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11 e 12 de novembro de 2011 | ISSN 1806-0447

IMPACTOS SOCIOCULTURAIS DO TURISMO NAS COMUNIDADES


RECEPTORAS

Elenita Teresinha Pastro Paulino1


Guilherme Bridi2

RESUMO
A busca de soluções para os impactos socioculturais sofridos pelas comunidades
receptoras da atividade turística apresenta-se como urgente e necessária para o
avanço e consolidação do turismo em nosso estado e país. Dessa forma, o
presente artigo propõe-se, através da metodologia de pesquisa bibliográfica, a
trazer para reflexão alguns fatores que representam impactos negativos para
essas comunidades com o intuito de contribuir para que o turismo seja pensado
de uma forma planejada e responsável, não só para alcançar um objetivo
econômico e comercial, mas também no sentido de preservar as comunidades no
que diz respeito a sua identidade, patrimônio histórico e social, suas
manifestações culturais, seu meio ambiente, e garantir a elas uma participação
efetiva no processo de evolução de condição econômica e qualidade de vida
através de qualificação e inclusão, para que isso se reverta em hospitalidade e
qualidade de serviços prestados ao turista.
Palavras-chave: Turismo, Impactos Socioculturais, Comunidades Receptoras.

1
Graduanda em Turismo - Centro Universitário Metodista do IPA Email: elenitapaulino@uol.com.br
2
Bacharel e Mestre em Turismo Universidade de Caxias do Sul. Aluno especial do Programa de Doutorado
em Educação da PUC-RS. Professor Centro Universitário Metodista do IPA. Email: guime70@gmail.com
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INTRODUÇÃO de compreensão mútua, base de


respeito e confiança entre todos
No final do século XX e início do os povos do mundo.
século XXI, conforme os
apontamentos de Rejowski
et.al.(2005) o Turismo se expandiu Fica evidenciado, dessa forma, que
de forma significativa devido à essa amplitude complexa com que o
ampliação dos direitos dos Turismo vem sendo tratado
trabalhadores, desenvolvimento de atualmente possibilita também
novas tecnologias, principalmente na reflexões quanto aos impactos
área de comunicação e transporte, e causados pelo contexto de trocas
com isso o tempo de lazer e ócio tem interculturais, sociais e econômicas
tido cada vez mais importância na que a atividade proporciona.
vida das pessoas.
Versando para o enfoque deste
Nessa mesma direção, Trigo (2003) trabalho, parece pertinente então
assinala com pertinência que considerar que Turismo não traz
o turismo deixou de ser apenas consigo somente aspectos positivos,
um complexo sócio-econômico devendo ser considerados também
para se tornar uma das forças vários efeitos negativos que ocorrem
transformadoras do mundo pós- da relação entre o turista e o
industrial. Juntamente com as residente. Sem desconsiderar a
novas tecnologias importância que os impactos
(telecomunicações, engenharia positivos do turismo apresentam para
genética, etc.), o turismo está a sociedade e para as comunidades
ajudando a redesenhar as receptoras atualmente, é sobre os
estruturas mundiais, aspectos negativos que esse Artigo
influenciando a globalização, os
detém-se, principalmente no que diz
novos blocos econômicos.
respeito aos impactos sofridos pelas
comunidades receptoras.
Portanto, nos dias de hoje, o Turismo Por ser um trabalho de caráter
está incorporado na sociedade, eminentemente reflexivo, a
tornando-se um aliado poderoso no metodologia utilizada foi pesquisa
intercâmbio de culturas, no combate bibliográfica.
ao preconceito e aumento da
tolerância, conforme coloca a
Declaração de Manila sobre turismo 1. IMPACTOS DO TURISMO
mundial (OMT,1980), De acordo com Lohmann e Panosso
no contexto das relações Netto (2008), define-se impacto do
internacionais e em relação com turismo como toda e qualquer
a busca de uma paz baseada na mudança ocorrida como
justiça e no respeito das conseqüência da atividade turística.
aspirações individuais e Como impacto sociocultural pode-se
nacionais, o turismo aparece considerar toda mudança provocada
como um fator positivo e a partir de intervenção externa a
permanente de conhecimento e
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comunidade local, ou seja, da relação mudança no nível de uma atividade


