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HWA UL ANTONIO\SANTONI RUGIU Introdugao de Dermeval) Saviani NOSTALGIA DO MESTRE ARTESAO TORR AUTORES oO) SSOCIADOS NOSTALGIA DO Mestre ARTESAO ANTONIO SANTONI Ruciu CoLecao Memoria DA Epucacao EDITORA AUTORES (C) ASSOCIADOS Dados Internacionais de Catalogagdo na Publicagéo (CIP) (CAmara Brasileira do Livro, SP Brasil) Santoni Rugiu, Anténio Nostalgia do mestre artesdo / Ant6nio Santoni Rugiu ; tradutere Maria de Lourdes Menon. — Campinas, SP: Autores Associados, 1998. — (Colegio meméria da educagao) Titulo orginal: Nostalgia del maestro artigiane, ISBN 85-85701-57-9 |. Artesanato 2. Artesanato - Historia I. Titulo, Il, Série, 98-0907 CDD-745.509 Indices para catdlogo sistematic | Artesanato: Historia 745.509 Impresso ne Brasil - abril de | 996 Depisito legal na Biblioteca Nacional conlorme Decreto n? 1.625, de 20 de dezembro de 1907. Todos os direitos pera a lingua portuguesa reservados pela Editora Autores ssociados Lida. Nenhurna pare d3 publicigia pederd ser reproduzida ou transmitida ée qualquer modo ou por Cualquer meio, sea eletrGnico. mecinica, de fatocdpia, de gravacio, ou outros, sem préva autores. GO, Por escrito da Editora. © <édigo penal brasileiro determina, no artigo 184: “Bos crimes contra a propriedade intelectual Violagio de direito autoral aft, 1B4, Violar dirsito avtcral Pena - detengao de tes meses 2 uni ana, ou multa {6 Se a violacdo consistir na reproduce, por qualquer meio, de obra intelectual, no todo ou om parte, para fing de comércio, sem autorizagio expressa do autor ou de quem o represents, ou corulstir na reprodugio de fanograma @ videograma, sem autorzagie do produtor ou de quem o represents: Pena - reclusio de um a quate anos © mutta." SUMARIO Prepacio Ao Levror pe Lincua Porruaues InrropugAo A Epicio Brasieira Enucacho # TRABALHO ARTESANAL Dermeval Saviani © Tema O Autor AObra A Tradugio Inrropugio Um Fie Invisivel A Industria Bicho-papgo O Artesanato Educa O Artesdo se Forma Trabalhando As Artes Contra a Cultura Industrial? Capiruro Um As Oricens Menirvais Mestres ¢ Aprendizes As Oficinas dos Mosteiros Mister=Mistério Em Nome de Deus e do Ganho Artesio, Artista, ‘Arteiro”, Antitice Artes Liberais e Artes Mecinicas Os Mercadores Divider as Artes ‘Como Aprende o Aprendiz? Idade e Carreira do Aprendiz... A Obra Prima do- Futuro Mestre ARelagio Mestre-Aprendiz 23 23 a5; af 29 te 34 36 39 4/ 43 46 As Horas Humanizadas © Tempo é Jé Dinheiro CapiruLe Dow CuLrurs & Epticagho MERCANTIL. A Novidade Hindu-Ardbica A Novidade da “Mercantesca” ONovo Abaco Latinantes e ndo Latinantes A Pedagogia das Lojas A Novidade do Manual Uma Acutturagio por Via Oral-Prética © Aprendizado como Escola A Evoluggo do Sentide de "Leura" O Soidado Deve Ser Abaquista A Nove Cultura em Lingua Vulgar A Meta Esta Nesta Terra Um Tirecinio Interminavel © Magico se Esvai Carituio Tre Axresios, AxvisTas & MILiTarns O Artista se Separa do Artesio Distanciam-se os ltinerdrios Formativos © Artesdo Brunelleschi © Manto a Meia Altura A Arte dio Quanto da Natureza Rouba Mascem as Academias © Conflito Formagio-Produgio. Academias, Universidade e Magonaria A lmprensa Meretriz Evolugao das Academias As Armas ¢ as Artes Milttares ¢ Jesuitas Os Estudantes com o Espadim Colégios e Oficnas 57 57 60 63 65 oF 70 73 75 oe oe: 8 83 85 88 9! oy hy oF 100 102 105 for 108 iit 13 LIS 118 (21 123 Capfruo Quatro Fim & TRANSFIGURACAO DA “EDUCAgAG MucAntca” A Manufatura Vence 0 Artesanato A\Nova Ideclogia Formativa AMisica