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Atividade econômica de celulose e papel e desenvolvimento local: a história da

Klabin e do município de Telêmaco Borba, PR


Local development and cellulose and paper economic activity: Klabin’s and
Telêmaco Borba’s history
L’activité économique du papier et de la cellulose et le développement local: la
histoire de la compagnie Klabin et la municipalité de Telêmaco Borba, PR
Actividad económica de pulpa y papel y desarrollo local: la historia de la Klabin y de la ciudad
de Telêmaco Borba, PR

Heloísa de Puppi e Silva*


Christian Luiz da Silva**
Cleverson V. Andreoli***
Recebido em 3/3/2010; revisado e aprovado em 19/8/2010; aceito em 9/2/2011

Resumo: A Klabin está presente no Paraná há cerca de 70 anos propiciando o surgimento de Telêmaco Borba. O
objetivo geral deste estudo é observar, por fatos históricos, as relações entre a Klabin e Telêmaco Borba. A Klabin
promove indiretamente o desenvolvimento do município ao estimular outras atividades, mas Telêmaco Borba
depende culturalmente da empresa para condicionar o desenvolvimento local.
Palavras-chave: Desenvolvimento Local. História das empresas. Atividade de celulose e papel.
Abstract: The Klabin Company has been installed in Parana State for nearly 70 years, providing the emergence of
Telemaco Borba’s City. The aim of this study is to notice, from historical facts, the relations between Klabin and
Telemaco Borba. The Klabin Company promotes, indirectly, the development of the City when it encourages other
activities, but Telemaco Borba City dependents, culturally, of the comp, of the company to influence the develop-
ment of the City.
Key words: Local development. Company’s history. Paper and cellulose activity.
Résumé: La Klabin est présente au Parana il y a 70 approximativement. Elle a proportionné l’apparition de Telemaco
Borba. L’objectif général de cet étude est de observer, a partir des faits historiques, les relations entre la Klabin et
Telemaco Borba. La Klabin stimule indirectement le développement de la municipalité en stimulant d’autres acti-
vités. Telemaco Borba est culturellement dépendante de la compagnie pour entreprendre le développement local.
Mots-clés: Développement local. Histoire des companies. Activité de la cellulose et du papier.
Resumen: El objetivo de ese estudio es observar, a partir de hechos históricos, las relaciones entre Klabin y Telemaco
Borba. El método de pesquisa es de exploración y deductivo basado en datos secundarios y entrevistas estructuradas
con los agentes locales. Klabin indirectamente promueve el desarrollo del municipio para alentar otras actividades,
pero Telémaco Borba es culturalmente dependiente de la empresa para influir en el desarrollo local.
Palabras clave: Desarrollo local. Historia de las empresas. Actividad económica de pulpa y papel.

Introdução uma população de aproximadamente 34.400


habitantes, o que levou à emancipação políti-
A Klabin é produtora integrada de pa- ca, recebendo o nome de Telêmaco Borba. Em
pel e celulose no Brasil há mais de cem anos. 2006 a empresa atingiu a capacidade de pro-
No estado do Paraná está presente na região dução de 710.000 toneladas por ano de papel.
de Monte Alegre-PR há aproximadamente A história do município de Telêmaco
75 anos e propiciou o surgimento da Cidade Borba confunde-se com a da Klabin, pela
Nova, que abrigava os primeiros operários da sua importância econômica na região. Con-
planta industrial. O povoado atingiu em 1963 tudo, não é evidente o quanto esta história

* Economista e Mestre em Organizações e Desenvolvimento pela FAE – Centro Universitário. Professora de Economia
na FAE – Centro Universitário. E-mail: heloisa.puppi@live.fae.edu.
** Economista, pós-doutor em administração e doutor em engenharia, professor do mestrado e doutorado do pro-
grama de pós-graduação em Tecnologia (PPGTE). E-mail: christiansilva@utfpr.edu.br.
*** Engenheiro, doutor em meio ambiente e desenvolvimento e professor do mestrado em organizações e desenvol-
vimento da FAE – Centro Universitário. E-mail: c.andreoli@sanepar.com.br

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influenciou no desenvolvimento municipal. rumos, meios e métodos de vida da localida-


Neste sentido, ao observar o meio em que a de, bem como nos rumos, meios e métodos
empresa está inserida pode-se extrair relações de organização de cada dimensão societária.
entre sua tomada de decisões e o impacto Por outro lado, recebe influência das demais
que estas causam na localidade de instalação. dimensões societárias. Apenas as caracterís-
Parte-se do princípio de que um meio bem ticas próprias do local são capazes de gerar o
desenvolvido proporciona melhores condi- desenvolvimento.
ções de saúde, educação, qualificação, entre Para Sassen (1998), as cidades são as
outros, tanto para os trabalhadores quanto soluções na busca da sustentabilidade, porque
para os consumidores de uma empresa, os são complexas e capazes de iniciar mudanças
quais, por sua vez, produzirão e consumirão em suas próprias delimitações. As cidades
mais, formando assim um círculo vicioso. possuem diversos processos que influem no
Sendo assim, este estudo tem como espaço particular e no espaço como um todo,
objetivo geral observar, por meio de fatores afetando diretamente nas escalas sociais e
históricos e indicadores, as relações entre a ecológicas locais ou globais. A comunicação
atividade econômica de celulose e papel e o e a interação no nível local são mais eficazes
Desenvolvimento Local, tendo como base a e estão de acordo com suas realidades.
Klabin e Telêmaco Borba, PR. O estudo con- A estrutura disponível como, por exem-
tribui para avaliar a importância da Klabin plo, os equipamentos urbanos são fundamen-
no desenvolvimento do seu entorno e estudos tais para garantir o acesso ao desenvolvimen-
de estratégias futuras para a empresa e para to e criar no local as condições necessárias
o município, envolvendo a sustentabilidade para tal (SILVA, 2006).
da atividade papeleira. De acordo com Vitte (2007), há agentes
Esta é uma pesquisa exploratória de das ações de desenvolvimento local, tais como
método dedutivo com prévio referencial teó- cooperativas, agências de desenvolvimento,
rico, contido na seção 1, em Desenvolvimento associações industriais e comerciais, entida-
Local, Atividade Econômica e “História das des empresariais, sindicatos, governos locais,
Empresas”. A seção 2 aborda histórico da entre outros.
empresa, paralelo ao histórico do município, O desenvolvimento está vinculado à noção
ressaltando as principais relações entre a Kla- de modelo territorial, cuja compreensão é
bin e o desenvolvimento de Telêmaco Borba. um dos objetivos da análise territorial e de
ordenação do território, visando compreen-
1 Desenvolvimento local, atividade econô- der as formas de ocupação e utilização do
espaço. (VITTE, 2007, p. 6).
mica e história das empresas

