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«Esta imagen dijo: “Yo soy la energía suprema y abrasadora, Yo


soy quien ha encendido la chispa de todos los seres vivientes,
nada mortal mana de Mí, y juzgo todas las cosas. en con su
claridad como si estuvieran vivas.(…) Todas las cosas en su
esencia están vivas y no han sido creadas en la muerte, porque
Yo soy vida. También soy la capacidad de razonar, por cuanto
tengo el hálito de la palabra sonora, por la cual toda criatura ha
sido engendrada. Y en la creación de todas las cosas he
introducido mi soplo de tal forma que ningún ser de la creación es
efímero en su especie, porque Yo soy la vida. Soy vida íntegra y
perfecta, que no ha manado de las piedras, ni florece de las
ramas ni tiene origen gracias a la semilla de un macho, sino que
todo lo que es vital ha brotado de Mí. La capacidad de razonar es
una raíz que, sonando, hace florecer en ella misma la palabra. Y
puesto que Dios es racional, y ya que toda su obra llega a
floración perfecta en el hombre creado a su imagen y semejanza,
¿cómo podría ser que no se aplicara a inscribir en el hombre a
todas las especies siguiendo un orden? El deseo de Dios desde
la eternidad fue que su obra, es decir el hombre, fuera hecho, y
cuando hubo cumplido esta obra suya, le confió a todas las
criaturas para que el hombre pudiera trabajar sirviéndose de
ellas. De esta manera Dios hizo su obra, es decir, el hombre».

Liber Divinorum Operum, Tradución de Rafael Renedo. 2007

*Paulo Reis Godinho, doutorando em História Medieval, Universidade Aberta.


INTRODUÇÃO

Para gáudio de muitos, na habitual Audiência Geral, ocorrida a 1 de Setembro


de 2010, Sua Santidade o Papa Bento XVI surpreendeu os presentes ao dedicar
a também costumeira catequese à figura de Hildegarda de Bingen 1 ,
entroncando-a no imenso filão que o génio feminino criou ao longo da História.
Dois anos volvidos, a 7 de Outubro de 2012, o mesmo Pontífice canonizou-a
oficialmente e proclamou-a doutora da Igreja, asseverando que: “ (...) a atribuição
do título de Doutor da Igreja universal a Hildegarda de Bingen tem um grande
significado para o mundo de hoje e uma extraordinária importância para as
mulheres.”2
O Pontífice dava assim resposta aos anseios centenares de muitos homens e
mulheres, crentes e estudiosos, provindos não só de terras germanas, mas um
pouco de todo o mundo, que reclamavam esta declaração oficial, cientes da
justeza do ato, justificado por centúrias de devoção e estudo.
Tendo, pois, como contexto a aclamação de Hildegarda de Bingen como doutora
da Igreja, logramos afiançar que, conquanto esta declaração, assim como a
generalização do seu culto a toda a Igreja Católica, se tenha dado bastos séculos
após o seu fenecimento, logramos outrossim descobrir, desde há muito, assaz
interesse arcadiano na sua figura, tanto nos estudos histórico-teológicos, como
noutras áreas do saber tão díspares como a Medicina.
Assim, embrenhados numa indagação medieva desta índole, onde fomos
sintonizados a ouvir as melodias sinfónicas e silenciosas das mulheres
medievais, é justo dedicarmos uma especial investigação ao entendimento da
figura desta excecional mulher, procurando indagar em que sentido a sua vida e

1 https://w2.vatican.va/content/benedictxvi/pt/audiences/2010/documents/hf_benxvi_aud_20100
901.htm l consultado em 23-01-2017
2

https://w2.vatican.va/content/benedictxvi/pt/apost_letters/documents/hf_benxvi_apl_20121007_i
lde garda-bingen.html consultado a 23-01-2017
1
a sua obra logram contribuir para as considerações e reptos da Igreja e do mundo
no atual momento e, assim, incorporarmos os frutos desta viagem no nosso
trabalho quotidiano.
De facto, esta religiosa beneditina foi, em pleno século XII, literata, autora,
terapeuta, prelada, mística e sibila, como nos propomos tratar.
Para tanto, empregaremos a pesquisa bibliográfica, aferrando-nos ao pecunioso
material deixado por Hildegarda e igualmente pelo material de bastantes
investigadores que a vêm examinando com enorme proveito. Daremos, contudo,
particular ênfase ao profícuo epistolário mantido com uma multiplicidade
cativante de interlocutores do espaço medieval europeu.
Assim, no primeiro capítulo desejamos construir uma investigação histórica e
social do meio circunjacente de Hildegarda.
Num segundo momento, deter-nos-emos nas movimentações e interesses da
religiosa, mirando-a sob distintos ângulos: vaticínio, comando, artes, ciências, e
os desdobramentos de cada um deles nos muitos ofícios a que se consagrou.
Por fim, focar-nos-emos na influência sobre as grandes personagens do seu
tempo, particularmente, o Papado e os governantes.

