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eee eens: yer RAC CLASSICOS-MODERNISMO, P6S-MIODERNISMO E ANALISE ORCANIZACIONAL: UMMA INTRODUGAD MODERNISMO, POS-MODERNISMO E ANALISE ORGANIZACIONAL: UMA INTRODUGAO RESUMHO © artige introduz o debate stual, em cienctas humanas, entre a5 posides antagonicas conceituals de jnodernisino e “pés-tnodernisino” e discute suas implicagées na andlise organizacional, © debate focaliza a natureza do “discurso” (informagao, conhecimento, comunicagio) e seu papel nos sistemas socials. © discutso do modernismo apdia’se em critérios transcendentes, porém antropocentricos, como “progresso” e "razio", que sio diversemente exemplificados na obra de Bell, Luhmann ¢ Habermas, Em conttaste, 0 discurso pés-modemo (representado aqui principalmente pela obra de Lyotard, Derrida, Foucault, Deleuze fe Guattap)-analisa& vida socal em termos de paradoxo ¢ indeterminagio, ejeltando assim 0 agente» frumano como centro do controle racional e do entendimento.,O artigo entao considera duas visdes conttasiantes do processo organizacional que se seguem dessas abordagens antagonicas 20 discurso, No modelo modernista, a organizacio é vista como ferramenta social e extensdo da racionalidade humana, Na visto pés-inoderna, a organizagao ¢ menos 2 expresso do pensamento planejado e da agio calculada e mais uma reagao defensiva a forcas intrinsecas do corpo social que constantemente ameagam @ estabitidade da vida organizada. As implicag6es desta altima visto para a andlise organizacional ortodoxa ¢ sao discutidas mais detalhadamente Robert Cooper eae Unvarsity Gibson Burrell Univers af Leoester ABSIRACT ‘he paper wroduces he crrent dbo Inthe human sciences brewer Ue appsing conceptual pasion of "modernism and i “poster eed cases tsps for gianna analy Te debate oases te nature cours” Gorman, nowledge, cern) and ts rae in sol ystems. The discourse of modernism reson wanscendent yet anthropocentrc ener such as progres’ spades which are voryingly exemplified inthe war of Bel, Luhmann and Habermas. n contrast, extrem discourse (wpresened hee ray by the work of lyon, Derrde.Fowck, Deewce and Guat aalyes scl fein terms of paradox and interna. as ecg the human agent ashe entre of renal conrl ard understanding, The paper hen coir wo contacting vis of te ONE frees which allow Som these appsing approaches douse In de modernist model orgeniation ic ened sal ot and an extension Sj human ratanaliy In the postmodern view argorizaion ies the expreson of planed theta cleive ction a nae defensive serpin to orcs nine Ue social body which constantly Chraten he tabi of ergoized Ne, The imation othe later ew or rthoax organizational analysis are ascasse in sme detail PALAVRAS CHAVE Moderaismo, pismodernimo, discrso, sits soca estudos organizational. Xe REMWORDS Modernism, poumoderssn, dscourse, sce syns organization stubs, aN.mtan 2006 RAE 8 AE CLASSICDS - MODERNISM, POS-MODERNISMO € ANAUISE ORGANZACIONAL: UNA NTRODUGKO PREAMBULO Este artigo € o primeiro de uma sétie dedicada a estu dos organizacionais em que centamos esbocar alguns coneeitos-chave e insights metodologicos recentemen- te desenvolvidos por teéricos sociais europeus ¢ rele vvantes para a andlise organizacional. O trabalho dessés pensadores é visto aqui como indelevelmente atado a0 debate que se trava e esta ligico ao que tem sido cha- reado de modernisma e pés-modernisino, Neste pritael ro artigo tentamos faze> justiga a muitos tpicos leven. tadoy no decurso desse debate, que apontam para as posigdes esbogadas por ambos os lados. A linguagem uusada neste artigo introdutorio pode estar fora da con- vericional, para os leitores deste periédico. Isso porque entamos fazer justica para com as posigdes dos envol vidos, e respeitar sus fraseologi, conceituagses & for ras de espessio, Assim procedentla, estamos conscien tes do espago que utllizainos e procurames nao tomar maito tempo do leitor, Esforgamo-nos em oferecer um texto introdutério acessivel aos que nao estaa familia rizados Com o debate modernismo—pés-modernismo, Fue também nao seja lao ingénuo e simplista a ponto de desagradar aos leitores que jé posstuam agora famni- Naridade com os tSpicos em discussio,— (© presente artigo fornece uma visao geral do deba~ ere-se rapidamente & obra de moderhistas como Luhmar © Uabermas. Também falamos de Tieiche, Deeds Lyosute Foucault, quem se term Snchlado o epiteto de pos-modernisia. Em nosso se- gundo artigo, nos dedicaremos ao trabalho de Michel Foucault e discutiremos sua relevancia dirgta no mun- do da andlise organizacional, A seguir, em futuras pu blicagoes de Organization Studies, a obra de Derrida, Habermas ¢ Luhwoann seri objeto da mesma investi- gacio critics. Portanto, 0 presente artigo tem que ser visto como algo que aponta para-o que pode ser, para alguns, uma nova area de esforcos e concentragao in- telectuais. Deve ser segitido por consideragoes mais detathadas e substamtivas de tedricos sociats individuais ccujo trabalho se)a relevante para os estudos da.organi- zagio e que sio figuras importantes na confroniagio mnogernisia~pés-modemista Introougao As ciencias humanas estio passando atualmente por tum de seus surtos de auto-andlise € autodivida em aye certas pedas de toque, tradicionalmente estima: Ws nae YORE das pelo discurso liberal académico como "razio" “progresso", terminaram no microscépio de uma re- novada reflexio critica. O debate esté polarizado en-y tre duas posigdes epistemolégicas claramente conlli- | tantes: 0 modemismn, com sha_cennca na esencial \y capacidade humana de aperfeicoar-se pelo poder Te Su pensamento rational, e 0 pos-modernismo, com o Sta questionamente critico, Erequente rejeigto com- pleta, do racionalismo etnocéntrico propugnade pelo modgmisino. Independentemente da reavaliacao radi Pade edo procesea de modernzacan que ese dis- logo evocs hi sigiieatvastpliagoes para o modo como compreendemos o papel ¢ a natureza das orga~ siaagdee no mundo moderno, £ wna dela €0aban- dono da definigao prevalecente de organizagio como, Se a ee dugio de sistemas de Fae Taso € clavawente Ui Tetorno as grandes inguietacdes que Weber in- troduziu no estucio dos sistemas sociais moderns, em 7 aque a orgenizagao burverdtica tinha eriado a “gaiola de ferro" da moderna ordem econdmica, cujos efeitos sig- nificativos foram purgar © mundo do aural e do mégi: co, Em outras palavras, Weber nos fez ver a organiza: de discurso ¢ seu lugar nas estruturas organizacionais, ‘A obre de Weber contém um significado que geral~ mente tem sido ignorado pela andlise organizacional contemporanea: 0 objeto de sua andlise era a organi- zagao burocraiea moderna como um procésso para 0 dominio conus Ze sisbicte sociale Teo. nie das ongailzacies per'se. A organizagio racional € uma resposta a forgas que no podemos realmente enten- der, €€ tanto mals uma progressto de “erros* quanto 0 é de racionalidade (Smart, 1983). De fato, araciona- lidade, na andlise de Weber, s¢_t13] ta em “racio- vializagao", uma forma de discurso em que as razdes logicamente coerentes ou eticamente aceitaveis sto apresentadas como idéias e agdes cujos principats motives nao séo percebidos. 4 racionalidade torna:s¢. entéo_uma dissimulagio de 5 atividades aa Come aca parcalmente funda n0 ef conhecido” ot no inconsciente, também parece ter vida_- propria, possuir um automatismo que esté além do controle humana dizeioTudo isso era parte do proje- to de Weber ao analisar o desenvolvimento da organi- es aster ede ROBERT COOPER -ClBSON BURRELL Em contracie, o objeto das modalidades cantemspo- raneas de aualise organizacionalé a organizagao como ‘um sistema discreto que subordina a logica burocrati- ‘GEALsUA Bropria necessidade hipostética.' O que etd privilegiado aqui € « idela de organizacio como uma colegio quase estavel de coisas ou propriedades, en- quanto para Weber o proprio conceito de organizacio era colveaio em questa, como de complicada fabri cagio, O.que define esse conceito de organizagao é sua prévia e tmplicita autoclassificag2o como um sistema formal de trabatho, sua capacidade de "produzir bens" que impede qualquer outra concepgéo possivel (veja, por exemplo, Hall, 1972; Perrow, 1972). Essa modali dade de organizacéo emerge assim como um produto da "sociologia espoatinea” em que vemos meramente as ianagens que a organizagio tende a nos olerecer de Sou préprio funcionamento ¢ de suas fungoes (Gourdien e Passeron, 1977). [ Esse deslocemento historice na natureza do objeto da anilise organizacional aduz as tarefas do presente | artigo, a saber, a identificagao e a andlise de duas for- ras gerais de orga ‘uma, automitica © auto noina a Operaao, deSafiando