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PARTE I~ DIREITO INTERNACIONAL PUBLICO Gaberito Tépicos do ; pots Fundamentacao legal See | Eventual observacio elucidativa ‘A Convenga Bay fa- a) Convenco de Montego Bay, art. onwengip. de: Montego. Bay fa 2162.6 | culta ao Estado estabelecer sua ju- 27, e Cédigo Penal, art. 52, § 2° 3 ; risdi¢go penal em certas hipoteses ) Convencso de Montego Bay, art. 2a : ao | a. | 2%.€Cédigo Penal, art. 52, § 2 226 ¢) Convengao de Montego Bay, art | 54 496 . 21, e Codigo Penal, art. 58, § 2° a d) Convenco de Montego Bay, art. 27, € Codigo Penal, art. 5®, § 2° 22026 € dominio public abaya 1 | Oespavo aérea € dominio pibtico internacional b)Doutrinae TratadoAntartico,art.| | A Antartida serd utiizada somente \ para fins pacificos (© que caracteriza 0 dominio pabli- co internacional é 0 interesse inter- d i apes 1 | nacional da dres pertinente, néo o fato de essa drea estar ou no sob ule a soberania de um Estado, 0 que pode acontecer d) Doutrina ¢ Tratado sobre Prin- (© espaco © os corpos celestes so cipios Reguladores das Atividades insuscetivels de apropriace nacio- dos Estados na ExploracoeUsodo| 5 __| nal por proclamagao de soberania, Espaco Césmico, Inclusive 2 Lua © por uso ou ocupagSo ou por qual- Demais Corpos Celestes, art. I quer outro meio eiiiouigea 1 | 05 los internactonais podem inte- ressar a mais de um Estado a) Tratado sobre Principios Regula- dores das Atividades dos Estados na Ha responsabilidade também quan 12 | A | Exploracioe Uso do Espaco Césmi-| 5 _—_| doco dano € causado a pessoas pri- co, Inclusive a Lua e Demais Corpos vadas Celestes, at. VI b) Convencdo de Chicago e Tratado sobre Princlpios Reguladores das c Estados na Explo- coe tteidades, dOs:EScado® 2 =p 405 | Omarcojuridico é diferenciado rag3o e Uso do Espaso Césmico, inclusive 2 Lua e Demais Corpos | Celestes t ¢) Tratado sobre Principios Regula- | dlores das Atividades dos Estados na Seeperodl Sieade com Exploragdo e Uso do Espaco Césmi 5 usspapa deve ser sags comins co, Inclusive a Lua e Demeis Corpas paeiicns Celestes, arts. tlle IV 602 DOWIN/0 PUBLICO INTERNACIONAL E PATRIMONIO COMUM DA KUNANIDADE Gabarito Tépicos do - ced Fundamentacao legal epttulo | £¥entual observacdo elucidativa 4d) Doutrina e Tratado sobre Prin- . cibias Reguladores das Avidades ae le ar sts dos Estados na Exploragao e Uso do 5 a ee poreane to, 6 proibida a instalagio de bases Espaso Césmico, Inclusive a Lua e ig Demais Corpos Celestes, art. IV mmuieres mia ¢) Tratado sobre Principios Regula- dores das Atividades dos Estados na Ha responsabilidade também quan- Exploraco e Uso do Espaco Césmi- 5 do o dano € causado a pessoas pri- 0, Inclusive a Lua e Demais Corpos vadas Celestes, art. VII Tal direito deve existir apenas nos a) Convengao de Montego Bay, arts. |, __| termos dos acordos a serem esta- 69-72 belecidos entre os Estados interes- sados b)) Convenglo de Montego Bey: 94 | o nates juridicne witarenetade arts, 56.¢ 60 ¢) Convencao de Montego Bay, art O espaco deve ser utilizado com fins Ble 24 1 2 pacificos 4) Convengéo de Montego Bay, art. | | Nao ha direito de passagem inocen- 28, par. 1, “a” te nas éguas interiores Se 0 Estado costeiro no explora a €) Convengao de Montego Bay, art. |, ‘| plataforma continental, nenhum 77, par. 1e2 é outro Estado pode fazé-lo sem seu consentimenta explicita Anogdo de passagem inocente nao hcanvensiode Montego Bay.arts. | >. | incluia exigancia de autorizagio da passagem pelo Estado costeiro tende- i Convent sla: Mortegn, Say, A plataforma continental estende 2.3 | -se por, no maximo, duzentas mi- arts, 76-85 : thas maritimas AAs agéncias especializadas da ONU Gy Convencio de Montego Bay, art. | 3.5 | podem arvorar a bandeira da Orge- nizagao “ye Na zona econémica exclusiva, de- % vem os Estados velar pelas espécies dh corvensde de Montego Bay. art. | 2.4 | que.alf habitem ou que ali passem a maior parte de seu ciclo vital, bem como que por ali passem A zona contigua ter a extensSo a maxima de 24 milhas maritimas, ge eerensan been Bbyia 2.2 | contedasa partir das linhas de base 33, par.2 que servem para medir a largura do mar territorial 603 CAPITULO au SOLUGAO PACIFICA DE CONTROVERSIAS INTERNACIONAIS 1, CONTROVERSIAS INTERNACIONAIS Como em todos os ambitos da vida humana, também ha conflitos de interesses dentto da sociedade internacional. A controvérsia internacional é, tecnicamente, o litigio que envolve Estados ¢ organizagoes internacionais, que pode se revestir de qualquer natureza (econémica, politica, meramente juridica etc.) ¢ de qualquer grau de gravidade. Naesfera nacional, o Estado é 0 encarregado, em tiltima instancia, de providenciar a adequada composigao de interesscs em confronto por meio de suas leis e de seus drgios competentes, para © que conta com um poder soberano, capaz de impor aos membros da sociedade nacional as suas determinacées, se preciso for. Entreranto, 0s conflitos que ocorrem na seara internacional nfo podem, via de tegra, ser solucionados da mesma maneira, 0 que se deve, fundamentalmente, 4 forma pela qual a sociedade internacional estd organizada do ponto de vista juridico. Com efeito, a convivéncia internacional caracteriza-se por aspectos como os seguintes: a inexisténcia de um poder central mundial, que sempre possa fazer valer as suas deliberacSes para os Estados soberanos; a igualdade juridica entre os entes estatais, que por isso no contam com capacidade juridica de impor seus divames a outros Estados; a soberania nacional e o principio da nao-intervengio, que limitam as ingeréncias de poderes externos nos territérios dos entes estatais; € o fato de a sociedade internacional ser marcada pelo fenémeno da coordenagao, e nao da subordinagao. Com isso, emerge a necessidade de conceber meios de solugao de controvérsias internacionais que levem em conta as particularidades da sociedade internacional. 1.1 Mecanismos de solugdo de controvérsias internacionais: caracteristicas Os meios de solugao de controvérsias internacionais s4o os instrumentos voltados a promover a composicio dos litigios na sociedade internacional, Primeiramente, tais meios caracterizam-se pelo voluntarismo que marca o Direito Inter- nacional ¢, nesse sentido, s6 podem, em regra, ser acionados com o consentimento dos sujeitos envolvyidos na controvérsia a ser examinada. Como é sabido, muitos fatores conduzem a dindmica das relagées internacionais, a maiotia dos quais alheios 20 universo juridico, como a economia € a politica. Nesse sentido, 0 proprio Direito Internacional admite a possibilidade de que os mecanismos de solugao de controvérsias internacionais considerem alternativas de solueso dos litigios que néo recorram ao universo 605 PARTE! ~ DIREITO INTERNACIONAL PUBLICO juridico, como os meios diplomaticos ¢ politicos, desde que nao violem princfpios bisicos do Direito das Gentes. Entretanto, ainda que muitos fatores possam conduir as relagées internacionais, a exemplo do poderio militar, os meios de solucao de controvérsias intemacionais devem ser pacificos, & luz do principio de que nao é permitide 0 uso da forga nas relagdes internacionais, ¢ do fato de que a composicao pacifica dos conflitos é um dos objetives dos Estados-membros das Nagdes Unidas. Com isso, a guerra nao € entendida como meio licito de resolugio de litigios internacionais, salvo nas hipéteses permitidas pelo Direito das Gentes, que se restringem & legitima defesa ou a0 interesse da comunidade internacional em manter ou restaurar a p: Os mecanismos de solugao de controvérsias internacionais deveréo também, quando pos- sivel, ser preventivos, como afirma Soares, para quem tais meios sio “instrumentos elaborados pelos Estados e regulados pelo Diteito Internacional Publico, para colocar fim a uma situagio de conflito de interesses ¢ até mesmo com a finalidade de prevenir a ecloséo de uma situacio que possa degenerar numa oposigéo definida e formalizada em pélos opostos”.! Para resolver seus diferendos, os Estados ¢ 0s organismos internacionais poderio agir de oficio ou por impulso de outras entidades, como 0 Consclho de Seguranga da ONU, que poder convidar as partes em uma controvérsia para soluciond-la, com 0 emprego de meios como os clencados pelo artigo 33 da Carta das Nagdes Unidas. Quadro 1. Caracteristicas dos mecanismos de solugio pacifica de controvérsias inter- nacionais > Devem levar em consideracdo as particularida- es da sociedade internacional > Voluntarismo: dependem, para atuar, do con sentimento dos Estados + Admite-se 0 emprego de mecanismos que nao recorram ao Direito como critério para a. com- > Devem, sempre que possivel, ser preventivos + As listas de meios de solucao de conflitos inter- nacionais nao so exaustivas > Nao ha hierarquia entre os mecanismos dispo- niveis posigo do litigio 2. MEIOS DE SOLUGAO DE CONTROVERSIAS: O ARTIGO 33 DA CARTA DA ONU consta do © ral mais notério de mecanismos de solugdo pacifica de conflitos intermacionai artigo 33 da Carta da ONU, que prevé que os sujcitos de Direito das Gentes procurario, antes de tudo, chegar a uma solugao de seus diferendos “por negociacio, inquétito, mediagao, conciliagéo, arbitragem, solucio judicial, recurso a entidades ou acordos regionais ou a qualquer outro meio pacifico & sta escolha” A lista em aprego nao é, porém, exaustiva ¢, nesse sentido, nao exclui outros meios de solugso de controvérsias que permitam alcangar a resolucio de uma lide, desde que pacificos. A OEA, por exemplo, inclui nesses mecanismos os “bons oficios” e os “especialmente combinados, em qualquer momento, pelas partes” (Carta da OEA, atts. 25 e 26). 1. SOARES, Guido Fernando Silva. Curso de direito internacional publico, p. 163. 606 SOLUCAO PACIFICA DE CONTROVERSIAS INTERNACIONAIS Nao hé hierarquia entre os mecanismos disponiveis, pelo que os interessados poderiio escolher livremente dentre as alternativas existentes, podendo indicé-los dentro de tratados que prevejam 8 procedimentos para regular a composicéo de eventuais litigios entre as partes ou defini-los apés a eclosio de um conflito Os meios de solusao pacifica de controvérsias internacionais podem ser classificados de duas manciras: do ponto de vista da compulsoriedade das decis6es que proferem, sio facultativos ¢ obrigatérios; quanto & fundamentagio da deciséo que oferega a solugao do litigio, sé diplomaticos (ou politicos) ¢ juridicos. Os mecanismos facultativos s4o aqueles cuja deciséo nio € juridicamente vinculante para as partes, a0 passo que os obrigatorios geram deliberagées que devem ser observadas pelos envolvi- dos no conflito, Dentre os meios facultatives encontram-se as negociagées diplomaticas, os bons oficios a mediagao, a conciliagdo, as consultas ¢ o inquérito. A arbitragem ¢ os meios judiciais sio obrigarérios. Os meios diplométicos ¢ politicos nao necessariamente envolvem a aplicacéo de norma juri- dica ¢ abrangem os mecanismos facultativos acima mencionados. Os mecanismos juridicos, por sua vez, envolvem a aplicacao do Direito ao caso concreto ¢ incluem os meios obrigatérios. Boa parte da doutrina divide ainda os mecanismos juridicos em semi-judiciais (arbitragem) e judiciais (cortes ¢ tribunais internacionais), Quadro 2. Classificagio dos mecanismos de solugao de controvérsias internacionais QUANTO A COMPULSORIEDADE DE SUAS DECI- aes QUANDO A FUNDAMENTACAO DA DECISAO, + Diplomaticos e politicos: n3o jurisdicionals + Jurisdicionais/juridicos (semi-judiciais e judi- ciais) > Obrigatérios > Facultativos 3. MEIOS DIPLOMATICOS E POLITICOS Os meios diplomdticos e politicos sio também conhecidos come “meios niio-jurisdicionais”, principalmente porque a solugao que buscam nem sempre se fundamentaré no Direito. Os meios diplomaticos caracterizam-se pela manutengéo de um diélogo entre as partes di- vergentes, com o intuit de chegar a uma convergéncia de ideias que permita a maior satisfacdo possivel dos interesses dos envolvidos na contenda. Os meios politicos, por sua vez, so praticamente idénticos aos diplomiticos, diferencian- do-se destes apenas porque as tratativas entre as partes se desenrolam no scio das organizacoes internacionais ¢ de seus drgios, a exemplo da Assembleia-Geral e do Conselho de Seguranga da ONU. Os meios diplométicos ¢ politicos séo fundamentalmente seis: negociagéo, bons oficios, consultas, mediagdo, conciliacdo e inquérito. Bregalda inclui também os “servicos amistosos”, 2. No mesmo sentido: SOARES, Guido Fernando Silva. Curso de direito internacional puiblico, p. 164. 