Documentos de Académico
Documentos de Profesional
Documentos de Cultura
Religião, Escrita e Sistematização - Reflexões em Torno Dos Annales Maximi
Religião, Escrita e Sistematização - Reflexões em Torno Dos Annales Maximi
35 | Artigo
Resumo
O tema dos Annales Maximi ocupou – e ainda ocupa – um lugar especial na atenção dos historiado-
res, e esses livros, a despeito das variantes interpretativas, são geralmente observados à luz da escrita
da história e de questões relativas à memória romana. Este artigo aborda o problema dos Annales
Maximi sob o viés dos estudos da religião romana, buscando compreender seu lugar no processo de
construção e sistematização do conhecimento religioso na urbs entre os séculos III e I a.C.
Palavras-chave: Annales Maximi; colégio dos pontífices; religião romana.
E
m 2009, um colóquio denominado Omnium annalium monumenta:
annals, epic and drama in Republican Rome, no Institutum Romanum
Finlandiae (IRF), em Roma, trouxe importantes questões ao debate
historiográfico sobre a República romana.1 Um dos eixos temáticos, denomi-
nado Historical documentation before historians: documentary evidence and
oral traditions, retomou a discussão sobre as fontes tradicionalmente atri-
buídas aos historiadores romanos antigos, e os Annales Maximi receberam
um grande destaque. Um evento subsequente, denominado Omnium anna-
lium monumenta: historical evidence and historical writing in Republican
Rome, em 2013, também em Roma, trouxe novamente o tema dos Annales
Maximi à ordem do dia. Mais especificamente, debateram-se questões rela-
tivas à natureza, uso e função dos commentarii e das tabulae pontificum e
se essas tabulae foram ou não publicadas, na República tardia, sob o título
Annales Maximi.
Os Annales Maximi, registros anuais realizados pelo pontifex maximus,
ocuparam — e ainda ocupam — um lugar especial na atenção dos historiado-
res, e esses livros, a despeito das variantes interpretativas e das controvérsias,
são geralmente observados à luz da escrita da História e de questões relativas
à memória romana. Meu interesse aqui é observar os Annales Maximi sob o
viés dos estudos de religião romana. Para tanto, retomarei as referências anti-
gas, passando, então, à observação de seus “atores” principais — o colégio dos
pontífices, em geral, e o pontifex maximus, em particular — e das linhas mes-
tras do debate historiográfico sobre esses textos, buscando compreender o
papel dos escritos pontificais no processo de construção e sistematização do
conhecimento religioso entre os séculos III e I a.C.
O Colóquio foi organizado por Kaj Sandberg e Christopher Smith e as intervenções, publicadas em 2011, nas
1
2
Harvey Whitehouse; Robert N. McCauley (Eds.), Mind and Religion: Psychological and Cognitive Foundations
of Religiosity, Walnut Creek, Altamira Press, 2005; Harvey Whitehouse; Luther H. Martin (Eds.), Theorizing
Religious Past: Archaeology, History, and Cognition, Walnut Creek, Altamira Press, 2004.
3
Há uma extensa bibliografia sobre o tema. Destaco aqui as obras de Clifford Ando, “Diana in the Aventine”,
In: Hubert Cancik; Jörg Rüpke, Die Religion des Imperium Romanum, Tübingen, Mohr Siebeck, 2009, p. 99-113,
e The matter of the Gods: Religion and the Roman Empire, Berkeley, University of California Press, 2008; de
Andreas Bendlin, “Peripheral centres – central peripheries: religious communications in the Roman Empire”,
In: Hubert Cancik; Jörg Rüpke, Römische Reichsreligion and Provinzial religion, Tübingen, Mohr Siebeck, 1997,
p. 35-65; de Greg Woolf, “World Religion and World Empire in the Ancient Mediterranean”, In: Hubert Cancik;
Jörg Rüpke, Die Religion des Imperium Romanum, Tübingen, Mohr Siebeck, 2009, p. 19-35, e de Simon Price,
“Religious Mobility in the Roman Empire“, Journal of Roman Studies, The Society for the Promotion of Roman
Studies, vol. 102, 2012, p. 1-19.
4
“Paganismo” é um termo cunhado pela invectiva cristã que teve muito sucesso no século XIX. É um termo de
nítido teor pejorativo, invariavelmente apresentado sob a forma do modelo cristianismo versus paganismo,
no qual o primeiro termo é euforizado, e o segundo, disforizado, e que leva à ideia equivocada de que haveria
uma unidade religiosa na antiguidade romana, o que revela não apenas visões projetivas de crenças atuais
no passado, como também a permanência de uma visão cristã da história que marcou indelevelmente o
modo de se ver e interpretar o passado.