a conchisid légica, a { outra, calculista e de intento wtilitario, mas tranquili- zante na substancia ~inserindo-se no contexto maior | dos discursos do modernismo e do pés-modernismo, | com referencia especial as implicagGes dessa contex- ualizacdo para a ciéncia social das organizagoes. “Uma distingto semelhante ¢ delineada por Varela (2979) em sua andlise das duas principais formas de conhecimente usadas no estudo dos sistemas naturais e sociais. O trabalho de Varela é significative no pre- sente contexto porque relaciona diretamente as [oi mas do discurso so conceito cibernético de organiza- io (Morgan, 1986). Varela distingue dois temas basi- Zos de organizagao: autonomic e controle. Os dois te- mas acarretam dois discursos diferentes de informa- cda/conhecimento. Na abordagem auténoma, a infor. raagao € “sempre rslativa ao processo de interagdes do dominio em que elas ocorrem, ¢ ao observador-comu- nidade que as descreve" (Varela 1979, p. 267). Conse- qdentemente, a iaformagaé autonoma ¢ tum processo de_interssto entre feninos que se espectficam um ao aul, €, come née pode ser Tocalizado em nenhum izrmo particular, nega a tendéncia de ver o mundo em termos de substancias simples ou coisas. Ao contré- no, a informagao no sentido de controle € referencial (mapeando um conjunto de termos sobre outro con- ‘junto correspondente). Ela restringe 0 ponto de vista 4 Interagées fixas e posicdes ebservacionais, ¢ “ins- trutiva” (Isto €, diz-nos como agir com respeito a um particular objetivo), ¢ nao inclui explicitamente o observador, uma elisdo que corte o risco de negar 0 pa pélativo que este desempenha na construgho ¢ na ma nnutencto dos sistemas de informagdo/conhecimento, Pode-se dizer que o discurso do modernismo é um referencial no sentido que ve a linguagem como meio de expressio de algama cotsa além de si mesma. Mai especificamente, ¢ um metadiscurso que s legitima pela \referéncia a alguma “grande narrativa, tal como a jialética do espirito, a hermenéutica do sentido, a eman-, ipacao do sujeito racional ou ativo, ou a criagao de ‘iqueza” (Lyotard, 1984, p. xxiii). Coloca a ic critério que jd existe, de uma menialidade feita — fre- quentemente um contetido extra-histérico e univer- sal =, que necéssariamente implica uma resposia jt existente as quest0es, Coloca a resposta antes da ques- tio, ¢, esse sentido, pode ser dito “instrutive", No sentido de “jd estar sabendo” totalizador e controlador. 6 discurso pos-moderno comera com a deta de quy 0s sistemas tém sua propria vida, o que os torna ud) pendentes do controle humano. Os sistemas oo) I Exprészamia simesmos, es6 podemos entende-los pelf analise de seu proprio funcionamento auto-referencial® Para o pensador pés-moderno, os sistemas ndo tem significados ou propésitos. Tado sao projecdes huma- ras nas quals assumimos, semt eritica, que o mundo existe apenas para nos e pelas quais nos colacamos no centro de controle das coisas. Como 6THundo € basica- heave aulo-relerencial, nfo € nem pré-humano nem anti-humano;simplesmente ¢, O pés-modernismo, por tanto, descentra 0 agente humano de sua auto-elevada posigta de “racionalidade”narefsieae mostr-The que & yO essencialmente um observador-comunidade que cons-\/_—- ur6i as interpretacdes do mundo, néo tendo essas inter-j— pretagées nenhum stalus absoluto ow universal MODERNISMO Modernismo ¢ aquele momento em que o homem se ek inventa, em que ele nao mais se vé como reflexo de Deus ou da naturéza. Sua fants HIStOHGa esta na Mlosofia ilu- rminista do seculo XVIII, que escolhew a Razio como 0 mais alto dos atributos humanos. A razdo, de acordo com Kant, € pensarmos por nés mesmos ¢ deixarmos de depender de alguma autoridade externa para nos decidirmos. Implica, portanto, um senso erftico no qual temos que desenvolver nossos poderes de diserimina- ¢ uge AE-CLASSICOS - MODERNISM, POS. MODERNISHO EANALISE ORGANIZACIONAL: UMA INTRODUGAD ‘40 racional ¢ ter a coragem de expressi-los quando for apropriado. Aude sapere (ousa saber], disse Kant.” ‘Também por essa epoca os expedientes da Razdo fo- | ram apropriados por pensadores sociais como Saint- ‘simon e Comte, cujos interesses eram sua aes erm problemas cada vez mais ifaporiantes de governo, adininisiragdo € planejamento, razidos a tona pela in- dustrializacao da sociedade, Assim, descobrimos of rt- imentos do pensamento organizacional na filosofia il minista. Mas, nesse ponto historico, ocorre um cistha ‘eawro da prdpria Rsza0, mostrando que ambém cla std sujeita aos deslocamentos intrinsecos da auto-te feréncia: a Razéo éapropriada por uma forma primitiva de pensamento sistémico, que subyerte sua navalha cr- 5 tica as exigencias funcionais dos grandes sistemas, Os! seguidores de Sainc-Simon redigiram um plano para 0 Sisteme de la Mediterranée, uma colimada “assoelag20 universal” dos povos da Europa ¢ do Oriente por meio de.uma abrangente rede de estradas de ferro, rios e ca- niais. O Canal de Suez, iniciado em 1854 ¢ terminado em 1869, representou parte da realizagao desse sonho. Comte, talvez o primeito fildsofo da organizacdo, via 2 organizagao industrial (@ organizagio cientilica do a 4 balho ¢ do conhecimento para a producao de riqueza) uma (eoria da organizagdo aplicada & administracaa da! sociedade como um todo, mas que colacava. especificagses detaihadas no nivel das microfungdes os / paptis precisos dos politicos, industriais, banqueitos; 0 rniimero otimo de homens em cada cidade etc. O espiri- to dessa razdo funcional foi bem caprado no tempo de Goethe, no caréter do Fausto. que traduzia razio passi- va, mero pensemento, em razio ativa,o feito realizado, pot meio da transformacto teenolégica do mundo in. teiro (Berman, 1983). A mods :40, assim, apareciall logo co;a.a.arganizacio do conhecimento expressa em termos das necessidades dos sistemas tecnolégicos d \aiga escala. Os vitétiiios celebraram essa conquista ha Grande Exposicio de 1851 © modernismo, entdo, tein duas nismo critico, uma reanimagio do programa ilumi o-modefnismo sistémico, uma ‘éza0 Visionada por Saint-Simon & Commie. es: 0 moder- . de que a sociedade moderna (ow pos- industnal) difere das sociedades prévias por confiar em um conhecimento que é essencialmente teérico. Bell cita a industria quimica como a prime “Wibtrias verdadeiramente modernas porque sua ork esta situada na ligacdo intima entre ciencis e tecnolo- Bia: € necessario ter conhecimento tedrico das mnacromoléculas manipuladas para criar a sintese qu‘ mica (recombinagao ¢ transformagio de compostos) A visio de como se.nsaria 0 conhecimento te- rico na era pés-industrial revela seu eatiter tect. ganizada em torno do conheeiinel cratic ¢ sistémico, “A sociedade pos-indusil € or 2 ae obier o cont Le o direclonatieme aeTm>4 ‘Vagao e mudanca |)" (Bell, 1974, p, 20). Oassunto € ainda mais elaborado pelo argumento de que o conhe- cimento tedrico oferece uma “promessa metodoldgi- ca" para a gestao de sistemas complexos, de larga es- cala, que distinguem o mundo moderno. As princi- pals questoes sociats,econdmicas e poitcis da era ps: / industrial giram eri corno do problema da “complexi- dade organizada": sistemas de larga escala, com mui- {as varldveis interaginda. “que devem ser coordena- das ara atingir objetivos espectlicas". As novas tec. nologias intelectuais agora disponiveis para essa ati vidade so: a teoria da informagao, a cibernética, a te tia da decisto, «teoria dos jogos, a teoria da urilidade ere. A fun tin ml definigéo de agao racional ¢ a ident icacdo dos meios. atingila, Os problemas sao formalmente defini os em termos dé certeza/incerteza, de resirighes ¢ de shternativas contrastantes, “Existe certeza quando a restri¢oes sto fixas e conhecidas. Risco significa’ que um conjunto de resultados possiveis é conhecido, ¢ a probabilidade de cada resultado pode ser precisada, Ineerteza ocorre quando um conjunto:de resultados possiveis pode ser estipulado, mas suas probabilida- des sto completamente desconhecidas" (Bell, 1974, p. 30). Nesse contexto, a ractonalidade é aquela agio que pode conduzir ao resultado prelerido, dadas as virize Bell destaca o anseio a determinagto ¢ a firme fun> damentagao, no modernismo sistemico, sugerindo que 0 “progresso social” € motivado pela busca humana \de uma “lit cOmuns, progresso esse motivado por u subjacentes aos modos da experiéncia e as categorias & tazio, dando, partanto, forma a um conjunto de verdades invaridveis" (Bell, 1974, p. 265). Isso con- duz a um aumento na éscala das instituigdes, que, en- ‘ye outras coisas, criam uma vasta rede interligada de_| relacionamentos, cada vez mais densamenteintegrada pelas “revelucdes na comunicacase fids transportes” — 