como Officio Mestres de Musica de Libré Uma Verdadeira Educacio Permanente Mestres Escrivies e Mestres de Escola Uma Recuperacao Protecionista Da Metafisica & Economia A Pedagogia Revoluciondria De Barbeiro a Médico Caviruto Cinco NASCIMENTO # DESENVOLVEMENTO DA NostaLata O“Fundo de Ouro” do Artesia O Filésofo lumina o Artesiio O Avental Sempre Limpo O Canto de Cisne das Corparagdes A Heranca Educativa da Artesanato 127 127 129 131 [34 137 139 142 145 (47 150 155 155 158 i6t 162 164 PREFACIO AO LEIToR DE LINGUA Portucursa da somente par cerim6nia que digo estar muito contente por esta edi Se portuguesa, num pais como © Brasil, do mau livre que trata da histé- ria do artesanato como elemento Antiquissime (alguns estudioses remon- a pré-histéria, nada menos gue ao home sapiens) de grande relevo, nio na produ¢ao, mas na cultura ena educagio, mesmo se muito raramente ad: 05 paises da América Latina em geral e, 0 Brasil entre os primeiras, Mguera © a cratividade das suas componentes éinicas e antropoldgicas, apre- Bainda uma produgio genuina de varias formas artesanais de cardter popular daros de uma cultura antiga € original ¢, portanto, de uma educagao eficaz e mais que na Europa au em outros paises industrialmente mais avangados. A Bade deste artesanato difundido e mantido em boa Parte ainda na tradigae da 0” da populagio, oferece em certas zonas.e em Gertos niveisia indubitavel de no ter sido sufocado Pela invasora produgao industrial ¢ pelos Bepos consumistas de massa, também no Brasil o tunsta pode encentrarsouvenirs Produzides em aquina, quantos os quelra, NOs aerapertos, nas lojas e além, Mas se sai dos eGO-consumMmo massificad6 pode ainda encontrar eo poderd ainda no iminen- romilenio, desejamos Ber Muito tempo - objetos de varios ipes, quase sem- 9s Obras dearte, produzidas talvez nas horas livres por um camponés ou 70, Ou por mulheres que bordam com uma maestria de fazer inveja aos &s das luxuasas butiques do Rio, de Nova York ou de Florenca. Nao digo isse para fazer publicidad de um tipo de produgio que poderiamas dizer pobre (economicamente) mas, claro, rica esteticamente; ao contrdno, para procurar emonstrar que ela subentende uma antiga cultura no povo que é seu cada, transmitida porséculos e talvez por milénios, e que exprme nao so.um modo de operar, uma ha- bilidade manual refinada ¢ uma inspiragio artistica importante, bem como para lembrar - COMO justamnente procuro fazer em Nostalgia do Mestre Artesdio - que ela testermunha com a sua tradigao. através quem sabe quantas geracGes, uma antiga pedagogia que en- sinava a produgir as coisas. de um cero modo, mas tarnbérn transmitia urn comnporta- mento humano no privado e no social, em resumo, uma visdo de mundo, Aquela pedagogia era relativa a.um modo de formar as novas geragdes que, dada'a pequena minoria que seguia os estudos e, ac contrério, a grandiss(ssima maioria dedicada ao trabalho manual, prevaleceu ao menos até hd alguns séculos atras. De- pois, sob impulse da industria, do desenvolvimento do tercidrio comercial e do consumismo de massa, foi rapidamente diminuindo, para confirmar a posi¢ao tradi donalmente afirmada pelas classes dirigentes: que a verdadeira educagdo ea verda- deira instrugdo so unicamente aquelas que se assimilam através do exercicio e do aprendizade intelectual, estudando-se 9s livros € escutando-se a voz do mestre, nas carteiras das escolas ou da universidade, ¢ nao sujando.as maos, por assim dizer, produzindo objetos materias nas escuras ¢ talvez