607 PARTE — DIREITO INTERNACIONAL PUBLICO pelo qual o Estado indica um diplomata para negociar a solucao de uma controvérsia, sem maior aspecto oficial’. 3.1 Negociagio A negociacéo é 0 processo pelo qual os Estados estabelecem entendimentos diretos por meio de contatos, na forma oral ou esctita, que podem incluir a exposigio ¢ defesa de posicionamen- tos sobre os conflitos existentes ¢ eventuais concessées mtituas, com vistas a obter uma solucdo satisfat6ria para todos os envolvidos. As negociagses podem ser bilaterais ou mulvilaterais e podem ocorrer dentro ou fora de or- ganizag6es internacionais ou de grandes reunides. Em geral, sio anteriores a0 emprego de outros meios de solugo de conflitos, mas nada impede que ocorram em momento diverso. Normalmente, envolvem funciondrios especializados em matéria internacional, os diplomatas, bem como outros funciondrios piiblicos ¢, eventualmente, representantes de entes privados, desde que o tema da negociacio seja de seu interesse, Em regra, as negociagées nao se revestem de maior formalidade, seguindo a processualistica estabelecida para cada caso. Em todo caso, Amaral Jiinior lembra que ja existem tratados voltados a pautar o funcionamento das negociacées internacionais, estabelecendo prazos para sua conclusio © consequéncias para o comportamento das partes.‘ Fo que ocorre dentro da Organizagio Mundial do Comércio (OMC), quando as negaciacées voltadas a resolver conflitos relativos a0 comérci rernacional devem chegar ao fim dentro de certo prazo, apés o qual a parte reclamante poder requerer a instalagao de um painel (panel), que examinard o conflito, com vistas a resolvé-lo, A solugao atingida pode resultar de transagao (concessées reciprocas), da rentincia (abdica- «40 de interesses) e do reconhecimento (admisséo da procedéncia da pretensdo da outra parte)? 3.2 Inquérito O inguérito, também conhecido como “investigagao” ou fact finding,® nao é propriamente um meio de solugao de conflitos internacionais. Na realidade, consiste em mecanismo voltado a esclarecer Fatos conflituosos, preparando o terreno para o eventual estabelecimento de um meio de solucdo pacifica de controvérsias e, em algumas hipdteses, sugerindo condutas a seguir.” Tem, portanto, carter investigative e preliminar a outro meio de resolugao de conflitos internacionais ¢ aplicivel quando houver situagéo pendente de esclarecimento, embora seja de emprego facultativo, Os inquéritos podem ser conduzidos por um iinico investigador ou por uma comissio de investigadores, que normalmente sio especialistas técnicos em determinada matéria, nao se Ihes exigindo imparcialidade.’ Quando nascem dentro de organizagées internacionais, normalmente BREGALDA, Gustavo. Direlto Internacional pablice e direito internacional privado, p. 103. AMARAL JUNIOR, Alberto do. Manual do candidato: direito internacional, p. 300. Id, p. 100. BREGALDA, Gustavo. Direito internacional publica ¢ direito internacional privado, p. 104, Nesse sentida: SOARES, Guido Fernando Silva, Curso de direito Internacional pdblico, p. 167. AMARALJUNIOR, Alberto do. Manuat do candidato: direito Internacional, p. 301. SOLUGKO PACIFICA DE CONTROVERSIAS INTERHACIONAIS obedecem ao que estiver disposto a respeito nos tratados que regulam a atividade da entidade. Podem ser regidos também pelos prdprios acordos, cujas normas sejam objeto do inquérito. 3.3 Consultas As consultas também nio sao propriamente um meio de solugaa de controvérsias. Na reali- dade, consistem em mecanismo por meio do qual Estados e organizagées internacionais mantém contatos preliminares entre si, com vistas a identificar e a estabelecer, com maior precisio, os temas controversos do relacionamento ¢ a preparar o terreno para uma futura negociacéo. 3.4 Bons oficios Os bons oficios caracterizam-se pela oferta espontinea de um terceiro, normalmente chama- do “moderador”, para colaborar na solugio de controvérsias. Esse terceiro pode ser Estado, um organismo internacional ou uma autoridade, que se limita a aproximar pacificamente os litigantes ca oferecer lugar neutro pata a negociacao, sem poder ter qualquer interesse na questao nem se intrometer nas tratativas, sendo vedadas a apresentagao de posicionamentos a respeito do litigio ou de propostas de solucao do conflito. O moderador pode atuar a partir de pedido das préprias partes em conflito ou pode oferecer-se para tal, devendo, neste caso, ser aceito pelos contendores. 3.5 Mediagéo ‘A mediagao é um mecanismo que conta com 0 envolvimento de um terceiro que, ao contrario do que ocorte nos bons oficios, nao apenas aproxima as partes, mas propée uma solugio pacifica para o conflito, romando, portanto, parte ativa nas tratativas e tentando influenciar as partes no esforco de resolver o problema. © mediador pode ser pessoa natural, Estado ou organismo internacional, apontado ou acei- to pelos envolvidos na controvérsia com fundamento em compromisso anterior ou a partir da vontade dos litigantes, expressa dentro de um conflito jé em curso. A propésito, a mediacéo pode ser faculeativa ou, quando estiver prevista em tratado, obrigatéria. Pode também ser oferecida ou solicitada 6, ainda, ser individual ou coletiva, dependendo do ntimero de mediadores.” Por fim, o mediador poderd ser rejeitado pelas partes ou recusar 0 encargo. ‘A mediagao termina quando suas atividades chegam a bom termo, encerrando o conflito, ou quando as partes recusam as propostas do mediador. Ao contritio do drbitro, cuja decisio € obrigatéria para as partes, o mediador pode ou nao ter suas conclusdes aceitas pelos litigantes, sem que isso traga consequéncias jutidicas. 3.6 Conciliagao ‘A conciliagéo é muito semelhante & mediac4o. Entretanto, caracteriza-se especialmente pela existéncia nao de um mediador, mas de um érgéo de mediagdo, comumente chamado de “co- missao de conciliacio”, com niimero impar de membros ¢, em geral, formado por representantes das partes em conflito ¢ por pessoas neutras. 9. BREGALDA, Gustavo. Direlto internacional publico e dliretto internacional privado, p. 102. PARTE |~ DIREITO INTERNACIONAL POBLICO A comissio de conciliagio examina um litigio ¢, ao final, deve emitir parecer ou relatério, propondo os termes da solugao da contenda, que as partes litigantes poderdo aceitar ou rejeitar. Portanto, a proposta dos conciliadores nao tem forca vinculante. 4, MEIOS SEMI-JUDICIAIS: A ARBITRAGEM INTERNACIONAL (Os meios semi-judiciais sao aqueles cujo resultado é uma decisao fundamentada no Direito ¢ juridicamente vinculante para as partes, mas que nao € proferida por um érgio jurisdicional permanente. Acé o momento, o tinico meio semi-judicial é a arbitragem Os mecanismos semi-judiciais de solugéo de controvérsias distinguem-se dos meios diplomé- ticos ¢ politicos principalmente no que concerne a decisdo que produzem, que é obrigatéria para as partes e fundamentada em norma juridica. Diferenciam-se, por sua vez, dos meios judiciais, por serem uma solugio ad hoc, que emana de rgaos nao permanentes. Entretanto, Bregalda elenca a arbitragem entre os meios jurisdicionais"”, No presente capitulo, examinaremos apenas a arbitragem internacional que envolva Estados € organizagées internacionais. Na Parte Il, Capitulo VI, estudaremos a arbitragem em conflitos entes privados cuja relacao tenha conexao internacional. 4.1 Nogées gerais: os Arbitros, 0 processo ¢ o laudo arbitral A arbitragem é pricica antiga, que jf era encontrada, por exemplo, no Egito Antigo, no Império Romano ¢ nas ag6es do Papado, na Idade Média. Foi também empregada pelo Brasil, dentro do esforco de definicao das fronteiras nacionais, levado a cabo pelo Bardo do Rio Branco nal do século XIX € no inicio do século XX Entretanto, a arbitragem vem adquitindo crescente prestigio na atualidade como meio de solugao de controvérsias alternativo ao Judicidrio, do qual se distingue especialmente pela maior celeridade ¢ pela atengao aos aspectos técnicos envolvidos nos litigios. Com isso, é cada ver mais empregada nos ambitos internacional e interno. Em linhas gerais, a arbitragem internacional é um mecanismo de solugio de controvérsias que funciona por meio de um érgio arbitral, composto por drbitros de um ou mais Estados, com not6ria especialidade na matéria envolvida c cuja decisio tem carater vinculante. Conceito completo, que abrange os principais aspectos do tema, é pronunciado por Guido Soares, que define a arbitragem como “o procedimento de solugio de litigios entre os Estados pelo qual 0s litigantes elegem um dabitro ou um uibunal composto de vitias pessoas, em geral escolhidas por sua especialidade na matéria envolvida e portadoras de grandes qualidades de neutralidade © imparcialidade, para dirimir um conflito mais ou menos delimitado pelos litigantes, segundo procedimentos igualmente estabelecidos diretamente por eles, ou fixados pelo(s) arbitro(s), por delegagao dos Estados instituidores da arbitragem’ 10. BREGALDA, Gustavo. Direito internacional publica e direito internacional privado, p. 105-108. LL, SOARES, Guido Fernando Siiva. Curso de direito internacional puiblico, p. 171, 610 SOLUCAO PACIFICA DE CONTROVERSIAS INTERNACIONAL Normalmente, um tribunal arbitral é composto por trés membros, dois da nacionalidade de cada uma das partes envolvidas e um terceiro, escolhide de comum acordo pelos litigantes, de nacionalidade diversa. A decisio de submeter uma controvérsia & arbitragem é normalmente feita pelas préprias partes em conflito, por meio da chamada “ckiusula compromisséria’, constance do tratado cujos dispositivos sao objeto da contenda ou de tratado geral sobre a matéria, ambos prévios ao litigia que definem 0s poderes dos érbitros, o procedimento da arbitragem e outras questées relevantes. Entretanto, nada impede que as partes submetam a lide & arbitragem depois de seu aparecimento a partir de um “compromisso arbitral”, feito por meio de outro tratado que estipulle suas condico Os Estados néo esto, portanto, obrigados a se submeterem ao procedimento arbitral, o que s6 acontecerd a partir de sua vontade, Entretanto, uma vez iniciada a arbitragem, a decisio dos Arbitros é obrigatéria para as partes ¢ deve ser cumprida de boa-fé, e 0 descumprimento do laudo arbitral configura ilicito internacional. Os arbitros devem contar com poderes predeterminados, estabelecidos pelos litigantes den- tro da clusula compromiss6ria ou do compromisso arbitral. Em regra, em caso de obscuridade ou de omissio, os érbitros podem definir as regras do processo de arbitragem em que atuaréo e interpretar os textos relativos & sua competéncia. Cabe ressaltar que os arbitros nao sao simples mandatirlos ou prepostos das partes, embora nao possam extrapolar suas competéncias e inter pretar extensivamente as normas relativas aos tespectivos mandaros. Em qualquer caso, porém, o parimetro de atuagio dos drbitros é jurfdico, nao Ihes cabendo cumprir o papel de mediadores ou de coneiliadores, exercer bons oficios ou proferir recomendagées de teor politico. O documento escrito que formaliza a deciséo dos drbitros é 0 laudo ou sentenga arbitral que, come afirmamos anteriormente, é obrigat6rio ¢ deve scr cumprido de boa-fé pelas partes, nos termos do principio pacta sunt servanda. Normalmente, nao cabe recurso do laudo arbitral, que é, dese modo, definitivo, « que nao exclui, porém, a recorribilidade da sentenga arbitral em alguns 2mbitos, como no Mercosul, que acolhe a possibilidade de reexame do caso pelo Tribunal Permanente de Revisio. ‘A arbitragem tem carter ad hoo, Nesse sentido, no momento em que é proferido o laudo, cessam as fungées dos drbitros ¢ a jurisdigéo do tribunal arbitral, que no podem mais interferir no caso nem para obrigar ao cumprimento da decisao proferida. O cardter tempordrio dos foros arbitrais, que encerram suas atividades quando decidem acerca dos litigios que examinam, opde-se 4 permanéncia dos érgios jurisdicionais internacionais, que continuam a atuar apés tomar uma decisio, Em todo caso, nada impede que os Arbitros estejam vinculados a uma institui¢éo perma- nente especializada em arbicragem, com procedimentos proprios ¢ listas de dcbitros disponiveis para os intcressados, como a Corte Permanente de Arbitragem da Haia. Por fim, dentre os tratados ¢ instrumentos gerais sobre arbitragem validos para o Brasil encontramos: o Protocolo relativo a Cldusulas de Arbitragem (Decreto 21.187, de 23/03/1932); a Convengio sobre Reconhecimento a Execugao de Sentengas Arbitrais Estrangeiras (Con- vengao de Nova Iorque de 1958 — Decreto 4.311, de 23/07/2002); a Convengao Interamericana sobre Arbitragem Comercial Internacional (Convengéo do Panamé de 1975 ~ Decteto 1.902, de 09/05/1996); e 0 Acordo sobre Arbitragem Comercial Internacional do Mercosul (Acordo de Buenos Aires ~ Decreto 4.719, de 04/06/2003). 