4 propagacao das cidades, o crescimento das organiza- y b tenararernee a EM en ee ua ROWERT COOPER CIUSON BURRELL ees ete, A maior revolucdo social efetuada pelo mo- dernisino é'a scntatva de controlar a “escala”-POr”| ieto de novas.cecnalogias de conhecimento, coma ! ‘Wiforiagdo computadorizada 7 especies quatutativas € qualitarivas inet conse atlarmanee) Navisto dell | ee Steonance © hia tmgnte ie dtsngue o temas pés-industrias. A feigao definitiva da performan- ce € 0 que Bell chama de “modo economizante”,? que pode ser visto de forma muito clara na sua idéia de pro- dutividade, como “a habilidade de obter uma produgao mais que proporcional de um dado investimento de ca- pital, ou um dado empenho de trabalho, ou, mais sim- plestuente, a sociedade poderia agora conseguir mais com menor esforgo ott menor custo” (Bell, 1974, p. 274). W significado da corporagio moderna esti p cisamente na invengio da idgia de performance, especial tifente em seu modo economizante, € entio na criagto de uma realidade a partir dessa idéta, ordenaindo as rela Goes sociais de acordo com o modelo de racionalidade_ incional, ASSIaY, a Corporagées, como subsistemas SGiais dominantes, tornaram-se as organlzades para. digmaticas do modernigmo sistemico. Esse conceito de Géganizagao tem sido identificado como uma exigéncia dos sistemas sociais modernos pelo socidlogo alemao Niklas Luhmann, © trabalho de Luhmann representa tanto uma formalizagae como uma justificagao dos de~ senvolvimentos esquematizados por Bell. Nessa area, ‘que as vezes é chamada de “nova teoria dos sistemas”, Lokmann explica detathadamente a racionalidade ico, em que a nogio inexoravel do modernismo sis kantiana de sujeito cricicamente ractonal esti-éntete— mente contida nos interesses de um sistema viste-como maquina de funcionalidade social. A propria sociedade Toma-se uma organtzageo-gigemesca: “O verdadeiro objetivo de urn sistema, a razao pela qual ele se progra. ma como um computador, ¢ 2 otiinizagao da relagao global entre input e output ~ em outras palavras, ‘performacividade (Lyotard, 1984; p. 1D. Agora, 2 ‘erformatividadle, no modernismo sistemico, supe uma fungao mais fundamental do que o critério de perfor: mance notado por Bell; orna-se uma capacidade gene- ralizada de “produzir bens” efiGazmene € portanto, ¢ lambert AE reaTFzacdo e objetificacao, Por- ianto, precede o proprio pensamento na mentalidade social. Luhmann reconhece esse ponto quando diz que nas sociedades pés-industriais a normatividade das leis é suplantada pela legitimagio da performatividade. Mais especificamente, a fonte da legitimagio toma-se a ca: pacidade de o sistema controlar seu contexto (uma for- ma de tooria contingencial) reduzindo a complexidade interna e externa a ele; as aspiracdes individuais de. vem, portanto, ter um papel subordinado. De ato, Luhmann argumenta que o sistema precisa tornar as agdes individuais compativeis com seus objetivos glo- bais por meio de um processo de “sprendizagem sem perturbacao”. “Os procedimentos administrativos de- ver fazer os individues ‘quererem’ o que o sistema pre- cisa, de forma’a desempenhar bem” (Lyotard, 1984, p. 62). Foi um longo carninho deste Saint-Simon e Comte, + e Kant foi completamente dilufdo. t (© modernismo critico se opde 20’monolitismo do modernismo eul expoente maximo na clén- cia social contemporanea ¢ Jurgen Habermas, cujo pro- Jeio tem sido recuperar o esptrité do racionalismo iluminista para o modernismo recente. Novamente, 0 discurso é o objeto de analise. 7. guagem ¢ 9 msiada raza: “Toda linguagem ordindtia| perfil alusdes reflexivas ao que permaneceu nao pro- ferido” (Habermas, 1972, p. 168). Isso coloca a lin- guagem ordinaria, com suas origens nas atividades espontaneas do mundo comum da vida, contra a lin- guagem instrumental caleulista dos sistemas organi zades. Oculto, porém ainda ative na linguagem ordi- naria, esta uma espécie "natural" de razao que nos fala com a sabedoria instintiva de um antigo ordculo, as- sim guiando nossos trabalhos comunais. O destino contemporineo dessa *racionalidade comunicativa” tem sido sua repressio pelo discurso do modernismo sistémico. Para Habermas, 0 discutso do mundo da vida comum ¢ a base do seu modernismo eritico, € &. por meio da "linguagem da comunidade” que pode- mos reencontiar 0 sentido do iluminismo, hoje pexdi- /2 do, que Kant primeiramente nos revelou. Além disso, ‘@ necessidade dessa razao critica € agora mais urgente que nunca, precisamente devido 2 colonizacao do mundo da vida pela razto sistémica. A razéo kantiana assume um significado adicional: ndo imais € uma me- dida da “maturidade" humana, mas se tornow uma condigfo sine qua non para emancipar os individuos do controle totallzante da logica sistemica, A despeito da diferenga entre as formas sistemica ¢ erttica do modernismo - uma debrucada sobre « me- canizagéo da ordem social; a outra, na liberagio do mundo da vida ~, elas compartilham a crenga num mundo intrinsecamente légico e com significado, cons- tituido pela Razdo ou fundagao universal. Isso assume duas formas. Primetramente, o discurso espetha a ta- x0 ¢ a ordem que jd esto “ld fora", no mundo; em DAN IMAR. 2006 «RA © 8 UE a a AAG CLASSICOS - MODERNISM, P4S-MODERIUSMO E ANALISE ORGANIZACIONAL: UMA NTRDOUGAO segundo lugar, existe um agente pensante, urn sujeito, que pode se fazer consciente dessa ordem exterior. caso do modernismo sistémico, o sujeito racional @ proprio sistei oh so cibeméii@e a6 "controle ¢ comunicacao no snimal na miquina’ (Wiener, 1948). Esse discurso tem suas proprias leis, que podem ser descobertas pela aplicacao das técnicas cientificas e mateméticas, Nese contexto, 4 fazéo € uma propriedade privilegiada do sistema, dis. tinta de suas partes, Para o modernismo critico, 0 su- jeito penss individuo humane, que, por meio do senso comum do discurso corriqueiro, pode atingit o “consenso universal” da experiencia humana, Existe, portarito, uma pressuposigao de unidade que legitima, isto ¢, fornece uma “logica” competente a posicao crit. ca, de tal forma que esta se divige as forces que frag. tientam o ideal dessa unidade ou impedem sua emer sto como uma possibilidade. Si essas metaposigbes legitimadoras que o pds-modernismo ataca Soe POS-MODERNISMO 50 dap6s-ri0} affna forma de auio- seus proprios opostos «, assim, rejeitam qualquer apanhado singular de seus sentidos. Por exemplo, 0 paradoxo de “aldeia global", em que o mundo se tora menor pelo crescimento das maodernas técnicas da comunicacio. A diferenca ¢ as- sim uma unidade que é, 20 mesmo tempo, separada de ‘nesta e, uma vez que é nisso gue realmente consiste chave para 0 entenditps Ca )discuunse-AmremetDervids, 1973), intrinseea a todas 38 formas sociais, No proprio centro do diseurso, por- (anto, 0 agente humano depara-se com uma condicdo de indeterminacao irredutivel, ¢ € essa retengdo infin- davel e inestancavel que o pensamento pos-moderno reconhece explicitamente e coloca na vanguarda de suas diligencias, Nesse contexto, Lyotard definiu o discurso pos-modemo como “s buses de instabilidades" (Lyotard, 1984, p. 53). Lyoiard nota que a ciéncia moderna esta baseacta na indeterininagao porque & teoria quantica ea mucrofisica exigem una redelinigao de nossas idéias de sistema determinado,¢ previsivel porque seus dados revelam o mundo como uma rede de estruturas auto teferidas, Por exemplo, descobriu-se que, longe de as incertezas decrescerern com um conhecimento mais pre ciso, envolvendo maior controle, disse 0 contrério: a incerteza aummenta com a precisto, ~tyotard-elabora-um-arguniento consideravelmente & sedutor, montado contra as gitimam as duas mafores posigdes do modernismo, A. guinada delas em direcda a0 determinismo no caso dos sISTeHTAS, expressa como « harmonia mecanice de atores — ie interagem funcionalmente; no caso eritico, como acorde de hor ‘em Servidao para emanciparse também uma guinada em direglo ao consenso. Mas mos que a ciéneia modema proclama uma dialética de diferenca e auto-referéncia euja l6gica precisa frustrar a convergencia. Lyotard argumenta que isso também se aplica a0 consenso, Quanto mais se tenta aleangé-lo, mais distante parece estar. “O consenso é um horizonte nun- a atingido” (Lyotard, 1984, p. 61). iim vez de sero con- senso a casa de forca da agao social, € o dissenso que compele continuamente nossa stengdo. ‘| Em outro texto, Lyotard (Lyotard e Thebaud, 1986) analisa alguns dos aspectos menos dubios dessa abor- dagem tipicamente moderna a0 discurso usando 6 con- ceito do jogo. Ele jd tinha considerado a ago social como um jogo de linguagem em que os atores partici- pantes faziam varios lances de acordo com regras reco. nhecidas (Lyotard, 1984). Dessa vez, expande a idéia de um jogo de linguagemn para inclutr a idea de jute ow disputa que fornece o impulso i ago social. Logo que S elemento de luta sai do jogo, este perde seu poder de motivar a agao humana, Assitn, a mestria e a domina- sao obtem sua vitalidade nio da aniquilacao completa de um jogador pelo outto, mas por manterem um esta- do de continua diferenca e"pravecugta-O-tiinto do conseniso €, portatito, similar & déstruigao da oposicéo, pois nega a propria coisa, adissens4o, na qual repousa, Em um comentario a Lyotard, Samuel Weber interpreta a dissensio do jogo como uma tensio entre unidade e desunidade (Lyotard ¢ Thébaud, 1986, p. 113), assim aa diferenca ea auto-referéncia a fumgao de uma forca onigindria ¢ irredutivel que permeia todos os encontros sociais como crus sentimentos de inveja, gi cor (Lyotard e Thébaud, 1986, p. 106) entao, mais que um conceito tedrico, umsvex-qa Emr conta a forca da paixdo elementar, uma espécie fonte primeita de energia. A a¢do hurhana ¢, assim, cOnsiderada como algo que brota de impulsos além do controle humano direto. O comportamento individual ou institucional ¢ essencialmente uma reagdo a uma forca originaria. 