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Agrotoxicos - Aspectos Juridicos PDF
Agrotoxicos - Aspectos Juridicos PDF
1. INTRODUÇÃO AO TEMA
Agrotóxicos são produtos químicos que
ajudam a controlar pragas e doenças das plantas e podem causar danos
à saúde do homem e ao meio ambiente.
O uso de agrotóxicos sem preocupação com
suas conseqüências para o meio ambiente e para a saúde do homem e,
principalmente, sem qualquer tipo de fiscalização, gera problemas de
dimensões desconhecidas. O tema, embora fazendo parte de muitas
pautas de debates, jamais alcançou a atenção que merece, sempre
oculto sob a lembrança de que a utilização de agrotóxicos é
necessária para o incremento da produção agrícola e, assim, para a
economia do país.
Não se pretende, com o estímulo ao
estudo criterioso da matéria, a inviabilização da agricultura.
Espera-se, como resultado, o equacionamento do uso, de forma que
seja mínima a repercussão negativa para o meio ambiente e para a
saúde, ao mesmo tempo em que se propicia significativo aumento da
produtividade.
1.1 Importância ambiental da matéria
A agricultura brasileira, observando-se
o modelo atual, representa sérios riscos para o meio ambiente, com
graves conseqüências para a saúde do homem.
A crescente necessidade de produção de
alimentos, decorrente do aumento da população e aliada ao incremento
do comércio internacional, implica no aumento da área plantada e na
degradação do meio ambiente.
São notados impactos negativos
decorrentes da utilização incorreta do solo (dando causa à erosão),
do uso intenso de agrotóxicos, do desmatamento para ampliação da
área a ser cultivada e das queimadas. Esses impactos são de difícil
e demorada reparação e, muitas vezes, irreversíveis.
Em passado próximo foram utilizados
inseticidas organoclorados (atualmente de uso não permitido) que
contaminaram o meio ambiente e que hoje, decorrido mais de uma
década da proibição, ainda são encontrados em sedimentos, águas e
animais silvestres.
A aplicação indiscriminada de
agrotóxicos pode conduzir a uma situação insustentável, com
comprometimento dos recursos hídricos para abastecimento, produção
de alimentos, manutenção da vida aquática selvagem etc.
A degradação por agrotóxicos ocorre,
normalmente, de forma discreta, não perceptível a olho nu, atingindo
o ar, o solo e as águas. Torna-se mais fácil a identificação desse
problema quando a contaminação acontece em um curso d'água,
constatando-se a mortandade de peixes e de outras espécies
aquáticas.
A saúde humana, qualquer a maneira de
contaminação do meio ambiente, pode ser atingida, quando não
diretamente, por seu desgaste gradativo, ocasionado por freqüentes
exposições a agrotóxicos.
Contudo, esse quadro que lentamente se
acentua, não mereceu, até agora, um controle efetivo da utilização
dos agroquímicos. Enquanto a erosão do solo, as queimadas e o
desmatamento podem ser vistos no dia-a-dia, a degradação ambiental
causada por agrotóxicos é discreta (não perceptível a olho nu),
passa desapercebida e é justificada pela necessidade do aumento da
produção agrícola.
Não se pode confundir, por outro lado, a
necessidade de se frear a inconseqüente utilização de insumos com a
inviabilização da agricultura. É preciso reconhecer que o conceito
de agricultura sustentável é o que agrega as dimensões econômica,
ecológica e social, tendo como fatores de direcionamento a
conservação dos recursos naturais e a qualidade de vida.
E os problemas aqui tratados tendem a se
agravar na medida em que os novos assentamentos rurais, decorrentes
do processo de reforma agrária, crescem de forma desordenada e
levam, também, ao possível agravamento dos impactos associados ao
desmatamento.
1.2 Outros aspectos relevantes
Da aplicação de agrotóxicos decorre a
contaminação dos componentes do ambiente. Daí, observam-se resíduos
no solo, ar e água. "Com o uso intensivo dos agrotóxicos pode-se
afirmar, sem receio de contradição, que estes compostos estão
presentes em todos os tipos de ambientes e ecossistemas do mundo"1.
