigo 10 do Ato das Disposições respectivamente.
Constitucionais Transitórias.14 Já o PL nº 901/11, de autoria da
Embora ainda não tenha sido Deputada Erika Kokay (PT-DF), amplia o
editado lei sobre a matéria, não faltaram alcance do Programa Empresa Cidadã ao
tentativas (frustradas) de regulamentação da estipular a prorrogação do período da
licença-paternidade. Limitando-se aos licença-paternidade para trinta dias. E o PL
Projetos de Lei hoje em tramitação, nº 6.998/13, apresentado por Osmar Terra
destacam-se o PL nº 3.325/12, de autoria do (PMDB-RS) e outros deputados que, entre
Deputado Edivaldo Holanda Júnior (PTC- as providências previstas com a alteração do
MA); o PL nº 879/11, apresentado pela art. 1º e com a inserção de dispositivos
Deputada Erika Kokay (PT-DF); e o PL nº sobre a Primeira Infância na Lei nº 8.069,
3.831/12, proposto pelo Deputado Felipe de 1990, que dispõe sobre o Estatuto da
Bornier (PSD-RJ). Os Projetos sugerem a Criança e do Adolescente, dá, entre outras
ampliação do direito social para quinze, providências, a possibilidade de ampliação
trinta e noventa dias, respectivamente, em da licença-paternidade por até 15 dias, além
casos de nascimento ou adoção.15 dos 5 dias já previstos
Tramitam ainda o PL nº Há ainda a Proposta de Emenda à
14
“Art. 10. Até que seja promulgada a lei nºs 6.753/10, 3.212/12, 3.231/12, 3.281/12,
complementar a que se refere o art. 7 º, I, da 3.417/12, 3.445/12, 5473/13, 5.566/13) ou fixa em
Constituição: [...] § 1º Até que a lei venha a cinco dias a licença-paternidade (PL nº 2.098/11).
disciplinar o disposto no art. 7º, XIX, da Estas Proposições Legislativas, em conjunto com
Constituição, o prazo da licença-paternidade a que as de nºs 3.325/12, 879/11 e 3.831/12, foram
se refere o inciso é de cinco dias”. (Brasil, 2013: apensadas ao PL nº 6.753/10. Como se pode
70). observar, os Projetos mencionados ao não
15 ampliarem a licença-paternidade ou ao ampliá-la
Outras Proposições Legislativas sugerem a
ampliação da licença-paternidade apenas em casos tão somente nas hipóteses de ausência da figura
de adoção por pai solteiro (PL nºs 2.272/11, materna, reproduz a dicotomia reificadora homem-
3431/12), invalidez permanente ou temporária, provedor/mulher-cuidadora, reforçando a distância
abandono ou falecimento da mãe (Projetos de Lei do pai da trama doméstica.
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licença-maternidade para 180 dias e a da Se às mães são garantidos, entre
16 17
licença-paternidade para 30 dias. outros direitos e benefícios, estabilidade
O reconhecimento da licença- para gestante, licença-maternidade de cento
paternidade como direito social pela e vinte dias, salário-família, intervalo para
Constituição Federal, assim como as amamentação, creche a ser custeada pela
tentativas de sua regulamentação procuram, empresa ou pagamento de auxílio-creche,
de algum modo, superar o descompasso aos pais é reconhecido, tão somente,
entre o discurso igualitário articulado pelo licença-paternidade de cinco dias e salário-
Estado e seu aparato institucional, ainda família.18
reprodutor da lógica da divisão sexual do
trabalho e da divisão desigual das tarefas 4- Ampliar a licença-paternidade para
domésticas. Um rápido olhar sobre a despatriarcalizar o Estado e a sociedade:
legislação trabalhista revela que os direitos breves proposições
e benefícios ali assegurados estão direta e
profundamente comprometidos com os Considerando que o processo de
direitos reprodutivos das mulheres. despatriarcalização do Estado e da
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empoderamento e a aquisição de cidadania níveis de desproteção legal e social
pelas mulheres.19 experienciada por aqueles que não
Nesse passo, problematizar a professam a tradicional concepção de
licença-paternidade e seus possíveis família, que reserva ao homem o lugar
desdobramentos sociais e institucionais simbólico do provimento material e à
revela-se contribuição valiosa tendo-se em mulher a função dedicada de cuidado com o
vista a dinâmica social, suas novas lar;20 (ii) a invisibilidade da condição de
demandas e os desafios inerentes à vulnerabilidade de muitas mulheres no
empreitada de despatriarcalizar o Estado e a interior das famílias, ainda pouco
sociedade. permeáveis à redivisão das tarefas
Entre outros aspectos, tomam-se domésticas;21 (iii) o ingresso em massa das
como pontos de partida: (i) os significativos
encontrará essa privacidade na esfera doméstica. relativo das mulheres da definição da vida
Tenham ou não papéis não-domésticos, espera-se doméstica e afetiva, assim como na determinação
muito delas, em geral, em seus papéis de mães e de das escolhas importantes na criação dos filhos –
responsáveis pela família, do que se espera dos sobre os quais são responsabilizadas
homens em seus papéis familiares. Isso é cotidianamente –, pode ser reduzido diante da
evidenciado pelo fato de que homens que têm autoridade proveniente dos recursos materiais e de
sucesso na vida pública são frequentemente representações patriarcais de autoridade
desculpados por negligenciar suas famílias, masculina”.