Vitte (2007) questiona se entre as ações 1.1 Desenvolvimento, estado e ciência


para promover o desenvolvimento local está econômica
a influência da atividade econômica ou não.
Afinal, o DL é coisa de território/espaço Em Souza (1999, p. 85),
coletivamente dimensionado, mas sempre
A História demonstra que o desenvolvi-
considerando que os territórios/espaços
mento econômico de uma nação depende do
coletivizados se afloram das dimensões
emprego crescente de trabalho produtivo,
ou propriedades comuns dos territórios/
da formação de poupança, do aporte de
espaços individuados, propriedades estas
capitais externos, da adoção de inovações
– já formadas, em processo de formação ou
tecnológicas na produção, da existência de
passíveis de serem formadas se houver po-
liberdade de civis e de instituições e leis ade-
tencialidades para tal – que se interfaciem,
quadas, assegurando o direito de proprie-
interajam, intercomplementem e ensejem
dade e favorecendo a expansão da iniciativa
a emersão dos embrionários “núcleos ga-
empresarial. Há necessidade também de um
láticos” de coletivização, em processo de
governo central eficiente e forte, adotando
expansão externa e complexação interna.
políticas favoráveis à industrialização e
(ÁVILA, 2006, p. 2).
ao desenvolvimento do comércio exterior,
De acordo com Ávila (2006), os indiví- bem como a existência de unidade nacional
duos influenciam direta e incisivamente nos em relação aos objetivos sociais ligados ao

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crescimento econômico e ao aumento do de três forças: participação relativa da região


bem estar do conjunto da população. no uso dos investimentos públicos; das po-
Historicamente, para a Ciência Econô- líticas macroeconômicas e setoriais; e da ca-
mica, a evolução do tema desenvolvimento pacidade de organização social da região, ou
foi agrupando variáveis tornando-o mais seja, a classe política, empresarial e os canais
complexo. Essa forma mais completa do de participação da sociedade.
conceito permite entender que, para que o de- O Estado é o principal agente nos pri-
senvolvimento ocorra, deve-se ter a iniciativa meiros estágios de desenvolvimento. Segun-
privada aliada às políticas governamentais do Souza (1999, p. 41), há pontos de estrangu-
e um conjunto de determinantes positivos. lamento do desenvolvimento que devem ser
Então, o que se nota hoje é que, diante dos superados pelo Estado a fim de possibilitar a
impasses ao desenvolvimento, surge a preo- prosperidade de sua nação. O papel do Estado
cupação do governo em desenvolver políticas fixa-se em corrigir as falhas de mercado que
de planejamento econômico que visem ao de- deixam à margem da atividade econômica
senvolvimento das inúmeras regiões do país. parcelas populacionais.
Diversos autores discutem o conceito
de “desenvolvimento”. Alguns, de correntes 1.2 Desenvolvimento local, Estado e
mais teóricas, consideram como sinônimo de atividade econômica
crescimento, e outros autores, voltados para
uma realidade empírica, entendem que “o Sobre os lugares marginais ao processo
crescimento é condição indispensável para o de desenvolvimento está o entendimento de
desenvolvimento, mas não é condição sufi- que “o aumento da riqueza não impede o da
ciente” (SOUZA, 1999, p. 20). pobreza, e isto num único ponto do espaço”
Já o subdesenvolvimento está ligado (SANTOS, 2007, p. 82). Sob a visão crítica
a processos históricos e tendências culturais de Santos (2007), releva-se que a pobreza
agravados pelo aumento da desigualdade foi reduzida e que um problema de ordem
social entre países ou mesmo regiões espe-
qualitativa passou à dimensão quantitativa,
cíficas, onde se constata a evolução dos dois
quando observado no todo. Desta forma,
processos, o desenvolvimento e as quedas dos
deixou-se de lado a busca por soluções locais
níveis de bem estar humano. A concentração
para a prosperidade, aceitando que os locais
da renda nas mãos de uma pequena minoria
pobres estavam fadados à divisão entre ricos
não permite que a maioria da população
e pobres, dependendo de recursos financeiros
usufrua da riqueza que ajudou a acumular.
e investimentos externos ao local para que pu-
Por outro lado, o desenvolvimento
dessem imitar os lugares ricos, sem identificar
pode ser considerado um processo de mu-
características próprias em busca de soluções
dança estrutural. Constantes modificações
consistentes e de acordo com sua realidade.
nos quadros de economias primitivas levam
ao estabelecimento de economias mais avan- O subdesenvolvimento local não está
çadas, com estruturas econômicas e sociais só relacionado a problemas de preço e distân-
diferentes daquelas primárias verificadas em cia. Todo local possui elementos, tais como:
períodos anteriores. os homens, as instituições, as empresas, as
De acordo com Oliveira (2001, p. 145), infraestruturas e o suporte ecológico. A qua-
lidade e a idade destes elementos não são as
[...] é urgente e necessário que o processo de
desenvolvimento industrial concentracio-
mesmas, mas todos fazem parte da estrutura
nista no estado seja revertido, com políticas e do sistema. Não se podem isolar estes ele-
e esforços ofensivos designadamente nos mentos nas análises de desenvolvimento lo-
programas de Governo do Estado, advindo cal. A solução para os problemas da pobreza
de um plano estratégico que contemple o dependem do conhecimento de seu processo
desenvolvimento regional com a participa- de formação como um todo. De acordo com
ção e a monitoração dos atores econômicos Santos (2007, p. 130),
e sociais do estado.
Quando uma pequena cidade abriga indús-
Segundo Boisier (apud OLIVEIRA, tria de exportação, o emprego resultante
2001), o desenvolvimento de longo prazo de pode introduzir um elemento de distorção
uma região pode ser alcançado pela interação em nosso esquema, ao estimular a criação

