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Álvaro

de Campos – “o filho indisciplinado da sensação” R. Reis


“Quanto mais eu sinta, quanto mais eu sinta como várias pessoas
Quanto mais personalidade eu Fver...
Mais análogo1 serei a Deus, seja ele quem for...”

•  Nasce em Tavira – 1890;


•  Alto e magro, entre o branco e o moreno, Fnha cabelo liso e usava monóculo.
•  Formado em Engenharia Naval – Glasgow (nunca exerceu a sua profissão).
•  Viajou pelo Oriente, fixou-se sobretudo em Lisboa.
•  1914, faz a sua aparição literária publicando primeiramente o “Opiário” e depois a “Ode
Triunfal”, que Sá-Carneiro considerava a obra-prima do futurismo.

•  Poeta sensacionista e escandaloso.


•  Homem da indústria e da técnica.
•  Válvula de escape dos momentos dibceis e de irritação de Pessoa, transmiFndo o seu
histerismo, a sua euforia, a sua carga dinâmica, a sua torrente nervosa.
•  O mais megalómano e intervencionista.

1análogo - semelhante
Três fases disFntas:

Fase decaden)sta
•  Expressa no poema “Opiário” (poema concebido no decurso de uma viagem ao Oriente e
dedicado a Mário de Sá-Carneiro).
•  Ponto máximo de destruição da personalidade do sujeito, que se traduz num
senFmento decadente de tédio e enjoo da vida levado até ao limite.
•  Foi conduzido a este estado por um fatalismo cego e procura evadir-se através do ópio
e da morfina.
•  Gostaria de reagir de outro modo mas não sabe como. Chega a marginalizar-se e não
encontra no mundo nada que lhe interesse, nem as viagens nem o trabalho.
•  Só lhe resta “fumar a vida”, ou seja, desejar a morte, já que a vida não passa de uma
realidade para transformar em nada.

Supostamente Pessoa imitara Sá-Carneiro “desde a nostalgia do além, a morbidez snob de um


saturado da civilização, a embriaguez do ópio e dos sonhos dum Oriente que não há, o horror à
vida, o realismo sagrico de certas notações, até ao vocabulário entre preciso e vulgar, até às
imagens, aos símbolos, ao esFlo confessional, brusco, animado e divagaFvo, até ao ritmo dos
decassílabos agrupados em quadras”(Jacinto Prado Coelho).
Por isso eu tomo ópio. É um remédio Um inúFl. Mas é tão justo sê-lo!
Opiário Sou um convalescente do Momento. Pudesse a gente desprezar os outros
Ao Senhor Mário de Sá-Carneiro Moro no rés-do-chão do pensamento E, ainda que co'os cotovelos rotos,

E ver passar a Vida faz-me tédio. Ser herói, doido, amaldiçoado ou belo!
É antes do ópio que a minh'alma é doente.
SenFr a vida convalesce e esFola
[...] Tenho vontade de levar as mãos
E eu vou buscar ao ópio que consola Sou desgraçado por meu morgadio. À boca e morder nelas fundo e a mal.
Um Oriente ao oriente do Oriente. Os ciganos roubaram minha Sorte. Era uma ocupação original

Talvez nem mesmo encontre ao pé da morte E distraía os outros, os tais sãos.
Esta vida de bordo há-de matar-me. Um lugar que me abrigue do meu frio.
São dias só de febre na cabeça
O absurdo, como uma flor da tal Índia
E, por mais que procure até que adoeça, […] Que não vim encontrar na Índia, nasce
já não encontro a mola pra adaptar-me. Um dia faço escândalo cá a bordo, No meu cérebro farto de cansar-se.

Só para dar que falar de mim aos mais. A minha vida mude-a Deus ou finde-a ...
[…] Não posso com a vida, e acho fatais
Perdi os dias que já aproveitara. As iras com que às vezes me debordo. Deixe-me estar aqui, nesta cadeira,
Trabalhei para ter só o cansaço
Até virem meter-me no caixão.
Que é hoje em mim uma espécie de braço […] Nasci pra mandarim de condição,
Que ao meu pescoço me sufoca e ampara.
Pertenço a um género de portugueses Mas falta-me o sossego, o chá e a esteira.
Que depois de estar a Índia descoberta
[…] Ficaram sem trabalho. A morte é certa. Ah que bom que era ir daqui de caída
A vida a bordo é uma coisa triste,
Tenho pensado nisto muitas vezes. Pra cova por um alçapão de estouro!
Embora a gente se divirta às vezes. A vida sabe-me a tabaco louro.
Falo com alemães, suecos e ingleses
[…] Nunca fiz mais do que fumar a vida.
E a minha mágoa de viver persiste. Febre! Se isto que tenho não é febre,
Não sei como é que se tem febre e sente. E afinal o que quero é fé, é calma,
Eu acho que não vale a pena ter
O fato essencial é que estou doente. E não ter estas sensações confusas.
Ido ao Oriente e visto a índia e a China. Está corrida, amigos, esta lebre. Deus que acabe com isto! Abra as eclusas —
A terra é semelhante e pequenina
E basta de comédias na minh'alma!
E há só uma maneira de viver. […]
Porque isto acaba mal e há-de haver (No Canal de Suez, a bordo)
(Olá!) sangue e um revólver lá pró fim
Deste desassossego que há em mim
E não há forma de se resolver. Álvaro de Campos, in "Poemas"