mal-cheirosas “oficinas” (como antigamente se chamavam na Itilia os laboratorios artesanais), Sea pedagogia do “aprender-fazenda” é tao antiga quanto os primeiras artesios © afunda suas origens - como se disse- na era neolitica (as primeiras pedras sempre mais finarnente trabalhadas para delas extrair ferramentas do trabalho agricola ou armas para combater, e até objetos decorativos ¢ ornamentais, nao eram talvez fruto de uma pedagogia muitissimo valida!), é quase tanto quanto antiga o desprezo que ela encontrou junto ao saber oficial que distinguia o saber falar e raciocinar do saber fazer, porque © primeire era visto como 0 saber do homem livre (livre da necessi- dade de trabalhar para viver) eo segundo, ao contrario, do trabalhador cujos prépri- os deuses haviam marcado na sociedade uma posicao daramente inferior, Cunosamente, porém, exatamente no momento em que na Europa a indis- tria com suas fabricas fumacentas comeca a suplantar.as oficinas barulhentas e muito freqlentemente mal-cheirosas, € boa parte dos artesaos, para sobreviverem, 530 obrigados a tornarem-se operarios das manufaturas ou das fabricas a vapor, els que por parte dos expoentes ilustres da cultura oficial (Goethe, para mencionar um sé. nome entre tantos) comeca-se a sentir saudades do artesanalo e da sua pedagogia que dava, nio obstante as suas imperfeicdes, também uma formagio moral eo senso de pertencer a um corpo social reconhecido, como as Corporagdes das Artes € Oficios (os Grémios dos paises ibétices), enquanto o trabalho na fabrica era privado de toda eficacia formative e tendia somente a tornar sempre mais © homem - e tam- bém a mulher as criangas que exatamente naquele momento da revolugao indus- trial, so recrutadas em massa nas faébricas - um complemento das maquinas As histérias da pedagogia ou da educagio quase nunca tratam do artesanato e da sua importancia formativa, elas também submissas ao principio segundo o qual a educagao diz respeito somente a quem se forma através dos livras. Mas deste modo continua-se a perpetrar uma injustica histérica, cancelando um trago sabre o qual caminhou grande parte da juventude, desde a infancia do homem que havia ha pou- co-tempo aprendide a viver em sociedade. Nostalgia do Mestre Artesio di uma modesta contribuigae para reparar esta injustica, esperando iniciar um processo de revalorizagio da importinda do "aprender-fazenda”. Antonie Santen! Rupis Florenca, Janeiro de 1998 INTRODUCAG A EDICAO BRASILEIRA Epucagao E TRABALHO ARTESANAL Dermeval Saviani 1.0 Tema sistema das corporacées ja se encontrava em fase de dediinio, Com efeito, come nas mostra Santoni Rugiu, as corporagdes de offcio tveram um forte desenvolvimento a partir do século Xl, atingiram 0 seu apopeu no século XIV entrando, a partir dal, num lento mas continua enfraquedmento até se- rem formalmente extintas em fins do século XVill e inicios do século XIX. ‘Ora, nos albores do século XVI, quando o Brasil é incorporado ao império portugues, jd se encontra em cursoe processo de desmontagem das corporacbes artesanais. Alias, a propria descoberta do Brasil, assim como das demais terras do “Novo Mundo”, se insere na expansao do comércio Cujo desenvolvimente ird tor- nar invidvel © sistema das corporagbes Efetivamente, o artesanato evalui do "sistema familiar”, quando se produziam os instrumentes rudimentares necessdrios & subsisténcia suorida através do trabalho agri- cola, para o “sistema das corporagdes", quando o artesdo se desloca para a cidade e Passa a produzir