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do comércio moderno. Há, entretanto, uma uma análise do impacto seletivo destas variá-
questão de escala e, de toda forma, este tipo veis, em diferentes épocas. Muitas questões
de atividade não tem efeito multiplicador espaciais requerem estudo histórico para o
direto sobre outras atividades urbanas, espe- entendimento de como chegaram onde estão
cialmente se estabelecimentos modernos de
(SANTOS, 2007).
comércio ou de serviços são criados por uma
empresa industrial para uso exclusivo de seus Além disso, o surgimento de equipa-
empregados. Por outro lado, os supermerca- mentos urbanos e de ativos institucionais se
dos e outros tipos de comércio moderno não dá de acordo com a necessidade local. Outros
se restringem a um mercado limitado. elementos que surgem com a concentração da
A dominação pelo capital age tanto população e seus anseios são: imprensa, rádio,
entre o urbano e o rural quanto entre zonas infraestrutura urbana, de transporte, de tele-
centrais e periféricas. O capital não se distribui comunicação, de eletricidade, entre outras.
uniformemente no espaço e isto gera relações Os agentes econômicos são heterogêneos
de dependência (SANTOS, 2007). “A deman- porque ocupam lugares diferentes. Da mesma
da deve adaptar-se a necessidades reais da po- forma que as firmas escolhem lugares diferen-
pulação, nos limites do produto socialmente tes para se estabelecer, o comportamento dos
realizado. A produção deve organizar-se em consumidores também depende de escolhas,
função da demanda social assim definida” e diante das opções que dispõem. (THISS
é o Estado quem deve pensar como utilizar os Cada lugar, pelos modos de produção que
excedentes gerados para atingir este objetivo abriga, torna-se assim capaz de, num dado
(SANTOS, 2007, p. 157). momento, atribuir taxas específicas de lucro
O local se envolve em uma dinâmica a cada fração de capital e de remunerar dife-
global a partir dos meios de produção e da rentemente também os diversos segmentos
da mão-de-obra empregada. (SANTOS,
industrialização. A modernização destes
2007, p. 155).
meios de produção desintegra a atividade
econômica e a sociedade, pois as vantagens Entre os agentes locais está o Estado
locacionais para as atividades, o emprego e a e, diante deste papel, os municípios vêm
população alteram-se em benefício do centro assumindo maior influência na tomada de
motor e também desencadeiam movimentos decisões estratégicas para a economia, a
migratórios. Mas a modernização das ativi- sociedade e o espaço local. Compreender o
dades econômicas é incapaz de absorver toda desenvolvimento econômico local requer o
a população que, marginalizada, refugia-se entendimento dos poderes locais, que con-
no “circuito inferior da economia urbana” sistem em atores sociais, de identidade e
(SANTOS, 2007, p. 82). práticas específicas. Nesse sentido, os muni-
Economicamente, a evolução e a per- cípios ganham força nestes estudos. Eles são
cepção da competitividade das empresas se a organização política do espaço, com gestão
dão de acordo com a dinâmica local e global, específica para o espaço, a gestão pública mu-
estabelecendo relações entre as demandas nicipal, regida de alianças e interações locais,
locais e as necessidades de projeção da ati- estaduais ou nacionais. O desenvolvimento
vidade econômica. Há localidades que têm econômico local, no âmbito municipal, não
como característica a atividade econômica deve ser confundido com o desenvolvimento
baseada em exportação. Ou seja, a demanda urbano e a gestão municipal deve conduzir
pelo produto elaborado no local é externa a funções como a de legitimação, por exemplo,
ele, não dependendo da demanda local para que quando gerida pela união, dista da reali-
acumular excedente. Mas é esta atividade que dade local (VITTE, 2007).
estimula demais atividades locais. (LIMA De acordo com a Constituição Federal
A história de um lugar é constituída de 1988, o Estado deve oferecer infraestrutura
tanto de elementos locais quanto de elemen- mínima para a população. Além de assumir
tos extra locais, que resultam da difusão e da um papel participativo e ativo no desenvolvi-
propagação de raças, linguagens, religiões, mento, o Estado deve organizar e direcionar
plantas cultivadas, animais, modo de vida, políticas públicas efetivas, que devem ser
novas técnicas, entre outras variáveis da ci- decididas sobre um arcabouço consistente
vilização. A definição de um lugar precisa de de informações.