2
1 AMBIENTE CULTURAL DE HILDEGARDA

1.1 PAISAGEM SOCIAL E HISTÓRICA

A passagem do século XI para o século XII, a centúria de Hildegarda, ficou


marcada pelo reavivamento, após a crise experimentada aquando do
derribamento do Império Carolíngio. Na génese de tal fenómeno, mas também
como sua consequência, a Europa experimenta um boom demográfico de índole
essencialmente citadina 3 : surgem as cidades, em potência como hoje as
conhecemos.
O século XI, na Occídua Europa, é também marcado por enormes alterações
económicas. Avanços na transformação da lã, no lavor dos metais, nos
processos de construção e igualmente na agricultura e na criação de gado,
conduziram à progressiva divisão dos ofícios, em particular na agricultura.
Estabelecem-se e dilatam-se urbes. Entre a urbe e o campo que a rodeia
instituem-se ligações comerciais frequentes de maior ou menor fisionomia.
Similarmente, vão-se fortalecendo os laços comerciais de índole internacional,
não apenas entre os países europeus, mas também com Bizâncio e o Oriente.
Não obstante, os campesinos achavam-se circunscritos à ‘’escravidão’’ da gleba.
Se alguns ainda mantêm parte da sua independência pessoal, nem por isso
deixam de estar subjugados a todo uma lista de encargos sobre a terra em
espécie e corveias. Além de estipendiar tudo isto, tinha ainda que doar o dízimo
à Igreja. O crescimento das urbes e do mercado volveu mais árdua a situação
de vida destes homens e mulheres. Os feudais agora já não se satisfaziam com
os tributos em espécie e corveias. As suas “apetências” adolesceram. Desejam

3 http://www.hottopos.com.br/mirand9/meirin.htm consultado em 25-01-2017


3
igualmente poder adquirir os artigos da cidade ou as fazendas que os
negociantes italianos trazem de além-mar.
Mas estes tempos são outrossim portadores de diferenças e clivagens sociais
que libertam muitos homens da gleba e os transportam para as cidades onde
nascem novos grupos sociais (artesãos, comerciantes, mercadores),
reveladores de um dinamismo económico ímpar que tem no "grosso trato" e na
circulação monetária com as suas múltiplas faces e o aproveitamento do câmbio
financeiro uma importante faceta de expansão económica.
Novas formas de administração são exigidas e os Estados despontam. A Igreja,
norteada pela máxima semper reformanda, vive momentos de reforma, ajudada
amplamente pelas ordens religiosas.
O saber torna-se riqueza, a par com a monetária, dando aos que o possuem
hipóteses jamais sonhadas. Cozinha-se em brando lume o Renascimento. De
facto, descobre-se a ciência árabe e a antiguidade greco-latina, difundindo-se os
escritos dos seus luminares mais excelsos.
O gótico da nova Europa rasga o defensivo românico, elevando para o Céu uma
cristandade ressurgida numa tentativa de unificação na luta contra o infiel.

4
1.2 PAISAGEM RELIGIOSA

Ao tempo de Hildegarda refulgia com maior pujança o cenóbio beneditino de


Cluny, a partir do qual se iniciam uma série de mudanças no panorama religioso
medievo. Aí entrou e professou Hildebrando, que, participando nessas
restruturações, as corroborou e difundiu a toda a Igreja ao ser aclamado Papa
com o nome de Gregório VII. Tais restruturações visavam estancar a lassidão de
costumes alojada no seio da Igreja (sobretudo a simonia e o nicolaísmo), a
reprovação de determinadas heresias, bem como a resolução da questão das
investiduras leigas. Os bispos existiam como grandes senhores e amontoavam
fortunas, os padres casavam e observavam ocupações fora da vida religiosa.
Nessa situação de declínio eclesiástico, o monaquismo foi a divisão religiosa
mais resistente à secularização. A espiritualidade monástica apoiou-se na Regra
de São Bento. Os religiosos pregavam o desdém pela vida material e certo
menosprezo pelos restantes agregados sociais. É mister salientar que, no século
XI, a vida conventual principiou um lento processo de gradual desconsideração,
porquanto se achava todo o cristão responsável por sua salvação. Não obstante,
nessa passagem de século desponta Cluny como um dos braços beneditinos
que alvitrava a renovação da vida monástica, mediante a contemplação. Os seus
monges e monjas refugiavam-se na soledade e no silêncio como via para chegar
até Deus. O que os mobilizava era fundamentalmente uma procura espiritual
inflamada pela verdade e pela unidade em Deus, através de Cristo.
Aconselhavam-se horas de silêncio e súplica que redundariam na amizade
celestial. Suportavam uma vida ascética, procurando desapossar-se de todos os
apetites desordenados de forma a encetar vias de redescoberta pessoal e da
natureza de Deus. É a este contexto que Hildegarda se une.
Mais tarde, com o declínio de Cluny, outras ordens despontam, a saber, os
premonstratenses e a dos cartuxos. Depois desse primevo impulso de renovação
resplandecer na vida conventual, o estilo de vida eremítico desenvolveu-se