611 PARTE ~ DIREITO INTERNACIONAL PUBLICO 5. MEIOS JUDICIAIS Os mecanismos judiciais de solucio de controvérsias so aqueles que funcionam per meio de érgaos jurisdicionais em regra pré-existentes e permanentes, cuja principal express4o concreta so as cortes ¢ os tribunais internacionais, que atuam em moldes semelhantes a seus congéneres nacionais. Em linhas gerais, concepedes antigas de soberania, ciosas da intervengao externa nos assun- tos dos Estados, constituem dbice evidente para tornar vidveis iniciativas voltadas a criar érgaos jurisdicionais internacionais capazes de efetivamente influenciar as relac6es internacionais. Com isso, a prética revela que ainda so relativamente poucas as cortes internacionais, as quais contam, ademais, com poderes muito limitados. Entretanto, a maior complexidade da vida internacional vem demonstrando a importincia de que existam drgios jurisdicionais efetivamente capazes de contribuir para a maior estabilidade da vida internacional por meio do exercicio da atividade de dirimir conflitos. Com isso, comesaram a aparecer tribunais internacionais, dentre os quais destacamos a Corte Internacional de Justica (Cl), a Corte Interamericana de Direitos Humanos, a Corte Europeia de Direitos Humanos o Tribunal Penal Internacional (TPI). ria Em todo caso, no atual est4gio do desenvolvimento da sociedade internacional, a mai das cortes internacionais s6 pode atuar com 0 consentimento expresso dos Estados, evidenciado quando estes criam tais érgaos, por meio de tratados, c/ou quando o ente estatal concorda em se submeter a processo nesses foros, 0 que ocorre por disposigao de ato internacional, em cada conflito especifico ou em decorréncia da adogao de cliusulas de accitacao de competéneia contenciosa, a partir das quais o Estado fica sujeito a ser réu em processos em tribunais internacionais, ainda que contra sua vontade. Os meios jurisdicionais de solugao de controvérsias internacionais diferen- ciam-se, portanto, dos juizes ¢ tribunais nacionais, aos quais todas as pessoas que se encontram em um Estado devem sempre se submeter, ainda que contra a sua vontade. ATENCAO: é comum que os Estados, mesmo que sejam partes nos tratados que regulam o fun- | cionamento de cortes internacionais, normalmente nao possam ser julgados por tals foros se 1 nao houver uma manifestago de vontade adicional, referente & aceltagéo da competénciacon- | 1 tenciosa do érgdo jurisdicional. Os tribunais internacionais normalmente séo criados por cratados, que regulam seu funcio- namento ¢ suas hipoteses de atuiacio. Em geral, sio dotados de certo grau de institucionalizacao ¢ sio permanentes, embora também haja tribunais ad hoe, voltados a julgar apenas pessoas € centidades envolvidas com situagées especificas, como € 0 caso do Tribunal Penal Internacional para os Crimes Cometidos em Ruanda, que encerrard suas atividades tio logo examine todos os atos cometidos durante os conflitos ocorridos naquele pais em 1994 ¢ que sejam de sua algada ‘Tradicionalmente, os tribunais intemacionais aceitavam como partes apenas Estados soberanos, Entretanto, jd hd cribunais que aceitam individuos como réus, como é 0 caso do Tribunal Penal Internacional (TPI). A Corte Europeia de Direicos Humanos, por sua ver, aceita que casos sejam a ela submetidos por individuos, grupos de individuos ou organizagSes néo governamentais. Por fim, tribunais como a Corte Europeia de Direitos Humanos e a Corte Interamericana de Direitos Humanos aceitam a participagio de terceiros como amicus curiae. 612 ‘SOLUCAG PACIFICA DE CONTROVERSIAS INTERMACIONAIS, ATENCAO: é comum que cortes constitucionais, cortes supremas ou tribunals e juizes de Estados soberanos também examinem questées envolvendo normas de Direito Internacional. Entretan- to, tais questdes referem-se & aplicacdo do Direito das Gentes dentro dos respectivos territérios, nao a controvérsias internacionais e, nesse sentido, néo se pode afirmar que tais cortes e tribu- nais constituem mecanismos de solugdo de controvérsias internacionais. 1 ' 1 1 1 1 5.1 Corte Internacional de Justiga A Corte Internacional de Justiga (CIJ) foi criada em 1945 e sucedeu a Corte Permanente de Justiga Tnternacional (CPJ), que funcionou entre 1922 ¢ 1946, E sediada na Haia (Holanda), ACI] €0 principal érgio jurisdicional da ONU e é competence para conhecer de conflitos entre Estados relativos a qualquer tema de Direito Internacional. ATENCAO: por ser o principal érgo jurisdicional das Nagdes Unidas, a ClJ nfo é 0 tinico tribunal que pode existir dentro da ONU, no Sistema das Nacdes Unidas ou na ordem internacional, no excluindo, portanto, a crlacdo e o funcionamento de outras cortes internacionais. ACI] é regida pelo Estatuto da Corte Internacional de Justiga (Estatuto da CW), que é uma mera adaptagio do Estatuto da CPJI ¢ do qual devem fazer parte todos os Estados-membros da CU). A ClJ é formada por quinze juizes, eleitos pela Assembleia-Geral e pelo Conselho de Seguranca da ONU, em votacio na qual nao pode haver veto, para mandatos de nove anos, com direito a reeleicéo, Deverio ser eleitos sem atengio a sua nacionalidade, dentre pessoas que gozem de alta consideragio moral e possuam as condigées exigidas em seus respectives paises para o desempenho das mais altas fungées judicidrias ou que sejam jurisconsultos de reconhecida competéncia em dircito internacional. Serio também escolhidos nao segundo um critério de reparti¢ao geogréfica ott de nacionalidade, mas sim de representatividade dos principais sistemas juridicos mundiais. Os juizes da mesma nacionalidade de qualquer das partes num processo conservam o direito de fancionar numa questo julgada pela Corte, Nesse caso, qualquer outra parte no processo po- der escolher uma pessoa para funcionar como juiz ad hoc. Essa pessoa deverd, de preferéncia, ser escolhida dentre os que figuram entre os candidatos a juiz permanente da CIJ e serd investido em suas fungées independentemente de votagéo da Assembleia-Geral e do Conselho de Seguranga da ONU.” Cabe destacar que os jufzes que tenham a mesma nacionalidade de qualquer das partes, embora conservem o direito de funcionar numa questio julgada pela Corte, podem declarar-se out ser declarados impedidos de julgar uma causa, de acordo com o artigo 24 do Estatuto da CJ”. Os jufzes devem gozar de alta consideracéo moral. Devem também possuir notéria com- peténcia em Direito Internacional ou reunir condig6es de ocupar as mais altas fungées no Judi- cidrio dos respectivos Estados. Devem ser independentes, nao atuando como representantes de qualquer ente estatal ¢, nesse sentido, para que possam exercer livremente suas fungées, gozam 12, Arespeito, ver os artigos 4, 5 ¢ 31 do Estotuto da Ci. 13. _O impedimento regulado pelo artigo 24 do Estatuto da Cl) aplica-se a qualquer dos julzes da Corte, independen- temente de estarem ou nao julgando processos dos Estados de suas nacionalidades. 613 PARTE | DIREITO INTERIACIONAL PUBLICO de imunidades diplomaticas ¢ sio inamoviveis, s6 podendo ser destitufdos de suas Fungées por ato da propria Corte, Ao contritio dos érgos jurisdicionais internos, a CIJ tem competéncia contenciosa e consultiva. No exercicio da competéncia contenciosa, a Corte julga litigios entre Estados, examinando processos que resultam numa sentenga ¢ atuando, portanto, de forma semelhante aos drgaos ju- risdicionais internos. Cabe ressaltar que somente Estados podem ser partes perante a ClJ, a teor do artigo 34, par. 1°, do Estacuto da Corte. Em principio, apenas aqueles entes estatais que sejam signatirios do Estacuto da ClJ podem set partes em questdes perante a Corte. Entretanto, Estados que nio sejam signatdrios do Estatuto ou mesmo partes da ONU também podem ser partes em processos examinados pela Cl], dentro de parimetros a screm estabelecidos pelo Conselho de Seguranga. Cabe acrescentar que tais entes estatais entram em processos na Corte em condigdes de igualdade com as demais partes no processo. | ATENGAO: em vista de todo o exposto, pessoas naturals, empresas e ONGs ndo podem ser par- 1 tes na ClJ, nem como autores nem como réus. Ademais, segundo o Estatuto da Cl, organismos internacionais tampouco podem ser partes na Corte, Portanto, sé Estados podem ser partes em 1 processos na Corte. No campo da competencia consultiva, a CIJ emice pareceres que, a teor do artigo 96 da Carta das Nagées Unidas e do artigo 65 do Estaruto da Corte Internacional de Justica, podem ser solicitados apenas pela Assembleia-Geral e pelo Conselho de Seguranga da ONU, bem como por outros drgios das Nagoes Unidas e entidades especializadas que forem, em qualquer época, devidamente autotizados pela Assembleia Geral da entidade. Atualmente, podem solicitar pareccres & CIJ, além da Assembleia-Geral e do Conselho de Seguranga das Nagées Unidas, o Consclho Econémico e Social da ONU (ECOSOC), © Conselho de Tutela, o Comité Incerino da Assembleia Geral das Nagées Unidas, a Organizagio Internacional do’Trabalho (OTT), a Organizacao pata a Agricultura e Alimentacio da ONU (PAO), a Organiza- gio das Nagaes Unidas para a Educacao, Ciéncia e Cultura (UNESCO), a Organizacio Mundial da Satide (OMS), o Banco Mundial (BIRD), a Corporagio Financeira Internacional (IFC), a Associagio de Desenvolvimento Internacional (IDA), 0 Fundo Monetitio Internacional (FMD), a Organizagéo para a Aviacio Civil Internacional (ICAO), o Fundo Internacional para © Desen- volvimento Agricola (IFAD), a Unido Internacional de Telecomunicagées (UIT), a Organizagio Metcorolégica Internacional (WMO), a Organizagéo Marftima Internacional (IMO), a Organi- zagio Internacional da Propriedade Intelectual (WIPO), a Organizacio das Nag6es Unidas para 0 Desenvolvimento Industrial (UNIDO) e a Agéncia Internacional de Energia Atomica (AIEA)" | ATENCAO: a Carta da ONU e 0 Estatuto da CU no autorizam os Estados a solicitarem pareceres + | aCorte. t ' ' 14, _Allsta em aprego foi retirada do sitio da CU, no link (em inglés). Acesso em: 29/01/2035, 614 SOLUGAO PACIFICA DE CONTROVERSIAS |NTERNACIONAIS A competéncia rationae materiae da CIJ abrange todas as questées que as partes lhe subme- cam, bem como todos os assuntos especialmente previstos na Carta das Nagées Unidas ou em tratados e convengées em vigor. De maneira mais