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O Paciente na UTI Pauto Roperto ZIMMERMANN Cristiane STEFANI BeRTUOL Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) é considerada um fator precipitante de pro- tkmas psicolégicos ¢ psiquidtricos. Com algu- sifteqiiéncia, o paciente é mantido em estado dksedagio e, durante © perfodo de recuperagao joeressiva da consciéncia, a auséncia de refe- ficias externas, a iluminagao artificial constan- tadificuldade para dormir, a estimulagao so- nna monétona ¢ progtessiva causada pelos mo- stores, a movimentagio continua da equipe, a stigio dos campos visuais, tudo isso pode pro- “nar ou exacerbar quadros clinicos similares aos “ bscritos por pessoas submetidas a experiéncias i privagio sensorial, em que predominam ele- nentos de ilusdes ¢ alucinagdes, especialmente viazis. O paciente internado na UTI, além de ipeentar um quadro clinico grave, esté sub- naido a ansiedades importantes como a dor, 0 ifimento, a solidao ¢ a morte. “AGITAGAO E DELIRIUM “Dinicio de confusio menral em um. paciente UTI gcralmente significa uma mudanga im- tte em sua condigao clinica, a qual requer “sllagio das anormalidades sistémicas ¢ meta- “iilias, toxicidade a drogas, estados de absti- “tacas e outros fatores reversiveis, O tratamento “ixase na cortegio do fator causal. Freqiiente- nunte, um ott mais desses fatores que precipi sam a confuséo no podem ser corrigidos, ou um fator especifico nao pode ser identificado. Nesses casos, 0 tratamento com medicagao neu- roléptica pode ser instituido para minimizar ou possivelmente cortigir © quadro confusional. Tradicionalmente, o termo psicose de UTI tem sido utilizado para descrever anormalida- des marcantes no humor e no comportamento dos pacientes na UTI. Na opiniio de Tesar ¢ Stern (1991) essa expressio nao deveria ser uti lizada, pois implica uma relagio de causa e efei- to entre estar internado na UTI ¢ tornar-se psi- cético. O termo delirium descreve mais adequa- damente as anormalidades mentais que comu- mente ocorrem nos pacientes da UTI. Embo- ras alguns pacientes tornem-se psicétjcos na UTI ou entrem com um quadro psicdtico preexis- tente, a maioria dos pacientes com mudangas no estado mental é delirante devido a um ou mais fatores que alteram a integridade ou 0 fan- cionamento do SNC. O sintoma principal do delirium & 0 dis- ttirbio da consciéncia (redugio da capacidade de responder ao ambiente, com diminuigio da atengio), acompanhado de déficit cognitivo (deficit de meméria, desorientagao e distirbios na linguagem) o qual nao ¢ causado por demén- cia atual ou anterior. Os sintomas surgem rapi- damente, usualmente em horas ou dias, ¢ cen- dem a flutuar no decorrer do dia, piorando a0 entardecer quando os estimulos sensoriais di- minuem. O delirium mais sintomatico € ficil de ser detectado. O delirium & menos aparente 332_Nevry José Boresa (Ora.) quando o paciente est quiero ou inativo, quan- do um distirbio correspondente no humor (por exemplo, irritabilidade ou depressio) é o acha- do predominante, ou quando o paciente esta sem consciéncia da disfungao e tenta lidar com isso por meio de defesas como negagio, proje- Gao ¢ evitagao. Nessas circunstancias, um exa- me do estado mental mais decalhado, realizado em diferentes momentos, pode ser necessério. Paciente, masculino, de-43 anos, com diag- ndstico de leucemia mieldide aguda, prd- miclocitica, em tratamento quimioterapi- co.com ATRA (écido transretindico) e an- tibioticoterapia (anfoterecina, vancomici- na e ceftazidime). Foi internado na UTI devido a grave hemoptise, piora radiolé- gica pulmonar e insuficiéncia ventilacéria. A etiologia foi de sindrome retindide (complicagao pelo uso do ATRA), a qual provoca um infiltrado pulmonar. O pa- ciente também apresentava anemia, pan- citopenia, leucopenia ¢ plaquetopenia. Evoluiu para insuficiéncia