5
gradativamente. Esses cristãos que se apartavam procurando um jeito de viver
marcado pela solidão, viviam usualmente de uma forma simples, laborando pela
sua sustentação, anunciando o Evangelho e socorrendo os mais miseráveis.
Após um tempo de vida eremítica, bastas vezes os eremitas terminavam
fundando comunidades, constituídas pelos muitos partidários que fascinavam,
com a sua palavra e os seus exemplos inspiradores. Os movimentos espirituais
disseminavam-se de maneira célere, já que, agora, a “massa” podia ser
abrangida pela vida religiosa. Despontaram, abundantemente, os ermitãos que
abandonavam os claustros e caminhavam para os ermos, apontando para o
regresso a uma espiritualidade mais penetrante. Avizinhando-nos do despontar
do ideal franciscano, é imperativo destacar que o século XII passou a valorar o
Novo Testamento. Esse acontecimento liga-se ao ideal de pobreza, cada vez
mais valorizado na vida religiosa, pois o meio citadino volveu mais latente a ideia
de pobreza. Dá-se o advento do devotio moderna (cada pessoa volvia-se
consciente de atuar para sua própria salvação). A vida canónica, com uma
perceção adjacente à franciscana, já não anelava mais a uma espiritualidade
privada, pois a vida comunitária de pobreza torna-se uma forma mais eficaz para
se conseguir a vida celestial.
Uma das particularidades mais insignes destes movimentos religiosos é a da
participação das mulheres, seja nos movimentos ortodoxos, seja nos heréticos.
Se até a época de Hildegarda existiam somente duas escolhas para a vida de
uma mulher, a saber, desposar-se ou tornar-se religiosa, nem lhe cabendo
sequer tomar essa resolução, agora, na passagem do século XI para o século
XII, com os movimentos pauperísticos e eremíticos, não só se descerrava um
percurso novo, mas as próprias mulheres optavam por ele (algo como um género
de ´revolução´ no mundo feminil medievo) 4.
Da submissão passiva e resignada à santidade virginal e abnegada existem
amplos espectros cromáticos de modelos feminis. Da mulher do povo às

4
BRUNELLI, D. Ele se fez caminho e espelho, p. 94.
6
soberanas emergem múltiplas vozes femininas no amplo universo medieval,
particularmente na vida religiosa. As abadessas mitradas exerciam domínio
quase episcopal, não fosse carecerem do sacramento da Ordem. No entanto, a
sua jurisdição não se encontrava coartada pela ausência do Sacramento. Antes,
pela práxis das suas atuações, podemos considerá-la real. Para além destas
funções religiosas de índole também temporal, encontramos mulheres nas artes,
a escrever peças de teatro ou a compor importantes e variadas peças musicais;
no ensino, principalmente na área médica; no governo, com chancelaria e armas
próprias. Também a mulher plebeia trabalhava a par de seu marido em
atividades tão díspares como a terra, o comércio, algumas atividades piscatórias,
a indústria têxtil. Desta feita, na pesquisa sobre os papéis femininos medievais,
coabitam e ressaltam dois núcleos contrários e um interposto, a mulher
basicamente malévola (Eva), a mulher acabada (Virgem Maria) e a mulher
contrita (Maria Madalena). Papéis justificados pelos trechos bíblicos empregados
pelos eclesiásticos para autenticarem a ordenação das atitudes femininas em
figuras bíblicas inversas. As mulheres, na ótica eclesiástica, eram tidas como
pecadoras e muito próximas das satisfações sensuais, uma vez que todas
provinham de Eva, a responsável pela ruína humana. A maior apreensão em
relação às mulheres era conservá-las puras e apartadas dos sacerdotes, pois,
desta forma, estes não cairiam em tentação. Contudo, a Igreja medieval terminou
modificando a visão da mulher na sociedade, pois era essencial possuir um
modelo idealizado de comportamento feminino. Os devotos revêm em Maria, a
mãe de Jesus Cristo, o paradigma irrepreensível de mãe, mulher, esposa e
virgem.
Nessa onda de renovação e procura de uma existência mais vizinha ao
cristianismo das origens e no rasto dos movimentos pauperísticos e de pregação
itinerante que despontavam, assomam igualmente alguns movimentos heréticos,
como os Cátaros e os Valdenses, contra os quais também Hildegarda pregou.
Despontado no final do século XII, outro movimento merece realce, pela sua
relevância principalmente na espiritualidade medieval feminina, o movimento das