para um mercado pequeno e estavel constituido pelos habitantes urbanos. Nessa condicao, o mestre artesio s€ constitui em produtor independente, dono da matéria-prima.e das ferramentas de producio, que vende diretamente o pro- duto de seu trabalho e nfo sua fore de trabalho, Quando o mercado se amplia, esse regime: é substituido pelo “sistema doméstico” que nao altera 0 processo produtive Mas No qual os mestres jd nao sao mais independentes. Eles mantém a propriedade dos instrumentos de trabalho ¢ produzem na propria casa com © auxilio de um ou dois ajudantes, mas passam adepender de umn empreendedor que lhes fornece a 1. Brasil entrou para a histéria da chamada civilizacio ocidental quando o 2 Nostanoia po Mrstre AxresAo _ matéria-prima, transformando-os em tarefeiros assalariados. O aprofundamento des- Se processo conduz 4 implantacao do “sistema fabril" que implica um mercado cada vez mais ample e instavel. Aqui os trabalhadores perdem inteiramente a sua indepen- déncia, deixando de possuir os instrumentos de trabalho e pasando a produzir em edificios de propriedade do emmpregador, sab rigorosa supervisao. ‘O primeiro “sistema” vigorou no periodo inicial da Idade Média: o segundo pre- valeceu até a final da Idade Média; o terceiro se estendeu do século XVI ao XVIlll; €o quarto se desenvolve do século XIX 20s nossos dias (HUBERMAN, 1978, p.125), Vé-se, assim, que 0 "sistema das corporagées" exige um relativo mas ainda incipiente desenvolvimento das Gdades, As aglomeragdes urbanas inferiores a dois mil habitantes, predominantes na Idade Média, nao colocavam a necessidade das corporagées de oficio. Também as cidades portuarias nao eram propicias ao seu desenvolvimento. O regime das corporagGes tendeu a proliferar em centros urba- NOs Com populagdo supenor a dez mil habitantes, tendo em vista a Satisfagdo das necessidades de um mercado consumidor interno. AS caracteristicas acima indicadas nfo eram encontradas de forma. significativa €m Portugal e muito menos no Brasil No apogeu do império portugués (1527-1531) apenas as cidades do Porto, com pouco mais de dez mil habitantes, e Lisboa, com cerca de setenta mil (GODINHO, s/d, p.|2), preenchiam o requisite populacional. No entanto. so cidades maritimas centradas em atividades portudrias voltadas para. o comércio ex- temo, 6 que, como ja se assinalou, nao resulta propicia ao desenvolvimento do regime das corporagées. No Brasil, em [534, g¢ longo de seu extense litaral, vegetavam apenas aito Pequenos arraiais ou jeitonas, com algumas dizies de choupanas cada uma... Era ‘essas feitorias as de Olinda, Igaragu, Bahia, Porto Segura, lihéus, Vitdria © Sto Vicente, cam seu apéndice do vila de Santos, incipiente apenas (MATTOS, 1958, p.25) A constatacde feita acima nao significa que nao tenham existido corporagdes ¢m Portugal e mesmo no Brasil. Apenas indica que elas nfo tiveram ato esplendor que adquiriram em outros pafses, em especial na Italia, regido. que concentrou 0 maior numero de corporagées, Celso Suckow da Fonseca registra a existéncia de corporagdes em Portugal, especialmente nas cidades de Lisboa e Porto, citande também Evora, Santaréme Coimbra. No Brasil reconhece que.a presenca das corporagées, se nde foi brihante, nem influiu nas nossos destinos, teve, entretanto, bastante duragdo (p.54) jA que se estendeu do final do séculoVI até o inicio do século X1X quando se deua sua extingao formal através do inciso XV do artigo 179 da Constituicio Imperial outorgada por D. Fedral em 25 de margo de 