renal aguda agitagéo, sendo sedado com midazolam, em infusio continua, enquanto a equipe tratava das complicacées. Nos primeiros 20 dias, permaneceu seda- do, em mau estado geral, necessitando he- modidlise, quimioterapia, antibioticotera~ pia ¢ controle hemodinamico rigoroso. Progressivamente, houve melhora da ven- tilagio, da fungiio renal e da febre e obteve remissio do quadro hematoldgico. A se- dagio foi retirada lentamente; no inicio, apresentava abertura ocular sem obedecer a comandos, mas foi apresentando melho- ra neurolégica. Quando estava bem-acor- dado, atendendo a comandos verbais e mo- vimentando os quatro membros, ficou agitado, arrancou os cateteres, sendo en- to medicado ¢ orientado sobre o que es- tava Ihe acontecendo, Posteriormente, apresentou-se mais quicto, pouco comu- nicativo e deprimido; mantinha-se distance emocionalmente de seu médico, que tan- to se empenhara em ajudar, 0 quie provo- cou certo desconforto na cquipe. Pergun- tado se tinha alguma coisa contrao co que 0 estava cuidando, negava tem nantemente, A medida que evolufa bem clinicimem, seu estado de humor também melhoraa ¢ obteve alta para andar. Apés a alte pitalar, na consulea psiquiderica de am panhamento, revelou que, naquele pre do em que estava acordando na UTI. ditava estar no meio de uma seta mana ¢ que sew médico era quem dee minava os que iriam ser sacrificadosou € por isso estava tio assustado e it com a equipe, assim como acredita 4 © crucifixo na parede fosse um reigia. Embora o delirium seja provavelm causa mais comum de agitacao na UTI, mai outros fatores que comprometem a capacidal do paciente de tolerar o ambiente da UTI p dem precipitar a agitagdo (Tesar e Stern 19 Cassem e Murray, 1997). Panico, dor, tiposde personalidade ¢ limitag6es na capacidide de compreender a natureza ¢ a demanda da (ex:: perdas sensoriais, cognitivas ¢ na | gem) sao fontes de agitagao que devem sercom duzidas especificamente (Matsushida ¢ ca 1997). Sobre a avaliagéo ¢ a conducio de pe cientes com delirium € com agicagio psicom tora, remetemos 0 leitor aos Capitulos 13 elf respectivamente. ANSIEDADE Pacientes hospitalizados na UT vivenciam rigos internos ¢ externos, reais ow fantasia medo da morte, separagao da familia e asp soas a quem ama, perda do controle, intimide de com estranhos, perda do sono ¢ freqienes procedimentos dolorosos ou restrigio a m dade. Pacientes experimentam ansiedide e relagao a doenga, a sua capacidade de trabalar de manter a relacio social ¢ familiar no fitin Ansiedade é uma razio comum pana sultoria psiquidtrica na UL. Cassem e Mun (1997) noraram que era a razio mais co para consultoria durante os primeitos doisd ‘pis admissio em um unidade de tratamento ronatiano ~ UTC. Ansiedade e depressao fo- tm estimados em 65 a 85% dos pacientes hos- pislzados apds infarto de miocardio. O trata- nto cficaz da ansiedade melhora a coopera seco conforto do paciente e reduz a morbidade tamortalidade do paciente criticamente doente. Embora a ansiedade ¢ 0 medo sejam sin- ‘omas freqiientes na UTI, sintomas inespecifi- asde ansiedade podem nao ser diagnosticados ‘ono uma patologia de ansiedade, ser atribut- usa causas fisicas ou ser encarados como in- fgificantes ow apropriados para o local. A an- ‘edide paroldgica requer avaliagio cuidadosa e tulescr distinguida da ansiedade “normal” por uito critérios: 1— adequagao desproporcional ihuaga0, 2 — intensidade (nivel de desconfor- pe gravidade), 3 — duragao (sintomas persis- tates) 4—comportamento disfuncional (como setitgio, por exemplo). _Adiferenga entre uma sindrome de ansie- ade orginica € uma transtorno primario de aviedade pode ser esclarecida pela considera- siosistemdtica dos seguintes fatores, que suge- ‘ama presenga de uma etiologia organica: | Finicio dos sintomas de ansiedade apés 9G 05.35 anos; _ auséncia de histéria