4 idéia de que somos controlados por forcas que nos ulirapassath é fundainentalmente repug- ante ao pensamento niddernd racional, qiié consiru G0 Tongedos “séciilés, um discursa mais ou menos delibersdamente dirigido a negar essa possibilidade, |Sabemos agora que a sociedade organizacional partiu a es We? aoaenr cores féiesow ounaeit> _catninha. da domesticagio das paixses impulsivas do homem, atenuando-as dentro de interesses sociais e economicas (Hirschman, 1977). As paixdes como “lan- ces determinantes cuja composig&é organizou a vida sa- cial |.| foram esqiaccidas pela sociedade produtivista do séeulo XIX,ou repelidas para dentro da esfera da litera tra, O estudo das palxdes, assim, tommou-se uma espe- cializacio literdria no século XIX, nao pertencendo mais, A filosofia politica ou a economia” (Certeau, 1986, p. 25) Devemos nos voltar para Nietzsche, talvez a principal influéncia do pensamento pés-modemo, para entender ‘que esta subjacente a essa visao particular da natureza da racionalidade pés-modernista, Para Nietzsche, a for- ca da diferena ¢ 0 ativo, aquilo que possut poder de autotransformagio, isto é, auto-referéncia. Em oposi- 0 ela esto reativo, uma forma de agao que é simul- taneamente inferior a0 ativo e dependente dele. Essas f6¥¢as opostas, 0 ativo e o reativo, constituem a base do conceito de “gencalogia" de Nietzsche: “a arte da dife- renga ou distingao" (Deleuze, 1983, p. 56). A genealogia a maneira de Nietzsche mosttar como a forca superior do ativo se inverte na forga inferior do reativo. O'reati- vo nega sua origem no ativo: “[...]€ caracteristico das forgas reativas negar, desde o principio, a diferenca que as constitui no principio, inverter o elemento diferen- cial do qual elas derivam e dar uma imagem deformada dele* (Deleuze, 1983, p. 56). Dessa maneira, 0 reativo reduz todo conhecimento e discurso & mera represen tagio, a falar & respeito e, finalmente, a negagao. Nas ciéncias éo homem, especialmente, vemios que os con- eis passives, reativos ¢ negatives sio dominantes cm toda parte: utilidade, adaptagao € regulagao servem como mivtivos explanatorios principais. ‘O teabalho de outro pensador pos-mademo, Jacques Derrida, expande a anélise das forcas diferenciais de Nietzsche, mas leva-a para uma direcdo inesperada Pactindo da posi¢do de que o sentido ¢ a compreensao nao sdo naturalmente intrinsecos 20 mundo € que de- vem ser construidos, Derrida desenvolve um método desconstrutivo que, revertendo processo de constru Gdo, mostra como sao artificiais algumas estruturas das como certas do nosso mundo social. O propesito de Derrida € mostrar que a racionalidade e a raciona- Hizacio sto realmente processos que procuram escon- der as contradigbes no amago da existencia humana (© que motiva o apelo & organizacao ¢ 0 reconhecimento de uma “lacuna” discursiva que a organizagao enco- bre. A anilise de Derrida esté focada no cardter pro- cessual das instituigdes humanas, enquanto oposto a0 © estratural. Ele quer mostrar que o mundo das estrucu- ras do senso comutm € 0 produto ative de um proceso. ue privilegia continuamente a unidade, a identidade € 0 carater imediato acima das propriedades diferenciats de auséncia e separacdo. Desse ato de privilegiar 0 atl- Yo, emerge o elemento de contestagio no qual a légica da unidade e da identidade ¢ confrontada com as for- Gas da diferenca e da indecisio. A ratio moderista agora se aproxima da concepcio de disputa de Lyotard, em que a razdo é alinhada contra a ndo-razio, a verda de contra o erro exe © método genealégico de Nietasche conduz a outra Feigao do pés-modernismno: a idéia de que o conheci- ‘mento € o resultado de uma forga que nos compele a tomar o mundo pensével, isto ¢, determinado, Ora, 0 mundo nao esta la, esperando por nés para que veftita- mos a seu respeito, Ele € 0 resultado do complexo pro- cesso de uma vontade de conhecer, que ordena e organi- 22.0 mundo, porque nao tolera o néo conhecer; contra digao ambivaléncia sio formas de anormalidade que devem ser exorcizadas, O que Luhmana identifies como necessidade dos sistemas modernos de funcionarem uniformemente é visto no pés-modernismo como uma Bigantesca versio social da “precipitacéo da ansia de saber". © que 0 modernismo considera “racional”, 0 POs-modernismo vé como tentativa de canonizar o dis- curso do normal sobre o anormal. Rorty (1980) capta 0 espirito dessas interpretacdes conflitantes em sua dis- Lingao entre discurso "sistematico” e “edificante”. Aque- le serve para justificar e fundamentar atos cotidianos € crengas a0 fazé-los parecerem légicos, até racionais, fomecendo uma ordem de conflanga restabelecida. O discurso edificante, por sua vez, ajuda a “nos libertar de vocabulérios ¢ atitudes obsoletas" (Rorty, 1980, P-12), procura auratizar' (isto 6, erotizar) o discurso ¢ © conhecimento, para mostrar o extraotdinario dentro do comum, 0 ativo dentro do reativo Ora, para Nietzsche as forcas que circundam 2 opo- sigdo entre 0 ativo ¢ o reativo estio focadas no corpo ~ biologico, social ow politico ~, e é 2 materislidade do corpo, o organismo social vivido em sua expresso. fi sica, que fornece o moto perpétuo da vida social. O corpo € um auto-referencial no sentido de que cada G20 social se origina nele ¢ a ele retorna: “f...] 0 cor- po animal € a grande fundamentacio central que ba- sela toda a referéncia simbélica {...], Cadavafirmacao acerca das relagoes geomatricds dos corpos fisicos no mundo pode ser remetida a certos cérpos humanos definides como origens de referencia" (Whitehead, 1929, p. 198). A imanéncia do corpo na vida social, negligenciada universalmente pelos cientistas sociais, JAW AAR, 2006 «RAE = 85 ek FRAK-CLASS{C0S- MODERNISM, POS-MODERNISMO E ANALISE ORGANIZAGIONAL: UMA INTRODUGRO 6 tomada como um tema critico onipresente pelos pen- sadores pos-modernos, ¢ suas implicagoes instirucio- nals ¢ organizacionais funcionam talvez mais comple- camente para Michel Foucault (por exemplo, Foucault, 1980). Para Foucault, 0 corpo é 0 lugar geométrico da estrntura aurética endo meramente fisioldgica; € 0 lugar da paixdo, da vontade, dos “desejos, fracassos € erros [..] ¢ € um volume em perpétua desintegragao" (Foucault, 1974, p. 148). Em resumo, 0 corpo € 0 orgao da diferenca. ‘Na cbra de Foucault, a dimensio aurdtica aparece como uma forma de estranhamento em que 0 normal 0 familiar acabam por ser vistos de uma maneira nove e por vezespertorbadors, Pata vero comm com vis y visio nova, temos que torna-lo “extraordinario", isto | ¢, romper os habitos da rotina organizada e ver o mun- } do “como se fosse pela primeira vez”. E necessério nos) libertarmos dos modos normalizados de pensar, que! os cegam a0 estranhamento do familiar. Dai 0 uso {das imagens e dos tropos provocantes de Foucault para interromper a compreensio do leitor em sua rotina: a hipétese de que a idéia de homem é uma invengio moderna, que conta apenas dois seculos; @ descrigio grotesca de Damiens, 0 regicida, cujo corpo foi tortu- rado publicamente, desmudado ¢ esquartejado como simbulo de repressio panal (isto &, violéncia legal) no séello XVIU; a ideia de que a medicina moderna, lon- ge de ter sua origem no homanismo altrutstico, de- senvolveu-se a partir do interesse do Estado pela ad- minjstragio da "biomassa’, isto ¢, da populagao dos corpos. Foucault nos lembra que todo discurso possui uma fungfo interna censora que reprime a estranheza do simbolismo, @ que o primeiro passo