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Isto exige que haja renda nos lugares As partes que interagem no sistema
para que sejam capazes de consumir e ampliar organizacional e empresarial são: colabora-
a estrutura produtiva. Além disso, há neces- dores, clientes, fornecedores, concorrentes,
sidade de que uma transferência inicial de entidades sindicais, órgãos da sociedade
investimentos e estímulos seja gerada, o que civil, órgãos governamentais, investidores,
fica a cargo do planejamento do Estado. entre outros.
As grandes obras de infraestrutura As organizações operam dentro de um con-
permitem a interligação de regiões e eixos texto, do qual dependem o seu desenvolvi-
industrializados e garantem a autonomia do mento e sua sobrevivência. É do ambiente
local. Mas, investimentos desse porte geram que as organizações obtêm recursos e in-
formações necessárias para o seu funciona-
também uma relação de dependência do ca-
mento e é nele que colocam o resultado de
pital: “a política de consumo está ligada à da suas operações. Na media em que ocorrem
produção e não se pode conceber um sistema mudanças no ambiente, as operações das
socioeconômico redistributivista que não organizações são influenciadas por essas
possua meios de oferecer uma estrutura de mudanças. (CHIAVENATO, 1987 apud
produção adequada” (SANTOS, 2007, p. 25). KARKOTLI; ARAGÃO, 2004, p. 18).
Contudo, é necessária uma definição Nesse sentido, as empresas passaram
da caracterização do espaço de acordo com a atentar para a origem e para o destino dos
cada realidade (SANTOS, 2007). Desta forma seus recursos e produtos, agindo de forma a
é possível compreender a realidade local, a atender as aspirações das partes integrantes
disposição e as relações entre os agentes, seus do sistema e garantir seus objetivos. Torna-
papéis e funções, e alinhar estes elementos ram-se empresas que se preocupam com o
com a estratégia e a busca por soluções e su- bem- estar da população, que agem correta-
perações do subdesenvolvimento. mente, resultando na prática da responsabi-
lidade social.
1.2.1 Responsabilidade social: competitivi- Na economia industrial, área de estudo
dade empresarial ou papel do Estado da economia, a responsabilidade social pode
ser entendida como um dos fatores de alcance
Quando as organizações empresariais da competitividade. A percepção do “jogo da
realizam a responsabilidade social, assumem concorrência” é que direcionará a tomada de
um posicionamento estratégico e administra- decisão que tornará a empresa competitiva.
tivo. De acordo com Chiavenato (1999, p. 6), Quanto mais informações se obtiver do mer-
“a Administração é o processo de planejar, cado, menor o número de incertezas sobre as
organizar, dirigir e controlar o uso de recur- estratégias adotadas. A estratégia depende
sos a fim de alcançar objetivos”. Neste caso, da capacitação acumulada e da conduta das
processo e objetivos das empresas, estão re- empresas. A competitividade permeia toda
lacionados à administração empresarial e o a indústria, ou seja, o conjunto de firmas e os
campo de relacionamento das empresas seja fatores pelos quais estas concorrem determi-
interna ou externamente, tornou-se funda- nam o padrão de concorrência de um merca-
mental na busca dos objetivos. Ou seja, para do. As percepções de mercado pela empresa
alcançar seus objetivos a empresa deveria agir farão com que esta tome decisões e elabore
e pensar o sistema organizacional, incluindo estratégias que a permita capacitar-se para
os ambientes internos e externos. um próximo período de tempo.
Se há preocupação com aspectos sociais
O mundo empresarial vê, na responsabi-
lidade social, uma nova estratégia para
e ambientais, se hoje as certificações regem a
aumentar seu lucro e potencializar se qualidade com que as firmas trabalham e se
desenvolvimento. Essa tendência decorre há uma cobrança do mercado sobre a conduta
de maior conscientização do consumidor socialmente correta das firmas, estas terão que
e conseqüentemente procura por produtos praticar a responsabilidade social, trabalhar
e práticas que gerem melhoria para o meio com certificações, entre outras condutas, para
ambiente ou comunidade, valorizando as- se tornarem competitivas e sobreviverem
pectos éticos ligados à cidadania. (ASHLEY, no mercado. Ou seja, a responsabilidade
2003, p. 3). social tornou-se um fator determinante de

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concorrência em todas as indústrias e, por organizações. Trata-se de uma ferramenta


isso, é necessário atentar para os métodos de análise estratégica que, por meio do co-
utilizados. Ao tratar da responsabilidade nhecimento do ambiente interno e externo
social como fator determinante de competi- à empresa, converte-se em um diferencial
tividade empresarial, deve-se compreender competitivo. Porter (1987, p. 22) em seus
que por trás deste entendimento há uma gama estudos sobre competitividade, já defendia
de estratégias e ferramentas utilizadas que esta relação: “A essência da formulação de
tornaram as ações vantagens competitivas uma estratégia é relacionar uma companhia
às empresas. ao seu meio ambiente”.
Karkotli e Aragão (2004) apresentam Assim, Geelhoed e Marsh (1985 apud
que a prática da responsabilidade social é FERREIRA e GODOY, 2001) fazem uma ana-
direcionada ao ambiente interno ou externo logia sobre a importância do conhecimento da
das organizações. Quando direcionadas ao história de uma empresa com um indivíduo,
ambiente interno, as práticas resultam em observando seu nascimento, crescimento e
atenção acentuada aos valores humanos e aos desenvolvimento. Mais que isso, completo
propósitos e finalidade dos acionistas, execu- seria tornar a observação sobre a empresa
tivos e colaboradores; remuneração justa de análoga à própria história da humanidade,
cada grupo; valorização e desenvolvimento “sem fim”. Pois, além de estudar o seu nas-
pessoal; qualidade de vida; transparência; cimento, crescimento e desenvolvimento, é
cooperação; e utilização dos recursos e pro- imprescindível estudar sua sustentabilidade.
cessos de maneira adequada, ambientalmente Ao expandir a abrangência do termo
correta. Externamente observam-se: parcerias “história das empresas”, permite-se também
fiéis; cumprimento contratual; relacionamen- expandir sua compreensão para uma organi-
to e aproximação da comunidade; contribui- zação que deve estar em constante regene-
ção fiscal adequada; utilização adequada dos ração de processos e de recursos a fim de
recursos naturais; cuidado com emissões ao atender às necessidades ilimitadas de seus
ar e de efluentes, além do cuidado com o lixo consumidores.
gerado; preocupação com segurança, saúde Direcionando a história de uma empre-
e satisfação dos consumidores; e competição
sa para a compreensão do desenvolvimento
honesta.
local envolvem-se temas como competitivi-
Contudo, a percepção do local sobre
dade, fatores locacionais e indicadores. Nesta
uma ação de responsabilidade social con-
concepção, o ambiente externo encaixa-se
funde-se com a mesma percepção sobre uma
como um termômetro da empresa, medindo
política pública. A percepção do local con-
o impacto de suas ações. Se aderir a práticas
funde a origem de uma ação de Estado, não
para o desenvolvimento local a empresa terá
distinguindo o público do privado.
mais chances de perpetuar sua existência.
1.3 “História das empresas” e desenvolvi-
mento local 2 Histórico da Klabin e de Telêmaco Borba:
principais relações e desenvolvimento local
A história das empresas é um dos
fatores determinantes para o entendimento No Brasil, o setor de celulose e papel é
das relações da empresa com seu entorno. representado pela Associação Brasileira de
Segundo Ferreira e Godoy (2003, p. 1) Celulose e Papel (BRACELPA) e é constituído
Os estudos denominados de ‘história em-
por 220 empresas instaladas em 450 municí-
presarial’ têm procurado identificar e ana- pios, em dezessete estados. As indústrias
lisar os ciclos ou períodos característicos da movimentaram cerca de vinte e quatro bilhões
história de uma determinada organização de reais e recolhem aproximadamente R$ 2,1
examinando a combinação dos fatores in- bilhões em impostos (BRACELPA, 2008). O
ternos e ambientais que influenciaram o seu setor não disputa mercados apenas no âmbi-
processo de crescimento e de permanência to nacional, participando de uma dinâmica
(ou não) no mercado. competitiva mundial. No ano de 2007, o
A história das empresas vai além da setor de celulose e papel no Brasil produziu
descrição dos fatos e passagens vividas pelas 11,9 milhões de toneladas de celulose e 8,96