5
Ver detalhamento do tema em Claudia Beltrão da Rosa, “A Religião na urbs”, In: Gilvan Ventura da Silva;
Norma Musco Mendes (Orgs.), Repensando o Império Romano, Rio de Janeiro, EdUFES; Mauad X, 2006,
p. 137-159.
6
John Scheid, “Oral tradition and written tradition in the formation of sacred law in Rome”, In: Clifford Ando;
Jörg Rüpke (Eds.), Religion and Law in Classical and Christian Rome, Stuttgart, PawB 16, 2006, p. 16.
7
Georg Rohde apud Idem, Ibidem, p. 17.
8
A maior parte desses escritos, emanados de diversos collegia sacerdotais e veiculados em diversos suportes
materiais, não chegou até nós, e a muitos deles temos acesso apenas mediante pequenos fragmentos
epigráficos e referências no extenso e variado conjunto da literatura latina.
9
O mos maiorum, considerado um sistema arcaico de valores morais e práticos da aristocracia romana e ao
qual escritores como Cícero se remetem frequentemente como argumento de autoridade, é, de fato, uma
criação da literatura médio e tardo-republicana. E, segundo Habinek, “O mos maiorum era algo que você
conhece, mas também algo que você faz. E uma das coisas que você faz ao observar o mos maiorum é
participar das exortações, julgamentos e autocrítica ritualizadas que têm como propósito o reforço de sua
própria aderência ao mos maiorum”. Thomas Habinek, The Politics of Latin Literature: Writing, Identity and
Empire in Ancient Rome, Princeton, Princeton University Press, 1998, p. 54.
10
Thomas Habinek, The Politics of Latin Literature: Writing, Identity and Empire in Ancient Rome, Princeton,
Princeton University Press, 1998, p. 54. Ver também Nevio Zorzetti, “The carmina convivalia”, In: Oswin Murray
(Ed.), Sympotica: A Symposion on the Symposion. Records of the 1st Symposion on the Greek Symposion,
Oxford, Clarendon Press, 1990.
11
Thomas Habinek, The Politics of Latin Literature: Writing, Identity and Empire in Ancient Rome, Princeton,
Princeton University Press, 1998, p. 37.
12
Ver especialmente Jörg Rüpke, Religion in Republican Rome: Rationalization and Ritual Change, Philadelphia,
University of Pennsylvania Press, 2012.
A ritualização das ações coletivas, ao dar-lhes uma forma estável num espaço
determinado, operava como um poderoso meio de controle social vertical e
horizontal, criando o que denominamos religio romana, um produto de mui-
tos e longos processos sociais e institucionais, realizados por indivíduos e gru-
pos em circunstâncias particulares e, a partir do século III a.C., textos escritos
se uniram a outras formas de comunicação religiosa, política e institucional e
se tornaram “meios” para o exercício do poder.
Restringindo-me ao âmbito jurídico e político, a escrita era utilizada para
fixar textos de leis e decisões há muito na urbs, mas protocolos de reuniões
ou relatos de ações parecem só ter se tornado regulares por volta de meados
do século III a.C., especialmente com os arquivos pontificais e os registros de
encontros “diplomáticos” com representantes de povos estrangeiros, pois a
forma principal de comunicação era oral. À época de Catão, contudo, a escrita
passou a desempenhar um importante papel na luta interna pelo poder e, a
partir de fins do século III a.C., parece ter havido o interesse em sistematizar o
conhecimento religioso, ressaltando-se a importância da palavra escrita para
as atividades rituais e para o controle pontifical do calendário na República.14
No início do século II a.C., a escrita era usada por sacerdotes, magistrados e
senadores (tratados, leis, censo, protocolos etc.) e estava consolidada no espaço
público. Os textos sacerdotais, como os demais, eram símbolos de poder e de
autoridade15 e, dentre esses textos, os “livros pontificais” receberam uma grande
atenção da historiografia moderna que, como pontuamos, tendeu a ver a reli-
gião romana como um conjunto de rituais desprovidos de “sentido religioso”,
como apenas um instrumento político para entronizar regras e proibições.16
13
Jörg Rüpke, Religion in Republican Rome: Rationalization and Ritual Change, Philadelphia, University of
Pennsylvania Press, 2012, p. 1.
