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O Feto Como Ser Ouvinte
O Feto Como Ser Ouvinte
PORTO ALEGRE
1999
CEFAC
CENTRO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FONOAUDIOLOGIA CLÍNICA
AUDIOLOGIA CLÍNICA
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................... 1
2 JUSTIFICATIVA ............................................................................................. 3
O feto humano tem um mundo vivo ao seu redor, repleto de atividades, ritmos
O som está sempre ali, para estimulá-lo a crescer, para mostrar-lhe que há algo
psicossociais.
possibilitando que o feto apresente reações aos sons durante este período. Para o
desde então.
Porém, estas informações nem sempre estão presentes na vida dos pais e de
partir de uma revisão bibliográfica, que propicie aos pais e demais interessados,
pelo feto, assim como suas reações a estes sons, aspectos no desenvolvimento do
os aspectos da prevenção.
O feto ainda não dá sinais evidentes de que está alerta aos sons (batimentos
cardíacos da mãe, vozes, líquidos internos, ...), mas sabemos que estes são aconteci-
Com este suporte, acreditamos que este laço será perfeitamente estabelecido,
bebê.
3 DISCUSSÃO TEÓRICA
Para começar o nosso estudo sobre a audição do feto, precisamos saber como
essas células parecem iguais, mas apesar de todas serem originárias do mesmo ovo
O disco embrional sofre segmentação por uma estria primitiva por cerca de
linha ectodérmica juntam-se para fechar a ranhura nervosa no que é conhecido como
orelha.
espessamento chamado placóide ótico. Por volta do vigésimo terceiro dia cada
regiões. Uma dorsal, ou porção ventricular, da qual surge o ducto endolinfático, e outra
coclear, que se enrola para formar a cóclea. Por volta da sétima semana já completou-
orelha interna.
O duto coclear continua a se prender à área vestibular por meio de um tubo
estreito conhecido como tubo de união. A divisão coclear do oitavo nervo acompanha
extremidade.
crescimento e expansão.
começo do terceiro mês. A essa altura, a cápsula ótica, que se insere em cartilagem,
interna a apresentar diferenciação e maturação. Por isso, a cóclea está mais sujeita a
quando o buraco auditivo insere-se na placa nervosa para tornar-se a vesícula auditiva.
que forma a cavidade timpânica e o antro, e a sua conexão com a faringe alonga-se
Quando o embrião humano está na quarta semana, uma série de cinco ranhuras
dessas estruturas são chamadas arcos. Uma das bolsas branquiais é realmente
O tímpano forma uma barreira entre essas duas porções da passagem, que, de
cavidade timpânica está presente na metade inferior da futura orelha média, enquanto
a metade superior está preenchida pelo mesênquima celular. Assim o primeiro arco
martelo e o estribo.
cartilaginosa até a décima quinta semana. Da décima quinta à décima sexta, começa
do nascimento.
branquial. Isso acontece por volta do período em que a vesícula auditiva se forma na
orelha interna.
da orelha média e torna-se o terço externo do canal auditivo envolvido por cartilagem.
tecido e camada externa de fibras radiais, antes da nona semana. O compacto plug
meatal, contudo, mantém fechado o canal auditivo externo até a vigésima primeira
semana. A essa altura, as estruturas da orelha interna e orelha média estão formadas
e ossificadas. O plug meatal desfaz-se formando o canal, onde a camada mais interna
timpânica.
adulta normal após a vigésima semana de gestação, sendo que o feto reage a
estas experiências vão sendo adquiridas, ocorre a inibição das respostas reflexas.
vida intra-uterina, encerra-se durante o primeiro ano de vida da criança. Existem assim,
duas fases de maturação neurológica. A primeira fase encerra-se por volta do sexto
mês de gestação, quando ocorre a maturação das vias auditivas periféricas (da orelha
externa até o nervo coclear). Na segunda fase, ocorre a maturação das vias auditivas
em todo sistema nervoso central. Tais informações são importantes no que se refere à
avaliação do recém-nascido.
média e orelha interna formadas, sendo inclusive possível demonstrar suas funções
cocleares.