7
Beguinas. Sobre ele pesou a suspeita de heresia, dadas as analogias com os
movimentos heréticos, não apenas pelos anelos e volições que os geraram mas
também pela forma que abraçaram para contrapor a estes anelos. As beguinas
eram apenas mulheres piedosas que não detinham uma Regra particular,
criando somente um projeto de vida. A sua ordenação estrutural ocorria segundo
três moldes: na forma de comunidades, onde partilhavam o labor, a prece e as
obras de caridade; na soledade da vida ascética ou em grupos deambulantes
(os mais escandalosos e incomportáveis para a sociedade).
O agente decisivo para o despontar das Beguinas foi o anseio da vivência duma
vida apostólica, acompanhando a Jesus Cristo pobre. Muitas das suas
integrantes eram de classes altas da sociedade que abdicavam da fortuna
familiar e do matrimónio para unir-se a esse jeito de acompanhar a Cristo.
Obviamente, a vida inupta entre as mulheres adquiria vigor também devido a
condições não-religiosas, a saber, o entendimento do conúbio enquanto contrato
entre famílias; a crueldade masculina dentro da vida matrimonial como via de
coação da sujeição às esposas e outrossim, a grande letalidade materna
relacionada ao parto.
Na empresa de se defenderem da imputação de heresia, as Beguinas buscaram
alcançar a aceitação do seu intento de vida junto da Igreja e similarmente a ajuda
espiritual de alguma das novas Ordens masculinas que despontavam na época
ou que sofriam renovação. Assim, ao longo do século XIII, iniciar-se-á o
procedimento de inclusão gradual de toda essa inquietação de movimentos
religiosos femininos na organização usual da Igreja.

8
2 AS MÚLTIPLAS FACETAS DA “PROFETISA DO RENO”

2.1 VISIONÁRIA, PROFETISA E TEÓLOGA

Pelo conhecimento que temos, desde os três anos de idade Hildegarda indica ter
tido visões5. No entanto, só aos quarenta e três anos de idade se iniciariam as
suas visões mais relevantes, nas quais escuta uma voz ordenando que redija e
comunique as coisas que observou e escutou. A sua notoriedade principia, pois,
nessa já tardia idade (para o século), quando abalada pela doença e pela fadiga,
determina não mais relutar e enumerar as suas vivências sensoriais que
ultrapassavam as fronteiras corpóreas. Importa fazer aqui um inciso: a ordem
beneditina, a que Hildegarda pertencia, obsequiava conjunturas para que tais
descrições fossem tornadas conhecidas. A seu tempo, Hildegarda revela a
Bernardo de Claraval que lhe foi conferida uma incumbência profética, sendo
constantemente assistida por visões. As missivas que Hildegarda de Bingen
permutou com o abade de Claraval destapam rasgos da condição mística
feminina legadas às gerações subsequentes. A cenobita admite, num primeiro
ensejo, a premência de ajuda masculina. A feminilidade define-se, nestas cartas,
de forma algo negativa, repetindo a exposição presente no Antigo Testamento,
já apresentada anteriormente. Assim, Hildegarda principia a descobrir as suas
experiências através de ampla correspondência epistolar, na expectativa que a
Igreja determine o que fazer com as suas visões. Em 1147, o Papa Eugénio III,
consultado o abade de Claraval, assenta outorgar a Hildegarda o desempenho
da descrição das suas experiências místicas. Segundo o abade Trithème,
biógrafo de Hildegarda mencionado por Pernoud, ao receber a parte já redigida
do Scivias, o próprio Papa leu-o em voz alta e comentou-o no Concílio de Reims,
elucidando os excertos mais relevantes. Após esse evento, expede-lhe uma

5 https://w2.vatican.va/content/benedictxvi/pt/apost_letters/documents/hf_benxvi_apl_20121007
_ilde garda-bingen.html consultado em 24-01-2017
9
carta, na qual confirma os escritos da monja e apadrinha o seu propósito de
edificar um novo cenóbio para ela e suas irmãs num outro lugar, circunjacente
ao antigo, apontado pelo Espírito Santo numa das visões. A partir daí, Hildegarda
desloca-se com as suas irmãs para Rupertsberg, uma colina próxima aos rios
Reno e Nahe, continuando a escritura do teor das suas visões. Finalmente, a
incumbência ofertada por Deus é confirmada pela Igreja. Com a coadjuvação do
monge Volmar, Hildegarda labora na espinhosa empresa de verter em vocábulos
o seu trato com Deus. A assistência do monge Volmar impõe-se indispensável
porque a beneditina declarava não deter muita desenvoltura na escrita. Desta
forma, a habilidade de Hildegarda comportava rebaixar-se para alcançar o que
ambicionava, a saber, o direito à palavra. Uma vez alcançado o seu desiderato,
a monja descobre a liberdade para debater algumas aceções instituídas, já que
os seus escritos não eram tão vigiados.
Segundo Pernoud6, estas visões detêm enorme singularidade, riqueza de
minúcias e sagacidade. Ainda de acordo Pernoud, a relevância de Hildegarda
está igualmente na singularidade da sua visão do mundo e do universo, pois na
obra de Hildegarda o universo é ativo, está sempre em deslocação, e ações e
reações se contrabalançam harmoniosamente (perspetiva holística de
Hildegarda). Para a santa alemã existe como que uma sorte de coerência
universal que governa e afeta o homem e o mundo ao mesmo tempo.
O mesmo veremos nalguns dos seus pontos teológicos. Segundo a análise de
Newman6, pegamos como exemplo o enfraquecimento que Hildegarda busca
intentar no que concerne à culpa de Eva. A resolução descoberta é redirigir a
culpa para o Diabo. Assim, Eva é muito mais mártir do que réu, pois recebe em
si um aversão e cobiça particularmente enérgicos do Diabo, dada a sua aptidão
para conceber novos seres humanos. Para a religiosa, a queda de Adão e Eva
seria somente o princípio dos sintomas de uma doença derradeira contraída pela