14
Idem, The Roman Calendar from Numa to Constantine: Time, History, and the Fasti, Chichester, Malden-MA,
Wiley-Blackwell, 2011 (1ª ed. alemã, 1995).
15
cf. Mary Beard, “Writing and Religion”, In: Sarah I. Johnston (Ed.), Ancient Religions, Cambridge-Mass, Harvard
University Press, 2007, p. 127-138; Tim Cornell, “The tyranny of the evidence: a discussion of the possible
uses of literacy in Etruria and Latium in the archaic age”, In: Mary Beard et al., “Literacy in the Roman World,”
Journal of Roman Archaeology, Suppl. 3, 1991, p. 7-34.
16
cf. Claudia Beltrão da Rosa, “A Religião na urbs”, In: Gilvan Ventura da Silva; Norma Musco Mendes (Orgs.),
Repensando o Império Romano, Rio de Janeiro, EdUFES; Mauad X, 2006, p. 137-159; ver também: C.
Robert Philipps III, “Approaching Roman Religion: the case for Wissenschaftsgeschichte”, In: Jörg Rüpke, A
Companion to Roman Religion, Blackwell Companions to the Ancient World, Oxford, Blackwell Publishing
Ltd., 2007, p. 10-28.
17
Ego uero primum habeo auctores ac magistros religionum calendarum maiores nostros [...] qui statas
sollemnisque caerimonias pontificatu, rerum bene gerendarum auctoritates augurio, fatorum ueteris
praedictiones Apollinis uatum libris, portentorum expiationes Etruscorum disciplina contineri putauerunt
(Har. Resp. 18).
18
Os quindecimuiri sacris faciundis eram os sacerdotes responsáveis pelos Livros Sibilinos, bem como por
emitir pareceres em processos de introdução de novos cultos e divindades em Roma.
19
cf. Claudia Beltrão da Rosa, “O uir bonus e a prudentia ciuilis em Marco Túlio Cícero”, In: Sônia R. Rebel de
Araújo; Claudia Beltrão; Fábio Duarte Joly, Intelectuais, Poder e Política na Roma Antiga, Rio de Janeiro, NAU,
2010, p. 21- 62.
20
[Numa] Cetera quoque omnia publica priuataque sacra pontificis scitis subiecti [...] ne quid diuini iuris
neglegendo patrios ritus peregrinosque adsciscendo turbaretur (I, 20, 5-7).
21
Colégio composto, após Sila, por sete sacerdotes responsáveis pela supervisão dos jogos (Ludi) regulares
em Roma.
22
Mary Beard, “Priesthood in the Roman Republic”, In: Mary Beard; John North (Ed.), Pagan Priests: Religion
and Power in the Ancient World, London, Duckworth, 1990, p. 17-48, 36-37.
23
Promessas solenes; trata-se, aqui, das promessas feitas por magistrados quando da elevação ao ofício.
24
Uma nova função religiosa no colégio dos pontífices, o promagister, surgiu durante o principado, atestada
por uma inscrição de 155 d.C. (CIL, VI 2120, ILS 8380, CIL¸VI, 32398a) e, anteriormente, para o colégio dos
Arvais, que substituía o pontifex maximus na Itália em caso de afastamento. Cf. John Scheid, “Romulus et ses
frères. Le College des Frères Arvales. Modèle de culte public dans la Rome des Empereurs”. BEFAR 275, Paris,
De Boccard, 1990, p. 220-228, 242.
25
Françoise van Haeperen, Le Collège Pontifical (3ème s.a.C.-4ème s.p.C.): Contribuition à l’étude de la religion
publique romaine, Bruxelles-Rome, Institut Historique Belge de Rome, Brepols Publishers, 2002, p. 429.
26
Ver quadro da composição dos principais colégios sacerdotais romanos em Claudia Beltrão da Rosa, “A
Religião na urbs”, In: Gilvan Ventura da Silva; Norma Musco Mendes (Orgs.), Repensando o Império Romano,
Rio de Janeiro, EdUFES; Mauad X, 2006, p. 143.