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milhões de toneladas de papel, registrando papel, dada a escolha locacional, propicia a


um crescimento de 6,6% na produção de celu- evolução de comunidades no local em que
lose e 2,8% na produção de papel, em relação estão inseridas, formando cidades.
ao ano anterior. As exportações cresceram e A produção de celulose e papel é uma ativi-
o saldo da balança comercial do setor de ce- dade que gera desconcentração industrial e
lulose e papel foi de US$ 3,4 bilhões em 2007 induz o desenvolvimento em regiões menos
(BRACELPA, 2008). No ano de 2006, o Paraná dinâmicas. Os projetos florestais-industriais
representava 8% da produção de celulose têm sido criados próximos a maciços flores-
nacional e 20% da produção de papel. tais plantados, normalmente localizados
O alto grau de verticalização1 caracteri- em regiões distantes dos centros urbanos.
za as empresas produtoras de papel e celulose (BRACELPA, 2006a).
e, no Paraná, isto pode ser verificado pela
quantidade de pasta produzida e no mon-
2.1 A Klabin em Telêmaco Borba
tante consumido pelas firmas na produção
de papel. Em 2000, do total da produção de
pastas de madeira utilizadas para celulose Sobre o surgimento da Klabin em
95,17% são destinadas ao consumo interno Telêmaco Borba (Figura 1),
das firmas. Apenas 4,69% são direcionadas às A marca dos empreendedores sempre foi
vendas domésticas, sendo a maior parte pasta buscar a inovação, o que exigia viagens
mecânica. Ou seja, a maioria das empresas regulares à Europa em busca de novas téc-
que produzem celulose a utilizam na produ- nicas de produção. Dentro desse espírito, a
ção do papel (DE PUPPI E SILVA, 2003). empresa deu seu grande salto, em 1934, com
Embora a atividade de celulose e papel a fundação da Klabin do Paraná, a primeira
se caracterize pelo alto grau de verticalização, fábrica integrada de celulose e papel do
o surgimento das empresas de celulose e País. (KLABIN, 2003).

A localidade de Harmonia está


situada no município de Telêmaco
Borba, na região Centro-Leste do
Paraná e distante 140 Km de Ponta
Grossa, 200 Km de Londrina e 235
km da capital Curitiba.

Figura 1 - Mapa do estado do Paraná ressaltando Telêmaco Borba e Harmonia, região


que abriga a Klabin
Fonte: Telêmaco Borba (2008).

Em 2006 a Klabin atingiu 36% da capa- ciais com medidas estratégicas, como a ade-
cidade instalada do Paraná e 7% em relação quação das florestas plantadas para receber
ao Brasil (BRACELPA, 2008). A partir da dé- a certificação internacional da Forest Stewar-
cada de 1990, o mercado de papel e celulose dship Council (FSC), em 1998, que alega exce-
tornou-se mais competitivo e a empresa teve lência em preservação ambiental (DE PUPPI E
que se adequar aos novos padrões concorren- SILVA, 2001). Em 2005, foi aprovado o projeto
MA-1100, que expandiu a capacidade de pro-
1
Por meio da verticalização, as empresas aumentam seu dução da Unidade Monte Alegre de 700 mil
domínio sobre os preços e a capacidade de negociação, toneladas/ano para 1,1 milhão de toneladas/
decorrente da alta economia de escala obtida. Geram
maior poder de mercado, bem como reduzem custos
ano, dentro dos objetivos estabelecidos pelo
através das transações com fornecedores ou empresas Conselho de Administração. O projeto foi
na frente da cadeia produtiva. inaugurado no dia 15 de setembro de 2008

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com integrantes administrativos, clientes, conhecido como Distrito Industrial.


fornecedores e autoridades governamentais A figura 2 que se segue traz uma per-
(KLABIN, 2010). cepção geral sobre a história da empresa no
A Klabin é autossuficiente em madeira e município. Trata-se da ilustração da história
celulose e, em Telêmaco Borba, consome todo das decisões da Klabin e os respectivos impac-
o montante de celulose na produção de papel, tos no município de Telêmaco Borba, apresen-
mas possui capacidade de venda de toras tados em uma linha do tempo relacionando
para outras atividades que estão presentes fatores históricos da empresa, da economia e
no Polo Madeireiro em Telêmaco Borba, hoje do município.

