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Notas e Comentarios SOBRE A CULTURA DE CAMOES Trater da cultura de Luis de Cambes parece hoje menos dificil do que falar da sua biogratla, cada vez mais complexe e mais confuse, & medida que novas hipd- teses so apresentedas, sem qualquer base documental digne de contiang. (© ambiente cultura! da época camoniene, nomeadamento 0 dos primelros ‘anos da vida do posts, vai sendo entrevisio 20s poucos, embore estejamos ainda Tonge de conhecer com rigor tudo 0 que desejeriamos saber sobre e meneire como 80 foz a sua oducapia. Néo hé muito, tive oportunidedo do escrever num artigo 0 dlvulgagso: x6 natural que... tenhe adquiride o melhor da sua cultura, ne lingua sébia do tempo, eauele om que « Europe de entéo fazie a maior parte des sues Teitures, 0 letim. A existéncla de uma lingua comum do saber contribuie para a formapso de ‘uma comunidade Imernacional de homens cultos entre quem as novidades do spirit circulavem selativemente depressa. (...) Uma coise & certa: 0 latin, sem o qual nfo havia homem culto no seu tempo, postuia.o ele @ funde. E isto néo 6 conjectura, mas realidede que ee reconhece objectivamente na sua obra, AS lingvas modernas mais acessiveis no Portugal de ‘entéo, e meis préximas do portugués, 0 espenhol @ 0 italiano, através des quails ‘ram transritides as modernas correntes literérias, velo @ conhoct-las também ‘com perteipéo. Allés, 0 dominio do latim faciliava enormemente a aquisiclo do vocabulério culto e postico de tais lingues»'. E @ partir do letim —note-se — renovou Camées 0 proprio vocabulério de lingua portugues Este dominio da Iatinidade por parte do poste nfo 6 acslte pelo Dr. José Hermano Saraiva no seu livro Vida Ignorada de Camées, a0 atribuir-Ihe apenas um conhecimento superficial do latim» (p. 291). Posteriormente, segundo o que Gopreondo dae sues palectrae ns tolovisso, tors mudado do parecer. Possuo 0 texto ‘gravado desses emissées que um amigo me facultou. E ne conversa televisionada 40 29 de Outubro, o Dr. J. H. Saraiva passou a Insist de preferdncia na ignordncia do rego. Camées, esegundo os mafores eruditoss, nBo saberia grego. Eis uma hipétese multo diffll de provar. Alguns argumentos que conheco em detese da Ignortncla helénica do nosso maior poeta so verdadeiremente pueris fe nenhum helenista, com @ correspandente Formers latine, c= pode lor som rir. Um dos mais sérios 6 « corposicio de polevie Ademestor. Tive ocesiéo de ‘mostrar nos meus Estudos Camoniancs, Coimbra, 1975, pp. 33-38, que 0 nome 60 olgance pode ser explicado linguisticamente em grego e que néo envolre @ con tradie8o no significedo que era costume atribvir-Ihe. Aerescentei ainde (pp. 36-41) ‘que Cemées nBo lev 2 pelavra nocossariamente na Ofticina de Ravislus Textor (isto, se @ nbo conhecia do posta Sidénio Apoliner). como se acreditera, mas que ypodia té-la encontrado no dicionério de latim mele corrente om Portugal, noe meedos do eéevlo XVI, 0 do Elio Anténio de Nebrija, que ne edies0 de Antuérple de 1546, dedieade a Fre) Diogo de Murra, reitor da Universidade de Coimbre, i raz @ femigerade palevre. Pois bem! Em 1975, ne Bibliotece Nacional do Rio de Janeiro, o bibliotecério Professor Pinheiro Haseolmenn mostrou-me um Dictionerlum de Ambrésio Calepino, ‘publicado em Paris, em 1513, onde jé ocorre o gigante Adamestor. Esse livro per- ‘tencia & Biblioteca Real portuguesa e foi levedo de Lisboa pere o Rie, ne emigrs 60 de D. Joéo VI. Portento, ainda que 9 pelavra fosse um composio grego mal formado, 0 que ho 6 exacto, a responsabilidede da sua cria¢io néo pertence a Camées. ‘Na reterida pelestra, o Dr. J. H. Saraiva insistia em que a ignoréncia do grego, ‘essinelével em Camées, implicera falte de escolaridade regular. E citendo um ‘elatsrio anviado para Rome, em 1540, Informou os seus espectadores de que @i se alirma ser obrigatorio na Mosteiro de Sante Cruz de Coimbra, onde entéo funcionara @ Faculdade de Artes, que 0s alunos falassom grogo ¢ latim. 