na andlise € reconhecer isso como uma maneira de nos “iluiinar” Assim, a iluminagio assume aqui um novo aspecto Parad Kant, a iluminagio era um modo racional, mas ainda normalizado de pensamento critico. Para Foucault, a ilaminagao é a experiencia de um lampejo suibito e ¢spontaneo quando alguém € arrebatado por um poder alm do pensamento racional consciente, isto 6, pelo auratico. Foucault revela a experiéncia da iluminagdo alienante mais notavelmente por meio de sua adaptagio do métado genealégico de Nietzsche (Foucault, 1977a, p. 139-164). A genealogia ¢ oposta a busca de formas puras ¢ ideais que preexistem ao nosso mundo profano cotidiano. Ao contrério, 0 getealogista descobre que as esséncias ideais, as ver- dades essenciais, sao artefatos tomados de “formas dis- crepantes*. © que descobrimos na assim chatnada oti- ‘gem das coisas nao é um estado de certeza restabelecida M da perfeicdo, agora perdida, mas ainda recuperavel. Ao contrario, existe disparidade, diferenga, indeter- minacdo. O método genealdgico de Foucault é, por- tanto, semelhante agonistica de Lyotard e a descons- truco de Derrida: todos negain 0 conceito de uma origem perfeita e 0 substituem por um processo de contestacdo diferencial, Por essa razo, Habermas'eri- tica Foucault, ¢ 05 pés-modernistas em geral, por se- rem “irracionais”, Habermas (1984) considera que a razao € condicional a um conceito de origem perfeita Essa "racionalidade comunicativa” pressupoe somen- te esse estado ideal. Mas a logica do pensamento pos- moderno comega com um entendimento diferente de razio, entendimento que parece as vezes mais veridi- camente sustentado do que o das posicées rivais. Tra- ta-se de uma racionalidade baseada nao na descoberta de respostas a problemas, mas na-déscobertaLde-res- pastas “problematizantes”, Isso é inteiramente coeren: te com a posicao genealdgica que diz ser a disparida- de, e nao a paridade, a fonte das estrucuras humanas. As respostas sio meramente inversbes temporais dos problemas. Enquanto Habermas esté procurando uma esposta ou pelo menos uma aproximacto dela, Foucault pode apenas ver as respostas como manciras de eliminar os problemas, como expressdes da “insia de querer saber”, Essa andlise sempre se origina de um. complexo processo de como os pensamentés estio es trunurados para dar uma solucdo, No mundo htimano, isso esta sempre sujeito ao trabalho do poder, porque © poder ¢ inevitavelmente intrinseco a légica agonts tica da disparidade, O discurso € a expressao do poder que esta centrado nos problemas.-O poder precede a resposta por meio de wma estruturacto previa, sucil ¢ secteta, do problema, E por isso que Foucault esti tao interessado em “problematizar, jd que o proprio en- tendimento da solugdo 6 pode surgir da visto do modo como o problema estava previamente estruturado. Todo o trabalho de Foucault trata essa questao, de wma forma ou de outra; o desenvolvimento do problema da loucura na Era Medieval, a origem do discurso médico modemno com a organizagio de élinicas e hos- pitais especializados no século XVIII, o surgimento das ciencias sociais como instrumento para a estrutura- cdo de problemas de forma a tornd-los mais trativeis pela gestio e administracio. 0 discurso nao é mais um meio neutro de comuni- cagio acerca do mundo, Ao invés disso, é 0 discurso da diferenca e da auto-referéncia, Nao é mais uma ex- tensio das faculdades ou dos érgios humanos; estes € ue sdo as extensées do discurso. i US | ‘ROBERT COOPER: CiBSOK BURRELL ANALISE ORGANIZACIONAL © objeto da andlise organizacional ortodoxa € « organi- zacio, entendida como um sistema social initado, Pos- gulestruturas e objetivos especificos, atwando de manei- ra mais ou menos racional ¢ coerente. Nesse contexto, 0 proprio conceito de organizagio funciona como um pretadiscurso para legitimara idéia de que a organizagio ma ferrarnenca social e uma extense do agente hur nano. £ ur “6rgio auxiliar” pelo qual “o homem se tor thou uma espécie de Deus protético” (Freud, 1961, p. 92) petseguindo 1 idéia de ura ordem antropocentrica. © felato ce Bell (1974) sobre a corporagse moderna repre- Genta a apoteose dessa idéia. Agora o modo cognitive essa forma de organizagio esta baseado no que Varela (1979) chama de imagem de “controle” da “Gestalt do computador”, que, como os sistemas de periormatividade de Lyotard, se programa para otimizar a relagao Input anupuc (Lytotard, 1984). Como os inputs devem “corres: ponder aos outputs, Gestalt do computador € win'me- elo referencial de organizagdo que emprega conhect: nento informacional (discurso) num sentido fixo ope- racionale “instrutiva”, Porém, Varela nos lembra que a referencialidade € simplesmente vin caso especial ou limite de auto-referencialidade, de forma que esta wld- tna deve ser vista como sendo a mais abrangente (Varela, 1979, p. 265-267). Varela quer que vejamos a organiza~ gio como um produto da auto-releréncia, e, sssim, que descentremos 0 papel de proposito racional. # comum que 0s cientistas saciais pensem acerca de sistemas sociais, e talvez. especialmente, acerca de forganizagaes, do ponto de vista referencial, mesmo ‘quando seu propdsito explicito seja a compreensto € tao a engenharia social. Essa, claro, ¢ uma reconheci- da critica do paradigma dos sistemas, cuja énfase fun. ‘cional serve pata suprimir a acio da diferenga ¢ da auto referencia (Cooper, 1986). Vemos essa supressa0 fem funcionamento na teoria da organizagao de Blau, que repouss centralmente no conceito de “diferencia Gao" (Blau, 1974). Por diferenciacéo, Blau quer dizer ds divisdes do trabalho (espectalizagao) ¢ 2 autorida- tie, Como esti predisposco a enxergar as organizagoes dentro da perspectiva funcional (isto €, referencial) da Gewelt 40 computador ~ 0 “critério que define a organizacao formal [..] €@ existencia de procedimen tos para mobilizar ¢ coordenar os esforcos de varios subgrupos, em geral especializados, na busca de obje- fives conjuntos” (Blau, 1974, p. 29) ~, Blau € entto evado a enfacizar a especializacae ¢ a autoridade ¢ ndo na diferenciacdo. isto é, 8 centralizagdo perceptiva no “controle” o seduz em sua definigdo de estratura em termos de diferenga estdtica, ocultando a percepeao da natureza ativa da diferenca ¢, portanto, subtraindo-a da andlise. Como muitos te6ricos, Blau comeca a sua andlise de uma posigde que omite o passo original da diferenciagdo ou divisdo na organizagao social. A or ganizacio, portanto, aparece jd formada, Exatamente esse t6pico é levantado na critica de Mayniz sobre os modelos dominantes de tomada de decisio organizacional, por serem normativamente racionais: os objetivos sio estabelecidos pela organi- zagio, € esse passo € seguido por uma busca da me- thor salugio entre alternativas competitivas (Mayntz, 1976). Assim, “a ago parece ser desencadeada por abjetivos ou propésites preconcebidos” (Mayntz, 3976, p. 119), Maynca reveite essa ordem de ahlise de deci- Sao ao sugerit que 05 processos organiizacionais S40, nna realidade, reacoes a perturbagdes “locais". "A athvi- dade organizacional em geral.e a definigio de polt cas em particular sdo primariamente desenéadeadas por fatores situacionais que constituetn uma pressdo para ‘agi, em vez de serem gerados por deliberacoes sobre 0 modo como certos valores abstratos podem ser conquuis- tados” (Mayntz, 1976, p. 119)., Essa eritiea também enfatiza significativamente a natureza interativa ow agonistica da organizagao, pois Mayntz nos lembra que, fem contraste com 0 modelo racianal-normativo, as deci- ‘soes raramente ot nunca sio tomadas por individuos, mas estao invartavelmente imersas numa rede ativa de pessoas, dentro de ume divisao do tabalko. ‘A critica de Mayntz reflete-se em analises semelhan: tes de escritores de diversos campos, como desenvol- vimento economico, pesquisa € desenvolvimento tec nolégico, ¢ formulagao de politicas (Hirschman © Lindblom, 1962). A esstncia desse trabalho € que no hha solucdes tedricas perfeitas para problemas que pos- samos preparar de antemdo, © que as decisbes devem ser tomadas como lances terapéuticos, em situagoes tarcadas pela incerteza, pela desordem e pelo desequi- Iibrio, Nessas andlises, a pritica apodera-se injustamente da teoria, ¢ a erganizacdo, longe de ser uma estrutura de acbes calculadas ¢ deliberadas, € na realidade a res posta automatica « oma ameaca iminente. Assim, 2 and- lise sugere que o controle racional serve a um processo mais fundamental, que atua autonomamente, como sugere Varela: « referencialidade serye a auto-referen cialidade (Varela, 1979). Em resumo, 0 processo de organizagio ¢ auto-originante e automatico Podem-se discernir esporadicamente insights dessa maneira alternativa de pensar a organizagao na litera- JAMIMAR. 