27
Ressaltamos a participação dos membros do colégio dos pontífices nas festas religiosas tradicionais –
o colégio tem uma importância quase exclusiva nas festas relacionadas ao ciclo natural do ano, exceção
feita à festa de Dea Dia, realizada pelos Arvais, sobre a qual temos documentos relativos a consultas dos
Arvais ao colégio dos pontífices acerca da execução do rito, e as Fornacalia, de fevereiro, celebradas pelos
membros das cúrias, que faziam a torrefação dos grãos. Já nas festas do ciclo cívico, vemos maior variedade
de celebrantes (outros collegia, magistrados). Há festivais para os quais não temos informação sobre os
celebrantes (Terminalia, Equirria), mas os pontífices celebravam um bom número delas (Agonalia, Carmentalia,
Virgo parentat, Quirinalia, Regifugium, Argeus, Vestalia, uitutatio, Equus October, Bona Dea, Larentalia, além
dos sacrifícios das Kalendas, das Nonas e dos Idos). É possível que os pontífices participassem com os
magistrados dos sacrifícios aos Penates do Lavinium, e atesta-se também a participação dos pontífices
em cerimônias circunstanciais, como a confarreatio (a forma antiga do conuentio in manum), diffarreatio,
a assistência a magistrados (por exemplo, quando dos votos extraordinários, seguidos de um senatus
consultum, o magistrado era assistido pelo pontifex maximus, que lhe ditava a fórmula: praeiunte pontifice
maximo).
28
Françoise van Haeperen, Le Collège Pontifical (3ème s.a.C.-4ème s.p.C.): Contribuition à l’étude de la religion
publique romaine, Bruxelles-Rome, Institut Historique Belge de Rome, Brepols Publishers, 2002, p. 215-413.
29
Mary Beard; John North; Simon Price, Religions of Rome, Vol. 1, Cambridge, Cambridge University Press,
1998, p. 26.
30
Na íntegra, de acordo com as edições Loeb: Catão. Orig. 4 (=Gell. NA 2.28.6): Non lubet scribere, quod in
tabula apud pontificem maximum est, quotiens annona cara, quotiens lunae aut solis lumine caligo aut quid
obstiterit; Cícero. De Or. 2.12.51: Erat enim historia nihil aliud nisi annalium confectio, cuius rei memoriaeque
publicae retinendae causa ab initio rerum Romanorum usque ad P. Mucium pontificem maximum res omnes
singulorum annorum mandabat litteris pontifex maximus referebatque in album et proponebat tabulam
domi, potestas ut esset populo cognoscendi; ei qui nunc annales maximi nominantur; Tito Lívio, 6.1.2: [...] res
cum uetustate nimia obscuras, uelut quae magno ex interuallo loci uix cernuntur, tum quod paruae et rarae
per eadem tempora litterae fuere, una custodia fidelis memoriae rerum gestarum, et quod, etiam si quae in
commentariis pontificum aliisque publicis priuatisque erant monumentis, incensa urbe pleraeque interiere;
9.46.5: [...] ciuile ius, repositum in penetralibus pontificum, euolgavit fastosque circa forum in albo proposuit, ut
quando lege agiposset sciretur [...]; Sérvio. Aen. 1.373: Tabulam dealbatam quotannis pontifex maximus habuit,
in qua praescriptis consulum nominibus et aliorum magistratuum digna memoratu notare consueuerat domi
militiaeque terra marique gesta per singulos dies, cuius diligentiae annuos commentarios in octoginta libros
ueteres rettulerunt eosque a pontificibus maximis, a quibus fiebant, annales maximos appellarunt. Macróbio.
Sat. 3.2.17: Pontificibus enim permissa est potestas memoriam rerum gestarum in tabulas conferendi et hos
annales appellant equidem maximos quasi a pontificibus maximis factos. Aulo Gélio, NA 4.5.6: Ea historia de
aruspicibus ac de uersu isto senario scripta est in Annalibus Maximis, libro undecimo, et in Verri Flacci libro
primo Rerum Memoria Dignarum.
31
Os commentarii fratrum arualium e um commentarium dos Ludi Saeculares foram alguns dos raros
documentos desse tipo que chegaram até nós; com base neles, especialistas modernos criaram suas
hipóteses sobre outros possíveis commentarii sacerdotais.
32
cf. John Scheid, “ Les annales des pontifes. Une hypothèse de plus. ”, In: Convegno per Santo Mazzarino.