De acordo com Elliot e Elliot (1964), citado por Northern e Downs (1989), as
audição fetal.
criança nasce como uma tábula rasa no que se refere à audição. O bebê recém-
nascido, na realidade, ouve sons por pelo menos quatro meses; sons que vêm pelo
colocados ao lado do feto dos seis aos sete meses e revelaram que os sons maternos
têm um volume levemente menor do que o de uma rua movimentada de uma cidade. O
fluxo sangüíneo nos grandes vasos da mãe, as batidas de seu coração e seu
logo após o parto, colocaram fones de ouvido acima das orelhas do bebê e uma
Para outros cinco bebês, as condições foram opostas. Indicou-se uma preferência pela
voz materna, tendo-a o bebê produzido mais freqüentemente do que a voz não
materna. Estava evidente que o bebê aprendeu logo a obter acesso à voz da mãe,
que permitem o contato maternal mínimo, podem distinguir entre a fala de sua mãe e
de outras pessoas, e além disso, irão esforçar-se para produzir mais as vozes de suas
mães do que aquelas de outras mulheres. Esses autores afirmaram que as influências
mundo. Se uma mulher grávida mudou-se para uma casa próxima da pista do
aeroporto antes dos seis meses e meio de gestação, seu recém-nascido de três dias
de vida despertava apenas cinco por cento do tempo quando um jato decolava. Mas se
uma mulher mudou-se para a mesma área após os sete meses de gestação, seu
que entre as mulheres que residiam em áreas ruidosas os níveis eram mais baixos,
enquanto ele está respondendo a sons secos e rápidos no lado de fora do abdômen
da mãe. Com vinte e oito semanas, um som seco externo produz uma
resposta imediata do olho. O piscar de olhos começa em alguns fetos antes da
vigésima sexta semana, e todos os bebês saudáveis já piscam com vinte e oito
semanas. Os pesquisadores ainda não podem dizer o quanto este movimento dos
olhos é uma resposta real ao som (click) e o quanto ele está relacionado à captação
das vibrações do som com outros órgãos sensoriais. Entretanto, as ondas cerebrais
de prematuros muito jovens revelam uma resposta definida ao som puro antes de vinte
e sete semanas.
muito pequeno dentro do útero enquanto a mãe estava no trabalho de parto (após a
ruptura das membranas) e registrando a intensidade do som que chegava até o bebê
tipos de sons.
sala, os sons físicos internos da mãe e a Nona Sinfonia de Beethoven sendo tocada na
sala de parto.
musicais, bem como ser responsável pela resposta e familiaridade do bebê com a
voz de sua mãe.
pré-natal, descobrimos que sua mãe era uma musicista profissional e durante a gravi-
dez junto com a irmã tocava violino diariamente em um grupo de orquestra de câmara.
da primeira infância poderia ser também o fator chave, sem mencionar as lições, o
Para descobrir se os bebês têm alguma memória do que ouvem no útero, o Dr.
DeCasper e seus colaboradores (1980) fizeram uma outra série de estudos curiosos.
Queijo”. Durante as últimas seis semanas e meia de gravidez, cada uma das mães no
estudo foram solicitadas a ler em voz alta apenas uma dessas histórias infantis para o
seu feto, o que faziam duas vezes por dia. Assim cada feto teve um total de
gravações das duas histórias foram rodadas para eles. Os bebês ouviam uma história
para receber a história que tinham ouvido suas mães lerem continuamente quando
ainda eram fetos. Não muito diferente das solicitações de uma criança pequena para
mostrou que os bebês guardam em sua memória canções e histórias complexas que
lhes são repetidas nos três últimos meses de gravidez. Como observou a mãe citada,
atentamente àquelas que já conheciam. Parece que, de fato, os bebês tem memória.
precoce?
freqüência de 200 Hz há uma atenuação mínima do som (19 dB); um pouco mais a
500 Hz (24 dB); mais a 1.000 Hz (38 dB); e a maior a 2.000 Hz e 4.000 Hz (48 dB). As
duas últimas medidas não foram consideradas precisas visto que a força do sinal
aplicado não foi suficiente para superar a dissimulação dos sons internos que tinham
modo, as freqüências de 1.000 Hz e abaixo continham a voz materna que pôde ser
ouvida, quer de modo fraco, a partir do quinto mês de gestação, quando, como se tem
O estudo de Bench não foi feito dentro da bolsa amniótica intacta e, é claro, não
som real dentro da cavidade amniótica de ovelhas grávidas por meio de hidrofones
um mínimo de 37 dB logo abaixo de 1.000 Hz, porém era reduzida abaixo e acima
desta freqüência; com suas freqüências mais altas atenuadas em cerca de 20 dB até
sempre, ser entendida quando transmitida para dentro. Vozes elevadas eram quase
sempre distintas.