Mesmo que os agrotóxicos sejam usados de
modo correto e criterioso, acabam por acarretar problemas,
principalmente os inseticidas, provocando (1) desequilíbrios
biológicos, favorecendo o aparecimento de novas pragas ou surto de
pragas secundárias, (2) efeitos adversos em insetos polinizadores,
(3) resíduos nos alimentos, através de sua persistência, causando
problemas de saúde pública ou de comércio externo, (4) resistência
das pragas aos inseticidas, exigindo aplicações em maior número e
produtos mais concentrados, e (5) contaminação do meio ambiente,
tanto local como de áreas adjacentes ou distantes, principalmente de
deriva de aplicações aéreas ou terrestres, acarretando mortalidade
de peixes, aves etc, que não foram os alvos originais visados,
acumulando-se nos organismos, na natureza, e sendo, ainda,
transportados, via biológica, através das cadeias tróficas2.
No meio ambiente o movimento das águas
representa importante maneira de se transportar agrotóxicos de um
lugar para outro; os rios e as correntes marítimas são capazes de
levar a contaminação para locais muito distantes. O principal
caminho da contaminação ocorre pela aplicação direta à superfície
aquática e sobre as superfícies inclinadas, que levam a coleções
d'água, e pelo carreamento de partículas de solos tratados com
agrotóxicos pelas águas das chuvas. A prática de lavar equipamentos
de aplicação e embalagens, jogando restos de agrotóxicos nas águas,
é modo de contaminação direta do meio ambiente e que atinge a
população em geral.
Outra via importante é o ar. Este torna-
se contaminado pela ocorrência de volatilização, além de transporte
com partículas de poeira; o retorno dos inseticidas ao solo se dá,
principalmente, através da chuva ou, em menor grau, pela deposição
da poeira. O vento é o fator atmosférico que mais afeta a operação.
A dispersão do agrotóxico sob condições adversas de vento resulta em
perda da eficácia, além da deriva que contamina áreas não visadas.
Os agrotóxicos deixam resíduos onde quer
que sejam empregados, ora em sua forma química original, outras
vezes sob a forma de produtos degradados. Como resultante da
toxicidade, seletividade, persistência (durabilidade de propriedades
tóxicas) e do uso indiscriminado, esses resíduos vêm sendo
encontrados no meio ambiente (atmosfera, águas de chuva, águas
superficiais e subterrâneas e solos), em quantidades cada vez
maiores, acumulando-se na cadeia alimentar e chegando até o homem.
Assim, a biosfera (água, ar e solo) se
vê atingida gravemente pela presença de resíduos de agrotóxicos,
entre outros elementos corrompidos dos quais o homem é o
destinatário final. Isso ocorre através de uma cadeia biológica
cujos escalões intermediários são os pastos, os animais e toda a
sorte de produtos alimentícios. Até o leite materno pode apresentar
traços de agrotóxicos !
Portanto, quando aplicados nos sistemas
agrários ou áreas agrícolas, os agrotóxicos sofrem uma série de
reações e redistribuem-se nos diversos componentes desse
ecossistema, contaminando-os. Mesmo quando direcionados às plantas,
para controle de insetos, fungos, plantas daninhas etc, chegam ao
solo posteriormente.
A contaminação da água pelo uso de
agrotóxicos acaba por atingir os ecossistemas aquáticos, de forma
que, se ela estiver contaminada, pode-se considerar que todos os
demais elementos bióticos e abióticos do ecossistema também ficaram
contaminados, pois a água está presente em todas as partes.
Nos organismos terrestres os agrotóxicos
podem acumular-se nos vegetais e nos animais. A contaminação de
pássaros é outro aspecto importante em termos ecológicos, pois eles
representam um nível trófico relevante no controle e equilíbrio das
populações de insetos. Os pássaros podem contaminar-se comendo
insetos mortos por agrotóxicos, plantas contaminadas, sementes de
culturas tratadas e semeadas no campo.