2006 «AE 99 ee AE AS81005“ MODERNISM, POS-MODERNISMO E ANALISE ORGANIZACIONAL: UMA INTRODUGAO tura da anétise social e organizacional. O conceite de “gutonomia funcional” de Gouldner, que entre outras coisas afitma que a atividade organizacional esti foca- dé 1ias frontestas ou nas divisdes entre as partes dos sistemas, € um reconhecimento inictal da auto-ref réncia no trabalho era orgenizacoes formeais (Goldner, 1959), Gouldner argumenta especilicamente que as divisoes organizacionais exercem uma pressio alto- nome sobre as atividades porque sto a fonte de intera- ges paradoxais constituidas pela mutualidade de "se- xeferéncia tambem pacar” e *junrar”, O tema daa peemela @ andlise de Merton sobre sistemas sociais: a acionalidade formal da burocracia paradoxalmente produz “distungoes” ao lado de suas "fangoes” (Merton, 1068, cap. 6). Ascreneas sociais podem funcionar como sprofecias que se aute-realizam” (Merton, 1968, cap. 13) ‘Acées sociais intencionais podem induzir conseqnencias nfo intencionais (Merton, 1976, cap. 8). A despeito do seu reconhecimento da interagdo entre o referencial © 0 referencia, seu viés, come funcionalista confesso, da em diregio'ao anterior, de sorte que o entendime propria auto-referéncia fica, digamos assim, pairando no | ar. Entretanto, essas breves referéncias a literatura das ciencias sociais, de fato, indicam a consciencia das duas maneiras opostas de pensar acerca de organizacao, De | um lado, um modelo de “controle” que ¢ referencial, ) instrucional « concebido como a expressio da racionali dade humana; e de outro, um modelo de *autonomia que é wuto-referencial, processual, isto é, sem Local fixo, ‘eque atua automaticamente, independentemente do.con- tzole humano extemo. O modelo de “controle” aproxi- ‘ma-se da visio modernista do mundo, especialmente na ideia de sujelto final sacional que quer “metaorganizar’ ‘Ao contidrio, o modelo de “autonomia” aproxima-se dos argumentos do pés-inodernismo, especialmente na re- jeigio do sujeito racional onisciente. © pensamento pés-moderno comeca com o insight de que todo o discurso sofre de uma reatividade intrin seca, € que deve ser tratado como problema antes que as postibilidades epistemologicas do modelo de auto- nomia possam ser propriamente observadas. Hirschman, ¢ Lindblom caracterizam o problema da reatividade como a tendéncia de as ages racionais serem terapéuti- cas, ou seja, “elas desviam-se dos males, em ver de diri- girem-se « objetivos conhecidos” (Hirschman ¢ Lindblom, 1962, p. 216). Se essa diagnose também pode ser aplicas a0 discuzso académico, talvez possamos ‘comegat a pereeber que 0s dados estao viciados contra 6 desenvelvimento da metodologia pés-moderna, nas citncias sociais, A andlise pés-moderna enfrenta esse . (EN topico com o método genealdgico de Nietzsche. Como notamos, a genealogia define diferenca em termos de disting2o stivo-reativa. © ativo.€ 0 Teativo sto, respec- tiva e grosseiramente, os conceitos de Varela (1979) sobre “autonomia” ¢ “controle”, exceto que, na formu- lagio de Nietzsche, eles sto tratados como forgas, como fontes de poder, e nao apenas cowio éoriceitos intelec~ tuals, © ative € a “prioridade essencial das forcas es- ponténeas, agressivas, expansivas, atribuidoras de for- mas, que dio novas interpretagées e ruinos” (Deleuze, 1983, p. 41), mas que precisam sef domesticadas, até negadas, pelas forcas compensadoras do “reativo”, que assim funcionem terapeuticamente. © deslocamento genealégico da diferenga, de mero conceito a forca ativa,¢ efetivamente a inversto do en- tendimento tradicional, ou seja, referencial, da diferen- ‘ca como sendo um efeito estatico de separagio (tal como dissemos acerca do uso, em Blau, de “diferenciacio") tuma conscientizagio da diferenca como co-dependen- cia ativa, de simples divisao, a fluxo unitario; de termo isolado, a processo interativo. Uma felao definitiva dos / sistemas autonomos € sua tesisténcia ihtrinseca a divi-/ so, parcializagao e classificagao, Vista dessa forma, uma’ ' onganizagio é uma unidade ou uma coeréncia de forcas que perdemos de vista quando aplicamos as especiali- zacdes académicas accitas (sociologia, psicologia, eco- nomia, ciéncia politica etc.) e as metodologias. Nesta ‘ltima concepgéo, simplesmente representamos as estru- turas dos sistemas sociais, sendo as representagoes ape- nas representagées para um sujeite' que tenta apropriar € dominar 0 sistema como campo de conhecimento. Uma genealogia de sistema e organizagio comeca com o reconhecimento de que as estruttiras e as representa goes derivam de um processo mais fundamental de materialidade € energia, As idéins, as imagens, 0 pré: prio discurso so agora para serem vistos como uma forga que dissolve 0 conceito de mundo humiano, como uma série de divisoes. Esse entendimento ¢ elaborado num texto-chave pés-moderno de Deleuze ¢ Guatiari, rio qual 0s “corpos” sociais sto definidos como "m4 quinas" produtivas continuamente engajadas no pro- cessamento da materia (Deleuze ¢ Guattari, 1983). 0 ponto de vista unitério exposto por Deleuze ¢ Guattari rejeita a representacdo de texmos sociais separades, 0 que significa que o conceito de maquina produtiva se aplica a tudo no mundo humano e natural; maquinas € individuos, grupos, organizagoes e sociedades inteiras Essa abordagem também significa que-temos que rejei- tar a concepsao usual de maquina como extensio do poder humano, De fato, Deleuze ¢ Guaitari argumen- yal udt [ROBERT COOPER GIBSON BURRELL tain que o homem é realmente um apéndice das maqui- nas, Isso € porque as maquinas sao alimentadas pela {orga iresistivel do ativo. Com efeito, as wniquinas pro- duzem lluxos deswumanos de matéria-energis, dividin- do-os{luxos,codifieando-es e, finaimente, inscrevendo as codificagdes sobre © "corpo", que € a fonte material dus fluxes, para estabelecer as frontetras. Uma ilustra- fo simples desse proceso € o animal que usa seu fluxo de seeregbes corporais para marcar seu tertitério, Assim, o animal é uma maquina que produz um tertitsrto babi- tavel. Justamente por isso, as organizacdes sto maquinas sociais que produzem elaborados discursos de informa- toveorihecimento em que os sujeltos humanas s40.com- pponentes necessdrios do fluxo material sobre o qual os discursos sic inseritos. As organizagoes operam direta fou indiretamente no mundo da natureza e, em virtude di logica auto-tefesencial dos sistemas autdnomos. in cluem necessariamente a “natureza humana” (© conceato de “corpo” como fluxo material tem divas conseqatncias importantes pata a andlise organizacio: nal. Paneico, 2 idéin de “luxo" chama a atengio para a instabilidade essencial do ambiente humano, inclusive do proprio corpo humano. Nao existem restrigbes abso Tatas na vida ow na natureza, “Nada no homer, nem mesmo seu corpo, € suficientemente estavel para servit de base a0 auto-reconhecimento ou para o entendimen- to de outros homens” (Foucault, 19772, p. 153). Segun- Jo, 0 papel da sujeito humano na andlise tradicional da organizaio win sido modelado por certas exigéncias funcionais. © sujeito ¢ um *tomador de deciso” ou um jependendo a definigao do sujeitod taco anterior de um modelo racional-normative de or ganizagio, Ao contrario, a concepcio genealgica do su- jeito como um corpo no fluxo material nos leva @ pensar acerca dele como sendo uma maquina que se produz a si raesnnt, Besse mada, coloea o sujeito na origem do pro- sso organizacional, em vez de vé-lo como acessorio. Esses pontos exigem uma reavaliacdo radical do conce! to uadicional de organizaca0 como unidade econdmice: adiministrativa circunsctita, bem come das metodologias subjacentes para defini-lo. Em seu lugar, prectsamos en- tender a organizagio como um processo que acorre den- tro do “corpo” mais amplo da sociedade e que diz respei- toa construgdo de objetos de conliecimento tedrico cen- tralizados no “corpo sectal”: sade, doenga, emoglo, al mentagio trabalho, etc, Em outros termes, para enten: eras organizacoes é wecessario analisé-las de fora, como elas eram, ¢ ndo a partir daquilo que ja esta organizado. SP uuma questao de analisar, digamos, a producto da orge- nizagio. ¢ nfo a organizacao da produgao. Dai a impor urabalhados", tancia de se comecar pela genealogia ¢ nio pela organi- zagao propriamente dita: 2 organizagio como objeto de conhecimento emerge da contestacao intrinseca & logica da diferenga e da auto-refeténcia, como visto, por exem- plo, no estudo de Hirschman sobre a origem reativa da ‘organized moderna no século XVI como'itm artificio para sujeitar a natureza impulsive do howem e aplicar- the