6
NEWMANN, B. Sister of Wisdom, p. 112.
10
deglutição do fruto vedado. Ao nutrir-se do fruto, a doença por ele soltada atuaria
destruindo e revoltando todos os fluidos e humores corporais.
Deixemos falar a teóloga:

‘’Eis aqui! No quadragésimo terceiro ano do meu percurso terrestre,


quando estava observando com grande temor e trémula atenção a visão celeste,
vi um grande esplendor no qual ressoava uma voz do Céu, a dizer-me: Ó frágil
humano, cinza das cinzas, imundície da imundície! Dize e escreve o que vês e
ouves. Contudo, visto que és tímido no falar e simples na exposição, e iletrado
no escrever, fala e escreve estas coisas não por uma boca humana e não pela
compreensão da invenção humana, e por exigência de composição humana,
mas como as vês e as ouves no alto dos lugares celestes, nas maravilhas de
Deus. Explica estas coisas de tal modo que o ouvinte, recebendo as palavras do
seu instrutor, possa expô-las naquelas palavras, de acordo com aquela vontade,
visão e instrução. Assim, portanto, ó humano, fala estas coisas que vês e ouves.
E escreve-as não por ti mesmo ou por qualquer ser humano, mas pela vontade
daquele que sabe, vê e dispõe de todas as coisas no segredo de seus mistérios.

E mais uma vez ouvi a voz do céu dizendo-me: ‘’Fala, portanto, destas
maravilhas e, sendo assim instruído, escreve-as e fala’’7

2.2 PREGADORA, CONSELHEIRA E REFORMADORA

Pese embora a pouca saúde, Hildegarda realizou quatro viagens com o intento
de pregar. Conquanto no século XII a clausura das monjas fosse bem menos
rigorosa do que chegaria a ser no vindoiro, ainda assim as jornadas da profetisa
não constituíam algo usual para uma monja da quadra. Pelo que se conhece do
teor dos seus sermões, frequentemente a mística insta os seus auditores à
conversão e à penitência, censurando particularmente o clero, e vaticina uma
punição divina sobranceira caso não se retratem dos seus enganos.

7HILDEGARD OF BINGEN. Scivias (Classics of western spirituality). Jane Bishop and Columba
Hart (trans.) New York: Paulist Press, 1990 (tradução do autor)
11
Similarmente, sentencia os cátaros, numa sorte de antevidência das heresias
que iriam erguer-se e robustecer-se. A perspicácia de sua locução é tomada
como um chamamento à conversão encaminhado para todos, e em particular
para os que foram eleitos para transmitir a Palavra de Deus.
Bento XVI resumirá esta faceta ao dizer:

‘’Com a autoridade espiritual da qual era dotada, nos últimos anos da sua
vida Hildegarda pôs-se em viagem, não obstante a idade avançada e as
condições difíceis dos deslocamentos, para falar de Deus às populações. Todos
a escutavam de bom grado, inclusive quando recorria a um tom severo:
consideravam-na uma mensageira enviada por Deus. Exortava sobretudo as
comunidades monásticas e o clero a uma vida em conformidade com a própria
vocação. De modo particular, Hildegarda contrastou o movimento dos cátaros
alemães. Eles — cátaros, à letra, significam «puros» — propugnavam uma
reforma radical da Igreja, sobretudo para combater os abusos do clero. Ela
repreendeu-os severamente por desejarem subverter a própria natureza da
Igreja, recordando-lhes que uma verdadeira renovação da comunidade eclesial
não se obtém tanto com a mudança das estruturas, quanto com um sincero
espírito de penitência e um caminho concreto de conversão’’8.

2.3 NATURALISTA E MÉDICA

Se Hildegarda conseguiu encantar os estudiosos ao longo dos tempos, foi


principalmente pelas suas audazes asserções medicinais. Apresentou uma
penetração integrante nas conexões entre o homem e o mundo, entre a sua
composição espiritual e física e os atributos salutares dos seres vivos. São de
sua lavra as duas singulares obras médicas organizadas no Ocidente ao longo
do século XII, de que temos apontamento.

