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Por que Eclesiastes?

Assim diz o Deleuze :

"Toda obra é uma viagem, um trajeto, mas que só percorre tal ou qual
caminho exterior em virtude dos caminhos e trajetórias interiores que a
compõem, que constituem sua paisagem ou seu concerto".¹

Daí se segue o objetivo de escrever a partir do Eclesiastes, porque as reflexões


contidas nesse livro-canônico da tradição judaico-cristã, são reflexões que tiram o
fôlego, que nos dão um espanto, que nos tira do comodismo intelectual de uma fé
vazia, ou de um positivismo fideísta que tenta arrogar para si uma vida fácil, sem
problemas, sem desafios sem "caos".

Alguém já disse sobre a criação: "tudo perfeito e maravilhoso! Quanta ordem e


inteligência!"

O Qohelet discorda, olha o que diz o pregador:

"Tenho visto tudo o que é feito debaixo do sol; tudo é inútil, é correr atrás do
vento!
O que é torto não pode ser endireitado; o que está faltando não pode ser
contado."

Eclesiastes 1:14,15

Em outras palavras, o Qohelet identifica uma espécie de "caos".

A viagem que o Qohelet (Eclesiastes) faz é uma viagem existencial, angustiante, é


complexa. A reflexão a partir do Eclesiastes é um convite a reflexão interna, isto é:
Uma viagem pra dentro, uma introspecção.

Segundo o Norbert Lohfink considera o livro do Eclesiastes "o mais claro ponto de
encontro de Israel com a filosofia grega dentro da bíblia"⁴, isso porque do inicio ao fim
o livro dialoga a partir do "sentido da vida". A expressão mais usada no livro é a
palavra "vaidade" que vem do hebraico "hebel", que pode significar : "vapor", " névoa"
ou "hálito".

Isso nós podemos conferir no próprio livro quando ele diz:

"Eu queria saber o que valesse a pena, debaixo do céu, nos poucos dias da vida
humana."
Eclesiastes 2:3

Outro texto do livro que mostra a busca incessante do Eclesiastes, uma busca
filosófica:

"Dediquei-me a investigar e a usar a sabedoria para explorar tudo que é feito


debaixo do céu. Que fardo pesado Deus pôs sobre os homens!"

Eclesiastes 1:13

E acredito eu, ele não está sozinho nessa, o próprio Deus na bíblia sagrada mostra
seu interesse por reflexão :

"Venham, vamos refletir juntos", diz o Senhor"

Isaías 1:18

A reflexão proposta nesse livro e o que dele se pode extrair, é uma reflexão honesta.
Há quem diga que esse livro na opinião de uma teologia "fundamentalista", não
deveria estar entre o cânone sagrado, devido a sua honestidade na reflexão, na sua
forma de abordagem. Em um mundo de deterministas fatalistas, o Qohelet cai como
um grande contra-ponto, é um aguilhão no calcanhar dos deterministas.

No Qohelet não há espaço pra facilitações, ou simplismos racionalista. onde tenta


enquadrar tudo na "soberania de Deus", que é uma palavrinha que muitos tentam
justificar seus ódios e preguiças para meditar sobre a realidade e suas
complexidades.

O livro do Eclesiastes é chamado de "mal-humorado"², ácido ou amargo, isso porque


o livro não se preocupa muito em respostas metafisicas, ou tenta filosofar a partir do
invisível, haja visto que o livro usa por diversas vezes a linguagem "debaixo do sol" ou
nas palavras do Nelson Rodrigues³"A vida como ela é".

A partir do conceito de vaidade - e é a constatação mor que o escritor chega em sua


reflexão- ele nos mostra que não é porque as coisas são "vaidade de vaidades" é que
não devem ser usufruídas ou que são condenáveis, na realidade o autor condena a
relação na busca de sentido na realidade que é passageira, por isso ele usa a
expressão "vaidade" ou "névoa" já que se trata daquilo que é impermanente ou um
eterno fluxo do devir debaixo do sol entre o homem e a realidade aparente.

O pregador é alguém que experimentou de tudo e de diversos modos na reflexão


para analisar a realidade criada (a vida debaixo do sol), desfrutou dos prazeres e
como ele diz no cáp. 2 "Não me neguei nada que os meus olhos desejaram" . Portanto,
as reflexões contidas tanto no livro e quanto no blog, tem em vista uma reflexão
honesta debaixo do sol, isto é: testada, discutida, refletida, com cuidado, dedicação.

Em um tempo onde a dúvida é condenada ou perguntas contundentes são


condenadas, ou taxadas de uma palavrinha que os fundamentalistas amam:
liberalismo, o Eclesiastes mostra que os questionamentos são relevantes para a vida,
além do mais que o Divino é misterioso, ou nas palavras do Barth "totalmente-
outro", daí a complexidade tanto de Deus quanto da realidade criada, o que nos
mostra que o caminho da reflexão a partir dos questionamentos, dúvidas e
desabafos são o caminho necessário que o Eclesiastes trilhou, que nós desse blog ( Eu
e o Eric) trilharemos e convidamos você leitor a fazer o mesmo.

Antes de tudo é importante notificar-vos que as reflexões, conversas, provocações


contidas neste blog partem de um terreno, um porto, de uma base:

1 - A ação de Deus
2- A ordem do mundo criado
3- Concepção de ordem que só se chega por meio da fé
4 - Jesus como centro, chave, sentido, proposito de tudo

A síntese ocorre a partir do evangelho, a partir do Cristo ressuscitado.

nEle. que a despeito da divindade ser o "totalmente-outro", Ele é o Emanuel: Deus


conosco!

- GABRIEL REIS

¹ Gilles Deleuze
² Livro do pastor Ed. René Kivitz sobre o Eclesiastes. Titulo: O livro mais mal-
humorado da bíblia.
³ Nelson Rodrigues - Escritor, dramaturgo, Jornalista.
⁴ Trecho citado do livro : O livro mais mal-humorado da bíblia. Ed René Kivitz, Pág. 12.

https://qeclesiastes.blogspot.com.br/2018/05/porque-eclesiastes.html#more

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