espectfica, a Corte poder examinar todas as controvérsias de ordem juridica que tenham por objeto: a interpretagio de um tratado; qualquer ponto de Direito Internacional; a existéncia de qualquer fato que, se verificado, constituiria violagao de um compromisso internacional 6d) a narureza ou extensio da reparacéo devida pela ruptura de um compromisso internacional. Acompanhando a regra geral referente aos drgios jurisdicionais internacionais, a CIJ ndo tem competéncia automatica sobre os Estados, nao sendo estes, portanto, automaticamente ju- risdiciondveis perante a Corte da Haia. Por essa razao, a mera existéncia de controvérsia relativa & aplicagao de norma internacional ou o fato de os Estados integrarem a Organizacéo das NacGes Unidas (ONU) no autorizam que a Corte examine um litigio entre Estados. Com isso, 0 ente estatal, ainda que seja parte do Estatuto da CI, s6 pode ser obrigado a se submeter a processo na Corte com seu consentimento. ‘A respeito, a doutrina entende que o Estado pode expressar sua anuéncia de ser réu perante oem tratado de submissio 4 Corte de um a Cl] por meio das seguintes possibilidades: previ conflito relativo a aplicagéo do respectivo ato internacional; deciséo voluntdria das partes envolvidas em um litigio de submeté-lo & Corte, por meio de um acordo denominado “compromisso”, ¢; aceitagio, pelo Estado, da competéncia da CIJ para decidir acerca de processo contra si proposto por outro Estado. O artigo 36 do Estatuto da CI] estabelece, como meio de aceitar a competéncia contenciosa da Corte, a aceitacéo da “cldusula facultativa de jurisdigao obrigatdrid’"%da Cl, ato a partir do qual o Estado fica sujeito a ser réu em qualquer processo na Corte, independentemente de novo consentimento posterior. ATENCAO: cabe destacar que o Estatuto da ClJ nfo exclui que a Corte examine um litigio quando isso estiver previsto em tratado ou quando Estados em conflito, em casos especificos, decidam submeter as controvérsias entre si & Corte Internacional de Justica. De maneira mais dezalhada, 0 ente estatal pode, em qualquer momento, declarar que reco nhecem como obrigat6ria, ipso facto e sem acordo especial adicional, em relagéo a qualquer outro Estado que accite a mesma obrigacéo, a jurisdicdo da Corte em todas as conurovérsias de ordem jur{dica que tenham por objeto fato de competéncia da ClJ. A declaracao de aceitagao da cléusula facultativa de jurisdigao obrigat6ria poderé ser feita pura ¢ simplesmente ou sob condigéo de reciprocidade da parte de varios ou de certos Estados ou, inda, por prazo detezminado. | ATENGAO: Brasil ainda no aceita a cldusula facultativa de jurisdicao obrigatéria da CU. i 15. A cldusula fecultativa de jurisliclo contenclosa da Corte é também conhecida como “Cidusula Raul Fernandes", ‘em homenagem 20 diplomata brasileiro que participou dos trabalhos preparatorios de elaboragao do Estatuto a Corte Permanente de Justica Internacional (CP), 6rge jurisdicional internacional que foi sucedida pela Cort= Internacional de Justiga 615 PARTE I~ DIREITO INTERNACIONAL POBLICO processo na Corte Internacional de Justica é regulado pelos artigos 39 a 64 de seu Estatuto, A respeito, é importante inicialmente destacar que as linguas oficiais da Corte sao o francés eo inglés, Nesse sentido, 0 processo empregara um desses dois idiomas, de acordo com o que for avencado entre as partes, ¢ a sentenga serd proferida na mesma lingua em que se efetuar codo o processo, Na falta de acordo a respeito do idioma que deva ser empregado, cada parte deverd, em suas alegagées, usar a lingua que preferir, dencre francés e inglés, ¢ a sentenca seré proferida em ambos 03 idiomas. Neste caso, a Corte determinard qual dos dois textos fard fé. Por fim, a pedido de uma das partes, a Corte poder autorizé-la a usar uma lingua que nao seja 0 francés ou o inglés ‘As quest6es serio submecidas & Corte Internacional de Justia, conforme o caso, por noti- ficagao do acordo especial entre as partes para apresentar 0 caso & Corte ou por meio de petigao esctita, dirigida ao Escrivao, Em qualquer dos casos, 0 objeto da controvérsia e as partes deverio ser indicados. © Escrivao deverd comunicar imediatamente a petigao a todos os intetessados. Dever tam- bém notificar os Membros das Nagées Unidas, por intermédio do Secretario-Geral, e quaisquer outros Estados com direito a comparecer perante a Corte. O processo é piblico, salvo quando as partes requeiram que o feito seja apreciado em segredo de justiga. Dentro do proceso, a Corte pode ainda indicar medidas cautelares, que devam ser tomadas para preservar os dircitos de cada parte se as circunstancias 0 exigirem. Poder também tomar decisées sobre o andamento do processo, a forma ¢ o tempo em que cada parte terminaré suas alegacées ¢ tomari todas as medidas relacionadas com a apresentagao das provas. Poder, por fim, ainda antes do inicio da audiéncia, intimar os agentes a apresentarem qualquer documento ow a fornecerem quaisquer explicacées, e, em qualquer momento, confiar a qualquer individuo, companhia, reparticao, comissao ou outra organizacao, A sua escolha, a tarcfa de proceder a um inquérito ou a uma peri proceso na Corte Internacional de Justica compreende uma fase escrita e uma oral. A etapa escrita compreenderé a comunicagio & Corte e as partes de memérias, contra-memérias ¢, se necessirio, réplicas assim como quaisquer pegas ¢ documentos em apoio das mesmas. A etapa oral inclui a audiéncia, pela Corte, de testemunhas, peritos, agentes,'* consultores ¢ advogados. Os debates serio dirigidos pelo Presidente da Corte, ou, no impedimento deste, pelo Vice- -Presidente, Se ambos estiverem impossibilitados de presidir os trabalhos, o mais antigo dos juizes presentes ocupard a presidéncia. Ao final, a deliberagao acerca da sentenga € feita por maioria de voros dos Magistrados da Corte, admitindo-se opiniées dissidences, no todo ou em parte. A propésito, se a sentenca néo representa:, no todo ou em parte, a opinido unanime dos juizes, qualquer um deles ter& direito de Ihe juntar a exposigao de sua opiniéo individual Cabe destacar que “As deliberagées da Corte serio tomadas privadamente ¢ permanccerdo secretas” (Estatuto da Corte, art. 54, pat. 3). 16. Arespeito dos agentes artigo 42 do Estatuto da Corte reza que estes serdo os representantes dos Estados no pro- cesso, que terdo a assisténcia de consultores ou advogados. Todos gozardo dos privilégios e imunidades necessérios 20 livre exercicio das respectivas funcées 616 ‘SOLUGAO PACIFICA DE CONTROVERSIAS INTERNACION AIS Lembramos que, no exercicio de suas atividades, a Corte poderd recorrer a qualquer fonte de Direito Internacional, mormente aquelas indicadas no artigo 38 do Estatuto da Corte Inter- nacional de Justica, que sio as seguintes: > as convengdes internacionais (tratados}, quer gerais, quer especiais, que estabelecam regras ex pressamente reconhecidas pelos Estados litigantes; > 0 costume internacional, como prova de uma pratica geral aceita como senda o direito; > 0 principios gerais de direito, reconhecidos pelas nagées civilizadas; > as decisées judicidrias © 2 doutrina dos juristas mais qualificados das diferentes nagdes, como meio. auxiliar para a determinacdo das regras de direito: valem como referéncia tanto as decisdes Judici- rias nacionais como aquelas de outros tribunals internacionais. > NOTA: a Corte poderd também decidir uma questo pela equidade (ex cequo et bono), se as partes com isto concordarem A sentenga é definitiva, inapelével e obrigatéria para as partes em litigio e deve ser cumprida de boa-fé, seguindo também os termos do artigo 94, pat. 1°, da Carta da ONU, segundo o qual “Cada Membro das Nacées Unidas se compromete a conformar-se com a decisio da Corte In- temnacional de Justiga em qualquer caso em que for parte”. Com isso, © descumprimento da sentenga da ClJ enseja a responsabilidade internacional do violador e a possibilidade de acéo do préprio Conselho de Scguranga da ONU pata garantir sua execugéo, seja por meio de recomendagées, seja por outras medidas (Carta das Nagées Unidas, art. 94, par. 2°). Apesar de a sentenca ser inapelével, so admitidos pedidos de esclarecimento. E. possivel, também, a revisio da sentenga, mas apenas até dez anos depois de ter sido proferida a decisio judicial e diante de faro novo, “susceptivel de exercer influéncia decisiva, 0 qual, na ocasido de ser proferida a sentenga, era desconhecido da Corte ¢ também da parte que solicica a revistio, contanto que tal desconhecimento nio tenha sido devido & negligéncia’”. Cabe destacar que a sentenca da Corte Internacional de Justica nao é um pronunciamento de validade erga omnes: sua deciséo sé serd obrigatéria para as partes litigantes e a respeito do caso em questo, Em principio, os pareceres nao sfo vinculantes, embora possam vir a sé-lo, caso as partes que o solicitem assim 0 convencionem. Por fim, cabe destacar que, néo havendo ainda um tribunal internacional de direitos humanos, nada impede que a CIJ examine quest6es envolvendo a aplicagéo de tratados vol- rados a proreger a dignidade humana. Entretanto, lembramos que somente 0 Estado, nao um individuo, um organismo internacional ou uma ONG, pode acionar a Cl] para que esta decida acerca da aplicagao de um tratado nessa matéria, ¢ somente o Estado pode ser julgado na CIJ acerca de questées envolvendo a aplicacao de acordos internacionais em matéria de direitos humanos. 17. Arrespeito da revisdo da sentenca da Corte Internacional de Justiga, ver 0 artigo 61 do Estatuto da CU, 617 PARTE | ~ DIREITO INTERNACIONAL POBLICO 5.2 Outros tribunais Hé outras cortes internacionais importantes ora em funcionamento, as quais os Estados podem recorrer, “em virtude de acordos ja vigentes ou que possam ser concludes no futuro” (Carta da ONU, art. 95). A seguir, mencionamos brevemente algumas delas, em rol nao exaustivo. Tribunal Penal Internacional (TPD foi criado em 1998 pelo Tratado de Roma e comegou a funcionar em 2003. E competente para julgat individuos envolvidos em atos cujo combate & prioritério para a comunidade internacional, como crimes de guerra, de genocidio e de agressao, bem como os chamados crimes contra a humanidade.'® ‘A Corte Buropeia de Direitos Humanos (CEDH) é competente para velar pela observan- cia dos direitos Fundamentais dos cidadios europeus, garantidos pela Convengao Europeia de Direitos Humanos e por atos correlatos. Foi criada em 1959, tem sede em Estrasburgo (Franga) © é um érgio do Conselho da Europa, nao da Uniao Europeia (UE), embora exerga influéncia significativa no universo comunitirio. A Corte Inceramericana de Direitos Humanos (CIDH) é um dos principais érgaos do Sistema Interamericano de Direitos Humano: Na Unido Europeia, hd o Tribunal de Justiga, e no MERCOSUL encontramos o Tribunal Permanente de Revisio”. © Tribunal Internacional do Direito do Mar, ctiado pela Convencio de Montego Bay e com sede em Hamburgo (Alemanha), é competente para aplicar as normas desse tratado, desde que com a aceitagao dos Estados envolvidos no litigio, nos termos do artigo 287, par. 1, da Convencio de Montego Bay" 6. MEIOS COERCITIVOS Os meios coercitivos de solugao de controvérsias visam, em tese, a solucionar conflitos internacionais quando fracassaram meios diplomaticos, politicos ¢ jurisdicionais, Na pratica, porém, acabam sendo empregados a qualquer momento ¢ segundo os interesses dos Estados. Em todo caso, a atual importancia que a socicdade internacional atribui 4 composicio pacifica dos litigios vem levando a que o emprego de tais meios tenha cada vez menos prestigio, pelo menos no campo juridico. 18, Por sua especificidade, examinamas 0 TPI no Capitulo XV desta Parte I 19. Pela importancla do tema, examinaremos esse foro no Capitulo IV da Parte Il desta obra, 20, Ambos foros sero analisados no Capitulo Il da Parte IV deste livro. 