0 documento # que aludiu vagaments 0 Dr. J. H. Saraiva 6 a Doscripcam dodux0 do moesteyro de Santa Cruz de Coimbra, Impressa em 1541, que |. S. Révah ‘publicou no Boletim da Biblioteca da Universidade de Coimbra, vol. XXill (1968), ‘onde quelauer 0 pode ler & vontade. Dascrovendo os escolares que conversam no largo em trente 20 Mostoire, escreve 0 cénego D. Verissimo, na folha All: «E a todos he oprobrio falar selvo em lingoa romana ou grega, 0 que eos olhos dos caminhanies te hd espectaculo de vers. ‘A tradipio de que falevam grego alguns estudantes fol criade poles aulas dosta lingua, dades pelo slemso Vicente Fabricio, em Santa Cruz, @ dela se faz eco Clenaréo que assisilu em 1537 @ uma dessas aulas. Mes a realidade ora bern ‘mals modesta. Basiars dizer que em 1540, isto &, exactamente no ano em que foi ‘escrita om latin essa tdescrigcamn, publicada em portugués no ano seguinto, ire- ‘quentavar es classes de latim ne Universidade de Coimbra algumas dezenes de ‘alunos, enquento em grego havie um eluno apones. Chamava-so Manuel Lopes @ era filha do «doctor mostre Simio, moredor no Portoy. Pode ver-se 0 registo no ‘Arquivo da Universidade de Coimbra, livre | dos Autos © Provas do Cursos (1637-1850), caderno 1.1, folha 149 v+. ‘Quanto & obrigarso do falar fatim, ere imposta aos protessores nas relapdos com of alunos, pelas constivirdes dos coléglos do Mosteiro de Senta Cruz de Coimbra, de 1536, ¢ avs alunos, mesmo fore des aulas, pelos Statuta do Colégio das Artes, Inaugurado em Coimbre em 1649. ‘Quer isto dizer que 0 grego era totelmonte ignoredo polos estudantos do Artes? Certamente que nfo, mas a eemegadora maiorie tinhe, quando muito, uns rudi- menos da lingua, E esses rudimentos nfo deviam falter @ alguém com @ curiosi- dade intelectual de Camdes. Possuo muites notes sobre 0 grego em Portugal no século XVI, mas nfo 6 este 0 lugar adequedo pare trater do essunto. etd claro que a literature grege ora acessivel ao homem culto desse époce sobretudo nas tradupses latinas que 8 entlo existiam, feltas, bé multo, erm ialla, desde 0 século XV. E 0 intercémblo de Portugal com @ Itéila no ihtimo quartel deste s6culo, @ depots, foi intenso. Lamento nfo poder entrar aqui em pormenores. Jé no s6culo XVI, 0 mundo das versces do grego alargou-se. Tenho, hé multo, esbopado um estudo sobre a iradupo do Pluto de Aristéfenes ern versus latinos, publiceda ‘om Paris, em 1547, pelo sotubalense Miguel de Cabedo. Uma prova indirecte deste conhecimento suporticial do grego ontro as pes- 2088 cuitas, som responsabilidades académicas, ost’ no conhecido Roplespnetm: péssimo enxerto de duas palavres gregas. perpetrado por Jofo de Barros? Mas, returalmente, hevia exceppées e Anténio Ferrer, por oxemplo, 6 uma doles. Aliés, no meedo do sbeulo, tornou-se até perigoso eos olhos de Inquisi¢so um conheclmento protundo do grego. Basia recordar que, segundo Diogo de Telve, 0 velho Dr. Diogo de Gouveia, em Paris, echamava luterenos homens que sablem grege e filosotian >. Outro ponto, jé antigo, das objecpées & cultura de Camées & 0 do seu con clmento directo dos autores greco-tatinos. H8 multos anos que se pergunta so ele néo terle utllzedo enclelopédias, correntes no seu tempo, de Informarsos vérlee, refersnclas # clterbes, em ver da leltura dos ascritores que mostra conhecer. £ questio dificil de resolver, mas no esquecamos que os mals prestigiosos esses livros, por exemplo, da autorie do francés Ravislus Toxtor, jé