Com o Consenso de Washington e abertura comercial, iniciou um novo contexto mundial de competitividade. A Klabin, papel e celulose, teve
que se adequar à intensificação das forças competitivas de seu mercado, buscando a certificação ambiental entre outras ações.

34.000 habitantes na região e Consolidação do Pólo


Consolidação do Município de Madeireiro e Moveleiro Resultados alcançados no desenvolvimento
Telêmaco Borba. consecutivamente econômico e social do município de Telêmaco
Borba. Melhorias nos indicadores de renda, emprego
e saúde. A situação atual do município delineia que
Diferencial turístico para a região. Consolidação do Pólo sua atividade principal volta-se para a cultura da
Madeireiro e Moveleiro madeira em suas diversas formas de transformação.
consecutivamente
Urbanização de Monte Alegre,
acomodando os operários da
planta fabril da Klabin. Mais tarde
esta região se tornaria Telêmaco
Borba

1.899 1.950 1.963 1.993 1.998 2.001

1.934 1.959 1.989 1.997 2.000 Ano

Recebimento da certificação ambiental internacional da Forest Stewardship Council (FSC). Garantia de fomento para o pólo.

Percepção de sustentabilidade das florestas por meio de um estudo realizado pela Universidade Estadual de
Ponta Grossa. Início das discussões sobre o Pólo Madeireiro.

Implantação do Bondinho para transportar os funcionários da fábrica.

Escolha locacional da Klabin e sua implantação em Telêmaco


Borba

Surgimento da Klabin no Brasil

Figura 2 - Linha do tempo segundo indicações das ações da Klabin e seu impacto em Telêmaco Borba
Fonte: De Puppi e Silva e Silva (2005).

Em branco: Decisões da Klabin, de acordo com o contexto social, econômico e político.


Em laranja: Impactos das decisões da Klabin, de acordo com o contexto, no desenvolvimento de Telêmaco
Borba.
Em rosa: Período de 1939 a 1947 que teve forte influência política nas decisões da Klabin, inclusive de
produzir papel na região.
Em cinza: Influência das decisões da Klabin na situação atual do município.

De modo geral, até o início da venda decisões sobre o meio de vida designados
de lotes das terras de Monte Alegre toda ati- pela empresa. O aumento da população e
vidade passava pelo crivo da Klabin. Depois a vontade de aproximação das pessoas não
disso, a população começou a crescer e com podia ser mais contido pela alegação da pro-
a fundação de Telêmaco Borba a atividade priedade privada da empresa porque estava
local foi se diversificando e afastando-se das indo além do seu controle. Ou seja, a partir

INTERAÇÕES, Campo Grande, v. 12, n. 2, p. 137-148, jul./dez. 2011.


Atividade econômica de celulose e papel e desenvolvimento local: a história da 145
Klabin e do município de Telêmaco Borba, PR

dos anos 1950 e 1960 a história do local tomou atividades comerciais e de serviços diversos,
novos rumos com atividades autônomas além que atendem a demanda local.
da celulose e papel, mas que se relacionavam De acordo com o IPARDES (2010), o
com o mercado existente pela presença dos Valor Adicionado Fiscal (VAF) de Telêmaco
funcionários. A ida e vinda de mão-de-obra Borba, em 2008, era de R$ 1.401.766.875,00
já não era mais responsabilidade da empresa e a indústria representava 72%, a produção
como no começo das atividades, quando a primária 14% e comércio e serviços 11%.
Klabin levava os funcionários para o sertão Confirmando a característica industrial
paranaense. Não era mais necessário levar as de Telêmaco Borba, sua população apresenta
pessoas, elas iam por conta própria, a não ser maior concentração na área urbana2. Outro
a mão-de-obra técnica e qualificada que era aspecto relevante é o consumo de energia
procurada pela empresa. Pessoal qualificado elétrica que aponta crescimento na classe
para a produção, para a operacionalização do industrial de Telêmaco Borba, durante a
maquinário, engenheiros e técnicos qualifica- década de 1990 (COPEL3). Tais fatores mos-
dos sempre foram preocupação para empresa. tram que as atividades da Klabin e início das
As relações políticas sempre estiveram atividades do Polo Madeireiro modelam as
relacionadas à inserção da Klabin da região, características do município. Além de influir
desde a solicitação das terras à coroa portu- no município, a extração de toras para papel
guesa até a decisão do estabelecimento na e celulose permeia todos os municípios desta
região. As diretrizes políticas populistas e região (DE PUPPI E SILVA, 2003).
nacionalistas, praticadas no processo de subs- Com relação ao número de empresas
tituição por importações foram elementares nota-se que a partir de 1995 o número de
para a implantação da estrutura produtiva, pequenas e micro empresas cresceu signi-
inclusive para garantir o abastecimento da ficativamente na região. O polo moveleiro,
Fazenda de Monte Alegre. A Klabin fazia em Telêmaco Borba, surge neste período e
as vezes do Estado em suas terras, à medida participa com 6,37% das indústrias instaladas
em que decidia pelos preços das transações neste município a partir de 1995 (DE PUPPI E
de alimentos, moradia e saúde. Na década SILVA, 2003). Isto indica que o restante, 93,63%
de 1950, a Klabin abriu suas terras para que
das empresas implantadas, a partir desta data,
funcionários e demais interessados adquiris-
não participam do polo, mas há o desenvol-
sem lotes na Cidade Nova, que mais tarde
vimento de demais atividades em torno de
configurou a região urbana do município de
papel e celulose e de madeira. Hoje, fala-se
Telêmaco Borba. O aumento populacional,
no município sobre o Distrito Industrial e não
mesmo que relacionado às atividades da
mais sobre os polos madeireiro e moveleiro.
Klabin, foi fundamental para a emancipação
Tanto em 1996 como em 1999 e 2001,
do município em 1964. As relações políticas
na atividade de papel e celulose, a maior
da Klabin se davam com o Governo Federal,
concentração dos trabalhadores possuía 2o
Governo Estadual e Governo Municipal. Nos
grau completo. Porém, os trabalhadores com
anos mais recentes, a dinâmica da atividade
da empresa tornou-a mais próxima da esfera esta qualificação, em 1996, concentravam-se
municipal, apesar de indiretamente também no recebimento de 7,01 a 10,00 salários mí-
relacionar-se com as demais esferas. nimos. Já em 1999 e 2001, esta concentração
Quanto à atividade econômica, durante encontra-se no recebimento de 5,01 a 7,00
anos esteve relacionada à produção de celu- salários. Contudo, observa-se uma tendência
lose e papel e ao abastecimento de alimentos na atividade papeleira, em concentrar a renda
e bens e serviços necessários aos meios de e manter sua mão-de-obra em um mesmo
vida da população local. Com o tempo foram nível de escolaridade. Além disso, de 1996
diversificando e obtendo representatividade para 2001, nota-se decréscimo no número de
em todos os setores relacionados à atividade empregos ofertados pela atividade de papel e
florestal, principalmente depois da abertura
das terras com o loteamento e a fundação do 2
Este fato também se atrela ao domínio de aproxima-
município. Com isso intensificou também o damente 95%e das terras do município pertencerem à
estabelecimento de serrarias e de empresas Klabin.
moveleiras de micro e pequeno porte, além de 3
Informações fornecidas por e-mail em 2003.