21. O artigo 287, par. 1, da Convenciio de Montego Bay tem os seguintes termos: Escolha do procedimento 1 - Um Estado a0 assinar ou ratifcar 2 presente Convencdo ou a ela aderir, ou em qualquer momento ulterior, pode escolher livremente, por meio de declaraeao escrita, um ou mais dos seguintes moios para a sclucéo das controvérsias relativas 4 interpretacdo ou aplicagao da presente Convencao: 2) 0 Tribunal Internacional do Direito do Mar, estabelecido te conformidade com o anexo Vi; b) 0 Tribunal Internacional de Justica; ) Um tribunal arbitral constituido de conformidade com o anexo Vil; d) Um tribunal arbitral especial constituido de conformidade com o anexo Vill, para uma ou mais das categorias de controvérsias especificadas no referido anexo. 618 SOLUGAO PACIFICA DE CONTROVERSIAS INTERNACIONAIS Os principais meios coercitivos de solugio de conflitos internacionais sfo a retorsdo, as repre- silias, 0 embargo, o bloquicio, 0 boicote, o rompimento de relagées diplométicas ¢ as operagaes militares de organismos internacionais autorizados para tal. A retorsio é a reagao de um Estado equivalente ao ato ou & ameaga de outro ente estatal. E admitida pelo Direito Internacional, ainda que normalmente seja um ato “pouco amistoso”.”” Exemplo de retorsao seria o Brasil passar a exigir visto de cidadaos de Estado que comegou a demandar visto de brasileiros. As represilias so as agGes ilfcitas de um Estado contra outro ente estatal que violou seus direitos. Sao “o ato ilicito com que certo ente estatal pretende penitenciar outro ilicito praticado por seu homélogo”.® Sao proibidas pelo Direito Internacional O embargo é 0 “seqiiestro de navios e cargas de outro Estado que se encontram em portos ‘ou aguas territoriais do Estado executor do embargo, em tempo de paz”. Nao é admitido pelo Dircito Internacional. O bloqueio ¢ 0 ato pelo qual um Estado emprega suas forcas armadas para impedir que um ente estatal mantenha relagées comerciais com terceiros. E. entendido como um tipo de represélia & portanto, proibido pelo Direito Internacional, inclusive porque pode causar danos graves para a dignidade das pessoas. O boicote é a interrupcéo das relagdes com outro Estado, especialmente no campo econé- mico-comercial. Pode ocotret diante da violagao de uma norma de Dircito das Gentes, mas, na pritica, costuma ter Iugar independentemente de fatos do tipo, podendo funcionar especialmente como instrumento politico. O rompimento das relacées diplomdticas é 0 fim do direito de legacao, que leva 4 recirada reciproca dos diplomatas dos dois Estados. Na pritica, normalmente também € resposta a conflitos, de cardter politico, nao juridico. Os artigos 41 © 42 da Carta da ONU citam, como possibilidades adicionais de solucao cocrcitiva de conitos internacionais, a interrupgao parcial ou total das relag6es econdmicas e das operagées dos meios de comunicagio ¢ de transportes co emprego de forcas militares, medidas cuja aplicagao € competéncia do Conselho de Seguranca e que séo, evidentemente, Ifcitas d luz do Diteico das Gentes. Quadro 3. Meios coercitivos de solugao de controvérsias internacionais MEIOS COERCITIVOS DE SOLUGAO DE CONFLITOS INTERNACIONAIS > Boicote + Retorsa a + Rompimento de relagdes diplomaticas > Represélia . embargo + Interrupcéo das relagées econdmicas, " das comunicagées e dos transportes > Blogucio > Aco militar 22. REZEK, Francisco. Direlto internacional ptblico, p. 374. 23. Id, p. 374. 24. BREGALDA, Gustavo. Direlto internacional puiblico e direito internacional privado, p. 107. 619 PARTE | ~ DIREITD INTERNACIONAL POBLICO 7. QUADROS SINGTICOS ADICIONAIS Quadro 4. Medalidades de meios de solugéo de controvérsias internacionais Diplomaticos Negociaczo Inquétito Consultas Mediagéo Coneiliag3o Politicos > e + > Bons oficios + + > Meios diplomaticos, quando empregados dentro de organizagées interna~ cionais Semi-judiciais > Arbitragem Judi + Cortes e tribunais internacionais Quadro 5. A Corte Internacional de Justiga Regulamentagéo > Estatuto da CU Caracteristicas > £um drgao jurisdicional > £0 principal (ndo necessariamente o unico) drgdo jurisdicional da ONU Magistrados > Quinze, eleitos para um mandato de nove anos, com direito a reelei¢so > Eleitos pela Assembleia-Geral e pelo Conselho de Seguranca da ONU, sem direito a veto > Eleitos segundo um critério de representatividade dos juridicos do mundo > O juiz no 6 representante do Estado, mas pode julgar uma causa envolven- do seu Estado; neste caso, o outro Estado parte pode indicar um juiz ad hoc incipais sistemas > N30 pode haver mais de dois juizes da mesma nacionalidade Magistrados > Quinze, eleitos para um mandato de nove anos, com direito a reeleicso + Eleitos pela Assembleia-Geral e pelo Conselho de Seguranga da ONU, sem ito a veto sistemas Eleitos segundo um critério de representatividade dos princip: Juridicos do mundo > O juiz no é representante do Estado, mas pode julgar uma causa envolven- do seu Estado; neste caso, o outro Estado parte pode indicar um juiz ad hoc + Nao pode haver mais de dois juizes da mesma nacionalidade + Gozam de imunidades dipiomaticas Competéncias + Contenciosa: julgamento de pracessos envolvendo Estados + Consultiva: emisséo de pareceres @ pedido da Assembleia-Geral, do pelo Conselho de Seguranca da ONU e de outras entidades e drgios de organis- mos do Sistema das Nagées Unidas > S6 Estados padem ser partes em processos, mas no podem solicitar pa- receres 620 SDLUGAO PACIFICA DE CONTROVERSIAS INTERNACION AIS Submissio | > Previsdo.em ato internacional dostadoa | Compromisso competéncia da | - Aceitac3o de ser réu quando processado of + Aceitagdo da cléusula facultativa de jurisdigéo contenciosa + Sentenca: obrigatéria, executavel pelo Conselho de Seguranca Obrigatoriedade des | yp srecer: obrigatério quando os interessados o determi Ran ahed da Caste igatério quando os interessados o determinarem > Asentenga é irrecorrivel 8 QUESTOES Julgue os seguintes itens, respondendo “certo” ou “errado”: 1. (TRF 5# Regiso—Juiz-2007) A mediac3o é meio diplomatico de resolugdo de conflitos internacionais, © a arbitragem, meio juridico de solucao de tais conflitos, 2, (TRF 5# Regio —Juiz~2007) Tanto 2 Assembléia Geral quanto o Conselho de Seguranca da Organiza- ‘cdo das Na¢Ses Unidas (ONU) sao instfncias politicas de soluc&o de conflitos internacionais. 3, (IRBr- 2013 — ADAPTADA) Ao tornar-se signatario da Carta de Sao Francisco, o Estado coobriga-se, também, a jurisdi¢ao da Corte Internacional de Justica. 4. (TRF 3# Regidio —Juiz~ 8 Concurso ~ ADAPTADA) Acerca da arbitragem, é correto afirmar-se que: a) a arbitragem internacional pode ser definida como a via judiciaria mais adequada, através da Corte Permanente de Arbitragem de Haia, para a solucio pacifica de litigios internacionais. b) 9 érbitro internacional 6 membro permanente do foro arbitral, e sua escolha ha de considerar os Estados litigantes envolvidos na disputa, e a existéncia de um tratado geral de arbitragem. ©) proferida a sentenca arbitral, esta tem efelto “erga omnes”, e é sempre definitiva, e sua execucdo, apés julgamento dos recursos, deverd ser processada perante a Corte Permanente de Arbitragem. d) a sentenca arbitral &, em regra, definitiva, nos termos do tratado geral de arbitragem, cabendo as partes envolvidas 0 cumprimento da deciso, sob pena de incidirem em ato ilicito, observado o prin- cipio do “pactum sunt servanda”. 5. (BACEN ~ Procurador ~ 2006) No ambito da Corte internacional de Justiga, é clausula facultativa de jurisdigao obrigatéria a que: a) Permite ao Estado membro da ONU decidir se adere ou ndo ao Estatuto da Corte. b)_ Uma vez aceito pelo Estado-parte no Estatuto, garante a jurisdicao da Corte em todos os conflitos internacionais que envoivam aquele Estado, verificada a reciprocidade. ©) Uma vez aceito pelo Estado-parte no Estatuto, garante a jurisdicao da Corte em todos os conflitos Internacionais que envolvam aquele Estado, independentemente de reciprocidade. 4) Possibilita a0 estado membro da ONU a opcdo, no caso concreto, de se submeter a jurisdic3o da Cor- te, @) Garante ao Estado-parte no Estatuto ampla imunidade de jurisdicSo ratione materiae, 6. (TRF~1# Regio Juiz— 2009) Considerando que a Assembleia-Geral da ONU tenha solicitado pare- cer consultive & Corte Internacional de Justica a respeito da utilizacdo de armas quimicas em conflitos internacionais, assinale a op¢o correta: a) O parecer consultivo da Corte seré obrigatério para todos os membros da ONU. 621 PARTE I~ DIREITO INTERNACIONAL POBLICO b) Somente o Conselho de Seguranga das NacBes Unidas tem competéncia para solicitar parecer consul- tivo envolvendo conflitos internacionais. ©) Parecer consultivo sobre a mesma tematica pode ser solicitado diretamente por membro da ONU. d) Estados podem ser admitidos a comparecer no procedimento perante a Corte ¢ apresentar exposi- Ges escritas e orais e) © procedimento para apreciacdo de pareceres consultives difere caso seja solicitado pela Assem- bleia-Geral ou pelo Conselho de Seguranca. 7. (TRF-22 Regiéo—Juiz~2009) 0 fato de um Estado oferecer ajuda a outros dois Estados para resolver certa contravérsia, sem, contudo, interferir nas negociag6es, configura o meio de soluco de contro- vérsias denominado: a) mediago. b) conciliag’o. ©) bons offcios. d)_ inguérito e} troca de notas. 8. (SENADO FEDERAL~ADVOGADO — 2008) A competéncia da Corte Internacional de Justiga é conferi- da: a) pelo rt. 94 da Carta das Nagées Unidas quando abriga seus membros a se comprometerem com suas decisies b)_pelas partes de sua jurisdicZo, quando a aceitam a qualquer tempo, mediante clausula compromiss6- ria, segundo 0 art. 36, pardgrafo 22, de seu estatute. ¢]_ por qualquer Tratado que trate sobre a matéria desde que assinado pelas partes litigantes respeitado o principio da reciprocidade. d) pela prépria Corte Internacional de Justia atendidos os pressupostos do art. 36, pardgrafo 2%, letras a,b, ced. e) pela existéncia de condi¢So material, ou seja, de controvérsia entre os litigantes sobre matéria cons- tante de tratado internacional (IRBr - Caderno B - 2010) Considere a situago hipotética em que o Estado A decide acionar o Estado B, perante a Corte Internacional de Justiga (Cll), em raz3o do descumprimento, por parte do segundo, de tratado sobre restituicdo de obras de arte. Com relagao a essa situagao, julgue Cou E: 9. Julgada a causa, a sentenga ¢ obrigatdria para as partes em litigio. 10. Segundo o Estatuto da Cll, a matéria em litigio ndo é de sua competéncia. 11. A acdo somente pode ser conhecida se ambos os Estados tiverem aceito a cldusula facultativa de jurisdigSo obrigatéria 12. Caso nenhum juiz da CU seja nacional dos dois Estados em questo, esses Estados podergo indicar Juizes ad hoc previamente aprovados pelo Conselho de Seguranga. Julgue os seguintes itens, respondendo “certo” ou “errado”: 43. (Procurador Federal - 2010) A licitude das resoludes do Conselho de Seguranga somente pode ser julgada pela Corte Internacional de Justiga, 6rgao judicial da ONU. 622 SOLUCAO PACIFICA DE CONTROVERSIAS INTERNACIONAIS. 14, (TRF — 18 Regio — Juiz - 2011 - ADAPTADA) A sentenca da Corte Internacional de Justica sera defi- nitiva e inapelavel, ndo sendo possivel aos Estados envolvidos pedir a reviséo da sentenca apés seu pronunciamento. 15. (IRBr ~ 2013 ~ ADAPTADA) Tanto Estados como organizagées internacionais, incontestaveis sujeitos de direito internacional, esto habilitadas a comparecer como autores ou como réus perante a Corte Internacional de Justica 16. (BACEN ~ Procurador ~ 2013 = ADAPTADA) E vedado aos Estados solicitar opinides consultivas & Corte Internacional de Justica. 17. (BACEN — Procurador ~ 2013 - ADAPTADA) A arbitragem internacional ¢ vedada para a solugao de questdes sobre paz e seguranca internacion: 18. (BACEN ~ Procurador ~ 2013 ~ ADAPTADA) As decisdes de tribunais arbitrais tém carater n3o-obriga- torlo. 