1824 (FONSECA, 1986, |° vol., pp.39-56). IyTRopugho AEDigko Beasuea 3 Por outro lado, o desenvolvimento das manufaturas foi obstaculizado pela con dicéo de colénia que sofria diretamente as restri¢Ges apostas pela Metrépole que ‘chegou, através do alvard de 5 de janeiro de 1785, a ordenar qué todas as Fabricas, Manufaturas e Teores de Galdes, de Tecicios, ou de Bordados de Oure, e Prata: de \eludos, Brilhontes, Setins, Tofetés, ou de outra quaiquer qualidade de seda: de Belbutes, Chitas, Bombazinas, fustées, ou de outra qualquer qualidade da Fazenda de Algod6o, ou de Linhe, branca, ou de cores: E de Panos Baetcs, Droquetes, Saetas, ou de outra qualquer qualidade de Tecidos de Ld, as attas Tecidos sejam fabricados de um so dos referidos Géneras, ou misturadas, e tecidos uns com os outros: excetuan- do tdo somente aqueles dos ditas Teares e Manufoturas, em que se tecem, ou many- faturam Fazendas grossas de Algodéo, que Serve org 0 uso, @ vestudrio das Ne- 808, para enfardar, e empacotar Fazendas, e para outros Ministérios semelhantes; todas a5 mais sejam extintas, e abolidas em qualquer porte onde se acharem nos Meus Dominios do Brasil, debaixa da Pena do perdimento, em tresdobro, do valor de cada ume das ditas Monufacturas, ou Teares, e das Fazendas, que nelos ou neles houver, € que se acharem existentes, dais meses depois da publicagao deste: reper. tindo-se a dita. Condenagéo metade a favor do Denunciante, se o houver: ¢ 0 outra metade pelos Oficiais, que jizerem a dilgéncia: € nde hovende Denunciante, tueia Pertencerd cas mesmos Oficiais (NOVAIS, 1989, p.270), Ocumprimento dessas determinagées se fez com a morosidade prépria da administragao colonial. Apenas em |2 de julha de 1788 é exarado 0 cficio através do qual se constata que, reolizadas as buscase feitas as apreensoes, o resultada foi wsivelmente decepcionante: reuniram-se ao todo bora remeter a metrépole | 3 te- res de tecitles de ours e prata (IBIDEM, p.2/0), cuja distribuigae por cinco propri- etdrios revela o carater artesanal das atividades, ndose podendo falar em fibricas ou manufaturas organizadas soba forma de empresas. Essa situaco se altera coma transformacdo da entao Colania em sede do gover- no portugués quando da vinda de D. Jodo Vl para o Brasil em conseqliéncia do blo. queio napalednico. A Carta Régia de 28/01/1808 decreta a abertura dos pertos co alvard de |° de abril do mesmo ano estabelece aliberdade de industria. Apés a inde- pendéncia é fundada em 1828 a Sociedade Auxiliadora da Industria Nacional que, entretanto, se dedicava. principalmentz ao aperfeigoamento técnico daagricultura(LUZ, '975, p.52), Eem 1857 surgia, por iniciativa de Bethencourt da Sitva, 6 Liceude Artes € Offcios para cuja manutengao fol instituida a Sociedade Propagadora das Belas Artes. Tais entidades tinham Supressao, ccomda nos diversas estados europeus entre o fim do século XVI e inicio do shculo XIX. Na realidade, o terme Arte, para indicar aquelas pariculares associacées, foi usada sobretude na Toscana. Em outras zonas, as denominagées foram diferentes e As wezes sujenas.a mudancas no tempo. Para cttar algumas, temos: Colégio em Roma, Con- sulados em parte da Lombardia, Universdade no Piemonte e outros lugares, Companhia na Emil, Grémio na Sardenha, Confrarias ou Inmandades no Véneto, Mestrangas na Sicilia, Ministérios em alguns centros norte-ocidentais, Paratic em zona ex-longobarda,etc. Na (Gri Bretanha e nos paises alemiies, prevalecerarn em geral, respectivemente, guilds e Giden; na