Se fizermos uma analogia deste padrão animal com o caso do feto humano,
então a voz da mãe e, mesmo, a do pai, poderiam ser ouvidos pelo feto.
dirigiram seus estudos para determinar o índice de isolação acústica das paredes
funcionariam como uma proteção para a orelha interna do feto. Os maiores valores de
6KHz. Os valores constatados pelos autores nos primeiros meses de gravidez foram
que não exceda 90 dBA, não seria nocivo à orelha do feto. Outras observações feitas
durante o estudo, tais como: mudanças no ritmo dos batimentos cardíacos e nos
também deveriam ser levados em conta, pois ainda não é conhecido o quanto a orelha
possibilidade de perda auditiva na criança, cuja mãe esteve exposta ao ruído durante a
gestação. Foram examinadas 131 crianças nascidas de mães que haviam trabalhado
em ambiente com nível de ruído variando de 65 a 95 dBA, por oito horas. O estudo
envolveu crianças com idade entre 4 e 7 anos, as quais foram submetidas à avaliação
que apresentaram perda auditiva significativa (maior do que 10 dBNA) em 4KHz era
95 dBA (por oito horas, durante nove meses), quando comparada com crianças de
da mãe, teria dado evidência definitiva para a audição fetal de vozes externas.
e verificaram que após o nascimento, os pintinhos agitavam seus bicos e piavam mais
não exposto. Os autores afirmaram que ocorreu uma “impressão” auditiva pré-natal.
Uma parte do mundo exterior que o bebê já conhece é o som das vozes de seus
este fato com uma ida ao hospital. Ele segurou o bebê com a cabeça em uma das
mãos e as nádegas na outra, enquanto ele ficava olhando para o teto. Quando
Brazelton falava delicadamente com o bebê, este voltava sua cabeça para a sua voz e
começava a procurar o lugar de onde ela provinha. Ao descobrir o seu rosto e sua
boca, o bebê ficava radiante. Depois, Brazelton pedia a mãe que ficasse
do outro lado e fizesse o mesmo, ou seja, que também falasse delicadamente com o
bebê. Qualquer bebê escolhia a voz feminina, voltando-se para a mãe com uma
expressão alegre ao descobrir-lhe o rosto. Sempre que isto era feito, a mãe pegava o
seu bebê e o aconchegava em seus braços dizendo: “Você sabe quem eu sou e
conhece a minha voz, não é mesmo?” Essa reação do recém-nascido, previsível mas
Quando o pai estava presente, tentava fazer a mesma coisa com ele. Na
maioria dos casos (80%), o bebê voltava-se para o lado de onde vinha a voz do seu
chamar-lhe a atenção, ou se, de fato, reconhece a voz paterna. A reação dos pais era
da criança. Vão do sono profundo ao choro desesperado, passando pelo sono leve,
estimulação e onde ele demonstra dar mais respostas a esta estimulação e isso se dá
movimentos são mais suaves e mais organizados. Nesse estado, os fetos são
cinqüenta centímetros da parede abdominal, fizeram com que ela soasse brevemente
de seis a oito vezes. Isso provocou um conjunto previsível de reações nos oito fetos
que estudaram. O primeiro som da campainha fez com que eles saltassem, e seus
rostos pareciam tensos. O segundo som provocava menos sobressalto; por volta do
Quando a campainha era tocada pela quinta vez, quase sempre eles levavam
uma das mãos à boca, em geral para nela enfiarem o polegar ou outro dedo qualquer.
as reações.
Achavam que o útero era barulhento demais para que os fetos ouvissem esse som,
contudo, assim que começavam a sacudi-los, os fetos se voltavam para a direção dos
ocorrem e como identificá-los seriam assuntos que gostaria de abordar aqui. Isto não
será possível pois não tive acesso a nenhum trabalho que falasse a este respeito. Fica
humanos e demonstraram que o feto poderia ouvir a voz da mãe e outras vozes, que
eram perfeitamente audíveis mas deficientes de tom, porque as freqüências altas eram
absorvidas. Quando não há nenhuma deficiência fetal, o feto reage ao estímulo sonoro
movimentos.
e microfones na cavidade uterina. Quando a fala externa foi gravada através do útero,
dois observadores puderam reconhecer 64% dos fonemas das mães e 57% da fala
masculina do pai.