19, (BACEN ~ Procurador ~ 2013 ~ ADAPTADA) 0 direito internacional no reconhece a figura do amicus curiae nos tribunais internacionais. 20. (TRF ~ 3# Regio — Juiz — 2011) Assinale 2 op¢o correspondente a entidade a qual cabe solicitar pa~ receres consultivos a Corte Internacional de Justica, desde que autorizado pela Assembleia-Geral da ONU: 2) Organlzacio Mundial da Saude. b} tribunal constitucional de Estados. ©) parlamento de Estados. d) tribunal internacional especializado. @) Comité internacional da Cruz Vermelha. 24. (TRF ~ 22 Regio — Juiz ~ 2013) Os meios diplomaticos de solugao pacifica de controvérsias incluem: Gao. b) o tribunal internacional. ©) aarbitragem internacional. 4d) otribunal misto. e} 0 tribunal constitucional. 22. (STM — Juiz - 2013) Acerca da Cl, assinale a op¢80 correta: a) ACI ndo pode valer-se da jurisprudéncia de nenhum pais. b}_ 0 processo perante a CII é inteiramente escrito. €) ACI nao pode responder a consultas. d) Admite-se a revisso das sentencas proferidas pela CU. e) As organizabes de defesa dos direitos humanos tém legitimidade para representar parte em deman- das submetidas a CU 623 PARTE | ~ DIREITO INTERNACIONAL POBLICO GABARITO Gabarito Topicos do ese Fundamentacdo legal ceninalo. | Eventual observacko elucidadiva 1 | ¢ | Doutrins 2,304 : 2 | © | doutrina 3 - (© mero fato de um Estado ser membro da ONU nfo o submete 2 jurisdigio da CU. A propésito, é im- 3 | e_ | fstatuto da corte internacional de |, | portante enfatizar que, em gera, Justiga, art. 36, e doutrina : competéncia dos foros voltados & soluggo das controvérsias interna- cionais sobre os Estados nao é au- tomatica Ngo ha hierarquia entre os meca- nismos de solugSo de controver- a) Doutina 11641 | sias, © a arbitragem ndo necessa- riamente ocorre dentro da Corte Permanente de Arbitragem © rbitro no ¢ membro perma- ») Doutrina aa | Mente do foro arbitral, e nem sem- Par pre a arbitragem fundamenta-se em tratado geral no tema ‘A Corte Permanente de Arbitragem ¢) Doutrina 4.1 | no ¢ orga executor de sentencas arbitrais 14 ha, porém, possibilidades de re- d) Doutrina 4.1 | curso do laudo arbitral, como den- tro do MERCOSUL a) Doutrina e Estatuto da Cy, art. | | Todos os Estados: membros da Cll 36 i slo parte de seu Estatuto ‘A cldusula facultativa de jurisdic EEDA ieee RRC a 5.1 | obrigatéria pode ou nao depender 36, par. 3° va da reciprocidade €) Doutrina e Estatuto da Cl, art | - 36, par. 3° : s |e : A aceitagdo da clusula facultati- 4) Doutrina e Estatuto da cu, art. |g, | varde jurisdicao obrigatéria impoe 36 ; que o Estado se submeta 3 jurisdi- go da CH ‘A cldusula facultativa de jurisdic @) Doutrina e Estatuto da Cli, art. obrigatéria permite que o Estado 54 : : 36 seja julgado na Cli, ainda que con- tra a sua vontade 624 SOLUGAO PACIFICA DE CONTROVERSIAS INTERNACIONAIS. Gaberito z Topicos do ae ek Fundamentacao legal eeninato, | Eventual observacéo elucidativa a} Carta da ONY, art. 96, eEstatuto] — | O parecer consultivo no évinculante da Cll, art. 65 1 _| nem para os drgdos que o solicitam slo Desde que a questo envolva maté- b) Carta da ONU, art, 96, e Estatuto His Niralca, 6 areeat ode:ser 26 5.1 | licitado também pela Assembleia- da CU, art. 65 nee Geral ou por qualquer outro drgdo autorizado para tal 36 a Assembleia-Geral, 0 Conselho de Seguranca e outros érgios das «) Carta da ONU, art. 96, € Estatuto Nocbes Unidas senstaiies especie 5.1 | Iizadas, desde que devidamente au- da Cll, art. 65 1 torizadas, pode, solicitar pareceres a Cli, nos termos de seu Estatuto © dla Carta da ONU 6 |e Aparticipacao dos Estados dentro do 4d) Estatuto da CU, arts. 66 e 67 sa, | Pesca iiecn ensuites, SE ser interpretada como lhes conferin- do odireito a pedir pareceres a Cl Oprocedimento € 0 mesmo para to- ¢) Estatuto da Cll, arts, 65 a 68 5.1 | dos os entes ou érgios que podem pedir pareceres sioutiina gs [A mediacdo incl interferéncia nas negociagdes ‘A comissao de conciliagao também Eipeutnina 36 _| interfere nas negociacbes «) Doutrina 34 : 7] © inguérito visa precipuamente a d) Doutrina 3.2 | apurar fatos, com vistas a definir os termos da controvérsia Sem (a | a troca de notas é uma modalidade e) Doutrina § de tratado (Parte |, Capitulo il, item presente | Sy capitulo ‘Carta da ONU fixa a obrigatorieda- a) Carta da ONU, art. 94 5.1 | deda sentenca da Cll, nd acompe- tencia da Corte ‘A fixagdo da competéncia da Cl pode By Esteentet ei cl). bia 5-1 | independer de qualquer acordo 5 ‘A competéncia da Corte é fixada por 8 o)Estatuto da Cu, arts. 35 239 5.1 | seu préprio Estatuto, no por qual- quer tratado d) Estatuto da Cy, art. 36 5a : ‘A mera existéncia de conflito em @)Estatuto da Cll, art. 36edoutrina | 5.1.__| materia de Direito das Gentes ndo autoriza a intervengéo da CU 625 PARTE | ~ DIREITO INTERNACIONAL POBLICO Gabarito ; Tépicos do ohaal Fundamentacéo legal capitulo | Eventual observacto eluctdativa 9 | ¢ | Estatuto da CU, art. 58, eCartada] . ONU, artigo 94, par. 12 : 10 | _E | Estatutoda Ci art. 36 5a : ‘A aceitago da clausula facultativa a1 | E | Estatutoda Cli, art. 36, par. 32 sa | de Jurlecleso obracterie: neste: ou no ser feita sob condigdo de reci- procidade © Conselho de Seguranga ndo par- 12 | E | Estatutoda Cui arts. 4,5e31 5A | ipa da indicagio de jules ad hac ‘A Corte julga apenas Estados; os a3 | e. | Estatutedacu,arts.34e65,eCarta] 5, | atos do Conselho de Seguranca po- da ONU, art. 96 ¢ derSo ser apenas objeto de parece- res A sentenca da Corte é Inapeldvel, mas € possivel pedir sua reviséo, nas 1s | CE [estatnetde Clarke 51 | condicées do artigo 61 do Estatuto da cu S6 os Estados poderdo ser partes u rt, rt 5 = Bec] E |Heseanieele Glia. 84° + _| em questdes perante a Corte Carta das NagBes Unidas, art. 96, € 4 i licitar parece- 16 | ¢ | estatuto da Corte Internacional de] 5.1 — SU pares Justiga, art. 65 do Os sujeitos de Direito das Gentes procurargo, antes de tudo, chegar a uma solu¢do de seus diferendos “por negociaco, inquérito, media- do, conciliagSo, arbitragem, solu- Doutrina e Carta das NagSes Unidas, (40 judicial, recurso a entidades ou w]e ea art. 33 acordos regionais ou @ qualquer ou- tro meio pacifico a sua escolha’, nao havendo, no Direito intemacional, indicagSo de que quest6es relativas 8 paz e a seguranca internacionais no podem ser decididas pela arbitragem 1s | _E | Doutrina 2¢4.1 | Adeciséo arbitral é obrigatoria re ee 5 Alguns tribunais internacionais jd admitem a figura do amicus curiae a) Carta das Nacdes Unidas, art.96,] - c Estatuto da Cl, art. 65, 1 i Os tribunais constitucionais de Esta- wile dos nao so organismos internacio- b) Carta das Nagées Unidas, art. 96], ,__| nais ou Grgios destes, no paden- e Estatuto da CU, art. 65,2 " do, portanto, sequer ser indicados pela ONU como capazes de solicitar Pareceres a CU) 626 SDLUGAO PACIFICA DE CONTROVERSIAS INTERNACIONAIS Gabarito ss ‘Tépicos do Fu Saal ndamentagao legal capitulo. | £¥entual observagzo elucldativa Os parlamentos nacionais néo so organismos internacionais ou dr- c) Carta das NagGes Unidas, art. 96, Sa gos destes, nado podendo, portan- e Estatuto da CU, art. 65, 1 . to, sequer ser indicados pela ONU como capazes de solicitar pareceres acu Um tribunal internacional especiali- d) Carta das Nagdes Unidas, art. 96, 54 zado pode até ser autorizado pela 20 c Estatuto da CU, art. 65, 1 . ONU a solicitar parecer 4 Cl, o que nao ocorreu até o momento 0 Comité Internacional da Cruz Ver- metha, que tem capacidade de atu- aco & luz do Di Internacional, e) Carta das Na¢des Unidas, art. 96, sa embora nao seja uma organiza¢3o e Estatuto da CU, art. 65,1 ” internacional, pode até ser autori- zado pela ONU a solicitar parecer a ClJ, 0 que no ocorreu até o mo- mento a) Carta das Nagdes Unidas, 33,€] » 50.5 - doutrina ih arenes Alon Uhl on Os tribunais internacionais sto doutrina 5 meios jurisdicionais de solucdo de controvérsias c) Carta das NagGes Unidas, 33, e 3 A arbitragem é um meio semi-judi- 21 | A | doutrina cial de solucao de conflitos d) Carta das Nages Unidas, 33, e Hse Bale une Tia’ deisoliese Aa 5 controvérsias internacionais_cha- dout “tril isto” mado “tribunal misto’ ) carta das Nagao Untday,’35, © Os tribunais constitucionais sdo 5 meios de solu¢3o de controveérsias doutrina end no ambito interno As decisdes judicidrias nacionais e a) Estatuto da Corte Internacional : : * de Justica, art. 38, par. 1. “d” Si internacionais também podem in- ears parts fluenciar uma deciséo da Corte b) Estatuto da Corte Internacional 51 O processo constara de duas fases: de Justica, art. 43, par. 1 uma escrita e outra oral 22 | p | © Estatuto da Corte internacional 16 A Corte tem competéncia conten- de Justi¢a, arts. 65-68 ciosa e consultiva Corte aceita pedidos de ai 4) Estatuto da Corte Internacional é Ee ae dae fe loathe arte SL da sentenca, dentro das condicdes wade do artigo 61 de seu Estatuto ) Estatuto da Corte internacional 51 1. S6 os Estados poderéo ser partes de Justiga, art. 34, par. 1 i em questdes perante a Corte 627 CAPITULO XVI DIREITO DE GUERRA E NEUTRALIDADE 1. AGUERRA A guerra é, fundamentalmente, 0 conflito armado que envolve Estados soberanos ¢ cujo objetivo principal é solucionar uma controvérsia pela imposiggo da vontade de uma das partes na disputa. | ATENCAO: tecnicamente, a nocSo de guerra abrange também os conflitos armados por meios | 1 dos quais os povos, no exercicio do direito & autodeterminaco, lutam contra a dominacae colo- | _ ial, a ocupacao estrangeira e os regimes racistas, nos termos dos Protocolos | e Il, adicionais &s I Convencées de Genebra, de 1977. Durante a maior parte da histéria da humanidade, a guerra era considerada meio licito de dirimir controvérsias entre as nagées. Alids, os conflitos armados eram frequentemente empre- gados como mecanismo de solugao dos conflitos entre os membros da sociedade internacional, a ponto de a reiterada beligerancia entre os povos ser um dos tragos mais marcantes das relag6es internacionais no passado. Com isso, parte significativa do contetido do Direito Internacional até o século XIX era dedicada & regulamentacéo da guerra, a qual inclufa tanto normas telativas ao dircito de usar a forca nas relagées internacionais como as primeiras regras voltadas a pautar o desenvolvimento das hostilidades. Entretanto, os conflitos armados ja no tém a mesma importancia, dentro do Direito das Gentes, de que se revestiam no pasado. Com efeito, muitos outros temas vieram a adquirir rele- vancia dentro das relagdes internacionais. Além disso, a sociedade internacional yem empreendendo esforcos, mormente nos iiltimos cento ¢ cinquenta anos, no sentido de evitar a ocorréncia das guerras ¢ de limitar seus efeitos. Tais esforgos viriam a resultar na afirmagao de esquemas de solucio pacifica de controvérsias intermacionais, na proscrigao quase completa dos conflitos armados, na formulagao e execucio de politicas de desarmamento ¢ na formagao de um vasto arcabouco juridico restritivo das agdes militares nas restritas jpoteses em que o recurso a forca ainda é permitido. A acio internacional voltada a impor testrigdes & guerra encontra fundamento em ideias hu- ‘manistas, revigoradas a partir do Tluminismo, e na necessidade de garantir a estabilidade necesséria ao bom desenvolvimento das relacdes internacionai: A partir dessa premissa, criou-se todo um arcabougo de normas internacionais aplicéveis aos conflitos armados, bem como apareceram ¢ fortaleceram-se esquemas de cooperacio internacional dedicados & promogao da paz e A turcla de determinados valores, que deveriam prevalecer em qualquer circunstancia, como a protecao dos direitos humanos. 