com o turista. do setor produtivo de um sistema
Para Dias (2003), as diferenças de econômico, causando mudanças na
economia”. Para Pearce e Butler
idioma, raça, religião, condições
econômicas, valores e costumes, (2002) essas mudanças, no entanto,
não se configuram apenas como
entre outros, são aspectos que
positivas, podendo, muitas vezes,
geralmente causam choques nesta
relação turista/residente. gerar a diminuição do poder
aquisitivo da comunidade receptora.
Este impacto sociocultural causado
No momento em que uma
pelo turismo pode ocorrer devido às
determinada comunidade é
diferenças culturais entre países e
transformada em atrativo turístico, é
regiões de um mesmo país, como no
caso do Brasil, onde, por exemplo, as gerada igualmente uma expectativa
condições econômicas de um turista de crescimento econômico e,
do sudeste que vai para o interior do portanto, de benefícios para a
nordeste, ou os costumes de um população local. Conforme Dias
sulista que vai para o interior do (2003), no entanto, muitas vezes
norte, poderão causar forte impacto essa expectativa não vem a se
nas comunidades do destino visitado. confirmar, pois o lucro da atividade
fica concentrado nas mãos dos
No entanto, conforme os operadores do turismo no local, que
apontamentos de Lohmann e não raro são de fora da comunidade,
Panosso Netto (2008), quando não criando assim, um sentimento de
há um programa de planejamento frustração nos residentes que, por
turístico que envolva um processo de conseqüência, passam a desenvolver
preparo e qualificação de pessoal, um sentimento de “rejeição” ao
essas diferenças poderão causar turista, buscando, muitas vezes criar
grande descontentamento das formas de explorá-lo para obter
comunidades que recebem o turista, algum benefício, o que igualmente
exatamente pelo fato de que as não se constitui como um elemento
mesmas não serão capazes de que venha a favorecer a melhoria da
absorvê-las. relação entre o turista e os residentes
Segundo Dias (2003), a frustração locais.
das expectativas criadas pelas Outro aspecto relativo à questão
comunidades receptoras é econômica se dá pela forma como o
desencadeada por diferentes fatores: turista é visto pelo residente. O
padrão de consumo do turista,
normalmente bem mais elevado,
1.1. Econômico muitas vezes gera um sentimento de
Os impactos econômicos podem ser humilhação por parte da população
considerados os mais conhecidos local menos favorecida, e, em
dentre o que trabalham com turismo. decorrência disso, poderão surgir
De acordo com Lohmann e Panosso diversos outros problemas de
Netto (2008) é definido como “a relacionamento entre esses sujeitos.
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1.2 Trabalho partes do mundo ou mesmo de


regiões diferentes, a possibilidade de
Com base no referencial de Dias
proliferação e contágio de doenças
(2003), é possível considerar que, em
aumenta consideravelmente. Para
se tratando dos postos de trabalho na
Dias (2003), pode-se levar em conta
atividade turística, a população local
ainda que o advento do turismo gere
geralmente acaba ocupando os de
um aumento da população de um
menores salários por falta de
determinado local, provocando
qualificação, enquanto que os de
muitas vezes uma saturação dos
mais destaque e complexidade são
sistemas de distribuição de água,
preenchidos por pessoas de fora da
recolhimento de lixo, atendimento em
comunidade. Isso ocorre
principalmente com a implantação de posto de saúde, entre outros,
podendo, dessa forma, ser fator de
filiais de grandes redes de
agravamento dos problemas de
hospedagem e restaurantes,
saúde local.
fomentando assim, cada vez mais
conflitos entre a população autóctone
e os turistas. 1.4. Infraestrutura
È importante levar em conta ainda, Para Barretto (2002), a falta de
que a atividade turística muitas vezes planejamento, com um diagnóstico
apresenta caráter de sazonalidade, inicial que leve em consideração a
portanto, mesmo quando um número capacidade de carga da localidade,
maior de trabalhadores locais é acaba levando o destino turístico à
incorporado a um determinado saturação. Criando assim, sérios
empreendimento turístico, parece problemas como: transportes
pertinente considerar que para tal, os públicos insuficientes e
mesmos precisam inicialmente congestionamentos; falta de lugares
abandonar seus postos de trabalho e demora no atendimento em bares e
de origem, o que resulta em uma restaurantes; falta de produtos nos
mudança da estrutura social da supermercados; interrupção no
localidade. Há ainda o risco de que, abastecimento de energia elétrica e
no período de baixa temporada esses água potável; acúmulo de lixo na
trabalhadores venham a ficar cidade, etc.
excluídos do mercado de trabalho,
gerando uma diminuição no poder E ainda, o vandalismo que
aquisitivo destes sujeitos, e, compromete a preservação do
conseqüentemente, dos indicadores patrimônio histórico e cultural local e
econômicos da localidade onde os a degradação do meio ambiente são
mesmos encontram-se inseridos. fatores que significam impactos
gravíssimos para a população local.