Roma, L’Erma di Bretschneider, 1998, p. 199-220; John North, “The books of pontiffs”, In: Claudia Moatti
(Ed.), La mémoire perdue: recherches sur l’administration romaine. Coll. EFR-A, 243, Paris, École Française
de Rome, 1998, p. 65-74; Susanne William Rasmussen, Public Portents in Republican Rome, Roma, L’Erma
di Bretschneider, 2003, p. 35-52; Jörg Rüpke, Fasti sacerdotum: A Prosopographic of Pagan, Jewish, and
Christian Religious Officials in the City of Rome, 300 BC to AD 499, Oxford, New York, Oxford University Press,
2005, esp. p. 36-38; Ana Rodriguez-Mayorgas, “Annales Maximi: Writing, Memory and Religious Performance
in the Roman Republic”, In: André P.M.H. Lardinois; Josine H. Blok; Marc G.M. van der Poel (Ed.), Sacred Worlds:
Orality, Literacy and Religion, Mnemosyne Suppl., 8, Leiden, Brill, 2011, p. 235-253.
33
Elizabeth Rawson, “Prodigy lists and the use of the Annales Maximi”, Classical Quarterly, vol. 21, 1971, p. 158-
69, 168-9.
34
Idem, Ibidem, p. 166.
35
Bruce Frier, Liber Annales Pontificium Maximorum: The Origins of the Annalist Tradition, Ann Arbor,
University of Michigan Press, 1999, p. 193-200.
36
Bruce Frier, Liber Annales Pontificium Maximorum: The Origins of the Annalist Tradition, Ann Arbor,
University of Michigan Press, 1999, p. 107-119.
37
Públio Múcio Cévola, um dos fundadores da jurisprudência romana e cônsul de 133 a.C. era, como Frier
argumenta (Frier, op.cit, p. 179-200), um dos nobiles favoráveis a um maior envolvimento do populus nos
negócios públicos (foi um dos nobiles que apoiaram as propostas de Tibério Graco), mas não há elementos
que expliquem o suposto encerramento dos Annales Maximi. Segundo Frier, o famoso pragmatismo de
Cévola talvez tenha sido o fator determinante, num momento em que o registro público era bastante eficaz,
tornando os Annales Maximi obsoletos; Frier levanta a hipótese de uma edição augustana dos Annales
Maximi, mas não há evidência para tal suposição.
38
Bruce Frier, op. cit., p. 152. Ver contra: John Scheid, “Oral tradition and written tradition in the formation of
sacred law in Rome”, In: Clifford Ando; Jörg Rüpke (Eds.), Religion and Law in Classical and Christian Rome,
Stuttgart, PawB 16, 2006, p. 16..
39
Robert Drews, “Pontiffs, prodigies and the disappearance of the Annales Maximi”, Classical Philology, vol. 83,
n. 4, 1988, p. 289-299, 296.
40
Idem, Ibidem, p. 297.
41
Idem, Ibidem, p. 299.
42
Os três principais artigos de John Scheid sobre o tema, na década de 1990, são: “Le temps de la cité et
l’histoire des prêtes. Des origines religieuses de la histoire romaine,” In: Marcel Detienne (Ed.), Transcrire les
mythologies: Tradition, écriture, historicité, Paris, Albin Michel, 1994, p. 149-58; “Les archives de la pieté,” In:
Segolene Demougin (Ed.), La mémoire perdue: a la recherche des archives oubliées, publiques et privées, de
la Rome Antique, Paris, Publications de la Sorbonne, 1994, p. 173-85; e “Les libres Sybillins et les archives des
quindécemvirs,” In: Claudia Moatti (Ed.), La mémoire perdue: recherches sur l’administration romaine, Coll.
EFR-A, 243, Paris, École Française de Rome, 1998, p. 11-26.
43
Ver Yann Berthelet, que recentemente defendeu de modo coerente a presença e a importância do colégio
dos pontífices nos casos de procuratio prodigiorum, a partir da releitura das famosas “procurações anônimas”
de Tito Lívio, em “Le rôle des pontifes dans l’expiation des prodiges à Rome, sous la République: le cas des
‘procurations’ anonymes”, Cahiers Mondes Anciens. Anthropologie et Histoire des Mondes Antiques. 2011-2.
Disponível em: <http://mondesanciens.revues.org/index348.html>, acesso em: 3 de março de 2012.
44
John Scheid, “Les annales des pontifes. Une hypothèse de plus,” In: Convegno per Santo Mazzarino. Roma,
L’Erma di Bretschneider, 1998, p. 199-220, 218.
45
John Scheid, An Introduction to Roman Religion, Bloomington, Indianapolis, Indiana University Press, 2003, p. 111.
46
Ana Rodriguez-Mayorgas, “Annales Maximi: Writing, Memory and Religious Performance in the Roman
Republic,” In: André P.M.H. Lardinois; Josine H. Blok; Marc G.M. van der Poel (Ed.), Sacred Worlds: Orality,
Literacy and Religion, Mnemosyne Suppl., 8, Leiden, Brill, 2011, p. 235-253.