8https://w2.vatican.va/content/benedictxvi/pt/audiences/2010/documents/hf_benxvi_aud_201009

08.html consultado em 02-02-2017


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Hildegarda assevera, por exemplo, que as demências nervosas e espirituais se
espelham de maneira ineludível na saúde corporal, provocando os problemas de
metabolismo que levam à depressão, antecipando em mais de 800 anos o
despontar da psicossomática. Inclusive a vida religiosa deve procurar um
prudente ponto de equilíbrio entre os dois agentes.
Sustenta igualmente a tese de que a saúde se preserva basicamente por um
saudável regime alimentar, explanando com divícia e profundidade as
particularidades de centenas de plantas medicinais e alimentícias, falando como
uma hodierna ‘’nutricionista’’. Nem mesmo as pedras fogem à sua observação,
sendo vistas como admiráveis constituintes canalizadores da potência humana.
Outrossim, na senda da explicação teológica, Hildegarda atreve-se com
naturalidade a falar de sexualidade:

“Assim como para Agostinho de Hipona (Santo Agostinho) a


concupiscência é o castigo de Deus, para Hildegarda, que não se atreveu a
contradizê-lo e admitiu a ideia de que o pecado original era de luxúria, a culpa foi
de Satanás, que soprou veneno sobre a maçã antes de entregá-la a Eva, invejoso
de sua maternidade. Esse veneno foi, precisamente, o prazer, e seu sabor, o
desejo sexual” (…) “O desejo sexual é o sabor da maçã, De Gustu Pomi, o título
da obra de Hildegarda de Bingen na qual descreve o sabor da condição humana,
o delicioso sabor que dá lugar à peçonha do vício, o prazeroso e embriagador
sabor do pecado’’. 9

Em Causae et curae vai ainda mais longe:

‘’Quando a mulher se une ao homem, o calor do cérebro dela, que tem


em si o prazer, faz com que ela saboreie o prazer da união e atraia a ejaculação
do sémen e, quando o sémen cai em seu lugar, esse fortíssimo calor do cérebro

9
http://operamundi.uol.com.br/conteudo/samuel/43521/conheca+a+monja+medieval+que+foi+pionei
ra+ao+descrever+orgasmo+do+ponto+de+vista+de+uma+mulher.html consultado em 10-02-2017

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o puxa e retém consigo, e imediatamente o órgão sexual da mulher se contrai e
se fecham todos os membros que durante a menstruação estão prontos para
abrir-se, do mesmo modo como um homem forte agarra uma coisa dentro da sua
mão’’10.

2.4 ARTISTA: ESCRITORA, COMPOSITORA E DRAMATURGA

A música era para Hildegarda um componente revigorante, particularmente na


celebração dos mistérios divinos. Deste modo, estrutura uma preclara teologia
da música, que, segundo Hildegarda, era o engenho que Adão dominava antes
da queda e pelo qual celebrava a Deus com grande formosura e ternura. Assim,
através da música, a humanidade rememora a brandura da pátria celestial e é
formada nas coisas interiores. Sendo assim, espoliar uma comunidade desse
bem seria um perigoso lapso.
Entre as suas composições musicais constam 77 cânticos litúrgicos de distintas
tipologias, reunidas na obra Symphonia armonie celestium revelationum e uma
peça teatral musicada, chamada Ordo Virtutum.
Segundo Pomés11 a música de Hildegarda realça-se por ser inovadora e distinta
em relação à música gregoriana da época, apresentando toadas muito
peculiares. A emotividade e energia das suas composições regalam um
contraponto ao comedimento da música sacra da época. As vozes femininas,
particularmente as intrincadas vocalizações de soprano, são as heroínas de
cânticos representados por vastas e imprevisíveis alterações de tom; celebrando
a redação das músicas o misticismo imaginário das visões de Hildegarda 12.

10 POSCH, Helmut, A Medicina de Santa Hildegarda, Caminhos Romanos, 2016


11 POMÉS, R.M., Hildegarda de Bingen, p. 47.
12 https://w2.vatican.va/content/benedictxvi/pt/audiences/2010/documents/hf_benxvi_aud_20100