629 PARTE | ~ DIREITO INTERNACIONAL POBLICO Tal arcabougo normative inclui, por exemplo, preceitos que visam a limitar os efeitos das hostilidades sobre a pessoa c a regular o atendimento as vitimas das guerras, consagradas espe- cialmente dentro do Direito Humanitério (Direito de Genebra), 0 qual se reveste de especial relevancia para a protecio da dignidade humana num mundo ainda instavel e que, por conta de suas especificidades, ser objeto do Capitulo V da Parte IIE do presente livro. Entretanto, dentro do rol de normas juridicas voltadas a regular os conflitos armados, hi também principios e regras que visam a regular 0 dircito a0 uso da forga ¢ a forma de desenvol- vimento dos combates, com vistas a limité-los ao estritamente necessério aos objetivos bélicos, bem como a pautar as hostilidades dentro de certos parimetros minimos de racionalidade e de preservacio de cettos valores. £ 0 chamado Direito de Guerra, também conhecido como “Direito da Haia’, que sera brevemente estudado neste capitulo. Enfatizamos que o Direito de Guerra difere ligeiramente do Direito Humanitario, que é 6 ramo do Direito Internacional que tem como objeto central a protecio da pessoa dentro dos conflitos armados ¢ a regulagao a assisténcia As vitimas das hostilidades. No entanto, ambos os ramos do Direito Internacional acabarao incidindo sobre as mesmas situagdes em determinados casos, 0 que, porém, nao altera o objeto de cada um deles 2. NOQOES GERAIS. JUS AD BELLUM E JUS IN BELLO Com a recorréncia da guerra na histéria da humanidade, a doutrina vem hd muito tempo examinando os aspectos juridicos referentes aos contfitos armados, distinguindo inicialmente entre duas nogées bisicas: a do jus ad bellum ca do jus in bello. jus ad bellum refere-se ao direito de promover a guerra. No passado, dizia respeito sobre- tudo 3 nogao de guetta justa ou, como afirma Rezek ao “direito de fazer & guerta quando esta parecesse justa”', Noa atualidade, o jus ad bellum resume-se a duas possibilidades: 0 direito de 0 Fstado se de- fender de agressdes externas; c 0 dircito de a Organizacdo das Nag6es Unidas (ONU), por meio de seu Conselho de Seguranga, tomar medidas para evitar a guerra ou restaurar a par.’ Pora dessas hipdteses, o recurso a fora nas relagdes internacionais tornou-se ilicito. O jus in bello corresponde a0 conjunto de normas que se aplicam aos contendores durante os conflitos armados. E 0 chamado “Direito de Guerra”, também conhecido como “Direiro da Haia’, em alusio & cidade onde foram celebradas a maioria das convengées na matéria, F composto por quando a guerra era uma opgio licita para resolver conflitos entre os Estados’e que ainda hoje se aplicam nos conflitos armados que porventura acorram, em vista de sua importincia como limitadoras dos efeitos deletérios das armas dentro das regides conflagradas. preceiros que “Aoresceram (. |A nocao de jus in bello abrange também todo um conjunto de normas voleadas 2 regular © emprego de certas armas de alto potencial destrutivo, como o as armas bioldgicas, nucleares ¢ 1. Arespeito, ver especialmente o Protacolo I (Protocolo Adicional | as Conveneées de Genesra de 1997), at. 1°, par 4 2. REZEK, Francisco, Direita internacional piblico, p. 368. 2, respeito, ver o item 3 deste capitulo. 630 DIREITO DE GUERRA E NEUTRALIDADE quimicas, cujo desenvolvimento vigoroso data da segunda metade do século XX, exigindo da comu- nidade internacional todo um esforgo para afastar seus efeitos deletérios sobre toda a humanidade. O jus in bello inclui, por fim, o Direito Humanitério, também conhecido como “Direito de Genebra’, que visa especificamente a proteger a pessoa dentro dos conflitos armados ¢ a regular a assisténcia as vitimas das hostilidades’, Quadro 1. Jus ad bellum X jus in bello JUS AD BELLUM JUS IN BELLO ‘> Conjunto de normas aplicéveis durante os con- flitos armados + Direito de promover a guerra > Corresponde especialmente 20 chamado “Di reito de Guerra” ou "Direito da Hala”, bem como a normas dirigidas a regular 0 emprego > Atualmente, a guerra so é licita em caso de] de armas de alto potencial destrutivo (armas legitima defesa do Estado ou de ago da ONU | pioldgicas, nucleares e quimicas) para manter ou restaurar a paz > No passado, a guerra era um meio licito de so- luco de controvérsias, desde que fosse justa Inclui também © Direito Humanitério, ou “Di- reito de Genebra” 3. A PROSCRICAO DA GUERRA. MECANISMOS DE SEGURANGA COLETIVA E DE MANUTENGAO DA PAZ A guerra tornow-se ilicita a luz do Direito das Gentes no século XX, quando a sociedade internacional passou a enfatizar, pelo menos dentro do universo juridico, o recurso a meios pacificos de solucao de controvérsias ¢ 4 formacao de um sistema de seguranga coletiva, dentro do qual caberia a esquemas de cooperacao internacional, como as organizagées internacionais, a incumbéncia de manter a paz. Em 1919, foi celebrado o Pacto da Sociedade das Nacdes, que nao proibia a guerra, mas que determinava que o recurso a forga ja nio poderia ser a primeira opyéo dos Estados soberanos para a solugio das controvérsias entre si.” Em 1928, foi firmado o Tratado de Rentincia 4 Guerra, mais conhecido como Pacto de Paris ou “Pacto Briand-Kellog” (Decreto 24.557, de 03/07/1934), por meio do qual os Fstados signatirios declaram que “condenam o recurso & guerra para a soluao das controvérsias interna- cionais” ¢ que “a ela renunciam como instrumento de politica nacional nas suas miituas relacdes” (Art. D. Dererminam ainda que a solugio das controvérsias entre os Estados deverd ser sempre feita por meios pacificos (Art. II) A ilicitude da guerra veio a consolidar-se, porém, apenas com a Carta das Nagées Unidas (Carta da ONU), celebrada em 1945 (Decreto 19.841, de 22/10/1945), Com efeito, a Carta das Nagdes Unidas define que “Todos os Membros deverao evitar em suas relag6es intemnacionais @ ameaga ou 0 uso da forga contra a integridade territorial ou a depen- déncia politica de qualquer Estado, ou qualquer outra ago incompativel com os Propésitos das 4. REZEK, Francisco. Direito internacional pablico, p. 368. 5. Lembramos que o Direito Humanitério serd objeto do Capitulo V da Parte Ill desta obra, 631 PARTE I~ DIREITO INTERNACIONAL FUBLICO Nagées Unidas” e que “Todos os Membros deverio resolver suas controvérsias internacionais por meios pacificos, de modo que nao sejam ameacadas a paz, a seguranga ea justiga internacionais” (art. 2°, pardgrafos 3 ¢ 4). Ficou também definido que o recurso a forca pelos entes estatais 86 ser permitido em duas hipéteses, reguladas pelos artigos 39 a 51 da Carca da ONU: legitima defesa individual ou co- letiva no caso de ataque armado contra um Estado-Membro das Nages Unidas; e agao milicar determinada pela propria ONU, por meio de seu Conselho de Seguranga, contra ameaga & paz, ruptura da paz ou ato de agressio. Cabe destacar que 0 direito de legitima defesa s6 subsiste até que 0 Conselho de Seguranga tome as medidas necess4rias 3 manutengao ou ao restabelecimento da paz ¢ da seguranca interna- cionais, Outrossim, tal direito existe apenas diante de um efetivo ataque armado, nao comportando a Carta das Nagées Unidas 2 possibilidade de uma suposta “legitima defesa preventiva’, ou seja, a possibilidade de que um Estado ataque outro quando entenda que neste reside uma ameaga a sua seguranga. Com isso, como afirma Yepes Pereita, a resposta armada a uma agress4o passou a exigit dos Estados a submissio do conflito ao Conselho de Seguranca da ONU, embora os ences estatais preservem, pelo menos no primeiro momento, o jus ad bellum, diane da necessidade de “legitima defesa contra ato que implique risco severo a sua soberania”. O autor conclui que “a guerra de agressao, largamente conhecida e praticada pelos Estados ao longo dos séculos, foi substituida pela guerra de defesa” © que “a agressao é ilegal; as contramedidas sfo legais”. Em suma: com a Carta da ONU, criou-se um mecanismo de seguranga coletiva, voltado a manutengao da paz, pelo qual a forca armada deve ser empregada apenas no interesse coletivo de preservar a seguranca internacional. Sucintamente, tal mecanismo deverd agir com o intuito de evitar conflitos armados ou de levar a0 término de hostilidades jé iniciadas e deverd funcionar dentro do quadro das Nagdes Unidas, {inica entidade que pode chancelar, portanto, o emprego da forga nas relagdes internacionais. (O mecanismo de seguranga coletiva concebido pela ONU € regulado pelos anteriormente mencionados artigos 39 a 51 da Carta das Nagées Unidas, e seu érgao central € 0 Conselho de Seguranca da ONU. Cabe ressaltar, entretanto, que a ONU nao manterd Forgas armadas préprias, recorrendo, em cada caso especifico, as forcas militares dos Estados. Por fim, ailicitude da guerra é reiterada pela norma do Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional (IPD), que tipifica como ctime internacional o crime de agressio (art. 8, bis 6 Oartigo 12 do Pacto da Sociedade das Nagées determinava textualmente que “Todos as membros da Sociedade concordam em que, se entre eles surgir controvérsia suscetivel de produzir ruptura, submeterdo 0 caso seja ao processo de arbitragem ou a solug0 judiciéria, seja ao exame do Conselho. Concordam também em que nic deverdo, em caso algum, recorrer & guerra antes dz expiracdo do prazo de trés meses apis a decisdo arbitral ou Juiciéria, ou 0 relatdrio do Conselho”. 7. PEREIRA, Bruno Yepes. Curso de direito internacional piblico, p. 213-214. & tema também ¢ tratado no Capitulo Vil da Parte | desta obra (Organizages internacionais), no item relative & Nu. 632 DDIREITO DE GUERRA & NEUTRALIDADE | ATENCAO: recordamos que, dentro de um conflito armado licito a luz do Direito das Gentes, | i ainda vigoram as antigas normas do Direito da Haia e todas as regras posteriores referentes a ‘ i \ guerra e ao emprego de determinados armamentos. Quadro 2. Vedagio da Guerra: diplomas internacionais pertinentes TRATADO INFORMAGOES IMPORTANTES > Pacto Briand-Kellog > Rendincia guerra > Proibicio da guerra > Permissdo do uso da forsa apenas em legitima defesa ou no interesse da comunidade inter- > Carta da ONU nacional em manter a paz ea seguranga inter- nacionais > Criagdo de um mecanismo internacional de se- guranga coletiva > Estatuto de Roma do TP! > Tipificagao do crime de agresséo 4, NORMAS APLICAVEIS AOS CONFLITOS ARMADOS ‘As regras aplicéveis aos conflitos armados comegaram a surgit quando a guerra ainda era vista como um meio Kicito de solugao de controvérsias. Inicialmente, tais preceitos eram fundamentalmente vinculados ao ritual militar €4 proteséo das vitimas dos conflitos armados, a qual ja era motivo de preocupagao antes mesmo do Direito de Genebra, Neste sentido, aliés, havia normas que regulavam a situacao de integrantes das forcas inimigas feridos ou enfermos, de prisioneizos de guerra, de civis que néo estivessem envolvidos nas hostilidades etc."Havia também normas que impediam ataques militares a certos alvos, como templos ¢ plantagées, bem como em determinados dias (como domingos e datas santificadas pelas determinag6es da Igreja Catélica). Num primeiro momento, as regras do Direito de Guerra cram costumeiras. Entretanto, passaram a ser codificadas a partir do século XIX, com a Declaragdo de Paris, de 1856, que proibia a pritica do corso na guerra maritima. E também dessa época, alids, a Convengéo para a Melhoria da Sorte dos Feridos ¢ Enfermos dos Exércitos em Campanha, de 1864, marco inicial do Direito Humanitério. Os principais tratados especificos sobre os conflitos armados foram celebrados na Conferén- cia Internacional de Paz ocortida na Haia (Holanda), em 1907. Daf, alids, 0 emprego do termo “Direito da Haia” para referir-se ao Direito de Guerra. As normas dos tratados concluidos na Haia disciplinam aspectos técnicos referentes aos conflitos armados, como o inicio, o desenvolvimento € o fim das hostilidades, os direitos ¢ deveres dos beligerantes, 0 direito de prevencio, a proibigao de acées bélicas contra determinadas pessoas 9. crime de