pessoal ou familiar | deansiedade; | sauséncia de histéria de ansiedade signi- ficativa na infincia, fobias ou ansiedade de separagio; # auséncia de um evento de vida signifi- cativamente capaz de gerar ou piorar os sintomas de ansiedade; * auséncia de comportamento evitativo; | @ mé resposta aos agentes antipanico (an- | tidepressivos e benzodiazepinicos). Cuidado particular deve ser tomado quan- “vacondig6es clinicas (arritmias, hipertireodis- a0) ¢ medicagées (cafeina, intoxicagao ou abs- “inéncia a hipndticos-sedativos, dlcool ¢ outras “ogas de abuso) que sio comumente associa- “4s com ansiedade. O tratamento de escolha ataansiedade em pacientes na UTI sao os ben- razepinicos devido & sua seguranga e répido ticio de ago. Em pacientes com alteragao da Pr&rica Psiquidtrica No Hoserrat Gera 333 fungao hepatica, dar preferéncia para os de meia- vida curta e sem metabélitos ativos, como 0 lo- razepam. Nos casos de tratamento agudo ow antes da realizacéo de exames dolorosos, a pre- feréncia pode ser o midazolam devido ao seu rpido inicio de agao e curta duragao. Em ido- sos, cujo metabolismo € mais lento ¢ existe isco de acumulagio de metabélitos, € reco- mendével usar doses menores. Nos casos de coma indurido, a selegio da medicacao fica a critério da equipe médica da UTI, com a cola- boragio da consultoria psiquidtrica (Pollack ¢ Stern, 1991). SITUAGOES ESPECIAIS © paciente com infarto agudo do miocérdio (IAM) costuma estar ansioso pelo medo da morte e das seqiielas e pode estar desconforté- vel com a dor no peito ¢ com a monitorizacao. A equipe deve manter-se calma ¢ dar informa- Ges répidas ¢ simples sobre a situagao do pa- ciente aos familiares para diminuir a ansiedade em torno da admissio na Unidade deTratamen- to Coronariano. O manejo da ansiedade nesse ambiente deve ser conduzido pelo uso amplo de doses fixas de benzodiazepinicos. © paciente cuja ansiedade interfere na suspensio do uso do respirador (desmame) nio deveria ser forsado a suportar a suspensio do suporte ventilatério. Desmame por tentativa ¢ erro aumenta a ansiedade do paciente ao forgd- lo a respirar durante periodos prolongados de ventilagao nao-assistida. A presenca continua do ventilador durante periodos de ventilagio espon- tinea (ventilagao mandatéria intermitente) pode dar apoio psicolégico ao paciente. Técnicas de relaxamento e hipnose (Capi- tulo 28) podem ajudar o paciente durante desmame. Entretanto, a ansiedade pode aumen- tara ponto de chegar ao panico, aumentando o trabalho respiratorio ¢ tornando o desmame mais dificil. Embora os benzodiazepinicos se- jam amplamente usados no controle da ansie- dade, podem, nesse caso, deprimir 0 esforgo res- pitatério © devem ser usados com cautela. Um neuroléprico de alta poréncia, como o haloperi- dol, pode ser usado sc medidas nao-farmacolé- 334 Nevry Jost Boreca (Orc.) gicas forem insuficientes. O haloperidol nao di- minui 0 esforgo respiratério e pode ser usado em doses de 2 a 55 mg VO ao dia durante o des- mame. O sucesso do desmame geralmente re- quer o tratamento da ansiedade associada, as- sim como a corregao de qualquer anormalidade fisiolégica. DEPRESSAO Na UTI, a depressdo ocorre como: 1. uma rea- Gao psicoldgica a doenga médica aguda; 2. uma manifestagao de transtomo afetivo primario, de- tectado no momento da avaliagio médica; 3. um transtorno do humor associado a uma pa- tologia orginica especifica e/ou ao tracamento dessa; 4. 