Dr. DeCasper (1980) descobriu que os bebês preferem a voz de suas mães à
voz do pai àquela de outro homem. O reconhecimento da voz dos pais vem um pouco
mais tarde.
continuamente a voz da mãe durante a vida fetal, ou poderia possivelmente ser devido
facilmente distinguíveis através da parede uterina, devido ao seu tom mais grave.
Sabendo-se que o bebê quando nasce está apto a reconhecer a voz materna,
não seria possível dizer que quando isto não acontece em situações ideais de teste
bem desenvolvida. Eles podem distinguir entre tipos de sons (por exemplo, uma
recém-nascido de preferir a voz da mãe a outras vozes. Porém, antes que tais
discriminações precoces possam ser feitas, o sistema auditivo do bebê deve ser pré-
preferência pela voz da mãe requerem competências auditivas para discriminar ritmo,
poderíamos estar atentos aos comportamentos incomuns assim que um feto começa a
anormal com o feto, esta também não seria uma maneira de fazermos uma detecção
Quando o feto estiver sendo enfraquecido pela desnutrição materna, por toxinas
ou por uma placenta deficiente, o seu comportamento vai refletir tudo isso, tornando-se
Hoje os pais sabem que o feto pode ouvir, e que reage aos estímulos que lhes
chegam das proximidades da mãe. Quando suas mulheres estão nos três últimos
meses de gravidez, muitos pais falam e contam para o seu bebê, numa tentativa de
Eis o que Brazelton (1994) ouviu de uma mãe, pianista por profissão: “Eu sabia
que a minha filha podia ouvir, pois parecia dançar ao ritmo da minha música. Eu só
não me dei conta de que ela também estava aprendendo com a experiência.
Nos últimos meses de gravidez, toquei inúmeras vezes um trecho de uma valsa de
Chopin, e, sempre que isso acontecia, o bebê parecia acalmar-se no útero. Depois
que nasceu, passei algum tempo sem poder tocar. Um dia aos três meses de idade,
ela estava deitada em seu berço, ao lado do meu piano. Comecei a tocar a valsa, e
ela continuou ali deitada de costas, olhando para um móbile. Quando cheguei
àquele trecho específico, ela passou a brincar e, parecendo surpresa, olhou para
mim como quem diz: ‘Essa eu já conheço’. Tive certeza de que ela estava se
agudas e que os pais parecem utilizá-los instintivamente logo após o parto, para
sentido tem sua função adulta normal após a vigésima semana de gestação, observei
áreas interessadas.
Se este sentido está pronto tão cedo porque não estimulá-lo desde já?
Para tanto, fiz uma revisão bibliográfica falando da embriologia da audição, dos
estudos que existem sobre a audição fetal, sobre o quê os fetos realmente ouvem e de
como eles reagem a estes sons e de como os pais reagem frente as respostas dadas
sinais internos e externos. Além disso, mulheres grávidas relatam que o feto responde
também que as mulheres com stress crônico terão fetos com batimentos cardíacos
mais rápidos e muito ativos. Por algum processo complicado, o feto pode ser afetado
estão envolvidos em um diálogo muito antes de o bebê nascer. Seu nível de atividade
gestação. À medida que ela se ajusta aos ritmos desta nova vida dentro dela, o feto já
está experimentando também o tempo de sua vida bem como o de seu pai e de outros
membros da família.
útero da mãe, primeiramente como embrião e, mais tarde, como feto, um bebê torna-
auditiva fetal.
mãe logo que nasce em decorrência do tempo que ouviu a sua voz durante a
gestação, ele também pode desenvolver uma memória auditiva para outros fatos,
Relatei rapidamente que inclusive sons altos demais podem ser prejudiciais ao feto e
que mais estudos sobre este tema estão sendo realizados a fim de confirmar esta
suposição.
Em alguns exames pode-se ver a reação dos fetos frente a estimulação sonora.
Seria este um meio viável para que se faça uma detecção realmente precoce da perda
auditiva?
Gostaria de ter falado mais sobre os estados de consciência no feto, mas como
falei anteriormente, não tive acesso a estudos que abordassem este tema. Fica aqui a
profissionalmente, foi aprender a realmente escutar o que as mães têm a dizer, pois
são elas quem mais sabem dos seus bebês e apesar de todos os estudos que
darão aos estímulos sonoros; essa imensidão de surpresas que nos são reveladas tão
precocemente ...
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