enquanto as mulheres, na mesma situação, não o 23
Escreve Carole Pateman (1993: 208) que “[u]ma
são. De fato, uma referência completamente esposa que tem um emprego remunerado nunca
diferente do que constitui ‘negligência em relação deixa de ser uma dona-de-casa; pelo contrário, ela
à família’ é geralmente aplicado à mulher, assim se torna uma esposa que trabalha e aumenta sua
como ‘ser mãe’ significa algo inteiramente jornada de trabalho”. No mesmo sentido, para
diferente de ‘ser pai’”. Jussara Cruz de Brito e Vanda D´Acri (1991: 205),
22
Flávia Biroli (2014b: 58) elenca algumas das “[a] alocação do trabalho doméstico na esfera do
desvantagens sociais decorrentes da atribuição privado coloca a mulher numa dupla opressão, a de
exclusiva dos encargos familiares e domésticos às cidadã, como trabalhadora, e a de gênero feminino,
mulheres: “[a] interrupção da carreira, a opção por como responsável pelo trabalho da casa, que a
empregos de menor carga horária, porém mal distancia da produção, da vida social e política”.
remunerados e a mobilidade social negativa 24
O processo de conscientização “sobre a
associada às duas primeiras podem derivar da possibilidade de mudança nas relações de gênero”
responsabilidade das mulheres pelo cuidado com (Connell, 1995: 186) fomentado sobretudo pelos
os filhos pequenos, mesmo em sociedades nas movimentos de liberação de mulheres, gays e
quais não há impedimentos formais para que homens nos anos 70 legou ao às reflexões sobre
desempenhe trabalho remunerado. Nesse caso, gênero das gerações seguintes o reconhecimento
salários mais baixos e menos oportunidades de da dimensão histórica do gênero, do caráter
acesso a recursos previdenciários quando atingem fundamentalmente social das distinções baseadas
idade avançada definem, no longo prazo, uma no sexo. Se a historicidade do gênero outrora fora
situação relativa de maior vulnerabilidade para as vista como heresia, a partir de então passa a ser
mulheres. Há, assim, risco crescente de exposição tomada como um pressuposto estabelecido (não
à pobreza e às formas de vulnerabilidade que só) para leituras e proposições comprometidas com
decorrem da dependência dos recursos materiais a justiça social nas dinâmicas de gênero. A
provenientes do trabalho remunerado do marido historicidade do gênero, enfim, consolidou-se
e/ou de outros homens. Essa vulnerabilidade tende como “a característica distintiva da política da
a ser ainda maior quando os casais se separam e as masculinidade contemporânea e o horizonte do
mulheres permanecem responsáveis pelos filhos. pensamento contemporâneo sobre a
Nos casamentos convencionais, até mesmo o poder masculinidade” (1995: 187).
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ainda que fragmentariamente, na realidade adolescência, (vii) e da desprivatização da
social.25 esfera familiar e do exercício do cuidado.
Tem-se a clareza de que a licença- Entretanto, a licença-paternidade é
paternidade não representa em si e por si (i) fator fundamental que, articulado a outros
a garantia de vivência de novas fatores não menos importantes,27 e se
masculinidades e de novas paternidades, (ii) conjuntamente assegurados, poderão
da saúde materna e infantil,26 (iii) da repercutir democraticamente no
promoção da equidade de gênero, (iv) da questionamento e no reembaralhar, ainda
reorganização sexual do mundo do trabalho, que fragmentário, das convenções sociais
(v) da conciliação (mais) equitativa das de gênero, da divisão sexual do trabalho e
responsabilidades familiares e do trabalho da divisão desigual das tarefas domésticas.
entre homens e mulheres, (vi) da educação Em outros termos, considerando que “a
e dos cuidados na primeira infância e na prestação do ‘trabalho doméstico’
[abrangente do cuidado com filho] faz parte
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Carmen Elena Sanabria (2012: 186), resistência e de lutas antipatriarcais
a seu passo, enfatiza que esta invisibilidade precisamente por desestabilizar e
torna-se ainda mais perversa em razão de transgredir a “naturalizada” (logo,
seu irremediável entrelaçamento com o reificadora) oposição binária feminino-
exercício de outros direitos, associados à masculino.
participação política, trabalho, educação e
saúde. A autora chama a atenção para 6 Referências bibliográficas
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