eitado, do Italiano Cavlive Rhodiginus ov do holandés Desiderlue Erasmus, estevar escritos ‘em Iatim. Sobre outras leluras de Camdes, ver as Fontes dos Lustadas, de José Maria Rodrigues, que @ Faculdede de Letras de Universidede de Lisboe vat em breve reeditar. Também no s6oulo pessado, nfo £0 consarem os oruditos de admirer @ imen- sidade da cultura de Camdes e 0 pouco tempo (os anos da juventude pessados ‘em Portugel) que teve para adquiri-le. Wilhelm Storck escreveu a esse respeito ‘algumas trases de entusiasmo laudetério. ‘Mes hoje conhece-se melhor (embore mel no relativo eo nosso pais) @ pro- ugdo bibliogrstica do século XVI 0 sabe-se quo os livros e:am mals portétels visjavam mais facilmente do que se supunhe, hd cem anos. Jé em ocesides anto- Flores citei um passo de D. Jerénimo Osério no De Rebus Emmanuelis Gi sobre 0 acontecido apée a batelhe naval de Diu, genho por D. Francisco do Almeida ‘em 1509, contre uma esquadra Internacional: «Compunhs.se 0 exército inimigo de tio variadas necées, que no esbulho das nevs se deu com livros escritos em lati, toscano, esclavéo, francés e castelhanoy * Havia, portanto, ontro os morcentrios 0 soldedos do venture, gente que poseuls livros © os levava consigo. E tal nBo acontecia 86 com os adversérios dos portugueses. Com efelto, poder multiplicar-se os exemplos de como os livros circulavam entre os nossos. Ainda hé dies, lendo Diogo do Couto, voltel « encontrar 0 passo em que 0 hhistoriador conte como conheceu em Baroche um notre mouro, chemado Canacem, ‘que s2 torneu sou emigo, «por lermos ambos italiano, @ Ihe eu mostrar Dante, Petrerce, Bembo e outros poctas que ele folgou de vers, ‘Na Ropicapnetma, em 1531, Jofo de Barros recorde como o sou parente Duarte de Resende lera outrore nes Molucas 0 Clarimundo de Barros que este Ihe enviara. ‘A Chorographia de Gasper Berrsiros foi impresse em Coimbra, em 1661, ¢ 16 4 citada © discutide, » proposito da origem do topénimo Badajoz, nos Coléqulos dos Simples @ Drogas Medicinals da India de Gercia de Orta, safdos em Goe, em 1563. Portanto, Cambes podia continuar a ler 0 a estudar no Oriente, juntando essim 4 experisncia* © convivio dos livros @ que se referly de maneira t80 expressive, ‘quase 20 terminar 0 seu poems: Nom me falta na vida honesto estudo Com longa experiéncia misturado, Nom engenho, que aqui verois prosente, Cousas quo juntas so acham raramente (tunis, x 154, 58) Américo da Costa Ramalho Notas ' sCembes, cone dossonhocdos, Portugal Divulgple, publcegbo bimestal da Diropte Geral és Divlgeee, erste do Estado’ da Comuniogio Sele, n° 3, Malefurko e178, pp. 23 [Neto-o, porém que es qravras ate foram eecolhans por mim nom me pertercam es legends que ‘m ncempanhan, Taboo tu «(Sonetos)» nap. 6 no & as Ch A. Cost Ranmiho, sptcapetme: um biblnime mal oncertados, Mumanitas, Ss ‘Coimbra, 198578 pp. 21-26. Uelse Fortra (editads p. Joa de Caribe) Netisies Chroologlese da Universcade do ‘Colm, Il, 1, Colbra, 144, p48. Tradue do Flt Et Lda, do Lisboe, 1004 4 Dbcadas, vo. 17, . 418 deed. da Livara Sem Galo, Usbee, 1e14 * Ao covvisto do ue afin, na palestra de 29.187, 0 Dr. José Hermano Saale, cultra Inavanistica e cbservac a aturera rap Sb optem necessirlanents. ro século XVI Era Univer titrion Garis de Orta © Pedro Nunes. 0, Jeo do Casto, 0 vicoral de inla, ue nao che Cormerts a fermerce, fel tambée leila competonte. Dioge de Tove alimos porarto a Ineulsiglo, em Cutubo do 1580, nam depoimonto etebo- crstien redo om Inti, que os rrofessores do. Coléglo das Aves, nos das forlados, «se conse (van, pelos campos, 20 estilo die pinta, ensia a qio eran todos mute cedeadoe © ie tiham ated algae doe estidantoes, 3

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