INTERAÇÕES, Campo Grande, v. 12, n. 2, p. 137-148, jul./dez . 2011.


146 Heloísa de Puppi e Silva; Christian Luiz da Silva; Cleverson V. Andreoli

celulose, enquanto que, nas atividades ligadas melhores níveis de renda ao pessoal alocado,
à madeira, em 1999, os empregos representa- observando que, em 1996 e 1999, o maior nú-
vam 22% dos empregos da região e, em 2001, mero de trabalhadores tinha 4a série completa
passou a representar 23,15% (MTE, 2003). O e, destes, maior número recebia entre 1,01 a
aumento dos empregos nas atividades ligadas 1,50 salários mínimos. Porém, em 2001 esta
à madeira não se dá pela atividade papeleria, concentração transferiu-se significativamen-
mas por atividades de elaboração de artefatos te para o nível escolar de 8a série completa,
de madeira (quadro 1). contrário à tendência observada em toda a
À atividade do polo madeireiro, infere- região, e em 2001, dos trabalhadores com 8a
se que a partir de sua implantação o nível série completa, o maior número recebia entre
de escolaridade aumentou e proporcionou 1,51 e 2,00 salários mínimos.

Papel e Celulose Atividades do Pólo Madeireiro

Faixa salarial, em Faixa salarial, em


ANO Grau de escolaridade salários mínimo, de Grau de escolaridade salários mínimo, de
de maior incidência acordo com o grau de de maior incidência acordo com o grau
escolaridade de escolaridade

1996 2o Grau Completo 7,01 a 10,00 4a Série Completa 1,01 a 1,50


2001 2o Grau Completo 5,01 a 7,00 8a Série Completa 1,51 a 2,00

Quadro 1 - Relação entre grau de escolaridade e renda dos trabalhadores do polo madeireiro
e de papel e celulose, 1996/2001
Fonte: Dados brutos MTE/RAIS (2003), tabulados pela autora.

Por outro lado, as comparações entre as resultará na construção de 8 novos postos


três dimensões do IDH-M levam a perceber de saúde para o município.
que na década de 1990 houve uma melhora A empresa incentiva a participação vo-
nos níveis de escolaridade e renda no municí- luntária dos funcionários com doações e con-
pio de Telêmaco Borba, mesmo que em níveis tribui de diversas formas com reconhecidas
inferiores à variação do estado. As carências entidades assistenciais como, por exemplo,
do município quanto à ponderação da média a Apae, a Pastoral da Criança, a Fundação
do IDH-M, aponta que há debilidades na ren- Abrinq pelos Direitos da Criança, além de
da e na educação. O nível de escolaridade é o diversas prefeituras.
que puxa o IDH-M para cima, pois está acima
da média dos três indicadores. Contudo, os Considerações finais
níveis de escolaridade estão mais altos que a
capacidade do município em gerar renda e A observação da história da Klabin em
melhores condições de vida. Telêmaco Borba mostra que desde o estabele-
Quanto à dimensão saúde, o município cimento no local, a empresa esta atenta para
apresentou melhorias superiores àquelas a sustentabilidade e para o desenvolvimento,
alcançadas pelo Paraná e a Klabin também tomando como base suas estratégias competi-
está envolvida neste impacto, por meio da tivas. Mas isso ainda é passível de aprofunda-
responsabilidade social (KLABIN, 2003). mento e pesquisa visto que há possibilidade
Klabin oficializa entrega de quatro postos desta preocupação sobre a sustentabilidade
de saúde para o município de Telêmaco e o desenvolvimento não incorporar sobre-
Borba (PR) - 28.08.2003. A iniciativa faz par-
maneira estratégias para a região urbana, de
te de um convênio firmado entre a Klabin,
acordo com os anseios da população local. Isto
a Prefeitura Municipal de Telêmaco Borba
(PR) e o Banco Nacional de Desenvolvi- não quer dizer que a empresa não se relacio-
mento Econômico e Social (BNDES) que ne ou não aja para o desenvolvimento, mas

INTERAÇÕES, Campo Grande, v. 12, n. 2, p. 137-148, jul./dez. 2011.