0 somatério de sintomas depressivos com sintomas da doenca organica. Podemos nos questionar por que é impor- tante a preocupacio com o humor do paciente na UTI, quando érgaos vitais, como coragio, pulmo, figado, rins ou cérebro, nao estéo Fun- cionando ¢ a sobrevivencia nao é uma garantia. Ademais, muitos médicos acreditam que € usual estar deprimido na UTI, pois a gravidade da doenga devasta 0 cotidiano na vida do pacien- te. Entretanto, acreditamos que sempre é im- portante tratar a depresso energicamente (Ge- ringer e¢ Stern, 1991). Na verdade, hd evidén- cias de que a depressao nao-tratada diminui a sobrevida em geral e aumenta a morbidade ¢ a mortalidade em doencas cardiovasculares. Fra- sure-Smith e cols. (1995) encontraram a depres- sio como senda um preditor significative de mortalidade em 222 pacientes seis meses apds o IAM. A depressio permaneceu um preditor significacivo de mortalidade mesmo apés a uti- lizagéo de andlise estatistica multivariada para desconsiderar disfungao de ventriculo esquer- do e IAM prévio. O diagnéstico de depressao requer que 0 paciente apresente humor deprimido ou perda do interesse ou prazer, quase todos os dias, du- rante a maior parte do dia, associado a outros sintomas conforme especificado no Quadro 22.1 (pelo menos cinco sintomas associados) Pode ser particularmente dificil diagnosticar depresséo no paciente em ventilagao ou com Quadro 22.1 Avaliagao de depressio no paciente sensoriaimente compromatido * Facilite a comunicagao. Observe expressies faciais. Escreva questdes. Obtenha respostas escritas. Use planithas no leito. Observe se a expressao facial é consistentecon 9 conteuido do discurso. ‘Observe a freaiéncia de mudangas no afelo. Pergunte sobre, e observe, sintomas neuron gelativos de depressao Pergunte sobre fontes conhecidas de entrets- nimento do paciente (hobby favorito, fami res, esportes) @ observe quando o pacienle consegue ter prazer com essas coisas Conte uma piada ou uma historia engrapada e observe a reagio. Peca ao paciente para fazer um desenho ded mesmo @ 0 que esia errado com ele e entao avale no sentido de desmoralizagao ou desesperanta. afasia. Entretanto, pode-se aprender muito cum os pacientes mesmo incapazes de falar Pode mos observar suas expresses, ler seus labios vee seus gestos ou solicitar que escrevam. Devem ouvir nao apenas o que dizem, mas a manciti como dizem. Quatro dos sintomas freqiientemente apre sentados em pacientes com transtorno depre- sivo maior podem ser vistos como impossits de serem utilizados para diagnéstico em pasea- tes clinicamente doentes: dificuldades paradox mir, anorexia, fadiga ou perda de eneigiaedi- culdade na concentragao (Cassem e Bernstia, 1997). Endicott (1984) desenvolveu uma lise de sintomas que podem substituir os quam acima: aparéncia depressiva, isolamento soc ou diminuigao da fala, melancolia, autopiale de ou pessimismo ¢ humor nao-reativo (ai sorri, nao reage positivamente a boas noticia) ‘Transtornos afetivos orginicos podemsr causados por varias medicagbes ou ser a cone giiéncia de doencas médicas. As causas més devem ser avaliadas ¢ 0 uatamento espediar ser instituido. As condicdes meédicas que fe qiientemente sio associadas com depressio® | distirbios endécrinos (Cushing, hipoticcitic mo ¢ disturbios de paratiredides), disti:his neuroldgicas ¢ infeccoes causadas pelo HIV ] toutras. A depressio pode ser © primeiro si- mlde um distuirbio neuroendécrino, de um ‘tarcinoma ou de infeegao pelo HIV. Uma boa ‘waliagio laboratorial inclui dosagem de eletré- fis, cflcio, magnésio, B,», folato, VDRL e pro- mde fungio tireoidiana. Algumas pessoas que estio dependentes teventilagao parecem deprimidas, mas nem bolas alcancarao critérios diagnésticos para tpressio maior, O paciente pode estar se sen- ‘indo desencorajado, achando que ficaré de- pudente do ventilador ¢ preencher 0 crit fo para distuirbio de ajustamento com hu- nor deprimido. Alternativamente, pode nao Benenhum dos dois diagnésticos e estar apre- Bsiando periodos intermitentes efou croni- de hipoxia, caracterizando um transtorno ivo orginico ou um delirium. Nesse caso, d parecendo mais apatico, indiferente, vido, irritado, com labilidade emocional € proso do que com outros sintomas neuro- Reativos. Nos pacientes com