freios, tendo em vista a produgio social e ¢condmica (Hirschman, 197). , ‘Talvez, o primeiro passo para a interpretacto pos- moderna da organizagio seja 0 reconliecimento de que toda a atividade humana organizada ¢ ¢ssencialmente reativa ou defensiva. Isso entdo impliearia oxeconhe- cimento do ativo, especialmente como:sendo a forca. superior. Esses fundamentos estad universalmente ausentes da teoria ortedoxa da organizagao. & difteil, por exemplo, até mesmo-conseguir um apanhado da dinamica ativo-reativa em funcionamento no'quadro estitico da organizacdo esbocado em termos do para. digma burocratico, como as dimenstes da autoridade, a estruturagdo das atividades, a padronizagao dos pro- cedimentos, etc. Seria necessario um. deslocamento macigo da perspectiva teérica para perceber 0 modelo burocratico como ativo-reativo, especialmente para fazer justica a0 insight de que toda a atividade institu ional e organizacional é basicamente auto-teferencial © pensamento pés-moderno comeca com essa ultima tese e sempre retorna a ela, Aparece constantemente em fancionamento na andlise de Foucault sobre os processos organizacionais, em que a “organizagao” ¢ vista como uma série de racionalidades inter-relacio- nadas de programas, tecnologias ¢ estratégias sempre envolvidas pelos problemas da recursto endémica 4 auto-teferencia (Gordon, 1980). Um programa € mi- nimamente ui conjunto de instrugdes para atingir um objetivo. Menos obviamente, pressupée um conheci- mento do campo sobre 0 qual opera, ao reproduzir a realidade como “forma de um objeto que é programa. vel" (Gordon, 1980, p. 248). © programa , portanto, uma versio do modelo de organizagao normativo- racional de Mayntz (1976), bem como uma evoeacto & organizacdo pés-industrial prototipica de Bell (1974) que se desenvolve em conhecimento tesrico. Embuti- dos no programa esto “mecanismos de funcionarmen- to correto", que nos sistemas sociais aparece como rormas de comportamento apropriddo para individuos e coletividades. Ora, a propria norma é um produto de técnicas de normalizacéo que estruturam o diseurso em termos de correto-incorteto, desejavel-indesejével, ete. De fato, © programa torna-se real até 0 ponto em que € is.auae, 2006 = RAE» 97 “ein ARE.CLASSICDS MODERNISM, POS.MODERNISMO C ANALISE ORGANIZACIONAL: UMA WTRODUGEO mantido por uma tecnologia. Existe assim uma relagao co-dependente, ou seja, auto-referencial, “entre 0 programatico ¢ teenologico, o normal e 0 normative" que “é por sua vez a conseqiténcia da conceitualizagao, dentro da forma discursiva do préprio programa, de uma discrepancia inelutavel entre discurso e realidade” (Gordon, 1980, p. 250). Isso & porque a Logica peculiar da auto-referéncia dita que os termos contém necesss: Hlamente seus préprios opostes, como virnos,¢ isso sig- nifica que para cada programa existe um ndo-progra~ ma, pata cada-norma existe uma ab-norma (ndo-nor- ma). Os desvios e erros nao devem mais ser concebidos como efeitos adventicios de racionalidade imperfeita, pois estio embutidos nos préprios instruments que bbuscam annli-los, Os programas e as teenologias sio, portanto, nesse sentido bizarro, antifuncionais. Entre outras coisas, isso significa que "cada programa ¢ capaz de cuidar antecipadamente de suas proprias (alhas” (Gordon, 1980, p, 250), Foucaulk cita, como exemplo, as prisdes como organizacdes que, sendo continuamente atacadas por seus insucessos em atingir seus objetivos planejados como reformatérios, tém procurado comti- nuamente reorganizar-se, usando 0 modelo malogrado de seu programa original: Alguém poderta (... embrarse de que o movimento de ceforma de prsbes com objetivo de contolar seu foncionsmento néo € va fendmeno recente. Tampou- co parece terse criginado de um reconhecimento de seu malogro, A *relorma” das prises ¢ virtualmente contemporinea propria pristo: constitu, como o fol, seu programa, Desde inicio, a pristo foi surpreendi- da por uina série de mecanismos concomitantes cuj proposito era catamente corrigi-la, mas que parecer fazer parce de seu proprio funcionamento, bo proxi- mamente unides estdo 8 sua existéncia, no decorrer de sua longa histeria, (FOUCAULT, 1977b, p. 234). Seria diftett descobrit um exemplo mais esclarecedor de organizacao como reagao terapeutica que tem sido pensada com os pés no chao. Temos aqui o trabalho de estratégias que, 20 contrério da racionalidade normativa do programa, sio pragmaticas, instintivas ¢ improvisadas, A estrategia opera no nivel pratico e no no tedrico. Isso porque sua agao ocorre num cam po complexo ¢ heterogénco de forcas instantaneas em que explora “as possibilidades que ela mesma discerne e-cria [...} a estrattgia é a arena do cinico, do promis: cuo, do tacito, em virtude de sua capacidade logica geral de sintese do heterogenea” (Gordon, 1980, p. & 251). A estratégia opera no nucleo labirintico da orga- nizagdo ~ 0 olho do vortice =, onde reinam a diferenga enauto-referéncia, Ao enfatizar esse nivel de agao ins- Utucional, a andlise pés-moderna deseja atrair nossa ‘atengao para o papel central da autonomia, no sentido de Varela, ou da maquina, no sentido de Deleuze e de Guattari, nos sistemas sociais. € essa forgs primitiva que, pelo nivel estratégico, anima os programias ¢ as tecnologias, ¢ nao o inverso, Lyotard (1977) fomece uma analise esclarecedora da esttatégia em funcionamento, no seu conccito de mise- en-scene, como 0 jogo complexo de operagées que tor na vives os componentes bisicos da organizagao social. No contexto otganizacional, deparamo-nos com um conjunto de dados primétios constituidos por progra- mas e tecnologias. Esses sto essencialmente os grupos de discursos que pertencem a diferentes'sistemas de racionalidade (legal, economia, clentifica, et.). Entao, representam um campo heterogéneo com duas feigées dignas de nota: € um campo “inerte".e, devido a suas origens diversas, tem um poteneial para a "desordem”, ‘A mise-en-scene langa mao de sev espaco intratavel ¢ “dacthe vida", "Dar vida” significa tanscréver o discur 50 inerte de programas ¢ tecnologias para corpos vivos. A transcrigdo envolve o translado do inerte ¢ do hete- rogéneo para dentro da unidade elementar do compa, huimano “poliestético”, considerado como “uma potencialidade multissensorial” que “€ capaz de ver, ouvir, tocar, mover-se |..J" (Lyotard, 1977, p: 88). En- volve um movimento do registto referenciat de progra- mas € tecnologias para o registro auto-referencial da mise-en-scéne, que agora deve ser entendido como sen- do a origem ativa da organizacio. As organizagdes nio. « preexistem primelro para depois erlar seus relacions- mentos. Flas ocorrem em lacunas existenciais que se encontram além do discurso inteligivel. Essas Iecunas so 05 lugares de operacio da mise-en-scéne e das estia~ tégias, que focalizam sua atencio no nao-programavel eno ndo-discursivo, ¢ deles emergem. A racionalidade organizada, longe de originar belos ideais logicas con- sumadas de eficiéncia, esté fundada em truques de pres- tidigitacdo, em polémicas viciosas ¢ em, pudenda origo lorigens vergonhosas). Essa é a ligdo revistonista que © pos-modernismo traz para a andlise orgénizacional. POST SCRIPTUM . Lembremo-nos de que o assunto da anélise organiza- clonal ¢ a organizagad formal. Nao € a’prganizacio j ‘ROBERT coOPER: cinsoN BURRELL proprismente dita que exige uma andlise, mas € 0 seu cavdter “formal”, muito embora isso seja freqientemen te esquecido. Habitualmente, a palavra “formal” sig- niflca 0 que € proprio, metddica, e meticuloso. No contexto das organizacoes e das instituigées formais, 9 “formal” nao € apenas 0 préprio ¢ 0 metédicc mas também 0 “oficial” que e algado ao.nivel da lei ¢ da verdade publica, O que ¢ formalmente organizado as sume a virtude de una ordem moral. Daf a enfase por parte do modernismo na busca da “autoridade racio- nal” como base da boa ordem social. Mas a légica do discurso humano insiste em que eada simbolo carrega dentro de si o seu proprio opasto, de modo que o “for- mal” ¢ continuamente obumbrado pelo “informal”. Douglas (1970, p. 100) desenvolve essa oposigdo den- tro do contexto da organizacao social: a “formalidade significa distancia social, papeis bem definidos, publi- 6s, insulados. A informalidade ¢ apropriada para re- presentar confusio, familiaridade, intimidade”. Em outtas palavras, o “formal” tem codas as earacteristicas da razao cldssica, como foi concebido pelo luminismo: referencial, ransparente, fechado, monumental. "Esses sao 0s termos do ‘regimen’ de Foucault e da 'racionali- zagao’ de Weber. Sao as formas fortes da pureza funcio. nal que durante o século XVII, na Inglaterra, levaram a grande idade da ‘institucionalizacdo" ~ asilos, hospi tals, escolas, quartéis, prisées, casas de seguros ¢ de fi- nnariciamento ~, que, como sugeriu Foucault, incorpo Fam e asseguram a manutencéo da razao classica bur. guesa” (Stallybrass.e White, 1986, p. 22). Como sugere a definicdo de Douglas, 0 “informal” € aquilo que ameaga transgredir 0 “formal”, é 0 local eo imediato, aquilo que resiste a categorizagio e & racionalizagao. Em resuimo, 0 “informal” 0 auto-referencial e, como tal, a provincia especial da anzlise pés-modema. J4 notamos que o modernistno coloca a resposta an- tes da pergunta, e, assim, atua sobre o principio de que “ja sabe", Assim, privilegia a idéia da organizagio “for- mat", Isto €, a organtzagio do formal, e, 20 mesmo tem- po, ao racionatizar, elimina a existéncia do "informal" Nao € dificil de ver esse processo em funcionamento na literatura da andlise organizacional contemporénea, que, nna sua posigio de desconhecimento, repete as estrutt- ras formalizadas da organizacio em sua propria meto- dologis. Varios estudos de organizagoes identificaram a “formalizagdo” como uma feigao maior da estrutura organizacional (como Hall, 1972, p. 172-199). Para sim- plificar, esses estudos indicam que a formalizacao diz respeito a definigzo e manutengio do comportamento correto”, ou daquilo que aqui chamams “formal” ‘Como jé notamos, atrés da idéia de formal esta um im- perativo moral (ou seja, uma “ordem") que-exige a.ex- clusto total do “informal’, que agors ge torna 9 *imo- ral". E esse processo de exclusio que constitui a men- talidade jd fetta de formaligino, e naturalmente esta pre- sente em todas as formalizagées, inclusive naquelas que conformam as metodologias da andlise orgenizacional. Vamos brevemente ilustrar essa idéia com 0, coniceito de “incerteza", que recebeu extenso tratamnento em va- "las areas da andlise organizacional (como tomada de decisao, tecnologia e ambiente). Neseas andlises, a indeterminacio intrinseca a incertezs (por definigao um aspecto do “informal”) € vista emtermés do “formal”; por exemplo, a estrutura bem conhecida que reduz @ incerteza da tarefa a “nao-rotina”, definindo assim a incerteza do ponto de vista da “rotina™, ou seja, do cer- to (veja, por exemplo, Perrow, 1972, p. 166-167). A mesma tendencia de formalizar o informalizivel pode ser vista em funcionamento’na andlise de Luhmann, (2976) sobre incerteza em sistemas complexos organi- zados em que, entre outras coisas, 0 conceito de auto referencia € discutido inteiramente em termos referen- ciais isto ¢, determinados). Em.resumo; a organizagao formal ¢ caracterizada por uma necessidade inveterada de suprimir seu proprio oposto de uma forma tao dissi- mulada que permanecemos numa situagdo de ignorain- cia quanto a sua fingdo sensorial Atarefa do pensamento pés-moderno ¢expor a fan- Ao sensorial da formalizagdo e, mais ainda, mostrar que 0 “informal” realmente constitui o “formal”, O “formal” ¢o “informal” refletem-se um no outro como 0 verso € 0 reverso de tima moeda. Na medida em que nndo podem ser separados nunca, nao so apenas mu- tuamente definidores, mas pode-se dizer que sio 0 “mesmo”, ou auto-referenciais, E desse ponto de vista que escritores como Foucault e Derrida véem e anali- sam o “formal”, de modo que nao é mais um sitio pri- vilegiado ¢ inatingivel no discurso social. © propdsite da analise de Foucaiult da emersio da organizacao for- mal, so tempo da Revolucdo Industrial e pouco de- pois dela, ¢ mostrar como o “formal” fol construido partir do “informal” por meio dos processos de disci- plina e normalizagao. Significativamente, o estilo de discurso que emprega para fazé-lo ¢ “informal”. Por exemplo, 0 entendimento moderno'do leitor sobre “organizasao" € colocado de cabeca para baixo pela descrigto que Foucault faz dela como uma “tecnolo- gia disciplinar’, © mundo normalizado das institu 0es formais torna-se parte do lado grotesco da vida. © conceito de poder-é semelhantemente revertido i 7 ' I JAAR. 2008 RAL fnt-LAs81008- MODERMSHo, Ps-MODERNISMO EANAUISE ORGANEZACIONAL UMA NRODUGRO quando se & forcado a entendé-lo de uma perspectiva “informal” ow auto-referencial. As visdes formais de poder estao centredas em unidades formalizades como “individuos” ou “organizagoes*, e somos levados & pen~ sar em poder como uma espécie de propriedade que € possuida e manipulada por essas unidades sociais. A perspectiva “informal” nos faz enxergar 0 poder como uum sistema aitdnomo de compulsao que funciona pér meio dos sistemas formais de disciplina e organizacao. Uma conseqiiéncia disso € que as diseiplinas das citn- cias sociais, como a propria psicologia e a sociologia, tornam-se discursos formais que nos normalizam e nos anestesiam do substrato “informal” da vida humana. O pés-modernisino revela a organizacdo formal como a cexpressio sempre presente de tum poder auténome que mascara, como acontece com as construgdes suposta- mente racionais das instituigdes modernas. Essas consideracdes nos levam & observacio geral de que ha dois sistemas radicalmente diferentes de penisamenco e logica em funcionamento na confronts (80 imodernismo-pos-modernismo, Existe alguma ra ao paca acreditar que eles sejam fundamentalmenté irreconcilidveis porque derivam de uma ruptura bisi- ‘cana estrutura da logica humana associada com a dis. ting3o “formal""informal” que tem sido exacerbada pela extensdo da organtizagao formal a cantas facetas da vida humana. De fato, pode ser mais apropriado considerar essas visBes concorrentes sobre sistemas organizados nao tanto como posigoes coneeituais con- correntes e siin como sintomas das problematicas que eles almejam analisar ¢ entender. E esse angulo que desenvolveremos em fucuros miimeros de Organization Studies. Revomaremos o trabalho de Foucault, Derrida, Habermas e Luhmann numa exposigdo mais detalha- dae sistematica do debate modernista~pés-modernis- ta no que tange a sistemas organizados. Na vertente pos-moderna, Foucault e Derrida desfecharam, de di ferentes maneiras, golpes destruidores sobre 0 cor- po dos pilares tradicionalmente inquestionaveis do pensamento institucionalizado, centrando suas anal s25 No status organizado ¢ sempre manufaturado do discurso usado para manter esses pilares. Do lado moderno, Habermas tem sido rigoroso em suas eriti- casa Foucault ¢ Derrida, defendendo particularmente © conceito de agéncia humana critica e responsével (que © pés-nodernismo coloca em questio) contra a instrumentalizagde maciga € maquinal da vida social pelos sistemas formais de larga escala. A resposta de Luhmann ao progresso dos sistemas organtizados com- plexos ¢ mais benigna, por ser ele o cartografo dos & Bev sistemas instrumentais modernos, cujas atidlises nos mostram como encontrar o cantinho até éles. A im- portdncia desses quatré pensadores nd contexto pre- sente esté no seu conttaponto dos t6picose conceitos que se encontram no coragao dos processésvorganiza- cionais, uma vez que lidam essencialmeiitt com o5 mesmos temas ~ diferenciacéo, poder; aiyioridade, dis- ciplina, etc. -, mes produzem interprétagges radical- mente diferentes, & éssa'rivalidade agonistita ~ por vezes abetta, por vezes muda ~ que, em nosso enten- dimento, ressalta a relevancia do debatg thodernista— pds-modemnista para revigorar a analise dos sistemas sociais em geral e das Srganizagdes em particular, NOTAS 4 A " ume necesdade quest area eat eabjacente. (der) | Sitde see x mi dsl E ind por Kat ho logo de seu lize Sobre a filzfia da hstra. (Not) > Thaducie do original ‘econmizing mode’, (Ni deo 1) * Constrait uma aura, que é ums essen. (8, do*T3 REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS. BELL, D. The Coming of Pos-IndusnalSeceoy London: Heinemann, 1378 ERMAN. M. 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Copyright EGS, 2005 & SAGE Plots, 2006, wewcagepeblenions am" Profesor weitante ao Centre for Culture, Social Theory & Technology ~ Keele Univelsty Tmueesses de pesquisa nas areas de produsao sociale cultural, relagBes entre tecnologia © cvganizagao moderna, eos aspectos culturaise sociais da informacao E-mail: cooperrobert@talle2 L.com Enderego: Centre for Culture, Social Theory & Technology, Keele, Staffordshire ~ UK, STS 5BG, Gibson Bucrell Darwin Building, Keele University, Profercor de teoria das ongauizagdes na Management Centre ~ University of Leicester. echeses de pesquisa nas dreas de teorla sociale suas conexbes com a teora das organizagbes Email: g.burrell@le.ac.uk ( Enderegot Management Cente, Ken Edwards Building, University of Leicester, University Road, Leicester, UK = LEL 7RH. in mad 2005 HAE + 108

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