908.html consultado em 02-02-2017


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3. HILDEGARDA: FIGURA DE REFERÊNCIA NO ‘’XADREZ’’ MEDIEVAL

As múltiplas facetas da ‘’profetisa renana’’ permitem-nos atribuir-lhe um papel


crucial no teatro religioso, mas também político, social e cultural da época.
Nesses tão distintos areópagos Hildegarda exerce plenamente a pluralidade das
suas facetas, embora prevaleça aquela de intérprete das revelações divinas. De
facto, é essa a base da autoridade que Hildegarda fomenta paulatinamente e de
que chega a gozar de forma ímpar. Seja mediante as viagens que empreendeu,
seja pelas visitas recebidas, a voz de Hildegarda faz-se ouvir no emaranhado
‘’xadrez medieval’’. No entanto, o meio privilegiado será sem dúvida o vasto
epistolário. Fazendo fé em Régine Pernoud13, na antologia da Patrologia Latina
(mesmo assim incompleta) constam 135 cartas, cada uma com sua concernente
contestação. Entre os seus correspondentes figuram papas, bispos, imperadores
(incluindo o afamado Frederico Barba-Ruiva), condes, abades, - como São
Bernardo de Claraval -, padres, religiosas, - como Santa Elisabeth de Schonau -
até pessoas mais simples, que lhe solicitam pareceres ou preces. Hildegarda
institui, por meio deles, imensa ‘’jurisdição espiritual’’ profusamente confirmada
por figuras de colossal relevância neste tempo. A aprovação da legitimidade e
relevância da difusão das suas visões por Bernardo de Claraval e pelo Papa
Eugénio III constituem provas da sua autoridade, bem como as missivas do bispo
Eberhard, onde, ao aceitar a autoridade dos seus talentos visionários, a
questiona sobre a Trindade. Alcançou, também, até com as objeções do abade
do cenóbio de Disibodenberg, o auxílio imprescindível para ser bem-sucedida no
seu encargo de fundar o novo convento de Rupertsberg. O Papa Eugénio III
chega a perguntar-se numa missiva “Quem é essa mulher que emerge da
imensidão como uma coluna de fumaça que emana de especiarias em
chamas?”, respondendo ele próprio à sua pergunta retórica “Tu és aquela que
se tornou um perfume vivificante para muitos”. SANTOS, Maria Teresa, resume,
assim, a influência do epistolário de Hildegarda no ‘’Xadrez’’ medieval, como
ousámos chamar-lhe:

13
PERNOUD, R. Hildegard de Bingen, p. 23.
15
‘’Todavia é numa carta dirigida ao Papa Anastácio IV que se confirma a
posição vigilante de Hildegarda a respeito da Igreja e a sua palavra ganha arrojo.
É muito forte o contraste entre a afirmação de autoridade por parte duma mulher
em relação à figura suprema da hierarquia eclesial e a falta de autoridade do
Papa que consente a crítica duma mulher. O acolhimento da palavra de
Hildegarda sugere que a sua palavra era escutada como uma voz do teatro
grego, vinda do ator oculto e projetada pela máscara. Uma voz dessexuada e
perpassada pela dramática da profecia, da revelação do sentido e da advertência
intimidadora. Uma voz sibilina que fazia calar. E Hildegarda apresentou-se na
carta como a sibila renana e acusou Anastácio IV, perto dos oitenta anos, de ser
fraco e enfraquecer a Igreja. Hildegarda, inspirada ou não pela sua experiência
mística, discerniu as consequências fraturantes da Igreja e acusou o Papa. Ao
aliar o discernimento na leitura da situação com o discernimento
consequencialista Hildegarda ganha o estatuto vitalício de vigilante ou cuidadora

da Igreja’’14.

A sibila renana surge, pois, como a intérprete abalizada da voz divina que procura
reerguer a Igreja, esposa de Cristo e, por conseguinte, não dependente de
esposos humanos, finitos e, por isso, inferiores. A justificação do poder divino do
Pontífice numa época de grandes pelejas nesse domínio, traz para o teatro
político-religioso a garantia do próprio Céu, que fala pela voz desta mulher, ou
melhor, que lhe ordena falar, fazendo-a recuperar das suas enfermidades com
esse intuito.
Quiçá por fé autêntica, quiçá por pragmaticismo, Hildegarda atestou a opinião de
que as suas visões provinham da vontade divina, o que auxiliou a sua elevação
como pensadora e a afastou de prováveis alusões de heresia. Muito do
ascendimento social e intelectual de Hildegarda foi favorecido pelo seu singelo
elóquio, apoiado na noção de que ela era somente uma ferramenta da vontade

14
http://books.openedition.org/cidehus/2136?lang=es consultado em 31-01-2017
16
divina. Esse elóquio, entretanto, contrariava com a feição autónoma e afirmativa
com que governava os conventos que orientava e a sua própria ação religiosa.
De acordo com o exame executado por Schipperges 15, Hildegarda via-se como
um desses utensílios eleitos e infundidos por Deus com um novo e profético vigor
e com a veemência adequada para trabalhar com as carências e as conjunturas
do seu tempo. Nesse sentido, o estudioso estabelece uma aliciante ligação,
através da qual procura aclarar as prováveis razões para a admirável
fecundidade de Hildegarda. De acordo com o autor tedesco, para a santa
germana Deus tinha concedido a faculdade racional ao Homem, para que ele
laborasse criativamente de muitos e distintos estilos. Veja-se a citação que
Schipperges faz da abadessa “Se os seres humanos não fazem nenhuma
pergunta, o Espírito Santo não dá nenhuma resposta’’.
Em suma, Hildegarda sabia perguntar, logo recebia a resposta, por
consequência tinha a responsabilidade divina de a expor, tanto ao Imperador,
como ao Pontífice. Vemo-la, pois, adquirir várias posições no tabuleiro político-
social da Europa do século XII, raramente o de peão, frequentemente o de
Rainha, alicerçada na Torre no Bispo para produzir o seu xeque-mate certeiro e
reconduzir as peças ao Deus cognoscente por si próprio que infundiu essa
cognição também na feminilidade e de forma sobreabundante.