peninsula ibérica, gnémios; na Franga, métiers ou devairs, A diferenca dos names correpondiam, frequentemente, mais ou menos notives diversidades de ordem intemae “de relagSes com o exterior ¢, assim também, de hierarquia social e cuttural. Nés, para entendermos aquela realidade. usarmcs em geral o terma'Corporagbes., termo esse, po~ rem, relativamente recente, dfindido na idlia somente na segunda metade do staulo passado -€. depois propagado pelo fascsmo por ocasidio do seu projeto de neo corporativizagiio Ga Italia “disciplinada, laboriosa e produtiva". Antes do final do século XIX, oterme * Na transposiczo para 0 portugués, entretanto, © terme “Arti” foi geralmente traduzida “por “Corparagies” denominagia, mais adequada ac nosso contexto linguistico-cultural (N.T}). 24 NOsTALGIA DO MESTRE ARTHESAO. Corporagies era raramente usado para entender aquilo a que aqui chamamos Artes. Corporation ern inglés e em francés estava mais para sodedade comercial ou industrial, € com esse sentido permmaneceu ainda no uso americano. E verdade que ne latin tardio corporatus quis dizer membro de um compo moral, mas aquele corpus podia ser urna as- sodagio ou uma conmunidade (universitas) qualquer, nao necessarlamente uma Ane... ‘As Artes, no sentido acinna, foram, ao invés, uma realidade especifica na boa e m4 sorte. Nao simples associagdes de produtores de bens, no sentido lato (quod podest hoc ipsum bonum est, segundo S. Tomas), existentes desde os tempos antigos alias, antiquissimos, se € verdade que deles existem numerosos traces até nas tabuas suméricas —, mas ligas profissionais caracterizadas por direitos e deveres particulares, por privilégios e por vinculos reconhecidos & garamtidos pelo poder piiblico, ele mes: mo, em medida mais ou menos sensivel, condicionadio pelas organizagdes das Artes presentes no territério. O exempia talver mais tipico de tas priviégias garanidas era oMonopdlio do qual toda Carporagao dispunha para o exercicio € 0 ensino Ga prd- pria atividade em um determinade terrténa. © monapélio de ensino compreendia também 0 poder discriciondrio para certas condigGes convencionadas de gerira instru- io geral.a sociaizacao e também a qualificagio e a insergac profissional dos aprenci- 2e5, uma vez vindos a ser“matriculados” e depois mestres naquela Corporaqao. E exatamente sobre esta prerrogativa pedagégica que aqui discorrerei. Essa, como-as outras prerrogativas, implica a accitagio, por parte das CorporagGes, de vinculos correspondentes: a obrigagae de nao invadir setor profissional aceite (os conflitos de competéncia entre Corporagdes eram obviamente freqtientes e infla- mados, também porque cada uma delas disputava entre si, pare absorver oficios me- nores ou—de qualquer maneira, incapazes de organizar-se autonomamente, nao importa se de todo — outro género produtivo), a proibigdo de acolher nas oficinas um ndimero de aprendizes superior Aquele estabelecido, ¢ assim por diante. Na cameo, eaté o momento do maximo explendor artesio, a soma dos privilégios supetava 0 peso dos vinculos. Depois, & medida que o regime comunal se trasforma em senhoria e depois em monarquia, os vinculos sé tornam sempre mais prepon- derantes em relacdo aos privilégios, sintoma car de que o modo de producao ¢ as relagdes socials tipicas das CorporacSes tornavam-se sempre mais desatualizadas, até o golpe final que sofreram ne choque com a irresistivel revolugao industrial Naturalmenté, como os artesdos associados existiam bern antes que se afirmas- sem as