«Opiário» de Álvaro de Campos
Papel do «ópio» na vida do «eu»
!  O «eu» droga-se por não ter encontrado um sentido para a vida.
!  O «ópio» «consola» como «remédio», é uma porta aberta para o sonho, para a fuga ao real.
!  Busca de um «Oriente» inexistente - «vou buscar ao ópio […]/Um Oriente ao Oriente do
Oriente».

Caracterização do «eu»
!  Inadaptado confesso - «Já não encontro a mola pra adaptar-me».
!  Incapaz de se fixar e de se reencontrar - «A minha/Pátria é onde não estou».
!  Portador de uma vontade mole que o impede de reagir - «Não faço mais do que ver o navio
ir», «Não tenho personalidade nenhuma», «Sou doente e fraco».
!  Profundo cansaço pela vida - «Trabalhei para ter só o cansaço»; «E ver passar a Vida faz-
me tédio»; «Fumo. Canso.»; «Eu cansava-me do mesmo modo»; «No meu cérebro farto de
cansar-se».
!  Saturação que, paradoxalmente, o «sufoca» e o «ampara».
!  Figura do «dandy» decadente - «Não fazer nada é a minha perdição/Um inútil».
!  Pessimismo incontornável, carácter mórbido - «Esta vida de bordo há-de matar-me»; «não
posso com a vida, e acho/fatais as iras»; «A morte é certa»; «Porque isto acaba mal e há-de
haver/(Olá!) sangue e um revólver lá pró fim»; «o horror à vida» (também as últimas três
estrofes).
Versos que reflectem o ódio do «eu» à honestidade burguesa.

!  «Pudesse a gente desprezar os outros/E, ainda cós cotovelos rotos, /Ser herói, doido,
amaldiçoado ou belo!»

«Por isso eu tomo ópio. É um remédio» não muito eficaz.

!  O efeito positivo do ópio é efémero - «convalescente do Momento».


!  Cansaço da vida, um cansaço inevitável, que sobreviveria a qualquer sonho, mesmo
que este se pudesse concretizar - «Não haver um navio que me transporte/Para onde eu
nada queira que o não veja!/Ora! Eu cansava-me do mesmo modo/Qu’ria outro ópio
mais forte para ir de ali/Pra [outros] sonhos…».

Representatividade da «Índia» no poema.

!  A alma do poeta, o lugar da eterna procura, o lugar do sonho, sempre inatingível, não
coincidindo, por isso, com «a Índia que há», isto é, com a Índia que vem no mapa - «Se
não há Índia senão a alma em mim?»
«Ao contrário de Pessoa ortónimo e dos outros heterónimos, Campos não
deixa de retratar-se e de referir circunstâncias biográficas».

!  Referências biográficas do poeta - «Eu fingi que estudei engenharia./Vivi na Escócia» e


«E quem me olhar, há-de me achar banal […] / O meu próprio monóculo».

Pistas que neste texto remetem para a segunda fase do poeta - Sensacionista

!  Desejo de «ser as coisas fortes»;


!  Gosto pelo escândalo - «Um dia faço escândalo cá a bordo»;
!  Fome de sensações novas - «Para onde eu nada queira que o não veja!», «E afinal o
que quero é fé».