Atividade econômica de celulose e papel e desenvolvimento local: a história da 147
Klabin e do município de Telêmaco Borba, PR

que talvez os parâmetros, objetivos e metas Referências


para o desenvolvimento ainda não estejam ASHLEY, Patrícia Almeida (Coord.). Ética e responsabili-
claros tanto para a empresa quanto para o dade social nos negócios. São Paulo: Saraiva, 2003.
município. Contudo, a preocupação sobre o ÁVILA, Vicente Fideles de. Cultura de sub/desenvolvimento
desenvolvimento se intensificou no decorrer e desenvolvimento local. 1. ed. Sobral: Edições UVA, 2006.
dos anos, constatando o crescente esforço da v. 1. 115 p.
empresa em se adequar e se antecipar para BRACELPA (Associação Brasileira de Celulose e Papel).
cumprir com metas de redução da poluição Informe anual: o setor brasileiro de celulose e papel -
2005. Disponível em: <http://www.bracelpa.org.br/
e pelas ações de responsabilidade social,
br/anual/perfil2006.pdf> Acesso em: 20 jun. 2006a.
mesmo que estas resultem da necessidade de
______. Responsabilidade social das empresas de celulose e
sobrevivência no mercado.
papel – 2005. Disponível em: <http://www.bracelpa.
O histórico também mostra que a org.br/br/social/papelsocial.htm>. Acesso em: 4 abr.
sinergia da empresa com o local era mais 2006b.
intensa no período em que as terras eram de ______. Informações gerais sobre o setor 2007. Disponível
sua propriedade, visto que ela era a única em: <http://www.bracelpa.org.br/bra/index.html>.
responsável pelo meio de vida no local. A Acesso em: ago. 2008.
história da Klabin e do município revelaram CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à Teoria Geral da
a importância das relações da empresa com Administração: edição compacta. 2. ed. Rio de Janeiro:
o Estado, principalmente no período do go- Campus, 1999.
verno nacionalista de Getúlio Vargas, sendo DE PUPPI E SILVA, Heloísa. As mudanças no padrão de
ele o indutor do desenvolvimento e do esta- concorrência da indústria de papel e celulose paranaense entre
1989 e 2001. Pesquisa e Iniciação Científica (PAIC em
belecimento de uma indústria nacional, ao Economia Industrial), Faculdades Bom Jesus, Curitiba,
garantir a construção da fábrica da Klabin no 2001.
Paraná. Até hoje as relações entre a Klabin e ______. A influência da atividade econômica papeleira
os governos municipal, estadual e federal nos indicadores de desenvolvimento econômico e social de
garantem a expressão política das relações Telêmaco Borba e municípios vizinhos. 2003. Monografia
entre a atividade econômica e o meio em que (Graduação na Área de Ciências Econômicas) – FAE
está inserida. Business School, Curitiba, 2003.
A atividade de celulose e papel, apesar DE PUPPI E SILVA, Heloísa; SILVA, Christian Luiz.
de ser verticalizada, resulta em impactos po- Fatores históricos da Klabin – papel e celulose determi-
nantes para o desenvolvimento sócio-econômico de
sitivos ao desenvolvimento local, ao estimular Telêmaco Borba-PR. In: CONGRESSO BRASILEIRO
outras atividades e a geração de renda, como DE HISTÓRIA ECONÔMICA, 6. e CONFERÊNCIA
o desenvolvimento do Distrito Industrial. A INTERNACIONAL DE HISTÓRIA DAS EMPRESAS,
instalação da Klabin em Telêmaco Borba é 7. Conservatória, RJ, 2005.
marco cultural do local, estabelecendo um FERREIRA, Daniel; GODOY, Arilda. A estruturação or-
vínculo rígido de referência e dependência, ganizacional, os incentivos governamentais e a diversificação:
fatores responsáveis pela expansão e consolidação do
principalmente pelo Estado.
Grupo Nova América no cenário empresarial brasileiro.
A atividade de celulose influencia o Artigo apresentado no CONGRESSO BRASILEIRO
meio social do local no que se refere às classes DE HISTÓRIA ECONÔMICA, 5. e CONFERÊNCIA
sociais e ao atendimento das condições de INTERNACIONAL DE HISTÓRIA DE EMPRESAS, 6.
saúde, escolaridade, bem-estar e infra-estru- Caxambu, MG, 2003.
tura. Mas os inchaços populacionais causados IPARDES. Perfil Municipal – Telêmaco Borba. Dispo-
pela atratividade da oferta de emprego pelas nível em: <http://www.ipardes.gov.br/perfil_municipal/
MontaPerfil.php?Municipio=84260&btOk=ok>. Acesso
estratégias da empresa agravam os problemas em: out. 2010.
relacionados a estas questões, impactando
KARKOTLI, Gilson; ARAGÃO, Sueli. Responsabilidade
negativamente no desenvolvimento local. social: uma contribuição à gestão transformadora das
Pelo uso de florestas, a Klabin ocupa organizações. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004.
95% das terras do município levando ao KLABIN. Histórico da empresa. Disponível em: <www.
entendimento de que soluções e alternativas klabin.com.br>. Acesso em: ago. 2003.
precisam ser pensadas para o espaço urbano. ______. Histórico Klabin. Disponível em: <http://www.
klabin.com.br/pt-br/klabin/historicoKlabin.aspx>.
Acesso em: out. 2010.
MTE. RAIS, 1996, 1999 E 2001. CDROM, 2003.

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148 Heloísa de Puppi e Silva; Christian Luiz da Silva; Cleverson V. Andreoli

OLIVEIRA, Maria Aparecida de Oliveira. Desigualdades SILVA, Christian (Org.). Desenvolvimento sustentável:
inter-regionais e políticas públicas para o setor industrial um modelo analítico integrado e adaptativo. Petrópolis:
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(Mestrado) − Universidade Estadual de Maringá, Ma-
SOUZA, Nali de Jesus. Desenvolvimento econômico. São
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SANTOS, Milton. Economia espacial. São Paulo: Editora
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SASSEN, Saskia. Os espaços da economia global. In: Campinas (SP) e os impactos no território. In: COLÓQUIO
Oliveira, F. A. M. (Org.). Globalização, regionalização e INTERNACIONAL DE GEOCRÍTICA, 9. Universida-
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