diagndstico de depres- imior ou de transtorne adaptative com hu- deprimido, deve-se iniciar 0 tratamento J6gico, com ou sem psicoterapia asso- di, Atualmente os antidepressivos de esco- fipan pacientes em UTI sio os inibidores se- de recaptagao de serotonina (fluoxetina, msamina, paroxctina, sertralina e citalopram) tsinibidores de serotonina-noradrenalina, ma venlafaxina, devido & melhor toleran- 1 menor indice de efeitos colaterais ¢ & efi- similar a dos antidepressivos clissicos. Todos sio metabolizados no figado ¢ ex- ios pelo rim. Portanto, redugao e ajuste na gem sio recomendados nos casos de fun- hepatica c/ou renal diminuida. Algumas. «as na hora da selegao sio: a meia-vida da fluoxetina bem como de seu metabdli sino norfluoxetina, a inibicao das enzimas Biiocromo P 450, o perfil ativador da fluo- afrente ao sedativo da paroxetina, a me- lio a proteinas plasmaticas do citalo- eda venlafaxina e a auséncia geral de al- gts cardiovasculares significativas, exce- ipke venlafaxina, que pode causar discre- mentos na freqtiéncia cardiaca e na pres- janerial, PrArica Psiquidtrica No Hosprra Gera 335 Nos casos em que for necessério 0 uso da via parenteral, o psicofirmaco disponivel éa clo- mipramina. Adminiscra-se por via endovenosa, mediante perfusdo, comegando com uma dose de 12,5 mg dilufda em 200 a 500 ml de solucao salina ou glicosada durante duas horas, enquanto observam-se os efeitos colaterais. Aumenta-se a dose em 25 mg ao dia até chegar a uma dose terapéutica étima (em torno de 100 mg ao dia) ou até que seja possivel a administragao oral. O uso de inibidores da monoaminoxidase (IMAO) no paciente em UTI nao esté indicado devido a0 alto risco de interagoes medicamentosas. No caso do litio, monitorizar o equilibrio hidrele- trolitico e, se o paciente for submetido a cirur- gia maior, interromper seu uso 2 a 3 dias antes € reintroduzi-lo assim que houver restabelecido a fungio renal ¢ o equilibrio hidreletrolitico (Gil ecols., 1997). PROBLEMAS COMPORTAMENTAIS Paciente assustado. Apresenta um comporta- mento fisicamente ameagador, verbalmente agressivo ou psicético exagerado ¢ inadequado para os cuidados em UTI. Pode ser conseqiién- cia de delirium, estados dissociativos, confusio secundaria a retardo mental, deméncia, barrei- ras de linguagem, perdas na fala ou audigao ou por medo, entre outros. Pacientes psicsticos po- dem ser perigosos quando respondem a delirios ou alucinagées. Entretanto, mesmo em casos de paciente com historia de psicose, um diagnésti- co concomitante de delirium pode estar ocor- rendo e deve ser investigado. Comportamento autodestrutivo. Pode variar de tentativas de suicfdio até arrancar os cateteres, fumar secretamente ou nio aderir aos cuidados, ingerir dlcool ou drogas trazidos por amigos ou familiares. Esses comportamentos Provocam uma gama de reagées emocionais na equipe assiscencial, despertando raiva ¢ desejo de punigao ao ver seus esforgos serem compro- metidos pela conduta do paciente. Alguns rea- gem sentindo necessidade de salvar 0 paciente de si mesmo, enquanto outros ficam desespe- rangosos ¢ resignam-se a assistir 2 autodestrui- gio do paciente. Todas essas respostas, se no 336_Neury José Boreca (Orc.) compreendidas, podem afetar a eficdcia do tra- tamento. Primeiramente, se 0 risco ¢ alto, o paciente deve ser protegido e seu comportamen- to contido. Isso pode requerer supervisio por 24 horas, contengio fisica, sedacdo, limicagio de visitas, ¢ a etiologia do comportamento au- todestrutivo deve ser identificada. Resolvida a urgéncia, a equipe pode ajudar-se mutuamen- te, falando sobre as dificuldades no manejo, con- vidando um profissional treinado para 0 round a fim de clarificar e redirecionar sentimentos negativos do grupo ¢ oferecer-lhe suporte (Wool ecols., 1991). Comportamento inadequado. Roubar, rejeitar ajuda, ameagar, gritar, agir