«Opiário» pertence à primeira fase de


Álvaro de Campos
Fase do sensacionismo e futurismo whitmaniano (decorre sob a influência de Whitman)

•  Idealização poéFca industrial.
•  Novo homem, um homem sem moral e sem sensibilidade, um homem a dominar o mundo
com as mãos agarradas ao automóvel, ao paquete, ao avião, à máquina – o super-homem
industrializado.
•  Dinamismo e força.
•  “Ode Triunfal” celebra rodas, engrenagens, correias de transmissão, êmbolos, ou seja, a
máquina no seu todo, a sua força e a sua capacidade de transformar e impulsionar a indústria,
o comércio, os transportes, a agricultura.
•  Desfilar simultaneamente glorificante e perplexo da técnica e do consumismo
civilizacional que o poeta ama e em que se despersonaliza.
•  Contacto quase sensual, idênFco ao que os românFcos experimentavam frente à
Natureza.
•  A máquina como um prolongamento do braço humano - é a força mágica com que o
indivíduo consegue ultrapassar as limitações da sua condição humana.
•  Glorificação da técnica, integração sujeito-coisas, endeusamento da cidade, da mecânica
e da engenharia - principal conteúdo da “Ode Triunfal” (como afirmava Mário de Sá-
Carneiro).
ConFnuação

•  Não tece unicamente elogios à industrialização, apontando igualmente os seus


aspetos negaFvos.
•  AdjeFvação anFtéFca e paradoxal que lhe reveste a linguagem:
•  “A maravilhosa beleza das corrupções políFcas/[...]e outro sol novo no
Horizonte!”.


•  Surgem ainda nesta fase outro Fpo de temas:
•  o amor a uma personalidade hipertrofiada;
•  a solidariedade entre os homens, desde o santo à prosFtuta e desde o salteador
ao burguês;
•  a força hercúlea;
•  a pirataria;
•  a energia mecânica;
•  o progresso técnico;
•  tudo o que contribui para dar ao homem uma nova dimensão e libertá-lo.


TÍTULO DO POEMA

Ode Triunfal
Vocábulo de origem grega que significa AdjeFvo que significa grandioso,
um CânFco laudatório (de louvor) de espetacular.
uma pessoa, de uma insFtuição ou de
um acontecimento.

Significado

Composição lírica desFnada a celebrar a modernidade, o triunfo da civilização técnica e moderna.

Influências

Futurismo de Mariney Sensacionismo de Walt Whitman

SubsFtuição da estéFca aristotélica do Belo E x p r e s s ã o d e t o d a s a s s e n s a ç õ e s


(conseguida através da imitação da e x p e r i m e n t a d a s p e l o a r r e b a t a m e n t o
Natureza) pela exaltação da energia, da cosmopolita e pela apologia da civilização
v e l o c i d a d e , d o d i n a m i s m o , d a mecânica. Pessoa define-o, referindo que “a
agressividade e da força da civilização única realidade da vida é a sensação. A única
mecânica do futuro. realidade da arte é a consciência da sensação”.
O Imaginário épico

Matéria épica – a exaltação do Moderno O arrebatamento do canto

•  Exaltação do moderno; •  Forma – ode;


•  Apoteose da civilização; •  Expressão adequada ao
•  A celebração e elogio do conteúdo – canto arrebatado,
progresso e da técnica. visível na impetuosidade da
linguagem e no delírio verbal;
•  Linguagem e esFlo
consentâneos com a euforia e
a admiração do real.
Fase in)mista/pessimista
•  Homem destroçado, desfeito, abaFdo, desconsolado e descontente com tudo.
•  Poeta do ceFcismo, da abulia perante o absurdo, da auto-análise, do cansaço e da
frustração.
•  Muito próximo de Pessoa ortónimo, é o heterónimo que revela uma mais níFda
evolução. Este é um poeta bem mais humano do que nas fases anteriores.
•  Esta insaFsfação, este extravasar de sensações que se perdem “A subFleza das
sensações inúteis” acabam por criar nele:
•  o tedium vitae – o tédio da vida – “O tédio que chega a consFtuir nossos ossos
encharcou-me o ser”;
•  a sensação angusFosa do vazio: “Estou só, só como ninguém ainda esteve,/oco
dentro de mim, sem depois nem antes”;
•  a frustração “O que eu queria ser, e nunca serei, estraga-me as ruas”.
ConFnuação

•  Poeta dos extremos, insaFsfeito, fracassado nos seus anseios em que tudo irrealizado o
marca com o vazio do nada.
•  Em “Tabacaria” ele afirma “ Não sou nada./Nunca serei nada./.../À parte isso, tenho em
mim todos os sonhos do mundo” e ainda “Ter pensado o Tudo/É o ter chegado
deliberadamente a nada”.
•  O passado surge-lhe como um refúgio:
•  o presente é caracterizado pelo tédio e pelo cansaço, evadindo-se no tempo a
recordar vagamente “A pobre velha casa da minha infância perdida!”.
•  o desejo de evasão também está patente ao nível do espaço “Ah, seja como
for, seja por onde for, parFr!/Largar por aí fora, pelas ondas, pelo perigo, pelo
mar, ir para Longe, ir para Fora, para a Distância Abstracta...” (“Ode
MaríFma”).

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