"A contaminação do homem por agrotóxicos
pode ocorrer de duas maneiras gerais: através da exposição
ocupacional, no manuseio dos agrotóxicos desde a sua fabricação até
a sua aplicação, e pela exposição ambiental. A exposição ambiental
do homem aos agrotóxicos ocorre principalmente através dos alimentos
contaminados ingeridos, mas também, em menor proporção, na água
bebida, no ar respirado e durante seu trabalho na denominada
exposição ocupacional. Os agrotóxicos que mais contaminam e se
acumulam no homem são os organoclorados que, devido às suas
características de solubilidade e difícil degradação, concentram-se
nos tecidos gordurosos, não só do homem, mas em todos os organismos
que apresentam tecido adiposo"3.
2. LEGISLAÇÃO APLICÁVEL
2.1 Constituição Federal
A CF se refere expressamente a
agrotóxicos apenas em seu artigo 220, § 4º, quando impõe restrições
à propaganda comercial desses produtos. Esse dispositivo foi
disciplinado pela Lei 9.294, de 15.7.96, regulamentada pelo Decreto
2.018, de 1.10.96.
A Lei 8.389, de 30 de dezembro de 1991,
que regulamentou o artigo 224 da CF, instituiu o Conselho de
Comunicação Social, atribuindo-lhe a realização de estudos,
pareceres e recomendações especialmente sobre propaganda comercial
de agrotóxicos, entre outros produtos, nos meios de comunicação
social (artigo 2º, "b").
O controle da produção, a
comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que
comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente
estão previstos no artigo 225, § 1º, V, disciplinado, no que se
refere a agrotóxicos, pela Lei 7.802, de 11.7.89, regulamentada pelo
Decreto 98.816, de 11.1.90, alterado pelo Decreto 991, de 24.11.93,
que tratam desde a produção até o destino final dos resíduos e
embalagens de agrotóxicos, seus componentes e afins.
2.2 Constituição Estadual
A CE dispõe que o Estado criará um
sistema de administração da qualidade ambiental, com o fim de
controlar e fiscalizar a produção, armazenamento, transporte,
comercialização, utilização e destino final de substâncias que
comportem risco efetivo ou potencial para a qualidade de vida e meio
ambiente (incluindo o do trabalho: artigo 193, XI).
2.3 Legislação Federal
A Lei 7.802/89 e seu decreto
regulamentador tratam dos aspectos cíveis, criminais e
administrativos relativos a todas as operações que envolvem
agrotóxicos.
O Decreto 98.816/91 foi resultado de
proposta de uma Comissão Interministerial coordenada pelo Ministério
da Agricultura, com a participação dos Ministérios da Saúde e do
Interior e da Secretaria de Assessoramento da Defesa Nacional
(Decreto 98.062, de 17.8.89).
2.4 Legislação Estadual
No Estado de São Paulo a legislação que
trata da distribuição e comercialização de produtos agrotóxicos e
outros biocidas é anterior à Lei Federal 7.802/89. Versando sobre a
matéria encontramos a Lei Estadual 4.002, de 5.1.84, alterada pela
Lei 5.032, de 11.4.86.
O Supremo Tribunal Federal, em 1985, nos
autos de representação de inconstitucionalidade 1241-7, proferiu,
com relação à Lei 4.002/84, a seguinte decisão:
"Ementa: Representação de
inconstitucionalidade, lei 4.002, de 5 de fevereiro de 1984, do
Estado de São Paulo, julgada procedente, em parte. Defensivos
agrícolas. Competência da União Federal.
Acórdão: Vistos, relatados e discutidos
estes autos, acordam os Ministros do Supremo Tribunal Federal, em
sessão plenária, na conformidade da ata de julgamento e das notas
taquigráficas, à unanimidade de votos, em julgar procedente, em
parte, a representação e declarar a inconstitucionalidade dos
seguintes dispositivos de lei nº 4.002, de 05-01-1984, do Estado de
São Paulo: § 1º do art. 1º; § 2º do art. 1º; § 3º do art. 1º, § 5º
do art. 1º; art. 3º, "caput"; art. 5º, 6º, 7º, "caput", parte final,
§ 4º e 5º, e art. 9º.
Brasília, 04 de dezembro de 1985,
Moreira Alves, Moreira Alves - Presidente, Cordeiro Guerra,
Relator".