1.3. Saúde
1.5. Valores, Hábitos e Costumes
A questão da saúde é outro fator de
bastante relevância, já que com o Conforme os apontamentos de Dias
deslocamento de turistas de várias (2003) um dos piores impactos
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causados pelo turismo nas ou em pequenas propriedades


comunidades receptoras é no que diz agrícolas local.
respeito à mudança de seus valores,
Por fim, a diferença cultural vai se
hábitos e costumes, já que esses são anulando ao ponto da comunidade
elementos que compõem sua receptora não despertar mais o
identidade. interesse do turista, já que esse
Parece possível também considerar busca o novo, o diferente, o
que, em uma relação turista/residente inusitado.
sempre haverá uma troca, uma
mudança de comportamento de
ambos os lados, porém, o que chama 1.6. Manifestações Culturais
a atenção é o grau em que isso se De acordo com Lohmann e Panosso
dá, podendo muitas vezes levar esta Netto (2008), com a prática do
comunidade a perder completamente turismo, observa-se uma
sua identidade. transformação dos destinos por
O efeito da comparação provocada influência dos costumes e das
sobre as pessoas da localidade é necessidades dos turistas.
criado pelo turista com a utilização de Colaborando com essa idéia, para
objetos e recursos dos quais a Dias (2003), a cultura material, no
maioria dos membros da comunidade que se refere à arquitetura, muitas
não dispõe, como roupas, produtos vezes perde sua originalidade em
eletrônicos, relógios, óculos, cor e decorrência de adaptações para
corte de cabelo. E ainda, tipo de atender a demanda turística. A
música apreciada e bebidas que mais construção de estruturas turísticas
consumidas. E por fim, as opiniões e completamente fora dos padrões
interesses passam a ser absorvidas arquitetônicos da localidade, com
pelos residentes como forma de materiais inadequados, leva a
igualar-se ao padrão do turista, desconfiguração dos complexos
substituindo-os pelos seus valores, históricos das comunidades.
hábitos e costumes.
Em se tratando do artesanato, o
Em decorrência disso, Dias (2003) aumento do número de turistas,
ressalta que podem ser observados muitas vezes faz com que a
comportamentos morais negativos confecção do mesmo deixe de ser
como prostituição, aumento da feita pelo processo manual e local, e
criminalidade, das drogas, das passe para um processo industrial de
doenças sexualmente transmissíveis, produção em massa, e não raro, fora
etc. da comunidade, com o pretexto de
Também é importante salientar a atender a demanda turística,
mudança no hábito de consumo, perdendo sua originalidade e
onde se passa a consumir mais corroborando para o
produtos industrializados e desaparecimento dos artesãos locais.
massificados em detrimento aos Quanto à cultura imaterial, como por
produzidos de forma mais artesanal exemplo, as manifestações de
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música e dança, são cada vez mais Além disso, é possível constatar que
adaptadas para atender as a ausência de uma equipe
necessidades de consumo do turista, multidisciplinar que inclua
perdendo com isso sua função social profissionais como Turismólogos,
original, para se transformar em Biólogos, Geógrafos, entre outros,
produto comercializável, conforme para um estudo prévio de capacidade
afirma Cooper et. al. (2001), de carga na implantação da atividade
artesanato, cerimônias e rituais turística em uma localidade,
são muitas vezes levados a uma acarretará na degradação, muitas
postura de exploração, reduzidos, vezes irreversíveis, do meio ambiente
tornados mais coloridos, mais (Dias, 2003).
dramáticos e mais espetaculares As comunidades de pesca artesanal,
para capturar a atenção e a de agricultura familiar, de extração de
imaginação de uma audiência frutos silvestres, entre outras, são
que, muitas vezes, não possui o
muitas vezes excluídas,
conhecimento e a experiência
marginalizadas e extintas com a
básicos que tornariam atraente a
versão não-adaptada. implantação do turismo na localidade.