agressio foi definido pela Resoluco RC 6, de 11/06/2010, que emendou o Estatuto de Roma do Tribunal Penal internacional. Pata maiores informagBes, ler o Capitulo XV desta Parte I deste livo. 633 PARTE |~ DIREITO INTERNACIONAL POBLICO e bens, a vedagao do emprego de formas de combate cruéis ¢ desproporcionais, a proibigio do uso de certas armas, a tutela da propriedade privads e a protegio dos bens culeurais. Para Rezek, as normas do Direito da Haia agrupam-se ao redot de trés principios: o dos limites rationae personae, que poupa nio combatentes de agées militares; o dos limites rationae loci, que determina que s6 podem ser atacados objetivos militares; ¢ 0 dos limites rationae conditionis, pelo qual ficam proibidos armas ¢ métodos de combare que postam causar softimento desnecessirio™. Yepes Pereira afirma que as normas internacionais relativas aos conflitas armados obedecem aos prinefpios da necessidade e da humanidade." © principio da necessidade refere-se & exigencia de que a guerra s6 scja deflagrada apés 0 exgotamento de todas as medidas possiveis para evitar o confronto. Jé o principio da humanidade determina que os meios empregados nos combates sejam apenas aqueles nevessirios para a obrengio da vit6ria militar, impondo assim a proibigdo de que sejam causados, como resultado das hosti- lidades, danos desproporcionais sobre os combatentes ¢ qualquer prejuizo aos nao combatentes, No Brasil, vigoram os seguintes tratados do Direito da Haia, todos celebrados em 1907 € promulgados pelo Decreto 10.719, de 04/02/1914: Convengio Relativa ao Rompimento das Hos- tilidadess Convengio Concernente ao Bombardeamento por Forgas Navais, em Tempo de Guerras Conveneao Relativa 20 Regime dos Navios Mercantes Inimigos no Comego das Hostilidades; Convencio Relativa & Transformagao dos Navios Mercantes em Navios de Guerra; Convengao Relativa a Certas Restriges a0 Exercicio do Direito de Captura na Guerra Maritima; Convencio Relativa & Colocacao de Minas Submarinas Autométicas de Contato: Convengio para a Adapragao 4 Guerra Maritima dos Prinefpios da Convengéo de Genebra; Convengio Concernente aos Di- reitas e Deveres das Poténcias Neutras, nos Casos de Guerra Marftima; Conyengio Concernente as Leis e Usos da Guerra Terrestre (incluindo um Regulamento Concernente 4s Leis e Usos da Guetta Terrestre)s ¢ Convengio Concernente aos Direitos e Deveres das Poténcias e das Pessoas Neutras, no Caso de Guerra Tertestre. ATENGAO: ainda que a guerra tenha deixado de ser, em linhas gerais, licita, as antigas normas do Direito da Hala ainda so aplicéveis aos conflitos armados, estejam ou nao em conformidade | coma Direlto internacional. 4.1 Tratados referentes ao emprego de armas de alto potencial destrutivo Na atualidade, vigoram ainda outros tratados referentesa temas ligados 20s conflitos armados, como as armas nucleares, quimicas ¢ biol6gieas ¢ as minas terrestres, que visam ni s6 a controlar o eventual emprego desse tipo de armamento, mas também a evicar sua proliferagao ea promover odesarmamento, evitando assim que seu alto poder destrutivo possa expor a humanidade inteira a grandes riscos. O uso da energia nuclear é objeto, por exemplo, do Tintado de Nao-Proliferagéo Nuclear (TNP), de 1968 (Decreto 2.864, de 07/12/1998) ¢ do Tratado para a Proscrigio das Armas Nucleares na ‘América Latina e no Caribe (Tratado de Tlatelolco), de 1967 (Decreto 1.246, de 16/09/1994). 10. Arespelto; REZEK, Francisco. Direito internactonal publico, p. 370-371. 11, REZEK, Francisco, Direita internacional pubico, p. 371-372. 634 DIREITO DE GUERRA E NEUTRALIDADE Essencialmente, 0 TNP nao profhe que os Estados nuclearmente armados & época de sua celebrago possuam armas nucleares, mas veda a uansferéncia, para outros entes estatais, de arma- mento nuclear da tecnologia que permita sua fabricacao. Fundamentalmente, portanto, o'TNP visa a evitar que novos Estados passem a contar com arsenais nucleares, permitindo, porém, que os Estados nuclearmente armados continuem a ter armas nucleares. Jé o Tratado de Tlatelolco veda totalmente a existéncia de armamento nuclear na América Latina, No tocante a outros temas, destacam-se os seguintes tratados: a Convengio sobre a Proibicio do Desenvolvimento, Produgio ¢ Estocagem de Armas Bacterioldgicas (Bioldgicas) ¢ & Base de ‘Toxinas ¢ sua Destruigao (Decreto 77.374, de 01/04/1976); a Conyengao sobre a Proibicdo do Uso Militar ou Hostil de Técnicas de Modificagao Ambiental (Decreto 225, de 07/10/1991); a Convengio sobre a Proibigao do Desenvolvimento, Produgao, Estocagem e uso de Armas Quimi- cas € sobre a Destruigao das Armas Quimicas Existentes no Mundo (CPAQ — Decreto 2.977, de 01/03/1999); € a Convengie sobre a Proibi¢ao do Uso, Armazenamento, Produgio e Transferencia de Minas Antipessoal e sobre sua Destruigao (Decreto 3.128, de 05/08/1999). 4,2 O Tribunal Penal Internacional (IPI) ¢ a guerra Por fim, aplicam-se também aos conflitos armados as normas do Estatuto de Roma do ‘Tribunal Penal Incernacional (TPI), adotado em 1998 e que iniciou suas atividades em 2003. © Estaruto de Roma, do qual o Brasil é parte (Decreto 4.388, de 25/09/2002), também estabelece varias normas apliciveis aos conflitos armados, tipificando como “crimes internacionais” atos como o crime de agressdo (art. 8, bis) e os crimes de guerra (art. 8),!? bem como os crimes de genocidio os crimes contra a humanidade (arts. 6 ¢ 7), quando praticados dentro de conflitos armados'*. abe destacar, porém, que © Brasil ainda nao assinou nem aderi & Convengao sobre a Im- prescritibilidade dos Crimes de Guerra ¢ dos Crimes contra a Humanidade, adotada em 1968, Com isso, a Convengao em aprego nao obriga nem vincula juridicamente o Estado brasileiro, ¢ a imprescritibilidade desses crimes, embora defendida pela doutrina, nao é ainda acolhida, na pratica, pelo Brasil. Em todo caso, esse quadro poderé mudar a partir da aprovagio do PL 4.038/2008, ora em trimite na Camara dos Deputados, que estabelcee, em seu artigo 11, que os crimes de guerra no Brasil sio imprescritiveis e insusceciveis de anistia, graca, indulto, comutagdo ou liberdade proviséria, com ou sem fianga" 5. NEUTRALIDADE A neutralidade é a situagéo do Escado que, diante de um conflivo armado, opta por nao se envolvcr nas hostilidades ¢ por néo apoiar nenhum dos contendores. 12, PEREIRA, Bruno Yepes. Curso de direito internacional publico, p. 216-219. 13. _OEstatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional {TPl) relaciona-se também com outros ramos do Direito Inter- nacional, como o Direite Penal internacional e o Direlto Humanitario. Entretanto, no & amide citado na doutrina relativa ao Direito de Guerra. Em tado caso, no momento em que a protecio e a promog3o da dignidade humana 80 um valor de maior importancia para o Direito, entendemos que deve avangar 0 debate acerca da pertinéncia da Estatuta de Roma do TPl também no mbito do Direito de Guerra. Ressaltamos, por fim, que boa parte dos crimes de guerra coincide com atos tornados ilcitos dentro do Direlto da Hal 14. Tribunal Penal Internacional é objeto do Capitulo XV de Parte | desta obra. 635 PARTE | ~ DIREITO INTERNACIONAL PUBLICO © Estado neutro tem direitos ¢ deveres, Dentre os diseitos inerentes & neuttalidade encon- tram-se a inviolabilidade de seu territério eo direito ao comércio com todos os beligerantes. Jé os deveres incluem a abstengao de envolvimento em qualquer ato hostile o dever de imparcialidade, ou seja, de tratar igualmente todas as partes envolvidas na guerra. Anneutralidade ¢ objeto de duas convengées, celebradas em 1907 ¢ promulgadas pelo Decreto 10.719, de 04/02/1914: a Convengao Concernente aos Direitos e Deveres das Poréncias Neutras, nos Casos de Guerra Maritima; ¢ a Convengio Concernente aos Direitos e Deveres das Poréncias e das Pessoas Neutras, no Caso de Guerra Terrestre. Quadro 3. Neutralidade + Oque é:0 Estado neutro nao toma partido nem participa das hostilidades + Direitos do Estado neutro: manter sua integridade territorial e praticar © comércio com todos os beligerantes + Deveres do Estado neutro: tratar igualitarlamente os contendores (imparcialidade) e ndo se envol- ver em qualquer ato host! 3. QUADRO SINOTICO ADICIONAL Quadro 4, A guerra: etapas histéricas ¢ caracteristicas ETAPA HISTORICA CARACTERISTICAS > No passado: a guerra era meio juridicamente licito de solu¢do de contro- vérsias > 0s principais tratados na matéria foram celebrados na Conferéncia Interna- | conal de Paz de 1907, formando o chamado “Direito da Haia” + Temas tutelados (exempios): inicio e fim das hostilidades; direitos e deveres dos beligerantes; proibigso de acées bélicas contra determinadas pessoas e bens; vedacdo do emprego de formas de combate cruéis e desproporcio- nais; proibi¢3o do uso de certas armas; proteg3o da propriedade privada e dos bens culturais; armas nucleares, quimicas ¢ biologicas; minas terrestres > Normas ainda valem na atualidade, nas hipdteses em que haja guerra, licita ou nao Periodo anterior & proibigdo da guerra > Ilicitude da guerra + Enfase em meios de solucdo pacifica de controvérsias, + Pacto da Sociedade das Nages: permite-se recurso & guerra apenas de- Perlodo de proibi- | pols de esgotados os mecanismos pacificos de solugdo de litigios 80 da guerra > Pacto Briand-Kellog: rendincia & guerra > Carta da ONU: proscricio definitiva da guerra > Unicas possibilidades licitas de uso da forca: legitima defesa do Estado agre- Gido e agdo da ONU para manter ou restaurar a paz 4. QUESTOES Julgue os itens seguintes, respondendo “certo” ou “errado”: 1. (AGU ~ 2006) 0 Direito de Haia constitui um corpo de normas juridicas escritas, elaboradas a partir de duas conferéncias internacionais de paz realizadas em Haia, durante as quais foram elaboradas 636 DIREITO DE GUERRA NEUTRALIDADE convenc6es multilaterais que regulam o direito de ir & guerra, o direito de prevencSo e as normas sobre a conducdo das hostilidades. . (Procurador Federal — 2010) 0 deslocamento de tropas e o antincio da futura invasdo do Estado C ja constituem, por si, viola¢do & Carta da ONU. (IRBr - 2006 - ADAPTADA) O Pacto de Paris de 1928, que passaré a histéria com a conjugacio dos nomes de seus firmatarios, os ministros do exterior da Franga dos Estados Unidos da América, simboliza importante avanco do direito das gentes. Acerca do contetido juridico desse documento, Julgue (C ou E) ositens a seguir: 3. Esse pacto propugna pela abolicdo das guerras colonials e de conquista. 4, Esse documento obrige os paises europeus a reconhecerem direitos soberanos dos Neo-Estados afri- canos, 5. Esse pacto proscreve a guerra, para consideré-la a violagao suprema do direito. 6. (MPF —Procurador da Reptiblica/2011) 0 da ONU, a) pode ser exercido preventivamente. ito a legitima defesa, de acordo com o art. 51 da carta b) 56 pode ser exercido quando o Estado ¢ atacado. €) no comporta limitagao pelo Conselho de Seguranca, pois é um direlto “inerente”. d) objeto do direito internacional humanitério, GABARITO Steet? Fundamentago Toplcos do | eventual observacéo elucidativa oficial capitulo Doutrina e Convencées da Haia, de 4 | © |a907 bad 2 | ¢ [Sart d2 ONU art. 28 perderafos32] 4 5 . e42 O Pacto de Paris refere-se as guer- as apenas enguanto fendmeno envolvendo tJo-somente Estados soberanos, excluindo portanto as 3 | & | Pactode Paris, art.1 1.3 | guerras coloniais, as quais, porém, viriam a ser incluidas entre as for- mas de conflito armado com os Pro- tocolos adicionais as Convencdes de I Genebra, celebrados em 1977 0 Pacto de Paris refere-se & rentin- cia da guerra e 20s meios pacificos de solucao de controvérsias € foi 4 | E | Pactode Paris, art.1 1.3 | celebrado em 1928, em periodo his- térico anterior 8 descolonizagio da Africa, ocorrida apenas a partir da década de 50 do século passado 637

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