15
SCHIPPERGES, H. The world of Hildegard of Bingen, p. 32. (tradução do autor)
17
CONCLUSÃO

Hildegarda acha-se entre as principais figuras a deixarem-se envolver pela


Viriditas, por ela defendida, concebendo multifários frutos e manifestando essa
original relação do ente com o Espírito divino não só mediante as suas obras
escritas, mas igualmente, de certa forma, com a sua própria vida diária, como
abadessa, curadora, pregadora. De facto, a sua atividade não só enlaçou as
áreas mais díspares como outrossim foi extraordinariamente prolífera.
Na Carta Apostólica 16 amplamente citada, o Papa Bento XVI sublinha a sua
“originalidade de doutrina” e anota que a sua espiritualidade compreendeu numa
“renovação incisiva a teologia, a liturgia, as ciências naturais e a música.” Como
capitaliza Pernoud 17 , dentre todos os místicos e visionários que através das
centúrias invitaram a Igreja a produzir restruturações e renovações, Hildegarda
eleva-se pelo facto de que nenhum, segundo a autora, lograr harmonizar tão bem
a sua vida e ação “mundanas”, com a sua vida e ação “espirituais” quanto esta
sibila germânica. Observante das vozes do céu tanto quanto das da terra, apta
para se importar tanto pela planta mais singela e ignota até os sistemas do
universo e dos planetas, correspondente de monarcas e pontífices tanto quanto
de pessoas simples e desconhecidas, certamente esta mulher de copiosos
interesses tem muita valia para o nosso tempo.

Num panorama hodierno de perigo ecológico, o seu jeito global de lobrigar as


coisas, que abarca a criação, o planeta, o cosmos, - e que não é adaptado aos
dualismos e reducionismos de qualquer espécie -, constitui-a uma influente
inspiração para as posturas ecológicas da contemporaneidade. Nas sentenças
do Papa Bento XVI por ensejo da aclamação de Hildegarda como doutora da
Igreja, “Os textos por ela compostos (...) evidenciam densidade e vigor na
contemplação (...) da natureza como criatura de Deus que se deve apreciar e

16
https://w2.vatican.va/content/benedictxvi/pt/apost_letters/documents/hf_benxvi_apl_20121007_ild
egarda-bingen.html
17
PERNOUD, Régine. Hildegard de Bingen: a consciência inspirada do século XII. Rio de Janeiro: Rocco,
1996. 134 p.
18
respeitar.” Noutro excerto, a Carta Apostólica cita a “sua sensibilidade pela
natureza, cujas leis devem ser tuteladas e não violadas.”
Pelo referido, admitimos que Hildegarda de Bingen se constitui como uma
atraente representação feminina, não só pela sua timbrada pluralidade mas
outrossim pela sua impulsionadora atividade na conjuntura religiosa em que
viveu, sendo, por isso, uma inspiração e modelo ímpar para a atuação das
mulheres na Igreja de hoje.
O oficioso diário L’Osservattore Romano ilustra sumariamente uma das muitas
peculiaridades de Hildegarda:

‘’É do desapego de si mesma que a monja Hildegarda obtém o sentido da


unidade e da divindade do cosmos, com o qual o ser humano está profunda e
admiravelmente unido, a ponto de constituir ele mesmo um cosmos, e um todo.
Segundo uma etimologia errada mas significativa, para os medievais homo, ser
humano, estava de facto relacionado com omnis, tudo, e por isso não admira que
para Hildegarda as dimensões do corpo humano e as suas proporções
recíprocas constituam a medida do universo, pelo que a medida da estatura e
dos braços abertos permitem inscrever a figura humana no círculo, segundo
aquela representação que inspirará as versões renascentistas, primeira de todas
a de Leonardo da Vinci. Por conseguinte, homem microcosmo em profunda
correspondência com o macrocosmos: não nos admiremos por encontrar numa
monja da distante idade média as raízes de quanto é muitas vezes representado
como novo, laico, moderno18’’.

Desta forma, Hildegarda cura as almas elevando-as para Deus e pelo


conhecimento faz ascender o corpo às regiões místicas antes reservadas ao
incorpóreo. Afinal, como dirá o Concílio Vaticano II em tudo existe ‘’semina verbi’’
(sementes do Verbo).

18
http://www.osservatoreromano.va/pt/news/o-ovo-de-hildegarda consultado em 16-02-2017
19
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