47
Federico Santangelo, “Pax deorum and Pontiffs,” In: James H. Richardson; Federico Santangelo, Priests and
State in the Roman World, Stuttgart, Franz Steiner Verlag, 2011, p. 161-186. Cf. também Jersky Linderski, “The
Augural Law,” ANRW 2.16.3, 1986, p. 2146-2312.
48
Sobre esses dados e seu detalhamento, ver Ana Rodriguez-Mayorgas, “Annales Maximi: Writing, Memory
and Religious Performance in the Roman Republic”, In: André P.M.H. Lardinois; Josine H. Blok; Mark G.M. van
der Poel (Ed.), Sacred Worlds: Orality, Literacy and Religion, Mnemosyne Suppl., 8, Leiden, Brill, 2011, p. 235-
253, e Elizabeth Rawson, “Prodigy lists and the use of the Annales Maximi”, Classical Quarterly, vol. 21, 1971, p.
158-69, 168-9.
49
A lex Olgunia, datável de 300 a.C., abriu a possibilidade de plebeus ocuparem sacerdócios nos colégios dos
pontífices e dos áugures.
50
Sobre a referência a Pompônio ver Dig. 1.2.2.35.
51
Jörg Rüpke, Fasti sacerdotum: A Prosopographic of Pagan, Jewish, and Christian Religious Officials in the
City of Rome, 300 BC to AD 499, Oxford, New York, Oxford University Press, 2005, p. 31-2.
52
Idem, Ibidem, p. 33.
53
Idem, Ibidem, p. 33.
54
Jörg Rüpke apresenta, como base para tal interpretação, especialmente Plutarco, Aem. 17, sobre os
procedimentos rituais preparatórios para o eclipse anunciado antes da batalha de Pydna, em 168 a.C., e Tito
Lívio, 44.37.6, em seu comentário sobre a intenção da ação: ne quis id pro portento acciperes.
55
Jörg Rüpke, Fasti sacerdotum: A Prosopographic of Pagan, Jewish, and Christian Religious Officials in the
City of Rome, 300 BC to AD 499, Oxford, New York, Oxford University Press, 2005, p. 34. Ver também S.
Rasmussen, Public Portents in Republican Rome, Roma, L’Erma di Bretschneider, 2003, p. 35-52;, para os
procedimentos da procuratio prodigiorum.
56
Jörg Rüpke, op cit. p. 35, contra Bruce Frier, Liber Annales Pontificium Maximorum: The Origins of the
Annalist Tradition, Ann Arbor, University of Michigan Press, 1999, p. 193-200.
57
John Scheid defende o caráter oral da tradição religiosa romana e o caráter ritualístico da religião romana,
que fundamenta seu caráter oral. Scheid comenta as dificuldades modernas em relação ao ritual, por exemplo,
na oposição espiritualidade interior versus prática exterior, e em relação aos sacerdócios, por exemplo, na
crença de que haveria uma religiosidade inata confiscada pelos sacerdotes e reduzida ao sistema ritual e
que o veículo, ou instrumento dos sacerdotes, são seus livros, cf. esp.: John Scheid, “Oral tradition and written
tradition in the formation of sacred law in Rome,” In: Clifford Ando; Jörg Rüpke (Ed.), Religion and Law in
Classical and Christian Rome, Stuttgart, PawB 16, 2006, p. 16-19.
58
John Scheid, “Oral tradition and written tradition in the formation of sacred law in Rome,” In: Clifford Ando;
Jörg Rüpke (Ed.), Religion and Law in Classical and Christian Rome, Stuttgart, PawB 16, 2006, p. 33.
59
Jörg Rüpke, Religion in Republican Rome: Rationalization and Ritual Change, Philadelphia, University of
Pennsylvania Press, 2012.
60
Mary Beard, “Documenting Roman Religion,” In: Claudia Moatti (Ed.), La mémoire perdue: recherches sur
l’administration romaine. Coll. EFR-A, 243, Paris, École Française de Rome, 1998, p. 75-101; “Ancient literacy and
the function of the written word in Roman religion,” In: Mary Beard et al, Literacy in the Roman World, Journal
of Roman Archaeology, Suppl. 3, 1991, p. 35-54; “Writing and Religion,” In: Sarah I. Johnston, Ancient Religions,
Cambridge-Mass, Harvard University Press, 2007, p. 127-138.