de forma bi- zarra. A etiologia inclui dor, ansiedade, delirium, psicose e sociopatia, entre outros. A dor nao deve ser subestimada como causa de comportamen- to aberrante e deve ser adequadamente tratada, evitando-se esquemas intermitentes ¢ preferin- do doses fixas de analgesia. O comportamento sedutor também pode assustar a equipe ou catt- sar desconforto, Um paciente que atue dessa forma pode ser histriénico; pode estar com de- lirium, pode ser um caso de deméncia, retardo mental, transtorno de caréter ou pode estar ex- pressando 0 medo que a doenga o torne sem atrativos. Paciente desesperangoso. Esse paciente pode provocar nos outros o desejo de fazer tudo para salvé-lo. Paradoxalmente, os esforgos ge- ralmente aumentam o desajuste do paciente. O individuo torna-se mais passive, regredido, in- consolével ou deprimido. Também hi o paciente cuja condicao deteriora apesar do sucesso de todos os procedimentos; 0 paciente sucumbe apesar da operacao ter transcorrido bem, 0 dypass estar fluindo, e todos os testes laboratoriais es- tarem no limite da normalidade. Outra situagio dificil se dé nos casos em que o paciente sofre muito, mas nao morre. Um dilema ético, em alguns casos, é quando limitar 6 tratamento. Como podemos racional e etica- mente decidir? Cassem e Bernstein (1997) de- limitam trés principios basicos: 1) Primum non nocere (primeito, nao cause danos). O médico esta incumbido de restaurar a satide ¢ aliviar o safrimento sem que isso cause mais danos ao paciente, 2) O desejo do paciente, nao sua sati- de, éa lei suprema. Hi casos em que o deste do paciente é muito dificil, se nio impossiel de entender, ou que a competéncia do paciente esté comprometida como nos casos de dor ek trema ou sintomas exagerados, depressio, emer géncias, psicoses pressio de outros. 3) Om tamento médico ¢ justificado pelo beneficioque traz ao paciente. Esse principio pode ser iti a iniciar-se um tratamento ou quando ele dae ou nao ser mantido. Esse proceso de decistoé muito dificil e deve ser dividido com um coni- té especializado nesses assuntos, como 0 Coni- té de Etica Médica do hospital. Mé adesao. Fumar, cuspir a medicico, mentir, recusar medicagées ou avaliagio diag. néstica. Esse comportamento provoca ts ¢ frustrago na equipe, o que pode provocarat tudes sédicas ou negagao das ages de nio-ade réncia na equipe. Ma adesao ao tratamento pole decorrer de uma patologia do carter (socigse tia ou masoquismo), depressao, psicose, dem cia ou retardo mental. Uma consultoria psigaie trica ajudard a esclarecer as causas da niv-ale so ¢ a possibilidades de manejo. ESTRESSE NA UTIL A UTI é um ambiente gerador de estresse a 9 médico e para sua equipe (Quadro 22.2).0: problemas derivados das caracteristicas ambien: tais da unidade, do cuidado ao paciente, dane cessidade de uma sdlida base de conheciments € atuagao e dos problemas de comunicagio ie terpessoal com a equipe médica, atendents, enfermeiros e familiares aumentam a sobre ga emocional dos responsiveis pela assisténcae esses pacientes. Isso provoca respostas de anit dade, negacao, depressio, perda ¢ conflitoste lacionados com o estabelecimento do vines com 0 paciente que podem requerer apoio pe colégico (Gonzales ¢ Stern, 1991). © estresse pode progredir para uma si drome de esgotamento (burnons), caraccerial por uma perda progressiva da energia, comat mento de exaustao mental, marcada por cans G0 fisico, fadiga crénica, irritabilidade, sentimen: tos de desamparo e desesperanga, ¢ pelo dest volvimento de negativismo em rela uedro 22.2 Estressores comuns na equipe de UT! Wédicos Deprivagéio do sono. Longos periodas de trabatho ininterruptos. Guidados em fungao da alta tecnologia. lidar com a morte. Udar com pacientes crénicos/severamente doentes. hi baci SRB casinos Senti-se responsével pola familia do paciente Sar exposto a