Corporagies, assim continuardo a existir, mesmo depois da supressao definitive do ordenamento corporative, Tmbém hoje os artesiios existern individualmente ou como nonmais associagbes sindicais ou profissionais, mas aquilo que importa € que, ha dois séculos aproximadamente, eles naa constituem mais um corpo dotado de premogativas especiais; a primeira entre todas, aquela capaz de gerir pessoalmente toda ainstrugio ea Oargen: assocaGio de joverss aspirantes a exerceruma determinada atividede artesd, segundo um “projeto cultural e um piano metacioldgico didético tipiens e exclusives para cada uma de- ‘as. Também o fim da Corporagao mais elevada cutturalmente. aquela dos pedreiros-Li- ‘Berais, que acontecerd quase por autodissolugao, ou por alienagio das prdprias “Iojas" e vrelativa prerrogativa, em vantagern da nascente Magonaria “simbdlica” noinido dosécule Avil. ndo quererd dizer, obviamente, que desaparecerao da face da terra arquitetos, en- genheiros, mestres de obras, pecreiros qualificados, mas apenas que eles, despojades ‘Gos antigos privilégios e vinculos, ndo serde mais formados nas escolas das offeinas ou Jojas, mas em itinerdios distintos de instrugdo geval e especffica das warios nivels, que nick terdo aver com as corespondentes categonias artesanais, escolas profssionais inferiores. Institutos tecnicos ou curriculos Universitarios tecnoligicas surgiio depois, como vere- fos, por inicativa dos poderes puiblicas ew empresariais privados) mas bem poueo reto- mardo do desaparecicio espirito @ da concreta dindnica formativa das Corporagdes. A Gecadéricia mais significative das proprias Corporacées se dew quando nde tiveram mais a forganem a conveniéncia de reproduzir nos seus interiores segundo proprios ¢ indiscuti= vels pordrnetas, os seguidores nas diversas atividades. De resto, o que teria sido das corporagies mitaras e edesiéstcas se, por hipdtese, devessem renuntiar respectivamente as escolas e Academias militares (tao importantes, ao contrario, come veremos, para renovagio cultural ¢ diditica entre as séculos XVII eXVIll) ¢ 20s semindrios? A capacida- de reprodutiva é © primeiro requisite de sobrevivéndia. Se cair, o fim estd prdximo. Os contetidos € métodos e, ainda mais, a ideologia, que seri depois transmitida nas escolas ‘ou universidades piiblicas, seréa, em muitos aspectos, opostos & antagdnicos em relagdo Aqueles da formagdo artesi de antigamente. Nem as modemas formas de instrugao e treinamento profissional podem-se considerar a continuacio dos antigos modelos aresanais. Estes, do aprendizado de antigamente, tm sé o nome, nlio mais que isso. Az OFICINAS pos MosTE Mas, netomemos as ongens das Corporagdes para nelas delinear, menos genérica epressadamente, a trejetéria. Antes do século XII na Htajia da alta Idade Média, tem-se notida, sé para dar alguns exemplos, descholue de pescadores.e Scougueiros em Ravena, Ou ainda de sapateiros, carpinteiros ¢ hortetios em Roma, eassim em outros lugares. O uso do termo scholae (assodagdes de ofide)} muita provavelmente estd a indicar que jé nao somente se preocupavam coletivamente com a formagdo das seus continuadores, mas ostentavam tamberm um patriménio cultural e pedagégico dotado de particulares técnicas de transmissao. De resto, 0 uso do termo “escola” paraindicaro lugar eas formas de um tirociniondo morreu nem mesmo hoje quando se diz. que “Fulano” pro- _wém da escola de “Cidano", em que este tltimo pode ser ndo sé um professor ou um

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