Este impacto tende a ser irreversível, CONSISERAÇÕES FINAIS


tendo em vista que as novas Conforme mencionado
gerações locais terão nestas anteriormente, parece importante
adaptações seu marco de reafirmar que o turismo é um
originalidade para a manifestação de elemento gerador de diversos
sua cultura. aspectos positivos para as
comunidades receptoras. Esses
benefícios, no entanto, não se
1.7. Meio Ambiente constituem o foco deste trabalho,
Conforme as considerações de Costa visto que os mesmo já são
(2002), o meio ambiente pode ser constantemente abordados em
considerado uma dimensão cuja trabalhos acadêmicos da área.
impactação, por meio do Buscar promover reflexões acerca de
desenvolvimento turístico, tende a impactos negativos do turismo para
ser significativa. as comunidades receptoras é uma
No cenário pós-industrializado da necessidade das mais prementes no
atualidade, ecologia e meio acadêmico, já que o turismo
sustentabilidade são temas paulatinamente vem sendo abordado
recorrentes no âmbito acadêmico, da a partir da complexidade que
mídia, Poder Público, etc., porém, compõe.
tais assuntos ainda apresentam-se É possível também considerar cada
pouco explorados em relação à vez mais a necessidade de que haja
prática das atividades turísticas. um planejamento sério, que inclua
pesquisa e qualificação da
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comunidade, diagnóstico da
capacidade de carga do local, maior
Portanto, se estes impactos
normatização e fiscalização
negativos forem enfrentados de
governamental, elaboração de
forma conjunta, unindo esforços entre
materiais educativos para o turista,
comunidade, academia, poder
onde ele possa ter claro o local que
público, investidores e operadores
está visitando e qual o
turísticos, o turismo e suas relações
comportamento adequado para
podem vir a significar de fato uma
manter uma boa relação.
grande contribuição para a
Tem-se que os trabalhos acadêmicos compreensão, tolerância e
são de extrema importância como convivência de diferentes culturas na
elementos integrantes na busca de busca da paz entre os povos do
resolução para estes conflitos da mundo.
relação turista/residente, porém, os
mesmos parecem ainda apresentar
uma baixa produção em relação às REFERÊNCIAS
questões sociais intervenientes, que BARRETTO, Margarita.
segundo Barreto (2000b), é Planejamento e Organização em
possível dizer que o grande Turismo. 7 ed. São Paulo: Papirus,
paradoxo do turismo é o fato de 2002
que, aparentemente, há um
circulo vicioso segundo o qual a
academia não se interessa pelo BARRETO, Margarita. As ciências
turismo por se tratar de uma sociais aplicadas ao turismo.In:
atividade marginal, e essa SERRANO, Célia:BRUHNS, Heloisa
atividade continua marginal por Turini; LUCHIARI, Maria Tereza D.P.
não ter os subsídios da academia (Org). Olhares contemporâneos
para um planejamento adequado. sobre o turismo. Campinas:
As ciências sociais, Papirus,2000b.
fundamentalmente, não
enxergam o turismo como um
objeto válido – entre outras
COOPER, Chris et.al. Turismo:
razões porque, via de regra, o
Princípios e práticas. 2.ed. Porto
crescimento do turismo tem
ocorrido ao sabor do mercado,
Alegre:Bookman, 2001
dos interesses dos grandes
capitais nacionais e
internacionais, sem levar em COSTA, Patrícia C. Unidades de
conta os demais atores nacionais. Conservação: Matéria Prima do
E tem-se desenvolvido ao sabor Ecoturismo. São Paulo, Aleph, 2002
do mercado e não com uma
participação das comunidades
afetadas (ora positiva, ora DIAS, Reinaldo - Sociologia do
negativamente), por falta de um Turismo - São Paulo: Atlas, 2003
aporte de pesquisa sócio-
antropológica aplicada.
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LOHMANN, Guilherme Palhares;


PANOSSO NETTO, Alexandre.
Teoria do Turismo. São Paulo:
Aleph, 2008

OMT – Declaração de Manila sobre


Turismo Mundial, 1980

PEARCE, Douglas G.; BUTLER,


Richard W. (orgs.) Desenvolvimento
em Turismo: Temas
Contemporâneos. São Paulo:
Contexto, 2002

REJOWSKI, Mirian et al.


Desenvolvimento do Turismo. In:
REJOWSKI, Mirian (org.) Turismo
no percurso do tempo. 2 ed. São
Paulo: Aleph, 2005

TRIGO, Luiz Gonzaga Godoi. A


sociedade pós-industrial e o
profissional em turismo. 7 ed.
Campinas, SP: Papirus, 2003

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