doongas contagiosas e/ou fatais, Sonti-se sem capacidade ou inseguro. Reelizar procedimentos complexos ou invasivos. Ser sobrecarregado de informacdes. | Ter problemas financeiros. | Ansiedade sobre ma pratica. tabalho, 2 vida ¢ as outras pessoas. Conseqiien- penenes, hd o risco de aticudes inadequadas com, “spacientes ¢ consigo proprio. Estresse familiar. Em nossa experiéncia, “uma das maiores fontes de ansiedade para os fmiliares é a vulnerabilidade a que 0 paciente | kxexposto na UTI eo grande mimero de fon- is de informagao (médico, residence, planto- aia, enfermeiros ¢ auxiliares de enfermagem). O equilibrio sobre o estresse pode ser re- “ aperado promovendo-se metas, distribuindo Faclhor o tempo dentro e fora da UTI, com re- - usamento e exercicios fisicos, desenvolvendo a | apacidade de dizer nao. Para diminuir o estres- _ ee trabalhar melhor, 0 médico ou a enferma- + gen podem necessitar de supervisio individual, “ inamento ou ajuda psicolégica ou psiquid- "ica, © que muitas vezes causa resisténcia por " nedo de ser estigmatizado, sentimentos de ver- gonha sobre stuas fraquezas, impossibilidade de - iempo ou financeira. O manejo interpessoal, por meio de gru- "pos, tem sido referido por médicos e enferm: ris como wma alternativa para diminuir 0 es- * tesse, €, em nosso meio, sentimos a necessidade "deter uma sala de entrevista junto a entrada da UTI para poder oferecer privacidade e confor- aos familiares num momento em que o ser “fumano est mais exposto a todas suas fragili- dades, methorando a comunicagao ¢ permitin- do que as emogGes possam ser expressas. a Padrica Psiquitrica No HosprraL Gerat_ 337 Enfermagem Sobrecarga de trabalho (alta relacao paciente/ enfermeiro), Ter pouco tempo para lidar com as necessidades ‘emocionais dos pacientes e familiares. Lidar com a morte. Lidar com prolongamento excessivo da vida. Providenciar cuidados com alta tecnologia. Ter horérios imprevisiveis. Estar submetido a distérbios ambientais (barulho). Ter contlitos administrativos. Quadro 22.3 indicadores da sindrome de esgolamento (burnout) Satide: fadiga e exaustéo crénica, cefaldia, proble- mas para dormir, tilcera, alteragdes gastrintesti- ais, exacerbagao de problemas médicos pree- xistentes, dor muscular, amenorréia. Comportamento: aumento da ingesta de catei- na, alcool, tabaco, uso de dragas psicoativas, drogas ilicitas, comportamento de alto risco (acidentes, quedas, jogos de azar) ou agressi- vo, comer exageradamente ou muito pouco, hi- peratividade. Emocionais: distanciamento afetivo, parandia, do- pressdo, diminuigéio do controle emocional, meso de enlouguecer, sonhar acordado por longo tem- Po, sentimentos de estar numa cilada, tiques ervosos, medos indefinidos, dificuldade de con- centragao, raiva e tenséo aumentadas, intelec- tualizagao. Relacionamento: isolamento ou ligagao exces- siva com a equipe, responder aos pacientes de forma mecanica, aumento do distanciamen- to em relacdo aos pacientes, aumento da ex- pressdo de raiva ou desconfianga, aumento de conflitos interpessoais com outros membros da equipe, aumento dos problemas conjugais ou ‘com outras pessoas fora do trabalho, isolamen- to social Atitudes: grandiosidade, aborrecimento, cinismo, mau humor com os pacientes, desconfianga no mangjo, nos supervisores @ colegas, expres- sdes de desesperanga. Moditicado de Carrol @ White (1982). 338_Neury Jost Boreca (Ora.) REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS Carrol JFX, White WL (1982). Job Stress and Burnout. Beverly Hills: Sage Publications, Cassem NH, Bernstein J (1997). Depressed patients. Em: Cassem NH e cols. (ed). Massachusetts General Hos- pital Handbook of General Hospital Peychiatry. St. Louis: Mosby, pp. 35-68. Cassem NH, Murray GB (1997). Delirious patient. In: Cassem NH e cols. (ed). 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